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FACULDADE DOM ALBERTO

LUCINEIA MARTINS DOS SANTOS ARIMORI

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:


MATERIAIS DIDÁTICOS, METODOS E TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS
COMO FERRAMENTAS DE APRENDIZAGEM

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Arapongas
2023
FACULDADE DOM ALBERTO

LUCINEIA MARTINS DOS SANTOS ARIMORI

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:


MATERIAIS DIDÁTICOS, METODOS E TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS
COMO FERRAMENTAS DE APRENDIZAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Departamento de Educação daFaculdade
Dom Alberto, como requisito parcial para a
obtenção do título de Licenciatura em
Pedagogia.

AGRADECIMENTOS

Arapongas
2023
RESUMO

O tema central desta pesquisa é a utilização de métodos didáticos na Educação de


Jovens e Adultos. A educação de Jovens e Adultos ganhou papel central no cenário
educacional brasileiro na segunda metade da década de 90, compreendendo que,
ao se alfabetizar, letrar e trazer ao mundo escolar jovens e adultos que não
conseguiram completar na idade correta as séries correspondentes, demonstra-se
que inserir ao mundo da educação esses sujeitos se faz mais que necessário, é uma
questão de compromisso com aqueles que tanto ajudam o nosso país. A EJA vem
como uma modalidade de educação capaz de auxiliar os estudantes em seus
processos, além de propiciar novas aprendizagens, vivencias e possibilidades na
vida de quem dela participa. Com o avanço da educação e das tecnologias
educacionais, a EJA vem ganhando novos aliados em seu processo, pois, quando
nos utilizamos de novidades, estudos recentes e ferramentas diversas, conseguimos
dessa forma fazer com que o estudante tenha maior motivação e seja mais
autônomo em relação a sua aprendizagem. A metodologia utilizada no trabalho foi
de caráter bibliográfico, se utilizando de artigos científicos, anais e tese de doutorado
para a realização do mesmo, possibilitando analisar e observar como se dá a EJA e
os métodos didáticos da mesma no Brasil.

Palavras-chave: EJA; Métodos Didáticos; Tecnologias Educacionais.


ABSTRACT

The central theme of this research is the use of didactic methods in Youth and Adult
Education. Youth and Adult education gained a central role in the Brazilian
educational scenario in the second half of the 1990s, understanding that, by teaching
literacy, literacy and bringing young people and adults who were unable to complete
the corresponding grades at the correct age, it demonstrates If inserting these
subjects into the world of education is more than necessary, it is a matter of
commitment to those who help our country so much. EJA comes as an education
modality capable of helping students in their processes, in addition to providing new
learning, experiences and possibilities in the lives of those who participate in it. With
the advancement of education and educational technologies, EJA has been gaining
new allies in its process, because when we use novelties, recent studies and
different tools, we manage to make the student more motivated and more
autonomous in regarding your learning. The methodology used in the work was of a
bibliographical nature, using scientific articles, annals and a doctoral thesis to carry it
out, making it possible to analyze and observe how EJA and its didactic methods
take place in Brazil.

Key-words: EJA; DidacticMethods; Educational Technologies.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

EJA – Educação de Jovens e Adultos


MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização
ENCCEJA – Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e
Adultos
CEAA – Campanha de Educação de Adultos e Adolescentes
MEC – Ministério da Educação e Cultura
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................9

I EDUCAÇÃO BRASILEIRA DAS DÉCADAS DE 1910 A 1940 E A EDUCAÇÃO DE


JOVENS E ADULTOS...............................................................................................11

1.1 Breve Análise das décadas de 1910 a 1930 no Contexto Educacional


Brasileiro 11

1.2 Era Vargas e o período educacional brasileiro....................................13

1.3 A Educação de Jovens e Adultos: sua história e necessidades.........16

II MÉTODOS DIDÁTICOS PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS..........21

2.1 Métodos didáticos para a Educação de Jovens e Adultos.....................21

2.2 Tecnologias Educacionais e a Educação de Jovens e Adultos.............24

REFERÊNCIAS.........................................................................................................30
9

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como intuito tratar de forma histórica a Educação


Brasileira, a Educação de Jovens e Adultos e dissertar sobre materiais didáticos
dentro da Educação de Jovens e Adultos
O tema do trabalho deu-se a partir do interesse da autora em trabalhar a EJA,
suas necessidades e a importância de material didático de qualidade para que a
Educação de Jovens e Adultos alcance novos estudantes e possibilite mudança de
vida aos mesmos.
O objetivo geral do trabalho é discorrer sobre a importância da educação de
jovens e adultos e os objetivos específicos são analisar os materiais didáticos para a
EJA e observar o encaminhamento histórico da educação brasileira e a educação de
jovens e adultos.
Os problemas que deram origem ao trabalho foram: Qual a importância da
EJA para a sociedade? Quais são os melhores métodos didáticos a serem utilizados
na Educação de Jovens e Adultos? E essas perguntas serão respondidas ao longo
do trabalho.
O trabalho está dividido em dois capítulos, no qual o primeiro capítulo trata
sobre a educação brasileira e a história da EJA, e o segundo capítulo trata dos
métodos didáticos utilizados na EJA, quais são esses métodos e como eles podem
ser utilizados em sala de aula.
O trabalho possui caráter bibliográfico, se utilizando de fontes como artigos
científicos, publicações em anais e trechos de livros. Foi-se utilizado o sCielo, google
acadêmico e a revista Histedbr como fontes seguras e referenciadas para a
fundamentação teórica do trabalho.
O cronograma do trabalho seguiu com delimitação do tema, busca de
referências, leituras, organização das referências, e, após esse processo, partiu-se
para a escrita do trabalho e seu embasamento.
Autores como STRELHOW (2010); FILHO (2005); BENCOSTTA (2011);
ARAÚJO E BARCELOS (2021) foram citados ao longo do texto, propiciando ideias e
10

