Você está na página 1de 3

Texto: Apresentar um trabalho científico (normas)

É importante se conscientizar que a apresentação faz parte do job. Seja na indústria


para convencer um cliente ou se comunicar com colegas no projeto de um software,
seja na pesquisa ou em aulas na Universidade, você vai ter que fazer muitas
apresentações. Algumas dicas pessoais, em geral aceitas pelos palestrantes.

Atitude durante a apresentação


 Adapte a apresentação em função do público. Para isso, você deve saber qual será
o público. É comum fazer essa pergunta a quem o convida (ou ao seu orientador).
Por exemplo, uma apresentação para um parceiro industrial será muito diferente de
uma defesa acadêmica, apesar de às vezes tratar do mesmo assunto.
 Adapte a apresentação à duração. Parece óbvio, mas não é. Se você tem 10
minutos, preveja apenas 3 slides e vá direto ao ponto. Pule a introdução e a
conclusão. Não há tempo. Se você tem 20-30 minutos, formate bem a
apresentação mas tente ganhar tempo na introdução e nas generalidades (estado
da arte, contexto científico…). Se você tem 40 minutos, comece a prever slides de
transição, de plano, um contexto científico mais profundo. Se você tem uma hora,
está na hora de lançar mão de truques para acordar o público no meio, por
exemplo contando piadas ou historinhas… (Tem gente muita séria que faz isso.)
Um erro bem comum é prever uma apresentação padrão de 30 minutos e forçar a
barra para usá-la em 10 minutos (estoura e fica muito confuso) ou em 45 minutos
(falta conteúdo).
 Assim como pela escrita, não esqueçam que o trabalho de convencer é do
palestrante: seu público não fará o esforço de pensar muito no assunto, se você
não estiver claro e tiver um trabalho fundamentado.
 Não aposte demais na platéia. O pessoal vai dormir, vai pensar em outra coisa, vai
mexer com celular, var ler sua dissertação enquanto você está falando. Se você é
professor, você pode se interromper e importunar o aluno que dormiu. Se você é
palestrante, o único jeito é repetir, repetir e repetir ainda o recado para que quem
tiver perdido parte do show possa entender a idéia afinal.
 Controle o tempo. É muito importante. Alguns minutos de atraso são aceitáveis,
mas um atraso de mais de 5-10 minutos vai irritar a banca. Se não o manifestar, vai
levar isso em conta na hora de dar o conceito. Em conferências ou bancas mais
importantes, você pode ser “incentivado” a pular parte da sua apresentação… Uma
boa forma de controlar o tempo, em especial em apresentações longas, é ter
coringas: prever slides que se pode pular se for necessário.
 Na mesma lógica, sempre ajude o público a se localizar na apresentação.
Multiplique os slides com o plano. Insista nas transições entre os slides, ou entre as
partes, sobretudo na fala: “Agora que apresentei tal coisa, vou passar à parte
seguinte…”. É uma forma inteligente e polida de possibilitar que quem tenha
perdido o raciocínio há 10 slides tente se recompor e pelo menos entenda a parte
que ainda tem pela frente.
 Se o tempo é muito curto, esqueça a idéia de apresentar todo seu trabalho.
Escolha um ponto mais relevante, trate-o bem, e referencia a monografia ou o
artigo para o resto.
 Evite fazer idas e voltas nos slides, a não ser durante as perguntas. Isso confunde
bastante o público que não tem a visão geral e não sabe sequer se você está
apertando a tecla “up” ou “down”, indo para trás ou para frente nas lâminas.
 Se você é aluno, não se empolgue demais com apresentações de palestrantes
famosos, tipo Steve Jobs ou seu professor favorito. Eu sei que isso vai magoar
alguns, mas sejamos realistas: uma banca não vai gostar que um aluno defenda
seu TC ou seu mestrado, começando pela história de como ensinou ao seu
cachorro a fazer malabarismo, e fazendo perguntas à platéia. Algumas técnicas
simplesmente não se aplicam ao caso da defesa mais formal. Fique clássico, até
porque a banca quer verificar que você sabe o clássico (é o propósito do ensino na
graduação…). Depois que você tiver o diploma que garante que você domina o
feijão com arroz, você pode ir para a feijoada integral…
 Nas primeiras vezes, a tentação é muito grande de decorar a fala. Não se pode
fazê-lo, é irrealista. E, pior, não é eficiente, pois o público se dá conta que falta
naturalidade. Aconselho a decorar, se houver necessidade (por exemplo é uma
ótima formar de driblar o estresse), os primeiros minutos. Tipicamente, os 2
primeiros slides, a apresentação pessoal e o plano. A conclusão também pode
merecer trabalho especial, para encerrar com uma boa impressão. Quanto ao
resto, decore palavras chaves (que constarão no slide), e trabalhe para poder
improvisar frases com elas.
 Estresse faz parte da apresentação. Acontece mesmo a palestrantes famosos e
profissionais. Pior: surge quando menos se espera. Não tem como evitá-lo, o
melhor é conviver com ele. Ensaie… Tente improvisar em parte dos slides… Saiba
exatamente onde tem a dificuldade em sua apresentação, e capriche nela. Respira
bem, antes. Use roupas confortáveis e que o deixem à vontade – por exemplo,
ninguém precisa defender de terno. Se um chairman gerenciar a sessão, fale com
ele antes para se apresentar e lhe repassar os slides. Isso irá deixar você muito
mais tranqüilo. Vá caminhando para o palco, já pensando no que você vai dizer.
 Não chegue em cima da hora. Atrasado, nem pensar. Você deve chegar 10-15
minutos antes, mais ainda se você tem que instalar o palco, ligar um PC e um
datashow, etc. É simples: nunca funciona da primeira vez. Sempre tem mais um
switch a posicionar, um formato que não dá certo, um cabo a buscar. É muito
estressante fazer todo esse “set-up” na frente de um público que já está pensando
que vai atrasar tudo.
 É uma boa idéia usar seu notebook para a apresentação. Mas por favor, não o
ligue diretamente no canhão sem, antes, ter verificado (i) o fundo de tela – fotos de
seu namorado (sua namorada) ou bicho de estimação não vão cair bem. (ii) os
softwares em execução – desligue o navegador (ou pre-carregue nele as páginas
que você quer mostrar na palestra e não outras). (iii) o MSN e outros clientes de
chat. (iv) o estado da bateria e das atualizações de seu sistema operacional.
 Olhe para o público, não para a tela e menos ainda para seu teclado ou PC. Fixe-
se como objetivo duas ou três pessoas (o palestrante nota rapidamente quem está
acompanhando) e olhe-as regularmente. Olhar para o orientador pode ser uma boa
idéia se a banca não ajudar muito no contato visual.
 Contar historinhas é complicado, nem todo o mundo consegue. Mas se você quiser
tentar, saiba que uma coisa que sempre dá certo é auto-derisão. Nunca dê a
impressão ao público que ele é burro (fugir de “Isso é muito complicado para ser
explicado aqui…”), mas sempre que você não possui a capacidade (“Eu ainda não
achei a forma correta para explicar isso!”). Entretanto, tome cuidado também: em
algumas circunstâncias, é perigoso passar por incompetente…

