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CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA

ESCOLA DE DIREITO

A INCONSTITUCIONALIDADE DO FORO POR PRERROGATIVA


DE FUNÇÃO – em face do princípio da igualdade

Luan Miranda da Silva

Belo Horizonte
2017/1
LUAN MIRANDA DA SILVA

A INCONSTITUCIONALIDADE DO FORO POR PRERROGATIVA


DE FUNÇÃO – em face do princípio da igualdade

Projeto de pesquisa
apresentado a Faculdade de
Direito do Centro Universitário
Newton Paiva – como requisito
parcial para obtenção do título
de Bacharel em Direito.

Profª. Orientador: Gustavo


Vidigal

Belo Horizonte
2017/1
SUMÁRIO INICIAL:

1. INTRODUÇÃO
2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O FORO POR PRERROGATIVA DE
FUNÇÃO
2.1. CONCEITO
2.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA
2.3. DIREITO COMPARADO A OUTROS PAÍSES
2.4. PREVISÃO CONSTITUCIONAL E LEGAL
2.5. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO A LUZ DOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS
2.5.1. PRINCÍPIOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
2.5.2 PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL
2.5.3 PRINCÍPIO DA IGUALDADE/ISONOMIA
2.5.4 PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO
3. ESTUDO DE CASO: STF E A NOMEAÇÃO DE MINISTROS PELO
EXECUTIVO
4. PROJETOS DE LEIS EM TRAMITE
5. CONSEQUÊNCIA NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO.
6. CONCLUSÃO
1 - INTRODUÇÃO

Com o desenrolar das investigações da Operação Lava Jato conduzida pela


polícia federal, novamente entrou em discursão a questão quanto aos
privilégios concedidos a aquelas autoridade em que tem prerrogativa por
função, onde são julgados por instâncias superiores do Poder Judiciário.

Contudo, o espírito de injustiça, e privilégios voltou a reinar sobre o


pensamento de muito dos brasileiro, que acreditam que certos políticos não
estão sendo investigados da forma que deveriam. Forma essa, como a de uma
pessoa comum. Tal prerrogativa, gera assim, um descontentamento da
população a respeito do exercício das atividades do judiciário brasileiro.

Importante salientar, que tal descontentamento a respeito do “foro privilegiado”,


atinge ainda a classe menos leiga no assunto, como juristas, doutrinadores, e
até políticos que vem defendendo a inconstitucionalidade de tal ato, por ferir
diversos princípio constitucionais, em particular, o da igualdade.

2- CONCIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O FORO POR PRERROGATIVA DE


FUNÇÃO

2.1- CONCEITO

O foro por prerrogativa de função, trata-se de um critério de fixação de


competência funcional originária, exclusivamente do processo penal, em que
estabelece o julgamento de certas autoridades públicas a tribunais específicos
da estrutura judiciaria.

Sua razão de ser especial, é devido a importância de certos cargos públicos,


ocupados por autoridades, entendidos pelo legislador como possíveis de sofrer
perseguições e influencias de cunho político, caso viessem a ser submetidos a
juízes de primeiro grau.
2.2- EVOLUÇÃO HISTÓRICA

No Brasil, o foro especial por prerrogativa de função, se estabeleceu com a


concepção trazida pela Constituição Portuguesa de 1822 e pelos elementos
elencados pela constitucionalismo americano acerca do instituto, constituindo-
se assim uma ideia própria.

Na época, mencionado como “foro privilegiado”, foi implementado inicialmente


pela Constituição de 1824, e vigorado durante o período imperial, onde
concedia, em caráter sempre excepcional, devido ao grande relacionamento
com o estado, foro especial a membros da Família Imperial, Ministros de
Estado, Conselheiros de Estado, Senadores e Deputados, Secretários e
Conselheiros de Estado para os crimes de responsabilidade.

Essas pessoas, eram julgadas pelo Senado imperial, conforme previa Art. 47
da CF de 1824, que trazia o seguinte texto: “E da attribuição exclusiva do
Senado: I. Conhecer dos delictos individuaes, commettidos pelos Membros da
Familia Imperial, Ministros de Estado, Conselheiros de Estado, e Senadores; e
dos delictos dos Deputados, durante o periodo da Legislatura. II. Conhecer da
responsabilidade dos Secretarios, e Conselheiros de Estado”.

O Art. 99 da referida constituição, atribuía ainda, privilégio absoluto a pessoa


do imperador, que era considerado “inviolável e sagrado”, não se submetendo-
se a qualquer tipo de responsabilidade.

A atribuição ao instituto, continuou sendo previsto, em caráter excepcional, pela


posterior Constituição Federal, a de 1891. Sendo a primeira Constituição
republicana, está previu taxativamente, em seus Arts. 53, 29 e 59, I, a
competência do Senado para julgar crimes de responsabilidade imputados ao
presidente da república, e ao Supremo Tribunal Federal os crimes comuns,
cabendo sempre a câmara dos deputados efetuar a acusação.

Posteriormente, entrou em vigor a Constituição Federal de 1934, onde incluiu a


proibição, em via de regra, do tribunal de exceção, e não concedeu mais ao
senado a competência para julgar o Presidente nos casos de crime de
responsabilidade. A nova redação da carta magna, tendo em vista a natureza
da causa, atribuiu o julgamento do Presidente a um tribunal especial que
deveria ser constituído para essa finalidade, conforme Art. 58 da mencionada
constituição.

O Art 58 atribuiu também ao Supremo Tribunal Federal, na época denominada


de Corte Suprema, o julgamento de crimes comuns praticados por Presidente
da República, Ministros da Corte Suprema, Ministros de Estado, Procurador-
Geral da República, Juízes dos Tribunais Federais e das Cortes de Apelação
dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, Ministros do Tribunal de
Contas, Embaixadores e Ministros diplomáticos.

