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Petição Inicial de Acção de Reconhecimento de Direito

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal Administrativo e Fiscal
de […]

[…], NIF […], com residência em […],


vem intentar acção administrativa comum de reconhecimento de
direitos, na forma de processo ordinário, contra
[…], NIPC […], com sede em […],
o que faz nos termos do artigo 37.º, n.º 2, alínea a), do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os
fundamentos seguintes:

I – Objecto da acção e pressupostos

1.º
Constitui objecto da presente acção o reconhecimento do direito
do A. a manter a ocupação do lugar como Assistente Técnico no
quadro do R.

2.º
A iminente decisão de declaração de nulidade do acto de
nomeação põe em causa o direito do A.
3.º
O A. tem legitimidade já que, sendo tomada a referida decisão, é
directamente lesado nos seus direitos e interesses legalmente
protegidos – artigo 55.º, n.º 1, alínea a), do CPTA.
4.º
O A. tem interesse em agir, nos termos do artigo 39.º do CPTA, na
medida em que aquela decisão se afigura iminente.
5.º
O Tribunal é competente por ser o da residência do A. – artigo
16.º do CPTA.
6.º
A acção está em tempo, segundo o disposto no artigo 41.º, n.º 1,
do CPTA.

II – Dos factos

7.º
Em […], o A. candidatou-se ao concurso interno de ingresso para
Assistente Administrativo, aberto pelo R. através do aviso n.º […],
publicado em Diário da República, 2.ª Série, n.º …, de […] (que
ora se junta como Doc. 1 e se dá por integralmente reproduzido
como por reproduzidos se dão todos os documentos de ora em
diante referidos nesta petição inicial),
8.º
tendo sido classificado em primeiro lugar (conforme “lista de
classificação final” que se junta como Doc. 2).
9.º
Em […], o A. foi nomeado para o lugar de Assistente
Administrativo (cf. despacho de nomeação que se junta como
Doc. 3),
10.º
que aceitou em […], conforme termo de aceitação que se junta
como Doc. 4.
11.º
Porém, em […] – ou seja, em data anterior à sua nomeação, mas
posterior à respectiva candidatura –, caducou o contrato
administrativo de provimento que celebrou (cf. notificação datada
de […], que se junta como Doc. 5).
12.º
O R., tendo tido conhecimento deste facto, dez anos decorridos do
acto de nomeação do A., pretende agora declarar nulo o respectivo
acto, com fundamento na não manutenção dos requisitos exigidos
na candidatura.

III – Do direito

13.º
A cessação do contrato administrativo de provimento na
pendência de concurso interno de ingresso não obstava à
nomeação dos candidatos que, por virtude da cessação, no
momento do provimento já não detivessem a qualidade de agente
administrativo.
14.º
Esta era a posição dominante da jurisprudência sobre a
interpretação do regime jurídico anterior à vigência da Lei n.º 12-
A/2008, de 27 de Fevereiro – que aprovou o Regime de Vínculos,
Carreiras e Remunerações da Administração Pública e que se
aplicava ao concurso dos autos.
15.º
Neste sentido, a título de exemplo, veja-se o douto Acórdão do
Supremo Tribunal Administrativo de 22 de Abril de 2009,
proferido no âmbito do processo n.º 0949/08, disponível em
www.dgsi.pt.
16.º
Admitindo por hipótese e sem conceder que o referido acto de
nomeação enfermasse de vício gerador de nulidade, não se
ignoraria o princípio consagrado no n.º 1 do artigo 134.º do
Código de Procedimento Administrativo (CPA) segundo o qual o
acto nulo não produz quaisquer efeitos jurídicos,
independentemente da declaração dessa nulidade.
17.º
No entanto, mesmo nesse enquadramento (que não se concede),
dispõe o n.º 3 do referido artigo que aquele princípio geral «não
prejudica a possibilidade de atribuição de cer­tos efeitos jurídicos
a situações de facto decorrentes de actos nulos, por força do
simples decurso do tempo, de harmonia com os princípios gerais
de direi­to».
18.º
Permite-se, desta forma, a conser­vação “definitiva” e a
consolidação de uma situação jurídica ori­ginariamente ilegal em
homenagem aos princípios da boa fé e da protecção da confiança e
da garantia da estabilidade das relações sociais (cf. Mário Esteves
de Oliveira/ Pedro Gonçalves/Pacheco de Amorim, Código do
Procedimento Administrativo, 2.ª edição, Almedina, Coimbra,
1997, pp. 655 e seguintes].
19.º
Vejam-se, neste sentido, os doutos Acórdãos do Supremo Tribunal
Administrativo de 7 de Novembro de 2006 (Processo n.º 0175/06),
de 8 de Janeiro de 2009 (Processo n.º 0962/08), de 16 de Janeiro
de 2003 (Processo n.º 01316/02) e de 11 de Outubro de 2005
(Processo n.º 0262/05), todos disponíveis em www.dgsi.pt.
20.º
Ora, pensa-se que, no caso dos autos, subjazem à situação do A. os
pressupostos daquela jurisprudência.
21.º
De facto, não só o A. vem exercendo funções como Assistente
Técnico por um período já significativo (de aproximadamente de
10 anos),
22.º
como o A. sempre esteve de inequívoca boa fé no processo
concursal, na plena e justificada convicção de que a caducidade do
seu contrato administrativo de provimento não constituía
impedimento legal da respectiva nomeação,
23.º
boa fé e confiança, aliás, suportada no facto de o R., em todos
estes anos, nunca ter feito qualquer reparo à situação do A.,
24.º
muito embora tivesse conhecimento dessa situação desde, pelo
menos, […], data em que foi actualizado o registo biográfico do
A. com a informação daquela caducidade (cf. registo biográfico
que se junta como Doc. 6).
25.º
Termos em que, sempre será de reconhecer o direito do A. à
nomeação como Assistente Administrativo, por aplicação da regra
geral, constante do artigo 134.º, n.º 3, do CPA, sobre a atribuição
de efeitos jurídicos às situações de facto consolida­das
(jurisdicização), e, por isso, o direito ao lugar que ocupa
actualmente.

V – O Pedido
26.º
Em suma, pelos fundamentos expostos, deverá ser reconhecido o
direito do A. a manter a ocupação do lugar como Assistente
Técnico no quadro do R.

Termos em que se requer a V. Exa. se


digne reconhecer o direito do A. a
manter o seu actual lugar de
Assistente Técnico no quadro do R..
Para tanto, requer-se a V. Exa. que
ordene a citação do R. para contestar,
querendo, seguindo-se os demais
termos.

Ignora-se a existência de contra-interessados.


Prova documental: os 6 documentos juntos.

Prova testemunhal:
1. [nome], [profissão], residente em […];
2. [nome], [profissão], residente em […].

Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo).


Valor para custas: impossível de determinar [artigo 12.º, n.º 1,
alínea e), do RCP].

Junta: 6 documentos, procuração e comprovativo do pagamento da


taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – arts. 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Petição Inicial de Acção para Adopção ou Abstenção de
Comportamentos em Sentido Amplo, Incluindo Operações Materiais,
e até Simples Actos Jurídicos

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal de
[…]

[…], [estado civil], NIF […], com residência em […],


vem intentar acção administrativa comum de condenação à
abstenção de comportamentos, na forma de processo ordinária,
contra
[…], NIPC […], com sede em […],
o que faz nos termos do artigo 37.º, n.º 2, alínea c), do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os
fundamentos seguintes:

I – Objecto da acção e pressupostos

1.º
Constitui objecto da presente acção a condenação do R. a abster-
se de ocupar o imóvel propriedade do A., sem prévio procedimento
expropriativo, para construção do novo parque infantil da Vila de […].
2.º
Através de cartazes colocados em vários locais do concelho, bem
como de notícias divulgadas através dos meios de comunicação social
locais, o R. tem vindo a anunciar a construção do novo parque infantil da
Vila de […] no imóvel propriedade do A., conforme fotografias dos
referidos cartazes e cópias dos mencionados artigos noticiosos que se
juntam, respectivamente, como Doc. 1 a Doc. 5 e se dão por
integralmente reproduzidas (assim como os demais documentos referidos
nesta petição inicial).
3.º
No passado dia […], o A. presenciou o início dos trabalhos de
construção no imóvel confinante com o terreno de que é proprietário.

4.º
Até à presente data, o R. não iniciou qualquer procedimento
expropriativo referente ao imóvel do A.,
5.º
bem como também não o fez relativamente ao imóvel vizinho
onde, sublinha-se, já se iniciaram os trabalhos de construção do
parque.
6.º
Assim, o A. tem interesse em agir, nos termos do disposto no
artigo 39.º do CPTA[1].
7.º
O Tribunal é competente, por ser o da situação do bem – artigo
17.º do CPTA.
8.º
A acção está em tempo – artigo 41.º, n.º 1, do CPTA.

II – Dos factos

9.º
Conforme acima mencionado, o R. tem vindo a divulgar, através
da afixação de cartazes em vários locais do concelho, e através dos meios
de comunicação social locais, a construção do novo parque infantil da
Vila de […] – cf. Doc. 1 a Doc. 5.
10.º
O A. é proprietário do prédio rústico constituído por terra de
cultivo, com a área total de […] m2, inscrito na respectiva matriz predial
rústica sob o n.º […] e descrito na Conservatória do Registo Predial de
[….] sob o n.º […] – cf. Doc. 6 e Doc. 7.
11.º
O referido parque infantil, como tem vindo a ser anunciado pelo
R., irá ser edificado, além do mais, no imóvel propriedade do A..
12.º
No passado dia [data], o A. verificou a presença de trabalhadores
do R. e de algumas máquinas no imóvel contíguo ao terreno de que é
proprietário – cf. fotografias do local que ora se juntam como Doc. 8 a
Doc. 10 -,
13.º
tendo presenciado o início dos trabalhos de construção do novo parque no
terreno vizinho – cf. Doc. 11.
14.º
Até à presente data, o R. não deu início a qualquer procedimento
expropriativo, quer do imóvel de que o A. é proprietário, quer do referido
imóvel confinante.

III – Do direito

15.º
Dispõe o artigo 62.º da Constituição da República Portuguesa
(CRP):
«1 – A todos é garantido o direito à
propriedade privada e à sua
transmissão em vida ou por morte, nos
termos da Constituição.
2 – A requisição e a expropriação por
utilidade pública só podem ser
efectuadas com base na lei e mediante o
pagamento de justa indemnização».
16.º
Neste sentido, determina o artigo 1.º do Código das
Expropriações, aprovado pela Lei n.º 168/99, de 18 de Setembro (na
actual redacção), em concretização daquele preceito, que
«[o]s bens imóveis e os direitos a eles
inerentes podem ser expropriados por
causa de utilidade pública
compreendida nas atribuições, fins ou
objecto da entidade expropriante,
mediante o pagamento contemporâneo
de uma justa indemnização nos termos
do presente Código».

17.º
Relativamente ao interesse processual em acções de simples
apreciação, estabelece o artigo 39.º do CPTA o seguinte:
«Os pedidos de simples apreciação
podem ser deduzidos por quem invoque
utilidade ou vantagem imediata, para
si, na declaração judicial pretendida,
designadamente por existir (…)
fundado receio de que a Administração
possa vir a adoptar uma conduta lesiva,
fundada numa avaliação incorrecta da
situação jurídica existente».

18.º
Consagrando a CRP o direito basilar à propriedade privada, e
exigindo a Lei Fundamental a previsão legal da admissibilidade da
expropriação por utilidade pública, mediante o pagamento da justa
indemnização, dúvidas não subsistem que, não tendo o R. lançado
mão desse procedimento, não é (juridicamente) lícita a ocupação
do imóvel propriedade do A.,
19.º
sendo que, face a todo o exposto, esta conduta do R. afigura-se
iminente e é lesiva dos interesses do A..

Nestes termos, deve a presente


acção ser julgada procedente, por
provada, e, em consequência, ser
o R. condenado a abster-se de
ocupar o imóvel propriedade do
A. sem o prévio e competente
procedimento expropriativo.
Para tanto, requer-se a citação do
R., na pessoa do […], para
contestar, querendo, seguindo-se
os demais termos.

Ignora-se a existência de contra-interessados.


Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo).

Prova:
a) Documental – os […] documentos referidos nesta
petição inicial.
b) Prova testemunhal:
1. [Nome], [profissão], residente em […];
2. [Nome], [profissão], residente em […].

Junta: […] documentos, procuração ecomprovativo do pagamento


da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC, e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.
O Advogado,

[1] Admitimos que a norma do artigo 39.º do CPTA, sob a epígrafe “


Interesse processual em acções de simples apreciação”, tem aplicação,
igualmente, no domínio das designadas acções inibitórias, de tutela
preventiva. Neste sentido, veja-se Mário Aroso de Almeida, Carlos
Alberto Fernandes Cadilha, Comentário ao Código de Processo nos
Tribunais Administrativos, 2.ª Edição, Almedina, 2007, páginas 233 e
234.
Petição Inicial de Acção Administrativa Comum de Condenação da
Administração ao Cumprimento de Deveres de Prestação que
Decorram Directamente de Normas Jurídicas Administrativas e não
Envolvam a Emissão de um Acto Administrativo Impugnável (e que
Podem ter por Objecto o Pagamento de uma Quantia, a Entrega de
uma coisa, ou a Prestação de um Facto)

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do
Tribunal
Administrativo e
Fiscal de (…)

[…], [estado civil], NIF […], com residência em […],


vem intentar acção administrativa comum de condenação ao
cumprimento de deveres de prestação contra
[…], NIPC […], com sede em […],
o que faz nos termos do artigo 37.º, n.º 2, alínea e), do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os fundamentos
seguintes:

I – Objecto da acção e pressupostos

1.º
Constitui objecto da presente acção a condenação do R. a reparar o
ramal de ligação do sistema público ao sistema predial do imóvel
sito na Avenida […], propriedade da A., considerando que o R. é a
entidade gestora do serviço público de distribuição de água e
drenagem de águas residuais do Município de […], nos termos do
Regulamento do Serviço de Abastecimento de Água e de
Drenagem de Águas Residuais do Município de […], publicado no
Diário da República n.º […], II.ª Série, de […] (cf. artigo 2.º do
referido Regulamento).
2.º
A A. tem legitimidade, nos termos do disposto no artigo 9.º, n.º 1,
do CPTA.
3.º
O Tribunal é competente – artigo 16.º do CPTA.
4.º
A acção está em tempo – artigo 41.º, n.º 1, do CPTA.

II – Os factos
5.º
Conforme referido, a A. é proprietária do imóvel sito na Rua […],
constituído por uma moradia unifamiliar e logradouro, este localizado na
frente do prédio, adjacente à referida rua – cf. caderneta predial urbana
que ora se junta como Doc. 1 e se dá aqui por reproduzido para os
devidos e legais efeitos, como se dão por reproduzidos todos os
documentos doravante referidos.
6.º
A A. vem constatando, desde o passado dia […], que, devido a
uma ruptura no ramal de ligação do sistema público ao sistema
predial, se tem vindo a verificar uma descarga contínua de água
para o seu logradouro – cf. registo fotográfico do local que se
junta como Doc. 2.
7.º
A A. comunicou ao R. esta situação de ruptura e de descarga, por
diversas vezes, através de cartas registadas com aviso de recepção
datadas de […], […] e […] – cf. Docs. 3 a 5.
8.º
A água que assim se tem vindo a infiltrar no prédio da A.
provocou já a morte de diversas espécies de flores aí plantadas pela A.,
9.º
bem como tem vindo a transformar o mencionado logradouro,
passe o termo, num autêntico pântano – cf. registo fotográfico, realizado
pela A., datado de […] e […], que se junta como Doc. 6.

III – O direito
10.º
O artigo 2.º do Regulamento do Serviço de Abastecimento de
Água e de Drenagem de Águas Residuais do Município de […]
determina que é a Câmara Municipal de […] a entidade gestora do
serviço público dos autos, prestado na área do Município ora R..
11.º
Dispõe o artigo […].º do Regulamento do Serviço de
Abastecimento de Água e de Drenagem de Águas Residuais do
Município de […], sob a epígrafe “Conservação, substituição e
renovação”, que:
«A Entidade Gestora do serviço público de
distribuição de água e drenagem de águas
residuais do Município de […] é responsável
pela conservação, reparação, substituição e
renovação dos ramais de ligação e respectivos
encargos».
12.º
Assim, é ao R. que compete realizar, a expensas suas, as
reparações que se revelem necessárias ao adequado funcionamento do
sistema de abastecimento de água do Município de […], por si gerido.
13.º
Contudo, apesar de ter sido diversas vezes instado pela A. a fazê-
lo, o R. não procedeu ainda à reparação da mencionada ruptura do
ramal de ligação do sistema público ao sistema predial do imóvel
da A..

Nestes termos, deve a


presente acção ser julgada
procedente, por provada,
e, em consequência, ser o
R. condenado a reparar o
ramal de ligação do
sistema público ao sistema
predial do imóvel da A..
Para tanto, requer-se a
citação do R., na pessoa
do […], para contestar,
querendo, seguindo-se os
demais termos.

Valor: […]€ ([…] euros).

Junta: - […] documentos, assim identificados:


- Doc. 1 – caderneta predial urbana;
- Doc. 2 – registo fotográfico;
- Doc. 3 - cópia de carta da A. dirigida ao R. em
[…];
- Doc. 4 – cópia de carta da A. dirigida ao R. em
[…];
- Doc. 5 – cópia de carta da A. dirigida ao R. em
[…];
- Doc. 6 – registo fotográfico.
- procuração forense; e
- comprovativo do pagamento de taxa de
justiça.
Na elaboração do presente documento foram usados meios
informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Petição Inicial de Acção Administrativa Comum de Responsabilidade
Civil de Pessoas Colectivas

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal de […]

[…], [estado civil],NIF […], residente em […],


vem intentar acção administrativa comum emergente de
responsabilidade civil extracontratual, sob a forma de processo
[…], contra
[…], NIPC […], com sede em […],
o que faz nos termos do disposto no artigo 37.º, n.º 2, alínea f), do
CPTA e com os fundamentos que se seguem:

I – Objecto da acção e pressupostos

1.º
A presente acção destina-se a efectivar o pedido de
responsabilidade civil extracontratual por danos sofridos pelo A.
em consequência do acidente de viação ocorrido na estrada
municipal […], originado em facto ilícito imputável ao ora R..
2.º
Na verdade, e como adiante será enunciado, a omissão de
manutenção e fiscalização das tampas de saneamento da referida
estrada municipal causou danos avultados no veículo automóvel
propriedade do A..
3.º
O ressarcimento dos prejuízos sofridos pelo A. no seu património
constitui o objecto da presente acção.
4.º
A acção está em tempo – artigo 41.º, n.º 1, do CPTA.
5.º
A A. tem legitimidade – artigo 9.º, n.º 1, do CPTA.
6.º
O Tribunal é competente, por ser o do lugar onde o facto
constitutivo da responsabilidade civil extracontratual ocorreu –
artigo 18.º, n.º 1, do CPTA.

II – Dos factos

7.º
O A. é proprietário do veículo automóvel, marca […], modelo
[…], com a matrícula […] – cfr. cópia do documento único
automóvel que aqui se junta como doc. […] e se dá por
integralmente reproduzido (assim como os demais documentos
referidos nesta petição inicial).
8.º
Em […], cerca das […] horas, o A. conduzia o referido veículo na
estrada municipal […], no sentido sul-norte, a uma velocidade entre 40 a
50 Km/h.
9.º
Esta estrada municipal não tem iluminação, conforme doc. […]
que se junta.
10.º
Subitamente, o veículo da A. embateu num buraco cuja tampa de
saneamento se encontrava deslocada, conforme fotografia que se
junta como doc. […]
11.º
Nesse momento, o A. perdeu o controlo do seu veículo tendo,
ainda, embatido no muro de suporte de terras, em cimento, do
imóvel contíguo à referida estrada municipal.
12.º
O A. sofreu, com o referido embate, luxações no ombro esquerdo,
conforme se atesta pelo relatório e exames médicos que realizou
no Hospital […], conforme docs.[…] que se juntam.
13.º
De imediato, o A. foi auxiliado por dois condutores que
circulavam atrás do veículo por si conduzido e que presenciaram o
acidente ocorrido.
14.º
Em […], e na sequência do sucedido, o A. interpelou o R. para
proceder à reparação dos danos patrimoniais e não patrimoniais
sofridos em virtude do referido acidente, conforme carta registada
com aviso de recepção que se junta como doc. […],
15.º
uma vez que o acidente, conforme resulta do alegado, ficou a
dever-se à omissão de fiscalização, por parte da R., do estado de
conservação da rede viária municipal em causa,
16.º
bem como à falta da devida sinalização e condições de iluminação
do local do sinistro.
17.º
O embate do veículo no buraco e, como consequência, no muro de
suporte de terras originou danos em toda a carroçaria do veículo,
na pintura, nos amortecedores dianteiros e nos pneus cuja
reparação foi orçamentada no valor de […]€, conforme se
discrimina no orçamento que se junta como doc. […];
18.º
Os danos não patrimoniais sofridos pelo A. ascendem a […]€ em
virtude das dores e incómodos sofridos e que causaram ao A. uma
incapacidade temporária profissional de 7 dias, conforme atestado
médico que se junta como doc. […].
19.º
O R., até à presente data, ainda não proferiu qualquer decisão
sobre o pedido de reparação formulado pelo A. no dia […],
20.º
Encontrando-se, ainda, o veículo do A. imobilizado desde a data
de ocorrência do acidente, aguardando por uma decisão do R.
para, em consonância, o A. mandar proceder à sua reparação.
21.º
Até à data, esta situação tem causado enormes prejuízos ao A.
uma vez que este se viu forçado a recorrer a outros meios de
deslocação para as movimentações do seu dia-a-dia, bem como no
exercício da sua profissão, conforme se comprova pelos docs. […]
que se juntam.

III – Do Direito

22.º
De entre as atribuições do R. conta-se a obrigação de “administrar
o domínio público municipal”, conforme o disposto no artigo 64.º, n.º 7,
alínea b), da Lei n.º 169/99, de 18 de Setembro,
23.º
Fazendo, igualmente, parte do âmbito de competências dos órgãos
da R. o planeamento, a gestão e a realização de investimentos nos
domínios da rede viária de âmbito municipal, conforme resulta do
artigo 18.º, n.º 1, alínea a), da Lei n.º 159/99, de 14 de Setembro.
24.º
Ora, tendo por base estas normas jurídicas de direito público e a
matéria de facto alegada, vejamos em que medida os pressupostos
da responsabilidade civil extracontratual se encontram
preenchidos.
25.º
A verificação, em geral, de uma situação de responsabilidade civil
extracontratual por facto ilícito depende da verificação dos
seguintes pressupostos: a) facto jurídico (acção ou omissão) b)
ilicitude, c) nexo de imputação do facto ao agente, d) nexo de
causalidade e e) dano – conforme dispõe o artigo 483.º, n.º 1, do
Código Civil.
26.º
No caso vertente, a situação de responsabilidade civil
extracontratual resulta de danos emergentes de omissão de
conduta por parte de uma pessoa colectiva de direito público, pelo
que a aferição dos respectivos pressupostos de responsabilidade
deve reger-se, igualmente, pelo Regime da Responsabilidade Civil
Extracontratual do Estado e Demais Entidades Públicas (RRCEE),
aprovado pela Lei n.º 67/2007, de 31 de Dezembro, conforme
resulta do disposto no artigo 1.º, números 1 e 2, deste diploma,
27.º
constituindo a responsabilidade civil extracontratual da
Administração Pública por acção/omissão um princípio geral com
assento constitucional, conforme resulta da norma prevista no
artigo 22.º da Constituição da República Portuguesa, quando se
refere que «o Estado e as demais entidades públicas são
civilmente responsáveis, em forma solidária, com os titulares de
órgãos, funcionários e agentes , por acções ou omissões
praticadas no exercício das suas funções ou por causa desse
exercício» [sublinhado pelo signatário].
28.º
Por seu turno, os danos acima identificados emergem de um facto
jurídico (omissão de gestão e manutenção da rede viária
municipal) subsumível no quadro de actos de gestão pública[1]
praticados pela R., na medida em que apresenta uma conexão
imediata com um bem do domínio público municipal (a estrada
municipal […]) e encontra-se regulada, no que à previsão
normativa das competências e atribuições da R. diz respeito, por
normas de direito público, verificando-se, deste modo, a
necessária «ambiência de direito público»[2] em que o acto foi
praticado.
29.º
Assim, o enquadramento jurídico da questão sub judice deve
atender ao disposto na RRCEE, relativamente ao regime jurídico
de responsabilidade civil por danos decorrentes do exercício da
função administrativa, aplicando-se as disposições normativas dos
capítulos I e II.
30.º
Atento o exposto, dir-se-á que o facto jurídico omissão – enquanto
comportamento voluntário - apenas origina o dever de indemnizar
quando havia «por força da lei ou do negócio jurídico, o dever de
praticar o acto omitido» – conforme dispõe a disposição
normativa geral do artigo 486.º do Código Civil,
31.º
sendo que tal omissão se considera ilícita se violar «disposições
ou princípios constitucionais, legais ou regulamentares ou
infrinjam regras de ordem técnica ou deveres objectivos de
cuidado e de que resulte a ofensa de direitos legalmente
protegidos», conforme previsto no artigo 9.º, n.º 1, do RRCEE.
32.º
Por outro lado, convirá referir que a verificação de uma situação
de omissão de deveres de vigilância sobre coisas – no domínio das
actividades materiais de fiscalização na rede viária municipal a
que o R. se encontra adstrita – faz despoletar o mecanismo de
presunção de culpa previsto no artigo 10.º, n.º 3, do RRCEE,
33.º
havendo lugar a inversão do ónus da prova por aplicação do
disposto no artigo 493.º, n.º 1, do Código Civil, aplicável por
remissão da norma prevista no artigo 10.º, n.º 3 do RRCEE.
34.º
Na verdade, o R. surge «numa posição de garante e de por isso
deter um certo monopólio da prova, no sentido de que ela está
normalmente em melhores condições para alegar e provar os
factos que afastam a culpa do que o particular para provar o
contrário» (cf. Margarida Cortez, “A Responsabilidade Civil da
Administração por omissões”, Cadernos de Justiça
Administrativa, n.º 40, p. 36).
35.º
Relativamente ao nexo de causalidade entre a omissão e os danos
sofridos pelo A., deverá ser avaliado em que medida o R. poderia
ter evitado o resultado adoptando a acção omitida, remetendo a
apreciação que se faz do nexo normativo de causalidade para uma
dimensão de causalidade hipotética, avaliada segundo critérios de
adequação.
36.º
Assim, interessa perguntar se o acidente de viação poderia ter sido
evitado caso o R. tivesse procedido à fiscalização da tampa de
saneamento do buraco em causa, sinalizado devidamente o local e
provido pela iluminação pública da referida estrada,
37.º
O que deve conduzir à resposta de que tais medidas de
fiscalização, em cumprimento dos deveres de vigilância que sobre
o R. impendem, teriam sido adequadas a prevenir, no caso
concreto, a ocorrência do acidente de viação sofrido pelo A.
37.º
Por seu turno, e uma vez que se encontram verificados os
pressupostos de responsabilidade civil extracontratual que vêm
sendo expostos, e delimitado o dano indemnizável do A., afigura-
se necessário salientar que a obrigação de indemnizar a que o R.
se encontra adstrita deve «reconstituir a situação que existiria se
não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação»,
conforme dispõe o artigo 3.º, n.º 1, do RRCEE,
38.º
abrangendo a obrigação de indemnizar os danos patrimoniais e
não patrimoniais nos termos gerais de direito, conforme dispõe o
artigo 3.º, n.º 3, do referido regime.

IV – Do pedido

39.º
Atenta a factualidade acima exposta e o respectivo enquadramento
jurídico, verifica-se que se encontram preenchidos os pressupostos
de responsabilidade civil extracontratual em que o R. incorreu,
devendo este indemnizar o A. pelos danos patrimoniais e não
patrimoniais sofridos e que perfazem a quantia global de […] €,
acrescida dos juros vincendos até efectivo e integral pagamento da
mesma.

Termos em que a acção deve


ser julgada procedente e, em
consequência, ser o R.
condenada a pagar à A. a
quantia de […] €, a título de
indemnização por danos
patrimoniais e não patrimoniais
sofridos, acrescida dos juros
vincendos até seu efectivo e
integral pagamento.
Para tanto requer-se a citação
do R., para contestar, querendo,
seguindo-se os demais termos.

Valor: […] € ([…] euros).

Prova:
a) Documental – os […] documentos referidos nesta
petição inicial.
b) Testemunhas:
1. [Nome], [profissão], residente em […];
2. [Nome], [profissão], residente em […].

Junta: […] documentos, procuração ecomprovativo do pagamento


da taxa de justiça.
Na elaboração do presente documento foram usados meios
informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC, e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,

[1] Conforme é referido no Acórdão do Tribunal de Conflitos de 5 de


Novembro de 1981,consideram-se actos de gestão pública aqueles que
“(...) se compreendem no exercício de um poder público, integrando, eles
mesmos, a realização de uma função pública da pessoa colectiva,
independentemente ou não de envolverem o exercício de meios de
coerção e independentemente, ainda, das regras, técnicas ou de outra
natureza, que na prática dos actos devam ser observadas(...)”
[sublinhado pelo signatário].
[2] Neste sentido, veja-se Carlos Alberto Fernandes Cadilha, Regime da
Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e demais Entidades
Públicas Anotado, Coimbra Editora, 2008, p. 113
Petição Inicial de Acção Administrativa Comum de Condenação ao
Pagamento de Indemnizações Decorrentes de Sacrifícios por Razões
de Interesse Público

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal de […]

[…], [estado civil], NIF […], com residência em […],


vem intentar acção administrativa comum para condenação ao
pagamento de indemnização decorrente da imposição de
sacrifícios por razões de interesse público, sob a forma de
processo ordinário, contra
[…], NIPC […], com sede em […],
o que faz nos termos da alínea g) do n.º 2 do artigo 37.º do Código
de Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA), e com os
fundamentos que se seguem:

I – Objecto da acção e pressupostos

1.º
O A. é proprietário de uma vinha implantada num terreno agrícola
sito em […], com uma área total de […] ha e licença para
produção de […] litros de Vinho do Porto (letra B) – cf. Doc. 1
que se dá por integralmente reproduzido, assim como os demais
documentos referidos nesta petição inicial.
2.º
Em […] – na sequência da Resolução do Conselho de Ministros
n.º 72/2010, de 10 de Setembro, e nos termos do Decreto-Lei n.º
126/2010, de 23 de Novembro –, o R. iniciou um procedimento de
concurso público internacional para a formação de um contrato de
implementação e de concessão destinado à captação de água do
domínio público hídrico para a produção de energia hidroeléctrica
e à concepção, construção, exploração e conservação da respectiva
infra-estrutura hidráulica, com reserva de capacidade de injecção
de potência na rede eléctrica de serviço público (RESP) e de
identificação de pontos de recepção associados para energia
eléctrica produzida no aproveitamento hidroeléctrico a construir
na zona abrangida pelo Plano de Gestão da Bacia Hidrográfica de
[…], sito no local de […] – cf. Anúncio n.º […], publicado no
Jornal Oficial das Comunidades Europeias n.º […], de […], que
aqui se junta como Doc. 2.
3.º
A implementação do referido aproveitamento hidroeléctrico para
exploração do domínio público determinou uma alteração
irreversível das condições climáticas e ambientais existentes no
local da vinha do A., com a consequente perda das quantidades e
qualidades de vinho produzido, causando ao A. prejuízos especiais
e anormais cujo ressarcimento se impõe e constitui objecto da
presente acção.
4.º
A acção está em tempo – artigo 41.º, n.º 1, do CPTA.
5.º
O A. tem legitimidade – artigo 9.º, n.º 1, do CPTA.
6.º
O Tribunal é competente, por ser o do lugar em que se deu o facto
constitutivo da responsabilidade – artigo 18.º, n.º 1, do CPTA.

II – Dos factos
7.º
Como referido, em […], o R. iniciou um procedimento para a
formação de um contrato de implementação de um aproveitamento
hidroeléctrico a que se refere a Resolução do Conselho de
Ministros n.º 72/2010, destinado à captação de água para produção
de energia eléctrica com capacidade instalada até […] MW –
aproveitamento hidroeléctrico doravante apenas designado por
“Mini-Hídrica”.
8.º
O local de implementação da Mini-Hídrica (em particular, a sua
albufeira) é adjacente à encosta onde se situa a vinha do A. – cf.
registo fotográfico que se junta como Doc. 3.
9.º
A Mini-Hídrica, objecto do contrato celebrado na sequência
daquele procedimento pré-contratual, entrou em funcionamento a
partir de […].
10.º
A entrada em funcionamento da Mini-Hídrica determinou
profundas alterações climáticas e ambientais em toda a região.
11.º
Designadamente, conforme resulta dos registos do Instituto de
Meteorologia, IP que se juntam como Doc. 4, o enchimento da
albufeira originou, no local,
12.º
uma descida das temperaturas médias superior a […] graus,
13.º
a alteração dos níveis do vento,
14.º
a subida média dos níveis de humidade,
15.º
sem prejuízo da própria modificação das características do solo
onde se implanta a vinha, que agora revela uma concentração
muito superior de água, excessiva e inadequada à produção do
Vinho do Porto – cf. Estudo elaborado por […] que se junta como
Doc. 5.
16.º
Este profundo desvirtuamento das condições climáticas e
ambientais do local da sua vinha causou ao A. prejuízos especiais
e anormais, traduzidos na redução imediata da sua produção
habitual em quantidade superior a […] % e na forte depreciação
do “valor de mercado” da própria vinha.
17.º
Na verdade, antes da implementação da Mini-Hídrica, o A.
produziu, em média, […] litros de Vinho do Porto por ano,
designadamente:
a) No ano de […], produziu […] litros – cf. Doc. 6;
b) No ano de […], produziu […] litros – cf. Doc. 7;
c) […].
18.º
Todavia, no ano de […], subsequente ao enchimento da albufeira,
a produção de uva com a qualidade mínima (isto é, a qualidade
admitida pelas entidades compradoras do vinho titulado por
benefício) não excedeu o equivalente a […] litros – cf. Doc. 8,
19.º
Não logrando o A., inclusivamente, produzir a quantidade a que se
encontrava obrigado nos termos da licença de que é titular,
20.º
Razão pela qual teve de adquirir […] litros a produtores
excedentários, ao preço de […]/litro, sob pena de perda do seu
benefício – cf. Doc. 9.
21.º
Isto, em absoluto contraciclo com o sector, em que a produção
média subiu […] % face ao ano anterior – cf. Doc. 10,
22.º
E em que o preço de venda do vinho beneficiado se fixou em
[…]€/litro – cf. doc. 11.
23.º
Face ao exposto, em resultado da decisão do R. de implementar a
Mini-Hídrica, por razões de interesse público que não se ignoram,
o A. suportou e continua a suportar graves prejuízos, quantificados
em montante não inferior a […] €, assim discriminado:
a) […] €, pela quebra da sua produção média face aos anos
precedentes;
b) […] €, pelos custos com a aquisição de litros de vinho
necessários ao preenchimento das quantidade estabelecidas
na licença de que o A. é titular;
c) […] €, a título de compensação global pela
desvalorização irreversível da vinha de que o A. é
proprietário, consequente da depreciação das características
climáticas e ambientais – vinha cujo valor, em preços
normais de mercado, não seria inferior a […] € e que, nas
actuais circunstâncias, não excede um preço de […] €.

III – Do Direito
24.º
Dispõe o artigo 16.º do Regime da Responsabilidade Civil
Extracontratual do Estado e Demais Entidades Públicas (RRCEE),
aprovado pela Lei n.º 67/2007, de 31 de Dezembro, que «O
Estado e as demais pessoas colectivas de direito público
indemnizam os particulares a quem imponham encargos ou
causem danos especiais e anormais, devendo, para cálculo da
indemnização, atender-se, designadamente, ao grau de afectação
do conteúdo substancial do direito ou interesse violado ou
sacrificado».
25.º
Esclarece o artigo 2.º do RRCEE que «consideram-se especiais os
danos ou encargos que incidam sobre uma pessoa ou um grupo,
sem afectarem a generalidade das pessoas, e anormais os que,
ultrapassando os custos próprios da vida em sociedade, mereçam,
pela sua gravidade, a tutela do direito».
26.º
A norma do artigo 16.º do RRCEE consagra um dever de
indemnizar em termos amplos, fundado, designadamente, na
prática de actos administrativos, em situações não reconduzidas ao
âmbito da responsabilidade civil extracontratual por facto ilícito e
da responsabilidade pelo risco (cf. Carlos Alberto Fernandes
Cadilha, Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do
Estado e Demais Entidades Públicas – Anotado, Coimbra, 2008,
pp. 299-301).
27.º
Neste dever de indemnizar estão em causa «os encargos ou danos
especiais e anormais, o que significa que esta categoria de
responsabilidade civil, procurando assegurar o pagamento de
uma compensação a quem tenha sido afectado na sua esfera
jurídica por razões de interesse comum, visa sobretudo dar
concretização prática a um princípio de igualdade dos cidadãos
perante os encargos públicos, desvalorizando a ocorrência de
danos generalizados ou de pequena gravidade que devam ser
entendidos como um encargo normal exigível como contrapartida
dos benefícios que derivam do funcionamento dos serviços
públicos» (idem, ibidem, p. 302).
28.º
Assim, «apurado que determinados prejuízos são indemnizáveis,
por preencherem as características de especialidade e
anormalidade, há lugar à indemnização pelo sacrifício desde que
se verifiquem os demais requisitos materiais do dever
ressarcitório: a imposição de um encargo ou a causação de um
dano a um particular, no quadro de uma intervenção de uma
autoridade pública, por razões de interesse público» (idem,
ibidem, p. 303).
29.º
Neste âmbito da responsabilidade da Administração por actos
lícitos, «A alusão ao grau de afectação do conteúdo substancial
do direito ou interesse em causa parece permitir reportar o
quantum indemnizaturao valor da desvantagem patrimonial que
tenha incidido sobre bens materiais», ainda que – atendendo ao
«carácter compensatório, e não meramente reparatório da
indemnização» – limitando «o montante indemnizatório às
consequências imediatas da perda de disponibilidade do bem ou
da sua limitação, excluindo quaisquer efeitos indirectos, como os
ganhos que se frustraram em consequência da lesão» (idem,
ibidem, p. 303).
30.º
Ora, no caso dos autos, é manifesta a verificação dos pressupostos
do dever de indemnizar que impende sobre o R., nos termos do
disposto no artigo 16.º do RRCEE:
31.º
A decisão de implementar a Mini-Hídrica corresponde a um acto
lícito, praticado no exercício da função administrativa, por razões
de interesse público;
32.º
A implementação da Mini-Hídrica causou ao A. danos especiais,
acima melhor descritos, já que incidem «sobre uma pessoa ou um
grupo, sem afectarem a generalidade das pessoas»: no caso,
incidem sobre o A.;
33.º
Os danos suportados pelo A. são ainda anormais, já que,
«ultrapassando os custos próprios da vida em sociedade,
mere[ce]m, pela sua gravidade, a tutela do direito», não podendo
ser considerados como danos de «pequena gravidade que devam
ser entendidos como um encargo normal exigível como
contrapartida dos benefícios que derivam do funcionamento dos
serviços públicos»;
34.º
O facto responsabilizante é imputável ao R.: à implementação da
Mini-Hídrica subjaz uma decisão de contratar do R.;
35.º
Verifica-se o nexo de causalidade entre o facto e o dano.
36.º
Destarte, sendo limitado «o montante indemnizatório às
consequências imediatas da perda de disponibilidade do bem ou
da sua limitação, excluindo quaisquer efeitos indirectos, como os
ganhos que se frustraram em consequência da lesão», o dano
indemnizável em resultado da decisão do R. de implementar a
Mini-Hídrica, por razões de interesse público, é quantificado em
montante não inferior a […] €, assim discriminado:
a) […] €, pelos custos com a aquisição de litros de vinho
necessários ao preenchimento das quantidade estabelecidas
na licença (quantidade de vinho beneficiado) de que o A. é
titular;
b) […] €, a título de compensação global pela
desvalorização irreversível da vinha de que o A. é
proprietário, consequente da depreciação das características
climáticas e ambientais – vinha cujo valor, em preços
normais de mercado, não seria inferior a […] € e que, nas
actuais circunstâncias, não excede um preço de […] €.

IV – Do pedido
37.º
Em face do exposto, deve o R. ser condenado a pagar ao A. a
quantia total de […] €, acrescida dos juros legais vincendos até
efectivo e integral pagamento da mesma.

Termos em que deve a presente acção


ser julgada procedente, por provada,
e, em consequência, ser o R.
condenado a pagar ao A. uma
indemnização no montante de […] €,
acrescida dos juros legais vincendos
até efectivo e integral pagamento da
mesma.
Para tanto requer-se a citação do R.
para contestar, querendo, seguindo-se
os demais termos.

Valor: […] € ([…] euros).

Junta:
- Procuração;
- […] documentos, cujo conteúdo se dá por integralmente
reproduzido sempre que nesta petição inicial são referidos;
- Comprovativo do pagamento da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA –
deixando em branco o verso das folhas.

O Advogado,
Petição Inicial de Acção Administrativa Comum Sobre
Interpretação, Validade ou Execução de Contratos

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do
Tribunal
Administrativo e
Fiscal de […]

[…], NIPC […], com sede em […],


vem intentar acção administrativa comum relativa à execução de
contrato, sob a forma de processo ordinária, contra
[…], NIPC […], com sede em […],
o que faz nos termos da alínea h) do n.º 2 do artigo 37.º do Código
de Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA), e com os
fundamentos que se seguem:

I – Objecto da acção e pressupostos


1.º
A A. é uma sociedade comercial que se dedica à actividade de
empreiteiro de obras públicas.
2.º
Em […], o R. adjudicou a proposta da A. referente à “Empreitada
de execução do Passeio Marítimo” – cf. Doc. 1 que aqui se junta e
se dá por integralmente reproduzido, assim como os demais
documentos referidos nesta petição inicial.
3.º
Em […], foi celebrado o respectivo contrato de empreitada de
obra pública, no valor de […] €, acrescido de IVA – Doc. 2.
4.º
Os trabalhos da empreitada foram concluídos em […] e a vistoria
para efeitos de recepção provisória da obra teve lugar no dia […]
seguinte.
5.º
Sucede que, no âmbito da execução da empreitada dos autos, a A.
suportou prejuízos emergentes de factos imputáveis ao R., que
prejudicaram o equilíbrio financeiro do contrato celebrado,
nomeadamente, em resultado do agravamento dos custos na
realização da obra.
6.º
Através de carta datada de […], junta como Doc. 3, a A.
apresentou ao R. um requerimento para ressarcimento daqueles
prejuízos – pelos quais o R. deve ser responsabilizado,
7.º
Pretensão que foi indeferida por deliberação do R. de […],
notificada à A. em […], por ofício n..º […], de […], junto como
Doc. 4.
8.º
O ressarcimento dos prejuízos acima aludidos, e a consequente
reposição do equilíbrio financeiro do contrato dos autos,
constituem o objecto da presente acção.
9.º
A acção está em tempo – artigo 41.º, n.º 1, do CPTA.
10.º
A A. tem legitimidade, por ser parte na relação contratual – artigo
40.º, n.º 2, alínea a), do CPTA.
11.º
O Tribunal é competente, por ser o convencionado pelas partes –
artigo 19.º do CPTA.

II – Dos factos
12.º
Na sequência de concurso público publicitado no Jornal Oficial da
União Europeia, em […], como referido, a A. celebrou com o R. o
contrato de empreitada de cuja execução emerge o litígio objecto
dos presentes autos (Doc. 2).
13.º
Em […] foi lavrado o auto de consignação dos trabalhos.
14.º
Quando notificada para a consignação, a A. tinha a justificada
expectativa de que seria possível dispor da totalidade dos
elementos de projecto em condições adequadas à sua
implementação,
15.º
Ter disponíveis, para executar os trabalhos, as áreas previstas para
os mesmos – designadamente, executando os trabalhos através da
“Estrada Nacional”, cujo trânsito estaria interrompido de acordo
com o caderno de encargos,
16.º
Bem como implementar o planeamento da proposta de forma a
cumprir o prazo contratual convencionado, com os meios
previstos.
17.º
Contudo, isso não aconteceu.
18.º
Com efeito, em […], por ofício n.º […], o R. notificou a A. de
uma ordem de suspensão imediata dos trabalhos, em face de uma
invocada necessidade de estudar alterações a introduzir ao
projecto – cf. Doc. 5.
19.º
Em […], o R. procedeu à formalização desta suspensão, conforme
auto junto como Doc. 6.
20.º
Resulta do teor do referido auto que a suspensão decorreu da
«(…) necessidade, entretanto verificada pelo
Município, de redefinir as cotas de
implantação da via pedonal, de forma a
evitar os constrangimentos anualmente
suportados com a subida no nível do mar e
transbordo das águas na via pública».
21.º
Em […], tendo entregue o projecto rectificado, o R. notificou a A.
para o recomeço dos trabalhos – conforme Ofício n.º […], junto
como Doc. 7.
22.º
De acordo com o mesmo Ofício, o R. notificava ainda a A. para o
seguinte:
«(…) em face da constatada impossibilidade
de corte da Estrada Nacional, os trabalhos
devem ser preferencialmente executados a
partir do areal da praia, sem prejuízo da
utilização dos locais, junto àquela via
rodoviária, que possam servir igualmente de
acesso sem prejuízo da circulação
automóvel.
Mais se informa que, considerando a
necessidade de dar cumprimento aos prazos
da candidatura de apoio comunitário que
viabiliza a empreitada, devem V. Exas. dar
imediata execução aos trabalhos de forma a
cumprir integralmente o prazo inicialmente
estipulado, com o necessário reforço de
meios humanos e de equipamento».
23.º
A referida modificação (unilateral), pelo R., do modo de execução
das prestações previstas no contrato – quanto aos locais
disponibilizados para apoio e acesso à obra e ao necessário reforço
de meios para cumprimento do prazo de execução – determinaram
uma maior dificuldade na execução da obra, com o consequente
agravamento dos encargos respectivos.
24.º
Na verdade, em cumprimento da mencionada determinação do R.,
a A. foi obrigada, além do mais:
a) A um reforço de infra-estruturas, implantadas sob o areal
da praia, para construção do estaleiro da obra;
b) A uma substituição de diversos meios de equipamento,
adequado à operacionalização nas novas condições;
c) A um reforço de meios (humanos e de equipamento),
para assegurar a conclusão dos trabalhos na data
inicialmente prevista.
25.º
Este reforço e substituição dos meios previstos, bem como os
encargos daí consequentes, quantificados no montante global de
[…]€, resultam melhor explicitados e demonstrados conforme
requerimento para reposição do equilíbrio financeiro do contrato,
apresentado pela A. ao R. em […] (Doc. 3).
26.º
Como referido, este requerimento foi indeferido pelo R., em
síntese, porquanto, no seu entender (cf. Doc. 4, pág. 3),
«(…) as supostas vicissitudes invocadas,
sendo apenas relacionadas com um ligeiro
ajustamento quanto ao modo de execução
dos trabalhos, faculdade que
inquestionavelmente assiste ao dono da obra
no âmbito da execução dos contratos de
empreitada de obras públicas, estão
abrangidas e não extravasam a “repartição
do risco entre as partes”, assumido com a
celebração do contrato (cf. n.º 2 do artigo
282.º do Código dos Contratos Públicos)» .

III – Do Direito
27.º
Estabelece o n.º 1 do artigo 354.º do Código dos Contratos
Públicos (CCP) que «Se o dono da obra praticar ou der causa a
facto donde resulte maior dificuldade na execução da obra, com
agravamento dos encargos respectivos, o empreiteiro tem o
direito à reposição do equilíbrio financeiro».
28.º
De acordo com o disposto no n.º 3 do artigo 282.º do CCP, a
reposição do equilíbrio financeiro do contrato é «efectuada, na
falta de estipulação contratual, designadamente, através (…) do
dever de prestar à contraparte o valor correspondente (…) ao
agravamento dos encargos previstos com a execução do
contrato».
29.º
O contrato dos autos é omisso quanto à forma de proceder à
reposição do seu equilíbrio financeiro (Doc. 2).
30.º
Conforme requerimento que aqui se dá por integralmente
reproduzido (Doc. 3), o direito do A. à reposição do equilíbrio
financeiro do contrato dos autos foi exercido tempestivamente e
nos termos legais (artigo 354.º, n.ºs 2 e 3, do CCP).
31.º
Em face do exposto, e melhor demonstrado no referido
requerimento da A. (Doc. 3), no âmbito da empreitada dos autos, e
em consequência de factos praticados pelo R., a A. viu agravados
os encargos da execução da obra a que se vinculou em montante
não inferior a […] €,
32.º
Valor que, por isso, lhe deve ser prestado pelo R., para reposição
do equilíbrio financeiro do contrato celebrado, de acordo com o
estatuído pelo n.º 1 do artigo 354.º do CCP – o que, por ser
devido, aqui se requer.

IV – Do pedido
33.º
Pretende-se, pelas razões de facto e de direito acima enunciadas,
que o R. seja condenado a pagar à A., pelo agravamento dos
custos que causou na realização da obra objecto do contrato dos
autos, a quantia de […]€, acrescida dos juros vincendos até
efectivo e integral pagamento da mesma.

Termos em que a acção deve


ser julgada procedente e, em
consequência, ser o R.
condenado a pagar à A. a
quantia de […] €, acrescida
dos juros vincendos até seu
efectivo e integral pagamento.
Para tanto requer-se a citação
do R., para contestar,
querendo, seguindo-se os
demais termos.

Valor: […] € ([…] euros).

Junta:
- Procuração;
- […] documentos, cujo conteúdo se dá por integralmente
reproduzido sempre que nesta petição inicial são referidos;
- Comprovativo do pagamento da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA –
deixando em branco o verso das folhas.

O Advogado,
Contestação com a Invocação da Excepção de Uso da Acção
Administrativa Comum para Obter o Efeito que Resultaria da
Anulação do Acto Inimpugnável

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE […]


Proc. n.º […]

CONTESTANDO, diz a R., […]:

Da excepção de inadequação do meio processual

1.º
A presente acção administrativa comum tem como objecto o
reconhecimento do direito à aposentação do A., por, alegada
verificação dos pressupostos do artigo 37.º do Estatuto da
Aposentação [EA], como o mesmo refere no intróito da sua
petição inicial.
2.º
Sucede, porém, que o meio processual escolhido pelo A. não é o
adequado para obter o efeito pretendido, pelas razões que se
passam a enumerar.
3.º
Como refere no artigo […].º da, aliás douta, petição inicial,, em
[…], o A., requereu a sua aposentação por considerar reunir os
pressupostos do já referido artigo 37.º do EA (cf. doc. 1 junto com
a petição inicial).
4.º
Em […], a R. indeferiu o pedido, como confessa o A. no artigo
[…].º da petição inicial.
5.º
Esta deliberação foi notificada ao A. em […], conforme aviso de
recepção que se junta como Doc. 1.
6.º
O A. não impugnou esta deliberação.
7.º
Sendo certo, porém, que, caso o pretendesse fazer, já teria
decorrido o prazo para o efeito, pois, nos termos do artigo 58.º, n.º
2, al. b), do Código de Processo nos Tribunais Administrativos
(CPTA), a impugnação de actos anuláveis tem lugar no prazo de
três meses.
8.º
Na verdade, contados estes três meses, nos termos do artigo 144.º,
n.º 1, do Código de Processo Civil, para o qual remete o n.º 3 do
artigo 58.º do CPTA, o prazo terminou no dia […].
9.º
O que determina a inimpugnabilidade do acto de indeferimento do
pedido de aposentação do A.
10.º
Vem, agora, o A. pedir que lhe seja reconhecido o direito à
aposentação, com os mesmos fundamentos do pedido efectuado
em […].
11.º
Ora, o A. pretende, sem margem para dúvidas, com a presente
acção, obter os mesmos efeitos que obteria caso fosse anulado
aquele acto de indeferimento do seu pedido de aposentação.
12.º
Acto esse que, como se viu, é inimpugnável.
13.º
É certo que o artigo 38.º, n.º 1, do CPTA, determina que «o
tribunal pode conhecer, a título incidental, da ilegalidade de um
acto administrativo que já não possa ser impugnado.»
14.º
Porém, ressalva o n.º 2 do mesmo artigo que “a acção
administrativa comum não pode ser utilizada para obter o efeito
que resultaria da anulação do acto inimpugnável.”
15.º
A este respeito, referemMário Aroso de Almeida e Carlos Alberto
Fernandes Cadilha o seguinte (cf. Comentário ao Código de
Processo nos Tribunais Administrativos, 2.ª Edição Revista,
Almedina, Coimbra, 2007, p. 226): «Na verdade, a acção
administrativa comum não é o meio processual adequado a obter
a anulação de um acto administrativo, que deve ser objecto de
uma acção administrativa especial, sujeita a prazos próprios de
propositura. A possibilidade de invocação, pelo interessado, da
ilegalidade de um acto administrativo relativamente ao qual já
tenham decorrido os prazos de impugnação, no âmbito de uma
acção administrativa comum, só pode, portanto, dirigir-se a obter
efeitos jurídicos não coincidentes com os que resultariam da
propositura de uma acção de impugnação.»
16.º
Nestes termos, é inadequado o uso de acção administrativa comum
de reconhecimento de direito, pelo que deve a R. ser absolvida da
instância, com as devidas e legais consequências.

Termos em que deverá a excepção de uso


inadequado de meio processual proceder e, em
conformidade, ser a R. absolvida da instância, com
as devidas e legais consequências.

Junta: um documento, procuração e comprovativo


do pagamento de taxa de justiça.
Na elaboração do presente documento foram usados
meios informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e
1.º do CPTA., deixando o verso das folhas em
branco.

O Advogado,
Contestação com a Invocação da Excepção de Falta de Interesse Em
Agir

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO e Fiscal de …


Proc. n.º …

CONTESTANDO, diz a R. […]:

1.º
Pede a A. a final da sua, aliás douta, petição inicial,
designadamente, o seguinte:
3. «o reconhecimento do direito de invocar a excepção de não
cumprimento do contrato, como fundamento da suspensão total de
execução dos trabalhos, tendo em consideração a “onerosidade
excessiva” que resulta, para a A., da realização das prestações
contratuais acordadas, de acordo com a calendarização prevista
no plano de trabalhos»;
4. «a condenação da R. no pagamento da quantia devida de […]€,
acrescida de juros de mora à taxa legal em vigor, pelos trabalhos
realizados por conta da empreitada […]».
2.º
Pensa-se que a A. não tem razão, como de seguida se procurará
demonstrar.

I – Por excepção: da falta de interesse em agir


3.º
Entende a A. que, no âmbito da execução do contrato de
empreitada objecto dos autos, se verifica uma situação de incumprimento
por parte do contraente público quanto aos pagamentos devidos por conta
de trabalhos alegadamente realizados em conformidade com o plano de
trabalhos,
4.º
pretendendo a A., em função desse alegado incumprimento por
parte da R., o reconhecimento judicial do direito de invocar a
excepção de não cumprimento para, dessa forma, fundamentar a
suspensão total da execução dos trabalhos ocorrida no passado dia
[…].
5.º
A A. considera que a excepção de não cumprimento e suspensão
dos trabalhos «não implica um grave prejuízo para a realização
do interesse público subjacente à relação jurídica contratual, em
especial no que respeita ao cumprimento dos prazos parciais da
obra»,
6.º
Sendo que, mesmo que implicasse um grave prejuízo para a
prossecução do interesse público, «a excessiva onerosidade que
resultaria, para a A., da realização dos restantes trabalhos
objecto da empreitada dos autos, nos termos enunciados, imporia
sempre, o reconhecimento do direito da A. invocar a excepção de
não cumprimento, efectuada a ponderação correcta dos interesses
em presença, nos termos do artigo 327.º, n.º 2, do CCP»,
conforme dispõe o artigo […] da petição inicial.
7.º
Pensa-se que a pretensão da A. não pode proceder, desde logo
porque não demonstra sequer a actualidade do seu interesse processual
em demandar judicialmente a ora R. nos presentes autos.
8.º
Na verdade, as quantias alegadamente em dívida pela R. apenas
podem dar origem a um direito de invocar a excepção de não
cumprimento para efeitos de legitimar uma suspensão da execução
dos trabalhos nos termos previstos na cláusula […] do contrato.
9.º
Determina a referida cláusula […] do contrato que «O Empreiteiro
pode suspender, no todo ou em parte, a execução dos trabalhos
com fundamento no mecanismo da excepção de não cumprimento
quando (…) b) se verifique a falta de pagamento de qualquer
quantia devida nos termos do contrato, desde que tenha decorrido
dois meses sobre a data do respectivo vencimento, devendo, neste
caso, comunicar a suspensão ao Dono de Obra imediatamente
após a verificação do evento que a fundamenta, devendo fazê-lo
por escrito e com um prazo de antecedência não inferior a 15 dias
à data prevista da suspensão (…)» [sublinhado pelo signatário].
10.º
Ora, a quantia peticionada pela A. apenas se tornou exigível no
passado dia […], com a data do seu vencimento,
11.º
sendo que o prazo dilatório de dois meses previsto na cláusula
[…] acima transcrita apenas termina no próximo dia […]
12.º
Isto significa que, à data de entrada da presente acção judicial,
ainda não tinha decorrido o prazo dilatório de dois meses previsto
no contrato para a A. poder invocar a falta de pagamento de
quantias pelo Dono de Obra como fundamento do direito de
suspender, total ou parcialmente, a execução dos trabalhos, nos
termos acordados no contrato e para os efeitos do disposto na
norma do artigo 366.º, n.º 3, do Código dos Contratos Públicos,
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 18/2008, de 29 de Janeiro.
13.º
Por outro lado, a A. ainda não tinha, tão-pouco, notificado a R. da
sua intenção de proceder à suspensão dos trabalhos, nos termos
exigidos contratualmente, tendo apenas interpelado a R. para
efectuar os pagamentos das quantias que considera devidas «sob
pena de invocar a excepção de não cumprimento», conforme se
demonstra pelas cartas juntas como docs. […] à petição inicial.
14.º
Assim sendo, a A. não se encontra numa situação em que
necessite de uma efectiva tutela judiciária no que ao
reconhecimento judicial do direito diz respeito, uma vez que o
mesmo não pode, sequer, ser exercido pela A.
15.º
Ainda que, por mera hipótese, o direito de invocar a suspensão de
execução dos trabalhos pudesse, em abstracto, ser exercido pela
A., nunca o pedido de reconhecimento judicial poderia proceder
uma vez que a A. não logrou demonstrar a existência de uma
situação jurídica de incerteza objectiva e grave (cfr. Mário Aroso
de Almeida/Carlos Alberto Fernandes Cadilha, Comentário ao
Código de Processo nos Tribunais Administrativos, 2ª Edição
Revista, 2007, p.232) quanto ao direito de que se arroga,
16.º
Nem se evidencia de forma suficiente, por outro lado, qualquer
situação de risco cuja probabilidade de ocorrência de danos na
esfera jurídica da A. justifique, no momento presente, o
reconhecimento judicial do direito que invoca.
17.º
Em suma, falta à A. o pressuposto processual do interesse em agir
(cf. Antunes Varela / J. Miguel Bezerra / Sampaio e Nora, Manual
de Processo Civil, 2.ª Edição, Coimbra Editora, p. 189), previsto
no artigo 39.º do CPTA,
18.º
Consubstanciando a falta do mesmo uma excepção dilatória,
19.º
Que, por sua vez, acarreta a absolvição parcial da instância [1] no
que ao pedido de «reconhecimento do direito de invocar a
excepção de não cumprimento do contrato, como fundamento da
suspensão total de execução dos trabalhos» diz respeito, nos
termos do disposto no artigo 288.º, n.º 1, alínea e), do CPC, ex vi
artigo 42.º, n.º 1, do CPTA.

Sem conceder, acrescenta-se, ainda, por mero dever de patrocínio,


o seguinte:

II – Por impugnação
20.º
Aceitam-se os factos constantes dos artigos […] da petição inicial.
21.º
Impugna-se, por se desconhecer sem a obrigação de conhecer, nos
termos do artigo 490.º, n.º 3, do CPC, o alegado nos artigos […]
da petição inicial.
22.º
Impugna-se ainda, por não corresponder à verdade, ou por deles
não ser possível extrair os efeitos pretendidos pela A., o alegado
nos artigos […] da petição inicial.

Nestes termos e nos demais de


direito, deve a excepção
dilatória invocada ser julgada
procedente, devendo a R. ser
absolvida parcialmente da
instância, com as legais
consequências.

Caso assim não se entenda, o


que só por mera cautela de
patrocínio se admite sem
conceder, deve sempre a
presente acção ser considerada
improcedente por não provada
e, em consequência, ser a R.
absolvida do pedido.

