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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

EXEGESE DO NOVO
TESTAMENTO

FATESB- Faculdade de Educação


Teológica Fonte de Belém

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

EDITORA FATESB

INDICE CATALOGRÁFICO

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3ª. Edição: Junho de 2021 nesta Edição 2015 – FATESB.
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(FATESB).

FATESB
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO
3º Edição. São Paulo : Editora FATESB. 2021.193 p

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Pr. Cleber Nascimento Tojo Santos – ThB


 Ministro do Evangelho
 Ligado a Convenção COMADESP – CGADB – Nº
6702
 Leciona Teologia desde 2006
 Pastor Presidente da AD – Chácara São Silvestre
 Reitor da FATESB
 Presidente do Conselho de Pastores Copel São
Paulo SP
 Escritor e Conferencista

A FATESB ministra os seguintes cursos:

 Básico em Teologia
 Médio em Teologia
 Bacharelado em Teologia

 Direitos reservados por FATESB – Faculdade de


Educação Teológica “FONTE DE BELÉM”

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FONES: (11) 9.7421-9639

 Fundada em 1996 por:

 Pr. Aldemário Alves Brandão – Th,B; Th,M

 Fundador da FATESB em 1996

 Escritor , Colunista e Conferencista

 Presidente do Conselho de Educação e Cultura

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EXEGESE DO NOVO
TESTAMENTO

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO

INTRODUÇÃO:

O Dicionário Teológico diz que: Exegese: deriva-


se do grego: Eκ +εγνομαι , = Ek + egéomai, penso,
interpreto, arranco para fora do texto. É a pratica da
hermenêutica sagrada que busca a real interpretação dos
textos que formam o Antigo e o Novo Testamento. Vale-se,
pois, do conhecimento das línguas originais (hebraico,
aramaico e grego), da confrontação dos diversos textos
bíblicos e das técnicas aplicadas na linguística e na
filosofia.

“A bíblia é ao mesmo tempo humana e divina,


exige de nossa parte a tarefa de interpretá-la”.

Todo pregador do evangelho deve, por obrigação,


dominar as técnicas básicas da exegese, sob pena de trair o
real sentido do texto sagrado a ser explanado e de ser um
disseminador de heresias, portanto se você ainda não
domina a arte de interpretar e compreender o texto, deve
então começar agora, pelo básico.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

IMPORTANCIA DA EXEGESE BÍBLICA

Contraste com Eisegese

Temos provido um artigo separado sobre a


Eisegese. Eisegese significa ler no texto aquilo que alguém
quer encontrar ali, mas que, na realidade, não se encontra
no mesmo, ou então significa distorcer um texto para
adaptá-lo às próprias idéias do intérprete. Portanto, o
quanto a exegese é séria, a eisegese não passa de uma
burla. A maioria das pessoas que se envolve na exegese
também prática alguma eisegese.

No Antigo Testamento

Os sacerdotes eram as intérpretes oficiais da lei


mosaica (g 2.10-13). Os escribas eram seus sucessores.
Usualmente provinham da seita dos fariseus, que foi
única seita judaica que conseguiu sobreviver à destruição
de Jerusalém, no ano 70 d.C. Exegese, eisegese e uma
vivida e criativa imaginação criaram o Talmude, as
interpretações rabínicas do Antigo Testamento, bem como
as produções literárias sobre os costumes, a cultura e a lei
dos judeus.

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Eles apelavam muito para a interpretação alegórica,


o que abre espaço para os maiores absurdos e fantasias.
Esse método também transparece nos escritos de Filo ,
onde alcançou grande desenvolvimento.

No Novo Testamento

Os autores do Novo testamento nem sempre


empregaram os textos citados do Antigo Testamento de
maneira literal, mas injetaram alguma eisegese. Não
obstante, há muita exegese autêntica do Antigo
Testamento, no Novo, sobretudo no que tange à esperança
messiânica. Algumas passagens empregam a alegoria. Ver
1 Co 9.9,10 e Gl 4.21-31.

Após o Novo Testamento

Prosseguiu então a atividade dos intérpretes


literalistas e alegoristas. Orígenes exerceu tremenda
influência sobre o cristianismo antigo; e ele e os pais
alexandrinos da Igreja deram prosseguimento ao método
alegórico de interpretação.

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Orígenes procurava pelos sentidos literal, moral,


simbólico, alegórico e místico das passagens, supondo que
um texto qualquer poderia ter vários sentidos tencionados.

Passagens morais difíceis, do Antigo Testamento,


como a história da criação e as violências supostamente
ordenadas por Deus eram por eles interpretadas simbólica e
moralmente, mas não literalmente. A escola de Antioquia,
por sua parte, insistia em uma interpretação um tanto mais
literal dos textos sagrados.

Na Idade Média

Nesse período da história, a opinião de geral dos


exegetas, como Pedro Lombardo e Tomás de Aquino, era
que a interpretação incorpora quatro modos básicos:

a) interpretação literal;

b) interpretação figurada ou alegórica;

c) interpretação moral;

d) interpretação analógica ou espiritual (mística).

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Esta última forma explicaria os segredos


sobrenaturais.

Durante a Reforma Protestante

Com sua mentalidade de retorno à Bíblia, a reforma


frisava a comparação da Bíblia com a Bíblia, ou seja, a
interpretação de um dado texto bíblico mediante o apelo a
outros textos bíblicos (Scriptura interpres sccripturae).
Todavia, os reformadores também tinham os seus
preconceitos, não se tendo livrado das tradições e das ideias
doutrinárias dogmáticas e fixas. Nisso, eles não se
distanciavam muito dos intérpretes católicos romanos,
apesar dos protestos em contrário. Contudo, entre os
protestantes começou a impor-se uma abordagem bíblica
um tanto mais literal, com a diminuição da importância das
abordagens alegóricas e puramente dogmáticas.
Contudo, a teologia ocidental continuou sendo a
principal norma na interpretação das ideias protestantes,
visto que as igrejas luteranas e reformada são filhas da
tradição ocidental, que se concretizou na Igreja Católica
Romana. Os discernimentos alcançados pelas igrejas
ortodoxas orientais, através dos séculos, foram
praticamente olvidados.

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Os protestantes dizem “apelamos somente às


Escrituras”; mas a verdade é que suas interpretações por
muitas vezes são eisegéticas, e não exegéticas, com base
nos preconceitos e nas preferências pessoais ou
denominacionais.

A Moderna Crítica Bíblica

Esse tipo de estudo tem lançado tanto luzes quanto


sombras sobre o conhecimento bíblico e teológico. Apesar
de ser uma atividade legítima e necessária, a fim de pôr os
estudos bíblicos a par das evidências linguísticas, literárias,
históricas e científicas, infelizmente as pessoas que são
conhecidas como críticas da Bíblia geralmente se têm
mostrado dotadas de uma mentalidade cética, além de lhes
faltar a experiência com elementos místicos e miraculosos
da é cristã.
Portanto, esses críticos têm injetado em seus
estudos uma eisegese própria da mente incrédula, ou pelo
menos, cética. A despeito disso, eles têm produzido
algumas contribuições de valor, dentro daqueles aspectos
mencionados.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Além da Exegese

Nenhum livro isolado ou biblioteca, ou mesmo todo


o conhecimento reduzido à forma escrita, pode conter e
expressar toda a verdade. Também não podemos ter livros
como a nossa exclusiva autoridade. Portanto, é inútil
esperar, da parte da exegese, o delineamento da verdade
inteira, por mais exata e completa que ela possa ser. Há
coisas que Deus simplesmente não nos revelou. Nada disso,
porém, diminui a importância da pesquisa bíblica séria,
mediante corretos métodos exegéticos. Tão somente
quisemos definir os limites da exegese, e não desencorajar
esse tipo de estudo metódico e bem organizado. Antes, nas
igrejas evangélicas há muita superficialidade doutrinária,
há pouca interpretação séria da mensagem da Bíblia, e do
evangelho em particular.

DIFERENTES FORMAS EXEGÉTICAS

Exegese Rabínica

Os judeus interpretavam a escritura ao pé da letra,


por causa da noção de inspiração que tinha. Se uma palavra
não tinha sentido perceptível imediatamente, eles usavam
artifícios intelectuais, para lhes dar um sentido, porque
todas as palavras da Bíblia tinha que ter uma explicação.

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O exemplo do paralítico é antológico: ele passara 38


anos doente. Por que 38? Ora, 40 é um número perfeito,
usado várias vezes na vida de Cristo (antes da ressurreição,
no jejum) ou também no AT (deserto, Sinai). Dois é outro
numero perfeito, porque os mandamentos (vontade) de
Deus se resumem e, “2”: amar Deus e ao próximo.
Portanto, tirando um número perfeito de outro, Isto é
tirando 2 de 40 deve dar um numero imperfeito (38) que é
número de doença...
Alegoria pura: neste sentido se entende a
condenação de certas teorias que pareceram e eram
contrárias à bíblia (caso de Gelileu). Assim era a exegese
antiga. No século XVII, o racionalismo fez o extremo
oposto desta doutrina: negaram tudo que tinham algum
aspecto de sobrenatural e mistério, e procuravam
explicações naturais para fatos incompreensíveis, assim por
exemplo, dizendo que Cristo hipnotizava os ouvintes e os
iludia dizendo que era milagre. Jesus Cristo não
ressuscitou, mas ele apenas havia desmaiado na cruz, e
quando tornou a si saiu do sepulcro... Talvez não o
fizessem por maldade. Era por principio filosófico.
A igreja primitiva herdou muito do rabinismo, no
início, mas depois se libertou. Começaram por ver na
Bíblia vários sentidos: literal, pleno e acomodatício.

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Literal: sentido inerente ás palavras, expressão pura


e simples da ideia do autor;

Pleno: fundado no literal, mas que tem um


aprofundamento talvez nem previsto pelo autor. Deus pode
ter colocado em certas palavras um significado mais
profundo que o autor não percebeu, mas que depois se
descobre. Deus, como autor, fez assim. A palavra do
profeta se refere a uma situação histórica; a palavra de
Deus se refere ao futuro.

Acomodatício: é a acomodação um sentido à parte


que combina com as palavras. É a Bíblia aplicada à
realidade apenas pela coincidência dos textos.
Por exemplo, em Mateus se lê “do Egito chamei
meu filho”... para que se cumprisse a Escritura. Mas o
sentido, ou seja, a aplicação original deste trecho não se
referia â volta da sagrada Família, mas sim à saída do Povo
do Egito. Esta acomodação foi explorada demasiadamente
pelos pregadores, que até abusaram disto.
Outro exemplo de acomodação é a aplicação a
Maria dos textos do livro da Sabedoria. Estes são mais
literatura que Escritura. Todavia, crendo-se na inspiração,
aceita-se que as palavras do autor podem ter uma
significação mais profunda que a original.

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Exegese Protestante

Surgiu do protesto de alguns cristãos contra a


autoridade da Igreja como interprete fiel da Bíblia. Lutero
instituiu o princípio da “scritura sola” (traduzindo, a
escritura sozinha), sem tradição, sem autoridade , sem outra
prova que não a própria Bíblia. A partir daquele instante, os
Protestantes se dedicaram a um estudo mais acentuado e
profundo da Bíblia, antecipando-se mesmo aos católicos.
Mas o principio posto por Lutero contribuiu para
um desastre hermenêutico, pois ele mesmo disse que cada
um interpretasse a Bíblia como entendesse, isto é, como o
Espírito Santo o iluminasse. Isto fez surgir várias correntes
de interpretação, que podem ser resumir em duas: a
conservadora e a racionalista.

A conservadora parte daquele principio da


inspiração = ditado, em que se consideram até os pontos
massoréticos como inspirados.
Não se deve aplicar qualquer método cientifico para
entender o que está escrito. É só ler e do modo que Deus
quiser, se compreende. A racionalista foi influenciada pelo
iluminismo e começou a negar os milagres. Daí passou à
negação de certos fatos, como os referentes a Abraão.
Afirmam que as narrações descritas, como provam o
vocabulário, os costumes, são coisas de uma época
posterior, atribuído àquela por ignorância.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Esta, teoria teve muito sucesso e começaram a


surgir várias ‘vidas’ de Jesus em que ele era apresentado
como um pregador popular, frustrado, fracassado... Outros
ainda interpretavam o Cristianismo dentro da lógica
hegeliana:
São Paulo, entusiasmado, teria feito uma doutrina,
que atribuiu a JC (tese); depois São João, como seu
Evangelho constituiu a antítese; finalmente São Marcos fez
a síntese. Hoje, porém, se sabe que Marcos é o mais antigo.
Estes interpretes se contradizem entre si, o que
provocou uma certa desconfiança. Por fim, a própria
arqueologia, em auxilio do Cristianismo, veio provar com a
descoberta de vários documentos histórico que a Bíblia
tinha razão: aqueles costumes, aquele vocabulário eram
realmente daquela época, inclusive o uso dos nomes
Abraão, Isaac também eram comuns no tempo. Isto e outras
coisas serviam para desmentir tais ideias iluministas.

Exegese Católica

Inicialmente, apegou-se muito aos métodos


tradicionais: usava mais a tradição e menos a Bíblia.
Mesmo no século XIX, a tendência era ainda conservada a
apologética, a defesa da fé. Foi o Padre Lagrange quem
iniciou o movimento de restauração da exegese católica.
Começou a comentar a AT com base na critica Histórica.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Mas foi alvo tantos protestos que não teve coragem


de continuar. Em seguida, comentou o NT, e ainda hoje é
autoridade no assunto. A Igreja Católica custou muito a
perceber o seu atraso no estudo bíblico, e até bem pouco
tempo ainda afirmava ser Moisés o autor do Pentateuco,
quando os protestantes a mais de um século já descobriram
que não.
Primeiro passo da nova exegese da Igreja Católica
foi dado por Pio XII, em 1943, com a encíclica DIVINO
AFFLANTE SPIRITU, na qual aprovou a teoria dos vários
gêneros literários da Bíblia. Depois, em 1964, Paulo VI
aprovou um estudo de uma comissão bíblica a respeito da
historia das formas (formgeschichte). E hoje em dia, tanto
os exegetas católicos como os protestantes são a favor
desta, e qualquer livro sério sobre o assunto que traz este
aspecto. Protestantes citam católicos e vice-versa, sem
nenhuma restrição.

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Exegese Gramatical

O exegeta inicia seu trabalho com a exegese


gramatical. Aqui ele lida com forma, com a capa, com a
roupa, com a casca da revelação, que não deve ser
negligenciada ou subjugada, pois é o meio que Deus
escolheu para expressar a sua vontade; é o caminho pelo
qual, sozinho, podemos nos aproximar e conhecer melhor a
sua mensagem.
A gramática hebraica deve ser dominada na sua
sintaxe, se não a exegese gramatical será impossível. Neste
item, paciência, perseverança, exatidão, senso sonoro e o
aguçado discernimento são necessários, pois cada palavra
será examinada separada etimologicamente e
historicamente; não somente etimologicamente, porque
radicais gregos e hebraicos têm sido usados
frequentemente, para criar falsas doutrinas.
Tem sido esquecido que cada palavra é algo vivo,
que possui, além de sua raiz, seu caule, seus galhos, seus
frutos, ou seja, uma variedade de significados. A palavra
então terá de ser analisada nos seus parentescos sintaticos
no contexto, e assim, passo a passo o seu senso gramatical
será definido, as falsas interpretações eliminadas, e os
vários significados apresentados e classificados.
Sem este paciente estudo das palavras e do contexto
gramatical, nenhuma interpretação correta é possível, e
nenhuma exposição fiel poderá ser feita.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

É verdade que a “exegese gramatical” nos deixa


dúvidas que serão eliminadas com a continuidade do
trabalho exegético. Por outro lado, eliminará muitas
opiniões pseudogramaticais que se formam e, assim,
evitam-se conclusões apresentadas para as quais o
desatencioso e o apressado são inclinados.

A Etimologia das Palavras

A significação etimológica das palavras merece a


primeira atenção, não por ser a mais importante para o
exegeta, mas porque logicamente precede as outras
significações. Em regra, não é aconselhável que o intérprete
se deixe embrenhar demasiadamente em investigações
difíceis, o que pode, ordinariamente, ser realizado com
maiores vantagens pelos especialistas no assunto.
Além do mais, a significação etimológica d palavra
nem sempre lança luz sobre a sua significação corrente. Ao
mesmo tempo, é aconselhável que o expositor da Escritura
note a etimologia estabelecida de uma palavra, desde que
ela ajude a determinar sua significação real e possa
esclarecê-la de modo surpreendente.
Tomemos as palavras hebraicas ‘Kopher’,
‘Kippurim’ e ‘ Kapporeth’, traduzidas respectivamente, por
resgate, redenção ou expiações e propiciatório.

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Todas elas se derivam da raiz ‘Kaphar’, que


significa cobrir, e contém ideia de uma redenção ou
expiação efetuada por certo acobertamento. O pecado ou os
pecadores são cobertos pelo sangue expiatório de Cristo,
tipificado pelo sacrifício do Antigo Testamento.

O Uso Corrente das Palavras

A significação corrente da palavra no tempo é de


muito maior importância para a interpretação do que sua
significação etimológica. A fim de interpretar corretamente
a Bíblia, o expositor deve conhecer as significações que as
palavras adquiriram no decorrer dos tempos, e o sentido em
que os autores bíblicos as empregaram. Este ponto
importante deve ser estabelecido. Supõe-se que se pode
conseguir esse conhecimento facilmente apenas por
consultar os dicionários, que dão geralmente da palavra
tanto o sentido original como o adquirido, e que indicam o
sentido em que é empregada em determinadas passagens.
Em muitos casos, isso é perfeitamente verdadeiro.
Ao mesmo tempo, é necessário ter em mente que os
dicionários não são infalíveis, e sua credibilidade diminui
de importância na proporção em que descem a
particularidades.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Eles simplesmente incorporam os resultados dos


labores exegéticos de vários intérpretes que se
recomendaram à discriminação dos lexicógrafos, e que
frequentemente revelam diferentes pontos de vista.
“Se o intérprete tiver alguma razão para duvidar do
sentido de uma palavra, tal como é dado por um dicionário
deverá fazer uma investigação por conta própria. Este
trabalho é, sem dúvida, muito frutífero, mas também
extremamente difícil, pois:

a) Muitas palavras têm vários significados,


alguns literais, outros figurados;

b) O estudo comparativo de palavras análogas


em outras línguas requer cuidadosa discriminação e nem
sempre nos ajuda a fixar o sentido exato de uma palavra,
visto que palavras correspondentes em diferentes línguas
nem sempre têm exatamente o mesmo sentido original e
derivado”.

“Mas, não obstante a dificuldade da tarefa, o


intérprete não deve desanimar. Se necessário, ele deve fazer
um estudo completo da palavra. E a única maneira de fazer
isto é pelo método indutivo. Ele deve incumbir-se de:

a) averiguar, com a ajuda de concordâncias


hebraicas e gregas, onde a palavra se encontra;

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

b) determinar a significação da palavra em cada


relação em que ocorre”.

Exegese Lógica e a Retórica

Neste caso, as palavras e os textos devem ser


interpretado pelo exegeta de acordo com o contexto,o
desenvolvimento do pensamento e propósito do autor; e
também de acordo com os principio do retórica, fazendo
distinção entre linguagem objetiva e linguagem figurada,
entre prosa e poesia, e, nas profecias, umas das outras. Isso
terá que ser feito não de maneira arbitraria, mais de acordo
com a leis gerais da lógica e da retórica, que, por sinal, se
aplicam a todos os escritos.
Enquanto o uso da linguagem figurada tem levado o
místico e o dogmático a fazer as mais insensatas exegeses,
as leis da retórica e da lógica, corretamente aplicadas ao
texto, iram grampear as asas do irreal e destruir a
presunção do dogmático, e ainda mais serviram para
esclarecer e, portanto decifrar o sentido do texto.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Exegese histórica

Mais um instrumento de trabalho do interprete


bíblico é a exegese histórica. Aqui o autor deve ser
interpretado de acordo com o seu contexto histórico.
Devemos aplicar ao texto os conhecimentos da
época do autor, fornecidos pela arqueologia, geografia,
cronologia e historia geral. Somente assim seremos capazes
de entrar no cenário do texto. Não será necessário recorrer
à historia da exegese. Apenas uma pequena observação é
suficiente para se ver os absurdos e os ultrajantes erros para
os quais, aquele que negligencia este principio leva os
sinceros, mas ignorantes pesquisadores.
Ninguém pode apresentar uma narrativa bíblica
disfarçada de nosso dia-a-dia, sem tornar a historia ridícula.
Circunstâncias históricas são essenciais para a veracidade e
vivacidade da narração.
Devemos entender e analisar as verdades das
escrituras, sem prejuízo delas, sem eliminá-las de suas
circunstancia históricas. E então dar um novo e apropriado
significado para o seu propósito pratico, mas nunca
podemos interpretar as escrituras sem a exegese histórica,
pois essa serve para definir mais precisamente o texto e
para eliminar o material não histórico alcançado pelo
processo exegético.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Em adição, o professor Louis Berkhof, argumenta


sobre as características pessoais das escrituras, dizendo: “na
interpretação histórica de um livro, a pergunta’ quem é
autor?” é sempre a primeira. Alguns livros da bíblia
mencionam seus autores outros não. Mesmo tendo o
conhecimento do nome do autor, isso não proporciona ao
exegeta todo o material de que necessita. Terá de
familiarizar-se com o próprio autor como homem. Isto é,
seu caráter,seu temperamento, sua disposição e modo
habitual de pensar.

“ O conhecimento intimo do autor do livro


facilitará a compreensão de suas palavras; habilitará o
interprete a entender, e talvez a estabelecer, de um modo
conclusivo, como as palavras e expressões nasceram na
alma do autor”.

Exegese Comparativa

A exegese comparativa é outro instrumento que


auxiliará o interprete das escrituras. Esta compara
resultados obtidos no que diz respeito a qualquer passagem
em particular com resultados obtidos de passagens
semelhante do mesmo autor ou de outro da mesma época,
ou em outros casos, de períodos diferentes da revelação
divina.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Com a comparação da escritura com escritura, mais


luz será acrescentada à passagem; o verdadeiro conceito
será distinguido do falso, e os resultados obtidos,
adequadamente apoiados.

