Você está na página 1de 7

Igreja Batista Pentecostal Ministério Goianinha - Nova Cruz/RN

Escola de Obreiros (as) Batista Pentecostal


Aprendendo para melhor servir

A história da Hermenêutica

Nova Cruz/RN

Escola de Obreiros (as) Batista Pentecostal 1


Aprendendo para melhor servir
A história da Hermenêutica

NECESSIDADE DA HERMENÊUTICA
 A hermenêutica é necessária devido aos bloqueios à interpretação natural: distância histórica, cultural, idiomática e
filosófica. Nossa postura cultural funciona como uma lente quando lemos a bíblia. Isto pode causar muitas distorções de
sentido.
 A hermenêutica é necessária para que os ensinamentos bíblicos possam ser aplicados na atualidade. Para ser útil, o texto
bíblico precisa ser lido, compreendido e aplicado. A falta do conhecimento bíblico dá lugar aos seguintes erros:
 Invenção de versículos
 Distorção de versículos
 Isolamento de versículos
 Interpretação livre

OS RISCOS DAS INTERPRETAÇÕES EQUIVOCADAS


A falsa compreensão das Escrituras pode parecer algo inofensivo, mas sua grande ameaça é a produção de heresias, que são
falsas doutrinas baseadas no erro de interpretação. Assim, muitos líderes exigem o absurdo e proíbem o que seria direito
legítimo dos fiéis. Fazendo isso em nome de Deus, prejudicam gravemente aqueles que deveriam estar sendo conduzidos de
modo sensato.
Quantos líderes estão levando as pessoas a ofertarem tudo no altar, sob o argumento de que elas serão abençoadas com
riqueza material? Quantos são proibidos de usarem roupas de determinada cor, proibidos de se casarem, proibidos de
comerem este ou aquele alimento (I Tm.4.1-3).
É verdade que as heresias não se limitam aos erros de interpretação bíblica, mas têm neles sua base principal.
Tais equívocos de compreensão bíblica produzem ideias erradas sobre Deus e expectativas infundadas em relação ao
cristianismo, que vão gerar frustração, revolta e apostasia. O pior efeito desse processo é a perdição eterna.
LIMITES DA HEMENÊUTICA
A hermenêutica nos oferece um conjunto de princípios e regras para a interpretação bíblica. Porém, precisamos estar
conscientes de que o texto bíblico está envolvido não apenas por questões técnicas, mas, sobretudo, por questões espirituais
que não podem ser decifradas por regras humanas. A realidade bíblica e espiritual está dividida em três partes: o que sabemos,
o que podemos e o que não podemos saber. Precisamos estar conscientes de que Deus não permitirá que saibamos tudo.
Nunca seremos oniscientes.
O mistério de Cristo esteve oculto durante todo o período do Velho Testamento, mas foi revelado no Novo (Ef. 3.4; Col.1.26-
27). Outros mistérios, como aqueles que dizem respeito aos últimos dias, estão selados até que chegue a hora determinada
pelo Pai. O livro de Apocalipse fala sobre a abertura dos selos. Isto representa o desvendamento de vários mistérios.
O que quero demonstrar é que a hermenêutica tem seus limites, mas isto serve apenas para nos alertar e não para nos
desestimular em relação ao estudo. Precisamos apenas estar conscientes de que nem tudo pode ser desvendado pela
hermenêutica. Por exemplo, a “trindade” é um mistério indecifrável para nós. Por mais que criemos figuras e exemplos, não
temos como explicar o fato de Deus ser um só e ao mesmo tempo ser três pessoas.