Junta: […] documentos, procuração e comprovativo do


pagamento da taxa de justiça.
Na elaboração do presente documento foram usados meios
informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA.,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,

[1] Sobre a natureza do interesse em agir e as consequências jurídico-


processuais da sua falta, veja-se Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
(1ª Secção), de 8 de Março de 2001 (Processo n.º 00A3277), Relator
Ferreira Ramos, disponível em www.dgsi.pt.
Réplica

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO e Fiscal de […]


Proc. n.º […]

R
E
P
LI
C
A
N
D
O,
di
z
a
A.
[

]:

I – Enquadramento da réplica
1.º
Ainda que sob a epígrafe “Por impugnação”, nos artigos […].º a
[…].º da sua, aliás douta, contestação, defendeu-se o R.,
substancialmente, por excepção.
2.º
Sendo certo que não o diz expressamente – como, aliás, lhe
impunha o artigo 488.º do Código de Processo Civil (CPC), nem a
final da sua contestação, no pedido que formula, se reporta a tal
matéria,
3.º
Limitando-se a requerer que “deve a presente acção ser
considerada improcedente, por não provada, e consequentemente,
deverá a Ré ser absolvida do pedido contra si formulado”.
4.º
Não obstante – e ainda que, como sublinhado, sob a epígrafe “Por
impugnação” –, invoca o R. factos que pretendem servir de causa
impeditiva, modificativa ou extintiva do direito invocado pela A..
5.º
Na verdade, dispõe artigo 487.º, n.º 2, do CPC, que
“O Réu defende-se por impugnação quando
contradiz os factos articulados na petição ou
quando afirma que esses factos não podem
produzir o efeito jurídico pretendido pelo autor;
defende-se por excepção quando alega factos
que obstam à apreciação do mérito da acção ou
que, servindo de causa impeditiva, modificativa
ou extintiva do direito invocado pelo auto,
determinam a improcedência total ou parcial do
pedido”
– Sublinhado pelo signatário
6.º
Os factos modificativos ou extintivos são, consabidamente, factos
sucessivos ao nascimento do direito invocado e que se reportam,
respectivamente, à sua subsistência ou existência – os primeiros
modificam o direito que se tenha validamente constituído; os
segundos produzem a cessação do direito que se tenha
validamente constituído.
7.º
Factos impeditivos são ocorrências ou situações imputadas no
momento em que a relação se forma ou acaba de formar e que
obstam – o que os distingue dos factos constitutivos – a que um
direito se tenha validamente constituído.
8.º
Ora, o R., alega factos que pretendem servir de causa impeditiva,
modificativa ou extintiva do direito invocado pelo A.,
designadamente, e ainda que de forma implícita, a ilegitimidade
activa da A. em resultado da ausência processual da sua
consorciada […] na empreitada dos autos – cf. artigos [...].º e
[…].º da contestação).
9.º
Destarte, o R., na sua contestação, não se limitou a negar ou
contradizer o alegado pela A. quanto ao pedido formulado,
explicando porque é que o mesmo não seria verdade – sendo que
essa contradição dos factos articulados pela A. na sua petição
inicial consubstanciaria uma defesa por impugnação (cf. artigo
487.º, n.º 2, do CPC).
10.º
Da mesma forma, o R., na sua contestação, não se limitou a alegar
determinados factos que pudessem afectar o próprio círculo dos
factos constitutivos do direito da A. – sendo que essa contradição
dos efeitos jurídicos dos factos articulados pelo A. seria, ainda,
uma defesa por impugnação (cf. artigo 487.º, n.º 2, do CPC).
11.º
Pelo contrário, o R., na sua contestação, actuou aceitando os
factos alegados pela A. e, simultaneamente, alegando factos novos
tendentes a repelir a sua pretensão – e isso é defesa por excepção.
12.º
Aliás, ao menos no entender da A., se dúvidas tivesse o R.
relativamente à natureza da defesa que apresentou neste âmbito,
bastaria que atendesse ao teor inequívoco do elemento literal da
norma constante no artigo 494.º, n.º 1, alínea e), do CPC para que
as dissipasse integralmente: a ilegitimidade das partes
consubstancia, sem qualquer dúvida interpretativa, uma excepção
dilatória.
13.º
Sobre a mencionada excepção – sem prejuízo da existência de
outros factos desta natureza, agora não identificados pela A., os
quais, por cautela de patrocínio, igualmente se impugnam – incide
o presente articulado.
II – Da excepção da ilegitimidade activa da A., não
especificada na contestação

14.º
Nos artigos […].º a […].º da contestação, alega o R., em termos
substanciais, a ilegitimidade da A. em resultado da ausência
processual da […], consorciada da A. na empreitada dos autos.
15.º
Antes de mais, registe-se que é a primeira vez, no âmbito da
“execução da empreitada ou em tudo quanto a ela se relacione”
(cf. cláusula […].ª, n.º […], do contrato de consórcio junto como
Doc. […] com a contestação), que a R. invoca – como faz no
artigo […].º da sua contestação – que a “A. não se encontra
mandatada para representar o consórcio, pois que não juntou
qualquer documento comprovativo desse mandato”,
16.º
Pelo que a alegada ilegitimidade não pode deixar de ter-se como
uma inversão da posição desde sempre assumida pelo R. nesta
matéria.
17.º
Designadamente, nunca o R., por exemplo, alegou essa mesma
“ilegitimidade” quando procedeu aos pagamentos dos trabalhos (e
de juros) – cf. Docs. […] a […] juntos com a contestação)
mediante documentos contabilísticos emitidos pelo próprio A. –
ainda que as “facturas globais” apresentadas não contivessem
indicação da “facturação de cada uma das Consorciadas no
período em referência” (cf. cláusula […], do contrato de
consórcio).
18.º
Em qualquer caso, o A. assume, no referido contrato de consórcio,
uma participação de 90% – cf. cláusula […].ª, n.º […], do mesmo
contrato (Doc. […] junto com a contestação),
19.º
Sendo certo que os trabalhos de cuja execução emergem os
prejuízos peticionados na presente acção eram, nos termos
expressos do contrato de consórcio, da exclusiva incumbência e
responsabilidade da A., que, por isso, os realizou – cf. Anexo I ao
contrato de consórcio.
20.º
Deve, neste enquadramento, o pedido dos autos ser apreciado na
quota-parte do interesse da A. na relação material controvertida –
artigo 27.º, n.º 1, do CPC,
21.º
O que, no caso, corresponde à totalidade do pedido formulado, já
que, apesar da relação material controvertida respeitar, da parte do
empreiteiro, a duas empresas, a consorciada […] não tem qualquer
interesse na pretensão objecto dos autos.

Termos em que deve ser


julgada improcedente a
mencionada excepção, aliás
deduzida de forma não
especificada, com as legais
consequências.

Junta: comprovativo de notificação ao Ilustre Mandatário do R..

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA –
deixando em branco o verso das folhas.

O Advogado,
Petição Inicial de Acção Administrativa Especial de Impugnação de
Acto Administrativo

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[…], [estado civil], NIF [...], com residência em [...],


vem intentar acção administrativa especial, de impugnação do
Despacho do Senhor [...], datado de […], adiante melhor
referenciado, contra
[...], NIPC […], com sede em [...],
o que faz nos termos do artigo 46.º, n.º 2, alínea a), do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os
fundamentos seguintes:

I – Objecto da acção e pressupostos


1.º
Constitui objecto da presente acção o Despacho do Senhor [...],
datado de […], concordando com o Parecer n.º [...], da Direcção
[...] – que se junta como Doc. 1 e se dá por integralmente
reproduzido, assim como os demais documentos referidos nesta
petição inicial.
2.º
O A. tem legitimidade já que este despacho é lesivo dos seus
direitos e interesses legalmente protegidos – artigo 55.º, n.º 1, al.
a), do CPTA.
3.º
O Tribunal é competente por ser o da residência do A. – artigo
16.º do CPTA.
4.º
O A. foi notificado no dia [...], pelo que está em tempo, segundo
o disposto no artigo 58.º, n.º 2, al. b), do CPTA.

II – Dos factos
5.º
Contra o A. e com data de [...], foi deduzida acusação em
processo disciplinar – de que se junta cópia como Doc. 2 -, notificada
pessoalmente ao A. na mesma data, cf. Doc. 3 que se junta.
6.º
O A. apresentou a sua defesa em [...] – conforme Doc. 4 que se
junta.
7.º
Em […], o A. foi notificado do Despacho do Senhor [...], de […],
concordando com o relatório do Instrutor.
8.º
Nos termos do referido relatório do Instrutor do processo, foram
os seguintes os factos imputados ao A.:
«[...].»
9.º
Ao A. foi diagnosticada uma depressão grave, resultado de [...],
conforme resulta do relatório do médico psiquiatra que se junta
como Doc. 5.
10.º
Na sequência deste diagnóstico, foram-lhe receitados anti-
depressivos.
11.º
Anti-depressivos estes que o A. tomou, no dia da prática dos
factos que lhe são imputados em sede disciplinar,juntamente com
doses exageradas de álcool.
12.º
Acontece que este consumo combinado afectou a capacidade de
decisão do A., levando a que este irreflectidamente adoptasse o
comportamento que deu origem à referida infracção disciplinar,
conforme atesta o referido relatório psiquiátrico já junto como
doc. 5.
13.º
Actualmente, o A. está apto para exercer funções, cfr. declaração
médica que se junta como Doc. 6.
14.º
O A. sempre teve um comportamento exemplar, dentro e fora da
instituição.
15.º
Além do mais, refira-se, a infracção ocorreu em […] de 2006.
16.º
Até àquela data o comportamento do A. tinha sido irrepreensível.
17.º
Após aquele episódio, não houve mais notícias de
comportamentos desviantes por parte do A..

III – O Direito

a) Do erro sobre os pressupostos de facto pela não consideração


da verificação de circunstâncias dirimentes
18.º
Considerou o despacho impugnado que não ocorreu qualquer
circunstância dirimente da responsabilidade disciplinar.
19.º
Ora, salvo o devido respeito, não se podia estar em maior
desacordo com esta afirmação.
Senão vejamos,
20.º
O relatório médico junto aos autos pelo A. relata os efeitos que
causam a administração de antidepressivos, combinada com o
consumo exagerado de álcool, na consciência e capacidade de
decisão.
21.º
Ora, o despacho impugnado não valora devidamente o relatório
médico apresentado pelo A., pelo que incorre em erro sobre os
pressupostos de facto, ao considerar não se verificar nenhuma
circunstância dirimente.
22.º
Na verdade, de acordo com o que se acabou de expor, deve
considerar-se que o A., à data dos factos que lhe são imputados,
não possuía a capacidade de se autodeterminar, já que estava
privado acidentalmente do exercício das suas faculdades
intelectuais.
23.º
Tal circunstância, na medida em que afasta a culpa e a
punibilidade do comportamento, dirime a responsabilidade do A.
da prática da infracção disciplinar de que vem acusado e
condenado.
24.º
Conclui-se, desta forma, que o despacho impugnado incorreu em
erro sobre os pressupostos de facto, pelo que é anulável para os
devidos e legais efeitos.

b) Da ilegalidade da pena aplicada por violação do princípio da


proporcionalidade (artigo 18.º, n.º 2, da CRP)
25.º
O despacho impugnado aplica ao A. a pena disciplinar de
aposentação compulsiva.
26.º
De acordo com o despacho impugnado, o A. beneficiou das
circunstâncias atenuantes previstas nas alíneas a) e b) do artigo
22.º do Estatuto Disciplinar dos Trabalhadores que Exercem
Funções Públicas (EDTFP).
27.º
Considera, no entanto, o A. que o despacho impugnado, muito
embora refira estas circunstâncias atenuantes, não retira a devida
consequência das mesmas, ou seja, não as aplica ao caso em
concreto.
Senão vejamos,
28.º
O A., durante 20 anos de exercício da sua profissão, pautou-se por
um exemplar comportamento e dedicação.
29.º
Refira-se ainda que após ter sido submetido a internamento e não
obstante continuar a padecer de depressão e se encontrar sob
tratamento médico, tem mantido, como ficou dito, um
comportamento reconhecidamente exemplar no exercício das suas
funções.
30.º
Além do mais, o episódio que deu origem ao procedimento
disciplinar foi um episódio absolutamente pontual, confessado
integralmente e sem reservas pelo A., na mesma data, tendo
reparado o lesado no próprio dia.
31.º
Caso se venha a entender não dirimir a responsabilidade
disciplinar, sem conceder, todas estas circunstâncias atenuantes
verificadas obrigariam a optar pela aplicação de uma pena não
expulsiva.
32.º
Na medida em que não se verificam razões substantivas, e nem
elas tão pouco vêm invocadas, para se concluir quer pela
incompetência profissional, quer pela falta de idoneidade moral
para o exercício de funções.
33.º
Por tudo o que vai exposto, só se consideraria necessária,
adequada e proporcional uma pena que não pressupusesse a
inviabilidade da relação funcional, sob pena de violação do artigo
18.º, n.º 2, da CRP, o que não é o caso da pena de aposentação
compulsiva.

IV- Do pedido
34.º
Pelas razões referidas, o despacho impugnado é ilegal pelo que o
mesmo deve ser anulado.
Termos em que requer seja
anulado o despacho impugnado,
com as devidas e legais
consequências.
Para tanto, requer-se a citação do
R., na pessoa do Senhor [...],
para contestar, querendo,
seguindo-se os demais termos.

Não se conhecem contra-interessados.

Valor: 30.000,01 € (quinze mil euros e um cêntimo)


Valor para custas: impossível de determinar [artigo 12.º, n.º 1,
alínea e), do RCP]

Prova:
a) Documental: os […] documentos juntos;
b) Testemunhas:
1. [nome], [profissão], residente em [...];
2. [nome], [profissão], residente em [...].

Junta: - [...] documentos, assim identificados:


- Doc. 1 –Despachode [...];
- Doc. 2 – Cópia da acusação;
- Doc. 3 – Notificação pessoal datada de […];
- Doc. 4 – Defesa;
- Doc. 5 – Relatório Médico Psiquiatra;
- Doc. 6 – Declaração médica.
- Procuração forense; e
- Comprovativo do pagamento da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Petição Inicial de Condenação à Prática de Acto DevidoQuando,
Tendo Sido Apresentado Requerimento que Constitua o Órgão
Competente no Dever de Decidir, Não Tenha Sido Proferida Decisão
Dentro do Prazo Legalmente Estabelecido

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal
de [...]

[…], [estado civil], NIF [...], com residência em [...],


vem intentar acção administrativa especial, com vista à
condenação à prática de acto devido, contra
[….], NIPC […], com sede em [...],
o que faz nos termos do artigo 46.º, n.º 2, alínea b), do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA), e com os
fundamentos seguintes:

I – Objecto da acção e pressupostos


1.º
Constitui objecto da presente acção a pretensão do A. a obter a
decisão do Senhor [...], quanto ao pedido por si formulado, em
[…], requerendo o pagamento dos vencimentos referentes ao
posto de 2.º Sargento, 1.º Escalão, desde […], nos termos do n.º 3
do artigo 14.º do Estatuto dos Militares das Forças Armadas
(EMFAR), pedido cuja cópia se junta como Doc. 1 e se dá por
integralmente reproduzido, assim como os demais documentos
referidos nesta petição inicial.
2.º
O A. tem legitimidade, já que a não emissão da decisão afecta os
seus direitos e interesses legalmente protegidos – artigo 68.º, n.º 1,
alínea a), do CPTA.
3.º
O Tribunal é competente, por ser o da residência do A. – artigo
16.º do CPTA.
4.º
De acordo com o artigo 109.º, n.º 2, do Código de Procedimento
Administrativo (CPA), o Senhor [...] estava obrigado a proferir
decisão no prazo de 90 dias, tendo este prazo terminado no dia
[…],
5.º
pelo que a acção está em tempo – artigo 69.º, n.º 1, do CPTA.

II – Dos factos
6.º
O A. é militar a exercer funções em [...].
7.º
Em […], o A. foi promovido a 2.º Sargento, antes exercendo
funções como Furriel.
8.º
Sucede, porém, que, por ordem de serviço n.º [...], o A. foi
nomeado para as funções de […], desde […], conforme ordem de
serviço que se junta como Doc. 2.
9.º
A tais funções corresponde o posto de 1.º ou 2.º Sargento,
conforme Quadro Orgânico de […], aprovado por despacho de
[…] do Senhor [...], que ora se junta como Doc. 3.
10.º
O artigo 3.º das normas de nomeação de militares, aprovadas pelo
Despacho n.º [...], de […], determina que o militar nomeado nos
termos do artigo 41.º do EMFAR, para o exercício de cargo a que
corresponda posto superior, tem direito a remuneração do escalão
desse posto, desde a data do início do desempenho efectivo dessas
mesmas funções – cf. despacho que se junta como Doc. 4.
11.º
Em consonância com o referido despacho, e nos termos do
disposto no n.º 3 do artigo 14.º do EMFAR, o A., em […],
requereu o pagamento dos vencimentos referentes ao posto de 2.º
Sargento, 1.º Escalão, desde […] – cf. doc. 1 acima junto.
12.º
O referido requerimento deu entrada na secção de [...], onde o A.
exerce funções.
13.º
Sucede, porém, que, até à data, o Senhor [...] não decidiu o pedido
apresentado pelo A.
14.º
Ora, nos termos do artigo 9.º do CPA, o Senhor [...] está obrigado
a decidir a pretensão formulada, sendo que, no entendimento do
A., esta decisão deverá ser no sentido de pagamento dos
vencimentos referentes ao posto de 2.º Sargento, 1.º Escalão,
desde […].

Senão vejamos.

III – Do direito
15.º
Nos termos do artigo 4.º, n.º 3, do EMFAR, aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 236/99, de 25 de Junho, «o militar, enquanto
desempenhar cargo de posto superior, tem os direitos e regalias
remuneratórias desse posto.»
16.º
Por sua vez, nos termos do n.º 4 do mesmo preceito, «o direito à
remuneração referida no número anterior só se constitui quando
não haja titular para o cargo militar a desempenhar».
17.º
Ora, como se viu, o A. desempenhou, desde […] até […], um
cargo correspondente a posto superior,
18.º
como comprova o despacho do Chefe da Secção de Pessoal, que
se junta como Doc. 5, para o qual, conforme refere o mesmo
despacho, não existia titular para o cargo militar a desempenhar.
19.º
Resulta evidente da aplicação destes preceitos que o A. tem direito
a que lhe seja paga a diferença salarial entre o posto de Furriel e o
de 2.º Sargento, conforme tabelas de remuneração base e subsídio
de condição militar que ora se juntam como Docs. 6 a 10.
20.º
O que perfaz um total de [...]€ ([…] euros), deduzidos os
descontos legais.
21.º
O direito invocado encontra ainda fundamento no princípio
constitucionalmente consagrado no artigo 59.º, n.º 1, da CRP –
‘para trabalho igual, salário igual’ –, pelo que a interpretação das
referidas normas no sentido de que aquela diferença salarial não é
devida é inconstitucional, o que desde já se suscita para os devidos
e legais efeitos.

IV - Do pedido
22.º
Por tais razões, de facto e de direito, deverá o R. ser condenado a
emitir decisão no sentido de que seja paga ao A. a diferença
salarial entre o posto de Furriel e o de 2.º Sargento, desde […] até
[…], acrescido dos juros legais desde a citação até efectivo e
integral pagamento.
Termos em que a acção deve
ser julgada procedente e, em
consequência, o R. condenado
à prática de acto legalmente
devido, ou seja, aemitir decisão
no sentido de que seja paga ao
A. a diferença salarial entre o
posto de Furriel e o de 2.º
Sargento, desde […] até […],
acrescido dos juros legais desde
a citação até efectivo e integral
pagamento.
Para tanto, requer-se a citação
do R., na pessoa do Senhor [...]
para contestar, querendo,
seguindo-se os demais termos.

Ignora-se a existência de contra-interessados.

Valor: [...] € ([…] euros).

Junta: - […] documentos, assim identificados:


- Doc. 1 – Requerimento de […];
- Doc. 2 – Ordem de serviço de [...];
- Doc. 3 – Quadro orgânico de [...];
- Doc. 4 – Despacho n.º [...];
- Doc. 5 – Despacho da secção de pessoal;
- Docs. 6 a 10 – Tabelas de remuneração base e subsídio de
condição militar.
- Procuração forense; e
- Comprovativo do pagamento da taxa de justiça.
Na elaboração do presente documento foram usados meios
informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Petição Inicial Quando Tenha Sido Recusada a Prática do Acto
Devido

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do
Tribunal
Administrativo e
Fiscal de [...]

[…], NIF […], com residência em [...],


vem intentar acção administrativa especial, com vista à
condenação à prática de acto devido, contra
[…], NIPC […],com sede em [...],
o que faz nos termos do artigo 46.º, n.º 2, alínea b), do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os
fundamentos seguintes:

I – Objecto da acção e pressupostos


1.º
Constitui objecto da presente acção o despacho de [identificação
do órgão], datado de […], que indeferiu o pedido apresentado pelo
A., em […], para pagamento dos vencimentos referentes ao posto
de 2.º Sargento, 1.º Escalão, desde […], nos termos do n.º 3 do
artigo 14.º do Estatuto dos Militares das Forças Armadas
(EMFAR), despacho que se junta como Doc. 1 e se dá por
integralmente reproduzido, assim como os demais documentos
referidos nesta petição inicial.
2.º
O A. tem legitimidade, já que a decisão afecta os seus direitos e
interesses legalmente protegidos – artigo 68.º, n.º 1, alínea a), do
CPTA.
3.º
O Tribunal é competente, por ser o da residência do A. – artigo
16.º do CPTA.
4.º
O A. foi notificado do referido despacho em […] (cf. Doc. 1), pelo
que a acção está em tempo – artigo 69.º, n.º 1, do CPTA.

II – Dos factos
5.º
O A. é militar a exercer funções em [...].
6.º
Em […], o A. foi promovido a 2.º Sargento, tendo anteriormente
exercido funções como Furriel.
7.º
Por ordem de serviço n.º [...], o A. foi nomeado para as funções de
[…], desde […] –cf. ordem de serviço que se junta como Doc. 2.
8.º
A estas funções corresponde o posto de 1.º ou 2.º Sargento,
conforme Quadro Orgânico datado de […], aprovado por
despacho de […] do Senhor [...], que ora se junta como Doc. 3.
9.º
Determina o artigo 3.º das “normas de nomeação de militares”,
aprovadas pelo Despacho n.º [...], de […],que o militar nomeado
nos termos do artigo 41.º do EMFAR, para o exercício de cargo a
que corresponda posto superior, tem direito a remuneração do
escalão desse posto, desde a data do início do desempenho
efectivo dessas mesmas funções – cf. despacho que se junta como
Doc. 4.
10.º
Em consonância com o referido despacho, e nos termos do
disposto no n.º 3 do artigo 14.º do EMFAR, o A., em […],
requereu o pagamento dos vencimentos referentes ao posto de 2.º
Sargento, 1.º Escalão, considerados desde […] – cf. Doc. 5.
11.º
Em […], o A. foi notificado do despacho de indeferimento
sindicado nos autos.
12.º
No entender do A., esta decisão de indeferimento é ilegal, como se
procurará demonstrar de seguida.

III – Do direito
13.º
Nos termos do artigo 4.º, n.º 3, do EMFAR, aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 236/99, de 25 de Junho, «o militar, enquanto
desempenhar cargo de posto superior, tem os direitos e regalias
remuneratórias desse posto».
14.º
Por sua vez, nos termos do n.º 4 do mesmo preceito, «o direito à
remuneração referida no número anterior só se constitui quando
não haja titular para o cargo militar a desempenhar».
15.º
Ora, resulta do que acima se expôs que o A. desempenhou, entre
[…] e […], um cargo correspondente a um posto superior ao seu,
16.º
como atesta o despacho do Chefe da Secção de Pessoal, que se
junta como Doc. 5, do qual resulta a inexistência, à data, de
qualquer titular no cargo militar que o A. veio a desempenhar.
17.º
Resulta evidente da aplicação destes preceitos que o A. tem direito
a que lhe seja reconhecida e paga a diferença salarial entre o posto
de Furriel e o de 2.º Sargento, cf. tabelas de remuneração base e
subsídio de condição militar que ora se juntam como Docs. 6 a 10,
18.º
o que perfaz um total de [...]€ ([…] euros), deduzidos os
descontos legais.
19.º
O direito invocado encontra ainda fundamento no princípio
constitucionalmente consagrado no artigo 59.º, n.º 1, da CRP –
“para trabalho igual, salário igual” -, pelo que, aliás, uma
eventual interpretação das referidas normas no sentido de não ser
devido o pagamento da diferença salarial entre ambos os cargos
sempre se afiguraria inconstitucional, o que desde já se suscita
para os devidos e legais efeitos.

IV – Do pedido
20.º
Em face das enunciadas razões de facto e de direito, deverá o R.
ser condenado a tomar decisão de pagar ao A. a diferença salarial
entre o posto de Furriel e o de 2.º Sargento, entre […] a […],
acrescido dos juros legais desde a citação até efectivo e integral
pagamento.

Termos em que a acção deve


ser julgada procedente e, em
consequência, o R. condenado
à prática de acto legalmente
devido, ou seja, aemitir decisão
no sentido de que seja paga ao
A. a diferença salarial entre o
posto de Furriel e o de 2.º
Sargento, desde [data] a [data],
acrescido dos juros legais desde
a citação até efectivo e integral
pagamento.
Para tanto, requer-se a citação
do R., na pessoa do Senhor [...],
para contestar, querendo,
seguindo-se os demais termos.
Ignora-se a existência de contra-interessados.

Valor: [...]€ ([…] euros).

Junta: - 10 documentos, assim identificados:


- Doc. 1 – Despacho n.º […], datado de [...];
- Doc. 2 – Ordem de serviço de [...];
- Doc. 3 – Quadro orgânico de [...];
- Doc. 4 – Despacho n.º [...];
- Doc. 5 – Requerimento do A. de [data];
- Docs. 6 a 10 – Tabelas de remuneração base e subsídio de
condição militar.
- procuração forense; e
- comprovativo do pagamento da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Petição Inicial de Impugnação de Normas com Pedido deDeclaração
de Ilegalidade de uma Norma Administrativa com Força Obrigatória
Geral

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do
Tribunal
Administrativo e
Fiscal de [...]

[…], [estado civil], NIF [...], com residência em [...],


vem intentar acção administrativa especial de declaração de
ilegalidade, com força obrigatória geral, de norma emanada ao abrigo de
disposições de direito administrativo, contra
[…], NIPC […], com sede em [...],
o que faz nos termos dosartigos 72.º e 73.º, n.º 1, do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os fundamentos
seguintes:

I – Objecto da acção e pressupostos

1.º
Constitui objecto da presente acção a norma contida no n.º 1 do
artigo [...] do Regulamento do Plano Director Municipal do R. que
dispõe sobre o uso dos solos deste Município integrados na Orla
Costeira.
2.º
Esta disposição regulamentar produz efeitos por si só, sem
necessidade de qualquer acto administrativo de mediação,
3.º
na medida em que é imediatamente operativa, ao proibir, com
natureza imperativa, a edificação nas áreas integradas na Orla
Costeira [...].
4.º
Sucede que a aplicação desta norma foi já recusada pelos nossos
Tribunais, com fundamento na sua ilegalidade, pelo menos, em
três casos concretos que assim se indicam:
a) Processo n.º […], que correu termos no Tribunal
Administrativo e Fiscal de […];
b) Processo n.º […], que correu termos no Tribunal
Administrativo e Fiscal de […];
c) Processo n.º […], que correu termos no Tribunal
Administrativo e Fiscal de […].
5.º
O A. tem legitimidade já que é prejudicado pela aplicação da
referida norma – artigo 73.º, n.º 1, do CPTA.
6.º
A acção está em tempo – artigo 74.º do CPTA.

II – Dos factos

7.º
Dispõe o n.º 1 do artigo [...] do Regulamento do Plano Director
Municipal de […]:
«Nas zonas integradas na Orla Costeira (...) não é
admitida a construção de edifícios para habitação».
8.º
Em […], foi publicado no Diário da República n.º [...], de […], I
Série, o Plano Especial de Ordenamento da Orla Costeira [...].
9.º
No que concerne, e para o que ora mais releva, à admissibilidade
da construção nas áreas abrangidas pelo referido Plano Especial,
dispõe o artigo [...] deste Plano:
«É admitida a construção de edifícios para
habitação nas zonas abrangidas pelo presente
Plano, desde que limitadas a moradias
unifamiliares com o máximo de 1 piso».
10.º
Em […], o A. apresentou, na Câmara Municipal de […], um
pedido de licenciamento para a construção de uma moradia
unifamiliar de 1 piso – cf. cópia do requerimento apresentado pelo
A. que se junta como Doc. 1 e se dá por integralmente reproduzido
(assim como os demais documentos referidos nesta petição
inicial).
11.º
De acordo com o Regulamento do Plano Director Municipal de
[...], esta moradia unifamiliar está integrada na Orla Costeira [...] –
cf. extracto da planta de localização do Plano Director Municipal
de [...] que se junta como Doc. 2.
12.º
Em […], o pedido do A. foi indeferido pelo Senhor Presidente da
Câmara Municipal de [...] com fundamento no disposto no n.º 1 do
artigo [...] do referido Regulamento do Plano Director Municipal –
cf. cópia do acto de indeferimento que se junta como Doc. 3.

III – Do direito

13.º
Dispõe o artigo 2.º do Regime Jurídico dos Instrumentos de
Gestão Territorial (RGIT), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 380/99,
de 22 de Setembro (na sua actual redacção):
«1 - A política de ordenamento do
território e de urbanismo assenta no
sistema de gestão territorial, que se
organiza, num quadro de interacção
coordenada, em três âmbitos:
a) O âmbito nacional;
b) O âmbito regional;
c) O âmbito municipal.
2 - O âmbito nacional é concretizado
através dos seguintes instrumentos:
[...]
c) Os planos especiais de ordenamento
do território, compreendendo os planos de
ordenamentos de áreas protegidas, os
planos de ordenamento de albufeiras de
águas públicas, os planos de ordenamento
da orla costeira e os planos de
ordenamento dos estuários.
[...]
4 - O plano municipal é concretizado
através dos seguintes instrumentos:
[...]
b) os planos municipais de
ordenamento do território, compreendendo
os planos directores municipais, os planos
de urbanização e os planos de pormenor».
14.º
Por sua vez, determina o n.º 4 do artigo 24.º do mesmo diploma
que «[o]splanos especiais de ordenamento do território
prevalecem sobre os planos intermunicipais de ordenamento do
território, quando existam, e sobre os planos municipais de
ordenamento do território».
15.º
Destarte, os planos municipais de ordenamento do território têm
que se conformar com as disposições constantes dos planos
especiais de ordenamento do território, entre os quais, como
referido, os planos especiais de ordenamento das Orlas Costeiras.
16.º
Mais estabelece o artigo 102.º do RGIT que «[s]ão nulos os
planos elaborados e aprovados em violação de qualquer
instrumento de gestão territorial com o qual devessem ser
compatíveis ou conformes» – cf. n.º 1 deste preceito.
17.º
Face a todo o exposto, resulta que a norma constante do n.º 1 do
artigo [...] do Regulamento do Plano Director Municipal de [...] é
nula, por violação do disposto no artigo [...] do Plano Especial de
Ordenamento da Orla Costeira [...].
18.º
Sendo que, conforme sublinhado acima no artigo 3.º desta petição,
pelo menos em três casos concretos, a aplicação desta norma foi
recusada pelos Tribunais com fundamento, precisamente, na sua
ilegalidade.

IV – Do pedido
19.º
Assim, sendo manifestamente ilegal, impõe-se a supressão
imediata da presente norma da ordem jurídica, por força do
respeito dos princípios jurídicos fundamentais de um Estado de
Direito, tais como o da legalidade, da segurança jurídica e da
protecção da confiança, com assento nos artigos 2.º e 266.º, n.º 1,
da Constituição da República Portuguesa,
20.º
pelo que se requer que seja declarada a respectiva ilegalidade, com
força obrigatória geral.

Termos em que deve ser declarada, com


força obrigatória geral, a ilegalidade da
norma contida no n.º 1 do artigo [...] do
Regulamento do Plano Director
Municipal de [...], com as legais
consequências.
Para tanto, requer-se a V. Exa. que
ordene a citação do R. para contestar,
querendo, seguindo-se os demais
termos.

Desconhecem-se contra-interessados.

Valor: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


Valor para custas: impossível de determinar [art. 12.º, n.º 1, alínea
e), do RCP].

Prova:
a) Documental – os […] documentos referidos nesta petição
inicial.
b) Prova testemunhal:
1. [Nome], [profissão], residente em […];
2. [Nome], [profissão], residente em […].

Junta: - […] documentos, assim identificados:


- Doc. 1 – Cópia do requerimento apresentado na Câmara
Municipal de [...] pelo A. em […];
- Doc. 2 – Extracto da Planta de localização do Plano
Director Municipal de [...];
- Doc. 3 – Cópia do acto de indeferimento.
- Procuração forense; e
- Comprovativo do pagamento da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC, e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Petição Inicial com Pedido de Declaração de Ilegalidade de uma
Norma Administrativa com Efeitos Circunscritos ao Caso Concreto

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal Administrativo e Fiscal de [...]

[…], [estado civil], NIF [...], com residência em [...],


vem intentar acção administrativa especial de declaração de
ilegalidade, com efeitos circunscritos ao caso dos autos, de norma
emanada ao abrigo de disposições de direito administrativo, contra
[…], NIPC […], com sede em [...],
o que faz nos termos dosartigos 72.º e 73.º, n.º 2, do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os fundamentos
seguintes:

I – Objecto da acção e pressupostos


1.º
Constitui objecto da presente acção a norma contida no n.º 2 do
artigo [...] do Regulamento do Plano Director Municipal de [...]
que dispõe sobre o uso dos solos deste Município abrangidos pelo
Plano de Ordenamento do Parque Natural do [...].
2.º
A norma referida produz efeitos por si só, sem necessidade de
qualquer acto administrativo de mediação.
3.º
Com efeito, esta disposição regulamentar é imediatamente
operativa, ao proibir, com natureza imperativa, a edificação nas
áreas integradas no Parque Natural do [...].
4.º
O A., enquanto proprietário de um imóvel inserido em área
integrada no referido Parque Natural do [...], tem legitimidade, nos
termos do disposto no artigo 73.º, n.º 2, do CPTA.
5.º
O Tribunal é competente, por ser o da situação do bem – artigo
17.º do CPTA.
6.º
A acção está em tempo – artigo 74.º do CPTA.

II – Dos factos
7.º
Dispõe o n.º 2 do artigo [...] do Regulamento do Plano Director
Municipal de (….):
«Nas zonas integradas no Parque Natural do [...] não é
admitida qualquer edificação, independentemente do fim a
que se destina».
8.º
Em […], foi publicado no Diário da República n.º [...], de […], I
Série, o Plano de Ordenamento do Parque Natural do [...].
9.º
No que concerne, e para o que ora mais releva, à admissibilidade
da construção nas áreas abrangidas pelo referido Plano Especial,
dispõe o artigo [...], deste Plano:
«Nas zonas integradas no Parque Natural do [...] é
admitida a construção para fins habitacionais, desde que
limitada a moradias unifamiliares, com o máximo de 1
piso».
10.º
Em […], o A. apresentou, na Câmara Municipal de [...], um
pedido de licenciamento para a construção de uma moradia
unifamiliar de 1 piso – cf. cópia do requerimento apresentado pelo
A. que se junta como Doc. 1 e se dá por integralmente reproduzido
(assim como os demais documentos referidos nesta petição
inicial).
11.º
De acordo com o Regulamento do Plano Director Municipal de
[...], esta moradia está inserida na área do Parque Natural do [...] –
cf. extracto da planta de localização do Plano Director Municipal
de [...] que ora se junta como Doc. 2.
12.º
Em […], o pedido do A. foi indeferido pelo Senhor Presidente da
Câmara Municipal de [...] com fundamento no disposto no n.º 2 do
artigo [...] do referido Regulamento do Plano Director Municipal –
cf. cópia do acto de indeferimento que se junta como Doc. 3.

III – Do direito
13.º
Dispõe o artigo 2.º do Regime Jurídico dos Instrumentos de
Gestão Territorial (RGIT), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 380/99,
de 22 de Setembro (na sua actual redacção):
«1 - A política de ordenamento do
território e de urbanismo assenta no
sistema de gestão territorial, que se
organiza, num quadro de interacção
coordenada, em três âmbitos:
a) O âmbito nacional;
b) O âmbito regional;
c) O âmbito municipal.
2 - O âmbito nacional é concretizado
através dos seguintes instrumentos:
[...]
c) Os planos especiais de ordenamento
do território, compreendendo os planos de
ordenamentos de áreas protegidas, os
planos de ordenamento de albufeiras de
águas públicas, os planos de ordenamento
da orla costeira e os planos de
ordenamento dos estuários.
[...]
4 - O plano municipal é concretizado
através dos seguintes instrumentos:
[...]
b) os planos municipais de
ordenamento do território, compreendendo
os planos directores municipais, os planos
de urbanização e os planos de pormenor”.
14.º
Por sua vez, determina o n.º 4 do artigo 24.º do mesmo diploma
que «os planos especiais de ordenamento do território prevalecem
sobre os planos intermunicipais de ordenamento do território,
quando existam, e sobre os planos municipais de ordenamento do
território»
15.º
Portanto, os planos municipais de ordenamento do território têm
que se conformar com as disposições constantes dos planos
especiais, entre os quais, como referido, os planos especiais de
ordenamento de áreas protegidas, como é o caso do Plano de
Ordenamento do Parque Natural do [...].
16.º
Mais estabelece o artigo 102.º do RGIT que «são nulos os planos
elaborados e aprovados em violação de qualquer instrumento de
gestão territorial com o qual devessem ser compatíveis ou
conformes» – cf. n.º 1 do referido preceito.
17.º
Face a todo o exposto, resulta claro que a norma constante do n.º 1
do artigo [...] do Regulamento do Plano Director Municipal de
[…] é nula, por violação do disposto no artigo [...] do Plano de
Ordenamento do Parque Natural do [...].
18.º
E, em consequência, é também ilegal o indeferimento do pedido
apresentado pelo A., porquanto este se conforma com o disposto
no artigo [...] do referido Plano Especial.

IV – Do pedido
19.º
Assim, sendo nula a norma constante do n.º 2 do artigo [...] do
Regulamento do Plano Director Municipal de […], esta norma
deverá ser desaplicada no caso do pedido de licenciamento
apresentado pelo A. na Câmara Municipal de [...], nos termos do
disposto no n.º 2 do artigo 73.º do CPTA.

Termos em que deve declarada, com


efeitos circunscritos ao caso concreto, a
ilegalidade da norma contida no n.º 2 do
artigo [...] do Regulamento do Plano
Director Municipal de [...], com as
legais consequências.
Para tanto, requer-se a V. Exa. que
ordene a citação do R. para contestar,
querendo, seguindo-se os demais
termos.

Desconhece-se a existência de contra-interessados.

Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo).


Valor para custas: impossível de determinar [artigo 12.º, n.º 1,
alínea e), do RCP].
Prova:
a) Documental – os […] documentos referidos nesta
petição inicial.
b) Prova testemunhal:
1. [Nome], [profissão], residente em […];
2. [Nome], [profissão], residente em […].

Junta: - […] documentos, assim identificados:


- Doc. 1 – Cópia do requerimento apresentado na Câmara
Municipal de [...] pelo A. em […];
- Doc. 2 – Extracto da Planta de localização do Plano
Director Municipal de [...];
- Doc. 3 – Cópia do acto de indeferimento.
- Procuração forense; e
- Comprovativo do pagamento da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC, e 1.º do CPTA, deixando o
verso das folhas em branco.

O Advogado,
Petição Inicial de Declaração de Ilegalidade da Não Emanação de
uma Norma Que Devesse ter sido Emitida ao Abrigo de Disposições
de Direito Administrativo e que seja Necessária para dar
Exequibilidade a Actos Legislativos Carentes de Regulamentação

Exmo.
Senhor
Dr. Juiz
do
Tribunal
Administ
rativo e
Fiscal de
[...]

A Ordem dos […], NIPC [...], com sede em [...],


vem intentar acção administrativa especial, de declaração de
ilegalidade por omissão, contra
[…], NIPC […], com sede em [...],
o que faz nos termos do disposto no artigo 77.º do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os
fundamentos seguintes:

I – Objecto da acção e pressupostos


1.º
Constitui objecto da presente acção a omissão de uma norma, a
emitir pelo R., que permita o acesso dos […] ao “Portal do Registo
Predial”, de forma a possibilitar que estes, no âmbito das suas
competências, possam submeter pedidos de registo predial online.
2.º
A A. tem como missão defender os interesses, direitos,
prerrogativas e imunidades dos seus membros – cf. alínea […] do
artigo […] do Estatuto da Ordem dos […].
3.º
Pelo que a A. tem legitimidade nos termos do n.º 1 do artigo 77.º e
n.º 2 do artigo 9.º ambos do CPTA.
4.º
A acção está em tempo – artigo 74.º do CPTA.

II – Dos fundamentos de facto e de direito


5.º
Dispõe o artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 1050/2010, de 30 de
Dezembro:
«1- Sem prejuízo da competência atribuída a outras
entidades, os advogados e os solicitadores podem efectuar
pedidos de registo predial online, através do “Portal do
Registo Predial”, com a consequente redução de 50% no
custo dos actos solicitados.
2 - A apresentação do pedido de registo através do
“Portal” referido no número anterior dispensa a entrega
de quaisquer documentos em suporte de papel.
3 - O acesso das entidades referidas no n.º 1 ao “Portal do
Registo Predial” será efectuado em termos a regulamentar
por portaria do membro do Governo responsável pela área
da justiça».
6.º
Assim sendo, o artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 1050/2010, de 30 de
Dezembro, atribui, designadamente aos […], a competência para
efectuarem pedidos de registo predial online através do “Portal do
Registo Predial” – cf. n.º 1 do referido preceito.
7.º
Para o efeito, estabelece o n.º 3 deste preceito que o acesso ao
referido Portal será feito «nos termos a regulamentar por portaria
do membro do Governo responsável pela área da justiça».
8.º
Contudo, até à presente data, esta Portaria ainda não foi publicada.
9.º
A omissão desta publicação prejudica a classe dos […], que assim
estão impossibilitados de exercer competências – designadamente,
formalizar pedidos de registo predial online – que a lei lhes
atribui.
10.º
Actualmente, os […] não podem, no exercício da sua profissão,
para satisfação dos interesses dos seus clientes, e em consequência
desta omissão, praticar todos os actos e prestar todos os serviços
que lhes estão atribuídos por lei.
11.º
Saliente-se, não podem efectuar pedidos de registo predial online
através do “Portal do Registo Predial” criado, além do mais, para
esse efeito.
12.º
Num momento em que, em homenagem à celeridade e
desburocratização, predomina a desformalização de actos assente
no veículo privilegiado oferecido pelas novas tecnologias, a
utilização deste “Portal” emerge como ferramenta indispensável.
13.º
Na falta da Portaria que regulamenta o mencionado acesso ao
Portal, mantém-se inaplicado todo um universo de oportunidades
de melhoria de resposta dos serviços, ao arrepio da vontade
declarada do legislador.
14.º
Acresce, a omissão regulamentar em causa impossibilita que os
[…] possam prestar aos seus clientes um serviço, não só mais
célere, como mais económico, ao não permitir que estes
beneficiem de um desconto de 50% no custo dos actos a sujeitar a
registo predial.
Termos em que se requer seja
declarada a ilegalidade por
omissão da Portaria prevista
no n.º 3 do artigo 5.º do
Decreto-Lei n.º 1050/2010, de
30 de Dezembro.

Desconhece-se a existência de contra-interessados.

Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo).


Valor para custas: impossível de determinar [artigo 12.º, n.º 1,
alínea e), do RCP].

Junta: procuração e comprovativo do pagamento da taxa de


justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC, e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Contestação com Invocação da Excepção de Ilegitimidade Activa e
Passiva e Inexistência de Acto Administrativo Impugnável

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Proc. n.º […]

CONTEST
ANDO, diz o R.,
[...]:

A – Por excepção

A.1) Da falta de legitimidade activa


1.º
A presente acção foi intentada pelo A. […].
2.º
Esta acção tem como finalidade impugnar o despacho do Senhor
[...], de […], que determinou a afectação do gabinete que o A.
vinha ocupando, enquanto Chefe de Departamento.
3.º
Sucede, porém, que a distribuição dos gabinetes apenas poderá
lesar, em abstracto, o R. e as finalidades que a este compete
prosseguir, e não o A., individualmente considerado.
4.º
Até porque o gabinete fica adstrito ao Departamento e não ao A.
em particular.
5.º
Assim, atendendo ao critério da legitimidade activa estabelecido
para as acções administrativas especiais no artigo 55.º, n.º 1, alínea
a), do Código de Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA)
– norma segundo a qual «[t]em legitimidade para impugnar um
acto administrativo quem alegue ser titular de um interesse
directo e pessoal, designadamente por ter sido lesado pelo acto
nos seus direitos ou interesses legalmente protegidos» –, o A. não
tem interesse directo em demandar[1].
6.º
Na verdade, com a impugnação do (suposto) acto administrativo,
não será o A. a retirar para si próprio qualquer utilidade concreta,
mas antes o Departamento, como se referiu[2].
7.º
Conclui-se, assim, pela ilegitimidade activa do A..
8.º
Nestes termos, deve a presente excepção ser julgada procedente e
o R. absolvido da instância, com as devidas e legais
consequências.
9.º
Se se entender não proceder a presente excepção, sem conceder,
sempre se dirá que o R. também não tem legitimidade passiva.
Senão vejamos.

A.2) Da falta de legitimidade passiva


10.º
Vem a presente acção intentada contra o R. [...].
11.º
Sucede, porém, que o R. não tem personalidade jurídica.
12.º
Em consequência, não tem capacidade jurídica e judiciária, o que
significa que o R. não é susceptível de estar, por si, em juízo.
13.º
Ora, estatui o artigo 10.º, n.º 3, do CPTA, que «Os processos que
tenham por objecto actos ou omissões de entidade administrativa
independente, destituída de personalidade jurídica, são intentados
contra o Estado ou a outra pessoa colectiva de direito público a
que essa entidade pertença».
14.º
Por sua vez, nos termos do artigo 11.º, n.º 2, daquele Código, a
representação do Estado é feita pelo Ministério Público.
15.º
Assim sendo, deverá a presente excepção ser julgada procedente, e
o R. absolvido da instância, com as devidas e legais
consequências.

Se assim não se entender, e sem conceder.

A.3) Da inexistência de acto em matéria administrativa


16.º
Como acima foi mencionado, no entender do A., o objecto da
presente acção é o despacho do Senhor [...], de [...], que
determinou a afectação do gabinete que o A. pretendia passar a
ocupar.
17.º
No entanto, este despacho não poderá ser qualificado como acto
em matéria administrativa, e, por maioria de razão, impugnável.
18.º
De facto, o seu conteúdo não implica acriação, modificação ou
extinção de direitos ou deveres na esfera jurídica do A.
19.º
Trata-se, apenas, de um mero comportamento ou actuação
material interna destinada a conduzir a organização e
funcionamento, segundo uma lógica interna do R., e, por isso, sem
relevância externa.
20.º
Nestes termos, a acção administrativa especial intentada pelo A.
não tem objecto, o que desde já se invoca para os devidos e legais
efeitos.
21.º
Ainda que assim se não entendesse, o que só por mera hipótese se
admite, deveria a presente acção ser julgada improcedente.
Senão vejamos.

B – Por impugnação
22.º
Aceitam-se os factos constantes dos artigos [...] da, aliás douta,
petição inicial.
23.º
Impugna-se, por se desconhecer e não se ter a obrigação de
conhecer, o alegado nos artigos [...].
24.º
Impugna-se ainda, por não corresponder à verdade, o alegado nos
artigos [...].
25.º
Quanto aos restantes artigos [...], que por cautela igualmente se
contestam, constituem matéria conclusiva ou alegações de direito.
26.º
A propósito da factualidade subjacente aos autos, cabe ainda
referir que o gabinete localiza-se no 1.º piso das instalações do R.,
no seguimento de outros gabinetes ocupados pelos restantes
trabalhadores e dirigentes.
27.º
E no mesmo piso das Secções de [...].
28.º
Por estas razões, muito embora o gabinete estivesse em planta
afecto ao Departamento [...], vinha sendo ocupado, há mais de 2
anos, pelo [...].
29.º
Situação que se mantém, sem que ninguém a tenha questionado.
30.º
Assim, a actuação do A. é verdadeiramente surpreendente, tanto
mais que fez a mudança do Gabinete [...] para o Gabinete [...] sem
disso informar o R..
31.º
Procurando alterar, por sua própria iniciativa, a afectação dos
espaços do R., que se vinha mantendo há já vários anos, não a
sustentando em qualquer decisão que o autorizasse.
32.º
Tanto mais que esta mudança foi realizada com a utilização de
chaves solicitadas por empréstimo a elementos da segurança do
R..
Vejamos agora da bondade dos argumentos de direito invocados.

C - Do direito
33.º
Vem o A., na presente acção, invocar, a alegada falta de
fundamentação de direito do (suposto) acto impugnado.
34.º
Conforme se referiu, no entender do R., o despacho impugnado
não é um acto administrativo, sequer um acto em matéria
administrativa, mas uma mera actuação material interna.
35.º
Assim sendo, não se aplica a esta forma de actuação as exigências
de fundamentação, previstas no artigo 125.º do Código do
Procedimento Administrativo (CPA), especificamente previstas
para os actos administrativos (veja-se a sua inserção sistemática –
Capítulo II, com a epígrafe “Do acto administrativo”).
36.º
No entanto, se se entender estarmos perante um acto em matéria
administrativa, e sem conceder, também não procede o argumento
de falta de fundamentação invocado.
37.º
E não procede porque, tendo em conta a argumentação deduzida
pelo A., depreende-se que ele percebeu os fundamentos na base da
decisão do R., e o respectivo iter cognoscitivo.
38.º
Assim sendo, fica demonstrado que deverão improceder os
argumentos invocados pelo A. e, em consequência, ser a presente
acção julgada improcedente.

Termos em que devem as excepções


invocadas ser julgadas procedentes e o
R. absolvido da instância ou, se assim
não se entender, a presente acção ser
julgada improcedente, com as devidas e
legais consequências.

Prova testemunhal:
1. [Nome], [profissão], residente em […];
2. [Nome], [profissão], residente em […].

Junta: procuração e comprovativo de pagamento de taxa de


justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – arts. 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA, deixando-
se em branco o verso das folhas.

O Advogado,


[1] Como referem MÁRIO AROSO DE ALMEIDA e CARLOS
ALBERTO FERNANDES CADILHA, Comentário ao Código de
Processo nos Tribunais Administrativos, 2.º Ed. Revista, Almedina,
Coimbra, 2007, p. 333, «O interesse é pessoal quando o interessado
possa retirar para si próprio uma utilidade concreta na anulação do acto
impugnado, embora esse interesse possa ser comum a um conjunto de
pessoas ou a pessoas diferenciadas» (o sublinhado é nosso).
[2] Ensinam, ainda, MÁRIO ESTEVES DE OLIVEIRA E RODRIGO
ESTEVES DE OLIVEIRA, Código de Processo nos Tribunais
Administrativos, Vol. I, Almedina, Coimbra, p. 364, que “O requisito de
um interesse directo e pessoal no provimento da impugnação significa
que a anulação (ou declaração de nulidade) do respectivo acto
administrativo há-de traduzir-se numa vantagem ou num benefício
específico imediato para a esfera jurídica ou económica do autor” (o
sublinhado é nosso).
Contestação com a Invocação da Excepção de Aceitação do Acto e
Caducidade do Direito de Acção

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Proc. n.º [...]

CONTESTAND
O, diz o R., [...]:

A – Por excepção

A.1) Da caducidade do direito de acção


1.º
A presente acção administrativa especial tem como objecto o
despacho do Senhor Presidente do [...], datado de […].
2.º
Este despacho foi publicado em Diário da República, II Série, n.º
[...], de [...], a páginas […].
3.º
Nos termos do artigo 58.º, n.º 2, alínea b), do Código de Processo
nos Tribunais Administrativos (CPTA), a impugnação de actos
anuláveis tem lugar no prazo de três meses,
4.º
contados desde a data da publicação, de acordo com preceituado
na alínea b) do n.º 3 do artigo 58.º do CPTA.
5.º
Este prazo terminou no dia [...].
6.º
O A. expediu a sua, aliás douta, petição inicial, por correio
electrónico, no dia [...], conforme email junto ao processo a fls.
[…].
7.º
Nestes termos, o direito de impugnar o acto administrativo objecto
do presente processo caducou, o que desde já se invoca para os
devidos e legais efeitos, designadamente os da alínea h) do n.º 1
do artigo 89.º do CPTA.

Se assim não se entender, e sem conceder, sempre se dirá o


seguinte:

A.2) Da aceitação do acto


8.º
Para além da caducidade do direito de acção acima invocada, há
ainda a considerar que o A. aceitou o acto praticado nos termos e
para os efeitos do artigo 56.º do CPTA.
9.º
De facto, conforme o próprio A. confessa, no artigo [...] da sua,
aliás douta, petição inicial, o mesmo, em [data], celebrou o
contrato de concessão de incentivos, de cujos anexos, parte
integrante do mesmo contrato, constam as despesas de
investimento consideradas inelegíveis pelo despacho ora
impugnado – cf. Anexo II do contrato junto como doc. [...] à
petição inicial.
10.º
Ora, a celebração do referido contrato não pode deixar de
consubstanciar uma aceitação do despacho impugnado.
11.º
Assim o decidiu, aliás, o douto Acórdão do Supremo Tribunal
Administrativo, de 12 de Maio de 2004, relativo ao Proc. n.º
01002/02, disponível em www.dgsi.pt [1].
12.º
Nestes termos não poderia o A. ter impugnado o acto sub judice, o
que se invoca para os devidos e legais efeitos.

B – Por impugnação

13.º
Aceitam-se os factos alegados pelo A. na sua petição inicial.
14.º
Discorda-se, no entanto, das conclusões vertidas na referida
petição mormente quanto ao suscitado vício de violação de lei.
15.º
Tratam-se, porém, de questões de direito, pelo que se fará a sua
análise em sede de alegações.

Termos em que deverão as


excepções da caducidade do
direito de acção e da aceitação do
acto ser julgadas procedentes ou,
se assim não se entender, e sem
conceder, ser a acção julgada
improcedente, com as legais
consequências.

Junta: procuração e o processo administrativo.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA.,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,

[1] Ainda que na vigência da Lei de Processo nos Tribunais


Administrativos, o que, para o caso, nada releva.
Resposta às Excepções Invocadas em Sede de Contestação

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Proc. n.º [...]
[...].ª U. O.

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], A. e melhor identificada nos autos à margem referenciados,


tendo sido notificada para se pronunciar sobre a matéria de
excepção suscitada pelo R. na, aliás douta, contestação, vem fazê-
lo nos termos seguintes:
1.º
Invoca o R., na sua contestação, que a A. utilizou o meio
processual inadequado, aduzindo, em síntese, que:
i. o acto administrativo não tem, em rigor, a natureza de
acto administrativo que a Autora lhe aponta, tendo, ao
invés, a natureza de acto normativo;
ii. a dimensão que está subjacente à impugnação da Autora
tem as características de generalidade e abstracção que a
doutrina tem identificado aos actos que assumam esta
natureza normativa;
iii. o despacho proferido abrange um conjunto de
destinatários não identificados e não identificáveis,
diferentemente, por isso, do acto administrativo;
iv. o acto praticado tem, pois, as características da
generalidade e abstracção, e não a natureza individual e
concreta que se lhe exigiria para que se tratasse de um acto
administrativo;
v. tratando-se de acto de conteúdo normativo, o meio
processual adequado para os particulares reagirem,
verificando-se os seus pressupostos de aplicação, é a
impugnação de normas regulamentares.
2.º
Mais invoca o R. que a pretensão deduzida pela A. é inadmissível,
porquanto, resumidamente:
i. tratando-se de impugnação de acto normativo, o pedido
de declaração de ilegalidade com força obrigatória geral
depende, nos termos do disposto no artigo 73.º do Código
de Processo nos Tribunais Administrativos, e no caso de ser
desencadeado por particulares, da sua prévia declaração
circunscrita em três casos concretos;
ii. a desaplicação da norma no caso concreto da Autora
tem por efeito inevitável a desaplicação da norma em
qualquer outra circunstância;
iii. a Autora pretende a declaração de ilegalidade de acto
normativo com efeitos não circunscritos ao caso concreto e
com efeitos equivalentes à declaração de ilegalidade com
força obrigatória geral;
iv. a pretensão da Autora é inadmissível, por força do
disposto no n.º 2 do artigo 72.º do Código de Processo nos
Tribunais Administrativos (inadmissibilidade do meio
processual) e n.os 1 e 2 do artigo 73.º do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (ilegitimidade
processual).
3.º
Ao menos, no entender da A., não assiste ao R. qualquer razão,
como se procurará demonstrar.
4.º
Por acto administrativo entende-se «uma estatuição autoritária,
relativa a um caso individual, manifestada por um agente da
Administração no uso de poderes de direito administrativo, pela
qual se produzem efeitos externos, positivos ou negativos» (cf.
Rogério Soares, Direito Administrativo, Lições ao Curso
Complementar de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de
Direito de Coimbra no ano lectivo de 1977/78, p. 76.).
5.º
Analisando de forma atenta o teor do Despacho n.º [...], de […],
do [...], objecto dos presentes autos, concluímos forçosamente no
sentido de que o mesmo contém os elementos essenciais da
“estatuição autoritária” acabada de definir (para maiores
desenvolvimentos, cf. ainda José Eduardo Figueiredo Dias/
Fernanda Paula Oliveira, Noções Fundamentais de Direito
Administrativo, Almedina, Coimbra, 1955-2005, pp. 144 ss.).
6.º
Com efeito, ele traduz, desde logo, um comando, destinado a
produzir efeitos jurídicos imediatos.
7.º
Trata-se de uma forma de actuação de um agente da
Administração dotada de imperatividade e executividade.
8.º
A executividade significa que o acto administrativo constitui um
título, sustentando por si só a execução do comando ou medida
nele contida, sem necessidade de prévia declaração judicial da sua
conformidade jurídica (cf. Mário Esteves de Oliveira/ Pacheco de
Amorim/ Pedro Gonçalves, Código do Procedimento
Administrativo, 2.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, p. 699 e José
Eduardo Figueiredo Dias/ Fernanda Paula Oliveira, ob. cit., p.
157).
9.º
E é, ainda, uma estatuição autoritária dirigida a uma situação
concreta, dotada de eficácia externa.
10.º
Por outro lado, para além de emanar de um sujeito de direito
administrativo, é praticado no uso de poderes de direito
administrativo, porquanto o mencionado despacho é emitido ao
abrigo do disposto no n.º [...], do artigo [...], da Portaria n.º [...], de
[...].
11.º
Aliás, isso mesmo afirma o R. nos artigos [...] e [...] da sua
contestação.
12.º
Por conseguinte, e apenas certamente por lapso, alega o R., sem
fundamento, que o despacho proferido é um acto normativo.
13.º
Invoca o R., além do mais, que este acto abrange um conjunto de
destinatários não identificados e não identificáveis.
14.º
Ora, os destinatários do acto estão perfeitamente identificados:
[...].
15.º
O acto administrativo em questão – o Despacho n.º [...], de […],
do [...] –, não se destina, obviamente, de forma directa, como
parece indiciar o R. no artigo [...] da contestação, aos cidadãos que
pretendam [...].
16.º
Antes se destina, de forma imediata, aos destinatários e situações
concretamente visados (e não a quaisquer outros) – a saber, […] e
[…].
17.º
Produz, por isso, efeitos imediatos nas relações inter-orgânicas.
18.º
O ente objecto do acto pode nem sempre ser um particular, mas
outro órgão da Administração.
19.º
Não só estamos perante um acto administrativo, como estamos
perante um acto lesivo e, logo, impugnável.
20.º
Neste contexto, não restando quaisquer dúvidas de que estamos
perante um acto administrativo, carece de fundamento todo o mais
alegado pelo R. quanto à alegada inadmissibilidade do meio
processual e ilegitimidade processual da A.
21.º
Sendo o Despacho ora em crise um acto administrativo, o meio
adequado para a sua impugnação é a acção administrativa especial
e a A. é parte legítima porquanto foi lesada pelo acto nos seus
direitos legalmente protegidos – cf. artigos 46.º e 55.º, n.º 1, alínea
a), do CPTA.

Termos em que deverão as excepções


invocadas pelo R. ser julgadas
improcedentes, por não provadas,
com as legais consequências.

Junta: comprovativo da notificação à Ilustre Mandatária do R..

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Articulado Superveniente Fundado na Junção ao Processo de
Elementos até aí Desconhecidos ou aos Quais não Tinha Sido Possível
o Acesso

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Proc. n.º [...]

Exmo. Senhor Dr. Juiz,


[...], R. e melhor identificado nos autos à margem em referência,
tendo sido notificado da junção ao processo de novos elementos
por parte do A., vem, apresentar articulado superveniente, o que
faz nos termos do disposto no artigo 86.º, n.º 3, do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os
fundamentos seguintes:

I – Enquadramento do articulado superveniente


1.º
Dispõe o artigo 86.º do CPTA:
«1 - Os factos constitutivos, modificativos ou extintivos
supervenientes podem ser deduzidos em novo articulado,
pela parte a que aproveitem, até à fase das alegações.
2 - Consideram-se supervenientes tanto os factos ocorridos
posteriormente ao termo dos prazos estabelecidos nos
artigos precedentes como os factos anteriores de que a
parte só tenha conhecimento depois de findarem esses
prazos, devendo, neste caso, produzir-se prova da
superveniência.
3 - Quando o novo articulado se funde na junção ao
processo de elementos até aí desconhecidos ou aos quais
não tinha sido possível o acesso, ele deve ser oferecido nos
10 dias posteriores à notificação da junção dos referidos
elementos.
[...]»
2.º
Destarte, a lei permite a apresentação de articulado superveniente
quando se verifique a junção aos autos de elementos até então
desconhecidos ou relativamente aos quais não tinha sido possível
o acesso, pela parte que requer a sua junção, desde que esse
articulado seja oferecido dentro do prazo de 10 dias após a
notificação daquela junção aos autos.
3.º
No caso, porque só agora dele teve conhecimento, o A. veio
requerer a junção aos autos do projecto de revisão do Plano
Director Municipal de [...],
4.º
e o R. foi notificado desta junção em [...], pelo que está em tempo
– artigo 86.º, n.º 3, do CPTA.

II – Dos factos supervenientes


5.º
Conforme acima foi referido, o A. veio requerer a junção aos
autos do projecto de revisão do Plano Director Municipal de [...].
6.º
Suportando-se no referido projecto, alega o A. que, estando em
curso a revisão do Plano Director Municipal, esta poderá vir a ser-
lhe favorável, na medida em que venha a permitir a legalizaçãoda
construção cuja demolição o R. ordenou.
7.º
Sucede que – a ser aprovada e publicada a revisão do Plano
Director em causa, na versão do projecto actual (e nada indicia
que esta venha a ser alterada) – certo é que – visando,
precisamente, uma maior salvaguarda do património arqueológico,
histórico e cultural – o artigo […] do projecto de Regulamento
passa a proibir, de forma expressa, e sem excepção, novas
construções no centro histórico da cidade,
8.º
local onde se situa precisamente a actual edificação ilegal do A.,
9.º
circunstância que, portanto, constitui um facto extintivo do direito
de que o A. se arroga – a legalização da sua obra –, de acordo com
o disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 24.º do Regime Jurídico
da Urbanização e da Edificação (RJUE).
10.º
Neste contexto, a suscitada revisão do Plano Director Municipal
mais não faz do que vir acolher, expressamente, a proibição
daquelas novas construções – em abono, aliás, da posição
defendida pelo R. em sede de contestação.

Nestes termos, deverá o presente articulado superveniente


ser admitido e, consequentemente, também tendo em conta
o facto extintivo do direito invocado pelo A. e ora
conhecido e alegado, ser julgada improcedente a presente
acção, com as legais consequências.

Junta: comprovativo da notificação ao Ilustre Mandatário do A..

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Alegações

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Proc. n.º [...]

Em Alegações,
diz o A., […]:

Meritíssimo Dr. Juiz,


Pede-se na presente acção a anulação do acto administrativo que
indeferiu o pedido de licenciamento de uma moradia unifamiliar
apresentado pelo A. e a consequente condenação do R. à prática
do acto de deferimento daquele pedido, em substituição do acto
praticado.
Salvo o devido respeito, pensa-se que assiste razão ao A. quanto
ao peticionado, como de seguida se procurará demonstrar.
Para tanto, (I) indica-se a matéria de facto que se considera
provada, (II) fazem-se breves considerações de direito e (III)
termina-se com as conclusões.

