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A ANTROPOLOGIA E O ETNOCENTRISMO
ANTROPOLOGIA JURÍDICA 6

Antes de entrarmos propriamente no conteúdo desta aula é necessário considerarmos

algumas questões preliminares.

A primeira pergunta que se faz é: por que estudar Antropologia?

Por que estudar Antropologia e não alguma matéria específica do curso?

Bem, existem algumas disciplinas que são essenciais para o desenvolvimento de

qualquer acadêmico, seja das exatas, das humanas ou das sociais aplicadas. Essas disciplinas são
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obrigatórias e se constituem uma clara tentativa de criar um conceito de cidadania, tão carente

em nossa sociedade. Assim, além de excelentes profissionais, precisamos também de cidadãos

dispostos a mudar a história de nosso país. A Antropologia se preocupa em entender o outro em

suas especifidades.

IMPORTANTE:

a Antropologia é exatamente isso: um olhar sobre o outro.

Por que existem tantas diferenças culturais?

Por que as pessoas possuem religiões e leis tão diferentes umas das outras?

Qual cultura afinal está correta?

Mas afinal, por que é necessário entender o outro?

Por que isso é essencial nos tempos que vivemos?

Eu serei um profissional melhor se eu estudar essa disciplina?

Exatamente esse é o objetivo dessa disciplina: entender o outro não como adversário ou

inimigo, mas como um ser humano com características, que, por sua história lhe são próprias.

Esperamos que ao final do nosso curso essas perguntas tenham sido respondidas.

Afinal, o Direito é essencial para criarmos um mundo melhor, onde a justiça e a igualdade

estejam presentes.

Vamos exemplificar a importância de se entender o outro:

EXEMPLIFICANDO:

Um bom exemplo disso foi o famoso 11 de setembro de 2001. Todos se

lembram dos aviões se chocando sobre as torres, sendo que um dos

choques transmitidos ao vivo para o mundo todo. Logo descobrimos


que os atentados foram realizados por pessoas com uma religião, leis e
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vivencias completamente diferentes das nossas. Ficamos assustados com

o tamanho da tragédia. Aprendemos a ver os islâmicos, os “outros”, como

terroristas fanáticos que queriam destruir o mundo. Criamos então um

inimigo que justificou bombardeios, invasões etc.

A Antropologia propõe que um olhar crítico sobre as práticas do outro, os seus motivos e,

a partir daí tentar entender por que se deu tal fato. Por exemplo:

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» Todos os islâmicos são terroristas?

» O islã realmente prega a destruição de quem não é de sua religião?

» Quando os Estados Unidos bombardeiam algum outro país, são cristãos que estão

bombardeando?

» Pois bem, observe a charge abaixo: os dois estão falando a verdade ou os dois mentem?

Ou só o islâmico que mente?

Fonte: http://objetivoatualidades.blogspot.com.br/2015/09/aula-262015-estado-islamico-causa-fato.html.

Dito isso, vamos iniciar vendo agora o que se entende por Antropologia.
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Ela estuda, principalmente, por que toda sociedade age e pensa e formula suas leis,

crenças etc. de uma determinada maneira e não de outra. Enfim, por existem sociedades tão

diferentes da minha?

Entender o outro é talvez o grande objetivo dessa disciplina. Afinal, se isso fosse levado a sério,

talvez o mundo não tivesse visto duas guerras mundiais, não existiria o racismo, a homofobia, o

preconceito...
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Embora a Antropologia compreenda três dimensões básicas (biológica, sociocultural e

filosófica), vamos nos deter em seu aspecto cultural pela importância para todas as áreas do saber.

Observe a charge abaixo: qual cultura está correta?

Fonte: http://aulasdoaugusto.blogspot.com.br/2010/02/charge-o-olhar-antropologico.html.

Para a Antropologia, não existem culturas certas ou erradas, existem apenas culturas

diferentes. Nós pensamos e agimos, por causa de padrões que apendemos durantes séculos.
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Esta crítica acentuada a quem vive, pensa e age diferente de nós é chamada de

etnocentrismo.

ETNOCENTRISMO:

trata-se de uma visão que toma a cultura do outro, como algo menor, sem valor, errado,

primitivo. Ou seja, a visão etnocêntrica desconsidera a lógica de funcionamento de outra cultura,

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entendendo que somente a sua referência cultural está correta.

Observe estes textos:

Além da fome, da miséria, das doenças, da desigualdade, um dos graves

problemas que o mundo contemporâneo enfrenta é a intolerância

entre os povos. A dificuldade em encarar a diversidade humana conduz

à negação dos valores culturais alheios e supervalorização do ‘grupo do

eu’, visão e atitude que chamamos de etnocentrismo, ou seja, uma visão

do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e

todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos

modelos, nossas definições do que é existência. No plano intelectual, pode

ser visto como a dificuldade de pensar a diferença; no plano afetivo, como

sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. (ROCHA, 1994, p.7).

