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Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Engenharia
Departamento de Engenharia Electrotécnica

DISCIPLINA: Comunicações Sem Fio

FICHA 2

CONCEITOS BÁSICOS EM SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO MÓVEL

4º Ano – 2019

1 Equipe de Trabalho: Eng.º Hélder Baloi e Eng.º Luís Massango.


1. Introdução
O crescimento dos sistemas de comunicações móveis é um dos maiores fenómenos registados
nas aplicações de telecomunicações nestes últimos anos. A possibilidade de se efectuar e receber
chamadas a partir de um terminal móvel sem fios, qualquer que seja a localização, é uma das
grandes atrações oferecidas aos consumidores.

A oportunidade de negócio está longe de estar esgotada, pois basta imaginarmos que cada
cidadão, e não cada casa, pode ser um potencial assinante móvel, incluindo as camadas etárias
mais jovens. Não admira pois que o crescimento do mercado das comunicações móveis tende a
superar qualquer um dos outros mercados das telecomunicações. As comunicações móveis
introduziram diversos conceitos nas telecomunicações, por exemplo, um número de telefone
deixou de estar associado a um local, como acontece com a rede fixa, para estar associado a uma
pessoa, qualquer que seja o local onde esta se encontre.

Não sendo o único, o sistema GSM (sistema utilizado em Moçambique) é pois um exemplo de
sucesso, onde a explosão da oferta e da procura originaram taxas de penetração que não têm
equivalência na história das telecomunicações. Para isso contribuíram diversos factores, dos quais
não está alheio ao facto deste sistema ser resultado de uma concertação de esforços entre várias
entidades.

1.1. Evolução
A tecnologia das Telecomunicações Móveis não é de alguma forma recente, é um conceito com
cerca de 50 anos. Aparelhos montados em veículos já existem à 40 ou 50 anos, na altura sistema
extremamente dispendiosos e portanto em muito baixo número. Foi a partir dos anos 80 que as
telecomunicações móveis começaram a crescer, com a entrada em funcionamento de diversos
sistemas baseados em tecnologias analógicas. Nos anos 90 entraram em funcionamento as
tecnologias digitais, acontecendo então a explosão nesta área que todos conhecemos.

A capacidade de integração em larga escala alcançada nos anos 70 e o desenvolvimento dos


microprocessadores foi a porta aberta para o crescimento da oferta na área dos móveis.
Apareceram então os sistemas de 1ª Geração, sendo sistemas desenvolvidos dentro de limites
nacionais, ou de fabricantes, estando bastante limitados em termos de crescimento.

O motivo, é que sem critérios de estandardização surgiram muitos sistemas em que os países
tecnologicamente mais desenvolvidos tentaram fazer singrar os seus próprios sistemas como se
evidencia na tabela 1.1.

A multiplicidade de sistemas levou a que houvesse a tentativa de uniformização universal mas tal
não veio a ser conseguido pois Europa, EUA e Japão quiseram fazer prevalecer os seus
interesses económicos e proteccionistas acima dos interesses universais. A Europa adoptou o
sistema GSM (Sistema Global para Comunicações Móveis) que viria a ser aceite na maioria dos
países; os EUA adoptaram o AMPS (Advanced Mobile Phone System) e o Japão adoptou o
sistema PDC (Personal Digital Cellular).

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Tabela 1.1 - Cronologia dos sistemas de comunicação móvel.

Dado o fracasso da uniformização em relação às redes móveis iniciais, e porque um sistema só


será realmente móvel se poder ser utilizado em qualquer parte do mundo, tentou estandardizar-
se a geração seguinte, adoptando-se o sistema IMT2000/UMTS. Este processo de convergência
de sistemas móveis é ilustrado na Figura 1.1 e oportunamente se fará a sua descrição técnica.

Figura 1.1 – Evolução das redes móveis.

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1.2. Conceito de comunicação rádio
O telemóvel é na sua essência um equipamento emissor/receptor porque recebe e emite sinais de
rádio. Conforme deve recordar, as comunicações de rádio entre um emissor e um receptor
podem ser do tipo simplex, half-duplex ou duplex.

Figura 1.2 – a) Comunicação Simplex; b) Half-duplex; c) Duplex.

 Em simplex, a comunicação é feita numa única direcção ou seja, somente do emissor


para o receptor, como mostra a Figura 1.2 a). Um exemplo simplex é o de uma emissora
de rádio FM. Ela emite mas os rádios que captam a estação, não têm qualquer
possibilidade de comunicar com ela;

 Em half-duplex a comunicação pode ser feita em ambos os sentidos, mas de modo


alternado, ou seja, num determinado instante a informação só vai ou só vem, tal como
indicado na figura Figura 1.2 b). Um exemplo half-duplex é a comunicação utilizando
walkie-talkies, mais formalmente conhecido como transceptor de mão (transceptor de
rádio de dois pontos). Quando uma pessoa fala a outra deve escutar. Quando a primeira
pessoa termina de falar, diz "terminado" e liberta o canal para a outra pessoa poder então
comunicar.

