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Para

Bem Casar

Mons. de Ségur
Para Bem Casar
Instruções para Noivos e Casados

Mons. de Ségur
Título original: Le Mariage.

Tradução e Projeto Editorial


Jonadabe Santos Rios

Este livro não pode ser vendido ou publi-


cado sem autorização do tradutor, nem as
devidas referências ser retiradas.

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“Vós provareis ao mundo, muito mais que
com discursos, com livros e com tratados,
que o matrimônio, com seus austeros deve-
res e suas Graças, é um grande Sacramento:
Sacramentum hoc Magnum est.”

Jacques-Marie-Louis Monsabré
Sumário

A Verdadeira Noção de Casamento


·6·

O que é Preciso Saber sobre o Casamento


·9·

Sobre os Casamentos Nulos diante de Deus


· 14 ·

Da Escolha do Esposo e da Esposa


· 22 ·

Como se Deve Preparar de Maneira Cristã para o


Casamento
· 27 ·

Os Direitos Exigidos pela Igreja por Ocasião do


Casamento
· 31 ·

Sobre a Celebração do Casamento


· 35 ·
O Dever Conjugal
· 39 ·

As Obrigações dos Pais e das Mães


· 46 ·
A Verdadeira Noção de
Casamento

O casamento é a legítima união


entre um homem e uma mulher. Ele é uma
instituição divina e remonta à própria criação
do homem, quando Deus lhe deu uma
companheira, primeiro a fim de multiplicar
o gênero humano por meio deles, depois
para fazê-los felizes através de uma intima
sociedade, doce e repleta de encantos.
Desde sua origem, o casamento
foi um contrato sagrado, essencialmente
religioso, abençoado solenemente pelo
próprio Senhor, que foi o seu autor. Em todos
os tempos e em toda parte, o casamento
sempre foi considerado um grande ato
religioso, soleníssimo e adornado por ritos
sagrados de bênçãos e de festas.

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Quando o Filho eterno de Deus,
Nosso Senhor Jesus Cristo, se manifestou
aos homens para lhes salvar e santificar,
ele elevou o casamento à dignidade de um
sacramento, isto é, de uma fonte de graças
onde os cristãos que abraçarem esse gênero
de vida encontrarão graças e assistências
eficazes para viver santamente e cumprir
com mais facilidade todos os seus deveres.
Desde então, não há mais no
casamento, um contrato assinado, de um
lado, e um sacramento, do outro: o próprio
contrato tornou-se o sacramento. Ele não foi
destruído; ele foi feito sobrenatural e elevado,
através da onipotência de Jesus Cristo, a uma
dignidade divina, à dignidade do sacramento.
No casamento cristão, o sacramento absorve,
por assim dizer, o contrato. Ele não é nada
mais que um sacramento sob a forma de um
contrato.
É dogma de fé que, para os cristãos,
o casamento é um dos sete Sacramentos
instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo
para nos santificar e que não há outro
casamento verdadeiro e legítimo além do
sacramento do matrimônio. Isso foi definido

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pelo santo Concílio de Trento como parte da
revelação e da doutrina católica.

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O que é Preciso Saber
Sobre o Casamento Civil

O grande número de pessoas com


pouca ou nenhuma instrução a imaginar que
o casamento civil, que é realizado no fórum
com as formalidades do Código Civil, é o
verdadeiro casamento e que, por isso, não
saem do fórum em direção à Igreja a não ser
para receberem a benção do casamento já
concluído.
Quase todos acreditam nisso,
principalmente os que vivem nas cidades. A
cada cem uniões, eu apostaria que cerca de
oitenta estão firmemente convencidas disso;
e, a cada cem juízes, quase uma centena se
surpreenderá pelo que direi.
É de fé que ao sair do fórum,

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independente da grandeza e simpatia do juiz,
não se está mais casado do que ao ter entrado.
Eu soube de um juiz, grande homem de bem
e de espírito, que após ter acompanhado
todas as formalidades prescritas pelo Código,
disse alegremente aos noivos: “Agora, meus
amigos, ide à Igreja para se casar”.
Não há dúvidas de que em um estado
bem organizado nada é mais natural do que
a séria prescrição de certas formalidades
civis e públicas, destinadas a determinar com
maior clareza a condição de cada um de seus
cidadãos, a fim de declarar publicamente
todos os seus casamentos, com datas precisas,
nome de testemunhas, a assinatura de todos,
etc.
Mais, entre a execução de certas
formalidades civis que constatem o
casamento, e a formação real, legitima e
irrevogável do laço conjugal, que une para
sempre, em consciência e diante de Deus,
um homem e uma mulher, há um abismo.
Ora, é esse abismo que não é esclarecido
por nossos legisladores, pois, dominados
pelo espírito revolucionário, descartaram
sistematicamente das leis todo pensamento

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cristão, toda ideia de fé, e pretendem subtrair
o casamento, a família e toda sociedade, da
soberania de Deus e dos ensinamentos de
Sua Igreja.
Assim, como o homem não pode
aniquilar o que Deus fez, instituiu e regrou,
o casamento permanece para os cristãos da
França e de todo o mundo o que é diante
de Deus e o que Deus de fato o fez, isto é,
um sacramento. Consequentemente, tanto
na França como em Roma, assim como no
mundo todo, um cristão, um batizado que
não receba o sacramento do Matrimônio,
não está casado, independente do que digam
todas as leis, todos os códigos, todos os juízes
e adjuntos.
Portanto, o que é comumente
chamado de casamento civil não é de fato um
casamento. É simplesmente uma formalidade
jurídica, um registro feito com estranha
solenidade e cujo único resultado é, quando
se está realmente casado, isto é, casado na
Igreja Católica, o de assegurar todos os seus
efeitos civis: a legitimidade das crianças que
nascerão, os direitos de sucessão, etc.
Eu sei que os efeitos civis do casamento

