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Cadeia Produtiva da

Bovinocultura
Prof. Jade Varaschim Link

2018
Copyright © UNIASSELVI 2018

Elaboração:
Prof. Jade Varaschim Link

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

L756c

Link, Jade Varaschim


Cadeia produtiva da bovinocultura. / Jade Varaschim Link – Indaial:
UNIASSELVI, 2018.

190 p.; il.

ISBN 978-85-515-0171-9

1.Cadeia produtiva – Brasil. 2.Bovinocultura – Brasil. II. Centro


Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 636.213098172

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo à Cadeia Produtiva da Bovinocultura,
este é o setor do agronegócio que aborda as técnicas e fundamentos para
criação de bovinos. Na bovinocultura, os bovinos são criados para a produção
de carne, de leite, e os de raças mistas, para produção tanto de carne quanto
de leite. A bovinocultura de leite é caracterizada pelo manejo de bovinos com
objetivo de aumentar a produção de leite, já a bovinocultura de corte está
associada ao manejo de raças bovinas destinadas ao abate, para a produção
de carne e seus derivados.

Para uma melhor compreensão do conteúdo que envolve a cadeira


produtiva da bovinocultura, distribuímos nosso estudo em três unidades. Na
primeira unidade, estudaremos a cadeia produtiva da bovinocultura de leite,
que é uma das mais importantes do agronegócio brasileiro. Os conceitos
que englobam a evolução da pecuária leiteira, o manejo e os sistemas de
produção do gado de leite devem ser analisados e compreendidos para que
possamos futuramente contribuir para uma atividade de produção leiteira
de melhor qualidade.

Na segunda unidade, abordaremos a cadeia produtiva da


bovinocultura de corte, destacando a produção e exportação mundial e
nacional de carne bovina, as fases da produção de gado de corte, bem como
o confinamento, uma atividade que vem crescendo a cada dia em função do
aumento das tecnologias disponíveis.

A terceira unidade apresenta a gestão e o controle produtivo na


bovinocultura de corte. Nessa unidade, a gestão administrativa da fazenda
de corte será discutida, bem como o controle produtivo e reprodutivo em
gado de corte e assuntos importantes e de destaque nessa cadeia produtiva,
como a rastreabilidade animal e a inseminação artificial.

Portanto, esperamos que os conteúdos abordados, juntamente com


os materiais selecionados, estimulem sua leitura e que o livro didático seja
útil e relevante em sua aprendizagem e formação profissional.

Boa leitura e bons estudos!


Prof. Dr. Jade Varaschim Link

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE................................ 1

TÓPICO 1 – EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE LEITE...................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 A PECUÁRIA DE LEITE....................................................................................................................... 3
2.1 PRODUÇÃO DE LEITE NO BRASIL E NO MUNDO................................................................ 4
2.2 AQUISIÇÃO DE LEITE CRU PELOS LATICÍNIOS.................................................................... 6
2.3 PROJEÇÕES DA PRODUÇÃO DE LEITE ................................................................................... 8
3 AS RAÇAS PRODUTORAS DE LEITE............................................................................................. 9
3.1 AS RAÇAS EUROPEIAS.................................................................................................................. 10
3.2 AS RAÇAS ZEBUÍNAS ................................................................................................................... 12
3.3 AS RAÇAS SINTÉTICAS ................................................................................................................ 15
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 16
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 17

TÓPICO 2 – A EFICIÊNCIA PRODUTIVA E REPRODUTIVA DA ATIVIDADE LEITEIRA........ 19


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 19
2 MONITORAMENTO DO REBANHO.............................................................................................. 19
3 FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O SUCESSO REPRODUTIVO..................................... 22
4 ÍNDICES REPRODUTIVOS................................................................................................................ 23
5 PERÍODO DE SERVIÇO...................................................................................................................... 24
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 27
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 28

TÓPICO 3 – NUTRIÇÃO E BOAS PRÁTICAS NA BOVINOCULTURA DE LEITE................. 29


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 29
2 CONTROLE SANITÁRIO DOS REBANHOS DE LEITE............................................................. 29
2.1 SAÚDE ANIMAL.............................................................................................................................. 30
2.2 HIGIENE NA ORDENHA............................................................................................................... 31
2.3 MEIO AMBIENTE............................................................................................................................ 32
2.4 GESTÃO SOCIOECONÔMICA...................................................................................................... 33
3 NUTRIÇÃO NA PECUÁRIA LEITEIRA........................................................................................... 34
4 BEM-ESTAR ANIMAL......................................................................................................................... 36
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 39
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 40

TÓPICO 4 – SISTEMAS DE PRODUÇÃO E INSTALAÇÕES PARA PRODUÇÃO DE


GADO DE LEITE............................................................................................................... 41
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 41
2 SISTEMAS DE PRODUÇÃO.............................................................................................................. 41
3 INSTALAÇÕES, EQUIPAMENTOS E AMBIÊNCIA..................................................................... 46
4 MELHORAMENTO GENÉTICO....................................................................................................... 50
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 52
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 55
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 56
VII
UNIDADE 2 – CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE............................. 57

TÓPICO 1 – EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE CORTE.................................................................... 59


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 59
2 A CADEIA DA CARNE BOVINA...................................................................................................... 59
3 PRODUÇÃO E CONSUMO MUNDIAL DE CARNE BOVINA.................................................. 61
4 PRODUÇÃO E CONSUMO DE CARNE BOVINA NO BRASIL................................................ 63
5 PROJEÇÕES DE PRODUÇÃO E CONSUMO DE CARNE BOVINA........................................ 65
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 68
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 69

TÓPICO 2 – MERCADO INTERNO E EXTERNO DA PECUÁRIA DE CORTE......................... 71


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 71
2 EXPORTAÇÃO MUNDIAL DE CARNE BOVINA......................................................................... 71
3 O BRASIL NO MERCADO DE CARNE BOVINA......................................................................... 74
4 CENÁRIOS DA CARNE BOVINA NO MUNDO E NO BRASIL................................................ 76
5 FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO................................................................................................. 78
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 84
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 86

TÓPICO 3 – FASES DA PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE....................................................... 87


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 87
2 MANEJO DE BOVINOS DE CORTE NA FASE DE CRIA............................................................ 87
3 MÉTODOS DE MONTA – ESTAÇÃO DE MONTA OU REPRODUÇÃO................................ 88
3.1 MÉTODOS DE MONTA.................................................................................................................. 90
3.2 MANEJO PRÉ-NATAL.................................................................................................................... 92
3.3 PARTO................................................................................................................................................ 93
3.4 MANEJO DO BEZERRO APÓS O NASCIMENTO..................................................................... 93
4 A TERMINAÇÃO DE BOVINOS EM CONFINAMENTO E EM PASTAGEM........................ 94
4.1 TERMINAÇÃO DE BOVINOS EM CONFINAMENTO............................................................. 94
4.2 TERMINAÇÃO DE BOVINOS EM PASTAGEM......................................................................... 96
5 MANEJO PRÉ-ABATE DE BOVINOS DE CORTE......................................................................... 96
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 99
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 100

TÓPICO 4 – SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE E O CONFINAMENTO........ 103


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 103
2 VANTAGENS DO CONFINAMENTO............................................................................................. 103
3 INSTALAÇÕES...................................................................................................................................... 108
4 ALIMENTAÇÃO.................................................................................................................................... 111
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 114
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 118
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 119

UNIDADE 3 – GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA...................... 121

TÓPICO 1 – INSTALAÇÕES, BEM-ESTAR ANIMAL E SUSTENTABILIDADE NA


PECUÁRIA DE CORTE.................................................................................................... 123
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 123
2 INSTALAÇÕES PARA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE............................................... 123
3 BEM-ESTAR ANIMAL NA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE....................................... 127
4 SUSTENTABILIDADE NA BOVINOCULTURA DE CORTE...................................................... 132

VIII
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 134
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 135

TÓPICO 2 – GESTÃO E CONTROLES ADMINISTRATIVOS DA FAZENDA DE CORTE......... 137


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 137
2 GESTÃO, GERENCIAMENTO E ADMINISTRAÇÃO................................................................. 137
3 IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO E DO CONTROLE...................................................... 139
4 FERRAMENTAS PARA O PLANEJAMENTO E PARA O CONTROLE.................................... 143
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 146
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 148

TÓPICO 3 – IDENTIFICAÇÃO ANIMAL E RASTREABILIDADE............................................... 151


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 151
2 IDENTIFICAÇÃO ANIMAL............................................................................................................... 151
3 RASTREABILIDADE E A SEGURANÇA DOS ALIMENTOS.................................................... 154
4 VANTAGENS E BENEFÍCIOS DA RASTREABILIDADE............................................................ 161
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 163
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 165

TÓPICO 4 – MELHORAMENTO GENÉTICO E INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL....................... 167


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 167
2 MELHORAMENTO GENÉTICO....................................................................................................... 167
3 VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL...................................... 170
4 LIMITAÇÕES DA INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL......................................................................... 171
5 QUALIFICAÇÃO DA MÃO DE OBRA............................................................................................ 172
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 174
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 180
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 182
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................... 185

IX
X
UNIDADE 1

CADEIA PRODUTIVA DA
BOVINOCULTURA DE LEITE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer a situação atual e as projeções futuras da pecuária de leite;

• compreender o monitoramento do rebanho e os índices reprodutivos;

• aprender o processo de manejo e nutrição dos animais;

• conhecer as instalações e equipamentos necessários para a produção de


leite.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE LEITE

TÓPICO 2 – A EFICIÊNCIA PRODUTIVA E REPRODUTIVA DA


ATIVIDADE LEITEIRA

TÓPICO 3 – NUTRIÇÃO E BOAS PRÁTICAS NA BOVINOCULTURA DE


LEITE

TÓPICO 4 – SISTEMAS DE PRODUÇÃO E INSTALAÇÕES PARA


PRODUÇÃO DE GADO DE LEITE

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE LEITE

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico, neste momento você está iniciando seus estudos da
disciplina de Cadeia Produtiva da Bovinocultura. No primeiro tópico da Unidade
1 analisaremos a pecuária de leite no Brasil e no mundo, além de aprender a
respeito das principais raças produtoras de leite.

A partir de estudos pertinentes realizados por entidades como a Empresa


Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE); o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) e associações de produtores de gado, foram selecionados dados e
informações a respeito das raças produtoras de leite, produção, produtividade,
consumo, importação e exportação de leite que servirão de fundamentos a
respeito da situação atual e das projeções futuras para essa cadeia produtiva.

Bons estudos!

2 A PECUÁRIA DE LEITE
A pecuária começou a ser desenvolvida no Brasil no século XVI, na terceira
década após o início do processo de colonização e até os dias atuais é muito
importante na economia do país. A influência exercida pela pecuária provocou
forte expansão na economia, com grande destaque nas exportações e, também, no
abastecimento do mercado interno (TEIXEIRA; HESPANHOL, 2014).

O leite é considerado um dos mais importantes produtos da agropecuária


brasileira. A cadeia produtiva do leite e seus derivados desempenha um papel
importante no fornecimento de alimentos e na geração de emprego e renda para
a população. Apesar de o Brasil ser um dos grandes produtores mundiais de leite,
sua pecuária não pode ser considerada especializada, devido à grande diversidade
de sistemas de produção, onde a pecuária leiteira de alta tecnologia convive com
a pecuária extrativista, com baixo nível tecnológico e baixa produtividade. No
Brasil, estima-se que 2,3% das propriedades leiteiras são especializadas, entretanto,
90% dos produtores são considerados pequenos, com baixo volume de produção,
baixa produtividade por animal e pouco uso de tecnologias (EMBRAPA, 2002;
RANGEL, 2010).

3
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

2.1 PRODUÇÃO DE LEITE NO BRASIL E NO MUNDO


De acordo com os dados divulgados pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) em um estudo denominado Indicadores: Leite e Derivados,
em outubro de 2016, a produção mundial de leite de vaca em 2013 chegou a mais
de 635 milhões de toneladas (CARVALHO; CARNEIRO, 2016). Os Estados Unidos
lideram o ranking de países produtores, com mais de 91 milhões de toneladas
produzidas, seguido da Índia, com uma produção de 60 milhões, e da China,
com mais de 35 milhões. O Brasil aparece logo em seguida, como o quarto maior
produtor, com mais de 34 milhões de toneladas produzidas em 2013 (Tabela 1).

TABELA 1 – LEITE DE VACA: PRODUÇÃO, VACAS ORDENHADAS E PRODUTIVIDADE EM PAÍSES


SELECIONADOS NOS ANOS DE 2012 E 2013
Produção Rebanho Produtividade
(toneladas) (cabeças) (kg/cabeça)
Países
2012 2013 2012 2013 2012 2013
Estados Unidos 90.865.000 91.271.058 9.233.000 9.217.900 9.841 9.902
Índia 59.805.250 60.600.000 43.954.023 44.900.000 1.361 1.350
China 37.784.491 35.670.002 12.207.197 12.159.146 3.095 2.934
Brasil* 32.304.421 34.255.236 22.803.519 22.954.537 1.417 1.492
Alemanha 30.506.929 31.122.000 4.190.485 4.267.610 7.280 7.293
Rússia 31.500.978 30.285.969 8.049.849 7.766.275 3.913 3.900
França 23.998.422 23.714.357 3.643.200 3.697.232 6.587 6.414
Nova Zelândia 19.129.000 18.883.000 4.634.226 4.784.250 4.128 3.947
Turquia 15.977.837 16.655.009 5.431.400 5.607.272 2.942 2.970
Reino Unido 13.843.000 13.941.000 1.806.000 1.797.000 7.665 7.758
Paquistão 13.393.000 13.897.000 10.888.000 11.299.000 1.230 1.230
SUBTOTAL 369.108.328 370.294.631 126.840.899 128.450.222 2.910 2.883
TOTAL 630.183.853 635.575.895 268.727.507 270.848.210 2.345 2.347
FONTE: Adaptado de Carvalho e Carneiro (2016)

Caro acadêmico, ao realizarmos uma análise da Tabela 1, podemos


observar que, apesar da Índia e do Brasil serem o segundo e o quarto maiores
produtores mundiais de leite de vaca, respectivamente, suas produtividades são
baixas (1.361-1.350 e 1.417-1.492 kg/cabeça) em relação aos Estados Unidos (9.841-
9.902 kg/cabeça), que é o líder do ranking, e da Alemanha (7.280-7.293 kg/cabeça),
que está em quinto lugar no ranking, logo depois do Brasil. Isso significa que os
Estados Unidos e a Alemanha são capazes de produzir uma quantidade maior de
leite com um rebanho muito menor. Estas informações comprovam o reduzido
uso de tecnologias e a baixa especialização das propriedades leiteiras brasileiras
anteriormente mencionadas neste tópico.

4
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE LEITE

No Brasil, a região Sul é a maior produtora de leite, com uma produção


de aproximadamente 12,3 bilhões de litros de leite no ano de 2015 (Tabela 2).
A segunda região que mais produz leite é a região Sudeste (aproximadamente
11,9 bilhões de litros), seguida pela região Centro-Oeste (4,8 bilhões de litros). A
região Sul apresenta a maior produtividade entre as regiões brasileiras (Tabela
3), produzindo 2.900 litros de leite por vaca por ano, enquanto a região Norte
apresenta a menor produtividade (884 litros/vaca/ano). Ao avaliarmos a evolução
da produtividade de leite de 2013 a 2015 no Brasil, podemos observar um aumento
de 1.492 para 1.609 litros/vaca/ano, sendo um aumento de 5,5% de 2014 para 2015.

TABELA 2 – PRODUÇÃO ANUAL DE LEITE, POR REGIÃO DO BRASIL (MIL LITROS)


Ano
Região
2013 2014 2015 Var. 2015/2014
Norte 1.846.420 1.946.149 1.832.764 -5,8%
Nordeste 3.598.250 3.892.395 4.143.039 6,4%
Centro-Oeste 5.016.292 4.944.088 4.802.463 -2,9%
Sudeste 12.019.947 12.130.275 11.901.959 -1,9%
Sul 11.774.331 12.211.453 12.320.002 0,9%
Brasil 34.255.240 35.124.360 35.000.227 -0,4%
FONTE: Adaptado de Carvalho e Carneiro (2016)

TABELA 3 – PRODUTIVIDADE DE LEITE, POR REGIÃO DO BRASIL (LITROS/VACA/


ANO)
Ano
Região
2013 2014 2015 Var. 2015/2014
Norte 934 876 884 1,0%
Nordeste 776 819 963 17,6%
Centro-Oeste 1.308 1.315 1.307 -0,6%
Sudeste 1.483 1.532 1.597 4,2%
Sul 2.674 2.790 2.900 3,9%
Brasil 1.492 1.525 1.609 5,5%
FONTE: Adaptado de Carvalho e Carneiro (2016)

O estado que mais produziu leite no ano de 2015 no Brasil foi o Estado
de Minas Gerais (Tabela 4), o qual produziu aproximadamente 9,1 bilhões de
litros de leite, seguido pelos estados do Paraná (aproximadamente 4,7 bilhões de
litros) e do Rio Grande do Sul (aproximadamente 4,6 bilhões de litros). Estes três
estados brasileiros foram responsáveis por mais da metade da produção de leite
do país no ano de 2015.

5
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

TABELA 4 – PRODUÇÃO ANUAL DE LEITE, POR ESTADO (MIL LITROS)


Ano
Região
2013 2014 2015 Var. 2015/2014
Alagoas 252.135 304.674 352.454 15,7%
Amapá 10.948 11.670 5.578 -52,2%
Amazonas 48.969 51.337 47.687 -7,1%
Bahia 1.162.598 1.212.091 1.170.953 -3,4%
Ceará 455.452 498.133 489.257 -1,8%
Distrito Federal 34.448 34.767 29.890 -14,0%
Espírito Santo 465.780 483.605 469.375 -2,9%
Goiás 3.776.803 3.659.191 3.518.057 -3,9%
Maranhão 385.880 393.030 393.341 0,1%
Mato Grosso 681.694 721.392 734.080 1,8%
Mato Grosso do Sul 523.347 528.738 520.436 -1,6%
Minas Gerais 9.309.165 9.370.470 9.144.957 -2,4%
Pará 539.490 554.195 567.231 2,4%
Paraíba 157.258 170.479 181.767 6,6%
Paraná 4.347.493 4.540.714 4.660.174 2,6%
Pernambuco 561.829 656.673 855.102 30,2%
Piauí 82.542 79.957 75.198 -6,0%
Rio de Janeiro 569.088 540.056 513.276 -5,0%
Rio Grande do Norte 209.150 232.338 245.027 5,5%
Rio Grande do Sul 4.508.518 4.687.489 4.599.925 -1,9%
Rondônia 920.496 940.621 817.520 -13,1%
Roraima 10.137 11.260 13.091 16,3%
Santa Catarina 2.918.320 2.983.250 3.059.903 2,6%
São Paulo 1.675.914 1.736.144 1.774.351 2,2%
Sergipe 331.406 345.020 379.940 10,1%
Tocantins 269.255 325.145 323.187 -0,6%
Total 34.255.240 35.124.360 35.000.227 -0,4%
FONTE: Adaptado de Carvalho e Carneiro (2016)

2.2 AQUISIÇÃO DE LEITE CRU PELOS LATICÍNIOS


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou em
dezembro de 2017 um estudo que indicou a estatística da produção pecuária
brasileira. Nesse estudo, o IBGE avaliou no 3º trimestre de 2017 a aquisição de
leite cru feita por 1.939 estabelecimentos, 784 registrados no Serviço de Inspeção
Federal (SIF), 886 no Serviço de Inspeção Estadual (SIE) e 269 no Serviço de
Inspeção Municipal (SIM), respondendo, respectivamente, por 91,9%; 7,3% e
0,8% do total de leite captado. De acordo com esta pesquisa, no 3º trimestre de
2017, a aquisição de leite cru feita por esses estabelecimentos foi de 6,16 bilhões
de litros. Esse volume foi 9,1% maior que o registrado no 2º trimestre de 2017 e
5,4% maior que o alcançado no mesmo trimestre em 2016. Ao realizar uma análise
do gráfico a seguir, pode-se observar que, diferentemente dos terceiros trimestres
de 2015 e 2016, esse trimestre apresentou um crescimento em relação ao mesmo
período do ano anterior, apesar de ainda estar abaixo do nível alcançado no 3º
trimestre de 2014.

6
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE LEITE

GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DA QUANTIDADE DE LEITE CRU ADQUIRIDO PELOS LATICÍNIOS NO


BRASIL NOS TRIMESTRES DE 2012 A 2017

FONTE: Adaptado de IBGE (2017)

O aumento da aquisição de leite nacional no 3º trimestre de 2017 se deve


aos aumentos em 22 das 26 Unidades da Federação participantes da Pesquisa
Trimestral do Leite. Os maiores aumentos foram verificados em Santa Catarina
(+122,75 milhões de litros), Rio Grande do Sul (+71,44 milhões de litros) e São
Paulo (+64,44 milhões de litros). A maior redução ocorreu no Estado do Paraná
(-38,65 milhões de litros). O Estado de Minas Gerais lidera a aquisição de leite,
com 24,2% da aquisição nacional, seguido por Rio Grande do Sul (15,5%) e Santa
Catarina (13,2%) (Gráfico 2).

7
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

GRÁFICO 2 – RANKING E VARIAÇÃO ANUAL DA QUANTIDADE DE LEITE CRU ADQUIRIDO


PELOS LATICÍNIOS – UNIDADES DA FEDERAÇÃO – 3OS TRIMESTRES DE 2016 E 2017

FONTE: Adaptado de IBGE (2017)

2.3 PROJEÇÕES DA PRODUÇÃO DE LEITE


O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) realizou
um estudo em agosto de 2017 referente às Projeções do Agronegócio – Brasil
2016/2017 a 2026/2027. Este estudo teve como objetivo indicar direções do
desenvolvimento e fornecer subsídios aos formuladores de políticas públicas
quanto às tendências dos principais produtos do agronegócio (MAPA, 2017).

De acordo com o estudo realizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária


e Abastecimento (MAPA), a produção de leite deverá crescer nos próximos 10 anos
a uma taxa anual entre 2,1 e 3,0%, sendo que alguns pesquisadores trabalham
com taxas de até 4,0%. Essas taxas correspondem a passar de uma produção de
34,5 bilhões de litros em 2017 para valores de até 43,0 bilhões de litros em 2027.
Os técnicos e pesquisadores da área indicam que esse aumento da produção é
devido à melhoria da relação de troca entre preços de leite e insumos no mercado
brasileiro. Porém, as importações serão menores em função do aumento dos
preços internacionais e encarecimento do produto importado. O consumo de leite
nos próximos anos deve estar próximo da produção, de acordo com o estudo,
com projeções de aumento à taxa de 2,1% ao ano, podendo chegar a 3,3% (MAPA,
2017).

8
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE LEITE

TABELA 5 – PROJEÇÕES DE PRODUÇÃO, CONSUMO, IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE LEITE


(MILHÕES DE LITROS)
Produção Consumo Exportação Importação
Ano
Projeção Lsup. Projeção Lsup. Projeção Lsup. Projeção Lsup.
2016/17 34.520 36.005 35.974 37.735 245 618 1.909 3.135
2017/18 35.334 37.435 36.776 39.517 254 781 1.937 3.671
2018/19 36.149 38.722 37.612 41.105 264 909 1.966 4.090
2019/20 36.963 39.935 38.454 42.570 273 1.018 1.995 4.447
2020/21 37.778 41.100 39.298 43.956 282 1.115 2.023 4.765
2021/22 38.593 42.232 40.142 45.285 291 1.204 2.052 5.055
2022/23 39.407 43.338 40.986 46.573 300 1.286 2.080 5.325
2023/24 40.222 44.424 41.830 47.827 310 1.363 2.109 5.577
2024/25 41.036 45.493 42.675 49.056 319 1.437 2.138 5.816
2025/26 41.851 46.549 43.519 50.262 328 1.506 2.166 6.044
2026/27 42.666 47.593 44.363 51.450 337 1.573 2.195 6.262
FONTE: Adaptado de Mapa (2017)

Caro acadêmico, observe que estas projeções indicam um aumento da


produção e oferta de leite nos próximos 10 anos. De acordo com o estudo realizado,
este crescimento deverá ocorrer devido às melhorias na gestão das fazendas e
na produtividade dos animais. Além disso, nos últimos anos vem ocorrendo
uma concentração no processo de produção e incorporação mais acelerada de
tecnologias, sobretudo nos produtores de médio e grande porte (MAPA, 2017).

DICAS

Se você quiser aprofundar seus conhecimentos sobre a bovinocultura


de leite, acesse a página da internet da Embrapa Gado de Leite. Essa página da internet
oferece informações técnico-científicas que contribuem para o desenvolvimento e para o
fortalecimento da cadeia produtiva do leite no Brasil. Disponível em: <https://www.embrapa.
br/gado-de-leite>.

3 AS RAÇAS PRODUTORAS DE LEITE


As raças bovinas são classificadas quanto à sua origem em europeias ou
taurinas, zebuínas e sintéticas. As raças bovinas se destacam por sua capacidade
para a produção de leite, de carne ou por dupla aptidão (leite e carne) (EMBRAPA,
s.d.).

9
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

3.1 AS RAÇAS EUROPEIAS


No grupo taurino, as raças leiteiras mais conhecidas são a Holandês, Jersey
e Pardo-Suíço. Das raças desse grupo, a mais difundida e utilizada no Brasil e no
mundo é a raça Holandês. As raças europeias são mais exigentes em relação às
condições de ambiente e alimentação, e quanto maior o volume de produção,
maiores essas exigências (EMBRAPA, s.d.). Veremos em seguida uma descrição
de cada uma das principais raças deste grupo.

A raça Jersey

Segundo o Instituto de Estudos Pecuários (IEPEC, 2016), a raça Jersey


é originária de uma pequena ilha no Canal da Mancha, entre a Inglaterra e a
França, denominada Ilha de Jersey, pertencente ao Reino Unido. O gado Jersey é
criado puramente há mais tempo que qualquer outra raça bovina.

FIGURA 1 – GADO JERSEY

FONTE: IEPEC (2016, s.p.)

A formação da raça Jersey resultou em um animal de elevado índice de


conversibilidade e resistência, além de reunir importantes qualidades, entre elas
sua rusticidade e facilidade de adaptação. O gado Jersey é encontrado tanto em
países de clima frio (Inglaterra e Estados Unidos, por exemplo), como em países
de clima quente (África do Sul e Brasil, por exemplo). A raça Jersey tem vida
produtiva e reprodutiva mais longa que qualquer outra raça leiteira, por isso,
representa o maior potencial de lucro (IEPEC, 2016).

10
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE LEITE

A raça Holandês

A origem da raça Holandesa, ou Fries-Hollands Veeslay, ou ainda Frísia


Holandesa, é pouco conhecida. Alguns historiadores afirmam que foi domesticada
há 2.000 anos nas terras planas e pantanosas da Holanda setentrional e da Frísia
(Países Baixos) e também na Frísia Oriental (Alemanha) (ABCBRH, 2017).

FIGURA 2 – GADO HOLANDÊS

FONTE: ABCBRH (2017, s.p.)

De acordo com a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça


Holandesa (ABCBRH, 2017), não foi estabelecida uma data de introdução da raça
no Brasil, no entanto, presume-se que o gado holandês foi trazido nos anos de
1530 a 1535. O gado da raça Holandês é malhado de preto-branco ou vermelho-
branco.

A raça Pardo-suíço

A Associação Brasileira de Criadores de Gado Pardo-Suíço (ABCGPS,


2018) descreve que escavações realizadas no Lago Suíço, na borda dos Alpes,
revelaram esqueletos de animais com características semelhantes às do Pardo-
Suíço atual que viveram em 4.000 anos a.C. Ao longo dos séculos, a influência
da natureza determinou a morfologia e as qualidades básicas desses animais.
Diferentes fatores, tais como a qualidade do solo, variações climáticas, topografia
montanhosa e pastos entre 700 e 2.000 metros acima do nível do mar, formaram
o Pardo-Suíço robusto e autossuficiente, verdadeiro produto de sua terra natal.

11
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

FIGURA 3 – FOTOGRAFIA DO GADO PARDO-SUÍÇO

FONTE: Disponível em: <http://ruralpecuaria.com.br/tecnologia-e-manejo/racas-gado-


de-leite/raca-pardo-suico.html>. Acesso em: 22 fev. 2018.

A raça Pardo-Suíça é reconhecida em todo o mundo por sua capacidade


de adaptação, principalmente nas regiões de clima quente. A raça se destaca
pela sua fertilidade, as fêmeas alcançam a puberdade aos 346 dias de vida, com
taxa de prenhez de 91,6%, e esta característica é transmitida também em seus
cruzamentos. O efeito combinado da seleção genética e da melhoria no manejo
geral e nutricional vem resultando em médias de produção cada vez mais
crescentes. A média da raça hoje está acima de 25,70 kg/dia, mas vale lembrar
que os dados produtivos sofrem variações devido ao manejo e à alimentação do
rebanho (ABCGPS, 2018).


3.2 AS RAÇAS ZEBUÍNAS
No grupo das raças zebuínas leiteiras, as mais conhecidas são: Gir, Guzerá
e Sindi. Esses animais se adaptam melhor às condições tropicais, sendo a raça
Gir a mais utilizada. Os animais zebuínos são menos exigentes em condições de
ambiente e de alimentação em comparação às raças europeias (EMBRAPA, 2018).

A raça GIR

Segundo a Associação dos Criadores Gaúchos de Zebu (ACGZ, 2012), a


Gir é uma raça originária da Índia, das regiões de Gir na Península de Kathiawar.
Os primeiros exemplares da raça Gir, provavelmente, devem ter sido introduzidos
no Brasil por volta de 1906. Após isso, mais quatro importações da Índia, ocorridas
em 1930, 1955, 1960 e 1962, foram de extrema importância para a formação do Gir
brasileiro (ACGZ, 2012).
12
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE LEITE

FIGURA 4 – FOTOGRAFIA DO GADO GIR

FONTE: ACGZ (2012, s.p.)

O Gir leiteiro se destaca por sua rusticidade, longevidade produtiva e


reprodutiva, docilidade, facilidade de parto, produção de leite a pasto (excelente
conversão alimentar) e versatilidade nos cruzamentos. Essa raça leiteira
demonstra seu potencial produtivo com menos alimentos e sofre pouco com a
restrição alimentar, pois apresenta menos exigências, seu índice de metabolismo
e de ingestão de alimentos é mais baixo em relação às raças taurinas, sendo
necessária menor reposição alimentar (ACGZ, 2012).

A raça Guzerá

A Associação dos Criadores de Guzerá e Guzolando Brasil (ACGB, 2018)


destaca que a Guzerá foi a primeira raça zebuína a chegar ao Brasil, entre as que
persistem, trazida da Índia, na década de 1870. A raça diminui muito a despesa
com produtos veterinários já no primeiro cruzamento com o gado proveniente de
clima frio ou seus mestiços.

13
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

FIGURA 5 – GADO GUZERÁ

FONTE: ACGB (2018, s.p.)

A raça Sindi

A Associação dos Criadores Gaúchos de Zebu (ACGZ, 2012) destaca que a


raça Sindi é nativa da região de Kohistan, na parte norte da província de Sind, no
Paquistão. Em 1952, o gado Sindi chegou ao Brasil através do diretor do Instituto
Agronômico do Norte (IAN), Felisberto de Camargo, que trouxe 31 animais da
raça, sendo 28 fêmeas e três reprodutores. Os animais dessa raça são, geralmente,
pequenos, adequados para regiões de poucos recursos alimentares, onde seria
difícil a manutenção de animais de grande porte.

FIGURA 6 – GADO SINDI

FONTE: ACGZ (2012, s.p.)

14
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE LEITE

3.3 AS RAÇAS SINTÉTICAS


Entre as raças sintéticas, a mais conhecida e utilizada é a raça Girolando.
Essa raça tem em sua composição genética as raças Holandês e Gir (EMBRAPA,
2018). De acordo com a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando (ABCG),
o gado Girolando surgiu entre as décadas de 1940 e 1950, no Vale do Paraíba,
Estado de São Paulo, quando um touro da raça Gir invadiu uma pastagem
vizinha e cobriu algumas vacas da raça Holandesa, a qual predominava nos
rebanhos da região. Os criadores observaram que os animais desse cruzamento
eram diferentes dos animais tradicionais da época. Com o passar do tempo,
esses animais foram demonstrando diversas características interessantes, como
a rusticidade, a precocidade e, principalmente, a produção de leite. Ambas as
raças mães (Gir e Holandês) contribuíram muito para o sucesso e formação do
Girolando, o gado Gir, com sua capacidade de adaptação e rusticidade, e o gado
Holandês, com seus anos de seleção voltados para a produção de leite (ABCG,
2018).

FIGURA 7 – GADO GIROLANDO

FONTE: Disponível em: <http://iepec.com/tudo-sobre-a-raca-girolando-na-pecuaria-


leiteira/>. Acesso em: 22 fev. 2018.

15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os Estados Unidos lideram o ranking de países produtores de leite, seguido da


Índia, da China e do Brasil.

• No Brasil, a região Sul é a maior produtora de leite. A segunda região que mais
produz leite é a região Sudeste, seguida pela região Centro-Oeste.

• O estado que mais produz leite no Brasil é o Estado de Minas Gerais, seguido
pelos estados do Paraná e do Rio Grande do Sul.

• Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2014),


a produção de leite deverá crescer nos próximos 10 anos.

• As raças bovinas são classificadas quanto à sua origem em europeias ou taurinas,


zebuínas e sintéticas. No grupo taurino, as raças leiteiras mais conhecidas são a
Holandês, Jersey e Pardo-Suíço. No grupo das raças zebuínas leiteiras, as mais
conhecidas são: Gir, Guzerá e Sindi. Entre as raças sintéticas, a mais conhecida
e utilizada é a raça Girolando.

16
AUTOATIVIDADE

Vamos testar o quanto avançamos no domínio do conhecimento da pecuária


de leite.

1 Neste tópico, aprendemos que as raças bovinas podem ser consideradas


quanto à sua origem em europeias ou taurinas, zebuínas e sintéticas. No
grupo taurino, as raças leiteiras mais conhecidas são a Holandês, Jersey
e Pardo-Suíço. Sobre estas raças de bovinos, associe os itens, utilizando o
código a seguir:

I- Holandês.
II- Jersey.
III- Pardo-Suíço.

( ) É encontrado tanto em países de clima frio como em países de clima quente


e possui vida produtiva e reprodutiva mais longa que qualquer outra raça
leiteira.
( ) Foi trazido nos anos de 1530 a 1535 para o Brasil e é malhado de preto-
branco ou vermelho-branco.
( ) Alguns fatores, como as variações climáticas e pastos entre 700 e 2.000
metros acima do nível do mar, o tornaram robusto e autossuficiente.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) II – III – I.
b) ( ) III – I – II.
c) ( ) II – I – III.
d) ( ) I – II – III.

2 No estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária


(Embrapa), o Brasil aparece como quarto maior produtor mundial de leite,
porém, sua produtividade, quantidade de leite produzido por cabeça de
gado (kg/cabeça), é baixa em relação a outros países que estão abaixo no
ranking. Diante disso, explique os motivos que tornam a produtividade de
leite brasileira inferior em comparação a esses países.

17
18
UNIDADE 1
TÓPICO 2

A EFICIÊNCIA PRODUTIVA E REPRODUTIVA DA


ATIVIDADE LEITEIRA

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, após nos informarmos a respeito da situação atual
e das projeções futuras para a atividade leiteira e conhecermos algumas das
principais raças de bovinos produtores de leite, iremos analisar neste tópico a
eficiência produtiva e reprodutiva dos bovinos de leite.

A partir dos estudos deste tópico, iremos aprender a respeito do


monitoramento do rebanho através de exames reprodutivos, exames sanitários
e a avaliação da condição corporal. Vamos conhecer e analisar o gerenciamento e
monitoramento do rebanho com o auxílio dos índices reprodutivos, que envolvem
a idade da puberdade, da primeira cobertura e do primeiro parto, intervalo de
partos, período voluntário de espera, período de serviço, taxa de prenhez, taxa de
concepção, número de serviços por concepção e a taxa de inseminação.

Bons estudos!

2 MONITORAMENTO DO REBANHO
Uma etapa muito importante e que permite que estratégias e interferências
sejam estabelecidas a fim de aumentar a eficiência reprodutiva é o monitoramento
do rebanho, realizado pelo acompanhamento do rebanho através de exame
reprodutivo e pelo registro dos eventos reprodutivos e produtivos. Com estas
informações, é possível gerar índices que permitem identificar os pontos possíveis
de comprometer a produtividade do rebanho (BERGAMASCHI; MACHADO;
BARBOSA, 2010).

O manejo dos animais pode ser auxiliado por ferramentas simples e de


baixo custo, como o quadro reprodutivo, que permite a verificação da condição
em que se encontram as vacas do rebanho, classificando-as em paridas e não
acasaladas, acasaladas, prenhes, em lactação e secas. Contudo, nos dias atuais
existem diferentes softwares para gerenciamento reprodutivo, que realizam
cálculos precisos de vários índices (BERGAMASCHI; MACHADO; BARBOSA,
2010).

19
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

Os exames e avaliações realizadas para o monitoramento do rebanho,


de acordo com Bergamaschi, Machado e Barbosa (2010), incluem os exames
reprodutivos, exames sanitários e a avaliação da condição corporal.

Exames reprodutivos

Esses exames permitem selecionar os animais aptos à reprodução. Os


machos são avaliados através de exame andrológico para verificar seu potencial
de fertilização. As fêmeas são avaliadas por exame ginecológico, com a finalidade
de selecionar as vacas aptas para a reprodução, identificar doenças e infecções no
sistema reprodutivo que podem interferir na ovulação e na concepção. E s t a
avaliação deve ser realizada por médico veterinário, em intervalos regulares
(cada 15 dias). A identificação e o tratamento precoce de doenças, infecções e
outros problemas reprodutivos permitem o aumento da eficiência reprodutiva
(BERGAMASCHI; MACHADO; BARBOSA, 2010).

Exames sanitários

As avaliações da saúde geral do rebanho e de doenças reprodutivas


específicas (leptospirose, rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), diarreia bovina
a vírus (BVD), neosporose e brucelose) que podem efetivamente comprometer a
gestação devem ser realizadas. Estratégias de controle com o uso de programas
de vacinação devem ser estabelecidas sob a supervisão de um médico veterinário
(BERGAMASCHI; MACHADO; BARBOSA, 2010).

Avaliação da condição corporal

A avaliação da condição corporal deve ser realizada com frequência e com


maior atenção na hora do parto, no pico de lactação e na secagem, essa avaliação é
um importante instrumento de monitoramento do estado nutricional dos animais
do rebanho. A avaliação da condição corporal é realizada pela medida subjetiva
de gordura depositada sobre as costelas, nas ancas, nas apófises transversas das
vértebras lombares e na inserção da cauda. As vacas em condição corporal ruim
(magras) produzem bezerros mais leves, geralmente com maior mortalidade
no período de aleitamento, e com isso o pico da lactação fica comprometido.
Nessa condição o período para recuperação da vaca é maior e ocorre atraso
para o surgimento do primeiro cio pós-parto (BERGAMASCHI; MACHADO;
BARBOSA, 2010).

De acordo com Machado et al. (2008), a escala mais difundida está ilustrada
no Quadro 1 e abrange escores de 1 a 5.

20
TÓPICO 2 | A EFICIÊNCIA PRODUTIVA E REPRODUTIVA DA ATIVIDADE LEITEIRA

QUADRO 1 – ESCALA DE ESCORES DE CONDIÇÃO CORPORAL (ECC) PARA VACAS LEITEIRAS

ECC = 1
O escore 1 é para vacas muito
magras e é caracterizado por
cavidade profunda na região de
inserção da cauda, costelas e ossos
da pélvis (bacia) pronunciados
e facilmente palpáveis, ausência
de tecido gorduroso na pélvis
ou na área do lombo e profunda
depressão na região do lombo.

ECC = 2

O escore 2 é para vacas magras e é


caracterizado por cavidade rasa ao
redor da inserção da cauda, pélvis
facilmente palpável, extremidades
das costelas mais posteriores
arredondadas e superfícies sentidas
com ligeira pressão, e depressão
visível na área do lombo.

ECC = 3
O escore 3 é para vacas em
estado corporal intermediário
e é caracterizado por ausência
de cavidade, mas presença de
gordura na inserção da cauda,
pélvis palpável com ligeira pressão,
camada de tecido sobre a parte
superior das costelas, sentidas sob
pressão, e ligeira depressão no
lombo.

ECC = 4
O escore 4 é para vacas gordas
e é caracterizado por pregas de
gordura visíveis na inserção da
cauda e pequenas porções de
gordura sobre os ísquios, pélvis
sentida somente com pressão
firme, costelas mais posteriores não
palpáveis e ausência de depressão
no lombo.

21
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

ECC = 5
O escore 5 é para vacas muito
gordas e é caracterizado por
inserção da cauda imersa em
camada espessa de tecido adiposo,
ossos pélvicos não mais palpáveis,
nem mesmo com pressão firme,
e costelas posteriores cobertas
por espessa camada de tecido
gorduroso.

FONTE: Adaptado de Machado et al. (2008)

3 FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O SUCESSO


REPRODUTIVO
Segundo Bergamaschi, Machado e Barbosa (2010), os fenômenos
reprodutivos de interesse na fisiologia da vaca são a manifestação do estro, ou
cio, com ocorrência da ovulação, concepção e manutenção da prenhez. Nesse
sentido, diversos são os fatores capazes de comprometer a eficiência reprodutiva
das vacas, por exemplo:

• o protocolo de inseminação;
• a qualidade dos oócitos (gametas femininos);
• o ambiente uterino;
• o reconhecimento materno da prenhez;
• a condição corporal;
• a produção de leite;
• as doenças;
• os ingredientes da dieta;
• o touro.

Os autores destacam que para se obter o sucesso reprodutivo, alguns


pontos são fundamentais. Esses pontos compreendem:

• evitar partos prematuros;


• iniciar rapidamente o tratamento de endometrites e as doenças do pós-parto;
• antecipar o retorno ao estro e identificá-lo corretamente;
• inseminar no tempo certo, monitorar a eficiência do inseminador e realizar o
diagnóstico precoce de gestação.

Além disso, deve-se ter cuidado não só no manejo geral dos animais,
como também no manejo alimentar e ambiental. É necessário fornecer a nutrição
adequada aos animais para que os índices reprodutivos satisfatórios sejam
alcançados, além disso, o conforto animal interfere na produção de leite e na

22
TÓPICO 2 | A EFICIÊNCIA PRODUTIVA E REPRODUTIVA DA ATIVIDADE LEITEIRA

reprodução. Neste sentido, o acesso dos animais às áreas sombreadas, bebedouros


e abrigos contribui para o controle do estresse térmico, favorecendo a concepção
e a manutenção da gestação (BERGAMASCHI; MACHADO; BARBOSA, 2010).

4 ÍNDICES REPRODUTIVOS
Caro acadêmico, o gerenciamento e monitoramento de um rebanho
podem ser realizados com o auxílio dos índices reprodutivos. Esses índices
permitem o controle efetivo do rebanho, fornecendo informações adquiridas dos
exames reprodutivos e do registro das datas dos eventos ocorridos durante a
vida do animal (nascimento, ocorrência de cios, acasalamentos, partos e abortos).
Essas informações são muito úteis na condução das atividades, como a escolha
de genótipos de interesse para a atividade produtiva e o descarte de animais de
menor potencial produtivo (BERGAMASCHI; MACHADO; BARBOSA, 2010).

A avaliação da eficiência reprodutiva é uma tarefa complexa e envolve


vários eventos durante a vida do animal que devem ser avaliados em conjunto.
Visitas técnicas regulares (mensais ou quinzenais) são essenciais para avaliar o
desempenho do rebanho, permitindo realizar com agilidade alterações de manejo
e ambientais (BERGAMASCHI; MACHADO; BARBOSA, 2010).