Exegese Literária

Na verdade, grande luz é adicionada ao texto pelo


estudo dos pontos de vista daqueles que, através dos
séculos, tem estudado as escrituras. Aqui, neste campo de
batalha de interpretação, nós vemos quase todas as opiniões
defendidas. Multidões de opiniões tem sido derrotadas,
para nunca mais aparecerem. Outras estão fracas e
vacilantes; umas poucas ainda se mantém. E é através desta
escada que nós devemos achar a verdadeira interpretação.
Essa é a fornalha na qual os resultados até agora
obtidos pelo exegeta devem ser lançados, para que o fogo
separe o restolho e deixe o ouro puro, refinado, sair.
Teólogos Cristãos, Rabinos Judeus, e até escritores
incrédulos, não tem estudado a palavra de Deus por tantos
séculos em vão. Nenhum estudioso pode ser tão presunçoso
a ponto de negligenciar tamanho esforço.
Nenhum interprete pode requerer com direito a
originalidade de um conceito sem que esteja familiarizado
com o grande numero de material que outros tem escrito.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Por outro lado, a melhor prova para a presunção é


saber que toda a opinião que vale alguma coisa deve ser
jogada na fornalha. Um exegeta que irá formular qualquer
coisa deve saber que vai expor-se ao fogo lançado pelo seu
opositor, que penetrará seu campo altamente disputado. No
estudo das escrituras eles se deparará com o ponto de vista
humano, opiniões tradicionais, e preconceito dogmático.

Exegese Doutrinaria

A exegese doutrinaria é que considera todo o


material até agora conseguido para que, dessa maneira, se
extraíam as ideias sobre religião, fé e moral do autor.
As ideias terão de ser consideradas em suas relações
com outras em outras partes das sagradas escrituras. Então
teremos a doutrina, que o autor ensina e poderemos
compará-las a outras doutrinas de outras passagens e
autores. Aqui teremos de contender com falso método de
procura no chamado senso espiritual, como se a doutrina
pudesse ser diferente da forma com a qual foi revelada, ou,
de fato, tão falsamente ligada a ela que a gramática e a
lógica ensinam uma coisa e o senso espiritual outra. Não
pode haver senso espiritual que não esteja de acordo com
os resultados até agora obtidos pelo processo exegético. O
verdadeiro senso do espiritual vem antes, como produto dos
verdadeiros métodos exegéticos até agora descritos.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Como diferença de materiais, tornam-se como


divina e infalível na sua própria luz. Qualquer outro senso
espiritual (que não esteja de acordo com a essência das
doutrinas da Palavra de Deus) é considerado falso para a
Palavra de Deus, seja ele oriundo de judeus praticantes da
cabala ou cristãos místicos.

Exegese Prática

A exegese prática, ou seja , aplicação do texto


segundo a fé e a prática do estudioso. Aqui devemos não
somente eliminar o ponto de apoio temporal do que
consideramos eternos, mas também aqueles elementos que
se aplicam a outras pessoas e circunstâncias, diferentes dos
que temos em mão. Tudo depende do caráter do trabalho,
seja catequético, homilético, evangelista ou pastoral. Toda
a escritura pode ser considerada para algum propósito. A
exegese prática deve, não somente dar o significado do
texto, mas também a aplicação prática para a matéria em
mão.
Aqui teremos de lidar com o falso método de busca
para a edificação e educação de pensamento piedoso de
cada passagem das escrituras Sagradas, sem considerar o
tempo, ou lugar, ou a pessoa para quem foi escrita.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Esse método de constranger o texto dando um


sentido que não existe, é um ato de violência à Palavra de
Deus, à qual não se deve acrescentar nem tirar; quer do
todo, quer de partes separadas. Esse espírito de
interpretação, embora pareça muito reverente, é, na
verdade, irreverente. Ele se origina de uma carência de
conhecimento a Palavra de Deus e do negligente, que usa
seus próprios métodos de exegese.
Nasce do pensamento de que o Espírito Santo irá
revelar os mistérios sagrados da religião mesmo para o
indolente, desde que ele seja piedoso. No entanto, Deus
pode até esconder a verdade do crítico irreverente, e não irá
revelá-la a não ser aos que, não somente são piedosos, mas
que também buscam os mistérios como um tesouro
escondido.

A PALAVRA TESTAMENTO

TESTAMENTO (novo ou antigo): é a tradução da


palavra hebraica “berite” que significa a aliança de Deus
com o povo por Moisés, “acordo”, “pacto”. Na tradução
dos 70 (Septuaginta) a palavra berith foi traduzida por
diathéke = διατηεκε, que em grego quer dizer aliança,
contrato, testamento, acordo.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Isto nos mostra que os tradutores judeus


compreenderam que o Antigo Testamento era mais do que
um simples acordo ou aliança entre duas partes: ente Deus
e o povo de Israel; antes, seria a publicação da soberana
vontade de Deus, visando à salvação do homem.
Nos dias do Novo Testamento, o sentido primário
da palavra grega diathéke, havia chegado a uma evidência
tal que a ideia secundária de “acordo” quase havia
desaparecido. De fato, na literatura grega não bíblica, esse
vocábulo grego dava a entender única e tão somente como
“ultima vontade”, “testamento”.
No português “testamento” procede do termo latino
testamentum, que significa testamento, ou expressão da
vontade final de uma pessoa. O vocábulo grego
correspondente, diathéke, indicava um testamento, embora
não fosse o vocábulo usado para indicar um pacto, uma
aliança. Mais esse termo foi defendido por Aristófanes, que
empregou a palavra para dar a entender “pacto”; e o autor
da epistolas aos Hebreus, por semelhante modo, parece usar
de um jogo de palavras com duplo sentido do vocábulo
diathéke, em Hb 9.15-17.
Por isso, alguns estudiosos pensam que a base
bíblica para “testamento”, como designação das duas
principais divisões da Bíblia, Antigo e Novo Testamento,
originou-se do uso da palavra diathéke, na epístolas aos
Hebreus.

33
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

INTRODUÇÃO PARA O NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento não tem a finalidade de


desfazer os mandamento do Antigo Testamento, mais
cumpri-lo, foi isso que o Jesus disse: “É necessário que se
cumpra todo o mandamento,” portanto para nós os cristãos
é de suma importância, para nós manter alicerçados em
Deus. O Novo Testamento, nos faz entender o Antigo
Pacto, as dispensações passadas, a presente e a futura. Bem
como o plano divino para a nossa salvação, que é o maior
propósito da nova aliança.

O novo testamento foi originalmente escrito em


grego.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

ALFABETO GREGO

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Notacão Nome Equivalência


Aα Alfa A
Bβ Beta B
Γγ Gama G
∆δ Delta D
Eε Epsilon E (breve)
Zζ Zeta Z
Hη Eta E (longo)
Θθ T´eta Th (t)
Iι Iota I
Kκ Capa K
Λλ Lambda L
Mµ Miu M
Nν Niu N
Ξξ Csi X
Oo Omicron O (breve)
Ππ Pi P P ρ R´o R
Σσ Sigma S
Tτ Tau T
Υυ Upsilon Y
Φϕ Fi Ph (f)
Xχ Qui Ch (c)
Ψψ Psi Ps
Ωω Omega O (longo)

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

APRENDENDO A ESCREVER O ALFABETO


GREGO

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Apocalipse 22:13
Almeida Revista e Corrigida 2009

13 Eu sou o Aeo Ω , o Princípio e o Fim, o


Primeiro e o Derradeiro.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O NOVO TESTAMENTO

EVANGELHOS

Evangelho – boas novas

A palavra evangelho não foi criada por Jesus nem


por seus discípulos. Era uma palavra de uso comum nas
comunidades antigas. As guerras entre os povos eram
constantes. As dificuldades de comunicação entre os
guerreiros e suas cidades de origem eram muito grandes.

As famílias, principalmente, aguardavam


ansiosamente por notícias de seus filhos nos campos de
batalha. O meio utilizado para isso era o envio de
mensageiros, os quais traziam notícias sobre o sucesso ou
fracasso dos soldados. A chegada do mensageiro era muito
esperada. Quando ele chegava com boas notícias, então
recebia uma recompensa por seu esforço. Esse presente era
chamado "evangelho". Era também realizada uma festa
comemorativa, que também passou a ser chamada
"evangelho".

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

ASPECTOS GERAIS DOS QUATRO


EVANGELHOS

Pluralidade – Poderíamos ter 1 evangelho nas


Escrituras e isso poderia ser satisfatório. Contudo, Deus
quis que fossem quatro. Esta pluralidade tem sua razão de
ser e seu objetivo. Um dos motivos nos parece ser o valor
do número de testemunhas. A lei mosaica determinava que
o testemunho contra alguém deveria ser dado por duas ou
três pessoas e nunca por uma só (Dt.17.6). O mesmo
princípio é utilizado por Cristo em Mt.18.16. O número de
testemunhas é importante na determinação da veracidade
de um fato. Assim, era importante que duas ou três
testemunhas dessem testemunho sobre a vida, a morte e a
ressurreição de Jesus.

Nos processos jurídicos as testemunhas continuam


sendo muito importantes até hoje. Em muitos casos não é
possível a prova científica. Cabe então a prova testemunhal.
Todo testemunho deve ser registrado por escrito. Assim
também aconteceu com os relatos sobre Cristo. Alguns
escritores dos evangelhos podem não ter sido testemunhas
oculares dos fatos ali narrados. Entretanto, escreveram o
que as testemunhas disseram. A pluralidade dos evangelhos
é também valiosa por nos apresentar a mesma história vista
sob ângulos diferentes.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Objetividade – Os evangelhos foram escritos tendo-


se em vista um objetivo definido: anunciar as boas novas de
salvação. Por esta causa, os escritores não se dedicaram a
registrar pormenores da vida de Cristo, sua infância, seus
hábitos diários, seu trabalho na carpintaria, etc. Eles se
limitaram a mencionar a origem de Cristo (humana e
divina), seu ministério (ensinamentos, milagres), sua morte,
ressurreição e ascensão. Uma grande parte de cada
evangelho se dedica a narrar os fatos da última semana do
ministério de Cristo. (Veja João 21.25).

Unidade - Apesar de serem quatro os evangelhos,


eles são harmônicos entre si. É possível se construir um
relato coerente reunindo os 4 evangelhos. Eles se
completam.

Diversidade – Apesar da unidade entre os


evangelhos, eles não são iguais. Se assim fosse, não faria
sentido a existência de quatro. Bastaria um. Existem
diversas diferenças entre eles. Contudo, diferença não
significa contradição. São quatro relatos distintos sobre os
mesmos fatos. Algumas narrativas ou ensinamentos são
apresentados exclusivamente por um escritor ou apenas por
dois ou por três ou pelos quatro E mesmo entre narrativas
do mesmo fato, existem diferenças entre os detalhes. Por
exemplo, autor diz que Jesus curou um cego em Jericó. O
outro diz que foram dois cegos. Um não contradiz o outro.
Se Jesus curou um cego, ele pode muito bem ter curado
outro.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

A contradição haveria se um autor negasse a


afirmação do outro. As diferenças podem advir de várias
causas. Duas narrativas normalmente relacionadas podem,
na verdade, ser referência a dois episódios distintos. Uma
outra possibilidade é a omissão de algum detalhe, já que
tais relatos foram, no princípio, transmitidos oralmente.
Assim, algum ponto poderia ser esquecido por um
narrador, mas lembrado por outro. Nesse processo, o que
prevalece é a nossa fé no cuidado divino para que a
essência do evangelho chegasse a nós de forma íntegra.
Entre os evangelhos, observa-se maior semelhança entre
Mateus, Marcos e Lucas. Por isso, são chamados sinóticos,
ou seja, possuidores da mesma ótica. Esse termo foi usado
pela primeira vez por J.J. Griesbach, em 1774. O evangelho
de João, por sua vez, apresenta um estilo todo particular.

Ordem - Os livros não se encontram dispostos em


nossas Bíblias na mesma ordem em que foram escritos.
Além disso, os próprios fatos narrados não seguem ordem
cronológica, principalmente no livro de Mateus.

Motivos – Os evangelhos foram escritos para


responder aos questionamentos da comunidade do primeiro
século e também para combater as mentiras dos inimigos a
respeito de Jesus. Os apóstolos começavam a morrer e
tornava-se então imperioso que se registrassem suas
memórias sobre o Salvador. Além disso, existiram também
os motivos particulares de cada escritor, conforme veremos
no estudo de cada livro.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

OS SINÓTICOS OU SINÓPTICOS

Sinópticos significa “visão conjunta”, que deriva-se


de duas palavras gregas: “syn” “com”; “opsis”: ótica,
vista”. No estudo das escrituras esta palavra está aplicada a
Mateus, Marcos e Lucas, porque eles são uma sinopse da
vida de Cristo. Apresentam muitas semelhanças entre si, no
conteúdo e na apresentação.
Os Sinópticos revelam Cristo em ação: registram as
parábolas e os milagres de Jesus. Este nome foi aplicado a
estes três primeiros livros (Evangelhos) do Novo
Testamento por sua unidade corporal.
As expressões “Evangelho de Mateus”, “Evangelho
de Marcos” e “Evangelho de Lucas”, são narrativas da vida
de Cristo registrados por eles. Porém nenhum deles é
completo, o que falta em um, aparece no outro. Porém
muitas coisas que Cristo fez e ensinou não foram escritas
(Jo 21 v. 25). Há apenas um Evangelho descrito e
apresentado em quatro maneiras.
Há muita coisa em comum nos sinópticos, mas
existem também diversas peculiares que só aparecem nos
demais. Mas, por outro lado, dos 1068 versículos do
primeiro evangelho, 500 estão no segundo. Dos 1149
versículos do terceiro, 380 estão em Marcos, e assim por
diante. Os evangelhos não se contradizem, mas são livros,
biográficos que narram em ordem cronológica o
nascimento, ministério, paixão, morte e ressurreição do
Filho de Deus.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Por isso os evangelhos sinópticos são inspirados e


perfeitamente harmoniosos entre si na apresentação dos
fatos básicos da fé Cristã.
Os QUATRO Evangelhos contam a mesma história,
cada um a seu modo.

 Evangelhos sinóticos  Boas-Novas. Evangelistas 


Portadores de boas-novas.

 Mateus, Marcos, Lucas  Sinóticos. Sinopse: Visão


em conjunto da vida de Cristo.

 Os sinóticos narram seus milagres, parábolas e


mensagens dirigidas às multidões  Cristo em ação.

 João narra o seu ministério na Judéia (discursos mais


profundos e abstratos), suas conversas e orações. É
Cristo em meditação e comunhão.

 Jesus, o Prometido. “Aquele de quem Moisés escreveu


na Lei, e a que se referiram os profetas – Jesus (Jo1.45;
Is 7:14; Jo 1:14).

 O Evangelho: Relata quando e como Cristo veio. As


Epístolas: Por quê e Para quê.
Na Bíblia toda vemos: Preparação, Manifestação,
Apropriação, Consumação  das Promessas e Cumpriment

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

MATEUS

Autoria – Mateus. Seu nome significa "dom de


Deus". (Mat.9.9-13; 10.3 Mc.2.13-17 - Lc.5.27-32). Era
também conhecido pelo nome de Levi (Associado). Era um
judeu cristão, discípulo e apóstolo de Jesus Cristo. Antes de
ser chamado pelo Mestre, exercia a função de publicano,
isto é, coletor de impostos para o Império Romano. Os
publicanos eram tão desprezados pelos judeus que não
podiam falar nos tribunais, nem se aceitava seu dízimo no
templo. Sobre sua autoria em relação ao primeiro livro do
Novo Testamento, tem-se o testemunho de Papias, bispo de
Hierápolis (Frígia), do 2o século d.C..

Data - 60 d.C.? (existem muitas opiniões datando


entre 45 a 85 d.C.)

Local - Antioquia da Síria.

Destinatários - Judeus

Versículo chave - 27.37

Palavra chave - cumprir (Mt.5.17). O Novo


Testamento não deve ser visto como oposição ao Velho
Testamento mas como seu cumprimento.

56
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O verbo "cumprir" e algumas de suas variações são


encontrados em muitas passagens de Mateus.

Ele pretendia mostrar na vida de Cristo o


cumprimento das profecias do Velho Testamento. Sobre a
lei, Jesus disse que veio para cumprir e não para revogar.
Isso significa não apenas a obediência de Jesus à lei, mas
também indica que, em alguns aspectos especiais, a obra de
Cristo representou o cumprimento último e definitivo da
lei, a consumação. Podemos afirmar isto, principalmente
em relação aos sacrifícios de animais, cuja determinação
teve no calvário seu cumprimento suficiente e eterno.

Em Mateus 3, no episódio do batismo, temos o


questionamento de João Batista quanto ao ato de batizar
Jesus. Este respondeu que era necessário cumprir toda a
justiça. Era, de fato, estranho que Jesus viesse se submeter
a um ato representativo de arrependimento sendo que ele
nunca havia cometido nenhum pecado. O batismo é um
símbolo da morte e da ressurreição de Cristo. Da mesma
forma como era estranho o fato de Cristo ser batizado, seria
também estranha sua morte numa cruz, considerando-se
que a crucificação era destinada a pecadores. Podemos até
mesmo imaginar que Deus, sendo o todo poderoso, poderia
salvar toda a humanidade sem que Cristo morresse.
Contudo, a resposta que lemos em Mateus 3 é suficiente
para explicar tudo isso: "É necessário para que se cumpra
toda a justiça". A justiça exige que para todo pecado seja
imposta a punição correspondente.

57
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Impunidade seria injustiça. Assim, se fôssemos


salvos sem que ninguém morresse em nosso lugar, a justiça
não seria cumprida.

Objetivo particular - Mateus procurou apresentar os


vínculos de Jesus com a nação judaica e com o Velho
Testamento, demonstrando que ele era o Rei Messias
esperado por Israel. Por isso, o livro começa com a
genealogia de Cristo, ligando-o a Abraão e a Davi. Como
foi dito no tópico da palavra chave, o autor apresenta a
ligação da vida de Cristo com o Velho Testamento através
da frequente expressão:
"Para que se cumprisse o que foi dito pelo
profeta..." Nota-se nessa expressão a soberania divina em
ação. Os fatos da vida de Jesus não foram obra do acaso,
mas o cumprimento do propósito predito na escrituras.
Compare os textos a seguir: Mt.1.23 (Is.7.14)
Mt.2.6. (Mq.5.2) Mt.2.18 (Jer.31.15) Mt.21.4 (Zc.9.9).
Mateus apresenta mais de 60 citações do VT em seu
evangelho.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

MARCOS

Autoria: João Marcos, um judeu. João é nome


hebraico que significa "graça de Deus". Marcos vem do
latim e significa "martelo grande".

O parecer favorável à autoria de João Marcos conta com o


testemunho de Papias, bispo de Hierápolis, conforme
registro de Eusébio: "Marcos era intérprete de Pedro."
Escreveu de acordo com as informações e ensinos de
Pedro. Irineu diz que Marcos era discípulo de Pedro e
escreveu em Roma. Teríamos então nesse evangelho a mão
de Marcos e a voz de Pedro. Observe o resumo do
evangelho no sermão de Pedro em At.10.36-43, inclusive a
ordem dos fatos.

CITAÇÕES SOBRE MARCOS

Mc. 14.51-52 – Supõe-se que o moço que foge nu


seja o próprio Marcos. A omissão do nome e a
exclusividade da narrativa são elementos que levam alguns
comentaristas a julgarem que o autor está falando de uma
experiência pessoal.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

At.12.12 – A casa de Maria, mãe de Marcos, era um


dos locais utilizados pelos apóstolos para suas reuniões em
Jerusalém. Pedro, ao sair da prisão, foi direto para lá,
sabendo que encontraria os irmãos. Tal fato demonstra a
normalidade das reuniões cristãs naquela casa.

At.12.25 – Viagem de Marcos, com Paulo e


Barnabé, de Jerusalém para Antioquia.

At.13.5 – Participação na primeira viagem


missionária de Paulo (Selêucia, Chipre, Salamina).

At.13.13 – Enquanto Paulo vai para Perge, Marcos


abandona a missão e volta para Jerusalém.

At.15.37-39 – Devido à deserção recente, Paulo não


quis levar Marcos em outra viagem, motivo pelo qual
houve grande contenda com Barnabé, o qual decide viajar
com Marcos para Chipre.

O nome de Marcos não aparece mais em Atos dos


Apóstolos. Evidentemente, isso se deve ao fato de ter
abandonado a equipe missionária. Entretanto, as epístolas
paulinas nos mostram que Marcos voltou a trabalhar com o
apóstolo Paulo. Parece ter havido um amadurecimento do
jovem Marcos e o perdão por parte de Paulo, o qual chega a
fazer declarações positivas e raras a respeito do
companheiro de ministério.

60
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Cl.4.10 – Marcos encontra-se em companhia de


Paulo na prisão em Roma. Aquele que havia abandonado o
trabalho cristão agora está em situação de risco. Não estava
preso mas se submetia ao risco de prisão estando junto de
Paulo. Este versículo apresenta diferença entre as versões
bíblicas. Em uma encontramos a informação de que Marcos
era primo de Barnabé. Outra nos informa que Marcos era
sobrinho. Esta última versão tem sido mais aceita.

II Tm.4.11 – Marcos estava com Timóteo em Éfeso.


Paulo pede que ambos se dirijam ao lugar onde ele se
encontra, pois, de acordo com as palavras de Paulo, Marcos
lhe era "muito útil para o ministério."

I Pd.5.13 – Marcos encontra-se com Pedro na


Babilônia. Há quem diga que se trata de uma referência à
cidade de Roma. Pedro se refere a Marcos como filho. Tal
tratamento tem sido normalmente entendido como uma
indicação de que Marcos era discípulo de Pedro, conforme
escreveu Irineu, ou ainda, que Marcos tinha se convertido
pela pregação de Pedro.

Fm. 23-24 – Novamente Marcos aparece como


cooperador de Paulo.

Observamos a relação estreita que Marcos teve com


os apóstolos e outros líderes da igreja primitiva. Por isso,
ele teve acesso a fontes primárias de informações sobre a
vida de Cristo.

61
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Seu evangelho é, portanto, um relato tomado


diretamente das testemunhas oculares dos fatos narrados.