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são de grande importância, entretanto, eles
não são o próprio Matrimônio; fica claro,
portanto, que o senhor Juiz, com seu Código
e sua toga, pode casar um cidadão e uma
cidadã batizados tanto quanto pode, no lugar
do padre, celebrar a Missa, nem consagrar o
pão e o vinho em Corpo e Sangue do Senhor.
É somente com a finalidade de evitar
rixas entre a autoridade espiritual e o poder
civil que a Igreja, que é boa e pacifica o máximo
possível sem sacrificar os seus direitos,
proíbe que seus ministros, exceto em casos
extraordinários, celebrem um casamento
antes que as partes contratantes tenham
concluído previamente as formalidades civis.
Antes da Revolução, o estado civil de
cada francês era regulado pelos registros da
paróquia, sob a estreita vigilância dos Bispos.
Era muito simples e natural. Será muito fácil
ao primeiro governante seriamente cristão
que o bom Deus dignar-se dar à França
melhorar a questão. Basta mudar algumas
palavras ou artigos do Código e declarar
que a inscrição sobre os registros municipais
não terá seu efeito a não ser que seja seguido
do casamento diante do ministro católico; a

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declaração do supracitado casamento será
obrigatório em três dias, sob pena de multa
ou de qualquer outra penalidade grave. O
que seria mais simples que isso? E o que seria
mais fácil de realizar?

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Sobre os Casamentos
Nulos Diante de Deus

São os seguintes:

1) Os loucos, todos que são


completamente loucos, não podem se casar
validamente.
2) As crianças, isto é, os meninos e
as meninas que não atingiram a idade fixada
pela Igreja: quatorze anos para os rapazes;
doze anos para as meninas. Na França, o
código civil fala de dezoito anos e quinze
anos completos, mas esse é um regulamento
que não obriga à consciência, pois o poder
civil não recebeu de Deus a competência
necessária para determinar o que, entre os
cristãos, torna o casamento válido ou nulo,

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permitido ou proibido. Somente a Igreja
recebeu esse poder de Deus. Isso é de fé
católica, definido pelo Concílio de Trento
contra os protestantes e pela Santa Sé contra os
jansenistas. Contudo, como essa disposição
do código civil não deixa de ter seus motivos
em nossos tempos, nossos Bispos e padres
se conformaram a fim evitar conflitos cujos
efeitos poderiam ser extremamente graves
sob todos os pontos de vista.
3) Aqueles que possuem certas
enfermidades que privam a possibilidade de
ter filhos.
4) Aqueles que, crendo se casar
com uma pessoa, acabaram se casando
com outra. Mas, como desgraçadamente é
muito comum, se alguém se engana com as
qualidades, riqueza, ou sobre as virtudes da
pessoa com que se casou, o casamento não
deixa de ser válido, e não há mais que um
lamentável infortúnio e uma cruz a mais a
carregar.
5) Aqueles que não teriam dito sim,
diante do padre, se não fosse por causa da
violência e de um tal medo, de modo que
não teria havido livre consentimento. O livre

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e verdadeiro consentimento é absolutamente
necessário para que haja um contrato válido.
6) Quem, por violência, tenha
sequestrado contra a própria vontade uma
moça ou uma mulher, e isto enquanto dure
tal violência; e vice-versa.
7) Aqueles que já são casados e que
ainda não são viúvos.
8) Os subdiáconos, os diáconos, os
padres e os Bispos.
9) Os Religiosos e as Religiosas que
fizeram seus votos solenes de profissão.
10) Os parentes em linha direta,
em qualquer grau que seja; isto é, os pais e
mães com seus filhos, netos, etc. Além disso,
parentes próximos em linha colateral até o
quarto grau; isto é, os irmãos e irmãs, tios e
tias, primos e primas.
11) Aqueles que contraíram um
parentesco espiritual por ocasião do Batismo
(ou da Confirmação), isto é, os padrinhos
e madrinhas de um lado e seus afiliados e
afilhadas por outro, e também os padrinhos
e madrinhas, de um lado, e do outro os pais
e as mães de seus afiliados ou afiliadas. Eles
não poderão se casar validamente entre si

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exceto através de uma dispensa formal da
Igreja.
12) Os parentes em linha direta da
mulher ou do marido; por exemplo, um viúvo
não pode casar com a madrasta, nem uma
viúva com seu padrasto. Em linha colateral,
não se pode casar sem uma dispensa até o
quarto grau. Assim, um cunhado viúvo não
pode casar com a cunhada, assim como com
a sobrinha, com a filha do sobrinho ou da
sobrinha, a tia, tia-avó; e reciprocamente o
mesmo ocorre com uma viúva.
13) Um viúvo que matou sua esposa
a fim de poder livremente se casar em
seguida com outra mulher que foi cumplice;
da mesma forma em relação à viúva culpada
pelo mesmo crime.
14) Um católico gostaria de se casar
com uma infiel, uma judia, um muçulmana;
e reciprocamente.
15) Aqueles que não se casaram em
presença de seu pároco (ou do Bispo, que é
o cura de toda a diocese), ou sem número
suficiente de testemunhas (duas ou três).
Na verdade, este sacerdote que não é o seu
pároco (ou o Bispo) não pode receber os

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juramentos de um esposo e uma esposa: é
necessário que seja o próprio pastor de uma
das partes contratantes, ou seu delegado.

