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Quando se se refere ao conceito de CARVÃO, algumas questões se põem, a principal das quais é: será o
carvão uma rocha?
Fig. 2. Amostra de Carvão Antracítico. Durante este processo de acumulação de matéria orgânica, os processos
naturais da Geodinâmica Externa e Interna vão introduzindo matéria inorgânica (mineral) nos pântanos,
havendo por isso sempre mistura de matéria orgânica com matéria mineral.
Uma vez que o carvão resulta de materiais e processos geológicos naturais e tem matéria mineral
misturada, ele é considerado como rocha. Assim, a definição adoptada pelo ICCP 1 (1963) para carvão é:
O Carvão é rocha sedimentar combustível formada a partir de restos vegetais em vários estágios de
preservação por processos que envolvem a compacção do material soterrado em bacias,
inicialmente em profundidades moderadas.
Evidentemente que as técnicas modernas de investigação e análise de carvões evoluiram imenso desde 1963
e por isso o ICCP, em conjunto com outros organismos internacionais, está a estudar uma definição mais
actual e correcta para o conceito de carvão.
Uma vez que o carvão tem origem em matéria orgânica (com maior ou menor quantidade de matéria mineral à
mistura), os seus constituintes são completamente diferentes dos minerais. Esses constituintes, que levam o
nome de macerais, são de vários tipos consoante o órgão/tecido/composto vegetal de que são originários e do
tipo de transformação que sofreram: lenhina, celulose, resinas, cutículas, esporos, pólens, algas, fungos, etc.
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ICCP – International Committee for Coal and Organic Petrology.
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Geologia do Carvão Apontamentos para as aulas
Capítulo 1 Maputo, 2005
O estudo destes macerais é feito ao microscópio petrográfico de luz reflectida, e os métodos modernos
aplicam a luz azul e/ou ultravioleta para a observação de certos macerais, ou de certas propriedades de
macerais, que variam não só com o tipo de maceral, mas também com o grau de evolução da matéria
orgânica. Em capítulo próprio veremos em detalhe os macerais e os métodos de análise dos carvões.
O estudo da geologia do carvão baseia-se em grande parte no estudo da sua Petrografia. Como o nome
sugere, a Petrografia do Carvão é o estudo da constituição orgânica e inorgânica do carvão, da sua origem
e da história geológica subsequente, e das suas propriedades (Bustin et al., 1983).
Como atrás se disse, o estudo do carvão faz-se recorrendo ao uso de métodos microscópios, entre outros. A
microscopia tem-se revelado uma ferramenta poderosa na solução de vários problemas, desde a interpretação
de fácies de deposição, de aspectos de tectónica, de história geotérmica e ainda na utilização do carvão em
várias aplicações tecnológicas como a siderurgia, centrais térmicas, hidrogenação, liquidificação, gasificação, etc.
1.2. Historial
A origem da Petrologia do Carvão está muitas vezes associada a dois nomes e às datas de duas
publicações importantes:
Marie Stopes, 1919. On the four visible ingredientes in banded bituminous coals. Proceedings of the
Royal Society, B, vol. 90: 497-508.
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Capítulo 1 Maputo, 2005
O Sistema de Stopes (mais tarde Stopes-Herleen) foi adaptado a estudos em luz reflectida, tendo sido assim
modificado e tornado mais abrangente, e constitui hoje o método de descrição petrográfica do carvão aceite por
todos os países.
Antes de Stopes e Thiessen, as investigações em petrologia do carvão eram levadas a cabo de modo esporádico e
isolado por cientistas da Inglaterra, França, Alemanha e EUA. Um dos resultados mais importantes destes trabalhos
pioneiros foi a confirmação da origem do carvão em plantas terrestres.
Outro resultado de importância mais limitada foi a distinção entre carvões cannel e boghead, em que a microscopia
mostrou que os últimos têm origem em algas.
Este facto foi importante no meio do século XIX para resolver a contenda que existia em Inglaterra sobre se
o ‘mineral’ torbanite deveria ser considerado carvão ou mineral (senso restrito).
Os anos de 1919-1920 marcam um ponto de viragem na petrologia do carvão. A partir daí as investigações
tornaram-se mais sistemáticas, mais pessoas se envolveram nelas, e apareceu um grupo de especialistas
cujo interesse principal era a petrologia do carvão, e não a paleobotânica e a mineralogia, com o carvão
como assunto secundário.
Na década de 1920 passou a utilizar-se a microscopia de luz reflectida à petrologia do carvão, sendo de
mencionar o trabalho pioneiro do alemão E. Stach (1927).
