Você está na página 1de 7

Investigação, 14(6):31-37, 2015

REVISÃO DE LITERATURA | CLÍNICA DE

TRATAMENTO DA
PEQUENOS ANIMAIS

LEPTOSPIROSE CANINA:
UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Canine leptospirosis treatment : a systematic review

1
Universidade de Franca - UNIFRAN, Franca, São Paulo, Brasil.
MV. Orlando M. Mariani1*, MV. Dr. Paulo C. Ciarlini2, MV. Elaine C. Stupak1, MV. Dr. Cristiane S. Honsho1, 2
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – Araçatuba, São Paulo, Brasil.
MV. Jessica C. Barros1, MV. Natacha A. Alexandre1 *Av. Dr Armando Sales Oliveira, 201, CEP: 14.404-600, Pq. Universitário, Franca – SP.
Email: omm1988@hotmail.com

RESUMO ABSTRACT
No tratamento da leptospirose canina podem ser empregados diferentes tipos e formulações de antibióticos, porém As treatment of canine leptospirosis can be employed various types and antibiotic formulations, but the efficiency
a eficiência dos mesmos ainda não foi adequadamente revisada. Desta forma, realizou-se uma revisão sistemática na thereof has not been adequately reviewed. Thus, there was a systematic review in which we evaluated the effectiveness
qual foi avaliada a eficácia da antibioticoterapia no tratamento da leptospirose em cães. Três bases de dados (Pubmed, of antibiotic therapy in the treatment of leptospirosis in dogs. Three databases ( Pubmed , Scielo and Bireme) were
Scielo e Bireme) foram utilizadas para testar três hipóteses: Os tratamentos da leptospirose canina com antibióticos são used to test three hypotheses: The treatment of canine leptospirosis with antibiotics are more effective than placebo;
mais efetivos do que o placebo; o tratamento da leptospirose canina com antibióticos não promove efeitos colaterais Treatment of canine leptospirosis with antibiotics does not promote undesirable side effects; The drug of choice for the
indesejáveis; a droga de escolha para o tratamento da leptospirose canina é a doxiciclina. Os critérios de inclusão foram treatment of canine leptospirosis is doxycycline. Inclusion criteria were any clinical trial, systematic review and meta-
qualquer tipo de estudo clínico, revisão sistemática e meta-análise, em língua portuguesa e inglesa, que tenham avaliado analysis, in Portuguese and English, which have evaluated the efficacy and side effects of any antibiotic in patients
a eficácia e efeitos colaterais de qualquer antibiótico em pacientes com leptospirose, independentemente da forma de with leptospirosis, whatever the form of confirmation of the diagnosis. We selected twelve studies published between
confirmação do diagnóstico. Foram selecionados doze estudos, publicados entre 1996 e 2010. Ao contrário dos estudos 1996 and 2010. Unlike the studies performed in humans, no study with dogs report any side effects associated with
realizados em humanos, nenhum estudo realizado com cães relata qualquer tipo de efeito colateral associado à terapia antibiotic therapy. In the literature reviewed there is no research that compares the effectiveness of doxycycline with
com antibióticos. Na literatura revisada não há qualquer investigação que compare a eficácia da doxiciclina com outras other classes of antibiotics or placebo in dogs. There is no scientific evidence that the treatment of canine leptospirosis
classes de antibióticos ou placebo em cães. Não há evidências científicas que os tratamentos da leptospirose canina with antibiotics are more effective than placebo , with so there are no reliable studies to assert that such treatments do
com antibióticos são mais efetivos do que o placebo, assim com não há estudos confiáveis que permitam afirmar que not cause undesirable side effects. Therefore it was not possible to conclude that doxycycline is the treatment of choice
tais tratamentos não causem efeitos colaterais indesejáveis. Portanto não foi possível concluir que a doxiciclina é o for the treatment of canine leptospirosis.
tratamento de escolha para o tratamento da leptospirose canina.
Keywords: dog, doxycycline, leptospiremia, placebo, side effects
Palavras-chave: cão, doxiciclina, efeitos colaterais, leptospiremia, placebo
ISSN 21774080