Esses impedimentos ao casamento
não são somente ilícitos, isto é, proibidos;
eles tornam o casamento inválido, ou seja,
impedem absolutamente as duas partes
de contratar de maneira válida e, por
consequência, o contrato, isto é, a união de
duas vontades não ocorrendo, não há e não
pode haver o sacramento do matrimônio:
não há, portanto, casamento nesses casos.
A Igreja recebeu de Deus o poder de
dispensar certos casos de impedimentos que
ela mesma estabelecera no curso dos séculos;
mas não tem o poder de dispensar qualquer
regra que tenha vindo diretamente através
da instituição divina.
Há uma outra espécie de impedimentos
ao casamento que, embora não o anulem,
tornam-no ilícito e, consequentemente
culpáveis (gravemente culpáveis). É o que se
chama de “impedimentos proibitivos”. Eles
são cinco:

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1) A falha na publicação padrão de
impedimentos. O Concílio de Trento, a fim
de dar aos casamentos toda publicidade
possível, ordenou que, nos três domingos
que precedem a celebração de um casamento,
o anúncio público seja feito na igreja
paroquial de cada um dos futuros esposos
na Missa paroquial pelo sacerdote ou seu
vigário. Por motivos sérios, se pode obter
do bispo a dispensa de toda ou parte desses
impedimentos ou publicações; mas não se
deve fazer esse pedido sem uma verdadeira
necessidade.
2) Falha no consentimento dos pais
que, após o ensinamento católico, único
competente nessa matéria, não poderão
invalidar o casamento, mas torná-lo ilícito
e gravemente culpável. O código civil,
desejando superar a moralidade da Igreja
de Deus, declara nulo um casamento assim
contratado sem o consentimento dos pais;
mas essa lei é nula de pleno direito, do ponto
de vista da consciência e da verdadeira lei.
Contudo, como não é algo ruim em si mesmo,
os sacerdotes levam-na em consideração
e, a fim de evitar colisões desnecessárias,

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cumprem essa lei na prática.
3) A diferença de religião. Se um
católico deseja se casar com um protestante
ou cismático, e reciprocamente, ele deve, sob
pena de pecado grave, obter a permissão do
Bispo que, em nome do Soberano Pontífice,
vê se não há muitos perigos.
Em todo casamento misto, seja
qual for, é necessário que as duas partes se
comprometam antecipadamente, diante do
sacerdote, por escrito e sob juramento, a
batizar e instruir na religião católica todos
os filhos e filhas que poderão nascer deste
casamento. Além disso, a parte herética
ou cismática se compromete igualmente a
respeitar plenamente a fé da parte católica e
a deixar, a ele e aos filhos, toda liberdade de
praticar a religião católica. O casamento será
absolutamente nulo caso se imagine poder
substituir a presença do sacerdote católico
por um pastor protestante ou um padre
cismático.
4) Nos tempos proibidos. Não se pode
casar, exceto através da dispensa do Bispo,
pelo menos nas solenidades ordinárias,
durante o Advento e durante a Quaresma.

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5) O voto simples de castidade
perpétua, o voto de se fazer religioso ou de
se fazer padre. Para contrair licitamente o
casamento, é necessário ser dispensado do
voto ou pelo Papa ou pelo Bispo.

Se as pessoas que pretendem se


casar temem estar sob os impedimentos que
enumeramos, eles simplesmente deverão
falar com o seu pároco, ao encontrá-lo para
a publicação dos anúncios. Este procurará
resolver a situção o melhor possível, pois
já tem o hábito de lidar com dificuldades
especiais.

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Da Escolha do Esposo e
da Esposa

Nada é mais grave que isso. É a


felicidade ou a miséria de toda a vida, e essa
escolha é quase tão difícil quanto importante.
É fácil de conceber a importância.
Salvo em casos raríssimos, as pessoas se
casam quase sem se conhecer. Antes do
casamento, tudo é perfeito: o futuro esposo é
um jovem homem charmoso, alegre, amável,
moral, animado pelos melhores sentimentos,
dotado de mil qualidades preciosas: ele
certamente garantirá a felicidade desta
jovem! Quanto a ela, é um anjo, cheia de
graças e qualidades, organizada, de espírito
distinto: nada há que falte. Foi sorte, diz-se,
de encontrar uma moça como ela!

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As referências são sempre
excelentes; não se perdoará qualquer pessoa
indiscreta que se aventure a contar alguma
desonestidade.
Em relação ao dinheiro, se observa
um pouco mais; mas com que rapidez e,
consequentemente, que decepções!
Se, um ano após o casamento, as
folhas da rosa da senhorita deram lugar
à amargura e o belo céu azul do rapaz
a nuances maçantes e desagraváveis, de
quem é a culpa? É necessário atribuí-la à
extraordinária inconsequência com que se
contraiu o matrimônio.
Quantas vezes não se casa com uma
bela figura em vez de um bom coração? Uma
conta bancária, um grande dote, um título,
um nome, em vez de virtudes cristãs testadas,
em vez da ordem e do que um homem sério
deve, ou melhor, deveria procurar acima de
tudo na companhia futura de toda a vida?
E o mesmo ocorre em relação às
moças: querem casar com um bigode bem
enrolado, um ar elegante. Elas ignoram com
ligeireza os princípios, a educação, os hábitos
religiosos, as boas maneiras, o caráter, em

