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N.

18 SET/OUT 2019

o que
os
domicílios
contam

linha do tempo: a história


dos censos no brasil

mudanças climáticas
são tema do ods 13

documentário do censo 2000:


o ibge de zelito viana
e marcos palmeira
4
mudança
climática:
resiliência e ação

17
o mapa
da qualidade

6
décadas
de censo

22
fora da escola e
longe do mercado
de trabalho

8
história de 26 O IBGE de Zelito Viana e Marcos Palmeira
uma casa
27 #ibge
a
EXPEDIDENTE

Presidente
lém de chão, paredes e telhado, os domicílios brasileiros são feitos de Susana Cordeiro Guerra

história. É o que conta a reportagem de capa da edição 18 da Retratos. Diretor-Executivo


Fernando José de Araújo Abrantes
A casa da carioca Daniele Miranda é a personagem dessa matéria, Diretoria de Pesquisas
que mostra como as características dos domicílios também ajudam a Eduardo Rios-Neto

compreender melhor a realidade de milhões de famílias, de diferentes Diretoria de Geociências


João Bosco de Azevedo
cantos do Brasil. Diretoria de Informática
David Wu Tai
Outra história dessa edição é a dos censos brasileiros. O Instituto Centro de Documentação e
está na fase de planejamento do Censo 2020, um bom momento para Disseminação de Informações
Marise Maria Ferreira
relembrar como foram as operações anteriores. Uma linha do tempo Escola Nacional de Ciências Estatísticas
destaca acontecimentos e imagens que marcaram todos os recense- Maysa Sacramento de Magalhães
amentos feitos no país, desde o Censo Geral do Império, de 1872; UNIDADE RESPONSÁVEL
Coordenação de Comunicação Social
passando pelo de 1940, o de estreia do IBGE; até o Censo 2010, o Alex Campos
primeiro totalmente digital. Editora
Mônica Marli
O Censo também é o tema da coluna O IBGE de, que traz uma entre- Editora assistente
Marília Loschi
vista com o cineasta Zelito Viana e o ator Marcos Palmeira. Pai e filho
Editora de arte
relembram como foi a experiência de dirigir e apresentar o documentá- Simone Mello
rio O país é este, que tem como tema os dados do Censo 2000. Editora de fotografia
Licia Rubinstein
A Retratos fala também de futuro. O Brasil ainda é um país com mui- Projeto gráfico
Simone Mello
tos jovens, mas as quedas nas taxas de fecundidade estão, aos poucos,
Reportagem
editorial

mudando essa realidade. O país está se preparando para essa transfor- Eduardo Peret, Luiz Bello, Marília Loschi,
mação? Como anda a qualificação das novas gerações? A reportagem e Mônica Marli
Editoração eletrônica
Fora da escola e longe do mercado de trabalho mostra que é grande o Simone Mello
número de jovens sem estudo e sem emprego. Foto da capa
Licia Rubinstein
E na série dos Objetivos dos Desenvolvimentos Sustentáveis, o ODS 13 Fotografia
trata sobre as medidas urgentes para minimizar os impactos das mu- Amanda Martins (estagiária),
Arquivo SEBRAE/PI, Asprodejas,
danças climáticas. A entrevista é com Denise Kronemberger, coordena- Leonardo Vieira, Licia Rubinstein,
Ronaldo Souza e Simone Mello
dora geral dos ODS no IBGE e responsável pela articulação do ODS 13
Ilustração
no Brasil. Simone Mello
Tratamento de imagens
Essa edição traz ainda uma reportagem sobre o Mapa das Indicações Licia Rubinstein
Geográficas. A banana de Corupá, os derivados da jabuticaba de Sabará Logística de distribuição
Helena Pontes
e o cacau de Tomé-Açu são alguns dos produtos que passaram a inte-
Colaboradores
grar o mapa de 2019, feito pelo IBGE. Adelina Bracco, Irene Gomes, Gabriel
Braga (estagiário), Karina Meirelles
Boa leitura! Equipe da redação (estagiária) e Maira Brito (estagiária)
Revisão de textos
Marília Loschi
Retratos a Revista do IBGE é uma publicação bimestral do Instituto para distribuição interna e externa. A publicação não é comercializada.
Todos os direitos são reservados. Caso queira reproduzir as matérias e as imagens desta edição, entre em contato através do nosso e-mail. Impressão
A publicação das informações individuais na Retratos foi autorizada pelos entrevistados. Críticas e sugestões: revistaretratos@ibge.gov.br Plenaprint Gráfica e Editora Eireli
Tiragem
30.000 exemplares
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ISSN
Avenida Franklin Roosevelt, 166 sala 900 A - Centro - Rio de Janeiro - RJ 20021-120 2595-0800

set/out 2019 retratos a revista do ibge 3


mudança climática: resiliência e ação
“Medidas Urgentes”. A expressão integra o ODS 13 e demonstra a preocupação da
comunidade científica internacional com as transformações climáticas. Suas causas,
debatidas há décadas, estão ligadas ao aumento dos níveis de dióxido de carbono na
atmosfera, após séculos de atividade industrial e crescimento acelerado das cidades.
texto Suas consequências podem mudar tragicamente a vida da população mundial. Esse
Luiz Bello
arte e design
foi o tema da entrevista com Denise Kronemberger, coordenadora geral dos ODS no
  Simone Mello IBGE e responsável pela articulação do ODS 13 no Brasil.

