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Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas

Capítulo 3 Maputo, 2005

3. O CARVÃO COMO SUBSTÂNCIA


3.1. Os constituintes do carvão: Macerais, Minerais, Microlitótipos e
Litótipos

3.1.1. Macerais

Os macerais do carvão são, em parte, restos vegetais cuja forma e/ou estrutura está ainda preservada no
estágio de carvão betuminoso, e em parte produtos de degradação cujas origens vegetais já não podem ser
reconhecidas. São, portanto, constituintes orgânicos, análogos aos minerais das rochas inorgânicas. A Fig.
7 mostra três exemplos de macerais em que se podem reconhecer as estruturas orgânicas. Por outro lado,
na Fig. 46A mostra um maceral em que a sua origem vegetal não pode ser reconhecida.

Fig. 46A. Exemplo de vitrinite em que não se observa a sua estrutura vegetal. Camada Chipanga, Moatize

A formação dos macerais durante os estágios iniciais da acumulação da turfa, depende dum número de
factores, já referidos no capítulo anterior: comunidades vegetais, clima, condições ecológicas, pH, potencial
redox (ou Eh), etc. Este último joga um dos papéis mais importantes na transformação da matéria orgânica.
Por exemplo, em condições aeróbicas com acesso ilimitado de oxigénio, ocorre uma completa
desintegração da matéria vegetal, ficando muito pouco resíduo. Contudo, em situação de pouco ar, como
sob a camada de folhas mortas (mould), ocorre a humificação. Aqui as bactérias aeróbicas e os fungos
produzem substância húmicas pobres em hidrogénio, o conteúdo celular (citoplasma) desaparece, as paredes
celulares secam e escurecem, e no final a matéria orgânica é reduzida a grãos detríticos e bandas de material
semelhante a charcoal 39. Este processo chama-se fusinitização.
38

Se a turfa for parcialmente submersa, o fornecimento de oxigénio é restrito e a turbificação acontece com a
produção de ácidos húmicos e gelificação total ou parcial dos tecidos vegetais. Esta é a fase mais
importante da transformação bioquímica, por fungos e bactérias, primeiro do protoplasma e dos enzimas,
depois das substâncias nutritivas (açúcares e amidos) e finalmente da celulose e lenhina que constituem as
paredes celulares. O resultado progressivo da turbificação é o enriquecimento gradual da matéria das
paredes celulares lenhosas e das partes vegetais mais resistentes, como as cutículas, os esporos e pólens,
o súber (cortiça) e a produção dum gel (gel doplerítico) que é precipitado a partir dos ácidos húmicos em
solução. Estes processos de humificação progressiva são conhecidos por vitrinitização ou gelificação.

38
39
Charcoal: resíduo de carbono impuro resultado de combustão de matéria orgânica na ausência de ar; é negro, poroso, e capaz de
absorver gases. O carvão de lenha é um tipo de charcoal artificial.

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Em casos em que a turfa é sujeita a condições redutoras, ocorre a putrefacção (ou fermentação), em que as
bactérias anaeróbicas consomem o oxigénio das substâncias orgânicas, transformando-as em produtos
ricos em hidrogénio.

A maioria dos macerais, uma vez formados, sofrem alterações físicas (incluindo ópticas) e químicas
progressivas com o aumento do grau, mas as suas proporções e forma, com pequenas excepções, mantêm-
se as mesmas. Por isso, em geral os macerais podem ser distinguidos uns dos outros com base em

 Morfologia;

 Relevo (resistência ao polimento);

 Tamanho;

 Forma;

 Cor;

 Reflectância; e por vezes

 Origem.

Os seus nomes são descritivos e, convencionalmente, terminam em –inite. Cada maceral tem um conjunto
distinto de propriedades para um determinado grau. Os macerais podem ser agrupados em grupos
macerais ou subdivididos em sub-macerais.

A distinção entre grupos macerais é feita primeiramente com base na reflectividade, mas os nomes provêm
de características genéticas e morfológicas, e por vezes tecnológicas. Os grupos macerais que existem são:
VITRINITE, LIPTINITE40 e INERTINITE.

Os três grupos macerais são distinguidos pelos órgãos e substâncias vegetais de origem. As vitrinites são
produtos de incarbonização de substâncias húmicas, que se originam essencialmente da lenhina e celulose das
paredes celulares. As liptinites não se originam de substâncias humificáveis, mas de restos vegetais
relativamente ricos em hidrogénio, como esporopoleninas, resinas, gorduras e ceras. Assim, as vitrinites são
caracterizadas por um maior teor de compostos aromáticos e de oxigénio, ao passo que as liptinites têm mais
alifáticos e, consequentemente, mais hidrogénio. Em comparação, as inertinites são caracterizadas por teores de
carbono relativamente altos, muito pouco hidrogénio e graus de aromatização elevados. As inertinites têm origem
no mesmo material que as vitrinites e liptinites, mas que sofreram transformações primárias diferentes. Por
exemplo (Tab. 8), as paredes celulares da madeira podem ser transformadas em telinite (vitrinite com estrutura
celular visível, Fig. 7) por processos de humificação e gelificação, ao passo que se ocorrer charring41 (fogo ou
humificação), esses mesmos materiais dão origem a fusinites e/ou semifusinites (inertinites com estrutura celular
visível, Fig. 7). Em ambos os casos as paredes celulares originais dos tecidos vegetais mantêm-se preservadas
até ao grau betuminoso.

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Em literatura antiga era chamada de EXINITE, pois se pensava que estes macerais provinham só das exinas dos esporos e
pólenes.
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Charring: processo que origina o char.

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As substâncias originais dos macerais do grupo da Liptinite também podem sofrer fusinitização. Por
exemplo, as resinas podem, através deste processo, originar a secretinite (de secrecções). Alguns macerais
provêm de outros ao longo da incarbonização. Por exemplo, a micrinite (variedade de inertinite) origina-se
das liptinites quando estas libertam os hidrocarbonetos, constituindo o resíduo sólido deste processo.

Os gels que resultam da destruição (gelificação) da celulose e lenhina, se posteriormente fusinitizados,


transformam-se num tipo de inertinite sem estrutura – a macrinite. Algumas inertinites já apresentam as
suas propriedades ainda nas plantas, como a funginite (tecidos de fungos).

Os macerais que se formam durante o decurso da incarbonização – secundários - devem ser distinguidos
dos macerais ordinários - primários. A exsudatinite, por exemplo, é um maceral secundário do grupo das
liptinites. Mesmo vitrinites dos carvões de grau muito alto resultam da incarbonização de liptinites.

Cada maceral sofre uma evolução particular durante a incarbonização, que pode variar enormemente. As
vitrinites alteram regularmente, as liptinites seguem um percurso irregular e as inertinites alteram muito
pouco (Fig. 30).

A Tabela 6 mostra os vários tipos de macerais que existem na classificação antiga do ICCP (pré-1994). As
classificações recentes (1994, in ICCP 1998 (V), 2000 (I) e 2005 (H)) estão patentes na Tabela 7. (só H/V e I).
Apresentam-se as duas, bem como a correlação entre os respectivos termos, pois grande parte da literatura
existente apresenta as classificações antigas. Mais adiante falaremos da origem dos vários macerais e sua
transformação ao longo da incarbonização.

3.1.1.1. Huminite/Vitrinite

a) Percursores químicos e botânicos

O grupo maceral Vitrinite provém da incarbonização do grupo maceral Huminite. Aliás, o termo huminite é aplicado
aos carvões do grau lignite/soft brown coal. A partir do grau sub-betuminoso passa a usar-se o termo vitrinite.

As huminites/vitrinites originam-se a partir da fracção ácida-húmica das substâncias húmicas, que são compostos
de cor escura de composição complexa. Estes compostos contêm os elementos carbono, oxigénio, hidrogénio e
nitrogénio. Eles possuem pesos moleculares e solubilidades variadas, têm um núcleo aromático e contêm os
grupos hidroxilo (-OH) e carboxilo (-COOH). Estes compostos formam-se durante a turbificação e a humificação
(mouldering) (Tab. 5), mesmo até ao estágio de brown coal, a partir principalmente da lenhina e celulose das
paredes celulares das plantas. Além de depender dos materiais de origem, a formação e as propriedades dos
ácidos húmicos também dependem do potencial redox e do pH do ambiente. Um ambiente aeróbico é um pré-
requisito para a transformação da lenhina em ácidos húmicos (Fischer, 1952). No entanto, Welte (1952) sustenta
que os ácidos húmicos se formam da lenhina em meio fracamente ácido só pela actividade bacteriana, mas por
puras reacções de condensação oxidativa em meios neutros-alcalinos. A lenhina é decomposta por fungos
destruidores de madeira os quais, com enzimas, atacam a lenhina, a qual normalmente só é hidrolizada 42 com
dificuldade. Welte (1952) diz que para se formarem ácidos húmicos a partir da celulose, as condições ácidas são
particularmente favoráveis.
42
Hidrólise: reação química que envolve água. A água pode reagir com muitas substâncias e transformá-las em outras. A hidrólise
de ésteres produz ácido carboxílico e álcool

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Durante muito tempo assumiu-se que a huminite/vitrinite provinha unicamente das lenhinas, mas hoje sabe-se que
devido à acção de fungos e bactérias, alguns compostos da decomposição da celulose participam na formação dos
ácidos húmicos.

Tabela 6. Classificação dos macerais (classificação antiga, pré-1994).

Tabela 7. Novas classificações dos macerais dos Grupos da Huminite/Vitrinite e da Inertinite (em itálico, os nomes das antigas
classificações)

43
Fenol: Absorve água do ar e liquefaz-se. Ao lado, a sua estrutura molecular.

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Tabela 8. Origem das vitrinites e inertinites (in Stach et al, 1982).

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A celulose
(C6H10O5)n
constitui a
principal
Fig. 47 – Estrutura molecular da celulose.
estrutura

Fig. 48. Estrutura molecular da lenhina


das paredes celulares e é opticamente anisotrópica (Fig. 47). Em paredes celulares lignificadas, várias
quantidades de lenhina estão finamente distribuídas entre as microfibras de celulose. As lenhinas são
formadas por núcleos aromáticos, uma cadeia lateral (alifática) com 3 átomos de carbono+grupos alifáticos e
fenólicos+grupos metoxílicos (-OCH3) (Fig. 48), e são opticamente isotrópicos. As lenhinas, em geral, são
mais resistentes aos ataques microbianos do que as celuloses.

Os taninos também participam na formação das vitrinites, especialmente a corpovitrinite (Tab. 8). Eles consistem de
misturas de compostos aromáticos que variam em composição e que contêm propriedades fenólicas e pesos
moleculares muito altos. Em vários aspectos, os taninos têm desde o início propriedades semelhantes a substâncias
húmicas. A sua resistência à decomposição é bem conhecida.

Os taninos impregnam as paredes celulares, especialmente em madeiras velhas, e películas de sementes.


Muitas cortiças são enriquecidas em taninos, como por exemplo nos mangais (Fig. 28). Em muitas plantas,
após a morte, produtos de oxidação de taninos altamente resistentes formam-se nos lúmens celulares – os
flobafenos.

Além da celulose, lenhina e taninos, também podem ocorrer substâncias lipídicas (ricas em H) incorporadas nas
substâncias húmicas, que mais tarde originam os hidrocarbonetos.

b) Alterações durante os estágios de turfa e brown coal

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As substâncias facilmente hidrolizáveis das plantas - dissacarídeos43, amido, celulose, hemicelulose, pentosanos44,
pectinas e proteínas – são facilmente decompostas por bactérias e fungos, transformando-se em produtos gasosos
e líquidos (dióxidos de carbono, amónia, metano e água) que se escapam, e em produtos residuais sólidos
(principalmente substâncias húmicas) que participam na formação do carvão.

As lenhinas relativamente estáveis concentram-se na turfa e os restos lenhosos (plantas arbóreas e arbustivas)
mantêm-se melhor preservados estruturalmente que as celuloses (plantas herbáceas).

Fig. 49. a) Textinite A com flobafinite (preenchimentos celulares brancos); notar as paredes celulares finas e rígidas (centro-direita); brown coal do
Mioceno, Reno Inferior, Alemanha; b) Texto-ulminite A (mesmo que em a): só as paredes celulares não estão gelificadas; brown coal do Mioceno,
Reno Inferior, Alemanha; c) Textinite B; brown coal do Plioceno da Calábria, Itália; d) Textinite B comparada com atrinite fortemente reflectora;
brown coal do Mioceno, Reno Inferior, Alemanha; e) Transição texto-ulminite (esq.) para eu-ulminite (dir.) em brown coal do Mioceno, Reno Inferior,
Alemanha; f) Texto-ulminite B com flobafinite (cinzento escuro) em luz transmitida; Reno Inferior, Alemanha; Eu-ulminite B com flobafinite (claro),
lignite do Mioceno da Áustria Superior. Todas as fotos (excepto f) tiradas em superfície polida em imersão de óleo. (Fotos em Stach et al, 1982, fig
71, pág. 232).

As madeiras cujas células estão impregrandas de resinas, ceras, taninos ou pigmentos são muito resistentes à
decomposição estrutural e química. Este facto é mais evidente nas coníferas 45, cuja madeira não é atacada por
fungos e bactérias e por isso os pormenores anatómicos dos tecidos vegetais mantêm-se preservados (Fig. 49).
Nestes casos a celulose é preservada mesmo no estágio de brown coal. O mesmo acontece com as cascas de
árvore que estão impregnadas de substâncias resistentes – cortiça e taninos. (Fig. 50).

As folhas e ramos ricos em celulose (pobres em lenhina) e certas das madeiras de Angiospérmicas decompõem-se
em detritos húmicos de restos de paredes celulares (Fig. 51) que mais tarde se decompõem e convertem em
43
Dissacarídeos: duas unidades de monossacarídeos (ex. glicose) interligadas por um átomo de oxigénio.
44
Pentosanos: polissacarídeo, forma anidra ou polimerizada de pentose (açúcar).
45
Coníferas: pinheiros, casuarinas, araucárias, etc.

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soluções coloidas húmicas que se infiltram na turfa e, ao secarem, precipitam entre os detritos como partículas de
gel finamente divididas, sendo esta mistura o constituinte principal das turfas de pântanos pobres em árvores.

Os dois processos mais importantes na formação da vitrinite durante os estágios de turfa e brown coal são a
humificação e a gelificação. A humificação é o processo mais importante durante o estágio de turfa. A
humificação pode ser visualizada como uma oxidação progressiva acelerada por adição de oxigénio como i)
durante períodos ocasionais de dessecação da superfície da turfa por descida dos níveis de água ou ainda ii) por
entrada de fluxos de água com oxigénio dissolvido) e por calor (climas tropicais). Assim, formam-se ácidos húmicos
com vários pesos moleculares e solubilidades. A humificação é particularmente intensa na camada turbigégica.

O oxigénio é necessário para a humificação das lenhinas na turfa. Na presença de oxigénio, a lenhina é
primeiramente atacada por fungos xilófagos46, e depois por bactérias aeróbicas, transformando-se assim em
substâncias húmicas. Contudo, a humificação pode acontecer ainda no estágio de soft brown coal onde já se
estabeleceram condições anaeróbicas, pois neste estágio ainda se encontram por vezes quantidades importantes
de celulose e lenhina intactas. Ensaios experimentais indicam que estas duas substâncias são rapidamente
destruídas na fronteira entre lenhina e sub-betuminoso (~70ºC). À medida que a diagénese continua, os ácidos

Fig. 50. a) e b) Secção de raíz constituída de suberinite (escura) e flobafinite (clara); c) Flobafinite em textinite; d) Corpos esféricos de
corpohuminte; e) Paredes celulares de suberinite com flobafinite

húmicos perdem o seu carácter ácido pela remoção dos grupos


–OH e –COOH e transformam-se, assim, em huminas, originando os macerais do grupo das Huminites das
lignites e brown coals, que são as percursoras das vitrinites dos graus mais altos.

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Do grego Xylos (Madeira) + Phagos (comer).

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A humificação é seguida da gelificação que leva à formação da vitrinite nos estágios de carvão sub-betuminoso
(Glanzbraunkohle) (Fig. 52). Durante a gelificação, as reacções parecem ser fundamentalmente de natureza físico-
coloidal, ou seja, o material húmico é peptizado 47 e depois dessecado em gel, ou seja, passa por um estágio
plástico.

Fig. 51. Atrinite consistindo de detritos húmicos Fig. 52. Gelificação geoquímica (=vitrinitização) de huminites, demonstrada pela
(d) e gels húmicos (g) em brown coal miocénico compacção e homogenização duma banda de corpohuminite (centro) e de camadas de
da Bavária, Alemanha. Superfície polida, humodetrinite; a) Brown coal, Bavária, Alemanha; b) Lignite, Áustria; c) Carvão sub-
imersão em óleo betuminoso, Bavária Superior. Todas as fotos em superfície polida, imersão em óleo.

É possível distinguir:

i) Gelificação bioquímica: que ocorre durante a turfa e brown coal e que é função do material original, o fácies,
o fornecimento de água e iões, o grau de alcalinidade e as condições oxidantes; e

ii) Gelificação geoquímica: que afecta todas as huminites no estágio de hard brown coal na fronteira entre
o brown coal baço (Matt-) e brilhante (Glanz-); esta gelificação exige uma certa temperatura e, por
conseguinte, uma certa profundidade de subsidência. É durante esta gelificação geoquímica que as
huminites são transformadas em vitrinites e assim o processo leva também o nome de vitrinitização
(Tab. 8).

Os percursores da vitrinite nos estágios de turfa e brown coal são petrograficamente agrupados nas Huminites,
como atrás se disse, e como estes macerais só apresentam poucas semelhanças com os equivalentes das
Vitrinites, eles levam nomes diferentes (ver tabelas 6-7).

Mais adiante vamos ver os vários macerais do grupo das Huminites e do grupo das Vitrinites em separado.

c) Alterações durante os estágios de carvão betuminoso a antracite

As propriedades químicas e ópticas das vitrinites alteram mais uniformemente durante a incarbonização do
que qualquer outro grupo de macerais (Fig. 30), sendo esta a razão principal para a vitrinite ser usada para
determinação do grau.

47
Peptização: é a passagem do estado gel para o estado sol.
49
Alcanos: compostos binários de carbono e hidrogénio de fórmula geral C nH2n+2, também denominados hidrocarbonetos saturados,
apresentam somente ligações simples entre seus átomos

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Fig. 53. Aumento da incarbonização da vitrinite em diferentes parâmetros de grau, plotados em função do carbono (adaptado de Stach
et al, 1982)

O aumento progressivo do seu grau é caracterizado por uma diminuição dos teores de oxigénio e de voláteis,
e um aumento do teor de carbono. O teor de hidrogénio aumenta um pouco e depois diminui a partir de
estágio de carvão de coque para diante (betuminoso de médios voláteis – Fig. 44). Estes parâmetros
individuais de grau mostram alterações variáveis nos diferentes estágios de evolução do grau. Por exemplo, o
carbono aumenta relativamente pouco desde o carvão de coque à antracite, enquanto que os voláteis
diminuem rapidamente no mesmo intervalo (Fig. 53 e Figs. 31 e 32).

A razão para este contraste é um marcado aumento da aromaticidade da molécula de humina, significando
paralelamente um rápido aumento da reflectividade, uma vez que os voláteis representam essencialmente a
fracção não-aromática do carvão.

Como mostra a Fig. 33, a reflectividade da vitrinite aumenta pouco até ao grau betuminoso de altos voláteis,
mas mostra um aumento maior para um teor de voláteis entre 30% e 8%. Acima deste valor (estágio
antracítico) o aumento da reflectividade é ainda maior.

As Figs. 32 e 53 mostram que as vitrinites dos carvões betuminosos sofrem 4 saltos de incarbonização
que são de natureza química e óptica. O 1º salto ocorre durante o estágio de carvão betuminoso de altos
voláteis (ca. 80% C, 43% MV, 0.6% R m óleo). O 2º salto ocorre no estágio de carvão betuminoso de médios
voláteis (ca. 87% C, 29% MV, 1.3% Rm óleo). O 3º salto ocorre no limite entre a semi-antracite/antracite (ca.

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91% C, 8% MV, 2.5% R m óleo) e, finalmente, o 4º salto dá-se no limite entre a antracite/meta-antracite (ca.
93.5% C, 4% MV, 3.7% Rm óleo).

O primeiro salto, que também ocorre nas liptinites, coincide aproximadamente com o início da formação de
petróleo a partir do kerogénio (Fig. 42). O segundo salto, bem marcado nas liptinites (Fig. 42), é causado
por uma drástica redução do oxigénio, libertado na forma de CO 2 e H2O e pelo início da libertação de
hidrogénio na forma de metano (CH 4), coincidindo mais ou menos com o fim de produção de petróleo (Fig.
42). Os terceiro e quarto saltos da vitrinite correspondem à libertação de grandes quantidades de hidrogénio
na forma de metano, acompanhada por forte aromatização e condensação de anéis dos complexos
humínicos (Fig. 65).