referencias científicas para a boa fundamentação do trabalho, em conjunto com a


análise da autora.
A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade da educação que
começou a ganhar maior força e ser mais vista após o período de redemocratização
do Brasil, na década de 80, após o fim da Ditadura Militar.
A EJA, durante a maior parte da história da educação brasileira, foi vista
somente como uma forma de acabar com a “ignorância” que rondava o país, pois, a
pessoa não ser alfabetizada, significava que o problema de o país não avançar era a
falta de pessoas adentradas no mundo letrado, mas, hoje, percebe-se que na
realidade os problemas políticos, sociais e econômicos do país não advêm das
pessoas analfabetas, mas sim, da incapacidade dos governantes de mudarem a
realidade.
A alfabetização precisa ser mais do que somente um processo mecânico da
codificação e decodificação das letras e números. Ela precisa também permitir ao
estudante que ele compreenda o mundo em toda a sua forma e grandeza, para além
do mundo grafocêntrico.
Quando falamos de Educação de Jovens e Adultos, estamos falando de
inúmeras particularidades na questão educacional, pois, a partir do momento em
que se lida com jovens e adultos analfabetos ou alfabetizados, mas, que não
conseguiram concluir a escola na idade normal, entende-se que essas pessoas
passaram por diversas vivencias e situações da vida que são parte integrante do
desenvolvimento daquele indivíduo.
Os métodos didáticos e as tecnologias educacionais vêm para auxiliar no
processo de ensino e aprendizagem dos indivíduos que participam da faixa etária de
jovens e adultos. Novas ferramentas vêm para garantir uma educação de qualidade,
ampliando os saberes daqueles que fazem parte da EJA e são a parte viva e
significativa dessa modalidade da educação.
Por esse motivo, reformular os materiais e métodos utilizados na Educação
de Jovens e Adultos faz-se tão necessário, pois, a EJA é um fator fundamental para
a inclusão e reparação com as pessoas que não puderam cursar as séries da
educação básica na idade correta, e permite com que eles se sintam ativos, e mais
do que isso, parte mais do que integrante da sociedade: parte vivente, que opina e
que pode contribuir de fato para as melhorias na educação e no nosso país.
11
12

I EDUCAÇÃO BRASILEIRA DAS DÉCADAS DE 1910 A 1940 E A EDUCAÇÃO DE


JOVENS E ADULTOS

O objetivo desse capítulo é discutir a mudança no cenário educacional do


Brasil ao longo dos séculos, e, mais especificamente, as mudanças que ocorreram a
partir da década de 30, com o advento da Escola Nova e suas novas nuances em
relação à educação brasileira.

1.1 Breve Análise das décadas de 1910 a 1930 no Contexto Educacional


Brasileiro

O Brasil, após a Proclamação da República entrou em um período


educacional que é chamado de Grupos Escolares, na qual fora o primeiro modelo de
escola pública designado pelos republicanos ao país. Bencostta (2011, p.69) afirma
que
No Brasil, este modelo, denominado de Grupo Escolar, foi
implantado pela primeira vez, no Estado de São Paulo, em 1893.
Este tipo de instituição previa uma organização administrativo-
pedagógica que estabelecia modificações profundas e precisas na
didática, no currículo e na distribuição espacial de seus edifícios.

A partir do momento em que a estrutura se modifica e se cria no país uma


escola pública, muda-se também o cenário em relação as necessidades da
população em idade escolar e como essas necessidades serão atendidas e
resolvidas.
De acordo com Bencostta (2011, p.70)
A construção de edifícios específicos para os grupos escolares foi
uma preocupação das administrações dos Estados, que tinham no
urbano o espaço privilegiado para a sua edificação, em especial, nas
capitais e cidades economicamente prósperas.

Os prédios dos Grupos Escolares precisavam ser diferentes de quaisquer


outros prédios públicos nas cidades, pois, isso demonstrava a importância dos
Grupos Escolares para a cidade e para educar os cidadãos que ali habitavam,
trazendo prestígio e reconhecimento as cidades que o possuíam.
Bencostta (2011) diz em seu texto que os Grupos Escolares começaram a
ganhar mais força e se espalhar de forma geral no início da década de 1910,
abrangendo outros estados do país e tornando os Grupos Escolares locais
privilegiados em relação a questão educacional.
13

Os Grupos Escolares foram maneiras de o governo brasileiro organizar a


educação de forma a torna-la mais vista, bem reconhecida e ser um atrativo para as
classes mais abastadas da sociedade. Apesar de ser uma ideia de educação
pública, sabemos que desde o início da escolaridade no Brasil, ela foi pensada e
formulada para as classes mais ricas, relegando aos filhos dos trabalhadores e aos
trabalhadores o serviço braçal.
De acordo com Gadotti (1997, p2)
Nos primeiros 20 anos desse século, inspirados nos ideais liberais,
na crença do poder da educação, considerando a "ignorância do
povo" como a causa de todas as crises do país, os sucessivos
governos criaram numerosas Escolas Normais de formação de
professoras primárias. Nesse período surgiu o movimento cívico-
patriótico, associado ao nome de Olavo Bilac, que postulava o
combate ao analfabetismo.

De acordo com o autor, a inspiração para um novo modelo educacional no


país se deu a partir dos ideais liberais e de uma forma de modificar o cenário
brasileiro a partir da educação, querendo erradicar a “ignorância do povo” para que o
país pudesse crescer e evitar tantas crises, como vinha ocorrendo.
A partir da década de 1930, novos ideias de educação e como elas poderiam
ocorrer vieram à tona, trazendo novas situações e novas vertentes ao âmbito
educacional brasileiro.
Gadotti (1997, p.2) afirma que
Nesse contexto foi criada em 1924 a ABE (Associação Brasileira de
Educação) que reunia conhecidos nomes de educadores brasileiros,
como Fernando de Azevedo e Paschoal Lemme. Essa entidade
impulsionou o movimento renovador da educação, que culminou com
o "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova" (1932) em favor do 2
ensino fundamental público, laico, gratuito e obrigatório. A
Constituição de 1934 consagrou essas idéias num capítulo específico
sobre a educação.

A Pedagogia que ainda era forte no Brasil e no cenário brasileiro era a


Pedagogia Tradicional, na qual o professor é detentor do conhecimento e o aluno é
somente um receptor daquilo que o professor está ensinando, não tendo
oportunidade de discutir, criticar ou avaliar o trabalho que está sendo realizado.
Contudo, a partir das ideias liberais, e de ideais revolucionários, houve uma
inclinação para que houvesse a erradicação no analfabetismo no Brasil, algo que,
infelizmente, não se concretizou até o presente momento, mas, viu-se a
14

necessidade de se alfabetizar a população e transformar como a educação era vista


e transmitida.
A Escola Nova veio como uma ferramenta capaz de modificar a realidade
educacional brasileira, ofertando disciplinas diversas e também possibilitando novas
oportunidades de educar aqueles que necessitavam. Foi, então, com o advento da
Escola Nova e com a Revolução de 1930, de acordo com Gadotti (1997, p.3) que
A Revolução de 1930 produziu importantes transformações no
campo educacional, destacando-se a criação, no mesmo ano, do
Ministério da Educação e a elaboração do capítulo da educação na
Constituição de 1934. O primeiro ministro da Educação, Francisco
Campos, criou o Estatuto das Universidades Brasileiras (Reforma
Campos, 1930). Nesta época foi criada a Universidade de São Paulo
(1934).

