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Custos e

Formação de Preços
Custos e
Formação de Preços
Diego Silva Souza

Aracaju, 2019
Jouberto Uchôa de Mendonça Lígia de Goes Costa
Reitor Mirian Cunha Dantas Silva
Assessoras Pedagógicas e
Amélia Maria Cerqueira Uchôa Correção Ortográfica
Vice-Reitora

Saumineo da Silva Nascimento PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS


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Paulo Rafael Monteiro Nascimento Diagramadores
Diretor de Educação a Distância
Matheus Oliveira dos Santos
Luis Carlos Cambauva Beltrami Shirley Jacy Santos Gomes
Gerente de Operações de Ead Ilustradores

Karen Michelly Moraes e Sasaki


Gerente Acadêmica de Ead

S719c Souza, Diego Silva


Custos e formação de preços / Diego Silva Souza - Aracaju: UNIT, 2019.

192 p. il. ; 23 cm.


Inclui bibliografia.
ISBN

1. Gestão de custos. 2. Gerenciamento de vendas. 3. Lucro I. Souza, Diego


Silva. II. Título.

CDU: 657.47

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Shutterstock
Apresentação r

Caro aluno, nessa disciplina você será convidado a adentrar num impor-
tante ramo da gestão empresarial que é a precificação de produtos e serviços.

Em nosso percurso, iremos trabalhar conceitos relacionados aos ele-


mentos de custos, sua classificação e formas de ocorrência. Em nossa abor-
dagem você encontrará algumas situações do dia a dia empresarial, e reco-
nhecerá práticas que não são recomendadas na gestão de custos e formação
de preços.

Nessa perspectiva, você irá perceber que, atualmente, no ramo em-


presarial, é inapropriado que seja estabelecido preço para os produtos sem
um critério técnico de mensuração, pois além dos custos, devemos levar em
consideração a margem de lucro almejada pela organização bem como a tri-
butação incidente.

Percebeu a importância e o quanto esta disciplina irá contribuir para


sua formação profissional?

Prontos para mais este desafio?

Então, vamos iniciar nossos estudos!


SumÁrio
Parte1:
09 Caracterização dos custos e métodos
de apuração

11 Tema 1:
Introdução à Gestão de custos
13 1.1 Fundamentos da Gestão e Controle de Custos

1.2 Elementos Básicos e Terminologias da


22
Gestão de Custos
31 1.3 Caracterização dos custos
45 1.4 Classificação e funcionalidade dos custos

55 Métodos de Custeio
Tema 2:

57 2.1 Custeio por Absorção


67 2.2 Custeio Variável
76 2.3 O Caso da Departamentalização
86 2.4 Custeio ABC
Parte 2:
FERRAMENTAS DE CONTROLE
GERENCIAL DE VENDAS
97
tema 3: Relações Custo/Volume/Lucro 99
3.1 Análise Custo/Volume/Lucro 101
3.2 Margem de Contribuição 111
3.3 Ponto de Equilíbrio 121
3.4 Outras aplicações Custo/Volume/Lucro 134

tema 4: Gerenciamento de Vendas 145


4.1 Elementos e Técnicas de Formação de Preços I 147
4.2 Elementos e Técnicas de Formação de Preços II 157
4.3 Controle Financeiro de Vendas 168
4.4 Demonstrações Financeiras e sua análise 178

ReferÊncias 189
Parte 1
Caracterização dos
custos e métodos de
apuração
tema 1
Introdução à
Gestão de custos
Você já se atentou que quando vamos comprar algum produto, e
queremos saber o preço, geralmente perguntamos “quanto custa”?

A resposta que nos é dada, em tais situações, reflete o preço de ven-


da que o estabelecimento nos cobrou. Mas vou deixar você um pouco
mais curioso: sob o ponto de vista de quem compra, o preço pago
pelo produto é o custo de aquisição? Parece estranho, não? É por
isso que nesse primeiro tema serão apresentados alguns conceitos
que o farão se questionar sobre tal lógica. É importante que você,
caro aluno, entenda o significado de cada conceito para que nos pró-
ximos temas você possa aplicá-los, vamos lá?
1.1
FUNDAMENTOS DA GESTÃO E CONTROLE DE CUSTOS
O termo custo pode assumir diferentes conotações a depender
do contexto em que é empregado. Imagine, por exemplo, que em uma
conversa com um amigo, você é questionado sobre o quanto pagou
pela camisa que está usando. Ao responder ao seu amigo, você afirma
que a camisa custou R$ 50,00. A compreensão de sua afirmação é
imediata. No entanto, caso o seu amigo lhe questionasse sobre quais
foram os custos da camisa para a empresa fabricante, diferentes inter-
pretações e diferentes respostas poderiam ser obtidas. E se o questio-
namento fosse quais os custos, seja de forma direta ou indireta, que
foram incorridos para você consumidor final?

Viu como um simples questionamento pode desencadear uma


discussão mais profunda sobre os custos.

Sob a ótica empresarial, quanto maior o preço, maiores os lu-


cros e melhores os resultados. No entanto, há de se levar em conside-
ração os limites superiores dos preços, que poderão ser analisados e
obtidos através de uma pesquisa de mercado e demanda, por exem-
plo. Assim, tais preços são definidos pelo mercado consumidor e re-
presentam, em linhas gerais, o valor máximo que pode ser pago por
determinados produtos e serviços.

Nesse sentido, pode-se afirmar que a análise de custos, preços


e valores consiste em algumas das mais nobres e importantes tarefas
da gestão empresarial, tendo então como ferramentas essenciais os
dados e relatórios obtidos da contabilidade.
14 Custos e Formação de Preços

Contabilidade e Gestão de Custos

Controle de Custos

A contabilidade é uma das ciências mais antigas do mundo, ten-


do em vista a existência de diversos registros de que as civilizações
antigas já praticavam algumas técnicas contábeis. Nesse sentido, a
contabilidade é a ciência que tem por objeto de estudo o controle do
patrimônio, seja este patrimônio privado ou público, determinando
assim os possíveis campos de atuação desse ramo do conhecimento.
Assim, esse controle patrimonial se destinará a evidenciar e registrar
todas as alterações ocorridas no patrimônio de uma determinada en-
tidade seja de forma qualitativa ou quantitativa.

Nesse contexto, tratando-se das alterações qualitativas, devere-


mos partir dos pressupostos qualificativos do patrimônio. Ou seja, uma
alteração qualitativa não irá aumentar ou reduzir o patrimônio de uma
entidade, nesse sentido os itens patrimoniais apenas mudarão sua clas-
sificação, como por exemplo, uma aquisição de máquinas e equipamen-
tos com pagamento à vista, temos que o dinheiro, que estava aplicado no
caixa ou na conta bancária da empresa, apenas mudou sua classificação
e passou a ser denominado de um item que comporá seu imobilizado.
15
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

Por outro lado, em uma alteração quantitativa teremos o au-


mento ou redução do patrimônio da entidade, e isso se dará pela ob-
tenção de ganhos (receitas) e perdas (custos e despesas) o que irá ge-
rar um lucro ou prejuízo e deverá nesse sentido aumentar ou reduzir o
patrimônio da entidade.

Assim, podemos considerar que o objeto de estudo da conta-


bilidade seja o patrimônio das entidades. Por conseguinte, o objetivo
dessa ciência vem a ser acompanhar, registrar, demonstrar e controlar
as modificações quantitativas e qualitativas que ocorrem nesse patri-
mônio no decorrer do tempo.

Acerca da definição de patrimônio, a teoria contábil nos informa


que patrimônio é composto por todos os bens, direitos e obrigações.
Chamaremos atenção apenas para o termo obrigações, pois conta-
bilmente são compreendidas como as dívidas que a empresa possui
(seja em curto prazo ou em longo prazo).

Todavia, a depender do usuário e do tipo de informação reque-


rida, a contabilidade pode assumir diferentes formas, apresentadas
como:

Contabilidade financeira: condicionada às imposições


legais e requisitos fiscais;
Contabilidade gerencial: voltada à administração de
empresas, não se condiciona às imposições legais, tem
o objetivo de gerar informações úteis para a tomada de
decisões;
Contabilidade de custos: voltada à análise dos gastos
realizados pela entidade no decorrer de suas operações.
BRUNI e FAMÁ (2012, p. 2).
16 Custos e Formação de Preços

Histórico dos Sistemas de Custos


Segundo Martins (2018), até a Revolução Industrial (século
XVIII), praticamente existia apenas a Contabilidade Financeira, uma
vez que esta apresentava-se bem estruturada para atender às empre-
sas comerciais da época.

Contudo, com o surgimento das primeiras indústrias e manu-


faturas, as técnicas contábeis usadas até então mostraram-se insu-
ficientes, uma vez que a tarefa de avaliar os estoques dos produtos
existentes nas empresas produzidos por elas era bastante complexa,
pelo fato de os produtos incorporarem diversos fatores de produção
utilizados para sua obtenção.

Assim, a preocupação primeira dos contadores foi a de fazer da


Contabilidade de Custos uma forma de resolver seus problemas de
mensuração monetária dos estoques e do resultado, e não a de fazer
dela um instrumento gerencial.

Para Crepaldi e Crepaldi (2018), a preocupação com os custos


teve início com a Revolução Industrial, pois as empresas tiveram nes-
ta época que se adaptar à nova realidade econômica, diante do sur-
gimento das máquinas e a consequente produção em grande escala.

Nesse contexto, a Contabilidade Financeira tradicional já não


atendia aos anseios dos sistemas de produção e manufaturas para
a gestão eficaz dos custos de produção. Pois, à época, o sistema de
apuração de custos consistia em determinar os estoques no início do
período, adicionando as compras do mesmo período e deduzindo o
que ainda restaria no estoque. O resultado dessa operação era o custo
das mercadorias vendidas, tendo em vista que, até então, a economia
era baseada na compra e venda de mercadorias.
17
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

Nesse campo ascendente, a Contabilidade de Custos apresenta


três funções relevantes, que de acordo com Martins (2018), são: o au-
xílio ao planejamento, ao controle e a ajuda às tomadas de decisões.
Logo podemos afirmar que a Contabilidade de Custos, em sua evolução,
passou de mera auxiliar na avaliação de estoques e lucros globais para
importante ferramenta de planejamento, controle e decisão gerenciais.

Logo, verifica-se que a gestão de custos é uma preocupação


organizacional, e que deverá sobrepor barreiras departamentais, ou
seja, não está restrita somente às funções e áreas que atuam direta-
mente na produção.

Assim, a contabilidade financeira precisaria adaptar-se para


possibilitar um processo mais coerente de tomada de decisões. Nesse
contexto, preocupar-se com a gestão de custos e o processo de for-
mação de preços, sob uma ótica relacionada aos processos de tomada
decisão torna-se uma prerrogativa essencial do sucesso ou do fracas-
so empresarial, conforme afirma Martins (2018).

Com o passar do tempo, a contabilidade de custos evoluiu, e


hoje com a nova forma de se usar esta ferramenta, ocorreu seu maior
aproveitamento em outros campos que não o industrial.

Logo, podemos afirmar que, atualmente, é comum encon-


trarmos Bancos, Financeiras, Lojas Comerciais, Escritórios de Pla-
nejamento, de Auditoria, de Consultoria, hospitais, instituições de
ensino, desenvolvimento de softwares etc. utilizando-se de Conta-
bilidade de Custos.

Assim, no decorrer deste livro, sempre que formos explicar al-


gum conceito ou ferramenta oriunda da contabilidade de custos, uti-
lizaremos primeiramente um exemplo de empresa industrial, pois é
relativamente mais fácil compreender os custos analisando-se uma
fábrica.
18 Custos e Formação de Preços

No entanto, iremos abranger o nosso raciocínio para qualquer


atividade econômica, para que você perceba a vasta aplicação, não so-
mente da contabilidade, pois não nos interessa aqui ensinar-lhe esta
matéria, e sim do gerenciamento de custos. Sendo que este último é
bem mais abrangente.

Registros e acumulação de valores


O processo da gestão dos custos empresariais exige uma com-
plexidade e alta capacidade técnica de seus analistas, pois é a partir
dele que serão tomadas as decisões de vendas da empresa. Nesse
sentido, as informações necessárias deverão ser obtidas por meio do
processamento da coleta de dados, que serão armazenados e proces-
sados no sistema de informações da empresa.

Com a integração das informações obtidas nos vários depar-


tamentos, o setor de Controle proporciona aos gestores informações
que permitem avaliar o desempenho de atividades, de projetos e de
produtos da empresa, bem como a sua situação econômico-financeira
por meio da apresentação de informações claras e objetivas de acordo
com a necessidade de cada usuário.

Logo, a ampliação da quantidade de usuários potenciais da con-


tabilidade decorre da necessidade de uma empresa evidenciar suas
realizações para a sociedade em sua totalidade.

Nesse sentido, surgem então novos usuários da informação


contábil, cada um com seus interesses particulares, por exemplo:

[...] os sindicatos precisam saber qual a capacidade de


pagamento de salários, o governo demanda a agrega-
ção de riqueza à economia e à capacidade de pagamen-
to de impostos, os ambientalistas exigem conhecer a
contribuição para o meio ambiente, os credores querem
19
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

calcular o nível de endividamento e a possibilidade de


pagamento das dívidas, os gerentes das empresas pre-
cisam de informações para subsidiar o processo deci-
sório e reduzir as incertezas e assim por diante.
Crepaldi (2004, p. 20) apud Biazus (2015, p. 18).

Nesse contexto, pode-se afirmar que o grande objetivo da ges-


tão de custos é se utilizar da contabilidade para planejar e colocar em
prática um sistema de informação para uma organização, tendo em
vista a formação de bases para a tomada de decisões.

No entanto, deveremos levar em consideração que as empre-


sas de pequeno porte normalmente são administradas pelos próprios
sócios, que às vezes até possuem formação técnica ligada ao seu ne-
gócio, mas não têm a formação administrativa de gestão, como ad-
ministração, finanças, economia, marketing etc. Devido a tal fato, é
evidenciado um grande número de falências e encerramento das pe-
quenas empresas nos seus primeiros anos de vida.

Assim, podemos afirmar que o atingimento das metas e da mis-


são da empresa está fundamentado dentro do mesmo escopo do sis-
tema de informações gerenciais gerado pela contabilidade para que as
empresas possam cumprir adequadamente sua missão.

E, segundo afirma Souza e Clemente (2011), a principal finalidade


para que a empresa deva cumprir sua missão está na criação de valor
para a empresa, e maximização do retorno dos proprietários. A figura
a seguir ilustra o encadeamento continuo e dinâmico que envolve es-
tratégia empresarial, decisões de investimentos e criação de vantagem
competitiva no processo de criação de valor para a empresa.
20 Custos e Formação de Preços

Dinâmica de criação de valor empresarial


Fonte: SOUZA e CLEMENTE (2011, p. 3)

Contudo, para se obter um sistema de informação contábil efi-


ciente são necessários controles eficazes e um rígido acompanha-
mento. E para que es se sistema funcione de forma eficiente tam-
bém é necessário que exista na empresa um engajamento de todos
os departamentos, sejam eles operacionais ou apenas de suporte e,
sobretudo, é imprescindível que exista o apoio da alta administração
da empresa.

O conjunto de elementos apresentados fundamenta a gestão de


custos e deverá servir de base para a formação de preços dos produ-
tos e serviços, pois somente através da acumulação de valores fei-
ta pelos registros contábeis é possível afirmar quais os parâmetros
a serem considerados e atribuir uma margem de lucro. No próximo
conteúdo, veremos alguns termos associados à gestão de custos, que
a princípio parecem sinônimos, no entanto não são.
21
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO


DD Introdução a Gestão de Custos.

DD A contabilidade como instrumento para controle e gerenciamento.

DD Evolução dos sistemas de custos.

DD A contabilidade de custos como ferramenta fundamental de pro-


cesso.

Leitura Complementar
DD BEUREN, Ilze Maria. Evolução histórica da contabilidade de custos.
Contabilidade Vista & Revista, v. 5, n. 1, p. 61-66, 2009.

Neste texto, a autora faz um panorama histórico da contabilidade de


custos, ferramenta essencial para a gestão dos custos empresariais.

DD POMPERMAYER, Cleonice Bastos. Sistemas de gestão de custos:


dificuldades na implantação. Revista da FAE, v. 2, n. 3, 1999. Dispo-
nível em: https://revistafae.fae.edu/revistafae/article/view/524.
Acesso em 10 jan. 2019.

Neste artigo, a autora apresenta uma série de reflexões sobre dificuldades


detectadas no momento da implantação de sistemas de gestão de custos
nas organizações. Essas dificuldades, em algumas situações, podem ser
decorrentes de questões de abrangência conceitual, envolvendo desde o
entendimento do conceito de custo e uma visão gerencial acerca deste,
até a compreensão das características dos diversos métodos disponíveis.
22 Custos e Formação de Preços

1.2
ELEMENTOS BÁSICOS E TERMINOLOGIAS DA
GESTÃO DE CUSTOS

A comunicação entre pessoas pressupõe que seus atores este-


jam engajados ao mesmo nível de linguagem, sob pena de, no mínimo,
reduzir-se ao nível de entendimento. Assim, o que geralmente deno-
minamos como meros problemas decorrentes de conceitos técnicos
pode ser transformado em um problema de grau elevado, quando tais
termos são pronunciados, por exemplo, por pessoas ou profissionais
da área técnica responsável pela gestão de custos.

Infelizmente, encontramos em todas as áreas, principalmen-


te nas sociais (e econômicas, em particular), uma enorme gama de
termos técnicos e terminologias associadas para um único conceito e
também conceitos diferentes para uma única palavra, de acordo com
o contexto que for trabalhado.

Nesse contexto, para tentar reduzir essa confusão gerada pelo


senso comum, tentando resolver tais impasses conceituais e assim
não generalizar a terminologia de Custos, deveremos adotar as no-
menclaturas e conceitos definidos no decorrer desse conteúdo.

Logo, o estudo dos conceitos e terminologias de custos se tor-


nará importante para o entendimento da gestão de custos, assim
como é, de igual forma importante, o entendimento dos sistemas de
informações que os produzem.
23
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

Gastos e Desembolsos

Elementos de Custos
Fonte: Autoria própria

Com base na ilustração da imagem acima, podemos fazer uma


analogia dos elementos de custos à teoria dos conjuntos, associando
cada elemento (terminologia) a um subconjunto. Dessa forma, imagi-
nem um grande conjunto chamado gastos, este seria o nosso conjunto
universo para estudo, e, dessa forma, dentro dos gastos, teríamos as
categorias: desembolsos, custos, despesas, investimentos e perdas.

Assim, podemos afirmar que:

um gasto pode ser definido como a compra de um pro-


duto ou serviço qualquer, que gera sacrifício financeiro
para a entidade (desembolso), sacrifício esse repre-
sentado por entrega ou promessa de entrega de ativos
(normalmente dinheiro). MARTINS (2018, p. 9)

Já para Crepaldi e Crepaldi (2018), os gastos são os encargos


financeiros efetuados por uma entidade com vista à obtenção de um
produto ou serviço qualquer para a produção de um bem ou para a
obtenção de um ganho. Sob a visão desse autor, podemos representar
24 Custos e Formação de Preços

os gastos pela entrega ou promessa de entrega de ativos (geralmente


dinheiro).

É interessante salientar que somente são considerados gastos


no momento em que existe o reconhecimento contábil da dívida ou
da redução do ativo dado em pagamento. Outra observação cabível a
essa terminologia, é que se trata de um termo genérico que pode num
futuro receber outras terminologias.

Por consequência, o desembolso se define pela saída de nume-


rário (dinheiro) ou entrega de ativos para quitação da obrigação, ou
seja, representa o pagamento da obrigação contratada no momento
do gasto. Note que devemos atentar para o fato de que os desem-
bolsos não necessariamente acontecem no mesmo momento que o
gasto, pois no caso de uma compra a prazo teríamos o desembolso
somente no ato do pagamento ao fornecedor.

Custos e Despesas
Uma vez que já conhecemos os conceitos de gastos e desem-
bolsos, é possível diferenciar, por exemplo, as situações envolvendo
compras a vista e compras a prazo. Avançaremos um pouco mais
acerca das definições das terminologias citadas no início do conte-
údo e trataremos agora dos custos e despesas. Para muitos, diga-se
leigos em gestão, pode parecer sinônimos, no entanto veremos que
possuem significados e contextos de aplicações diferentes.

Para Martins (2018), os custos são todos os gastos consumidos


ou utilizados exclusivamente na produção de bens e serviços que se-
rão destinados à venda. Notem, que de acordo com a definição apre-
sentada, podemos afirmar que:
25
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

[...] o Custo é também um gasto, só que reconhecido


como tal, isto é, como custo, no momento da utilização
dos fatores de produção (bens e serviços), para a fabri-
cação de um produto ou execução de um serviço. MAR-
TINS (2018, p. 10)

Nesse contexto, considere o caso da matéria-prima, ela foi um


gasto em sua aquisição e se tornará um custo no momento de sua
utilização para a fabricação de um produto. Surgindo então o que cha-
maremos, nos próximos conteúdos, de Custo da matéria-prima como
parte integrante do produto elaborado.

As despesas, sob a visão de Crepaldi e Crepaldi (2018), são


gastos com bens e serviços não utilizados nas atividades produ-
tivas e consumidos, de forma direta ou indireta, para a obtenção
de ganhos, que provocam redução do patrimônio. Logo, podemos
afirmar que as despesas compõem os gastos relacionados aos de-
partamentos administrativos e de apoio, por dedução representa-
rão os gastos com a comercialização e a administração das ativida-
des empresariais.

Como exemplo de despesas, podemos citar as comissões sobre


as vendas, honorários de advogados, os salários e encargos do pesso-
al administrativo, o pró-labore etc.

Um caso muito interessante dos gastos empresariais que pode


exemplificar a distinção de aplicação de custos e despesas é o gasto
com energia elétrica. Nesse contexto, a parcela de energia consumi-
da pelos departamentos administrativos deverá ser registrada como
despesa do período, e a parcela que for consumida nos departamen-
tos de produção deverá ser registrada como custo. No entanto, deve-
mos levar em consideração que esta divisão dependerá da existência
de medidores por departamentos, ou do estabelecimento de critérios
de rateios, assunto que iremos estudar mais adiante.
26 Custos e Formação de Preços

Investimentos e Perdas
Uma vez que você já consegue diferenciar os custos e despesas
e entender que essas duas terminologias são distintas, porém repre-
sentam também gastos, podemos agora conceituar os investimen-
tos e as perdas, pois são dois elementos da gestão de custos que não
possuem relação direta entre si e em tese não gera confusão em seus
conceitos.

Assim, sob a ótica de Martins (2018), os investimentos são ca-


racterizados como gastos gerados em função da aquisição de bens,
cuja vida útil poderá trazer benefícios futuros para empresa. Logo,
todos os sacrifícios financeiros para aquisição de bens ou serviços
(gastos) que serão “estocados” nos Ativos da empresa para consumo
posterior são definidos como investimentos.

Alguns autores, a exemplo de Bruni (2018), afirmam que os in-


vestimentos são gastos diferidos, em virtude de gerarem consumos
futuros, comparando-os assim com os custos e despesas, que são
gastos incorridos ou consumidos.

As perdas não possuem nenhuma relação com os investimen-


tos, estas, por sua vez, são geradas a partir do consumo de forma
inesperada, infortuita ou involuntária de bens e serviços. Nesse con-
texto, podemos afirmar que a matéria-prima e outros itens deteriora-
dos por acidentes, tais como inundações, incêndios etc. se constituem
em perda e não em custo de produção do período.

Há de se salientar, porém, que em se tratando da gestão de cus-


tos, devemos levar em consideração o gasto normal de matéria-prima
excedente no processo produtivo, embora não integre o produto final,
é um custo, pois se trata de esforço empreendido com o objetivo de
alcançar receitas, e gerencialmente deve ser tratado como desperdício
e fortemente controlado.
27
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

O ciclo da gestão de custos


Para ilustrar melhor as diferenças entre os termos citados neste
conteúdo, deveremos partir do pressuposto que tais definições depen-
dem unicamente do contexto de aplicação. Logo, imaginem que você e
dois colegas de classe resolveram montar uma pequena empresa cujo
objetivo é a produção e a revenda de marmitas e quentinhas.

Inicialmente vocês precisarão de máquinas e equipamentos


para uma cozinha industrial e um lugar para abrigar a sede de sua
empresa, observe o exemplo que segue. A partir do seu planejamen-
to operacional, você chegou então a conclusão de que a aquisição do
maquinário deveria ser feita por financiamento bancário e que, logo,
este fato deveria também ser levado em consideração na formulação
de seu preço de venda.

Nesse contexto, o gasto referente à aquisição do maquinário


para sua empresa constitui um investimento, cujo desembolso (paga-
mento ao fornecedor) não será realizado no mesmo momento, pois se
dará parceladamente em função do finan- 01
ciamento contratado. No entanto, à medida Desgaste em função
que estas máquinas e equipamentos forem do uso e outros fatores,
gerando um custo ou
postos em operação, irão gerar uma depre- despesa, de acordo com
ciação, esta parcela de depreciação1 men- a área de aplicação do
bem.
sal é que irá compor um dos itens dos seus
custos de fabricação.

De forma idêntica, imagine agora as aquisições de gêneros ali-


mentícios, que deverão ser suas matérias-primas para as marmitas e
quentinhas. Assim, no momento da aquisição, estas matérias-primas
podem ou não podem ser pagas à vista, gerando assim um desembol-
so. A medida que esses itens em estoque forem sendo consumidos
pela produção eles se transformarão em custos de produção.
28 Custos e Formação de Preços

Imagine, agora, que além dos maquinários para produção você


precisará também adquirir computadores e móveis para mobiliar o
escritório e proporcionar um ambiente agradável aos seus clientes
e colaboradores. Novamente estes gastos serão um investimento,
pois se trata de mobiliários, e o desembolso poderá ou não ocorrer
no mesmo momento de acordo com o pagamento contratado. No en-
tanto, a parcela de depreciação gerada, em função do uso, será neste
caso apropriada como despesa, em virtude deste mobiliário não es-
tar alocado no setor de produção. As imagens a seguir lhe ajudarão a
entender melhor este fluxo explicado, bem como a forma com que os
termos associados à gestão de custos podem se comportar de acordo
com o contexto em que estão inseridos.