O aumento da anisotropia óptica da vitrinite durante a incarbonização é causado por um ajustamento


progressivo das partículas coloidais aromáticas da humina em planos de acamação devido à crescente
pressão de carga. A anisotropia óptica é assim predominantemente de origem física, o mesmo se passando
em relação ao teor de humidade da vitrinite, que também é um bom indicador de grau até ao grau de
betuminoso de altos voláteis (Tab. 4). Uma vez que o teor de humidade das vitrinites está dependente da
microporosidade, ela diminui com o aumento da profundidade até ao grau de carvão de coque (89% C, 20%
MV, 1.7% Rm óleo), após o que torna a aumentar ligeiramente devido a alterações químico-estruturais (Fig.
32). O mínimo de porosidade e de teor de humidade coincide com o mínimo de superfície interna,
densidade e dureza e com o máximo de plasticidade (Fig. 35).

d) Características gerais das Huminites

De acordo com Sýkorova et al (2005), as huminites, em geral, caracterizam-se pelas seguintes características:

o A huminite ocorre em camadas de carvão formadas como resultado de preservação anaeróbica de


lignoceluloses (lenhina e celulose) em pântanos. Também ocorre em turfas (horizonte A).

o A Huminite tem origem em tecidos parenquimatoso e lenhosos e de conteúdos celulares de raízes,


ramos, cascas e folhas compostas de celulose, lenhina e taninos.

o É um grupo de macerais de cor cinzenta média (ao microscópio), com reflectividades entre as das liptinites
(mais escuras) e inertinites (mais claras) associadas.

o A cor e a reflectividade dependem do grau de gelificação, da origem botânica e da composição química


dos seus macerais (Cameron, 1991; Taylor et al., 1998). Assim, a cor varia de cinzenta escura a
média, e a reflectividade varia entre ~0.2 e 0.4% nos lignites e soft brown coals. Nas turfas, a
reflectividade das huminites varia entre 0.1-0.26%, dependendo dos submacerais (Cohen et al.,
1987).

o Em geral é isotrópica; se ocorrerem restos de celulose (cristalina) apresenta anisotropia.

o A huminite é caracterizada por um teor relativamente alto de oxigénio e baixo de carbono em comparação
com os macerais dos dois outros grupos. A composição elementar varia com o grau, aumentando o
carbono e diminuindo o oxigénio com o aumento do grau.

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o As huminites estão divididas em 3 subgrupos macerais e seis macerais, alguns dos quais podem
ser subdivididos em submacerais (Tab. 7).

Passamos agora a ver cada um dos macerais das Huminites em detalhe. À medida que os vários macerais forem
sendo apresentado, incluir-se-ão imagens dos mesmos para elucidar os aspectos que se descrevem.

i) Telohuminite

O termo Telohuminite foi introduzido em 1970 pelo ICCP para designar huminites com estrutura celular.

A Telohuminite é um subgrupo das huminites que compreende macerais com estruturas celulares botânicas
intactas, visíveis em vários aspectos ou células isoladas, com reflectividade entre a das liptinites e inertinites
acompanhantes. O subgrupo é constituído pelas textinites e ulminites, que se distinguem pelo seu
diferente grau de gelificação. A textinite mostra paredes celulares separadas e a ulminite apresenta essas
paredes comprimidas e gelificadas.

Oa mecerais deste subgrupo provêm de tecidos lenhosos e de parênquima de raízes, ramos, cascas e folhas
quimicamente compostas de celulose e lenhina, de plantas herbáceas e arborescentes.

A presença de grandes quantidades de telohuminite indica um alto grau de preservação de tecidos em condições
húmidas e pH baixo em turfas de florestas ou em raised bogs (pântanos elevados) florestados (Diessel, 1992). A
telohuminite é a precursora da telovitrinite em carvões de grau mais alto.

i.1. Textinite

O termo textinite foi proposto em 1963 pelo ICCP para designar material de paredes celulares em lignites.
Mais tarde, em 1970, o ICCP restringiu o uso do termo a um maceral constituído por paredes celulares não
gelificadas. O termo provém do latim textum = tecido.

A textinite é um maceral do grupo das huminites, subgrupo das telohuminites, cnstituído por paredes celulares
não gelificadas, tanto em tecidos como células isoladas mas de paredes intactas (Figs. 54, 55 e 56). As células
de tecidos de fungos não pertencem à textinite (ver adiante). As textinites podem ser divididas em A e B
consoante elas forem cinzentas escuras ou claras respectivamente, sendo que a A é anisotrópica devido ao
conteúdo de celulose e tem reflexões internas, e a B é isotrópica, sem reflexões internas.

A Textinite consiste de substâncias húmicas bem como de restos de celulose e lenhina, se bem que entre
as duas textinites (A e B) hajam diferenças químicas substanciais: enquanto que a textinite B é composta só
de huminas e restos de lenhina, a textinite A contém ainda porções consideráveis de celulose, resinas,
ceras e taninos. Sendo uma Telohuminite, a textinite provém de tecidos lenhosos e de parênquima de raízes,
ramos, cascas e folhas quimicamente compostas de celulose e lenhina, de plantas herbáceas e arborescentes.

A diferença entre as duas textinites é que a A provém de Gimnospérmicas e a B de Angiospérmicas. A textinite


é a percursora da Telinite em carvões de grau mais elevado.

A quantidade de textinite numa lignite depende muito da intensidade de gelificação e do grau (de
incarbonização). Quantidades elevadas de textinite indicam alto grau de preservação de tecidos celulares em

condições relativamente secas e de baixo pH em turfeiras de florestas ou raised bogs com árvores. A

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composição química dum tecido afecta a sua preservação. A textinite A, impregnada de


resinas, taninos, etc., é quimicamente mais resistente que a textinite B

Fig. 54. Textinite (T) com corpohuminite (C) em lignite


miocénica, camada Básica, parte central da Bacia da
Boémia do Norte, República Checa. LR. Largura: 0.24
mm.

Fig. 56. Porigelinite (P) e textinite (T) em lignite miocénica, Fig. 55. Textinite (T) e corpohuminite (C) em lignite, com
camada Básica, parte central da Bacia da Boémia do fusinite (Fu). Kuhfeldschichten (Cretácio Inferior, Alemanha).
Norte, República Checa. LR. Largura: 0.24 mm LR. Largura: 0.17 mm

i.2. Ulminite

Termo usado por Stopes (1935) para designar material vegetal completamente gelificado. Em 1970, o
ICCP introduz o termo para designar tecidos vegetais mais ou menos gelificados em que as estruturas
celulares ainda podem ser vistas. O termo vem do Latim ulmus (ulmeiro). A ulmina é um produto de
decomposição de ulmeiros afectados por doenças.

A ulminite é um maceral do grupo das huminites, subgrupo da telohuminites que mostram paredes celulares
de tecidos mais ou menos gelificados (Fig. 57, 58 e 61).

Devido ao processo de gelificação as paredes celulares estão marcadamente inchadas e por isso são mais
espessas que as da textinite. Também a ulminite, à semelhança da textinite, apresenta as variedades clara
(A) e escura (B). A ulminite A pode apresentar reflexões internas, à semelhança da textinite A.

A ulminite consiste de ácidos húmicos, humatos e traços de lenhina e celulose (Süss,


1959). De acordo com Taylor et al (1998), as paredes celulares já não contêm celulose,
donde que a baixa reflectância da ulminite A deve estar relacionada com impregnações
de resinas e ceras nas paredes celulares.

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Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

Fig. 57. Ulminite (U). Kuhfeldschichten (Cretácico Fig. 58. Densinite (D) e ulminite (U) em lignite miocénica,
Inferior, Valendis), Alemanha. LR. Largura: 0.22 mm. camada Básica, parte central da Bacia da Boémia do
Norte, República Checa. LR. Largura: 0.16 mm.

Sendo uma Telohuminite, a textinite provém de tecidos lenhosos e de parênquima de raízes, ramos, cascas e folhas
quimicamente compostas de celulose e lenhina, de plantas herbáceas e arborescentes. Grandes quantidades de
ulminite indicam um alto grau de preservação de tecidos celulares em condições húmidas e de pH baixo de turfeiras
de florestas ou de raised bogs florestados (Diessel, 1992). De acordo com Taylor et al. (1998) o processo de
gelificação bioquímica é acelarado em ambientes ensopados de água devido ao fornecimento de determinados iões
(Na, Ca). As madeiras impregnadas de resinas, ceras e taninos são muito resistentes à decomposição química e
estrutural. Daí que a ulminite A derivada das gimnospérmicas seja mais abundante que a ulminite B derivada das
angiospérmicas. A ulminite é a percursora da colotelinite dos carvões de grau mais elevado.

A ulminite é primariamente formada em turfas e solos em condições húmidas e em sedimentos límnicos, mas
também devido ao grau de incarbonização. Assim o enriquecimento em ulminite reflecte tanto certas condições
paleoambientais como avanço na incarbonização. A quantidade de ulminite aumenta por isso à custa da
diminuição da quantidade de textinite com o aumento do grau.

ii) Detrohuminite

O termo provém do Latim humus (solo) + detritus (detrito, produto de desintegração). É um subgrupo do grupo
das huminites consistindo de fragmentos húmicos (<10 m) que podem estar cimentados por matéria húmica
amorfa. Em função da gelificação, a detrohuminite é subdividida em atrinite (não gelificada) e densinite
(gelificada). A composição química da detrohuminite é mais ou menos independente do grau de gelificação.

Os macerais deste subgrupo derivam de plantas herbáceas e arborescentes através de forte decomposição de
tecidos lenhosos e parenquimatosos de ramos e folhas. As plantas herbáceas e as madeiras de angiospérmicas
desintegram-se mais facilmente que os tecidos lignificados, mas as coníferas também podem contribuir para a
detrohuminite. A detrohuminite é a percursora da detrovitrinite de carvões de grau mais elevado.

ii.1. Atrinite

Termo usado pelo ICCP desde 1970 para designar partículas húmicas que formam a matriz não gelificada dos
carvões. O termo deriva do Latim attritus (matéria pulverizada por atrito). O maceral consiste duma mistura de finas
partículas huminíticas (<10 m) de diferentes formas, porosas e esponjosas não gelificadas (Figs. 59 e 60).

A atrinite é cinzenta escura, dependendo da densidade dos poros. Consiste de substâncias húmicas e
restos de celulose e lenhina. As propriedades químicas variam em função do material vegetal de origem.

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Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

A parte detrítica da atrinite resulta de forte decomposição estrutural de tecidos parenquimatosos e lenhosos
de ramos e folhas de plantas herbáceas e arborescentes, originariamente compostas de celulose e, em
menor escala, lenhina. Forma-se em condições aeróbicas. A parte porosa da atrinite consiste de colóides
húmicos floculados. Durante a incarbonização, a atrinite passa a densinite por gelificação e a colodetrinite
por vitrinitização, se bem que a densinite possa ocorrer em simultâneo com a atrinite na mesma camada,
dependendo das condições de deposição.

Grandes quantidades de atrinite indicam condições relativamente secas na superfície dos


pântanos, seguidas de decomposição aeróbica das partes húmicas das plantas. A Atrinite
ocorre também como detritos vegetais depositados subaquaticamente.

Fig. 59. Atrinite (A) e densinite (D). Notar fragmento de Fig. 60. Atrinite (A) com suberinite (S) e flobafinite (P).
textinite (T) e funginite (F). LR. Largura: 0.25 mm. Lignite miocénica da camada Anežka, Bacia de Sokolov,
Rep. Checa. LR. Largura: 0.24 mm.

ii.2. Densinite

O termo foi introduzido pelo ICCP em 1970 para designar um maceral composto de pequenas partículas
gelificadas cimentadas por material húmico amorfo. O termo vem do Latim densus (compacto, denso). A
densinite consiste de finas partículas huminíticas (<10 m) cimentadas por substâncias huminíticas, amorfas
e densas. A densinite é uma matriz húmica gelificada, mais ou menos homogénia, cimentando outros
componentes do carvão (Figs. 58, 59, 61 e 62).

A densinite é formada por dois processos: (1) forte decomposição de tecidos parenquimatosos e lenhosos
de ramos e folhas compostos de celulose e lenhina, seguida de gelificação bioquímica em condições
húmidas no estágio de turfa; (2) Gelificação geoquímica de atrinite com o aumento da incarbonização.

iii) Gelohuminite

Termo introduzido pelo ICCP para designar um subgrupo de macerais de cor cinzenta, originados de matéria
húmica amorfa. A gelohuminite compreende os macerais corpohuminite e gelinite. O primeiro refere-se a corpos
isolados representando os preenchimentos celulares de flobafenos, in situ ou isolados.; o segundo refere-se a
preenchimentos secundários de espaços inicialmente vazios. A humocolinite tem mais duma origem. Pode derivar
de tecidos vegetais e detritos húmicos intensamente gelificados, cuja estrutura não é reconhecida ao microscópio de
luz reflectida. Pode também ter origem em colóides húmicos precipitados. Uma terceira origem é de preenchimentos
celulares flobafénicos formados pelas próprias plantas.

iii.1. Corpohuminite

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Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

O termo foi introduzido em 1970 pelo ICCP para designar corpos não estruturados de peenchimentos
celulares húmicos, ocorrendo in situ junto com a textinite ou ulminite ou isolados, com atrinite, densinite e
argilas. Dependendo da forma das células preenchidas por estes materiais e da orientação dos grãos, a
forma da corpohuminite pode ser esférica, oval ou alongada. Também o seu tamanho depende do tamanho
original das células. A maioria da corpohuminite é compacta, mas pode conter vacúolos.

Podem distinguir-se dois sub-macerais: flobafinite, que se refere aos produtos da incarbonização de excreções
celulares primárias, e pseudo-flobafinite, que se refere a preenchimentos secundários que se originam de
colóides húmicos. A distinção só é possível se estiverem dentro das estruturas celulares da textinite/huminite. Se os
grãos não tiverem contacto com as paredes celulares, o maceral é classificado como flobafinite. Quando o espaço
celular estiver completamente preenchido com substâncias amorfas húmicas, ele é classificado como pseudo-
flobafinite. São macerais de cor cinzenta a cinzenta clara. As figs 54, 55 e 62 ilustram algumas corpohuminites.

A corpohuminite que resulta de excreções celulares e taninos tem uma forte componente aromática, sendo
por isso química e estruturalmente muito resistentes. As corpohuminites resultantes de precipitação coloidal
são constituídas por huminas.

iii.2. Gelinite

Termo introduzido por Szádecky-Kardoss (1949) para geles húmicos precipitados, e adoptado pelo ICCP para
referir um maceral consistindo de geles huminíticos sem forma própria. Em microscopia de luz reflectida, ele
aparece como uma substância não estruturada ou porosa homogénea.

Fig. 61. Densinite (D) e ulminite (U) em lignite miocénica, Fig. 62. Corpohuminite (C, flobafinite), densinite (D) e
camada Básica, parte central da Bacia da Boémia do funginite (F). Rheinische Braunkohle, Camada Principal.
Norte, República Checa. LR. Largura: 0.16 mm. Mioceno. LR. Largura: 0.20 mm.

Fig. 63. Gelinite (G). Kuhfeldschichten (Cretácico Inferor, Valendis), Alemanha. LR. Largura: 0.3 mm.

A gelinite é composta de ácidos húmicos e seus sais (especialmente Ca e Na), e a sua composição química é
influenciada pelo grau, fácies e condições regionais. A gelinite está subdividida em dois submacerais: levigelinite

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Capítulo 3 Maputo, 2005

completamente desestruturada, compacta e homogénea. Pode apresentar fissuras de retracção devido a


dessecação (Fig. 63). A porigelinite tem um aspecto esponjoso, poroso ou microgranular (Fig. 56). A gelinite
ocorre tanto singenética como epigeneticamente.

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Capítulo 3 Maputo, 2005

Podem formar-se como substâncias húmicas amorfas segregadas directamente pelas paredes celulares
durante períodos húmidos no estágio de turfa e preenchendo espaços celulares. Na maioria dos casos
resultam da precipitação de produtos a partir de soluções coloidais húmicas e preenchem outros espaços.

e) Características gerais das Vitrinites

De acordo com ICCP (1998), as vitrinites têm as seguintes características:


o Ocorre em camadas de carvão formadas como resultado de preservação anaeróbica de material
ligno-celulósico em pântanos.

o Têm origem em tecidos parenquimatosos e lenhosos de raízes, ramos, cascas e folhas compostos
de celulose e lignina.

o Grupo de macerais de cor cinzenta (média a clara) e cuja reflectividade está entre a das liptinites
(mais escuras) e inertinites (mais claras) acompanhantes.

o Cor e reflectividade variam com o grau. Ela é cinzenta escura nos graus mais baixos (sub-
betuminoso), mas torna-se clara ou branca em carvões de grau mais alto. A reflectividade média (Rm óleo)
nesta gama de cores varia entre 0.5->7.0%. A anisotropia óptica também aumenta com o grau, excepto
em que o aumento de grau é provocado por metamorfismo de contacto.

o A vitrinite é caracterizada por um teor de oxigénio relativamente alto quando comparado com o dos
outros macerais. A composição elementar depende do grau:

Carbono: 77-96%
Hidrogénio: 6-1%
Oxigénio: 16-1%
o Rica em estruturas aromáticas. A aromaticidade aumenta com o grau.

o O termo vitrinite abraça três subgrupos e seis macerais derivados da matéria húmica (Tab. 7).

A Tab. 7 mostra a correlação entre os macerais da huminite e os da vitrinite, não esquecendo que as huminites são
as precursoras das vitrinites.

Passamos agora a ver cada um dos macerais das Vitrinites em detalhe. À medida que os vários macerais forem
sendo apresentados, incluir-se-ão imagens dos mesmos para elucidar os aspectos que se descrevem.

i) Telovitrinite

O termo foi introduzido em 1994 pelo ICCP para designar vitrinite com estrutura celular, a qual pode ou não ser
visível em luz branca reflectida. O termo vem do Latim Tela (tecido) + vitrum (vidro). A telovitrinite é um subgrupo
das vitrinites que apresenta estruturas celulares preservadas, visíveis ou não. O subgrupo inclui os sub-
macerais telinite e colotelinite que se distinguem pelo seu diferente grau de gelificação geoquímica
(vitrinitização). A telinite consiste de paredes celulares claramente visíveis, ao passo que a colotelinite é
mais ou menos desestruturada. Os macerais deste subgrupo derivam de tecido parenquimatoso e lenhoso
de raízes, ramos, cascas e folhas compostos de celulose e lenhina de plantas herbáceas e arbóreas.
Grandes quantidades de telovitrinite indicam um alto grau de preservação de tecidos em condições húmidas e

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Capítulo 3 Maputo, 2005

possivelmente de pH baixo, em turfas de floresta ou de raised bogs florestados. O precursor da telovitrinite é a


humotelinite.
i.1. Telinite

Fig. 64. Telinite, preenchida por minerais de argila. Carvão


da Camada Chipanga III, Moatize, Moçambique
(Vasconcelos, 1995).

Fig. 65. Telinite dum carvão Triássico da Alemanha, em que em cima se


vêem os espaços celulares e em baixo as paredes estão muito inchadas,
colapsando esses mesmos espaços. In Stach et al (1982), pg. 92.

Fig. 66. Telinite (clara) preenchida por uma gelocolinite (mais escura). Esq.
imersão em óleo; dir. imersão em iodeto de metileno. In Stach et al (1982),
pg. 92.

Fig. 67. Telinite com a estrutura compactada. In Stach et al (1982), pg. 92.

O termo telinite foi introduzido em 1933 (Jongmans & Koopmans, 1934) e designa um maceral do grupo da vitrinite,
subgrupo da telovitrinite, consistindo de paredes celulares claramente reconhecíveis, de tecidos vegetais mais ou
menos intactos (Fig. 64). As paredes celulares estão sempre gelificadas. Os espaços celulares estão ocasionalmente
vazios, mas geralmente estão fechados pelo inchamento das paredes celulares devido à gelificação (Fig. 65), ou
então porque estão preenchidos por outros macerais e/ou minerais (Figs. 66 e 64), ou ainda porque o tecido está
comprimido (Fig. 67). O poder reflector da telinite difere muitas vezes do dos preenchimentos celulares de
gelocolinite. Se os preenchimentos tiverem uma reflectividade mais baixa, deve tratar-se de resinite (Fig. 66).

As paredes celulares de tecidos de fungos não pertencem à telinite.

59
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

A composição química elementar e a aromaticidade dependem do grau de incarbonização. A telinite deriva de tecido
parenquimatoso e lenhoso de raízes, ramos, cascas e folhas compostas de celulose e lenhina de plantas herbáceas
e arbóreas, em que a vitrinitização (gelificação geoquímica) afectou principalmente as paredes celulares.

Os percursores da telinite são as textinites e ulminites, que se transformam em telinite no grau de betuminoso
de altos voláteis. É menos abundante que o outro maceral do subgrupo (ver adiante). Em carvões de maior
grau de incarbonização, a telinite só é discernível se os seus lúmens estiverem preenchidos por minerais.

i.2. Colotelinite

A colotelinite (anteriormente chamada de telocolinite) é um maceral do subgrupo das telovitrinites que


aparenta um aspecto homogénio e sem estrutura (Fig. 68). A estrutura (celular) pode ser revelada pelo uso
de ataques químicos (etching) (criptotelinite). Do Latim colla (cola) + tela (tecido).

Fig. 68. Colotelinite extremamente homogénia (topo). Em baixo, macerais dos grupos da liptinite e inertinite. Carvão betuminoso de
altos voláteis, África do Sul (Falcon & Snyman, 1986).

O poder reflector da colotelinite é largamente usado para determinar o grau de incarbonização do carvão e
da matéria orgânica dispersa nos sedimentos.

A composição química e a aromaticidade dependem do grau. O aumento da aromaticidade provoca o


aumento do poder reflector.

À semelhança da textinite, a colotelinite deriva de tecido parenquimatoso e lenhoso de raízes, ramos,


cascas e folhas compostos de celulose e lenhina de plantas herbáceas e arbóreas, só que no caso da
colotelinite a gelificação geoquímica provoca o desaparecimento da estrutura celular. O precursor da
colotelinite é a ulminite.

ii) Detrovitrinite

Consiste dum subgrupo de macerais compostos de restos vegetais finamente fragmentados e vitrinizados,
que podem ocorrer isolados ou cimentados por vitrinite amorfa. Do Latim detritus (detrito) + vitrum (vidro).

