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Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas

Capítulo 2 Maputo, 2005

2. BASE GEOLÓGICA PARA A FORMAÇÃO DO CARVÃO


No final deste capítulo encontrará um pequeno glossário que o ajudará a perceber alguns termos em inglês
apresentados neste texto, e para os quais não há equivalente em português.

2.1. Origem dos Pântanos Turfeiros


Em geral, as camadas de carvão têm origem em turfa depositada em pântanos. A formação de um pântano
turfeiro está crucialmente dependente dos seguintes factores:

a) desenvolvimento evolucionário da flora;

b) clima, e

c) posição geográfica e estrutural da região

2.1.1. Desenvolvimento Evolucionário da Flora

Os carvões mais antigos que se conhecem são as antracites de Michigan (EUA) de idade do Huroniano Médio
(Algônquico, >2.500 Ma), sendo contudo raros e impuros, mas mostrando, ao microscópio e em grandes
ampliações, estruturas que parecem ser de origem vegetal. Também se conseguiram isolar restos de algas e
fungos de cherts da mesma idade.

Durante o Devónico Inferior (408-360 Ma), plantas do tipo Psilófitas (Fig. 11) cresceram submersas em lagoas de
pouca profundidade. A partir destas plantas originaram-se camadas finas de carvão que se encontram, por
exemplo, nas Camadas de Haliseriten da região do Reno na Alemanha.

Só durante o Devónico Médio-Superior, quando as plantas se espalharam rapidamente sobre as massas de


terra firme, é que foi possível a formação de verdadeiras camadas de carvão.

Temos o exemplo da Ilha dos Ursos na Bacia de Kuznetsk, no Cazaquistão. No território da antiga URSS, os
carvões do Devónico Superior formaram-se a partir de plantas semelhantes às que originaram os carvões do
Carbónico – Pteridófitas, Equisetófitas e Licófitas (Fig. 12). Contudo, estes carvões ainda não têm valor
económico. Só a partir do Carbónico Inferior (360-220 Ma) é que se formaram depósitos de carvão importantes.

Em associação com as Sigilárias, cresciam plantas mais pequenas do tipo junco – Calamites (Fig. 13c).

Fig. 11. Desenho duma Psilófita Fig 12. Esquemas de (i) Pteridófita (www.scielo.sa.cr), (ii) Equisetófita
(www.fosil.cl) (www.stud.u-szeged.hu) e (iii) foto de Licófita actual (www.hcs.ohio-state.edu)

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Fig. 13. A-Lepidodendron; B-Sigillaria; C-Calamites

Contudo, as comunidades vegetais que cresciam nos pântanos carbónicos não apresentavam a variedade
vegetal de pântanos de idades geológicas mais recentes.

O Carbónico Superior é conhecido como o Período do Carvão Betuminoso. Nessa altura os pântanos de
floresta eram ocupados por vegetação luxuriante, constituída por árvores do tipo Lepidodendron e Sigillaria
(Fig. 13a e b) que atingiam alturas de mais de 30 metros. Os grandes depósitos de carvão do Pérmico (290-
245 Ma), caso dos carvões da África Austral, incluindo os moçambicanos, são formados principalmente de
plantas do tipo Gimnospérmicas – Cordaítes, Glossopteris, Gangamopteris (Fig. 14), etc.

No Mesozóico, em especial durante o Jurássico (210-140 Ma) e Cretácico Inferior (140-105 Ma), as
principais plantas que deram origem a carvões foram as Gimnospérmicas – Ginkgófitas, Cicadófitas e
Coníferas (Fig. 15).

A rápida evolução da flora entre o Cretácico Inferior e Superior (105-66 Ma) deu origem à flora de
Angiospérmicas na América do Norte, Europa e Austrália, durante o Cretácico e o Terciário.

Comparada com a flora carbónica, as floras dos pântanos do Mesozóico e, em especial, do Terciário são
muito mais diversificadas e especializadas (Fig. 16), resultando em depósitos turfeiros espessos com muitos
tipos de fácies diferentes.

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Fig. 14. Gimnospérmicas do Pérmico. Da esquerda para a direita: Cordaites, Glossopteris, Gangamopteris

Fig. 15. Gimnospérmicas do Mesozóico. A. Gyngkófita (www.houstongardening.info); B. Cicadófita


(www.aber.ac.uk) ; C. Conífera (www.iespana.es/natureduca/)

Fig. 16. Reconstrução de dois tipos de pântano no Reno Inferior (Alemanha) durante o Mioceno (in Stach et al, 1982)

2.1.2. Clima

Quanto mais quente e húmido for um clima, mais luxuriante se torna a flora, e os pântanos de floresta
tornam-se dominantes sobre os pântanos de canaviais/juncos e de musgos. Por exemplo, um pântano nas
zonas tropicais renova-se num período de 7-9 anos e durante este período as árvores podem crescer até 30
metros de altura. Em contraste, nos pântanos de zonas temperadas, as árvores crescem 5-6 metros no
mesmo período de tempo. Mesmo raised ombrogenous bogs, que são pobres em nutrientes, e que apenas
contêm musgo nos climas temperados, estão muitas vezes cobertos de árvores nas regiões tropicais.

Nos passado geológico, as turfas predominaram em zonas climáticas quentes e húmidas, em especial no
Carbónico Superior, quando se depositaram as formações mais ricas em carvão, e no Cretácico Superior-
Terciário Inferior, da América do Norte.

Contudo, no Hemisfério Sul e na Sibéria, há grandes depósitos de carvão que se acumularam em climas
húmidos temperados ou mesmo frios, como, por exemplo, os depósitos de carvão gondwânicos inter- e pós-
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glaciais de idade permo-carbónica, e os depósitos pérmicos e jurássicos-cretácicos inferiores de Angara


(actuais regiões de Tunguska e Lena, na Sibéria russa).

As camadas de carvão que foram depositadas em climas húmidos e quentes contêm muitas bandas largas
de carvão brilhante que se originaram a partir de troncos espessos. Por outro lado, as camadas que provêm
de climas temperados e frios contêm percentagens relativamente baixas de carvão brilhante. Por exemplo,
os carvões gondwânicos pós-glaciais, formados a partir de vegetação de porte baixo, são muitas vezes
finamente detríticos. Os minerais de argila de granulometria muito fina, típicos destes carvões, devem ter
sido soprados para os pântanos de poucas árvores, a partir das terras altas envolventes, elas também com
poucas árvores (Plumstead, 1962).

Com o aumento da temperatura, não só aumenta o crescimento das plantas, como também a sua
velocidade de decomposição. Consequentemente, até algumas décadas atrás pensava-se que as turfas só
atingiam espessuras consideráveis em climas temperados. Contudo, grandes áreas pantanosas com
espessuras de turfa de mais de 30 metros foram posteriormente descobertas nos trópicos.

Fig. 17. Musgo do tipo Sphagnum

Raised bogs só ocorrem em climas húmidos, em que a precipitação atmosférica anual é maior que a
evaporação total anual. Eles formam-se independentemente da morfologia superficial, mesmo em topos de
montanhas com grande precipitação anual. Uma temperatura média anual de 8-9ºC com uma precipitação
de 700 mm já é suficiente para a formação de trufeiras neste tipo de pântanos, caracterizados por terem
uma superfície convexa e por serem pobres em vegetação. Em zonas temperadas, eles são caracterizados
por musgos (Sphagnum – Fig. 17).

Mas há pântanos deste tipo nas zonas tropicais/equatoriais de Malaca, Sumatra, Bornéu e Nova Guiné. Os
pântanos de Sumatra, por exemplo, recebem uma precipitação anual de 3000-4000 mm, distribuída regularmente
pelo ano todo. Em contraste com os raised bogs das zonas temperadas, eles contêm espessas florestas de flora
arbórea, contudo pobres em espécies.

2.1.3. Requisitos Paleogeográficos e Tectónicos

Há vários pré-requisitos para que se possam formar espessas camadas de turfa e, consequentemente,
camadas de carvão. Os mais importantes são:

 Subida contínua e lenta da toalha freática que se mantém ao mesmo ritmo que a formação da turfa –
subsidência – com a toalha freática à superfície da turfa ou perto;

 Protecção do pântano por praias, línguas de areia, etc., que o protejam da invasão marinha, e por
levées naturais que o protejam das inundações fluviais;

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 Baixa energia de relevo do hinterland (terras do interior) e, consequentemente, fornecimento restrito


de sedimentos fluviais que, de outro modo, interromperiam a formação da turfa por soterramento.

Se a toalha freática subir muito, em geral devido a subsidência rápida, os pântanos “afogam”, depositando-
se então sedimentos límnicos ou marinhos (argilas, margas e calcários). Se a subsidência for muito lenta, o
material vegetal superficial apodrece e a turfa que já se tenha formado será erodida. Assim, a formação de
camadas de carvão depende das inter-relações paleogeográficas e estruturais dentro da área de
sedimentação.

2.1.3.1. Paleogeografia

Se a toalha freática se mantiver suficientemente alta por um grande período de tempo, pode formar-se turfa,
mesmo em clima frio. Uma condição para a formação de turfa é uma depressão no solo. Consequentemente,
pode fazer-se uma distinção entre raised bogs ou high moors, condicionados pelo clima, e topogenic low
moors, relacionados com depressões topográficas que se podem formar por acção da água (lagos oxbow) ou
do gelo.