Fluxo de aquisição de Matérias-Primas


Fonte: Autoria própria.
29
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

Fluxo de aquisição de mobiliários


Fonte: Autoria própria.

Fluxo de aquisição de equipamentos de produção


Fonte: Autoria própria.

Agora, com esse aprendizado, você já consegue efetuar separa-


ção entre Custos e Despesas? Em termos práticos, nem sempre é fácil
distinguir Custos e Despesas. De agora em diante, em nosso livro, de-
veremos considerar que representarão valores aplicados ao processo
de produção e as despesas os relativos à administração, às vendas e
aos financiamentos. Logo, podemos verificar que custos e despesas
não são sinônimos, ou seja, possuem significados próprios de acordo
com o contexto em que estão inseridos, assim como investimentos,
gastos e perdas. No próximo conteúdo, você irá conhecer alguns
elementos dos custos de produção.
30 Custos e Formação de Preços

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO


DD Conceitos e terminologias da gestão de custos: gastos e desem-
bolsos.

DD Conceitos e terminologias da gestão de custos: custos e despesas.

DD Conceitos e terminologias da gestão de custos: investimentos e


perdas.

DD Ciclos da gestão de custos.

Leitura Complementar

DD BRUNI, Adriano Leal. A administração de custos, preços e lucros.


6. ed. São Paulo: Atlas, 2018,

Leia o tópico 1.4 - Gastos, custos, despesas e investimentos (páginas


23-28). Ao longo do texto, o autor trabalha de forma mais abrangente
e contextualizada os conceitos abordados durante este conteúdo.

DD MARTINS, Daiana Bragueto et al. Terminologias e conceitos de


contabilidade de custos na percepção dos graduandos em ciências
contábeis. In: Anais do Congresso Brasileiro de Custos-ABC. 2013.

Nesse texto, os autores fizeram uma pesquisa com alunos do Curso de


Ciências Contábeis para verificar a percepção destes com relação aos
conceitos e terminologias associados à gestão de custos. Diante das
análises, pode-se também fazer uma analogia do porquê da confusão
de tais termos para pessoas leigas. Confira a leitura.
31
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

1.3
CARACTERIZAÇÃO DOS CUSTOS
Prosseguindo em nossa abordagem da gestão de custos, a
partir de agora, destinaremos ao estudo apenas dos elementos que
podem formar os custos de produção. Nesse sentido, de acordo com
Bruni e Famá (2012), afirmamos que são três os elementos básicos do
custo, a saber: Material Direto, Mão de Obra Direta e Gastos Gerais de
Fabricação (também chamado por outros autores de Custos Indiretos
de Fabricação – CIF).

Via de regra, os materiais diretos representam os gastos com


matéria-prima ou materiais secundários associados ao processo de
fabricação. Para as empresas prestadoras de serviços, estes valores
correspondem aos materiais consumidos de forma direta em cada um
dos serviços prestados, como por exemplo na prestação de serviços
de consultoria, os materiais de escritório utilizados para este serviço
deverão compor o custo com materiais diretos utilizados. Já para as
operações comerciais, o custo com materiais diretos compreende as
mercadorias adquiridas para a posterior revenda.

Partindo-se do mesmo raciocínio, segundo Bruni (2018), a


mão de obra direta corresponde ao esforço do trabalhador empre-
gado diretamente na produção de produtos ou execução de servi-
ços. Primeiramente, é necessário salientar que quando nos refe-
rimos ao esforço de trabalho estamos tratando não somente dos
gastos com salários do pessoal, bem como também de todos os
encargos sociais e trabalhistas incidentes sobre a mão-de-obra da
empresa em questão. E, por fim, quando nos referimos ao termo
“empregado diretamente”, interessa-nos, apenas, os gastos com
pessoal que atuaram efetivamente na produção dos produtos ou
na prestação de serviços de forma ativa.
32 Custos e Formação de Preços

Os gastos gerais de fabricação, também conhecidos por custos


indiretos, correspondem aos gastos não identificados de forma direta a
um produto ou serviço específico. Em virtude
02
de serem indiretos, apresentam como desa- Divisão proporcional,
fio à gestão de custos a tarefa de apropriá-los tendo sempre alguma
base pré-indicada.
aos custos de produção, que são feitos atra-
vés de rateios2 e apropriações proporcionais.

Custos com Materiais Diretos


O material direto, ou, simplesmente, MD, na visão de Bruni
(2018), é formado pelas matérias-primas, embalagens, componentes
adquiridos prontos e outros materiais utilizados no processo de fabri-
cação, que podem ser associados diretamente aos produtos.

Em linhas gerais, os principais desafios da gestão de materiais


diretos nas empresas são relacionados à:

avaliação: qual o montante a atribuir quando várias


unidades são compradas por preços diferentes, como
contabilizar sucatas etc.;
controle: como distribuir as funções de compra, pedido,
recepção e uso, como organizar o Kardec de controle,
como inspecionar para verificar o efetivo consumo;
programação: quanto comprar, como comprar, fixação
de lotes econômicos de aquisição, definição de esto-
ques mínimos de segurança etc.
BRUNI e FAMÁ (2012, p. 25)

Em nossa disciplina, iremos classificar os materiais utilizados


na fabricação da seguinte forma:

DD Matéria Prima: é representada pelos principais materiais


aplicados na produção de determinado produto. Elemento
essencial no processo produtivo.
33
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

DD Materiais Secundários: são os materiais utilizados no pro-


cesso produtivo, sendo aplicado em proporção menor que a
matéria prima. Assim, em uma linha de produção, podería-
mos exemplificar os materiais secundários como sendo os
materiais de embalagem por exemplo.

Por outro lado, os materiais serão normalmente classificados


como custo direto e indireto, fixo e variável de acordo com as classifi-
cações quanto à apuração e quanto à formação, respectivamente, as-
sunto que será visto no nosso próximo conteúdo. Para a empresa apu-
rar o custo dos materiais diretos, que a partir de agora chamaremos
de CMD, é necessário que um sistema de informações seja alimentado
pelos custos de aquisição desses materiais. Tal sistema irá originar o
que chamaremos de inventários, e para Martins (2018), sob a ótica da
gestão de custos, os inventários são assim classificados:

Sistema de inventário periódico: quando a empre-


sa não mantém um controle contínuo dos estoques. O
consumo só pode ser verificado após os inventários
(contagem física dos estoques), em geral quando do fe-
chamento do Balanço Patrimonial, e posterior avaliação
de acordo com critérios legais.
Sistema de inventário permanente: existe o controle
contínuo da movimentação do estoque. Solicitações
de produção e vendas são controladas individualmen-
te. Estoque e CPV podem ser calculados em qualquer
momento pela contabilidade. Periodicamente, a conta-
gem física pode ser feita para fins de auditoria e con-
trole interno. Encontrando eventuais sobras ou faltas,
novos ajustes devem ser feitos nos registros contábeis.
MARTINS (2018, p. 85)
34 Custos e Formação de Preços

Em ambos os sistemas acima mencionados, o consumo de ma-


teriais diretos, ou CMD são apurados pela fórmula a seguir:

Fórmula para cálculo do CMD


Fonte: Autoria própria.

Estoque Inicial: representa o saldo do estoque (em R$


e em quantidades) apurado no início do período consi-
derado.
Entradas: representa todas as entradas de materiais,
nas empresas industriais e são obtidas através das re-
quisições solicitadas ao almoxarifado, em empresas co-
merciais, obtidas pelas aquisições de mercadorias para
revenda.
Estoque Final: representa o saldo do estoque ao final do
período de apuração em (R$ em quantidades).

Apuração do Custo com Materiais Diretos - CMD


Para controle e apuração do CMD, as empresas devem utilizar cri-
térios (ou métodos de controle de estoque), assim os principais critérios
de avaliação de materiais diretos adquiridos com custos diferentes en-
volvem, basicamente, o emprego de três técnicas distintas a saber:

UEPS: último a entrar, primeiro a sair, ou, em inglês,


LIFO, last in, first out. O custo a ser contabilizado em
decorrência de consumo no processo produtivo é feito
“da frente para trás”. São baixados, em primeiro lugar,
os materiais diretos adquiridos mais recentemente e,
depois, os mais antigos, nesta ordem. A legislação fis-
cal brasileira não permite o emprego deste critério em
35
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

decorrência da “antecipação” dos benefícios fiscais, de-


correntes do cálculo de custos maiores, especialmente
em épocas de altas taxas de inflação.
PEPS: primeiro a entrar, primeiro a sair, ou, em inglês,
FIFO, first in, first out. O custo a ser contabilizado em
decorrência de consumo no processo produtivo é feito
“de trás para a frente”. São baixados, em primeiro lugar,
os materiais diretos adquiridos há mais tempo e, de-
pois, os mais novos, nesta ordem.
Custo Médio Ponderado: pode ser móvel ou fixo. O cus-
to a ser contabilizado representa uma média dos custos
de aquisição. BRUNI (2018, p. 87).

Para melhor ilustrar esses métodos, considere uma situação de


uma pequena empresa no início de suas atividades, que fabrica um úni-
co produto para o qual será utilizado apenas um tipo de matéria-prima.
Nesse contexto, durante seu primeiro mês de operação a empresa
apresentou os seguintes dados de movimentação de materiais diretos
em seu estoque:

DD No dia 03 adquiriu três unidades por $ 40,00 cada.

DD No dia 15 adquiriu mais duas unidades por $ 88,00 no total.

DD No dia 23 foram consumidas 2 unidades.

DD No dia 29 foi consumida 1 unidade.

Considerando que a empresa apura seus estoques pelo sistema


de inventário permanente, vamos verificar a apuração do CMD pelos
métodos PEPS, UEPS e Custo Médio Ponderado.
36 Custos e Formação de Preços

Para auxiliar nossos cálculos de apuração, deveremos fazer uso


da ficha de controle de estoque, pois é através desta ferramenta que
verificaremos o saldo final de estoque ao término de cada operação,
conforme prega o sistema de inventário permanente.

No Critério PEPS (o primeiro a entrar é o primeiro a sair), o material


utilizado é custeado pelos preços mais antigos, permanecendo os mais
recentes em estoque. Nesse caso, o custo de materiais diretos utilizados
na produção será avaliado conforme apresentado na tabela.

Note que na tabela, como não temos saldo inicial, nossa pri-
meira operação foi no dia 03, que representa uma aquisição de 3
unidades ao valor unitário de $ 40,00, num total de $ 120,00. No dia
15 tivemos uma outra aquisição de 2 unidades cujo total foi $ 88,00,
obtendo um valor unitário de $ 44,00. Neste mesmo dia, ao apurar-
mos nosso saldo de estoque, verificamos a existência de dois lotes
de materiais: um contendo 3 unidades ao valor unitário de $ 40,00
totalizando $ 120,00; outro contendo 2 unidades ao valor unitário de $
88,00; totalizando (neste dia) um estoque de 5 unidades ao valor total
de $ 208,00. No dia 23 tivemos uma requisição para consumo de 2
unidades, note que o nosso lote mais antigo tem o valor unitário de $
40,0 e temos 3 unidades em estoque, assim pelo método PEPS é por
este lote que iremos baixar o material em estoque. No dia 29 foi feita
uma nova requisição de 1 unidade, e como ainda temos saldo do lote
mais antigo, será desse que iremos baixar o material, restando então
ao final do mês 2 unidades ao valor unitário de $ 44,00 totalizando $
88,00. Calculando o CMD pela fórmula teríamos:

Cálculo do CMD - PEPS


Fonte: Autoria própria
FICHA DE CONTROLE DE ESTOQUES
MÉTODO UTILIZADO: PEPS
ENTRADAS SAÍDAS SALDO
DATA VALOR VALOR VALOR
QTD TOTAL QTD TOTAL QTD TOTAL
UNITÁRIO UNITÁRIO UNITÁRIO
3 3 40,00 120,00 - - - 3 40,00 120,00
3 40,00 120,00
15 2 44,00 88,00 - - - 2 44,00 88,00
5 - 208,00
1 40,00 40,00
23 - - - 2 40,00 80,00 2 44,00 88,00
3 - 128,00
29 - - - 1 R$ 40,00 R$ 40,00 2 44,00 88,00
Introdução à Gestão de custos
Tema 1

Ficha de Controle de Estoques - PEPS


Fonte: Autoria própria
37
38 Custos e Formação de Preços

O valor calculado pela fórmula deve ser igual ao somatório da


coluna total de saídas.

O método de último a entrar primeiro a sair (UEPS) provoca efei-


tos contrários ao PEPS, sendo baixado primeiro os custos mais recen-
tes do estoque. Usando os mesmos dados referente ao nosso exemplo,
teríamos a ficha de controle de estoque representada na tabela:

Verifique que de forma análoga à tabela 1, a tabela 2 nos traz as


entradas, e as diferenças desta em relação à tabela anterior, pois neste
método sempre iremos baixar o material em estoque pelo custo mais
novo. Por fim, teremos o saldo final de estoque e a apuração do CMD
da seguinte forma:

Cálculo do CMD – UEPS


Fonte: Autoria própria.

Outra alternativa para registro e controle de estoques envolve


o emprego do custo médio, critério mais utilizado no Brasil. Por esse
método, a empresa mantém um controle constante de seus estoques,
atualizando seu preço médio após cada aquisição. Primeiramente, é
necessário atentar para o fato de que neste método não temos mais
lotes de materiais no estoque, temos um único estoque, o qual o valor
ou custo de aquisição são atualizados após cada nova entrada. Ve-
jamos, agora, como ficaria a ficha de controle de estoques do nosso
exemplo na tabela:
FICHA DE CONTROLE DE ESTOQUES
MÉTODO UTILIZADO: UEPS
ENTRADAS SAÍDAS SALDO
DATA VALOR UNI- VALOR UNI- VALOR UNI-
QTD TOTAL QUANTIDADE TOTAL QTD TOTAL
TÁRIO TÁRIO TÁRIO
3 3 40,00 120,00 - - - 3 40,00 120,00
3 40,00 120,00
15 2 44,00 88,00 - - - 2 44,00 88,00
5 - 208,00
23 - - - 2 44,00 88,00 3 40,00 120,00
29 - - - 1 R$ 40,00 R$ 40,00 2 40,00 80,00
Introdução à Gestão de custos
Tema 1

Ficha de Controle de Estoques - UEPS


Fonte: Autoria própria.
39
40

FICHA DE CONTROLE DE ESTOQUES


MÉTODO UTILIZADO: CUSTO MÉDIO PONDERADO
ENTRADAS SAÍDAS SALDO

DATA VALOR VALOR QUANTI- VALOR


QTD TOTAL QTD TOTAL TOTAL
UNITÁRIO UNITÁRIO DADE UNITÁRIO
Custos e Formação de Preços

3 3 40,00 120,00 - - - 3 40,00 120,00


15 2 44,00 88,00 - - - 5 41,60 208,00
23 - - - 2 41,60 83,20 3 41,60 124,80
29 - - - 1 41,60 41,60 2 41,60 83,20

Ficha de Controle de Estoques – Custo Médio Ponderado


Fonte: Autoria própria.
41
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

Dessa vez deveremos observar, sobretudo, a praticidade nos


cálculos e controle, pois a cada nova aquisição o custo do estoque é
atualizado, assim na segunda aquisição (dia 15), tivemos uma nova
entrada de materiais ao valor unitário de $ 44,00 totalizando $ 88,00.
Apurando-se o saldo deste dia, teríamos: 5 unidades (2 do saldo ante-
rior + 3 que acabaram de entrar) ao valor total de $ 208,00 ($ 120 do
saldo anterior + $ 88,00 que acabaram de entrar), e o valor unitário
seria obtido dividindo-se o total em $ pela quantidade total em esto-
que, ou seja: $ 208,00 / 5 unidades = $ 41,60 por unidade. Quanto a
apuração do CMD, vejamos o cálculo a seguir:

Cálculo do CMD – Custo médio ponderado


Fonte: Autoria própria.

Comparação entre os métodos


Com a adoção do PEPS, em períodos inflacionários, ou seja,
cujos preços oscilam e crescem constantemente, o CMD geralmente
fica avaliado por um custo menor em comparação com os demais cri-
térios. Isso se deve ao fato do custeio ser calculado levando-se em
consideração os valores das aquisições mais antigas, que nesse con-
texto, afirma-se ser menor que os valores mais recentes. Logo, o cus-
to do produto é subavaliado, levando a uma apuração do CMD com
valor menor.

Por outro lado, se o método adotado pela empresa for o UEPS,


pode-se afirmar que se o uso desse método ocorre em um período in-
flacionário, os custos apropriados aos produtos são os mais recentes,
logo o valor do CMD apurado terá um valor maior. Provocando um re-
sultado bruto para empresa ligeiramente menor do que o que poderia
42 Custos e Formação de Preços

ser apurado. É interessante salientar que o método UEPS não aceito


pelo Regulamento do Imposto de Renda Brasileiro e nem pelos órgãos
de Auditoria Externa.

O método do custo médio ponderado, por sua vez, apresenta


maior facilidade de cálculos, maior aplicabilidade e é amplamente tra-
balhado pelos softwares de controle de estoque no mercado brasileiro.

Nas indústrias, o sistema de inventário periódico determina o va-


lor do estoque final de cada material, porém não possibilita a determina-
ção do valor do material aplicado em cada tipo diferente de produto que
esteja sendo ou que foi produzido, a não ser que cada material seja de
uso exclusivo de cada produto. Logo, o controle periódico dos estoques
só pode ser utilizado em tais empresas, desde que elas só produzam um
tipo de produto ou por aquelas que não têm interesse em determinar
o custo de cada produto separadamente, o que impossibilita algumas
formas de análise de desempenho e formação de preço de venda.

Mão de Obra Direta e Gastos Gerais de Fabricação


Retomando nossa discussão inicial do conteúdo sobre os ele-
mentos básicos do custo, trataremos agora do segundo elemento re-
presentado pela Mão de obra (MO) que envolve os custos com os fun-
cionários envolvidos no processo de produção da empresa.

É interessante lembrar que a Mão de Obra pode ser classificada


em direta ou indireta. Em nosso livro, sempre que tratarmos da Mão
de obra Direta, estaremos tratando dos esforços de mão de obra rea-
lizados diretamente sobre a elaboração do produto, sem necessidade
de qualquer apropriação indireta ou rateio.

No entanto, caso haja qualquer tipo de alocação por meio de


estimativas ou divisões proporcionais, desaparece a característica de
Direta, dando então a esta a classificação de Indireta.
43
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

Para finalizarmos, no terceiro elemento temos os Gastos Gerais


de Fabricação, também chamados por outros autores de Custos Indi-
retos de Fabricação – CIF, que absorvem diversos gastos necessários
para a fabricação dos produtos, tais como: aluguéis, energia elétrica,
depreciação, manutenção da fábrica, seguros diversos, material de
limpeza, telefones, entre outros.

Baseando-se no exposto, no próximo conteúdo, veremos algu-


mas classificações de custos, e é imprescindível que você tenha com-
preendido todos os pontos abordados até aqui, pois isso será a base
para seu entendimento sobre as classificações que iremos trabalhar.

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO


DD Sistemas de inventários: métodos de controle de estoques.

DD Apuração do custo com materiais diretos.

DD Custo da mão de obra direta.

DD Custos indiretos de fabricação.


44 Custos e Formação de Preços

Leitura Complementar
DD CREPALDI, Silvio Aparecido. CREPALDI, Guilherme Simões.
Contabilidade de custos. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2018.

Leia os tópicos 3.2.7 - Inventário Periódico e 3.2.8 Inventário Perma-


nente (página 52). Nessas páginas, o autor faz uma abordagem que
elabora e justifica os métodos de controle de estoque de materiais, e
ainda discute os diversos métodos de avaliação de estoques e suas
implicações nos custos da empresa.

DD RIBEIRO, Osni Moura. Contabilidade de custos fácil. 8.ed. São


Paulo: Saraiva, 2013.

Leia o tópico 5.2 - Critérios de Avaliação dos Estoques de Bens Ad-


quiridos (páginas 100-110), o autor faz uma abordagem sobre os prin-
cipais critérios que podem ser utilizados para avaliação dos mate-
riais adquiridos e mantidos em estoques pelas empresas industriais.
E também faz comentários sobre o que deverá integrar os custos de
aquisição.
1.4
CLASSIFICAÇÃO E FUNCIONALIDADE DOS CUSTOS
Para tornar mais clara a compreensão sobre os elementos bási-
cos dos custos, vamos observar e aprender como os custos são classifi-
cados em suas diferentes abordagens. Nesse contexto, as classificações
que veremos a seguir levarão em conta: a apropriação aos produtos;
volume de produção e a funcionalidade quanto à sua ocorrência.

Custos quanto a sua apropriação aos produtos


Para Crepaldi e Crepaldi (2018), os custos poderão ser classifi-
cados quanto à sua forma de apropriação aos produtos e custos dire-
tos ou indiretos.

Os Custos Diretos são os custos incorridos para fabricação de


determinado produto, cuja identificação e associação não dependa de
análise, podendo ser feita de forma direta. Nessa perspectiva, são os
gastos com os insumos que entram na execução do referido produto
ou serviço, ou seja,

podem ser diretamente (sem rateio) apropriados aos pro-


dutos, bastando existir para isso uma medida de consumo
(quilos, horas de mão de obra ou de máquina, quantidade
de força consumida etc.). De maneira geral, associam-se a
produtos e variam proporcionalmente à quantidade pro-
duzida. CREPALDI e CREPALDI (2018, p. 23).

Assim, podemos afirmar que os custos diretos são assim deno-


minados porque, além de integrarem os produtos, suas quantidades e
valores podem ser facilmente identificados em relação a cada produto
fabricado. Há um consenso entre os autores e analistas da área sobre
a compreensão de tais custos, pois em linhas gerais afirma-se que são
46 Custos e Formação de Preços

os gastos com materiais, mão de obra aplicados diretamente na fabri-


cação dos produtos.

Contudo, para que seja feita uma apropriação correta, é ne-


cessária uma mensuração precisa do consumo ou da utilização dos
recursos. Logo, os custos diretos obedecem, por isso, a condições
objetivas.

Os Custos indiretos, por sua vez, são os custos de natureza mais


genérica, não sendo possível identificá-los imediatamente como par-
te do custo de determinado produto ou serviço. Nesse sentido, para
serem alocados aos produtos ou serviços, necessitam da utilização
de algum critério de rateio. Como exemplos dos tipos mais comuns
de custos indiretos citamos: aluguel, energia elétrica e depreciação de
máquinas.

Um exemplo que muito tem sido discutido na gestão de custos


é o caso da energia elétrica, assim esta somente será um custo direto
se a empresa possuir em sua linha de produção apenas um produto,
ou caso seja possível a instalação de medidores individuais em cada
linha de produção dos produtos produzidos. Assim, caso uma dessas
hipóteses não seja satisfeita, esta deverá ser tratada como custo indi-
reto, e para sua apropriação aos produtos deverão ser estabelecidos
critérios de rateios.

Logo, para Ribeiro (2013), torna-se notório que a classificação


dos custos em diretos e indiretos tem como objetivo avaliar os esto-
ques de produtos em elaboração e acabados (prontos para a venda).

Contudo, “na prática, a separação de custos em diretos e indire-


tos, além de sua natureza, leva em conta a relevância e o grau de di-
ficuldade de medição (CREPALDI 2002 apud LEITE, p. 26)”. Por con-
sequência, em nossas abordagens ao longo deste livro sempre que
tratarmos de custos diretos estaremos nos referindo aos custos com
47
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

materiais diretos e mão de obra direta. Dessa forma teremos para a


mensuração do custo direto de cada produto, a fórmula a seguir:

Fórmula de apuração do custo direto


Fonte: Autoria própria.

Em que:

CMD = Custo com Materiais Diretos

MO = Custo da Mão de Obra Direta

Após a apropriação (por meio de rateio) dos custos indiretos aos


produtos, teríamos então o nosso Custo Total (CT), também chamado
de Custo Fabril (CF) ou Custo de Produção (CP). Logo, o valor do custo
total seria obtido pela soma dos custos diretos (CD) e custos indiretos
(CI), cuja fórmula de cálculo é:

Fórmula de apuração do custo total


Fonte: Autoria própria.

Custos Quanto ao Volume de Produção


Tal classificação deve partir do entendimento da variação dos
elementos básicos de custos quando ocorre a variação da quantidade
produzida. Em relação ao volume de produção, os custos podem ser
Fixos ou Variáveis.

Nesse contexto, os Custos Fixos são aqueles que não variam


quando a quantidade produzida é alterada, ou seja, independente-
mente de alterações no volume da produção permanecerão estáveis.
48 Custos e Formação de Preços

Na visão de Ribeiro (2013), são os custos necessários ao desenvolvi-


mento do processo industrial em geral, motivo pelo qual se repetem
em todos os meses do ano.

Podemos citar como exemplos de custos fixos: aluguel da fá-


brica, energia elétrica (quando contratada por demanda), salários e
encargos dos mensalistas que trabalham na manutenção e limpeza da
fábrica, seguro do imóvel, depreciação normal das máquinas, salários
e encargos dos supervisores da fábrica.

Contudo, devemos levar em consideração que os Custos Fixos


podem sofrer alguma variação de um período para outro (geralmen-
te de um ano para outro), por exemplo, com o aluguel que devido às
cláusulas contratuais pode sofrer reajustes anuais; os salários e en-
cargos que podem variar em decorrência dos aumentos salariais. No
entanto, devemos lembrar que mesmo estando sujeitos a variações
dessa natureza, esses custos continuam sendo classificados como
fixos, porque a classificação dos custos em fixos e variáveis é feita
exclusivamente em relação à quantidade produzida.

Outra particularidade dos custos fixos, na visão de Crepaldi e


Crepaldi (2018), é que o custo fixo é fixo em relação ao volume total
da produção, no entanto é variável em relação à unidade produzida.
Logo, o custo fixo unitário decresce com o acréscimo da quantidade
produzida, enquanto os custos fixos totais mantêm-se estáveis qual-
quer que seja o volume de produção.

Os Custos Variáveis, por sua vez, são aqueles que variam pro-
porcionalmente à quantidade produzida. Assim, quanto mais produtos
forem fabricados em um período, maiores serão os Custos Variáveis.