Este subgrupo é composto de dois macerais: vitrodetrinite e colodetrinite. O primeiro refere-se a


partículas de vitrinite claramente visíveis e separadas, ocorrendo isoladas ou cimentadas por vitrinite amorfa
ou minerais; o segundo descreve agregados ou matriz de vitrinite em que os limites dos grãos já não se
conseguem visualizar devido à gelificação.

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Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

Os macerais deste grupo derivam de forte decomposição de tecido parenquimatoso e lenhoso de raízes,
ramos e folhas de plantas herbáceas e arbóreas, originalmente constituídas de lenhina e celulose. As
estruturas celulares foram destruídas devido à abrasão química e/ou física. Grandes quantidades de
detrovitrinite indicam alto grau de destruição de tecidos vegetais, especialmente das plantas herbáceas ricas
em celulose. A detrovitrinite é o maceral dominante quando prevaleceram condições neutras ou alcalinas e
oxidantes no estágio de turfa. O percursor da detrovitrinite é a humodetrinite.

Fig. 69. Vitrodetrinites e gelocolinite de carvão betuminoso de altos voláteis do Ruhr, Alemanha. In Stach et al, 1982.

ii.1. Vitrodetrinite

A vitrodetrinite é um maceral do subgrupo das detrovitrinites que ocorre como fragmentos vitriníticos
isolados, de forma variável, com dimensões inferiores a 10 m. A vitrodetrinite deriva de extensa
fragmentação de tecidos parenquimatosos e lenhosos de raízes, ramos e folhas compostas de lenhina e
celulose, em que a gelificação ocorreu antes do transporte e deposição, ou após a sedimentação.

61
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

ii.2. Colodetrinite

A colodetrinite ocorre como uma matriz agregando outros macerais (Figs. 70 e 71). A colodetrinite não
apresenta continuidade textural e mostra menos acamação. É uma mistura de partículas de vitrinite <10 m

e matéria vitrinítica amorfa. Ela contém mais par tículas inorgânicas submicroscópicas que os
outros macerais do grupo das vitrinites, mas o grau de homogenização não permite
distingui-las ao microscópio.

Fig. 70. Colovitrinite com algum bandamento. Fig. 71. Colovitrinite com grãos de argila. Carvão de
Carvão de Witbank, RSA. Falcon & Snyman, 1986. norte de KwaZulu-Natal, RSA. Falcon & Snyman,
1986.

A composição química e a aromaticidade dependem do grau de incarbonização. As propriedades ópticas


mostram que este maceral deve conter um maior teor de hidrogénio que a correspondente colotelinite
devido a um menor grau de aromaticidade.

A colotelinite deriva de tecidos parenquimatosos e lenhosos de raízes, caules e folhas compostas de


celulose e lenhina, cujos tecidos foram fortemente destruídos durante o início do estágio de turfa. As
minúsculas partículas estão cimentadas por colóides húmicos dentro da turfa e subsequentemente
homogenizados pela gelificação química. A origem mais provável é das celuloses do que as lenhinas.

iii) Gelovitrinite

A gelovitrinite é um subgrupo de macerais consistindo de preenchimentos coloidais de material vitrinítico em


vazios pré-existentes. O subgrupo tem dois macerais: corpogelinite e gelinite. O primeiro refere-se a
corpos isolados representando primariamente preenchimentos flobafiníticos de lúmens celulares in situ ou
isolados na matriz carbonosa ou mineral. O segundo refere-se a preenchimentos secundários de
microfissuras, clivagens e outros espaços vazios.

Provavelmente a gelocolinite tem mais de uma origem, mas em geral assume-se que deriva de conteúdos de
células vegetais ou de fluidos húmicos formados a partir dos tecidos vegetais durante a decomposição e diagénese,
e subsequentemente precipitados como geles coloidais nos espaços vazios.

iii.1. Corpogelinite

A corpogelinite é um maceral do subgrupo das gelovitrinites, consistindo de corpos


homogéneos e separados representando preenchimentos celulares. Os corpos de
corpogelinite podem ser encontrados dentro da telovitrinite nos seus locais originais de
deposição; alternativamente podem ocorrer isolados dentro da matriz atrinítica como
62
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

resultado da degradação dos tecidos vegetais. Portanto, os corpos de corpogelinite


podem ocorrer isolados ou em grupo, podendo ter forma esférica, oval ou alongada. Por
vezes contêm vacúolos (Figs. 72 e 73).

Fig. 72. Dois corpos de corpocolinite. Carvão de Fig. 73. Corpocolinite envolta por colodetrinite. Bacia do
Witbank, RSA. Falcon & Snyman, 1986. Transvaal Oriental, RSA. Falcon & Snyman, 1986.

A corpogelinite pode ser de origem primária, correspondendo aos conteúdos celulares, derivados em parte de
taninos. Também pode derivar de secreções das paredes celulares. Por outro lado, pode consistir de preen-
chimentos de cavidades em tecidos por soluções húmicas que subsequentemente precipitam como geles
durante a turbificação e nos estágios iniciais da incarbonização. O percursor da corpogelinite é a corpohuminite.

iii.2. Gelinite

A gelinite é um maceral do subgrupo das gelovitrinites consistindo de preenchimentos homogéneos de


fissuras e outros espaços.

Geralmente é de origem secundária. Pode ocorrer como uma matriz embebendo partículas de carvão
milonitizado, ou pode impregnar cavidades celulares doutros macerais (Fig. 74). O maceral forma-se de
colóides húmicos originados durante o início da diagénese do material vegetal.

A gelinite do grupo das huminites é a percursora da gelinite deste grau de incarbonização. É o menos
comum dos macerais do grupo das vitrinites.

Fig. 75. Gelinite preenchendo uma fissura numa Telinite. Carvão da Turquia.
Stach et al, 1982.

Fig. 74. Telinite com espaços celulares preenchidos


por gelinite. Carvão de Witbak, RSA. Falcon &
Snyman, 1986.

3.1.1.2. Liptinite

a) Percursores químicos e botânicos

63
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

Os macerais do grupo das liptinites provêm de materiais vegetais ricos em hidrogénio (por exemplo,
esporopolenina, cutina, súber ou cortiça, resinas, ceras, bálsamos, látex, gorduras e óleos) e de produtos de
degradação de proteínas, celulose e outros carbohidratos por acção bacteriana. Em oposição aos materiais
húmicos, as liptinites contêm grandes quantidades de constituintes alifáticos (p.ex., n-alcanos 49). Uma grande 48

parte das liptinites provém dos lípidos vegetais (substâncias gordurosas), que podem ser subdivididas, com
base na sua solubilidade em solventes orgânicos, em: grupo solúvel gorduras-ceras e grupo insolúvel
altamente polimerizado súber-cutina.

b) Alterações durante a turbificação e incarbonização

Durante a turbificação e diagénese desde o estágio de brown coals até ao dos carvões sub-betuminosos, as
liptinites são relativamente estáveis, ao contrário do que acontece com os materiais húmicos. Elas não sofrem
humificação nem gelificação e, consequentemente, os mesmos nomes de macerais podem ser usados para os
estágios de turfa, brown coal, sub-betuminoso e betuminoso.

Aproximadamente no limite entre os estágios de carvão sub-betuminoso e betuminoso, começa uma ligeira
alteração irregular dos constituintes lipídicos, que Teichmüller (1974 a,b) descreveu como o 1° salto de
incarbonização das liptinites. A alteração coincide com a formação de petróleo em rochas-mãe e, do
mesmo modo nos carvões, substâncias típicas do petróleo são formadas através de processos de
descarboxilação49 e redução, e parecem ser adsorvidas pelas substância húmicas. Só em casos raros elas
permanecem livres na forma de exsudatinite (ver adiante maceral deste grupo). Como resultado desta
alteração forma-se micrinite (do grupo das inertinites) como produto residual. Este processo dá-se para um
teor de voláteis de 44-40%.

Um 2° salto de incarbonização das liptinites, que coincide com a destruição do petróleo (i.e., conversão
em hidrocarbonetos gasosos), ocorre no estágio de betuminoso de altos voláteis (MV = 29%), e é
caracterizado por uma libertação súbita de hidrogénio e de voláteis.

Fig. 76. Liptinite (cutinite) em estágio de antracite, com poder reflector mais alto que a vitrinite. Saxónia, Alemanha. In Stach et al,
1982.

No estágio de carvão de coque (betuminoso de médios voláteis) as liptinites adquirem as propriedades


químicas e ópticas das vitrinites, das quais não se podem distinguir ao microscópio. E assim a vitrinite é um
produto da incarboniza-ção das liptinites. No estágio de antracite muitas anteriores liptinites reflectem mais que
as verdadeiras vitrinites (Fig. 76).

c) Características gerais das Liptinites

Dado que os macerais do grupo das liptinites têm origens muito variadas, é muito difícil estabelecerem-se
características comuns. Pode dizer-se que as liptinites têm um teor mais elevado de hidrogénio, têm um
48
49
Descarboxilação: processo de remoção dum grupo carboxilo dum composto químico (usualmente substituído por hidrogénio).
51
Exina: camada externa de um palinomorfo (esporo ou pólen), altamente resistente a ácidos e bases fortes, composta de
esporopolenina

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Capítulo 3 Maputo, 2005

poder reflector menor (até ao estágio de betuminoso de altos voláteis). Por outro lado, todas as liptinites se
caracterizam por apresentarem fluorescência quando irradiadas com luz UV ou azul, coisa que só acontece
nas vitrinites quando estas se encontram impregnadas de substâncias lipídicas que se libertam durante o 1°
salto de incarbonização.
Passamos a descrever os vários macerais do grupo das liptinites. São apresentadas fotografias tiradas em luz
branca e também em luz fluorescente (aspecto que será detalhado mais adiante nos métodos de análise, ponto 3.5.)

d) Esporinite

A esporinite origina-se das paredes celulares externas (exinas 51 e perinas51) de esporos e pólenes. As
50

células são compostas de esporopolenina52, que é muito resistente, altamente polimerizada, insolúvel. A sua
composição química varia, mas foi estabelecida uma fórmula empírica para a esporopolenina do
Lycopodium clavatum: C90H127O12(OH)15. Devido à sua composição química variada, as exinas de diferentes
tipos de plantas mostram resistências diferentes.

Em contraste com a esporopolenina dos pólenes e esporos actuais, a substância fóssil correspondente é
chamada de esporonina. Com o aumento da incarbonização, o teor em carbono aumenta e os teores de
oxigénio e hidrogénio diminuem

Os tipos de esporinite variam consoante a idade dos carvões. Assim, por exemplo, os carvões carboníferos
têm esporinites de Pteridófitas e pólenes de Gimnospérmicas. Os megaesporos típicos dos carvões
Paleozóicos (Fig. 77, 78a-b) são raros no Mesozóico e Cenozóico. Os carvões Gondwânicos são
relativamente pobres em esporinite (Fig. 79). No Cretácico e Terciário a esporinite passa a ser dominada
por pólenes de Angiospérmicas, diminuindo as esporinites de esporos.

Fig. 77. Desenho esquemático dum


megaesporo colapsado (Stach, 1935).

Fig. 78. a) Megaesporo dum carvão betuminoso de altos voláteis do Ruhr,


Alemanha. b) Megasporo dum carvão betuminoso de altos voláteis do Ruhr,
Alemanha. Luz Fluorescente. In Stach et al (1982)

Nem todos os esporos e pólenes são preservados. Muitos tipos


Fig. 79. Carvão gondwânico com pouca liptinite. são facilmente decompostos, em especial os que têm exinas
In Stach et al, 1982.
muito finas (p. ex., juncos, canaviais).

50
51
Perina: camada situada à volta das exinas de muitos esporos.
52
Esporopolenina: biopolímero resistente à acetilose.

65
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Capítulo 3 Maputo, 2005

O ambiente deposicional também joga um papel importante na preservação, e as turfas de influência


marinha e salobra, ao contrário das turfas de águas frescas, são caracterizadas por pequenas quantidades
de esporinite. Uma parte dos esporos e pólenes assoprados para os pântanos ficam a apodrecer no topo
das árvores onde caiem, ao passo que nos pântanos de águas abertas, eles caiem na água, não ficando
assim sujeitos ao efeito oxidante da atmosfera. O clima também influi na quantidade de esporos produzidos.

Apesar das alterações severas que a esporinite sofre no estágio de turfa, ela sofre poucas alterações até ao
estágio de betuminoso de altos voláteis B/A quando ocorre o 1º salto de incarbonização (Fig. 42). Aqui, a
cor do esporo em luz transmitida passa de amarelo a castanho. Durante o 2º salto de incarbonização, a cor
da esporinite passa rapidamente de castanho-escuro a negro e a sua reflectância aumenta tanto que os
esporos deixam de se distinguir da vitrinite.

e) Cutinite

A cutinite origina-se das camadas cuticulares e cutículas das paredes celulares das células exteriores de
folhas, caules e outras partes aéreas das plantas. As cutículas são constituídas por celulose na base,
seguida de cutina, ceras, celulose e pectina 53, no topo da qual é depositada uma película resistente à

água, composta de cutina pura (Figs. 80 e 81). As cutículas ocorrem em todas as plantas
terrestres fornecendo protecção contra a dessecação.

Fig. 81. Esquema 3D duma cutícula. In Stach et al, 1982.


Fig. 80. Esquema duma folha em corte transversal. A cutícula
vem referida com a letra k. In Stach et al, 1982.

As cutinas são compostas de ácidos gordos, são altamente polimerizadas e quimicamente semelhantes ao
súber, sendo consideradas as substâncias mais resistentes que as plantas produzem. Por isso ocrrem
muitas vezes preservadas inalteradas durante a turbificação e ainda nos primeiros estágios da
incarbonização. De facto, a cutina e as ceras associadas ainda se encontram nos brown coals.

Apesar da sua resistência, e em oposição à esporinite, a cutinite é mais rara. A possível explicação será que

ela é extremamente fina e delicada, e assim é destruída mecanicamente na parte superior


da turfa por acção dos animais. Se isso for verdade, grande parte da liptodetrinite será
constituída de detritos de cutinite.

53
Pectina: polímero natural presente na parede das células vegetais. Forma o gel das compotas.

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Capítulo 3 Maputo, 2005

Fig. 82. Cutinite fortemente denteada dum carvão turco de altos voláteis. Stach
et al, 1982.
Fig. 83. Cutinite de conífera com resinite
(r). Stach et al, 1982.

A cutinite é fortemente alterada no estágio sub-betuminoso/betuminoso, com a libertação de determinados


tipos de hidrocarbonetos (parafinas, alto peso molecular). No estágio de carvão de coque a cutinite já
reflecte mais que a vitrinite. A Fig. 76 mostra cutinites no estágio de antracite, com uma alta reflectividade.
As Figs. 82 a 85 mostram alguns aspectos de cutinite.

Fig. 85. Cutinites não denteadas dum carvão de altos voláteis do


Ruhr (Alemanha). Stach et al, 1982.
Fig. 84. Cutinite cortada horizontalmente, carvão de altos voláteis
do Ruhr (Alemanha). Stach et al, 1982.

Fig. 86. Resinite muito escura; resina bem preservada de lignite dura do Eoceno de Bornéu. Stach et al, 1982.

Fig. 87. Corpos isolados de resinite de preenchimentos celulares num carvão de altos voláteis do Ruhr (Alemanha). Stach et al, 1982.

Fig. 88 Corpo resinoso alongado mostrando zonamento num carvão de altos voláteis do Ruhr (Alemanha). Stach et al, 1982.

Fig. 89. Resinite esférica, cinzenta escura, passando gradualmente a inertinite. Carvão de altos voláteis do Ruhr (Alemanha). Stach 67
et
al, 1982.
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Capítulo 3 Maputo, 2005

f) Resinite

Todas as resinas naturais são produtos do metabolismo das plantas. As suas propriedades químicas e
físicas variam bastante. A resinite dos carvões compreende não só as resinas das plantas, mas também
outras secreções, como óleos essenciais que ocorrem nas folhas que foram transformados em resina na
forma de pequenos corpos arredondados. Nos carvões as resinites ocorrem normalmente como
preenchimentos celulares, mas também podem ocorrer em camadas ou finamente dispersas. Em corte
vertical, os corpos de resinite aparecem arredondados (esféricos ou elípticos) e com um poder reflector mais
baixo que o das esporinites e cutinites (Fig. 86 e 87). Um aspecto característico das resinites paleozóicas é
o seu aspecto zonado (Fig. 88).
Em superfície polida, muitas vezes os corpos de resinite não aparecem escuros. Em adição aos corpos
escuros também aparecem os corpos cinzentos ou mesmo brancos (Fig. 89). Isto indica que as resinites
foram sendo progressivamente transformadas em inertinite por oxidação (mesmo fenómeno que o
representado na Fig. 72, para as cutinites).

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Capítulo 3 Maputo, 2005

Se a resina for coberta por água imediatamente após a sua


libertação das plantas, ela fica preservada como resina fóssil até aos
nossos dias. Pelo contrário, se ela ficar sujeita à acção atmosférica,
sofre uma oxidação54 e por isso aparece mais branca (Fic. 89), pois
torna-se mais pobre em hidrogénio e mais rica em carbono.

Fig. 90. Duas algas recentes do género


Botryococcus braunii em luz transmitida.

Fig. 91. Colónia de algas Pila (LF)

Fig. 92. Colónias de algas Pila em luz


fluorescente.

Fig. 93. Algas Reinschia

Fig. 94. Algas Reinschia


Imagens in Stach et al 1982

O poder reflector da resinite aumenta com o grau, e as alterações químicas ao longo da incarbonização são
semelhantes às sofridas pelos outros macerais do grupo das liptinites.

g) Alginite

54
As resinas são compostos não saturados, por isso têm tendência a captar oxigénio.

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Capítulo 3 Maputo, 2005

A alginite forma-se a partir de espécies de algas particularmente ricas em óleos. A alginite não ocorre
normalmente em carvões húmicos, mas sim em carvões boghead e cannel: Pila e Reinschia no
Carbonífero, e Tasmanite no Jurássico-Cretácico. As Figs. 90 a 94 mostram alguns aspectos de alginites.

h) Suberinite

A suberinite (Fig. 95, Fig 50a-d) é só encontrada em carvões Terciários e alguns Mesozóicos. A suberina
encontra-se em alguma paredes celulares (cortiça) que ocorrem em cascas e à superfície de raízes, caules
e frutos, agindo como protector contra a dessecação. A suberina é semelhante à cutina, mas menos

Fig. 95. Suberinite (paredes celulares) com preenchimentos de flobafinite. In Stach et al 1982.
polimerizada e por isso mais facilmente atacada.

i) Exsudatinite
Este maceral aparece no limite entre os estágios de carvão sub-betuminoso/betuminoso. Ele desenvolve-se a
partir dos constituintes lipídicos das liptinites e a sua génese está relacionada com o apa-recimento dos
hidrocarbonetos líquidos (1º salto de incarbonização). O seu nome provém do facto de ele parecer resultado do
“suor” das liptinites: do Latim exsudare = suar. A Fig. 96 mostra vários aspectos de exsudatinite. As imagens d-e
da figura mostram exsudatinites oxidadas, já com características da inertinite (comparar com a Fig. 76).

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Fig. 97. Betuminite com micrinite como matriz de corpogelinite (c), vitrodetri-nite (v) e inertodetrinite (i). Stach et al 1982.

Fig. 96. Exemplos de exsudatinite. a) e b) Exsudatinite preenchendo espaços de fissuras e de células de tecidos vegetais; c)
Exsudatinite preenchendo fissuras; d) e e) Meta-exsudatinite. in Stach et al (1982).

j) Betuminite

A betuminite caracteriza-se por falta de forma própria (Fig. 97). Diferencia-se da exsudatinite por ser autóctone e
ocorrer entre os planos de acamação. Aparece como matriz de outros macerais, apresentando uma estrutura
granular (Fig. 97). Apesar de ocorrer em carvões húmicos, a betuminite é característica de carvões subaquáticos.

No estágio de altos voláteis a betuminite origina hidrocarbonetos, deixando um resíduo sólido de micrinite
(ver inertinites)

k) Clorofilinite

A clorofilinite é um maceral que resulta da preservação de grãos de clorofila das folhas. Ocorre em especial
nos “carvões de folhas” (estágio brown coal) do Terciário e como tal associada à cutinite, maceral de que
este tipo de carvões é muito rico.

l)

Fig. 98. Fluorinite em luz natural (a) e fluorescente (b). Stach et al 1982
Fluorinite

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Capítulo 3 Maputo, 2005

A fluorinite é um maceral do grupo das liptinites que se forma a partir de óleos vegetais (Teichmüller, 1974b)
e apresenta geralmente uma forte fluorescência. Devido ao seu aspecto negro em luz transmitida branca,
ela foi confundida com lentes de argila (Fig. 98)

m) Liptodetrinite

Liptodetrinite é um termo colectivo para constituintes liptiníticos de diferentes formas que, devido ao seu
aspecto detrítico, não podem ser atribuídos a nunhum maceral do grupo da Liptinite. São fragmentos ou
resíduos de degradação de esporos, cutículas, corpos resinosos, algas, etc. (Fig. 99). A liptodetrinite parece
ser característica de carvões de deposição sub-aquática. Devido à sua origem de vários macerais do grupo,
as liptodetrinites têm propriedades físicas, químicas e ópticas muito variáveis.