31
Investigação, 14(6):31-37, 2015

INTRODUÇÃO
A leptospirose é uma enfermidade infecciosa de renal e/ou hepática, uveíte, hemorragia pulmonar, febre aguda discordantes. Portanto, para a escolha do tratamento mais eficaz,
importância mundial, pois afeta seres humanos e animais. O e aborto (SYKES et al. 2011). o ideal seria realizar uma revisão sistemática de ensaios clínicos,
gênero Leptospira é dividido em duas espécies, L. interrogans, pois além de ser um método reprodutível, apresenta critérios
Leucopenia seguida de leucocitose, anemia, hiponatremia,
considerado patogênico para humanos e animais e L. biflexa, definidos de avaliação, para inclusão e exclusão de estudos,
hipocalcemia, hiperfosfatemia, hipoalbuminemia, azotemia,
classificada como não patogênica (LEVETT, 2001). Os cães de acordo com sua qualidade. Neste sentido Guidugli (2000)
hiperbilirrubinemia, aumento de ALT, FA e AST são achados
podem se infectar por diferentes sorovares da espécie realizou uma revisão de literatura sistemática e metanálise
laboratoriais que podem estar presentes em animais doentes
L. interrogans, sendo o icterohaemorrhagiae, grippotyohosa, sobre o tratamento da leptospirose em humanos e concluiu
(LAPPIN, 2006).
pomona e bratislava os mais comuns (GREENE, 2006). que não é possível determinar a efetividade nem a segurança
O teste de aglutinação microscópica (MAT) é o teste dos antibióticos, incluindo a doxiciclina, devido à ausência de
O gênero patogênico pode infectar o hospedeiro, a laboratorial mais utilizado para a detecção de anticorpos anti- poder estatístico e à baixa qualidade dos estudos. O mesmo
partir da água contaminada com urina de animais doentes ou Leptospira (LANGSTON e HEUTER, 2003). O diagnóstico definitivo autor constatou que em relação à leptospirose humana não há
portadores, através da pele lesada ou íntegra, pela mucosa do é obtido através da identificação do agente na urina, sangue ou ensaios clínicos aleatórios que tenham comparado diferentes
trato gastrointestinal, nasal e conjuntival (CORRÊA e CORRÊA, tecidos. Essa identificação pode ser feita pela microscopia de tipos de antibióticos entre si, ou outros regimes terapêuticos com
1992). Após penetrar no organismo do hospedeiro, a bactéria campo escuro ou contraste de fase da urina e por PCR de fluídos antibióticos que não sejam penicilina e doxiciclina comparadas
se multiplica de forma rápida e ativamente no sangue dando biológicos (LEVETT, 2001). ao placebo.
origem à fase de leptospiremia. Em seguida, espalha-se
O tratamento da leptospirose canina varia de acordo O tratamento da leptospirose canina com antibióticos vem
rapidamente pelo organismo, replicando-se em diversos
com cada caso específico. Entre as condutas terapêuticas, sendo empregado há muitos anos e não obstante à resistência
tecidos como o fígado, baço, rins, sistema nervoso central, olhos microbiana a estes fármacos tenha sido relatada (GREENE, 2006),
as que se destacam incluem a hidratação e correção dos
e no trato genital (GREENE, 2006). Sherding (2003), afirma que a eficácia dessa terapia não tem sido adequadamente revisada.
distúrbios hidroeletrolíticos, diálise, transfusão sanguínea
a leptospiremia ocorre entre quatro e doze dias pós-infecção e e antibioticoterapia (GUIDUGLI, 2000). Existe uma gama de Neste sentido foi realizada uma revisão de literatura sistemática
que os alvos primários são os rins e o fígado. antibióticos (doxiciclina, penicilina, ampicilina, amoxicilina, sobre a efetividade e segurança de antibióticos no tratamento
Em cães, a enfermidade é caracterizada por diversos sinais quinolonas e macrolídeos) de diferentes formulações e doses da leptospirose em cães.
clínicos, podendo os animais infectados apresentarem desde um que podem ser considerados no tratamento da leptospirose
DESENVOLVIMENTO
quadro assintomático até forma superaguda, aguda, subaguda canina, dentre eles a doxiciclina por via oral na dose de 5 mg/kg a
ou crônica da doença (FREIRE et al. 2008). A severidade dos cada 12 horas durante o período de três semanas, é considerada Tendo como base as diretrizes da Medicina baseada em
a droga de escolha (GREENE, 2006; GOLDSTEIN, 2010). evidências realizou-se uma revisão sistemática que objetivou
sinais clínicos varia de acordo com o estado de vacinação do
testar as seguintes hipóteses:
cão, idade, virulência do sorovar, grau de exposição à doença e Segundo Guidugli (2000) o estudo clínico randomizado é
resposta imune do hospedeiro (McDONOUGH, 2001). Em suma, considerado o melhor tipo de estudo para determinar a eficácia
os Médicos Veterinários devem suspeitar de leptospirose em de uma droga no tratamento de determinada doença, entretanto,
casos em que os cães apresentem sinais clínicos de insuficiência mesmo este modelo de investigação pode apresentar resultados