Podemos tomar como exemplo o caso dos materiais diretos


aplicados na produção. Se para fabricar uma camisa são necessários
2,0 m de tecido, logo para fabricar 50 camisas serão necessários 100
49
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

m do mesmo tecido. Assim, quanto maior for a quantidade fabricada,


maior será o consumo de matéria-prima (e materiais diretos aplica-
dos) e, consequentemente, maior será o seu custo.

Por outro lado, para Ribeiro (2013), os Custos Variáveis, por es-
tarem vinculados ao volume produzido, são também chamados de
Custos Diretos, e esta analogia será muito importante nos próximos
assuntos de nossa disciplina.

É interessante salientar que, para alguns autores, a exemplo de


Crepaldi e Crepaldi (2018) e Ribeiro (2013), existe ainda uma terceira
categoria, com relação ao volume de produção, que são os custos se-
mifixos ou mistos. Recebem este nome porque em um determinado
intervalo de volume de produção eles permanecem fixos, ultrapas-
sando-se este intervalo, estes custos sofreriam uma variação. Como
exemplos disso podemos citar alguns encargos de mão de obra, como
por exemplo as horas extras e prêmios por produtividade.

Logo, podemos resumir o entendimento sobre os custos variá-


veis da seguinte forma:

O custo variável é variável em relação ao volume total


da produção, mas é fixo em relação à unidade produzi-
da. Os custos variáveis unitários são fixos ao longo do
processo produtivo. Numa linha de produção, eles per-
manecem constantes, qualquer que seja o volume de
produção. Os custos variáveis totais são aumentados
ou diminuídos de acordo com o aumento ou diminuição
da quantidade produzida. São aqueles cujos valores al-
teram-se em função do volume de produção ou ativida-
des CREPALDI e CREPALDI (2018, p 24).
50 Custos e Formação de Preços

Funcionalidade dos custos quanto à sua ocorrência


A primeira classificação da funcionalidade dos custos quanto a
ocorrência é em Custos Básicos, estes representam o custo apenas
com o material direto utilizado na produção. Podendo ser calculado
através da fórmula do CMD vista no conteúdo anterior.

Temos também o Custo Primário que corresponde ao custo


com a matéria prima direta e com a mão de obra direta. Neste ponto
devemos comentar que o custo com matéria prima direta aqui tra-
balhado difere do custo direto, pois absorve apenas matéria prima,
os materiais secundários e os materiais de embalagem, ainda que di-
retamente aplicados no produto, não são considerados custo primá-
rio. Esse custo está associado diretamente à produção, equivalendo à
soma do material direto com a mão de obra direta. São os primeiros
custos incorridos no processo produtivo, por essa razão foi denomi-
nado primário.

Fórmula de apuração do custo primário


Fonte: Autoria própria.

Em que:

CP = custo primário

CB = custo básico

MOD = mão de obra direta

A próxima definição a ser trabalhada é sobre os Custos de


Transformação, este corresponde à soma dos gastos da mão de obra
direta com os gastos gerais de fabricação, nessa apuração não são
51
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

considerados os gastos com materiais. Representa o esforço da pró-


pria empresa no processo de elaboração de um determinado produto
(energia, aluguel, mão de obra direta e indireta, entre outros).

Fórmula de apuração do custo de transformação


Fonte: Autoria própria.

Onde:

CT = custo de transformação

MOD = mão de obra direta

GGF = gastos gerais de fabricação

Os últimos conceitos a serem trabalhados neste conteúdo com-


preendem o Custo dos Produtos Fabricados (CPF) e o Custo dos Pro-
dutos Vendidos. Nesse sentido, o Custo dos produtos fabricados é
resultado do somatório de todos os custos incorridos no processo de
fabricação, sejam estes fixos ou variáveis, diretos ou indiretos.

O Custo dos Produtos Vendidos (CPV), por sua vez apenas é


apurado com a venda dos produtos e corresponde à soma de todos
os custos aplicados na produção, no entanto diz respeito apenas às
unidades dos produtos que foram efetivamente vendidas.

Nesse sentido, os produtos acabados recebem como custo, toda


a carga dos Custos Diretos e Indiretos incorridos durante todo o pro-
cesso de fabricação dos respectivos produtos.

No entanto, devemos atentar, que os produtos que tiveram


seus processos de fabricação iniciados em períodos anteriores e
52 Custos e Formação de Preços

encerrados no período atual receberão cargas de custos proporcio-


nais ao processo de fabricação em cada um dos períodos durante os
quais estiveram em fabricação. Essas cargas de custos são atribuídas
no final de cada período, para que os referidos produtos inacabados
possam ser devidamente avaliados para integrar os estoques finais
de produtos em elaboração no término de cada um desses períodos.

Portanto, ao terem seus processos de fabricação concluídos,


os custos desses produtos conterão parte dos custos incorridos em
períodos anteriores mais os custos gerados no atual período em que
seus processos de fabricação foram concluídos.

É importante salientar que, entre os produtos vendidos pela em-


presa em um período, poderão conter somente produtos cujos proces-
sos de fabricação foram concluídos no respectivo período ou poderão
conter ainda produtos que foram acabados em períodos anteriores.

Pelo que verificamos, até agora, podemos afirmar que a gestão


dos custos é uma tarefa muito complexa. E identificar onde os custos
de produção começam não é tarefa difícil, mas visualizar onde eles
terminam nem sempre é fácil.

Nesse processo o primeiro passo é definir o momento em que


se encontra pronto para venda, até esse momento todos os gastos
devem ser considerados custos. Formado o custo todos os demais
gastos serão tratados como despesas necessárias para a realização
da venda.
Por exemplo, relembrando, as embalagens utilizadas no proces-
so de produção são consideradas custos, integrando o valor do produ-
to; as embalagens utilizadas no momento da venda, após a produção,
são consideradas despesas.

No próximo tema, iremos abordar alguns dos métodos de cus-


teio, uma vez que já conseguimos identificar cada elemento básico do
custo, bem como segregar os custos das despesas no processo.
53
Tema 1
Introdução à Gestão de custos

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO


DD Classificação dos Custos quanto à forma de apropriação: diretos
e indiretos.

DD Classificação dos custos quanto ao volume de produção: fixos e


variáveis.

DD Custos Primários e Custos de Transformação.

DD Custo dos Produtos Fabricados e Custo dos Produtos Vendidos.

Leitura Complementar

DD CREPALDI, Silvio Aparecido. CREPALDI, Guilherme Simões. Con-


tabilidade de custos. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2018, Págs. 22-26.

Nesse texto, os autores trabalham a classificação dos elementos


básicos de custos quanto a sua apropriação aos produtos e quanto ao
nível de produção.

DD MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 11. ed. São Paulo: Atlas,


2018. Págs. 36-40.

Nesse texto o autor trabalha a classificação dos custos em diretos


e indiretos, em fixos e variáveis e outras classificações aplicáveis à
gestão de custos.
tema 2
Métodos de Custeio
Existem diversos métodos de custeio, cada um com uma metodo-
logia própria, com vantagens e desvantagens de aplicação. Neste
tema, iremos abordar alguns dos métodos mais aceitos para geren-
ciamento de custos no Brasil. Nesse sentido, deveremos partir do
entendimento de que os métodos de custeio são as formas empre-
gadas para se calcular o custo de um determinado produto ou servi-
ço. Logo, veremos em nossa abordagem, que dependendo do méto-
do de custeio adotado, poderemos encontrar diferentes custos para
um mesmo produto.
2.1
CUSTEIO POR ABSORÇÃO
O custeio por absorção é aquele em que o custo de produção
absorve todos os custos da área de fabricação, definidos como custos
diretos ou indiretos, fixos ou variáveis, de estrutura ou operacionais.
Para Crepaldi e Crepaldi (2018), o próprio nome do critério é revelador
dessa particularidade, ou seja, o procedimento é fazer com que cada
produto ou produção (ou serviço) absorva uma parcela dos custos di-
retos e indiretos relacionados à fabricação.

Nesse contexto, a absorção das parcelas mencionadas no pará-


grafo anterior constituirá os rateios para apropriação e formação dos
custos totais de produção de cada produto.

Logo, em virtude de ser o método derivado da aplicação dos


princípios de contabilidade, é também o aceito e exigido no Brasil pela
legislação fiscal, sobretudo pela legislação do imposto de renda.

Fundamentos Gerais
Os produtos fabricados devem absorver todos os custos incor-
ridos no processo de fabricação, pois este método trabalha com sis-
tema de rateios na apropriação dos custos de dois ou mais produtos.
Logo, pode-se afirmar que o resultado do custo sofre influência direta
da quantidade produzida.

Para Dutra (2017), o método de custeio por absorção é também


chamado Custeio Pleno ou Integral, é o mais utilizado quando se trata
de apuração de resultado, pois na visão do referido autor, esse método
não considera as despesas como integrantes dos estoques dos bens e
serviços, mas todos os custos aplicados em sua obtenção.
58 Custos e Formação de Preços

Nesse contexto, todos os custos incorridos no período serão ab-


sorvidos pela produção realizada, ou seja, serão apropriados aos pro-
dutos acabados (e em elaboração, se for o caso), independentemente
de serem fixos, variáveis, diretos ou indiretos.

Assim, a separação entre custos e despesas é o primeiro passo


na apuração do custo por esse método, pois a finalidade desse critério
é ter o custo total (direto e indireto) de cada objeto produzido.

Via de regra, salvo raríssimas exceções, nesse método conside-


raremos que todos os custos (fixos e variáveis) são absorvidos pelos
produtos. Logo, todos os gastos relativos ao esforço de produção são
distribuídos para todos os produtos ou serviços feitos.

Roteiro de Apuração
Para iniciar nossa abordagem e traçarmos um roteiro para apu-
ração dos custos por absorção, deveremos nos lembrar dos conceitos
de custos diretos e indiretos estudados no tema anterior.

Nesse sentido, devemos partir do pressuposto que o método de


custeio por absorção considera como custo de produção todos os gas-
tos incorridos no processo de produção, como a matéria-prima direta
e indireta consumidas, a mão de obra direta e indireta aplicadas e os
demais custos.

Para Martins (2018), as etapas de apuração podem ser assim


definidas:

DD 1º passo: separação entre custos e despesas;

DD 2º passo: apropriação do custo direto aos produtos;


59
Tema 2
Métodos de Custeio

DD 3º passo: alocação do custo indireto aos produtos (mediante


rateio);

DD 4º passo: cálculo do custo total de produção de cada produto.

Caso Prático
A Indústria X, durante determinado mês, incorreu nos gastos
identificados a seguir:

GASTO R$
Comissão de vendedores 50.000,00
Salários da fábrica 120.000,00
Matéria-prima consumida 350.000,00
Salários da administração 50.000,00
Depreciação de máquinas e equipamentos da fábrica 30.000,00
Seguros da fábrica 10.000,00
Despesas financeiras 15.000,00
Honorários da diretoria 30.000,00
Materiais secundários consumidos na fábrica 35.000,00
Energia elétrica da fábrica 10.000,00
Gastos com manutenção da fábrica 20.000,00
Despesas com entrega de produtos 15.000,00
Materiais de expediente da administração 25.000,00
Despesas gerais da administração 35.000,00
TOTAL 795.000,00

Descrição dos gastos mensais


Fonte: Autoria própria.
60 Custos e Formação de Preços

Seguindo o esquema do custeio por absorção, teremos então:

1º PASSO: Separação dos gastos em custos e despesas

GASTO R$
Salários da fábrica 120.000,00
Matéria-prima consumida 350.000,00
Depreciação de máquinas e equipamentos da fábrica 30.000,00
Seguros da fábrica 10.000,00
Materiais secundários consumidos na fábrica 35.000,00
Energia elétrica da fábrica 10.000,00
Gastos com manutenção da fábrica 20.000,00
TOTAL 575.000,00

Relação de Custos de Produção


Fonte: Autoria própria.

GASTO R$
Comissão de vendedores 50.000,00
Salários da administração 50.000,00
Despesas financeiras 15.000,00
Honorários da diretoria 30.000,00
Despesas com entrega de produtos 15.000,00
Materiais de expediente da administração 25.000,00
Despesas gerais da administração 35.000,00
TOTAL 170.000,00

Relação de Despesas
Fonte: Autoria própria.
61
Tema 2
Métodos de Custeio

2º PASSO: Apropriação do custo direto aos produtos

Uma vez que já separamos os custos de produção das despesas,


de agora em diante nos interessará apenas os custos para o processo
de custeio dos produtos.

Nesse contexto, suponhamos que essa empresa elabore três


produtos diferentes, chamados A, B e C. O passo seguinte é o de se
distribuir os custos diretos de produção aos três produtos citados.

Deveremos considerar que nessa empresa, somente serão con-


siderados custos diretos os gastos com consumo de Matéria-prima e
os gastos com os Salários da Fábrica (que irão compor a mão de obra
direta). Logo, dos gastos que citamos na tabela 5 como custos de pro-
dução serão custos diretos:

DD Salários da fábrica: R$ 120.000,00

DD Matéria-prima consumida: R$ 350.000,00

DD Total do Custo Direto: R$ 470.000,00.

No entanto, sabemos que este custo direto deve ser apropriado


separadamente a cada produto (A, B e C). Nesse sentido, sabe-se que
o consumo de matérias-primas para cada produto foi mensurado de
acordo com as requisições de materiais atendidos pelo almoxarifado
conforme demonstrado na tabela na página a seguir :
62 Custos e Formação de Preços

Produto Matéria-prima consumida


A 75.000,00
B 135.000,00
C 140.000,00
TOTAL 350.000,00
Consumo de Matéria-prima por produto
Fonte: Autoria própria

As horas de mão de obra dedicadas para elaboração de cada


produto foram fornecidas pelo departamento pessoal da empresa na
seguinte proporção, conforme demonstrado na tabela abaixo:

Produto % de MO R$ de MO
A 25,00 30.000,00
B 52,00 62.400,00
C 23,00 27.600,00
TOTAL 100,00 120.000,00
Distribuição do Custo de Mão de Obra
Fonte: Autoria própria.

Diante dos dados apresentados, já é possível formar o custo


direto de cada produto conforme demonstrado na tabela abaixo.

PRODU- MATÉRIA-PRI- MÃO DE CUSTO DIRE- %


TO MA OBRA TO
A 75.000,00 30.000,00 105.000,00 22,3
B 135.000,00 62.400,00 197.400,00 42,0
C 140.000,00 27.600,00 167.600,00 35,7
TOTAL 350.000,00 120.000,00 470.000,00 100,0

Apropriação do Custo Direto de cada Produto


Fonte: Autoria própria.
63
Tema 2
Métodos de Custeio

3º PASSO: Alocação do custo indireto aos produtos

Uma vez que já identificamos e alocamos os custos diretos,


resta-nos apropriar os custos indiretos.

GASTO R$
Depreciação de máquinas e equipamentos da fábrica 30.000,00
Seguros da fábrica 10.000,00
Materiais secundários consumidos na fábrica 35.000,00
Energia elétrica da fábrica 10.000,00
Gastos com manutenção da fábrica 20.000,00
TOTAL 105.000,00

Relação de Custos Indiretos de Produção


Fonte: Autoria própria.

Vamos agora analisar a forma ou as formas de alocar os custos


indiretos que totalizam, neste exemplo, R$ 105.000,00. Nesse contex-
to, Martins (2018) afirma que uma alternativa simples seria alocar os
custos indiretos com base no custo direto já calculado de cada produ-
to. Para o autor citado, esse critério pode ser usado quando os custos
diretos são a grande porção dos custos totais, e nesse caso percebe-se
que os custos diretos apurados representam uma parcela significativa
dos custos totais (aproximadamente 82% dos custos totais). Logo, de
forma arbitrária iremos adotar esse critério para alocação dos custos
indiretos aos produtos A, B e C utilizando para isso as proporções já
calculadas em tabelas anteriores.

Assim, na tabela a seguir encontram-se os cálculos para apro-


priação dos custos indiretos, de acordo com o critério mencionado no
parágrafo anterior, e considerando que o valor a ser rateado (dividido
proporcionalmente) é de R$ 105.000,00.
64 Custos e Formação de Preços

PRODUTO CUSTO DIRETO % CUSTO INDIRETO


A 105.000,00 22,3 23.415,00

B 197.400,00 42,0 44.100,00

C 167.600,00 35,7 37.485,00

TOTAL 470.000,00 100,0 105.000,00

Apropriação do Custo Indireto de cada Produto


Fonte: Autoria própria.

4º PASSO: Cálculo do custo total de produção de cada produto

Uma vez que já sabemos os valores de custo direto e de custo


indireto de cada produto, resta-nos agora somá-los para obter o custo
total de produção de cada produto conforme demonstrado na tabela
abaixo:

PRODUTO CUSTO DIRETO CUSTO INDIRETO CUSTO TOTAL


A 105.000,00 23.415,00 128.415,00
B 197.400,00 44.100,00 241.500,00
C 167.600,00 37.485,00 205.085,00
TOTAL 470.000,00 105.000,00 575.000,00

Custo Total de cada Produto


Fonte: Elaborado pelo Autor (2018).

Suponhamos, entretanto, que a direção da referida empresa re-


solva fazer a alocação dos custos tendo por base outro critério. Assim,
conhecendo a quantidade total produzida de cada produto, decide-se
realizar a distribuição dos custos indiretos proporcionalmente ao vo-
lume de produção de cada item. Percebeu que se fossemos realizar
este cálculo, os custos totais de cada produto poderiam não ser iguais
aos que realizamos durante o exemplo. Isso se deve ao fato da mudança
da base de rateio.
65
Tema 2
Métodos de Custeio

Por outro lado, os valores dos custos indiretos diferentes e con-


sequentes custos totais também diferentes para cada produto podem
não só provocar análises distorcidas, como também diminuir o grau
de credibilidade com relação às informações de Custos.

Logo, afirmamos que não há uma forma perfeita de se fazer essa


distribuição; podemos, no máximo, procurar entre as diferentes alter-
nativas a que traz consigo menor grau de arbitrariedade e maior nível
de precisão, pois a exatidão dependerá do ponto de vista de quem fará
as análises.

No próximo conteúdo, iremos abordar um outro método de cus-


teio, o custeio variável. Nessa abordagem, perceberemos diferenças
significativas, sobretudo quando da formação do custo para base de
precificação de um produto ou serviço.
66 Custos e Formação de Preços

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO


DD Fundamentos do Custeio por Absorção.

DD Roteiro para apuração dos custos.

DD Caso prático.

DD Conclusões sobre bases de rateio.

Leitura Complementar
DD MARTINS, Eliseu; ROCHA, Welington. Métodos de custeio compa-
rados: custos e margens analisados sob diferentes perspectivas. 2.
ed. São Paulo: Atlas, 2015.

Leia o tópico 7.2 – Fundamentos (páginas 85-88). Nesses textos, o


autor faz um detalhamento sobre os fundamentos do custeio por ab-
sorção. Após a fundamentação, é apresentado um roteiro para atri-
buição dos custos fixos aos produtos, tanto na indústria quanto na
prestação de serviços.

DD SOUZA, Alceu; CLEMENTE, Ademir. Gestão de custos: aplicações


operacionais e estratégicas: exercícios resolvidos e propostos com
utilização do Excel. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. [Minha Biblioteca].

Leia o tópico 5.1 – Custeio por Absorção (páginas 57-59), nesse texto os
autores trabalham um panorama histórico do custeio por absorção e fa-
zem uma abordagem levando em consideração os princípios de gestão.
67
Tema 2
Métodos de Custeio

2.2
CUSTEIO VARIÁVEL
Embora questionável do ponto de vista dos princípios e normas
contábeis, este método assume grande importância nos processos de
tomada de decisões.

Assim, tal método consiste em:

O método de custeio variável, também conhecido como


custeio direto, é um tipo de custeamento que considera
como custo de produção de um período apenas os cus-
tos variáveis incorridos, desprezando os custos fixos, os
quais são tratados como despesas do período. Entenda
que o termo custos engloba também as despesas variá-
veis. Nesse método, o custo unitário de produção do pe-
ríodo será o total de custo variável dividido pela quan-
tidade produzida, e o custo fixo será apropriado direto
ao resultado do exercício, não passando pelo estoque.
Fundamenta-se na separação dos gastos em gastos
variáveis e gastos fixos, isto é, em gastos que oscilam
proporcionalmente ao volume da produção/venda e
gastos que se mantêm estáveis perante aos volumes
de produção/venda oscilantes dentro de certos limites.
No critério de custeio variável só são apropriados aos
produtos os custos variáveis, ficando os custos fixos
separados e considerados como despesas do período.
CREPALDI E CREPALDI (2018, p. 158)

Dessa forma, os custos fixos serão levados em consideração


apenas na apuração do resultado para formação do lucro ou do
prejuízo.
68 Custos e Formação de Preços

Por outro lado, esse método também é chamado de custeio di-


reto pelo fato de que os custos variáveis relacionados são via de regra
os custos diretos, neste ponto é interessante que você lembre dos ele-
mentos básicos trabalhados no tema anterior.

Assim, concordamos com Souza e Clemente (2011), ao afirmar


que a grande mudança conceitual introduzida pelo Custeio Direto con-
siste em atribuir apenas os custos totalmente variáveis aos produtos,
considerando assim os demais custos como elementos de despesa, e
não sendo dessa forma atribuíveis aos produtos.

Contudo, deveremos lembrar que os custos fixos são aqueles


custos que ocorrem na empresa independente do volume de produção.

Vantagens e desvantagens
Como instrumento de gestão, verificamos que o custeio variável
apresenta condições de transmitir informações relevantes de forma mais
rápida para a empresa. Pelo fato de abandonar os custos fixos e reconhe-
cê-los como despesa do ponto de vista contábil, o resultado apurado por
esse critério demonstra ser mais informativo para administração.

No entanto, o custeio variável, apesar de contribuir para o pro-


cesso de gestão, não é reconhecido para fins contábeis, por não ob-
servar os princípios fundamentais de contabilidade e nem a legislação
do Imposto de Renda Brasileiro. É importante salientar que essa não
aceitação do Custeio Variável não impossibilita que a empresa o utili-
ze para efeito interno.

Caso Prático
Para uma melhor ilustração, iremos retomar o exemplo resolvi-
do no conteúdo anterior, assim ao final você poderá comparar os va-
lores apurados.
69
Tema 2
Métodos de Custeio

A Indústria X, durante determinado mês, incorreu nos gastos


identificados a seguir:

GASTO R$
Comissão de vendedores 50.000,00
Salários da fábrica 120.000,00
Matéria-prima consumida 350.000,00
Salários da administração 50.000,00
Depreciação de máquinas e equipamentos da fábrica 30.000,00
Seguros da fábrica 10.000,00
Despesas financeiras 15.000,00
Honorários da diretoria 30.000,00
Materiais secundários consumidos na fábrica 35.000,00
Energia elétrica da fábrica 10.000,00
Gastos com manutenção da fábrica 20.000,00
Despesas com entrega de produtos 15.000,00
Materiais de expediente da administração 25.000,00
Despesas gerais da administração 35.000,00
TOTAL 795.000,00

Descrição dos gastos mensais.


Fonte: Elaborado pelo Autor (2018).

Considerando que a empresa produz três produtos (A, B e C), tal


como no conteúdo anterior, teremos agora que selecionar dentre os
gastos relacionados na tabela a seguir quais deles constituem custos
variáveis.
70 Custos e Formação de Preços

Neste caso consideraremos como custos variáveis os seguintes


gastos:

GASTO R$
Salários da fábrica 120.000,00
Matéria-prima consumida 350.000,00
Materiais secundários consumidos na fábrica 35.000,00
Energia elétrica da fábrica 10.000,00
TOTAL 515.000,00

Descrição dos Custos Variáveis mensais


Fonte: Autoria própria.

Note que neste caso estamos classificando a mão de obra direta


(salários da fábrica) como custo variável devido ao fato de haver en-
cargos de horas extras, por exemplo, incidentes sobre os salários que
são proporcionais ao volume de produção da empresa. No entanto,
alguns autores não a consideram como custo variável, pois estes par-
tem do pressuposto de que até determinado volume de produção não
há necessidade de se variar os gastos com mão de obra direta.

Temos também o consumo de matéria-prima pela produção de


cada material, conforme ilustrado na tabela a seguir.
71
Tema 2
Métodos de Custeio

Produto Matéria-prima consumida %


A 75.000,00 21,4
B 135.000,00 38,6
C 140.000,00 40,0
TOTAL 350.000,00 100,0

Consumo de Matéria-prima por produto


Fonte: Autoria própria.

Note que acrescentamos a coluna %, que identifica o consumo


percentual de matéria-prima de cada produto em relação ao total con-
sumido pela empresa no período. Estes percentuais serão importan-
tes, pois iremos ratear os demais custos variáveis aos produtos com
base na quantidade de matéria-prima consumida por cada um.

Dessa forma sobrará fazer o rateio dos seguintes custos: sa-


lários da fábrica; materiais secundários consumidos na fábrica e da
energia elétrica da fábrica, perfazendo um total de R$ 165.000,00;
que será rateado da seguinte forma:

PRODUTO MATÉRIA-PRIMA % RATEIO CUSTO TOTAL


A 75.000,00 21,4 35.310,00 110.310,00
B 135.000,00 38,6 63.690,00 198.690,00
C 140.000,00 40,0 66.000,00 206.000,00
TOTAL 350.000,00 100,0 165.000,00 515.000,00

Apropriação dos demais Custos Variáveis


Fonte: Elaborado pelo Autor (2018).

Na tabela a seguir poderemos comparar o custo total de cada


produto apurado pelo custeio por absorção (visto no conteúdo anterior)
e pelo custeio variável.
72 Custos e Formação de Preços

PRODUTO CT CT
Custeio por Absorção Custeio Variável
A 128.415,00 110.310,00
B 241.500,00 198.690,00
C 205.085,00 206.000,00
TOTAL 575.000,00 515.000,00

Custo Total
Fonte: Elaborado pelo Autor (2018).