Em luz reflectida branca, é difícil distinguir a liptodetrinite dos minerais de argila. A introdução de
fluorescência permitiu distinguir estes fragmentos.

3.1.1.3. Inertinite
a) Percursores químicos e botânicos

Os percursores químicos e botânicos das inertinites são basicamente os mesmos que os das
huminite/vitrinites, em especial as celuloses e lenhinas das paredes celulares das plantas (Tab. 8). Contudo,
esses constituintes sofrem uma história completamente diferente, descrita como fusinitização. Este
processo produz substâncias com conteúdo de carbono relativamente alto e de hidrogénio baixo. Devido a
um maior grau de aromatização e condensação, a reflectividade das inertinites é substancialmente maior
que a das correspondentes vitrinites. Vários fenómenos que ocorrem antes da deposição ou à superfície da

Fig. 99. Liptodetrinite (l), esporinite (s) e resinite (r). Stach et al 1982.
turfa causam fusinitização: charring, oxidação, humificação, e ataque por fungos.

O alto grau de reflectividade típico dalgumas inertinites por vezes já está determinado nas plantas vivas, por
exemplo, os fungos. As inertinites podem originar-se também a partir dos outros macerais durante a
incarbonização geoquímica. As Figs. 76 e 96 mostram inertinites originadas de liptinites.

b) Alteração durante a turbificação e incarbonização

A maioria das inertinites sofre pouca alteração durante a incarbonização porque elas já estão ‘pré-
incarbonizadas’. Alguns macerais que resultam do charring tornam-se pouco reactivos devido a uma pré-

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Capítulo 3 Maputo, 2005

desgasificação severa. Outros macerais possuem moléculas altamente condensadas que só com muita
dificuldade são atacadas. O grau de possível alteração depende do grau de fusinitização. Assim, uns
macerais são mais alterados que outros.

Durante a incarbonização, as inertinites perdem o restante do oxigénio e hidrogénio, tornando-se


enriquecidos em carbono., o que é acompanhado por um ligeiro aumento da sua reflectividade.

c) Fusinite

O termo foi introduzido por Stopes (1935) para designar um constituinte opaco em luz transmitida e que
apresenta estrutura celular. O termo vem do Latim fusus = fuso, fibra.

Fig. 100. Fusinite mostrando estrutura em crivo. Stach et al, 1982

Fig. 101. Fusinite com estrutura bogen Stach et al, 1982.

É um maceral do grupo da inertinite que mostra alto poder reflector, estrutura celular bem preservada de
pelo menos uma célula de parênquima, colênquima ou esclerêrnquima. A fusinite ocorre tanto como tecido
celular bem preservado (Fig. 100; estrutura em crivo) ou como fragmentos arqueados de tecidos celulares
anteriores (Fig. 101; estrutura bogen ou estrelada).

A Fusinite também pode apresentar paredes celulares inchadas. Dependendo da planta de origem, do grau
de destruição microbiana e da orientação da secção polida, os lúmens podem apresentar várias formas e
tamanhos. Estes lúmens podem estar vazios ou preenchidos por outros macerais e minerais (Fig. 102).
Importante notar que tecidos celulares de origem fúngica não são considerados fusinite, mas sim funginite.

Fig. 102. Pirofusinite com lúmens preenchidos por argilas. Carvão de Moatize, Camada Chipanga. Foto de L.Vasconcelos, 1995)

Ao microscópio, as fusinites são brancas acinzentadas a amareladas. A reflectividade é geralmente alta, mas
também aumenta com o grau de incarbonização. Não apresenta anisotropia óptica.

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Quimicamente a fusinite caracteriza-se por um teor de carbono relativamente alto e baixos teores de
hidrogénio, oxigénio e outros voláteis. Quanto maior a reflectância maior o teor em carbono. O maceral
contém um alto teor de estruturas aromáticas em anel.
A Fusinite origina-se de paredes celulares ligno-celulósicas. Alguma fusinite provém de fogos naturais que
resultam na formação de charcoal fóssil. A fusinite com esta origem leva o nome de pirofusinite (Fig. 103).

Fig. 103. Pirofusinite. Stach et al 1982

Fig. 104. Degradofusinite (fonte desconhecida)

Fig. 105. Fusinite primária. Stach et al, 1982.


Outra fusinite resulta da descarboxilação dos tecidos vegetais com a ajuda de fungos e bactérias ou por
desidratação e meteorização. Esta fusinite leva o nome de degradofusinite (Fig. 104). Acontece ainda a
fusinite poder formar-se durante a incarbonização geoquímica a partir de tecidos celulares huminíticos-
liptiníticos (veja Fig. 76). Esta fusinite chama-se fusinite de grau. Finalmente, a fusinite pode originar-se de
partes das plantas que já apresentam as características físicas de fusinite ainda no estado vivo. É a
chamada fusinite primária (Fig. 105).

d) Semifusinite

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O termo foi usado pela primeira vez por Jongman et al (1938) para descrever um maceral com propriedades
intermédias entre as da fusinite e as da telinite. Apresenta assim uma reflectividade intermédia entre as das
huminites/vitinites e das fusinites do mesmo carvão.

Os lúmens celulares são vagos ou parcialmente visíveis (Fig. 106), e variam em tamanho e forma mesmo
dentro da mesma partícula, mas são geralmente menores que os lúmens dos correspondentes tecidos
fusiníticos. Do mesmo modo que as fusinites, os lúmens das semifusinites podem estar vazios ou
preenchidos com outros macerais e minerais.

Fig. 106. Semifusinites. a) Comparar o poder reflector com o da fusinite acompanhante; b) Tecido celular menos visível que o anterior;
notar o poder reflector intermédio entre o da vitrinite e o da fusinite. Fotos no Fuel, 80 (2001): 459-471.

A composição química das semifusinites é intermédia entre as das huminites/ /vitrinites e das fusinites do mesmo
carvão. Quanto maior o poder reflector, menor o teor de hidrogénio e maior o teor de carbono.

A semifusinite origina-se de parênquimas e xilemas de ramos, plantas herbáceas e folhas compostas de


celulose e lenhina. Forma-se no estágio de turfa por humificação fraca, desidratação e redução. À
semelhança da fusinite, também pode ocorrer piro- e degradosemifusinite.

Fig. 107. a) Funginite de esporos (Sp) e esclerotos (Sc); b) Funginite de hifas. In Fuel 80 (2001) ): 459-471.

e) Funginite

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O termo foi proposto por Benes (1958) e apresentado oralmente por Lyons (1996) ao ICCP, que adoptou o
termo para designar restos de fungos (Latim fungus = cogumelo). Nota: antes de 1996, a funginite era
designada por esclerotinite, maceral que englobava também o novo maceral Secretinite.

A funginite é um maceral constituído por esporos de fungos uni- e multicelulares, esclerotos, hifas, micélios e outros
restos de fungos, e que apresentam alto poder reflector. As Figs. 107 e 108 dão alguns aspectos de funginites.

Os restos de fungos são constituídos de quitina, um polissacarídeo de nitrogénio insolúvel em água e bases
e ácidos fracos. O seu alto poder reflector é devido ao pigmento melanina.

f) Secretinite

Fig. 108. Vários aspectos de funginites de esporos. Stach et al, 1982

O termo foi proposto por Lyons et al (1986) para um maceral que mostra forma redonda a alongada, sem
estrutura celular, com alta reflectividade, e adoptado pelo ICCP em 1997. Do Latim secretio = secreção. Pode
apresentar ou não vacúolos (Fig. 109).

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Se bem que geralmente esférica, subesférica ou elipsoidal, a secretinite pode aparecer na forma de

Fig. 109. Vários aspectos de secretinite. a) Secretinite sub-esférica com alto relevo e alta reflectividade e fissuras internas; b-c-d)
Secretinites ovaladas e poligonal (d), com vacúolos e indentações (b); e-f) Secretinites com fissuras internas e orlas de oxidação. Foto
a) in Fuel 80 (2001): 459-471. Restantes in Stach et al, 1982.
crescente ou poligonal (Fig. 109d). Pode atingir dimensões inferiores a 10 m, mas geralmente varia de 60-

Fig. 110. Macrinite oval (branca) em contacto com uma Corpogelinite. Falcon & Snyman 1986.

Fig. 111. Partícula de Macrinite. In Stach et al 1982.


400 m, podendo atingir mais de 2000 m nas formas alongadas.

Podem apresentar fissuras (Fig. 109a, e, f), orlas de oxidação (Fig. 109e) e indentação (Fig. 109b).
Internamente pode apresentar um aspecto fluído devido à fluidez das secrecções.

A secretinite distingue-se da macrinite pela sua forma arredondada e maior relevo, e da corpogelinite pela
sua maior reflectividade e dimensão, e ainda pela presença das fissuras, orlas de oxidação e vacúolos.

A origem não é muito clara. Considera-se geralmente que ela resulta da oxidação de resinas, mas também
de geles húmicos que se formaram em canais secretórios de várias plantas.

g) Macrinite

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Termo introduzido por Stach & Alpern (1963) para designar ocorrências relativamente grandes de inertinite
sem estrutura celular e compactas. O termo deriva do Grego makros = grande. O termo aplica-se a inertinite
que
aparece
como
matriz
amorfa ou
como
corpos
isolados
de forma
variável, Fig. 112. Partículas de Macrinite (Ma). Fuel 80 (2001), 459–471

geralmente alongados em corte perpendicular à estratificação. Na sua estrutura pode gradar para
semifusinite.

A sua cor pode variar entre o cinzento e o branco, e o seu poder reflector varia bastante, mas sempre maior
que o da vitrinite.

As bandas e agregados de macrinite provavelmente originam-se de substâncias húmicas floculadas que


sofreram desidratação e processo de redox num estágio inicial da turbificação, devido a uma descida
temporária da toalha freática. Também pode ter origem em produtos de metabolismo de bactérias e fungos.

h) Micrinite

A micrinite é um maceral do grupo da inertinite que ocorre em grãos arredondados muito pequenos (Figs.
113). Devido à dificuldade de distinguir a micrinite de outros fragmentos inertiníticos, a micrinite, por razões
práticas, é separada da inertodetrinite por um limite superior de 2m. Os agregados de micrinite diferem da
macrinite pela sua granularidade.

A micrinite é cinzenta clara a branca. A reflectância é maior que a da vitrinite acompanhante mas muitas
vezes inferior à das outras inertinites acompanhantes. Para um poder reflector da vitrinite de 1.4%, o poder
reflector da micrinite iguala o da vitrinite, deixando de se poder distinguir.

Devido ao seu tamanho e à dificuldade de isolar as partículas de micrinite, não há dados sobre a sua
composição química. Contudo, sabe-se que a micrinite liberta mais voláteis que qualquer dos outros
macerais do grupo.

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Capítulo 3 Maputo, 2005

Fig. 113. Vários aspectos de Micrinite. a) Agregados de grânulos muito finos de micrinite; b) Grânulos isolados de micrinite com
inertodetrinite (maiores); c) Micrinite, macrinite e inertodetrinite. Três fotos in Fuel 80 (2001), 459–471

A micrinite é um termo colectivo aplicado a inertinites de grão muito fino que podem ter várias origens.
Alguma micrinite é um maceral secundário que aparece durante a incarbonização geoquímica. Ela
representa tanto produtos de incarbonização de esclerênquima ou, mais comummente, como resíduos de
substâncias lipídicas anteriores. A micrinite também pode formar-se como produto de forte fragmentação de
outras inertinites.

i) Inertodetrinite

Termo introduzido em 1964 para designar fragmentos de inertinite sem estrutura microscópica reconhecível, e com
várias formas, e com dimensões
<10 m (Fig. 113b-c). Note-se
que partículas isoladas de
fusinite de estrutura estrelada
são contadas como fusinite,
independentemente do seu
tamanho.
Fig. 114. Partículas de Inertodetrinite e algumas de vitrodetrinite (mais cinzentas). Stach et al,
1982.

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Em função dos seus percursores inertiníticos, a cor e a reflectividade variam dentro do mesmo carvão. No
grau entre 0.5% e 1.4% de poder reflector da vitrinite, pode observar-se a transição entre a inertodetrinite e
a vitrodetrinite (Fig. 114). Provindo de vários tipos de inertinites, a composição química da inertinite é
também variável.

A inertodetrinite tem vários percursores vegetais, os quais foram todos sujeitos a uma certa fusinitização:
paredes celulares e seus conteúdos, flobafenos, esporos oxidados, tecidos fúngicos, etc. Outras inertinites
resultam de partículas de fogos de florestas (dentro ou à volta da turfeira) soprados pelo vento. Resultam
ainda de acção mecânica (milonitização, por exemplo).

j)

Fig. 115. Carbono pirolítico com estrutura radial e concêntrica. Carvão afectado térmicamente. Vryheid, KwaZulu-Natal, África do Sul.
In Falcon & Snyman, 1986.
Pirolitinite ou Carbono Pirolítico

O carbono pirolítico ou pirolitinite é um componente orgânico geralmente não categorizado como maceral
nos sistemas normais de classificação. Contudo, pela sua alta reflectividade e pelo seu alto teor em
carbono, ele é incluído no grupo da Inertinite.

A mais importante característica diagnóstica deste componente é o seu crescimento mostrando estrutura
radial e concêntrica (Fig. 115).

Este componente aparece junto a intrusões ígneas que afectam camadas de carvão. Ele resulta da
deposição de carbono a partir de fases gasosas por um processo de cracking molecular de voláteis
libertados pelas intrusões.

Este carbono pirolítico pode assumir várias formas mas geralmente ocorre em leitos de 1 a 10 m de
espessura, ou preenchendo fissuras. Também pode aparecer em carves sem efeitos de metamorfismo
térmico, sugerindo que os gases que lhe dão origem podem migrar a grandes distâncias.

3.1.2. Minerais

Além das substâncias puramente orgânicas, o carvão pode conter ainda maiores ou menores quantidades
de substâncias inorgânicas, que são a fracção não combustível do carvão. Esta fracção pode ser
classificada em três grupos em função da sua origem:

a) Matéria inorgânica da própria planta;

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Capítulo 3 Maputo, 2005

b) Complexos organo-minerais e minerais formados durante o primeiro estágio de incarbonização


enquanto o carvão se forma;

c) Minerais formados durante o segundo estágio de incarbonização após a consolidação do carvão

Em geral, a quantidade de matéria orgânica da própria planta ocorre em quantidades muito pequenas,
sendo muitas vezes difícil de a distinguir dos minerais das outras origens.

Quanto aos minerais formados durante o 1º estágio de incarbonização, há a considerar os minerais


detríticos e os de neoformação (Tabela 9). Os primeiros referem-se aos minerais transportados para a
turfeira por acção das águas e dos ventos. Os segundos referem-se a minerais precipitados a partir das
substâncias dissolvidas ou em suspensão coloidal presentes nas águas (fluviais e da toalha freática). São
minerais autigénicos.

Os minerais formados durante o 2º estágio de incarbonização são todos autigénicos. Eles podem formar-
se por precipitação a partir dos fluídos que circulam entre os espaços vazios do carvão, depositando-se em
fissuras, clivagens, e espaços celulares de tecidos vegetais, ou por transformação de minerais
previamente existentes.

Tabela 9. Minerais do carvão. Adaptado de Thomas, 1992.


1º Estágio de Incarbonização: 2º Estágio de Incarbonização:
 Singenéticos, Sin-sedimentares,  Epigenéticos
Início da diagénese (intimamente
intercrescidos)
Transportados pela De Neoformação Depositados em Transformação de
água e vento fissuras, clivagens e minerais singenéticos
cavidades (intimamente
(intercrescimento intercrescidos)
grosseiro)
Grupo Mineral DETRÍTICOS AUTIGÉNICOS
Argilas Caulinite, Ilite, sericite, Ilite, clorite
minerais de estrutura de
camada mista,
montmorillonite, smectite
(tonstein)
Carbonatos - Concreções de siderite- Ankerite, calcite, -
ankerite, dolomite, dolomite
calcite, ankerite, siderite
Sulfuretos - Pirite, melnikovite, Pirite, marcassite, Pirite a partir de
marcassite, concreções blenda, galena, transformação de FeCO3
de pirite-calcopirite- calcopirite
blenda
Óxidos/Hidróxidos - Hematite Goethite, lepidocrocite Goethite, lepidocrocite

Quartzo Grãos de quartzo Calcedónia e quartzo de Quartzo -


meteorização de
feldspatos e mica
Fosfatos Apatite Fosforite, apatite - -

Outros Minerais Zircão, rútilo, turmalina, - Cloretos, sulfatos, Cloretos, sulfatos,


ortóclase, biotite nitratos nitratos
NB. Esta lista não reflecte todos os minerais passíveis de ocorrer no carvão, mas sim aqueles que são mais frequentes.

3.1.2.1. Minerais de Argila

81
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Capítulo 3 Maputo, 2005

São de longe os minerais mais abundantes nos carvões em regra geral, representando cerca de 60-80% da
matéria mineral do carvão (Stach et al, 1982). Como se pode ver das Figs. 116, 117 e 118, os minerais de
argila ocorrem em três maneiras principais:

 Inclusões finamente dispersas no carvão (Fig. 116);

 Como tonsteins (Fig. 117); ou

 Preenchendo lúmens celulares de tecidos da vitrinite e/ou inertinite (Fig. 118).

Fig. 116. Finas intercalações de minerais de Argila em Fig. 117. Lente de minerais de Argila – Tonstein – em
vitrinite, associadas a inertodetrinites. Carvão da camada colotelinite. Carvão da camada Chipanga, Moatize,
Chipanga, Moatize, Vasconcelos, 1995. Vasconcelos, 1995.

Fig. 118. Minerais de Argila preenchendo lúmens da fusinite. À direita observação em luz ultravioleta, pondo em
evidência a estrutura lamelar das argilas. Carvão da camada Chipanga, Moatize, Vasconcelos, 1995.

Os minerais de argila têm tendência a inchar na presença de água. Estas propriedades são mais fortes nos
minerais do grupo da montmorillonite. O inchamento é sempre acompanhado de perda de resistência,
podendo levar à desintegração completa.

Fig. 119. Minerais de Argila ao microscópio electrónico, podendo ver-se a estrutura de filossilicato. Stach et al, 1982.

Muitas vezes as bandas de tonstein estendem-se por toda a bacia, de modo que, nestes casos, elas podem
ser utilizadas como marcadores estratigráficos para correlacionar camadas de campos carboníferos
diferentes da mesma bacia.

82
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

Enquanto que o diâmetro das partículas finamente dispersas não excede alguns micra, os tonsteins podem
atingir espessuras de alguns milímetros a alguns centímetros, de modo a poderem ser vistos a olho-nú. A Fig.
119 mostra fotografias ao microscópio electrónico de minerais de argila.

3.1.2.2. Carbonatos

Os minerais do grupo dos carbonatos são os mais frequentes a seguir às argilas. Eles podem formar-se
quer no 1º estágio de incarbonização quer no segundo (Tab. 9). Os tipos singenéticos são geralmente
constituídos de concreções de siderite (FeCO3) (Fig. 120) e de dolomite (CaMg(CO3)2) (Fig. 121) finamente
dispersa. A presença de siderite indica normalmente ambiente anaeróbico. A dolomite indica influência
marinha. Ou seja, estes dois minerais formam-se geralmente durante o 1º estágio de incarbonização.

Fig. 120. Concreções de siderite.


Fig. 122.
Fig. Fusinite
121. impregnada
Cristais idiomórficosdedecarbonatos. Stachetetal,
dolomite. Stach al,1982
1982.
Stach et al, 1982

A calcite
(CaCO3)
e a
ankerite

Fig. 123. Calcite preenchendo fissuras. Stach et al, 1982.


(Ca(Fe,Mg,Mn)(CO3)2), por seu lado, já se formam geralmente durante o 2º estágio de incarbonização,
depositando-se em espaços abertos (Fig. 122 e Fig. 123).

3.1.2.3. Sulfuretos

Os sulfuretos mais comuns do carvão são a pirite (FeS 2), a marcassite (FeS2) e a melnikovite (Fe3S4)-pirite.
Além destes, as camadas de carvão têm geralmente pequenas quantidades de blenda, galena e calcopirite,
em particular se ocorrem veios hidrotermais na proximidade.

83
Fig.
Fig. 124. Paredes 125. Pirite
celulares em concreções.
mineralizadas Stach etdeal,pirite.
1982.Stach et al, 1982.
Fig. 126. Pirite epigenéticanum nódulo
depositada em fracturas. Stach et al, 1982.
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Capítulo 3 Maputo, 2005

Durante os primeiros estágios de incarbonização ocorre pirite singenética ou no início da diagénese, de


aspecto finamente cristalino ou concrecionário. Um fenómeno raro é a substituição das paredes celulares
por pirite. (Fig. 124). Por seu lado, a Fig. 125 mostra pirite em pequenos grânulos e concreções numa
situação comum a carvões ricos em vitrinite e carvões sapropélicos. Em geral, os carvões depositados em
bacias parálicas são mais ricos em pirite que os carvões das bacias límnicas.

Fig. 127. Sulfureto em lúmens de fusinite. Moatize. Vasconcelos, 1995.

Os sulfuretos depositados em fissuras durante o 2º estágio de incarbonização (Fig. 126) contêm geralmente
marcassite e traços de galena, esfalerite e calcopirite, bem como pirite. A siderite primária pode ser
transformada em pirite por acção dos fluídos ascendentes/descendentes contendo H2S em solução. A
impregnação de lúmens celulares por pirite (Fig. 127) tanto pode ocorrer no primeiro como no segundo estágio
de incarbonização.

Fig. 128. Grão de quartzo com agulhas de rútilo. Moatize. Vasconcelos, 1995.