Com o início da Era Vargas, houve-se significativas mudanças em diversos


setores da sociedade brasileira, incluso a educação, o trabalho com a criação da
CLT e também foi no Governo Vargas que as mulheres adquiriram o direito de votar.
O próximo tópico irá discorrer sobre a Era Vargas no período educacional
brasileiro, dos anos 1930 a 1960 e quais as contribuições e mudanças na educação
nesse período.

1.2 Era Vargas e o período educacional brasileiro.

A Era Vargas se iniciou no Brasil na década de 1930, com a eleição de


Getúlio Vargas para presidente do Brasil. Até 1937 Getúlio era presidente do Brasil
eleito por meio de votos do povo, e, após esse período, se iniciou a ditadura no país.
Filho (2005, p.5) afirma que
Os anos de 1930 são marcados por intensa disputa ideológica no
campo político, econômico e, como não poderia deixar de ser,
também, no âmbito educacional. Trata-se de uma conjuntura que não
é apenas brasileira. Na Europa, assiste-se à consolidação do
fascismo na Itália, do stalinismo na URSS e à ascensão do nazismo
na Alemanha.

A década de 1930 foi marcada por diversas mudanças em todo o cenário


mundial. Na segunda metade da década, o nazismo e o fascismo ganharam força na
Europa, e, a partir desse momento, teve-se o advento da Segunda Guerra Mundial
que polarizou e modificou a geopolítica mundial.
De acordo com Filho (2005, p.5)
15

Essa divisão no campo político repercute no âmbito educacional. De um lado,


estão intelectuais liberais, socialistas e comunistas, alguns deles, protagonistas de
reformas educacionais em seus estados de origem, agrupados em torno do
movimento conhecido como Escola Nova; de outro lado, católicos e conservadores
de diferentes matizes ideológicos, reunidos em torno de um projeto conservador de
renovação educacional.

As mudanças no campo político interferiram de forma direta as mudanças


educacionais, tendo ideais de diversas fontes, como os liberais, os intelectuais, os
socialistas e os comunistas, o que não permitiu um consenso em relação a
educação brasileira.
Filho (2005, p.6-8) descreve o Manifesto dos Pioneiros, que ocorrera na
Escola Nova
[...] a) A educação é considerada em todos os seus graus como uma
função social e um serviço essencialmente político que o Estado é
chamado a realizar com a cooperação de todas as instituições
sociais; b) Cabe aos estados federados organizar, custear e ministrar
o ensino em todos os graus, de acordo com os princípios e as
normas gerais estabelecidos na Constituição e em leis ordinárias
pela União, a quem compete a educação na capital do país, uma
ação supletiva onde quer que haja deficiência de meios e a ação
fiscalizadora, coordenadora e estimuladora pelo Ministério da
Educação. c) O sistema escolar deve ser estabelecido nas bases de
uma educação integral; em comum para os alunos de um e outro
sexo e de acordo com suas aptidões naturais; única para todos, e
leiga, sendo a educação primária (7 a 12 anos) gratuita e obrigatória;
o ensino deve tender progressivamente à obrigatoriedade até os 18
anos e à gratuidade em todos os graus. II. Organização da escola
secundária (12 a 18 anos) em tipo flexível de nítida finalidade social,
como escola para o povo, não preposta a preservar e transmitir as
culturas clássicas, mas destinada, pela sua estrutura democrática, a
ser acessível e proporcionar as mesmas oportunidades para todos,
tendo, sobre a base de uma cultura geral comum (3 anos), as seções
de especialização para as atividades de preferência intelectual
(humanidades e ciências) ou de preferência manual e mecânica
(cursos de caráter técnico) [...](AZEVEDO, s.d. p. 88-90 apud
RIBEIRO, Maria Luisa Santos, 1993, 108-110).

O Manifesto dos Pioneiros traz um sistema educacional diferenciado, na qual


vê-se a importância de se educar tanto homens quanto mulheres. Apesar de ainda
ser uma pedagogia mais tradicional e com conceitos preconceituosos sobre aptidões
naturais de homens e mulheres, ela fora um grande avanço na época no quesito
16

educacional que o Brasil estava vivendo, se tornando também uma ferramenta


política.
Filho (2005) asserta sobre a Constituição Federal de 1934, que traz diversas
novidades na questão educacional, como a criação de instituições privadas de
ensino, a importância de o ensino ser integral, dos professores serem bem
remunerados e dos profissionais que atendem nas escolas públicas serem
escolhidos a partir de concursos públicos, além de compreender a necessidade da
criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
Porém, com o Golpe que Vargas dera em 1937, a Constituição se modificou e
instaurou-se uma ditadura no país. Filho (2005, p.10 e 11) afirma que
Um capítulo especial para a educação e a cultura (artigos 128 a 134)
é mantido. Entretanto, a obrigação do Estado em matéria de
educação fica muito modesta. Assim é que, logo de saída, o artigo
128 afirma ser “dever do Estado contribuir, direta e indiretamente,
para o estímulo e desenvolvimento de umas e de outras favorecendo
ou fundando instituições artísticas, científicas e de ensino.”
Desaparece a exigência de um plano nacional de educação. A
obrigação do poder público é, apenas, para aqueles que
demonstrarem insuficiência de recursos para se manter numa escola
particular. Nesse sentido, o ensino profissional passa a ser a
principal obrigação do Estado em matéria de educação e destina-se
“às classes menos favorecidas” (artigo 129)