Os topogenic low moors também se podem formar pelo colapso da superfície devido a fenómenos de
lixiviação das rochas subjacentes (regiões cársticas, sobre zonas de domos salinos ou de gesso).
Ocasionalmente, lagos em crateras de vulcões extintos e maars, e também o represamento de água atrás
de moreias terminais podem dar origem a pântanos.

Em qualquer destas situações, de depressões na superfície, é necessário que haja água estagnada o ano
inteiro acima ou muito perto da superfície do chão, de modo a que as plantas mortas não apodreçam.

Estas condições encontram-se geralmente em áreas costeiras planas, onde a água do mar impede que a
água fresca se escape. Assim, muitos pântanos estão associados com zonas costeiras (marinhas). Outros
pântanos ocorrem ao longo de margens de grandes lagos interiores. Assim, dependendo da sua posição
geográfica original, podem distinguir-se depósitos de carvão parálicos ou costeiros (Fig. 18) e límnicos ou
interiores (Fig. 19).

Fig. 18. Pântano costeiro na foz do Rio Shark, Florida, com mar
transgressivo, várias ilhas de mangal, e turfa com 1-5 m de Fig. 19. Pântano de Ciprestes em Okefenokee,
espessura. A distribuição, tamanho e forma das ilhas varia Florida/Geórgia, EUA. Em primeiro plano, zona
constantemente. Foto de W. Spackman, in Stach et al, 1982 de águas abertas com plantas aquáticas, fetos e
arbustos. In Stach et al, 1982

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Muitos pântanos parálicos originaram-se nas margens distais externas dos deltas (Fig. 20). Como regra,
estes pântanos têm poucas ou nenhumas árvores (Fig. 21), em contraste com pântanos de floresta (Fig. 19)
que aparecem mais na zona proximal da área deltáica. Presentemente, as florestas de mangal são a
vegetação típica das margens costeiras dos deltas tropicais. Em regressões marinhas, à medida que o delta
avança, mais os pântanos se estendem em direcção ao mar. Por exemplo, actualmente no Bornéu, as
planícies de inundação deltáicas crescem mar a dentro a um ritmo de 10 metros/ano.

Fig. 20. Diversos tipos de pântanos na costa norte do Golfo do México (adaptado de O’Neal, 1949). In Stach et al, 1982

Enquanto que muitos pântanos se originam devido a regressões marinhas, muitos outros se formam
devido a transgressões, como acontece no Mar do Norte presentemente. Aqui o mar em avanço
empurra à sua frente a toalha freática ascendente em direcção a terra, formando-se assim um
cinturão de pântanos.

Fig. 21. Pântano de juncos sub-tropical, de água doce em


Fig. 22. Áreas de águas abertas com lírios de água no
Everglades, Florida, com algumas ilhas de pântano de
pântano de Okefenokee, Geórgia. In Stach et al, 1982
floresta. In Stach et al, 1982

Nestes casos, aparecem sedimentos fluviais por baixo das camadas de carvão e sedimentos marinhos ou
límnicos por cima. (Fig. 23).

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Fig. 23. Interdigitação de fácies marinhos, fluviais e turfo-sedimentares na Bacia Carbonífera do Ruhr (Alemanha); exemplo duma
ocorrência parálica (adaptado de Teichmüller, 1955a)

A maioria dos grandes pântanos costeiros desenvolve-se sob a protecção de barras de areia ( sand bars),
spits ou cadeias de ilhas.

Associados aos pântanos costeiros estão os back swamps, que se formam em ambos os lados das zonas
mais a jusante dos grandes rios atrás de levées naturais. Estes pântanos são muito ricos em matéria
mineral devido a extensas cheias anuais.

Anteriormente falou-se nos raised bogs de Bornéu, que ocorrem a um certa distância da costa ou das
margens dos rios. Em direcção à costa ou perto dos rios, eles são gradualmente substituídos por low moors
com aumento de nutrientes e aumento de espécies de árvores e arbustos. Finalmente, passam a florestas
de mangal na zona costeira.

Em tempos actuais, nas zonas temperadas do norte, os pântanos turfeiros formam-se muitas vezes em
depressões de origem glaciar, em que as moreias terminais, juntamente com cursos de água (fundida dos
glaciares), favorecem a formação de pântanos. Como regra, estes pântanos desenvolvem-se em lagos que
são lentamente preenchidos, do interior para a margem, por crescimento de plantas com lamas, gyttjae
detrítica, turfa de junco e finalmente turfa de floresta (Fig. 24).

No hemisfério sul, o relevo superficial dos depósitos glaciares Pérmicos tiveram uma influência importante
no desenvolvimento dos pântanos costeiros do Gondwana.

Fig. 24. Enchimento dum lago por crescimento de plantas e a sequência resultante de diferentes tipos de lama orgânica e de turfa
(in Stach et al, 1982).

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2.1.3.2. Geologia Estrutural e Tectónica

Os depósitos de turfa só se mantêm preservados em áreas de subsidência. Consequentemente, ricos


depósitos de carvão estão relacionados com essas áreas, que normalmente ocorrem nas ante-fossas de
grandes cadeias de montanhas.

A formação da turfa está ligada com as fases finais da formação de ante-fossas, i.e., numa altura em que
predominava meio continental. Muitos autores acreditam que a formação das camadas de carvão ocorre
num momento em que há pouca subsidência. Se a taxa de subsidência aumenta, depositam-se sedimentos
inorgânicos, enterrando a turfa, como no caso duma transgressão marinha. Mais tarde, sedimentos límnicos
e fluviais são depositados, sobre os quais podem formar-se novos pântanos turfeiros. Tal sucessão de
sedimentos/fenómenos é chamado de ciclotema e a sequência pode repetir-se, se bem que não
necessariamente com todos os detalhes.

Os depósitos de carvão de ante-fossas são caracterizados por conterem camadas de carvão relativamente
finas (<2 metros) de grande extensão lateral e abundantes intercalações de camadas de origem marinha.
Por exemplo, a Bacia do Ruhr (Alemanha), que é parte da ante-fossa sub-Varisca, contém mais de 40
camadas de carvão trabalháveis numa sucessão de 4000 metros de espessura. O mesmo acontece com os
depósitos de carvão do sul da Holanda, do sul Bélgica, do norte de França e do sul de Gales. As camadas
do Carbónico Superior de Pennsylvania, W. Virginia, Tennessee, Kentucky e Alabama (nos EUA) foram
depositadas na ante-fossa dos Apalaches.

Ao contrário das ante-fossas, as retro-fossas têm subsidência menor e, consequentemente, menos camadas de
carvão. Como exemplo, há a referir a retro-fossa dos Apeninos na Itália.

Exemplos actuais de ante- e retro-fossas encontram-se na Indonésia e Nova Guiné. A costa SW da Nova
Guiné está coberta por maciços pântanos costeiros numa ante-fossa. Nesta zona foram depositados 13.000
metros de sedimentos terciários com muitas camadas de carvão.

Enquanto que os carvões parálicos são geralmente depositados em ante-fossas, a maioria dos carvões
límnicos são depositados em grandes bacias continentais, como é o caso da maioria dos carvões gondwânicos.
Típico deste tipo de depósitos límnicos, em especial depósitos de grabens, como em Moatize, é que eles
contenham um número pequeno de camadas de pequena extensão lateral, mas muito mais espessas. Refira-
se o exemplo da camada Chipanga em Moatize, que tem uma espessura média de 40 metros.

Convém contudo referir que na natureza, raramente ocorrem depósitos inteiramente límnicos ou
inteiramente parálicos. Normalmente há uma mistura de tipos de transição.

2.2. Crescimento da Turfa, Compressão e Tempo de Formação do Carvão


Nas zonas temperadas, a taxa anual de crescimento dos pântanos turfeiros é estimada em ½-1 mm, e nos
high-moor de 1-2 mm. As turfas dos pântanos de canavial nos climas sub-tropicais da Florida e do delta do
Mississipi crescem 1.3 e 1.0 mm/ano respectivamente. A taxa de crescimento de pântanos tropicais é
consideravelmente maior. No NW do Bornéu, em áreas de pântano de floresta, o crescimento anual pode
atingir 3-4 mm, isto é, 1 metro em cada 300-400 anos.

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A compressão ou, alternativamente, a perda de volume desde o estágio de turfa, passando pelo estágio de
lignite até ao sub-betuminoso, é considerável, mas a quantidade de compressão depende do fácies. Os
pântanos de floresta comprimem menos que os pântanos de canavial ou as gyttjae, que originalmente contêm
água abundante.

A quantidade de compressão pode ser medida através de inclusões na camada, cujos volumes durante a
incarbonização não sofreram mudanças ou elas foram mínimas. Estas inclusões referem-se a troncos de
árvore verticais, concreções minerais singenéticas e os macerais funginite e secretinite (de que falaremos
adiante em capítulo próprio). O carvão flui à volta destas inclusões e a diferença de altura entre, por
exemplo, a concreção e as lâminas de carvão lateralmente contíguas indicam o grau de compressão.

O grau de compressão de turfas de Pteridospérmicas no Carbónico Superior é de aproximadamente 7:1 até


ao estágio de carvão betuminoso (Fig. 25). Já nas gyttjae esse grau é de 20:1 (Fig. 26). Estima-se que, em
geral, o grau de compressão turfa-lignite-betuminoso é de 6:3:1, ou seja, 1 metro de turfa dá origem a pouco
menos de 20 cm de carvão betuminoso.

