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Boa parte do rap brasileiro dos anos 1990 irá construir sua
obra a partir da perspectiva de que as promessas de
desenvolvimento nacional, e a consequente integração dos mais
pobres ao horizonte de cidadania, tão sonhadas pela MPB, não
eram mais historicamente viáveis. De fato, o lugar que percebe
antes de todo mundo que esse projeto de desenvolvimento nacional
havia chegado ao fim, e que, portanto, o próprio imaginário nacional
havia sido completamente reconfigurado, foi a periferia. E isso muito
antes das universidades, dos intelectuais e artistas consagrados
tomarem consciência do que estava acontecendo.
É importante dizer também que o rap não apenas ensinou pra muita
gente que o racismo existe, e como ele existe. Mas também ajudou
a difundir a noção moderna de negritude como resistência,
juntamente com os esforços do movimento negro brasileiro, mas
com um alcance muito mais amplo, por se tratar de uma produção
artística. O Brasil tem um amplo histórico de difusão da imagem do
negro escravizado e humilhado e o rap ajudou a transformar essa
humilhação em orgulho e revide. Com o hip hop, a negritude vira
sinônimo de resistência. Como disse a filósofa Djamila Ribeiro, os
Racionais mostraram para a periferia como organizar o seu ódio,
fazendo com que os negros passassem a tratar a sua raça como
arma, um instrumento de luta contra o genocídio do seu povo.