Você está na página 1de 246

Cocog irei ops picada po Cao aa

ECA podes aaa Cora RT


Na medida em que ela impõe na sua cobeça Ee
que é uma sociedade bronca, Ps
Corte ReaTR a oO RES
padronizado segundo os
Fics o pri a Eco Up ToR ESSE TUE
puroRt (RI Trad Pirro o Tugir dE.
ELLE Ra UR erp or rio pad ra o o
referência e sera parâmeiro
E CAr A ta ia g O RS Sr O (Og Sami Es
DAM REL es Esparta AD grand e o me
poco Ea so CRAQUE DAR TRT , É
Ponce
noscárceres
DA Di Deco start FTA ria ua
sociedade dual, tente se adaptar e nesse
desespero, se pode parar na prisão
PAD ort OE CAST UOL áIo E for iA o
nos tratar não nos conhecem, ainda que pensem que sim. = E
O CLCU o DSR Pas ESTA ia O Dai a RR
eo Ro reis Lero] o ia RAS] sei disse
[Etc o pçs sopa coi ipi sa (OA
insídioso e começa já na escola primária. EF au Sergipe,
Porto RITO Ce tagsAE CR Tio
numa escola que era num pa
BIRO io ORE ad faica Resid pera a] muitas .
vezes inventova uma dar de barriga e fugia, sahe add Lá
Ro Au cet is Da fi DCEOS Ugo
Cd da [ata PRN
comigo até hoje. Gu me sínio mol, me dá uma
Eres eee Lego aro CR a CeUHa psi des
oo prando Neto
onde não têm muitos pretos.
Maria Beatriz Nascimento

Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual


Possibilidade nos dias da destruição

Coletânea organizada e editada pela UCPA |


[União dos Coletivos Pan-Africanistas]

Editora Filhos da África


2018
StOZ
POLY EP SOU FIONPH
'sremumno sopnaisa "9 SOLESUA “4 “EISSOd "9
"OUISDEH "SG OUISIAEIST “+ ERDUQISISAY “E
“SOQUIOTNO “E "SOTEILPY SOp ERQISTH “T
“OEMPa =I
“seutBrd gep "BTOZ “EL BP sou EIONpA
:PHBDEITV BIOdSEIA “OTUSLIPSEN ZINPSg
BHEIA ORÓILINSOP EP SEIP SOU OpEPRIGISSOd
“FERDOjSJ0] O EJOGUOINO “CJUFILIDSEN elleog
'S66L-TH6T “ZLHBSM ELEIA “OLNHIRIDSYN
EotrBojeseo A
OMSanOI SID DEOT
:edeo
OTHOS UOSFATAr
107prei ap opsTasy
EmnpRpO Jfinnejo INBostTy
:opiermeiBerp & coTppId ctsfoId “ogserTuesio
ESOQreg 2IEMIDRT
oTIOf NOSIaJor
EMnpRHO HETNIRIO IMBosITy
:GUrS] Op ORSEIEdaIA
cJsITeg janbey
Omo UDSIaja/
EMNpnpO [macio angosiy
100050 2p EJajoo > Estabsad
ESLITY EP souypa elonpa
SESTUCO LT SOAnS|OD SOp DETI(]
:08NPA
EOTIY EP SOU BIONPI STOZ O mMBnádos
O quilombo é um avanço, é produzir ou reproduzir
um momento de paz. Quilombo é um guerreiro
quando precisa ser um guerreiro. E também é o
recuo se a luta não é necessária. É uma sapiência,
uma sabedoria. A continuidade de vida, o ato de
criar um momento feliz, mesmo quando o inimigo é
poderoso, e mesmo quando ele quer matar você. A
resistência. Uma possibilidade nos dias da
destruição.

[Maria Beatriz Nascimento]

ia

Beatriz Nascimento
actor

1942-1995
jBSUNEW TINHA ENEIS PXF soucoLje
SOJOPEZIFIADI à (SOLIBIOIN[OAD1) sEfoquiojInD sOp
BLOISIF] EP OESDJIP O OPSPIHTUISISSOl OJBBSOL OP BDIA |
ENS E OPEDIPOP 193 10d “OJUSUIDSEN ZINEOg EEN V

“sogurojmb sop
OJuSuIDojogelso op JnJed e “osuoumediougid “o seôny
“Sogifagal op orou 10d “esodserp eu mbe ueregueja
P 9 ODBHFAV OP EISSSABR EU COLTV E BIoxnOI
2nD SOWEILIFE SOR OPEDIPOP 9 SEISIUEILIV-UEA
SOABOJOD SOP OBII] EP sodrojso sojod opipueeiditro
CIAI] 93SOP ORÓIDO 9 OPÍEZILIBÊSIO OP OYJeGEI O

[9SRN OIqIMMOJA]
“SOIDYLDES -
Uodo1ajo au] onD sojonhe oguouIos opuajap n$q

"PGS ROS IU OGNI O N FEM


Da Áfica chegaram, ao nosso continente, centenas,
milhares de povos distintos, de culturas
diferentes... mas a América, por certo, unificou
estas famílias, unificou estas nações, ao.dar-nos um
só destino em torno à luta comum pela libertação
de nossa raça.

[Manuel Zapata Olivella, trecho extraído do


- documentário Ori
"9661 “EIHIV "pa iafoquro
-MÔ omed OBS “67 Sozgon sonxopeo (810) PP[RISLUST “OMI
"PUINBS PIUQS “OVÓIIDNOO “ODIFW “VSOQNVA "67 2umj0A — sorSoN
SOLFISPBD) OU SIToUIfeurêLio epronqnd oIsEreAM OBÍSITON op EIss0d “I
"BDUZISISSI IEHSTUI ESSOU ap
ºpal E 2802 Justa ueped
ODTUQI 3 [9AISIAUI OT UM
euol anb eJos epeo uis
côpeiquisy opmbr ossou op
Toyprur-angues ossou op stod
SBSLUZI SEP SONJO SOU SIELIRÍ
- + BISISULIOPE OBU JO V
"“SEIILISB] OP Saolpo sossou so
SOU 9P 9 SEJ9p UIBISEJE
Sen] SELTUSUI SEMHO à
SaJoquIeêN “seSUizN 'spury
ºpuop epta E uresndxo o Ugo
SEIISgE SEUISEA
SSJ2U[MUI SEP SOWJO SOU
S99ULOPP OBU SJOU Y
“SESUCIQLUIS] SEPEUJOUI sESsOU Sp
osde] O uremBra
SESTIAÁSNS SELILISPY Apuo
oUOS 9ND sOUjO sreuI PU
SaIaU[nur sep soyjo sou
SJSELTOPE OBU SJOU
“EUQUISUI ESSOU E
BISIA EJUSJP PIJISIA O
“ESSOU aJueyjouios “Potro en E
SS19U[NII Sep soujo sotr
SI9ULIOPE OBU SOU Y
CJUSUIISEN ZL0DESg SP ENQUESTO UI
SSIS SEP SOUTO sou JISUIOPE og SIOT
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
E TD] [[[][]|]]TT————
A
E

Sumário Da Senzala ao Soul [1977]


198/19. A Sociologia do Exótico [1978]
18 | Apresentação Bethânia Nascimento 201/20. A Senzala Vista da Casa Grande [1981]
22 | Prefácio Ani Urasse 208/21. Volta à Terra da Memória [1981]
26 [Introdução Raquel Barreto 211/22. Sistemas Sociais Alternativos Organizados
41 |Legbá Beatriz Nascimento pelos Negros [1981]
42/01. Por uma História do Homem Negro [1974] 222/23. Sistemas Sociais Alternativos Organizados
50/02. Negro e Racismo [1974] pelos Negros [1981]
57/03. Escravos a Serviço do Progresso [1975] 227/24. O Movimento de Antônio Conselheiro
63/04. A Incensada Princesa [1975] [1981] |
66/05. “Quilombos”: Mudança Social ou 239/25. Meu Negro Interno [1982]
Conservantismo? [1975] 247
| 26. Beatriz Nascimento: Pesquisadora [1982]
80/06. A Mulher Negra no Mercado de Trabalho 253/27. Kilombo e Memória Comunitária [1982]
[1976] 264/28. Entrevista: O Mito [1982]
86/07. Conselhos ao Príncipe [1976] 266/29. Etnias Bantos na Formação do Povo
89/08. A Senzala Vista da Casa Grande [1976] Brasileiro-e do Hemisfério Sul [1984]
97/09. O Negro Visto por Ele Mesmo [1976] 273/30. O Conceito de Quilombo e a Resistência
104/10. Zumbi de N'Gola Djanga ou de Angola Cultural Negra [1985]
Pequena ou do Quilombo de Palmares 295/31. Por Que “Vê Xoroquê”? [1985]
[1976] 299/32. Daquilo que se Chama Cultura [1986]
112/11. Nossa Democracia Racial [1977] 301/33. Semana de Descolonização e
117/12. Conceitos Ultrapassados [1977] Contemporaneidade Negra [1987]
121/13. Escravidão [1977] 303/34. Introdução ao Conceito de Quilombo
125/14. Historiografia do Quilombo [1977] [1987]
166/15. O Quilombo do Jabaquara [1979] 316/35. Literatura e Identidade [1987]
169/16. O Nativismo Angolano: Pós-Revolução 321/36. Cem Anos de Abolição [1988]
[1979] 322/37. Anotações I [1988]

w
189/17. Quilombo: em Palmares, na Favela, no 326/38. Transcrição do Documentário Orí [1989]
Carnaval [1977] 341/39.
Orí [1989]
195/18. Entrevista para o Documentário: 344/40. Atualizando a Consciência [1989]
(don) eMnpnpo Ifumejo unsosiqy opeysoda [08h
ouessojD |Z4b
SOUISHIOSY | Z9%
seIso0d | LSP
seteigolog ap umqaIy | 8ey
soXoLIY SOJUSUINDO(C
[p/s] oustumnog oe aredy un “esleey
[p/s] peBmioa "ZS| TEP
[D/s] o91SIH
3 [EDUDISPE (040N) OLUQUIA, UM 10d "9S|€TY
[p/8] sontojseig
soquiojmê sou 12ujn ep Idea O "ss [sor
[p/s] soxusuBem “PS |Z0y
| rob
[D/5] € oN OT SMdO “IOTeJA TIA US oprusa “gs
[p/8] oxtauer
9Pp or OP OPpEISH Op soquioImO SOp
e>LIOISTE SPpepmunuoosag 2 9pepmunuos "TS |66€
[p/s] repueniy TS] 68€
[p/s] 11 sagõmzouy "os |Z8€
[p/s] ejosuy “6b|ss£
[p/8] [DE epuppsaoD Ep BoIooy 'gp|9ZE
[p/s] epJog 9pueio exotund v 'Zp|eze
f [+66T] oSofgIa to sezmamo “9p/04€
Ê [1661] 94v ULBeIV "sh |99€
: [066T] eunereo exues ep exe “+risss
[0661] J0UTY O 9 BIS2N DUIMIA V 'gh|gsE
[066T] EqUeury
3 20H “UISJUO :soquiojmô sop EMT V criar
[6861] 0182N 1990JU00V "Tb |9P€
e e e
E
JoRgoajagu] é DjOquiOPND 'OJUaJOSDN ZLIJD9
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

minhas duas famílias, mas, obvi


amente,
Apresentação mãe, a Nascimento, era o meu covil.
a família de minha
Como criança, via que minha mãe
Bethania Nascimento” era uma moça cheia
de ideias. Principalmente para o Povo negr
o. Nunca tive dúvida
de ser 200% negra (200, mesmo), nunca duvidei da
beleza de
ser negra e luz de ser uma africana.
E isso agradeço a minha
mãe.
Ser filha de Beatriz Nascimento não
é um destino fácil e
nunca foi. Naturalmente, fui comparad
a a minha mãe por toda
a infância, pela família Nascimento,
e as comparações sempre
tiveram um tom que eu obviamente era
inferior a minha mãe,
quando se tratava da vida escolar e beleza física. Não
tenda mal, mas
me en-
Rainha Mãe eu mesma sempre entendi porquê. Minha mãe
era uma mulher de beleza natural, inte
ligência acadêmica e ar-
tística excepcional. Beatriz era uma &lam
utro dia estava preparando uma fala para a exposi- our girl intelectual. Ti
nha a beleza e postura de uma prin
ção do Grupo de Trabalho André Rebouças (GTAR), cesa congolesa. Lia em vá-
rias línguas incluindo Jatim e ainda expl
que este ano faz 43. Com a vinda do evento, tive orava o hebraico.
Ela tinha a capacidade de chegar a
lembranças de infância e, principalmente, de minha todos, da mendiga
da rua ao amigo que pertencia a famí
mãe e de como foi ter nascido e crescido enquanto ela e seus lia real portuguesa. Pra
mim, a lista é tanta que daria em outro
companheiros de militância se reuniam, discutiam o passado ao livro.
Ser filha de Betinha ou Bia também
mesmo tempo que criavam estratégias de sobrevivência em um foi um grande bara-
to. Tive que me achar bem cedo para
sistema
i racista
l e neocolonial
I urban o. | cortar as comparações que
poderiam ter dado erro em relação a
Nasci do casamento de Maria Beatriz Nascimento e do minha autoestima e aí me
achei no balé clássico, única coisa que
cabo-verdiano José “Djosa” do Rosário Freitas Gomes. Embora Beatriz não fazia. Era co-
mo ser filha de uma mulher maravilh
meus pais tenham se separado, sempre tive um forte elo com a e ainda é! Todos os mo-
mentos que estava com ela, eu, seu filhote (assim
ela me cha-
mava), me sentia plena e abençoada,
2. Bethânia Nascimento Freitas Gomes é filha de Beatriz Nascimento e meu coração se expandia
com o seu amor incondicional. Perdê-la
do artista Cabo Verdiano Djosa Gomes, nasceu no Rio de Janeiro, Bra- foi a Pior agressão que
sil. É professora e coach no Dance of Theatre of Harlem, instituição senti do destino. Me arrancaram a Pess
oa que eu mais amava a
Afro-americana fundada por Arthur Mitchell (primeiro airo americano minha leoa-mãe, a minha rainha. Apes
ar de a grande dor e do
a se tornar primeiro bailarino no US), onde ela seguiu carreira, sendo peso de ter perdido, fisicamente, uma
pessoa que não era só im-
a primeira bailarina negra brasileira a se tornar Primeira Bailarina em portante pra mim, mas para todo o povo
preto, assim aprendi
uma companhia internacional. Seu trabalho na dança e visão a . cedo o significado do Amor Eterno.
fluenciado por sua mãe, trabalhando com a juventude negra dias- Beatriz era como a Lua. Iluminada e lumi
pórica. Bethânia Nascimento é mãe de um menino de 12 anos. nante. Muitas
vezes contemplada por admiradores
e criticada por pessoas que
+
não conseguiam entendê-la. Ela era na
“Sou uma ativista dançante”. frente de seu tempo. Ho-
je suas palavras inspiram as novas e
Bethânia Nascimento futuras gerações. Ela era
profeta, guerreira da luz. Resgatou o
máximo que pode, em sua
18
19
OC
xy
"SOUISUUJUIPS
“BRUNO 201 9P
PONUPNESTCIL PIANO “Opururum|E sou snunuos a em8 sou
OuSUIDSEN ZLROg Sp sojuomesuad a seiaejed se onó)
+JEA OS OPUO JOGES EIU UIGA OS APUO EP Joges 0sp
“UA E, :SEÍNOGoY PIPUY Oueqeil ap od op sexaIsgd sop um
eIZIP OUIOD 7 “JOWj2uI BIDHQINSUOD EU PIRd OpequTuroNS SON
“opunim op sajred semno uio 3 BIOdsFIC] E EpO] UI9 [EDEI Spep
-JenSi E souLIESat 92 PpeLIOÍ BSUO] BUIN SOTI9] EPUIV
“BISDEI
a Jossaido EPpUIE PUISJSIS UM LUIS OINN] OSSOU O UUSQUIE] à “sEIOI
sessSOU TISLIg OU 0I89U OP ELIQISIY E “CIIST, EU EDUQISO SASIQ
O
1Dn20]22U] 2 DIOQUIONNÃ) OJUDUIDSDN ZLJDIH
E
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
——e—oo ni ei

cano no mundo. É o quilombismo diaspórico.


Prefácio no exílio. Uma luanda de amor.
Sua escrita é amor
Anin Urasse Foi com você, minha Senhora, que voltei aos
quilombos,
DDEEE== esses pedaços de África inteira. Segui seus passo
—= a s e segurei na
sua mão. Quilombos, cimarrones, palenques,
cumbes, civiliza-
ções da liberdade na amérikkka-cárcere. Lugares físicos onde
cabe ser africano, apesar de tudo. Améfrica, pois, Ladina. Ah!
Quisera eu um mundo todo quilombo!
E foi seguindo seus passos e segurando sua
mão que en-
tendi, finalmente, que quilombo é terra e tamb
ém transcendên-
“cia. É um sentido de mundo. Quilombo é
até com quem eu es-
colho estar. Quilombistas podem ser as minhas
ÁCIO ou escolhas diárias,
as minhas referências de escrita. Meu quilo
bismo, minha qui-
j AA CARTA À MAMETO BEATRIZ NASCIMENTO lombagem, Mameto, é ler você, Eu te escolhi
como uma das
mulheres que podem me guiar, num momento
ua fêmea, minha semelhante. Ainá, Nzinga, Ngambele, em que as re-
ferên cias alheias ao nosso povo têm ditado os rumos da nossa
menina lua. Descobri que a noite não adormece em luta de libertação. Te escolho, Mameto Quilo
Beatriz. Foi a Conceição, Mame- mbola, porque sei
nossos olhos, Mameto “que sua referência é a África física e transcende
to Conceição, que me contou em poesia. Foi assim que nte que nos faz
ser quem somos e nos mantém vivas. Me sinto
i a você, Mameto. E lhe escrevo hoje para agradecer.
segura em te dei-
xar alimentar meu ozí.
des. Ô minha Senhora, por usar essa língua não nossa que Dando de comer à minha cabeça com o alime
nto da sua
me aprisiona o pensamento. Mas é em pretuguês que eu quero obra, redescobri nosso mundo! Nos queriam confu
> sos, dispersos
the falar. Dos resquícios preciosos, da riqueza que man ve e você — e tantos outros — foram guias para o
redescobrimento e
há o meu sotaque banto, o nosso sotaque banto, pretuguês-qu valorização da nossa cultura e história. Você
nos ajudou a en-
congo-quimbundo salpicado de fon e iorubá. Há tanto amor tender, Mameto, que nossa cultura é nosso
| sistema imunológi-
co. Que nosso drama está para além de dinhe
iro. E que nossa
peste Oecie que acordei prÁfrica daqui e de lá, nunca mais resistência está para além de reação. Mesmo
eci. Nunca mais fechei os olhos. Nunca mais dormi direi-
que chegasse a tão
sonhada justiça social(ista?), ainda estaríamos
ao choro, ao canto, ao fora de nós. Ain-
aa eto E em meio à subvivência, da nos faltaria a língua, o deus, os hábitos, a
Da, à gira
e 20 tambor-alegria, encontrei sua escrita-dança, certeza da origem,
os filhos perdidos, os não nascidos... Ainda
nos faltaria tanto!
escrevivência ancestral, caminho de retorno. Sua escrita nos ajuda a resgatar o que perdemos
Sua escrita é de resgate, Mameto. E presente. Me con- e lança luz no
que mantemos sem perceber. Como não te agrad
ecer, Mameto?
duziu de volta pra casa, alimentou minha cabeça, mudou min a Percorrendo sua trajetória atravessei o oceano e che-
erspectiva rumo ao sul — de onde tudo vem. Sua escrita suleia guei, pois, em África. Com você me vi imba
mundo afora, quilombo afora. E mais que ngala, ndonga,
os povos africanos mbunda! Me vi Zacimba, Luedji, Kimpa Vita:
Te vejo Ngola, Ma-
militância. Mais que reivindicação, protesto e desabafo. Sua es meto. Núbia. Candace. Grande mãe! Mameio-D
engo. Mameto-
erita é tudo isso e é resgate de ontologia. É repensar o ser afri- Zanga. Sua voz valentemente doce e sua imag
em eternizadas
em Oríme abraçam inteira e me trazem ansei
os de amor e de
22
23
bg
"9SSBIN UI
“oftag TUM
“MUPqRSU JUNG MUnta)
“Rjuejeq odadsop ou “PPEUOjDOUIS 9 JOUTE TO)
"sogÍpHdsUI-BIR-EUIPIA os E OpeUISUDII SOU
UI] SONO SOJmIL à sosso “ZiNBag OJOMIBIN “GDOA OUIOD) Not
ogU OpPJaId SISop ENDSo E eIEd JUMMPÃO SXUCISÃO 2 OCÁEM
-emg I2JOIAON “S]UBSY Dojo TUY EQUILIEN “CUIPIEA PIOXNEIA
“sajezuos) PIJ9T “eIoIod OJÁer TEBI-ng OSUIPpUPIA OIQPI “SSUNN
IABG “OISUPAT OBÍIIDUOD) PINOJA SIAGTO “INDPUS BIESSY “SOFIES
sop odstg OrUgIUYy “OHISuDSEN SEIPQV LIS ODU9ISJol DIA
*OBÍISOdUIOD ESSIU SBIA
-ejed segu sep oga O Is)919J0 UIaIpImIad out 10d a “osonpald
CIA 2]S9p EIS Ejod VaDN Ep soSungeiu sor odopeisy
“Tas ny “BInoso
2204 nb [os Ng 'BIJe ZOA US OlDO! E 9 OJUBO “ELIED ESSO ISASÃO
-sa op stodop onb ossI 10d 9 q jelISsje onf) "eoLyy ui nooseu
-“9W “SIRHS32UB SOSSOU SP ODE|Ed OU “OJIUIPJA “BAIA PISO anD 198
-s4IouI ajsnxo eU onb ages onbiod jenadsa 2 040d ossoN
jOIAI| US BIOSE BIGO ENS 19] 9 SMlosaId opuris
ond) enugrod-Lio a Erupio-LIO 'etiosord-LIO op 1opod osso
sou ui WIsjsadsop sexaejed sens onQ) "esodsgIp ep 2 symatúntos
Op SEUPOLIFe 9 SOTEDLIJE SOp Muniz a opuntl ap opntss O EIJOA
ap urefei sou seiAPjed sens anÊ) 'C40d ossou O LIOZISOFONTO
-LIO-21 “tUlojua-O-23 ZINP9g OJoUIeIN “seiAPjed sens nó
*PGUIDEBZ
-ezonsop ens e uroo epedso e Iequndms q “equies nos O TeqUuies
“ojdursxo nos im8osg nouisua 9204 anb or ojusumngas Tep “a
“UoWopyumiy “e epeBosuL CUIS SUL “TRUIS/I94 /I9] 3] OW "elIonB
O
[png9ajegu| a DJOQUIOjN() “OQUaLHPSDA ZLIDOM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

A historiadora pesquisou,
Introdução escreveu e produziu
mente durante três décadas e nos deixou contribuições impor-
intensa-

Raquel Barreto? tantíssimas. Entre seus objetivos, estava pensar a História do


Brasil a partir da perspectiva negra, enfatizando a agência, isto
é, a autonomia e a subjetividade negra. Beatriz estava particu-
larmente interessada em pensar novas epistemologias que des-
sem conta da experiência e especificidade históricas de homens
e mulheres negras. Ela elaborou uma nova forma de pensar os
quilombos, considerando-os como sistemas sociais e políticos al-
ternativos baseados em valores próprios, distintos aos valores
dominantes do período.
Como parte de seus legados mais conhecidos e significa-
E a verdade É que eu sou uma moça negra de Sergipe,
tivos está o belíssimo documentário Orí (1989), dirigido pela
que se mobiliza em ter tido tantas transmigrações, tantos
desterros. Estou sempre em busca de um território não- socióloga e documentarista Raquel Gerber. O documentário
terra. Eu queria um Quilombo não necessariamente aqui. acompanhou Beatriz, foi narrado por ela e teve muitos dos seus
Um quilombo onde eu seí, algum antepassado meu viveu textos e pesquisas como base. Orí “seguiu o movimento negro”
(Beatriz Nascimento [s/d]).* entre os anos 1977 a 1988, viajou até a África para melhor com-
preender aspectos da nossa história. Em suas palavras: “Trata-
BEATRIZ NASCIMENTO, UMA BREVE APRESENTAÇÃO Se de filme fundamentado em minha trajetória de vida, enquan-
to mulher, enquanto negra e especializada em História do Bra-
livro que você tem em suas mãos foi organizado pela sil, assim como minha inserção no movimento pofítico de afir-
mação da negritude”. (Beatriz Nascimento, 1992).º
União dos Coletivos Pan-Africanistas de São Paulo e
reúne,” de forma inédita, escritos, entrevistas e arti- A trajetória de Beatriz assemelha-se e ao mesmo tempo
e gos da historiadora, poeta, militante e personagem distancia-se de outras histórias de mulheres negras brasileiras.
singular do Movimento Negro brasileiro, Maria Beatriz do Nas- Aproxima-se na história familiar. Beatriz nasceu em Aracaju,
cimento (1942-1995).
Sergipe, no dia 17 de julho de 1942. Seu pai Francisco Xavier
do Nascimento, pedreiro, e sua mãe Rubina Pereira do Nasci-
3. Historiadora. Atualmente cursando o doutorado na Universidade mento, dona de casa, vieram de Sergipe para o Rio de Janeiro,
Federal Fiuminense com um projeto de pesquisa sobre o Partido dos na década de 1950, em busca de melhores condições de vida
Panteras Negras (1966-1974), fotografias, política e poder.
para seus 10 filhos. A infância de Beatriz foi marcada pelo racis-
4. Arquivo Nacional. Fundo Maria Beatriz Nascimento. Caixas: 13. mo O sexismo, comuns nas narrativas de meninas negras:
Pasta: 2. Documento: 9. Código de Referência: BR NA, RIO 2D.
Aedo tah

5. A origem de grande parte do material publicado neste livro é do 6. “Por um Território (Novo) Existencial e Físico”, Texto produzido
Fundo Maria Beatriz do Nascimento deposirado no Arquivo Nacional para a disciplina Teoria da Comunicação, ministrada por Janice Caia-
api A q

no Rio de Janeiro. À família de Beatriz ciente da relevância e impor- fe. 01/08/1992. Cf. Arquivo Nacional. Fundo Maria Beatriz Nascimen-
tância histórica da historiadora disponibilizou o material para consulta to. Caixas: 21. Pasta: 3. Dossiê: 4, Código de Referência: BR NA, RIO
pública em 1999. 2D.

26 27
6c 8c
“dz OIM “VN HO “PDUQIgoR op oBp9o "z :oqueumo “Bt d'GTOL LOpRATeS “eIeg 2p [EI9pog apepIsioapun “SIRIUSHO
"OQ "+ :FISBd “TZ [BXIPO “OJUSUIDSEN ZLHE9g BLEIA OPIMA 'TeOpEN OA “OL SOPIIST 9P ONUSO SONPOLIFY 9 SOJIWA SOpnIsH TIS opezomod
-mbry FAspuoo "sg6T 'stodap à “£96T uls EmoLNEIL Sp ojusureouen o ap 9SaL ",OJUOUIDSBN ZLNPOZ ELIBH ep jenpojezur ELIQIofen Ep cprisa
urpaBAOIduIOD 9Nb sojusumoop oambry ou RJuosug "osmo o nmpuoo :PORUENESUEI BIODPELOJSI] BUM SIGOS SEIAEIEd, A9USEM 'SVHNIA '8
OEU Wiçã0od “6/61 WS JN EU ENÇASTy TIS OpeDSoU! ou epeaoide 103 Pja
“zmWeag [EUOnEN oambry ow opesmbsad feriajeui O Ur0oo OpIDaP SM '6 *(oguatrodaç) 'T86T
“61 “d “piovoy “oruPf ap org 'omono ejeJ opjoseH “VISOD É
o tel
o (C66T OJUSUL uia OsIM9 O Opumpiro> (LHAN) cIouer ap org op jesopa ºPEP
“SEN ZL0299) Joq12D jonbey 9P ZH) aU Op ogdezmear
-ISISATUM
BU BHOISTE US OpóeNpeis e norur “2967 UI
é sodio feLISJEUI 9)Sap sired euanbag "SONPpPul souIsH
"OIE 9P OJU2] OgNO > semmood [UI Sp gols) Iznpord anb
coJafozd fe) 19492] oJuod fea y oresua op s esoid 2p “eissod e (z86T
“ojusmpseN ZINEog) Prue elidoJd e I9401d tea UIquir
2p oppJaxo ojad a EINeISJ ejod “eutoun ojod sore sassa
EPA eotjpsdsa eImeIaN| e 2 osmasip o opeuop osst “WaSLO ap “DUgINaAId ap seJuejd sens sep “SaI0A
-“UPgP EUA WSquiel ESDLO Sprone eum e opiaog 'o>rtap “IE sems sep xe nos Op ovônpoido:r e “pJere um “omanh
-02 Um “eue> pum iregtrejd asduras sgur EQUIOI & ted not
“EB [en 08 2 9PEPpISISAIU) E 'sOUE Zzop sode “oLIOJSI O
“OBJUM “OJISUNTE Op seseHe znpoIdal às ERMLIR] V 'OJuStE
“Je “pueueq “aoLIje “24n0o “euro “ejrod eu ureARIÁuIO)
“PADEUPU /CONSpIs anb seossad se EIgd euro Ispusa eled sarsnjoul “BLUSISIS
> ELRISHI Temosjoluy ogôónpoid e 3s-nootpap enuepeor e ered -qNs op PaIp essou BIS ["*'] "oAou opumui sssou IsATA eJed
QUIQI O 9JE O[EAISJUI 9IS9N "21POS ZIUNIAN 2Pp opÍejuarIo e gos Jepuasde anb eyum aJuo8 e anb sestoo se “oqif O “oxpreul O
“THAN EU jpnpos ogieoruntios Wo OpEIJsom O Jesmo eivd z661 “s2pITe O “SANOD O “PfmDeIBUI O “pSPIP O “PILTARIRO “elpong
US POILYPeSE PEDIA E NOIJOA 'sonpUrRIIOS “sorsodums ap nod “TRUE :B] SOLISAN sou snb opn “seed se sepoa o [eae
-PnIed “sosin3 SOSI9AIp NOMSIUIUI “OSSIP WIy "+86 uIo 'emOM -po “uu Op op poumb um “sdrêIas TIS SOUIDAIA S9U anb ep
[enpeisa orgajoo Ou olIsuef ap ON] OU OUISUS 9P ESNqna pax “IA Pp “opessed op opÍgiadnosl EUM 9 OBJUS 23F SONTIDATA
eU PLGASIH 9P EIOssaJoId OUICO EJISLIPD ENS noporur zimeag “ses sou onb ojuoIquie O seu “fAopioD us mbe soureisa SON
“IRA OSS opdepung Ep > peuonen oambiy ou vropesmbsad
OUIO) TONJRJED 0/61 9P EPED9Pp EU “SJUSWIfeuoIssHoIA “IPES PpUS E IeJuomia|duo) eIRd & I2AJASIMOS E zepntfe
"QUED eIed “eIIo) PAO E OD sopungord soóe] Je excd uresguejd
apuo “jejumb suzious um uroD Esp> eum uro “org OP omuso> OP
-Hye sjpd um JPJISIA EIPÁ SJ1AUOD UN J9Q9)92I1 P OIS9U OJUSUITA
-OUI OP SYEITO EXOUILIÁ E OPIS BI/US) ZOATRI, "0961 2P EPpEDZPp SJUBISIP PDOLICD OLHPq UM TIAOPIOD UI2 NaAlA CIPUIS] Vo
eu TeSauas 0 3 6/61 WS “PjOSUY NOJsIA ZLNPog “oquanhbos eso
OEU SOISOU SIENJDSJUI 2 SSI op [EUODENIoSJUr OJSUEI O E (E86T USD
-SEN ZLn299) EARdEosa OEU Na SELI “OUIBXDA 3959 10d UIBA
onb vooda eum wa “PoLJYy E epy Ens Jeuopusul euad e ajpA 'sas
-essed opu “sOLoA SjEUI Llsias 10d zaAje3 “SEUL o SOBUI
1d sommo e suofeis meRgIssod au sesmbsad sens
“II SOMNO snSu so “ENBIO) eum BIS EMI E 11 TOU ld “IOF
"osino O nojajdmwoo pu uIsIod 'CESINIOSUT BUISSUI “JOW UM EJIM 'SeZopuOpai sejed opepueiy umB|e 19Zej El
EU OPEeNSSUI O NopnH ;“TS6L Wo e-opumpitoo (44) osusutm no Ej02sa 2 pIPd pARssEd nº onb z2A Epo) Opueo0noId ai
“NEI [B19P94 9PepISISALN EU [Seg Op CLIÇISIH UIo nsuos IMeT RAROI 9 OBOF SP BABLIETD 9UY BN Ep epeoSjomui e ossIp ES
OBÍENPEIO)-SOd E Nnosmo “SJuamIoLIasog “sore 67 mo> TZ6I neo 10d “oyuntoL UIaG ojoqea UM EQUD 2 EjnSco E BJS NA
àOe e es
opómusap Dp SDIP SOU apopiigissod Jong9aJo3U] 9 VIOQUIONNÊ) 'CJUGFUPSDA ZI4IDIH
=
MM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
TS E

Beatriz participou ativamente do início do movimento 1974, publicado na Revista Cultura Vozes, foi o primeiro texto
negro contemporâneo” no Rio de Janeiro,” em 1974, que ini- discutido nas reuniões do CEAA. 6
ciou-se a partir das reuniões que aconteciam no Centro de Estu- Dos encontros na UCAM surgiram importantes grupos
dos Afro-Asiáticos (CEAA), abrigado na Universidade Candido para O movimento negro: o Instituto de Pesquisas das Cultur
as
Mendes (UCAM) em Ipanema, bairro nobre da Zona Sul. Negras (IPCN), o Grupo de Trabalho André Rebouças” (GTAR
)
Homens e mulheres negros se reuniam na sede do CEAA e a Sociedade Internacional Brasil África (SINBA).ɺ O GTAR foi
para discutir O racismo, a História da Africa e sua relação com o fundando por Beatriz e estudantes negros da UFF, que organi-
Brasil. As atividades eram “consideradas subversivas durante a zaram um grupo de estudos e a “Semana de Estudo sobre a
Ditadura Militar (1964-1985), pois feriam a Lei de Segurança Contribuição do Negro na Formação Social Brasileira”.
Evento
Nacional” que considerava a discussão sobre o racismo uma in- iniciado em 1975 que trazia anualmente pesquisadores e espe-
citação ao próprio racismo. O movimento negro também foi al- cialistas que trabalhavam com questões raciais./?
vo de vigilância dos órgãos de repressão, porém, por causa da
importância da Universidade, as reuniões eram felativamente RAZÕES TRANSATLÂNTICAS DE PENSAR A HISTÓRIA
seguras”. Beatriz participou de forma destacada das atividades
do CEAA, seu artigo “Por uma história do homem negro” de E quando cheguei à Universidade, a coisa que mais me
chocava era o eterno estudo, quando se referia 20 negro,
10. “Por um sobre o escravo, como se durante todo o tempo da Histé-
Território (Novo) Existencial e Físico”. Texto produzido
ria do Brasil nós só tivéssemos existido dentro da nação
para a disciplina. Teoria da Comunicação, ministrada por Janice Caia- “como mão de obra escrava, como mão de obra pra fazen-
fe. 01/08/1992. Arquivo Nacional, Fundo Maria Beatriz Nascimento. da e pra mineração (Beatriz Nascimento, 1977).
Caixa: 21. Pasta: 3. Dossiê: 4. Código de Referência: BR NA, RIO 2D.

11. O movimento iniciado na década de 1970 tem características dis- A trajetória de militância de Beatriz e o seu engajamento
tintas que diferem das experiências anteriores de organização politica como pesquisadora comprometida com a história negra quase
da comunidade negra.
16. VINHAS, Wagner, 2015, p.4l.
12. Cabe ressaltar que as datas variaram nacionalmente. No Grande
do Sul, o Grupo Palmares foi fundado em 1971. Em São Paulo, o Cen- 17. André Rebouças (1838-1898) foi o primeiro engenheiro
negro a se
tro de Cultura e Arte Negra (CECAN) e o grupo de teatro Evolução, formar na Escola Politécnica do Largo de São Francisco, em
São Paulo.
fundados em 1971. Na Bahia, o bloco afro Ilê Aiyê em 1974. Ele participou do movimento abolicionista e criou a Confed
eração A-
bolicionista, junto com José do Patrocínio. Usualmente é
pouco citado
13. A Lei de Segurança Nacional, decretada em 29 de setembro de seu protagonismo, e de outros homens negros, no movime
nto aboli-
1969 criminalizava a discussão sobre o racismo entendendo que isto cionista.
poderia incitar à guerra, à subversão, à divisão. Na concepção de Rebouças a Abolição deveria incluir uma reform
a na-
cional que garantisse concessão de terras e educação para a
população
14. KÔSSLING, Karin Sant? Anna. As Lutas Antirracistas de Afrodescen- negra.
dentes sob vigilância do DEOPS/SP (1964-1983). Dissertação de Mes-
trado. São Paulo: FFLCH/USP, 2007. 18. Beatriz participou das fundações do IPCN e do GTAR.

15. NASCIMENTO, Maria Beatriz. Por uma história do homem negro. 19. Arquivo Nacional. Fundo Mariá Beatriz Nascimento. Caixas: 16.
Revista de Cultura Vozes. 68(1), pp. 41-45. Pasta: 4. Documento: 6. Código de Referência: BR NA,
RIO 2D,

30 31
k
k
EE l
CE
“(ostuTur) opômo sp “do “eIjeIBosIOISTY E 2 OQUIOTMÔ O "EZ
“SUBIL "HO ep opóBIEI o sozxas (6861) Zinvog (QLNTINIDSYN 'SZ "OBPIAEIDSO E
"9461 'CIquiIS3ss OB5PZRTE
OT EPRUODIQUIE at or
O Sp
ab UINS
PApeogasnf anb ootBgjosp! DI BUIMISISIS Ojad
“SIR BISIA9H “OIlaURÇ ap Org "ouIsanr aja Jod OJsTA OJSDU O) “br e ogdeSsu eum o eIgou EIOPELO ErpuUçãod Ep CSEI
JS 2Ppod IE EOLIGIST] Spepmupiuos y “sejoqtiopmb-xo 10d “(PS6T) SENSIA ODPA “(Zh6T) OXSUIBO UOSTPA ONTOS sea
SOPPELLIOJ SOS/INT UI aS-UiBIsD9]aqeisa BIUQZEUIY P pIRd BUIS) O OpepIOge uIeIseu pÍ sssopesmbsad sonno “psBIg OU pa
UIT Tó
ureriap os enb sazueisyur sodnug so “Z/28T UI S]sapioN sop esorpnisa eIrowLid E 107 OEU ZINBag anb Test SJWBHOG
OP Eo2s E SJNeMmPp no 'soquiomny urensixo apuo soresn “66 EXTED “quota
SJUSULOLISE AUBIC] SIBNJE SEJSAB] SENNO 9 EIRH] UPS “az ORI VN HO :epugisjoy 2p 08IP9o
-SEN ZEMEOG PER OpIMA “jeuopen oambiv -€o 'BPd (OSTUTUT) omed “0E
3 SOLIRD OES ap SQUOU so “quinjeo O ouro “oIlauer ap [UI "EEISOLOIST] E 2 OquuonnO O
OBS “/L6T OLS9N OP EUSZUMO
Or OP SagiBal sepeuriitialosp enb es-squolrsd “xIx omaas
op EpITod Ep opSejusumoop e as-opreprasa :ojdursxo Un
“S2IS9U SIBINLI S9Peprunmoo nO SEJ9ABJ OS-UIBIBUIO] ORÍITOTY “J9AJOAUAS9p as WeIpod soquioytrb so 2 sont
$ J0LIoIs0d opoLiad ou uiçãod 'soquojmb wrexoy [eIuOjOD opoli “OS PIABI OBU 9puo Ooo O “9 Is! “ejoqurojmb zed e “oupm
OD O SJtomIvIsn( sesuad us os-nossaraml ZINBod “BS nO/2
-od ou onb “separe sense ap ogôednoo eu ooLIQIsn] amnuniro?
Un 9P EDUDISIXo E NOjJUuazsas ssajodry ouros q 'ojduraxo 10d “seu oryaqal ap ojusutouI “sepeziapioso seossod 9p ogSunt oro tod
-“mIojmb SO IeJ9pIsOD UIRIO OFUSTITAOUI O IEZIHBIDEIPO Breda SO od
-98;PuI [Iseig ou noziodusoo anD seu .“.ONBOLIP pio ond EpIA o a
ep od WIN eoripury esed o OpejodsUBI IOF, "OJUPg erpugiadxa -QISTU SOPpISa SOU SSJU9H0991 seagpadstod sy qexoduios >
EU “POLIY PU SozIBI UIOD 9MISBIA OJ9POUI OP OANPLISIE [PpDDOS -So “EDHPISOOS OPÍELICA LIS “OBPIARIDSO PP opomed og anus
eUIOISIS UM OUIOD oquiomb Op eI>pt E EIpUSJop ZEBPag PILIDSUL OpÍURSUI PUM OLIOD SOPpEMISÍUOS eDOdo eu “SOqUuIOT
Iodimos oque
“mb sop opeograsIs O 91408 EXL OBSIA EUIM UIOS
eum os
vz (OL6T “OTIDUIMOSEN ZEIM
UIvArINDOId sOpiySo SNS ,uojo ered opeujuiretop
-sosdo o onb sejonhe mero OBU anD, «; PIugop OUISSH o O)
-Pog) eursisis oLIdoId Op OnuUSp ssJuslIoatos snos quios ae
UM 9P “ogpIABIDS9 EP e
“PJBSUIe eum rejuosaldal P UIeIEBaS SOSOLIONA SOQUIOT “OANEUISJE JEIDOS ELISISTIS,
-mb so opuenD 'eopuguosdo asElD ap SOJISIQLI (O sjusur -“U9SUIIAJOAtISsop o nutunad onh “pagar, BIOUÇÕE, E IBISdNDO
“emp sjeui nputidos so apepanpos V “BIO 9p OBUI op Jero 98-noju=LIO ZINBAg Sp BApoodsiad W OBÍEIBISIOS, O apepisq
-U9]0d nos opumunmp jeruojoo apeponos e meAPoIpn(s1d é a ESDET
“1 9P OBÍPALI Sp ODIUIQUODA à [EDOS oxxaquoo TUM sumos es 2d
sopejogal soiBou so snb sp oJey ou “ejoZsa as CEU No “va sa
-go “eyEnsal 'soIBau sojefiis sop epugãe E
-Hdxo os ogu uIeJ2Ios enb opssoIdol E “Oss| JOd “sEeyU sep 08 ai
"OBPIARIDS? P SJUaI] Sala OUIOD seISaU SBOSSO
-IZIA SPP SojyeIgeu so Lo) sompoid snos opuen Isto rgsçoE o
“sotrpjaudoId sousnbad op ope o ered susSeised sens
-2UI 2 OBdeZIEINJEL Op PoLIQISTY CApeIreu eum nanjo
ep sequeuinIe se uLejoAd eIopesm so Ej> Ns
opueênte “EUISISIS OP ONU9P SESTÇUODO SogÍejaI I9097og “pepIrerojOo
O 3 EDUZSTE onb IEJU9ITES ogro ea] O , A
“BISA E UIEIRSSYI SOquIo/MÊ so “sopotiad SoJsoN -EseJap -“BIUODUS OUT
-OS 9MIAJSISIOD ODI9peo? Jeqap Um op BIBI etad “red o o
P RIBÁ SEULIE Sp > OU[eger ap sojwsumnsu ap opÍrorgey
-UeIPADOUI «Soguiojmb sop oyradso1 e Zed SP SN
P “erpndad E 'enymotêe E UIeIdAjOALIOSIP 2s anhb ua sOp
-OLISd 'SOQUIOTINO) SOP COTUIQUODS 9 [ENDOS OJUSUHATOAUOS
opep reénl
“FSeig OP ELIQISIH EU seIgau sorau|jnit 9 SUSUION e
-9Pp OE “aJusureoIseg “UtspuodsaHo) zed ap sozamour so op opSezyenrajgoid eu opisos apepuenuis Ens urspunpu
dp
OpÍISop PP SDIP sou apopinigissod UDUNaSDN 219028
DN929]22U] 2 DJOQUIOJNÃ 'O3
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

percebida mesmo em nível geográfico (Beatriz Nascimen- época,” sendo inclusive rechaçadas e a autora estigmatizada.
to, 1976).%6 “Devido ao avanço das suas pesquisas para época, esta foi mui-
to combatida em 1973 e 1974 na Universidade de São Paulo,
O continuum definido pela historiadora pode ser com- onde tencionava produzir uma dissertação de mestrado sobre o
preendido como um aspecto característico de longa duração na assunto. Em função dos embates acadêmicos, além de desistir
história da organização social negra no Brasil estabelecida de do mestrado, foi taxada de deseguilibrada mental (Henrique
forma coletiva e comunitária. Sendo assim, o quilombo não ter- Cunha, 2012).
mina no século XIX, porém sobrevive e influência a história ne- Note-se que a conjuntura na qual Beatriz desenvolve
gra no século XX. no | suas pesquisas é especificamente árdua. A existência de um re-
Cabe frisar que Beatriz era uma historiada comprometi- gime ditatorial, um ambiente acadêmico eurocêntrico e lócus da
da e bastante rigorosa em suas pesquisas. As afirmações e hipó- “enunciação epistêmica foram elementos pouco favoráveis às
teses defendidas pautavam-se em fontes históricas e não em suas proposições e pesquisas. A Ditadura Militar mantinha vigi-
idealizações e/ou discursos. Por essa mesma razão, ela não con- lância sob as universidades observando pesquisas; atividades,
siderava. os quilombos “paraísos terrenais”, fato defendido por indivíduos e movimentos, tanto pesquisas como encontros.” O
alguns. Para ela, toda a sociedade humana era marcada por espaço acadêmico era encerrado em si mesmo, “formado por
contradições e os quilombos não eram isentos. Vale ressaltar iguais” pouco dispostos a dialogar com vozes destoantes e con-
que no campo historiográfico brasileiro ainda não há um reco-
nhecimento formal para suas contribuições. 28. Atualmente algumas corroboram a hipótese de Beatriz acerca das
“O mérito do trabalho de Beatriz em consonância com a permanências territoriais. Para citar alguns estudos. COSTA, Ângela:
Maria Faria de. Quilombos Urbanos, segregação espacial e resistência
preocupação de outros intelectuais ativistas negros da época, em Porto Alegre. Uma analise a partir do Quilombo do Areal e da Fa-
como o do sociólogo Eduardo Oliveira e Oliveira, era de contra- milia Silva. Florianópolis: Revista Discente Expressão Geográfica. No.
por-se a um discurso acadêmico a respeito de homens e mulhe- 5. TELLES, Lehonna Marques Ferreira. O regime das titularidades das
res negros percebidos como “problemas”, ou reduzidos à ques- terras quilombolas em área urbana: o Quilombo da Sacopã. Departa-
tão econômica-social sem compreender o tema a partir da pers- mento de Direito da PUC-RIO. Relatório Interno, 2009. AURELIANO,
pectiva existencial. Beatriz desenvolve a discussão, em 1974, Rodrigo Souza. Quilomnbos Urbanos. Identidade, territorialidade no
em um artigo “Por uma história do homem negro”, ela diz: “A Bairro da Mata Escura na cidade de Salvador; Bahia. Seminário Es-
questão econômica não é o grande drama, percebe? Apesar de tudantil de Produção Acadêmica. Vol. 10. No. 1. UNIFACS, 2006.
ser um grande drama, não é [o principal]. O grande drama é
29. CUNHA Jr., Henrique. Quilombo: patrimônio cultural histórico e
justamente o reconhecimento da pessoa, do homem negro que cultural Revista Espaço Acadêmico (UEM), v. 129, p. p.160, 2012.
nunca foi reconhecido no Brasil” (Beatriz Nascimento, 1977).
O professor e pesquisador Henrique Cunha afirma que 30. O movimento negro foi monitorado pelo órgãos de repressão da
as teses de Beatriz sobre os quilombos foram pouco aceitas na Ditadura, Por exemplo, “A Quinzena do Negro” organizada por Eduar-
do de Oliveira e Oliveira, estava sendo monitorada de perto. A infor-
Rio de Janeiro, Revista Manchete, mação encontra-se disponível em: Dossiê 50-J-0, 5372, p.122. Acervo
26. O negro visto por ele mesmo.
setembro, 1976, p. 130-131.,
do DEOPS/SP, Arquivo Público do Estado de São Paulo. A informação
foi publicado originalmente por KÔSSLING, Karin SantAnna. As Lutas
27. Fala proferida na Quinzena do negro na USP em 1977 e registrada Antirracistas de Afrodescendentes sob vigilância do DEOPS/SP (1964-
no documentário Orr (1989). 1983). Dissertação de Mestrado. São Paulo, FFLCH/USE, 2007.

34 35
LE SE
“BIHOI “URPp] EE
-OJAL OUISMTY sojIO OBOJ9DOS O UIOD OBOTPIP OU SEprasEq sagxaljaw “og
"(OoUITUL) OBS
“TESpI "SE “DSURIL HO 2P opjerreu o sojxaz (6961) ZENBSg 'OLNINIDSVN TE
"322q
“USPI "FE
“9Pp 9SSop soJusmBBI 124 Jaaissod 9 (6261) HO OLIEIUDIUMIOP oN “TE
Po —
-uojnbe epeo ap onusd ,;'SOnIHod a sivImn “sIBpOS soJoTes “9 SEP
-onejo1 'Poodo E PIEd sIBUISUIO SMirIseq “quoumgosBaoId
“SOQÍIPeD “PLUGISISAI Op OLIQUSdoI UM uIrImasUOS anb sepes -ponstOs 0JmIm sagisonb ejuosaIde ZINvog HO SUIT ON
-SBd sogÍLIuStuLIadxs 2p OjnuMnDe op med e epeIogejo “eigou
aulsIsIda ELIN OUIOS SEI “OBPIABIDSa EP OpOLIod OU oLOD “oprô er (686T 'CJUSUIDSEN ZLNPOg) OPS OP BR
“UBOTE 198 P OlJoJxo OLIQILUI] UIN QUIO? OBN “SQU US PJIGEU a[O “Ugtadxa V “uroSEu Ep eprod ep pruguodxo y “Jogos Op
ogqurojmb
Q “euIje ep 2 oypasjajum op “odios op saxages op opdunf enUgLadxo E ONO O UIOD ESOM JH 'OAEIDSS LISTOU OP
“Pu? Ep “NOS, OP [2AHI OP BIS PDON ESSA |, AÉUEIA, eum
EU EpEINed opunta ou IeIso ap EÚLO] eUIN “OBÍIpen eun 'oagel
“OIQUIBIISIUE OP UISQUIP] OUIOD OABIDSO/0ABDS9 OEJE[OI
-Sdur um “oqIea um “eICrejam EUM 9 afoy oquiojnô O “sagato 'SOUBOLITE & Sal
eum PIABU “WISqUuIea Saropeaotata
-OPpEoIDUL Ano OIQuIgoISgur UM PIAPBY SNb uIa EpIpauI EN
se (686T
“CJUSLIDSBN ZLNEOg) “apepopos essop sued zeg onb ui
CHUSWEOUI O 9PpSap EPIA 9Pp saQÍIpuoo saJou|oui sessao 22 reOLNTHDOA HSSOS ORIOO O ONO Dm
-p1ou onbIod “eprA ap Sagórpuos soroujaur 10d Iem] 949p
aqusurfeal enb eossad optsosuyuoDar as OnIOS “UISLICOY OP DO OLpIUSUImDOp O nIZNnpoId uronDb uIoo “TS nb
“Us)9]U0J21 98 OUIOD EIN] Sp opnuas ou “opeprunuos op “PY eISLIRJUSUMDOP E UIOD eHIoDIed e a81ns ajap siod “ferissjolt
Oprras OU “oBdBSaIBE op OpRUAs OU “PLEULONOD squaul
euQIafem Bens UIS SJURLIOdUI! QJUSLtIOLI UN 9 25SH vs OqUIOTINO
-BOISPG “POLSPICPp aJliatireoiseg ORÍBJQUCS PUM 19] essed
op EIPeISOLIOISIFS EIDUQISJUOD E NiIajoId “OBISEDO EN "OBSTOHSUL
oquio;mb outras] op opóezMaN e 'ojusmou essou “OBINA
EP OBÍENPeIS-SOg Ep ajuepraso “BILSANO 9 ENSAIO 9P OpIENpE
reu OEÕE] oigou ojuengul o sopesuod “oSojpnos ojad epezmuegio “ds
Jog] ºP OJuotrour um q oxgou o ered póuep e enh vo E 2 OEN,
eu E]
ep ,OJS9N Op euozumo, ep nodpnzed “2/61 UM Bolr
“SSI9ZPId S SS10P 9Pp OBÍLIDSUI 9p Je8nj oulo? “eISou pruguad -S]JeDadsa OUIOD OJISTITIStN10I91 2A9IJO ZLIDEOd “0189U ONISUNA
“Xo BU eIZeuIrd eum eques odroo o onb opmuas aJsou q 'uIrIer -QUI Op epuç3od E OpIASp ajusuredound o “ossip 1esody
-“U9AIA 2NDb Op injed E soprmnsuoDd21 2 SOpeogrSIssoI SOWPILIJE “osoqu
SOjUStHa]S UIOD SESIDAIP O SeoLI “sEMpNO Sjusunuo. o opoJ na -TÃso SIBLI BPUIE STegSp O NOUIo] “sjusuI|saBAoId “ossI OPRJ. “es
URINNSUO) seIB9U seossod “onuso omoo odios O opta) a seo -9U JoUmur eum op InIed eonro ep OJej O “aNrenHILISOP sTELI
-LIQISIY SOpepuenôms ste op med y eigou erpuguadxo e UIBZ o aqes uranb a “oungn 10d q "ojafgo ouros seuade OARIDES o
-UEMBUIS SUNIIOD SEDLIQISIY SEDIPUI SESsy “sepinssodsap o sep urerurgop onb “ogprHenso e aigos sopraso so *onno 2P d «JEIOS
-“BII9ISOPp “SEPeZIAEIDSOS SPOSSaAd SP OBÍIpUOS eu eyuenso oxtoul POE, eum ouoo eIgou opÍepndod e esrIem enb estned é
-[eJ01 BIIS) eUM “OUPIHIAWE ajusunguos or XIX O? AX SOMDs -098g Pp BISOJODOS Bjod OPIAJOAUOSaPp [enos orusuresuad o “opel
SOU WeBIESS> SEIZ9U SOXSY[NIN 3 SUDWIOH “RISSU FILIVISIY ER um 2d “e2pEuIol E algos saodejaIdrajur senp ueapIadu! 0261
“Uglodxo ep opepmeuobpdaoxo E UIRUONB[oI OS sopeolajo setmal 9P SEPE29P SEU SOIISEIQ SODTUIGpeI? SSJEgIp SON “STENTS SUOS
SO “UBBPUI E à OJUSUDSUuODaI O “eISSU apepianolgns e sepeu seanoadsiad a sootSojourasstda sordpud “ogsIA Ens E spIOpEISS1
Td
opóinisêp Dp SDIp SOU apopIIgissod Iorgpajozu] a vjoquiojInt) 'o3uaasDN ZLODIE
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
O ss si a Sa]

bado está o imperativo de reinterpretar a tradição e segui-la. a responsabilidade de manter viva sua memória, conhecer suas
A Terra é o meu quilombo. Meu espaço é meu quilombo.
contribuições e seguir seu legado. Parafraseando Assata Sha-
Onde eu estou, eu estou. Quando eu estou, eu sou.”
kur,“ Seguimos uma tradição forte/ Seguimos uma tradição or-
gulhosa/ Seguimos uma tradição Negra-Quilombola/ Transmi-
tam-na às crianças/ Transmitam-na/ Até a liberdade,
A partida de Beatriz

Suas histórias se entrelaçavam com as de seu povo. His-


toriadora por profissão e vocação, sempre buscou desvelar
as verdades escondidas nas verdades de outros, que não
percebem as realidades da realidade, as várias verdades
embutidas rum fato [...] (Helena Theodoro, 1996).

Aos 52 anos Beatriz partia.” Sua morte foi trágica, tris-


te, injusta, perversa, covarde e dolorosa. No dia 28 de janeiro
de 1995,” Beatriz teve a “Interrupção de sua vida provocada
por um homem branco desumano € desumanizador”.*
A morte física de Beatriz não significou seu fim, signifi-
cou uma passagem. Seu pensamento continua vivo e cabe a nós

37. NASCIMENTO, Beatriz (1989. Textos e narração de Ori. Trans-


crição (mimeo).

38. LOPES, Helena Theodoro. Mito e espiritualidade: mulheres negras.


Rio de Janeiro, Pallas, 1996, p. 26.

39. Beatriz teve uma filha, Bethânia Gomes. Ela vive nos Estados Umi-
dos e é bailarina no Thatre of Harlem,

40. Outras informações disponíveis em:


heros://www Lfolha-vol.com.br/fsp/1996 20/cotidiano/29.heml.
Acesso em: 28 out. 2018

41. VINHAS, Wagner. “Palavras sobre uma historiadora transatlântica:


estudo da trajetória intelectual de Maria Beatriz Nascimento”. Tese de
Doutorado em Estudos Émicos e Africanos, Centro de Estudos Afro-
Orientais, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015, p. 21.
42. RATTS, Alex. Eu sou Atlântica: sobre a Trajetória de Vida de Bea-
triz Nascimento. São Paulo: Instituto Kuanza; Imprensa Oficial do Es-- 43. SHAKUR, Assata, Assata: An Autobiography. Chicago, Lawrence
tado de São Paulo, 2006. p.78. Hill Books, 1987, p. 263-265.

38 39
"8861 2P OJUSMISEN ZINFOM 9P BIS20d "by
ifEIOS equadros “EIgOS 9 Bro O uronh onbrod
BÍUED ESONUIS EN] JOS OPU ora Jos 249p onb O 2527
[EBSODUE 'PISAI QUI EPEN JOIELI EZOPUBIL)
«EPIO? UIMSINS, D WO SIBUI JEFOS
PIILIOJSUBI] OS 1) UFO OPNFI oJIpadso OINPIST
O Feepr noir ouro COEN EZOJog OP OJUSUIHAOW
oduro; 'odimo) 'odura ESuBIadsa 2Pp OJOGUIIS
Jensog jeure OUIOD) OB FUIOS “SJHOAJOAI
EDIHODHEO O EUTIA SEOIIE OD OPHGIH
EPJOP à FURTO SOL O JPUJnE sIodop “LIOIHOF]
JOJ EJjo OUIOD OEN SJUPNTE UNIU
E-ENISOA Jopod O umIojo) od
2SOJNUE ENS OS-BIJUODIA ODIP ojremsjna
[x JOGOgOLY,, jIOJ OS Ef OUIOJII 2 LUOSHO
opóIin sap DP SDIP Sou apppigissod
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
RS
TD TT] T——

É possível reduzir-se a História do Homem, a História


Total, à especializações? Reduzi-la a uma ciência puramente
constatativa do que aparentemente vivemos? É possível limitar
a História a um tempo historicamente reduzido, ou seja, enten-
dê-la somente como nos foi apresentada a partir do século XIX?
Como mais uma ciência?
Por uma História do Homem Negro“ Como abordar, por exemplo, a História do Negro no
Brasil? Somente de um enfoque emográfico, religioso, socigeco-
TE
nômico, ou seja, fragmentariamente, como de um modo geral
vem sendo feita brilhantemente? E a História do Homem Ne-
gro? Afinal somos homens, indivíduos que devem ser estudados
como tal.
Um dos trabalhos mais sérios sobre o negro no Brasil é o
de Florestan Fernandes, 4 integração do negro na sociedade de
classes. É uma das fontes primordiais para o estudo do negro no
Como um outro aspecto da deficiência de vida histórica Brasil (São Paulo). Outros de igual cunho abordam também o
geral, a vida individual não tem ainda história... problema do negro do ponto de vista da classe ou da mobili-
O vivido individual da vida cotidiana separada permane- dade social. Este tipo de abordagem, rico em dados, em núme-
ce sem linguagem, sem conceito, sem acesso ao seu pró- ros, leva a que aiguns estudiosos, e mesmos aqueles que buscam
prio passado. Ele não se comunica. Está incompreendido somente nestes trabalhos um conhecimento maior da nossa pro-
e esquecido em proveito de faisa memória espetacular do - blemática, constatem somente o negro de uma perspectiva so-
não memoráver
cial.
DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetacular. Lisboa: Ed.
Este tipo de abordagem é a forma primordial dos estu-
Afrodite, 1972.
dos históricos atuais. Considero-o para a História do Negro Bra-
sileiro uma fragmentação um tanto perigosa, porque pretende,
omo retomar o verdadeiro tempo da História apa- na constatação de aspectos, não apenas socioeconômicos como
rentemente perdido a partir do mecanicismo e da Re- também raciais. Não se pode incorrer na perpetuação de misti-
volução Industrial nos séculos XVH e XVIII? Como vi- ficações, de estereótipos que remontam às origens da vida histó-
ver a História do Homem preterida em favor do cien- rica de um povo que foi arrancado de seu habitat, escravizado e
violentado na sua História Real.
tificismo, de um tecnicismo, que permanece justamente por fa-
Como seríamos nós, o indivíduo, o Homem Negro, se
zer parte desta mesma História? Como fazer, como escrever a
se deixar escravizar pela abordagem da mesma, não tivesse havido no século XV a Revolução Comercial do Oci-
História sem
fragmentariamente? dente? Sei que faço uma pergunta que assustará os cientistas,
aqueles que veem na História simplesmente uma ciência, aque-
les comprometidos com o pensamento dos séculos XIX e XX. A
Ciência atualmente é considerada a “Mater Mundi”. Não pode-
45. Artigo publicado originalmente na Revista de Cultura Vozes. 68.
mos ir de encontro aos seus dogmas. Entretanto a História nas-
Pág. 41-45, 1974.

42 +
Ê 43
É
E.
St th
BIs9 SEUL “SISJIODE OUIOD EIISOSJUODP OBSEUSSrosTUI Y “ojaid op OE 9 OJISJOIA 2 OISSU O BINHO? [EDEI OJBDUODAIÁ O PULO] JEI
aued 10d EpeyoIOS sieur “sjuosald stemi zo4 epe> opdeuoSpsIu 2d 'OJusjuos E UreIISe SaGÍPDYNSTU SE, ODLIPISI 062, OSSOU OU
EJSo BARJRIstOD stod- “ejmbuem nuos our OgU seIU “pOS] v3so “Pmpe sndxo ouros “stod “Seal Op sajrr ,SozoA4 senp souresuod,
poa Ãoo PaEtGItEiO Tortead

9JULUTRJO IRITofos opnd “apie) sieiy “enIed opuo op eiges ogu “sagIspD0 SEJsaU OuIsour “o (o)UBIq Op a1red J0d PPpDUOS EDU
no onb “ezaastn opueis um aan OjurjanuA 'sODueIq SOL srengI -OIA BUM 9S-BJSogIUPUI “eIOFE OESSOISE E “ojueIanUa “opuend 'es
SOULINUOS SON RIPd OBôNTOS E SJUoUI/eol ossos Z9AJey onb tostrad -sou ajred omoo sepeiodiodUW DAISNJoUI UIRIOS EÍ S9QÍLISSJeuI
“eINP 03 BISTEU eum op OUIS[PI Op ojuemeIoje o emuas onb sejsop seumBS][e “PULIOS BIISO 9C "NASIXO IRYjUINT SOU 9p ogõUa)
uIo OduIS] OtISSI OB siod “aj10j oymur opedur um I0g “NY E 9puo 212 souiiaqeo1ad [oaIssod q siduros uu “PLUFISJO
udovozedesop P opuos OJS2U O onbrod SOZIOD 12] SOLTPA OBU eLSD ELIN OP 9159491 98 OUIOD LH9I0d “OpnuSs 2 “sou op sJuelp
OPIISIXO PIENUFIO) o nnsIxo asduios opãpuaSPsIaI E onbzod Opensuolmop > [BPI Ojs2uossId O ojIamiouI O opol V
OLISIDEI oJSIXO OBU [ISEIZ ON, “[ISPIg OP E uroD sopiun sopes “OAHSJ2 Ouno um 199 meus Iede anb sejonh
“Sã Sop [eres ogIsonh e opurieduioo “querpy 'sojord eum os -BU DAISNPUI “SOgÍPISaprueuI seuiçurus set eiojye onb “Terei ooo
TOAIA OS op jeaissodulr apepenos eum “ojnops op orrur ou “eis -Uo221d OpungjoId um ejmuro oosotios enuUgIa]o) e anb “sojaid
OJOUES OP ONT O, “2SSIP QIFSIA OJFAQIIS AP ouISIFeoIdom-osn] op sou “SOLINUSS “a)HaI12Hp ojpodse um ÚIemo] sejo Olaid O u109
BO] EU 9S-Opuraseq PIIoJISeIQ PIUJS E SIGOS OpralICasIp “BI onb “oquejtio Ou 'somiages "uraarA mnbe anb sosod 9 sedei se sep
-BIS095 op Josssjoid um opuenb 10] JOLIysOd opÍerIIO; EmuruI -0] 2WuUa sogÃejo1 seEssop almSiede ojuoÚIerIOÁEIOS O SOUEIEISP
3 JB[0DS3 OPOjIod Nou ÚieseoIer sjeus onb sozey sop un -“ISUOD 28 “SEUDUIL OBS JISEIZ OH SIEDEI-ISIUI SOQ5P|2I SY
“9PEDI[851 BUISSUI “UNSSE OJUIS > osuad “ejosd nos ng "urs ond OIT) estenpraIpur
; SOL PUINT OULIS] UI SETE “SIPIDOS
a
“EE.STEIT, 2,
SQUEI9] US OS
*
GEL
ne
é
EIJS9P SEPEDUPISIP “SEIOPEOIUSHII SEHOS] SEAOU UIRITD “PpUTE
9APIS SIBIA [BIBI OpepIjeS1 essOTr ÚIOD OBÍESI] EIIMI[UoU Us. “seridoId seonsLIajoerro sowegual nb jasissod pias OEN
SELIOS] UIBModIAA Uiissy “OUISTDPI OLISSUI NO “Opaur “ousipour "Ts omio UIEI
-02 JOÁ [BIBI Spepieos E Weuntogy eder ep exsta op oquod op -BAJOAUSSOP SJuSWIeopIOISTy SNb omnynu ogpne oe seseis “onod
OIB9U O SOS SIGESNASTP SE IEPIOQE E as-LIESNDOI “Tejnonied wo OLIC) Oso Ipod “2 0381 napnf opm ap sejue “oDHEIq UM 9 [Sei
rensDajojur O à “feroS opoui um ap OIJ|ISEIG ODNFIQ O ou nopní o “ursse Iesuad sourapod eisejwey Wo tau “TISBIq 2P
"BóBI OLHO) TEPINSS SOU SP setIas SPANBJLA SANOW pounu ond 2 OHIO) ULA “SIBUOL)EUIONIL SOUTO) IO SOULIBSUSÁ OS OUISSUI “SOA
sosoTpnISS SOp Oxtojsop Op aJuejIodur! sie opodse O “JeruOjo? -od SIOP SO 9muUS EÍUPU|oNIOS EUIMIÇUSL I3ABY OEU OlSID “SJUSUI
oponad op eurqnouoo ap e “eujnul e opóepjoI uto “no “oonsaul -PoHIOISHH JOPÍPUTUILIOSIP soursIos soquie onbiod “mopnf os0od
“OP OPEN op E q “ojduraxo 10d “EIMBISIN] uis SOU op zey os onb Op ? UICOD [EDEI PDEQAIA ESSOU IIPUNJUOS EpuUIE 9s-9Ppod
OB)PIIosaIdSI Y “OUISTARIDSS O QOS EPUIE SOUISSSQAIA OS OLIOD ESOFpuI SO UIOS) ;SDIQOd SODUBIQ SO LION ESIIQ
SOpEJEM sOuios “azip sourea feuopeu erpugistos ep “segood -0d SOUNS9PIOU SO LIGO SOpIpEmjuUOD Jos “sopepnisa 195 0€ “sOUI
SOSSOU SOP “SOJEIS| SOSSOU SOp “opepijenypojaniy essou op aged -9pod "opn3sa op sourias uIs QJun$Iad ;soumur urstonh ouro “Ep
10d “snb saL10] CBI 0ES SESONIIadUODaId sagdeIsagruem sy -PXIBQoI SIUOUIPOUIOUODS SSSEP EP Sojusuoduios somno so sop
"BISIXOUT OIBOU OP OBS -02 UIOD BPIPUNJUO? “TEDOS 9SSEJD OUIOD CEILo|ISBIM 9PEPpDOS EP
-BJ91 US SEI “BISIXO Z3ATB) BITOTISEIQ [PEI BIPIDOLIOPp eonsruP opssoIdxo OUIOM) ;SOANIUILI sojos OUIO) UISprmasa SOU
“WISquie3 EPOUIODUI SOU ONNO O TIO? OJUOJ onb IRNDP SOUISpod «oJusureueimna “sojoid “sou somos end)
-UOD O “BStasaId E isouIsauI sou 10d oIpo 2 Joe ap apmnp JiseIg ou 0I82N OP BHOISIH EP euIajgoId O opueuIoIan
eum “Tozip soteA “sONIS |, "SOUISOUI SOU NUS SoQÔB|aI SEU BUOI ESEISTIÊNIIS SS0XO[]2Y "UISLHOH OB SPSPIS
E UISA 59Z9A SEJM 3 JUMP] SISTxO S/a onb Tons odio) OLIsSUI “PLIQISIH E sedeIS foajssod 103 OS BRUZIO E TISUIOH O UIOD Nao
EP E a
JorDeleaqupo CIOquOpnA) “CIUBLHISDN ZigDog
Opómisap DP SDIP SOU SpnpIIGISSOg
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
O TE

fundamentada ideologicamente no embranquecimento, que na nomicamente rebaixada, sem acesso às riquezas do país que
História do Brasil situa-se na era pombalina. Não foi tão espon- construiu. Quando de volta ao cotidiano, verifico que as pessoas
tânea como querem, porém existe. veem minha cor como meu principal dado de identificação, e
Entretanto, ultimamente tem havido por parte dos inte- nesta medida tratam-me como um ser inferior. Me pergunto que
lectuais e artistas, principalmente, uma nova mistificação, ba- ideologia absurda é essa, dessas pessoas que querem tirar mi-
seada, em teoria contrária, mas que demonstra um preconceito nha própria identidade?
racial talvez mais perigoso. Uma das piores agressões que sofri Geralmente, quando somos agredidos na rua e reagi-
neste nível foi por parte de um intelectual branco. Disse-me ele mos, apressam-se os agressores imediatamente a recorrer ao
que era mais preto do que eu por ter escrito um trabalho sobre que entendem por integração racial, como dar-se muito bem
religião afro-brasileira, enquanto que eu não usava cabelo afro com os pretos, menos comigo, é claro, que não entendi que foi
nem frequentava candomblé. uma forma de carinho chamar-me, por exemplo, de crioula,
Foi uma das constatações mais difíceis de situar, uma com uma acentuação bastante depreciativa e agressiva, ou exi-
das mais sutis sobre o preconceito racial existente no Brasil. So- gir que chame a dona da casa quando atendo à porta do meu
fremos agressões sutilíssimas, na rua, na escola, no trabalho, até apartamento. E outras vezes a violência se manifesta em toda
mesmo na família. Mas esta foi verdadeiramente a mais violen- sua plenitude, com ameaça, inclusive de agressão física. Na es-
ta. Não sei a que corrente pertence. cola ou no trabalho esperam sempre que você seja o incapaz ou
Acredito que ela faça parte da mais nova mistificação o gênio. Quanto ao primeiro, a frase que surge é — “mas ele é
em termos de preconceito contra o negro. Os artistas, intelec- preto; quanto ao último — “ele é preto, mas...” Quer dizer,
tuais e outros brancos, diante da crise do pensainento e da pró- conhece e deve permanecer no seu lugar, no seu papel, na re-
pria cultura do Ocidente, voltam-se para nós como se pudésse- presentação.
mos mais uma vez aguentar as suas frustrações históricas. É Nessas ocasiões, você nem sempre revida a agressão. De
possível que agora, no terreno das ideias e das artes, continue- fato, é impossível estar 24 horas preparado para revidar cons-
mos a ser “os pés e as mãos” desta Sociedade Ocidental? Acham cientemente todas essas formas de preconceito, muitas vezes,
eles que por frequentarem candomblé, fazerem músicas que fa- partindo do próprio negro.
lam de nossa alegria, sabedoria e outros estereótipos, podem Há entre nós uma atitude de defesa diante do outro ne-
também, subtrair a nossa identidade racial. Se um jovem loiro, gro, que toma, vez por outra, forma de agressão. É onde nossos
burguês, intelectual brilhantíssimo, após alguns anos de estudo recalques afloram mais.
de uma das nossas manifestações culturais chegar à conclusão Todas essas agressões não resolvidas, todo o recalque de
que é mais preto que eu, o que é que eu sou? uma História ainda não escrita, ainda não abordada realmente,
Nas ruas as pessoas me agridem das mais diversas for- fazem de nós uns recalcados, uns complexados. Não afirmo isto
mas. No meu interior há recalcamento das aspirações mais sim- empiricamente, a psicologia prova teoricamente que os comple-
ples. Em contato com as outras pessoas tenho que dar pratica- xos existem em todos os homens, enquanto recalques, o não re-
mente todo o meu “curriculum vitae” para ser um pouquinho solvido existir.
respeitada. Há oitenta anos atrás minha raça vívia nas condi- o Em oitenta anos de uma “Abolição” da qual pouco par-
ções mais degradantes. Penso às vezes que talvez eu estivesse ticipamos, que não partiu do nosso amadurecimento político-
em meu continente de origem se não tivesse havido uma revo- ideológico como raça, nem como brasileiros, não podem estar
iução econômica dos brancos, com a qual não tive nada a ver resolvidas as nossas frustrações. A senzala ainda está presente.
até hoje, pois a maioria dos meus iguais permanece social e eco- Oitenta anos em termos de História Total, são dias.
46 47
6 8%
“sagdemsnI] sessou “ajuapsuoDuI ossou opussol “somsam Seu
opueosng “BLIOISIH ESSO E I9ZB] SOUIDAIA "SODISP/ODOS “sosupid
-OWa sOpnIso SOp spaeme setode eprpusjua elas “equamaguasald
“fise1g OU OIS9N OP ELIQIST E onDb Iej1998 sOurapod 0EN
“UISTHOH OP ELIQISTEI ELI “ESeI equIor “SO JUL OBIU “CJ IJ OP BAIA ELIOISIF E SOLIOS “EPIALA ELIQISTH
WU OJIBIIOZ “IEI/OA sTeII OsSOd tirou Ozonb cogu FL apuo eENy e “OpudAIA PIso onb oIS9U OU “Eproso 95 OBN "BUQISA] Ep OND
eu “s9sopioN op Jenbyenb oquiojmb umu “ogur equInI op anuzA taso onb 9 oduia] O oupmUOd O Og à “opejuasoidar odio)
Ot UIBNSEXO PÍ OJUSTIOUI 2]S9U OJaI anb sestoD se “opureur now ou “JepmoBjodso oduros, OU EpeJIUI| Jos assopnd eioIsIH E 95
“or8ou um “ow sem anb eossad 2 assIp St ouroo ojumnuy CUIO) *9JUBUTPILIOISTIY Nopilojus sou OLISIABIOSS OU EpnIso SOU
“fe E I3A9P P OXI9P Ppeu QuuejIOd TejuSpno poverg emamo eu uianb anb westad somno :ojoid Ias as pIPd sieimmo sogõeiso]
soprmnbpe sojuaumusul OBS sjuawjr)o) onpape jenb eu “em “Trem seumBye op Iedpnied no ropusguo viseq onb aja estod
“QISIH BP OpINSS Op ssApHe OJUSUIDouoo now o esed soquour “BIOPRIJES9P SIPUI 3 EPBOHISIOS STeui BIOPEDOSTUL sIgUI ORÍBLI
“nosuI iimbpe no “OJtrIq LIDAO[ O OUION "jengooaJur aJuomen “ -JHE E uu ered (og "no onb op olaid stem eso enb osstp om 02
-odso “OEISHBUISjed op BULIOS EUINQUSU sperm oj1992 OBN Ú “UPIq Jena o3ur um onb ma ojustionr op IpJed e aytauqeio) O
“OPetODNTOS 9 OPIpuas1duroo 128 pISpod BLIOISTE : -IW1098 “OYES9P 21H "OESP UM q TDIIP à oJafoId a3sd
BP S9ABNE OS 9ND “SJuapPsuodUI OSSOU aJuaulos sou-eIssyw a “EaIaJ 128 E PPpUIE [ISeIg OP ELIQISIH EUM Sp ODUSPp “TozeJ Jod
“OPIAJOSS1 OEU Oxojduioo Not O IM piso EpUre vISOU vÕÍEI Ep BUIQISU V (EPeIOjIe Jos 249p OB BISOl
-NSSE BJSa1 SUL OS UMU SP ONUop EIso anb O EJSaI our Os — [IseIg -O2PL ESSOU NO (0ISI SIUSMIBIEXO PI3S “Tooonbueiquia souta1onb
OU BATA BLIQISIH EQUILO Ep eos Opep odtum “eos apepnuopi emu sjuormajesuonrepuny onbrod “eudoid ergojosp! solta) ogu SOU
FUI IeIgaS JonDb ooueIq um opuenhb (njouso op auou o opus anb srenjDo|oJur SO LIIZIA ESPIOILIOSS SOPpEIIOUSI sSUNSTE motonb
-UZ> oyumbo, 3 SeBIOIN 9p SNnIfuiA 2P ESISNUI 9pia) AL EM EoIs OUIO? “OXOS O à ELIBaTE E Togamy o “equies o “soxa[Iseiq-01Fe SO]
“RUI OHIO PpIINSUO? “OW 2 nb o no “sxojojoy 19s E essed esols -mo so oguas opÍpjuosaIdoI enno Io) OBU Bjo onb Elos
“II OBdPISOJIUEU essou as S(pdnISE os OBU “sog552X9 SEIBI UIOD copepreng us 98
“OITATISBIQ OIBAU O) EpepnIsa atuo moLIasod Jos SAop anb apep =: Inu vIRd ossIp Espaid os Ejo onD Elos SEIA 'IEISa-LIDg OF “sEZ
“FEqeorunurost! eum op eáros 10d essodsip eIso sou op eLuoIPIa * -onbl se OSS9DP UIDS ajuatujpol pas? BÍeI essou ap ajred Joretl
e os :sjed aJsop sezonbu se ajuatueanEjuosa Idol Wo ajuonIel é w “SOABIDS9 OP IO] ,OPÍMGLHHO), ESSON 4PIMNNO gisa J2ZBJ
-UNÊ£OD OSS338 949] EDUNU ESEI BQUIUI OS é rp OpóNGLNOS, OU E SOPRÍIO] SOLO] NO SOLIMGLNUOSD (PUBIZOSL 3 ELIQISIH op SOLTA
“03 EPBISPISUOD 9 EITYNO ErpuTor os 1ooynsnç opnuas sieure( oyI “ Sossou sop eLIoreuI 2 Ionb ouros ( eorspur ep o erEuRgno EP
-N$1o UM uloo “urs onb opuazip our-rpussidins “oxajduroo equ SPABRE BIOJISEIG ertmo ep opÍpuros v exed souyngqnto, op
-H nº 9s au-walejunsiad oe 'opÍEaI PUUINI Ep InIed é oqueasul ap Iesode onDb sowwe)pane opuend coDueiq sitsumeio) q 'sOUI
afjonbeN “SIeNPIAIPUI SOU] UI BIOpINNISOp ojurIseq mIpquie) -puODE[o1 sou jenb o umoo odnIs ossou opuenQ) cjenos osstpo
9 BPEDNSIOS SJUBISPM EISDEI OPÍEISSJIUPIL Op 9s-BJEN “9204 onDb ap soumapisose OpuenÊ) “(SOBIOIN 2Pp SNDIIA 9P “oráuog EP
Op 0Ja1d stem 9 onb zip ooueiq um opuenb “os eu opepumy pasa EQUES) é NISEIH OP OJOJd SIBUI ODUBIG O NOS, OUIOD soseiy SOUL
BóBI 9P Ojlaotioo O apto syed tWnN EoneursjgoId essou emno -R3PDE OPUEND) à PIOJISPIQ [EDEI EBIDOLIOP EU SOUIBHpanDE op
? OUIOS EMNO à BUOISIN Essou siOd “SOUFILHP NO SOHPILISHIP SO “UNO fEIP/D SICUA I9S OpÓeIaS pmIIXQId ep opepiissod e opus
UIOS SOPIPUNJUOS SOULISS UIIS “SONTseIq 'sojaid epeu sieur op “Ins “OoUPIQ UIOD SOureseo opueno cojageo O souresi[e opreno
SSJUB “SOUIOS OUIOS IEIISDB SOU-I9ZE] O Jopuajuo sou somiajopod cojod e souparep opuenb somossanbueiquia asnb opueypanYy
WIsSsE OS “opueuPSUS sO OEU “so-cpuepnyso “soxajdmmos sossou ESoOxojduloo SOSSOU SOP SOULI9ZE]SSP SOU OBIUS OUIOD
EMO [Weil 2 DD.
opjmisap bp SDIp SOU opvpIIgissod Iongoejaju] a DIOquiOpnNT) 'OQUIUHISDN ZLJDIG
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
E e -
IT...

ralísticos do nível ideológico da sua formação social). O ele-


mento a que nos referimos é o negro brasileiro, que só pode ser
entendido a partir de um estudo profundo da ideologia nacional
e das suas implicações num todo social, do qual, por força do
geo EM ansai preconceito racial (dentro daquela ideologia), é posto à mar-
gem. O mesmo preconceito racial porque é espicaçado no seu
Negro e Racismo cotidiano, historicamente é evidenciado na ausência de um pen-
samento livre do brasileiro com relação a ele mesmo, de um
ir
TT
pensamento livre do negro sobre si.
Quando em um artigo publicado pela Revista de Cultura
Vozes, em seu primeiro número do ano corrente, dizíamos que
deveríamos ser entendidos com brasileiros, sem sermos confun-
didos com os negros norte-americanos ou africanos, queríamos
deixar expresso que existia um preconceito no nível das ideias
que procurava nos entender sob a luz dos problemas de outros
“ Q estudo da formação histórico-social do Brasil pro- negros que viveram uma outra realidade social e racial que não
Hferam trabalhos relacionados com os aspectos eco- a nossa. Essa importação de “ideologias”é típica dos pensamen-
nômicos e políticos, enquanto as “teorias” que ten- tos da intelectualidade brasileira, a mais branca, a mais europei-
d tam explicar os aspectos ideológicos desta sociedade zada de todo o chamado Terceiro Mundo. Ou seja, a mais com-
plexada das elites, justamente por ser aquela que jamais se con-
limitam- se a adaptar conceitos importados de uma ciência social
formou em trazer no seu todo social elemento tão degradante,
europeia ou norte-americana, restringindo sua discussão a fe-
mas que por força das circunstâncias históricas foi o mais im-
chados círculos intelectuais ou mesas de bar em fim de noite.
portante no seu processo de formação. O escravo negro, assim
Deste modo, a “ideologia nacional” fica sendo considerada por
como o negro atual, não só participou da formação social do
determinados meios um estudo de luxo, na melhor das hipó-
Brasil com seu trabalho, com seu sofrimento, participou tam-
teses, quando não é preconceituosamente confundida com as-
pectos subjetivos (o papel econômico é que é considerado obje- bém da mesa, da cama, do pensamento e das lutas políticas do
tivo) e vista como especulação desvirtuadora. | , colonizador e de seus descendentes. Para todo o lado que o
Entretanto, para o entendimento de nossa sociedade é branco olhar, deparar-se à com o espectro daquele que escravi-
necessário conhecer um elemento de suma importância na sua zou e que corrompeu. É justamente o fato de nos ter corrom-
formação histórica. Este elemento, por não pertencer, em sua pido que maltrata as consciências salvadoras de muitos dos nos-
maioria, às camadas mais altas da população, tem um acesso sos “defensores”, daqueles que atualmente nos querem redimir
minoritário àqueles círculos considerados cultos, o que o impe- estudando-nos através dos aspectos socioeconômicos e apres-
de de participar de discussões consideradas esnobes (no Brasil é sando-se em se “sentir” negros, como se séculos de sofrimento e
marginalização pudessem ser redimidos por uma sensação de
considerado “esnobismo” discutir ou interpretar os aspectos phu-
“ser negro”. Ser negro é enfrentar uma história de quase qui-
nhentos anos de resistência à dor, ao sofrimento. físico e moral,
46. Artigo publicado originalmente na Revista de Cultura Vozes. 68. à sensação de não existir, a prática de ainda não pertencer a
Pág. 65-68, Petrópolis, 1974. uma sociedade na qual consagrou tudo o que possuía, ofere-
50 51
ES
CS
opadse ou piso OPSPLIWILOSIP ep wroBu o e onb ajuaniviado OUIOD) «JHIGODSOPp, sou Ianb ajueurmop erSojoopr e “yurridos
IBodal ,SOJIIÇEL, som WS19Jolg "Iodoquos uwraz
anb oem “tord sou ap stodap “sestoo soIoyjau se IeIp & 1Bsofdxe sou op siodod
2 nb O “a ,sojungLno, so OES Uonb UsoayuoN
sap eJuatre Tiseig ou ouBoLIge OuEI nos uregres onb ,somd sossau, sieur
“USUepung siod “omuspeI o urenjadrad — oIZou
OP ,Jesmjno opô UFIsIxo OBU OUIOD , SUOSPAJOS SUOG, SIBUI ISISIXO OEN
Eritreia