ISSN 21774080

32
Investigação, 14(6):31-37, 2015

1. Os tratamentos da leptospirose canina com antibióticos tratamento da Leptospirose (Quadro 1). Dos doze artigos Leptospira na urina, sangue e tecidos, função renal e hepática
são mais efetivos do que o placebo. selecionados, três foram relatos de caso, um foi série de casos, dos pacientes. Porém os fatores de maior relevância para a
três foram ensaios clínicos randomizados, quatro foram ensaios avaliação eram a taxa de sobrevivência e cura clínica.
2. O tratamento da leptospirose canina com antibióticos
clínicos controlados e uma revisão sistemática com meta-análise
não promove efeitos colaterais indesejáveis. Ressalta-se que nenhum estudo realizado em cães recebeu
(Quadro 1). Três estudos foram realizados com humanos doentes
a pontuação três que garante a qualidade mínima conforme
3. A droga de escolha para o tratamento da leptospirose naturalmente infectados (DAHER, 2000; COSTA et al. 2003;
Jadad (1996).
canina é a doxiciclina. PHIMDA et al., 2007), três utilizaram hamsters inoculados com
leptospiras de diferentes sorovares (TRUCOLLO, 2002; MOON et
Para tal foi elaborada uma pergunta estruturada de acordo
al. 2006; GRIFFITH et al. 2007 ) e cinco estudos foram realizados
com a situação, intervenção e desfecho, conforme preconizado
com cães doentes, naturalmente infectados por diferentes
Castro (2001): Quais antibióticos são eficazes no tratamento da
sorotipos de leptospiras (BROWN et al.1996; KALLIN et al. 1999;
leptospirose canina? Tal pergunta gerou a seguinte estratégia
MATHEWS, 2001; CLAUS, 2008; OLIVEIRA, 2010).
para busca na base de dados Pubmed, Scielo e Bireme
(((leptospirosis) AND (treatment) AND (canine) AND (antibiotic))). Os trabalhos de maior confiabilidade, ou seja, os ensaios
clínicos randomizados e a revisão sistemática, compararam
A pesquisa sistemática foi realizada entre os meses de
a penicilina com placebo, doxiciclina com azitromicina e
dezembro de 2012 e janeiro de 2013. Em todas as bases de
penicilina com controle (DAHER, 2000; COSTA et al. 2003),
dados foi utilizada a ferramenta “full text available”. Não foi
sendo que o tratamento controle não foi descrito no tratamento
utilizado limite de data de publicação, sendo incluindo apenas
da leptospirose humana. Estudos não randomizados, de
textos em inglês e português. Com base na análise dos títulos
menor qualidade, avaliaram o uso da amoxicilina, ampicilina,
e resumos, foram selecionados qualquer tipo de estudo clínico,
azitromicina, ciprofloxacina, claritromicina, doxiciclina,
revisão sistemática e metanálise que tenham avaliado a eficácia
gatifloxacina, levofloxacina, ofloxacina, penicilina, telitromicina
e efeitos colaterais de qualquer antibiótico em pacientes com
no tratamento de hamsters e cães doentes.
leptospirose, independentemente da forma de confirmação do
diagnóstico. Devido à escassez de publicações sobre a espécie Os estudos avaliaram tanto indivíduos suspeitos quanto
canina (n=4), estudos realizados em outras espécies também casos confirmados da doença. Pode-se observar que os artigos
foram incluídos e a pesquisa foi complementada utilizando-se selecionados para a presente revisão variaram entre si quanto
os termos “treatment and leptospirosis canine” no site Google ao tipo do estudo, amostra, tratamento, via de administração e
acadêmico. tempo de tratamento.
Dos 164 artigos localizados, foram selecionados e analisados Como forma de avaliar a eficiência dos tratamentos, os
doze, que avaliaram a eficácia de diferentes antibióticos no estudos levaram em consideração fatores como presença de