A Constituição de 1937 alterou o cenário educacional no Brasil, optando por


oferecer a educação pública as pessoas menos favorecidas e que não pudessem
pagar pelo ensino privado, criando, dessa forma, a responsabilidade do melhor
ensino em escolas particulares, deixando as escolas públicas para os ditos
“marginalizados”.
Em 1945, Vargas acaba sofrendo um golpe e saí do poder. Com a saída de
Vargas, há diversas mudanças no cenário político brasileiro, incluindo a educação.
Filho (2005, p.17) discorre sobre mudanças na Constituição Federal de 1946
I – O ensino primário é obrigatório e só será dado na língua nacional;
II – O ensino primário oficial é gratuito para todos, o ensino ulterior ao
primário sê-lo-á para quantos provarem falta ou insuficiência de
recursos; III – As empresas industriais, comerciais e agrícolas, em
que trabalhem mais de cem pessoas, são obrigadas a manter ensino
primário gratuito para seus servidores e os filhos destes; IV – As
empresas industriais e comerciais são obrigadas a ministrar, em
cooperação, aprendizagem para seus trabalhadores menores, pela
forma que a lei estabelecer, respeitados os direitos dos professores.
17

A Constituição de 1946 estabelece que o ensino primário deve ser gratuito a


todas as pessoas, independente de sua colocação social, mas, o ensino secundário
só será público e gratuito àqueles que não tem condições financeiras para custear o
ensino, e, a CF trata também da importância de manter os filhos dos trabalhadores
na escola, assegurando-os seus direitos.
Vê-se que a educação avançou em diversos aspectos, porém, viu-se também
que apesar de os esforços, não foi possível estabilizar e estabelecer uma educação
pública e de qualidade a todas as pessoas nesse período, terceirizando assim, o
processo educativo.
No próximo tópico, iremos abordar a Educação de Jovens e Adultos, como o
seu contexto, sua necessidade, o porquê da criação e da necessidade dessa
modalidade para que os grupos de jovens e adultos tivessem oportunidades de
ingressar na educação mesmo não obtendo a idade convencional para as
respectivas séries de ensino.

1.3 A Educação de Jovens e Adultos: sua história e necessidades

A EJA é uma modalidade da educação que possui inúmeras especificidades.


Por se tratar de um público que não acompanhou a idade/série presente no ensino
regular brasileiro, ela possui metodologias diferentes, horários diferentes e seu perfil
de estudantes é diversificado.
O início da história da educação de jovens e adultos ocorre no Brasil em
1947, dois anos após Vargas sair do poder e um ano após a nova Constituição. De
acordo com Ribeiro, Fernandes e Santos (2013, p.5)
Em 1947, foi lançada a Campanha de Educação de Adultos e
Adolescentes – CEAA, primeira Campanha regulamentada pelo
Fundo Nacional de Ensino Primário – FNEP. Nessa época o Brasil já
possuía mais de 50% de adultos analfabetos. Esta Campanha
recebeu forte influência da UNESCO, no entanto, ela não nasceu
com exclusiva interferência desta organização. Já existia no cenário
brasileiro a necessidade de alfabetização de adolescentes, de jovens
e de adultos, basicamente por conta dos processos de
industrialização, de urbanização e da formação de eleitores,
articulada ao movimento em defesa da cidadania política desses
sujeitos.

A CEAA foi criada com o intuito de amenizar o analfabetismo presente no


cenário brasileiro, onde mais de 50% da população adulta do país era analfabeta,
18

reflexo das diversas mudanças no âmbito educacional brasileiro e da negligência em


relação as necessidades dos adultos para além do trabalho nas fábricas.
Ribeiro, Fernandes e Santos (2013, p.5) atestam que
Para esta campanha foi utilizado o “Método Laubach” de origem
norteamericana. Esse método silábico foi adotado no primeiro guia
de leitura distribuída pelo Ministério da Educação para as escolas
supletivas. As lições eram organizadas a partir de palavras chaves,
agrupadas segundo suas características fonéticas. As sílabas
deveriam ser memorizadas e remetidas a outras palavras, para
formar pequenas frases. Nas atividades finais, as frases que
apareciam nas lições anteriores formavam textos pequenos com
orientações de preservação da saúde, técnicas simples de trabalho e
mensagens de moral e civismo. Vale lembrar, que pela primeira vez,
esse método inspirou a iniciativa do MEC em produzir material
específico para o ensino de leitura e escrita para adultos.
O método inicial utilizado para a EJA foi importado dos EUA, e, era um
método fonético, onde separavam-se as sílabas e iam-se formando novas a partir da
separação daquelas sílabas. Esse método era o mais inovador da época, e, por
esse motivo, foi utilizado para suprir a necessidade do momento.
Strelhow (2010, p.53) discorre sobre outro motivo do início da EJA no país
Outro fator, que contribuiu à uma educação de massa, é a
consideração da pessoa analfabeta como ignorante, incapaz, cabeça
dura, sem jeito para as letras. Nesse caso, as pessoas adultas que
não fossem alfabetizadas deveriam receber a mesma educação
empregada na educação de crianças, pois esses adultos
analfabetos estavam inaptos a compreender. Mas ao mesmo
tempo que se considerava adultos como crianças, tinha-se a ideia de
que os adultos eram mais fáceis de alfabetizar, por isso, os
alfabetizadores não necessitariam de formação especializada,
qualquer pessoa alfabetizada poderia exercer a função de maneira
voluntária.

Por trás do discurso da importância de se erradicar o analfabetismo, via-se


um preconceito sobre aqueles que não possuíam o conhecimento letrado, pois,
quem não sabia ler e escrever era considerado atrasado, ignorante, e, por esse
motivo, se atrasava também o desenvolvimento do país por conta dessas pessoas
que não estavam inseridas no mundo letrado.
A necessidade de se ter professores especialistas na Educação de Jovens e
Adultos levou décadas para acontecer, pois, a partir do momento em que
compreendeu-se de forma clara a importância da EJA para os estudantes e para a
sociedade, mudou-se também o ideal do profissional que deveria guiar a educação
dos jovens e dos adultos.
19

No final da década de 50, Paulo Freire idealizou uma diferente forma de


educar os jovens e adultos, trazendo um ato mais político para a EJA e para as
necessidades da população que não foram alfabetizadas na idade correta.
Ribeiro, Fernandes e Santos (2013, p.6) afirmam que
Através dessas inovações pedagógicas, surgiram movimentos e
iniciativas oficiais e não oficiais no cenário educacional de Jovens e
Adultos, que antes era visto só como um processo de alfabetização
para o trabalho. Tais iniciativas contribuíram para a criação de um
novo modelo pedagógico de educação ligado aos grupos populares e
movimentos sociais da época, valorizando a cultura das camadas
populares da sociedade civil, buscando a alfabetização e a produção
cultural em uma ótica popular.