A tradição cristã nos informa que Marcos foi para


Alexandria, onde fundou a igreja local, tornando-se bispo.
Nessa mesma cidade seria martirizado.

Destinatários – Cristãos gentios, provavelmente


romanos. Alguns detalhes do livro nos mostram que
Marcos não estava escrevendo para judeus.

Ao contrário de Mateus, ele não se preocupa


prioritariamente em demonstrar o cumprimento do V.T.
Marcos explica termos aramaicos e costumes judaicos nas
seguintes passagens: 3.17; 5.41; 7.1-4,11 (corbã – Hb.);
7.34; 10.46 14.36; 15.22,34. Informa a localização do
monte das Oliveiras em 13.3. Ele tem em mente
destinatários que não possuíam conhecimento desses
elementos. Portanto, não eram judeus.

Idioma – O evangelho de Marcos foi escrito em


grego. Alguns teólogos argumentam a favor de um original
em aramaico. Isto se deve à frequência de termos aramaicos
no livro. Contudo, tal hipótese não foi comprovada e não
conseguiu grande aceitação.

62
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Data – Foi o primeiro evangelho a ser escrito. Data


provável: ano 55. As datações dos comentaristas oscilam
entre os anos 50 e 69.

Fonte – Suas informações se originaram


principalmente da pessoa de Pedro. Hipótese não
comprovada: existência de uma fonte complementar em
aramaico.

Versículo chave: 10.45 – "Pois o próprio Filho do


Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a
sua vida em resgate de muitos."

Local e contexto do autor – Marcos escreveu em


Roma numa época de grande perseguição à igreja e
conflitos violentos. Tudo isso parece interferir nas
características do livro.

POLÊMICA SOBRE O EPÍLOGO DE MARCOS.

O texto de Marcos 16.9-20 é apontado por alguns


críticos como adição posterior. Tal trecho é encontrado em
alguns manuscritos e não em outros. Contudo, verificou-se
a presença desse versículos no manuscrito mais antigo entre
os que foram comparados.

63
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Sua ausência em alguns manuscritos pode ter sido


causada pelo próprio desgaste daqueles escritos devido ao
uso excessivo e à má conservação. Nessas condições é
compreensível que se perca a última página ou um pedaço
final de uma obra.

Sem o texto citado, o livro de Marcos terminaria de


forma brusca em 16.8, o que não seria natural. Verifica-se
em 16.20 um término mais convincente. O versículo dá
idéia de conclusão em que o autor termina falando sobre a
pregação do evangelho em toda parte.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

LUCAS

Autoria – Lucas, nome grego que significa "aquele


que traz a luz". Era médico e passou a ser considerado
historiador devido, principalmente, à produção do livro de
Atos. Nascido em Antioquia da Síria, Lucas é o único
escritor bíblico do qual podemos afirmar que era gentio. A
autoria lucana para o terceiro evangelho foi testificada por
Tertuliano e Irineu. Este último registrou: "Lucas escreveu
em um livro o evangelho que Paulo pregava."

Enquanto o evangelho de Mateus foi escrito por um


judeu para judeus e Marcos foi escrito por um judeu para
gentios, o evangelho de Lucas foi escrito por um gentio
para os gentios. Temos, portanto, testemunhos diversos a
respeito de Jesus os quais são vistos sob ângulos diferentes
e procurando atingir objetivos variados. Sobre o valor dessa
diversidade, é bom lembrarmos que muitos foram os que
testemunharam sobre Jesus: os discípulos, os inimigos, os
demônios, e, no fim dos tempos, toda língua confessará que
ele é o Senhor (Fp.2.10-11).

65
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Destinatário- O livro foi destinado a Teófilo. Seu


nome significa "amigo de Deus". O tratamento que Lucas
lhe dispensa: "excelente", "excelentíssimo" ou
"digníssimo", conforme a versão que se utilize, tem levado
a crer que Teófilo era uma autoridade pública, um oficial
romano. Tem-se deduzido que Lucas viu naquele homem a
pessoa adequada para publicar sua obra entre os gentios, o
que ocorreu com pleno êxito.

Data – Por volta do ano 60. As datações têm


oscilado entre os anos 58 e 65.

Frase chave – "O Filho do Homem" – Tal


terminologia não é exclusiva de Lucas. Ezequiel traz a
expressão 91 vezes. Esta era a forma como Deus chamava
o profeta. Mateus, Marcos e João também se referem a
Jesus através deste título. O próprio Lucas usa o mesmo
tratamento em Atos 7.56. Esse foi um título que Jesus deu a
si mesmo. Observa-se nesse detalhe a humildade do
Mestre. Podendo usar nomes gloriosos, ele se chamava
apenas de "Filho do Homem". Apesar da ausência de
exclusividade para o uso do título, o mesmo é apresentado
como frase chave do livro de Lucas porque o autor
apresenta Jesus como homem, destacando assim a
humanidade de Cristo sem omitir sua divindade. Sendo
perfeitamente humano, Jesus estava habilitado a ser o
representante legítimo dos seres humanos.

66
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Só Lucas menciona o choro de Jesus por Jerusalém,


numa demonstração de sensibilidade humana.

Em sua apresentação de Jesus como homem, Lucas


menciona a genealogia do Senhor até Adão. Fica
demonstrada a humanidade de Cristo. A genealogia é uma
forma de demonstrar que Cristo não apareceu
magicamente, mas nasceu de uma descendência, embora de
modo sobrenatural.

Lucas oferece mais informações sobre o nascimento


e a infância de Jesus do que os outros evangelhos.

Lucas destaca a atitude ou menção amável de Cristo


em relação:

 aos pobres (6.20);

 à mulher pecadora (7.37);

 mendigos (16.20-21);

 samaritanos (10.33);

 leprosos (17.12 – narrativa exclusiva);

 publicanos e pecadores (17.12);

 O ladrão na cruz (23.43 – narrativa


exclusiva).

67
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Características - As características dos evangelhos


vão variando de acordo com a "lente" pessoal do autor. Os
assuntos que interessam aos destinatários, sua profissão
pessoal, a ênfase que deseja dar à mensagem, tudo isso vai
moldando o livro.

Lucas apresenta mais parábolas que os outros


evangelhos. Mateus inclui 15; Marcos, 4 e Lucas, 23,
dentre as quais duas são exclusivas: O Filho Pródigo e a
Dracma Perdida. O caráter dessas duas parábolas
confirmam o texto chave.

Lucas apresenta tom poético, exultante, festivo. Só


ele registrou os cânticos, orações e declarações de Zacarias,
Isabel, Maria, Simeão e dos anjos.

A universalidade do evangelho é uma tônica do


livro – 2.32; 3.6; 24.47. O autor mostra a receptividade de
Cristo para com todo tipo de pessoas: Samaritanos – 9.52-
56; Pagãos (2.32; 3.6-8); Judeus (1.33; 2.10); Mulheres;
Publicanos; Pessoas respeitáveis (7.36; 11.37; 14.1); pobres
(1.53; 2.7; 6.20); ricos (19.2; 23.50). Mateus até cita alguns
desses fatos, mas Lucas entra em detalhes.

O livro enfatiza a oração em parábolas e relatos: o


amigo importuno (11.5-8); o juiz iníquo (18.1-8); o fariseu
e o publicano (18.9-14 – narrativa exclusiva). Além disso,
menciona várias orações de Jesus. Mateus se referiu a 3
orações do Mestre.

68
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Marcos citou 4, João, também 4. Lucas apresenta 11


momentos de oração de Cristo: No batismo (3.21); no
deserto (5.16); antes de escolher os discípulos (6.12); na
transfiguração (9.29); no Getsêmani (22.44); na cruz
(23.46). etc.

Lucas honra a mulher em seu livro: Isabel e Maria


(1); Marta e Maria (10); Filhas de Jerusalém (23.27 –
narrativa exclusiva); As viúvas (2.37; 4.26; 7.12; 18.3;
21.2).

Observa-se nesse evangelho um equilíbrio de


conteúdo: 23 parábolas, 20 milagres, e um boa quantidade
de texto biográfico.

O livro de Lucas é mais literário e mais bonito que


os outros evangelhos. Comparando, podemos dizer que
Mateus é didático e religioso. Marcos é teatral e prático.
Lucas é biográfico e literário. O aspecto literário indica a
habilidade de trabalhar com as palavras. Lendo nossas
traduções portuguesas não notamos grande diferença
literária entre os evangelhos. Isso ocorre porque o trabalho
do tradutor produziu o efeito de um filtro.

Agora, vemos mais a característica literária do


tradutor e menos a do autor. Contudo, ainda é possível se
apreciar a beleza do evangelho de Lucas. Observe-se, por
exemplo, a introdução (Lc.1.1-4). Apresenta um cuidado e
um arranjo que evidenciam o alto nível intelectual do autor.

69
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

JOÃO

Autoria – João, o apóstolo (21.24). Seu nome


significa "graça de Deus". Era judeu, pescador (Mt.4.21),
irmão de Tiago, filho de Zebedeu e Salomé (Compare
Mt.27.56 e Mc.15.40). Foi chamado de discípulo amado –
Jo.13.23; 19.26; 21.20. Enquanto Lucas precisou fazer uma
pesquisa para escrever seu evangelho, João foi testemunha
ocular da maior parte dos fatos que escreveu (1.14; 19.35;
21.24) O registro da hora de alguns acontecimentos destaca
a presença do relator ou, em alguns casos, uma relação bem
próxima com os protagonistas (1.39; 4.6,52; 19.14).

Até no momento da crucificação João estava


presente. Isso mostra sua disposição de correr risco de vida
para ficar ao lado do Mestre. Apesar de ter fugido no
momento da prisão de Cristo, João voltou pouco tempo
depois.

Jesus chamou João e Tiago de boanerges, "filhos do


trovão", referindo-se ao seu temperamento indócil, violento
(Mc.3.17; Mc.9.38; Lc.9.54). A última referência mostra
que naquele tempo, aqueles discípulos apresentavam algum
conhecimento das escrituras (sobre Elias), uma grande fé,
ao ponto de crer que poderiam fazer descer fogo do céus,
mas nenhum amor. Estavam prontos a usar o conhecimento
e a fé para matar as pessoas.

70
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O próprio João não mencionou esses episódios.


Nota-se sua discrição diante de um episódio vergonhoso.

Alguns dos seus discípulos foram: Policarpo, Papias


e Inácio. Irineu, discípulo de Policarpo, mencionou a
autoria de João para o 4o evangelho. Disse que João estava
em Éfeso quando escreveu. Note-se a autoridade do
testemunho de Irineu em virtude de sua proximidade com
fontes fidedignas. Teófilo de Antioquia (ano 170) e
Clemente de Alexandria (ano 200) também testificaram a
favor da autoria de João. Clemente chega a denominar o
livro como "evangelho espiritual".

São várias as citações a respeito de João nos


evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Seu nome é
omitido no seu evangelho (20.2; 19.26; 13.23; 21.2). A
omissão do próprio nome por parte dos autores tem sido
observada com frequência entre os escritores estudados.

Encontram-se referências ao apóstolo também em


At.4.13; 5.33,40; 8.14; Gl.2.9; 2 Jo.1; 3 Jo.1; Apc.1.1,4,9.
Na segunda e na terceira epístola, ele se apresenta como "o
presbítero". Podendo se apresentar como apóstolo,
demonstrou humildade ao utilizar título mais simples. Em
Apocalipse, apresenta-se como "servo".

71
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Após o exercício do seu ministério em Jerusalém,


João foi pastor em Éfeso, onde morreu entre os anos 95 e
100. Policrates (ano 190), bispo de Éfeso, escreveu: "João,
que se reclinara no seio do Senhor, depois de haver sido
uma testemunha e um mestre, dormiu em Éfeso."

Objetivo – João escreveu para que pudéssemos crer


em Cristo e ter vida. O conhecimento conduz à fé em Cristo
e este produz vida espiritual e eterna naquele que crê
(20.31). Secundariamente, João parecia estar interessado
em combater o gnosticismo. Os gnósticos pregavam a total
separação entre Deus e a matéria. Diziam que a matéria era
má. A partir desse raciocínio, uns reprimiam os desejos
físicos, outros os liberavam. Eles negavam a humanidade
de Cristo, a encarnação e a ressurreição. A salvação, de
acordo com os gnósticos, seria consequência do
conhecimento. Criam em anjos e outros seres
intermediários para se chegar a Deus. João toma a questão
do conhecimento ligado à salvação. Contudo, fala do
conhecimento de Deus através do verbo encarnado, Cristo
(17.3).

Data – O evangelho de João foi escrito,


provavelmente no ano 95. As datações têm variado entre 90
e 95. Nesse tempo, o autor já era idoso. Seus escritos
trazem a marca da maturidade e demonstram profundo
entendimento dos assuntos tratados.

72
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Destinatários – João escreve para o mundo (João


3.16). A palavra "mundo" aparece várias vezes no livro.
Nota-se que ele pensa nos não judeus ao dizer "festa dos
judeus" – 5.1; 6.4; 2.13; 18.28. Explica o significado de
"rabi" e "Messias" (1.38,41), e fala sobre a oposição entre
judeus e samaritanos: 4.9. Tudo isso seria desnecessário se
seus destinatários fossem especificamente os judeus.

Relação de João com Jesus – A relação de Jesus


com as pessoas se dava em vários níveis: Ele falava a
grandes multidões. Dentre estas, ele separou 82 discípulos
(Lc.6.13 - menciona os 12; 10.1 menciona outros 70),
muitos dos quais abandonam-no depois (João 6.66). Entre
os 82, 12 eram especiais. Tinham uma missão especial.
Entre os 12, 11 se destacavam por sua sinceridade.

Nesse ponto, Judas fica para trás. Entre os 11, havia


3 que eram chamados em particular em determinados
momentos: Pedro, Tiago e João (Mt.17.1/ Mc.5.37/
Mt.26.37). Observe-se que o próprio João, numa atitude de
humildade, não mencionou esses episódios particulares.

Dentre os três, João tinha o mais íntimo


relacionamento com o Mestre. Foi chamado de "o discípulo
a quem Jesus amava". Durante a última ceia, reclinou-se no
peito do Senhor (João 13.25). Ouviu e registrou a oração
sacerdotal de Jesus (17).

73
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Foi o primeiro a voltar para o acompanhar o Mestre


após a sua prisão. Assiste o julgamento e a crucificação de
Cristo (João 18.16; 19.26). Recebe a incumbência de cuidar
da mãe de Jesus (João 19.27). Foi o 1 o discípulo a chegar
ao túmulo após a ressurreição (João 20.4). Devido à sua
proximidade constante com o Mestre, alguns relatos do seu
evangelho são exclusivos. Em alguns momentos, só ele viu,
só ele ouviu, só ele teve informações para escrever. Seu
exemplo deve nos servir como estímulo para uma
comunhão íntima com o Senhor, condição essencial para
que recebamos suas revelações. Afinal, "revelação" é o
significado de "Apocalipse". E quem poderia tê-lo escrito,
senão o próprio João?

PALAVRAS E TEM AS EM DESTAQUE

Colocamos também algumas referências à primeira


epístola de João devido à grande identificação de seu
conteúdo em relação ao evangelho.

A igreja - é referenciada mas não por este nome.


Podemos vê-la no evangelho representada pelo rebanho do
Bom Pastor (cap.10), pela videira (cap.15) e pelos próprios
discípulos.

74
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Amor – É de João a célebre declaração: "Deus é


amor" – I Jo.4.8. É também de sua autoria aquele que,
provavelmente, seja o mais conhecido versículo sobre o
amor de Deus: Jo.3.16. O "amor" é um dos temas
preferidos do apóstolo. Ele fala do amor apesar das
perseguições da época e sua prisão em Patmos. O amor
estabelece as relações entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo
e também deve ser a base da relação entre os discípulos, ou
seja é a base para a igreja. Outros elementos podem
estabelecer relações humanas ou com Deus: medo,
sentimento de dever, etc. Contudo, o amor é o vínculo
desejável. (João 13.1,34; 14.21,23,24; 16.27; 21.15-17).

Luz – Jo.15-10; 3.19-21; 8.12; I Jo.1.9 – João


explora a contraposição de conceitos, luz x trevas e outros,
conforme se vê no quadro a seguir. Em outras palavras, ele
está confrontando a nova realidade da vida em Cristo com o
estado pecaminoso do homem.

75
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

CONCEITO CONCEITO ALGUMAS


POSITIVO NEGATIVO REFERÊNCIAS

Trevas (4x) João 3.19;

Luz (8x) I João 1.9

Mentira (2x) João 8.32,

Verdade (17x) 44;

14.6,17;

17.17;

18.37.

Morte (6x) João 11.25

Vida (15x)

Incredulidade (não
crer)
Fé (crer e João 3.16,18
derivados: 11x)

A palavra "verdade" só não aparece nos capítulos 2,


7, 9, 11. A palavra "luz" ocorre nos capítulos
1,3,5,8,9,11,12,16.

76
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

A palavra "vida" só não ocorre nos capítulos


2,7,9,16,19,21. Embora o número de ocorrências possa
variar em virtude da versão utilizada, a observação dessa
frequência nos chama a atenção para a importância que
determinados temas têm para o autor e que, portanto,
devem também ser cuidadosamente estudados por nós.

Comunhão – É também um tema importantíssimo


para João no evangelho, assim como na primeira epístola
(João 14.11; 15.4,12; 17.21; I Jo.1.3,6,7). A comunhão
ocorre basicamente em 3 níveis:

Comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Comunhão


celestial.

Comunhão entre os discípulos e a trindade, tendo Cristo como


elo de ligação. Comunhão individual com Deus. Ligação entre
o céu e a terra.

Comunhão dos discípulos entre si, tendo Cristo como elo de


ligação. Comunhão entre os irmãos na igreja.

77
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

CARACTERÍSTICAS

 Estilo simples – pensamento profundo.

 Mais íntimo – pessoal.

 Fatos exclusivos – 14 a 17 – discurso no cenáculo.

 Sem parábolas, sem profecias escatológicas.

 Discursos diferentes dos sinóticos. Vinculados aos

milagres, explicando-lhes o sentido espiritual.

 Os milagres: São relatados 8, inclusive o 1 o. 6 são


exclusivos.

Os não exclusivos: Multiplicação dos pães e o


andar sobre as águas.

Os exclusivos: transformação da água em vinho, a


cura do filho do centurião, a cura do homem que estava
enfermo há 38 anos, a cura do cego de nascença, a
ressurreição de Lázaro, a pesca maravilhosa. Milagres para
os alegres, moribundos, enfermos, famintos, fiéis, cegos e
mortos.

78
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O evangelho de João completa os sinóticos. Quando


o quarto evangelho foi escrito, os outros já deveriam estar
circulando há muito tempo entre os cristãos, sendo,
naturalmente, do conhecimento do apóstolo João, o qual
não achou necessário repetir o que os outros já tinham
escrito. Por isso, seu evangelho vem acrescentar o que
faltava nos demais. Os trechos que constituem repetições
de conteúdo são poucos e, quando ocorrem, vêm seguidos
de um discurso de Cristo que os outros escritores não
haviam relatado.

João enfatiza a pessoa de Cristo e não seus


milagres, parábolas ou ensinamentos. Enfatiza também a
nova vida do crente e a rejeição de Cristo pelo mundo
(1.10; 3.19) e não apenas pelos judeus (1.11).

79
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

ATOS DOS APÓSTOLOS

Autoria - Lucas - Citações por Clemente de


Alexandria e Tertuliano.

Destinatário - Teófilo.

Data - próximo de 65 d.C. As datações têm variado


entre os anos 61 e 96. O ano 61 corresponde ao período
final da prisão de Paulo em Roma descrita no último
capítulo de Atos. O livro parece ter sido escrito antes do
ano 70, já que não menciona a destruição de Jerusalém
ocorrida naquele ano. Isso, porém, não constitui prova
concreta para determinação de data.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

 Atos dos Apóstolos - nome dado no fim do 2o


século.

80
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

 Livro eixo do NT.

 Provê fundo histórico para todo o NT. (Reforço


para os evangelhos).

 Elo entre os evangelhos e as epístolas.

 Documento histórico do início do cristianismo.

 Cobre período de 29 a 61 d.C.

O conteúdo de Atos começa onde o evangelho de


Lucas termina: com o período pós-ressurreição e a ascensão
do Senhor Jesus.

O livro de Atos apresenta um novo tempo para o


povo de Deus. O Velho Testamento se refere ao tempo
antigo. Os evangelhos mostram um curto período de
transição. Por isso, algumas vezes temos dificuldades para
situar alguns fatos dos evangelhos como pertencentes à lei
ou à graça.

81
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

São referências do Novo Testamento mas, em sua


maioria, anteriores à morte e ressurreição de Cristo. Tal
indefinição termina em Atos dos Apóstolos. O primeiro
capítulo já nos mostra o confronto final desses dois tempos,
dessas duas realidades: o tempo dos evangelhos e o tempo
de Atos. No tempo dos evangelhos os discípulos iam a
Cristo para receber suas bênçãos e ensinos. Agora, no
tempo de Atos, período pós-ressurreição, é hora dos
discípulos darem algo ao mundo. Eles é que devem fazer a
obra de Deus.

Eles são agora o corpo de Cristo na terra. Nos


evangelhos, o Filho glorifica o Pai. Em Atos, o Espírito
Santo glorifica o Filho.

Em Atos 1, temos um diálogo entre Jesus e os discípulos.


Jesus está falando de uma nova realidade, mas os discípulos
ainda estão presos a uma realidade passada, conforme
demonstramos a seguir.

82
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

JESUS E A NOVA REALIDADE OS DISCÍPULOS E


A VELHA
REALIDADE
Reino de Deus – Atos 1.3 Reino de Israel – Atos
1.6

Confins da terra – Atos 1.8 Uma nação: Israel –


Atos 1.6

Tempo futuro (até os nossos dias) – Tempo presente - Atos


Atos 1.8 1.6

Batismo com o Espírito Santo – Batismo nas águas –


Atos 1.5 Atos 1.5

Jesus estava apresentando aos discípulos o tempo de


romper com os limites humanos, sociais, culturais,
geográficos, etc. Eles deveriam fazer a obra de Deus em
Jerusalém. Esta era a cidade onde estavam. Precisamos
fazer a obra de Deus no próprio local onde moramos,
trabalhamos ou estudamos. É o início da missão. Contudo,
Deus não quer que sejamos comodistas. Jerusalém pode
estar muito confortável. Os discípulos deveriam alcançar
toda a Judéia. Essa parte já ideia de movimento. É preciso
caminhar. É preciso sair do "ninho", assim como Abraão
saiu de Ur dos Caldeus em obediência à ordem do Senhor.
Depois da Judéia, eles deviam ir a Samaria.