Até a revogação da Constituição Federal de 1934, as constituições vinham


excepcionando o foro por prerrogativa de função aos delitos em que
pertenciam a um juízo especial, ou seja, aos delitos atribuídos
(responsabilidade e comuns), deixando de enfatizar a qualidade do ocupante
daquele determinado cargo público.

Os textos constitucionais previram hipóteses de foro privilegiado,


sempre restritas ao âmbito penal, para o processo e julgamento de
crimes, comuns ou de responsabilidade, imputados a determinadas
autoridades públicas superiores. Essa ressalva tinha a finalidade,
porém, de enfatizar que somente a natureza da causa, e não a
qualidade da parte, poderia servir de critério para definição da
competência de juízos especiais. (SÁ, 2013 P. 4).
A carta magna de 1937, advinda de um regime totalitário, foi omissa em
relação a vedação do instituto do “foro privilegiando”. Essa, inovou-se em
atribuir competência a um Conselho Federal, composto por diversos
representantes do estado (Art. 50), o processamento e julgamento do
presidente da república por crimes de reponsabilidade, conforme previsto no
Art. 86, onde era imprescindível o recebimento da denúncia por aprovação da
câmara dos deputados.

Já a Constituição de 1946, aprovada durante o período de democratização do


país, voltou a vedar em seu Art. 141, §26 o instituto do “Foro Privilegiado”, além
de juízes e tribunais de exceção. Nesta, foi atribuindo ao STF competência
para julgar os crimes comuns atribuídos ao Presidente da República, Ministros
e o Procurador Geral, algumas dessas hipóteses, foram aproveitas pela carta
magna vigente.

Nesse período, conforme Súmula de nº 394 do STF, o foro especial chegou a


ser estendido aos ex-agentes públicos, em casos de delitos praticados durante
o exercício do mandato, independente do momento da instauração do
inquérito. Anos depois, a referida súmula foi cancelada, conforme decisão do
STF abaixo:

"Ação Penal. Questão de ordem sobre a competência desta Corte


para prosseguir o processamento dela. Cancelamento da súmula 394.
Depois de cessado o exercício da função, não deve manter-se o foro
por prerrogativa de função, porque cessada a investidura a que essa
prerrogativa é inerente, deve esta cessar por não tê-la estendido mais
além a própria Constituição." (AP 315 QO, Relator Ministro Moreira
Alves, Tribunal Pleno, julgamento em 25.8.1999, DJ de 31.10.2001).

Assim, quanto a extensão ou não do foro em relação aos ex-agentes públicos,


prevalece o entendimento da Súmula de nº 451 do STF, onde preceitua que “A
competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime
cometido após a cessação definitiva do exercício funcional”.
Com a instauração da Constituição Federal de 1967, permaneceu a vedação
do “foro privilegiado” e tribunais de exceção, inalterada, mesmo com a Emenda
Constitucional de nº 1.

Já com o advento da nossa atual carta magna, de 1988, foi retirado do texto
constitucional a vedação expressa do “foro privilegiado”, permanecendo em
seu art. 5, XXXVII, a disposição “não haverá juízo ou tribunal de exceção”.
Apesar da omissão do texto constitucional, esta constituição é a considerada
mais ampla de todas as mencionadas, registrando-se 19 hipóteses de
incidência do foro especial, conforme trataremos mais a diante.

O ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, na vigência do seu mandato,


propôs a Lei. 10.628/2002, que modificou o artigo 84 do Código de Processo
Penal, onde estendeu o foro por prerrogativa de função aos ex-ocupantes de
cargos políticos, em ações como de improbidade administrativa. Contudo, esta
lei foi declarada inconstitucional nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade de
nº 2.797-2 e 2.860-0 por maioria no STF. Mantendo-se assim, até hoje, o
privilégio ao tempo do exercício do mandato.

2.3- DIREITO COMPARADO A OUTROS PAÍSES

O foro por prerrogativa de função não é uma exclusividade do ordenamento


jurídico brasileiro, mas sua forma é bem diferente de todos os demais países
que passamos a comparar. Abrangendo 19 situações, O foro especial brasileiro
é considerado o mais amplo em relação a todos os outros países.
Em um parecer elaborado pelo Consultor Jurídico da Câmara dos Deputados,
Newton Tavares Filho, onde foi realizada comparações do instituto do foro
utilizado no Brasil em relação a diversos países, concluiu-se que “Nenhum país
estudado previu tantas hipóteses de foro privilegiado como previu a
Constituição Brasileira de 1988”

Nos Estados Unidos, por exemplo, os agentes políticos relacionados


diretamente com o estado, como embaixadores, ministros e consulares, com
relação apenas aos crimes de responsabilidade, tem foro ordinário, sendo
julgado pela Suprema Corte Americana, assim como prevê o Art. III, Seção 2
da Constituição Americana. Lá o presidente, vice e os demais agentes públicos
civis do estado, em casos de crimes de responsabilidade, são julgados pelo
senado americano em posterior análise de admissibilidade pela câmara. 3 Vide
Constituições Estrangeiras. Tradutor José Luiz Tuffani de Carvalho, Espaço Jurídico,
2003, p. 5-14 https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/13519/13519_4.PDF

Foi a Constituição americana que influenciou o Brasil na criação do processo


de impeachment, conforme detalhado por ROSAH RUSSOMANO DE
MENDONÇA LIMA ao esclarecer que: MENDONÇA LIMA, Rosah Russomano de.
op. cit., p. 242.