Visto isso, acadêmico, a seguir iremos descrever e conceituar os índices de


monitoramento da eficiência reprodutiva.

Idade da puberdade, da primeira cobertura e do primeiro parto

A puberdade se caracteriza pelo primeiro cio, momento em que a fêmea


tem potencialidade para se reproduzir. A idade em que ocorre a puberdade
varia com a raça, mas o principal fator que influencia esse índice é o manejo
nutricional. De maneira geral, as primeiras manifestações do cio ocorrem quando
o animal apresenta aproximadamente 40% do peso que terá na idade adulta (o
peso da vaca adulta é obtido dos animais do rebanho com mais de três partos),
mas é necessário que o animal, ao ser acasalado, já tenha passado por alguns
cios e tenha chegado a 60% do peso à idade adulta. Já a idade ao primeiro parto
representa a entrada do animal em sua fase produtiva. Quanto mais cedo isso
ocorrer, maior o número de crias produzidas e mais rápido o ganho genético
(NASCIF; MOREIRA; LOBATO, 2014).

As raças especializadas atingem a puberdade quatro a seis meses mais


cedo do que as raças zebuínas. Assim, novilhas taurinas podem entrar em
reprodução por volta dos 15 meses de idade, o que permite o primeiro parto
com 24 meses de idade. Um peso mínimo ao primeiro parto de 80% do peso à
idade adulta deve ser respeitado. Estabelecida a meta de peso ao primeiro parto,
é preciso estipular metas de ganho de peso durante as fases anteriores de recria
(NASCIF; MOREIRA; LOBATO, 2014).

23
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

Intervalo de partos

De acordo com Nascif, Moreira e Lobato (2014), o espaço de tempo ideal


entre um parto e outro é de 12 a 13 meses. Intervalos de partos mais longos adiam
a próxima parição, atrasando a geração de um novo bezerro e de uma nova
lactação, causando comprometimento econômico, além de limitar a intensidade
do melhoramento genético. O intervalo de partos pode ser considerado um
instrumento de medida das condições de alimentação, sanidade, conforto e
manejo geral oferecido ao rebanho. A redução do intervalo de partos pode
aumentar a produção de leite e o número de bezerros. Ao analisarmos a tabela a
seguir, percebemos que a redução do intervalo de partos de 14 para 12 meses ou
de 24 para 12 meses pode aumentar de 16 a 100% a produção de leite e aumentar
significativamente o número de bezerros nascidos por ano.

TABELA 6 – AUMENTO DA PRODUÇÃO DE LEITE E DO NÚMERO DE BEZERROS A PARTIR DA


REDUÇÃO DE INTERVALO DE PARTOS
Número de bezerras nascidas
Intervalo Aumento percentual na
por ano em um
(meses) produção de leite
rebanho de 100 vacas
De Para De Para
24 12 100% 50 100
21 12 75% 57 100
18 12 50% 66 100
16 12 33% 75 100
14 12 16% 86 100
FONTE: Adaptado de Nascif, Moreira e Lobato (2014)

Período voluntário de espera

Os autores Bergamaschi, Machado e Barbosa (2010) destacam que o


período voluntário de espera envolve o período entre o parto e o momento de
os animais retornarem à reprodução (45 a 50 dias). De acordo com os autores, a
primeira ovulação ocorre cerca de 25 dias após o parto, no entanto, a primeira
detecção de estro ocorre depois. As vacas que manifestam sinal de cio antes
dos primeiros 30 dias após o parto requerem menos serviços por concepção em
comparação às vacas que não manifestaram os sinais de cio durante esse período.

5 PERÍODO DE SERVIÇO
Prezado acadêmico, até esse momento já avaliamos que o monitoramento
do rebanho através de exames reprodutivos, exames sanitários e a avaliação da
condição corporal são muito importantes, bem como realizar o gerenciamento e
monitoramento do rebanho com o auxílio dos índices reprodutivos. Outro fator

24
TÓPICO 2 | A EFICIÊNCIA PRODUTIVA E REPRODUTIVA DA ATIVIDADE LEITEIRA

de grande importância é o período de serviço, que pode ser definido como o


tempo decorrido entre o parto e a concepção, e costuma variar de 85 a 115 dias
(NASCIF; MOREIRA; LOBATO, 2014).

A primeira ovulação após o parto ocorre com cerca de 25 dias, como já


foi mencionado anteriormente, mas não é recomendável aproveitar o primeiro
cio, pois o útero necessita mais tempo para voltar à normalidade e a vaca não
apresenta uma situação hormonal adequada. O aproveitamento do cio até 90
dias após o parto irá garantir um intervalo de partos de 12 meses. Uma vaca
saudável manifesta sinal de cio em intervalos de 18 a 24 dias e a sua duração varia
de seis a 20 horas. O estro (cio) pode ser detectado através do uso de métodos
auxiliares, como equipamentos eletrônicos, pedômetros ou sensores de pressão
(BERGAMASCHI; MACHADO; BARBOSA, 2010). No entanto, a observação
humana é indispensável. A habilidade e conhecimento técnico da pessoa
responsável pela identificação do cio é determinante; por outro lado, instalações
inadequadas, o estresse térmico e a alta incidência de afecções no casco podem
dificultar a detecção do cio (BERGAMASCHI; MACHADO; BARBOSA, 2010).

NOTA

Prezado acadêmico, entenda como sistema pedômetro o equipamento que


registra o número de passos da vaca. Vacas em cio se movimentam mais, logo, o pedômetro
registra um aumento do número de passos, indicando que a vaca está em cio.

Taxa de prenhez

A taxa de prenhez é indicadora da eficiência reprodutiva, pode ser


calculada pela divisão entre o número de animais prenhes e o número de animais
que foram expostos à reprodução em determinado período (Equação 1), ou então,
pode ser calculada por meio da multiplicação da taxa de detecção de estro pela
taxa de concepção (Equação 2) (BERGAMASCHI; MACHADO; BARBOSA, 2010).

ŶŶŶŶŶŶŶŶŶ
TAXA DE PRENHEZ = (1)
TOTAL DE VACAS EXPOSTAS

TAXA DE PRENHEZ = TAXA DE DETECÇÃO X TAXA DE CONCEPÇÃO (2)

O índice ideal é de 35% de taxa de prenhez, o que significa que após


submetidas à reprodução, a cada ciclo estral, 35% das vacas devem conceber
(BERGAMASCHI; MACHADO; BARBOSA, 2010).

25
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

Taxa de concepção

A taxa de concepção pode ser determinada pela divisão do número de


vacas prenhes, pelo número total de inseminações realizadas em determinado
período (Equação 3), ou seja, indica a porcentagem de vacas que ficaram prenhes
dentro de um dado período em relação ao número total de vacas inseminadas,
o índice ideal é de 50% no mínimo (BERGAMASCHI; MACHADO; BARBOSA,
2010).

Nº DE VACAS PRENHES
TAXA DE CONCEPÇÃO = (3)
TOTAL DE INSEMINAÇÕES REALIZADAS

Número de serviços por concepção

Segundo Bergamaschi, Machado e Barbosa (2010), a razão entre o número


de acasalamentos pelo número de animais que conceberam resulta no número de
serviços por concepção (Equação 4).

ŶŶŶŶŶŶŶŶŶ
SERVIÇOS DE CONCEPÇÃO = (4)
Nº DE ANIMAIS QUE CONCEBERAM

Taxa de inseminação

A taxa de inseminação representa a percentagem de fêmeas inseminadas


em relação ao número de fêmeas submetidas à reprodução (Equação 5). A taxa
de detecção de cio influencia diretamente este índice, ou seja, quanto maior a
taxa de detecção de cio, maior a taxa de inseminação. O ideal é que seja superior
a 50% (BERGAMASCHI; MACHADO; BARBOSA, 2010; NASCIF; MOREIRA;
LOBATO, 2014).

Nº DE VACAS INSEMINADAS
TAXA DE INSEMINAÇÃO = (5)
Nº DE VACAS SUBMETIDAS À REPRODUÇÃO

26
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os exames e avaliações realizados para o monitoramento do rebanho incluem


os exames reprodutivos, exames sanitários e a avaliação da condição corporal.

• Os fenômenos reprodutivos de interesse são a manifestação do estro, com


ocorrência da ovulação, concepção e manutenção da prenhez.

• O gerenciamento e monitoramento de um rebanho podem ser realizados com


o auxílio dos índices reprodutivos.

• A puberdade se caracteriza pelo primeiro cio, momento em que a fêmea tem


potencialidade para se reproduzir. Já a idade ao primeiro parto representa a
entrada do animal em sua fase produtiva.

• O espaço de tempo ideal entre um parto e outro é de 12 a 13 meses. A redução


do intervalo de partos pode aumentar a produção de leite e o número de
bezerros.

• O período voluntário de espera envolve o período entre o parto e o momento


de os animais retornarem à reprodução.

• O período de serviço pode ser definido como o tempo decorrido entre o parto
e a concepção.

• A taxa de prenhez pode ser determinada pela divisão entre o número de


animais prenhes e o número de animais que foram expostos à reprodução em
determinado período.

• A taxa de concepção pode ser determinada pela divisão do número de vacas


prenhes, pelo número total de inseminações realizadas em determinado
período.

• A taxa de inseminação representa a percentagem de fêmeas inseminadas em


relação ao número de fêmeas submetidas à reprodução.

27
AUTOATIVIDADE

Vamos testar nossos conhecimentos a respeito da eficiência produtiva e


reprodutiva dos bovinos de leite.

1 A partir do estudo deste tópico, vimos que um importante instrumento de


monitoramento do estado nutricional dos animais do rebanho é a avaliação
da condição corporal. Essa avaliação pode ser realizada utilizando uma
escala (ECC) que abrange escores de 1 a 5. Sobre a avaliação da condição
corporal do rebanho, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as
falsas:

( ) As vacas em condição corporal ruim (gordas, ECC = 4 ou 5) produzem


bezerros mais leves, geralmente com maior mortalidade no período de
aleitamento.
( ) O escore 1 é para vacas muito gordas e é caracterizado por inserção da
cauda imersa em camada espessa de tecido adiposo e costelas posteriores
cobertas por espessa camada de tecido gorduroso.
( ) As vacas em condição corporal ruim, ECC = 1, necessitam de um período
maior para recuperação e ocorre atraso para o surgimento do primeiro cio
pós-parto.
( ) O escore 3 é para vacas em estado corporal intermediário e é caracterizado
por ausência de cavidade, mas presença de gordura na inserção da cauda,
camada de tecido sobre a parte superior das costelas e ligeira depressão no
lombo.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) F – F – F – V.
c) ( ) F – F – V – V.
d) ( ) V – V – F – V.

2 Os índices reprodutivos permitem controlar o rebanho e adquirir


informações úteis na condução das atividades, como a escolha de genótipos
de interesse para a atividade produtiva e o descarte de animais de menor
potencial produtivo. Diante disso, o que a taxa de prenhez indica? Como ela
pode ser determinada?

28
UNIDADE 1
TÓPICO 3

NUTRIÇÃO E BOAS PRÁTICAS NA


BOVINOCULTURA DE LEITE

1 INTRODUÇÃO
Bem-vindo, acadêmico, ao terceiro tópico de estudo da bovinocultura
de leite. A partir dos estudos deste tópico, iremos conhecer a respeito das boas
práticas na produção de leite, para isso vamos analisar o controle sanitário dos
rebanhos de leite a partir da saúde animal, da higiene na ordenha e na pós-
ordenha, analisar as boas práticas na produção de leite do ponto de vista do meio
ambiente e da gestão socioeconômica da propriedade.

Iremos avaliar a nutrição animal, visto que uma nutrição de qualidade


resulta em animais leiteiros saudáveis, aumento da produtividade e qualidade do
leite. Avaliaremos também a questão do bem-estar animal, os pontos importantes
de instalações e manejo considerando as “cinco liberdades”, que constituem um
conceito importante do bem-estar animal.

Bons estudos!

2 CONTROLE SANITÁRIO DOS REBANHOS DE LEITE


Em todo o mundo os sistemas de produção precisam combinar
rentabilidade com sustentabilidade, proteger a saúde humana e o bem-estar
animal (FAO; IDF, 2013). A produção e produtividade da pecuária de leite
dependem diretamente da saúde dos animais. Esses fatores são afetados quando
não são realizadas medidas de controle para evitar que os animais adoeçam
(GONÇALVES, 2007).

Nesse sentido, o manejo adequado dos animais é indispensável para a


sustentabilidade da pecuária, uma vez que quando o problema sanitário se instala,
mais custos são gerados e, portanto, maior é o prejuízo financeiro (EMBRAPA,
2018).

Diante disso, o foco deste tópico será nas boas práticas da pecuária de leite
para assegurar a saúde dos animais através de um manejo sanitário efetivo, pois
assim os produtores de leite podem agregar valor ao seu produto satisfazendo
as demandas da indústria de processamento e as exigências dos consumidores
(FAO; IDF, 2013).

29
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

2.1 SAÚDE ANIMAL


Prezado acadêmico, de acordo com informações divulgadas pela
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (Food and
Agriculture Organization of the United Nations - FAO) e pela Federação Internacional
de Laticínios (International Dairy Federation - IDA) em um estudo denominado
guia de boas práticas na pecuária de leite, de 2013, as boas práticas na pecuária
de leite em relação à saúde animal contemplam em estabelecer o rebanho com
resistência a doenças, prevenir a entrada de doenças na propriedade, estabelecer
um programa eficiente de sanidade do rebanho e utilizar produtos químicos e
medicamentos veterinários conforme orientação técnica (FAO; IDF, 2013).

Para estabelecer um rebanho com resistência a doenças, alguns pontos


são fundamentais, como escolher raças e animais bem adaptados às condições do
ambiente e aos sistemas de produção da região, determinar o tamanho do rebanho
e a taxa de lotação com base em conhecimento prático de manejo, condições
locais e disponibilidade de terra, infraestrutura, alimentos e outros insumos e
vacinar todos os animais como recomendado ou exigido pelas autoridades locais
de saúde animal (FAO; IDF, 2013).

Com a finalidade de prevenir a entrada de doenças na propriedade, é


importante fazer a aquisição de animais saudáveis. Outro fator é o cuidado com
o transporte de animais dentro e fora da propriedade e o controle em relação às
propriedades vizinhas, para que doenças não sejam introduzidas no rebanho.
Além disso, procurar limitar, dentro do possível, o acesso de pessoas e animais
silvestres à propriedade, adotar um programa de controle de pragas e usar sempre
equipamentos limpos de fornecedores confiáveis (FAO; IDF, 2013).

Para garantir a saúde animal é importante estabelecer um programa


eficiente de sanidade do rebanho. Para isso, faz-se necessária a utilização de
um sistema para a identificação individual de todos os animais. Exemplos de
sistemas de identificação incluem brincos de orelha, tatuagem, marcação a frio
e identificação por radiofrequência (RFID), como os microchips. É importante
desenvolver um programa de manejo sanitário efetivo focado na prevenção
que atenda às necessidades da propriedade, bem como as normas e legislações
regionais e nacionais. Além disso, realizar a inspeção regular dos animais com
a finalidade de se detectar rapidamente as doenças, manter os animais doentes
isolados, identificar e atender esses animais rapidamente e de forma apropriada,
separar o leite dos animais doentes, realizar o controle das doenças do rebanho
que podem afetar a saúde pública (zoonoses) e sempre procurar orientação
técnica no momento de utilizar produtos químicos e medicamentos veterinários
(FAO; IDF, 2013).

30
TÓPICO 3 | NUTRIÇÃO E BOAS PRÁTICAS NA BOVINOCULTURA DE LEITE

2.2 HIGIENE NA ORDENHA


A pecuária leiteira tem como atividade central a ordenha. Essa etapa
é fundamental, pois o manejo da ordenha tem como objetivo minimizar as
contaminações microbianas, químicas e físicas. O manejo da ordenha deve
garantir a saúde dos animais e a qualidade do leite, visando sempre as boas
práticas na produção leiteira (FAO; IDF, 2013).

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA,


2018), os procedimentos higiênicos de manejo na ordenha devem abranger três
etapas: limpeza e desinfecção da sala de ordenha, manejo na ordenha mecânica e
manual e na pós-ordenha (resfriamento e estocagem do leite).

Limpeza e desinfecção da sala de ordenha

De acordo com o portal da Embrapa Gado de Leite, os critérios para um


manejo adequado nessa etapa envolvem utilizar uma sala de ordenha adequada,
em bom estado de conservação e dispor de água em quantidade suficiente. A sala
de ordenha deve apresentar paredes lisas, caiadas ou azulejadas, sem buracos
ou reentrâncias. Ao final de cada ordenha deve-se realizar a limpeza do local,
removendo fezes, urina, leite e demais matérias orgânicas presentes. As paredes
e pisos devem ser esfregados e lavados com jatos de água. A desinfecção da sala
de ordenha deve ser realizada mensalmente, a não ser que haja casos de surto
de doença, lembrando sempre de limpar e lavar a sala antes da aplicação de
desinfetante (EMBRAPA, 2018).

Ordenha

Para a realização da ordenha deve-se conduzir as vacas de forma


organizada e com calma, organizando-as de modo que as novilhas e vacas
saudáveis sejam ordenhadas por primeiro e as vacas mais velhas ou que tenham
apresentado mastite ou outra doença por último (EMBRAPA, 2018).

Em relação aos ordenhadores, é importante se certificar de que tenham


higiene apropriada e recebam treinamento para exercer suas atividades, dando
atenção especial à higienização das mãos. Antes de prosseguir com a ordenha
é necessário garantir que os tetos das vacas estejam limpos e secos e observar
se o leite dos primeiros jatos apresentam alteração (presença de grumos, pus
amarelado ou aquoso). Caso o leite apresente alterações é necessário separar e
descartar o leite, pois estas alterações são sinais de mastite clínica, além disso,
deve-se separar o animal e tratá-lo com a orientação de um médico veterinário
(EMBRAPA, 2018).

A ordenha pode ser iniciada logo após a preparação do úbere, cada animal
deve ser ordenhado com calma, continuamente até o final. No caso da ordenha
mecânica, colocar as teteiras de modo a minimizar a entrada de ar no sistema
e ajustá-las. Imediatamente após a ordenha, imergir completamente os tetos da

31
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

vaca em desinfetante apropriado, formulados especialmente para a higienização


dos tetos. Ao final de cada ordenha deve-se realizar a limpeza dos utensílios e
equipamentos, de acordo com as recomendações do fabricante, e limpar o local
(EMBRAPA, 2018).

Pós-ordenha

A etapa de pós-ordenha, caro acadêmico, compreende o resfriamento


e estocagem do leite, que também demanda de muito cuidado para que se
evite contaminações. Para que esta etapa seja eficiente é necessário realizar a
higienização do tanque de refrigeração com produtos de limpeza apropriados,
seguindo as recomendações do fabricante. O leite deve ser resfriado à temperatura
inferior a 4 ºC em até duas horas após a ordenha. O tanque de refrigeração
deve manter o leite armazenado na temperatura requerida até o momento da
coleta – e ser construído de material que não contamine o leite –, deve ser limpo
imediatamente após a retirada do leite, de acordo com as recomendações do
fabricante (EMBRAPA, 2018).

DICAS

Acadêmico, se você quiser aprofundar seus conhecimentos sobre os


cuidados e as boas práticas na produção leiteira, sugerimos a leitura do guia: Boas
Práticas Agropecuárias na Produção Leiteira - Parte II, da Série Qualidade e Segurança
dos Alimentos, desenvolvido pela Embrapa Transferência de Tecnologia no ano de
2005. Disponível em: <https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/111870/1/
BOASPRATICASAGROPBoaspraticasagropecuariasnaproducaoleiteiraparteII.pdf>.

2.3 MEIO AMBIENTE


Atualmente, os produtores devem se preocupar em produzir leite
aproveitando os recursos naturais de forma eficiente e minimizando o
impacto sobre o meio ambiente, pois esses procedimentos podem melhorar a
sustentabilidade ambiental do seu sistema de produção, bem como atender às
expectativas dos consumidores que estão cada vez mais preocupados com a
produção sustentável de alimentos (FAO; IDF, 2013).

Na sequência, serão listados, de acordo com a FAO e IDF (2013), alguns


procedimentos importantes na implementação de um sistema de produção de
leite ambientalmente sustentável.

• Utilizar os insumos agropecuários (água e nutrientes) de forma eficiente e


sustentável.
• Procurar diminuir a produção de poluentes ambientais.

32
TÓPICO 3 | NUTRIÇÃO E BOAS PRÁTICAS NA BOVINOCULTURA DE LEITE

• Implementar estratégias de manejo que minimizem os impactos ambientais.


• Selecionar e usar de maneira adequada os recursos energéticos, por exemplo,
obter energia a partir dos efluentes da atividade leiteira e aproveitar o calor
resultante do sistema de resfriamento do leite ou de máquinas.
• Manter e/ou promover a biodiversidade na propriedade, estabelecendo áreas
não produtivas como hábitat para plantas e animais nativos e preservando
áreas remanescentes do ecossistema natural.

Uma outra questão das boas práticas na produção de leite relacionada


ao meio ambiente é um sistema apropriado de tratamento de resíduos. Essa
proposta pode ser estabelecida a partir da implementação de métodos para
reduzir, reutilizar ou reciclar os resíduos da propriedade e do gerenciamento do
descarte e armazenamento de resíduos para minimizar os impactos ambientais
(FAO; IDF, 2013).

Os produtores devem se certificar de que os procedimentos de produção


de leite não têm efeito adverso sobre o meio ambiente, controlando os descartes
da atividade leiteira (com instalações de armazenamento de óleo, água suja e
outras substâncias poluentes e evitar o descarte de produtos fitossanitários e
veterinários onde há possibilidade de contaminação do ambiente), usando os
produtos fitossanitários, medicamentos veterinários e fertilizantes de maneira
apropriada e garantindo que a propriedade produza alimento de alta qualidade
com mínimo impacto possível sobre o meio ambiente (FAO; IDF, 2013).

2.4 GESTÃO SOCIOECONÔMICA


Do ponto de vista das boas práticas na produção de leite, uma empresa rural
deve ser socialmente responsável e economicamente sustentável. Os produtores
de leite devem gerenciar e cuidar dos recursos humanos da propriedade, mas
também devem avaliar o papel da empresa na sociedade, como empregador,
consumidor de recursos naturais e os impactos que a empresa pode causar. Em
relação à gestão socioeconômica, FAO e IDF (2013) descrevem que as boas práticas
de produção de leite visam:

• A implementação de um programa eficaz e responsável de gestão de pessoas.


• Garantir a realização das tarefas da propriedade de forma segura e competente.
• O gerenciamento da empresa certificando sua viabilidade financeira.

O bem-estar e satisfação de todos envolvidos na gestão da propriedade


e suas famílias são essenciais para o desenvolvimento e sucesso do sistema de
produção. Para evitar perigos à saúde dos trabalhadores ou consumidores, as
leis e regulamentos sobre higiene e segurança devem ser seguidos durante as
operações relacionadas com a produção de leite (EMBRAPA, 2018). Em função
disso, a Embrapa (2018) relacionou alguns itens fundamentais para a higiene,
segurança e bem-estar dos trabalhadores:

33
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

• Tratar os empregados com respeito e dignidade e oferecer condições dignas de


moradia.
• Respeitar a legislação trabalhista e as obrigações sociais.
• Oferecer capacitação e treinamentos aos empregados.
• Oferecer instalações e equipamentos de segurança de modo que o trabalho seja
realizado de maneira segura.
• Garantir que as normas de segurança são observadas durante o trabalho.
• Realizar exames periódicos em todos os trabalhadores.
• Arquivar os registros relacionados à saúde e segurança.
• Disponibilizar transporte seguro e instalações adequadas para alimentação e
para a higiene pessoal dos trabalhadores.

3 NUTRIÇÃO NA PECUÁRIA LEITEIRA


Prezado acadêmico, como podemos perceber, o manejo sanitário do
rebanho para a produção de leite necessita de muita atenção e responsabilidade
do produtor e/ou gestor da fazenda de leite. Além dos cuidados com a saúde
animal, com a higiene na ordenha e de questões relacionadas ao meio ambiente
e da gestão socioeconômica, a quantidade e qualidade dos alimentos e da água,
ou seja, a nutrição dos animais também é um dos orientadores das boas práticas
na pecuária de leite.

FIGURA 8 – OBJETIVOS ORIENTADORES DAS PRÁTICAS NA PECUÁRIA DE LEITE – NUTRIÇÃO

FONTE: FAO e IDF (2013, s.p.)

Veja, caro acadêmico, que uma nutrição de qualidade resulta, em grande


parte, em animais leiteiros saudáveis, que produzem mais leite, de maior
qualidade e segurança. A nutrição inadequada, seja em quantidade ou em
qualidade, afetará a produtividade do rebanho e poderá resultar em animais fora
dos padrões requeridos em termos de desenvolvimento corporal e de produção
de leite (EMBRAPA, 2018).

34
TÓPICO 3 | NUTRIÇÃO E BOAS PRÁTICAS NA BOVINOCULTURA DE LEITE

É necessário garantir o fornecimento de alimentos e água provenientes de


fontes sustentáveis, planejando com antecedência para garantir que o rebanho
tenha as necessidades de alimento e água atendidas, assim os riscos são reduzidos
e o produtor pode identificar fontes mais baratas de alimento. Implementar
práticas sustentáveis na produção de forragem, gerenciando o fluxo de nutrientes
na propriedade, o uso apropriado de efluentes e fertilizantes para a produção
de forragens, e também procurar adquirir insumos de fornecedores que adotam
práticas sustentáveis (FAO; IDF, 2013).

De acordo com Brito, Pinto e Brito (2006), os alimentos fornecidos aos


animais devem ser livres de compostos que possam causar problemas à saúde
tanto dos animais quanto dos consumidores dos produtos desses animais, visto
que a produção de concentrados, silagens e fenos a partir de matéria-prima
que apresenta desenvolvimento de micro-organismos (mofos, bolores) que
produzem toxinas pode afetar a saúde dos animais e passar para o leite, causando
problemas aos consumidores. Por esse motivo, deve-se utilizar matéria-prima de
boa qualidade e de acordo com as recomendações técnicas para elaboração dos
alimentos fornecidos aos animais. Brito, Pinto e Brito (2006) elencam outros itens
que são recomendados:

• Disponibilizar mistura mineral de qualidade e à vontade para todos os animais


e proteger os cochos de sal, da chuva e do sol.
• Utilizar na suplementação alimentar dos animais somente produtos aprovados
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
• Estocar os suplementos alimentares protegidos de umidade, de roedores e de
contaminação.
• Disponibilizar a todos os animais água limpa à vontade.

Uma prática importante é garantir a rastreabilidade dos alimentos


adquiridos pela propriedade, o produtor deve, sempre que possível, utilizar
alimentos de fornecedores com programa reconhecido de garantia da qualidade,
permitindo assim o monitoramento de resíduos, doenças e a rastreabilidade
dos ingredientes até sua fonte. Para o produtor ter controle dos alimentos ou
ingredientes recebidos na propriedade, pode-se adotar um sistema apropriado
para registrar e rastrear esses produtos, permitindo, a partir de uma declaração
do fornecedor, identificar e rastrear todos os tratamentos aplicados para os
alimentos (FAO; IDF, 2013).

DICAS

Na produção orgânica, é proibido utilizar alimentos de origem animal na


alimentação do rebanho bovino (BRITO; PINTO; BRITO, 2006). Os insumos que são permitidos
ou proibidos para uso na alimentação animal e na produção orgânica estão especificados no
Anexo IV, da Instrução Normativa nº 07, do Mapa, de 17 de maio de 1999, disponibilizada no
site <www.agricultura.gov.br>.

35
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

4 BEM-ESTAR ANIMAL
Segundo Pires, Campos e Oliveira (2007), existem diferentes definições
para o termo bem-estar animal, sendo os mais citados os listados a seguir:

• “bem-estar animal é o estado de harmonia entre o animal e seu ambiente,


caracterizado por condições físicas e fisiológicas ótimas e alta qualidade de
vida do animal”;
• “o bem-estar se refere ao estado de um indivíduo em relação ao seu ambiente”;
• “bem-estar é o estado de um organismo durante as suas tentativas de se ajustar
ao seu ambiente”.

Veja, caro acadêmico, todas estas definições demonstram que o bem-estar


é uma característica própria do animal. Nesse sentido, podemos, por meio de
ações, procurar melhorar as condições para que o animal se sinta bem, porém não
podemos garantir seu bem-estar, pois o bem-estar é próprio dos animais (PIRES;
CAMPOS; OLIVEIRA, 2007).

O bem-estar animal está relacionado, principalmente, ao conforto animal.


Os consumidores, de maneira geral, associam o bem-estar animal com um
alimento saudável, seguro e de qualidade. Segundo os códigos de bem-estar
animal, a implementação das boas práticas relativas ao bem-estar animal deve
considerar as “cinco liberdades” que constituem um conceito abrangente do
bem-estar animal (FAO; IDF, 2013).

FIGURA 9 – OBJETIVOS ORIENTADORES DAS PRÁTICAS NA PECUÁRIA DE LEITE – BEM-ESTAR


ANIMAL – CINCO LIBERDADES

FONTE: FAO e IDF (2013, s.p.)

36
TÓPICO 3 | NUTRIÇÃO E BOAS PRÁTICAS NA BOVINOCULTURA DE LEITE

Os animais devem ser mantidos livres de sede, fome e desnutrição

Para que isso ocorra, o produtor deve fornecer diariamente alimentos


e água em quantidade suficiente para todos os animais. As necessidades dos
animais variam por diversos fatores (idade, peso corporal, estágio de lactação,
nível de produção, crescimento, gestação). Além disso, necessitam de espaço
suficiente para se alimentarem e beberem água. Os alimentos fornecidos devem
ser de qualidade e com base nas necessidades nutricionais dos animais, baseados
em uma dieta equilibrada e com acesso a água limpa (FAO; IDF, 2013).

Os animais precisam ser protegidos do acesso a plantas tóxicas e áreas


contaminadas da propriedade e deve ser garantido o suprimento de água de
qualidade, com livre acesso. O produtor deve limpar regularmente as calhas
de água ou bebedouros e evitar que a dispersão de efluentes de tratamentos e
produtos químicos contaminem o abastecimento de água (FAO; IDF, 2013).

Os animais devem ser mantidos livres de desconforto

Com a finalidade de garantir que os animais sejam mantidos livres de


desconforto, o gestor da propriedade deve planejar a construção das instalações
para que o manejo do rebanho seja livre de obstáculos e perigos. É importante
garantir espaço adequado e cama limpa, evitando superlotação de animais,
agrupando animais com peso e tamanho semelhantes, manejando animais
introduzidos no rebanho para reduzir brigas, garantindo aos animais espaço
suficiente no estábulo para descanso e camas confortáveis, mantendo sempre o
espaço limpo (FAO; IDF, 2013).

Se possível, os animais devem ser protegidos de condições climáticas


adversas, por exemplo, fornecer áreas de sombra e outros meios de amenizar
o calor; em condições de frio, proporcionar proteção com quebra-ventos;
estabulação e alimentação adicional e garantir ventilação adequada para os
animais nos estábulos (FAO; IDF, 2013).

Os pisos nas instalações e áreas de trânsito de animais devem ser seguros,


construídos para minimizar escorregões e contusões. Algum tipo de revestimento
de borracha ou antiderrapante pode ser utilizado em locais de passagem dos
animais, reduzindo desgastes no casco que levam a infecções secundárias.
Durante o transporte, proteger os animais de injúrias e desconforto durante o
embarque e desembarque (FAO; IDF, 2013).

Os animais devem ser mantidos livres de dor, injúrias e doenças

Segundo a FAO e IDF (2013), para garantir o bem-estar animal e que


os animais sejam mantidos livres de dor, injúrias e doenças, alguns fatores são
importantes, tais como:

37
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

• adotar um programa de manejo sanitário do rebanho e inspecionar os animais


regularmente;
• evitar causar dor desnecessária através de algum procedimento;
• seguir práticas apropriadas no parto e no desmame;
• adotar procedimentos adequados para comercialização de animais jovens;
• proteger os animais contra laminite;
• ordenhar regularmente os animais em lactação;
• evitar causar injúrias aos animais durante a ordenha;
• evitar estresse ou dor desnecessários no sacrifício dos animais.

NOTA

Prezado acadêmico, entenda como laminite o processo inflamatório agudo que


atinge as estruturas sensíveis da parede do casco e resulta em claudicação (manqueira) e
deformidade permanente do casco. Para saber mais sobre a laminite, acesse: <http://www.
cnpgl.embrapa.br/sistemaproducao/4102221-laminite>.

Os animais devem ser mantidos livres de medo

Os animais devem manter seu comportamento natural, para isso as


instalações devem permitir a movimentação livre e fácil, além disso, práticas
de manejo bem promovidas e o uso cuidadoso de equipamentos promovem
melhoria da produtividade devido à redução do medo e estresse dos animais.
Para isso, os funcionários da propriedade devem ter treinamento adequado. Sem
a devida competência e cuidado com os animais no manejo, o bem-estar animal
pode ser comprometido (FAO; IDF, 2013).

Promover condições para que os animais sigam padrões normais de


comportamento

Práticas de manejo e procedimentos zootécnicos adequados são


necessários para que os animais sigam os padrões normais de comportamento
(comportamentos de pastoreio, alimentação, reprodutivo e de descanso). Ao
mesmo tempo, certificar que os animais tenham espaço apropriado e que estejam
se alimentando, pois, um indicativo de doença pode ser a observação de que o
animal não está se alimentando (FAO; IDF, 2013).

38
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• As Boas Práticas na Pecuária de Leite, em relação à saúde animal, contemplam


em estabelecer o rebanho com resistência a doenças, prevenir a entrada de
doenças na propriedade, estabelecer um programa eficiente de sanidade do
rebanho e utilizar produtos químicos e medicamentos veterinários conforme
orientação técnica.

• A ordenha é uma etapa fundamental, pois o manejo da ordenha tem como


objetivo minimizar as contaminações microbianas, químicas e físicas.

• Os produtores devem se preocupar em produzir leite aproveitando os recursos


naturais de forma eficiente e minimizando o impacto sobre o meio ambiente.

• Do ponto de vista das boas práticas na produção de leite, uma empresa rural
deve ser socialmente responsável e economicamente sustentável.

• Uma nutrição de qualidade resulta, em grande parte, em animais leiteiros


saudáveis, que produzem mais leite de maior qualidade e segurança.

• Do ponto de vista do bem-estar animal, os animais devem ser mantidos livres


de sede, fome e desnutrição; livres de desconforto; livres de dor, injúrias e
doenças; livres de medo e devem seguir os padrões normais de comportamento.

39
AUTOATIVIDADE

Vamos testar nossos conhecimentos a respeito das boas práticas na produção


de leite.

1 Neste tópico, estudamos que o manejo da ordenha deve garantir a saúde


dos animais e a qualidade do leite, visando sempre as boas práticas na
produção leiteira. De acordo com a Embrapa (2018), os procedimentos
na ordenha devem abranger três etapas: limpeza e desinfecção da sala de
ordenha, manejo na ordenha mecânica e manual e a pós-ordenha. Sobre os
procedimentos na ordenha, associe os itens utilizando o código a seguir:

I- Limpeza e desinfecção da sala de ordenha.


II- Manejo na ordenha.
III- Manejo na pós-ordenha.

( ) Deve ser realizada mensalmente, a não ser que haja casos de surto de
doença.
( ) O leite deve ser resfriado à temperatura inferior a 4 ºC em até duas horas.
( ) Deve-se conduzir as vacas de forma organizada e com calma, organizando-
as de maneira adequada.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) I – III – II.
b) ( ) I – II – III.
c) ( ) II – III – I.
d) ( ) III – I – II.

2 Para garantir a saúde animal é importante estabelecer um programa


eficiente de sanidade do rebanho. Para rastrear e identificar os animais da
propriedade podem ser utilizados sistemas de identificação individual.
Diante disso, aponte três exemplos de sistemas de identificação individual
de animais.

40
UNIDADE 1
TÓPICO 4

SISTEMAS DE PRODUÇÃO E INSTALAÇÕES PARA


PRODUÇÃO DE GADO DE LEITE

1 INTRODUÇÃO
Bem-vindo, acadêmico, ao quarto e último tópico de estudo da
bovinocultura de leite. Neste tópico, vamos avaliar os sistemas de produção de
bovinos de leite. O sistema de produção pode ser extensivo, o qual é identificado
pelo fato de pastagens serem a única fonte de alimentação dos gados leiteiro;
intensivo, caracterizado pelo uso de sistemas de confinamentos para bovinos
leiteiros e o semi-intensivo, que se caracteriza por uma combinação dos sistemas
extensivo e intensivo de produção.

Além disso, vamos conhecer as instalações e estruturas necessárias para o


desenvolvimento da atividade leiteira e vamos aprender sobre o melhoramento
genético animal, uma ferramenta importante na busca de uma maior eficiência
na produção de leite.

Bons estudos!

2 SISTEMAS DE PRODUÇÃO
Prezado acadêmico, quando estudamos os fundamentos do agronegócio,
aprendemos que a exploração dos fatores clássicos de produção (terra, capital
e trabalho) pode ocorrer de maneira intensiva, extensiva ou semi-intensiva, e
tais modelos de exploração podem coexistir, dependendo das necessidades e
da decisão do produtor, considerando suas preferências, condições financeiras e
conhecimento técnico.

Da mesma maneira, a criação de rebanhos leiteiros pode ser classificada


como extensiva, semi-intensiva ou intensiva. Nesse caso, os sistemas de produção
são definidos como os sistemas comerciais de produção de gado quando a
finalidade inclui cruzamentos, criação e manejo do gado com a finalidade de
produzir leite (MAPA, 2014).

41
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

Desse modo, o gado de leite pode ser mantido em sistemas de pastagem


(sistema extensivo), confinamento (sistema intensivo), ou uma combinação de
ambos (sistema semi-intensivo). No sistema de pastagem, o gado é criado ao ar
livre e, dessa maneira, apresenta alguma autonomia sobre a seleção dos alimentos,
consumo de água e acesso a abrigo. Esse sistema extensivo envolve pouca
estrutura, apenas o necessário para a ordenha. No sistema de confinamento o gado
leiteiro é mantido estabulado e depende do produtor para suprir as necessidades
básicas, como alimentação, abrigo e água. Nesse sistema intensivo, os animais
podem ser alojados livremente ou contidos dentro do sistema de alojamento.
No sistema que combina os sistemas de pastagem e o confinamento os animais
são manejados simultaneamente nos dois sistemas ou variado de acordo com a
condição climática ou estado fisiológico do gado (MAPA, 2014).

Sistemas de pastagem (extensivo)

De acordo com Braga e Santos (2010), os sistemas extensivos são


identificados pelo fato de pastagens serem a única fonte de alimentação dos
gados leiteiros. Essa forma de criação é a mais prática e econômica no que se
refere à alimentação de bovinos, sendo o Brasil favorecido para esse tipo de
criação devido à extensão territorial e pelas condições climáticas favoráveis. Do
ponto de vista da sustentabilidade, a pecuária extensiva apresenta uma vantagem
competitiva, a fixação de carbono pelas pastagens.

Segundo Araújo (2001), nesse sistema os animais são criados no pasto e


vão ao curral apenas para ordenha. Os animais são mantidos em pastos nativos,
com manejo precário e apresentam baixa produtividade. No entanto, esse
sistema oferece a vantagem de apresentar custo operacional mais baixo, pouca
necessidade de mecanização, entre outras.

QUADRO 2 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DO SISTEMA DE PASTAGEM


VANTAGENS DESVANTAGENS
Custo operacional relativamente baixo. Necessita de maior área disponível.
Necessita pouca mecanização. Menor atenção individual.
Animais se exercitam regularmente. Maior competição entre os animais.
Alguma flexibilidade em organizar os Os lotes podem não ser homogêneos, por
animais em lotes. falta de espaço.
FONTE: Adaptado de Araujo (2001)

Sistemas de confinamento (intensivo)

O sistema de confinamento se diferencia do sistema de criação de


pastagens, pois nesse sistema as vacas são alimentadas no cocho e necessitam de
instalações confortáveis que propiciem conforto, diminuindo o estresse animal,
aumentando seu bem-estar e sua produtividade. No entanto, nesse sistema o
custo de produção é maior e também é necessária a utilização de mão de obra
especializada (MOTA et al., 2017).
42
TÓPICO 4 | SISTEMAS DE PRODUÇÃO E INSTALAÇÕES PARA PRODUÇÃO DE GADO DE LEITE

Existem diferentes sistemas de confinamentos para bovinos leiteiros, os


sistemas que utilizam baias individuais (Tie Stall), e os sistemas de estabulação
livre com os modelos Loose Housing, o Free Stall, e o Compost Barn. Vamos agora
apresentar algumas características de cada tipo de confinamento de bovinos
leiteiros.

Tie Stall

Nesse sistema, as vacas permanecem lado a lado, contidas em baias


individuais a maior parte do tempo e são mantidas presas por uma corrente
no pescoço. No sistema Tie Stall, as vacas recebem alimentação no cocho e
normalmente ficam soltas apenas na hora da ordenha (MOTA et al., 2017).

FIGURA 10 – VACAS DA RAÇA HOLANDESA CONFINADAS NO SISTEMA TIE STALL

FONTE: Mota et al. (2017, p. 436)

Esse sistema não se aplica a vacas de baixa lactação, devido ao investimento


mais elevado em infraestrutura e a utilização de mão de obra especializada.
As vacas normalmente apresentam alta produção de leite (acima de 25 kg/dia)
(ARAUJO, 2001).

43
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

QUADRO 3 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DO SISTEMA TIE STALL


VANTAGENS DESVANTAGENS
Dificuldade em prender e soltar os
Vacas limpas.
animais.
Possibilidade de maior atenção aos
As vacas se exercitam menos.
animais.
Muito trabalho se não for manejo
Fácil mecanização.
mecanizado.
Situação de trabalho do funcionário
Alto custo de investimento em instalações.
confortável.
Poucas possibilidades de separação de
Manejo prático.
vacas por lotes.
FONTE: Adaptado de Araujo (2001)

Free Stall

No sistema Free Stall, ou estabulação livre, os animais ficam soltos em


uma área cercada, uma parte da área é livre para as vacas se alimentarem e se
exercitarem e outra parte é dividida em baias individuais, destinadas ao descanso
dos animais. A alimentação das vacas é feita no cocho, que pode ou não ser coberto
(ARAUJO, 2001).

FIGURA 11 – VACAS DA RAÇA HOLANDESA CONFINADAS NO SISTEMA


FREE STALL

FONTE: Mota et al. (2017, p. 437)

44
TÓPICO 4 | SISTEMAS DE PRODUÇÃO E INSTALAÇÕES PARA PRODUÇÃO DE GADO DE LEITE

QUADRO 4 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DO SISTEMA FREE STALL


VANTAGENS DESVANTAGENS
Custo operacional econômico. Custo de construção alto.
Fácil mecanização. Menor atenção individual.
Animais se exercitam regularmente. Maior competição.
Flexibilidade na organização de manejos Vacas mais sujas por falha no manejo de
de alimentação, grupos etc. limpeza.
FONTE: Adaptado de Araujo (2001)

Loose housing

Nesse sistema, os animais são confinados em estábulos com área de


repouso coletivo. As vacas ficam em áreas livres para os exercícios e são levadas
para áreas ou galpões separados para a ordenha e alimentação. O sistema Loose
housing é mais simples em comparação ao sistema Free Stall, pois os animais
ficam em grandes currais com área de descanso comum, sendo necessário um
investimento menor por animal alojado (MOTA et al., 2017).