Revista Retratos  “Medidas frequentes e aumento de áreas georreferenciar as informa-


urgentes” é uma expressão com desertificação – que vão ções dos setores censitários e
incomum em relatórios dos encontrar populações vulnerá- elaborar polígonos de áreas de
organismos de cooperação veis. Por isso o objetivo fala em risco. A escala mais local é o
internacional. Por que é usada “tomar medidas urgentes”. nível em que todos os países
no ODS 13? estão discutindo o ODS 13.
Denise Kronemberger O Retratos  Qual a importância Além disso, há as informações
ODS 13 foca exatamente em do Censo para esse ODS? da Defesa Civil, sistematizadas
adaptação e mitigação. Não tem Denise  Para falar da nossa ca- pelo Ministério da Integração,
mais jeito, a mudança climáti- pacidade de adaptação a esses que tem uma base de dados
ca está aí e o mundo tem que eventos extremos, precisamos sobre o número de afetados e
se preparar para aumentar a das informações detalhadas de mortos. E ainda há a Pes-
resiliência perante esses eventos do Censo. Com isso, a coor- quisa de Informações Básicas
extremos – como furacões mais denação de Geografia pode Municipais (Munic).

4 retratos a revista do ibge set/out 2019


Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 13:
TOMAR MEDIDAS URGENTES PARA COMBATER
A MUDANÇA DO CLIMA E SEUS IMPACTOS

Retratos  Foram definidos, de Monitoramento e Alertas de do efeito estufa. Grande parte


até agora, três indicadores Desastres Naturais (Cemaden). O dos países já tem informações
para o ODS 13. O primeiro vai foco é sempre a redução do risco, disponíveis, pois se reportam à
mensurar o número de mortos, e não é somente o de deslizamen- Convenção do Clima. No Brasil,
de desaparecidos e de afetados tos, mas também de aumentarem o Ministério da Ciência e Tecno-

Licia Rubinstein
pelos desastres decorrentes das as doenças tropicais e de afetar a logia tem essa informação anual,
mudanças climáticas. Quais agricultura, por exemplo. além do Inventário Nacional
são as fontes para esse indica- de Gases do Efeito Estufa. Mas
dor no Brasil? Retratos  O terceiro indicador é enquanto esse indicador não for
Denise
Denise  As Defesas Civis dos sobre as prefeituras que im- considerado global, não iremos
Kronemberger
estados e municípios. Quem plementam estratégias locais trabalhar com ele. é geógrafa com
consolida é o Ministério da de redução de risco, em linha doutorado em
Integração. É um desafio que com as estratégias nacionais. A Revista Retratos  As definições Geociências
(Geoquímica Ambiental)
o IBGE enfrenta. Não temos principal fonte é a Munic? metodológicas de cinco indi- e coordenadora
todas as informações, tem que Denise  Sim. E aí vemos, mais cadores do ODS 13 não foram dos Objetivos de
ser um trabalho colaborativo. uma vez, a importância do IBGE concluídas. Como isso está Desenvolvimento
Sustentável (ODS)
Daí a relação com o ODS 17, na produção de informações sendo encaminhado? no IBGE.
que fala em parcerias e meios para o ODS 13. Esse indicador foi Denise  Esse ano, a Conferência
de implementação. construído com 25 variáveis, que da Mudança do Clima certamen-
mostram a estrutura do município te vai propor alguns substitutos.
Retratos  O segundo indicador para lidar com os desastres como É um processo demorado, que
fala sobre o número de países a existência de mapeamentos de envolve especialistas e os vários
que adotam e implementam áreas de risco e de programas institutos nacionais de estatís-
estratégias nacionais de redução habitacionais para realocar a ticas. O indicador de agricul-
de risco de desastres. Quais seus população de baixa renda. Para tura sustentável, por exemplo,
principais aspectos? aumentar a resiliência e a popu- continua sendo discutido junto à
Denise  Ele faz muito sentido lação ser capaz de, após sofrer Organização das Nações Unidas
para a ONU Desastres. Quais uma inundação, por exemplo, para a Alimentação e a Agricul-
são os países que ainda não têm conseguir adaptar-se e voltar ao tura (FAO). O ODS 13 é formado
estratégia nacional, em linha com equilíbrio inicial. A partir dessas por oito subindicadores. Alguns

i
as últimas recomendações inter- informações, é possível avaliar países nem têm todas essas infor-
nacionais (Quadro de Sendai)? onde investir os recursos públicos, mações. É um desafio. Estamos
Esse é um primeiro aspecto. Mais que são cada vez mais escassos. lidando com temas que nunca fo-
tarde, será preciso avaliar a efici- ram trabalhados. As informações
ência dessas estratégias, incluindo Retratos  Além desses, há outro ambientais são recentes, não têm
um sistema de monitoramento indicador que poderia ser inclu- a mesma tradição das informa-
e alerta, como o que já é feito ído no ODS 13? ções sociais e das econômicas. E
no Brasil pelo Centro Nacional Denise  As emissões de gases isso não somente no Brasil.

set/out 2019 retratos a revista do ibge 5


décadas de censo
10.112.061 habitantes 1880 14.333.915 hab.
1872 Realizado pela Diretoria Geral de Estatística – órgão criado em 1871 –
o Censo Geral do Império foi o primeiro da História do Brasil. Além de
1890 Os trabalhos de apuração do I Censo da
República foram marcados pela lentidão. Cinco
contar a população, também investigou cor, sexo, estado de livres ou anos depois da coleta de dados, nenhum estado
escravos, estado civil, nacionalidade, ocupação e religião. do país havia concluído as apurações. Só em
1900, às vésperas da próxima operação, é que
foram publicados os últimos resultados.