JRQLHHOS, E, JEJODE, op erpuúpIede e usoo - onb


SopIpusSJua-[eur
ºp etios eum sed op sepransul sepemreo SEP "Bon9]
ojuamesuad ou & -So ENS “eso ens “CDUZp ens “sexie sens onSquIp nos uigo 09
“BD040Id sejSo[ospr sEp opnysa oe ojuenb OJ92
U0021d O “UBIQ 9NIDPDO O > opunur o eurtop uranh anb oxep oymm piso
és
a
"281 E sou exed anbiod somd no sojoq 124 SOU ejuerpe ceu eio8Se anb
HS 9Pepanos ens op ogstrasiduros e ered ton
tos essod sou ap 2 uIeIoduoLIOS sou onb uisoonbso Tuma “jesour ens op “suis
BSIOD EUMB]E LIISSE ZoAJey “(sreni no) soja oquenb .sozmouz, op) snas op “soHgry snos ap so-nouSo du erBojosdpi op EULIOS qos
“sofº oJuenD sojurmey 0p3 SOAEIDSO snas auenh [JSAPI
SSTUI OB) Os UISqUiB) SEUL “SOpEULUIOP snos amramPoIsy Iesn qs ogu op nos
“SH20Y 'sSONsou0oa1d mos “edjmo mas 98-9JdDY
"SUSU ION sOssou “91IBJUS 9S |BIUSPDO opópurmop e onbiod “xa “ezajoa “ezomd
Iod opmusur a opipiojap '“SoJoYJNUI sessou 10d
opejioweme UAI ND (ojusmmpezour ej-PrISUIPpum] é OgÍeummop e Jezi
“BUIPO EU ODSOTOD Opurmtop esmpno ens “ogig]a
ens ferour ens “BUODM SUL BIRÁ aJUaLieIsnÊ SOPELIO) SON ISATADIÇOS SIPUI [DA
9p EDyPId eu opeSau 139 egaor “Sou 10d OpIpu ajap as a opemr ssod » ogu onb ajustros tmeoonbsg “(sosurid) sajap 2 elos zoa
“OPEIISUITE OpIS 199 “sou op sed Jos 9S-B]o92 “stog
sossou so 23 onb elIigrsuo Iep sou uaJanb *,.720d YDEIG, OP, Strpoos,
sopoI opinunsn opta) “oosowos opemmyszur os Opua)
“ooo as-3] OT > OUPONISTIE OISaU OP Ojusurejsoduros ou soperaseg “ogro NO
-ID9E “9 OJST “sOIOS SQU OUIOS SIBDUS SOU 9 (Esso
uUrIy enSur op o to oqum emb e “EDTV Ep SoNiatmaAoId somos as “sotraaual
“OHSSUBIISO I9S 9 sogderdse SSJOIBUI SENS op ErUN
“opina opol -Iod OUBILyE OÚeI onb E opumSasiad. sou , snzossny, ap seuoz
E OBÔBJ9I to Oxajduioo tro) OJrafIserq O enb 19z1p opgu
ered) sop -2p UleooJede TITAX Ops OP, IiSSEAJOS LOG, OP OHUI O “ajualo
"HI SOpeisy sor no edomy e opgõejos uro mssod
anb spep uoLa s -SUGOUT NO SIJH9LISUOS OS Ios OEU “uim]oday “oxBou op opuas om
“UI 9p oxojduroo o porod ajo onb mo BRIPo UI eu soprp usasd uroo -03 WENJpSSUOS nb INU9S Op > Jos 9P PINI eU sepjes uremo
J95 SOUtopod 9s sou “tages ua OPESSST9JLF TSATISS ODUPI
G [PNI] -OId OIS9U sJUSBUnUoO? ap sosfed op srenojsau sonjo se [eroS
“SM UMBje ag “Jos souropod tau “somazonb OPBU 3 OUBOL IGUIE opowu um ap sogómynst seu “sajIe seu “ojuamresuwod sp seurioy
OIS9 O OLIOD ,,SOJoG, SOlHOS OEL S9U “Iopeutuiop op
ergojoopt seu osti TEINSpDO esmo ep eso e uioo 'squaunemy
e BUIDOp onb us copo) um op aued SOLI9ZPJ sou
onhbiod <.eo “S9PTLIA 2 SODJA Nas SAISAJIUI “BININD ENS 9p
HEI] BUIfE, UIOD 194 SOU op PY orenbua 10d “ODUB
IG OP 0202] soj)odse Li9QUIB] SBUI “ELISSII 9 OJU9UILIJOS OEU WIossejNUINDE
“Sº FESPI O SOU tio eradurn epure quenbuo 10d “SOJI
ODB, SOUIIOS SOPpELFUOP snas onDb sa10pEuIuIOP SO FABJIOD OEN “OpomIgatr
“IBJengSA,, SOU souraIanb epute oquenbus 10q cond,
o18au uIat SIBII9p IOÉ OxOperrd um q noziueumsop a nozuelosa enb 040d
“OU O JENUODUS [onjssod sieui q OgU Iisesg ou mbe souot
m sol oe gnssod enb op sired Joreur as2p und ap “erpndas nb uras
“Pd 'Setoquos sospue sossou sop sapepissoa atr sep sean epodxo
SE Z94 EUIN SIEUI sOLW9puOdsasIOo QEU as SOU-UIDOpI “LO EUM IeS0u opod ogu utenb op aypouoDaId o omsyeutsjed
SA 3P BULIOS JOS IeJuosaIde ap EPEDBSIJOS PULO BUM 9 “sJueurmop
JOPEUMIIOP OP EDUgIstOS EUM ap insed e o sonisau sou
[DEI oIpenb o Iasoururiad ap eAneIuS E apuossa os ejoN “esjey
9P Jres apod os sou ap ENUZISUOS Essou E ojrenhb iemymo ens ojuenb sojdiums op) EJote) eum > ogÍope 10d oISau Jog
ap sopeuSoIdurm “snas sojraatos oES “Ieojnour
sou urasonb aonD “STS OUIOD SOJ-PIOPP UIISSE 9 OIBAU 9Pp Opusos OUIOD UIeI
BZaTeLIOS “spepiria “ezajag “ezond oP SIB9PI sossa
anb mopual -sBo[> SODHRIQ SOpeummIop aonb ojusuresodaro» ap soxadse
“US OBN .,BÓBI BSSOI OP SONIorsUOD,
ao +
*é SJUOUIBINHDO SODLL, “,SOH B RISOU NO BOUEIG ELITE, é CJs? OP OPEJSA, UM E Oprumsolr
“nd, (o1gou op JOAEJ UIS sourpejed sop sunSpe TaZIp uIeumIsoo
J2s apod ogU OISaU 19S "OUISaUI IS ap OJso1 O e[ow epure opuso
O IE
opómisop vp SDIp Sou opopipgissos
JDng2ajagu] a DIOGUIONNÊ) OJUDLIOSDN ZLUDAM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
A AA TT
e

socioeconômico que caracteriza a sociedade brasileira. Insistem nem como vítimas de uma formação histórico-social, mas como
em não ver o preconceito racial como reflexo de uma sociedade participantes desta formação.
como um todo, ou seja, em todos os seus níveis, pois a ideolo- Quando nos propomos a escrever uma História do Negro
gia, onde repousa O preconceito, não está dissociada do nível no Brasil, sabíamos da dificuldade de tal empreendimento, en-
econômico, ou do jurídico-político; não está nem antes nem de- tretanto se nos apresentou uma dificuldade inicial que foi o en-
pois destes dois, também não está em cima ou embaixo. A ideo- contro de uma metodologia adequada e de uma outra concei-
logia em suas formas faz parte integrante e está acumulada nu- tualização não só no nível do estudo em si, mas mais preci-
ma determinada sociedade, juntamente com os outros dois nÍ- samente na utilização de conceitos que vão de encontro àqueles
veis estruturais. Confundir esquematização de conceitos para universalizados pela dominação ocidental, os quais consistem
um melhor estudo e compreensão do problema, com a prática em expressar a posição do dominador frente aos seus domina-
dos mesmos na realidade concreta, é demonstrar uma ignorân- dos. Ao utilizar, no início desta exposição, determinados termos
cia de mau aluno, para não dizer que é justamente pôr em prá- entre aspas (aceitação, integração, igualdade) queríamos mos-
tica o mesmo preconceito sob forma velada de “inocência Cmui- trar na prática como a ideologia de dominação representa nela
to) útil”. Repetir que O preconceito racial é de origem econômi- z
mesma, através da linguagem, o preconceito, evidencia uma si-
ca, ou em decorrência do fenômeno da luta de classes, procurar tuação de fato, isto é, o racismo, a discriminação. A “aceitação”,
somente nas fundamentações econômicas explicação para uma a “integração”, a Tgualdade” são pontos de vista do dominador.
situação tão complexa, não esclarece, só contesta, nem promete Tomando como exemplo estes três conceitos poderemos
soluções para Os diretamente interessados nela. o demonstrar como se torna difícil para o negro, que se propõe
A ideologia do racismo tem raízes tão profundas na for- estudar a discriminação racial (e não só ela em 5, mas toda a
mação social brasileira que temos que levar em conta uma série história do negro brasileiro). Conceituar do seu ponto de vista
de formas de comportamento, de hábitos, de maneira de ser e sua situação e suas aspirações dentro da sociedade dominante.
de agir inerentes não só ao branco (agente) como ao negro (pa- Torna-se ainda mais difícil a metodização deste estudo, pois im-
ciente). Principalmente, é da parte do negro que se necessita es- pregnado de uma cultura em todos os sentidos branca e euro-
clarecer todo o produto ideológico de quatro séculos de inexis- peizada se faz necessário perguntar-se a si próprio se determi-
tência dentro de uma sociedade da qual participou em todos os nados termos correspondem à sua perspectiva, se não são so-
níveis. mente reflexos do preconceito, repetidos automaticamente sem
Propomos a nós mesmos e aos negros brasileiros que nenhuma preocupação crítica. Ou seja, se não estamos somente
pum esforço comum tentemos compreender e expor as caracte- repetindo os conceitos do dominador sem nos perguntarmos se
rísticas do preconceito racial no nosso comportamento, na nossa isto corresponde ou não à nossa visão das coisas, se estes con-
maneira de ser, de como ele se reflete em nós. Procuremos ca- ceitos são uma prática, e caso fossem uma prática se isto é
ractetizar não somente com repetições de situações, mas com satisfatório para o negro. Somos aceitos por quem? Para quê? O
uma interpretação fidedigna dos reflexos do racismo em nós, a que muda ser aceito? O que é ser igual? A quem ser igual? É
Mivegindço o edeçai eo tuas

fim de que nos integremos na “consciência nacional” não como possível ser igual? Para que ser igual?
objetos de estudo, mumificados por força de uma omissão e de As perguntas aos conceitos até aqui utilizados com rela-
uma dependência de pensamento, que não fez mais que perpe- ção ao negro e ao estudo da discriminação, a nosso ver devem
tuar o “status quo” ao qual estamos submetidos historicamente. ser inquiridas e decompostas minuciosamente em todas as suas
É tempo de falarmos de nós mesmos não como “contribuintes” implicações. Assim como esses que usamos acima, quase tudo o
i que foi dito sobre o negro, tudo que lhe é atribuído, o que até
q

54 55
£G
95
“Bpd +6€ 'SZ6T eiopseig OBSBZITIAIO JOIoUPp
9P OM 'PEIUOD VaqoY 3P jserg ou eINJeARS9 EP SOHE
SOLIFIN SO) CIA
“H OP BIMIS ep InIed e “cz6T op oxquiagas 9P 6T “OIpUEF op om “GRI
zdo [eusiol op emmos o SEDUSpUSL eunços eu opeorqnd oresug “2
“TeJUopro
edoma ep ssjuengey so emus ºPEPI[ESISAUN q opepiegy
“op
“ep[eng! ap soupuoLIquio sieapt so ursos1ede anb uia OJUSUIOLT
UN SIuoiieIexo Sojusuntos stop ap susuroy op SoQOUJUL
9Pp PU
-Ostad ep 2 ouweqen op SJUSTIBHBIIQIE os-PZIjUN :OpIMIA 0AON
OU 9s-IRjUE[duI OP saremBuis sog5eardu apoxojo FISIABIOSO PUT
“BISIS O “PDUZISIXO ap ogzel eridoId ens q OUISpoui odm
op oorur
“QUO EIoIsts UM e sgdo os anb odurs) omsaur oy
TESTSAM PIOISHI ep signo sojuod sop um 'sagõ
“PENUO? sens sejod “9 elodoma eruowoso Pp ops
-UBdxo ep opjyur ou niSiaumo anb EISTAEDDSS ELHAJSIS
“BPEISUNIIaS CEU
EIGO OP OPUI UIOS JOAJA OLHOD EIGES OPU SIP () “BUDRT ED
“PUIV BP OIS21 OU anb OP jISBIg OU Oditio) SIC noAaIgos
CEPINEIDSO E “Opessed oops op aprjou r epunso s eu Feu
“ODBHISIUI OPBDXOUI OU Pjeo Op opsUBdXO E UI9S OLISaJ
y
T "CoU BI Op aued 10d jeper
ONSIU0I1d O OLHO) UNSSE 9 “SJoU aJUSIsIxo OXOJÁLIOSD O IeDIpeuo
»0SS2IB01J OP OSIAISS E SOABDSA propod “TERDHOISIXS BÍUPISU E EONPId EU UIPIDUOAMA SjtUITeme
aonb so *9 0381 “SolUSpusIsap snas sojad ojajo E EpBAdo] |Iseig
ou OISsU OP BIDUZAIA EP ODUOISHY OJUSUIRIUBAS] O OS “PLIQISIH
tmiiceirs
E 9PePIPy eum op zny E [oaissod 1as apod qs o3sT 'SBPEpISSOD
-2U 3 Sog)eIldse SEssOu Sep EISIA 9p ojuod o gos seur “sjueutur
“Op EIBO[O9pI EP EISIA op ojuod o qos ogU OpeuIUIEXS31 Jos 94
-2p “oI8sU Op emigno £ SAIsnTouI “OISSU Jos OPEISPpISUOD 9 BIOSE
OPÍMsap Pp SvIp Sou epopuigissos PE E rr
JDRjpajazu] 2 DjOquojnt) OJuaLUDSDA] ZLODIM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
O a SS

Nada mais coerente, portanto, que o debate e as contro- Escravidão e Política


vérsias sobre este sistema de produção cresça dia a dia entre os
cientistas sociais. O que se pode avaliar então de uma obra his- Deste modo, não soa estranho que o processo iniciado
toriográfica, que, apoiada em farta documentação bibliográfica com a supressão do tráfico de africanos e culminando com o
e arquivística, procura armar uma síntese de um período de três abolicionismo estivesse integrado ao processo político. Motiva-
décadas que antecede a Abolição da Escravidão no Brasil? ções mais profundas e historicamente mais complexas, que a
alta do café, estão na raiz da continuidade do escravismo no
Posição Paradoxal Brasil no século XIX. Isto é demonstrado pelo autor ao descrever
a própria surpresa dos proprietários de escravos de São Paulo,
Robert Conrad é um historiador norte-americano da tur- às vésperas da abolição, quando perceberam que podiam explo-
ma dos Brazilianists, o que supõe uma posição paradoxal. Ao rar outras pessoas que não as de cor negra. Até então a crença
mesmo tempo que, com métodos de investigação os mais mo- era de que:
dernos, se debruça sobre uma realidade estranha, numa proxi-
midade extrema dos eventos históricos, promove uma revisão Estes povos escuros com suas religiões e costumes bárba-
crítica, destes mesmos fatos conforme são relatados pela maior tos podiam ser escravizados sem afetar proibitivamente a
parte da historiografia brasileira. Em sua obra de acordo com as moralidade e a tradição da Europa cristã (Pág. 4).
discussões teóricas desenvolvidas recentemente nos EUA mostra
documentalmente como a escravidão foi um sistema integrador Além disso, a abolição do tráfico de africanos e a crise
e onipresente em todos os seus séculos de existência, e como o | de mão de obra que esta acarreta, mostra um Brasil em que a”
Brasil se constitui num dos polos mais característicos daquele população escrava declina devido às desumanidades e conse-
sistema. quente mortandade e que não pode, por isso, sobreviver econo-
Esta onipresença ele ilustra, por um lado, pela constata- micamente sem seu suprimento africano. Os anos que antece-
ção das posições extremas que ocupam, na década de 70 do sé- dem a abolição no Brasil são estudados pelo autor de uma ma-
culo passado, o município neutro, (Rio de Janeiro) com seus neira equilibrada. Os fatores econômicos, as implicações sociais
48.939 trabalhadores escravos, e o município de Vila Verde, no e ideológicas e o processo político e jurídico são trabalhados, se -
interior baiano, que possui três escravos negros. Entre estes dois não equivalentemente, pelo menos guardando entre si propor-
polos, todos os outros 641 municípios do Império brasileiro se ções bem delineadas em função de uma síntese quase perfeita.
utilizam da mão de obra da população de raça negra escraviza- Conrad, a partir daí, traça um quadro em que as instân-
da. Por outro lado, a onipresença não se limita somente à rela- cias jurídicas são perigosamente desmoralizadas. Os congressis-
ção senhor/escravo, mas se encontra, também, nos mais varia- tas e o imperador, compromissados com a permanência das
dos interstícios de toda a hierarquia e relações sociais. arbitrariedades contra milhões de brasileiros, são incapazes de
Examinando a situação da escravidão na segunda meta- controlar as crises que se sucedem devido às pressões externas e
de século XIX à luz destes dados, Conrad chega à conclusão de a dinâmica interna. O contrabando, o endividamento, as leis
que, embora os plantadores de café, do Vale do Paraíba e de burladas, as querelas no Parlamento e, mais importante, o in-
São Paulo, estivessem bastante interessados na preservação da conformismo dos povos negros, que se maximiza à medida que
escravidão, ela sobreviveria por mais tempo no Brasil que no. os acontecimentos caminham para um final dramático, sustado
resto da América Latina mesmo sem a expansão do café, tal a afinal pela abolição e introdução do trabalho assalariado.
sua importância econômica e social para a totalidade da nação.
58 29
tg 09
ria a pd
ter

“BZIUPBIO 9P SCANPUISIE SELINS[E JELIO UIPIRIUS) “SNI E pJe OBS


:PeJUOS zIp -SIINUPII E apsop :opepiogr E ISUNE Sp SEUL; SELIçA tIeosTI
“E2Oda PP OpIPLINTOM) OP feuror Op EJON OPUBII) Nedojoop opU 2 Ej9 UIOD WIRELIOJUOD 2S OBU “SPEPISISAPpE EUM Sp SBUINIA BI
at cane

“Sep EIRd cJuotuzIro; “onb oonspip jeur um exed JINj04S eLISp -Oquia “OND suUSUIol 9p ORSUSLIIp E uloo JOmE ojad soprier ops
“0d 3 ELPNUNUOS OBPIABIDSO E SoJS9 10d “BIOL eum p urerepe “PARIDSS 9SSEJD E EPOI [RIoS BIOUPII BUM Sp OUIOD “SOANIBN] 3
Pta

sejsijned sorropuazey so onb p ouismoredouemo o eied nos SopIsgaI SO “OABIDS9 OP PIUgISISOI E egos ojrydeoqns um song
-JODUOD “SJAIT PIGO AP OELI OP PUISJsIS UM ap Justa jaqeiso O “mod ws ogÍnpem eu ojuowepjuoId opegrsxus equal “esajSui
2 SOUBI[EJ sOp EpeSamwo e onb op ste 'eggi op serods2A se EBn] enSug UI? opÍIPa E sonSupoy oLIQUOR 9S0f 9P CBLD EprIQUIo]
Y opdToge 2 ered ajuesrodum sieur JOJeJ O OUIOS Tome ojad opy tIad OB] 2 IBJIOD OP “peluoS aonb ossi 10d elos Z>AJEI,
? EJSIABIDSS PUISISIS OW SOPIAJOAUS Squotyejoxp sojonbe onuo “OJAT] 3359P
PPEUILISSSIP EUIXOS E 107 anb sepuszey sep ouopuege O soJe soJuOd sop um > “ojunsse 9)sop twrejem opirenb soztsjtselg
= “EPIA 9P sogórpuoo sens spp puoH|our 2 SISIPIFIZEIG QIVUS SIBDUDISJIP sIBUE SeDpsuvjoRIPo Sep eum
2 PonIod eSuepruz Ep sopoiu soura ap opuedonIed topod a “edmo ap oj=unuass op sepeuSasdun sepejey o sIoInul souisns
Wsqes ouioo uy98P “Tapod o usas owisom “snb SUIUIOY OLIOD UIIS -a1d tão JIeD ulos oJunsse o reigrpnhbo angostos perto) “sextosy
Sell “OMBIOLOUI 090/q nO [EOS EIIO$372> PUM OCS SOABIDSO -B2 SEP SO? OBSISOdEnIOo UI SELTNISSpIOU SENDUOIU SEP SoJur]
SO 9 SOIS9U OUIOO SOIS9U SO BJEN OEU IOMP O ZSA eum SIBIA -“Ussaldal Sop PLIPARICUMY zoppny E oquenb oonod um atagexo
'PFRD OP OEIB3I EP OPRIaIÇOS SEUI “SISSpION OP PARIDSO esseui EIOqUIY “BIJO op OEWI [eJourepimy ot) EP IozeBJSop os ulo sa)
P SIdos SELUQNIU sens 2 0NgEN 2 oruponeg “eme zm “ses .
-“ueIntol
[
SIS9PAs OP serrsojeo
+
sepumnosd
= +
se“ ováisodo
= +
LIS os-U19]
+
“NO MIPUY 'sodUEIq NO sod)nsat “sOIZaU SEJSTUOTINOgE So1op “upuI SEIDUJAOIA se SUD ONIOJUI ODE OR OPIADp “BABIDSO OUT
H SOp og)EME O ssossnosip se OES assaJajm [eIDodsa ad -PGEO 9P PÍIO] PP OpeISgl| Jusmeogerd pl “sisapionN O
*OUMS9P nos *. OBIGO! EIJUOD
Op “ogu no esouoxaA “eãtepnol e asduas IemooId TRA 9 “100 9P OEISO ESUP, 9 [EUODEU [oa E EISTUODIJOQE aJeqop O NomreasT
UWotIONW OE ojuenb eIstunojuoDur opel ojsd nouzmopasd pisesg oDUPIg OL [97 E SOLON Ojpod NmMUIUNp ogu sosowyies sop 13pod
Ou 9pepinsiqure eJso q “OABXOSA 9 JOqUOS amuo aIstxa anh epnse O 25 SEIA 'SOAEIDS9 OP ONSTSaI OU PÍUPLIO PP OJUSmIMDSEL OP EIep
oImur spepmigue ep opeamsas op essed ogm BILIPQI [eLOYU e (ureIozI] O oro) IeIaye sjuouepnbuen qwrerpod soseIoso
"8 9PepI[BIUSTI Ep OJUSuIepuPIqe O PrIpIa(O) epejuroop e onb ap soroquos so (TZ8T ºP Io] Bjod soliagif eur>ige no emos.
ºP — SIEDOS SEISQUSD 9 saIOpejOISIy somnno nreieSomo pl onb EARDSO OBUI PP SO) sonugBui sop omegen o sjusumeBa
E — OBSNDEOD E ESa7 pEINOS “OpÍBIPISOS EISap Onad o opuezrmn ogÍeio8 eum sipui op opôeiojdxo e 1emsdiad onb
Op Za] SIPUI EPEU — , 9FIH PU QJJOS OABIISO O J99SEU Ap SO,
OUNSIC 9P BÍUEPIIH 'PLUNHOP DJuoteruosS conqen onb eureip o J94joso1 opueiol
aquowsjua rede -— 19] Essq Tertodum opoLisd op so ojusurepelou
“EUIDISIS “OprIST 9P SUDUIONW SOSSOU SOP EISTELIOJOI 3 JOPEIJPUOS IajeIPO
OP ELQISRY E EPOI Juemp soAEIDSa ap seyjoADI ua sred oxompd O OLIOD SULSP UG OE] SINSUPoW otIQuOH asor onb ojmbe “sor
O ELSS OEU [IstIg O “ossoy O uIISse às sIOd “opeziseiso uuIon -IoFISBIq SODnIjOd sop ootBojosp! ojusmejIoduIOS OP sIBIUSUIEp
OE SJUMUL EONSLISJBIPO PUM & CBI 9pepIDOp £ anb ap oesnp “URJ SIPUI SE2NSHNSNBIPO SEP FINN PPpENSUOLISp > — SIAF] 2DUDA
-UOo E opuegoyo “cjuerpe seuiBpd pi Iozipenuoo os p opeSLgo OP OLHO? EPROQUOS — DU FIZ OIY 197 E axqgos ojmydeo oN
2 TD9Pp JOpEWegen op oapIoso O EUJUIOT9P -OIAH OP opruI ou
enb “pesHos “oe Te) Jesijeue oy “soquioymb so ouros Ternos og5 ssHO UM
T
OWóIn sap DP SDIP SOU 2PopiHgIssod poroypejequi 2 DjoguoNnA) 'OUBUIsoN Z11jpag

set
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
E A .
EE

Em meados de 1877 quando os escravos fugitivos des-


ciam das terras altas da província de São Paulo para pro-
curarem refúgio na cidade-favela de Jabaquara, junto a
Santos, os imigrantes italianos estavam partindo de sua
moderna hospedaria para fixarem residência nas fazen-
das abandonadas recentemente pelos negros (Pág. 314).
A Incensada Princesa“
Completo e Caro

Se o trabalho de Conrad apresenta um equilíbrio ao ní-


vel do conteúdo, melhor ainda se apresenta na forma e com ex-
ceção da fragilidade da capa, sua edição é cuidadosa ilustrada
com o acréscimo das tabelas e apêndices, das letras das leis, O
que o torna um livro completo e caro, como a tempo refere-se a
editora na quarta capa, lembrando que obras deste vulto só po-
dem ser realizadas aqui no Brasil em coedição com o Instituto
Nacional do Livro. E, aínda bem! Porque é bom que possa ser autor diz ser jornalista político, contrapondo-se aos
JA ? as “historiadores de gabinete”. E se orgulha de ter re-
chamada a atenção através de um trabalho idôneo que “mais de
d,

100 anos desde a libertação dos recém-nascidos... milhões de. corrido somentea pesquisa diretas na fonte, alar-
seus descendentes ainda se veem negada a igualdade de opor- deando o fato de pouco aproveitar o que já havia
tunidades imaginada para eles, pelos líderes abolicionistas”. sido publicado no Brasil sobre a escravidão. Com isso quer fazer
crer que sua obra é algo de novo e fundamental para que se co-
nheça o assunto.
Brasil Gerson comenta que as pessoas pensam que a
Abolição foi ato de uma “mulher de coração generoso” (pág.
319) que, travessamente, na ausência de seu velho pai, liberou
os negros de sua condição servil. Desta maneira, os estudantes €
estudiosos ficam com a impressão de que os estadistas do Im-
pério não tiveram a coragem de enfrentar o problema político
que culminou com a assinatura da Lei Áurea.
É este equívoco que pensa que pode resolver.

48. Resenha Crítica escrita para a coluna Livros do jornal Opínião, Rio
de Janeiro, 19 de dezembro de 1975, sobre o livro A Escravidão no
Império, de Brasil Gerson, Rió de Janeiro, Editora Pallas, 1975, 322
páginas.

62 63
s9
+9
“*oxas ojog OP SOSOMP salozeid sop o sresi
don sapepruswe ap
!- Jopepaide um E ss-prjaurosse “SJUPUTUIOP
[erDos à congod joded
nos Op OpEzLISjoPIvosap seig Op seixas) mo ODLI9QI SOAPIDSA
- ºP 1O]U3S O JOUrIpEUIe a810f Ojnsa or uraq «TEIP
IOS UISUIO, OP
. queummop BISOjO9P? EP eiSojode epeims ep
essed ogu “Irjoqgsa
. OP OESsadU0D E ZeJj anb “Tenos opStjoIdiajur
e quend
é TETpIo? sStIoH
emita ma dont
“BISTTrOnIfOge oDnIjod ossa201d ou sogõeard
“WI seno ered 3 cogen op opõessoo e eIpd osour
oId t3so anb
S90ssaId se 9 EIIMejSuy ep joded o TEU BIoId iajnr afo “oss| uron
“PHDOjSUE EP sJUPIp IejONUOS os SqBS OPEL UI9qu
Iv] OuIoo Feio
-odsa OB? PILSUEII Sp SOJUITIPNUODP SO UISAOUI anDb SOMBOO3Ppr
º SCMnHOd “sooruguoos saxo12] sop “oqusmom ajonb eu “ojuaur
“-PUopUny o mos OPEZLIPI[MUR) IeISS OPU SooTe g “rooda ep ex]
“TSEIM 9PePoDOs Ep joami OE ojuou|emnnss eongru
Bis oje onb
O EMOS OP Jlenxo onSasuoo opu q “IOPPAI9SUOD PIO TeIodI] eIO
“oDnuyjod osiInastp O uIoS 07x3) ou Bo DUSPpI os Jojne O “sexejrour
-ejed sojenbep eueposed euuI, esnytos ejod opiaj
cAUy
ESTPTO) Eur
(6TE "Sed) 03x9] ou sopenuosdua sedse
So SON P senDUgIojal ap EIOposoejo sa vjou Janbjenb ap
ebuosne “(do “opdeoggnd op exep “SOPEUONDEJ9I
SOIJAI| soDnod
so sopranqnd wresoy apuo sexogpo se SElDUQIaJSI SEP
PrUPS NE)
SEDBPISOIIG selSe1 op sorreurid soro é ESOPpI ANp orórpnio
eum e 'ogóemuosssp eperios eum e eperje “rejnociadsa
> pour
“PII OPUS EUTULIS] oNb seu “eonsienio( erp UrsenSur
eum as
"NOUIOS “(aJouIges op SSJOPRLIOISIY 9P eigo 9 oru aonb
a Ionasjxo
OU 9 [SEI OU aJuaisixa) von a epezenadso “estoj
xo sIeuI
BUPISONqIG CLIN E I2110991 OBU J0d a9pepifeutéiio op
op5un said
Sos JOd JouIe nas o q eDu V “TOTEUI EpuIe OLMO LUIS a17020] 000Ambo
Ugopjdmoo ens e 9S-BIF EXS OUPILISNIE um TPUCR NTOS OpUE]
"IOU asjuapuodssio» nos +91 “BUNQUI PU SUSUIOT Sajsop sejey se um oe ordpud
urso OJIOIHIOS OpIdeI EM
N op Rj
OLISdUI] Op sejsTpeIsa sop uIsfeioo E HD opednoos1d
“OUIOS 9 SEAPIISO sEIBau
10d OPEILasa1das efoiso a1s
o anb a
esteg uwoSensur]
opómugsap DP SDIP Sou app
pigissos
IDhjooJaqu] o DIOGUOpND CquauasDA ZLvOg
Possibilidade nos dias da destruição
D
e

uma ideologia racialmente branca que se tornou uma ideologia


nacional). .
Ainda neste mesmo artigo concluímos que estes três
conceitos acima citados, assim como tudo que é atribu
ído ao
negro, inclusive a “cultura do negro”, deve ser reexaminad
o não
sob o ponto de vista da ideologia dominante, mas sob
o ponto
“Quilombos”: Mudança Social e Conservantismo?*? de vista das suas aspirações e necessidades. Isto só pode ser
E———————
possível à luz de uma fidelidade à História
O
= levantamento histórico da vivência dos negros no Brasil, levado
(do Brasil. Só o

a efeito pelos seus descendentes, isto é, os que atualmente vi-


venciam na prática a herança existencial (vivida), poderá erra-
dicar o complexo existente neles, assim como o preconceito ra-
cial por parte dos brancos. :
Tendo em vista esta posição, que assumimos intelectual-
mente, partimos para um estudo revisionista da Historia do Bra-
sil. Nossa atenção voltou-se para o exame dos esteriótipos
Introdução que
recaem sobre os descendentes dos africanos que aportaram no
m 1974 publicávamos um artigo na Revista de Cultura Brasil. Mas por isso mesmo abandonamos metodologicamen
te o
Vozes sob título NEGRO & RACISMO. Entre várias esttido dos descéndentes de escravos peló estudo do negro bra-
questões levantadas discorríamos sobre nossa proposi- sileiro que possui também uma herança histórica baseada na
li-
ão de escrever uma História do Negro; discorríamos berdade e não no cativeiro. Abandonamos momentaneame
nte o
estudo das relações raciais e partimos para o estudo dos núcleo
ainda sobre as dificuldades que nos apresentou no tocante é s
de população negra no passado, os quais, grosso modo, eram
metodologia diante dos conceitos de aceitação”, integração. e H-
“oualdade”, € afirmávamos que na prática a ideologia oia £ vres da dominação oficial, ou seja, daqueles assentamentos
so-
de dominação representava nela mesma através desta lingu ciais conhecidos genericamente sob o nome de “quilombos”.
sem conceitual o preconceito racial. Evidenciava, portanto, uma Neste estudo presente faremos uma crítica à bibliografia
existente sobre os quilombos, onde prolifera uma visão ideali
situação de fato, isto é, o racismo e a discriminação. Diziamos da do mesmo; outrossim, esta visão se baseando numa interp
za-
textualmente que “a “aceitação” e à igualdade” são pontos le re-
vista do 'dominador” (dominador aqui, no sentido da K eo ogia tação feita por aqueles estudiosos mais esclarecidos e
lúcidos
que viram no quilombo uma tentativa, embora frustrada, de
das classes dominantes — particularmente da classe inte eerua E
mudança de status do ex-escravo, visando uma mudança social
englobando o conceito de raça dominante, O que nos fez v:
do regime escravista implantado no Brasil durante três século
s
1 . de dominação colonial.
ralo bag

49. - No original
É
datilografado consta no final do texto a data de 06 de
i 1976. | . Buscamos, para iniciar o nosso estudo, uma definição
não do texto original: Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. mais aproximada da realidade histórica e perguntamos o que
Fundo Maria Beatriz Nascimento. Código 2D. Caixa 23. Pasta 4. Docu- foi
e o que hoje é o “quilombo”e suas implicações na História
bra-
mento 5. sileira e na trajetória histórica e de vida dos negros no Brasil.
66 67
o

69 89
nor

-SoUI Osst 10d onb a 'sos13j0 ,Ogurogmb, op opnysa o onb vAne) -Ssa99U BUM “JEGLH OBÍBINIS, & OUIOJ9I UM , OgurofInDB, OU UIS9A
S910PBHOJSI SoIsurms sunsje “soreu]ea sop oquopnf o al
-BIÚISJUI O ESTSOQ/OPpOJW apepmomp e opuapusoiduios
-0S opÍEJUSUMDOP EU “ajusumjedpund “aos-opireaseg “esneo ouros
A
a

OISTA Opep um soqturojmb aigos eInjeIsI eu epuie EH


INSISSY BIEd ENDUZISUOS BO *SOJUoUIeJuassE NO
ir

Jeimynmsa 3 EUISJUT UI9PpIO BAOU EUM PL onb opãeziupBIo S9PepoDDOS IELID E SUDUIOU 2P S9OPD[ntl UIBLIPAS] OB sjeIOdIO)
bg

2 JEDOS Ojusuejussse ojuenhua ejuasaIde os ajo onb jedrus BIO sOSNSE) 9 SOJEI SNBUI SO “9 035] “SJUEZI[EDOS à PUIpITUMITOD “ejo]
“UGATADIGOS 9P 9 ODHIOISI] OPRU9S OU UI3IPAISSUOD as ap sosZou -gIed epia euin sod Iejdo e soIgou ap sOIuUmMU sopuris osseaa]
sop 9prype eum dos opod oquiojmb o omoo sotraisA sjueIpy anb sJ10] 02] OAHOWI UM EIS OB OBPIABIDSA EP SOJeM SNEUI SOB
e8ny e “10WJSUI no “oIst anb SOmIBISpISUOS “OQUEIIOG “EDUGpUD
TeDos PSuepniw sp opLIquIa Um ouros soquiojmb so UISIDA ap
OYEJ O soureuonsonb anb » -s9p ENS E EPOI SP OUISSUI 9Je 3 Saronuos op sofuIssesse “sorpp
oirsuIeS uosIpg op aed y cam too e ecos MAOS 7 tante
o -ms 'souoqe nnstxy “opssoIdo ap SUIS91 Oe IRB9U DS SOABIOSA-KO
« PSOJop à ESN op eAnesSou pô
“Ear, SP SOGUIOFNO,, SO OpUrureyo opgÍIsod ejso ppurE estojo sop SaJuapurútoo sfem UIQ SEÚIIo] SeIMO TIBASIXO SEJA "OEP
TARDDSS EP ESA BUM OPUS OUIOD Soquio|nb IELI op soJ8ou sop

aim eamatea pm
oBo[9190s Osopnes o “ejeosa [E] SIgos EpuIe opusmossT
aPEpISS93 E as-pZnejuo “epezipepodso eImeIM] EN
*BUISIPOUW OBÍIPUOS ENS EP OJUSUIDOyUODsop O OP
“CsoretuTed 2p ojdurxo)
oquiopnh ou lexenso1 anb “ojeu o ered segng cg -uvarige “opessed nas O uloo sor8ou sop pIudnI eum 1220A0Id
(OBYUBIEIA OU e uisA onb ODNOISN OJemy 93so Ja991eposo epuie nmBosuoo uran3
6€8T OIB[Eg [oNUPIA op Os2D) SEPELLIE sogõrsamsi *z -“UIN “TISEIg OP BLIQISHH PU exuBoour eum q “opessed nos op sol
o “(XFX OM2PS OU EIJCg EU sajpu solSau sop “Jo[IsPIq SOP JUS IUDAqUOS OU eoojoo as anb osde um |
SSJUEADT) Iopod op epeiro) ejad epezrueBIo eIjoAaI VT conb o anus oeru “snb ap ogrun JeSoto so
-210nb onb ojuod aJseu 2 4 OBM) opungummb op oquonnô,,
:OBPIAEIDSO E EIJOOO OJSaU Op OpdEDI ep sied :OLIPUODIP 9pueig nos op sI9qIos OU ZIP Eron] epuejoH SP

Ee mitic caça,
“DULIM sojuauom sem ajuetueojnbieiary 1oosjoqeisa Io eus onbreng onzmnvy oussu O oquromb, um 9pepWBol El pule >
OE . SOTELIJEA SOP OGUIOINO O, NOS OU OXDUIPO UOSIPA oud no 10] anb op epedposIaJsa OBSTA ELIN OUIOS esonsniuod ensui
-o1d O *Opou 9385(] “2LIQNA EISo JeISO] ESISUOS OBU epenhope E. 3P OLIPUODIP ojojduãoS srem Op aJoquaa o ojuend sengmod ou
BrUgtósUOS BUM imssod op I0d “OARIDS9 O onb TINSSE as-0p “TEIPOIN OU[SsUo) op EINSUO) ? OJUE] SOLIBISPISUO)
-U9puajua “spod op epeuo) e eIed epeosny PANEJUS) OUIOO oq *. SODPISI] SOABIISA Sp on0)
“WOjND O Ulo9A SSJ0PeiOISI SO “SEJspeIemO sordpumd us o5-0p -“PUIBA; “OJDTISCIg “oOWnosem oAanuBIsqns “sogurojmO sum
“UE9SBQ “SJUSUTOJUSDSI SIBIA "PSDOUBIA 0EÍN]04M e OpeAd] equal -2s O “ajuomenze “zip “enonos epuejor op onbieng ogomy op
atnsoId os onb [eopy ouisaum O TIHAX Om>2s op ssiopestiad sor eLIOINE 9p “esansnj1od enBui] Ep OLIGUONTP OP JJSqQIA O
9 NESSSTIOY E OUISSUI > soJdom sor eJUOUISI onb esanBing [eiaq “Sojau sogIid moyIe Lou SOpEI
“T PISOjO9P1 Pp EpeusaIdm oesIA pumu eproseq ejsa opdejoId -IIBAS] SOUBI EyLIO) OpU anh epure 'eprmosdsop ojred mo ooupo
-ISJUI €159 “PPIANP US “ejoldiogur emeiay e ond ma opunuas ap mossed anb soprên; SO1S2U Ip OBÍEIGPI E POL uOQUIBS
OU OEU SEUI “9peprogi e elos OAPIdSO OP sogãendse sep eum onb “CUL, no, oquiormb, eia onb o mIssE erutop “OpZT SP OIqQUISZAP
souresusd anb oysnf H «oguiomb, o wo sopgomoIduioo sod 2Pp Z ºP PpeJep 'outeurenT ouyjasuo) op Basto) EIA
“8 sOp apepISqI ap oIeur [eapr um ap ojuameoro» o EpUle NO
“EDLYY BU SUSBLO sens sy IEIJOA UiamoN O ap ajusueum aPepIs STEIDOS SOJUSUTEJUSSSY OUICO ,SOGUIOFTÔ)
PE E E e e
ER
opómgsap Dp SDIP sou apppiIqissod JongooJequ; à DIOQUIONNÊ 'OJUSUHISDN ZIHIDaH
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
a ]][[[[[[[]—————

tire

mo seja passível de tantos equívocos, entendemos que cle se (brasileiro) possam ter tido ocasiões de estabelecer grupos
no-
de se organizar de uma or vos baseados em novas relações. É possível que, da forma como
forma mais na necessidade humana
ma específica que não aquela arbitrariamente estabelecida pelo estava organizada a escravidão, o agrupamento se relacionasse
de uma maneira que, para aquele de fora de tal agrupament
colonizador. Um homem ou vários em condições físicas e psíqui- o (o
cas normais, embora vivendo sob um sistema de instituições vi-
branco, o feitor ou senhor, outros negros, etc.), fosse totalm
ente
osamente opressoras, poderia voluntariamente imaginar pa- incompreensível e indistinta. É inegável que os negros estava
m
Edi situações mais de acordo com as suas potencialidades e organizados socialmente na relação de trabalho sem fragm
enta-
ar idões situações que, devido à ordem social escravocrata, são ção aparente. Qualquer mudança que pudesse acontecer dentro
O versal e historicamente reconhecidas como impossíveis de do núcleo de trabalho seria, deste modo, imperceptível. Isto
da-
va uma margem de vantagem a que o núcleo inicial do
serem promovidas. quilom-
bo pudesse se desenvolver sem a intromissão dos elementos es-
Objetivamos, então, nosso ponto de vista sobre o que vai tranhos e opostos a ele.

cego Eiicapomha cinerr es


determinar a inauguração do “quilombo enquanto estrutura so- Portanto, o grupo dentro do grupo maior já está exis-
cial. Tomemos como exemplo um clichê, um caso dentre muitos
tindo, já estando inclusive sob uma liderança. Estes líderes po-
descritos por viajantes que visitaram o mercado de escravos fo dem ser extraídos como no exemplo acima, ou podem vir das
Valongo no Rio de Janeiro no século passado: Um nomem af i- práticas religiosas: um curandeiro, um feiticeiro ou, em outros
cano traficado mas vindo de uma organização socia mais e- casos, uma

ada Lao
parteira; pessoas, portanto, que, pela sua importân-
senvolvida do que as inúmeras na África, ou um negro de grau cia no grupo, o aglutinam em torno de si. Estabelecido este em-

camas
hierárquico elevado em determinado grupo africano (socie ade brião de organização, ele começa a sentir necessidade de se
primitiva, “estado, império ou um grupo social não espectit afastar da ordem oficial.
cado). Imaginemos um potentado, separado pela distribuição de Neste momento, o grupo deve passar por uma grave cri-
mão de obra no mercado aqui no Brasil, de seus súditos, ou da se. Homens e mulheres comprometidos passariam por uma
fase
maior parte deles, ou ainda da sua família. Simplificadamente caótica onde as diversas etapas e situações que até então
viveu
diremos que este homem por experiência de mando, de grau a organização embrionária seriam postas em xegue, requer
endo
hierárquico social, não aceita racional e conscientemente a nova um corpo mais concreto e real. Esta crise deve se dar
de uma
condição em que se encontra no Brasil.
| forma que reflita o grupo psiquicamente. Talvez seja o caos
psí-
Este homem poderá conseguir, mesmo na senzala, ainda quico nestas pessoas que vai suscitar então, neste momen
to,
na fazenda, nas horas mesmas de trabalho, reorganizar nos uma elaboração ideológica para fortalecer os laços e justificar
as
moldes anteriormente conhecidos, ou não, um grupo. Isto pode- atitudes contrárias à ordem social, política e jurídica estabel
eci-
ria ser feito através de prestação de algum favor, de continui- da. Atitudes que por outro lado poderiam se reverter num
peri-
dade de vassalagem dos seus antigos súditos, de relações novas,
go de desagregação para 0 grupo que se está formando.
Revigo-
A continuidade de vassalagem foi um fenômeno observa- Fa-se, então, por isso, os laços e os vínculos com as suas
etc... regiões
do por Maria Graham, relatado no seu Diário, e que é citado por de origem, traduzidos pela intensificação de práticas lúdicas
José Honório Rodrigues na sua obra Hevolução e Conira-Revo- (uso constante de festas, batuques, etc.), religiosas e “Flosó-
lução: Economia e Sociedade — Volume HI. Presume-se que este ficas”. Nestas últimas, objetivar-se-á, principalmente, o desejo
também tenha sido o caso da acumulação de riqueza por parte de libertar-se.
de Chico Rei, em Vila Rica, no século XVII. Além destes ho- Do ponto de vista do comportamento individual (dire-
mens africanos, entretanto, é possível que homens crioulos - mos assim para diferençar do psíquico-grupal e ideológico),
se
70 71
EL CL
a ia
aca

-mb OQ “ogjepouiooe e pIed ogu 2 erUgIsIsal ºP aPEPIssadau


““OrjouIr) WOSIPpg UI0D asAaIsnpur “engadisd os OSSI I0q 'SOqUuIO;
eum 10d epeapoui 2 eêny e onb imunssid sourspod “umssy “So -mb s1gos eIyeIa e ered 'opeonruBIs nos O aJ9j91 98 onb ou
Lat aa

“93 Sos ap sareyrum soogpnde se aurozuos “epugrodur op op5 - “EoD0S eumyuau uios nossed “ejoquiojmb OE ILIaj91 98 OE [enIgo
-“BUBISop ejod sopynqLnstp “soqureoour sonpa sop sagusBLurp “od
ogÍerisumoop ejod epesn Cogíriy OXSoU, OEÍBUBIS9P V
“UI SP Sojouo so IImaInsuoo ova “Epeqroe emLIO; ENS EU “oquiol
“mb op ojsunêms op opuenb sustrom sajsg “UISBOI CISUMId em] 2 ered ego y
urenb suamIoy so ogs “ojmsuiom onsurnid umu onb 2 soquiojinh
S9puEIS SOp ajIed JOTeUI ep 9 sazemjeg op remood BonSoJDEI “EIQUOIMNE JUST
“ED y “Ieygrou oysmbor um e so9pago odnus op opiepeasur Jor
-[B91 UI9PIO BAOI EUM TEDILI PIPd ppesn sjuowieBie] 2 EpIyjODso
-B150d à Opoxa o anb “ojIs2 ouroo “sorrsImpuoo “SBISS1O] SEU 09 ajusumerrounid ogõpoI op pulo] E “ojuejrod “ "SBJeII sep opepu
FEL te dhatiiãao Lie UPA tida Dir too pprtatçÕ£a fat aa pas
-Brigoo8 odedso ou oquo;mb ottos eprayuos BULIOJ Ep ojuaur -nosqo E ureyyrgissod onb seoiypigos8 sagórpuos se UIaquiea “opd
“Poteqriso Or JOLIMIUE 9 “OEpIARIOSO EP Olas OU “sepuoze) seu
-BI9PISUOO Ul> eAo] EBNJ Y 'oJuogInsuf UIOPpIO BAOU B o IOWIOS
opieZueBIo e onb joapia ass]odIy OUICO SOnHIRUIO) as o ejequio as Jenb eu Elage EIIONS eum Iopusaiduis op WI e
"“SODHIGIST] & SOMIBQ[O9PI “sIPIDOSSOD
ISA “SEBII SJU9TTELIOI2JSDPS UIDULIE OS sajo onb pIPd sogóIpuoo op enpugsne
-BJeUI “SODISH] :SS10)2] SOSIDAIP O80[ uIo ogISa sienb sei sedejo & J2AQUIOIÁ IEA BI] “OPOSUIQNS PISOS SOARIDSA SUSUION op odnis
2 S9GÍEMIIS 9P 2[I9S EUM Op OJUSWPOJOD O q "Eppajoquiso WISPpIO 1onbyenb [enb e sosmaal op ezalgod E 9 eSn] E eurILISTop onb
ep OBÍEISSINO) 2 OgdezImrBION OP OssovoId um opol 9P PDUQI 072] O UIZIOJ "2SNJ E :BANPUIS]e CUM IsDoJ1oJ0 ELropod Os “steu
-1009p e “epeu steur op sojue “9 “rem esed opeppedesur sod -“OMASU 3 SEDLIDISTU SagÍIpuoo sens sejad “onb Tergo atrtBal
Opraou no ousjaurjtodso 195 ap aBuoI “eên] E onb JensuorIop o emo opiendsuoo e pIos ossed oupxoId O “epuozej eu posa
o *epeomidis euros ap “sodoid os opnisa ousnbad ajsg odni8 o ogmenbus sooym02e nb “PUISJUI astro easo sody
"CSOMISDUODOIÁ OtUISpUEINISgO Nas OU OpeypnSI smw “SaJueuruitsIop OBS ED
BSsueIuISd opIpusiua-jeu: 29sa onb urajruxa d soquioj nD asqos mu s31032] solso “OJUrIaNUM “(PsopuejoH exanD Eq Soxe fed
BEIMJeISM Ep sopepiuissed a. sopepmoyp se seia jm sua o anus opjejal E PLUopuadopu 2p seuans se) OESCALI NO EINS
ss9ny Couro Tenos odnig ojuenbus “euros erIsonI ep 19puajta eum “(ESIUODIJOqe OsssD01d OP aJUEIAICDUOD FIGO PP OEUI
9pod os OPN "SUSI [ut 9JHIA Sp EoIdo uremssod “srRIor) SEU 9p 9SLD E) BOJUIQODS PPIA EP OBÍEZIUPBIOSOp E OUIOS SOJUOUY
“NAL 2 adiSias anus “soquopnb sonno som a SoIPUITeg “ojue] -Dojuodr op PrUQnpuI e Temos no “opor um Omo apeparo
“SIMA ODUP op urossed onb soprôny SorSou op OpdeIgem epos, -os ep ougyInDasop oe opemonie Jejso pIspod “OpUBULIOS PISO
SoquieSOUI NO soquiojmb omoS augop “OrZI op oiquiszop op os onb odniS op csugjusmou onqumbasap a1s7 og)eogrusIs
€ 9P “OUNPUIENIN OUWjSsuoD op eynsuoS v “208 ua sojiagos opueiS op jeded um Jequedarosop e JA apod odnis or ouos
-“Sop “IOPEATES SP SoJOpaLre sou “EMP OP à sareW sop esoquas -Qxa IJOJej Win onb ojuouIouI SIS q 'SOSOUILIHO à soquoymb
ESSON SP oquo;mb op ose> o q “esorBrrei opômynsuos ens 94 anus opdeJoI E 9Pre) sIIu Ieçy ootBojoJed 'somesrp “stereo um
98 9JUSUIIPP apuo sepeprmmos oAISNjaUI “sorsau op ojnamed OPP| ONO 10d 15) 9p WPXIop OEU “OLIQIEISSJUOD JoJPIBO UIENS
-nIge 1onbyenb e oquioynb reummonop [epigo OBÍPJISTMDOP EU -sod pIOquUIS “sejs3 “SESOUIMILD 3 sepepIa “sejsnIpuBq seonpid
MUSLIOS T “SOXEJOLIOD SN9s > oquiojnb um eos anb o aigos Es uso 2497321 os onb “eLIQIEISSJIOD opmine pum E OBZBI PP TEDOS
-paid 9 PIejo OBSTA pUM enqigissoduwr sremi snb o “seip sossou so UI3PpIO PUISSuI Ejod PpIAOuIOId 'sOsB9U sOp ssumnIso) à seopnpid
Ne empied anb ojrsouoss1d 3189 P EPIANP Las "BIn] 9p cAgegau sep opôPZI[eulgIeui Y “SJUBÚINIOp [PIDOS THSPIO E US OpRaUI
PULO] BUM 9 “2Bny E 19410092 40d “oquojmb o onb 1He8ns 0g -oIdulIo> Jenumioo op opÍralsi E eos opuny ou anb o “seannp
BSONIIDUODAIÁ OBSBUSISAP PISA ajtnIsteI “sourego ef ouroo “enb -o1d seoneid sep ouopuege ap vombirgue opmne eum emas
T
E
OpóIn sap vp SDIp sou epppiigissod ponypajazu] a DjOquiOJINÃ) “OJuILSDN ZHIvAZ
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

cap
lombo, portanto, não pode ser reduzido à fuga. Esta é uma eta- com a sociedade só poderia ser feito dentro
de uma luta. Isto se
pa; etapa para se empreender a luta, ainda que neste momento torna patente com o exemplo de Palmares, onde
os homens

ani
seja evidente que não se organizou a repressão da sociedade saem primeiro para organizar a resistência, constituin
do-se na-
oficial. Isto diminui o peso da expressão “negro fujão”. Não é quilo que Edison Carneiro, citando Nina Rodri
gues, diz que é o
uma fuga espontânea no sentido de anarquia e desorganização, governo nas mãos do “que dá prova de maior valor
e astúcia”
pelo contrário, o fato de que são primeiro os homens a fugirem isto é, nas mãos dos mais capazes para a luta. Embor
a a lite-
prova que ela está voltada para uma organização do combate à ratura sobre Palmares se concentre na sua repre
ssão e durante o
sociedade negada. Presume-se, então, que obedece a um pro- período da Guerra Holandesa e aquele que logo
o sucede, não
grama ordinário. Este programa vem à tona num determinado há dúvidas de que (citando-se Hélio Vianna) o Sertanismo de
momento em que os negros engajados se sentem suficiente- Contrato como ciclo econômico e de integração nacional orga-
mente amadurecidos para empreender o novo núcleo social, niza áreas decadentes do sul do país (São Vicente) em funcão
tendo previamente sido escolhida a sua área de localização na do apresamento de índios e quilombolas. Deste
modo, podemos
qual as probabilidades de enfrentamento à repressão possam reforçar que oficialmente reconhece-se a luta armad
a e a orga-
ser satisfatórias. nização militar como um dos momentos fundamenta
is da oTga-
Destarte, podemos concluir que, vivendo ainda sob o re- nização interna quilombola.
gime escravista oficial, o quilombo ou seus correlatos são tenta- o Fora disto, a etapa que sucede à retirada da ordem ofi-
tivas vitoriosas de reação ideológica, social, político-militar, sem cial daqueles que já se constituem nas lideranças do movimen-
nenhum romantismo irresponsável. Muito menos a fuga para o to, é caracterizada pela doutrinação e coerção de outros ho-
mato tem o caráter de vida ociosa em contato com a natureza, mens, feitas por agentes do quilombo em redes de coito que se
com base numa liberdade idealizada e na saudade da pátria an- estendem através das fazendas. Todos aqueles que trataram de
tiga. Talvez tenha sido por isso que, embora o quilombo fosse Palmares e outros quilombos grandes insistem neste ponto. A
um. dos elementos fortes da formação da sociedade dos brasi- nosso ver, uma doutrinação em busca de mais
elementos mas-
leiros vencidos, não tenha se prestado ao movimento romântico culinos só tem sentido em função da organizaçã
o militar para o
literário do século passado como o foram as resistências do in- enfrentamento e defesa da nova organização.
Só após se “arma-
dio brasileiro. A liberdade como ideal, já dissemos acima, é um rem” os homens aglutinam-se em práticas defin
itivamente so-
vício de interpretação dos estudiosos, ou simples relatores que ciais, buscando “suas” mulheres e, conforme estivessem -agrupa-
estão sempre em busca de uma correlação histórica entre a dos, também, seus filhos.
realidade brasileira e a europeia. No quilombo tanto o ideal de E possível que tudo isso esteja sendo feito muito
antes
liberdade quanto a volta à Africa só poderiam ser tomados co- da tomada de conhecimento dos senhores, feitor
es e outras pes-
mo fatores determinantes se se pudesse estabelecer fielmente as S0as com acesso concreto à sociedade oficial. A
partir deste mo-
problemáticas individuais ou psicossociais. Caso contrário, O mento, Presumimos que seja passível de conhecimen
to externo
apelo a tais fatores seria mistificante, encobrindo por demais a a organização quilombola.
realidade do quilombo enquanto História do Brasil.
aee entire,

Descaracterizada de seu caráter negativista, assim como A Paz Quilombola


do aspecto pitoresco, mistificante, a fuga surge como decorrên-
eqeremçor Eca

cia de um processo iniciado na fazenda ou lugares onde se en- Até agora a literatura sobre quilombos, tanto a oficial
contravam grupos de homens trabalhando sob o regime. escra- quanto a bibliográfica, desde Nina Rodrigues até Clóvis
Moura,
vista. Eles a empreendiam conscientes de que o rompimento se bem que por
destiasagamaras erro pio

enfoques totalmente opostos, tem se preo-


74 75
Ed, 94
-2p O 2 sojue O “EINS EU onb op BEDOALDSa auSal O ste ol
“Boguouod . MU asspôpone , Zed, eu zoape) onDb 'opieziuegio emno eum en
“tod SN9s op vUroIye moBLO E onb op oquionnb OP
EILISJUI PI “OD [eDHO Opssoidal Ep sanbrie sop eLIQIsH e ouIoD oquiojmb
“Tannso BU stguI ONU IMgur “eunquou epranp uos “Tenb E Tem op OESIA E essedempn os jenb ejad “oreur opsejoIdiajay op oó
"0109 9PEPpaDos ap ojapour o exgal ajod ap 1092 eu
no vSei eu -JOJso um as-Ionbai Ejo aigos a pjoqurojmb og5ezIuEBIO EP SODA
epeoseq embresoty e onb somejpany sjusureanodsor
seiSou -SI9JUI SOU SjuamireIsn/ pIso zed vIST “eIIonNS ap onb op ejoquio]
? SEJEMUI Ops “ojoyo op embrezom eu ojueg sodum sousuw p 3] -mb ,zed, Ep SoJUO] SIeur souejIo] “EZOJIOo UIOD “OJUINSS OLEJII
“UBJIOCEIE srett ep “epugrodur ap nei ui sexo
se onb opuas UM IEXI9P OPIPOd 9SSaAM OIIoTISEIQ OIS9U OABIDS9 O 95 9ND OLD
“EDUPIG 9 (Iqurez) Iqumz op Juma jedound e ond urego song “SJuUsIsixo BINIPISH Eu elins OBU Bjo S9z04 SEM BIOqUIS (ZEFA,
“HPOU BUIN 2 Olomheo tOsTpa 'oquiojmb op onusp soxas
anus ap somenieyo onb odurs) op odedso aJso E seÍPIS Ols! 2 opóemp
S9OJE[BI SE alojar os onb ou “Wraqure) “msse sSoHIBSTTOd vSUo] op OJS[ISeId ODLIQIST Ojusurotu um q oqurognb o “oras
| “eloquiojinh orpegemy ap eu “pH ConpISO9S OSedsa ou opsuedxo ejod a oduro] OU OpÍeINP el
“SISTS OP OU TIDSpoqrIso ou sfenz om engur pertoços opepoto -2d “onb sowesuod 'OLPIAPDSA 9P SIAIssed stuouIjepusiod eIOq
-08 E 9nb sotisão “opdenBoD op BIOJ SJUSLITEJO) efajsa OBU 959) -uso “SOIAI| SUSLIOY 9P 03[Pnu ouioo sumsse oquioinb o snb 04n
-9dE PU ejso anb tuoq os "BJLJY eu tuagio op seutajsIs stias -npold JejeieD ojad cejoquojnb zed, op somoITeurego ojustmiom
SOU Uosixo anb seg seSojpur sogãents 1znpoxds1 127enb sjusm s18H “Opuiznpoidal aS EIO “OpUISPONAI BIO UIZIUEUI OS afo [EDIT
-“BLBIUNTOA J0d “S3I0PELIOISIY SO JaJo J9Ze] TS19NDb
OuiOo “oem q ogssoidas ep omno > onbeje um amu OlIayxo OPUNUL O UIOS
'OPDoULOD OjusurouI ajanbeu sS0rped so opungos *epejronIe 2 EUIOUQNE “EUIMUI [JEDOS eIMNNISS ENS JeZzIUBBIO
eigo ap pm
ºP OHNlsiieinTID1 op osmos1 wn op os-ez ynn oquo 2 vÍomo) oquiojmb o “sejem seu oquau]aAnunsaid “oogeIdoss
mb op 12]
-UOBLIP ossejo, e “elas nO “SPPOLIE STEIDOS sogãezire$1O
ap sen o5edsa wmnu oprojogeiso “enb 'oguejrod “ISA sOUIspod
“EgosTUIuISI onb op jeruojoo atSo1 op seppoquoo SEULIO
J sep o “SOTUIZIA SO UIOD SEDL
opônpolrdo: e srems oymur > PARDO BIO 2p ogur E OsInD31 Q “IDA -QUOD Sagdef2I op (opônpoid op Olou) sompoird iPuJO) às OEA
OSSO Y “OqUIOjMD Op ErUIOLODS E EIoseq os anb us
ogônposd op WquIr3 ND sEjUSUICIIS] op COLE] O FU “SODNS9UIOp SIEUIHLE
SEtTOasTS SO “aIsop uroje “ops sjenb sourestermS1og “apextoa
Ens ap OgÍBID PU ÍSEpuaze) oAIsNjouI 'sOQUIZIA somNo sung|p HIOS
& ENUOS Os[onu 040u O esed ova onb sajonbe ops “SS10P soproom 0ES sienb so “sompold ap opepogiea eanquo os apuo
EHIOJS TU
so OpUNSas 'SOAPIDSO S9]S7 “OAPIDSO oueqen ou etsseq se301 uremguosua as pj anb op “oquojmb op sownTzIA sop sengno
os soz
“A Seynur oquopnb o anb oprynsumoop o oppetuos
J sEUQISJoI PU SNDb 01199 2 LWpquiP3 Seja soquiojnb sop seSEqu
"OSONONA odurs] 081B] 10d 10] Z94 eum “soou ojad “onb TZIAUMOJD seu Wapuasiduo sejoquiognb so anb “219 “opeB ap
olSoU OPEIST O “Uma “sejoquiojmb sojsd soproo104ey “soxem oqnoa 'sepuaze] op puronD 'sootsiy sonbeip “serzzer SIQOS TOLDO
“Td Sop oquorno op pare EU opes ros mero onb SOJUBI SUSI -sIp 9 ediDo os EINJPIaI Ep ossed opueis enb ojos q “sEqU
“OL OBS onD : sosSair SOHOJOS, SUN 9P PIE OMSUIES : -“IZIA SSOI891 UIS SIBIDOS 9 SEDTUIQUODS SOÇÍE|9I OUIOD UISSE “sEJOS
UOsIpy “oq
E -ULOUI SIBIDOS SogdEJaI SAJOAUOSOp anb “opezIuBSIO OSTonu OLHOS
-mojmb op onusp soiSsu-ogu so 2 sosZou so anus sagôpj
al sy
E opunspxa oquojmb op olejas O o8ms “egeidoWaig eu ousou
“OHOD O UrEABI ENE anb sepuozey ap sssoquas ap oqusugamozd
-UO» O no “ojdiraxo 10d “orrgyoLIdoId ouanb ad o u1oo “somsISaIl SoSSa OUISOUI SEJA "OPBS9LIOS SOZ3A SEJNUL 9 “sod
spepe uep
"TOS ap s0de] SO "Iopussidino op sOUreuIEISOS anDb opãmoIdIaN
U -9p no oyremp “segue ey onb O “TEPDO UISpIo E UIO3 BITSNS IO
9P OdJOJsa O S)a1ouI and q “EITISPIQ Apepopos ep ou enuo oquiojmb o anb ua ojusuIour a1s9p onsIgal O squatzesnf
no So1ATf
SUSTHOT SOLO SO TIO OpurUOIoPfo1 OS “So1AI sUSUIO p 2 ureSo] SOU SIBPYO sojuaumoop so anb OQ 'opaumsur Jo1pIe>
ompal
O “OPDOTOS Jos EIssa29u anb q soquiomb sop erron8 ep
siod nos “OB Op IoJpIPD Nas IO aJaWajueururopaid opedno
sao sois an Pi e TO OO O e a a
O,
OPÓInISop DP SDIp sou apppiiaissos IDng9aJozu] à DIOGUIOJNT) CQUIULISDA ZLJDIM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
TE

Outro ponto de grande importância a ser estudado é a transformado, perdura. Uma das provas que talvez tenhamos
existência de indivíduos de outras raças tanto branca quanto, e para este argumento é a de que, no Rio de Janeiro,
áreas geo-
principalmente, indígena. Pretendemos observar e esclarecer gráficas de antigos quilombos, como os de Catumbi
(um dos
este fenômeno e as suas implicações no êxito da estrutura do maiores), Lebron, Corcovado e outros, transfor
maram-se em
quilombo enquanto agrupamento para a resistência cultural e favelas, e sobrevivem, embora transformados fisicament
e, até os
racial dos negros. De que modo este fator de integração entre os nossos dias. No início do século, principalmente nas
primeiras
outros elementos oprimidos da sociedade colonial auxilia e frus- décadas, a repressão (ao capoeirista) e elementos
1 negros que
tra o projeto do quilombo? mantinham seus costumes culturais, lúdicos e relig
iosos, era tão
A partir desses diversos enfoques achamos possível en- forte quanto era em relação ao quilombo no século
passado. E
contrar na estrutura do quilombo o modelo de relação racial essa repressão tomava formas as mais complexas e variadas.
que sempre existia no Brasil e que a nosso ver perdura após a São estes os principais pontos que gostaríamos de
escla-
Abolição da Escravatura. É a partir do conhecimento das rela- recer sobre o quilombo, em busca do padrão de relaç
ão racial
ções entre os componentes livres da sociedade colonial e impe- brasileiro que para nós foi insuficientemente estudado, justa-
rial, da qual o quilombo é sem dúvida um dos focos principais, mente por ter sido o quilombo relegado a plano secundário
e
que podemos entender as relações raciais que perduram após a mais aínda por só ser entendido enquanto foco de rebel
ião e in-
Abolição. Embora o quilombo enquanto agrupamento passível surreição. isto para nós é a exceção da vida do quilombo.
Sua
de repressão pareça só existir enquanto houve o sistema produ- tônica são estes últimos fatores que simplificadamen
te tentamos
tivo da escravidão, ele não pode ter desaparecido enquanto or- resumir, fatores que estão situados no tempo que cham
amos de
ganização em que vários grupos sociais estão comprometidos, “paz quiiornbola”. Embora possa coincidir com a guerr
a do qui-
somente porque o regime escravocrata extingui-se. Pensamos lombo, é nela que este modelo de estrutura social se
perpetua
que ele, tanto como modelo quanto como segmento de estrutu- como História do Brasil e do negro dentro desta última.
ra social, perdurou, absorvendo os novos elementos que apare-

gemer Form comam ore


cem com a desorganização do trabalho escravo, isto é, os ex-es-
cravos, assim como outros indivíduos de outros grupos raciais,
que, de algum modo, ficaram fora da nova reestruturação da
economia dominante. É verdade que não vamos vê-lo após a
abolição enquanto quilombo passível de repressão. Mas se nós
tomarmos a história da repressão ao negro após a abolição, tai-
vez possamos identificar essa nova repressão com o que aconte- ..
ceu historicamente com o quilombo. Queremos dizer que of- .
cialmente o quilombo termina com a Abolição. Mas que perma-
nece enquanto recurso de resistência e enfrentamento da socie- -
dade oficial que se instaura, embora não mais com aquele nome ..
nem sofrendo o mesmo tipo de repressão. Se sabemos que o te-
gro e outros oprimidos permanecem, por exemplo, nas favelas e
áreas periféricas da cidade, obrigados por fatores não só decor-
rentes da marginalização do trabalho, como também pela mar-
ginalização racial, podemos dizer que o quilombo, embora
/8 79
T8 08
-BP OB5ÍPZI[ELOSNpUI op Ossa201d O uIoo OJIajo é oprzem “seammp
-OJd SSPePIADE SEP OFÍBIHISISAIP E ouzsatoo enh ou ousimen "9461 2Pp oumf op sz “oBumop “orou
: er op Or “EIOF PURA JeILIOS OU SNISUIBUTÓNIO opeorqnd oBniy “Os
“IP JOIEUI WIM EJassIde EHoJISBIq apepairos euIapouw y
“TEHOQUSs OpSPUImIOLSp Ep Osad O Bjo aigos [eoaI “ossi soda)
SON]
-UeureIsnÊ “nb 'oquejanto “as-a][Essoy “PIEIDOARIDSS ogômnsar ojod opezeursse q Jeded nos opoum sIsad] 'sejo E EpEOIpSp &
e eIed ojrodns o “oumoseu sjuspuodsano» nos o wo oymf - 1] Nos sOp ag “UIouIouy op esodsa ap joded o eoueI Toqqnus
OpUSS [ISBIg OP eLIQISIH EP opojniad sIsou IompoId ojusura(a - R as-mqme “elsijeurojed o jeosepned Jojpreo OE OpiAdd
OTIOD OPSTPel PIN op ISSA Ze] E nb CISAU ISYymu ep,ea “I9UJRI E 2IGOS EUIANXS BISUBUI Op 98-OpUNS|al “ermmanso ENS
-Bnpoidos opepredeo, eisap OBS E IeuIeTo aquenodiur 2 03 - pol erouiad
! o]
onb [eoiereged Jojpseo um op a]S9491 98 [EHIO/OS
-t2[ 1onbjenb açy "opoLiad ouIsaur ol Ot 9 OBY|LU UM Sp owIoI - epepopos e “epINgop LIS Jelsa JOg 'PPIA Op SOIoUI Ulos SEL
Us OPUPIT “SOARIOS3 SP OISUMU O EJUSWINE OBU “OJIAgE ODIEN -poaId sagôrptoo US OpuDAIA “SOJA SSToW|nul à SUSUION Op Ep
o uoo Tiseig ou ojuenbuyg nosmgdin asenh eapioso vISan opõe] É gureo etm sourentoous sojod stop sajsa SNUM “2pepopos 2Isop
d à
-ndod é “opssa0sS ap ELIoNS P oe 'BOST me Sopiur sopeisa FANS] OUjeqen 9p ESTO] E “SOABIDSS SO “ojod omno ou “oopIjo
SOU ODBEN OP opSEsso e sode “enb 1szIp 1emsnj eied eiseg o)IUIQUODS Iopod O SOBUI SENS UI3 EMUSÍUOS anb “seIISS 9P JOWU
TBABJOABJSAP IOJ [IS2IZ OU SOjNOLE SOp spepiegiou! a opepipeieu “as O somEnuOdUS jenos embapiany BIS2p sojod sop UN
onuo OdUB|BQ O “OANEJSB9A OJHoUIosaTo OP um EYUN eseIDSo “sOpepus12jp austepigu sjoded urequod
ogsemndod e apuo “soprr sopmasg soe opueseduros -canisod -uIasop sodniS sosIaAIp so [enb eu “SBISED Op OUIOS JENJSÍUOS
as-opuopod “epezmbreisry SJUMIIRINIKOS OO) agims PIS [CI
OPIS PYUO) [ISBIg OU EARIOSS OpSeIndod ep OAnBJaBaA ojusuilo
I
-Sa1D O onDb “PANELHDE EUIn|n eJso ÚIOD JoZzIp oIanb oeN -ojoo BOOT eU apepanos essa EpEININTISO BARISS OUIOS EIISTEU
o “OIDIBSU ONTJEI] O UIOD ea emnnso ens g omisouoD anb OU EIIISEIq Spep
opusltosuos Teppusjod uia eIgO op OEUI 9p BIOpadouIo] eum É” Sos Ep OSLIQIsIM OuanDad um opusssjaquiso “oduia)
? BIS9U JoUJhu E “9 0ISf “OUISJUI 2IGO OP OBIL OP Opr>IoIU O ou oDnod um somLreIjOA OLPSSSISU OB “OUTeGEN 9p
ered “EHOpEDISUI BAOU Sp es0Inpoidol ap Ogun; E omj-eABp “soa OproIour OU vISSH JoWul ep OBÍBmIs E Toplojus PIE
-BJ2S2 SOAOU 9P [eDUS]j0d Lã93 apur “oguejsod “o “Ten ap ogiIp
-UOo ens ejod “eagnpold speprpedeo ens ep meofe “ope; onno 10d
“oyuaSuo Op 3 91102 OP SBLIPIPpISQNS SopeptD? seu “odureo ou
UISQUIP] OLIOD (ELPBARDSS E BIPM SOU op eIOmMpoId ouro?
Sur “SOU SNoS 9 SEIOWIOS 'saJoqUaS SOP SOTIIUI SO JoZzEJSNES
E JJUIWIOS FIM os OgU onDb opepiADE) opupis eseo Pp selozeJe
sou 9s OP “PIOPEYJegen eim q ejo “PARIDSS OWIOS “PPEU STeul
ap saJuy “o4ane foded um opus) otuios “> oJsI “Uiaulory nos op
op ajupyfouras joded um uico “eIompoId aqusmyeruasso ray
ocOUTEQBIL 9P OPEIISH OU BISSN JUDIA V
Bum OLIOD eprIopISUO) Jas apod “eISoU Jsymu e 'ojod omno
OU SJUSpuOdsaLO PNS “PIUPIQ ISW[NU E SjuomigLIenuoo
-opjemdod ep epemieo opueis
eum op [eossad ep 3] oypegem op ogôpiojdxo eu epraseg 2Pp
-BpSbos emn ap ootSojospt aiodns ouroS eArjuasaIdol su] 0D9
935º onb opmbeu epezipeopi o epenedsal “epeme opios “orDp
O E RD
e E e SS
opómysap pp sDip sou apppiigissos [Dng99/99Uf à DjOquONNO “OJUFUWSDN ZLJDIH
Beatriz Nascimento, Quilombola e intelectual Possibili
dade nos dias da destruição
T
O ie
marcado no período de 1930. Com a expansão industrial e do Mecanismos que são essencialmente ideológicos e que ao se de-
setor de serviços, a estratificação social, profundamente polari- bruçarem sobre as-condições objetivas da sociedade têm efeitos
zada nos períodos anteriores, apresenta uma maior flexibilidade discriminatórios. Se a mulher negra hoje permanece ocupando
e gradação. No entanto, esta maior flexibilidade mantém muito empregos similares aos que ocupava na sociedade colonial, é
profundamente as diferenças de papéis atribuídos aos diversos tanto devido ao fato de ser uma mulher de raça negra, como
grupos da sociedade. Diversos fatores funcionam como causa por terem sido escravos seus antepassados.
para que se perpetuem estas diferenças. Um deles, como não Numa sociedade como a nossa, onde convivem elemen-
poderia deixar de ser, numa sociedade constituída de diferentes tos arcaicos com o processo de modernização, a educação repre-
grupos étnicos, é o fator racial. senta um fator de pressão dos grupos subordinados, visando
melhores condições de vida e ascensão social. Entretanto, justa-
Numa sociedade como a nossa, onde a dinâmica do siste- mente por causa daqueles elementos arcaicos, os avancos edu-
ma econômico estabelece espaços na hierarquia de clas- cacionais são limitados e recentes, ao mesmo tempo fem] que
ses, existem alguns mecanismos para selecionar as pes- carente, pois a maior parte da população tem tido pouco acesso
soas que irão preencher estes espaços, efetivo ao processo educacional. Entretanto, pesquisas recentes
baseadas nos recenseamentos de 1940, 1950 e 1970, registram
O critério racial constitui-se num desses mecanismos de que a mulher branca conseguiu maior acesso ao curso superior,
seleção, fazendo com que as pessoas negras sejam relegadas aos diminuindo proporcionalmente a desigualdade entre ela e o ho-
lugares mais baixos da hierarquia, através da discriminação. O mem branco. A recíproca não foi idêntica quanto à população
“efeito continuado da discriminação feita pelo branco tem tarm-. negra e mestiça, menos ainda em relação à mulher negra.
bém como consequência a internalização pelo grupo negro dos Como a educação é um requisito para o acesso às me-
lugares inferiores que lhes são atribuídos. Assim, os negros ocu- lhores ocupações na hierarquia de empregos, deduz-se que as
pam aqueles lugares na hierarquia social, desobrigando-se de populações de cor e as mulheres brancas não estariam capacita-
penetrar os espaços que estão designados para os grupos de cor das para assumir os empregos de maior status e, consequente-
mais clara. Dialeticamente perpetuando o processo de domínio mente, maior remuneração. A mulher negra tem menores possi-
social e privilégio racial. bilidades do que qualquer um dos outros grupos. Aqui é preciso
A mulher negra, elemento no qual se cristaliza mais a estabelecer uma comparação entre a mulher negra e a mulher
estrutura de dominação, como negra e como mulher, se vê, des- branca. À partir de 1930, com a decadência das áreas rurais e à
te modo, ocupando os espaços e os papéis que lhe foram atri- consequente ascensão das áreas urbanas, o processo de vida
buídos desde a escravidão. A “herança escravocrata” sofre uma levado a efeito nestas últimas obriga a que o poder econômico
continuidade no que diz respeito à mulher negra. Seu papel do homem, enquanto chefe de família, decaia um pouco. Para
como trabalhadora, a grosso modo, não muda muito. As sobre- manter o nível estável da renda familiar e empreender a sobre-
vivências patriarcais na sociedade brasileira fazem com que ela vivência, filhos e mulheres são obrigados a ingressar no merca-
seja recrutada e assuma empregos domésticos, em menor grau do de trabalho. Por outro lado, um dado exógeno concorre para
na indústria de transformação, nas áreas urbanas e que perma- ;
F que esses grupos alijados anteriormente da hierarquia ocupacio-
neça como trabalhadora nas rurais. Podemos acrescentar, no j
i nal se engajem no processo: a necessidade de mão de obra para
entanto, ao que expusemos acima que a estas sobrevivências ou Í
a indústria e outros serviços recentes concorrem para esse fenô-
resíduos do escravagismo, se superpõem os mecanismos atuais meno.
de manutenção de privilégios por parte do grupo dominante.