No fim dos anos 20-início dos anos 30, vários cientistas juntaram-se a Stopes, Thiessen e Stach nas
pesquisas sobre a composição do carvão por métodos petrográficos: Duparque (França), Seyler (Inglaterra)
e Jurasky e Hoffmann (Alemanha). Uma boa revisão dos trabalhos conduzidos por autores ingleses foi feita
por Murchison (1978).
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Em 1935 Stach (Fig. 6, 1ª fila, 3º da direita) publicou a primeira edição do seu livro em petrologia do carvão o
qual, 40 anos depois foi actualizado (Stach et al, 1975) e mais tarde revisto (Stach et al, 1982). Este livro (Fig.
6) deve ser olhado como o livro de referência mais importante em petrologia do carvão.
Quase todos os primeiros estudos se concentraram no que poderia ser descrito como a caracterização do
carvão por métodos petrológicos. Tais estudos visavam:
Por volta de meados da década de 30, uma grande quantidade de informação tinha sido conseguida, e
devido às diferentes abordagens dos vários cientistas e às diferentes ideias sobre classificação, a confusão
instalou-se no que toca a conceitos e terminologias.
Para resolver alguns destes problemas foi organizada uma reunião em Herleen (Holanda) em 1935, com a
presença de Marie Stopes. Um resultado importante deste encontro foi a criação do Sistema (de
nomenclatura) Stopes-Herleen, que constitui a base do esquema actual de terminologia petrográfica (do
carvão). Um outro resultado importante foi a introdução, por Stopes, do conceito e termo maceral para
designar os constituintes microscópicos fundamentais do carvão, análogos aos minerais das rochas
inorgânicas. Este conceito de maceral é válido ainda hoje e constitui parte essencial da nomenclatura da
petrologia do carvão. No encontro de Herleen foram ainda identificados os três grupos de macerais hoje em
uso – vitrinite, liptinite2, inertinite. A Fig. 7 mostra 3 microfotografias de macerais destes três grupos. O
encontro de Herleen foi um marco na história da petrologia do carvão, mas deixou uma série de problemas
por resolver. Um deles tem a ver com as alterações na natureza dos macerais com as alterações no grau de
incarbonização do carvão (grau de metamorfismo), e como essas alterações podiam ser reconciliadas com
a nomenclatura petrográfica. Em 1958, Spackman re-examinou o conceito de maceral e propôs revisões a
serem mais tarde aceites.
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Inicialmente o termo usado era exinite. A razão da mudança será explicada em capítulo próprio.
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A década de 30 viu a introdução da nova técnica que se tornou parte essencial da petrologia do carvão,
nomeadamente a medição do poder reflector e o seu uso como indicador do grau de incarbonização.
Hoffmann & Jenkner (1932) na Alemanha foram os primeiros a explorar esta ferramente petrológica importante.
Ainda na mesma década, vários cientistas começaram a explorar as relações entre a composição petrográfica
e o comportamento tecnológico do carvão. Havia-se notado que os carvões ricos em vitrinite e liptinite tinham
um comportamento completamente diferente dos ricos em inertinite no tocante à fluidez, gasificação e extracção.
Vários trabalhos passaram a reportar a composição petrográfica dos carvões estudados.
Um marco importante na história dos anos 50 foi a criação do ICCP – International Committee for Coal Petrology
(Fig. 8) com o objectivo de desenvolver a ciênca pela padronização de metodologia e terminologia. Este Comité
estabeleceu a prática de se encontrar todos os anos, e um dos principais resultados dos seus esforços foi a
publicação (ICCP, 1957) do Manual de termos, reeditado em 1963 e acrescido de suplementos em 1971, 1973 e
1993 os quais têm não só descrições de novos termos, em especial no que toca a lignites, mas também descrições
precisas de técnicas petrográficas. O Comité está organizado em Comissões e Grupos de Trabalho que levam a
cabo estudos colaborativos para teste de novas metodologias e
para investigar novas áreas, cujos resultados são reportados nas
reuniões anuais. A título de curiosidade, há a referir que
Moçambique, em conjunto com a África do Sul, foi hospedeiro da
54ª Reunião Anual, a primeira que se realizou em África e
envolvendo dois países na organização (Fig. 9).
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Desde os anos 60 tem vindo a aumentar o número de pessoas que se dedicam à petrologia do carvão ou ao
seu uso nas suas pesquisas. A petrologia do carvão é hoje uma disciplina multifacetada, incluindo estudos de
petrologia da turfa (percursor do carvão) e das causas da incarbonização (fundamental para o estudo das
Fig. 9. Foto de grupo dos participantes à 54ª Reunião Anual do ICCP em Maputo.
propriedades físicas e químicas dos macerais). Inclui ainda estudos de petrologia da sedimentologia das
camadas de carvão, do material de origem dos hidrocarbonetos (kerogénio), de meteorização e oxidação, e
de aplicações técnicas, como a coquefacção, a liquefacção, a combustão, etc.