A partir do momento em que se inclui de fato a população analfabeta em sua


educação, a realidade e a importância da educação dos mesmos também se
modificam. Partir do pressuposto que adultos são crianças na questão cognitiva da
aprendizagem, fere a individualidade do desenvolvimento e das situações já vividas
e compartilhadas por eles, por isso foi fundamental a mudança na ideia da educação
de jovens e adultos e na compreensão de suas especificidades.
Strelhow (2010, p.54) atesta que
Chegamos à um dos momentos mais negros da história brasileira, o
Golpe Militar de 1964. Com o Militarismo, os programas que
visavam a constituição de uma transformação social foram
abruptamente interrompidos com apreensão de materiais, detenção e
exílio de seus dirigentes. Retoma-se, nessa época, a educação
como modo de homogeneização e controle das pessoas. O governo
militar, então, criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização
(Mobral), em 1967, com o objetivo de alfabetizar funcionalmente
e promover uma educação continuada. Com esse programa a
alfabetização ficou restrita à apreensão da habilidade de ler e
escrever, sem haver a compreensão contextualizada dos signos.

Mesmo após o movimento da Pedagogia Libertadora que teve como


idealizador Paulo Freire, no golpe militar de 1964, houve um retrocesso em relação a
educação de jovens e adultos, criando-se o MOBRAL, que tinha como intuito apenas
alfabetizar os adultos analfabetos, ensinando-os o básico da leitura e escrita, sem
um movimento crítico por trás dela.
Beserra e Barreto (2014, p.180) afirmam sobre as necessidades do público
que frequenta a EJA
Os jovens e adultos trabalhadores lutam para superar suas
condições precárias de vida (moradia, saúde, alimentação,
transporte, emprego, etc.) que estão na raiz do problema do
analfabetismo. O desemprego, os baixos salários e as péssimas
20

condições de vida comprometem o processo de alfabetização de


jovens e adultos.

Em muitos casos, as crianças e os jovens precisam abandonar sua vida


escolar para trazer sustento a sua casa, ou ajudar nesse sustento. Quando há essa
necessidade, a vida escolar e a aprendizagem científica acabam sendo deixadas de
lado, pois, a necessidade maior vem ser a suprir as necessidades fisiológicas de sua
família.
Por esse motivo, a EJA deve levar em consideração o contexto no qual a
pessoa está inserida. Sua realidade, dificuldades, motivações, anseios e
perspectivas ao adentrarem em uma instituição de ensino devem ser levadas em
conta, ouvidas e assistidas, para que dessa maneira a educação passe para além
da alfabetização somente.
O MOBRAL foi um retrocesso em relação a educação de jovens e adultos,
desconsiderando o esforço e os estudos de Paulo Freire e a participação dos
Movimentos Sociais dentro dessa necessidade educacional brasileira.
Strelhow (2010, p.55) afirma que
Com o fim do Mobral em 1985, surgiram outros programas de
alfabetização em seu lugar como a Fundação Educar, que estava
vinculada especificamente ao Ministério da Educação. O seu papel
era de supervisionar e acompanhar, junto às constituições e
secretarias, o investimento dos recursos transferidos para a
execução de seus programas. No entanto, em 1990, com o Governo
Collor, a Fundação Educar foi extinta sem ser criado nenhum outro
projeto em seu lugar.

Com o processo de redemocratização, após o fim da Ditadura Militar em


1985, o MOBRAL foi extinto e abriu-se espaço para novas formas e possibilidades
dentro da Educação de Jovens e Adultos, porém, mesmo com a Constituição
Federal de 1988, no governo Collor, em 1990, o governo federal acabou deixando
de lado novamente a EJA e suas necessidades.
A partir da Pedagogia Libertadora defendida por Paulo Freire e por
compreender que a EJA devia partir de temas geradores que partissem da realidade
dos educandos, houve-se diversos movimentos de conscientização da importância
da educação de jovens e adultos e da necessidade da erradicação do
analfabetismo.
Portanto, a história da Educação de Jovens e Adultos teve suas
instabilidades, e, ainda segue sendo renegada em muitos casos, não compreendida
21

em suas especificidades e nas necessidades educacionais da faixa etária que a


frequentam, que se difere das outras modalidades e etapas da educação como um
todo.
22

IIMÉTODOS DIDÁTICOS PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Este capítulo tem como objetivo apresentar quais são os métodos didáticos
utilizados para a Educação de Jovens e Adultos, quais suas diferenças dos métodos
utilizados nas outras modalidades e etapas da educação e qual a importância
desses métodos para o bom desenvolvimento cognitivo, social, físico e mental dos
estudantes que frequentam a EJA.

2.1 Métodos didáticos para a Educação de Jovens e Adultos

A EJA, por ser uma modalidade educacional que se difere das demais,
precisa ter também diferentes métodos em seu processo de aprendizagem.
Comparar a forma de aprender do adulto e da criança demonstra incapacidade da
parte gestora da escola e dos profissionais que nela atuam, e por isso, faz-se
necessário profissionais especializados na Educação de Jovens e Adultos para que
ela funcione da melhor maneira possível.
De acordo com Freitas (2020, p.2)
Se conseguirmos implementar dentro do processo de ensino e
aprendizagem as estratégias e métodos inovadores, conseguiremos
desenvolver um ambiente onde os alunos passarão a se sentir
motivados e incentivados e, consequentemente, serão criadas
condições que lhes dê suporte para uma experiência de mais
autonomia, competência e interação com os colegas, promovendo a
mais alta motivação e engajamento, incluindo auto-regulação para a
aprendizagem, melhor desempenho acadêmico, determinação na
aprendizagem, criatividade, desenvoltura e bem-estar.