Conteúdo dos slides


 Um erro comum é reaproveitar o artigo escrito para os slides (cut&paste). Nada
contra quando o material escrito é apropriado, mas não confunda comunicação
escrita com comunicação oral. Em conferências, é claro que os melhores cientistas
e palestrantes realmente deixam o entendimento profundo e pormenorizado para o
artigo impresso, e apenas se limitam a passar a idéia geral (e às vezes mais
importante) na apresentação. Na verdade, as duas formas de se comunicar devem
ser entendidas como sendo complementares.
 Os slides não podem ser muito textuais. Frases compridas e inteiras são a
proscrever. Por outro lado, também não podem se limitar a uma seqüência de
itens-palavras chaves. Usuários do Beamer: o perigo é grande cair
no itemize mortal. Uma regra comum é dizer que deve ter uma figura por lâmina.
Eu discordo dessa regra, no contexto de um trabalho científico onde nem sempre a
figura traz a precisão necessária.
No entanto, é inegável que o material gráfico ajuda o público a entender e
acompanhar. Ora, é isso que se quer. Nada adianta ter material perfeitamente
rigoroso, se ninguém está prestando atenção. Em slides com estado da arte,
pensem nos logotipos dos projetos citados – afinal, é a forma que os mesmos
escolheram para sua identidade visual! Para resultados experimentais, prefiram
gráficos em cores a tabelas ou curvas com níveis de cinza.
 Algoritmos são particularmente desafiadores. Falta espaço em um slide único,
tipicamente. Representar graficamente as estruturas de dados ajuda. O que mais
funciona em geral é ilustrar a execução de um caso típico do algoritmo, mas é
complicado a fazer.
 Eu gosto muito, e recomendo, para um trabalho de pesquisa, de começar com um
slide único que sintetize seu “claim”: “Meu ponto é o seguinte: pa pa pa…”. Pode vir
logo depois do slide de título, antes do slide de plano. É uma forma extremamente
eficiente de despertar o interesse da platéia, ao fugir do ritual do “título – plano –
introdução…”. Ademais, orienta o público a assistir a toda a apresentação com o
intuito de verificar se seu claim está comprovado ou não. No entanto, tem que ser
muito bom para isso – não pode atacar dessa forma quem é tímido, ou que está
com medo nos primeiros minutos, pois se deve dar força a esse slide, logo na
partida da apresentação. Existe também o risco grande de forçar a barra e
prometer muito mais do que se encontra no resto da apresentação, e o público não
vai gostar.

Fri Apr 02 16:48:12 -0300 2010

Você também pode gostar