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resumo, a vida real do homem ao qual elas
confiarão sua felicidade, e quase que diria
sua consciência e salvação, pois um marido
sem religião muitas vezes faz sua mulher
se perder e, ademais, perder seus pobres
filhos. Isso é verdadeiro em todas as classes
da sociedade, tanto nas classes mais altas
quanto nas baixas. Ora, diante disso, como
se surpreender que muitos casamentos dão
errado?
Queres ser feliz no casamento?
Começa escolhendo bem tua esposa e teu
marido. Demora o tempo conveniente;
esmiúça tudo. Além disso, procura um
marido cristão, solidamente cristão e
praticante; um cristão de verdade. Eles ainda
existem, graças a Deus! E mais do que se
imagina. Os que não praticavam antes, não
praticarão depois. A experiência já provou
isso milhares de vezes. É melhor não casar
do que casar-se mal.
Não consulte os recém-casados, mas
pessoas sérias, cristãs, e com experiência de
vida; entre em contato com o padre dessa
pessoa, e peça que lhe diga francamente, sob
o selo do segredo, o que sabe sobre ela, sobre

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seus parentes, sobre as condições financeiras
etc. É agora ou nunca o momento de pôr em
prática a palavra das Sagradas Escrituras:
“Antes de agir, ide aconselhar-se a um
homem prudente: depois não haverá lugar
para o arrependimento”.
Sobretudo nas fileiras da classe
operária, essa leveza na escolha de um
marido ou esposa às vezes atingiu proporções
inimagináveis. Eu conheci um bravo
trabalhador, honesto e bondoso, que veio
um dia dizer-me que estava se casando. Após
parabenizá-lo, perguntei-lhe se conhecia
bem a jovem que se tornaria sua esposa.
- Não muito, respondeu calmamente;
mas um de meus amigos disse que faria bem
em casar com ela.
- Ela é bonita? – Continuei.
- Oh! Não, ele respondeu, ela não é
bonita.
- E ela é uma boa pessoa apesar
disso?
- Eu não sei. Eu espero que sim.
- Ora! Tens certeza de que ela pelo
menos possui um bom caráter e que o fará
feliz?

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- Bom... eu realmente não sei muito
sobre ela, mas não parece ter bons modos.
- Ela é boa cristã? É de boa família?
- Oh! Eu creio que não. Eu realmente
não sei, mas creio que não seja muito devota.
- E vais casar com ela ao acaso?
- É claro que sim! Meu amigo me
disse que faria bem.

E, com isso, casou-se no dia seguinte.


Não é angustiante?

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Como se Deve Preparar
de Maneira Cristã para o
Casamento

Sendo o casamento antes de tudo um


sacramento, a primeira preocupação de um
cristão deve ser a de se preparar dignamente.
Por isso, é necessário rezar mais do
que o normal, pedir ao bom Deus a graça de
receber bem um sacramento tão importante,
do qual depende toda a vida. É preciso rogar
à Santa Virgem e a São José, Patronos da
família cristã, para que abençoe a futura
união. É preciso, sem demoras, confessar-se
de todo coração e fazer uma boa comunhão
no dia anterior ou dois dias antes do grande
dia. Normalmente, noivos um pouco cristãos
se esforçam para comungar juntos, um ao

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lado do outro, acompanhados, se possível,
de seus parentes próximos e alguns outros
amigos íntimos.
Segundo as regras e antigos usos
da Igreja, essa comunhão dos dois esposos
ocorrerá na própria Missa onde se é dada a
benção nupcial; isso é indicado expressamente
no Ritual. Entretanto, as Missas de casamento
se celebram ordinariamente muito tarde,
às onze horas ou até mesmo meio-dia, por
causa do fórum, que fez este belo costume
cair em desuso. Aproximamo-nos dele o
mais possível, pela comunhão da véspera,
da qual acabamos de falar. Entretanto, não
devemos exagerar: por mais excelente que
seja essa prática de comunhão anterior ou
próxima ao casamento, ela não é obrigatória.
Não se deve confundir com a confissão,
esta sim obrigatória. Um padre a quem as
duas partes contratantes não apresentam o
bilhete da confissão atestando que ambos se
confessaram, não poderá ignorar esse fato
sem pecar gravemente em seu dever.
Há pessoas pouco instruídas e
pouco cristãs que imaginam ser suficiente,
para estar bem com o bom Deus, falar

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generalidades a um padre, sem se preocupar
em fazer uma boa confissão, um bom exame
de consciência, confessar tudo que deve ser
dito, de se arrepender direito e, finalmente,
receber dignamente a absolvição; uma vez
que receberam seu bilhete de confissão,
acham que disseram tudo que deveriam; e se,
no dia seguinte, se atrevem a ficar no altar em
estado de pecado mortal, em vez de receber a
graça e as bênçãos divinas do sacramento do
matrimônio, receberão a maldição de Deus
sobre suas cabeças e serão culpados de um
verdadeiro sacrilégio.
Deve-se, portanto, necessariamente
receber de forma cristã o sacramento do
Casamento, se confessar corretamente, com
uma preparação suficiente, receber a santa
absolvição, tomar a séria resolução de viver
como bom cristão, fiel à lei de Deus e aos
mandamentos da Igreja.
As festas e os jantares que
normalmente acompanham os casamentos
e começam até mesmo alguns dias antes são
perfeitamente legítimos; mas deve-se evitar
todo tipo de excesso, e não se deve perder de
vista o lado grave e religioso do Casamento,

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que de longe é o principal.