Quando a metodologia é pensada e usada para a faixa etária dos estudantes,


isso faz com que eles criem maior consistência em seu ensino e se sintam mais
motivados a estudar, e não só aprender a ler e escrever. Quando há motivação dos
estudantes, há vontade de verdadeiramente aprender aquele assunto, além de os
permitirem serem mais autônomos e auto-regulados em sua aprendizagem.
Todavia, ainda vemos de forma bastante explícita que as aulas na EJA são
feitas no modo tradicional, de forma expositiva, na qual o professor é o detentor
daquele saber e os estudantes estão ali para assimilar os conteúdos de forma
passiva. Porém, Paulo Freire em seus diversos estudos demonstrou que a
metodologia na educação de jovens e adultos deve ser ativa, partindo da realidade
daquele sujeito, ouvindo e acolhendo suas histórias, e a partir dessas vivências,
23

ministrar uma aula dialógica, passível de diversas situações e com ricas


contribuições.
Santos (2016, p.8) afirma que
Algumas das justificativas dos alunos para a desistência na EJA é a
falta de relação entre os conteúdos escolares e a aquilo que eles
vivenciam na sociedade, a metodologia somente centrada nas aulas
expositivas. Por isso, esse trabalho pretende trazer contribuições aos
docentes da EJA, uma proposta de trabalhar com metodologias
diferenciadas que enfatizem a interdisciplinaridade entre os
conteúdos para motivar os alunos e minimizar a evasão escolar.

Mesmo os estudantes da EJA desejando a educação de forma concisa e


compreendendo a necessidade da mesma em suas vidas, em muitos casos a
metodologia utilizada para a educação desses adultos e jovens acaba-os fazendo
desistir de sua escolha, pois, suas vivências, situações e histórias não são levadas
em consideração no momento da aula.
A partir do momento em que as disciplinas são colaboradas, ensinadas entre
si, vê-se uma maior motivação por parte dos estudantes, pois, a partir do momento
em que as disciplinas interagem entre si, os estudantes veem que os assuntos se
interligam, e isso traz maior regulação e motivação.
Santos (2016, p10) discorre que
Desse modo, a interdisciplinaridade é o diálogo entre as disciplinas,
trabalhando conteúdos de diversos pontos de vista despertar o
interesse do aluno e conseguir efetivar a aprendizagem. Para que
isto ocorra, é preciso disposição dos professores em estar sempre
compartilhando com seus pares os conteúdos a serem trabalhados,
as aulas sendo bem planejadas e todos envolvidos no processo
educativo.

Os professores precisam trabalhar em conjunto para que a educação de


jovens e adultos desenvolva o estudante em seus diversos momentos de
aprendizagem, possibilitando uma correlação dos assuntos estudados e das
necessidades provenientes dos estudantes.
Mello (2010, p.192) afirma que
Esse processo de reorientação da política de EJA traz como uma de
seus reflexos a redefinição do lugar dos materiais didáticos no
projeto político pedagógico para a EJA. A produção de materiais
didáticos para a EJA ganha outra perspectiva, sendo pensada de
forma a envolver produções coletivas, em processos participativos e
tendo como princípios a flexibilidade e interdisciplinaridade. Sob essa
orientação, o DEJA desenvolve a elaboração de um projeto de
elaboração de material didático inovador que, de certo modo,
24

caminhava na contramão da continuidade do ENCCEJA, e das


reimpressões do material didático conduzidas pelo INEP.

Os métodos didáticos para a EJA foram repensados, partindo do ENCCEJA,


do INEP e modificando as visões anteriores sobre o uso de materiais didáticos e de
metodologias que de fato atendessem o estudante que estava em sala de aula para
aprender a ler não somente as letras, mas também o mundo ao seu redor.
Os professores precisam rever seus conceitos e forma de ministrar as aulas,
pois, não se está trabalhando com crianças, e sim com adultos e jovens, que
possuem uma vasta experiência de vida, perpassando por diversas situações e
momentos diversos em suas vidas.
Freitas (2020, p.12) afirma que
Os professores que reconhecem e apreciam os ajustes necessários
para proporcionar oportunidades diversificadas a esse segmento são
os mais eficazes em envolver os alunos adaptando suas atividades,
metodologia de ensino e avaliação de acordo com a realidade. Não
se trata de 'baixar padrões', 'enfraquecer o conteúdo' ou 'dar
palestras para envolver a participação' na aprendizagem. Ao
contrário, trata-se de encontrar caminhos diferentes para o sucesso e
buscar, através da inovação nas estratégias de ensino, atender às
expectativas desse grupo de alunos jovens e adultos cada vez mais
diversificados.

O professor optar por modificar a forma que se ministra o conteúdo aos


estudantes demonstra que o profissional possui interesse em garantir uma educação
de qualidade aquele indivíduo, pois, o profissional respeita a história de vida e as
vivências do estudante que adentra em sua sala de aula, mostrando respeito, força,
admiração e amor pelo o que faz.
Os métodos didáticos mais conhecidos para a educação de jovens e adultos
são os cadernos de EJA e ENCCEJA, como afirma (Mello, 2010. p.194) a seguir
As coleções Cadernos de EJA e ENCCEJA foram formuladas pelo
poder público especificamente com o objetivo de atender a EJA, mas
de formas distintas. A coleção ENCCEJA foi formulada com o
objetivo de servir de material didático destinado a dar suporte aos
alunos que se inscreverem no Exame Nacional de Certificação de
Competências de Jovens e Adultos – ENCCEJA. A coleção
Cadernos de EJA foi elaborada para uso no Ensino Fundamental de
jovens e adultos, da alfabetização até a 8ª série, com foco nas
escolas públicas. Estas finalidades distintas em relação ao público da
EJA refletem-se na forma como se estruturaram materialmente as
duas coleções. Enquanto a Coleção ENCCEJA tem uma proposta da
organização articulada ao exame, e define sua estrutura de forma
híbrida pelas áreas de conhecimento adotadas no modelo do
ENCCEJA, a Coleção Cadernos de EJA apresenta uma proposta de
25

organização pedagógica dos conteúdos de aprendizagem em torno


de eixos temáticos, tendo o trabalho como eixo integrador, rompendo
com a organização dos livros pela matriz curricular por disciplina ou
área.

Os livros didáticos do ENCCEJA são voltados para as provas que o estudante


realiza para adquirir a conclusão do ensino fundamental ou médio. Ao realizar a
prova, o estudante da EJA não necessita passar pelas salas de aula e as disciplinas.
Ele pode avançar etapas, e, dessa forma, conseguir a sua tão sonhada conclusão
na educação básica.
Portanto, vemos que os métodos didáticos utilizados na EJA devem partir do
pressuposto da história de vida, anseios, medos e sonhos dos estudantes que
adentram nas instituições.
Faz-se necessário partir das vivências daquele estudante, da
interdisciplinaridade e de métodos que facilitem o processo de ensino-
aprendizagem, para que o alunado da EJA não aprenda somente a codificar e
decodificar as palavras, mas que eles também compreendam a importância da sua
história e de quão forte eles são por enfrentar os preconceitos e dificuldades para
concluir algo que é direito inegável de todos: a educação.
No próximo tópico, iremos trabalhar como as tecnologias educacionais, se
usadas de forma correta e com consciência, auxiliam no processo de aprendizagem
de jovens e adultos.