Fig. 25. Compacção de turfa a carvão betuminoso Fig. 26. Lama orgânica litificada envolvendo concreções de
evidenciada por uma concreção dolomítica na siderite. Camada 30, mina Adolf, Aachen. In Stach et al, 1982
camada Katarina do Ruhr. In Stach et al, 1982 (R.
Teichmüller, 1955b)

É muito mais difícil estabelecer o tempo necessário para formar uma certa espessura de carvão, seja lignite
seja betuminoso, e por isso estimativas individuais de vários autores variam imenso. Autores há que
calculam 2.400-3.000 anos para formar 1 m de lignite e 6.000-9.000 anos para formar 1 m de carvão
betuminoso.

2.3. Desenvolvimento de Fácies Carboníferos


O termo fácies carbonífero refere-se aos tipos genéticos primários de carvão, que dependem do meio em que
as turfas se formam. O fácies dum carvão exprime-se através do conteúdo maceral e mineral do carvão,
através ainda das suas propriedades químicas, que são grandemente dependentes do grau de incarbonização,
como por exemplo, os conteúdos de N e S e o rácio H/C das vitrinites, e ainda através de algumas propriedades
texturais. Os factores seguintes determinam as característica primárias das camadas de carvão:

 Tipo de deposição;

 Comunidades vegetais que originam a turfa;


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 Meio de deposição;

 Fornecimento de nutrientes;

 Valor do pH, actividade bacteriana e fornecimento de enxofre;

 Temperatura da turfa;

 Potencial redox.

2.3.1. Tipos de Deposição

Os carvões autóctones formam-se a partir de


plantas que, após a sua morte, formam turfa in
situ. Por outro lado, os carvões alóctones
formam-se de restos vegetais que foram
transportados a distâncias consideráveis dos
seus locais de origem. Fig. 27. Afloramento da floresta soterrada de Sigilárias-Calamites, em
rochas do Westfaliano, Essen, Alemanha. In Stach et al, 1982
Grande parte das camadas minadas de carvão é de origem autóctone. Esta autoctonia pode ser constatada
pela existência de horizontes de raiz (seat earth) no muro da camada ou por troncos de árvores verticais
(Fig. 27).

Evidentemente que numa turfa há sempre algum arranjo interno de material vegetal ou da turfa, em especial em
alturas de inundação. Consequentemente, daqui resultam carvões hipo-autóctones, geralmente caracterizados
por uma composição finamente detrítica e por um alto conteúdo de matéria mineral, em comparação com os
carvões autóctones, e ainda por uma microacamação (Fig. 26). Estes carvões contêm muitas vezes
conchas de lamelibrânquios e gastrópodes, algas calcárias, espículas de espongiários e outros animais ou
plantas marinhas. Mesmo restos de peixes podem ser encontrados nestes carvões.

Os carvões alóctones são geralmente demasiado ricos em matéria mineral para serem economicamente
explorados. As grandes massas de matéria vegetal transportadas pelos rios siberianos e depositadas na
costa SE de Svalbard, ou as concentrações destes materiais nos deltas do Mississipi, Amazonas ou Congo
poderão ser preservadas se rapidamente soterradas sob areia ou argila. O mesmo se aplica aos detritos de
plantas e turfa que se acumulam nas costas dos mares e lagos. Turfas redepositadas são conhecidas em
várias zonas, em que largos pedaços formam “ilhas de turfa” (Fig. 18) nos lagos que podem ser
despedaçadas e movidas dentro do lago, em especial durante tempestades.

Estas “ilhas” vão sendo desintegradas em finos detritos de turfa que mais tarde são redepositados em áreas
protegidas dos lagos ou das costas marinhas dum modo sorteado e bem estratificado. É evidente que
nestas situações só as partes mais resistentes das plantas são depositadas, uma vez que o transporte na
água produz imediatamente a decomposição da matéria orgânica.

2.3.2. Comunidades Vegetais

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Podem distinguir-se quatro tipos de pântano em função das comunidades vegetais

 Áreas de águas abertas, com plantas aquáticas (em parte submersas);

 Pântanos de juncos e canaviais;

 Pântanos de florestas; e

 Pântanos de musgo.

Em climas temperados húmidos, esta sucessão estaria representada pelo desenvolvimento de turfa em
lagos, lentamente preenchidos por crescimento vegetal para dar origem, do fundo do lago à margem, a (i)
lama, (ii) gyttjae detrítica, (iii) turfa de junco, (iv) turfa de floresta e (5) turfa de musgo (Fig. 24).

Contudo, nos pântanos Carbónicos do Hemisfério Norte, a formação da turfa começou com pântano de
floresta, terminando em lama. Os pântanos de floresta de Sigilária e Lepidodendron, cujos horizontes de
raízes (seat earth) constituem o muro de quase todas as camadas, originaram as turfas que formaram as
partes inferiores das camadas, composta de carvão com numerosas bandas brilhantes 3. Gradualmente a
floresta foi sendo submesa e como resultado foi crescendo material menos lenhoso, dando origem a
carvões mais baços4. De acordo com Smith (1964), que descreveu esta sequência de carvão
brilhantecarvão baço (ply) para os carvões carbónicos ingleses, ela pode repetir-se várias vezes na
mesma camada. Pelo contrário, de acordo com outros autores, o enriquecimento de durinos (carvão baço)
para o topo das camadas é frequentemente seguido por uma passagem gradual a xistos carbonosos. De
acordo com Smyth (1970), 80% dos carvões betuminosos pérmicos australianos são constituídos por 3-4
sequências (plies), cada uma das quais apresenta na base mais carvão brilhante que no topo. Este
fenómeno também ocorre nos carvões de Moçambique. Smyth (1970) relaciona-o com uma crescente
dessecação do pântano num embasamento relativamente estável (áreas turfeiras tornam-se
progressivamente mais secas).

Tomando agora como exemplo os depósitos de lignite do Reno Inferior da Alemanha, diferentes tipos de
pântanos (diferentes comunidades vegetais) foram reconstruídos para o Mioceno através de estudos
petrográficos e paleobotânicos (Teichmüller, 1958). As turfas destas diferentes comunidades vegetais (Fig. 16)
levam à formação de diferentes tipos de lignite, com diferentes propriedades físicas, químicas e tecnológicas.

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O carvão brilhante, chamado Vitrino, tem origem nas partes lenhosas das plantas
4
Este carvão baço leva o nome de Durino
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Fig. 28. Pântano de mangal, costa sudoeste da Flórida

Em áreas tropicais marinhas actuais, os pântanos de ervas marinhas são substituídos por mangais (Fig. 28),
que têm raízes aéreas enormes e que se estendem em direcção ao mar. Nas zonas em que o mangal cresce
em áreas protegidas (por exemplo, Saco da Inhaca), a turfa acumula-se. Onde as correntes de maré são muito
fortes, trazendo águas ricas em oxigénio, as plantas mortas da zona superficial decompõem-se e só se
mantêm preservadas as raízes protegidas pelo solo. Em geral, a produção vegetal atinge o seu máximo nos
pântanos de floresta, em especial nas zonas tropicais.

A formação de turfa é relativamente rápida nestes pântanos, desde que a toalha freática se mantenha
suficientemente alta.

Os pântanos de juncos com capim, fetos e canaviais requerem em geral uma toalha de água mais alta que
os pântanos de floresta. As turfas de juncos são pobres em lenhina e geralmente são fortemente
decompostas estruturalmente. Por outro lado, é maior o conteúdo de elementos subaquáticos e de minerais
que nos pântanos de floresta

Os raised bogs das zonas temperadas têm como vegetação típica o musgo Sphagnum (Fig. 17). Porque a
humidade destes pântanos provém essencialmente das águas pluviais, o seu conteúdo em matéria mineral
é muito baixo. Por outro lado, o seu pH é ácido (3-5) o que diminui a actividade bacteriana de decomposição
da matéria orgânica, e assim estes carvões apresentam estruturas vegetais bem conservadas.

Nos fundos de águas abertas dos pântanos acumula-se uma lama orgânica – gyttjae – a partir de restos de
plantas flutuantes, plantas subaquáticas e de animais aquáticos. Outros materiais, como argila fina, pólenes,
esporos, poeiras de turfas queimadas ou dessecadas, são transportados pelo vento e depositados em
conjunto com essa lama orgânica. Este fácies é muito rico em matéria mineral, não só de origem clástica,
mas também de origem singenética.

2.3.3. Meios de Deposição

Os fácies carboníferos são classificados de telmáticos (ou terrestres) se resultarem de turfa (não
perturbada) que cresceu in situ. É o caso das turfas de floresta, turfa de juncos e turfa de musgo de
highmoors. Os fácies telmáticos contrastam com os límnicos (ou subaquáticos), cujos depósitos são
formados em lagos ou charcos pantanosos. Estes dois tipos de fácies não podem ser sempre claramente
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diferenciados um do outro. Por exemplo, num pântano de floresta e particularmente num pântano de juncos,
ocorre também sedimentação subaquática. Mesmo nos raised bogs de Sphagnum (musgos) ocorrem zonas
relativamente secas e buracos cheios de água com algas que alternam espacial e temporalmente uns com
os outros. A predominância dum ou do outro vai determinar o tipo de fácies.