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Os Direitos Exigidos pela
Igreja por Ocasião do
Casamento

Uma palavra a respeito das dispensas


ocasionadas pelo Casamento. Não me refiro
àqueles gastos da arrumação, as refeições,
os presentes, com o que é supérfluo ou as
distrações: por mais exorbitantes que sejam
esses gastos, ninguém reclama. Falo das
despesas em relação à Igreja, contra as quais
às vezes há certo murmúrio.
Constatamos, antes de tudo, que
jamais se obrigou alguém a pagar qualquer
soma para que se receba o sacramento
do Matrimônio. Sob esse ponto de vista,
o Matrimônio é, assim como o Batismo,
essencialmente gratuito; e os mais pobres

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têm aqui o mesmo direito que os ricos. O
que se paga, e com justiça, após as tarifas
estabelecidas pelas autoridades diocesanas,
as quais os padres não têm o direito de
divergir, é o que poderíamos chamar de
pompas da cerimônia de casamento que,
repito, não acrescentam nada ao Matrimônio
em si.
Assim, por mais solene e grandioso
que seja, como dizem, “um casamento de
primeira classe”, isto é, um casamento onde
a Igreja colocará ricos enfeites e o pavimento
será coberto com belos tapetes, onde luzes
brilham no altar, onde haverá canto, se tocará
o órgão, sinos, vários sacerdotes participarão
da comemoração, etc., não é normal que vós
pagueis todo esse aparato? Desde que seja
possível, tendes mil razões para tamanha
solenidade e pompa em um dos atos mais
importantes de vossa vida; mas sois livres
quanto a isso, pois não é algo essencial ao
grande sacramento que recebeis, e os pobres
que se casam sem isso são tão perfeitamente
casados quanto vós.
A segunda classe paga menos que a
primeira; a terceira, menos que a segunda,

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e assim sucessivamente. É natural. Deveis
escolher de acordo com seu gosto ou de
acordo com as suas condições financeiras. É
nas mãos do sacerdote que se dá a quantia
fixada pela tarifa, mas não penseis que esse
dinheiro seja para ele: ele recebe em nome do
conselho que administra a renda da igreja. O
que fica para si é muito pouco e sem o qual
o sacerdote não poderia se manter, por mais
modesta que seja sua posição.
Além disso, não esqueça que,
nos casamentos com alguma solenidade,
os regulamentos exigem a presença dos
vigários da paróquia, além de certo número
de funcionários da Igreja. Também não é
natural que tudo isso deva ser pago? Sem
contar com a manutenção, geralmente mais
cara do que se pensa, os tapetes, as cortinas,
os móveis, etc., que se desgastam e, quando
é necessário renovar, sempre implicam em
despesas consideráveis. Em comparação
com as despesas que são feitas sempre tão
prontamente para as festas de casamento,
o pagamento exigido para o clero e os
funcionários da igreja é tão pouco, que não
há razão para reclamações.

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Sobre a Celebração do
Casamento

Eis que o grande dia chegou. A


noiva está a mais bela possível; o noivo está
bem arrumado, adornado com os encantos
masculinos. Todos estão encantados.
Se já não estiverem lá, todos se
dirigem do fórum para a Igreja, onde o
pobre sacerdote, em jejum, espera faz já uma
boa meia-hora. Vi casos em que ainda não
estavam no altar ao meio-dia e meio , uma
e quarenta e cinco, o que é um verdadeiro
abuso.
Ao pé do altar, antes da Missa, o
padre ou o sacerdote por ele delegado, volta-
se para as duas partes contratantes que,
ajoelhados um ao lado do outro, receberão o

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grande sacramento. O marido, à mão direita
e sem luva, levou a mão direita da mulher,
que também tirou a luva. O padre pergunta
sucessivamente se eles querem casar-se, serem
marido e mulher, e se ambos responderem
“sim” (que deve ser pronunciado com uma
voz clara e inteligível), eles estão casados,
unidos para sempre, diante de Deus e dos
homens.
É neste momento que ambos recebem
a graça sacramental do matrimônio, que
espalhou-se em suas almas pelo Pai, Filho e
Espírito Santo, para legitimar e, em seguida,
santificar a união.
O sacerdote que recebe este duplo
juramento é, assim, constituído pela Igreja,
a testemunha oficial e necessária para o
Casamento; mas ele não é o próprio ministro.
As bênçãos solenes e as preces acrescentadas
não mudam o fato de que o casal, e só ele,
conferem um ao outro, por assim dizer, o
sacramento e as graças. Entretanto o mútuo
consentimento só é válido se o padre estiver
presente para lhes receber em nome de Deus
e da Igreja.
Imediatamente após o Casamento, o