83
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Esta cidade representa os lugares onde não


queremos ir e aquilo que não queremos fazer, mas que são
parte do plano e do roteiro de Deus para nós. Os discípulos
não queriam ir a Samaria. Havia uma grande barreira
social, cultural, e religiosa a ser rompida. Depois, restavam
os confins da terra, representando tudo o que Deus pode
fazer através de nós, mas que não podemos alcançar nem
mesmo com nossa imaginação. Os discípulos não tinham a
mínima ideia do que pudessem ser os confins da terra.

Contudo, Jesus sabia que os horizontes eram muito


mais distantes do que seus apóstolos imaginavam. E tudo
isso somente seria possível através da operação do Espírito
Santo. "Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito
Santo e ser-me-eis testemunhas..."

CARACTERÍSTICAS

Eclesiástico – Início da igreja, organização básica e


acompanhamento aos fiéis nas igrejas (não um manual mas
exemplo histórico). A igreja para os judeus - começa com
Pedro - Cap.2 – A igreja para os gentios começa com Pedro
- Cap. 10.

84
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Apologético -(Ex. cap.15)- Basicamente, ao


escrever o livro de Atos, Lucas tem o mesmo propósito que
possuía ao escrever o evangelho: informar a Teófilo acerca
da verdade sobre Jesus e a igreja. Analisando mais
profundamente, alguns comentaristas sugerem que Lucas
também pretendia apresentar um tipo de defesa do
evangelho perante as autoridades romanas, mostrando que
o cristianismo não constituía ameaça às leis e ao Império.

Há quem chegue a dizer que, ao escrever Atos,


Lucas se preocupava especificamente com a defesa de
Paulo, que estaria sendo julgado por Roma. Por isso é que o
apóstolo seria a figura central do livro.

Atos cita julgamentos diversos. No evangelho,


Pilatos inocenta Jesus (Lc. 23.4,14,22).

Em Atos, as acusações não são comprovadas: Em


Filipos (16.19,35); em Tessalônica (17.6-9); em Corinto
(18.12); em Éfeso (At.19,31,35); na Judéia (At.26.32 –
Paulo poderia ser inocentado mas apelou para César).

Os tumultos eram normalmente incitados pelos


judeus. Enquanto nos evangelhos, os fariseus perseguem a
Cristo, em Atos o principal perseguido é um ex-fariseu.

Teológico- (Ex. cap.17- os deuses e o Deus


desconhecido) - Atividade do Espírito Santo (Atos do
Espírito Santo) - 1.4,8 Cap.2 Cap.10.

85
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Os apóstolos são cheios do Espírito Santo. Pelo


poder do Espírito Santo realizam sinais. Os apóstolos são
guiados pelo Espírito Santo - 8.29,39; 10.19; 16.6.

O Espírito Santo orienta a igreja: 13.2; 15.28; 11.28;


20.23; 21.4,11.

O livro de Atos faz referências à atuação do Espírito


Santo no VT: 1.16; 28.25; 20.28; 5.32.

Caráter histórico- O livro cita reis, magistrados,


governadores, contextualizando historicamente o início da
igreja cristã. Possui também muitas citações geográficas.

86
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

CARTA DE PAULO AOS ROMANOS

A epístola de Paulo aos Romanos é uma obra prima


da teologia cristã, destacando-se entre os livros do Novo
Testamento. É um tratado teológico sobre a salvação.
Lutero chegou a dizer: "Se tivéssemos de preservar
somente o evangelho de João e a epístola aos Romanos,
ainda assim o cristianismo estaria a salvo."

A carta nos apresenta um resumo da bíblia e da


história humana sob o ponto de vista teológico. O autor
menciona Adão (5.14), Abraão (4.13), Moisés (5.14), Israel
(11.25), o Velho Testamento (1.2), Jesus (10.9), a salvação
(10.9), a igreja (16.1), o juízo (2.16) e a glorificação dos
salvos (8.30). Esses versículos são apenas alguns exemplos
dentre tantos que mencionam tais temas e pessoas.

Objetivo de Paulo - Paulo queria expor aos romanos


seu entendimento a respeito do evangelho e prepará-los
para sua futura visita, quando estivesse a caminho da
Espanha. (Rm.15.22-24).

87
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

A IGREJA EM CORINTO

A igreja em Corinto foi fundada pelo apóstolo Paulo


durante sua 2a viagem missionária, entre os anos 50 e 52
d.C. Ali, Paulo permaneceu durante dezoito meses
(At.18.1-8). A igreja era composta por judeus e gentios.
Entre seus membros havia ricos e pobres, inclusive
escravos.

AS EPÍSTOLAS AOS CORÍNTIOS

Em nossas bíblias, temos duas epístolas de Paulo


aos Coríntios. Entretanto, sabemos que elas seriam pelo
menos três. Em I Cor.5.9, Paulo se refere a uma carta
anterior, a qual não chegou às nossas mãos. Em II Cor. 7.8
existe referência a outra carta que pode ser I Coríntios.

Alguns comentaristas sugerem que a carta


mencionada em II Cor.7.8 seja uma outra epístola. Nesse
caso, teríamos quatro epístolas. Trabalhando ainda com
hipóteses, sugere-se que essa epístola corresponda aos
capítulos 10 a 13 de II Coríntios, os quais poderiam ter sido
ali agrupados posteriormente.

88
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Temos então o seguinte esquema:

 1a carta - desaparecida - existência garantida por I


Cor.5.9

 2a carta - é a que chamamos I Coríntios.

 3a carta - desaparecida – existência hipotética.

 4a carta – é a que chamamos II Coríntios.

89
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

A PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PAULO AOS


CORÍNTIOS

Autor: Paulo (1.1)

Escritor: Sóstenes (1.1)

Data: 56 d.C.

Local: Éfeso (16.8)

Texto chave: 5.7

Tema: o comportamento do cristão.

Classificação: eclesiologia (Estudos referentes à


igreja).

Principais motivos da carta- Nessa epístola, Paulo


não expõe os fundamentos do evangelho, como fez na carta
aos Romanos. Afinal, ele já estivera doutrinando os
coríntios pessoalmente durante um ano e meio. Paulo
escreveu àquela igreja depois de receber uma carta com
perguntas dos coríntios (I Cor. 7.1; 8.1-13) e a visita de
pessoas que vieram trazendo más notícias (1.11; 16.17).

90
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Os problemas dos coríntios eram muitos. Em


destaque estavam a divisão e a imoralidade.

Divisão na igreja- Logo que Paulo saiu de Corinto,


após ter fundado a igreja, Apolo chegou e deu
prosseguimento ao trabalho (At.18.24-28). Como disse o
apóstolo: "Eu plantei, Apolo regou.." (I Cor.3.6). Sua obra
foi importante e digna de reconhecimento. Ele era homem
eloquente e conseguiu conquistar a simpatia de muitos
coríntios. Ao que parece, os irmãos ficaram impressionados
com a pessoa de Apolo e começaram a fazer comparações
com Paulo, que talvez não falasse tão bem. (I Cor.2.1-5; II
Cor. 10.10).

Muitos chegaram a desprezar o apóstolo Paulo,


questionando sua autoridade e seu ministério. (I Cor.1.11-
14). Formaram-se então partidos dentro da igreja: os de
Paulo, os de Apolo, os de Cefas (Pedro em Aramaico) e os
de Cristo (I Cor.1.12). Não sabemos se Pedro esteve
pessoalmente em Corinto. Pode ser que sim. De qualquer
forma, é mais provável que o nome de Pedro tenha sido
levado por judeus cristãos que vieram de Jerusalém. Talvez
esse grupo corresponda aos judaizantes que tantos
problemas criaram para Paulo.

91
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O fato de alguns se intitularem "de Cristo" pode ter


sentido positivo ou negativo. Isso poderia significar uma
consagração maior, uma rejeição ao partidarismo, mas pode
também indicar independência, rejeição a todo tipo de
liderança e uma manifestação "orgulho espiritual".

Conquanto não possamos tirar conclusões sobre isso


na primeira epístola, o texto de II Cor. 10.7 parece mostrar
que aqueles que se diziam "de Cristo" eram os mais
problemáticos.

Influências da cidade - Como vimos, a cidade de


Corinto estava dominada pela idolatria, pela imoralidade e
pela corrupção generalizada. Tais fatores estavam "batendo
à porta da igreja". Esta situação não é diferente nos nossos
dias, quando o "modernismo" e o "mundanismo" estão
querendo entrar no nosso meio. Não podemos
simplesmente nos fechar para tudo o que nos rodeia. Nesse
caso, teríamos que "sair do mundo".

Contudo, precisamos discernir o que é aceitável e o


que não é. Muitas influências podem até ser positivas. O
que não se pode admitir é a entrada do pecado na igreja.
Por exemplo, se usamos instrumentos musicais que foram
inventados por ímpios, isso não é problema, mas se
trouxermos a sensualidade mundana para a igreja estaremos
recebendo o lixo do mundo.

92
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Em Corinto, as influências da cidade estavam


fazendo apodrecer a igreja. Os costumes pagãos estavam
influenciando até mesmo a (des)organização dos cultos.

A carnalidade dos cristãos coríntios - A influência


externa só produz resultado quando encontra receptividade
interna. A carnalidade daqueles cristãos era a porta aberta
para os males externos. Assim, surgiam diversos problemas
na vida da igreja. No capítulo 2, Paulo fala sobre o "homem
natural" (v.14) e o "homem espiritual" (v.15). O homem
natural é o ímpio. O espiritual é o cristão controlado pelo
Espírito Santo. No capítulo 3, verso 1, o autor se refere ao
"homem carnal". Carnalidade é o modo de vida de acordo
com os desejos descontrolados da natureza pecaminosa. O
homem carnal é o crente sem o controle do Espírito Santo.

Sua vida se torna semelhante à do homem natural,


onde o domínio do pecado é visto com naturalidade.

Especificando as influências - Na sequência,


procuraremos expor o "pano de fundo" dos problemas da
igreja de Corinto. Vários elementos estavam contribuindo
para aquela situação de caos. A epístola apresenta o esforço
de Paulo para colocar as coisas em seus devidos lugares;
Muitas delas deveriam ser colocadas para fora da igreja.

93
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Religião e imoralidade (I Cor.5.1; 6.15-18; 7.2)- A


cultura de Corinto misturava religião e imoralidade. Além
disso, a vida passada (6.9-11) de muitos daqueles irmãos
constituía um ponto fraco, motivo pelo qual alguns (ou
muitos?) se deixaram levar pelos pecados sexuais. Paulo
deixa bem claro que essa mistura não poderia existir dentro
da igreja.

O padrão de religiosidade da cidade não servia para


os cristãos. O caso mais grave está relatado no capítulo 5:
um homem da igreja havia cometido incesto com a sua
madrasta. O apóstolo aconselhou que o mesmo fosse
expulso da igreja.

Em casos assim, muitos poderiam apelar para a


tolerância, o amor, etc. Contudo, a impunidade seria um
forte incentivo para que outros se deixassem levar por
pecados semelhantes. A exclusão precisava ser feita.
Posteriormente, o irmão poderia ser novamente admitido na
congregação, como parece ter ocorrido (II Cor.2).

A imoralidade de Corinto acabava por desvalorizar


o casamento. Por isso, Paulo lhes dá diversas orientações
no sentido de que o casamento fosse visto como uma
instituição divina. Embora o apóstolo afirme que é melhor
estar solteiro para servir a Deus, ele também deixa claro
seu conselho no sentido de que os casados não se separem.

94
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O casamento é colocado como um importante


antídoto contra a imoralidade.

O problema sexual deturpava também o conceito de


amor. Afrodite era considerada a deusa do amor e este
possuía uma conotação principalmente sexual. Desse
contexto grego vem a palavra "erotismo", que é derivada do
nome "Eros", um deus da mitologia. Paulo parece estar
preocupado com essa questão quando dedica o capítulo 13
ao amor. Ele quer formar um conceito correto a respeito do
amor, mostrando o que ele é e o que ele não é.

Religião e ordem no culto (I Cor.14.23,26-35) - A


desordem pagã e a ordem cristã. Sabendo que o culto a
Afrodite era uma orgia, deduzimos que ali não se
encontravam ideais de reverência, ordem, decência e
organização. Os cultos da igreja, embora não incluíssem
práticas sexuais, estavam bastante tumultuados. Paulo
escreveu então, procurando estabelecer princípios que
pudessem regulamentar as reuniões da igreja. Por isso ele
diz para que se evite o falar em línguas sem interpretação.

E quando houver, que não se manifestem mais do


que três profetas. Aconselha que as mulheres fiquem
caladas durante o culto e que guardem as perguntas para
seus maridos em casa.

95
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Entendemos que Paulo não pretendia criar uma


"camisa de força" para nós, como se estivesse ditando um
conjunto de "leis eclesiásticas". Tais orientações foram
assim radicais pois a situação dos coríntios era grave. De
tudo isso, precisamos guardar os princípios de ordem,
decência, reverência e que só se faça no culto aquilo que
puder promover a edificação da igreja.

Religião e comportamento feminino - Por quê será


que Paulo foi tão rigoroso em relação às mulheres cristãs?
Lembremo-nos de que as mulheres ocupavam lugar de
proeminência na religião pagã de Corinto. A principal
divindade era uma deusa. As mulheres oficiavam os cultos
a Afrodite. Eram 1000 sacerdotisas que se prostituíam no
templo. Além disso, as prostitutas proliferavam-se pela
cidade. Comentaristas nos informam que, quando uma
mulher usava o véu, isso significava que ela estava
submissa a um homem, quer seja seu marido, seu pai ou um
parente responsável.

Quando se via uma mulher sem véu e com o cabelo


tosquiado ou mesmo raspado, já se deduzia que a mesma
estava totalmente disponível. Essa era a maneira como as
prostitutas eram identificadas. Sendo assim, as mulheres
cristãs precisavam agir com modéstia, precisavam usar o
véu e manter seus cabelos compridos. Nos cultos não lhes
seria dado lugar de destaque ou liderança.

96
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Não se poderia deixar que o estilo pagão de culto


influenciasse a igreja. O uso do véu era importante naquele
contexto cultural. Deixar de usá-lo naqueles dias seria
motivo de mal testemunho ou escândalo. Então, era
prudente que as mulheres cristãs usassem o véu. Podemos
comparar isto ao uso da aliança hoje como sinal de
compromisso matrimonial. Se o homem casado ou a
mulher casada deixam de usar aliança, não estarão
desobedecendo a um mandamento bíblico específico mas
estarão levantando suspeitas e maus juízos, o que não é
edificante para o cristão nem para o evangelho.

Reforça-se então a necessidade que temos de extrair


os princípios que tais passagens nos trazem e não sua
aplicação literal. Paulo está ensinando o uso do bom senso
em relação aos costumes culturais e também está
orientando sobre a autoridade do homem sobre a esposa.

Religião e alimentação (I Cor.8.10; 10.27). Assim


como ocorria no judaísmo, os sacrifícios de animais eram
comuns em diversas religiões. Parte do animal era
queimado sobre o altar. Outra parte era servida aos
ofertantes, sacerdotes e convidados. Eram, portanto,
frequentes as refeições nos templos pagãos. Desta
influência surgiram dois problemas para a igreja:

97
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

 Os cristãos realizavam refeições na igreja em


ambiente tumultuado e chamavam isso de ceia do
Senhor. Os ricos levavam grande quantidade de
comida e bebida para a igreja. Chegavam até a ficar
embriagados (I Cor.11.20-22). Enquanto isso, os
irmãos pobres muitas vezes não tinham o que levar.
Isso se tornava então uma situação constrangedora e
humilhante. Por isso, Paulo perguntou: "Não tendes,
porventura, casas onde comer e beber?" As reuniões
da igreja não podiam reproduzir as refeições dos
templos pagãos. Então, o apóstolo orienta como
deve ser a ceia do Senhor: com reverência, ordem e
santidade (I Cor.11.23-34).

 Outro problema é que as refeições nos templos


pagãos eram acontecimentos sociais e,
eventualmente, os cristãos poderiam ser convidados
para participar. Estariam então diante de um
alimento sacrificado aos ídolos. Paulo diz que, já
que o ídolo é nada, é uma ilusão, então a carne
sacrificada é como outra carne qualquer. Ali não
existe nenhuma maldição nem contaminação.
Porém, se um cristão, que antes adorava naquele
templo pagão, vê um irmão comendo ali a carne do
sacrifício, ele pode se sentir tentado a voltar à sua
prática antiga. Cria-se então uma situação de
tropeço e confusão.

98
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Se a participação em tais refeições pode se tornar


motivo de escândalo, então é melhor evitá-las (I Cor.
8). Ele diz também que o cristão não pode participar
da mesa do Senhor (ceia) e da mesa dos demônios
(refeições pagãs). Muitas vezes, a carne desses
animais sacrificados ia parar até nos mercados. Sobre
isso, Paulo diz que o cristão deveria comprar sem
preocupação (10.25). Não deveria nem perguntar
sobre a origem da carne. Da mesma forma, se o
cristão fosse almoçar na casa de um ímpio, deveria
comer de tudo sem perguntar (10.27). Entretanto, se o
anfitrião dissesse que aquela carne era de um
sacrifício aos ídolos, o cristão deveria recusá-la, não
por causa do ídolo ou por causa do animal, mas
porque o comer poderia ser interpretado como
participação na idolatria ou, no mínimo, aprovação
(10.28).

Religião e Filosofia - Se, naquele tempo, a filosofia


grega era influente em todo o mundo, quanto mais em
Corinto, que estava na Grécia. A filosofia clássica se
caracteriza pela interpretação humana da realidade. Tal
pensamento formou e ainda forma muitos conceitos que são
geralmente aceitos como verdade.

99
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

As palavras de Paulo nos fazem entender que os


coríntios possuíam conceitos distorcidos sobre o amor, a
liberdade e a sabedoria. Muitas vezes, a filosofia é utilizada
para montar justificativas para o pecado.

Os gregos eram orgulhosos por seu conhecimento


filosófico. O apóstolo se esmera por mostrar que o
entendimento humano é loucura. Ele procura mostrar o
verdadeiro sentido do amor, da liberdade, da sabedoria,
etc.. No texto que vai de 1.18 a 2.16, Paulo confronta a
sabedoria humana com a sabedoria divina. Estava em alta o
pensamento gnóstico, o qual supervalorizava o
conhecimento, associando-o à salvação humana. A ciência
tomava ares de virtude espiritual. Além de enfatizar a
sabedoria divina contra a sabedoria humana, Paulo também
afirma: "A ciência incha, mas o amor edifica" (I Cor.8.1).

A matéria era vista pelos gnósticos como maligna.


Daí surgem várias heresias:

 Se a matéria é má, o casamento também. Paulo


combate essa idéia em I Cor. 7.5.

 A ressurreição do corpo era vista como


"materialista". Por isso Paulo expõe e defende a
doutrina da ressurreição no capítulo 15.

100
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

 Enquanto que alguns gnósticos, diante da suposta


malignidade da matéria, optavam pelo ascetismo, ou
seja, pela negação dos desejos sexuais e a total
abstinência, outros, combinando gnosticismo e
cristianismo, julgavam-se protegidos contra todos
os males e, assim, podiam, supostamente, se
entregar aos desejos sem restrições.

Conhecimento, liberdade e amor - eram


elementos mal interpretados, mal colocados e mal
valorizados em Corinto. Isso veio a causar uma série de
problemas na igreja. Alguns julgavam que a liberdade
cristã lhes dava direito de fazer tudo, quer seja a
participação nas refeições dos templos pagãos ou mesmo a
união carnal com as meretrizes.

Paulo se posiciona contra todas essas variações da


influência filosófica e da falsa interpretação do
cristianismo. Assim, ele condena a libertinagem sexual, ao
mesmo tempo em que defende a legitimidade do sexo
dentro do matrimônio (I Cor. 6.15-16 e I Cor.7). A
liberdade cristã é, de fato, ampla. Contudo, o amor é o seu
parâmetro maior. Assim, se, no uso da nossa liberdade,
ultrapassamos os limites do amor a Deus e ao próximo,
saímos da liberdade cristã e entramos nos domínios do
pecado.

101
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Por isso, Paulo diz: "Todas as coisas me são lícitas,


mas nem todas me convém." (I Cor.10.23). "Não sabeis vós
que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei,
pois, os membros de Cristo e fá-los-ei membros de
meretriz? Não, por certo" (I Cor.6.15). Ao usar a expressão
"não sabeis", fica evidente a questão do conhecimento. Os
coríntios sabiam muita coisa, mas era urgente que
soubessem sob o ponto de vista de Deus, conforme Paulo
estava procurando expor.

Com relação aos alimentos sacrificados aos ídolos,


Paulo deixa claro que a liberdade cristã, em princípio, nos
permitiria participar deles, uma vez que o ídolo é uma
ilusão. Entretanto, vêm novamente à tona a questão do
amor. Se tal exercício extremo da liberdade for causar
escândalo ao próximo, ou ao irmão, então o amor não
estaria operando. "Ninguém busque o proveito próprio,
antes cada um o que é de outrem." (I Cor.10.24).

A solução - Paulo lembra aos coríntios que Jesus é


o fundamento de suas vidas. Entretanto, sobre esse
fundamento, estava sendo utilizado material estranho para a
construção. Entra aí a questão da responsabilidade dos
líderes eclesiásticos. Não sabemos quem liderava a igreja
em Corinto. Ao que tudo indica, faltava ali uma liderança
forte que conseguisse conduzir a igreja. Vemos que a
mesma estava dividida em grupos.