Os carvões formados em águas marinhas-salobras apresentam propriedades particulares. Por exemplo,


os pântanos de ervas marinhas da costa atlântica da América do Norte são geralmente ricos em matéria
mineral, enxofre e azoto, e contêm fósseis marinhos. Nos trópicos, os pântanos de mangal são também
muito ricos em enxofre. Veja-se o caso dos Everglades (Flórida) em que ocorrem turfas de água doce
sobrepostas por turfas marinhas, as quais contêm conteúdos de pirite muito maiores que os das turfas
subjacentes (Cohen, 1968).

Os carvões de influência marinha não necessitam de ser originados duma flora halófita 5. A influência pode
vir duma inundação marinha durante ou após a formação da turfa. Muitos carvões Carbónicos com tetos de
origem marinha, apresentam concreções calcíticas, dolomíticas e ankeríticas – coal balls – dentro das quais
a turfa foi petrificada muito cedo, apresentando estruturas vegetais bem preservadas (Fig. 25). Por vezes,
algumas concreções também apresentam fósseis de animais marinhos.

Os carvões betuminosos de influência marinha contêm geralmente altos conteúdos de S, H e N. O seu teor
em matérias voláteis é superior ao que se esperaria para esse grau de incarbonização. Por outro lado, o seu
pH é alto e a actividade bacteriana também. O seu alto teor de S é devido à disponibilidade dos iões sulfato

(SO ) da água do mar e da intensa actividade bacteriana anaeróbica, esta produzindo, devido ao seu

metabolismo, muito H e N que ficam na turfa.

Carvões que se formaram em pântanos ricos em cálcio mostram propriedades semelhantes às dos
carvões de influência marinha. Os substractos calcários ou o influxo de águas ricas em cálcio reduzem
muito mais a acidez (pH 8,6) do que as águas do mar, resultando numa degradação acelerada dos restos
vegetais. Geralmente o conteúdo de S é enorme, devido à intensa actividade bacteriana e ao fornecimento
de proteínas animais (plânkton e moluscos). Nestes carvões são frequentes as conchas calcárias de vários
animais que geralmente são dissolvidas pelos produtos de alteração da matéria orgânica em pântanos
terrestres.

2.3.4. Fornecimento de Nutrientes

Em função da quantidade de nutrientes disponíveis para o crescimento das plantas, os pântanos podem ser
classificados de eutróficos, mesotróficos e oligotróficos, consoante essa quantidade seja abundante,
pequena ou muito pequena, respectivamente.

Os topogenic low moors são geralmente eutróficos, porque recebem a sua humidade através da toalha
freática, normalmente carregada de nutrientes dissolvidos. Os raiseg bogs ou highmoors são oligotróficos,
uma vez que a sua água provém das chuvas. As situações de transição entre topogenic low moors e raised
bogs (NW da Europa) originam pântanos mesotróficos.

5
Flora crescendo em solo com alto conteúdo de sais
20
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 2 Maputo, 2005

Sob condições hidrológicas uniformes, a vegetação dos pântanos eutróficos é mais luxuriante e mais rica
em espécies. A flora dos bogs oligotróficos é mais pobre em espécies e, pelo menos nos climas
temperados, é rasteira e predominantemente herbácea. Nos trópicos, contudo, estes bogs oligotróficos
podem conter árvores, mas pobres em espécies.

Estes pântanos oligotróficos são pobres em matéria mineral. Devido ao baixo pH (3.5), é frequente
encontrarem-se restos vegetais não decompostos ou pouco decompostos, já que também a actividade
bacteriana é baixa (devido ao pH). O conteúdo de nutrientes é geralmente 1/5 do dos low moor.

2.3.5. Valor pH, Actividade Bacteriana, Enxofre

A acidez duma turfa influencia a vida bacteriana e, como consequência, a decomposição química dos
restos vegetais.

As turfas dos low moors têm geralmente valores de pH de 4.8-6.5, enquanto que as turfas dos hig moors
têm valores de 3.3-4.6.

Além do tipo do substrato e do influxo de águas vindas de fora, o pH depende também das comunidades
vegetais, do fornecimento de oxigénio e do nível de concentração de substâncias húmicas que já se tenham
formado.

Como exemplos, no topo dos solos arenosos das planícies costeiras da América do Norte, as turfas têm
acidez maior (pH 4.5-6.5) do que as turfas formadas sobre solos argilosos dos back swamps do rio
Mississipi (pH 6.5-7.5). Ainda no Okefenokee as turfas sobre solos arenosos têm um pH 3.5-4.5, as do
Everglades, com substrato cálcico, são de ambiente neutro a alcalino. Como se disse atrás, ambientes
marinhos ou ricos em cálcio reduzem drásticamente a acidez das turfas e assim os pântanos do SW da
Flórida têm pH 7.0-8.1.

Algumas plantas, em especial o Sphagnum de raised bogs, tendem a produzir produtos de alteração muito
ácidos. Assim, o pH destas turfas anda entre 3.3-4.6. Esta alta acidez é também devida ao maior
suprimento de oxigénio aos bogs relativamente secos, formando-se assim mais ácidos, cuja concentração
não é diluída por grandes volumes de água. O mesmo acontece nos raised bogs da Indonésia (tropical-
equatorial), cujo pH anda entre 3.5-4.5, apesar de conterem grandes quantidades de árvores.

O grau de acidez também varia com a profundidade da turfa, aumentando os valores de pH com a
profundidade.

Muitas bactérias proliferam melhor em ambientes neutros ou fracamente alcalinos (pH 7.0-7.5). Em
comparação com solos minerais, as turfas são mais pobres em bactérias e contêm uma flora bacteriana
altamente especializada. Quanto mais ácida uma turfa, mais pobre em bactérias ela é, e melhor
preservadas são as estruturas vegetais. Só os fungos, que vivem nas camadas mais superficiais da turfa
(até +40 cm), toleram valores de pH até 4.0. O efeito anti-séptico de muitas turfas de highmoors é bem
conhecido e usado pela indústria farmacêutica.

O conteúdo de Nitrogénio (N) nas turfas, bem como o fornecimento de sais minerais são importantes para a
actividade bacteriana. Um rácio baixo de C/N e condições eutróficas promovem a actividade bacteriana.

21
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 2 Maputo, 2005

Uma vez que as bactérias produzem metabolicamente muitas proteínas, o aumento da concentração de
proteínas nas turfas ocorre paralelamente à decomposição bacteriana da celulose e hemicelulose. Assim,
as proteínas estão mais concentradas nos low moors, devido à alta actividade bacteriana, do que nos
highmoors ou raised bogs.

O número de bactérias na turfa diminui com a profundidade, e os tipos de bactérias dependem muito do
potencial redox. No topo das turfas, além dos fungos e dos actinomicetes, actuam bactérias aeróbicas,
consumindo o oxigénio atmosférico. Elas decompõem os facilmente carbohidratos 6 solúveis, como amido7,
celulose8 e hemicelulose9, concentrando as lenhinas10, os taninos11, as gorduras, as ceras, as resinas, os
pigmentos, as esporopoleninas12, as cutinas13 e o súber (cortiça).

Um pouco mais em profundidade continua a haver actividade aeróbica que utiliza o oxigénio das
substâncias orgânicas, deixando para trás produtos residuais ricos em hidrogénio. Há ainda discussão
sobre até que profundidade existe actividade aeróbica. Bactérias aeróbicas ainda actuam a profundidades
de 10m, se bem que geralmente deixem de actuar a profundidades mais baixas. Em lamas orgânicas, com
potencial redox apropriado, as bactérias anaeróbicas podem aparecer já perto da superfície.

As bactérias sulfurosas têm um papel importante nas turfas e lamas orgânicas, reduzindo os sulfatos a
enxofre, tornando possível a formação de pirite e marcassite. Um pre-requisito, evidentemente, é a
disponibilidade de S e Fe. O S origina-se das proteínas vegetais (e animais), grandemente das bactérias, ou
foi trazido de fora como ião sulfato pelos rios e/ou água do mar. O Fe está presente em toda a parte onde
haja meteorização de silicatos ou onde a água traga iões de Fe dissolvidos. Consequentemente, a pirite
singenética aparece frequentemente.

2.3.6. Temperatura da Turfa

A temperatura da superfície da turfa joga um papel importante na decomposição primária. Em climas


húmidos e quentes, a vida bacteriana é mais intensa que em climas temperados, e os processos químicos
puros actuam mais rapidamente.