I – Dos factos

Em face dos documentos juntos aos autos, da falta de impugnação


de determinados factos, por parte do R., e da prova produzida em
sede de audiência de discussão e julgamento, pensa o A. que deve
ser fixada a seguinte matéria de facto:
a) No dia […], o A. apresentou, na Câmara Municipal de
[...], um pedido de licenciamento para a construção de uma
moradia unifamiliar;
b) Este pedido foi, nos termos legais, instruído com os
seguintes documentos: […];
c) Em […], o R. indeferiu o pedido de licenciamento
apresentado pelo A. com o fundamento de que a operação
urbanística em causa afecta negativamente o património
histórico e paisagístico natural envolvente;
d) O projecto da moradia unifamiliar apresentado prevê a
utilização de materiais da região no revestimento da
edificação (designadamente, […]), fontes de energia
eléctrica alternativas (tais como a energia solar) e o
alinhamento com as demais construções circundantes.

II – Do direito
Dispõe o artigo 24.º do Regime Jurídico da Urbanização e
da Edificação (doravante, RJUE), para o que ora mais releva, que:
«[...]
2 - Quando o pedido de licenciamento tiver por objecto a
realização das operações urbanísticas referidas nas
alíneas a) a e) do n.º 2 do artigo 4.º, o indeferimento pode
ainda ter lugar com fundamento em:
a) A operação urbanística afectar negativamente o
património arqueológico, histórico, cultural ou
paisagístico, natural ou edificado;
[...]»

Alegou o R. que o pedido de licenciamento apresentado pelo A.


foi indeferido porquanto a operação urbanística requerida afectava
negativamente o património histórico e paisagístico natural
envolvente, nos termos do disposto no n.º 2 do artigo 24.º do
RJUE.
Contudo, pensa-se que não assiste razão ao R..
Na sua, aliás douta, contestação, o R. não concretizou e, como tal,
não resultou provado, os exactos termos em que se revela, na
operação urbanística requerida, a alegada afectação negativa do
património histórico e paisagístico natural envolvente.
Com efeito, e apesar de, na norma em apreço, serem utilizados
conceitos indeterminados, o que atribui à Administração, no
momento da decisão, algum poder discricionário, tal
discricionariedade terá sempre que ser fundamentada.
Aliás, o R. não indica sequer, na sua fundamentação, qual o
concreto património histórico que se considera vir a ser afectado
por esta construção.
Sendo certo que, os conceitos utilizados na norma consignada no
n.º 2 do artigo 24.º do RJUE, «ainda que não se refiram à
violação de restrições ou servidões administrativas, uma vez que
estas situações já se encontram cobertas pelo disposto no artigo
24.º, n.º 1, alínea a), devem ser lidos em articulação com o
disposto na Lei sobre o património cultural (Lei n.º 107/2001, de
8 de Setembro) e demais instrumentos normativos a que o nosso
país se encontra vinculado, como sucede com a Convenção
Europeia da Paisagem, de modo a limitar a margem de
discricionariedade do que é considerado património para efeitos
do RJUE» – cf. Fernanda Paula Oliveira/ Maria José Castanheira
Neves/ Dulce Lopes/ Fernanda Maçãs, O Regime Jurídico da
Urbanização e Edificação - Comentado, 2.ª Ed., Almedina, Março
2009, p. 267.
Por outro lado, resultou provado nos autos que a operação
urbanística em causa encerra preocupações com a utilização de
materiais da região no revestimento da edificação, as fontes de
energia eléctrica alternativas (tais como a energia solar) e o
alinhamento com as demais construções circundantes.
Razão pela qual, salvo melhor opinião, não se encontram
preenchidos os pressupostos de que depende o indeferimento do
pedido de licenciamento consagrados na referida alínea a) do n.º 2
do artigo 24.º do RJUE.
Nem quaisquer dos outros constantes do referido artigo 24.º, que
enumera taxativamente os casos em que tal pedido deve ser
indeferido.
Em suma, pelas razões expostas, o acto de indeferimento do R.,
objecto da presente acção, afigura-se ilegal, pelo que deverá ser
anulado e, em consequência, ser o R. condenado a praticar o acto
de deferimento do pedido licenciamento apresentado, com as
legais consequências.

III – Conclusões
I. O indeferimento do pedido de licenciamento apresentado pelo
A. na Câmara Municipal de [...] é ilegal porquanto assenta, sem
fundamento, nos pressupostos constantes da alínea a) do n.º 2 do
artigo 24.º do RJUE, que não se encontram verificados no caso em
apreço (assim como, aliás, no caso, não se verifica qualquer outro
dos pressupostos taxativamente estabelecidos neste artigo 24.º
para o indeferimento dos pedidos de licenciamento);

II. Com efeito, a operação urbanística cujo licenciamento foi


requerido pelo A., conforme resulta da matéria de facto provada,
revela preocupações com a utilização de materiais da região no
revestimento da edificação, as fontes de energia eléctrica
alternativas (tais como a energia solar) e o alinhamento com as
demais construções circundantes;

III. Aliás, o R. não alegou, nem por conseguinte logrou provar,


quaisquer factos que concretizassem a suposta afectação negativa
do património histórico e paisagístico natural
envolvente,decorrente daquela operação urbanística;

IV. Em face do exposto, o acto de indeferimento sindicado é


ilegal, por violação do disposto na alínea a) do n.º 2 do artigo 24.º
do RJUE, devendo por isso ser anulado e, em consequência, o R.
condenado a praticar o acto de deferimento devido.

Termos em que deve a presente acção ser julgada


procedente, por provada e, em consequência, ser:
a) Anulado o acto impugnado, com as legais
consequências;
b) O R. condenado a praticar o acto de
deferimento do pedido de licenciamento
apresentado pelo A. em [...].
com o que V. Exa., Meritíssimo Juiz, fará
JUSTIÇA!

Junta: comprovativo da notificação ao Ilustre mandatário do R..

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Renúncia à Apresentação de Alegações Escritas

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Proc. n.º [...]
[...].ª U. O.

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], A. e melhor identificado nos autos à margem referenciados,


vem renunciar à apresentação de alegações escritas sobre a
matéria de direito.

Junta: comprovativo da notificação ao Ilustre Jurista designado do


R..

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA.

O Advogado,
Requerimento de Remessa do Processo ao Tribunal
Competente, Depois de Trânsito em Julgado de Decisão que
Determine que o Tribunal Competente não Pertence à
Jurisdição Administrativa

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE […]


Proc. n.º […]

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], A. no processo à margem referenciado, vem requerer a V.


Exa. se digne remeter os presentes autos ao tribunal competente, o
que faz ao abrigo do disposto no artigo 14.º, n.º 2, do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e nos termos
seguintes:
1.º
No dia […] transitou em julgado a douta decisão deste Tribunal
que declarou a respectiva incompetência para julgar a questão
trazida a juízo pela ora Requerente, considerando que esta não se
configura no âmbito da jurisdição administrativa.
2.º
Na verdade, não sendo enquadrada em qualquer das normas do
artigo 4.º do Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais,
entendeu o Tribunal que a competência para julgar a matéria
objecto da petição inicial apresentada pela Requerente antes
pertence ao Tribunal de Contas, por respeitar à legalidade
financeira de actos subsumíveis na norma do artigo 5.º, n.º 1,
alínea c), da Lei n.º 98/97, de 26 de Agosto, na redacção em vigor.
3.º
Em face do exposto, não tendo ainda decorrido o prazo de 30 dias
estabelecido no artigo 14.º, n.º 2, do CPTA, a Requerente está em
tempo para o efeito de requerer a remessa do presente processo ao
mencionado Tribunal competente.

Termos em que, ao abrigo da


faculdade prevista no artigo
14.º, n.º2, do CPTA, se requer
a V.Exa. se digne remeter o
processo acima identificado
para o Tribunal de Contas, 1.ª
Secção.

Junta: comprovativo da notificação ao Exmo. Mandatário do R..

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – arts. 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA – deixando
em branco o verso das folhas.

E.D.
O Advogado,
Requerimento de Apensação de Processos por se Verificarem os
Pressupostos de Admissibilidade Previstos para a Coligação e a
Cumulação de Pedidos

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Proc. n.º [...]

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], R. e melhor identificado nos autos à margem referenciados,


vem, nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 28.º do
Código de Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA),
requerer a apensação de processos, o que faz com os fundamentos
seguintes:

5. A presente acção tem por objecto o concurso interno, de acesso


limitado, para a categoria de [...], aberto por despacho do Senhor
Director [...], de […];
6. No âmbito deste concurso, e para além da presente acção, foi ainda
intentada outra providência cautelar, por outro candidato excluído
– providência à qual foi atribuído o número de Processo [...],
distribuído à [...].ª U. O. deste Tribunal;
7. Em ambos os processos, os Requerentes pedem a suspensão da eficácia
da deliberação do júri do concurso, datada de […], e a respectiva
admissão provisória no mesmo, tudo com base nos mesmos
fundamentos de facto e de direito;
8. Neste contexto, pensa-se estarem preenchidos os pressupostos para a
apensação de ambos processos, nos termos do disposto no n.º 1 do
artigo 28.º do CPTA.
Nestes termos, requer-se a V. Exa. se digne ordenar a apensação
destes autos ao Processo n.º […], melhor identificado em 2. do
presente requerimento.
Junta: comprovativo da notificação ao Ilustre Mandatário do A..
Na elaboração do presente documento foram usados meios
informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Requerimento no Sentido de a Propositura da Acção ser Objecto de
Publicidade pela Forma Adequada, Atendendo ao Âmbito Territorial
da Questão

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Proc. n.º [...]

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], A. e melhor identificado nos autos à margem referenciados,


vem, nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 30.º do
Código de Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA),
requerer que a propositura da presente acção seja publicitada pela
forma adequada, o que faz com os fundamentos seguintes:

9. Conforme melhor resulta da petição inicial, o A. requer nos presentes


autos a condenação da R., enquanto entidade concedente do
serviço público de abastecimento de água ao Município de [...], a
aprovar a actualização das tarifas cobradas aos utilizadores deste
serviço, com efeitos retroagidos à data em que o A. apresentou,
junto da R., requerimento no sentido dessa actualização (o qual foi,
aliás, expressamente indeferido pela R.);
10. Neste âmbito, no entender do A., o indeferimento da pretensão de
actualização das tarifas, objecto dos autos, afigura-se ilegal, pelos
fundamentos expostos na petição inicial;
11. Assim, na circunstância de ser julgada procedente a presente acção
– conforme é legítima expectativa do A. –, proceder-se-á à futura
cobrança, com os mencionados efeitos retroactivos, de tarifas
significativamente superiores às actualmente suportadas pelos
utilizadores daquele serviço público;
12. Desta forma, importa dar a estes utilizadores o devido
conhecimento do objecto dos presentes autos – designadamente e
além do mais, como esclarecem Mário Esteves de Oliveira/
Rodrigo Esteves de Oliveira (cf. Código de Processo nos Tribunais
Administrativos, Volume I, Almedina, Coimbra, 2006, p. 237),
porquanto, «[d]ando-se publicidade à propositura da acção, tais
pessoas ficam alertadas para não darem por adquiridas situações
ou vantagens que ainda não se sabe se são definitivas e válidas e
para, querendo, intervirem no processo (nos termos dos arts. 320.º
e ss.) ou acautelar por outro meio uma situação futura
(des)favorável que daí possa advir».

Nestes termos, requer-se a V.


Exa. se digne determinar, a
expensas do A., que a
propositura da presente acção
seja objecto de publicidade
pela forma adequada.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Requerimento ao Ministério Público para que Intente Acção de
Impugnação de Acto Administrativo

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[..
.]

[…], NIF [...], residente em [...], vem, nos termos e para os efeitos
do disposto no artigo 73.º, n.º 3, do Código de Processo nos
Tribunais Administrativos (CPTA), expor e requerer a V. Exa. o
seguinte:

13. Dispõe o n.º 1 do artigo [...] do Regulamento do Plano Director


Municipal de (….) que «nas zonas integradas na Orla Costeira
[...] é admitida a construção de edifícios para habitação com uma
altura máxima correspondente a dois pisos».
14. Em […], foi publicado no Diário da República n.º [...], I Série, o
Plano Especial de Ordenamento da Orla Costeira [...].
15. No que concerne à admissibilidade da construção nas áreas
abrangidas pelo referido Plano Especial, estatui o seu artigo [...]
que «é proibido qualquer tipo de construção nas zonas abrangidas
pelo presente Plano, em especial, a construção de edifícios para
habitação».
16. De acordo com o estabelecido no n.º 4 do artigo 24.º do Regime
Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (RGIT), aprovado
pelo Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro (na sua actual
redacção), «os planos especiais de ordenamento do território
prevalecem sobre os planos intermunicipais de ordenamento do
território, quando existam, e sobre os planos municipais de
ordenamento do território».
17. Destarte, os planos municipais de ordenamento do território devem
conformar-se com as disposições constantes, designadamente, dos
mencionados planos especiais de ordenamento das Orlas
Costeiras.
18. Neste sentido, aliás, estabelece o n.º 1 do artigo 102.º do RGIT que
«são nulos os planos elaborados e aprovados em violação de
qualquer instrumento de gestão territorial com o qual devessem
ser compatíveis ou
conformes».

19. Em face do exposto, pensa-se ser manifesta a invalidade da norma


constante do n.º 1 do artigo [...] do Regulamento do Plano Director
Municipal de [...], por violação do disposto no artigo [...] do Plano
Especial de Ordenamento da Orla Costeira [...].
20. Não obstante, certo é que a referida norma produz efeitos por si só,
sem necessidade de qualquer acto administrativo de mediação.
21. A declaração de ilegalidade de normas emanadas ao abrigo de
disposições de direito administrativo pode ser pedida a todo o
tempo (cf. artigo 74.º do CPTA) – e, sendo pedida pelo Ministério
Público (oficiosamente ou a requerimento), não carece da
verificação da recusa de aplicação pelos Tribunais em três casos
concretos (cf. n.º 3.º do artigo 73.º do CPTA).

Nestes termos, requer-se a V.


Exa., para salvaguarda do
regime de coordenação dos
âmbitos nacional, regional e
municipal do sistema de gestão
territorial, e princípios que lhe
subjazem, se digne requerer a
declaração de ilegalidade da
norma constante do n.º 1 do
artigo [...] do Regulamento do
Plano Director Municipal de
[...].

E.D.
A Requerente,
Requerimento de Prosseguimento da Acção Contra Acto de
Revogação do Acto Impugnado com Efeitos Retroactivos

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Proc. n.º [...]

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], A. nos autos à margem referenciados, notificado pelo R. da


revogação do acto administrativo impugnado nos presentes autos,
ao abrigo do disposto no artigo 141.º do Código de Procedimento
Administrativo (CPA), vem, nos termos e para os efeitos do artigo
64.º do Código de Processo nos Tribunais Administrativos
(CPTA), expor e requerer a V. Exa. o seguinte:

1. Como se referiu, por despacho datado de […], o R. revogou o


acto administrativo impugnado nos presentes autos, por entender
procedente o vício de falta de fundamentação invocado pelo ora
A. (cf. notificação que se junta como doc. 1).
2. Todavia, o R. entendeu manter o seu entendimento inicial
quanto à exclusão do A. do procedimento concursal, por
considerar que o A. não cumpria o pressuposto da vinculação no
âmbito de uma relação jurídica por tempo indeterminado, exigido
pelo ponto [...] do aviso de abertura de concurso.
3. Para sustentar este seu entendimento afirma o R. que o artigo
30.º do Regulamento de Incentivos à Prestação de Serviço Militar
(RIPSM), interpretado de acordo com a Lei n.º 12-A/2008, de 27
de Fevereiro, visa, apenas, conceder aos militares contratados o
benefício de poderem concorrer aos concursos de recrutamento
para estabelecimento de relação jurídica de emprego público por
tempo determinado.
4. Pensa-se que este argumento não pode proceder porquanto,
salvo o devido respeito, viola as normas constantes no Decreto-Lei
n.º 320-A/2000, de 15 de Dezembro, que aprova o RIPSM nos
Regimes de Contrato (RC) e de voluntariado (RV).
Senão vejamos.
5. É certo que o A. possui um contrato de trabalho por tempo
determinado com o Exército Português, desde [...] e com prazo de
vigência até [...].
6. No entanto, atendendo à sua condição de militar em regime de
contrato por tempo determinado, goza de direitos especiais nos
procedimentos concursais da Administração Pública,
7. direitos que se encontram estabelecidos no artigo 30.º do
referido Decreto-Lei n.º 320-A/2000, de 15 de Dezembro, na sua
actual redacção – preceito que determina, no que ora releva, o
seguinte:
«1 — O militar em RC que tenha prestado serviço efectivo
pelo período mínimo de cinco anos tem direito a
candidatar-se aos concursos internos de ingresso nos
serviços e organismos da administração central, regional e
local, incluindo institutos públicos, nas modalidades de
serviços personalizados do Estado e de fundos públicos.
2 — Os cidadãos que preencham as condições do número
anterior têm ainda direito a candidatar-se, no prazo
referido no n.º 4, aos concursos internos gerais de acesso
para preenchimento da primeira categoria intermédia das
carreiras, desde que tenham exercido funções na área
funcional para a qual o concurso é aberto e possuam o
tempo de serviço necessário para a promoção na
respectiva categoria.
3 — Os cidadãos nas condições referidas no n.º 1 têm
direito de preferência, em caso de igualdade de
classificação final, nos concursos externos abertos em
qualquer dos serviços ou organismos da administração
central, regional e local, incluindo os institutos públicos,
nas modalidades de serviços personalizados do Estado e
de fundos públicos.
[...]»
(O sublinhado e negrito é nosso)
8. Conforme explicita o legislador no preâmbulo deste diploma,
este regime de incentivos visa«atrair para as Forças Armadas
voluntários e voluntárias suficientes em quantidade e em
qualidade, do mesmo passo que se pretende melhorar a formação
académica e profissional dos Portugueses».
9. E, entre estes benefícios, encontram-se o da «atribuição de
condições de ingresso prioritário na função pública».
10. Ora, sendo o A. militar em regime de contrato, goza (segundo
se pensa, inequivocamente) de condições especiais de acesso ao
emprego na Administração Pública, melhor concretizadas no
acima transcrito artigo 30.º do RIPSM.
11. É verdade que, com a entrada em vigor da Lei n.º 12-A/2008,
de 27 de Fevereiro, procedeu-se a uma reforma do regime de
vinculação, de carreiras e de remunerações dos trabalhadores que
exercem funções públicas, tendo sido, nessa medida, alterado o
regime jurídico dos procedimentos concursais.
12. Com esta reforma, também é certo que deixou de existir, pelo
menos com esta denominação legal, o “concurso de ingresso
interno”.
13. No entanto, ao menos no entender do A., não resulta da
vigência da Lei n.º 12-A/2009 que este “concurso de ingresso
interno” tenha sido materialmente extinto.
14. Pois, continuam a existir concursos para ‘ingressar’ em
determinada carreira, quer para os interessados que já tenham um
vínculo por tempo indeterminado com a Administração Pública,
quer para os interessados que ainda não gozem deste vínculo.
15. Neste sentido, o referido artigo 30.º do RIPSM ainda se
encontra em vigor e aplica-se, em pleno, ao caso concreto do A.,
16. devendo este preceito interpretar-se, de forma actualista, no
sentido de ser concedido aos Militares contratados o direito de
concorrer a todos os concursos públicos, ainda que se exija o
vínculo por tempo indeterminado aos concorrentes.
17. Assim, ainda que estando vinculado ao Exército Português
apenas através de um contrato por tempo determinado, o A. goza
dos benefícios consagrados naquele Regulamento e, por isso, no
caso, deve ser admitido ao presente Procedimento Concursal.
18. Pelo que a decisão de exclusão do A. viola o referido RIPSM.
19. Regulamento este que não foi revogado ou alterado,
mantendo-se, por esta razão, em vigor e aplicável ao caso em
apreço.
20. É que, conforme estatui o artigo 7.º do Código Civil (CC), «a
lei só deixa de vigorar se for revogada por outra lei».
21. E, de acordo com o segundo segmento da norma do artigo 7.º
do CC, impõe-se a obrigatoriedade dessa referência expressa na
revogação de preceitos especiais operada pela lei de carácter geral.
22. Revogação expressa essa que, no caso dos autos, não existiu
sequer através de qualquer incompatibilidade de regimes em face
da Lei n.º 12-A/2008.
23. Sublinhe-se que os fundamentos aduzidos pelo R. foram
acolhidos no Despacho do Senhor […], de […], que se junta como
Doc. 1 e se dá por integralmente reproduzido.
24. Nessa medida, o Ministério da Defesa Nacional certificou que
o A. tem, para efeitos de acesso ao concurso em apreço, um
contrato de trabalho em funções públicas por tempo indeterminado
(cf. declaração junta ao Requerimento de Candidatura, constante
do processo administrativo).
25. O R. não pode, assim, excluir licitamente o A. com
fundamento no facto de não ser parte de uma relação jurídica de
emprego público por tempo indeterminado.
26. E a consequência da exclusão do Recorrente vem plasmada no
artigo 37.º do referido Regulamento: «[s]ão nulos as cláusulas e
os actos dos concursos públicos que, directa ou indirectamente,
prejudiquem a aplicação do disposto no presente diploma».
27. Destarte, a decisão impugnada enferma de nulidade, por
violação do artigo 30.º do RIPSM.
28. Sendo que o acto revogatório da mesma em nada veio alterar
este entendimento.

Termos em que se requer, nos termos e para os efeitos do


artigo 64.º, n.º 1, do CPTA, que o processo prossiga contra
o novo acto, apreciando-se agora os novos fundamentos
invocados.
Junta: comprovativo de notificação ao Ilustre Jurista
designado pelo R..

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

E.D.
O Advogado,
Requerimento de Alteração da Instância do Pedido de Condenação à
Prática de Acto Devido Quando a Pretensão do Interessado seja
Indeferida pela Administração na Pendência do Processo

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE […]


Proc. n.º […]

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], A. no processo à margem referenciado, vem, ao abrigo do


disposto no artigo 70.º, n.º 1, do Código de Processo nos Tribunais
Administrativos (CPTA), requerer a alteração da instância, o que
faz nos termos e com os fundamentos seguintes:
1.º
No âmbito dos presentes autos, o A. pede a condenação do R. na
prática do acto (devido) de emissão da licença de utilização
privativa do domínio público marítimo para instalação de infra-
estrutura de apoio na praia de […], conforme requerida pelo A. em
[…], ao abrigo do disposto nos artigos 21.º, n.º 4, alínea d), e 20.º,
n.º 1, do Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31 de Maio, na redacção
dada pelo Decreto-Lei n.º 93/2008, de 4 de Junho (que estabelece
o regime da utilização dos recursos hídricos).
2.º
No passado dia […], o A. foi notificado da decisão de
indeferimento do pedido de emissão da licença de utilização
privativa do domínio público que apresentou junto do R. – cf.
Doc. 1 que se junta e se dá por integralmente reproduzido (assim
como os demais documentos referidos neste requerimento).
3.º
A referida decisão de indeferimento foi, por conseguinte, tomada
pelo R. na pendência da presente acção de condenação à prática do
acto legalmente devido.
4.º
Dispõe o artigo 70.º, n.º 1, do CPTA que, «[q]uando a pretensão
do interessado seja indeferida pela Administração na pendência
do processo, pode o autor alegar novos fundamentos e oferecer
diferentes meios de prova em favor da sua pretensão».
5.º
Ao abrigo desta faculdade, e estando em prazo [1] para o efeito,
permite-se ao A. «contraditar as razões de facto e de direito que a
Administração possa ter enunciado para justificar o sentido da
decisão», possibilitando-lhe a «ampliação da causa de pedir» (cf.
Mário Aroso de Almeida, Carlos Alberto Fernandes Cadilha,
Comentário ao Código de Processo nos Tribunais
Administrativos, 2.ª Edição, Almedina, 2007, p. 421).
6.º
Tendo por base este enquadramento jurídico, o A. não pode deixar
de utilizar a faculdade que a lei lhe confere, com os fundamentos
que se seguem.
7.º
De acordo com a referida decisão de indeferimento liminar, o A.
não instruiu o requerimento que apresentou com os documentos
legalmente exigidos, designadamente i) a indicação exacta do
local pretendido utilizar para instalar a infra-estrutura, com
recurso a coordenadas geográficas, e ii) a memória descritiva com
as áreas de construção, áreas cobertas, tipo de materiais, tipo de
cobertura, tipo de equipamentos e acabamentos exteriores.
8.º
Com os referidos fundamentos, o R. indeferiu “liminarmente” a
pretensão formulada pelo A., por via da aplicação da norma
prevista no artigo 14.º, n.º 7, do Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31
de Maio – em síntese, alegando (o que apenas por manifesto lapso
se compreende) a falta de junção dos documentos legalmente
exigidos pela Portaria n.º 1450/2007, de 12 de Novembro[2].
9.º
Certo é que não assiste razão ao R. uma vez que, efectivamente, o
A. juntou os referidos documentos ao requerimento que
apresentou, conforme, aliás, decorre dos Docs. 2 e 3 juntos na
petição inicial.
10.º
Assim sendo, não corresponde à verdade o sustentado pela R., na
sua decisão de indeferimento, quanto à falta de junção dos
documentos legalmente exigidos.
11.º
Admite-se, porém, e por mera cautela de patrocínio, que os
documentos juntos pelo A. possam não conter toda a informação
legalmente exigida ou, ainda, que essa informação não decorra, de
forma suficiente, dos documentos juntos.
12.º
Esta insuficiência reportar-se-á, designadamente, à indicação do
local onde o A. pretende instalar a infra-estrutura de apoio de
praia, considerando que a planta junta com o requerimento
apresentado não identifica a “localização geo-referenciada”,
13.º
e acontece, igualmente, com a memória descritiva que instruiu o
requerimento apresentado pelo A., na medida em que dela não
resulta evidente quais “os tipos de materiais de construção” a
utilizar e os “equipamentos e máquinas de apoio à restauração” a
instalar na infra-estrutura.
14.º
Todavia, em abono da verdade, estas insuficiências não permitem,
sem mais, concluir que o A. não juntou todos os elementos
legalmente exigidos, conforme faz o R., nos termos dos
fundamentos de facto e de direito da referida decisão.
15.º
Acresce, sempre se dirá que a decisão de indeferimento liminar
prevista no artigo 14.º, n.º 7, do Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31
de Maio, apenas poderia ser tomada pelo R. no pressuposto legal
de este ter solicitado a junção dos elementos que entendesse em
falta e o A., então, não os ter junto,
16.º
Sendo que, na verdade, o R. nunca solicitou ao A. a junção (ou o
esclarecimento) de qualquer documento.
17.º
Por seu turno, no âmbito do procedimento regulado no artigo 21.º,
n.º 4, do Decreto-Lei n.º 226-A/2007 (na redacção dada pelo
Decreto-Lei n.º 93/2008), nunca o R. manifestou qualquer reserva
relativamente ao pedido de atribuição da licença e respectivos
documentos juntos – tendo, ao invés, procedido à publicitação do
pedido através de Edital (cf. doc. […] junto na petição inicial), nos
termos e para os efeitos do disposto no artigo 21.º, n.º 4, alínea c),
do referido diploma –,
18.º
E nunca o R. se pronunciou sobre o pedido apresentado pelo A. no
âmbito do subsequente procedimento de licenciamento, sendo – ao
menos, que o A. saiba – esta decisão de indeferimento liminar o
primeiro acto administrativo que o R. praticou no decurso de
ambos os procedimentos.
19.º
Da fundamentação constante da decisão de indeferimento parece,
ainda, resultar que o R. “confunde” o procedimento previsto no
artigo 21.º, n.º 4, do Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31 de Maio,
destinado a regular o “concurso público específico” para
atribuição de uma licença de utilização privativa de um bem do
domínio público hídrico, com o subsequente procedimento de
licenciamento previsto no artigo 20.º do mesmo diploma…
20.º
Neste contexto factual e jurídico, continua o A. a ter fundamento
legal para requerer a condenação do R. a praticar o acto de
emissão da licença de utilização privativa do domínio público,
omitido até à data,
21.º
uma vez que o R. não podia, sem violar a lei, ter tomado a decisão
de indeferimento liminar ora em apreciação.
22.º
Por outro lado – considerando (i) que só por lapso se admite o
entendimento do R. no sentido da falta da junção dos documentos
acima identificados e (ii) que, sem prejuízo, se admite que os
documentos juntos possam não integrar, de forma suficiente, a
informação legalmente exigida –, o A. requer a junção aos autos
da planta com a indicação geo-referenciada do local e a memória
descritiva com a indicação dos“tipos de materiais de construção”
a utilizar e os “equipamentos e máquinas de apoio à restauração”
a instalar na infra-estrutura de apoio pretendida utilizar, conforme
Docs. 4 e 5 que se anexam.

Termos em que se requer a


V.Exa. se digne admitir o
presente requerimento de
alteração de instância e, com
base nos elementos de facto e
enquadramento jurídico acima
expostos, condene a R. na
emissão da licença de
utilização privativa requerida
pelo A..

Junta: […] documentos e comprovativo de notificação ao Ilustre


Mandatário da R..

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA –
deixando em branco o verso das folhas.

E.D.
O Advogado,

[1] Sem prejuízo de não resultar, de forma literal, da norma do artigo 70.º,
n.º 1 do CPTA, pensa-se que o requerimento de alteração da instância ali
previsto está sujeito ao prazo de 30 dias estabelecido no n.º 3 do mesmo
preceito, atendendo a uma interpretação sistemática da norma. Num
sentido similar, veja-se Mário Esteves de Oliveira, Rodrigo Esteves de
Oliveira, Código de Processo nos Tribunais Administrativos, Volume I,
Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais, Anotados, Almedina,
2006, p. 431.

[2] Portaria a que se refere a norma do artigo 14.º, n.º3, alínea a),
subalínea ii), do Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31 de Maio.
Requerimento de Alteração da Instância do Pedido de Condenação à
Prática de Acto Devido Quando, na Pendência do Processo, Seja
Proferido um Acto Administrativo que não Satisfaça Integralmente a
Pretensão do Interessado, Cumulando o Pedido de Condenação com
o Pedido de Anulação ou Declaração de Nulidade ou Inexistência
Desse Acto

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE […]


Proc. n.º […]

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], A. nos autos à margem referenciados, vem, ao abrigo do


disposto no artigo 70.º, n.º 3, do Código de Processo nos Tribunais
Administrativos (CPTA), requerer a alteração da instância, o que
faz nos termos e com os fundamentos seguintes:

1.º
No âmbito dos presentes autos, a A. pede a condenação do R. na
prática do acto (devido) de emissão da licença de utilização
privativa do domínio público marítimo, conforme requerida pela
A. em […], nos termos do disposto no artigo 21.º, n.º 4, alínea d),
do Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31 de Maio, na redacção dada
pelo Decreto-Lei n.º 93/2008, de 4 de Junho (que estabelece o
regime da utilização dos recursos hídricos).
2.º
Entretanto, no passado dia […], a A. tomou conhecimento do
Anúncio n.º […]/[…], publicitado no Diário da República (2.ª
Série), n.º […], de […], relativo ao “Procedimento concursal para
atribuição de título de utilização privativa do domínio público
marítimo para instalação de um Apoio de Praia Completo, na
Praia de […], concelho de […]” – cf. Doc. 1 que se junta e cujo
teor se dá por integralmente reproduzido (assim como o dos
demais documentos referidos neste requerimento).
3.º
Do referido Anúncio, publicitado pelo R., consta, no primeiro
parágrafo, o seguinte:
«1. Face à apresentação de vários pedidos
idênticos de atribuição de licença de
utilização privativa, e em cumprimento das
normas legais aplicáveis, faz-se público que
o […] (…), por despacho da Senhora
Presidente, datado de […], promove o
presente procedimento concursal, nos termos
do artigo 21.º do Decreto-Lei n.º 226-
A/2007, de 31 de Maio, para a atribuição de
título de utilização privativa para uma nova
ocupação do Domínio Público Marítimo
(DPM), destinada a Apoio de Praia
Completo, no âmbito do Plano de
Ordenamento da Orla Costeira (POOC)
[…], aprovado pela Resolução de Conselho
de Ministros n.º […]/[…], de […], a instalar
na Praia de […]»
– destaque do signatário.
4.º
Destarte, se bem se percebe, na pendência da presente acção
administrativa especial de condenação à prática de acto devido –
sublinha-se, a emissão da licença de utilização privativa do
domínio público marítimo requerida pela A. –, o R. veio praticar o
acto administrativo de abertura do procedimento concursal
(publicitado através do mencionado Anúncio n.º […]) para os
efeitos do disposto no artigo 21.º, n.º 4, alínea e) e n.º 3, alínea a),
do Decreto-Lei n.º 226-A/2007 (na redacção em vigor), tendo por
base os seguintes pressupostos:
a) Apresentação de “pedidos idênticos” de emissão de
licença de utilização privativa no “prazo de 30 dias”
previsto no artigo 21.º, n.º 4, alínea c), do Decreto-Lei n.º
226-A/2007 (na redacção em vigor);
b) Cumprimento das normas legais aplicáveis, ou seja, o
disposto no artigo 21.º, n.º 4, do referido diploma legal,
atendendo a que o procedimento de atribuição de licença de
utilização privativa do domínio público sub judice é de
iniciativa particular.
5.º
Ora, conforme se procura demonstrar de seguida, este acto
administrativo, entretanto praticado pelo R., prejudica a pretensão
deduzida pela A. nos presentes autos e carece, em absoluto, de
fundamento legal, razão pela qual se impugna por via deste
requerimento de alteração da instância.
6.º
Na verdade, prevê o artigo 70.º, n.º 3, do CPTA que, «[q]uando,
na pendência do processo, seja proferido um acto administrativo
que não satisfaça integralmente a pretensão do interessado, pode
ser cumulado o pedido de anulação ou declaração de nulidade ou
inexistência deste acto, devendo o novo articulado ser
apresentado no prazo de 30 dias» (sublinhado nosso).
7.º
Ao abrigo deste mecanismo processual, e estando em prazo [1]
para o efeito, permite-se à A. a ampliação do pedido formulado,
«visto que o que se pretende facultar ao demandante é, não já um
alargamento dos fundamentos da acção, mas antes o alargamento
da providência judiciária requerida, por forma a abranger a
impugnação do acto administrativo que entretanto foi praticado»
(cf. Mário Aroso de Almeida, Carlos Alberto Fernandes Cadilha,
Comentário ao Código de Processo nos Tribunais
Administrativos, 2.ª Edição, Almedina, 2007, p. 421).
8.º
Assente neste enquadramento jurídico, a A. não pode deixar de
socorrer-se da referida faculdade, que a lei lhe confere, com os
fundamentos que se seguem.
9.º
Ao menos no entender da A., o acto administrativo agora
praticado pelo R. assenta em pressupostos de facto e de direito
manifestamente errados, na medida em que (i) tem subjacente
(sem fundamento) a efectiva apresentação de pedidos idênticos no
prazo de 30 dias a contar da publicitação, por edital, do
requerimento apresentado pelo A. e, subsequentemente, (ii)
determina (sem fundamento) a abertura do procedimento
concursal ao abrigo do disposto no artigo 21.º, n.º 4, do Decreto-
Lei n.º 226-A/2007.
10.º
Na verdade, como o R. não deve ignorar, não foi apresentado
qualquer pedido idêntico ao do A. no prazo legal de 30 dias
previsto para o efeito, não se verificando, por conseguinte, o
pressuposto da aplicação da norma consignada no artigo 24.º, n.º
1, alínea e), do Decreto-Lei n.º 226-A/2007 (na redacção em
vigor), a qual estabelece que, «[s]e durante o prazo referido na
alínea b) forem apresentados pedidos idênticos de atribuição de
licença, a autoridade competente inicia um procedimento
concursal entre os interessados, que segue os termos fixados no
número anterior, com as necessárias adaptações» (destaque
nosso).
11.º
Aliás, apenas por evidente lapso se podem compreender os
fundamentos invocados para a abertura do procedimento concursal
ora sindicado, quando foi o próprio R. que, na sequência de pedido
informação formulado pela A relativamente ao procedimento de
emissão da licença que requereu, veio comunicar, expressamente,
por ofício de […] – junto com a petição inicial como doc […] –,
que a «ausência de apresentação de pedidos concorrentes
determinará o início do procedimento de licenciamento e fase de
consultas prevista no artigo 15.º do Decreto-Lei n.º 226-A/2007,
de 31 de Maio».
12.º
Volvidos cerca de dois anos após a notificação do referido ofício,
vem agora o R. determinar a abertura do procedimento concursal
porquanto – segundo diz – foram (entretanto) apresentados
pedidos concorrentes aos da A., os quais, evidentemente (menos,
pelos vistos, para o R.), em face do prazo de 30 dias estabelecido
no artigo 21.º, n.º 4, alínea b), do Decreto-Lei n.º 226-A/2007, se
afiguram manifestamente extemporâneos…
13.º
Deste modo, pensa-se que o acto de abertura do referido
procedimento concursal enferma, de forma inequívoca, do vício de
violação de lei, por erro nos seus pressupostos de facto e de
direito, sendo o desvalor jurídico associado a anulabilidade (cf.
artigo 135.º do Código do Procedimento Administrativo).
14.º
Assim sendo, cumulativamente com a peticionada condenação do
R. à prática do acto devido (v.g., a emissão da licença requerida
pela A.), deve ainda ser anulado o acto de abertura do
procedimento concursal entretanto praticado – o que aqui se
requer, ampliando-se, por esta via, o pedido formulado na presente
acção administrativa especial.

Termos em que se requer a V. Exa. se digne deferir a


alteração de instância ora requerida, determinando-se, em
consequência:
a) A anulação do acto de abertura do procedimento
concursal publicitado através do Anúncio n.º
[…]/[…] publicitado no Diário da República (2.ª
Série), n.º […], de […]; e, cumulativamente,
b) A condenação do R. à emissão da licença de
utilização privativa requerida pelo A..

Junta: […] documentos e comprovativo de notificação ao


Ilustre Mandatário do R..

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA –
deixando em branco o verso das folhas.

E.D.
O Advogado,
[1] O presente requerimento de alteração da instância está sujeito ao prazo
de 30 dias contados desde o momento da notificação do novo acto,
considerando-se como tal, quando não tenha havido notificação, o
conhecimento, obtido no processo, do autor, da data, do sentido e dos
fundamentos da decisão (cf. artigo 70.º, n.º 4, do CPTA). Note-se que a
inobservância deste prazo implica o indeferimento, por
extemporaneidade, do pedido de alteração da instância o que, porém,
parece não impossibilitar que o interessado deduza, em processo
autónomo, um pedido de anulação ou declaração de nulidade ou
inexistência do acto, desde que respeite então o prazo geral consignado
no artigo 58.º, n.º 2, alínea b), do CPTA – neste sentido veja-se Mário
Aroso de Almeida, Carlos Alberto Fernandes Cadilha, Comentário ao
Código de Processo nos Tribunais Administrativos, 2.ª Edição,
Almedina, 2007, páginas 421 e 422.
Petição Inicial de Impugnação de Acto Administrativo Relativo à
Formação de Contrato de Empreitada

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal de […]

[…], NIPC […], com sede em […],


vem intentar acção de contencioso pré-contratual, em processo
urgente, para impugnação do acto administrativo de adjudicação
praticado, no âmbito do “Concurso público para formação do
contrato de empreitada de […]”, por
[…], NIPC […], com sede em […],
o que faz nos termos do n.º 1 do artigo 100.º do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA),e com os
fundamentos que se seguem:

I – Objecto da acção e pressupostos


1.º
A A. é uma sociedade comercial que se dedica à actividade de
empreiteiro de obras públicas.
2.º
Através do Anúncio n.º […], publicado no Diário da República n.º
[…], 2.ª Série, de […], foi publicitado o “Concurso público para
formação do contrato da empreitada de […]” (doravante
“Concurso”), em que é entidade adjudicante o ora R. – cf. Doc. 1
que aqui se junta e se dá por integralmente reproduzido (assim
como os demais documentos referidos nesta petição inicial).
3.º
No âmbito do concurso, foram apresentadas cinco propostas,
incluindo a proposta da A. – cf. lista dos concorrentes publicitada
na plataforma do R., cuja cópia se junta como Doc. 2.
4.º
Em […], através do Ofício do R. n.º […], a A. foi notificada do
acto final de adjudicação da proposta apresentada pela concorrente
[…], sendo a proposta da A. ordenada em segundo lugar, nos
termos constantes do relatório final de avaliação das propostas
anexo ao mesmo Ofício – cf. Doc. 3.
5.º
Ao menos no entender da A., a proposta adjudicada deveria ter
sido excluída, por a mesma contender com as normas do
procedimento e a lei,
6.º
Razão pela qual o acto de adjudicação, consubstanciando a
escolha daquela proposta (cf. n.º 1 do artigo 73.º do Código dos
Contratos Públicos), é manifestamente ilegal e deve ser anulado.
7.º
A anulação do acto de adjudicação sindicado e a condenação do R.
a excluir a proposta da concorrente […] e a adjudicar a da A.
constituem o objecto da presente acção.
8.º
A acção está em tempo – artigo 101.º do CPTA.
9.º
A A. tem legitimidade – artigo 9.º, n.º 1, do CPTA.
10.º
O Tribunal é competente, por ser o da sede da A. – artigo 16.º do
CPTA.

II – Dos factos
11.º
O concurso rege-se, especialmente, pelas respectivas peças do
procedimento – cf. Programa de Procedimento (PC) e Caderno de
Encargos (CE) que se juntam como Doc. 4 e Doc. 5.
12.º
De acordo com o artigo 2.º do CE, a empreitada era em regime de
série de preços.
13.º
Nos termos da alínea e) do artigo 8.º do PC (Doc. 4),
«A proposta deverá obrigatoriamente ser
constituída pelos seguintes documentos e/ou
elementos: (…) Lista de preços unitários, sem
IVA, com todas as espécies de trabalhos
previstas no projecto de execução».
14.º
Entre as espécies de trabalhos necessárias à execução da obra
previstas no projecto de execução constava o artigo «Estaleiro» –
cf. artigo 1.1.1 do Mapa de espécies e quantidades que acompanha
o projecto de execução, junto como anexo I ao CE (Doc. 5).
15.º
Conforme resulta da lista de preços unitários que instrui a sua
proposta, a concorrente adjudicatária […] não apresentou preço
unitário para o referido artigo 1.1.1 do Mapa de espécies e
quantidades – cf. cópia impressa da consulta realizada na
plataforma electrónica do R. (Doc. 6).
16.º
A este propósito, consta do relatório preliminar, elaborado no
âmbito do concurso, o seguinte (cf. Doc. 7):
«Analisadas as propostas, o júri verificou que a
concorrente […], cuja proposta apresenta o
preço mais baixo, não indicava o preço unitário
do artigo “Estaleiro”, mencionado no mapa de
espécies e quantidades que acompanha o
projecto de execução. No entanto, satisfazendo
os esclarecimentos solicitados pelo júri ao
abrigo do disposto no artigo 72.º do CCP, a
concorrente informou que “o preço do estaleiro
se encontra incluído no preço da proposta,
apenas não tendo sido objecto de
autonomização”. Assim sendo, o júri considera
que a concorrente apresenta o preço do artigo
1.1.1, ainda que de forma diluída nos demais
preços unitários – o que, aliás, é prática comum
no sector –, pelo que não se verifica qualquer
fundamento para a exclusão da proposta em
causa».
17.º
Em sede de audiência prévia, teve já a A. oportunidade de se
pronunciar no sentido da falta de fundamento para a aceitação da
proposta da concorrente […] e da exigência da respectiva exclusão
– Doc. 8.
18.º
Não obstante, o R. manteve o entendimento do júri do concurso,
acima transcrito (Doc. 7), conforme acto final de adjudicação ora
impugnado (Doc. 3).

III – Do Direito
19.º
De acordo com o disposto na alínea b) do n.º 1 do artigo 57.º do
Código dos Contratos Públicos (CCP), as propostas são
constituídas, além do mais, pelos «Documentos que, em função do
contrato a celebrar e dos aspectos da sua execução submetidos à
concorrência pelo caderno de encargos, contenham os atributos
da proposta, de acordo com os quais o concorrente se dispõe a
contratar».
20.º
Acrescenta a alínea a) do n.º 2 do artigo 57.º do CCP que, «No
caso de se tratar de procedimento de formação de contrato de
empreitada (…) de obras públicas, a proposta deve ainda ser
constituída por (…) Uma lista de preços unitários de todas as
espécies de trabalho previstas no projecto de execução»
(sublinhado pelo signatário).
21.º
Estatui o n.º 3 do artigo 60.º do CCP que «Sempre que na
proposta sejam indicados vários preços, em caso de qualquer
divergência entre eles, prevalecem sempre, para todos os efeitos,
os preços parciais, unitários ou não, mais decompostos».
22.º
Deste enquadramento normativo, resulta que, no âmbito dos
procedimentos de formação de contratos de empreitada de obra
públicas,
22. Os concorrentes devem apresentar uma lista dos preços unitários
de todas as espécies de trabalhos previstas no projecto de
execução; e
23. A soma desses preços unitários indicados perfaz o atributo “preço”
da proposta, prevalecendo sobre o preço total indicado, em caso de
divergência.
Desta forma, a falta de apresentação, pela concorrente […], do
preço unitário relativo ao “estaleiro” consubstancia,
inequivocamente, a falta de um elemento constitutivo do atributo
preço da sua proposta – ao menos de forma autonomizada e
apreensível,
23.º
O que determina a respectiva exclusão nos termos do disposto na
alínea a) do n.º 2 do artigo 70.º do CCP.
24.º
Neste sentido, afigura-se desprovido de fundamento o pedido de
esclarecimentos realizado pelo júri, sobre esta matéria, em sede de
análise de propostas,
25.º
Assim como se afiguram irrelevantes, já que não integram a sua
proposta, os esclarecimentos prestados pela concorrente, que mais
não visam do que «suprir omissões que determinam a sua
exclusão nos termos do disposto na alínea a) do n.º 2 do artigo
70.º» do CCP – cf. n.º 2 do artigo 72.º, parte final, do CCP.
26.º
Nem se diga, em abono da posição do R., que o atributo em causa
foi, nos termos da proposta da concorrente […], apresentado com
um valor nulo (de “zero euros”).
27.º
Por um lado, conforme consta da lista de preços unitários da
concorrente, o preço (individualizado) do artigo “Estaleiro” é
omisso – e não nulo.
28.º
Por outro lado, conforme reconhece a concorrente e salienta o R.
(cf. relatório preliminar elaborado pelo júri do procedimento, junto
como Doc. 7), o custo do referido artigo não foi – como, aliás, não
poderia ser – desconsiderado na elaboração da proposta,
29.º
Antes tendo sido “diluído” nos demais preços unitários.
30.º
Ora, a sobrevalorização dos demais preços unitários determina,
incontornavelmente, a impossibilidade de avaliação da proposta
«em virtude da forma de apresentação de alguns dos respectivos
atributos»,
31.º
Designadamente, a impossibilidade da sua avaliação comparativa
com as demais propostas apresentadas:
32.º
Pense-se – já relevando a situação patológica de eventuais
pretensões indemnizatórias – no caso de, em sede de execução do
contrato, ser ordenada a realização de trabalhos a mais ou de
suprimento de erros e omissões «da mesma espécie de outros
previstos no contrato e a executar em condições semelhantes»,
com a consequente sobrevalorização do valor do contrato (cf.
artigo 17.º do CCP), emergente da sobrevalorização dos preços
unitários aplicáveis [alínea a) do n.º 1 do artigo 373.º e n.º 1 do
artigo 377.º, ambos do CCP].
33.º
A impossibilidade de avaliação da proposta constitui, também,
fundamento da respectiva exclusão – cf. alínea c) do n.º 2 do
artigo 70.º do CCP.

IV – Do pedido
34.º
Face ao exposto, de facto e de direito, deve o acto de adjudicação
impugnado ser anulado, o R. ser condenado a excluir a proposta
apresentada pela concorrente […] – e, em consequência,
condenado a adjudicar a proposta apresentada pela A., ordenada
em segundo lugar.

Termos em que a acção deve ser


julgada procedente e, em consequência,
a) Ser anulado o acto final de
adjudicação da proposta apresentada
pela concorrente […];
b) Ser o R. condenado a excluir a
proposta apresentada pela concorrente
[…];
c) Ser o R. condenado a adjudicar a
proposta apresentada pela A..

Para tanto requer-se a citação do R.


para contestar, querendo, seguindo-se
os demais termos.

Mais se requer, para o mesmo efeito, a


citação das seguintes contra-
interessadas:
a) […], com sede em […];
b) […], com sede em […];
c) […], com sede em […];
d) […], com sede em […].

Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo).

Junta:
- Procuração;
- […] documentos, cujo conteúdo se dá por
integralmente reproduzido sempre que nesta petição
são referidos, a saber:
Doc. 1 – Anúncio n.º […],
publicado no Diário da
República n.º […], 2ª Série, de
[…];
Doc. 2 – Lista dos
concorrentes publicitada na
plataforma do R.;
Doc. 3 – Ofício do R. n.º […],
de […], que notifica à A. o
acto final de adjudicação;
Doc. 4 – Programa de
Procedimento;
Doc. 5 – Caderno de Encargos;
Doc. 6 – Proposta da contra-
interessada […];
Doc. 7 – Relatório preliminar;
Doc. 8 – Pronúncia da A. em
fase de audiência prévia.
- Comprovativo do pagamento da taxa de justiça.
Na elaboração do presente documento foram usados
meios informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e
1.º do CPTA – deixando em branco o verso das
folhas.

O Advogado,
Petição Inicial de Impugnação de Acto Administrativo Relativo à
Formação de Contrato de Concessão de Obras Públicas

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do
Tribunal
Administrativo e
Fiscal de […]

[…], NIPC […], com sede em […],


vem intentar acção de contencioso pré-contratual, em processo
urgente, com vista à impugnação de acto administrativo de
adjudicação praticado no âmbito do procedimento de concurso
público internacional lançado para a formação do contrato de
gestão para o projecto, financiamento, concepção, construção,
manutenção e exploração do Hospital […], contra
[…], NIPC […], com sede em […], e
[…], NIPC […], com sede em […],
o que faz nos termos dos artigos 100.º, n.º 1, do Código de
Processo dos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os
fundamentos seguintes:

I – Objecto da acção e pressupostos


1.º
A A. pretende impugnar o acto de adjudicação que lhe foi
notificado em […], com base no vício de violação de lei, por
colidir frontalmente com o disposto no artigo 70.º, n.º 2, alíneas
b), d) e f), e artigo 152.º, n.º 3, do Código dos Contratos Públicos
(CCP), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 18/2008, de 29 de Janeiro.
2.º
A A. tem legitimidade para intentar a presente acção judicial, nos
termos do disposto no artigo 9.º, n.º 1, do CPTA.
3.º
A presente acção foi intentada pela A. dentro do prazo legalmente
estabelecido para o efeito, nos termos do artigo 101.º do CPTA.
4.º
O Tribunal é o competente por ser o da sede da A. – conforme
artigo 16.º do CPTA.

II – Dos factos

5.º
Por despacho conjunto n.º […], o R. […] e o R. […] (RR.)
lançaram o procedimento de concurso público internacional acima
identificado, publicado mediante Anúncio n.º […], no Diário da
República, n.º […], 2.ª Série, de […] e Anúncio n.º […], no Jornal
Oficial das Comunidades Europeias n.º […], de […], conforme
Docs. […] a […] que se dão por integralmente reproduzido (como
por reproduzidos se dão todos os documentos de ora em diante
referenciados).
6.º
O procedimento de concurso público internacional acima referido
rege-se pelo Programa de Concurso (PC), Caderno de Encargos
(CE) aprovados nos termos do referido Despacho conjunto – que
se juntam como Docs. […] e […] – e legislação aplicável,
designadamente o Código dos Contratos Públicos (CCP) e o
Decreto-Lei n.º 185/2002, de 20 de Agosto.
7.º
Por Despacho n.º […], datado de […], foi nomeada a Comissão de
Avaliação de Propostas e por Despacho n.º […], datado de […],
foi designada a Comissão de Abertura das Propostas, nos termos
previstos nas Cláusulas […] e […] do Programa de Concurso.
8.º
De acordo com a cláusula […] do Programa de Concurso, o
procedimento de concurso público internacional tem por objecto
«a celebração de um contrato de gestão destinado ao projecto,
financiamento, construção, manutenção e exploração do Hospital
[…], nos termos das especificações técnicas e de serviço definidas
no caderno de encargos» – cf. Doc. […].
9.º
Estabelece a cláusula […] do Programa de Concurso que a
adjudicação do contrato de concessão é feita segundo o critério da
proposta economicamente mais vantajosa, atendendo aos
seguintes factores e subfactores de avaliação:
a) […];
b) […];
c) […].
10.º
O procedimento admite uma fase de negociações restringida aos
concorrentes cujas propostas sejam ordenadas nos primeiros
lugares, conforme estabelece a Cláusula […] do Programa de
Concurso.
11.º
De acordo com o disposto na Cláusula […] do Programa de
Concurso, definiu-se o limite máximo de […]€ para o esforço
financeiro a assumir pelo concedente com a remuneração da
concessionária.
12.º
O direito de remuneração anual da Concessionária, pela
disponibilização do Edifício Hospitalar e pela prestação efectiva
dos serviços objecto do contrato, é calculado em função dos
seguintes componentes:
a) Componente relativa à disponibilidade do Edifício
(Remuneração Base anual) e
b) Componente referente a deduções a efectuar em função
dos níveis de desempenho da Concessionária, conforme
determina a Cláusula […] do caderno de encargos.
13.º
Em […], a A. apresentou proposta no valor de […]€, conforme
Doc. […].
14.º
Por seu turno, o concorrente Agrupamento […] apresentou uma
proposta no valor de […]€,
15.º
Estas propostas foram ordenadas nos dois primeiros lugares –
tendo a proposta da A. sido classificada em segundo lugar – e
admitidas a fase de negociações, conforme se refere na Acta de
Relatório Preliminar que se junta como Doc […].
16.º
Na sessão de negociações, ocorrida em […], a A. apresentou uma
versão final de proposta com um valor de […]€, inferior ao
inicialmente apresentado, conforme Doc. […],
17.º
ao passo que o concorrente Agrupamento […] apresentou uma
versão final de proposta com o valor de […]€, superior ao valor
inicialmente apresentado, conforme Doc. […]
18.º
Posteriormente, em […], a Comissão de Avaliação de Propostas
notificou a A. do segundo relatório preliminar, onde mantinha a
ordenação das propostas constante do primeiro relatório
preliminar e propunha a adjudicação da proposta do Agrupamento
[…].
19.º
Em sede de audiência prévia, teve a A. oportunidade de se
pronunciar no sentido da falta de fundamento legal para a
classificação das propostas constante do segundo relatório
preliminar e proposta de adjudicação ao concorrente Agrupamento
[…], enunciando a inexistência de razões justificativas para a
violação das normas legais e regulamentares aplicáveis – cf. Doc.
[…].
20.º
Não obstante o referido, em […], os RR. notificaram a A. da
decisão de adjudicação da proposta apresentada pelo
Agrupamento […], conforme Doc. […].
21.º
Em suma, ao adjudicar a proposta apresentada pelo concorrente
Agrupamento […], pensa-se que os RR. incorreram na violação de
diversas normas previstas no Programa de Concurso e no Código
dos Contratos Públicos, nos termos que de seguida serão expostos.

III – Do direito

22.º
Estatui o artigo 146.º, n.º 2, alínea o) do CCP, «[n]o relatório
preliminar (…) o júri deve também propor a exclusão das
propostas (…) cuja análise revele alguma das situações previstas
no n.º 2 do artigo 70.º».
23.º
Nos termos do artigo 70.º, n.º 2, alínea b), do CCP, «[s]ão
excluídas as propostas cuja análise revele (…) que apresentam
atributos que violem os parâmetros base fixados no caderno de
encargos ou que apresentem quaisquer termos ou condições que
violem aspectos da execução do contrato a celebrar por aquele
não submetidos à concorrência (…)»,
24.º
Dispondo-se na respectiva alínea d) que a proposta é excluída
quando seja de valor superior ao preço-base,
25.º
ou, conforme determina a alínea f) do mesmo artigo 70.º, n.º 2, do
CCP, quando o contrato a celebrar implique a violação de
quaisquer vinculações legais ou regulamentares aplicáveis.
26.º
Por seu turno, dispõe o artigo 152.º, n.º1, do CCP que «[a]pós
análise das versões finais das propostas e a aplicação do critério
de adjudicação, o júri elabora fundamentadamente um segundo
relatório preliminar no qual deve propor a ordenação das
mesmas, podendo ainda propor a exclusão de qualquer proposta
se verificar, nesta fase, a ocorrência de qualquer dos motivos
previstos no n.º 2 do artigo 146.º».
27.º
Acrescenta-se no artigo 152.º, n.º 3, do CCP, que, «[q]uando seja
adoptada uma fase de negociação restringida aos concorrentes
cujas propostas sejam ordenadas nos primeiros lugares, o júri
deve propor a exclusão das versões finais cuja pontuação global
seja inferior à das respectivas versões iniciais» [sublinhado pelo
signatário], conforme também consta do teor da Cláusula […] do
Programa de Concurso.
28.º
Ora, a apresentação pelo Agrupamento […], na fase de
negociações, de uma proposta com valor superior ao preço-base
estabelecido no Programa de Concurso consubstancia uma
violação de um parâmetro-base que deve acarretar a sua exclusão,
nos termos do artigo 70.º, n.º 2, alínea d), do CCP.
29.º
Por outro lado, a versão final da proposta apresentada pelo
concorrente Agrupamento […] integra um “Valor actualizado
líquido da despesa a efectuar pelo Concedente” superior ao que
havia sido apresentado na sua versão inicial.
30.º
Note-se que a Cláusula […] do Programa de Concurso refere que
«[a]fase de negociações visa melhorar, do ponto de vista do
interesse público, as propostas seleccionadas», e que «oresultado
das negociações não pode resultar na adjudicação de uma
proposta em condições globalmente menos vantajosas para a
entidade adjudicante do que as inicialmente propostas pelos
concorrentes seleccionados»,
31.º
Sendo que, ainda nos termos da referida Cláusula […], «entende-
se que uma proposta tem condições globalmente menos vantajosas
para a entidade adjudicante se obtiver, no termo da fase de
negociações, uma pontuação global inferior àquela que obteve
para efeitos de selecção para essa mesma fase».
32.º
A degradação do valor apresentado – de […] € para […] € – teria
sempre de implicar uma pontuação final inferior no factor “Valor
actualizado líquido da despesa a efectuar pelo Concedente” e, por
conseguinte, na pontuação global obtida pelo concorrente
Agrupamento […], como se demonstra pelo seguinte quadro:
[…]
33.º
Da leitura do quadro anterior constata-se, igualmente, que a
apresentação da versão final da proposta pelo Agrupamento […]
deveria sempre ter por consequência a ordenação diferente das
propostas prevista no primeiro relatório preliminar, passando a A.
a ser o concorrente com a mais elevada pontuação global.
34.º
Repare-se que, nos termos do disposto na Cláusula […] do
Programa de Concurso e no artigo 152.º, n.º 4, do CCP, a exclusão
das versões finais das propostas com base na degradação da sua
pontuação global deve originar a manutenção das respectivas
versões iniciais para efeitos de adjudicação.
35.º
Ora, assim sendo, e tendo em consideração a pontuação obtida
pela A. na versão final da sua proposta – superior à pontuação
global obtida pelo concorrente Agrupamento […] na sua versão
inicial -, é de concluir que os RR. deveriam ter procedido à
adjudicação da proposta da A.
36.º
Pelas razões expostas, o acto de adjudicação apresenta-se
desconforme ao ordenamento jurídico, sendo anulável nos termos
e para os efeitos do disposto nos artigos 135.º do Código do
Procedimento Administrativo.

IV – Do pedido
37.º
Face ao exposto, de facto e de direito, deve o acto de adjudicação
impugnado ser anulado e, consequentemente, ser adjudicada a proposta
apresentada pela ora A..

Termos em que a acção deve ser


julgada procedente e, em consequência:
a) o acto final de adjudicação da
proposta apresentada pelo concorrente
Agrupamento […] para a celebração
do contrato de gestão para o projecto,
financiamento, concepção,
construção, manutenção e exploração
do Hospital […] deve ser anulado;
b) serem os RR. condenados a excluir
a proposta apresentada pelo
concorrente Agrupamento […]; e
c) serem os RR. condenados a
adjudicar a proposta apresentada pela
A..
Para tanto, requer-se a citação dos RR.,
na pessoa dos (…) para contestar,
querendo, seguindo-se os demais
termos.
Mais se requer, para o mesmo efeito, a
citação das seguintes contra-
interessadas:
a) […], com sede em […];
b) […], com sede em […];
c) […], com sede em […];
d) […], com sede em […].
Valor: […] € ([...] euros).

Prova:
1. Documental – os […] documentos referidos nesta
petição inicial.
2. Testemunhas:
a) [Nome], [profissão], residente em […];
b) [Nome], [profissão], residente em […].

Junta: - […] documentos, assim identificados:


- Doc. 1 – […];
- Doc. 2 – […].
- procuração forense; e
- comprovativo de pagamento de taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC, e 1.º do CPTA, deixando o
verso das folhas em branco.