41.238.315 hab. 51.941.767 hab. 70.070.457 hab. 93.139.037 hab. 119.002.706 hab.
1940 1950 1960 1970 1980
O Recenseamento Geral de Visando ao desenvolvimento O Recenseamento Geral de Os questionários do O Recenseamento Geral de
1940 foi o primeiro feito e à comparabilidade das 1960 foi o primeiro censo Recenseamento Geral de 1980 teve como slogan
pelo IBGE. Houve intensa estatísticas oficiais, o brasileiro a usar a técnica de 1970 foram definidos e O país que a gente conta.
campanha para incentivar Recenseamento Geral de amostragem, que investigou, impressos em 1968. O Um sistema informatizado
a população a responder o 1950 integrou o Censo através de nove quesitos, as personagem Julinho, o de acompanhamento da
Censo. Devido à Segunda das Américas, em características das pessoas recenseador, foi criado para coleta, que permitia conhecer,
Guerra Mundial, o maquinário atendimento à ONU. e dos domicílios. Para a a campanha de divulgação, semanalmente, o número de
encomendado não chegou e Nos estados e municípios apuração dos dados, o IBGE que também contou com setores concluídos e de pessoas
os dados foram processados foram criadas comissões importou um computador de personalidades como Pelé. recenseadas, foi uma das
nas mesmas máquinas censitárias para auxiliar na grande porte, o Univac 1105, Os primeiros dados saíram grandes inovações da operação.
usadas em 1920. Foram divulgação da operação. que foi chamado de “cérebro em 1971. No meio da década Pela primeira vez, os resultados
sete anos entre coleta e O número de quesitos do eletrônico”. todo o Censo já estava preliminares de um censo foram
divulgação dos resultados. questionário baixou de 45 divulgado. divulgados no mesmo ano de
(1940) para 25. realização da pesquisa.

6 retratos a revista do ibge set/out 2019


O Censo 2020 será o 13º feito no Brasil e o nono realizado pelo IBGE. A grandiosidade da operação – que vai a todos
os domicílios do país – e a relevância dos seus resultados – que servem de base para diversas políticas públicas – são
alguns dos motivos pelo qual os recenseamentos, desde 1872, mobilizam a sociedade como um todo. Resgatar os fatos
que marcaram os censos do país é também uma forma de contar a História do Brasil.

17.438.434 hab. 1910 30.635.605 hab. 1930


1900 O Recenseamento de 1900 foi o terceiro do país e o primeiro após a
promulgação da Constituição da República. A operação começou no dia 31
1920 Cobrado pela sociedade e, principalmente, pela imprensa, o
Recenseamento Geral de 1920 foi marcado pela correria, pois
de dezembro de 1900. Os primeiros resultados – em janeiro do ano seguinte apenas em janeiro daquele ano a lei para a sua realização foi
– foram os do Rio de Janeiro, mas a operação na então capital teve que ser aprovada. Os resultados foram apresentados na Exposição Universal
refeita por deficiências dos dados. Os resultados finais saíram em 1907. comemorativa do aniversário da Independência do Brasil, em 1922.

146.825.475 hab. 169.799.170 hab. 190.755.799


1991 2000 2010 texto  Mônica Marli 
O planejamento do X O Censo Demográfico No Censo 2010, o questionário em papel foi
Recenseamento Geral do 2000 foi marcado pela substituído inteiramente pelo modelo eletrônico fotos  Acervo IBGE

i
Brasil começou em 1987, inovação tecnológica, como a desenvolvido em PDA, o computador de mão usado design Simone Mello
mas ele só aconteceu em digitalização dos questionários pelos recenseadores. Os PDAs eram equipados com
1991, porque a autorização – que ainda eram de papel – e GPS e neles havia mapas digitais com os endereços
para contratar os servidores o reconhecimento óptico de a serem visitados pelos recenseadores. Essa
temporários demorou a sair. caracteres. Para ajudar na inovação foi possível devido à unificação e migração
Com o slogan Ajude o Brasil a mobilização da sociedade, foi da Base Territorial do modo analógico para o digital.
ter um bom censo, a operação criada a revista Vou te Contar. O questionário também pode ser respondido pela
trouxe novidades como a Os resultados preliminares Internet. Os primeiros resultados foram divulgados
Comissão Consultiva, o Projeto foram divulgados no dia 21 de em dezembro do mesmo ano. A presença do IBGE
Escola e a divulgação dos dezembro, em um evento em no Twitter inaugurou a participação do Instituto
resultados em disquetes. Brasília. nas redes sociais.

set/out 2019 retratos a revista do ibge 7


Daniele Miranda está casada
com Paulo José da Silva há
nove anos, mas a história da
casa onde os dois moram com
os quatro filhos remonta ao
nascimento do Jardim Batan,
no fim dos anos 1950, em
Realengo, Zona Oeste do Rio
de Janeiro. Cada elemento
da residência, desde a laje –
que substituiu o telhado de
cumeeira há quase uma década
– até o projeto de construção
de um segundo andar, contribui
para enriquecer essa história,
que também é contada
pelo IBGE através de suas
pesquisas domiciliares.

história de
uma casa
Licia Rubinstein

texto  Eduardo Peret


fotos  Licia Rubinstein e Simone Mello
design  Simone Mello

8 retratos a revista do ibge set/out 2019


De porta em porta
As pesquisas
domiciliares do
IBGE, como a
Pesquisa Nacional
por Amostra de
Domicílios Contínua
(Pnad Contínua),
a Pesquisa de
Orçamentos
Familiares (POF), a
Pesquisa Nacional
de Saúde (PNS) e o
Censo Demográfico,
fazem um retrato da
população brasileira,
não só a partir das
informações sobre
os moradores, mas
também através das
características dos
próprios domicílios.