Escola de Obreiros (as) Batista Pentecostal 2


Aprendendo para melhor servir
HISTÓRIA DA HERMENÊUTICA
Estudando a história da hermenêutica conheceremos vários métodos de interpretação bíblica que se sucederam.
Podemos assim compará-los, buscando, quando possível, o aproveitamento de suas melhores características.
Sobretudo, tal abordagem será útil para que não repitamos os mesmos erros dos intérpretes do passado.
1 – Exegese judaica antiga (536 a.C até séc. 1 d.C).
Esdras (Ne: 8.8) - O povo que voltava do cativeiro falava aramaico e estava bem distante da realidade de
Moisés. Esdras certamente traduzia e explicava a lei. Ele parece ter sido a primeira figura de destaque na
Hermenêutica judaica.
Rabinos Posteriores - Depois de Esdras, os rabinos primaram pela supervalorização da letra. As cópias eram
feitas com extremo zelo e reverência. Detalhes de estilo literário, como as figuras de linguagem e paralelismo,
repetição de letras ou sua forma eram consideradas como motivos para interpretações engenhosas. Esse
comportamento recebe o nome de “letrismo” e muitas vezes substituiu o sentido que o autor bíblico pretendia.
Rabinos no tempo de Cristo - praticavam a interpretação literal (Peshat), Midráshica, Pesher e alegórica. O
tipo de interpretação variava de acordo com o grupo judaico e com o propósito.
2- Uso do Antigo Testamento pelo Novo Testamento
parte do conteúdo do Novo Testamento compõe-se de citações do Velho, incluindo menção a 30 de seus livros.
Jesus e os autores do Novo Testamento citam o Velho Testamento quase sempre interpretando-o de modo literal.
Mateus destaca o cumprimento do VT em seus dias.
Jesus citou personagens do VT como pessoas reais, afirmando, inclusive o retorno das mesmas para o juízo
final. Além disso, o Mestre criticou o uso das tradições na interpretação das Escrituras que acabavam por
inutilizá-la (Mt.15.1-9).
Os apóstolos – Pedro destaca em Atos 2 o cumprimento de Joel 2.
Paulo e Pedro declararam a inspiração divina do VT (II Tm.3.16 / II Pd.1.21).
Paulo usou alegoria em Gálatas.
3- Exegese Patrística (100 a 600 d.C.)
Os pais da igreja interpretaram o Velho Testamento principalmente de modo alegórico. Com isso, foram muito
longe da intenção dos autores. Não havia regras para a interpretação.
Clemente de Alexandria - (150 a 215 d.C.) – Dizia que o verdadeiro significado das Escrituras está oculto para
que sejamos inquiridores. Afirmava a existência de cinco sentidos ou camadas no texto bíblico: histórico,
doutrinal, profético, filosófico e místico.
Orígenes – (185 a 254) – Valorizava I Cor.2.6-7 e considerava as Escrituras como uma vasta alegoria na qual
cada detalhe era simbólico. Dizia que, assim como o homem tem três partes, as Escrituras têm três sentidos:
literal, moral e alegórico (místico). Na prática, ele desprezou o sentido literal.
Agostinho – (354 a 430) – Estabeleceu regras avançadas para a época. Algumas são usadas até hoje. Defendeu
a existência de quatro sentidos: histórico, etiológico (ref.origem), analógico e alegórico. Na prática, Agostinho
usou alegorizarão excessiva, justificando-se com II Cor.3.6.

Escola de Obreiros (as) Batista Pentecostal 3


Aprendendo para melhor servir
A Escola de Antioquia da Síria – Teve como destaque Teodoro de Mopsuéstia (350-428) – rejeitaram o letrismo
e o alegorismo da Escola de Alexandria. Valorizaram a interpretação histórico-gramatical. Rejeitaram o uso da
autoridade sobre a interpretação.
A Escola de Alexandria – Ensinava a existência de um significado espiritual acima dos fatos históricos. Embora
o princípio tivesse algo válido, aqueles intérpretes se entregaram a fantasias sem limites.
4- Exegese Medieval (600 a 1500)
Foi uma época de ignorância e domínio católico. Os dogmas e a tradição regulamentavam a interpretação bíblica.
Durante esse período a interpretação foi dominada pela alegorizarão e pelo “sentido quádruplo” sugerido por
Agostinho, expresso pelos itens a seguir:
1- A letra mostra-nos o que Deus e nossos pais fizeram. (Por exemplo, nesse sentido, Jerusalém seria a própria
cidade histórica em Israel).
2- A alegoria mostra-nos onde está oculta a nossa fé. (Jerusalém representaria, portanto, a igreja).
3- O significado moral dá-nos as regras da vida diária. (Jerusalém significaria a alma humana).
4- A anagogia (escatologia) mostra-nos onde terminamos nossa luta. (As referências a Jerusalém indicariam então
a Nova Jerusalém de Apocalipse).
5 – Exegese da Reforma (século XVI)
Observou-se o abandono gradual do “sentido quádruplo”.
Lutero (1483 a 1546) defendeu a tese de que a fé e a iluminação do Espírito Santo são fundamentais para a
correta interpretação da bíblia. Afirmava que as Escrituras estão acima da igreja. A interpretação correta
procede de uma compreensão literal. Devem ser consideradas as condições históricas, a gramática e o
contexto. As Escrituras são claras e não obscuras como dizia a Igreja Romana. O Velho Testamento aponta para
Cristo. É fundamental a distinção entre Lei e Graça, embora ambos estejam presentes em toda a bíblia.
Calvino (1509 – 1564) – Dizia que a alegorizarão era artimanha de Satanás. Segundo Calvino, a Escritura
interpreta a Escritura. Destacou a importância do contexto, gramática, palavras e passagens paralelas, em lugar
de trazer para o texto o significado do intérprete.
6 - Exegese Pós-reforma (1550-1800)
Confessionalismo – Nessa época foram definidos os credos católicos e protestantes como base da exegese. A
variedade de credos e a preferência do intérprete conduzia a muitas discrepâncias teológicas. O uso das
Escrituras ficou restrito à escolha de textos para “comprovação” de posições religiosas pré-determinadas.
Pietismo – Philipp Jakob Spener (1635-1705) – O Pietismo foi um movimento contra a exegese dogmática.
Incentivou o retorno às boas obras, ao conhecimento bíblico, ao preparo espiritual dos ministros e o trabalho
missionário. Por algum tempo, houve boa utilização do método histórico-gramatical. Depois, a tendência de
espiritualizar de forma piedosa os textos, fortaleceu a tese de uma “luz interior” para a interpretação e o
desprezo ao método histórico-gramatical, distanciando os intérpretes das intenções do autor.
Racionalismo – A razão em confronto com a revelação - A razão passou a ser considerada como única
autoridade na interpretação bíblica. Só se aceitava o que se podia compreender. Após a Reforma, o empirismo