2.3.7. Potencial Redox

Com as mesmas comunidades vegetais e condições climáticas e ecológicas, o potencial redox (ou valor Eh)
terá uma importância primária na actividade bacteriana e, consequentemente, na turbificação 14. O

6
Carbohidratos – cetona ou aldeído polihidróxido; açúcares, amido, celulose e hemicelulose são exemplos, e são produzidos por
todas as plantas e constituem nutrientes animais.
7
Amido - é um polissacarídeo (carbohidrato) com cerca de 1.400 resíduos de glicose.
8
Celulose – carbohidrato polímero composto de unidade de glucose, com formula (C 6H10O5)X, que se encontra nas membranas
celulares das plantas.
9
Hemicelulose – ao contrário da celulose, que é cristalina, resistente, e resistente à hidrólise, a hemicelulose é amorfa e pouco
resistente. Consiste fundamentalmente de açucares e ácidos açucarados, e aparece na madeira e nas fibras de gramíneas.
10
Lenhina – substância orgânica algo semelhante em composição aos carbohidratos, que ocorre com a celulose em tecidos
lenhosos.
11
Tanino – composto resultante da combinação de fenol (função orgânica caracterizada por uma ou mais hidroxilas ligadas a um
anel aromático) com açúcar; sabor amargo; acumulam-se nas raízes, cascas e em menor quantidade em folhas.
12
Esporopolenina – substância orgânica muito resistente e refractária que constituem as exinas de esporos e pólens, que permite a
sua preservação durante grandes tempos geológicos. É um polímero de alto peso molecular.
13
Cutina – material ceroso das cutículas cobrindo as paredes celulares externas de plantas vasculares e musgos.
14
Formação de turfa. Em ingles peatification.
22
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 2 Maputo, 2005

fornecimento de oxigénio determinará se haverá ou não turbificação. Em 1920, H. Potonie já tinha


estabelecido a dependência da transformação da matéria orgânica do fornecimento de oxigénio,
desenvolvendo o seguinte esquema (Tabela 3):
Tabela 3. Transformação do material orgânico em função do fornecimento de Oxigénio (in Stach et al, 1982)
15

Em geral, esta sequência é caracterizada por subidas graduais dos níveis das águas subterrâneas. Um pré-
requisito é que a água seja estagnada, pois que a água corrente traz continuamente oxigénio dissolvido, de
modo que as substâncias orgânicas apodrecem. Quanto mais produção de matéria orgânica houver, mais
rapidamente o oxigénio dissolvido na água estagnada será consumido, formando-se condições redutoras.
Com fornecimento ilimitado de oxigénio do ar ou água, ocorre a desintegração, levando à formação de
produtos de decomposição gasosos, que são então removidos. Por vezes ficam resíduos sólidos,
geralmente constituídos por resinas ou outros compostos resistentes.

Durante a humificação, as bactérias aeróbicas e fungos estão em actividade, produzindo substâncias


húmicas pobres em hidrogénio.

A turbificação ocorre à superfície da turfa quando há fornecimento restrito de oxigénio. Os ácidos


húmicos16 são os produtos característicos que se formam a partir das lenhinas só por oxidação.

A putrefacção (ou fermentação) só ocorre em condições redutoras, quando as bactérias anaeróbicas


consomem o oxigénio das substâncias orgânicas, transformando-as em produtos betuminosos ricos em
hidrogénio (por exemplo, a celulose dá origem a hidrogénio, metano 17, ácido acético18 e butírico19 e anidrido
carbónico). Devido aos produtos de partida serem ricos em proteínas (algas, plânkton animal, restos de
bactérias) e ainda ao ambiente anaeróbico, os carvões que resultam são ricos em nitrogénio.
15
Liptobiólitos – material vegetal resistente que fica como resíduo após a desintegração das partes menos resistentes: resina,
borracha, ceras, esporos, pólens.
16
Solução ácida resultante da extração de componentes orgânicos do solo ou do sub-solo, mormente humus, por soluções aquosas
percolantes.
17
CH4
18
CH3COOH
19
CH3–(CH2)2–COOH
23
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Capítulo 2 Maputo, 2005

2.4. Diagénese da Turfa e Incarbonização

2.4.1. Diagénese da Turfa ou Turbificação


A turbificação envolve tanto mudanças biológicas como químicas e por isso tem sido chamada também de
incarbonização bioquímica, em oposição à incarbonização geoquímica que ocorre mais tarde, sem
intervenção de micro-organismos.

A alteração mais importante ocorre (com restrito fornecimento de oxigénio) à superfície da turfa ou
imediatamente abaixo dela, até uma profundidade aproximada de 0.5 m. Esta zona da turfa é chamada de
camada turbigénica. Nesta região são activos os fungos, os actinomicetes 20 e as bactérias aeróbicas. Com o
aumento da profundidade, estes organismos são substituídos por bactérias anaeróbicas mas, à medida que as
substâncias facilmente assimiláveis desaparecem, a vida microbiana reduz e finalmente extingue-se, usualmente
a profundidades menores que 10 m, abaixo da qual só ocorrem alterações químicas, começando pela
condensação21, seguida da polimerização22 e reacções redutoras23.

O processo mais importante durante a turbificação é a formação de substâncias húmicas – humificação. A


humificação é promovida pelo fornecimento de oxigénio, aumento de temperatura (trópicos) e ambientes
alcalinos. O grau de humificação depende assim do fácies e não da profundidade.

Num perfil de turfeira, o conteúdo de carbono aumenta rapidamente com a profundidade, uma vez que as
substâncias relativamente ricas em oxigénio da camada turbigénica, particularmente a celulose e a
hemicelulose, são decompostas microbiologicamente, o que resulta num enriquecimento de lenhina,
relativamente rica em carbono, e de ácidos húmidos. O carbono, na camada turbigénica, pode aumentar de
45-50% para 55-60%, mas a profundidades maiores, esse aumento é pouco significativo (podendo atingir
64%). Por outro lado, devido ao aumento da compressão, devida ao peso do material sobrejacente, o
conteúdo de humidade diminui rapidamente, sendo assim um bom parâmetro para calcular o grau de
diagénese da turfa. A ocorrência de celulose livre é também um indicador útil do grau de diagénese da turfa.
Para distinguir entre turfa e soft brown coals (“carvão castanho mole”) usam-se como parâmetros os teores
de humidade e carbono, presença de celulose e facilidade de cortar (Tabela 4).

Tabela 4. Distinção entre Turfa e soft brown coal


Parâmetro Turfa Soft brown coal
% humidade > 75 < 75
% carbono (ssc) geralmente < 60 geralmente > 60
celulose livre presente ausente
pode ser cortada sim não

Esta diferenciação não é satisfatória dum ponto de vista científico. O conteúdo de humidade parece ser
menos importante que a maneira como a humidade é adsorvida 24, o que nos soft brown coals é mais forte

20
Tipo de bacilo (bactéria em forma de bastonete).
21
Reacção em que duas moléculas pequenas se combinam para formar uma molécula grande; a água geralmente é um dos
produtos desta reacção
22
Formação de polímeros - macromolécula caracterizada por uma elevada massa molecular; resulta da união de várias moléculas
iguais ou semelhantes entre si - monómeros.
23
Reacção de redução: semi-reacção que implica recebimento de electrões por uma substância ou elemento.
24
Adsorção: a formação de uma camada de gás sobre a superfície de um sólido, ou menos frequentemente, de um líquido
24
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 2 Maputo, 2005

que nas turfas. Porque a transição de turfa para soft brown coal é gradual, é difícil fixar um limite preciso, o
qual, contudo, ocorre a profundidades entre 200-400 metros.

2.4.2. Incarbonização
2.4.2.1. O Processo de Incarbonização

O desenvolvimento da matéria orgânica desde o estágio de turfa até à formação e antracites e metantracites
é chamado de incarbonização (ou carbonificação25).

[Façamos aqui um parêntesis para referir os vários estágios da incarbonização – a escala de


incarbonização. Entre a turfa e a antracite há uma série de passos que a matéria orgânica passa nas suas
transformações, cada um deles caracterizado por uma série de propriedades que estudaremos mais à
frente. Esses passos são (Fig. 29):

Fig. 29. Os vários estágios da incarbonização. Terminologia americana (topo) e alemã (base)

Nas línguas inglesa (EUA) e alemã, os estágios de lignite e sub-betuminoso são muitas vezes designados de brown
coal (ing.) ou braun Kohle (ale.). O termo betuminoso é, nas duas línguas chamado de hard coal (carvão duro) e
Steinkohle (carvão de pedra). Os franceses chamam de houille (hulha em português, termo que já não é utilizado
nesta língua). De referir que a terminologia inglesa do Reino Unido é diferente da americana. Em português é usual
usar-se a terminologia americana].

Se se tomar como base o grau de alterações físicas e químicas, então a incarbonização só pode ser olhada
como diagénese até ao grau de Weich-Braunkohle (soft brown coal, carvão castanho mole). A partir do
grau sub-betuminoso, a alteração do material é tão severa, que ela já deve ser considerada metamorfismo,
se bem que os agentes de metamorfismo (T, P, tempo) só causem ligeiras alterações diagenéticas nos
sedimentos associados. Os carvões reagem muito mais sensivelmente à Temperatura e Pressão que os
sedimentos minerogénicos, e uma vez que isso é assim, o grau de incarbonização é o melhor indicador para
estimar o grau de diagénese dos sedimentos.

Deve ser feita uma distinção entre as alterações químicas e físico-estruturais durante o processo de
incarbonização. Entre as últimas, por exemplo, temos a diminuição da porosidade e o aumento da
anisotropia óptica, ambos relacionados com o aumento da pressão por aumento da profundidade. A
porosidade diminui natural e rapidamente nos estágios iniciais – e é estimada pelo conteúdo de humidade –
e por isso é um indicador diagenético relativamente bom para turfas e brown coals, que ainda são algo
compressíveis. Mais tarde, o grau de incarbonização (ing. Rank) é estimado principalmente por parâmetros

25
Não confundir com carbonização
25
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 2 Maputo, 2005

químicos (C, O, H e voláteis) ou por propriedade ópticas, p.ex. reflectividade da vitrinite, as quais dependem
da composição química.