“A Constituição de 1891, absorvendo os ensinamentos norte-


americanos, de um modo geral, imprimiu ao “impeachment” sensíveis
aperfeiçoamentos. Entregou ao Congresso Nacional, dividido em
seus ramos clássicos, a competência para acusar e julgar o
Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como,
nos mesmos crimes, os ocupantes de relevantes posições. O art. 29
de nossa primeira Constituição republicana, assim, outorgou à
Câmara dos Deputados a competência para declarar a procedência
ou improcedência da acusação contra o Presidente da República, nos
têrmos do art. 53, e contra os Ministros de Estado, nos crimes
conexos com os do Presidente. E o art. 33, a seu turno, incluiu na
competência privativa do Senado Federal o julgamento do Presidente
da República e demais funcionários designados pela Constituição,
nos têrmos e pela forma por ela prescritos. Estes funcionários
federais, designados pela Constituição, seriam os Ministros de Estado
(art. 52) e os membros do Supremo Tribunal Federal (art. 57, § 2.º). O
Presidente da República, pois, seria acusado pela Câmara e julgado
pelo Senado, nos crimes de responsabilidade. Submeter-se-ia ao
julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, nos crimes comuns (art.
53).”

Todavia, em casos de crimes comum, de acordo com o ordenamento jurídico


americano, não se aplica o foro por prerrogativa de função, onde nem mesmo o
Presidente Donald Trump, considerado o homem mais poderoso do mundo,
goza de tal instituto. Por lá, tanto membros do Executivo como os
parlamentares podem ser julgados na primeira instância da Justiça.

Desta forma, apesar da influência na constituição brasileira, não há uma


perfeita identidade entre o foro por prerrogativa de função aqui aplicado com a
sistemática americana, que na verdade não contemplou essa prerrogativa.

Assim também ocorre na Inglaterra, Uruguai e Alemanha. A constituição alemã


prevê apenas o processo de impeachment, em nada se relacionando com o
Foro por Prerrogativa de função. Logo, apenas o presidente pode ser julgado
pela suprema corte. Não tendo a primeira-ministra Angela Merkel, por exemplo,
qualquer privilégio.

Na Argentina, por sua vez, adota o Foro por Prerrogativa de função, mas numa
modalidade bem mais limitada que no Brasil, onde concede a câmara dos
deputados a autonomia para acusar perante o senado autoridades como
Presidente, vice-presidente, o chefe do gabinete dos ministros, os ministros e
os membros da Corte Suprema, por irregularidades durante o exercício de suas
funções, seja com relação a crime de responsabilidade, ou comum.

Já a Constituição Francesa, apesar de prevê diversas responsabilizações de


seus agentes políticos, mais precisamente, dos ministros, não se pontou a
concessão de foro por prerrogativa de função. Lá o conselho constitucional
“Cour de Justice de la Republique’ é quem detém a competência penal para
julgamento de suas autoridades, porquíssimas hipóteses por sinal.

Na Venezuela, adota-se o instituto do foro por prerrogativa de função, onde sua


constituição prevê que cabe ao TSJ (Tribunal Supremo de Justiça) fazer juízo
de admissibilidade em ações que move o Presidente, após autorização da
Assembleia, vice-presidente, membros da assembleia ou do próprio tribunal,
além de ministros, procurador-geral, dentre outros, com exceção dos juízes de
direito.

Contudo, diante dos países acima analisados, notamos diferentes


configurações a certa do instituto do foro especial, onde, os países que o
regulamentam optam por um sistema peculiar a sua estrutura política.
Concluímos assim, que as autoridades que gozam de tal prerrogativa, são, na
maioria dos casos, membros do executivo e do legislativo, ou sejam,
pertencem a um rol mais exaustivo que do Brasil.

http://oglobo.globo.com/brasil/foro-privilegiado-no-brasil-mais-amplo-
comparado-outros-20-paises-20973826

http://www.espacovital.com.br/noticia-26659-foro-privilegiado-no-brasil-nao-
tem-similar-no-mundo

Em entrevista concedida a Folha de São Paulo, o ministro do STF, Celso de


Melo, narrou que há de fato algumas constituições que se aproximam do
modelo brasileiro, mas este é quase insuperável, quase invencível. Sustentou
ainda, que existem constituições dos estados do brasil com extensões de foro
absurdas. http://www.espacovital.com.br/noticia-26659-foro-privilegiado-no-
brasil-nao-tem-similar-no-mundo

2.4- PREVISÃO CONSTITUCIONAL E LEGAL


Atualmente, o foro especial por prerrogativa de função é previsto
exclusivamente pela Constituição de 1988 ou por leis às quais ela faz
remissão, conforme já decidido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento
da ADI 2797, em que para o Relator Min. Sepúlveda Pertence, “No plano
federal, as hipóteses de competência cível ou criminal dos tribunais da União
são as previstas na Constituição da República ou dela implicitamente
decorrentes, salvo quando esta mesma remeta à lei a sua fixação”. ADI 2797,
Relator Min. Sepúlveda Pertence, DJ 19-12-2006 p. 37

Entretanto, sendo a previsão constitucional taxativa, esta não poderá ser


alterada livremente por lei que não seja Emenda Constitucional. Assim, a
Constituição Federal de 1988, prevê o foro por prerrogativa de função conforme
as regras que passamos a citar:

Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e


penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.
§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma,
serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso
Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime
inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e
quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de
seus membros, resolva sobre a prisão.
§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime
ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência
à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela
representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a
decisão final, sustar o andamento da ação.
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no
prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento
pela Mesa Diretora.
§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar
o mandato.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a


guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
b)nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios
Ministros e o Procurador-Geral da República;
c)nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os
Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos
Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes
de missão diplomática de caráter permanente;
d)o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas
nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data
contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do
Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal
Federal;
i)o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o
coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam
sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se
trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância;
j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;
q)o mandado de injunção, quando a elaboração da norma
regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do
Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal,
das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas
da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo
Tribunal Federal;