set/out 2019
b
retratos a revista do ibge 9
a primeira característica que
se percebe do imóvel de
Daniele é o fato de ser uma
casa. Esse é o tipo de mo-
radia mais popular no país,
resistindo aos projetos de
segundo a Pnad Contínua, em
2018, metade dos domicílios
do país tinham esse tipo de
telhado, enquanto 14,7% tinha
telhado com laje de concreto,
sem telhas – como o usado
verticalização das cidades. atualmente no lar da carioca.
De acordo com os dados da As pesquisas domiciliares
Pnad Contínua, suplemento do IBGE levantam não apenas
Domicílios e Moradores, dados sobre os moradores,
em 2018, 183,3 milhões de mas também as características
pessoas residiam em casas. dos domicílios em que vivem.
Enquanto os apartamentos Informações sobre material
representavam 13,8% dos 71 das paredes, teto e piso são
milhões de lares no Brasil, fundamentais para compre-
as casas correspondiam a ender melhor a realidade de
86%. Havia ainda outros milhões de famílias.
como casa de cômodos, cor- Maria Lucia Pontes, geren-
tiço ou cabeça de porco, que te da Pnad Contínua, explica
somavam 0,2%. que esses dados se referem
“Uma das minhas irmãs à adequação da moradia em
mora em apartamento, mas eu termos de saúde e bem-estar
sempre morei em casa, prefiro da família. Segundo Maria
ter uma área maior e estar Lucia, o IBGE segue manuais
mais perto da rua”, afirma de estatística para definir o
Daniele. Ela comenta, com que é essencial nos questio-
orgulho, que projetou todas nários. Além disso, existem
as obras, desde o casamento: demandas como a do Minis-
“Esse terreno é da família do tério das Cidades, sobre o
meu marido há mais de 40 tipo de esgotamento sanitário,
anos. Quando eu vim morar ou de Minas e Energia, sobre
aqui, era direto na telha. Cho- a energia usada no preparo
Simone Mello

via mais dentro de casa do que de alimentos. “São diferentes


fora”, lembra, rindo. demandas que nos levam
O telhado de concreto sem a determinar se os domicí-
telha – como era antigamen- lios contribuem para a boa
te na casa de Daniele – é o qualidade de vida”, comenta a
mais comum no Brasil. Ainda pesquisadora.

10 retratos a revista do ibge set/out 2019


laje de concreto sem telhas
0,1%
14,7% do total


de domicílios
no país tocantins

31,9%


espírito santo

tipo de domicílios

86%
são casas

68,9%

df

97,7%
piauí

Fonte: Pnad Contínua


2018 - Características
gerais dos domicílios e
dos moradores

set/out 2019 retratos a revista do ibge 11


DENTRO DE CASA

Ao entrar na casa de Daniele, úmido, a madeira estraga em


a primeira coisa que chama pouco tempo. O piso cerâmi-
atenção é a cor vibrante das co, além de durar, se mantém
paredes amarelas e laranja. fresco mesmo nos dias quen-
“Eu queria amarelo e roxo, tes. Eu espalhei tapetes pela
mas ainda não achei o tom casa, porque tem dia de não
certo”, ela comenta, acrescen- conseguir pisar no chão de
tando: “Mas até o fim do ano tão frio”, afirma ela, rindo.
eu acho, se precisar eu mesma Independentemente do
vou pintar”. clima, o piso cerâmico é da
Outra mudança que preferência da maioria da
Daniele fez após se casar foi população e está presente em
no piso, que é de cerâmica. 77,6% dos lares brasileiros.
“Assim que foi possível, colo- Já o piso de madeira (usada
camos piso frio. Minha irmã em tacos e tábua corrida, por
mora em apartamento com exemplo) só é usado em 6,7%
chão de tacos e eu já disse a dos domicílios do país.
ela para tirar tudo e trocar Na casa, encontramos
por placas”, conta. vários bens que o IBGE tam-
Antes de ser um bairro, bém investiga, como fogão,
o Batan era o terreno de geladeira, máquina de lavar
uma fazenda enorme, com e televisão, que tem lugar de
uma grande área de brejo. destaque na sala de Daniele.
Os primeiros lotes de terra, “A posse de determinados
inclusive o que foi do avô de bens se relaciona com o
Daniele, foram ocupados e poder aquisitivo da família,
tiveram imóveis construídos e pode variar muito”, explica
no final dos anos 1950, sobre Adriana Beringuy, analista da
um aterro. “O solo é muito Pnad Contínua.
Licia Rubinstein

12 retratos a revista do ibge set/out 2019


27%
televisão somente tubo

96,7% dos lares


57,8%
Somente de tela fina

brasileiros 11,9%
AS DUAS
Fonte: Pnad Contínua
TIC 2017

PISO CERÂMICO

77,6%
do total de domicílios no país

61,4%

norte

85,8%

sudeste
Fonte: Pnad Contínua
2018 - Características
gerais dos domicílios e
dos moradores

set/out 2019 retratos a revista do ibge 13


O ESPAÇO DA CASA
O casal dorme no primeiro quar- ninos mais velhos, que já estão
to. Já no segundo quarto, dor- em idade de dormir sozinhos”,
mem os quatro filhos: Thayson, explica Daniele, comentando
de 12 anos, Caio, de nove, Sofia, que “não pode ficar todo mundo
que vai completar seis, e Pablo, amontoado, dividindo cama e
de três. Eles são a inspiração para colchões no chão”.
o próximo projeto: “Além de aca- A preocupação dela reflete
bar com as goteiras, trocamos as a realidade do adensamento
telhas por laje porque, até o fim domiciliar excessivo, que é
do ano, queremos construir um quando mais de três pessoas
segundo andar. Vamos colocar dividem o mesmo dormitório.
quartos separados para os me- Segundo a Síntese de Indi-
Simone Mello

14 retratos a revista do ibge set/out 2019


adensamento

5,9%
dos lares do país

cadores Sociais, que usa os


dados da Pnad Contínua, em
2017 essa situação afetava 12,2
milhões de pessoas, em 2,3
milhões de domicílios. Entre
os indicadores de inadequação
do domicílio (condições que
13,4%

tornam o domicílio precário


ou vulnerável), o adensamen- norte
to é o que afeta mais pessoas,
chegando a 12,1% das crianças
2,6%

de 0 a 14 anos de idade.
sul
Fonte: Síntese dos
indicadores sociais 2018

Simone Mello

set/out 2019 retratos a revista do ibge 15


geladeira
90,4%
98%


acre
dos lares no Brasil
99,7%


santa catarina
Fonte: Pnad Contínua
2018 - Características
gerais dos domicílios e
dos moradores