Uma vez que as alterações químicas também variam durante


os estágios individuais da incarbonização, alguns indicadores
de grau (rank) são mais apropriados que outros em estágios
particulares de grau (Tabela 5). Por causa do comportamento
diverso de cada maceral durante a incarbonização (Fig. 30), os
estudos comparativos de grau não são conduzidos no carvão
total, mas só em determinados macerais (huminites-vitrinites
para o poder reflector, por exemplo, liptinites para luz
fluorescente). Os materiais húmicos (huminites/vitrinites)
respondem duma maneira relativamente uniforme,
independentemente de serem ou não o maceral mais
abundante num carvão. Fig. 30. “Trajectos” de incarbonização de diferentes
macerais com base nos ratios atómicos H/C:O/C
O aumento do grau no estágio de brown coal é (segundo Krevelen, 1961).

caracterizado em primeiro lugar por uma diminuição do conteúdo de humidade total (regra de
SCHÜRMANN).

No estágio de lignite (soft brown coal-Weichbraunkohle) o decréscimo é de 4%/100 m; na passagem do estágio de


lignite a carvão sub-betuminoso C (dull brown coal-Mattbraunkohle) esse decréscimo é de 1%/100 m. No estágio
de sub-betuminoso B-A (bright brown coal-Glanzbraunkohle) esse decréscimo reduz para 1%/100-200 m.

À medida que o conteúdo de humidade decresce, o poder calorífico 26 do carvão minado, aumenta na mesma
proporção (Fig. 31). A diminuição do conteúdo de humidade depende em grande parte da diminuição da
porosidade, mas também da decomposição dos grupos funcionais hidrofílicos (em especial os grupos -OH).
Além dos grupos hidroxilo (-OH), também os grupos carboxilo (-COOH), metoxilo (-OCH 3) e carbonilo (>C=O)
são partidos, aumentando gradualmente o teor de carbono.

Fig. 31. Aumento do grau de incarbonização com a profundidade; referência a vários parâmetros. Adaptado de Stach et al (1982),
segundo Teichmüller, M. & Teichmüller, R. (1967)

26
Poder calorífico - quantidade de calor, por unidade de massa, gerada pela queima do mesmo
26
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Capítulo 2 Maputo, 2005

Tabela 5. Os diferentes estágios de incarbonização de acordo com as classificações alemã DIN e americana ASTM, e sua distinção na
base dos diferentes parâmetros de grau físicos e químicos. A última coluna mostra a aplicabilidadedos vários parâmteros aos
diferentes estágios de incarbonização (adaptado de Stach et at, 1982).

Durante o estágio de hard brown coal (lignite a sub-betuminoso), os últimos restos de lignite e celulose são
transformados em ácidos húmicos e estes condensam-se para formar moléculas maiores, perdendo o seu
carácter ácido para formar huminas27 insolúveis em álcalis. Em alguns países a distinção entre carvão sub-
betuminoso e betuminoso faz-se com base no ataque com KOH: ácido húmicos são solúveis, as huminas não.

As matérias voláteis mostram relativamente pouca alteração durante o estágio de brown coal. Os produtos
voláteis das reacções químicas são constituídos essencialmente por CO 2 e água, junto com algum metano
(dos grupos metoxilo nas lenhinas).

27
Humina – Fracção da matéria orgânica que não é solúvel em solução alcalina diluída.
27
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Capítulo 2 Maputo, 2005

As mudanças mais drásticas são de carácter petrográfico, dão-se na fronteira de sub-betuminoso C/B (dull/bright
brown coal/Matt-/Glansbraunkohle).- Elas são causadas por uma gelificação 28 geoquímica (vitrinitização29) das
substâncias húmicas. Durante a gelificação, o carvão torna-se negro e brilhante. Por isso, o bright brown coal
(Glanzbraunkohle – sub-betuminoso B/A) já é muito semelhante ao carvão betuminoso.

O progresso da incarbonização nos carvões betuminosos de altos voláteis (%MV > 30%, ssc) é semelhante ao dos
brown coals: em particular há uma
diminuição da humidade e um
correspondente aumento do poder calorífico
(Fig. 31). Nos estágios finais do carvão
betuminoso (10<%MV<30), as matérias
voláteis diminuem rapidamente devido à
remoção dos grupos alifáticos30 e
alicíclicos , e à crescente aromatização
31 32

dos complexos húmicos.

As Figuras 32 e 33 mostram que neste grau


de incarbonização a reflectividade sobe
quase na mesma proporção que os voláteis
decrescem, pois ambos os parâmetros
estão relacionados com o grau de
aromatização da vitrinite (McCartney &
Teichmüller, 1972).

Ao contrário dos voláteis, o carbono é um


pobre indicador de grau no estágio de
betuminoso com %MV < 30%, pois ele só
altera ligeiramente com o aumento de
profundidade. Em função do gradiente
geotérmico, é necessária no mínimo uma
subsidência a 1500 m de profundidade
(geralmente muito mais – 2500-4000 m)
Fig. 32. Relação entre a reflectância da vitrinite e os diferentes parâmetros para que se possa formar carvão
químicos. In Stach et al, 1982
betuminoso.

28
Gelificação – formação de gel (substância coloidal sólida).
29
Devido ao brilho vítreo que a substância adquire em amostra de mão
30
Alifático – compostos orgânicos de estrutura aberta.
31
Alicíclico – composto orgânico ao mesmo tempo alifático e cíclico, i.e., com comportamento alifático, mas com átomos de carbono
em anel.
32

Aromático - composto orgânico que contém um anel de benzeno nas suas moléculas ou que tem propriedades químicas similares às

do benzeno
28
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 2 Maputo, 2005

O estágio de antracite é
caracterizado por um decréscimo
rápido de hidrogénio (Figs. 31 e
32) e da razão atómica H/C, e um
forte aumento da reflectividade e
da anisotropia óptica (Figs. 31,
32, 33 e 34). A diminuição do teor
de hidrogénio é responsável pela
produção de metano (CH4), que
começa quando o teor de
carbono é de +87% e o de
voláteis de +29%, no estágio de
carvão betuminoso. A pré-
grafitização (ordenamento da
estrutura molecular ), que ocorre
33

especialmente no estágio de
metantracite, é a responsável
pelo forte aumento da
reflectividade e da anisotropia.

As alterações químico-estruturais
das substância húmicas durante
o decurso da incarbonização de
bitumonoso a antracite estão
ilustradas diagramaticamente na
Fig. 35. Os hexágonos
Fig. 33. Relação entre Voláteis, reflectância média, huminite/vitrinite para diferentes estágios representam a fracção
de incarbonização de depósitos de carvão alemães, e ocorrência de gás natural e petróleo.
(segundo Barnstein & Teichmüller, 1974) aromática, as linhas a fracção
alifática que é gradualmente
removida, enquanto que os anéis aromáticos vão coalescendo em unidades maiores.

A segunda fila da Fig. 35 mostra a orientação progressiva das unidades elementares húmicas paralelamente aos
planos de acamação. Nas filas de baixo mostram-se as principais alterações físicas que ocorrem.

Os vários diagramas mostram que na zona de % Carbono 87-89% (carvão de coque) muitas propriedades
passam por um valor máximo ou mínimo em oxigénio. Nesta altura a maior parte do oxigénio já se escapou,
enquanto que o conteúdo de hidrogénio ainda se mantém alto. Isto porque nos estádios betuminosos iniciais
(altos voláteis), os produtos ricos em oxigénio (CO2 e H2O) são aí libertados, enquanto que as perdas
consideráveis de metano começam mais tarde (quando a %MV <29%).

33
Não esquecer que partimos de substâncias coloidais, por tanto amorfas, para terminar em grafite (estrutura ordenada); ver Fig. 29.
29
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 2 Maputo, 2005

Assim, em certos níveis da


incarbonização observam-se
variações nas reacções, que
estão relacionadas com
alterações/perturbações do
equilíbrio químico. Estas
perturbações podem ser vistas
nas “quebras” nas curvas de
incarbonização dos vários
diagramas de grau de
incarbonização (por exemplo,
Fig. 32) ou de perfis de
incarbonização com a
profundidade (Figs. 31 e 34).

Fig. 34. Aumento de anisotropia (Rmax-Rmin) das vitrinites com a profundidade.


Notar o aumento súbito e local da anisotropia em zonas de cizalhamento.

30
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Capítulo 2 Maputo, 2005

Estudos laboratoriais com turfas (van Heek et al, 1971) mostram que entre os 20º-50ºC a água se perde,
seguida por um pouco de metano (dalguma lenhina que ainda possa estar presente) entre os 30º-70ºC.
Entre 70º-100ºC liberta-se anidrido carbónico e, finalmente, largas quantidades de metano entre 160-200ºC.

2.4.2.2. Causas da Incarbonização

O processo da incarbonização é governado em primeiro lugar pelo aumento da temperatura e pelo tempo
em que esta actua. A pressão retarda as reacções químicas durante a incarbonização.