82 83
eia

58 +8
- SPAEHE Jenxos ogópiojdxo essap opóeumisa] E Iemadisd ap uiei
* -BS9MIBDHO OS SODIBOTOSPI SOLISIUPDOUI SO “OpE] Nos I0d
"B)psou no PiSou Isuypnu é
EA Aiii Vire

|DIGOS ossJed9T “PUMNAOSPII [enxos ogôuny ep opdexogr e anb uloo


: Z9] OPeprwrojeua IOLIaIsOd Y aS-PARIIUII [enxas EpIA ens “elos no
* “PIOpELDOId ap [aded or — esodsa opuznb — sepeyur 3 “urouroy
1. OP 9HIoureoIuIOOSdO SoJtropuodop , errosraaos, op no esodso ap
joded o seje sipui sossejo sep eoUeIq Ioyjnu e emque onb “es
* -onBmod gIspD jezour ejod ajustajedpopnd epeupucoap “seroqu
-28 Sop aued Jod emInIA 10] onb ap Tensos ogáviojdxo y
"OBÍBZINOJOS EP sorpiouirid
soW EUTÊLIO 2s anb ogdeururop “trouroy op ajred Jod [enxas ogô
: -“BUIOP op ody um Is Bird nieme “ISWmui sas ap ousar 0323 O
“ "BIJMODUS OS BISSU Joyjnur e onb ui opdeuIpioqns op ogóemis E
JBIFEAE opod os a9nDb oyjeqen op opeotoU OU Ox9IJII Ojod aJuoul
-OS 2 OBU “OjueJua ON “[eDos embiIeISIy ep OMHSp opóisod exteq
SIBUI EU ELSE 95 OJUuSlUoo 9]So ÔOUIOO SOUIA “oujeqeo Pp OPpES
-J2UI OU EIS9U ISYPNI0 Ep OBÍPIVIS Ep asigpur ep sasemy
“SFELOSNpU! seLrgIado OLIG2 ORJUS SO “SIBU
-ODIPED soBaIdurs SOU EISOU JOWjnUI 2 opusjueul *OAnajas sIeLI
OJmUI Ze] SS [JBDBI OLIZIND O “OIXSJUOD AIS9N “SELIOPpRO TSH OP
ODIpUIOM) JOJdIIaXO I0q “odH]qud o mro> oBpSejal no seomand sagõ
-EjoI mmeondur sodoidaio sosso onbiod “opungss “sooneIoma
soSaIduis op sodn sajsa eIPd as-seoymendb esed ogóconpo E 3)
-USDBNS 0852928 249] OEU Ppúie piSou Teypmu e anbiod “oxamud
O :STEJUSUIPPUD] SOAHOII stop I0d cIst à “BISaU Joy e uIOd
911090 OBU OLISSUI O) “OE SIEUI [SAIU Op seonenDOINq sogõednoo
P UIPpUsDse EIpoUI assejD ap SUSLIONW SO “OJU9WIEDO|So9p aSsop ED
“Ugnbasuo? QuIOS Teuoneonpo opdeogrend elos uodIxo 'sopei
-9UNt0aI jeur eroquio “onb oxIeq [Sam 2p soonEDOINq soBaIduia
“ODTUIQ tra aS-IRMUSDUOD E ESsEd a [ELOSNpUI 10J2s Op esjndxo qA às Bjo
Sojonbe eied sergor ISdoJoqeisa Ta ednvosid
e ou “sueursiop “TOx9 e quompedound sieuonpipem serasnpul sep orujop O
Jesoui e ssod “emsuso Jonbjenb op arg opSeuTurop ens rsotoxo UIOD OUTeqe op eÍIoJ ep edooTed eoneig roupnul e “ovóeziqem
op motmoy OP PJSTej E os-tIe; jrourenxos eprundarsap
“PMI ZEJ E, EADIUIHO, -sNpim op [Lot ospJ EN “,SEuIuruo; SopEpIANE, 9P OUIOD SOpIU
eõeI vm e o soigod S2SSED SE Iadliajzod
Pp 0327 O anb op “urguo “gap soregnj edmoo 'opempiogns odnig oe IadualIad ap oJg] 08
“OOHOI3 OADENE OLIOD eUopuny
109 ens
enb ap “sazsuymm SFEop sep e elndaigos OPIADp “IS OP JEXIP eIpod ogu sei oupeqen op võios ep aued
penxas speppedeo ens
onb ap sodyoatajso ma SEPESSPO sogejtaso I9ZB] E ESSPd PIUPIG ISUMII E “OpOUI 3182 "sepeynmal siedro
Ida UIOM “odura op “UA se OBS OXIEQ SIPUI EPpUSI op [oa op soojemdod sy
a
opóInnsep vp soip sou epopiligissod
JPnoBpaJu] 9 DjoquiDpn() 'OquaujosPN ZLIJDIg
orgao Pega
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual! Possibilidade nos dias da destruição
ESSE soa as Sire

A série Testemunhas da História, organizada por profes-

ER
sores da Universidade de São Paulo, surge como uma iniciativa
muito auspíciosa, ao publicar textos de testemunhos de homens
ita io
públicos do passado histórico brasileiro. Queremos, no entanto,
chamar a atenção para o fato de que esse tipo de divulgação já
vem sendo feito há algum tempo pelo Arquivo Nacional, traba-
Conselhos ao Príncipe”! iho que embora restrito atende a um número considerável de
historiadores, professores de História e alunos de História no
Rio de Janeiro e outros Estados. Mas só agora a inciativa não
oficial se interessa por esse tipo de publicação, o que é digno.de
louvor.
A presente publicação trada de D. Luís da Cunha, que
inícia sua carreira na magistratura como Desembargador da Re-
lação do Porto em 1685, e da Casa de Suplicação em 1688. No
início do século XVIII ocupa funções de enviado extraordinário
partir do século XIX, a orientação dos estudos histó- - a Londres para as negociações decorrentes do envolvimento de
ricos tendeu para a história social, e dentro dessa .; Portugal na questão da sucessão espanhola.
orientação os historiadores se preocuparam cada vez : Durante esse século, as ideias de Maquiavel, sintetizadas
mais com os processos de mudança política e social em O Príncipe, estão em voga por toda a Europa e são um ins-
(revoluções, grandes guerras, etc.). Isso deve-se principalmente .' trumento teórico para a política dos grandes Estados. D. Luís da
ao processo de dominação do mundo, encetado pela Europa, - Cunha, tendo em mente o papel desempenhado pelo pensador
que universalizou em termos de compreensão todas as expe- : político italiano, atribui-se a tarefa de deixar um testemunho de
riências humanas. O resultado foi o advento de grande número |; seu aconselhamento ao então Príncipe do Brasil, D. José, her-
de especializações, das quais as mais importantes vieram a sera .. deiro do trono português, no sentido de que aceitasse ideias
Sociologia, a Antropologia e a Ciência Política. reformadoras consentâneas com o momento político de Portu-
Por outro lado, a história individual era totalmente ne-: gal, Uma de suas melhores sugestões é a da escolha, para Minis-
giigenciada, ficando seu levantamento e divulgação a cargo da ' tro, do eminente Sebastião José de Carvalho e Melo, o grande
Literatura. Também a Arquivologia, tão valorizada nos princí- estadista Marquês de Pombal, que assumiu uma singular posi-
pios dos tempos históricos, e que dava um papel destacado às -» ção dentro de Portugal e ficou conhecido como o introdutor do
crônicas de vida das elites políticas, entrou num marasmo que : despotismo esclarecido na Península Ibérica.
só começa a ser tomada em consideração após a segunda meta- No seu Testemunho Político, D. Luís da Cunha acon-
de deste século. selha o Príncipe quanto à observância de uma política, absolu-
tista equilibrada, que pudesse ao mesmo tempo diminuir o en-
volvimento da Igreja, do Santo Ofício e dos jesuítas na adminis-
51. Resenha Critica escrita para o Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, Edi- tração; controlar juridicamente a questão do judaísmo e a ma-
ção 248, domingo, 12 de dezembro de 1976, sobre o livro Testamento.
nutenção, através de uma política atenta, dos cristãos novos em
Político de D. Luis da Cunha. Série Testemunhas da História/1. São|
- Portugal, o que era importante para o desenvolvimento econô-
Paulo: Editora Alfa-Ômega, 1976. 104 Páginas.
mico do reino; frear a intervenção da Inglaterra nos negócios
86 87
68 88
“somuti 40T :OBÍEMA "946T JOUV "PAS
Ep Boy senSoi SOjIeS ap atpy o aIgos “Tr-0E "Bed “9761 sp osqm
o ap SQ EIp “oxpurr ap org 'ogrado [euxof o ered ojrosa OTESTE “gg
ISSOd se Uros a OBojopos amora Op BIGO ep eotridusa ezonbu
E TOS “SIÁSIZ ONO OP EjEZIOS 9 opuris espo Pp eplosr god
-UIo Opósford e » ajo anb soma “Sol[tJap Uto oj-esIjPUE
sou
“SJBHIS, “Je103 0204mba um a ordypud us FAjIS ep gor
“sodpyoLojsa sassap ajusuregsnf IBJAH os Tel
-nyno ErROUOINE ENS Ep op5uny uio “esmoid “ojusurom ou anb
DAOd um e OgóPTaI U1S sodygara!so so sopo3 Iajueu sod ojradsa!
-Sop “o40d ajsa eIpuodia onb uío eprpam er oJradss1sap “oAod
um Opos 9p eHoIsu] é oyrenb ojrodsarsop “oAsod um sp eL9Ism
ep orposida um e ogduy anb oytadsaisop Op ogóuny wo epigroig
“SepIgoId seigo sep ,Xoprz, oe someIIRUapuO S O OgÍEST UNOI
“04 9 OSIMoSIp ojuenbus ogôemanod ens e ojuend) opnajuoo
a
BULIOS “oe US “anb uia eprpom eu EopaIso EnUgIede ojuenbua
O-FISa SONTIeLIOpOd OPN "BANS Ep Fo oumy O aJsIsuoD anb
“POTPIBOTEISLT SJIP ep Iopuooide pod os onb OssI q 'sesopea
-T9STIOS S3QsUDAIÚUIO) IH9H2I apod aj E sojusmon
soprttuitajap uto onbiod 'opestad 1as a49p ajse “eu
“OE Ionbyenb owos -eprensuca q gl ore e onbsod
“QuoJ eU Jeso esperd ogu oe e onb assIp pÍ uiong]
“TIS2Ig OP ELIOISTH 2DP sounje a saJossajoId op Ogur
e efoJso ojusunodap nos onD uIoq 9 “ojejIOS “PONLD 9 aqueme
” eurouremanxo BULIOS op eDodo ens noala onb wstow um ap E)
F “ED os onDb us eprpoui eu Ioposonbuvo sieui BUIOI Os OpnIsa nas
O “oporad s189p ELIQISIH Pp BIEXO OESUSUNP E BP siod Tiseig
zsºPUBIO ESBD ED EISTA EJezuos v OU SOJIQISIY SOpNIsa SO EIEM assalojut epueiB op eigo euonh
-Dd eum 92 eum EP smT a 9p oonIoca ojawrIsa] O
“UIBLIS39]2]107 O OND sIBIOUI SONSDSId SOB OBÍPTII
ua Ulag aSJtaufeossad as-srznpuoo ui J0d q “eUEoHSUTe-qNS err
-QJ02 EP SapepIssooau se opus? (BÍUBIS E à PpUPjOH e “PAISES
-N| PUISoUI E OBÍEjSI UIS EUISIXS Pongod e IPSOp Ísasangm1od
O
Opóim sap bp spIp sou 2pPbpigissog Fongpajazu] a vjoguonn) 'OQUILIISON ZLODaAg
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual
Possibilidade nos dias da destruição
bilidades críticas que a obra literária sugere. Portanto, é um fil- O senhor Carlos Diegues inicia seu filme com um
me que em termos da crítica das relações raciais no Brasil, nos João
Fernandes em postura de “Virtude” flautista, coisa inconcebív
remete à Idade da Pedra. el
em se tratando de um contratador, o mesmo que um pária,
Vejamos porque Xica da Silva é um equívoco. O diretor : em
que consistia a classe de funcionários enviados pela Coroa ao
foge propositadamente à fidelidade histórica em relação ao epi- Brasil. Surpreendentemente, à medida em que se desen
sódio. Talvez seja uma justificativa afirmar que uma obra artís- -. rola a
ação, O contratador — Walmor Chagas, se transforma
tica para se concretizar não pressupõe rigor científico. A fanta- na imagem
de um intelectual burguês angustiado no conflito entre o
sia é a matéria-prima para uma boa obra em cinema, Podemos amor,
o povo e a Coroa, compassivo, constrangido em oprimir (Teod
concordar com isso. Não podemos concordar, entretanto, que o o-
ro, Xica, Cabeça, etc.). Será o imago do nosso cineasta
conhecimento de um povo que juntamente com o branco for- em ver-
são do século XVII?
mou a nação brasileira esteja ausente em todos os momentos do -
O filme, justiça lhe seja feita, apresenta até alguns mo-
filme, e que este se contente com o humor barato e grosseiro .
mentos de possível riqueza. Introduz o quilombo como altern
em cima dos estereótipos mais vulgares a respeito deste povo. . a-
tiva da relação bipolar senhorio e escravaria. E aí ô senho
Não. É inconcebível um cineasta que se diz com “amor do povo” . r Die-
gues, mesmo leve e ironicamente, poderia transmitir
desconhecer esse mesmo povo. O amor pressupõe conhecimen- uma infor-
mação da maior importância, se determinasse o conflito
to. real:
quilombola versus senhores e Xica da Silva, estes como
O senhor Carlos Diegues é senil em sua obra-prima (por- repre-
sentantes de uma outra classe. Mas ao mostrar que a Coroa Por-
que eu espero que ele não confeccione outra e já lhe concedo o : tuguesa dependia de uma outra estrutura social para explor
fim da sua carreira cinematográfica). Num apanhado geral ele' ar a .
riqueza das Gerais, ele se contenta em reforçar o mito do se-
repete com já dissemos Casa Grande e Senzala. Os portugueses nhor bondoso, enfatizando que o colonizador até que
no filme, desde João Fernandes, passando pelo intendente, até era bonzi-
nho, pois ao invés de explorar os negros, comprava os
o frouxo “nconfidente” são opressores, exploradores, mas com- diaman-
tes de Teodoro. E não que organização social dirigida
placentes com os negros escravos, sentimentais (o pai do por Teo-
“n- doro era tão autônoma a ponto de impor seu jogo,
confidente” e João Fernandes) e, acima de tudo, bons apre- - mantendo
sua estrutura (pelo menos no momento) solidamente
ciadores dos jogos do amor. Os negros, escravos em bases
e quilombolas econômicas. Diegues estende sua ignorância às últimas
são passivos, rebeldes inconsequentes (bandidos salteadores) e conse-
quências ao desestruturar o próprio filme no episódio-.em
reconhecidos da bondade e generosidade do Senhor (cena em que
Xica da Silva recorre a Teodoro para salvar João Fernan
que Teodoro anui em formar um exército para salvar João Fer- des. O
quilombola nega sua posição, até o momento coerente no
nandes). O conflito racial (que não consegue transpirar satisfa- ...
filme,
compactuando com a “Zoeira” da mulher do contratador.
toriamente) só parte das pessoas menos dotadas: a esposa insa-
Neste momento, confesso que perdi as esperanças quan-
tisfeita do intendente, o padre bronco, a guarda impotente da
to à compreensão do intelectual branco brasileiro sobre
cidade, e as crianças, com certeza egressas de um colégio inter- a real
história do negro. O senhor Diegues, e quem mais quiser,
no inglês — educados no atirar pedras. Mas isso tudo por despei- º pode
aludir que o filme não possui uma proposta séria. Eu concordo,
to e não por uma motivação concreta. mas então que levasse à tela a última anedota do papagaio.
Em suma, o ethos do português colonizador é de huma- |
Talvez haja uma explicação para esse procedimento, Se
nidade e reconhecimento da pessoa dos negros. Uma escravidão ..
o senhor Carlos Diegues descesse um pouco da sua onipot
amena e divertida! ência
e fizesse uma reflexão sobre si mesmo e & implicação da históri
a
do seu povo em si antes de confeccionar o filme, entenderia
90
91
c6

“SONBaLg JOuas op apepirgesuodsal
r e opunoy -2s mb o “epnn qquod o nagastod aj OpUeN
“21 “IdNIge euros 9P 9 194 Projejd
P usos Q) "cIopoay oprgoo
0 OJ0poa7, 'Tedr à. JSd EQUA ogU “ogIuo qe “sonfai JOqUas O
“Hd UBBuOsIad Nas OU 130910391 as opuo110 “OJNEjanNUg
“UI EOSpSUe E opunopgos sem “PADPPeI
Or IOJQNP Op RHHoj do. “DUTY OP ELOISTY Ep soAeie
“S9P UIZQUIBI q EJodsg op osseduro”
S à BUD] EULOS 2Pp opmn 1 TEROS OpdPZINPSIO ENS Pp > OusouI 5 9P
9P Waserosiad V810f song Ebuguennod e oyj
4“ Nos op aJe8sar O uro> opurinSasse “OPBDISUI
"SHI TOYUZs Op soAngoLm soursour sojo
d opumasuos opu BIOqUIo OP 038N[ 0591d o]
:-ad Jouymu ens opuerduioo “eSaqeo a cars ep BoIX
To19Y nas Temm$os emooid “SOIBSU UIO) OTATAUOS “TOpeJentoo
9P BiugHadxo F-O BNUODUS os PHO UISPIO EP sJustrio) as-eredos
ens 10d zoapea “aonb SUMUY op 1042
2 ojuod um WION “Esodsg O1OpGa | OUI
1 -S9UI O “oUI ou BZoJog PITUM 9P Os trOnI
9P Osseduro) ep IojoIrp O “Soumuy Umu “equeipy
e opdejos ta SOU9pugo Jd
“WO? onb ouIsau o 103 SUMI OP IOJap
Op assedum a3sq “squeurusop
*º ODJUIQUODO PrISIsIS O à Pjoquopmb Og O amuo poruiguoos
-HoBns sjuouIos q stod) ESOPIANP ope BARS EP BOIx op (ep OpóPjI E a)sJogeisa 0J0P09] “IOpeJentOS O q IS 2Wuo Jur
pienxos e ouso mist nIS O opúgdIem zey o q odnoxg,
“UDE O Epeu “opemaeur oonfir OP TES ens op ojred ZeJ OEU anDb sopuer
SOpuriIs4 “Iowig O o EpIA

comer ieEtao ectaças morada


“Tod OBOf E J9A Opuoze] “eImIOUONMNE ENS Is99foqriso
E 21gos SJusupegra essordxo os o (Ore
avo Op eurp ap eIoquio) ore 'consn
PpRIPd ep pio eu ensnBue os uronh : JE (SoNnSaig JOS O assoy OBU as) 9 ODLI9ISTY OJBdUI O prot
ºJ2 À "9JUSUI|ear poynuspr . “SP OJOpO9, “PpeSaTo ens eU Jopeentos O, JBJEsse,
28 SonSaId Joques o jenb e moo vain
By E elos EIDAHO 2P sop ov
"UEL OBOÇ ORJIA O onb Iequenso ºP 2 OPU “BJ9J103 BISUENI BN
Opour s3sad “ ap “juempm «9SEINOJUA,
iSoUTm Op Mom E q apeprnnnsop o OESS ENS O PAIS BP BOI IOd sepejuosaido
a1SP OUIOS OXAS O “PI J SEISSJOTS SEUSO SE sjuauIejo[eIed eyumeo s
“SESUIS OP SJUSTosUODUF opryne e zoa( ajo “2Jop oqjuswpauyu
e) EpeItosaldol souldA “EA “09 EMO] OBU sanar Joyuas o ojuenbus
“TS EP BoIx 9 oIopoa 7 aigos eprjaford
BIQUIOS E à (c) oprrezomo
sem amy ojad Jg
“WMZ, UM Ol) erossed 'susSeuosiad SIELISP
ejoquiojmb op esodsa e a2ms Tenb SO OHIOS “OIOpOST,
eu guao p opuesiperry oidpund o PSC] 'CIOPOST, Fonsop sonSaid JoytOS
“OTISSUI O UIOD PATIS EP eorx ap jenxos O “aJueIpe
SOUISIDA onhb “CAS Ep porx MO) zeJ ojo onb op
OSINSIMUI OE PpeSW ajionejonp PIS2 mau soul
IGJoHp op ogôdosto» eu -B[e3 OBU Mby ge)seouTo ossou op ossi IeIodsa ou1oo
0J0Poa[ ap JoLajs0d axo e “OADNISa
p 3 J0pmunsap ospe “elos SBIA
no “apepiçenxos sagos ogsussIdinos “PANEL CUM SLISDUD OLISSUI OP ogsusaIdiuos
“ope] omno 10d . OUIoJUI OJSoU, Nas
ens EP OxojjoI umu zoajp) E 'onb eine op “9JUS/oSUODUI OP [SAI OR Oss! > “O[-pJH9ISNS
UIOD ZBJ “EZzaJIoo UIOD “ouros : ºP Opepmo> o ui)
“BIJO BIS EP xemmgo o IQUS9p senBoi] JOtu “919 Nos IEMuIo; or 10me renbyenb onb
as o sem "HI O 218 E 9S-DGES SETA] “IOPSDtSA OUIOD
SJ IBoMoquIS OIOpOS| PLIaNrem 9/9 ot “BISIESpI eIruUeI eum ap os
“OISoU O aigos eIsEjUEy --SeJEN O onb J2z1p OpusIanb nojsa EN “sanSa
BNS Ep eanisod ogósfoid e TOP id JoqUos oudoId
OB [oaIssod assoy ag :: O aje8sal (IQIS1 O) ajo ulos OB5BIDUopr Ens
onb e eroueu 9p
'o1 e TOJOT Nas OLIPSSOD9U OWuIIPO O UHOS eIEN CBL IOJSI
“123 EYUD OEU usmepessodosd anb
Estoo “EILIQISTI apepiapy & P O
NStI0991 10J9 HP O “uameynenso “oju [9 9Igos SJusmwepungoId etpndem “ol
surom 9189N "UUsUnTos! - “SU Nos OUIOS (OIOpoST, — eAIIS ep corx)
19ASap O a]s9 'sandar Jourtas ojad OPR oISou o opueDo]oo “err
EN 2 ajo anb urs quo “99sty eLrdoId ens ep orpostda um aigos IBôNIGAP os
“OW ON “OJsaz Op apeprnorpomw e EPOI
ENIO? omjy ondoId op Op “o “IS op
Onop o-sumndoIr “opom aJsad "oImoo ouiod assa ILq0Is
PADRUTSIE E Iojuema erropod “TOJSHP 9p ap
-Wojnb
Op cjmeuregem o mos “gjoq 03921 9PUEIS UM 12) 2A9p
q "Bosaloxd vory ens e uio) assednocaid
“SENSE SN9S SOP BLIOTEUI E OLHOS “ata
à “opu9z às SEIA "BÍ2I 9 IISUIONW Sp SOurIa1 nro opótsodo Ens “OlIafi
“EF BQUIA omos “ope| op oiopoar, 9SSE
XIOP aja anb JowWjour BIZ seig 018
-5U O “Poyjpodss EuLOs; op “oprjafomiur mssod OJOTISEIQ
«OlIoJuI OrSaU, nas O nosquinysia ato
onb ostad Tola nos eu OdUEIG
USOU Um OLHOS a7> “sresmpmo a sreroos sogõejar se OPIA4op “anb
OPÓIISIp DP SDIP SOU OpopigIssos
IDRJDOJeQu] 2 DIOQUIORNÃ) ORUIUISON ZLIDOM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual! Possíbilidade nos dias da destruição
DO a .

É um desrespeito à própria História do Brasil utilizar um em determinadas estruturas africanas e que em parte foi trans-
episódio não estudado e não elaborado, tratando-o sem a dis- ferido para o Brasil. O senhor Diegues poderia constatar isso-
cussão e a dramaticidade que as circunstâncias impunham. numa amostra do papel da mulher negra nas comunidades reli-
O que dizer então do tratamento dado à mulher negra? giosas afro-brasileiras. Ou recorrer aos mitos da nossa raca: às
A Xica da Silva da História não chega a se delinear em nenhum deusas-mães como Nanã, Iansã e Oxum. É
momento do filme. Mais uma vez o senhor cineasta poderia Mas não, é mais fácil tratá-la como o mito da sexuali-
contrapor que a obra de arte para o grande público não requer « dade aberrante que foi desenvolvido em quatro séculos de do-
rigor, fidelidade. E novamente diria que concordo. Não requer | mínio e exploração da mulher negra. Então, Xica da Silva se
rigor, mas exige respeito, porque a obra de arte é simbólica, e - transforma num animal embrutecido pela fraqueza e ixracionali-
como tal deve ser humana, o símbolo é sobre a pessoa e plateia dade. Sua eroticidade nem legitima o seu poder de fato. É uma
deve identificá-lo deste modo, através dos sentidos. inconsequente, até nisso. Quando ela pensou, somente por um
Xica da Silva não é uma pessoa. Não ama nem o contra- momento no filme (no “banquete africano”, o senhor Diegues
tador. O senhor Diegues conseguiu fazê-la menor do que a lite- arrumou-lhe uma cena estéril e banal. O único momento em
ratura preconceituosa a fez. Se o senhor Diegues fizesse seu fil- que concede à plateia presenciar uma cena sexual de Xica da
me baseado no samba enredo da Escola de Samba Acadêmicos Silva, não é uma mulher que se apresenta, mas uma imagem
do Salgueiro, ele não correria o perigo de fazer um filme sério, metálica e animalesca, idiotizada na própria ação. Mais uma vez
nem um “samba do crioulo doido”, mas também não destruíria : aparece a velha compreensão ocidental da África e do africano,
um símbolo, discutível concordo, da raça negra. como um primitivo, um selvagem. Senhor Diegues a África está
A Xica da Silva dieguiana é um ser anormal, não é nem . a algumas horas de voo do Brasil. , o
a louca da literatura. É uma oligofrênica, destituída de pensa- Um dos pontos em que o cineasta se mostra um profun-
mento, incapaz de reivindicar ao nível pessoal — não me refiro do desconhecedor da raça de sua heroína é naquele em que
ao nível político em função de sua raça — mas ao nível da rei- consegue fazer Xica da Silva parecer uma mulher. Ele a faz num
vindicação individual, como uma mulher que poderia ter nas arremedo da mulher branca. Se invertêssemos o papel de Xica
mãos os bens que o dinheiro do seu explorador lhe proporciona. .. da Silva no de Hortência, mulher do intendente, teriamos O
Quando é impedida de entrar na Igreja, depois de liber- mesmo resultado. Uma mulher caprichosa, cheia de chiliques e
ta, sua reação é infantil, e ridícula. Quem sugere a reivindicação histérica, o oposto justamente de uma ex-escrava e negra. Isto é
e reparação pela humilhação sofrida é o branco João Fernandes, inconcebível!
ao lhe prometer a capela. Quando impossibilitada de ir ao mar | Diante de tudo isso cabem reflexões. Por que o jovem
(não porque se cansasse da estrada, como faz ver o senhor Diegues nos presenteia com uma exibição destas? Será que ele
cineasta, mas porque o preconceito e a contrapartida do com- entende que cultura popular é deboche? Ou a pergunta seria
plexo racial a impede de sair dos limites de Tijuco), quem suge- | outra: por que ele debocha da cultura popular? Qual o impasse
re que se construa a galera e o lago artificial é o branco músico. cultural em que está mergulhada a classe intelectual brasileira?
Portanto, Xica da Silva vem reforçar o estereótipo do .: Retira-se um episódio da História do Brasil, coloca-se
negro passivo, dócil e incapaz intelectualmente, dependente do -: acriticamente de forma que reforce todos os preconceitos e ati-
branco para pensar. Seu comportamento com o contratador é 0. ta-se ao grande público, entendendo-se que isto é forma de fa-
ap li

de uma criança piegas que não atina com o que quer. À Xica da | zer “cultura” popular, extraída da própria tradição e compreen-
basparatggiate iijm mer regego arroios
a

Silva da História é uma mulher prepotente e dinâmica, atenta são do fenômeno pelo povo. Mas quem disse, senhor Diegues,
ao seu redor, o que está de acordo com a situação da mulher que a tradição e compreensão do fenômeno por esta entidade
94 95
£6 96
iatare iai
ad tr

"9£6T
SP OIQUISTS 9p SQUI OP aja ESTAS PU eperorgnd ejsaonta go
amb OLPSSS09U 9 :OHINSSE O SJJOS SOVÍEULIOJUI 9P OIUINU JOrem
gra rpa APIS UEL PDAS 4

un seusde eArIseq OpU onb enuos “ossyp maIy 'aquampom


nina

“009 9P SOULS] UIS apuezs Ojmu OFZEA UM agsixo odureo a3soN


“BIefserq euQIsm eu oxsau op jaded o Jopúajuo op o Isdoyão é
oP 9pepissoo9u opueis eum enuss na ojuepniso ap odumo) ou É
ePUry “SeSIOD SENp se JeIRÃoS [PIN !OJuSUmoseN ZIneog
ETISPIg OU OIB3U OP ELIQISIY E JOASJOSO E WEI
-BAD] E onb soSynusp no sipossad soanoui ueIO;) :rIungIo
“SEUL E NOJES ZLIPog ELE “OssI argos "ajrasatd
nos OPUmpuI ElJISeIq elpIsA] Pi os8su op joded op
OEStoaJÁUIO PAOU FUM E IeA9] essod “opessed op opim Ê
“Jed “anD FoLIQIST] Opepiminto> op OpSEjoI BUM Jovojogei
-So SEI “opessed ou OumSIanr op [PUODUSAO) Oyfegen i
UM JEZIPSI 9 OPEL oprrezard ejo onD O FSBIg Ou OISaU Op í
ELIQIST] E “EADEJOIÁIOJUI ELIOS OP “IDASIDSOOI coJafosd os x
"ORIQUIE UNI! OPUEITEGEI SOUP Sort) PY CUIDA SESIEA OM osoid
-HI9%) OBÓBPUN EP coupIodizaIHoS PLIQISTE] OP OBÍEIHALI : o . O “é a
“ROOM & EsnDsog ap Oxso Op exopesmbsod ajusumene * QUBL IRIA OP EDUgISIP E EU [UT à afo amo anD eIpone 08
THAN eP SIEPOS SEDUQIO & ENOSOIL op ojmnsuj cjad é sonSoig “IS O os ages uIanD :eDUgIIdApe UM 9 :saIojro] so1oyl
EXQISIH Ho EPPULIOS SOUP PE OJUDLIPISEN ZLOPOM ELICIN -25 SeIN "2510] 9 BZOJOq ApuziS op Ronoquis eus eum q 19381
o “oIdJ9DUY 2Pp jenxos eiDuglod E I947049p EMDOIÁ PIBOU [rISSA
É PUIN TUPA 2P UODLHES 9p EUS2 emo ap om-taiquia] “300
ep [eosty op ogônpas op BuSo E 194 OY "sOIS9U SQU e eSonbso SOU
* JOARJ JOd “Spepgpaol essou ep opsusoIduioo e eIed eonto o OB
no “opessed assop epure nosonbsa os OgU Ioquos O as
"QDSOTIOS I2ZPJ UIBIRITS) SIÚUIos sopessed
* -eque snos so onb O UIeIOg 'EJezuas EU EpíuIOS OP soJsal opuegol
É 9PUPIS) PSP) Ep OBUop FIso opÍIpemn en 8 UIOD OpIODB SP ap
* ns onb sesuad ZeJ Sur JOqUas Q 'senZala SOjIe”) "IS BOLMI
esOUISIA STE TOC OSTA OXBON O É ano Ionba1 opSeno enb opuasonhsa “ojsodo ou [po sonsaia "E
É o “onou euro OpeÚETo o noSegneu enb ur oageLo ojuaturl
É “Todo Op lupa ered seossad op oloumu Joreui um Ia8uBIqr
É > IDISAp BIRd FIGO PUM Jozej Op BANPoASNÍ E qos
é BDUPSSO PAS PII UIOG 9 OONIOHOUI 9 0A0g jpsonIIoo
— TUODDId sOuauI E “eISSUON SIeuI E “EJSNÍ speur e 2 040d epeuemo
oBÓmisôp DP SDIP SOU APDPIQISSOA É IDNgoaJagu] 2 DJOguONNÃ OJUSUHISDA ZLIJDag
teiaE
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

a história seja reescrita de uma nova perspectiva crítica, refor- Nordeste, em 1877, os grupos migrantes que se
dirigiam para a
mista, que se reavalie tudo que se tem sobre história e sociolo- Amazônia estabeleceram-se em núcleos forma
dos por ex-qui-
gia do negro. Ao nível existencial, sendo negra, acho necessário lombolas. A continuidade histórica aí pode ser
percebida mes-
que tudo isso seja analisado da perspectiva do negro, enquanto mo em nível geográfico.
sujeito da História. Pergunta: Embora as favelas do Rio de Janei
ro tenham
Pergunta: O seu trabalho vai revelar novos documentos - uma grande concentração de população negra,
nelas também
sobre o tema? habitam grupos de outras origens raciais. Como é que
você esta-
Beatriz Nascimento: As fontes que estou utilizando são . belece, então, essa continuidade em termos de quilo
mbo?
conhecidas, em parte pelo menos. Utilizo muita bibliografia es- - Beatriz Nascimento: O próprio Quilombo
colonial não
trangeira, especialmente norte-americana. Em termos de docu- .. era apenas reduto de negros, embora esses repre
sentassem a
mentos de fonte primária, o que restou foi muito pouco e uma maioria da população, mas, pela sua origem social
, integrava
boa parte se encontra em Portugal, no arquivo da Torre do negros e outros oprimidos, índios, por exemp
lo, e mulheres
Tombo. Esses documentos, que eu já utilizei, são, na sua grande brancas. A tradição diz que essas mulheres eram trazid
as à for-
maioria, de uma fonte específica: a polícia colonial. Neles, o ne- ça pelos quilombolas, mas aí está um outro aspecto
que é preci-
gro aparece quando há necessidade de reprimi-lo. Estou tam- so rever,
bém me baseando em dados da história recente: o que eu quero , Pergunta: E quanto ao que você chama de organ
ização
não é narrar acontecimentos do passado, mas estabelecer o que : social e ideológica do quilombo?
há de continuidade entre o passado e o presente do negro no Beatriz Nascimento: Esse é, para mim, o aspecto mais
Brasil. . “importante insuficientemente estudado pelos histo
Pergunta: Em que aspectos você percebe e estabelece es-
riadores. É
evidente que a fuga, o suicídio, o aborto ou o
assassinato de
sa continuidade? brancos existiram como uma espécie de reação
mesmo ou de
Beatriz Nascimento: O tema do meu trabalho é o Qui- vingança contra os sofrimentos infligidos aos escrav
os. Mas não
lombo. Na minha opinião, ao contrário do que me foi ensinado foi apenas a necessidade de fugir que permitiu o
estabelecimen-
e do que ainda hoje se ensina nas escolas, o Quilombo não foi to da sociedade quilombola. Foi, isso sim, a capacidade de criar
uma tentativa de rebelião pura e simples contra o sistema escra- uma sociedade alternativa, com valores próprios,
diferentes dos
vocrata. Foi também uma forma de organização política e social valores dominantes na sociedade em que os negro
s foram inte-
com implicações ideológicas muito fortes na vida do negro no grados à força. A fuga, no caso, era fundamental,
uma vez que
passado e que se projeta, após a abolição, no século XX. os negros, enquanto presos às fazendas, não tinha
m condições
Pergunta: Isto é, o quilombo na sua opinião ainda sobre- .: de enfrentar militarmente seus dominadores. Mas é ao organi-
vive? zar sua própria sociedade que o negro se afirma e
se torna autô-
Beatriz Nascimento: Sobrevive, não na sua forma origi- nomo. Por isso, eu me preocupo mais em desvendar
os aspectos
nal, mas como uma tradição de vida do negro brasileiro. O fun- relativos à paz quilombola, pouco conhecidos, do
que com a re-
damental é que essa é uma forma de vida do negro brasileiro belião em si.
em qualquer época. Um exemplo: estudando-se a documenta- Pergunta: Que característica tinha essa paz?
ção da polícia do século XIX, percebe-se que determinadas re- Beatriz Nascimento: Os momentos de paz corre
giões do Rio de Janeiro, como o Catumbi, os morros de São spon-
dem, basicamente, ao desenvolvimento social e econômico dos
Carlos e Santa Marta, e outras favelas atuais, foram, anterior- Quilombos. Períodos em que se desenvolveram a
agricultura, a
mente, lugares onde existiam Quilombos. Ou durante a seca do pecuária, a fabricação de instrumentos de trabalho e de armas
Elma mmemotr

98 99
TOT 001
. “e É SIoÉ BIS OB]
sopiêny sosseu nono oIgau o onb EANENISIE 9PEe pano s E To ISSE WII SOISOU SO OFIUZ, :epenoidop “eigou ojuenbus “pI
I 9P OINpar O 107 OEU Oqu omê O men orc sa | -nÚss as pjo “oduIa] OUISam OE “SEIA "OBPIABIDSO EP apepremig
DOS Upio Pp onuop 1ezipeal 9P
“Ade à sopepienpusjod sens se ui
[eaIssodun Ja onb O “sao iz EXJUOD PPPIjOASI ITED 2pod eSUeLIo Esso — SOIISIS9U SOIABU IS
opIoop op SIBUI sag ôm sur : sopeyiodsuem o sopeuoIsude weio; opuenD “seIsa%01] seu opurô
IS eIBd TeurSeur SJUSLPURJUN|OA ELISpod “RIO SsoI do “olu aues (29 “opurviuep “Salar WIBIIA SOURDLJe SO onb “ejodso EU “oano
-CIOSTA OBôMINsUI ap BLISISIS UM
QOS OpUaIA PIOQUIS “srpI
seombrsd a seorsy SaOÍIpuoo uia tISt gI | BISoU vôuEIIO eum opuenô 'opessed nos op sem sg “oudoId
TUOU wn “OBP IABD Sa E 3 “Is P oBÍBJ2I Wo opeypnSiou 10] oISoU O onD Ur ouIspueInOsgo
ac

SOTEN SNPIL sop seuode erBny ogu “TezI


p apod WISs e os “ov1d e] “ofod “ajred uro “Pondxo os Oss] , OIJISPIG OJSOU OP 9PEPI[IOP,
-Oquiojnb O -ernyuou BIUEUI ad
e Aga
OJUSUTPSEN Z10 Aa e weUIgTo onb o woo sosozdms opensou os-m9) 'ojduaxo 10d
éSOSUFIOdSS SOJOUTIIAOUI LIBIS
oEN cerunBro : SOUPoLISUIP-QNOU So10PpeLIOISIH 'apepiiSei eisodns ens op o[
orgeiso um SEP FEadgad Ens asstyigi
S esta a ae od HOJnô O opuenb
ssod anb ogãezmmesIo ap : -pRIagI “0JS9U O IEZHBOPISop preongrugIs ossy onbiod “oquiomb o
sepesao] mero OS SESU ELO IEZI[BOPIS9p SIFEIIOdUIT OJ9PISUOD JOJUSUMDSEN ZHNESg
q so ureiêny oxaumid enb op OJEJ O 9
OssTp : iLISSPUI] ESSO
pAoId ejezuos EU Ppure eponosrp
cano
“eperedosd eSn; E 9 un ' IEZIfBOpISop opuogoid 9904 onbiod > ouon “Epezifeopl PULIOJ
sajdus 2 BIMd egny e asseoneid IWSq
UIe) OABIDSS o pio : eum ep opejuasside 2 ojo “ogIua No oJBa op ojadsal E ojuaui
pa no ; SAanO OP OBÔININSUOS
E IOlaJIE PILS OJOa Ppi 9 12] : POLOS ap OIZeA Um olsixe opruIdO Ens EN rmunBIod
TE B " EPOI vAnot onb “ojdimaxo 10d “1aqes
TUDA 9P OUITUÇUIS à opU orou anb 'opD “BOL RI 9PEPOTIDOS EU SOPEITISA 9PepjonIo 9p Sou soe as

Pera citados
“Bfos NO “aJuajod as-1nuas -sESaTp OEU TeINOJOD OEPIABIDSS E EONUPPI 9SS0J OB OBPIABIDS9
2510] ENS 9p PRUZISUO E TeTodnIa
l 9 “sjusmperrur Sjupod * pSSo RIOQUIO “seja SMS OBpIAPIDSO E “sogórpeiguoo seurdoId sens
“UL O “Pp EureTgoId à “os-seurnye
“IS NO sogno so sewmrop ered BSJOJ
“OS-IBLISQTT exed eauomsajd : PUUD euemny opepopos Jenbjenb ouros oquiojnô Q “oqutzuog
“OUA BI-PZEJ 2 opepanos eum rezmeSIo opod
Esso Iesn IRA aja 28 esou “ “1opamos 'opinBosiod “TtBeiy o18au o :opadse um seuode em
“TeUImOp apod snb i -sou siod “og5da3U0D ESSO BLIBUODE9I OUISSUI OISPISUOO IGN
J9JES Espoid org pótos endord ens op ouaumDaquo, seo
o EjUO?) EUaIYy OdD Op sojmopjodsa Uia BJULIQ SPepreryosjogui Ep
speplunirodo syy-opuep “PDUQISTY Spep
isA P o1Sou or rensou : ared 10d ejtosap eidom e Tzopt opepopos e “opeppRa) op tes
ospaId q “BUSJqoI op soAemo sep eum
“WIUBIS “IaotiaA “TEUNUOP “[eI98 ma UESU
eso Ip H “SH0J Jos po : -n[ O I9S ap 9BUo] PISa OQUOImÔ O :OFUSUIpSEN ZINEag
IOT o e1ed “se ou isoquopnb sop omu9p-
“Bal 1o9512d apod 1ezrp nos ond O
“OW UISEN mesa e « SOABDDS9 9P PDUgISNO E EoIjdxo 9204 ouros :munBiad
“BU O onb toges moq 198 opod eprpaur “pugaasIs oLIdoId Op ODUSP SSJaLIOJUOD sNas QUIDS “ESPSIIE
onleara rraSios ros or “ pum Iejussoidol e ureivBom sosorioga soquonb so opuenb
UIBIOS “SOABIOS9 SP SaIOpeaIom sop saxpdu ““eopuIQUODA SSL OP SOjuatwou Wo smiamemp sreul miuipad
mo «sonests sora -2I SO 9pEpaWos YV “LIGO 9Pp OgUI 9P jepusod nas opummutmup
-08 SO “OEPIAEIDSO PP eua os TOJ opU “opi
na “oIBou O “01m 5 [emIOjOD apepopos e uIeABopnfesd sopejoqgor sorgau so and ap
SpEpITIqrssod BUM OlgoLFe Uomoy op
OBPI ARIDSo EU HIRIA mb oje] ou “prOSS9 AS ORU nO “eoldxo as Ogu WreIaIJOS anb ogssoId
SOUPLIJE siox soridoid so a snadoma
sioi so amua “ape
prd -923 P *OSSI 104 'SBÍURQUIZIA SPP SaJUEIgey so u1oo sompold snos
“UM eum “oprooe um sanoy anb viver essa
p ZIp ss o en opugyorotãoo 'sourIoudord souanbad ap ope$ o eird suageised
IAlsusaIduioo sieur voy opnI, :OTISUTSEN zme
ag º sens opurBnje “EUIDISIS Op ONUSPp SEDHUIQUODA SIQÍeaI I229/9Q
<UIBIS OE Spepifealr eu 1 eus “EIS E urereSowo soquiomy so '“soponrad sa3soN “esaJap e BIvd
A
OpóImsap DP SDIP SOU ApopINqiSsoA
JDNJpajagu] 9 DJOQUIONNA) 'OqUaLISPN ZLIDeM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
E

Pergunta: E você, pessoalmente, como se sente hoje, en- e que não são reconhecidas como suas características. O pensa-
quanto negra brasileira? mento, por exemplo. Fico chocada quando se dá ao branco a ca-
Beatriz Nascimento: Eu sou eu e eu sou negra. E, en- -- beça, a racionalidade, e ao negro o corpo, a intuição, o instinto.
quanto negra, sou um produto das relações raciais no Brasil, re- -. Negro tem emocionalidade e intelectualidade, tem pensamento
lações que estão numa situação que se pode chamar de caótica. como qualquer ser humano. Ele precisa é recuperar o conhe
ci
Por exemplo: em termos de recenseamento da população brasi- - mento que é também seu, e que foi apenas apoderado pela
do-
leira não sou mais negra. O censo demográfico aboliu o quesito minação. E por aí vamos chegar a discussão sobre a posse
cor. Não existe mais negro no Brasil. Fomos do
declarados, a nossa - conhecimento. E a Bacon, que tem toda razão quando diz
revelia, como que
integrantes de uma democracia racial. Deixemos conhecimento é poder.
as leis de lado, observemos a vida: existe preconceito de cor no
Brasil? Em que medida? Se somos um país de iguais, que moti-
vos tem o negro de lutar por melhores condições de vida? Por -
outro lado, na minha opinião, ainda existe, no Brasil, uma cul- &
tura própria, uma forma de vida do negro, que só poderá ser co-
nhecida na medida em que o próprio negro se identificar en-
quanto negro. Mas aí está outro problema: é interessante para o
negro que isso seja conhecido fora do seu meio, ou ele estará -
correndo o risco de fornecer mais elementos de conhecimento :
sobre si, facilitando a utilização desses conhecimentos contra
ele próprio? É preciso desconfiar e o negro, no momento, está º
desconfiado.
Pergunta: Como é que você sente essa desconfiança?
Beatriz Nascimento: Veja, por exemplo, a discussão em
torno das escolas de samba: branco pode? Não pode? A entrada
do branco na escola a descaracteriza ou não? Outro aspecto: as
religiões afro-brasileiras não são abertas como a religião domi-
nante. Para se chegar aos verdadeiros cultos afro-brasileiros é
preciso vencer toda uma resistência que parte justamente da
desconfiança dos seus integrantes, que se negam a fornecer as .:
chaves da compreensão. Esse intimismo do negro é significati- :
vo. E tem também sua contrapartida: o negro não se mostra,
mas, para falar em termos grossos, “permanece no seu lugar”, :
isto é, ocupa os espaços sociais que lhe permitiram ocupar, ;
mantendo, indiretamente, a discriminação.
Pergunta: Quais são os espaços que o negro ainda tem
que conquistar?
Beatriz Nascimento: O negro não tem apenas espaços a
conquistar, tem coisas a reintegrar também, coisas que são suas :
102 103
ed

sot +OL
Ec

eHOIeu Ens tro oprúpsuos) osod nas seg o nossed onb zod "9461 9P OIQUIZAO! 9P €Z PIP
98) OP SOMiaLIOUI SO sopo) ta anb emsom
epometod 2 [ermo *. “enoJ-vÕIo) “OxBUPP 9P OT “sEIg OP feiior ou opeonqud oresuy *ps
eyeIsoLroIsmy euidoId y “BUQISIH EP S2A2NP OBSED
OA ENS E nom
-adiod seieureg onb JEuLIe UIS EDUg UunIadur er
- SOP SEULIY SEP JOpeUI2AOL O “seOSBIY 9Pp OPEIsq jeme
oen
Do epi bl,

eu : OP EPrADjo OBIS9I “SOBULIT SIO(] SOP BIIOS BU OJIOUI


-0s enb opSeurmop eidnp Ejod opeiBsquisap
[iseig BIS “IEP ESSON “SolPLITEG SOP EITAND Ep asjmegodmr
wumu 9S-1EZIH
“B810 9p WEI sos8ou SUSUIOY SO nb opepissoos
u e novapago
- EPdejo PUIM OSS-BABLISDNS S69T 9P COIquIDAOU AP OZ
ME trip esba es de qem

“SBIPUIFed sop oquon? ooo SOLID UOS afoy


anb a guanhbad
ejoSuy ureAeiIeyo sosonSngrod so snb “eSUB
ÍC PJOS,N 2p oxtom “ESnIod ogónjoAS Essou e eIed o33aw
“DofSdEISS O "IS9PION OP sioJrpy selIos sem - BJS OP EM] EP Opeomugis o esTjeue PIOpeLIOISHy uISAOL
BAIASIJOS “SOAL] eum “OSNIP SISoN "sopnIso snas so vIed [enajeu 098 um
“BI SOP OTIMAOD) OP ajuste Tau > ejoyuedso
poIO) ep [etuojos OEIENUOIUO ajou onb 'sazopesinbsad sojad opriojdxo 02
Iapod oz epnotugns “ogãeu UIMAOÍ é onb opun
rmio d “ss1As sua -nod epure odures um 9 Iqumz op ogienze E “SEJSLUIE 9 sal
“DU SP OgEUN E SSIBUITed SOU 9puojop Iquing
'esopuejor OESPALI “OJHDs9 9P OBSEIÁSUI Sp 9JUOJ “SUIOU Nes ap OUIO] UI Ep
epd opeyprmimy “POIS POS op OSBFUTEIP OjuSu
monI UM ESsoA -U989[ BLUN OpUELO “Texgrus a eongod eSuezapry ap sapep
"BRE JSelg o opuenh “I7Ax ojnoys on "BOUBIro
dur Jofer ep [ei -Eenb sreuorodsoxa nomsou aja “aj3ouu ens ap BIEP “CS9T
“ORE 9191 UM TOJ saTeuIjed sop 1opezmesIo
O “DIEJ 2d - PP OIQUIDAOU PP OE E 9/97 9P RIIoN$ e opuiznpuoo
Teriojoo TiSeig op soArIDSo Pp selowyuas sor seiewed
“ESH9TETp asaxs eum — rerjno Sop OqueojMÊ Op ERUçIsISaL E NOamw soue ZT aJuemp
-sd “oorum “oaou ojey um 9S-FJ9 A91 Oquiojmb anb olgsu o “umz oIsy um 9P S9QsUSLLIp SE “eLISp
o 'sojzadse
Sessa SOpol qos “serreoLIe semyma SEP SSIOTE
A SOp OpÍeuI -OUI EDTIQIST] OBSTA BUMU “aImbpe “odurs] ojmur sguemp
“HJESI OUIO) Tenos ogdpznreSro ouIos “OUPUMI : OJmosgo “onb 1spy um 2P OBÍEJDADI PD OLIPISJUSO OJISDIO)
Ojuraurro
“S[2qrIsa OTIOD “OppiARIDSo E eEUOS EMY 2P
EUZIO] OLHOS O ESTBUE 946T “OrofseIq OAOd Op sem sep eorugn PN
“[EUODEIU EPIA BU TEMBUIS OrUSUrDajuoDe
UM Safe EIA "soqurojInb so nozigajeiro JOWfou
r wIonb oxsuIeo
UOSIPH IO] SEIA "OllofIseIq OISoU Op cAnenoOsse
oJuIdso O sojou
Bessa 'soquioTInb sor axazal as opuenD “somwe
y Ingaiy
“soqurofinh IES
“SEOSSAd OHIO? Iapusjua as urassapnd soiSau
so anb uia sopepop
“OS JEZIIPSIO à JELD :saxenipeg SOP OEÍIPEI E
fISPIg OP BLIQISIH
ep OSuo] or Jajuem op SIUPSS9)UI OSIOJS9 O
UIPIENUNUO) PSI
9P SOBULI! SNS “ossI ojuenbug "epedueas 9PEPI US J9110W E Op +sSSIBUITed SP oquoym)
“UIA OS “SJ9W UIO sour soymur ojmbuen naaza op no euonbad ejoSuy ap no eSurig ejo9,N 9p Iqunz
Sarzos opeydeo
Ertinrçtra
-2P 103 PDUZIsIsaI JOdo srenr pod ogu open?) “SOLIPSIDAPE SO
JEUADUS E nonuntoo iqumz “opria) SJUSTI
/ELOTA "ajoyo oSpue
nos op oBeimgasa ou [egqund um nosso
“OpEIINA eSuopuom
MIPUy eisned ojod opeuoisude Sp stodap .“iqun
z ap ojuou
-S1-JeÊnp-xo “oJejnu “sazpos SUQIUY sesenmeg
2p soquiomô
opómasap pp svip sou aPoprnagissos
Fongoejaqu] a DIOquIOjIn() OJUGUOSDA] ZLJDAM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelecnual
Possibilidade nos dias da dest
ruição
de pessoas de cor) item sustentado, de maneira direta ou indi-

ab
hos, outros com peles, uns com
reta, a integridade nacional contra as tentativas de desagrega- barbas trançadas, outros
corridas, outros raspadas, corpulen

= agir Ed
ção. Foi assim na Guerra Holandesa, a primeira ameaça tos e valorosos todos.
séria
por que passa a abandonada colônia de Portugal: Henrique Diziam eles que queriam ter com
Dias, Poti e os palmarinos, cada um a seu modo, os moradores comércio
ajudou a man- e trato, e que só pediam a lib
ter a integridade do Brasil. Assim foi também na consolidação erdade para os nascidos em Pal-
mares, desde que lhes fosse dad
da Independência: o negro investe sua pessoa, formando os o outro sítio onde pudessem vi-
ver sob a obediência do Rei de Portugal, mas
quadros subalternos das forças armadas nas Guerras da inde- livres.
pendência, através dos batalhões de Pretos Henriques, dos Pre-
A
tos Livres e dos Libertos. Ele é também herói popular na Guerra
do Paraguai, onde luta em troca de sua liberdade, muitas vezes
Por que Ganga-Zumba concorda
não obtida. No processo monárquico para a República, a os governantes inimigos? Pela disp
em faze
r um trato com
abo- osição geográfica dos Palma-
lição do trabalho escravo possibilita a passagem pacífica res, seu quilombo é o mais avança
para o do em relação à Capital per-
novo regime.
nambucana e por isso o mais fust
Palmares foi uma ação militar de grande envergadura, igado pelas autoridades colo-
niais.Por outro lado, a comunidade
Ao longo de sua existência, Palmares teve dois chefes conheci- dos Palm
ares, constituída
da geração mais nova, nascida nos
dos. O primeiro, Ganga-Zumba, dirige a guerra desde o memen- quilombos, começava a ques-
tionar o poder dos chefes tradicio
to em que as autoridades coloniais iniciam a repressão aos qui- nais, com certeza constituída
de africanos ou crioulos mais velhos. Em
lombos no interior da Capitania de Pernambuco. Em 18 de
ju- recebe de Aires de Sousa os termos verb Recife. Ganga-Zumba
nho de 1678, o chefe militar de Palmares vai ao Recife, ais do acordo:
acom-
panhado de uma embaixada constituída de pessoas de sua con-
1. Liberdade para os nascidos em Palm
fiança, inclusive seus três filhos. A visita prende-se à necessída ares;
2. Concessão de terras para viverem
de que o Governador da e cultivarem;
Capitania tinha de obter uma trégua 3. Garantias de comércio e relações
dos palmarinos, no momento em que procura reorganizar com os moradores !
a eco- 4. Gozo de foro de vassalos da Coroa.
nomia da colônia, desorganizada a expulsão dos holandeses,
Palmares, considerada o inimigo de portas-a-dentro Ganga-Zumba promete em troc
pe- a conduzir ao domínio
las autoridades portuguesas, estava totalmente autônomo do Poder colonial os outros negr
da os que não concordassem com
dominação colonial no Recife, o rei negro é recebido em Os termos de paz. Quatro meses
Pa- depois (cinco de novembro de
lácio, acontecimento comemorado com missa de ação de 1678), a paz é assinada em nova
graças, solenidade no Recife. Retor-
assistida pelos dois chefes de Governo, Aires de Souza, da Ca- nando ao interior com seus familiar
es e súditos, Ganga-Zumba
pitania de Pernambuco, e Ganga-Zumba, do Estado fixa-se no quilombo de Cucaú,
de Palma- próximo de
Serinhaém, a Nor-
res. Pouco antes, ao entrar na cidade, os palmarinos tinham deste de Palmares.
provocado reação de “alvoroço e júbilo” da população, relata A atitude unilateral que constitui
a paz de Ganga-Zumba
Décio Freitas: Provoca violenta reação da comuni
dade militar dos Palmares.
Numa atitude típica de quilombola,
os oponentes do pacto ad-
Entraram com seus arcos, flechas e lanças, cada um mitem a paz em separado e esp
com eram a saída pacífica dos con-
arma de fogo, cobertas as partes naturais, uns com Harrevolucionários para ganhar
pa- tempo e refazer as forças. Nesse
momento, Zumbi, nascido em Palm
ares, pai de três filhos, dito
106
107
601 soL
-O12J Y "soquoymb so eruo> em eu as-opuefeSuo (son op TI() *OPUNIA OAON OP SEISIABIDSS SEIUOJOD SE sepO] ur uIapojd
Spurs OT > Eqrereg “vopreure] “conquieurog 10d soperujedso -Xº SEIS9U SEIJOASI :soquio|mb so eiUEISUOS IQIeUI UIOD meu
“EIJOADI UI SUSLION [UI 4T) sumpuel sorpuy so entoo euong
“Ados sreruOjOD sapepuome se onb exed wronquanoo sourajxo
E SJUSUIBOTRjUSTIOM ErOpIeqe “ojeur-op-satydeo ap s0510] sorI
SS10184 “jo ENUOSD sagôrpadxo se as-meDgIsUaJur “epruedenmoo
“PA 10d operrane “oyjoA sS1or soSUTUIOÇ “EISOds21 UI "sejsimed UIT “OAISS9ISE STEUI OJINUL 2S-BUITO) SoiPLUTed Tep InIed y
SOp SESNjoLIRUI à seTpuy sedom se epnfe uspad oonquieniog op
"OBISaI PP sotigaanidoId sopueis
SEDIO] SE “PIIONS ap ody omssur o ISAJOAUSSOP Pp sepenpigissod
So 9HU9 SEPmqLuastp sexta) sens 2 ojunxe 2 neono q 'sepejos
“Dj "odurro ap sojoyo snas à Iqunz ap ESDRI apueis e q ojuam -2p 0ES “ogóPIIdsUOD EP so1apy] “1edser) a oxeury “oSuoqueo “09
“HOW op ELIONS y ounsopiou jezox| op mg o eIed opueyurea
-“BINIAL OBO[ "ELIBNOD 0BÍDE] EP SOIQUISUI SOR OgSSoId2I E 1940UI
“eo “BIUEINdES Pp EISEJe os-steuI ZoA EpRo SOIeIFed “DS-Iopuajsa
-OId eIRd stErUOjOD SapeptIOME se as-eJunf SIaAIAdIgOS “eroZ
9 9S-JEJNSUL 9P EDTUD9) P OpuSAjOALIaSaÇ "SoTPINEg ap og5endod
-ESUES) 'SOJPIPALI sojuepnfe snos WmeneSsseiI à equmz-eSues
E OpuESsOISUO “erIeudeo ep sepuozey se esseui ui Weuopuege
UeUSUSALO IqunNnZz op souepnied neon ou “ossi ojuenbirg
SOABIDSS “eJo E sEdPID “Pp opnsed em qungz “Spepipenromi "ONHLIOS O 2 EUOZ-PSUEL) AMUS SOIeIop se Onajo meIpINS
éP BONS E 99sa1 onb urso eprpaur p “emos sonbrenb sq
OBN 'SEPeOW SUSI OBS NEMO O SIGOS sagssaid se “09 2Pp Epropp
SEJEP Sessap siodap mau sejue aja ouIco IquINg ap omiou B 9S-IPDIUL OY 'SODEIBIA OP IOPBUISAON O UIOD LEIDHSISJUOD PIed
O BNSIB9I OEU SoIEWjPq aigos ESTUQIS E “OPE] OHNO 10g “LISUIOU
EuoOZ-rSuer) epordsop equng-eõueo “oprácome as-opunuas op
95 Um op EArjen os onb opupaoid SS9T S 9/91 ams eirons -e$9U91 OgtuojnD op BSueiopi E ureie os somno “ojrauremnsap
B znpuoo amb onpjapur op eoIsy opepouopI e UfaD9]aQLIsa sIvIU
“UR|9 SSIeLI]pa SOR EIESsaISSI somar “equmz-eSueS op oquio]

third st eae o am tata eomempie cora atira


“0102 Sopeprione sep sojuaunoop soymu “ojrejanty oquior
-mb ou Iqumz ap sagus8e sp oBSenTyul E mo) “zed op sopiose

Leda
nb op eu9Ism eu sozmrg Sajotpo SO tieIOJ soquenb siquinz
so a1duns ogu onb femiojoo 1apod ojod msquir) epejaoia opó
SOJERI OPASIXS TATO] op 253) E opusjap soIeIneg oigos'ramei
-ILOsop “ngoND Op oLômmsop E sAomoId Iqumz “saremjeg sop
“SHI ep ared enb “eypedso os Iquingz op sj1our Bp OsuasuoD assa onusp orênssid nos eprjostioo anb urs odura) OuIsouI Oy
BELIOS [EI 9] “SENLIY Sep JOPeLISAOS) O OO 1319) ap BLIO]3 E
“IRJFSSOPp WIquaI ond so esed
MEBABSTPUIAToL OpoLrad assau onb edomn op sajoyo so SIZAPJUODUI
FeDJeUI I9f E EJIDOPp 9 BIÊMm[eISu E 2 ejoouBe ogônpold E Bons
OES IqUNZ SP 9MOW ep eopoOu E UICD SJpoy OE UWeIOA ejOq
-LSPUI “oquiojmb op ssmHu sou sejounuss se pondo “oAIsuS]

a aptas
“uojmb opiga1 E segõrpadxa seLrea se “soue £IY sJueina
“UI ONISUENSaPpe E SUSUION SO SIJSUANS 'euonB ep sepugsixo
SE SSIEUITRA SP PIOUZISIXO E EPOJ EUIPpIOQNS SPULIY SEP JOPBUISA
semear -09) OAOU () "SOIOPELIOISHY sUNÍ|p UIPULIge OLHOS “ pomgnd ogões

ip pad NA foto! ia
-JES, ºP BINPEIP E I9D9joqeisa ma eIIsau OBU IqUINZ anDb q “osu
““soquropmb so emnuoo euans e vsed -Dd assop oEÍUMy Ury “ulopuasiduis e onb sonpraIpui so 2 eIIons
WaqUuie] sopeúwem> opIos sejsimed sassy “sOx|IseIG SOANEU SOP BP SE2TID9) SE “OPIS2I EP sOpaiBos SOp S2J0pasottoo 0ES uLeuU
Se10pepold seIsgned sop ogmm uIedueI SepepuonEe se sep-prege -edirooe O onb sajouo so siod “Sareuiead sop EDUgAIADIGOS PLId
errd “seuoBypur sodnis ap SSOITIAT UIOS SENDA SE SAIA TISEI]
-QId E SIvIUOJOD SopEpLIOME sep SOELI seu PSamua 0pÍDoJop eng
O “Ope] ommo 10q “Bid49s stem eIossardar opõe eum opuisixo
“IQUTZ Op ON Uioqure à 191 Op oem “eUOZ-PSUeS) OHaIIanNB
Teruo(o> orururop o v5poure SaTetufed “SOSUTmo( 0£S 9 PoremwIef
O SAISN[DUI “SoJomo SOpeDEIsap neono o ered cAo| equmz-eSueo
9 SOJBJ9LIOS sh3s OO “vIBou [euoremdod ensoreur apueis op op ovôejrurdeo y sesrror odn ap esmpesp eum esneasul sewIIV
SEIUQTOS SEU 311020 anb epeziperauaS enonS esso ered opdualr SEP IOPEUÍSAOL) OPEUIPDY “PDUQISISAr Spuzis 1edO) UIOS “So1eUE
E Blem sonStpoy 2uIN 'seyjuuy se ops sredopund soo0y sop -[ed ºp soquiojmô sop [jeudeo *o02e22]N ednoo “Tai op oyutigos
E
opómsap vp SPIp SOU pnpiIgISSO [proa jaqu] a njoquionnf) OJHBLVSDA ZLD2H
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual
Possibilidade nos dias
VWV
da destruição
a ]"] q
TS ——] [
E====>V]VPVY

quilombos ressalta a sua capacidade para aglutinar as raças que


cidade dos paulistas (testemunhada pelo bispo de Pernambu-
constituem a formação social brasileira. Além dos mestiços, o
co), alimentada pelo desejo de entrar na posse das riquezas acu-
quilombo acolheu índios e mesmo brancos, embora a literatura
muladas pelos quilombolas, faz desta etapa da guerra a mais
não fale de elementos do sexo masculino entre os últimos. Pare-
decisiva.
ce que só mulheres brancas viveram em quilombos, principal-
Mas não foi o capitão paulista quem teve honra de dar
à traição por um mente em Palmares. Segundo alguns historiadores, sua ida para
termo à vida do general negro. Este foi morto
Palmares era consequência da escassez de mulheres no Brasil
quilombola de sua confiança, que, perseguido e acossado pela
colonial, uma realidade também quanto à população negra. Daí
fome, acabara prisioneiro do paulista André Mendonça Furtado.
os quilombolas casarem com brancas, que aparentemente eram
Entretanto, Palmares não desapareceu com seu chefe. O próprio
levadas à força para Palmares.
Jorge Velho, em meio ao regozijo do Conselho Ultramarino,
Quairocentos anos depois de sua subida ao Poder de
chama a atenção para a continuidade de Palmares. E tinha ra-
Palmares, Zumbi permanece vivo na memória nacional. De for-
zão, pois no começo do século XVIII um novo Zumbi surgiu na
ma legendária ou presente na documentação, ele entrou para a
pessoa de Camoanga, egresso de Palmares. Seu quilombo, na
História como um marco em nossa tradição de povo livre. Hoje
região mais ao Norte, foi desorganizado em 1704. Outros gru-
certamente, muitos o homenagearão repetindo as palavras do
pos palmarinos inauguram O quilombo de Cumbe, na Paraíba;
verso que era cantado nas horas mais difíceis da vida de Pal-
mais forte, este só foi liquidado em 1731.
mares, e que ficariam gravadas numa canção popular do Estado
aa de Alagoas: “Folga nego, folga que sua N'Gola Djanga hoje é
“uma nação”.
A trajetória de Palmares seguiu, grosso modo, a direção
Sul. Nos meados do século XVII levanta-se o grande quilombo
de Sergipe, tão forte quanto Palmares. A ausência de estudos
mais profundos impossibilita que se estabeleça uma ordem cro-
nológica fidedigna e ao mesmo tempo as relações entre os qui-
lombos dos séculos XVII/XVIII no Nordeste. Entretanto, é fácil
perceber que, pelo menos em termos geográficos, o quilombo
de Sergipe é a continuação do movimento migratório dos qui-
tombolas rumo ao Sul da região. Convém assinalar que o mo-
mento da queda de Palmares coincide com o das descobertas de
ouro e diamantes em Minas Gerais. Significativamente, os gran-
des quilombos do século XVIII se deram na região de economia
mineral. Minas e Mato Grosso tiveram sociedades quilombolas
de grande densidade populacional e longa duração. O século
XIX foi a época áurea dos quilombos no Extremo-Norte, Mara-
nhão e Pará, e Rio de Janeiro e Bahia.
A maioria dos historiadores assinala que dentro dos qui-
lombos os negros viviam harmoniosamente com segmentos da o
população: pertencentes a outras etnias. A historiografia sobre
110
ELI
GlL
.
“ONE 0EG FESElg ou EpUemdo
"946T “DBIAL/SOJUSUTLIOTTS IA “Pa
9 EIUMO "ogOf papuy “TINO INV oa “6b-gp "Bpd 'Z46T ºP
CIQUISAOU SP E% JOIS EISIASY eU SJnatujeurBno Opronqnd
“UPA “SOJUsUreppuntozd oSnIV "SS
mm
SSJUSISI Uia “QIÁOI OI
“EDOUOD, OUL9I O RNgLoO T CJPREI PIO
? os wionb p “oSoJospr
9PLerr “TAIS SIBUI SOQÕEU se PfoAUI IESNRS op OUSIP [eDEI euolsis UM
9P SOLIPIeUNSsap so soros sou “pup opou re-s
ou apepaD os BP
SON OHISjnIIA OUISIDEI Ap S0J2] SO “Telnos Erouguiadxo essou
eu
O 2 OHpopner [eT «OlTogtr, “SJUSUIJUS22I OPNSIXO 919] OEU 9P OJey o onb [euojeu BÍualo
OU UIDAIA onb SOPp [20] ou
-BIEdesap O fas Opourgo sreu sa EUN MBSUOS LOUBIEG JOINDOjINF NoUL OUIOD SUNS SUSTO
r o fenb om «OSJEIEA, UIM
O IeUHOJsUeM as-pstod “OU I [ISPIg op SJUSUros Ted OgU OJSI 9 PIFafISPAG [EPI entrgssjo3 q ojuend
BIRQ OSSOU O pJp (seIg
“FO4AO d O IRj nSu me op ojusm
ere d SEJ EUr se 3 soAgEUu so ur)
SOpIpiSatto-[eui so ojuod oumn siseu urefojso zoAjeL
"NO 28 E sosonônyod so moIez «SOPFEN SOPEIST SOR OLIOD [BIBI ORHJUOS SOUIOI
BABNJSSTODE PISSY eIeS
“WO 2P sonbreur o 9Psop mo anb ) Jeg 23 OBU à Opllodaledesap rea oxSou o ojraf ajsoa, :nmpuo “je
“9Jop inred e q «SOJEJNUI SOp
O 9 SOS UEI G sop onp ostered
IeS md O SOISoU SOp ourajus o
eIed sojugIe soureApyjo ouTuouI oxIsurd o o na ojuenhiro “o1sf
- O, “SOU SNUS eurxpur 2 pserg opuazia :.omo; asenh “OWfoUI DIES FÍ oJsa senr Somos? SIBUI
oo) novt onb ogje
OTITUE
StLId Ossou os |: ITOMIY OUItOUI OP as-Opuitajos) no ouro esenb nies mbe ajsq copus
í“opdpZImOjOS Ep SO[Nd2
e s soJourd sor
ºSTEJH OTI OI apo d wsB po FS, “ossIp 9 “ofad op apepIEuo) op seSuszagp wroo seu
Ens “Esseui ma ogdeuaSpsinr “sol
"OD Ta4 Iss od o eIe d SSQ UNT
ep “omg “Bjnur soque “sousnbad soy stop snos am-nomsoj ojdusxo
OS senmO anus “ojrsunms
SOU SUS ,JeDEI CEDO, O uau nos OB Na110331 2 opópusSpsrm ep opeuoxiede ojdopz Un as
ap [Pop Op eDUpSioma B
"09. Woo Op sajdums OIUPOD umur -NONSOUI “OpeIsa nas O eIRd ogsUajaId fe3 IROWOSNT Oy qem
EI OP optnsor toy OEN
OPpunIL OP [EDEI EDUFISjO] Pp OHU9D JOreu O eia pI

get Et Mersoatess so cm
“Bd E OLHOS 9P SU-IIDUSAUOS PARIS] onb emperey ap 3
QLISJUIO “BU USAOÍ UM UFS PABSISAHOD “TOPEAJES tro “ZA pro É

ap ada VET cem


"-Olop, > eum o PUSS OUI
OS OxofseIq stepei SoQde[=1
OP Urs 8eu loj ne St 5p
ap cipuras
oJsIs
eum OI UE F Op omg op o80T9IOS UIaAo(
+9 2 OU NO otodaz [pj “9p
um op
eponos essou PULO enb
SUS topod ap ojrospos sermo se
OP SSDIIOD3p sojguOd
TEIATE 9Pp eruçSm elos siB AIssod so
pum ZNpen “ogãenys essor
“SUOS OBXoToI E imystos ap JUL
ºP Sslue feneI ojrsouooo1d
op op328 e re
csEDEY EDBDOLIS ESSON
pensa Foriadar
TOREmME
28 jenb oe ousou a3sa “odn <USEIg OU PDUFIS]O [ej03 Epa
is Um op os ojusmipor
O ENS Jeni Oan afgo edesop
ofno “OUPIEQ red trosof Op eIsa
“EDSS 083 opSeirdse eum Omo equ

Es epa zoo
9P I9Z1Pp onD o seja “opu
nur Op sepezi]
Opómigsep vp svip sou 2PDPHIGIs
sOA
Jonpajaqu] a vjOquIORNÃ) OquauosPN Zii08g
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual
+
Possibilidade nos dias da destruição
gloriava-se de que o Brasil fica cada vez mais moreninho. Cabe

à Do
;
Ceticismo
a ele não só obra pioneira deste tipo de ideologia, como grande Fa
- JÉ

parte da crença na tolerância racial brasileira. Sua obra influen- ã


Mas é como conflito não manifesto que atualmente
cia sobremodo estudos científicos, notadamente de cientistas es- d* se
encara o preconceito e a discriminação gritante nos terren
trangeiros, como Tannenbaum,” que garante, baseado em Frey- +
E
os da
t educação e do mercado de trabalho, perpetuando-se,
re, que no período da escravidão no Brasil os senhores reconhe- dáF enquanto
=. isso, opções do tipo jogador de futebol e sambista, para
ciam a “pessoa moral” do escravo, ou seja, o Brasil, diferente- + aqueles
2 que lutam por uma ascensão social.
mente dos Estados Unidos, possui uma tradição de valorização E:
Mediante
.Ê mecanismos seletivos, a sociedade brasileira
da humanidade do negro. O ponto alto deste comportamento reduz o espaço dedicado ao negro dentro da escala social.
seria o respeito aos direitos civis dos negros após a Abolição. O Co-
mo este espaço se apresenta como parte incorporada à cultur
que não sucedeu com os negros norte-americanos. a
dos negros, nada mais cômodo do que unir o útil ao agrad
Acontece que, após a Abolição da Escravatura, nós não ável.
Quando se questionar a ausência de negro em posiç
temos um negro no centro de decisões ões de re-
do país, quando, às vés- levo social, basta mencionar Pelé ou algum dos poucos
peras daquele evento, tínhamos pelo menos três negros de gran- sambis-
tas atualmente em boas condições financeiras. Quanto a
de poder nas duas casas do Congresso. Enguanto que nos Esta- grande
maioria marginalizada, o mais fácil será recorrer à expli
dos Unidos deu-se o inverso — hoje, há cada vez mais negros cação
econômica ou de classe, não esquecendo a herança
atuando nos diversos setores da sociedade. A que se atribui esta escravagista

erre Ds
que, segundo alguns eminentes teóricos, faz do negro
defasagem? Seria pertinente perguntarmos qual a cotação do um ser
ainda não preparado para integrar uma sociedade competitiv
reconhecimento da nossa pessoa moral entre a atual Sociedade a.
Entretanto, nós, os negros, vamos acompanhando
brasileira. Creio que sim, pois a atitude de complacência, quan- esse
poço de contradições e este emaranhado de sutilezas
do não de aversão em relação à nossa participação no seio da com uma
visão bastante cética. Lá se vão noventa anos de Aboli
comunidade nacional (condições visíveis na obra de Gilberto ção da Es-
cravatura e não consta que os imigrantes que viera
Freyre e na ideologia de democracia racial), nos remete ao pas- m nos subs-
tituir na lavoura cafeeira estivessem mais aptos a
sado, onde à nódoa da escravidão foi vinculado o nosso destino entrar numa
sociedade capitalista (que ainda não se tinha forma
de grupo, como sendo uma nódoa nacional. do por volta
de 1930) do que nós. Por meio de que milagre essa
Após a Abolição da Escravatura, fomos integrados ao to- situação so-
cial ficou melhor do que a nossa? Se somos parte integ
do nacional, mas, sem dúvida, com a esperança simplória de, rante de
uma democracia racial, por que nossas oportunidades
através do filtro das relações de casamento ou concubinato, sociais
são mínimas em comparação com os brancos? A resposta
irmos “melhorando a raça” até o ponto de a nação ficar cada nos
parece clara, embora discorrer sobre os fatores que
vez mais moreninha e, com auxílio da imigração europeia, cada nos levaram
a isto constitua ainda hoje um tabu e (o mais sério)
vez mais branca. esbarramos
com um total despreparo para enfrentar os problemas
advindos
da prática da discriminação. Despreparo cuja origem está
princi-
palmente na falta de oportunidades no terreno da educa
ção, o
que reduz nossa capacidade de organização em torno
do objeti-
vo comum. Esta impotência parece legitimar a crença num
siste-
57. Frank Tannenbaum, sociólogo norte-americano, ma de relações raciais pacífico, reforçando a ideologia
autor de Slave de “de-
and Citizen: The negro in the Americas. inocracia racial”.

114 115
LIT
91TT
“INI/BIPSIPO PIOUDA JoIrouer ºP OF] CEPMABIST "O46T
P ento) em ei
OJSON O BUM 2] ºP OJAI O d1Gos “ZL6T SP
OdIBUI 9Pp OZ EIp “ogurm
“OP “OIsUBI Sp Org TISEIg OP feuior ou Bpronqnd
eonuo equasay “gs
SEI OU OWIS9UI 3 ELIS]PISU| EU “SOpIuA sop
“SA SOU SOdFUIYpEIL OBU sOSpoLIad à sEDTUIPPEDP
SEJSIADI SOJA
H Ho oponostp ajuaureles opios IDA “Justuew
nn “oyumsse
o 9nb ages as oxrenbiod “eymeis EDRUgSIXo BUIN OP
BIBI Os OBN
“SIed OSSOU UI> OIS9U OP [poi EHOISTY d1gos seapnriosdio
jur sero
“Ho PU 9 OJHSTIESUSÁ ap ssjuarioo sesou se ser-pi depe opuemo
“01d “SOJDUOD Sp OESIASI vUM E SE-SI PUIQN S sojue mes ope
-I9UI OU SB[-PótE] onb 10d “sOAA OBISa EPUIE So1OjNE
SO 9 Sagioo
“MH OES SEIJO sTeI OS 7 “OJUNSSE OP OjuatIpaquos O eIed ajpA
“9154 9P IojoJoj0 uressod sajo enb O BISIA 9 opta]
“sommn sop
eNj0os9 BL OPEPEN ap EIEy E Tequenso op p Fiseig
ot oiZou o
9 OEPIABIOSS E S1GOS SOIAIF ap sagõrpaal se a8ur] “IRI9[O) E IBÍDUIOD BISA “oJUrIIOM
onb ON
"DONE aJuourepnge

doa Lt taça
OJLIdsa tod opeIBouo efos 073 O onD 9 Jomjoum “oreu
a ou “em “tas J9n1b anb o IsA0nroId
“4 OP epugiodur a eZoproop ejg “omseIsnuo WS 3 topussiduroo usa “Ian91d ulo sastsuos anb “Porurgu
uzoo
epepres I3s 242p “oummrar ou “onb HELONP> “TP opmne eum a “a onb oe 3 Toy nb ce sepuçSppur op
EAREDTUI
UM & JSBIg OU sreroei sogõeo1 se sojuoIajar sogis “UESUodsIp BANRPjdINSyUuoS ogóIsod eum & OBU ERURIa(O) V
ond

mao
utsnboguo anb sexgo op ogóeoggnd e esta eromu
ud w
:IIZnpold erspod ssnens

pic
“TAPT OP OIU98 O 9s onb ssez eum [Iseig ou soiSou s sovuriq
9P SEDUSDSUON SE TeIQUIa| agro “opom sjsog Teopt >» opÍerais
BSSOL OSSI JOd UU SELI “SOJUIUTPTPIII] SOp à OJan$ op enpupuad

A EE aeeeliiçieidos
“Xo E SOUISAR OBU SJUSUNBSY "PUBOLYE-[NS P 9 BIrSJISEIG Spepow
-O8 E OUPJÚ OUIS9UI OU IeDOJOD sOUIopod orU anb 07129 a
“TstIg OU anb op sodnssur ap sojusSunto» Irei no or)
UWonssod MS Op BoLIFY 3 sopri sopeIsg ouro sjusureonsneiso
2NsUOmop q .BUIe> E IO) OPJ09E 9P SIEINBI SonÃpjos uso resuod
esSOpessedenTr sojsauon 2P Ulotexrop sezmpe seossod se op odita) 9 Pr, :eIopovalepso
esBIJ BUM ZIP SEDpISUIy SEU SIBINCY SogIped oyjegem nos ua
“SELIeH UIAIBIA "Oss! onb sreuI OynDI Olpsss20u H 'SEHSPEPpISA
OES OBI “OpóBUIBOSTUI IOTEUI PLIN Op E Ou1oo “setrojdmIs à Sep
-BssoIde sagôntos se anb ap Soueqm sonuao siedpund SOp sog5
-BI9B SEAOU SE ato ajuompedpund ertugstos sounssod eí
seuod semp e stod “oprpzad op soma cogu ouejanuy
O
e
Ca tira go
OPÍInsap.pp spIp sou aPopIrgIssos So
IDNJIafeJu] a DJOquIOINÊ) CJUFUIISDN ZLIJDAM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual
a]
Possibilidade nos dias da destruição
———e
[|] TT
Estas considerações vêm a propósito de recente reedição Luna explica a escravidão do africano segundo o velho
de O Negro na Luta contra a Escravidão, de Luiz Luna. O livro mecanismo ideológico: o índio:
reaparece sem tomar conhecimento da existência, na bibliogra-
fia nacional e internacional, de algumas teses de mestrado que Pela natureza de temperamento e costumes, habituado à
levam a uma ultrapassagem dos conceitos estabelecidos pelo liberdade da vida nômade das florestas e das praias E-
Autor na edição inicial. A questão das relações raciais nos países vres, nunca constituiu o tipo ideal do trabalhador que as
multirraciais é um problema que aflige milhões de seres huma- necessidades da colônia exigia... então os traficantes de
nos. Daí por que reedições de obras como esta, sem elementos escravos voltaram as vistas para O continente africano on-

esco e crbni to
que a atualizem, podem até ser um desperdício intelectual. de há muito portugueses e espanhóis se abasteciam de
O mais grave é que tal descuido editorial repousa em escravos.

gm Eé nam
acomodações ideológicas de grande significação. No fundo, ain-
da se negligencia a importância dos novos conceitos para a E adiante:

nc cai geo pena


consciência histórica do negro brasileiro. Ignora-se, assim, que
um número cada vez mais representativo de descendentes de Os portugueses davam preferência aos naturais de Ango-
la. Consideravam-nos mais aptos e dispostos aos duros
africanos no Brasil já adquiriu uma concepção do que tenha si-

ico has e Dt
“trabalhos que a produção da nova terra exigia.
do a sua história (que não resume à crônica do sistema escra-
vista aqui implantado entre os séculos XVI e XIX) e pensa com
Ora, isto é o que se chama esquematismo. De um lado,

PARE
clareza acerca dos mal-entendidos arraigados na bibliografia
tradicional sobre a sua própria trajetória.
um grupo de pobres nativos, todos iguais entre si, tão livre e
E frágeis que não suportavam o trabalho. Do outro, um bloco de

RR TUR
Luiz Luna é um Autor que merece respeito. E é com- africanos, todos também iguais e chamados indistintamente de
preensível que, nas condições em que ele escreveu o seu livro -- negros, mais aptos ao trabalho porque eram mais desenvolvidos
há quase 10 anos, dispondo então de uma parca bibliografia — culturalmente do que os brasileiros. Mas sabe-se, por fontes
pouco mais pudesse fazer do que expressar a sua indignação documentais, bibliográficas e por outras vias, que entre os cita-
contra o sistema escravagista, através de uma metodologia des- dos angolas também haviam povos nômades, pastores, caçado-
critiva. Mas nem a respeitabilidade do Autor nem as deficiências res e guerreiros que viviam em praias livres da costa ocidental
do material com que trabalhou, devem desculpar o silêncio so- africana.
bre alguns graves erros que comete, em consequência dos quais ne
Luiz Luna, entretanto, dá a entender que os nômades
descreve o valor de seu livro para o conhecimento da história africanos per se eram aptos ao sedentarismo violento da escravi-
brasileira. o dão. Por quê? Porque os portugueses os consideravam mais
Um dos aspectos positivos da obra de Luiz Luna é a sua A - aptos e dispostos, e pronto. Seriam os portugueses daquela épo-
denúncia do esforço feito por vários historiadores no sentido de ca especialistas em mão de obra? Ou não estará mais próximo
mostrar a escravidão no Brasil sob “um aspecto de suavidade... - da verdade concluir que os portugueses “preferiam” os angolas
o que realmente não aconteceu”. EM compensação, quantos en- '- simplesmente porque os entrepostos da costa ocidental da Áfri-
ganos ao comparar os problemas enfrentados por índios e ne- .:- - ea — notadamente os da região hoje chamada
gros. Ele diz, por exemplo, que os índios lutaram contra o cati- Angola — estavam
“* sob seu controle ao nível da ocupação e do mercado?
veiro “até a dizimação das tribos”. O que pode ter sido verdade.
Em outra passagem o Autor procura descrever as “na-
somente em casos particulares, pois até hoje há numerosas tri- + “ções”
de onde se ofiginavam os contingentes de escravos. Con-
bos de índios vivendo em seus moldes tradicionais. funde, como sempre ocorreu na bibliografia tradicional, nação
118 119
ici
Og.
9P £0 “OPegrs “orsuer ap om “LLGT 9P ofew
FISEJZ OP JEUIOS OU epeonqnd este
s “ss
SOJTIS2IQ 9P ste sogõeiaS se ora
“SIDI SOJUSUIS|S OP SI4I] EDUQIsSUOD se)
op so40d “son sajs] BANENXO q TrOI eum 9P OBSEULIO] E Ureyno
sed ermoUOda E sopeSI “HIP onb soprprasuo-peur oP OgdEZITe
S9PELUIQEU 3 sOLPILapas sodnIS Is anus Isio E pred axrouedroud
tBArInOS anb “opingu HAISS DP OD9sI4 O a110OD “or3pzmem
so “elos nO “ertrosol Pyp eu Is3D aonb q OESIADI SJUSTUDANOD pUM
sosod so aj uia eyu
"B S9PELIQU sejodur e ILIajol om Oy "BJO UTos “PIO ENS ap opÍIpaai E SEJAL "SOIS
SUY ua afow uIsAra 0) ATU SOP SBIOADI SE O BIsIs
To] O opungas “onb sonod sassa p Hoj23 “EABIOSS OSSIIOId O “SENTI UIOD SOZD
901 OEU “Opg| OnnNO 104 A SEN aAS1sap OE
“21502 E SJIgey opu ogôimqrutoo Eoq PUM Zen “zoA eU
anb ºP oJsodnssard » opu extad Jomos sim 9S-BI[ESSaI “BUNT zm
OBEIL OqeIp Op opeSoape
ourumy odnis um ap ojey O “oxIod UIPT
UIOS UIot enb ejsoo E ap [oded ou SOUIRISISUI OEH SEIA
SHSom BHOTEUE [ea op set sopemor SOUB
IOLISJUI SOdnIS som ojd wJUBSSIa 00
“UISXO OLHO? PP o “soxrojiseiq SBUSSIpU -nod, OPeyIUSIS MOD +ejndod orremqeo
]
r so fenb je) soar sereid 0A ou BIABIBd Ep ossoi8
Ulo ISAIA uleIropod sajsa enb op "TO eIed posatoyid SMUSTISYISVOUE OUIJ
OBSCLIINE PIO eJsojuo) Ur OU OpSeondxa eum
UBIPE seuI “souejoSuE so amo SoPpeLuQ PP eumT “soue soe) pr opiges 1os OST
u s0A0od Erossnsixa onh opm op Iesody

rim nata ar E
1BPIOSUOS sosTed ordjuLd tro correa S9FEUITeG sop oquomo
“S O “EqUOsal eu zy ond SMourenIus euros onb ajonbe q 0n0d OPEI o
sojuompIrode sor soIrdar “Pp PuIEy> B O “Opuniy 040N op
onb o opurom SEIISQODS9p-UIS091 sagI8a1 se EIR sOsP
10H9] OJod sepejnuzsoy SESNI sg Opuo IOSO oP O2WBN O IPITUI
dsal “oon
pprp ojoz ºP UM E BLIy ep jejuopno eisoo ep SOPE
J0od onb op Botuojod op oqurdsa 10d IST SO UIOD sogõejaI
sousir EPLAOIA “PUNT] 2mT
WU

einer rena Udrcnia gua


9P OBPIABIOSS E ENO er Eu OISO UIEDUS sosonSnyod so onb Us OjuauIou
N O SIJOS erro) r OU OSUON OI O

EM
NE EQUIM 9Pp eyuasaz eu sepnnos sagS ? BZUBN( OU O anua ealp eum uso. J9PO
euur re seums d OU eARmUCOnS as anhb
“E[OBN 9Pp EnseuIp e gos BLAIA jenh op aure
Tê OputIsstuos Euro pum euisse CAIS d “oping osod ojod
“D) “Y oHRIA Bpejej elo “org oonsmBuy odnis op Suso
15 O “GIAFI op 2/61 ap Hige 9P OUR
op ogótpo E ustrod “opungquimb
BnSUm Y "esonBnyod exyosa E uIoo OJeYIOS
UI , PEDIU OSNUpIOS
"TOS OdnIs Op orÍejenresop 2P OSSoo0td
um naijos ajuaureois
ã
-Ojotino enb “seSopeu opunqui opungu
imb op epimg, :so912p
z
4
“So o1s9 stod “Piuopuam op op5y E aquari
o jduIOS OpeIou8r 12)
S2s12d EURT “sepejo «SPOÍPIL, SEP EU
E ajuroo) O N
"OU BonsmBny ÚmoSLo ap
OES sodnIS sasso “(OUBSnJe op omTuguIs
ojurrrod “EUBOLIE [e]
“H9PDO EISOS E Epo] Weseupuouap sosanôni
rod so otros pro ne
“NOS obLMEN opungas onb) gumo op SOp
OBd99xa LION “OSUON
esOEPIABDSA OH OP EDeg E Je [eSonas ou op SEISdS
qe sep PI onb oLIo]
-Haa) wWn op soputaoId sorZou UEABOTEQ
UIS às apuo sojrod ops
«SOPÍB, SILUISp se “BINSUPq OUIOD UISS
perigo,
Y EjonSuPg mio Ope>
Tequro 0A0d um e opep aurou — BjoNSUEZ
, HSEIg Op senônioS
OU EUPBOLIY erouongu y uio EOTeposo
PÍ ESUOPpUDIA Ojeuay
“CE6T WA “epung » epuiqeo “oSuesseo “ejonfueq “BUEN, Sogõer,
sE “seno omta “EISUMmtI "anbiequiro sp clrod ulos wrBno op
OpÍIngsap pp svip sou PPDpIgissog
FONJIajo3uj à DIOQUIO|NT) 'OJuUHISDN ZLDag
Beatriz Nascimento, Quilombola e intelectual Possibilidade nos dias da destruição
is “
[TT = .
.

ande valor guerreiro, foram justamente aqueles mais numero- | foi que a escravidão do africano se revestiu de um caráter du-
O
assa o

sos, que habitavam (já não existem mais) o coração do mundo E plamente lucrativo. No caso dos portugueses isto foi singular,
panto no século XVI. porque eles foram os únicos europeus a ocuparem uma área
Quando iniciaram a dominação, os portugueses dirigi. africana naquela ocasião. Vejamos o que diz David Birmigham
ram suas campanhas basicamente contra esses povos, então or. | em ouixa passagem de sua obra:
ganizados em clãs autônomos. Pela tradição oral Ngola, um ca-
cador que veio do Leste, fixou-se sobre os povos da região e A principal exceção à regra geral segundo a qual os euro-
inaugurou o reino de Ndongo. A base econômica deste reino peus não penetraram no interior e não tiveram papel di-
Mbundo era a extração de sal na costa ocidental africana. Com reto e ativo nas rivalidades entre os reinos africanos, foi a
a agressão portuguesa, aliada à do Rei do Congo, que se inicia atividade dos portugueses em Angola. Embora tenham
por volta dé 1514, Ngola e grande parte do seu povo fugiram da começado como outros países europeus por se limitar a
compra de escravos fornecidos pelas guerras... os portu-
costa abandonando as salinas, sua principal fonte de riqueza.
gueses em Angola começaram a desencadear suas pró-
outros grupos Mbundo, assim como outros povos nômades da
prias campanhas.
região, são atraídos para a costa à medida que os portugueses
penetraram em Angola, a fim de se dedicarem às atividades co-
E adiante:
merciais abertas pelos europeus.
Em outro reparo, o Sr. Mario diz que Angola “como era O primeiro incentivo para os portugueses conquistarem
designada ontem... de tudo quanto sei mantém o nome”. Per- - uma colônia em Angola foi a esperança de adquirir terras
gunto aó leitor: ontem quando? Para mostrar que sua afirma- propícias à fixação europeia como as terras que estavam |
tiva está errada, citarei David Birmigham em The Portuguese sendo ocupada no Brasil... mais tarde descobriram que a
Conquest of Angola (Londres, 1965): maior fonte de proveitos eram os escravos.