O Advogado,
Petição Inicial de Impugnação de Acto Administrativo Relativo à
Formação de Contrato de Prestação de Serviços

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal de […]

[…], NIPC […], com sede em […],


vem intentar acção de contencioso pré-contratual, em processo
urgente, para impugnação do acto administrativo de adjudicação
praticado, no âmbito do “Concurso público para formação do
contrato de aquisição dos serviços de […]”, por
[…], NIPC […], com sede em […],
o que faz ao abrigo do n.º 1 do artigo 100.º do Código de Processo
nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os fundamentos que
se seguem:

I – Objecto da acção e pressupostos

1.º
A A. é uma sociedade comercial que se dedica à actividade de
[…].
2.º
Através do Anúncio n.º […], publicado no Diário da República,
2.ª Série, de […], foi publicitado o “Concurso público para
formação do contrato de aquisição dos serviços de […]”
(doravante “Concurso”), em que é entidade adjudicante o ora R. –
cf. Doc. 1 que aqui se junta e se dá por integralmente reproduzido,
assim como os demais documentos referidos nesta petição inicial.
3.º
No âmbito do concurso, foram apresentadas duas propostas: a
proposta da A. e a da contra-interessada […] – cf. lista dos
concorrentes publicitada na plataforma do R., cuja cópia se junta
como Doc. 2.
4.º
Em […], através do Ofício do R. n.º […], a A. foi notificada do
acto final de adjudicação da proposta apresentada pela concorrente
[…], nos termos constantes do relatório final de avaliação das
propostas anexo ao mesmo Ofício – cf. Doc. 3.
5.º
Ao menos no entender da A., a proposta adjudicada deveria ter
sido excluída, por a mesma contender com as normas do
procedimento e a lei,
6.º
Razão pela qual o acto de adjudicação, consubstanciando a
escolha daquela proposta [cf. n.º 1 do artigo 73.º do Código dos
Contratos Públicos (CCP)], é manifestamente ilegal e deve ser
anulado.
7.º
A anulação do acto de adjudicação sindicado e a condenação do R.
a excluir a proposta da concorrente […] e a adjudicar a da A.
constituem o objecto da presente acção.
8.º
A acção está em tempo – artigo 101.º do CPTA.
9.º
A A. tem legitimidade – artigo 9.º, n.º 1, do CPTA.
10.º
O Tribunal é competente, por ser o da sede da A. – artigo 16.º do
CPTA.
II – Dos factos

11.º
O concurso rege-se, especialmente, pelas respectivas peças do
procedimento – cf. Programa de Procedimento (PC) e Caderno de
Encargos (CE) que se juntam como Doc. 4 e Doc. 5.
12.º
Nos termos da cláusula 1.ª do PC, o concurso tem por objecto
«(…) a adjudicação dos serviços de […], nos
termos das cláusulas jurídicas e especificações
técnicas definidas no caderno de encargos».
13.º
De acordo com a cláusula 10.ª do PC,
«A adjudicação será feita segundo o critério do
mais baixo preço, nos termos do disposto no
artigo 74.º, n.º 1, alínea b), e n.º 2, do CCP».
14.º
Estabelece o artigo 5.º do CE que
«Para efeitos do disposto no artigo 47.º do
Código dos Contratos Públicos, o parâmetro
base do preço contratual é fixado em
100.000,00€, acrescido de IVA à taxa legal em
vigor».
15.º
Conforme resulta do relatório final de avaliação das propostas, que
sustenta a decisão de adjudicação (Doc. 3), a proposta adjudicada
tem o valor de 50.0000,00€.
16.º
A referida proposta foi apresentada sem qualquer nota justificativa
do preço proposto,
17.º
Facto que a A. suscitou, assim que foi notificada do relatório
preliminar – cf. pronúncia apresentada em fase de audiência prévia
junta como Doc. 6.
18.º
A este propósito, conforme resulta do relatório de avaliação de
propostas (Doc. 3, pág. 2), em sede de análise de propostas,
«Considerando a apresentação de um preço
equivalente a metade do preço base, o júri do
procedimento, nos termos do disposto no n.º 3
do artigo 71.º do Código dos Contratos
Públicos, solicitou ao concorrente […] que, por
escrito, esclarecesse e justificasse o preço
proposto. Neste sentido, foi referido pela
empresa que a mesma se encontra já a prestar
diversos serviços nos concelhos limítrofes e, por
outro lado, tem um know how acumulado em
mais de 10 anos de actividade no sector, o que
lhe permite disponibilizar uma gestão
operacionalizada com optimização de níveis de
eficiência de meios humanos e técnicos».

III – Do Direito

19.º
No âmbito dos procedimentos de formação de contratos de
aquisição de serviços, «quando o preço base for fixado no
caderno de encargos, considera-se que o preço total resultante de
uma proposta é anormalmente baixo quando seja (…) 50% ou
mais inferior àquele» – cf. alínea b) o n.º 1 do artigo 71.º do CCP.
20.º
De acordo com o disposto na alínea d) do n.º 1 do artigo 57.º do
CCP, a proposta é constituída pelos «Documentos que contenham
os esclarecimentos justificativos da apresentação de um preço
anormalmente baixo, quando esse preço resulte, directa ou
indirectamente, das peças do procedimento»
21.º
Acresce, «São excluídas as propostas cuja análise revele (…) Um
preço total anormalmente baixo, cujos esclarecimentos
justificativos não tenham sido apresentados (…)» – cf. alínea e)
do n.º 1 do artigo 70.º do CCP,
22.º
Ou, no mesmo sentido, «Que não sejam constituídas por todos os
documentos exigidos nos termos do disposto no n.º 1 do artigo
57.º» do CCP – cf. alínea d) do n.º 2 do artigo 146.º do CCP.
23.º
Como acima foi sublinhado, no âmbito do concurso dos autos, a
concorrente […]
a) Apresentou uma proposta contendo um preço
anormalmente baixo, já que é 50% inferior ao preço base
definido no caderno de encargos como parâmetro base do
preço contratual; e
b) Não instruiu a sua proposta com qualquer documento
que contivesse os esclarecimentos justificativos desse
preço anormalmente baixo.
24.º
Deveria, assim, a referida proposta ter sido excluída, conforme se
estatui na mencionada alínea e) do n.º 1 do artigo 70.º [e alínea d)
do n.º 2 do artigo 146.º] do CCP.
25.º
Neste contexto, aliás, afigura-se desprovido de fundamento o
pedido de esclarecimentos justificativos do preço proposto,
remetido pelo R. à concorrente […] ao abrigo do n.º 3 do artigo
71.º do CCP – faculdade que, em face do enquadramento
normativo acima enunciado, apenas assiste às entidades
adjudicantes «quando o caderno de encargos não fixar o preço
base» (cf. n.º 2 deste mesmo artigo).

IV – Do pedido

26.º
Face ao exposto, de facto e de direito, deve o acto de adjudicação
impugnado ser anulado, bem como a proposta apresentada pela
concorrente […] ser excluída – e, em consequência, ser adjudicada
a proposta apresentada pela A..

Termos em que a acção deve ser


julgada procedente e, em consequência,
a) Ser anulado o acto final de
adjudicação da proposta apresentada
pela concorrente […];
b) Ser o R. condenado a excluir a
proposta apresentada pela concorrente
[…];
c) Ser o R. condenado a adjudicar a
proposta apresentada pela A..

Para tanto requer-se a citação do R. e da


contra-interessada […] – com sede em
[…] – para contestar, querendo,
seguindo-se os demais termos.

Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo).

Junta:
- Procuração;
- […] documentos, cujo conteúdo se dá por
integralmente reproduzido sempre que nesta petição
são referidos, a saber:
Doc. 1 – Anúncio n.º […],
publicado no Diário da
República, 2.ª Série, de […];
Doc. 2 – Lista dos
concorrentes publicitada na
plataforma do R.;
Doc. 3 – Ofício do R. n.º […],
de […], que notifica à A. o
acto final de adjudicação;
Doc. 4 – Programa de
Procedimento;
Doc. 5 – Caderno de Encargos;
Doc. 6 – Pronúncia da A. em
fase de audiência prévia.
- Comprovativo do pagamento da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados


meios informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e
1.º do CPTA – deixando em branco o verso das
folhas.

O Advogado,
Petição Inicial de Impugnação de Acto Administrativo Relativo à
Formação de Contrato de Fornecimento de Bens

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal
de […]

[…], NIPC […], com sede em […],


vem intentar acção de contencioso pré-contratual, em processo
urgente, com vista à impugnação de acto administrativo de
adjudicação praticado no âmbito do procedimento de concurso
público internacional lançado para a formação de contrato de
fornecimento de bens, contra
[…], NIPC […], com sede em […],
o que faz nos termos dos artigos 100.º, n.º 1, do Código de
Processo dos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os
fundamentos seguintes:

I – Objecto da acção e pressupostos


1.º
A A. pretende impugnar o acto de adjudicação que lhe foi
notificado em […], com base em vício de violação de lei, por
colidir frontalmente com o disposto no artigo 70.º, n.º 2, alíneas b)
e d), do Código dos Contratos Públicos (CCP), aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 18/2008, de 29 de Janeiro.
2.º
A anulação do acto de adjudicação ora impugnado e a condenação
do R. a excluir as propostas dos concorrentes […] e a adjudicar a
da A. constituem o objecto da presente acção.
3.º
A A. tem legitimidade para intentar a presente acção judicial, nos
termos do disposto no artigo 9.º, n.º 1, do CPTA.
4.º
A presente acção foi intentada pela A. dentro do prazo legalmente
estabelecido para o efeito, nos termos do artigo 101.º do CPTA.
5.º
O Tribunal é o competente, por ser o da sede da A., ao abrigo do
disposto no artigo 16.º, do CPTA.

II – dos factos
6.º
Por despacho n.º […], o […] (R.) lançou o procedimento de
concurso público internacional acima identificado, publicado
mediante Anúncio n.º […], no Diário da República, 2.ª Série, de
[…], e Anúncio n.º […], no Jornal Oficial das Comunidades
Europeias n.º […] – cf. Docs. […] e […] que se juntam e aqui se
dão por integralmente reproduzidos (como por reproduzidos se
dão os demais documentos juntos nesta petição inicial).
7.º
O procedimento de concurso público internacional acima referido
rege-se pelo Programa de Concurso (PC) e Caderno de Encargos
(CE) aprovados pelo referido Despacho – que se juntam,
respectivamente, como Docs. […] e […] – e pela legislação
aplicável, designadamente o disposto no CCP.
8.º
De acordo com a cláusula […] do PC, o objecto do contrato é o
fornecimento de […], conforme definido quanto à espécie,
quantidade e qualidade nas peças do procedimento.
9.º
Estabelece a cláusula […] do PC que as propostas a apresentar
pelos concorrentes devem obedecer aos termos e condições
preestabelecidos pela entidade adjudicante, em relação aos quais
os concorrentes devem vincular-se,
10.º
sendo o critério de adjudicação o do mais baixo preço, conforme
cláusula […] do PC.
11.º
Os termos e condições constantes da referida cláusula do PC não
se encontram, portanto, submetidos à concorrência
(consabidamente, ao contrário dos atributos da proposta,
respeitantes a aspectos da execução do contrato submetidos à
concorrência).
12.º
A cláusula […] do PC estabelece os termos e condições que o
fornecimento de bens pelo adjudicatário deve respeitar – sendo
que, para os efeitos da presente acção judicial, releva o disposto
no n.º […] da referida cláusula, quando se determina que os bens
devem ser fornecidos nos intervalos de horário estabelecidos no
Anexo […] do PC.
13.º
Por outro lado, define-se na cláusula […] do PC as quantidades
mínimas que devem ser fornecidas, diariamente, nos referidos
intervalos de horário.
Ora,
14.º
Em sede de audiência prévia, realizada nos termos do disposto na
cláusula […] do PC e nos artigos 147.º e 123.º, n.º 1, do CCP, o A
verificou – consultada a proposta apresentada pelo concorrente
adjudicatário – o seguinte:
a) […];
b) […];
15.º
Por outro lado, consultada a proposta apresentada pelo
concorrente […], classificado em segundo lugar, verificou
igualmente o seguinte:
a) […];
b) […];
16.º
Como se afigura inequívoco, as referidas propostas dos
mencionados concorrentes […] e […] não cumprem os termos e
condições exigidos no PC no que respeita à cláusula que define os
intervalos de horário em que o fornecimento de bens deve ocorrer,
17.º
nem cumprem os parâmetros-base (mínimos) constantes da
cláusula […] do PC, referentes às quantidades que devem ser
fornecidas, diariamente, nos referidos intervalos de horário.
18.º
Neste contexto, em sede de audiência prévia, o A. pronunciou-se,
por escrito, fundamentando o dever de exclusão das referidas
propostas por violação frontal do disposto naquelas cláusulas do
PC – cf. Doc. […].
19.º
Em […], os concorrentes foram notificados para apresentar
esclarecimentos sobre a matéria constante da reclamação
apresentada – cf. Doc. […],
20.º
o que ambos fizeram, nos termos constantes dos Docs. […] e […],
assumindo a veracidade dos factos constantes da reclamação da
A., embora invocando uma interpretação jurídica divergente das
cláusulas do PC.
21.º
Não obstante, no dia […], a A. foi notificada do acto de
adjudicação à concorrente […], conforme relatório final e anexos
que se junta como Doc. […].
22.º
Em suma, pensa-se que ao adjudicar o contrato de fornecimento
de bens ao concorrente […], o R. incorreu – assim como incorreria
se adjudicasse a proposta do concorrente […] – na violação de
normas previstas no PC e no CCP, conforme de seguida se
procurará demonstrar.

III – do direito
23.º
Nos termos do artigo 146.º, n.º 2, alínea o), do CCP, «[n]o
relatório preliminar (…) o júri deve também propor a exclusão
das propostas (…) cuja análise revele alguma das situações
previstas no n.º 2 do artigo 70.º».
24.º
Por sua vez, estatui o artigo 70.º, n.º2, alínea b), do CCP, que
«[s]ão excluídas as propostas cuja análise revele (…) que
apresentam atributos que violem os parâmetros base fixados no
caderno de encargos ou que apresentem quaisquer termos ou
condições que violem aspectos da execução do contrato a
celebrar por aquele não submetidos à concorrência (…)».
25.º
As normas do PC assumem a natureza regulamentar, uma vez
que, embora aplicando-se a um dado concurso, «o programa será
abstracto na medida em que regula uma imensidão de hipóteses
indeterminadas e indetermináveis no momento em que a
Administração o emite, não se esgotando, desse modo, na sua
aplicação a um único caso concreto» (cf. Margarida Olazabal
Cabral, O Concurso Público nos Contratos Administrativos,
Almedina, 1999, p.241).
26.º
Ora, a apresentação, pelo concorrente adjudicatário […], de uma
proposta que viola o disposto na cláusula […] do PC, quanto aos
horários a cumprir no fornecimento de bens, consubstancia uma
inequívoca violação de um aspecto não submetido à concorrência
pela entidade adjudicante, nos termos e para os efeitos dos casos
materiais de exclusão de propostas previstos no artigo 70.º, n.º 2,
alínea b), ex vi artigo 146.º, n.º 2, alínea o), ambos do CCP.
27.º
Por outro lado, a apresentação pelo concorrente adjudicatário […]
de uma proposta que não cumpre as quantidades mínimas exigidas
na cláusula […] do PC configura a violação de um parâmetro-base
mínimo, para os efeitos do referido artigo 70.º, n.º 2, alínea b), do
CCP.
28.º
Destarte, as proposta apresentadas pelo concorrente adjudicatário
[…], assim como a do concorrente […], classificado em segundo
lugar, deveriam ter sido excluídas, à luz das mencionadas
disposições normativas.
29.º
Pelas razões expostas, o acto de adjudicação apresenta-se
desconforme ao ordenamento jurídico, sendo anulável nos termos
e para os efeitos do disposto no artigo 135.º do Código do
Procedimento Administrativo.

IV – do pedido
30.º
Face ao exposto, de facto e de direito, deve o acto de adjudicação
impugnado ser anulado, por contrariar normas regulamentares do
PC e normas injuntivas do CCP, e, em consequência, ser
adjudicada a proposta apresentada pela A., ordenada no lugar
subsequente.

Termos em que a presente acção deve


ser julgada procedente, por provada, e,
em consequência, determinar-se:
a) A anulação do acto de adjudicação
do contrato de fornecimento de […];
b) A exclusão das propostas
apresentadas pelos concorrentes […]
e […]; e
c) A adjudicação da proposta
apresentada pela A.
Para tanto, requer-se a citação do R.,
na pessoa do […], e dos contra-
interessados […] e […], para
contestar, querendo, no prazo e sob as
cominações legais aplicáveis.

Valor: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).

Prova:
a) Documental – os […] documentos referidos nesta petição
inicial.
b) Testemunhas:
1. [Nome], [profissão], residente em […];
2. [Nome], [profissão], residente em […].

Junta: - (…) documentos, assim identificados:


- Doc. 1 – (…);
- Doc. 2 – (…).
- procuração forense; e
- comprovativo de pagamento de taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC, e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Petição Inicial de Impugnação do Programa e Caderno de Encargos
com Fundamento na Ilegalidade das Especificações Técnicas,
Económicas ou Financeiras

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal de […]

[…], NIPC […], com sede em […],


vem intentar acção de contencioso pré-contratual, em processo
urgente, para impugnação do programa do concurso público,
adoptado para a formação do “Contrato de empreitada de […]”,
aprovado por
[…], NIPC […], com sede em […],
o que faz ao abrigo do n.º 1 do artigo 100.º do Código de Processo
nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os fundamentos que
se seguem:

I – Objecto da acção e pressupostos

1.º
A A. é uma sociedade comercial que se dedica à actividade de
empreiteiro de obras públicas.
2.º
Através do Anúncio n.º […], publicado no Diário da República,
2.ª Série, de […], foi publicitado o concurso público adoptado
para a formação do “Contrato de empreitada de […]” (doravante
“Concurso”), em que é entidade adjudicante o ora R. – cf. Doc. 1
que aqui se junta e se dá por integralmente reproduzido (assim
como os demais documentos referidos nesta petição inicial).
3.º
Conforme resulta do teor do Ponto 12 do Anúncio (e, aliás, a A.
pôde verificar, directamente, na qualidade de interessado,
mediante a consulta das peças do procedimento, nas instalações do
R.), o programa do concurso que integra o referido procedimento
padece de ilegalidade manifesta – designadamente, quanto ao
modelo de avaliação definido na sua cláusula 5.ª.
4.º
A impugnação deste programa do concurso constitui o objecto da
presente acção.
5.º
A acção está em tempo – artigo 101.º do CPTA.
6.º
A A. tem legitimidade – artigo 9.º, n.º 1, do CPTA.
7.º
O Tribunal é competente, por ser o da sede da A. – artigo 16.º do
CPTA.

II – Dos factos

8.º
Dispõe a cláusula 4ª do programa do concurso dos autos que
«A adjudicação é feita segundo o critério da
proposta economicamente mais vantajosa para a
entidade adjudicante, nos termos do disposto no
artigo 74.º, n.º 1, alínea a), e n.º 2, do Código dos
Contratos Públicos».
9.º
Em conformidade com o enunciado no Ponto 12 do Anúncio do
concurso (Doc. 1), estabelece a cláusula 5.ª do programa do
concurso (cf. P.A.) o seguinte:
«Os factores e subfactores que densificam o critério de
adjudicação da proposta economicamente mais vantajosa
para a entidade adjudicante, e respectivos coeficientes de
ponderação, são os seguintes:
a) Preço (P): 50,0%
b) Qualidade técnica da proposta (Q): 40,0%
b1) Plano de trabalhos (PT) (30,0%)
b1.1) Plano de trabalhos (PLT): 15,0%
b1.2) Plano de mão de obra (PMO): 05,0%
b1.3) Plano de equipamento (PLE) 05,0%
b1.4) Plano de pagamentos (PLP) 05,0%
b2) Memória justificativa e descritiva do modo de
execuçãoda obra (MD) (10,0%)
c) Prazo de execução (PE): 10,0%».

10.º
Para pontuação do subfactor “Memória justificativa e descritiva do
modo de execução da obra (MD)”, estabelecem-se, na referida
cláusula 5ª, e em correspondência com o Ponto 12 do Anúncio, os
seguintes “descritores”:
Po Classificaçã Descritores
ntu o
açã
o
0a Mau Proposta muito insuficiente,
5
val não permitindo avaliar o que o concorrente se propõe a oferecer
ore
s
6a Insuficiente Proposta insuficiente, permitindo apenas avaliar em
9
val alguns aspectos o que o concorrente se propõe a oferecer,
ore
s não satisfazendo os aspectos essenciais

Suficiente
10 Proposta suficiente, aceitável, permitindo identificar e
a
13 conhecer os seus aspectos essenciais
val
ore
s
Proposta boa, permitindo identificar e conhecer quase
14 Bom
a plenamente o que o concorrente se propõe a executar
17
val
ore
s
Proposta muito boa, permitindo identificar e conhecer
18 Muito Bom
a plenamente o que o concorrente se propõe a executar,
20 correspondendo às soluções mais adequadas
val
ore
s

III – Do Direito
11.º
Estabelece o artigo 139.º, n.º 3, do Código dos Contratos Públicos
(CCP), que, sendo adoptado o critério de adjudicação da proposta
economicamente mais vantajosa (PEMV), «[p]ara cada factor ou
subfactor elementar deve ser definida uma escala de pontuação,
através de uma expressão matemática ou em função de um
conjunto ordenado de diferentes atributos susceptíveis de serem
propostos para o aspecto da execução do contrato submetido à
concorrência pelo caderno de encargos respeitante a esse factor»
(sublinhado pelo signatário).
12.º
Neste enquadramento normativo, não sendo adoptada uma
«expressão matemática» (nomeadamente quando a escala vise a
pontuação de factores quantitativos, como o “preço” ou o
“prazo”), estatui o CCP que os factores ou subfactores que
densificam o critério de adjudicação da PEMV devem ser
pontuados em função de um «conjunto ordenado de diferentes
atributos susceptíveis de serem propostos» – os denominados
“descritores”.
13.º
Os “descritores” podem, no modelo de avaliação, ser mais ou
menos decompostos – por exemplo, fixando-se apenas os
descritores correspondentes à menor e à maior pontuação, ou
definindo-se os intermédios (também mais ou menos
decompostos).
14.º
Exemplificativamente, sendo estabelecida uma escala de
pontuação de 1 a 5, (i) podem ser definidos apenas os descritores
correspondentes à pontuação 1 e à pontuação 5 (sendo as restantes
pontuações aferidas, na fase da avaliação das propostas, no âmbito
da margem de livre apreciação administrativa, mediante juízos
técnicos discricionários que sustentem, fundamentadamente, essa
avaliação e valoração, em termos que viabilizem a respectiva
sindicância pelos Tribunais, em caso de erro), (ii) podem indicar-
se os descritores correspondentes à pontuação 1, 3 e 5 (sendo a
pontuação 3 a intermédia e a 2 e 4 aferidas, mais uma vez, de
forma fundamentada, no âmbito da margem de livre apreciação
administrativa) e (iii) podem ser definidos os descritores
correspondentes a todas as pontuações (ou seja, 1, 2, 3, 4 e 5, o
que, naturalmente, contribui para a densificação da tarefa da
avaliação das propostas e reduz a margem de livre apreciação
administrativa).
15.º
Pressuposto é, por um lado, que sejam definidos, pelo menos, dois
descritores – um descritor correspondente a um nível mais baixo e
outro correspondente a um nível mais elevado da escala de
pontuação (que assim correspondem às duas “referências”
mínimas que permitem, na tarefa desenvolvida pelo júri do
procedimento, fundamentar as avaliações das propostas de forma
não arbitrária),
16.º
E, por outro lado, que os descritores definidos sejam objectivos –
em termos figurados, deverá estabelecer-se uma escala de
pontuação definindo, no mínimo, que ao “branco” equivale uma
pontuação de 1 e ao “preto” uma pontuação de 5 (sendo os níveis
de cinzentos, por sua vez, aferidos no âmbito da
discricionariedade administrativa, de forma fundamentada).
17.º
De facto, a proclamada discricionariedade administrativa não se
confundirá com a pura arbitrariedade, sendo que, neste contexto, a
reconhecida “livre apreciação administrativa” não pode
consubstanciar um efectivo “cheque em branco” no sentido de
possibilitar uma decisão (judicialmente não sindicável) conforme
interesses (públicos) subjectivos da entidade adjudicante ou
interesses (públicos) insuficientemente explicitados nas peças do
procedimento.
18.º
Ora, se é certo que, ao menos formalmente, o modelo de avaliação
previsto no programa do concurso ora impugnado estabelece
aquele mínimo de dois descritores (no caso, prevêem-se cinco
descritores, entre a “classificação” de “mau” e “muito bom”),
19.º
É igualmente inequívoco que o modelo de avaliação padece de
manifesta ilegalidade já que os descritores estabelecidos não são
“objectivos”.
20.º
De facto, dizer-se, por exemplo, que se atribui uma pontuação
entre 0 e 5 a uma «Proposta muito insuficiente, não permitindo
avaliar o que o concorrente se propõe a oferecer» e entre 18 e 20
a uma «Proposta muito boa, permitindo identificar e conhecer
plenamente o que o concorrente se propõe a executar,
correspondendo às soluções mais adequadas» será, na perspectiva
do respeito pela legalmente exigida definição de descritores
objectivos, absolutamente irrelevante;
21.º
Assim definidos os descritores, os concorrentes, na elaboração das
suas propostas, desconhecem que «atributos» – isto é, que
elementos ou características da sua proposta respeitantes a
aspectos da execução do contrato submetidos à concorrência pelo
caderno de encargos (cf. n.º 2 do artigo 56.º do CCP) – devem ou
podem considerar na conformação da sua declaração negocial;
22.º
Assim definidos os descritores, a pontuação não incide sobre
quaisquer aspectos da execução do contrato susceptíveis de serem
propostos e avaliados (no caso, quanto ao modo de execução da
obra),
23.º
Antes assenta numa definição imprecisa, arbitrária e subjectiva
desses aspectos – portanto, proporcionando uma avaliação
arbitrária e subjectiva das propostas.
24.º
Destarte, o modelo de avaliação definido no programa do
concurso impugnado contende com os mais elementares princípios
que regem a contratação pública, em especial os da transparência,
igualdade e concorrência (cf. n.º 4 do artigo 1.º do CCP),
25.º
Bem como se revela numa inequívoca afronta do preceituado no
n.º 3 do artigo 139.º do CCP,
26.º
Sendo, por isso, anulável nos termos do disposto no artigo 135.º
do CPA.

IV – Do pedido
27.º
Em face do exposto, deve o programa do concurso impugnado ser
anulado, por padecer de vício de violação de lei – aprovando o R.,
querendo, um outro, expurgado do referido vício.
Termos em que a acção deve
ser julgada procedente e, em
consequência, ser anulado o
programa do concurso dos
autos por vício de violação de
lei, relativo ao modelo de
avaliação definido.
Para tanto requer-se a citação
do R. para contestar, querendo,
seguindo-se os demais termos.

Desconhece-se a existência de contra-interessados – artigo 78.º,


n.º 2, alínea f), do CPTA.

Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo).

Junta:
- Procuração;
- 1 documento, cujo conteúdo se dá por integralmente
reproduzido sempre que nesta petição inicial é referido, a
saber:
Doc. 1 – Anúncio n.º […], publicado no Diário da
República, 2.ª Série, de […].
- Comprovativo do pagamento da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA – deixando
em branco o verso das folhas.

O Advogado,
Requerimento de Modificação Objectiva da Instância no Sentido de
Impugnar o Contrato Celebrado Entretanto Celebrado no Âmbito do
Procedimento Pré-Contratual no qual se Insere o Acto Impugnado

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE […]


Proc. n.º […]

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], A. nos autos à margem referenciados, tendo tomado


conhecimento da celebração do contrato de aquisição de serviços
entre o R. […] e o concorrente adjudicatário […], vem, nos termos
do disposto nos artigos 102.º, n.º 4, e 63.º do Código de Processo
nos Tribunais Administrativos (CPTA), requerer a modificação
objectiva da instância, o que faz com os fundamentos seguintes:

1.º
A presente acção foi intentada visando a anulação do acto de
adjudicação da proposta apresentada pelo concorrente […],
praticado pelo R. em […].
2.º
Em […] – portanto, na pendência dos autos –, o R. celebrou com o
referido concorrente adjudicatário o contrato objecto do
procedimento pré-contratual no âmbito do qual foi praticado
aquele acto de adjudicação que se impugna – aliás, de acordo com
informação trazida ao processo pelo próprio R. (cf. artigo […] da
contestação).
3.º
Dispõe o artigo 102.º, n.º 4, do CPTA que «[o] objecto do
processo pode ser ampliado à impugnação do contrato, segundo o
disposto no artigo 63.º».
4.º
Prevê o referido artigo 63.º, n.º 1, sob a epígrafe “Modificação
objectiva da instância”, que «[q]uando por não ter sido decretada,
a título cautelar, a suspensão do procedimento em que se insere o
acto impugnado, este tenha seguimento na pendência do processo,
pode o objecto ser ampliado à impugnação de novos actos que
venham a ser praticados no âmbito desse procedimento, bem
como à formulação de novas pretensões que com aquela possam
ser cumuladas»,
5.º
sendo o disposto na referida norma extensível ao «caso de o acto
impugnado ser relativo à formação de um contrato e este vir a ser
celebrado na pendência do processo», conforme artigo 63.º, n.º 2,
do CPTA.
6.º
A possibilidade de cumulação, em geral,do pedido de impugnação
do acto administrativo de adjudicação com a impugnação do
respectivo contrato cuja validade dependa desse acto é consignada
no artigo 4.º, n.º 2, alínea d), do CPTA,
7.º
reconhecendo-se, ainda, nas normas dos artigos 102.º, n.º 4, e 63.º,
n.º 2, do CPTA, a cumulação superveniente de pedidos por
celebração do contrato cuja validade depende do acto de
adjudicação impugnado.
8.º
Conforme preceitua o artigo 40.º, n.º 1, alínea d), do CPTA, o A.
tem legitimidade para requerer, no âmbito dos presentes autos, a
impugnação do contrato entretanto celebrado.
9.º
A celebração do contrato com o concorrente adjudicatário,
ocorrida no passado dia […], permite, portanto, a modificação
objectiva da instância, no sentido da ampliação do pedido de
impugnação do acto de adjudicação, tendo em vista a abrangência
do referido contrato, nos termos e para os efeitos do disposto no
artigo 273.º, n.º 2, do Código de Processo Civil.
10.º
Com efeito, ao menos no entender do A., o contrato celebrado não
poderá deixar de padecer de ilegalidade, sob a forma de
anulabilidade, tendo em consideração a invalidade consequente de
que enferma, por força do disposto no artigo 283.º, n.º 2, do
Código dos Contratos Públicos (CCP), aprovado pelo Decreto-Lei
n.º 18/2008, de 29 de Janeiro.
11.º
Destarte, os fundamentos de facto e de direito oportunamente
invocados para a impugnação do acto de adjudicação devem, com
as devidas adaptações, valer para efeitos de impugnação do
contrato entretanto celebrado.
12.º
Em suma, uma vez admitida a modificação objectiva da instância
e consequente ampliação do pedido, que ora se requer, o referido
contrato de aquisição de serviços deve ser anulado, por contrariar
as disposições legais injuntivas invocadas a propósito do acto de
adjudicação impugnado.

Termos em que deve o presente


requerimento de modificação objectiva
da instância ser admitido e,
consequentemente, determinada a
ampliação do pedido formulado pelo
A., devendo o contrato de aquisição de
serviços entretanto celebrado entre o R.
e o concorrente adjudicatário […] ser
anulado, em face da verificada situação
de invalidade consequente, nos termos e
para os efeitos do disposto no artigo
283.º, n.º 2, do CCP.

Junta: comprovativo de notificação ao Ilustre Mandatário do R. e


dos contra-interessados.
Na elaboração do presente documento foram usados meios
informáticos – arts. 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA – deixando
em branco o verso das folhas.

E.D.
O Advogado,
Requerimento de Opção pela Realização de Audiência Pública Sobre
a Matéria de Facto e de Direito

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE […]


Proc. n.º […]

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], A. no processo à margem referenciado, vem requerer a


realização de audiência pública destinada à discussão oral da
matéria de facto e de direito, o que faz nos termos do disposto no
artigo 103.º do Código de Processo nos Tribunais Administrativos
e considerando a manifesta urgência no esclarecimento da questão
objecto dos autos, designadamente em face de […].

Junta: comprovativo de notificação ao Ilustre Mandatário do R..

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA.

E.D.
O Advogado,
Petição Inicial de Impugnação de Acto Administrativo em Matéria
Eleitoral

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal Administrativo e
Fiscal
de [...]

[…], [estado civil], NIF [...], com residência em [...],


vem intentar acção de contencioso eleitoral, contra
[….], NIPC […], com sede em [...],
o que faz nos termos dos artigos 97.º a 99.º do Código de Processo
nos Tribunais Administrativos (CPTA), e com os fundamentos
seguintes:

1.º
O A. é professor do R., na Escola Superior de Aritmética, desde
2006.
2.º
Na sequência do despacho de […], foram ontem afixados os
“Cadernos Eleitorais para a eleição dos representantes dos
professores no Conselho Geral” do R. – de que se junta certidão
como Doc. 1 e cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido
(assim como o dos demais documentos adiante mencionados).
3.º
O A. foi imediatamente avisado por alguns Colegas para o facto
de o seu nome ter sido omitido dos referidos Cadernos Eleitorais.
4.º
De imediato o A. contestou essa omissão junto da Comissão
Eleitoral – nos termos da reclamação que se anexa como Doc. 2.
5.º
Hoje, reconhecendo embora que o seu nome tinha sido omitido
por lapso, a Comissão Eleitoral indeferiu a reclamação
apresentada pelo A., em síntese, alegando que havia urgência
naquela eleição e que, para o efeito, teria agora de verificar se
existiam ou não outras omissões a considerar, o que acarretaria
atraso no processo eleitoral – deliberação de que se junta cópia
como Doc. 3.
6.º
Tal deliberação é, ao menos no entender do A., completamente
ilegal – arts. 81º, nº 2, alínea a) e nº 3, alínea a) do RJIES (regime
jurídico das instituições de ensino superior), aprovado pela Lei nº
62/2007, de 10 de Setembro.
7.º
A omissão nos cadernos eleitorais é susceptível de impugnação
autónoma e antes mesmo do acto eleitoral – cf. artigo 98.º, n.º 3,
do CPTA.
8.º
O A. tem legitimidade, nos termos do n.º 1 do mesmo artigo.
9.º
A acção está em tempo – cf. n.º 2 da referida norma.

Termos em que
se requer a V.
Ex. cia se digne
declarar a
ilegalidade da
omissão do A.
nos referidos
cadernos
eleitorais, com
as legais
consequências.

Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo).

Junta: procuração, […] documentos e comprovativo do pagamento


da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA –
deixando em branco o verso das folhas.

O Advogado,
Requerimento de Suspensão de Eficácia de Acto Eleitoral

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal
de […]

[…], NIF […], com residência em […],


vem requerer a suspensão da eficácia do despacho que marcou a
data para a eleição abaixo melhor identificada, contra
[…], NIPC […], com sede em […],
o que – como preliminar da acção de contencioso eleitoral a
intentar, nos termos do disposto nos artigos 97.º a 99.º do Código
de Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) – faz ao
abrigo do previsto nos artigos 112.º e seguintes do CPTA e nos
termos que se seguem:

I – Enquadramento

1.º
O requerente é professor do Requerido, na Escola Superior de
Aritmética, desde 2006.
2.º
Na sequência do despacho de […], foram ontem afixados os
“Cadernos Eleitorais para a eleição dos representantes dos
professores no Conselho Geral” do Requerido e (sendo este o
despacho suspendendo) marcou para o próximo dia…/…/ … a
eleição referida – despacho e cadernos de que se junta certidão
como Doc. 1 e cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido
(assim como o dos demais documentos adiante mencionados).
3.º
O requerente foi imediatamente avisado por alguns Colegas para o
facto de o seu nome ter sido omitido nos referidos Cadernos
Eleitorais.
4.º
De imediato o requerente contestou essa omissão junto da
Comissão Eleitoral – nos termos da reclamação que se anexa
como Doc. 2.
5.º
Hoje, reconhecendo embora que o seu nome tinha sido omitido
por lapso, a Comissão Eleitoral indeferiu a reclamação
apresentada pelo ora requerente, em síntese, alegando que havia
urgência naquela eleição e que, para o efeito, teria agora de
verificar se existiam ou não outras omissões a considerar, o que
acarretaria atraso no processo eleitoral – deliberação de que se
junta cópia como Doc. 3.
6.º
O requerente impugnou a deliberação que indeferiu a reclamação
e manteve a omissão – junta-se cópia da respectiva p.i como Doc.
4.

II – Dos pressupostos da providência requerida


7.º
Nos termos do disposto no artigo 120.º, n.º 1, alíneas b) e c), e n.º
2, do CPTA, os requisitos para a concessão ou recusa de
providências cautelares são o fumus boni juris, a existência de
periculum in mora e a ponderação dos vários interesses em
presença.

Vejamos de que forma se encontram preenchidos cada um destes


requisitos.
a) Quanto ao fumus boni iuris
8.º
O Conselho Geral é um dos órgãos do Requerido – arts. 78º, nº 1,
alínea a) e 81º e seguintes do RJIES (Regime jurídico das
instituições de ensino superior) aprovado pela Lei n.º 62/2007, de
10 de Setembro.
9.º
São membros do Conselho Geral, entre outros, representantes dos
professores [art. 81º, nº 2, alínea a), do RJIES].
10.º
Tais representantes são eleitos nos termos do nº 3 do mesmo
artigo.
11.º
Logo, sendo professor do Requerido, o requerente é eleitor na
referida eleição.
11.º
Aliás, isso mesmo reconheceu a própria Comissão Eleitoral, como
reconheceu a ilegalidade da omissão nos cadernos Eleitorais.
12.º
Tal omissão acarretará a ilegalidade da eleição marcada pelo
despacho suspendendo.
13.º
Parecendo, aliás, verificar-se claramente a situação prevista na
alínea a) do nº 1 do art. 120º do CPTA, o que só por si acarreta
que a providência requerida deve ser decretada.

Por mera cautela de patrocínio, para a hipótese de assim não se


entender, acrescenta-se o seguinte:

b) Quanto ao periculum in mora e ponderação de


interesses
14.º
A marcação da eleição referida, se a sua eficácia não for suspensa,
permitirá que prossiga o procedimento para a eleição dos
representantes dos professores no Conselho Geral do Requerido.
15.º
A eleição assim realizada será claramente ilegal, pelas razões
acima referidas.
16.º
O que conduzirá à impugnação judicial da mesma, com vista à sua
anulação,
17.º
O que não deixará de criar grande perturbação no Instituto, com
graves e irreparáveis prejuízos para o normal funcionamento da
Instituição e para todos os que nela trabalham e estudam.
18.º
A concessão da providência cautelar de suspensão da eficácia do
despacho suspendendo permitirá prevenir a situação de ilegalidade
e a ocorrência de prejuízos acima mencionados,
19.º
Verificam-se, assim, os requisitos para que seja dado provimento à
providência, o que se requer.

Termos em que deve o presente


requerimento ser considerado
provado e procedente, com as
legais consequências.

Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo)


Junta procuração, ... documentos e comprovativo do pagamento da
taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA –
deixando em branco o verso das folhas.

E.D.
O Advogado,
Petição Inicial de Intimação para Protecção de Direitos, Liberdades e
Garantias Dirigida à Administração

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal
de [...]

[….] e […], respectivamente, NIF […] e NIF […], ambos com


residência em [...],
vêm instaurar contra
[…], NIPC [...], com sede em [...],
intimação para protecção de direitos, liberdades e garantias, por
verificação de situação de especial urgência, nos termos dos
artigos 109.º e 111.º do Código de Processo nos Tribunais
Administrativos (CPTA),
ou, subsidiariamente, a convolação desta acção principal em
providência cautelar, com o seu decretamento provisório, nos
termos do artigo 131.º do CPTA,
o que fazem com os fundamentos seguintes:

I – Objecto e pressupostos gerais


1.º
Constitui objecto da presente acção o exercício, em tempo útil,
pelos AA., do direito a manifestarem-se, no dia […], contra a
aprovação da Lei n.º […], de […], que visa a regulação do fabrico
de peles de animais, sob pena de violação do Direito, Liberdade e
Garantia de manifestação, consagrado no artigo 45.º, n.º 2, da
Constituição da República Portuguesa (CRP).
2.º
Os AA. têm legitimidade – artigo 9.º, n.º 2, do CPTA.
3.º
O Tribunal é competente, por ser o da residência dos AA. – artigo
16.º do CPTA.
4.º
A acção está em tempo.

II – Dos pressupostos especiais da intimação para protecção de


direitos, liberdades e garantias
5.º
Concretizando o artigo 20.º, n.º 5, da CRP, o artigo 109.º do
CPTA permite o recurso à acção principal e autónoma, de
tramitação urgente, de intimação para protecção de direitos,
liberdades e garantias quando o mesmo se revele indispensável «à
célere emissão de uma decisão de mérito que imponha à
Administração a adopção de uma conduta positiva ou negativa
para assegurar o exercício, em tempo útil, de um direito,
liberdade ou garantia, por não ser possível ou suficiente, nas
circunstâncias do caso, o decretamento provisório de uma
providência cautelar, prevista no artigo 131.º do mesmo Código».
6.º
Como se referiu, com a presente acção pretende-se assegurar em
tempo útil o exercício do direitode manifestação, nos termos do
artigo 45.º, n.º 2, da CRP.
7.º
A pretensão dos AA. não se coaduna com o requerimento de uma
providência cautelar porquanto a decisão da pretensão, nessa sede,
esgotaria o objecto da correspectiva acção principal.
8.º
Além do mais, a possibilidade de o R. apresentar uma resolução
fundamentada em sede de processo cautelar, assim anulando o
efeito suspensivo da decisão, resultaria na preclusão irremediável
do direito dos AA..
9.º
Ora, a possibilidade de lesão irreversível do direito é iminente
porquanto a data escolhida pelos AA. para a manifestação (cujo
exercício constitui objecto dos autos) coincide com a visita ao
nosso país da Primeira-Dama do Estado de […], publicamente
conhecida pelo uso de peles de animais no seu vestuário e pelas
afirmações pessoais contra os defensores da proibição do referido
uso.
10.º
Neste sentido, a impossibilidade de manifestação na data acima
mencionada exaure, de forma determinante, o respectivo impacto,
razão pela qual se revela indispensável a adopção de uma decisão
urgente e definitiva.

III – Dos factos


11.º
Os AA., para além da sua actividade profissional principal,
dedicam-se, de forma activa, à defesa e protecção dos animais,
sobretudo à luta contra o uso de peles de animais no vestuário.
12.º
É facto público que está prevista para o próximo dia […] a visita
oficial a Portugal do chefe de Estado de […], acompanhado da
respectiva Primeira-Dama, Senhora […].
13.º
A Primeira-Dama é conhecida pelo uso de peles de animais no seu
vestuário e pelas suas afirmações contra os defensores da
proibição do referido uso – cf. recortes de jornais que se juntam
como Docs. 1 a 8 e cujo teor se dá por integralmente reproduzido,
assim como o dos demais documentos referidos nesta petição
inicial.
14.º
Na sequência desta visita, os AA. decidiram manifestar-se de
forma ordeira e pacífica contra o uso de peles de animais no
vestuário junto à [...], local onde as entidades oficiais em
representação de Portugal receberão aquelas personalidades.
15.º
Em conformidade com a referida pretensão, os AA. comunicaram
a sua intenção de manifestação no mencionado local ao Governo
Civil de [...], nos termos e para os efeitos do artigo 2.º, n.º 1, e 3.º,
do Decreto-Lei n.º 406/74, de 29 de Agosto – cf. carta que se junta
como Doc. 9.
16.º
Sucede, porém, que, conforme resulta do ofício n.º [...], de […], o
Requerido decidiu proibir a manifestação dos AA. por considerar
que esta constituiria um perigo para a segurança pessoal da
Senhora Primeira-Dama, «com grande probabilidade de prática
de crimes contra a sua integridade física» (cf. Doc. 10 que se
junta).

IV – Do direito

17.º
Resulta evidente do enunciado contexto factual que o R. negou
aos AA. o seu direito de manifestação,
18.º
o que fez, no entender dos AA., sem qualquer fundamento, como
se procurará demonstrar.
19.º
Constam do ofício acima junto como Doc. 10 os fundamentos com
base nos quais o R. considera haver perigo para a segurança
pessoal da Senhora Primeira-Dama.
20.º
Todavia, se é certo que a prática de crime no decurso de reuniões
ou manifestações consubstancia a contrariedade à lei dos fins
prosseguidos pelas mesmas a que alude o artigo 1.º do Decreto-Lei
n.º 406/74, de 29 de Agosto,
21.º
«Em concreto, a previsão pelas autoridades administrativas da
eventual prática de crime ou crimes no decurso de manifestações,
como pressuposto da respectiva decisão de proibição, tem de
assentar numa razoável certeza de verificação do facto típico (e
não numa mera presunção), ainda em aplicação do princípio da
proporcionalidade – devendo atender-se a aspectos como a maior
ou menor exigência na demonstração do preenchimento do tipo
legal”, cf. Parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral
da República n.º 2678, de 24 de Novembro de 2005, disponível
em www.dgsi.pt (o sublinhado é nosso).
22.º
Da referida notificação não consta, contudo, qualquer indício
concreto da probabilidade de ocorrência de incidentes que se
qualifiquem como crimes contra a integridade física da Senhora
Primeira-Dama,
23.º
e nem poderia constar porquanto os AA. nunca se envolveram em
quaisquer incidentes de tal natureza, nada se conhecendo no seu
registo criminal a esse respeito.
24.º
Certo é que todas as manifestações em que os AA. já participaram
ocorreram sem incidentes de relevo, pelo menos que justificassem
intervenção policial, salvo as inerentes a eventos desta natureza,
nomeadamente para controlo de tráfego.
25.º
Ora, concretizando o Decreto-Lei n.º 406/74, de 29 de Agosto, o
conteúdo essencial do direito à manifestação, previsto no artigo
45.º, n.º 2, da CRP, e tendo os AA. respeitado todos os
pressupostos referidos naquele diploma, não existe fundamento
legal, e muito menos constitucional, para limitar desta forma
aquele seu direito.
26.º
Pelas razões expostas, não sendo garantido o direito à
manifestação dos AA., a interpretação que a decisão do R. faz do
artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 407/74, de 29 de Agosto, é
materialmente inconstitucional e, por isso, é ilegal o acto
administrativo praticado.
27.º
Termos em que, face à factualidade e razões de direito indicadas,
se conclui pela violação do direito, liberdade e garantia previsto
no artigo 45.º, n.º 2, da CRP, e, por essa razão, deverá a presente
intimação ser julgada procedente.

V – Da convolação da presente intimação em providência


cautelar, com decretamento provisório nos termos do artigo
131.º do CPTA
28.º
Para o caso de se entender não estarem verificados os pressupostos
da requerida intimação, mas apenas os pressupostos de uma
providência cautelar, hipótese que apenas se admite por mero
dever de patrocínio e sem conceder, tal violação consubstancia,
ainda, uma ilegalidade manifesta nos termos e para os efeitos do
artigo 120.º, n.º 1, alínea a), do CPTA, ou, se assim não se
entender, e sem conceder, não é manifesta a falta de fundamento,
para os efeitos da alínea b) do n.º 1 daquele artigo.
Senão vejamos.
29.º
O fumus boni iuris, nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 120.º
encontra-se verificado, porquanto a ilegalidade é manifestamente
evidente, como acima se demonstrou.
30.º
Se assim não se entender, estará, pelo menos, verificado o fumus
non malus iuris, nos termos da alínea b) do n.º 1 do artigo 120.º,
também pelas mesmas razões acima explanadas.
31.º
Para efeitos da norma constante desta alínea b), cumpre-se
também o requisito do periculum in mora, exigido pelo artigo
120.º, n.º 2, do CPTA, porquanto, no caso, impedindo-se a
manifestação dos AA. na data referida, esvazia-se o impacto e
significado da mesma,
32.º
sendo que, ultrapassada a data da visita oficial, a lesão do direito
de manifestação tornar-se-á irreversível.
33.º
Além do mais, na ponderação dos interesses públicos e privados
em presença, o R. não demonstra em que medida é que as questões
de segurança são suficientes para determinar como proporcional a
medida de impedimento da realização da manifestação.

VI – Do decretamento provisório da providência cautelar nos


termos do artigo 131.º do CPTA
34.º
O decretamento provisório imediato das providências cautelares,
nos termos do artigo 131.º, do CPTA, pretende assegurar a
efectividade do próprio processo cautelar e eventual decretamento
da providência.
35.º
Trata-se, em suma, de processo “pré-cautelar” destinado a evitar o
periculum in mora no próprio procedimento cautelar.
36.º
Ora, no caso dos autos, dado o já sublinhado perigo de perda
irreversível do direito de manifestação, é manifesto o risco de,
volvendo aquela data, vir a esvaziar-se o efeito útil desta
providência.
37.º
São estas precisamente as situações que o legislador quis evitar
com a figura do decretamento provisório da providência (artigo
131.º do CPTA) – cf., Mário Aroso De Almeida/ Carlos A. F.
Cadilha, Comentário ao Código de Processo dos Tribunais
Administrativos, 2ª ed., p. 647.
38.º
Mais se requer, ao abrigo do artigo 131.º, n.º 3, do CPTA, que o
decretamento da providência requerida, ou outra que se considere
mais adequada, tenha lugar no prazo de quarenta e oito horas.

Termos em que a acção deve ser


julgada procedente e, em consequência,
deverá o R. ser intimado a não impedir
a realização da manifestação marcada
para o próximo dia […], em horas e
locais devidamente identificados na
comunicação feita ao R. pelos AA.;
Subsidiariamente, caso se entenda não
estarem preenchidos os pressupostos
para o uso da intimação para defesa de
direitos, liberdades e garantias, requer-
se a convolação da presente intimação
numa providência cautelar, na qual se
requer que o R. seja condenado nos
mesmos pedidos supra referenciados,
embora a título provisório, feitos no
âmbito da intimação para protecção de
direitos, liberdades e garantias, ou
noutras medidas que este Tribunal
entenda mais adequadas;
Mais se requer o decretamento
provisório de tal providência no prazo
de quarenta e oito horas, nos termos do
n.º 3 do artigo 131.º do CPTA;
tudo com as devidas e legais
consequências.

Para tanto, requer-se a citação do R.


para contestar, querendo, seguindo-se
os demais termos.
Valor: 30.000,01 € (trinta mil euros e um cêntimo).
Valor para custas: impossível de determinar [artigo 12.º, n.º 1, alínea e),
do RCP].

Junta: - procuração e 10 documentos, a saber:


- Docs. 1 a 8 – recortes de jornais;
- Doc. 9 – Carta dirigida ao Governo Civil de [...];
- Doc. 10 – Ofício n.º [...], de […], do Governo Civil
de [...].

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos, deixando o verso das folhas em branco – artigos
138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA.

O Advogado,
Resposta da Autoridade Administrativa

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Proc. n.º [...]

RESPONDENDO, diz o
Requerido [...]:

1.º
Vêm as Requerentes solicitar a intimação do Requerido para a
protecção de direitos, liberdades e garantias, nos termos dos
artigos 109.º e 111.º do Código de Processo nos Tribunais
Administrativos (CPTA).
2.º
Pensa-se que as Requerentes não têm razão.
3.º
Aceitam-se os factos [...] alegados pelo A. na sua, aliás douta,
petição inicial.
4.º
Impugnam-se, por não corresponderem à verdade, os factos
alegados nos artigos [...].
Com efeito,
5.º
Os AA. são publicamente conhecidos pelos inúmeros distúrbios
que habitualmente causam em reuniões que organizam – a título
de exemplo, cf. recortes de jornais que se juntam como Docs. 1 a 4
e se dão por integralmente reproduzidos, assim como os demais
documentos referidos nesta petição inicial.
6.º
Além do mais, constam dos respectivos registos criminais diversas
condenações por ofensas à integridade física – cf. sentenças
transitadas em julgado que se juntam como Docs. 5 a 11,
7.º
sendo que a última destas condenações assentou, precisamente, na
prática de um crime de ofensa à integridade física, na forma
tentada, contra o Chefe de Estado de […].
8.º
Neste contexto, no entender do Requerido, a decisão de impedir a
realização da manifestação, comunicada pelos Requerentes, é
adequada e proporcional,
9.º
e, por isso, tomada em cumprimento do disposto no artigo 18.º, n.º
2, da Constituição da República Portuguesa e, bem assim, no
artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 406/74, de 29 de Agosto.

Termos em que deverá a


intimação, ou se assim se
entender, a providência cautelar
convolada, ser julgada
improcedente, com as devidas e
legais consequências.
Junta: […] documentos, procuração e processo administrativo.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Requerimento à Autoridade Administrativa para que Notifique o
Autor, da Data e Fundamentos da Decisão e Passagem de Certidão
que Contenha Essas Indicações

Exmo. Senhor […][1],

[….], NIF […], com residência em […], vem, ao abrigo do


disposto no artigo 60.º, n.º 2, do Código de Processo dos Tribunais
Administrativos (CPTA), requerer a passagem de certidão que
contenha os fundamentos da decisão de indeferimento do pedido
de emissão da licença de construção relativo ao procedimento com
a referência […], o que faz com os fundamentos seguintes:

1. Em […], o Requerente foi notificado da decisão que


indefere o pedido de licenciamento de construção que
apresentou no âmbito do procedimento acima identificado;

2. Todavia, não consta da decisão notificada a respectiva


fundamentação, em manifesto incumprimento do disposto
no artigo 124.º, n.º 1, alínea a), do Código de Procedimento
Administrativo (CPA) – razão pela qual, aliás, o acto de
indeferimento praticado padecerá do vício de violação de
lei;

3. Tendo em vista a análise da legalidade e do mérito da


mencionada decisão de indeferimento, impõe-se que o
Requerente possa conhecer as razões de facto e de direito
que lhe subjazem;

4. Estabelece o artigo 60.º, n.º 3, do CPTA, que «[a]


apresentação, no prazo de 30 dias, de requerimento
dirigido ao autor do acto, ao abrigo do disposto no número
anterior, interrompe o prazo de impugnação, mantendo-se
a interrupção se vier a ser pedida a intimação judicial a
que se refere o número anterior»;

5. Nestes termos, terminando este prazo de 30 dias em


[…], afigura-se inequívoca a tempestividade do presente
requerimento;

Em face do exposto, ao abrigo do


direito à informação procedimental
consagrado nos artigos 61.º e seguintes
do CPA, requer-se a V. Exa. se digne,
no prazo de 10 dias, passar certidão que
contenha os fundamentos de facto e de
direito da decisão de indeferimento do
pedido de emissão da licença de
construção acima identificado, sob pena
de, não o fazendo, impor-se o recurso à
intimação judicial para esse efeito,
conforme previsto nos artigos 104.º e
seguintes do CPTA.

E.D.
O Requerente,


[1]Indicar a designação do órgão da autoridade administrativa que
praticou o acto administrativo.
Petição Inicial de Intimação para Consulta de Documentos e
Passagem de Certidões

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal de [...]

[…], NIF […], com residência em [...],


vem requerer a intimação para prestação de informações e
passagem de certidões contra
[…], NIPC […], com sede em [...],
o que faz nos termos dos artigos 104.º e seguintes do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os
fundamentos seguintes:

1.º
Em […], através de requerimento que se junta por fotocópia como
Doc. 1 (e cujo teor se dá por integralmente reproduzido), o
Requerente solicitou ao Requerido a passagem de certidão dos
seguintes documentos:
1. […];
2. […].
2.º
Conforme resulta do seu teor, este requerimento foi apresentado
ao abrigo do disposto nos artigos 61.º e seguintes do Código de
Procedimento Administrativo e artigos 11.º e seguintes da Lei n.º
46/2007, de 24 de Agosto.
3.º
Todavia, até à presente data, o Requerido não satisfez aquela
pretensão, nem justificou essa falta,
4.º
sendo que, conforme preceitua a alínea b) do n.º 1 do artigo 14.º
da Lei n.º 46/2007, o prazo de 10 dias para o efeito terminou em
[…],
5.º
e, nos termos da alínea a) do artigo 105.º do CPTA, afigura-se
inequívoca a tempestividade do presente pedido de intimação.

Em face do exposto, deve a presente


acção de intimação ser julgada
procedente, por provada, e, em
consequência, ser o Requerido intimado
à passagem de certidão dos sobreditos
documentos.
Para tanto, requer-se a citação do
Requerido, na pessoa do [...], para
contestar, querendo, seguindo-se os
demais termos.

Valor: 30.000, 01€ (trinta mil euros e um cêntimo).


Valor para custas: impossível de determinar [artigo 12.º, n.º 1,
alínea e), do RCP].

Junta: - 1 documento, assim identificado:


- Doc. 1 - fotocópia do requerimento dirigido ao Requerido
em [...];
- procuração forense;
- comprovativo do pagamento da taxa de justiça.
Na elaboração do presente documento foram usados meios
informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA, deixando o
verso das folhas em branco.

E.D.
O Advogado,
Resposta da Autoridade Administrativa

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Processo n.º [...]

RESPONDENDO, diz a Requerida [...]:

1.º
Vem a Requerente, ao abrigo dos artigos 61.º e seguintes do
Código de Procedimento Administrativo (CPA), solicitar a
intimação da Requerida para a passagem de certidão dos seguintes
documentos:
a) […];
b) […].
2.º
Sucede que tais documentos são nominativos e contêm dados
pessoais de natureza privada.
3.º
Não se desconhecendo que o direito de consulta «abrange os
documentos nominativos relativos a terceiros, desde que excluídos
os dados pessoais que não sejam públicos» (cf. artigo 62.º, n.º 2,
do CPA), no caso dos documentos objecto dos autos a supressão
dos referidos dados pessoais de natureza privada esgotaria o
respectivo conteúdo, tornando-o inócuo e ininteligível.
4.º
Neste sentido, a falta de passagem da certidão requerida assentou
na enunciada impossibilidade de exclusão dos dados pessoais
contidos nos documentos dos autos,
5.º
portanto, em estrito cumprimento do disposto nos nºs.1 e 2 do
artigo 62.º do CPA.

Termos em que deverá a


presente acção ser julgada
improcedente, por não provada,
e, em consequência, ser a
Requerida absolvida do pedido,
com as legais consequências.

Junta: procuração e comprovativo do pagamento de taxa de justiça


inicial.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA.

O Advogado,

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Suspensão de Eficácia de Acto Administrativo

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal
de [...]