102
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Certamente, havia líderes, mas estes não estavam


conseguindo uma coesão entre si e entre os membros da
igreja. Paulo precisou enviar Timóteo (I Cor.4.17; 16.10).
Ele insistiu para que Apolo fosse até lá, mas isso não foi
possível (I Cor.16.12). O apóstolo chama a atenção da
igreja para o seu fundamento: Cristo (I Cor.3.11). Ele é
também a solução para todas aquelas questões e problemas.
A edificação precisa ser coerente com o alicerce. O nosso
desenvolvimento na fé precisa utilizar doutrinas e conceitos
coerentes com a pessoa e o ensino de Cristo. Ele apresenta
Jesus como a sabedoria de Deus, justiça, santificação e
redenção (1.30). Esses elementos precisam estar
combinados na vida do cristão: sabedoria, justiça,
santificação e redenção. A sabedoria humana não produz a
justiça divina na vida do homem. O conhecimento humano
não se vincula à santificação e, muitas vezes, abona o
pecado. O resultado de tudo isso jamais será redenção, mas
sim perdição. A filosofia como material de edificação da
igreja não lhe daria firmeza. Pelo contrário, causaria sua
queda e ruína.Paulo apela para a lembrança da história de
Israel no capítulo 10.1-13. Seu objetivo era mostrar que,
embora aquele povo tenha saído do Egito sob a poderosa
manifestação do poder de Deus, pereceu depois no deserto
pelo fato de ter se deixado levar por tentações diversas.

Fica então traçado um paralelo dessa narrativa com


a experiência dos coríntios, aos quais o apóstolo adverte
contra os riscos de fracasso na fé (10.12).

103
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

SEGUNDA EPÍSTOLA DE PAULO AOS


CORÍNTIOS

HISTÓRICO ENTRE AS EPÍSTOLAS AOS


CORÍNTIOS.

Ao escrever a primeira epístola, Paulo se encontrava


em Éfeso. Ali ocorreu grande tumulto porque os
comerciantes de imagens estavam perdendo seus lucros
após as pregações de Paulo. Diante da perseguição, o
apóstolo vai para Trôade. Por esse tempo, ele se sentia
angustiado pela expectativa em relação à igreja de Corinto.

Eram "combates por fora e temores por dentro".


Paulo aguardava a chegada de Tito. De Trôade, Paulo vai à
Macedônia. Pouco depois, Tito chega com notícias de
Corinto. (At.19.30 a 20.1 II Cor.2.12-13; 7.5-10,13).

De acordo com as informações de Tito, a epístola


enviada recentemente, havia provocado tristeza e
arrependimento em alguns e rebeldia em outros. O pecador
de I Cor. 5 estava arrependido e acerca dele Paulo dá
instruções em II Cor.2 para que a igreja o receba e o
perdoe.

104
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Havia falsos apóstolos agindo entre os coríntios (II


Cor.11.3,13; 12.11), os quais procuravam desmoralizar a
pessoa e a mensagem de Paulo (I Cor.1.17; 10.9-10;
11.1,6,16).

A HIPÓTESE DA CARTA DESAPARECIDA

Normalmente, se considera que as reações relatadas


por Tito se refiram à epístola que conhecemos como I
Coríntios. Entretanto, existe a hipótese de que, após o envio
da primeira epístola, Paulo tenha visitado Corinto. Nessa
oportunidade, ele teria sido gravemente ofendido por
alguém (II Cor.2.5-11; 7.12).

Logo depois, teria enviado uma epístola muito


emocionada, a qual não teria chegado ao nosso
conhecimento ou então seria correspondente aos capítulos
10 a 13 de II Coríntios. De acordo com essa hipótese, as
reações mencionadas em II Cor.7.8-12 seriam referentes a
essa suposta epístola e o homem de II Cor.2.5 seria aquele
que ofendeu pessoalmente o apóstolo. Contudo, essa
suposição não foi comprovada.

105
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

CARACTERÍSTICAS DA EPÍSTOLA

Bastante pessoal e emocionada. Mistura amor,


censura e indignação. Fala a dois grupos na igreja: os
obedientes e os rebeldes.

OS OBEDIENTES E OS REBELDES.

No estudo da primeira epístola, vimos que a igreja


de Corinto estava dividida em partidos, de acordo com as
preferências individuais. Na segunda epístola vemos a
igreja dividida em dois grupos: os obedientes e os rebeldes.

Afinal, esta é diferença que importa. É sob esse


ponto de vista que Deus nos observa. Seja qual for a nossa
preferência política ou pessoal, precisamos examinar a nós
mesmos afim de sabermos a qual grupo pertencemos no
que diz respeito à obediência.

106
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

EPÍSTOLA DE PAULO AOS GÁLATAS

Data – Entre 55 e 60

Texto chave – 5.1

Tema – A justificação pela fé sem as obras da lei.

ÁSIA MENOR

A Galácia era uma região da Ásia Menor. Para


localizarmos melhor, vamos diferenciar Ásia de Ásia
Menor. A Ásia é um continente que inclui diversos países:
Rússia, Índia, países do Oriente Médio, países do Extremo
Oriente, etc. A Ásia Menor, por sua vez, corresponde a
território bem menor, que hoje é ocupado pela Turquia.

107
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

GALÁCIA

O nome Galácia é derivado de gaulês. Os gauleses


eram originários da Gália (França hoje), que dominaram a
região centro-norte da Ásia Menor por volta do ano 300
a.C.. Em 189 a.C., esse território foi conquistado pelos
romanos. Em 25 a.C., Roma estabeleceu ali uma província
que manteve o nome de Galácia. Contudo, seus limites
eram maiores que a região original. Assim, ao norte havia
os gálatas étnicos.

Ao sul havia outros grupos que faziam parte da


província mas que não tinham a mesma origem genealógica
gaulesa. Por essas questões, quando o Novo Testamento
menciona os gálatas, existe dificuldade em se determinar se
os autores se referem a todo o povo da província ou apenas
ao grupo étnico descendente dos gauleses. A qual grupo o
apóstolo Paulo teria escrito?

108
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

AS IGREJAS DA GALÁCIA

Enquanto que as epístolas aos coríntios eram


destinadas a uma igreja específica, a carta aos gálatas
destina-se a várias igrejas, acerca das quais não temos
muitas informações específicas. Sabemos que, entre tantas
cidades localizadas na província da Galácia, Paulo fundou
igrejas em Antioquia da Psídia, Icônio, Listra e Derbe,
durante sua primeira viagem missionária (At.13-14).

Motivo da carta- Os judeus estavam presentes em


todo o Império Romano, principalmente nas cidades mais
importantes. Muitos deles se converteram ao cristianismo e,
dentre os convertidos, havia aqueles que queriam impor a
lei mosaica sobre os cristãos gentios. São os já
mencionados "judaizantes". Assim como os fariseus e
saduceus perseguiram Jesus durante o período mencionado
pelos evangelhos, os judaizantes pareciam estar sempre
acompanhando os passos de Paulo afim de influenciar as
igrejas por ele estabelecidas. Essa questão entre judaísmo e
cristianismo percorre o Novo Testamento, tornando-se até
um elemento que testifica a favor da unicidade e
autenticidade histórica dessas escrituras.

109
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Os judaizantes estavam também na Galácia, onde se


tornaram forte ameaça contra a sã doutrina das igrejas.

O ATAQUE DOS JUDAIZANTES CONTRA


PAULO E O EVANGELHO

Aqueles judeus davam a entender que o evangelho


estava incompleto. Para conseguirem uma influência maior
sobre as igrejas, eles procuravam minar a autoridade de
Paulo. Para isso, atacavam a legitimidade do seu
apostolado, como tinham feito em Corinto. Pelas palavras
de Paulo, deduzimos os argumentos de seus acusadores.

Eles não admitiam que Paulo pudesse ser apóstolo


já que não era um dos 12 nem tinha andado com Jesus.

O EVANGELHO JUDAIZANTE

Os judaizantes chegavam às igrejas com o Velho


Testamento "nas mãos". Isso se apresentava como um
grande impacto para os cristãos. O próprio Paulo ensinava a
valorização das Sagradas Escrituras.

110
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Como responder a um judeu que mostrava no Velho


Testamento a obrigatoriedade da circuncisão e da
obediência à lei? Além disso, apresentavam Abraão como o
modelo para os servos de Deus. Só a revelação e a
experiência com Deus poderiam vencer esse desafio. O
conhecimento não seria suficiente.

Os judaizantes ensinavam que a salvação dependia


também da lei, principalmente da circuncisão. Segundo
eles, para ser cristão, a pessoa precisava antes ser judeu
(não por descendência mas por religião).

POR QUÊ NÃO GUARDAMOS A LEI?

1o – A lei de Moisés foi dada aos filhos de Israel


(Êx.19,3,6). Nós, cristãos gentios, não somos filhos de
Israel.

2o – Jesus cumpriu a lei cerimonial. Tal


cumprimento significa não apenas sua obediência mas a
satisfação das exigências da lei cerimonial através da obra
de Cristo.

111
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Precisamos entender que os mandamentos da lei


mosaica se dividem em vários tipos. Vamos, basicamente,
dividi-los em mandamentos morais, civis e cerimoniais.

Os mandamentos morais dizem respeito ao


tratamento para com o próximo: Não matarás; Não
adulterarás; Não furtarás, etc. Tais ordenanças estão
vinculadas à palavra amor.

Os mandamentos civis são aqueles que


regulamentavam a vida social do israelita. São regras
diversas que se aplicam às relações da sociedade. Um bom
exemplo é o regulamento da escravidão.

Os mandamentos cerimoniais são aqueles que se


referem estritamente às questões religiosas. São as
ordenanças que descrevem os rituais judaicos.

A classificação de um mandamento dentro desses


tipos nem sempre é fácil. Algumas vezes, uma lei pode
pertencer a dois desses grupos ao mesmo tempo, já que a
questão religiosa está por trás de tudo. A sociedade israelita
era essencialmente religiosa. O Estado e o sacerdócio nem
sempre se encontravam separados. Contudo, tal proposta de
classificação já serve para o nosso objetivo.

112
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

A lei moral se resume no amor a Deus e ao próximo


(Gálatas 5.14). Os princípios morais permanecem válidos
no Novo Testamento. Hoje, não matamos o próximo, mas
não por causa da lei de Moisés e sim por causa da lei de
Cristo (Gálatas 6.2), à qual os gálatas deviam obedecer. A
lei de Cristo é a lei do amor a Deus e ao próximo.

As leis civis do povo de Israel não se aplicam a nós.


Além dos motivos já expostos, nossas circunstâncias são
bastante diferentes e temos nossas próprias leis civis para
observar. O cristão deve obedecer as leis estabelecidas
pelas autoridades humanas enquanto essas leis não
estiverem ordenando transgressão da vontade de Deus
(Rm.13.1).

As leis cerimoniais judaicas foram abolidas por


Cristo na cruz. Por esse motivo, mesmo os judeus que se
convertem hoje ao cristianismo estão dispensados da lei
cerimonial judaica. Por isso, não fazemos sacrifícios de
animais, não guardamos o sábado, não celebramos as festas
judaicas, etc.

Se alguém quiser observar algum costume judaico,


isso não constituirá problema (Rm.14.5), desde que a
pessoa não veja nisso uma condição para a salvação,
porque, se assim for, a obra de Cristo estará sendo colocada
em segundo plano, como algo incompleto e insuficiente
(Gálatas 5.4).

113
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Além de tudo isso, é bom que citemos as palavras


de Paulo: "..não estais debaixo da lei mas debaixo da
graça." (Rm.6.14) (Veja também Gálatas 3.24-25).

114
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

EPÍSTOLA DE PAULO AOS EFÉSIOS

FUNDAÇÃO DA IGREJA

Paulo fundou a igreja em Éfeso por ocasião da sua


primeira visita, durante a segunda viagem missionária
(At.18.19). Na segunda vez em que foi à cidade (At.19.1),
permaneceu lá durante um período superior a dois anos.

Éfeso tornou-se o centro dos trabalhos missionários


do apóstolo. Naquele período, toda a Ásia Menor foi
evangelizada (At.19.10). Pode ser que nessa ocasião
tenham sido fundadas as sete igrejas mencionadas no
Apocalipse (2 e 3). Timóteo, Apolo, Áquila e Priscila
trabalharam na igreja de Éfeso (At.18.18,19,24; I Tm.1.3; II
Tm.4.19). De acordo com a tradição, o apóstolo João
também exerceu ministério naquela cidade e ali morreu. A
bíblia não confirma isso. O que temos de concreto é que
João escreveu uma carta à igreja de Éfeso assim como fez a
outras seis igrejas da Ásia (Ap.2.1).

Comentário - A carta que hoje conhecemos como


"Epístola de Paulo aos Efésios", parece ter sido uma
correspondência circular destinada às diversas igrejas da
Ásia Menor.

115
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Seu conteúdo não é pessoal nem trata de questões


ou problemas específicos de uma comunidade em
particular. Não possui saudações pessoais, como seria
natural em uma carta dirigida a um grupo determinado. De
acordo com os estudiosos dos manuscritos do Novo
Testamento, a expressão "que vivem em Éfeso" (1.1) não
aparece em todas as cópias antigas.

Supõe-se então que poderia se tratar de uma carta


circular e que, eventualmente, alguém tenha acrescentado
essas palavras quando endereçou uma cópia para os efésios.
Alguns comentaristas sugerem que essa epístola possa ser a
mesma que Paulo menciona em Colossenses 4.16, quando
fala da carta enviada aos irmãos de Laodiceia , e que
deveria ser lida também em Colossos.

Motivo de envio da carta - As igrejas cristãs


estavam se estabelecendo em diversas cidades do Império
Romano, começando dos principais centros, onde Paulo
procurava concentrar suas atividades evangelísticas. Nesses
mesmos centros, encontravam-se colônias judaicas, já que,
por motivos diversos, milhares de judeus estavam
espalhados por vários lugares. Eles se estabeleciam com
mais frequência nas principais cidades, como seria natural,
uma vez que nesses locais se concentravam as atividades
comerciais, culturais e religiosas, sendo os melhores
campos para o trabalho e o enriquecimento.

116
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Desse modo, em todos os lugares Paulo encontrava


uma sinagoga e ali pregava para os judeus. Assim, apesar
dos protestos e perseguições, alguns se convertiam. Logo
estava estabelecida a igreja e sua formação incluía gentios e
judeus. Percebe-se então uma dicotomia imediata na
comunidade. Além disso, como era natural, a igreja era
formada por homens e mulheres, servos e senhores,
escravos e livres, ricos e pobres. Bem sabemos que esse
cenário não era uma particularidade de Éfeso, mas
característica comum a diversas igrejas. Essa diversidade
de componentes da igreja, faz com que ela seja um
organismo bastante eclético.

Essa variedade se tornava, muitas vezes, causa de


divisão, partidarismo, dentro das igrejas. Por isso, Paulo
escreve aos efésios, tendo como principal tema a unidade
da igreja. Seu foco está principalmente sobre a questão
entre judeus e gentios. Por um lado, os judeus se
consideravam como a "nata" religiosa do mundo. Então, os
gentios eram vistos por eles como uma segunda categoria,
até mesmo dentro da igreja. Os gentios, por sua vez,
poderiam se sentir inferiorizados. Contudo, nas cidades
fora da Palestina, os gentios eram os "donos da casa".
Então, os judeus poderiam ser vistos como estrangeiros
arrogantes que se achavam superiores aos próprios
cidadãos do lugar.

117
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

EPÍSTOLA DE PAULO AOS


FILIPENSES

A IGREJA EM FILIPOS

Foi a 1a igreja cristã na Europa. Foi fundada por


Paulo durante a segunda viagem missionária - At.16.11-40.
Ali chegando, o apóstolo foi bem recebido juntamente com
Silas. Os primeiros convertidos foram Lídia, vendedora de
púrpura, e uma jovem que adivinhava, da qual foi expulso
um espírito imundo. Sendo liberta, cessaram os seus
prognósticos. Diante disso, cessou também o lucro dos seus
senhores, os quais se enfureceram contra Paulo e Silas,
incitando contra eles as autoridades locais. Como resultado,
aqueles irmãos foram espancados e lançados na prisão (I
Tss.2.2). Estando orando e louvando à meia-noite, Deus os
libertou por meio de um terremoto que abriu as cadeias.
Diante de tão grande acontecimento, o carcereiro se
converteu e também a sua família.
Algum tempo depois, os irmãos Filipenses enviaram
ajuda financeira para Paulo - II Cor.8.2 Fil. 4.10,15.

118
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

A SITUAÇÃO DE PAULO

Ao escrever a epístola aos Filipenses, Paulo se


encontrava preso, correndo risco de vida, distante de muitos
irmãos e amigos e em dificuldade financeira. Na carta, ele
fala da morte várias vezes: 1.20; 2.8; 2.27; 2.30; 3.10.
Entretanto, a mesma epístola enfatiza a alegria, a gratidão
(1.3; 4.6), e ainda admoesta contra a murmuração (2.14).

Isso é testemunho (2.15). Alegria e gratidão no


meio do sofrimento é tão contrastante quanto a luz no meio
da escuridão, como uma estrela refulgente no meio do
negro céu. Não dá para ignorar. Paulo compara os cristãos
aos luzeiros, aos astros, e não a uma vela ou a um pavio de
lamparina (2.15). O luzeiro produz abundante luz, a qual
não se apaga com o vento nem com a tempestade.

Normalmente, se existe luz, existe fogo. Algo está


se consumindo. Algo está queimando. Não seremos luz
gratuitamente. Não seremos luz sem sacrifício, sem dor,
sem renúncia, sem sofrimento ou sem tribulações.

Até a sua própria morte é vista por Paulo como um


meio pelo qual o Senhor Jesus seria glorificado (1.20).
Segundo a visão do apóstolo, sofrer pelo evangelho é um
privilégio (1.29).

119
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

EPÍSTOLA DE PAULO AOS


COLOSSENSES

A CIDADE DE COLOSSOS

Colossos ficava a sudoeste da Frígia, na Ásia


Menor, às margens do rio Lico. A cidade foi importante no
século V a.C.. Depois foi perdendo sua importância diante
do crescimento de Laodicéia, a 18 km, e Hierápolis
(Col.4.13). O livro de Apocalipse confirma que Laodiceia
era uma cidade rica (Ap.3.18).

Colossos perdeu sua importância devido à mudança


no sistema de estradas. Isso passou a beneficiar Laodiceia.

A cidade dos colossenses foi destruída no século 12


d.C.. Escavações arqueológicas realizadas em 1835
descobriram um teatro e um cemitério da cidade.

120
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

FUNDAÇÃO DA IGREJA

A igreja em Colossos deve ter sido fundada por


Epafras. Isso não está claro no Novo Testamento, mas
parece ser uma dedução coerente com as palavras de Paulo
(Col. 1.7,8). É provável que Paulo nunca tenha estado em
Colossos. Isso é deduzido de Col. 2.1. Apesar de tantas
questões incertas sobre a fundação da igreja, o que sabemos
com certeza é que a mesma estava sob a liderança de
Epafras, como também ocorria com as igrejas de Laodiceia
e Hierápolis (Col. 4.12-13).

O texto de Colossenses 4 e também o de Filemom


23 nos dão a entender que Epafras estava preso juntamente
com Paulo, quando este escreve as chamadas "epístolas da
prisão": Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom. Essa
circunstância comum às quatro cartas faz com que haja
algumas semelhanças entre elas, principalmente entre
Efésios e Colossenses (Exemplo: Ef.6.21-22 e Col. 4.7,9 e
Fm.10,23,24.)

121
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

COMENTÁRIO

Divisão do livro - Como já é comum no estilo


paulino, a epístola apresenta duas partes: doutrina (cap. 1 e
2) e aplicação prática (3 e 4). Paulo mostra de modo
bastante consciente o valor do conhecimento e da
experiência. Precisamos também valorizar as duas coisas,
as quais precisam andar juntas (Os.4.6; Tg.1.22). O
conhecimento isolado é inútil. Na oportunidade em que
puder ser aplicado, então torna-se proveitoso. Se
conhecermos a doutrina mas não a colocarmos em prática,
a mesma será inútil.

Por outro lado, a busca da experiência por parte de


quem despreza o conhecimento, torna-se uma aventura
perigosa. Quem busca apenas experiências espirituais e não
quer aprender nada sobre Deus e sobre a bíblia, poderá,
eventualmente, ter uma experiência com o inimigo e ser
enganado. Observe em Colossenses 2.18, que as visões
podem estar ligadas ao engano. Sabemos que Deus também
dá visões (Joel 2.28), mas estas estarão sempre coerentes
com a bíblia. Portanto, o conhecimento será o filtro para a
experiência. O conhecimento é a base para o discernimento.

Em Mateus 4, Jesus, ao ser tentado, combateu o


inimigo através da Palavra de Deus, à qual Cristo conhecia
de cor, sabendo também o seu real significado.

122
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Na parte prática, Paulo dá instruções para os pais,


esposas, maridos, filhos, servos e senhores. Orienta
também em relação à oração, à pureza e liberdade cristã.

O PROBLEMA DOS COLOSSENSES

Judaísmo e Gnosticismo - Epafras levou ao


conhecimento de Paulo a situação dos Colossenses. O
"relatório" apresentava dois aspectos importantes. Em
primeiro lugar, foi dado testemunho a respeito da fé, do
amor e do crescimento daquela igreja (1.4-8; 2.5). A outra
informação dava conta de que alguns líderes estavam se
infiltrando na comunidade e levando influências judaicas e
filosóficas (2.8). Esses elementos estavam se misturando e
produzindo heresias. A parte filosófica em questão era a
doutrina dos gnósticos. Juntando tudo isso, os irmãos
estavam sendo pressionados em relação aos seguintes
pontos:

 Valorização dos mistérios do gnosticismo.

 Adoração a anjos, aos quais os gnósticos atribuíam


a obra da criação.

123
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

 Ascetismo exterior: abstinência de comidas e


bebidas (influência gnóstica e judaica).

 Observância da lei mosaica (influência judaica).

 Prática da circuncisão.

 Comemoração das festas judaicas.

 Guarda do sábado.

Os gnósticos acreditavam que o mal estava ligado à


matéria. Este conceito produzia outros bastantes perigosos.
Criam que, sendo a matéria má, então não foi Deus quem a
criou, mas sim os anjos. Se a matéria é má, então a
encarnação divina não poderia ser considerada um fato nem
uma possibilidade. Assim, estava criado um sistema
doutrinário que negava a divindade de Cristo e a obra da
cruz.