A impossibilidade de falarem ao mesmo tempo é derivada de se utilizar a mesma frequência para


emitir e receber. Não há actualmente tecnologia que permita ao mesmo equipamento estar a
emitir e a receber sinais na mesma frequência porque os sinais emitidos são muito fortes e se
sobrepõem aos sinais recebidos que são sempre muito mas mesmo muito mais fracos.

Para que uma comunicação rádio possa ser feita em ambos os sentidos é necessário utilizar duas
frequências diferentes, uma para emissão, outra para recepção (Figura 1.2 c ). E note-se que
estas frequências têm que ser suficientemente afastadas entre si para que não façam
interferência uma na outra durante a emissão/recepção.

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Assim, um canal simplex ou half-duplex necessita apenas de um conjunto de frequências que
será comum à emissão e à recepção.

Um canal duplex obriga a dois conjuntos de frequências, um para emissão, outro para recepção.
O canal duplex é portanto formado por dois canais simplex.

À comunicação emissor - receptor chama-se downlink ou ligação descendente e à comunicação


receptor - emissor chama-se uplink ou ligação ascendente (Figura 1.3).

Figura 1.3 – Downlink-Uplink.

Sempre que ligamos um telemóvel para receber ou para fazer uma chamada telefónica, ele
comunica com uma estação base próxima e é a partir dessa estação que o sinal será
reencaminhado para outros telemóveis ou para a rede fixa. Nunca se faz comunicação entre
telemóveis directamente.

2. Célula em Redes Móveis


Os primeiros sistemas de comunicação por rádio móvel possuíam uma única estação base, com
uma antena num ponto elevado e dominante e alta potência de transmissão, cobrindo uma
grande área e utilizando todo o espectro de frequências.

Figura 2.1 – Comunicação 1ª geração.

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 A comunicação ficava assim restrita à área coberta por essa antena e o volume de tráfego
era limitado pelo número de canais disponíveis;
 Os sistemas deveriam estar geograficamente separados para evitar a interferência co-
canal, mas isto gerava descontinuidade das chamadas em andamento sempre que o
utilizador necessitava de percorrer duas áreas de serviço distintas servidas por antenas e
frequências diferentes.

O conceito de célula patenteado em 1972 pelos laboratórios Bell (EUA), foi a chave que veio
revolucionar as comunicações móveis. Em vez de utilizar um emissor de alta potência para
cobrir uma área, utilizam-se vários emissores de baixa potência para cobrir a mesma área de
modo a que não interfiram entre si.

Assim, o conceito de células aparece como sendo o de áreas separadas, servidas pelo mesmo
canal rádio. Surge da necessidade de:

 Utilização de diversos canais de rádio; e


 Necessidade de mobilidade do móvel sem perder nunca o sinal rádio, tirando partido da
limitada distância de propagação de ondas de alta frequência.

Figura 2.2 – Alcance limitado do transreceptor.

Tendo essas limitações de alcance, que tecnicamente poder-se-ia exigir maior potência, no novo
conceito, ao em vez de aumentar a potência de transmissão os sistemas celulares são baseados no
conceito de reutilização: a mesma frequência pode ser reutilizada em diferentes locais, desde
que estes estejam a uma distância mínima entre si (as antenas não são instaladas tão altas).

Figura 2.3 – Maior cobertura com a reutilização de frequências.

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Assim, quanto menor for o tamanho das células, maior será o número de canais que podem ser
utilizados simultaneamente na área constituída por diversas células.

A Figura 2.4 dá um exemplo da diferença entre o conceito tradicional e o conceito célula. A área
da figura pode ser coberta por uma só estação rádio de alta potência com por exemplo 100
canais.

Figura 2.4 – Conceito celular.

Se utilizarmos estações de menor potência poderemos então atribuir 25 canais para cada uma
dessas antenas e repetir os canais atribuídos desde que a distância entre estações seja suficiente
para eles não interferirem.

Assim as estações [1 e 7], [2 e 4], [3 e 5] e [6], ao transmitirem 25 canais cada uma totalizarão
175 canais em vez de 100 canais da estação de antena de alta potência. Este conceito celular
permite portanto:

 a reutilização de frequências; e
 o aumento substancial de capacidade de tráfego dentro da mesma área.

Na sua essência cada uma destas células pode ter o formato que se quiser, mas o formato mais
intuitivo seria o formato circular, tal como indicado na Figura 2.5, porque a antena da célula, se
fosse uma antena do tipo isotrópico, transmitiria por igual em todas as direcções.

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Figura 2.5 – Célula circular.