Podemos dizer que a dificuldade de convivência entre os povos

remonta aos primórdios do homem. A história nos revela em todos os

seus períodos exemplos da percepção negativa de um povo diante de

outro. Independente de sua origem, africanos, americanos, asiáticos ou

europeus, esta sempre foi uma atitude comum. Os gregos, por exemplo,

chamavam de bárbaros aos povos que não partilhavam da cultura

helênica; os europeus denominavam os nativos africanos e americanos de

selvagens e posteriormente de primitivos; as comunidades do tronco Tupi

que habitavam o litoral brasileiro referiam-se aos grupos que viviam no

interior como Tapuias; o povo judeu, a maior vítima da intolerância entre

os povos na modernidade, também designava de gentios outros povos

numa referência depreciativa a quem não fazia parte do grupo dos ‘eleitos’
(ASSIS; NEPOMUCENO. Acesso em: dez. 2016).
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Portanto, o etnocentrismo é uma avaliação que fazemos pautada em juízos de valor

daquela prática cultural que é considerada diferente. Vamos ver alguns exemplos.

Observe a figura abaixo. Certamente você sabe do que se trata: do Nazismo. Pautado por

uma ideia extremamente etnocêntrica, este regime arrastou o mundo para uma guerra mundial

e nos deixou perplexos com os campos de concentração espalhados pela Europa, onde milhares

de pessoas morreram.
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Fonte: http://sociologia-agroindustria.blogspot.com.br/2010/08/etnocentrismo.html

Vamos ver outro exemplo: O verdadeiro genocídio que sofreram os nativos das Américas.

Milhões deles foram mortos e escravizados. Tiveram sua cultura totalmente destruída e foi lhes

imposto novo modo de ver o mundo. Milhões de nativos foram massacrados em um dos maiores

genocídios da história.
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Fonte:http://mestresdahistoria.blogspot.com.br/2011/02/catequizacao-dos-povos-ndigenas.html.

Mas, e hoje em dia? Em pleno século XXI existem práticas etnocêntricas?

Para encerrar nosso texto, vamos analisar a reportagem abaixo:

Só de homofobia, são 98 investigações abertas por mês.

Com 191 casos, a agressão representa o terceiro crime mais cometido con-

tra o grupo LGBT - (Felipe Resk - O Estado de São Paulo, 20 nov. 2016). Foto:
Evelson de Freitas/AE
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Associação da Parada do Orgulho LGBT cobra criação de lei para combater

intolerância.

São Paulo registrou uma média de 98 crimes de homofobia a cada mês,

segundo os dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Ao todo,

foram 1.179 casos notificados entre novembro de 2015 e outubro deste ano

- a maioria (62,7%) de injúria ou ameaça.


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Em julho, a dragqueenDindry Buck participou de um evento na Paróquia

Nossa Senhora do Carmo, na zona leste da capital. Ela foi bem recebida

pelos presentes, mas, quando a notícia chegou à internet, vieram as

ameaças. “As pessoas diziam que eu ‘merecia levar uma surra’”, conta.

Assustada, ela reuniu os relatos e foi à polícia.

Não foi a primeira vez que Dindry Buck sofreu violência. Anos atrás, ela já

havia sido surpreendida por um agressor no centro de São Paulo. Ele lhe

desferiu um soco na boca e a derrubou no chão. “Veado tem de apanhar”,

disse o criminoso. 

Com 191 casos, a lesão corporal representa o terceiro crime mais cometido

contra o grupo LGBT. Em fevereiro, a transexual Melissa Hudson, de 22

anos, recebeu garrafadas e pontapés na Rua Augusta, no centro. “Até hoje

não entendi direito o que aconteceu. Eu queria saber o que fiz a essas
pessoas”.

Segundo conta, foi cercada pelo grupo de madrugada. “Fui parar no chão.

Eles gritavam que eu era um ‘traveco nojento’”, relata Melissa. À época,

ela havia acabado de passar por uma cirurgia no rosto. Por causa das

agressões, precisou refazer alguns pontos que arrebentaram. “Eu só queria

Justiça”.

Melissa mudou de casa depois do episódio. “Hoje ando com medo na rua.

Saio e não sei se vou voltar”, afirma. “Por mais que você seja uma pessoa

comum, ser transexual é ter uma vida de risco”.

Na opinião da advogada Sylvia Amaral, a homofobia “se sustenta em erro”.

“O homossexual é visto como se tivesse escolhido um caminho e, por

isso, precisa aguentar as consequências”, diz. Para Fernando Quaresma,


presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, é
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necessário uma lei para esse tipo de intolerância. “Não há aumento de

pena para o crime”.

A delegada Daniela Branco, da Decradi, diz ser preciso cautela para

analisar cada caso. “Existe preconceito, mas nem todo homossexual foi

morto por homofobia”. Segundo afirma, o último registro de homicídio,

aparentemente por intolerância, foi em 2009. “Às vezes, o caso causa um

alarde que não condiz com a realidade”. 

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Daniela também destaca que crime de intolerância é difícil de prevenir.

“Talvez o melhor método é não deixar passar. Ir na delegacia e fazer o

registro, para que a pessoa seja identificada e punida”.

(Disponível em: <http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,so-de-

homofobia-sao-98-investigacoes-abertas-por-mes,10000089469>).
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RESUMO:
Vimos em nossa primeira unidade que a Antropologia (Estudo do Homem) se interessa

pelos estudos culturais e sociais, tentando entender a evolução do ser humano em sociedade e

por que adota determinadas práticas. Estas práticas são responsáveis por definir por que alguns

grupos sociais pensam e agem de determinada maneira. As leis, crenças, hábitos etc. são frutos

desta evolução cultural. Vimos que determinados grupos, por não aceitarem práticas culturais

diferentes das nossas, exercem um etnocentrismo, isto é, não aceitam o outro como ele é. O
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nazismo, o racismo, a homofobia são alguns dos exemplos desta prática.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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