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Teorico 1
Teorico 1
Objetivo da Unidade:
ʪ Contextualização
ʪ Material Teórico
ʪ Material Complementar
ʪ Referências
1 /4
ʪ Contextualização
Neste momento você já deve estar se perguntando: comunidade surda? Língua de sinais?
LIBRAS? E mais: por que é que eu tenho que estudar isso?
É provável que, ao longo da sua carreira, você se depare com surdos, membros da comunidade
surda, usuários da Língua Brasileira de Sinais.
É importante você saber que, assim como quaisquer outras comunidades, a comunidade surda
brasileira não é homogênea. Nela você vai encontrar surdos que oralizam e leem lábios bem e
outros que não o fazem, ou não o fazem tão bem; surdos que só sinalizam, surdos que sinalizam
e oralizam e, entre estes últimos, aqueles que fazem essas duas coisas ao mesmo tempo.
Entretanto, apesar de toda essa heterogeneidade, há um importante laço que une a maioria das
pessoas surdas brasileiras e esse laço é a Língua de Sinais, língua através da qual elas se
comunicam, expressam seus pensamentos e sentimentos, contam piadas, discutem desde as
coisas mais banais do dia a dia até assuntos mais sérios e comple¬xos, como política, por
exemplo.
Apesar de o reconhecimento oficial da LIBRAS, através do Lei 10.436/2002, ser uma conquista
extremamente importante para todos os surdos do Brasil, ele é apenas o primeiro passo! Em
outras palavras, não basta reconhecer a LIBRAS como meio de expressão das pessoas surdas e o
direito destas de ter acesso à informação por meio dela. É preciso também preparar (formar)
todos aqueles que vão atuar diretamente com essa população. Além disso, faz-se necessário que
a sociedade como um todo seja conscientizada das lutas e conquistas da comunidade surda.
Nesta Unidade, procuramos discutir muitos mitos em relação à pessoa com surdez e à Língua de
Sinais e também esclarecer algumas questões que servirão como ponto de partida para o pleno
entendimento de toda a disciplina.
Vídeos
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Acesse a interpretação GLEE Imagine (O cial Music Video)
ʪ Material Teórico
Certamente você já deve ter tido a oportunidade de ouvir e/ou ler especialistas em uma
determinada área do conhecimento desfazendo “mitos” nos quais muitas pessoas acreditam,
não é mesmo? Você já deve ter ouvido e/ou lido médicos esclarecendo que determinadas
doenças podem ser contraídas de certa forma, mas não de outras; nutricionistas desmitificando
certas ideias sobre formas de perder peso, entre outras situações.
Nesta parte do material, vamos tratar de alguns mitos relacionados às Línguas de Sinais e aos
surdos que povoam o imaginário da maioria das pessoas.
Antes disso, entretanto, convido você a responder às perguntas abaixo. Para isso, peço que tente
responder a essas questões unicamente com base nos conhecimentos que você já tinha antes de
iniciar a leitura deste material. Caso julgue mais interessante, faça as perguntas abaixo a uma
outra pessoa! Vamos lá?
E então? Acredito que você tenha respondido a algumas questões com facilidade e, em relação a
outras, tenha ficado com alguma dúvida. Certo?
Na verdade, era exatamente isso o esperado, já que cada pergunta acima se refere a uma das
muitas falsas ideias que as pessoas normalmente têm a respeito das Línguas de Sinais e,
consequentemente, a respeito da pessoa com surdez.
Nesse sentido, convido você a ler as subseções a seguir, nas quais cada pergunta é respondida e
discutida.
“Considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e
interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura
principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras.”
Sendo assim, é considerado surdo todo aquele que tem perda auditiva e utiliza uma Língua de
Sinais como forma de comunicação. Para a comunidade surda, este termo é comum. Na verdade,
os surdos gostam de ser tratados assim. É um equívoco chamá-los de surdos-mudos, pois
surdo-mudo é o indivíduo que possui uma deficiência auditiva e outra no aparelho fonador.