ISSN 21774080

33
Investigação, 14(6):31-37, 2015

Quadro 1. Resumo da eficácia e efeitos colaterais de tratamentos da leptospirose em diferentes espécies, de acordo com o tipo de estudo, qualidade (pontuação Jadad), tipo e tempo de uso do antibiótico.
Referência Estudo Jadad Espécie (N) Tratamento Tempo Efeitos Colaterais Resultados
Ampicilina, Doxiciclina, Amoxicilina, Ausência de 2 (18) cães eutanaziados; 8 (82%) sobreviveram e 2 recuperaram a função
Brown et al. (1996) SC 0 Canina (11) 2 – 4 semanas
Penicilina. efeitos colaterais. renal.
Amoxicilina (20mg/kg IV. TID e 10mg/
Ausência de 5 (83%) sobreviveram e recuperaram a função renal. Apenas um animal
Claus (2008) RC 0 Canina (6) kg VO. BID) seguida de Doxiciclina 4 semanas
efeitos colaterais. foi eutanaziado.
(10mg/kg VO. BID).
Penicilina (6000000U/dia dividida em
Costa et al. (2003) ECR 3 Humano (253) 7 dias NI Penicilina: 110 (88%) sobreviveram; Controle: 120 (94,7) sobreviveram.
6 doses de 1000000U); Controle.
Penicilina
Daher (2000) ECR 3 Humano (35) Penicilina (6000000U/dia); Controle. 8 dias aumentou a Penicilina: 15 (94%) sobreviveram.
proteinúria.
Grupo Controle: 50 (100%) vieram a óbito; Doxiciclina: 49 (98%)
sobreviveram; Levofloxacina: 48 (95%) animais tratados com 25 e 50mg/
Docixiclina (5mg/kg IP SID);
kg sobreviveram e 20 (40%) animais tratados com 5mg/kg sobreviveram;
Ciprofloxacina (5, 25 e 50 mg/kg IP
Diarréia induzida Ciprofloxacina: 45 (90%) animais tratados com 50mg/kg sobreviveram, 30
SID); Gatifloxacina (5, 25 e 50 mg/
Griffith et al. (2007) ECC 0 Hamster (250) 5 dias pela Gatifloxacina (60%) animais tratados com 25mg/kg sobreviveram e todos os animais
kg IP SID); Levofloxacina (5, 25 e 50
(50 mg/kg) tratados com 5mg/kg morreram antes do final do estudo; Gatiflixacina:
mg/kg IP SID); Controle (não recebeu
45 (90%) animais tratados com 5mg/kg sobreviveram, 50 (100%) animais
tratamento).
tratados com 25mg/kg sobreviveram e 30 (60%) animais tratados com
50mg/kg sobreviveram.
Penicilina e Doxiciclina: 74 (99%) sobreviveram; Placebo 72 (96%)
Guidugli (2000) RSM _ Humano (150) Placebo; Doxiciclina; Penicilina. NI NI
sobreviveram.
Caso 1 e 2: Penicilina G (40000 U/
Kg dividida em duas doses) seguida
de Amoxicilina (350mg VO. BID) + Trat. 1 e 2: 5
Ausência de
Kalin et al. (1999) RC 0 Canina (3) Doxiciclina (75mg VO. BID) e Caso 3: semanas; Trat. 3 (100%) sobreviveram e foram curados.
efeitos colaterais.
Ampicilina (22 mg/kg IV.) seguida de 3: 4 semanas
Amoxicilina (250mg VO. BID) seguida
de Doxiciclina (60 mg VO. BID).