A prova da forte influência da temperatura no avanço da incarbonização pode ser encontrada em carvões
de zonas de metamorfismo de contacto. Além disso, está provado que regiões com carvões de alto grau de
incarbonização receberam calor adicional de grandes corpos intrusivos em profundidade. O Maciço Centra
de Bramsche (NW Alemanha) é um exemplo clássico de corpo intrusivo, e que está coberto por antracites (e
mesmo metantracites, do Carbónico e Cretácico Inferior. Provavelmente muitas das ocorrências de
antracites são causadas por calor adicional deste tipo, uma vez que altas temperaturas são necessárias
para a antracitização, e tais temperaturas não podem ser normalmente atingidas em regiões com um
gradiente geotérmico de 3-4ºC/100 m.

O aumento normal do grau de incarbonização (químico) com a profundidade observado em sondagens (Fig.
31 e 36), bem conhecido e descrito como a LEI DE HILT, é causado pelo aumento de temperatura com a
profundidade. A taxa de aumento do grau de incarbonização – gradiente de grau – depende do gradiente
geotérmico e da condutividade térmica das rochas. A influência do gradiente geotérmico pode observar-se,
por exemplo, nos sedimentos
horizontais Terciários do graben do
Reno Superior (Alemanha) onde,
localmente, o gradiente geotérmico
varia muito (Fig. 37). Neste graben
em áreas quentes (7-8ºC/100 m), o
grau de carvão betuminoso é
atingido a uma profundidade de
1500 m, enquanto que em áreas
frias (4ºC/100m) esse grau só é
atingido aos 2600 m de
profundidade. A influência da
condutividade térmica das rochas
está ilustrada na Fig. 36 (a
sombreado, zona arenosa).
Fig. 35. Alterações físicas, químicas e moleculares da vitrite durante a incarbonização
de carvões betuminosos e antracites (baseado em diferentes autores; in Stach et al,
1982). Fig. 36. Aumento do grau de incarbonização
com a profundidade na sondagem Teufelspforte (Saar) com base em diferentes parâmetros de grau. Notar a interreupção na tendência
da incarbonização na zona arenosa (Teichmüller & Teichmüller, 1968a).

Van Heek et al (1971), através de estudos de incarbonização artificial, verificaram que as temperaturas
requeridas para desgasificar certos gases (i.e., para o grau avançar) são menores se a taxa de aquecimento for
menor. Assim, para atingir determinados graus de incarbonização, são necessárias temperaturas mais altas
31
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 2 Maputo, 2005

com maiores taxas de aquecimento (metamorfismo de contacto) do que com menores taxas de aquecimento
(subsidência gradual). Neste contexto, a influência do tempo na incarbonização é aparente.

O efeito do tempo na incarbonização é particularmente bem ilustrado em perfis de 2 sondagens


apresentados por Teichmüller (1966b). Na costa do Golfo da Louisiana (EUA), rochas do Miocénico
Superior contendo inclusões carbonosas, atingiram uma profundidade de 5440 m em 17 M.a.

A essa profundidade, a temperatura é de 140ºC. No Carbónico do NW da Alemanha, as rochas estão

Fig. 37. Diferentes graus de aumento de reflectividade com a


profundidade numa zona “quente” (Landau 2) e “fria”
(Sandhausen 1). A zona a tracejado indica o limite entre
carvão sub-bstuminoso e betuminoso.
sensivelmente à mesma profundidade, mas estiveram sujeitas a essas temperaturas por mais de 271 M.a.
No primeiro caso encontra-se o grau betuminoso de altos voláteis (35-40% MV) e no segundo o grau é
betuminoso de baixos voláteis (14-16% MV). No Terciário do Reno Superior, com rochas a temperaturas
semelhantes, o grau de incarbonização é menor onde as rochas sofreram subsidência rápida, por isso o
tempo de cozedura foi menor. O tempo tem assim só efeito quando as temperaturas são suficientemente
altas para ocorrerem reacções químicas. A baixas temperaturas pouco acontece, mesmo durante longos
períodos, como por exemplo, na Bacia de Moscovo do Carbónico Inferior, em que o grau atingido é de
lignite, pois a matéria orgânica nunca sofreu subsidência, tendo ficado sujeita a temperaturas de 20-25ºC
desde a sua deposição (Lopatin, 1971).

A influência do tempo é tanto maior quanto maior for a temperatura. Usando a reacção cinética de
Arrhenius34, esta relação foi primeiro clarificada por Karweil (1956).

Uma vez que o grau de incarbonização é muitas vezes mais alto em regiões fortemente dobradas do que
em regiões menos perturbadas, assumiu-se que a pressão do dobramento acelera a incarbonização. O que
se verificou, contudo, foi que as rochas mais fortemente dobradas das ante-fossas sofreram forte
34
Equação de Arrhenius: k=A*e(Ea/R*T), onde k é o coeficiente da velocidade (da reacção), A é uma constante, Ea é a energia de
activação, R é a constante universal dos gases (8.314 x 10-3 kJ mol-1K-1) e T é a temperatura (em ºK)
32
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Capítulo 2 Maputo, 2005

subsidência antes do dobramento, tendo sido assim fortemente aquecidas. A Fig. 38 mostra que em
incarbonização pré-orogénica as isolinhas de grau se dispõem paralelamente aos planos de acamação; em
incarbonização sin-orogénica elas dispõem-se obliquamente à acamação e em incarbonização pós-
orogénica essas isolinhas são horizontais.

Fig. 38. Traçado de linhas de iso-grau (ou iso-reflectância) em perfis de áreas dobradas

Ensaios laboratoriais mostram que a pressão estática (carga dos sedimentos sobrejacentes) não acelera as
reacção de incarbonização, antes pelo contrário, retarda-as, obviamente porque a remoção dos gases se
torna mais difícil. Por outro lado, a pressão também atrasa a alteração de macerais individuais.

A Fig. 39 mostra um carvão muito dobrado com uma liptinite (cutinite) ainda com reflectividade baixa.

Movimentos tectónicos rápidos ao longo de falhas e


carreamentos durante sismos podam causar aumentos locais de
grau, devido a concentração de calor de atrito (Fig. 40).

A influência da pressão é máxima durante a compacção e é mais


óbvia do estágio de turfa ao de carvão betuminoso (altos voláteis),
com a diminuição da porosidade e, com esta, de humidade com a
profundidade (Figs. 31 e 36). Não há dúvida, também, que a pressão
provoca uma disposição paralela, perpendicular a ela, dos anéis
aromáticos, provocando uma anisotropia óptica característica de
graus de incarbonização mais altos.

Assim, a pressão provoca primeiro alterações físico-estruturais,


enquanto que a temperatura acelera a incarbonização química.
Contudo, em geral as duas ocorrem em simultâneo durante a
Fig. 39. Microfotografia de argilito carbonoso do
Devónio Inferior (Alemanha) microdobrado com subsidência, mas ocasionalmente a incarbonização físico-
vitrinite (branca) e cutinite (cinzenta).

estrutural Fig. 40. Aumento da reflectância da vitrinite em zona de cizalhamento

33
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Capítulo 2 Maputo, 2005

pode anteceder a incarbonização química. A incarbonização química avança onde houver calor disponível
(de corpos magmáticos) que podem produzir antracites com conteúdos anormais de humidade e
anisotropia relativamente fraca.

Também se observa aumento do grau por radioactividade. A maioria dos casos mostra, microscopicamente,
halos de contacto de maior reflectividade à volta grãos de minerais radioactivos (Fig. 41).

Fig. 41. Aumento da reflectividade da vitrinite por radioactividade

2.4.2.3. Incarbonização e Betuminização

A incarbonizção e a betuminização são processos diagenéticos em que, por um lado, se libertam produtos
móveis - gases e petróleo, e por outro se verifica a aromatizaço e condensação dos produtos sólidos.

Em geral, as substâncias originais e a sua composição inicial imediatamente após a deposição vão
determinar se se forma carvão ou petróleo. Os persursores do carvão são primariamente a lenhina e a
celulose das plantas superiores, que sofrem uma humificação principalmente bioquímica com fornecimento
restrito de oxigénio durante a formação da turfa. Em contraste, as substâncias de origem do petróleo são
principalmente organismos inferiores (algas, plânkton animal, bactérias) que contêm quantidades
relativamente altas de celulose, proteínas, gorduras e ceras, que sofrem severa alteração anaeróbica –
saproficação - durante a qual se formam ácidos gordos. 35, juntamente com outras substâncias. Estes
ácidos e outras substâncias gordas pertencem ao grupo dos lípidos 36 que são os mais importantes
progenitores do petróleo. São substâncias muito mais ricas em hidrogénio, mais pobres em compostos
aromáticos e mais ricas em compostos alifáticos que as substâncias húmicas. Durante o processo de
incarbonização bioquímica e mais tarde geoquímica, estes lípidos são incorporados no kerogénio37 das
rochas-mãe do petróleo. Com o aumento das temperaturas devido à subsidência, o petróleo e o gás
libertam-se do kerogénio e começam a migrar para formarem jazigos de petróleo e/ou gás em rochas-
reservatório. A formação do petróleo a partir do kerogénio começa em condições de P-T-tempo quando os
carvões passam pelo estágio de sub-betuminoso A e termina no estágio de betuminoso de médios voláteis
(26% MV) (Fig. 42).