O f u t u r o DA CASA

As mudanças não vão parar. um traz um prato de salgado,


Com a construção de quartos um prato de doce e bebidas.
America, Joducus Hondius, 1606

no segundo andar, Danie- Na semana que vem temos o


le quer derrubar paredes e arraial, vai ser aqui, vamos até
expandir a cozinha. “Preciso fechar a rua. Não tem como
de mais espaço para cozi- receber todo mundo num
nhar. Tem a venda de sopas apartamento, né?”, ela conta,
quentes à noite, que sempre com um sorriso.
faz sucesso”, explica. Mas a Para Daniele, a família
maior preocupação é com as está sempre em primeiro
festas em família, que fazem lugar nos projetos. “Estamos
Simone Mello

a geladeira ficar pequena construindo, reformando,


para tanta comida e bebida. para nossos filhos. Não
“Essa casa está sempre cheia, vamos ficar por aqui para
minhas irmãs e meus sobri- sempre, né? Então, temos
nhos estão sempre aqui. E que deixar algo para eles,
quando fazemos festa, cada algo sólido”, conclui.

16 retratos a revista do ibge set/out 2019


Arquivo SEBRAE/PI
o mapa
da qualidade
m
andioca de Cruzeiro do Sul,
capim dourado do Jalapão,
vinhos de Pinto Bandeira, gua-
raná de Maués, café do Cerrado
A indicação geográfica pode
ser apenas a Indicação de Proce-
dência (IP) ou a Denominação
de Origem (DO). A IP se refere
doçura só é possível pelas condi-
ções da região.
Os produtos nacionais que
têm registro de Indicação Geo-
texto  Marília Loschi 
design  Simone Mello

g
Mineiro, mel de Ortigueira. ao nome da região de origem do gráfica desfrutam de garantias
Uma festa de cores, sabores, produto ou serviço – por exem- de procedência e se destacam
texturas e histórias de produtos plo, os derivados da jabuticaba por sua diversidade e conexão
com nome e sobrenome, que de Sabará, em Minas Gerais. Já com a cultura brasileira. Por suas
integram o Mapa das Indicações a DO se refere às características características diferenciadas,
Geográficas do IBGE, produzi- específicas do produto ou serviço, movimentam a economia local e
do em convênio com o Instituto graças aos fatores naturais e atraem a atenção internacional.
Nacional de Propriedade Indus- humanos de seu meio geográfico, Como no município de
trial (INPI). como a banana de Corupá, cuja Tomé-Açu, no nordeste do Pará.

set/out 2019 retratos a revista do ibge 17


Associação dos Produtores de Derivados de Jabuticaba de Sabará
Ronaldo Souza sol
Certificados Lá, a produção de cacau foi na região. Até que, numa ini- gens em cidades vizinhas, como
Cacau do sul da iniciada por imigrantes japone- ciativa de valorizar a cultura da Joinville”, comenta Eliane.
Bahia, derivados da ses em 1929, mas não vingou. A banana, a Associação dos Bana-
jabuticaba de Sabará e
banana da Região de
partir dos anos 1970, os descen- nicultores da Região de Corupá Certificação com precisão
Corupá dentes retomaram a atividade, (Asbanco) conseguiu inseri-la na Os registros de Indicação
que floresceu e se desenvolveu vida dos corupaenses através de Geográfica definem os limites
até culminar na certificação IP festas, palestras e artesanatos. precisos da área produtora, com
do cacau da região. O produtor Eliane Müller, filha de coordenadas e pontos de refe-
Yasuhiro Onishi conta que o selo produtores e diretora-executiva rência. É aí que entra o convênio
foi fundamental para o comércio da Asbanco, comenta os efeitos do IBGE com o INPI, órgão
com o Japão, grande importador da aquisição da certificação: “A responsável pela certificação.
das amêndoas. “Nossa conquista cidade agora tem o ‘turismo de A partir dessas informações, o
da Indicação Geográfica de ca- IG’. Tem pessoas que viajam o IBGE monta uma base de dados
cau é a primeira do Pará e quinta mundo procurando esses pro- que vai gerar o mapa.
da região amazônica. Com isto, dutos”. O novo desafio é infra- No Brasil, havia 52 registros
Tomé-Açu foi inserido na rota estrutura: o pequeno município de IP no primeiro semestre deste
do turismo paraense”, comenta de Corupá, com menos de 16 ano. Para a DO, apenas dez. No
Yasuhiro. mil habitantes, chega a receber Mapa das Indicações Geográficas,
A DO conquistada pela ba- cinco mil turistas em eventos é possível localizar os produtos, os
nana da Região de Corupá, em como o Bananalama. “É um limites geográficos da região em
Santa Catarina, atesta o mesmo turismo off-road, de motociclis- que são produzidos e seus respec-
efeito. O centenário plantio da tas. Eles fazem um circuito pelos tivos selos de identificação.
banana era visto como algo sem bananais, isso atrai muita gente Durante o processo de
importância; seus produtores, os de diversas partes do Brasil. A certificação, o IBGE pode ser
“colonos”, eram desvalorizados gente precisa arrumar hospeda- solicitado pelo INPI a fornecer