Quando os portugueses chegaram a Angola encontraram Portanto, é tendencioso o conceito de que as terras do
um pequeno reino Mbundo em formação chamado Ndon- Brasil por qualquer outro fator “preferiam os angolas” para as
go, cujo Rei se chamava Ngola, nome de que os portu- cultivar.
gueses derivaram o nome de toda a região ao Sul do Con- O leitor contra-argumenta em outra passagem que o fato
go, ou seja, Angola. Mais recentemente o nome de Ango- de ser maior número de traficados procedentes de Angola deve-
la passou a servir para designar todos os territórios da
se a sua proximidade da costa brasileira: “Moçambigue, por
África Ocidental portuguesa (hoje território independente
de Angola), incluindo o velha reino do Congo e a Colônia
exemplo, na costa oriental, e então sob controle dos portu-
de Benguela, ao Sul. gueses ficaria mais distante e inacessível”. Isto é uma simplifica-
ção. É preciso lembrar que de Moçambique, quando do domínio
Portanto, procede a ressalva que fiz ao me referir a An- português, vieram para o Brasil grandes contingentes, principal-
gola como região “hoje chamada de”. mente para as Minas Gerais e algumas áreas do Nordeste. Se
Insisto em minha afirmação de que os portugueses “pre- seu fluxo não foi tão grande quanto o de Angola, dá-se como
feriam” os angolas por dominarem a região, pois considero um justificativa o fato de o comércio da África Oriental e do norte
conceito racista justificar a escravidão dos africanos alegando estar nas mãos dos árabes e dos turcos nos séculos XVI e XVII.
serem eles mais aptos ao cativeiro do que os brasileiros nativos. Deve-se levar em conta também as diferenças de ocupação por-
Qualquer homem pode ser passível de cativeiro. O que ocorreu tuguesa entre Angola e Moçambique ao nível histórico.
122 123
Sel Fel
“+ OJUBUMDOG “T JPISEM “BT
:BXIRD “QT :OBIP9D 'OJompseN ZziNPog PLPIN Opimy “OnSuer 9P org
op [euonEN oambry ou opezmeoo] opejesgomep jeuêio ojusumoog
“omeg ops op
OPeIST Op BISOjOWD9 2 sEDUPIS CIMMD Op ELRjoDOS ep seueumyy
SEDU9T) 3 SoLIY 9p ojusuregredog op oruponed o qos “'cyumf ap g erp
O 942 NOpusisa as a Ofeli op gq PIP OU nodauios ASA EU OIBoN Op Buoz
“UMO V “OMEd OBS 2P 9pepIstaAuç EU 'Z26L UM EIANO é ENSAIO
ap opienpy J0ssejoid ojod epezpueBIo “AS(] eu oxgoN op eirzump
EU OMESIUIDSEN ZIDESg ERR BIOpeIOISIY ejod EpHogjoId oguiormê op
FIJBISOHOISIH BIUQISJUOD EP OPÍLDSUEO EP os Ben ouTeqez 2187 "09
Sreur O OPUBUFHOP 0DBIf sreur O 2 “1ozip Ienb “oRIUg “jon as
-SSU EJ9 NnoupIop emo enno eum onbiod “emamoqns sp [am
O” nooy ejo feio eimno eum ouros Tepio estoo eum otros
“I9ZIp 19nb “ermnogns eum op [aan oe noog anb q cages “SOS
ONNUI emo eum “EMofiseig Bino e juampeo 2 “erpiur em
-JN3 E UIOD IEUIRSEme os nimgasuo» anb “eiSou emano vy
“nounnyõ e onb esgou eimno eum o 21107 om
ergou EM eum “Juoureo “O om emo gar
BN SOUISI SQU “OEIUY “OIPUI OB 3 OISou op Fiseig op QD "snodoma
3 SOUBOLIE SNS SUSLIOY 3p ODHED O eAPP os stenb seu — opu no
OnUap oxBou oe Opep I0y onb ojuamefie op 103 JUS
— SEHINERUI sEUOZ E Uiatojol as soutodsip onb op EBISOLIO]SIY
“91 9U OpUSISND eArIso no and Q :OJUSUIDSEN Zugea
BLIRDDId EU 9 SOJIatUNDOP SOU sejsodxa sagÍPuILIOU9p se SEpOI,
“OJUPq ENS] 9Pp s040d ap sagrSa] “elas NO “Ojo “ojoy so 'oSuny
so “oSuoY SO “oga] SO WeABogen sosongniod so onb ajuawuep
“BJ1998 SOLWIPLHP Sogõeu se ieugisop anb souisssçAn oS “[ISBIg O
” BIRd sopIIA SOARIDSS SOP EDLIQISHY 2 poeISOSS mIaSIO E poOdo
ejonbep srenysuioo sojsodonus sor IMqLNP oxia Um qF)
“SED
“Ho SEqUEM OpOUI Te3 àp eueogusni oSedsa op opepmênxo e assoJ
OB 28 2 “SEDLIQISN] SJHSnIpedpund ops SEOBL SeWuIl “sooIs
É -D1 SESS9p EJEJ seDIpodoppuos secãrordxo Woo seu “oa; eum
ooOQUIOTMO OP EIFEISOLIOJSTH & pino onb o FULINE 10H97 O “Nº “Pjongusg UI E ILoJa ou
É. OB — PISIABIDSS ODIQUIOD IP SOWUDD I9ZIP IOWJDUI 28SOJ Z3ATeI
*: — anbiequia op ojiod cuia] O [zm]BISUS8 OpOUI OJ1309 aC] “SOARID
if Sa SO WEABUISLIO 2S 9PUO Sp SogÍeu se Ip Or — feuonipes
& PReIgOLIOISH] E PpO? semi “ajo OS OgU à — BUM] Z07 auooDo anb
£ Wo PW[eJ E INMOSTp JOd ou-vonuo IOJI9] O “IMjouoo ered
3 De TON CC ec" 1 1 2 to ot qt A imaiiinaiees
OpóIngsop Dp svIp sou epppingissos JOnJD2/a7u] 9 VIOQUIOJINÊ) OQUQUHISDA ZLJDAM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

forte, no caso, quer dizer, a cultura, quem domina mesmo den- que não fazem nada, que podem até morrer
e desaparecer, mas
tro do Brasil é a cultura negra e a cultura índia, e não a cultura vinte mil homens'não é uma coisa que-a gente
possa deixar...
branca; mas se insiste em impor como cultura, inclusive o pró- [...].
prio termo cultura, como sendo uma coisa nobre, sabe? E euro- Beatriz Nascimento: Eu acho de extrema
uso importância
peia, basicamente. . esse ciclo de palestras que Eduardo procurou fazer
aqui em São
Público: Mas vem cá, não tem uma descaracterização: Paulo, porque realmente a gente precisa fazer uma
série de re-
Por exemplo, o Black Rio, o Black São Paulo? formulações, de críticas, a respeito de todos os estudos que
fo-
Público: O que é o quilombo para você? o . ram feitos, de alguns estudos que foram feitos a respe
ito do ne-
Beatriz Nascimento: O quilombo é uma condição social, gro. No meu caso especial, eu me interesso basi
camente por his-
fundamentalmente uma condição social, quer dizer, ele não se tória, porque eu sou formada em história e que
foi através da

ção
esgota no militarismo, na guerra que foi feita em relação aquela história que eu vim tomar conhecimento do meu

tt
papel como
que ele reagiu, mas a estrutura do quilombo, o que realmente negro dentro de uma sociedade como a brasi
leira, que sempre

ng
singulariza o quilombo, é que ele é um agrupamento de negros, procurou alijar a gente. Um dos problemas fund
amentais que eu
que o negro empreende, que aceita o índio dentro dessa estru- senti durante minha época de escola primária, de escol
a secun-
tura e que não foi aceito nunca dentro da sociedade brasileira, dária e depois da Universidade, foi a total
divisão cultural, divi-
como ainda não é aceito até agora, essa... sabe? A aceitação da são de interesses que eu era obrigada a ter, eu vivia,
e acho que
cultura negra, da cultura índia, como uma coisa brasileira, real- todos nós pretos, vivíamos

e ra
dentro de uma sociedade dual, onde
as situações mais importantes

ja qi q
mente, como uma coisa dominante, não é aceita. não eram, não eram
Público: E o quilombo perdura para você?
não, não
são, não correspondem à nossa realidade, quer
dizer, nós nunca

E SERES
Beatriz Nascimento: Para mim perdura, eu acho que fazemos parte da História do Brasil, das coisa

SARA
s que acontecem
no Brasil, das coisas mais importantes. Nós
éramos sempre os
Público: Como é que ocorre essa aglutinação? contribuidores de uma cultura, contribuíamo
s sempre com...
Beatriz Nascimento: É, no momento que o negro se para a cozinha, para a dança, para O futebol,
para etc. e tal. En-
agrega, e justamente quando ele veio para 0 Brasil e se desa- tão, mas isso não me impoessibilitou de ver, atrav
és das entreli-
gregou, quer dizer, todo o motor do colonialismo fez a desagre- nhas da História do Brasil, toda uma participaç
ão maciça, inde-
gação dele como homem, como cultura, como sociedade, no pendente muitas vezes, e forte do preto dentr
o do Brasil. Du-
momento em que ele se aglutina ele sempre está repetindo, rante mesmo os quatro séculos da escravidão
, nós vamos ver a
vamos dizer assim, a essência disso, à essência do que teria sido atuação do negro brasileiro como homem
participante de uma
o quilombo, sabe? Porque os quilombos são vários, milhares no sociedade, embora negando às vezes, ele mesm
o, a sua origem
Brasil e em todas as partes do mundo, com características pró- racial. E quando cheguei à Universidade, a coisa
que mais me
prias. Então, a ordem oficial, a repressão, é que chamou isso de chocava era o eterno estudo, quando se referia
ao negro, sobre
quilombo, que é um nome negro e que significa união. Então, 9 escravo, como se durante todo o tempo da Histó
ria do Brasil
no momento em que o negro se unifica, se agrega, ele está sem- nós só tivéssemos existido dentro da nação como
mão de obra
pre formando um quilombo, está eternamente formando um escrava, como mão de obra para a fazenda,
para a mineração.
quilombo, o nome em africano é união. Agora, o português diz Em função da minha própria realidade, como uma
negra do sé-
que é cinco negros fugidos juntos ou vinte mil, quer dizer, você culo XX, e convivendo com negros do século XX,
a minha histó-
não pode entender, né? Cinco homens juntos ou vinte mil ho- ria ficava meio cortada, com um corte que eu
não sabia onde
mens juntos. Cinco homens juntos podem ser cinco fugitivos poderia estar. Isso eu senti muito cedo, ainda
na escola primá-
126 127
6cL ScL
cum tos oquiomb op ojy o oymur euonsonD eja “oquoymb “ ogu nb oIgau op EpIA dp odn um opo) EIaford os “g88T “opes
E,
O SIJOS BLISpONI SieUI eIeISOLOIsH| E ajuourpedpupd “eyeis -sed omass Op [2UI OU INSIXS 9P EUILIIS] SJ09UPDLIOISTY SJo “04
-OHOISH Y OISSU OP Jepei ERUgISISSI ap Wgquiea sem Temmo -pIDS9 OUIOD 01891 O “ogpi4EIDSo oquenbus snbiod Tejuomepuny
EWUQISISAL op apepEssooor eIUN 9s OEU ela ojusupjuomepuny - erpuggrodur eum uia] 'oiSou o eIed “ajuos e ered oquiojmb o
onb a seridoid sogõejas eyun anb “eudosd erotoss pum eum “Org “aja RIR OpeUIUIS]9p equi Jossaido o anb sejonbe ureio
onb jepos ogõezmesso eum “oquomb op fenos opdeziueõio anb sopeprunuloo op omusp 12414 nmBasuos oIgou o eroToo
9P eAnpadstad Essa E apuaid as oqurojmb op opnysa nour “axar - opoLzad O opol ap onuop “iseig op BLOISIH é EpoI op oHUop
“BDISBq “OBJUM “alow gye empIad 9 oIBoU Op BPIA 9p euOS eum onb 1924 9 Oquiojmb o Jepngse IAjosa1 no anb “oorSojosptr osnoq
“OUOD XX Ojos ou nojafosd as ejo “feios opdeziurBIo EIN Esso - RIP 9ssop ogÍEIEISUCO EP “ONB9JOSPI OÍNOqLAE assop spaeny
opros “epure ajueltodiu sjeiu 4 "OBÍBZIA BIDSS PP OpoLtad - "So0dporjdum sopreis ap oDIB9/09Pp! oMmoquare um op OnHo9p Op
0 opor
sjueinp ejojered 103 onb a jenos opdezrueBTo esso WreISpus Id -eINgnUsa SjUoureorseg pisa enb semi “SEDIUIQUOIS sogórpuoo ap
“US onb soiBau so 9s 107 anb '“soiSau ap [epos ogdezruesão eum ee 9p “ogônnsur op eWBy op “fIso oJusuI]eisS OIIojIseIq oigsu
? oquojnb o “juampeusurepuny “og Is ered Tebos opõez o onb exTeg assepo op ogdemis é sreur spuodsazios ogu pÍ onb a
-TURSIO eU Ys eIed PPIA EUM Jovojoquiso os Is 10d uremooId I9ZeI] eINDOId eIeISOHIOISH E onb f[ej0] OpÍPULIOJap EUM q OSS1
onb susutoy op epugpuodapm e “Jozrp sonb “EDU9puodapur seja “JsEig ou mbe epevojoo 103 onb ogóemIs ep ajueIp JSeal
9P BAREJUS E Waquie] sem “exossardo apepopos eum op onuap op zedeout “OpDuoA sjuatuersos O “QABIJSO OUIS]S O 2JH2S OS
WSINSIXa SOISOU SO Sp OJEJ oJad “sre1odioD soBpsea sop 032] ojod FISvIg OP BHIQISIH Ep oJueip “ojazd o :apimBos 0 Isz/p otonb ng
eSny e ajusuisapdurs “soprêny soiSou op ompai um sjuomsajd "SOPUSA OUIOD SOPIpISJUS TOS SIBLI Z94 EPRI ZzeJ SOU Bjo “even
“WS CTIZNPeN OpUBIUS) US) EIeISOL IOISN E OuOD “9 ORU OquIor sou omoo ojol op “efa anb opusA TIsBIg OP BLIQISIH EP OB)EMIIS
“mb o oquojmb o uros sosjuose onb o » US bBol ossi anb esso BIRM DJUSUIPDISPQ IOSSAXAJUY OUI No ÍfisPIg OP ONIiap OBS

eras teto ade Fo anais fes temama atirtettaio crude


2P BZal1o0 osenh oqus nº q copórgoqy e opueqeoe opepmunmos -nosuI 19] “opmaso op 1edpnred ongasuos anb “ejus) anb ojaid
eum 2497 enb “epegodsuem toy onb 3287 enno eum UE9qUuIE) opoi 2p eIWPIP O 2 anb “eureip essop InTed e “ori “CRSELIOdII

ego riamrea
EqUD OBU ajs “OBSpounsuy a opIfegar op oongod oxrsimaom essou E OH] ERUm Úrenh opeig oruQIuy o joqges] EsodULId E elo
um Ouroo “elos no “eleiSorIoIsmy ejod oprpusjms opuas FIsa OUI “oqjuejus ou & “errond sednogoy sIpuy enb osst exo onb “eLreISe

EP AN IA
-09 *oquroymb o anb pras :ayumõoas e 10] ogIsonh Equm e “oBjUA eunOJo1 ep opepriqissod e “Iezip Ionb “orou o exed OSTUIQ
SEjSARJ-XO NO SEJ9ABJ ap SBoIP OBS OJIOUPF Sp ON OU afomy que -032 Opogiad oAou um sxnoxm snb ogómogy eum “ursqurea seu

dat sie AS
onb seoypISOoS stop Io SOpezipeDo| uIgARIso onb soquionmnb op “potpumf sustos ejo Oprras ogu “opômgoqy ep Jnzed e aArsnjou
SSJBUJIL 9 Soreujrus “PSpsnf ep ONSTUIA O OD prod Ep enpUgp “opuem| 'opueypegen solSou sonno > ojuDonNea Op 9sor se)

er dentada TA La tp
-UOdsarioo eU o PINO Pp Sejioo sou “194 E IodotOo no “sonB -nogoy SIPUV BIA qquo8 E “UpquIe] EIVPALDS EP OBÍHOJY EN
“HPoW OHQUOH ssof utoo Tfeuopen oambry ou esmbsad JozeJ "OSST J94 SJduIas “EPIA PYUTUI PP SEUIBIp sopueis sop um TOJ OSSI
E [ooou1oo opuenb “apuer oymur oo wn eis osst anb op oxs “CUIDA 9810f SOBUrmIOC] BIA Nº “ogãensn]! EU oxIEquIo squedol
“npuoo ? tensao na q eder op opporedesap “sjusdol op “9? ap “2 Iqumg sp ajusumedpund o sorgou sop opsenze 2 epo) DA
apod ja “somoos onenD ap onusp sJ10y og PLOISIY eum ond 9 ajuaS E 'saxempeg op oquopmê o opus] :ozumos o 10) “sajduIs
OUIOS PIUNBIAd as s1098 e sOIBAU 9Pp oopny mn ouros oquioqinh uq uiSenSi eum opuejey nosso no “sojduis [07 aJuouivo
O OpUSpuSIão » OpuIISIxo OBU OUIO> OquioImb O ex Tap ooLroIsIy -1seq onbowo naui O Tiseig op ELIQISIH ep onusp sopeinduros
autos O sjuodai op 2 XIX 2 HIAX TIAX TAX SOTnD9s SOL “UIDA sOUIeI9 OBU SOU lsEIg OP PLIQISIH Ep souuedypnird sou ap Jes
oquiomb o :ayumêas e 107 opisonDb equna e org *OBSIIOgY -ade onb ap “OBSILAIp ESS9 BUS SIBUI No Spuo “sareuea OP oquio]
E ensixooId enb a ensixo Pl onb sem “epuazey ep ejonbe elo -Mf) O aIgos '“sOMNEPpIp “solejOIso SOIX3I SOp PIID US 10J 9 EL
SS a À e
OpSIrsap DP SDIP SOU APopIHgISsos Jongpajazu| 2 pjoquionn “quSuosPN ZLIJ09g
- :

Beatriz Nascimento, Quilombala e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

tativa do negro de sair da escravidão de uma forma nega- uma organização social, de empreender uma vida
própria deles,
o Edison Carneiro mesmo fala que houve três momentos na
tiva. com cultura própria, com relações próprias, e mostrar
que hoje
l d o negro pela sua libertação,
a que foi a luta pela tomada
. do | em dia talvez eles ainda tenham esse tipo de organ
ização pró-
ar que é o caso dos malês, a luta de Manoel Balaio e a luta pra, de relações próprias, e um dos grandes traba
o » lhos que ele
E ui lombo, como sendo negativa. EuÀ discordo, fundamental. tem que fazer seja realmente de se conscientizar dessa
sua posi-
do de disso na medida em que o quilombo for compreendido ção diante do mundo e tentar botar para fora essa organ
me 2 ização
nte como uma luta, mas como um estabelecimento de ho- que ainda persiste ao nível das relações entre si e dos
grupos
som ue querem manter a sua autonomia e a Importância do negros. Então, o quilombo, eu quero ressaltar aqui
mais uma
pn bo hoje para consciência do negro está, justamente, nes- vez, é hoje em dia muito mais um instrumento ideológico
para a
qi de autonomia, autonomia cultural, autonomia de vida luta do negro do que um instrumento, como foi no passa

rar
do, de
sa mente a autonomia da escravidão dos séculos passados. rebelião. É um instrumento de autoafirmação,

1
um instrumento

piaE
e não à autonomia como homens que pretendem manter a sua de compreensão de que você, de que o homem negro, é um ho-
E ra cultural e a sua estrutura racial. Se o quilombo, como mem capaz como qualquer homem, que ele formou quilo
mbos
es riografia trata, foi um movimento político que não logrou não somente por causa dos castigos corporais. Ele fugiu, ele
ma-

qria cvtrqtas
a hist olítico totalmente, ele não pode ser entendido só dessa tou, ele matou senhores, ele se suicidou, as mulheres aborta-
a a porque o logro da tomada do poder do quilombo, no vam, houve várias formas de luta, mas a organização
quilombo,
a mtênder, porque o quilombo não se preocupava especifi- que tem uma raiz africana no sentido que significa,

do patio tara
no sentido
e ate com a tomada do poder, mas sim com a organização que significa união, união daqueles que são iguais, então
, o qui-
au a manutenção da sua estrutura original. Outra coisa que lombo “ainda existe hojé e é ele quem vai nos dar
toda a
a atoriografia trata muito mal do quilombo é quando associa possibilidade de repensarmos o nosso papel dentro
da História
a organização social à... agora eu me perdi um pouco, deixa do Brasil, como homens capazes de ser livres e que
realmente
estê mar um pouco de água — ele associa essa organização so- lutaram pela sua liberdade de todos os meios possí
veis através
pura e simplesmente à guerra, à insurreição e eu acho que das rebeliões, através da alforria e através da luta políti
ca, no
:4 falei isso, isso deixa para nossa concepção, para nossa cons- final do século passado, pela Abolição. O quilombo;
hoje, no Rio
Da ia atual, uma posição de nós negros como se fossemos os de Janeiro, a gente faz um trabalho com a Escola
de Samba
OS vencidos dentro da sociedade brasileira. Realmente, nós Quilombo, um trabalho justamente tentando conscientizar,
formos vencidos por toda uma estrutura de dominação gue E mentalizar os grupos negros do Rio de que qualq
uer agrupa-
erdura até hoje, mas trazendo à luz atualmente o quilom o mento que a gente faça, qualquer relação que
a gente tenha
P mo organização autônoma, onde ela se mantinha indepen- entre si, cada vez a gente está repetindo a forma de
resistência
co te da guerra, independente da luta, quer dizer, a gente só cultural e racial e a possibilidade de criarmos, realm
ente, uma
de Bece o quilombo através da documentação oficial, justamen- sociedade paralela, mas atuante também dentro dessa
socie-
e a documentação da repressão, quer dizer, só O registro da dade global que tanto no oprimiu. Então, nesse mome
nto, todo
nistória branca é que nos diz o que é o quilombo; então. tra- trabalho que toda a... vamos dizer assim, a utilização
do termo
zendo a perspectiva do quilombo vencido, nós ficamos sendo os quilombo passa a ter uma conotação basicamente ideol
ógica,
idos vencidos ou os escravos vencidos e isso em termos de basicamente doutrinária, no sentido de agregação,
no sentido
coicologia social para o grupo do negro atual é muito pernício- de comunidade, sentido de luta como se reconhecendo homens,
so. Então, fundamentalmente o que eu quero procurar no men como se reconhecendo pessoas que realmente devem
lutar por
trabalho é trazer à luz essa capacidade do negro de empreender melhores condições de vida, porque merecem essas
melhores
130 131
EEL CET
“BJ TIOS SEISITP ONISOUI Sag5p[a1 “PSUEIEIZIA UIOS ODIZUIOD “Sao5 odriB op seomgpodss seonsiisgoeieo tro onh soquopmb aigos
-eJURIjd “oJ107 oymu jemi FOHUQUOS PHRUNHSS EIUN too “sop SOQIEJUSUINDOP SELIA SQUID] squ “ojdmwoxo 10d “onbiod “opIs 193
“UBIS OJnul soquonb ops anb “oyjoid op oquio;mnb o ouroo np apod oqtuojmb o “OuIsom ELIOB9JED 9p UIISSE SOULIS] Lo “Terpos
“UEND 9P “saretuea op O ouro “unsse soquiopmb sotia) sou om eaynnsa op odo anb “ezrp Jonb Tenos opjezmegio ap ody anhb
“UM "OBAQISHD OES Uia apas Equa onb “orrouer op org op 2pepto “ToDoToqeIso “SopeppnoyIp sepueis sep eum q Ye ossi “oppaqtuos
8 BIS 9PUO ap BLISJuod E red opueuis)u as speur zoA ppeo Tosq sTPUI O 9 9ND soleuIieg uia Jestad opod ogu aquaS Y 'SIBIOL SEU
27 OU JeSop qje opumõos reA o “ezolo] EJUPS eIed Aqumieo “NA Wo oquopnhb omno no meia ou “Iazrp sowrea “oquiojmb om
exed ns euoz e esed ordwss enojofen eum > “opuriSm ald “no wmu Jesuad opod sjus8 E anb eIroueaI euisour ep “ojdimaxa
-“UI9S IEA aJo stodap > EuLoy as onhb oxsumid o 9 nb oquieo ep 10d 'sajeulieg Io I1esuod opod ogu ajuog e “opnuos ossou “0p]
oquionb o sora] sou Onouer ap org ou “ojduraxo 10d “TISBIg OP “IH “OUISIABIDSS Op Ossa20I1d Op opeiedas 10] onb o oprm “azip
ELNOISIH BP Onuap enupuos epra esso uia) aja anbiod ---o “og 1onb “oIZouU op ogÍezrueõio 107 enD o opny “01394 op ojusueuy
“SU OP BH9ISH] ep exas esmbsod eum “opnjse ouros “oxSeu op -njSe 10] oub o opm ouros oquiomb 1e)0j02 “Iazrp 1onb “smsuou
EHQISTT OUIOD oquiojmb op epugrodur e ossy 10g “cpuenungucs EU SJU1A NO SUSUIoY CDU oquiojmb ouros IeDdoToo Efop “axtaur
FE4 OSSI à Ospnu onno sgins seu “mbe copnu um usunidalr -“IOLISJUB OSSIP 12 ONIOD *032] O SJUSUIeIsnf 107 sIU9ÚIBIIseq NOS
Sojo “Tozip Janb “spepmunuoo op ossedoId assa BU TIIAX ojnogs -ad erpesSoLIoIsIy E anb estoo eum anbiod “Isosjogrisa Jopod [ea
OP “SIBIOL) SEUTA 2p oquiopmb oN “ossso01d asso PU sIBIOL seu squa8 e esimbsod ep Iejoruasop o uloo 9s anb estoo eum » oquioj
“HA US “ojrof OuISSUI OC] "Sareujeg op eroquiojmb ogseziueSIo “mb op [epnos opõezmeglIo E “COEN !OJUSUHDSEN ZINBOM
Ep opepmúntoo 'squomponeid emeg e qe “tos usooIed onb “TEDOS OBÍEZIURBIO E SIqos :ONqUA
HIAX OMS O opo3 uIs soguiojnh “ojustrenuntos “euros as “081 “Tetey onb equa na anb ossi sJUSLIOs Brg “[ISeIg
“UM "OBSsardor Ep eprpaur eU [ns O eIPd no sjou o ered visi op BUQISIH EU empiod afoy epuze onb o [IseIg op ELIGISH ep
“I2ZIp 19Nb “jo O pIpd fra ojo “sora 9P oquionnO) op spep oponiad o opo! sJuemp oquioymb o 107 onb coLIgIsmy à jesmpno
“MUROS E Jos ursoa1ed enb soquiopmnb soLIpA 2)sap10N OU JRI9] Opnuos ou ajusul[Bal Epra 9p “BAIA opepiqeos eum “gue ap
-]OId E BóStuIOo “SO6T ua TAX Ojno?s OP [eUIy OU “sozeurteg op -BPIjBoI BNNO EUM “9)10] STEUI OJINUI Z9AJe] “SOLUIBYUN SQU “SOIA
oquomê op ejoresp ep siodap q SSIBUITEd 9Pp Oquiormf O 103 “| o sojde SUSUION SOLNLISS SOU ap apeppedeo E noim sou end)”
IBULIOJ 1osS E Oquiopinb opueis orsund Q [seig ou soquiopinh [1] “-19opusjus nmBosuoD ogu “IOpeuimop o “osuBIq ISO
9P SELNOT SEITOUILIÁ SE I94BT é PÍDUIOD 6SST Pp Hed e ojum$ o anb “sou eIrd [ostsussIduio> 07] “essou eudqoud op) “erdau OP]
98 B 9 oquropnb op eHoIsty e “LOg :OJuSmpseN zLNBog es103 eum 2 oquio|inb onb opuojua sius8 E “opnuos ossaN “elos
“oquojnh op ELIQISTY V :conqua -DJP2 BUISOUI PII SOPpRIOJOD I9S WIOpOd OBU “““EUISOLI E 193) utopod
“TseIg ou seD0dg seLIPA OBU SOPISN] SUSLIOT [IL OZ 2 SOPISNI SUSLHOm ODU OgIU3 “sol
UI meInsIxo onb soquiomb sassa sopoi ered os eImynnso eum -9U SUSUION [EU SMA DA) SSILUIfPG OP OquioTm O seul “sopIB
T9)SJaQPISS “““ap odg omsam O fIseIg Op SogiSar seLIpA 2 PLIOI
“ny solgsu couv “oquiojmb um 9 soprunar soiSsu odup anb zIp
"SH EU OgózInp eéuo; op oponiad umu IsDajogqriso 2 ousou ap ouLeuIRnINn Oujasuoo o 'solBau oduT “ossi Oynur pjeJ “ojnosip
“BPINOIIP opueis e “ogIua 'sojop osssaoJd oudoId ou ureisoared ayuroS E “OR OU P[ aJU98 e “PIp mo ofor “ogIuy "soprumal soxgou
-BSap sjtiotasa|duns anb soquiojmb » Iquinyes op o npueno sp O2UPD ap noDojoo ounremenn OyjSsuoo O ouioo zen UIoquir &
oquioymb o 9 omos oduia) o81ej 10d WEISADUPUI os onb somgno apepruntio? ap o oBgIUN op EUPOLHE OgsudalÁuIOS ENS E Zen aj
“OESsaIdos E ajrom[bos urerpuas “opssaIdar 9P OpHUaS O UIPIDA “opÍPIISUMDOP PU à PIPIBONOJSI EU OIHOULIOLIAJUB “OprIGjOS
-D OEU “UIsse ureio) eounu anb “ojdursxa 10d “soquo;mnb somgno 10] OLIO? “SJuouiOLIaJue “OpeuIewyo 10J ouIod “oquiojnb O 'spep
SOUIS] SON “Ojdumaxo 10d “Iquopuro op sora op “osorBIal -sos Essop aued wmozey anb mo eprpaur eu epia Op sogóipuos
E E
OpÍInHsop DP SDIp sou apopigissos 1ongoajs7u] 2 DIOQUIONNO) CIUQUJISDN ZIIJDOM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
E

zendeiros, não só com a vizinhança, mas com fazendeiros, e isso mos direitos jurídicos que as populaçõ
es ditas brancas do Brasil,
mostra justamente que o quilombo forma uma comunidade ou significa que ele é um brasileiro no
sentido da cultura dominan-
ma. civilização, vamos dizer assim, dentro da História do Bra- te. Mas é isso que eu estou dizendo,
isso não é, então, o sentido
sil, paralela à história que se desenrola dentro do processo da de quil ombo que eu dou é justamente isso, é just
escravidão. Por isso é que a minha preocupação é que ele não nós fazemos parte de um grupo cultural
amen
te de que
, de um grupo histórico
pode se terminar com a Abolição, não pode terminar simples- diferentemente da história dos brancos,
que realmente tem uma
mente pelo fato de que a Abolição libertou a mão de obra escra- história recente, vamos dizer no Brasil, a grande quantida
de de
va, porque ele sempre foi independente do processo da escravi- brancos que hoje existe no Brasil, como
você lembrou, a grande
dão, não o quilombo especificamente de Palmares, ou especifi- quantidade de população no século
passado era de negros e
camente como o de Guandú, mas o quilombo como movimento mestiços, então, logicamente se existe
uma população de bran-
geral de Jonga duração em todo o Brasil. | cos no Brasil e isso que realmente
foi a partir da imigração, no
Público: Você colocou no início que no Rio de Janeiro, final do sécu lo passado, então, nós temos uma
história basica-
especificamente, onde existiram quilombos hoje existem favelas, mente negra e uma cultura basicamente
negra. E é justamente
há alguma conotação entre o quilombo e a favela? Há uma pas- essa história que não é escrita, que não foi escri
ta,
e que é a his-
sagem direta desse quilombo para uma favela? , tória não conhecida, entende? Agor
a, que desta maneira, nós
Beatriz Nascimento: No nível geográfico há, por exem- pretos nos sentimos fora do Brasil,
nós nos sentimos como um
plo, eu tive que fazer uma pesquisa no morro do Catumbi e en- exilado dentro do Brasil, você está ente
ndendo? Não pelo nosso
contrei uma família que tinha cem anos, eles tinham primos querer, porque a gente se identifica
realmente com a cultura.

= mister
afins, que tinham cem pessoas, à grande maioria adulta já, em que está aqui dentro,
que fomos nós e os grupos oprimidos, me-
média a idade de trinta e cinco e cinquenta anos e que todos, nos os brancos, que já estavam aqui
há longo tempo, que desen-
avô, pai, bisavô, já moravam ali, percebe? Quer dizer, apesar de volveram, mas essa cultura basicamente negra e índia
ter havido grande repressão nesse quitombo, quer dizer, a gente não somos realmente computados, , e nós
considerados brasileiros no
recorda que até o final do século passado ainda existiam rema- sentido realmente cultural. Você sabe
perfeitamente que esse.
nescentes talvez desses quilombos no lugar. O sentido de cultura no Brasil é a nobreza
e quando hoje uma cer-
Público: Durante toda a história colonial brasileira, o ne- ta intelectualidade fala em termos
de cultura, eles especificam
gro [...] a gente sabe que até o século passado a população ne- cult
ura negra ou a cultura
lá de baixo, quer dizer, vão lá em-
gra, a população do Brasil era, basicamente, negra. Hoje acho baixo e iscam a tal cultura, quando a gent
que continua ainda sendo
e sabe realmente que
grande parte de negros e mestiços, isso não é real, a cultura negra foi a de maior peso
e que se
correto? Quando você coloca que o negro se organizava margi- amalgamou com a cultura indígena sem
nalmente no quilombo, você coloca hoje como proposta que o conflito, e o único con-
flito que existem nessas duas culturas
negro deve se organizar marginalmente, novamente, é justamente o conflito
dentro que existe com a cultura dominante,
dessa sociedade brasileira, acho que você está dizendo que o ne- entendeu? Que se vê 20
mesmo tempo num impasse de reco
rrer a essa mesma cultura
gro não faz parte do povo brasileiro. no . o para poder se reconhecer.
Beatriz Nascimento: Eu não disse isso, não, de jeito ne- - Público: A ideologia racial da classe domi
nhum. O que eu quis dizer foi o seguinte: porque há uma ten- sempre se refere ao branco pobre, ao
nant e quase
dência dentro da sociedade brasileira a esquecer que não exis- negro, ele se refere basií-
camente como negro. A gente sabe
tem grupos específicos dentro da sociedade. Então, nesse senti- que nesse segmento existe
diferença, correto? Existe o preconceito
do, pelo fato do negro hoje em dia dentro do Brasil ter os mes- do branco pobre sobre
o negr
o, correto?
134
135
ZEL 9ET
“Feltstmepeny PSSOTL E N9ASIOsS 98 OEU OpUN] OU “iazip 1onb Uta) aquos e onb
2 ND OssI 2 “opepopos em op ODUIP OJ998 198 à I9AJA “SPIIDIR [EHS92UB O “PISSUÚIE B OISJISBIQ OP Uigquie] OL9S Po jgoId um
UDios 9p sazedero sesjoo Iopuosidura op zede>
? 9904 onb “urou! ? ““ojuos v ajuas ep opessed o 9 onb pejoniepuny esioo pum
-o] Um 9 9904 onDb op epugnsuo, eum “DJUS
LIESI EISOJO9PpI soura] ví sou “soyard sou eieq Tunguou oxal op soquonb soa
eum “eougisuo en sjear oqmui PogmnBIs afoy ap oquropmb “OU ap ejsodosd ousa] ogU na “OEN !QJuamnseN ZzInvag
O HO 9p oquiopnh assa oo» stmsu TeaLI OIsT OpIpuajuo Jos EIS
apod og afoy oquromb assa SBJAL "OJUSUHOSE
N ZINCAg -pIedesap ogA soismb sassa 'soquiomb sosou ap eIsodoId ens
“EIESOJO9PI OpdpZIU e onb eme 9904 “ELOS OJMUI esTOD EN eIOSy :ooMqna
"Bro op odny Jonbjenh JPLI2 9s assopnd as onb
exed onessaoar “OJI9TISBIQ OIB9U OP BLIBIP opuriZ o assa 9 “ordeu Ep ONUop
2 o[oy oquioynb o onb RODO/OS SJHSLI[E9IL 9D0A
ereia JHNSIX3 Op “os ap sazedeo “ajueisaIur agsed opusze] OLHO? SOU ap
é 10] OLHO) JOJUS UIDSE N ZINCO OJUSDA]UOI OF 9SS9 “LOZIP ISN)) ;OqoIad 9D0A SEILIPUIV
ésoquiomb soe op5er Sep oyHop ojsmb Im 9 MIefj O omHo> UHsSe FISeIg OP ONIOp
“1 UI NOjey 9904 onb oatSojospr emajgoid o
7 “OTAN ossmb um ELOS TISBI OU OSOLIOJA asso; os “soreuilEd SP Og
“Opessed ossou HOJITO O. “ZIP 9Jº BIMje BIISD EUINU selU “SoIeaMeA Pp Cquio]
OE OSS99F WNuou “Osso9e LUIas SOUIBIT SOU “G99T ap inred e "NO OZ OBÍE[SI UIS PAnSJe OpÍIsOd eUINU “ZIP SOUIPA “UIISSE
O1S9U OP OPEP 103 onb osrpum( paded o wios noqeo
e BLOISTY Essa ESO70D àS SAISNPUI “rordxo “soreueg 9p oquiom) O aigos op
enb EJtoo ap zey onb a oquio;mb op ste vem
ogu opSejusumo “UB[eI “aunsos o zip aja “ogõalgo ens ropuodsar ropod pIed peru
“OP é onb us olyowmon ou “Toztp Jonb Yeuopeu
eisoume e psed -28 UISSE OIE Nº onb asex EUM uIa sonsupoy euin 'egeIsor
nossed anb oque noasnsse enb “arduros nogsn
sse snb “s41oJ 03 -o3sKy eudoid eu onbiod “gnbiod 1ozIp NnoA nº a oLas ojmui
“UI TOy onb eimynaso op odn um I19plsosdu is op sozedeo smoui obp98ou Um q “ojdiuSxo I0d TISLI] OU OPpDoymoDoI 107 go
“OW 9P opessed un ui] saja anDb op sozSau so
ered IEiqUuia] “Vu anb oIgou uramow op “eossad ep OjIamunpayuod2z O 2 sJuaureIsnf
“SOU UHUI BIRÁ IeIQuIo] eSUrIquIo] é :OSSI ojuau
reasn( 5 ais PUIBIpP opueiS O “EUIPIPp apueis O 9 OB “eureIp opueis um I9s
“EoIseq mbe 1ºzIp ey no onb q capusjuo ojue
ured niZe pio onb ap Iesade 'EUIBIP apuei3 O 2 OEU Poluuguo do ogIsonD E “PDgIL
OgSPZIUBSIO EIS onDb “oem eis onb oquiogmb
o 103 erros mmol -SIS opu sou exed enbrod “ossy Jod ajuauresní 9 seIg Op BLIÇI
os “UM és “TeZIUPBIO DS oIduIoS IuEIIO) SsOISDU
SO “soquopnb -SIH 1298 NosoJoquisa as onhb op “eueISOLIOIsH; ep EonED eum op
Soloze] sou “op no “soquiojmb srenr TazeI
op eIsodoId equyur PAnEJUa) eu “eyesgonoIsn eu orode sw ne opwenh ayurswreasnf
? OEN “BIRIISPIQ apepspos essap onuop ajren
ye ELISEEOT] ouros “OBJUIH "aJjOS “oIgod ooueIq O ouros 'sodniZ somo anb opõeu
OEU SEU “OWuIZaIgod O ouIod “OARIDS9 O OIOS
“Fearapno sopinquia -VULOSIPp ENNO eOIMquou uso pppoled o opu onb opdenrurostp
“LOS O OHIOD “Bongisa BS1OD PM OUIOD Oppaquos
2 “pOssad ou1oo op od Um SOLIaNOS soigou sou 'eIOSYy eIropseiq ogáemdod
OProqUOd à opU 0189 O onb ap ajuaS ejod
ePEges esjoD eum Pp sojusuingos so sopo) aBunge enb assepo op eutojqold win 2]
9 anbiod “eossad ouros topuajro os oP “Olou
op eruro nojne “SEXO “OBII OSSEjD 9P EUISjqoId UM q JOJUIMUNNSEN ZINBog
9P EANES) BUM eled asstp no ouioo sus uregs nf ayueg sodum a “2SSEjD 9P EIIa|qOId um “4 comanda
OMESTIOUI OU OquioTnb O “opaug “jrseig op OMUSP p ELIQIS TIT Esso "2SSE[2 OP PUISJgoId WIN SIsIXg "eoTIQUOD9 OpIsanD Ep
B OPIS EU anb op eIexo ogsIA eum “unsse I2ZIP
SOuIpA, “OESIA “ODTUIQUODS OP S99IsanD sesso sepejueas| 0ES Opuenb a enUçIos
BUN US OEU 2/0928 E OSSI UIOD OpIUS “sejOdsa se
PIRM IPA OBI “UOD 9P SelISjqoId SopueIS sop UN :OWESUIpSEN ZimBog
Oja1d “sejODs9 SEU NONUS OU Squ98 e onbzo d ouIsn aqeIpere opd “UIpquIL] SIM
stodop 3 [eIO ojuoureoiseg pio BID essou e
--emuto; E ouI -0d éJISBIg OP ONUop OpeJIXo sJuss as COUPIQ O :00MANA
“02 “PLIQISTO ESSO 19491289 OUHOD SOLISAN OFU SPU
OUIOS) “eIQasT] “BjsIxo Osst “EIS “BH :OJESLINOSEN ZEN ESg
e
OpÓInisap DP SDIP Sou apppyqissos
IDAp2jaguf 2 PjoquiONNÃ) ORUAUHISDA ZLDIM
Come]

Beatriz Nascimento, Quilombola e intelectual Possibilidade nos dias da destruição


A :z

Público: Uma forma de fortalecimento do negro. entender como é que essa história continua,
Beatriz Nascimento: Fortalecimento psíquico, porque um q como é que esses
homens se portarâm a partir desse corte
dos grandes problemas do negro é justamente isso, o incons- histórico que não fo-
ram esses homens que fizeram, mas sim todo um
ciente, quer dizer, o que você não pode trazer do inconsciente - é processo jurí-
dico do país, nem econômico, jurídico somente.
para tua mente, para fora, estabelecer uma comunicação entre 4 Público: Minha pergunta é basicamente espec
os seus iguais, trazer essa comunicação para fora da sociedade ..; ífica, inclu-
sive bastante regional. Eu queria ter uma
ideia mais
s ou meno
brasileira, para sociedade maior, para sociedade que domina, das estruturas sociais dos negros e índios
que se tniram em de-
entendeu? A falta de uma linguagem que a gente possa botar term inados quilombos, mais ou menos famosos; se realmente
para fora e ao mesmo tempo que procurar ter os ganhos sociais essa marca de cafuzos ainda se veem em algu
dentro dessa sociedade, aí vem o problema econômico, ao mes- mas regiões do
Brasil.
mo tempo em busca dos bens sociais de uma maneira ou de ou- Beatriz Nascimento: Se ainda se vê?
tra, mas antes desses bens sociais, a gente lutar por esses bens Público: Eu queria ver mais ou menos a relaç
sociais, é preciso que haja uma luta dentro da gente mesmo ão dos ca-
fuzos, se eles tiveram muitos conflitos ou não.
para conciliação, para afirmação de todo esse processo nosso de , Beatriz Nascimento: Aparentemente, a relaç
se entender realmente como pessoas, como homens. E isso o ão entre ne-
gto e índio não foi conflitante, a não ser,
isso foi uma amiga mi-
quilombo pode ser um dado disso, na medida que ele foi uma nha que estuda, que é do Museu Nacional,
coisa muito forte, um agrupamento muito forte, uma história
que levantou esse
problema, a não ser dentro de uma relaç
ão entre o índio e o
muito forte que o pegro criou independente, sozinho, indepen- escravo, por uma questão da cultura índia
de não aceitar o ven-
dente do homem branco. . cido, de não aceitar o escravo, mas não a relaç
Público: Como é que desaparece o quilombo enquanto ão de conflito ra-
cial, de um grupo tentar dominar o outro
estrutura econômica e política? Você fala que o marco da escra- porque é diferente
Isso, inclusive, só existe mesmo dentro da
vidão simplesmente não pode ser isso. relação aqui no Oci-
dente, entre brancos e outros povos de cor
Beatriz Nascimento: Não pode. O estudo do quilombo, diferente. Inclusive
eu entendo que a dominação do homem atrav
quer dizer, basicamente o que a gente tem, eu não vou criar és de sua diferen-
ca física é uma coisa justamente que come
ça a partir do século
agora aqui, tudo o que a gente tem, em torno do quilombo em XV, um negócio empreendido realmente
pela civilização ibérica
termos de história e documentação se refere, basicamente, co- que faz essa distinção ao nível da dominaçã
mo eu disse no início, à dinâmica da repressão, somente. Então,
o realmente; domi-
na um homem porque ele é diferente, porq
a gente só tem escrito aquilo e alguns documentos, principal- ue não há basica-
mente conflito entre índios e negros, tanto
mente em relação a Palmares e a outros quilombos, eles dizem: não há que o qui-
lombo é sempre inaugurado por negros e você
“Ah! Eles tinham muitas roças, tinham muitos produtos, tinham encontra o índio
lá dentro, com inclusive posições de mando,
isso, tinham relações com vizinhos, tinham acoitamento de fa-
de chefe e esse ne-
gócio todo.
zendeiro, se relacionava com fazendeiros”, então, toda aquela Público: Agora tinha uma outra relação, uma
rede de tentar acabar com as relações entre os fazendeiros e os relação em
mos políticos da maior força, vamos dizer
quilombos, esse negócio todo, está entendendo? Então, o que , pelo menos num
ado momento, esses ciclos de revolta
eu quero dizer é o seguinte: quando você atacando de história e ia, i i
malês, hauçás, etc., e os quilombos.
e Ê útla, inclusive os
o documento deixa de existir, você vai ter que fazer uma refle- Beatriz Nascimento: Qual a relação?
xão e tentar procurar por outros... e é isso inclusive que eu fa- Público: É a relação de força que mais chacoalh
ço, por outros métodos, por exemplo, da antropologia, para ou as es-
trutu
ras.
.
138
139
IPI
:“UIBIZIP sOuroLroure sosorpryso sungre OFL
SOJBIUOS Sossap opóenurtozos rum onb ap oIqua, ow na | "SOIB9U 3P OFZÍEU CUM 3 DIEF O 'seoligury sep oyuop oismb
EPOI opus4ey piso "--p jey pi | un 9 OEU DIBH “SEDUSUMy sep onuap pnrefy o ouioo ojsmb um
-OssajoId E opuenh 9nb zrp aja
“ejunsiad ISOJITA J0ssaj01d O anb
OP EL Uta “op uap uaj ua ajusurejexo erros oysmb O elIstIg Op ouuop ojsmb op opdered
sou soureiso SOpo3 sou onb el “royou
TBULOJUE Pipd PsIOS EUM Ioz r -IIOO Esso ZeJ aja onb 10d seu “opam assa 19] opod aja “opieu
em BLonD os ny “OoTqna
| "BlISTgoId assau pIsa jeguao ep opópogrun e utoo opednooaIJd IrIsa ojuaumeas op ovsisod eu
Bulatgold o onb Ow ng
SELIPITENSE saseq ur [23 Ouro) BLESOJOD àS 'sSaNSLPOW BUIN Oto osorpryse um asqusupedond
*S-ISS9HU0D91 I9ND Og anD o
fer “TemjDa[ej0r 1onbyenb ovos ogÍeu PU esajop Pp soma) uro “steu
“OIE SOULS] EI SoJBUIFPA 9p OquomÔo oudosd o “19z1p Jonh
OEU9S “OpEssEd Op OLIgIeA Tas21 “BUM INSTXO opod OpU oIsmD O OUIOp ou na opjua “FoLiagur
UM OuIoo “oIsmb um mos ogro]
“Mb O IEINRAd] Op spapmp Jopusj ? po0A “orIua “ogard à 9904 “UMA op qusIarp ? 2904, [SAIU OU
us opueyen eiso SJuas p onb
OU O 9 ogu “emyno aigos SWIBTTEIO Piso nb “oOgSBuImIOp essa Jempiod o opgôpummop essop opdpord
p ramo eun Iodosgos
ºP S9SEQ EIS OgãpImynor op OPpU “Xo E EeIMmOId anb “ogSeurmop essa eogosn( anDb oDIBoroapr oIg
eles “serramengr soseg uro jer
“uno 9PEPloto19) S0 eum op oLpIITengr MUoupo “puede o opo3 seu faAp8sUI OTUIQUOD OANOUI UM SANCU “PITUI
9pepjengi eum ap soseq mo e--p ynoer um -QUODS OBÍPUILIOP EUM SONIS] SQU ToarSoUI BoTIQUODA OpÍETUE
zmyenjea: a PISoU euUSIsy en
9P “ODLIQasIy mumnimos um 9P -0Pp BUM SOUIS) SON 'OJS9U O SIJOS ODUPIG OP OpÍPUNHOp E Nou
IeJey "ojombur oonod um opunur
OPo1 exIop enb o 3 aopnyrsou “WUIogop anb eotBojospr ovdenyis ep > oquomb oe ogdejas ur
ep ODLIQIsIy INNEDIOS Op eur
“atqoId o anb oe ny *OBÍEDOTOD 052] nº onb opdeSm v “empiod onb 9 ósst > “sXAg EPIA ENS E 19)
euonbad eum 19zB] 9P eLIgIsos
na onb ope a ejes eu mbe op zedeo UruIoy omno wm “ajuoui[roI uIouIOy omno tn opuas
oduro umpe PU uleley anb BuIa
Un q 'semeped seumspe os “IO4 OO) OIB9U O IBIDE OP [ISBI] O OpuruImop eIso onhb oDueIq
BJ 10d “zInvog :00H]qnA
WSUIOW OP OgÍEIIoDP OBU Essa “opepigissodmm essa aqueureysnl
H «SEOLIPUIV SEP ONnUop ojsmb LIM P DIEF O ONIOD HIISSe FISBIZ
op Onuop ojsmb um EJos., :zip ojo opuenb eprpom eu “Zn &
ep ou songtipoy euIN ofsA anD na gopusgjua paso 9904 au SMA
SUI no Tas Op no sem “equey ojuenhb cjue) oBLIad 9 sopjuna:s soISou oouID PoojoD as 2 opmm
roder oymar OJUStIRIPASd] UM
oquiojmb o HUSTIESHOISTY “zey 9 -Sop muotureoneuraasis oquomb o amb ap orisonb esso rojtea
9904 anb eIsodoId e onb opss oId
E OqUM Dy “102 op os » or -a[ 3 opuenb ajuourpedouud '“semynnsa sep IJopeyjpoDeip sieu
“opunyoid srem OsoIBmaI EUIa
"Id UM UIoguiea ? OSSI “10D ap emalgoId um
Iq OunuI à “Opnuos assou “OgIIM “|Iseig op osedss o opc3 à odiraa O
os q cogu “opupis Opol “IazIp I9nD TISPIg OP ELIQISTH E EPpO) UIo INsIXo ap Bons)
-DEJPO ESSO LD) SJ9 à [IS2Ig OU Wieremus enb sosBou op sodnaB
SO SOpo3 op soIgou asueige ojo onbiod ajoJ sieul 2 oquioymb
9 BP EiUIQUOD OpdezmeSITO E o amb 2 'opóguLiojur eumêpe 049] no mrenb e a opniso na tronb
EIS OUIOD “ogIuS “ages suo y
—“SEPO3 SESTOD sessa < orarmrazowr sreu UIoS “oujegem na manh uroo “OAIALIOD na UIanD too soISau so pI
r z94 Epeo OPUFoI soureIso
SPNo, “I9ZIP QIÁDIA OLISMID Slow -ed “soiZou so eIed Iessed ojua) no onb opnuss ou “eIoSy “opol
IP ap “CJuauponburigua op É OpoSou assa “Sopod ap riuepnur
BISO[O9pI Ep “oIS9U UaLIOW Op op3 ap oonyod orusow opnuss ou
eBou ep ostBojoopr ossavord
O OPO3 Jopusgua apod as eonyod em] ap joaru or joy ejº anby
sem “ogipomyidems gum opu od “oynuw naxow anb o8je
“Sa na ““osopruad H C9JPS TrseIg azey no á SJUSLU[BII 10] SP[BUI SOP aJuUPAd] O “srEIMyUNÍIIOS SOUIIS] US “Sp
OU O1S9UO 194 opIgioId q “03 - -Hogão nom 00 “EUTO csgjeuu so onb op emnnsa e tos sIeuI noo
-smb o opigroId 9 “oppuas assou
2 OBsUDaIdiaoo equi “ou -seu oquiopmb o as 1aqes 12NDb 9904 :OJUSUHDsEN ZE
Opómagsap pp svip sou 2POPIgIs
sos Jongppajazu| 2 pjoguionnt) 'ozuaujospN zLpsg
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruiç
de oo————e——— .
ão

Não se pode chamar de aculturação o que foi imposto pela À sa cultura dos povos que perder am. Nega-se a cultura negra até
“Não
hoje. Quando se fala em cultura negra
não se colóca, quer dizer,
"Beatrizi
força” Nascimento:
i : k,É e depoisis t tem uma coisa: eu não “4 quando se fala em negro aculturado
é Porque a gente dança
ocupo com a disseminação e a difusão da cultura. A cu 4 samba, joga futebol, toda a população
brasileira gosta disso.
me pr ente, quer dizer, é a forma dos homens... é a vida dos 4 Mas uma coisa a gente sabe, pessoalm
ente, de nós não se gosta,
cura ar dizer, isso é passado independente de qualquer | de dizer que nós somos negros, de dize
r que o Brasil é um país
nome a da força de comunicação que existe entre grupos, em- de negros não se gosta, não se aceita.
força além Então, quando se fala em aculturação, aculturação , Público: É um pouco como índio civiliza
do.
Tre a tradicional que eu tenho a impressão que você está Beatriz Nascimento: Exatamente.
no sentoo é. . O que a gente está entendendo agora é a sobre- Público: Beatriz, uma outra dúvida
são os choques de
colocand a uma cultura sobre outra, inclusive da apropriação cultura entre as diferentes tribos de
negros que vieram para o
pos contecendo agora dessa cultura de... | Brasil, de cultura e principalmente reli
giosas, Agora parece que
que este úblico: Então, Beatriz, como que o superior sobre o in- . era uma tática de português colocar negr
os de tribos diferentes
fai nais forte, aqui nós temos italianos, portugueses, que na mesma região porque eles brigavam
entre si e esqueciam do
or raram, que estão se aculturando com os brasileiros, is- problema maior que era a estrutur
a e o branço, e pela nossa
se a erior contra inferior? | visão, assim muito rude e sem nenhum
a experiência, essa coisa
so é sup triz Nascimento: Não, não é isso. Quando a gente fa- perdura até hoje.
elturação no sentido em que está nos estudos e na ideo- Beatriz Nascimento: Você diz conflito
negro contra o ne-
ja E 4 lasse dominante sempre, quando se diz assim: O Hne- gro? É possível, quer dizer SHIpos...
quer dizer, somos homens,
logia da o do à sociedade brasileira, o negro foi assimilado são pessoas diferentes, primeiro são indivíduos dife
rentes, de-
so ade brasileira”, isso inclusive é o carro adiante dos pois são grupos realmente diferentes,
agora o que aconteceu...
P ela UE o negro, eu.tinha colocado isso um pouco antes, O essa história do português misturar
tudo, isso está provado pela
bois, PE índio, que ele tinha me perguntado, nunca tiveram bibliografia, pela documentação,
não sei, mas isso não foi um
gm : se a gente tiver que falar que no Brasil em termos de fator tão forte dentro do processo de
nacionalização, de vida do
conto. nesse sentido, de que no Brasil não houve conflito negr o aqui dentro do Novo Mundo, porque justamente
aculraraç ue basicamente a grande maioria da população bra- do quilombo através
e através das religiões chamadas afro-brasileiras,
racial esta índia e mestiça. Então, dentro desse segmento principalmente do candomblé, esses conflitos embo
ra existam
sileira lação “realmente, esses grupos, eles empreenderam... ao nível mais orgânico há possibilidad
e de uma aglutinação des-
da pop dizer talvez o Eduardo não goste muito, eu tenho que ses grupos, sempre houve, o quilombo
"sempre existiu também
eu aa esses grupos realmente empreenderam a chamada em função da possibilidade de aglu
tinação de vários gtupos de
qaemo: oacia racial. Agora, ideologicamente o branco dominante
etnias diferentes e é um outro trab
alho histórico a ser feito, a
'ou-se dessa relação que realmente existiu pra dizer, in- atuação do candomblé, Por exemplo,
a atuação da mucamba, a
aproprio ue foi ele que empreendeu essa democracia, que foi atuação do próprio quilombo, a atua
ção das irmandades de cor,
clusive, à reendeu a aculturação, que foi ele que empreendeu você está entendendo? Porque elas
justamente, quer dizer, por-
ele que ÇÃO dos grupos que vivem na sociedade brasileira, que apesar de o português poder ter feito essas diferenças
é iguairess foi, quando não é. Realmente, no Brasil e no Novo bais, mas isso não foi fator de grande tri-
peso pra fazer com que os
quanto conteceu no Brasil e Antilhas, principalmente, aconte- negros não cons eguissem ao todo levar em frente
a sua attono-
Mu O DTEpOSIÇÃO de uma cultura na outra e a negação des- - mia, a sua luta, a sua tentativa de
ceu se estabelecer dentro da so-
142 | | 143
Sbi ad!
“UOIPoUIe Piso Osst “PIojISPIq apepopos
e ardimos nojuoIpoure -STIf BIISON (Nopuajuo “EPIA 9P [94 OB TeIonI [aAJU OP “ODTUIQU
2 oJsmb tn gro oquiojmb o ooo :19ZIp
Doa no sew mbe Beyo -029 [34H OP “PURUMY BLIYSIUI 9 EZoIgod essa Ios aÍOW BISA] Ep
omod twin 198 noa no ““OSsI “OBN “OPUdA
EIso spepirengoajo] oJBJ O JuomreIsnf “siendi op opepeios eUuMmU aJuoumeal OpuaA
“UE é 9nD » ouros mo NO[BJ 9D0A [UV :OJUSWIpSEN
zmieog “IA SOUIEISA SOU 9nb ap opnuss ou “TeInNjnD às ogu op “exBojur
““OPUDA Nojso no anb o “ejum$as o s2sjuooy
:oqua 9S E2UNO ap “eusguad e esed ansed op spepisssaou ozduios 249]
EOESsaIdas ap o1S9H O onb Opus “E[9ABJ PP ONUOP [ENE OIS9U Op OpÍEINIS E
SOU Uio auyed epungos em oprejunsiad
om eYUD 9204 “ap Optoa “OBIUH cOPpUSpuajuo piso TISBIg OU UIdq Cpm Elsa “ORIUS
OUIS] Ur “BIOSY sjuejrodam ojnur ore
no “oombisd [paru “OBPUEBDSO E NOquIE “OBS “OBPIABIDSS EP OssoD0I1d OU quatros
um 2 OssI “Urog edito um ouro no anb
ap “ajoJ nos no “oxuogq PJS9 9nD EsTOD EUM 3 Opessed ossou “nnsixo ogu anb esioo eum 3
nos nia onb op joam or OFSBULNIe op opepiigissod
esso SArsnpur opessed ossou onb sp sOUrra) Wo “9110J SIBUL UIQUIONW UM JAS ZBJ
Uts] onb “reztp Jonb “SOUPILISWIP ap
2 onb Teusoí ot “Ptou ou au] “cDHIQISIY Opessed um ap apepmundos eum 2 epure oquataeo
“OBSIASTOI EU pIso onb Teme “europour
esioo eum 9.mos o enh -“erg098 “sououi ojad “anb sospnu epure tmesixo ond op ole o
US EPIPoU eU ossasord um tas spod pe
ossovoid ass copuapuas “9ZIPp JONQÓ (nopusus “epessed eLIGIsIy ENS Ep spABme [eme ep
“US EiSS 9904 “eSED eIRd PoneIq edour
e Iefuezre ap apepissao “IA ENS Jopussitduros ajuamieyegiod opod 204 and a aJsixa alow
“9U 481 TRA OEU “PJaId POIUSUI JPJOUIPI IPA
OUmtoNT “ojusureseo epuIs onb oouoIswy opessed um wis) 9204 onb ITensOm q “BIA
9P 'SEOSS9d sesso anuo sajroy sreu so3eT
SA IST IS4IssOd q “Taz -pJ “oquogpnb op otôuoje E ourego no onb tis eprpour em OB
TP I9nb “gja uroo OPUSAI à EISoU apeprunmios
ep epefize a ejo “BITISBIq [eJ0) 9pepeslos ep onuop “exojseig opepopos eum
UOs OPUBAIAIOS 3 EonPIq opepruntmos
Pp epefiçe IATA vudutos 3p onuap odnis um somos sou anb “EpiA op EULOJ EUIN & ELIÇ]
enb no “otduraxo 10d “s4m9 na onb SELIo|qoId
sousuI 133 OPA Saja -SA] ELO SOL] SQU ond 9 -EstOD EUM SJUSLIPaISEg 9 “OEN
tros OJISUILAOI assaw ezrreSIo as pIOSP
UIdAOÍ jpossod assa “sojsmb Je1o opuazand nojsa uau “el
ond os ny omno o mos IBSUEDP Sp “omno
o mo> Igoded op -DABJ BIÁ JE UIoNnSuu Opuepupur nojsa ogu no “ejSAB] BId SOUIBA
“omno o Iages 9P “ommno o Tasswtos 9P
“9PepHUSp! ap “OrAArO) SOU QSSIP OEU NH “OSS1 3SSIP CEU NH “OJUSUISEN ZINB9g
9P SOULISI Wa OApISOd oymmr 9 opmias
umu “prreopoure eIZou <onb eIPÁ no opeponepios essou “og5riSajur
ESISTUI EP EIJOA Lo OpuRJUaGUIAOt as
OE no “OpópzruweBIo a ogIun “opSeunnjõe
BIsa onh peossod assa ond ESsOU EIEd OjuouIesonta Jemuosus souea sou nb > ejoAej eu
“oquromb o pred Top eIoge anh q ; 01199 “EJ9ABJ EU ENUQUOS OISAU OQ :0DNquAa
no onb opnuas ou “mm ed “PUTO :ojusumpsen
zmesg êXeTeJ EI go0A onb O
| “ap Tenpiaspar joala uIo OJEguUO> um aIsEro “FozIp JonD 'sozgou
“4 BUM IToDdofoqriso ap apeprgissod pH cORdEI
“Ros O UI) [eme apep soprundo so ama OEU o eIOssoIdO EoUeIq PÍeI Ep à pISoU PSei
“HENDSJS1UE Ejod Eploraxo ogssardol P o oquiomb
o emuos syed ep [AIU OP SJsIXo “sESBI SENP SEP [oAJU OB alsIxa OTISSIU ON|UOD
OP Temos opóezmueBrIo pod eprroxo ogssaIdol
e 9 nos OjUSumA O TUISSE 9pUBIS OB) 9 OBU “rozip 1onb “ouguos O py ogu “ogIua
“OU O BIRd equies op ejooso ep e8ny E
ajtompene o oquiogmb o “EODU9PI CINIDSS EUM sOtouI NO sieua UIÇI SF "soueDLUP sod
BIed pjezuas ep BDJ EP JozIp E tro) 9904
onb O “O0TqUaA !: -nI8 sop ose> O 9 onb “seonuopr opunma ap opdpjuosaldos op “op
EJEJo My N9 os Tos OgU “exoJIseiq opepapos Ep
oIMIop OIB9U “un op oEsIA UI] enb “sernyntso ta) onb sodniS amu Insixo
O ONs02 135 apod cogu afowy ourom cnaprojua
iseig op omtop “ BA9Pp Ejo “OgIIN Esso OSSIP UI]V :OJUSWDSEN ZINCOg
ojsmb um q afoy ejo4vy v onbrod “seig op
Ontop oIsinb um er é estOo 1anbyenb 2p emrpe
-98 af anb J10g coprunidor 103 onb oJtof op
oquopmb o opessed “ ogm ep oxtod um 10y ojmoumgos ondozd O :oom
Ou niutidor os onb 10d “13z1p Jonb “PLQISTY
BIS Ep to) 2204 enb qnd
copuspual
STO Opep um 9 “tazip Jonb “equos PP
OBÍPMIS Essa Suse) “US Pisa “Ppueis op) Oujipaduia 10J OEU OssI “Pila[ISe1q apepan
OPÍMgsop DP SDIP SOU 2pppirgissod jbrpajagu] 2 DIOGuIOjINt) “OJUBUIISDA! Z1LJ0IM
came o
free
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual
Possibilidade nos dias da destruiç
TT]. ão
tando também. Ver todo mundo junto é muito perigoso, o pro- ia brigar com a comunidade bran
cesso do português não foi só separar a gente em tribos, não foi ca, ela não rejeitava, como é
caso de Palmares, não réjeitava o
só separar a gente, quer dizer, nos aproximar nem mulheres brancas, ele foi
cada vez mais do muito mais, na sociedade colonial, um lugar
branco quando você tem uma consciência, quando você de aglutinação de

Ass ride df
conse- todas as raças brasileiras, ele realme
guiu ascender de classe, então, é uma dinâmica social nte empreendeu uma de-
muito mocracia racial. Agora, acontece
forte que faz com que você perca o contato com O seu que nós vivemos dentro de
grupo uma realidade que não existe essa
original. Então, um dos grandes dramas do intelectual, do igualdade. Nós não temos
negro ódio de branco, eu estou dizendo,
que ascende na mobilidade social, é justamente a perda da liga- eu com alguns negros que eu
já conheço, se um outro tem, eu acho que é um
ção com seu grupo. Eu tenho a impressão que dentro desse gru- vidual, de cada um, não gostar da problema indi-
po soulisso pode acontecer, mas em doses muito menores, quer cor do outro. Agora, de ten-
tar através da diferença da cor do
dizer, vai poder inclusive se estabelecer um grupo
outro dominar o outro, matar
onde existia 9 outro, expurgar o outro, é isso que eu
inclusive diferenças econômicas, diferenças ideológicas, existem não entendo? Eu acho
que nenhum de nós negros nunca
várias diferenças. Eu conheço muita gente de soul no Rio, que o entendemos negro nenhum.
Nós não entendemos que outro
pessoal sempre me pergunta no Rio, quando vou fazer entre- homem por ser diferente da
gente tem que ser dominado pela
vista, que o pessoal sempre me pergunta, se eles não são aliena- gente, que a gente tem que
ser superior a ele, quer dizer, esse
dos. Então, eu digo não, eles não são alienados, drama de que você me diz o
eles estão ven- que eu vou fazer, como é que eu
do o outro, na medida em que eles estão junto com os outros, vou ficar, não é um problema
nosso, quem estabelecem isso foi
não são alienados. Porque o grande drama da gente, a grande o homem branco. Eu estou fa-
lando tranquilamente diante de bran
tragédia, é justamente a perda da compreensão do nosso passa- cos, diante de negros, en-
tende? De nós mesmos, de nossa
do, a perda do contato com o outro, isso é fimdamental. história, de nossa cultura, das
nossas aspirações, que é uma coisa
Público: O branco não é o outro? essencial.
. Público: E o futuro?
Beatriz Nascimento: É, mas a gente nunca disse que não
Beatriz Nascimento: Futuro eu não
era. Posso, não sou vi-
dente. Eu estou falando do presente
Público: Beatriz, eu estou preocupado com o aqui agora, , nesse momento eu estou
falando do presente, quando você
eu quero saber como eu branco vou me entender com vocês, me diz: “Eu gosto de vocês”,
eu não sou paternalista, mas eu resp
porque eu gosto de vocês. | ondo: eu também gosto de
vocês. Mas acontece que eu preciso
Beatriz Nascimento: Eu também tenho que dizer que eu lutar para ser igual a vocês,
entendeu? Eu preciso lutar pra ter
também gosto muito dos brancos. É o seguinte: essa questão, as mesmas coisas que vocês
têm, eu quero ter as mesmas coisas que vocês têm. Nessa medi
essa sua intervenção é muito boa justamente para mostrar a in- da, eu tenho que lutar com o meu -
quietação que o homem branco tem, eu tomo você como protó- gmpo. O fundamental para
| Sente, quer dizer, um dos grandes
tipo, a inquietação que ele tem na medida que ele tem quando a. problemas que
eu sinto, eu
estava discutindo isso, de vir fazer
gente começa a falar da gente. uma conferência numa Uni-
. : versidade, é justamente isso, Porq
Público: Espera um pouco, quando você fala em protóti- ue a gente fala, no fundo, no
final fica blá, blá, blá, inclusive eu
Po. me perdi um pouco na con-
. ferência porque, de tepente, acho
Beatriz Nascimento: Não, protótipo quando você coloca que não tem sentido eu estar
|: falando da história, do histórico do
“eu tenho medo de perder a amizade de vocês”, a gente não es- quilombo. O que é impor-
| tante que eu acho, e eu tenho que
tá brigando com ninguém, o que a gente quer, e aí este trabalho falar para brasileiros, e o ne-
gro é brasileiro, quer dizer, o bran
em cima da conscientização do que é quilombo, o quilombo não co também, para poder pen-
| Sar O negro ele vai ter que entender
e conhecer mais a história
146
147
6 f -| sbt
n3 onb eymBrod
ENO Y esoquio
écSoquomb so eipd UI onb sojraçogu na --oytoy opuas pisa anbiod opnios qa ou
onb assip zLi
no sopig
“mb so coned 19Z2J ODUEIO TO PISny sordou ap os urera SOqUIo; -cog onb eAjessal eum Iozpj vIoSe exonD 9s ny :O0HquAa
q
UIOW O umuroo eia soquromb sou “LV E seod
"JUMBO E 9 192zey pI ms. |
“ZIP Teios onb sofembr “sogigonap SurBsd BENNO eum ;sopem -a1 our onbiod Wa] OEU “ONa[Iseiq OJSoU op opuefe; nojsa no “oz
“TOS UIS7 NO nontosua 9904 osnod O dos BIO OBStper open -Ijseiq ap ogIsanb eum q “9493 OPU BILIY EU TISBIg OU DAM] ds
*BJSNSSE apod anb zrp 9904 --um$pe STO ? TEISNSsE opy no onb oquroymb 4 onb opep um op SJuSuroypodso Opue[ej nojso
“PI OXotwnd wo sumos o ops anb 3204 ? Soquiopmb sou “re$ no q ouroLIFe Opessed o q ogu “OxajseIq opessed o 2 sooueiq
ºnb sejungiad Seumã]e vid) no -sorg 4 E T9ZeJ Op eLreysOS na, a mbe sojaId SO SOpo) Sp 9 “Y19991 Opessed nos o “ajusoar opes
E 1 "SOIS9T sojad ojsIA 198 249P OU: -sed nas O “oJ9091 Opessed Not O) :OJUSpseN Zzineog
“Mur “ajregrodir oymur à nb ope na - ““noJeJ 9904 onDb
-anb SODURBIG SO amb eram ? EDO3 O ro SU hos OT 2ep uroI o opm 'cueorye opessed op epeu nojey OBU 9904 “BUTISLUI “EIS
PO) OpurSIemTe pasa onb BUIoIgoId;, -[SeIq BIMIBISNE 2 OPUETeJ EIS2 9004 onb O opnI :OHgnd
“"OquIo]
. 919 10d am] o oypars nas o 3sn 3 10m : -mb emeped e onb onbrod “ureio soja anb o “go BIed soteuipeg od
<OPUSpojua pisa 9004 “orZou mm op ES To SEJ as ond SEN!
nI$ O Iemãoy OIDA onb 5 ouioo “oquiogmb op emrajgoId O IIUmop
BUHOJ às 9204 onbiod SJueASjanH 9 contod OBU 9 JOMOp uia eIRd SjuSmPoLIOISN] OLIOD BoLHY opnIsa “eoLyy uia eIsenadsa
“SUIS ejo onb mew onbiod ov5 OU) HIS “er 'SJRA| nos opu no :ojumêas o 1opuajua onb ts) ajus8 y euPoLIPe nos
“EIIOS 2 OpurSat opisa soiS| ogu no oNnbIog eISJISBIq 2 990A OJUSUTNSEN ZLNEag

mu
á
o
[44]
õ
U
q
Lo
q
E
à,
U
220A é BUBILITE BLIGISIY E Oquiojmb op eLIgIsny EU q “sejoAB] seu

OZ
ia

q
3
An
ai

e
ria
“o
sq

o)
uv

T
E
E
vu

5
q
E
q
ºPEPntopr ens E mao
Nos onb à mbe srem Honus soxgou so ondb | Trseag ou mbe Jenuoora souza anh eye 9D0A :ON]qua
"OLUIEDUOO OT3d 'GJUSMDSEN ZL0Pog
SOISaU sOnnNO Tepnfe > o189u omos 1p E BILITY EU PJ nO [ISEIg
UFP às Tapod eIed omeqg | ou mbe epessed eroIsmy ep Opueje] PISO 9904 :00HnRA
nb “omop Jos 9Pts)o1d ogu anb “o E "PIBJ ELIQISTA E “ELIOISIY eJad EI JmDAop O 'stodap
“TENDA Joquas o onbiod rejuos a Tento à EM TS EXDAHO op op | oa sajur o Joges onb ur) opunu opoj, seje my nº onb o “foy
| EPE ou pf Coujegen | ursse nos nº anb onbiod “ora anD 9 onb o Iaqes op “opessed
nbiod “mbe erenros essa smSasto O J2224U02 9p TuSmroW Oopol ouioD “apepIssaosu PLIN Ida aja
“PD tm tios “opeprsraara, eum mos colado Ut IP Eros
Sos “03
no | onb uia eprpom ex coqes “ezojeno eum ojop onuap 191 essod
“ESTO SO Iep à “Toy anb o plos “PIB e “O No V É! EfoP sojuatrea oigou o onb a ossI uIepuSJuo seossad se anb WIOD Jozej & OSSI
“tun eum 10d nossed onb “ZInvog ouros * OND OB 11 opepisras Iopuajus 9 oIamb nº “sesjoo se 121 2 oJnb no onb o TupnSuru
"SU SICUI IeurIos pred 2 5nb spepistoam Wessod onb pred solg - TIO) Ieqeuoe opustanb nojss oEu “TignBuu too opuegLig nojso
ens e eumnssp PPepPIsISATUN essa anb a ºP Spepiigestodsor - ogu no anbiod “spossad se ered Ioztp o nbe Jeso op ojuS om
J9ZBJ] op OJey O q eortqnd 2 onb mbe p PEPISIMAIIN Ep omguop | -IUJUI O OUUS] OgU Na “opnuas ossou “OBIUM coqorad “oprasa ap
“SUI Essa P OJIaap soma sou “essou ops “o OPISIgOs “orimn —. cjalgo O gpnaso onb eIspuSp ap opodsa eum “Iazrp Jonb “ozSou
? OEU OSs1 “opu 08rp nó “jop sso5mn. WOAStE > “jp opômynsur |. onudoid op eigom esorpnisa ap “eigau op joded-ou opurDojos
="HONSU SE zip opuenb ONpane au ojuoumpol nojsa na “ossy opuetey nojsa na opuenb “oigau op
Lo OO im 2 TD —— 2 mi—e ata aa ii
OpÍmisap DP spip sou a
tp PopIIqISsOd pongoajsgu] 9 DJOQuONND 'OJua]oSPN ZLIJDIg
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

queria fazer: os senhores de escravos eram todos eles portugue- - relação ao outro. Por isso, quando ele me perguntou sobre esse
ses? Não havia pretos, não havia mulatos, não havia cafuzos, “i pessoal do soul, eu disse que acho positivo no sentido deles se
não havia índios entre os senhores de escravos ou entre os capa- -. reunirem, porque a tendência, justamente, porque você se intro-
tazes que saíram correndo dos negros? jetou, foi sempre doutrinado no sentido de que você é inferior,
Beatriz Nascimento: A primeira pergunta que você me T

em
de que você é o negro isso, é o negro aquilo, sabe? Que você...
fez, sobre a tradição oral dos quilombos, é o trabalho que eu | o próprio preconceito racial, a ideologia do preconceito racial,

Es
estou começando a fazer no Rio, nessas favelas e também eu sendo também introjetada pelo negro, ele acaba tendo uma ati-
estive em Minas Gerais fazendo um estudo só de observação e | tude de preconceito racial contra o outro, entende? Não sei se
realmente você encontra de quilombos recentes só o local, mas foi exatamente isso que você me perguntou, quer dizer, eu acho
também as pessoas dali dentro, as pessoas que também vivem | que à distância de um negro para o outro, a impossibilidade de
ali, que falam desses quilombos mais recentes do século XIX. A uma aglutinação ainda está muito fundamentada nesta ideolo-
segunda pergunta é sobre brancos nos quilombos: nos docu- gia que é tão dominante que o próprio negro fez roupa dela
mentos só registra e eu não sei se isso é lenda ou se é real, que mesmo. .
inclusive no Quilombo de Palmares existiam mulheres brancas, Público: Por que em São Paulo?
inclusive dizem que teve uma mulher de Zumbi que dizem que Beatriz Nascimento: Esse problema não é só em São
era branca, mas de branco não se tem notícia. A terceira foi so- Paulo, esse problema da não organização, da dificuldade de or-
bre os senhores de escravos: não há referência na relação de se- :; ganização do negro sempre existiu, existe também em outras re-
nhor de escravos com o quilombo, que esse senhor de escravo giões. No Rio, também, nós temos o mesmo problema de falta
seja de outra cor senão brafica, não há referência nenhuma da “de aglutinação, então muito em função do próprio precoriceito
origem racial desses grupos. Você fez uma outra pergunta tam- racial, da própria não aceitação do outro, sabe? De não se igua-
bém, né? lar ao outro, de aceitar o outro porque é uma coisa ruim, é uma
Público: Acho que foram essas três. coisa negativa, isso é um processo muito lento e... não sei se
Público: Só um pedacinho assim: como a minha percep- . muito lento, porque agora o panorama, agora, no Rio, principal-
ção sentiu aqui uma tendência de bandeira e debate eu gostaria mente, com esse pessoal mais jovem, já está diferente, enten-
de saber se a sua colocação é regional, apenas limitada ao Rio | deu? A minha geração, por exemplo, não se relacionava entre
de Janeiro, ou se ela tem caráter nacional. Se ela tem caráter si.
nacional, eu perguntaria porque que aqui em São Paulo, entre Público: Agora, eu queria colocar a questão seguinte: es-
os vários grupos brancos e não-brancos, o negro é tão distante sa ideia de perigo parece que de grande parte das pessoas, do
entre eles. brasileiro em geral, quer dizer, a ideia de perigo relacionado ao
Beatriz Nascimento: Os negros distantes entre si? ajuntamento baseado em raças, por exemplo, especificamente
Público: É, aqui em São Paulo, se você me explicaria his- voltado pro negro, né? Se a gente tentar localizar na cidade de
tórica ou ideologicamente. São Paulo agrupamentos raciais, a coisa pode ter uma finalida-
Beatriz Nascimento: É um pouco difícil eu lhe explicar .. de cultural. A gente localiza na cidade de São Paulo várias enti-
isso porque o grande problema da distância que o negro tem de dades com organização de pessoas baseada na raça, agora,
si, no meu entender, não vem desse dado histórico da separação - jogando isso para comunidade negra, esse caso do Black São
das tribos, mas sim pelo próprio fato da negação de si, quer di - Paulo, do Black Rio, seria um correspondente negro de mani-
zer, O preconceito racial do branco ser introjetado também pelo festação cultural, de aglutinação das pessoas baseada na raça.
negro. Então, numa certa medida, há uma rejeição do negro em o - Isso está sendo visto de uma forma malidosa, deturpada, quer
150 151
EST cSL
SOUSUI Ojad “assejo ap eIny Ep ogIsanb e Teipos eIMINHSS Op em e :.. OBU S990A :08Ip nº “ouonsanD na “SESIOD SESSOU SE OPUBXISp OE]
“103 IS oquiojmb op aspeprmuãoo e ejrosaIdai anb o “a2sJu00r UIEOI & OPEISNSSE EO
t) Ursa Jeje; No [pp e :- -S9 “SPSSOU SESIOD 9P BUIP WS OPUBNDSIp
anb o onbiod “ajtsuI|eol Ormny op soui - opunta opo3 Ts amus opópotimuro? Ep [24ju OE “sajop sepeuiemo
2 “ojdutoxo 10d “seuã “IaaJosal Oossod ogu na om op orisanb -
E. se Jezgm e póauioo ojaId [eossad O opuenbD “ojueguo ou “opog
e “NsiXo IeA oIduros os los OBN iOJUSUISEN ZIDE9M “=: QU osso WON joqes 'sgn8n10d uIE|e] OBU UI9qQUIBI S9j9 “OSSE LIDOS
“oLIpIojoId “ wednDOaId os OEU 9904 9 BIPRO Q, WIISSE UoZIp apms Op SoWIu
o spnSng O JosIxa Ira osdulos coquomb o spor tes onb 9 our “ pur so onbiod Ppeu ur] OBU assIp No 3 “SOUBILIATUE SStUOl UIOS
-00 TiseIg OU aJspxa anb emana op opodse on :oonWqra , WPUMUONSp SS “Sojsru PuIEUD as jeossad o anbiod org OU UBI
"2SSED 9P EM] 2P OBSÍEUILIOP É OBU -puonsenb our “ojduioxa 10d “ursSenBuI| E JozeD op “I9zIp 1anb
à [EDEI OFÍPUILIOP 9P OBÍEJ2I E sjtomieasn( 2 [ejuomepuny sperm - “POppULIT SEUL “Caldos OBU 9PePSDOS ap [o4IU OE “ZIP ajuo3 B
erpupgasur eu “PrDUpIsu, eum wo srem enpupisur eu orem onb 9 OUIOD “*"SIBUI UIISSE OBÍPIIUNUIOS 9P EJNULIOS E “9ZIp 19nb
“Op ap ossaso1d op ejem os opuenb “eioSy -osnj op og5uny uto “Pso[Sut enSuI e equoureisn( elos “emuioy e elos jnos OS
ajuauros ----eIRd PoLyy op sompoid so » omyno o “serrgroadsa se -ednage ossou onb 19zIp sourea “Iezip Jonb nossa opuenhd se
IazBN UIS QS OBU 9AISN[DUI IOIEW OIDN] O “Iozip 1enb “corn ou 'sappp odniS op ajred eõey wongum ond umoJonb ogu anb “seLI
-03 OUIST[HUEIISUI OP “OI op opepissaoou E ojuauieysnl 103 “po “18 [ur wezion seja enb “os weSengur] pum opue(ey *oqrnttod
BIed Poty op sopizen souassoy sou enb nourmstop anb 9 sas - opm3 opueye wsBelodal WoZEJ SAISNJoU! “OpUozEy PJ OEISO SEI
-SEp ap eim é 'ougmwnNd opep o 2 'ouemd “UHsse IozIp sora “sms 9 sEj0209 se onb “ojduioxo 10d “ednooo1d as tronsuru enb
“opep um 9 ossj anb oe na onbrod “sassep ap em uia Fafe) “10d “ojusueuonsandb ap -ojrI op opÍenys essa o[OUW 93 ; "EI
OgL no “opue3ou nojsa opU ny sjtsoefgns ogysenb eum q coqes “PIs2Iq 9pepopos e eIed oSuad 10] ciduas osst “soprunai 0pIso
teme opunur opol ma ajrssefans emrajqoid um common. soI1sau so onb ap BIOJ OP EXSJISEIq Spepoldos ep OBSIA EUIM UISI
"BP SEIZIpoUH sapepissosou sk ppuodsazioo onb -B2OAOIÁ AP [PAI Ov uIeIRdnUBE 9S sojop opnues ou “equies op
sSOJUStI]S STRUI UFO] OEU EJ3 [BEUODER Speponos Ep omtap onh ej02s9 euIdoId e pay eprumidol orduras 107 onbiod “apeprunimos
9PryusAnf eum op sepnjembur se JoAJOSa1 Sp [2AIU OE 910) 03 3p POIPN] BULIO] EUM SJUoUIOS Jos Sp OPpHIos OU opuerauasap
-INUI OBÓPJOUOD EUM WIS] “IoZIp JonDb “jusw|preI opurognuapl usa onb equies op Ejooso Ep Ossad0I1d assa OpO) ep “oruy “OUI
as Isa enb odni8 um 9 enb us EpIpSm eu “euros oymm opÍtIou -sour oongod [oaru oe osoBlIad sOLSUI I9JFIe> Um LIES) OIB9TE
“02 EUM US) EPIC “euro 10d epory oOMESUmoseN zLnvag OP SIRINIJNO SEULIO3 SESSo Snb LOS 19Z2J Op “Teqroe op PANEIUSI
"SESIOD SESSO SEP eum 9 PÍ PQUIES OP EJODS9 OUIOD JEZIUPSIO OS E nodouoS aja
-03 anb op Gr-grp; o nb op aJmo:2Hp eper > ogu jnos O “emo opuenb equres oudoId o “1szIp 1anb “euros (e) eum sp oprurd
-SIs O OpuBIganb piso OJaud o onb opueme vor ajo “ogjua “oyo -21 10J OssI 9 “eIppodeo op sodni8 “sesorSmaI sopeprunitoo ÚTET
-2Hp oposau um zey “[":*] > jogam o 'eques o q oJaid op Tesn] -srxo “soquiopnb-xo wÍeãoy enb org Op sozeBnj sossa 'oBÍIOgY Ep
O “BILL SPepoDos E EIed seón; nos o oges ojard o onbrod jIs stodap 080] “oquiomb e ogópjo1 ura epure onbiod “tursse aJduras
“BIZ OU Jeloei puIoIgord aIsIxo OEN, :SOJUEIQ SOJod RJIoJ I0J Sp IOF OSSI SEIA “OpIUnoI aJU98S E LISINUOS seossod SEP OLISSII IOI
“UBS IQTTIA Op eseiy ejonhe onb oyoe no seiN :oonana -19) ap oppdso eum “es OEU “OpoUI osso [Bol SJUSuI(edl Opep um
"“opuemdrren gyso ond a Tea1 Opep um 3 EI] 9204 onb Oss] :OJUSUMNSEN ZENFod
opau UM Opo3 à “ajusumeal “OBA JEUODEU ESIOD E UiazIp saJo *sossop 050 LM OJSTA EqUA B>UNU “EIN
ouros “eSSOU ESTOD E IEZYNN anb 12] IRA OIS9U O Os anb anbiod e nIpuny et esenb “unsse Ianby a oseo UM IA Nº UIITO EUMIM
“BSSOU ESTOS 3 OFU YDOJ UIPQUIE] 207 O OpUESN OpIsa “soTop ses -ou eurojqord eu ogu sodnis sonno so uroo Telpenmnu ogotsod
“1002 SE OpUEST OHISS OBU EJ0D09 E > EJsTEINSs O nb urednooald às -mo> eum 3 anD “errofiseIq opepabos E anbirod Ios ogu na “lozip
Ee o
ORÍJn SAP DP SDIP SOU DPPPIIGISSOS Jompajaju] a DIOQUIONNÊ) 'OqUuaUHOSDN ZLDA
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