FIGURA 12 – VACAS CONFINADAS NO SISTEMA LOOSE HOUSING

FONTE: Mota et al. (2017, p. 438)

Compost barn

O sistema Compost barn é um sistema de confinamento alternativo do


sistema Loose housing, onde os animais ficam soltos e podem caminhar livremente
dentro de um galpão. Esse sistema tem o objetivo de melhorar o conforto e bem-
estar dos animais e, consequentemente, melhorar os índices de produtividade
do rebanho. No sistema Compost barn, quando as vacas estão em pé, elas passam
mais tempo em uma superfície mais suave (camas), melhorando o bem-estar da
vaca e a sua saúde. Esse sistema apresenta as vantagens de as vacas possuírem
maior liberdade para se movimentar e deitar na região da cama, possuírem menor
possibilidade de apresentar problemas nos cascos e redução de dejetos líquidos
(MOTA et al., 2017).
45
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

FIGURA 13 – VACAS CONFINADAS NO SISTEMA COMPOST BARN

FONTE: Mota et al. (2017, p. 439)

3 INSTALAÇÕES, EQUIPAMENTOS E AMBIÊNCIA


Prezado acadêmico, após termos estudado a respeito dos sistemas de
criação de rebanhos leiteiros, vamos analisar as principais instalações e estrutura
necessária para o desenvolvimento da atividade leiteira. Nesse sentido, o
planejamento da infraestrutura de cada propriedade é importante. É necessário
avaliar as características da propriedade para implementar um sistema de
produção de leite, dessa maneira é possível planejar e dimensionar sua
estrutura física, o tamanho do rebanho, definir metas agronômicas, zootécnicas
e econômicas, utilizar tecnologia para o manejo dos animais e produção de
alimentos e determinar o sistema de trabalho (CARVALHO et al., 2012).

Segundo Campos (2018), para que as instalações sejam eficientes e


econômicas é necessário analisar os objetivos da empresa rural e de seus fatores de
produção (terra, capital e mão de obra), juntamente aos componentes ambientais
(insolação, temperatura, umidade, vento e precipitação) e os materiais e técnicas
disponíveis. De acordo com o autor, o capital, a mão de obra e o componente
ambiente devem ser considerados no planejamento de uma propriedade
destinada à produção de leite.

Em países que dispõem de uma pecuária avançada e moderna, o


planejamento das instalações rurais é feito para longo prazo, pois envolvem grande
investimento de capital. As instalações apresentam vida útil de 20 a 40 anos e os
equipamentos entre 5 a 15 anos, devido ao alto investimento, grandes mudanças
ou adaptações tornam-se caras e inadequadas, nesse sentido, um planejamento
adequado, considerando todas os objetivos, é indispensável (CARVALHO et al.,
2012).

46
TÓPICO 4 | SISTEMAS DE PRODUÇÃO E INSTALAÇÕES PARA PRODUÇÃO DE GADO DE LEITE

A escolha de um determinado sistema de produção de leite por um produtor


pode ser influenciada por fatores econômicos, técnicos e suas preferências. No
entanto, é essencial que os animais tenham condições de conforto, proteção
e um ambiente limpo, seco e de boas condições sanitárias, evitando doenças e
favorecendo uma produção higiênica de leite. Nesse sentido, de acordo com
Campos (2018), alguns fatores precisam ser considerados no planejamento e
escolha das instalações.

Localização

As instalações devem ser localizadas em local que tenha água de


boa qualidade e energia elétrica, de preferência ser uma área ampla, com boa
ventilação e ensolarada, boa drenagem e distante de construções particulares,
para evitar doenças, moscas e odores. Deve-se cuidar com terrenos declivosos,
pois exigem terraplanagem com grandes movimentos de terra, aumentando
os custos das instalações e podendo originar barrancos que podem bloquear a
ventilação natural.

Tamanho ou capacidade

As instalações devem ser dimensionadas corretamente e em número


suficiente para alojar todos os animais, em suas diversas categorias, em função
da evolução atual e futura do rebanho. É importante dimensionar as instalações
de maneira que os animais tenham condições de serem manejados e alimentados
de modo adequado.

Tipo de instalação

O tipo de instalação vai depender do capital disponível, do custo da


instalação, do tamanho do rebanho, da disponibilidade e qualidade da mão de
obra e da preferência do produtor. A instalação deve ser planejada de tal modo
que as tarefas que precisam ser realizadas sejam eficientes, utilizando, na medida
do possível, meios mecânicos para a realização dessas tarefas, aumentando de
maneira significativa a eficiência da mão de obra. Durante a construção, deve-se
evitar paredes com cantos, corredores estreitos e afunilados e degraus e pisos
escorregadios, desse modo melhora-se a locomoção dos animais, minimizando
riscos de traumatismos dos membros e úbere.

Nas instalações adotadas, algumas áreas essenciais precisam ser incluídas.


Essas áreas são destinadas a alojar, alimentar e ordenhar animais; armazenar
volumosos e concentrados; área para maternidade, enfermaria e tratamento,
realizar inseminação artificial e outras áreas de serviço; área para cria e recria dos
animais e para abrigar máquinas e equipamentos (CARVALHO et al., 2012).

Caro acadêmico, como mencionado anteriormente, as instalações


destinadas à criação de rebanhos leiteiros são projetadas e desenvolvidas de
acordo com o sistema de exploração que será adotado: pasto ou confinamento.

47
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

No subtópico anterior vimos que o sistema de pastagem apresenta a vantagem


de ter custo operacional mais baixo e pouca necessidade de mecanização. Mesmo
necessitando de uma estrutura mais simples, de acordo com Carvalho et al.
(2012), nesse sistema as instalações compreendem: currais, sala de ordenha,
sala de leite, bezerreiro convencional ou abrigos individuais, silos, abrigos para
novilhas  e cochos cobertos para minerais, tronco para contenção dos animais,
depósito para alimentos e preparo de rações, reservatório de água, bebedouros e
galpão para abrigo de máquinas e equipamentos. Vimos também que no sistema
de confinamento as vacas são alimentadas no cocho e necessitam de instalações
confortáveis que propiciem conforto e que nesse sistema o custo de produção é
maior e também é necessária a utilização de mão de obra especializada. Vamos
listar a seguir, de acordo com Carvalho et al. (2012), as instalações necessárias
para a implantação de um sistema de confinamento para criação de gado de leite.

• Sistema de alimentação: São necessários galpões de armazenamento de


alimentos e área e equipamentos para confecção de ração (moinho desintegrador,
misturador etc.), caso a ração seja produzida na fazenda.
• Sistema de ordenha: A dimensão do sistema varia de acordo com o investimento
inicial, com o número de vacas em lactação, nível de produção do rebanho e
tempo desejado para a ordenha.
• Descarte das fezes e urina: É um dos maiores problemas na exploração de
leite, onde os animais são mantidos em confinamento ou semiconfinamento.
Recentemente, foram introduzidos na Embrapa Gado de Leite dois sistemas
de manejo de esterco: a fermentação aeróbia, no qual esterco e urina são
depositados em tanques com água suficiente para estabelecer uma solução
líquida e aerada artificialmente. Após a estabilização, este esterco líquido
(chamado de biofertilizante) é utilizado nas áreas de culturas pelo sistema de
irrigação. O segundo sistema de manejo de esterco consiste na separação das
partes sólidas e líquidas, com o armazenamento e reciclagem da fase líquida
para limpeza dos galpões de confinamento. Outra forma interessante de
manejo do esterco é a compostagem, baseada na digestão aeróbia da matéria
orgânica por microrganismos em condições favoráveis (temperatura, umidade,
aeração, pH e qualidade da matéria-prima disponível), transformando a
matéria orgânica em substâncias húmicas, estabilizadas, com propriedades e
características completamente diferentes do material de origem.

NOTA

Prezado acadêmico, as substâncias húmicas se originam da degradação de


resíduos orgânicos e são estudadas devido às importantes funções que desempenham no
solo, como o controle do pH, a biodisponibilidade de contaminantes, entre outras.

48
TÓPICO 4 | SISTEMAS DE PRODUÇÃO E INSTALAÇÕES PARA PRODUÇÃO DE GADO DE LEITE

• Flexibilidade de local e exigências legais: As instalações devem ser planejadas


de modo a permitir expansão futura e adaptação de novas tecnologias e devem
compreender todos os requerimentos legais para a produção e comercialização
de leite.
• Orientação: A orientação das instalações deve permitir uma máxima insolação
interna no inverno e garantir a proteção contra os ventos frios.
• Bezerreiros: Comumente fazem parte do corpo dos estábulos e das salas de
ordenha, quando a ordenha é realizada com o bezerro ao pé, mas podem
ser separados, se o aleitamento for artificial. As baias podem ser coletivas ou
individuais e com piso de cimento. As baias individuais facilitam o manejo,
limpeza e desinfecção, diminuindo os problemas sanitários.
• Cochos externos: São os cochos de sais minerais e os cochos para distribuição
de volumosos e concentrados nos currais e nos pastos.
• Brete ou tronco para vacinação: Facilita o manejo do gado, a pulverização,
marcação, vacinação e outras atividades dependentes da contenção dos
animais. A utilização de bretes maiores permite colocar mais vacas por vez,
reduzindo o tempo gasto para execução das atividades de manejo.
• Currais: A quantidade e tamanho dos currais dependem do tamanho do
rebanho e do sistema de exploração utilizado. O piso deve ser revestido por
concreto ou de pedra, para evitar a formação de lama no período das chuvas, e
de poeira na época seca.
• Sala de leite: A sala de leite deve se localizar próxima à sala de ordenha
para facilitar o transporte do leite para o resfriador e também o livre acesso
dos ordenhadores. Deve abrigar todos os equipamentos e instrumentos
de refrigeração do leite e pia ou tanque para limpeza dos equipamentos de
ordenha.
• Outras instalações: Galpões para máquinas e equipamentos, depósito de ração,
depósito de insumos (adubos, calcário, sal mineral), escritório, farmácia e
demais instalações devem ser planejados conforme as exigências do projeto,
do manejo e das condições do proprietário.

DICAS

Acadêmico, para mais informações a respeito das instalações para a criação de


bovinos leiteiros, sugerimos o livro editado por Jonas Bastos da Veiga, intitulado Sistemas
de produção: criação de gado leiteiro na zona Bragantina, do ano de 2006. O livro pode
ser acessado pelo endereço eletrônico: <https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/
publicacao/386336/criacao-de-gado-leiteiro-na-zona-bragantina>.

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UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

4 MELHORAMENTO GENÉTICO
Prezado acadêmico, para finalizar nossos estudos referentes à bovinocultura
de leite, vamos avaliar o melhoramento genético. Segundo a Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2018), a melhoria genética do rebanho é
uma das maiores contribuições da ciência para revolucionar a pecuária bovina.

No Brasil, as técnicas utilizadas para a evolução genética das raças são


adotadas e provadas em todo o mundo. As melhores características genéticas são
obtidas por meio do cruzamento entre as diversas raças existentes, conseguindo
ganhos em rusticidade, resistência a doenças e parasitas, desempenho, eficiência
e qualidade (EMBRAPA, 2018).

O melhoramento genético pode ser obtido em gado de leite substituindo


animais do rebanho por animais mais produtivos. A escolha dos animais a serem
utilizados como progenitores da geração seguinte é chamada de seleção, com
resultados em médio e longo prazo. Os acasalamentos devem ser orientados,
juntando-se as fêmeas da propriedade com touros provados, ou seja, touros
avaliados para as características de interesse (touro testado ou touro aprovado)
que permitam melhorar os índices produtivos, reprodutivos e morfológicos. A
forma mais utilizada de acasalamento no Brasil é o cruzamento, que permite obter
resultados rápidos e usufruir das qualidades de duas raças leiteiras. Para garantir
elevados índices produtivos nos rebanhos, pode-se utilizar conjuntamente a
seleção e o cruzamento, buscando sempre acasalar com touros de valores genéticos
conhecidos para as características de interesse (CAMPOS; MIRANDA, 2012).

As principais opções de raças europeias para cruzamentos para produção


de leite são a Holandês, a Jersey e a Pardo-Suíço. A mais utilizada é a Holandês,
no entanto, para melhor eficiência reprodutiva e maior percentagem de sólidos
no leite pode-se optar pela raça Jersey, ou se houver importância econômica no
uso dos machos para abate, pela raça Pardo-suíço. No caso das raças zebuínas, é
recomendado utilizar as linhagens leiteiras das raças Gir, Guzerá ou Sindi, sendo
que as duas primeiras já possuem touros com avaliação genética disponível para
produção e composição de leite (CAMPOS; MIRANDA, 2012).

Nesse sentido, caro acadêmico, na busca de uma maior eficiência na


produção de leite, dois caminhos devem ser percorridos. O primeiro caminho
é melhorar a alimentação, que é um dos itens mais impactantes no custo de
produção do leite, além disso, o aperfeiçoamento do manejo (saúde, reprodução
e instalações), que gera resultados e impactos imediatos, caso o rebanho tenha
bom potencial para a produção de leite. O segundo caminho, geralmente mais
lento, porém de caráter permanente e cumulativo, é o melhoramento genético.
Nesse sentido, é importante cuidar desses dois caminhos para alcançar bom
desempenho produtivo no rebanho, pois nenhuma vaca sem alimentação, mesmo
que tenha excelente capacidade produtiva, é capaz de produzir bem, e não adianta
alimentar bem vacas sem potencial de produção (CAMPOS; MIRANDA, 2012).

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TÓPICO 4 | SISTEMAS DE PRODUÇÃO E INSTALAÇÕES PARA PRODUÇÃO DE GADO DE LEITE

Uma ferramenta importante em programas de melhoramento genético


é a inseminação artificial. Na inseminação artificial se faz uma maior utilização
de touros provados, provenientes de linhagens distintas, o que, associado a um
sistema de acasalamento bem orientado, garante o efetivo melhoramento genético
do rebanho. Já na monta natural, as chances de se obter sucesso são menores,
uma vez que um touro não provado, por melhor que seja sua genealogia, não
garante produzir descendentes de alta produção. Portanto, sempre que possível,
o produtor deve utilizar a inseminação artificial em seu rebanho e usar sêmen de
touros provados (CAMPO; MIRANDA, 2012).

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UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

LEITURA COMPLEMENTAR

MELHORAMENTO GENÉTICO DE BOVINOS PERMITE A


PRODUÇÃO DE LEITE MENOS ALERGÊNICO

Rubens Neiva

O setor lácteo no Brasil começa a explorar um importante nicho de mercado:


a produção de leite para pessoas que possuem alergia às beta-caseínas, que
correspondem a 30% das proteínas do leite. Trabalhos de melhoramento genético,
desenvolvidos pela Embrapa Gado de Leite (MG), em parceria com as associações
de criadores das raças Gir Leiteiro e Girolando, irão impulsionar ainda mais esse
segmento. Os sumários de touros do teste de progênie dessas raças, que trazem
características genéticas dos touros cujo sêmen será usado na fertilização das vacas,
já apresentam a característica para a produção do leite que vem sendo chamado
de “A2”. Os pesquisadores da Embrapa dizem haver evidências científicas de que
a beta-caseína do leite A2 não causa reações em pessoas que possuem alergia a
essa proteína específica.

A alergia à proteína do leite de vaca, conhecida como APLV, é um problema


muito observado na infância. Segundo dados da Associação Brasileira de Alergia e
Imunologia (ASBAI), cerca de 350 mil indivíduos no Brasil são alérgicos. A pessoa
que tem o problema terá que eliminar o leite de vaca da dieta, deixando de se
beneficiar de uma importante fonte de cálcio e de outros nutrientes num momento
da vida em que o ser humano mais necessita. Embora os alergistas afirmem que o
leite A2 não seja indicado para todos os casos, o pesquisador da Embrapa Gado de
Leite, Marcos Antônio Sundfeld Gama, diz que ele pode ser benéfico para muitas
pessoas, pois a beta-caseína é a principal causadora da APLV.

Alergia é diferente de intolerância

É importante destacar que o leite A2 não é indicado para a intolerância


à lactose, que pode ser confundida com a alergia ao leite de vaca. O alergista e
imunologista Aristeu José de Oliveira diz que APLV e intolerância à lactose são
problemas distintos. A lactose é o açúcar do leite e não uma proteína. A intolerância
ocorre em pessoas que têm deficiência na produção de uma enzima chamada
lactase, cuja função é quebrar as moléculas de lactose durante o processo digestivo,
transformando-a em energia para as células do corpo humano. Os sintomas da
intolerância à lactose são dores abdominais, diarreia, flatulência e abdômen
distendido.

A APLV desencadeia uma série de reações, algumas parecidas com


a intolerância à lactose, o que pode gerar confusão entre os dois problemas.
Além dos sintomas gástrico-intestinais ocorrerem de forma mais acentuada
(diarreia e vômitos), a APLV pode causar placas vermelhas no corpo, muitas
vezes acompanhadas por coceiras, inchaço dos lábios e dos olhos e, na reação

52
TÓPICO 4 | SISTEMAS DE PRODUÇÃO E INSTALAÇÕES PARA PRODUÇÃO DE GADO DE LEITE

mais aguda, a anafilaxia, que pode levar à morte. Diferente da alergia a alguns
alimentos, como amendoim, castanhas e frutos do mar, que pode acompanhar o
paciente por toda a vida, quando a APLV tem início na infância, após a criança
ter o primeiro contato com o leite de vaca, há uma grande probabilidade de a
alergia se extinguir na adolescência, mas até lá os casos mais graves deverão ser
constantemente monitorados.

“O leite A2 pode evitar esses transtornos, pois, quando digerido pelo ser
humano, não forma a substância chamada beta-casomorfina-7 (BCM-7), responsável
por desencadear o processo alérgico”, explica o pesquisador da Embrapa Gado
de Leite, Marcos Vinicius G. Barbosa da Silva. Alguns estudos científicos sugerem
que a BCM-7, resultante da digestão da beta-caseína A1 (do leite comum de
vaca), além de provocar a APLV, pode intensificar os problemas neurológicos de
indivíduos que apresentam transtorno autista e esquizofrenia. A substância pode
ainda ter influências no sistema cardiovascular. “A BCM-7 é um oxidante do LDL,
conhecido como colesterol ruim, que está relacionado à formação de placas arteriais,
aumentando o risco de doenças cardíacas”, diz Silva.

Melhoramento genético

Cientistas concluíram que até oito mil anos atrás as vacas produziam
somente o leite A2. Uma mutação genética nos bovinos levou ao surgimento
de animais com o gene para a produção do leite A1. Essa característica é mais
comum nas raças de origem europeia (subespécie taurus). As raças Holandesa
e Pardo-suíça possuem 50% de chances de produzirem leite A2. Na raça Jersey
esse índice é maior: 75%. Da subespécie taurus, apenas a raça Guernsey, pouco
comum no Brasil, possui 100% dos seus indivíduos capazes de produzir leite A2.
Já nas raças zebuínas (subespécie indicus), de grande predominância na pecuária
nacional, que inclui o Gir leiteiro, 98% dos indivíduos têm genética positiva para
a produção de leite A2.

“A alta frequência do alelo A2 na pecuária brasileira é uma vantagem


competitiva para nossos produtores explorarem o nicho de mercado que está se
formando em torno do produto”, diz Silva. Para o também pesquisador da Embrapa,
João Cláudio do Carmo Panetto, essa informação disponibilizada nos sumários dos
touros Gir leiteiro e Girolando irá facilitar o processo de melhoramento genético do
rebanho, caso o produtor queira produzir leite A2, mas não bastam as informações
a respeito do touro, cujo sêmen será usado na fertilização. As vacas do rebanho
devem ser genotipadas, ou seja, é preciso identificar no material genético do
indivíduo se o animal é homozigoto (possui os dois alelos) para a produção de
leite A2. O ideal é que sejam selecionadas as vacas A2A2, que inseminadas por um
touro A2A2 terão 100% das filhas com os alelos A2A2. Panetto explica: “Se uma
vaca tem o genótipo A2A2, é garantido que ela passará para a progênie o alelo A2.
Similarmente, uma vaca A1A1 passará o alelo A1. Para uma vaca A1A2, há 50%
de chances de passar para a progênie qualquer um dos alelos. A genotipagem da
vaca é feita com a coleta de tecido biológico do animal, que pode ser uma amostra

53
UNIDADE 1 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE LEITE

de sangue ou de pelo. A amostra é enviada para um laboratório especializado que


apresentará o resultado ao produtor de acordo com o tipo: A1A1, A1A2 e A2A2.
Depois, basta escolher o sêmen adequado, cujas informações estão presentes nos
sumários dos touros Gir leiteiro e Girolando”.

Pesquisadores da Embrapa orientam que o processo de seleção pode ser


acelerado por meio do descarte de animais A1A1 e A1A2. Devem permanecer no
rebanho somente as vacas e bezerros com o genótipo A2A2. A velocidade com a
qual o rebanho será convertido para a produção de leite A2 dependerá da estratégia
de uso do sêmen de touros A2, do investimento na genotipagem das vacas, das
taxas de descarte e da retenção dos bezerros. “Se o criador optar pelo uso conjunto
dessas ações, sem reduzir drasticamente o rebanho, o tempo necessário para que
todos os animais da fazenda sejam A2A2 poderá variar de duas a três gerações,
cerca de dez a 15 anos”, diz Panetto.

Mercado promissor

Pode parecer complexo e demorado, mas quem optou pela produção de


leite A2 diz que é compensador. O pecuarista Eduardo Falcão, proprietário da
Estância Silvânia, em Caçapava (SP), diz que o litro de leite A2 pode ser vendido na
forma de derivados lácteos até quatro vezes mais caro que o leite convencional. A
Estância Silvânia é especializada em melhoramento genético da raça Gir Leiteiro, e
Eduardo Falcão é o pioneiro da produção e comercialização de leite A2 no Brasil. A
produção da Estância Silvânia ainda é pequena, cerca de 700 litros de leite por dia
destinados à fabricação de queijos, manteiga e ricota, vendidos no Vale do Paraíba
e na cidade de São Paulo. Alguns outros produtores que possuem rebanhos Gir
leiteiro estão seguindo pelo mesmo caminho. Segundo Silva, essa é uma forma
de agregar valor ao leite oriundo de rebanhos Gir leiteiro, cuja característica da
raça é ser menos produtiva do que a raça Holandesa ou mesmo a raça sintética
Girolando, resultado do cruzamento do Gir leiteiro com o Holandês.

O mercado internacional aponta para o sucesso do empreendimento.


A Nova Zelândia, maior exportadora mundial de leite em pó, produz leite A2
desde 2003. O país registrou comercialmente o nome A2 Milk e certifica laticínios
e fazendas que produzem exclusivamente o leite A2. Outro grande exportador, a
Austrália, também já ingressou nesse mercado. O curioso é que o produto deixou de
ser uma exclusividade de pessoas alérgicas à proteína do leite e está conquistando
o grande público. Na Oceania, é possível comprar leite e derivados lácteos em
diversas lojas e cafés. O produto também já é visto nas gôndolas de supermercados
da Inglaterra e dos Estados Unidos.

FONTE: Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/29569359/


melhoramento-genetico-de-bovinos-permite-a-producao-de-leite-menos-alergenico>. Acesso
em: 8 mar. 2018.

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RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• O gado de leite pode ser mantido em sistemas de pastagem, confinamento, ou


uma combinação de ambos.

• No sistema de pastagem, o gado é criado ao ar livre. Esse sistema envolve


pouca estrutura, apenas o necessário para a ordenha.

• No sistema de confinamento o gado leiteiro é mantido estabulado. Os animais


podem ser alojados livremente ou contidos dentro deste sistema de alojamento.

• Existem diferentes sistemas de confinamentos para bovinos leiteiros, os


sistemas que utilizam baias individuais (Tie Stall), e os sistemas de estabulação
livre com os modelos Loose Housing, o Free Stall e o Compost Barn.

• A escolha de um determinado sistema de produção de leite por um produtor


pode ser influenciada por fatores econômicos, técnicos e suas preferências.

• As instalações devem garantir que os animais tenham condições de conforto,


proteção e um ambiente limpo, seco e de boas condições sanitárias.

• O melhoramento genético pode ser obtido em gado de leite substituindo


animais do rebanho por animais mais produtivos.

• A inseminação artificial é uma ferramenta importante em programas de


melhoramento genético.

55
AUTOATIVIDADE

Vamos testar nossos conhecimentos a respeito dos sistemas de produção e


instalações para produção de gado de leite.

1 No sistema de confinamento, os animais podem ser alojados livremente


ou contidos dentro deste sistema de alojamento. Diferentes sistemas de
confinamentos para bovinos leiteiros podem ser utilizados, o sistema Tie
Stall, o sistema Loose Housing, o Free Stall e o Compost Barn. Sobre os sistemas
de confinamento, associe os itens utilizando o código a seguir:

I- Sistema Tie Stall.


II- Sistema Free Stall.
III- Sistema Loose Housing.
IV- Sistema Compost Barn.

( ) Nesse sistema, uma parte da área é livre para as vacas se alimentarem e se


exercitarem e outra parte é dividida em baias individuais.
( ) Os animais permanecem contidos em baias individuais e são mantidos
presos por uma corrente no pescoço.
( ) Os animais ficam em grandes currais com área de descanso comum, sendo
necessário um investimento menor por animal alojado.
( ) Nesse sistema, as vacas possuem maior liberdade para se movimentar e
deitar na região da cama e possuem menor possibilidade de apresentar
problemas nos cascos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) II – IV – III – I.
b) ( ) IV – I – II - III.
c) ( ) I – II – IV – III.
d) ( ) II – I – III – IV.

2 O agronegócio do leite ocupa posição de destaque na economia brasileira com


perspectivas de crescimento da produção e da produtividade, melhorando
os índices em comparação aos alcançados em anos recentes. Diante disso, o
que é mais importante para aumentar a produção de leite de um rebanho: o
melhoramento genético ou a melhoria da alimentação?

56
UNIDADE 2

CADEIA PRODUTIVA DA
BOVINOCULTURA DE CORTE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• conhecer a situação atual e as projeções futuras da pecuária de corte;

• compreender a situação do mercado interno e externo da pecuária de corte;

• aprender a respeito das fases de produção de gado de corte;

• conhecer os sistemas de produção de gado de corte e as instalações, ali-


mentação e vantagens do confinamento de bovinos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE CORTE

TÓPICO 2 – MERCADO INTERNO E EXTERNO DA PECUÁRIA DE CORTE

TÓPICO 3 – FASES DA PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

TÓPICO 4 – SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE E O


CONFINAMENTO

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58
UNIDADE 2
TÓPICO 1

EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE CORTE

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico, neste momento iniciaremos os estudos da Cadeia
Produtiva da Bovinocultura de Corte. No primeiro tópico da Unidade 2 deste
livro de estudos analisaremos a bovinocultura de corte no Brasil e no mundo.

O maior produtor mundial de carne bovina são os Estados Unidos,


seguido pelo Brasil, que aparece em segundo lugar. Além de maior produtor, os
Estados Unidos são o maior mercado consumidor de carne bovina no mundo. O
Brasil aparece em terceiro lugar no ranking de consumo total de carne bovina,
com um consumo per capita de 35,8 kg/hab/ano.

Nesse contexto, a partir de dados e informações disponíveis em


estudos divulgados por entidades como a Associação Brasileira das Indústrias
Exportadoras de Carnes (ABIEC), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa),
analisaremos a situação atual da produção e consumo de carne bovina no Brasil e
no mundo e avaliaremos as projeções futuras para esse setor.

No final deste tópico as autoatividades servirão de teste de seus


conhecimentos referentes ao assunto apresentado.

Bons estudos!

2 A CADEIA DA CARNE BOVINA


No Brasil, a cadeia da carne bovina tem posição de destaque na economia
rural, ocupando uma grande área do território brasileiro e gerando emprego e
renda para milhões de brasileiros. Os agentes que compõem a cadeia da carne
bovina variam de pecuaristas com alto capital de investimento e frigoríficos de
alto padrão tecnológico a pequenos produtores e abatedouros que dificilmente
preenchem os requisitos mínimos da legislação sanitária (BUAINAIN; BATALHA,
2007). Os principais elos que formam a cadeia da carne bovina estão representados
na figura a seguir, pode-se verificar a existência de cinco subsistemas.

59
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

FIGURA 1 – ESTRUTURA DA CADEIA DA CARNE BOVINA NO BRASIL

FONTE: Buainain e Batalha (2007, p. 19)

De acordo com Buainain e Batalha (2007), esses subsistemas são compostos


pelos seguintes agentes:

• Subsistema de apoio: Os agentes produtores de insumos básicos e os agentes


transportadores.
• Subsistema de produção da matéria-prima (produção agropecuária): As
empresas rurais que criam os animais para o atendimento das necessidades
das indústrias de primeira transformação.
• Subsistema de industrialização: Indústrias de primeira transformação: Abatem
os animais para obter as peças de carne, de acordo com as condições de
utilização necessárias para os demais agentes da cadeia.
• Indústrias de segunda transformação: incorporam a carne em seus produtos
ou agregam valor a ela.
• Subsistema de comercialização:
ᵒ Atacadistas ou exportadores: simplificam o processo de comercialização,
efetuando o papel de agentes de estocagem e/ou de entrega.
ᵒ Varejistas: efetuam a venda direta da carne bovina ao consumidor final
(supermercados e açougues).
ᵒ Empresas de alimentação coletiva ou mercado institucional, como
restaurantes, hotéis, empresas de fast-food, escolas etc.
• Subsistema de consumo: Consumidores finais, responsáveis pela compra,
pelo preparo e pela utilização do produto final. Influenciam os sistemas de
produção de todos os agentes da cadeia produtiva, pois determinam as
características desejadas no produto.

O ambiente institucional também tem forte influência na competitividade


da cadeia da carne bovina. Diversos fatores relacionados ao comércio exterior, à
inspeção, à legislação e à fiscalização sanitária, legislação ambiental, mecanismos
de rastreabilidade e certificação, entre outros, apresentam forte influência na
dinâmica competitiva da cadeia (BUAINAIN; BATALHA, 2007).

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TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE CORTE

3 PRODUÇÃO E CONSUMO MUNDIAL DE CARNE BOVINA


De acordo com os dados divulgados pela Associação Brasileira das
Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC, 2017) em um relatório anual
denominado de Perfil da Pecuária no Brasil, o rebanho brasileiro de bovinos é o
maior do mundo, com 219,1 milhões de cabeças. Logo em seguida vem a Índia,
com um rebanho de aproximadamente 188,6 milhões de cabeças, a China com
112,7 milhões de cabeças e os Estados Unidos com 92,9 milhões de cabeças. Vale
ressaltar que o Brasil apresenta o maior rebanho de carne bovina do mundo, mas
se considerarmos o total do rebanho de carne bovina e bubalina (utilizado no
cálculo da produção de carne), o Brasil aparece em segundo lugar (220,4 milhões
de cabeças), o que representa cerca de 13,4% do rebanho mundial. Em primeiro
lugar aparece a Índia, com um rebanho total (bovinos e bubalinos) de 300,3
milhões de cabeças, representando 18,3% do rebanho mundial total.

TABELA 1 – MAIORES REBANHOS E MAIORES PRODUTORES DE CARNE DO MUNDO EM 2016.


REBANHO BOVINO, BUBALINO E TOTAL. PRODUÇÃO DE CARNE INCLUI CARNE BOVINA E
BUBALINA

Bovinos Bubalinos Total Toneladas


%
Países (milhões de (Milhões de (Milhões % Mundial equivalente carcaça
Mundial
cabeças) cabeças) de cabeças) (milhões TEC)
Brasil 219,1 1,3 220,4 13,4% 9,1 13,8%
Índia 188,6 111,7 300,3 18,3% 2,8 4,3%
China 112,7 23,7 136,4 8,3% 7,0 10,5%
EUA 92,9 0,0 92,9 5,7% 11,5 17,3%
Etiópia 57,2 0,0 57,2 3,5% 0,4 0,6%
Argentina 53,9 0,0 53,9 3,3% 2,6 4,0%
Paquistão 40,1 35,1 75,2 4,6% 1,8 2,7%
México 31,7 0,0 31,7 1,9% 1,9 2,8%
Austrália 26,1 0,0 26,1 1,6% 2,1 3,1%
Tanzânia 26,0 0,0 26,0 1,6% 0,3 0,5%
União
88,3 0,4 88,7 5,4% 7,2 10,9%
Europeia*
Outros 506,8 25,2 532,1 31,4% 19,6 29,6%
Mundo 1.443,5 197,5 1.641,0 100,0% 66,4 100,0%
* União Europeia soma 28 países.

FONTE: Adaptado de ABIEC (2017)

Ao analisar a tabela, pode-se observar que apesar de o Brasil apresentar o


maior rebanho bovino mundial, o maior produtor mundial de carne bovina são
os Estados Unidos, com uma produção de 11,5 milhões de toneladas equivalente
carcaça, o que representa 17,3% da produção mundial de carne bovina e bubalina.
O Brasil aparece em segundo lugar, com uma produção de aproximadamente
9,1 milhões de toneladas equivalente carcaça, representando 13,8% da produção
mundial. Logo após o Brasil, aparece a China (aproximadamente 7,0 milhões
de toneladas equivalente carcaça) e a Índia (aproximadamente 2,8 milhões de

61
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

toneladas equivalente carcaça). Vale destacar, caro acadêmico, que não utilizamos
os dados da União Europeia na discussão do rebanho e da produção de carne
bovina, pois estamos considerando cada país individualmente e a União Europeia
engloba mais de 28 países.

Ainda de acordo com ABIEC (2017), além de maior produtor, os Estados


Unidos são o maior mercado consumidor de carne bovina no mundo. O consumo
total de carne bovina nos Estados Unidos foi de 11.654,8 mil toneladas equivalente
carcaça, com um consumo per capita de 35,9 kg de carne bovina por habitante por ano.
Em segundo lugar aparece a China, com consumo total de carne bovina de 7.734,4
mil toneladas equivalente carcaça, porém, a China, devido à sua grande população
(1.381,5 milhões de habitantes), apresenta consumo per capita de 5,6 kg/hab/ano.

TABELA 2 – MAIORES CONSUMIDORES DE CARNE BOVINA EM 2016


Consumo total de carne Consumo per capita (kg/ População (milhões
Ranking
bovina (mil TEC) hab/ano) de habitantes)
EUA 11.654,8 35,9 324,3
China 7.734,4 5,6 1.381,5
Brasil 7.380,5 35,8 206,1
Argentina 2.365,6 54,3 43,6
Rússia 1.867,9 12,8 146,3
México 1.811,4 14,1 128,6
França 1.491,8 23,1 64,6
Vietnã 827,6 8,9 32,6
Reino Unido 1.119,1 17,1 65,6
Turquia 1.180,5 15,0 78,6
Alemanha 1.065,9 12,9 82,8
Japão 1.172,2 9,3 126,5
Itália 1.105,6 18,1 61,2
Canadá 972,8 26,9 36,2
Egito 1.534,4 17,0 90,2
África do Sul 936,6 16,8 55,8
Paquistão 1.708,1 9,0 189,9
Colômbia 769,2 15,8 48,8
Uzbequistão 796,5 25,4 31,3
Austrália 670,7 27,5 24,4
Coreia 788,2 15,5 50,8
Outros 17.420,3 4,4 3.970,2
Mundo 66.374,0 9,1 7.299,8
FONTE: Adaptado de ABIEC (2017)

O Brasil aparece em terceiro lugar no ranking de consumo total de carne


bovina, com um consumo de 7.380,5 mil toneladas equivalente carcaça e consumo
per capita de 35,8 kg/hab/ano. Vale destacar que o consumo per capita dos
Estados Unidos (35,9 kg/hab/ano) e do Brasil (35,8 kg/hab/ano) é muito maior que
o consumo per capita médio mundial, que é de aproximadamente 9,1 kg/hab/ano.
Logo após o Brasil, aparece a Argentina (consumo total de 2.365,6 mil toneladas

62
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE CORTE

equivalente carcaça), que apresenta o maior consumo per capita de carne bovina
do mundo, com um consumo de 54,3 kg de carne bovina por habitante por ano.

4 PRODUÇÃO E CONSUMO DE CARNE BOVINA NO BRASIL


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em dezembro de
2017, realizou um estudo que indicou a estatística da produção pecuária brasileira.
Na Pesquisa Trimestral do Abate de Animais, o IBGE avaliou no 3º trimestre de
2017, 1.126 informantes de abate de bovinos. Dentre eles, 197 registrados no Serviço
de Inspeção Federal (SIF), 381 no Serviço de Inspeção Estadual (SIE) e 548 no
Serviço de Inspeção Municipal (SIM), respondendo, respectivamente, por 78,0%;
16,7% e 5,3% do peso acumulado das carcaças produzidas. Segundo a pesquisa, no
3º trimestre de 2017, foram abatidas 7,98 milhões de cabeças de bovinos sob algum
tipo de serviço de inspeção sanitária, quantidade 7,6% maior que a registrada no
trimestre imediatamente anterior e 9,0% maior que a do 3º trimestre de 2016.

GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DO ABATE DE BOVINOS NO BRASIL NOS TRIMESTRES DE 2012 A 2017

FONTE: Adaptado de IBGE (2017)

No 3º trimestre de 2017, a produção de 2,02 milhões de toneladas de


carcaças foi 10,2% maior que a registrada no trimestre imediatamente anterior e
10,4% maior que a registrada no 3º trimestre de 2016. De acordo com os autores
da pesquisa do IBGE (2017), o peso médio das carcaças foi de 252,9 kg/animal, no
3º trimestre de 2017. No mesmo período de 2016 foi de 246,8 kg/animal, diferença
positiva de 6,1 kg/animal.

63
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

GRÁFICO 2 – EVOLUÇÃO DO PESO TOTAL DE CARCAÇAS DE BOVINOS NO BRASIL NOS


TRIMESTRES DE 2012 A 2017

FONTE: Adaptado de IBGE (2017)

O abate de 661,98 mil cabeças de bovinos a mais no 3º trimestre de 2017 se


deve aos aumentos em 15 das 27 Unidades da Federação participantes da Pesquisa
Trimestral do Abate de Animais. Os maiores aumentos foram verificados em Mato
Grosso (+173,06 mil cabeças), Minas Gerais (+139,23 mil cabeças), Mato Grosso
do Sul (+123,08 mil cabeças), Goiás (+103,03 mil cabeças) e São Paulo (+91,19 mil
cabeças). As maiores reduções ocorreram nos estados do Maranhão (-22,68 mil
cabeças), Tocantins (-17,65 mil cabeças), Pernambuco (-11,35 mil cabeças), Pará
(-9,49 mil cabeças) e Paraíba (-8,53 mil cabeças) (IBGE, 2017).

64
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE CORTE

GRÁFICO 3 - RANKING E VARIAÇÃO ANUAL DO ABATE DE BOVINOS - UNIDADES DA


FEDERAÇÃO – 3OS TRIMESTRES DE 2016 E 2017

FONTE: Adaptado de IBGE (2017)

5 PROJEÇÕES DE PRODUÇÃO E CONSUMO DE CARNE


BOVINA
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) realizou
um estudo, intitulado Projeções do Agronegócio – Brasil 2016/2017 a 2026/2027, em
agosto de 2017, que teve como finalidade apontar direções do desenvolvimento e
fornecer informações aos formuladores de políticas públicas quanto às tendências
dos principais produtos do agronegócio.

Segundo o estudo realizado pelo Mapa (2017), o setor de carnes deve


apresentar forte crescimento nos próximos anos e a produção brasileira de carne
continuará crescendo rapidamente na próxima década. A produção de carne
bovina deverá crescer a taxas de 2,1% ao ano, segundo as projeções, conseguindo
atender ao consumo doméstico e às exportações. Essa taxa corresponde a passar
de uma produção de 9.500 mil toneladas em 2017 para valores de até 13.991 mil
toneladas em 2027.

A produção total de carnes no Brasil em 2016/17, considerando carne


bovina, suína e de frango, foi estimada em 28,5 milhões de toneladas em 2017 e a
projeção para o final da próxima década, ou seja, em 2027, é produzir 34,3 milhões
de toneladas. Esses números entre o início e o final das projeções representam um
aumento de 20,3% na produção total de carnes de frango, bovina e suína.

65
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

TABELA 3 – PROJEÇÕES DA PRODUÇÃO DE CARNES (MIL TONELADAS)


Bovina Suína Frango
Ano
Projeção Lsup. Projeção Lsup. Projeção Lsup.
2016/17 9.500 - 3.815 - 13.440 -
2017/18 9.374 10.384 3.952 4.291 13.817 14.784
2018/19 9.865 11.293 4.027 4.506 14.601 15.651
2019/20 10.018 11.767 4.135 4.722 14.689 16.118
2020/21 10.365 12.385 4.232 4.843 15.293 16.811
2021/22 10.542 12.800 4.359 4.994 15.512 17.404
2022/23 10.882 13.200 4.470 5.128 16.235 18.214
2023/24 10.927 13.305 4.587 5.292 16.402 18.675
2024/25 11.134 13.570 4.689 5.438 17.053 19.399
2025/26 11.248 13.740 4.798 5.590 17.237 19.847
2026/27 11.444 13.991 4.905 5.725 17.930 20.608
FONTE: Adaptado de Mapa (2017)

Em relação ao consumo de carnes, o crescimento anual projetado para o


consumo de carne bovina é de 1,5% ao ano para os próximos anos. O consumo
de carne bovina projetado para 2027 é de até aproximadamente 9,0 milhões de
toneladas, se considerarmos a projeção populacional brasileira projetada pelo
IBGE em 219,0 milhões de habitantes, tem-se um consumo per capita, no final
das projeções, de 41,1 kg/hab/ano. Para a carne de frango, o crescimento anual de
consumo projetado é de 2,6% no período entre 2017 a 2027, ou seja, um aumento
de 29,5% no consumo nos próximos 10 anos. O consumo de carne de frango
projetado para 2027 é de 11,9 milhões de toneladas, e um consumo per capita de
54,3 kg/hab/ano. A carne suína terá um crescimento do consumo com uma taxa
anual de 2,4% nos próximos anos. O consumo projetado para a carne suína é de
aproximadamente 3,8 milhões de toneladas em 2027.

TABELA 4 – PROJEÇÕES DO CONSUMO DE CARNES (MIL TONELADAS)


Bovina Suína Frango
Ano
Projeção Lsup. Projeção Lsup. Projeção Lsup.
2016/17 7.740 - 2.917 - 9.162 -
2017/18 7.744 8.559 3.058 3.442 9.432 10.100
2018/19 8.120 9.273 3.176 3.689 9.703 10.647
2019/20 8.063 9.383 3.264 3.893 9.973 11.129
2020/21 8.234 9.702 3.312 3.976 10.243 11.578
2021/22 8.406 10.023 3.370 4.067 10.514 12.006
2022/23 8.565 10.216 3.441 4.169 10.784 12.419
2023/24 8.567 10.251 3.529 4.306 11.054 12.820
2024/25 8.754 10.503 3.612 4.436 11.324 13.213
2025/26 8.879 10.691 3.690 4.559 11.595 13.598
2026/27 8.963 10.826 3.761 4.665 11.865 13.976

FONTE: Adaptado de Mapa (2017)

66
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE CORTE

DICAS

Se você quiser aprofundar seus conhecimentos sobre a bovinocultura de corte,


acesse a página da internet da Embrapa Gado de Corte. O portal oferece informações técnicas
e científicas a respeito dessa cadeia produtiva. Disponível em: <https://www.embrapa.br/
gado-de-corte>.

67
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• A estrutura da cadeia da carne bovina abrange cinco subsistemas: subsistema


de apoio, subsistema de produção da matéria-prima, subsistema de
industrialização, subsistema de comercialização e subsistema de consumo.

• O rebanho brasileiro de bovinos é o maior do mundo, seguido do rebanho da


Índia, da China e dos Estados Unidos.

• O maior produtor mundial de carne bovina são os Estados Unidos, seguido do


Brasil, da China e da Índia.

• Os Estados Unidos são o maior mercado consumidor de carne bovina no


mundo, seguido da China, Brasil e Argentina.

• O setor de carnes deve apresentar forte crescimento nos próximos anos e a


produção brasileira de carne continuará crescendo rapidamente na próxima
década.

68
AUTOATIVIDADE

Avançamos um pouco e estamos agora prontos para fazermos nossa


autoavaliação de conhecimento. Vamos testar o quanto avançamos no
domínio do conhecimento da bovinocultura de corte.