2.2 Tecnologias Educacionais e a Educação de Jovens e Adultos.

As Tecnologias Educacionais são ferramentas de grande valia no processo de


aprendizagem, seja durante a infância, a adolescência e até mesmo na fase adulta.
Os smartphones, notebooks, tablets e diversos outros materiais pedagógicos estão
presentes em nosso dia a dia, e não obstante, também estão presentes nas salas de
aula e na casa de grande parte dos brasileiros.
Apesar dos aparatos tecnológicos estarem mais acessíveis, muitas pessoas
não possuem condição financeira para obter tal objeto, além de fatores como o
analfabetismo e analfabetismo digital interferirem de forma direta na utilização das
novas tecnologias.
Silva, Alves e Fernandes (2021, p.5) afirmam que
26

A inserção das tecnologias da informação e comunicação nas


instituições de ensino tem sido relevante nos últimos anos.
No entanto, algumas escolas não possuem ferramentas
tecnológicas suficientes e também nem todos os
professores estão qualificados para fazerem uso dessas
tecnologias adequadamente, necessitando, portanto, de políticas
públicas que garantam investimentos em infraestrutura,
equipamentos tecnológicos e formação continuada para os
professores.

As escolas precisam dos materiais certos para que haja uma alfabetização
digital e uma maior interação entre os estudantes e a escola com as tecnologias
educacionais, proporcionando maior interação, aprendizagem, e um ensino mais
dinâmico, capaz de prender a atenção dos estudantes de forma crítica e consciente.
Em relação as tecnologias, Tostes e Costa (2016, p.7) afirmam que
A relação dos jovens e adultos com as tecnologias é bastante ativa,
seja pelo uso do celular e/ou acesso à internet, via redes sociais
como o facebook, o twitter, entre outros. Geralmente, as pessoas
parecem estar conectadas o tempo todo, basta observar o entorno e
percebemos a atenção dos indivíduos dirigida para um aparelho de
celular, seja para conversar ou ouvir música.

As ferramentas, quando utilizadas de forma crítica e propiciando maior


conhecimento e desenvolvimento de habilidades em seus estudantes, possibilita
conexão entre educador e educando e educando com educando, abrindo novos
leques de interação e de compartilhamento da aprendizagem.
Tostes e Costa (2016, p.10) afirmam que
Há inúmeras formas de fazermos uso das novas tecnologias, como
trechos de filmes, áudios, imagens, redes sociais, laboratório de
informática, Portal Dia a Dia Educação, Portais Educacionais, entre
outros.

Em alguns casos, estudantes da educação de jovens e adultos ainda não


adquiriram a leitura, o que dificulta o uso de tecnologias educacionais, porém, como
dito pelas autoras acima, o educador deve mediar essa situação e prover situações
de aprendizagem onde mesmo que o estudante adulto ou jovem esteja no processo
de alfabetização, as tecnologias educacionais possam fazer parte da aprendizagem.
Quando o estudante da EJA já está alfabetizado, o uso das mídias sociais faz
com que ele se sinta motivado, além de permitir com que ele se alfabetize de forma
digital, ampliando seus conhecimentos, seus desejos e suas vontades, o que faz
com o que o estudante se torne confiante e capaz de superar barreiras que tenham
sido impostas a eles anteriormente.
27

Ferramentas como Google Drive, Google Classroom, PowerPoint, Word,


YouTube entre diversas outras, quando utilizadas para fins didáticos planejados,
auxiliam na aprendizagem do estudante da EJA, possibilitando e propiciando novos
ambientes e novas oportunidades em relação a sua aprendizagem.
Araújo e Barcelos (2021, p.10) afirmam que
O Google Drive é uma ferramenta adotada recentemente por todos
os profissionais, através de uma determinação da “Instituição”.
Através dela, é possível salvar, compartilhar e editar arquivos na
rede da Instituição. As redes sociais são frequentemente utilizadas
pelos professores e alunos para compartilhar os projetos produzidos
ao longo das aulas, além de ser uma ferramenta de comunicação
muito importante entre escola e aluno.

O Google Drive possibilita a interação ao vivo entre os educandos e os


educadores, permitindo com que todos consigam ver as alterações feitas no
trabalho, na resenha ou nas anotações, quando compartilhados entre eles. Essa
ferramenta possibilita com que todos trabalhem em conjunto e compartilhem
informações e ideias, propiciando um ambiente agradável de aprendizagem.
É necessário que os profissionais da educação compreendam a necessidade
de se atualizarem e de se trabalhar incluindo a tecnologia como um ponto importante
no desenvolvimento de seus estudantes.
Araújo e Barcelos (2021, p.14) afirmam que
Para que os professores conheçam novas ferramentas e se
interessem em aplicá-las em sala de aula são necessárias iniciativas
em conjunto com a equipe pedagógica a fim de conscientizar e
fornecer recursos para que estes docentes possam ampliar a
utilização de tecnologias educacionais no contexto da sala de aula.
Para tal, sugere-se como iniciativa a apresentação das ferramentas
tecnológicas, bem como suas facilidades, vantagens, benefícios para
agregar conhecimento nas aulas.

O educador também precisa conhecer as tecnologias educacionais para


ofertar aos seus estudantes um ensino de qualidade, capaz de propiciar um
desenvolvimento cognitivo, moral e social em seus estudantes se utilizando das
TIC’s, pois, a partir do momento em que se utilizam diversos materiais didáticos e
ferramentas didáticas para o processo educativo, as situações de aprendizagem se
tornam mais significativas e prazerosas aqueles que ensinam e aos que estão
aprendendo.
A EJA possui um caráter profissionalizante, pois, a partir dela, muitos jovens e
adultos conseguem ingressar no mercado de trabalho, possibilitando inclusão de
28

fato a essas pessoas dentro do mundo letrado, o que permite mudanças de vida e
novas aprendizagens.
Por isso, se faz tão importante a utilização de tecnologias educacionais e de
materiais didáticos consistentes com essa modalidade da educação, pois, se
utilizando delas no ensino profissionalizante, além do educando sair com
conhecimentos prévios e científicos, ele adquire habilidades tecnológicas que
propiciam empregos melhores e condições de vida melhores a eles.
Araújo e Barcelos (2021, p.15) continuam a afirmar que
Assim, acredita-se que novas tecnologias podem ser potencializadas
e inseridas nas aulas da EJA Profissionalizante, motivando e
engajando os professores e alunos durante a execução dos projetos
elaborados durante o ano letivo. Esta proposta de inserção de novas
tecnologias tem como principal objetivo desenvolver as competências
de organização, inovação e planejamento dos professores em sala
de aula.