35
Ácido Gordo: composto que contém uma cadeia com 14, 16 ou 18 átomos de carbono, não ramificada, saturada ou insaturada, com um grupo
carboxilo numa ponta da molécula. Quase todos os ácidos gordos encontrados na natureza contêm um número par de átomos de carbono,
incluindo o carbono no grupo carboxilo
36
Lípidos: são um conjunto de moléculas orgânicas, compostas principalmente por carbono e hidrogénio e em menor medida oxigénio, se
bem que também possam conter fósforo, enxofre e nitrogénio, e que têm como característica principal o serem hidrofóbicas ou insolúveis
em água e sim em solventes orgânicos como o benzeno. Aos lípidos se chama incorrectamente gorduras, quando as gorduras são só
um tipo de lípidos.
37
Kerogénio: parte da matéria orgânica não solúvel em soluções alcalinas diluídas.
34
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 2 Maputo, 2005

Karweill (1966) referiu que os percursores do petróleo também se encontram nos carvões, se bem que em
quantidades menores. Do mesmo modo, à medida que eles são incorporados no kerogénio das rochas-mãe
do petróleo, nos carvões eles são fundamentalmente encontrados como grupos alifáticos ricos em
hidrogénio nas substâncias húmicas. Em menor quantidade, esses percursores estão presentes como
macerais do grupo da liptinite (alginite (algas), resinite (resinas), betuminite (betumes), cutinite (cutículas) e
liptodetrinite (detritos de liptinite)).

No momento em que o petróleo se liberta do kerogénio nas rochas-mãe (a temperaturas de 65º-110ºC,


dependendo da duração do aquecimento), produtos semelhantes a petróleo também se originam em
carvões a partir dos constituintes lipídicos a temperaturas semelhantes.

A libertação de hidrocarbonetos a partir do carvão foi demonstrada microscopicamente com o uso de luz
azul/UV (fluorescência) (Fig. 43).

Assim, as observações petrográficas apoiam o ponto de vista de que substâncias tipo petróleo se formam a
partir de liptinites (e de vitrinites, cujos microporos estão impregnadas de substâncias lipídicas).

A betuminização começa no estágio de carvão sub-betuminoso e é especialmente forte no estágio


betuminoso de altos voláteis C/B (Fig. 42). Aqui verifica-se um primeiro salto de incarbonização 38, que
corresponde com a formação do petróleo nas rochas-mãe. Ao contrário das rochas-mãe, os hidrocarbonetos
(betumes) formados não podem migrar devido ao sistema de poros submicroscópicos da vitrinite que
funcionam como crivo molecular.

Estas substâncias ficam no carvão, ou adsorvidas nos microporos da vitrinite, ou depositam-se em


cavidades e espaços abertos no carvão (fracturas, espaços celulares dos tecidos vegetais preservados,
etc.) formando novos macerais do grupo das liptinites. Neste intervalo, a betuminização é um processo
típico da incarbonização. Com o avanço da incarbonização, os betumes de neo-formação são partidos
(cracked), por um lado, em hidrocarbonetos de tamanho molecular menor e, por outro, em produtos
residuais de forte reflectividade.

O intervalo da incarbonização em que a betuminização ocorre vai aproximadamente do estágio sub-


betuminoso (poder reflector médio da vitrinite R m óleo = 0.5%) ao betuminoso de médios voláteis (R m óleo =
1.3%) – Fig. 42.

38
Salto de incarbonização: mudança brusca de certas propriedades químicas e/ou físicas.
35
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 2 Maputo, 2005

Fig. 42. Incarbonização e betuminização: relações entre o grau, as propriedade ópticas da liptinite e a geração de hidrocarbonetos a
partir do kerogénio (segundo Hood & Gutjahr (1972) e Teichmüller (1974a). Em Stach et al, 1982.

Esta decomposição começa no estágio de betuminoso de médios voláteis (ca. 29-28% MV) no 2º salto de
incarbonização, e enquanto a decompiosição continua, a reflectividade das vitrinite e liptinites aumenta
muito rapidamente e a fluorescência dos macerais desaparece. As Figs. 42 e 44 (duas páginas à frente)
sumarizam as relações entre grau, betuminização, intervalo de incarbonização e geração de
hidrocarbonetos a partir de rochas-mãe.

2.4.2.4. Incarbonização e Diagénese de Rochas


Minerogénicas

36

Fig. 43. Libertação de hidrocarbonetos líquidos a


partir de vitrinites. Carvão de Moatize, camada
Chipanga. Luz Azul.
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Capítulo 2 Maputo, 2005

A incarbonização de restos vegetais é análoga à diagénese de sedimentos minerogénicos os quais, entre


outras propriedades, sofrem redução de porosidade e permeabilidade e, em particular, transformação de
minerais. Àparte a transformação de montmorilonite em minerais de argila de camadas mistas durante o
estágio de sub-betuminoso (Rm óleo = 0.4-0.5%), as transformações mais severas dos minerais de argila nas
rochas argilosas e arenosas só ocorrem quando o carvão atingiu o grau antracítico (Fig. 45). Assim, os
carvões reagem ao aumento da temperatura com muito maior sensibilidade que os minerais. A Fig. 46
mostra a relação entre os estágios de metamorfismo e o grau de incarbonização.

Fig. 45. Temperatura da rocha, grau da matéria carbonosa e diagénese de sedimentos arenosos e argilosos na
sondagem Münsterland 1, NW da Alemanha

37
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Capítulo 2 Maputo, 2005

Fig. 44. Relação entre as propriedades do carvão e a geração de petróleo

38
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Capítulo 2 Maputo, 2005

Valores-
Zonas Grau de Incarbonização Limites (Winkler 1974).
limite
Lignite
Betuminoso
Diagénese Antracite Diagénese
<4% Rmax
<3.5% Rm
Rmax 4% 200ºC

zeolític
Metantracite

Fácies
Anqui- Metamorfismo de

fácies
o,
metamorfismo 4% a 5-10% Rmax muito baixo grau

5-10% Rmax 350ºC

Semigrafite a Grafite

actinolite
, biotitte

Zoizite,
Epi- Metamorfismo de
>5% Rmax
metamorfismo baixo grau.
<2% Rmin
Fig. 46. Fronteiras entre diagénese, anqui-metamorfismo, e epi-metamorfismo com base na
reflectividade da vitrinite (adaptado de Stach et al, 1982, segundo Teichmüller & Teichmüller,
1979)

GLOSSÁRIO

Back swamp – área de depressão pantanosa, formada em planícies aluviais, com pouca drenagem devido
aos levées naturais dos rios.
Bog – matriz esponjosa, impregnada de água, constituída fundamentalmente de musgos, ambiente ácido
Fen – matriz esponjosa, impregnada de água, constituída fundamentalmente de juncos, ambiente ácido.
Ocorre muitas vezes em dolinas de regiões cársticas
Gyttjae – lama de água doce, escura e fofa, caracterizada por abundante matéria orgânica, depositada ou
precipitada num lago cujas águas são ricas em nutrientes e oxigénio. É um sedimento anaeróbico
depositado em condições que variam de aeróbicas a anaeróbicas e capaz de suportar vida aeróbica.
Highmoor bog – Um bog situado em terras altas, cuja superfície é largamente coberta por Sphagnum o
qual, devido ao alto grau de retenção da água, torna-o mais dependente da pluviosidade do que da água da
toalha freática.
Lowmoor bog – Bog que está situado ao nível da toalha freática (ou ligeiramente acima) e que depende
dela para a acumulação e preservação da turfa, geralmente composta de juncos, canaviais, restos de
arbustos e musgos
Maar – cratera vulcânica, sem cone, de baixo relevo, que resulta duma única erupção, geralmente cheia de
água.
Marsh – área saturada de água, com pouca drenagem, intermitente ou permanentemente coberta de água
com vegetação aquática e herbácea, geralmente sem formação de turfa
Marsh peat – turfa derivada de detritos vegetais e material sapropélica
Ooze – sedimento pelágico constituído de pelo menos 30% de restos de esqueletos de organismos
pelágicos (calcários ou siliciosos), sendo o restante constituído por argilas.
Peat – TURFA – depósito não consolidado de restos vegetais semi-carbonizados, em ambiente saturado de
água, com teor de humidade >75%
Peat bog (bed) – Um bog em que se formou turfa em condições de acidez, com vegetação característica
(Sphagnum)
Peat moor – Peat bog
Peat-Sapropel – Matéria de degradação orgânica, transição entre turfa e sapropel
Raised bog – Highmoor – Área de solo ácido turfoso desenvolvido especialmente a partir de musgos, em
que o centro é relativamente mais alto que as margens.
39
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 2 Maputo, 2005

Raised peat bog – um highmoor bog com uma acumulação espessa de turfa no centro dando-lhe um perfil
convexo.
Sapropel – uma lama (ou ooze) não consolidado e gelatinoso, composto de restos vegetais, geralmente
algas, macerando e putrefazendo em ambiente anaeróbico de fundos (pouco profundos) de lagos e mares.
Pode ser o material de origem de petróleo e gás natural
Seat earth – camada ou rocha a muro duma camada de carvão, representando um solo antigo que conteve
as raízes da vegetação que formou a camada de carvão.
Spit – língua de terra no mar, com uma das extremidades ligadas a terra firme e a outra terminando em
água aberta, normalmente o mar, e que resulta da deposição de material transportado ao longo da costa.
Swamp – PÂNTANO – área saturada de água, permanente ou intermitentemente coberta de água,
contendo vegetação arbustiva ou arbórea, essencialmente sem acumulação de turfa.

BIBLIOGRAFIA
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