Imaginemos agora que essa empresa produziu e vendeu no re-


ferido mês 100 unidades do produto A e 200 unidades dos produtos
B e C, neste caso os custos unitários de produção levando em consi-
deração os métodos de custeio por absorção e variável ficariam da
seguinte forma:

Considerando que os preços de venda de cada produto foram


respectivamente de:

DD A = R$ 2.000,00

DD B = R$ 2.500,00

DD C = R$ 2.500,00
73
Tema 2
Métodos de Custeio

Teríamos o seguinte resultado para a empresa no mês (sem


considerar os tributos incidentes sobre as vendas):

Quantidade
Produzida e 100,00 200,00 200,00  
Vendida
  Produto A Produto B Produto C  
Receita Bruta 200.000,00 500.000,00 500.000,00  
(-) Custo dos
Produtos 128.415,00 241.500,00 205.086,00  
Vendidos
Resultado Ope-
71.585,00 258.500,00 294.914,00 624.999,00
racional Bruto
(-) Despesas 170.000,00
Resultado Opera-
454.999,00
cional Líquido
Resultado pelo Custeio por Absorção
Fonte: Autoria própria.

Quantidade 100,00 200,00 200,00


Produzida e Vendida
Produto A Produto B Produto C
Receita Bruta
200.000,00 500.000,00 500.000,00
(-) Custo dos Pro- 110.310,00
198.690,00 206.000,00
dutos Vendidos
Resultado Opera- 89.690,00 301.310,00 294.000,00 685.000,00
cional Bruto
(-) Despesas 280.000,00
Resultado Operacional 405.000,00
Líquido
Resultado pelo Custeio Variável
Fonte: Autoria própria.
74 Custos e Formação de Preços

Diante do exposto, fica evidente que para a utilização do méto-


do de custeio variável, além de utilizar alguns dos conceitos básicos
estudados no primeiro tema e outros que ainda iremos aprofundar no
desenvolvimento do curso, você deverá levar em consideração que
este método serve apenas para análise gerencial, devido à distinção
dos custos fixos e variáveis na formação do custo total.

No próximo conteúdo, iremos abordar um caso em particular do


custeio por absorção: a departamentalização.

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO

DD Abordagem do custeio variável.

DD Vantagens e desvantagens.

DD Comparação ao custeio por absorção.

DD Apuração do custo total de produção.


75
Tema 2
Métodos de Custeio

Leitura Complementar
DD MARTINS, Eliseu; ROCHA, Welington. Métodos de custeio com-
parados: custos e margens analisados sob diferentes perspecti-
vas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

Leia os tópicos 6.1, 6.2, 6.3 e 6.4 do Capitulo 6 – Custeio Variável (pá-
ginas 65-79), nesse texto os autores fazem uma explicação do roteiro
de aplicação do método de custeio variável com o uso de fluxogramas.

DD SOUZA, Alceu; CLEMENTE, Ademir. Gestão de custos: aplicações


operacionais e estratégicas: exercícios resolvidos e propostos com
utilização do Excel. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. [Minha Biblioteca].

Leia o tópico 5.2 - Custeio Direto (páginas 62-64), nesse texto o au-
tor faz uma abordagem do custeio variável em comparação ao custeio
por absorção (visto no conteúdo anterior), ilustrando a apresentação
com fluxogramas.
76 Custos e Formação de Preços

2.3
O CASO DA DEPARTAMENTALIZAÇÃO
A departamentalização consiste em dividir a empresa
em segmentos, chamados departamentos, aos quais
são debitados todos os custos de produção neles in-
corridos. A departamentalização representa um crité-
rio eficaz para apropriação de custos indiretos, no qual
cada departamento é dividido em um ou mais centros
de custos, muito utilizada em indústrias cujo processo
produtivo passa por algumas fases de produção. Como
exemplo, pode-se citar uma indústria de café que tem
como fases de produção: seleção de grãos, torrefação,
moagem e embalagem.
Departamento é a unidade mínima administrativa cons-
tituída, na maioria dos casos, por homens e máquinas
que desenvolvem atividades homogêneas. Deve haver
sempre um responsável pelo departamento. É uma uni-
dade mínima que concentra custos e desenvolve ativida-
des homogêneas. CREPALDI e CREPALDI (2018, p. 107).

Para Bruni e Famá (2012), um departamento corresponde a


uma unidade operacional representada por um conjunto de homens
e máquinas que desenvolvem atividades afins dentro do mesmo seg-
mento (área) da empresa.

Diante das definições apresentadas 01


pelos autores citados, podemos afirmar Segmento ou seção
onde são acumulados
que um departamento seria a menor parte
os gastos incorridos
da unidade administrativa que a empresa para a posterior transfe-
rência aos produtos ou a
pode ser dividida, logo irão originar o que
outros centros de custo
chamaremos em algumas empresas de
centros de custos1.
77
Tema 2
Métodos de Custeio

Assim, na ótica dos autores que militam na área de gestão de


custos, a exemplo de Bruni e Famá (2012) e Ribeiro (2013), os depar-
tamentos são geralmente classificados em dois grandes grupos a saber:
podem ser genericamente divididos em dois grandes grupos:

DD departamento de serviços: corresponde a parte essencial e


de apoio à organização e não atuam na produção ou elabo-
ração dos produtos ou dos serviços.

DD departamento de produção: compreende todos os departa-


mentos ou setores que participam da produção ou elabora-
ção de produtos e serviços.

No entanto, embora, geralmente, cada departamento corres-


ponda a um centro de custo (s), em algumas ocasiões, um departa-
mento pode ser subdividido em diversos centros de custos.

Assim, como o método em estudo é conhecido por “sistema


de custeio departamental”, convencionaremos em nossa aborda-
gem, tratar os centros de geração de custos pela nomenclatura de
departamentos.

Roteiro para rateios e apropriação dos custos


Os custos dos departamentos costumam ser transferidos em
função de bases de rateio predeterminadas. Conforme já estudado no
Custeio por absorção, por exemplo, os critérios para a transferência
podem basear-se em um percentual em relação ao total, ou com base
em uma taxa de absorção predefinida. Por exemplo, gastos com alu-
guel costumam ser transferidos aos departamentos em função das
áreas ocupadas por cada setor.

Assim, para Ribeiro (2013), são métodos de rateio que podem


ser utilizados no sistema de custeio departamental os seguintes:
78 Custos e Formação de Preços

DD Método Direto: por esse método, os custos gerados nos de-


partamentos de serviços são rateados diretamente para os
departamentos produtivos beneficiados pelos respectivos
serviços. Assim, os departamentos de serviços não recebem
custos de outros departamentos de serviços, ainda que te-
nham sido beneficiados pelos serviços de alguns deles.

DD Método Algébrico ou da Reciprocidade: por esse método,


reconhece-se a reciprocidade dos serviços prestados entre
os departamentos. Adotando esse método, um departa-
mento de serviços poderá receber, por transferência, parte
do custo do próprio departamento que foi transferido para
outro. Recomenda-se evitar o seu uso, uma vez que ele in-
centiva a distribuição reflexiva.

DD Método da Hierarquização ou dos Degraus: consiste em


fixar uma ordem de prioridade entre os departamentos de
serviços. A partir dessa hierarquização, rateiam-se os cus-
tos gerados nos departamentos de serviços entre todos os
departamentos que sejam de serviços ou produtivos.

Para efeitos didáticos, adotaremos em nossa abordagem apenas


o método direto para rateio e apropriação dos custos de produção aos
produtos. Isso porque neste método não se admite que os departamen-
tos de serviços recebam custos (a não ser o mensurado inicialmente).

Caso Prático
Para exemplificar nossa abordagem deste sistema de custeio,
vamos considerar que uma Companhia X, atuante no ramo de confec-
ções, estuda a possibilidade de distribuir alguns custos indiretos de
fabricação entre seus três departamentos de produção: costura, aca-
bamento e embalagem. Utilizando as informações apresentadas na
tabela abaixo, vamos determinar os custos a serem alocados a cada
79
Tema 2
Métodos de Custeio

departamento e posteriormente os custos que serão transferidos dos


departamentos para os produtos.

Gasto Critério de Rateio R$

Seguro Predial Área ocupada por cada departamento 8.200,00

Depreciação
Valor de maquinário e mobiliário de
de máquinas e 64.800,00
cada departamento
móveis

IPTU Área ocupada por cada departamento 39.500,00

Gastos com ma- Diretamente ao departamento de


5.600,00
nutenção Costura

Aluguel Área ocupada por cada departamento 7.600,00

TOTAL 125.700,00

Gastos mensais incorridos


Fonte: Elaborado pelo Autor (2018).

Os critérios de rateio podem ser vistos na tabela a seguir:

Área Relação Máquinas e Relação


Departamento
Ocupada (m2) Proporcional Móveis (R$) Proporcional
Costura 17.000 88% 1.600.000,00 88%
Acabamento 500 3% 180.000,00 10%
Embalagem 1.800 9% 40.000,00 2%
TOTAL 19.300 100% 1.820.000,00 100%

Critérios de Rateios pelos Departamentos


Fonte: Autoria própria.

Verifique que para facilitar o entendimento, na tabela acima,


já foram informados também os percentuais de rateio para cada de-
partamento. Logo serão estes os valores que iremos aplicar em cada
gasto obedecendo ao critério de rateio e apropriação dos gastos aos
departamentos conforme descrito em tabelas anteriores.
80
Rateio por Departamento
Gasto Critério de rateio R$
departamento:
Costura Acabamento Embalagem
Área ocupada por cada
Seguro Predial 8.200,00 7.216,00 246,00 738,00
departamento
Depreciação Valor de maquinário e
de máquinas mobiliário de cada de- 64.800,00 57.024,00 6.480,00 1.296,00
e móveis partamento
Custos e Formação de Preços

Área ocupada por cada


IPTU 39.500,00 34.760,00 1.185,00 3.555,00
departamento

Fonte: Autoria própria.


Gastos com Diretamente ao depar-
5.600,00 5.600,00 - -
manutenção tamento de Costura

Rateio dos Gastos aos Departamentos de Produção


Área ocupada por cada
Aluguel 7.600,00 6.688,00 228,00 684,00
departamento
TOTAL 125.700,00 111.288,00 8.139,00 6.273,00
Assim, temos na tabela abaixo os gastos rateados para cada
81
Tema 2
Métodos de Custeio

Supondo agora que a Companhia X fabrica três produtos:


lençóis de casal (LC), lençóis de solteiro (LS) e fronhas para traves-
seiro (FT); nosso próximo passo agora será estimar os custos de fa-
bricação de cada produto sabendo que os custos indiretos já foram
apurados por departamentalização na tabela acima.

Assim, apresentamos na tabela a seguir os elementos de custos


diretos e em seguida faremos o rateio e a apropriação dos custos indi-
retos, já apurados por departamentalização, com base no consumo de
material direto de cada produto.

UNIDADES MATERIAL MÃO DE OBRA


PRODUTO
PRODUZIDAS DIRETO (R$) DIRETA (R$)
Lençóis de casal 1.500 24.000,00 3.000,00

Lençóis de
2.600 18.200,00 3.120,00
solteiro
Fronhas 25.800 20.640,00 7.740,00

TOTAL 29.900 62.840,00 13.860,00

Custos Diretos de cada produto


Fonte: Autoria própria

Como nossa base de rateio será o consumo de material direto


por cada produto, teremos as seguintes bases:

DD Lençóis de casal

24.000 → χ
62.840 → 100%
χ = 38%
Base de rateio
Fonte: Autoria própria
82 Custos e Formação de Preços

DD Lençóis de solteiro

18.200 → χ
62.840 → 100%
χ = 29%
Base de rateio
Fonte: Autoria própria

DD Fronhas para travesseiro

20.640 → χ
62.840 → 100%
χ = 33%
Base de rateio
Fonte: Autoria própria

Obs.: Notem que para simplificar nossos


cálculos desconsideramos as casas de-
cimais e aproximaremos todos os per-
centuais de rateio para números inteiros.

Assim, na tabela a seguir, veremos por fim a demonstração da


apuração do custo total de produção de cada produto considerando
que o rateio dos custos indiretos apurados por departamentalização
deverá seguir tais bases calculadas.
83
Tema 2
Métodos de Custeio

UNITÁRIO
CUSTO

49,84

22,22

2,71

202.400,00
74.766,00

57.773,00

69.861,00
CUSTO
TOTAL

125.700,00
INDIRETO
47.766,00

36.453,00

41.481,00
CUSTO

27.000,00

76.700,00
28.380,00
21.320,00
DIRETO
CUSTO
PRODUZIDAS
UNIDADES

29.900
25.800
2.600
1.500
Lençóis de casal

Fronhas para
travesseiro
PRODUTO

Lençóis de
solteiro

TOTAL

Mapa de Apuração de Custos dos produtos.


Fonte: Elaborado pelo Autor (2018).

Notem que neste exemplo, para simplificar nossos cálculos, ra-


teamos os custos de todos os departamentos de produção com base
no custo com materiais diretos de cada produto, porém na prática tal
84 Custos e Formação de Preços

atribuição é arbitrária e poderá trazer distorções na apuração dos


custos.

No próximo conteúdo, para finalizar os métodos de custeio, ve-


remos o método de custeio baseado em atividades, também conheci-
do por custeio ABC, este método é muito usado em empresas multi-
nacionais e traz consigo uma forte característica gerencial.

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO


DD Fundamentos da departamentalização.

DD Tipos de departamentos.

DD Como apropriar os custos indiretos de fabricação aos departa-


mentos.

DD Caso prático de apuração.


85
Tema 2
Métodos de Custeio

Leitura Complementar
DD BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Gestão de custos e forma-
ção de preços: com aplicações na calculadora HP 12C e Excel. 6.
ed. São Paulo: Atlas, 2012, pag. 78.

Leia o capítulo 5 – Custeio por Departamentos (páginas 77-85), neste


texto o autor faz uma abordagem da departamentalização dos custos,
suas razões e mecanismos de transferências. Para facilitar o entendi-
mento do conteúdo, são propostos, discutidos e resolvidos diversos
exercícios.

DD RIBEIRO, Osni Moura. Contabilidade de custos fácil. 8.ed. São


Paulo: Saraiva, 2013.

Leia o tópico 9.2 - A Importância da Departamentalização (páginas


221-222), neste texto o autor faz uma abordagem fundamentada so-
bre a importância da departamentalização, exemplificando os passos
para sua utilização.
86 Custos e Formação de Preços

2.4
CUSTEIO ABC
O maior problema enfrentado pela gestão de custos refere-se a
como distribuir custos indiretos aos produtos ou serviços elaborados.
Assim, se uma empresa apresenta gastos indiretos com valores repre-
sentativos, porém produz único produto, a alocação de todos os gastos,
fixos ou variáveis, diretos ou indiretos, é extremamente simples.

Por outro lado, caso a empresa produza mais de um produto os


problemas com relação à gestão e apropriação dos custos crescem.

Para Bruni e Famá (2012), o custeio baseado em atividades


ou, simplesmente, ABC, do inglês Activity Based Costing, difere do
sistema de custeio tradicional em função de, no lugar das bases de
rateio, empregar as atividades desenvolvidas dentro da organização
para alocar os custos, contrariamente aos sistemas que se baseiam
em volumes. Assim, na visão do autor, objetiva-se fornecer metodo-
logia mais coerente de alocação dos custos, sem que para isso sejam
necessários os critérios de rateio arbitrários.

Nesse contexto, o custeio ABC é uma ferramenta que permite


melhor visualização dos custos através da análise das atividades exe-
cutadas dentro da empresa e suas relações com os produtos.

Para Martins (2018), uma atividade consiste na combinação de


recursos humanos, materiais, tecnológicos e financeiros para se pro-
duzirem bens ou serviços. Logo, podemos afirmar que as atividades
são necessárias para a concretização de um processo.

O esquema básico do Custeio Baseado em Atividades pode


ser interpretado da seguinte forma: os produtos se relacionam com
as atividades e as atividades se relacionam com os recursos. Logo,
87
Tema 2
Métodos de Custeio

Crepaldi e Crepaldi (2018, p. 212) ao tratar deste método de custeio,


afirma que os custos são alocados a cada departamento de produção
utilizando a departamentalização, posteriormente, os custos de cada
departamento são distribuídos para as atividades desenvolvidas por
meio dos denominados direcionadores de atividades.

Direcionadores de Custos
No custeio ABC, os custos são distribuídos através do rastrea-
mento, o qual difere do rateio. No rastreamento ocorre maior vincu-
lação dos custos com os produtos, tornando a alocação menos arbi-
trária. Geralmente, é estabelecida por direcionadores de custos. Já o
rateio será utilizado apenas quando não há possibilidade de utilizar a
alocação direta ou o rastreamento.

Logo, podemos afirmar que:

[...] os direcionadores de custos (cost drivers) são uma


transação que determina a quantidade de trabalho
necessária para a produção de determinado produto
e serviço e têm influência na quantidade de recursos
que serão necessários para essa atividade, podendo ser
usados para duas situações: direcionadores de custos
de recursos que identificam a maneira como as ativi-
dades consomem recursos e servem para demonstrar
o custo de cada atividade; direcionadores de custos de
atividades, que identificam a maneira como os produ-
tos consomem atividades e servem para demonstrar o
custo de cada produto. (NAKAGAYA, 2001, p 74)

Logo, o direcionador de custo deve ser o fator que determina


ou influencia a maneira como os produtos consomem as atividades,
ou seja, é a base utilizada para atribuir os custos das atividades aos
produtos. Ainda podemos dizer que o direcionador de custo é um ele-
88 Custos e Formação de Preços

mento que estabelece a relação entre as atividades e os produtos, de-


terminando o custo de uma atividade.

Como exemplo de direcionadores de custos, podemos citar o


caso do departamento de almoxarifado, nesse contexto temos as ati-
vidades de receber materiais e movimentar materiais que apresentam
como direcionadores o nº de recebimentos e o nº de requisições, res-
pectivamente.

Dessa forma, o conhecimento dos direcionadores de custos tem


levado as empresas a iniciar uma reengenharia de seus processos,
com vista a eliminação das diversas fontes de desperdícios, identifi-
cando atividades ou operações. No entanto, os direcionadores depen-
dem da execução de cada atividade podendo variar de empresa para
empresa.

Sistema de Custeio ABC


O processo de implantação do Custeio Baseado em Atividades
(ABC) deve ser planejado de forma cuidadosa. O ABC pode ser im-
plantado sem interferir no sistema contábil, sendo utilizado como um
sistema paralelo. Além disso, o projeto de um bom sistema ABC exige
profundo conhecimento do funcionamento geral da empresa, deven-
do ter o apoio da alta administração.

Crepaldi e Crepaldi (2018), ao tratar da implantação deste méto-


do de custeio cita que um projeto para custeio ABC pode ser dividido
nos seguintes passos básicos:

• definição do escopo do projeto (processos a serem


mensurados);
• identificação de atividades;
• mapeamento dos recursos consumidos;
89
Tema 2
Métodos de Custeio

• definição dos direcionadores de recursos e alocação


para as atividades;
• identificação dos objetos de custo (produtos, serviços
e clientes);
• definição dos direcionadores de atividades e alocação para
o objeto de custos (CREPALDI e CREPALDI 2018, p. 217).

Logo, podemos então afirmar que tais passos se resumem ba-


sicamente a:

a) atribuir custos às atividades com base no consumo de recursos;

b) atribuir custos a produtos ou serviços com base no consumo


de atividades;

c) reconhecer os fatores que determinam (explicam) os custos


das atividades, e o consumo destas pelos produtos ou outras
atividades.

Vantagens e Desvantagens
O custeio ABC permite um controle mais efetivo dos gastos, pois:

[...] os custos indiretos não são tratados mais por pro-


dutos, mas, sim, por atividade. Logo, esse sistema traz
informações gerenciais mais seguras, sendo mais ade-
quado para as empresas que prestam serviços pelas di-
ficuldades que têm na definição de seus custos, gastos
e despesas, tendo essas empresas menor necessidade
de imposição de seus rateios.
CREPALDI e CREPALDI (2018, p. 216)

Contudo, há de se salientar que a implantação do sistema ABC


gera um investimento elevado, necessitando de elevado nível de
90 Custos e Formação de Preços

controle interno e revisão constante. Isso se deve ao fato de que mui-


tos dados são de difícil obtenção e, para tanto, a empresa deve estar
plenamente organizada antes de sua implantação.

Caso Prático
Para melhor ilustrar a aplicação do custeio ABC, vamos consi-
derar a seguinte situação hipotética:

A Indústria CE S/A fabrica os produtos carros de mão (CM) e


escadas dobráveis (ED). Em determinado mês, sabe-se que a empresa
produziu e vendeu 6.000 unidades de CM a um preço de R$ 50,00 e
2.000 unidades de ED a um preço de R$ 150,00. Neste mesmo perío-
do, os custos indiretos de fabricação (CIF) totalizaram R$ 250.000,00,
e sabe-se que foram referentes as atividades listadas abaixo:

DD Armazenar e controlar estoques: R$ 75.000,00

DD Operar máquinas: R$ 75.000,00

DD Engenharia de processos: R$ 100.000,00

Sabe-se ainda que o custo com materiais diretos (CMD) e mão


de obra direta (MOD) de cada produto foram os demonstrados na ta-
bela anterior.
91
Tema 2
Métodos de Custeio

Carrinho de mão Escadas dobráveis


CM ED
CMD 60.000,00 26.000,00
MOD 30.000,00 8.000,00
Custo Direto 90.000,00 34.000,00

Custos Diretos dos produtos


Fonte: Autoria própria.

Os direcionadores de cada atividade estão relacionados na


tabela a seguir.

Armazenar e controlar estoques​ 75.000,00​

Operar máquinas​ 75.000,00​

Engenharia de processos​ 100.000,00​

Total​ 250.000,00​

Nº de lotes armazenados e controlados​ 25%​ 75%​

Nº de horas-máquina​ 4.000​ 7.000​

Tempo de engenharia de processos​ 20%​ 80%​

Direcionadores de Atividades para cada produto


Fonte: Autoria própria.

A partir de agora, nosso trabalho será apropriar os CIF, distri-


buídos em atividades conforme as proporções de cada direcionador
informado na tabela anterior esta que está acima. Assim, teremos:
92 Custos e Formação de Preços

a) ATIVIDADE: armazenar e controlar estoques

DIRECIONADOR: número de lotes armazenados e controlados

De acordo com as informações fornecidas, essa atividade possui


o custo total de R$ 75.000,00 e deverá ser apropriada aos produtos
nas proporções informadas na tabela. Logo:

DD Carros de mão: 75.000,00 * 25% = 18.750,00

DD Escadas dobráveis: 75.000,00 * 75% = 56.250,00

b) ATIVIDADE: operar máquinas

DIRECIONADOR: número de horas-máquina

De acordo com as informações fornecidas, esta atividade possui


o custo total de R$ 75.000,00 e deverá ser apropriada aos produtos,
no entanto, neste caso, precisaremos calcular também as relações
proporcionais de cada produto:

DD Carros de mão:

4.000 horas → χ
11.000 horas → 100%
χ = 36,4%

Relação proporcional para CM


Fonte: Autoria própria.

75.000,00 * 36,4% = 27.300,00


93
Tema 2
Métodos de Custeio

DD Escadas dobráveis:

4
7.000 horas → χ
11.000 horas → 100%
χ = 63,6%
Relação proporcional para ED
Fonte: Autoria própria.

75.000,00 * 63,6% = 47.700,00

c) ATIVIDADE: engenharia de processos

DIRECIONADOR: tempo de engenharia de processos

De acordo com as informações fornecidas, essa atividade pos-


sui o custo total de R$ 100.000,00 e deverá ser apropriada aos produ-
tos nas proporções já informadas, logo:

DD Carros de mão: 100.000,00 * 20% = 20.000,00

DD Escadas dobráveis: 100.000,00 * 80% = 80.000,00

Feitos esses cálculos, podemos agora calcular o custo de


produção de cada produto, pelo método de custeio ABC.
94 Custos e Formação de Preços

CUSTOS/PRODUTOS CM ED
CMD 60.000,00 26.000,00

MOD 30.000,00 8.000,00

Armazenar e controlar estoques 18.750,00 56.250,00

Operar máquinas 27.300,00 47.700,00

Engenharia de processos 20.000,00 80.000,00

TOTAL 156.050,00 217.950,00

Custo dos Produtos


Fonte: Autoria própria.

Verificando agora o custo unitário de cada produto temos que:

DD Carros de mão:

156.050,00
= 26,00
6.000 unidades

Custo unitário CM
Fonte: Autoria própria.

DD Escadas dobráveis:

217.950,00
= 108,96
2.000 unidades

Custo unitário ED
Fonte: Autoria própria.
95
Tema 2
Métodos de Custeio

De posse dessa informação, já poderíamos verificar também o


lucro bruto da empresa quando da venda dos produtos, uma vez que
foram fornecidas as quantidades vendidas e os preços. Deixaremos
como exercício para você essa apuração como forma de aguçar um
pouco mais sua curiosidade sobre este assunto.

Outro exercício interessante que você pode praticar, agora que


você já conhece alguns métodos de custeio, é refazer o custo desses
produtos pelos métodos por absorção e variável, compare os resulta-
dos obtidos com seus colegas e verifique sobre o ponto de vista ge-
rencial qual o método é mais preciso. Ou ainda, qual o método pos-
sui um roteiro de cálculo mais simples? Nem sempre o caminho mais
simples é o melhor a ser seguido.

No próximo tema, iremos abordar alguns aspectos gerenciais


das relações custo/volume/lucro. Uma vez que você já conhece as de-
finições dos elementos básicos de custos e já sabe como custear um
produto, isso não se tornará difícil, e você verá o quão importante é
essa análise para o gerenciamento de resultados.
96 Custos e Formação de Preços

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO


DD Conceito de Atividades.

DD Conceito de Direcionadores de custos.

DD Vantagens e desvantagens do método ABC.

DD Caso Prático.

Leitura Complementar

DD BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Gestão de custos e formação


de preços: com aplicações na calculadora HP 12C e Excel. 6. ed.
São Paulo: Atlas, 2012.

No tópico 9.4 - Etapas do custeio baseado em atividades (páginas


125-128), você poderá aprender um pouco mais sobre os procedimen-
tos aplicados nesse processo de apuração dos custos, visualizando o
emprego das atividades como direcionadores de custos.

DD MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 11. ed. São Paulo:


Atlas, 2018.

Leia o tópico 8.3.5 - Aplicação do ABC à solução do problema (páginas


82-91), nesse texto o autor traz um estudo de caso tratando da apu-
ração pelo custeio ABC, estabelecendo direcionadores de atividades e
mensurando-os.
Parte 2
FERRAMENTAS DE
CONTROLE GERENCIAL DE
VENDAS
tema 3
Relações
Custo/Volume/Lucro
As relações de Custo/Volume/Lucro constituem uma das ferramen-
tas mais eficientes a disposição dos gestores. É através dessa ferra-
menta que a gestão da empresa pode determinar o volume mínimo
de vendas a ser alcançado.