Muitos surdos não são oralizados, ou seja, não falam, porém emitem sons; é considerado mudo,
apenas o indivíduo que não emite som algum. Alguns surdos possuem dificuldade em
desenvolver a fala, pois não escutam, porém seu aparelho fonador é preservado.
Saiba Mais
Oralizar: Normalmente, na área de surdez, usa-se essa palavra para
referir-se à articulação da fala pelo surdo.
Sendo assim, deficiente auditivo é o indivíduo que possui uma perda auditiva bilateral, parcial ou
total, porém não pertence à comunidade de surdos. Alguns utilizam a Língua Portuguesa e
outros, infelizmente, não desenvolvem nenhum tipo de comunicação, ficando limitados a uma
restrição auditiva. O indivíduo surdo possui uma cultura e identidade centrada em sua
comunicação espaço visual. Nesse sentido é um grande equivoco chamá-los de surdos-mudos.
De acordo com Audrei Gesser (2009, p. 2009), “A leitura labial e o desenvolvimento da fala
vocalizada são habilidades que precisam de treinos árduos e intensos para serem
desenvolvidas”. O desenvolvimento da oralização não é uma habilidade natural para o surdo, em
especial para os congênitos.
Figura 2
Fonte: Reprodução
Pode-se dizer que, de forma geral, cada país tem a sua própria língua de sinais, havendo países,
no entanto, que têm mais de uma. No Brasil, por exemplo, além da Libras, temos notícia da
existência de uma língua de sinais indígena usada pelos índios urubu-kaapor, localizados no sul
do Maranhão.
Não podemos esquecer que a Língua é cultural, possui intima relação com a história de seu país e
com a comunidade que a utiliza. A exemplo disso, temos o sinal “cumprimentar”, que é um
vocábulo simples e que, porém, não pode ser universalizado, pois diferentes culturas possuem
formas distintas de cumprimentos, como se verifica na maneira de cumprimentar de um
brasileiro e de um japonês.
Para observar isso mais concretamente, veja sinais que significam “homem” em diferentes
Línguas de Sinais e responda: eles são todos iguais, semelhantes ou diferentes? Esses sinais
contribuem ou não para a argumentação de que a Língua de Sinais não é universal?
A Língua de Sinais possui regras gramaticais e parâmetros linguísticos como de qualquer língua
oral auditiva. Sendo assim, ela é considerada uma Língua.
Apesar de as Línguas de Sinais não terem sido criadas por ouvintes e doadas aos surdos, esse
mito deve ter suas origens no fato de serem usados, até hoje, na educação de crianças surdas,
métodos que se pautam em sistemas artificiais de sinais, concebidos (majoritariamente) por
educadores ouvintes para fins de alfabetização dessas crianças. Entre esses métodos pode-se
citar o inglês sinalizado (Signed English), que consiste, basicamente, em uma versão gestual do
inglês falado.
As origens desse mito podem estar associadas também ao fato de os surdos fazerem uso do
alfabeto manual (conjunto de configurações de mão que representam letras do alfabeto que foi
inventado por ouvintes e adaptado por educadores de surdos para fins de sua alfabetização) e de
muitos acharem que as Línguas de Sinais se restringem a ele. Entretanto, apesar de ser
empregado na sinalização corrente, o alfabeto manual é usado, em geral, quando sinalizadores
querem fazer referência a um nome ou a um conceito expresso por uma certa palavra da Língua
Oral, mas para o qual não dispõem ainda de um sinal.
A Língua de Sinais não é baseada na Língua Oral; as duas são totalmente independentes. A
Língua de Sinais possui um canal visual gestual, ao passo que a Língua Oral possui um canal oral
auditivo; sendo assim, são totalmente diferentes. É um equivoco pensar que a LIBRAS é a
sinalização da Língua Portuguesa; as duas possuem estados linguísticos, parâmetros e regras
distintos.
Não é à toa que, durante muito tempo na história da educação de surdos, predominou uma
corrente denominada oralismo, que tinha como objetivo principal ensinar aos surdos a
articulação da fala e a sua compreensão por meio da leitura labial.