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito
Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores
dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os
membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal,
os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais
Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de
Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que
oficiem perante tribunais;
b)os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro
de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica ou do próprio Tribunal;
c)os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das
pessoas mencionadas na alínea a, ou quando o coator for tribunal
sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da
Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da
Justiça Eleitoral;

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:


I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República
nos crimes de responsabilidade e os Ministros de Estado nos crimes
da mesma natureza conexos com aqueles;
II - processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, o
Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos
crimes de responsabilidade;
Art. 29 O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois
turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois
terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará,
atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na
Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça.
X) Em 2002 o Congresso Nacional, em “resposta” à mudança
jurisprudencial e cancelamento da súmula 394 pelo STF, editou a Lei
n° 10.628/2002[10], que modificou o artigo 84 do Código de Processo
Penal, com o seguinte teor:

Art. 84.A competência pela prerrogativa de função é do Supremo


Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais
Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito
Federal, relativamente às pessoas que devam responder perante eles
por crimes comuns e de responsabilidade.
§ 1º A competência especial por prerrogativa de função, relativa a
atos administrativos do agente, prevalece ainda que o inquérito ou a
ação judicial sejam iniciados após a cessação do exercício da função
pública.
§ 2º A ação de improbidade, de que trata a Lei nº 8.429, de 02 de
junho de 1992, será proposta perante o tribunal competente para
processar e julgar criminalmente o funcionário ou autoridade na
hipótese de prerrogativa de foro em razão do exercício de função
pública, observado o disposto no § 1º.

2.5- FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO A LUZ DOS PRINCIPIOS


CONTITUCIONAIS

2.5.1. PRINCÍPIOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Inicialmente, cumpre salientar que os princípios apesar da grande discursão


acerca de sua natureza jurídica, constituem-se como fontes do direito para
qualquer ordenamento jurídico. São normas que representam uma evolução
histórica de direitos e valores por parte de determinada sociedade,
introduzindo-se assim, um papel importantíssimo na aplicação do direito.

Apesar da discursão sobre o reconhecimento normativo dos princípios,


Norberto Bobbio foi claro ao atribuir a eles, caráter positivado, expressando seu
entendimento da seguinte forma:

Os princípios gerais são, a meu ver, normas fundamentais ou


generalíssimas do sistema, as normas mais gerais. O nome de
princípios induz em engano, tanto que é velha questão entre juristas
se os princípios são ou não normas. Para mim não há dúvida: os
princípios são normas como todas as demais (BOBBIO, 1996, p.
158).

Logo, fundamentou sua decisão, sustentando que:

“Os princípios gerais são normas, os argumentos são dois e ambos


válidos: antes de mais nada, se são normas aquelas das quais os
princípios gerais são extraídos, através de um procedimento de
generalização sucessiva, não se vê porque não devam ser normas
também eles: se abstraio da espécie animal obtenho sempre animais,
e não flores ou estrelas. Em segundo lugar, a função para qual são
extraídos e empregados é a mesma cumprida por todas as normas,
isto é, a função de regular um caso. E com que finalidade são
extraídos em caso de lacuna? Para regular um comportamento não-
regulamentado: mas então servem ao mesmo escopo a que servem
as normas expressas. E por que não deveriam ser normas?”
(BOBBIO, 1996, p. 158-159). BOBBIO, Norberto. Teoria do
ordenamento jurídico. 7. ed. UNB: Brasília, 1996, p. 159

Assim, por ser normas personalíssimas a cada sistema, visível a sua


identidade de natureza com as demais normas do ordenamento, sendo os
princípios, assim como o seu conceito já diz, a base e o ponto de partida para
qualquer outra norma positivada. Dessa forma, os princípios são incorporados
as normas de tal maneira que o não respeito deles, comprometerá a validade
da norma.

Entretanto não podemos dizer que as normas são princípios, uma vez que
entendemos que os princípios, diante de suas características, são gêneros da
qual a norma é a espécie. Em casos de conflitos de normas, por exemplo, a
aplicabilidade de uma fica condicionada a invalidade da outra. Diferentemente
ocorre com os princípios, que comportarem uma serie indefinida de aplicações.
Logo, em casos de colisão de princípios, um não perde a validade perante o
outro, apenas cede ao outro com relação a aquele determinado caso.

Com a introdução dos valores principiológicos ao ordenamento jurídico


brasileiro, sobretudo como forma de introdução as normas, os princípios
passaram a ter uma força hierárquica superior as outras normas em relação a
interpretação estrutural do direito, assumindo-se assim, um papel de grande
destaque.

A propósito, assim afirma a doutrina de Celso Antônio Bandeira de Mello:

“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma


qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um
específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de
comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido,
porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de
seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço
lógico e corrosão de sua estrutura mestra”. MELLO, Celso
Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. 2. ed. São
Paulo: RT, 1999, p. 300.

Dessa forma, o legislador conferiu aos princípios, o reconhecimento como a


norma mais importante do ordenamento jurídico brasileiro, prevendo-se assim
a sua supremacia em relações as demais regras. Logo, as demais normas
deverão ser condizentes com os princípios norteadores do nosso ordenamento,
devendo a eles sempre se curvar, sob pena de serem consideradas ilegítimas
e serem afastadas.