[…], NIF […], com residência em [...],


vem requerer a suspensão de eficácia da Deliberação do Conselho
Directivo do [...], n.º [...], datada de […], abaixo melhor
identificada, com citação urgente, contra
[…], NIPC […], com sede em [...],
o que, como preliminar da acção administrativa especial de
impugnação da mesma Deliberação que irá intentar, faz ao abrigo
dos artigos 112.º e seguintes do Código de Processo nos Tribunais
Administrativos (CPTA), nos termos que se seguem:

I – Dos factos
1.º
Em […], o Requerente celebrou com o Requerido um contrato
individual de trabalho, de acordo com o previsto no artigo [...].º do
Decreto-Lei n.º [...], de […], que aprovou o Estatuto do
Requerido, para exercer funções de [...], na dependência directa do
Conselho de Administração do [...], com início de vigência em
[…] – cf. contrato que se junta por fotocópia como Doc. 1 e se dá
por integralmente reproduzido, assim como os demais documentos
referidos nesta petição inicial.
2.º
Estipulou-se, na sua cláusula [...] do contrato, que o Requerente
teria «direito a uma remuneração mensal ilíquida de […] Esc.»
(cf. Doc. 1 já junto),
3.º
remuneração ilíquida que passou regularmente a auferir, conforme
recibo de vencimento relativo ao mês de […] de […], que se junta
como Doc. 2.
4.º
O Requerente actuou e aceitou o contrato de trabalho proposto no
pressuposto de que o mesmo seria cumprido nos termos
acordados e não noutros.
5.º
Em […], a remuneração auferida pelo Requerente, na sequência
das actualizações anuais da função pública, situava-se em [...]€
([…] euros) brutos, correspondentes a [...]€ ([…] euros) líquidos,
conforme recibo de vencimento que se junta como Doc. 3.
6.º
O Requerente desempenhou as funções para que foi contratado
sempre com empenho, zelo e dedicação, conforme demonstram as
avaliações de desempenho obtidas – cf. Docs. 4 a 8 que se juntam.
7.º
Em data que não pode precisar, o Requerente foi notificado da
publicação, no site do Requerido, da lista nominativa de transições
e manutenções das situações jurídico-funcionais, nos termos do
artigo 109.º, n.º 1, da Lei n.º 12-A/2008, de 27 de Fevereiro, que
estabelece os regimes de vinculação, de carreiras e de
remunerações dos trabalhadores que exercem funções públicas
(LVCR) – cf. notificação que se junta como Doc. 9.
8.º
Da referida notificação constava, ainda, o mapa, correspondente
ao extracto da referida lista, no qual figuravam os elementos que
definiam a situação jurídico-funcional do Requerente – cf. Doc. 9
já junto.
9.º
Em […], o Requerente recebeu o recibo de vencimento respeitante
ao mês de […] de […], no qual consta como remuneração base
auferida a quantia de [...]€ ([…] euros) brutos – cf. recibo de
vencimento que se junta como Doc. 10,
10.º
montante que corresponde à quantia líquida de [...]€ ([…] euros).
11.º
Como fundamento da redução presente no vencimento, o
Requerente foi, em […], notificado da Deliberação do Conselho
Directivo do Requerido, n.º [...], que ora se junta como Doc. 11.
12.º
O Requerente foi, assim, de forma inusitada, confrontado com a
diminuição substancial da sua remuneração, por acto unilateral e,
salvo o devido respeito, totalmente arbitrário da entidade
empregadora.
13.º
O desenrolar de acontecimentos que acima se relatam causou
grande transtorno psicológico ao Requerente, que passou a andar
deprimido, com dificuldades em dormir e em estado permanente
de ansiedade.
14.º
Esta situação levou, inclusive, o Requerente a procurar ajuda
especializada – cf. relatório médico que ora se junta como Doc.
12,
15.º
sendo que, em […], foi mesmo obrigado a apresentar baixa
médica – cf. certificado de incapacidade temporária para o
trabalho por estado de doença que se junta como Doc. 13.
16.º
É a suspensão de eficácia desta deliberação que diminuiu a
retribuição do Requerente que ora se requer, verificando-se os
pressupostos para o seu deferimento, conforme se procura
demonstrar de seguida.
II – Dos pressupostos da providência requerida

i) Do fumus boni iuris, nos termos da alínea a) do n.º 1


do artigo 120.º do CPTA
17.º
A alínea a) do n.º 1 do artigo 120.º do CPTA estabelece que as
providências cautelares são adoptadas «quando for evidente que a
procedência da pretensão formulada ou a formular no processo
principal, designadamente por estar em causa a impugnação de
acto manifestamente ilegal, de acto de aplicação de norma já
anteriormente anulada ou de acto idêntico a outro já
anteriormente anulado ou declarado nulo ou inexistente».
18.º
Considera o Requerente que, salvo melhor opinião, no caso, se
verifica o pressuposto consagrado nesta norma para que a
solicitada providência cautelar de suspensão de eficácia seja
decretada,
19.º
afigurando-se manifesta a ilegalidade do acto sindicado e evidente
a procedência da pretensão dos autos porquanto aquele incorre nos
vícios de violação de lei e de violação dos princípios da
irredutibilidade da retribuição, da boa fé e da confiança jurídica.
Vejamos.

a) Do vício de violação de lei – artigo 17.º, n.º 2, do


Regime de Contrato de Trabalho em Funções Públicas
(RCTFP) e artigos 104.º e 109.º da LVCR
20.º
Como acima se salientou, até à data do acto sindicado nos presente
autos, o Requerente vinha exercendo funções ao abrigo de
contrato individual de trabalho celebrado, há mais de dez anos.
21.º
Com o regime introduzido pela Lei n.º 12-A/2008, de 27 de
Fevereiro, e pela Lei n.º 59/2008, de 11 de Setembro, que aprovou
o RCTFP, caducou o contrato celebrado pelo Requerente com o
Requerido, por este se ter sido convertido ope legis em contrato de
trabalho em funções públicas (CTFP).
22.º
Neste sentido dispõe o artigo 17.º, n.º 2, do RCTFP, que a
transição dos trabalhadores – que, nos termos da Lei n.º 12-
A/2008, de 27 de Fevereiro, se deva operar da modalidade de
contrato individual de trabalho para a modalidade de contrato em
funções públicas –«é feita sem dependência de quaisquer
formalidades, considerando-se que os documentos que suportam a
relação jurídica anteriormente constituída são título bastante
para sustentar a relação de emprego público constituída por
contrato».
23.º
Todavia, no caso, embora reconheça a conversão ope legis do
contrato individual de trabalho em contrato de trabalho em
funções públicas, a deliberação suspendenda acaba, sem
fundamento legal, por concretizar uma reconstituição da carreira
profissional do Requerente, ficcionando que este ingressou, no
momento da celebração do contrato individual de trabalho, na
carreira de [...].
24.º
Ora, salvo o devido respeito e melhor opinião, tal reconstituição
afigura-se ilegal.
25.º
Em primeiro lugar, como se sublinhou, tendo a entrada em vigor
do RCTFP determinado a conversão ope legis de um contrato
noutro, atento o elemento literal da norma constante no n.º 2 do
artigo 17.º do RCTFP, não parece existir qualquer suporte
interpretativo que justifique a reconstituição da carreira do
Requerente, tal como esta foi delineada pelo Requerido.
26.º
E, muito menos, parece haver fundamento para reconstituir a
carreira do Requerente desde a data em que este outorgou o
contrato individual de trabalho,
27.º
isto é, de forma retroactiva.
28.º
Este entendimento, carecido em absoluto de fundamento, afigura-
se manifestamente arbitrário e ilegal.
29.º
Aliás, para além do disposto no artigo 17.º, n.º 2, do RCTFP,
quanto à conversão automática dos contratos, as regras de
transição das carreiras constante da LVCR salvaguardam a
posição remuneratória a que os trabalhadores têm direito no
momento da transição (cf. artigo 104.º), como aliás, não poderia
deixar de ser, por força dos princípios gerais de direito,
30.º
sendo que, em caso de impossibilidade de transição para as
carreiras previstas na lei, o legislador prevê a subsistência das
carreiras detidas – cf. artigo 106.º da LVCR.
31.º
Além do mais, qualquer alteração remuneratória, nos termos do
artigo 68.º, n.º 4, da LVCR, só pode ser feita através de
negociação colectiva e nunca, como foi o caso, de forma
unilateral, pela entidade empregadora.
32.º
Assim sendo, para além da integração de carreiras prevista na
LVCR operar para o futuro, salvaguarda-se neste regime a
manutenção das remunerações auferidas no momento da transição.
33.º
Resulta, assim, evidente que o legislador, com a LVCR, pretendeu
salvaguardar a remuneração auferida pelo trabalhador,
independentemente da conversão do seu vínculo jurídico, em
conformidade com este novo regime.
34.º
Destarte, reitera-se, no caso, não se vislumbra qualquer
fundamento para reconduzir o Requerente a uma situação de
Carreira reportada ao ano de […], com a consequente diminuição
substancial da sua remuneração.
35.º
A acrescer à argumentação expendida, deve ainda referir-se que o
artigo 17.º, n.º 2, primeira parte, do RCTFP, ressalva o disposto no
artigo 109.º da LVCR, que regula a lista nominativa de transições
e manutenções,
36.º
lista essa, realizada pelo Requerido, que enquadrou o Requerente
na Carreira de [...], com uma remuneração base de [...]€ ([…]
euros) (cf. Doc. 9 acima junto).
37.º
Ora, a referida lista consubstancia um acto constitutivo de direitos,
que a deliberação suspendenda vem agora revogar, de forma ilegal
e arbitrária.
38.º
Sublinha-se, ainda, que o artigo 17.º, n.º 2, do RCTFP, determina
que os documentos que suportam o, agora denominado, contrato
de trabalho em funções públicas são os documentos que suportam
a relação jurídica anteriormente constituída.
39.º
Esta referência não pode deixar de ser entendida como uma
intenção expressa do legislador no sentido de garantir os direitos
adquiridos ao abrigo do contrato anteriormente celebrado,
nomeadamente, a título de remuneração e de tempo de serviço,
40.º
entendimento que, aliás, se revela consonante com as regras gerais
da aplicação de leis no tempo, nomeadamente com o n.º 1 do
artigo 12.º do Código Civil.
41.º
Ou seja, a aplicação do regime da LVCR deve ser feita
ressalvando as condições de validade e os efeitos de factos ou
situações anteriores ao momento da sua entrada em vigor.
42.º
Ora, a fixação da remuneração constitui um facto passado, anterior
à vigência da LVCR, do qual emergiu um efeito, portanto, já
produzido na ordem jurídica em decorrência do contrato de
trabalho celebrado – contrato, aliás, perfeitamente consentâneo
com o quadro normativo aplicável à data da sua celebração –,
43.º
conforme esclarece Maria do Rosário Palma Ramalho, Contrato
de Trabalho na Administração Pública – Anotação à Lei n.º
23/2004, de 22 de Junho, Almedina, Coimbra, 2004, p. 113, em
anotação ao artigo 26.º da Lei n.º 23/2004, de 22 de Junho.
44.º
Conclui-se, desta forma, que a deliberação suspendenda é
manifestamente ilegal, por violar, de forma inequívoca, os artigos
17.º, n.º 2, do RCTFP, o artigo 109.º e 104.º da LVCR, incorrendo
em vício de violação de lei, cominado com a sanção de
anulabilidade, nos termos e para os efeitos do artigo 135.º do
Código de Procedimento Administrativo (CPA), demonstrando-se,
desta forma, a sua manifesta ilegalidade, para efeitos do
preenchimento do artigo 120.º, n.º 1, alínea a), do CPTA.
45.º
Acresce, como ficou dito, que a alteração da remuneração só
poderia ter sido feita por acordo colectivo de trabalho, nos termos
do artigo 68.º, n.º 4, da LVCR.
46.º
Nessa medida, foi preterido um procedimento essencial legal de
alteração da remuneração que, no caso, constitui elemento
essencial do acto deliberativo suspendendo, nos termos e para os
efeitos do artigo 133.º, n.º 1, do CPA, dado que o mesmo não se
pode substituir ao acordo colectivo.

b) Da violação do princípio da irredutibilidade da


retribuição
47.º
Para além da clamorosa ilegalidade acima evidenciada, a
deliberação suspendenda, ao diminuir a retribuição auferida pelo
Requerente, violou, de forma manifesta, o princípio da
irredutibilidade da retribuição.
48.º
Proíbe este princípio a diminuição do vencimento do trabalhador,
mesmo com o acordo do trabalhador, salvo as excepções
legalmente previstas, não aplicáveis à situação do Requerente.
49.º
Na verdade, como ensina Pedro Romano Martinez,Direito do
Trabalho, Coimbra, Almedina, 2002, p. 561, «[t]endo em conta
que a retribuição, não raras vezes, está relacionada com o
sustento do trabalhador e da sua família, o legislador instituiu
certas garantias que visam a tutela de um efectivo pagamento da
remuneração».
50.º
Tais garantias são a concretização do princípio da confiança que
fundamenta aquele princípio da irredutibilidade da retribuição e
que, no caso dos autos, obsta à aplicação da tabela remuneratória
única, prevista na LVCR, sempre que esta determinar a
diminuição efectiva da remuneração dos trabalhadores, «legítimos
detentores de expectativas de continuarem a auferir uma
remuneração estável, efectivamente consolidada, merecedora de
justificada tutela e insusceptível, pois, em princípio, de se ver
reduzida no seu quantitativo», como bem explicitou o douto
Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 141/2002, proferido no
âmbito do processo n.º 198/92, disponível em
www.tribunalconstitucional.pt.
51.º
Em suma, a deliberação suspendenda é, também, manifestamente
ilegal, na medida em que preconiza uma interpretação
inconstitucional do artigo 17.º, n.º 2, do RCTFP, e, igualmente por
este motivo, verifica-se o pressuposto estabelecido na alínea a) do
n.º 1 do artigo 120.º do CPTA para a adopção da providência
requerida.

c) Da violação dos princípios da boa-fé e da confiança


jurídica
52.º
A reconstrução da carreira do Requerente, de forma retroactiva,
ficcionando o início da mesma pelo índice […], viola os princípios
da boa-fé e da confiança, na medida em que o Requerente apenas
aceitou a celebração do contrato de trabalho na expectativa de ver
cumpridas as condições nele consagradas,
53.º
condições essas conformes ao quadro normativo vigente à data da
outorga do contrato e, por essa razão, constitutivas de direitos.
54.º
Assim, a interpretação do artigo 17.º, n.º 2, do RCTFP, sustentada
pela deliberação suspendenda é, da mesma forma, manifestamente
ilegal, por violar os princípios da boa-fé e da confiança, para
efeitos de preenchimento dos pressupostos exigidos pela já
referida alínea a) do n.º 1 do artigo 120.º do CPTA.
55.º
Ainda que assim se não entenda, o que apenas se admite por
cautela de patrocínio, deve dar-se por verificado o fumus menos
exigente estabelecido naalínea b) do mesmo preceitopara a tutela
conservatória, segundo a qual a providência será igualmente
decretada quando «haja fundado receio da constituição de uma
situação de facto consumado ou da produção de prejuízos de
difícil reparação para os interesses que o requerente visa
assegurar no processo principal e não seja manifesta a falta de
fundamento da pretensão formulada ou a formular nesse processo
ou a existência de circunstâncias que obstem ao seu conhecimento
de mérito».
56.º
Neste contexto, a reconduzir-se a situação dos autos ao disposto
na alínea b) do n.º 1 do artigo 120.º do CPTA, devem dar-se
igualmente por verificados os demais requisitos de que depende o
provimento da providência requerida, conforme se demonstra de
seguida.

ii) Quanto ao periculum in mora

57.º
O despacho suspendendo, se não for objecto de suspensão, causará
ao ora Requerente prejuízos não apenas de difícil reparação mas
mesmo de natureza irreparável.
58.º
Quanto aos danos patrimoniais, é jurisprudência pacífica do
Supremo Tribunal Administrativo que os prejuízos resultantes da
privação de vencimentos (ou de parte deles), embora
economicamente quantificáveis, são de difícil reparação, para
efeitos do preenchimento do requisito do periculum in mora, se
estiver indiciariamente demonstrado que essa diminuição de
rendimentos põe em risco a satisfação de necessidades básicas do
Requerente e do seu agregado familiar ou que, de qualquer modo,
implica uma drástica diminuição do seu nível de vida.
59.º
Neste sentido, e a título de exemplo, vejam-se os doutos Acórdãos
do Supremo Tribunal Administrativo de 10.10.2002, relativo ao
processo n.º 0135/02, de 18.12.2002, relativo ao processo n.º
01869/02 e de 26.11.2003, relativo ao processo n.º 01745/03,
todos disponíveis em www.dgsi.pt.
60.º
O Requerente, em face da diminuição da sua remuneração, passa a
auferir um montante aproximado de [...]€ ([…] euros) líquidos
(cf. Doc. 10 já junto).
61.º
Para além do vencimento da sua esposa, o Requerente não tem
outros meios para fazer face às despesas de alimentação, habitação
e demais encargos indispensáveis do seu agregado familiar – cf.
declaração de rendimentos respeitante ao ano de […] que se junta
como Doc. 14.
62.º
A título de (passe o termo) despesas fixas (designadamente,
despesas com habitação, luz, gás, água, telefone, seguros,
condomínio, impostos, veículos, gasóleo, saúde), o Requerente
tem encargos mensais no montante de [...]€, conforme Docs. 15 a
25 que se juntam.
63.º
Em alimentação e vestuário, o Requente estima gastar um mínimo
de [...]€ ([…] euros) mensais.
64.º
Assim sendo, em despesas mensais fixas o Requerente gasta o
total aproximado de [...]€ ([…] euros)–valor esse que ultrapassa,
significativamente, o valor líquido que, com a deliberação
suspendenda, passou a auferir.
65.º
Destarte, a deliberação suspendenda determina, de forma
inequívoca, uma diminuição drástica do nível de vida do
Requerente, diminuição esta que causará prejuízos irreparáveis,
não ressarcíveis, por isso, mesmo que venha a ser dada razão à
pretensão principal do Requente e só nessa data reembolsadas as
quantias peticionadas.
66.º
No entanto, e sobretudo, dir-se-á que mais importantes que os
prejuízos patrimoniais sofridos, avultam, no caso, os prejuízos
morais.
67.º
Com efeito, caso não venha a ser decretada a suspensão de
eficácia do acto sindicado, o Requerente sofrerá, ainda, prejuízos
irreparáveis na medida em que a deliberação suspendenda, e todo
o seu circunstancialismo acima relatado, constitui uma forma
velada de assédio moral ou psicológico,
68.º
e, mesmo, uma forma de humilhação do Requerente quer como
pessoa, quer como profissional.
69.º
Atendendo ao contexto em que a situação se processou e aos
resultados a que conduziu, o comportamento do Requerido
traduziu-se numa desqualificação arbitrária da situação
profissional do Requerente, afectando a sua dignidade pessoal e
profissional perante os colegas e amigos,
70.º
assim como a sua imagem de bom profissional.
71.º
De facto, sem que nada o fizesse prever, uma vez que havia sido já
publicada a lista nominativa nos termos legais, o Requerente viu-
se, de repente, a viver num ambiente de constrangimento e até
mesmo de coação moral, com afectação grave da sua dignidade e
o seu amor próprio como profissional qualificado que é.
72.º
O ambiente de trabalho que o envolve é de tal modo
constrangedor que, como se relatou acima, o Requerente sentiu-se
na contingência de procurar ajuda médica para superar o estado de
angústia e depressão com que se confrontou em consequência
directa dos danos causados pelo Requerido,
73.º
depressão essa que o levou, em […], a apresentar baixa médica.
74.º
Estes efeitos psíquicos e psicológicos sofridos pelo Requerente
foram, ainda, agravados pelo facto de a diminuição da
remuneração decidida pela deliberação suspendenda ter sido feita
de forma arbitrária, com aparente intuito persecutório,
75.º
ainda que, admite-se, da parte do Requerido, possa não ter havido
consciência desse intuito.
76.º
Ou seja, o comportamento do Requerido equipara-se, para todos
os efeitos, sobretudo tendo em conta as consequências dele
decorrentes (acima descritas), em mobbing, conforme previsto no
artigo 29.º do Código de Trabalho, norma que define esta figura
como «o comportamento indesejado, nomeadamente o baseado
em factor de discriminação, praticado aquando do acesso ao
emprego ou no próprio emprego, trabalho ou formação
profissional, com o objectivo ou o efeito de perturbar ou
constranger a pessoa, afectar a sua dignidade, ou de lhe criar um
ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou
desestabilizador».
77.º
Para uma melhor descrição do que se entende por mobbing, veja-
se Maria Regina Gomes Redinha, “Assédio Moral ou Mobbing no
Trabalho”, em Estudos em homenagem ao Prof. Doutor Raúl
Ventura, Vol. II, 2003, pp. 833 a 847 – de que aqui se transcreve o
excerto seguinte:
«o mobbing ou assédio moral é percebido, quase
unanimemente, como uma ‘prática insana de perseguição’,
metodicamente organizada, temporalmente prolongada,
dirigida normalmente contra um só trabalhador que, por
consequência, se vê remetido para uma situação indefesa e
desesperada, violentado e frequentemente constrangido a
abandonar o seu emprego, seja por iniciativa própria ou
não. Trata-se, no fundo, de uma hipótese de maus tratos
que provoca, consoante a sua intensidade, patologias mais
ou menos graves, de índole psíquica, psicossomática e
social que podem ir da simples quebra de rendimento
profissional ao suicídio, passando pela perda de auto-
estima, pelo desenvolvimento se stress pós-traumático,
síndromes depressivas, dependência de fármacos ou de
álcool, etc.
A caracterização destas perseguições atém-se mais ao seu
aspecto sucessivo e persistente do que aos actos em que se
traduzem. Com efeito, a agressão, quase sempre insidiosa e
muitas vezes dissimulada, não é tanto o resultado de
qualquer acção isoladamente considerada, quanto da sua
concatenação, com o objectivo de provocar, geralmente, o
afastamento definitivo ou a marginalização do
trabalhador».
78.º
Relativamente à intencionalidade do Empregador, ensina Júlio
Manuel Vieira Gomes, Direito do Trabalho, Volume I, Relações
Individuais de Trabalho, Coimbra Editora, 2007, p.442, referindo-
se ao artigo 24.º do anterior Código do Trabalho, que «a intenção
ou ânimo nocivo não são um requisito imprescindível já que é
suficiente a criação objectiva de um resultado (a lesão da
dignidade de outrem ou a produção do ambiente negativo
referido)».
79.º
Conclui-se, desta forma, que só a suspensão imediata da
deliberação sub judice pode evitar a verificação de danos
acrescidos.
80.º
Assim, ainda que a sentença final da acção principal venha a dar
razão ao Requerente, o que se afigura, como vimos,
manifestamente provável, não será, todavia, adequada a repristinar
juridicamente o status quo ante.
81.º
O que significa que a não suspensão da eficácia da Deliberação
dos autos acarretaria, para o Requerente, prejuízos não só de
difícil reparação mas até mesmo irreparáveis, encontrando-se
desta forma verificado o pressuposto do periculum in mora.

iii) Da ponderação dos interesses em presença


82.º
Finalmente, a suspensão da eficácia do despacho não é lesiva na
perspectiva do interesse público.
83.º
Desde logo, estando em causa uma discussão de natureza
estritamente monetária, o eventual dano suportado pelo Requerido
na sequência do decretamento da providência nunca será
irreparável.
84.º
Por outro lado, também não é afectada a boa imagem da
instituição do Requerido.
85.º
Pelo contrário, essa imagem resulta afectada com a publicitação de
actos arbitrários da natureza do praticado pela deliberação
suspendenda.
86.º
Por sua vez, a não suspensão desta Deliberação, como se viu,
prejudica irreversivelmente os interesses do Requerente.
87.º
A ponderação global dos interesses em presença resulta, portanto,
no sentido da procedência da providência.
88.º
Verificam-se, assim, os requisitos para que seja dado provimento à
providência, o que se requer.

III – Da citação urgente


89.º
Conforme se referiu, a deliberação suspendenda já foi aplicada no
mês de [...], aproximando-se a data de processamento de
vencimentos do mês de [...].
90.º
Assim sendo, afigura-se que, pela segunda vez, o Requerente irá
auferir um montante que, como se demonstrou, não é suficiente
para prover às despesas fixas mensais que tem a seu cargo.
91.º
Requer-se, por isso, a este Tribunal, a citação urgente do
requerimento de suspensão de eficácia, para que esta petição seja
de imediato apresentada ao juiz, antes da distribuição do processo,
dando consecução ao regime previsto artigo 128.º do CPTA, que
proíbe a autoridade administrativa, depois de recebido o
requerimento, iniciar ou prosseguir a execução do acto
administrativo – cf. Mário Aroso De Almeida/Carlos A. F.
Cadilha, Comentário ao Código de Processo dos Tribunais
Administrativos, 2.ª ed., p. 647.

Termos em que deve o presente requerimento ser


considerado provado e procedente – e, em consequência:
a) suspender-se a deliberação ou adoptar-se outra
providência que o Tribunal considere mais
adequada; e
b) dada a manifesta urgência, ordenar-se a citação
urgente, a fim de fazer funcionar o regime previsto
no artigo 128.º do CPTA,
tudo com as devidas e legais consequências.
Para tanto, requer-se a V. Exa. que, D. e A., se sigam os
demais termos.

Não se conhecem contra-interessados.

Valor: 30.000,01 € (trinta mil euros e um cêntimo)


Valor para custas: impossível de determinar [artigo 12.º, n.º 1,
alínea e), do RCP]

Prova documental: os 25 documentos juntos.


Prova testemunhal:
1. [nome], [profissão], residente em [...];
2. [nome], [profissão], residente em [...].
Junta: - 25 documentos (que se dão por reproduzidos sempre
que os mesmos são referidos na p.i.);
- procuração forense; e
- comprovativo do pagamento da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA, deixando o
verso das folhas em branco.

O Advogado,
Requerimento de Admissão Provisória em Concursos e Exames

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal de [...]

[…], NIF […], com residência em [...],


vem requerer a admissão provisória em concurso, incluindo a
aplicação do mecanismo do artigo 121.º do Código de Processo
nos Tribunais Administrativos (CPTA), aberto pelo aviso n.º [...],
publicado em Diário da República, 2.ª Série, de […], com
decretamento provisório nos termos do disposto no artigo 131.º do
CPTA, contra
[…], NIPC, com sede em [...],
o que, como preliminar de acção administrativa especial de
impugnação de actos que irá intentar, faz ao abrigo dos artigos
112.º e seguintes, e 121.º, do CPTA, e com os fundamentos que se
seguem:

I - Dos factos relevantes


1.º
Em […], a Requerente ingressou na função pública, na categoria
de […], tendo sido, entretanto, promovida – após provas de
admissão realizadas em meados do ano de […] – à categoria de
[…].
2.º
A partir de […], ainda na categoria de […], em regime de
substituição, a Requerente passou a chefiar o serviço [...].
3.º
Em […], a Requerente tomou posse no cargo de […], sendo, dias
depois, destacada para chefiar novamente o serviço [...].
4.º
Em […], a Requerente tomou posse no cargo de […], mantendo o
destacamento em […].
5.º
Em […], foi publicado no Diário da República, 2.ª Série, o Aviso
n.º [...], que declarou aberto, pelo prazo de 10 dias úteis a contar
da data dessa publicação, o concurso para provimento de dois
lugares de [...] – cf. aviso que se junta como Doc. 1 e se dá por
integralmente reproduzido, assim como os demais documentos
referidos nesta petição inicial.
6.º
A Requerente candidatou-se ao referido concurso em […], cf.
Doc. 2 que se junta.
7.º
Em […], a Requerente foi notificada da decisão da sua exclusão
do procedimento, designadamente, por não ser titular das
habilitações académicas exigidas no ponto [...] do aviso – a saber,
a licenciatura em [...], cf. Doc. 3 que se junta.
8.º
Em […], a Requerente interpôs recurso hierárquico para o [...],
cuja cópia se junta como Doc. 4,
9.º
tendo sido notificada do respectivo indeferimento em […], cf.
Doc. 5 que se junta.

II – Do direito

A) Dos pressupostos da providência cautelar


i) Do fumus boni iuris, nos termos da alínea a) do
n.º 1 do artigo 120.º do CPTA
10.º
Estabelece a alínea a) do n.º 1 do artigo 120.º do CPTA que as
providências cautelares são adoptadas «quando for evidente que a
procedência da pretensão formulada ou a formular no processo
principal, designadamente por estar em causa a impugnação de
acto manifestamente ilegal, de acto de aplicação de norma já
anteriormente anulada ou de acto idêntico a outro já
anteriormente anulado ou declarado nulo ou inexistente».
11.º
Considera o Requerente que, salvo melhor opinião, no caso, se
verifica o pressuposto consagrado nesta norma para que a
solicitada providência cautelar de suspensão de eficácia seja
decretada.
Senão vejamos.
12.º
Como se referiu acima, considerou a deliberação do júri do
concurso, datada de [...], que a Requerente deveria ser excluída
por não ser titular das habilitações literárias exigidas pelo ponto
[...] do aviso de abertura de concurso.
13.º
Todavia, pensa-se que a referida deliberação não teve em conta o
que estatui o artigo 115.º, n.º 1, da Lei n.º 12-A/2008, de 27 de
Fevereiro, que aprovou o Regime de Vínculos, Carreiras e
Remunerações da Função Pública (LVCR).
14.º
De acordo este preceito, «[n]a falta de lei especial em contrário,
enquanto os trabalhadores se mantenham integrados na carreira
resultante da transição prevista no presente capítulo, não lhes é
exigido o nível habilitacional correspondente ao grau de
complexidade funcional da carreira em causa, ainda que se
candidatem a procedimento concursal publicitado para ocupação
de postos de trabalho, no órgão ou serviço onde exercem funções
ou em outro órgão ou serviço, correspondentes a idêntica ou a
diferente categoria de carreira».
15.º
Assim, estando a Requerente integrada na carreira desde […],
16.º
data em que, para o ingresso na carreira, não era exigida a
licenciatura como habilitação literária mínima,
17.º
ainda que não detivesse as habilitações literárias expressamente
exigidas no âmbito do concurso dos autos, essa falta não poderia
constituir fundamento bastante para a respectiva exclusão, como
veio a suceder,
18.º
pelo que é manifesto o vício de violação de lei de que padece a
sindicada deliberação de exclusão
19.º
que, nessa medida, é anulável, nos termos e para os efeitos do
artigo 135.º do Código de Procedimento Administrativo (CPA).
20.º
Conclui-se, pelo exposto, que a referida deliberação padece de
manifesta ilegalidade, nos termos e para os efeitos do artigo 120.º,
n.º 1, alínea a), do CPTA.

Por outro lado,


21.º
Ainda que não se entendesse aquele vício de violação de lei, o que
apenas se admite por cautela de patrocínio e sem conceder, sempre
se diria que, também na perspectiva dos pressupostos de facto, a
Requerente não poderia ser excluída do procedimento concursal
com fundamento na falta de habilitações literárias.
22.º
Na verdade, conforme consta dos documentos das sua candidatura,
a Requerente obteve, em […], aproveitamento no curso de [...].
23.º
Ora, nos termos do Decreto-Lei n.º 316/83, de 2 de Julho, o
referido curso equivale, para todos os efeitos, ao grau de
licenciatura,
24.º
equivalência que, aliás, a Requerente expressamente requereu e
lhe foi deferida, conforme despacho que se junta como Doc. 6.
25.º
Desta forma, no âmbito do procedimento concursal dos autos,
sempre seria de considerar que, de facto, a Requerente preenchia
integralmente os pressupostos exigidos pelo aviso de abertura de
concurso.
26.º
Conclui-se, desta forma, que, também por este fundamento, a
deliberação é inválida, o que determina a sua anulabilidade,
27.º
e, por isso, também por esta via, se verifica o pressuposto da
manifesta ilegalidade exigido pelo artigo 120.º, n.º 1, alínea a), do
CPTA.
28.º
O mesmo é dizer que o Despacho suspendendo incorre no vício de
violação de lei por erro na apreciação dos factos subjacentes e, por
essa razão, é anulável, nos termos e para os efeitos do artigo 135.º
do CPA.
29.º
Sem prejuízo do exposto e sem conceder, a entender-se aplicável
apenas a alínea c) do n.º 1 do artigo 120.º do CPTA, devem dar-se
igualmente por verificados os demais requisitos de que depende o
provimento da providência requerida, conforme se demonstra de
seguida.

ii) Do periculum in mora


30.º
Atenta a sua essência e finalidade, o recurso às providências
cautelares apenas se afigura justificado quando o requerente
invoque fundado receito de constituição de uma situação de facto
consumado, tornando inútil uma eventual sentença favorável,
proferida em sede principal.
31.º
Ora, na situação dos autos, uma sentença favorável que venha a
ser proferida no processo principal será insuficiente para acautelar
os presentes interesses da Requerente, uma vez que se verificam
prejuízos irreparáveis, decorrentes da mora inerente à acção
principal.
Senão vejamos.
32.º
A sentença que vier a ser proferida na acção principal, ainda que
seja favorável à pretensão da Requerente, como se espera, não terá
qualquer efeito útil, considerando que, entretanto, o concurso já
terá decorrido.
33.º
Na verdade, caso a pretensão da Requerente venha – como se
espera e (pensa-se) se afigura evidente – a obter vencimento na
acção principal, certo é que, nessa circunstância, a Administração
(ora Requerido) não repetiria o concurso dos autos, então
concluído, o que, de facto, significa a impossibilidade de
reconstituição da situação da Requerente em decorrência da
anulação da deliberação impugnada, com prejuízos irreversíveis.
34.º
E nem se diga que, no âmbito do processo executivo de sentença
transitada em julgado, se prevê o direito ao provimento em lugar
de categoria igual ou equivalente àquela em que deveria ser
colocado ou, não sendo isso possível, à primeira vaga que venha a
surgir na categoria correspondente, exercendo transitoriamente
funções fora do quadro até à integração neste, nos termos do artigo
173.º, n.º 4, do CPTA.
35.º
Com efeito, caso o legislador entendesse não haver prejuízo
irreparável em função daquela eventual criação de ‘vaga
adicional’, não teria tipificado, no artigo 112.º, n.º 2, alínea b), do
CPTA, a possibilidade de admissão provisória a concurso e
exames.
36.º
Além do mais, a não realização pela Requerente das restantes
provas de selecção do procedimento concursaldos autos sempre
impediria o arbitramento de uma mera indemnização, pela
impossibilidade de demonstrar que teria ficado em posição de ser
nomeada para as vagas postas a concurso.

iii) Da ponderação dos interesses em jogo


37.º
Por último, a adopção da providência cautelar de suspensão da
eficácia do acto que ora se requer depende, ainda, da ponderação
dos interesses públicos e privados em presença nesse
decretamento.
38.º
A procedência da providência não afecta o interesse público no
preenchimento das vagas postas a concurso com os candidatos
melhor classificados.
Com efeito,
39.º
Como ficou dito, o que a Requerente pretende é a admissão
provisória a concurso e exames.
40.º
Obtida a graduação em conformidade com os procedimentos de
selecção entretanto realizados, a eventual nomeação da
Requerente para uma das vagas a prover terá de ficar condicionada
à prolação de sentença favorável na acção principal.
41.º
O que significa que a procedência da providência não vai afectar o
preenchimento imediato das vagas postas a concurso, com recurso
aos demais candidatos.
42.º
E significa, por outro lado, que a procedência da providência não
prejudica os demais candidatos, porque estes, no âmbito do
concurso, não serão ultrapassados pela Requerente no
preenchimento efectivo das vagas.
43.º
Destarte, ponderados os interesse públicos e privados em
presença, o não deferimento da suspensão acarreta para a
Requerente danos muito superiores àqueles que podem resultar da
concessão da suspensão.
44.º
Verificam-se, assim, todos os requisitos para que seja dado
provimento à providência, incluindo a utilidade relevante, nos
termos e para os efeitos do artigo 129.º do CPTA.

B) Da aplicação do artigo 121.º do CPA


45.º
Dispõe o artigo 121.º do CPTA que, «[q]uando a manifesta
urgência na resolução definitiva do caso, atendendo à natureza
das questões e à gravidade dos interesses envolvidos, permita
concluir que a situação não se compadece com a adopção de uma
simples providência cautelar e tenham sido trazidos ao processo
todos os elementos necessários para o efeito, o tribunal pode,
ouvidas as partes pelo prazo de 10 dias, antecipar o juízo sobre a
causa principal».
46.º
Ora, no caso, a urgência afigura-se evidente porque, estando em
causa um concurso público que terá um termo a curto ou médio
prazo, é do interesse quer da Requerente quer da Administração
que o litígio seja definido ainda antes de da conclusão do
procedimento.
47.º
Sobretudo na perspectiva dos interesses da Requerente, é
manifesto que a sua situação não se compadece com a adopção de
uma simples providência cautelar, mas tão-só com a resolução
definitiva do caso, ou seja, com uma sentença de mérito.
48.º
Com efeito, para além do mais, como ficou dito, a sua eventual
nomeação nas vagas postas a concurso terá de ficar condicionada
até à decisão final que for ditada na acção principal.
49.º
Neste contexto, a presente situação é, desde logo, prejudicial para
o desenvolvimento normal da carreira da Requerente.
50.º
Mas, noutra perspectiva, não é menos prejudicial para a própria
Administração, sobretudo se a Requerente ficar graduada em
lugares que lhe permitam a nomeação.
51.º
Assim sendo, como a questão de fundo se reconduz a uma mera
questão de direito, e parecendo o Tribunal dispor de todos os
elementos para uma boa decisão da causa, impõe-se a antecipação
da decisão de fundo, até por razões de celeridade e de eficácia
processual.

Termos em que se
requer:
a) seja
concedida a
providência e
em
consequência
seja a
Requerente
admitida
provisoriamente
no procedimento
concursal;
b) seja
antecipada a
decisão da causa
nos termos e
para os efeitos
do artigo 121.º
do CPTA.
Para tanto, requer-se a
V. Exa. que, D. e A., se
sigam os demais
termos.

Contra-interessados: os candidatos a concurso melhor


identificados na certidão junta como Doc. 7 em anexo, entretanto
solicitado à entidade Requerida, nos termos do artigo 115.º do
CPTA.

Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo).

Prova documental: os [...] documentos juntos.

Junta: […] documentos, procuração e comprovativo de pagamento


da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos, deixando o verso das folhas em branco – artigos
138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA.

O Advogado,
Providência Relativa a Procedimentos Pré-Contratuais

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal
de […]

[…], NIPC […], com sede em […],


vem, em sede de providência cautelar relativa a procedimentos de
formação de contratos, requerer a suspensão da eficácia de
procedimento contra
[…], NIPC […], com sede em […],
o que faz ao abrigo do disposto no artigo 132.º do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os
seguintes fundamentos:

I – Enquadramento factual e jurídico da pretensão do


requerente
1.º
Por Resolução do Conselho de Ministros n.º 72/2010, de 10 de
Setembro, o Governo decidiu lançar procedimentos concursais de
iniciativa pública, em diversas regiões do País, para a atribuição
de títulos de utilização dos recursos hídricos nos termos da Lei da
Água, aprovada pela Lei n.º 58/2005, de 29 de Dezembro, e do
Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31 de Maio, e de capacidade de
injecção de potência na Rede Eléctrica de Serviço Público (RESP)
e identificação dos pontos de recepção associados para energia
eléctrica produzida em centrais mini-hídricas, nos termos do
Decreto-Lei n.º 312/2001, de 10 de Dezembro, alterado pelo
Decreto-Lei n.º 33-A/2005, de 16 de Fevereiro, tendo em vista
alcançar a meta de atribuição de uma potência total de […] MW,
conforme Doc. […] que aqui se junta e se dá por integralmente
reproduzido (assim como se dão os demais documentos juntos
neste requerimento).
2.º
Na sequência desta Resolução, mediante Anúncio de
procedimento n.º […], publicado no Diário da República, 2.ª
Série, de […], e publicado no Suplemento S do JOUE, de […] (cf.
Docs. […] e […] que se juntam), foi lançado o procedimento de
concurso público internacional para adjudicação dos contratos de
implementação e de concessão destinados à «captação de água do
domínio público hídrico para produção de energia hidroeléctrica
e para a concepção, construção e exploração de infra-estrutura
hidráulica, com capacidade de injecção de potência na rede
eléctrica de serviço público (RESP) e de identificação de pontos
de recepção associados para energia eléctrica produzida em
central, relativo ao Aproveitamento Hidroeléctrico a localizar em
[…], com as coordenadas aproximadas de […], localizado em
[…], em que a potência instalada de produção total do lote será
de […] MW, mediante a prestação de uma contrapartida
financeira para o Estado, identificada no Programa do
Procedimento».
3.º
O referido concurso público internacional rege-se pelo respectivo
Programa de Concurso (PC) e Caderno de Encargos (CE) (cf.
Docs […] e […] que se juntam), bem como pelo disposto no
Código dos Contratos Públicos (CCP), aprovado pelo Decreto-Lei
n.º 18/2008 de 29 de Janeiro, nos termos do disposto no artigo 3.º
do Decreto-Lei n.º 126/2010, de 23 de Novembro,
4.º
encontrando-se, nesta data, a decorrer o respectivo prazo de
apresentação de propostas.
5.º
Este procedimento de concurso público visa, portanto, atribuir não
só a concessão de utilização privativa do recurso hídrico do
domínio público mas também a reserva de injecção de potência na
rede de distribuição eléctrica.
6.º
Da análise das referidas peças do procedimento evidencia-se,
todavia, que a decisão de lançamento do referido procedimento de
iniciativa pública padece de manifesta ilegalidade tendo em
consideração:
a) a decisão de atribuição da concessão de utilização
privativa ao Requerente, proferida no âmbito do
procedimento de iniciativa particular n.º […]; e
b) as disposições legais aplicáveis previstas,
designadamente, na Lei n.º 58/2005 de 29 de Dezembro
(Lei da Água), no Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31 de
Maio (na redacção em vigor), e no acima referido Decreto-
Lei n.º 126/2010.
7.º
Na verdade, a identificação do local de captação de água do
domínio público hídrico e concepção, construção e exploração de
infra-estruturas hidráulicas não foi objecto de levantamento pela
entidade adjudicante, ou qualquer outra entidade pública, mas,
antes, do próprio Requerente, actual titular de uma concessão de
utilização privativa de recursos hídricos, no mesmo local agora
posto a concurso, para produção de energia hidroeléctrica.
8.º
De facto, em […] – portanto, em data anterior à decisão de
lançamento do procedimento dos autos –, já tinha sido atribuída ao
Requerente a concessão de utilização privativa de recursos
hídricos para produção de energia hidroeléctrica e concepção,
construção e exploração de infra-estruturas hidráulicas, sitos no
mesmo troço posto a concurso (cf. Docs. […] a […] que se
juntam).
9.º
A decisão de atribuição da concessão de utilização privativa ao
Requerente foi precedida dos actos procedimentais e trâmites
normais, no âmbito do procedimento de iniciativa particular n.º
[…], em estreita observância das disposições legais aplicáveis,
10.º
tendo, em […], sido publicitado o pedido apresentado (e
devidamente instruído) pelo Requerente, para os efeitos do
disposto no artigo 21.º, n.º 4, alínea c), do Decreto-Lei n.º 226-
A/2007, na redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 93/2008, de 4 de
Junho (cf. Doc. […] que se junta),
11.º
e tendo, ainda, na ausência de apresentação, por outros
interessados, de pedidos concorrentes, sido atribuída ao
Requerente, em […], aquela concessão de utilização privativa.
12.º
Neste sentido, no caso, não se verifica qualquer das situações
enunciadas no artigo 2.º, n.º 4, do Decreto-Lei n.º 126/2010,
justificantes de um entendimento no sentido de o procedimento de
iniciativa privada se dever considerar extinto (ou do respectivo
requerimento de utilização do domínio público hídrico dever ser
indeferido) por iniciativa pública superveniente,
13.º
pela simples razão de que o procedimento de iniciativa privada n.º
[…] findou com a atribuição da concessão ao Requerente, em
[…].
14.º
Por isso, assistindo à autoridade competente «[u]ma margem de
livre apreciação na escolha do particular a quem vai conferir um
direito de utilização do domínio hídrico», e sendo «[a] opção pela
iniciativa pública ou pela iniciativa privada (…) de índole
discricionária» (cf. Acórdão do Tribunal Central Administrativo
Sul, de 29 de Setembro de 2011, Proc. nº 0465/11/A, disponível
em www.dgsi.pt), no caso, deve concluir-se que a autoridade
competente manifestou a sua vontade de atribuir a concessão de
utilização privativa de recursos hídricos para produção de energia
hidroeléctrica sitos no […] ao Requerente, no âmbito do
procedimento de (sua) iniciativa particular.
15.º
Admitir um entendimento diverso – ou seja, no sentido de que a
decisão de lançamento do concurso público deve produzir os seus
efeitos e o procedimento de iniciativa pública continuar os seus
trâmites até ao acto de adjudicação e celebração do contrato –
equivale a considerar a revogação (implícita) do acto que atribuiu
a concessão de utilização privativa ao Requerente.
16.º
Neste enquadramento, o acto revogatório – corporizado na decisão
de contratar – padece de ilegalidade, sob o desvalor jurídico da
anulabilidade, por violação do disposto no artigo 141.º, n.º 1,
alínea b), do CPA.
17.º
Acresce referir (e sem conceder no que à manifesta ilegalidade da
decisão de lançamento do concurso público diz respeito) que não
consta das respectivas peças do procedimento qualquer referência
ao direito de preferência do Requerente, enquanto titular da
concessão de utilização dos recursos hídricos em causa, para os
efeitos do disposto no artigo 24.º, n.º 4, do Decreto-Lei n.º 226-
A/2007, de 31 de Maio.
18.º
Sem prejuízo do referido, convém também sublinhar que, nos
termos do disposto no artigo 2.º, n.ºs 1 e 2, do Decreto-Lei n.º
126/2010, a «[i]niciativa pública de promoção de procedimentos
para atribuição de concessões de utilização do domínio hídrico e
de capacidade de injecção de potência na RESP e de identificação
de pontos de recepção associados para a energia eléctrica
produzida nos aproveitamentos hidroeléctricos (…) compete aos
membros do Governo responsáveis pelas áreas das finanças, da
energia e do ambiente», sendo que «[a] organização dos
concursos para a selecção das entidades privadas e o
acompanhamento da implementação e execução dos
aproveitamentos hidroeléctricos abrangidos pelo presente decreto
-lei são desenvolvidos por despacho dos membros do Governo
responsáveis pelas áreas das finanças, da energia e do ambiente»
(sublinhado nosso).
19.º
Por seu turno, «[a] competência para a decisão de contratar, para
a instrução dos procedimentos concursais e para a decisão de
adjudicação pode ser delegada nos presidentes de cada uma das
administrações de região hidrográfica (ARH) em cuja área
geográfica se situa o aproveitamento hidroeléctrico a instalar»
(sublinhado nosso), conforme se determina no artigo 3.º, n.º 2, do
Decreto-Lei n.º 126/2010.
20.º
Todavia, verifica-se que o procedimento concursal de iniciativa
pública dos autos foi lançado por despacho do […] (cf. Doc. […]
que se junta), portanto, em inequívoca violação das referidas
disposições legais, padecendo por conseguinte, de nulidade, por
via do disposto no artigo 133.º, n.º 2, alínea b), do Código do
Procedimento Administrativo (CPA).
21.º
Em suma, decorre do exposto que:
a) A decisão de lançamento do procedimento concursal de
iniciativa pública viola os direitos de utilização privativa de
recursos hídricos para produção de energia hidroeléctrica e
de concepção, construção e exploração de infra-estruturas
hidráulicas, atribuídos ao Requerente através de concessão,
consubstanciando essa decisão um acto revogatório ilegal,
à luz do disposto no artigo 141.º, n.º 1, alínea b), do CPA;
b) A decisão de lançamento do procedimento concursal de
iniciativa pública padece do vício de violação de lei, por
colidir com o disposto no artigo 2.º, nºs. 1 e 2, e artigo 3.º,
n.º 2, do Decreto-Lei n.º 126/2010, enfermando de
nulidade, conforme preceituado no artigo 133.º, n.º 2,
alínea b), do CPA.

II – Dos requisitos para a concessão da providência cautelar –


artigo 132.º, n.º 6, do CPTA

a) Da evidente procedência da pretensão do Requerente –


artigo 120.º, n.º 1, alínea a), do CPTA
22.º
O regime das providências cautelares relativas a procedimentos de
formação de contratos rege-se pelo disposto no artigo 132.º do
CPTA e, nos termos do seu n.º 3, pelas disposições constantes dos
artigos 112.º a 127.º do mesmo diploma.
23.º
Nos termos do artigo 132.º, n.º 6, do CPTA, «[s]em prejuízo do
disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 120.º, a concessão da
providência depende do juízo de probabilidade do tribunal quanto
a saber se, ponderados os interesses susceptíveis de serem
lesados, os danos que resultariam da adopção da providência são
superiores aos prejuízos que podem resultar da sua não adopção,
sem que tal lesão possa ser evitada ou atenuada pela adopção de
outras providências» (sublinhado pelo signatário).
24.º
Decorre deste preceito legal que a concessão de providências
cautelares no âmbito de procedimentos de formação de contratos
atende, por um lado, a um critério de fumus boni iuris, em caso de
evidência manifesta da pretensão do Requerente, e, por outro, a
um critério de ponderação de interesses em presença, de matriz
idêntica aos critérios definidos no artigo 120.º, n.º 2, do CPTA, e
em conformidade com as directivas comunitárias sobre esta
matéria.
25.º
Caso se verifique a evidência manifesta da pretensão do
Requerente – no nível máximo de intensidade do requisito do
fumus boni iuris exigido pelo artigo 120.º, n.º 1, alínea a), do
CPTA –, o Tribunal deve conceder imediatamente a providência
cautelar requerida, relevando-se o critério da ponderação de
interesses em presença.
26.º
Atendendo à factualidade acima enunciada e respectivo
enquadramento jurídico, resulta evidente a ilegalidade da decisão
de lançamento do procedimento concursal em análise.
27.º
A este propósito, esclarece o douto Acórdão do Supremo Tribunal
Administrativo, de 14 de Julho de 2010 (Proc. n.º 0451/10,
disponível em http://www.dgsi.pt), que «[a]s situações de evidente
procedência, a que se refere a alínea a) do n.º 1 do art.º 120.º do
CPTA, não devem oferecer quaisquer dúvidas quanto à
ilegalidade do acto (...), ilegalidade essa que, assim, deve poder
ser facilmente detectada, face aos elementos constantes do
processo e pela simples leitura e interpretação elementar da lei
aplicável, sem necessidade de outras averiguações ou
ponderações».
28.º
«Na verdade, o que é manifesto, é líquido, salta à vista, não
oferece dúvida», conforme esclarece o douto Acórdão do STA de
28 de Janeiro de 2009 (Proc. n.º 01030/08, disponível em
http://www.dgsi.pt).
29.º
Perfilhando esta mesma jurisprudência, e a mero título de
exemplo, vejam-se ainda os doutos Acórdãos do STA de 02 de
Abril de 2009 (Proc. n.º 0168/09) e de 28 de Janeiro de 2009
(Proc. n.º 01030/08), ambos disponíveis emhttp://www.dgsi.pt.
Neste sentido, «quando o Tribunal considere evidente que a
pretensão do requerente da providência irá ser julgada
procedente no processo principal, deve conceder a providência
sem proceder a qualquer ponderação de interesses» (cf. Mário
Aroso de Almeida, Carlos Alberto Fernandes Cadilha, Comentário
ao Código de Processo nos Tribunais Administrativos, 2.ª Edição
Revista, Almedina, 2007, p. 773).
30.º
Tendo em consideração o referido enquadramento, afigura-se
inequívoco que a decisão de lançamento do procedimento
concursal de iniciativa pública viola direitos e interesses
legalmente protegidos do Requerente, actual titular de uma
concessão de utilização privativa do domínio público hídrico no
mesmo troço agora posto a concurso.
31.º
Ora, não pode a decisão de lançamento do procedimento do
concurso continuar a produzir efeitos no ordenamento jurídico,
nem podem continuar a ser praticados os actos procedimentais
tendentes ao acto de adjudicação (e posterior celebração do
contrato), atentos os efeitos que destes actos decorrem e que ferem
os direitos e interesses legalmente protegidos do Requerente.
32.º
A mesma conclusão se deve retirar quanto à ilegalidade da decisão
de lançamento do procedimento concursal de iniciativa pública em
análise, que padece do desvalor jurídico de nulidade.
33.º
Neste contexto, e no âmbito da providência cautelar de suspensão
da eficácia do procedimento, pode o Tribunal determinar a
correcção da ilegalidade invocada, julgando de imediato sobre o
fundo da causa, ao abrigo do disposto no artigo 132.º, n.º 7, do
CPTA, determinando-se a anulação do procedimento de concurso
público de iniciativa pública, bem como declarando-se a nulidade
da respectiva decisão de contratar.

b) Da ponderação de interesses
34.º
Por mera cautela e dever de patrocínio – uma vez que, como se
pensa resultar do que acima foi exposto, está demonstrada a
evidência da pretensão do Requerente para os efeitos do disposto
no artigo 120.º, n.º 1, alínea a), do CPTA –, sempre se formulam
as seguintes considerações, a propósito do critério de ponderação
de interesses.
35.º
Caso a providência cautelar não venha a ser decretada nos termos
requeridos, o procedimento prosseguirá os respectivos trâmites,
num contexto de manifesta ilegalidade, prejudicando os interesses
legalmente protegidos do Requerente e o próprio interesse público
subjacente à decisão de contratar,
36.º
originando o correspectivo dever de indemnizar o ora Requerente,
em sede de responsabilidade civil, com os consequentes encargos
para o erário público.
37.º
Ao invés, o decretamento da providência cautelar assegura a
manutenção do statu quo ante, preservando-se o direito do
Requerente a utilizar os recursos hídricos e explorar o
aproveitamento hidroeléctrico, evitando-se o prosseguimento de
um procedimento (e posterior acto de adjudicação e celebração de
contratos de implementação e concessão) manifestamente ilegais.
38.º
Por outro lado, e atendendo ao princípio da proporcionalidade
ínsito na parte final da norma do artigo 132.º, n.º 6, do CPTA, não
se vislumbram outras providências cautelares destinadas a garantir
o efeito útil da decisão final a ser proferida na acção principal que
possam, igualmente e em alternativa, evitar ou atenuar, de forma
menos gravosa, os interesses em presença.

Termos em que deve o presente


requerimento de providência cautelar
ser julgado procedente, por provado, e,
em consequência:
a) Verificando-se o disposto na norma
do artigo 132.º, n.º 7, do CPTA, ser
julgado de imediato o fundo da causa,
determinando-se a anulação do
procedimento de concurso público de
iniciativa pública, e declarando-se a
nulidade da decisão de contratar;
b) Caso assim não se entenda, ser
decretada a suspensão da eficácia do
acto de lançamento do concurso
público internacional para
adjudicação dos contratos de
implementação e de concessão,
consubstanciado no despacho de
abertura do procedimento proferido
pelo […], bem como a suspensão de
qualquer posterior trâmite ou acto
procedimental.

Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo).

Prova testemunhal: […]


Junta: […] documentos, procuração forense e comprovativo de
pagamento de taxa de justiça inicial.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA –
deixando em branco o verso das folhas.

O Advogado,
Requerimento de Regulação Provisória do Pagamento de Quantias

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal de […]

[…], NIF[…], com residência em […],


vem requerer a regulação provisória do pagamento de quantias
indispensáveis a evitar a sua situação de grave carência económica
contra
[…], NIPC […], com sede em […],
o que, como preliminar de acção administrativa especial que irá
intentar, faz ao abrigo do artigo 133.º, do Código do Processo dos
Tribunais Administrativos (CPTA), e com os fundamentos que se
seguem:

I – Dos factos
1.º
Entre […] e […], o Requerente desempenhou funções nos serviços
do Requerido, na qualidade de militar, vinculado aos seguintes
regimes (cf. Doc. 1 a Doc. 3 que aqui se juntam e se dão por
integralmente reproduzidos, assim como os demais documentos
referidos neste requerimento):
a) Serviço Efectivo Normal (SEN), desde […] até […];
b) Voluntariado (RV), desde […] até […]; e
c) Contrato (RC), desde […] até […].
2.º
Desde a sua incorporação, iniciada com o período de Instrução
Básica (SEN), o Requerente cumpriu serviço efectivo junto do
Requerido por um período total de […] anos completos (acrescido
de […] meses e […] dias), dos quais mais de 6 anos em RC.
3.º
Na data da cessação do seu vínculo contratual com o Requerido, o
Requerente era titular do posto de […] e auferia uma remuneração
mensal pelo Escalão […], correspondente à quantia de […]€,
incluindo o valor dos subsídios (fixo e variável) de condição
militar – cf. recibo de vencimento que se junta por fotocópia como
Doc. 4.
4.º
Em […], após a cessação do seu vínculo contratual com o
Requerido, o Requerente solicitou-lhe o pagamento de uma
prestação pecuniária correspondente a dois duodécimos da
remuneração anual por cada um dos […] anos completos de
serviço efectivamente prestado, no seu conjunto (em SEN, RV e
RC) – cf. Requerimento datado de […], cuja cópia se junta como
Doc. 5.
5.º
Todavia, por despacho de […], que se junta por fotocópia como
Doc. 6, notificado ao Requerente em […] (Doc. 7), o Requerido
apenas deu provimento parcial a esta pretensão, deferindo o
pagamento de uma prestação equivalente, apenas, aos […] anos
completos em regime de RC,
6.º
Entretanto paga,
7.º
Mas desconsiderando, no tempo total de serviço prestado pelo
Requerente, os períodos correspondentes aos anos incompletos em
regime de SEN e RV.
8.º
Neste contexto, alega o Requerido (cf. Doc. 6), em síntese, que
«(…) para abono das prestações pecuniárias, foram
contados a V. Exa. […] anos completos de serviço,
porquanto apenas os anos completos de serviço são
relevantes para o cálculo das prestações
pecuniárias. Assim sendo, considerando que o
período em SEN e RV não perfizeram, isoladamente,
um ano completo, de acordo com a interpretação
adoptada pelo Exército relativamente ao Decreto-Lei
n.º 118/04, de 21 de Maio, não assiste a V. Exa.
direito a qualquer duodécimo acrescido de prestação
pecuniária compensatória».
9.º
Em […], o Requerente apresentou recurso hierárquico desta
decisão do Requerido, invocando a consideração do tempo total de
serviço prestado – cf. Doc. 8.
10.º
Por despacho datado de […], o Requerido negou provimento ao
recurso hierárquico apresentado, reiterando os fundamentos que
sustentam o seu anterior despacho de […] – cf. Doc. 9 cuja cópia
se junta.
11.º
O despacho do Requerido datado de […], que defere parcialmente
a pretensão do Requerente (Doc. 5), assim como o despacho de
[…] que mantém esta decisão (Doc. 9), assentam, salvo melhor
opinião, numa errada interpretação e aplicação do Direito –
designadamente, da norma constante do artigo 21.º, n.º 1, do
Regulamento de Incentivos à Prestação de Serviço Militar nos
Regimes de Contrato e de Voluntariado (doravante, RIPSM),
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 320-A/2000, de 15 de Dezembro,
na redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 118/2004, de 21 de Maio –,
razão pela qual padecem de vício de violação de lei.
12.º
Em face do exposto, (i) a anulação dos referidos despachos e (ii) a
condenação do Requerido no pagamento da quantia remanescente
em dívida a título de prestação pecuniária devida pelo termo da
prestação de serviço efectivo do Requerente nos regimes,
globalmente considerados, de SEN, RV e RC, acrescida dos
respectivos juros de mora desde a data do seu vencimento,
constitui o objecto da acção principal a intentar.

II – Do Direito
A) Dos pressupostos da providência cautelar
i) Do fumus boni iuris, nos termos da alínea c) do
n.º 2 do artigo 133.º do CPTA
13.º
A alínea c) do n.º 2 do artigo 133.º do CPTA estabelece que a
regulação provisória do pagamento de quantias requerida em
processo cautelar é decretada quando «Seja provável que a
pretensão formulada ou a formular nesse processo venha a ser
julgada procedente» (na acção principal).
14.º
Considera o Requerente que, salvo melhor opinião, no caso dos
autos se encontra verificado este pressuposto, para que a
providência cautelar solicitada seja decretada.
Senão vejamos,
15.º
Nos termos do n.º 1 do artigo 21.º do RIPSM,
«Os militares que tenham cumprido serviço efectivo em
RV, bem como em RC pelo mínimo de dois anos, têm
direito, após o termo da prestação de serviço efectivo
naqueles regimes, ao pagamento de uma prestação
pecuniária correspondente a:
a) Um duodécimo da remuneração anual, por cada
ano completo de serviço efectivamente prestado;
b) Dois duodécimos da remuneração anual, por
cada ano completo de serviço efectivamente
prestado, quando tenham cumprido seis anos
completos de serviço efectivo em RC».
– Sublinhado pelo signatário.
16.º
Acrescenta o n.º 3, do mesmo artigo, que
«Para os efeitos previstos no presente artigo,
entende-se por “remuneração anual” o produto da
multiplicação por 14 do montante de remuneração
base ilíquida correspondente ao escalão do posto
que o militar detenha no último mês completo de
prestação de serviço, acrescido do respectivo
suplemento de condição militar».
17.º
Dispõe o artigo 46.º do RIPSM, sob a epígrafe «Contagem do
tempo de serviço efectivo», que
“Para efeitos do presente diploma, a contagem do
tempo de serviço efectivo é, salvo disposição em
contrário, feita a partir da data da incorporação”.
– Sublinhado pelo signatário.
18.º
No caso, conforme acima sublinhado, o Requerente cumpriu,
junto do Requerido, mais do que «seis anos completos de serviço
efectivo em RC» (cf. Doc. 3),
19.º
Assim como cumpriu, desde a incorporação, […] anos completos
de serviço efectivamente prestado (cf. Doc. 1 a Doc. 3).
20.º
Tem, pois, o Requerente «direito, após o termo da prestação de
serviço efectivo naqueles regimes [RV e RC]ao pagamento de
uma prestação pecuniária correspondente a (…) [D]ois
duodécimos da remuneração anual por cada ano completo de
serviço efectivamente prestado» – cf. artigo 21.º, n.º 1, alínea b),
do RIPSM,
21.º
Ou seja, tem o Requerente direito, após o termo da prestação de
serviço efectivo no regime de RC, ao pagamento de uma prestação
pecuniária correspondente a dois duodécimos da remuneração
anual por cada um dos […] anos completos de serviço
efectivamente prestado (em SEN, RV e RC),
22.º
E não – como, sem manifesto fundamento, entende o Requerido –
apenas por cada um dos […] anos completos de serviço prestado
em RC.
Em face do exposto,
23.º
A remuneração base ilíquida do Requerente no último mês
completo de prestação de serviço foi, como referido, de
[…]€ (Doc. 4).
24.º
Em conformidade com o disposto no n.º 3 do artigo 21.º do
RIPSM, a remuneração anual do Requerente relevante para efeitos
do cálculo da prestação pecuniária que lhe é devida nos termos da
alínea b) do n.º 1 do mesmo artigo, é de […]€ – ou seja, […]€ a
multiplicar por 14.
25.º
A parcela duodecimal da remuneração anual, para efeitos de
cálculo da prestação pecuniária devida, corresponde a […]€ – isto
é, […]€ a dividir por 12.
26.º
Tendo cumprido mais de seis anos completos de serviço efectivo
em RC, tem o Requerente direito ao pagamento de dois
duodécimos por cada um dos […] anos de serviço efectivo
prestado – ou seja, […]€ ([…]€ x 2) a multiplicar por […] anos.
27.º
Sendo devidos dois duodécimos da remuneração anual, por cada
ano completo de serviço efectivamente prestado, e contando com
[…] anos completos de serviço efectivamente prestado, é devido
ao Requerente o montante de […]€ – ou seja, […]€ a multiplicar
por […] anos.
28.º
No entanto, desta prestação pecuniária, o Requerido apenas pagou
ao Requerente a quantia de […]€ (Doc. 6),
29.º
Razão pela qual deve o Requerido ao Requerente a quantia
remanescente de […]€, acrescida dos respectivos juros de mora,
contabilizados sobre aquele montante desde a data da cessação da
relação contratual estabelecida até efectivo e integral pagamento
30.º
Quantia cujo pagamento constituirá objecto da acção principal,
31.º
Acção cuja procedência, no mencionado enquadramento de facto e
de direito, se afigura manifesta – ou, ao menos, provável,
conforme pressuposto estabelecido na alínea c) do n.º 2 do artigo
133.º do CPTA.

ii) Do periculum in mora

32.º
Nos termos do disposto nas alíneas a) e b) do n.º 2 do artigo 133.º
do CPTA, o decretamento regulação provisória depende, ainda, da
verificação de dois pressupostos: por um lado, que esteja
adequadamente comprovada uma situação de grave carência
económica do Requerente; por outro lado, que seja de prever que
o prolongamento dessa situação possa acarretar consequências
graves e dificilmente reparáveis.
33.º
Ora, na situação dos autos, verificam-se os mencionados requisitos
positivos – sendo certo que, neste tipo de providência, resulta
afastado o requisito negativo do n.º 2 do artigo 120.º do CPTA (cf.
Mário Aroso de Almeida / Carlos Alberto Fernandes Cadilha,
Comentário ao Código de Processo dos Tribunais
Administrativos, 2.ª Ed., Almedina, 2007, p. 777).
Senão vejamos.
ii.i. Da comprovação da situação de grave carência
económica do Requerente

34.º
Desde a cessão do vínculo contratual com o Requerido, o
Requerente encontra-se desempregado, estando inscrito no Centro
de Emprego da sua área de residência (Doc. 10).
35.º
O Requerente reside em habitação própria, adquirida mediante o
pagamento de uma entrada com a prestação pecuniária recebida do
Requerido (Doc. 6) e a celebração de um crédito à habitação junto
do Banco […], pagando pelo mesmo uma prestação mensal,
actualmente, no montante de […]€ – cf. comprovativo bancário
junto como Doc. 11.
36.º
O Requerente é casado e tem […] filhos menores.
37.º
A sua mulher está igualmente desempregada.
38.º
Para prover ao sustento e às condições mínimas de vida pessoais e
da sua família, o Requerente tem, designadamente, as seguintes
despesas mensais:
a) […] – cf. Doc. 12;
b) […] – cf. Doc. 13;
c) […] – cf. Doc. 14.

ii.ii. Das consequências graves e dificilmente


reparáveis do prolongamento dessa situação de
grave carência económica
39.º
Na situação premente de carência em que o Requerente e a sua
família se encontram, o pagamento da compensação pecuniária
objecto da acção principal afigura-se um verdadeiro “balão de
oxigénio” na vida do agregado familiar,
40.º
Sendo certo que a demora desse pagamento acarreta
consequências graves e dificilmente reparáveis – designadamente,
41.º
O necessário incumprimento das obrigações assumidas junto da
referida instituição bancária, relativas ao crédito à habitação
contraído,
42.º
A impossibilidade do sustento pessoal e da sua família,
43.º
E a impossibilidade de assegurar a formação escolar dos seus
filhos menores, na escola em que estão actualmente inscritos.
44.º
Verificam-se, assim, todos os requisitos para que seja dado
provimento à providência requerida, o que se requer.

Termos em que se
requer a V. Exa. se
digne fixar a regulação
provisória do
pagamento de uma
quantia mensal não
inferior a […]€, por
conta da quantia
objecto da acção
principal a intentar,
indispensável a evitar a
situação de grave
carência económica do
Requerente.
Para tanto, requer-se a
V. Exa. que, D. e A., se
sigam os demais
termos.

Desconhece-se a existência de quaisquer eventuais contra-


interessados.

Valor: […]€ ([…]euros).

Junta:
- Procuração;
- 14 documentos, cujo conteúdo se dá por integralmente
reproduzido sempre que neste requerimento são referidos, a
saber:
Doc. 1 – […];
Doc. 2 – […];
Doc. 3 – […];
[…]
- Comprovativo do pagamento da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos, deixando o verso das folhas em branco –
artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA.