3.1.2.4. Óxidos e Hidróxidos

Os óxidos e hidróxidos raramente ocorrem no carvão – hematite, rútilo, limonite, goethite - pelo que não se
irá entrar em detalhes. A Fig. 128. mostra um grão de quartzo com agulhas de rútilo.

3.1.2.5. Quartzo

84
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

O quartzo, apesar de óxido, é tratado à parte por ser o mais importante e o mais abundante. Ele pode ter
duas
origens
principais:

Fig. 129. Grãos clásticos de quartzo. Stach et al, 1982.

a) quartzo clástico trazido pela água ou ar (Fig. 129). , ocorrendo como areia de grãos mais ou menos
arredondados, e

b) quartzo formado mais recentemente a partir de soluções, e geralmente de estrutura microcristalina.

A sílica dissolvida é geralmente o resultado de meteorização do feldspato e mica; assim, não é de estranhar
que esta sílica ocorra geralmente em conjunto com outros minerais finamente dispersos.

A identificação do quartzo no carvão é essencial para a prevenção da silicose.

Fig. 131. Cristais de Apatite em matriz argilosa. Carvão de Moatize, Moçambique. Topo-LN; Baixo-LF. Vasconcelos, 1995

3.1.2.6. Fosfatos

Os fosfatos mais frequentes são: fosforite (Fig. 130) e apatite (Fig. 131).

Na Fig. 131 a apatite ocorre misturada com os minerais de argila e ele são mais facilmente identificáveis em

Fig. 130. Fosforite depositada a partir duma solução coloidal. Stach et al, 1982.
luz fluorescente, pondo o seu controno hexagonal em evidência.

85
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

3.1.2.7. Outros Minerais

Vários outros minerais podem ocorrer (raramente) no carvão, e geralmente em quantidades muito
diminutas.

O zircão é um mineral que geralmente ocorre em grãos muito pequenos e que geralmente é identificado
pelo halo pleocróico à sua volta provocado pelas radiações emitidas pelos elementos radioactivos que
normalmente contém (Fig. 132). A turmalina, granada e micas são raras. Também podem ocorrer sais –
cloretos, sulfatos e nitratos. A Fig. 133 mostra um cristal dum mineral que aparente ser um sal devido à sua
forma cúbica e à sua transparência.

Fig. 133. Cristal dum sal com tendência cúbica.


Carvão de Moatize, Moçambique. Vasconcelos,
1995
Fig. 132. Cristal idiomórfico de zircão com halo
radioactivo provocando o aumento do grau de
incarbonização da vitrinite envolvente. Stach et
al, 1982

3.1.2.8. Influência da Matéria Mineral no Ambiente e Processos Tecnológicos

Os sulfuretos têm sido os minerais do carvão mais estudados uma vez que contribuem significativamente
para o teor de enxofre total que tantos problemas provocam quer nos processos industriais quer no
ambiente (Fonseca, 2001)

Os carbonatos fazem baixar a temperatura de fusão das cinzas devido ao facto de, às temperaturas de
combustão, os carbonatos transformam-se em óxidos que, juntamente com os minerais de sílica, formam
silicatos com ponto de fusão significativamente mais baixo.

Os sulfatos são solúveis em água e contribuem para as águas ácidas de drenagem das minas. Por seu
lado, os minerais de fósforo são nocivos no processo de carbonização. Os cloretos provocam corrosão e
fouling55 durante a combustão. Os nitratos dão origem a águas extremamente corrosivas.

Outros exemplos se poderiam dar, mas com os acima mencionados já se percebe a importância do
conhecimento profundo da matéria mineral dos carvões para se poder antever os problemas que podem
resultar dos processos de extracção e aplicação do carvão.

3.1.3. Microlitótipos
3.1.3.1. O Conceito de Microlitótipo

55
Formação de depósitos sólidos nas superfícies internas dos fornos

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Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

Os macerais do carvão, em especial os do grupo das liptinites, a micrinite e a macrinite, raramente ocorrem
sozinhos. Geralmente eles aparecem associados com outros macerais do mesmo grupo e/ou doutros
grupos. Tais associações são chamadas de microlitótipos.

Os microlitótipos são divididos em três grupos, a saber: microlitótipos monomacerais (ou monomacerites),
bimacerais (ou bimacerites) e trimacerais (ou trimacerites), dependendo se o microlitótipo contém
macerais de um, dois ou três grupos macerais. Todos os microlitótipos levam o sufixo -ite para os distinguir
dos macerais que levam o sufixo -inite.

Para se poder fazer uma demarcação clara entre os diferentes microlitótipos, o ICCP concordou com duas
convenções:

a) largura mínima da banda em micra;

b) regra dos 5%

A primeira convenção diz que numa análise um microlitótipo só pode ser registado como tal se, numa
superfície polida perpendicular à acamação, ele tiver uma espessura mínima de 50 m ou cobrir uma
superfície de 50x50 m2. A regra dos 5% provém do facto de que nem as monomacerites nem as
bimacerites são compostos única e exclusivamente de macerais de um ou dois grupos, respectivamente. De
acordo com esta convenção, uma monomacerite ou uma bimacerite pode conter até 5% de macerais
acessórios, ou seja, macerais que por definição não pertencem a esse microlitótipo. A Tabela 10 mostra a
classificação dos microlitótipos dos carvões betuminosos e a sua composição por grupos macerais e
macerais individuais.

Tabela 10. Sumário dos microlitótipos (adaptado de Stach et al, 1982).

Composição
Grupo maceral Grupo de
Maceral Microlitótipo
(sem minerais) Microlitótipo
(sem minerais)
Colinite* >95% Colite**
Telinite >95% Telite** V > 95% VITRITE
Vidrodetrinite >95% Vitrodetrite?
Esporinite >95% Esporite
MONOMACERITES

Cutinite >95% Cutite**


Resinite >95% Resite** L > 95% LIPTITE
Alginite >95% Algite
Liptodetrinite >95% Liptodetrite?
Semifusinite >95% Semifusite
Fusinite >95% Fusite
Funginite >95%
Esclerotinite* Esclerotite** I > 95% INERTITE
Secretinite >95%
Inertodetrinite >95% Inertodetrite
Macrinite >95% Macroíte**
Vitrinite+Esporinite >95% Esporoclarite
Vitrinite+Cutinite >95% Cuticoclarite CLARITE
BIMACERITES

V + L > 95%
Vitrinite+Resinite >95% Resitoclarite** V, L
Vitrinite+Liptodetrinite >95%
Vitrinite+Macrinite >95% V + I > 95% VITRINERTITE
Vitrinite+Semifusinite >95% V, I
Vitrinite+Fusinite >95%
Vitrinite+Esclerotinite* >95%

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Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

Vitrinite+Inertodetrinite >95%
Inertinite+Esporinite >95% Esporodurite
Inertinite+Cutinite >95% Cuticodurite** DURITE
I + L > 95%
Inertinite+Resinite >95% Resinodurite** I, L
Inertinite+Liptodetrinite >95%
Duroclarite V > I,E
Vitrinite+Inertinite+Liptinite >5% Vitrinertoliptite L > V,I TRIMACERITES
Clarodurite I > V,L
* Antiga classificação de macerais
** Termos em desuso mesmo antes da nova classificação de macerais
NB. Em relação a esta tabela, há a referir que ela se refere à antiga classificação de vitrinites e inertinites, não tendo ainda sido
adaptada à nova nomenclatura. Este processo está em andamento a nível dum grupo de trabalho do ICCP.

A monomacerite vitrite, por exemplo, deve conter não menos de 95% de macerais do grupo da vitrinite e
não mais de 5% dos outros macerais (liptinite e/ou inertinite).

Os microlitótipos do grupo das bimacerites podem ser subdivididos em dois subgrupos, em função do
maceral dominante. Assim, por exemplo, a clarite (V+L > 95%) pode ser subdividido em Clarite V e Clarite L
consoante a vitrinite é mais abundante que a liptinite ou vice-versa.

No caso das trimacerites, definem-se três microlitótipos em função do grupo maceral dominante. Assim, uma
duroclarite contém macerais dos três grupos, mas a vitrinite domina sobre a liptinite e inertinite. Há que referir que
a vitrinertoliptite é um microlitótipo extremamente raro nos carvões, aparecendo geralmente nos carvões
sapropélicos. O diagrama ternário da Fig. 134 mostra os limites da composição maceral dois vários microlitótipos.

Fig. 134. Diagrama ternário da composição dos microlitótipos em termos de macerais.

3.1.3.2. Monomacerites

Como atrás se disse, uma monomacerite é um microlitótipo composto por macerais de um único grupo
maceral. Há a considerar as Vitrites (se constituídas só de vitrinites), as Liptites (se constituídas só de
liptinites) e as Inertites (se constituídas só por inertinites).

a) Vitrite

88
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Capítulo 3 Maputo, 2005

Se o grupo maceral vitrinite ocorrer em bandas com uma espessura >50 m, esse ele é chamado de vitrite. A
vitrite corresponde a cerca de 40-50% dos microlitótipos dos carvões do Carbonífero do Hemisfério Norte, mas já
ocorre entre 20-30% em carvões Gondwânicos (Permo-Carbonífero) do Hemisfério Sul.

A vitrite geralmente ocorre na forma de camadas com alguns milímetros de espessura e limitada extensão
lateral, sendo geralmente lentes alongadas que afilam para as extremidades.

Geralmente as vitrites são constituídas por vitrinites gelificadas (Fig. 135) ou detríticas (vitrodetrinite).
Raramente as telinites aparecem em dimensões suficientes para constituírem um microlitótipo, e quando
aparecem, os seus espaços celulares estão geralmente ocupados por outros macerais (aí passa a chamar-
se bimacerite) ou minerais (carbominerites – Fig. 136; ver adiante, ponto 3.1.4.).

Fig. 135. Vitrite constituída por telinite (Telite) e pequenas partículas de argilas. Carvão betuminoso de médios voláteis, KwaZulu-Natal,
RSA. Falcon & Snyman, 1986.

A vitrite é o microlitótipo mais homogéneo dos carvões. Contudo certas heterogeneidades podem ser postas
a nu usando técnicas próprias. Em comparação com as outras monomacerites, as vitrites ocorrem muitas
vezes em lentes de espessura suficiente para serem observadas à vista desarmada, podendo facilmente ser
separadas com uma pinça, colhendo-se material suficiente para se fazerem variadas análises para
determinação do grau de incarbonização.

Fig. 136. Exemplo duma telinite com lúmens preenchidos por minerais de argila.

Também é o único microlitótipo cujas propriedades variam progressivamente com a incarbonização, já que
é constituído por >95% de vitrinite. Por outro lado a vitrite está muitas vezes livre de minerais, que afectam a
determinação do grau de incarbonização.

As bandas de vitrite provêm geralmente de ramos, troncos ou raízes lenhificadas, sendo por isso
abundantes em carvões resultantes de pântanos de floresta. No estágio de soft brown coal ocorrem ainda
muitas vezes pedaços visíveis a olho nu de material lenhoso - xilite.

As condições necessárias para a preservação dos ramos e troncos como vitrite é a protecção da atmosfera,
o que é garantido por uma toalha freática alta. Quando as árvores morrem, ou caiem por acção do vento e
não são rapidamente englobadas na turfa, ocorre o apodrecimento total ou, quando muito, a produção de
detritos húmicos (inertinite). Este processo é tanto mais rápido quanto menos resistente for a madeira.

89
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Capítulo 3 Maputo, 2005

b)

Fig. 137. Dois tipos de Liptite. Topo: Esporite; com algumas partículas de inertodetrinite. Carvão betuminoso de altos voláteis,
Zimbabwe. Baixo: Cutite de cutículas compactadas. Carvão betuminoso de altos voláteis, Witbank, RSA. Falcon & Snyman, 1986.
Liptite

É um grupo de microlitótipos que ocorre muito raramente. Geralmente ocorrem na forma de lentes finas
sempre depositadas subaquaticamente. A esporite (Fig. 137, topo) forma-se pela deposição de esporos e
pólenes levados de terra firme e é o constituinte dominante dos carvões cannel (sapropélicos). A algite é
mais abundante que a esporite, ocorrendo em carvões boghead (sapropélicos).

Por acção das águas correntes, os percursores das liptinites, química e microbiologicamente resistentes,
são concentrados, enquanto que as substâncias húmicas são oxidadas. Quando o transporte é longo e a
oxidação severa, só a liptinite resiste.

c) Inertite

A inertite é um grupo de microlitótipos em que os macerais do grupo da inertinite somam 95% ou mais. O
microlitótipo fusite, que contém, por definição, pelo menos 95% de fusinite, ocorre em duas formas: fusite
branda e fusite mole. A Fig. 138 mostra as três inertites mais frequentes: fusite, semifusite e inertodetrite.
A fusite mole geralmente produz pequenas quantidades de cinzas, pois que os lúmens celulares estão
vazios. Pelo contrário, as fusites duras têm os lúmens preenchidos por minerais. Nestas casos deixa de ser
uma monomacerite para ser uma carbominerite (ponto 3.1.4). São este minerais que lhe dão a resistência.

Nas semifusites, a semifusinite ocorre em percentagens >95%. Do mesmo modo que a fusite, a semifusite também
pode ter os lúmens preenchidos por matéria mineral. Antes da subdivisão do maceral esclerotinite em funginite e
secretinite, usava-se o termo esclerotite para designar um microlitótipo constituído por >95% esclerotinite.
Este termo desaparece agora. De qualquer modo, seja a esclerotite constituída por funginite ou por
secretinite, ela é muito menos frequente que a fusite e a semifusite.

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Capítulo 3 Maputo, 2005

Fig. 138. Três tipos de Inertite. Topo – Fusite de carvão betuminoso de altos voláteis do Botswana. Meio – Semifusite de carvão
betuminoso de altos voláteis de Witbank, RSA Baixo: Inertodetrite com finas partículas de argila em carvão betuminoso de médios
voláteios do KwaZulu-Natal, RSA. Falcon & Snyman, 1986.
inertodetrite, que contém >95% de inertodetrinite, é um microlitótipo comum nos carvões gondwânicos. O
microli-tótipo mais raro do grupo das inertites é a macroíte. Leitos com >50 m de micrinite são virtualmente
desconhecidos.

3.1.3.3. Bimacerites

As bimacerites são microlitótipos em que >95% dos macerais pertencem a dois grupos de macerais, sendo
as combinações possíveis: V+L, V+I e I+L. A primeira associação é chamada de Clarite, a segunda de
Vitrinertite e a terceira de Durite.

a) Clarite

As clarites compreendem todos os microlitótipos em que a vitrinite e a liptinite estão associados,


correspondendo a mais de 95% dos macerais e em que cada um, individualmente, corresponde a mais de 5%
(Fig. 139). Geralmente a conteúdo de vitrinite é superior ao da liptinite, ou seja, %V>%L e nestes casos a clarite
chama-se de Clarite V. Quando o inverso se verifica, ou seja, quando o conteúdo de liptinite é superior ao da
Vitrinite, aí temos a Clarite L. Em geral, as vitrinites que constituem a matriz da clarites são as detrocolinites.

Fig. 139. Banda de Clarite constituída por esporinite, envolvida por Vitrites. Carvão de altos voláteis do Ruhr, Alemanha; Stach et al,
1982.

As clarites
Fig. 140. Clarite em que a liptinite é constituída por cutinite e resinite em carvão carbonífero betuminoso de altos voláteis do Ruhr, Alemanha.
podem Stach et al, 1982.

variar em composição desde clarites em que a liptinite é pouco mais de 5% e clarites em que a vitrinite é pouco
mais de 5%. Evidentemente que estas variações se vão reflectir no aspecto em amostra de mão. Quanto mais

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Capítulo 3 Maputo, 2005

vitrinite, mais brilhante é a clatite. Quanto mais liptinite, mais baça ela é. Consoante o tipo dominante de
liptinite, a clarites podem ser classificadas em esporo-clarite, cutico-clarite e resino-clarite.

As clarites estão muitas vezes associadas às vitrites, em especial nos carvões de pântanos de floresta, e provêm
de “lixo” de floresta formado de madeiras e cortiças mais ou menos decompostas em detritos húmicos,
misturados com esporos e pólens (e algumas cutículas). A camada Katharina do Carbonífero so Ruhr
(Alemanha) contém clarites pobres em liptinites, apresentando alguma micrinite e pirite, indicando um ambiente
de deposição sapropélico de ambiente alcalino e com influência de inundações do pântano por águas do mar.

Evidentemente que as liptinites das


clarites não são formadas só por
esporos, cutículas ou resinas. A
betuminite e a liptodetrinite podem ser
constituintes predominantes, formando-
se a partir de algas e outros detritos
vegetais ricos em lípidos, bem como
restos de plânkton animal. Estas clarites
Fig. 141. Clarite constituída por esporinite. Carvão da Saxónia, Alemanha. Stach mostram muitas vezes microacamação e
et al, 1982.
passam gradualmente a carvão sapropélico. Em geral, as clarites indicam formação em ambiente de
condições húmidas.

b)

Fig. 142. Durite E constituída por inertinites e esporinite+cutinite. Carvão betuminoso de altos voláteis, Ermelo, RSA. Falcon & Snyman,
1986.

Fig. 143. Durite constituída de inertodetrinite e esporinite+cutinite. Carvão betuminoso de altos voláteis, Free State, RSA.
Falcon & Snyman, 1986.
Durite

A durite é um microlitótipo composto de pelo menos 95% de liptinite e inertinite, em que cada um deles está
presente em mais de 5%. Pode conter até 5% de vitrinite, geralmente como vitrodetrinite (Fig. 142 e 143).

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Capítulo 3 Maputo, 2005

Em geral, vários macerais do grupo da inertinite estão presentes, em particular semifusinite, inertodetrinite e fusinite.
A funginite, secretinite, macrinite e micrinite são menos comuns. Em geral, as inertinites formam a matriz que
engloba as liptinites. As liptinites mais frequentes são as esporinites, seguidas das liptodetrinites, cutinites e
resinites. Dependendo da predominância de um ou de outro grupo maceral, as durites podem ser classificadas em
Durite I se predomina a inertinite e Durite L se pedomina a liptinite.

Os prercursores da durite nos estágios de turfa e brown coal são desconhecidos, pois que as inertinites
típicas das durites só atingem a sua reflectividade durante a incarbonização geoquímica, por um lado, e
porque muitas vezes são inertodetrinites, a que já não se pode atribuir uma origem. Muitos autores
consideram que as durites se formam em processos iniciais de oxidação.

c) Vitrinertite

Com o aumento da incarbonização, as diferenças na reflectância entre a vitrinite e a liptinite desaparecem


progressivamente, a ponto de a liptinite não se distinguir mais. Isto acontece nos carvões com teores de
voláteis + <20%. Contudo, a inertinite é distinguível num largo espectro de carvões. Assim, nestes carvões,
só a vitrinite e a inertinite são distinguíveis. Por isso, Alpern (1954) propôs o termo vitrinertite para designar
um microlitótipo bimaceral constituído só por vitrinite e inertinite.

Pode distinguir-se a vitrinertite V, em que a vitrinite domina sobre a inertinite, e a vitrinertite I, em que a
inertinite é que domina sobre a vitrinite.

Fig. 144. Vitrinertite constituída por inertinites (fusinite, semifusinite e Fig. 145. Vitrinertite constituída por inertinites (macrinite,
inertodetrinite) e vitrinite (colotelinite). Camada Chipanga, Moatize, semifusinite e inertodetrinite) e vitrinite (colotelinite). Camada
Moçambique. Vasconcelos & Santos, 1988. Chipanga, Moatize, Moçambique. Vasconcelos & Santos, 1988.

Inicialmente assumiu-se que a vitrinertite só ocorria em carvões de alto grau, em que a liptinite já não se
distingue da vitrinite. Em carvões de grau mais baixo, esta bimacerite é mais rara, excepto em carvões
gondwânicos (Figs. 144 e 145), especialmente a vitrinertite I. Como referiremos mais adiante nos carvões
gondwânicos (onde se encaixam os carvões de Moçambique), a abundância deste microlitótipo é atribuída a
frequentes períodos de dessecação dos pântanos gondwânicos. Por outro lado, a ausência de liptinites
deve-se a uma vegetção que produzia poucos esporos.

93
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Capítulo 3 Maputo, 2005

3.1.3.4.

Fig. 146. Duroclarite constituída de colodetrinite, inertodetrinite e esporinite.


Trimacerites

As trimacerites são os únicos microlitótipos em que os três grupos de macerais ocorrem em percentagens acima de
5%. Em literatura antiga usava-se o termos intermédios, substituído em 1964 pelo ICCP sob proposta de
Mackowski.

Uma vez que os três grupos de macerais estão presentes, podem acontecer situações em que cada um
deles esteja em prodominância sobre os outros dois. Assim, se predominar a vitrinite, a trimacerite passa a
chamar-se Duroclarite. Se predominar a inertinite, teremos uma Clarodurite. E, finalmente, se predominar
a liptinite, a trimacerite chamar-se-á Vitrinertoliptite. As Figs 146 a 148 mostram estes três tipos de
trimacerites.

Como se pode entender, as trimacerites podem ter variadas origens. Assim, as trimacerites ricas em
vitrinite, especialmente as pobres em esporos, formaram-se possivelmente em pântanos de floresta, mas as
trimacerites ricas em liptinite formaram-se em ambiente sub-aquático, do mesmo modo que as durites L e as
clarites L. Por seu lado, as trimacerites ricas em inertinites formaram-se em ambientes relativamente secos
ou por alternância de toalhas freáticas altas e baixas.