ISSN 21774080

34
Investigação, 14(6):31-37, 2015

Controle: Ampicilina (20mg/kg IV


Ausência de Ampicilina: 5 (71%) sobreviveram; Ampicilina + Diltiazem: 11 (100%)
Mathews (2001) ECC 0 Canina (18) QID); Ampicilina (20mg/kg IV QID) + 1 - 7 dias
efeitos colaterais. sobreviveram.
Diltiazem (0,2-0,5mg/kg IV lenta).
Doxiciclina (50
e 100 mg/kg) Controle 1:Todos os animais vieram à óbito; Controle 2: 9 (90%) animais
Controle 1 (não recebeu tratamento); causou diarreia; sobreviveram; Doxiciclina 1 e 50mg/kg: 8 (80%) animais sobreviveram;
Controle 2 (doxiciclina 5mg/kg IP Azitromicina (100 Doxiciclina 100mg/kg: 9 (90%) animais sobreviveram; Doxiciclina 5,
SID); Doxiciclina (1, 5, 10, 15, 50, e e 100 mg/kg) 10, 15mg/kg: 10 (100%) animais sobreviveram; Todos os animais (60)
100 mg/kg IP SID); Azitromicina (6.25, causou agitação tratados com Azitromicina sobreviveram; Telitromicina: 59 (98%) animais
Moon et al. (2006) ECC 0 Hamster (200) 5 dias
12.5, 25, 50, 100, e 200 mg/kg IP SID); e desconforto sobreviveram; Claritromicina 1, 5, 10, 15mg/kg: Todos os animais (40)
Telitromicina (1, 5, 10, 15, 20, e 40 mg/ abdominal; vieram à óbito; Claritromicina 60mg/kg: 9 (90%) animais sobreviveram;
kg IP SID); Claritromicina (1, 5, 10, 15, Telitromicina (15, Claritromicina 100mg/kg: 7 (70%) animais sobreviveram; Claritromicina
20, e 40 mg/kg IP SID). 20 e 40 mg/kg) 40mg/kg: 6 (60%) animais sobreviveram; Claritromicina 20mg/kg: 3 (30%)
causou agitação e animais sobreviveram.
descarga nasal.
Ausência de
Oliveira (2010) RC 0 Canina (4) Doxiciclina (5mg/kg VO BID). 2 semanas Todos os animais sobreviveram até o final do estudo.
efeitos colaterais.
Vômito e náusea,
Doxiciclina (200mg/kg VO na primeira Doxiciclina:
principalmente
dose seguida de 100mg/kg VO BID); 7 dias Doxiciclina: 140 (96,5) pacientes sobreviveram; Azitromicina: 147 (97,4%)
Phimda et al. (2007) ECR 3 Humano (296) em pacientes
Azitromicina: (1g de dose inicial Azitromicina: 2 pacientes sobreviveram.
tratados com
seguido de 500mg SID). dias
Doxiciclina.
Ampicilina 40mg/kg: Ao final do estudo esta dose não foi suficiente para
eliminar a Leptospira do organismo dos animais; Ampicilina 100mg/kg:
Ampicilina (40 e 100mg/kg IM SID);
Eliminou a Leptospira do sangue, fígado e baço, porém, não foi capaz de
Trucollo (2002) ECC 0 Hamster (72) Ofloxacina (15 e 30mg/kg IM SID); 1 - 6 dias
eliminar dos rins. Ofloxacina 15 e 30mg/kg: Não foi capaz de eliminar a
Doxiciclina (10mg/kg IM SID).
leptospira do sangue ao final do estudo; Doxiciclina: Eliminou totalmente
a Leptospira do organismo dos animais até o final do estudo.
SC = Série de casos RC = Relato de casos ECC = Estudo clínico controlado ECR = Estudo clínico randomizado RSM = Revisão sistemática e meta-análise SID = Uma vez ao dia BID = Duas vezes ao dia TID = Três vezes ao dia IV = Intravenoso IM = Intramuscular IP = Intraperitoneal VO = Via oral