1 A cadeia da carne bovina ocupa posição de destaque na economia mundial,


gerando alimentos, emprego e renda para a população. Sobre a produção e
consumo de carne bovina no mundo, analise as seguintes sentenças:

I- O Brasil é o maior produtor mundial de carne bovina, com uma produção


que representa 17,3% da produção mundial.
II- A China é o maior mercado consumidor de carne bovina, devido à sua
grande população (1.381,5 milhões de habitantes).
III- A Argentina apresenta o maior consumo per capita de carne bovina do
mundo, com um consumo de 54,3 kg por habitante por ano.
IV- Os Estados Unidos são o maior produtor de carne bovina do mundo, pois
possuem o maior rebanho de bovinos, com 219,1 milhões de cabeças.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
c) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
d) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.

2 Segundo Buainain e Batalha (2007), os agentes que compõem a cadeia da


carne bovina variam de pecuaristas com alto capital de investimento e
frigoríficos de alto padrão tecnológico a pequenos produtores e abatedouros
que dificilmente preenchem os requisitos mínimos da legislação sanitária.
Na cadeia da carne pode-se verificar a existência de cinco subsistemas.
Observe os cinco subsistemas da cadeia da carne:

I- Subsistema de produção da matéria-prima.


II- Subsistema de apoio.
III- Subsistema de comercialização.
IV- Subsistema de industrialização.
V- Subsistema de consumo.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA do fluxo na cadeia


da carne:
a) ( ) I – II – III – IV – V.
b) ( ) V – I – III – II – IV.
c) ( ) II – I – IV – III – V.
d) ( ) IV – II – V – III – I.

69
70
UNIDADE 2 TÓPICO 2
MERCADO INTERNO E EXTERNO DA PECUÁRIA
DE CORTE

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste segundo tópico de estudos da bovinocultura de
corte você irá aprender que o Brasil é o maior exportador de carne bovina do
mundo e que diferentes fatores podem influenciar o consumo de alimentos e,
consequentemente, de carne, como o aumento populacional, a urbanização, a
educação, entre outros.

A partir de informações disponíveis em estudos divulgados pela


Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (FIESP) e Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), a
situação atual e as projeções relacionadas aos mercados brasileiro e internacional
da carne bovina. Além disso, vamos avaliar as principais tendências dos
consumidores mundiais de alimentos e iremos compreender os fatores críticos
de sucesso para a cadeia produtiva da carne.

No final deste tópico as autoatividades irão servir de teste dos seus


conhecimentos referentes ao assunto estudado neste tópico.

Bons estudos!

2 EXPORTAÇÃO MUNDIAL DE CARNE BOVINA


Prezado acadêmico, após nos informarmos a respeito da situação
mundial e brasileira da produção e consumo de carne bovina, vamos agora
focar no mercado da carne bovina. De acordo com os dados divulgados pela
Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC, 2017) no
relatório anual Perfil da Pecuária no Brasil, foram exportadas em todo o mundo
aproximadamente 12.217,4 mil toneladas equivalente carcaça no ano de 2016,
sendo que foram produzidas cerca de 66.374,0 mil toneladas equivalente carcaça,
ou seja, 18,41% da carne bovina produzida no mundo no ano de 2016 foram
exportadas.

71
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

TABELA 5 - MAIORES EXPORTADORES DE CARNE BOVINA EM 2016


Exportações Toneladas Produção Toneladas
Exportação/Produção
País Equivalente Carcaça Equivalente Carcaça
(%)
(mil TEC)* (mil TEC)
Brasil 1.832,2 20,04% 9.142,0
Índia 1.558,5 54,73% 2.847,8
Austrália 1.428,6 68,43% 2.087,9
EUA 1.227,0 10,70% 11.471,1
Nova Zelândia 599,9 91,52% 655,5
Uruguai 489,5 88,58% 552,6
Canadá 413,7 36,38% 1.137,2
Paraguai 288,2 64,43% 447,3
Argentina 270,7 10,32% 2.624,0
México 215,5 11,47% 1.878,7
Bielorrússia 163,0 49,24% 331,0
Outros 3.385,5 13,35% 25.638,9
União Europeia** 345,0 4,41% 7.830,0
Mundo 12.217,4 18,41% 66.374,0
*carnes bovina e bubalina.
**exportação extrabloco.

FONTE: Adaptado de ABIEC (2017)

Segundo o relatório da ABIEC (2017), o Brasil é o maior exportador de


carne bovina do mundo. Em 2016, o país exportou aproximadamente 1.832,2
mil toneladas equivalente carcaça, sendo que nesse mesmo ano o país produziu
9.142,0 mil toneladas equivalente carcaça, ou seja, o Brasil exportou no ano de
2016 cerca de 20,04% da sua produção de carne bovina. Logo após o Brasil, a Índia
aparece como o segundo maior exportador de carne bovina do mundo, exportando
aproximadamente 1.558,5 mil toneladas equivalente carcaça, sendo que em 2016
a Índia produziu 2.847,8 mil toneladas equivalente carcaça, ou seja, exportou
aproximadamente 54,73% da sua produção de carne bovina. No terceiro lugar
está a Austrália, que em 2016 exportou 1.428,6 mil toneladas equivalente carcaça,
o que representa cerca de 68,43% de sua produção. Na sequência aparecem EUA
e Nova Zelândia, como quarto e quinto países que mais exportaram carne bovina
em 2016, respectivamente. Os EUA exportaram aproximadamente 1.227,0 mil
toneladas equivalente carcaça, enquanto a Nova Zelândia exportou cerca de 599,9
mil toneladas equivalente carcaça. É importante destacar que a Nova Zelândia
produziu no ano de 2016 aproximadamente 655,5 mil toneladas equivalente
carcaça, o que significa dizer que o país exportou mais de 90% de sua produção
de carne bovina.

Em relação às importações, o relatório anual Perfil da Pecuária no Brasil


da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC, 2017)
indica que o maior importador mundial de carne bovina e bubalina no ano
de 2016 foram os Estados Unidos. Os Estados Unidos importaram em 2016
aproximadamente 1.492,1 mil toneladas equivalente carcaça, sendo que 80,9 mil
toneladas equivalente carcaça foram importadas do Brasil, o que representa cerca
de 5,42% das importações de carne bovina e bubalina dos Estados Unidos.
72
TÓPICO 2 | MERCADO INTERNO E EXTERNO DA PECUÁRIA DE CORTE

TABELA 6 – MAIORES IMPORTADORES DE CARNE BOVINA E BUBALINA E


REPRESENTATIVIDADE DA CARNE BRASILEIRA EM CADA MERCADO EM 2016
Importações Totais Importações do Brasil
País % Brasil
(mil TEC) (mil TEC)
EUA 1.492,1 80,9 5,42%
Vietnã 946,9 10,6 1,12%
Japão 646,9 0,01 0,00%
China 590,7 214,3 36,28%
Coreia 545,5 0,0 0,00%
Itália 457,8 42,6 9,30%
Reino Unido 437,2 72,5 16,58%
Rússia 408,4 178,0 43,58%
Países Baixos 407,2 34,9 8,56%
Egito 405,5 231,6 57,13%
Alemanha 380,3 13,0 3,41%
França 372,1 1,9 0,50%
Chile 280,1 93,4 33,36%
Canadá 275,6 7,5 2,73%
Hong Kong 453,0 340,1 75,08%
Malásia 195,7 5,3 2,72%
México 168,1 0,0 0,00%
Outros 2.470,0 505,6 20,47%
União Europeia* 369,0 200,7 54,39%
Mundo 10.933,4 1.832,2 16,76%
*importação extrabloco.

FONTE: Adaptado de ABIEC (2017)

O segundo maior importador de carne bovina e bubalina do mundo é


o Vietnã. O país importou aproximadamente 946,9 mil toneladas equivalente
carcaça, sendo que 1,12% das importações, ou 10,6 mil toneladas equivalente
carcaça, foram importadas do Brasil. Logo após o Vietnã aparece o Japão, que
importou aproximadamente 646,9 mil toneladas equivalente carcaça no ano de
2016.

Analisando a tabela acima, podemos observar que o Brasil não está entre
os principais países importadores de carne bovina e bubalina do mundo. Podemos
atribuir esse fato à produção de carne bovina do país, que é suficiente para abastecer
o mercado interno e gerar excedente para exportação, tornando o país o maior
exportador mundial de carne bovina, sem a necessidade de importar grandes
quantidades de carne bovina de outros países. A importância da bovinocultura
brasileira de corte pode ser enfatizada se observarmos que as importações de
carne bovina e bubalina de Hong Kong, por exemplo, são representadas em
75,08% por importações do Brasil, cerca de 340,1 mil toneladas equivalente carcaça
foram importados do Brasil do total de 453,0 mil toneladas equivalente carcaça
importados por Hong Kong em 2016. China, Rússia e Egito importaram do Brasil
no ano de 2016 cerca de 36,28%, 43,58% e 57,13%, respectivamente, do total de
carne bovina e bubalina importada. Cabe ainda destacar que a União Europeia

73
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

importou aproximadamente 369,0 mil toneladas equivalente carcaça em 2016,


sendo que 200,7 mil toneladas equivalente carcaça foram importadas do Brasil, o
que representa 54,39% das importações. Considerando as importações mundiais,
16,76% da carne bovina e bubalina foram importadas do Brasil no ano de 2016.

3 O BRASIL NO MERCADO DE CARNE BOVINA


Caro acadêmico, já podemos perceber que a bovinocultura de corte
brasileira é uma das mais importantes do mundo. Além disso, ela possui grande
importância no agronegócio nacional. Segundo os dados do relatório anual
Perfil da Pecuária no Brasil divulgado pela Associação Brasileira das Indústrias
Exportadoras de Carnes (ABIEC, 2017), o agronegócio brasileiro exportou em
2016 aproximadamente 84,9 bilhões de dólares.

TABELA 7 – TOTAL DAS EXPORTAÇÕES DO AGRONEGÓCIO, COM DESTAQUE PARA QUANTO


AS EXPORTAÇÕES DE CARNE BOVINA E OUTROS DERIVADOS DO BOI REPRESENTAM NESTE
TOTAL EM 2016
Milhões US$ Mil Toneladas % US$
Carnes 14.724 6.445 17,34%
Carne de Frango 6.760 4.307,06 7,96%
in natura 1.993 1.371,34 2,35%
industrializada 414 166,17 0,49%
Carne Bovina 5.364 1.351 6,32%
in natura 4.364 1.076,04 5,12%
industrializada 601 105,56 0,71%
Carne Suína 1.470 720,10 1,73%
in natura 1.349 628,65 1,59%
Carne de Peru 330 140 0,39%
in natura 175 93 0,21%
industrializada 155 46 0,18%
Couros e seus produtos 2.503 466 2,95%
Outros produtos da pecuária 688 199 0,81%
Animais vivos 284 104 0,33%
Bovinos vivos 209 103 0,25%
Pescados 236 40 0,28%
Lácteos 168 55 0,20%
Total da exportação da pecuária 17.915 7.110 21,09%
Total outros setores (sem derivados bovinos) 76.859 90,49%
Total outros setores (sem pecuária) 67.020 78,91%
Total da exportação agronegócio 84.935 100,00%
FONTE: Adaptado de ABIEC (2017)

74
TÓPICO 2 | MERCADO INTERNO E EXTERNO DA PECUÁRIA DE CORTE

Do total exportado pelo agronegócio brasileiro, cerca de 21,09% foram


representados pelas exportações da pecuária, que foi aproximadamente 17,9
bilhões de dólares no ano de 2016. O setor de carnes representou cerca de 17,34%
do total das exportações do agronegócio, sendo que a carne bovina representou
cerca de 6,32% do total das exportações do agronegócio, com aproximadamente
5,4 bilhões de dólares.

Se considerarmos o setor da carne bovina, podemos destacar que a carne


bovina in natura teve maior representatividade nas exportações. O Brasil exportou
aproximadamente 1.076,04 mil toneladas de carne bovina in natura, gerando um
total de 4,3 milhões de dólares, representando 5,12% do total do agronegócio. Já a
carne bovina industrializada representou 0,71% das exportações do agronegócio,
gerando 601 milhões de dólares.

Os principais destinos da carne bovina brasileira exportada em 2016 em


volume (toneladas) estão representados no gráfico a seguir. O Brasil exportou em
2016 aproximadamente 1,35 milhões de toneladas de carne bovina, sendo que
mais de 285 mil toneladas foram exportadas para Hong Kong, o que representou
21% das exportações de carne bovina do Brasil em volume.

GRÁFICO 4 – PRINCIPAIS DESTINOS DA CARNE BOVINA BRASILEIRA EXPORTADA EM 2016 -


EM VOLUME (TONELADAS)

FONTE: Adaptado de ABIEC (2017)

O segundo maior destino da carne bovina brasileira foi o Egito. O Brasil


exportou mais de 176 mil toneladas de carne bovina para o Egito em 2016,
representando 13% do total das exportações de carne bovina brasileira em
volume. No terceiro lugar vem a China, com 12% das exportações brasileiras de
carne bovina, seguida da Rússia, com 10%, e da União Europeia, com 9% das

75
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

exportações brasileiras de carne bovina em volume. Os outros países não listados


no gráfico representam o destino de mais de 240 mil toneladas de carne bovina
exportada pelo Brasil.

Em faturamento, o principal destino da carne bovina brasileira exportada


em 2016 foi Hong Kong. O Brasil exportou em 2016 mais de 5,36 bilhões de dólares
em carne bovina, sendo que mais de 1 bilhão de dólares foram exportados para
Hong Kong, representando 19% das exportações de carne bovina do Brasil em
faturamento. O segundo maior destino da carne bovina brasileira em faturamento
foi a União Europeia. O Brasil exportou aproximadamente 733,8 milhões de dólares
em carne bovina para a União Europeia em 2016, representando 14% do total
das exportações de carne bovina brasileira em faturamento. Logo após a União
Europeia aparece a China, representando 13% do faturamento das exportações
de carne bovina, com cerca de 703,8 milhões de dólares. Os outros países não
listados no gráfico a seguir representam 19% do faturamento das exportações
brasileiras de carne bovina, com mais de 1 bilhão de dólares.

GRÁFICO 5 – PRINCIPAIS DESTINOS DA CARNE BOVINA BRASILEIRA EXPORTADA EM 2016 -


EM FATURAMENTO (MIL US$)

FONTE: Adaptado de ABIEC (2017)

4 CENÁRIOS DA CARNE BOVINA NO MUNDO E NO BRASIL


A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e o Instituto
de Tecnologia de Alimentos (ITAL) realizaram um estudo, em 2010, no qual
apresentaram as tendências para o setor de alimentos do Brasil para 2020 (Brasil
Food Trends 2020). Nesse estudo, indicaram alguns fatores que influenciam o
consumo de alimentos, como o aumento populacional, a urbanização, a estrutura
etária e familiar, a renda, a educação, informação e intercâmbio cultural.

76
TÓPICO 2 | MERCADO INTERNO E EXTERNO DA PECUÁRIA DE CORTE

O número de pessoas no planeta vem aumentando consideravelmente,


visto que a população mundial, de 2,53 bilhões de indivíduos em 1950, passou
para 6,83 bilhões em 2009 e se estima um aumento de mais de 0,8 bilhão de pessoas
de 2009 até 2020. Considerando os dois países mais populosos do mundo (China
e Índia) e o Brasil, o que obteve o maior crescimento relativo da população entre
1950 e 2009 foi o Brasil (2,19% ao ano), seguido de Índia (2,00% ao ano) e China
(1,54% ao ano). Somados, responderam pelo incremento de 1,77 bilhão de pessoas
no mundo nesses 59 anos (FIESP-ITAL, 2010). Assim, de acordo com os autores,
as ocorrências observadas nesses três países, em especial na China e na Índia,
são capazes de influenciar o cenário econômico e produtivo mundial com maior
força. Nesse sentido, tem-se o exemplo do “quilo chinês” e indiano para as carnes:
a partir da análise de dados do United States Department of Agriculture (USDA),
calcula-se que o aumento de um quilo no consumo per capita de carne bovina
nos dois países resultaria na imediata necessidade de incremento das exportações
mundiais de 34%. No caso das carnes de frango e suína, esses incrementos seriam
de 30% e 22%, respectivamente. Nesse sentido, o aumento populacional influencia
fortemente a demanda de alimentos, porém outros fatores, como as mudanças
nos níveis de urbanização, a estrutura etária e familiar, o nível educacional e
renda, e o acesso à informação da população também apresentam impactos ao
mercado de alimentos (FIESP-ITAL, 2010).

No estudo das Projeções do Agronegócio – Brasil 2016/2017 a 2026/2027,


de 2017, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apontou
direções do desenvolvimento e forneceu informações das tendências dos
principais produtos do agronegócio.

De acordo com as projeções publicadas pelo Ministério da Agricultura,


Pecuária e Abastecimento (Mapa) quanto às exportações, o setor de carnes
deve apresentar elevadas taxas de crescimento para os três tipos de carnes
analisados (bovina, suína e de aves), o que representa um quadro favorável para
as exportações brasileiras. Em relação ao crescimento das exportações de carne
bovina, esse deve se situar numa média anual de 3,0%. Essa taxa corresponde
a passar de uma exportação de 1.800 mil toneladas em 2017 para valores de até
4.236 mil toneladas em 2027. O estudo do Mapa e o Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos (USDA, 2017) classificam o Brasil como o maior exportador
de carne bovina em 2026, seguido pela Austrália em segundo, pela Índia em
terceiro e Estados Unidos em quarto. As carnes de frango e de suínos lideram as
taxas de crescimento anual das exportações para os próximos anos, sendo que a
taxa anual prevista para carne de frango é de 3,3%, e para a carne suína, 3,5%. Nas
exportações de carne de frango o Brasil fica em primeiro lugar nas exportações,
seguido pelos Estados Unidos e União Europeia. Nas exportações de carne de
porco o Brasil é classificado em quarto lugar, atrás dos Estados Unidos, União
Europeia e Canadá (MAPA, 2017).

77
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

TABELA 8 – PROJEÇÕES DA EXPORTAÇÃO DE CARNES (MIL TONELADAS)


Bovina Suína Frango
Ano
Projeção Lsup. Projeção Lsup. Projeção Lsup.
2017 1.800 - 900 - 4.280 -
2018 1.874 2.277 938 1.094 4.303 4.779
2019 1.940 2.608 975 1.197 4.555 5.120
2020 2.002 2.885 1.013 1.284 4.574 5.444
20/21 2.063 3.125 1.051 1.364 4.903 5.861
2022 2.125 3.342 1.088 1.439 4.937 6.137
2023 2.186 3.541 1.126 1.510 5.228 6.505
2024 2.247 3.728 1.164 1.578 5.248 6.727
2025 2.307 3.904 1.201 1.644 5.558 7.104
2026 2.368 4.073 1.239 1.709 5.589 7.310
2027 2.429 4.236 1.227 1.772 5.890 7.670
FONTE: Adaptado de Mapa (2017)

As exportações totais de carnes bovina, suína e de frango ao final do


período das projeções (2027) devem chegar a quase 10,0 milhões de toneladas, um
aumento de 37,5%. Do total exportado, aproximadamente 62,0% devem ser de
carne de frango. O restante do acréscimo na quantidade exportada fica distribuído
entre carne bovina (24,0%) e carne suína (14,0%). Os grandes mercados para a
carne bovina são representados por Hong Kong, China, Rússia, Irã e Estados
Unidos. Para a carne de frango, os principais destinos são Arábia Saudita, Japão,
China, Emirados Árabes Unidos e Hong Kong. Para a carne suína, os principais
mercados são Rússia e Hong Kong (MAPA, 2017).


5 FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Prezado acadêmico, ao analisarmos o cenário brasileiro e mundial da carne
bovina, observamos que o Brasil é um dos maiores produtores de carne bovina
do mundo e o maior exportador mundial, além disso, as projeções indicam que o
consumo de carne bovina deve aumentar, assim como a produção e as exportações
brasileiras. Nesse sentido, Buainain e Batalha (2007) apontaram fatores críticos a
serem analisados para a obtenção de sucesso do setor da bovinocultura. Segundo
os autores, esses fatores críticos de sucesso estão relacionados a quatro questões:
relacionadas à demanda, à oferta, ao comércio e negociações internacionais e
relacionadas à segurança do produto. Vamos agora analisar cada uma dessas
questões abordadas pelos autores.

• Questões relacionadas à demanda

Nas questões relacionadas à demanda, o verdadeiro desafio está na


identificação precisa dos reflexos, em termos de novos hábitos de consumo,
resultado das rápidas alterações por que passa a sociedade. De acordo com a
FIESP-ITAL (2010), foram identificadas as recentes exigências e tendências dos

78
TÓPICO 2 | MERCADO INTERNO E EXTERNO DA PECUÁRIA DE CORTE

consumidores mundiais de alimentos. Essas tendências foram agrupadas em


cinco categorias: sensorialidade e prazer, saudabilidade e bem-estar, conveniência
e praticidade, confiabilidade e qualidade e sustentabilidade e ética.

FIGURA 2 – AS TENDÊNCIAS DA ALIMENTAÇÃO

FONTE: FIESP-ITAL (2010, p. 44)

As tendências de sensorialidade e prazer estão relacionadas ao aumento


do nível de educação, informação e renda da população, entre outros fatores.
Em diversos países, os consumidores estão valorizando as artes culinárias
e as experiências gastronômicas, influenciando tanto o setor de serviços de
alimentação como também o desenvolvimento de produtos industrializados
(FIESP-ITAL, 2010).

79
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

As tendências de saudabilidade e bem-estar originam-se em fatores tais


como o envelhecimento das populações, as descobertas científicas que relacionam
determinadas dietas às doenças, bem como a renda e a vida nas grandes cidades,
influenciando a busca de um estilo de vida mais saudável. Diversos segmentos
surgem a partir dessa tendência, como a procura de alimentos funcionais, os
produtos para dietas e controle do peso, e o crescimento de uma nova geração de
produtos naturais que estão se sobrepondo ao segmento de produtos orgânicos
(FIESP-ITAL, 2010).

As tendências de conveniência e praticidade são motivadas,


principalmente, pelo ritmo de vida nas grandes cidades e pelas mudanças
verificadas na estrutura tradicional das famílias, fatores que estimulam a demanda
por produtos de preparo rápido, que diminua o esforço dos consumidores. Esse
fato gera um crescimento da demanda por refeições prontas e semiprontas,
alimentos de fácil preparo, embalagens de fácil abertura, fechamento e descarte
(FIESP-ITAL, 2010).

As tendências relacionadas à confiabilidade e qualidade estão


relacionadas aos consumidores mais informados e exigentes que tendem a
demandar produtos seguros e de qualidade atestada, valorizando a garantia de
origem e os selos de qualidade, obtidos a partir de boas práticas de fabricação
e controle de riscos. Nesse sentido, têm sido valorizados a rastreabilidade e
a garantia de origem, os certificados de sistemas de gestão de qualidade e
segurança e a rotulagem informativa (FIESP-ITAL, 2010).

As tendências de sustentabilidade e ética estão relacionadas aos


consumidores preocupados com o meio ambiente e também interessados em
contribuir para causas sociais ou auxiliar pequenas comunidades agrícolas
por meio da compra de produtos alimentícios. Em relação à sustentabilidade
ambiental, uma menor “pegada” de carbono (carbon footprint), baixo impacto
ambiental, não estar associado a maus-tratos aos animais, ter rotulagem ambiental,
ter embalagens recicláveis e recicladas etc. (FIESP-ITAL, 2010).

Em relação à demanda para a carne bovina, deve-se considerar, além


do consumidor final, o comportamento dos compradores empresariais ou
industriais (atacadistas, restaurantes e lanchonetes, empresas de fast-food), os
quais influenciam as condições de funcionamento dos mercados (BUAINAIN;
BATALHA, 2007).

Nesse sentido, prezado acadêmico, o setor de carnes poderia trabalhar


melhor sua imagem, destacando os benefícios do produto, os investimentos que
são feitos em ações relacionadas à sustentabilidade ambiental e a importância do
setor na geração de empregos diretos e indiretos na economia. Nessa direção, em
2001, foi criado no Brasil o Serviço de Informação da Carne (SIC), com o objetivo de
informar o consumidor sobre a carne bovina, apontando seus atributos positivos
e estimulando o seu consumo. Porém, uma aproximação do produtor com o
consumidor ainda é necessária, com troca de informações sobre as condições de
produção e transformação (BUAINAIN; BATALHA, 2007).
80
TÓPICO 2 | MERCADO INTERNO E EXTERNO DA PECUÁRIA DE CORTE

Atualmente, a rotina do dia a dia nas grandes cidades faz com que o tempo
para a realização das refeições diminua, com isso a demanda por produtos de
carne de preparo fácil e rápido vem crescendo, como os pratos semiprontos, por
exemplo, que são lançados muitas vezes como opções aos produtos feitos a partir
de carne de frango ou de suíno. Além disso, o oferecimento de cortes bovinos
diferenciados e a veiculação junto ao consumidor de instruções sobre o preparo
dos vários cortes disponíveis estão entre essas ações, no entanto, as inovações
nessa área, geralmente, são originadas em indústrias nas quais a matéria-prima
tradicional não é a carne bovina (BUAINAIN; BATALHA, 2007).

A procura por alimentos saudáveis e naturais também é uma tendência


no mercado mundial. Nessa direção, o sistema de produção praticado no Brasil
– a criação a pasto – já se beneficia dos conceitos associados a essa tendência.
Contudo, um aumento nas vendas do produto brasileiro poderia ocorrer se
esquemas de certificação para produtos orgânicos e algumas certificações
privadas fossem adotadas. Além disso, os clientes empresariais (restaurantes e
hotéis) estão cada vez mais preocupados em reduzir o tempo entre a chegada
do cliente no salão e a chegada de um prato diferenciado à mesa. Para isso,
demandam produtos adequados ao conceito de “cozinha de montagem”, que
apresentem qualidade, e agradem o cliente em relação aos custos, flexibilidade,
adaptabilidade e velocidade no atendimento (BUAINAIN; BATALHA, 2007).

A tabela a seguir apresenta informações referentes às características


desejadas pelos consumidores do produto carne, de acordo com pesquisa realizada
em quatro capitais brasileiras. Ao analisarmos a tabela, podemos observar que
os consumidores entrevistados apresentaram preferências por uma carne fresca,
sem odor, com coloração viva, sem sangue aparente e aprovada pelo Sistema de
Inspeção Federal (SIF). Além disso, a pesquisa demonstra que há uma preferência
pelos consumidores entrevistados de adquirir produtos de carne em açougues,
seguido por boutique de carnes, supermercados, hipermercados e mercearias e
que os pontos de vendas sejam higiênicos, que os funcionários sejam instruídos,
cordiais e estejam com vestimentas adequadas e que o produto seja de qualidade.
Porém, de acordo com os autores, a preferência dos consumidores por adquirir
produtos de carne em açougues discordou de outras pesquisas que mostram
maior frequência de compra de carne bovina em supermercados.

TABELA 9 – CARNE BOVINA: TIPOS DE ESTABELECIMENTOS DE VAREJO E CARACTERÍSTICAS


DEMANDADAS DO PRODUTO E DOS PONTOS DE VENDA, PELOS CONSUMIDORES FINAIS
Tipos de Características demandadas
estabelecimentos Produto Pontos de venda
Açougue Fresco Higiênico
Funcionários com
Boutique de carnes Sem odor
vestimentas adequadas
Supermercados Cor viva Cordialidade no atendimento
Hipermercados Sem sangue aparente Instrução dos funcionários
Mercearias Aprovado pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) Qualidade do produto
FONTE: Adaptado de Moura e Alliprandini (2004)

81
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

• Questões relacionadas à oferta

No sentido das questões relacionadas às ofertas, algumas mudanças


podem ser implementadas para que os produtos da carne bovina cheguem aos
mercados (brasileiro e internacional) atendendo cinco critérios básicos: qualidade,
pontualidade, flexibilidade/diversidade, custo e rapidez/agilidade (BUAINAIN;
BATALHA, 2007).

Para melhorar a qualidade, faz-se necessário que sejam respeitadas


as normas de sanidade e higiene, além de outros atributos esperados pelos
consumidores do produto. Portanto, um produto de qualidade não é somente
aquele que atende às normas de sanidade e higiene, mas também é o produto que
satisfaz as necessidades do consumidor. Um produto de qualidade é aquele que
oferece um conjunto de atributos, como conveniência, características sensoriais
desejadas, embalagem, entre outras, que vão além da inocuidade do alimento
(BUAINAIN; BATALHA, 2007).

Em relação à flexibilidade e diversidade é necessário desenvolver


capacidade de gerar produtos diversos (cortes e produtos com maior valor
agregado), preservando as qualidades sensoriais e nutricionais dos produtos
durante o processamento e estocagem. A carne pode ser oferecida pronta para o
preparo e consumo, por exemplo, desossada, com preparo de cortes específicos
e pratos já elaborados. Esses processos, quando feitos no próprio frigorífico,
permitem que os produtos sejam mais seguros do ponto de vista sanitário, pois as
indústrias seguem padrões rigorosos de boas práticas de fabricação. Informações
sobre a origem do produto, raça e sexo do animal são cada vez mais desejadas
pelos consumidores, por isso informações sobre o processo de criação do animal,
os cuidados com o meio ambiente, a forma de abate e os cuidados na manipulação
durante o processo produtivo podem ser um diferencial (BUAINAIN; BATALHA,
2007).

As questões relacionadas aos custos de produção e à fixação de preços


são aspectos importantes na oferta do produto. Operar fluxos de informação e de
produto de maneira eficiente, rápida e ágil deve ser uma meta para toda a cadeia
da carne, mas para que isso ocorra é necessária uma maior infraestrutura e, no caso
do Brasil, muito deve ser investido e melhorado, tanto em transporte terrestre,
como nos sistemas de armazenagem nos portos e aeroportos (BUAINAIN;
BATALHA, 2007).

• Questões relacionadas ao comércio e negociações internacionais

Nos próximos anos, os agentes da cadeia da carne bovina deverão estar


focados nas questões relacionadas aos cuidados ao meio ambiente e aos processos
de certificação relacionados; ao tipo de mão de obra utilizado, procurando formas
de melhor capacitá-la para desempenho de suas tarefas e aos aspectos relacionados
à organização do trabalho na pecuária. Alguns desses aspectos podem limitar o
acesso do produto brasileiro a alguns mercados (BUAINAIN; BATALHA, 2007).

82
TÓPICO 2 | MERCADO INTERNO E EXTERNO DA PECUÁRIA DE CORTE

O governo brasileiro tem papel fundamental nas questões relacionadas


ao comércio e às negociações internacionais, tornando a implementação da
regulamentação do setor mais ágil e fácil. O governo deve atuar no sentido de
promover programas efetivos de estímulos à exportação, negociando a redução
dos subsídios agrícolas e das barreiras não tarifárias na Organização Mundial
do Comércio (OMC). A participação da iniciativa privada pode e deve ser mais
proativa, no sentido de assumir parte das responsabilidades no processo de
negociação (BUAINAIN; BATALHA, 2007).

• Questões relacionadas à segurança do produto

Nos estabelecimentos produtores de carnes e produtos cárneos, como


os abatedouros e frigoríficos, o uso das boas práticas de fabricação e o uso de
sistemas de gestão da qualidade, como a Análise de Perigos e Pontos Críticos
de Controle (APPCC), são fatores importantes para se ganhar a confiança do
consumidor. Na produção pecuária pode existir um controle mais estrito em
termos de manejo sanitário na propriedade, focado no bem-estar animal, com
a utilização de vacinas e uso e controle da alimentação animal, com assistência
técnica apropriada. A difusão mais rápida e ampla dessas práticas não deve
ocorrer apenas por imposição legal, mas também por meio da difusão de uma
gestão mais profissionalizada (BUAINAIN; BATALHA, 2007).

83
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, seguido da Índia,


Austrália, EUA e Nova Zelândia.

• O maior importador mundial de carne bovina no ano de 2016 foram os Estados


Unidos, seguido do Vietnã e do Japão.

• Ao considerarmos o setor da carne bovina, podemos destacar que a carne


bovina in natura teve maior representatividade nas exportações.

• Os principais destinos da carne bovina brasileira exportada, em volume, são


Hong Kong, Egito, China, Rússia e União Europeia.

• Os principais destinos da carne bovina brasileira exportada, em faturamento,


são Hong Kong, União Europeia e China.

• Os fatores que influenciam o consumo de alimentos no mundo são: o aumento


populacional, a urbanização, a estrutura etária e familiar, a renda, a educação,
informação e intercâmbio cultural.

• De acordo com as projeções, em relação às exportações, o setor de carnes deve


apresentar elevadas taxas de crescimento para os três tipos de carnes analisados
(bovina, suína e de aves).

• As exportações totais de carnes bovina, suína e de frango ao final do período


das projeções (2027) devem chegar a quase 10,0 milhões de toneladas.

• Os fatores críticos de sucesso para o setor da bovinocultura estão relacionados


a quatro questões: relacionadas à demanda, à oferta, ao comércio e negociações
internacionais e à segurança do produto.

• Em relação à demanda, as exigências e tendências dos consumidores mundiais


de alimentos englobam: sensorialidade e prazer, saudabilidade e bem-estar,
conveniência e praticidade, confiabilidade e qualidade e sustentabilidade e
ética.

• No sentido das questões relacionadas às ofertas, algumas mudanças podem ser


implementadas para que os produtos da carne bovina cheguem aos mercados,
atendendo cinco critérios básicos: qualidade, pontualidade, flexibilidade/
diversidade, custo e rapidez/agilidade.

84
• Nos próximos anos, os agentes da cadeia da carne bovina deverão estar
focados nas questões relacionadas aos cuidados ao meio ambiente; ao tipo de
mão de obra utilizada e aos aspectos relacionados à organização do trabalho na
pecuária.

• Nos estabelecimentos produtores de carnes e produtos cárneos, o uso das boas


práticas de fabricação e o uso de sistemas de gestão da qualidade são fatores
importantes para se ganhar a confiança do consumidor.

85
AUTOATIVIDADE

Após a leitura deste tópico estamos prontos para fazer nossa autoavaliação
de conhecimento. Vamos testar nossos conhecimentos a respeito do mercado
interno e externo de carne bovina.

1 No ano de 2016 foram exportadas em todo o mundo mais de 12 milhões


de toneladas equivalente carcaça, o que representa que cerca de 18,41%
da carne bovina produzida no mundo no ano de 2016 foram exportados.
Sobre as exportações e importações de carne bovina no mundo, analise as
seguintes sentenças:

I- O Brasil é o maior exportador e importador de carne bovina, o país importou


em 2016 aproximadamente 1.492,1 mil toneladas equivalente carcaça.
II- Considerando as importações mundiais, 16,76% da carne bovina e bubalina
foram importadas do Brasil no ano de 2016.
III- O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, o país exportou
no ano de 2016 cerca de 20,04% da sua produção.
IV- Em faturamento, o principal destino da carne bovina brasileira exportada
em 2016 foi a União Europeia, chegando a mais de 1 bilhão de dólares.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas II e IV estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
c) ( ) Somente a afirmativa I está correta.
d) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.

2 As exigências e tendências dos consumidores mundiais de alimentos são


agrupadas em cinco categorias: sensorialidade e prazer, saudabilidade
e bem-estar, conveniência e praticidade, confiabilidade e qualidade e
sustentabilidade e ética. Nesse sentido, com quais fatores estão relacionadas
as tendências de saudabilidade e bem-estar?

86
UNIDADE 2 TÓPICO 3

FASES DA PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, após nos informarmos a respeito da situação atual e
das projeções futuras da pecuária de corte, iremos analisar, neste tópico, as fases
da produção de gado de corte. A partir dos estudos deste tópico, iremos aprender
a respeito do manejo dos bovinos na fase de cria. Analisaremos os métodos de
monta e a estação de monta ou reprodução que visam otimizar o desempenho
reprodutivo e a eficiência produtiva do rebanho de cria.

Além disso, avaliaremos todas as demais etapas envolvidas na produção


de gado de corte, que envolvem o manejo pré-natal, o parto, manejo do bezerro
após o nascimento, a terminação de bovinos em confinamento e em pastagem e
o manejo pré-abate. O manejo pré-abate realizado de maneira inadequada pode
aumentar o risco de contusões em regiões nobres da carcaça, podem danificar
o couro e pode resultar em estresse do animal, o que eleva o pH da carne,
diminuindo sua qualidade e vida útil.

Após o conteúdo deste tópico, as autoatividades servirão de avaliação dos


seus conhecimentos referentes ao assunto abordado aqui.

Bons estudos!

2 MANEJO DE BOVINOS DE CORTE NA FASE DE CRIA


Atualmente, os pecuaristas têm investido em tecnologias e conhecimentos
técnicos na área de manejo, melhoramento genético, nutrição e sanidade dos
animais. Os maiores esforços por parte do produtor são na fase de engorda, pois
é a partir dessa fase que enxergam o retorno financeiro da atividade em função
da venda para o abate. Porém, certos fatores, como a precocidade, desempenho e
rentabilidade, estão relacionados e dependem diretamente do desenvolvimento
preciso das fases que antecedem à terminação, destacando-se a fase de cria, na
qual o controle zootécnico dificilmente é realizado e a taxa de natalidade é baixa,
aproximadamente 60% (SILVA; BENEZ, 2015).

Um dos principais problemas da criação extensiva de bovinos de corte é


a baixa taxa de natalidade. Em circunstâncias de falta de forragem, a desmama
precoce reduz o estresse da lactação e as necessidades nutricionais da vaca,
antecipando assim a atividade reprodutiva. Como a lactação tem prioridade por

87
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

nutrientes, em relação ao ciclo estral, vacas secas requerem até 60% menos forragem
do que vacas lactantes. A separação do bezerro três meses após seu nascimento
permite que a desmama ocorra ainda dentro da estação de monta, aumentando
assim as chances de concepção (FILHO; QUEIROZ, 2011). O índice satisfatório
de natalidade está entre 75 e 80% e a idade ao primeiro parto é elevada (entre
42 e 48 meses). Nesse sentido, o produtor preocupado em aumentar a eficiência
produtiva e sua rentabilidade deve estar atento em melhorar constantemente a
taxa de natalidade, mortalidade, desmame, idade ao primeiro parto, produção de
kg de bezerro/ha, entre outros fatores responsáveis pelo sucesso da fase de cria
(SILVA; BENEZ, 2015).

Um dos fatores que mais tem influência no aumento da eficiência


reprodutiva do rebanho de cria é a nutrição adequada. Além da nutrição, outras
técnicas de manejo devem ser utilizadas simultaneamente para que esse objetivo
seja alcançado. Dentre essas técnicas, o estabelecimento de uma estação de monta
de curta duração, com a finalidade de que o período de maior requerimento
nutricional (lactação) aconteça com o de maior oferta de alimentos. Desse modo,
as demais atividades de manejo, tais como esquema de vacinação, vermifugação,
castração, descorna, desmama, descarte, entre outras, serão disciplinadas e
poderão ser aplicadas em idades corretas e em épocas do ano adequadas (FILHO;
QUEIROZ, 2011).

Na bovinocultura de corte, a fase de cria corresponde a muito mais que


a produção de bezerros e bezerras, mas também aos cuidados com as matrizes
e reprodutores e a preparação de novilhas e garrotes para reprodução. Nesse
contexto, o manejo reprodutivo dá início à fase de cria. O manejo reprodutivo
abrange a preparação de touros, vacas e novilhas para a monta natural ou
inseminação artificial, e termina com o desmame, quando a cria tem condições de
tornar-se independente da mãe, ou quando a mãe não apresenta mais condições
físicas para garantir o desenvolvimento da cria, manter-se e desenvolver uma
nova gestação (SILVA; BENEZ, 2015).

Para que um rebanho comercial seja considerado eficiente, o ideal é que


cada matriz produza um bezerro de qualidade reconhecida por ano, mas para o
estabelecimento do intervalo de partos de 12 meses, é fundamental considerar a
condição corporal dos animais destinados à reprodução, a implantação de um
programa nutricional associado ao manejo sanitário da fazenda e prezar o bem-
estar dos animais e das pessoas (SILVA; BENEZ, 2015).

3 MÉTODOS DE MONTA – ESTAÇÃO DE MONTA OU


REPRODUÇÃO
Prezado acadêmico, as diversas alternativas de manejo têm como
objetivo principal a otimização do desempenho reprodutivo e produtivo do
rebanho de cria, de forma racional, econômica e sem impactos e degradação
ambiental. Para isso, deve-se focar na prevenção de doenças, no atendimento das
88
TÓPICO 3 | FASES DA PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

exigências nutricionais em todas as fases da vida reprodutiva e na exploração


do potencial genético dos animais. Diversas práticas de manejo (a desmama
antecipada, a suplementação estratégica dos bezerros ou vacas, o estabelecimento
de um período de monta) podem auxiliar o produtor na busca de uma melhor
eficiência do sistema de cria. Dessas práticas de manejo, o estabelecimento do
período de monta deve ser a primeira a ser adotada, pois além de disciplinar
as demais atividades de manejo, ela também faz com que o período de maior
demanda nutricional por parte do animal maior se ajuste à oferta de alimentos
de qualidade, reduzindo os custos com a suplementação (VALLE; ANDREOTTI;
THIAGO, 2000).

Um dos fatores de maior importância entre os que determinam o lucro


ou o prejuízo do sistema de cria é a porcentagem de bezerros desmamados,
que é definido como a percentagem de todas as vacas e novilhas, em idade de
reprodução, que após um período de monta e de parição desmamaram um
bezerro sadio. Esse índice representa melhor o desempenho reprodutivo do
rebanho quando é calculado em relação a todas as fêmeas expostas a touro do
que se considerado apenas em relação às fêmeas paridas. Porém, a produtividade
anual do rebanho de cria envolve também os pesos dos bezerros produzidos à
desmama. Portanto, o principal objetivo da cria é otimizar a produção de quilos
de bezerro desmamado por hectare por ano, quanto maior for o número e o peso
dos bezerros à desmama, maior será a produção por área. O tamanho da vaca é
outro fator a ser considerado, pois vacas de menor porte apresentam menores
exigências nutricionais que as de porte mais elevado e atingem a puberdade
mais cedo. A redução da idade à primeira cria e o maior número de animais
por unidade de área, devido às exigências nutricionais mais reduzidas, resultam
no aumento da eficiência reprodutiva e produtiva do rebanho de cria (VALLE;
ANDREOTTI; THIAGO, 2000).

Nesse contexto, a otimização do desempenho reprodutivo e da eficiência


produtiva do rebanho de cria pode ser obtida por meio das seguintes práticas de
manejo, Valle, Andreotti e Thiago (2000) as descrevem como:

• identificação dos animais e registro de ocorrências (nascimentos, abortos,


mortes etc.);
• escolha do período de monta;
• escolha do sistema de acasalamento;
• preparo de novilhas para reposição;
• diagnóstico de gestação e descartes;
• determinação da idade à desmama;
• atendimento às necessidades nutricionais;
• controle sanitário do rebanho;
• outras práticas de manejo.

A maior desvantagem é a dificuldade nos controles zootécnico e sanitário


do rebanho, causados, principalmente, pela falta de uniformidade das crias. As
práticas comuns de manejo nutricional e sanitário não geram grandes benefícios,

89
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

pois não podem ser aplicadas nas épocas corretas e idades recomendadas,
prejudicando a seleção dos animais de maior potencial reprodutivo. Isso resulta
em baixa produtividade do sistema que, juntamente ao custo do capital investido,
inviabiliza a sua exploração econômica (VALLE; ANDREOTTI; THIAGO, 2000).