Os princípios possuem função ainda de suplementação e integralização,


podendo ser aplicadas diretamente ao caso concreto, inclusive casos de maior
complexidade, suprindo lacunas no ordenamento. Assim como prevê o Art. 4º
da Lei de introdução ao Código Civil, onde aduz que: “Quando a lei for omissa,
o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito”.

2.5.2 PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL

O princípio do juiz natural, surgiu desde a Idade Média, com a ideia de


restringir os atos praticados pelos imperadores em detrimento dos privilégios
próprios e de toda nobreza. Foi constituído primeiramente pela França,
posteriormente sendo configurada em todas as constituições de países
democráticos e civilizados.

No Brasil, por forte influência do texto constitucional francês, esse princípio foi
inserido já desde a primeira constituição, a de 1824, onde passou a ter sempre
um atenção especial do legislador constituinte. Na época, a previsão estava
contida no Art 179, XI da Constituição, onde dispunha que: “XI. Ninguem será
sentenciado, senão pela Autoridade competente, por virtude de Lei anterior, e
na fórma por ella prescripta”.

Assim, o princípio do juiz natural tem como objetivo proibir a criação posterior
de comissões e tribunais específicos a pratica de determinado crime ou em
razão daquela determinada pessoa. Logo, o juiz ou tribunal devem ser
previamente estabelecidos, de modo que ao praticar algum delito, o autor já
saberá a quem estará vinculado o seu julgamento.

O propósito é de resguardar possíveis injustiças, o que poderia estar exposto


em razão de influencias de julgados em relação aos julgadores, ou vice e
versa, causando assim um resultado diferente do merecido. Garante-se então,
um juízo independente, imparcial e justo a qualquer pessoa.

Dessa forma a Declaração Universal de Direitos Humanos também fez questão


de recepcionar esse princípio prevendo em seu Art. 10º que: “Toda a pessoa
tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e
publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos
seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria
penal que contra ela seja deduzida”.

Quanto a nossa atual constituição, conforme já mencionado nesse artigo, ela


limitou-se a proclamar que inexiste juízo ou tribunal de exceção, conforme art.
5º, XXXVII da Constituição de 1988. Assim, introduziu o princípio do juiz natural
no art 5º, LIII, onde diz que “ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente”.

Embora tenha sido introduzido nas constituições anteriores, tal previsão deixou
de mencionar a vedação quanto ao foro por prerrogativa de função, apesar de
continuar subentendida em nosso ordenamento. Contudo, com a instituição do
princípio do juiz natural, a proibição quanto ao foro especial, torna-se
indispensável ao ordenamento.

Esse inclusive é o posicionamento do Alexandre de Moraes, que defende a integral


observância ao princípio do juiz natural, de forma a não permitir a criação de novas hipóteses
de foro privilegiado, além das já previstas na constituição, respeitando, assim, as regras
objetivas de determinação de competência. Em outras palavras, o foro por prerrogativa de
função deve ser interpretado restritivamente, de forma a não ampliar as suas hipóteses de
incidência e preservar o texto constitucional. 14 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional.
15. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 109

O Ministro Moreira Alves,no julgamento do inquérito de nº 687-SP, já


mencionado, compactua com a ideia de Moraes, onde fundamentou sua
decisão frisando que “a prerrogativa de foro é, sem dúvidas, excepcional. Ela
afasta o Juiz Natural nos termos estritos da Constituição”. 15BRASIL. STF.
Informativo nº 370, 15 a 19 nov.2004. Disponível em: <http://www.stf.jus.br//arquivo/
informativo/documento/informativo370.htm> Acesso em 11 out.2009

Sendo assim, o foro por prerrogativa de função, devido as suas características,


deve ser interpretado e aplicado de forma restrita perante a constituição, uma
vez que trata-se de instituto regulamentado como exceção ao princípio do juiz
natural.

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2.5.3 PRINCÍPIO DA IGUALDADE/ISONOMIA

Impossível falar na inconstitucionalidade do foro por prerrogativa de função,


sem, contudo, analisar os preceitos do princípio da igualdade, também
chamado de princípio da isonomia.
No ordenamento jurídico brasileiro, a ideia de igualdade já é trazida, desde o
preâmbulo, que apesar de não possuir força normativa, alerta sobre os
preceitos e cuidados que o legislador teve que prestar, acerca dos valores da
igualdade, no momento da promulgação da Constituição Federal de 1988.

A referida constituição, consagrou também em seu Art. 5º que “todos são iguais
perante a lei” deixando assim de lado, o caráter meramente principiologico,
passando a ser também um direito dentre os demais, prevista nessa carta
magna. Na visão de Celso Ribeiro Bastos (1989, p. 12/13), o princípio da
igualde, é portanto, o mais vasto dos princípios constitucionais, não se vendo
recanto onde ela não seja impositiva. (Referência no artigo 4).

Quanto a expressão “perante a lei”, conforme prevista no artigo acima referido,


Marcelo Novelino (2013, p. 474) entende que o dever de igualdade deve ser
observado não apenas na dimensão da aplicação, mas também no momento
da elaboração do direito, onde o dever de igualdade, vincula todos os poderes
públicos, sobretudo, o legislador que está obrigado a elaborar um direito igual
para todos.

Nada obstante, em decisão proferida pelo STF, manifestou o Ministro Celso de


Melo no sentido de que “o princípio da isonomia - cuja observância vincula
todas as manifestações do Poder Público – deve ser considerado, em sua
precípua função de obstar discriminações e de extinguir privilégios, sob pena
de ruptura da ordem isonômica”. STF – Al (AgR) 360.461, rel. Min. Celso de Melo (DJE
28.03.2008).