Apesar de não ser diretamente responsável pela


igreja em Colossos, Paulo reage energicamente contra
aquelas heresias que ameaçavam a sã doutrina. Em seu
combate, Paulo destaca a supremacia de Cristo.

124
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

A sua divindade e a sua obra na cruz eram


elementos plenamente suficientes para a refutação de todos
aqueles ensinamentos judaicos e filosóficos (2.8-10). Se
forma incisiva, Paulo derruba todos aqueles sofismas. Ele
destaca que o mistério que nos interessa é Cristo, o qual já
foi revelado a nós. Então, de nada importam os mistérios
gnósticos (Col. 1.26-27; 2.2-3; 4.3).

Se conhecemos a Cristo, não precisamos inquirir


sobre nenhum outro mistério religioso ou filosófico. O
nome gnosticismo vem do termo "gnose", que significa
conhecimento. Paulo usa a mesma palavra para mostrar que
o conhecimento de Deus através de Cristo é suficiente para
suprir as necessidades espirituais do homem (Col. 1.9-
10,27-28; 2.2-3; 3.16)

O gnosticismo atribuía a criação aos anjos,


colocando-os como objeto de culto (2.18). A isso, Paulo
combate ao dizer que Cristo, sendo Deus, é o criador de
todas as coisas, inclusive dos anjos (1.13-17). Acrescenta
ainda, que o Senhor Jesus está acima de todos os poderes
angelicais, sejam eles principados ou potestades, os quais
estão sujeitos ao senhorio de Cristo (2.10,15). Adorando
anjos, os gnósticos estavam, de fato, adorando demônios,
pois os anjos de Deus não recebem culto. Paulo associa os
"anjos dos gnósticos" aos demônios quando diz que Cristo
despojou os principados e potestades, expondo-os ao
desprezo.

125
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Com relação às questões judaicas, Paulo insiste


naqueles pontos já presentes nas outras epístolas. Cristo já
nos resgatou do domínio das exigências cerimoniais da lei.
Ele a cravou na cruz (2.14). O significado de Cristo em nós
(1.27) supre totalmente o que poderíamos buscar através da
circuncisão (2.11; 3.11), ou das festas, ou dos sábados
(2.16-17). Já temos Cristo. Então não precisamos mais
desses elementos judaicos, os quais possuíram o seu valor
numa época em que Cristo não tinha vindo ao mundo.
Paulo diz que aqueles elementos do judaísmo eram
"sombra". Cristo é a realidade. Não precisamos mais da
sombra. O autor da carta aos Hebreus usa a mesma
linguagem para comparar a lei e o judaísmo com a
realidade cristã (Hb.8.5; 10.1).

Os judaizantes e os gnósticos traziam um fardo de


mandamentos exteriores para os gentios convertidos ao
cristianismo. Contudo, suas leis atingiam apenas questões
superficiais e até supérfluas. Afirmando que a matéria é
má, os gnósticos impunham severas regras de alimentação
e disciplina. Contudo, nada disso seria útil ao espírito. Tal
rigor poderia até ter utilidade para o corpo, mas era inútil
para a alma e não poderia ser colocado como questão
espiritual, religiosa, ou relacionada à salvação eterna. No
capítulo 3, Paulo fala do que realmente afeta a alma
humana: o pecado. De que adiantariam tantas ordenanças e
rituais se o pecado continuasse ocorrendo livremente.

126
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Então, o apóstolo toca no que realmente era


importante para os colossenses e continua importante para
nós. Ao invés de ficar preocupados com questões de
alimentação, eles deviam se preocupar em combater a
prostituição, a avareza, a impureza, etc, pois estes
elementos atrairiam a ira de Deus sobre os homens (Col.
3.5-6). Falando assim, Paulo mostra que, enquanto os
gnósticos associavam o mal à matéria, o mal está é no
pecado, na natureza pecaminosa do homem, e não na
matéria em si.

127
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PAULO


AOS TESSALONICENSES

Fundação - A igreja dos tessalonicenses foi


fundada por Paulo em sua 2ª viagem missionária. Tendo se
levantado grande perseguição contra Paulo, este fugiu para
Corinto. Depois Timóteo voltou a Tessalônica para saber a
situação da igreja afim de informar ao apóstolo. Alguns
irmãos haviam morrido e isso preocupava a igreja. Será que
os irmãos mortos ficariam para trás quando Jesus voltasse?
Para esclarecer o assunto, Paulo escreveu a primeira
epístola aos tessalonicenses.

128
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

SEGUNDA EPÍSTOLA DE PAULO AOS


TESSALONICENSES

Autor: Paulo

Data : 51 d.C.

Local: Corinto.

Tema: 2a vinda de Cristo.

Motivo da carta- Paulo escreveu a segunda epístola


pouco tempo depois da primeira. Os tessalonicenses ainda
estavam confusos e perturbados sobre os fatos dos últimos
dias, "como se o dia de Cristo já tivesse chegado." (2.2).
Talvez tenham recebido uma falsa carta com o nome de
Paulo. Por isso, o apóstolo coloca sua assinatura em 3.17.
Talvez tenha havido um erro de interpretação dos ensinos
da primeira epístola. Observe que nela, o próprio Paulo se
incluía no arrebatamento da igreja: "Nós, os que ficarmos
vivos..."(I Ts.4.17).

Alguns membros da igreja parecem ter deixado o


trabalho, considerando que a 2a vinda era iminente (3.6-12).
Esse problema pode ocorrer ainda hoje, e até de forma mais
intensa.

129
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O cristão não pode usar a segunda vinda de Cristo


como uma desculpa para a preguiça. Espere a sua vinda,
mas espere trabalhando, afim de que ele nos ache servindo
bem (Lc.12.43).

Na primeira epístola, Paulo falou sobre a segunda


vinda de Cristo. Depois, escreveu a segunda para avisar que
antes deveriam ocorrer a manifestação do iníquo e a
apostasia.

130
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PAULO A


TIMÓTEO

Data: 64 d.C. (datas prováveis variam entre 64 e


67) (entre as duas prisões em Roma). Timóteo estava em
Éfeso.

Essa foi uma das epístolas pastorais de Paulo (I Tm,


Tt, II Tm.), escrita com o objetivo de animar, estimular e
instruir o jovem Timóteo a respeito de questões bastante
práticas. Com Paulo surgiu o que poderíamos chamar de
uma "escola ministerial". Paulo ensinou a Timóteo que, por
sua vez, deveria ensinar a outros e estes continuariam a
transmissão do ensinamento.

Timóteo - Seu nome significa: "que adora (ou


honra) a Deus". Seu pai era grego. Sua mãe (Eunice) e avó
(Lóide) eram judias cristãs. Elas foram o exemplo e a
origem dos primeiros conhecimentos que Timóteo recebeu
a respeito de Deus. Quando Paulo esteve em Listra,
encontrou Timóteo, o qual passou a acompanhá-lo em suas
viagens (At.16.1; II Tm.1.5; 3.14-15). Timóteo foi
circuncidado por Paulo. Sua condição de filho de grego não
favorecia seu livre curso na comunidade judaica. Paulo
então o circuncidou. Tal ato faria com que ele fosse tratado
como se fosse um prosélito judaico (At.16.3).

131
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

SEGUNDA EPÍSTOLA DE PAULO A


TIMÓTEO

Paulo se encontrava preso novamente em Roma.


Dessa vez, seria morto. Essa foi sua última epístola, embora
não esteja em último lugar na ordem adotada para o Novo
Testamento. O apóstolo demonstra coragem, mesmo
estando consciente do seu destino (4.6-8). Ele não se
entrega a murmurações. Apenas relata que foi abandonado
por todos, exceto por Lucas (1.15; 4.11). Encontra-se velho
e teme pelo inverno que se aproxima. Pede que Timóteo vá
ter com ele levando sua capa e seus livros (4.13,21).

A segunda epístola tem muita semelhança com a


primeira. Paulo se aplica a encorajar Timóteo, orientado-o
no que diz respeito à vida cristã e ao ministério. Lembrando
os ensinamentos que o jovem pastor recebera na infância,
bem como as profecias a respeito de seu ministério e
também sua consagração mediante a imposição de mãos, o
apóstolo o encoraja a assumir seu papel de obreiro de Deus.

A epístola fala dos desafios e da postura


determinada do obreiro. Timóteo deveria despertar o dom
ministerial (1.6) e defender a sã doutrina contra o erro
(1.13).

132
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Paulo compara o obreiro ao soldado (2.3). Na


prisão, Paulo estava cercado por soldados. Assim,
observava a disciplina militar e aplicava tudo isso à sua
própria vida espiritual. Como um soldado, o obreiro de
Deus deve ser:

 Forte (2.1).

 Disciplinado.

 Submisso.

 Preparado para o combate.

 Firme e constante em seu objetivo, sem desistir.

 Vestido com a armadura de Deus (Ef.6.12-17).

O ministro é ainda comparado ao atleta (2.5), o qual


persegue um objetivo e para isso se aplica, se disciplina e
de muitas coisas de abstém (I Cor.9.24-27). A cultura grega
havia valorizado muito o atleta. Foi desse contexto que
surgiram as olimpíadas em homenagem aos deuses
mitológicos.

133
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Paulo também compara o obreiro de Deus a um


lavrador (2.6), com seu exemplo de trabalho e paciência na
expectativa dos frutos (Tg.5.7-8; Lc.9.62).

Utilizando de comparações, Paulo passa a Timóteo


a orientação para que ele fosse um ministro fiel, cuidando
do rebanho, pregando e sendo, antes de tudo, exemplo.
Deveria também ser vigilante e evitar contendas. De nada
adiantaria se Timóteo fosse forte mas não vigilante. Seria
como um forte que está dormindo. Assim poderia ser
destruído.

134
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

EPÍSTOLA DE PAULO A TITO

Tito - Embora fosse grego, seu nome vem do latim e


significa "louvável". As referências a Tito no Novo
Testamento apresentam seu itinerário ministerial:

Tito 1.4 – Paulo o trata como "filho na fé", dando a


entender que sua conversão se deu mediante a pregação do
apóstolo. Paulo demonstra ligação espiritual e fraternal com
Tito.

Gálatas 2.1,3 – Tito acompanhou Paulo na viagem


a Jerusalém e esteve presente no concílio de Atos 15,
embora não tenha sido mencionado naquele livro.

II Cor.2.13; 7.6-7; 7.13-15; 8.6; 8.16-18; 8.23-24;


12.18 – Tito trabalhou em Corinto e levou relatório para
Paulo sobre a situação da igreja.

Tito 1.5 – Trabalhou também em Creta.

Tito 3.12 – Foi encontrar-se com Paulo em


Nicópolis.

II Tm.4.10 – Trabalhou também na Dalmácia.

135
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

De acordo com a tradição, Tito se estabeleceu em


Creta, ficando ali até a sua velhice.

Creta - É uma ilha do Mar Mediterrâneo,


pertencente à Grécia e ao continente europeu.

Passagens de Paulo por Creta – At.27.7-13,21 (A


caminho da prisão em Roma). Tito 1.5 (Fazendo trabalho
missionário após sua libertação).

Os cretenses eram imorais e preguiçosos. O


Trabalho seria difícil para Tito.

Seu poeta famoso, Epimênides (600 a.C.), foi citado


por Paulo (1.12).

Havia em Creta muitas cidades e,


consequentemente, muitas igrejas (1.5), as quais podem ter
sido fundadas por Paulo, conforme nos parece pela epístola.
Entretanto, algumas podem ter surgido pela ação de judeus
convertidos no dia de Pentecostes (At.2.11).

136
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

EPÍSTOLA DE PAULO A FILEMOM

Filemom - Era um homem rico da cidade de


Colossos. Seu nome grego significa "amável".

ESBOÇO COMENTADO

Vs.: 1,9,10,13 – Paulo estava velho e preso em


Roma.

Vs.:2 – Na casa de Filemom se reunia uma igreja.


De acordo com os comentaristas, Áfia seria o nome da
esposa de Filemom e Arquipo, seu filho.

Vs.:8-20 – Retorno do escravo Onésimo.

Onésimo havia fugido para Roma. Era um escravo


esperto e visionário. Foi logo para a capital do Império.

Talvez tenha furtado de Filemom antes de fugir. Em


Roma, encontra-se com o apóstolo Paulo e se converte ao
evangelho.

137
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Em seguida retorna a Colossos junto com Tíquico,


levando a carta a Filemom e também a epístola aos
Colossenses - Col.4.9.

O nome Onésimo significa "útil", exatamente o que


não tinha sido para Filemom, mas passaria a ser (v.11).

A carta enfatiza a transformação de uma vida. O


convertido precisa reparar o erro cometido, se isso for
possível. Para Onésimo, era possível voltar à casa do seu
senhor. Portanto, devia fazê-lo. Restituir o dinheiro furtado,
entretanto, não era possível (v.18).

Nessa carta, chama-nos a atenção a questão da


escravidão. Paulo não condenou tal prática. Afinal, estava
mandando o escravo de volta ao seu dono. Temos uma
ideia de escravidão muito vinculada à prática portuguesa no
Brasil. Entretanto, podemos amenizar esse conceito quando
estudamos a respeito da servidão entre os judeus. Um judeu
poderia se tornar escravo do outro como forma de pagar
uma dívida.

O contexto de Onésimo não era judaico, mas


devemos observar que Paulo aconselhou Filemom a tratar o
escravo como um irmão amado. Então, o texto não está
endossando a prática de crueldades contra os escravos.
Mesmo assim, a questão parece não estar ainda resolvida.
Talvez esperássemos que Paulo "proclamasse a liberdade"
de Onésimo.

138
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Contudo, não o fez. O fato é que o evangelho não é


uma metodologia de revolução social, mas de revolução
pessoal. Paulo não poderia simplesmente dizer que
Onésimo estava livre. Onde ele iria morar? Quem garantiria
o seu sustento. Então, o melhor a fazer era retornar à casa
de Filemom.

Manter Onésimo como escravo é totalmente


contrário à "teologia da prosperidade" e a "teologia da
libertação". Entretanto, o cristão só não pode ser escravo do
pecado nem do Diabo. (I Cor.7.20-21). Escrevendo aos
Coríntios, Paulo mostra que não importa se o cristão é
servo ou senhor. Contudo, se tiver oportunidade de se
libertar, não deve perdê-la. A libertação dos escravos era
ideal e desejável. Contudo, isso não poderia ocorrer de
modo temerário, mas dependeria da situação de cada um.

Do mesmo modo, muitos empregados hoje vivem


em situação semelhante à de escravos. É verdade que
ganham o seu salário mensal, mas este é tão "mínimo" que
talvez fosse melhor morar na casa do patrão e ter roupa,
comida e um teto. Proclamar a libertação de Onésimo seria
como dizer a um empregado de hoje: "Saia desse serviço.

Deus tem algo melhor para você." Poderíamos fazer


isso sem ter algo a oferecer para a pessoa? Tal questão não
pode ser definida através de uma regra, pois trata-se de algo
pertencente ao plano de Deus para cada cristão
individualmente.

139
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Acima de todas essas considerações, Deus tem todo


controle sobre a história e pode permitir ou encerrar os
períodos de escravidão de acordo com os seus soberanos e
inescrutáveis propósitos. Lembremo-nos de Israel, o povo
de Deus, que foi escravizado no Egito durante 430 anos,
mas, no tempo certo foi liberto pelo Senhor. Nada disso
acontece sem um propósito e sem uma razão, embora nem
sempre a conheçamos.

Vs.: 17-19 – A epístola a Filemom mostra o


empenho de Paulo a favor de um escravo, a fim de que seu
senhor o recebesse pacificamente. O escravo convertido
passa a ser chamado de irmão amado (v.16), filho (v.10) e
fiel (Col.4.9). É fácil ver alguém se empenhando a favor
dos abastados. Entretanto, o amor de Cristo deve nos fazer
agir a favor dos menos favorecidos.

140
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

EPÍSTOLA AOS HEBREUS

O nome da epístola - "Hebreu" era o nome dados


aos israelitas pelas nações vizinhas. Talvez tenha derivado
de Éber ou Héber, que significa "homem vindo do outro
lado do rio" (Jordão ou Eufrates) (Gn.10.21,24; 11.14-26;
14.13 Js.24.2). Abraão foi chamado de "hebreu".

Temos então várias designações para o mesmo


povo:

 Hebreu: designa descendência.

 Israel: destaca o aspecto religioso.

 Judeu: da tribo de Judá ou habitante do reino de


Judá.

Alguns desses termos foram mudando um pouco de


sentido com o passar do tempo. O "judeu" do Velho
Testamento estava estritamente ligado à tribo de Judá.
Depois do cativeiro, a maior parte dos que
regressaram a Canaã eram da tribo de Judá. Então, "judeu"
tornou-se quase um sinônimo de israelita, já que quase
todos os israelitas eram judeus. O termo tem esse mesmo
sentido genérico até hoje.

141
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O "hebreu" do Velho Testamento era todo indivíduo


israelita. No Novo Testamento, esse termo passa a designar
mais especificamente aquele israelita que fala aramaico e é
mais apegado ao judaísmo ortodoxo, em contraposição ao
"helenista", que é o israelita que fala grego e está mais
influenciado pela cultura grega. Nesse sentido, veja
Filipenses 3.5 e II Coríntios 11.22, nos quais o apóstolo
Paulo cita com orgulho o fato de ser "hebreu" , assim como
eram seus pais.

Os destinatários - A epístola aos hebreus nos


mostra que seus destinatários eram judeus cristãos. Ao
mesmo tempo em que o autor está se dirigindo a pessoas
convertidas a Cristo ( Hb.10.19 ), ele dá a entender que elas
tinham um passado de vínculo com o judaísmo. Tais irmãos
pertenciam a uma igreja, cujos líderes são anonimamente
referenciados no capítulo 13 (versos 7, 17 e 24).

A localização de tal igreja é objeto de especulação


por parte dos estudiosos e comentaristas. As sugestões mais
comuns são: Roma, Jerusalém, Antioquia, Cesaréia e
Alexandria. Como se vê, as possíveis cidades eram grandes
centros. Jerusalém e Cesaréia eram cidades da Judéia. Nas
outras localizavam-se grandes colônias judaicas.

142
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Naturalmente, em todas elas havia igrejas locais que


contavam com a presença de muitos judeus cristãos.

Autoria - A epístola não apresenta o nome do seu


autor. Muitos são os que atribuem a Paulo sua escrita. Em
alguns manuscritos antigos encontra-se o título: "Epístola
de Paulo aos Hebreus". Evidentemente, o título traz a
conclusão de algum copista ou autoridade religiosa, visto
que não faz parte do texto. Alguns "pais da igreja"
atribuíam a autoria a Paulo sem dificuldades. Os defensores
dessa hipótese, utilizam as palavras de Pedro em sua
segunda epístola (3.15). A passagem nos informa que Paulo
escreveu aos judeus. Contudo, isso não encerra a questão,
pois tal escrito pode ter sido a chamada carta aos hebreus,
mas pode também ter sido outra. A referência que o autor
faz a Timóteo (Hb.13.23) também é usada como
argumento.
Além disso, a epístola está dividida em dois blocos:
doutrinário (capítulos 1 a 11), e prático (capítulos 12 e 13).
Isso nos lembra o método paulino. No texto prático do
capítulo 13, temos uma lista de admoestações curtas, à
maneira de Paulo. A doxologia (13.20-21) e a bênção final
(13.25) também reforçam a tese.

Os comentaristas que se opõem à autoria paulina,


argumentam sobre a diferença de estilo da carta aos
Hebreus quando comparada às epístolas paulinas. Alguns
creditam a autoria a Barnabé, Lucas, Apolo, ou Priscila.

143
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

EPÍSTOLA DE TIAGO

Autoria - De acordo com o primeiro versículo da


epístola, o nome do autor é Tiago, que se apresenta como
"servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo". "Tiago" é a
forma grega do nome hebraico "Jacó", que significa
"suplantador". Em princípio pode parecer que a autoria
esteja clara e bem definida. Contudo, não é assim. Já que o
Novo Testamento menciona várias pessoas com o nome de
"Tiago", surge a questão de qual deles teria sido o autor da
carta. Temos, no mínimo, três personagens distintos com o
nome de Tiago:

 1 - O maior, irmão de João, filho de Zebedeu


(Mt.10.1-4)

 2 - O menor, filho de Alfeu. (Mc.15.40).

 3 - O irmão de Jesus (Mt.13.55; Mc.6.3).

144
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Em Atos 1.13-14 os três estão presentes, mas o


texto fala de um certo Judas, que era filho de Tiago. Não
fica claro se esse Tiago era um dos três já citados ou se
poderia ser um quarto personagem. As passagens dos
evangelhos que citam Tiago, geralmente estão se referindo
ao irmão de João. Sua morte é mencionada em Atos 12.2.

Não sabemos o que aconteceu com o filho de Alfeu.


A partir daí, existem outras referências que citam Tiago,
em Atos e nas epístolas. Tais passagens são normalmente
relacionadas à pessoa do irmão de Jesus. Em Gálatas, Paulo
fala de seus contatos com Tiago, irmão do Senhor, que
estaria em Jerusalém. Com base nesse texto, os outros
também são associados, por dedução, à mesma pessoa. Tal
associação é bastante aceita pelos críticos e parece muito
coerente. Quem segue essa ligação de textos acaba por
atribuir ao irmão de Jesus a autoria da epístola em epígrafe.
Alguns comentaristas preferem não seguir essa tendência e
se abstêm de apontar o autor.

Considerando que Tiago, irmão do Senhor Jesus,


escreveu a carta, destacamos algumas informações sobre a
sua pessoa, conforme nos auxiliam o Novo Testamento, as
conjecturas e a tradição eclesiástica.

Tiago não cria em Jesus antes da crucificação (João


7.5). É possível que sua conversão tenha se dado após a
ressurreição de Cristo, quando este lhe apareceu (I
Cor.15.7).