A fertilidade do rebanho, no sistema de criação extensiva, apresenta


variações vinculadas às condições climáticas, devido a isso, estabelecer um
período ou uma estação de monta de curta duração é muito importante do
ponto de vista do manejo reprodutivo, pois, como mencionado anteriormente,
sua implantação disciplina as demais atividades de manejo, permitindo que o
período de maior exigência nutricional aconteça com o de maior disponibilidade
de forrageiras de melhor qualidade, eliminando ou reduzindo a necessidade de
suplementação alimentar. Nesse sentido, as principais vantagens de uma estação
de monta reduzida são a melhoria da fertilidade e da produtividade do rebanho,
além disso, ao reduzir a duração da estação de monta, pode-se identificar as
fêmeas de melhor desempenho reprodutivo. As vacas mais produtivas tendem
a parir no início da época de parição e desmamam-se bezerros mais pesados. As
vacas que, nas mesmas condições, não concebem ou tendem a parir no final da
época de parição devem ser descartadas, pois inevitavelmente não irão conceber
na próxima estação, reduzindo a produtividade do rebanho. De tal modo, para a
otimização da produtividade da cria, o produtor deve ter como meta a obtenção
de elevados índices de concepção (acima de 70%) nos primeiros 21 dias da estação
de monta e índices superiores a 90%, durante os dois primeiros meses de monta
(VALLE; ANDREOTTI; THIAGO, 2000).

3.1 MÉTODOS DE MONTA


Entre os métodos de monta, podemos citar o método de monta a pasto, no
qual o touro permanece com o rebanho durante o ano todo, e a estação de monta
ou reprodução, que representa o período em que as matrizes devem ser expostas
aos reprodutores. Vamos agora analisar cada um desses métodos de monta.

• Monta a pasto

No Brasil, o método de monta mais utilizado é aquele em que o touro


permanece com o rebanho durante o ano todo, logo, os nascimentos dos
bezerros se distribuem ao longo do ano, apesar de haver maior concentração de
nascimentos entre os meses de julho e setembro. A ocorrência de nascimentos
em épocas inadequadas pode prejudicar o desenvolvimento dos bezerros
devido à incidência de doenças e de parasitos e da menor disponibilidade de
pastagens para as matrizes, principalmente durante o período de lactação.
Porém, como mencionado anteriormente, a maior desvantagem desse método
de monta é a dificuldade da realização do controle zootécnico e sanitário do

90
TÓPICO 3 | FASES DA PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

rebanho, prejudicando a seleção dos bovinos de maior potencial reprodutivo.


Nesse sentido, uma das primeiras medidas de manejo a ser implantada em uma
fazenda com a finalidade de melhorar a eficiência reprodutiva é a instalação de
uma estação de monta, ou de reprodução (SILVA; BENEZ, 2015).

• Estação de monta ou reprodução

A estação de monta ou reprodução pode ser definida como o período


em que as matrizes, em bom estado de saúde e condição corporal, devem ser
expostas aos reprodutores, seja por inseminação artificial, monta natural (em
que os touros permanecem com as fêmeas durante toda a estação), ou monta
controlada (em que os touros permanecem por um período preestabelecido
com os lotes de fêmeas específicos). A adoção da estação de monta é uma das
ferramentas capazes de aumentar a eficiência da fase de cria de bovinos de corte,
além de ser uma prática de baixo custo e de fácil adoção que tem efeito positivo
considerável sobre a produtividade geral da fazenda. A fertilidade dos animais
apresenta variações quando uma estação de monta não é estabelecida, devido
principalmente às condições climáticas, podendo impactar na rentabilidade da
produção de gado de corte na fase de cria (SILVA; BENEZ, 2015).

O manejo reprodutivo, quando bem controlado, torna mais eficiente


todo o sistema de produção dos bovinos, permitindo estimar mais facilmente a
época da parição e descarte das matrizes, desempenho dos touros, estabelecer um
calendário sanitário, prever a necessidade de reposição das matrizes e dos touros,
a época e preço de venda dos bezerros e descartes, e a utilização de suplementos.
Além disso, consegue-se proporcionar lotes mais homogêneos de bezerros e
otimizar as atividades desenvolvidas pelos colaboradores (SILVA; BENEZ,
2015). Para que a estação de monta seja estabelecida, vários fatores devem ser
considerados, Silva e Benez (2015) os descrevem como:

Infraestrutura

A propriedade deve proporcionar infraestrutura mínima, como pastos


divididos, com disponibilidade de água de qualidade, sombra e pastagens
formadas com gramíneas com boa capacidade de suporte, além de curral com
tronco de contenção em bom estado de funcionamento.

Animais aptos à reprodução

As fêmeas selecionadas para compor o plantel reprodutor da fazenda


devem apresentar bom estado de saúde e condições fisiológicas para o exercício
da função reprodutiva. Considera-se a avaliação do escore de condição corporal
(ECC) fundamental na escolha dos animais anteriormente ao início do período de
reprodução. A avaliação da condição corporal é realizada pela medida subjetiva
de gordura depositada sobre as costelas, nas ancas, nas apófises transversas das
vértebras lombares e na inserção da cauda. Essa avaliação pode ser realizada
utilizando uma escala (ECC) que abrange escores de 1 a 5 (onde 1 e 5 são animais

91
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

extremamente magros e obesos, respectivamente). O escore de condição corporal


(ECC), caro acadêmico, foi discutido mais profundamente anteriormente,
quando analisamos a bovinocultura de leite. De acordo com Moraes et al. (2013),
as vacas devem apresentar ECC igual ou maior que três, uma vez que essas vacas
apresentam taxa de prenhez em torno de 86,5%, enquanto as vacas classificadas
com ECC menor que três apresentaram 65,9% e as vacas que apresentam escore
cinco são consideradas ineficientes.

Período da estação de monta

O período da estação de monta deve aproveitar as condições naturais do


clima, em virtude da maior disponibilidade de alimento, resultando em melhor
condição corporal dos animais. As épocas de nascimento e desmame também
devem ser consideradas, visto que o período de seca do ano é ideal para o
nascimento dos bezerros por apresentar baixa umidade e baixa incidência de
doenças e parasitas. No Brasil, a estação de monta inicia-se, geralmente, com
o período chuvoso entre setembro e novembro. O período seco que precede a
estação de monta é crítico, pois a falta de alimentos afeta a condição corporal
dos animais e, por conseguinte, o desempenho reprodutivo posterior. Atenção
especial deve ser dada às novilhas após o primeiro parto e às vacas com pior ECC,
disponibilizando as áreas com os melhores pastos e suplementação proteica/
energética.

3.2 MANEJO PRÉ-NATAL


Normalmente, o período de parição ocorre no final da seca, quando as
pastagens apresentam valor nutricional mais baixo, por isso, uma maior atenção à
avaliação da quantidade e qualidade do pasto disponível é necessária para realizar
a suplementação das vacas e novilhas, visando o ganho de peso do bezerro e da
matriz. De acordo com o tamanho da propriedade e do número de matrizes, estas
são transferidas, por volta de 45 a 30 dias antes do parto, para pastos denominados
“maternidade”, mais próximos da área de moradia dos colaboradores, facilitando
as observações diárias. O ambiente de nascimento dos bezerros deve ser de fácil
acesso, arejado, sombreado e com pasto baixo. É importante tornar o ambiente
tranquilo para o parto, recomenda-se evitar a passagem de veículos, máquinas,
pessoal, e outros animais, como cachorros (SILVA; BENEZ, 2015).

A equipe de colaboradores responsáveis pelo pasto maternidade deve ser


bem treinada para adotar os manejos adequados que levam à melhoria do bem-
estar das vacas até o momento dos nascimentos. A partir de registro em planilhas,
pode-se prever a data de nascimento das crias, e a partir dessas informações podem
ser iniciadas as observações comportamentais no período pré-parto. As vacas em
trabalho de parto devem ser observadas para identificar possível necessidade de
intervenção no parto, para isso, é necessário conhecimento técnico, pois a decisão

92
TÓPICO 3 | FASES DA PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

do momento certo de intervir no parto pode salvar a vida da cria e da vaca. As


causas que podem levar à intervenção no parto são posição anormal do bezerro,
dilatação insuficiente do canal do parto, falta ou insuficiência de contrações para
expulsão do feto e bezerro excessivamente grande (SILVA; BENEZ, 2015).

3.3 PARTO
O acompanhamento das vacas em trabalho de parto deve ser realizado
pelo menos duas vezes ao dia, pela manhã e na parte da tarde, permitindo
diagnosticar os problemas mais comuns encontrados na época de nascimento. Os
problemas mais comuns são dificuldade de parto; baixa habilidade materna, baixo
vigor do bezerro; falhas na primeira mamada, entre outros. Alguns proprietários
registram taxas de mortalidade que comprometem os índices zootécnicos devido
à ocorrência de partos distócicos, debilidade da cria ao nascer ou outros casos,
como doenças e predadores. Essas informações devem ser computadas para que
a tomada de decisão possa contribuir com a redução desses tipos de mortes na
propriedade (SILVA; BENEZ, 2015).

NOTA

Prezado acadêmico, a distocia caracteriza-se por dificuldade ou atraso no


parto, o qual muitas vezes exige intervenção humana. Os bezerros que sobrevivem ao parto
distócico apresentam maior mortalidade e morbidade no período neonatal.

3.4 MANEJO DO BEZERRO APÓS O NASCIMENTO


Para criar bezerros saudáveis devem ser adotados os seguintes
procedimentos, segundo Filho e Queiroz (2011):

• Planejar a estação de monta, evitando nascimentos no período de maior


intensidade de chuvas, pois os animais nascidos nesse período sofrem mais
estresse e ficam mais propensos a doenças.
• Cortar e desinfetar o umbigo utilizando solução de álcool iodado a 10% ou
outro produto comercial.
• Verificar se o bezerro consegue mamar normalmente. No caso de vacas de tetas
grandes, é necessário ajudar o recém-nascido nas primeiras mamadas e depois
esgotar o úbere da vaca. É indispensável que o bezerro mame o colostro.
• Descartar vacas de tetas grandes e aquelas que produzem pouco leite.
• Manter os bezerros em pasto maternidade durante a primeira semana de vida,
facilitando a assistência.

93
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

• Evitar a movimentação de bezerros novos junto aos animais adultos em


porteiras e bretes.
• Observar a ocorrência de diarreias e tratá-las imediatamente.

NOTA

Caro acadêmico, o colostro é a secreção da glândula mamária nas primeiras 24


horas após o parto, contém altos teores de sólidos, proteína, gordura, minerais e vitaminas,
que garantem um desenvolvimento inicial mais saudável. A função mais importante do
colostro é fornecer anticorpos (células de defesa) para o organismo do bezerro. Disponível
em: <https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/importancia-do-fornecimento-do-
colostro-16622n.aspx>. Acesso em: 23 mar. 2018.

4 A TERMINAÇÃO DE BOVINOS EM CONFINAMENTO E EM


PASTAGEM
A terminação de bovinos pode ser realizada em pastagem e em
confinamento, que é um dos principais responsáveis pelo aumento de
produtividade na pecuária de corte brasileira.

4.1 TERMINAÇÃO DE BOVINOS EM CONFINAMENTO


De acordo com Benez e Cabral (2015), a crescente utilização do
confinamento para bovinos na fase final de produção é um dos fatores
responsáveis pelo aumento de produtividade na pecuária de corte brasileira. O
número de animais confinados passou de 2,0 milhões de bovinos, em 2010, para
4,4 milhões de bovinos, em 2014. Algumas projeções apontam que, no Brasil, até
o ano de 2023 sejam produzidos 2,4 milhões de toneladas de carne oriundas de
confinamento, aproximadamente o triplo que em 2013. No entanto, apesar do
crescimento, são necessários ajustes nos manejos (nutricionais, sanitários, entre
outros) e na gestão em muitos confinamentos brasileiros, para maximizar o lucro
de forma sustentável.

Atualmente, as variáveis mercadológicas e econômicas são os principais


aspectos considerados pelos pecuaristas na implantação de projetos de engorda
intensiva em currais de confinamento, principalmente em grandes escalas.
Entretanto, considerações devem ser feitas quanto à ciência, comercialização e
gestão de todos os processos envolvidos nesse sistema (BENEZ; CABRAL, 2015).

94
TÓPICO 3 | FASES DA PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

A pecuária de corte intensiva favorece a utilização do potencial e


das diversidades genéticas animais, contribuindo significativamente no
desenvolvimento do setor de produção de carne bovina. A utilização de sistemas
intensivos de criação favorece a produção de bovinos em períodos de menor
disponibilidade de forragens e também se caracterizam como coadjuvantes da
agricultura, aumentando a disponibilidade de áreas para a produção de grãos
e de outros produtos agrícolas, otimizam o uso de maquinários e mão de obra
e promovem maior aproveitamento dos resíduos da produção de importantes
culturas do panorama agrícola brasileiro (BENEZ; CABRAL, 2015).

Entretanto, para que os produtores de carne bovina possam implantar


o confinamento como um sistema de terminação rentável, faz-se necessário
conhecer os fatores que podem afetar a lucratividade e os riscos que esse sistema
pode apresentar ao ambiente e animais, os quais afetam diretamente o principal
parâmetro utilizado para avaliação rápida e parcial dos resultados: o ganho de
peso dos animais. Nesse contexto, Benez e Cabral (2015) destacam os princípios
básicos para obtenção de lucro de um confinamento:

• Disponibilidade de animais e alimentos de qualidade com o menor custo


possível.
• Instalações e estruturas apropriadas.
• Valor favorável da arroba no abate.
• Mão de obra qualificada.
• Plano nutricional otimizado.
• Controle de gestão rigoroso sobre os processos e preocupação com o bem-estar
dos animais.

De acordo com Filho e Queiroz (2011), os principais pontos para o sucesso


do confinamento são:

• Escolher os melhores animais, pois o investimento é alto.


• Manter os animais em instalações adequadas.
• Fazer lotes homogêneos (devem ser animais do mesmo sexo com tamanho e
estado de terminação semelhantes).
• Realizar um bom manejo da alimentação (oferecer alimentos em bom estado
de conservação e monitorar o consumo).
• Não manter animais terminados no confinamento, pois eles têm conversão
alimentar ruim, ou seja, consomem muito alimento para cada quilo de peso
ganho.

Caro acadêmico, adiante iremos analisar mais profundamente a


terminação de bovinos em confinamento, destacando as vantagens, as instalações
necessárias e cuidados com a nutrição animal.

95
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

4.2 TERMINAÇÃO DE BOVINOS EM PASTAGEM


No Brasil, a exploração econômica da bovinocultura de corte tem como
base o uso da pastagem como o principal recurso alimentar. As áreas de pastagem
no Brasil diminuíram 8% nos últimos 36 anos, enquanto o número de bovinos
dobrou, passando de 102 milhões para aproximadamente 204 milhões de animais.
O constante aumento de produção de carne no Brasil pode ser relacionado com os
investimentos em rodovias, pesquisas, comunicação, energia elétrica, exportação
e crédito agrícola e, com destaque, a redução do ciclo de produção devido ao
investimento do produtor em genética, nutrição e sanidade. A redução do ciclo de
produção na pecuária de corte é possível desde que haja o aumento da capacidade
de suporte das pastagens, o incremento das taxas de natalidade e a precocidade
produtiva, envolvendo rapidez de acabamento e pouca idade ao início da vida
reprodutiva. No entanto, o produtor enfrenta o grande desafio de produzir diante
do cenário brasileiro, reduzindo o ciclo de produção e melhorando a qualidade da
carne, de maneira competitiva, rentável e sustentável (BENEZ; CABRAL, 2015).

Em condições tropicais, que é o caso do Brasil, uma das limitações à


máxima produção animal em pastejo é a sazonalidade de produção de matéria
seca das gramíneas tropicais perenes, em que aproximadamente 80% da
produção de biomassa é obtida no período das águas, quando essa produção
é rápida e em curto espaço de tempo. A falta de chuva no inverno resulta em
baixa disponibilidade de forragem e redução da sua qualidade, tornando
possível a perda de aproximadamente 25% da produção do animal acumulada
na primavera-verão-outono (BENEZ; CABRAL, 2015).

Considerando a necessidade do aumento da eficiência produtiva para


viabilização comercial da atividade pecuária, faz-se necessário o emprego de
técnicas nutricionais com o objetivo de contornar o problema da sazonalidade
na produção e qualidade das pastagens, como também o emprego de manejos
que respeitem a saúde e a biologia dos bovinos. No entanto, uma das maiores
barreiras para a intensificação da produção animal em pastagem é a ausência
de programas de adubação, manejos coerentes para a máxima produção de
forragem, uso de suplementos, capacitação da mão de obra e investimentos em
estruturas simples, como cochos (BENEZ; CABRAL, 2015).

5 MANEJO PRÉ-ABATE DE BOVINOS DE CORTE


Caro acadêmico, o manejo pré-abate é um procedimento de muita
importância na pecuária de corte. O manejo inadequado durante essa etapa pode
aumentar o risco de contusões em regiões nobres da carcaça e também pode
danificar o couro, diminuindo o rendimento da carcaça ao abate e reduzindo a
qualidade da carne e do couro. Além disso, o manejo pré-abate inadequado pode
ocasionar o estresse do animal, o que eleva o pH da carne, diminuindo sua vida
útil. Muita atenção deve ser tomada nas fases de embarque e desembarque dos
animais para o transporte, pois essas são as fases mais críticas (EMBRAPA, 2005).
96
TÓPICO 3 | FASES DA PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

NOTA

Caro acadêmico, o pH se refere ao potencial hidrogeniônico, ou seja, refere-se


à concentração de [H+] (ou de H3O+) em uma solução. Assim, o pH serve para nos indicar
se uma solução é ácida, neutra ou básica. O pH da carne é um importante parâmetro de
qualidade, podendo influenciar a cor, a capacidade de retenção de água, a maciez, dentre
outros fatores.

De acordo com a Embrapa (2005), para se preservar a qualidade da carne


e do couro, alguns pontos devem ser observados no transporte:

• Os animais devem ser agrupados no curral com antecedência antes do


embarque. Organizá-los em lotes uniformes de acordo com o sexo, faixa de
idade e peso.
• Evitar separações de animais do rebanho e correria durante o embarque e,
sempre que possível, evitar o uso de aguilhões e choque elétrico.
• Não embarcar animais fracos e sem condições de transporte.
• O piso dos caminhões deve ser antiderrapante e as paredes internas da gaiola
devem ser lisas, sem pontas de pregos, parafusos etc.
• Os motoristas e o pessoal responsável pelo transporte dos animais devem ser
treinados e realizar o transporte, de preferência, nos horários mais frescos do
dia.

A aplicação das boas práticas de manejo na rotina das atividades das


fazendas é um desafio, pois as pessoas resistem a mudar a forma de lidar
com bovinos e investir na capacitação dos colaboradores, mesmo com os bons
exemplos que demonstram que as boas práticas de manejo beneficiam todos os
envolvidos com a produção de carne. Dessa maneira, é importante conscientizar
os pecuaristas de que a qualidade do produto é diretamente dependente da forma
com que os animais são tratados (BENEZ; NETO, 2015).

Alguns frigoríficos, em parceria com o Ministério da Agricultura Pecuária


e Abastecimento (Mapa), vêm realizando programas de treinamentos, no entanto,
produtores, motoristas e técnicos que trabalham na área também devem ser
treinados. Diversos estudos evidenciaram que os programas de treinamentos
para os trabalhadores envolvidos no manejo reduzem significativamente as ações
agressivas (gritos, golpes e choques) durante o manejo, assim como diminuem o
risco de os animais escorregarem e caírem. Além disso, os treinamentos são mais
eficientes quando há também ajustes nas instalações e equipamentos, assim como
melhora nas condições de trabalho das pessoas (BENEZ; NETO, 2015).

Os treinamentos e a conscientização das pessoas sobre a importância


do manejo pré-abate devem ocorrer de maneira contínua, pois podem reduzir
consideravelmente a incidência de hematomas graves nas carcaças dos bovinos.

97
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

Além disso, é importante destacar que até a última fase do manejo pré-abate os
animais estão vivos e conscientes, e devem ser manejados de maneira segura e
tratados com respeito e ética (BENEZ; NETO, 2015).

DICAS

Prezado acadêmico, com a finalidade de informar a comunidade rural sobre a


importância das informações geradas pelo Programa Boas Práticas Agropecuárias – Bovinos
de Corte, a Embrapa Gado de Corte disponibilizou um curso adaptado, no formato on-line,
do Manual que traz todas as temáticas englobadas pelo programa. O Módulo 6 engloba
o manejo pré-abate. Acesse e confira: <https://old.cnpgc.embrapa.br/mkt/manual-digital/
modulo-6/modulo-6/modulo6.html>.

98
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Um dos fatores que mais tem influência no aumento da eficiência reprodutiva


do rebanho de cria é a nutrição adequada. Além da nutrição, outras técnicas
de manejo devem ser utilizadas simultaneamente para que esse objetivo seja
alcançado.

• O principal objetivo da cria é otimizar a produção de quilos de bezerro


desmamado por hectare por ano, quanto maior for o número e o peso dos
bezerros à desmama, maior será a produção por área.

• O método de monta mais utilizado é aquele em que o touro permanece com o


rebanho durante o ano todo, logo, os nascimentos dos bezerros se distribuem
ao longo do ano.

• A estação de monta ou reprodução pode ser definida como o período em que


as matrizes, em bom estado de saúde e condição corporal, devem ser expostas
aos reprodutores, seja por inseminação artificial, monta natural, ou monta
controlada.

• Para que a estação de monta seja estabelecida, vários fatores devem ser
considerados: a infraestrutura, os animais aptos à reprodução e o período da
estação de monta.

• A crescente utilização do confinamento para bovinos na fase final de produção


é um dos fatores responsáveis pelo aumento de produtividade na pecuária de
corte brasileira.

• A pecuária de corte intensiva favorece a utilização do potencial e das diversidades


genéticas animais, contribuindo significativamente no desenvolvimento do
setor de produção de carne bovina.

• No Brasil, a exploração econômica da bovinocultura de corte tem como base o


uso da pastagem como o principal recurso alimentar.

• O manejo pré-abate inadequado pode aumentar o risco de contusões em


regiões nobres da carcaça e também podem danificar o couro. Além disso,
pode ocasionar o estresse do animal, o que eleva o pH da carne, diminuindo
sua vida útil.

99
AUTOATIVIDADE

Após a leitura deste tópico, estamos prontos para fazermos nossa autoavaliação
de conhecimento. Vamos testar nossos conhecimentos a respeito das fases de
produção de gado de corte.

1 A partir do estudo deste tópico, vimos que as diversas alternativas de manejo


têm como objetivo principal a otimização do desempenho reprodutivo e
produtivo do rebanho de forma racional, econômica e sem impactos e
degradação ambiental. Sobre o manejo dos bovinos nas suas diferentes fases
de produção, assinale V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Planejar a estação de monta, evitando nascimentos no período de maior


intensidade de chuvas, pois os animais nascidos nesse período ficam mais
propensos a doenças.
( ) O manejo pré-abate inadequado pode ocasionar o estresse do animal, o que
diminui o pH da carne, aumentando sua vida útil.
( ) O acompanhamento das vacas em trabalho de parto deve ser realizado
uma vez por semana, permitindo diagnosticar os problemas mais comuns
encontrados na época de nascimento.
( ) As vacas selecionadas para a reprodução devem apresentar ECC igual ou
maior que três, uma vez que essas vacas apresentam taxa de prenhez em
torno de 86,5%.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – F – F.
b) ( ) V – F – F – V.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) V – V – F – F.

2 A estação de monta ou reprodução é o período em que as matrizes devem


ser expostas aos reprodutores, seja por inseminação artificial, monta natural
ou monta controlada. Sobre estação de monta ou reprodução, analise as
seguintes sentenças:

I- O período da estação de monta deve aproveitar as condições naturais do


clima, em virtude da maior disponibilidade de alimento, resultando em
melhor condição corporal dos animais.
II- A adoção da estação de monta é uma prática de custo relativamente elevado
e de difícil realização, no entanto tem efeito positivo sobre a produtividade
geral da fazenda.
III- A fertilidade dos animais apresenta variações quando uma estação de
monta não é estabelecida, devido principalmente às condições climáticas.
IV- As fêmeas selecionadas para compor o plantel reprodutor da fazenda
devem apresentar bom estado de saúde e condições fisiológicas para o
exercício da função reprodutiva.
100
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As afirmativas II e IV estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
c) ( ) As afirmativas I, III e IV estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas.

101
102
UNIDADE 2
TÓPICO 4

SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE E O


CONFINAMENTO

1 INTRODUÇÃO
Bem-vindo ao quarto e último tópico de estudos desta unidade. Neste
tópico, vamos avaliar os sistemas de produção de bovinos de corte. Os sistemas
de produção extensivos, que são caracterizados pela utilização de pastagens
nativas e cultivadas; os semi-intensivos, que apresentam como base alimentar
as pastagens (nativas e cultivadas) e os suplementos minerais, acrescidos de
suplementos proteicos/energéticos, e os sistemas intensivos, que se caracterizam
por implantarem a prática de confinamento na terminação dos bovinos.

Além disso, vamos analisar com mais detalhes as instalações e o manejo dos
animais na terminação por confinamento, visando à disponibilidade de animais
e alimentos de qualidade, instalações e estruturas adequadas, valor favorável da
arroba no abate, mão de obra qualificada, plano nutricional otimizado, controle
de gestão rígido sobre os processos e preocupação com o bem-estar dos animais.

No final deste tópico, a leitura complementar traz um artigo que apresenta


dez dicas para melhorar o resultado do confinamento e as autoatividades servirão
de teste dos conhecimentos referentes aos assuntos abordados neste tópico.

Bons estudos!

2 VANTAGENS DO CONFINAMENTO
Prezado acadêmico, antes de focarmos no sistema intensivo de criação de
bovinos e o confinamento, vamos analisar os principais sistemas de produção,
pois o Brasil é um país de tamanho continental, apresentando variedade de
ecossistemas, diversidade socioeconômica das regiões e diferentes características
de produtores, que fazem com que a pecuária de corte brasileira apresente uma
variedade considerável de sistemas de produção de carne bovina.

Para essa finalidade, classificamos os sistemas de produção, de acordo


com Cezar et al. (2005) e Gomes et al. (2015), segundo os regimes alimentares
dos rebanhos predominantes do Brasil. Nesse contexto, os sistemas de produção
podem ser classificados em: sistema extensivo (regime exclusivo de pastagem);

103
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

sistema semi-intensivo (pastagem mais suplementação em pasto) e sistema


intensivo (pastagem mais suplementação e confinamento). Vamos agora analisar
cada um desses sistemas de produção.

• Sistemas extensivos

Os sistemas extensivos são caracterizados pela utilização de pastagens


nativas e cultivadas como as únicas fontes de alimentos energéticos e proteicos
dos animais. Contudo, essas pastagens são normalmente deficientes em diversos
nutrientes, como fósforo, zinco, sódio, cobre, cobalto e iodo, incluindo-se também
enxofre e selênio, todos fornecidos através de suplementos minerais. Os sistemas
extensivos representam aproximadamente 80% dos sistemas produtivos de carne
bovina brasileira, desenvolvendo atividades de cria a engorda, e apresenta uma
alta variação de desempenho devido à interação entre diversos fatores, como
solo, clima, genótipo e manejo animal, sanidade animal, qualidade e intensidade
de utilização das pastagens, além da gestão (CEZAR et al., 2005).

As pastagens nativas ainda apresentam expressivo significado econômico


para a produção de carne bovina no Brasil e se encontram localizadas em diferentes
ecossistemas das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul. Nas regiões
tropicais, onde predominam as pastagens nativas, os sistemas se dedicam quase
que exclusivamente à cria, com baixa incidência de recria de machos e nenhuma
atividade de engorda. Essas pastagens apresentam capacidade que varia de 0,1
a 0,3 unidade animal/hectare, apresentando indicadores de desempenho que
são considerados baixos. Nas regiões subtropicais, embora também predomine
a cria, há o desenvolvimento das atividades de recria e engorda, decorrente de
uma melhor qualidade das pastagens nativas e da possibilidade de elas serem
combinadas com pastagem cultivada. A capacidade de suporte da pastagem nativa
nessas regiões varia de 0,5 a 1 unidade animal/hectare, na qual o desempenho dos
rebanhos nesses sistemas é também considerado baixo (CEZAR et al., 2005).

Como já foi mencionado, os sistemas extensivos são praticados por todo o


país, sendo predominantes mesmo nos estados e regiões em que se desenvolvem
os sistemas semi-intensivos e intensivos. Contudo, em algumas regiões, os
sistemas extensivos são absolutos e a pecuária é baseada na utilização das
pastagens nativas, como ocorre nos campos de Cerrados de Roraima (1) e do
Amapá (2), nos campos inundáveis da ilha de Marajó (3), do Baixo Amazonas
(8) e do Maranhão (4), na Caatinga do Semiárido (5), no Pantanal (6) e no sul da
Campanha Gaúcha (7) (CEZAR et al., 2005).

104
TÓPICO 4 | SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE E O CONFINAMENTO

FIGURA 3 - REGIÕES COM PREDOMINÂNCIA DE PASTAGENS NATIVAS

FONTE: Cezar et al. (2005, p. 26)

Já os sistemas baseados exclusivamente em pastagens cultivadas


desenvolvem as atividades de cria, recria e engorda de forma isolada ou combinada.
As combinações tendem a completar o ciclo de cria, recria e engorda, à medida
que a qualidade das pastagens permite a recria e a engorda dos machos. Nas
regiões tropicais, os sistemas de pastagens cultivadas apresentam capacidade de
suporte média anual entre 0,5 a 2,5 unidade animal/hectare, refletindo no ganho
de peso vivo que pode variar de 42 a 255 kg/ha/ano; entretanto, em pastagens
irrigadas, os ganhos podem ser superiores. Essa variação ocorre de acordo com
os processos tecnológicos utilizados no estabelecimento, na manutenção e no
manejo das pastagens (CEZAR et al., 2005).

Os principais gêneros das gramíneas que constituem as pastagens


cultivadas tropicais são a Brachiaria e Panicum. Em pequena escala, Stylozanthes e
Arachis são os gêneros que compõem as pastagens consorciadas. Essas gramíneas
e leguminosas são de característica perene, no entanto, nos sistemas de integração
lavoura/pecuária, são utilizadas, também, gramíneas de ciclo anual, tais como
aveia e sorgo (CEZAR et al., 2005).

Nas regiões subtropicais as pastagens cultivadas são utilizadas,


geralmente, de forma complementar. Os materiais forrageiros predominantes
nas pastagens cultivadas são gramíneas e leguminosas de ciclos anual, bianual
e perene, sendo utilizadas conforme as estações do ano, as principais gramíneas

105
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

são azevém, aveia, capim-lanudo e festuca, e as leguminosas são cornichão e


trevos (CEZAR et al., 2005).

• Sistemas semi-intensivos

Os sistemas semi-intensivos também apresentam como base alimentar


as pastagens (nativas e cultivadas) e os suplementos minerais, acrescidos de
suplementos proteicos/energéticos. A finalidade é conseguir uma pecuária de
ciclo mais curto, suplementando os animais em suas diversas fases de crescimento
(aleitamento, recria e engorda). De acordo com as características regionais,
podem ser utilizados diferentes ingredientes para compor os concentrados,
sendo que as fontes energéticas mais utilizadas são milho, sorgo, aveia e milheto,
e as proteicas são farelos de soja, farelos de algodão, farelos de caroço de algodão,
farelos de glúten de milho, grão de soja e ureia. De uso local, estão os diversos
subprodutos da agroindústria (farelo de arroz, farelo de trigo, polpa cítrica, polpa
de tomate, casquinha de soja) e resíduos (de cervejaria, de fecularia, de secadores
de grãos e outros). Entre os aditivos estão liberados os ionóforos (promotores de
crescimento) e os probióticos (micro-organismos vivos que têm ação nutricional
positiva) (CEZAR et al., 2005).

Caro acadêmico, vamos apresentar, a seguir, segundo Cezar et al. (2005),


as modalidades de suplementos mais utilizadas nos sistemas semi-intensivos:

Creep feeding – Essa modalidade consiste em suplementar o bezerro a


partir de 60 dias de idade ou antes, utilizando instalação construída no próprio
pasto, a qual impede o acesso das vacas ao suplemento. Isso irá resultar em
um aumento no peso à desmama. O processo Creep feeding, geralmente, está
implantado em sistemas mais tecnificados, que desenvolvem as atividades de
cria, recria e engorda, e se intensifica quando os animais atingem cerca de três
meses de idade. Frequentemente, os suplementos contêm 80% de nutrientes
digestíveis totais (NDT) e 20% de proteína bruta (PB). Os autores recomendam,
por questões econômicas, que a oferta do suplemento próximo à desmama não
ultrapasse 1 kg/bezerro/dia.

Sal proteico – Esse suplemento tem a função de reduzir as perdas de


peso, assegurar a mantença ou permitir leves ganhos de peso. O uso do sal
proteico é caracterizado pela baixa oferta diária (1 g/kg de peso vivo/dia), pois
ele não visa atender diretamente às demandas proteicas do bovino em pastejo,
mas a deficiência de nitrogênio para as bactérias ruminais. Os bovinos possuem a
capacidade de usar, no processo de síntese proteica, o nitrogênio proveniente de
fontes não proteicas, como a ureia, nesse caso são fornecidas misturas contendo
nitrogênio inorgânico (ureia) associado a fontes de proteínas vegetais.

Concentrado – A função do concentrado é garantir o ganho de peso,


independente da época do ano. Para isso, as rações são compostas de alimentos
energéticos e proteicos nas quais a quantidade oferecida varia de 2 a 12 g/kg de
peso vivo/dia, dependendo da meta de ganho de peso. De acordo com o ganho

106
TÓPICO 4 | SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE E O CONFINAMENTO

de peso desejado e da qualidade da pastagem, podem ser utilizadas diferentes


fórmulas, sendo que, dependendo da situação, tais suplementações podem
proporcionar ganhos de peso diários da ordem de 250 g a 800 g. As fontes de
energia e proteína são de origem vegetal, podendo estar associadas com fontes de
nitrogênio inorgânico (ureia).

• Sistemas intensivos

Os sistemas intensivos se diferenciam dos semi-intensivos por


implantarem a prática de confinamento na terminação dos bovinos. Nesses
sistemas são desenvolvidas as atividades de cria, recria e engorda, de recria e
engorda ou mesmo de engorda, como uma atividade isolada. Esses sistemas
estão geralmente associados com o uso mais intensivo de pastagens cultivadas
(CEZAR et al., 2005).

Apesar de ser uma atividade menos desenvolvida quando comparada à


pecuária extensiva, o confinamento de bovinos de corte é uma atividade crescente
na pecuária brasileira. Esse crescimento vem ocorrendo em função do aumento
de tecnologias disponíveis, maior disponibilidade de grãos e devido às diversas
vantagens que o confinamento traz ao sistema de produção de carne bovina. O
confinamento pode ser visto como uma ferramenta de manejo na propriedade,
cujas principais vantagens, segundo Gomes et al. (2015), são:

• aliviar pastos na época seca;


• retirar animais mais pesados das pastagens, liberando as pastagens para
animais com menor exigência nutricional;
• aumentar a produtividade e a qualidade da carne;
• reduzir o tempo de terminação;
• planejar abates ao longo do ano todo;
• intensificar o giro de capital.

Esses fatores tornam o confinamento uma atividade muito importante


em sistemas de produção intensivos. Entretanto, a intensificação exige maiores
demandas gerenciais, devido ao maior risco da atividade. Dentro dessas
necessidades gerenciais, o trabalho em estratégia nutricional é um dos mais
importantes, e será discutido mais profundamente ao final deste tópico (GOMES
et al., 2015).

Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de


Carnes (ABIEC, 2017), no relatório anual de Perfil da Pecuária no Brasil, o rebanho
bovino brasileiro, de 219 milhões de cabeças, produziu, em 2016, 9,14 milhões
de toneladas equivalente carcaça (TEC), com um abate de 36,9 milhões. Do total
abatido, 4,61 milhões de cabeças foram de bovinos terminados em confinamento,
o que representa cerca de 12,5% do total abatido.

107
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

FIGURA 4 – DADOS DA PECUÁRIA BRASILEIRA NO ANO DE 2016

FONTE: Adaptado de ABIEC (2017)

As novas tecnologias e o avanço da agricultura originaram uma grande


contribuição para aumento de produtividade na terminação dos bovinos. No
entanto, a pastagem ainda se apresenta como a base da produção da pecuária
de corte brasileira, porém, com a utilização da suplementação visando alcançar
precocidade na terminação dos animais (BENEZ; CABRAL, 2015).

3 INSTALAÇÕES
Caro acadêmico, as instalações e o manejo dos animais na terminação
por confinamento são muito importantes. Como já mencionado anteriormente,
para obtenção de lucro de um confinamento alguns fatores são essenciais, como a
disponibilidade de animais e alimentos de qualidade com o menor custo possível,
instalações e estruturas adequadas, valor favorável da arroba no abate, mão de
obra qualificada, plano nutricional otimizado, controle de gestão rígido sobre os
processos e preocupação com o bem-estar dos animais (BENEZ; CABRAL, 2015).
Vamos analisar agora as instalações recomendadas e o manejo adequado desde o
transporte e condução dos animais ao confinamento.

• Transporte e condução dos animais

108
TÓPICO 4 | SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE E O CONFINAMENTO

Os bovinos são submetidos ao transporte poucos dias antes do início do


confinamento, sendo a maioria transportada por caminhões. No entanto, poucos
são os produtores que se preocupam com os problemas causados pelo transporte
no desempenho dos animais. Durante o transporte e suas atividades envolvidas,
como a espera no curral e o embarque e desembarque, os animais são expostos
a condições adversas, como falta de alimentos (principalmente água), mistura
de animais de diferentes procedências, ambiente desconhecido, fadiga, calor
ou frio, luz, restrições de espaço, entre outras, que causam, entre outros fatores,
traumatismo e estresse, reduzindo a imunidade e afetando o desempenho e a
qualidade da carne (BENEZ; CABRAL, 2015).

Alguns dos principais problemas de saúde desenvolvidos pelos animais


no início do período de confinamento, principalmente respiratório, são efeitos
de problemas ambientais como a poeira, mas também são potencializados pela
baixa imunidade causada pelo transporte e manejos realizados com os animais
antes de serem confinados. A maioria das contusões que ocorrem nos animais
durante o transporte, na condução e manejo no curral são internas (invisíveis),
causam dor e demoram dias para serem cicatrizadas, podendo afetar o apetite
dos animais e assim o desempenho. Nesse contexto, devem ser planejadas e
elaboradas estratégias que minimizem os efeitos durante o transporte sobre os
animais, visando à adaptação dos animais não somente à dieta, mas ao ambiente
confinado (BENEZ; CABRAL, 2015).

• Adaptação

Ao chegar ao confinamento os animais precisam se adaptar a várias


condições adversas e incomuns à sua rotina diária, sendo a alteração da dieta um
dos principais desafios. Nesse sentido, deve-se atentar a protocolos de adaptação
em períodos excessivamente curtos, que podem permitir a ocorrência de distúrbios
ruminais, que se prolongados comprometem o ganho de peso diário, aumentam
o custo da arroba produzida, comprometendo a exploração eficiente do sistema
(TORQUATO; CABRAL; JÚNIOR, 2012; BENEZ; CABRAL, 2015).

Esse período de adaptação dos animais, com o objetivo de preparar o


ambiente ruminal para recebimento de grande quantidade de carboidratos não
fibrosos, pode durar de 10 a 20 dias. Nesse sentido, diversos manejos alimentares
de adaptação podem ser adotados com esse objetivo, sendo os principais: a
utilização de múltiplas dietas ou protocolo de escada, a utilização da dieta final
limitada pela quantidade ou adaptação por restrição e a utilização de uma única
dieta com menor teor de energia (BENEZ; CABRAL, 2015).

Além da adaptação nutricional, quando os animais são colocados em


um sistema intensivo, haverá um período de adaptação ao novo ambiente, uma
vez que ao mudar da pastagem para o confinamento o animal estará exposto a
rigorosas alterações que vão da substituição de dieta rica em fibra por outra mais
concentrada, da dependência direta do homem para a oferta de alimento e água,

109
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

oferecimento dos alimentos em pequenos reservatórios, mistura de animais de


diferentes rebanhos no mesmo lote, ausência de sombra, substituição de amplo
espaço por área restrita e alta densidade de animais (BENEZ; CABRAL, 2015).

Nesse sentido, na medida do possível, recomenda-se familiarizar


os animais ao seu novo lote e alimento, à nova forma de se alimentarem (nos
cochos), às pessoas e aos sons de maquinários. Uma maneira para realizar essa
familiarização é mantendo o mesmo lote em um piquete ou pasto recebendo
concentrado por alguns dias antes do início do confinamento. Portanto, o máximo
lucro do confinamento depende da implementação de ações pré-confinamento,
visando preparar o animal para esse ambiente adverso e incomum à sua rotina
(BENEZ; CABRAL, 2015).

• Estresse por calor

No Brasil, a alta temperatura do ambiente é um dos principais fatores


relacionados ao estresse dos animais. Para se adaptarem às condições de estresse
térmico, os animais acionam mecanismos que provocam mudanças na taxa
metabólica, temperatura corporal, frequência respiratória, frequência cardíaca,
alterações hormonais e metabólicos sanguíneos e no comportamento. O estresse
térmico também afeta o consumo de alimentos, que pode apresentar reduções
de 10 a 35% em temperaturas acima de 35 ºC, principalmente em condições de
confinamento. Essas mudanças ocorrem para o organismo do animal se adaptar ao
meio, implicando em perdas para o animal e consequentemente para a produção
(BENEZ; CABRAL, 2015).

Os animais apresentam sinais que caracterizam quando estão saindo


da zona de conforto térmico e entrando em estresse. Esses sinais, em ordem de
gravidade, são: o animal se recusa a deitar, tentar molhar a cabeça no cocho de
água, aumento da taxa de respiração, aumento da temperatura retal (temperatura
maior que 41 ºC requer tratamento imediato), respiração de boca aberta, cabeça
estendida, língua para fora, salivação abundante, nesse caso o estresse térmico é
caracterizado como avançado (BENEZ; CABRAL, 2015).

Na tentativa de controlar o estresse por calor em animais de produção


podem ser utilizadas diferentes estratégias, dentre elas: alterar os horários de
alimentação, modificar a concentração energética da dieta, usar aspersores de
água e/ou usar sombreamento natural ou artificial. O ideal é a utilização do
sombreamento natural, pois é mais viável economicamente e, além de minimizar
o calor nos animais, proporciona ganhos ambientais, porém, pode ser um
processo lento, já que depende do crescimento das árvores. Devido a isso, alguns
produtores optam pelo emprego de sombreamento artificial. No entanto, apesar
das evidências significativas da importância dos efeitos de sombreamento sobre
as características produtivas e no bem-estar dos animais, ainda são poucos os
produtores brasileiros que se preocupam com a disponibilidade desse recurso
(BENEZ; CABRAL, 2015).

110
TÓPICO 4 | SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE E O CONFINAMENTO

• Sanidade

Em relação ao manejo sanitário, geralmente, os produtores utilizam


apenas a aplicação de vacinas (normalmente contra clostridioses, aftosa e
raiva) e vermífugo, seguindo um calendário obrigatório e no início do período
de terminação, que muitas vezes coincide com o dia da formação dos lotes. É
importante destacar que alguns fatores, como o manejo no curral, são necessários
para a aplicação dos medicamentos, os próprios medicamentos e a entrada dos
animais em um novo ambiente desconhecido (como no confinamento) baixam
a imunidade dos animais e, portanto, recomenda-se que não sejam realizados
simultaneamente. Outro ponto que vale destacar é que saúde, de acordo com
a Organização Mundial da Saúde, não é apenas ausência de doença ou injúria,
e sim é um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Dessa forma,
o manejo sanitário dos animais confinados deve ir além da preocupação com
vacinas e vermífugo, mas também o cuidado com fatores ambientais (como poeira,
lama, estresse social, entre outros) que podem potencializar o aparecimento de
doenças, contusões e até mesmo apatia, reduzindo o desempenho dos animais e
a lucratividade do sistema (BENEZ; CABRAL, 2015).