Dessa forma, Celso Antônio Bandeira de Mello (2008, p.10) considerou ser o
conteúdo-ideológico do princípio da igualde, propagando os textos
constitucionais em geral, ratificando que “a lei não deve ser fonte de privilégios
ou perseguições, mas instrumento regulador da vida social que necessita tratar
equitativamente todos os cidadãos”. (Artigo 4)

Fábio Comparato afirma que “a vedação do privilégio pessoal não decorre


apenas do princípio da isonomia, mas também da natureza republicana do
regime político adotado. Na República, como ninguém ignora, nenhum
particular é dono do poder, mas todos o que exercem devem ser considerados
meros funcionários ou servidores do bem comum (res publica)”.

Assim, tal privilégio além de afrontar o princípio da igualdade, não protege


nenhum interesse da coletividade, apenas daqueles responsáveis pela
instituição e aplicação da norma, não possui assim, nenhum respaldo ético.
Tanto é que, os próprios beneficiários do foro por prerrogativa de função, são
quem tem competência para criar tal privilégio.

Como se não bastasse, as pessoas competentes para julgar ações imputadas


a autoridades detentoras de foro especial, em muitas hipótese, são nomeadas
pelo próprio acusado. Assim prevê o Art. 101 da Constituição Federal que os
ministros do STF (que são responsáveis para julgar o Presidente, Vice-
Presidente, Deputados e Senadores) são nomeados pelo Presidente da
República depois de aprovação pelo Senado Federal.

Em outras palavras, Alexandre Moreira preconiza que “os potenciais


“acusados” são também os responsáveis pela nomeação de seu acusador! Por
mais que o acusador e os julgadores contem com garantias constitucionais
para sua independência, há, no mínimo, um grande risco de vinculação política
e ideológica com os políticos responsáveis por sua nomeação”.

2.5.4 PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO


Com a promulgação da EC 45/2004, acrescentou ao artigo 5º da Constituição
Federal, o inciso LXXVIII, que objetiva assegurar a todos os individuas o direito
de um processo, seja ele judicial ou administrativo, uma duração razoável e
meios necessários para garantir a celeridade no seu procedimento.

Dessa forma, entende Marcelo Novelino (2013, p. 570) que o princípio em


voga, está dirigido tanto ao juiz, mas principalmente ao legislador, impondo-lhe
a tarefa de aperfeiçoar a legislação processual com o escopo de assegurar um
razoável duração ao processo.

Concomitantemente, o Art. 93, XIII da atual carta magna, aduz que “o número
de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda judicial e
à respectiva população”. Assim, busca o aperfeiçoamento das demandas
judicias com o intuído de garantir a celeridade de sua tramitação.

O que não se vê demonstrado nos dias de hoje em relação ao foro por


prerrogativa de função. O STF, é órgão responsável para julgar a maioria das
autoridades detentoras de foro especial, todavia, contém apenas 11 juízes,
diferentemente da justiça de primeiro grau, que contém indiscutivelmente um
número muito superior.

Com a concentração das ações de foro por prerrogativa de função nas mãos
dos ministros do STF, impossível falar em celeridade, agilidade e eficiência nos
procedimentos penais a respeito. Os resultados de um levantamento realizado
por Joaquim Falcão, em um artigo publicado para o Jornal “O Globo”, reafirma
o que aduzimos, onde concluiu que:
De 2001 até hoje são cerca de 560 casos [...]Em 2003, o STF levava
em média 277 dias para julgar ações penais correspondentes àqueles
com foro privilegiado. Em 2016, são mais de 1.200 dias. Aumento de
346%. E o total de ações novas aumentou em 132%. Em 2014, o
STF, pensando em agilizar esses processos, determinou que estas
autoridades poderiam ser julgadas pelas Turmas. Não funcionou até
agora. De 1.396 dias em 2014, aumentou para 1.536 em 2015. Tudo
não passaria de um problema de gestão interna na busca de
eficiência se não trouxesse graves consequências. Quanto mais
tempo se passa, mais aumenta a probabilidade de o STF enfrentar
pressões políticas indevidas. Leia mais sobre esse assunto
em http://oglobo.globo.com/brasil/artigo-supremo-os-politicos-
com-foro-privilegiado-1-19587066#ixzz4f122gzKy 

Se nada for feito, a tendência é da situação ainda se agravar. Com o decorrer


da operação Lava Jato, o números de investigados e acusados aumenta a
cada dia. Tanto é que, conforme noticiado nessa semana, apenas a delação da
Odebrecht colocou sobre investigação, 49 deputados, 8 ministros e 3
governadores. Com exceção dos governadores, todos os demais estão sobre a
jurisdição do Supremos Tribunal Federal.

Dessa Forma, compadecemos do entendimento de Newton Tavares Filho que


com relação ao acumulo de ações com foro o STF, manifestou-se no sentido
de haver violação do “direito dos jurisdicionados à razoável duração do
processo e aos meios que garantem a celeridade no seu processamento,
consagrado pelo art. 5º da Constituição”.

3. ESTUDO DE CASO: STF E A NOMEAÇÃO DE MINISTROS PELO


EXECUTIVO

Atualmente, diante de inúmeros escândalos de corrupção, sobretudo o da lava


jato, ocupar cargos públicos com foro por prerrogativa de função, tem se
tornando cada dia mais atrativo. Diante dos casos que veremos abaixo,
algumas autoridades, para não serem punidas por crimes a eles imputados,
buscaram o mecanismo do foro especial para livrar-se do juízo singular.
Conforme já relatamos, a vantagem de ocupar o rol extensivo de autoridades
com foro especial, não é apenas de não serem julgados por um juiz de primeiro
grau, mas sobretudo pelo tempo que se ganha com a morosidade da
tramitação de processos como estes perante órgãos como STF.

