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Uso de gás liquefeito de

petróleo na secagem
estacionária de milho em
secador de leito fixo
José Antonio Portella1
Luiz Eichelberger2

Introdução
A secagem desempenha papel importante na redução de perdas de grãos, tanto em
termos quantitativos quanto qualitativos. As perdas ocorrem devido à permanência dos
grãos no campo de produção até atingirem a umidade de 13%, à secagem inadequada e
ao armazenamento com umidade inadequada. O material mais utilizado como fonte
energética é a lenha, a qual é de combustão relativamente difícil e incompleta, liberando
grande quantidade de fuligem, fumaça e produtos químicos, alguns comprovadamente
nocivos à saúde humana, destacadamente o alcatrão. Os sistemas de secagem que usam
combustíveis gasosos, como o gás liquefeito de petróleo (GLP) e o gás natural (GN),
oferecem vantagens, como menor contaminação de grãos, simplicidade de operação e
excelente controle de temperatura, favorecendo a automação da secagem.

Este trabalho foi desenvolvido com os objetivos de avaliar o desempenho de um secador


estacionário de leito fixo, usando-se gás liquefeito de petróleo (GLP) como fonte
energética, e estabelecer indicadores econômicos de consumo e custo final.

Material e Métodos
Lotes de milho híbrido triplo BRS 3133 foram colhidos com três níveis de umidade
(35%, 25% e 18%) e secados em secador comercial de leito fixo, fabricado por Bergazzi
Máquinas e Equipamentos Ltda.3, com três níveis de temperatura do ar de secagem (40
ºC, 70 ºC e 100 ºC). O ar de secagem foi aquecido por um queimador de gás da marca
Stecri3, modelo ST-1-1, com capacidade de 2 a 10 kg/hora, abastecido por linha de
distribuição ligada a uma bateria de reservatórios (três unidades P-190) de GLP
AgipLiquigás3, instalada próximo do secador. Cada tratamento consistiu na secagem de
1.400 kg de grãos com fluxo médio de ar de 15 m3/min/m2 até se atingir a umidade de
13%.
Todos os resultados apresentados neste trabalho são dados médios de duas repetições.

Além da temperatura do ar ambiente e do ar de secagem no plenum, na massa e na


superfície da massa de grãos, foram monitorados o grau de umidade e a temperatura da
massa de grãos, em intervalos de 1 hora, ao longo do período de secagem.

A partir das medidas realizadas, foram calculados os seguintes indicadores: duração da


secagem, taxa de secagem, consumo total e horário de GLP, custo de combustível, custo
de eletricidade e custo energético total.

Resultados e Discussão
A duração do período de secagem foi determinada pela umidade inicial dos grãos e pela
temperatura do ar utilizado no processo de secagem (Tabela 1). A duração do período
de secagem foi tanto maior quanto mais elevado foi a umidade na colheita e quanto
menor foi a temperatura do ar de secagem, estando de acordo com observações feitas
por Brooker et al. (1992) e por Cavariani et al. (1999). Nas três umidades de colheita, o
aumento da temperatura de secagem de 40 ºC para 70 ºC diminuiu o tempo de secagem
à metade, ao passo que, com o aumento de 70 ºC para 100 ºC, o tempo de secagem foi
diminuído, em média, apenas 28%. Isso mostra que a taxa de transporte da água do
interior do grão para a superfície, onde ocorre a troca com o ar (Brooker et al. 1981), foi
limitante do processo de secagem e que o aumento de temperatura do ar de secagem (30
ºC) não respondeu em aumento proporcional na velocidade de secagem. A taxa de
secagem aumentou com a temperatura do ar de secagem e diminuiu com a redução da
umidade inicial, o que se explica pelas forças de atração da água na constituição do grão
(Lasseran, 1978), ou seja, a extração da água é mais difícil quando os grãos apresentam
baixa umidade.

Com o decorrer do processo, observou-se a secagem mais rápida da camada mais


profunda da massa de grãos, o que teve como conseqüência também o aumento da
temperatura dos grãos. Quanto mais próximos os grãos da entrada do ar aquecido, a
temperatura dos grãos tendeu a se igualar com a do ar de secagem. O sentido do
deslocamento do ar de secagem causou o avanço da frente de secagem de baixo para
cima, gerando gradientes de umidade e de temperatura dos grãos entre as camadas
inferiores e superiores, como observado por Pasin, 1991; Rodriguez, 1993; e Cavariani
et al., 1999. Esses gradientes foram tanto maiores quanto maior foi a temperatura do ar
de secagem e a umidade inicial.

O consumo de GLP e, conseqüentemente, o custo foram menores na colheita com


umidade menor, nos três níveis de temperatura de secagem, em virtude da necessidade
de um período menor de tempo para que se completasse a secagem. A maior demora do
processo de secagem quando se empregou temperatura de secagem mais baixa levou a
tendência de aumento de consumo de GLP. O consumo horário foi função somente da
temperatura de secagem, devido ao maior gasto de combustível para a elevação da
temperatura do ar de secagem. A umidade do grão na colheita teve relativamente pouco
efeito sobre o consumo horário.

O custo da energia elétrica foi influenciado pela duração da secagem, uma vez que o
tempo de secagem é maior com baixas temperaturas e com umidade inicial mais
elevada. A participação do custo da energia elétrica no custo energético total aumentou
com a diminuição da temperatura de secagem, independentemente da umidade inicial.
Com a secagem a 100 ºC, a participação do custo da energia elétrica, em média, foi de
15% do custo total, enquanto com 70 ºC e 40 ºC essa participação aumentou para 18% e
30%, respectivamente. Pode-se observar que, quando se usou temperatura de secagem
de 40 ºC, o custo da energia elétrica teve elevada participação no custo energético total
da secagem.

Observou-se que o custo energético total diminuiu com a temperatura de secagem mais
elevada e com a colheita com menor umidade dos grãos. Na média das três colheitas
com diferentes níveis de umidade, o custo energético total foi 23% menor quando se
aumentou a temperatura de secagem de 40 ºC para 70 ºC e 13% menor quando esse
aumento foi de 70 ºC para 100 ºC. A redução no custo energético total, considerando-se
a elevação da temperatura de 40 ºC para 100 ºC, foi de 36%. Entretanto, cabe salientar
que devem ser considerados os aspectos qualitativos desejados para os grãos, pois a
temperatura elevada e o apressamento da secagem prejudicam a qualidade final do
produto.

Conclusões

1. a taxa de retirada de água dos grãos de milho durante a secagem estacionária em


secador de leito fixo foi tanto mais elevada quanto mais elevados foram a
temperatura do ar de secagem e a umidade inicial dos grãos;
2. foi observada desproporcionalidade entre o aumento da temperatura do ar de
secagem e a diminuição do tempo de secagem;
3. o processo de aquecimento e de secagem dos grãos deu-se no sentido das
camadas mais profundas para as superficiais da massa de grãos, gerando
gradientes, que foram tanto maiores quanto mais elevados a temperatura do ar de
secagem e a umidade dos grãos;
4. o consumo horário médio de GLP aumentou somente em função da temperatura
de secagem;
5. os custos de combustível e de energia elétrica foram menores quando a
temperatura do ar de secagem foi mais elevada e quando a umidade dos grãos foi
menor; e
6. o custo energético total foi 23% menor quando se aumentou a temperatura de
secagem de 40 ºC para 70 ºC e 13% menor quando esse aumento foi de 70 ºC
para 100 ºC.

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