• Espaço e tamanho de lote

Quando os bovinos estão confinados em condições de alta densidade


populacional (grande número de animais em pouco espaço disponível), não
podem evitar a violação de seu espaço individual, ocorrendo aumento das
interações agonísticas e estresse social, o que resulta em redução do desempenho
individual e faz com que os animais apresentem anomalias comportamentais.
Entretanto, quando o espaço é suficiente para os animais se manterem afastados
uns dos outros, a agressividade pode ser reduzida, dada a possibilidade de
diminuição de encontros competitivos (BENEZ; CABRAL, 2015).

4 ALIMENTAÇÃO
Prezado acadêmico, segundo Gomes et al. (2015), a nutrição é o item mais
importante na atividade de confinamento, pois de acordo com os autores:

• dois terços dos custos de produção são devidos à alimentação;


• uma dieta mal formulada pode resultar em grandes prejuízos;
• uma dieta bem formulada, porém sem manejo adequado, também pode
resultar em perdas significativas.

Assim, as chances de prejuízos e perdas são grandes sem aconselhamento


técnico adequado na área nutricional. Por isso, é importante, por parte dos
técnicos responsáveis, o conhecimento aprofundado de conceitos de formulação
de dietas e de manejo (GOMES et al., 2015).

111
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

Como o alimento volumoso é geralmente produzido na propriedade,


a fonte a ser utilizada é importante. A escolha deve ser feita com base na
disponibilidade local de área, maquinário, mão de obra e recursos financeiros.
Além disso, fatores como flexibilidade de uso e custo da energia (R$/kg nutrientes
digestíveis totais) devem ser analisados. Segundo Gomes et al. (2015), são opções:

Silagem de milho:
• é a opção mais cara;
• apresenta alta qualidade nutricional, diminuindo custos com concentrado;
• apresenta boa qualidade de fermentação.

Silagem de sorgo:
• é similar à silagem de milho, mas apresenta menor valor nutricional;
• mais adequada a regiões com veranicos frequentes, menor pluviosidade e
proximidade a áreas urbanas.

Silagem de capim:
• apresenta valor nutricional menor que as silagens de milho e de sorgo;
• apresenta valor nutricional variável, com problemas na fermentação;
• permite aproveitamento do excesso de produção de pastagens nas águas, mas
deve-se evitar ensilar material com muitos dias de crescimento;
• ponto de colheita: 50 dias para Brachiaria e Panicum e 70 dias para Capim-
elefante;
• o uso de aditivos absorventes melhora a qualidade (10 a 20% de polpa cítrica,
casca de soja, casca de café, farelo de mandioca ou farelo de trigo);
• a pré-secagem por 6 a 12 horas melhora a qualidade;
• a compactação (acima de 600 kg/m3) é importante.

Cana-de-açúcar
• necessita de menos tratos culturais e é mais duradoura;
• alta produção;
• menor qualidade nutricional, exigindo mais concentrados;
• desvantagem principal: corte diário;
• necessita de aditivos microbianos à base de Lactobacillus buchneri, Lactobacillus
plantarum e Streptococcus faecium.

Vale destacar que o produtor/técnico deve estar atento a alternativas


locais (coprodutos da agroindústria como tortas, bagaço de cana etc.), que
proporcionem viabilidade técnica e que tenham custo favorável. Muito cuidado
deve ser tomado na utilização de resíduos da agroindústria, pois apesar do baixo
custo, podem apresentar valor nutricional muito abaixo do esperado. Devemos
destacar também que devem ser utilizados apenas alimentos autorizados pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e deve-se sempre
realizar o cálculo do custo da unidade do nutriente que cada ingrediente fornece,
tal como proteína (para alimentos proteicos), energia (para alimentos energéticos)
e fósforo (para fontes desse mineral) (GOMES et al., 2015).

112
TÓPICO 4 | SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE E O CONFINAMENTO

Um dos conceitos mais importantes em formulação de dietas para bovinos


em confinamento, de acordo com Gomes et al. (2015), é que cada situação possui
uma dieta ideal que varia em função de:

• quais os alimentos e preços disponíveis;


• quais os animais a serem terminados (sexo, raça, idade e castração);
• qual o peso de entrada no confinamento;
• qual o peso de abate pretendido.

Diante disso, pode-se dizer que não há uma melhor relação volumoso:
concentrado para todas as situações, pois essa relação depende dos fatores
citados anteriormente. Além das informações apresentadas, o técnico precisa ter
conhecimento das condições locais, do mercado de ingredientes para rações e do
mercado do boi gordo (GOMES et al., 2015). Essas informações, em conjunto, irão
determinar:

• os ingredientes e a proporção de cada um deles;


• qual a oferta diária de ração para o animal;
• o tempo de permanência dos animais em confinamento;
• qual o custo da arroba produzida.

Gomes et al. (2015) destacam as informações necessárias:

• raça;
• tamanho (escala de 1 a 9);
• sexo;
• idade;
• condição corporal;
• peso vivo (quando solicitado o peso vivo em jejum, multiplicar por 0,94).

Os autores também destacam que para uma formulação efetiva,
recomenda-se, entre outros fatores:

• ter informações de valor nutricional da maior variedade de alimentos possível,


permitindo assim encontrar fórmulas mais econômicas;
• caracterizar adequadamente o animal e o ambiente, permitindo ajustar
corretamente as fórmulas para as necessidades nutricionais;
• ter dados apurados do valor nutricional dos alimentos;
• avaliar o histórico nutricional do animal, prevendo potenciais ganhos
compensatórios e subestimativas de consumo e exigências de proteína;
• para animais em ganho compensatório, acrescentar 10% nas exigências de
proteína e reduzir 10% na estimativa de consumo de matéria seca;
• limitar a gordura na dieta para um máximo de 6%.

Um dos grandes desafios do confinamento é conhecer o tempo necessário de


confinamento de cada animal com antecedência. Apesar do auxílio de programas
de computador e outras ferramentas, esse conhecimento ainda depende muito

113
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

da experiência do técnico responsável. Com ou sem essas ferramentas, deve-se


criar lotes homogêneos já no início do confinamento e evitar animais abatidos
com muito mais peso que o exigido pela indústria frigorífica, principalmente ao
confinar fêmeas e machos castrados (GOMES et al., 2015).

LEITURA COMPLEMENTAR

DEZ DICAS PARA MELHORAR O RESULTADO DO SEU


CONFINAMENTO

Sérgio Raposo

Estamos nos aproximando da época de confinamentos no Brasil. Neste


momento, quem irá confinar já deve estar preparado há muito tempo, pois, assim,
aproveitou uma das grandes vantagens desta atividade, que é poder planejar
antecipadamente e acertar bem as diversas variáveis envolvidas. Entretanto,
mesmo considerando quem não planejou, segue uma lista com algumas dicas
que ainda podem, eventualmente, ajudar a ter um melhor resultado:

1) Seleção dos animais a confinar: O confinamento é uma estratégia de alto


investimento, portanto é importante que os animais selecionados tenham as melhores
condições de responderem a ela. Por essa lógica, devemos escolher os animais com
maior potencial de ganho. Há uma circunstância em que é possível ganhar dinheiro
invertendo essa lógica, quando temos uma oferta de animais com preços muito
atrativos. O baixo valor por arroba destes animais na entrada pode compensar
a ineficiência deles em ganhar peso. Deve-se notar que esta é uma estratégia de
risco e estar preparado para revezes. Voltando aos animais com bom potencial, um
segundo critério de corte é o peso dos animais ao início do confinamento, no qual
filtramos os animais da faixa dos “não precisa” e os da faixa dos “não adianta”. Ao
apartarmos um lote, os do grupo “não precisa” são os cabeceiras que teriam peso
suficiente para irem ao abate apenas com o ganho esperado na pastagem. Os do
grupo “não adianta” seriam aqueles cujo ganho projetado no confinamento não
seria suficiente para fazê-los atingirem o peso de abate.

2) Formação dos Lotes: Na formação dos lotes, a palavra-chave é


homogeneidade. Animais do mesmo sexo, com pesos próximos entre si, de
tamanho semelhante e com grau de terminação semelhante formam o lote ideal.
A primeira vantagem do lote homogêneo é que a competição por recursos (acesso
ao cocho, por exemplo) é mais equilibrada, o que garante menos problemas
de comportamento relacionados às disputas por estes. Em segundo lugar, e
ainda mais importante, é que eles tendem a estar prontos para o abate em datas
próximas, o que permite vender o lote em menos vendas isoladas. Idealmente,
a venda de todo lote é a melhor escolha, pois, a cada venda picada, os animais
remanescentes brigam entre si para estabelecer uma nova hierarquia, o que,
obviamente, atrapalha o desempenho de todo lote.

114
TÓPICO 4 | SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE E O CONFINAMENTO

3) Tratamentos Sanitários na entrada: No processo da entrada dos animais


é interessante, pelo menos, vermifugar os animais. Isso é interessante mesmo que
a fazenda já faça o controle estratégico, pois seria uma garantia de não ter a perda
do animal contaminado com vermes desde o início.

4) Adaptação à dieta: Esse é um ponto muito importante. Ruminantes nunca


devem passar de um regime alimentar para outro de forma abrupta. Na hipótese
de que alguém pule essa etapa, provavelmente isso não passará despercebido,
pois deverá haver animais com problemas metabólicos evidentes, como acidose
e timpanismo. Mesmo que não haja evidência desses problemas, o prejuízo no
desempenho já ocorreu de forma silenciosa pela ocorrência de acidose subclínica
(isto é, sem sintomas). Interessantemente, o prejuízo não se restringe aos dias com
os problemas, mas por todo o período de confinamento e, tanto ganho de peso,
como eficiência, podem ser piorados. Aliás, isso pode ocorrer mesmo no caso
de que, apesar de feita a adaptação, ela tenha sido malfeita ou feita por período
muito curto de tempo (menos de 14 dias).

5) Manejo da alimentação: Este item envolve controle de alimentos


fornecidos por lote, número de refeições, quantidade de alimento oferecida por
refeição e espaçamento entre dietas. Quanto ao número de refeições, na hipótese
de que todos os animais tenham acesso simultâneo ao cocho, não há grandes
benefícios em se fazer em mais do que três vezes. Nesta situação, uma boa
sugestão de proporção em cada uma delas seria 30% no trato do início do dia,
uma quantidade menor no meio do dia (20%), por ser a hora mais quente, e 50%
no trato final do dia, uma vez que é o maior período de tempo que os animais
ficam sem receber alimento. Para o caso, mais usual, de não haver espaço para
que todos os animais do lote consumam ao mesmo tempo, é interessante dividir
cada um dos tratos descritos acima em dois, de forma que no primeiro os animais
mais dominantes tomem a frente, mas que no segundo trato haja chance dos
mais submissos terem a sua vez. Dessa forma, os tratos ímpares seriam mais bem
aproveitados pelos dominantes e os pares pelos submissos.

6) Manejo das sobras: A melhor forma de lidar com as sobras do


confinamento é calibrar a quantidade de alimento ofertada por lote de maneira
a minimizá-las. Uma boa opção é fazer um sistema de notas para os cochos e
associar a cada uma delas uma ação para o encarregado no fornecimento. As
notas e denominações podem ser, por exemplo:

-2 = Cocho totalmente limpo, ou “lambido”;


-1 = Cocho com muito pouca sobra;
0 = Cocho com = pouca sobra;
+1 = Cocho com sobra bem visível;
+ 2 = Cocho com muita sobra.

Neste caso, as notas seriam referentes à ação a ser tomada. Assim, para
um cocho com a nota -2, com o sinal de menos representando que faltou comida,
deve-se colocar 2 kg a mais por animal do lote e para um do lado com +2,

115
UNIDADE 2 | CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE

significando que a oferta está excessiva, deve reduzir 2 kg por cabeça no lote todo.
Esses valores representariam uns 10-15% da oferta do confinamento e podem ser
ajustados caso a caso.

7) Água: Esse é um fator que é tão obviamente fundamental que, às


vezes, recebe menor atenção do que deveria. Há três aspectos importantes. Em
primeiro lugar, a qualidade, que não costuma ser um problema, exceto quando
não se mantém os bebedouros limpos. Em segundo lugar, também relacionado
aos bebedouros, seria o acesso dos animais à água, para o que pode influir o
espaço linear ofertado e, eventualmente, a formação de lama ao redor. Por fim,
em terceiro lugar, o volume que deve ser dimensionado de forma a ter reserva
para pelo menos três dias considerando o consumo potencial. Um animal no
confinamento pode beber valores próximos a 100 litros por dia, quando já bem
pesados e sob estresse calórico.

8) Pesagem intermediária: Esse é um ponto que, ao contrário dos demais


abordados aqui, não é obrigatório. A vantagem de fazê-la é ter uma boa referência
de como o confinamento está se desenvolvendo, permitindo identificar problemas
e tomar ações corretivas. Além disso, ele permite identificar animais que podem
sair antes e o grau de terminação de cada lote. Esse grau de terminação pode ser
baseado apenas nos quilogramas faltantes para atingir o peso de abate ou, no
caso de se usar a ultrassonografia, considerar a terminação propriamente dita em
termos de deposição de gordura. Ter a informação do grau de acabamento com
a espessura de gordura subcutânea ajuda na decisão de tirar os animais menos
eficientes antecipadamente, o que é interessante.

9) Decisão de venda: Há uma tentação generalizada em se tentar manter


o animal terminado (com peso e bom acabamento) à espera de melhores preços
da arroba. Frequentemente, isso não vale à pena, pois é grande a chance de que o
ganho diário desse animal seja tão baixo que, ao se converter em valor de carcaça,
ele seja um valor menor do que aquele que se gasta por dia. Em outras palavras,
manter esse animal significa prejuízo diário. Pior ainda se, além de manter o
animal no confinamento, altera-se a dieta dele para uma dieta com energia para
apenas manter o peso. O que ocorre nesta situação é que o animal se ressente da
passagem de um nível superior para o inferior e isso faz com que ele perca peso,
em vez de manter. Por esses dois aspectos, o mais indicado a se fazer com animais
bem terminados é vender o quanto antes!

10) Venda antecipada: Algo a ser considerado pelo confinador é a


possibilidade de vender os animais no mercado futuro ou adiantado ao
frigorífico. Uma das vantagens disso seria garantir o suficiente para fechar as
contas do confinamento e deixar os bois que sobrarem com uma maior margem

116
TÓPICO 4 | SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE E O CONFINAMENTO

para esperar por uma venda mais vantajosa. Importante reforçar aqui o escrito no
item anterior, que não vale à pena especular com animais muito terminados, ou
seja, seria restrito aos animais com menor grau de terminação.

Desejando sucesso, ficam as dicas a todos os confinadores!

FONTE: RAPOSO, S. Dez dicas para melhorar o resultado do seu confinamento. 2014.
Disponível em: <http://sites.beefpoint.com.br/sergioraposo/2014/05/22/dez-dicas-para-
melhorar-o-resultado-do-seu-confinamento/>. Acesso em: 29 mar. 2018.

117
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os sistemas extensivos são caracterizados pela utilização de pastagens nativas


e cultivadas como as únicas fontes de alimentos energéticos e proteicos dos
animais.

• Os sistemas semi-intensivos também apresentam como base alimentar as


pastagens (nativas e cultivadas) e os suplementos minerais, acrescidos de
suplementos proteicos/energéticos.

• As modalidades de suplementos mais utilizadas nos sistemas semi-intensivos


são: creep feeding, sal proteico e concentrado.

• Os sistemas intensivos se diferenciam dos semi-intensivos por implantarem a


prática de confinamento na terminação dos bovinos.

• Do total de cabeças abatidas em 2016, 4,61 milhões de cabeças foram de bovinos


terminados em confinamento, o que representa cerca de 12,5%.

• As instalações recomendadas e o manejo adequado durante o confinamento


devem levar em consideração o transporte e condução dos animais, a adaptação,
o estresse por calor, a sanidade, o espaço e tamanho de lote e a alimentação.

• A nutrição é o item mais importante na atividade de confinamento.

118
AUTOATIVIDADE

Após a leitura deste tópico, estamos prontos para fazermos nossa autoavaliação
de conhecimento. Vamos testar nossos conhecimentos a respeito do
confinamento de bovinos de corte.

1 Neste tópico, estudamos que a finalidade do sistema de semiconfinamento


é conseguir uma pecuária de ciclo mais curto, suplementando os animais
em suas diversas fases de crescimento (aleitamento, recria e engorda). As
modalidades de suplementos mais utilizadas nos sistemas semi-intensivos
são: creep feeding, sal proteico e concentrado. Sobre as modalidades de
suplementos, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Creep feeding.
II- Sal proteico.
III- Concentrado.

( ) Esse suplemento tem a função de reduzir as perdas de peso, assegurar a


mantença ou permitir leves ganhos de peso.
( ) Está implantado em sistemas mais tecnificados, que desenvolvem as
atividades de cria, recria e engorda, e se intensifica quando os animais
atingem cerca de três meses de idade.
( ) A função desse suplemento é garantir o ganho de peso, independentemente
da época do ano.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) II – III – I.
b) ( ) III – II – I.
c) ( ) I – II – III.
d) ( ) II – I – III.

2 Para obtenção de lucro de um confinamento, alguns fatores são essenciais,


como a disponibilidade de animais e alimentos de qualidade com o menor
custo possível, instalações e estruturas adequadas, mão de obra qualificada,
plano nutricional otimizado, preocupação com o bem-estar dos animais,
entre outros. Sobre as instalações recomendadas e o manejo adequado
durante o confinamento, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:

( ) Deve-se fornecer espaço suficiente para os animais se manterem afastados


uns dos outros, reduzindo assim a agressividade.
( ) Deve-se implementar ações pré-confinamento, visando preparar o animal
para um ambiente adverso e incomum à sua rotina.

119
( ) Devem ser planejadas e elaboradas estratégias que minimizem os efeitos
durante o transporte sobre os animais.
( ) Na tentativa de controlar o estresse por calor em animais de produção, deve-
se manter os horários de alimentação e a concentração energética da dieta.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) V – V – F – F.

120
UNIDADE 3

GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO


NA BOVINOCULTURA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• conhecer a respeito das instalações para produção, o bem-estar animal e a


sustentabilidade na bovinocultura de corte;

• compreender a gestão, gerenciamento e administração da fazenda de cor-


te;

• conhecer a identificação animal, a rastreabilidade e a segurança dos ali-


mentos;

• aprender sobre o melhoramento genético e a inseminação artificial.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresenta-
do.

TÓPICO 1 – INSTALAÇÕES, BEM-ESTAR ANIMAL E


SUSTENTABILIDADE NA PECUÁRIA DE CORTE

TÓPICO 2 – GESTÃO E CONTROLES ADMINISTRATIVOS DA FAZENDA


DE CORTE

TÓPICO 3 – IDENTIFICAÇÃO ANIMAL E RASTREABILIDADE

TÓPICO 4 – MELHORAMENTO GENÉTICO E INSEMINAÇÃO


ARTIFICIAL

121
122
UNIDADE 3
TÓPICO 1
INSTALAÇÕES, BEM-ESTAR ANIMAL E SUSTENTABILIDADE
NA PECUÁRIA DE CORTE

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico, chegamos à Unidade 3 deste livro de estudos sobre a cadeia
produtiva da bovinocultura. Neste primeiro tópico da Unidade 3 analisaremos as
instalações para a produção de gado de corte, aprenderemos sobre o bem-estar
animal e que ele se torna cada vez mais parte integrante do modelo de produção
ideal na bovinocultura, e avaliaremos a sustentabilidade na pecuária de corte.
Também analisaremos a importância do conhecimento das atividades produtivas
que envolvem os animais, tanto para o planejamento das instalações quanto para
o manejo adequado, objetivando o bem-estar animal. Além disso, veremos que
o desenvolvimento sustentável é muito importante para o setor agropecuário,
garantindo o bom uso dos recursos naturais com redução do impacto ambiental.

No final deste tópico as autoatividades servirão de teste de seus


conhecimentos referentes ao assunto apresentado aqui.

Bons estudos!

2 INSTALAÇÕES PARA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE


Prezado acadêmico, as instalações para produção de gado de corte devem
ser simples, duradouras, funcionais, resistentes e seguras, tanto para o homem,
como para os animais, visto que a bovinocultura de corte é uma atividade de
longo prazo que normalmente apresenta baixa rentabilidade (FILHO; QUEIROZ,
2011). Além disso, é importante que as instalações sejam planejadas para
atender aos princípios de bem-estar animal. Instalações inadequadas podem
comprometer a qualidade do produto final, pois podem resultar na ocorrência
de hematomas na carcaça, cortes e riscos profundos no couro bovino, provocar
desconforto e submeter os animais a condições dolorosas desnecessárias. Esses
danos depreciam o valor comercial do bovino, reduzindo a rentabilidade do
produtor (VALLE, 2011).

Nesse sentido, vale destacar o significado do termo “ambiência”, muito


utilizado para descrever o meio em que vive o animal. A ambiência pode ser
definida como o espaço composto por um meio físico (pastagens e instalações)

123
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

e, ao mesmo tempo, por um meio psicológico preparado para o exercício das


atividades dos animais que nele vivem. Nesse contexto, o ambiente dos bovinos
engloba os elementos que afetam a vida deles (TAVARES; MIGUELE, 2015).

As instalações devem ser planejadas, projetadas e construídas de acordo


com as particularidades da área, do solo, topografia, disponibilidade de água,
benfeitorias existentes e as necessidades dos animais e pessoas. A construção
correta, a manutenção e o uso correto das instalações fazem com que elas
apresentem vida útil maior, e proporcionem condições que não coloquem em
risco o bem-estar dos animais (TAVARES; MIGUELE, 2015). As instalações
devem atender ao fluxo de trabalho, considerando a frequência de manejo,
bem como o número e o tamanho dos animais, evitando posteriores gastos com
adaptações. É importante a realização de manutenção e reparos periódicos,
assim como higienização das instalações para manter condições adequadas de
manejo (VALLE, 2011). Segundo Filho e Queiroz (2011), as instalações dependem
do sistema de produção que será implantado, mas, geralmente, as instalações
indispensáveis são: cercas, curral, reservatório de água, bebedouros e cochos
para minerais. Vamos agora analisar os fatores que devem ser observados ao se
construir as principais instalações para a produção de bovinos de corte.

• Cercas

As cercas devem ser, preferencialmente, de arame liso, pois as de arame


farpado podem danificar o couro do animal, além disso apresentam maior
resistência e possibilitam grande economia de madeira. As cercas eletrificadas
devem possuir voltagem adequada, aterramento e isolamento seguros para evitar
descargas elétricas. O custo da cerca eletrificada é, em geral, 30% a 35% do valor
da cerca convencional de arame liso (FILHO; QUEIROZ, 2011; VALLE, 2011).

• Corredores

É importante a propriedade possuir corredores para facilitar a condução


dos animais ao curral ou mudança de pasto (VALLE, 2011). As cercas utilizadas
para os corredores devem seguir as mesmas recomendações citadas anteriormente.

• Curral

De acordo com Filho e Queiroz (2011), um bom curral deve permitir a


realização, com eficiência, segurança e conforto, das práticas necessárias ao trato
do gado, que incluem a apartação, marcação e identificação, castração, vacinação,
descorna, inseminação, pesagem, controle de parasitos, exames ginecológico e
andrológico, embarque e desembarque de animais, entre outras. Os autores
fazem as seguintes recomendações:

ᵒ O terreno deve ser elevado, firme e seco, localizado em local estratégico, que
facilite o manejo dos animais e seu embarque para o transporte.

124
TÓPICO 1 | INSTALAÇÕES, BEM-ESTAR ANIMAL E SUSTENTABILIDADE NA PECUÁRIA DE CORTE

ᵒ As paredes internas devem ser lisas e livres de saliências, como pontas de


pregos, parafusos ou ferragens. As paredes do embarcadouro, seringa e brete
devem ser vedadas.
ᵒ Embarcadouro com rampa de inclinação suave e com o último lance na
horizontal, piso de saída nivelado com o da carroceria do caminhão.
ᵒ Pontos de água (torneira e bebedouros) e energia elétrica no curral, e se possível
uma balança.
ᵒ Disponibilidade de um banheiro para uso dos funcionários, no curral ou em
local próximo.
ᵒ Recipiente apropriado para coleta do lixo produzido durante os trabalhos de
gado, como frascos vazios de vacinas, medicamentos e outros materiais.
ᵒ Limpeza periódica das instalações.

Tavares e Miguele (2015) citam algumas considerações importantes para


que o manejo no curral seja eficiente, como:

ᵒ ter espaço para piquetes de espera (remangas), para abrigar os animais de forma
confortável com água, comida, piso com gramíneas resistentes ao pisoteio e
sombra;
ᵒ os locais considerados críticos para distração devem ser fechados, evitando
que o animal se distraia com a movimentação externa;
ᵒ as rampas devem ter pisos antiderrapantes, cimentados com elevações
pequenas, para evitar escorregões ou quedas e facilitar o manejo;
ᵒ os locais próximos ao manejo de animais não devem ter materiais que os
distraiam e que comprometam o manejo, como pregos e tábuas soltas;
ᵒ as porteiras devem ser de fácil manuseio pelos funcionários;
ᵒ a plataforma utilizada para visualizar e manejar os animais deve ser segura e
de fácil acesso;
ᵒ o local de manejo deve contar com o mínimo possível de pessoas, para evitar
estresse nos animais.

• Bebedouros

A água é responsável por 56 a 81% do peso de um bovino e a perda de


20% da água presente no organismo pode levar o animal à morte. Alguns fatores
estão relacionados à quantidade de água ingerida pelo animal, como a categoria
do animal, o clima e o tipo de alimento disponível, no entanto, estima-se que a
ingestão média de água varia entre 30 e 80 litros por animal por dia. Além disso,
o consumo de água pelos bovinos é influenciado pela qualidade da água e pelo
acesso e dimensionamento do bebedouro (TAVARES; MIGUELE, 2015).

Nesse sentido, segundo Filho e Queiroz (2011), para o fornecimento de


água aos animais, deve-se:

125
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

ᵒ Dar preferência aos bebedouros artificiais, pois a água parada dos açudes pode
ser fonte de contaminação do rebanho por doenças e parasitas.
ᵒ Vistoriar os bebedouros artificiais constantemente e mantê-los sempre limpos,
oferecendo aos animais água de boa qualidade.
ᵒ Instalar os bebedouros em locais estratégicos e dimensioná-los de acordo com
o número de animais, considerando o consumo de 50 a 60 litros por animal
adulto por dia.
ᵒ Evitar o acesso dos animais a córregos e cursos d´água para impedir
assoreamento e danos ambientais.

Além disso, os reservatórios de água para o abastecimento dos bebedouros


podem ser de alvenaria ou chapa metálica, devem estar localizados nos pontos
mais altos, de forma a permitir a distribuição da água por gravidade. Em áreas
planas, é recomendado elevar o local de instalação dos reservatórios, por meio de
aterro nivelado e compactado. A capacidade do reservatório deve ser calculada
em função do número de bebedouros que serão abastecidos, prevendo-se uma
margem de segurança para casos de reparos no sistema de captação e elevação
d’água (FILHO; QUEIROZ, 2011).

• Cochos para fornecimento de minerais, concentrados e volumosos

De acordo com Valle (2011), deve-se considerar os seguintes aspectos para


garantir o acesso dos animais e evitar perdas pela ação das chuvas ou ventos
durante todo o ano:

ᵒ Os cochos para minerais devem ser cobertos e posicionados na pastagem,


permitindo a visita dos animais, ao menos uma vez ao dia.
ᵒ Devem ser construídos de forma a disponibilizar espaço suficiente para que
todos os animais tenham acesso livre e sem competição.
ᵒ Podem ser construídos de diferentes materiais, tais como madeira serrada,
concreto pré-moldado ou tambores de plástico, cortados longitudinalmente.
ᵒ Os cochos para suplementação de volumosos e concentrados devem ser mais
largos que os de minerais.
ᵒ No caso de suplementação em pasto, é recomendável que eles sejam leves para
facilitar as mudanças de locais.

• Armazenamento de insumos

As instalações para armazenar os insumos devem ser apropriadas para


evitar a deterioração e a contaminação de alimentos, sementes, rações, pessoas e
animais. Filho e Queiroz (2011) sugerem as seguintes recomendações:

ᵒ O local para armazenamento de insumos deve estar localizado distante de


residências, fontes de água e abrigos para animais.
ᵒ Proteger as aberturas existentes para evitar a entrada de pássaros e outros
animais no interior do depósito.

126
TÓPICO 1 | INSTALAÇÕES, BEM-ESTAR ANIMAL E SUSTENTABILIDADE NA PECUÁRIA DE CORTE

ᵒ Evitar que os insumos entrem em contato com a umidade proveniente das


paredes, portas, janelas e telhado.
ᵒ Identificar visualmente cada grupo de insumos.
ᵒ Proibir fumar, comer, beber ou acender fogo no interior do depósito.
ᵒ Manter as portas de acesso trancadas, não permitindo o acesso de crianças ou
pessoas que não sejam funcionários.
ᵒ Manter o local seco e ventilado. Adubos e agroquímicos devem ser armazenados
separadamente de rações e suplementos alimentares, em outro depósito.
ᵒ Manter sacaria sobre estrados de madeira, para evitar umidade e corrosão das
embalagens.
ᵒ Sacarias e outras embalagens devem conter rótulos visíveis.
ᵒ Respeitar a altura de empilhamento das embalagens e a distância entre as
pilhas e as paredes do depósito.
ᵒ Embalagens de líquidos devem estar com as tampas fechadas e as bocas
voltadas para cima.
ᵒ Manter vacinas e medicamentos nas embalagens originais e nas condições
recomendadas pelo fabricante, respeitando sempre a temperatura de
armazenamento, o prazo de validade e o uso ao qual se destinam.
ᵒ Manter controle do estoque, ou seja, da entrada e saída dos insumos, data de
utilização e destino.

Diante do conteúdo que foi apresentado, prezado acadêmico, qualquer


instalação em uma propriedade deve ser planejada conforme as necessidades
de uso, custo-benefício e atendendo ao bem-estar das pessoas e dos animais. É
sempre bom lembrar que nenhuma instalação será utilizada de maneira correta
sem que os colaboradores e funcionários entendam a importância de cada
elemento presente nela e não recebam treinamento básico para executar suas
tarefas (TAVARES; MIGUELE, 2015).

3 BEM-ESTAR ANIMAL NA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE


CORTE
O bem-estar animal se torna cada vez mais parte integrante do modelo
de produção ideal. A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) definiu, em
2005, as normas globais, incluídas no Código Zoossanitário Internacional. A
partir dessas normas, foram regulamentados os procedimentos adequados para
a produção e confinamento dos animais, para o transporte e para o abate para
consumo humano. No Brasil, seguindo a tendência mundial, o Ministério da
Agricultura regulamentou a matéria em 2008 (IN 56) (EISENBERG; PÁSCOA,
2016).

No Brasil, a legislação de bem-estar animal, no entanto, teve início com o


Decreto nº 24.645, de julho de 1934, que estabeleceu medidas de proteção animal.
A nossa Constituição Federal de 1988, no seu artigo nº 225, dá ao poder público
a competência para proteger a fauna e a flora, proibindo práticas que submetam
os animais à crueldade. Nesse contexto, a Comissão Técnica Permanente de Bem-
127
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

Estar Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa),


instituída através da Portaria nº 185, de março de 2008 (atualizada pela Portaria
nº 524, de 2011), tem a finalidade de coordenar as diversas ações de bem-estar
animal do Ministério e promover a adoção das boas práticas para o bem-estar
animal pela cadeia produtiva, sempre embasada na legislação vigente e no
conhecimento técnico-científico disponível (EISENBERG; PÁSCOA, 2016).

Nesse sentido, é muito importante o conhecimento das atividades


produtivas que envolvem os animais, conhecer seu comportamento, as causas e
efeitos que o estresse tem sobre a qualidade e quantidade a ser produzida. Esse
tema é muito complexo e, segundo Eisenberg e Páscoa (2016), pode ter quatro
abordagens completamente distintas de acordo com a metodologia utilizada:

Abordagem Científica: a ferramenta de análise é a experimentação,


determinando características dos animais que demonstrem se estão em sofrimento
e o grau desse sofrimento.
Abordagem Técnica: a avaliação de bem-estar é realizada a partir de
índices zootécnicos, ou seja, se o animal está bem, ele produz bem.
Abordagem Social: utiliza-se da interpretação que a sociedade dá ao bem-
estar dos animais. As legislações envolvendo o bem-estar, os conceitos éticos e o
valor econômico que cada animal tem são criados nessa abordagem.
Abordagem Emocional: essa abordagem, de característica essencialmente
ativista, pode se utilizar dos conceitos acima, desde que sirva a seus propósitos,
mas em muitas vezes utiliza conceitos abstratos baseados no sentimento, sem
mensurações.

O Código Sanitário de Animais Terrestres – OIE 2014, do Ministério da


Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), apresenta informações referentes
ao bem-estar animal e aos sistemas de produção de gado de corte. Neste
documento o Mapa apresenta os critérios mensuráveis no animal baseados em
resultados que podem ser indicadores úteis de bem-estar animal. De acordo com
o Mapa (2014), esses indicadores e os limites adequados devem ser adaptados
às diferentes situações de manejo do gado de corte e aos diferentes sistemas de
produção.

1. Comportamento: A diminuição da ingestão de alimentos, aumento da frequência


respiratória ou respiração ofegante, e a demonstração de comportamento
estereotipado, agressivo, depressivo ou outros comportamentos anormais,
podem indicar problemas de bem-estar animal.
2. Taxa de morbidade: As taxas de morbidade, incluindo as relacionadas com:
doenças, claudicação, complicações pós-procedimento, frequência de lesões,
quando encontradas acima dos limites reconhecidos, podem ser indicadores
do estado de bem-estar animal de todo o rebanho. A patologia clínica e exames
post-mortem podem ser usados como indicadores de doença, lesões e outros
problemas que podem comprometer o bem-estar animal.

128
TÓPICO 1 | INSTALAÇÕES, BEM-ESTAR ANIMAL E SUSTENTABILIDADE NA PECUÁRIA DE CORTE

3. Taxa de mortalidade: As taxas de mortalidade, assim como as taxas de


morbidade, podem ser indicadores diretos ou indiretos do estado de bem-
estar animal. Essas estimativas podem ser obtidas pela análise das causas de
morte, bem como o padrão de frequência e a distribuição tempo-espacial da
mortalidade.
4. Alterações no peso e condição corporal: Nos animais em crescimento, o ganho
de peso pode ser um indicador da saúde e bem-estar animal. Condição corporal
ruim e perda de peso significativa podem ser indicadores de que o bem-estar
animal está comprometido.
5. Eficiência reprodutiva: A eficiência reprodutiva pode ser um indicador do
estado de saúde e bem-estar animal. Baixo desempenho reprodutivo pode
indicar problemas de bem-estar animal, por exemplo, ausência de estro ou
intervalo pós-parto prolongado, baixas taxas de concepção, altas taxas de
aborto e altas taxas de distocia.
6. Aspecto físico: Os atributos do aspecto físico que podem indicar o bem-estar
comprometido incluem a presença de ectoparasitas, cor ou textura anormal na
pelagem, ou sujeira excessiva com os excrementos, lama ou sujeira, desidratação
e emagrecimento.
7. Respostas ao manejo: O manejo inadequado pode resultar em medo e
sofrimento em bovinos. Os indicadores para avaliar as respostas ao manejo
incluem a velocidade de saída da manga do curral ao brete de contenção, tipo
de comportamento na manga ou brete de contenção, porcentagem de animais
que escorregam ou caem, percentagem de animais deslocados com um aguilhão
elétrico, porcentagem de animais feridos em cercas ou portões e porcentagem
de animais feridos durante o manejo (chifres e pernas quebrados e lacerações),
entre outros.
8. Complicações devido a procedimentos de rotina de manejo: Os procedimentos
cirúrgicos e não cirúrgicos são realizados em gado de corte para melhorar o
desempenho, facilitar o manejo, melhorar o bem-estar animal e a segurança
humana, porém, pode-se comprometer o bem-estar animal se esses
procedimentos não forem realizados de maneira correta.

Nesse mesmo documento, o Código Sanitário de Animais Terrestres –


OIE 2014, o Mapa apresenta recomendações de biossegurança e saúde animal,
aspectos ambientais e manejo que visam garantir o bem-estar animal na produção
de gado de corte. Nesse momento iremos apresentar, de maneira resumida, essas
recomendações, no entanto, sugerimos a leitura do documento para aprofundar
os conhecimentos a respeito dessas recomendações.

129
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

DICAS

Se você quiser aprofundar seus conhecimentos sobre as recomendações de


biossegurança e saúde animal, aspectos ambientais e manejo para o bem-estar animal na
produção de gado de corte, acesse o Código Sanitário de Animais Terrestres – Bem-estar
animal e sistemas de produção de gado de corte. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.
br/assuntos/sustentabilidade/bem-estar-animal/arquivos/capitulo7_9BEABOVINOCORTE.
pdf>.

• Biossegurança e prevenção de doenças

Biossegurança pode ser caracterizada pelas medidas propostas para


manter os animais em um estado de saúde particular e impedir a entrada ou
propagação de agentes infecciosos no rebanho. Os planos de biossegurança
devem ter como objetivo o controle às principais fontes e vias de disseminação
de patógenos: bovinos, outros animais, pessoas, equipamentos, veículos, ar,
abastecimento de água e alimentação. Nesse sentido, também é importante a
gestão da saúde animal, ou seja, o sistema projetado para otimizar a saúde física,
comportamental e o bem-estar do rebanho bovino. A gestão de saúde animal
inclui a prevenção, tratamento, controle de doenças e transtornos que afetam o
rebanho, além do registro de doenças, lesões, mortalidades e tratamentos médico-
veterinários (MAPA, 2014).

• Aspectos ambientais

Vários fatores são importantes no que se refere aos aspectos ambientais,


dentre eles: ambiente térmico (estresse por calor e estresse por frio); iluminação;
qualidade do ar; ruídos; nutrição; piso, camas, superfícies de descanso e áreas ao
ar livre; ambiente social; densidade populacional e proteção contra predadores
(MAPA, 2014).

Embora o rebanho tenha a capacidade de se adaptar a uma ampla gama


de temperatura ambiental, principalmente se raças adequadas são utilizadas para
as condições previstas, variações bruscas de temperatura podem causar estresse
por calor ou frio (MAPA, 2014).

A boa qualidade do ar é um fator importante para a saúde e o bem-


estar do rebanho, pode ser afetada pelos constituintes atmosféricos, tais como:
gases, poeiras e microrganismos. Uma ventilação adequada é importante para
dissipação do calor em bovinos e para prevenir o acúmulo de amônia e gases
efluentes na unidade de confinamento (MAPA, 2014).

130
TÓPICO 1 | INSTALAÇÕES, BEM-ESTAR ANIMAL E SUSTENTABILIDADE NA PECUÁRIA DE CORTE

A nutrição é de fundamental importância, portanto, o rebanho deve ter


acesso a quantidade e qualidade apropriada de alimentação balanceada, adaptada
qualitativa e quantitativamente, e que atenda às necessidades fisiológicas (MAPA,
2014).

As instalações devem ser adequadas e é necessário um lugar bem


drenado e confortável para o descanso dos animais, onde todos os bovinos, em
um grupo, devem ter espaço suficiente para se deitarem e descansar ao mesmo
tempo. Densidades populacionais elevadas podem resultar em um aumento da
ocorrência de lesões e causar efeito adverso sobre a taxa de crescimento, eficiência
alimentar e no comportamento (MAPA, 2014).

• Manejo

Do ponto de vista do manejo, os cuidados com a saúde e bem-estar animal


vão desde ao escolher uma raça ou subespécies para um local ou sistema de
produção específico até a formação e treinamento da mão de obra. Os cuidados
no manejo incluem várias etapas e pontos específicos, dentre eles destacam-se:
seleção genética; manejo reprodutivo; colostro; desmame; práticas de manejo
dolorosas; castração; manejo e inspeção; formação/treinamento de pessoal; planos
de emergência; localização, construção e equipamento; sacrifício humanitário
(MAPA, 2014).

Dentre as práticas de manejo, vale ressaltar que algumas práticas têm


potencial de causar dor e são rotineiramente praticadas no bovino por razões
de eficiência produtiva, saúde, bem-estar animal e segurança ao homem. Esses
procedimentos devem ser realizados de modo a causar o mínimo de dor e estresse
ao animal. Esses procedimentos devem ser praticados o mais cedo possível ou fazer
uso de anestesia sob a supervisão de um médico veterinário. Alguns exemplos
dessas práticas dolorosas são a castração, descorna, esterilização (ovariectomia),
corte de cauda e identificação (MAPA, 2014).

Os funcionários e colaboradores, ou seja, os responsáveis pelo rebanho,


devem receber capacitação de acordo com suas responsabilidades, além de
possuir conhecimentos sobre criação de bovinos, comportamento animal,
biossegurança, sinais clínicos de doenças. É importante que os colaboradores
estejam familiarizados com os indicadores de ausência de bem-estar dos animais,
tais como estresse, dor, desconforto e sobre a forma de como aliviá-los (MAPA,
2014).

Para animais doentes ou feridos, um diagnóstico rápido deve ser feito para
determinar se o animal deve ser sacrificado de forma humanitária ou receber um
tratamento adicional. A decisão sobre o procedimento de sacrifício humanitário
deve ser tomada por profissional capacitado (MAPA, 2014).

131
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

4 SUSTENTABILIDADE NA BOVINOCULTURA DE CORTE


O conceito de desenvolvimento sustentável surge a partir da necessidade
de assegurar o crescimento econômico e o desenvolvimento social, e, ao mesmo
tempo, garantir o bom uso dos recursos naturais com redução do impacto
ambiental do setor agropecuário (PEREIRA; MAURO; QUEIROZ, 2016).

Os impactos da pecuária bovina sobre o meio ambiente são diversos e


incluem desde degradação do solo e poluição dos recursos hídricos até emissão
de gases do efeito estufa (GEE) e diminuição da biodiversidade, em função do
planejamento da atividade e das ações de manejo utilizadas. O principal impacto
causado pela pecuária bovina no Brasil é a emissão de gases do efeito estufa,
ocasionada principalmente pela mudança no uso da terra, que representa 61-68%
do total das emissões brasileiras, convertidas em CO2 equivalente. A pecuária
bovina, juntamente ao desmatamento a ela atribuído, é a responsável pela maior
parte da emissão dos GEE no Brasil (AMARAL et al., 2012).

A mudança no uso da terra no Brasil, em especial o aumento do


desmatamento, pode ser atribuída a várias causas, sendo que a pecuária bovina
vem sendo apontada como a principal delas. Esse fato se deve principalmente à
dinâmica territorial que esse setor vem exibindo. No entanto, deve-se avaliar com
cuidado essa relação, uma vez que o desmatamento é o item mais representativo
na emissão de gases do efeito estufa atribuída à pecuária (AMARAL et al., 2012).

Nesse contexto, a pecuária brasileira de corte vem buscando aumentar a


capacidade de suporte das pastagens em função das exigências econômicas da
atividade, visando ao aumento de produtividade. Segundo Moraes et al. (2015) e
Filho (2015), o desmatamento evitado no Brasil e nos estados da Amazônia Legal
entre os anos de 1975 e 2006 foi significativo. Isto se deu em razão do aumento de
produtividade na pecuária, proporcionado pela adoção crescente de tecnologias,
como o uso de forrageiras melhoradas e técnicas de manejo de pastagens. O
Brasil deixou de desmatar aproximadamente 213 milhões de hectares para uso
pela pecuária de corte na produção pecuária, no período entre 1975 e 2006. Nesse
período, a região Centro-Oeste responde por maior área não desmatada por
aumento de produtividade (cerca de 114 milhões de hectares). Na sequência,
aparecem a região Norte (60,9 milhões de hectares), a região Sudeste (20,6 milhões
de hectares), a Nordeste (11,3 milhões de hectares), e a região Sul (6,2 milhões de
hectares).