o que eu vi, não foi detectada em termos de comunidade negra acho que aí é uma questão individual e de oportunidade dentro
como o quilombo ou como a favela, a luta de classe no sentido da estrutura que nós estamos vivendo que não é capitalista.
que a gente entende, de burguesia e proletariado, mas, quer di- Público: Não é o problema dele ser proletário, mas ter
zer, a história antiga do quilombo. Na história recente, é possí- uma consciência de classe, meu Deus do céu, é diferente.
vel, na medida que o processo brasileiro, o negro foi conseguin- .:: Público: Uma consciência de classes numa sociedade on-
do maiores condições dentro da sociedade brasileira, ele... real- de a categoria social não esgota as estratificações étnicas, é um
mente haja aburguesamento de negros. Agora, eu vou dizer é problema sociológico. O problema é que você não pode aplicar
francamente, quer dizer, minha ideologia não é burguesa, mas uma análise de categoria social, de luta de classes em uma so-
eu bato palma e faço força para que exista uma burguesia ne- o ciedade que não é homogênea, que não está estratificada etni-
gra, está entendendo? Eu não vejo nada demais, não vejo por- ( camente, homogeneamente, você pode falar de luta de classes
que um determinado grupo no mundo... a ele é tirado a pos- numa sociedade homogênea na Europa, entende? Em grupos.
sibilidade de uma coisa má ou boa que existe para todo mundo, Nós temos importado mesmo ideologias de análises que não
sabe? Eu não posso fazer utopia do negro, idealizar o negro a | correspondem à nossa estratificação étmica e esse problema que
um ponto de que ele seja sempre o homem mais justo, o homem você levantou é um problema fundamental para nós, uma popu-
mais... é o homem mais justo, o homem que não exista conflito lação heterogênea, de encontrar um método de análise que nos
dentro do grupo dele, permita manejar a categoria social e a categoria étnica. Eu acho
Público: Colocar ele dentro do quilombo não [...] essa que o seu levantamento é muito bom, mas é um levantamento
deturpação, entende? muito difícil nesse momento de realmente dar para que tipo de
Beatriz Nascimento: Eu não estou apregoando. Agora, . solução, porque é um problema não só do Brasil, é um proble-
eu acho que toda sociedade se forma em bases hierárquicas, ou ma de Caribe, um problema de todos os países que têm popula-
hierárquicas ao nível de classe ou hierárquica como era o qui- ções estratificadas etnicamente que às vezes são paralelas às
lombo, ao nível de, vamos dizer, assim, tribal, ao nível da estru- classes sociais, outras não. Então, nós não temos ainda um ins-
tura africana, tinha o rei, tinham os chefes militares, que eram trumento, sem falar como a antropologia social, nós não temos
classe dirigente, entendeu? Eu não posso, eu acho que ninguém, um instrumento para podermos fazer uma análise dessa ordem.
nenhum estudioso, nem o próprio Marx, vai conseguir resolver Público: O problema é o seguinte: os fatores econômicos
na cabeça a luta de classe. Eu não posso dizer para você aqui vão gerar os fatores culturais, então como é que vai ficar? A
que o quilombo... eu me colocar partidariamente a favor ou não consciência do quilombo vai ser uma consciência espermárica.
de um aburguesamento... eu não estou falando do quilombo, Público: A consciência do quilombo que Beatriz levanta
do aburguesamento da comunidade negra do Brasil, de alguns não está levantando em termos de classe social, são paralelos.
elementos da comunidade negra. Eu acho que não posso porque . | Beatriz Nascimento: Eu queria esclarecer aqui, acho que
a história real do mundo, a história do mundo em função do não ficou muito claro a minha conferência. Eu queria esclarecer
motor econômico, do imperialismo, disso tudo que está existin- =, que eu não estou dizendo que o quilombo como forma, como
do no mundo atual, não existe sociedade no mundo que não es- organização passada, ele vai se projetar para o futuro. Eu não
teja distribuída através da relação de classe. Então, não posso estou dizendo que nós negros vamos organizar um quilombo,
pensar para mim só porque eu estou oprimida no momento eco- eu não estou dizendo isso, percebe? O que eu digo é que a exis-
nomicamente, quer dizer, meu grupo está oprimido no momen- |. - tência atual do negro no Brasil ainda está dentro de situações
to economicamente, eu não posso fazer uma luta, minha luta | - anteriores do quilombo. Como o quilombismo estava, nós esta-
não é essa, de doutrinar o negro a que ele seja o proletário, eu -. mos ainda hoje, quer dizer, afastados da sociedade brasileira,
154 155
ZEl 951
ELEISOS Na “seprniip sidinos uzosos 0I8ou OP seAyPZIuPS
IO sem 23e à “Sajue assip no onb ossy 10d “OSsI JEUTEIISI9p apod ogu [er
Jo3 se “epeIqonD 195 o18oU op jesmymo 9pepo nopr ep euIajg oId “1 odnJ8 um ajusmjedpunag josissodun q osst Ta] TEA ajo onb
o efos no Termo spepimapr ep ogIsend e eS0/03 2904
opuenb eISoJoapi ap odn o odnI3 um eIed eUImLISIap 2904 onb UIS EPIp
Eua jqoId o voojos à oprim ouros oquomb op otasan b 2 E30 -2UI EU POLIIÇDOUIS Sprune eum q :OJtoseN ZLimesg
"00 “oquioymb op asmpue e zey 9204 opren b “sajor ey sop um tool “TD OP Snag Notu “asse 9p BOU9IoSIOD EU 9 OIS9U JOS 9P ED
“22 9904 onb 9 opusa nojsa no anb emojgoId O :0Hqu
A -“UgIosUOD BI) “ojojered q “IousIsOd & OEU SEIA ONA
““SOWDIES SQU “ORUS -ponIjod em] ap ossa201d opoy “ojuaurroLiaysod “Tejaota Jop
Jos IUSUIOW OP OHaxrp O Trim exed oneqe a um pp -0d exed 9 onDb “engIsn ens ep 'sjusuipeor nos 7 onb op “snas
95 TEUIOU ap ONaMPp O US) ajo TqUnNIoJA OU IeIOUI
“opeson8 sop “emo ens op “võei ens ep “eossad Ens ep “oroqselq 018
map 98 98S2AH “OpeZNITo às assoAn oIZaU ESsj0> nau
os vio8p -sU OP OpSeznusjosuo) ap ossadoId o 9 OIS9U OP EMI] EP [enIui
JEZOH Sur oranb ogu na “ogõdo JexIop onb wa) “OBIEY esso Jepnm esed eumqueu oB5
qnium s osso201d O “1azip 19nb “ermnnso
“SE OEU PIOSE Me ODUEIQ O onb eopIçasmy apepiiqesuodsoz
e 199 -BZIPBIO UI9) OBU “EonHOd “popugioso “eunquau saçórpuoo uia]
anh Uta) 0I89U O anD 10q qJozey anb ns9) sostRIq so sopo3
onb e) ogu onb odniZ um op inJed e jesmnnso pSnepnm 9p soua!
“NE Jozey onb tg sox8ou so sopoy anb 10d seW 'OoHqha us soumIeSUSd Op eIRd op OU sod so Te o mbe “opepistas
"ESSOU 9 EM] E “OouRI q OP 9 OgU EIN] Y :OHqua “UN eum “epuçiajuoo eunu mbe opupnasip sotreIsa amb “osst
IOZB opuepmsa sourraso nb sou “aquamedpund no “oggo ou 9d ap
“UBIq O nb em] € Jaz onb uia ala corád o 1 DM op 515 “ab oqumbnod um 197 anb uia us8 e :ajumêBas 0 9 210092 onb O
-od ogU aja enb zip ejo “TEZHR 98 afop oISou or ogsdo
e axIp “OBIUA "CPO OIQSoU asso 'SoJBOSIq SP UIDAIA EPULE S9J9p sOJNUI
as onb ozanb na onb o8rp no ““apod ogU aJg :ooTq
nd “ops soLIgIojoId WSu sojmm onbiod “operreysjoid mrodn; no em
“FEnPIAIpE 2 asse7o op erSojospy eum 193 3 oup3sjoId
-projoId ajtramijeos assejo op seossod OES Epure “sogõaaxo SEUS
1oS op ajop opódo e “ajuourejexg :OJusurpsen zineog .
-SHRI UIOD “OJUSUIOUT OU OIIS[ISBIQ OIS9U OPO] “E[24EJ EU LUISOSEU
sopo3 anbiod epute assejo sp eINj E PU OEU oZIp 19nD “e[9Ab] EP
“dO E IexXTop 249p as anb ope UqUre) na seja coodn
a o os ONU9Pp OJISUIOUI OU OBÍBJSI E “OBN :OJUSUIBSEN ZLBS
“BISSU eImpno ep epuprodum e RIsa anb 938 “OUISS UI ""soquio|nb so ama ogdejas y :coHqua
9/3 UIOI OB Op onUoDUa o “sotrsaum Sou UIOS sou ap opõe
“snrupe onb 192 [eo oIgou o anb poIggjoaIsd ELI
enop B SUSTI/EIStUEpuny 2 SJto8 Ep EM] é OlISm OnI assou -oS97e2 eum “PoTBoToapt eLIoSsJv> BUM 9 BIOSe EI eIed OquIo!
BI0SY “oTepo *soIgou so eIrd sezanbu ep OBôMLuasTp J0TetI
“sap “mb “sozip Ionb “199 IeA onb oquiojinD O 9 OBU (157 JEA ogurojinh
-BprumgHodo soxoreu “PPA op ssgôrpuos saroyjour 1onDb ojuo8
B O, “ZIP 9204 opuenb 'oguy "oquiojmb um J9ZEJ SOUIRA SOU onb
enb opusjauigns piso aguas e OSSI OPU3ZEJ PIs3 aguas e opuen
b “oquiojmb op ergojode e opuszey mbe nolso 0gU No “DEZJUY “PI
Pjjeied q cepojered o congod em :asstp er “apepopos -“[IESeIq 9Pepopos EP ONUop ajusmejdnp souIsalA SON cOpuop
Essop OnUop fenpiapur errouone Termo erurotojne ep souI
TSjU9 E)SD 9D0A “oLIPINILIDSO O “oLIpIadO O Jos onb souIa] SEUI “al
“191 UI3 Jopusoiduis onb ur; ajueS e onb em e ojajer ed silos -ou epure oqurognb um > anb ejasey eu 'oquiopnb ou J3A1A nb
enb toque 107ey wn 9 “oupmud 10JeJ um “oyroa
elqns JOTEJ Souto] sou “tazrp Jonb “seuidoId sagõejaa “erIdoId eorueup eum
“sopessed soquiojmb so UrEISAN OEU OUI
UM q iNspusjs “[ejusurepony 103ey O 2 0BU Odnig ossou o eIed
“eridoJd erurotioos eum
TEJDTUOD 9P “eSsOU OEsIsaIde 2p soma) Uia “IezIp Iaonb “oyrau l -0D “sotIS) OBU sou anb 9s osss901d OLISSUI OP ONU9p SOUISSSU
-Ous Ot ossejo op wny ep ogssnastp e sem “193 onb UI]
“orejo -puLIOd Sou “PIVA[ISLIQ SPEpanos Ep ONUop jepos ogsezmbirerarg
UWIIS “OSsEjo 9P EIN] ep ogssnostp esso uma “osst ajuou
resní 2 9p |oAIU OB IIZE 9 BITOJISEI] 9PEpoDDOS E UIOD JOATALOS SP JAÚ
9PEPISISAIUN EP opoSou o opuee) ou earIsa no onb
agred eum o? OSOLIOJA Jos nmBasuos eounu oquoqnb o omoo “azIp 1onb
see ao o a
Opómsap pp SbIp sou apopiigissog jongpapegu] 2 DJoguioNn) OQuauospA ZLHDag
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
-
de voltar para um aspecto atual, ou seja, as próprias escolas de solver politicamente a situação do negro, eu não estou falando
samba do Rio de Janeiro, como é que está o problema das esco- em classe assim, politicamente essa situação, que dizer, a pró-
las de samba. Porque a discussão fica muito naquilo, por exem- pria fragilidade dessa estrutura é passível disso que está aconte-
plo, assim: o problema de uma conscientização racial vem pri- cendo, principalmente porque a escola de samba, quer dizer,
meiro, a conscientização de classe vem depois? Eu estou achan- você diz exploração de classe, eu prefiro em vez de exploração
do que as coisas se dão ao mesmo tempo, as coisas devem se de classe eu prefiro dizer exploração econômica realmente, você
dar ao mesmo tempo. Por exemplo, no Rio de Janeiro, vendo o está entendendo? Porque quando o branco de classe média vai
aspecto das escolas de samba: nas escolas de samba do Rio de para uma escola de samba ele está em função do status que ele
Janeiro, nós começamos a observar, vendo as escolas de samba, vai ter, do prestígio, da imagem, que é o caso da Becki Klabin,
e o próprio movimento Black Rio, o movimento soul no Rio de desse negócio todo. Então, ele se apropria da escola de samba e
Janeiro, ora a partir do momento onde o branco começou a ir o negro dentro da própria estrutura cultural dele; dentro da
em escola de samba, agora, tem que ver que branco é esse, é o própria agremiação cultural dele, ele é alijado novamente como
branco bem classe média e burguês. Tanto é que uma declara- ele é dentro da sociedade. Isso acontece não só dentro da escola
ção da senhora Becki Klabin que ela diz que foi levar cultura ao de samba, mas em todas as manifestações da cultura negra.
samba, saiu isso aí no Jornal! Movimento. Então, a gente vê que Nesse momento, o candomblé está sofrendo mais ou menos um
o branco vai ao samba e a Becki Klabin era diretora de escola processo idêntico. Por exemplo, as festas de Congada de Minas
que ela fazia parte. Já começa o aspecto que a gente tem que Gerais sofre o mesmo processo: é o fazendeiro branco quem dá
ver claramente da opressão racial e de classe, a coisa se encon- o dinheiro, quer dizer, é muito mais um problema do que jus-
tra aí, entende? Veja bem: eu acho que o papo do negro ter tamiente pelo fato da raça negra dentro do Brasil não ter tido as
consciência racial é algo importante, mas a gente tem que ter mesmas oportunidades dentro do capitalismo, não importa se o
consciência do tipo de exploração que a gente sofre. A gente capitalismo agora é bom ou é ruim, como nós não tivemos as
está sofrendo o tempo todo uma exploração racial e de classe e mesmas possibilidades que o negro americano teve de ter uma
o movimento soul é nítido nesse sentido, ele tem fundamental- hierarquia de classe dentro da nossa própria raça, então com a
mente o aspecto em cima de uma identidade racial. O movi- abertura do mercado, quer dizer, com a possibilidade da nossa
mento soul é um movimento nascido caracteristicamente dentro cultura ser encampada pelo mercado, quem vai encampar é
desse aspecto. Então, a gente vê o movimento, o próprio traba- quem tem o dinheiro na mão, quem vai encampar é o branco de
lho da Escola de Samba Quilombo do Rio de Janeiro no sentido classe média justamente porque ele é quem vai dinamizar eco-
de preservar a identidade cultural do negro, mas eu acho im- nomicamente esse negócio, você percebe? Quer dizer, é um
possível em toda a análise, quer queira a análise que a gente fenômeno que está muito dentro da, estrutura econômica que
queira fazer, inclusive se propor um modo de mobilização polí- nós vivemos, porque nós não tivemos realmente oportunidades
tica do negro, a coisa fica simplesmente no plano racial. Eu principalmente depois da Abolição de... quer dizer, se negou à
acho que as coisas devem ser... as coisas se completam. gente, se nega hoje, como ela colocou, se nega hoje a possi-
Beatriz Nascimento: Quando você fala de escola de sam- bilidade do negro ser elite, entendeu? Quando se nega hoje a
ba e fala da entrada do branco de classe média, eu tinha falado possibilidade do negro ser elite, quer dizer, independente do
anteriormente que o problema da cultura negra, da superposi- que você pensa ideologicamente, do que eu penso ideologica-
ção de uma cultura branca em cima da cuktura negra, quer di... mente, eu não estou defendendo uma posição de classe. Agora,
zer, quando uma agremiação de negros, um. aglutinamento de eu não tenho porgue negar a possibilidade do meu grupo, de
negros, como a escola de samba, chega a um ponto de não re- “pessoas do meu grupo, ascenderem de classe. Então, isso é um
158 159
IST o9T
-OAPE UM Jos 9pod 9904 'conyjod wmn 1295 spod 9204 snb “sjuruma so onb op [epeI OpÍPUTUIOp OP Osso)0Id O SEeUI OJIMUL SOLID
-Op essepo oaIsnpour 12s apod 9904 anDb odns nas op onuop onb --0S SQU “1azrp 1onb Fepei opgieurmiop op osssdoIld ojod TIsBIg OP
J231992 anb usa] 9904 seu “ESfSojoopr ogõdo eum võey “os erranb e onusp aquowesnf onb op oJey ojad “eistanbraeur oymur orpgsau
oEU “ajueuIuIop ossejo elos ogu 9904 onb ousou onb Jegroor - um “uq no [em “uisse emos ajuouisojduns “ojusureanbueiq
enb Wal 9904 9 SJUBULMIOP ossejo BIO Sjo JUPUTINOP assep op ap ossaoo1d umu enus ejo anbrod eisgned ersangimag eum em
PISOJO9pi UIS] OBU aja “OEU 9SSTp No “ojeIso um Iop no eip assou “OD 198 9 IPSIJEUR Ossod OgU “ose> Not Ou “Tazip Tonb “esieue
“zedPI O UIOS [8ISNSSP SUI NS IV «o SJUPUILOp assEjo EP EISOJOBpI f-. opod ogu aJua8 E Jezip I1onb “sujos oIS9U O aJusmjral anb feio
Uol ojo onb, “ur esed zedei O Czrneog FYDE OPU GOA SEJ, “BI OBÍBUTEIODP PP OssodoId O EIRd “SJUSLIPAOU OgóuDJe IeUieyo
'UIHO BIEd UISSe assip ajo 'seÍNnogay SIPLY Op ra7e] na No oud oIanb no “oquanmponbuciquis op ossaoozd ou “egsqned elgou
-p1d nos op “Ios oLidoId nas op “oqes opserpaidop op “ogSeum PIS9NSING EU OP EE] 9904 OPUEN() JOJUSUHASEN ZINVOg
“nop ap joatu o “aztp Tonb “mog elos “OUTUSI O UIOO OSSI OPpUB] “OBÍBUI
“EF EAEISA No opuenh “ou opos owo8ou assa TI OIpad "QI u1oo “Je 9p euros emo eum o mbe essou spepijeos erdoId e tros
opetyo 103 “oSruy coges “EIyEg eu seumsspuejiodmw spossad sp 194 ? BPEU IS OBU 9nDb “EIPoIN 9Pepy Eu pj mo onb ouroLge toi
epo3 PIIPI É onb sesnogay a1puy ap oseo o 107 ooo “sejsunl O uIOd UIS seu “gjsoS OgU onb O uroo TEonDuepr os wo opedno
“"spOSSad “SEDUI seOssod *aAISNjIL “SOABIDSA Pp IOMUSS OmMOD “OI -ood PISO OBU OIBO! O “SozaA SEJMUI “TPOJNUAPI 98 eIMDOId Op
“SU Spieis ui 'SOSEsoUI 9 SOISaU NNSIXS OBPIABIOSS Ep Ossos -uenb ox8su o anb op oJey o anb 9 epezueas] opuas pisa onDb sogl
-oId O Opol sJuemp onb eurojgord o aigos sjusnreysní opuefe; -senb sep eum 9 [emp ep mued
opepouopr e equaupeitom
BAPRIS9 TP 9 OPUSZE] EARISO Ojo nb oyjegen um eied srIstaomnus -epuny “eyieso] euIonD no onb sopadse sop mf) cepustuo “re
our eIed “OMjEqen UM Jozey PIPÓ NOIMDOIÁ au Z9A EUM ojuep oss1 opmy “ojusureanbueig ap ergojoap! eudoId e ÚIoo pasa eJjo
-nãso wm “zeder WI Oyo) NY aJUgUjuUIOp odnIS O 5 “sjueuim sguomeasaf onbiod epepossip “ojusúrerasoa :oqUA
-OP assepo E à OEU onb squeuriop odnis o ui EDOnUspI as ajo 'so3
amb q coqeorod “oa eles ajo onb ogu “oreyutp equa ajo onb “Tod SIOP SOP PPEDOSSIP FISS SEJA :OMIIUINSEN ZLEEOg
OEU TE PIS9 PIIFIP Q iNoqsarad “odniIZ nos o mos PogauapI os “IES9U ESSSToJUI SOU OBN “IEP OSSI AIUSTIEpeAOIQUIOS
oEU o JeDEI OdnIS onno WO Ponpnuaps as aja sem 'enb o las op PU eISnIo Ojuauresuad mos “exBou PIPpoUr ossepo ojuaSIsuro
“OISQUIP Uol] oJD EIP9Ur assepo op o1Sou oLidoId o onb ejusjora eum omega ogS Wo mbe pu íura) as onb 0323 ojad enbicd Jeumma
OE3 92 JePI aros sJuss e anb ogdeuTuiop Esso onb 194 op oppuos -Jojep opod as opu “EISeu eESonSInq eum nnsixo OBU “TEUIULIS)
OU OEXS]91 Sp 1012] UM 195 9p ZzoA UM soqeDrod “oiBom odnas -3p apod os ogu onb ow>e no anbrod q “opo] orogSau assou “eIS
O 9SSEj3 9P [3ANI OU BZINnDIPISN os Opuenb eyes op alpadsa eum -2u PISonSING EUM Jo) 2S OBU Sp EmajgoId o eoojos as opuenb
PU onb 2 929)U09€ onb o cogu “OssI OpIU EITeJ “IazIp soja omoo “pp as nb PA sjuo8 e onb sojuod sop tw) “sojpadse stop sossa
SIqou EMMA BUIN Too 'ogônmsur E 1009 “IOM|SUI PPIA EUM LIGO 194 9N1b UIo) 19ZP) 10] ojuo8 e aonb esiqeue sonbyenb onb oyoe ny
coqes “Quas ep og5eognuopI op apepiiqissod e “eimpno essou cspusjus “oISou Op PonguUIs|gold e 020/02 N5 aJHomjUSUIEp
PP Onop ee; “sreuopeu sagóiniosul sessou sep omynop ee) “un “mbe essou poppurajqoid p ovÍej91 Wa Iazey extonb as onb
“Uso OBU a7o “s4Isnjour “anbiod “oiBau o uloD OBE à ODUrIq O asrere op ody Jonbjenb op opadse o 2 sJusuejnomepuny op
UIoS EognUSpI os Ejo “PISA eIsongmg esso “onb q piso eIojqold -URDOJOD noJsa Na onb OQ '990A TIOS OpIONTOD TT iodqna
9PUBIS O “SOJUBIQ UIO) I9AIATOD 9ND 13) 9904 ap OJej ojod aAIs eSqoaIad “oJUPBIG O P “SOgÍeruI
-D[>UI “sssejo op opusose 7904 opuenb opus “1ozip Ianb 'saziei -a18P SESSOU SE 'SOQÍMINsTtI SESSOU Se IeZHHEUYp [ea uronD “Z9zIp
SessOUu UIOS “PITINO ESSO UIOS “CSBI ESSOL UIOD PILNUSPI 2S OBU sOUIPA “PIS9U EISONSING EUM aJuStu[ear UNS) OBU 3JU9B E OBIUO
sJU98 BE OSS900Id assa TOd ajueureisnf “ojdursxa 10d “souvotiome 222 anb epipou eu anbiod ajus8 e eied oros oymu eurotgold
A: . Tr E
OPÓILISSP DP SDIPp SOU 2PDpigissos 1Dmg28/29U] 2 DIOGUIONNA) OJUALHISDN ZLJDOM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
GE A
ES
gado, você pode ser uma série de coisas, quer dizer, o problema Público: Então, ele vai fazer uma pergunta, o professor
maior do racismo no Brasil é esse condicionamento do negro a Oracy outra, uma pergunta rápida e uma resposta rápida, se pu-
ser vencido, a ser oprimido, você está entendendo? Quando vo- der.
Público: Eu queria dizer que não se nega ao negro a as-
cê fala que a gente tem que ver as duas conotações, a racial ea
de classe, eu prefiro dizer a social e oprimido economicamente, censão de classe, absolutamente. Como ser humano, o negro
percebe? Nós somos oprimidos economicamente, basicamente tem todos os direitos que qualquer outro ser humano, ele tem
oprimidos economicamente e muitas vezes a gente não alcança direito a tudo, inclusive. Agora, não se nega a ascensão social,
uma mobilidade social maior justamente por um drama intrín- se teme apenas que a questão da autonomia racial do negro, da
seco da gente de não se afastar do nosso grupo que € basica- afirmação do negro...
mente pobre. Então, o negro passa à ser uma pessoa sem aspi- Beatriz Nascimento: Autonomia cultural.
rações dentro dessa sociedade, aceita ser um jogador de futebol Público: Autonomia cultural, desculpe, e sua afirmação
no máximo, você aceita ser um escriturário, aceita ser um dati- enquanto cultura possa provocar no futuro uma separação em
lógrafo, mas não se aceita ser um homem de empresa, você poa grupos estanques, entende? Brancos de um lado, uma sociedade
entendendo? Eu não, eu não estou defendendo a classe ur- negra, de burguesia ao proletariado, e uma sociedade branca,
guesa, eu só estou achando que a gente não pode, de jeito ne- de burguesia ao proletariado, que em última análise anulem a
nhum, ver um grupo, colocar um grupo assim, totalmente, co- questão da luta de classe na medida em que vão colocar os pro-
mo uma categoria de classe. , blemas como uma relação entre raças, é esse o problema.
Público: Nós temos que acabar e esse senhor que está Beatriz Nascimento: Não é uma questão de anular a luta
querendo falar e depois o professor Oracy. . . de classes, porque você está dizendo mesmo que vai existir, eu
Público: Beatriz, eu acho que a turma não esta enten- acho que não, porque você diz que não se proíbe o negro de as-
dendo, eu acho que está pensando que você quer que o negro se cender de classe, mas se proíbe realmente. Não se proíbe juri-
confusão. Eu acho dicamente, não se proíbe na vontade, vamos dizer assim, mas se
isole, então eu acho que está havendo aí uma
que os direitos civis, direitos humanos é que se está pretenden- proíbe, a sociedade que nós vivemos proíbe justamente isso. En-
do para o negro como a mulher que está fazendo aí o movimen- tão, nesse sentido, você falando em termos de luta de classe, a
to dos direitos da mulher. Então, a mulher ela tem que se apro- luta de classe é, como eu disse a você, é subjacente, ela é diná-
ximar uma das outras € fazer um movimento. Então, O negro eu mica, ela vai se manter independente. Não é porque a gente vai
acho que eles têm que se aproximar uns dos outros, também, e fazer um corte e ficarmos todos proletários, ou termos todos a
procurar o que ele é, de onde veio, o que faz, como apareceu, ideologia do proletário, que não é por isso que a luta de classe
porque está aqui, ele tem uma história. Então, ter consciência possa ser resolvida, está entendendo? Realmente, não somos
de si mesmo. Então, ele tendo consciência, ele poderá ter mais nós que vamos direcionar a luta de classe, percebe? Agora, nes-
se momento, O que importa para a gente é a necessidade inclu-
forca para pedir os seus direitos, exigir os seus direitos. Então,
acho que muita gente está pensando aqui que você está defen- sive de ter meios para empreender inclusive essa luta de classe,
dendo que o negro se isole, eu acho que é nisso que está a con- porque um dia desses, em relação do Black Rio, uma amiga mi-
fusão. . | nha que mora na Vieira Souto, Ipanema, é minha colega de tra-
Beatriz Nascim ento: Não é uma questão de isolame nto, balho, virou-se para mim e disse: “Ah! Eu acho muito bom que
porque é impossível. os negros vão para rua brigar”, eu disse: “Você deve achar mes-
mo, primeiro porque não vai atingir você, você está na Vieira
Souto, segundo, eles não têm como, eles não têm organização,
162 163
59t +ot
“À syeur vão ejo fJermojoo opepopos E onb op steui “soul ojad “enb
, o apepopos eum oztaf sonbjenb ap seu “eIsnÊ sousul no tIsnE SELL
OBU “saseq SENNO UIS SJP apepopos E IezpueBio eIed
“| os os
- OUISINUBDJSUI 9p OsseooId op quo ureasn( [es aja onbiod “ossej>
“IS UIS
- 9p em] E IO? LOM CHNUI “UNSSE J9ZIP SOLIRA “eIOUIEU OEU
“JP
-: BUND] 0189U O pI zoa7e) onb “UISSE JozIp SOUIBA “9AISTPUI
-: 0 2 O2U onD EPIA ap ody um “jap E 9 OEU onb emp eum “aJop
dun
2 9 ogu onD 9pepopos ELINU Tosta ap ojo E 29] 98 anb ogiiso
EIN
“= E ento) UIquit) EM ajo “Tozip 1onDb “OBPIABIDSS E EXJUOO
y
aja onb oduro] OUIS9UI OE “I9ZIP xonb '“opepaios EUIN UIBISZI
“UIBIBZIUESIO OS Ia40nD 10d anh “aquamwejuopuodapur anb sodnis
“azip 1onb “IseIg Op OnUop nusixo anb “eopun “OueUINT OJUSUI
” Defoquiso op eunoy eum q onbxod Tiseig op BLIQISTH PU zems
“ us “oxrenodur 2 oquiopmb o aonb ouisour esojod ONSUIRO UOS
“ Tpg “IozIp Jonb “oquio|nb o Jopusio os ouspueuTal OII9PEPpISA
wmn “eueomy :onb ursse estoo EUIM 9 “IoZIp Janb “elHou|pEI
as
mSIS9I 9 SJUSLIjemIpno JNsISaI Sp “JU9UIPIRINS ISpusjop
op opdengs E UISquieA UI oquiojmb o “opep assop use "UI
opwenb “ozrp Ianb “ejusujednDULIA :OJISumoseN ZEHEsg
: "squares 1 enpuguod
E. -m e Esso “OPIUM “squoureatssed OBPIARIDSO P NOJISdE OBI oIgsu
+: o onb op aqusnbojo sieui OBSENSHOLIOP E 105 oquiojmb o nb op
b
072] Op au1029p nb ow na “oIgsu op eroism gred oquiom
op epugnodu » “oquiojnb o aigos asejua Ens E onb owe NY
-“moSESsUDUI Ens E IpUSJUD No Ss I94 EUIOND 9s na comanda
“eum sieui os “zIngog :00MqUA
cogeoled oss| opn3 u1oo “ermpnoqns ern uIoo USUL
-oy-qns um 9 aja 9nD 9 ajop EUTEID apuri8 0 oqusumoui ou “epeu
ojuouremjosqe 1922] onb uia) os Og O8SIPp NY :ONquA
“-“ossejo op EINY E Iopusoidusa onb 19) aquas E
anb eIE3 9204 opuenb “assepo op EM] UIo BJEJ 9904 opuenb “ogN
“pesmnnso vÍuepnm ep ossasoid UM SuItLIMp aquas e onb
apepissadou esse “eLPIQ apepijemos|ortr Ep sared egme uia
Um
“py onb OIE Ng .0FU (OPpUPpRIE PISO onh 0x9 OJouIAOL
SOLOI SOU OEN, [WHSSE JoZIPp Jopod 9904 BIPd 2 JESUBISOP Q90A
| “oquomb op oyuap odnigqns epeo ap o odnis epeo ap sagó exed en e tsse p onh opursuod EJso 9204 “TEIN] pJPd ermjo
EmIIS se ste EArIrodso1 “eLENeNS: sieur exo “Tozip 1enb «easnf OB
“9 ESTOD UIP] OBU “OXONNIP UIP) OBU “PUINQUOU ESIOS HI93
st
OpSIngsap vp svip sou apppiiglssog porgpajoguy 2 DJOquioINA “OJUSUIHNSDN ZLQDOE
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
ça
TT.

história dos seus semelhantes no Brasil, ao mesmo tempo que o


papel histórico e cultural que desempenhava o mesmo no con-
junto da comunidade negra.
O sucesso da fuga em massa dos locais de trabalho para
um local não conhecido da maioria dos integrantes de tal em-
presa só pode ser compreendido na medida em que o quilombo
O Quilombo do Jabaquara”! impunha um significado de profundas raízes históricas na me-
mória social deste grupo, ao mesmo tempo em que funcionava
como fator de identidade étnica e social. A questão está em co-
mo essa massa de escravos carentes de formas mais aperfeiçoa-
das para manterem uma memória social, ou seja, uma história,
conseguiram possuir uma ideia do quilombo tão aproximada
daquela que foi divulgada pela literatura histórica ou vulgar, ou
seja, um local onde a liberdade era praticada, onde os laços
étnicos e ancestrais eram revigorados. Entretanto, um ponto a
fato tele ser diseutido sobre os quilombos, é que esses não obedeceram
fascínio que o quilombo exerce como um
não é um sempre o mesmo quadro institucional. Há diferenças entre eles
vante da história dos negros no Brasil
às véspe- que vão desde a conjuntura histórica em que aparecem fatos
acontecimento recente. No século passado,
influência que implica mama maior ou menor organização até suas dife-
aces ras da abolição do trabalho escravo, sua
renças na estrutura interna. Jabaquara, neste sentido, não pode
atuou de maneira decisiva ao provocar, através de reminiscén- ser considerado um quilombo, pois, em primeiro lugar, não foi
cia legendária, a desorganização do trabalho nas fazendas de organizado espontaneamente pelos ex-escravos, mas por pes-
ne-
São Paulo, contribuindo para O abandono dos campos pelos soas de fora, inclusive brancas; em segundo lugar, seu estabele-
que se faz à
gros que viviam ainda sob o sistema servil. A alusão cimento obedeceu a uma necessidade prévia de provocar atra-
em
existência de um quilombo no leste do Estado de 5. Paulo, vés da desorganização do trabalho a irreversibilidade da Aboli-
Jabaquara (Santos), alusão divulgada por abolicionistas , mas ção da Escravatura. o
também por indivíduos ligados aos fazendeiros, interessados Neste sentido, este ajuntamento foi um logro para aque-
nas fugas a fim de se furtarem a indenização a ser paga aos ex les que para lá se dirigiram, pois ao invés da “Terra prometida”
escravos conforme os decretos-leis que precedem a Lei Aurea, encontraram uma cidade-favela que em nada correspondia ao
provocou a fuga em massa das fazendas em direção à essa “ter-
1 a » £ me

ideal em que acreditava. Noutro sentido, o logro do Jabaquara


ra da promissão” que veio constituir O Quilombo de Jabaquara.
teve sérias conseguências, na medida em que ao tentarem re-
Este sentido que teve Jabaquara como a “Ferra prome-
que os escr avos fi- tornar às fazendas de procedência, os ex-escravos não encontra-
tida” demoustra o grau de conhecimento
i
| ram onde se estabelecerem, pois estas já haviam sido ocupadas
nham do quilombo, e de como a ideia deste funcionava em suas pelos imigrantes italianos que inauguram o sistema de mão de
.
mentes. Mostra a familiaridade que os escravos possuíam da obra assalariada.
Obrigados a permanecerem no Jabaquara, os negros que
61. Ensaio publicado originalmente na Revista de Cultura Vozes, aí ficaram tiveram a oportunidade de se engajar na força de tra-
maio-junho de 1979. balho relativa aos afazeres das docas, na exportação do café.

166 167
691 89T
o “€ -OjUSUMD0A “p EIseA *
;exTEO *OEJEZITBJO] otumdos 2 uroo 'OjusuIDseN zLnPog PL
opumy
OIuBr ap omg op jeuornen oarmbiy ou os-enuoJua ojusu
nDop 238]
Oxquiszap ºP + T EIP Op BI2p U1oS “esusurumig "6461 2
jezapos spepisiaman eu
EPUBIg SUBZE[BD) Ssor J0d openstujui fIsesg op eLoIsiE ap osmo op
op5enpezs-sod ap eIrepro e red oupegen um Toy opónjonar-sod ouejoS -
“HE OUISIADEU O ORISUIDSPN ZLDeog BEN op opejezsomep olxo L'Z9
"Bjos
“0d EDIqndoy ep emyno op jeropas ogjamros are pi
“SU1OJ SIRDIJO sOJUSUMD0P ap mpTe TeIQ ELIQISTH Pp &
vo
“NOISTUY opepreso ep 'suedorued opjesrosqo sp sOpoJpuu
SO OUISqEN 9859U sourezyn) "6461 2p oiqmno op gr ap
BjOSUY E sonIazi anb PISTA R sode operioqejs oujegei],
'CBST|DUOD "Q
“JEUODEN OBÍNHSUOD9Y Sp aseJ V “G
ceDuspusdopur
EJod EIN EU ogU no ErIpSIoALOo — E3S0d O 3 osmtod
Op
"OUP/OBUP OUISIANEU OP SUSSHO "S
SEISITEHSdUr sepuçIod se a OuIsIertO(O3092N =
SPNSNLOd OUISIJEIIO(O O eIgos odogsa otsnbog “LT
“TEDOS OpÍPZIURBIO EISOP BIOF BSTUIQUOVO OBÍURF
OTIMO eum esed epesjoa seus “soquojmb sop gLIOIEII E UIeIS OUIOD
OFÍN]OASH-SOd OUEJOSUY OUISIANEN O “pombrgme efos OEU 9peprunuloo PJsa BIOqUIS OYNTA “9pepramua
-02 BUM PP Olos OU Opuguorpumy EoTOo opepouspl é :«oquornb
O vzixoppeiro anb jednIS Opsa00 op 1072] [edputid O nasjostos
-2Pp 9S IE EPIpoUI EJIoo Ig 'SOISSU SOp EJLIQISEY BILEZTISUOS BU
pausurepony jeded um Joo1oxo oquiojmb o op “9 oJst Tensotk
somezia onb oIpenb ou epuglriodwr ens muunp og “oquio,
“mb um ojuoumeas opIs 192 ogu exenbeger op opodse O
e
OpÓNLISOp DP SDIp SOU APPPIGISSOS 1DH928]22U] 9 VJOGUIOJINÊ) “OJUSLUIISDAN ZLGDIH
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

Introdução ção ao seu sobrenome português; se houve reação ao vo-


cabulário português na linguagem oficial «e mesmo na lin-
guagem corrente e vulgar; se houve também mudança no
ossa viagem a Angola em setembro/outubro de
nome de clubes e sociedades.
1979, deveu-se a um convite feito pelo Conselho Fe- 3. Verificar, in loco, aspectos como divergências ou con-
deral de Cultura, Setor de Intercâmbio Intelectual
vergências entre os papéis do político, do literato e do
daquele país, Departamento de Luanda. O período poeta.
da viagem chocou-se com o início do segundo período escolar 3.1 Se cada um (político, literato e poeta) lutaram de la-
do Curso de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminen- dos separados.
se, onde cursamos na área de concentração de História do Bra- 3.2 Como a poesia e a literatura atuaram na luta de liber-
sil. , tação.
O crédito a quem hora apresentamos este trabalho final 3.3 Se houve a luta política através do verso, comio no
Brasil, em 1822.
liga-se à Oralidade Histórica e o Professor José Calazans da re-
ferida cadeira, muito compreensivamente sugeriu que desenvol-
= Desenvolvemos o levantamento concomitantemente ao
vêssemos, aproveitando o deslocamento para a República Popu-
das condições sociais em que próprio levantamento a que nos propusemos fazer da pesquisa
lar de Angola, um levantamento
individual que levamos para Angola, denominada: Sociedades
se encontrava as populações daquele país em função da readap-
Alternativas Organizadas pelos Negros: dos Quilombos às Fa-
tação do povo à nova realidade pós-Independência e pós-Revo-
velas (mussekes em Angola). Foi o interesse despertado por es-
lução Socialista. Esses dados que tentamos levantar enquanto
sa pesquisa que provocou o convite feito pelas autoridades an-
estivemos ausentes do curso por quarenta dias, tentaremos es-
golanas para que nos deslocássemos para aquela nação.
boçar segundo os pontos levantados pelo Professor da referida
O levantamento em questão ocorreu, primeiramente, em
disciplina.
pequenas aldeias de pescadores na zona urbana da Ilha de Cabo
defronte à Bahia de Luanda, Província de São Paulo de Luanda.
Os pontos levantados são os seguintes:
Nesta fase, desenvolvemos não só a pesquisa de observação par-
1. Verificar o nativismo angolano antes, durante e após a ticipante, mas também documentos secundários como mapas
Independência de Portugal e à posterior Revolução Socia- documentos oficiais, livros, etc., baseados nos quais tabelamos
lista. Se nesse sentimento existiam pontos em comim as populações africanas, segundo os reinos históricos (do século
com o que sucedeu no Brasil no período precedente e XHUI ao século XIX), as províncias atuais e antigas, os estados
posterior a 1822, época da Independência do nosso país. neocoloniais e recentemente independentes. Todo este levania-
2. Se houve florescimento do natívismo, tanto do lado mento foi feito segundo as características emolinguísticas que
angolano quanto do lado português/concomitantemente. permanecem desde o século XIN aos dias atuais.
2.1 Se existiu movimentos sociais do tipo “matamaroto”, . Elaboramos 12 tabelas, das quais quatro correspondiam
movimento que surgiu no Rio de Janeiro e na Bahia, após —
aos quilombos ou conceituamos “sociedades alternativas”. Esses
1822.
2.2 Se houve, dentro do processo nativista, mudanças de
quilombos, às vezes chamados quimbos, hoje comissariados mu-
nome, de localidades, de família, de estabelecimentos, de Nicipais, merecem um estudo especial que não pudemos desen-
monumentos. Como, por exemplo, foi citado a mudança | volver, pois necessitamde uma extensa pesquisa de campo.
de nomes de políticos brasileiros, como Francisco de Aca- Durante 17 dias estes levantamentos estatísticos, cul-
yaba Montezuma, que tomou este nome indígena em rea- minando com o recenseamento populacional, inclusive relacio-

170 171
ELI cLl
sop odureo op OjUSLIBJUPAS] O 1928] Op UI E SLON Op eZUEMy à ET
e eppd BU SOANE
opujos eumemSOIPenb 9 opseredosd
“soned uro
apueis opor OBSBUrIO; “a (SOUEUINT&p SOSITDII
ser
O eIed souLIefera 3 EpuenT Iextop sonrapnd “ogjua “a “as-sezifeur
“TOU P nopua) OpÍEnys e “oiquino op 4 PIp Op inJed y [BHOPEN 0gÍNNSUODY Sp Bjaiea eudoId e “elfos no “opunia ouso
. "OYEMMYEY IS “poe “ao 1 OU OJUSWITAJOAUISS9P L2 SoQÕEI SE SNS op5pIodIoout BpId
ep sonowg|mb ooump sun E sjuamos 1odap opremooIld os-pa - “pI eum Vay e monjqrssod anb seonedarojdtp sogsstu sEAOU 9p
-“BJso onb atw891 Op Soja uIDaJageIsa IS SOrapiequiOq OpudARy ERR emsoqe ep tIaTe “sIemjDo jo & srEIMyNO “SODPUIDA “SOQTUIQUODI
“BPULOT 2P SEIUPOISO SE 9S-Nopuolso ELIoNB E Sjuomreormnondosa “= sISATU SOU SOgÍPIAdOOD 9P OJUSUISIUE O OPUESJA SOUESLIJE-OEIT
o eonIjod “seorgosemso sogifar seIsap epemo] e sody a SoUPoLIFE sosjed a senDujAoId sens anus opusqueu VIDA ejos
“(NS OP B2LY) euroLgy-ns ogrrM ep axuaumenadso “sessipea -Wy op remdog eogqudoyg e enb sopxose sor sogred mo “as-nNaA
1de> sepugiod sep eormgre erfojouss] 2 Tuas senior op VI -“ ap esuspuzn] OLIQuIIS) Wa sagõeBajap sejsop oBátpos Y
INDO VIdIA OP stejuspno-gid sagõoey 10d seperormo mera fesny “ogisonh
“10d Wo WPBIRULOjUI sou Opungas “onb sedom 10d seperadnoar US OJUSUIRIIRASd] OP SOpEINSSI sOp SOUL] Id JossIuoId TOJ
UIBIOS “SEISTUISNIXO S9959PJ SP SOBUI IK3 UIPARMLIODUS Ss onb “Ep sou “sou snb [jojor OUIsauI ou as-ureABpodsom sagõesajop seisa
-ULGED oO wsse “ojdumaxo 10d oSurqnT -ostuguoss Iopod op smrowirepoueid onb el o 'sojue)suOD UIRIS SOJEJUOS sois
SJuoUIBIrSSJEISS SOLIQIHIS] IIS Jopod nos Joxreu meAeImMooId "sono 9 SHION OP ERIOD “Soqeir
“serjaSuenso sepugiod 10d seperode “anb seoroIsm sewypurong sosred “seig OP BoIUIQUOdS & ESTIG] opipradooo 9Pp sogaeBa]
sEp SEDUgostuTuio1 onb oduma] ourssti oe (oJaN oyunsosy tod -9p seumBpe op Woje “eme o jeêniog “eigensny PIApIsOBN] “ELI
EPeDIUI 9JUPDO O eIPd EINnjIoge Epefosap og] E EUOD sa05287) -e8ng '“ssyn “ogder ooo “sIsIUapDo à SIRIUSHIO sosjed epure
ouejosuy Iejndog OjouHAOIA OU SELISIUE sogõop] emo) TIAIO 3 “eunsofed “dDULd 3 PUIOL OBS “TOU, “9pisA Oqeo “anbiquieo
BIIONS EUM OPUSAJOASSOP SEPRIDO] SEXSJUOI Op noooweimtad “OW “CIJEUIOS “oIlEZ “eIQUIgZ “PIQrUNeN “PIRES Teprosenha Sumo
sjed o “oxgmno ap p 232 “efos no “oportad assa ajuemg sted op OUIOS SOUPILIJE Sosted sonno op saçõeSajop BPI 9 “MS 2 afueT
SHION O BIEd WI9SEIA TIS OpEJHaSNE SOU OpOLIod 3]59 ama opua) “PIN TOS Ezuemoy “QNON EZURM3 “eprEnT “sopouredom 'osurq
CCIQUINO Pp ST 9 2pepp essau sousoueutrod a “sembaxo sens -“n7 OHIO? Se) 'seIDIjAOId semno 9p OHIO? “PpUENT op euRqiNqnNs
BIRd SIejUSWEUIdAOS sogõeSojop se OprSswy> Uiola) sode vip no Jem EuOZ EP 2 BURQIM CHOZ Ep OJUB) “SIUSUIE)RUONOOS BATE
Um “oxquiSIas op ST E EpuenT e someBaw sicd 'oJoN oyunsoSy aSsejD EPpeUTULHOJSPp PUIN op sojuamiao à SIBJUDUIBUIDAOS SOpep
omgIuy op -semboxo se sode osey Essa EPO) SOWEDUDsSIA “HOME UIOD SoJlBISUOD SOJEJUOD SOUIDAR *OPpE[ OBNO I0q
"sotWejOSHE se “sred a1Sop OB5EIIagI] Op SEAISsoons sexong se qquemp sopmo
“OPEL SO HIOD 9ssENUOdHA SOU 9nD ogdenIs Ionhbjenb uma soros -suo) melo; onb sop uraTe seig OU 9 [eêmIog ul» os-NIENHOS
-UBMNSO SQU SOPO] op 220q EU JPIS9 Sp eymo onb ema] “eos “ua ferIojeur ajonbep ojred opueis anb pí 'seripuid sojuos op
? ELOA P 9 ENUNHOS EIN] Yo [JPUODEN OBÔNNSICIY PP EUIa] SOULS] US SELIPDSIÁ OBS BUB|OS UV BLIQISTH EP OBÍEIUSTUNDOP SP
O OPpUBÍIOJaI SogÍrppoSaU Wa UPARNUS onb mo OduIs) OuIsani Sa0ÍPIOD SE SIOd “ONUD [E] 9p OBÍBZIUBSIO E SJURIPE SIBUI SOUL
oe “IaPI] Op ojusumparedesap ojad ourjoBue osod or spepanep -SIPoYSAÇ “PILIQISIH ORÍBINOUMDO( 9P ONU) O UIOO SUSUIR]
“TOS ENS IoZeM UIeISTA nb PUDE sopeIr sossed soamgpadsal sop -n(t0S OJUSUrejugAS] 28S9 IezieBIo E sOurpSStOo 9 BPUBII SP
SOUIZAOS Op SJ] O SOMSIUIUI IOd sepenotp UIeio sogõeSajop opÍaos “pmamo sp [ezapos oyjesuos op jermpmo orquigoIsi0 9p
SESS9P SEYMIA "DJHoLIOD ONE OP OIquiSJas 2p OT E nao9727 anb 1019S O [EUODEN ODLIDISTH NosnjA O ICO OpuBUJEQUI) SOUISJOU
“OJN OUUHSOSY OIQIUY “IG OUEDHJe Ojos WS SOPIAJOAUAsop -purrod oonspeIso oUTegemn op opoLiad assaN "pjoSuy op remdod
BIO OBSPIIMI] 9P SOJUSULITAOUI SO SOPO3 2p OonM J2pI O opriop . vongqndey Ep soquiojnb o sepujsoId sESIDAIP SEU SEMIOUI 9
-ISUOD > OBÍN[0ASH Ep I9PpFI 'sJUSpIss1g OP SHOLI E UIOD opÍeu seIrsUOIsuId “seperêngol sagõendod se oxoz [ENSIp O IO Opueu
TE
opóIngsap Dp SUIp SOU opopinigissos jongoajoqu] 2 DJOquioNNA OQUBUISPA ZiJD2g
Possibilidade nos dias da destruição
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual

do quilombo de Brasil nenhum documento comprobatório, o que tentaremos su-


quilombos dessa Província. Voltamos das portas prir um pouco com-esse relatório sumário.
regiã o em franco -
Kua Putu, devido a se encontrar ainda essa
ou um ataque de Escolhemos manter os documentos do levantamento de
3

conflito bélico, com o perigo de um acidente


peguena caravana. “Sociedades Alternativas...” em sigilo, nas mãos das autorida-
nflito à nossa
em compa- des angolanas, por duas razões que justificaremos a seguir:
forças “Destoquei-me de Luanda ao Kwanza Norte
ral, do represen-
nhia do Diretor do Setor de Intercâmbio Cultu
acrescido do Co- 1. A República Popular de Angola, país recentemente in-
tante do Museu Nacional e depois o grupo foi dependente da metrópole portuguesa (1975), encontra-
nte de ordens e
missário Municipal de Ndalatando e seu ajuda se em fase de reconstrução nos terremos da economia, da
de Libertação
uma representante das Forças Armadas Populares cultura, da técnica e da própria vida mental de seus habi-
Mulh eres Ango anas

=
de Angola, secção da Organização das tantes traumatizados e agredidos por uma guerra de pelo
Oeira s, Nd atanc o
(OMA), de Ndalatando. Visitamos Nova menos 13 anos. Ao mesmo tempo, o que a nós pareceu

6 re
fato de ter São
Massango (de grande valor histórico devido ao um paradoxo, encontra-se em fase de contrarrevolução

e papa
de escravos no Rio Kwanza, senço
porto principal de embarque (segundo o conceito de que a toda a revolução corres-
Forte, construí o
“mantidas em perfeito estado as ruínas do seu ponde uma contrarrevolução desenvolvida na tese da
XVII e XVI ;
no estilo português e holandês dos séculos XVL,
" História do Brasil por José Honório Rodrigues). Sua si-
e visitariamos tuação interna é crítica. Não há unidade política, embora
quando foi concluída sua construção), Kubango, exista um Partido de linha marxista-leninista impondo
antig o, como Kua
os quilombos povoados segundo o costume uma ditadura do proletariado; não há unidade cultural e
ica e adminis
Putu e Dembo; giilombos que permanecem juríd de costumes, não há, devido às guerras de guerrilhas nos
estivessem eim fran-
trativamente como no passado, se esses não seus territórios (são etnias contra etnias) e nos territórios
Kua Putu tem como che-
co conflito com as tropas de ocupação. circunvizinhos, vislumbre de uma trégua duradoura; não
e o Dembro,
fe ainda hoje um Soba e Dembo tem a sua frent há unidade linguística em seu interior, logo é um país
usando de três
chefe que se assemelha à forma de um demônio, com sérias possibilidades de não alcançar uma unidade
nicando através
a oito chifres de seus próprios cabelos e se comu nacional e com vastas possibilidades de ser agredido. Por
e animais. | outro lado, mesmo assim e com tão pouco tempo de in-
no dia
de e oraarimos dessa pequena incursão, chegando dependência, busca um contato de cooperação em todos
tabulações e
7 de outubra a Luanda, continuamos o trabalho de
os níveis com potências ocidentais inclusive Portugal e
ro saímos de USA. Essa justificativa completa-se com a que vem a se-
o terminamos por volta do dia 10. A 18 de outub guir:
24 de outubro
Luanda via Portugal e chegamos ao Brasil no dia
de 1979. . 2. A Ética profissional a quai respeito me obrigou a essa
Por razões que explicaremos a seguir, deixamos
todo O .-
atitude. Na medida em que fomos como cooperante inte-
ativas ... “nIO .
resultado desse levantamento de “Sociedades Altern
:- 2”
r

lectual de um país diferente, ou seja, um cientista estran-


Museu Histórico Nacional, na Secretaria de Cultura de Luanda, geiro, tivemos problemas de consciência em retirar os do-
no Comissariado de Luanda e na Coor-
setor de Intercâmbio, cumentos referentes ao trabalho realizado. Os tais perma-
denadoria de Kakwako. O material constava além da documen- neceram em mãos de quem como de direito cabe. Por
s, que já re-
tação do projeto de pesquisa apresentado, das tabela outro lado, reforçou essa decisão o fato de constatarmos
e de como desen volver o em iese que “Sociedades Alternativas...” (quilombos) é
latamos e de gravações em fita casset
para O .. uma característica da organização social dos angolanos
restante da pesquisa. Devido a isso não transportamos desde sempre, sendo nessa medida áreas territoriais de

174 175
£LT 941
QuoweLIejuofem nmqruinoo “ajuo “aloy ap ejoSuy “ojuenog ap uzozos afou ap serp So
“oxieq odniS o mos sopeuogysru sem (ejoSu op efosdnisos, 3 [EMO ojurmop O EULIOS EU n87e
E pemei 2 Opurntope OUEILIE
topuajuo ossou E) gSeU odnis op opeuey > “eryeg eu omsou É age onb sogI8ol “Qu EP 2380)
zig OU 2 ejoSuy ulo sosaput] 5)
“ JOLISJUI OP SOLIQILLIO) SOJSBA “(ps E. E É
o “odISIS 9 SIRI9S) SEUNA “OIsUPf ap OM 'conqueurag 'ogyuei ú “SBBt
srodomeW
od noo
-o SO WOD eLIoNS E sode OP ednoo noquoe O “> “Ted
ode)) opu
“BIA 9P sope3so sou TIseIg OU sourILHE op ajuaguguoo op aged i
o “Io SEDUÇIOd SENNO SEP OHEITIOS op
JOtEUI V “TISPIg OU sgnômIod Op PIej E eIed ogômqLuaytoo Ioreui jo HEDISUI 0BÍEU
“rp opuemooJd “(5x E AX soTnD9S) esonBngiod
OPIZEN Uolo] “semno 2 oBuoxm o 'opunquiy o “ejoSuy um opId euoz & “(ogiBal E SUL
sepefey srew senôu] se onb op 0Je] O OssI E as-D2sa1y Tuop op Bongod ep ogieme ep epr
) OBUOPN OP OUISH OP EP
-ou nos wreieIsaIduio BJOS, S 191 solo
“sopeisa el oStry “ossod0I1d 21S9N
o -gnb ep siodop oBo| “Jos E nossed "o8U0D)
sassap sagjejndod se jepodsoa oymui 1s7exe2 um uremenadum onb
SOUEJOSUE SOABIDS9 9 SOJOYUIUI SosonBn10d 10d SOpEULIOJ WIBIOJ
(adiSias 2 conqueuIsda “SIRISL) SEUHA, SOWPIIRJUSDSADE SOU 9) I E
e opstaondoop
uPIOSUE Ojosqns > Ojo
cHouer ep or o “egtampedouud “onb opuensom 'soAod sossou CRU OP EEE Ee O Id [egmioa O BI
anus Sopeprre sep ejey “64261 9P oiquisjas op frserg op jeir inuossta ossasoid dn nozes a niAo
BA imssor PIO DO
-J0f OU EPIPOJUOS EISIASNUS UJS '“SONSLIPOYW OLIQUOF PS0F “JISBIQ Sjusureprior “SfeIautur sezanbui SEIS
id é pec ms op pda
op oe opesm om “orduias opsop “sAsJso ejoSUYy op ounsop o as-opurstisasany "IBDDÕE OP ovônpo od
turonod dp a
O OUIOD 194 sotratopod “osogsa ouenbad s]sop amei eu eprpopoquiso emojo E JE[ULS oqus
ssod e norquin] A É oO!
ejoSuy Wa Jodojeaqeiso 9P apepipar a
"OUPOLIJE OMOIBAU ODNED OP “snbiod as-nap — AX OMS — sosongmiod sop por
opóunxo Ep opuenb “OSST ap sezos se se urossemplad ejoSuy ednoo e ureu a
9 [ISEIG ONO sogõejoI se onD E UIEIZADd] 'SOABIDSO OLIOD JISEIM -02 ojad voLFy Lo ogISaI EU 9P opi I
N9AjOANSSOP soa e
ou wWresejtode onb souejoSue ap sjusBunios apueis oe opraap opunBas [IS2Ig OP OBÍUMN] US 9S-
onb op stgur “Bjo uy ans ap
“SPISIBBARIOSS SaSSSJAJUI SO SND 2S-90S91DY “IIIAX OMS op sreu
us “BIEQIOD ESNUP EJNO ianbyenb Iejru
o ea sep sem mo
"pISJISeIq apeporos E seDpstismpex
“EH So ajusurepeunxoide oje noinprad 'ojuejanus “onb opdenjis mi od omsT[LIO(O? O
-ppopos EUM nofro] Roy o SY
eum 10, "SOTUSUIHAOUI SIE] NIQION ETRd 91107 PABISpISUOD as ajod
-OR9A e opuenh “ogssaldsi > opdnISJUI Sp sojualIour ossos omquigazd ouenbad
“NOW EIOqUIS “SJUPISUOS EUIN IO) SESIOO SP OpEIsa assa
TAX OMops ou “ejoSUy a ermeg conqueniag oNus aquoure) 5 eno E opunées sz sotE
o
“SUEZB|BD 9S0Ç J0SSSJoId OP ogÍpju oa
“SMP SOABIDSO 2 SOLHIPA sompoid sp sobo8ou erzey snb nopnf LHd Opa op OE
1OPpEDIS Tolgy “Y op ojusunçop o 5 oIstp BAoIg “ajodonam -ejuo) nb ojuomeIueAd] “ZTOCO
vjsai “IEJIOSMIÁE SO
EP OBÍEIpoULrau! E Wos sOQSoUu somno a IS SMus sjurou -BZIBoI OJUSUIBIUBAD] O SIJOS sou-
sasso sopeoynsar
S99ÍEDOS9U LWIPISADUEUI PJOSUY 9 [ISCIZ SOJUSUIOUI SossoN “POLI onb ojnqurgald ouonbad ou sojuod
“DUM BU OO POL ma Ojur! Oiujmop nos nopuoSIiSau 'eou "ejo8
-2Q1 BOION) E OBÍPIIM ep OSt2 OU OuIoD no SIBEJU9PDO SEDUGI OU squsumgedowd
“uy enuosuo & s onb va OD0ED OSsED
-od anus seoreq segisanb rod TeSnuog asnb wo sozatmom ogno ered sopein
“erSpIesa ap SEUISSUI sooze1 10d “sred ss1
2AN0H “[iseig a ejoSuy anus cjnp ojezuoo asend um nor X STIIS Propod ogu qse
“31 U9I9S SOANIBJEISUDO SOJUSUMDOP Op ses
-Issod “ovIssEjo OLISIfeIUOTOD OP sopjoui so opunZas “ejaruos EI oudoId
10d onb 2 soiejoSur ojosqns 2 OH
“103 9P IETIR ap sazoA SEJM sogórproo was: “sonêmgiod jerrojo> sopepuome sep op
-ap E opuesta ogsednoo eum SIEDOT
OUI sau OP 9 EINSJUOI
ossevoId O *opej OnnOo 10q JnuPIrour erpIgIod ejonbep oonoIsty -onboi “seotêszenso setioz odutsa
DN Zu2p9H
OpÍInLSap DP SVIP SOU apnpifIgissod pongoajaqu] à proquiojInt) OJU9WS
DD ————oooooaa
“rat
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual . Possibilidade nos dias da destruição
E T]]]]]]TTTTT—
DR

com seu povo para a formação de largos segmentos da atual em Moçambique, Guiné-Bissau e etc., e até mesmo na sede do
composição populacional do Brasil. . Império Ultramarino.
Visto o acima citado, passaremos a discorrer sobre o le- A atual composição das classes em Angola torna-se difí-
vantamento que fizemos das condições de Angola pós-revolu- cil compreensão devido ao regime socialista aí instalado mas
ção. Esclarecemos, que, devido às condições de tempo restrito e antes da Independência grande parte da produção literária e
de poucas condições de trabalho que nos foi dada, esse levan- poética tinham um sentido de engajamento, florescendo com o
tamento talvez não corresponda às expectativas, mas nosso es- sentido de nativismo, ou melhor, da busca de uma identidade
forço foi o de chegar a algumas considerações levantadas du- nacional à semelhança do que aconteceu no Brasil, no período
rante o trabalho de observação participante. precedente à 1822, mais precisamente da época da Arcádia
Utilizamos, além dos dados de observação participante, Mineira, que deu a Inconfidência. Podemos citar Luandino Viei-
documentos oficiais, recentemente elaborados, como o docu- ra, Armindo Francisco, esse egresso de formação em missões
mento do Instituto Nacional de Línguas, cujo tema é “Reflexões evangélicas, eo próprio Antônio Agostinho Neto, líder revolu-
sobre o estudo das Línguas Nacionais” e do Caderno sobre a cionário e o primeiro presidente do Estado angolano.
Cultura Nacional, nº 15 ed, Lavra & Oficinas de autoria de An-
tônio Agostinho Neto. Utilizamos também obras poéticas e lite- Resposta
1. 1
rárias de autores que hoje são autoridades municipais angola-
nas. Houve sim, o florescimento nativista de ambos os lados.
Conheci muitos Jovens portugueses estudantes que fugiam
da
Origens do Nativismo Angolano guerra, na época da libertação, identificados com o sentimento
nacional dos colonizados, muitos deles fugidos no período
Pré-
Resposta 1 Independência para o Brasil. Entre aqueles angolanos descen-
dentes em primeira geração de portugueses encontramos
como
O nativismo angolano, pelo que sabemos antes da inde- elemento profundamente nativista o atual Diretor do Consel
ho
pendência, foi, em comparação com o das demais antigas colô- Federal de Cultura da R.P.A., Antônio Jacinto. Do lado angola-
nias portuguesas, o mais acirrado. O próprio fato de ser a colô- no citaremos ainda Agostinho Neto. Percebemos, também que
nia mais importante do Império Ultramarino Português forjou muitos portugueses, que deixaram Angola e hoje reside
m em
uma classe em disponibilidade que podemos chamar de políti- seu país, tem um sentimento não só de procurar rever seus bens
ca/intelectual das mais promissoras em se tratando de um “an- naquele país, mas de participar da tarefa de Reconstrução
Na-
cien regime”. cional, aceitando a Revolução Socialista como um “mai necessá-
À semelhança do Brasil, que em sua época fora a colônia - rio” ao desenvolvimento que estava sendo emperrado pela
má-
mais: importante no Ocidente, não só para a Metrópole mas quina burocrática do Antigo Conselho Ultramarino Português.
O
também para outras potências colonialistas, como Inglaterra, nativismo das autoridades, acirrado com a experiência de lon-
França e Holanda, Angola foi desde sempre motivo de cobiça. 805 anos nas prisões da PID/DGS, polícia portuguesa, extrem
a-
das potências tradicionais. Portugal visto isso, recrutava entre mente repressiva aos elementos de tendências autonomistas
os nativos angolanos juristas, homens públicos de um modo ge- assim como longos anos de exílio, fez das tendências nativis
tas
ral, sendo muitas vezes utilizados angolanos como altos funcio-. desses personagens uma forma extremamente radical. De outro
nários governamentais não só em seu território, mas também lado, O processo que designaremos de neocolonialista, isto é o
envolvimento de potências como USA, URSS, Inglaterra, Fran-
178 179
T81 081
a SL6I Ha . "EDOJSaP as Je eied enh
Japod o ureretãos onb (sozansezp) sodunSel Sosss, :SOU-LHPIZIP - 9JURNISIA O JRUDSPJ 2 IRUODOWS Sp 9 onejoSue ojos oo oud
soja “sopedmo so soueyjodomour so weLros enb souneonnos
oe “-pId OP 3 sogÍrpemn sens se uIeoIpop “sped op serio sesIaAIp SEP
9 4 OPÍBNIIS ESsop sasopesneo so sosonSmiod so LIBIOS OEA! * soJquioUr UIPquIe) OLIOD “Topod ou sossepo sep sojonbe ajuom
“OpU9ZIP WeiaJejoso sou solpai souejoSue so “son8miod ousT] ”. -0S OgU “soupjoSuE so onb uIoo omgodsol O 9 OquLro O
-BILOJO? O SESJOS 2p OpEIS2 [enje nos OP sesnea ouroD soureARID “BNPIA
BJOSUY ap opessed op sominags1 sou oe sozoa seynm anb “025 | “Os 2 BURqND CDUZNpU Pp oJueip urIenDo OP OsofeioD oImEI
“PULIOJUI OUIOD 9JU9pad01d Novared sor ossy euros re 2a . “ opour oua> ap navo1ed sou anb o fejuoHio no jejuoppo elos
“SESoNSMg sepeureyo sogõendod se anbes oe o4n - “serpuçiod Jonbsrend ap souioJu sornoSau snas IS EUQISBUI E
“USUI O “PUfUISTS E EpuIe 2 “ooruQuoDo OUIsIfeTUOj0051 op sea opuesnoos “seolgoadso seDnSLISjoeieo uíoo “OpumIA OH, TIN
“HUO91 SEAOU SEP “OMD9S alsap soLIpHONTOASI SOJUSUIAOUI sOp e IequI(e os exed eanejua) eum “elos no “Zegl op Waje JIseig
eoIdn eotigod etanu “seismgerrojos sopepLioInNEe se suo “ORISIIS ojod SepIAIA SEISIANEU SosB] SESIDAIP SE LIOO Nodaled sou atib
-OEU 9 SOBISIID SO “sosanBmIIod op sejuspusosap sajanbe o 08 “oupjOSUE EISIADEU OJUSUINUOS 9110] O 94 às anb mbe q
“HO 9p SOUBJOSUE amU3 SONISINOSEINE SO UIBABIIDE “SOJUSUITpao “EIsTfeUODEU
-OId sassap soaene “OpÍBUIsOjU] 9p serqueduos sens 9p sayoSp -ISMI 9 OUBILIJE “ojuonrajuaSueIge sreul 3 OUBJOSUE JoJPIPS UM
9P SMEDE “CourIg opepopos ep oras ow opueme anb ouejos “PWHO) OHISTUTUS]-OUISDLIBUI 9sso onb “ojuWEjanno CUpuSJald OU
“TE OLQITTS) OU sassoTozur ap eINnT UI sepuçiod sep opsenjgur -SIWTUO|-OLISTXIPIU OU ELIPIDOS BÍTAIO EUIM Ipod OU sassejo sejod
Pp eonod ep anb op jeSnmod sp sou emied PAREPII é OS “msIxº 9p noxtap onb eogru8is ogu “ojuejuo ou “oJs] euLremenn
“BD OIBUILIA OU onb sp SoÇÍPaLIOJuI SOUFOAD oro DU EI9qUIE] SEUI CUPILIJE OS OBU [EMMIjNS OPÍIpen ENS 9p EZISIDBI
“al -posap o anb “esa Op sasied sop soja op esuosoid apueis

a pa
-OdONoIA é eIPÁ ousa > 10H “anbiquivSoj dona a quilo % 9S-S19J21 PIDUPNIUI PIS 'sIed op sieutgio so ered esoporeurad

Ee ata
OBS 2P se sei sogôeuejd a seurur expd sopezns a sopenasre EpeISpISUOD (SElDU9NUI SELIPA Sp JOYjSLI nO) eRuUpnpu eum

Ê. ap as-IeXAT BINDOId “ojWomOW OU “UINUIOS OURjOSUE O
OPHE LSOAEIISA, OUIOD SOPeJENUOD LioIos soymuI op mete “ejey
zenbrenb rod sooueiq sop mearmrede epure “otdmoxo 10d “sou "QJU9UILAJOA
-PJOSUE sOjaId SO G/61 ap sassur soxourud so 93º aonh “epuenT “USsop wa sied no erpuçãod sanbjenb estos Tajeg os à reJeduioo
Wo “BIMEARIOSY EP Nosni OIr souIgIeIsUOD 9 souraqnos os QjuauIour ou op zedeo 'opunur op sjueiodum sreu sjed o Pj
“OUIS9UE O PIJUOS -OSUY UIBISPISUOS “EIST[BAPI NO OnugSUE JUS UELISNXO nao 12d
SESpIAOS OpÔE o ppueSedoId ep as-opusosarne '“sonBmiod ams sou onb FIgoJoOLax op OJuamnos um WENSUOUISp o monssod
“BI O BRUOS “OOSANN 2 ANO OmIOS sierpunia SIQÍPZIUBSIO sep “snadoma soAod somno 2 soson8njiod ap sajzapusosop sojonde
OESS9IÚ 9LOJ E sIedpULI] S910JOUI OUIOD ERISAN sossa “OBÍBLIM OtIOD UHSSE 'SOUPOLIJR 9 SasanBnyiod op soSpsoui so ouloo (e)
“H SP sIeDOS SOJUSIAONI SNS NSAJOALISOp Ps onb ua emIopou -a1d 109 SP SO) WaSLIO 9p soprIopIsiOD souejoBue so oque) “eu
ogóenits ejod “aguamessnf “op ozey o ope] ºp J2xI9p somspod -ODEN OBÍNNSUODSY Pp ºsej eU “ejuompene “onb opou um op
OBU SEUI “9JIOJ ONNUL OF EIS9 anb soureIges SSI0LIMUE seppou soug]|oSue SOp [eUODEU OJUSmINUSS O None ejistnuco eumo
10d “EUPjOSUP OpSBLIadI > EITONS e ajuemp son8m1od oxrsua]o E opPe| ouno op o SSHN PP sEISIJelDos SEuIaIsIS SO amo EIN] E
OE OBÍPAI E 103 OUIOD “0207 HF “1aqes [aajssod 103 SOU COEN Uroo “PLIEUODN[049I OS] V 'SOSIDAIP SIEUI SO S9SSSISJUT OP oofed
3 opedm5o sred um erpugpuadapu-sod a-p1d opojrad om ejOBUYy
op za] “eUODEUISJUL OBSIAIP 9p ossad0Id OU “SEBNO O [oBIS] “ES
T
T'I essodsay
e E O
OpóIngsap DP SDIP sou apopigissos pongosjaguy à DJOquiopn “OJUBUIISDN ZLJDI
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
O e
ES
TT

Vimos, portanto, neste terceiro ponto como é extrema- um contato cultural harmônico com Portugal, segundo o que
mente complexa a compreensão do nativismo angolano frente o eles consideram o padrão luso-brasileiro.
aos seus antigos colonizadores. É certo que, em alguns momen-
tos, esses mesmos informantes nos diziam que a luta armada e a Resposta 1. 3
expulsão dos elementos portugueses ou angolanos comprometi-
dos com o antigo regime foi importante para a nova face de . A política colonialista portuguesa em Angola foi
muito
uma Angola independente, entretanto, eles mesmos demonstra- específica diferenciando do padrão metrópole-colôn
ia dos de-
vam na prática quotidiana um certo saudosismo da época capi- mais protetorados portugueses. Angola, assim como Cabo Ver-
talista e histórica que não se coadunava com a notória adesão de, era para Portugal um verdadeiro laboratório para
um tipo
ao marxismo-leninismo que procuraram e procuram ainda im- - de política administrativa de aproveitamento de quadr
os nati-
por à maioria do país. A saudade da época em que Luanda era a vos. Por diversas razões, que não nos cabe explicitar
neste pe-
maior metrópole do Império colonial português era visível em queno trabalho, foram mantidas as línguas considerad
as nacio.
capitalistas decaídos, comunistas históricos e os neófitos. Não nais, assim como o modus vivendi das diversas tribos e etnias
nos pareceu, no entanto, que, se houve durante a fase de anta- que compunham o povo angolano.
gonismos aos antigos colonizadores movimentos do tipo “mata- Parece-nos que dentro da política colonialista de “divid
ir
marotos”, possa ter sido uma situação orgânica de oposição en- para governar”, Portugal, como as demais potências compr
ome-
tre angolanos e portugueses. Várias vezes ouvimos: “Houve por- tidas no eimo-colonialismo, mantiveram as hostilidades locais
tugueses e portugueses”. Nos parece mesmo que o antagonis- mantendo, neste sentido, divisões regionais tradicionais em
mo que houve partiu de algumas emias que estavam em des- proveito próprio. o
vantagem frente a outras e deslocadas do poder na época do Neste sentido, as denominações regionais foram manti-
domínio colonial antigo, assim como de jovens. Nos pareceu das grosso modo, mantém-se nomes de região como,
Malanje
que no caso dos últimos, o antagonismo não era entre ango- Luanda, Calhamboloa; Moçamedes, Cunene, Kassanje,
Cabinda,
lanos e portugueses, mas como uma influência dos novos movi- Kwanza, Bengo, Catete, Canga-Zuze, Cassoneka, Ikolo somente
mentos sociais ocidentais era sim de negros versus brancos. para citar algumas denominações geográficas que nunca
foram
Aquelas etnias que conviviam mais de perto com a cultura por- mudadas durante o domínio do antigo regime e que
ainda hoje
tuguesa, mantém ainda um certo respeito e mesmo um certo permanecem. Assim, também, nomes de família, ou seja, nomes
equilíbrio frente a cultura e às manifestações “metropolitanas” etno-linguísticos permaneciam com os indivíduos, mesmo
que
não nos sendo possível notar, principalmente, entre os da etnia esses Tecebessem o nome cristão imposto pelas autor
idades
N'gangata (emia do Nordeste), os lenenes (etnia do Sul) e os temporais e religiosas de Portugal e outras potências
participan-
Mbundo (uma das maiores etnias de Angola), antagonismo xe- tes da formação colonial. Podemos citar, como exemplo,
nomes
nófobo frente aos descendentes de europeus que lá conhece- nativos de autoridades atuais: o Comissário Provincial de
Luan-
mos. da Agostinho Mendes de Carvalho, não perdeu seu nome
étnico
Nosso contato com os exilados em Portugal nos demons- . de origem Kimbundo, chama-se Unrhanhega Xitu, o
poeta e
trou esta face exótica do nativismo angolano. Os exilados prefe- . Coordenador-Geral do Comissariado Municipal de Kakw
ako Ar-
rem, mesmo dentro do antagonismo com os metropolitanos, se . mindo Francisco (Francisco é o seu sobrenome, pois nomes cris-
dizerem descendentes de uma cultura e de um passado comum. tãos que são sobrenome vindos do prenome do
avô, de um tio
a Portugal. Sua grande esperança é desenvolver uma história e mais velho ou do pai (junta-se o nome nativo), nunca perde
u o

182 183
S8t: +81
ojodomsuI Pp 9 BIUQ/OD EP Serio se opuessaseiye “ESQIOB
IA
- S2I92A9P EDISojospr EqUI] PUM nImansTOS oginpord eIsq
“eIso0d Pe “ajuomep | “[eOS 9 emana Tepes eruouome ep
“BJOU “o [EDOS à EISTUODOI EINIPI aN] E :sIOp SPIJE “OBSEjN OIDA -Je2pt O “eoTUIÇUOD9 9 eongod eua pusdapir Ep oImod oqusures
PP
IêURS UM 9A91JO OS jepusIsixa ouIoo oopgod os og a oueum
y “-uad O Hpumjp ap searspU SICuI SENLIos Sep EU IOJ nb 2921
OJSUmUOS Op paupjtodso à SIA ogônpoId e “opou DIS “a “Bd SON “BJ20d O 9 OJEISIIH O NOJOSIA Bjo 9LIUY "SEDIOTED NO seST
“HePRO OP SuBuEA emo ojuenbus esmo eudosd ens op
03 - -pBUPAS SOQSSIUI OP SOSSaISo SIDAOÍ Sp EIS EHOJEUI eíno asse
“USTUTAJOATSS9p Sp SOU so uIOD PpIdwOs spepaos eumu
ejos - PUIN “sIemojatuI 9 soonyjod ap as-egmunstos eonIjod aJuatueAnE
“UV “I9zIp sowBronDb ouioo nounoysuei) “estsidur ep sJusued : 8SSED E “SEPeILD BUIJDP SOQISEDO La SOUIBHOQSA eÍ OUION
“DuUnd “sessem ap opôvorunimoo op SOTSUI SOp oesnnp opu ejod
nouúnoysten “fispIg o Wo ajusupenadsa q opunur op sremamo Z BIsodsaH
SOTHISD STETOPIPEM SO UIOD Onogoid ojos um epnzedentos
us opuipadu “sanjojes snos op > EDnpIAOS resmpno ogónpold “[eUOoDEU OBÍLISSTUI AP 080]
ep EPpejus eópeur eum nosrqissod onb “OpeuyPISJOIA op emp 2 SEDUJAOId 9 SOACÁ SOLIPA SN9S ANUS OBÍP2TUNUIOD SP [eruossa
1
eua E OPi49p Jemano oquaurejosr ojad SJWauTagus00 srem
seuI J0J2J “[EUODEI EnBur eum euros “sassejo Ui OPIPIAIP Ieisa op sa)
TeSnMog 2P erugioo eum 13s E opiaop os ogu meIms sod SOLEI[ “TP SEIUJo 9 SOQLO LU9 OPIPUAIP piso sted o stod “esoSuod naoored
-OSUE SO onDb gonuopeoe o [ELO] OgônnsM eonod opunop onb so pio onDb ogdeSaIBPsop EP OBÍEZIWIIUHH Sp SetoJej SOP UM à
10] SJusjed nov sou and o “ogsnap a ogsuoIxo ens » epep sem feuopeu opeprun ens eInDoId “somassip Pf ouroo “PjoSuy
“SEI9] SEjod OssaIdxa 10UJoUI “EJSIADEU ogdeIfexo op ojuaunuas “JeUODEN OHÍNDSUOZIN PP 9SEJ EISDT PpRjOpE 195 e jJesmymo
OP a9JIed Wo 2s-na49p ousuigão asso onh SOUFBJIpaIoy 2 ponsmSu E>ngod E axgos “omqugoId ou soptpnte PÉ sous
Te1o8 opom um ap og3epndod ep sem “sopergestos SEI “noop siop sop soyon JEI sourtrojaId “sonênIsod oLIgNqeIoA
-BOd sop sJusumos azred opu “remdo d oymo op [eorsnu ogôisod oe OpÍBZIfEDI E 9 Vad ep seurmguodo sepugueuned no SES
-THOD EP OUIOD UMSSE “PISS0d PP ODDIaX O O q assa ron O o “uepna se ojusay Terpyo eongod ep ogdeordxo E ojuend
“eurjOBSue opdeu e "2U9U9] 9P BIDIIOD EOeIS eu ofoty “sUSUnD 9Pp erpupoId
à OLUEUODN]OASI Ojroumpsuad O commod osmostp o tb op soil 2 IO] OANEU SION O PIPd OUIOJ5I no “eSuepnm euI() somo s
“SUL BITOI9A 9 Essaldxo “FILIOpOUI EIsd0d Ep sooônpoxd SS10W[oUI sapouir5o 198 E nossed “OJgo7 “SErsgo sagzez 10d “OpUPIETEPN
se UIoo ousa emdsip a suagemy sens ur POLI 2 ojuejta ou Euro “JEZPIeS OP 9pepl ep OBÍPUTUIOP Ep EpIad E oAnog “Uop
Biso0d y -eIstujua|-eyspuem uraSensSur ep erre o pone? -I10 eAOU Pjod PjOSUy op soJossoiBp SoJOTem SOp UM OpEISPIS
SFEJ EUM 9P s2AeNE essaldxo as UNS asso “anDb YIdIN op sopepir “OD “PS 9P PISLIOD JOPEATeS PLUPPUMNDOS EJ0DSY P ONIOS “soson8B
“OINB Sep soJopeutmnop 3 sOANEJIOXo SOSINDsIp so UHOS endstp “miod sIQIoy E SOPEP OPpIS ueIun soponad sopeuiuiisip ta
onb (siegmm a sosyrigora “sreIUaISTXO onrsueporosso sojuour nb saulou ap SOUIOJS1 9 SBÍLIFEPpNRII SAnOW “OjuEIUS ON
-NUOS OPUIZNpei SJustiajo sriem seus “sootda sojmsa too) vo0 “SPPRULIV S25104 Sep nasnijA elos [erogo ogóeu
“pod ejod niznpem os ouejoBur oonjod oyusuresuad O -EIsIfeDOS ! -Bisop ens eIOQUIS “SODIPIA OES Pp SH0] O ““puenT op omed 0ES
opônToAd1 PE sode 'equauedound “BSIOZ STELI NONO] OJSUITAOUI 2P EIeq E epireng onb esongnuiod msBto ap a110j O “equIEnNTA
asso onD 103 ejoBtUy op Iemdog eorquday eu PIPEISS ESSO ques ap opEjeq es-emeyo onb jenomeuiooB oppjed [edound o
np napussidins sou onb q “ouejoSwe ouIsAgeu op oviepexo OUIOS STRDO] SOTIOU SO OUIOD EPUIP SOJUSIIDA|oqruisa PH
ep º sopruzido sop sassaIsJut sop esajap “urspio Bp opdejsajuoo “SEDIj9S UPAS SOOSSTUI TIS SOPESNP3 UÍBIO]
9P BULE S)OJ SIELO E I0J EoBo0d PULO] V “sosped somo exed SIOD SaI1S% "ODFUIP 9UIOU NOS 3 EMUPIM /0XNOL UISBLIO 9Pp SUIOU Nos
T PE E
OpÚINASap DP SDIPp SOU APpDPigIssos [pnjpojagu] 2 DIOQuIORNA 'OQUBULISDA zLyDag
ua
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual

da
Possibilidade nos dias da destruição

beem ee ea
Resposta 2. 1 possibilidade de preservação das diferenças eimolinguístic

er
as e

e
dos costumes culturais das diversas províncias. Como estão de-
O político, como lutador, na fase de libertação, pela qual monstrados nos documentos em anexo, a nova mentalidade
po-
ainda atravessa a República Popular de Angola, teve de se exer- lítica dos humanistas angolanos busca uma forma menos tra
citar através do verso a fim de comunicar seus sentimentos e matizante para as populações no sentido de uma unidade de co-
seu pensamento por falta de outros veículos de comunicação, municação e ao mesmo da tão almejada unidade nacional.
como já nos referimos. O literato e, principalmente, o poeta, ti-
veram o papel político mais importante da luta, tendo todos Resposta 2. 3
eles, sem exceção, vivido longos anos na repressão, em masmor-

o cm mn
ras e prisões lusitanas. Por outro lado, grande parte dos mesmos | Esta última resposta cremos que pode ser vista pelas an-
foram guerrilheiros e empunharam armas, além de atuarem em teriores. Para concluirmos, transcrevemos trechos de uma poe-

interece tod dy tr e des


muitos países do Ocidente e do Oriente quando conseguiam es- sia de Armindo Francisco:
capar, temporariamente, das prisões, lutando na clandestinida-
de do exílio pela libertação do país através do verso. A Luta Continta
O principal líder da Revolução e Primeiro Presidente da
A luta continua
República Popular de Angola, Agostinho Neto, foi um dos me- porque estou farto da fome
A luta continua porque
lhores poetas de língua portuguesa da nova geração e, após sua estou farto da miséria
A luta continua porque estou farto da calúnia
morte, foi considerado com o título de Guia Imortal da Revolu- A luta continua porque estou farto de ser estúpido
ção em África e a exemplo de Lenine e de Mao-Tsé-Tung, com-
preendendo sua poética um verdadeiro roteiro que visa conso- Há quinhentos anos que sou analfabeto
lidar o pensamento da Revolução Angolana. Não sou ninguém
Não tenho fome
Resposta 2. 2 Há quinhentos anos que sou rapaz
Mesmo aos cem anos
Uma das providências de se nacionalizar o conhecimen-
to, ou melhor, a produção intelectual angolana foi a organiza- Há quinhentos anos que sou espancado
Há quinhentos anos que sou esborrachado
ção da União dos Escritores Angolanos, que, através do seu co-
lóquio, procurou imprimir a face político-humanista da Revolu-
O meu pai chama-se rapaz
ção. o
A minha mãe é Maria
Se não foi somente uma visão impressionista de nossa. O nome da minha irmã é rapariga
parte, esta entidade que tem quase todos os seus membros vin-
culados ao Conselho Federal de Cultura, no momento tentam. A luta contirua porque estou farto da fé e do Império
uma guinada para o Ocidente, procurando suprir as lacunas cul- Das civilizações ocidentais
turais das etnias do país e com isso entram em choque com a. Das religiões hipócritas
facção do Partido que mantém ainda uma linha extremamente.. Estou farto de ser sub-homem
soviética dentro do MPLA, que, ao contrário da primeira, procu-. Estou farto de ser ignorante e ignorado
rando centralizar a cultura angolana, segundo as imposições da.
A luta continua porque estou farto de esperar
mentalidade oriental. A U.E.A. traduz seu pensamento vendo a.
186 187
68T ssL
“LEGT 9P OFEUI SP 97 “orou -
“Er 9P OH “OroumMoj [eu IOf OU sjusujeurõro opeorqnd oresum “go
"EZQITUBI E IODO EFUOULIPI 9p
2 Zed op ErUQIofos PRIT! P OPRUOIS OIMO UNIN “.SSIPLITEA
SP OQGUIOJNA) E OUIOD OIQUNGIIS OP BQUIES SP EJODS2 PAOII
BUN HO CONF YIPIZ O QUIO2 OJUOTITAOIE UM pP “PjJOAEJ eUUM
?» OGLOMD O OISUEL OP OH ON 'SIIUIAI] SIBUI JOA
JA IESSOd seossad se opuo Tesny um Jos apod oguropmo)
"ESTOADE JOJ OpÔERIIS E opuenh
OSS EPIA op opepirgissod etn dq 'SOprUnUÃO SOJUBIG
SOp 2 SOIS9U SOP BIUPISISOI E OPUEIOSSIdO] "CAM EISa
Fpure oguiopmb O “SESIEA OpIoL) opdEDpun] Ep OrraniHo
“SEN ZINPOg PBOJOIDOS E EIS BlOW ap SEIp SO g3e Op
-Ddol OS OIBA PISOU SPEPIUNUIOS PP erupLIadXo ESSO SEJA
“Esonsnzod
OPÍEUFUIOP BD 214] o alo — sorPuiFed ºp oquiormô
O — OLQIIS nos Jojuenr gred o CONGUIPILIOS Ho TIFAX
omops ou Jeonóe-op-cieo ep orônpord 2 rmiBABuUIIOp
ND SOIS[ISBIG SO 9IGOS POLIOISTI] OESSILIO EUIT] "SOARD
-S9 HFPIOS EDU onD sorSoU Sossop EPIA EP sopep so op
-BEHO UIP JEIDHO PIBISOLOISH] W 'sogurormb sop ELIQISIY
E IBIEJUOD OP PDUIB BJOISO AP SOJAI] SO à sazossajord st)
---PRUQUO? EINT V
sous eiuTUI BIP-UIOG :ZIP BPUIE EXOpEARI V
é eIOutos Equiu pfgere| “eftrerer :2B epule exepueamb y
29sa| OE Cues70 op onbsod enuntos BInj V
ejouisa erpod mISnB[e BTU BLUE BL Iago EPUPY
coJEABUIRO OU “BJSAP4 EU “Sareuped uIS :oquom PF
sezenbir SEWUTUI SEP SS01PE] SO oJIOdNS OEU
grrreena ar
páToy PUUILI BP sSQIpeT SO ojuodns OB PY
ogd nau op soo1pe] so ojjodns OEU BY
sOjno9s op Sto OWUa,,
L 4
OUIOD OEU 3 [SOUL & SI97 “PURUI UA) BIS] BQURI
seyjeSIu Sep 0JEJ NOJsT
OpÍmsop DP SDIP SOU 9PopiNqIssOA rongpajezu 2 pjoguropno) QJUALISDN ZLIVIA
Possibilidade nos dias da destruição
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual T]]TTTT—
— TF

ou circo negros reunidos também formam um atribuir força ao dominador. Porque o grande mal não é a pre-
Quatro
Basta um negro estar com outro negro ou sença do branco e sim a saída do negro.
quilombo.
consigo mesmo. . . . A vida de quem sobe um quilombo no centro da cidade
Beatriz fala de si da sua vida, “uma
Neste depoimento é a de quem mora na área geográfica que faz a história atual do
pegue no-bu rgues a da Zona Sul
negra bonita, intelectual Rio de Janeiro: os quilombos do morro de Santa Tereza, morro
sas, Nos INOITOS € ROS subúrb ios
carioca”. Em suas pesqui de São Carlos, do Catumbi, do Corcovado, do Gamboa e no por-
a
do Rio, tem descobertos novos quilom bos que reforçam to. Sempre foi a vida dessas pessoas que produziu a história do
convicção de que a resistência contin ua.
samba. Da Gamboa, por exemplo, o povo descendo o morro vai
cair na Praça 11, onde, inclusive, a escola Unidos de Lucas e a
quilombo é um avanço, é produzir ou reproduzir um música de Ismael Silva se urbanizou. Na Gamboa, a empregada
momento de paz. Quilombo é um guerreiro quando sabe que a casa da madame está ali embaixo. O estivador pode
precisa ser um guerreiro. E também é o recuo se a voltar a pé do porto, os desocupados criam cabritos, porcos.
me” Juta não é necessária. É uma sapiência, uma sabe-
to feliz,
doria. A continuidade de vida, o ato de criar um momen O dominador é meio ingênuo
e mesm o quand o ele quer
mesmo quando o inimigo é poderoso,
Uma possibilidade nos dias da des-
matar você. A resistência. Na subida do quilombo o povo se diverte, o samba de
qruição, boteco em boteco torna a vida menos cruel. Ali pode-se pensar
como homem livre, pode-se plantar porque a terra dá o alimen-
A favela não rejeita o branco to e principalmente os vegetáis do candomblé. Você tem acesso
às coisas fundamentais quase sem nenhum esforço. O carnaval é
O quilombo do Rio de Janeiro é uma favela, uma man a expressão musical dessa vida comunitária que desceu do mor-
trem da Central,
festação de dança negra — O Black-Rio —, um ro. Infelizmente ao longo da história houve várias tentativas de
outro negro
uma nova escola do subúrbio. Estando o negro com * destruírem essas manifestações. Como no Estado Novo aquela
te: esteja
já é um quilombo. Num sentido mais ampio é o seguin lei do Getúlio Vargas que obriga a escolas produzir somente te-
esteja com Pelé, ou consigo
o negro com o negro americano, mas-enredos relacionados com os fatos históricos oficiais. O Es-
or..
mesmo e esteja com o branco se ele não for o optess tado Novo proibiu que o negro dançasse a capoeira e que usasse
, tem
Desde Palmares, no século XVUOL em, Pernambuco a frigideira como instrumento porque ele sabia que o cabo da-
rio, tem sido
sido assim. O quilombo nunca foi discriminató quela frigideira era uma ponta de punhal nos asfaltos da cidade.
o norde stino, um
assim. Jamais uma favela rejeitou um branc Mas o dominador às vezes é.meio ingênuo. Quer des-
porque a
mineiro. E ali a maioria é negra. Mas ela não rejeita truir e por isso erra. Foi incapaz de prever que o povo fosse se
da favela é
favela é o lugar do homem sem-terra. O quilombo apropriar da história e reproduzir sua crítica através do samba.
se apode ra de um |
forte porque ele é a união do homem que O povo soube criar poesias belíssimas, apesar desses textos ter-
pedaço de terra e divide essa terra com vários outros. ríveis da história oficial. E o carnaval continua lindo. E conti-
A escola de samba é um quilombo em festa, e a comu- nua.
que essa |
pidade da favela que está nas ruas. Hoje todos falam Aos portugueses também foi difícil compreender os qui-
vive um drama. Mas dizer que o drama da escola
comunidade lombos. A Corte Portuguesa sabia da existência de 50 mil ne-
Isso é .
surgiu a partir da entrada do branco não é uma verdade. gros em Palmares, mas não como dominá-los. O quilombo tinha
uma base familiar patriarcal. Eram profundos conhecedores do

190 191
E6T c61
E -
BUOJ BANO 9p eIHOS BLroIsH] Y conb 10d q erenrço ep seqo a!
p.| “op “eioJ EULIO] BUM OP JPABIS LEA 9NÊ) “OOUBIM O 9 Sajsp BoISAUI
o eJed F “osgjDso O “OPpDUoA assa “opjrumy
o “oISau o os-nomw - B OpurazIS epue urenb opepida eU onD seuI SEISNIP SO OBS soja
“BI 888T Wo stog copessed ou somazr ouios
eSue pnm e soz “nb Joges SISL0 7 'SEIP SO SOPO] S29J028 Ojst nb Jaques Ez
"BJ > oprimido ap opãrpios» em SMIStuBAIssed Ienu
mior SED emn q -agxo asp o onb seisejue] se seded eIPd ornsquip
“SUSBHO sequIO prod UM . - Us OEIS9 “SEJOAPJ SEP 98UOT “SICUI IeUS9p 9pod ogu o [eaPULIRO
“UMA [emos eisou eum nos onb ng oype qeo or YEITOA EIp oumjn ou notgsap oEU “seon7 op sopru e “ejo2so EquIUI ep sor
Omo OU à Texe[91 “TeStrep ojue) ap Jesuro 9904
op spepirigissod --Tenbimo 07 ºP eje eun anbiog “zIfegur nojse na “ojusmmon visou
ewn 2 Woquies onb ajquoptes ou oimoD SOSOT
9PpOA “SeL1OJ Sim ““ofoH “sou eIed PoISpD 9 jewel opepruop! op eprod vy
“ojdmoxo 10d
“USS 98 9P EISUPUI BUM OLHOS OrY>pPIg O UIeIE
LH seul suoSio
SENS WBISpIod Orqingns op oquiojmb 9SSIp
sor8ou sO - Teosnia opssoldxo eumu epra 2 IZnpoIdas op opengqrssodul
“BUEoLIoUTe eprundo vões pjo oI89U O 9 OIINqNS O Opo) wo a ensedalropp “oJoN oujS09 “EUId
SUSU/BUSWEpuny BOIS UISANO 5 OSSI rod
pa 9P SeIg UI9 94 os onb o 'ogIUg 'Sepearid sep onusp equoe onb
oIginqns Ou nos op sodnis ueziue81O ESOIBoU
sudaof so TODO epruIoD E UIS es ogU Opuenb oJogso 0 Ispussiduioo jJpEIp EI
SJUOE anb O groSy -ajueumop BIS0[O9pt
Pp oyed ZeJ “OU “BJ9JeA eu Ie8of 2 oolusd ou Iefiur ap “ejSAeJ Op Opunti nas OE
“FNUOS Oy “ezITeprroso os uIpnSurm o seJoosIA seEnS se 222 ByOd SEQUENSA SESTOD OBS SEPpEALIM à sedIq “sofamzy olIouI O 2 oquIOT
“UI OJUBIG O “OpÍpIIOdUI onb op 9 srem epeu apepo nos Esso “mb op jeonidA O onbiod soppoymoosap OBS soIpoid so
9P SORIA SO sOpo3 q “eLMy jemoojazur O nb cseS
p o “esniq eyU “Dj2Pp P OBU
“FU Esso > opÍpuIOdUII OUIOQ “ogãeuodriar eum
q mos O º onb z28n] umu aArA “12Jue> ap oduia) o o sogpure so ureyes ou]
"BQUIBS O OE 2 ROS O WE "BUR “EjjoA op oyureeo ou umbajoq O emuOdLA srem eoUnN 'Inod
“Tare eum Tod OEU 93 afop opein 103 onbzod exopu
rde colou op -NIO? Op sogÍrpuoo uia] ogu aj> onb uia jenoIssgord opeoIouI
SBHOIDEU SIBINYNO sozjer sepol puopiege 9] OEJUY
“squopuod umu remus “js PuOoZz Pu Ieujegeo seip so sopoi 1% > SEquEnN
“SPU SIEUI “BJSAP] PP aIAI sreta EPIÁA op ojmso o od “ns EUOZ -sa spOSSad KIOD ISAIAIOD P “OpôNpUOD JESN E ESLIgO às *opunti
BP OBÍPILIOJUI E UFO OJAJAUOD UI9 Jejso op Spep
iqissod e ulei nos op sjuslosIp “TeBnj CAoU ssseN “olqinqns op [jeuonEI qeu
-9pIsd onb “ormgypelg 9P sopeurego 'sorSar
sudA0L ops cyunfuoo un eied opeBol 2 aja O SsE[2APJ SE UIO) 9S-UIBQLIY
“PIHOJ emno E “PIPITIgOL! OpÍEjnDadsa ep sonene ofoy gIe enunmoo oquio]
EHQISTY E Imxoznpordoy -snodermo seo
soprrojos saoundes -mb oz opssoldal ep eLIoISTY V “EUISSITOq 9 S J94 Josmb uonb
UBjES “seongxo sednol uresn soja “sopop o 2 anb
squatqurr EuNt eIed equguord je eiso miznpoidar os osdumas euIpismy e ermo
WoAIA Teuge Tere apeponapr e upsopiod ouor
“JEZHIOBA uIa1 erreISoLOISTY EP 2 ojustreanburiq ap selros) sep Iesody
“9ZBJ 9S 9P FEIOS en memIgoasap olqmqns
ou sepeSof sEIFUIe] “SEPIA SENS SIJOS BPEII aJuonIp>neId q 'soq
sessap SUSAOÍ SO OHSUPY Sp org ou aNrouupema
y “PSToApe op3em -mopnb sor OpssaIdal E IOF OLD UIRJNOD Sa[H “EsonBnNIIO SHOP
5 sms o eIRd oquropmb oAou um BR 9 a]sIsal OJSou ejod sopep tieIOJ “oAIsnpoul expun( erIçasty ep “sojuatimnaop
N 'SOUSSUI soja 10d pApeuISe e UIDIQOIS9p “Ulaz
“EM so stod “0041 ºPp oue op In1ed e wuBISdoTede sajo sa1opeLIOJSI
SPsop
“Tozey onb o uages sajy soiSou o 1922] sA9p
onb 0) so eIRd SEIA “OSUOD) OP BPM EP UIBISIA soja 9NnD 3 6SST
Ise1g ou soquiojmb uremspta onb as-sqes “SIA O1S9U O 91Q
S3HOJ UIZINUSS 9S OP eIpUEN -OS S90ÍBULIOJUI LISJIUIO EIBIZOLIOISTY EP SOJUSLINDOP SO SOPOI
anbiog “OH5[|ISBIG OIS9U Op [Jedpund eóuerom E 10] OppIAEIISO
l . “EOnfL
f f ep PIeg eu esp e Io 7 EI
Bd oJaqurp o 1ep ºUI IZ4 onb seu “sjop e e anb esuod 9s BpUIE “eso(ode] 9 PLIQISTY é omo? “aloH “elong
q oeu onb Puros eum 9p svôue] Se IPOLIQE] eIed EiBan|eISUE E UIBIDAjOAUaSOp “fEJSUI
e
OPÓMISOp- DP SDIp SOU ApopilIgissOs JoRpaJaguj 3 DIOQUONNA OJUIMIISDA ZL9D2g
Possibilidade nos dias da destruição
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual
—— ea eee
O
== TT

i ava sairi das terras dos fazem dei-


mas todos sabem que ele precis
foi fei-. -.
ros para entrar o emigrante. E hoje se diz que São Paulo
eses, mesqu itas, almei das. Dea
ta por italianos, alemães, japon
este
dos. E não pelo homem que fez, pelo homem du
a val
plantações de café e que depois foi para a doca le
Este homem ainda resiste. A favela, o gnto do ca al,
o Black-Rio, o branco solidário está conosco nessa
ut de ae Entrevista para o Documentário
atirm O Negro da Senzala ao Soul”
tência. Eu, como mulher negra, tenho poder para
nada para mim. Porqu e como todos ".
pele branca não represe nta
i
inha úbeleza, minha força e meu sa ber. : Mas o-
, .
eu também o
Do she
dou minha da pelo branco, me dou, dou a minha
para querer
cultura, o meu saber. Eu sou suficientemente forte
3

A ]
estiver contra RUI.
i Ao longo longo :-:
o branco comigo enquanto ele não
dos anos essa tem sido a lei do quilombo.

eatriz Nascimento: A História do Brasil... Eu gostaria


- de dizer que uma frase de José Honório Rodrigues, .
E) que se tornou quase que uma afirmação geral, é que a
* “História do Brasil foi uma história escrita por mãos
— brancas”, Tanto o negro quanto o índio, quer dizer, os povos
"que viveram aqui, juntamente com os brancos, não têm as
suas
histórias escritas, ainda. E isso é um problema muito sério, por-
“que a gente frequenta a universidade, frequenta escolas
, e não
Se tem uma visão correta do passado da gente, do passad
o do
“negro. Então, ela não foi somente omissa... e foi mais
terrível
ainda na parte que ela não foi omissa, ela negligencia fatos
mui-
to importantes e deforma muito a história do negro. Quer
dizer,
; “frtratando basicamente da escravidão e deixando de lado
outras
“À : formas do negro viver no Brasil, como todo o processo de
alfor-
“tia que houve durante quase todos os quatro séculos
de escravi-
“ dão e, principalmente, com relação ao quilombo.