O Advogado,
Requerimento de Produção Antecipada de Prova

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal
de […][1]:

[…], NIPC […], com sede em […], vem requerer a produção


antecipada de prova, o que faz nos termos do disposto no artigo
134.º, n.º 1, do Código de Processo nos Tribunais Administrativos
(CPTA), e com os fundamentos seguintes:
1.º
Pretende o Requerente instaurar acção de contencioso pré-
contratual, em processo urgente, ao abrigo do disposto nos arts.
100.º e seguintes do CPTA, com vista à impugnação de acto
administrativo de adjudicação praticado no âmbito do
procedimento de concurso público internacional para a formação
de contrato de fornecimento de […], lançado pela […], NIPC […],
com sede em [….].
2.º
Em suma, o Requerente entende que o pedido de impugnação
judicial a formular assenta nos seguintes fundamentos:
a) A referida decisão de adjudicação não cumpre os
parâmetros-base que a entidade adjudicante definiu nas
peças do procedimento, violando o disposto nas cláusulas
[…] do programa de concurso e o artigo 70.º, n.º2, alínea
b), ex vi artigo 146.º, n.º 2, alínea o), do Código dos
Contratos Públicos (CCP), aprovado pelo Decreto-Lei n.º
18/2008, de 29 de Janeiro; e
b) A proposta do concorrente adjudicatário não cumpre o
disposto no programa de concurso no que respeita aos
termos e condições estabelecidos na cláusula […], ainda
que apresente o preço mais baixo do conjunto de propostas
apresentadas, violando, por conseguinte, o disposto na
cláusula […] do programa e no artigo 70.º, n.º 2, alínea b),
ex vi artigo 146.º, n.º 2, alínea o), do CCP.
3.º
A decisão de adjudicação da proposta apresentada pelo
concorrente […] padece de ilegalidade, sob o desvalor jurídico da
anulabilidade, por força do disposto no artigo 135.º do Código de
Procedimento Administrativo (CPA), devendo, por isso, ser
anulada no prazo legalmente previsto para o efeito.
4.º
No âmbito da referida acção de contencioso pré-contratual a
intentar, o Requerente irá requerer a produção de prova
testemunhal, para demonstração dos factos que fundamentam a
sua pretensão, designadamente a inquirição do Senhor […], que
exerce a profissão de […].
5.º
Pretende o Requerente, através do depoimento do Senhor […],
demonstrar os seguintes factos:
a) […];
b) […];
c) […].
6.º
Sucede, porém, que o Senhor […] sofre de doença […],
encontrando-se em estado de saúde muito grave, sendo bastante
provável que este estado se deteriore com o decurso do tempo,
tornando-se mesmo impossível obter o seu depoimento no âmbito
do processo a intentar – conforme se comprova pelo relatório
médico que aqui se junta como Doc. […] e se dá por
integralmente reproduzido.
7.º
Dispõe o artigo 134.º, n.º 1, do CPTA que «[h]avendo justo receio
de vir a tornar-se impossível ou muito difícil o depoimento de
certas pessoas (…) pode o depoimento (…) realizar-se antes de
intentado o processo».

Termos em que deve o presente


requerimento de produção
antecipada de prova ser
admitido e, consequentemente,
determinada a prestação
antecipada do depoimento do
Senhor […], como testemunha
a indicar pelo Requerente no
âmbito da acção de contencioso
pré-contratual a intentar, em
processo urgente, com vista à
impugnação de acto
administrativo de adjudicação
praticado no âmbito do
procedimento de concurso
público internacional lançado
pela […] para a formação de
contrato de fornecimento de
[…].
Mais se requer a notificação da
[…] nos termos e para os
efeitos do disposto no artigo
134.º, n.º 3, do CPTA.

Junta: […] documentos e procuração forense.


Na elaboração do presente documento foram usados meios
informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA –
deixando em branco o verso das folhas.
E.D.
O Advogado,

[1] Cf. artigo 20.º, n.º 7, do CPTA, no que respeita à competência


territorial do Tribunal.
Requerimento de Certidão à Autoridade Administrativa sobre
Identidade e Residência dos Contra-Interessados

Exmo. Senhor
Presidente do
Conselho de
Administração do [...]
[morada]
[Código Postal]

[…], NIF […], com residência em [...], vem, nos termos e para os
efeitos do artigo 115.º do Código de Processo nos Tribunais
Administrativos (CPTA), requerer a V. Exa. se digne mandar
passar-lhe certidão da residência dos candidatos identificados na
lista final de classificação do concurso para provimento de sete
lugares vagos na categoria de [...], da carreira de pessoal de [...],
do quadro de pessoal do [...], publicado por extracto, em […], no
Diário da República, 2.ª Série, com o n.º [...], com vista a intentar
providência cautelar de admissão provisória a concursos e exames,
de acordo com o artigo 112.º, n.º 2, alínea b), do CPTA.

E.D.
O Advogado,
Oposição da Entidade Requerida

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


4.ª U.O.
Processo n.º [...]

OPOND
O-SE,
diz a
Requerid
a [...]:

I – Enquadramento do processo cautelar

1.º
Na presente providência cautelar o Requerente pede que seja
decretada a suspensão de eficácia das deliberações proferidas pela
[...] e, consequentemente, suspenso o procedimento com vista à
selecção e nomeação para o cargo de gestor do projecto [...].
2.º
O Requerente fundamenta o seu pedido, no essencial, na
suposta«evidente procedência da pretensão a formular no
processo principal» (cf. artigo [...].º da, aliás douta, p.i.),
considerando como «praticamente certo que a pretensão a
formular pelo Requerente no processo principal venha a ser
julgada procedente» (artigo [...].º da p.i.) – razão pela qual,
conclui, deve a providência ser decretada, nos termos do disposto
no artigo 120.º, n.º 1, alínea a), do Código de Processo nos
Tribunais Administrativos (CPTA) (cf. artigo [...].º da p.i.).
3.º
Pensa-se que não assistem ao Requerente nem razões de facto nem
de direito para o que pede.
4.º
Sem prejuízo do mais que, porventura, possa relevar para a acção
principal, nesta sede cautelar importará (apenas) apreciar a
invocada verificação dos requisitos estabelecidos no n.º 1 e n.º 2
do artigo 120.º do CPTA.

Neste âmbito, pensa-se que:


5.º
Por um lado, não é (nem de perto) «evidente»a procedência de
qualquer pretensão que possa vir a ser formulada em eventual
acção principal a propor com o mesmo objecto, designadamente à
luz de alegadas «ilegalidades manifestas e patentes».
6.º
Por outro lado, relevando as supostas invalidades “manifestas”,
parece inequívoco que:
a) Estando em causa a adopção de uma providência de
natureza conservatória, pensa-se ser antes “manifesta” a
falta de fundamento da correspectiva pretensão, não
estando, por isso, verificado o requisito da ausência de
fumus non malus iuris;
b) Não se encontram verificados – não foram indiciados
nem, muito menos, demonstrados – quaisquer elementos
que permitam concluir haver periculum in mora;
c) Da mesma forma, o Requerente:
i) Ignora os relevantes interesses públicos em
presença;
ii) À parte de considerações genéricas sobre
consequências que conjectura e pressupõe, bem
como de danos que abstractamente anuncia, não
demonstra que supostos danos, resultantes das
supostas invalidades que invoca, possam – na
perspectiva dos seus interesses – sequer ser
ponderados;
iii) É ainda omisso quanto à necessária ponderação,
também, dos “interesses privados em presença”,
designadamente dos que possam ser considerados
pelos contra-interessado […].
7.º
É o que, sucintamente, se procurará demonstrar de seguida

II – Da alegada evidente procedência da pretensão a formular


no processo principal
8.º
Nos artigos […].º a […].º do seu requerimento, alega o
Requerente a verificação de «ilegalidades manifestas e patentes»
(cf. artigo […].º) que «determinam necessariamente o
decretamento da presente providência cautelar» (artigo […].º).
9.º
Segundo o Requerente, essas «ilegalidades manifestas e patentes»
resultariam «de todo o alegado nos artigos […].º a […].º
anteriores» do seu requerimento (cf. artigo […].º).
10.º
Desta forma singela, no entender do Requerente, estaria verificado
o requisito para o decretamento das medidas cautelares
peticionadas, de acordo com o disposto na alínea a) do n.º 1 do
artigo 120.º do CPTA.
11.º
Estabelece esta norma que «as providências cautelares são
adoptadas (…) [q]uando seja evidente a procedência da pretensão
formulada ou a formular no processo principal, designadamente
por estar em causa a impugnação de acto manifestamente ilegal
(…)».
12.º
Nos casos em que se afigure evidente ao Tribunal a procedência
da pretensão formulada ou a formular no processo principal, deve
assim a providência ser concedida, prescindindo-se dos demais
critérios estabelecidos nos n.ºs 1 e 2 do artigo 120.º do CPTA –
designadamente, o periculum in mora e a ponderação de interesses
em jogo.
Segundo o douto Acórdão do STA de 14 de Julho de 2010 (Proc.
n.º 0451/10, disponível em http://www.dgsi.pt), «[a]s situações de
evidente procedência, a que se refere a alínea a) do n.º 1 do art.º
120.º do CPTA, não devem oferecer quaisquer dúvidas quanto à
ilegalidade do acto cuja suspensão de eficácia é pedida,
ilegalidade essa que, assim, deve poder ser facilmente detectada,
face aos elementos constantes do processo e pela simples leitura e
interpretação elementar da lei aplicável, sem necessidade de outras
averiguações ou ponderações».
13.º
«Na verdade, o que é manifesto, é líquido, salta à vista, não
oferece dúvida», conforme esclarece o douto Acórdão do STA de
28 de Janeiro de 2009 (Proc. n.º 01030/08, disponível em
http://www.dgsi.pt).
14.º
Ainda no sentido desta jurisprudência, e a mero título de exemplo,
decidiu-se, entre outros, nos doutos Acórdãos do STA de 02 de
Abril de 2009 (Proc. n.º 0168/09) e de 28 de Janeiro de 2009
(Proc. n.º 01030/08), ambos disponíveis em http://www.dgsi.pt.
15.º
Ora, no caso dos autos, suscitadas por remissão genérica para os
«artigos […].º a […].º» do requerimento apresentado, nem sequer
“saltam à vista” as invalidades que são concretamente
consideradas pelo Requerente,
16.º
nem, muito menos e em consequência, “salta à vista” qualquer
acto «manifestamente» ilegal – que, desse modo, torne «evidente»
a procedência de uma pretensão no processo principal.
17.º
Aliás, fossem as invalidades «manifestas» e, por certo, o
Requerente não precisaria de recorrer a uma extensa peça
processual, constituída por […] artigos, para as tentar justificar…
18.º
Assim, e em abono da verdade, não só os actos genericamente
sindicados não padecem de qualquer invalidade «manifesta»
como, pelo contrário, são absolutamente válidos – o que, julga-se,
será demonstrado na acção principal, com os argumentos que
apenas nessa sede assumem relevância.

Quanto a esta matéria, dir-se-á, de forma abreviada, apenas o


seguinte:

A) Da inimpugnabilidade das deliberações suspendendas


19.º
É o seguinte o conteúdo das deliberações suspendendas:
«[...]».
20.º
Considerando o teor do deliberado, verifica-se que a Requerida
enuncia um conjunto de providências a tomar no âmbito do
procedimento de oferta pública de emprego, que se reconduzem a
meros comportamentos ou simples actuações materiais de gestão
interna.
21.º
Assim sendo, no caso, não se vislumbra qualquer acto
administrativo, no sentido de estatuição autoritária, relativa a um
caso individual, manifestada por um agente da Administração, no
uso de poderes de Direito Administrativo, pela qual se produzem
efeitos jurídicos externos, positivos ou negativos– cf. Mário Aroso
De Almeida/ Alberto Cadilha, Comentário ao Código de Processo
nos Tribunais Administrativos, Almedina, Coimbra, 2005, p. 602;
no mesmo sentido, cf. Vieira De Andrade, A Justiça
Administrativa, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2004, p. 327, nota
(711), e Fernanda Maçãs, “As Formas de Tutela Urgente Previstas
no Código de Processo nos Tribunais Administrativos”, in Boletim
da Faculdade de Direito, Stvdia Ivridica, Universidade de
Coimbra, A Reforma da Justiça Administrativa, Coimbra Editora,
Coimbra, 2005, p. 226.
22.º
Portanto, não existe qualquer acto administrativo lesivo e, como
tal, impugnável, nos termos do artigo 51.º do CPTA, mas meras
intenções, como o próprio Requerente reconhece, aliás, no artigo
[...].º da p.i..
23.º
A ser assim, a acção administrativa especial que o Requerente
anuncia vir a propor (cf. artigos [...] da p.i.) é, para já e pelo
menos nesta parte, manifestamente improcedente, ao contrário do
alegado,
24.º
pelo que, ao contrário do alegado, não se verifica o pressuposto
estabelecido na alínea a) do n.º 1 do artigo 120.º do CPTA,
25.º
sendo que, aliás, nem parece verificar-se o pressuposto do
interesse em agir do Requerente.

B) Da não verificação das ilegalidades imputadas pelo


Requerente às deliberações suspendendas
26.º
Por outro lado, admitindo, por hipótese e sem conceder, que as
deliberações da Requerida objecto dos autos configuram
verdadeiros actos administrativos (impugnáveis), sempre se
afigurará inequívoca a respectiva validade – como, de seguida, se
procurará demonstrar.
27.º
Em primeiro lugar, o Requerente assenta toda a sua argumentação
no pressuposto (ao menos, no entender da Requerida) infundado
de que a escolha do gestor deve obedecer a um procedimento de
concurso público.
28.º
Ora, do quadro legal aplicável ao caso dos autosnão resulta que o
mencionado gestor tenha de ser escolhido através da realização de
um concurso,
29.º
ou, sequer, no âmbito dos protocolos celebrados entre [...] e [...]
para a concretização do projecto que o gestor teria a sob sua
responsabilidade.
30.º
Tal significa, respeitando o princípio da concertação, que a
escolha do método adequado à escolha do gestor de equipa cabe
na ampla margem de liberdade reconhecida às entidades
envolvidas.
31.º
Em segundo lugar, para além deste princípio basilar de
concertação entre os intervenientes, torna-se ainda fundamental
garantir a observância de princípios gerais que funcionam como
limite à liberdade de conformação da Administração, sendo que
dos mesmos também não parece resultar a imposição do concurso
como método de escolha do gestor do projecto.
32.º
O projecto em causa tem natureza análoga às denominadas
estruturas temporárias, previstas no artigo 28.º da Lei n.º 4/2004,
de 15 de Janeiro, para a Administração Central, em especial as
prosseguidas por comissões ou grupos de trabalho ou de projecto,
criados por despacho conjunto do ministro ou ministros
competentes e do Ministro das Finanças (cf. n.º 8 do artigo 28.º).
33.º
Noutra perspectiva, verifica-se também que as funções a
desempenhar pelo gestor de projecto são análogas às cometidas ao
pessoal dirigente (cargos de direcção superior de 1.º grau) dos
serviços e organismos da administração central, regional e local do
Estado, cujo regime se encontra previsto na Lei n.º 2/2004, de 15
de Janeiro.
34.º
Acontece que os titulares de cargos de direcção superior de 1.º
grau são recrutados, por escolha, de entre indivíduos licenciados,
vinculados ou não à Administração Pública, que tenham
competência técnica, aptidão, experiência profissional e formação
adequadas ao exercício das respectivas funções (cfr. o artigo 18.º
da Lei n.º 2/2004).
35.º
Assim, se, no âmbito da Administração Pública, o legislador se
satisfaz, para o recrutamento dos cargos de direcção atrás
referidos, com a figura da nomeação, a qual tem por base um juízo
discricionário não sujeito a procedimento de selecção, não existe
princípio de direito que implique regime mais severo, no caso em
preço, para a escolha do gestor de projecto, tendo sobretudo em
conta o contexto e as características do quadro jurídico em que se
insere o projecto em causa,
36.º
donde resulta não haver fundamento legal para a obrigatoriedade
de concurso público nem sequer para a realização de oferta
pública de emprego.

C) Da improcedência das demais ilegalidades invocadas


37.º
O Requerente imputa ainda às deliberações em causa, mesmo que
de forma vaga, ilegalidades por suposta verificação de vícios de
procedimento, violação de lei e desvio de poder.
38.º
Tendo em consideração o que acima foi exposto, pensa-se ser
evidente que não se verifica qualquer das ilegalidades
(infundadamente) suscitadas,
39.º
sendo que, em especial, o alegado quanto ao suposto vício de
desvio de poder parece reportar-se a meras afirmações gratuitas,
desprovidas de qualquer justificação.
D) Da falta de interesse em agir
40.º
Ainda que, admitindo por mera cautela de patrocínio e sem
conceder, se considerassem as deliberações suspendendas
(manifestamente) ilegais, sempre deveria ser recusada a
providência requerida por o Requerente não alegar (e,
consequentemente, não demonstrar) a existência de qualquer
perigo de dano específico que vise prevenir com a tutela cautelar,
nomeadamente receio de constituição de uma situação de facto
consumado.
41.º
O interesse do Requerente nos presentes autos é, confessadamente,
a defesa da legalidade (artigo [...].º da p.i.) e do interesse público
(artigo [...].º da p.i.).
42.º
Ora, para além da defesa deste interesse não lhe estar legalmente
cometida, a ilegalidade por si só não é irreparável.
43.º
No que se refere à invocação de eventuais danos para a sua esfera
jurídica, o Requerente somente no artigo [...].º da p.i. alude, de
forma conclusiva e abstracta «a protecção efectiva dos interesses
do Requerente».
44.º
Em face do que fica exposto, é tudo menos «evidente» a
procedência de qualquer pretensão formulada ou a formular no
processo principal – pretensão que, pelo contrário, exige uma
apreciação que não cabe realizar nesta sede cautelar,
45.º
Não estando verificado o disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo
120.º do CPTA, cumpre – em alternativa, quanto às medidas de
natureza conservatória requeridas – aferir a verificação dos demais
requisitos previstos na alínea b) do n.º 1 e no n.º 2, todos do
mesmo preceito legal.
III – Da não verificação dos demais requisitos exigidos para a
adopção das providências requeridas

46.º
Estabelece a alínea b) do n.º 1 do artigo 120.º do CPTA que, na
ausência de qualquer ilegalidade manifesta e estando em causa a
adopção de providências cautelares de natureza conservatória, o
provimento da providência, depende, antes de mais, de não ser
manifesta a falta de fundamento da pretensão formulada ou a
formular no processo principal – ou seja, depende da inexistência
de fumus non malus iuris.
47.º
Neste sentido, esclarece-se no douto Acórdão do TCA Sul, de 14
de Outubro de 2004 (proferido no Proc. n.º 00304/04, consultável
em www.dgsi.pt), o seguinte: «[n]os termos do disposto no art.º
120, n.º1, alínea b) e n.º2 do CPTA as providências cautelares
conservatórias visam acautelar o efeito útil da acção principal,
assegurando a permanência da situação existente aquando da
ocorrência do litígio a dirimir na acção principal, tendo por
finalidade manter o "status quo", perante a ameaça de um dano
irreversível, por forma a manter inalterada a situação de facto ou
de direito, evitando alterações prejudiciais. Contudo, no caso de
manifesta falta de fundamento da pretensão formulada ou a
formular no processo principal ou a existência de circunstâncias
que obstem ao mérito, a providência cautelar não poderá se
decretada (n.º 1, alínea b) in fine)».
48.º
Nos presentes autos, requer-se a adopção de uma providência
cautelar de natureza conservatória – com efeito, «[t]endo as
providências conservatórias como finalidade manter o status quo,
perante a ameaça de um dano irreversível, destinando-se a manter
inalterada a situação que preexiste à acção, acautelando tal
situação, de facto ou de direito, evitando alterações prejudiciais, o
seu efeito, em caso de deferimento do pedido, pode ser apontado
como paradigma nas providências cautelares de suspensão de
eficácia de actos administrativos» (cf. douto Acórdão do TCA Sul
de 08 de Julho de 2004, proferido no Proc. n.º 00196/04,
disponível em www.dgsi.pt).
49.º
Valha a verdade, pensa-se resultar do que acima se expôs a
propósito da alegada evidente procedência da pretensão a formular
pelo ora Requerente no processo principal a – bem pelo contrário
– manifesta falta de fundamento dessa eventual pretensão,
50.º
facto que determina, sem necessidade de mais considerações, a
improcedência das providências dos autos.
51.º
Mesmo que assim não fosse, o que se admite por mero dever de
patrocínio, pensa-se que não se encontram verificados – não foram
indiciados nem, muito menos, demonstrados – quaisquer
elementos que permitam concluir haver periculum in mora,
conforme também estabelecido na alínea b) do n.º 1 do artigo
120.º do CPTA.
52.º
Dispõe esta norma que a providência cautelar será adoptada
quando «haja fundado receio da constituição de uma situação de
facto consumado ou da produção de prejuízos de difícil reparação
para os interesses que o requerente visa assegurar no processo
principal».
53.º
Aqui «(…) se exige uma convicção próxima da certeza quanto à
produção de danos irreparáveis ou de difícil reparação», como
esclarece J. C. Vieira de Andrade, A Justiça Administrativa
(Lições), 8.ª Ed., p. 352, nota 794.
54.º
Ora, «[a] operação analítico-comparativa dos interesses em jogo,
prevista no n.º 2 do art.º 120 do CPTA, não pode efectuar-se com
o recurso a meras hipóteses, antes tem de assentar em factos
relevantes concretos, fixados nos autos, que, de resto, também são
essenciais para se poder dar como verificado, fundadamente, o
periculum in mora previsto na alínea b) do n.º 1 do mesmo
preceito» – cf. douto Acórdão do STA de 12 de Fevereiro de 2009
(Proc. n.º 01070/08, disponível em http://www.dgsi.pt; sublinhado
nosso).
55.º
Neste contexto, à parte de considerações genéricas sobre
consequências que, como mera hipótese, se conjecturam e
pressupõem (cf. artigos […].º a […].º do requerimento), pensa-se
que o Requerente nenhum «fundado receio» demonstra
relativamente à «produção de danos irreparáveis ou de difícil
reparação» – no sentido de fazer prova efectiva de «factos
relevantes concretos», demonstrando danos caracterizados que
atribuam carácter de urgência à situação subjacente ao presente
procedimento cautelar.
56.º
Em rigor, conforme acima se sublinhou, a propósito da falta de
interesse em agir, relativamente aos eventuais danos para a sua
esfera jurídica apenas se invoca, de forma abstracta e conclusiva,
«a protecção efectiva dos interesses do Requerente».
57.º
Sem prejuízo do exposto, e por mero dever de patrocínio,
acrescenta-se ainda o seguinte, relativamente à necessária
ponderação dos interesses públicos e privados em presença.
58.º
Estabelece o n.º 2 do artigo 120.º do CPTA que «[n]as situações
previstas nas alíneas b) e c) do número anterior, a adopção da
providência ou das providências será recusada quando,
devidamente ponderados os interesses públicos e privados, em
presença, os danos que resultariam da sua concessão se mostrem
superiores àqueles que podem resultar da sua recusa, sem que
possam ser evitados ou atenuados pela adopção de outras
providências».
59.º
Sublinha-se, «[a] operação analítico-comparativa dos interesses
em jogo, prevista no n.º 2 do art.º 120 do CPTA, não pode
efectuar-se com o recurso a meras hipóteses, antes tem de assentar
em factos relevantes concretos, fixados nos autos» – cf. douto
Acórdão do STA de 12 de Fevereiro de 2009 (Proc. n.º 01070/08).
60.º
Ora, a respeito deste requisito negativo legalmente imposto ao
decretamento das providência cautelares, limita-se o Requerente a
alegar – diga-se, de forma conclusiva e infundada – que «[n]ão
existe qualquer interesse público em concreto que se possa
validamente opor ao do decretamento da presente providência»
(cf. artigo […].º da p.i.).
61.º
Todavia, certo é que os prejuízos decorrentes da eventual
suspensão da eficácia das deliberações em causa, com a
consequente impossibilidade de nomeação do gestor do projecto,
seriam manifestamente superiores aos que, alegadamente, o
Requerente pretende tutelar com a invocada suspensão.
62.º
Os prejuízos para o interesse público traduzem-se, desde logo, na
paralisação de um projecto com valor aproximado de [...]€ ([…]
euros).
63.º
Além do mais, qualquer possível atraso na implementação do
projecto representaria prejuízos que incidem directamente sobre as
populações abrangidas.
64.º
Este receio não é, aliás, meramente hipotético ou conjectural,
65.º
conforme melhor resulta da resolução fundamentada que a
Requerida prontamente elaborou e que se junta como Doc. […].
66.º
Acresce, em contrapartida, que (como se referiu), à parte de
considerações genéricas sobre consequências que conjectura e de
danos que abstractamente anuncia – ou seja, à parte de «meras
hipóteses» (cf. douto Acórdão do STA de 12 de Fevereiro de
2009) –, o Requerente não logra demonstrar quaisquer supostos
danos, resultantes das supostas invalidades que invocam, que
possam sequer ser ponderados.
67.º
Da mesma forma, conforme também acima foi sublinhado, o
Requerente é ainda omisso quanto à necessária ponderação dos
“interesses privados em presença”, designadamente dos que
possam ser considerados pelos contra-interessados.

Nestes termos e nos demais de


direito, não se verificando os
requisitos estabelecidos no n.º 1
e n.º 2 do artigo 120.º do
CPTA, deve a presente
providência cautelar ser
considerada improcedente, por
não provada, e, por isso, ser
mantida na íntegra a eficácia
das deliberações suspendendas,
sempre com as legais
consequências com as legais
consequências.

Junta: 1 documento, procuração e comprovativo de pagamento de


taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º5, do CPC e 1.º do CPTA.,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Oposição de Contra-Interessado

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE


[...]
Processo n.º [...]

OPONDO-SE, diz o Contra-Interessado [...]:

1.º
Na presente providência cautelar os Requerentes pedem que seja
decretada a suspensão de eficácia da deliberação do Júri do
Concurso de [...] (aberto pelo Aviso n.º [...], publicado no Diário
da República, II Série, de [...]), que determinou [...].
2.º
Pensa-se, no entanto, que não se encontram verificados os
pressupostos necessários para o decretamento desta providência
cautelar. É o que, de seguida, se procurará demonstrar.

a) Quanto à manifesta ilegalidade do acto impugnado


3.º
Os Requerentes fundamentam o seu pedido, no essencial:
a) Na ilegalidade da decisão por violação dos princípios
jurídicos fundamentais directamente vinculativos da
actuação da Administração, a saber, o princípio da justiça,
da adequação, proporcionalidade e autovinculação, da
coerência e da racionalidade na actuação administrativa;
b) Na nulidade por violação do direito, liberdade e garantia
de acesso a uma profissão, actividade profissional ou
carreira.

4.º
Embora se considere que não assiste razão aos Requerentes,
secundando-se o entendimento do Requerido a este respeito,
aceita-se que se encontre preenchido o fumus non malus iuris,
exigido pelo artigo 120.º, n.º 1, alínea b), parte final, do CPTA,
pois não será evidente que não se verifiquem as ilegalidades
invocadas.
5.º
Todavia, já não se podem aceitar que as ilegalidades invocadas
sejam manifestas, razão pela qual não estará verificado o
pressuposto exigido pela alínea a) do n.º 1 do artigo 120.º do
CPTA.
6.º
No entender do ora Contra-Interesso, não são evidentes as
supostas ilegalidades invocadas, desde logo, porque a revogação
da deliberação de [...] foi tomada tendo em conta o facto de esta
decisão violar, de forma manifesta, o princípio da divulgação
atempada.
7.º
Este é – pensa-se, de forma inequívoca – argumento suficiente
para demonstrar que não é evidente a alegada ilegalidade do acto
suspendendo,
8.º
e, dir-se-ia, em abstracto, até suficiente para sustentar a manifesta
improcedência da providência requerida, afastando-se, assim, o
fumus non malus iuris – embora, como referido, se aceite que
possa assim não entender-se.
9.º
Neste enquadramento, o decretamento da providência requerida
dependeria da verificação dos requisitos do periculum in mora e
da ponderação de interesses em presença,
10.º
requisitos que, no caso, não se verificam.
Senão vejamos.

b) Do periculum in mora
11.º
Alegam os Requerentes que a não inclusão na lista dos candidatos
admitidos lhes causará prejuízos de difícil reparação porquanto
ficarão «impedidos de aceder ao exercício da actividade
profissional, com todos os prejuízos que daí advêm».
12.º
No entanto, não concretizam estes prejuízos, fazendo antes
afirmações genéricas, sem sustentação factual, mormente quanto
ao impacto que, no caso concreto, lhes iria causar essa não
inclusão dos Requerentes na lista.
13.º
Ora, como refere Mário Aroso De Almeida,O Novo Regime de
Processo dos Tribunais Administrativos, 4.ª Edição Revista e
Actualizada, Almedina, 2005, Coimbra, p. 305, «[d]a conjugação
das duas expressões [prejuízo de difícil reparação e fundado
receio da constituição de uma situação de facto consumado]
resulta a clara rejeição do apelo, neste domínio, a critérios
fundados na susceptibilidade ou insusceptibilidade de avaliação
pecuniária dos danos, pelo seu carácter variável, aleatório ou
difuso, em favor do entendimento segundo o qual o prejuízo do
requerente deve ser considerado irreparável sempre que os factos
concretos por ele alegados permitam perspectivar a criação de
uma impossibilidade da reintegração específica da sua esfera
jurídica, no caso de o processo principal vir a ser julgado
procedente».
14.º
Tendo presente esta doutrina, e analisando os argumentos
invocados pelos Requerentes, não se vislumbram quaisquer factos
concretos susceptíveis de fundamentar prejuízos irreparáveis ou,
sequer, de difícil reparação.
15.º
É que, como tem sido entendimento unânime da jurisprudência, de
que é exemplo o douto Acórdão TCA Sul de 25 de Setembro de
2008, respeitante ao processo n.º 04222/08, disponível em
www.dgsi.pt, caso seja possível a reintegração dos factos
conforme a legalidade através do pagamento de uma quantia
monetária, apenas estamos perante prejuízos de difícil reparação
quando o Requerente prove que, sem aquela quantia, não é capaz
de prover ao seu sustento de forma digna.
16.º
E nem se diga que, para o efeito, basta alegar o impedimento ao
exercício de uma actividade profissional, pois, se assim fosse, em
concurso público relacionado com o exercício de uma profissão
estaria automaticamente preenchido o requisito do periculum in
mora – o que, no entender do ora Contra-Interessado, não se pode,
de forma alguma, aceitar.
17.º
Temos assim que não se encontra verificado o necessário
pressuposto do periculum in mora para que possa ser decretada a
providência cautelar requerida

c) Do critério da ponderação: da especial relevância do


interesse público
18.º
Ainda que, sem conceder, se entendesse verificado o fumus boni
iuris e o periculum in mora, não deveria o Tribunal conceder a
providência quando os prejuízos da respectiva concessão forem
superiores aos prejuízos que resultariam da não concessão (cf. o
n.º 2 do artigo 120.º do CPTA).
19.º
Temos assim que verificar se os prejuízos da suspensão das
deliberações e em consequência da suspensão da conclusão do
procedimento com vista a obter a lista oficial de peritos a nomear
pelo Estado serão, ou não, superiores aos prejuízos que adviriam
do prosseguimento do procedimento.
20.º
De facto, como referem Mário Aroso De Almeida e Carlos
Alberto Fernandes Cadilha, Comentário ao Código de Processo
dos Tribunais Administrativos, Almedina, 2005, Coimbra, p. 611,
a providência pode ser recusada «quando, pese embora o
preenchimento, em favor do requerente, dos requisitos previstos
na alínea b) ou c) do n.º 1, seja de entender que a concessão da
providência provocaria danos ao interesse público e de eventuais
terceiros) desproporcionados em relação àqueles que se
pretenderia evitar que fossem causados (à esfera jurídica do
requerente)».
21.º
Tendo em conta a definição exposta do critério da ponderação de
interesses, é bom de ver que o interesse público é
significativamente afectado pela suspensão do presente
procedimento, na medida em que o preenchimento das vagas a
concurso é absolutamente essencial para suprir as necessidades do
serviço para que foram abertas.
22.º
Além do interesse público em presença, também os interesses
privados dos Contra-interessados, igualmente merecedores de
tutela cautelar, se sobrepõem aos interesses do ora Requerente.
23.º
Na verdade, especificamente quanto ao ora contra-interessado [...],
este encontra-se actualmente desempregado, não recebendo, no
entanto, qualquer subsídio de desemprego.
24.º
Como se constata da lista de ordenação final, o contra-interessado
ficou classificado em lugar ‘elegível’.
25.º
Ora, a suspensão do procedimento concursal causar-lhe-á
prejuízos económicos avultados e, sobretudo, irreparáveis, na
medida em que não poderá prover às suas necessidades básicas.
26.º
De facto, não auferindo quaisquer outros rendimentos que não
sejam o fruto do seu trabalho, o contra-Interessado [...] pode
apenas contar com o rendimento da sua esposa no montante de
[...]€ ([…] euros) – cf. recibo de vencimento que se junta como
Doc. 1 e se dá por integralmente reproduzido, assim como os
demais documentos referidos nesta contestação –,
27.º
sendo que, em despesas mensais, o agregado familiar despende
um montante fixo de [...]€ ([…] euros) – cf. Docs. 2 a 20 que se
juntam.
28.º
Acresce, a julgar-se válido o argumento dos Requerentes quanto
ao prejuízo suportado pelo seu não acesso à profissão, sem
conceder, ter-se-ia obrigatoriamente que concluir que esse
prejuízo também iria ocorrer na esfera jurídica dos contra-
interessados, pelo que, na ponderação dos interesses em presença,
o prejuízo dos Requerentes não seria superior, pelo contrário.
29.º
Em síntese, os prejuízos decorrentes da eventual suspensão da
eficácia das deliberações em causa com a consequente suspensão
do procedimento concursal implicaria prejuízos manifestamente
superiores para o interesse público e para o interesse privado dos
contra-interessados, aos que, alegadamente, se pretende tutelar
com a invocada suspensão.

Termos em que devem as


providências cautelares
solicitadas pelo Requerente ser
rejeitadas, por não se
encontrarem preenchidos os
respectivos pressupostos, com
as devidas e legais
consequências.

Prova:
a) Documental – os 20 documentos referidos nesta petição
inicial.
b) Testemunhas:
1. [Nome], [profissão], residente em […];
2. [Nome], [profissão], residente em […].

Junta: 20 documentos, procuração ecomprovativo do pagamento


da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC, e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Requerimento da Autoridade Requerida para que seja Declarada a
Caducidade da Providência Cautelar

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Proc. n.º [...]

Exmo. Senhor Dr. Juiz

[…], Requerido nos autos à margem referenciados, vem, nos


termos e para os efeitos do artigo 123.º do Código de Processo nos
Tribunais Administrativos (CPTA), expor e requerer a V. Exa. o
seguinte:

1. Por douta Sentença datada de [...], transitada em julgado, no


âmbito do processo à margem identificado, foi determinada a
suspensão de eficácia da deliberação proferida pelo Conselho de
Administração do Requerido, datada de [...].

2. Esta notificação foi notificada ao Requerente em [...], cf. cópia


do aviso de recepção anexo ao Doc. 1 junto com a petição inicial
de requerimento da providência cautelar de suspensão de eficácia
do acto.

3. Nos presentes autos, como se depreende da alegação respeitante


ao pressuposto de fumus boni iuris, que a douta sentença deu por
verificado, apenas foram suscitados vícios do acto cuja
consequência é a mera anulabilidade, nos termos das normas
referenciadas pela douta Sentença.
4. Ora, nos termos do artigo nos termos do artigo 58.º, n.º 2, alínea
b), do CPTA, a impugnação de actos anuláveis tem lugar no prazo
de três meses.

5. Prazo este contado a partir da data da notificação, nos termos do


artigo 59.º, n.º 3, alínea a), do CPTA.

6. Este prazo terminou no dia [...].

7. Até à presente data, o Requerente não intentou a competente


acção de impugnação de actos administrativos, com vista à
anulação da deliberação suspendenda, de acordo com o disposto
nos artigos 50.º e seguintes do CPTA.

8. Assim sendo, verifica-se a caducidade da providência cautelar


decretada, nos termos e para os efeitos do artigo 123.º, n.º 1, al. a),
do CPTA, requerendo-se a mesma ser declarada de acordo com o
n.º 3 do referido artigo.

Termos em que se requer a


declaração de caducidade da
providência cautelar decretada,
com as legais consequências.
Para tanto, requer-se a
notificação do Requerente para
responder, nos termos do artigo
123.º, n.º 4, do CPTA seguindo-
se os demais termos.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA., deixando o
verso das folhas em branco.
E.D.
O Advogado,
Requerimento Solicitando Indemnização pelos Danos que, com Dolo
ou Negligência Grosseira, Tenha Causado ao Requerido e aos
Contra-Interessados

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Judicial da Comarca de
[…]

[…], NIPC […], com sede em […],


vem instaurar acção declarativa comum de condenação, sob a
forma do processo […], contra
[…], NIF […], com residência em […],
o que faz ao abrigo do artigo 126.º do Código de Processo nos
Tribunais Administrativos (CPTA) e da alínea b) do n.º 2 do artigo
4.º do Código de Processo Civil (CPC), e com os fundamentos que
se seguem:

I – Objecto da acção e pressupostos

1.º
Em […], o R. solicitou, junto do Tribunal Administrativo e Fiscal
de […], a adopção de uma providência cautelar para atribuição
provisória do terreno sito em […] – cf. Doc. 1 que aqui se junta e
se dá por integralmente reproduzido, assim como os demais
documentos referidos nesta petição inicial.
2.º
Este terreno é, todavia, propriedade do A., conforme melhor
explicitado na oposição que deduziu no mesmo Tribunal, junta
como Doc. 2.
3.º
Certo é que, por decisão datada de […], foi adoptada a referida
providência cautelar, nos termos solicitados pelo R. – cf. Doc. 3.
4.º
Contudo, o R. não intentou a acção principal de que a providência
cautelar era meio instrumental, razão pela qual foi oficiosamente
declarada a caducidade desta.
5.º
A caducidade da providência cautelar foi notificada ao A. em […]
– cf. Doc. 4.
6.º
A mencionada providência cautelar foi solicitada pelo R. com
manifesta ausência de fundamento – facto que o R. bem conhecia
e justificará, aliás, a falta da propositura da acção principal.
7.º
A adopção da providência cautelar causou ao A. prejuízos cujo
ressarcimento constitui objecto da presente acção.
8.º
A acção está em tempo – cf. artigo 126.º, n.º 1, do CPTA.
9.º
As partes são legítimas – artigo 25.º do CPC.
10.º
O Tribunal é competente por ser o do domicílio do R. – artigo 85.º
do CPC.

II – Dos factos
11.º
Como referido, em […], o R. solicitou, junto do Tribunal
Administrativo e Fiscal de […], a adopção de uma providência
cautelar para atribuição provisória do terreno sito em […] (Doc.
1).
12.º
Para tanto, alegou o R. que o referido terreno lhe pertencia por
herança (Doc. 1),
13.º
Atribuindo-lhe, por isso, um forte valor sentimental,
14.º
sendo que, estando o A. na iminência de implementar um projecto
hoteleiro no local,
15.º
o início das obras determinaria «o desvirtuamento irreparável do
relevo paisagístico que o seu ente falecido admirava» e o R. fazia
questão de preservar (Doc. 1).

Todavia, tal alegação era manifestamente desprovida de


fundamento,
16.º
facto que, aliás, o R. bem conhecia.
17.º
Conforme resulta da respectiva caderneta predial, que atesta a
situação factual entretanto “reconstituída” pelo A., o referido
terreno foi, nos idos anos de […], adquirido por […], pessoa
colectiva de direito público à qual o A. sucedeu nos respectivos
direitos e obrigações – cf. Doc. 5 e Doc. 6.
18.º
No âmbito da mencionada providência cautelar, não foi possível
ao A. demonstrar esta sua propriedade na medida em que não
dispunha do respectivo registo predial,
19.º
sendo que, para formalização desse registo, carecia de um
levantamento topográfico do local, justificativo da área do seu
terreno – levantamento que, entretanto, realizou e que instruiu o
registo da (sua) propriedade junto da Conservatória do Registo
Predial de […] (Doc. 5).
20.º
Não obstante, como sublinhado, o R. conhecia a falta de
fundamento da providência cautelar que solicitou já que,
21.º
para instrução da mesma, apresentou um pretenso testamento que,
supostamente, o instituía herdeiro, além do mais, do referido
terreno (cf. Doc. 1 junto ao Doc. 1),
22.º
sendo certo que o referido “testamento” mais não era, afinal, do
que um documento forjado pelo próprio R., conhecido defensor
ambiental,
23.º
no intuito de frustrar o mencionado projecto hoteleiro que o A.
perspectivava implementar no local.
24.º
A verdade é que o R. logrou alcançar os seus propósitos: a
providência cautelar adoptada determinou o afastamento dos
investidores do projecto – cf. carta recebida pelo A. que se junta
como Doc. 7,
25.º
e, na actual conjuntura de crise económica, não se mostra viável a
consecução do projecto nos termos inicialmente delineados.
26.º
Em face do exposto, viu o A. inutilizados os recursos despendidos
e os elementos produzidos na preparação daquele projecto
hoteleiro, num montante total não inferior a […]€, assim
discriminado:
a) Elaboração de estudo de viabilidade económica e
comercial do projecto, no valor de […]€ – cf. Doc. 8;
b) Aquisição dos projectos de execução e arquitectura do
complexo hoteleiro à empresa […], no valor de […]€ – cf.
Doc. 9;
c) […].

III – Do Direito
27.º
Dispõe o n.º 1 do artigo 126.º do CPTA que, no âmbito da
disciplina jurídica das providências cautelares, «O requerente
responde pelos danos que, com dolo ou negligência grosseira,
tenha causado ao requerido (…)».
28.º
Neste sentido, esclarece o n.º 2 do mesmo artigo que, «Quando as
providências cessem por causa diferente da execução de decisão
do processo principal favorável ao requerente, a Administração
ou os terceiros lesados pela sua adopção podem solicitar a
indemnização que lhes seja devida ao abrigo do disposto no
número anterior».
29.º
Como ensinam Mário Aroso de Almeida / Carlos Alberto
Fernandes Cadilha, «[e]m tese geral, a responsabilidade por
danos que se encontra prevista no n.º 1 [do artigo 126.º do CPTA]
pode, designadamente, fundar-se na ocorrência das
circunstâncias que, nos termos do artigo 123.º, podem conduzir à
caducidade das providências cautelares» (cf. Comentário ao
Código de Processo dos Tribunais Administrativos, 2.ª Ed.,
Almedina, 2007, p. 738).
30.º
Acrescentam os mesmos Autores que, «[d]e acordo com o n.º 1,
pressuposto da constituição em responsabilidade é (…) que o
requerente tenha adoptado um comportamento doloso ou
grosseiramente negligente, cometendo graves violações de
deveres de cuidado ou diligência» (idem, ibidem, p. 739).
31.º
Neste contexto, os pressupostos da constituição em
responsabilidade civil «[c]obrem as situações de ocultação
intencional ou deturpação consciente de factos e as de
imprudência ou erro grosseiro na alegação e prova dos factos»
(idem, ibidem, p. 739).
32.º
Assim sendo, no plano dos factos, é manifesto o enquadramento
da enunciada actuação do R. no âmbito da previsão normativa do
artigo 126.º do CPTA,
33.º
bem como é manifesta a verificação dos demais pressupostos da
responsabilidade civil, a saber:
34.º
A ilicitude da actuação do R.;
35.º
A imputação do facto ao R. – a culpa do R., na modalidade de
dolo;
36.º
O dano, correspondente aos prejuízos acima discriminados, no
montante total de […]€,
37.º
O nexo de causalidade entre o facto e o dano.

IV – Do pedido
38.º
Em face do exposto, deve o R. ser condenado a pagar ao A. a
quantia total de […]€, acrescida dos juros legais vincendos até
efectivo e integral pagamento da mesma.

Termos em que deve a presente acção ser julgada


procedente, por provada, e, em consequência, ser o
R. condenado a pagar ao A.:
a) A título de indemnização, a quantia total
de […]€, acrescida dos juros legais
vincendos até efectivo e integral pagamento
da mesma;
b) Custas processuais e procuradoria
condigna.
Para tanto requer-se a citação do R. para
contestar, querendo, seguindo-se os demais
termos.

Valor: […]€ ([…] euros).

Junta:
- Procuração;
- 9 documentos, cujo conteúdo se dá por integralmente
reproduzido sempre que neste requerimento são referidos;
- Comprovativo do pagamento da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos, deixando o verso das folhas em branco – artigo
138.º, n.º 5, do CPC.

O Advogado,
Requerimento de Levantamento de Garantia Bancária Prestada
Decorrido o Prazo para Pedido de Indemnização nos Termos do Art.
126.º

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE […]


Proc. n.º […]

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], Requerente no processo à margem referenciado, vem,


decorrido o prazo previsto no artigo 126.º, n.º 2, do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA), requerer o
levantamento da garantia bancária que oportunamente prestou, o
que faz ao abrigo do disposto no n.º 3 do mesmo preceito legal e
nos seguintes termos:
1.º
Conforme decisão cautelar datada de […], foi decretada a
providência da suspensão de eficácia do acto administrativo
objecto dos presentes autos.
2.º
Neste contexto, e em consequência, em […], o Requerente foi
notificado para prestar garantia bancária, nos termos do artigo
199.º do Código de Procedimento e Processo Tributário,
3.º
o que o Requerente fez, nos termos exigidos, conforme Doc. […]
junto ao requerimento de prestação de caução constante dos autos.
4.º
Sucedeu, porém, que o Requerente não propôs a respectiva acção
principal no prazo legalmente previsto,
facto que originou a caducidade daquela providência cautelar, por
força do disposto no artigo 123.º, n.º 1, alínea a), do CPTA,
5.º
caducidade que foi declarada por este Tribunal, e devidamente
notificada, nos termos do artigo 125.º, n.º1, do CPTA.
6.º
No dia […], cumpriu-se o prazo de um ano a contar da referida
notificação, sem que a entidade Requerida ou os contra-
interessados tivessem deduzido qualquer pedido de indemnização,
ao abrigo do disposto no artigo 126.º, números 1 e 2, do CPTA.
7.º
Assim sendo, verificam-se os pressupostos legais para que seja
deferida a autorização de levantamento da garantia bancária
prestada pelo Requerente – o que aqui se requer.
Termos em que se requer a
V.Exa. se digne autorizar o
levantamento da garantia
bancária prestada pelo
Requerente no âmbito dos
presentes autos, nos termos do
disposto no artigo 126.º, n.º 3,
do CPTA.
Junta: comprovativo da notificação aos Ilustres Mandatários da
Requerida e dos Contra-interessados.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA –
deixando em branco o verso das folhas.

E.D.
O Advogado,
Resolução Fundamentada
(artigo 128.º, n.º 1, do CPTA)

[…], NIF, com residência em […], requereu, no Tribunal


Administrativo e Fiscal de [...], a suspensão da eficácia da
deliberação da Câmara Municipal de [...], datada de […], que
aprovou a operação de loteamento titulada pelo alvará n.º [...],
datado de […], do acto de licenciamento de obras de edificação
titulado pelo alvará n.º [...] e de quaisquer actos de licenciamento
de obras de edificação aprovados ao abrigo do alvará n.º [...],
datado de de […].
Por força do disposto no artigo 128.º, n.º 1, do Código de Processo
nos Tribunais Administrativos (CPTA), tendo a autoridade
administrativa recebido o duplicado daquele requerimento, está a
mesma impedida de iniciar ou prosseguir a execução dos actos.
Assim, o Município de [...], notificado da referida Providência
Cautelar, vem adoptar resolução fundamentada, nos termos e para
os efeitos do disposto no citado preceito legal, com os seguintes
fundamentos:

I – Considerandos:

1. A Requerente é proprietária de uma parcela de terreno integrada


na unidade de gestão [...] do Plano de Pormenor [...] e identificada
na Planta do Modelo de Gestão do Plano com a identificação
cadastral [...].
2. Entende a Requerente, em suma, que a Câmara Municipal de
[...] ao ter licenciado uma operação de loteamento para a unidade
de gestão [...] sem que na mesma tenha sido integrado o seu
prédio, o referido licenciamento:
- Transgrediu a norma constante da alínea [...] do n.º [...] do
artigo [...] do Regulamento do Plano de Pormenor, por não
incluir a totalidade da unidade de gestão;
- Infringiu a norma constante do artigo [...] do mesmo
Regulamento, por não ter sido precedido da celebração de
protocolo com a Requerente e os demais proprietários dos
terrenos abrangidos pela unidade de gestão [...].
3. De acordo com a posição da Requerente, a operação de
loteamento terá transgredido a norma constante da alínea [...] do
n.º […] do artigo […].º do Regulamento do Plano de Pormenor,
por não abranger a totalidade da unidade de gestão, ou seja, na
prática, por não ter integrado, no respectivo projecto, o terreno da
Requerente que, nos termos do Plano de Pormenor se destina a
[...].
4. Com efeito, determina este normativo que:
«[...]».
5. Por sua vez, também o disposto no artigo […].º do mesmo
Regulamento, no entender da Requerente, terá sido violado por a
operação de loteamento não ter sido precedida da celebração de
protocolo com a Requerente e os demais proprietários dos terrenos
abrangidos pela unidade de gestão [...].
6. De acordo com este normativo:
«[...]».
7. No entanto, ao contrário do que pretende a Requerente, a
deliberação é perfeitamente legal.
8. Em primeiro lugar, e antes de mais, a alínea [...] do n.º [...] do
artigo [...].º parece remeter-nos para a lógica das unidades de
execução ― no âmbito das quais se concretizará uma só operação
urbanística, a qual agregará necessariamente os vários
proprietários envolvidos.
9. Não nos parece, apesar de tudo, que seja este o sentido que deva
ser dado ao mencionado artigo. Não só por as unidades de
execução serem uma figura legalmente inexistente à data da
elaboração deste plano - pelo que as unidades de gestão não
podem ser tidas, nem funcionar, como unidades de execução -,
como também porque, se assim fosse, o próprio artigo não teria
sentido, ao determinar não apenas a necessidade de coincidência
das operações de loteamento com a unidade de gestão, mas
também desta coincidência quando em causa esteja um projecto de
construção.
10. Ora, não havendo nenhuma unidade de gestão do Plano de
Pormenor cuja concretização pressuponha a realização de uma
única edificação, o disposto na alínea [...] do n.º [...] do
mencionado artigo [...].º não tem sentido se for lido como o
pretende a Requerente.
11. Assim, se não é verdade que um projecto de construção tenha
de coincidir com a totalidade da unidade de gestão, também com
ela não tem de coincidir necessariamente um projecto de
loteamento.
12. [...]

II – Consequências para o Interesse Público da suspensão


imediata da deliberação:

1. A suspensão das deliberações em causa, mormente, a suspensão


da deliberação da Câmara Municipal de […], de [...], que aprovou
a operação de loteamento titulada pelo alvará n.º [...], de [...], com
a consequente impossibilidade de admitir comunicações prévias e
receber as correspectivas taxas, acarretará grave prejuízo para o
interesse público, como melhor se demonstrará adiante.
2. De facto, conforme demonstrado, a deliberação que aprovou a
operação de loteamento em causa é manifestamente legal.
3. Mas, sem conceder, ainda que assim não se entendesse, e viesse
a ser declarada a nulidade daquele alvará de loteamento, sempre
seria possível à Câmara Municipal emitir novo alvará, com o
mesmo desenho urbanístico, integrando embora a parcela de
terreno da Requerente, sem por isso se verificarem quaisquer
prejuízos irreparáveis para a Requerente.
4. Por outro lado, a Requerente não tem qualquer direito/poder de
alterar o desenho urbanístico, porquanto:
a. a eventual declaração de nulidade ainda que apague o
acto administrativo que licenciou o loteamento, não apaga
o fraccionamento já ocorrido dos terrenos envolvidos,
cujos lotes já se encontram registados e em grande parte já
foram adquiridos por terceiros;
b. as redes de água e esgotos encontram-se ligadas à rede
municipal e em carga;
c. as infra-estruturas eléctricas encontram-se concluídas e
ligadas à rede de iluminação pública, que se encontra em
funcionamento integrando a rede municipal de iluminação;
d. há todo um conjunto de parcelas que já foram cedidas
para espaços verdes, redes viárias (incluindo a cedência de
um terreno para habitação social, cuja construção já foi
iniciada), que integram já por isso o domínio público da
Câmara.
5. Por todas estas razões, a repetir-se o acto de licenciamento do
loteamento destes terrenos, o desenho urbanístico sempre teria que
corresponder ao actual, com a única diferença de ser “aditado” o
terreno da Requerente.
6. Dito por outras palavras, o desenho urbanístico do loteamento
está irreversivelmente condicionado, quer pelas infra-estruturas
que já estão parcialmente terminadas, quer pelas parcelas que já
foram cedidas ao domínio público e às quais a Câmara Municipal
já deu o devido encaminhamento, quer porque muitas das parcelas
foram já adquiridas por terceiros.
7. Por outro lado, ainda que o terreno da Requerente tivesse que
vir a integrar o loteamento em questão, num novo acto de
licenciamento, a mesma não teria assim voz activa no desenho
desse loteamento, porquanto tem, desde logo, uma parcela
infimamente mais pequena ([…]m2) que o contra-interessado [...]
([…]m2). Isto para não falar da existência de lotes que já foram
vendidos e cujos proprietários, com interesses antagónicos aos da
Requerente, teriam de ser chamados a pronunciar-se.
8. Mais, a prevalecer a tese da Requerente, o que, repete-se,
apenas por mera hipótese académica se admite, atenta a
percentagem mínima de área da qual é proprietária e que, por isso,
teria no loteamento, e ainda admitindo que houvesse alguma
necessidade de efectuar uma compensação semelhante à que se
prevê nos mecanismos de perequação, afigura-se manifestamente
desproporcionado paralisar o desenvolvimento normal de toda a
operação de loteamento que envolve um total de […] fogos (até
porque, como já referido, há já lotes que foram adquiridos por
terceiros e cujos interesse têm igualmente de ser acautelados).
9. Esta desproporcionalidade ainda é mais evidente porquanto
ainda que a Requerente viesse a obter ganho de causa, e ainda que
as construções licenciadas já estivessem todas concluídas, é
sempre possível acautelar os seus interesses através da atribuição
de um quantitativo pecuniário. Com efeito, o ressarcimento da
Requerente é perfeitamente alcançado através da atribuição à
mesma de lotes com edificabilidade equiparada à de habitação,
reconvertendo os lotes a que eventualmente tivesse direito num
montante pecuniário.
10. Em suma, se a sua parcela tivesse de vir a ser incluída na
operação de loteamento, o prejuízo da Requerente, no caso de
nessa altura já se encontrarem edificadas as demais construções
entretanto licenciadas (ou admitidas), seria facilmente ressarcido
através da atribuição à mesma de um montante pecuniário
correspondente à capacidade edificativa de que beneficiaria por
ver a sua parcela integrada com as demais da unidade de gestão
[...] num único loteamento.
11. Logo, tratando-se de uma questão de cálculo da edificabilidade
a que teria direito, a Requerente seria facilmente indemnizada.
12. Mas se este prejuízo da Requerente é facilmente limitável e
quantificável, o mesmo não se poderá dizer dos prejuízos que a
suspensão, designadamente, do despacho que licenciou a operação
de loteamento supra identificada, acarretaria para o interesse
público e para os contra-interessados.
13. Com efeito, repete-se, os lotes autorizados pelo alvará n.º [...]
encontram-se registralmente constituídos e estão já executadas,
parcialmente, as obras de urbanização aprovadas.
14. Encontram-se, por isso, nos vários lotes, inúmero material já
instalado que poderá, com a paralisação de todas as operações
urbanísticas, facilmente degradar-se, ou mesmo vir a ser furtado.
15. A suspensão das obras em curso determinará, com certeza, a
degradação dos trabalhos já executados, o que colocará em perigo
a população que circule naquela área.
16. Estando, de entre as obras de urbanização referidas,
executados também já alguns espaços verdes, com a suspensão das
obras ocorrerá por certo ainda a degradação desses espaços.
17. Por outro lado, a suspensão do acto de licenciamento daquela
operação de loteamento em termos que a Câmara Municipal ficará
impedida de deferir quaisquer pedidos de licenciamento ou admitir
comunicações prévias, eliminará qualquer interesse dos
promotores e eventuais compradores dos lotes (com danos
emergentes e lucros cessantes incalculáveis).
18. Os promotores, não obstante a acção de declaração de nulidade
em curso, têm continuado a comprar os lotes resultantes desta
operação de loteamento, confiando na legalidade das deliberações
da Câmara Municipal. Com o presente pedido de suspensão,
ficando congelados quaisquer pedidos de licenciamento ou
admissão de comunicações prévias, a confiança que até agora tem
existido perde-se irreversivelmente, com prejuízos obviamente
gravíssimos para os contra-interessados e para a Câmara
Municipal.
19. No caso dos contra-interessados, perder-se-ia a possibilidade
de concretização de negócios, com prejuízos insusceptíveis de
quantificação.
20. No que concerne ao interesse público, com a publicitação
inevitável da suspensão da eficácia, os promotores privados
deixariam de investir no Município de [...], o que, numa altura em
que se luta desesperadamente contra a paralisação da construção
civil e do investimento privado, significaria ver gorada a
concretização deste loteamento, o qual é, presentemente, um dos
poucos pólos de dinamização do concelho.
21. Estamos a falar de um empreendimento imobiliário que
abrange cerca de 17 hectares com 365 fogos. Trata-se de um
empreendimento localizado numa zona privilegiada do Concelho
de [...] que se pretende de excepção e destinado a emergir como
pólo de atracção ao desenvolvimento, que corre agora o risco de se
transformar numa paisagem desoladora e contrária aos mais
elementares interesses quer urbanísticos quer do desenvolvimento
equilibrado do Concelho.
22. Os prejuízos para os interesses que cabem ao Município
defender seriam, desta forma, insusceptíveis de quantificação, pelo
que constitui interesse público premente evitar tal situação.
23. Isto já para não falar das taxas já recebidas pela Câmara
Municipal no âmbito do loteamento e subsequentes pedidos de
licenciamento ou admissão de comunicações prévias, que o
Município não está em condições de devolver.
24. Acresce a este prejuízo, o que decorre do não recebimento das
taxas que ainda contava receber e que seriam aplicadas em
finalidades de interesse público premente para o Município.
25. Num contexto de grave crise económica e social como o que
atravessamos, em que é deveras difícil captar investimento
privado, seria desastroso para o Município de [...] ver os
investidores actualmente interessados neste loteamento a procurar
outros Municípios limítrofes para implantarem os seus projectos.
26. Seria doravante praticamente impossível, após o conhecimento
por parte dos promotores da decisão de suspensão destas
deliberações, captar investimento privado para o Município de
[...], com repercussões desastrosas para o desenvolvimento e
emprego do concelho.
27. Aliás, a ocorrer a suspensão do acto que licenciou aquela
operação de loteamento, a mesma causaria prejuízos irreversíveis
para o Município porque, como vimos supra, a perder-se o
interesse económico no loteamento, o que inevitavelmente
ocorreria a dar-se a suspensão, todos os prejuízos que adviessem
para contra-interessados e terceiros adquirentes de lotes, teriam
em última análise de ser ressarcidos pelos Município em montante
absolutamente incompatível com o orçamento Camarário. O
Município não está, claramente, em condições de indemnizar
aqueles interessados por todos os prejuízos que decorreriam da
paralisação do loteamento.
28. Conclui-se, assim, que há uma manifesta desproporcionalidade
entre os prejuízos, por um lado, para o Município e contra-
interessados e, por outro, os alegados prejuízos da Requerente,
considerando-se, aliás, além do mais, altamente abusivos os
pedidos de suspensão em causa, quer pela falta de fundamento
quer porque, em última instância, a obter ganho de causa, os
interesses da Requerente podem ser facilmente ressarcidos.

III – Decisão
Em face do exposto, reconheço que o diferimento de execução da
deliberação de [...], que aprovou a operação de loteamento titulada
pelo alvará n.º [...], de [data], do acto de licenciamento de obras de
edificação titulado pelo alvará n.º [...] e de quaisquer actos de
licenciamento de obras de edificação aprovados ao abrigo do
alvará n.º [...], de [data], com o consequente diferimento de
execução das obras de urbanização e suspensão da ligação das
infra-estruturas concluídas às redes gerais seria gravemente
prejudicial para o interesse público.

[…], [--/--/----].

O Presidente da Câmara Municipal de [...]

Despacho proferido devido à urgência na prolação do presente


acto e a não ser possível reunir extraordinariamente a Câmara
Municipal.
Este acto será sujeito a ratificação na primeira reunião de Câmara
a realizar após a sua prática (artigo 68.º, n.º 3, da Lei n.º 169/99,
de 18 de Setembro, na sua actual redacção).

[…], [--/--/----].

O Presidente da Câmara Municipal de [...]


Incidente de Declaração de Ineficácia dos Actos de Execução Indev

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Proc. n.º [...]
[...].ª U. O.

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], Requerente e melhor identificada nos autos à margem


referenciados, tendo sido notificada da junção aos autos da
resolução fundamentada adoptada pelo Requerido, vem requerer a
declaração de ineficácia dos actos de execução indevida, o que faz
nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 128.º, nos 4, 5 e
6, do Código de Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA),
e com os fundamentos seguintes:

1.º
O Requerido adoptou resolução fundamentada, em […], alegando,
em síntese:
a) a suspensão da deliberação da Câmara Municipal da
[…], de [...], que aprovou a operação de loteamento
titulada pelo alvará n.º [...], de [...], com a consequente
impossibilidade de admitir comunicações prévias e receber
as correspectivas taxas, acarretará grave prejuízo para o
interesse público;
b) a deliberação que aprovou a operação de loteamento
em causa é manifestamente legal;
c) ainda que assim não se entendesse, e viesse a ser
declarada a nulidade daquele alvará de loteamento,
sempre seria possível à Câmara Municipal emitir novo
alvará, com o mesmo desenho urbanístico, integrando
embora a parcela de terreno da Requerente, sem por isso
se verificarem quaisquer prejuízos irreparáveis para a
Requerente;
d) o desenho urbanístico do loteamento está
irreversivelmente condicionado, quer pelas infra-
estruturas que já estão parcialmente terminadas, quer
pelas parcelas que já foram cedidas ao domínio público e
às quais a Câmara Municipal já deu o devido
encaminhamento, quer porque muitas das parcelas foram
já adquiridas por terceiros;
e) Mesmo que a Requerente viesse a obter ganho de causa,
o seu ressarcimento é perfeitamente alcançado através da
atribuição à mesma de lotes com edificabilidade
equiparada à de habitação, reconvertendo os lotes a que
eventualmente tivesse direito num montante pecuniário;
f) No que concerne ao interesse público, com a
publicitação inevitável da suspensão da eficácia, os
promotores privados deixariam de investir no Município de
[...], o que, numa altura em que se luta desesperadamente
contra a paralisação da construção civil e do investimento
privado, significaria ver gorada a concretização deste
loteamento, o qual é, presentemente, um dos poucos pólos
de dinamização do concelho;
g) a ocorrer a suspensão do acto que licenciou aquela
operação de loteamento, a mesma causaria prejuízos
irreversíveis para o Município porque, como vimos supra,
a perder-se o interesse económico no loteamento, o que
inevitavelmente ocorreria a dar-se a suspensão, todos os
prejuízos que adviessem para contra-interessados e
terceiros adquirentes de lotes, teriam em última análise de
ser ressarcidos pelos Município em montante
absolutamente incompatível com o orçamento Camarário.
2.º
Salvo o devido respeito, entendemos que não assiste razão ao
Requerido.
3.º
Com efeito, a suspensão da execução das deliberações em causa
não é gravemente prejudicial para o interesse público, como se
procurará demonstrar.
4.º
Antes de mais importa tecer algumas considerações sobre o
regime instituído pelo artigo 128.º do CPTA, no que concerne à
possibilidade de adopção, pela entidade requerida, de uma
resolução fundamentada.