18 retratos a revista do ibge jul/ago 2019


Leonardo Vieira
“A gente entende que colocar as indicações conservantes químicos”, explica Tecnologia de
Meire. Os produtos já alcan- procedência
geográficas no mapa é o reconhecimento çam todo o Brasil e o mercado Na lista, um

do produtor e da população. O produto internacional, tudo isso man- personagem inusitado:


o Polo Digital, em
tendo a qualidade. “Na Europa,
passa a ter um valor agregado quando é a Indicação Geográfica é muito
Recife (Pernambuco),
com empresas que
representado espacialmente” valorizada, porque eles reco- possuem Indicação
Geográfica graças
Rafael Balbi - Coordenação de Cartografia do IBGE nhecem o cuidado na produção. a suas atividades
Produzimos em larga escala, inovadoras em
um parecer técnico sobre esses da Silva, da Associação dos mas conseguimos ser totalmen- Tecnologia da
Informação,
limites geográficos. Isto é neces- Produtores de Derivados de te artesanais”, arremata. unindo empresas
sário porque os limites de uma Jabuticaba do município de e instituições que
região produtora não precisam Sabará, em Minas Gerais. Os Bom para o produtor, se destacam pelo
investimento em
coincidir exatamente com os produtos autorizados da Indica- bom para o consumidor
capital humano e
limites municipais ou estaduais. ção de Procedência são licor de A cajuína é uma bebida bas- empreendedorismo.
A banana da Região de Corupá, jabuticaba, geleia de jabuticaba, tante comum no Piauí, mas A Indicação de
por exemplo, tem sua Denomi- molho de jabuticaba, casca de sujeita a imitações e variações Procedência do
Porto Digital significa
nação de Origem reconhecida jabuticaba cristalizada e compo- na receita original protegida qualidade internacional
em uma área de 857 km2, abran- ta de jabuticaba. As receitas são pela IP. Eternizada na canção em diversas áreas,
gendo os municípios catarinen- passadas há gerações, de mãe de Caetano Veloso dedicada ao como inteligência
artificial, redes
ses de Schroeder, Jaraguá do Sul, para filha. poeta piauiense Torquato Neto, neurais, segurança da
Corupá e São Bento do Sul. “São 27 produtoras que a “cajuína cristalina em Teresi- informação e gestão
“Só pelo fato de ter IP as trabalham com receitas cen- na” é feita a partir do puro suco empresarial.
pessoas já olham de outra tenárias, utilizando apenas de caju clarificado, sem açúca-
forma”, conta Meire Ribeiro ingredientes naturais, sem res ou conservantes.

set/out 2019 retratos a revista do ibge 19


Peixes de O diretor-administrativo
procedência da União dos Produtores de
Peixes também Cajuína do Piauí (Procajuína),
podem ter Indicação
José de Ribamar, 70 anos, conta
de Procedência. No
Rio Negro, estado que outros estados produtores
do Amazonas, a de caju dão o nome de cajuí-
pesca de pequenos na a suas bebidas, porém suas
peixes ornamentais
é uma atividade
receitas não correspondem à da
extrativista tradicional, verdadeira cajuína. “Alguns adi-
que gera renda aos cionam álcool, ou produzem ca-
ribeirinhos e sustenta
as comunidades
juína gaseificada. Nossa cajuína
rurais. As cores é 100% suco de caju e tem uma
exuberantes atraem coloração especial, por ser muito
criadores nacionais
rica em vitamina C”, explica. O
e internacionais. A
pesca realizada nos selo, então, torna-se uma forma
rios, igapós, lagos e de proteger o consumidor que
igarapés é considerada busca verdadeira qualidade.
sustentável, desde que
devidamente manejada,
No município de Itajuípe,
gerando pouco ou na Bahia, o produtor Ronaldo
nenhum impacto Souza vê a rastreabilidade dos
aos ecossistemas.
A Indicação de
produtos como um diferen-
Procedência estimulou cial para quem tem Indicação
políticas públicas Geográfica. “Existem aqueles
capazes de garantir
que se inspiram e tentam levar
a preservação
desta atividade o melhor para as suas regiões,
e incrementou o mas também existem aqueles
valor dos peixes que se aproveitam de determi-
ornamentais do Rio
Negro.
nadas terminologias”, explica,
referindo-se ao “cacau cabruca”
cultivado de forma sustentável
no sul do estado, sob as grandes
árvores da Mata Atlântica. “É
nisso que está a grande vanta-
gem da indicação de procedên-
cia Sul da Bahia, em preservar
toda essa historicidade e permi-
tir que o cliente tenha certeza
de onde vêm suas amêndoas”.

20 retratos a revista do ibge set/out 2019


set/out 2019 retratos a revista do ibge 21
texto  Mônica Marli
colaboração  Adelina Bracco
fotos  Amanda Martins (estagiária)
design  Simone Mello

22 retratos a revista do ibge set/out 2019


“O que você quer ser quando crescer?” Essa é uma forma comum de se
puxar conversa com uma criança. E as respostas, cheias de sonhos e
imaginação, costumam estar na ponta da língua dos pequenos, apesar
de que, de tempos em tempos, eles mudem bastante de ideia: médica,
professor, motorista, astronauta, cantor, cientista...
Millennials
Se na infância a pergunta ainda é só uma brincadeira, para os jovens
O estudo Millennials
ela já tem um peso diferente, já que é nessa etapa da vida que o futuro na América Latina e
profissional começa a ser, realmente, desenhado. A construção de uma no Caribe: trabalhar ou
estudar? foi realizado
carreira envolve tanto os estudos quanto o mercado de trabalho. Mas de entre 2017 e 2018,
com 15.000 jovens –
cada cinco jovens com idade entre 15 a 29 anos, pelo menos um enfrenta de 15 a 24 anos – de

n
barreiras que o impedem de seguir por qualquer um desses dois caminhos. nove países (Brasil,
Chile, Colômbia, El
Salvador, Haiti, México,
Paraguai, Peru e
Uruguai).