Por esse motivo, esse tema possui fundamental importância, pois ao


final da leitura dele você conseguirá entender e calcular a margem
de contribuição; compreender os efeitos das variações dos custos
variáveis e dos custos fixos; bem como entender e calcular o ponto
de equilíbrio.
3.1
ANÁLISE CUSTO/VOLUME/LUCRO
Uma das principais funções da contabilidade e da gestão de
custos consiste em fornecer subsídios para a tomada de decisões.
Nesse contexto, deveremos partir da identificação e distinção de gas-
tos, pois inicialmente a segregação de gastos em variáveis e fixos tor-
na-se muito mais importante do que a mera separação entre custos e
despesas, por exemplo.

Para Bernadi (2017), com exceção dos custos diretos e despesas


diretas da venda, qualquer análise individual de custo, preço e renta-
bilidade são de certa forma subjetiva e complexa. Para o autor, essa
subjetividade se deve em função dos critérios e pressupostos envol-
vidos na alocação dos custos indiretos e fixos da produção, e do tra-
tamento das despesas fixas para a inclusão e formação do preço de
venda, além do aspecto volume de produção e de vendas.

Em outras palavras, podemos afirmar que tal subjetividade e


complexidade são decorrentes da arbitrariedade para apropriação e
rateio dos custos indiretos, conforme prega Bruni (2018).

Na etapa de tomada de decisões, podemos citar como exemplos


de ações que são decorrentes dessa análise: eliminação ou redução de
determinado produto ou a incorporação de novos produtos. Logo, isso
mostra que esta ferramenta é muito mais importante do que a mera
separação entre custos e despesas, sobretudo para fundamentar as
futuras decisões.

Assim, por consequência, iremos discutir ao longo deste tema


também formas possíveis de alocação de custos e despesas, notada-
mente os custos indiretos, custos comuns, despesas comuns e, princi-
palmente, com maior grau de complexidade e ênfase, os fixos.
102 Custos e Formação de Preços

Nesse sentido, a exceção dos custos diretos e despesas dire-


tas da venda, que são variáveis em relação aos volumes produzidos e
vendidos, qualquer análise individual de custo, preço e rentabilidade
é de certa forma subjetiva e complexa. Isto se dá em função dos cri-
térios e pressupostos envolvidos na alocação dos custos indiretos e
fixos da produção, e do tratamento das despesas fixas para a inclusão
e formação do preço de venda, além do aspecto volume de produção
e de vendas.

Com o intuito de melhorar a análise e excluir prováveis distor-


ções, facilitando a tomada de decisões, podemos estudar o custo e
as despesas de um produto, mercadoria ou serviço, de outra forma:
classificando-se os custos e despesas em VARIÁVEIS E FIXOS, não
mais em diretos e indiretos, de forma a se estabelecer outras relações
interessantes.

Neste conceito, conhecido como custeio direto ou variável, so-


mente os custos diretos e variáveis são considerados no custo de um
produto, mercadoria ou serviço, e todos os custos fixos são tratados
como “despesas” do período.

É interessante que você já esteja familiarizado com essas lin-


guagens e terminologias, pois é através dela que iremos desenvolver
nosso raciocínio e basear as relações custo/volume/lucro que iremos
estudar.

Estudo de Caso
Para compreender a relação que existe entre os custos, volumes
e lucros imagine a situação de uma empresa que produz e comerciali-
za camisas a $ 48,00 cada unidade.

Assim, a gerência da empresa pretende analisar o comporta-


mento de seus custos e lucros para diferentes volumes mensais de
103
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

vendas. Os volumes que se pretendem analisar formam então cená-


rios de vendas e suas quantidades são de 1.000 e 2.000 unidades.
Para isso, consideremos a seguinte estrutura de gastos mensais:

Energia elétrica....................................................$500,00
Aluguel...................................................................$2.400,00
Camisa (por unidade)..........................................$10,00
Salários e encargos..............................................$1.600,00
Telefone...................................................................$ 300,00
Embalagens para camisa (por unidade)..........$2,00

Nesse sentido, para poder analisar o comportamento dos


custos, observemos:

Gastos Fixos:
Energia elétrica......................................................$500,00
Aluguel.....................................................................$2.400,00
Salários e encargos...............................................$1.600,00
Condomínio.............................................................$700,00
Telefone....................................................................$300,00
Total...........................................................................$5.500,00

Gastos Variáveis:
Camisa (por unidade).............................................$10,00
Embalagens para camisa (por unidade)............$2,00
Total............................................................................$12,00
104 Custos e Formação de Preços

De agora em diante, nosso trabalho será realizar a análise dos


gastos fixos e variáveis, e assim projetar os cenários de vendas dese-
jados pela empresa. Para isso, podemos fazer a seguinte análise entre
custos, volumes e lucros:

DD 1º Cenário: volume de vendas de 1.000 unidades

Receita...............................................$48 * 1.000 = $48.000,00


Gastos variáveis............................$12,00 * 1.000 = $12.000,00
Gastos Fixos...............................................................$5.000,00
Gastos Totais...............................12.000 + 5.000 = $17.000,00
Lucro Bruto..............................................................$ 31.000,00
Lucro Bruto unitário.........................31.000,00 / 1.000 = $31,00

DD 2º Cenário: volume de vendas de 2.000 unidades

Receita...............................................$48 * 2.000 = $96.000,00


Gastos variáveis............................$12,00 * 2.000 = $24.000,00
Gastos Fixos...............................................................$5.000,00
Gastos Totais...............................24.000 + 5.000 = $29.000,00
Lucro Bruto..............................................................$ 67.000,00
Lucro Bruto unitário.........................67.000,00 / 1.000 = $67,00

Segundo os dados dos cenários acima projetados, podemos fa-


zer as seguintes afirmações:

a) Os gastos variáveis unitários não se alteram, uma vez que não


houve nenhuma alteração na estrutura de custos, a imagem
abaixo trará uma noção da evolução gráfica de tais gastos.
105
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

Evolução gráfica dos gastos variáveis unitários em função do volume de produção.


Fonte: Autoria própria

b) Os gastos fixos totais também não se alteram, uma vez que


por definição estes permanecem inalterados independentes
do volume de produção. A imagem abaixo trará uma noção
da evolução gráfica de tais gastos.

Evolução gráfica dos gastos fixos totais em função do volume de produção.


Fonte: Autoria própria
106 Custos e Formação de Preços

c) Já os gastos fixos unitários são reduzidos, uma vez que são di-
luídos para uma parcela maior de unidades produzidas. A ima-
gem abaixo trará uma noção da evolução gráfica de tais gastos.

Evolução gráfica dos gastos variáveis unitários em função do volume de produção.


Fonte: Autoria própria

d) Os gastos unitários totais são reduzidos, em virtude da maior


diluição dos gastos fixos. A imagem abaixo trará uma noção
da evolução gráfica de tais gastos.
107
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

Evolução gráfica dos gastos variáveis unitários em função do volume de produção.


Fonte: Autoria própria

O lucro bruto unitário aumenta de $31,00 para $67,00 um au-


mento de cerca de 216%, e sua evolução gráfica pode ser verificada na
imagem a seguir.

Evolução gráfica do lucro bruto unitário em função do volume de produção.


Fonte: Autoria própria
108 Custos e Formação de Preços

Primeiramente, devemos lembrar que esse lucro bruto aponta-


do acima não importará um lucro líquido para empresa, em virtude de
não termos levado em consideração, por exemplo, a carga tributária
da empresa para a demonstração desses cenários.

Assim, por sua própria natureza, os gastos fixos totais são va-
riáveis unitariamente e os gastos variáveis totais são fixos unitaria-
mente. Nesse contexto, a análise de Custo/volume/lucro envolve a
descoberta da combinação mais favorável de custos variáveis, custos
fixos, volumes de vendas e preço de venda. Ou seja, são possíveis per-
mutas entre os elementos de custos, bem como entre custos e preço
de venda e preço e volume de venda.

Essas permutas às vezes são desejáveis e outras não. E é nesse


sentido que a análise de custo/volume/lucro se faz uma importante
ferramenta gerencial para a identificação dos rumos de ação que au-
mentarão a rentabilidade da empresa.

Considerações Finais
De acordo com o que vimos até aqui, podemos perceber que
no custeio variável todos os custos e despesas variáveis (inclusive
as despesas de vendas e administração) são deduzidos da receita de
vendas, embora as despesas variáveis não façam parte do custo do
produto, resultando na margem de contribuição. Pode ser conceitua-
da como a diferença entre a receita menos a soma de custos e despe-
sas variáveis (CREPALDI e CREPALDI, 2018).

Nesse contexto, a margem de contribuição é o preço de ven-


da menos os custos variáveis e as despesas variáveis. Desse modo,
a margem de contribuição de um produto é o que resta após diminuir
os custos variáveis e as despesas variáveis. É a quantia com a qual
o produto contribui para amortizar os custos fixos mais as despesas
fixas e para formar o lucro. Representa o valor que cobrirá os custos e
despesas fixos da empresa e proporcionará o lucro.
109
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

Logo, a análise de custo/volume/lucro conduzirá a três impor-


tantes conceitos: margem de contribuição, ponto de equilíbrio e ala-
vancagem operacional.

A margem de contribuição, como já vimos nos parágrafos an-


teriores, representa a diferença entre o preço de venda e a soma dos
custos e despesas variáveis. Na verdade, significa a parcela do preço
de venda que ultrapassa os custos e despesas variáveis e absorve os
custos fixos, para formar o lucro.

O ponto de equilíbrio, por sua vez, evidencia o volume de vendas


em que a empresa não apresenta nem lucro nem prejuízo. Assim, este
conceito representa o ponto em que a empresa atinge um resultado nulo,
ou seja, em que os custos totais são iguais as receitas totais. O conheci-
mento do ponto de equilíbrio permite melhorar os resultados da empresa.

Logo, podemos afirmar que a análise custo/volume/lucro tenta


responder às seguintes questões:

1. Quanto à empresa precisa vender para atingir o ponto de


equilíbrio?

2. Quanto a empresa precisa vender para obter determinado


lucro?

3. Como as alterações no preço de venda, nos custos variáveis


e nos custos fixos podem afetam os lucros?

Percebeu a importância dessa análise sob a perspectiva da ges-


tão empresarial de forma integrada e estratégica? Não se preocupe
com os conceitos que mencionamos nos parágrafos anteriores, pois
eles serão retomados de forma mais aprofundada nos próximos con-
teúdos. Assim, no nosso próximo conteúdo, iremos detalhar e abordar
as particularidades da margem de contribuição.
110 Custos e Formação de Preços

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO


DD Fundamentos da relação custo/volume/lucro.

DD Introdução à análise custo/volume/lucro.

DD Estudo de caso.

DD Conceitos e conclusões importantes: margem de contribuição e


ponto de equilíbrio.

Leitura Complementar
DD BERNARDI, Luiz Antônio. Formação de preços: estratégias, cus-
tos e resultados. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

No tópico 12.1 - Variabilidade (páginas 234-239), o autor faz uma in-


trodução geral a relação do custo/volume/ lucro, relembrando inclu-
sive conceitos já vistos durante o nosso tema 1.

DD BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Gestão de custos e forma-


ção de preços: com aplicações na calculadora HP 12C e Excel. 6.
ed. São Paulo: Atlas, 2012.

No tópico 12.3 - Análise de custos, volumes e lucros (páginas 176-181),


os autores falam sobre a análise do custo/volume/ lucro. Através da
leitura, pode-se perceber a sua importância para uma empresa como
instrumento gerencial, logo partindo-se deste ponto de análise, é pos-
sível ter uma ideia de como aplicar essa ferramenta na gestão de custos
empresariais.
111
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

3.2
MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO
Após tudo o que comentamos sobre os elementos da gestão
de custos, talvez tenha passado pela sua cabeça a ideia de que os
custos fixos devam sempre ser abandonados nos aspectos de tomada
de decisões.

Certamente, qualquer hipótese que levante tal ideia não está


correta, pois os custos fixos existem e representam gastos e desem-
bolsos e têm que ser sempre lembrados, uma vez que eles existirão na
empresa independente do volume de produção.

Por outro lado, sabemos também que os custos indiretos de


produção e as despesas devem receber uma atenção especial, uma
vez que o faturamento da empresa deverá obrigatoriamente suportar
tais gastos.

Nesse contexto, Martins (2018) levanta um pequeno questiona-


mento acerca da gestão de custos:

De que adiantaria termos margens de contribuição po-


sitivas em todos os produtos se a soma de todas elas
fossem inferior ao valor dos Custos e Despesas Fixos?
MARTINS (2018, p. 193).

Nesse contexto, o autor reafirma nossa preocupação inicial


deste conteúdo com os gastos fixos. Ou seja, que eles não devam ser
omitidos, mas sim que precisam ser devidamente analisados, e não
simplesmente rateados como custos realmente pertencentes a cada
unidade de cada produto.
112 Custos e Formação de Preços

Uma vez que já fizemos esse comentário, agora podemos traba-


lhar nosso conteúdo propriamente dito, e ao final você entenderá por-
que iniciamos nossa discussão falando justamente dos gastos fixos, já
que eles não figuram no cálculo da margem de contribuição.

Assim para Bernardi (2017), a Margem de Contribuição de um


produto, mercadoria ou serviço é a diferença entre o valor das vendas,
os custos variáveis e as despesas variáveis da venda. Isso significa
que se pode avaliar o quanto cada venda contribui para pagar os cus-
tos fixos e despesas fixas.

Entendeu porque iniciamos nossa discussão falando justamente


dos gastos fixos? Pois o conceito de margem de contribuição represen-
ta o valor que cada unidade do produto contribui para pagar os custos
fixos e formar o lucro. Nesse sentido, este valor deverá ser representado
em uma situação ideal por um número positivo e quanto maior seu
valor, mais favorável será a situação econômica da empresa.

Considerando somente o conceito trabalhado até agora, já po-


demos fazer algumas observações e afirmações acerca da margem de
contribuição:

a) A margem de contribuição positiva indica uma sobra


que, quanto maior, em tese, é melhor, e mais facilmente
ajuda a cobrir os custos fixos;
b) A visualização exclusiva e isolada da contribuição
total da empresa é insuficiente como tal. Ela deve ser
confrontada com os custos fixos estruturais da empre-
sa para verificar o nível de cobertura dos mesmos;
c) Somente após cobertos integralmente os custos fixos
estruturais, a margem de contribuição passa a traduzir-se
em resultado positivo para a empresa.
MARTINS (2003, p. 103).
113
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

Logo, temos que a margem de contribuição pode ser apura-


da por unidade e de forma totalitária para a empresa. Ela é unitária,
quando no problema tivermos disponíveis: preços de venda unitário,
gastos (custos e despesas) variáveis, ou os totais e as quantidades
vendidas. Ela será total quando, no entanto, for resultante da venda de
diversas unidades de produto.

Para você compreender melhor a aplicação da margem de con-


tribuição unitária, vamos utilizar o seguinte exemplo:

Supondo que determinada empresa estabeleceu que seus pro-


dutos fossem vendidos ao preço unitário de unitário $270,00. No en-
tanto, para isso a empresa incorreu em despesas variáveis unitárias
de $80,00 e em um custo variável unitário de $40,00; vendendo ao
final do período uma quantidade 1 de 1.000 unidades. Nesse contexto,
a margem de contribuição unitária é dada pela fórmula:

Margem de contribuição unitária


Fonte: Autoria própria

Onde:

MCU = Margem de Contribuição Unitária

PV = Preço de Venda

CVU = Custos Variáveis Unitários

DVU = Despesas Variáveis Unitárias


114 Custos e Formação de Preços

Em nosso exemplo, aplicando-se a fórmula, teríamos a margem


de contribuição unitária de $:

MC unitária = 270,00 – 40,00 – 80,00


MC unitária = $150,00

É importante registrar que para calcular a margem de contribui-


ção total basta multiplicar a quantidade vendida pelo valor da Margem
de contribuição unitária, logo teremos:

MC = $150 * 1.000 unidades = $150.000,00

No nosso exemplo, encontramos que a MC (Margem de Contri-


buição unitária) é de $150. Isso significa que cada unidade vendida
contribui com $150 para absorver os gastos fixos, pagar os tributos e
gerar lucros.

Logo, o valor da margem de contribuição unitária terá grande


influência sobre os passos que a empresa poderá seguir para aumen-
tar os lucros. Nesse contexto, quanto maior a margem de contribuição
unitária de um produto, maior é o valor que a empresa terá que des-
pender, com vistas a aumentar o número de unidades vendidas. E o
resultado apurado através da margem de contribuição pode solucio-
nar muitas decisões.

Por outro lado, além da forma unitária e total, podemos calcu-


lar a margem de contribuição em termos de relação percentual de
vendas. Tal cálculo, a nível gerencial, é mais utilizado, pois pode ser
aplicado em quaisquer valores e tomado por padrão ou base. Assim,
a margem de contribuição como percentagem das vendas totais de-
nomina-se margem de contribuição percentual (MC%), e é calculada
do seguinte modo:
115
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

Margem de Contribuição em %
Fonte: Autoria própria.

Note que, de acordo com as fórmulas acima, podemos calcular


a margem de contribuição percentual (MC%), e isso se torna bastante
útil porque evidencia como a margem de contribuição será afetada por
uma variação das vendas totais. No caso do nosso exemplo, teríamos:

Margem de Contribuição em %
Fonte: Autoria própria.

Observe que a MC percentual é de 55,6%. Isso significa que para


cada $1,00 de aumento nas vendas, a margem de contribuição total
aumentará de $0,55 ($1,00 de vendas x MC percentual de 55,55%).
Nesse sentido, o lucro bruto também aumentará $0,55, considerando
que não houve mudanças nos gastos fixos.

Podemos então concluir que o impacto de qualquer variação


de $1,00 do valor total das vendas sobre o lucro bruto pode ser
116 Custos e Formação de Preços

calculado rapidamente, simplesmente aplicando a MC percentual a


variação desse valor.

Tomando, ainda, por base o exemplo anterior, considerando ago-


ra que a empresa em estudo planeja um aumento de $ 30.000,00 nas
vendas do próximo mês. Logo de acordo com o que já apuramos até
o momento, podemos afirmar que tal aumento nas vendas, também
implica em um aumento na margem de contribuição de $16.680,00
($30.000 de aumento de vendas x MC de 55,6%).

Dessa forma, o lucro bruto da empresa também deverá seguir a


mesma variação, com isso também aumentará $16.500 (consideran-
do que os gastos fixos não variaram).

Logo, podemos afirmar que a margem de contribuição, em sua


relação percentual, é uma informação importantíssima, sobretudo nos
casos em que os gestores precisam escolher entre maiores vendas de
um produto ou maiores vendas de outro. Nesse sentido, ao procurar
aumentar as vendas, você deve preferir os produtos que fornecem a
maior relação percentual de margem de contribuição.

De acordo com o que vimos até aqui, já podemos afirmar que


algumas das vantagens da análise da margem de contribuição para
empresa são:

a) Maximizar os resultados (lucros) melhorando a produção;

b) Planejar sobre novos investimentos;

c) Avaliar e controlar o comportamento dos custos por produto;

d) Facilidade que a empresa pode obter os gastos variáveis por


unidades do produto;
117
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

e) Não há necessidade de efetuar qualquer tipo de rateio, evi-


tando com isso trabalho burocrático e distorções que os ra-
teios podem trazer e;

f) Possibilidade de analisar preços especiais para situações


também especiais. Como exemplo: promoção para acabar
com estoque antigo, para isso é necessário conhecer o preço
normal e os gastos variáveis, ou ainda o preço mínimo que o
produto pode ser vendido.

Assim, para Bernardi (2017), o custo fixo de produção e as


despesas fixas são fatores de complexidade de alocação (no custeio
por absorção) aos produtos, mercadorias e serviços que pertencem
a empresa. Nesse contexto, a análise por este método concentra-se
na avaliação da capacidade de cada produto, mercadoria e serviços
vendidos, contribuição individual para a cobertura dos custos fixos e
despesas fixas, através da margem de contribuição.

Suponhamos agora uma situação em que determinada empre-


sa tenha por objetivo alcançar a meta de lucro bruto de $40.000,00
mensais. Quantos produtos precisariam ser vendidos?

Este cálculo deverá ser feito com base no método de Silva e Lins
(2017), no qual a equação é chamada de método Custo/Volume/Lucro
ou simplesmente método CVL, conforme descrito a seguir:

Equação método CVL


Fonte: Autoria própria.

Note que, na fórmula acima, estamos tratando de gastos, assim


deverão ser envolvidos no cálculo tanto os custos quanto as despesas.
118 Custos e Formação de Preços

Consideremos ainda que a empresa possui um preço de venda


de seus produtos de $250,00; custos variáveis unitários de $100,00;
despesas variáveis unitárias de $50,00 e gastos fixos totais no va-
lor de $35.000,00. Assim teremos então uma adaptação à equação
CVL, pois não temos a quantidade, no entanto temos todos os outros
elementos para realizar os cálculos. Seja então Q a quantidade que a
empresa deverá vender, nesse sentido teremos:

$250Q = $150Q + $35.000 + $40.000


$100Q = $75.000
Q = $75.000/ $100
Q = 750 produtos

Uma aplicação dessa análise envolve também uma segunda so-


lução, e nesse caso ampliaremos a expressão da margem de contri-
buição para incluir a meta de lucro. Veremos então que esta solução
dará o mesmo resultado da anterior, uma vez que este novo método é
apenas uma ampliação, logo teremos:

Legenda: Equação método CVL ampliada


Fonte: Autoria própria.

É importante que reconheçamos a margem de contribuição


como uma ferramenta de apoio aos gestores na tomada de decisão.
Assim, tal informação poderá ser útil em alguns aspectos, a saber:

a) Avaliar os resultados produzidos por determinados produtos


e decidir se deve eliminar ou aumentar sua produção;
119
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

b) Decidir sobre estratégias de preços, serviços ou produtos;

c) Avaliar os resultados da produção, medindo o seu desempenho;

d) Redução dos custos e dos preços unitários de vendas.

Após esta abordagem podemos verificar que o conhecimento


da margem de contribuição é elemento fundamental para decisões
empresariais de curto prazo. Logo, podemos concluir que a partir da
Margem de Contribuição pode-se avaliar o potencial de cada produto
e o volume adequado da produção a fim de se amortizar os custos
fixos e as despesas fixas e ainda gerar o lucro desejado.

Estes serão pontos fundamentais para seu estudo e entendi-


mento, uma vez que, no próximo conteúdo, quando formos tratar do
ponto de equilíbrio, necessitaremos retomar a margem de contribui-
ção. No entanto, não o faremos mais de forma conceitual, pois será
percebida a importância de sua análise e seu reflexo no cálculo do
ponto de equilíbrio.
120 Custos e Formação de Preços

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO


DD Conceito da margem de contribuição.

DD Aplicações do conceito.

DD Formas para cálculo e apuração.

DD Análise gerencial e projeção de resultados.

Leitura Complementar

DD MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 11. ed. São Paulo:


Atlas, 2018.

Leia o capítulo 15 - custo fixo, lucro e margem de contribuição (pági-


nas 163-171); Após a leitura recomendada você compreenderá por que
a alocação de custos indiretos fixos aos produtos pode prejudicar a
tomada de decisão e entenderá o conceito de Margem de Contribuição
e sua aplicação para fins decisoriais.

DD SILVA, Raimundo Nonato Sousa; LINS, Luiz dos Santos. Gestão de


custos: contabilidade, controle e análise. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

Leia o capítulo 7 – Conceito e Aplicações da margem de contribui-


ção (páginas 131-149), você terá outra visão do conceito de Margem de
Contribuição e sua aplicação no processo de tomada de decisão. Veri-
ficará também o uso da margem de contribuição quando houver res-
trição no processo de produção, bem como sua aplicação para avalia-
ção de desempenho para linhas de produtos e unidades de negócios.
121
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

3.3
PONTO DE EQUILÍBRIO
Para que o empreendimento possa gerar o lucro desejado, de-
vemos entender o conceito de equilíbrio. Como subsídio à tomada de
decisão empresarial algumas teorias são importantes e devem ser
avaliadas para que as informações sejam seguras e auxiliem a em-
presa a alcançar os objetivos desejados, ou seja, a geração de lucro e
maximização do resultado ao menor custo.

Nesse sentido, as informações extraídas do ponto de equilíbrio


auxiliam a gestão de curto prazo da empresa, e conforme demonstra-
do no gráfico a seguir podemos perceber que o ponto de equilíbrio é o
ponto de encontro da receita e dos gastos totais da empresa.

Representação do ponto de equilíbrio


Fonte: Souza e Clemente (2011, p. 172)

Mas o que isso quer dizer exatamente?


122 Custos e Formação de Preços

A expressão Ponto de Equilíbrio representa o ponto no qual os


gastos totais são iguais às receitas totais, não existindo lucro nem pre-
juízo. Na análise do equilíbrio apresentamos a quantidade necessária
de vendas para cobrir os gastos de forma que a empresa apresente
um resultado operacional nulo, ou seja, lucro e prejuízo iguais a zero.

Contudo, sabemos que o objetivo de uma empresa é claro, não


é atingir o equilíbrio, mas obter lucro. Assim, sabendo-se o ponto de
equilíbrio, podemos determinar qual o objetivo de lucro desejado, ou
ainda empreender esforços e ações de vendas.

Para alcançar esse equilíbrio é necessário calcular a quantidade


necessário de vendas para cobrir os custos, usar da melhor forma esta
informação e entender o comportamento dos custos com relação às
alterações na quantidade vendida.

Sob a ótica de Silva e Lins (2017), ponto de equilíbrio é obtido


quando determinada quantidade é vendida de forma a permitir a ob-
tenção de uma receita suficiente para cobrir todos os custos e despe-
sas de modo que o resultado seja igual a zero. Isso sinaliza que nesse
ponto de venda a empresa consegue cobrir todos os custos e, a partir
deste volume, cada unidade vendida produz um lucro.

Desse modo, o ponto de equilíbrio permite que a empresa co-


nheça o montante de vendas mínimo a partir do qual começa a obter
lucro, por isso a denominação “ponto de ruptura” (break even point),
como trabalhado por alguns autores na gestão de custos.