132
TÓPICO 1 | INSTALAÇÕES, BEM-ESTAR ANIMAL E SUSTENTABILIDADE NA PECUÁRIA DE CORTE

GRÁFICO 1 – DESMATAMENTO EVITADO NO BRASIL ENTRE 1975 E 2006 (MILHÕES DE


HECTARES)

FONTE: Adaptado de Moraes et al. (2015)

Existem diversas técnicas disponíveis para tornar a produção de carne


bovina cada vez mais sustentável. Uma vez que no Brasil a pecuária de corte está
baseada em pastagens, as tecnologias que promovem o uso mais intensivo das
áreas de pastagem e, consequentemente, possibilitem ganhos de eficiência nos
sistemas produtivos, além de pouparem terra para a produção agropecuária, são
de extrema importância. Algumas dessas tecnologias são: formação, recuperação
e renovação de pastagens; vedação (diferimento) e suplementação de pastagens;
sistemas de integração pecuária-floresta; sistemas de integração lavoura-
pecuária; sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta; e, referente ao manejo
do animal, a produção de novilho precoce (AMARAL et al., 2012).

133
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• As instalações para produção de gado de corte devem ser simples, duradouras,


funcionais, resistentes e seguras, tanto para o homem como para os animais.

• As instalações dependem do sistema de produção que será implantado, mas,


geralmente, as instalações indispensáveis são: cercas, curral, reservatório de
água, bebedouros e cochos para minerais.

• O bem-estar animal pode ter quatro abordagens completamente distintas de


acordo com a metodologia utilizada: abordagem científica, abordagem técnica,
abordagem social e abordagem emocional.

• Os critérios que podem ser indicadores úteis de bem-estar animal são:


comportamento, taxa de morbidade, taxa de mortalidade, alterações no peso e
condição corporal, eficiência reprodutiva, aspecto físico, respostas ao manejo e
complicações devido a procedimentos de rotina de manejo.

• O Código Sanitário de Animais Terrestres apresenta recomendações de


biossegurança e saúde animal, aspectos ambientais e manejo que visam
garantir o bem-estar animal na produção de gado de corte.

• O principal impacto ambiental causado pela pecuária bovina no Brasil é a


emissão de gases do efeito estufa.

• Existem diversas técnicas disponíveis para tornar a produção de carne bovina


cada vez mais sustentável, dentre elas estão: formação, recuperação e renovação
de pastagens; vedação (diferimento) e suplementação de pastagens; sistemas
de integração pecuária-floresta; sistemas de integração lavoura-pecuária;
sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta; e, referente ao manejo do
animal, a produção de novilho precoce.

134
AUTOATIVIDADE

Avançamos um pouco e estamos agora prontos para fazermos nossa


autoavaliação de conhecimento. Vamos testar o quanto avançamos no domínio
do conhecimento da bovinocultura.

1 Neste tópico, vimos que as instalações para produção de gado de corte


devem ser simples, duradouras, funcionais, resistentes e seguras, tanto
para o homem como para os animais. De maneira geral, as instalações
indispensáveis são: cercas, curral, reservatório de água, bebedouros e
cochos para minerais. Sobre as instalações para produção de gado de corte,
analise as seguintes sentenças:

I- As cercas devem ser, preferencialmente, de arame farpado, pois apresentam


maior resistência e possibilitam grande economia de madeira.
II- Dar preferência aos bebedouros naturais, pois a água dos açudes pode
evitar a contaminação do rebanho por doenças e parasitas.
III- As instalações para armazenar os insumos devem ser apropriadas para
evitar a deterioração e a contaminação de alimentos, sementes, rações,
pessoas e animais.
IV- Um bom curral deve permitir a realização, com eficiência, segurança e
conforto, das práticas necessárias ao trato do gado.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas II, III e IV estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa IV está correta.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas.

2 Os impactos da pecuária bovina sobre o meio ambiente são diversos. Nesse


sentido, o desenvolvimento sustentável tem como finalidade garantir o
bom uso dos recursos naturais com redução do impacto ambiental do setor
agropecuário. Diante disso, quais são os principais impactos ambientais da
pecuária bovina?

135
136
UNIDADE 3
TÓPICO 2
GESTÃO E CONTROLES ADMINISTRATIVOS DA
FAZENDA DE CORTE

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico, neste tópico, analisaremos a gestão e controles
administrativos da fazenda de corte. Vale destacar que as informações do tópico
anterior a respeito das instalações para a produção de gado de corte, o bem-
estar animal e a sustentabilidade na pecuária de corte são parte integrante dos
processos de uma boa gestão da propriedade rural.

Neste tópico, avaliaremos as funções administrativas (planejamento,


organização, direção e controle) e sua importância para a gestão da propriedade
rural. Discutiremos sobre os custos de produção e a mão de obra da fazenda
de corte e avaliaremos algumas ferramentas utilizadas para o planejamento e
controle da atividade.

No final deste tópico, as autoatividades servirão de teste de seus


conhecimentos referentes ao assunto apresentado aqui.

Bons estudos!

2 GESTÃO, GERENCIAMENTO E ADMINISTRAÇÃO


O mundo passa por diversas e profundas transformações socioeconômicas,
políticas, culturais e tecnológicas que afetam as mais diversas áreas. Nesse sentido,
a produção agropecuária se tornou um negócio complexo que exige diferentes
habilidades gerenciais para se obter um melhor desempenho (COSTA; PEREIRA,
2013).

Segundo Costa e Pereira (2013), a atividade rural apresenta algumas


especificidades que proporcionam aos gerentes um ambiente de decisão
bastante complexo, por exemplo, forte influência de fatores físicos e biológicos;
descompasso entre época de planejamento da produção e de comercialização;
e mercado de competição perfeita (em que produtores são meros tomadores de
preços), dentre outros. Nesse contexto, o risco e a incerteza próprios do negócio
agropecuário, geralmente, são maiores em relação a outros empreendimentos.

137
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

Os novos fatores de produção, como a informação, por exemplo,


originados a partir dos avanços tecnológicos, tornaram-se insumos ainda mais
importantes para o processo gerencial, por vezes tão relevantes para o sucesso
da atividade rural quanto os recursos tradicionais, como animais ou terra. No
entanto, a habilidade de gerenciar e operar essa atividade é um diferencial, pois
são as pessoas que transformam dados em informações qualificadas, auxiliando
no processo de decisão, além de serem capazes de tornarem efetivas as mudanças
propostas. É nesse contexto que a habilidade gerencial se torna o diferencial
competitivo, capaz de ajustar o complexo negócio agrícola às constantes
mudanças macro e microeconômicas que moldam o cenário do agronegócio
(COSTA; PEREIRA, 2013).

Nesse sentido, a administração rural é a ciência que busca aplicar os


conhecimentos administrativos em empresas agropecuárias, subsidiando o
processo de tomada de decisão que visa alocar eficientemente recursos escassos
para atingir os objetivos do empreendimento, considerando ainda os riscos e
incertezas existentes (COSTA; PEREIRA, 2013). Para entender o gerenciamento/
administração, segundo sua natureza operacional, faz-se necessário o
conhecimento das funções administrativas: planejamento, organização, direção
e controle.

FIGURA 1 – FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS E SEU RELACIONAMENTO

FONTE: Costa e Pereira (2013, p. 89)

138
TÓPICO 2 | GESTÃO E CONTROLES ADMINISTRATIVOS DA FAZENDA DE CORTE

De acordo com Costa e Pereira (2013), essas funções administrativas seguem


uma sequência lógica, mas na prática podem ocorrer simultaneamente, uma vez
que processos de retroalimentação estão presentes. Apesar disso, é natural que
se comece pelo planejamento e termine pelo controle, visto que o planejamento
trata de definir aonde se quer chegar e os meios para tanto, enquanto o controle
permite verificar se o alvo foi atingido ou, em etapa intermediária, se o caminho
está correto.

3 IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO E DO CONTROLE


Segundo Valle (2011), a gestão da propriedade rural trata das quatro funções
que compõem a administração da propriedade rural, que foram mencionadas no
subtópico anterior, planejamento, organização, direção e controle. De acordo com
o autor, uma gestão adequada exige que todas essas funções sejam exercitadas
em um nível mínimo, aplicadas às diversas áreas funcionais da empresa.

Para que uma fazenda atenda aos requisitos mínimos de gestão, Valle
(2011) destaca que as seguintes ações devem ser desenvolvidas:

Planejamento: abrange a definição de objetivos, metas e ações voltadas


para alcançar os objetivos. Para isso, o autor orienta em determinado período,
como no início de cada ano:

• Revisar metas, objetivos e ações propostas para o ano.


• Prever receitas e despesas.
• Programar investimentos e seu cronograma.
• Estabelecer calendários de manejo sanitário, reprodutivo e alimentar.

Organização: corresponde ao estabelecimento das relações entre funções,


pessoal e fatores físicos. Para realizar a organização:

• Definir a distribuição dos recursos (físicos, humanos e financeiros) usados na


produção.
• Organizar os diversos processos necessários à produção e à administração.

Direção: está relacionada a garantir a execução do planejado de forma


eficiente:

• Delegar responsabilidades, definindo atribuições e recompensas (estratégias


de motivação).
• Dirigir e supervisionar as atividades, emitindo ordens e verificando sua
execução.
• Preparar e expor, com clareza e visibilidade, quadros, murais e cronogramas de
execução das tarefas referentes ao manejo reprodutivo e sanitário do rebanho
e ao manejo das pastagens.

139
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

• Atender a todas as exigências legais de ordem social, trabalhista, fiscal, sanitária


e ambiental.

Controle: corresponde ao acompanhamento das atividades, monitorando-


as e confrontando-as com os planos desenvolvidos e corrigindo as falhas
verificadas. Para o controle, Filho e Queiroz (2011) indicam:

• Registrar e manter atualizadas as fichas zootécnicas (controle do rebanho e


controle sanitário).
• Manter o registro de todos os insumos utilizados na propriedade, tais como
vacinas, medicamentos, defensivos agrícolas, fertilizantes e suplementos
alimentares, registrando data de aquisição, fabricante e validade.
• Registrar as receitas e as despesas (caderno ou planilha eletrônica).
• Consolidar receitas, despesas e resultados para os meses e o ano.

Segundo o IEL-CNA-SEBRAE (2000), apesar de fundamental importância


para a tomada de decisão dos pecuaristas, o custo de produção é uma variável
desconhecida pela maioria dos produtores brasileiros. Esses produtores não
têm nem como saber quanto estão tendo de lucro ou prejuízo e quais os ajustes
que podem realizar para reduzir os custos e melhorar a rentabilidade de suas
propriedades.

De acordo com Filho e Queiroz (2011), todo produtor deveria executar,


em uma fazenda de corte, alguns controles econômicos:

• O custo de produção total anual da fazenda.


• O custo da arroba do boi gordo e do bezerro desmamado.
• A participação percentual dos diferentes componentes do custo.
• A margem bruta (receita total menos desembolsos).
• A margem operacional (receita total menos desembolsos, depreciações e pró-
labore).
• O lucro (receita total menos custo total).

Segundo Filho e Queiroz (2011), em qualquer atividade econômica,


os custos de produção correspondem à remuneração dos diversos fatores de
produção empregados na obtenção do produto. De acordo com os autores, os
custos são constituídos pelos seguintes itens:

• Custo da pastagem: pode ser definido considerando o valor do aluguel de


pastagem na região ou calculando depreciação e juros relativos ao capital
necessário para sua formação.
• Desembolsos: são todos os gastos ou pagamentos efetivamente realizados, com
exceção dos investimentos, ou seja, são as despesas decorrentes da compra de
sal mineral, produtos veterinários, combustíveis e outros insumos; pagamento
de mão de obra, impostos, energia elétrica, telefone e serviços; e despesas com
manutenção de pastagens, instalações, benfeitorias, máquinas e equipamentos.
• Depreciações: são calculadas as depreciações das instalações, das benfeitorias,
das máquinas e equipamentos.
140
TÓPICO 2 | GESTÃO E CONTROLES ADMINISTRATIVOS DA FAZENDA DE CORTE

• Pró-labore do produtor: este valor deve ser compatível com a remuneração a


que o produtor faria jus ao oferecer seus serviços no mercado de trabalho.
• Juros: aplicados a todos os itens que compõem o capital usado na pecuária de
corte, exceto o valor das pastagens, cujos juros já são considerados no custo.

Além do custo de produção ser desconhecido por grande parte dos


produtores brasileiros, segundo o IEL-CNA-SEBRAE (2000), o nível de
capacitação da mão de obra utilizada nas propriedades é baixíssimo. Se para a
pecuária nacional, que apresenta um nível de tecnificação baixo, a desqualificação
profissional não representa o maior problema no exercício das tarefas do dia a
dia, nas propriedades modernas esta barreira pode ser fundamental. Produtores
enfrentam dificuldades para a implantação de sistemas mais avançados de
produção devido à desqualificação dos trabalhadores. Algumas iniciativas estão
sendo realizadas para tornar os trabalhadores rurais mais capazes, em que se
destaca o trabalho do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR).

Em relação à mão de obra, o gerente da propriedade tem papel


fundamental na formação da equipe. De acordo com Dias et al. (2011), para o
sistema de produção apresentar melhores resultados é essencial contar com uma
equipe eficiente e comprometida que seja frequentemente treinada e capacitada e
adote ferramentas de gerenciamento que permitam a padronização na execução
das rotinas.

Nesse sentido, definir funções é uma forma de garantir que a rotina seja
cumprida, já que cada pessoa tem suas responsabilidades a serem atendidas em
um prazo previamente determinado, facilitando identificar as pessoas que não
as estejam cumprindo, além de apontar também aqueles que mais se destacam
em suas atribuições. Para a equipe desempenhar suas funções adequadamente
é necessária a presença de um líder que disponha da habilidade de manter um
ambiente harmônico, comunicar-se eficientemente com todos os trabalhadores e
capacidade de aproveitar os pontos fortes de cada pessoa, ajustando-a à melhor
função para seu perfil (DIAS et al., 2011).

Dias et al. (2011) destacam que um bom gerente precisa dispor de:

• Profundo conhecimento do sistema de produção.


• Comprometimento e bom nível de esforço empregado.
• Motivação.
• Integridade, honestidade e credibilidade.
• Dar andamento a todas as atividades que seus comandados realizarão.
• Autoconfiança, atitude firme, segura e sensata.
• Capacidade de lidar com o inesperado.
• Flexibilidade, mantendo o bom senso.
• Capacidade de argumentação e poder de convencimento.

Dias et al. (2011) também destacam que, atualmente, são estabelecidas as


seguintes competências de liderança:

141
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

• Mentalidade global.
• Competência de lidar com contradições.
• Desenvoltura diante do inesperado.
• Sonhar e transformar o sonho em realidade.
• Disponibilidade para aprender.

Caro acadêmico, como vimos, o gerente apresenta um papel fundamental


e tem muitas funções importantes na gestão da propriedade. Entre essas funções,
a contratação de pessoas é essencial para que bons resultados sejam obtidos.
Por isso, é importante que o gerente, desde a entrevista de seleção, informe ao
candidato sobre as responsabilidades e tarefas do cargo, as obrigações e direitos,
os conhecimentos técnicos e práticos exigidos, a necessidade de dedicação, o local
e a carga horária e sobre o salário, benefícios e incentivos (DIAS et al., 2011).

De acordo com Dias et al. (2011), para a montagem de uma equipe eficaz
é fundamental que o perfil dos colaboradores para contratação seja muito bem
definido, dentro de determinados atributos, tais como:

• Gostar do trabalho com animais.


• Saber trabalhar em equipe.
• Dispor de escolaridade mínima para o cargo que deseja.
• Ser comprometido com resultados.
• Ter experiência, dependendo do cargo.
• Dispor-se a morar na propriedade (quando for o caso).

Após a contratação, é fundamental que seja realizada a formação técnica


dos colaboradores. Mesmo pessoas que já tenham experiência com a atividade
devem receber treinamentos que expliquem a metodologia de trabalho e os
manejos utilizados na nova atividade que irão desenvolver (DIAS et al., 2011).

A motivação dos colaboradores também é essencial para um bom


desenvolvimento das atividades. Nesse sentido, garantir aos colaboradores
salário justo e deixar que percebam a relevância do seu trabalho e o impacto
positivo que sua presença, produtos e serviços proporcionam, somado a um
ambiente de trabalho agradável, são ótimos fatores motivadores. O processo de
motivação vai desde o simples elogio individual ou perante a equipe, promoção
de cargo e função, até a premiação financeira, como destacam Dias et al. (2011):

• Salário justo.
• Política de benefícios.
• Perspectiva de crescimento.
• Formação e treinamento constantes.
• Comunicação aberta.
• Sistema de premiação.
• Condições de trabalho.
• Condições de moradia e lazer, quando morar na propriedade.

142
TÓPICO 2 | GESTÃO E CONTROLES ADMINISTRATIVOS DA FAZENDA DE CORTE

4 FERRAMENTAS PARA O PLANEJAMENTO E PARA O


CONTROLE
Caro acadêmico, como discutimos anteriormente, a gestão da atividade
rural é uma atividade bastante complexa. Nesse sentido, a pecuária de corte no
Brasil envolve basicamente três fases (cria, recria e engorda), que são exploradas
isoladamente ou em combinação, e apresenta diferentes produtos (diversas
categorias de gado magro ou gordo) (COSTA; PEREIRA, 2013).

Segundo Costa e Pereira (2013), os resultados da pecuária de corte são


dependentes de três grupos de variáveis:

• Variáveis controláveis pelo produtor: dependentes de decisões objetivas, como


comprar ou vender gado.
• Variáveis autônomas: sobre as quais o produtor pode intervir indiretamente,
como as variáveis zootécnicas.
• Variáveis não controláveis (salvo situações que não são a regra): como o clima
e os preços de insumos e produtos.

Costa e Pereira (2013) trazem que esse conjunto de variáveis pode se


combinar de diferentes maneiras, afetando a evolução do rebanho, a dinâmica da
pastagem, a interação entre o pasto e o gado e os resultados físicos e econômicos
da atividade. A complexidade dessas combinações torna as tomadas de decisão
trabalhosas e imprecisas, principalmente quando efetuadas sem o uso da
informática.

As ferramentas gerenciais de planejamento têm por objetivo auxiliar


o produtor na tomada de decisão sobre atividades a desenvolver, ações ou
tecnologias a serem introduzidas no sistema de produção e meios para minimizar
riscos. Essas ferramentas envolvem métodos de simulação, modelagem, análise
de risco e de investimento, orçamentação, entre outras (COSTA; PEREIRA, 2013).

Na área de controle, as ferramentas visam ao registro de dados técnicos


e econômicos do sistema de produção, tanto para fins de auditoria (nos casos de
rastreabilidade e certificação) quanto para a geração de informações qualificadas
para a tomada de decisão gerencial. De acordo com Costa e Pereira (2013), na área
de controle financeiro, a finalidade é registrar receitas, despesas e investimentos
para o cálculo de margens econômicas e outros indicadores, já o controle técnico
consiste em registrar dados relativos à produção, incluindo:

• registros genealógicos;
• estoque de rebanho;
• ganho de peso;
• consumo de concentrados;
• uso de medicamentos;
• vacinação e outras práticas sanitárias;

143
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

• controle de máquinas;
• consumo de combustíveis;
• esquemas de adubação/irrigação e uso de defensivos agrícolas;
• entre outros.

Nesse sentido, vamos apresentar ferramentas de planejamento e controle
desenvolvidos pela Embrapa Gado de Corte, segundo Costa e Pereira (2013). No
campo do planejamento, a Embrapa Gado de Corte disponibiliza gratuitamente
em sua página na internet a Gerenpec; e no âmbito do controle gerencial
disponibiliza o Controlpec, apresentados a seguir.

Gerenpec

O Gerenpec é um aplicativo, no formato de planilha eletrônica, que simula


o desenvolvimento de uma fazenda de pecuária de corte ao longo de dez anos.
O aplicativo permite definir, prever e consolidar números referentes aos bovinos,
às pastagens e ao sistema de produção como um todo. Para os bovinos, esses
números englobam:

• estoque e a variação de inventário;


• compras e vendas;
• perdas por morte;
• desfrute;
• taxa de abate etc.

Para as pastagens, destacam-se:


• capacidade de suporte total;
• taxa de lotação;
• balanço entre oferta e demanda de forragem;
• entre outras.

Já para o sistema de produção, os números relevantes são:


• produção de carne;
• receita total;
• gastos operacionais;
• margem bruta e outros indicadores econômicos.

Esses números, expressos ano a ano, compõem uma importante assistência


para o planejamento das fazendas, permitindo responder várias questões que
inquietam produtores e técnicos.

Além disso, o aplicativo permite realizar análises de sensibilidade,


explorando as alternativas de desenvolvimento do sistema de duas formas:
simulando mudanças nas variáveis ao longo dos anos de uma projeção específica;
ou simulando várias projeções, atribuindo diferentes valores para as variáveis de
interesse (COSTA; PEREIRA, 2013).

144
TÓPICO 2 | GESTÃO E CONTROLES ADMINISTRATIVOS DA FAZENDA DE CORTE

DICAS

Caro acadêmico, você pode acessar e realizar o download do Gerenpec


gratuitamente por meio da página da Embrapa Gado de Corte na internet. Disponível em:
<https://cloud.cnpgc.embrapa.br/gerenpec/>.

Controlpec

O CONTROLPEC 1.0 é um sistema simples, desenvolvido pela Embrapa


Gado de Corte, em formato de planilha eletrônica, para registro e sistematização
de despesas, receitas e margens econômicas da atividade. No aplicativo, o
produtor precisará definir as contas de seu interesse, tanto para receitas quanto
para despesas e investimentos. O detalhamento dessas contas depende do nível
de controle pretendido para a análise financeira e econômica da atividade.

Uma vez criadas as contas, o produtor deverá fazer o lançamento das


ocorrências financeiras, registrando vendas, recursos advindos de financiamentos,
despesas, investimentos etc. O aplicativo então irá gerar um quadro de resultados
com os valores mensais referentes a cada conta, dentro dos grupos (Receitas,
Despesas e Investimentos). Além disso, são apresentados o gasto total anual com
o item e sua participação relativa no conjunto de todas as despesas. O mesmo
raciocínio e quadros equivalentes são gerados para as contas que compõem as
receitas e os investimentos.

O Controlpec permite que o produtor tenha acesso a diversas margens


econômicas, calculadas automaticamente pela planilha, sendo que a interpretação
dessas margens traz informações relevantes sobre o desempenho financeiro da
fazenda e retroalimenta o processo de planejamento, visto que desempenhos
negativos podem requerer intervenção do produtor (COSTA; PEREIRA, 2013).

DICAS

O Controlpec pode ser acessado e seu download realizado gratuitamente por


meio da página da Embrapa Gado de Corte na internet. Disponível em: <https://cloud.cnpgc.
embrapa.br/controlpec/>.

145
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Para entender o gerenciamento/administração é necessário o conhecimento


das funções administrativas: planejamento, organização, direção e controle.

• O planejamento abrange a definição de objetivos, metas e ações voltadas para


alcançar os objetivos.

• A organização corresponde ao estabelecimento das relações entre funções,


pessoal e fatores físicos.

• A direção está relacionada a garantir a execução do planejado de forma


eficiente.

• O controle corresponde ao acompanhamento das atividades, monitorando-


as e confrontando-as com os planos desenvolvidos e corrigindo as falhas
verificadas.

• Em qualquer atividade econômica, os custos de produção correspondem à


remuneração dos diversos fatores de produção empregados na obtenção do
produto.

• Em relação à mão de obra, o gerente da propriedade tem papel fundamental na


formação da equipe de colaboradores.

• Após a contratação, é fundamental que seja realizada a formação técnica dos


colaboradores.

• O processo de motivação dos colaboradores vai desde o simples elogio


individual ou perante a equipe, promoção de cargo e função, até a premiação
financeira.

• Os resultados da pecuária de corte são dependentes de três grupos de variáveis:


variáveis controláveis pelo produtor, variáveis autônomas e variáveis não
controláveis.

• As ferramentas gerenciais de planejamento têm por objetivo auxiliar o produtor


na tomada de decisão sobre atividades a desenvolver, ações ou tecnologias a
serem introduzidas no sistema de produção e meios para minimizar riscos.

146
• Na área de controle, as ferramentas visam o registro de dados técnicos e
econômicos do sistema de produção, tanto para fins de auditoria quanto para
a geração de informações qualificadas para a tomada de decisão gerencial.

147
AUTOATIVIDADE

Avançamos um pouco e estamos agora prontos para fazermos nossa


autoavaliação de conhecimento. Vamos testar o quanto avançamos no domínio
do conhecimento da gestão da fazenda de corte.

1 Neste tópico, vimos que o custo de produção é uma variável, muitas vezes,
desconhecida pelos produtores. Sem conhecer o custo de produção, esses
produtores não têm nem como saber quanto estão tendo de lucro ou prejuízo
e quais os ajustes que podem realizar para reduzir os custos e melhorar a
rentabilidade de suas propriedades. Os custos de produção correspondem
à remuneração dos diversos fatores de produção empregados na obtenção
do produto. Sobre os custos de produção na fazenda de corte, analise as
seguintes sentenças:

I- Os juros são aplicados a todos os itens que compõem o capital usado na


pecuária de corte, exceto o valor das pastagens.
II- São calculadas as depreciações das instalações, das benfeitorias, das
máquinas e equipamentos.
III- O custo da pastagem é o valor do aluguel de pastagem na região ou o
resultado da depreciação e juros relativos ao capital necessário para sua
formação.
IV- Os desembolsos correspondem a todos os investimentos, gastos e
pagamentos efetivamente realizados.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
b) ( ) Todas as afirmativas estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas.

2 A partir do estudo deste tópico, vimos que a gestão da propriedade rural trata
das quatro funções que compõem a administração da propriedade rural:
planejamento, organização, direção e controle. Uma gestão apropriada exige
que todas essas funções sejam praticadas em um nível mínimo, aplicadas às
diversas áreas funcionais da empresa. Sobre as quatro funções que compõem
a administração da propriedade rural: planejamento, organização, direção e
controle, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) A direção tem o papel de atender a todas as exigências legais de ordem


social, trabalhista, fiscal, sanitária e ambiental.
( ) A organização visa definir a distribuição dos recursos usados na produção
e organizar os diversos processos necessários à produção e à administração.

148
( ) O planejamento tem a função de programar investimentos e seu cronograma
e delegar responsabilidades, definindo atribuições e recompensas.
( ) O controle visa estabelecer a programação de manejo sanitário, reprodutivo
e alimentar, registrar e manter atualizadas as fichas zootécnicas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) V – F – V – F.
c) ( ) F – F – F – V.
d) ( ) V – V – V – F.

149
150
UNIDADE 3
TÓPICO 3

IDENTIFICAÇÃO ANIMAL E RASTREABILIDADE

1 INTRODUÇÃO
Bem-vindo, acadêmico, ao terceiro tópico de estudo da bovinocultura de
corte. A partir dos estudos deste tópico iremos conhecer a respeito da identificação
animal, que é um passo essencial para implantar um sistema de registro de
informações e rastreamento na pecuária de corte.

Iremos analisar a rastreabilidade, que pode ser definida como a capacidade


de seguir ou rastrear um alimento/produto desde a produção ou colheita até
o consumidor final, e iremos conhecer o Sistema Brasileiro de Identificação
e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (SISBOV), um conjunto de ações,
medidas e procedimentos adotados para caracterizar a origem, o estado sanitário,
a produção e a produtividade da pecuária nacional e a segurança dos alimentos
provenientes dessa atividade.

No final deste tópico, as autoatividades servirão de teste dos seus


conhecimentos referentes ao assunto abordado aqui.

Bons estudos!

2 IDENTIFICAÇÃO ANIMAL
Prezado acadêmico, um passo fundamental para qualquer sistema de
registro de informações é a identificação individual dos bovinos. O ideal é realizar
a identificação o quanto antes, já nos primeiros dias de vida do bezerro ou logo
após a chegada de um animal na propriedade. A identificação é, de maneira
geral, composta por um código dado a um determinado animal. Esse código é
definido pela combinação de letras, números ou de ambos e deve garantir uma
identificação única para cada indivíduo, tornando possível diferenciá-lo dos
outros animais do rebanho (SCHMIDEK; DURÁN; COSTA, 2009).

Para realizar o procedimento de identificação de bovinos se faz necessário


que a equipe responsável pelo manejo esteja bem treinada, que o trabalho seja
realizado em instalações apropriadas, usando equipamentos e materiais de boa
qualidade, e que o trabalho seja realizado com atenção e organização. O manejo
de identificação deve ser realizado com segurança e tranquilidade, evitando o
estresse e sofrimento desnecessário aos animais (SCHMIDEK; DURÁN; COSTA,
2009).

151
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

De acordo com Valle (2011), a identificação individual dos bovinos e o


registro das ocorrências e das práticas de manejo utilizadas durante a vida do
animal são procedimentos fundamentais que permitem avaliar o desempenho
do rebanho e a tomada de decisões administrativas. É importante realizar esses
procedimentos conforme as Boas Práticas Agropecuárias, garantindo ao mercado
consumidor a oferta de alimentos livres de resíduos e contaminantes de qualquer
natureza, que possam comprometer a saúde do consumidor.

A identificação individual dos bovinos é considerada a primeira etapa da


rastreabilidade, ela deve ser única, clara, inviolável e permanente, estar sempre
legível e acompanhar o animal em todo o seu ciclo. Para que esses requisitos
sejam atendidos é necessário integrar o criador à cadeia produtiva, tornando-o
corresponsável pela qualidade do alimento final, exigindo dele maior atenção nas
práticas de manejo (CAVALCANTE; PINHEIRO; RIBEIRO, 2015).

Os métodos mais comuns de identificação para bovinos são: tatuagem,


brinco (visual ou eletrônico) e marcação a fogo. Além desses, existem outros
métodos menos utilizados, por exemplo: o bolus intrarruminal, marcação a frio,
cortes nas orelhas, colares de identificação e marcas nos chifres. Esses métodos
têm limitações em seu uso e sua eficiência é diretamente relacionada à forma
pela qual são aplicados na identificação de animais. Se o procedimento de
identificação for realizado de maneira adequada, menores serão os riscos de perda
e de duplicidade na identificação (SCHMIDEK; DURÁN; COSTA). Vamos agora
analisar cada um dos métodos mais comuns de identificação animal, segundo
Schmidek, Durán e Costa (2009).

• Tatuagem

A tatuagem é um método de identificação permanente e de fácil realização.


A principal limitação desse método é a dificuldade para visualização do código,
sendo necessária a contenção dos animais para realizar a leitura com precisão
e segurança. Em geral, essa identificação é efetuada logo nos primeiros dias de
vida do bezerro, combinando-a, posteriormente, com outro método, de mais fácil
visualização, geralmente brincos ou marcação a fogo.

• Brincos de identificação

A utilização de brincos para a identificação animal é comum, por ser um


método de fácil aplicação e visibilidade. Os procedimentos para a aplicação dos
brincos devem ser realizados de forma correta e segura, minimizando os riscos de
acidentes e de falhas no processo. O principal ponto crítico da utilização de brincos
é a falha na retenção, resultando na perda da identificação dos animais, sendo
que os produtos de baixa qualidade e falhas nos procedimentos de aplicação são
os dois fatores principais que aumentam os riscos de perdas de brincos.

152
TÓPICO 3 | IDENTIFICAÇÃO ANIMAL E RASTREABILIDADE

• Marcação a fogo

A marcação a fogo é o método mais comum para a identificação de


bovinos, sendo usado para identificar a raça, o proprietário do animal, o
indivíduo e também a realização de certas práticas de manejo. A marcação a fogo
é desaconselhada do ponto de vista do bem-estar animal, principalmente quando
é realizada em partes mais sensíveis do corpo do animal, no entanto, seu uso é
ainda muito frequente e muitas vezes obrigatório, como no caso de controle da
brucelose.

Quando realizada de maneira adequada, a marca a fogo é permanente e


de fácil visualização. Entretanto, quando mal realizada, traz risco para os animais,
podendo causar lesões graves por queimadura, resultando em dor e sofrimento
intensos. Esses sinais podem ser percebidos em manejos posteriores, quando
ocorre uma maior frequência de animais que empacam ou refugam. Portanto,
muita atenção é necessária no momento de realizar o manejo, pois sempre há o
risco de ferimentos graves por queimadura tanto para os animais como para as
pessoas envolvidas. Nesse sentido, Valle (2011) aponta diretrizes relacionadas à
identificação animal:

• Realizar o procedimento de identificação de todos os animais ao nascimento


ou, no máximo, à desmama.
• Utilizar um sistema de identificação que permita verificação e comprovação,
ao longo do tempo, do código de identificação, relacionadas ao histórico do
animal ou ao grupo de animais manejados.
• Utilizar métodos de identificação que garantam a individualidade e a retenção
no animal de forma permanente e inviolável.
• No caso de marca a fogo, utilizar apenas nos locais permitidos pela legislação
em vigor.
• Na necessidade de atender mercados específicos, observar as normas do sistema
de identificação, rastreamento e certificação estabelecidas pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Acadêmico, como foi demonstrado, nas propriedades rurais, o processo de


identificação animal com a finalidade de se realizar a rastreabilidade não é feito,
necessariamente, utilizando sistemas eletrônicos. Devido a isso, para atender aos
requisitos necessários para a certificação, é preciso existir uma correlação muito
eficiente entre a identificação individual dos animais e um sistema para gerir
essas informações. Nesse sentido, vale reforçar que a identificação deve garantir
a individualidade e perpetuidade da marca (CAVALCANTE; PINHEIRO;
RIBEIRO, 2015).

A utilização de sistemas de informação nos empreendimentos tem


o objetivo de facilitar o gerenciamento dos dados e o processo de utilização e
recuperação da informação, utilizando-se dos mesmos para tomar decisões
estratégicas. Na pecuária, a exigência de rastreabilidade do processo produtivo

153
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

pelos países importadores de produtos de origem animal tem sido um dos fatores
mais eficientes para introduzir as tecnologias da informação na indústria de
alimentos (CAVALCANTE; PINHEIRO; RIBEIRO, 2015).

A exigência da rastreabilidade dos rebanhos imposta pelo mercado


internacional e, posteriormente, regulamentada pelo governo brasileiro,
aumentou a complexidade da atividade pecuária, dificultando o gerenciamento
de todos os processos produtivos de forma tradicional. Nesse sentido, o produtor
se vê obrigado a adotar novas ferramentas, como as Tecnologias da Informação
e Comunicação (TIC), em especial, internet e softwares de gestão, para tornar
sua administração mais eficiente e melhorar a rentabilidade da atividade
(CAVALCANTE; PINHEIRO; RIBEIRO, 2015).

3 RASTREABILIDADE E A SEGURANÇA DOS ALIMENTOS


Prezado acadêmico, agora que aprendemos a respeito da identificação
animal, vamos analisar a rastreabilidade e a segurança dos alimentos. Para
isso, primeiramente, precisamos entender que identificar não é rastrear. A
identificação é considerada um meio para conseguir a rastreabilidade de um
produto. Assim, para garantir um sistema de rastreabilidade, não basta apenas
identificar os produtos, mas sim investir em um sistema de rastreabilidade
(SEBRAE, 2014).

A rastreabilidade e o conceito de rastreabilidade alimentar surgiram a partir


da necessidade de identificar em qual parte da cadeia logística está um produto,
podendo, assim, saber sua identidade e origem. Portanto, a rastreabilidade pode
ser definida como a capacidade de seguir ou rastrear um alimento/produto desde
a produção ou colheita até o consumidor final. A partir da utilização de técnicas
de rastreamento no agronegócio o produtor possibilitará que seu cliente tenha
mais informações sobre o produto (SEBRAE, 2014).

Os sistemas de rastreamentos permitem maior relacionamento entre


todos os elos da cadeia produtiva, dos produtores ao consumidor final. O
sistema permite que todos os passos sejam acompanhados: desde a entrada na
empresa, até a descrição e sua localização no transporte, bem como fotos das
unidades produtoras e distribuidores. Assim, em caso de problemas, como
perdas e extravios, fica fácil a identificação da responsabilidade de cada empresa
participante da cadeia de suprimentos utilizada no processo (SEBRAE, 2014).

154
TÓPICO 3 | IDENTIFICAÇÃO ANIMAL E RASTREABILIDADE

FIGURA 2 – FLUXOS DO PRODUTO NA CADEIA PRODUTIVA E DA INFORMAÇÃO NO


RASTREAMENTO

FONTE: SEBRAE (2014, p. 2)

De acordo com Conchon e Lopes (2012), a rastreabilidade é uma


ferramenta essencial quando a globalização dos mercados comerciais dificulta
a identificação da origem das matérias-primas e dos procedimentos e operações
realizados na produção dos alimentos. Esse acompanhamento ou rastreamento
permite, ainda, no caso de surgir um problema de saúde pública, identificar todo
o lote contaminado e, se necessário, retirá-lo do mercado, bem como definir a
responsabilidade de cada um dos participantes na produção, permitindo uma
intervenção rápida por parte das autoridades competentes.

A rastreabilidade apresenta muitas vantagens e benefícios para os


consumidores, para instituições públicas e para grandes empresas. No entanto,
para os pequenos produtores, os requisitos de rastreabilidade podem significar
barreiras comerciais e sua exclusão de mercados mais exigentes, pois dificilmente
terão recursos ou condições técnicas para implantarem sozinhos sistemas de
rastreabilidade ou mesmo de atender às normas cada vez mais rigorosas de
segurança alimentar e de acompanhamento e monitoramento ambiental e
sanitário (SILVA et al., 2015).

Nesse sentido, segundo Silva et al. (2015), qualquer que seja o sistema de
rastreabilidade a ser instalado é necessário antes definir claramente os objetivos
que se desejam alcançar. Esses objetivos são diversos, por exemplo:

• Apoiar a segurança alimentar e/ou programas de certificação da qualidade.


• Atender às exigências dos clientes.
• Determinar o histórico e a origem do produto.
• Facilitar a retirada do mercado (recall) de produtos fora do padrão.
• Identificar as organizações responsáveis por determinada cadeia produtiva.
• Facilitar o acesso a informações específicas sobre o produto.

155
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

• Permitir que essas informações cheguem até os consumidores ou ao público


nelas interessado.
• Cumprir regulamentos ou políticas locais, regionais, nacionais ou internacionais,
conforme o caso.
• Melhorar a eficácia, a produtividade e a rentabilidade da organização.

Um sistema de rastreamento pode ser muito complexo e dependerá


de três fatores principais, segundo Silva et al. (2015):

• Largura: está relacionada à quantidade e à natureza das informações que serão


coletadas e registradas.
• Profundidade: corresponde ao número de estágios rastreados ao longo da
cadeia de produção e distribuição.
• Precisão: relacionada ao grau de detalhamento que esse sistema permite
identificar referentes à localização, à movimentação e às características de uma
unidade individual (lote ou conjunto de lotes) ao longo da cadeia.

No entanto, muitas vezes os diferentes elos da cadeia produtiva não


precisam estar preparados para implementar um sistema que rastreie e registre
todas as informações relativas a cada entrada e a cada processo, pois tal sistema
seria, além de muito complexo, muito caro. Portanto, é essencial determinar
quais informações são fundamentais para cumprir os objetivos do sistema de
rastreabilidade que se pretende criar (SILVA et al., 2015).

156
TÓPICO 3 | IDENTIFICAÇÃO ANIMAL E RASTREABILIDADE

FIGURA 3 – ESTRUTURA GERAL DO SISTEMA DE RASTREABILIDADE

Lote
Dimensão
Precisão Volume
Identificação Peso
Grau de capacidade do do produto Número de unidades
sistema em identificar Embalagens
os movimentos das Custo
unidades individuais
Prazo de validade

Número
Tipologia
Grau de detalhes
Dados a serem
Dinamismo
rastreados Requisitos de estocagem
Confiabilidade e publicidade
Verificação e cuidados
Profundidade

Número de estágios
rastreados para trás e Ciclo de produção
para frente
Atividades
Prazos de entrega
Equipamentos
Rota do
Operações manuais
produto
Operações automáticas
Sistema de movimentação
Sistemas de estocagem

Largura Compatibilidade X produto


Compatibilidade X progresso
Quantidade e natureza Num. de dados registrados
das informações Num. de dados lidos
coletadas e registradas Ferramentas de Grau de automação
rastreabilidade Acurácia dos dados
Grau de confiança
Conhecimento da companhia
Custos do sistema

FONTE: Silva et al. (2015, p. 79)

157
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

Prezado acadêmico, já constatamos com o decorrer dos estudos que o


Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina. Para o país manter essa
posição de destaque, precisa se adaptar à legislação dos países importadores,
inclusive à rigorosa legislação da União Europeia. Para isso, o país criou o Sistema
Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (SISBOV),
um conjunto de ações, medidas e procedimentos adotados para caracterizar a
origem, o estado sanitário, a produção e a produtividade da pecuária nacional e
a segurança dos alimentos provenientes dessa exploração econômica (SILVA et
al., 2015).

Portanto, o SISBOV é um programa voltado à produção de carne bovina


com garantia de origem e qualidade. O objetivo do SISBOV é identificar, registrar
e monitorar, individualmente, todos os bovinos e bubalinos nascidos no Brasil
ou importados, para isso os procedimentos adotados devem ser previamente
aprovados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
(BRASIL, 2002).

A identificação dos animais no SISBOV é realizada com o auxílio de


um número de 15 dígitos, utilizando-se brincos, tatuagens, marcas com fogo,
dispositivos eletrônicos, ou a combinação de dois ou mais métodos, sendo que
a escolha do método fica a critério do produtor. No caso de o animal perder a
identificação, esta é apagada do sistema e o animal recebe uma nova numeração
e uma nova identificação (SILVA et al., 2015).

FIGURA 4 - MODELO DE BRINCO USADO NA MARCAÇÃO INDIVIDUAL DE BOVINOS


E BUBALINOS EMPREGADO NO SISBOV

Identificação da No SISBOV
Certificadora em Código
de Barras

No SISBOV 10541001234567891
4 últimos dígitos do
SISBOV fora o verificado

Estado No do animal

Dígito
País 105 4100 123456789 1 verificador

FONTE: Silva et al. (2015, p. 135)

158
TÓPICO 3 | IDENTIFICAÇÃO ANIMAL E RASTREABILIDADE

Diversas empresas que atuam no segmento pecuário desenvolvem e


comercializam equipamentos para controle do rebanho, facilitando o manejo por
parte do criador. Esses sistemas podem utilizar tanto código de barra, códigos QR
ou RFID. Para a leitura dos códigos de barras são utilizados scanners manuais,
porém, se os códigos estiverem sujos, pode ocorrer erro na leitura, ou até mesmo não
ocorrer a leitura, atrasando e limitando as operações e, muitas vezes, necessitando
a leitura visual e o registro manual do código de identificação do animal. Além
disso, os brincos identificadores não são suficientes para o rastreamento total das
características dos animais e do transporte dessas informações ao longo da cadeia
de suprimentos (SILVA et al., 2015).

De acordo com Silva et al. (2015), a utilização de identificação por


radiofrequência (RFID) permite um controle mais eficaz do rebanho, sem a
necessidade de funcionários designados para esse serviço na propriedade. Esse
sistema utiliza um microchip, que é colocado na orelha do animal. Esse chip
emite ondas de rádio que são captadas por uma antena de rádio, colocada dentro
da propriedade. Assim, os dados do animal aparecem imediatamente na tela do
computador. Segundo os autores, o alcance para captação das ondas é de um
metro, no entanto, existe um aparelho portátil com uma antena própria, que
propicia o manejo dos animais no pasto. Os dados são inseridos no aparelho e,
posteriormente, passados para o computador central. Essas informações sobre
a procedência do animal desde o nascimento ficam arquivadas em um software
desenvolvido especialmente para esse fim. A implantação dos brincos eletrônicos
permite uma economia de tempo de 30% a 75% em relação ao tempo gasto com
a leitura visual de brincos ou com código de barras, no entanto, o custo desse
sistema eletrônico é maior.