Para entender melhor


o Brasil, quase 11 milhões de Mas, para Joana, diferente- de pessoas estão entre as
as características dos
jovens de 15 a 29 anos não mente da sigla inglesa, que usa principais barreiras enfrentadas jovens e o contexto
estão ocupados no mercado de termos técnicos e mais formais pelos jovens para continuar em que se desenvol-
trabalho e nem estudando ou (se traduzidos seriam algo como os estudos ou arrumar um vem, foram feitos dois
levantamentos: um
se qualificando, de acordo com “fora da educação, do emprego e trabalho remunerado. Essa quantitativo e outro
a Pnad Contínua, suplemento da qualificação profissional”), a questão atinge principalmente qualitativo. Confira os
Educação, realizada pelo IBGE expressão em português acabou as mulheres, que são maioria resultados completos
da pesquisa feita pelo
em 2018. Esse grupo, que repre- ganhando um tom pejorativo, nessa situação. Ipea em parceria com
senta 23% da população do país por passar a ideia de que esses “E ainda existe todo o estig- a Fundación Espacio
nessa faixa etária, ficou conheci- jovens são ociosos e que estão ma do que é o afazer doméstico. Público do Chile, o
Centro de Pesquisa
do como “nem-nem”, um termo nessa situação, simplesmente, Como ele não é valorado como
para o Desenvolvimen-
que se tornou controverso e, por por vontade própria. trabalho, parece que a pessoa to Internacional (IRDC)
isso, seu uso vem sendo evitado. “O termo tanto em português fica em casa sem fazer nada. do Canadá, e o Banco
A economista do Instituto (nem-nem), quanto em espanhol Mas isso pode ser muito custo- Interamericano de De-
senvolvimento (BID) em
de Pesquisa Econômica Apli- (nini) são ruins porque dão a so para a vida dela”, comenta, https://www.iadb.org/
cada (Ipea), Joana Costa – uma ideia de que o problema é do e completa: “Imagina: a pessoa es/millennials/home.
das autoras do capítulo brasi- jovem, como se ele não quisesse tem que arrumar a casa, fazer
leiro da pesquisa internacional trabalhar ou estudar. É como se comida para a família, botar

e
Millennials na América Latina e você estivesse culpando o jovem a marmita do marido, cuidar
no Caribe: trabalhar ou estudar? pela situação, sem olhar para as dos filhos... Bota tudo isso no
– explica que o termo “nem- barreiras que ele está encontran- papel. Imagina o salário que ela
nem” é a variação da sigla Neet do”, destaca a economista. precisaria ter para colocar outra
(Not in Education, Employ- pessoa fazendo as mesmas tare-
ment, or Training), que surgiu Barreiras para o estudo fas e, ainda, valer a pena ir para
na Inglaterra, nos anos 1990, e para o trabalho o mercado de trabalho”.
durante as primeiras discussões A analista da pesquisa do IBGE, E esse é, justamente, o caso
sobre os jovens que não traba- Marina Águas, destaca que da carioca Luiza Perminio, de
lhavam e nem estudavam. afazeres domésticos e cuidados 27 anos. Há cerca de dois anos,

set/out 2019 retratos a revista do ibge 23


Fonte: Pnad Contínua 2018 - Suplemento Educação

Educação básica uma gravidez não planejada E ainda seria um serviço que dade. Janaína parou de estudar
De acordo com a Lei fez a jovem largar a faculdade a pessoa não faria da mesma há seis anos, quando engravidou
de Diretrizes e Bases e, desde que seu filho nasceu, forma que eu faço”, destaca. da primeira filha. Na época, ela
da Educação, no ela passou a se dedicar integral- Mas a jovem comenta que estava na 8ª série do ensino fun-
Brasil, a educação
básica obrigatória e mente à criança e à casa. é comum ela ouvir a pergunta: damental. A paulista conta que
gratuita compreende a “Assim que descobri, fiquei “Ah, mas você não trabalha?” E gostaria de voltar para a escola,
pré-escola (crianças de meio desesperada, mas tive para essas pessoas ela tem uma mas teria que ser à noite, por
4 a 5 anos), o ensino
fundamental (crianças
bastante apoio e hoje estou feliz. resposta pronta: “Trabalhar, eu causa das crianças – hoje ela tem
e adolescentes de 6 Desde que o Benjamim nas- trabalho. Eu não tenho emprego um casal de filhos, o caçula está
a 14 anos) e o ensino ceu, fiquei por conta dele. Meu remunerado, mas eu tomo conta com três anos.
médio (jovens de 15
marido trabalha e eu não tenho de todo o serviço da casa, lavo Janaína diz que, nos últi-
a 17 anos). A Pnad
Contínua 2018, no nenhuma outra pessoa para me roupa, lavo louça, faço comida mos anos, chegou a voltar para
suplemento Educação, ajudar”, conta. e cuido integralmente do meu o mercado de trabalho, como
mostrou que dos 24,3 Luiza explica que para con- filho. Trabalho bastante!” ajudante geral em um restauran-
milhões de jovens
de 15 a 29 anos que seguir trabalhar ou estudar pre- Moradora da Comunidade te no bairro, mas teve que deixar
não estudavam e não cisaria colocar o filho em uma do Coliseu, localizada no meio para cuidar do filho pequeno.
tinham curso superior, creche e ainda contratar alguém de prédios de luxo da Vila Olím- “Eu pagava para alguém cuidar
44,1% também não
haviam completado a
para ficar com ele no restante do pia, em São Paulo, Janaína Perei- dele, mas depois, com o que eu
educação básica. tempo. “Seria só para dizer que ra, de 26 anos, vive uma situação ganhava, não dava mais”, explica.
eu estou trabalhando, pois basi- parecida. Mas ela enfrenta uma Por não ter completado
camente pagaria para trabalhar. outra barreira: a baixa escolari- nem mesmo a educação escolar