É interessante salientar que o estudo que envolve a análise so-


bre ponto de equilíbrio leva em consideração decisões a curto prazo,
uma vez que tomamos por uma estrutura de custos existente para
uma determinada capacidade de produção.
123
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

Para Bruni (2018), o ponto de equilíbrio contábil, também cha-


mado por outros autores de ponto de equilíbrio global ou operacional,
representa o volume de vendas ou faturamento que determinado em-
preendimento precisa obter para cobrir todos os seus gastos. Como já
é do nosso conhecimento que, no ponto de equilíbrio contábil, o lucro é
nulo, então matematicamente, podemos adaptar a equação do méto-
do CVL vista no conteúdo anterior, assim tendo o lucro nulo, teremos:

Equação CLV 1
Fonte: Autoria própria.

Como a Receita Total (vendas na fórmula acima) é igual ao Pre-


ço multiplicado pela Quantidade, e os Gastos Totais são iguais ao Gas-
to Fixo mais o Gasto Variável Unitário multiplicado pela Quantidade, a
equação anterior pode ser reescrita da seguinte forma:

Equação CLV 2
Fonte: Autoria própria.
124 Custos e Formação de Preços

Removendo parênteses e colchetes, é possível obter a seguinte


equação:

Equação CLV 3
Fonte: Autoria própria.

Colocando-se a quantidade em evidência, pode-se obter a


seguinte equação:

Equação CLV 4
Fonte: Autoria própria.

Assim, a quantidade a ser produzida e comercializada para um


lucro nulo, ou o Ponto de Equilíbrio Contábil em Quantidade (PECq),
pode ser apresentada por meio da seguinte equação:

Ponto de Equilíbrio Contábil em quantidades


Fonte: Autoria própria.

Parece complicado, não é? Mas iremos mostrar aqui que sua


análise poderá ser simplificada. Lembra-se da margem de contribui-
ção unitária que estudamos no conteúdo anterior? Olhe agora para o
denominador da equação do PEC, notou que é a mesma coisa?
125
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

Ponto de Equilíbrio Contábil em quantidades


Fonte: Autoria própria.

Então vamos tentar simplificar todo esse amontoado de fór-


mulas. De agora em diante, lembre-se apenas da margem de con-
tribuição. Agora some todos os gastos fixos da empresa (custos e
despesas), em seguida divida este somatório pela margem de con-
tribuição unitária, pronto você acaba de encontrar o ponto de equilí-
brio contábil. Agora que você já entendeu, podemos enunciar a fórmula
do ponto de equilíbrio contábil assim:

Ponto de Equilíbrio Contábil em quantidades


Fonte: Autoria própria.

Para facilitar a sua compreensão suponha que determinada em-


presa apresenta os seguintes dados:

Preço de venda = $500/un.


Custos + Despesas Variáveis = $350/un.
Custos + Despesas Fixas = $600.000/mês
126 Custos e Formação de Preços

A empresa obterá seu Ponto de Equilíbrio Contábil em quan-


tidade quando suas Receitas Totais equalizarem seus Custos e Des-
pesas Totais, ou seja, a empresa não apresentará resultado positivo
(lucro) nem resultado negativo (prejuízo), apresentará então um re-
sultado nulo.

Ponto de Equilíbrio Contábil em quantidades


Fonte: Autoria própria.

Como você observou, encontramos o Ponto de Equilíbrio Con-


tábil em quantidade (PECq), e de quanto seria o ponto de equilíbrio em
faturamento (receitas totais). Para isso é só multiplicarmos o PEC pelo
preço de venda, assim teremos:

DD PEC$ = 4.000unidades/mês x $500/unidade.

DD PEC$ = $2.000.000/mês

Com isso, verificamos que o ponto de equilíbrio contábil do fatu-


ramento da empresa, nessas condições deverá ser de $ 2.000.000,00.
Logo, para cada unidade que a empresa vender a mais que 4.000 já
estará obtendo lucro, e o mesmo raciocínio é levado para o prejuízo.

Além do ponto de equilíbrio contábil, temos também as análises


do ponto de equilíbrio econômico e financeiro. Vamos a seguir deta-
lhar cada uma delas.

Segundo Bruni (2018), o ponto de equilíbrio econômico, PEE


representa o volume de vendas, em quantidades ou em unidades mo-
netárias, para um resultado econômico igual a zero. Logo, perceba que
127
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

agora estamos avançando um pouco mais, e por resultado econômico


igual a zero, você deve entender que todos os fatores serão remunera-
dos, incluindo, principalmente, a remuneração sobre o capital próprio,
empregado no negócio.

Nesse contexto, a remuneração sobre o capital próprio, pode ser


entendida, grosso modo, como sendo o lucro líquido que seria distri-
buído aos sócios e proprietários. Nesse caso, o lucro obtido deveria
ser igual a remuneração do capital próprio, também denominada cus-
to de oportunidade.

Para calcular o PEE, deve-se, basicamente, adicionar aos gastos


fixos a remuneração desejada sobre o capital próprio. Algebricamen-
te, pode ser apresentado como:

Ponto de Equilíbrio Econômico em quantidades


Fonte: Autoria própria.

Para você compreender melhor, em termos práticos, o custo


de oportunidade, corresponde à remuneração mínima exigida pelos
acionistas sobre o investimento na empresa.

Suponha então que uma empresa, imaginando um investimen-


to inicial feito pelos sócios no valor de $ 4.000 e considerando uma
rentabilidade desejada igual a 10% ao ano, tem-se uma remuneração
desejada para o capital próprio igual a $ 400 por ano. Considerando
que nessa situação os gastos fixos da empresa foram de $ 1.000, o
preço de venda de $ 10 e os gastos variáveis de $ 8, teríamos:
128 Custos e Formação de Preços

Ponto de Equilíbrio Econômico em quantidades


Fonte: Autoria própria.

Logo, de acordo com os cálculos acima, podemos afirmar que o


ponto de equilíbrio econômico para a empresa da situação apresenta-
da é de 700 unidades, atingindo um faturamento de $7.000. Note que
este valor deve ser analisado como sendo o volume de vendas mínimo
que esta empresa deve efetuar para que se atenda às exigências de
seus proprietários bem como sejam superados os seus gastos.

Por outro lado, já verificamos que o resultado contábil e econô-


mico não é o mesmo, necessariamente, o resultado financeiro tam-
bém não será. Assim, para analisar o resultado financeiro, devemos,
sobretudo, analisar os gastos que envolverão desembolsos efetivos,
para excluí-los do processo de cálculo.

Nesse contexto, o ponto de equilíbrio financeiro (PEF), ou ponto


de equilíbrio de caixa, conforme Bruni (2018) assim o define, representa
o volume de vendas em quantidades ou em unidades monetárias, para
uma geração de caixa igual a zero. Para ser calculado, devem-se, basi-
camente, subtrair os gastos não desembolsáveis, como depreciações, do
volume de gastos fixos. Algebricamente, pode ser apresentado como:

Ponto de Equilíbrio Financeiro em quantidades


Fonte: Autoria própria.
129
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

01
Caso você não tenha entendido o mo- Em termos contábeis,
tivo de excluir a depreciação dos gastos fi- recebem o mesmo tra-
tamento que a exaustão
xos neste cálculo, devemos lembra-lhe que e a amortização.
a depreciação1 não envolve desembolso,
ou seja saída de caixa. Isso ocorre porque o
desembolso já se deu em outro momento. Vamos então imaginar a
aquisição de uma máquina de produção, à medida que esta máquina
for paga ocorrerá o desembolso, no entanto, no momento em que essa
máquina for colocada em uso iniciará o seu desgaste, à essa parcela
de desgaste (normalmente calculada em função de sua vida útil ou
de suas horas de uso), daremos o nome de depreciação e será ela que
apropriaremos como custo de produção. Lembre-se que já tratamos
desse assunto no nosso conteúdo 1.2, caso sinta dificuldades em com-
preender retorne e leia-o novamente.

Suponha então que uma empresa, imaginando um investimen-


to inicial feito pelos sócios no valor de $ 4.000 e considerando uma
rentabilidade desejada igual a 10% ao ano, tem-se uma remuneração
desejada para o capital próprio igual a $ 400 por ano. Considerando
que, nessa situação, os gastos fixos da empresa foram de $ 1.000, e
destes gastos fixos $100 equivalem à depreciação, o preço de venda
de $ 10 e os gastos variáveis de $ 8, teríamos:

Ponto de Equilíbrio Financeiro em quantidades


Fonte: Autoria própria.
130 Custos e Formação de Preços

Logo, de acordo com os cálculos acima, verificamos que o ponto


de equilíbrio financeiro da empresa, na situação apresentada, é igual a
450 unidades, o que representa um faturamento mínimo de $4.500.

Isso quer dizer que se a empresa estiver vendendo nesse nível,


estará conseguindo equilibrar-se financeiramente, mas estará absor-
vendo um prejuízo contábil, uma vez que está sendo excluído do cálculo
uma parcela de gastos que não tem importância para geração de caixa.

Bruni (2018) ressalta ainda que existe uma diferença sutil en-
tre os conceitos de ponto de equilíbrio contábil e o econômico. Dessa
forma, na visão do autor, o primeiro expressa o volume para um lucro
contábil nulo, enquanto o segundo expressa o conceito para um lucro
econômico nulo. Assim, pelo que vimos até aqui, o lucro econômico
supõe a remuneração do capital próprio investido na operação pelo
seu custo de oportunidade.

É importante destacar que outros cálculos podem ser feitos


dentro dessa mesma linha de ideias, e você não deverá se preocupar
em decorar fórmulas, entenda apenas os conceitos, e lembre-se que o
ponto de partida para todas as análises decorrentes da relação custo/
volume/lucro é a margem de contribuição.

Como você percebeu até aqui, o ponto de equilíbrio é uma fer-


ramenta de auxílio à gestão empresarial e que apresenta algumas
peculiaridades para sua utilização. A aplicação do Ponto de equilíbrio
depende de algumas condições básicas, conforme demonstraremos
a seguir:

DD planejamento segue um processo administrativo constante;

DD sua aplicação pressupõe a invariabilidade do preço de ven-


da, por isso é uma análise que deve ser aplicada em decisões
de curto prazo;
131
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

DD a terminologia empregada gestão de custos, para sua análi-


se é a de gastos (custos e despesas) fixos e variáveis.

Logo, se no ponto de equilíbrio o lucro é nulo, o ponto de equi-


líbrio pode ser determinado no momento em que a receita total apre-
senta o mesmo valor que os custos e despesas, fato que comprovamos
ao longo de nossa abordagem. E lembre-se bem dessa prerrogativa
de lucro nulo, vários exames costumam trabalhar isso pela definição
deste conteúdo.

No próximo conteúdo, iremos abordar novas aplicações da


relação custo/volume/lucro, para que você perceba que nosso cami-
nho ainda não acabou, mas para isso você deverá lembrar- se de tudo
que viu até o momento. Margem de contribuição e ponto de equilí-
brio serão fundamentais para o entendimento do que está por vir.
132 Custos e Formação de Preços

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO


DD Conceito e aplicabilidade de Ponto de Equilíbrio.

DD Ponto de Equilíbrio Contábil – PEC.

DD Ponto de Equilíbrio Econômico – PEE.

DD Ponto de Equilíbrio Financeiro – PEF.

Leitura Complementar

DD BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Gestão de custos e formação


de preços: com aplicações na calculadora HP 12C e Excel. 6. ed.
São Paulo: Atlas, 2012.

Nos tópicos 12.4.2 Ponto de equilíbrio contábil, 12.4.3 Ponto de equilí-


brio econômico, 12.4.4 Ponto de equilíbrio financeiro e 12.4.5 Ponto de
equilíbrio com múltiplos produtos (páginas 186-196), você poderá ver
exemplos de apuração dos diversos tipos de pontos de equilíbrio que
apresentam como função ajudar ao gestor controlar, avaliar e acom-
panhar o desempenho da empresa através das informações forneci-
das nos cálculos desses pontos de equilíbrio.
133
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

DD BRUNI, Adriano Leal. A administração de custos, preços e lucros.


6. ed. São Paulo: Atlas, 2018.

No final do tópico 3.4 – Ponto de Equilíbrio (página 63), o autor faz


uma abordagem integrada sobre a análise de margem de contribui-
ção e ponto de equilíbrio com múltiplos produtos ou serviços, é in-
teressante que você leia, pois você perceberá uma ampliação do que
vimos, tendo em vista que tratamos de situações hipotéticas com um
produto somente.
134 Custos e Formação de Preços

3.4
OUTRAS APLICAÇÕES CUSTO/VOLUME/LUCRO
O primeiro conceito que iremos abordar neste conteúdo é o de
Margem de Segurança (MS), este representa um indicador de risco
que aponta que a quantidade sobre as vendas pode cair antes de se
ter prejuízo, podendo ser expressa em quantidade, valor (unidade mo-
netária) ou percentual.

Assim podemos então considerar que:

As margens de segurança apresentam o quanto a em-


presa pode perder em vendas, expressas em quantida-
de ou unidades monetárias, sem ultrapassar para baixo
o ponto de equilíbrio. BRUNI (2018, p. 64)

Já para Silva e Lins (2017), a margem de segurança é o interva-


lo existente entre o volume de unidades vendido e aquele relativo ao
ponto de equilíbrio.

Nesse contexto, podemos claramente perceber uma concor-


dância entre os conceitos apresentados pelos autores acima citados.
Assim, podemos afirmar que a margem de segurança, representa o
volume de vendas que a empresa deve estar, logicamente acima do
Ponto de equilíbrio. Logo, o volume de vendas excedente para analisar
a margem de segurança pode ser tanto o valor das receitas orçadas
como o valor real das receitas.

A margem de segurança em quantidade (MSq) é igual às receitas


atuais ou Receitas orçadas menos as receitas no ponto de equilíbrio,
sendo expressado matematicamente por:
135
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

Margem de Segurança em $
Fonte: Autoria própria.

Note que conforme comentamos no enunciado da fórmula aci-


ma, a margem de segurança, pode ser obtida tanto com relação a
receitas orçadas quanto com relação às receitas atuais (ou obtidas),
e no caso de estarmos fazendo tal cálculo em relação às previsões
orçamentárias iremos utilizar a seguinte relação:

Margem de Segurança em $
Fonte: Autoria própria.

Por conseguinte, Silva e Lins (2017), nos traz também esta re-
lação sendo obtida em termos percentuais, o que pode ser aplicada
em qualquer caso dentro da mesma empresa. Tal relação é expressa
matematicamente por:

Margem de Segurança em %
Fonte: Autoria própria.

Note que nas fórmulas acima, nossos cálculos se referiram à


margem de segurança em valores monetários, mas e se quisermos
encontrar tal índice em quantidades, ou seja, em volumes de venda?
Isso é relativamente simples, basta dividir o valor da margem de se-
gurança em $ que foi encontrado na aplicação das fórmulas pelo preço
de venda praticado pela empresa.

Para você entender melhor o cálculo da margem de segurança


vamos observar o seguinte exemplo.
136 Custos e Formação de Preços

Segundo os dados da contabilidade de determinada empresa,


seus principais gastos fixos somados alcançavam $54.000,00. Seu
custo variável unitário era estimado em $4,50, seu preço de venda era
estimado em $7,50 e seu volume de vendas, em determinado período,
foi igual a 25.000 unidades.

Nesse contexto, para achar a margem de segurança, com base


nos dados fornecidos, seria preciso, inicialmente, calcular a margem
de contribuição e o ponto de equilíbrio. Como você já aprendeu isso
nos conteúdos anteriores, teríamos então:

Ponto de Equilíbrio Contábil


Fonte: Autoria própria.

Como a empresa possui vendas iguais a 25.000 unidades, as


margens de segurança em quantidade, valores monetários e percen-
tual seriam respectivamente iguais a:
137
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

Margem de Segurança
Fonte: Autoria própria.

Os valores obtidos indicam que para a empresa entrar em situa-


ção de lucro, precisaria vender um valor superior (e não igual) a 18.000
unidades, que representam um faturamento mínimo de $135.000.
Como nessa situação a empresa vendeu 7.000 unidades a mais, po-
demos dizer que ela está em uma situação confortável, e a este va-
lor excedente chamamos de margem de segurança, que representa
7.000 unidades, um faturamento de $52.500,00 ou 28% das receitas
obtidas. Assim, quanto maior a margem de segurança, menor os ris-
cos de a empresa entrar em situações de prejuízo, e quanto menor o
valor da margem de segurança, maior será esse risco de prejuízo.

Agora que você já conhece a margem de segurança, vamos apre-


sentar-lhe um novo exemplo. Considere uma empresa que apresente as
seguintes informações relativas ao período de 01/01/2X12 a 31/12/2X12:

DD Volume atual de Vendas: 3.200 quilos por mês;

DD Preço de venda: $ 18,00/kg;

DD Custos e despesas variáveis: $ 13,00/kg;


138 Custos e Formação de Preços

DD Custos e despesas fixas mensais: $ 5.000,00/mês.

Com base nos dados acima, nosso primeiro passo será calcular
a margem de contribuição unitária, assim teremos:

Margem de Contribuição Unitária


Fonte: Autoria própria.

Uma vez que já sabemos a margem de contribuição unitária,


podemos também calcular o ponto de equilíbrio contábil em Kg e os
valores monetários, logo:

Ponto de Equilíbrio Contábil


Fonte: Autoria própria.

Assim, pelos cálculos acima, podemos verificar que a empresa


precisará vender ao menos 1.000 Kg do produto e atingir um fatura-
mento mínimo de $ 18.000,00 para superar todos os seus gastos e
atingir assim seu ponto de equilíbrio contábil.

Considerando agora que a empresa em questão possui encar-


gos de depreciação de 5% dos seus gastos fixos, vamos calcular o seu
ponto de equilíbrio financeiro, logo:
139
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

Ponto de Equilíbrio Financeiro


Fonte: Autoria própria.

Com isso, verificamos que para que a empresa pague todos os


seus desembolsos, ela precisa vender ao menos 950 Kg do produto, o
que representa um faturamento mínimo de $ 17.100,00 e assim atingir
o seu ponto de equilíbrio financeiro.

Supondo agora, que esta mesma empresa, conservadas as situ-


ações de custos de produção, vendeu 1.200 Kg do referido produto, ela
agora estaria operando em uma margem de segurança e seu valor é:

Margem de Segurança
Fonte: Autoria própria.

Logo, podemos verificar que nesta situação, superando o seu


ponto de equilíbrio em 200 Kg a empresa opera em uma faixa de lucro.
Consideremos agora que ao invés de 1.200 Kg a mesma empresa tenha
vendido somente 800 Kg, sua margem de segurança seria então:
140 Custos e Formação de Preços

Margem de Segurança
Fonte: Autoria própria.

Verifique que caso a empresa venda abaixo de seu ponto de


equilíbrio contábil, ela terá uma margem de segurança negativa, e isso
indica que ela está em situação de prejuízo operacional.

Após abordarmos a margem de contribuição, o ponto de equi-


líbrio e a margem de segurança, estudaremos a partir de agora o ter-
ceiro importante conceito na análise custo/volume/lucro. Assim, con-
forme fora dito no início deste tema, a análise de Custo/volume/lucro
envolve a descoberta da combinação mais favorável de custos variá-
veis, custos fixos, volumes de vendas e preço de venda.

Ou seja, são possíveis permutas entre as categorias de custos,


bem como entre custos e preço de venda e preço e volume de venda.
Essas permutas às vezes são desejáveis, e outras não. A análise de cus-
to/volume/ lucro é uma importante ferramenta gerencial para a identi-
ficação dos rumos de ação que aumentarão a rentabilidade do negócio.

Neste sentido apresentamos agora a alavancagem operacional.


Para Bruni (2018), o conceito financeiro de alavancagem associa-se
ao conceito físico, no qual uma pequena força em um grande braço
de alavanca consegue provocar uma força muito maior do outro lado.
Logo, na visão do autor citado, representa o fato de que uma menor
141
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

variação nas vendas costuma provocar variações mais graves no


lucro operacional próprio (sem considerar despesas financeiras) e no
lucro operacional, calculado antes do Imposto de Renda.

Para facilitar o seu entendimento, podemos então simplificar o


conceito, e afirmar que:

A alavancagem operacional representa o efeito no lucro decor-


rente de uma alteração no volume de vendas. O grau de alavancagem
operacional – GAO é medido pela variação percentual do lucro sobre
a variação percentual das vendas em determinado nível de atividade.
SILVA e LINS (2017, p. 157)

Podemos determinar a alavancagem operacional pela divisão


da margem de contribuição pelo lucro líquido, calculados no nível nor-
mal de operação da empresa, e seu valor pode ser calculado matema-
ticamente pelas fórmulas:

Grau de Alavancagem Operacional


Fonte: Autoria própria

Note que na segunda equação estamos nos referindo ao lucro


líquido, que deve ser o lucro à disposição dos acionistas e proprie-
tários após o imposto de renda. Assim, a alavancagem operacional
mede o impacto das variações de produção e de vendas sobre o
lucro líquido. Por exemplo, se duas empresas têm vendas e custos
142 Custos e Formação de Preços

variáveis iguais, apresentarão a mesma margem de contribuição;


porém, aquela que apresentar custo fixo total maior terá lucro líquido
menor e grau de alavancagem maior, acontecendo o contrário com a
outra, cujo lucro líquido será maior.

Nesse contexto, para cada 1% de acréscimo no volume de pro-


dução e de vendas, o percentual de lucro em relação ao nível de segu-
rança é multiplicado pelo grau de alavancagem operacional. Assim,
um grau de alavancagem igual a 4 significa que 1% de acréscimo na
receita ou na produção provoca um aumento de 4% no lucro do nível
da margem de segurança, e um acréscimo de 10% na receita ou na
produção provoca um aumento de 40%.

Por conseguinte, um acréscimo de 20% no volume de ativida-


des corresponde a um aumento de 100% no resultado, com uma ala-
vancagem de 5 vezes. Significa que a cada 1% de crescimento a partir
das 2.500 unidades produzidas e vendidas, a empresa irá apresentar
um crescimento no lucro de cinco vezes.

Logo, um processo de tomada de decisão em que os custos


exercem papel fundamental é representado pela formação dos preços
dos produtos que serão vendidos ou comercializados.

Contudo, além dos custos, o processo de formação de preços


está ligado às condições do mercado, ao nível de atividade e à remu-
neração do capital investido. Dessa forma, ao longo deste conteúdo
apresentamos algumas ferramentas que poderão ser utilizadas na
precificação dos produtos e serviços.

É interessante salientar ainda que a análise do grau de ala-


vancagem operacional pode ser considerada como uma ferramenta
utilizada para projetar o lucro que seria obtido em diversos níveis
possíveis de produção e vendas, ou seja, uma análise de projeção de
cenários.
143
Tema 3
Relações Custo/Volume/Lucro

Por conseguinte, de posse dessa informação, é possível também


analisar o impacto sobre o lucro de modificações no preço de venda
(sobretudo em situações de promoções e liquidações de estoques),
nos custos ou em ambos.

No nosso próximo tema, iremos abordar algumas estratégias


e técnicas para precificação de produtos e serviços, e para isso será
muito importante tudo que vimos até agora, pois iremos finalizar nos-
sos estudos propondo uma análise do gerenciamento financeiro de
vendas.

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO

DD Conceito e aplicações da margem de segurança.

DD Margem de segurança em $.

DD Relação percentual da margem de segurança.

DD Grau de Alavancagem Operacional.


144 Custos e Formação de Preços

Leitura Complementar
DD BRUNI, Adriano Leal. A administração de custos, preços e lucros.
6. ed. São Paulo: Atlas, 2018.

Leia o tópico 3.6 – Alavancagem (páginas 65-70), nele o autor aborda


a alavancagem financeira ilustrando com vários exemplos e estudos
de caso.

DD SILVA, Raimundo Nonato Sousa; LINS, Luiz dos Santos. Gestão de


custos: contabilidade, controle e análise. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2017.

Leia o tópico 4 - Margem de Segurança (página 156). Você verá ou-


tros casos práticos de apuração da margem de segurança. Confira
essa indicação.
tema 4
Gerenciamento de
Vendas
Caro aluno, nos temas anteriores você aprendeu conceitos impor-
tantes sobre a gestão de custos, conheceu alguns dos métodos de
custeio de produtos e serviços e foi apresentado às relações custo/
volume/lucro. Nesta última etapa de nossa disciplina, iremos abor-
dar o gerenciamento de vendas de uma forma macro, indo desde a
precificação dos produtos e serviços até a projeção de vendas e re-
sultados empresariais.

É necessário que você esteja familiarizado com os temas trabalha-


dos até aqui, pois você perceberá que isso formará uma sólida base
de conhecimentos, e, assim, estará pronto para esta etapa final.
4.1
ELEMENTOS E TÉCNICAS DE FORMAÇÃO DE PREÇOS I
Diante do que já vimos até aqui, podemos afirmar que o preço
dos produtos e serviços é um elemento de análise fundamental para o
sucesso econômico da empresa. Nesse sentido, podemos afirmar que:

[…] em relação ao processo de formação de preços, alguns


dos principais objetivos podem ser apresentados, como:
• proporcionar, a longo prazo, o maior lucro possível;
• permitir a maximização lucrativa da participação de
mercado;
• maximizar a capacidade produtiva, evitando ociosida-
de e desperdícios operacionais;
• maximizar o capital empregado para perpetuar os
negócios de modo auto-sustentado. BRUNI e FAMÁ
(2012, p. 251-252).

Assim, o principal objetivo desse conteúdo é apresentar o pro-


cesso de formação de preços, e para isso iremos nos basear nos cus-
tos incorridos. Contudo, veremos que diferentes metodologias serão
apresentadas, como o método de formação de preços com base nos
custos plenos, nos custos de transformação e no custo variável.

No entanto, para se precificar um produto ou serviço, podemos


adotar processos distintos e até complementares, tais processos de-
vem levar em consideração os custos, o nível de aceitação do consu-
midor (determinado pela demanda) e até uma análise da concorrência.