Os estudantes precisam se sentir ativos e participantes de fato da sua


aprendizagem. Quando se há uma mudança em relação a organização da sala,
metodologias mais ativas, instrumentalização para a autonomia na aprendizagem e
também ensinamentos sobre a autor-regulação da aprendizagem, o estudante
observa e percebe a importância de se educar a partir de novas possibilidades e
ferramentas.
Mas, como todo e qualquer aparato didático, as tecnologias devem ser
utilizadas de forma consciente por parte dos educadores e dos educandos. De nada
adianta trazer às salas de aula smartphones, tablets, notebooks e outros objetos se
a prática realizada com eles não for planejada, pensada de uma forma que traga
aprendizagem de fato, e mais do que isso, aprendizagem significativa.
Perfeito (2020, p.13) atesta que
A utilização do computador assim como de qualquer outra tecnologia,
necessita de uma reflexão crítica sobre o valor de sua utilização
como ferramenta pedagógica, levando os professores a confrontarem
suas ideias e verdades, e, assim, a iniciar um processo de mudança
em suas metodologias pedagógicas. Isso porque os alunos se
sentem atraídos pelo uso do computador, que se utilizado sob a
orientação de um professor preparado para tal, pode proporcionar
aos alunos a possibilidade de melhor uso das tecnologias, passando
a se responsabilizarem pela produção e aquisição do seu próprio
conhecimento.

Portanto, as tecnologias educacionais são fundamentais para um bom


desenvolvimento por parte dos educandos e dos educadores, pois, se utilizando
29

delas, se inova nos materiais didáticos, nos métodos didáticos e também permite
com que os educandos aprendam novas ferramentas não só profissionais, mas
também de interação, socialização e percepção do mundo com as suas sempre
recentes mudanças.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com esse trabalho, foi possível perceber como a EJA se difere das outras
modalidades da educação e como seus métodos didáticos e materiais devem ser
pensados de uma forma diferenciada para o alunado que frequenta a educação de
jovens e adultos.
O Brasil perpassou por diversos momentos em relação a educação e suas
necessidades, com muitas variáveis, incertezas e mudanças bruscas em pouco
tempo. Durante muitas décadas, a educação dada aos jovens e adultos não tinha
um teor crítico, mas sim, um teor de mera reprodução da escrita e da leitura, sem
permitir com que os educandos pudessem partir do pressuposto que suas vivencias
são importantes para seu desenvolvimento educacional e para seu processo de
aprendizagem, seja na alfabetização ou também na continuação das séries da
educação básica.
A EJA é uma necessidade do país de reverter toda a problemática
envolvendo a história educacional brasileira, na qual quem não sabia ler e escrever
era considerado como um atraso, um ignorante que atrapalhava o desenvolvimento
do país, mas, vê-se que não é dessa forma que ocorre os atrasos econômicos,
sociais e culturais do país.
Faz-se necessário compreender que as vivencias dos educandos é parte viva
e integrante do processo educacional, pois, a partir do momento em que as histórias
são compartilhadas, pode-se trabalhar de forma interdisciplinar todos os conteúdos a
serem ministrados, alcançando novas ideias, conceitos, oportunidades e situações
de aprendizagem.
A educação de jovens e adultos existe porque, por conta das diferenças
sociais e econômicas que temos em nosso país, muitos jovens e adultos
(principalmente idosos) não tiveram oportunidade de prosseguir seus estudos, pois,
em muitos casos, houve-se a necessidade de parar de estudar para trazer sustento
a sua casa e a sua família, deixando a educação em segundo plano.
30

Por muitas décadas, os adultos, e principalmente os idosos não eram vistos


como pessoas que também precisariam ser educadas de acordo com suas
vivências, oportunidades e situações. A educação era deixada para as crianças e
adolescentes, filhos da nobreza, e após a república, para os filhos das classes mais
abastadas do país.
Ainda se tem muito preconceito e dúvidas em relação a EJA, principalmente
na forma que a educação desses jovens e adultos deve ser ministrada. O
preconceito ocorre porque a sociedade acredita que se algumas pessoas não foram
educadas nas escolas na idade correta, não há sentido em elas estarem procurando
reverter o “tempo perdido” indo atrás dos seus desejos, motivações e de sua
educação.
A EJA ganhou força com Paulo Freire, pois, ele sabia da necessidade de se
educar a classe trabalhadora para que ela compreendesse a sua importância na
sociedade e como o seu trabalho era fundamental para não só o sustento de suas
famílias, mas sim para a economia de todo o país.
Com a Ditadura Militar, houve um retrocesso na educação de jovens e
adultos, supondo que ensinar somente a decodificar as letras, os adultos
analfabetos já teriam mais que o necessário na questão educacional, mas, sabemos
que somente isso não é o suficiente para que haja verdadeira aprendizagem e
desejo pela educação.
Os adultos trabalhadores possuem sonhos, vontades, desejos e opiniões
próprias. A sua educação não deve ser a mesma ministrada as crianças que estão
na primeira infância, pois, isso seria diminui-los, rebaixar a capacidade cognitiva que
eles possuem, que se difere e muito da capacidade cognitiva das crianças.
O fato deles não saberem ler e escrever, não faz com que a inteligência
desses jovens, adultos e idosos sejam postos a prova de forma preconceituosa,
como muito se faz. Como Paulo Freire disse, a partir dos Temas Geradores, que são
pegar palavras do cotidiano daqueles indivíduos e realizar novas palavras a partir da
separação silábica daquelas palavras tão vistas, conhecidas e sentidas por eles
durante toda a sua vida.
Portanto, a EJA é um ato de coragem e amor pela educação e por aqueles
que não concluíram a escola na idade correta e pelos profissionais que se
empenham em realizar um excelente trabalho.
31

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