Além da percentagem de macerais, também o tipo de macerais, o seu grau de


preservação de tecidos e a percentagem de matéria mineral intercrescida podem dar
indicações sobre a génese dos microlitótipos.

Fig. 148. Vitrinertoliptite constituída de colodetrinite, inertodetrinite


e esporinite. Carvão betuminoso de altos voláteis de Witbank,
Fig. 147. Clarodurite constituída de colodetrinite,
RSA. Falcon & Snyman, 1986.
inertodetrinite+semifusinite e esporinite. Carvão betuminoso de
altos voláteis, Witbank, RSA. Falcon & Snyman, 1986.

3.1.4. Carbominerites e Minerites

Como se referiu acima, todos os microlitótipos contêm uma certa percentagem de minerais misturados quer
de origem singenética quer de origem epigenética.
94
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Capítulo 3 Maputo, 2005

Por razões técnicas, a classificação das associações carvão-mineral baseia na separação de densidades
em líquidos pesados de densidades 1.5 g/cm3 e 2.0 g/cm3. Desta separação resultam três fracções:

 Fracção de densidade <1.5;

 Fracção de densidade entre 1.5-2.0;

 Fracção de densidade >2.0.

Como a matéria orgânica é mais leve que a matéria mineral, ela tende a concentrar-se na primeira fracção.
Na terceira fracção concentra-se a matéria mineral. Na segunda fracção concentram-se as partículas
mistas, em que a matéria orgânica e a matéria mineral e são intercrescidas sendo difícil de se separar. Este
material leva o nome de middlings, não tendo uma tradução directa para Português.

As carbominerites são as associações minerais cuja densidade se encontra no intervalo das densidades dos
middlings. A Tabela 11 mostra os diferentes tipos de carbominerites.

Tabela 11. As Carbominerites


Intercrescimento de carvão com um
Composição
certo mineral ou grupo de minerais
Carbargilite Carvão + (20-60%) em volume de minerais de argila
Carbopirite Carvão + (5-20%) em volume de sulfuretos
Carbankerite Carvão + (20-60%) em volume de carbonatos
Carbossilicite Carvão + (20-60%) em volume de quartzo
Carbopoliminerite Carvão + (20-60%) em volume de vários minerais (excepto sulfuretos)

As carbominerites diferem dos microlitótipos na medida em que o seu conteúdo de matéria mineral é maior.
A parte orgânica duma carbominerite pode ser constituída por qualquer microlitótipo. Assim, podem haver
carboargilites em que a parte orgânica seja constituída só por vitrite, ou só por inertite, ou só por clarite, e
assim sucessivamente. Assim, para as distinguir, podem usar-se os adjectivos vítrica, inértica, clarítica, etc.

As carbominerites podem ser subdivididas em 5 sub-grupos (Tab. 11) dependendo do tipo de intercrescimento
mineral com o carvão. Uma vez que as densidades do quartzo, argilas e maioria dos carbonatos são
semelhantes, um conteúdo médio de 20% (volume ou peso) destes minerais leva a uma densidade média de
1.5 g/cm3, enquanto que um conteúdo medio de 60% leva a uma densidade média de 2.0 g/cm3.

Se o carvão estiver intercrescido com sulfuretos, um conteúdo mineral de 5-20% é suficiente para subir a
densidade para 1.5-2.0 g/cm3, devido à muito maior densidade dos sulfuretos

Dentre as carbominerites, as carbargilites (Fig. 149) são de longe as mais frequentes. A seguir às carbargilites, as
carbopirites (Fig. 150) são as mais frequentes. As carbankerites (Fig. 151) são também comuns, ao passo que

as carbossilicites (Fig. 152) são raras, o mesmo acontecendo às carbopoliminerites (Fig. 153).

Fig. 149. Carbargilite constituída de agregados de Ilite em vitrinite.


Fig. 150. Carbopirite composta de pequenos nódulos de pirite (2-
Carvão betuminoso de baixos voláteis, KwaZulu-Natal, RSA.
20 m) finamente dispersos na vitrinite. Carvão betuminoso de

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Falcon & Snyman, 1986. médios voláteis, KwaZulu-Natal, Falcon & Snyman, 1986.

Fig. 152. Carbossilicite composta de grãos de quartzo


Fig. 151. Carbankerite: cristais de calcite ocupando poros de arredondados de vários tamanhos (5-30 m) embebidos em
coque natural próximo de uma intrusão ígnea. Carvão betuminoso vitrinite. Carvão betuminoso de altos voláteis, Zimbabwe. Falcon
de altos voláteis, Witbank, RSA. Falcon & Snyman, 1986. & Snyman, 1986.

Fig. 153. Carbopoliminerite composta de nódulos de pirite e de minerais de argila. Perantracite do Douro, Portugal. Lemos de Sousa,
1978.

Se a
densidade
da

Fig. 154. Minerites com carbonatos. a) nódulos de siderite até 5 m de tamanho finamente distribuídos em V e I. Carvão betuminoso de
altos voláteis de Highveld, RSA. b) Calcite, ankerite e/ou dolomite substituindo V e/ou SF. Carvão betuminoso de altos voláteis,
Botswana. c) Calcite e/ou dolomite preenchendo cavidades, fracturas e diaclases em V. Carvão betuminoso de baixos voláteis, Free
State, RSA. Fotos em Falcon & Snyman, 1986;
associação carvão+minerais exceder os 2.0 g/cm 3, significa que a matéria mineral excede os 60%, e aí a
associação passa a ser chamada de minerite (fig. 154), correspondendo já a uma rocha carbonosa.

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3.1.5. Litótipos

Entende-se por Litótipo as diferentes bandas de carvão reconhecidas macroscopicamente. Como se pode
ver da Fig. 155 duma amostra de carvão em sondagem, polida, são reconhecidas várias bandas de textura
e brilho diferentes, cada uma constituindo um litótipo.

Os diferentes aspectos (brilho e textura) que os vários litótipos apresentam são consequência da sua
composição maceral e mineral.

Os carvões húmicos são muitas vezes chamados de carvões bandados exactamente por causa do seu aspecto
macroscópico em bandas, cada uma consttituída pelo seu litótipo. Assim, a Tabela 12 mostra os diferentes tipos
de litótipos. Passamos a descrever cada um deles, começando primeiro pelos litótipos dos carvões húmicos.

Tabela 12. Diferentes tipos de litótipos dos carvões betuminosos.


Tipo de Carvão Litótipo Aspectos reconhecíveis macroscopicamente
Brilhante, negro, geralmente quebradiço, frequentemente com
VITRINO
fissuras

Húmico CLARINO Semi-brilhante, negro, muito finamente estratificado


DURINO Baço, negro ou cinzento escuro, duro, superfície rugosa
FUSINO Brilho sedoso, negro, fibroso, mole, muito friável
Baço ou brilho levemente ceroso, negro, homogénio, não
CANNEL COAL
estratificado, muito duro, fractura conchoidal, trisca negra
Sapropélico
O mesmo que o cannel coal, mas mais acastanhado, risca
BOGHEAD COAL
castanha

3.1.5.1. Carvões Húmicos

a) Vitrino

Também chamado de carvão brilhante. É um constituinte negro de brilho vítreo. Frequentemente muito
quebradiço e cortado por finas fissuras, partindo-se consequentemente em pedaços cúbicos. O vitrino, nos
processos de extracção mineira, tende a concentrar-se na fracção mais fina.

Numa descrição macroscópica de carvão, só as bandas com espessuras mínimas de 3 a 10 mm 56 são


registadas como vitrino. Abaixo dessa espessura, são registadas como clarino (ver adiante).

Nos carvões húmicos, os vitrinos são muito frequentes e são constituídos pelos microlitótipos vitrite e clarite V.

b) Clarino

O termo clarino designa bandas de carvão finamente estratificado com uma espessura mínima de vários
milímetros (3 a 10 mm58), tendo um brilho intermédio entre o vitrino e o durino (ver adiante). Também é
chamado de carvão semi-brilhante. O clarino é o constituinte macroscópico mais comum dos carvões
húmicos, excepto nos gondwânicos onde os conteúdos de liptinite são em geral muito baixos. O clarino
consiste de finas bandas alternantes de vitrino, durino e às vezes durino. Microscopicamente, ele é
constituído de vitrite, clarite, durite, trimacerite e fusite.

56
A espessura minima varia consoante as normas vigentes nos diferentes países.

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Fig. 155. Esquerda: Foto duma amostra polida de carvão, podendo observar-se várias bandas paralelas de
brilho e texturas diferentes. Carvão francês. Direita: Desenho esquemático dos respectivos litótipos.
Vasconcelos & Lemos de Sousa, 1995.

c) Durino

Também chamado de carvão baço (podendo ser ceroso), pode ser negro ou cinzento. Os durinos são muito
duros e por isso partem-se em pedaços grandes, com superfícies de fracturas irregulares. As espessuras
mínimas para serem registadas como durinos são também de 3 a 10 mm (ver nota de rodapé 58 na página 85).

Bandas de durino podem ser confundidas com bandas de xisto/argilito carbonoso, que também é baço e
duro.

Ao microscópio, o durino é constituído de durite, trimacerite e clarite L.

d) Fusino

Assemelha-se a carvão de lenha. É negro, com brilho sedoso, por vezes fibroso e geralmente mole e friável,
de modo que suja as mãos. Menos frequentemente ocorre um fusino duro, cionstituído de fusite dura
impregnada de minerais.

O fusino (mole) é constituído de fusite (mole) com os lúmens celulares vazios. Geralmente ocorre em forma
de lentes de alguns milímetros de espessura e alguns centímetros de comprimento. Estas lentes estão
geralmente concentradas em determinados horizontes da camada, correspondendo a períodos de fogos de
floresta/pântano.

3.1.5.2. Carvões Sapropélicos

Macroscopicamente, os carvões sapropélicos distinguem-se dos húmicos por ausência de bandamento.


Outro aspecto característico é o seu aspecto homogénio e a sua grande resistência. Ele é tão resistente que
em tempos pré-históricos foram usados como objectos de adorno.

Macroscopicamente, os dois litótipos – boghead e cannel – são muito semelhantes, sendo muitíssimo difícil
de os distinguir, a não ser pela côr mais escura do cannel e mais acastanhada do boghead.
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Em termos de constituintes, o boghead é constituído de alginite, ao passo que o cannel é constituído de


esporinite, podendo ter ainda proporções consideráveis de vitrinite e inertinite. Isto para dizer que a
composição maceral dos cannel é semelhante à da clarite, durite ou trimacerite. Contudo, difere destes pela
finura das suas partículas e pela uniformidade textural dos seus macerais.

As Figs 156 e 157 mostram estes dois litótipos ao microscópio.

Fig. 156. Carvão cannel de altos voláteis do Ruhr, Alemanha.


Stach et al, 1982. Fig. 157. Carvão boghead da Escócia Stach et al, 1982.

3.1.5.3. Intercalações Rochosas

Os litótipos dos carvões húmicos e sapropélicos podem estar contaminados com matéria mineral clástica
(argilas, mica e quartzo). Assim, encontram-se todas as transições entre carvão e argilito, por exemplo,
originando rochas argilito carbonoso, que é uma rocha negra, baça, dura e compacta, reconhecendo-se
muitas vezes uma estratificação fina. Em geral as intercalações de argilito carbonoso são mais contínuas
que as de litótipos. No caso dos carvões boghead e cannel, também pode haver transições para argilito,
representando o fácies sapropélico dos argilitos carbonosos.

As transições entre carvão e rocha também acontecem com outros tipos de rochas inorgânicas, como por
exemplo, arenitos, dando origem a arenitos carbonosos. Várias outras transições são possíveis, como os
siltitos carbonoso, por exemplo.

3.2. Diagramas Triangulares e Diagramas de Fácies

3.2.1. Diagramas triangulares

Fig. 158. Diagrama ternário VLI para representação da composição maceral dos carvões.

A composição maceral dos carvões é melhor visualizada através de diagramas que a enfatizem e mostrem
as relações entre os diferentes tipos de macerais. Uma vez que os carvões têm macerais de três grupos, os
diagramas que se utilizam são diagramas ternários, ou seja, triângulos equiláteros em que cada vértice

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corresponde a 100% dum dado maceral. A linha VI representa composições macerais sem liptinite, com
percentagens de V-I variando entre 100%V-0%I e 0%V-100%I. As linhas LI e VL representam carvões sem
vitrinite e sem inertinite, respectivamente, já qualquer ponto que seja projectado no interior do triângulo
apresenta os três grupos de macerais na sua composição. Assim, na Fig. 158, o ponto 1 representa um
carvão com 100% de vitrinite e 0% dos outros macerais. Já os pontos 5 e 9 representam um carvão com
100% de inertinite e 100% de liptinite respectivamente. Se olharmos agora para o ponto 13, por exemplo,
vemos que ele está colocado mais perto do vértice da vitrinite, sendo assim este o maceral dominante.
Comparando a distância deste ponto às linhas VI e VL, verifica-se que ele está mais próximo da linha VI,
pelo que a inertinite ocorre em maior quantidade que a liptinite.

Fig. 159. Determinação da composição maceral dum carvão.

Para sabermos qual a composição maceral do carvão representado pelo ponto 13, procede-se do modo
indicado na Fig. 159:

a) do ponto em questão (neste caso o nº 13) traçam-se 3 linhas paralelas aos lados do triângulo até
elas cortarem estes.

b) os pontos de intersecção da linha horizontal com os lados VI e VL, dão a percentagem de vitrinite;
neste caso igual a 65%.

c) os pontos de intersecção da linha oblíqua para a direita com os lados VL e LI dão a % de liptinite,
neste caso igual a 13%.

d) finalmente, os pontos de intersecção da linha oblíqua para a


esquerda com os lados VI e LI dão a percentagem de inertinite,
neste caso igual a 22%.

Fig. 160. Diagrama base VLI

O diagrama da Fig. 160 mostra as linhas que ajudam a projectar a composição maceral no diagrama.

Assim, a composição maceral do carvão representado pelo ponto 13 é: V=65%, L=13%, I=22%. O
somatório tem de dar 100%. O mesmo exercício pode ser feito para os restantes pontos.

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A título de exemplo, a Fig.


161-A mostra a composição
maceral de 1847 amostras
de carvão do Gondwana
(Paleozóico da África,
América do Sul, Ásia – Índia,
Butão, Bangladesh – e
Oceânia). Desta imagem
pode ver-se que os pontos
Fig. 161. Diagramas VLI de A) 1847 amostras de carvão do Gondwana e B) 2799 amostras de
carvão Norte-Atlânticos. Vasconcelos, 1999. se distribuem entre os
vértices da vitrinite e inertinite, com maior propensão para a vitrinite. Quanto à zona da liptinite, o número de
pontos é muito menor. Se calcularmos o valor médio da composição maceral destes 1847 carvões obtém-se
o valor VLI = 58-9-33. Já a Fig. 161-B apresenta o mesmo diagrama para os carvões paleozóicos Norte-
Atlânticos (América do Norte, Europa e resto da Ásia), em que o valor médio da composição maceral destes
2799 carvões é de VLI = 73-11-17. Ou seja, muito mais ricos em Vitrinite e mais pobres em Inertinite.
Algumas diferenças são notórias, como a maior concentração de pontos na área próxima do vértice da
vitrinite, denotando maior quantidade de carvões vítricos, e maior quantidade, também, de pontos junto à
liptinite. Também se nota a menor quantidade de carvões ricos em inertinite. Estes diagramas põem a nu as
diferenças de ambientes climáticos e de sedimentação dos dois grupos de carvões.

Os diagramas triangulares
também podem ser
desenhados em função de
linhas de isoconcentração -
isolinhas, que são as zonas
do diagrama com igual
concentração de pontos
referentes à composição
Fig. 162. Diagramas de isoconcentração referentes aos diagramas da Fig. 161. A) Gondwana e maceral. Por exemplo, a Fig.
B) Norte-Atlânticos. Vasconcelos, 1999.
162 indica os diagramas de
isolinhas referentes aos diagramas VLI da Fig. 161. As diferenças entre os carvões paleozóicos
gondwânicos e norte-atlânticos que a Fig. 161 mostra, estão mais evidentes nos diagramas da Fig. 162.
Apesar de os carvões gondwânicos terem dois picos na zona vitrinítica (de 13% e 12%), nos norte-atlânticos
esse pico já corresponde a 22% dos carvões. Por outro lado, as isolinhas nos carvões gondwânicos
estendem-se ao longo da linha VI do diagrama, o que não acontece nos carvões norte-atlânticos.

3.2.2. Diagramas de Fácies – Índices Petrográficos

Os diagramas de fácies são diagramas que permitem identificar os ambientes de sedimentação dos várrios
carvões através da sua composição maceral. Para isso usam-se os índices petrográficos, que são
parâmetros que relacionam as percentagens de macerais entre si e podem dar indicações preciosas sobre
os materiais de origem e suas condições ambientais de sedimentação. Vários são os índices petrográficos

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Capítulo 3 Maputo, 2005

que têm sido utilizados e aplicados a carvões de vários tipos, idades e proveniências. Citemos, a este
respeito, os trabalhos de Diessel (1982), Navale & Misra (1984), Harvey & Dillon (1985), Diessel (1986),
Kalkreuth & Leckie (1989), Kalkreuth et al (1991), Marchioni & Kalkreuth (1991) e Correia (1993). Vejamos
agora alguns desses índice petrográficos57.

3.2.2.1. Índice de Gelificação (IG) e Indice de Preservação de Tecidos (IPT)

O índice de gelificação (IG), como o próprio nome indica, é a razão entre macerais que sofreram gelificação
(vitrinite e macrinite) e os que sofreram oxidação (semifusinite, fusinite e inertodetrinite) (Diessel 1986). O
índice de preservação de tecidos (IPT), por seu lado, relaciona macerais que apresentam estrutura celular
(telinite, colotelinite58, semifusinite e fusinite) com macerais sem estrutura celular (colodetrinite, macrinite e
inertodetrinite) (Diessel 1986):

em que VT=vitrinite, MA=macrinite,SF=semifusinite, FU=fusinite, ID=inertodetrinite, TE=telinite, CT=colotelinite, CD=colodetrinite.

Vários autores adaptaram estes índices, alterando as fórmulas. Assim, por exemplo, a
lista abaixo mostra algumas dessas alterações:

Autor IG IPT

Kalkreuth & Leckie, 1989; Correia,


1993

Vasconcelos, 1995

em que SC=esclerotinite59, VTA e VTB=vitrinite A e vitrinite B.

A Fig. 163 representa o diagrama que relaciona o IPT com o IG (Kalkreuth et al 1991)

57
De referir que nas referências bibliográficas a nomenclatura usada para as vitrinites e inertinites é a antiga. No texto que se segue
usam-se a nomenclaturas novas.
58
A colotelinite só mostra estrutura celular após ataque químico. É, portanto, uma cripto-estrutura
59
Esclerotinite da antiga classificação.

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Fig. 163. Diagrama de índices petrográfico IG e IPT (Kalkreuth et al, 1991).

3.2.2.2. Razão Vitrinite/Inertinite (V/I)

A relação entre a vitrinite total e a inertinite total foi utilizada por Navale & Misra (1984) para correlações
estratigráficas regionais dos carvões pérmicos da Índia e, posteriormente, Harvey & Dillon (1985) utilizaram
o mesmo índice para definir ambientes de sedimentação em carvões pensilvanianos dos EUA. Também
Kalkreuth & Leckie (1989) utilizaram o mesmo índice em carvões cretácicos canadianos. Este índice fornece
indicações sobre o grau de oxidação sofrido pela matéria vegetal à altura da sua deposição (Correia 1993).
Na sua interpretação há que ter em atenção que quanto maior for o valor de V/I, menor é o grau de
oxidação sofrido pela matéria vegetal (Harvey & Dillon, 1985).

3.2.2.1. Diagramas triangulares W-D-R e T-D-F

Estes diagramas, definidos por Diessel (1982), entram em conta com dois índices que, mais tarde,
originaram o IG e o IPT. Esses índices são o wood ratio - TF/D - (razão entre macerais derivados da
madeira e macerais dispersos) e um índice de gelificação - T/F (diferente do apresentado em Diessel 1986).
Na definição destes índices é aplicado o conceito de maceral diagnóstico, isto é, maceral que fornece
indicações quanto à sua origem e às condições ambientais de sedimentação.

O diagrama triangular W-D-R (Fig. 164) relaciona os macerais diagnósticos


fusinite+semifusinite+telinite+colotelinite (W) e inertodetrinite+alginite+esporinite (D) com os restantes
macerais considerados não diagnósticos (R). Por seu lado, o diagrama triangular T-D-F (Fig. 165) desdobra

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o grupo W anterior em dois novos grupos: telinite+colotelinite (T) e fusinite+semifusinite (F); D é igual ao
anterior. Ou seja, o primeiro diagrama fornece indicações quanto ao grau de preservação de tecidos e o
segundo sobre o grau de oxidação/gelificação sofrido pelos constituintes orgânicos originais.

(anaeróbico) (aeróbico)

Fig. 164. Diagrama W-D-R Fig. 165. Diagrama T-D-F

Ainda segundo Diessel (1982), a relação entre fusinite (FU)+semifusinite (SF) e a inertodetrinite (ID) poderá
dar indicações sobre a aloctonia/autoctonia da fusinite e da semifusinite. Se o valor da razão (FU+SF)/ID for
alto, significa que a pouca inertodetrinite presente resulta de alguma degradação mecânica da fusinite e da
semifusinite in situ. Se o valor for baixo, então deverá ter havido um certo grau de transporte que levou a
uma maior fracturação daqueles dois macerais. Segundo Diessel (1982), o intervalo 4-8 para a razão
(FU+SF)/ID indica fusinites e semifusinites autóctones.