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padre abençoa um anel de ouro (ou prata)
e devolve-o ao noivo; ele coloca-o no dedo
anelar (o quarto) da mão esquerda de sua
nova companheira. Este anel representa a
autoridade do marido, a quem a mulher
deve obedecer a partir de agora, e que a torna
ligada para sempre ao jugo, freqüentemente
bem pesado, do Matrimônio. O esposo não
recebe anel algum, pois, apesar de sua união
irrevogável com ela, não lhe é submisso nem
é colocado sob sua obediência.
A Missa começa em seguida, durante
a qual, infelizmente, tornou-se um hábito o
mau comportamento. Conversas, dissipação,
como se não se estivesse diante de Deus.
Quando assistimos a um casamento,
deveríamos, como verdadeiros cristãos,
reformar esses abusos, senão por palavras,
ao menos com o protesto do exemplo.
Após a missa, se vai à sacristia para
assinar o ato com o padre e as testemunhas,
quando a cerimônia do casamento termina.
Depois de tão grande ação, é
necessário vigiar o coração para que ele não
se dissipe loucamente, como fazem aqueles
que não têm fé. Gravidade, paz, serenidade,

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deve fazer parte das festas cristãs; e as alegrias
que acompanham-nas devem naturalmente
fazer sentir a presença de Deus nos corações.
É um verdadeiro abuso fazer antes
das núpcias o que se chama vulgarmente
“despedida de solteiro”. É impossível que
mais ou menos graves desordens não sejam
a consequência de tal excesso, especialmente
quando se entrega a alguns jogos, mais ou
menos indecorosos, que normalmente fazem
algumas pessoas baixas.
Outrora havia, e este santo costume
felizmente tende a renascer, um uso muito
comovente, ao qual a Igreja convidava as
famílias cristãs e presidia, na pessoa do
pároco. Num certo momento da tarde, o
padre, vestindo sobrepeliz e estola branca
era conduzido pelos noivos, seus pais, mães
e parentes próximos, para o quarto nupcial.
Lá, todos se ajoelhavam e o ministro de
Deus solenemente abençoava o leito nupcial,
pedindo a Nosso Senhor Jesus Cristo que
tornasse fecunda a união dos cônjuges e
abençoasse os filhos que nasceriam desse
santo matrimônio.

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O Dever Conjugal

1. O dever conjugal. O primeiro


dever dos cônjuges depois do casamento
chama-se o dever conjugal, sobre o qual
seria inadequado discorrer aqui, e cujo
objetivo é a multiplicação do gênero humano
e, consequentemente, da Igreja, primeiro na
terra e, em seguida, no céu. Cabe ao confessor
resolver os casos de consciência que possam
nesta questão embaraçar os recém-casados.
2. A fidelidade conjugal. O segundo
dever, consequência do primeiro, é a
fidelidade conjugal completa. O pecado
que viola esta fidelidade é um crime punido
até mesmo por leis humanas e introduz
uma terrível confusão no seio da família.
O adultério é um sacrilégio: pois viola o
sacramento do Casamento e a união surgida;

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além disso é um crime contra a justiça, pois
a mulher casada pertence inteiramente ao
marido e vice-versa.
3. Harmonia e amor mútuo. O
terceiro dever é a união, a concórdia e o
amor mútuo. Este amor conjugal deve ser
um amor terno, casto e puro. É como a alma
do casamento. Sem ele, a vida torna-se como
uma espécie de inferno. Assim, em vista de
sua própria felicidade, bem como pelo bem
de sua consciência, os maridos e mulheres
devem garantir este tesouro. É um tesouro
muito frágil, como um lindo vaso de cristal:
quando ele é quebrado, não se pode mais
reparar!
Na prática, é o mau caráter o
inimigo mais perigoso do amor conjugal e,
consequentemente, da felicidade doméstica.
Há homens fortes e religiosos que não dão
atenção suficiente a isso e entregam-se à
impaciência e grosseria; eles abandonam-
se aos seus caprichos de humor, eles são
resmungões, sem delicadeza e sem estima
por sua esposa, que não suporta mais; que,
quando está sozinha, chora mais que ri; e
entretanto eles fizeram o juramento de fazê-

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la feliz.
Há muito poucos maridos amáveis.
E, é necessário reconhecer, há extremamente
poucas mulheres sensatas e razoáveis.
Apesar disso, dezessete vezes em vinte (não
é exagero), a perda da alegria doméstica vem
das atitudes e da falta de estima do marido.
Pelo contrário, a bondade, a simpatia
do marido é quase sempre recompensada
com as mais puras alegrias da felicidade
doméstica. Uma senhora que teve a
infelicidade de perder o marido depois de
doze anos de união disse um dia, numa
efusão de intimidade a um seu filho prestes
a casar, e repetiu isso para mim mesmo:
“Meu filho, se você quiser ser feliz, sempre
seja cheio de bondade e delicadezas para
sua mulher. Quando eu era jovem, não era
surpresa verem-me preferir ficar em casa
na companhia do seu pobre pai em vez de
ficar em lugares mais chiques. Ai de mim! Eu
não tinha mérito nenhum: eu não poderia
encontrar em lugar nenhum um homem tão
amável quanto seu pai. Em lugar nenhum me
encontraria mais bem tratada.”
Os deveres da mulher não são menos

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importantes para a felicidade comum.
As mulheres devem ser submissas aos
seus maridos; submissas não como escravas,
mas como companheiras que amam e são
amadas. A mulher é, naturalmente, muito
paciente. Entretanto, é com o marido
em primeiro lugar que deve ser paciente,
tolerante e gentil, indulgente e afetuosa,
para contornar as dificuldades, prevenir
e acalmar as tempestades. É essencial que
ela se faça respeitar e respeitar pelas suas
virtudes domésticas e pela prática de todas as
belas e boas virtudes cristãs, que constituem
a verdadeira piedade. Ela nunca deve se
esquecer do que o apóstolo Paulo disse: “A
piedade é útil a todos, ela tem promessas
tanto na vida presente quanto no mundo
vindouro.”
Sob este ponto de vista especial,
gostaria de aconselhar a todos os maridos e
mulheres que desejem manter o amor mútuo
e a felicidade do lar doméstico, que façam
orações matinais e noturnas todos os dias,
santificando todos os seus bons domingos
juntos, participando da sua paróquia e nunca
passar muito tempo sem o recurso dos