O Supremo Tribunal Federal tem se preocupado com essas manobras


políticas, tanto é que, em decisão proferida pelo Ministro Gilmar Mendes nos
mandatos de segurança (MS) 34070 e 34071, foi deferida a liminar,
suspendendo a eficácia da nomeação do ex-presidente, Luiz Inácio da Silva,
onde havia sido nomeado pela ex-presidente Dilma Rousseff para ocupar o
cargo de Ministro da Casa Civil.

A decisão do Ministro foi fundamentada, no sentido de que o ato praticado pela


ex-presidente Dilma Rousseff ocorreu com desvio de finalidade, onde o
principal objetivo da nomeação era retirar a competência do juízo de primeiro
grau sobre as investigações referentes ao ex-presidente Lula, onde passaria a
ter foro por prerrogativa de função perante o STF.

Esta não foi a única manifestação recente do STF, quanto ao foro por
prerrogativa de função. Após inúmeras manifestações dos tribunais regionais,
decidindo tanto pela legalidade da nomeação do Ministro Moreira Franco,
quanto para cassar, o Ministro do STF, Celso de Mello, decidiu o mandado de
segurança MS-34615, pela legalidade da nomeação.

Questionado quanto a similaridade com o caso julgado pelo Ministro Gilmar


Mendes, o ministro Celso de Mello afirmou que “a nomeação de alguém para o
cargo de ministro não configura, por si só, hipótese de desvio de finalidade, que
jamais se presume”, e que “a prerrogativa de foro, que traduz consequência natural
e necessária no cargo de ministro não importa em obstrução e muito menos em
paralisação de investigação criminal ou de persecução penal”.
4. PROJETOS DE LEIS EM TRAMITE

Segundo o último levantamento realizado pela Câmara dos Deputados, estão


sobre análise dos parlamentares, cerca de 12 proposta de emenda a
Constituição, com o objetivo de mudar ou até mesmo acabar com o foro por
prerrogativa de função, popularmente conhecido de “Foro Privilegiado”.

Autor de uma das propostas, o Deputado Federal Rubens Bueno, do PPS do


Paraná, em entrevista concedida a rádio câmara, ao defender o seu projeto,
afirmou que “são milhares de processos, que tomam tempo e trabalho dia e
noite e não vencem. Então, nós temos milhares de juízes espalhados pelo
Brasil que podem dar conta na primeira instância disso e nos julgamentos em
segunda instância, por órgãos colegiados, o condenado já pode ser preso, que
é o que está sendo afirmado pelo Supremo Tribunal Federal".
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/RADIOAGENCIA/523690-CAMARA-
ANALISA-FIM-DO-FORO-PRIVILEGIADO.html

O Deputado Celso Maldaner, do PMDB de Santa Catarina, propôs a PEC de nº


247/2016, que tem como objetivo a extinção por completa do foro por
prerrogativa de função para crimes comuns, inclusive para o presidente da
república e seu vice. Ele manifestou-se no sentido de que a hierarquia proposta
pelo foro especial, atrasa o andamento dos processos, impossibilitando assim a
prisão dos políticos acusados.
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/RADIOAGENCIA/522212-FIM-DO-
FORO-PRIVILEGIADO-SEGUE-NA-PAUTA-DE-DISCUSSOES-DA-CAMARA-EM-2017.html

No Senado Federal, o senador Álvaro Dias, um dos principais apoiadores do


fim do foro especial, e autor da PEC 10/2003, propõe a extinção do foro em
relação a todas as autoridades brasileiras, inclusive o presidente, por entender
que do jeito que está, viola o princípio da igualdade de todos os cidadãos
perante a lei. Em um discurso no plenário do senado, afirmou que “essa
sensação de liberdade que sempre se deu às autoridades não deu bom
resultado em nosso sistema político e jurídico”.
http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/04/04/pec-que-acaba-com-foro-privilegiado-
volta-para-a-ccj/tablet

Quanto a este projeto, considerado o mais evoluído dos demais no congresso


federal, o senador Roberto Rocha (PSB-MA), por sua vez, apresentou uma
emenda a esse projeto, sugerindo a manutenção de julgamento especial para
ocupantes de alguns cargos, além da criação de varas especializadas na
Justiça Federal. Nessas varas seriam julgados o presidente, o vice, os
ministros do estado e dos tribunais superiores, além de outras autoridades.
Emenda essa muito criticada pelo Senador Álvaro Dias.
http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/04/04/pec-que-acaba-com-foro-privilegiado-
volta-para-a-ccj/tablet

O Supremo Tribunal Federal também tem se manifestado quanto ao foro


especial. O ministro Luís Roberto Barrosso aproveitando um caso de sua
jurisdição, pediu para que o Plenário rediscutisse a validade da matéria. Em
seu despacho, aduziu que o próprio tribunal poderá “reduzir o problema (...)
mediante uma interpretação restritiva do seu sentido e alcance, com base no
princípio republicano e no princípio da igualdade”. http://www.conjur.com.br/2017-fev-
16/barroso-stf-limitar-foro-especial-antes-qualquer-pec

Dessa forma, A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, agendou para o dia
31 de maio do presente ano, o julgamento sobre a extensão do “foro
privilegiado”. Conforme levantamento realizado pelo Jornal “O Globo”, a
restrição do foro já tem apoio de Cármen Lúcia, Edson Fachin, Luís Roberto
Barroso, Luiz Fux, Marco Aurério e Rosa Weber. Ou seja, a maioria dos
ministros. http://blogs.oglobo.globo.com/lauro-jardim/post/restricao-ao-foro-privilegiado-ja-
tem-maioria-no-supremo.html?loginPiano=true

5. CONSEQUÊNCIA NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO.


Não obstante as profundas raízes no contexto histórico e os fundamentos
jurídicos ensejadores do foro por prerrogativa de função, cujo objetivo é a
proteção do cargo e não do ocupante, sua motivação viola os preceitos
caracterizadores da república. Pois, conforme demonstrado anteriormente, o
foro especial é incompatível com o princípio do juiz natural, da igualdade e até
mesmo ao princípio da razoável duração do processo.