I – Breve enquadramento
5.º
Durante o período de discussão pública que antecedeu a
publicação do CPTA, foi sugerida a adopção de um mecanismo de
suspensão automática da eficácia dos actos administrativos, por
mero efeito da instauração de acção especial para impugnação de
actos administrativos.
6.º
A necessidade de salvaguarda do interesse público e o risco de
incremento da litigância compulsiva dos particulares foram alguns
dos argumentos que levaram o legislador a manter, com pequenas
alterações, o mecanismo da suspensão provisória automática que
já vigorava no âmbito da LPTA (artigo 80.º);
7.º
Dos traços essenciais desse regime, agora recebido no artigo 128.º
do CPTA, destaca-se, em termos gerais, o facto de a autoridade
administrativa requerida, recebido o duplicado do pedido de
suspensão judicial da eficácia de um acto administrativo, ficar
impedida de iniciar ou prosseguir a execução desse acto.
8.º
Este bloqueio automático da execução do acto em causa, por mero
efeito legal, pode ser neutralizado se a autoridade administrativa
reconhecer, em resolução fundamentada, que o deferimento da
execução seria gravemente prejudicial para o interesse público.
9.º
O direito reconhecido, à autoridade administrativa, de promover a
execução imediata, por motivos de urgência grave, apesar de já
estar requerida a suspensão no Tribunal, foi considerado por
Freitas do Amaral, no âmbito da LPTA, uma inovação
«particularmente infeliz».
10.º
Segundo este Autor, se o caso já estava afecto ao Tribunal, «devia
ser o juiz relator [...] a conceder ou a recusar à Administração, a
pedido desta, a faculdade de proceder à execução imediata[1]».
11.º
Ainda para o Autor, tal medida representava uma «nova
modalidade do privilégio da execução prévia, gravosa para os
particulares e desprestigiante para os tribunais[2]».
12.º
Contra esta visão negativa de ver o instituto se pronunciaram
outros Autores, considerando que fazer intervir o Tribunal seria
enxertar um novo incidente na tramitação da suspensão, retirando
o efeito prático da suspensão automática e, por outro lado, do
ponto de vista das garantias dos particulares, a situação pareceria
razoável, uma vez que a lei ressalvava apenas as situações
pontuais em que se verificasse “grave urgência” na prossecução
do interesse público (ver, por todos, Fernanda Maçãs, A Suspensão
Judicial da eficácia dos Actos Administrativos e a Garantia
Constitucional da Tutela Judicial Efectiva, Coimbra Editora,
Coimbra, 1996, pp. 146-147).
13.º
Segundo este modo de ver as coisas, o mecanismo afigurava-se
razoável, uma vez que o objectivo do legislador era fazer
funcionar, em regra, a suspensão automática, por só em casos
excepcionais haver razões de interesse público urgente a exigirem
da Administração a execução imediata dos seus actos.
14.º
Repete-se, só e apenas em situações em que o deferimento da
execução do acto suspendendo seja gravemente prejudicial para o
interesse público se mostra justificado, nos termos do artigo 128.º
do CPTA, o afastamento da regra geral da proibição da execução.
15.º
Trata-se, por conseguinte, de uma regra excepcional, aliás,
absolutamente excepcional, como ficou consignado no Acórdão
do Tribunal Central Administrativo do Norte, proferido em 4 de
Outubro de 2007 (disponível in www.dgsi.pt).
16.º
Só em casos de uma gravidade extrema se deverá lançar mão deste
tipo de resolução, tal como se decidiu no mencionado Acórdão: «a
emissão de uma “resolução fundamentada” por parte da
Administração constitui o exercício duma prerrogativa que
apenas faz sentido ser utilizada na medida em que seja
indispensável para dar resposta a situações de especial
urgência».
17.º
Acontece que, na prática, a proibição da execução não funciona,
uma vez que se assiste por parte da Administração à invocação
sistemática e não fundamentada de que o deferimento da execução
seria gravemente prejudicial para o interesse público,
transformando em regra situações que o legislador ponderou como
excepcionais.
18.º
Na verdade, repete-se, quando o artigo 128.º, n.º 1 (2ª parte), do
CPTA confere à autoridade Requerida a faculdade de reconhecer
que o deferimento da execução seria gravemente prejudicial para o
interesse público, não está a referir-se à invocação genérica do
interesse público que há-de presidir à prática de qualquer acto
administrativo.
19.º
Se assim fosse, a proibição de execução não fazia sentido.
20.º
Do que se trata é de indicar quais as razões que, em concreto,
justificam a execução inadiável do acto administrativo em causa
como forma de evitar grave prejuízo para o interesse público.
21.º
Dito por outras palavras, o que o legislador exige é que a
Administração diga quais as razões de interesse público de tal
modo urgentes que a impedem de aguardar pela prolação da
sentença que julgue a providência para dar execução ao seu acto.
22.º
Ao fazer uso abusivo da resolução fundamentada, a Administração
consegue esvaziar por completo a garantia que o legislador quis
instituir de tutela da própria suspensão, com repercussões
negativas no direito à tutela judicial efectiva dos cidadãos.
23.º
E é este o caso, precisamente, nos presentes autos.
24.º
Obviamente que, ao executar os actos cuja suspensão se requer, o
Município o faz convicto de que existem razões de interesse
público subjacentes a essa actuação.
25.º
São essas razões que indica para fundamentar a adopção da
resolução fundamentada.
26.º
Aliás, caso contrário, seria admitir uma actuação da
Administração à margem da obrigação de prossecução do
interesse público que sobre a mesma sempre impende.
27.º
Mas, saliente-se, o prejuízo para o interesse público tem que ser
um prejuízo qualificado – um prejuízo extremamente grave.
28.º
Mais, o diferimento da execução tem que ser gravemente
prejudicial para o interesse público, e não para os contra-
interessados ou quaisquer terceiros.

II – Do caso concreto
29.º
No caso dos autos, sublinha-se, a resolução fundamentada não
contém a indicação de quaisquer razões de interesse público
premente que exijam a execução imediata das deliberações
suspendendas, sob pena de prejuízo grave.
30.º
Com efeito, [...].
31.º
Nestes termos, afigura-se manifesta a falta de fundamentação da
“resolução fundamentada” apresentada pelo Requerido,
32.º
pelo que se requer seja declarada a ineficácia de todos os actos de
execução indevida.
33.º
Entre os quais as comunicações prévias, às quais foram atribuídas
os números de Processo n.º [...] e [...], respeitantes aos lotes [...] e
[...] – cf. Docs. 1 e 2 que ora se juntam e se dão aqui por
integralmente reproduzidos para os devidos e legais efeitos.

Termos em que se requer:


a) que seja considerada improcedente a
resolução fundamentada;
b) que seja declarada a ineficácia dos
actos de execução indevida indicados
acima no artigo 33.º, bem como dos
demais praticados indevidamente ao
abrigo dos actos suspendendos, desde
[…] até à presente data.

Junta:
- 2 documentos, assim identificados:
- Doc. 1 – cópia do requerimento de comunicação prévia
com o n.º [...];
- Doc. 2 – cópia do requerimento de comunicação prévia
com o n.º [...]; e
- comprovativo da notificação ao Ilustre Mandatário do
Requerido.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA, deixando o
verso das folhas em branco.

E.D.
O Advogado,

[1] Cf. Freitas do Amaral, Direito Administrativo, Lisboa, 1988, vol. IV,
pp. 321-322.
[2] Idem.
Resposta ao Incidente de Declaração de Ineficácia dos Actos de
Execução Indevida

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE […]


Proc. n.º […]

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

Instituto Politécnico […], Requerido nos autos à margem


referenciados, notificado do douto despacho para se pronunciar
sobre o incidente de declaração de ineficácia de acto de execução
indevida constante do requerimento de fls., vem fazê-lo, ao abrigo
do disposto no artigo 128.º, n.º 6, do Código de Processo nos
Tribunais Administrativos (CPTA), dizendo o seguinte:

1.º
Pede o Sindicato Requerente «(…) a declaração de ineficácia do
acto eleitoral para o Conselho Técnico-Científico realizado no
Instituto Superior […] em […] do corrente ano».
2.º
Pensa-se que não assiste ao Requerente qualquer razão.
3.º
Em primeiro lugar, sublinha-se que o invocado acto eleitoral
(melhor, os resultados do acto eleitoral) de execução indevida só
será eficaz após a respectiva homologação pelo Presidente do
Instituto Politécnico – nos termos do disposto no artigo […] dos
respectivos Estatutos (homologados por despacho normativo n.º
[…]/2012, DR, 2.ª Série, de […], a páginas […] e seguintes),
4.º
Sendo que, na verdade, não foi (ainda) praticado aquele acto de
homologação.
5.º
Em segundo lugar, é, no mínimo, discutível que a realização do
referido acto eleitoral seja um acto de execução do acto
suspendendo que é, recorde-se, o Despacho do Presidente do
Instituto Politécnico que homologou os Estatutos do Instituto
Superior […].
6.º
É certo que é um acto que, temporalmente, é praticadona
sequência daquela homologação mas não é, salvo melhor
entendimento, um acto que lhe dê execução.
7.º
Em terceiro lugar, embora se aceite que a citação na providência
cautelar ocorreu na manhã do dia em que se realizou o referido
acto eleitoral,
8.º
Facto é que a mesma não foi recebida pelo Presidente ou por quem
tenha competência para o substituir ou decidir, inclusive nos
termos e para os efeitos previstos no artigo 128.º, n.º 1, do CPTA,
9.º
Mas sim pelos Serviços da Recepção do Instituto.
10.º
Aliás, se, consabidamente, a lei estabelece uma regra geral de
proibição de a autoridade administrativa iniciar ou continuar a
execução do acto (cf. artigo 128.º, n.º 1, do CPTA), certo é que
prevê igualmente o poder/dever de proferir a resolução
fundamentada prevista nessa mesma norma, fixando-lhe para o
efeito um prazo de 15 dias.
11.º
Neste sentido, o referido prazo de 15 dias (numa providência
cautelar, por natureza urgente) não pode deixar de significar que é
necessária a intervenção da autoridade administrativa (e não de
um qualquer funcionário ou agente) para ponderar da
conveniência ou não da resolução fundamentada e para tomar a
decisão de não iniciar ou não prosseguir com a execução do acto
suspendendo.
12.º
A este propósito, sublinhe-se que o próprio requerimento a que ora
se responde foi apresentado no passado dia […], quando estavam
apenas decorridos 5 dias do referido prazo de 15 para a autoridade
administrativa poder emitir a resolução fundamentada.
13.º
Em suma, no entender do Requerido, o presente requerimento de
declaração de ineficácia do acto eleitoral não deve proceder
porquanto:
a) O acto eleitoral não consubstancia um acto de execução
do acto suspendendo;
b) Ainda que assim não se entendesse – o que apenas por
mero dever de patrocínio se admite e sem conceder –, facto
é que os resultados de tal acto eleitoral (cuja declaração de
ineficácia se requer) são, em si mesmo, ineficazes até
serem homologados pelo Presidente do Instituto
Politécnico;
c) Acresce, a autoridade administrativa não recebeu (nos
termos legais, na pessoa do seu Presidente) a citação no
referido dia […] (uma vez que nem sequer se encontrava
no Instituto nesse dia);
d) Em qualquer caso, certo é que o Requerido ainda se
encontra, na presente data, em prazo (de 15 dias) para
emitir a resolução fundamentada, o que determina,
necessariamente, a improcedência do requerimento a que
se responde (apresentado quando estavam apenas
decorridos 5 dias do referido prazo de 15).

Termos em que o pedido de declaração


de ineficácia formulado deve ser
julgado improcedente, além do mais,
porque o acto em causa nem é acto de
execução (do acto suspendendo), nem é
eficaz (no ordenamento jurídico).

Junta: comprovativo da notificação ao Exmo. Mandatário da


Requerente.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA –
deixando em branco o verso das folhas.

E.D.
O Advogado,
Requerimento Dirigido à Entidade Administrativa para Extensão dos
Efeitos de Sentença

Exmo. Senhor
Presidente do Conselho de Administração do [...]

[…], NIF, com residência em [...], vem, nos termos e para os


efeitos do artigo 161.º do Código de Processo nos Tribunais
Administrativos (CPTA), expor e requerer a V. Exa. o seguinte:

1. Por sentenças já transitadas em julgado de [...], [...], [...],


[...] e [...] proferidas no âmbito dos processos n..º [...], [...],
[...], [...] e [...], que correram termos no Tribunais [...], [...],
[...], [...] e [...], respectivamente, foi decidido reconhecer o
direito à aposentação dos A., sem a redução prevista no
artigo 37.º-A do Estatuto da Aposentação (cf. certidões que
se junta como Docs. 1 a 5);
2. Estes processos, como certamente será do conhecimento
de V. Exa., foram intentados contra esta mesma Entidade;
3. Os pressupostos do pedido de aposentação apresentado
pelo Requerente em […] são idênticos aos dos pedidos dos
AA. nos processos identificados no número anterior – cf.
pedido de aposentação que se junta como Doc. 6;
4. Não existe, em relação ao Requerente, sentença
transitada em julgado que tenha decidido esta sua
pretensão;
5. A pretensão do Requerente não afecta direitos de
terceiros, pelo que não existem contra-interessados para os
efeitos do n.º 5 do artigo 161.º do CPTA;
6. Em face do exposto, estão verificados os pressupostos
previstos pelo artigo 161.º do CPTA para a extensão, ao
caso, dos efeitos das referidas sentenças.

Termos em que se requer a V. Exa.


se digne deferir a extensão de efeitos
da sentença de [...], proferida no
âmbito do processo n.º [...], que
correu termos no Tribunal [...].

Junta: 6 documentos e procuração forense.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

E.D.
O Advogado,
Requerimento Dirigido ao Tribunal da Extensão dos Efeitos da
Sentença e Execução em seu Favor

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal Administrativo e Fiscal
de [...]

[…], NIF […], com residência em [...],


vem requerer a extensão de efeitos de sentença proferida neste
Tribunal em [...], no âmbito do processo n.º [...], já transitada em
julgado, contra
[…], NIPC […],com sede em [...],
o que faz nos termos e para os efeitos do artigo 161.º do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os
fundamentos seguintes:

1. Por sentenças já transitadas em julgado de [...], [...], [...], [...] e


[...] proferidas no âmbito dos processos n.º [...], [...], [...], [...] e
[...], que correram termos no Tribunais [...], [...], [...], [...] e [...],
respectivamente, foi decidido reconhecer o direito à aposentação
dos A., sem a redução prevista no artigo 37.º-A do Estatuto da
Aposentação – cf. certidões que se juntam como Docs. 1 a 5;

2. Estes processos foram intentados contra o Requerido (cf. Docs.


1 a 5);

3. Os pressupostos do pedido de aposentação apresentado pelo


Requerente em […] são idênticos aos dos pedidos dos AA. nos
processos acima identificados– cf. pedido de aposentação que se
junta como Doc. 6
4. Não existe, em relação ao Requerente, sentença transitada em
julgado que tenha decidido esta sua pretensão

5. A pretensão do Requerente não afecta direitos de terceiros,


pelo que não existem contra-interessados para os efeitos do n.º 5
do artigo 161.º do CPTA;

6. O Requerente, em [...], requereu a extensão de efeitos da


sentença melhor identificada no preâmbulo desta petição;

7. Todavia, até ao momento, não obteve qualquer decisão do


Requerido sobre essa pretensão;

8. Encontram-se, desta forma, verificados os pressupostos


exigidos pelos n.ºs 1, 4 e 5 do artigo 161.º do CPTA para a
extensão, ao caso, dos efeitos da referida sentença;

9. A pretensão do Requerente não afecta direitos de terceiros, pelo


que não existem contra-interessados para os efeitos do n.º 5 do
artigo 161.º do CPTA.

Termos em que se requer V. Exa.


determine a produção dos efeitos da
sentença mencionada em epígrafe na
esfera jurídica do Requerente, com as
devidas e legais consequências.
Para tanto, requer-se a notificação do
Requerido para contestar, querendo, nos
termos do artigo 177.º, n.º 1, ex vi, do
artigo 161.º, n.º 4, ambos do CPTA,
seguindo-se os demais termos.

Valor: [...]€ ([…] euros).


Junta: 6 documentos, procuração e comprovativo do pagamento da
taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

E.D.
O Advogado,
Petição Inicial de Execução de Sentença com Pedido de Declaração
de Nulidade dos Actos Desconformes com a Sentença, Bem como a
Anulação daqueles que Mantenham, sem Fundamento Válido, a
Situação Ilegal

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal Administrativo e Fiscal
de [...]

[…], NIF [...], com residência em [...],


vem instaurar processo de execução de sentença de providência
cautelar de suspensão de acto administrativo, contra a
[…], NIPC […], com sede em [...],
o que faz nos termos e com os fundamentos seguintes:

1. O A., no âmbito do processo disciplinar n.º […], da Entidade


Executada foi condenado, por decisão de […], numa sanção
disciplinar de 100 (cem) dias de suspensão de exercício de
funções.

2. Por douta sentença deste Tribunal, datada de […], proferida no


processo n.º [...], transitada em julgado, foi deferida parcialmente
a pretensão do Exequente e, em consequência, suspensa a eficácia
da decisão sindicada, até à decisão final da acção principal,
relativamente à perda de remuneração – cf. Doc. 1 que se junta e
se dá por integralmente reproduzido, assim como os demais
documentos referidos nesta petição.
3. Conforme resulta da douta Decisão cautelar, o Tribunal
fundamentou a suspensão decretada após ter concluído que,
«não se tendo provado a existência de outros
rendimentos de que o requerente possa dispor no
período de suspensão do exercício de funções, nem
que tenha possibilidade de os obter, forçoso é
concluir que a perda da sua remuneração, durante
o período de suspensão do exercício de funções, é
susceptível de causar prejuízos de difícil reparação
ao Requerente e ao seu agregado familiar».

4. Mais se considerou a douta Sentença que


«a execução imediata da deliberação suspendenda,
no que respeita ao efeito da perda de remuneração,
põe em risco a satisfação das necessidades básicas
do Requerente e do seu agregado familiar, sendo
susceptível de lhe causar prejuízos de difícil
reparação, pelo que se verifica o requisito do
periculum in mora».

5. Sucede, porém, que, até à presente data, a Executada não pagou


à Exequente os montantes respeitantes às remunerações dos meses
de [...] e de […],

6. tendo apenas procedido ao pagamento dos montantes relativos


às prestações do sistema de protecção social, nos termos do artigo
11.º, n.º 3, do Estatuto Disciplinar dos Trabalhadores que Exercem
Funções Públicas.

7. Em face desta falta de pagamento, o Exequente interpelou a


Executada para que lhe fossem paga a sua remuneração integral e
assim ser cumprida a douta Sentença cautelar (cf. Doc. 2 que se
junta).
8. No entanto, a Executada indeferiu este pedido do Exequente
com fundamento na inaplicabilidade do entendimento da douta
Sentença ao caso concreto (cf. Doc. 3 que se junta).

9. Ora, tendo a douta sentença ordenado a suspensão de eficácia


da decisão final da Executada na parte relativa à remuneração,
pensa-se ser evidente (menos, pelos vistos, para a Executada) que
deviam ter sido pagas ao Exequente as referidas quantias em falta.

10. Pelo exposto, os actos de processamento de vencimentos do


Exequente acima descritos (que abrangem apenas as prestações
relativas ao sistema de protecção social) e o acto de indeferimento
do pedido apresentado pelo Exequente (no sentido do pagamento
integral da sua remuneração) afiguram-se nulos nos termos e para
os efeitos do artigo 158.º, n.º 2, do CPTA e 133.º, n.º 2, alínea h),
do Código de Procedimento Administrativo.

Termos em que se requer:


1) A declaração de nulidade
dos actos praticados em
desconformidade com a douta
Sentença transitada em
julgado, nos termos e para os
efeitos do artigo 179.º, n.º 2,
do CPTA; e
2) A condenação da entidade
Executada na restituição ao
Exequente da quantia
respeitante à remuneração base
dos meses de [...] e de [...], no
valor total de [...]€ ([…]
euros).

Valor: […]€ ([…] euros).


Junta: 3 documentos e comprovativo do pagamento da taxa de
justiça inicial.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
com procuração na providência cautelar,

Oposição à Execução

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE […]


Proc. n.º […]/2012
Execução de sentença

OPONDO-SE
ao pedido de
execução de
sentença
requerido nos
autos, diz o
Executado […]:

I – Do pedido
1.º
Pede a Exequente a final da sua, aliás douta, petição a procedência
da acção executiva e, em consequência, que se reconheça que:
«1) Devem os Executados proceder à demolição de
tudo quanto foi edificado no sobredito lote […], bem
como à remoção dos entulhos daí resultantes para
outro local;
2) Mais devem os titulares dos órgãos incumbidos da
execução iniciar as operações em causa no prazo
máximo de 3 meses, finalizando-as no prazo total e
máximo de 6 meses, devendo ainda ser-lhes imposta
sanção pecuniária compulsória, com todas as
consequências legais».
2.º
Em síntese, para fundamentar os pedidos que formula, alega a
Exequente, além do mais, o seguinte:
a) «O Tribunal, em sede de recurso contencioso de
anulação, declarou a nulidade “da deliberação da
Câmara Municipal de […] com o n.º […], tomada
em reunião de […], e do despacho do Sr. Vereador
[…] da Câmara Municipal de […], datado de […]”;
b) Aqueles actos foram declarados nulos por falta de
atribuições e por a competência ser irrenunciável e
inalienável;
c) As autoridades administrativas nada fizeram para
repor a legalidade ofendida;
d) As construções actualmente existentes no lote […]
não são legalizáveis;
e) Os actos e operações a realizar consubstanciam-
se na demolição de tudo quanto foi edificado no lote
[…] e na remoção dos entulhos daí resultantes».
3.º
Pensa-se que não assiste à Exequente qualquer razão, como se
procura demonstrar de seguida.

II – Do direito

II.I Da extemporaneidade do pedido de execução de sentença


4.º
A Exequente vem, em execução da sentença que declarou a
nulidade quer da deliberação n.º […], da Câmara Municipal de
[…], quer do despacho do Senhor Vereador da Câmara Municipal
de […], que licenciou a obra em causa nos autos, requerer a
condenação dos Executados a procederem à demolição de tudo
quanto foi edificado no sobredito lote […].
5.º
A sentença em causa foi notificada à Exequente em […].
6.º
Sem conceder, ficcionando-se que lhes caberia praticar o acto de
demolição, os Executados dispunham do prazo de três meses para
o efeito, contado do trânsito em julgado da sentença – cf. n.º 1 do
artigo 160.º e n.º 1 do artigo 175.º, ambos do CPTA.
7.º
Ou seja, até dia […].
8.º
Por sua vez, ainda sem conceder e nesse mesmo sentido, a
Exequente – na circunstância de a Administração não dar
execução à sentença de anulação, o que se alega ser o caso dos
presentes autos – deveria apresentar a petição de execução daquela
sentença no prazo de seis meses contado do termo do
prazoprevisto no referido n.º 1 do artigo 175.º (cf. n.º 2 do artigo
176.º do CPTA).
9.º
Neste enquadramento, o prazo para intentar a presente execução
terminou no dia […].
10.º
Resulta dos autos que a petição deu entrada neste Tribunal no dia
[…],
11.º
pelo que a presente execução deve considerar-se intempestiva e,
por conseguinte, serem os Executados absolvidos da instância.

Por mera cautela de patrocínio, acrescenta-se o seguinte:

II.II Da falta de título executivo


12.º
Dispõe o n.º 1 do artigo 173.º do CPTA, sob a epígrafe dever de
executar, o seguinte:
«Sem prejuízo do eventual poder de praticar novo
acto administrativo, no respeito pelos limites ditados
pela autoridade do caso julgado, a anulação de um
acto administrativo constitui a Administração no
dever de reconstituir a situação que existiria se o
acto anulado não tivesse sido praticado, bem como
de dar cumprimento aos deveres que não tenha
cumprido com fundamento no acto entretanto
anulados, por referência à situação jurídica e de
facto existente no momento em que deveria ter
actuado».
13.º
De acordo com este preceito, «uma vez anulado (ou declarado
nulo ou inexistente) um acto administrativo sem que o tribunal
tenha sido chamado, no âmbito do próprio processo
impugnatório, a pronunciar-se sobre os aspectos complementares
a que se refere o artigo 47.º, n.º 2, nem por isso a Administração
deixa de ficar constituída no dever de extrair as devidas
consequências da pronúncia emitida pelo tribunal» (cf. Almeida,
Mário Aroso / Cadilha, Carlos Alberto Fernandes, Comentário ao
Código de Processo nos Tribunais Administrativos, 2.ª edição,
Almedina, 2007, p. 983).
14.º
Acrescentam estes Autores que «[d]iz-se tradicionalmente que a
Administração fica constituída no dever de executar a sentença de
anulação, querendo, com isso, dizer-se que ela fica constituída no
dever de dar corpo à modificação operada pela sentença,
praticando os actos jurídicos e realizando as operações materiais
necessários para colocar a situação, tanto no plano do Direito,
como no plano dos factos, em conformidade com a modificação
introduzida»(cf. idem, ibidem, p. 983).
15.º
Destarte, independentemente de o pedido de declaração de
nulidade não ter sido cumulado com um dos pedidos constantes
das várias alíneas do n.º 2 do artigo 47.º do CPTA, tal não
significa que a Administração, em caso de declaração de nulidade
de um acto por si praticado, não tenha de adoptar os actos
jurídicos ou realizar as operações materiais necessárias para
colocar a situação em conformidade com a modificação
introduzida pela sentença declarativa.
16.º
No entanto, e reportando-nos ao caso dos autos, a decisão de
declaração de nulidade dos actos acima referidos no artigo 4.º
desta oposição não constitui título suficiente para legitimar o
pedido de demolição das várias fracções propriedade dos contra-
interessados.
Senão vejamos.
17.º
Da douta sentença exequenda não decorre que o acto jurídico
necessário para colocar a situação em conformidade com a
modificação (declaração de nulidade, designadamente, do acto que
licenciou a construção em causa) introduzida seja a
demoliçãodeste prédio.
18.º
E isto porquanto, desde logo, quer a deliberação n.º […], da
Câmara Municipal de […], quer o despacho do Senhor Vereador
da Câmara Municipal de […], foram declarados nulos, conforme
afirma a própria Exequente na sua execução (cf. artigo […].º da
petição), por falta de atribuições e por a competência para o
licenciamento ser irrenunciável e inalienável.
19.º
Assim sendo, em momento algum do processo declarativo foi
apreciada, num plano material, a validade do acto de
licenciamento.
20.º
Tanto mais que a entidade que poderia ter validamente licenciado
a obra em causa – a saber, a Câmara Municipal de […] – nunca se
pronunciou sobre tal pedido,
21.º
razão também pela qual não ficou provado nos autos que o imóvel
em causa seja insusceptível de ser licenciado,
22.º
não sendo suficiente para o efeito, nesta sede, a junção aos autos
de uma mera informação de um técnico, totalmente
descontextualizada da situação dos autos.
23.º
Ora, dispõe o artigo 106.º do Regime Jurídico da Urbanização e
Edificação, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de
Dezembro:
«1 - O presidente da câmara municipal pode
igualmente, quando for caso disso, ordenar a
demolição total ou parcial da obra ou a reposição do
terreno nas condições em que se encontrava antes da
data de início das obras ou trabalhos fixando um
prazo para o efeito.
2 - A demolição pode ser evitada se a obra for
susceptível de ser licenciada ou objecto de
comunicação prévia ou se for possível assegurar a sua
conformidade com as disposições legais e
regulamentares que lhe são aplicáveis mediante a
realização de trabalhos de correcção ou de
alteração».
24.º
Ou seja, nos termos do disposto neste preceito, a demolição «é um
acto de ultima ratio, que apenas deve ser utilizado quando se
revele o único meio passível de repor a legalidade urbanística
(princípio da proporcionalidade)» (cf. Fernanda Paula Oliveira /
Maria José Castanheira Neves / Dulce Lopes / Fernanda Maçãs,
Regime Jurídico da Urbanização e Edificação, Comentado, 2.ª
Edição, Almedina, 2009, p. 564).
25.º
Com efeito, «[p]or homenagem ao princípio da
proporcionalidade, só depois de concluída a apreciação sobre a
viabilidade ou inviabilidade da pretensão de legalização é que
poderá lançar-se mão do procedimento de demolição» (idem,
ibidem, p. 565).
26.º
Resulta, assim, do exposto, que nunca da douta Sentença que
declarou a nulidade dos actos referidos se pode concluir pela
obrigatoriedade, por parte dos aqui Executados, de ordenarem a
demolição do edifício em questão.
27.º
Muito menos essa obrigação poderá ser imposta à Câmara
Municipal de […]: tendo sido decidido que a mesma não tem
competência para licenciar a operação urbanística em causa,
também não terá, por maioria de razão, competência para ordenar
a sua demolição.
28.º
A demolição é a última das medidas de tutela a que a
Administração deverá recorrer para reposição da legalidade
urbanística, apenas devendo ser ordenada quando todas as outras
medidas se revelarem infrutíferas,
29.º
pelo que, sublinha-se, nunca esta medida poderia decorrer, sem
mais, da douta Sentença que declarou a nulidade daquela
deliberação e daquele despacho, com fundamento, além do mais,
nos vícios invocados.
30.º
Pelo exposto, expressamente se contestam – na sua globalidade,
ou por não corresponderem à verdade, ou por deles não ser
possível retirar o efeito jurídico pretendido pela Exequente – os
factos articulados no douto requerimento, bem como o efeito
pretendido em face do documento […] junto com o mesmo
articulado,
31.º
com excepção dos constantes nos artigos […].º a […].º, que se
aceitam, com as legais consequências.

Nestes termos, deve a excepção


de extemporaneidade ser
julgada procedente e os
Executados absolvidos da
instância; quando assim se não
entendesse, deveria a presente
execução de sentença ser
declarada improcedente, por
não provada, com as legais
consequências.

Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo)

Junta: […] documentos, procuração e comprovativo de pagamento


da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Petição Inicial de Execução de Sentença para Pagamento de Quantia
Certa Solicitando o Pagamento, por Dotação Orçamental Inscrita à
Ordem do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e
Fiscais

Exmo. Senhor
Dr. Juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal
de [...]

[…], NIF […], com residência em [...],


vem instaurar processo de execução para pagamento de quantia
certa contra
[…], NIPC […], com sede em [...],
o que faz nos termos do artigo 170.º do Código de Processo nos
Tribunais Administrativos (CPTA) e com os fundamentos
seguintes:

1. Em [...], o Executado foi condenado no pagamento da quantia


de [...]€ ([…] euros), na sequência da sua reintegração na posição
remuneratória 7 da tabela de remunerações única, com efeitos
retroactivos à data de […], conforme douta Sentença datada de
[…], proferida no âmbito do processo n.º [...], que correu termos
neste Tribunal, e cuja certidão se junta como Doc. 1 e se dá por
integralmente reproduzida, assim como os demais documentos
referidos nesta petição inicial.

2. O Executado foi ainda condenado a pagar os respectivos juros


desde a citação até efectivo e integral pagamento, juros esses que,
na data em que se intenta a presente acção executiva, se
quantificam em [...]€ ([…] euros).

3. O Executado não recorreu da referida douta Sentença, que


assim transitou em julgado em […].

4. Sucede, porém, que o Executado não deu cumprimento àquela


douta Sentença no prazo voluntário de 30 dias estabelecido para o
efeito no artigo 170.º, n.º 1, do CPTA,

5. mesmo após diversas interpelações nesse sentido, feitas pelo


Exequente em [...], [...] e [...], cf. Docs. 2 a 4 que se juntam,

6. sendo certo que não existem factos supervenientes,


modificativos ou extintivos, que impeçam este pagamento.

Termos em que se requer:


a) A condenação do Executado
no pagamento da dívida no
montante de […]€, acrescida
de juros desde a data da
citação da acção declarativa
até efectivo e integral
pagamento; e
b) Caso o Executado não tenha
verba ou cabimento
orçamental para o
cumprimento da obrigação, o
pagamento da dívida por conta
da dotação orçamental inscrita
à Ordem do Conselho Superior
dos Tribunais Administrativos
e Fiscais, nos termos do artigo
172.º, n.º 3, ex vi do artigo
170.º, n.º 2, alínea b), ambos
do CPTA, com as devidas e
legais consequências.

Valor: [...]€ ([…] euros).

Junta: 4 documentos, procuração e comprovativo do pagamento da


taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Requerimento para dar Seguimento à Execução nos Termos do
Regulado na Lei Processual Civil, Quando Haja Insuficiência de
Dotação Orçamental

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE […]


Proc. n.º [...]

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], Exequente e melhor identificado nos autos à margem


referenciados, tendo sido notificado da insuficiência de dotação
orçamental à ordem do Conselho Superior dos Tribunais
Administrativos e Fiscais para pagamento do seu crédito, nos
termos e para os efeitos do artigo 172.º, n.º 8, do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA), e sem prejuízo
do ofício dirigido pelo Senhor Presidente daquele Conselho aos
Senhores Presidente da Assembleia da República e Primeiro
Ministro para que se promova a abertura de créditos
extraordinários, de acordo com o n.º 7 do referido artigo, vem
requerer a V. Exa. se digne dar seguimento à execução tal como
ela se encontra regulada nos termos da lei processual civil,
juntando, para o efeito, respectivo requerimento executivo, no
qual, além do mais, se indiciam os bens que devem ser penhorados
e vendidos para o efeito.
Junta: requerimento executivo.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA.

E.D.
O Advogado,
Petição Inicial de Execução de Sentença de Anulação de Acto
Administrativo

Exmo. Senhor Dr. Juiz do


Tribunal Administrativo e
Fiscal de [...]

[…], NIF [...], com residência em [...],


vem instaurar processo de execução de sentença de anulação de
acto administrativo contra
[…], NIPC […], com sede em [...],
o que faz nos termos do artigo 173.º e seguintes do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os
fundamentos seguintes:
1. Por douta Sentença deste Tribunal, datada de […], proferida no
processo n.º [...], transitada em julgado, foi deferida a pretensão do
Exequente e, em consequência, anulada a decisão de homologação
da lista unitária de decisão final tomada no âmbito do concurso
aberto por aviso n.º [...], publicada no Diário da República, 2.ª
Série, de […], sendo, nesse sentido, o Executado condenado a
ordenar o Exequente em primeiro lugar naquele concurso, com as
devidas e legais consequências (cf. Doc. 1 que se junta e se dá por
integralmente reproduzido, assim como os demais documentos
referidos nesta petição inicial).

2. Em […], decorridos três meses sem que o Executado tivesse


espontaneamente cumprido a douta Sentença, o Exequente
interpelou-o para tomada daquela decisão e, assim, ser o
Exequente nomeado para o respectivo lugar, cf. Doc. 2 que se
junta.

3. No entanto, até à presente data, a Executada nada disse e nada


fez a este respeito,

4. sendo certo que não existe qualquer causa legítima de


inexecução da sentença anulatória.

Termos em que se requer, na


sequência da decisão anulatória do
acto de homologação da lista
unitária de ordenação final, a
condenação da entidade executada:
1) Na homologação de nova
lista unitária de ordenação
final com o Exequente
ordenado em primeiro lugar; e
2) Na celebração de contrato
de trabalho em funções
públicas na carreira de [...].
Mais se requer a fixação de um
prazo para que o Executado
cumpra a condenação, bem como a
imposição de uma sanção
pecuniária compulsória, nos
termos do artigo 169.º do CPTA,
por cada dia de incumprimento
para além do prazo judicialmente
fixado.

Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo).

Junta: 2 documentos e comprovativo do pagamento da taxa de


justiça inicial.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
com procuração no processo declarativo,
Requerimento de Fixação de Indemnização Pelos Danos Sofridos
Pelos Beneficiários dos Actos Consequentes Praticados há Mais de
um Ano que Desconheciam sem Culpa a Precariedade da sua
Situação

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Proc. n.º [...]
[...].ª U. O.

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], NIF [...], com residência em [...], vem – na sequência da


douta sentença, datada de […], que anulou o acto de adjudicação
da proposta apresentada pela contra-interessada […] no âmbito do
concurso público objecto dos autos, em que o R. foi entidade
adjudicante – requerer o pagamento de indemnização pelos danos
sofridos em consequência dessa anulação, o que faz nos termos e
para os efeitos do disposto no artigo 173.º, n.º 3.º, do CPTA, e
com os fundamentos seguintes:

1. Em […], o A. veio pedir a este Tribunal a anulação do acto de


adjudicação da proposta apresentada pela contra-interessada […],
no âmbito do concurso público n.º [...], objecto dos autos, por esse
acto padecer de vícios de diversa natureza.

2. Em [...], foi proferida sentença, já transitada em julgado,


reconhecendo a procedência parcial dos vícios suscitados e
anulando o acto sindicado.

3. Sucede que, em […], na sequência daquela adjudicação, o R. e


a contra-interessada celebraram o contrato visado pelo referido
procedimento concursal, nos termos do qual esta se obrigou a
prestar àquele os serviços respeitantes à concepção de uma base de
dados informática – cf. cópia do contrato que se junta como Doc.
1 e se dá por integralmente reproduzido, assim como os demais
documentos referidos neste requerimento.

4. Por sua vez, para a prestação desses serviços, assim


contratualizados, a contra-interessada tinha já encomendado ao ora
Requerente o fornecimento do necessário material informático,
aliás, conforme previsto nas peças do procedimento e
expressamente resulta da proposta adjudicada, pelo valor total de
[...]€ – cf. cópia da nota de encomenda que se junta como Doc. 2.

5. Esta encomenda é datada de [...], portanto, há mais de um ano a


contar da anulação do acto adjudicatório sindicado nos presentes
autos.

6. Em consequência, tendo em vista assegurar o pontual


cumprimento do contrato celebrado entre o R. e a contra-
interessada, o Requerente adquiriu de imediato o material que lhe
foi encomendado, asseverando o respectivo depósito até à
solicitação de entrega por parte da contra-interessada – cf. factura
nº […] que se junta por fotocópia como Doc. 3,

7. solicitação esta que se frustrou, em face da mencionada


anulação do acto de adjudicação e do contrato subsequente (cf.
artigo 283.º do Código dos Contratos Púbicos).

8. Ora, o Requerente desconhecia em absoluto e sem culpa que o


acto de adjudicação padecia dos vícios que lhe foram imputados.

9. Por isso, confiou legitimamente que a encomenda que lhe foi


endereçada pela contra-interessada […], nos estritos termos em
que esta se antevia na proposta adjudicada, iria seguir os seus
trâmites normais, razão pela qual adquiriu e manteve em depósito
o referido material informático.

10. Ou seja, porque desconhecia a invalidade do acto de


adjudicação, o Requerente confiou que iria auferia os rendimentos
decorrentes do fornecimento do material que perspectivava
formalizar com a contra-interessada, em correspondência com
aquela nota de encomenda.

11. Consubstanciando esta nota de encomenda (e o contrato que a


formalizaria) um acto consequente do acto de adjudicação agora
anulado, o Requerente tem direito, nos termos do disposto no n.º 3
do artigo 173.º do CPTA, a ser ressarcido pelos danos causados
por essa anulação, os quais ascendem ao montante de [...]€,

12. montante este constituído por […]€ a título de danos


emergentes, materializados no custo directo do investimento que o
Requerente fez para assegurar o cumprimento dos compromissos
por si assumidos junto da contra-interessada, nos termos da
proposta a esta adjudicada (cf. facturas que se juntam como Docs.
4 a 10),
13. bem como por [….]€ a título de lucros cessantes, que
correspondem à diferença entre o custo do investimento feito e o
valor que iria ser pago pelo material informático a adquirir pela
contra-interessada,

14. deduzindo-se, na quantificação destes danos, o montante de


[…]€, valor pelo qual o Requerente conseguiu (re)vender o
referido material, ainda que a preços consideravelmente inferiores
ao acordado com a contra-interessada, pois, decorrido mais de um
ano após a celebração do contrato, é do conhecimento geral que o
material informático se torna obsoleto e de valor diminuto.

Nestes termos, deverá o R. ser


condenado a pagar ao Requerente:
a) o montante de [...]€ a título de
indemnização pelos danos sofridos
em consequência da anulação do acto
de adjudicação sindicado nos
presentes autos;
b) bem como os juros vincendos
desde a citação até efectivo e integral
pagamento daquela indemnização.

Junta: 10 documentos, procuração e comprovativo do pagamento


da taxa de justiça.
Na elaboração do presente documento foram usados meios
informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
Requerimento de Trabalhador que Exerce Funções Públicas ou de
Funcionário no Sentido de lhe ser Reconhecido o Direito a ser
Provido em Lugar de Categoria Igual ou Equivalente àquela em que
Deveria ser Colocado (no Caso de Existência de Terceiros
Interessados na Manutenção de Situações Incompatíveis,
Constituídas em Seu Favor Por Acto Administrativo Praticado há
Mais de um Ano)

Exmo. Senhor Dr. Juiz do


Tribunal Administrativo e Fiscal de [...]

[…], NIF [...], com residência em [...],


vem instaurar processo de execução contra
[…], NIPC […], com sede em [...],
o que faz nos termos do artigo 173..º e seguintes do Código de
Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) nos termos e com
os fundamentos seguintes:

1. Por douta Sentença deste Tribunal, datada de […], proferida no


processo n.º [...] e transitada em julgado, foi deferida a pretensão
do Exequente e, em consequência, anulada a decisão de
homologação da lista unitária de decisão final proferida no âmbito
do concurso aberto por aviso n.º [...], publicada no Diário da
República, 2.ª Série, de […], sendo, nesse sentido, o Executado
condenado a ordenar o Exequente em primeiro lugar naquele
concurso, com as devidas e legais consequências (cf. Doc. 1 que
se junta e se dá por integralmente reproduzido, assim como os
demais documentos referidos nesta petição inicial).

2. Em [...], o Exequente interpelou o Executado para que este


tomasse aquela decisão, nomeando-o para o respectivo lugar (cf.
Doc. 2 que se junta).

3. No entanto, o Executado indeferiu o pedido apresentado pelo


Exequente com fundamento no facto de, entretanto, ter sido
nomeado outro candidato para o referido lugar, constituindo este
acto de nomeação, para efeitos do artigo 141.º do Código de
Procedimento Administrativo (CPA), um acto administrativo
constitutivo de direitos (cf. Doc. 3 que se junta).

4. Sucede, porém, que esta decisão não teve em conta o disposto


no n.º 4 do artigo 173.º do CPTA, preceito segundo o qual,
«quando à reintegração ou recolocação de um funcionário que
tenha obtido a anulação de um acto administrativo se oponha a
existência de terceiros interessados na manutenção de situações
incompatíveis, constituídas em seu favor por acto administrativo
praticado há mais de um ano, o funcionário que obteve a
anulação tem direito a ser provido em lugar de categoria igual ou
equivalente àquela em que deveria ser colocado, ou, não sendo
isso possível, à primeira vaga que venha a surgir na categoria
correspondente, exercendo transitoriamente funções fora do
quadro até à integração neste».

5. Neste contexto, pensa-se que o argumento utilizado pela


Entidade Executada para indeferir o pedido do Exequente não tem
fundamento, sendo certo que, por violar a douta Sentença
transitada em julgado, é nulo, nos termos e para os efeitos do
artigo 158.º, n.º 2, e 179.º, n.º 2, ambos do CPTA, e 133.º, n.º 2,
alínea h), do Código de Procedimento Administrativo.

Termos em que se requer:


1) A declaração de nulidade do
acto praticados em
desconformidade com a douta
sentença transitada em
julgado, nos termos e para os
efeitos do artigo 179.º, n.º 2,
do CPTA; e
2) A condenação da entidade
executada no provimento do
Exequente no lugar de
categoria igual ou equivalente
àquela em que deveria ser
colocado, ou, não sendo isso
possível, à primeira vaga que
venha a surgir na categoria
correspondente, exercendo
transitoriamente funções fora
do quadro até à integração
neste, nos termos do artigo
173.º, n.º 4, do CPTA.

Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo).


Junta: 3 documentos e comprovativo do pagamento da taxa de
justiça inicial.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA,
deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,
com procuração no processo declarativo,
Petição Inicial de Execução de Actos Administrativos Inimpugnáveis

Exmo. Senhor Dr. Juiz do


Tribunal Administrativo e Fiscal de […]

[…], NIF […], com residência em […],


vem instaurar processo de execução contra
[…], NIPC […], com sede em […],
o que faz nos termos do artigo 157.º, n.º 3, do Código de Processo
nos Tribunais Administrativos (CPTA) e com os fundamentos
seguintes:

1. Em […], o Presidente do Conselho de Administração do


Executado proferiu decisão de homologação da lista unitária de
ordenação final no âmbito do concurso aberto por aviso n.º [...],
publicada no Diário da República, 2.ª Série, de […] (cf. Doc. 1
que se junta e se dá por integralmente reproduzido, assim como os
demais documentos referidos nesta petição inicial).

2. O Exequente foi ordenado em primeiro lugar na referida lista


(cf. Doc. 1 já junto).

3. Sucede, porém, que, decorrido mais de um ano sobre a


publicação da referida homologação, o Exequente ainda não
celebrou contrato de trabalho em funções públicas objecto do
referido concurso,

4. mesmo após diversas interpelações do Executado para o feito,


em […], […] e […] (cf. Docs. 2 a 4 que se juntam).
5. Ora, tendo já decorrido aquele prazo de um ano – durante o qual
o Ministério Público poderia ter impugnado o acto administrativo
de homologação da lista unitária de ordenação final, nos termos do
artigo 141.º do Código de Procedimento Administrativo –, o acto
sub judice é inimpugnável.

6. Nessa medida, constitui título executivo, nos termos e para os


efeitos do artigo 157.º, n.º 2, do CPTA, pois, conforme sublinham
Mário Aroso de Almeida e Carlos Alberto Fernandes Cadilha
(Comentário ao Código de Processo nos Tribunais
Administrativos, 2.ª Edição Revista, Almedina, Coimbra, 2007, p.
904), «trata-se de acrescentar ao elenco dos títulos executivos que
resulta da lei geral, um tipo específico que dele não consta».

Termos em que se requer a


condenação da Executada na
celebração com o Exequente de
contrato de trabalho em funções
públicas, na sequência da
homologação da lista unitária de
ordenação final no âmbito do
concurso aberto por aviso n.º [...],
publicada no Diário da República,
2.ª Série, de […], com as devidas e
legais consequências.

Valor: 30.000,01€ [trinta mil euros e um cêntimo].

Junta: 4 documentos, procuração e comprovativo do pagamento da


taxa de justiça,

O Advogado,

 
Recurso de Apelação

Tribunal Administrativo e Fiscal de […]


Proc. n.º […]

Exmo. Senhor Dr. Juiz,

[…], R. nos autos à margem referenciados, notificado da douta


sentença de fls., que condenou o R. parcialmente no pedido, e não
se conformando com a mesma, dela vem interpor recurso de
apelação para o Tribunal Central Administrativo […].
Nos termos do artigo 144.º, n.º 2, do CPTA, juntam-se em anexo
as alegações.

Requer, assim, se digne V. Exa. admitir o recurso, com efeito


suspensivo e subida nos próprios autos, seguindo-se os demais
termos.

Junta as alegações, comprovativo da notificação ao Exmo.


Mandatário da A. e do pagamento da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA –
deixando em branco o verso das folhas.
E.D.
O Advogado,


Tribunal Administrativo e Fiscal de […]
Proc. n.º […]

Em
alegações
, diz o
Recorren
te […]:

Excelentíssimos Senhores Juízes Desembargadores


do Tribunal Central Administrativo […]

Vem o presente recurso interposto da douta Sentença do Tribunal


Administrativo e Fiscal de […] que julgou a acção parcialmente
procedente e, em consequência, decidiu condenar o Recorrente a
pagar ao A., ora Recorrido:
(i) «a quantia que vier a ser liquidada a título de valor de mercado
de cada um dos veículos, à data de Janeiro de 2005»,
(ii)«a quantia que vier a ser liquidada a título de deslocações
realizadas pelo Autor ao Município de […] [ora Recorrente], para
recuperar os veículos» e
(iii)os «juros de mora peticionados sobre as quantias referidas nos
pontos anteriores, à taxa legal, desde a data da citação até efectivo
e integral pagamento».

Salvo o devido respeito, pensa-se que o Tribunal a quo (A)


condena o Recorrente em objecto diverso do pedido, (B) faz uma
incorrecta aplicação dos pressupostos da responsabilidade civil
extra-contratual e (C) remete para execução de sentença a
liquidação de supostos danos que tinham de ser provados na fase
declarativa do processo e não foram.
É o que de seguida se procurará demonstrar.

A – Da condenação em objecto diverso do pedido

Conforme referido, o Tribunal a quo, na douta Sentença recorrida,


decidiu condenar o Recorrente no pagamento da «quantia que vier
a ser liquidada a título de deslocações do Autor ao Município de
[…], para recuperar os veículos» objecto dos autos.
Pensa-se que, ao fazê-lo, incorre em dois vícios: por um lado,
condena em objecto diverso do pedido; por outro lado, e sem
conceder, remete para liquidação de Sentença, sem fundamento, a
fixação de supostos danos que não são alegados e, menos ainda,
demonstrados pelo Recorrido.
Vejamos.

No âmbito dos presentes autos, e de acordo com a sua, aliás, douta


p.i., pede o Recorrido que o Recorrente seja condenado a pagar-
lhe
«(…) a quantia de 7.448,00 euros, sendo:
a) 3.476,00 (três mil quatrocentos e setenta e seis
euros), de danos patrimoniais sofridos, referentes à
viatura marca Fiat, apurados até à data, com o
acréscimo dos juros legais;
b) 1.472,00 (mil quatrocentos e setenta e dois euros), de
danos patrimoniais sofridos, referentes à viatura marca
Saab, apurados até à data, com o acréscimo dos juros
legais;
c) 2.500,00 (dois mil e quinhentos euros), de danos
morais, sofridos até ao presente, com o acréscimo dos
juros legais;
(…) [acrescido] de custas e procuradoria».

Assim, ao contrário do que – pensa-se, por manifesto lapso – foi


decidido pela douta Sentença recorrida, parece inequívoco que do
pedido formulado pelo Recorrido não consta o de condenação no
pagamento de quantias por si supostamente despendidas em
«deslocações (…) ao Município de […]».

É, pois, evidente, ao menos no entender do Recorrente, que a


douta Sentença recorrida extravasa o que foi pedido, enfermando
de uma pronúncia e condenação ultra petitum.

A inobservância, pelo Tribunal a quo, da natureza imperativa dos


limites da condenação estabelecidos no n.º 1 do artigo 661.º do
CPC gera a nulidade da douta Sentença proferida, de acordo com
o estatuído na alínea e) do n.º 1 do artigo 668.º do CPC, aplicável
por remissão do artigo 1.º do CPTA – aliás, conforme
entendimento da jurisprudência consolidada nesta matéria[1].

Por outro lado, e sem conceder,

Acresce que a douta Sentença recorrida condena – a título de


«deslocações [do Recorrido] (…) ao Município de […]» – no
pagamento da «quantia que vier a ser liquidada», assim remetendo
para liquidação de Sentença, sem fundamento que se vislumbre
(cf. previsão da norma constante no n.º 2 do artigo 661.º do CPC),
a fixação de uma quantia que, todavia, nem o Recorrido alega,
nem, menos ainda, demonstra nos autos [nem, sublinhe-se, esta
constitui matéria de facto relevante para a decisão da causa –
conforme matéria seleccionada, relevada a referência insípida
constante do facto Q) dos factos provados].

B – Da ausência dos pressupostos da responsabilidade civil


extra-contratual

Sumariamente, no caso dos autos, conforme douta Sentença


recorrida, o Tribunal a quo conclui que
«Encontram-se preenchidos os pressupostos da
responsabilidade civil extracontratual: ilicitude (venda
dos dois veículos para sucata dentro do prazo concedido
ao Autor para os levantar); culpa (reconduzida à
actuação negligente) dano (privação dos dois veículos e
deslocações ao Município de […] com vista a recuperá-
los) e nexo de causalidade entre o facto ilícito e o dano
(a privação dos veículos e as deslocações ao
Municípiodevem-se à actuação dos serviços
municipais)»
– Cf. pág. […] da douta Sentença recorrida
(sublinhado pelo signatário).

Designadamente, assume o Tribunal a quo – e daí infere a


verificação dos exigidos pressupostos da responsabilidade – que o
Recorrente
«(…) praticou um acto material ilícito, ao vender, em
Dezembro de 2004, o veículo de marca Fiat, cor branca,
matrícula AX-22-22, do ano de 1957, e o veículo da
marca Saab, cor vermelha, matrícula BX-33-33,
construíd[o] no ano de 1975, para a sucata, tendo
comunicado ao Autor, por ofício de 30.12.2004, que os
podia levantar até 31.01.2005»
– Cf. pág. […] da douta Sentença recorrida
(sublinhado pelo signatário).
Este alegado «acto material ilícito» pressupõe, no entender do
Tribunal a quo, que o Recorrente
«(…) em finais de Dezembro de 2004, (…) culminou o
processo de venda de sucata, em que se incluíam as
viaturas do Autor, em 28.12.2004, subscrevendo um
ofício a permitir o levantamento, por aquele, das
referidas viaturas até 31.1.2005».
– Cf. pág. […] da douta Sentença recorrida
(sublinhado pelo signatário).

Neste enquadramento, e em síntese, considerou o Tribunal a quo –


no entender do Recorrente, sem fundamento – que o Recorrente,
em finais de 2004, vendeu para sucata «viaturas do Autor», ora
Recorrido (ainda neste sentido, [cf. al. L) dos factos provados]),
depois de comunicar-lhe a possibilidade de as referidas viaturas
poderem ser “levantadas” até 31.01.2005.

Ora, pensa-se que, quanto ao suposto facto ilícito, a douta


Sentença recorrida incorre em evidente erro nos pressupostos de
facto – erro que, em consequência, determina a improcedência dos
demais pressupostos da responsabilidade civil, conforme esta vem
imputada ao Recorrente.
Na verdade, ao contrário do que se assume na douta Sentença
recorrida, o Recorrente não alienou para a sucata quaisquer
veículos do Recorrido; pelo contrário, alienou veículos de que era
pleno proprietário, adquiridos por ocupação, em consequência de
o Recorrido os ter abandonado.

Este facto resulta, aliás, reconhecido na douta Sentença recorrida –


cf. excerto que aqui se transcreve:
«O que ficou provado nos autos, de acordo com a al F)
do probatório, foi que o veículo de marca Fiat, cor
branca, matrícula AX-22-22, do ano de 1957, e o veículo
da marca Saab, cor vermelha, matrícula BX-33-33,
construída no ano de 1975, encontravam-se, em estado
de abandono, em 9.1.2004, junto à estrada alcatroada
que atravessa a povoação de […], na berma da estrada.
Constatado este facto pelos serviços do Réu, na
sequência da nota interna mencionada na al F) do
probatório, foi notificado o proprietário inscrito no
registo automóvel, para o domicílio constante do
respectivo registo, para que retirasse os veículos do
local no prazo máximo de 48 horas, sob pena de, não o
fazendo, eles serem removidos pelos competentes
serviços da Câmara Municipal.
O ofício foi devolvido com a indicação de não ter sido
reclamado.
Ainda assim, em 13.2.2004, o Réu removeu as viaturas
com as matrículas AX-22-22 e BX-33-33.
Mas, em 26.2.2004, expediu nova notificação ao
proprietário dos veículos de que os mesmos tinham sido
removidos para os estaleiros da Câmara Municipal e de
que dispunha de um prazo de 45 dias para proceder ao
seu levantamento mediante o pagamento das taxas
devidas, sob pena dos mesmos serem considerados
abandonados e adquiridos, por ocupação, pela
autarquia.
Também este ofício foi devolvido ao remetente e, por
isso, o Réu promoveu a notificação do proprietário dos
veículos através do Edital nº 78/2004, de 22.3.
Ora, do que ficou provado, não resulta que o Réu tenha,
por estes factos, violado o disposto nos arts 170.º, n.º 1,
al d), 171.º 172.º do Código da Estrada».

– Cf. págs. 10 e 11 da douta Sentença recorrida


(sublinhado pelos signatários).

Estabelecem as normas enunciadas na douta Sentença recorrida o


seguinte:
“Artigo 170.º
Bloqueamento e remoção
1 – Podem ser removidos os veículos que se encontram:
(…)
d) Com sinais exteriores de manifesta inutilização do
veículo, nos termos fixados no regulamento;
(…)
Artigo 171.º
Presunção de abandono
1 - Removido o veículo, nos termos do artigo anterior,
deve ser notificado o proprietário, para a residência
constante do respectivo registo, para o levantar no
prazo de 45 dias.
2 - Tendo em vista o estado geral do veículo, se for
previsível um risco de deterioração que possa fazer
recear que o preço obtido em venda em hasta pública
não cubra as despesas decorrentes da remoção e
depósito, o prazo previsto no número anterior é
reduzido a 30 dias.
3 - Os prazos referidos nos números anteriores contam-
se a partir da recepção da notificação ou da sua
afixação nos termos do artigo seguinte.
4 - Se o veículo não for reclamado dentro do prazo
previsto nos números anteriores é considerado
abandonado e adquirido por ocupação pelo Estado ou
pelas autarquias locais.
5 - O veículo é considerado imediatamente abandonado
quando essa for a vontade manifestada expressamente
pelo seu proprietário.
Artigo 172.º
Reclamação de veículos
1 - Da notificação deve constar a indicação do local
para onde o veículo foi removido e, bem assim, que o
proprietário o deve retirar dentro dos prazos referidos
no artigo anterior e após o pagamento das despesas de
remoção e depósito, sob pena de o veículo se considerar
abandonado.
2 – (…).
3 - Não sendo possível proceder à notificação pessoal
por se ignorar a identidade ou a residência do
proprietário do veículo, a notificação deve ser afixada
na câmara municipal da área onde o veículo tiver sido
encontrado ou junto da última residência conhecida do
proprietário, respectivamente.
4 - A entrega do veículo ao reclamante depende da
prestação de caução de valor equivalente às despesas de
remoção e depósito.”
(sublinhado nosso)

Ora, pensa-se que o comportamento do Recorrente, onde se funda


o entendimento que subjaz à douta Sentença recorrida, é
plenamente enquadrado nos dispositivos legais que se invocam –
razão pela qual não se configura a verificação de qualquer dos
pressupostos da responsabilidade civil extracontratual,
designadamente nos termos em que esta lhe vem imputada.

De facto, e em síntese:
a) Considerando a informação que constava dos respectivos
registos automóveis, e como resulta dos factos provados,
em 26.02.2004, o Recorrente notificou o proprietário dos
veículos (i) dando-lhe conta da respectiva remoção para os
estaleiros da Câmara Municipal e (ii) de que dispunha do
prazo de 45 dias para proceder ao seu levantamento,
mediante o pagamento das taxas devidas, sob pena dos
mesmos serem considerados abandonados e adquiridos
pela autarquia [al. L)];
b) Também resulta dos factos provados que o Recorrente
promoveu a notificação do proprietário através do Edital
n.º 78/2004, de 22.03 [al. G)];
c) Portanto, após estas comunicações, dispunha o
Recorrido do referido prazo de 45 dias para reclamar o
levantamento dos veículos;
d) Nunca tendo o Recorrido exercido o direito de reclamar
o levantamento dos veículos, após o decurso do prazo
estabelecido no mencionado n.º 4 do artigo 171.º do
Código da Estrada, os veículos foram considerados
abandonados e foram adquiridos pelo Recorrente, por
ocupação;
e) Ou seja, desde meados de Maio de 2004 que os veículos
pertencem ao Recorrente, por ocupação, de acordo com o
disposto naquela norma legal.

Ainda assim, conforme resulta dos factos provados [als. N) e P)],


apesar de não ter qualquer dever de fazê-lo – pois a propriedade já
se tinha transferido para a sua esfera jurídica –, o Recorrente, em
09.07.2004, através do ofício n.º 4623, acedeu ainda a entregar os
referidos veículos ao Recorrido, quando este, enfim, surgiu a
reclamá-los.
Contudo, nem mesmo nesta situação o Recorrido procedeu ao
levantamento dos veículos dos autos, antes tendo mantido um
absoluto silêncio e inércia durante mais de 5 meses… [facto
provado na al. H)].
Perante o absoluto desinteresse demonstrado pelo Recorrido, e
sendo os veículos propriedade do Recorrente desde meados de
Maio de 2004, parece inequívoco que o Recorrido deles podia
dispor livremente, nos termos que entendesse adequados.

Neste contexto, o acto de venda dos veículos para a sucata,


praticado pelo Recorrente na qualidade de proprietário, constituiu
um mero acto de disposição, plenamente lícito – e não um «acto
material ilícito» como, pensa-se, erroneamente se conclui na douta
Sentença recorrida.
De facto, a ser configurada a prática de um facto ilícito pelo
Recorrente – o que, sem conceder, se admite por mera hipótese –,
esse facto não será, por certo, no entender do Recorrente, o da
venda de quaisquer «viaturas do Autor» (cf. pág. 13 da douta
Sentença recorrida), já que as viaturas em causa eram propriedade
do Recorrente, nos termos do disposto no n.º 4 do artigo 171.º do
Código da Estrada.

Por sua vez, não podendo o acto de venda ser considerado ilegal,
não pode ser estabelecido um nexo causal entre o mesmo e o dano
invocado pelo Recorrido – dano que, da mesma forma, nunca
poderia ser configurado como o do «valor de mercado de cada um
dos veículos, à data de Janeiro de 2005», conforme se decidiu na
douta Sentença recorrida, já que desde muito antes dessa data os
veículos não eram pertença do Recorrido.

Sem prejuízo, e sem conceder, acrescenta-se, por mera cautela de


patrocínio, o seguinte:

Na circunstância – que, extravasando o objecto dos autos, se


admite por mera hipótese e sem conceder – de a ilicitude ser
configurada atendendo a eventuais “expectativas” do Recorrido,
geradas pelo teor do ofício do Recorrente de 30.12.2004 (nos
termos do qual este concede àquele, em momento em que os
veículos já se encontravam em processo de venda para a sucata, a
possibilidade de levantar os veículos até 31.01.2005), na medida
em que o Recorrente assim tenha procedido à alienação dos
veículos antes do decurso do prazo então concedido, dessa forma
violando os princípios da boa fé e da colaboração da
Administração com os particulares e o dever de diligência normal
de um serviço médio, cumpre sublinhar que:
a) Ainda nessa hipótese, o “lapso” dos serviços do
Recorrente – admitindo que o mesmo tenha induzido o
Recorrido em erro, fazendo-o incorrer em supostas
despesas com deslocações ao Município ora Recorrente no
sentido de levantar os veículos quando esse levantamento
já não era possível – não viola qualquer direito de
propriedade do Recorrido, o qual, como sublinhado, já não
existia;
b) Na verdade, esse “lapso” apenas poderia causar, por
hipótese abstracta e sem conceder, um dever de indemnizar
o Recorrido nas quantias que este despendeu nas
deslocações ao Município ora Recorrente para
levantamento dos veículos, induzido em erro quanto a essa
possibilidade;
c) Em qualquer caso, reiterando o que acima se procurou
demonstrar, o Recorrido nem fez prova destes danos, nem
pede o seu ressarcimento, pelo que não poderiam os
mesmos ser-lhe concedidos.