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3.3. Descrição Macroscópica do Carvão

Fig. 166. Exemplo duma descrição macroscópica duma camada de carvão.

O primeiro passo para o estudo duma camada de carvão é a sua descrição macroscópica, ou seja,
macropetrográfica, no sentido de se conhecerem os litótipos que a compõem e em que sequência se
apresentam, pois este aspecto dá informações importantes sobre os ambientes de sedimentação/formação
do carvão.

Como atrás se disse, ao se falar de litótipos, a espessura mínima duma banda para ser registada como
litótipo varia de país para país. Na Alemanha, por exemplo, essa espessura mínima é de 10 mm, ao passo
que nos EUA esse limite já é de 3 mm.

Numa descrição macroscópica duma camada, não se registam só os 4 litótipos e as intercalações estéreis,
mas também a litologia do tecto e do muro da camada. Atenção especial deve ser dada à existência de
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Capítulo 3 Maputo, 2005

horizontes-guia, como zonas de tonsteins, de camadas siliciosas, de coal balls, as quais podem ser úteis na
identificação e correlação de camadas. A Fig. 166 mostra um exemplo duma descrição macroscópica duma
camada.

Outro tipo de representação macroscópica foi desenvolvido por Tasch (1960). A formação dos vários
litótipos são principalmente um resultado das taxas de subsidência num pântano. O fusino é formado em
baixas taxas de subsidência e em condições de água pouco profunda com frequente acesso do ar. O vitrino
e o clarino indicam inundação, mas em águas comparativamente pouco profundas, ao passo que o durino
se formou em águas mais profundas. A formação dos estéreis e rochas carbonosas indicam as condições
mais “molhadas”. Se os litótipos forem dispostos na ordem da profundidade da água necessária para a sua
formação, começando na condição mais “seca” para a mais “molhada”, a sequência será:

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seco Fusino
Vitrino
Clarino
Durino
Xisto carbonoso
molhado Xisto
Adoptando esta ordem de representação dos litótipos, a curva da camada terá o aspecto representado na
Fig. 167, que mostra o perfil duma camada em 5 locais diferentes duma bacia, sendo perfeitamente possível
correlacionar-se as várias zonas.

Fig. 167. Identificação de camadas pelo médtodo de Tasch (1960). Adaptado de Stach et al, 1982.

3.4. Carvões Gondwânicos e Diferenças em Relação aos Norte-


Atlânticos
3.4.1. Introdução

A utilização em larga escala de carvão começou na Europa, com a Revolução Industrial, e mais tarde na
costa leste dos EUA. Acontece que estas duas áreas contêm largos depósitos de carvão de idade
Carbonífera e durante muitos anos se pensou que todos os carvões fossem dessa idade geológica. Se bem
que as suas propriedades variassem de bacia para bacia, imediatamente se verificou que eles tinham
algumas propriedades comuns, pertencendo a uma mesma família.

À medida que os recursos mundiais foram sendo conhecidos, verificou-se que muitos carvões não
pertenciam a esta família. Estes carvões, variando em idade do Pérmico ao Terciário, são muito diferentes
dos típicos carvões bandados do Hemisfério Norte. Incluem-se aqui os carvões do fim do Mesozóico e
Terciário – lignites e sub-betuminosos – da Europa, W da América do Norte, SW da Austrália e outros, que
tinham de ser incluídos numa outra família. Restava um grupo de carvões betuminosos, ocorrendo em

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Capítulo 3 Maputo, 2005

territórios fora da Europa e América do Norte, que não pertenciam a nenhuma das duas outras famílias.
Estes carvões de idades Permo-Triássico-Jurássica, principalmente Pérmicos, são bandados, à semelhança
dos carvões do Carbonífero, mas diferentes destes em vários aspectos. São os carvões que ocorrem na
África Austral, Índia, E da Austrália, América do Sul, Madagáscar e Antártida. Ou seja, territórios que em
tempios pertenceram ao Gondwana, que mais tarde se veio a fracturar nos continentes actuais. Estas
terras, na altura do Gondwana, tinham condições climáticas e ambientes geográficos semelhantes.

3.4.2. Condições de Deposição

As condições climáticas durante a formação dos principais depósitos do Gondwana eram muito diferentes
das condições existentes durante o Carbonífero no Hemisfério Norte. O clima era principalmente temperado
frio com estações secas e chuvosas alternantes. Nos estágios finais da deposição gondwânica (fim do
Pérmico) o clima começou a aquecer, chegando a temperado quente. A flora caracterizada por ser arbustiva
de folha larga – florestas de Glossopteris (Fig. 14) – era semelhante à que se encontra hoje nas regiões
sub-árticas. De facto, as regiões do Gondwana era regiões árticas e sub-árticas, já que o Pólo Sul, na altura,
se encontrava sobre o que é hoje a região do Karoo da África do Sul. Os fósseis vegetais mostram aneis de
crescimento sazonal, indicativo de variações acentuadas entre as estações do ano.

Em contraste, as florestas do Hemisfério Norte eram arbóreas – Florestas de Lepidophyta (Fig. 13) –
sugestivas de desenvolvimento em condições tropicais a sub-tropicais húmidas. A flora carbonífera mostra
uma quase ausência de aneis de crescimento, sugerindo um clima sem diferenças grandes entre as
estações do ano. De facto, durante o Carbonífero, o Equador estava no Hemisfério Norte.

Os materiais vegetais originais que se acumularam para formar os depósitos de carvão do Gondwana era muito
diferentes dos do Carbonífero. Enquanto que o grupo Glossopteridae dominava no Gondwana, no Carbonífero a
flora era dominada por Lepidophyta (Lepidodendron e Sigillaria), Calamariaceae (Fig 13) e Pteridospérmicas.

Em adição às árvores de Lepidodendron e Sigillaria, que cresciam até alturas de 30 metros, haviam
igualmente grandes quantidades de vegetação sub-aquática tipo junco/canavial (Calamariaceae) que
atingiam 6 metros de altura e que crescia em todos os pântanos da altura. Em contraste, a flora de
Glossopterideae era constituída por plantas arbustivas do tipo Glossopteris e Gangamopteris (Fig. 14).

Ao contrário dos carvões carboníferos, que se depositaram em áreas de geossinclinal (não consolidadas),
os carvões gondwânicos formaram-se em geral em zonas estáveis de bacias de plataforma continental.
Estas eram de pouca profundidade e afundavam pouco de cada vez, em contraste com as zonas de
geossinclinal, que tinham uma taxa de subsidência muito mais alta. A subsidência lenta e prolongada das
bacias de plataforma continental do Gondwana foi muito mais favorável à acumulação de material vegetal.
Em consequência, as camadas de carvão do Gondwana são muito mais espessas que as do Carbonífero.

A formação dos carvões gondwânicos foi precedida por um período glaciar, e começou com a deposição dum
conglomerado de base – tilítico -, geralmente reconhecido em quase todas as áreas do antigo Gondwana. O
grosso dos estratos depositados em seguida são constituídos por espessas camadas de sedimentos fluviais,
lacustres ou deltáicos, com intercalações de carvão. Os reajustamentos pós-glaciares devem também ter
afectado o padrão de subsidência das bacias carboníferas, afectando a continuidade lateral das camadas. A

108
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Capítulo 3 Maputo, 2005

maioria das camadas que se sobrepõem às camadas de carvão são depositadas em água doce. Por vezes há
sedimentos de origem marinha e, quando isto acontece, ocorrem enriquecimentos em pirite.

No que toca a carvões mesozóicos (Triássico e Jurássico), só a Austrália apresenta carvões pós-Pérmicos
de interesse económico.

A maioria das camadas de carvão carboníferas apresentam limites nítidos, com transições abruptas para o
muto e teto da camada. Em comparação, a maioria das camadas gondwânicas são menos bem definidas,
mostrando transições graduais para teto e muro. Por outro lado, a maioria dos carvões carboníferos têm a
muro camadas de seat-earths, ao passo que nos gondwânicos isto pouco ocorre. Estas observações
levaram à ideia que a maioria dos carvões carboníferos se formaram in situ, ou seja, são autóctones,
enquanto que os gondwânicos se formaram após o material vegetal ter sofrido maior ou menor transporte,
ou seja, são alóctones. Mais tarde verificou-se não ser sempre assim.

3.4.3. Características Macroscópicas

Uma das diferenças mais óbvias entre as duas famílias de carvão é que os carvões gondwânicos tendem a
ser mais baços que os norte-atlânticos. Algumas camadas gondwânicas contêm muito mais inertinite que os
típicos carboníferos, e por vezes algumas secções podem conter um metro ou mais de inertinite.

Quanto a inertinite não é tão abundante, há ainda o efeito resultante duma textura petrográfica geralmente
fina, com muito mais dispersão de inertinite e liptinite em relação à vitrinite do que nos carboníferos.
Frequentemente, as rochas sedimentares sobrejacentes às camadas de carvão gondwânicas são arenitos
muito permeáveis, o que favorece a penetração e circulação das águas subterrâneas, as quais depositam
matéria mineral adicional, tornando-o menos brilhante em aparência.

Porque o conteúdo de vitrinite é geralmente menor, os sistemas de diaclasamento e fissuração são menos
desenvolvidos nos carvões gondwânicos.

Outra característica das camadas de carvão gondwânicas é a tendência para o splitting em várias camadas,
em distâncias de 1 a 2 quilómetros, cada uma delas separada das outras por metros ou dezenas de metros
de xistos ou arenitos.

3.4.4. Micropetrografia

Em comparação com os carvões carboníferos, a preparação de blocos polidos de carvões gondwânicos é


mais difícil devido aos finos minerais usualmente dispersos e devido ainda ao alto conteúdo de inertinite.

Os estudos micropetrográficos indicam que em geral, os carvões carboníferos são mais ricos em vitrinite e
liptinite do que os gondwânicos. Consequentemente há mais inertinite nos carvões gondwânicos do que nos
carboníferos. O mesmo em relação à matéria mineral.

Como resultado desta variação da composição maceral, as proporções de microlitótipos também variam.
Assim, os carvões carboníferos são em geral mais ricos em vitrite e clarite que os gondwânicos, enquanto
que estes são mais ricos em durite, inertite e trimacerites.

Contudo, como em tudo, há excepções a estas tendências.

109
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

3.5. Propriedades do carvão


Tanto as propriedades químicas como as físicas (que veremos adiante) são importantes para a
determinação da qualidade do carvãoe e, em última instância, para a definição da sua aplicação. Nem todos
os carvões serverm para os mesmos fins. Uns são apropriados para a queima, outros para o fabrico do
coque, outros para gasificação, e por aí fora.

O carvão necessita de possuir determinadas propriedades para um determinado uso. Se o carvão tiver
essas propriedades ele pode ser minado e vendido como tal. Se ele não tiver essas propriedades, a sua
qualidade pode ser melhorada por processos de benefeciação (lavabilidades, por exemplo) ou misturado
com outros carvões seleccionados para que a mistura tenha essas propriedades requeridas. A este
processo de mistura de dois ou mais carvões para obtenção dum produto final com determinadas
características dá-se o nome de blending (mistura, em português).

A qualidade do carvão depende da sua composição maceral e do seu conteúdo mineral (e do modo como
matéria orgânica e inorgânica estão intercrescidas) e do grau de incarbonização. Para que isto possa ser
compreensível em termos analíticos foram defenidas regras e procedimentos analíticos. O geólogo não
necessita de conhecer estes processos analíticos em detalhe, mas ele tem de saber interpretar os resultados.

3.5.1. Análises Químicas

Em termos práticos um carvão pode ser considarado como sendo constituído de humidade, carvão puro e
matéria mineral. A humidade é constituída por humidade superficial e humidade molecular (por
exemplo, gesso: CaSO4. 5H2O). A matéria mineral é a quantidade de matéria inorgânica presente que
produz as cinzas quando o carvão é queimado 60. Daqui se depreende que a composição da matéria mineral
original e a composição das cinzas não pode ser a mesma, pois parte da mat’eria mineral se decompõe na
combustão, libertando gases para o ambiente.

A caracterização química dos carvões é feita mediante dois tipos de análises químicas: análises imediatas 61
e análises elementares62.

As análises imediatas, como o nome indica, são análises de execução mais ou menos rápida e que fornecem
as quantidades de humidade, matérias voláteis, carbono fixo e cinzas. O carbono fixo é o carbono que não
pertence ao minerais (por exemplo, CaCO3) nem aos voláteis (por exemplo, CO, CO 2). As análises imediatas
são as mais fundamentais das análises de carvão e são de grande importância para a aplicação do carvão.

Os resultados das análises são dependentes dos tempos e temperaturas utilizadas nas análises. Por isso é
importante conhecer os procedimentros utilizados. Para isto, há normas nacionais e internacionais que
permitem a todos interpretar os resultados da mesma maneira.

As análises elementares, como o nome indica, são análises para a determinação da composição elementar
do carvão em termos de carbono, hidrogénio, oxigénio, azoto e enxofre. Por outro lado, a determinação

60
Há uma certa quantidade de cinzas, muito ínfima, que resulta de material inorgânica presente na própria material orgânica.
61
Em inglês: proximate analysis;
62
Em inglês: ultimate analysis

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Capítulo 3 Maputo, 2005

doutros elementos que afectam o uso do carvão tambem é feita, como cloro, fósforo, formas de enxofre 63, e
elemntos que constituem a matéria mineral e elementos-traço.

3.5.1.1. Bases de dados analíticos

Antes de se proceder à anál;ise do carvão, é necessário entender como a humidade, as cinzas, os voláteis
e o carbono fixo de inter-relacionam, e em que bases os resultados são apresentados.

É importante, na avaliação de resultados analítico anteriores, conhecer as bases em que eles são
apresentados. Infelizmente um problema comum é que muitas vezes os resultados são apresentados sem
se informar a respectiva base de cálculo.

As análises de carvão podem ser reportadas como mostra a Fig. 168.

a) “como recebido” (cr) (em inglês as received – ar): ou como amostrado; os resultados são
apresentados como percentagens incluindo a humidade total;

b) “seco ao ar” (sa) (em inglês air dried – ad): neste caso, a humidade superficial foi eliminada,
ficando só a humidade inerente (a que pertence às estruturas moleculares);

c) “seco” (s) (em inglês dry basis – db): toda a humidade foi removida.

d) “sem cinzas” (sc) (em inglês ash free – af): o carvão é considerado como se fosse constituído de
humidade, carbono e voláteis;

e) “seco, sem cinzas” (ssc) (em inglês dry, ash free – daf): o carvão é considerado como se fosse
constituído de carbono e voláteis; esta base é usada para comparar as fracções orgânicas dos carvões;

f) “seco, sem matéria mineral” (s,smm) (em inglês dry, mineral matter free – d,mmf): neste caso é
necessário calcular o conteúdo de matéria mineral e não de cinzas.

A Tabela 13 mostra as fórmulas necessárias para o cálculo nas diferentes bases. Em geral, as análises
imediatas são fornecidas já na base “seco ao ar”. Além destas fórmulas, vários países utilizam outras
fórmulas para o cálculo da matéria mineral:

Estados Unidos da América


Fórmula de Paar: MM = 1.08c + 0.55S
Fórmula de Paar modificada: MM = 1.13c + 0.47Spir + Cl
Reino Unido
Fórmula BCURA: MM = 1.10c + 0.53S + 0.74CO2 – 0.36
Fórmula KMC: MM = 1.13c + 0.5Spir + 0.8CO2 – 2.8Sc + 2.8SSO4
Austrália
Fórmula SAA: MM = 1.1c
Em que

MM = matéria mineral; c = cinzas; S = enxofre total; Spir = enxofre pirítico; SSO4 = enxofre sulfato; Sc = enxofre nas cinzas; Cl = cloro;
CO2 = anidrido carbónico. Todos os valores em percentagem e na base “seco ao ar”.

63
Enxofre orgânico, enxofre pirítico, enxofre sulfato, etc.

111
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Capítulo 3 Maputo, 2005

Fig. 168. Diferentes bases para apresentação dos resultados analíticos do carvão

Tabela 13. Fórmula de cálculo das análises imediatas em diferentes bases, com um
exemplo.
Seco ao ar Seco ao
Seco (s) Sem cinzas (sc) Seco, sem cinzas (ssc)
ar (sa)

Humidade (Hsa) 5.8%

Cinzas (csa) 12.8%

Voláteis (MVsa) 24.4%

Carbono fixo
57.0%
(Cfsa)
TOTAL 100.0% 100.0 100.0 100.0

3.5.1.1. Análises Imediatas

a) Humidade

A terminologia usada para descrever o conteúdo de humidade dos carvões pode ser confusa e necessita
duma clarificação. O termo mais confuso é humidade inerente, que tem muitas definições e deve ser
evitado.

Não há um método exacto para determinar o conteúdo de humidade. A indústria do carvão desenvolveu
uma série de definições:

i. Humidade superficial: é uma humidade adventícia, que não ocorre naturalmente no carvão, e que pode
ser removida com a secagem ao ar ar baixa temperatura (40ºC). Esta secagem ao ar é geralmente o

112
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Capítulo 3 Maputo, 2005

primeiro passo duma análise. A humidader que fica no carvão após esta secagem é chamada de
humidade na base seca ao ar (ver ponto iv).

ii. Humidade como recebida: é a humidade total da amostra quando recebida e entregue no laboratório.
Em geral o laboratório seca o carvão ao ar, obtendo uma “perda por secagem ao ar”. Esta perda
equivale à humidade superficial. Em seguida sujeita a amostra a uma secagem agressiva (+150ºC) que
determina a humidade que fica após a secagem ao ar.

iii. Humidade total: é o conjunto da humidade superficial que se libertou na secagem ao ar, mais a
humidade que se libertou da secagem agressiva.

iv Humidade na base seca ao ar: é a humidade que fica após a secagem ao ar e que pode ser removida
pela secagem agressiva.

Outros conceitos de humidade foram introduzidos, como capacidade de retenção de humidade, humidade
de equilíbrio, humidade na camada, etc.

b) Cinzas

O teor de cinzas é o resíduo inorgânico que fica após combustão. Deve-se lembrar que um determinado
teor de cinzas não é equivalente ao conteúdo de matéria mineral dum carvão. Representa, contudo, o
grosso da matéria mineral após a libertação de voláteis, como CO 2, SO2 e H2O, que se escapam de
minerais do tipo carbonatos, sulfatos, argilas e outros.

NOTA: tanto a humidade como as cinzas constituem uma carga estéril num carvão pois elas reduzem o seu
poder calorífico e a eficiência duma série de aplicações industrias. Eles correspondem a um certo peso no
transporte e, como tal, reduzem o valor comercial do carvão.

c) Voláteis (ou matéria volátil)

Os voláteis representam os componentes do carvão, excepto a humidade, que se libertam a altas


temperaturas na ausência de ar. Estes componente provêm principalmente da fracção orgânica do carvão,
mas alguma quantidade, mais reduzida, provém da matéria mineral

d) Carbono fixo

O carbono fixo é a quantidade de carbono que fica no resíduo após a libertação dos voláteis. O carbono fixo
não é calculado analiticamente, mas matemáticamente, subtraindo a 100% as percentagens dos outros
componentes.

3.5.1.2. Análises Elementares

As análises elementares dum carvão consistem na determinação do carbono e hidrogénio como produtos
gasosos da combustão completa do carvão, a determinação do enxofre e azoto, e a estimativa do oxigénio
por diferença (matematicamente).

Do mesmo modo que as análises imediatas podem ser calculadas para diferentes bases, também os
resultados das analálises elementares também podem ser expressas em diferentes bases, usando o
mesmo tipo de fórmulas que os usados na Tab. 13.

113
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Capítulo 3 Maputo, 2005

A determinação dos teores de C,H,O dum carvão permitem calcular vários rácios atómicos como H/C e O/C.
Se se calcularem estes rácios para os vários macerais e produtos orgânicos originais (madeira, ceras,
cutículas, lenhina, celulose, etc) obtém-se um diagrama como o da Fig. 169, chamado Diagrama de van
Krevelen, que mostra a evolução dos vários materiais orgânicos ao longo da incarbonização. Como se
pode ver do diagrama, os pontos de partida são vários, mas todos eles convergem na origem das
ordenadas, em que os rácios H/C e O/C são iguais a 0, uma vez que esse ponto corresponde a 100% de
carbono.

Fig. 169. Diagrama de van Krevelen (adaptado de Thomas, 1992).

3.5.1.3. Outras Análises

Além das análises imediatas e elementares, é possível realizar no carvão outros tipos de análises químicas,
como sejam:

a) Formas de enxofre: as proporções das formas de enxofre orgânico, inorgânico (pirítico e


sulfato) são importantes quando se considera o uso comercial do carvão. Os processos de
beneficiamento do carvão podem reduzir as formas inorgânicas, mas não as orgânicas. Assim um
carvão com alto teor de enxofre orgânico pode não ter utilidade, devido à toxicidade do enxofre, ou
quando muito ser misturado com outro carvão. Por outro lado, o enxofre pirítico está muito ligado a
problemas de combustão espontânea do carvão.

b) Dióxido de Carbono: O CO2 dum carvão ocorre na fracção mineral. Os carbonatos libertam
CO2 na combustão e contribuem para o teor total de carbono. Contudo, esta reacção diminui o total da
energia dum carvão.

c) Cloro: em geral o teor de cloro é baixo, e está geralmente associado a sais minerais. Contudo,
a presença de teores altos de cloro impedo o seu uso, já que o cloro provoca corrosão das caldeiras,
além de ser um grave agente poluidor atmosférico.

d) Fósforo: geralmente presente no mineral apatite, sendo prejudical em muitos processos


tecnológicos.