145
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Juntou-se então aos discípulos (At.1.14), tornando-


se apóstolo (Gál.1.19) e uma das "colunas" da igreja em
Jerusalém (Gál.2.9). Sua liderança obteve grande destaque,
conforme se observa em Atos 12.17; 15.13-29; 21.18 e
Gálatas 2.12. Tiago veio a ser chamado "o justo", por sua
integridade, e "joelho de camelo" devido as marcas que
possuía em virtude de suas constantes orações.

Segundo Flávio Josefo, o irmão de Jesus morreu em


63 d.C. Sendo pressionado pelos judeus para que negasse a
Cristo e tendo permanecido firme em suas afirmações,
Tiago foi arremessado de um lugar alto nas dependências
do templo. Não tendo morrido com a queda, foi apedrejado
até a morte.

Data – A data de produção da carta se situa entre os


anos 45 e 48 d.C. Alguns comentaristas sugerem um
período ulterior às epístolas paulinas, na segunda metade
do primeiro século.

Características - O livro tem teor prático, rigoroso,


usa muitas ilustrações, é direto, tem estilo semelhante ao
sermão da montanha. Apresenta diversos preceitos morais.
A carta contém 108 versículos, entre os quais temos
54 mandamentos.

146
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Destinatários - A carta é destinada às 12 tribos da


diáspora (dispersão). São judeus cristãos que se
encontravam dispersos entre várias nações. (Tg. 1.1; 2.2).

147
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PEDRO

Autoria - Apesar de ter sido considerado homem


inculto e iletrado (At.4.13), Pedro escreveu uma epístola de
alto nível. Talvez aquele rótulo advenha do fato de Pedro
não ter frequentado as universidades gregas da época, nem
ter sido um escriba ou doutor da lei. Contudo, isso não
significa que ele fosse analfabeto e ignorante. Se lhe faltava
muito da vasta cultura grega, o mesmo não se pode dizer
quanto ao idioma, pois o grego era falado por todas as
classes sociais. Além disso, falava o aramaico e talvez o
hebraico.

Como todo bom judeu, Pedro tinha todo o


conhecimento da lei de Moisés e demais Escrituras do
Velho Testamento.

A forma do seu texto pode também ter sido


influenciada pela mão de Silvano, que foi seu amanuense (I
Pd.5.12).

A autoridade do autor fica evidente. Além de ser


apóstolo (I Pd.1.1), Pedro foi "testemunha das aflições de
Cristo" (I Pd. 5.1). Seu ensino estava, portanto, bem
fundamentado, sendo digno de aceitação.

148
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Além de Silvano, também Marcos estava na companhia de


Pedro quando escreveu a primeira epístola (I Pd.5.13).

Data - Os comentaristas sugerem datas entre 63 e


68 d.C. O ano mais indicado é 64.

Destinatários - cristãos dispersos na Ásia Menor


(judeus e gentios) - 1.1; 2.10.

Durante algum tempo, Pedro foi contrário à


evangelização dos gentios. Vemos, portanto que, por
ocasião do envio dessa epístola, tal problema já tinha sido
superado. Agora Pedro já aceita os gentios e os considera
tão dignos do evangelho e do reino de Deus quanto os
judeus.

Características – O livro é exortativo, consolador,


cristológico, "cristocêntrico". Observamos que Tiago quase
não cita Jesus em sua carta. Pedro, porém, cita-o a todo
momento. Aquele que o havia negado, agora tem no seu
nome a base de sua doutrina.

149
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

A PREGAÇÃO AOS MORTOS

"Porque também Cristo morreu uma só vez pelos


pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus;
sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no
espírito; no qual também foi, e pregou aos espíritos em
prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a
longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé,
enquanto se preparava a arca; na qual poucas, isto é, oito
almas se salvaram através da água." (I Pd.3.18-20).

Este é um dos textos mais misteriosos das Sagradas


Escrituras. As polêmicas em torno do seu significado não
têm fim. Procuraremos expor resumidamente as principais
linhas de interpretação do assunto em questão. Leia
também I Pd.4.5-6, Rm.10.7, Salmo 16.10 e Ef.4.9. Neste
assunto, além dos católicos não concordarem com os
protestantes, estes últimos não concordam entre si.
Encontramos posições diferentes de uma denominação
evangélica para outra. A pergunta inicial é: Jesus foi ao
inferno? O texto de Pedro não está dizendo isso, mas esta
tem sido, muitas vezes, a interpretação adotada,
principalmente por causa de outros textos bíblicos, dos
credos da igreja católica e dos livros apócrifos, alguns dos
quais mencionam explicitamente a descida de Cristo ao
inferno entre sua morte e sua ressurreição. Por exemplo
podemos citar o chamado "credo dos apóstolos" e os
apócrifos:

150
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

"Evangelho de Bartolomeu" e "Evangelho de


Nicodemos". Um paralelo entre tais escritos e os textos
bíblicos mencionados produzem a interpretação
correspondente.

Q Respostas encontradas nos comentários


ue
st
ão

Jesus Sim Não


foi ao
infer
no?

Através

Com Em em carne e do Espírito Santo De jeito


o ele seu espírito nenhum
foi? espír
ito
hum
ano

151
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

A Aos Aos A Aos anjos A ninguém


quem just ímpios justos caídos.
ele os (todos e
prego ou só ímpios.
u? aos da
época de
Noé)

O O Sua O Nada
que evangel vitór evangelho
ele ho ia e sua vitória
prego
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Com Salvar Salv Salv Declarar Sofrer Nenhum


que os ar os ar a sua (batismo
objeti justos ímpi todos vitória de fogo?)
vo? os

Salvaçã Salv Sa Conde- Nenhum


o e ação lv nação
Qual ressurrei dos aç dos
foi o ção dos ímpi ão
efeito justos. os. de ímpios
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do
s.

152
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O quadro apresentado assemelha-se a uma prova de


múltipla escolha onde existem alternativas para todos os
gostos, inclusive para quem não gosta de nenhuma.
Contudo, trata-se apenas da exposição das diversas
interpretações do texto de I Pedro 3.18-20, juntamente com
uma série de pressupostos considerados em cada caso.

Cada alternativa traz uma série de consequências


naturais (?) ou teologicamente necessárias, formando assim
um intrincado conjunto de perguntas intrigantes, respostas
incertas e dúvidas crescentes. Uma vez que o próprio texto
bíblico não foi claro sobre o assunto, torna-se muito
improvável que possamos sê-lo. Contudo, tal exposição
poderá ajudar o estudante a tirar suas próprias conclusões.

Algumas alternativas apresentadas podem ser


refutadas pelo simples retorno ao texto de I Pedro. A
passagem não diz que ele foi pregar aos justos e nem que
teria sido a todos os mortos ou a todos os ímpios. São
mencionados apenas os ímpios que viveram nos dias de
Noé. Alguns comentaristas estendem tal pregação a todos
os mortos, utilizando o texto de I Pedro 4.5-6, onde isso
fica mais evidente.

Dizer que Cristo foi em carne e espírito ao inferno,


seria o mesmo que ele estava vivo antes da ressurreição. Se
carne e espírito estão juntos, então não estamos falando de
Cristo durante seus três dias em estado de morte.

153
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Dizer que o Espírito Santo foi ao inferno resgatar


alguém é fazer uma grande confusão entre as funções das
pessoas da trindade. Tal equívoco se dá pelo fato de que
algumas traduções usam a palavra "Espírito" com letra
maiúscula em I Pd.3.18.

Aqueles que dizem que Cristo não foi ao inferno,


afirmam que ele foi se apresentar ao Pai após sua morte.
Mencionam como argumento as palavras de Jesus ao ladrão
crucificado: "Hoje estarás comigo no paraíso." (Lc.23.43 e
46). Como explicariam então o texto de Pedro? Calvino
chegou a afirmar que a cruz foi o "inferno" experimentado
por Cristo. Para os anabatistas, este mundo foi o "inferno"
ao qual Cristo desceu ao encarnar.

Pelo que ficou registrado nos livros, até o século IV


d.C. era plenamente aceita a ideia de que Cristo tenha
mesmo descido ao inferno, assim identificado como o
"lugar dos mortos". Somente a partir do século V é que
passou-se a questionar tal sentido. Nesse tempo, Agostinho
propôs o seguinte entendimento para o texto de Pedro: o
evangelho teria sido anunciado aos mortos no tempo em
que os mesmos estavam vivos. Assim, os contemporâneos
de Noé teriam ouvido a pregação antes do dilúvio. O
espírito de Cristo, mencionado em I Pd.3.18, estaria agindo
através de Noé, o pregoeiro da justiça. Tal interpretação,
bastante inteligente, não explica o texto de I Pd.4.5-6, onde
todos os mortos parecem estar envolvidos.

154
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Além disso, o texto de I Pd.3.18-20 fala que a


pregação foi dirigida a "espíritos em prisão" e não a
pessoas vivas.

O texto de Atos (2.27-31) talvez seja o mais claro


para que se conclua que Cristo foi ao inferno. O autor
utiliza a palavra Hades. Esta palavra estaria sendo usada em
referência a um lugar espiritual? ou simplesmente à
sepultura? (2.29) ou apenas ao estado de morte? (2.31).
Algumas versões usam a palavra "hades" (A.R.C.)
enquanto outras a traduzem como "morte" (Thompson e
A.R.A). A versão católica dos Monges de Maredsous
menciona "região dos mortos", o que não indica um sentido
estritamente físico ou espiritual. A bíblia das Edições
Loyola utiliza a expressão "mansão dos mortos". A versão
do padre Antônio Pereira de Figueiredo traduz "hades"
como "inferno".

A palavra "hades" é grega e se origina da mitologia


dos gregos, sendo utilizada para identificar o lugar
espiritual para onde vão os mortos. O hades estaria divido
em duas partes: O "elísio" para os bons e o "tártaro" para os
maus. Os hebreus tinham uma concepção semelhante sobre
a região dos mortos. Chamavam-na de seol, ou sheol,
também com um lugar para os justos e outro para os
ímpios. Entretanto, sheol também significa sepultura.

155
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Como o Novo Testamento foi escrito em grego,


então foram usadas as palavras gregas que mais se
aproximavam do conceito hebraico. Assim, a dúvida sobre
lugar físico ou espiritual prevalece.

Sheol (ás vezes traduzido como inferno ou


sepultura): Gn.37.35; Nm.16.30; Jó 21.13; Salmo 9.17;
Pv.5.5; 7.27; 9.18; 15.24; 23.14; Dt.32.22; Jó 26.6;
Pv.15.11; 27.20; II Sm.22.6; Salmo 18.5; 116.3; Os.13.14.

Hades (às vezes traduzido como inferno):


At.2.27,31; Mt.11.23; 16.18; Lc.10.15; Lc.16.23; Ap.1.18;
6.8; 20.13-14.

Geena (às vezes traduzido como inferno):


Mt.5.22,29,30; 10.28; 18.9; 23.15; 23.33; Lc.12.5; Tg.3.6;
Mc.9.43-48.

Tártaro (às vezes traduzido como inferno): II


Pd.2.4.

O Velho Testamento passa a ideia de que o Sheol é


um lugar para onde vão todos os mortos, bons e maus. É
normalmente identificado com o hades do Novo
Testamento. Veja que em Atos 2, a citação do Salmo 16,
troca Sheol por Hades.

156
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Os luteranos interpretam hades como sinônimo de


inferno e seio de Abraão como paraíso. Utilizam a
passagem de Lucas 16.22-25. O paraíso seria o lugar para
onde o cristão iria imediatamente após a morte, a encontrar-
se com Cristo (Filipenses 1.23).

Os católicos romanos dividem o hades em: inferno,


purgatório, limbus patrum e limbus infantum. Eles
entendem que Cristo tenha ido ao limbus patrum ou seio de
Abraão, onde estariam os justos do Velho Testamento
aguardando a salvação cristã. Apesar da boa organização de
ideias, tal teoria não tem apoio bíblico, já que a Bíblia não
menciona purgatório nem limbus.

É bastante antiga a ideia de que alguém pudesse


descer ao hades com alguma missão. De acordo com a
mitologia grega, Hércules teria ido até lá. Histórias
semelhantes são encontradas na literatura babilônica,
egípcia, e romana. Conforme Orígenes, houve entre os
judeus a crença de que os profetas do Velho Testamento
tenham ido ao sheol, onde continuariam seu ministério de
pregação. Tal suposição aparece também no Talmude.

Assim, a crença de que Cristo teria ido ao inferno


não seria de difícil aceitação. Alguns, como Clemente de
Alexandria, chegaram a dizer que os apóstolos também
teriam ido ao hades após suas mortes para pregar e que
também os demais cristãos teriam essa missão.

157
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Isso seria usado por alguns para justificar mortes de


pessoas jovens (J.Paterson Smith). Afinal, segundo essa
tese, essas pessoas teriam grande trabalho a executar na
região dos mortos.

Apresentamos, a seguir, outro quadro comparativo


sobre o assunto, destacando a posição denominacional e de
alguns líderes e teólogos.

158
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Cristo Cristo Cristo Cristo foi Cristo salvou


foi e foi e não foi ao mas não apenas
salvou salvou a inferno. salvou algumas
os justos todos ninguém pessoas
Defendido Algumas Anabatistas Luteranos Lutero,
por igrejas mais
católicos reformadas tarde
assumiu
essa
posição.

Algumas Arminianos * Flacius


igrejas Calvinistas
reformadas
.

Zwínglio Agostinho Calov

Marcion Wolf

Tertuliano Buddeus

Aretius

* Calvino

Encontramos duas posições distintas atribuídas a


Calvino em relação à ida de Cristo ao inferno. Não
sabemos se ele mudou de ideia como ocorreu com Lutero.

159
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Uma das fontes consultadas foi escrita por um


calvinista e nega a ida literal de Cristo ao inferno.

Alguns livros apócrifos afirmam que Cristo


esvaziou o inferno, salvando todos os que ali estavam. Essa
ideia serve bastante aos que pregam o "universalismo", que
consiste na crença em uma salvação universal. Tais
teólogos afirmam que ninguém escapará do alcance da
graça de Deus e, finalmente, todos serão salvos, até mesmo
os anjos caídos. Se assim fosse, então não precisaríamos
pregar o evangelho.

Para o melhor entendimento possível a respeito


desse assunto é fundamental que consideremos o ensino
geral da Bíblia. Qualquer suposição deve ser confrontada
com outros textos das escrituras para que se conclua sobre
sua prevalência ou não.

Jesus teria ido pregar aos mortos para que estes se


salvassem? Tal entendimento não parece coerente com
outras passagens das escrituras. Se, depois de viverem e
morrerem no pecado, todos os ímpios ainda pudessem se
salvar, então de nada teria valido a vida de justiça dos
justos, já que todos acabariam no mesmo lugar e na mesma
situação: salvos.

É bem provável que Jesus tenha anunciado o


evangelho aos justos do Velho Testamento, embora o texto
de I Pedro 3.18-20 não os mencione.

160
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O fato é que muitos deles ressuscitaram após a


ressurreição de Cristo, conforme está em Mateus 27.51-53.
Davi disse: "Não deixarás minha alma no hades." Além de
estar profetizando sobre Cristo, ele não poderia também
estar falando sobre sua própria alma, conforme uma
interpretação literal do Salmo?

Os ímpios mortos também teriam ouvido a respeito


do evangelho mas não poderiam ser salvos. Contudo, tal
conhecimento serviria para legitimar a autoridade de Cristo
para julgá-los no último dia. "... Aquele que está preparado
para julgar os vivos e os mortos. Pois é por isto que foi
pregado o evangelho até aos mortos..." (I Pd.4.5-6).

Jesus teria descido para tomar as chaves da morte e


do inferno das mãos do Diabo? Os calvinistas dizem que
isso não faz sentido, já que o Diabo nunca teve tais chaves.
Por outro lado, podemos também questionar: quem disse
que o Diabo mora no inferno? Pelo que sabemos, ele habita
o planeta terra e circula pelas regiões celestiais. Muitas
vezes o inferno é mencionado pelas pessoas como um lugar
onde o Diabo mora e faz suas reuniões estratégicas com os
seus demônios. Em algumas dessas supostas reuniões, eles
estão eufóricos com seus planos e realizações. Não
estaríamos alimentando um folclore religioso com tudo
isso? Afinal, a bíblia mostra o inferno como um lugar de
tormento e não de reuniões satânicas. Se o Diabo lá
estivesse, estaria sofrendo tormentos e não fazendo planos.

161
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

SEGUNDA EPÍSTOLA DE PEDRO

Autoria - No primeiro versículo, o autor já se


apresenta como "Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus
Cristo." Pouco adiante, Pedro menciona que presenciou o
episódio da transfiguração (I Pd.1.16-18; Mt.17.5). No
capítulo 3, versículo 1, o autor se refere à primeira epístola.

Destinatários – por 3.1 entendemos que os


destinatários são os mesmos da sua primeira carta: cristãos
dispersos na Ásia Menor. O primeiro versículo do livro
parece sugerir que o autor pretendia que seu escrito tivesse
um alcance maior: ele se dirige "aos que conosco
alcançaram fé igualmente preciosa..."

A segunda epístola de Pedro nos fala de dois


caminhos. O primeiro, apresentado no capítulo 1, é
chamado de "caminho da verdade" (2.2), "caminho direito"
(2.15) e "caminho da justiça" (2.21). Embora essas
expressões estejam no capítulo 2, é no início da carta que o
autor fala sobre o procedimento do cristão.

162
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O outro caminho, o dos falsos mestres, é


apresentado no capítulo 2 e chamado "caminho de Balaão"
(2.15). É interessante notarmos que, ao falar do caminho de
Balaão, Pedro não está se referindo àqueles que nunca
conheceram o Senhor, mas ele fala de pessoas que foram
resgatadas (2.1), mas desviaram-se das veredas da justiça
(2.15,20,21,22). O próprio Balaão era um profeta
verdadeiro até que, pelo interesse financeiro, desviou-se da
verdade.

163
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

PRIMEIRA EPÍSTOLA DE JOÃO

Autoria – João, o apóstolo. Seu nome não é


mencionado em suas três epístolas. Não obstante, sua
autoria foi confirmada por Policarpo, Papias, Eusébio,
Irineu, Clemente de Alexandria e Tertuliano. O nome
"João" significa "graça de Deus". Era judeu, pescador
(Mt.4.21), irmão de Tiago, filho de Zebedeu e Salomé
(Compare Mt.27.56 e Mc.15.40). Foi chamado de discípulo
amado – Jo.13.23; 19.26; 21.20. Foi o discípulo mais
íntimo do Mestre. Até no momento da crucificação, João
estava presente. Isso mostra sua disposição de correr risco
de vida para ficar ao lado de Jesus. Apesar de ter fugido no
momento da prisão de Cristo, João voltou pouco tempo
depois.

Jesus chamou João e Tiago de boanerges, "filhos do


trovão", referindo-se ao seu temperamento indócil,
tempestuoso, violento (Mc.3.17; Mc.9.38; Lc.9.54).

São várias as citações a respeito de João nos


evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Seu nome é
omitido no seu evangelho (João 20.2; 19.26; 13.23; 21.2).

164
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Encontram-se referências ao apóstolo também em


At.4.13; 5.33,40; 8.14; Gl.2.9; 2 Jo.1; 3 Jo.1; Apc.1.1,4,9.
Na segunda e na terceira epístola, ele se apresenta como "o
presbítero". Podendo se apresentar como apóstolo,
demonstrou humildade ao utilizar título mais simples. Em
Apocalipse, apresenta-se como "servo".

Após o exercício do seu ministério em Jerusalém,


João foi pastor em Éfeso, onde morreu entre os anos 95 e
100. Policrates (ano 190), bispo de Éfeso, escreveu: "João,
que se reclinara no seio do Senhor, depois de haver sido
uma testemunha e um mestre, dormiu em Éfeso."

Destinatários – Por não conter saudações,


despedidas ou menção de nomes, tem-se considerado que a
carta foi destinada à igreja em geral. O apóstolo trata
carinhosamente os destinatários como "meus filhinhos"
(2.1,18,28; 3.7,18; 4.4; 5.21) e "amados" (3.2,21; 4.1,7,11).
Isso parece indicar que, embora não tenha vinculado a
epístola a uma comunidade específica, o autor tem em
mente pessoas conhecidas, as quais seriam as primeiras a
receberem aquela mensagem.

165
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Características - A carta apresenta denúncia contra


os falsos e incentivo aos verdadeiros cristãos. O autor é
incisivo, direto, totalmente convicto. Sua afirmações são
muito fortes no sentido de apontar o erro e a verdade.

CENÁRIO OBSERVADO POR JOÃO

A situação da igreja inspirava cuidados. Notamos


isso pelo que se lê nas cartas às sete igreja da Ásia (Apc.2 e
3). As heresias grassavam em muitas comunidades. Em
Apocalipse, livro escrito na mesma época, João menciona
as expressões "sinagoga de Satanás" (Ap.2.9), "nicolaítas"
(Ap2.6,15), "doutrina de Balaão"(Ap.2.14), etc.

O gnosticismo, sistema que mistura ideias


filosóficas, crenças judaicas e cristãs, era uma das
principais fontes de heresias da época. Assim, muitos
cristãos se tornaram gnósticos. Criam em Jesus mas
negavam a realidade de sua encarnação e morte. O fato de
se denominarem cristãos criava uma situação confusa.
Quem eram os verdadeiros cristãos? Os que criam de uma
forma ou os que criam de outra?

166
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

João observou a necessidade de identificação,


discernimento, definição e posicionamento. Observemos as
perguntas-chave que autor apresenta:

 1 – "Quem é o mentiroso senão aquele que nega que


Jesus é o Cristo?" (I Jo.2.22).

 2 – "Quem é o que vence o mundo senão aquele que


crê que Jesus é o Filho de Deus?" (I Jo.5.5).

O autor se mostra bastante interessado em mostrar


"QUEM É O QUÊ". São usados pronomes demonstrativos
e indefinidos para apresentar especificações bem definidas
que permitem identificar os indivíduos em relação a Cristo.
João usa repetidamente a fórmula: "Quem não faz isso não
é aquilo". ou "Quem faz tal coisa é outra coisa".

Aquele - 2.6,11,17,22,23,26,29; 3.4,6,17;


5.1,5,16,18 (Veja também II João 1.9).

Alguém – 2.1,15,27; 4.20; 5.16.

Quem – 4.7,8,9,10.