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sacramentos, que são a fonte mais poderosa
e excelente de piedade.
Quis de propósito estender-me mais
sobre este terceiro dever das pessoas casadas
por causa de sua excepcional importância.
Depoois de dez anos de casamento
perguntem a um casal o que pensam a
respeito disso e se estou certo.
4. A coexistência e a vida comum.
A quarta e última obrigação mútua dos
cônjuges é a coabitação ou vida comum.
Ao se casar, o esposo e a esposa contraem a
obrigação de viverem juntos, de apoiarem-se
no caminho da vida, de aliviar suas provas e
de se consolarem em suas dores.
Esta lei é de instituição divina: “O
homem, diz o próprio Senhor, ao unir
e abençoar Adão e Eva na instituição
do Matrimônio, deixará seu pai e sua
mãe e unir-se-á a sua esposa”. Uma vez
consumado, o casamento dos cristãos não
pode ser dissolvido até a morte. Isto é de fé,
divinamente revelada e definida.
Aqui, mais uma vez, o Código Civil
francês pisoteia os direitos de Deus e as leis
de sua Igreja, quando tenta ressuscitar a

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instituição pagã do divórcio e ainda usurpa
uma jurisdição que não lhe pertence, ao
afirmar e decidir fora da Igreja e por sua
própria autoridade as causas que legitimam
a separação dos cônjuges.
Entretanto, foi definido pelo Concílio
de Trento, contra os inovadores protestantes,
as causas de separação legítima entre os
esposos. Elas são:
1. A primeira e principal razão que
legitima a separação dos cônjuges é o crime
de adultério.
2. Maus tratos e lesões graves de uma
das partes. Mas, claro, e igualmente ao caso
precedente, sempre é a parte inocente que
tem o direito de iniciar a separação.
3. No caso em que o marido,
tornando-se herege abertamente ou por
impiedade ativa, ou grave imoralidade,
pretende alterar a fé ou a moral de sua esposa.
4. A quarta causa é o temor com
fundamento da parte de uma mulher, de ser
culpada dos crimes, sejam quais forem, de
um marido culpado.
5. A violência de um dos cônjuges ao
ponto de criar perigos graves para o outro.

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6. Finalmente, um motivo honroso e
raro que pode legitimar a separação de dois
esposos cristãos, é o desejo de um estado
de vida mais perfeito, que leva os dois, em
comum acordo, a deixar o mundo e abraçar a
vida religiosa, ou o sacerdócio. Entretanto, é
necessário que os dois façam profissão solene
numa ordem monástica ou, caso o marido
contente-se em ser padre, a esposa deve
estar em uma idade e condições tais que ela
possa, sem o menor perigo, fazer um voto de
continência perpétua, vivendo no mundo.
Exceto por estas seis causas, é proibido aos
cônjuges, sob pena de traírem seu dever, o
libertarem-se do jugo da vida comum e se
separarem. Às vezes é muito difícil, mas tudo
é possível com a ajuda de Deus, através da
oração, dos sacramentos e da piedade.

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As Obrigações dos Pais e
das Mães

Sem desejar compor um tratado


sobre este importantíssimo assunto, basta
lembrar aos que se casarão que se Deus, em
sua Providência, dignar-se vos dar filhos,
para dar novos cristãos à sua Igreja e novos
cidadãos à pátria, devem lembrar-se de
agradecer com amor e como uma honra
recebida, em vez de murmurar fazendo
cálculos financeiros vergonhosos, como
acontece com muita frequência nos lares,
muito pouco cristãos, indignos da honra da
paternidade e da maternidade.
Nos países onde há fé, as famílias
geralmente são numerosas e muito mais
felizes. A queda assustadora de famílias

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numerosas é uma das pragas da nossa
sociedade descristianizada, desmoralizada
pela libertinagem e por um materialismo
egoísta e amaldiçoado por Deus. Há
estimativas de regiões administrativas da
França onde a populações tem declinado,
desde quatorze ou quinze anos, na média de
3 mil habitantes cada ano! E, observe bem,
essas terras estéreis são sempre aquelas onde
a religião perdeu sua nobre e abençoada
influência.
Dito isto, vejamos aqui as o conjunto
das obrigações dos pais para com os filhos:
1. Ao casar, um marido e uma esposa
devem rejeitar os desprezíveis pensamentos
que acabamos de aludir, e pedir a Deus para
que torne sua união fecunda. Os filhos são e
serão sempre a coroa dos pais.
2. Na maioria das dioceses, é
ordenado, sob pena de pecado mortal, que
se batizem as crianças recém-nascidas no
espaço de três dias após seu nascimento. Em
certos países muito cristãos, o batismo segue
quase que imediatamente após o nascimento,
a não ser que haja impedimento sério; cuida-
se também em dar a estas crianças nomes