Aliás, acresce, consta do processo administrativo o Ofício n.º 222,


de 18.01.2005, através do qual o Recorrente vem informar o
Recorrido que deve considerar sem efeito o anterior Ofício de
30.12.2004, por o prazo legalmente previsto para levantamento
das viaturas se encontrar largamente ultrapassado (tendo as
mesmas, como é sabido, revertido para o município e vendidas
para a sucata).
Desta forma, em 24.01.2005, quando o Recorrido se terá
deslocado ao Município ora Recorrente a fim de proceder ao
levantamento das viaturas dos autos [cf. al. R) dos factos
provados], já a inutilidade dessa sua diligência era ou deveria ser
do seu conhecimento.

Termos em que, no entender do Recorrente, mesmo na


circunstância de o facto ilícito ser configurado com referência à
suposta violação dos princípios da boa fé, da colaboração da
Administração com os particulares e do dever de diligência
normal do serviço médio, não se verificaria o pressuposto da culpa
– sendo ainda certo que os correspectivos danos, a terem existido,
nem são alegados, nem provados, nem sequer peticionados.

Sem conceder, sublinha-se ainda o seguinte:

Para determinar a verificação de culpa no caso sub judice, não se


poderia atender, tão só, ao comportamento do Recorrente, mas
também, e principalmente, ao comportamento do Recorrido.
Em verdade, conforme salientado, o Recorrido, após a notificação
09.07.2004, manteve-se em silêncio durante mais de 5 meses
(desde esta data até 27.12.2004), sem promover qualquer acto no
sentido de reclamar os veículos – sobre os quais, sublinhe-se, já
não tinha qualquer direito de propriedade, na medida em que a
mesma se transferira para o Município, nos termos do disposto no
n.º 4 do artigo 171.º do Código da Estrada.
Ora, esta inércia do Recorrido, reveladora do seu desinteresse
quanto aos veículos, motivou o Recorrente a promover a
respectiva venda para a sucata, instruindo junto dos serviços o
competente procedimento.
Nestes termos, o Recorrido actuou de forma culposa e contribuiu
determinantemente para a produção dos supostos danos cujo
ressarcimento peticiona, facto que obsta à procedência de qualquer
direito a indemnização. Note-se que «o princípio da concorrência
de culpa do lesado é igualmente aplicável no domínio da
responsabilidade aquiliana decorrente de uma actuação material
ilícita (…)»[2].

Em face de tudo o que se demonstra, pensa-se ser inequívoco que,


no caso dos autos, não estão preenchidos os pressupostos da
responsabilidade civil extracontratual e, como tal, não pode o
Recorrente ser constituído na obrigação de indemnizar o
Recorrido, fundada – nos termos da douta Sentença recorrida – na
venda (ilícita) dos veículos objecto dos autos para a sucata.

C – Da falta de prova dos danos na fase declarativa do


processo

Conforme acima sublinhado, a douta Sentença recorrida decide


condenar o Recorrente a pagar ao Recorrido, além do mais, «a
quantia que vier a ser liquidada a título de valor de mercado de
cada um dos veículos, à data de Janeiro de 2005».
Relevado o enunciado erro sobre os pressupostos de facto quanto à
titularidade dos veículos em causa, pensa-se que a douta Sentença
recorrida, sem fundamento, remete para execução de sentença a
liquidação de supostos danos que, a proceder – o que não se
concede e admite apenas por mera hipótese –, tinham de ser
provados na fase declarativa do processo e não foram.
Ou seja, mesmo na hipótese de ser julgado devido ao Recorrido o
pagamento de uma indemnização pela inutilização dos veículos
dos autos – o que não se admite porque os mesmo não lhe
pertenciam na data dessa inutilização –, certo é que, no entender
do Recorrente, o Recorrido não fez prova do valor desses veículos,
que reclamou a título de indemnização mas não provou, devendo –
na perspectiva e em abono da sua posição processual – tê-lo feito.

Na verdade, sobre esta matéria, reconhece e conclui a douta


Sentença recorrida o seguinte (cf. pág. …):
«(…) o Autornãoalcançou provar o por si alegado
de que os veículos em causa eram antigos, no
sentido de serem peças de colecção, e o Fiat era
uma peça de arte automóvel rara.
(…)
Sucede que o Autor não logrou provar a
quantificação dos valores reclamados, sem prejuízo
do direito que lhe assiste a ser ressarcido por
aqueles que conseguir liquidar em instância
posterior.
Note-se que o Autor nem mesmo logrou provar
quaisquer limites mínimos ou máximos para o
Tribunal determinar o valor da indemnização do
Autor, de acordo com um juízo de equidade, tal
como prevê o art 566º, nº 3 do Código Civil (…).
Termos em que, ao abrigo do disposto no art 661º,
nº 2 do Código de Processo Civil ex vi art 1º do
Código de processo nos Tribunais Administrativos,
o Tribunal apenas poderá condenar o Réu a apagar
ao autor a quantia que vier a ser liquidada a título
de valor de mercado de cada um dos veículos em
Janeiro de 2005 (…)».

Ao menos no entender do Recorrente, parece inequívoco que


incumbia ao Recorrido a prova dos factos constitutivos dos danos
por si alegadamente suportados, conforme se estatuí no n.º 1 do
artigo 342.º do CC.

Assim sendo, havendo (no momento em que é proferida a douta


Sentença recorrida) «elementos para fixar (…) a quantidade» da
condenação (cf. nº 2 do artigo 661.º do CPC), não tendo
simplesmente o Recorrido logrado prová-los, não devia a douta
Sentença recorrida, perante a falta de prova dos danos alegados
mas não provados, conceder (numa segunda fase de instrução do
processo) uma “segunda oportunidade” para prova desses danos,
remetendo a determinação do valor da indemnização para uma
subsequente fase de liquidação – parafraseando a douta Sentença
recorrida (cf. pág. 15), conferindo ao Recorrido o «direito (…) a
ser ressarcido por aqueles [danos] que conseguir liquidar em
instância posterior».
Tal entendimento, pensa-se, viola o disposto no n.º 1 do artigo
342.º do CC e não tem acolhimento no n.º 2 do artigo 661.º do
CPC, conforme âmbito da respectiva previsão normativa – neste
sentido, vide os doutos Acórdãos do STJ de 17.01.95 (Proc. n.º
085801) e de 26.09.95 (Proc. n.º 087244), ambos disponíveis em
www.dgsi.pt.

Sem conceder, e por mera cautela de patrocínio, acrescenta-se


ainda o seguinte:

Na eventualidade de ter sido considerado – pensa-se, sem


fundamento – que do processo não constam elementos necessários
à liquidação do montante da indemnização, o aqui apenas se
admite por mera cautela e dever de patrocínio, pensa-se que o
Tribunal a quo devia ter observado o disposto no n.º 6 do artigo
95.º do CPTA e, em consequência, determinar a abertura de fase
complementar para audição das partes, por 10 dias cada, e
realização de outras diligências para alcançar essa liquidação [3].

Assim não tendo feito, não poderia a douta Sentença recorrida ter
condenado o Recorrente no pagamento de quantia que viesse a ser
liquidada a título de valor de mercado de cada um dos veículos –
ou, sem conceder, sempre deveria ter decidido pela realização de
fase complementar para se apurar o eventual montante da
indemnização.

D – Conclusões

1) O Tribunal a quo, na douta sentença proferida, ao


decidir pela condenação do Recorrente no pagamento da
quantia que vier a ser liquidada a título de deslocações do
Recorrido ao Município de […], condena o Recorrente em
objecto diverso do pedido;
2) De facto, do pedido formulado pelo Recorrido não
consta o da condenação do Recorrente no pagamento das
quantias despendidas com as suas deslocações ao
Município de […], nem se faz prova nos autos das quantias
desembolsadas nestas deslocações;
3) Destarte, a douta sentença extravasa e pronuncia-se
sobre mais do que foi pedido, dando origem a situação de
pronúncia ulta petitum;
4) O comportamento do Recorrente resulta conforme aos
dispositivos legais então em vigor e não se consubstancia
na verificação dos pressupostos da responsabilidade civil
extracontratual;
5) Na verdade, desde meados de Maio de 2004 que os
veículos pertencem ao Recorrente;
6) Logo, o acto de venda destes veículos para a sucata foi
praticado pelo Recorrente na qualidade de proprietário,
sendo um mero acto de disposição – e não qualquer
suposto acto material ilícito;
7) Acresce que o Recorrido actuou de forma negligente e
contribuiu determinantemente para a produção dos danos
que (infundadamente) alega, facto que impede a
subsistência na sua esfera jurídica de qualquer direito a
indemnização e a verificação do pressuposto da culpa do
Recorrente;
8) Aliás, mesmo que se considerem as expectativas do
Recorrido geradas pelo teor do mencionado ofício de
30.12.2004, do Recorrente, tal facto apenas justificaria, em
abstracto, o dever de indemnizar o Recorrido nas quantias
que despendeu nas suas deslocações ao Município ora
Recorrente para levantamento dos veículos, o que o
Recorrido não peticiona;
9) Além disso, o Recorrido apenas alega a verificação de
danos, mas não faz prova da sua existência;
10) Por fim, não sendo ilegal o acto de venda dos imóveis,
não pode ser estabelecido qualquer nexo causal entre esse
suposto acto e o dano invocado pelo Recorrido;
11) O apuramento dos pressupostos do dever de
indemnização ocorre na fase declarativa e não em sede da
fase executiva;
12) Tendo o Recorrido fracassado na prova destes factos na
fase declarativa, não existe possibilidade de recurso à
condenação em execução de Sentença;
13) No limite, devia o Tribunal a quo ter observado o
disposto no n.º 6 do artigo 95.º do CPTA, determinando a
abertura de fase complementar para audição das partes, por
10 dias, e a realização de outras diligências que entendesse
adequadas para alcançar a liquidação.

Termos em que deve ser concedido


provimento ao presente recurso, com as
legais consequências, fazendo-se assim
Justiça!

Na elaboração do presente documento foram usados meios informáticos –


artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA – deixando em branco o verso
das folhas.

O Advogado,
[1] Vide o douto Acórdão do STJ de 26.10.2010 (Proc. n.º
447/2001.C1.S1).
[2] Conforme Carlos Alberto Fernandes Cadilha, Regime da
Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e Demais Entidades
Públicas Anotado, Coimbra Editora, 2008, p. 92.
[3] Neste sentido Mário Aroso de Almeida / Carlos Alberto Fernandes
Cadilha, in Comentário ao Código de Processo nos Tribunais
Administrativos, 3.ª edição revista, Almedina, 2010, pag. 285.
Recurso de Revista

TRIBUNAL CENTRAL ADMINISTRATIVO [...]


Recurso Jurisdicional n.º [...]

Exmo. Senhor
Desembargador Relator

[…], Recorrido nos autos à margem referenciados, notificado do


douto Acórdão de fls. e não se conformando com o mesmo, dele
vem interpor recurso de revista para o Supremo Tribunal
Administrativo, nos termos do artigo 150.º do Código de Processo
nos Tribunais Administrativos (CPTA), juntando, em anexo, as
respectivas alegações.
Requer-se, assim, se dignem V. Exas. admitir o recurso, no efeito
devolutivo, seguindo-se os demais termos.

Junta as alegações, comprovativo da notificação ao Exmo. Jurista


designado em representação da ora Recorrida e comprovativo de
pagamento da taxa de justiça.

Na elaboração do presente documento foram usados meios


informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA.

E.D.
O Advogado,

TRIBUNAL CENTRAL ADMINISTRATIVO [...]
Recurso Jurisdicional n.º [...]

Alegações do Recorrente […]:

Venerandos Juízes Conselheiros


do Supremo Tribunal Administrativo

Vem o presente recurso do douto Acórdão que deu provimento ao


recurso interposto pela [nome da Entidade Administrativa],
revogando a douta Sentença recorrida e, em consequência,
julgando improcedente a acção administrativa especial intentada
pelo ora Recorrente, na qual se pedia a condenação da ora
Recorrida a deferir o seu pedido de aposentação ao abrigo do n.º 1
do artigo 37.º do Estatuto da Aposentação (EA), com a redacção
anterior à da Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro.

Salvo o devido respeito, pensa-se que o Tribunal a quo fez uma


incorrecta aplicação do direito.
É o que, de seguida, se procurará demonstrar.

O presente recurso é interposto ao abrigo do artigo 150.º do


CPTA. Há, assim, (A) previamente, que delimitar, de forma
precisa, o objecto do recurso, para, depois, (B) apurar a
verificação dos pressupostos de admissibilidade do recurso de
revista e, subsequentemente, (C) apresentar as alegações
propriamente ditas, abordando, de forma individualizada, (i) a
questão da nulidade do douto Acórdão, (ii) o erro de julgamento
em que incorre, e, por último, (iii) finalizar com as respectivas
conclusões.

A – Delimitação do objecto: enquadramento

Em primeiro lugar, impõe-se um breve enquadramento da questão


de direito a decidir nos presentes autos.
Assim,
1. A questão central sub judice versa sobre o apuramento do
regime jurídico que rege a aposentação/jubilação dos Magistrados
Judiciais, após a entrada em vigor da Lei n.º 60/2005, de 29 de
Dezembro, e do Decreto-Lei nº 229/2005, da mesma data.
Nos termos do art. 67.º, nº 1, do Estatuto dos Magistrados
Judiciais - EMJ (aprovado pela Lei nº 21/85, de 30 de Julho), “Os
magistrados judiciais que se aposentem por limite de idade,
incapacidade ou nos termos do artigo 37.º do Estatuto da
Aposentação, excluída a aplicação de pena disciplinar, são
considerados jubilados”- destaque nosso.
Até 31 de Dezembro de 2005,nos termos do art. 37.º, n.º 1, do EA,
os requisitos para aposentação pela CGA eram os de o subscritor
ter 60 anos de idade e 36 anos de serviço (aposentação não
antecipada).
Os requisitos apontados eram os estabelecidos em geral para a
aposentação na função pública e, em particular, para os
Magistrados Judiciais, por força da remissão constante do art. 67.º,
n.º 1, do EMJ
Entretanto, para os funcionários públicos, a Lei n.º 60/2005, de 29
de Dezembro (cuja vigência teve o seu início em 01.01.2006),
veio estabelecer mecanismos de convergência do regime de
protecção social na função pública com o regime geral da
segurança social no que respeita às condições de reforma e cálculo
das pensões.
Assim, a partir de 01.01.2006, os novos funcionários públicos e
agentes administrativos passaram a ser inscritos no regime geral
de segurança social, ficando, por conseguinte, abrangidos pelo
regime de reforma dos trabalhadores do sector privado.
Contudo, como “a concretização da convergência não deve,
porém, fazer-se nem à custa do sacrifício das expectativas
daqueles que, no quadro do regime actualmente em vigor, já
reúnem condições para se aposentarem, nem de rupturas
fracturantes (…)” optou-se “(…) antes por um modelo de
transição gradual que aplica aos funcionários, agentes da
Administração Pública e demais servidores do Estado o regime de
pensões do Estatuto da Aposentação, o regime geral de segurança
social ou ambos simultaneamente.
Assim, desde logo, assegura-se aos funcionários que neste
momento poderiam aposentar-se a manutenção do regime que
lhes é aplicável actualmente, independentemente do momento em
que venham a aposentar-se”[1].
Ao invés, “As condições de aposentação dos restantes
funcionários aproximam-se progressivamente das que vigoram
para os trabalhadores do sector privado, elevando-se a idade
legal de aposentação em 6 meses por ano entre 2006 e 2015, mas
mantendo-se durante todo esse período o tempo de serviço
necessário para se requerer a aposentação em 36 anos”[2].

Com a publicação daquela Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, o


art. 37.º do EA, passou a ter o seguinte conteúdo:
Artigo 3º
Condições de aposentação ordinária
1 - A idade de aposentação estabelecida no nº 1 do
artigo 37º do Estatuto da Aposentação, aprovado
pelo Decreto-Lei nº 498/72, de 9 de Dezembro, é
progressivamente aumentada até atingir 65 anos em
2015, nos termos do anexo I.
2 - O tempo de serviço estabelecido no nº 1 do
artigo 37º do Estatuto da Aposentação, de 36 anos, é
progressivamente reduzido até atingir 17 anos em
2014, nos termos do anexo II.
3 - Podem aposentar-se os subscritores que
contenham, pelo menos, 65 anos de idade e o prazo
de garantia em vigor no regime geral da segurança
social.
2. No entender do Recorrente, o preceito acabado de transcrever
não é aplicável aos Magistrados Judiciais, desde logo, porque o
art. 1.º, n.º 2, alínea d), do Decreto-Lei n.º 229/2005, de 29 de
Dezembro, remete para regime especial a desenvolver através da
alteração do Estatuto, como melhor será analisado mais adiante.
Assim sendo, defende o Recorrente que, não se tendo ainda
verificado a alteração a que alude o disposto no artigo 1º, nº 2,
alínea d), do Decreto-Lei nº 229/2005, o regime da
aposentação/jubilação dos Magistrados Judiciais continua a ser o
correspondente à versão da norma do art. 37.º do EA antes da
redacção dada pela Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro.
Este foi, aliás, o entendimento perfilhado pela ora Recorrida no
âmbito do processo n.º […] (que correu termos no Tribunal
Administrativo e Fiscal de …), na sua contestação, vindo defender
precisamente a tese sustentada pelo Recorrente, dizendo,
concretamente:
(…)
“2. Argui o autor a invalidade daquele acto, por vício de
forma, por deficiente fundamentação, e, em qualquer caso,
em vício de violação de lei, por desrespeito das normas
reguladoras da fixação das pensões dos magistrados
judiciais (artigo 68.º, n.º 2, do EMJ).
3. Reanalisado o processo na sequência da citação da
presente Acção, verificou-se, de facto, ter havido lapso na
aplicação da lei ao autor, uma vez que os magistrados
jubilados por limite e idade ou nos termos do artigo 37.º do
EA, que é o caso, independentemente da data de inscrição
na CGA e do momento do preenchimento das condições
para a aposentação da Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro,
mantêm o direito de ver as respectivas pensões de
aposentação calculadas até ao limite máximo de 36 anos
com descontos para a CGA, não, podendo, assim ser-lhes
aplicado qualquer outro divisor no cálculo da respectiva
pensão.
4. Assim, por despacho de 2006.10.31, da Direcção da
Caixa Geral de Aposentações, foi revogado o acto de
2006.06.16, e a pensão que havia sido atribuída ao autor
ao abrigo do artigo 37.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 498/72,
de 31 de Outubro, rectificada de acordo com a lei aplicável
aos magistrados judiciais, com efeitos reportados à data do
despacho que inicialmente lhe ficou a aludida pensão.”

O que levou a que a ora Recorrida tivesse procedido à revogação


do acto administrativo praticado em sentido contrário, com a
consequente extinção da instância por inutilidade superveniente da
lide.
O mesmo aconteceu no âmbito do processo n.º […], que correu
termos no Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada, em que a
Recorrida juntou a rectificação do acto administrativo e requereu
também a extinção da instância por inutilidade superveniente da
lide.
No caso dos presentes autos, a Recorrida alterou o seu
entendimento, sem motivo aparente.
Feito este enquadramento, e ainda antes da análise sobre a
legalidade e bondade dos argumentos invocados pelo Tribunal a
quo no douto Acórdão recorrido, vejamos da verificação dos
pressupostos de admissibilidade do presente recurso.

B – Dos pressupostos de admissibilidade do recurso de revista

Dispõe o artigo 150.º, n.º 1, do CPTA, que “Das decisões


proferidas em 2.ª instância pelo Tribunal Central Administrativo
pode haver, excepcionalmente, revista para o Supremo Tribunal
Administrativo quando esteja em causa a apreciação de uma
questão que, pela sua relevância jurídica ou social, se revista de
importância fundamental ou quando a admissão do recurso seja
claramente necessária para uma melhor aplicação do direito.” –
destaque nosso.
Temos assim dois requisitos alternativos que fundamentam a
interposição deste tipo de recurso.
Vejamos o significado de cada um deles para aferirmos se os
mesmos se verificam no caso em análise.
a) Questão que pela sua relevância jurídica ou social se revista
de importância fundamental
Para ROSENDO DIAS JOSÉ[3], Autor que aqui seguimos de
perto, “O legislador ao permitir o recurso para 3.ª apreciação de
uma causa quando a questão jurídica ou social se revista de
importância fundamental não pode ter deixado de considerar
neste patamar os direitos que a Constituição consagra como
fundamentais, isto é, o núcleo dos direitos liberdades e garantias
do Título II, Parte I, da Const. e os princípios gerais do Título I”
bem como os “direitos cuja importância seja equiparável à dos
direitos fundamentais e aos demais direitos, mesmo os
processuais, desde que preencham os requisitos de elevada
importância jurídica ou social.” – sublinhado nosso.
Como se referiu, no caso em apreço, discute-se o conteúdo do
direito à aposentação/jubilação dos Magistrados Judiciais, no
quadro legal traçado pela Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro.
Ora, a este propósito, deve ser mencionado, em primeiro lugar,
que o direito à aposentação/jubilação se enquadra, rigorosamente,
no âmbito das especificidades que caracterizam o regime jurídico
da categoria profissional dos Magistrados Judiciais, e que desde
sempre encontraram a sua justificação na natureza das funções que
a própria Constituição da República Portuguesa (CRP) comete aos
Tribunais, como órgãos de soberania[4].
Assim, os Magistrados aposentados adquirem o estatuto de
jubilados, segundo o qual “continuam vinculados aos deveres
estatutários e ligados ao tribunal de que faziam parte, gozam dos
títulos, honras regalias e imunidades correspondentes à sua
categoria e podem assistir de traje profissional às cerimónias
solenes que se realizem no referido tribunal, tomando lugar à
direita dos magistrados em serviço activo” (n.º 2, do artigo do
artigo 67.º, do EMJ).
Sobre a especificidade que pauta o estatuto dos magistrados
judiciais, e em segundo lugar, a Procuradoria-Geral da República,
através do Parecer n.º 39/92, votado na sessão do Conselho
Consultivo de 28 de Janeiro de 1993, e invocando a exposição de
motivos da Proposta de Lei n.º 76/III, refere o seguinte:
“com o instituto – criado para os magistrados aposentados
– pretendeu-se, segundo as aludidas propostas, «criar
condições para um diálogo entre gerações, indispensável
ao aprofundamento do pensamento judiciário», apontando-
se, ainda, na do EMJ, a dignificação da carreira, e na da
LOMP, o desenvolvimento da ideia de vitaliciedade (cfr.
pontos 9 e 6 das respectivas exposição de motivos).”
Refere-se, ainda, no aludido Parecer que:
“A sensibilidade ao novo instituto detecta-se nos trabalhos
parlamentares de apreciação da Proposta de Lei n.º 76/III.
Em sintonia com o parecer prévio da subcomissão de
Assuntos Constitucionais, Liberdades e Garantias, o debate
na generalidade também incidiu sobre o novo instituto, dele
se extraindo duas ideias fundamentais: a inaceitação de um
regime, na prática de conteúdo meramente honorífico, e a
necessidade de o preencher para lhe retirar tal
característica. Assim:
- sustentou-se a necessidade de lhe dar «conteúdo
compatível com o respeito devido à alta função
desempenhada», de entender o instituto como «o
reconhecimento da dignidade social do juiz e do sacrifício
por ele deixado ao longo dos anos no exercício da sua
função»
- criticou-se o carácter praticamente honorífico da proposta
de lei, explicitando-se que ou se lhe dava um conteúdo
compatível com o respeito devido à função que os
aposentados haviam desempenhado ou se concluía que o
Estado só tinha consideração por quem tão altamente o
servia enquanto o servisse;
- advogou-se uma melhoria do conteúdo do instituto e
anunciou-se o propósito quanto às Propostas de Lei n.ºs
76/III e 89/III, de, em geral, as melhorar e formulou-se o
voto de que recolhessem melhorias que de todo o modo
salvaguardassem a independência e a dignidade da
magistratura e da justiça.”
Neste enquadramento, a Recorrente considera que a importância
da consagração e definição do direito de aposentação (e respectivo
regime jurídico) dos Magistrados Judiciais, atendendo à sua
inegável relevância jurídica e social, se encontra suficientemente
demonstrada, devendo, por conseguinte, considerar-se preenchido
o primeiro pressuposto de admissibilidade do presente recurso.

b) Necessidade clara de admissão do recurso para uma melhor


aplicação do direito

Se se entender que o pressuposto da relevância jurídica ou social


elencado na alínea anterior não se encontra verificado, o que
apenas por mera hipótese se admite sem conceder, deve
considerar-se verificado o pressuposto de que a admissão do
recurso se prefigura claramente necessária para uma melhor
aplicação do direito.
Nas palavras do já citado autor, ROSENDO DIAS JOSÉ, neste
caso, “podem entrever-se duas vertentes de igual dimensão, uma
tendente à melhoria de concretização de certas normas e outra
onde têm lugar considerandos relacionados com a defesa de
concretas situações subjectivas, porventura flagrantemente
maltratadas pelas decisões antecedentes.”
Assim, continua o Autor dizendo que “a necessidade de melhor
aplicação do direito surge não só quando se possa detectar
injustiça flagrante no caso concreto, mas também sempre que se
encontrem usos ou formas de interpretar a lei ou de a aplicar que
conduzam a indefensão dos direitos ou a deficiências de tutela
efectiva e também no caso de se estar perante um erro grave de
interpretação e aplicação do direito em prejuízo de cidadãos
individualizados ou da prossecução do interesse público.”
Este Autor concretiza, ainda, a necessidade do recurso, dizendo
para o efeito o seguinte: “O recurso será claramente necessário
quando sobre um instituto de aplicação frequente exista uma
dúvida séria e instalada na jurisprudência atinente a aspectos
essenciais das condições de exercício (p. e. prazo) ou sobre o
verdadeiro conteúdo de um direito (p. e. períodos de tempo a
considerar para calcular o montante de uma pensão de
reforma).”
Ora, no caso em apreço, e salvo o devido respeito, a Recorrente
entende que a interpretação da lei vertida no douto Acórdão
recorrido se traduz numa aplicação errada do direito que prejudica,
manifestamente, um grupo de cidadãos individualizados, os
Magistrados Judiciais, e também o próprio interesse público, dada
a importância que estes assumem para o Estado de Direito
democrático.
Se considerarmos que o mesmo Estatuto se aplica também aos
Magistrados do MP mais premente se torna a necessidade de
clarificação deste regime.
Além do mais, este Acórdão vem lançar uma dúvida séria sobre o
verdadeiro conteúdo do direito à aposentação/jubilação dos
Magistrados Judiciais, dúvida esta que deverá ser esclarecida pelo
Supremo Tribunal Administrativo, dado tratar-se, nas palavras do
já citado Autor, de um instituto de aplicação frequente.
Encontrando-se preenchido o segundo pressuposto enunciado em
epígrafe, conclui-se, desta forma, que se encontram verificados
ambos os pressupostos de admissibilidade do recurso de revista
previstos no artigo 150.º, nº1, do CPTA.

C – Das alegações de recurso

I) Da nulidade do douto Acórdão recorrido

O douto Acórdão recorrido não se pronunciou sobre questões


invocadas pelo ora Recorrente, que devia ter apreciado, pelo que
enferma de manifesta nulidade por omissão de pronúncia, nos
termos do artigo 668.º, n.º 1, al. d), do CPC, aplicável ex vi do
artigo 1.º do CPTA.
Senão vejamos,
Em sede de contra-alegações de recurso, o ora Recorrente
defendeu que “poderá até acontecer que, em sede de revisão do
Estatuto dos Magistrados Judiciais, venha a ser acolhido o regime
da Lei n.º 60/2005. No entanto, realce-se, a questão central é que
tem de ser o Estatuto dos Magistrados Judiciais, ou norma
emitida pela AR em matéria reservada, a remeter para a Lei n.º
60/2005 e nunca este diploma a aplicar-se directamente aos
Magistrados Judiciais - por força do princípio da unicidade
estatutária, sufragado pelo Tribunal Constitucional no seu douto
Acórdão n.º 620/2007” (sublinhado nosso) – cfr. conclusão n.º 6
das suas contra-alegações.
Mais defendeu o Recorrente que, “Ainda que assim não se
entendesse, sempre seria de considerar o artigo 1.º, n.º 2, alínea
d), do Decreto-Lei n.º 229/2005 e o artigo 37.º do EA, segundo
redacção dada pela Lei n.º 60/2005, inconstitucionais, segundo a
interpretação da Recorrente, por pretender aplicar aos
Magistrados Judiciais matéria respeitante ao seu estatuto sócio
profissional sem intervenção da respectiva estrutura associativa,
nos termos do artigo 56.º, n.º 2, alínea a), da CRP, por estar em
causa uma mudança de paradigma quanto ao regime da pensão
de reforma/jubilação” – cfr. conclusão n.º 7 das suas contra-
alegações.
No entanto, sobre estes argumentos não se debruçou de todo em
todo o douto Acórdão recorrido.
É assim manifesto que o douto Acórdão recorrido, ao não se
pronunciar sobre questões invocadas pelo ora Recorrente nas suas
contra-alegações e que devia ter apreciado, incorreu numa
nulidade por omissão de pronúncia, nos termos do artigo 668.º, n.º
1, al. d) do CPC, aplicável ex vi do artigo 1.º do CPTA.

II) Do erro de julgamento

a) Da aplicação aos Magistrados Judiciais do artigo 37.º, n.º 1, do


EA, na redacção dada pelo artigo 3.º, n.º 1, da Lei n.º 60/2005, de
29 de Dezembro
O douto Acórdão recorrido, fundamentando o provimento do
recurso interposto pela ora Recorrida, apresentou os seguintes
fundamentos:
“Temos, pois que o EMJ, enquanto lei especial, e no
capítulo da aposentação dos juízes, consagrou como direito
subsidiário o regime comum da função pública relativo à
aposentação. Trata-se, no caso deste artigo 69.º, daquilo
que o eminente Baptista Machado apelida de remissão
intra-sistemática ampla, na medida em que remete, de
forma ampla, para o regime da aposentação da função
pública, dando-lhe uma função integradora subsidiária do
regime especial do EMJ […].
Assim, as normas sobre a aposentação dos juízes
consagradas no EMJ aplicam-se em tudo aquilo que
regulam de uma forma própria e específica, devendo aí
prevalecer sobre o regime comum da função pública [o
artigo 66.º do EMJ, por exemplo, constitui uma norma
especial que arreda a aplicação da regra geral fixada no
artigo 53.º do EA nos casos de cálculo da pensão de
magistrados aposentados ou jubilados por incapacidade].
No demais, porém, aplica-se este regime comum de
aposentação.
Constata-se facilmente que as normas próprias do EMJ
quanto à aposentação dos juízes não fixaram quaisquer
idades específicas de aposentação, ou tempo de serviço,
sendo estes dois pressupostos remetidos, na íntegra, face ao
silencia da lei especial, para o regime comum da função
pública [a idade limite, nomeadamente, será a de 70 anos,
por via do artigo 36.º n.º 2 e 37.º n.º 2 alínea b) do EA, 1.º
do Decreto n.º 16.563 de 02.03.29, e DL n.º127/87 de
17.03].
[...]
Tudo parece indicar, no texto do n.º 1 do artigo 67.º do
EMJ, tendo presente a sua inserção sistemática e a sua
vizinhança normativa, e tendo como fundo a remissão
ampla feita pelo artigo 66.º do mesmo diploma, que o
legislador apenas pretendeu fazer uma remissão para o
artigo 37.º n.º 1 do EA para efeitos e assumir a respectiva
hipótese legal como caso de jubilação […] e não para
integrar, como norma específica do EMJ, a concreta idade
e tempo de serviço nele previstos. Nada parece impor
interpretação diversa, nem a preservação do estatuto
subjectivo dos juízes, nem a garantia da sua independência
e imparcialidade, que em nada saem beliscadas com esta
interpretação. O legislador limitou-se a estipular que
naqueles três casos de aposentação, entre os quais se
contam dois regulados no regime geral da função pública
[a aposentação por limite de idade e a aposentação
voluntária não antecipada], o juiz aposentado se
considerava jubilado, com tudo o que esse estatuto
significa.
Deste jeito, quer no caso de aposentação por limite de
idade, quer no de aposentação por incapacidade, quer no
de aposentação voluntária não antecipada, permitida com
base na simultaneidade de determinada idade e tempo de
serviço [artigo 37.º n.º 1 EA], os magistrados judiciais são
considerados jubilados. É este o sentido interpretativo que,
a nosso ver, deve ser dado ao conteúdo normativo do artigo
67.º n.º 1 do EMJ.
Sendo assim, nada repugna admitir a aplicação aos
magistrados judiciais da alteração feita ao artigo 37.º n.º 1
do EA pelo artigo 3.º n.º 1 da Lei n.º 60/2005 de 29.12
[diploma emanado pela Assembleia da República],
mediante a qual, durante o ano de 2007, era exigível a
idade de 61 anos e não de 60 anos. Pelo contrário, não
obstante a sedutora aplicação da lei efectuada na decisão
judicial recorrida, cremos ser a aqui defendida que se
impõe adoptar e aplicar no caso concreto, por
corresponder, a nosso ver, a uma mais correcta
interpretação da lei.”

Salvo o devido respeito, e no que diz respeito à transcrita


fundamentação o douto Acórdão recorrido enferma de manifesto
erro de julgamento.

1. Assim, esta tese desconsidera a especificidade do estatuto dos


magistrados judiciais, tendendo a aproximá-los de forma
incorrecta aos funcionários públicos.
No entender da Recorrente, o argumento decisivo para a não
aplicação da Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, aos Magistrados
Judiciais decorre, necessariamente, da especificidade do seu
Estatuto.
2. Com efeito, os Magistrados Judiciais integram uma categoria
profissional que goza de especialidades no que toca a esta matéria,
especialidades de regime que desde sempre encontraram a sua
justificação na natureza das funções que a própria CRP comete aos
Tribunais, como órgãos de soberania[5].
É o que se passa com o estatuto de jubilado, segundo o qual os
Magistrados “continuam vinculados aos deveres estatutários e
ligados ao tribunal de que faziam parte, gozam dos títulos, honras
regalias e imunidades correspondentes à sua categoria e podem
assistir de traje profissional às cerimónias solenes que se realizem
no referido tribunal, tomando lugar à direita dos magistrados em
serviço activo” (n.º 2, do artigo do artigo 67.º, do EMJ).
Por outro lado, gozam de direitos especiais, por força do n.º 1, do
artigo 68.º, do EMJ, designadamente os previstos nas alíneas a) a
g), do n.º 1 e n.º 5, do artigo 17.º, do EMJ, e encontram-se
obrigados à reserva exigida pela sua condição.
Ou seja, os Magistrados Judiciais jubilados gozam de um estatuto
especial, caracterizado por um conjunto de direitos e de deveres.
No mesmo sentido, refira-se, a título de exemplo, o que resulta do
regime da aposentação por incapacidade dos magistrados
judiciais[6], que não implica redução da pensão – questão, aliás,
cuja constitucionalidade já foi apreciada pelo Tribunal
Constitucional[7], tendo sido considerado que tal disposição não
viola o disposto nos artigos 13.º[8] e 63.º, n.º 5[9], ambos da CRP.
Refere-se no Parecer da Procuradoria-Geral da República n.º
39/92, votado na sessão do Conselho Consultivo de 28 de Janeiro
de 1993, invocando a exposição de motivos da Proposta de Lei n.º
76/III, o seguinte:
“com o instituto – criado para os magistrados aposentados
– pretendeu-se, segundo as aludidas propostas, «criar
condições para um diálogo entre gerações, indispensável
ao aprofundamento do pensamento judiciário», apontando-
se, ainda, na do EMJ, a dignificação da carreira, e na da
LOMP, o desenvolvimento da ideia de vitaliciedade (cfr.
pontos 9 e 6 das respectivas exposição de motivos).”
Argumenta-se, ainda, neste Parecer que:
“A sensibilidade ao novo instituto detecta-se nos trabalhos
parlamentares de apreciação da Proposta de Lei n.º 76/III.
Em sintonia com o parecer prévio da subcomissão de
Assuntos Constitucionais, Liberdades e Garantias, o debate
na generalidade também incidiu sobre o novo instituto, dele
se extraindo duas ideias fundamentais: ainaceitação de um
regime, na prática de conteúdo meramente honorífico, e a
necessidade de o preencher para lhe retirar tal
característica. Assim:
- sustentou-se a necessidade de lhe dar «conteúdo
compatível com o respeito devido à alta função
desempenhada», de entender o instituto como «o
reconhecimento da dignidade social do juiz e do
sacrifício por ele deixado ao longo dos anos no
exercício da sua função»
- criticou-se o carácter praticamente honorífico da
proposta de lei, explicitando-se que ou se lhe dava
um conteúdo compatível com o respeito devido á
função que os aposentados haviam desempenhado
ou se concluía que o Estado só tinha consideração
por quem tão altamente o servia enquanto o
servisse;
- advogou-se uma melhoria do conteúdo do instituto
e anunciou-se o propósito quanto às Propostas de
Lei n.ºs 76/III e 89/III, de, em geral, as melhorar e
formulou-se o voto de que recolhessem melhorias
que de todo o modo salvaguardassem a
independência e a dignidade da magistratura e da
justiça.”

3. Ainda quanto à especificidade do EMJ, o Tribunal


Constitucional, no seu douto Acórdão n.º 620/2007, de 14 de
Janeiro de 2008, diz o seguinte:
“O estatuto subjectivo dos magistrados está, pois,
indissociavelmente ligado à reserva de jurisdição e
constitui um princípio constitucional material
concretizador do Estado de direito, na medida em que se
destina a garantir a independência e imparcialidade dos
juízes no exercício da função jurisdicional (sobre este
aspecto, Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria
da Constituição, citado, págs. 667-668; Paulo Rangel,
Reserva de jurisdição, citada, pág. 48).
A unicidade de estatuto, tal como está constitucionalmente
consagrada, pressupõe duas características essenciais: (a)
um estatuto unificado, constituído por um complexo de
normas que são apenas aplicáveis aos juízes dos tribunais
judiciais; (b) um estatuto específico, no sentido de que são
as suas disposições, ainda que de natureza remissiva, que
determinam e conformam o respectivo regime jurídico-
funcional.”
(o sublinhado é nosso)
Esta unicidade estatutária impõe que qualquer alteração ao
estatuto (quer formal, quer material – através da alteração de
normas para as quais remete) tenha que ser feita pela Assembleia
da República (AR), em sede da sua reserva absoluta - artigo
164.º, al. m), da CRP.
O que não foi manifestamente o caso, uma vez que a Lei n.º
60/2005, de 29 de Dezembro, foi aprovada no âmbito da sua
reserva relativa, questão que voltaremos a abordar com mais
detalhe adiante. Nesta sequência, significa que o regime jurídico
introduzido pela Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, só poderia
valer para os Magistrados Judiciais depois de remissão expressa
do respectivo Estatuto para o referido diploma, tal como se pode
ler do Acórdão do Tribunal Constitucional, ao contrário do
defendido no douto Acórdão recorrido. Com efeito, a não ser
assim, ficaria manifestamente violada a unicidade estatutária
afirmada pelo Tribunal Constitucional no seu referido douto
Acórdão n.º 620/2007.
É o que se passa com o artigo 37.º do EA, preceito que embora
não esteja incluído no âmbito formal do EMJ, faz parte desse
Estatuto em sentido material, por força da remissão do EMJ para
aquele preceito.

4. Venerandos Conselheiros, é essencialmente aqui que reside, no


entender do Recorrente, o equívoco da tese do douto Acórdão
recorrido.
Alega-se no douto Acórdão recorrido, repete-se, que nem a idade
legal de aposentação, nem o tempo de serviço exigidos para a
generalidade dos subscritores da CGA consubstanciam alterações
legislativas que afrontem ou coloquem em causa as garantias
constitucionalmente consagradas do exercício da actividade
jurisdicional, designadamente os princípios da independência, da
inamovibilidade e da irresponsabilidade.
Ora, na verdade, pode até acontecer que, em sede de revisão do
EMJ, venha a ser acolhido o regime da Lei n.º 60/2005, de 29 de
Dezembro. No entanto, realce-se, a questão central, e sobre a qual,
aliás, e como vimos, o douto Acórdão recorrido não se
pronunciou, é que tem de ser o EMJ, ou uma norma emitida pela
AR em matéria reservada absoluta, a remeter para a Lei n.º
60/2005, de 29 de Dezembro, e nunca este diploma a aplicar-se
directamente aos Magistrados Judiciais. Aqui reside a salvaguarda
da especificidade do EMJ e o princípio da unicidade estatutária,
sufragado pelo Tribunal Constitucional no seu referido douto
Acórdão n.º. 620/2007.

5. Mesmo que assistisse razão ao douto Acórdão recorrido, o que


só por mera hipótese académica se admite, sempre seria de
considerar inconstitucionais o artigo 1.º, n.º 2, alínea d), do
Decreto-Lei n.º 229/2005, de 29 de Dezembro, e o artigo 37.º do
EA, na redacção dada pela Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro,
segundo a interpretação do douto Acórdão recorrido por pretender
aplicar aos Magistrados Judiciais matéria respeitante ao seu
estatuto sócio profissional sem intervenção da respectiva estrutura
Associativa, nos termos do artigo 56.º, n.º 2, alínea a), da CRP.
Com efeito, não podemos deixar de ter em conta que a Lei n.º
60/2005, ao estabelecer mecanismos de convergência do regime
de protecção social da função pública com o regime da segurança
social no que respeita às condições de aposentação e cálculo das
pensões, introduziu um novo paradigma da reforma dos
funcionários públicos. Paradigma que não pode ser transposto sem
mais para os Magistrados Judiciais.

b) Da errónea interpretação e aplicação do artigo 1.º, n.º 2,


alínea d), do Decreto-Lei n.º 229/2005, de 29 de
Dezembro, em conjugação com a Lei n.º 60/2005, de 29 de
Dezembro

Refere-se, ainda, no douto Acórdão recorrido, como fundamento


da procedência do recurso, que:
“Temos para nós que a esta interpretação não obsta o
artigo 1.º n.º 2 alínea b) do DL n.º 229/2005 de 29.12, tão
sublinhado na sentença recorrida. Por um lado, porque a
alteração ao artigo 37.º n.º 1 do EA é feita não por este
diploma, mas pela Lei n.º 60/2005, aplicável à função
pública, cujo regime de aposentação constitui, como vimos,
o direito subsidiário da aposentação dos juízes. Por outro
lado porque os objectivos prosseguidos pela Lei n.º 60/2005
e pelo DL n.º 229/2005, ambos entrados em vigor em
01.01.2006, não são coincidentes, pelo menos da forma
trabalhada na sentença recorrida. Enquanto aquela Lei n.º
60/2005 visou, no que concerne às condições de
aposentação e de cálculo das pensões na função pública,
introduzir mecanismos de convergência com o regime
[geral] da segurança social, o DL n.º 229/2005, embora no
quadro desta busca de convergência, procede à revisão dos
regimes que consagram desvios às regras do EA quanto a
tempo de serviço, idade de aposentação e fórmula de
cálculo e actualização de pensões. Ora, quanto a idade de
aposentação e tempo de serviço não é este o caso do EMJ,
como decorre do que ficou exposto.
Daí que não possamos retirar da exclusão dos juízes,
contida na aliena d) do n.º 2 do artigo 1.º do DL n.º
229/2005, e como fez o tribunal a quo, a conclusão da
inaplicabilidade aos mesmos da alteração feita ao artigo
37.º n.º 1 do EA pelo artigo 3.º n.º 1 da Lei n.º60/2005.”

Ora, também no que diz respeito a este argumento, o douto


Acórdão recorrido incorreu em erro de julgamento, realizando
uma errónea interpretação e aplicação da Lei n.º 60/2005, de 29 de
Dezembro, e do Decreto-Lei n.º 229/2005, de 29 de Dezembro.
Vejamos:

1. Na esteira da especialidade do EMJ, veio o Decreto-Lei n.º


229/2005, de 29 de Dezembro, em simultâneo à aprovação e
publicação da Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, consagrar
desvios às regras previstas nesta última no que concerne a alguns
regimes especiais de subscritores da CGA[10].
Da leitura deste Decreto-Lei n.º 229/2005, de 29 de Dezembro,
maxime, do disposto no seu artigo 1.º, n.º 2, alínea d), verifica-se
que o legislador excluiu do seu âmbito de aplicação, entre outras
categorias profissionais, a dos Juízes, acrescentando que estes
“devem ter os respectivos estatutos adaptados aos princípios do
presente decreto-lei através de legislação própria.”
Ou seja, o legislador, reconhecendo a especificidade de certas
categorias profissionais, entre as quais a da Magistratura Judicial,
exclui-as expressamente do seu âmbito de aplicação, remetendo a
sua regulamentação para os respectivos Estatutos.

Por outro lado, quando o legislador fala no “dever de adaptação


dos estatutos aos princípios do presente decreto-lei”, não pode
deixar de estar a referir-se a todos os parâmetros da pensão de
reforma, tal como constam do n.º 1 do Decreto-Lei n.º 229/2005,
de 29 de Dezembro, ou seja, matéria de tempo de serviço, idade
de aposentação, fórmula de cálculo e actualização de pensões.
E se se pretendesse excluir algum desses parâmetros, tal como a
idade, ou mesmo o tempo de serviço, no seguimento do que
pretende a Caixa Geral de Aposentações, tê-lo-ia dito, logo, para
não deixar dúvidas.
O legislador, atenta a especialidade de regime que rodeia a
aposentação dos Juízes, considerou que o regime especial
constante do Decreto-Lei n.º 229/2005, de 29 de Dezembro, não
era suficiente para salvaguardar a sua situação, afastando, assim,
do seu âmbito de aplicação esta categoria profissional. E é
precisamente atendendo à especificidade do respectivo regime e à
unicidade do Estatuto que o preceito remete a adaptação ao novo
paradigma da reforma para a revisão do mesmo Estatuto.
Assim sendo, se o legislador afastou o regime especial de
aposentação constante do Decreto-Lei n.º 229/2005, de 29 de
Dezembro, dos Juízes, por maioria de razão a Lei n.º 60/2005, de
29 de Dezembro, com um regime de aposentação mais gravoso,
não lhes pode ser aplicável.
O douto Acórdão recorrido refere, para afastar este entendimento,
que os objectivos dos diplomas não são coincidentes. E nem
poderiam ser, acrescentamos nós, senão não faria sentido a
existência de dois diplomas distintos.
No entanto, este douto Acórdão não pode negar que os dois
diplomas convergem, ou seja, embora os objectivos não sejam
coincidentes, complementam-se: a Lei n.º 60/2005, de 29 de
Dezembro, regula o regime geral de segurança social e o Decreto-
Lei n.º 229/2005, de 29 de Dezembro, revê os regimes que
consagram desvios à regras, sendo obviamente o regime dos
Magistrados Judiciais um destes regimes desviantes.

2. Assim, concluir, como o fez o douto Acórdão recorrido, por


aplicar a Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, aos Magistrados
Judiciais significaria esvaziar de sentido o estatuído pelo
legislador no artigo 1.º, n.º 2, alínea d), do Decreto-Lei n.º
229/2005, de 29 de Dezembro.
Com efeito, qual seria então o sentido da remissão inserta no
preceito quando refere “[...] devem ter os respectivos estatutos
adaptados aos princípios do presente Decreto-Lei através de
legislação própria”.
Para além da letra do preceito, afigura-se óbvio que se fosse
intenção do legislador aplicar aos Magistrados Judiciais o regime
da Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, não era preciso falar em
Magistrados Judiciais no artigo 1.º, n.º 2, alínea d), do Decreto-Lei
n.º 229/2005, de 29 de Dezembro.

Pelo exposto, consideramos que, no que concerne às condições de


aposentação, em especial no que respeita à idade, se encontra em
vigor o constante do EA, ou seja, no que respeita ao caso concreto,
o artigo 37.º, n.º 1,que estabelece que “a aposentação pode
verificar-se, independentemente de qualquer outro requisito,
quando o subscritor contar, pelo menos, 60 anos de idade e 36 de
serviço”, segundo a redacção anterior à Lei n.º 60/2005, de 29 de
Dezembro.

c) Da inconstitucionalidade material e orgânica da interpretação


feita pelo douto Acórdão recorrido do artigo 67.º, n.º 1, do EMJ

Finalmente, sustenta-se no douto Acórdão recorrido que:


“Pensamos, por fim, que a interpretação aqui efectuada
sobre o âmbito remissivo do artigo 67.º n.º 1 do EMJ para
o artigo 37.º n.º 1 do EA não padece, como diz o recorrido,
nem de inconstitucionalidade material […], nem de
inconstitucionalidade orgânica […].
No que respeita à primeira, que o ora recorrido não
explicou, a verdade é que nem sequer vislumbramos em
que medida é que uma alteração à idade exigida para a
aposentação voluntária [não antecipada], pode contender
com o princípio da independência dos tribunais.
Quanto à segunda, sublinhe-se que a alteração feita ao
artigo 37.º n.º 1 do EA, norma que aqui releva, foi
legislada pela Assembleia da República, não pelo
Governo, razão pela qual não foi desrespeitada a reserva
absoluta [para aqueles que assim o entendam, já que é de
reserva relativa da Assembleia da República legislar sobre
organização e competência dos tribunais e Ministério
Público e estatuto dos respectivos magistrados… (artigo
165.º n.º 1 alínea p) da CRP)].”

1. Ora, a interpretação efectuada pelo douto Acórdão recorrido, do


artigo 67.º, n.º 1, do EMJ, está ferida de inconstitucionalidade
material, por violação dos princípios da independência,
imparcialidade e inamovibilidade, porquanto, o direito à
aposentação/jubilação, nos termos defendidos pelo Recorrente faz
parte do seu estatuto profissional.
Com efeito, não pode confundir-se o Estatuto jurídico dos
magistrados judiciais com a normação estatutária que caracteriza a
situação dos funcionários públicos em geral.
O Estatuto dos magistrados judiciais compreende um conjunto de
deveres, incompatibilidades, direitos e regalias, incluindo
remuneração e um sistema adequado de protecção social. E,
segundo a Carta Europeia sobre o Estatuto dos Juízes, tal como os
demais direitos e deveres, também a garantia de protecção contra
os riscos resultantes da doença, maternidade, invalidez e velhice, é
apontada como condição de garantia da independência,
imparcialidade e da inamovibilidade (cfr. o ponto 6 da Carta
Europeia sobre o Estatuto dos Juízes).
Todo e qualquer trabalhador da Administração Pública tem a sua
posição profissional fixada através de um conjunto determinável
de disposições legais ou regulamentares que, ainda que
provenientes de diversos complexos normativos, definem o elenco
de direitos e deveres que, em cada momento, lhes são aplicáveis, e
que corresponde à sua situação estatutária (sobre a caracterização
da situação estatutária dos funcionários, Prosper Weil, Direito
Administrativo, Coimbra, 1977, págs. 69-70).
O legislador constitucional, porém, ao prescrever que «[o]s juízes
do tribunais judiciais formam um corpo único e regem-se por um
só estatuto», não pode ter tido a mera intencionalidade de declarar
que os juízes, como qualquer funcionário ou agente
administrativo, estão igualmente subordinados a um conjunto de
direitos e deveres funcionais, regulados por normas de carácter
geral e abstracto que conformam o conteúdo da respectiva relação
jurídica de emprego público.
A razão de ser do preceito radica antes na necessidade de dar
cobertura à garantia de independência dos juízes, em função da
sua qualidade de titular de órgão de soberania encarregado de
exercer a função jurisdicional.
O estatuto subjectivo dos magistrados está, pois,
indissociavelmente ligado à reserva de jurisdição e constitui um
princípio constitucional material concretizador do Estado de
direito, na medida em que se destina a garantir a independência e
imparcialidade dos juízes no exercício da função jurisdicional
(sobre este aspecto, Gomes Canotilho,Direito Constitucional e
Teoria da Constituição, citado, págs. 667-668; Paulo
Rangel,Reserva de jurisdição, citada, pág. 48)”.
Fica assim demonstrado que a interpretação do artigo 67.º, n.º 1,
do EMJ, nomeadamente do seu carácter remissivo amplo para o
artigo 37.º, n.º 1, do EA, defendida pelo douto Acórdão recorrido,
é materialmente inconstitucional, por colocar em causa este
princípio da independência dos juízes, previsto no artigo 203.º da
CRP.
O que significaria que, a obter acolhimento tal entendimento,
deveriam tais normas ser desaplicadas, por inconstitucionalidade,
prevalecendo a aplicação do artigo 37.º segundo a redacção
anterior à Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro.
2. A interpretação defendida pelo douto Acórdão recorrido é ainda
organicamente inconstitucional porque o EMJ, e suas respectivas
alterações, constitui reserva absoluta da AR, sendo que as normas
constantes da Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro foram emitidas
no uso de competência de reserva relativa da AR.
Assim, e ao contrário do que sustenta o douto Acórdão recorrido,
não basta que a Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro tenha sido
emitida pela Assembleia da República, sendo ainda necessário que
essa emissão seja feita ao abrigo das competências reservadas em
absoluto à AR, nos termos do artigo 164.º da CRP, ou seja, reserva
absoluta.

O douto Acórdão recorrido refere que a matéria do estatuto dos


Magistrados poderá ainda pertencer à reserva relativa da AR, nos
termos do artigo 165.º, n.º 1, al. p), da CRP.
Contudo, tal entendimento não colhe, conforme esclarecem
JORGE MIRANDA e RUI MEDEIROS[11], quando ressalvam
que, “Na alínea m), sobre o estatuto dos titulares de órgãos de
soberania, cabe, por definição (artigo 110.º), o estatuto dos juízes,
a despeito de a alínea p) do artigo 165.º, n.º 1, prima facie
parecer colocá-lo na reserva relativa – a ratio da reserva
absoluta e a preferência a dar à norma mais favorável à
competência parlamentar justificam-no [essa alínea p) deve, pois,
entender-se como abrangendo apenas os magistrados do
Ministério Público].”

Considerando o exposto, não pode deixar de concluir-se que o


regime de aposentação/jubilação a que actualmente estão sujeitos
todos os Magistrados Judiciais que reúnam essas condições, é o
que consta do artigo 37.º, n.º 1, do EA, antes da entrada em vigor
da Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, até se proceder à revisão
do seu Estatuto.
É, aliás, por essa razão, que o preceito não foi revogado pela Lei
n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, continuando a valer até que, por
força da alteração do Estatuto dos Magistrados Judiciais, se volte
eventualmente a remeter para o regime geral da função pública.
Pelo menos enquanto “os respectivos estatutos [...] [dos
magistrados judiciais] não sejam “adaptados aos princípios do
presente decreto-lei através de legislação própria”, a entrada em
vigor da Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, em nada veio alterar
as condições e cálculo da pensão de aposentação dos magistrados
judiciais, referindo-se que tal regime não se apresenta
inconstitucional, ou sequer, desrazoável ou inaceitável uma vez
que constitui mais um exemplo de que “a situação económica e
social dos titulares dos órgãos de soberania mereceu, desde logo,
por parte do legislador constitucional um tratamento que visa
salvaguardar o prestígio das instituições e do Estado e daqueles
que em cada momento as representam. E tal preocupação tem
sido reiterada pelo legislador ordinário, designadamente pela
Assembleia da República, nos diversos diplomas respeitantes ao
estatuto dos titulares dos órgãos de soberania”[12].
Em suma, a tese do douto Acórdão recorrido, salvo o devido
respeito, não tem o mínimo apoio quer na letra quer na razão de
ser do artigo 1.º, n.º 2, alínea d), do Decreto-Lei n.º 229/2005, de
29 de Dezembro, e artigo 37.º do EA segundo a redacção dada
pela Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro.

III) Em conclusão:

1. O douto Acórdão recorrido enferma de manifesta nulidade por


omissão de pronúncia, nos termos do artigo 668.º, n.º 1, al. d), do
CPC, aplicável ex vi do artigo 1.º do CPTA, por não se ter
pronunciado sobre 2 questões invocadas pela Recorrente em sede
de contra-alegações, a saber: i) tem de ser o EMJ ou norma
emitida pela AR em matéria de reserva absoluta, a remeter para a
Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, e não o contrário; e ii) a
inconstitucionalidade decorrente da não intervenção da estrutura
associativa representativa dos Magistrados Judiciais na elaboração
da Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, nos termos do artigo 56.º,
n.º 2, al. a), da CRP;
2. A questão central que se discute nos presentes autos gira em
torno de saber qual o regime jurídico que rege a
aposentação/jubilação dos Magistrados Judiciais, após a entrada
em vigor da Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro;
3. O argumento decisivo para a não aplicação da Lei n.º 60/2005,
de 29 de Dezembro, aos Magistrados Judiciais decorre,
necessariamente da especificidade do seu Estatuto;
4. Com efeito, os Magistrados Judiciais integram uma categoria
profissional que goza de especialidades no que toca a esta matéria,
especialidades de regime que desde sempre encontraram a sua
justificação na natureza das funções que a própria CRP comete aos
Tribunais, como órgãos de soberania;
5. O princípio da unicidade estatutária impõe, segundo
jurisprudência do Tribunal Constitucional, que qualquer alteração
ao estatuto (quer formal, quer material – através da alteração de
normas para as quais remete) tenha que ser feita pela Assembleia
da República, em sede da sua reserva absoluta - artigo 164.º, al.
m), da CRP;
6. Ora, tendo a Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, sido aprovada
no âmbito sua reserva relativa da AR, significa que o regime
jurídico introduzido por aquele diploma só poderia valer para os
Magistrados Judiciais depois de remissão expressa para si do
respectivo Estatuto;
7. Pode até acontecer que, em sede de revisão do EMJ, venha a ser
acolhido o regime da Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro. No
entanto, realce-se, a questão central é que tem de ser o EMJ, ou
uma norma emitida pela AR em matéria de reserva absoluta, a
remeter para a Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, e nunca este
diploma a aplicar-se directamente aos Magistrados Judiciais - por
força do princípio da unicidade estatutária, sufragado pelo
Tribunal Constitucional no seu douto Acórdão n.º 620/2007;
8. Ainda que assim não se entendesse, sempre seria de considerar
o artigo1.º, n.º 2, alínea d), do Decreto-Lei n.º 229/2005, de 29 de
Dezembro, e o artigo 37.º do EA, segundo redacção dada pela Lei
n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, inconstitucionais, segundo a
interpretação do douto Acórdão recorrido, por pretender aplicar
aos Magistrados Judiciais matéria respeitante ao seu estatuto sócio
profissional sem intervenção da respectiva estrutura associativa,
nos termos do artigo 56.º, n.º 2, alínea a), da CRP, por estar em
causa uma mudança de paradigma quanto ao regime da pensão de
reforma/jubilação;
9. Tendo em conta a especialidade do EMJ, veio o Decreto-Lei n.º
229/2005, de 29 de Dezembro, em simultâneo à aprovação e
publicação da Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, excluir do seu
âmbito de aplicação, entre outras categorias profissionais, a dos
juízes, acrescentando que estes “devem ter os respectivos
estatutos adaptados aos princípios do presente decreto-lei através
de legislação própria”[ artigo 1.º, n.º 2, alínea d)];
10. Quando o legislador fala no “dever de adaptação dos estatutos
aos princípios do presente decreto-lei”, não pode deixar de estar a
referir-se a todos os parâmetros da pensão de reforma, tal como
constam do n.º 1 do Decreto-Lei n.º 229/2005, de 29 de
Dezembro, ou seja, matéria de tempo de serviço, idade de
aposentação, fórmula de cálculo e actualização de pensões;
11. Concluir por aplicar a Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro,
aos Magistrados Judiciais significaria esvaziar de sentido o
estatuído pelo legislador no artigo 1.º, n.º 2, alínea d), do Decreto-
Lei n.º 229/2005, de 29 de Dezembro;
12. A tese do douto Acórdão recorrido não tem o mínimo apoio
quer na letra quer na razão de ser do artigo 1.º, n.º 2, alínea d), do
Decreto-Lei n.º 229/2005, de 29 de Dezembro, e artigo 37.º do EA
segundo a redacção dada pela Lei n.º 60/2005, de 29 de
Dezembro;
13. No que concerne às condições de aposentação, em especial no
que respeita à idade, encontra-se em vigor o constante do EA, ou
seja, no que se refere ao caso concreto, o artigo 37.º, n.º 1,que
estabelece que “a aposentação pode verificar-se,
independentemente de qualquer outro requisito, quando o
subscritor contar, pelo menos, 60 anos de idade e 36 de serviço”,
segundo a redacção anterior à Lei n.º 60/2005, de 29 de
Dezembro;
14. Qualquer interpretação contrária a este entendimento, no
sentido de ser aplicável o artigo 37.º, n.º 1, segundo a redacção da
Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, bem como no sentido de
interpretar a remissão do artigo 1.º, n.º 2, al. d), do Decreto-Lei n.º
229/2005, de 29 de Dezembro, como excluindo a idade de
reforma, estaria ferida de inconstitucionalidade material por
violação do artigo 203.º da CRP, bem como de
inconstitucionalidade orgânica, por violação do artigo 164.º, al.
m), da CRP.
Termos em que, admitido nos termos do n.º 5 do artigo
150.º do CPTA, ao recurso deve ser dado provimento, com
as legais consequências, com o que V. Ex.cias, Venerandos
Conselheiros, farão
Justiça!
Na elaboração do presente documento foram usados meios
informáticos, deixando o verso das folhas em branco –
artigos 138.º, n.º 5, do CPC e 1.º do CPTA.

O Advogado,

[1] Exposição de Motivos da Lei nº 60/2005,de 29 de Dezembro.


[2] Idem.
[3] Recursos Jurisdicionais: Os Meios do CPTA Próprios para a Tutela
de Direitos Fundamentais e o Recurso do Artigo 150..º, in “A Nova
Justiça Administrativa”, CEJ, Coimbra Editora, 2006 pp. 207 a 235.
[4] Cfr. artigos 205.º, 206.º e 208.º todos da CRP.
[5] Cfr. artigos 205..º, 206..º e 208..º todos da CRP.
[6] Artigo 66..º do EMJ.
[7] Acórdão do TC n..º 369/97, de 14.05.1997.
[8] Princípio constitucional da igualdade.
[9] De onde decorre que o tempo de serviço constitui factor essencial do
cálculo das pensões (cfr. Ac. do TC n..º 369/97, de 14.05.1997).
[10] Enumerando-se a título de exemplo o regime de aposentação do
pessoal da carreira de investigação e fiscalização do SEF, o pessoal da
carreira de guarda-florestal, os funcionários e agentes do SIRP, o pessoal
do Corpo da Guarda Prisional, os oficiais de justiça, os enfermeiros, os
educadores de infância, entre outros.
[11] Constituição da República Portuguesa Anotada, Tomo II, Coimbra,
Coimbra Editora, 2006, pp. 520 e 521.
[12] Acórdão do TC n..º 369/97, de 14.05.1997.

 
 
 

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