167
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O mentiroso e o verdadeiro precisam ser


identificados. Essa é a missão de João em sua primeira
epístola. O autor ajuda a identificar os personagens do
cenário e a situação dos próprios leitores no contexto da
verdade e da mentira. O exemplo clássico utilizado é o de
Caim e Abel (I Jo.3.11-12), representando dois grupos de
pessoas que estavam dentro da igreja. O autor identifica
quem está em comunhão com Deus e quem não está. No
quadro a seguir, listamos diversas expressões da epístola
através das quais se traça uma linha divisória entre os dois
grupos. Vamos chamá-los, alegoricamente, de "grupo de
Abel" e "grupo de Caim".

168
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

"Grupo de Abel" "Grupo de Caim"


Vida Morte

1.1,2; (3.14; 5.16-17)


2.16,25;
3.14,15,16;
5.11,
12,13,
16,20

Verdade Mentira

1.6,8; 1.6,10;
2.4,5,8,21,27; 2.4,21,22,27;
3.18,19; 4.20; 5.10
4.6;
5.7,20. Erro – 4.6

Engano - 1.8; 2.26; 3.7

169
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Verdadeiro (2.8,27; 5.20) Falso ou mentiroso (2.22)

Espírito da verdade (4.6) espírito do erro (4.6)

Cristo (1.3, etc) Anticristo (2.18,22)

Amor ao irmão (2.10) Amor ao mundo (2.15)

Sofre ódio do mundo (3.13) Ódio ao irmão (2.11; 3.15)

Luz - 1.5,7; 2.8,9, 10. Trevas – 1.5,6; 2.8,9,11.

É possível passar de um lado para o outro. Esse


trânsito pode ser chamado conversão ou, no sentido
contrário, apostasia. João disse que "passamos da morte
para a vida." (3.14).

E o seu cuidado era para que não acontecesse o


processo contrário com alguns irmãos que, envolvidos pela
heresia, pudessem passar da verdade para a mentira.

170
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

SEGUNDA EPÍSTOLA DE JOÃO

Destinatária – A segunda epístola é dirigida a uma


senhora e seus filhos. Tal mulher não é identificada pelas
escrituras. Há quem defenda a tese de que a "senhora
eleita" seja Maria, irmã de Marta, a qual estaria
mencionada no versículo 13. Há quem tome o termo
"senhora" em grego, (kuria), considerando-o como nome
próprio. Outras hipóteses sugerem que João estivesse
chamando de "senhora eleita" a uma igreja específica ou à
igreja em geral. Nada disso se comprova. Seguindo a mais
rigorosa interpretação, não podemos afirmar qual tenha
sido essa mulher.

Apenas entendemos tratar-se de uma senhora que,


provavelmente era viúva. Caso tivesse marido, não seria
natural que o apóstolo lhe dirigisse diretamente uma carta.
O texto parece indicar que em sua casa aconteciam
reuniões da igreja (vs.10). De qualquer forma, trata-se de
uma mulher amada e respeitada por todos os irmãos que a
conheciam (vs.1).

Tema – todas as epístolas de João foram escritas na


mesma época. Nota-se na segunda, que os assuntos da
primeira ainda persistem na mente no apóstolo. Ele ainda se
mostra combativo em relação aos enganadores. Seu esforço
é a favor da verdadeira doutrina de Cristo.

171
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

NOSSA RELAÇÃO COM A DOUTRINA


DE CRISTO

Cristo veio e nos deu sua doutrina, seu


mandamento, que consiste no amor a Deus e ao próximo. O
amor determina nosso vínculo com Deus e com os irmãos.
Já recebemos a sua doutrina. A questão agora é: vamos
andar nesse mandamento? O verbo "andar" é muito
utilizado por João e também por Paulo, indicando nosso
modo de vida, nossas decisões, nossos rumos, nossas ações.

Se praticamos a vontade de Deus, então estamos


andando em espírito (Gl. 5.16), andando com Deus
(Gn.5.22,24), no caminho que é Cristo (Jo.14.6). Contudo,
de nada adianta estarmos no caminho por algum tempo se
sairmos dele antes de chegarmos ao lugar onde ele nos
levaria. Portanto, precisamos permanecer no caminho, por
mais difícil que isso possa ser. Aos que permanecerem,
Deus dará a devida recompensa.

172
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

TERCEIRA EPÍSTOLA DE JOÃO

A terceira epístola de João é uma correspondência


particular dirigida a um irmão chamado Gaio. Este nome
era bastante comum naquela época. Temos sua ocorrência
em At.19.29, At.20.4, Rm.16.23, I Cor.1.14, além de III
João. Contudo, tais passagens não se referem sempre à
mesma pessoa.

Não temos muitas informações sobre Gaio, a quem


João escreve. Entendemos que ele não era o líder de sua
igreja local. O versículo 9 indica que o líder é outro.

173
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

EPÍSTOLA DE JUDAS

Autor: Judas, irmão de Jesus.

Guardados em cristo Jesus (v.1). - Estar em Cristo,


expressão importante na teologia de Paulo, é uma realidade
espiritual que expressa nosso vínculo com Jesus e nossa
posição espiritual. Trata-se de uma união mística. Estamos
ligados a ele como os membros se ligam ao corpo e este à
cabeça ou como os ramos se ligam à videira. Judas diz que
estamos guardados em Cristo. Ele é o nosso refúgio, nossa
fortaleza.

Lendo apenas o versículo 1 e o 24, poderíamos


pensar que a nossa situação e futuro dependem unicamente
de Deus. Se assim fosse, não precisaríamos de tantas
palavras de advertência como temos na bíblia.

Contudo, o verso 20 muda a conjugação verbal e


nos exorta dizendo: "Guardai-vos no amor de Deus" (ou
conservai-vos). O autor nos repassa uma grande
responsabilidade no sentido de nos mantermos na posição
que obtivemos em Cristo mediante a salvação.

174
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Nosso estar em Cristo pode ser comparado à


condição da família de Noé dentro da arca, a qual
representou a salvação daquelas pessoas.

O problema central apresentado pela epístola de


Judas é o caso daqueles que não guardaram suas posições
e se perderam, tornando-se exemplos do juízo divino (v.6).
O autor cita como exemplos: o povo de Israel no deserto, os
anjos, Sodoma, Gomorra, Caim, Balaão e Coré. Ele fala de
experiências coletivas e individuais. Menciona desde
pessoas que conheciam bem pouco sobre Deus, passando
por aquelas que conheciam muito e chegando a mencionar
os anjos, que viam a Deus face a face.

O que todos tiveram em comum foi a corrupção e a


consequente destruição. É impressionante observarmos que
o povo de Israel, por sua rebelião e incredulidade, entra
para uma lista de exemplos ao lado de Sodoma e Gomorra.
Da mesma forma, um profeta ganancioso, Balaão, é listado
juntamente com Caim, o irmão homicida. Isso mostra que,
seja qual for a nossa posição, devemos ser cuidadosos para
não entrarmos nas listas daqueles que não guardaram sua
condição original e se corromperam. "Guarda o que tens,
para que ninguém tome a tua coroa" (Ap.3.11).

175
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

HERESIA - CAMINHO DA PERDIÇÃO

Por quê alguém deixaria sua posição de obediência


a Deus para se tornar um infiel? Tal pergunta fica muito
difícil de ser respondida se indagarmos a respeito da queda
de Satanás. Daí em diante, um dos meios mais utilizados
foi a persuasão. Assim, os anjos foram levados, e também
Adão e Eva. O infiel vai propagando a infidelidade. Judas
estava preocupado com essa prática, pois os hereges se
manifestavam dentro da igreja e ameaçavam a firmeza dos
irmãos através de doutrinas erradas.

A epístola diz que eles "convertem em dissolução a


graça de Deus" (v.4). Aqueles falsos mestres
transformavam a graça de Deus em libertinagem, como se a
misericórdia de Deus representasse conivência em relação
ao pecado. O fato de Deus não punir imediatamente o
pecador significa que este tem oportunidade para se
arrepender.

Contudo, isso não significa que o juízo foi


esquecido. Caso não haja arrependimento, haverá o castigo.

176
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

APOCALIPSE

O Apocalipse desperta interesse em quase todas as


pessoas, principalmente nos últimos anos, por ocasião da
mudança de milênio. Cristãos ou não, religiosos ou não,
muitos são os que têm grande curiosidade em relação ao
livro. Entretanto, o medo e a falta de compreensão acabam
por afastar o interessado. O que resta, normalmente, são
informações obscuras e bastante distorcidas. Apocalipse,
Armagedom, Anticristo, Juízo Final e fim do mundo são
temas reincidentes nos filmes de Hollyood, que vão dando
sentido lendário e fantasioso aos assuntos extraídos das
Escrituras.

Neste estudo, temos o objetivo de conhecer o livro


sem a pretensão de desvendá-lo completamente. Trata-se de
uma introdução ao estudo do Apocalipse. Apresentaremos,
porém, algumas hipóteses de interpretação em linhas
gerais. Quando mencionarmos teorias a respeito de
determinado ponto, não significa que adotamos esta ou
aquela posição, exceto quando declararmos nossa postura.

O Apocalipse contém, logo no início, uma


mensagem de bênção para os seus leitores. "Bem-
aventurado aquele que lê, e bem-aventurados os que ouvem
as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela
estão escritas, porque o tempo está próximo." (Ap.1.3).

177
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O texto nada diz sobre a compreensão, mas sobre o


conhecimento. É desejável que entendamos o Apocalipse.
Se, porém, não entendermos, este não deve ser o motivo
para que o abandonemos. Precisamos ler, ouvir, estudar,
guardar o seu conteúdo. Pode ser que muitas de suas
profecias não possam ser compreendidas antes de se
cumprirem.

Contudo, se as conhecemos, poderemos reconhecê-


las quando se cumprirem e, reconhecendo, poderemos
tomar as atitudes certas no momento certo. Jesus disse: "...
quando virdes... a abominação da desolação... então, os que
estiverem na Judéia fujam para os montes." (Mt.24.15).
Portanto, quando certos fatos ocorrerem, nós poderemos
identificá-los, caso estejamos munidos do conhecimento
profético.

CARACTERÍSTICAS, CONTEÚDO E
AUTORIA DOS LIVROS APOCALÍPTICOS

Características e conteúdo: Mensagem de


esperança, escatologia, intervenção divina, visões,
símbolos, criaturas estranhas, mensagem oculta, uso de
pseudônimos, profecias e apelo à imaginação.

178
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O Apocalipse de João só não se encaixa no quesito


pseudônimo. Os escritores apocalípticos normalmente não
assinavam suas obras. Muitos colocavam algum outro
nome famoso e reconhecido, como Enoque, Salomão, etc.,
para darem mais credibilidade ao livro. João, porém,
colocou seu próprio nome, conforme vemos no livro
(Ap.1.1,4,9-11). Tal autoria é reconhecida pela maior parte
dos críticos e comentaristas. Há quem diga que alguém
usou o nome de João, mas essa hipótese não tem muitos
adeptos.

Alguns detalhes do livro reforçam a crença na


autoria joanina. Jesus é apresentado como o Verbo de Deus
e o Cordeiro (Ap.19.7,13), exatamente como acontece no
evangelho de João (1.1,29). A palavra "testemunho" se
destaca assim como acontece no evangelho e na primeira e
terceira epístolas. Notamos assim "a mão" de João no
Apocalipse.

O QUE É APOCALIPSE?

Esta palavra, de origem grega, significa "revelação".


Revelar é mostrar, tirar o véu, desvendar. Falamos do
Apocalipse como algo oculto. Porém, trata-se de uma
revelação.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O livro revela que Deus tem um plano, cujo


desfecho é a vitória de Cristo. Podemos não saber o que é a
besta, mas sabemos que ela será vencida pelo poder de
Deus. Esta revelação está clara e evidente no Apocalipse.

Local - Patmos - ilha vulcânica, rochosa e estéril,


localizada a 56 km da costa da Ásia Menor (Turquia). Para
lá eram enviados os prisioneiros na época do imperador
romano Domiciano (81 a 96). Outra hipótese defendida por
alguns é a de que João tenha estado lá em algum momento
do governo de Nero (54-68).

CIRCUNSTÂNCIAS E OBJETIVO

Na época em que o Apocalipse foi escrito, a igreja


estava sofrendo muito por causa da perseguição do Império
Romano. João estava preso em Patmos e todos os outros
apóstolos do primeiro grupo haviam morrido. Seria natural
que muitos começassem a questionar se aquele não seria o
fim do cristianismo. Será que a igreja resistiria àquela fúria
das forças do mal?

180
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O livro de João vem mostrar o futuro: o castigo dos


ímpios, a volta de Cristo, seu triunfo juntamente com a
igreja e o estabelecimento do Reino de Deus. O Império
Romano não prevaleceria contra os desígnios divinos.

QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO TEXTO


SIMBÓLICO OU LITERAL?

Este é um dos maiores dilemas que envolvem o


estudo bíblico. O que é literal e o que é simbólico?
Encontramos ambos os casos dentro das Escrituras. Então o
problema se torna maior: como discernir o literal do
simbólico? Tal tarefa nem sempre é fácil. Muitas vezes é
difícil e, em algumas situações, parece impossível, a não
ser que tenhamos uma iluminação divina.

A história de Adão e Eva é literal ou simbólica?


Tais personagens são reais ou fictícios? O profeta Jonas foi
mesmo engolido por um peixe ou trata-se de uma parábola?
Entendemos como literais ambos os casos, uma vez que o
próprio Jesus citou a história de Jonas como fato e Paulo
citou Adão e Eva da mesma forma. Contudo, isso não
convence àqueles que veem toda a bíblia como algo
figurativo. Se todo o conteúdo bíblico for simbólico, então
anula-se o seu aspecto concreto.

181
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

A bíblia seria então comparável a qualquer obra de


ficção e o cristianismo seria lendário. Por outro lado, se
todo o seu conteúdo for considerado literal, então muitas
passagens se tornarão inexplicáveis ou absurdas. Por
exemplo: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
tem a vida eterna." (João 6.54). Logicamente, Jesus estava
utilizando linguagem simbólica. Muitos dos seus ouvintes o
interpretaram literalmente e o resultado foi o escândalo
(João 6.52). Da mesma forma, quando Jesus disse que
Nicodemos precisava nascer de novo, aquele doutor da lei
tomou suas palavras de modo literal. O mesmo
entendimento foi aplicado sobre "derrubar o templo e
reconstrui-lo em três dias". Precisamos de discernimento
para não cairmos no mesmo erro.

Muitas vezes, é a falta de fé que faz com que


algumas pessoas considerem como simbólico um texto
literal. Por exemplo, a ressurreição de Cristo pode ser tão
inacreditável para alguns, que podem acabar considerando-
a um símbolo.

Encontramos na bíblia diversas situações que


envolvem o literalismo e o simbolismo:

182
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

TEXTO LITERAL

É aquele que se refere a fatos. São histórias ou


profecias. Se desconsiderarmos seu caráter literal,
estaremos anulando as palavras de Deus. Por exemplo, a
crucificação de Jesus está relatada em um texto literal
(Mt.27).

TEXTO SIMBÓLICO

É aquele que utiliza linguagem figurada. Por


exemplo, a parábola do filho pródigo (Lc.15).

TERMO LITERAL E SIMBÓLICO


ALTERNADAMENTE

Uma palavra pode ser usada literalmente em uma


passagem bíblica e como símbolo em outra. Por exemplo,
as estrelas no Salmo 8.3 são literais. Em Apocalipse 1.20,
as estrelas são simbólicas, representam anjos.

183
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Em Apocalipse 9.1, a estrela é simbólica e parece


representar uma pessoa ou um anjo. Em Apocalipse 8.10-
12, a estrela pode ser simbólica ou literal. Nesse caso, não
podemos afirmar com certeza. Vemos, portanto, que uma
palavra pode ser usada de várias formas na bíblia. Isso
mostra que não podemos fazer uma regra e achar que toda
estrela na bíblia seja um símbolo.

TEXTO LITERAL E SIMBÓLICO


SIMULTANEAMENTE

A história de Abraão é literal. O povo de Israel está


aí para comprovar isso. Aquele episódio de Abraão levando
Isaque para ser sacrificado é literal. Foi um fato histórico.
Mas, ao mesmo tempo, usando de alegoria, Abraão pode
representar Deus, Isaque pode ser visto como um símbolo
de Jesus e o sacrifício pode representar a crucificação.

Assim, um texto literal pode ter um aplicação


simbólica. Desse modo podemos ver inúmeros fatos no
Velho Testamento. É possível, numa visão simbólica,
extrair-lhes as lições sem negar-lhes o aspecto literal.

184
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O batismo e a ceia mencionados na bíblia são


literais e ao mesmo tempo simbólicos. São fatos ocorridos
mas sempre representando uma realidade espiritual. O
mesmo acontece com a ceia do Senhor.

SÍMBOLO COM MAIS DE UM SENTIDO


ALTERNADAMENTE

Alguns termos, quando usados como símbolos,


podem ter um sentido em um texto e sentido diferente ou
até contrário em outra passagem. Por exemplo, o leão
representa Cristo em um texto (Ap.5.5) e Satanás em outro
(I Pd.5.8). A "estrela da manhã" representa Cristo em um
texto (Apc.22.16) e o Diabo em outro (Is.14.12). Não temos
nisso nenhuma confusão. Um símbolo é usado na bíblia
como um recurso didático e não de forma mística, como se
aquele animal estivesse "consagrado" para representar
sempre determinada pessoa. Não podemos, portanto, fazer
uma regra. Cada texto pode apresentar uma situação
diferente. Existem porém, elementos na literatura ou na
tradição judaica que nos permitem enxergar alguns padrões
de simbologia, conforme veremos na sequência.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

O SIMBOLISMO NO APOCALIPSE

João viu realidades espirituais indescritíveis.


Notamos seu esforço para explicar o que estava vendo,
ouvindo e sentindo. Ele faz diversas comparações na
tentativa de transmitir aos leitores suas impressões. Assim,
os termos "como", "semelhante" e o verbo "parecer" são
utilizados para dar uma ideia das extraordinárias visões do
autor. Em outros momentos ele não faz comparações
explícitas mas usa as figuras de forma direta, fazendo
comparações implícitas.

Algumas ocorrências de "como" - 1.10,14,15;


2.18,27; 4.1,6,7; 6.1,6,12,13.

Algumas ocorrências de "semelhante" - 1.13;


2.18; 4.3,6,7.

Verbo "parecer" - 9.19.

Os símbolos usados pelo autor eram bem familiares


para os seus destinatários.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Livros selados, trombetas, carros puxados por


cavalos, letras gregas, tudo isso era do conhecimento das
pessoas que receberiam o Apocalipse.

Ao lermos, precisamos saber o que cada coisa


significa e qual era o seu sentido naquela época. Talvez não
consigamos isso para todos os itens envolvidos, mas este é
o caminho a ser trilhado pelo intérprete.

Quando pensamos em livros, logo imaginamos


blocos de páginas de papel envolvidas por capas protetoras.
Os livros mencionados em Apocalipse, porém, eram rolos
de pergaminho, peles de animais. Eram livros selados.
Quando pensamos em selo, logo imaginamos pequenos
adesivos utilizados pelos correios. Porém, os selos do
apocalipse são lacres, a exemplo daqueles que os reis
usavam para fechar suas correspondências, de modo que as
mesmas não pudessem ser violadas no meio do caminho. O
selo tinha a marca do anel do rei. Portanto, se alguém o
quebrasse, não poderia fazer outro igual para substituí-lo.

Estes são apenas alguns exemplos para mostrar que


a interpretação do Apocalipse, como também de outras
passagens bíblicas, depende muito do conhecimento sobre a
antiguidade, principalmente do que se refere ao povo judeu,
sua história, seus costumes e tradições. Sem esse
conhecimento, sempre correremos o risco das
interpretações anacrônicas.

187
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Não podemos interpretar o texto bíblico apenas com


o sentido atual das palavras ou com base no gosto ou na
opinião pessoal. A hermenêutica agradece.

O simbolismo do Apocalipse utiliza como figuras:


fenômenos naturais, cores, minerais (pedras preciosas),
animais, relações humanas e até nomes significativos da
história judaica como Jezabel e Balaão.

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

CONCLUSÃO:

Não existindo língua universal, Deus escolheu o


hebraico para expressar o que queria comunicar aos
homens nos antigos tempos, dando a conhecer nessa língua
o plano divino através dos patriarcas e profetas do antigo
pacto.
Algumas passagens do Antigo Testamento, foram
escritas no Aramaico, língua que, durante muitos séculos
antes das conquistas de Alexandre magno, chegando a ser
fala normal dos Judeus durante e depois do cativeiro, e
certamente o próprio Senhor Jesus Cristo aprendeu dos
lábios de sua mãe. Atualmente é uma língua morta.

A mensagem apocalíptica é um aviso divino para a


humanidade. Não existe esperança para as forças
demoníacas, mas para os homens sim. Ignorar o Apocalipse
seria como rasgar uma notificação judicial sem tê-la lido. O
prazo está se esgotando. Ainda que o mundo dure mais
1000 anos, é o nosso tempo de vida que determina nossa
chance de deixar o mal e escolher o bem. O
arrependimento é também um tema em destaque no
Apocalipse (2.5,16,21,22; 3.3,19; 9.20,21; 16.9,11).

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

Deus poderia extinguir a raça humana em um


instante. Porém, ele manda seus castigos aos poucos,
esperando que os homens sintam a culpa pelo pecado e se
arrependam. Devemos ouvir a sua voz enquanto temos
tempo. Antes que o juízo venha, existe uma porta aberta
para o Reino de Deus através do nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo.

190
EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

BIBLIOGRAFIA

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Estudo da Exegese bíblica – CPAD

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BERKHOF, L. – MANUAL DE DOUTRINA CRISTÃ -


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BANCROFT,E.H- TEOLOGIA ELEMENTAR – EBR


SEVERA,Z- MANUAL DE TEOLOGIA
SISTEMÁTICA – E. SANTOS

GILBERTO, A – MANUAL DA ESCOLA DOMINICAL-


CPAD

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

THOMPSON, T – BÍBLIA SAGRADA

DIVERSOS- APOSTILAS

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EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO ( BACHAREL EM TEOLOGIA )

GRADES DE MATÉRIAS POR CURSO

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