Logo, os processos de definição de preços baseados nos custos


buscam, de alguma forma, adicionar algum valor aos custos. Por exem-
plo, empresas construtoras apresentam propostas de serviços, estiman-
do o custo total do projeto e adicionando uma margem padrão de lucro.
148 Custos e Formação de Preços

Contudo, devemos reconhecer que a tarefa de precificação não


é fácil, pois um dos maiores conflitos decorrentes da aplicação de pre-
ços baseados exclusiva- mente nos custos de processo estão no nível
de aceitação, ou seja, a demanda que o mercado pode absorver, e nas
condições da concorrência.

Imagine, por exemplo, que uma costureira fabrica e vende peças


de confecções para vestiário feminino. Em um determinado período
ela deseja produzir 200 peças de shorts com custos fixos iguais à $
1.000 e custos variáveis iguais à $ 15,00. Seria possível praticar um
preço de venda igual a $ 30,00? Supondo que os preços de mercado
para produtos similares entre $ 28,00 e $ 35,00, a empresaria conse-
guiria manter-se competitiva?

Na situação exposta, teríamos um custo fixo unitário de $15,00


para cada unidade do short confeccionado, adicionando-se os custos
variáveis de $5,00, teríamos um gasto total de $20,00 para fabricação
de cada peça. Considerando um preço de venda de $30,00, podemos
afirmar que para cada unidade fabricada e vendida a empresária teria
um lucro bruto de $10,00.

Avancemos um pouco mais em nossos estudos. Lembra-se que


no tema anterior, quando definimos a margem de contribuição, ao
realizar o seu cálculo, vimos que deveriam ser abatidos os custos e
despesas variáveis associados ao processo. Pois bem, partiremos de
tal entendimento para formar a composição do preço de venda sob o
aspecto da absorção dos gastos de fabricação.

Nesse contexto, para Bruni (2018), o preço de venda praticado


pela empresa pode ser apresentado como uma composição resultante
de quatro componentes caracterizados, conforme ilustrado na ima-
gem a seguir.
149
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

Composição do Preço de Venda


Fonte: BRUNI (2018, p. 173)

Assim, na figura acima representamos a composição dos pre-


ços de venda sob a ótica de Bruni (2018), sendo representado pelos
seguintes componentes: os custos, as despesas, os impostos e o lucro.

No entanto, devemos levar em consideração que:

Em relação aos componentes dos preços praticados


em empresas comerciais, alguns comentários são im-
portantes. Os custos são formados essencialmente por
parte do valor pago ao fornecedor, mais despesas com
a logística, como fretes ou seguros BRUNI (2018, p. 176).

Porém, sob o ponto de vista contábil, é importante destacar que


do valor pago ao fornecedor, devemos destacar que os tributos em-
butidos no preço de venda deverão ser excluídos do custo de aquisi-
ção. Isso se deve ao fato de que as empresas, quando contribuintes
do ICMS e não optantes pelo regime de apuração dom Simples Nacio-
nal, possuem direito a crédito, ou seja, podem abater tais valores dos
quais deverão pagar a Fazenda Pública.
150 Custos e Formação de Preços

Igualmente, devemos lembrar que tais tributos, que são inciden-


tes diretamente sobre as vendas, já estão inclusos no preço de venda,
sendo então repassados ao consumidor. O ICMS poderá ser compen-
sado no futuro. O valor pago a título de ICMS ao fornecedor pode se
tornar um crédito fiscal, que pode ser compensado posteriormente.
Assim, neste caso, não deve ser incorporado ao custo.

Para Bruni (2018), tais impostos devem ser vistos com cuidado,
assim ao mesmo exemplo do ICMS, temos o PIS e a Cofins, que não
devem ser incorporados aos custos, são registrados como valores a
recuperar.

Contudo, alguns impostos pagos aos fornecedores, como o IPI, e


que não geram crédito fiscal a ser aproveitado posteriormente, podem
ser acumulados nos custos dos produtos adquiridos.

Para que você melhor compreenda o que falamos até aqui,


vamos consideremos o seguinte exemplo: a floricultura Verde Vida
produz e comercializa arranjos com flores ornamentais. Sabe-se que
os custos com materiais diretos para cada arranjo comercializado
são iguais a $3,40. Os custos com MOD direta são aproximadamen-
te iguais a $ 2,20. Custos indiretos de fabricação são avaliados em
$6,60. Despesas administrativas, com vendas e fretes de entregas al-
cançam $ 1,80. Se a empresa desejasse obter um lucro de $ 1,20 por
arranjo, o preço de venda a ser praticado poderia ser demonstrado na
tabela a seguir.
151
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

COMPONENTE VALOR MEMÓRIA DE CÁLCULO


MD $3,40
MOD $2,20
CUSTO DIRETO $5,60 CD = MD + MOD
CUSTO INDIRETO DE FABRIAÇÃO $6,60
CUSTO TOTAL $12,20 CT = CD + CIF
DESPESAS $1,80
GASTO TOTAL $14,00 Soma dos custos e despesas
LUCRO DESEJADO $1,20
Soma dos gastos totais e
PREÇO A PRATICAR $15,20
lucro desejado
Determinação do Preço de Venda
Fonte: Autoria própria

Esse é um exemplo de como podemos determinar os preços de


produtos e serviços, baseando-se no custo pleno. Pois segundo Bruni e
Famá (2012), nesse método, os preços são estabelecidos com base nos
custos plenos ou integrais, e na visão do referido autor, este custo é ob-
tido a partir do somatório dos custos totais de produção, acrescidos das
despesas de vendas, de administração e da margem de lucro desejada.

Contudo, devemos perceber que no processo acima em mo-


mento nenhum citamos os tributos incidentes sobre as vendas. Mas
eles não devem ser repassados ao consumidor final através do preço?
Segundo tal método de cálculo, os tributos deverão estar inclusos na
margem de lucro da empresa.

Para solucionar esses problemas, apresentamos agora outro


método de precificação que consiste na taxa de marcação:

Nesse método, os preços são formados mediante a con-


sideração de seus quatro componentes: custos, despe-
sas, impostos e lucros. De modo geral, para facilitar o
152 Custos e Formação de Preços

processo de formação de preços no comércio, torna-se


usual a definição e aplicação de taxas de marcação,
também conhecidas como mark-ups. Assim, generica-
mente, a taxa de marcação pode ser empregada de di-
ferentes formas: sobre o custo variável, sobre os gastos
variáveis e sobre os gastos integrais.
BRUNI (2018, p. 175)

Em relação às operações comerciais, em que o uso de taxas de


marcação é mais comum, de modo geral, cada setor de atividades
apresenta diferentes taxas de marcação para diferentes produtos.
Logo, em linhas gerais, podemos afirmar que um comerciante
pode aplicar a mesma taxa de marcação que o segmento tradicional-
mente emprega. Porém, em determinadas situações, para facilitar a
formação do preço com base nos parâmetros de gastos e lucrativida-
de desejada, pode-se ter que obter a taxa de marcação desejada pela
empresa.

Nesse contexto:

[...] o processo envolvido na aplicação das taxas de mar-


cação inicia-se com a definição de uma base que será
empregada na formação dos preços. Esta base costuma
ser representada pelos custos diretos (em operações
mercantis, o gasto com a aquisição e logística das mer-
cadorias, livres de impostos recuperáveis).
BRUNI (2018, p. 175)

Logo, a taxa de marcação deve representar um multiplicador


que, aplicado sobre a base de formação de preços, no caso os custos
diretos, permite obter o preço final desejado. Para definir a base, todos
os componentes não incorporados nela devem ser apresentados na
forma de percentuais sobre o preço.
153
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

Para que você possa compreender melhor a aplicação dessa


técnica, considere o seguinte exemplo: suponha que uma loja reven-
dedora de calçados tenha definido os seguintes gastos associados às
suas operações:

Gasto Valor ou Percentual


Aluguel, condomínio, água, energia, telefone e
$ 40.000,00 por ano
outros
Comissão sobre vendas 2% das vendas
Lucro sobre vendas 3% das vendas
ICMS, PIS e Cofins líquidos sobre vendas 21,65% das vendas
Depreciações diversas $ 6.000,00 por ano
Orçamento de gastos
Fonte: Autoria própria

Primeiramente, devemos perceber que os valores apresentados


na tabela acima correspondem aos impostos líquidos (já deduzidos os
créditos fiscais), às despesas e ao lucro desejado. Logo, para definirmos
a taxa de marcação (mark-up), todos os gastos devem ser expressos na
forma de percentual sobre as vendas ou sobre os preços. Sabendo que a
loja apresenta uma perspectiva de vendas anuais iguais a $ 200.000,00,
os gastos apresentados na forma de unidades monetárias podem ser
convertidos em percentuais. Vejamos então a tabela seguinte.

Gasto Percentual
Aluguel, condomínio, água, energia, telefone e
40.000/200.000 = 20%
outros
Comissão sobre vendas 2%
Lucro sobre vendas 3%
ICMS, PIS e Cofins líquidos sobre vendas 21,65%
Depreciações diversas 6.000/200.000 = 3%
Soma dos Percentuais 49,65%
Percentuais para determinação do preço
Fonte: Autoria própria
154 Custos e Formação de Preços

Na tabela acima, percebemos que a soma dos gastos não inclu-


ídos na base para a formação dos preços é igual a 49,65% das vendas
ou do preço, ou seja, este deve ser o percentual que deverá ser aplica-
do além dos custos. Assim, o preço será igual a base (os custos) mais a
soma dos percentuais multiplicada pelo preço. Logo, algebricamente,
poderíamos construir a seguinte equação genérica para a formação
dos preços:

Legenda: Equação 1
Fonte: Autoria própria

De outro modo, a base pode ser apresentada em função da dife-


rença entre o preço e a soma dos percentuais incidentes sobre o preço.

Equação 2
Fonte: Autoria própria

Colocando o preço em evidência, temos que:

Legenda: Equação 3
Fonte: Autoria própria

Reorganizando a equação anterior, chegamos à equação em-


pregada no comércio para a formação de preços e que permite definir
e calcular a taxa de marcação.

Equação para determinação do preço


Fonte: Autoria própria
155
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

A taxa de marcação corresponde ao fator [1/(1 – Soma dos


Percentuais)]. Para a loja revendedora de calçados do nosso exem-
plo, sua taxa de marcação será igual a 1/(1 – 0,4965) = 2,014 (apro-
ximadamente).

Assim, para um produto comprado junto ao fornecedor por $


40,00, desconsiderando créditos de ICMS, PIS e Cofins, o preço que
será cobrado pelo produto é igual ao custo multiplicado pela taxa de
marcação, ou 40,00 × 2,014 = $ 85,60.

Diante do exposto, podemos afirmar que as condições que con-


duzem à formação dos preços podem ser mencionadas por meio das
seguintes características:

a) Forma-se um preço-base;
b) Critica-se o preço-base à luz das características exis-
tentes do mercado, como preço dos concorrentes, volu-
me de vendas, prazo, condições de entrega, qualidade,
aspectos promocionais etc.;
c)Testa-se o preço às condições do mercado, conside-
rando-se as relações custo-volume-lucro, além de as-
pectos econômicos e financeiros;
d)Fixa-se o preço mais apropriado com condições di-
ferenciadas para atender a volumes diferentes, prazos
não uniformes de financiamento de vendas, descontos
para financiamentos (prazos concedidos) mais curtos,
comissões sobre vendas para cada condição.
BRUNI e FAMÁ (2012, p. 254)

Perceba que tratamos apenas da fixação do preço de venda, for-


mando o que chamamos de preço-base. No próximo conteúdo, ire-
mos tratar das condições de mercado, ou seja, os principais aspectos
qualitativos relacionados ao processo de formação de preços.
156 Custos e Formação de Preços

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO


DD Objetivos do processo de formação de preços.

DD Formação de preços com base no custo pelo.

DD Formação de preços com base na taxa de marcação.

DD Exemplos de aplicação para indústria e comércio.

Leitura Complementar

DD BRUNI, Adriano Leal. A administração de custos, preços e lucros.


6. ed. São Paulo: Atlas, 2018.

Leia os tópicos 7.3 - Preços, custos e valores percebidos e 7.4 - Com-


ponentes dos preços (páginas 172-174), nesse texto o autor explica
algumas das técnicas quantitativas associadas ao processo de forma-
ção de preços, e contextualiza os componentes do preço.

DD BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Gestão de custos e forma-


ção de preços: com aplicações na calculadora HP 12C e Excel. 6.
ed. São Paulo: Atlas, 2012.

Leia o tópico 14.4 - Preços com base no custo pleno (páginas 254-
259), nesse texto o autor faz uma abordagem contextualizada do mé-
todo de precificação.
157
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

4.2
ELEMENTOS E TÉCNICAS DE FORMAÇÃO DE PREÇOS II
Genericamente, um produto pode ser definido como a reunião
de fatores internos e externos à empresa que serão repassados à so-
ciedade mediante o pagamento de uma remuneração, que neste caso
é o preço. Nesse contexto, o produto é algo que pode ser oferecido
a um mercado para sua apreciação, aquisição, uso ou consumo para
satisfazer a um desejo ou uma necessidade.

Logo:

A formação de preços representa uma das mais desa-


fiadoras atividades da gestão empresarial contemporâ-
nea. Pois a decisão do preço a praticar é sempre uma
decisão secundária, consequência da opção da empresa
por ter optado por ofertar produtos em duas formas bá-
sicas e distintas.
Na primeira forma, a empresa oferta produtos ou servi-
ços sem diferenciação significativa. Neste caso, o pre-
ço praticado deve ser similar ao dos concorrentes. Não
existe o processo de formação de preços.
BRUNI (2018, p. 195)

Cálculos e análise sobre custos ou rentabilidades não são em-


pregados no processo de formação dos preços, já que estes serão si-
milares aos dos concorrentes.

Nessa situação, a análise de preços e custos deve ser feita com o


objetivo de analisar a rentabilidade do negócio e as consequências das
decisões tomadas e estratégias implementadas. Sendo o preço defini-
do pelo mercado, a empresa pode, a partir do preço, estabelecer metas
para seus gastos buscando atingir o patamar desejado de rentabilidade.
158 Custos e Formação de Preços

Na segunda forma, a empresa opta por ofertar produ-


tos ou serviços diferenciados. Tal diferenciação é o que
possibilita, então, a cobrança de preços distintos.
BRUNI (2018, p. 195)

Nesta etapa, por possuir produtos diversos, com valores per-


cebidos de forma diferenciada pelo mercado, a empresa pode estu-
dar seus gastos e sua rentabilidade com o objetivo de tentar formar e
aplicar um preço justo. Naturalmente, mesmo neste caso, esse preço
justo deve estar adequado ao contexto do mercado no qual pensa em
ser inserido.

Assim, o preço acaba sendo consequência das opções por custo


(estratégia de não diferenciação) ou valores percebidos (estratégia de
ofertas diferenciadas), a figura abaixo ilustrará uma relação das variá-
veis de custo, valor e preço.

Custo, preço e valor.


Fonte: BRUNI (2018, p. 195)

Logo, para que se determine a cobrança de preços superiores


aos custos, é preciso criar valores ainda mais elevados. E segundo
Bruni e Famá (2012), o processo de criação de valor passa, necessa-
riamente, pela ampliação do conceito de produto.
159
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

Um caso interessante da influência que as condicionantes de


valor exercem sobre os preços dos produtos é o das sandálias Ha-
vaianas, com certeza você as conhece, mas será que você já parou
para analisar um pouco a sua história desse produto no mercado?
Vejamos então.

As sandálias plásticas Havaianas representaram por muito tempo


para seu fabricante, as indústrias Alpargatas, um produto com foco di-
recionado para custos. Com baixa diferenciação, posicionava-se como
uma sandália de borracha barata, que “não deformava nem soltava as
tiras” (grifo nosso). Automaticamente, o poder de interferência sobre
os preços das Havaianas por parte da Alpargatas era muito baixo. O
mercado e a concorrência definiam o preço dos chinelos populares,
que eram praticados pela indústria.

Anos depois, o quadro mudou. A queda da rentabilidade das


operações motivou, no ano de 1994, uma mudança de atitude. A Al-
pargatas resolveu segmentar o produto e o mercado. Manteve as an-
tigas Havaianas (renomeadas para Havaianas Tradicionais) e investiu
intensamente em novos e inovadores produtos, com campanhas pu-
blicitárias diferenciadas. A percepção de um valor superior pelo mer-
cado tornou-se fundamental na nova estratégia.

As novas Havaianas, representadas por meio de diferentes e ino-


vadoras linhas de produto, como Flash, Trekking, Surf, Style ou Slick,
ganharam presença marcante como símbolos de moda. O chinelo ba-
rato que não deformava e não soltava as tiras tornou-se um dos mais
marcantes ícones fashion. Automaticamente, a percepção diferenciada
de valor associada à moda permitiu a elevação da cobrança de preços
inferiores a US$ 3,00 para preços iguais ou superiores a US$ 50,00 em
alguns modelos e mercados que, agora, incluem o exterior.

Nesse sentido, no estudo da percepção do que conduz ao valor


percebido, podem ser empregadas diferentes ferramentas. Uma das
160 Custos e Formação de Preços

mais difundidas na literatura de Administração Estratégica diz respei-


to ao conceito de cadeia de valor.

Assim para Bruni (2018, p. 200), “o valor adicionado ofertado


por produtos e serviços corresponde à diferença entre o valor dos
bens e serviços vendidos pela empresa e o valor dos bens e serviços
comprados por ela”. Assim, na visão do referido autor, podemos afir-
mar que este valor adicionado representa o acréscimo de valor que a
empresa incorpora ao bem na cadeia produtiva.

Assim, a cadeia de valor consistiria em uma reunião de ativi-


dades executadas para projetar, produzir, comercializar, entregar e
sustentar os seus produtos. Representa o conjunto de atividades cria-
doras de valor, desde as fontes de matérias-primas básicas, passan-
do por fornecedores de componentes, até o produto final entregue ao
consumidor.

Nesse contexto, o emprego da análise da cadeia de valor pas-


sa por duas etapas básicas: a construção da cadeia de valor – o que
envolve a identificação da cadeia e a atribuição de custos, receitas e
ativos a cada elo – e a utilização da cadeia de valor como ferramenta
de gestão. Nesta etapa, a cadeia pode ser empregada para detectar
pontos fortes e fracos da empresa e do setor, encontrar diferenças en-
tre custos variáveis de concorrentes, identificar fontes de diferencia-
ção, observar o comportamento dos custos e elaborar tentativas de
reconfiguração.

Logo, podemos considerar que:

A análise de custos na cadeia de valor deve-se preo-


cupar com o estudo de alguns aspectos-chave, como:
a estrutura de custos fixos e variáveis da cadeia; o valor
adicionado, margens, giro e retorno sobre investimen-
to; a liquidez, endividamento etc.; os determinantes de
161
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

custos; as atividades consumidas por clientes e forne-


cedores; a relevância do custo do material fornecido no
custo do produto fabricado pelo cliente e a relevância do
valor total vendido a ele por período e o posicionamento
estratégico de clientes e fornecedores.
BRUNI (2018, p. 199).

Análise estratégica do negócio


O conceito de estratégia vem do grego estrategos, ou
a arte do generalato. Para militares, representa a dis-
posição das forças armadas no campo de batalha para
conseguir a derrota do inimigo. Consiste na busca do
desenvolvimento de meios contra o inimigo, em busca
de objetivos estabelecidos pelo comando.
[...]
No campo empresarial, a estratégia representa o con-
junto de objetivos, fins ou metas, além das políticas e
planos mais importantes, que devem ser estabelecidos
de forma que fique definido em que classe de negócio a
empresa opera, em qual vai operar e que tipo de negó-
cio pretende ser. Envolve a construção gradual do futu-
ro, com a determinação de fins e objetivos básicos em
longo prazo de uma empresa, a adoção de alternativas
de ação e a sinalização dos recursos necessários para
cumprir os objetivos.
BRUNI e FAMÁ (2012, p. 293-294).

Assim, na ótica dos autores acima citados, podemos afirmar


que a análise do sucesso empresarial, geralmente expressa por ren-
tabilidades superiores, envolve o estabelecimento de diferenças que
possam ser mantidas. Em relação ao processo de administração de
custos, preços e lucros, a empresa deve prover maiores valores agrega-
dos e melhores serviços, ou criar produtos e serviços de mesmo valor
162 Custos e Formação de Preços

a um custo menor. Nesse sentido, a lógica dos maiores lucros, para


Bruni (2018), é simples: o fato de fornecer maiores valores agregados
permite praticar preços médios mais altos; maior eficiência operacio-
nal resulta em custos médios mais baixos.

Contudo, as diferenças em custos ou preços das diversas em-


presas derivam das muitas atividades envolvidas no ato de criar, pro-
duzir, vender e entregar produtos e serviços, tais como visitar clientes,
montar produtos finais e treinar os diversos funcionários da cadeia de
produção e comercialização. Dessa forma, a execução das atividades
é que ocasiona os custos incorridos.

Os objetivos expressos na busca de custos menores ou diferen-


ciações superiores moldariam boa parte dos processos de compreen-
são do que é estratégia. Para ter sucesso, isto é, apresentar melhores
níveis de rentabilidade ou de retorno sobre o investimento, uma em-
presa deveria optar, em estratégias genéricas, por diferenciar produ-
tos ou ser líder em custos e preços baixos. Em uma estratégia de alvo
mais estreito, poderia pensar em atender a um nicho específico do
mercado.

Em outras palavras:

Uma empresa consegue ser mais rentável quando pos-


sui maior participação de mercado e, através de ganhos
de escala e avanços na curva de aprendizagem, obtém
menores custos; ou quando possui uma baixa partici-
pação de mercado, mas atende a um mercado diferen-
ciado, que valoriza seus produtos e se dispõe a pagar
mais por eles.
BRUNI (2018, p. 201).

Nessas situações, mesmo trabalhando com custos maiores, é


capaz de obter maiores lucros e se tornar mais rentável.
163
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

No entanto, devemos salientar que o meio-termo seria uma


armadilha, pois as empresas normalmente não teriam recursos sufi-
cientes para serem boas em tudo. Além disso, cada estratégia de posi-
cionamento necessita de uma cultura organizacional e de um sistema
gerencial diferenciado.

Logo, as estratégias de escopo amplo apresentadas referem-se


ao fato de que a empresa atua no mercado como um todo. Uma tercei-
ra alternativa de manutenção de vantagens competitivas diz respeito
à escolha de um escopo restrito, em que a empresa opta por atingir
apenas determinado segmento ou nicho do mercado. Estratégias de
custo e diferenciação, quando combinadas com um escopo restrito,
geram a focalização.

Microeconomia, preços e custos


A microeconomia é o ramo da ciência econômica que
estuda o comportamento das unidades de consumo re-
presentadas pelos indivíduos e pelas famílias, as em-
presas e suas produções e custos, a produção e o preço
dos diversos bens, serviços e fatores produtivos. Em
outras palavras, a microeconomia ocupa-se da forma
como as unidades individuais que compõem a econo-
mia – consumidores privados, empresas comerciais,
trabalhadores, latifundiários, produtores de bens ou
serviços particulares etc. – agem e reagem umas sobre
as outras.
BRUNI e FAMÁ (2012, p. 279)

Com base no fragmento acima, podemos afirmar que a compre-


ensão do valor percebida pelo mercado é facilitada pelo entendimento
de alguns conceitos derivados da microeconomia, como as curvas de
demanda e os diferentes tipos de mercado.
164 Custos e Formação de Preços

Nesse contexto, os diferentes tipos de mercado influenciam a


percepção dos valores e a liberdade da empresa para definir seus pre-
ços. De modo geral, de acordo com Bruni e Famá (2012), são estabele-
cidos quatro tipos de mercado a saber:

a) Concorrência pura: caracteriza-se por um mercado compos-


to de muitos compradores e vendedores comercializando um
produto uniforme, com as mesmas características – como
trigo, cacau, laranja, minério de ferro e outros.

b) Concorrência monopolista: caracteriza-se por um mercado


composto de muitos compradores e vendedores que trabalham
com amplo espectro de preços em razão da possibilidade de di-
ferenciação dos produtos ou serviços para os consumidores.

c) Concorrência oligopolista: caracteriza-se por um mercado


constituído de um pequeno número de vendedores que são
muito sensíveis a preços e estratégias de marketing uns dos
outros.

d) Monopólio puro: caracteriza-se por um mercado constituído


de um único vendedor, que pode ser decorrente de um mono-
pólio governamental, como por exemplo, o caso dos Correios
no Brasil até a década de 90.

Ambientes Competitivos e Mercado


A concorrência globalizada, na atualidade, engloba todos os
ramos, concorrentes de várias nacionalidades, e muito competitivos,
tanto em preços como em produtos e serviços.

Com mercados e potenciais de consumo crescentes, a concor-


rência por espaços é cada vez mais acirrada e se dá em vários aspectos
da empresa, do mercado, enfim, em várias arenas.
165
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

Nesse ambiente empresarial encontram-se organizações tradi-


cionais de variados portes, bem como novos modelos empresariais,
com uma diversidade de abordagens estratégicas e inovações revo-
lucionárias.

Surgiram novos concorrentes e novas formas de concorrência,


em ramos antes tradicionais, com modelos de negócio inovadores e
distintos que deslocaram o eixo competitivo.

De produtos e serviços com qualidade, propiciados por opera-


ções, foco na diferenciação e a preços altos, para os atuais padrões,
a modelos de negócios de baixo custo, estruturados em redes de re-
lação e interações de alto nível e precisão, com alta eficiência, baixos
custos e preços baixos.

Isso representou uma revolução quanto às necessidades estra-


tégicas e de inovação, notadamente comerciais e de precificação.

Portanto, para Bernardi (2017), essa nova estrutura concorrencial


está voltada a produtos e serviços de alta qualidade, operações e redes
de relação integradas, alta interação entre as partes, eficiência e alto giro,
vantagens competitivas de difícil cópia e competências diferenciadas.

Logo, a dinâmica do ambiente competitivo envolve basicamen-


te os modelos de negócios, a concorrência em produtos, serviços e
preços, inclusive com diferenciação de peso relativo quanto à impor-
tância competitiva.

Entretanto, a concorrência nos preços está diretamente corre-


lacionada às características de diferenciação dos produtos e serviços,
comparados com o foco da necessidade do consumidor.

Portanto, Bernardi (2017) afirma que quanto maior o foco do


consumidor nas necessidades emocionais, em produtos e serviços
166 Custos e Formação de Preços

que exijam muita diferenciação ou singularidade, menor a sensibili-


dade ao preço e menor a concorrência em preços.