Escola de Obreiros (as) Batista Pentecostal 4


Aprendendo para melhor servir
aliou-se ao racionalismo. Empirismo significa que o conhecimento vem apenas por meio dos sentidos físicos.
Só se podia aceitar o que se pudesse comprovar. Lutero disse anteriormente que a razão deve ser um
instrumento para a compreensão da Palavra (uso ministerial) e não um juiz (uso magisterial). Entendemos que
o uso da razão na compreensão das Escrituras é proveitoso, mas precisa estar sujeito à fé. Os milagres não
podem ser compreendidos pela razão. Nosso culto é racional (Rm.12.1-2), mas a razão não é a sua base de
sustentação.
4- Hermenêutica Moderna. (Após 1800)
Nos últimos séculos, o método histórico-gramatical tem sido o mais aceito, embora ainda ocorram interpretações
por algumas das formas praticadas durante a história.
MÉTODO HISTÓRICO-GRAMATICAL – Durante o processo de interpretação bíblica, não importa o sentido que
nos agrada ou o que gostaríamos de encontrar no texto, mas precisamos descobrir o sentido pretendido pelo
autor. Para isso, o processo de interpretação envolverá a busca de informações históricas, textuais, gramaticais
e teológicas.
1- ANÁLISE HISTÓRICO-CULTURAL - Para entendermos alusões, referências, que o autor faz, precisamos conhecer
o contexto histórico que envolve a obra. Desse modo, o propósito do autor ficará mais claro para o nós.
Por exemplo, em João 4 está escrito que os judeus não tinham bom relacionamento com os samaritanos. Contudo,
o autor não explica os motivos da desavença. Faz apenas uma rápida alusão ao assunto. Se quisermos compreender
a questão, precisaremos estudar a história de Israel, que está no Velho Testamento. Isto nos ajudará a compreender
de modo mais amplo a passagem de João 4. O encontro de Jesus com a mulher samaritana passa a ser visto de
outra forma quando se tem o conhecimento histórico. Detalhes daquele diálogo tornam-se também mais
significativos.
Ao estudarmos uma passagem bíblica, será excelente se pudermos descobrir:
 Quem é o autor.
 Quem são os destinatários
 Quem são os personagens.
 Localização (do autor e destinatários ou personagens).
 Seu tempo (quando foi escrito o livro ou quando ocorreram os fatos nele descritos).
 Sua história.
 Seus costumes (cultura).
 Circunstâncias imediatas (que podem ser problemas ou necessidades que motivaram a produção do livro e
estão ligados ao tema ou propósitos do mesmo)
2- ANÁLISE CONTEXTUAL - Quando pensamos haver encontrado o sentido de um texto ou palavra, precisamos
verificar a coerência da nossa conclusão:
 Dentro da frase.
 Dentro do versículo.
 Dentro do capítulo.