64. Entrevista concedida por Beatriz Nascimento à produç


ão do docu-
| mentário O Negro da Senzala ao Soul. Ano: 1977. Duração: 45 minu-
tos. Documentário realizado pelo Departamento de
Jornalismo da TV
Cultura de São Paulo.

194 195
£6L 961
s 28 OBJUM "Eqeoe opgssaIdol E onb OJUaUIour op Ipued e Ieqeor
3 opod oBU ELIOISTY Y “sIsixo siduios onb ponIgismy opepmúntoo
p van29dsiod ep onHap 2 Ja4 onb ua] 2904 “oIBSU Op PLIQISH
EO OquiopNb O souirapusjãa as OJUoUMAsEN ZziItog
cemos anb ap “(ou usIsjuem as ap oquognd op sagôrpuoo
“se no oquiogmb op opdeznreBio ap eIopI essa “afoy “Tasouemiad
Wopod no afoy sooweuiod eutios snb ap 3 pumba
*OEU NO SOAEIDSS UISI
>s op SJepuadepur “suauior omo) wepusio as onb suourow
: “ap 103 oquroptmnb o anb “oteuint OjisunDaTaquisa O q onb “saque
= 98sSIp no ouIoo “eanDodsrad emno e wa) oquopnb O
copusiua 'soaneBou weIo anb WEAR onb of
“= -mbe UMA 9s o “ureirunidos onb sejonbep sojusumpoop oes anb
4: SOJU9UMD0P Solsap ojadssI E EISAdS OI EOHID BUM Jozej
“-onb Uia] 2904 “ELIQISIH Pp erSojopojaur Ep onap feras opom
- 9P PIIOISIH NO YIseig op EeLIQIsIH SP EIRM qDoA opuend)
"opssaIdol Ep 9JoureoIseg sojusimoop so ursos onb
: “"Opo3 01D982U assop “odureo ap soxjseu sop '“sesongnjsod sapep
- -Wome sep “epjjod ep ogdeJusumoop E 19110921 enb SQUIa) “SOUI
“OBPIBI “ -SoUI sou é “ouIsow no p12 CORN nosaroso anb odueIq O TOJ
“SH É NO EpozEy P Os OpEITuT BARjso OpU 0185
O onb 134 Fen a “” “oyosa epeu noxtap ogu OIS9U O “Tezip Jonh “Ur ojuo8 e onb
“o8 E anbiod “oxrspseig tIouIor SP EUOIsIH
“CIS9N op PLIQISH É ope UINDOP E OUIOD “OESSSIdaI PP ELIOISTY EM SIUSUIOS joBsa
ESBIg OP ELIGISIH ap sourios mo Texto urepuny
2 ossT. ana = 8 OBU 9]9 Se 'osdulas “oprmWLICSI SJU9UI|B9I 10] 9J9 “oquorpnh
“soquiomb-xa ap SareSny Wa “opdeiSIu em
UrPABZITeDOT as soja * O J92p ITQ oquiojmb op [epos opóeziuegio E oIgos opmasa
EpeLIOQ ep eoodo e sjuemp siodap s 997 ur
opessed om “ um ajustreasn/ 052] na “opnisa Nour op onUop “anb ulo epIpoul
-2s ou erugzenre E EIRd soupsapiou sajreisymw
sop LraSessed “= BI OJalIOo 9 OBU anb ODE NY "OBN !OJISUMDSEN ZEN BId
BU OEUEICIA Meld TISEIQ OP 9!sapioN ou msquir,
“entosnus E OJBLIOD 9 OSSI “OFÍHOQY E LIOD ELIBUTULIS] jo anb à oquropnb
POA “oquioTinb-xa ap a28n| 103 enb “aIquiopteo 10y 9PpUo
saJegn] Êo op OpÍejoI WIS uIo] os aonb eanoedssad em imunsiad
ENUONMIS Juss E “require “PIU EU Cornaner 2p OE OU “SEJIAB] “J9S oP BULIOJ
“ON9JSeI
ogs epure afoy apuo oquopmb-xo ap ovISol enuosto
s504 “oJ ens e “emymno ens 'satanasoD à solar snas so WO)
T9UB( 9Pp OTH Op sjusurediurrd “enITOd op OLIQJB[2I
vio anb 0) -OHBILIB ODLIQISTY Oopessed nas O LO OPIOJE ap ISAIA uressod
“SIA OUU9) “uraquiea “esmbsad euurma er “opel onno 10d q Soja apuo IS eIed apeponpos eluin IRZIueSIO SJUStUSJUSDSUOS
"OB)BZIUBBIO Ap Odn assap OQUap a/oy epure irmas as
UA meno01d snb suaurouy 2 oquiojmb o ojuatreoseq seu “SOABIDSO
-2P sapo opdezineBIO op odn ossou moumai as
TAX ojnops O Pp Opnsixa EIS) Speponos essat onb ousaur “a1AI| apepoidos eum
“Sop “soigoU sustIOy SO as “ZIP Ionf) “Oppozedesap eta ossi UI Iapuso1duis Ouroo “axa; odnIS OUIOD SoJop BLIQISIY PP InJed
onb “sopessed Sopas UI 10] OLIOS “epeuire OESsaIdo1
ap Joaru “emb Uia) 9D0A [pal BLIQISTY ENS E roj onb op EanDadsIad eum c33
us “oquiopmb o atuador op werextop onbiod aitodar
9p “spod “du O pIRd OduIa] OSS OE I9ZEN & OIS9U OP ELIQISTY Ep OoJtad
OEU 9904 SOISAU op apepapos eum ouioo oquojmb
o aprejua S21 E ONE Opmaso Um Jepussiduis exed anb oe na
O oo oso no e
OpámiTsap vp SCIP Sou aprprigissod jongoajequ] 2 PIOQUONN) 'OJUBUIISPN ZLIDIg
e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
Beatriz Nascimento, Quilombola a [TT—— :
Para a pesquisadora, “não se dava ênfase às diferenças
regionais, não se dava ênfase à trajetória histórica, não se dava
importância à dinâmica antropológica e não se dava dimensão
cos arar dei
humana a esse socius”. Destaca apenas “uma linha de pensa-
mento dentro da História a partir de Capistrano, dentro da opo-
sição vencedor e vencido, dominador e dominado”. E concentra

Fi
A Sociologia do Exótico seus elogios em José Honório Rodrigues, “porque quem não o
leu pouco ou nada sabe sobre o Brasil”.
Se A grande frustração de Beatriz do Nascimento diante da
DO
bibliografia existente sobre o homem preto, como ela [...]“.que
coloque negro entre aspas, é que “falam de um negro gue não
sou eu, nem meus amigos”. E dentro de tudo, “desta confusão”.
ela se pergunta o que é realmente o negro brasileiro. Outra cri-
tica à abordagem dos sociólogos paulistas é a de terem deixado
de lado o antropológico, o histórico, o psicológico, para concen-
dação Leopold Senghor,
trarem seus estudos na sociologia, o negro na sociedade de clas-
Bolsista e pesquisadora da Fun os do ses, O negro e o trabalhador, em que negro é igual a pobre e
dos Afro-Astáric
em convênio com o CenitoMAsde Estu .
riz Nascl-
a
branco é igual a rico.
Câm dido Mendes, Beat
Conjunto Universitário
1 j a bibl i tente s obre o negro. no
ipiiografia exis Beatriz Nascimento acredita na existência de um precon-
o To.
dios os ceito ao nível das ideias, de intelectuais que procuraram enten-
raci
- Brasil, 6 O sac iasmo e à escrs avidão, De . todosDsos estu
OSCi Das
ve Sua der o negro à luz de problemas de outros negros numa realida-
brasileiros abre exceção para
5 :
i s, Gilb
ári o Rodrigue
nóri e rto Freyre ( apes.
ilbe de social e racial diferente: “O aspecto mais importante do des-
poucos outr os. lero
obra é uma grande obra”) e uns ar
ú as €
e À leixo dos estudiosos é que nunca houve tentativas sérias de es-
ição
çã de algu ns brasilianist
ortante a contribu
ibui
roda a soci o tudar O negro como uma raça. A realidade racial é abominada
nandes “e
o que foi escrito por Florestan Fer por comodismo, medo ou mesmo racismo. Assim, perpetuam-se
logia paulista”. teorias sem nenhuma ligação com nossa realidade e, mais gra-
sro a ve, criiam-se novas teorias mistificadoras, distanciadas desta
Freyre o
catriz Nascimento: Se até Gilberto o a ae mesma realidade”.
O pal vel
tratado como o preto, o ex-escravo, is ao Dentro do conceito de cor, a pesquisadora situa a carac-
de 50, com à sociologia pa
| preta, a partir terística diferente dos Estados Unidos, “o que está
sado ógica bem claro em
Roe transformado em algo exótico. A base Eugene Genovese, quando ele supõe três modelos predominan-
avidão, e surg e dai O
damentou-se na herança da escr ade históri- tes de relações raciais no mundo: o dos Estados Unidos, o do
antropológico de sobrevivência dentro da continuid Brasil e o do Caribe. Nos Estados Unidos, o sistema é o da bipo-
o uma categoria social, indefi- .
ca. E o homem preto ficaria send laridade — brancos e negros em polos diferentes; no Caribe, o
nido na hierarquia social. mestiço entraria como intermediário na escala; e no Brasil
13 de. 4.
Brasil, Rio de Janeiro, sábado,
65. Artigo publicado no Jorna ido 66. No original contém três palavras ilegíveis.
maio de 1978.

198
tos 00g
“b BISPd "ST :BXIPO ORISLIDSEN ZINPOM ELIEIM Op
“UM 'ONSUPF 9p Org Op Teuopen oambiry ou opezmeoo] pisa TS6L ap
oJsueÍ op ZE 9p EJ2p woo o opeyesBomep “OJxa] aJsop [emmêLio O '79 |
“odula; ousouL oe “o PISIIEM OLI]Sp UM Opoi EH '(pAIssois
"01d CoIspLa PB) BRUNHOp op no ojssjozd ap Porsnt e ered (os
-SILIOJÍUIOS IU9S OBPEPIS CAIS ep ogor) enugSu! 2 von eoIsntu + SEIGEI OP SoJojsed tIeJo “LIS EJo onb O UIBIGES OFU SOJUBIS
e euSjal as anb ou '2AON EssOg ep SOU rIPS “INN ep dO op U pu sosso onb 2 apepiaa y uuog op no 'sojodeN ep olsour no
2 GHSI OSDUP Op Quauresuad or opeleBus eurauro um o “elas NO *. FHEI EP QHON OP WIEIOSJA Sajo Os “sorde sremr “sopesedosd Dog
“SOPE[2AB] SOP OP 9 OUNSopIor pureip op opeuBoldu pAeIsa pru | SIBII UIPABJSO BIJ9OJED EINOAE] EU OJS9U O IPIIMISqNS onb
“9UID 9384 “NI PIS EP BISPHSUIA|OAUSS9P OjUstUpUos O Iozipen SONICISIHA SO TISEIZ O EJB UIBIOIA onD SopmIojE SO NO SOUEIEI]
-UOD TEA 9ND “SIEIDOS SEWIEIP SO 2 SUSBHO SE eIPÁ OPEIJOA eIsDIpo SO OS OEIIO IoJunBiad ““1GOI OP Epeour “OIquIgo OU “SOLIEqUA
3 JENJ9JoZUI OjuStIEsUSd UM 9DS210F] EIJASSAs ap some soou cogu “opSmogy e sode frserg ou onh oges ELOISIH Pp sossajosd
“Hd SON «JPUODEA eisonõimg, eum op eIsojoapt Ep epupuo sonbyenb 7 opdmoqgy E sode epeou E JposnuBuI “orduroxo sod
-0P Ep Eooda BI ODNSLISJBIPI OUSI|EUODEU Sp ossao01d op o PIGES OEU OIS9U O onD ojop IANO, "EJSIIODUL OBSIA ENS 9 FIST]
-10] WS PABIIS POpeuIS) E cfno pursur um “elos no “ns gem -ned elBojoros Ep ojduisxo OLIOD TULE] OIAPDO EI Er
EA 2IfAnON PP SJOUHy UM Bro “ExtASSOS SP PPpeo9p tu i - CON PUIS/GOIA ESSOU ENO P ONIOD “ENO 9 BLOISTT
31] "OAON BlioUI O UIOD elIQJaÍem ENS Ep [pIUoLIEp ESSO sIOd “SOUPOLIJE NO SOUBDLISUIP SO HO) SOpIpENJUOS SOUI
"HM OJU9UIOTI UM Wi3] [EHODEN PUISTIO O “EPIAND Wo -Jas uros SOJIS|IS21g “SOJexd EPEU SIBLI Op SeJUE “SOLTOS OUTOO FEZ
1998 SOU-I9ZE] O JOPUDJO JOZEJ SOU SOUIOJOpOd UIISSE OS "opurs
CeIVPoqnS NO EIMIjNRIIOS :07PIZOJEMSUIS CpeSTSIM “T “9 SO OBU SO-OpUEpnISo SOXOJÁNIO) SOSSON “SOQÍENSNI SESSOL
OJOLISUONUT OSSOU OPUBSOL SOUISOUI SOU OpuFosnq “ELOISTH
ESSO E J9ZEJ SOUIQADA,, "SODTBOJODOS 9 SONPISOMO SOpmiso SOp
S2ALNE seuode epipusjua 19s essod 'sjusmmense fiserg OU oIS
-9U OP BLIQISIY E ND ENpanE OB OJUSUNDSEN OP ZIHB9g
"FadnI op s0ssojoid 9 ob 'S|EquaseH OpoBTy SONO 9 UOAg
PIABCL SOPIU/] SOPEIST SOU O JISEIg OU SIBDEM SEDÃ P OEPIA
"BIS JODUEI UN “CJ UFON Sp JOMEB “Iof39d HED “9S9AOU9D)
auoBny FISBIg OU EIMJEABIOS OP SOUY SOL) SO ap IOME “pel
ss TEUODEN EUISTTO OU ETUMIENTOS -HOD Joqoy “urapio Jod “EI PJ SEISTURIISRIG so 9NUM
E 9 9STPUSTIISH
“IRS OP 2 OMEd OBS Op oxéau
SPUCIL) ESCO BP BISIA EJEZIOS V o epnssa os onb “egsigned ersojoros Ep oJUEZIFeraUOS Eropi Esso
OPpIBSaU SIBIDOS SAQÓBJOI SEP POFIIPUIP EP SOB NU SIBLI SIEMHDO]
SU] UIO) BIDUQAIALOO EJod “JOYJouI ORSooIdiioo EUIN UIBIDAR
Soje UI EIEd, 'SE)SIUBI|ISPIQ SOB EIS] 9 BAJESS9T BULL
1,04
“noso SIBLI O BIEL OJEJ9 SIRI OP “onUnHOIsop ossovoJd um ELAS
E E e
Fongospgu] 2 DJOGUIONNÊ) CGUGUHISDN ZINDOM .
ODÍM.S9P DP SDIP SOU 2PDpIgIssod
=.

ud
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

drasileira Na década de 70 muitos dos discípulos de Nelson e


depunciador da carência econômica de certas Regiões
ações Bu : Glauber tentam trilhar o caminho da superprodução financiada
(baseado na obra de Josué de Castro) e das popul
aa pela mesma Burguesia. Cacá Diegues, que ainda começa
fificadas nas favelas. O Cinema não pôde ficar anás e Pás sua
nas suas produções, esta busca da i cata a e na carreira de diretor em sessenta, é um dos que se preocupam
demonstrar,
é exper com a temática negra. Entretanto, tenta-a com um filão que ele
cional, objeto que até os dias de hoje ainda | pode prosperar e não realizar. Seu cinema nem metáfora nem é
tores progressistas da “pequena burguesta brasi eira”,
e O Cinema de Glauber Rocha é um dos pioneiros a ques documento. Baseia-se em lendas negras da Hiteratura romântica
da e não em dados históricos ao mesmo tempo explora uma pos-
tionar as diferenças e as desigualdades que atuam no são
nidade nacional. A temática metaf órica de Glaub er levan- sível inserção do problema negro na mesma ideologia do ISEB e
o olemizando o sentimento nativista exercitado nos dramas do CPC da UNE, ideclogia de pequenos burgueses. Por exempl
o,
o Nordeste, mas também levanta e já vislumbrava, ele mesmo seu “Ganga Zumba” no filme do mesmo nome (onde ele explora
a ideia de Augusto Boal de Arena conta Zumbi) mostra a fra-
utros diretores, a problemática dos negros. Mas, mesmo e!
ta ber o condicionamento preconceituoso ou mesmo desco- queza de seu argumento. Entretanto, onde Cacá Diegues foi
Checido do negro se faz sentir em Deus e o Diabo na Terra do mais infeliz foi em Xica da Silva (um filme realmente compro-
Sole em Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro. ão metido e pobre).
rodução o negro rural real, somente uma fantasia. O que eu chamei de delírio do financiamento acontece
post “Em contrapartida, Nelson Pereira dos Santos já traz a te- não somente na área das artes, mas principalmente na produ-
mática do negro e, sem dúvida, embora seu cinema seja mais ção acadêmica... É um novo mercado de negros.
proposta de
documental com vinculações urbanas, Neison é tão
olhar realmente para as mazelas da vida dos carentes nacio- 3. Contracultura ou Subcultura — A Visão Branca dos Negros
ai como é a proposta de Glauber (no mesmo plano coloco
a dois cineastas) com os nordestinos. Este cinema despreza Quando em 1975, o SECNEB na Bahia, o SINBA e 0
a tores, é o auge da relação diretor/produtor, o primeiro IPCN, no Rio de Janeiro, o CECAM, em São Paulo, o CEBA
e O
de querendo prostituir-se. Surge o diretor-produtor como estes GTAR, em Niterói, se organizaram, enquanto instituições,
visan-
ne- do, num primeiro momento,
dois gênios do Cinema Nacional. É toda uma postura de se a afirmação da cultura afro-brasi-
ar a relação capitalista e suas formas atraentes de financia - leira no conjunto da cultura nacional, ou seja, uma contracuitu-
é to. Todos devem lembrar-se da célebre frase de dos Santos: ra, não tinham a noção muito clara de todo um processo de
TIMA CÂMERA NAS MÃOS E UMA IDEIA NA CABEÇA”. É, por- massa que se iniciara em 1974, sob a chancela do CEAA, da
tanto, este cinema um cinema produzido ideologicamente, um então Faculdade Cândido Mendes de Ipanema; muito menos
cinema que faz voto de pobreza. De fato é incompative com 6 previam as dimensões que tomariam este projeto de afirmação,
À ao ponto de influenciarem setores do Cinema Novo, que agora
gordos financiamentos tipo superprodução. pitiamos que
a: UMA abandonam o cinema engajado para o cinema comprometido
mente a frase de Nelson Pereira dos Santos foi parodiad
CÂMERA NAS MÃOS E UMA TESE NA CABEÇA. com financiamentos privados e de órgãos governamentais.
Em
1976, surge Xica da Silva.
j
Cinema i
j do ao Cinema
engaja financiatado por órgãos esta- |- Não sabíamos que, enquanto os negros nessas institui-
iso financeiras privadas — De Deus e o Diabo na Terra do Sol . ções lutavam com dificuldade de toda ordem, desde o enfrenta-
do mento de órgãos de Segurança Nacional, à pobreza financeira,
e Vidas Secas ao delírio monetário: o Cinema Comprometi

202 203
SOC vOC
-Soidur pisa “opensuomop 10] onb 10uMYy O FAS EP cork ap
opepiruroS e onb ELLA couro OU ogduaJur ens tos pnored ouos Sal
“9pépHuopi Essou Sp 'o80] tlsSEuII ESSOU 9P
«OUSOU IS Pp Py>0gIp, onb 0A0d um ap Jozip onb O comp as “seongod se sean
opeyosoIde 9 SEISIDBI SOL VISVA apreis uma
-SºU JEJUOSaJdas NOJuS) (EJSESUL O) 9jo onD sosgau op odnis um pnus se sepol anb
paxpol se spsap 'opojiad ajonbep seI3ou sope
9P JOLISIUI EHPSIUI E IENSOUI OND 10d ;OUISPPez alsixo OpU o40d la PIBD 2P
“JOWR| OP BUIIo UI OJeqesop tm [03 “TE pLIeIed sanSa
91SoP SSQÍEIOD SOU à SSJUSUl SEU oS censos ens eu omd a tuoq opuenb 19zIp sou
“J032HP 9p eitenigo E sou pzed onb somenige
cdod a Ê RPE ap c4aod o onD g4jis Ep eoIx op I0Jonp ê ESJOUI OUIOS
vuonb onb O OSUOJEA OAOU INI JSAFPIOA ELIOp
1 “BEPUIE SOUIRULHIY “OLISSUI IS op eISOJOapi EAOU “a nb “us “som
“jêsn sou op mossered “sepol 10d Z94 BUM 9P
EUIN “IOWPItE NO “OBSTA EAOU BWIN rejuejdui e rege exed osom : UM TESE
* assi] “jeuonpeu apepiana(oo ejod opimnsuy euinsa
-I01 OWlIUIeD Un à cupim osod o jenb ojad oqurmes o onb ap “4 “oBu O quouou
OAOU um “OIB9U OAOU IN Jos op OMaTPp O IP
“EIS BSE) EP BISIA EJEZUOS W OSIE OU OJP SONITS) IPM ToJop no eopBojoopt euypoed my “equauuepmonTed “eira
-SHS9 SOP OBÍEISgI] Op Eosnq UIa sepepuus sessop eSeZtt ou CTYNODDYN VIMANTO OQ VADTITO
ep ojiratrour ajonbeu JI8ms op onb 10d O sopejuasaidos UPA , nO VANTIND VALNOO FOHESONVNES OCVOTA
“gos
-BIS2 SEUISNS9 SO SOPO) 9puo wroBeuIs eum seus “sozde soloujnu
9 SW9UIOW sOUIBISUODAJ SOU OBU SQU apuro maSeu “poTUIg|Od E RIBAS] Pepe EU assostmb
sepedm :
-9P OB] ULIBEUI EUM op SoAene OUIS2UI SOU E IeNsouI sou gnb . * Teuopeu epugSIjoaur E as “Sono “IS Op QUERER ooIpotad um
eIed :[esoS opou um ap siemjoa[auy soe Copuero PSEo Ep EIS - B BISIAdDUS E euopuodsal na ;, BorSojospr BUILOEM, euro] O NO
oxiEI 'sSOAn PSU
BjEZUOS V,) OBHIR OPplISjoI OU ZIJ onb elunsIod ENO -ppoid eIsPoup O some stop HI opuenb siena
926T US “G-TY Op atrgal O gos pseIg o “efes no “opeio) onrea
o sOptopiaip Iopuai E OIDA B4JIS EP BSIX “aquourepm
sjuouieonr|od sed umu einsuao e eis ozuenb erregnogme siem - “QUISTULIOJUOD Op OBEIOd OE BABAST
oe Puros BUM SP “PUO) E LUIZA SSIOIME SOP sossaJajuy so xopur EAJIS EP POIX "RS
ossy o “urafeul] eLIdoId ems op IHIOS OAOd O Z9]
2 IJO EUM EDOTOD EINSUSD PR ORI OSHO Um onDb zsa epol s10d opesod epuers um
-p1 Ep ososjode E UIO) UIBIEQLIE snbzod “£,oj
UL
OJoUp ondoid op ogsussidumoDur e sAnoy “oiumanuUg
É JOJ BAJIS EP OD, — QUI EISPpUeD 9p 19zIp OU 9 sEdIrT PP SOpI
BSOU9pPUS) aJloLIfrIO) EJOSO EjonDe ojuatros “eLIOI +" equres op EjODsH EP [2ABUIEO Pp IOJ9HPp OP J9ZIp ou — sou 2IBd
-SI IH eum e oJaIrp sourewyun cogu enb io8ns sou £ UMABI]OA = -1ojarp o opeuSsidu eaeiso nb ap tISDEI eigojosp! 2 eydal
“« FAO TOS PIUT- PISO p-opdESou-PARIoso, ep emBi e eigins onb so onD vied £,o40d O esed ooo o 0FG, 195 & nossed 9359 “2
[ENIO OJUSWIOUE 9]SSU BIM quioSeuome ens op orSeuuge Ea ad UOSPoN op ese p
:. -DUD op odg 040U O optm$os “BJO8y "eIoI
apepDnuspi Ens WPAPosnG soIgau so onb mo oxasuIoUT Um “013 0 THOD opnamoId
“ ogãemfpe pum oduia] OUISSUI OE & opmopIadsa
“DU O dIGOS UISIBIpUadIMA o uIsteIpndin eied gasi op stengoa] nIjOZ ogônpoid
-“UIO2 PUISUID OB OBSISALOO ENS UISQUIE) [03 PueIp
“SJ! soSBUe SOp aJuou vu opuessed os eapIso and o 10Y [EUOD PpEDUPUI > Sssz0MPp
apuri3 & JOJoNp nos Op OESISAIOS V “SS10
“BU EpUgsipour e souroziy onb ejungiad pedwund y -(BANPUIO)
od eum epo) nnop
-Osd SOp OHIO? JOJ91IP Op OJUB) EISDEI gings
[2 EsUaIduI] ep jeurof orrdo oupaPIIaS ou oxujdso a359p om UOD OV 'sQU SOp
BI BAJIS Ep Box “umbo op OJomuy op oLEN
“Usp opeomgqnd toy a au o aigos oBnIe um urextêixo ou Sera) -02 pIPd PONPUM em 10) OPÍENYS EIS TEINIÃO ordeuLI]e op sojaf
— SEPEID EUIDE sogómInsur sejonbep ouiou mo teTe3 no opuenb EUHOS 9P nnop
-oId sOssOU SOR OpnusuIsap um 10] "EJNSjNITA
PP EDIX
nop as ojuoundwos: O sJussejdimos aje spmne BUINU SozoA -21 os opÍenais esso onb Úo SUIT O ELIAS EAJIS
Seynul “opel E OPpE] souou ojod “sepep sogur op BU as UIBABpUE “« BIPoTL, EP
[EUODEU EUISUID O & SJE 9P POOL E “aum ajsop sojuy dos E BABIJOA OISAU O
inred e “Zo4 BIsap |PAPPUSA BHIOpRSToUL
a
OpÓmnigsap DP sDIP SOU apppigissod pongoajaqu] a DJOGUIOFIND) OQUGLSDN ZLUDAH
imimen
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

nado da própria repressão que o negro, como parte integrante Passaremos, então, ao debate: Culturalismo, contracul-
do povo, sofria naquele momento. Os negros então reintrojeta- tura ou subcultura na continuidade da produção cinematográfi-
ram a experiência individual de que “negro conhece o seu Ju- ca em longas-metragens?
gar”, termo que na década de 60 foi trazido por Millor Fernan-
des de forma crítica, mas neste momento, dos anos 70, aparece
como conformista e escapista. Foi esta a mensagem que este fil-
me deixou passar, demonstrando mais a ideologia de diretores
pequenos burgueses que concebiam o povo como uma simples
constatação de ethos do que realmente é a cultura e a ideologia
afro-brasileira e as imagens e representações que os afro-bra-
sileiros fazem de si mesmos.
Ao lado disto, o conhecer-o-seu-lugar através desta obra
de arte minou as resistências de um povo secularmente estigma-
tizado e reprimido. Este “reprimido”, ou seja, o Superego ou O
Ego social retornou de forma a provocar a desmobilização da-
quela expectativa de libertação cultural que as entidades e inst-
tuições negras tinham organizado naqueles anos.
Vejam bem, que Xica da Silva surge no momento em
que toda uma faixa etária de jovens negros se ocupam em pro-
testar contra a discriminação racial através do som e da dança
do Black Soul nas grandes cidades do Brasil. Sua nova identida-
de é dos Shafts, dos Muhammad Ali, dos James Browa, dos
Maicoilm X e outros líderes que representações ou não lutaram
para por um fim a crise racial americana.
Vivenciamos como essa produção artística cinematográ-
fica, que surge a partir de Xica da Silva, atua como um banho-
de-água-fria numa população potencialmente produtiva. En-
quanto estes jovens e não-jovens buscam sua identidade racial
positiva, se realiza uma obra de arte em que volta a figurar uma -
“escrava” que aceita a aliança com o poder colonial e escrava-
gista, pensando somente em ascender de classe, ou seja, indivi-
dualização daquela que “conhece o seu lugar”— faz na entrada -
ou faz na saida.
Foi esta visão preconceituosa e racista que foi a mensa-
gem do filme. Poderíamos chamar isso de contracultura ou de
subcultura? Sim, o filme é caro, mas culturalmente é nulo, a
Nel ver. .

206 207
60€ 80g
-Jedpuud “soquomb.so "sojodonaul sapueis seu nogone as -
onb “suozuoy op Texa ojedso ºP 9PEPISsoosu
eum opur]osos
“L86T SP oq
!
op “ Ojned OES 2P PHFOS I BUIOÍ í OP WHSW/0] EUR]
“oSUnuop
“OHUNUI SP OBSIA PU UI) as U9QUIBI | e ou a
9PUO op seu “esajap op
ogisanDb 10d “soe soreSny ops “uau rias “ezam “oo eu speortand 3 Toques [anbey elstoUD E EPIPSSuos FISTASNUA "89
yeu E O[9UI UIa
SOJHIOQ OM SIE30] Ia UIBZI[EDO| 25 oIduros
soquionb so “eis seU Uresn sapo 2 BJes EU OgIsa onD eprdso eum no osta um cido
“O10 E OLD “auoujenTe seprnasip sagisand
segmum uroo eu “ojduloxo 10d “omtiod “sesIOD SEPpEuTÚLISISP oIgos I a Pp Nun
-ObejoI 28 onb “Utauioy op peredsa emooJd em
aIsIxa “sOquIoT Yermmno speprupzoid equim ejod os 128 OEN sEpeoIl a
“mb so sopo3 ap zrer eu “um red SEIA “OPepb
UI as-urerem se WIOD OAIAUOD 3 SMIorNeYUS| OJNUL ONJEQLIT, iZLNFog
“IOJSUBI “rIsta onb “ejoSuy op soquiojinD so sopo)
asen?) *se5 ÊSESTOD SE IEJUO) E SONPIAIPUI SO JBANOUI O somando Y
“TeIsgip Uoquiea sem “seSueyjonas seynui PH
:znsog -ap Jºujoo eIed jpnodso Boruog) euUmB|e US] 990A “JS
embep o PI ap sestoo Jeuopejor
BIed “toy EU Jozey 10] 9204 anb esmbsod e q :jonbeyg “WmogBlOUI 9p 9SBJ LIS
maSegsu-eSuo] “HO, SUIT] nos E [ELISEU a pure
OHUERIT OP OBSIA nozodioout enb “Iogios jonbeyg PISPSU 3 ESOJOD SE
oBÍESTISSAUI 9P SOPpO32UI SIEUIÉLIO SNBS aJJOS EJB] ZINBog
“Tengutdsa apeppuo ojuenbus “ajtrasaid ou IrEnp o “EISaU opómquuuoS EP
oIdos as E BIA
oquiomb o anb “ureBo1Sva1 as sojo opuenh “ogjua apeprrsIp E o epuprodur e opurusom “ojdure sema ro
9 onb oyoy
“sejusTed somno o sound “song “sozou megorSuo> -os odedsa O IRA OSS] OPN3 J9z20 [eIUomEpimy Bi pI o
snb SEIS9J Sep p
OgISEDO 10d Iaunoi as qg "sOpeSaISESap OEIsa PI 'OpeHSS 2p 2Sa) ENS 9p BLIS) o oES nb como
à soano d oymu Opp O SJUEMP sIBISO SEUHA LUIS ETs sb soq Eno
OES MEIQUIS] os epure onb so anb q eurst qord OQ "o4od um op sou sesmbsad sens nozipenuS sem CejoBuv) ny é
ENHOISIY BLUQUISU Ep ejorI OpÍBAIasuoo ap SJUES
SSISJUF OJINUI nofeia 9 usezg O nolioNs1sd eJo “ossT ETEq EseIg ou a ' 1
OUSUQUS UM q 'sosmbre sop opÍPJoumo0p
E apuod sarros -mb op EUQIST OBÔNDSUONS E INI » TemuUs? OB o
-oosd eino eaBou CIOPELOISN EM & OJUSIISEN ZM
uIeIassIp onb o. Opm3 anb ioejsuoo “selIpIsmy sens
HAno sody
ºPépruntioo ejad osst argos 1ejey ered 9Pepiunde] uIo) seOSs
-sed seoUM se OPS anb “PSRUE Juo8 ent sento
suo op alios
E 9ALL 'srenjtidso > sosmoquis SOPEIIIUSIS “soja
alyro urojsIsIad
“afouy aye enb op ouro? wo “os OUNTI OIZo
UM Sp opÍe20Ad
B UIOO UIBÓSUIOD aIduios soyejo1 sO “OBIS9I PU
nnsixo anD o1$
"E I9PI UM 9p emBgy e sidios uwepr odol Soj3 “ojun sse O souep
-TOgB opuenb “susumeror “oquropmb o 103 onb
ouros mreIqura]
os onb sajueygey snos sp sung|e UIOO OJEJUOD JazE] Ve
ImBas iroo
2Je Ie8N] UM E sozoa SeSISAIp 4 onb ousa) siod TIoyIp ojmar
? [220] esmbsad e seia «OgrropgnD, eiapjed e mpuz
aimmou omo esBEIQUIDTA EP BIRO E BITOA
soldprunur uia SOJUStRITEAS] ZH “eIOSE 97y
“om um mangas
Soja onb IEjOT aJuessoJojm ? SEJ “Jus Plex]
zinco
eSOJOQUIS 9p s31ed 9504 “opuny ou “opyug :Janbey
ºPEPpEMUIOS Ep 9 safap epra-e Úos sop
“BUODEToI sOJa(go sop a oueIpãoOS op imied e a£ims
OPnI 'sejso
OPÍMNSIp DP SDIP SOU ApopiIgISSOA Jongpajequ] 5 pjoquiONnÃ) “OquaUHISDA; ZLADSE
Possibilidade nos dias da destruição
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual

entração de mui-
mente os de Minas, são também locais de conc
fontes de água ou minérios, OU ZO-
tos recursos naturais, como
ão do africano
nas de fertilidade, o que mostra a grande ligaç É à
, mas vital, que
ditnd

com a terra. É esse espaço, que não é geogr áfico


os urbanos. Nas

os negros procuram reproduzir mesmo nos centr


crtRa
ti ato ape

re um certo
favelas do Rio, que se situam em morros, há semp Sistemas Sociais Alternativos Organizados pelos Negros
de plant as utili zados em
verde e se cultivam determinados tipos Dos Quilombos às Favelas”
ombos surgi ram,
cerimônias religiosas. Por isso, acho que os quil
de fuga da es-
não só como resultado de uma situação negativa,
recri ar a ligação
cravidão, mas como uma ação positiva para
como proprie-
primordial do homem com a terra. A terra não
nto da vida
dade, mas como elemento indispensável ao conju
humana, em seu significado espiritual.
-
Raquel: Seria essa visão de mundo o que une fundamen
talmente os negros e os distingue?
levar em
Beatriz: Acho que sim, mas também é preciso
repre ssão aos roposta que tem por objetivo estabelecer uma linha de
conta seu processo de inserção na sociedade. A
tem também continuidade histórica entre os “quilombos”, como for-
negros não se dá só ao nível das instituições, mas
que se faz com que a ca- ma de resistência organizada dos negros nos séculos
um caráter mais sufil e mais genérico,
z se pos- . ea de dominação escravista e suas formas atuais de resis-
beça do negro seja muito diferente da do branco. Talve
ização, ba-
sa falar de uma sobrevivência do processo de colon
a socie dade brasilei- A importância dos “quilombos” para os negros na atua-
seado no autoritarismo, que permeia toda
Por isso, lidade pode ser compreendida pelo fato deste evento histórico
ra, mas atua muito mais violentamente sobre o negro.
africano. A fazer parte de um universo simbólico onde o seu caráter liber-
é tão importante para ele a experiência do passado
o de vol- tário é considerado um impulsionador ideológico na tentativa
busca das origens provoca sentimentos contraditórios:
tar para trás, que se traduz na melancolia do “banzo ”, mas tam- de afirmação racial e cultural do grupo.
zido no es- . Entretanto, existem lapsos em termos de análise deste
bém o de conservar e reconstruir no presente, tradu
fenômeno em toda a historiografia brasileira. Este lapso de co-
pírito do quilombo.
nhecimento da história do negro no Brasil e da própria História
do Brasil, provoca uma ruptura dos negros com o seu passado
agravando o desconhecimento da sua situação hodierna. ,
A visão do “quilombo” transmitida pelas obras de orien-
tação didática, carentes de uma pesquisa profunda que oriente
sua elaboração, contenta-se em repetir, de antigos e livros, con-
- 69. Documento original datilografado localizado no Arquivo Nacional
do Rio de Janeiro. Fundo Maria Beatriz Nascimento. Código: 2D. Cai-
xa: 13. Pasta: 1. Documento: 3.

210 211
ELL cc
"64 "BPd "6S6L “PPII “L8 "Bed "0461 “SOJH "OISUBF
: . sp Oy “REH) 61 Hiserg op 2HPISIH SP FEnmeW “sua A “SOLVAVL "DZ
IUmMZ so9Smpy “omed OES ejEZIS EP Ssomagom “SIAOID VINOW “CL
"E BPd '996T “PITfSeIg OBdEZIRA “js | -umed Sp soquiojmo sor “aLred IoTeta Ens Uso “QIOJoI OS vigur
“O “ONSUEF 9P OFY “SozeuITEd SOP OgIUOITMÔ O "UOSIPH “OMIINHVO “IZ
ho
“OGIA PISA “OANIDS9P 9SHPUE 9p OpoJaIa O ejou opuBuiuiopo!
epodso eHeISogqu V
odns ouioo “sorSsu sop ojey ou “aued ut “BABp os ojnops ajsop "|: . PsoIoUMU Oonod ensOuI os epezIj
SEPED9p Sexourid se opsop ,ogurojmb, o sjusureojnadsa a “AX Ojno9s op sofanbeu epenuosto OBÍPZIUES
“n3s9 amb PIjeIgolIgiq em sogdpziferauoS sep ovinadar v -10 ap ody OUSaU O SjusuIrIPXo Utd)apago OB “OIT opueis
ens o poa T
| ó wo “sotoLrojsod, sogurojmb, SO EISIARIDSA SUMBaI O OPpOI SJUEMP
cOduia) OU OpÍPIUSINp
“FUIP elm exed Iequaje tios OssaooId UM SJomIB>LIOJSHY JeoTjd “TUSSODNO *, POLHYV Wo SEpEXxIop, SEISPTE SEP oEóoUu ejsa uIeyU
SIS9
-X9 OUIOD) “OPÍPIBUSIS JOJem mssod ogu EISIARIOSS SUIS91 O ap | usou “UIIsse SOANIUILI] OB) UISSSO] OBU ZOATE] “OADOUI
-UO sEjonbEU ouIsouI “sejop aured opueiS we souom ojod “Iiseag 10d “onb (IISeIg ou sopiseu) sopoLro uIyquie) OBS SOSES Na
op soolZal se SEPOI US OEUSS UIS11090 soja sIOd , TeioS Jojpiro uso 9 “EDLISY eu seonypIgOSS sUSBLIO UIS “Senno UIS 98 UIBABDU
nas 9 -BISTABIISO SUIlSoI OP OgÍEMP ap odurs) ou eroIpIsToo Ens “ap . SOgGuzojmD,, weimnsuo) onb sorgou so “OjurjtS ON
“S9joU SISAISTA J9S Ulopod seopsLajoBIPo send] “SOrauIgua sol 64 SOGUIOT
-S9P [e103 OBSUIaaIÁIIOD P IOpHaJe tropod ogu seja “erpoIo urens
-mb 9s-UIPABUEEYD “IIAX OJND9S OU (""") SOJUSEIESPE SIS
-sod soquogmb so aigos sregorS sosgpue sejso PICqUIY
-parramId epou w SOUSUI NO SIEUI UIBIAA 3 Sopa) UIEFT
“OIFoIBOU -0985 “Boy EU opexiop meisey enb odn op seIopTe op
OUISIABIOSO 9 OEM Op osssdoId ojad epesneo ogspzreqinsop “TEULIO] LIPARQEIL BjJU “UIOBIA BJPLI P red uIerông Op
e ogÍvol “efos no “Tegra ogsengis eum e otIoJar op apepissos LABJDSP E Teor meLIanD ogu onb sopjqal sOABIOSa SO
-9U (P “FIGO 9P OBUI E aIgos sejstaeIDSS sogômynsur sejed opio
AdX3 SJOTNIOS OP OJUSTIEXNOIE UMU IHofIoI os TeA onDb “seony :OANRDSIdop SEISA9p OpnEaS UMU
so cum
-Od saogóporjdir sens a omQuosa euTaIsIs op astão (o “oagrund “soISou op ,SOJNOZEYJEA, NO SOIBNJaI OUIOD soquiojnb
a
UISUIOT OJad opeproqy op ejem vosnq e (q 'ogpineDSa pjad so “U9pr eim eIdN] “isa “ope osgmo 10d "00nH0d I3)2TeD SP soP;
IH A
-SOdUF SOJEX) snNEUI SOR SOXSaU sop opdra(a1 (e ii SoOqurojmD, sop -sop sopueq ouoo soquiognb sop à SI2ABSUOdSSIIL 9 SO1ONS
o
oyieuitiojoqeiso O RIRd sieIaS sesne> OUIOD DA PIJLISONQIq EIS2 “SOAyINILIÊ solos ouIoS soxSou sop S9090H SE DS-BÍIOJaI
“sSrEuITRA SIGOS sopryss sop mued e 'opom
PP ea
ousou oa -Hosop sejsoN SoOguiopmh, so ureminsuos 28 oo? 9P
1 SSIBLITed 9Pp sou sopesmpduraxo -ooIoJso orÍEJoIdroguy EUR PRUODUO 98 “SepepHOINE SEP OESS
uq Or1 “soquiomb =
so uezeynsa onb ap “oem o eied eBny “BI R 9IQOS SEANLDS9P S2Q5PELIOJUI senod ap ope; Oy
B (2 2 (OBYUPIBIA OU (6£9T) Olejeg [onte 9P OSP3 OU aJuam “(XD OMDPS Op 9peIour exrstapd er) OBIUEIPIN ou ep
-[eDodso “epeure o
opôreunsiu e (q “SEsT 9 Z08T nus “eyeg -prejeg ep orposido ou jaded ousou O pquadurssap nb 'ouso
BU “Sojeui SOIS9H ap Sajueas] sou ogssardxo ens E nomuoDua and op oquiojnd o 2 (IIAX Omoss) TiseIg OU esoptejou E nam:
“Ipod op epeuio) ejod epezruesio empjour op s47os onb 'sareued 9P oquojmo a es K zo
EIJOADSI (E :OEPIAEIDSO P OIS
Po
-9U OP OgÍPaI Ep stedpturd soyraurom som ua Epenpess “eomb ops “feDyO eyeIBooIsy e exed opÍPoLUZIs Opue a
-IRJON EJeoso eum sopfoqeiso “sojau os-opuraseq “ojduraxo 10d -I10]STY SOJHOUIDOJLIODE UIO) UIBTSAN « SOQGUIOFMD,, SO O ea
OP NEIS Ojod EpeumILISIop 9 BIBI EIsou unos
“OISUTEO UOSIPH “JNAX omoss op sopeisa-mros sopueiS sajsap -“IAJOAUS
so sIgos SOSONUODST T
SNrureIsnÊ Mid e oguropmb, ap OJj22U09 O pZIpIauoS ela “sal sop epugirodus V . sogurojnh,
ee e sm =] ,
OpÓIN sap PP SDIP SOU SpPpDIgGISSOS [oRpojagu| 2 DIOQUIONNE) 'CJUGUHISDN zLJjDag
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

subordinado, desconhecerem a escrita, ao mesmo tempo que o A. bibliografia especializada é também responsável pelo
sistema educacional brasileiro não beneficiaram os negros e ex- tipo de interpretação que se procura dar aos estabelecimentos
escravos no passado; e em outra parte à própria incompreensão humanos conhecidos por “quilombos”, Baseados nos documen-
das autoridades ultramarinas e coloniais sobre estas formações tos da repressão oficial, os estudos dos “quilombo” caem sempre
humanas. na análise do momento do ataque da ordem social vigente aos
Os termo mocambo e quilombo são vocábulos de origem estabelecimentos negros.
quimbundo. O desconhecimento do verdadeiro significado dos Neste particular, eles são sempre considerados a partir
mesmos pelas autoridades portuguesas, fizeram dos dois sinôni- do seu sentido de luta armada contra o regime, inexistindo es-
mos. Por outro lado, o receio destas autoridades frente ao recru- tudos aprofundados sobre os momentos de paz, em que a so-
descimento dos núcleos de população negra, livre do domínio ciedade de um modo geral, e os senhores e moradores, em par-
colonial, depois das guerras no Nordeste, no século XVIL, obri- ticular, toleram-no, mantendo relações econômicas e as vezes
gou as mesmas a definir o objetivo de sua repressão como sen- de clientela com os “quilombolas”.
do “toda a habitação de negros fugidos que passem de cínco, As interpretações sobre os “quilombos”a partir da docu-
em parte desprovida, aínda que não tenham ranchos lJevaniados mentação oficial e baseadas numa metologia da história descri-
nem se achem pílões neles" tiva, remetem-se a dois princípios que estão vinculados à forma-
Esta definição da Consulta do Conselho Ultramarino de ção dos historiadores. De um lado o liberalismo clássico vindo
2 de dezembro de 1740, influencia sobremodo o conhecimento dos ideais da Revolução Francesa, fez com que alguns autores
que nos chegou até hoje. No entanto, uma das características os interpretem, segundo à luz dos princípios de igualdade sem
fundamentais destes núcleos humanos era a grande quantidade atentar para as estruturas internas dos quilombos que mantém
de habitações, sendo que as estimativas populacionais aproxi- desigualdades sociais em seu seio, embora não idênticas às desi-
madas de “quilombos” como os de Palmares e os de Sergipe, no gualdades de um sistema moderno. Outros autores se mostram
século XVII, e os de Minas Gerais, no século XVIII, são da otdem mais enfáticos ao procurar nos “quilombos”, justamente a partir
de 20.000 habitantes. Outra característica era a especificidade do acirramento da luta armada em reação ao ataque da ordem
da organização política. Palmares, um verdadeiro Estado, marn-
74. Ibid., p. 135. A referência é sobre os quilombos de Nossa Senhora
tém — no episódio da paz de Ganga-Zumba — relações diplo-
dos Mares e Cabula, mas esta situação se repetiu em muitos outros
máticas em nível de Estado para Estado com as autoridades co- quilombos (principalmente nos finais do séc. XIX) na medida em que a
loniais e a própria Coroa. Outra ainda, é a produção, muitas ve- margem de possibilidade de manumissão que os escravos possuíram
zes em grande escala, que resultava num excedente negociável foi uma característica do regime escravista brasileiro. No entanto, o
e intercambiado com os moradores das capitanias e depois das sistema social dominante não possuía flexibilidade no que tange às al-
províncias. ternativas produtivas, que pudesse absorver mão de obra livre. Disto
É importante também salientar que, em determinados | se ressentiu os ex-escravos beneficiados pela alforria, que muitas vezes
núcleos chamados indistintamente de quilombos no século XIX, eram reabsorvidos no regime de trabalho dominante por arbitrarieda-
existiam não só os chamados fugidos, como também libertos o de de senhores e do próprio sistema, assim como, muitos deles, margi-
através da manumissão ou outro processo.” nalizados viviam em comunidades, que consideradas sempre como
quilombos, eram reprimidas tanto quanto aquelas ditas de fugidos. A
bibliografia oficial não se preocupou em desvendar este aspecto da di-
73. PEDREIRA, Pedró Tomás. Os quilombos brasileiros. Salvador: De- o nâmica social do sistema, relacionando-o com a dinâmica interna des-
partamento de Cultura da SMEG, 1979. Pág. 7. tes quilombos.

214 215
ZTc 9L6
» PqUenso 2 opsrjosdiajui ap equi ejso “opoum [23 aq 'congxa
"g "E “jp “qo “oxoureo nosIpa -s/
pour 9p sojo E OpÍB[21 Wa POS “BISEXIENI E aJuouIepejou “enos
"CBSTTOQY E SatoLraj
“He, SOqUuIOFND, sOp senSLIOjPIPO OpôNpoId 9p semos ejuam * SOADILILIE, NO , SOJEIIE, SIBIDOS SOJUQUITAOUI SOpemIEI/D SOU
“TEMIUSAS O [eDOS OBSEZINESIO OP sOLPNUN IOS sogiped ouro. WeXIeoto so XIX OMaoss op jecmsnpur-çãd o esqeudeo-91d apep
unsse Teqol8 apepapos gp ojsuIejos! O ajuroIeuI SEIDSLISIDPI: pos I0UISISOd E 3 OBÍBZIUO(O2 OP SOjND9S SOp EII[ISCIG APpep
-Bô OUIOS LIEpIENS sOISaU so “ELINM PISON “aJuapez op jemi BrUI.. pos ep PORUIBUIp E Wotoouojrad ,sogimojmb, sop oJEJ O “ol
"OU0O 9P SEU LISQUIE] OLIOD “sEURqM Seal seu ojuatiros ogu “of o -“[1DPS 29S9P SEISIJEIDOS 9 SOLIRISÃO SOTH9UITAOUI SOR EPUTE SOLISIA
“Ned OBS > OMNqQUIEUISd “sfeioL) SEUNA “EIJEg UIS 21000 “Oy op. "eIsSIjeEDOS OIpenD op omusop sopexieouo ops onb TIHAX omaas
BonUgpI opáems soquiognb-xo sop e wo» vÍuemypauos apueis o 9Psap [RUSPDO edomyg eu wear anD sojonbe 'soutapouw
us [eUOnEndod ogóisoduros eIsy assep op umeSuo eso “ SOPEUBISOP SOJUSUIAOUI SO BIPd epezijm opórjaidIaqu ap equi
E LOS Sera senNO ap sietnopepndod sojuatgos ouro ursse | PIS2UI E FoDopogo opod ogu ,soquiojnb, sop esmpue vy
(oayisinbe zopod Iousur ap) eidou opiendod op aquaSunuos “TED
9PUBIS UIOD SEJ9AEJ-XO NO SE[oAL] SJUStUjen je OES sogro, - "OS BÍUEPpNO op SELOS seu epeoseg Op5pIaITdIsjuI BUM OJUSLUIp
urerpussiduroo goody ejonbe onb soon sOLIpA IX ogro - Uojuo nas O eIed Is1onbal pIapod ogu ajo “OBU OS cIOALJ Nos
“PS OU “SS10LISJU] SOON 9 PÍNSNF BP ONSTUNA O UIOD OIpUBr - É BT-EpnEI op speppedeo e too [eos Wapio Ep oxiauruaz
>
ºP OM OP EDI(O] 9P ajaUD Op enU9puOdsaIIo» E sajusiajol “US 9P Ze2go OJuawnnsu( umu as-nimnsuoo ogssaido ap surBal
SOJUSUIMDOP SON “BoISI apepmunuoo ens ep opisonb e ejurAa] : OP SOIS9U SOP PIUZASISaI Pp EULIOS OLHO) OpeISpIsUOD “oqurogmnh
'SS1OLISNIP Somos SOU sOpeWUIMap sOnQIIS US , sogrrojmb, ! o os IgungIad agro 'opou a3saq 'sezopesmbsad sop eoTSgjoapI
sop sesnmnsuos sogõemd od sep cjusumajqeiso O | emysod ejod epeounod opoeziperonoS “PIUgasIsal Sp segõe
“XX Ojmoas ou 0189uU Op eLIQIsI | -SojIUP2UI Seperiea Ieorpur psed o ogurojmb, OUd) Op OpSEZIBI
eu nojaford aja onb seIoUgarAdIgOS NO sepugngur se omoo ss? --atoS P Ie(I 'soduia] sop sosene elos opor wm sp olgou on0d
“XIX Ojmoos op [emy op med e [seg op ELOISI ep oquour op enpugIsisol e “opuerdue “a “SELISISIS Salso SOPpIAfOAUIO soIS
-poredesap ajuatede nos op ojuampusgua o pred eLIgIaTem ens -2U SOp PDUZISISAL 9Pp 2 EIN] 9p apeppedeo e JEDIEUI tis SJUSE
Hznpoidoi ojupjodiy à “OANEUISE [eos eimaJsIs um ouros -OS 98-BIUWaJUO? PBISOLIOISTY Y “TegolB apepopos E soulougme
9 ODUQISIY OPNUSS Nos OU, Ogiuojmb, O Opuspusosduroo SIBIDOS SELIDISIS OPIS WI9J] , SOquro;mb, so op epepuemopnised e
"Ojno9s 359 AJUEMP 9S-UIEIRLINDE seDIINA sESUSI epuasno os anb eIed “sieuorpeisjur sossaDoId ouroo sejsta uIefos
-SHP SEU SEPEIsEq sIEDOS sapepjensisop se 'ojuejanua “OAPIDSO [egoi3 apepanos ep opônj0A9 E 3 SagÍMnst sens sep apeprxojd
oupegen op opótoqe e sode “soquiopnb so uro2 ojuní navored -LIO> 9 9puO “oessoIdumio> EN 2p EJIssoDou “sojop (odio) ou)
“ESop apj9gal 9 ajuoposuos oISsu o anb e81p wonD pH eantasse EINOPpeMmPp PLUOISIY Pp EINIPUID E sex sogurormnb, so urna
EIs2 TEJUSUIBpUM] od2J2d SSJOLISJUE SOMDS SOU SIEIDOS SOJUSTMA -oId soapIDdsa so onb eIed sogieAanOLWI Sep emwn q opepiogij E
“OU SOP OBÍIPEN E “SIEHI OP UI9TV “|p9p oxdso Um ia) oxopIs “opouas sIsoN 'CJUSOur ajonbeu eIraTIseIq opepoDnos ep gaAmnp
“BIG OISsU O onDb ap PIapt 2 nojuauioy “ojssjosd ap SOJUSTETAOUI -p1d 2Pepiane é Epo) eurmop onDb euiaIsis “EISIABIDSO amIBa1 OB
sorei sop ezonbeiy e OuODd uISSE Tiseig OU [RIODSIMSUY 13)P1 - «SEJOqQUIOIMD, SOIB9U SOP OBÍEII SP I9JPIPO O JoARSSUI q
-B3 OP SOISOU SOJUSUIAOII Pp eUgsNE E XX ojnops 0N "BAD
s; PRJeg EP SgfeUI sOIBau sop, Jopod op eperos, ejod sojuom -sodsiod PIsap ounwap .ogumopmb, op ojuampaJsqeiso op can
“Mou sor ppDIedentoo mo essjop o eêny op paneSou opópor -OUI O 9AISNPUI WSzZNpei] “Jeiros eÍUepnui ap BISTUIvS|-FISDAPUI
eum SO-BISPISIIOS OlIauIen UOsIpy oudoid o anb “epepijeos ens sordpuud so opunsas 'oLIpUOjN|OADI OpLIQuIa Um “exossardo
A
ORÓMsap DP SDIP sou opppigissos FDroajegu; à DjoOgLONNA) OJUALHOSDN ELJVI

merecer
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

Parece que a transformação histórica sofrida por estes A primeira fase histórica pode ser identificada com os
núcleos deveu-se em grande parte à queda do sistema escravis- sistemas sociais genericamente denominados quilombos, no
ta, adquirindo eles novas relações com a sociedade global a par-
passado. As favelas ou áreas de economia decadente, onde exis-
tem grande contingente de negros e que ao mesmo tempo são
tir do domínio de um tipo de economia e sistemas sociais mo-
áreas de ex-quilombos estão identificados com a última fase dos
dernos característicos deste século. Mas no tocante ao caráter
“pré-político” de resistência racial, cultural e, até certo ponto, movimentos sociais arcaicos.
do caráter autônomo que dominava os períodos de “paz” pode- Diante do exposto são levantadas as seguintes hipóteses
ria haver uma linha de continuidade até os nossos dias. para nortear a pesquisa:
Portanto, a linha de continuidade a ser estabelecida des-
1. O que ficou conhecido na historiografia como quilom-
carta a conceitualização do quilombo como projeto insurrecio-
social, retendo o sentido de sis- bos são movimentos sociais arcaicos de reação ao sistema
nal, como contestação da ordem escravista, cuja particularidade foi a de inaugurar siste-
tema social baseado na autodefesa e na resistência como forma mas sociais variados, em bases comunitárias. .
política. Eric Hobsbawm mostra como grupos subordinados 2. A variedade dos sistemas sociais englobados no concei-
atuam dentro de um sistema social moderno: eles manifestam to único de quilombo se deu em função das diferenças
nos respectivos movimentos sociais arcaicos seu processo de institucionais entre estes sistemas. É
adaptação (ou o insucesso em adaptar-se) às sociedades onde 3. O maior ou menor êxito na organização dos sistemas
foram introduzidos à força. Porém estes movimentos possuem sociais conhecidos como quilombos deu-se em função do
uma evolução histórica, pois pertencem também ao mundo que fortalecimento do sistema social dominante e sua evolu-
os oprime; são conhecedores das instituições (principalmente as' ção através do tempo.
4. As áreas territoriais onde se localizam “quilombos” no
repressoras) das sociedades modernas com as quais estão envol-
passado supõe uma continuidade física e espacial preser-
vidos. Esta evolução histórica caracteriza-se por duas fases: vando e/ou atraindo populações negras no século XX,
uma, de determinadas instituições próprias dos grupos subordi- 5. Certas instituições características de movimentos so-
nados, possibilitam uma autonomia frente a sociedade domi- ciais arcaicos são encontradas nestes territórios acima ci-
nante; outra, quando estas mesmas instituições não mais repre- tados, fazendo supor uma linha de continuidade histórica
sentam um modo eficiente de defesa contra o mundo externo. entre os sistemas sociais organizados pelos negros “egui-
Hobsbawm diz: Jombolas” e os assentamentos sociais nas favelas urbanas
assim como nas áreas de economia rural decadente com
Os laços de parentesco ou de solidariedade tribal que, incidência de população negra e segmentos populacionais
combinados ou não com ligações territoriais são a chave de baixo poder aquisitivo pertencente a outras etnias.
daquilo que hoje (...) se considera como sociedades pri-. .
mitivas persistem. No entanto, (...) não mais constituem
uma defesa fundamental do homem contra os caprichos ':
do meio social ambiente.”*
co a constituição étnica destes grupos era negra, índia é mestiça. O
76. HOBSBAWM, Eric J. Rebeldes primitivos: estudo sobre as formas
arcaicas dos movimentos sociais dos séculos XIX e XX. Rio de Janeiro:
último foco de resistência que caí nas mãos das tropas governamentais
Zahah Editores, 1970. Pág. 14. era uma colina que se chamava favela. Este nome posteriormente veio
é designar todas as áreas de assentamento social nos morros do Rio de
É conhecido que o território de Canudos onde Antônio Conselheiro e o
seus seguidores se estabeleceram fora um quilombo no passado, assim aneiro.

218 219
Tc Oce
*B7-S4 "Bea '046T
:smodonad “EIIBISOLIOJSHH 9 ELIOISEFI UI “OBS
* “soz0A PBIONPA
“ -OgP E O BISOU EJpfogor Vo, "OLIQUOH PS0f 'SANDTICOU
JH UH A “ogôny
"9461 'S9ATY OISDUBIH ELEIATT :o0MoUPF ap OM
OPÍNJOASY “OLIQUOI 9507 *“sInDTACOS
: -OADI-ERO/) q
"9/61 :OJISUNAOJA BIOUPH
AHH
e :aIBoly OHOq 'SEAEIISO sogirazmsu] “OP9d “SVLI
'TZ6T “OXUIUINMAOTA BIOJIPA :BIBaIV
THA
“ OJOd 'SOABIOS? SOP ELIONS P :SoJBIFEd "OP9Q “CVII
“pr6I TEUODEN FICOHPM erqueduroo
INHVO
:ON9UPÇ OP OW 'SOMONO 9 SOUIPET MOSPH “OQHI
“GL61 BIP|ISCIQ OBÍBZITAIO !OTISUPF 9P OR JISEIM
OU BINIEABIDSO BP SOUP SOUINJA SO WeqoH “IVUNOO
sEpEINSUO SEIGO SEIO
“odureo ep ou]
"G
“paro Op cotenD [RIO EUOISTH Ep 9 oomyBISOUIS OPOISIA
*SOJUSUIIDOP 3P PODED à SsIJeuy T
“pIaDopaqo epeBsiduro Jos E BISOJOPOJSUL V
ersojoposs
"soquiopmb-xa 9p sESIP sEU 'sEISIASDUS O
esmbsod '€
onredpnIed OpÍBAISSgo UIS BpESSBG odureo sp
"OM9]
“OIBUP[ op OrW
T Teuopen
I oambry
T 'SosT-80 81 9p soue
olSou op eIBOjODOS SQJUSUIZA
à ELIQIST] 9 SIBDOS
SOE EANETaI) SSIOTISIUT SO1DOBS9N & PÍDSNF EP ODSILHA O ã oIIoU se1q
Op eLÇISIH E CANEjaI “proguenss o [gUoOnpE
“EÇ ºP Or OP ERIOd Pp aj O anus epugpuodsaLos -ous “pselg
SSJUOA "T
fesoS > epezipepodso eIeISONqI :SELIFPUNDSS
“[EUODEN ODLIQISIH NAS
aa sogãrpa QIA “stedroju
DIA “SEENPEIS SEDMJONMIA O [EUODEN VOMON
:OIOUEF OP ORI JT TUA TISEIG OP “sjenpeisA soambTy “EUODEN OAMbBIY [so
na sosmbry
5 de ogÍep punÍ soJy “sai
E PIRg OU OIE O “GIGA sEpENIODUS OBS SIJUO] SEISA 'STENHOS “sooT
“UNA “Oxouer 55 sostpem(
-OLISNI SODOS2N 2 BÍBSNÇ BP OLIZISTUA, O OUIOS
SP sajuspissid
sagôn redor ap ppugpuodsaso) 'sEDIZAOIA
saJU04 “T
OR Ponore abc teto sp sotipIejog -TERDIO OPÍEIISUINDOP :SPLIFIULIÁ
oa ego Pd sopeq SOp SJUOg ? EZIMIEN
E
OpóIm.tISap vp svIp sou opppiigissog porgosjasu] a pjoquepnno) “OJUZUOSDN ZHUIDIH
Possibilidade nos dias da destruição
TT aii

Diremos que a avaliação e os esclarecimentos dos con-


ceitos expostos no projeto inicial deverá começar pelo título que
escolhemos para o projeto: “Sistemas Sociais Alternativos Orga-
nizados Pelos Negros: dos Quilombos às Favelas”. Essa escolha
procurou sugerir que havia diferenças marcantes entre os vários
movimentos sociais que receberam globalmente o nome de qui-
Pelos Negros
sistemas Sociais Alternativos Organizados lombos. No decorrer da exposição do projeto tentamos explici-
Dos Quilombos às Favelas tar nas cinco hipóteses onde queríamos chegar. Mas mesmo a
Relatório Narrativo Final” categoria de “sistema social”, ponto referencial de onde par-
timos, foi uma referência até certo ponto tomada à priori, isso
porque nem todos os quilombos tiveram requisitos necessários
para se tornarem sistemas sociais. Deste modo, o novo conceito
emitido como título do trabalho, praticamente cai na mesma
questão criticada no projeto, quanto à generalização do concei-
to de quilombo.
Em função do exposto, tentaremos adiante, estabelecer
uma tipologia dos quilombos existentes entre o século XVil e o
século XIX os que foram arrolados na documentação. oficial e
introdução nas fontes secundárias a fim de tornar o mais objetivo possível o
é necessário conceito de quilombo e redefini-lo, posteriormente, dentro do
iniciarmos a etapa fin al desse trabalho
E
um €esclare- conceito de “sistema social”.
que
quefaçamos uma E avaliação, assim como um
eto inicial. im Um outro esclarecimento, diz respeito ao próprio rumo
cimento dos conceitos emitidos no proj que tomou a pesquisa. Quando submetemos o projeto ao Comi-
hipótese prin-
segundo lugar, que reduzamos a uma tê de Ciências Sociais da The Ford Fundation, a segunda parte
ele projeto de pesquisa.
cipal as cinco hipóte ses levantadas naqu do projeto, referente às favelas, não foi aprovada. Permaneceu
porque de acordo com a
Nos deparamos com essa necessidade somente uma parte do projeto inicial, a que levava em conta o
pesquisa em si, tanto à
coleta de material, com o desenrolar da mn levantamento e as hipóteses que sugeriam a permanência de
a de campo, a abordagem na. Es
bibliográfica quanto
foram natura populações negras nas áreas rurais decadentes, onde existiram
comparação com os dados levantados quilombos no passado. Diante disso, o mais correto seria trocar
mo algumas premissas .
confirmando ou se alterando ou mes o título do projeto para; “Sistemas Sociais Alternativos Organi-
foram totalmente abandonadas.
Outro ponto importante, a ser € stab
elecido, refere-se à zados Pelos Negros: os Quilombos do Passado e sua Continui-
os (os já chamados movi- dade”.
conexão entre os quilombos já citad É possível que fique mais claro o que procuramos expor
q uilombos visitados na .
mentos sociais dos ex-escravos) com Os no último parágrafo, se recorrermos à citação de uma das hipó-
.
pesquisa, notadamente O de Carmo da Mata teses do projeto, no caso, a segunda hipótese que presume que
no Arquivo Nacional do
original datilografado Jocaliz ado! “haveria diferenças institucionais entre os quilombos no passa-
77. Artigo
Nascimento. “Código: 2D. Caixa: .
Rio de Janeiro. Fundo Maria Beatriz do”. Ficaria ainda mais claro, se considerarmos que no referido
21. Pasta: 1. Dossiê: 1. projeto fizemos algumas críticas à documentação primária e se-

222, 223
SCG bes
Waquie] “S9H10N Sep OF OP BDIBIIOD EP oquromb op ogómunsop
éJuasaId ou opdaloId ens o opes - e 2Anoy OSZI uia o “adiBios ap oquojmb o “BSUBOUIEO ap
-sed ou spepmuntoo ap ossavoid assa IEyIdxo OuION) “BLIOISTY - oquoymb o “stpur-edeg ap soquioymb so os-UIEJUPAd] 'SIIEUIEd
eudord ep opojgur oe Jota sou ejole) exoumd essy op eponb e Woo vg) EU soquiojnb sotorenr so UIBIBULTOS
“szed OP [EJO) EIIQISTE BU tmnEITO? os onb 'SODLIQISTY SOJUSUIOUI SIOP sasso AnUo 107 siod “seuegrod
ossa20I1d TWIN semi “Opeurpiogns oe wm 2 ogu “sou esed oquior . -ONDUI 9 SIPIHOJOD SoprpuOME SE TIEIIUONap os onb u1oo seut
“mb O “(Iseig op ond ou > ogSezmo(oo eu Soqueuimop. sed -ojgoId sapueiS sop UM uUIBIOJ SOJaTISBIQ soquiojmb so “OSZT
-J03 SEP [eXSS ponyjod eum ºp sourougime a sosugiuodsa “sosrp e 2 +69T emo “onb IeuLIge sourapog TeluojO) TISEIg OP [EI EH
-PsIdo SOJUSAS “IOUfoW no “ojuauour) vopsuioLIde opsIA EUM op | -oastE EU ojuamour ajueproduy um eoxeur “eumgequiod Bia “OVZI
SPABITR NOZITEISII OS onb goIeuI e Ojoouoo op I240Uo1 “e(os no e ap our O “[ELUOjOD EINIOUODA E SJUSUITeJUSIEpuny UIBABÓBOUIE
“UT SIBUI IPA 9SSOToJuI OSSON “OANLIDS2P OpnIsa UM ajuauos soquopnb sop opipiaroid e anb two opogrod um 9p EJep song
T9ZEJ OP sOWIeLIEISOS OBU “SEIA 'SIBUOLSOZ sapepoiypadso sens -mIog oULIeUrenTn oujesuon op eIqnston Ep oBÍugop V
9ULIOJUOD WISQUIP] 9 “SOJLIQISH] Sojua mou ojuenbuo 9PEPoLIBA “ogIUN
ens E OD OpI0D€ ap oquiojmb ap ojta>to» o so0wjour sejprndxo “opSeosod “jeyideo :opunguimb — [eutêLIO OpeanruBIs Op IEULX
IEJUS] ELOS OPT]SO asSaU EJoIP) PILOUILIM ESSON “OJONHOI OMNSUI “ode 28 ENIDI 9ND “omNO £ sOpISN] SOISIU 2P OJNOIBUJEA JOXOFIS
-OUI 9SS9T Oplosfoqeisa To7 onb ojmbe Inodor merspnd os una “BIG, — umnuroo osuas Ojad o [epmo eyeIgorIoIsuy Pjod ope
-0) OSU9S O 2 [PUOLDIPEN eIjeISOLIOJSI 2 “Opom sIsad eso) 103 onb (oynA ap) Jegma “um. “oproyrusis ojdnp msso
“(OPUPID) OQUIOFNÊ) O 21gOS ajUa Loo sreuI vapeimaso E outra) o “ojduoxo 10d “jagisa ousou ou anb as-EÍSA “OQUIOT
? 189) IILAX OMPS OU OB5BISUTUI SP Poly e uejonto> onb sonp “mb op ojt»auoo op “elopento > epednosIaIsa odilta] OUES9UI
“IAIPUI Ju 0x enb esto eiusam e IeojpuZis spod ogu soprumal oe “pIOpeonrdurs OBSIA EN WSISsUER “esangmzod engu ep
SOJS9U SONPIAIPUL OUT :JOT[oUI OpuSDIepS “JOW|ouIr sop-rmu OLPHODIP OlS|duIoo STEUI OP SI9QI2A O OUIOS '“sonBmIoA OLULIELG
-pndos exed o o8Had op as-immoAsId eIed eorum erioSojeo eum uia -BOIN oujssuoo) op eunsto) E ox anDb somIeISpISUOD
sOu-U'RIPGOISTS “sogmojmnb sor opdPjoI UI “IeursAo0S pIRd seu
“URTIPIIP “sesso E opdejoI UM 'sepezineioso urezorm mbe “sopISn] SOARISS9 9p amos
ered
anb seueoLe sermo SesToAIp se wo> urenge ond op onpIuO. -PUJEA JONaJsEag “AS “OgIUN “ogãeonod “Texdeo opina
-nunb op “ogquomô zip CEZII "d po ep 'ENSuoI PA
Opou op oqurojmb or opdejor to urertõe siepuojoo 2 seueyod
-ON9UI Sopepuome sep ojusmrpoDdozd o anb sg912d son -0N 2IONPpH) BILoIZaS epurjoH ap enbreng omgaimy op eu
-omE ap Esonênmog ENSUF] EP OHPUONDI] OP MIQIDA O”
"SOUBNjOdONSUI SISSST9IUI SOP 12d 10d erug]o” E a1q
-08 9JONUOD Op OBSUsjnueu e esed eaejuosardoi SIT O no ops :epure q
“ny O “OARIDSS eÍas “OXSaU O anb ojarnuoo oBprad o “opuazip J04I
“ou no “soquiozmb so eapytasaidos onb ojaruo» oBrrad op og
* S2JoU SADIId UIOYDE BS UIOU 'SOPEJUEAO| SOIIUET LTEIFU
“BOSUOP E “OPM op segue “9 “sgnBnIog OULRUIRDIN OWposuo)
-22 op enb epore “epmordsep ajied uio 'O0UD op Uol
op Bynsuoo ep saene “sesrojiseiq sejuendeo sep seapejsisol -essed onb sopIêny SOIBoU op ORÍPIIGEY E BPOJ", :OQUIO]
sermsod seu oquiopmb sp ojoto> op ogSexyg e wissy -mb EJo2 nb O uIIsse EIUNap “0b4I 2P oIquisZap 9p Tt ºPp
"SPIOS) 92 SIBIS2) SEUTIN 9P SEI epesep 'sonêngiog OULNEIIERI]N oufasuos op eynsuos Y
-BIIdeo se anus OpÍBISUTUI Sp eruIonoSs ep exsjuol) é ejomuos
anb oquiomb um ap 1eJem as 10d “eanomjedoud sem “seproni :ogafoId ot SOUIEIZICE
-I93 Sogó1odoId sp OPIA9P OS OBU < opuero) oquormô, opeureyo “EUIPP
“oquropmb sp omaotoD op opezijerstaS osn OE ojuenb “ELBpUnO
ET
E E
E E e O e
OPÓINLHSSp DP SVIP SOU SPDpIIgISSOd jompajezu] 3 DJOqUiONNA OJUaUOSDN ZLIDIG
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual
Possibilidade nos dias da destruição
O
a, TT]
= TT

Diremos que, em uma primeira fase, teremos de nos de-


a
bruçar com acuidade crítica sobre os próprios fatos da Históri
escrita do Brasil, onde, estranhamente, são ignorados os seg-
stni que deles pa rticipam. o. |
mentos émicos
Veremos a seguir, o movimento de Antônio Conselheiro a: Poa

e sua inserção no movimento geral da História naquele momen- O movimento de Antônio Conselheiro e o
to, ou seja, a Abolição do cativeiro e a queda do Antigo Regime,
em 1888 e 1889, respetivame
j nte. | abolicionismo
Procederemos desta forma devido ao fator do desenvol Uma visão de história regional”
vimento da pesquisa. Forçosamente, teriamos que utilizar fontes
secundárias, inclusive de literatura nacional para compreender-
mos os quilombos, ou melhor, para entendermos, em primeira
instância, o que se convencionou chamar à História dos Venci-
dos, à história, diríamos, dos que não escrevem a História, mas
a confecciona dialeticamente com os outros segmentos, Inclusi-
ve o dito dominante. |
Passaremos a seguir, a discorrer sobre o movimento de
Antônio Conselheiro e suas implicações no âmbito maior da 5-
história dos grupos subordinados é sempre enfocada co-
tória dos seus seguidores. mo eventos exóticos, uma sub-história da história ofi-
cial.
Essa história oficial, escrita a partir da visão do vence-
dor, baseia-se, grosso modo, no que se refere às fontes, em do-
cumentos coligidos à época da repressão das instituições do es-
tado a esses movimentos sociais. Essas fontes em geral são cor-
respondência de indivíduos da classe dominante, relatórios de
autoridades civis e religiosas locais, e relatórios de expedições
de combate. Outras fontes, portanto, como a oralidade e; mes-
mo se existem, documentos dos próprios reprimidos não são
utilizados ao se escrever a história. Os grupos subordinados no
Brasil têm sua história incompleta e mal interpretada, carecen-
do eles de uma visão da sua história de acordo com sua expe-
riência real de vida.

78. Artigo original datilografado localizado no Arquivo Nacional do


Rio de Janeiro. Fundo Maria Beatriz Nascimento. Código: 2D. Caixa:
21, Pasta: 1. Dossiê: 1.