No próximo conteúdo, iremos abordar alguns artifícios para for-


mação de preços de vendas a vista a prazo, e também iremos trabalhar
a relação entre rentabilidade e lucratividade.

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO

DD Aspectos qualitativos para formação do preço.

DD Análise estratégica do negócio.

DD Microeconomia, preços e custos: a curva de demanda.

DD Ambientes Competitivos e Mercado.


167
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

Leitura Complementar
DD DUTRA, Divonsir de Jesuz da Silva; [et al]. Equívocos na meto-
dologia de formação do preço de venda: análise da metodologia
adotada pelo SEBRAE. Revista GEPROS, n. 1, p. Pag. 66, 2005.
Disponível em: https://revista.feb.unesp.br/index.php/gepros/
article/viewFile/142/104. Acesso em: 17 jan. 2019.

Neste artigo, os autores trazem algumas críticas e desvantagens aos


métodos de formação de preços normalmente utilizados pelas micro
e pequenas empresas no Brasil.

DD LUNKES, Rogério João. Uma contribuição à formação de preços


de venda. Revista Brasileira de Contabilidade, [S.l.], n. 141, p. 50-
57, ago. 2011. ISSN 2526-8414. Disponível em: http://rbc.cfc.org.
br/index.php/rbc/article/view/474. Acesso em: 17 jan. 2019.

Neste artigo, o autor trabalha os métodos de formação de preços sob


uma análise complementar, assim são trabalhados alguns dos méto-
dos vistos no conteúdo anterior e a análise final é feita com os méto-
dos vistos nesse conteúdo.
168 Custos e Formação de Preços

4.3
CONTROLE FINANCEIRO DE VENDAS
Até agora, em nenhum momento, houve preocupação com os
prazos de pagamento, ou seja, não levamos em consideração o custo
do dinheiro ao longo do tempo.

Nesse sentido, uma vez conhecida a metodologia da formação de


preços, devemos incluir fatores do ciclo financeiro, dos custos finan-
ceiros e, eventualmente, inflação nas considerações sobre o cálculo do
mark-up, o que gradativamente aumenta a complexidade do assunto.

Preços de Venda à vista


Em se tratando do preço a vista:

[...] o principal pressuposto da formação do preço de


venda à vista é a compra do material ou mercadoria a
um custo que representa o valor a vista (ciclos financei-
ros); portanto, todos os demais custos e despesas são a
vista, e em determinado momento (formação do preço e
venda) tudo ocorre. (BERNARDI, 2017, p. 205).

Para que você entenda melhor, suponha que uma empresa co-
mercial possui cotação da mercadoria ao custo unitário de $ 15.000.
A compra é a vista, e a mercadoria e as vendas são recebidas no ato,
dessa forma, sabemos então o custo à vista, e podemos formar o pre-
ço de venda (por se tratar de uma venda a vista).

Sabe-se ainda que na empresa em questão, o mark-up deve-


rá incluir ao menos: ICMS (18%), PIS e Cofins (3,65%), comissões
(1%), despesas administrativas (10%) e lucro desejado (20%) antes
do Imposto de Renda e CSLL. Consideremos ainda que todos os
elementos do mark-up são recebidos e pagos no ato da venda.
169
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

Temos então:
a) Formação do mark-up:

DD ICMS - 18%;
DD PIS e Cofins - 3,65%;
DD Comissões (1%);
DD Despesas administrativas (10%);
DD Lucro desejado (20%)
DD Total = 52,65%

b) Preço de venda:

Cálculo do preço de venda


Fonte: Autoria própria

O que acontece, na realidade, é que seria dificílimo, senão impos-


sível, ocorrer e aplicar os conceitos propostos, pois isso significa que
todos os fatos devem ocorrer num mesmo momento, ou seja, os ciclos
econômico e financeiro ocorreriam num mesmo instante, o que é im-
praticável. Considerando que o pagamento dos impostos, por exemplo,
se dará em uma data futura a partir do faturamento, já contrariamos tal
hipótese de todos os fatos acontecerem no mesmo momento.

Assim, se faz necessário na formação do preço de venda, tra-


zer todos os valores a uma mesma data focal (preferencialmente
a data presente). Nesse contexto, Bernardi (2017), alerta que uma
solução para formar o preço a vista é recorrer à técnica do cálculo
do valor presente, segundo a qual os valores futuros são trazidos a
valor presente a uma taxa determinada.
170 Custos e Formação de Preços

Dada à multiplicidade dos elementos envolvidos, o nível das taxas


de juros e os vários prazos de pagamento de cada fator, que implicariam
praticamente formular preços diariamente, utiliza-se o conceito de pra-
zos médios dos elementos observados em função do perfil das vendas.

Retornemos então o nosso exemplo anterior, só que vamos


considerar agora que:

DD Nas compras, o fornecedor concede 30 dias de prazo;

DD ICMS DAS VENDAS: pelo perfil das vendas, constatou-se


que 30% das vendas ocorrem na 1ª semana, 20% na 2ª se-
mana, 20% na 3ª semana e 30% na 4ª semana. Assim, cal-
cula-se um prazo médio de permanência com os recursos
do ICMS “recebidos” de 18 dias;

DD PIS/Cofins: também pagos na 1ª semana do mês subse-


quente e, pelo perfil observado nas vendas, utilizam-se os
mesmos 18 dias do ICMS como prazo médio;

DD Com relação às comissões, a empresa paga comissões usu-


almente nos primeiros cinco dias do mês subsequente, o
que pelo perfil das vendas resultaria num prazo médio de 15
dias de permanência com os recursos;

DD Para as despesas administrativas, vamos levar em conside-


ração que 50% das despesas administrativas se referem a
salários, 20% a encargos e o restante a outras despesas. Os
salários do mês são pagos dia 20 e dia 5 do mês subsequen-
te, os encargos na primeira semana do mês subsequente e
os demais em sua maioria em torno do dia 5 do mês subse-
quente. Diante desse perfil, em média trabalha-se com um
período de 28 dias de permanência de recursos para o pa-
gamento das despesas.
171
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

DD Consideremos ainda que os juros encontram-se no momen-


to a 1,5% a.m., e pressupõe-se que a empresa aplicará os re-
cursos recebidos a vista a esta taxa.

Para trazer todos os valores a uma mesma data focal (a data


presente), utilizamos como artificio da matemática financeira a se-
guinte fórmula:

Valor presente a juros compostos


Fonte: Autoria própria

Onde:

Valor presente = valor que o dinheiro representa na data focal,


quando descontada a taxa de juros do período;

Valor futuro = valor dado na operação;


i =taxa de juros praticada pelo mercado;
t = prazo de antecipação

Assim, do ponto de vista da análise temporal dos custos e des-


pesas, devemos calcular todos os elementos a valor presente. Ou seja,
utilizando técnicas de matemática financeira, devemos inicialmente
trazer todos os valores para data presente, para a partir de então for-
mularmos o preço a vista, teríamos então:
172 Custos e Formação de Preços

a) Mercadoria – Prazo 30 dias

Valor presente do custo da mercadoria


Fonte: Autoria própria

b) ICMS da venda – 18/30 dias

Valor presente do ICMS sobre as vendas


Fonte: Autoria própria

c) PIS/Cofins – 18/30 dias

Valor presente do PIS/Cofins sobre as vendas


Fonte: Autoria própria

d) Comissões – 15/30 dias

Valor presente das comissões sobre as vendas


Fonte: Autoria própria
173
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

e) Despesas Administrativas – 28/30 dias

Valor presente das despesas administrativas


Fonte: Autoria própria

f) Lucro desejado de 20% permanece o mesmo a valor presente,


uma vez que estamos tratando de um preço à vista.

Assim teremos:
c) Formação do mark-up:

DD ICMS – 17,84%;
DD PIS e Cofins - 3,62%;
DD Comissões (0,99%);
DD Despesas administrativas (9,86%);
DD Lucro desejado (20%)
DD Total = 52,31%

d) Preço de venda:

Cálculo do preço de venda


Fonte: Autoria própria

Preços de Venda a prazo


Uma vez calculado o preço de venda à vista, a empresa, ao con-
ceder prazos de pagamento aos seus clientes, sobretudo para prazos
superiores ao ciclo econômico, deverá incluir o custo financeiro refe-
rente ao prazo concedido. No entanto, deveremos levantar o seguinte
questionamento: Que taxa devemos aplicar? De tomador ou aplicador?
174 Custos e Formação de Preços

Para tal questionamento, devemos utilizar os conceitos de opor-


tunidade da aplicação financeira, sobretudo com os custos de capital
da empresa.

Nesse contexto, Bernardi (2017), nos informa que existe uma


ampla variedade de aplicações, métodos e possibilidades utilizadas no
mercado para se incluir o custo financeiro no preço para vendas a prazo,
contudo, em nossa disciplina, iremos abordar apenas o método do repas-
se do encargo financeiro do fornecedor utilizando o valor de com-
pra  a prazo. Assim, baseando-se em tal método iremos repassar aos
preços (por conseguinte tal custo será repassado aos clientes e consumi-
dores finais) o mesmo encargo financeiro cobrado pelo mercado.

Para que você entenda melhor, retomemos o nosso exemplo an-


terior, e consideremos inicialmente que a empresa para recebimento
de suas vendas concede um prazo médio de 30 dias. Logo, conside-
rando o preço à vista já calculado ($ 30.988,32), e que ainda que os
juros encontram-se no momento a 1,5% a.m., seria equivalente a um
preço para pagamento em 30 dias de:

Calculo do preço a prazo


Fonte: Autoria própria

Imaginemos agora que a mesma empresa que já sabe o preço


de venda de sua mercadoria à vista resolve parcelar as suas vendas
em 30, 60 e 90 dias, em parcelas iguais. Para determinar o valor de
cada parcela iremos utilizar a fórmula a seguir:
175
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

Fórmula para cálculo do valor de parcelas


Fonte: Autoria própria

Onde:

Valor presente = valor a vista da mercadoria;


i =taxa de juros praticada pelo mercado;
t = prazo de antecipação

Assim, considerando a mesma taxa de juros, e sabendo que os


recebimentos em 30, 60 e 90 dias representam, portanto, 3 parcelas
iguais e sucessivas, teríamos:

Legenda: Cálculo do valor das parcelas


Fonte: Autoria própria

Note que apenas para facilitar nossos cálculos e assim o seu en-
tendimento, operamos com as mesmas taxas tanto para aplicação nas
vendas, quanto para o cálculo do preço à vista. No entanto, na prática,
isso é inviável, pois o ideal é que repassemos o custo financeiro (en-
cargos) para os clientes, com um percentual maior, logo em situações
reais o ideal seria cobrar ao menos 2,0 %a.m., uma vez que o mercado
cobra 1,5% a.m., e esse percentual já foi considerado no cálculo do pre-
ço à vista. Nesse contexto, teríamos:
176 Custos e Formação de Preços

Cálculo do valor das parcelas


Fonte: Autoria própria

Verificou as diferenças nos valores? Parece pouco, mas imagine


tais diferenças em grandes volumes de vendas, isso poderia repre-
sentar um faturamento significativo.

No nosso próximo conteúdo iremos trabalhar algumas demons-


trações financeiras, a partir da projeção dos resultados de vendas e
falar um pouco da relação entre a rentabilidade e lucratividade.
177
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO


DD Os custos financeiros para formação de preços.

DD Formação de preços para pagamento à vista.

DD Formação de preços para pagamento a prazo.

DD Formação de preços para pagamento com parcelamento.

Leitura Complementar

DD BERNARDI, Luiz Antônio. Formação de preços: estratégias, cus-


tos e resultados. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

Leia o tópico 11.1 - Preço à vista (páginas 206-208), nesse texto o au-
tor traz exemplos para formação do preço a vista nos segmentos de
indústria, comércio e prestação de serviços.

DD PEREZ JUNIOR, José Hernandez; OLIVEIRA, Luís Martins de; COS-


TA, Rogério Guedes. Gestão estratégica de custos: textos, casos
práticos e testes com as respostas. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

Leia o tópico 10.2.5 Custo financeiro (páginas 285-287), nesse tex-


to os autores ressaltam a importância e necessidade de se levar em
consideração os encargos financeiros do mercado para formação do
preço de venda.
178 Custos e Formação de Preços

4.4
DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E SUA ANÁLISE
As Demonstrações Financeiras são relatórios produzidos pela
Contabilidade nos quais são apresentadas, de forma sintética, obede-
cendo a uma padronização e formalização adequadas e em uma lingua-
gem apropriada, as operações que ocorrem no dia a dia das empresas.

Cabe esclarecer que o organismo responsável pela formaliza-


ção e padronização da Contabilidade no Brasil é o Conselho Federal
de Contabilidade, que para tanto é auxiliado pelo Comitê de Pronun-
ciamentos Contábeis – CPC, que foi criado pela Resolução CFC nº
1.055/2005, e que tem como objetivo “o estudo, o preparo e a emis-
são de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabi-
lidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir
a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à
centralização e uniformização do seu processo de produção, levando
sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos pa-
drões internacionais”.

Dessa forma, informações sobre em que a empresa vem inves-


tindo os seus recursos, como obteve esses recursos (como a empresa
vem se financiando), qual a sua capacidade para saldar os seus com-
promissos, entre outras, que refletem a Posição Patrimonial e Finan-
ceira, são fornecidas pelo Balanço Patrimonial.

Já as informações sobre o desempenho da empresa são apre-


sentadas na Demonstração de Resultados do Exercício. Por meio
desse relatório, pode-se saber, entre outras coisas, se a empresa está
operando com lucro ou prejuízo, se o seu lucro é proveniente das suas
atividades operacionais ou se parte relevante dele é de caráter finan-
ceiro, qual o montante das vendas, quanto foi gasto para produzir as
mercadorias que foram vendidas etc.
179
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

A Figura a seguir apresenta, de forma bem simplificada, a utili-


dade de cada uma das principais demonstrações contábeis.

O que mostram as principais demonstrações contábeis


Fonte: Adaptado de OYADOMARI et all (2018, p.4)

Na Demonstração do Fluxo de Caixa, por sua vez, pode-se obter


informações a respeito dos recursos que foram utilizados pela empre-
sa em determinado período, ou seja, qual parcela desses recursos foi
gerada pela própria empresa, qual foi obtida junto a terceiros e qual foi
disponibilizada pelos seus acionistas. Pode-se também conhecer em
detalhes como esses recursos foram utilizados etc.

Assim, você pode estar se perguntando, por exemplo, qual o meu


interesse em estudar tal assunto se eu não serei o profissional que irá
elaborar essas demonstrações. A razão para isso, é que uma vez que
vimos todo o processo de custeio e formação de preços, precisamos
agora apresentar-lhes os reflexos disso nos resultados da empresa.

Logo, a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), nos in-


formará o volume total (em R$) de vendas que a empresa efetuou,
180 Custos e Formação de Preços

independente dos recebimentos, e os gastos totais que a empresa in-


correu no mesmo período, para que assim se chegasse a um lucro ou
prejuízo.

A Demonstração de Fluxos de Caixa, por sua vez analisará so-


mente entradas e saídas de numerários, ou seja, para este relatório
importarão somente os desembolsos efetuados pela empresa dentro
do exercício financeiro.

É nesse sentido que Oyadomari et all (2018) deixa claro que as


informações que podem ser obtidas nesses relatórios (Demonstrações
Contábeis) são de suma importância para embasar qualquer processo
decisório, seja ele de usuários internos da Contabilidade (gestores e
funcionários) ou de usuários externos (fornecedores, banqueiros, in-
vestidores etc.).

A figura a seguir ilustra uma comparação dos principais relató-


rios emitidos pela contabilidade e suas respectivas particularidades.

Comparação das Demonstrações


Fonte: Autoria própria

Por conseguinte, é através de tais relatórios que os gestores po-


dem afirmar o quanto está sendo lucrativo o negócio. Nesse sentido,
para efeitos didáticos, nesta disciplina, iremos nos ater somente ao
balanço patrimonial e a demonstração do resultado do exercício.
181
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

Balanço Patrimonial
A Contabilidade retrata, por meio do balanço, a situa-
ção patrimonial da empresa em determinada data, pro-
piciando aos analistas o conhecimento de seus bens e
direitos, de suas obrigações e de sua estrutura patrimo-
nial. Em suma, o balanço retrata a posição patrimonial
da organização em determinado momento, composta
por bens, direitos e obrigações.
KUHN e LAMPERT (2012, p. 30)

A figura a seguir traz uma estrutura resumida do balanço


patrimonial.

ATIVO PASSIVO

ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE

ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Estrutura do Balanço Patrimonial


Fonte: Autoria própria

Nesse contexto, as contas do ativo estão dispostas segundo


uma suposta ordem de liquidez ou de conversibilidade. Assim, as con-
tas com maior liquidez são as que aparecem na parte superior do ativo
e as de mais difícil realização na parte inferior. Por exemplo, o dinheiro
(que é o ativo mais líquido) que a empresa possui em caixa na data do
balanço é classificado no ativo circulante, enquanto os equipamentos
que a empresa usa na produção são classificados no ativo imobilizado.

O passivo, por sua vez, representa as fontes de recursos utili-


zadas pela empresa, podendo tais recursos serem provenientes de
182 Custos e Formação de Preços

terceiros (dívidas) ou dos sócios por meio de aporte de capital ou de


lucro gerado pela própria empresa. No caso de ser recurso de terceiros
teremos então o passivo exigível, e este será classificado em circulan-
te e não circulante. Já no caso dos recursos próprios, sendo represen-
tado pelos investimentos dos sócios e as reservas de lucros, teríamos
então o Patrimônio Líquido.

Assim, teríamos então a seguinte estrutura, agora mais ampliada


para o balanço patrimonial:

BALANÇO PATRIMONIAL
ATIVO PASSIVO + PATRIMONIO LÍQUIDO
ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE
ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE
REALIZÁVEL A LONGO PRAZO PATRIMONIO LÍQUIDO
INVESTIMENTOS CAPITAL SOCIAL
IMOBILIZADO RESERVAS DE CAPITAL
INTAGÍVEL AJUSTES DE AVALIAÇÃO PATRIMONIAL
RESERVAS DE LUCROS
AÇÕES EM TESOURARIA
PREJUIZOS ACUMULADOS

Estrutura detalhada do Balanço Patrimonial


Fonte: Autoria Própria
183
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

Demonstração do Resultado do Exercício - DRE


Segundo Marion e Ribeiro (2018), a DRE é a demonstração con-
tábil que tem por objetivo evidenciar a situação econômica da entida-
de, isto é apuração do lucro ou prejuízo. Ou seja, é o relatório sucinto
das operações realizadas pela empresa durante determinado período
de tempo.

Sobre a DRE é necessário salientar que:

DD Deve apresentar o resumo das variações positivas e negativas


ocorridas em determinado período de tempo.

DD A finalidade é descrever a formação do resultado gerado,


especificando e demonstrando receitas e despesas.

DD Denominação do resultado final: lucro x prejuízo.

DD Finalidade do lucro: remunerar os sócios ou manter e/ou de-


senvolver o patrimônio.

DD Análise para prejuízo: análise realizada para evidenciar os


motivos do prejuízo, ou seja, análise gerencial envolvendo
administradores e/ou gestores que normalmente ocasio-
nam em reduções de custos.

DD A DRE foi instituída pela Lei das Sociedades por Ações


(Lei 6.404/76) e sofreu algumas alterações através da Lei
11.638/07, passando a ter a seguinte estrutura básica:
184 Custos e Formação de Preços

Receita Bruta ou Vendas Brutas

(-) Deduções de Vendas

= Receita Líquida ou Vendas Líquidas

(-) Custos das Vendas

= Lucro Operacional Bruto ou Resultado Operacional Bruto

(-) Despesas Operacionais

= Lucro Operacional Líquido ou Resultado Operacional Líquido

(+/-) Resultado Não Operacional

= Lucro Antes do Imposto de Renda – LAIR

(-) IRPJ e CSLL

= Lucro Líquido

Estrutura da DRE
Fonte: Autoria própria

Lucratividade X Rentabilidade
Uma das maiores confusões feitas em relação à formação de
preços refere-se à análise dos ganhos auferidos. De modo geral, pen-
sa-se muito no ganho em função do lucro em reais obtido pela venda
de cada produto e serviço ou, de forma relativa, na margem de lucro
auferida (isto é, na relação percentual entre lucro e vendas).

Por exemplo, determinada empresa poderá julgar como satisfató-


rio um lucro igual a $5,00 embutidos nos preços dos produtos que costu-
ma comercializar por $50,00. Nesta situação, estaria tendo uma margem
de lucro igual a $ 5,00/$ 50,00 que é igual a 0,10 ou, em termos per-
centuais, 10%. Porém, como saber se um lucro de 10% sobre as vendas
poderia ser considerado satisfatório? A resposta reside na análise da ren-
tabilidade, atividade de fundamental importância em Finanças.
185
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

Nesse contexto, na análise financeira do negócio, muito mais im-


portante que a análise da lucratividade é a análise da rentabilidade, que
busca apresentar os ganhos não em função dos lucros sobre as vendas,
mas em função dos lucros sobre os investimentos feitos no negócio.
Uma forma fácil de perceber a diferença existente entre lucratividade e
rentabilidade pode ser vista na Figura a seguir, que corresponde a uma
ilustração dos momentos finais de uma corrida de automóveis.

Lucratividade e Rentabilidade
Fonte: Bruni (2018, p. 178)

Assim, a bandeira representa a linha de chegada e nota-se que


o carro A está mais próximo do final. Porém, caso perguntássemos
quem ganharia a corrida, seria preciso analisar, além da proximidade,
a chegada, a velocidade de aproximação dos dois veículos. O carro A,
embora mais próximo, poderia estar andando de forma muito lenta
ou poderia estar até mesmo quebrado. Logo, embora mais distante,
o automóvel B poderia, com uma velocidade maior, ter muito mais
chances de ganhar a corrida.
186 Custos e Formação de Preços

De forma análoga, na análise financeira do negócio e dos preços


praticados, a proximidade a linha de chegada corresponde ao lucro
auferido na transação. Porém, é preciso considerar a velocidade de
aproximação à linha de chegada, representada pelo número de vezes
em que o lucro é auferido e financeiramente representado pelo giro
das vendas.

Logo, para Bruni (2018), a relação matemática que representa


a rentabilidade decorre da multiplicação entre a margem de lucro e o
giro, ou seja:

Fórmula da Rentabilidade
Fonte: BRUNI (2018, p. 179)

Assim, a rentabilidade expressa a relação existente entre o lucro


líquido do negócio e o investimento nele efetuado. Nesse sentido, a
margem representa a relação entre o lucro e as vendas, e o giro cor-
responde à relação existente entre as vendas e o investimento total
feito no negócio.

Para que você entenda melhor, vamos considerar o exemplo de


uma empresa que as vendas totais alcancem $ 48.000,00 por ano,
para um investimento no negócio igual a $ 12.000,00, tem-se um giro
das vendas igual a $ 48.000,00 dividido por $ 12.000,00, que resulta
em um giro igual a quatro. Logo, a rentabilidade do negócio poderá ser
obtida com a equação anterior.

Rentabilidade = 0,05 × 4 = 0,20 ou 20% ao ano

A ênfase na análise da rentabilidade no lugar da lucratividade


facilita a compreensão de uma série de aspectos relativos à toma-
da de decisão em Finanças. Para ilustrar, imagine que uma empresa
comercial, com ativos totais iguais a $ 2.000,00, tenha apresentado
187
Tema 4
Gerenciamento de Vendas

o seguinte resultado anual. Note que a rentabilidade da operação da


empresa é igual a 20% ao ano, ou 400/2.000.

Com isso, chegamos ao fim do nosso livro. Espero que tenha


ampliado os conhecimentos a respeito das temáticas que envolvem
custos e formação de preços.

Até a próxima.

O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO


DD Tipos de demonstrações financeiras.

DD Características do Balanço Patrimonial.

DD Características da DRE.

DD Diferença entre rentabilidade e lucratividade.


188 Custos e Formação de Preços

Leitura Complementar
DD BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Gestão de custos e formação
de preços: com aplicações na calculadora HP 12C e Excel. 6. ed.
São Paulo: Atlas, 2012.

Leia o tópico 16.7 Análise da rentabilidade determinada pela estrutura


de uma indústria e pelas estratégias competitivas adotadas (páginas
306-310), nesse texto, os autores apresentam outras ferramentas de
análise estratégica da rentabilidade, utilizadas no entendimento dos
custos, preços e lucros.

DD OYADOMARI, José Carlos Tiomatsu; [et al.].Contabilidade geren-


cial: ferramentas para melhoria de desempenho empresarial. São
Paulo: Atlas, 2018.

Leia o Capitulo 1 – visão Gerencial das Demonstrações Contábeis (pá-


ginas 5-16), nesse texto os autores apresentam o significado das prin-
cipais demonstrações contábeis, expondo as principais relações entre
elas e propõe um entendimento sobre a utilidade dessas demonstra-
ções para a atividade gerencial.
Custos e Formação de Preços
189
REFERÊNCIAS
BRUNI, Adriano Leal. A administração de custos, preços e lucros. 6.
ed. São Paulo: Atlas, 2018.

CFC, CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº


1.055/2005. Cria o Comitê de Pronunciamentos Contábeis–CPC e dá
outras providências, 2005.

CREPALDI, Silvio Aparecido. CREPALDI, Guilherme Simões. Contabi-


lidade de custos. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2018.

KUHN, Ivo Ney; LAMPERT, Amauri Luis. Análise financeira. Ijuí: Ed.
Unijuí, 2012.

DUTRA, René Gomes. Custos: uma abordagem prática. 8. ed. São


Paulo: Atlas, 2017.

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 11. ed. São Paulo: Atlas,


2018.

NAKAGAYA, Masayuki. ABC: Custeio Baseado em Atividade. São


Paulo Atlas 1994.

RIBEIRO, Osni Moura. Contabilidade de custos fácil. 8.ed. São Paulo:


Saraiva, 2013.

SILVA, Raimundo Nonato Sousa; LINS, Luiz dos Santos. Gestão de


custos: contabilidade, controle e análise. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

SOUZA, Alceu; CLEMENTE, Ademir. Gestão de custos: aplicações


operacionais e estratégicas: exercícios resolvidos e propostos com
utilização do Excel. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
Anotações
Anotações
Anotações

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