Contudo, ao longo de todos estes anos de projectos e ensaios de redes móveis, provou realmente
o formato hexagonal ser o que mais se aproxima da realidade no terreno e por isso é o formato
normalmente adoptado.

Figura 2.6 – Célula hexagonal e circular.

Deste modo, a distribuição de frequências pelas diversas células depende do tráfego, mas deve
ter sempre em conta a possível interferência doutra célula com a mesma frequência.

Figura 2.7 – Topologia Celular.

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Assim, uma célula representa a área geográfica coberta pelo sinal de rádio emitido pela(s)
antena(s) que comunica(m) com os telemóveis. Quando se projecta um sistema celular idealiza-se
uma área (célula) totalmente abrangida pelo sinal de rádio que só cobre essa área e não interfere
na área (célula) vizinha.

Como pode-se conluir, esta tecnologia poderá resolver os problemas encontrados na 1ª geração
mas em contrapartida será necessário instalar muito mais antenas e equipamentos, aumentando
assim o custo das infraestruturas.

2.1. Cluster
Chama-se cluster ao conjunto das células que utiliza todas as frequências disponíveis pelo
operador, sem que haja repetição de frequências. Assim as células são agrupadas em clusters
conforme a Figura 2.8.

Figura 2.8 – Cluster.

Neste exemplo o tamanho do cluster é de 7 células por isso n=7, mas poderia ser de qualquer
outro valor. Os valores mais utilizados são 3, 4 e 7 (Figura 2.9).

Figura 2.9 – Clusters de n=3, n=4 e n=7.

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2.2. Sectores
Existem dois tipos de células mais comuns, as células omnidirecionais e as células sectorizadas.
As células omnidirecionais são constituídas uma antena omnidirecional, que irá radiar para
todas as direções, contudo, frequentemente, as células são divididas em sectores o que as torna
mais eficientes pois permite maior reutilização de frequências ou seja maior número de chamadas
em simultâneo.

As antenas transmitem para dentro da célula e nas células divididas em sectores, cobrem apenas
uma parte da célula não a célula inteira. Tudo depende da localização da antena em relação à
célula. Outros factores importantes que definem a extensão da área de cobertura de uma antena
na célula são:

 Potência de saída aplicada na antena;


 Banda de frequência a ser utilizada;
 Altura e localização da antena;
 Tipo de antena;
 Topografia da área;
 Sensibilidade do receptor.

Na Fig. 2.10, mostram-se 3 exemplos de possível cobertura.

Figura 2.10 – Sectores.

O ponto representa a localização das antenas que cobrem as células. As antenas podem estar
localizadas no meio de 3 células (3 sectores), no meio de duas células (2 sectores) ou no centro
da célula.

As ondas se propagam em uma linha recta chamada de linha de visada, a partir da antena. Há
casos onde o usuário não possui visada directa com a antena, devido grandes obstáculos. Essas
áreas sem cobertura são chamadas de área de sombra.

O efeito de sombreamento causado por essas áreas sem coberturas é minimizado pelos prédios
em grandes cidades, devido à capacidade de refração e reflexão das ondas de rádio transmitidas, e
por uma grande quantidade de pequenas células nessas regiões.

Na Figura 2.11 b) mostra-se uma torre com antenas de 3-sectores muito comum nas instalações
que nos rodeiam.

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Figura 2.11 – a) Multisectores; b) Antenas.

Embora possamos imaginar cada célula como tendo as suas antenas no centro, e a apontarem
em todas as direcções, na prática a célula é o hexágono à tracejado na Figura 2.11 a) e portanto as
antenas estão nos cantos da célula e não no seu centro.

3. Estrutura Básica do Sistema Móvel


Como devemos imaginar, à semelhança de outros sistemas que precisam de uma infraestrutura
que obedeça certa lógica para seu funcionamento, um sistema móvel celular, na sua forma mais
elementar está representado na Figura 3.1.

Figura 3.1 - Estrutura básica de um sistema móvel.

Ao efectuar uma chamada, o telemóvel comunica com a Estação de Base (BTS - Base Station
Transceiver) mais próxima ou com a que tenha sinal mais forte, depois de se efectuar muitos
questionamentos a cerca, como iremos ver futuramente.

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A mobilidade do sistema é garantida pelos conceitos de handover, que permite a continuidade
da chamada em andamento quando se atravessa a fronteira entre células, e de roaming, que
permite o acesso ao sistema em outra área de serviço que não àquela em que o assinante mantém
seu registo.

 O telemóvel transmite por rádio para a BTS da célula mais próxima;


 A chamada é enviada por cabo, fibra óptica ou feixe hertziano para uma BSC que a envia
para o destinatário (telemóvel ou fixo);
 A comunicação nunca se faz directamente entre telemóveis. Aliás, para além das
limitações técnicas, este caminho que a comunicação segue é importante para tratamento
de outros detalhes.

FIM.

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