226 227
6cÊ 8cc
"GIISANED OP [eum opôgoge e a (Z48T SP Boas) [eU
eoodo Ep OAnroRuSIs siem O IOF OJUTSSUOS
OTUGITY Sp Ojnour -ozes opÍeISImI 'SOARIDSO-X9 Pp EBny “oquiojmb odn op somem
“JAOUI (O) “SESIOD GP OpEJsa osso e ogóisodo ops “POU
ISUr END 1AOWI UIOD QJUSUIAONI nas ap opÍejmpIe Ev “sIgDOS se epa
ura “onb stepDos sojuaurnou Te2Hdxo “Tas ossou
e “pod SBIta]Is ap [en OJUIUIOTI 3989 UIOD 19] IHSpod OJUSUIAOUI nos 2 Ea
“BIG SogISar anus seimuníãos SSUSIp op orpen
b assq -asuoo onb saçõeSI SE :EINJEABINSA EP OBÍIOQY EP 2 A (S ST
“ASSPION O OTIOS “sagIBaI seno UIS SossPjo serus
aty SESS9p SO] ? OS9T 2P IgA onb opontad o anus opniso O somaremiIs seza r a
-USUIZoS 9j9 OJUSUIInop o “BJS9PNS OP Ssju eummop sassep sEp semno uzg "OBSD9P op sonus) sop oopyjod oxaford O Ur o o! y
9SSSISJUI O 9SPQ TOd 3s-opreuIo] opeziIaoe Ivo
2 [seIg Op op “Too Iopod o too “sjed Op S901S91 S9JURISSL SE UIO) sagõ [ a
“BISH OP OBóPUIIOJ Sp ossosoId o “OPpBUISY Opun
sas op med vy sens srenb 3 (sIsapioN) ogigal ejanbeu PjOXasap 28 SOJLDI Ta
“(OmISITRISPp9J) TenorSal OUISTUOTOmE Pp sojuamwour mos (ogãez SouL] wa “gnb o IExopISUO) opuemDoId “oqeouiaTor e ez 1
“HEntso) ouIstEIrIN ap sojuatirom opueuiape “[esejso omjosede -poo] 28 ojº opuenb “2987 op Jn1ed e oxsuposuo) TEYUE nose
OP OWisIpajelros OE ESTA Oonmgod ojaford OU SOpENIII oonod um sou
siso “SEUDIPUIR UCS souIsIejuo) “elos nO 'oduio)
º SERIIPUE UIOD XIX omos op aued opuri s qquei na -Is sourea “souiejope onb anbojuo assa UIOS RAE op eu
"enno
91g0s ogISor eum ap eruomsSamw ep OBSUNy wa
comum opeso -“OISIH EU [eai opdIosuI ens eomragis onb o “CIONDPIP à quo
WET [IStIg OP sogra se sepo) imum (enu spua dapu y e ogsope) ens ep EISIA SP OJUod op oprasa assa E IEP somapuSJal 2 or
BAISSSISE SOzoA SEYNT PULOS ºP eImDOId “ope|
omno 10d no “USWITP É OPIA9P “([ISBIg OP BLIISIH Bjod opruBtsap quo r oo
“SIBHOLS9I SEÍWaISTIp se eIed euoje ogu ojaloid
187 'snadoma “pen 9 otIoD) SOPAUL) OP ELRNO 9P Ten] uso “PISTILoU]
SIEUODEU SOPEISS SO UIpIEmLIOS Os onb mo Opu s ou “Teuor QUILO oOlWIS] O Hlojosd somrea onD soumos IES e
“BU OPeIsa OP OPÍEULIOS EP OQ elos anb “SSJUBUTLI
OP sossejo se] “HSBI OP [2)0] ELIQISH] E UIOD OBÍBISJUI ENS O sera
“2d BSOgso as ojoloid um (S08T) IIserg O esrd sgnê
nuog otrad op ogia! EPpeUNUISISp eum op 0DLIO1SH OU UDOJUOSE ox en
“UI OP og5ensiururpe ep opirsodsuen e apsap “corj qndoy ep 0g3 “US ojdure sIELL Odedso Nos OU OTDU[aSUOD OP onuGuntA
“BUIBDOI Pp ssjue omogys oraur sowsty no syeui 2P
e21on JESY[EUE ap EISSPpOUI BANJO) BIN 9 OUJEGEN SUSSSIA O
“I939J9G2I noSEIJap os 2/2 9puo oBISaI Ep sIEIM
“8º 98 9P [HIP Ioy siduros anb speprmm emn a25-O puros nd “oDISOT mfiros 9 sip»INyNnnso sagÍIpuoo seg o [eIoduto BOTupUIp E ox
“O9PI à oonyod-oorpinf star sop imied e OEÍN] OS 9P seADRJa] -asU0N 9Pp OJU9UIAOI O NO[DUIA os OBN 'OSOLIONA tutu oa
oIduras ureIgDOAOId Sopepjensisap o sejudznp
sessy -ndoi o “2 oJst “sed op OADBNSIURUPpe eLIaIsIS OU MP o
“ENO E Sigos ogigas vum Eonyjod-cotpunf ÚISSEAIo ep seipugnbosuoo sep. opus ea
9P ESTNQUOIS ERIOUISSaY ap sesey ap OPSsO2nNs eum
ouros Hsesg sp pArJeI] os onbiod Z68T Lis epessns 9 enb opóeal corra
O +24 E sOpeumIsoDe epure someyso “uurssy “ODTU
IQUOIS OxrauI 2 soODpEUB] 9Pp PANsSduISJUI OÍB9I E OUIOD SOpnUEO Dois
“IOAU9SIP 9Pp sSojaro sopemremo sop og5uny mo ordur as e-noren “elos no “porjgndoy ep opópuepolg E LOJ amb dores, OP as
“ogIsand Essa aIgos JEÍNIGOp as 0” TeuonIpem
BUPISOLIOISI V +suoo 0/2] UM E OpÕPS1 BUM 128 IOd OMS OP opssa dos er a
SOU aus vonmod o jeros “eoruiçuos OBÍBLLIOS
E S19j91 os anb Tqour anb “opejost 032] UM otIOD alduras OISIA 10H a NA
OU assediWI OjIao um mer onb SOLSTUQUO “OPS
Eptne à “UIBIO] -anbeu [se1g OP BorSoToSpI > Eo>DH od “BIFUQUODVOpO a
BSLISTIY PP Ope[ aJssu nojeysur os anb esenômio
d BIUQ/O) P UIEZ ep EONIIgUIp eu ogíemp eumbfe op oJNoniAouI Sp op na
“Hagoeiro onb sieroIõas sopepjensisap 3 seóu
oranp sy Opoui 03192 op as-opunjoxo “seg op eLIoasta EU nro o a
sSopnuro op [ELesiy op omipunaião à opssatda ep ou
IEUODEN Opelsg ap ojafosd ur — [serg -Toureysnf 103 “EISUISUJostioo OJISUNAOUI OP OjdUTaxa ON
opómiusap pp Svip sou apopiigissod Fomgpajegu] 3 DJOquIDANÃ “OJUGUIDSDA ZLIDOS
eee eme ———

lectual Possibilidade nos dias da destruição


Beatriz Nascimento, Quilombola e Inte
cimento de populações escravas do Norte e Nordeste para o
maior amplitude, onde também
e se esboça num quadro de udeste eofeicultor, mais carente de mão de obra.”
as formas de oposição.
ocorrem o roubo, a imigração e outr ento do a vantarmos os dados demográficos do Recensea-
área em que a concen-
O sertão do Nordeste era uma ent
ser um fenômeno acirrado com o str-
asil em 1872, constatamos que, nos 11 mu-
tração de terras passara a mais tradicio- nicípios da Bahia, onde, a partir de 1874, Antênio Conselheiro
central e da usina, formas
gimento do engenho ar crutar seus adeptos, existe uma população de 102.789
o bangué. O Barão de Jere-
nal, a do engenho conhecido com pessoas Pardas e pretas livres, para 36.118 brancos. Isso dá uma
grandes proprietários da re-
moabo, ao lado de alguns poucos proporção de aproximadamente 60% de homens e mulheres
grande parte do município do
gião, concentrava em suas mãos ro vai fixar- pardos e pretos já com os ] vínculo. s cortados com a escravidê ão.
mais tarde Conselhei
mesmo nome. Canudos, onde ET Quero lado, a população escrava desses mesmos municípios
uma única fazenda de gado de
se com sua gente, en 1854, era dois exem- aproximadamente 17.000 homens e mulheres pardos e
propriedade da Baronesa de São Francisco.” Esses populacã
isãão de uma pop
da terra era um fator básico . tos, o que de nos
na a vis
proporcioneg ulação tanto
plos demonstram como O problema sociais que se suce-
pre
livre quanto maiori a de ros .
gimento de tipos de movimentos
para o sur ei-
dem, desde este momento até mais ou menos o fim das prim Po pulação
mo 4a a
um perigo conS- livre em relação ao sexo e à raça nos 11 municípios
ras décadas do nosso século, representando
ômico e político-institucional a a influência d o Movimento
sob i de Antônio
ôni Conselheiro — 1872-
tante do ponto de vista socioecon
emônico, representado pelos
ao poder decisório do centro heg seu projeto de
Sudeste no
interesses das classes dominantes do Total “Homens Mulheres |
estado nacional centralizado.

O início do processo abolicionista


— A extinção do tráfico negrei- Brancos “36118 19306 “1a
ro africano ,
Pardos 76199 29777 “36422
ico negreiro africano
O ano de 1850 marca o fim do tráf
devido à pressão inglesa, Pretos
no Brasil. Essa extinção deu-se mais
o aumento do preço do es-
26590 13793) | 12797|
que através do policiamento provoca
classes dominantes do Brasil,
cravo, do que por uma a itude das Total 138907 72876 “som €
es produtivas.
de excluírem o escravo das atividad
Um dos maiores problemas que semp
re enfrentou a agr |
de mão de obra. O fechamen-
cultura brasileira foi o da escassez as da escas-
uma das caus
to do tráfico internacional foi somente
a mais importante fora
sez na segunda metade do século. A caus
vegetativo desta popula-
o decréscimo da taxa de crescimento ade. Como esbo-
de mortalid
ção, ao lado de uma crescente taxa foi o des-
o problema
camos, anteriormente, à solução para “| 80. CONRAD,fia Robert. - Os últi rimos |
anos da escra
o .
1975, p. ps Brasil, Rio de
79. ARAS, José. Sangue de irmãos. p.
>. Editora ignorada, d/data. || Janeiro: Civilização Brasileira/MEC,
230 231
ECC CEC
“IOPEATES
“OMaMÃO “OBPIARISO E O OXSWJOSUO) OTIQNIV., "250F 'SNVZVIVO “TS “[EDUFAOIdISIUI OSJRD OP SPABIR 9Is9Pp
“NS opISog E eIed seapiosa sagõepndod eoojsop SJsapioN O “21
SO TIO) ONSUJISUO) OTUGIUY 9P OJISUIATOAUS OP OANPIIUSIS 03 - von OP OPUIA “PIUBg 9 adISIOS Ap SOpeIsg SOp JOLIaJm ojad ogó
“BJ UIN “OTSJSBIQ SIsopioN ou (SILOS sajusfe) sonpiarptr so a
“-pugigaIad ENS gdauIoD oxpuyjasuos anb was oporiad oN
SSSSE(D 9P SSIOJOS SOSIDAIP SO WENODUS os onb uia ponoe 05 -
“BOIS BP Oxalar Or HISN3 Wropod og “OJLIosap ossodo1d ojod sep =|:
-“BUOISSSTÁ. UroJUOS 98 Ojuamom ajonbeu onb sepeureo op OLGUIS il
“HO OPUS OEH OSS “Oioujosuoo oudoJd () msIejorasop as * |.“ OZhOL |61Z9 [664 |99t6 | |6EELT TEL;
BI2d [12] Ola] SOÇÍTPuOS sessau urentODdUS OXsupostuor om
-QUUY OP O OUIOD sIEDOS soluauIAou! onb sourensonI PY cos 1265 +59 908 OL | oqeomarr
"OQUD OP feUOLDMRSUI WapIo eu 3)
“Usjej ouámnbasap um e20401d anb odio omisou or epos 0] 6€6 |I88T | otues suow
-“IUOS 9p sjuoumeprssod euITo uimu 'sogiepndod sessop opdezi
'seor eve grs
“BUISIBUI BU SJ9/7os os anb jeos ogóezrur$S10sap eum eurmirajop
BUNS9pIOL EIHOUOJ Ep OBÍBLIIOJSUEA Op Ossad01d assa tes |egez eo ire log | ou,
reu SON BIISO SINOS OP SopeguedirODE sopepaoridoid
SPSNIB SENS LIPUOPUPGE SoPPPIRoID ui SOHOPpLozE; sassop LE est TA ge rezo Tequioa
SON, 'JOWJ9UE ISALASIJOS UIPSSOd 9puo “sapeprreoo] seno ro
seAneLIoIe uronbsng tsquiea sejo onb ud zey “esopual opõed ex ss IL uz | |ss€ amos
“N9O BUM E UWSIgPpop os op sagórpioo utas “saigod soxrspuozey
sortonhad ap oLusouI “sozAm segiepndod sp oxraupargodura o | CBL Zrs PIO OrZ | | past | morde
“OPE[ OHNO 9d] ,OELIAS Ojod nIefonSeA, à UISSUIO Sp ssreSn] snos
WEIOPUEqE “(Opexnoxe WEIUN 9S OEPIARIOSS EP SOdE| SO a3sap groZ |0S4E 'gzst L8s1 leme | sequioBeiy.
“JON 9 2HON Op sepuzsoId seumgpe wo stod) ogdezispIoSSoI EP
019991 OJ9d sOpeAD] “Soltrapaoxa sossa ope] UM 2 "JOBIA ma PII
“SISIS OP EIOJ EIDUZALASITOS 9P SPADELISIe seNINO IEMDOIA TEA
O98T |TSZ OZ |seer noz | som uv,
anD BABIOSS D 9XAT] EIGO 9P OEUI 3p aHHrops2xo um mIpo0AoId “EI
-I9) EP OBÍENUSDUOS E Ojuenb oque) “opisios assa onb ap “epep Lost | isse SZ11 |ssbr |s99z ednquremut
“UNF OpO1 op OEU “osstodry eum e PAS] [ppupnoIdIgur oogem
O 9WIBINP sopigny SOB PUDE SOÇÕEID SEU PDUgIojal V E6E |9L 90€ JE9E 1699 erpeqy,
"OABTOS9 OUTEGEL OP sUIISaI Op aSuo] oymur vAroy og ond
O “sOprIentOS op au8sx ou oguas oypegei imSastoo ap sooirp LIL Ob 99 |TIL (Mt . puco
“OS WED OEU “sSodURIG SO OmIsaUI “saray sagiepndod se onb
IHSJuI os-spod ursquiej, sopoqeo uau “sorpur uu 'soperagi[ sSojaId | SOPpIed Salon |SUSWOH: THOL “sordporuma
BÍ sorgou uresednod os ogu “eIsISPARIDsa OpOITad O uemp “sem
“NO EJEd PrIgAOId pum sp urazey as sagdepndod ap sojusmeDol
ZL8T 2P OJUSIBaSU3I9Y — BDBI G 9 OXS
-Sop sesso anh ur sojusuiom sou anb oprpeyuos 9 “vio oe oRÍeJaI US sordprantu 10d eaRsoso ogiemdod ep ogómquista
T o e
E E
OpóIngsap DP SDIP SOU SPopyiGissOd jonypajazu] a PIOguORNÃ) OJUSUHOSDN ZLIJDSA
l Possibilidade nos dias da destruição
Beatriz Nascimento, Quilom bola e Intelectua
fértil não só para o surgimento de movimentos sociais do tipo
problemas dessas populações é a alusão que se faz à sua vesti-
quilombo, mas, e principalmente, para movimentos de maio
menta enquanto peregrino. Ele usa um camisolão de um tecido
cunho político como foi o Movimento de Antônio Conselheiro.
chamado “azulão”, ao que tudo indica um tipo de brim america-
dovimento que se acirra a partir da Abolição da Escravatura,
no que era usado para envolver fardos. Conrad, citando um via-
este para serem q » à esse quadro demográfico que analisamos, junta-se
jante que observa os escravos vindos do Nord s ves- agora aquele decorrente do desemprego de milhares “de escr
vendidos no Valo ngo, diz que: “Os escravos estavam todo vos, que antes ainda se mantinham, por força da legis! ão,
tidos de algodão azul”. Ceará. dependentes dos seus senhores. PESO,
eram embarcados geralmente no
Esses escravos . O equilíbrio do sistema econômico como um todo no
do tráfico negreiro in-
Essa província foi o principal entreposto Brasil se encontra, em várias conjunturas, sempre em crise pro-
terprovincial, funda devido às diferenças regionais. Um exemplo disso é ue
província do
O fato de Antônio Conselheiro proceder da Ceará e Amazonas abolem o estatuto servil antes das demais
significação, na medida
Ceará nos parece outro ponto de grande províncias. Enquanto o Sudeste, ainda não tendo completado
de onde se irradia
em que essa província foi o ponto principal seu projeto imigracionista com a entrada de europeus
vas, mas também de para a |
não só o deslocamento de populações escra voura do café, resiste à abolição, o Nordeste, liberado parcial.
co nas províncias do
livres empobrecidas. Os efeitos deste tráfi mente de mão de obra escrava e livre excedentes, se adianta em
de quilombos, fugas e
Nordeste possibilitou o recrudescimento algumas províncias no projeto de extinção do regime escravista
nto de quilombos
aglutinações. A formação e O estabelecime Isso coloca em perigo o equilíbrio do centro de decisão do uni
a História do Bra-
constituem fenômenos que acompanham toda “tan smo monárquico,
árqui que procurara sempre equilibrar jurídicae
co brasileiro desde
sil e se espalham por todo o espaço geográfi politicamente as diferenças e conflitos regionais em função d
o século XVI ao século XIX. união nacional. Acrescida a esses fatores, junta-se a pressão das
quilombos,
As causas gerais para o estabelecimento de massas do campo e das cidades das províncias nordestinas num
a) a rejeição aos
segundo os que estudaram o assunto, são: grande Processo de migração, pressionadas pela seca em 1877.
a crise no sistema eco-
maus tratos impostos pela escravidão; b) ões no mbora, como já é sabido, grande parte dessas popula-
se vai refletir num
nômico e suas implicações políticas, que c rdestinas tenha se dirigido para as frentes de expansão
instituições escravistas
afrouxamento do controle exercido pelas da borracha na Amazônia, não foram poucos os que se dirigi-
sobre a mão de obra. ram para o Sudeste. Esse processo de imigracionismo interné
Este período estudado fomece U bom exemplo dessas
a, ao mesmo tempo paralelo ao imigracionismo externo, pede um estudo mais am
duas causas. Entretanto, e em contrapartid po em reação às suas implicações sociais e ideológicas na his-
de obra nas regiões ..
em que há um afrouxamento sobre a mão sen- : la do inal do século XIX. O imigracionismo externo foi o
populações no
de origem, há também uma pressão sobre as mais desejado pelas classes dominantes, tanto no Sudeste (a re-
tempo, esses fenô-
tido da reescravização. Atuando ao mesmo gião mais interessada) como no Nordeste. O imigrante nordes-
uma reação a esse es- ..
menos provocam por parte dos indivíduos - tino e do negro, não só para solucionar a questão que levasse aq
nativas de sobre -.
tado de coisas, que os leva a buscar novas alter trabalho livre e assalariado, mas, o mais sério, por haver um
mbos, nesse mo-
vivência econômica, política e social. Os quilo consenso ideologicame nte racista das classes no poder de que
ferado principal- -
mento da história do Nordeste, devem ter proli Ee eram mais aptos ao trabalho do que os brasileiros negros e
as e Sergi pe.
mente nos sertões de Pernambuco, Bahia, Alago ncos, e de que sua origem
leiro, europeia contribuiria para civili-
Pelo que foi exposto, vimos como o Nordeste brasi zar e embranquecer o Brasil.
, elá um campo .
nas condições históricas em que se encontrava
234 235
SEG
LEE
sos
noseyuroSery SOR
* o nu “adnqueyu “eipegy “opuoo :sopogea dos onb oBL
e nad p enb op sojs1d 3 sopied op Joreum epepotend ““eppsjoqeiso USpIo zaed otsuiguos | eapguasas
QIUY OP
24 POUQNMUI Ens urerogoo=1 anb sordpruinur so sopoL . CTS soquie “OIISUpastto) OTU
- od O eIBd OBÍUSIE E OPUELI e) “t6BL
cm orem “soojemdod
osejm SESSo LUIOD 0J9
reIBouIop 0510Jat 9SSAp wel
QJUSUNAOUL O 902201 onb oot ou eum“L68T ESP ºP
do copsiro do aa BUD gsor oMes um 9P peo
ajo nb mo eprpsu eu “os op ovzer ts | ap “ODUQUIY
or Op OBIE O oe] ..OIBLI OP ET 2P AoA,
: EI E 19791 és aja onDb ua é ELE 2Pp 0F5 ! euro mo 'oqronisi 8T Pp OTEHI
UBAS] os onb s.
a y 52 pe pn bo OPejmp o SOS om omissa
OXroYJosUON 9Pp ojusnu
eis SOABDSO-XP Sossg "88
“o op goodo EU sOpeuremo o-x o sog ien dod ap our
eu 1 santm um a9nDb WIsse T os-pSh; SUCUISA a * 'nomp ojire Pp EL OP epod sepepyouod spaBps AouUI O “OP
E 05 eo a o epred segõjendod mos urquie po
IDE OIlOU|osUOD PP ONISnN
“SP O UIOD pIOSE “OS-EI odogsa assa
= o sad E UIOS Os DEU
O S OEU NU NOJO) EISLIAM]S
LI 7 SUOS) OJU
sep sep oros ou eNuguoo
: Ot SIS9M SEPpeurmop sas E ajuauIos
b HASJuI op zede> oBSIA EUM OgP sou SOpep sois O
ooord asso “ooTpumi Joapu
ousop eSuepnil op oss ent )
ss Sub su *OX9UP UIS UFRNTO
PDS] Ep oBdIHOqV EP opu
eproLLIDA OBÍN]OS “eImPA “ms
XO O “aquoupedpuud “o
IULISI
squies Jo se SOLIBIOGEIS “OPOLI 3]S9C "S210WmUI & susto! "ajuo8 ens 2 OILoujasuo) 9P OTU SSIUE asd
modo Ni oro 2 sopred souremguoZa SOAPIDSO SO AMU “solo 7
“gojuoumaouw e opssasdol Ep
op apúzio OR Op O OLIOS “eIsIjBIS po
sda Tt “sopoqeo o sozaid “sopied “SODUBIQ Soure mmos
oIõals BIUIOUOMNE JOTENI 9
“um 2s ogu [eutye enb Jeu ST BP oB>
e “stodop o8o[ “> PIMIBABID
eSes ep so aaa SOLdpIUNUI 9 sersonBar IOd sogssioId 3 oxos ojafoId Tas TIDO “pogandoy op oxmenb
SO P So Ep so Zen cíST op Iseig op pero CJUoTIPaStDA
o) pouBIfe ESSO won “ms
j0qv E sessasd sY 9s-Mpu SE aqusuped
O DR UI S9SS9U LEEIAIA 9ND soIBau op eopepnuend e BI spommod sedueiapiy
S1S9PION 9 9HON OP OHI e E osso!
se anus EMO] 05 aonb róueif
oo nos pm BIed 0x0) S]S9 E SOIEIISOSSDE 9 Oia os -pugid “soyieumuop sassep lgol OWSnEl
ns mo RA P EDUgnyui e gos sordisjunus TT sop ozAm > PARIS
apod 31S9PION O anb euo
opu “Is vard xo1onbos eti “onb opssold
Un? OBÍISOdTIOD E Omjegen oIs> eIed SOUTEJUPAST Hop ZBJ 98 toa osso “
o -“pdos um 9p Otz991 OE OpI sol dol E Jedi
ad oxauIAouI 955 e ops
-2y "sIenUDO saxopod soj PP OUIO)
SOJUSUITAOUI
eso pistsota asWSauaD O trcadannãs
Opom um$ I2 9P Soyuesald ÚrossoAngso PtiDOS
OBII seje
ojofem nas ou “oxoujasUO)
-sopnuz) 9p [eieiry O He OBS “SEISTIEI
en o as pue opusios “SODUBIQ-OEU 9Pp peuopejndod BL
sossa onb sogSmansul se
-u9 UeIninasS SajueisTuim o 008%
I Ted UM ND JEJT99E 28 op Dos op sostdn “sreur sonno
po po -Ideo ogu spsouodumro SSpepo uessoISUl PISOS
-oquisa us
as ss JHoPIO )
eHUOD WSSINSUI EIS corn
OS OE SoISaU PO LIEDITos 9P sosEI SO -op
9 sorp ob S -voxed “oupeduios “apepo “orustrendeo
“seig Op oued onb uia
oDbiSiva E cesso adm e “PIEq OU “utseuegeo € o orqurIPA o “sisapns O ayuompedpund SISIS TIMT Ep
otuos a ea ou UIESsE “YIX OJNoas OP sepeDap sextomd a HIAX
SIST aSST “[PUOPIPED EUI
o uloo Josnediroou! 9 BUI men UOoOdLS 98
e op y EIYPBM EP S905N/0491 SE OAT2S -opessed Op so)
umpapoqeiso O -ppres em
-posea apepobos op oyo “orIaUfSsUOD
TS Ienos SOJUSUITAQUI SO SOPpO) US sajratioduroo sas55
9P ouso) us eumnjõe onb
onb soptigos soAod so 15 UI9QUIVI apod
oie o Ele 8] OUIOD OpEIopISUOS 198
ºu eMoOId [BIO BLIQISIY Esso “feroS opom Se«a op oJuoundims O pied 101 “ERUFISUL
oJafgal osroW[as oudoxd O seiqumbasap tea
5» pap au ASIH PP sJuejsuos opóisod eum “jeuopeu oBRIN 9P opuuos sep oUop
op sejueIsIuL sogõejndod
pe sop gorros opórsoduioo E sigos ODIg|s o dês gun us “enb “9s9pioN eut “EDIGui
puoLisgur ens EU OS “ogpod
uege ass] "EXIB9ToIq ope enrepuny oB5
9p! SESAES op ju umau
Er ens gu vÍUSI? E ISEoLSOjO sem mo no s159Pp
3001d a]sou sopepume
-uny tuo “opÍIsUBN OP oss O opeispisUOS
csuy op es d sopegjeqeo JOSE,
"OHaTjosto ns op sogimiuejd se exe ISGES
UV egqen O anb mIpquiB] SOU
9P BSUBIOPI] E QoS BARIDSa-Xo ESSELI Pp opsape é cafe no gia OBU OURSIPpIOU zopeyj
E
B ISDN ziugpag
ORÓMISOp DP SDIP SOU 2PDpIgissoA pongpajeguy 2 pjoquioInt) 'OQU
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual
E E E O

Itapicuru, Soure, Pombal, Tucano, Monte Santo e Jeremoabo


têm sempre uma proporção maior de pardos e pretos livre e
pardos e pretos escravos do que de componentes de outras
etnias.

Meu Negro Interno*2

egundo a interpretação mitológica da origem do ho-


mem, ele conseguiu a sabedoria a partir de um crime,
o de subtraíla dos deuses. Em princípio o conheci. .
mento é verdade a todo animal, é o tesouro secreto dos
seres onipotentes. Somente um animal teve a pretensão maior
justamente de negar essa sua condição e o faz através do co-
nhecimento de si próprio.
Essa faculdade de conhecer, que lhe fora vedada em al-
gum tempo remoto, e que ele usurpou — e hoje em dia de ma-
neiro indecente -, segundo ainda aquelas fontes, trará de en-
contro ao animal presunçoso e enlouquecido, o sofrimento e a
procura milenar da felicidade perdida. Pena imposta pelos deu-
ses...
Profundamente consciente e-conciliada com o aspecto
trágico da vida humana aceito sem maiores cuidados em toda e
qualguer explicação onde a origem do conhecimento esteja re-
lacionada à perda da felicidade e ao pacto que o homem esta-
beleceu com o sofrimento. De todo o conhecimento que o ho-
“mem busca, o autoconhecimento me parece aquele que justifica

- 82. Artigo publicado originalmente, com o título The "Negro" Inside,


no Village Voice, Nova Iorque, em março de 1982.

238 no 229
Thz Orc
““OPEY9B UM OUIOD “ajuste pungord nojo . cr
“OX[ISBIq OIS9U OP OJUSUIDATNOD [SATIS) OP
é tossed anD a “ajuessarajur rate onb opãegoIdIojuy eum zo] 08 SEPOI o
sq eu IeynSsou «eum sjeui LIC EUIDE sessao
“HE Neti EINE EUISO Y SJ ULepnonsed wo uro Opeuruirsosip pRUopI ap e
e 2 eId 'PISoULIE BQUIUI E UISI 9 IV “9Pe
OnpiIpUI Op oJsouoDoid op soombisd soppadse so opumnasig OP BLQUISUI Y Temer ns a
B “eSnue OBPIJOS E “OMOISAU
“TeleI OpóLuruInostp ep og5uny ui enuos snb setrajgoid so sop 10 ur o a
o UITIJOS ojod opeBeuIso ajuapstodul um sem
-0] Sndxa ou[ 9 OSrte um 198 10d EISIfeUE 2ssa ToIMDOJA “(opep S» a | 1sH us
-sodumo> op sodn sassa apepI[8el EU stod « OOP
"DOS BU OPB[ nos 02 opuedwnIed “eossod ooo 'olSou O J9A 9U OP EB,
E
OUISHIOIABIOG, UM Ulodo]ogeiso “elos no “.oJG mo? 2
9P 9PEIUOA ENS aIgos WIPIHga1 OEJUS NO “ONE OnIsaUI Op OJquia) UIBJUO) IST
“98 WBZIp anDb op SDsam sequi se Jossjoqeiso and
e
“28 2 L6T 9P OTTaloAoy/0I/oUPÍ “S9Z0A BISIADY BU tonbiqnd snb Temo
«sounssod anb ejeur pepraqr EUIM opuas ouros
sOSEIP sjop so eIoj onb sowyp-opusurosa1 “ojues-sp-red um rei oxroo um a a
spossad se aquotreumpn anb 'queurefodsap
E
-NooJ1d ELIDADp no onb uiazemoe oseor 10d onb soxona] sajonbe) “pure enno 'JouIaIXa OP EPUIA BANSJE ogssaidxo s2nbjen
É,
: : sHISOU sepuncae
eIsfeuroIsd um Iamooid our ajsop JuUqe 9p sor IM -“BISUMA OjUBIANUO “s|EOSSDUE SINGLES
9 EULIO] od
comb 10g “ES£D UIS BIP OP OJsa1 soABe “joarsta OJUOUIL]OS UM 10d BPEZLISJNBIECS
O our-tonbiem “ogur ens Wa NooI BIOU Y . eoned e uroo sem TOABJE our o
eum, -opednoos1dsap aqiouiauolIrde “sISaje
-oigord 103 opu ered (Jeosty) esou e pSonhso og CHEN, “BIEDDOP 080] — J9po a
-mo> um “(jSeiopes "(pop ody wmn noigos
teug ce seu Tem ousou O aJadal “UI eIpd os-e)joA “emsour
anus a
guto) ejod wereIossI os anb so à ejoquopnd
WO? Oduro] OUIS9UI OP 9 OpusDopeiSe OD0m O aWj-opuep “vSou oyo am
ou 01891 O onb WazIp) Hop oxtmeodmos spues
E PHOPpEDISUI E nogamus 10papuda OQ Ta olãos UIdAOL “eoueIq PIsS
-en ejtosoIde os pisou e 1 jend ejod setmios sEpOD
Joumul BUM OPE| OE 2 OpE2I9TI TUNU ONUODUS au no ojdimaxo
Iod “usse sOJez SOymII UrDajuoDE apepapos esson -
os egunf ADas
eu oueqm oustuiguas ojad eprDoAaoId ejanbe
«BID BIOUIOP SJUALUfEIDEL, SPepolDos eu soquapunjuos seio per oi a np
opjpBaIgesopE apuo “orsue 9p OR O OÚIOS a
“O ê
“UPSTIB OUIOS “sIOS SOP “seSIOd SENS SPP “OmISSUI IS Op OpIpIad “OI “AYpur
A Jo4u ur eJtssoide os vejo “ojdursxo 10d
soda is
-[9189U OP OPIeS SJHoUISjoD0] ASSDAN 2S OUIOD ao UPuLIad OIT] otra 2 “sely "niznpold ejo anb o som no
Sp OEIO e ai
“ISBIQ OIS9U O anbiod 1emsouI au wroran?) 'seprponhso 128 sie -os fazu oe > “enbjenb oxergeu olAeu Um
UtotonDb OEN “senB20 Iep om uiss sesouISnIoA usduosH o sep FIST ssuompear Md es
“Ted E IIEMS E NOÍSaUIOS BANSJOD PISPUIIE e
boia
“BPIODE OBS. sa10p sessao sepo) “opessed osso O OAjoAS1 opuenb -0S ZPJ sou anb PANSj0D EISPUUIE ESUSUIL cum ses
H ““eprenbsa mbe pIsg "epronDso [E EAVIL] “210DI O “ejuor umo nt o
9p EDUgsNe op é OESsaIdol ap sojmnoos omendb o
-I09 E “OBDB] Ojad sepezneumer sojred semno sep ope] oe “Op opuenô "sodio SOSSOE UIaJUO “Sal
o reotgdxa opusjaid
OTIOS tan
JOp od1os op ajied eumpe urso opezifeismo as no “opuozoui el sou om“qreSnsny sou anb sagasanb se SOUISA[OS3I
JOUIP OP a11ed “Toquos um tICo JOUIP PIZEJ 9s onDb za4 epeo onb ;
.-ossoIdo QE) 9pepifeal eum ap SJueipI souirgeal 53 USLUIRA nal a
ONPalY 'OUIS9UL TS OP IOUIE O JOQU9S O UIOS JHPIAIP “eISQUUIL SO DUE
OLHOD Op SIeul O “BSS OJU9I — ox UITISjaqreiso gaga
ep OoJo O gos “stodad “9904 10d 3 9204 TIO OpurIoNy os ouro? equi — ue
“snqruo ap sorrqueduioo “sos “PI[uIC] 5 I
“senbequie so oe steu ureneg soxoquedmoo snas ojuenbus Ep ODPUNIEO
Y stent soiSoU SOp ep 9 “enuguadxo BQUIuI a eu
opeItode 128 eIRd OpeAs] 3 onbmeq op opeoueire assoy ajron oOpuemoL
“PmSoUL no Pregoo ouioo squouresomdnnsaur
R “sajtaxioD E sosard sod so TeiApuE> UMU eHE> opurioo *g09T -o1gou uromow op onbIs eu
SAQÍET9I SEP so o
SOU 9SSDATISS 9004 STUAdaI 9P 3S OUNIOD 7 "PIOPRITSZE 9 [BIA 9 eJ9 sessop sogipar|dum seu 9 JIseIg OU sTEI)RI-IMJUT OJmUI eoZI
OIBoU UM EIed 'JeNA OBU seu “epesod ejoie) eum Jos erapod pum 1
| ouL on b us eprpou et “ogodsoi 1 OM
“no seu opungjosde
EssOU E ZIP 9
oqst Telei odnis omno ep ejred v5ey onb manspe eira oUI OSS| “SUILD Je) Ierdxo onb os-ma 'oBÍIpen
O
og
opómysap Dp SDip sou apppiaissos jom2oja3u] 9 DIOQUORNO 'OJUaWSON mujp
MM)
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
a, E
Pi O
E

Pergunto-me até que ponto o “negro” a que me referia conhecedores do oprimido, os que têm a solução para o proble-
ma social nos livros,
não era mais discriminado por eu mesma; se ele não era maior nos bancos escolares, nas mesas de bar
dizem que não há uma questão racial. Há uma questão socige-
dentro de mim. Se a criatura rejeitada, agredida, infeliz, não
conômica no Brasil,
estava sofrendo tudo isso de mim. Em suas palavras — “até que
Nessas alturas caminhava pelas ruas de Copacabana e
ponto não havia internalizado a discriminação da qual me quei-
começava a abrir um pouco a minha boa-vontade e concordar
xava”? Ressalte-se que ele não negava a discriminação vinda de
com
fora, da sociedade, não atenuava o que eu sofria vinda dos eles. Ao meu redor, babás, porteiros, servicais domésticos
brancos. “Mas — argumentava ele, eu não estaria também agre- carregadores de caminhão, homens em um carro de coleta de
lixo, engraxates, pivetes bailam na faina do grande bairro. Que
dindo muito, justamente o negro dentro de mim?*”.
Era possível. Tinha-lhe dito antes, que me encon- espetáculo! Todos eles eram negros (ou quase todos), felizes
Anuí.
pois mesmo trabalhando o negro parece dançar,
trava confusa, pois em dado momento muitas coisas em mim es- lépido sorri.
dificuldade de continuar dente, principalmente aquela babá ali, de uniforme branco com
tavam misturadas, me encontrava com
um menino quase da cor do seu uniforme —- mãe
o trabalho sobre o negro, o qual me propusera fazer. Tinha-o preta versão
1974. caminhava e pensava: somos realmente um
feito analisar justamente, um artigo em que eu assumia diante povo alegre
talvez o único alegre em todo o mundo, a única
de um branco, que como ele preconceituoso em relação ao ne- raça que dá
uma saída, medíocre, mas honesta, ser alegria, amor, música, poesia, paz espiritual... a troco de nada
gro, o negro só tinha
ou do sorriso no rosto, ou daquele uniforme branco...
complexado. Era possível que o analista estivesse com razão, es- ,
E, o problema é mesmo de natureza socioeconômica
tava em mim resolver os problemas levantados.
o preconceito racial é uma das questões vinculadas à origem de
Despedimo-nos. Saí do consultório refletindo no “negro”
classe.
dentro de mim, refletia nos seus conflitos com a moça “pegue- Dissolvidas as classes (não sei quando, nem como) tudo
estará resolvido. Se aquela babá, que passou agora por mim
no-burguesa”, ex-operária, hoje professora secundária, casada e
com um menino branco, tem algum conflito devido à sua con-
separada de um arquiteto negro e mãe de uma criança negra.
dição, deve ser porque o “negro interno” dela é muito maior do
Essa mulher, por vários motivos não se encontrava ajustada a
que o de fora. Ela é quem se faz sofrer, porque um dia ela dei-
tudo isso, a essa ascensão social e cultural; percebera que um
xará de ser babá. Com o desenvolvimento do país, o maior aces-
dos motivos, o maior talvez, fosse o ter reconhecido que a maio-
so aos bens, o preconceito será diluído, ou então quando vier a
ria dos negros no Brasil continua passando as mesmas vicissi-
revolução social, para não esquecer nenhum detalhe pregado
tudes impostas pela pobreza, pelo obscurantismo, confinado so-
pelos “teóricos”. O sofrimento do negro independe da raça, ele
cialmente. Percebia também que dentro de si, apesar de toda
sofre
aparente felicidade que todas aquelas aquisições pareciam tra- a mesma discriminação de branco pobre. O negro é de-
preciado porque na sua maioria possui um baixo poder aquisiti-
zer-lhe, sofria exatamente igual a qualquer negro das classes
. vo. O racismo acabará, basta que o negro se alfabetize, cada vez
mais baixas.
pro- mais ascenda de classe, case-se inter-racialmente, etc.
Ora, se o sofrimento que vinha tendo ultimamente,
vocado pela discriminação, que agora me parecia muito maior A noite de Copacabana caminhava em sentido contrário
a mim, havia uma agitação típica e ao mesmo tempo abrange-
do que antes, era uma questão relacionada à minha fantasia
interna, a uma agressão a mim mesma, como diria o psiquiatra. dora, proximidade de gente. Nada me parecia hostil. Andava no
meu elemento, pensava com certa paz, no que me dissera meu
Eu mesma resolveria. Faria análise.
Caminhava pensando: eu devo estar. vendo ainda fan- amigo especialista em psiques. [Que] brilhantes os analistas!
tasmas de infância. Afinal, os “teóricos” de todas as coisas, os Ele tinha toda razão quanto ao meu “negro interno”. Afinal, eu
- 242 243
SPC. brê
-EyD mn “quedas 9Q '“IEJSIA EI UISnDb E ESTE PIA BAPIOLI Spuo
TIP4OVUOD q,OIEIAIDE “ODHIpa WN op sepeosa se Iqus “9jo LIOD tassed “OMP9ul OLIO3
nos OEN PU ORI TEGUTAIPE ROA OFU Uipgurar, — nosmdos uau “psuo> op oxiege ssoragenb sung|p , OJSoU nour, IQUUaA
-OW O opejseSy -epesazduma opu o OIpeId op eIoperom ep eSnme “[2DBI OHNDD
elo onb ou-ronbidro eugeo mon epador “me Jod p osjasos -uoso1d JOSsIXo 9p essa cõoqeo eqUIm ep sejoquim Pere “ELI9STUI
2P Epestio y, “os-Joooinjusa P pApÓomO? PÉ onb “usuroy o op Et UISATA SONO so anbiod eIsmpeue og EA onb eIpoul assepo 9p 09
-ueWjo oduia) unBpe tanbry OssI 10d *(Joriodns-o-po04-anb-ejãoo -URIQ WNquou odoquo> OBU 9 OBSENIIS PUISSUI EU OBISS UISqUIL]
-2P-ZE, :sepezion sieuI sEsojop Sens op EÚIN) SoIeIsIp O Je) SaIgod SOZUEIG SO) |SONNO SO OBS SaJ3 SEJA "SIBINO[OD sopjouw sou
-Iadsap atm op “ISeor op odio] 249) OBU “ejsu mo opsp o “esol eprig eOLSPUIOp [BÍtAIos “as-opuminsoid “equizos PIsa PISSU
-0)9PU BIMISOd ENS “SOLIA] SOR UIOUIOY O FIANO OY “JISPIS Om JoUjnui Y “BODUZAIADIGOS 9P SaGÍTPpuOD SIIOTÁ SEU SAIA OND “OUIOS
98-OPUSgES “OJaSjPsap os-z9] "nolaBexa , aja, 'QUEISBUA essed onDb 'oprIen[eui oigou um eOSsIXS UI ap BIO, "Opott uUIas
“Tebuossa O PIS *“"SOL-OUIPAPIIY “sajunasueo soe or-ique “o-euie Corgo nous, OU a)WouIeni eo
“soguní Teivinuos sourerapod “oyrenrod “sjuriseg sou-omepayu Iesuad zopod 10d oJtiojns oonod um ent EU EOUSS STA
-02 "“““aS-ILTJDUOD2I E OJSOdsIp EISa OSIUIN asso opuenb a “oSmm “A SCOSSOd SENDO SE
“HIT O aJ9Tptoo os opuenb atrous a uoSejurA Y “uni sp ented onb op JOR ZEj O 9304 ond EIoS OEN "OSSI OP JOAJOS9I QI0A
OBÍBUELILIOSIPp E onbiod oprysigos “as-pIPjOsIOD T 'SIBUISP SESIOD P 9GED, :SUI-OpuazIp “BLISjol os OBTuIe Notm [enb or oISou o elo
OPlSA EABPUE aja anb OTp 103 OE “sopnuouIsop sanoy opE “jap a1SH *nºul sie 2 0EU 9NDb aqusunuo) um sp ojos ou “2LIQIsmy EP
eLISRÃo Spepipeoi E PpoquoZa1 anb Toagitadso erros) eum 10d oduta] OU BIJOA op oBuo] eIed opuexnd au “opemopuy “figa “0z
BPESIOJaI SJUSIUTA0OD SEIZADp OpÍeondxo eum eum ng “sguonr “UPA OP ONO) “0101 “OpeIrOde “OpLISJ assiqure O nº anb eióixo aja
-BpIdeI OUNUI BISDUDALIOS às a]2 “OJUPIONIO “ep ojonben anbiod “,OdIojso, Noul UIOD os-OPpLEZILISIJPIJUOS “IRA SUONISP
“OBU ToZIPp UIS ssduIas pARII OJESUIOUI OPO) E seOossod se onD oquedso op seleo se “9peILDA
“T9L 'OBÍBUILIHIOSIP E [PIDOS PUIa/goId un eIo onb erzIp opimm o -BOQ 9P SOSELOS SO assadopeige no snb EAEXIop OBU UPIDAToJo
opoi opuenb ossj "orBau ajo Jos Jod “sjo enuoD aPpepinsow eiseW our E108€ onD apepIjDP] Essa IEJISDE BARXIap ou OEU ojo onbIod
anb 19q19d aui-opuazey “seossad se “sestoo se “SareBn] so UIOo BIFOFISBIG [BIDEI EIOBIDONIOP, CU IPSSOIBUI OP ,OJo!P, O OP
Jeorpde e eApdatioo “OsIAP TUSS “opuenb mo zoa 2d “JAEIOUMA “ueSoU eDpouputad ajo seu “vioJ 9p O anb 1orem sjustuiepusday
SHrsurepungord eis ajo onb opusqes eIoquia “Pj-ESou en OBU -so “orem UTI OP ONUOp OJ69U, UN oJUSUNpol EOSIXA
na à “UM 9p aquarios erpusdap opeprogr ens onb sourengos o "ojouuoo no anb sozueIq
-sep siod “opepiagr op eIsjsoume e stop so sompapiidsoy “epiá sunSfe eIed smEIS 2 ,OJuomeimpno, oIBau IoS 'opÍejepeg eu
“BU-BPIPSons-uroq-eIossajoid ap eieosguI BqUTUI 1Qd o IeSn| nas “DM E 2,0J159U Op emo, e aonb siodop SJisesg ou orBou Jopod
OB 2S-J9UJ0D91 OT-PPUBLI 9p Jo) Nº uIss HE 212 sozumf soureSsuo Op soDUBIG SONLIÇOI, SOp opdpondxo ep siodop strsujedpuna
“9PEPDITOS 9P sojustmom sajonbe orSou non, O UIOD I9AA uls ena erionD sieu on?) “eso oIS9u nau o opueBol apeprroriadns
“8 212 EIIOSQL PARIST “EAISSaISE 9 PLY “opepifess eum elo “opes OPUErISOUIL, epIA BU DUdA “opm ap Jesade “enb IemsuouIap EI
“SE UM BIS OBU anb Igoozod soonod soy - orzagur Orsa nau, “Bd S91B/00S9 SODUPQ SOU |PIDOS OSTIaSUOS Ofad Epeurios ny ..Jejd
O UIOS BPEI[UOS9I JEJSO N9 OP E BIS anb “esoOUJIABIPUI ORNIO D1P “roxo, UI) TISEIg OU SESEI SEP EIUOUIIEY EP BJS) EpIPpSul E
Elo EU assodiioIISjar Opessed um as ouioo “sSuo| oynui op op - êWep onb sejdivoxo, um Jos pred “ (opigiold elos OBII EJOGUIO)
“BUIeID ajonbe opuno “topusjua uras “soSuo] 'sopunZas sunsS[e EnHO OBU OJSoU onD SoIg8n| SOU Jexnio Jopod esed, à Aegreoe Str
INDI «,'EMOLO Ge JOd 9 OSINIOS op epenuo FR. nosnop alsu OJUHBIG, O IPM SEuI “QJUo8 Jos BIPÁ OBU (ODUBIG OB JE[EnSE, SU
UI Opap “oIpord op oxtsltod o je ZOA WIM “ajuounIadinr opeui eIRd seuI “eIBaU Jos BIRÁ OPU ossejo op Ipuoose “epeonpa “lo
DR .
TT
opómutsap Pp SpIp SOU aPBPiIgissos . forpoafauja prog LUOJERO) “OJUGUIISDA ZLDOM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual
Tt

Só, no elevador, “ele” voltou, humilhado, encolhido de


encontro ao meu peito... um nó.
Agora eu sabia o que sentia enquanto o homem falava —
era náusea. O nó apertava-se numa ânsia. Ele queria sair, e luta-
va comigo. Veio um espasmo de vômito, mas saiu um choro, um
choro de criança e muitas lembranças. A coisa sempre repetida. Maria Beatriz Nascimento
Na escola ainda acreditava que um dia não seria mais zombada,
que aquele medo ia passar, que os olhares hostis, as piadinhas, Pesquisadora?
as demonstrações de desprezo ou indiferença e descrença, como
se eu não existisse ali como as outras pessoas, fossem somente
por causa de minha condição de menina pobre no subúrbio. Já
nessa época me perguntava o porquê daquela preocupação de
igualar-se aos brancos. Por que, de vez em quando um professor
vinha e falava da aceitação do negro pelo branco, e se dava ares
ge profeta? O que havia errado e destoante por ser de outra
cor? o.
Como um filme que voltasse no tempo, revivi meus anos om certeza todo mundo se lembra destes grandes su-
de universidade, as decepções, a presteza das propostas “escla- cessos que tocavam no rádio o dia inteiro, no início
recedoras” do grupo de colegas. Talvez pela primeira vez viven- dos anos 50: Nega do Cabelo Duro, um samba que di-
ciasse a “aceitação”: uma só entre muitos, “querida de todos pe- zia: “Paletó sem manga é blusão, negra sem cabelo é
13 estranheza”. Ninguém perguntava, ninguém queria saber. Já João”, um outro que tinha o título de Nega Maluca e mais uma
sabiam tudo sobre a origem de classe. Eu era uma negra bra- ainda, que eu não me lembro o título, mas que tinha um refrão
sileira, pobre. Todos sabiam o que eu deveria fazer, o que eu | insistente que repetia: “Nega maluca, me deixa/vai na polícia e
deveria querer. faz queixa”. Nós morávamos todos em Cordovil, meus pais e
Eu deveria ser a negação ou a aceitação de alguma coisa meus irmãos, desde que viemos de Aracaju. Eu era a caçula e ti-
deles e não eu. Nessa época, às vezes o nó se tornava insupor- nha um cabelo bem rentinho, por causa disso a molecada da
tável. “Ele” fugia nessas ocasiões, me deixando, como sempre, rua me chamava de João e ficava me provocando toda vez que
confusa, sozinha (acho que ele é um quilombola — tem mania de eu passava para a escola ou ia fazer algum mandado pelas re-
fugir), me deixando só uma cor. Senti naquele momento o mal- dondezas. Era um horror. Pra mim ir-à rua era uma tortura, os
estar de tantos equívocos e odiei o ter ficado desatenta e expos- meus outros irmãos e irmãs, talvez por serem mais velhos, não
to o “meu negro”a tamanha agressão. Recolhi-o a mim. Agora passavam por este vexame, mas eu não escapava. Um dia
mais calma, sorria da ironia da situação. Quase que eu acredita- quando eu vinha da escola, isso foi em 1954 quando eu estava
ra que estava em minhas mãos fazê-lo feliz, defendê-lo. Mas eu terminando o curso primário, uns rapazes e homens já feitos
sé o estou conhecendo, e conhecê-lo é justamente expô-lo, per- jogavam bola, e quando eu passei eles me puseram numa roda e
tar e encontrar resposta, no fundo esclarecedoras como a do
meu amigo analista, como a do porteiro do edifício. Conhecê-lo 83. Depoimento públicano originalmente no livro de Haroldo Costa
é estar só, como era no canavial, como no tronco, como agora. Fala, Crioulo. Rio de Janeiro: Editora Record, 1982.

246 247
6PE src
? OEU OPlBSIfRUP auI-noIsg “saza21p2 sou no soryd
sow sou Iso oqus] ouroS “oyo sur oymur 9s ogu [enb ep “pIopesinbsad ap
e1au apeprinuroo ep agred opueiZ onb 1909nbso
apod as ou OBÍBLEIOS EIUIUI E Opueiajdioo “asUSUTumI [BISpoa 9PEpISISA
opóesusduroo to “eyrmrad ou4I OBU BOILIQUODS OBÍIP
UOS E “as pu “TN BU PHQISIH 9P Opensoul O ajHomIo]S981 TOUPULIS
-BOISÁ op sogssas UIa-OIZ9U DS-I9A OIBI 2 nbrod “ossr
oSp no “""SogÍIpuoso senp sep equ
“UBnD exurpe os ojuoS ema “SPIST[Bue som oprez
uando sy noso -O819A NO a1god 195 Sp equoSIM “eJold Jos 9Pp EQUOBISA Bio 5
no aniotujeny Ieynosd ento; ens pv J19s PLH9A9Pp a2nb op om LIag 128 OBU 9 “PUUOBIDA UIOD “EAISU3JAP EU otduIos BABPUE NY
-ourpied US 3 BlUgSIoJal uros “resnod apuo aseq
emnquou tuos "WUIaSseIPILIO SUI BNB Opoui UIOD 9 SPOSSad SE IPIEDUD 9p UIoSBIOS
Eram PPIA ENO EUM I2ATA E essed “EMUP Os 0]21d
OHIO) 2004 TIS "BPRÍJeo P OpuBItad “9 OJST “BIQLO OUIOS SENT sejod EABPpUP
UBIQ SotHIBIp so opungas opeziuoIped 195 ap ma
ojusure) “erprrooss au nº onb td PPIA EQUICI EU SONISUIONI 9ANOU aonb
Jodmo» nas O anb eaueig apepapos eum o onb Bjoge
o ens eu OSS9JUON "BIIS[ISBIG OpÍPULIOJ eU ErpUgHOdaN q anbeysap nas
ogdu ejo onb uia eprpow en “ejdoo no “erinp
aPepaDos eumu O UIOD OJB9U O 134 SP 9PpEpIssa29U e nolisdsap su ELIQIS 1Epm
Sata onb ogsnjouoo E ESoy> omuo8 & THIS opues rasgo -so o 9p 032] O “TiseIg omnNo wm IogasIod e jassed “Nsoseu UT
erp Euissw E 5 osmom “PAR Jos opod eóuepnu Ienhp
enb “eona] equrar onb uro eooda “sopessed soue azu0 “zap sum PY Oss! NS
I IP OUSOU O Tojueu onb wu] seja onugu os euoz eIed Iossed no opuend) 'SIIsUELIISd OJRIUOS SOUIEYUA sou
0181 EIEd onb seur “orgnsoid » Ispod opueq ues, [enei orisanb wonb wroD “solIpIado à SaIOpeaniso op “seISau seIjjuIe! seymui
EP SJEGp O uIODd susBejura opusigo aJuo8 emu
UIT . eyuo “nfeociy elnoled “oroHILNId somIBIOU SPO “eua ºp seig
“SOU E OBÍEJ aI LIa Wa ory O pIed nfgoery op um opuenb onb op “soyrouIejIOdUIOS
Pope eum q onb opuesusd oyumialrp vosequio
sono seu 2 SoOÍBAISSgO E OBÍEJ9I US BADOJo sIeUI OJNUI 107 OSED SISSU
monb o “eSsted enb jexopered STEEL 10d “PoUeIq
apepanos e eSuepnur equim e opepioa EN EpeumIsodp vARISo anb e org
Bsejep eum q “epngyt os ogu “ossi sem “exSou eIngno ep omattre -mqns op ojonbe elo oeU 9nb *opunur caou um E ogszidepe op
TABS 9PUEIS UN OpuoAPy visa onb opunuas nossa
nº “ojdutoxo apepissaoou ajuopuodsarioo E UIOD “OB)PISIUI BIPEPISA eum
Iod "“sejsodoid seudoId sessou sep oSedsa OP
OnUsp opuerjost umu exed 103 onb O “apepp ep [ns euoz e exed topou atu no op
SOU EGOR I9POg OU $Is9 wronD 9 “Topog ou ejso onb
piso suo -uenb nojusune enb ojey “seourig sEOssad UIOD “sSOSED SOp ajred
Jedpund “epepourooe OYNUI 9 BHopSPIG apepapos
E .“PUPILIO] JOT2UI EU “EIS OIAIALIOD (O) “OIB9U O TIO) OJEJUOS NSUI O OMI
“Ne ONU à OBÍBU E SPA “sour soJmu 2 soymur eu Surd
sou Nm OBISEDO vISoU “PPEPISISAINM E INS “solgod o seis
Esta OP [EDHO ELIQIST é onDb osimostp op eSue pnm eu sopesso -9U SEIjUIR; SEU UINUICO-IESN] 9 OUIOS “SODIJUDES UIoS OEN "EI
“MU “SOJaId 3 sODUeIG “spossad ajuTA Pp SfPUI Ulo)
vioge “sounge jure; equre ep otos ou euonbad opsop Ipuside onDb sa10[BA SOU
920P 9P BIS sjusmeorr onb ospnu O “opeosue
> osoSLIod eso opurpone “opuemy “opueypeseg onuntos na 0SST J0d “opuntm
SOMIMSSE Sasso INNOSIp ered ajuo8 seymí opuen
b “eTy op 071 op sjreip “opepyesr ep ssuzIp epugiodurr op otÍemyIs eumu
sos eusjd Úro “PL6T Wo “OLUISSUI EGBIQ E>Od9 EU
NoSdonIoo oureq SAIA QJuo8 E onb Iaqes > “UIs OSS] “EqUOBIoAUD 9UI anb o “opof
oo e O ONE Tem 904 9P 2 Sjequasery sore Josso joid Ofoqeo O 12] 9P No tJaid 195 Pp EYtOSIdA J9A0 BIUNU NY
k HEIN BIOSSOFOIÁ Ep “EITAHO 9 BIIAHO ap opren “T210D BId BUU E NOJOg 9 PJ 103 ojo Us
pg
OP Shoiml sounte uieIo > sojurpmiso wrIo saj2 opren b so] -Se OUIS9UI SEJM “ESED II9 PIB] E assexiop ajo onb nmasuoo sgUI
-0] SOUISSoTUOS SOU SEI “EOISH à Eopumb “erSojomos onb sogofns so UIOD OBÍPISNES JEIN
] op aptos “BIN opeqrumy ow weyug
Wo) “seuEImNT sepigr op E Ogu anb sesJe senno 9P
SIBIOIS ered sopa seu ve erm ur) “OpeUINTJE MIBS Dojo “opessed equ
-sgoId afoy ops saywesSoym snos so “aywetaTemosjea
ur a [euor -n onb o [ed nou oe Iejuoo mSasuos oIsno OJNUI UIOS “pzapted
“OU Olode am apuo q onb “sBôNOGaY SIPUY emnu
r as sub od eum Jeponie sopod us “epnur sjusueoneid esp> US nB9D
-NIS um opreznresio “apepoudosd uios er-vquaduo
sap opejuol “OUTUDLIE NO BLJUSUI EIS Nº OS I9A EIÁ PIes BQUIII E UIBIBIICAS
O e
ei E
OpÓmuIsap vp SDIP SOU opopingIssoa jong2aj23u] 2 DJOquiOpnÃ) 'OQUSUISPN ZLDIg
eee mi e

e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição


— Beatriz Nascimento, Quilombola

nem seja para consertar quissimas crianças negras, ua! a mim, na escola. E esse fenô-
por diletantismo ou maluquice, talvez
para adaptar-me à dualida- a comigo até hoje. Eu me si á
nada em mim, é possível que esteja sensação de isolamento quando estou num grupo ende dão “têm
ar, porque me proíbe de
de que a sociedade me obriga a aceit muitos pretos. Eu senti isso em Angola quando estive lá durante
ser como eu sou, da mesma forma como faz com muitos outros
vive numa sociedade dual, 1979, pe io, da Organização das Mulheres Angolanas, em
negros. Do momento em que à gente : “que morreu o presidente Agostinho Neto. Eu
se pode parar na prisão ou
tenta se adaptar e nesse desespero, estava É amém para fazer uma pesquisa sobre os Quilombos
stamente deviam nos tratar
no hospital, e as pessoas que supo que gi balho ao, qual me dedico há muitos anos. No hotel
que sim. É uma coisa que
não nos conhecem, ainda que pensem E A Da
Ele sempre me diz que a garçom branco servindo, eu comecei
eu discuto muito com o meu analista. ea er uma sensação de náuseas e quase vomitei.
angu no subúrbio e que
gosta muito de negro, que vai comer isso que ão quer uita criança negra tem esse problema e é por
ior está dentro de mim.
esse negócio de pensar que negro é infer so a, muitas vezes não passa de ano, tem dificul-
riorização do negro é uma
Eu digo para ele que não, que à infe da ema escola por causa de um certo tipo de isolamento que
todo momento e isso me
coisa que eu sou levada a vivenciar a e e climente perceptível E aquela mecânica de educação
as pessoas Ou faz com
empurra muitas vezes à brigar, agredir que náo e nada a er com esses grupos de educação familiar,
uma casca. O negro que
que eu me recolha para dentro de 1
o à situação que eu ain- , onde você não sabe qu á ã
ascende de classe talvez perca um pouc está nos livros. Quando eu comecei a mergulhar dentro de mim,
nformada, esse tipo de sis-
da não perdi. Eu sou uma pessoa inco como negra, foi justamente na escola que era um ambiente
embora tenha umas coi-
tema não me agrada de jeito nenhum, onde eu convivia com a agressão pura e simples, com o isola-
seu todo. Por terem nos
sas que me agradam, não me agrada no mento, com as interpretações errôneas, estúpidas das profess
à busca dessa emancipa-
dividido culturalmente a gente vive aí
sambistas e a gente ras, a ausência de pessoas da minha cor na sala de aula, à falta
ção cultural. Tentam nos confinar como
ções e propósitos. A de referência. No meu caso específico, o mecanismo para to :
está querendo outra coisa, tem outras ambi per com esta situação de adversidade em que eu vivia era jus
l, está levando muita
luta do negro não está sendo fácil no Brasi mente estudar e tirar cem, que era a nota máxima na minha
passado eu tive que
gente ao hospício e eu sei disso. No ano “por. q a uma criança extremamente bem-comportada na
Movimento Negro. O
tirar do hospital mais de uma pessoa do primária, muitas vezes era elogiada pelas professoras
plo típico. Uma pes-
Eduardo de Oliveira e Oliveira é um exem porque eu era a mais educada, não pedia nem pra ir tá fora du-
as coisas com clareza e
soa incrível, sabendo posicionar todas rante a aula. O que eu era, era muito reprimida. Imagine um
cômoda de um profes-
precisão, foi um dividido entre à função
de tempo integral. Acabou . criança que não pede para ir lá fora... º
sor de Universidade e um militante e ele, Ser negro é uma identidade atribuída por quem nos do-
dez dias em casa, ninguém o procurou
ficando isolado
morreu de fome, de | Cário due n5 de nosso futuro seja diferente e melhor, é neces-
que já estava com problemas mentais,
cultural, que é uma coisa os a nosso respeito na condição de ser hu-
abandono. A isso se chama assassinato mano, e acreditemos que o mundo está aí para todos os sere
ida culturalmente. Esse
que acontece em toda sociedade divid humanos viverem. Há muita coisa ainda para nós contribuirm :
e começa já na escola .
processo costuma ser longo e insidioso em sermos de vida, em termos de cultura, não devendo ter me.
fato concreto, eu estuda-
primária. Lá em Sergipe, para citar um - ae mostrar a quem quer que seja gue nós fomos capazes de
terreno arrendado da minha avó,
va numa escola que era num
muitas vezes inventava | quatro séculos embaixo de chicote e queremos projetar
era em frente à casa dela; pois bem, eu está experiência
jênci para o futuro, para as novas gerações, a fim de
quê? Porque tinha pou-
uma dor de barriga e fugia, sabe por
250 251
CS ESC
"S9T-6ST SEUIBPa "TRGT Sopusmw op TPUEO 9PEPISISAIU
. :
-NPISU- NY sOpnIs] Op “+ onuso
BPISv-O Jomauer op om O stsmioN so NR
“MEISV-OY sOprisg ODrpoLIad OU ajuaueuiBio opeonqnd oBnry “pa
aa ; ua BIOquIO femyno eptoIisisaz no PIDUZAIA
IºPUSJH9 NS OU “CABJeI os CBN
. 'SO[-9ze3 UEM
«SOGUIOJIND,, JEUIBTD noopuaauos 3 onb pp
-BUHO onb “sogrromwedniS snos a suouroy so onb Jensuonia a
“9pusjsld “opuejey sjuouIeopnusi) “ojos apueiS um ui rue)
2 oJal01d 2387 1, SEJoABj NO soquirojrnb sop — sox$2u sojod so, veia
“ESTO SOAHEUIOIJE SIFIDOS SELHOJSIS., op Oman o “oJaloId ou now
-0) onb esmbsad “sortopiseig soquiopmb so a1qos esmbsad eu ep
“UgUodxa PUT INJUISUPO OPpUPIIS] NOJso “oJsI opuszia
2 ea opnisa um op ss-PJeIL opmnpuoo oupeqea um
T S OBIU 9189 OP OJ2] OE EAD es
SPepIIqeo[euI vIsq - opedimsn sapod o onspradho, psicd -““QURIUNI
21 2p eduBrodso E 2 FLOQUIOU Y, BPPUlr no: fednis Ia SOIL UIS] OEU
“as op apeppedeo essou E nmnsap pIed sozeo
OBS90) OP OJUSTIMISU] OUIOS BILIQISTY spepiero e no apod soN “ossip SOUI
ej2 anbiod apepaDos Essou SL0J JENUS sout
BLQUISUI Y, 2P OMID O Oyeqen a3s9 E IPp 2p BELBISO IVXO anb seossod
-pspold OEU SQU SBUI “LIISSE PÍSqeo ENS E LIBHD
uD op 080[ espold
se OBS OSSI ZeJ WonD “UroSPIpUB|EUI UISU “pim
ap “soros sou onb
ogu “Odu SOLISQES SPU OUIOD BIISUBUI BUM
“ema 81
o PIO EId I210q “I9zIp Jenb “aquaS ep ojedsa o 2 onb
qes “ernqueur
-ny epemieyo e “EM 9P ojedsa um aJsixe onb opus
WU “upnBUnr LOS
es109 tIOD “OpHIed uIO) UISU “plo181 E UIOD
E UIOD — EUIIS
sejuere uios “seossod OUIOS OrÍMqLntoo essOm
E EPIpaul BISSU
-sod piso ej2 anbiod — IEIOU[SUI TEA OS apepaios
utsuony UM 9J9P
7 “QMOJ os 9pepoDos E eIed OPSsodoU “quo
anb apepped
+2OSE9 9P oprysa wm Ze] OJISULIJOS Op BÍUPIOU esso à opuiszeua piso
uad op ogóenis ISS
“> BUM 9 SPjA “BUISSIUI 9p *oujegen 2p “gum
BHRIHUNLIOD PLIQUISUI 2 OgLrOIy op PIso OBU 2 EP
19d epeooms OopIs Wal onbiod “ejIadsop opoz
od “sopeppedeo ses
“eu 9 vo) osBsu o anb aopeppedeo e onbi
OPpLaIJOS SOUHA SOU
-sou sep Iejplaxo UM “BpIA 9p so051] UIBÍoS
sopeuzuop tras
anb sestOD SESSO SEPOI SNQ) 'SSJOpeuIuIOp LISU
adsal às spossad
“UratHom Ojad uIsutouy Op opóezojdxo e uras “Uail
yuos sourxopod
se opuo 1e8nj um elos opunul O onb eIed amqu
EA
OpóILIsap DP SDIp Sou ApopigISSOS pongoajequ] a vjoguopno “QqUuBUHISDN ZI49DOg
a

e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição


Beatriz Nascimento, Quilom bola TT
u .
o tro lado,
como referência científica. O que seu reconhecimento deu-se sem o auxílio de docu
estes termos algumas vezes, Histórica, por isso - Ação primária ou secundária. Durante o levantamento, na
tinuidade
procuramos neste estudo é a con versador e um rim etapa, constatamos um conflito de classe e de raça la-
me referi a um sonho. Todo historiador é um con à tente que tendia
À a pro grediri e que, , ao final, vei o rea
uum, digamos mesmo ser esta
sonhador em busca deste contin em no pla- acontecer (mais tarde o relataremos). , mente
do processo do hom
nossa meta enquanto estudiosos do uma espenificidade
Em Ki Es Carmo da Mata, também encontramos
um termo ainda mais abstrato
neta. Continuidade histórica é
ncia culnural” dos antropólogos. Ê e : e não verificada nos demais:s: existiaexistia lálá fa-
que «cobrevivência” ou “resistê mi
miília acujaà pie 5— senhora que, segundo as informações
i levanta
homem — e dos homens — con- levanta-
A continuidade seria a vida do pelos as, pos anos — era descendente direta dos quilombolas
clivagens, embora achatada
tinuando aparentemente sem i- q param a região durante muitos anos, até 1888
dominação, subordinação, dom
vários processos e formas de ao lon go dess es besquisa omamos contato com esta senhora na primeira fase da
que aconteceu,
nância e subserviência. Processo am na A . mente, ) aparentava
t ter mai is ou menos a idade i que
as abstrações, se englob
anos, com aqueles que, em noss o ua . Possuía família| numerosa , parte que ainda i resi-i
categoria de negros. ca na região e parte que migrara para são Paulo, Paraná, Mato
nada mais que um relató-
O trabalho aqui apresentado é EA o ou outras regiões com maiores oportunidades de traba-
tende estar com à verdade e
rio parcial de pesquisa. Não pre o que en-
foi isto e qa ocadão» perguntamos "he por que aquela região tinha
tese, estou apenas dizendo:
nem definir uma dedo Domina quilombo (Kiformbo). - R Respondeu-nos
d que era
contrei.
não colocaremos aqui, se - gimento de uma santa mi ilagrosa, que
Esta pesquisa, por razões que unidades :alguns anos atrás, » nx numa2 gruta
uta da iã ; em 1 ocal2 maismais
da região, mais altoaltéÓ que
as Gerais em com 1 alt: que
desenvolveu na zona rural de Min eua o Ea elevação constituída de pedras e possuindo tum
nas em um ex-quilombo.
não particularmente, isoladas, ao levantamen- per õ va por onde corre um rio, era chamada de Calham-
dirigida
A primeira etapa do trabalho foi pola. Vão calhambola é um termo que substitui quilombola, Ao
es de ex- quilombos na relação
to das áreas que possufam nom
dades do IBGE, assim como das eo s a mesma pergunta aos brancos — donos de casa co-
de municípios, povoados e locali
s através de bibliografia e das mera e parente dos fazendeiros da região — responderam-nos
áreas de ex-quilombos conhecida io, que não sabiam, , mas 1 ogo depois,i ao consulta
ia dos arquivos Nacional e Pú- 7 4 um
fontes de documentação primár três des- jovem parente de Belo Hori i
orizonte, disseram-nos qu ame do
etapa, visitamos também
blico de Minas Gerais. Nesta - povoado
povoado eaera ÀKilombo, , por t erem ali j se localizado
É negros fugidos
carão fugido
primeiro contato com Seus habi i
tas localidades, em Minas, num emb ora não te-
para estudo,
tantes. Escolhemos, então, um caso
ação entre Os três ex-quilom- donáy Intrigaram-nos as duas versões, pois, sempre que ques-
nhamos perdido de vista a compar Ú riem d os negros, eres repetiam a explicação que atribuía
bos.
pesquisa ao estudo de e o nome do local à santa mil agrosa, , afirmando- nos
Na segunda etapa, dedicamos a que à gema se goeontrava na capela católica do lugar. Por
s da metodologia da história
campo através dos procedimento
o participante. O quilombo de c einado — festa de rua co memorativa i d. illogia:
oral, da etnografia e da observaçã
de estudo, e as condições dos São Benedito,à 4; N. N. S. 8. do
aê d to Rosário
riI e Santa
, Efigêni teclarl stsi-i
sémnia — aconteciam
Carmo da Mata foi o nosso campo ções muito especiais, e, inclusive, os filhos e netos ausentes
negros que ali ainda vivem. :- dede D D. Idalina
do desenvolvimento da ina —- aa última
úlni i
quilombola — voltavam ao lugar, junta-
Resolvemos assim, em função
estudados; era o que possuia . nte com outros negros, mestiços e brancos. ,
pesquisa. Este quilombo, dos três
iros (pretos e mestiços). Por
razoável quantidade de afro-brasile
254 255
LSC 95€
-p; vuanbad eumu sou-omiepadsomy or “9261 OP oIquisios Wo
OTIS O 2 'sonBnziod o ejuesoIdal oumn a ojrenb o o conota ea OPprouuO? NOUIOl SOU OS PIPA EP OULEED 9P oquiornb O
OIpul O 5 “odmeo ap “cuia os019) O “ SEXTEO SEp a roque)
op “PERU OpÍeJUAUmDoP 3 SEITRISONQIA SERUSISJoI SEYMEI SOUL
-ROUODIS WI9QUIE] SEUL “OIIOUII Opessed Op saxoreuI sop um —
anho3 ou 2 ur) onb utozip sojard so anh sesuosajp se sen se á
FEI SE OBS onDiqUIPÔOW O o EpeSUO) E anta ESUOIoJIp Fr O S91 ON SEP OI OP ESIETHOD EP O MOD 'seijeIgoJoS o aquedropnIed
“EMO pf “SEJISIASHJUS UIOD SOUIRDEUT "euUQIfem ens 19ZBJoI
OBÍPAIoSGO
opogad op ESLUV EU “opezyemusosap oduio) ouIsan or 5
T9U[nur ep oonIod 19pod apueis um “sousm ojad no “oprotemm exed jeso esmbsad ejod Jejdo anb “ogia “SOUIdALI. “Tod OP BISI
“eua Um EApjIoso Idol 'oueoLIge opessed or Opehuasajal moqure) eu epelo el eugIojol E Jos ORU E “PLIPPUNDOS NO eueurnId ogô
opunêas O “AX OB HIX sojrRnoos sop oBuon op oury o EIO) enb -PYUSUMDOP EUMIU9T TENHODUS [SAIssOd TOJ SOU OEU OUIA OP
o OADENSTUILIpE-0nHOd Iopod um wa nozijenuoso os onb “ouro
3 oItouILId op — seo8PTY 2P O 9 Sao] Sep OR Op BITeuio) Ep
“Nye opeorermed um e os-puojal oxeurid o "SBADPBOHIUSIS sape
O “EIEIN PP OULIES Sp O — sopepraso soquiopmb som sod
“Diladso 9 somou ureyIm solra so stod cestoNsTT opSeusoa “xx ojmas ou sexSau sogdepnd
“TI EUM EPO) BIARH “SOSOISI[21-SODLIOpIOY sofs1s93 sardums
ap -od opurene no opuralssoid eiedso apepmúnitos eua urogd
BAPIEI OS OU onb soumnrajur 'soytiaurodop SOLIPA SoTad
ns opessed ou, SOguiojmnD, UIBIEZI[220] 98 9pUO ap SESIP SE onb
“Te20T OP sozueIg a sozs “axtraureapdxo “zip otafoid ossou ap sasojgdmy sep em
sop opodssuos Ep opey[eiop srem ojonTequead] E sois pasord
3 - OGUHOIDI O “SOU V, :SOU-ureIpuodsol =, cutonD SON,
BIEIAL EP OUHED op opISaI E SIuotuIoLIaIsod sommeuIOTN “oynm
“BSPPpUI E SOUIBAPIJOA 98 T SOU, YV :sou-ureIpuodsa1 “vILes
noieipe sou ogu onb o “opnoseo eIeropo vio, cponsjoz eso
v epualad monb e souespiungiod opuenb “9 aquarios OBSIDA
WsBuo 2 soureInDoId “oItauer ºp org ce opressoISoy ,
Ê e OpenuisuI DIB sou sorseu sungIe “Top sejuy "OBISOI EP Sel
“OBTIA OP 9 9dn3p9 op -oquioginb sop aJmapuosap ENUB E “PUEPI “ Sp OAOU SigUL OH]
9p “epesuos ep :omenh ops and oSnsat no Sto erros da -“T “EN “IS OR aoBLIAd 10podolejosa STEUI ojustugodap Q 'ogU
Do PutToo nos Woo Um epe> *sooujeIeq no sogaIsxo sonenb
od no asuen IS “SeDNsIum soçÍp/9ASI 2 sojuataporede utoo “BIBI
P Stogdsa — soIo ap os-mnsuo) a38y “opeiiay o eis sosSou ep ouueo uia OguIOp; op eN9Ism BP opÍeBI E 2Igos OpbaTejo
sotod opep “opiBal eu “PISO E eiqo2a1 onb amou Q.; JEDUBUI -so 10] sou om “esmbsod ep edeja eailsurud eu epury
“0 Eroges sojo 9s emb, emI op selsaj Se ÚPIAQuIOId sofa “OBIS “SOPEJISIA SIBUISP SOU OUIOD UISQ “EIEIN
“BO BISSN “PIUQSU] EIIPS > OLIPSOY W OP “S “N “OUPot og 0ES ap ep ouLeo op oquiojmb a1sou aJuouIOs CEU “euUPpuSSs| no es
Elson E MEMP ,.SPISLD, seoneid sens ureatjtoume soroum
id -OJ$eJUI OBÍCIIIS BUM E OGIIO/P] UI9SLIO E TEUODE[SI UIS soIS3U
so opnyãoo “elor8I ejonbe UIeI SODUBIG SO OUIOD UIISSE SOIZSU
SO S9JUBULIOJUT SOP PUQISISU! E BIS ODIdp sreuI ojdulaxo O
anb “OJLIQISTA EISTA OP Ojuod 01199 103 “OpejaAdI sou-10
g *ogÍrOAOd EU SIBDEI
“I2AJOAUDS9P E SOLISTA SIUSUIIOLIOISOd “onb esmbsod sogãejoI Sep eopugurp eudoid E ur “aquoupedpund 'seur Tei
EP SOpep soxoumid so “espard om euuoy op nop sou BIISP -nyno osip9o OU sepiznpem seDugosIúNUOL sIaAIssOd “SOISAU SI
-Uozey V “UlsIejuanDos e sojoxd so ummo» vio as sour$epui “UPN SOP EPIA Op Sopótpuo> sep op)ezneuieIp eum 1os E JA
OFISITOI BIS9p OmUap “feis8S wa sojaid SOp à SOAEIDsa sop ouIsam opuspod 'oquiojmb ou souIrApIMDOId anib O IO) EJBNSS
eIOJe]
-OId UISBILA BISa OPuSS "OHPSOW OP BIONHOS ESSON op efos8I E ojmu OvÍPTJSI EUIN OPEUISY OU EIAEY OS OEU enb souira “elos no
BARJBM OS onb nojoaa1 sou PUISom e “Omerg op eomoIeo foi “PLIDISTY 9Pepinuntoo eum ELIaJUOo — SOIojISeIQ-O1Pe SON SOP
euonbod ep eirorped e jenb esco ep euop p sourejungiad OUI
[BAI OB “SODIPQUIS SOpNSIOD GP epeugsidu OB5EISSJnIeUI
ov *EPIOSS SOLTO] ajusuroLIsasod onb ogiSar EP VOI +I sueasIp -02 — Opeuiay OP selsoz Se UIOD PABUIUIJNO anb ossaooid O opol
BIBIAL EP OURO ap ordprnt “oyem ap oprosod ou epusz “esmbsad ep edeja epungos eu “TpqueduoDE sOUTpDod
e ii
ER O
Opómnsop Dp SbIp sou apppingissos ponypajeauj a DJOqUIO|NÃ 'OQUGUIOSDN ZENDIM
——————oo— .

Possibilidade nos dias da destruição


Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual a

e procuramos nos informar se ser a imagem de uma mulher, com uma das mãos partida. Pos-
Era o mês de setembro
da fazenda. Foi-nos informado que teriormente, acompanhado de outros negros, verificou que se
havia algum Reinado perto
pra To tratava de uma imagem de Senhora Santa, e todos acreditaram
naquela tarde de domingo haveria uma que o ferimento que ela causara à vaca fora devido a esta per-
cujo note era Kilombo, considerado
povoado próximo,
tencer a um dos fazendeiros mais cruéis da região, um dos que
ênti ircunvizinhanças.
a ponto de quere- mais maltratavam os negros e seus colonos.
e Cefusência ao nome nos interessou, 54 A imagem recebeu um “passe”, antes de ser trazida para
histórico -culrurass
mos desenvolver pesquisa onde os conceitos o arraial e entronizada na igreja católica, cuja padroeira era
partida. à es a pet s
+

de quilombo e reinado fossem o ponto de

errada mad Atores o detámeomen apateas


nuidade | stóric E Nossa Senhora do Rosário. Trata-se de uma imagem de ébano,
pectiva, utilizamos à hipótese de uma conti 15 madeira escura, em estilo barroca. Os negros atribuem sua ori-
€ redef inições nos
tre o quilombo e suas representações de nú gem a um quilombola da região, o que mais tarde procuraram
de pesqu isa
atuais. A esta parte referem-se as hipóteses veriiicar em um Centro de Kimbanda. Constatado, por volta do
quilombo na meado deste século, que a santa pertencia ao quilombola da re-
mel oseriormente, procuramos localizar este gião, o que maís tarde procuraram verificar em um Centro de
fontes, refer ente tos
documentação histórica levantada nas Nada ia Kimbanda. Constatado, por volta do meado deste século, que a
s Gerais.
quilombos dos séculos XVIII e XIX, em Mina Ar- santa pertencia ao quilombo, os comandantes do Reinado cons-
de Janeiro, nem no
encontrado no Arquivo Nacional do Rio
onte. Procuramos truíram uma nova capela no sítio onde a imagem foi encontrada
quivo Público de Minas Gerais, em Belo Horiz H- e tenta, até o momento da pesquisa, transferila para esta pe-
ópolis este mesmo
- na-Igreja Matriz de Carmo da Mata e Divin quena capela. Css ed
po de documentação, também sem sucesso. Este procedimento dos comandantes do Reinado, todos
saber que q
Através dos depoimentos orais, viemos a negros, levou-os a um conflito com
a partir do Contato a Igreja Católica e com os
quilombo de Carmo da Mata organizou-se brancos da região.
puris, que ha vavem
dos negros “corumbas” com Os índios Um dos filhos de uma das seis famílias brancas, mais ou
banto, de uma e pa
aquela região. Os negros eram da nação a menos por volta de 1910, passou a viver maritalmente com D.
ura de a acaxi,
Mbunda. Viviam de caça e de pequena lavo Idalina, a descendente dos quilombolas. Entre os vários filhos
Não se registra, e
jão, banana e extraíam, ainda, 2º palmito. negros desta mulher existe, pois, um mestiço, filho do homem
É aqueà comunidade.
teiros branco, descendente dos fazendeiros. Este filho de D. Idalina
jongo “or lia Je 1888, segundo depoimento, foras
são João El Rei, procurando terras tem um papel relevante na comunidade. Suas atividades vão
brancos, provenientes de
expulsando os nora desde ser um bom lavrador, passando por ser benzedor, a prin-
para café e gado, apossaram-se da região, cipal capitão do Reinado. Atuando como líder principal da co-
e de tudo, des
e os puris, seus primitivos habitantes. E houv munidade, é ele quem dirige a luta contra os poderosos da re-
OS forasteiros ..
massacre até reescravização. Após a luta entre gião. Esta luta vai desde a recuperação da Caixa de Auxílio Mú-
rosa, Senhora San-
brancos e os quilombolas é que a santa milag tuo do Reinado, que estava nas mãos dos brancos amigos do pa-
j ada.
u-a em uma dre da paróquia de Carmo da Mata, até a retirada da imagem,
vn Um peão de um dos fazendeiros encontro
+
da manada. À vaca que ele considera pertencente aos negros, como consequente-
gruta, após seguir uma rês que se desgarrara se
onde ela tinha - mente as esmolas a ele entregues por ocasião de promessas. E
tinha o chifre partido e o peão procurou saber
animal encon- ao longo deste processo vê, ao mesmo tempo, procurando lega-
ferido. Seguindo o rastro de sangue deixado pelo ceu lizar sua ascendência branca, visando a recuperação das terras
das grutas do sítio Calhambola, o que lhe pare
trou, numa
258 259
Toc 096
as 10d “opessed ou “sopeumodiy ogs soquiojmb so onb ap asa) -
-QdiY E sOL-PA9] OpÍBIEISUOD Te1, "soquiojmb sop eoruguooo ED «:
-UpIodur E sagõeJeIsuoo sessou ap ajxed 9 a “opiLoDO 19) apod :
o3st “opessed ou “onD sourages “fISPIg OU PLIIOSO OUISSUI O 35 Je>.
“ESA 9P UI E PPeAIosgo opgssaIduI; Ejs? SoOSANOL o “aqueied:. “OPEUISY OP sofa1soj sold
woo
noot oIs1 “souiazi onb cjuowejuead] ojod “ejoSuy Wa “-o1d sop spaeme jednis ogso0d 9Pp sEmIOS Semmo q oupedi
“Utanssod sagõezmueBIo sejso ond jemamo +: no “spepattepijos Pp jam OB “oO Op s309N7oS seLrpIOduIS) sp
“UQUI?] SOUIBAITASTO -sopeSaIdiasop NO vAdIS Ep opuisny oq
à BITUIQUODO “POIPISOUIap WIoquI) OUIOD “vonpigosS Os ogu “pI
TSJUOI 9P seonsLISJoLIPO SE “Oss! JOd “eINSIM "OJUNUI 2 BOItgaDo = mor ap OpISo1 E WIRIPIJOA SOXBSU SOP SOJMHI 9 SOH9UHUI SOM
os
“SOWBIIP “CJIoqe oSedsa ap opÍesuSs rum Ogp soxse somno op e -JmjejSul sop s4918 E Anou “opousd ou “anb pl “[esos apepsn
3 TOS OP sagórpuoo se apuo “ootsadsa ajueIseq Euro opuinssod e 1102 SpepIunuIoS Ep assejpISJUI à SIBIB I-ISJUI SOMOS SO “sej
“SIeITyBU SOyúIUIRO SONNO nO “SOTI 9p SopeprurxoJd seu “seuroo -STADUS 10d “UIpQUIR) SOWEIUDUINDOC “OPEUISH OP SODITOQUIS
E 98 oem IemoUMDOPp
no soyeuejd us opuezmeoo] os soquiojnb so — ejoBUY uio TISq sopnajuoa so OU1O) Uloq 'OpÍPZNEPIp
sauedonred S210Pp
-HIE3 SOUIIA O SEUI — [ISBIg OU IEMUO)HO UMTIOS Om q opueimDoid “sOJEIBQIOI 2 S9IOPpEISTASDIS
Dap asbj E SOUI
, "BOLIDI -BAISSQO OUIOD “sourequeduooy "esmbsad Ep BAISI
oJs08e ad
-SH[ 9Pepinuntoo ap oJaoto? 0E Urajawras sou anb sagasanb ops -9AjOAItosap “OpeUISH OP eooda “oIquIalass E
“SEJSO SBPOI, goJodol os EuIajqgoId sjsa “aloy epure “oquod onb “OPpeuISW OPEUIBI OJIDAS OB semrxoId ogu seo0dz
»Iv opessed ou soquiojmb sop ogômnsoap e o sonbeze sor nos] seno 3 OpÍe aIosgo E uIeIêny enb speprunuros ejonbep sogô
. e £ “O
onb “exsjuol; op ogISaI Jos op PonisLIoJoLiED EIso ajusureysn( -POyIS Sep OBÍRISUOLISP BUM IDABI ELSADP “OJop OUIO) TH “Ol
SO)
t03 OBU 98 “pure “souIrUONSaNÁ) 'sOISSU NO sodueiq elas 'soLIpI -nguo> oridoJd O PAPAnaÍgo aja anDb reDTrusA pearssod SOU-10F
-sudoid somonbad repotiose op sozedeo> “serzea seoIp to urenin vo umodap sop SSJUBISLIOS SOQÍBULIOFUI SE UIOS SEI *ONIJUG) 9P
OUIOD
-SUOS às onb opurpadur “extuiçuoDo eIrajuory ep opsiedxo é opI orÍBmIIS BLIN BARZNCUICIP OPRUISY O “sOnIaSSIp PÍ
no Won seoNsSnNSgeIPo sejso as “epure No sogrõal sepeurur - , “6461 2P OUP OU SJUSuIPUIOUOME OpRUIY O JEZIU
-IoJop op ogÍeoaod e eIed opÍemne op ojod ouio> UFEUOIDUT -p810 B[ 2 ET-PAd] uBIpUOJjoId EI EIA “epenioouo 10] BIUES E DP
ay Op EX
EPE SEdNSLISJaBIPo se OJuod anb aje somruonsanA “seiepui -UO EMIS E OUITXOId “ejoquieujro OMS Op oe OU *opeti
IS 9NFBISBM OAD[oI OP 9 SEDPUINp SEDNSLIojporIvo monNssod “opes e EP OHISUUIP O U10D EPINSTOS 103 ejadeo Y “PIPA Ep OLEO
-sed ou “soquiojmb wIPIBUIIOS 2S apuo stgD0] SO "seDmpIBoOD8 seo opeutay op ejodeo E
ap emboied Ep BJoMp oppsunÍ ep elos
“BsHSjoPIPo seNS ap Opôuny Wa sogieyndod ap eruguenad “purepi "cr op ouIy “Po22N “IS OP SBÍUPI9PI SE gos TIBINTHSUOO)
e as E sSeLeUI
“seJlo] SEP EPpEUIO) EP EISje “EIUES
-219J01 esmbsad ep sassjodiy stedpurd sep eum anhb us eipou Teuy oanoÍgo nos
OP O UIBABI
EU “PUIQISIY Itauieimmd eonsiisjoereo ens Iejodenxo e opour -01 10d SejoUIso Sep O SelsoJ SEP PPU9I EP ONIJUI
“PISaU apepri
ap “oquiojmb 9p oyrs2009 O IeIjdure ossa1ojuy ossou op q -noo1d “OJSI IO) “OPpeUIaH Op Sojusuodiroo sopo)
2S-BABsso 01d
“sayuejIodur seSusss1d weLos EIsmSUI -nutoo ejod esoJSejuI exIES PP assod EP OLLIO) UIS
E Ju nssoJed sou onb ogqguoo
um no ogojodone um » ojeigoo8 um “urssy “EoISojouDa) var oyguo? 3384 “BISTA eIpund
PU WoqUIEI se “SPUPILINY SEDUÇID Sep corr eu os ogu “edinho o “esmbsad ap ore un sode nojaAaI sou odnsotI als
eu seisiebodso ap elpugsne E stoJol as anb e sonreyesso: “ou] , “Ted nos 08 aDUajJad , SODNEIG
-BqBU OP edeIa EJsau sepenuoolo sopepmomp se amu sop 195, “jd onb seila) SE TEPpÃSU “OLIQJIPD UI SOJuSUmDOp Op
om
saApne “EIMDOIA 9J2 SODUBIQ SOIINpUazeJ SOp UM op [Jerme
esmbsad ep Og5Uny Wa SagsuajaId 9 Sopepyromda E 198 9p oJe3 ojad “elas no “SO ISoU SIENSSDHE snas 10d sepIpia
OpÓINLISap DP SDIP SOU PPODIIgISsOS jomajaqu| 2 PJoguiojnd 'OQUÍUHSDA ZLGDaH
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
DE E
TT

encontrarem em terras próprias para tipos vários de exploração Faltam-nos, portanto, grosso modo, três Estados, e o
es-
econômica por parte do sistema econômico dominante. Esta a tudo de campo de-alguns quilombos da Bahia como os
de Oro-
razão dos ataques e da destruição. bó, o de Nossa Senhora dos Mares e Cabula, e o do Buraco
do
Em função do estudo da mentalidade e dos componen- Tatu.
tes simbólicos hoje representados na concepção de mundo da Nesta Pesquisa, contamos com o apoio financeiro da
comunidade estudada, em função da sua história passada, tería- Ford Foudantion e, como auxiliar de pesquisa, contamos com
mos que recorrer a outros cientistas que pudessem, conosco, Marlene de Oliveira Cunha, a quem agradecemos profundamen-
melhor esclarecer e conferir corpo teórico às impressões que ti- te.
vemos sobre estes fatores, impressões baseadas, tão somente,
em nosso conhecimento histórico.
Outro problema que se nos apresentou foi a extensão e
ambição do projeto original. Segundo este, a pesquisa desenvol-
ver-se-ia em quatro Estados. Até o momento, efetuamos somen-
te o trabalho de campo, aliado ao estudo de documentos no Es-
tado de Minas Gerais e, assim mesmo, não pudemos ir ao qui-
lombo de Serro.
Embora nossa concepção do estudo sobre quilombos não
leve em conta a preservação de componentes linguísticos, de
cultura e de etnia especificamente africanas, pensamos em estu-
dar e pesquisar em campo este quilombo, que foi um dos mais
importantes do país, onde figurava somente um tipo de etnia.
Seu chefe, o quilombola Isidoro, na época da destruição de Ser-
ro, caminha por Minas Gerais em busca de Ambrósio e seu
quilombo da Comarca do Rio das Mortes e nós gostaríamos de
saber o porquê deste deslocamento, ou seja, que inter-relações
possuíam estes chefes; se isto era praxe dos quilombolas, pro-
curando se reorganizar com os outros, ou mesmo procurar re-
fúgio junto aos quilombolas que não tinham. sido, ainda, repri-
midos. Gostaríamos mesmo de saber se este procedimento leva-
va também em conta um certo sentido de nação por parte des-
tes quilombolas.
Dos demais Estados, fizemos o levantamento dos qui-
lombos que estavam na área de influência de Antônio Conse-
lheiro, no interior da Bahia. Utilizamos documentação secun-
dária e o recenseamento demográfico de 1872. Abrangemos
quilombos atacados cujos integrantes ingressaram nas hostes do
líder nordestinos, no final do século passado.