No continente americano foi criada uma sociedade semelhante ao ICCP - The Society for Organic
Petrology – TSOP, e recentemente o ICCP e a TSOP decidiram trabalhar em conjunto, havendo
representantes de um nas reuniões anuais do outro. A Fig. 10 mostra os logotipos das duas
organizações e os respectivos endereços da Internet.
http://www.tsop.org/
http://www.iccop.org/
Fig. 10. Os logotipos do ICCP e do TSOP
Microscopia automatizada;
A microscopia automatizada apresenta atractivos, pois não só evita o trabalho enfadonho e demorado de
colheita manual de informações/dados, como também permite que essa colheita de dados seja mais rápida e
objectiva. Estas características – rapidez e objectividade – são especialmente atrativas para os laboratórios
industriais que geralmente necessitam rápidamente de dados referentes a grande número de amostras.
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o Índices Térmicos
o Metano na Camada
o Fácies Carboníferos
o Classificação da Matéria Orgânica Dispersa
o Aplicações Ambientais da Petrologia Orgânica e do Carvão
o Pseudovitrinite
o Sistema de Qualificação para Análises de Reflectividade
1950 Geleen, Holanda 1971 Krefeld, Alemanha 1993 Chania, Creta, Grécia
1951 Paris, França 1972 Belgrado, Jugoslávia 1994 Oviedo, Espanha
1952 Essen, Alemanha 1973 Lille-Paris, França 1995 Krakow, Polónia
1953 Liège, Bélgica 1974 Ustron-Jaszowiec, Polónia 1996 Heerlen, Holanda
1954 Londres, Reino Unido 1975 Moscovo, URSS 1997 Wellington, Nova Zelândia
1955 Madrid, Espanha 1976 Newcastle-upon-Tyne, R. Unido 1998 Porto, Portugal
1956 Essen, Alemanha 1977 Liège-Wegimont, Bélgica 1999 Bucareste, Roménia
1957 Paris, França 1978 Essen, Alemanha 2000 Rio de Janeiro, Brasil
1958 Liège, Bélgica 1979 Urbana, EUA 2001 Copenhaga, Dinamarca
1959 Heerlen, Holanda 1980 Ostrava, Checoslováquia 2002 Maputo - Pretoria, Moçambique –
1960 Madrid, Espanha 1981 Pau, França RSA
1961 Krefeld, Alemanha 1982 Porto, Portugal 2003 Utrecht, Holanda
1962 Liège, Bélgica 1983 Oviedo, Espanha 2004 Budapeste, Hungria
1963 Paris, França 1984 Calgary, Canadá
1964 Hoensbruck, Holanda 1985 Dubrovnik, Jugoslávia Reuniões futuras
1965 Budapeste, Hungria 1986 Doncaster, Reino Unido 2005 Patras, Grécia
1966 Madrid, Espanha 1987 Beijing, China 2006 Bandung, Indonésia
1967 Sheffield, Reino Unido 1988 Aachen, Alemanha 2007 Victoria, Canadá
1968 Essen, Alemanha 1990 Wollongong, Austrália 2008 Oviedo, Espanha
1969 Varna, Bulgária 1991 Porto Alegre, Brasil 2009 Porto Alegre, Brasil
1970 Liège, Bélgica 1992 Pennsylvania, EUA 2010 Belgrado, Sérvia e Montenegro
A microscopia de fluorescência baseia-se no facto de que certos constituintes do carvão fluorescem quando
irradiados com luz UV ou azul. A técnica foi aplicada em 1936 por Schochardt, mas só nos anos 70 os
equipamentos e metodologia evoluíram suficientemente para tornar a técnica fiável em petrologia do carvão.
A fluorescência permite, por um lado, a identificação dos componente ricos em hidrogénio (liptinites), e por
outro constitui um método para estudos de incarbonização, uma vez que as propriedades fluorescentes dos
macerais variam com o grau. A Fig. 7 mostra uma imagem duma liptinite mostrando fluorescência.
BIBLIOGRAFIA
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Capítulo 1 Maputo, 2005
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ICCP, 1963. International Handbook for coal petrography. 2nd Edition. Centre National de la Recherche Scientifique,
Paris, France.
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Recherche Scientifique, Paris, France.
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Handbook for coal petrography. 2nd Supplement to 2nd Edition. Centre National de la Recherche Scientifique, Paris,
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Recherche Scientifique, Paris, France.
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Faculdade de Ciências, Universidade do Porto, Porto, Portugal.