Analisando os ditames do princípio da igualdade, concluímos que todos


deveriam ser julgados sob a mesma forma originária imposta pela legislação
em vigor, sem atribuição de qualquer privilégio. Assim, conforme analisado, o
estabelecimento do foro especial acarretam ainda uma insegurança jurídica a
população, que vê os processos atribuídos as autoridades políticas se
pendurarem por longos anos.

Nesse sentido, Verônica Avelar de Bustamente Sá sustenta que a prerrogativa


conferida a alguns poucos na sociedade, mais precisamente a classe política,
acaba por estabelecer um escalonamento entre classes de agentes públicos e
o restante da população em geral, violando claramente a igualdade perseguida
pela Constituição Federal, “que repugna todas as formas de discriminação ao
longo de seu texto”.

Dessa forma, o instituto do foro por prerrogativa de função vem sofrendo


inúmeras críticas, tanto dos doutrinadores, mas até mesmo dos membros do
Poder Judiciário.

Em entrevista recente publicada pelo Jornal “O Globo”, o Ministro do STF Luiz


Roberto Barroso declarou-se um dos maiores opositores ao instituto, defendo
que, “O foro por prerrogativa é causa frequente de impunidade, porque dele
resulta maior demora na tramitação dos processos e permite a manipulação da
jurisdição do tribunal”. http://oglobo.globo.com/brasil/barroso-diz-que-foro-privilegiado-
representa-perversao-da-justica-20940589

O Ministro afirmou ainda que o foro privilegiado “dá privilégio a alguns, sem um
fundamento razoável”. Explicando que, no caso do STF, os processos criminais
se penduram por muitos anos, consumindo assim um tempo exagerado de uma
corte, em que deveria se preocupar apenas com assuntos constitucionais.

Complementando a inviabilidade do STF, para julgamento dessas


prerrogativas, afirma Alexandre Magno Fernandes Moreira que:

“Em termos práticos, verifica-se que o STF não é um órgão apto a


realizar investigações, coletar documentos e ouvir depoimentos de
testemunhas. Tais atividades instrutórias são típicas de juízos de
primeiro grau, que têm por função precípua lidar com os fatos no local
onde eles ocorreram. A finalidade do STF é radicalmente oposta a
essa, pois cumpre a ele proteger a Constituição Federal,
principalmente por meio do controle abstrato das normas. Percebe-se
claramente que a realização de processos penais é incompatível com
seu caráter de corte constitucional”. (http://www.conjur.com.br/2007-
abr-24/foro_privilegiado_meio_favorecer_impunidade)

Barroso não foi o único ministro a se manifestar contrário ao instituto aplicado,


a Ministra Carmem Lúcia, em entrevista concedida ao Roda Vida aduziu que
“Privilégios são incompatíveis com a república”. O Ministro Celso de Mello,
também já fez severas críticas, no qual em entrevista concedida à Folha de S.
Paulo, manifestou-se a favor da:

“supressão pura e simples de todas as hipótese constitucionais de


prerrogativa de foro em matéria criminal. Mas, para efeito de debate,
poderia até concordar com a subsistência de foro em favor do
presidente da República, nos casos em que ele pode ser
responsabilizado penalmente, e dos presidentes do Senado, da
Câmara e do Supremo. E a ninguém mais”.
http://www.conjur.com.br/2012-fev-26/celso-mello-defende-fim-foro-
prerrogativa-funcao
Contudo, a morosidade advinda do julgamento das ações com foro especial
perante órgão privilegiados, seja pela lotação de processos ou pela ineficácia
do dos próprios órgãos, tem como resultado a sensação de impunidade dos
agentes públicos causadores de graves danos ao patrimônio público.

6. CONCLUSÃO

11. CONCLUSÃO

Em termos práticos, verifica-se que o STF não é um órgão apto a realizar


investigações, coletar documentos e ouvir depoimentos de testemunhas. Tais
atividades instrutórias são típicas de juízos de primeiro grau, que têm por função
precípua lidar com os fatos no local onde eles ocorreram. A finalidade do STF é
radicalmente oposta a essa, pois cumpre a ele proteger a Constituição Federal,
principalmente por meio do controle abstrato das normas. Percebe-se claramente
que a realização de processos penais é incompatível com seu caráter de corte
constitucional.

Essa incompatibilidade é cabalmente demonstrada pelas estatísticas: levantamento


feito pelo próprio Supremo verificou que, nos últimos dez anos, foram concluídos
apenas vinte processos penais envolvendo políticos. Em treze, foi declarada a
prescrição, e em outros nove, os réus foram absolvidos. Ou seja, não ouve
condenação nenhuma nesse período. A situação é semelhante no STJ, que nunca
condenou criminalmente um desembargador.

No livro A República, de Platão, é contada a história de Giges, um camponês que


encontra um anel capaz de torná-lo invisível. Com ele, pôde cometer diversos
crimes sem nunca ter sido apanhado. No Brasil de hoje, algumas autoridades
contam com esse anel, que lhes dá a certeza da impunidade. Para tornarem-se
invisíveis aos olhos da Justiça, bastou adotarem um mecanismo que inviabiliza
qualquer condenação: o foro privilegiado, ou, em um eufemismo, o foro por
prerrogativa de função.

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