Os educadores que propuseram essa corrente não concebiam as Línguas de Sinais como línguas
naturais e, portanto, defendiam o ensino da fala como forma de dar aos surdos uma língua, já
que, segundo sua visão, eles não tinham nenhuma!
Entre os argumentos dessas pessoas estava, justamente, a falsa crença de que a comunicação
por gestos era presa ao concreto e, como tal, impedia que os surdos atingissem o raciocínio.
Entretanto, não é isso que se observa na prática. As Línguas de Sinais não servem apenas para
falar de coisas concretas, imediatas e simples. Elas podem ser (e são!) usadas para falar de
coisas abstratas e complexas, como política, linguística, filosofia, entre outras.
Vídeos
poesia.wmv
Para compreender melhor a capacidade expressiva da Libras, indico
que assistam à interpretação do Poema “Ou isto ou Aquilo”, de Cecília
Meireles, e observem como até uma poesia pode ser expressa sem
perder seus elementos constitutivos.
poesia.wmv
A mesma coisa acontece com crianças surdas que, desde muito cedo, têm contato com surdos
adultos e, através da interação com eles, adquirem a Língua de Sinais. Não é preciso que os
sinalizadores que interagem com uma criança surda lhe deem aulas de LIBRAS. Pelo contato,
pelas trocas comunicativas, as crianças surdas, logo depois do seu segundo aniversário, (às
vezes antes) começam a produzir seus primeiros sinais, frases, e assim por diante.
O que particulariza a maioria das crianças surdas é que elas nascem em famílias ouvintes e,
portanto, ficam impossibilitadas de adquirir uma língua, já que não ouvem (logo, não têm
acesso à língua oral) e seus pais não sabem a Língua de Sinais.
A maioria das crianças surdas só adquire uma Língua de Sinais quando entra em uma escola de
surdos, ou seja, não adquire língua no mesmo período em que as crianças ouvintes.
Livros
Mãos ao Vento
Mãos ao vento, de Silvia Lia Grespan Neves, é o primeiro romance
escrito por uma autora surda no Brasil. Ele conta a história de Paola,
uma moça surda, que se envolve com Raul, um rapaz ouvinte. A autora
usa a aproximação afetiva dessas duas personagens para apresentar,
de forma leve, vários aspectos da cultura surda e várias questões
relacionadas à surdez. Sendo assim, o livro é uma grata porta de
entrada para o mundo dos surdos. Por ter sido produzido de forma
independente, a compra desse livro só pode ser feita na FENEIS-SP
(Federação Nacional de Educação e Integração do Surdo).
NEVES, S. L. G. Mãos ao Vento. 2010. p. 132 Editora: São Paulo.
O Ministério da Educação e Cultura, em 2004, publicou dois cadernos com materiais ricos e
norteadores para a implantação do Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos. Nele
encontramos a seguinte declaração:
o profissional precisa ter qualificação específica para atuar como tal. Isso significa
ter domínio dos processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de tradução e
interpretação. O profissional intérprete também deve ter formação específica na
área de sua atuação (por exemplo, a área da educação).”
Leitura
O Tradutor e Intérprete de Língua Brasileira de Sinais e Língua
Portuguesa
Para ter acesso ao documento integral do MEC, que versa sobre o
tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais e Língua
Portuguesa, acesse a seguir:
ACESSE
Assim, tendo refletido e discutido sobre essas questões, tenho certeza de que seu olhar frente à
comunidade surda terá, a partir de agora, um novo paradigma. Podemos concluir este texto
neste instante, sabendo que algumas questões foram respondidas e mitos desconstruídos,
porém tenho certeza de que você ainda irá se surpreender muito com esse novo mundo de
experiências visuais gestuais.
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ʪ Material Complementar
Vídeos
ʪ Referências
GESSER, A. Libras? Que Língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da Língua de Sinais e da
realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
BRASIL. Lei n. 10.436 de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais-
Libras e o art. 18 da Lei 10.098 de 19 de dezembro de 2000.