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de santos, e não esses nomes estranhos
e fantasiosos, que servem apenas como
testemunho da falta de bom senso dos pais.
3. Não é uma obrigação propriamente
dita para uma mãe alimentar ela mesma
seus filhos; mas, se o pode, seria a melhor
coisa, mais útil para si e para o verdadeiro
bem físico e moral de sua família. Se ela está
obrigada a cuidar de seu filho através de outra
mulher, que escolha com muito cuidado, não
somente em termos de saúde, mas também
de moral. Amas-de-leite sem consciência,
como há muitas, voluntariamente ou
não, tornam enfermos e até matam uma
quantidade considerável de crianças. Uma
pesquisa assustadora foi feita a esse respeito
pela Faculdade de Medicina, onde se constata
estatisticamente, em vários departamentos,
inclusive os próximos de Paris, que o número
de crianças cuidadas por babás que morrem
em um ano chega a cinquenta, sessenta e, em
alguns lugares, mais de oitenta por cento!
Portanto, há um grande dever de consciência
para os pais. Eles cuidarão igualmente, por
si mesmos, para que as amas-de-leite não
aleitem seu filho deitadas. Isso é proibido

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pela Igreja como pecado grave. Muitas vêzes
a pobre criança foi encontrada sufocada sob
o peso da babá sonolenta.
4. O pai e a mãe devem formar, desde
a mais tenra idade, o coração de suas crianças
no conhecer e amar ao bom Deus. Antes
que os filhos sejam capazes de compreender
seriamente as coisas da religião, seus pais
devem acostumar-lhes com suas belas
práticas. É o pai, e mais ainda a mãe, que
é o primeiro padre, o primeiro diretor de
seus filhos, lhes ensinando a fazer o sinal
da cruz, a dar pequenos beijos na cruz, no
menino Jesus e na Santíssima Virgem; a fazer
pequenas preces pela manhã e à noite, e um
pouco mais tarde, a não brincar com crianças
mal criadas, que possam alterar a pureza de
sua inocência.
5. Os pais cristãos e tementes a Deus,
devem estar atentos contra uma tendência
comum em nosso século, que é a de “mimar”
seus filhos. Mimar não é sinal de ternura, é
sinal de fraqueza. É uma doença materna,
às vezes paterna, que costuma começar
cedo. As pobres “crianças mimadas” são
as primeiras vítimas, e chegará um dia em

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que irão maldizer esta deplorável fraqueza.
É necessário amar seus filhos por eles
mesmos, não para si. A consciência cristã
é o principal remédio contra o mimo, que
consiste basicamente em deixar o filho fazer
o que gosta, sem se preocupar se é certo
ou errado, se é conforme ou contrário à
santa vontade de Deus. Assinalarei aqui o
mau hábito, desrespeitoso e generalizado,
de deixar que os filhos tratem os pais por
“tu”. Os pais conscientes serão inflexíveis
neste ponto e irão, por amor de seus filhos,
repreendê-los e até mesmo puní-los quando
for necessário. “Aquele que ama castiga” diz
a Santa Escritura.
6. O pai e a mãe devem preparar
desde o início os seus filhos para seguir o
catecismo, para respeitar as coisas santas,
em particular as igrejas e os padres; e eles
devem ajudar com todas as suas forças aos
catequistas, o confessor, o padre, a fim de
formar a vida cristã, o espírito e o coração da
criança que Deus lhes deu.
7. Eles são obrigados por consciência
a enviar seus filhos, na medida do possível,
a escolas ou pensionatos seriamente cristãos.

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A Igreja nunca deixará de lembrá-los disso.
Que os pais e as mães não se esqueçam de que
este é um dos seus deveres mais difíceis, que
pecariam gravemente e seriam indignos de
absolvição caso colocassem a criança nessas
casas de educação laicas (como tantas por aí),
onde estão expostas a perder gradualmente
tanto a fé quanto os bons costumes. Os pais
são responsáveis pelas almas tanto quanto
os padres, e responderão diante de Deus
pela perda de seus filhos, se por desgraça
concorrerem para isto, seja positivamente,
seja de forma negativa. Eles são obrigados
a formar bons católicos, quanto lhes for
possível.
8. Eles deverão dar aos filhos
tanto a pregação da palavra quanto a do
exemplo. A palavra é pouca coisa quando
não há exemplo. Sobretudo em relação aos
hábitos religiosos, a oração, a santificação
do domingo, a observação das leis da Igreja,
a recepção dos sacramentos, esse ponto é
essencial.
9. Eles apartarão de suas casas
os amigos e conhecidos que poderiam
prejudicar moralmente seus filhos e filhas;

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deverão tomar cuidado para que não vejam
jornais nem livros perigosos; e não tolerarão
empregados ou professores de uma fé ou de
uma moralidade suspeitas.
10. Finalmente, os pais e mães
realmente dignos de sua missão sagrada, se
esforçaram por toda a vida em fazer o bem,
sobretudo o bem religioso, especialmente
aos deveres diários. Eles viverão de modo a
se fazer respeitados e amados por eles, para
manter a unidade da família, e poder esperar
legitimamente estar um dia reunidos com
eles na pátria bem-aventurada.
Haveria ainda muitas coisas úteis a
dizer sobre este grave assunto do matrimônio
cristão. O pouco que resumimos aqui será
suficiente para chamar a atenção das pessoas
de boa vontade e lhes ajudar, esperamos, a
entrar de modo mais cristão em um gênero
de vida cercado de tantas dificuldades, a se
comportar todos os dias com dignidade,
e a encontrar as doces bênçãos que Deus
semeou, como lindas rosas entre espinhos.

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