ISSN 21774080

35
Investigação, 14(6):31-37, 2015

Evidências de que os antibióticos são mais efetivos que relacionados ao uso da doxiciclina. DAHER (2000) ainda afirma critérios Jadda (1996), são estudos de série de casos ou relatos
o placebo no tratamento da leptospirose canina que o uso da penicilina pode contribuir na piora do quadro de de caso que apresentam baixa confiabilidade e qualidade
proteinúria. metodológica. Também os trabalhos realizados em cães
Não foram encontrados nas bases de dados consultadas
apresentaram amostras pequenas, que podem influenciar de
estudos que comparassem a eficiência do uso de uma substância A gatifloxacina (50 mg/kg) pode induzir diarreia em forma negativa nos resultados das intervenções (Quadro 1). É
inerte em relação ao uso de antibióticos no tratamento de cães hamsters, diminuindo a taxa de sobrevivência destes animais de conhecimento geral que ensaios clínicos de baixa qualidade
infectados por leptospirose. Portanto, dentre os 12 estudos (GRIFFITH, 2007). Segundo Moon et al. (2006), o uso da doxiciclina, metodológica costumam superestimar os resultados de uma
selecionados, não existem evidências para confirmar ou negar azitromicina e telitromicina em altas doses pode levar hamsters intervenção (GUIDUGLI, 2000).
a hipótese de que os antibióticos são mais eficientes que o a apresentarem diversos efeitos colaterais, incluindo diarreia,
placebo. agitação e desconforto abdominal. O uso da doxiciclina pode ou não interferir na mortalidade
e no desaparecimento da Leptospira interrogans da urina,
Há um pequeno número de estudos realizados em pacientes No entanto, estes resultados devem ser avaliados com porém segundo Guidugli (2000) a maioria dos casos de
humanos nos quais foi comparada ao placebo a eficácia de cautela, pois os estudos em questão apresentam pobre qualidade leptospirose são autolimitantes, resolvendo-se sem nenhuma
antibióticos em pacientes com leptospirose. Guidugli (2000) metodológica e principalmente, os trabalhos envolvendo cães, intervenção médica e isto representa uma dificuldade na
realizou uma revisão sistemática com meta-análise abordando foram realizados em uma amostragem muito pequena e existe escolha do critério de cura a ser adotado nos estudos que
este tema em humanos e chegou à conclusão de que, também a dificuldade em realizar a comparação desses estudos, pois avaliam a eficácia terapêutica.
na medicina humana, não existem evidências convincentes de eles variam entre si quanto a intervenções como dose, critérios
Para solucionar tal questão o ideal seria a realização de
que a antibioticoterapia é mais eficiente do que a terapia com de inclusão e exclusão, duração do tratamento e definição das ensaios clínicos randomizados de boa qualidade metodológica
placebo no tratamento da leptospirose. variáveis estudadas. que levassem em consideração critérios como: duração da
Evidências de que tratamento da leptospirose com os Evidência de que a doxiciclina é a droga de escolha para internação hospitalar, critérios para alta, presença do agente
antibióticos não causam efeitos colaterais em cães o tratamento da leptospirose canina infeccioso na urina e incidência de complicações (GUIDUGLI,
2000).
Os cinco estudos realizados com cães não relataram Apesar dos estudos em cães preconizarem o uso da
qualquer tipo de efeito colateral associado à terapia com doxiciclina e apresentarem bons resultados tanto na taxa de Portanto, devido à falta de estudos confiáveis na
antibióticos, entretanto dois trabalhos com humanos (DAHER, sobrevivência quanto na eliminação da leptospiúria em casos literatura, não é possível responder à hipótese sugerida de
2000; PHIMDA et al. 2007) e dois com hamsters (MOON et al. tratados com doxiciclina (BROWN et al. 1996; KALIN et al. 1999; que a doxiciclina é a droga de escolha para o tratamento da
MATHEWS, 2001; CLAUS, 2008 ; OLIVEIRA, 2010), não existem leptospirose canina.
2006; GRIFFITH, 2007) apontaram evidências de que o uso da
antibioticoterapia pode acarretar em efeitos colaterais. trabalhos comparando o uso desta droga com outras classes de
antibióticos ou placebo em cães.
Phimda et al. (2007) comparando o uso da doxiciclina em
relação à azitromicina, relataram que em humanos os efeitos Não existem evidências de que a doxiciclina é a droga de
escolha para o tratamento da leptospirose canina pois, conforme
adversos mais frequentes são a náusea e o vômito e estão mais