Escola de Obreiros (as) Batista Pentecostal 5


Aprendendo para melhor servir
 Dentro do livro (de acordo com o tema e propósito).
 Dentro da obra do autor.
 Dentro da bíblia.
Por exemplo, em Filipenses 4.13 está escrito: “Tudo posso naquele que me fortalece”. “Tudo posso” pode ser
entendido como “posso fazer qualquer coisa”, “posso fazer o que eu quiser”, “tudo é permitido”. Seria correta
essa interpretação? Precisamos verificar a coerência disso usando a frase completa: “Tudo posso naquele que me
fortalece.” Precisamos descobrir quem é o autor da frase. Sabendo que é o apóstolo Paulo, já eliminamos qualquer
sentido “permissivo” que pudéssemos ver no texto. O conhecido caráter do autor interfere diretamente na
interpretação que possamos fazer. Depois, precisamos saber quem é “aquele” que fortalece o autor. Sabendo que
ele se refere a Deus, entendemos que Paulo “podia” tudo o que pudesse ser feito pela força dada por Deus. Assim,
isso não poderia incluir, por exemplo, a prática do pecado, ou um entendimento egoísta da frase.
O versículo pode ser entendido como uma garantia de que tudo dará sempre certo para o cristão, ou que ele estará
sempre “por cima” em qualquer situação? Seria uma declaração de pensamento positivo? Quando tomamos
conhecimento das circunstâncias que envolvem o autor, abandonamos todas estas ideias erradas sobre o texto.
Paulo estava preso quando escreveu aos Filipenses. Então, nem tudo estava “dando certo” no sentido humano de
ver as coisas. O que Paulo queria dizer então? Para saber isso, precisamos ler todo o capítulo 4 de Filipenses, ou
pelo menos os versículos que antecedem o 13.
Vamos transcrever um pequeno trecho: “Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas
as circunstâncias já tenho experiência; tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez;
tudo posso naquele que me fortalece.” (Fp.4.12-13). O autor estava vivendo uma situação terrível, mas afirmou
que estava fortalecido para suportar tudo aquilo.
3 - ANÁLISE LÉXICO-SINTÁTICA - Quando lemos qualquer texto, uma das grandes dificuldades está nas palavras
desconhecidas. Se simplesmente “pularmos” essas palavras, perderemos a mensagem. Precisamos procurar o
significado para que cheguemos a uma interpretação correta.
A parte léxica da análise diz respeito ao significado das palavras isoladas. A parte sintática se refere à função das
palavras dentro da frase, o que pode variar muito e conduzir a uma ideia bem diferente daquele que se obtém pelo
estudo da palavra em si. Além do significado de uma palavra, precisamos saber qual é a sua classe gramatical, se é
substantivo, adjetivo, numeral, advérbio, pronome, verbo, artigo, conjunção, preposição, etc. É preciso saber
também as relações entre as classes e como uma interfere no sentido da outra. Por exemplo, localizado um adjetivo
na frase, precisamos saber a qual substantivo ele se refere.
Em Gênesis 3.15, temos alguns pronomes pessoais e possessivos: “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a
tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Se não entendermos bem a
relação entre as palavras não entenderemos a mensagem, podendo, inclusive, inverter a posição dos personagens.
Precisamos saber quem são as “pessoas do discurso”. Quem está falando? Com quem? O que está sendo dito e a
respeito de quem?

Escola de Obreiros (as) Batista Pentecostal 6


Aprendendo para melhor servir
Examinando o contexto, percebemos que Deus está falando com a serpente. Portanto, todos os pronomes
relacionados à segunda pessoa, se referem à serpente. A “tua” semente é a semente da serpente. Os pronomes da
terceira pessoa se referem à mulher, que é a pessoa de quem se fala. A “sua” semente é a semente da mulher. O
pronome demonstrativo “esta” se refere à última semente mencionada na frase, ou seja, a semente da mulher.
Sendo assim, compreendemos que a descendência (ou o descendente) da mulher esmagaria a cabeça da serpente
e teria seu calcanhar ferido. As deficiências no conhecimento gramatical devem ser corrigidas através de estudos
da língua portuguesa. Sem isso, é improvável que o aluno venha a compreender a gramática grega ou hebraica.
4 - ANÁLISE TEOLÓGICA - Nem todo estudo bíblico é teológico. Teologia é o estudo sobre Deus e suas relações
com o universo, especialmente com o homem. Fazemos análise teológica de um texto quando examinamos as
lições e princípios nele existentes em relação aos parâmetros gerais da relação de Deus com o homem.
O objetivo da análise teológica é saber se determinada lição extraída de um relato bíblico pode ser aplicada na vida
de qualquer servo de Deus em qualquer época. A pergunta chave é: existe um padrão imutável de relacionamento
de Deus com o homem? De Adão até hoje, existe continuidade ou descontinuidade na relação de Deus com os
homens? A bíblia é um livro teologicamente fragmentado ou existe unidade nele? A resposta a esta questão nos
ajudará a formar alguns pressupostos hermenêuticos.

Escola de Obreiros (as) Batista Pentecostal 7


Aprendendo para melhor servir

Você também pode gostar