FIGURA 5 – BRINCO TRADICIONAL (COM CÓDIGO DE BARRAS) E ELETRÔNICO (QUE


UTILIZAM TECNOLOGIA RFIR) E EQUIPAMENTOS ACESSÓRIOS UTILIZADOS PARA A SUA
COLOCAÇÃO E LEITURA

MATERIAL TOTALMENTE
RESISTENTE À INTEMPÉRIES
BRINCOS ELETRÔNICOS 134,2 KHz
(ISO 14784 e 11785) bluetooh
CONJUNTO SISBOV
wireless

FONTE: Silva et al. (2015, p. 136)

159
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

Com esses sistemas de identificação e rastreamento, as informações vão


sendo enviadas constantemente ao sistema, possibilitando realizar o rastreamento
completo da cadeia produtiva, desde o manejo do animal na fazenda, o transporte
para o abate, processamento e comercialização. Atualmente, é possível rastrear
todo o processo produtivo de bovinos. Na figura a seguir podemos observar cada
etapa do processo produtivo. O animal é marcado (A) e essa marca permite o
seu monitoramento durante todas as etapas na fazenda, incluindo as vacinações
e pesagens (B). A marca o acompanhará até o momento do abate (C), quando
será substituída por outra etiqueta eletrônica (D), que será fixada a cada parte
desmembrada (E e F). Por fim, essas etiquetas são substituídas por etiquetas com
código de barras ou RFID, quando os cortes forem embalados e colocados à venda
(G, H, I) (SILVA et al., 2015).

FIGURA 6 – IDENTIFICAÇÃO E RASTREAMENTO NO PROCESSO PRODUTIVO DA CARNE


BOVINA

FONTE: Silva et al. (2015, p. 137)

160
TÓPICO 3 | IDENTIFICAÇÃO ANIMAL E RASTREABILIDADE

4 VANTAGENS E BENEFÍCIOS DA RASTREABILIDADE


Caro acadêmico, para finalizarmos os estudos sobre a identificação e
rastreabilidade na pecuária de corte, é importante destacarmos as vantagens e
benefícios desse sistema para todos os envolvidos em uma cadeia de produção:
o consumidor, os produtores, as organizações e o poder público. Nesse sentido,
Silva et al. (2015) destacam que um sistema de rastreabilidade pode beneficiar, em
diferentes graus, os diferentes atores envolvidos em uma determinada cadeia de
produção e de distribuição de um produto ou um tipo de produto, por exemplo:

Para o consumidor

• Permitir a escolha de características específicas de qualidade do produto.


• Proteção contra práticas enganosas de marketing e de comércio.
• Possibilidade de escolha de produtos ou empresas que tenham sistemas
de produção que causem menor impacto ambiental ou ainda que estejam
relacionados a comunidades tradicionais ou projetos sociais.
• Reforçar a confiança na autenticidade do produto e na exatidão das informações
fornecidas.
• Receber informações importantes e confiáveis sobre o produto que está
comprando e consumindo.
• Possibilidade de identificar nitidamente produtos que são diferentes, mas que
se parecem a ponto de serem confundidos entre si.

Para os produtores e para as organizações

• Melhorar a gestão de estoques.


• Estimular a concorrência por meio da diferenciação da qualidade.
• Reduzir problemas operacionais e os custos.
• Reduzir desperdícios.
• Aumentar a produtividade.
• Facilitar a tomada de decisão.
• Possibilitar a identificação dos procedimentos ideais para obtenção de matérias-
primas, insumos e equipamentos.
• Facilitar os controles internos.
• Adequar-se aos requisitos de programas de qualidade (como para certificação,
como produto orgânico ou livre de organismos geneticamente modificados,
por exemplo).
• Promover a gestão da segurança alimentar e da qualidade.
• Facilitar a identificação e a resolução de problemas relacionados à qualidade,
permitindo minimizar ou mesmo evitar prejuízos financeiros.
• Reforçar a confiança na autenticidade do produto e na precisão das informações
fornecidas ao consumidor.
• Proteger a saúde do consumidor, porque possibilita a retirada do mercado de
produtos que representem um risco real.

161
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

• Auxiliar na prevenção de fraudes, por exemplo, nos alimentos orgânicos, já


que, geralmente, essa característica depende exclusivamente da sua origem
ou, ainda, da forma de produção, e pode não ser mensurável no produto final
através de análises.
• Possibilitar o controle e a proteção de pessoas e animais em casos de emergências,
como a contaminação de águas ou de matérias-primas.
• Reduzir riscos aos clientes de mercados internos e externos, assegurando que
o alimento é seguro para a compra e consumo e que foi produzido em sistemas
que atendem aos requisitos legais.

Para o poder público

• Promoção do desenvolvimento setorial.


• Diagnóstico de problemas na produção e na atribuição de responsabilidades.
• Acesso às informações setoriais essenciais para a gestão pública.
• Promoção da gestão da segurança alimentar da população.
• Adaptação do país às novas tendências mundiais de mercado.
• Avaliação e gestão de políticas públicas.
• Proteção da população contra práticas enganosas de marketing e de comércio.
• Possibilidade de formalização do setor, gerando mecanismos de controle e de
arrecadação de tributos.
• Facilitar as ações de vigilância epidemiológica, auxiliando o controle de
doenças que causem prejuízo econômico e à saúde pública.
• Controlar o deslocamento de animais e seus produtos com o objetivo de
garantir a sanidade.
• Possibilitar a identificação da origem de problemas relacionados à presença de
resíduos e/ou contaminantes nos produtos.

Assim, acadêmico, podemos observar que a implantação de um sistema


de identificação e rastreabilidade, apesar de ser um sistema complexo, pode
apresentar diversas vantagens e benefícios para os consumidores, os produtores,
as organizações e o Poder Público.

162
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A identificação é, de maneira geral, composta por um código dado a um


determinado animal. Esse código é definido pela combinação de letras, números
ou de ambos e deve garantir uma identificação única para cada indivíduo,
tornando possível diferenciá-lo dos outros animais do rebanho.

• A identificação individual dos bovinos é considerada a primeira etapa da


rastreabilidade, ela deve ser única, clara, inviolável e permanente, estar sempre
legível e acompanhar o animal em todo o seu ciclo.

• Os métodos mais comuns de identificação para bovinos são: tatuagem, brinco


(visual ou eletrônico) e marcação a fogo.

• A tatuagem é um método de identificação permanente e de fácil realização. A


principal limitação desse método é a dificuldade para visualização do código,
sendo necessária a contenção dos animais para realizar a leitura com precisão
e segurança.

• A utilização de brincos para a identificação animal é comum, por ser um


método de fácil aplicação e visibilidade.

• A marcação a fogo é o método mais comum para a identificação de bovinos,


sendo usado para identificar a raça, o proprietário do animal, o indivíduo e
também a realização de certas práticas de manejo.

• A marcação a fogo é desaconselhada do ponto de vista do bem-estar animal, no


entanto, seu uso é ainda muito frequente e muitas vezes obrigatório, como no
caso de controle da brucelose.

• Nos dias atuais, o produtor se vê obrigado a adotar novas ferramentas, como


softwares de gestão, para tornar sua administração mais eficiente e melhorar a
rentabilidade da atividade.

• A rastreabilidade pode ser definida como a capacidade de seguir ou rastrear


um alimento/produto desde a produção ou colheita até o consumidor final.

• Qualquer que seja o sistema de rastreabilidade a ser instalado, é necessário


antes definir claramente os objetivos que se deseja alcançar.

• É essencial determinar quais informações são fundamentais para cumprir os


objetivos do sistema de rastreabilidade que se pretende criar.

163
• O Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e
Bubalina (SISBOV) é um conjunto de ações, medidas e procedimentos adotados
para caracterizar a origem, o estado sanitário, a produção e a produtividade da
pecuária nacional e a segurança dos alimentos provenientes dessa exploração
econômica.

• A rastreabilidade apresenta vantagens e benefícios a todos os envolvidos


em uma determinada cadeia de produção e distribuição de um produto: o
consumidor, os produtores, as organizações e o poder público.

164
AUTOATIVIDADE

Agora estamos prontos para fazermos nossa autoavaliação de conhecimento.


Vamos testar o quanto avançamos no domínio do conhecimento da identificação
animal e rastreabilidade na bovinocultura.

1 Neste tópico, vimos que um sistema de rastreabilidade pode beneficiar,


em diferentes graus, os diferentes atores envolvidos em uma determinada
cadeia de produção e de distribuição de um produto ou um tipo de produto:
o consumidor, os produtores, as organizações e o poder público. Sobre os
benefícios da rastreabilidade, analise as seguintes sentenças:

I- A rastreabilidade pode beneficiar os produtores e as organizações, pois


pode auxiliar na prevenção de fraudes, por exemplo, nos alimentos
orgânicos.
II- A rastreabilidade pode beneficiar os consumidores pela possibilidade de
identificar produtos que são diferentes, mas que se parecem a ponto de
serem confundidos entre si.
III- A rastreabilidade pode beneficiar o poder público pela promoção da gestão
da segurança alimentar da população e pela adaptação do país às novas
tendências mundiais de mercado.
IV- A rastreabilidade pode beneficiar os produtores e as organizações ao se
adequarem aos requisitos de programas de qualidade.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Apenas as afirmativas I e IV estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
c) ( ) Todas as afirmativas estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa II está correta.

2 Os diferentes elos da cadeia produtiva não precisam estar preparados para


implementar um sistema de rastreamento que rastreie e registre todas as
informações relativas a cada entrada e a cada processo, pois tal sistema seria
muito complexo e muito caro. O sistema de rastreamento dependerá de três
fatores principais: largura, profundidade e precisão. Sobre os três fatores do
rastreamento, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Largura.
II- Profundidade.
III- Precisão.

( ) Está relacionada à quantidade e à natureza das informações que serão


coletadas e registradas.
( ) Está relacionada ao grau de detalhamento que esse sistema permite
identificar referentes à localização, à movimentação e às características de
uma unidade individual (lote ou conjunto de lotes) ao longo da cadeia.
165
( ) Está relacionada ao número de estágios rastreados ao longo da cadeia de
produção e distribuição.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) I – II – III.
b) ( ) III – II – I.
c) ( ) II – I – III.
d) ( ) I – III – II.

166
UNIDADE 3
TÓPICO 4

MELHORAMENTO GENÉTICO E INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

1 INTRODUÇÃO
Bem-vindo ao último tópico de estudos de Cadeia Produtiva da
Bovinocultura. Neste tópico, vamos avaliar o melhoramento genético e como essa
ferramenta pode aumentar a eficiência de produção e a lucratividade dos rebanhos,
por meio de princípios genéticos. Além disso, iremos analisar a inseminação
artificial, uma ferramenta importante em programas de melhoramento genético.
Por fim, iremos verificar as vantagens e as limitações da utilização da inseminação
artificial.

Neste tópico, vamos avaliar o melhoramento genético e como essa


ferramenta pode aumentar a eficiência de produção e a lucratividade dos rebanhos,
por meio de princípios genéticos. Além disso, iremos analisar a inseminação
artificial, uma ferramenta importante em programas de melhoramento genético.
Por fim, iremos verificar as vantagens e as limitações da utilização da inseminação
artificial.

No final deste tópico, a leitura complementar apresentará um artigo que


reúne informações a respeito do melhoramento genético de algumas características
de produção de bovinos; e as autoatividades servirão de teste dos conhecimentos
referentes aos assuntos abordados aqui.

Bons estudos!

2 MELHORAMENTO GENÉTICO
O melhoramento genético é uma ferramenta muito importante para a
pecuária de corte. Através do melhoramento genético, os produtores podem
aumentar a eficiência de produção e a lucratividade de seus rebanhos, por meio
de princípios genéticos. A criação de animais geneticamente superiores permite
utilizar de maneira mais eficiente os recursos disponíveis (CARDOSO, 2009).

Segundo Cardoso (2009), a produção ou desempenho de um animal


depende de dois fatores: da genética, ou seja, dos genes que o animal possui, e
do ambiente de criação, que inclui a alimentação, sanidade, manejo, entre outros.
Nesse sentido, de acordo com o autor, temos que:

167
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

P = G + A + G*A
(P = produção; G = genética; A = ambiente, G*A = interação entre genética e ambiente)

Nesse contexto, de acordo com a equação descrita, pode-se aumentar a


produtividade melhorando a qualidade genética (G) e melhorando o ambiente
(A) de criação, sendo que os fatores são igualmente importantes e devem ser
trabalhados em conjunto. Por outro lado, a presença de interação G*A indica que
os animais geneticamente superiores não serão necessariamente os mesmos em
diferentes condições ambientais. Por exemplo, a melhor genética em ambientes
adversos de criação está associada a fatores de adaptação e rusticidade, contudo,
animais que apresentam essas características não deverão ser os de melhor resposta
nos ambientes mais favoráveis, que exigem genética altamente especializada
e com grande potencial produtivo. Vale destacar que de nada adianta possuir
animais geneticamente superiores se a alimentação é pobre ou ter bons recursos
alimentares se os animais são inferiores, pois em nenhum dos casos o resultado
será satisfatório (CARDOSO, 2009).

Em curto prazo, o melhoramento das condições ambientais pode produzir


resultados mais expressivos. Já o melhoramento genético, embora não apresente
resultados expressivos em um curto prazo, apresenta ganhos constantes,
cumulativos e que não se perdem. Quando o criador melhora geneticamente seus
animais, o aumento de produtividade é permanente. Um rebanho de desempenho
e qualidade superiores pode ser formado pelo melhoramento genético sem
custos elevados e em qualquer nível de alimentação. Geralmente, a maneira mais
sustentável é buscar animais com características genéticas compatíveis com o
ambiente de criação, em vez de alterar o ambiente para atender às necessidades
de animais não adaptados às condições locais (CARDOSO, 2009).

Os dois princípios mais importantes para o melhoramento genético


são a seleção e os sistemas de acasalamento. A seleção tem por objetivo que
os melhores animais sejam aqueles que deixam um maior número de filhos na
próxima geração. Já os sistemas de acasalamento têm a finalidade de determinar
como serão combinadas as características dos animais selecionados e planejar
cruzamentos para explorar vigor híbrido e a complementaridade entre raças com
características diferentes (CARDOSO, 2009).

• Seleção

A seleção é o processo de decidir quais animais serão os pais da próxima


geração. Dessa forma, se os animais mantidos ou adquiridos para a reprodução
possuírem um “valor genético” superior ao dos eliminados, o resultado será o
melhoramento na qualidade genética do rebanho. Para que o processo de seleção
obtenha sucesso, é necessário que a decisão no momento de escolher os melhores
animais seja precisa, através de informações de qualidade. Não é possível
observar diretamente o genótipo dos animais, assim a decisão deve se basear em
informações de desempenho (fenótipo) do animal e de parentes, e na genealogia
(pedigree) (CARDOSO, 2009).

168
TÓPICO 4 | MELHORAMENTO GENÉTICO E INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

• Sistemas de acasalamento

Após a seleção dos animais, os sistemas de acasalamento são o segundo


caminho para realizar o melhoramento genético. Os sistemas de acasalamento
consistem em determinar qual touro ou qual tipo de touro será acasalado com
cada fêmea ou cada tipo de fêmea. Segundo Cardoso (2009), existem basicamente
quatro diferentes sistemas para acasalar animais selecionados, porém nenhum
deles é satisfatório para todas as situações e objetivos, podendo ser modificados,
adaptados ou combinados de acordo com as necessidades particulares de cada
rebanho. O produtor pode optar pelos acasalamentos ao acaso dos animais
selecionados, que é o método mais fácil e simples, entretanto, neste caso, o
criador deixa de utilizar uma ferramenta que pode colaborar para o aumento
e a consistência de produção do seu rebanho. Vamos analisar agora, segundo
Cardoso (2009), os quatro diferentes sistemas para acasalar animais selecionados.

Acasalamentos entre semelhantes: É o acasalamento de indivíduos que


são semelhantes entre si em desempenho. Os melhores machos são acasalados
com as melhores fêmeas e os piores machos com as piores fêmeas. É utilizado,
em alguns casos, nas raças puras, quando sêmen de alto valor é adquirido pelo
produtor para inseminar suas melhores vacas. É utilizado na prática, quando
um núcleo de animais relativamente pequeno selecionado em uma população
grande, com a finalidade de produzir reprodutores para serem usados no resto
da população.

Acasalamentos compensatórios: São acasalamentos entre indivíduos


de desempenhos diferentes entre si. Assim, um touro excepcional em uma
característica é acasalado com uma fêmea deficiente nessa característica. Esse
acasalamento tem finalidade de compensar deficiências e conduzir a uma
população homogênea. Por exemplo, o produtor pode separar os touros e
vacas de seu rebanho em dois grupos: um de porte grande e outro pequeno. E
na sequência, acasalar vacas grandes com touros menores, para produzir uma
progênie homogênea de tamanho médio.

Consanguinidade: É acasalamento de indivíduos que sejam parentes,


ou seja, possuam ancestrais em comum, gerando filhos consanguíneos. Esse
acasalamento produz indivíduos mais uniformes, porém tem efeito negativo na
produtividade da população, e, principalmente, em características de fertilidade
e rusticidade. Pelos seus efeitos negativos na produção, a consanguinidade deve
ser evitada pelos criadores comerciais.

Cruzamentos: É o acasalamento entre animais de raças diferentes. Esses


sistemas podem e devem ser utilizados na produção comercial para acumular os
benefícios do vigor híbrido e do uso das diferenças e complementaridade entre
raças para produzir animais com desempenho superior em características de
interesse econômico.

169
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

Caro acadêmico, cabe destacar que a inseminação artificial é uma ferramenta


importante em programas de melhoramento genético. Na inseminação artificial
se utiliza touros provados, de linhagens distintas, o que, associado a um sistema
de acasalamento bem conduzido, garante o melhoramento genético do rebanho.
Ao se utilizar a monta natural, as chances de se obter sucesso são menores,
uma vez que um touro não provado, por melhor que seja sua genealogia, não
garante produzir descendentes de alta produção. Assim, sempre que possível,
o produtor deve usar a inseminação artificial em seu rebanho e usar sêmen de
touros provados (CAMPOS; MIRANDA, 2012).

3 VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA INSEMINAÇÃO


ARTIFICIAL
A técnica de Inseminação Artificial pode ser definida como a deposição
mecânica do sêmen no aparelho genital feminino por meio de instrumentos
especialmente definidos para essa finalidade. Nos dias atuais, a inseminação
artificial é considerada a biotecnologia de reprodução assistida que causa maior
impacto em programas de melhoramento animal, como resultado da sua eficiente
forma de dispersão de genes de animais de mérito genético superior (MARTINS
et al., 2009).

Segundo Martins et al. (2009), existem relatos da utilização da inseminação


artificial em equinos pelo povo árabe no século XIV, porém, cientificamente,
o primeiro relato do uso da inseminação artificial ocorreu por volta de 1784,
quando o italiano Lazaro Spallanzani inseminou artificialmente cadelas e obteve
sucesso. O primeiro caso de nascimento de bovinos oriundos de inseminação
artificial ocorreu em 1938. A técnica de inseminação artificial passou a ser usada
comercialmente a partir dos avanços em procedimentos de manipulação do sêmen
e após se comprovar que os espermatozoides podem ser conservados a baixas
temperaturas por longos períodos, de acordo com os estudos dos pesquisadores
Polge, Smith e Parker, em 1949.

O uso comercial da inseminação artificial no Brasil teve início na década


de 1970. No ano de 2014, de acordo com a Associação Brasileira de Inseminação
Artificial (Asbia), o mercado geral de sêmen no Brasil teve crescimento de 4,49%
em comparação ao ano de 2013, sendo que o movimento total foi de mais de 13,6
milhões de doses de sêmen em 2014, diante de pouco mais de 13,0 milhões em 2013.
O relatório divulgado pela Asbia (2014) aponta que as vendas para o consumidor
final, ou seja, vendas diretas para uso, foram de aproximadamente 12,03 milhões
de doses de sêmen. O mercado brasileiro, em 2014, tinha a proporção de 59%
para gado de corte e 41% para gado de leite. Segundo os dados, também tiveram
crescimento o segmento de venda de botijões, com aumento de mais de 6,4%, o
que indica a entrada de novos usuários na utilização da técnica.

170
TÓPICO 4 | MELHORAMENTO GENÉTICO E INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

No entanto, de acordo com Martins et al. (2009), esforços ainda devem


ser realizados para uma maior disseminação da inseminação artificial no país,
tanto para os grandes quanto para os pequenos produtores, pois ambos podem
aumentar os ganhos no seu rebanho e, consequentemente, na lucratividade das
atividades de criação de bovinos. Segundo os autores, para isso é necessária
uma maior disseminação das vantagens da técnica, capacitação da mão de
obra e programas que permitam o financiamento dos instrumentos necessários
para implementar o procedimento de inseminação artificial na propriedade. A
inseminação artificial promove diversas vantagens quando implantada, desde
que seja utilizada de maneira adequada. Entre elas, de acordo com Martins et al.
(2009) e a EMBRAPA (2018), pode-se destacar as seguintes vantagens:

• Aumenta o ganho genético do rebanho por meio de maior exatidão e intensidade


de seleção, pois podem ser utilizados touros comprovadamente superiores.
• Possibilita a melhoria de certas características desejáveis.
• Promove um maior controle das doenças transmitidas sexualmente, pois evita
o contato sexual do touro com a fêmea, e diminui o trânsito de animais entre
fazendas.
• Viabiliza a padronização do rebanho, com a utilização de poucos reprodutores
em muitas vacas.
• Facilita o registro de dados e informações a respeito do manejo e dos animais.
• Permite utilizar, para a reprodução, touros de alto valor zootécnico que possam
ter adquirido problemas que impossibilitem a monta.
• Aumenta o número de filhos de um reprodutor pela maior difusão de seu
sêmen. O número de descendentes pode passar de 650 (em média, durante sua
vida por meio de monta natural) para 100.000, com a inseminação artificial.
• Evita gastos de investimento com a compra de touros.
• Redução dos gastos com o touro na propriedade (medicamento, alimentação e
vacinação).
• Permite cruzamentos alternados entre raças diferentes.
• Possibilidade de nascimento de cria após a morte dos pais.
• Produção de banco de sêmen e sexagem de espermatozoides.

4 LIMITAÇÕES DA INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL


Existem algumas limitações e dificuldades ao se implementar um programa
de inseminação artificial, sendo que uma das principais é a necessidade de mão
de obra treinada para identificar os animais em cio. A baixa eficiência de detecção
dos animais em cio é um fator limitante ao sucesso do programa de inseminação
artificial e pode ser minimizada com as seguintes providências, segundo Martins
et al. (2009), para melhorar a detecção de cios:

• Colaboradores com treinamento adequado, com reciclagens constantes, curso


de capacitação e avaliações de resultados.
• O inseminador deve ser dedicado e comprometido com a atividade de
inseminação artificial.

171
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

• Realização de, no mínimo, duas observações diárias, com duração de, pelo
menos, 30 minutos cada.
• Utilização de ferramentas auxiliares à detecção de cio, como rufiões, buçal
marcador etc.

Martins et al. (2009) também destacam que antes de implantar um sistema


de inseminação artificial é necessário levar em consideração a estruturação da
fazenda. Para isso são necessárias fichas de escrituração zootécnicas (registro de
dados produtivos e reprodutivos) adequadas e instalações apropriadas para a
realização da inseminação artificial (troncos de contenção, água corrente para
higienização do animal a ser inseminado, mesa para preparação de material,
entre outros).

Além disso, um investimento inicial é necessário para implementar um


programa de inseminação artificial na propriedade. Esse investimento inclui a
compra do botijão de sêmen, doses de sêmen, compra do aplicador, bainhas,
termômetro etc. No entanto, esses gastos não devem ser considerados despesas,
e sim investimento, pois seria necessária a compra de um touro reprodutor, caso
não fosse implantado o programa de inseminação artificial na fazenda (MARTINS
et al., 2009).

A inseminação artificial deve ser implantada como um pacote tecnológico,


que inclui mudanças no manejo e nas instalações da fazenda até o treinamento dos
colaboradores envolvidos na atividade. Se a tecnologia for adotada parcialmente
e utilizada de maneira incorreta, provavelmente não terá sucesso, irá resultar na
desmotivação dos colaboradores e do proprietário, além de acarretar prejuízos
financeiros, levando o produtor a desistir de utilizar a técnica (MARTINS et al.,
2009).

5 QUALIFICAÇÃO DA MÃO DE OBRA


De acordo com a EMBRAPA (2018), as propriedades que escolherem
adotar a inseminação artificial, necessariamente precisarão treinar, no mínimo,
um funcionário (que será o inseminador) para que ele adquira os conhecimentos
necessários e esteja apto a adotar as medidas de higiene e a praticar corretamente
os procedimentos que envolvem essa técnica. A inseminação artificial é uma
técnica simples, no entanto, requer alguns cuidados, pois envolve diferentes
procedimentos, desde a observação e a detecção do cio, o momento da
inseminação e sua higiene, o adequado manuseio do botijão de sêmen, o correto
descongelamento e manipulação do sêmen e uma boa prática ao realizar a
inseminação em si. Nesse sentido, o inseminador deve ser bem preparado
e participar de cursos de reciclagem, pois usualmente, ele pode passar a
negligenciar certos cuidados e etapas do processo, fazendo com que possa ocorrer
comprometimento dos resultados.

172
TÓPICO 4 | MELHORAMENTO GENÉTICO E INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

O treinamento e preparo do colaborador para realizar a inseminação


artificial pode ser feito através de cursos de capacitação de inseminadores,
que são geralmente realizados nas centrais de congelamento de sêmen, escolas
agrotécnicas, entidades do governo (como o Senar e a Embrapa), universidades
e também podem acontecer nas próprias fazendas, conforme haja interesse dos
pecuaristas e seja combinado com a instituição que aplica o curso (EMBRAPA,
2018).

Vale destacar que a inseminação artificial, por ser uma técnica de fácil
realização e intensificar o melhoramento genético do rebanho, apresenta diversas
vantagens para o grande e o pequeno produtor. No entanto, para que obtenha
bons resultados, a propriedade deve apresentar organização no manejo, na
alimentação, reprodução e sanidade do rebanho. Além disso, para obter bons
índices e aumentar a taxa de prenhez do rebanho pela inseminação artificial, a
mão de obra da propriedade deve passar por treinamento técnico adequado e sua
aplicação deve ser realizada de maneira correta (MARTINS et al., 2009).

Prezado acadêmico, desse modo, concluímos nosso estudo sobre a cadeia


produtiva da bovinocultura. Esperamos que os conhecimentos adquiridos a
partir deste livro de estudos tenham contribuído em sua aprendizagem e sua
futura atuação profissional. Além disso, esperamos que os assuntos abordados o
estimulem a pesquisar e aprofundar os estudos sobre essa área.

173
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

LEITURA COMPLEMENTAR

MELHORAMENTO GENÉTICO EM BOVINOS DE CORTE (BOS INDICUS)

Cicero Pereira Barros Júnior, Laylson da Silva Borges, Paulo Henrique


Amaral Araújo de Sousa, Marcelo Richelly Alves de Oliveira, Diego Helcias
Cavalcante, Tiago Vieira de Andrade, Claudemiro Duarte Barros, Severino
Cavalcante de Sousa Júnior.

INTRODUÇÃO

O melhoramento animal é a atividade envolvida no processo contínuo de


criação, seleção e reprodução dos animais domésticos, tem como objetivo básico
alterar as características dos animais produzidos na geração seguinte, na direção
desejada pelo homem. O melhoramento da produção animal pode ser obtido, então,
pelo melhoramento do ambiente, por meio de mudanças nos manejos nutricionais,
sanitários e reprodutivos e pelo melhoramento genético, que pode ser realizado
por meio de seleção, sistemas de acasalamento e cruzamento.

O melhoramento do ambiente é um processo rápido, temporário e de


elevado custo em mão de obra e insumos. Entretanto, o melhoramento genético
voltado para bovinos de corte é demorado, só que permanente, podendo também
apresentar custos elevados. As características de crescimento e reprodução, em
bovinos de corte, estão diretamente ligadas aos custos de produção da atividade
pecuária. A seleção com base nas características de crescimento é comum nos
programas atuais de melhoramento genético.

Com o desenvolvimento da pecuária e a necessidade de aprimorar o


rebanho para ser mais competitivo comercialmente, o pecuarista está cada vez mais
buscando novos métodos de melhorar as características de interesse econômico. A
precocidade de crescimento é, sem dúvida, uma das características mais desejáveis.
Por meio dela pode-se aumentar a eficiência para ganho de peso, reduzir o tempo
de permanência dos animais a pasto e minimizar tanto os gastos quanto o tempo
para o abate (GUIDOLIN et al., 2009).

Nos programas de melhoramento genético de bovinos de corte são


consideradas como critério de seleção, principalmente, características produtivas,
como pesos obtidos em diferentes idades. Essas medidas são de fácil obtenção,
apresentam correlações positivas com outras características de interesse econômico,
além de responderem à seleção individual, uma vez que apresentam coeficientes
de herdabilidade de média magnitude. Sendo assim, o objetivo desta revisão
é de compilar informações a respeito do melhoramento genético de algumas
características de produção, assim como averiguar o efeito do ambiente sobre
algumas dessas características econômicas em bovinos de corte (Bos indicus).

174
TÓPICO 4 | MELHORAMENTO GENÉTICO E INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

CARACTERÍSTICAS DE INTERESSE ECONÔMICO EM BOVINOS DE CORTE


(BOS INDICUS)

Peso ao desmame (PD)

As características de crescimento, principalmente as medidas nas fases


iniciais do desenvolvimento do animal, como peso ao desmame, podem ser bons
critérios de seleção para o aumento da eficiência produtiva (FERRAZ FILHO et
al., 2002).

Contudo, esta característica, medida em torno dos 205 dias de idade do


animal, é determinada pela sua genética e pelos efeitos maternos, tais como
ambiente materno intrauterino, produção de leite e habilidade materna da vaca
a que o bezerro foi submetido na primeira fase de vida (EVERLING et al., 2001;
MARCONDES et al., 2000; MEYER, 1992; OLIVEIRA et al., 2002; PIMENTA FILHO
et al., 2001).

Entre os fatores que determinam a expressão fenotípica de peso ao


desmame, a idade da mãe ao parto aparece como efeito significativo. Vacas com
idade entre quatro e oito anos produzem bezerros com peso ao desmame maior que
aquelas com idade abaixo de quatro anos e acima de oito anos, o que está associado
à maior produção de leite nesta faixa de idade da vaca (FRIES, 2015; OLIVEIRA et
al., 2002; PIMENTA FILHO et al., 2001; SOUZA et al., 2002).
[...]

Ganho de peso aos 345 dias (GP345)

Tradicionalmente, características de crescimento ponderal, que mostram


o potencial e a velocidade de crescimento do animal, são incluídas nas avaliações
genéticas no Brasil, possibilitando a seleção de animais mais precoces. O período
de pós-desmame é considerado, por muitos pesquisadores, uma fase importante
para a avaliação genética dessas características em bovinos de corte, pois ela
corresponde à fase próxima ao abate e não recebe influência direta dos efeitos
maternos (CARDOSO et al., 2001).

O ganho de peso é uma característica que pode sofrer grande influência


ambiental, dependendo da estação do ano em que ocorre a desmama, em relação
à quantidade e à qualidade da pastagem disponível para alimentação (MASCIOLI
et al., 2000).
[...]

175
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

CARACTERÍSTICAS DE REPRODUÇÃO EM BOVINOS DE CORTE (BOS


INDICUS)

Idade ao Primeiro Parto (IPP)

A idade ao primeiro parto (IPP) é a característica reprodutiva medida nas


fêmeas mais utilizadas na avaliação da precocidade sexual de bovinos de corte.
Esta característica é reflexo da idade à puberdade que, por sua vez, está relacionada
à velocidade de crescimento da fêmea.

Esta característica é obtida pela diferença entre a data do primeiro parto e


a data de nascimento da fêmea que, nos rebanhos comerciais brasileiros, fica em
torno de 35 a 47 meses (AZEVÊDO et al., 2006; GUNSKI et al., 2001).

Porém, a seleção desta característica não é fácil e o efeito ambiental deve


ser levado em consideração. A idade ao primeiro parto é altamente dependente
da nutrição (quando inadequada, as vacas tendem a usar suas reservas corporais,
afetando a eficiência reprodutiva), do sexo da cria (a gestação de crias do sexo
masculino é mais longa), da idade na qual as fêmeas são incorporadas à reprodução
(a primeira exposição ao touro ou inseminação deve ser a partir dos 12 meses) e
do manejo reprodutivo utilizado na fazenda (AZEVÊDO et al., 2006; GRESSLER
et al., 2000).
[...]

Perímetro Escrotal ao Sobreano

O perímetro escrotal apresenta estimativas de correlações genéticas


positivas com características de sêmen e crescimento (KNIGHTS et al., 1984) e
com ocorrência de prenhez em fêmeas jovens (SILVA et al., 2005) e negativas com
idade à puberdade em machos e fêmeas e com idade ao primeiro parto em fêmeas
(SILVA et al., 2000; PEREIRA et al., 2000, 2002). Além disso, o perímetro escrotal
é de fácil mensuração e apresenta estimativa de herdabilidade mais alta que as
características reprodutivas das fêmeas, podendo ser utilizada como critério de
seleção para as mesmas.

Apesar de a seleção para perímetro escrotal não proporcionar benefícios


econômicos diretos, sua correlação genética favorável com algumas características
reprodutivas e de crescimento de importância econômica pode levar a ganhos,
em longo prazo, na produtividade do rebanho (GIANLORENÇO et al., 2003;
GRESSLER et al., 2000; PEREIRA et al., 2000).
[...]

176
TÓPICO 4 | MELHORAMENTO GENÉTICO E INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

Efeitos ambientais fixos relacionados às características de interesse


econômico ganho de peso (GP)

A grande importância econômica da pecuária de corte nacional norteia


a necessidade de maximizar a eficiência do sistema de produção, ajustando-se
às mudanças socioeconômicas que vêm ocorrendo no mundo. Neste contexto,
é necessário conhecer os fatores que influenciam o desempenho dos bovinos de
corte para características de interesse econômico, como fontes de variações não
genéticas, para eliminar as diferenças causadas pelo ambiente, evidenciando os
animais geneticamente superiores.

Crescimento rápido e adequado é desejável nos bovinos de corte, sendo


que animais que apresentam maiores ganhos em peso necessitam de menos dias
para atingirem o peso ideal de reprodução e/ou abate, tornando-se assim mais
rentáveis e interessantes economicamente. É também de extrema importância
o conhecimento de quanto das diferenças observadas nas características de
interesse no melhoramento deve-se a fatores genéticos aditivos, ou seja, aqueles
transmissíveis às futuras progênies por meio da seleção.

A decomposição dos componentes da variância fenotípica em variância


genética e ambiental, baseada no princípio de que semelhança fenotípica entre
parentes fornece informações a respeito do grau de diferenciação genética, é de
particular interesse, por ser o determinante primário do grau em que as progênies
se assemelham aos pais, constituindo assim o fator que governa a taxa de resposta
de um caráter à seleção. Portanto, uma das prioridades é melhorar a precocidade
dos animais que serão utilizados como reprodutores e matrizes, possibilitando
a disseminação deste material genético de forma mais rápida, além de incluir
indicadores que aumentem a qualidade de carne produzida e obter desempenhos
reprodutivos mais compatíveis com a moderna pecuária bovina.

Efeitos Ambientais e Genéticos sob escores

Com a competitividade na pecuária de corte brasileira é necessário produzir


carne de qualidade em sistemas de produção rentáveis, o que requer, entre outros,
o uso de animais adequados às condições do ambiente de produção (MUNIZ;
QUEIROZ, 1998).

A expressão das características fenotípicas do indivíduo é resultado da


ação de seus genes, dos efeitos ambientais e suas interações, e o conhecimento e
a estimativa de fatores de ajuste para esses efeitos (genéticos e de ambiente) são
fundamentais para aumentar a precisão da seleção em programas de melhoramento
animal.

Como complementação às medidas de crescimento e escore corporal,


vários programas de melhoramento genético têm adotado medidas de avaliação
visual por escores. Por meio dos escores de conformação, avalia-se o potencial de

177
UNIDADE 3 | GESTÃO E CONTROLE PRODUTIVO NA BOVINOCULTURA

produção de carcaças adequada à produção de carne. Na avaliação de precocidade,


tenta-se predizer a capacidade do animal de atingir grau de acabamento mínimo
de carcaça com peso vivo não elevado.

Para musculatura, avalia-se o desenvolvimento muscular do animal como


um todo. Alguns autores, como Cardoso et al. (2001) e Dibiasi (2003), destacaram
a importância dos efeitos da idade da vaca ao parto e da idade do bezerro à
desmama sobre os escores visuais. Estes trabalhos foram realizados utilizando-se
dados de animais formadores da raça Brangus com o objetivo de identificar efeitos
ambientais e genéticos que afetam os escores visuais de conformação, precocidade
e musculatura à desmama e o ganho de peso pré-desmama.

Efeitos Ambientais sob a Gestação em Bovinos de Corte

Os problemas reprodutivos são os principais limitantes da eficiência


produtiva em bovinos de corte no Brasil. Entretanto, os programas de melhoramento
genético mais tradicionais dão mais ênfase às características de desempenho
ponderal. A inclusão de características reprodutivas é de suma importância para
os programas de melhoramento que visem à otimização da produção de carne.

A duração da gestação, embora não seja propriamente uma medida de


fertilidade, é estreitamente relacionada com o período reprodutivo. Bezerros
provenientes de gestações mais curtas nascem mais leves e tendem a produzir mais
kg/hectare/ano, o que representa, em média, maior intervalo entre o nascimento
e a desmama. O período de gestação é geralmente correlacionado com o peso ao
nascer e com a facilidade de parto, não sendo esta considerada uma característica
economicamente importante quando avaliada isoladamente, mas sim como uma
característica reprodutiva auxiliar no processo de seleção.

Efeitos Ambientais Aleatórios (genético) sobre o Período de Gestação

A inclusão de características reprodutivas é de suma importância para os


programas de melhoramento que visem à otimização da produção de carne. A
duração da gestação, embora não seja propriamente uma medida de fertilidade, é
estreitamente relacionada com o período reprodutivo. Bezerros provenientes de
gestações mais curtas nascem mais leves e tendem a produzir mais kg/hectare/
ano, o que representa, em média, maior intervalo entre o nascimento e a desmama.

O período de gestação é geralmente correlacionado com o peso ao nascer


e com a facilidade de parto, não sendo esta considerada uma característica
economicamente importante quando avaliada isoladamente, mas sim como uma
característica reprodutiva auxiliar no processo de seleção.

Alguns trabalhos, como os de Azzam e Nielsen (1987), verificaram variação


genética entre animais para o período de gestação, sugerindo a inclusão dessa
característica em programas de seleção. Entretanto, essas informações são escassas
para bovinos de origem indiana (Bos indicus) e seus cruzamentos.

178
TÓPICO 4 | MELHORAMENTO GENÉTICO E INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Parte do progresso alcançado pelo setor produtivo de carne de bovinos (Bos


indicus) do país foi consequência do melhoramento genético dos rebanhos. As pressões
de mercado e de competitividade impostas sobre o setor continuam a exigir melhorias
do potencial genético dos animais e sua adequação ao ambiente e ao manejo.

A seleção de animais superiores e mais bem adaptados aos vários tipos de


ambiente e de manejo deve fornecer subsídios para que o produtor aumente a sua
produção e o lucro da sua propriedade.

FONTE: BARROS JÚNIOR, C. P. et al. Melhoramento Genético em Bovinos de Corte (Bos


indicus). Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.1, p.4558-4564, jan./fev., 2016.

DICAS

Acadêmico, se você quiser se aprofundar com a leitura do artigo completo,


acesse o endereço da revista eletrônica Nutritime. <http://www.nutritime.com.br/arquivos_
internos/artigos/362_-_4558-4564_-_NRE_13-1_jan-fev_2016.pdf>.

179
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você aprendeu que:

• Através do melhoramento genético os produtores podem aumentar a eficiência


de produção e a lucratividade de seus rebanhos, por meio de princípios
genéticos.

• A produção ou desempenho de um animal depende de dois fatores: da genética,


ou seja, dos genes que o animal possui, e do ambiente de criação, que inclui a
alimentação, sanidade, manejo, entre outros.

• Um rebanho de desempenho e qualidade superiores pode ser formado


pelo melhoramento genético sem custos elevados e em qualquer nível de
alimentação.

• Os dois princípios mais importantes para o melhoramento genético são a


seleção e os sistemas de acasalamento.

• A seleção tem por objetivo que os melhores animais sejam aqueles que deixam
um maior número de filhos na próxima geração.

• Os sistemas de acasalamento têm a finalidade de determinar como serão


combinadas as características dos animais selecionados e planejar cruzamentos
para explorar vigor híbrido e a complementaridade entre raças com
características diferentes.

• Existem basicamente quatro diferentes sistemas para acasalar animais


selecionados: acasalamentos entre semelhantes, acasalamentos compensatórios,
consanguinidade e cruzamentos.

• A técnica de inseminação artificial pode ser definida como a deposição


mecânica do sêmen no aparelho genital feminino por meio de instrumentos
especialmente definidos para essa finalidade.

• A inseminação artificial promove diversas vantagens quando implantada,


desde que seja utilizada de maneira adequada.

• Existem algumas limitações e dificuldades ao se implementar um programa de


inseminação artificial, sendo que uma das principais é a necessidade de mão de
obra treinada para identificar os animais em cio.

180
• A inseminação artificial deve ser implantada como um pacote tecnológico, que
inclui mudanças no manejo e nas instalações da fazenda até o treinamento dos
colaboradores envolvidos na atividade.

181
AUTOATIVIDADE

Agora estamos prontos para fazermos nossa autoavaliação de conhecimento.


Vamos testar o quanto avançamos no domínio do conhecimento do
melhoramento genético e da inseminação artificial.

1 Neste tópico, vimos que os sistemas de acasalamento consistem em


determinar qual touro ou qual tipo de touro será acasalado com cada
fêmea ou cada tipo de fêmea. Os quatro diferentes sistemas para acasalar
animais selecionados são: acasalamentos entre semelhantes, acasalamentos
compensatórios, consanguinidade e cruzamentos. Sobre os sistemas para
acasalar animais selecionados, analise as seguintes sentenças:

I- A consanguinidade produz indivíduos mais uniformes, aumenta a


produtividade da população e melhora as características de fertilidade e
rusticidade.
II- Nos acasalamentos compensatórios, os melhores machos são acasalados
com as melhores fêmeas e os piores machos com as piores fêmeas.
III- O acasalamento entre semelhantes é o acasalamento de indivíduos que
sejam parentes, ou seja, possuam ancestrais em comum.
IV- Os cruzamentos são o acasalamento entre animais de raças diferentes
e são utilizados para produzir animais com desempenho superior em
características de interesse econômico.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a afirmativa IV está correta.
b) ( ) Todas as afirmativas estão incorretas.
c) ( ) As afirmativas II e IV estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

2 A partir do estudo deste tópico, vimos que nos dias atuais a inseminação
artificial é considerada a biotecnologia de reprodução assistida que causa
maior impacto em programas de melhoramento animal, como resultado da
sua eficiente forma de dispersão de genes de animais de mérito genético
superior. A inseminação artificial promove diversas vantagens quando
implantada, no entanto, existem algumas limitações e dificuldades ao se
implementar um programa de inseminação artificial. Sobre as vantagens
e limitações da inseminação artificial, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) A inseminação artificial aumenta o ganho genético do rebanho, pois


podem ser utilizados touros comprovadamente superiores e por aumentar
a eficiência de detecção dos animais em cio.
( ) A inseminação artificial aumenta o número de filhos de um reprodutor
pela maior difusão de seu sêmen. O número de descendentes pode passar
de 650 para 100.000, com a inseminação artificial.
182
( ) A inseminação artificial promove um maior controle das doenças
transmitidas sexualmente, pois evita o contato sexual do touro com a
fêmea, além de diminuir o trânsito de animais entre fazendas.
( ) A inseminação artificial permite cruzamentos alternados entre raças
diferentes, permite a possibilidade de nascimento de cria após a morte dos
pais e a produção de banco de sêmen e sexagem de espermatozoides.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – V – V.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) F – V – V – F.

183
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