24 retratos a revista do ibge set/out 2019


básica e obrigatória, encontrar tativas baixas em relação aos Joana ressalta, ainda, que Janela de
um emprego com um salário outros jovens, pois acreditam o Brasil vive um momento em oportunidade
satisfatório é ainda mais difícil. que exercem menos poder so- que os jovens são a maior parte A demógrafa do IBGE,
Izabel Marri, explica
E Janaína comenta que essa bre os acontecimentos da vida da população, mas que, a partir que o Brasil é um país
falta de oportunidades para se deles e que têm menor capaci- de 2022, essa realidade demo- ainda jovem, mas que
recolocar já está fazendo com dade em resolver problemas, gráfica vai começar a mudar. está passando por um
processo de envelheci-
que ela desanime da busca, em alcançar objetivos de longo Por isso, mais do que nunca, mento rápido, devido,
apesar de ainda ter o desejo de prazo”, explica. é preciso investir na educação principalmente, à
trabalhar fora. De acordo com Joana, não dos jovens. redução da taxa de fe-
cundidade nas últimas
é possível definir se a situação “Estamos no final dessa
décadas. Em 2018, a
Expectativas para o futuro que esses jovens vivem é causa onda jovem, mas ainda esta- razão de dependência
A economista Joana Costa ou consequência da baixa ex- mos vivendo, então temos que da população – relação
afirma que tanto esse dese- pectativa. Mas, para a econo- aproveitar esse momento agora. entre os segmentos
considerados economi-
jo de voltar aos estudos e ao mista, essa não é a questão mais Esses jovens vão para o mer- camente dependentes
mercado de trabalho, quanto a importante para ser resolvida. cado de trabalho e eles é que (pessoas com menos
descrença de que vai conseguir, “Seja um, seja outro, isso pode vão ser determinantes na nossa de 15 anos e com mais
de 64) e o segmento
estão presentes na maioria ser uma barreira para esses produtividade no futuro. É im- potencialmente produti-
desses jovens – não só no jovens saírem dessa condição. portante que eles estejam bem vo (15 a 64 anos) – era
Brasil, como nos demais países Então as políticas educacionais qualificados, para a gente poder de 44%. Já em 2039
ela deverá chegar a
analisados na pesquisa de que têm que ser pensadas para aju- aproveitar esse bônus demográ-
51,5%.
participou. “Eles têm expec- dá-los a superá-las”, aponta. fico”, conclui.

set/out 2019 retratos a revista do ibge 25


o Minuto IBGE

IBGE de
Rosa Ester Rossini
foi a entrevistada da
edição Mulheres com
Ensino Superior, do
programa de rádio

Zelito Viana e
Minuto IBGE, disponível
em agenciadenoticias.
ibge.gov.br/minuto-

Marcos Palmeira
ibge. A geógrafa foi
a primeira mulher da
sua cidade a ter um
diploma universitário

O documentário O país é este, lançado


em 2002, mostra o Brasil através dos
dados do Censo 2000. O filme foi
dirigido pelo cineasta Zelito Viana e
apresentado pelo ator Marcos Palmeira.
Em uma conversa com a equipe da
Retratos, pai e filho relembraram como
foi essa experiência de colocar o retrato
do Brasil nas telas.

“Quando eu recebi o convite, fui estudar


o que era o Censo. Documentário é
uma coisa muito difícil de fazer, ainda
mais de números. Mas eu tive liberdade
total e apoio do IBGE. Não fiz roteiro,
nem nada, durante as gravações,
encontramos o Brasil! E, sem dúvidas,
deu para ver a importância do Censo.
O país tem um lado muito positivo, por
ter muito potencial, mas tem um lado
muito triste, o da desigualdade social.”
(Zelito)

“Foi o meu primeiro contato com o


IBGE, foi um aprendizado. Fiquei muito
feliz com a oportunidade de poder falar
dos números, poder apresentar para
as pessoas de uma maneira não só
didática, mas com exemplos práticos,
vivenciando, conversando com as
pessoas na casa. Foi uma experiência
incrível. Até hoje é bem marcante para
mim e acho que para toda a equipe
também”. (Marcos Palmeira)

texto  Mônica Marli 


foto  Licia Rubinstein
produção  Karina Meirelles (estagiária) 
design Simone Mello

26 retratos a revista do ibge set/out 2019


#ibge agenciadenoticias.ibge.gov.br  @ibgecomunica  /ibgeoficial   @ibgeoficial 
referência: mai/jun 2019

/ibgeoficial

Bloco-diagrama compartimentos de relevo


A variedade de tipos de rocha, clima, vegetação, solo e relevo faz
do Brasil um país de paisagens diversas. Por toda sua extensão,
são inúmeras as morfologias da superfície terrestre, que formam os
diferentes compartimentos de relevo. E você sabe qual deles ocupa
a maior área do nosso território? Veja na imagem 1 o bloco-diagrama
esquemático dos nossos compartimentos de relevo e, na imagem 2,
a área de cada um deles, segundo as grandes regiões do país! As
informações foram retiradas da publicação “Macrocaracterização dos
Recursos Naturais do Brasil”!
#IBGE Relevo #RecursosNaturais #MeioAmbiente #map
Veja mais: https://bit.ly/2KvNF41

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Dia do geógrafo
Hoje é Dia do Geógrafo! A geografia estuda os aspectos que influem de
forma direta no dia a dia das sociedades: sua organização espacial, inter-
relações, aspectos estruturais e como ela se apropria da natureza.
Parabéns a todos os geógrafos! Veja mais: bit.ly/2MBK2vQ

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Edital abre 209 vagas para recenseadores
e agentes do Censo Experimental
Estão abertas, a partir de amanhã (22), as inscrições
para 209 vagas temporárias de recenseadores e agentes
censitários do IBGE. Os aprovados atuarão no Censo
Experimental, previsto para acontecer entre setembro
e dezembro deste ano, no município de Poços de Caldas
(MG). Essa etapa será um ensaio geral para avaliar e

1.910
usuários únicos pelo Google Analytics
aperfeiçoar os procedimentos previstos para o Censo
Demográfico 2020. Veja mais: bit.ly/2KyW077

ERRAMOS: Na página 23 da Retratos nº 17, na matéria Trabalho “de mulher”, no primeiro parágrafo, onde se lê “das mais de 6,2 milhões de pessoas empregadas”
leia-se “das mais de 4,8 milhões de pessoas empregadas como trabalhadores domésticos”.

set/out 2019 retratos a revista do ibge 27

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