ISSN 21774080

36
Investigação, 14(6):31-37, 2015

CONSIDERAÇÕES FINAIS Griffith ME, Moon JE, Johnson EN, et al. 2007. Efficacy of fluoroquinolones against Sykes JE, Hartmann K, Lunn KF, et al. 2011. Small Animal Consensus Statement
Leptospira interrogans in a hamster model. Antimicrobial agents and chemotherapy. on Leptospirosis: Diagnosis, Epidemiology, Treatment, and Prevention.
Os escassos estudos sobre tratamento da leptospirose 51(7): 2615–2617. Journal of Veterinary Internal Medicine. 25: 1–13.
canina apresentam baixa confiabilidade e grande limitação, Goldstein RE. 2010. Canine Leptospirosis. Veterinary Clinics of North America: Small Trucollo J, Charavay F, Merien F, et al. 2002. Quantitative PCR Assay To Evaluate
não permitindo aceitar as hipóteses de que os antibióticos Animal Practice. 40: 1091-1101. Ampicillin, Ofloxacin, and Doxycycline for Treatment of Experimental Leptospirosis.
Antimicrobial Agents And Chemotherapy. 46(3): 848-853.
atualmente utilizados são mais efetivos que o placebo e não Guidugli F. 2000. Prevenção e tratamento da leptospirosis: revisão sistemática
causam efeitos colaterais. Com base na literatura revisada não de ensaios clínicos aleatórios com metanálises. São Paulo, SP. Tese Doutorado -
Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina.
é possível afirmar que a doxiciclina seja mais eficaz do qualquer
outro antibiótico no tratamento da leptospirose canina. Jadad AR, Moore A, Carroll D, et al. 1996. Assessing the quality of reports of randomized
clinicalt trials: is blinding necessary? Controlled clinical trials. 17(1):1-12.
REFERÊNCIAS Kalin M, Devaux C, Difruscia R, et al. 1999. Three cases of canine leptospirosis in
Sherding RG. 2003. Leptospirose, Brucelose e outras doenças infecciosas bacterianas. Quebec. Canadian Veterinary Journal. 40: 187-191.
In: Birchard SJ.; Sherding RG. Manual Saunders Clínica de Pequenos Animais. 2 ed.
Langston CE, Heuter KJ. 2003. Leptospirosis. A re-emerging zoonotic disease.
Roca, São Paulo, p. 147-151.
Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice. 33: 791-807.
Brown CA, Roberts AW, Miller MA, et al. 1996. Leptospira interrogans serovar
Levett PN. 2001. Leptospirosis. Clinical Microbiology Reviews. 14(2): 296-326.
grippotyphosa infection in dogs. Journal of American Veterinary Medical
Association. 209: 7. Mathews KA, Monteith G. 2007. Evaluation of adding diltiazem therapy to standard
treatment of acute renal failure caused by leptospirosis: 18 dogs (1998-2001).
Doc. eletrônico (internet): Castro AA. 2001. Revisão sistemática e meta-análise..
Journal of Veterinary Emergency and Critical Care. 17(2): 149-158.
Disponível em: <http://www.metodologia.org/meta1.PDF [Acesso em: 17 Jan. 2012].
McDonough PL. “Leptospirosis in dogs-current status.” Recent Advances in Canine
Claus A, De Maele IV, Pasmans F, et al. 2008. Leptospirosis in dogs: a retrospective
Infectious Diseases. International Veterinary Information Service (www. ivis. org),
study of seven cases in Belgium. Vlaams Diergeneeskundig Tijdschrift. 77: 259-263.
Ithaca, document A0112 (2001): 0701.
Corrêa WM, Corrêa CNM. 1992. Enfermidades Infecciosas dos Mamíferos
Moon JE, Griffith ME, Griffith ME, et al. 2006. Efficacy of Macrolides and Telithromycin
Domésticos. 2ª ed. Medsi, Rio de Janeiro.
against Leptospirosis in a Hamster Model. Antimicrobial Agents And Chemotherapy.
Costa E, Lopes AA, Sacramento E, et al. 2003. Penicillin at the late stage of leptospirosis: 50(5): 1989–1992.
a randomized controlled trial. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São
Lappin MR. 2006. Doenças infecciosas. In: Nelson RW, Couto CG. 2006.
Paulo. 45: 141-5.
Medicina interna de pequenos animais. 3ª ed. Rio de Janeiro, pp.1222-1224.
Daher E, Nogueira CB. 2000. Evaluation of penicillin therapy in patients with
Oliveira ST. 2010 Leptospirose canina: Dados clínicos, laboratoriais e terapêuticos em
leptospirosis and acute renal failure. Revista do Instituto de Medicina Tropical de
cães naturalmente infectados. Porto Alegre, RG. Dissertação (Doutorado em Ciências
São Paulo. 42: 327-332.
Veterinárias) Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Universidade
Freire IMA, Varges R, Lilenbaum W, et al. 2008. Níveis séricos de uréia e creatinina Federal do Rio Grande do Sul.
em cães com leptospirose aguda determinada por amostras do sorogrupo
Phimda K. 2007. Doxycycline versus Azithromycin for Treatment of Leptospirosis and
Icterohaemorrhagia. Ciência Rural Santa Maria. 38(4): 1172-1175.
Scrub Typhus. Antimicrobial Agents And Chemotherapy. 51(9): 3259–3263.
Greene CE, Sykes JF, Brown CA, et al. 2006. Leptospirosis. In: Greene CE. Infectious
Diseases of the Dog and Cat, 3° edition, Saunders Elsevier, St. Louis, Missouri, U.S.A,
p. 402-417.

ISSN 21774080

37

Você também pode gostar