114
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Capítulo 3 Maputo, 2005

e) Análise de Cinzas: a composição das cinzas pode ser determinada do mesmo modo que se
faz a análise química duma rocha minerogénica, ou seja, em termos de óxidos: SiO 2, Al2O3, Fe2O3, FeO,
TiO2, CaO, MgO, K2O, Na2O, P2O5 e SO3. A importância de se saber a composição química das cinzas
vem do facto de que esta influi muito nos processos tecnológicos. Por exemplo, altos teores de óxidos
de Fe, Ca, Na ou K resultam em cinzas com baixas temperaturas de fusão, podendo estas entupir os
equipamentos.

f) Elementos-Traço: o carvão contém uma certa quantidade de elementos-traço, que podem ter
afinidade orgânica (ou seja, geralmente ligados à matéria orgânica), afinidade inorgânica (geralmente
ligados aos minerais) e sem nenhuma afinidade (podendo aparecer ligados tanto à matéria orgânica
como inorgânica). Elementos com afinidade orgânica são, por exemplo: B, Be, Ge. Com afinidade
inorgânica temos: Ar, Cd, Hg, Mn, Mo Pb, Zn, Zr. A presença destes elementos pode excluir o uso do
carvão, se não for possível diminuir as suas proporções, devido ao seu impacto ambiental sério, não só
no ambiente propriamente dito, como na saúde humana. Alguns elementos-traço podem ser extraídos
dos resíduos dos processos tecnológicos de utilização do carvão, como sub-produtos.

3.5.2. Propriedades de Combustão

A determinação dos efeitos da combustão do carvão é determinante para a sua selecção para um
determinado uso. Os ensaios são levados a cabo num forno para determinar o seu poder calorífico, a
temperatura de fusão das cinzas e as propriedades de cozedura 64 e coqueficantes.

Estas parâmetros são particularmente importantes pois eles constituem a base de muitas classificações do
carvão.

3.5.2.1. Poder Calorífico

O poder calorífico (PC) dum carvão é a quantidade de calor produzido por unidade de massa do carvão
quando combustado. O PC dum carvão é expresso de duas maneiras:

i. Poder Calorífico Superior – PCs – quantidade de calor libertado em teste laboratorial quando o carvão
é combustado em condições padronizadas a volume constante, de modo a que toda a água nos
produtos fique no estado líquido.

ii. Poder Calorífico Inferior – PCi – durante a combustão real nos fornos, o PCs nunca é atingido poque
algunms produtos, em especial a água, se perde junto com o seu calor de vaporização. O calor máximo
que se atinge nestas condições é medido pelo Pci

Tanto o PCi como o PCs são expressos em MJ/kg, kcal/kg e Btu/lb. A relação entre PCi e PCs é dada pelas
seguintes equações:

 Em MJ/kg PCi = PCs – 0.212H – 0.024H2O

 Em kcal/kg PCi = PCs – 50.7H – 5.83H2O

64
Em inglês caking, de cake = bolo.

115
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 Em Btu/lb PCi = PCs –91.2H – 10.5 H2O

Em que H = hidrogénio e H2O = humidade.

3.5.2.2. Temperatura de Fusão das Cinzas

116
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Capítulo 3 Maputo, 2005

A maneira como as cinzas reagem a altas temperaturas pode ser crítica para seleccionar o carvão para a

Fig. 170. Ensaio de fusibilidade das cinzas


combustãoO teste faz-se usando um cone, um cilindro ou cubo moldado de cinzas que é aquecido numa
atmosfera ligeiramente redutora ou oxidante, a temperaturas entre 1000-1600ºC. Neste processo, 4
temperaturas críticas se podem medir (Fig. 170):

 Temperatura de deformação inicial (TI): temperatura a que aparece o primeiro arredon-damento do


vértice do cone ou das arestas;

 Temperatura de amolecimento (TA): temperatura a que a amostra funde até à forma dum botão em
que a altura é igual à base;

 Temperatura de hemisfério (TH): temperatura a que a amostra funde até à forma dum botão em
que a altura é igual a metade da base;

 Temperatura de fusão (TF): temperatura a que o molde colapsou até ser uma cmada achatada.

O comportamento das cinzas é uma resposta directa da sua composição química. Os óxidos de Fe, Ca e K
reduzem as temperaturas de fusão, ao passo que o óxido de alumínio é o mais refractário.

3.5.2.3. Testes de Cozedura

Há dois testes fundamentais: o Índice de Intumescimento no Cadinho (crucible swlling index – CSI 65) e o
Índice Roga.

a) Índice de Intumescimento no Cadinho

65
CSI na nomenclatura ISO; na nomenclatura inglesa é FSI – free swelling index.

117
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O CSI (ou FSI) é uma medida do aumento de volume do carvão quando aquecido, sem a restrição de ar. A
amostra de carvão é aquecida num cadinho durante um tempo específico. Quando todos os voláteis se
tiverem libertado, fica um pequeno botão duma massa geralmente esponjosa – o coque. Uma secção
longitudinal desse botão é então comparada com uma série de perfis padronizados numa placa (Fig. 171).

Carvões com um CSI de 0-2 não são apropriados para o fabrico do coque. Carvões com altos valores de
CSI também não, pois são muito esponjosos e fracos para aguentarem com as cargas a que o coque tem
de ser sujeito.

Fig. 171. Esquema de placa com orifícios com as formas dos botões de coque do CSI.

b) Índice Roga

O teste para a determinação do índice Roga mistura a amostra de carvão com uma certa quantidade padrão
de antracite, mistura essa que depois é aquecida. O botão de coque resultante é depois testado para a sua
resistência mecânica, por rotação dentro dum tambor durante cerca de 15 minutos; a cada 5 minutos o
resíduo é peneirado e pesado.

Há uma correlação entre os índices de Roga e de Intumescimento (Fig. 172).

Fig. 172. Correlação entre os Índices Roga e de Intumescimento

118
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3.5.2.4. Testes de Coquefacção

Há vários testes para determinar as propriedade coqueficantes dum carvão:

a) Teste de Grey-King: o carvão finamente moído é aquecido lentamente num tubo fechado e o seu
aspecto/textura é comparado com padrões pré-estabelecidos.

b) Ensaio de Fischer: usado para carvões de baixo grau;

119
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Fig. 173. Esquema dum dilatómetro de Audibert-Arnu

c) Plastómetro de Gieseler: para formar coque, o carvão passa do estado sólido a um estado plástico
para originar um sólido poroso – o coque; o plastómetro mede as temperaturas em que o carvão muda
de estado físico;

d) Dilatómetro de Audibert-Arnu: durante o aquecimento, o carvão começa por encolher (diminui de


volume) e depois expande, para formar o coque; o dilatómetro é um aparelho que mede as temperaturas
em que estes fenómenos ocorrem. A Fig. 173 mostra um esquema dum destes dilatómetros e uma curva
resultante deste teste.

3.5.3. Propriedades Físicas

Além das propriedades químicas e de combustão dum carvão, a sua avaliação para uso comercial requer a
determinação de várias propriedades físicas: densidade, dureza, moendabilidade, abrasividade,
granulometria e lavabilidade.

A densidade depende do grau e do conteúdo de matéria mineral. A dureza e a moendabilidade são


importantes pois o carvão tem de ser esmagado/moído quando é utilizado. Para a moendabilidade usa-se o
Índice de Hardgrove que quanto maior mais brando o carvão é. A Abrasão é provocada
fundamentalmente pela matéria mineral.

Dada a sua importância, daremos a seguir algum enfoque na granulometria e na lavabilidade.

120
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Capítulo 3 Maputo, 2005

3.5.3.1. Ensaios Granulométricos

A granulometria dum carvão depende do modo como ele foi minado e manuseado, por um lado, e por outro
da sua dureza, resistência e fracturação inerente.

A granulometria das partículas de carvão afecta o desenho da planta de tratamento, que por seu lado
depende do tamanho das granulometria a ser vendida.

Como o nome indica, Ensaio Granulométrico é a separação do carvão em várias fracções de


granulometrias variadas, dum mínimo a um máximo pré-definidos, com vista a estudos variados para a
caracterização petrográfica, química, física e tecnológica de cada fracção. O ensaio granulométrico é levado
a cabo utilizando peneiros (se o teste for a nível laboratorial) e crivos (se for a nível industrial).

Existem normas que definem quais os peneiros/crivos a serem utilizados, de modo a que as análises
possam ser comparadas. Em Moçambique não existem normas nacionais que definam estes parâmetros,
pelo que se torna necessário adoptarem-se outras normas. Assim, e para que os resultados tenham "valor
internacional", deve-se usar normas reconhecidas internacionalmente, como as normas ISO (International
Standard Organisation). Concretamente, para os ensaios granulométricos, a norma usada é a ISO 1953-
1972. Esta norma define os seguintes crivos/peneiros (malha em milímetros):

0.045 - 0.063 - 0.09 - 0.125 - 0.18 - 0.25 - 0.355 - 0.5 - 0.71 - 1 - 1.4 - 2 - 2.8 - 4 - 5.6 - 6.3 - 8 - 10 - 11.2 -
12.5 - 16 - 20 - 22.4 - 25 - 31.5 - 40 - 45 - 50 - 63 - 80 - 90 - 100 - 125

Além de definir os crivos/peneiros, define também as quantidades de amostra a utilizar (para que os
resultados sejam representativos), bem como a marcha de análise a proceder. O ensaio granulométrico do
carvão segue o processo normal de qualquer ensaio granulométrico. A Tabela 14 mostra os resultados dum
ensaio granulométrico.

Tabela 14. Resultados dum ensaio granulométrico


Peso inicial: 1000 g
Fr. Granulométrica
Peso (g) %
(mm)
-0.5 100 10.1
+0.5-1 270 27.3
+1-2 350 35.4
+2-4 90 9.1
+4-6 70 7.1
+6-8 50 5.0
+8-10 40 4.0
+10-12 10 1.0
+12 10 1.0
Total 990 100.0
Perdas 10 10.0

Após se determinarem os pesos e percentagens das várias fracções granulométricas, desenham-se as


respectivas curvas granulométricas (Fig. 174).

121
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Fig. 174. Curvas granulométricas referentes ao ensaio da Tabela 14.

3.5.3.2. Ensaios de Lavabilidade

As partículas dum carvão têm densidades diferentes, que representam as várias quantidades de matéria

Fig. 175. Curvas de lavabilidade


mineral presente. Consequentemente, o processo de preparação do carvão é desenhado para remover

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Capítulo 3 Maputo, 2005

essa matéria mineral de modo que o teor de cinzas seja reduzido e que o produto beneficiado seja
melhorado para ser vendido a melhor preço.

As partículas de carvão são separadas em diferentes densidades por imersão emlíquidos de densidades
progressivas, geralmente variando de 1.3 a 2.0 g/cm 3. Os resultados podem ser expressos graficamente
(Fig. 175) como uma série de curvas de lavabilidade, que são usadas para calcular a quantidade de
carvão que se pode obter para uma determinada qualidade, a densidade do líquido requerida para o efeito e
a qualidade do refugo.

Quando se imerge o carvão num líquido, por exemplo de densidade 1.40, há uma porção que fica a flutuar
(Flutuado d<1.40), há uma porção que afunda (Afundado d>1.40) e há uma porção que fica suspensa no
seio do líquido (Middlings d=1.40). Os afundados e os middlings são depois misturados e imersos num
líquido de densidade mais alta, e assim por diante até se atingir a última densidade definida.

Na figura anterior, o significado das curvas é como segue:

Curva 1: permite determinar o teor médio em cinzas dos flutuados acima duma determinada densidade de
corte;

Curva 2: permite determinar o teor médio em cinzas dos afundados abaixo duma determinada densidade
de corte;

Curva 3: permite determinar a DC para se obter um produto com um determinado teor médio de cinzas;

Curva 4: permite determinar o teor médio de cinzas do corte;

Curva 5: relaciona a DC com a quantidade de material que se situa no intervalo dessa DC + 0.1.

Olhando para o exemplo da Fig. 175, para se obter um produto com 7% de cinzas, o rendimento é de 85.5%
(e o do refugo de 14.5%) e tem de se usar um líquido de densidade 1.484.

123
Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 3 Maputo, 2005

3.6. Classificação dos Carvões

3.6.1. Introdução

Como acontece com todos os objectos naturais, os princípios da Sistemática são aplicados às rochas (e o
carvão não é excepção) com vista à sua Classificação (Lemos de Sousa et al, 1992). De facto, a presença
de diversos objectos naturais e a necessidade de se falar uma linguagem comum, levaram, numa primeira
fase, à definição das características que indicam ou marcam as diferenças ou semelhanças de modo a
agrupar esses objectos (Taxinomia). A segunda fase foi a de atribuir nomes a essas categorias
(Nomenclatura).

Do mesmo modo, as classificações podem ter diversos objectivos que podem ser subdivididos em
científicos e aplicados, estes de iportância de aplição prática daqs coisas, se bem que as classificações
científicas sempre têm aplicação prática.

No que respeita aos caustobiólitos (matéria orgânica sedimentar fóssil) a que pertencem os carvões, a
primeira tentativa de sistematização foi feita por Libavius em 1599, seguido de Stockar em 1763. No que
respeita ao carvão propriamente dito, tentativas de sistematização são conhecidas pelo menos desde 1837,
por Regnault.

Não é nosso objectivo entrar em detalhes sobre a história de classificação dos carvões, já que este assunto
está bem documentado em muitas publicações.

O estudo detalhado deste assunto confirma que, juntamente com trabalhos publicados sobre sistemática,
vários países elaboraram e publicaram Normas Nacionais sobre a matéria, principalmente aqueles com
uma indústria de carvão avançada. O objectivo destas normas é geralmente prático e aplicado à
comercialização do carvão e à sua aplicação em várias tecnologias.

Contudo, é essencial clarificar aspectos básicos (além da própria classificação), que estão ligados a
conceitos modernos da sistemática do carvão. Considerando a avaliação como a determinação das
propriedades, características e comportamento dum determinado produto em relação ao seu uso, é óbvio
que tanto a classificação como a especificação contribuem distinctivamente para isto. Contudo, enquanto
que a especificação se refere precisamente a parâmetros não necessáriamente incluídos na classificação,
cada um deles aplicável a um aspecto específico ou a um requisito para determinado uso, as classificações
xonformam-se aos princípios da sistemática referidos acima.

No seu conjunto, estes aspectos estão ligados à Qualidade que corresponde à totalidade das
características dum produto que lhe dão a capacidade de satisfazer certas necessidades. Estas
características são verificadas por meio de processos de Qualificação, o que significa a implementação
dum Sistema de Qualidade através da Padronização e Certificação.

Por outro lado, com vista a facilitar a boa ordenação e agrupamento dos objectos, é necessário distinguir entre
Classificações Científicas/Genéticas e Classificações Técnicas/Comerciais, ambas com diferentes
campos de aplicação, meios, objectivos e fins. A Tabela 15 ilustra este aspecto. Deve enfatizar-se que a
classificação científica/genética olha o carvão como uma entidade geológica (Carvão Na Camada), enquanto

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que a técnica/comercial os olha como um produto industrial já beneficiado (de uma simples camada ou para
formar um blend) com o objectivo de ser comercializado e utilizado em vários processos tecnológicos.

Tabela 15. Classificação e Codificação do carvão (modificado de Alpern, 1981; in Lemos de Sousa et al, 1992).
CIENTÍFICA/GENÉTICA TÉCNICA/COMERCIAL
(Classificações) (Codificações)
 Carvão como rocha  Produtos beneficiados
Aplicação sedimentar (maceral+mineral) (esmagado, lavada, granulometria)
 Camadas in situ  Camadas ex-situ + blends
 Sistema natural  Sistema artificial
 Descritivo (palavras)  Código numérico
Meios
 Parâmetros limitados, em  Parâmetros ilimitados, sem
ordem hierárquica hierarquia
 Fins científicos/geológicos  Fins comerciais de
importação/exportação
 Cálculo de reservas e  Caracterização detalhada
recursos  Avaliação de carvões ex-situ
Objectivos  Avaliação de carvões in situ
 Ensino
 Tentativa de correlacionar
diferentes sistemas nacionais de
classificação

As classificações científicas/genéticas não podem ser olhadas como modelos meramente teóricos sem
aplicações práticas, pois elas contribuem favoravelmente para calcular reservas numa base comum. No caso
das classificações técnicas/comerciais, é importante enfatizar que as diferentes categorias são expressas
geralmente por um Código numérico com algarismos ilimitados, ligados a parâmetros escolhidos, sem
hierarquia escolhida e servindo somente objectivos práticos. Por isso, estas classificações são chamadas de
Codificações, deixando o conceito de Classificação para as classificações científicas/genéticas.

A grande diversidade de sistemas por um lado, e os objectivos distintos requeridos, por outro, levaram a
várias situações de confusão e caos internacional. Isto levantou a necessidade de elaborar sistemas de
âmbito e aceitação internacionais, uma vez que é impossível harmonizar os vários sistemas nacionais,
como se pode ver da Tabela 16.

3.6.2. Sistemas de Classificação

Alguma concordância já foi atingida a nível internacional. Os sistemas das Figs. 176 e 177 mostram essa
concordância. A Fig. 176 mostra a versão original em 3D, ao passo que a Fig. 177 mostra a versão mais recente
(1991) da Classificação da CEE-NU para Carvões em Camada, num grafismo bidimensional. Comparem-se as
duas versões e verifique-se que há algumas diferenças nas subdivisões da classificação quanto grau.

A Fig. 178 mostra a correlação entre a Classificação da CEE-NU para cafrvões em Camada com outros
parâmetros de grau existentes na bibliografia e noutros sistemas nacionais.

Falcon (1986) resolveu adaptar a versão de Alpern (Fig. 176) aos carvões sul-africanos, já que estes, como
carvões gondwânicos que são, apresentam características diferentes dos norte-atlânticos. O modelo (3D) de
Falcon vem na Fig. 179, a qual apresenta a projecção de alguns carvões de Moatize (Vasconcelos, 1995).

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Em comparação com as classificações anteriores, nota-se esta reflecte melhor as características de maiores
conteúdos de inertinite dos carvões gondwâncios.

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Tabela 16. Classes do antigo Sistema de Classificação para Carvões de M’edio e Alto Grau da CEE-NU (1956), comparadas com
as “classes” de Sistemas Nacionais (segundo van Krevelen, 1961, in Lemos de Sousa et al, 1992).
Classes do Sistema Internacional
“Classes” de vários sistemas nacionais
Parâmteros
Classe Nº Matérias Poder Estados
Bélgica Alemanha França Itália Holanda Polónia Reino Unido
Voláteis Calorífico Unidos
Antraciti
0 0–3 Meta-antracyt Meta-Anthracite
speciali
Anthracite
1A 3 – 6.5 Anthraciet Antracyt Anthracite
Maigre Anthrazit Antraciti comuni Anthracite
Pólantracyt
1B 6.5 – 10
Maigre
Semi-Anthracite
Carboni magri Dry steam
¼ gras Mager Chudy
2 10 – 14 Magerkohle
½ gras
Demi-gras Low-volatile
Carboni semi- Pólkoksowy Coking steam
3 14 – 20 ¾ gras Esskohle Esskool bituminous
grassi Metakoksowy
Carboni grassi Mediumm Medium-volatile
4 20 – 28 Fettkohle Gras à courte Ortokoksowy
corta fiamma volatile bituminous
flamme Vetkool
Carboni grassi coking
5 28 – 33 Gras High-volatile
media fiamma Gasowo-
Gaskohle bituminous A
> 33 Gras koksowy
6 8450 – 7750 Carboni da gas Gaskool
(32 – 40) proprement dit
> 33 High-volatile
7 7750 – 7200 Gazowy
(32 – 34) Carboni grassi bituminous B
Gasvlamkool
da vapore High volatile
Flambant gras
> 33 Gasowo-
8 7200 – 6100 Gasflammkohle
(34 – 36) plomienny High-volatile
bituminous C
Carboni secchi Vlamkool
> 33 Flambant sec
9 < 6100 Plomienny
(36 – 48) Sub-bituminous

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Fig. 176. Versão original da Classificação de Alpern para Combustíveis Fósseis Sólidos (ECE-UN, 1986)

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Fig. 177. Versão alternativa simplificada (e planificada) da Classificação da CEE-NU para Carvões em Camada.

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Fig. 178. Comparação entre a Classificação da CEE-NU para carvões em Camada com outros parâmetros de grau existentes na
bibliografia e noutros sistemas nacionais.

Além destas classificações, há outras que não referiremos aqui para não se tornar fastidioso, e que podem
ser consultadas em Lemos de Sousa et al, 1992.

3.6.3. Sistemas de Codificação

A nível dos vários países, principalmente os grandes produtores de carvão, há vários sistemas de
codificação. No entanto, a CE-NU adoptaram em 1988 um sistema de Codificaão para carvões de médio e
alto grau com base em 8 parâmetros (Fig. 180). A título de curiosidade, as Figs. 181 e 182 apresentam os
sistemas de codificação australiano e sul-africano.

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Fig.179. Classificação de Alpern adaptada aos carvões sul-africanos (Falcon, 1986).

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Fig. 180. Sistema de Codificação da CEE-NU para Carvões de Grau Médio e Superior

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Fig. 181. Sistema de Codificação para Carvões Australianos segundo a norma AS 2096-1987 (NP 4222-1992)

Fig. 182. Síntese dos parâmetros usados na África do Sul, segundo a especificação para carvões betuminosos e antracite
(Specification for Anthracite and Bituminous coals (1982).

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