262 263
S9c +9C
. “LT OPeT/[ — £ZX BH 'CONA O,) T86T PP
vIso8E 'OJISUPS 9P OB — OJUSLISEN ZLOcog UIOD EJSIASBUM :opeJeIs
“OTHEP OJUSUMDOP Op oujedaqeo ou seppuoo S9gÍPILIORI Se angas “SS
“-Bpung '080]J9DOs O “FOPELIOISIY O “EUIOUI 9P J9ATU UK "EIJPUI
2 nb “eogrISOJemIoUTO PADOdsIad Esso 19) EsPpaJd OUISPpOm 10P
: RLOJSI O q “BJUSUNDOPp “oueIpnoo o pisou onb ogóporuntroo
“= R “PUT O OUIOS “SEDUZT semgno ei anbiog “EUPIPDOS ELIQISTY
pesso “OIBOU OP ELIOISIY ESSO T2ADJNSO OSPOIÁ 9 q "Oss 9 “FE OPUSA
visa 9904 anD 0812 OINUIId ossg “OJUStUINDOp O ZBj 3 BIJSOUI
” mb 'oueipãoo O emsour onb eursup O ouro “opózoIunulco E
OUIOO “SBIDUPTO SPNNO EU anbiog "EILIOSS TOS OLIBSSIISU 9 9 DAM)
-se os OgU “EJLDSO 9 OBU [ENPIAIPUI BLIQISIY Y “OIB9U OP BUEIPO
-02 BEIQISIY E Zej wonBuIu sumgas o 2 sosjuoDe anb O
“GIRID “Jopod 193 Iopod eIed ajuotureysn( ÚrotoT] Op EPIA
"OTIB No “Spy oymul possad eum e IezWemaged q usuIoy Op epia E EziISjpeIeo onb “oduriq OP
nos “aueSose eossad eum nos opa no fomp > Yonbey no oI39u op esioo eum p ogu ossi onbrod SEISeuIS ="
"OLISTIBRSO OU NOIS "Epespem “Pd SOJIDUIONI SO SONIS] SOZ9A SE SIENJD9|aJUI SOIBOU
“SO NOJS9 Tt] “UITUL US SJador as OSSI 5 "BIISAIO PP Oprenpg op souos anb soN “exenD ogu ajuo8 e anb seu 10d seast
OSE3 O TOJ OUIOD “OuTegem UM IEnupUOS op “tos ap vanpodsiad -pusojed seossad sejonbe ajusueura)2 085 anDb sodUeI
2 Japasd ? USO O BIBI onb O “uIsuIor O eJeuI opu 9UIOJ E
eRjeg EP EpoI ap equies O 3 “oUB)aES O assIp OUIOD SEIA
. “DUIOJ E JBJBUI
OUIOS “OlIa3. PI Oss! o “sogaIduro snos wo “sagãraja us sepedno
-Oe1d opIsa aloy seossod se :ajum$os ojad onsodosd asso Zi na
(onsodoId ap “eIraTseiq-oxe ogrumal puma op todrpnse d ogu
“OUB asso ajusuIedpuua epeeo efowy ojuIs au no omug .
*ossod 9pI n3
seu “zm onb OU sIBIy OPRIIpoNE Jo) OBU eIoNÔ) "aqua rosop eos «gs [SOJUSMEB RITA
-sod gun nos “ogu afoW "aJus1> Possed eum vio no “GL LL PL
9Pp e5oOUI E Jas op fonbey wrofeIoo sipur OU] ONIA O *PISASDUA
OEU Na
“BUFIPDO) EHQISTH E OpurIpeg EI
. "OJofgo O IapusaJÁuIoo IeJuS) rea 'sojtrafns
op “soJalgo ap 'sojey ap Iejey rea onb JOPELIOISIY O STS tupejuoul
FR Po PP EE
OpÓInLgsap VP SDIp SOU 2PDpiIgISSOS Jprysajagu] a PjOguiIONNA) 'OJuauosoN zLJneg
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual! Possibilidade nos dias da destruição

dadeira trajetória dos africanos na diáspora, movidas pela cap-


tura do discurso da História (a narração).
Uma série de informações históricas que se encontravam
latentemente em documentos nas sedes das antigas metrópoles
E oia Sestenam ot e nos países recentemente descolonizados, já podem ser encon-
trados, não sem alguma dificuldade, em obras de alguns autores
Etnias Bantos na Formação do Povo Brasileiro e do e em arquivos. Essas mesmas informações podem ser analisadas
Hemisfério Sul” de um ponto de vista menos linear por aqueles que se encon-
tram interessados numa descolonização do modo de ver africa-
no; os que afirmam ser a deficiência dos estudos proveniente da
ausência de documentação devido sua destruição por ordem
dos governos após a Abolição da Escravatura, ou por extravio
nos inúmeros arquivos e institutos espalhados pelos três conti-
nentes.
Não é a quantidade maior ou menor de documentos es-
critos que fornece uma visão aproximada da realidade histórica.
Não é só o que está escrito que nos conta a verdade dos nossos
Objetivos antepassados e nos proporcionam a reflexão sobre nossa identi-
dade nacional. A História também está registrada nos nossos .
objetivo deste ciclo de palestras é levar dentro das
corpos, enquanto corpo físico oriundo de uma cadeia de outros
perspectivas dos trabalhos de Verão do 9º” entre
C. JO a
corpos na natureza.
uma pequena panorâmica das formações étnicas de Dentro deste quadro, o conceito de emia, que nestas re-
origem banto e sua influência no caráter e na histó- flexões substitui o conceito de raça, procura aprofundar os re-.
ria dos negros e ouiros povos no Brasil. gistros históricos que possibilitariam libertar a memória dos
conteúdos estereotipados que foi inculcado através dos séculos
Elistória ou Estória? de dominação da nossa identidade. o
Trata-se de um aprofundamento de dados, até então,
Sabemos que a história dos africanos e seus descenden- concebidos como intuitivos e subjetivos e que, na verdade,
r d são
tes no Brasil pode ser caracterizada como “uma estória maio - as características básicas e objetivas do corpo histórico, consti-
e º
tada”, Apesar dos esforços de inúmeros cientistas de esc tuído pela herança ancestral através dos tempos, tanto na África
obstác ae “
rem esta história, os mesmos se esbarram num ". quanto nas regiões da América, para onde vieram os descen-
vai desde a insufi ciência das fontes históricas até as interp “dentes de africanos. São elementos étnicos distintivos e definiti-
- o com a VEL-' cl...
ções tendenciosas que estas apresentam no contat =f VOS.
igi nal, com data
i origi
6. Ensaioi em manuscrito da de janeiro/fevereiro dele - “- Vários estudiosos já perceberam isso, principalmente os
Fund o Maria .
1984 localizado no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro.
+ antropólo gos culturalistas e, mais recentemente, os sociólogos
Beatriz Nascimento. Caixa: 13. Pasta: 2. Docum ento: 8. €.)* q que se debruçar
ç am basicamente sobre a etnologia das re-
&
88. Palavra ilegível no manuscrito original.
87. Palavra ilegível no manuscrito original.

266 267
69€ B9C
“TEU OjxosNIreTI OU J2AJSo] BIAPIed “69 sop S9A2mP OND ESIUopeo? OtÍezIjEnuo Ejod openoqose sjusul
-pNeJIod “sejsyualD SOp mINUIOD OJueupssord o q 938]
2º [NTSLO Tento) BoLIry e “oros op ns o erpusosdumos onb “soy “SPINJA] SogÃPpIaS as eIRd oon9P2 IeUIOjo1 opod onb euresoued
"UBq sOop E 9 Sumo op ojos op eme “ogpns OP OBIBSI Pp HISA um 9P SJUBIP BITIgAIA Ep ooIBgjouoLo osjnd o TesadnDol IOpeLIO]
SUIOU Olho “sasotepns sop e “efos no “sEUEILIE SagõeU sapupis “sy Op vn? E 981N “OUPILIE [enssoue Joges Op orutop o sos
SENP E BLOISHI 9P SOJA SO as-UreLISJSW 'sepezneuraIsis oynu -INUg30Ima sOonod sp a Ojusmpaytoo op ajomuoo o soznod ep
UIEIS OPU EOLISUIY E BIPÁ SOPUIA SOAOd SOL 9NIeDO) OU OJISISAII sOBUI SEU JEXFoJUS onD oduIs] OUIS9UI OW "SONEOLIFE 9p sajuspuoo
ONTFRI O 2IJos SEDUgIojal se “EJtIDSSAS ap epeoop e ay -sap sop ojusuregroduios o > eimjno e “euros e ogdumo> anb
sowPoLIJe sOjHomISas SOp OJuaDoyuo) op orsurdxo e Temum]
OxoISON O9HBIL Op OpSrperr PABINDOIA OIUDODEI 9189 VIDUPISUI EN UI “(JE9I EU opep
“JUN elo OBU “EDIUN 9 CPU OpepiEol E,) SESUIGIDAP SPP QJUSTIT
“HSBIg OU sOJURg SO aIgos sogã -9UUOS O Los opepyun eu Ggord e ovópogun eum tedajoguisa
“BJ9PISUOS sEUmMBS[e ajueipe sreuir o esonBnjsod eisinbuos E cJ2Ip es anb op “OsjeJ sieu! “OLIOSN]I SiguI peu elo ogU “PIO
-“9UIL OpojIad ou “periojoo-21d eouyy eu sojueg sosod sop opeisa "COTUIYPpeoe SJuot
OP OJISUIBIUPAS] UM E OUIOS WISSe “OISIS9 ODE OP sreio8 -potdo euIsgOS WMM “eplanp uas “els “ojuejuo ON | ImMSasuos os
SagIsanb d1gos IaTeSnigap au “ejusidpur SJ mivoUEjUomom op op Jp 08) Br, :UIEIZIP “opepiun “[ISselg op someoLIJe so ana
-N359 UM tUIOS SOurejuo? a onBxa 9 oduis] ossou o ouros apeptin op eigondb eum opueíros 9SS3Anso 9S OUIOD [EJUIPDO 9
“TESeIg op [s-ONUS2 BIHITY Op sojurg sonod sor opSEjSI WS JO/eUI OBSUO]
SOA0d Ss9p pEppasoId ep a ERUgIUDACIA Ep opriso um ones eum op apepissooou E ILIIBAd| OB EprjoIdIajUI my Sozaa seu
“SS39U 9 “ORNIM “SEINTOSqe sopepisA OuIOS seLioSajeo sep sogõez -ngpe “eisumd ousmSoIi 10d no eneprsed opmioe eum sod ogu
“BIS op 9pepitqissod ejSd 211020 sajuezijeIatioS soodrraidia TIseIg OU SOUPILIJE SOP SPINDP SOGÍPDUSIAIP SE BIRÁ OBSTSIB
“UI SBSSAP ONSH () 'SOAOd Solsap fiseIg OU 9 EDJV EU srenojõal o E JBUIBI/D EARJUS) TeLLIOJUI BITAUEUI Sp “sOMHODUS Sojsop sungTe
SESLIQISTY SESUOIOHP SE EJUOD US OPIRAS] OBU OP 9 OST UI “ON9[ISFIG UMUOD OsUIBS OU 9 EOgnUSD OgÍdaDUOD EU IPULIOS
“EJOUI9P SP 2 OpÍPpouIoDe 2S E SOJSSIÁ ELUDISIS OUOUI UM OLUO) 9s-PARNUIsUI anDb “QSeU BILL
9P “PDUPISISSI SP EIJey ap OJSL Wepoiou q "PoRUESOpuS opdeu -OWaSsU EO) PUM PSO[S ap UIOI US LS 1985 seSajos UMUIOO
“9851 E O PIPINMBIOS opSeIm|noE E “osorgrai OUISpoJUIs o vio todpued stenb sop “sooyntal somos sunS|E UM
«UISTBIODE, op [ISPIZ OP SIS9pIoN Op sopriso sumB]e op a a1sop "OOLIQISTY 3 OonHodoo3 odedsa os um op opuniio *coprou
“RS SogISa1 sep ojieq ÚaSLo ap sonod Sop EDUSpra) eum ue -OUI 020/q UM ap ejaSuis ogôdastios E (SOARIDS9 SOB THOISJol 98
“SSJ9p epoIedenuoo was ueurmop opãeziuojoo e enuos serre oprrenb ouros) opuno|al “eouyy op sonod sop apeprsajduioo E
“TUNUIOS SaQ)BZIUEBIO à eram epugasisos sode srem onb p opIs epol EoNIjeue opeprmm ulo MEZI[BISUOS ZSA BUM SICUI
19) 9P QSPU, emo E IerSojAnd “ojduiaxo s0d “umunoo 1 . «QBEL, epeuremo
“POQIsT erno ep sosem “eim op odp um ap seomgpadso seopsLIopeIvo
Bo Joges O ,(") PROUTIsUr eum ma fevopeu SPEPpDUSpI ens “(Useig ou) oxfou “stodop “o “our>uJe ojuourajueuraropaid op
BP 2 040d ossou op og5ruLIO] ap ossevoid op S928]J ser sp “os OUIOD UIRIEN SU9BPpIOQe SEIST 1,0PoZ O ouros ared E sozos
EMSUvo BUM Ulsasjageisa “eIjouemI EJSaG "opepI[eol ens e HS se as-giHO3, 'SPDNUSD Sesi|pUe SEU UNULOS 9 OUIOS “OjURITO ON
OJBJUOS OP JOIETI BODUSSUPIQe EUM SiguIop sor as-renqns “opjp “(SEXISTISEIG) SSpeprumuoo sep eisojodn ep eoISojojtu ogônpoid
9P opeprum eum op oulou UI “Joges op oraasturar o as-uIsndq -31 E 9 SOUEDHIJE SOÍPI Pp PIDUZAIASIgOS E Opusqalad “seuIsouI
“We seonmod semasod sens sejad o “sejsmenopei SOPpoIç2UI snas Sep SODHQqUuIIS sopnexioo sop > eIOodspIp ep ale ep o sogr8l
PT tn A
OpÓInIsop Dp SDIp sou apopigissos 1229/2214] 9 PJoquONnÊ) CIUSUSDN ZLODaM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
o À [|] ———

Sul. Ao lado destas haveria referências esparsas aos chamados Dirão outros. Dificuldade metodológica, dirão ainda outras!
negros da Costa da Mina, da Costa do Ouro, da Costa de Mar- Não, direi, preconceito, receio de que a verdade dos fatos ve-
fim, Malês, Hauçás (sudaneses) e negros de Guiné, rebolos, nham a tona e possam produzir uma maior afirmação e supera-
benguelas, congo, moçambique e fula (bantos). Era um critério ção de si próprios para os descendentes de africanos.
arbitrário. | A raiz da questão está, também, na história pré-colonial
A partir da década de sessenta, utilizando traduções de em Africa e no desvendamento dos problemas relacionados com
obras de autores em sua maioria franceses, introduz-se no voca- o tráfico negreiro. E neste tráfico é inegável a quantidade sur-
bulário científico as referências aos tapas, fulanis, ashantis, preendente até os dias de hoje dos povos bantos, que de 2000
mandingas, etc., notadamente nas obras de Antropologia Cultu. anos a.€. já dominavam a tecnologia do ferro e outros metais,
ral. Esta disciplina, ao se difundir, nomeia estes grupos como |: que proporcionaram aos mesmos a transposição da Floresta
nagôs, substituindo o termo nação sudanesa. A nação banto fica - Equatorial Africana em sucessivas levas de migrações para o sul

ape some iete mg rante


ligeiramente embaçada, já que grande parte da região habitada do continente africaro.
por eles se encontra ainda sob regime do domínio colonial. Em- Gomes Eneas Zurara escreve que houve cinco razões pa-
bora haja estudos nos próprios países coloniais ou ex-coloniais .; ra que o Infante D. Henrique ultrapassasse o Cabo de Bojador
sobre estes grupos, são estudos especializados e de pouco difu- - além das Canárias, e adentrasse à Guiné: Í
são em língua portuguesa os editados no Brasil. o
Com a reviravolta ocorrida em face da independência 1. Especulação científica (saber que terras haviam além
dos países ao sul do Golfo de Guiné, principalmente os de lín- das Canárias);
gua portuguesa: Guiné, Angola, Moçambique e ainda as ilhas de 2: Estabelecimento de relações comerciais com possíveis
Cabo Verde, maiores informações começam a nos chegar da cristãos que ali estivessem;
3. Saber até onde chegava o poderio dos mouros naque-
composição destes povos, agora já nações modernas. Entretan-.
las regiões;
to, de qualquer modo o Brasil permanece “adormecido” quanto 4. Procura de possíveis príncipes cristãos que quisessem
a uma nação mais completa da história do tráfico. aliar-se às cruzadas contra os mouros infiéis;
Como temos tido ocasião de discutir informalmente, 5. Propagar o cristianismo.
contra qualquer interpretação ao contrário, ainda “é preciso sa-
ber de onde se vem para saber aonde se vai”. Isto não signífica Ainda na primeira década do ano de 1400 (século xv)
que todas as pessoas indistintamente tenham que saber o seu dois “indígenas” africanos chegaram a Po rtugal. ?
passado para seguir em frente. Não, mas uma coisa é verda- Cerca de um século depois os portugueses iniciaram o
deira, se for possível esquecer o passado, então, que todos indis- | tráfico negreiro no Reino do Con go, irradiando-se para o Norte
tintamente esqueçam. (brancos, negros, amarelos, índios, etc.). | Oeste, Leste e Sul da África. :
Se isto não é possível, então empreendemos qualquer esforço. | Encontrou aí povos e etnias que desde o ano 2000 aC
para termos um maior controle das informações do nosso passa- viviam em constante migração pelo território africano iniciando
do, do nosso povo, do nosso mundo. grandes trocas e estabelecendo grandes reinos, o que ajudou
Se as religiões e os demais sistemas simbólicos afro-bra- aos europeus na tarefa mercantilista que inaugura o processo
sileiros traduzem ainda a experiência africana e são continentes escravista nas terras recém-descobertas na América,
da nossa identidade, porque a ciência e a História também não | Com algumas alterações, são estes os povos, ou etnias e
podem traduzir esta identidade? Esforço inútil frente a dinâmi- sub-etnias, constatados no século XVI pelos portugue ses.
ca da vida moderna? Dirão uns. Incapacidade de recuperação?
270 271
ELG CLG
“SH OP OLISAOS)/OHIVHS :OMaTrer 9P OFH “F66T “opel
"Z TOA “Exrojiserg-oge pimno
EP oJpósoy :ejoyues “UR esta “OLNHHIDSVN
ElipISISaI P 3 Oguropmb ap ojos O “Zed uj Bo FISEsg-0 se
PUC “OLNINIDSVN
49 oN “OlSsu
- "6b-Tp “dd -se67 'oxjvad|
optima Op EISIASY “BIOdSPIPOLY JU] “BIS
FennDO
ElpasISos E 9 oquiopmb ap ozrsonos O ZHeSg
ELI OLNIIMIDSYN
ap opeIdure 5 OIsjAd1 01X01 ofod someIagITap “F66L
wipIod “CIA OP opna
“UOS ou oBpue op ogSisodsmp eu opspoIqnd
exsumsd ep BILPp E ouIoa
Wisse TeUISLO CID O Iojueir SOPRA]
“F66T HO “exajserg-ore en
“HossISar P > ogtrrojnh ap ojeouos O oTryn
O tIoo “operdure s oJstadI
“ZA Epungos pjod o “cos uso “erga Pesmpno
extioisisor é o oguropmb
SP CiooUdi O opmn o tos 9YISTUTeUIBEO Opramqnd IOF OB DIE SIS
“06
“SODBOJO9pI sord
“Pund sop orqurg o pred Oquroymb ogômansur ep urSes
-sed E JeInymo enpugIsIsar ºP BULIOJ OUIOS TeztIajorIer
*g
“TESeIg ou ferrsdu s jeruojos opor
-2d ou agaas1 CBSMYnSUI (e) onb sagSejouos se Tesrpur “g
“BIOdspIp-SIÁ ep BLIQISAy EU “euRjOSte WISBIO
ºP “ElEdUre opômansur ouioo Oquiojmb o
TezIIagjaBIeo) "T
soanofgo
"L96T 2P OISID2A9] “OITAUPP ap OEM
mare
'(ESUOPUTISO) SESUOPUIX "6
osBIS9N TEMIMO EDUQIsIsoy E S(OT9ToIWD], 2 OJatauI(fp) sOIaIoH "8
OQUIOTINO) Sp OJa9U09 O
“(OQUIBAO) SOquIV “Z
É — BXSUPAN) aquinp — Bo2UBUN 'Q
OSPPIN É esngu esa) sejonBues 'S
“(MPENqUuIO) OpUunga ">
*(oMbjOya.L EPun'T) sovomo — EpUNIVT “E
“(npunquiáp) sopunquemo 'z
“(oSuoxMeg) sassjoZuos no soguosmo 'T
S
ee
OPÍMUISSP DP SDIP SOU apopiIgissOd
Jonpajagu| a DIOquiOJINÊ) Oquaw2SDA ZLUpog
Possibilidade nos dias da destruição
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual
TT

4. Historicizar a ideologia com relação às etapas do movi-


MEDO O logo frustrado, era encontrar minério precioso
mento de conscientização do negro e da sociedade brasi-
leira no século XX. Os Europeus descobriram ainda no século XV que a
maior fonte de riquezas era o tráfico escravista. O Brasil passou
Introdução a ser o mais importante receptor desta “mercadoria” nos mea-
dos do século XVI. Em decorrência da procura de escravos, in-
visão que o mundo ocidental procurou transmitir da tensificou-se a penetração no interior africano, geralmente or a-
África foi a de um continente isolado e bizarro, cuja nizada pelo rei do Congo, que orientava os ataques dos portu-
História foi despertada com a chegada dos europeus. gueses.
Da mesma forma que se deu com seu território de A “zona de caça” preferida era a região da etnia Mbun-
origem,a História do povo negro só é vista como tal se tiver si- do, no sul de Angola. Os Mbundo, entre os quais se encontra-
do marcada por acontecimentos significantes da História da ci- vam os reis estabelecidos no Congo, viviam ao longo da frontei-
vilização ocidental. O risco maior de tal procedimento de histo- ra ao sul do reino do Congo, entre os rios Dandé e Kuanza
a-
riadores desta parte do mundo repousa na ruptura da identid Eram povos bastante numerosos, com complexidades históricas
de dos negros e seus descendentes, tanto em relação ao seu pas- e formação social e política, nos quais vislumbravam “um blo-
sado africano quanto à sua trajetória na própria história dos co” ou federação dirigida pela administração governamental do
países em que foram alocados após 0 tráfico negreiro. Congo. Ao longo de sua existência, essa federação passou por
Numerosas foram as formas de resistência que o negro episódios a desagregação, além de conflitos e invasões sérias
manteve ou incorporou na luta árdua pela manutenção da sua devi
vidoaàdo
dive
diversos fatores geográficos,
cos, climático
climático:s, demográf
ográficos
icos
identidade pessoal e histórica. No Brasil, podemos citar uma lis-
ta destes movimentos que, no âmbito ” social, tor-
“domésticoou . Originalmente, os Mbundo estavam organizados em clãs
nam-se mais fascinantes quanto mais se apresenta sua varieda- autônomos dedicados à agricultura e ao pastoreio. Conta à tra-
o,
de de manifestações: de caráter linguístico, religioso, artístic dição que um caçador chamado Ngola (“herói civilizador”, vin-
essas
social, político, hábitos, gestos, e assim por diante. Todas do do leste africano, invadiu território, estabelecendo um “regi-
formas de resistências podem ser compreendidas como a Histó- me monárquico não centralizado ao qual os Mbundo se subme-
ria do Negro no Brasil. Não nos cabe aqui, porém, discorrer so- teram. Ao chegarem à África em busca de minas de metal pre-
bre esses movimentos. Um movimento de âmbito social e políri- cioso, os portugueses encontraram um pequeno reino em for-
co é o objetivo do nosso estudo: trata-se do quilombo (Hifom- mação, o Ndongo, cujo rei considerava-se descendente de N go-
bo), que representou na história do nosso povo um marco em
sua capacidade de resistência e organização. Por isso usava o seu nome como distinção, seguido por
seus descendentes que criaram a dinastia dos Ngolas — inclusive
O Quilombo como Instituição Africana suas mais celebre sucessora Ngola Mbandi N'Zinga Kilvanji
(1623-1663), conhecida entre nós como a Rainha Nzinga ou
Dois incentivos iniciais fizeram que os portugueses, ao .. Jinga. Ngola Mbandi Kiluanji, pai de Nzinga, verificou muito ce-
contrário dos demais europeus, se internassem no continente do as reais intenções dos europeus. Prendeu o emissário portu-
.. do guês Baltar de Castro, paralisando em seu
africano e procurassem conquistar uma colônia em Augola. O território os primór-
primeiro seria repetir o caso brasileiro, ou seja, adquinr terras dios do comércio internacional de escravos.
próprias para se fixar como naquela colônia americana. O Se-
274 275
LLC 94C
“OJUSLNAOUI OAOT OB. opunape efas 'oSed
so omIsam ou as-opus ssJuenIatoo 10d “omnno ap “oSuopn ap Itai ojad epranbolg 107
“PDS TEABIOUDONS OS SELIM seSI9A] “esa
nSmuiod opSenouad ogssIw eum “opej um aq 'sajue nadomos 19nbyenb onb euy steta
SEIP
EP OHISUIOUI OU [EIAPRO-ONNSS voLyy
ep sejueg sopepp sem “ ogôda0291 eum URIA 'SOLIRUOISSIUI OMBND sjeul 3 SOZAON
SSJUSISIXO SOJJUDD SO PIIpUI (E/6T) me
sma pura omeg 10d eperrsy [eSmiod ºp 191 op epextequio eum “tOLI9]
“eurd uieize “ue B[OSN OP opipad 2 “auata] 932 NoAa] “COgEN O IPIPoLIISIU 9
o Tenb ep msseyuy op ogónpoid ap opom
ou seproseq sepnbrr ..SSOSSTUI JEDPUMJ, UIO SOpessoIst “seymsol sop ogssoid y
Ose> “SEUODIpen sogõeurios SEUmB|e “seILoTISeIq SeTIRIIdEr Sep sOUOp so
UIOD as-pApIOWo cos 109
OP OU. OP Ojdmaxo o ouro “sy opei
sg OP OpdEZIIRBSIO $ 2 SEgINSaÍ SO OSIOJSO 9SSoU LI9QUIP] UFRIRIOgPIO "OSUOD OIN OP
SOJUOd SOLIRA THD eiBms onb o epipour
eu “op5rUmopor ap 0SsI9 oLrgmasa OP OSLO] OE OsOpaId [eJaSur op semi se oumi “epriqeo,
-OIÚ UIS BARIso BSLJy e stod “sody sostaarp
op Sopepopos mei SJé OWULUIPO INGL 2 SOABIDSD PP ODHEN O IEMBNEUI EABINDOId
“ENTOSUS snadoImo so “oweatLIe sjtemmuo
» ou remo ov “OUIDI OP SexoJOL Sep opôuajnueu eu or-ppnfe op oyxojoid
— SEUPIHSWR seria) serrdoId sens soserosa 2P
Joomysegr o qos “onb esengmod ogdeSajap rum epo! nopusid 101 0 “orIS
ta os-ureardnoosId a [seig ou sossozaj
r UTEUEO sajop sunê -21 PP sosorapod so opuss “enmgod 2 poTuIQUOJ OgStIdose euajd
TV “SOPESSS19)UI SIX SO PIS SAJOpeID
AOS SO renb OU CJs wo uIeARISS “uiçãod “Opungi SO OUIOD "Ipuad sop EDUgIsIsal
Tpsvoud “SEJSP seLoNS ajueipom 9S-B
ABP OTIS O erpur 2p odn omsom o noopeid “,SST us nopur opeuas ofno “staua]
WS “5s-OpuexE
Ep SES9d, ap SUIOU O gos soproquos soyn
pe SOAPIDSA stDAof tua eroSN “IBSEM OIpou ou IIAX Omops OP sOpeaui
osed ez omgm [er sopeysmbuos» OPungia
seja soe son “songng1od 0Bnf 02 I9JauIqns as OEU FEIRA aJUSUNLOD OP JOHN
ºP oroIsodum ep olawm Jod sosBIDsa OBÍU
SIGO EU POSISTOD opoj ou as-nowzajur o ejoSuy op nigny aonb magequa “opusd so “erma
“PU Opungas O "sonsquiod SOSOUIP] SO “soj
ureoyen sojso é amou emo E 09X2] O SDUSJIag “OJURq opunus ou esonônizod OESEA
n9p “Áojuris OpeuIEyd OB] oe ourrxoId
opexi; onod Tigun “M ejod epezesgoeiro eruSxoId ep apeprxojdmoo e epo) oprem
"BIOSUy 9p 9 o8u0) op SEIRJUOI se
Om/ “sopeiseye srem -som “seuejoSur sermnnso se opesneo anboto o “ouraLe cou91
SOAOU SOp sopeotomy sou SSJUPaneI) ãod
eiduioo eu as-pAROS -SI O[jDSa OP UIQ “SEMIN] sagórIsS PIPÁ PZIONISUI ESST
“Bq OJpUNd O ojraunpussrdws s)so
erpd SIZPSLS UWIBIEISONI «BU
os siedpurd sopojur sai “SIBETIO(OD sossolsJUI sSOr PrpuoIr -PS[UI O EIJONÊ WIBIOXNOI] SOU OS SODUEIG SO “SEIP SOSSOU SO pje
9PEPIADE Jonbjenb onb sremw OUPIINT]
OraIauIoa o onb tou oEIO 2psop, “emb feio oEÍIpen E mpUoO) 'sepeojto afoy epure
"BANIUONSP UIBIpoILSA sasonênizod so
TIAX omoas oN ops SEIAP|Bd seÍnD 2)91d BUM IoZzBJ OLIPSSOOU PIo “EIOssESTANI
op epesoo cn dRd OBÍEZITAD Ep ordpund
ou “vjoSN IJOPe zITIA D seIroquatiras se onb PIPA TISEIZ OP OpNJaIgos “LOLISUIY EP SESIP
ao Des ROdBP SouE QUST “OUE2NFE ajsapion “ooeqri “umopuome “eoold
op ajus tusArd
o op somornosoId “sepexuo o seopy
: E E 9UU-OIHoY “OBISOI Ep sagi -B3 “OU[IUI UIBIOXNOM “UIBIPSSIIZAI SOJUPIQ SO OPpUBNO
epnd od Sep opepius
SH PIUIO Ep opôusnueia e pred foapiunsour
epnfe eum nou “0809 OP SagISal 9P SEPIZEN SENIOD 9 SOpida] OP EDO
“*03 98 onb ojusmaa “oorugxord ONISTTIAOUI
ou odio) umBre p US “SODURIQ SOL SEYLI[BS 9 SOAO I9pUDA E UIPIZO! SOADEOpUNUIOS
B( oprznponur ONES UIT OBNO TIOD IBJNOD
E esessed anbiod ums sIBuI OpUndIN sop sumje onb epure EIe[2i OBÓIpem V SEUEUBq
Seul “OuIsI[popr 10d Op “sason8miiod Soou
ue> sop orode o ea ap sagãEIBjd se o SELes SE JEUOPUBGE O EJSOD EP JISNJ E EJOSN
“ESTOSI SUSTO] BJOSN “Teo OpIZUIOo UM
Isjupui ered sesongm OPUPSIOJ “OPUNGW SO BINTOO 080 LIPIPIRUIOA "SBOEJ OUIOO JOS OE
-J0d sepeptioane sep SODJOJSo SO ULOD
Opumadimroo “ossoor ap so3 LIBABUTLIG OND SODEJE SOEG UIS UIBIESD SOIUBIG SO, :BJOBN
“UOd SOAOU IEMDOIÁ E ureIrdsuIos sopej
osi sojueotrer “orposida op jexdeo “epuenT E sosongmizod sop epegam E OpuEpIOD
9sso sody seuwejoSte sejsos ma sonêm1od
opeisg op eptiom “pdoms] 2 POLYY omuo opÍejar Esso nodauioo sojras omenhd op
"TI é Hpoduy ureaesppold 'SouIOUQInE
Opias anb amo, org 5 STeuI FE OLHOD EIUOZ OPUNqIN OBÍTpen Ep ojuomBeIy UN
EP
OPÍnHSIp DP SDIP SOU SPopIIQISSOS 10n3a]27u] 9 DIOGUIONNÊ OJUSUISDN ZLGDSH
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
Do a

vamos nconaar mada do processo comercial dos europeus eram os canhões, de-
seja resistindo a esta penetração. Entre essas
caça or vido ao seu grande poder de fogo.
os Imbangala, também conhecidos como Jagas,
à invadi r o Remo Como caçadores treinados na prontidão permanente e
dos do Leste que, por volta de 1560, começam
os jag in na guerra coritínua, os Imbangala eram imbatíveis. Tratava-se
do Congo. Ingressando na região central africana,
revol ucion ária na bis. da nata do sistema tradicional estruturado em torno das linha-
duzem uma instituição verdadeiramente
exata me
tória das grandes migrações humanas: trata-se
gens: indivíduos altamente preparados, inclusive no comércio,
que sempre foi o modo de produção dos povos do Oriente da
e esde de 2000 a.€., os bantos migravam em busca de planeta. Eram homens preparados para assumir a administração
ricas, dirigindo-se aos quatro pontos cardeais do gone ou a guerra, bem como para organizar a produção em grande
terras
direção ao sul, no retorno às regiô . A escala, já que se tratava de largas faixas de população. Domina-
nente africano. Em
r O processo de vam a tecnologia do ferro e de outros minerais encontrados no
graficamente resfriadas, ajudaram a impulsiona
a flores ta equato a processo de assentamento em regiões de florestas, ao longo
desertificação do Saara ao depredarem das
Grandes rolos de populações promoveram O que se grandes bacias hidrográficas do continente africano.
oriental.
chamar de federações, ao mesmo tempo que se Dez anos mais tarde, no final do século XVI, os Emban-
convencionou
e pa os gala combatiam ao lado dos Mbundo contra à penetração portu-
embatiam por conquistas territoriais. Entendimentos
mer NA guesa. Sua entrada no território dos Mbundo foi precedida de
zeram desses povos verdadeiras potências em movi
s p pa
nuo. O resultado desse longo processo de acomodaçõe
uma luta feroz entre Ngola, chefe dos mesmos, e Kingui, chefe
te equil ibrad a em dos Imbangala. Os Embangala que dominaram Angola eram
“cionais foi uma civilização extremamen
considerados um povo terrível que viviam inteiramente do sa-
de
e rganização do mundo banto estava num nível Ri que. Não criava gado nem possuía plantação. Ao contrário das
s, EM os os
ordenação que, na época da chegada dos portuguese
outras linhagens, não criava os filhos, pois estes poderiam atra-
à recepe a E palhá-los nos diversos deslocamentos necessários. Matavam-nos
campos de interesse humano eram propícios
s po 4 eae ao nascer e adotavam os adolescentes das tribos que derrota-
provindas de regiões como a Europa: os campo
s de produ ção e NA vam. Eram antropófagos e em sua cultura tinham especial signi-
nistrativo, econômico (variadas forma
ente, psico ao ficado os adereços, a tatuagem e o vinho de palma.
merciáveis), cultural, tecnológico e, principalm
cia ado
(o da força vital). O kilombo sintetiza tudo isso, poten
A característica nômade dos Embangala, acrescida da es-
os ema! aa pecificidade de sua formação social, pode ser reconhecida na
no indivíduo e no grupo de indivíduos territorializa
, invisí vel e, 7 instituição kilombo. A sociedade guerreira Imbangala era aberta
quer área, delimitada pelo espaço visível
a todos os estrangeiros, desde que iniciados. Tal iniciação subs-
de 1560 os bantos, assentados como caçado- - tituía o rito de passagem das demais formações de linhagem.
s or volta
em dire-
res, seguiam sua trajetória provinda do leste africano
Por não conviverem com os filhos e adotarem os das formações
Os jaga, einiai que compoeÕ essa onda igrató- -
migr com as quais entravam em contato, os Imbangala tiveram papel
ção ao ocidente.
1569, tinharo
ria banta, então invadem o Reino do Congo. Até
relevante nesse período da história angolana, a maior parte das
Congo e rr - Vezes na resistência aos portugueses, outras
conseguido expulsar da capital O rei do no domínio de vas-
ilat--se numa 1ilha no rio. Entre
»; ' tas regiões de fornecimento de escravos. Por tudo isso, o Ailom-
i ndo-os a exilar
briga
fazem recuar esse combativo povo, agora conhec bo cortava transversalmente as estruturas de linhagem e estabe-
os europeus
l pela ret | lecia uma nova centralidade de poder diante
do como Imbangala. A tecnologia bélica responsáve das outras institui-
* ções de Angola.
278 279
Esc 08c
-S9 SB MWISTITESISASUEN PARLICO PJOSUY Op ogurojiy O emb BULIOS sono op ChUpIsIsal Ep ojuauiosspnmnos um sAnou “TIAX Omoas
BUISSLI Ep “UNssy -opômynsur Ep soBIuIur sisApAoId sor sSJua] OT C9JNU 9SS2p I10poi oe nosssooJsd os onb opSEIIBE Ep 3 soJeui
SeuPA to equndo os onb eumbem eumu ss-eaposeg “soreur -[Ed ºp ogômansap ep “seitanB sessop siodad “Jeruojoo orupmop
“Fed 10d epezruoSejoId erronS ap ojmso O “9PepLIOME Sp [euis op au eigou opsemdod op soopnu so ENO? seJenjra sepm
EIS SEUIUOS SP SEPpRIIOPE seBUO] seSUEN ro Ojaqeo 0 — oprrepen -S9AUI SE LIPOSISAI “Soleujeg op eopqndoy eu soprunai sojonbe
ejesupquiy oueiagos ojod “oumysos iod “OPpezIN oe ODMMUPPI opmjoigos “soquionb sopra snb wa sezians sp omoos wn ap
BIS “OUpEUIEd [21 OP eIISfogeo> ep ouiopr o pAIasqgo eIsTUO BIBISUIO OJTOJISPIG 9ISAPION O "OquiornD op opeoguusIs o opour
O “Jo UIo Ppezifeos “PLUgiaguos esso opuensiSoM “Bquing eg “nas OE USD sesongmzod sopepuome se ObZ1 9P oIquiazap
“HBO “OULBUTed 121 Op owiou o uia) onb en$on e noAs] anb og5 sp Z ua SJUaLIos sem '6SGI Op BIEPp spgnômiod fenpmgo ojaur
“BDOS9U E DASIISP JOpereU O “sareuiedg ap eSes sigos por -noop we sBins onb oquiojmb e epugIafal EIDULId y
“QD EpDoytoo steri EN egeo cogópuea euonbad eum wo eres
“UBQUIT 191 OE EUSLad equinz eBuer opyp o “ejosue ur "ojred
ens e JNdumo saremjeg op opõemdod e op xessde anbeye op
seg
MIBIBIJOA 9 OPIODE O UIeITEN sesonôniod sopepuome sy 'zed op
Ou [eLtaduyy 9 jeINOJOD) OpoLag OU OPÍTNNSa Ouro oquojn O
ensan eum suerpom TIAX omoos ou EpUre “soITIguos so noso
"O)NUB|V op Op
“US 3 Sesanm 10d steruojoo sapepLroqne se mos No!/Do3aU So1EIO -P[ ONO OP OJuatour ojonbeu extons op euoz eu wesaem onb
[Ed ep equinz esues, opuenb fiseig op euçasmg eu opensis souronge sodnis o mbe soanequios -soquiopnb utco) vIsmp op5
“21 NOVE O(A assy “Pqunz eSueo “sareumeg op oueatpe ojomp “-BJS1 BUISABO “epute “TIO BDLIY Cl sOPIAJOALIS SOP SOJSHP SSJUSPp
op opdeuturou e “ojdmwsxo 10d “soproremolr 195 Ltopod euejos -W99S9p TIPIS SIPUONDPBU Sajusuoduroo. so as IesoIduroD ap zed
“UE 9PEPHBSI E UIOD ssztiopproo saiojey sonno sumSTy “Pa EDLIOISHY OBÍBIUSUINDOP sOLIENtIODUS OEN "EjOSUY UIS BILDS
“SBIg OU sareuea sop oquiomy) ogársodmos sp 2 sIgLIONIIa) susBLio sens > mbe oquiomb um
OHIO) OPDaÚuoo “eSrep-ejoSwy os-pmnnso “oyraurom ousour 2Pp OBÍBUIIO] E ala OLHOD “OJSIIP OJEJTIOS 9P SeMUI] I999/aqeisa
9SSoN “spnênizod orraIBau odiojso Or PIfe os END essa tenb uia tosa opepjmyip y mbe a (ejoSuy) BoLYy eu eonpId essop
o sode “jumêas ojnoss op sopeou s +eGT7 anus sjusumeexo Ep PHQIST] E ama OBXOLON IsDojoqeIso JDINP 3 OBU “OIpISoU 09
2s ESPÍ BIUQISISSI Pp oBne O “OUPBJOSTE OgGHIOID] O UIOD squour “IO OP SJUPIP EjOSUV-JISCIg OBÍBJSI-I3JU E OpIBATOSTO
“BHento OpEIOpEjaLIOS Ios I9pod E oorm o oquiognb asso eí 'QPÍPITLIOUSP PSSo UIPQUIPI WE IQ9D91 PJOSUY UIS OI
"98 Z9ATBT, “TIAX O/ND9S OP OTFUI à IAX O[ND7s Op [eu ou ejoSuy “J9UIOD OP SPUPABIPO SE “XIX O[D9S OU “GPIeI SIPIA "OGUIOJD] OP
Ud OPUEJOLISS9P os FIsa anb op ojapered ousmouas UM q sojem odnIS O 9s-pARUIRySD “sosonômIod so LHOD OliaISaU ORIZUIOD O
“Ted SOPp oquiojmÔ O “TIserg op eLI9IsIH eu remBuis ebpuouadxo uwreAponeId ejesuequi sungje opuenb “Bum EUISStI EO "OguIO;
eum emmBneuy onb opeisg opuris assap OJN9TIPIQUIAUISAp OP ep -Dj BIS SOADIBN] SOARIOSA ap Ojuatredureoe O) OpÍEDIU op [era
“BUONBjST SJUIUIBISNP PISa SOJUSINTOSfoquisa sossap apepnuenb O BABSS9D0Id 98 apto epeiges espo Teoo] 02 ojradsai EIZIp “epuie
e “eoodo ep seppou seg Iepuiis uros IBESSSIMOS OS saxemed “opeogruBis oO “eAarf earuIuIOLop os onb eiIang ap odurro
TIAX Omops ou “soxtaTIseiq soquiojmb soxraurd so 20uUM no OLIQILLID] OJjad opejuosardal vArISo OgLHO|D] Sp opeonusIs
“ SOfoU Sof ommo O 'BJESUPQUIL 9PpepoDos E WISIBIOdIODUI 9S OE SONPIAIPUI
“JU LHOWDE OS LUI SOPEJHBAS] SOWDUEI UIPUO) ozu onb epure “ep souidoid so OgUIOJp] UIELIAS :IS UI> OBôMINsUI 2p OpESWIUBIS O 2q
-Mosdsop azred ur “couro ep massed onb SOPISNJ SOJSOU ap opó -22921 “OSED 9SSOU “OgGUIOJD; 'BIINIIONS apeponos euisomúi eu suos
“EUQE) E EPOL, “OPUS OO Oquiojmb O meIrtiop “sepesnsse “BUU SELIZA Op suoaof parIodIODUF onb maBessed op Oy “ops
'sesonBiyrod sepepuome se anb ojiatron assau IO] "soquio;mb -“punoIo ep eoneid eu as-paroseq OBÍenIUI op Jem O
CR E O
OpSIn Sp DP SDIP SOU SPpopirgIssOS Jong92jazu] 2 DJOGUIOINT) OQUGUHISDN ZLJDIH
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
E]
O O O a É

truturas de linhagem e estabelecia uma nova centralidade de Um ponto importante e em certa medida controverso é a
poder em relação as outras instituições, Palmares também ope- atitude desses grandes estabelecimentos diante do regime da es-
rava, no Brasil, esse corte transversal e nova a centralidade ante cravidão. E preciso reforçar que o Africano não é um ser este-
o regime colonial. Por fim, mais um fator que estabelece o nexo reotipado na acepção do “bon sauvage” e que a África não era
entre África e diáspora é o nome dual da instituição no Brasil: necessariamente um paraíso bizarro.
Angola-Janga. A instituição da escravidão era conhecida e utilizada
É Certo que o nome Angola dado ao território colonial desde a Antiguidade africana, entretanto, não tinha o caráter de
africano derivou do nome do rei Mbundo Ngola, o qual empres- “propriedade” encontrado no sistema escravagista mercantil.
Antes, diversos fatores levavam um homem livre à condição de

E
tou-o aos seus diversos descendetes-sucessores. Provavelmente,
representantes desta dinastia africana são transferidos pelo trá- escravo, entre eles as guerras vizinhas em momento de instabili-

cara
fico para o Brasil. Certo é que estejam em Palmares também co- dade política; os filhos de mãe escrava não resgatados; a depen-

Cd. qua que beeem amada“UT


mo chefes do estabelecimento sedicioso. E é provável que o se- dência devido a castigo imposto pela quebra de normas grupais;
gundo nome, janga — variação de jaga —, demonstre a união des- e o perigo de vida dentro no grupo, que poderia levár ao pedido
tas duas linhagens — Ngola e Jaga — chefiando o Quilombo de de proteção de outra linhagem, a chamada “escravidão voluntá-
Palmares, porque assim estavam relacionados no controle do na”. Diante desse último fator, o quilombo — sendo uma institui-
território Mbundo em Angola. ção de homens egressos da escravidão colonial ou em perigo em
Tais considerações em torno deste Quilombo no Brasil relação a esta -, cujos laços estavam baseados em condições ex-
nos dão a medida do quanto as realidades do Brasil e Angola es- traordinárias, poderia perfeitamente fazer uso destes mecanis-
tavam num estágio ainda possível de inter-relação. Os demais mos tradicionalmente conhecidos e suportar em seu interior à
quilombos vão se distanciando do modelo africano, procurando prática da escravidão tradicional. Além disso, aliada no espaça e
um caminho de acordo com as suas necessidades em território no tempo ao sistema social escravagista, não seria de todo im-
brasileiro. Falta ainda um esforço historiográfico de, ao estudar possível em alguns momentos tal instituição interferir na eco-
os quilombos brasileiros, defini-los segundo suas estruturas e nomia dos grandes quilombos. Podemos inferir um exemplo
sua dinâmica no tempo. De um modo geral, define-se quilombo dessa prática no assentimento de Ganga-Zumba em transformar
como se em todo o tempo de sua história fossem aldeias do tipo os palmarinos não-adesistas à trégua de Recife em escravos co-
que existia na África, onde os negros se refugiavam para “curtir loniais. Mas é preciso recordar que o escravo colonial, ao aderir
o seu banzo”, ao quilombo, muitas vezes poderia fazê-lo na condição do escra-
No período colonial, o quilombo se caracterizou pela vo voluntário. Algo perfeitamente compreensível uma vez que
formação de grandes Estados, como o da Comarca do Rio das tal prática era largamente utilizada em África.
Mortes, em Minas Gerais, desmembrado em 1750. Podemos Isto posto, o que difere os quilombos do século XVII dos
afirmar que, como Palmares, este quilombo agiu de acordo com demais era a possibilidade de grupos e etnias comuns ainda po-
as condições estruturais, inclusive econômica, no contexto dos derem ser encontrados num espaço territorial e voltados para
“ciclos” econômicos no Brasil. Antes o açúcar de Pernambuco, um tipo de economia, o que dá a medida do risco que represen-
agora o ouro em Minas Gerais. Nesta perspectiva, só é possível tavam para O sistema colonial. Podemos mesmo afirmar que
encará-los como sistemas sociais alternativos ou, no dizer de Ci- estes quilombos são o primeiro momento da nossa história em
ro Flamarion Cardoso (1987, p. 91-125), brechas no sistema es- que o Brasil se identifica como Estado centralizado.
cravista. . No desmembramento dos quilombos do Tijuco e da Co-
marca do Rio das Mortes, no século XVIII, o quilombo se rede-
282 283
58€ +sc
SSPEpI[eAL se WeARZINOSejOId és onb Wo asLp eim Ie nonus . -OUI 9]S2U SISIXO PF oLUISIJerOJOS OP OtóP9I eum eordur esny
“onbes op eopgrId eu earoseq as anb Terpunur jeruojo> BLISISIS O “p “pfos no “oDHB9jooPpL O)NOqLITe US] soquiopmD sajsop son
“BSSDUBIJ OBSNTOASH EP ODHUI O NODMIBUI 6447 OP our O “Ferrodur! oxouep 9p OH OU “o8U07) [9NUBIA Op so 'opraoDd10)
op so “HqUEDGED 9p so ouIod 'sopuejgodi SIE SOUPqM sonia:
“Temopno
BoLJY ep sepraoId sema o semamo sep epeussiduy “euereq sop euoJuod PU S SOMOWI Wa UTRABHUONS às Sjod opuzis ap
9peponos op ody OE sepe$H ajusureogoadso UreARISo SeonsLIA “ soqurognb so onb » oponed op squeodir opep omg
“BIRO SENS "EIRYPg BU BISSU BRUGPSUOS PP 020] 2 O)s9jeaeuzeo “IOPEAJES UI? “LINQED OP 9 SaICIA SOP "S "N op soquomb
OD01q “PÁTY 9 OP Z66T 9P [eAPUIRO OP BLIS] 10] “SOIZNg SOp 21 “ SOU OUIOD “BSOLSI9I SPePIANE EsuaI soquroymb sou uIDAjOAtOs “Sep
“049% OUICS PPIDamtoo SJUoLuTe “opiedipueuro op ejdnp vam “|” -»p onb signos sodniB as-urenuoDuo “sogIstoo semno ur
“BJS
estao ESS9 UIBISAOUI apepr
fes op9P APepr
anoteOXÁ IOPEAJES EU sopyoo somno
SOTãO apa “-RULIgUOD OBU SOZ9A SENNIL SEPUNUOP Pp SSJUSIIODop steprjod
STELOIsSIJOIÁ 9 soyereyje “sopezmaqeype sojepnui o sosSoN sepupoIpuis 9s-UIezHBoW 'OEQUEICIN OP 9 eq ep seIISNS SEP
eu opóuny us OpeuILIOU9p UISSE nb OJuotUIAOnI C orgou ogirad,
-osjnduioS vigo sp ogur ep ojuauieaissooxo erpuodap sred osson opeurero ou opresul gIso oqurogmb o “oporrad aIsoN .
"JUSSEU OBÍPU E CIB3 OB] OIDSUE a[onbe Uassiznpen soLEu “Bj089P e “efos no “soco
“ODINTOADI SossOp soSIojso so anb EnTILTAd ogu [erpunur eonyjod Joumsuy op sajuedpnIed sop euIssuI E opuspuodsario saqueis
9 ESTUIQUOSO PINJuMÍIOS E “ojurjanUY “BIMPARIDST Ep Opimgoqy our snos so pIed guad e vio “ongdu] op apepugau a spep
e “eoByod erpuopuadapus e wo ajusmejneypurosuos “essjaoId “Hiqeisa g oBLIad ap opepmenb eu etouiasse os seIso E SEIN 'SOP
BAEJSo ELIISOIA NºS WIM "8621 ut apojdxo onb “sojereyry sop -BZLABIDSS SOUBILJE SOP opÍPIsajtoo op euros emno Jsnbyenh
BIOMA E OLHOS EplaquoS uraquiea “eUeIeg oviemíios e eIstTIOS 3p onSunstp 2s sopipueg 2p omoserea sp opnuas ou oquoynb
“BnUsSpuodapuj e wretaposoid anb sagõenfuos se SD O GE8T OP [elog 05s9201d 2Pp oBIpoo or “snb wsse q
“BSRRDOISLE BOUBIQ assepo ejod a ojodozaur ejod sop "SOpeISUIOJSE S9SSIP EIDUZAIADIGOS E surep onb eoruça é OES fer
“BÍBND9I SIUSLIBIUA]OIA UTRIOS SOJUDHNIAOUI STE) “SIA BIBOU NO -os oUSMIpuUeq o “serzzer se “onbes Q "oquomb op L9pio Ep 5)
BJemul axo eum ensixa opuo “9]SapioN a 3340N OP sepujsoId -treISajuI 9 [PILOJOD SPpePpIISEIS EISop SJUSLIO29p ogômynsur eum
Se “ISBIQ] ON “EOLISHIY Pp serigjoo seu ureresosrgoIid OUJ9poLu 198 E essed eBnJ V 'SSIOÚLSS Sos 9 SOPpEZIAPIOSS SOHBILHE Ano
2 TeloqH oquna op sojusurnour “ogiednoo 3 ELIONS op oSIojsa s05PI SOP OJUSUIEXNONE O SSZSA SEIMUI BARDOAOId “EMNOL BIO
9PUBIS UI sopmIsap ureioy soquiogmb soymur opuenb THAX OP “opISal EUINO BIO “SLOTUIQUOS SOPEPLADE Sep oBÍeIDSO V
TSLIODAP OU 3 ITAX Ojos Op soquio|mb sapueiS so sody o “WISIBBARIDSO PIISISIS OP 9JUSISUI apeprIqeisu eum
“BISIUODIOGE ISPIPO UM soU]-OPUEP 'sopezneIso eEZNpen “osugIsty oduio] O Opo] mo o Jeriojttis ospdso O opol
9 SOJAI] SOIS9U SP SSJUPAD] SOU OBÍIO] 9110J UIBISAN SOJUSUITAONI usa “efos no “SJUSWIeGOS BISIA 198 OP “OMUONIPIgDEA OpUDATAIOS
sosso “eISoU fenoppemdod eporeur e oprnop Tseig ou o “DI2H sozon seymur “EWa)SIS OU PIDUL EUM ONO erpssoid ogóômin
9 SOSUFUIOC] OBS Opmmaigos “aques ON “seonigury seu ogõedp -sUI RISo XIX OMo9s OU ojuenb IITAX omoos ou oe) “ejnonzed
“YES SP SOjuSWaoUI 9P PIUZSIOUIS BjSd as-LIPZLIS)DEICO XIX 9SSaN “EUIDJSIS OE 0981 UM IEIUSsdIdaI IS Wa Um Epe> ap opep
ono2s Op opejomw eitoruud e o IIAX ojnoss op [eum O “Wiqussodu E EPemoUIA NUSUIejap FIS9 IOLIAJUe Ojos OP SO &
Sapo 2HUS BOISPQ BÍLISISFIP V 'sIEIUO(OO sejueydeo sep OLIQUITO]
XIX OfNOyS OU SEIJOASY SE & OX[IsEIg soquIomÁ) opo? ua ze os soquomb ap opÍPIpord e “Omoos 99s2N
“PSIDATP UI9BLIO Op SO40d IRISH SP eIjaISoU eonIod e 103 03
:"Opessed ot ouaul “uenDb “umuioo sEeIL Z9A EPED EUIO as anD “vorujo opepisidalp E
“QUO OP SELPISI SEIoUZIOJaL PP OPEP] OP feio opÍIper e ojuom 2 [epIo opssaIdal E “PILISOSS ESP E 9ULIOJHOD OPUBLIBA “SUL
E O a
opómngsap DP SDIP SOU IPPpINGISSOS JorjSeJoquy 9 DJOQuIONNT OQUIFOSDA ZLJD2g
+
. ”
o

ectual Possibilidade nos dias da destruição


Beatriz Nascimento, Quilombola e Intel

s da revolução burguesa reprimida e seus chefes condenados sumariamente: No ent


entre Inglaterra e França. Os ideai
influenciaram a Conjura- o espírito combativo do povo negro não arrefeceu e outras re
(igualdade, liberdade, fraternidade) voltas se sucederam durante a primeira metade do século, nã
ção, acrescidas dos seguintes fatores: só na Bahia, mas também no Maranhão, no Pará e em Pen no
ole da importa- buco. Toda essa movimentação fez desse período a fase d “pe
1. Entrada agressiva da Inglaterra no contr
e das áreas novas do tráfico; rigo negro” no país. A insatisfação dos negros escravizados a
ção de mão de obra africana
(fase Peu-
2. Transformações do mapa africano ocidental vres impele o Brasil a se organizar como um Estado extrema.
sistemas de Esta-
le). Há uma desagregação profunda nos mente centralizado e policialesco, a fim de defender e garantir o
áreas de tráfico interme-
do e de linhagem, abrindo novas patrimônio” da elite escravocrata e branca (ou seja, os seus e
oriais entre as antigas
diado por conflitos políticos e territ cravos), pois a ameaça a esse patrimônio significaria a derro q
fronteiras. da do futuro Reino do Brasil, Portugal e Algarves e do Im crio
brasileiro posterior. e
Embora os chamados sudaneses já tivessem entrado no Já há algum tempo, as autoridades baianas conviviam
e em Salvador, nesse momento a
Maranhão, em Pernambuco com quilombos, entre eles os de: Urubu, Jacuípe e Orobó, n
edentes da África oci-
quantidade de africanos escravizados proc o é muit
província; Buraco do Tatu, Nossa Senhora dos Mares e Cabul o
comprados oficialmente ou contrabandeados, em Salvador; e, em Cachoeira, o quilombo de mesmo
dental, nome Co
am grandes contingen-
maior que no século XVII. Entre eles cheg ,
mo era de praxe nesse sistema de brechas, esses quilombos en-
das etnias peule, fulani (ou fula)
tes de africanos islamizados, o
contravam aliança na população negra livre e mulata, manten-
s.
“asante, hauçá, mandinga, iorubá e outro do seu caráter secreto. Por exemplo, os quilombos de Nossa Se-
iu esse comér-
O porto de Salvador foi para onde se dirig nhora dos Mares e do Cabula eram comunidades de terrei q
e, prod utor a de tabaco,
cio. A economia de exportação da cidad gidas pela religiosidade iorubá. ES
de fatores sazonais. AO
cacau, cana e algodão, não dependia . Os novos escravos encontravam, então, uma população
permitia transforma-
mesmo tempo, a decadência do engenho escravizada e livre já longamente assentada desde os primó
surg indo a Bahia como
ções na estrutura econômica nordestina, dios do tráfico negreiro. Novas atitudes, resíduos de conflitos
interprovinciais. Esse
região fronteiriça do tráfico e do comércio em
antigos e modernos de caráter interéímico, semelhancas qanto
a compra de escravos numa região
comércio compensava à estrutura religiosa e cultural são cobertos pela cultura é reli
as de produção.
que a monocultura convivia com outras form gião islâmica. o (sã. embarcado em 1798, ao chegar aqui tro.
provindos da
Embora já existisse, em Salvador, grupos cá santa mucuil
entoo prof
pro damente desagregador: a jihad,
H ou guer-
de em relação à to-
África ocidental, eram em pequena quantida
de origem banto. Às no-
talidade de negros escravizados e livres Mesmo islamizados, os novos escravos mantinham seus
chegam em função da
vas levas, oriundas do ocidente africano, cultos familiares. Um exemplo é o oráculo iorubá de 14, conhe
hegemonia inglesa n a África e da decadênc
ia portuguesa no co- - cido como Erindelogum ou leitura de búzios. Os búzios servi
os já assentados, que ,
mércio negreiro. Em meio a livres e cativ para práticas adivinhatórias, como moeda corrente ou para x
tradicionais já sedi-
desenvolviam práticas culturais e religi osas pressar linguagem novas. Tanto os iorubás como os mandi as,
introduzia um dado
mentadas com seu caráter sincrético, o Islã estes islamizados, utilizavam búzios a fim de entrar em contato
meio já difícil de unir.
novo, diferenciador e desagregante num com os espíritos dos mortos e reverenciá-los, solicitando-lhes
Delatada às autoridades baianas e ao governo do Rio de trabalhos em prol da saúde, paz e outras demandas. Esse c
Janeiro antes me smo de se alastrar, a Revolta dos Alfaiates foi nhecimento e leitura dos búzios resultam em adesões e disso-
286 287
6BE 88%
SUBMP SItotuIeIorUOS OPIS 191 10d ajroureysn( “sem “ogpiARIO “BULGED P IUSQUIR] SANOW “omops asjonbep JoIeuI O “Sms0) 9P
-Sa E EDUgISISAL OLIOD OjUSTIbafageISo assop opôdastos e nou oquopn ojad eperppmne a ofejeg Prue 10d epegago “opel
-IUEOS] UISqUuIe] “ousar OSgue op uy O UIOS “XX omoos o ems “BIN ou epereTeg E novojuoDe 0487 Pp sejue epury cojdure steur
-neur oquiojmb o anb eotBojcapr 0gÍEZIIgoPIva OUIOD q ISJPIPD GP “ConquiBuIad UI “BISTEIA ES “eryeg eu epure “epeuia
“EJRDOA “ES é OUIOD “SEJJOADI SENNO SELVA SAnow “syuanbasgns opoptad o
-EJDSO SUILSOS OP STS ULIBNTIUI WSeoI OdUIa) OUISSUI 02 O seUL) SjueIPp “SEST 9 0£8T 943 BPEULIOP 103 EIJOASI ESSH 'SOPEZIA
“EJe sTENUjNo seonrId se IPoIpop eIpod as apuo sia oHIQuIIS? -pIDSo SO SOPO] E OgssaIdal E Opuspuslsa TeITUILIdoI sTenudo &
Pp [EPL O opuemsnIy “Pj3AeJ opreis emn “epepisa eu “pro aja sreDUTAOIM sopepuome se ond 9 “jueIder 2s-OpWeuIo) 'soprzIm
SEIAL "CHISG OTUQIUY op sotopmmos sojod oproSa1de oqumopnb -PISI OBU SOjUSUIBos SOU INUOS Z9] OS EIJOASI ENS OP EDU9NI
um op Eosnq Us sojues eIed meiga sesgned sepuszey sep “ur e opuenb ojstios “epezieiotos eIppoqal ap ojioninuas
soptgny soISou so ojduraxo Jotjaum o > erenbeger op oquormb OU SOPIAJOAIIO sajanbep Og5EZLIOLIAIE 9P SONIaUmBSUL OUIOS Sp
OP OJuIBIms O oquopnb o sutapai zo4 eum steur epugasIs “-EpHOMEe sepod sopeJa(o] LIPIOJ “0807 "(SL9IJUI SO) SOPpEZIUEUSLIO
“91 9p OJOQUIIS eIPd IS EIS OBÍMInsUI op magessed est No sored snas enuoo oidpund wo pegr op PULO) UIS OU-UIBISZIF
“BISTUODIJOQL EDLIQISI EP OJaU 10d SsozaA SPP BLIOIBUI EU CIJOA2I EIUIIÁ ENS WRIgZIPol sojeum-spôney so opueno
“omeg OBS Lo sogÍrjuejd sep sopeziseIosa saytopusossp snos 3 “BIVOTLIA PP BIJOASY E PIE SEST OP I£A anb oponad
SOUEILIE SP SOIL Sp pepisgr 2p oyuos o Iejusure vonsyu oe pode os OuIsoui O 'SPJBUI SOP BPEJOIISp Ep opuenb “gegT
enS “OESsaIdO 9P SeÚLIO; SE ENUO) OMSOjoapr Qusummsur ap axe 8641 Op opusiso os onb ossosoid ou seÍUPHE Op EUISISIS
opeoyrgIs O aqo201 oquiomb o Tx opmoss op jeur oN o 1esmbsod “ogISPDO ENO uIS “ajueiroduIy ELOS “IOPBAJES UlS
SOJUSLIIAOLI UIRARIST onD sozaI| SOPp 9UO E 9 OBÍBZIABISSO
SOLSQToap sordpuLia exed ursSesseg ouros oquiom)) Q “BI E OUIOD UIISSe “eJsoduI OBnse> 9p EULOJ EU EIS EssH “Bqrei
“ed Op 9jeA OU gJeo op oesiredxa exouIud ep opuend “gggt op
“BUEUEMÔNT 93 EP ajtreip mmoq eIoA J0d [ns Op sogôejuejd se eIed sOpIpUDA UISIOs 9p apepITIa
“UIBI OUIOS “SOMLEIQ SOp OgssaIdoI Ep sjueIp seuode ogu IppIeng 1ssod € uI0) SOPEZIIOLISJE UIPABDI SODHSMUTOP SOABIDSS SORT
“BAJES 28 SP EUIIO] OUIOD “PIS eININISO E PIE os cmo o “Pp anb sou-nojuoD SOAPBIOS9 OP SeloWlas sOp ossep Bp SJU9phioo
-UEdXa 98 OV 'Spfeti à spôneI SOp ORHISTIMAOUI OP enUSSIA guajd -sep W() “epeutuiosipul EuLos 9p opssaidal Esso ureornde “epIp
9p 20dp tio “ogjua “ezrueBIo as sjquiopueo O -squomrejanos op -JOS EONIjOd eumu “SIEIUOJOD SIpEpHIOME SY "EIJOASI E ogssaldal
“BonBId BIS maquie) srenb sor “soquiojmb sor ogIua no 'sremsoo e muIssod “oyuejsod “IOPeAJES Op apept EU sEoUPI|B SIOSRI
“LB SOP IPI IUR] NO IEpnonIed como or os-piSULIsar opISIa1 Ep se EpepomwODE emoro ogsemdod eu “eSTUIQUO EDUYProSp
eonpad e 'sluounoLiasuy conqnd op opiedpanred e emu “oJalo EIUBIS 2P OUPQM OlXOjUOD UU Sajuskioosap mresppue onb “seo
-Bs BJIOquIa “onb sexTIO sor OIjno oIfamud o “ouIsA oquaSug ou “UBIQ SSH]? SEP SOpIoIpjoso SIBUI SOJUSUIBas UIOI UISQUIP) QUIDS
“QSSEN BÁI 9Pp ese eu “seIg ou as-epuny “anssy “BIPEPD EP EP Is omuo setade opu seproo) “SeSueIJe UIS SOpeISoIUr ef sojonbe
“B)OLIOPp E sode 'QSuexy op EpeiSes opepp '9Ão ap 191 op saju2p anus opÍpSaISEsep ap 1032] Um uigaemBiuoo *ommo oc "BIP
-Us2S9p son so nojegsa1 o OpejaI OIAPU IS PLISSIN E Nou “Taq21 E O0A0U onBUes nas UIOD) UIBAPBICAOIA “SOANEQUIOS 3 So)
“40991 PQUIUY SEIA op Jensooue eum onb TpIa onsa|N o “sojies “UODSop 9JUDLIfCDIpeI “SOALIDS? SOAOU Sossa *ope[ UM aC]
SOP OUPI[MRUIXEIA sopoigososd 10d epormasuen “[eio ovirpem “oyodsa1 O 9 IOUIS] O UIRABDOAoId
E EJUOD “Sodur as pqnIor euIaIsIS O 'SEST O SO08T ADUZ o anb seprpoquosap 3 SEAOW SEULIOJ UIBIZNPOMUL SOABIDSS SOAOU
. “ODIJO 9P SOJAI SOIS so “opeiBes OP 3 OJS1D9S OJGUIE OE SOJLNSAI “SoJeITIMIR] SONO
“SU à soquio;mb sousnbad soratmul 10d Epposaxoe “PIeg ou uraZ op oloul ON 'Sa1AI] SOI33U SOp à EIHRARIOSS Rp Ojas OU sogõeio
Ac
E
OpÓILISap DP SD3p SOU apopifigissog JoRjpajszu] a DJoquiojnÃ) 'OJuaWSDN ZIIDag
Possibilidade nos dias da destruição
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual TT T———

ela ao sistema domi- Imprensa Negra nas décadas de 1920, 1930,1940 e 1950. Na
três séculos uma instituição livre e paral
anseios de liberdade da década de 1930, havia a Frente Negra Brasileira.
nante, sua mística passa a alimentar 0s
Semana de 22, a edi- o Teatro Experimental do Negro surgiu na década de 1940 e
consciência nacional. Assim, na trilha da
onal publica três títu- organizou uma série de congressos e conferências do Negro Bra-
ção da coleção Brasiliana da Editora Naci
Rodrigues, Ernesto sileiro (Rio de Janeiro e São Paulo, 1945-1950), o Comitê De-
los sobre o quilombo, de autores como Nina
s, como 08 de Arthur Ra- mocrático Afro-Brasileiro (1944-1945), o Museu de Arte Negra
Ennes e Edison Carneiro. Outros texto
ão romanceada de Felício e outras iniciativas. Em São Paulo, na década de 1950, a Asso-
mos e Guerreiro Ramos, além da vers
ciação Cultural do Negro atuava ao lado de outras agremiações
dos Santos, são publicados posteriormente.
e faz com
Esse momento de definição da nacionalidad
(Nascimento, E., 1981, cap. 5). Em todos esses momentos da lu-
sobre tal fenômeno, bus- ta afro-brasileira, o quilombo se impirha como referência bási-
que a produção intelectual se debruce
ço de uma identidade ca e obrigatória, tal como exemplificado no título de tantos jor-
cando seus aspectos positivos como refor
s artísticas, O qui- nais e revistas. O jornal do Teatro Experimental do Negro, por
nistórica brasileira. Em ouiras manifestaçõe
é relembrado como desejo de uma utopia. A exemplo, chamava-se Quilombo. : do É
lombo também
as da resistência po- Soa interessante que um novo momento desta militância
maior ou menor familiaridade com as teori
sive demonstrada em afro-brasileira tem acontecido quando o país estava sufocado
pular marcam esta produção, que é inclu
sobre uma forte repressão ao livre pensamento e a liberdade de
letras de samba.
ece material reunião. Esse era o cenário dos anos 1970. Talvez por ser um
O quilombo adquire papel ideológico e forn
da prim eira atuação grupo extremamente submetido e que não oferecia um imediato
para a ficção participativa, como foi o caso
quando colaborou 1 perigo às chamadas instituições vigentes, os negros puderam
do Teatro Experimental do Negro em 1944,
Leonardo, pelo Tea- prosseguir um movimento social baseado na verbalização ou
na encenação da peça Palmares, de Estela
se repetiu mais discurso vinculado à necessidade de autoafirmação e recupera-
tro do Estudante do Brasil. O mesmo fenômeno
e outras atividades ção da identidade cultural do negro. A retórica do quilombo a
tarde, com a peça Arena Conta Zumbi. Essas
idad e brasileira por análise deste como sistema alternativo, serviu de símbolo princi-
culturais buscavam o reforço da nacional
as de opressão, con- pal para a trajetória deste movimento. Chamamos isto de corre-
meio do filão da resistência popular às form
o com a esperan- ção da nacionalidade: a ausência de cidadania plena e de canais
£andido num bom sentido o território palmarin
Brasil mais justo em que houvesse HKberdade, união e reivindicatórios eficazes, a fragilidade de uma consciência brasi-
ça de um
leira do povo, todos esses fatores implicaram numa rejeição do
igualdade.
esquecer da que era então considerado nacional e dirigiu esse movimento
Ao analisar esta conotação, não poderíamos
ria dos quilom- para a identificação da historicidade heroica do passado.
heroicidade tão intrinsecamente ligada à histó
a do herói é enor- = Como antes tinha servido de manifestação reativa ao co-
bos. Como não poderia deixar de ser, a figur
i, que ganha lonialismo de fato, na década de 1970 o quilombo volta-se co-
memente destacada, principalmente a de Zumb
s, confundir- mo código de reação ao colonialismo cultural, reafirma a heran-
uma representação capaz, ao lado de muito pouco
ça africana e busca um modelo brasileiro capaz de reforçar a
se com uma alma nova nacional.
1888 e identidade étnica. A literatura e a oralidade histórica sobre qui-
Não chega a ser exagero afirmar que, entreé
expressar na lu- lombos impulsionaram esse movimento, que tinha como finali-
1970, com raras exceções, O negro não pôde se
social . As exceções dade a revisão de conceitos históricos estereotipados.
ta pelo reconhecimento de sua participação |
rais e sociais ea Com a publicação de artigo no Jornal do Brasil em no-
eram articuladas mediante as associações cultu
vembro de 1974, o grupo Palmares, do Rio Grande do Sul, do

290 291
c6c Tó
segue “SN SUIBMA “enjoBIS] EOILIQoH EUBO
“PSEF O '“SojuPUIHOp satapod sojsd sejsodum sa0510]sIp aSLiIOo omoD oprpoquoo
“TaeIs] U9g [91sy adpund o isoprun
BHSFSBIG. 9PePHEUODEU Ep osuD 9Pp OJUSUICRE tonbjenh e onb “LI OBÍEN EP JOPpEXIEQUIS
ouroo semi UIOS
[exegry oquno sp ovôedruemo ap steapr voSside “eonrod vongeid sopeisg sop “AJEUÁC USADA opeindop o
> op “SerSueISo
QUISD "OUESLIFE Ofapow nos op sorepnuis sp nsHopereo epreng opuejuoo “eIodsPIp EP 2 OUEOLIZE syusugão
lsd Esso “sS0IsEDO
ESTO SUL OUION "PanIjod 3 EoIUI? PrUgIsIsaI Sp sooÍp]oros out soojpSapop op ogiedpnIrd e oa) opÍeunBa
Ei opezIfeal & SIBI
-02 OTOQUIIS op niatos oquomb o “erIQIafem ens swema SELIPA UE] “OIQUISAOU OP OT BIP OP euBuIos
opeyusurajduroo
susisuout ou NA EDSON EP 9 soISaU sop oanojoo -nIjpo segÍeIsajlueil o Ssiegap “SOLIQUTUIOS UFO)
[ENE opãpuuBaIod
I I IADIGOS OU9UIQUSI a8s9 onb Jod souiispussid OjUSAS PSLUC] BP BIIOS E BILaJISPIQ-ONE
e “osnmnsui “Qronotloq nos UIS o BIoTISEIq
“OD os BIBÁ oonIjere odioo um OLEssa)sU ELOS “ope; omno e 0861 ºp inIed
jmê, op ooHoIsIy OU
IOd “2WotUjeDHO sepenHoS]Sou ops oquopnb op SISAPLIBA SB -orre opiemdod ejod “sareuijed SOp oquio
l é vanoÍgo euor
anb us epIparr eu 'OSdIOJsa 3159 PLIogro enb soumepe 30d OA 8 “vSLIRM EP EHOS EP SEIS] SED opieradnoo
NIS]A O FEL ered
-Hosap Opo3our um opryjooso 10,7] “oquiojnh ousuçua; op odura] “eU 9DUPI|E OP OJUDUITAOUI OSS "IQUINZ [BLIO Ep
9pepistsAmun é 2 “emno e ogseonpa
ot 9Ppeprmm eum Jcõem nojuo) opruso op o50gsa 18H (seoSeIy op [EI2pos
9 ODUQISIH OTUQUIENEA
OLIPISTUTIA OP 02819 TeUODEN ODNSBIV RIUNDI OJS9U OJN9UI
SFEUE SSQÓEIOpISUO)) OP O5IAIOS 0) SIBIDIJO SS05MIBSUI UIOO a2s-W
“096T 9P EPED9P BU
“TAOUI OP SogdEZIUPSIO S SEpepnto opuenb
IOUI OO
“qUNZ ap serto) seu ojoford op opónaaxa E Iejode E EpRIITIQ nso9JU022 PjOQUIOjND BIUgIasãOS ESS9p ORISU
“By ENUDUOS 9 “OJoJISeIM ODLIQISTUY 2 jemimo orugunned op so] “PIJISBIg-OJFV NO EIS9N EDUZDSHOS)
eprunsu! BIep 2 014
“IOSUI 3 So05epuny sojunxo ure1oy onb mo Texopos OUIDAOS) o ep PIC] OO) JEUONDEU ODIAP OLPPUS|EO OR
LIOJEA JOTEUI 9SSEO
EIN 9P sa05IM0sUI SE ENOD JOJO ogiensimrimpe ep apes -9AOU OP 0Z O “ofoH "BIBaU BÍUPISN EP OBÍEZ
E APR ep “opni
“SE OE NDAJASIGOS SaIEUIjeG [ermyno oBÍepEnH v fenomoW op -sng anb opsop “oquojmb pros “og)eDosse
ap JOLISJXa & IOLISITI 2P
osedso op omuynsn o pIPd sagdejpIsui op oxojduroo o ouIoo urag -[emyno Bpuçasisal 9p SENLIOJ SE SEPOS 3 SIU9Pp
eáueiodsa
IMumZz jeHouIsg op ojafoid ou EISIADId PIloJISBIg-OJY EMO “os J9S E NOSSeg “Opepoios 1oW[aTtu EUR pied
op “olBau 040d 9p
9 PLIOISTH PP sSOpmsg à ORÍPZpuUaTIsuoM op olog O JESUIGE E EP -“Wo0s9p nas Op 9 OUEOLIFE OP oxraurensoduroo
sepepIsISAIIM “sejoosa
-“BUDS9Pp EINNASS euwn op oyuosap O noop IsÁsuISIN zeosO 092] OUITUQUIS J9S EP NOssed oquiojnÔ “BIPI 9
9P oIasur O UIBIPIUSUI
“mbie Q 'OH9[ISBIq-OXP OjIauIAoU Op opmoligos “raro apepato “sopepnuo op s2A20E sUdAof 9p opeplodIr
“seme op euno notúio)
-0S BP S9J0]98 à SIJURISIJU] SOJNUI Op O Í(OpIcA ogro UI Oo] “Tre onb segõa[oId à sesmbsad “sojeqap
TIIDaIP[DSS SSTOTENI
seia SOPprsT op Ono OP JOJaHPp jeme) EeMOJA soay sogro BIDQISISOI OP SONSUIQUOS sojonbe a1gos sOJHS
TOJ ogl!saBns ENS
saIBuIjed [Emynj oviepmy ep ajuspisaid oxsmind o iqunz op eINDOIA E 9 EJoDL SIUSTUBIPIpOII SIS
FEHOUSA Op OlSuyjasuo> op “(iqunz euOuISN op squopiso sd “jeurodui ezoMy Ss 9Pe PISISBAPIDSO BUISI
EISTA OBIO 9]2 “BIMEA
IEMJE) OJUSUIMDSEN seIPqy (T661) JOpeuas o (28-€86T) [exop op “oxTeq BIed EUID Op BAIpPp EUIM OUIOS
opdBIynuap! EUM EU
-B] opeandap op ordem e eIed onbejsop mos “opesweope eí cam -pIDST ep opiroqy e enb op vantsod sie
pedeo ep juro uisIp
-oÍgo “eSLLPM EP eHAS ep sexo) sep opspiidoIdesop e à OuIaU “pm sopessedajur SOp EDU9ISISSI VP apep
quia] E onb EARI
-“BQUIO] O SEJA OUIOD NaDaJoqreisa Iquinz IELOUISIA O sopptos SO OPO] UI3 OJUSUIPSIONE WIM SP eSuri
fEUOPDEU EJBP ouroo
"SEUPDILISUIE-OMP 9 SEUEDLIFE sa0)8SaTop sesmo 9P UIa]e “soro “uotmSIy “OLem 9Pp ET 02 es-opuodentos epanb e
pmô 0p
“H3e sasjed sommo a PjoBue “EIgIcIA Op eIso9 “EuSSIN TeBauss BpBIOUISUI OD JOS E assessed “soJem]eg SOp oquo
IDAOU 9P OZ EIP O anb
UPS) 9P SEPEXTEQUIS SEP SSJE[MO so “souroLyy s0A0d so sopol, 2 IQUINZ SP OJBUISSESSE O OpUBIQUIST “OIqU
vardpnsed jenh
9P OLFUODN|OA9H OPpNIPA OP amuapissid q Perus ÁfoxoIs niraBns “EIBATIS EISAHO r190d O somno nua
e
OA
OPÓILISap DP SVIP SOU PPOPHIGISSOS jongoajoqu| 2 DJOquONN (QUI WPISON ZLD
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
e
TT

nio de heroicidade de um povo normalmente apresentado como


dócil e subserviente reforça o caráter hodierno da comunidade
negra que se volta para uma atitude crítica com relação às desi-
gualdade sociais a que está submetida.
SE Sm

Por tudo isso, o quilombo representa um instrumento vi- eee poi


E
chitiatty
à

goroso no processo de reconhecimento da identidade negra bra-


sileira para uma maior autoafirmação étnica e nacional. O fato
Por Que “Yiê Xoroquê”?
A Mulher Negra e a Resistência Cultural no Brasil”
de ter existido como brecha no sistema a que os negros estavam
moralmente submetidos projeta a esperança de que instituições
semelhantes possam atuar no presente ao lado de várias outras
manifestações de reforço à identidade cultural.

Bibliografia

BIRMINGHAM, David. A conquista Portuguesa de Ango-


Ja. Lisboa: A Regra do Jogo, 1973.
CARNEIRO, Edison. O Quilombo dos Palmares. Rio de O que é a Civilização Africana e Americana?
Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.
CONRAD, Robert. Os últimos anos da escravatura no s relações África-Brasil pelo oceano Atlântico foram
Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/MEC, 1975. constantes através dos últimos séculos da história. Só
FREITAS, Décio. Palmares: a guerra dos escravos. Porto houve pequena interrupção depois do final do tráfico.
Alegre: Editora Movimento, 1971. . Da África vieram muitas etnias para o Brasil. Sabe-se
NASCIMENTO, Abdias. O Quilombismo. Rio de Janei- que vieram do Golfo do Benin e que há bastante influência das
ro/Petrópolis: Editora Vozes, 1980.
NASCIMENTO, Maria Beatriz. “O quilombo do Jabaqua-
91. Notas sobre o filme “Vê Xoroguêé” para o Film Forum de Nairobi.
ra” m: Revista de Cultura Vozes. Petrópolis: Editora Vozes, Direção: Raquel Gerber. Produção: Angra Filmes LTDA. Anó: 1980-
1979. 1981. Procedência: Brasil/São Paulo-SP
RODRIGUES, José Honório. “A rebeldia negra e a abolii- Raquel Gerber — Socióloga, Cineasta, Fotógrafa e Pesquisadora da
ção”. In: História e Historiografia. Petrópolis: Vozes, 1970. História da Cultura — é membro da diretoria da APACI-SP (Associação
SERRANO Carlos. “História e antropologia na pesquisa Paulista de Cineastas) e do Conselho da Cinemateca Brasileira Pró-
do mesmo espaço: a Afro-América”. In: Áfiica — Revista do Cen- o Memória. Teve editado recentemente o livro “O Mito da Civilização
tro de Estudos Africanos da USP (nº 5), 1982. Atlântica: Glauber Rocha, Cinema, Política e a Estética do Incons-
ciente”— 1982 — Ed. Vozes/Secretaria do Estado da Cultura de São
Paulo. A autora coleta, desde 1977, documentação sobre as comunida-
des negras de São Paulo para os filmes “Viê Xoroqué” (média-metra-
gem — 1981) e “Or” (longa-metragem, atualmente em montagem).
Este texto de Beatriz Nascimento foi escrito em São Paulo, 30 de abril
- de 1985.

294
£L66 - 966
“19125 [anbey op maSensu-eBuo] “LO, SU O ered adiBiss op op
“BISH OP WI9SHO ap (oquiomê op eipeiBouolsmy e esmbsad) EXSTISBIQ :OJÂUIE 9 [IS2Ig OU EUPILIJE UISBLIO 9P ISQJNUi EP 021194
vIg9U EIOPENOISH] (PS6T) OjJaIDSEN ZINFOg op ojusumodag “Z6 -sm joded Q "eigou [guopIpêmn empre eu 2ÍUELD ep 9pepouopt
“a opepyeuossad ep ogóeuLio; eu jaded um TS] XoUpnt y
“BUBDLIFE
erpures eumo siposeçued sodej so ond 19zIp somopod sjusureu à BOIOQUIIS, E 9 sopessedolte SO UIOS opÍP[SI E O [ENISSOUE OXOL
-I9pour 9Jy “odnIs nas 1EHDOI ap sagórpuoo uios eMOAB| E ered " O 9 PXHO OQ 'suaBLo ap op5eladrnal pumu Tensoour erpyurey eu
IEA > “O4ABIDSA O 9 anbiod epuçiod ens eu INUIEp as red op em - Tento PIPd JPIIUICy PoIspA OBÍEJII E BpeUOpUPQE 9 OBJEDUII EU
b SEI “SOUISOD O 3 EZDINIPU P ANUS OPÍPI9I EUINE “TEOpNU ERIUIEY
"TV «domytos, op SOU sop sH2] Op eIOpoAoId ooo sasJede
BISA Toypnu e 'opedyostsjso oonrur joded ou ouisaIN “ RUM [UI SE Pp InJed e emo E opôrios eum 3p essed em
“mo E “aut ON sense soQÍPST] UIEUIN|UOD 98 , OYUTNTO, OP
é EI
T9[SeIq PINO ep ojusurezsodwmos o 222] ejdnp eum q BIUQUILISO BU SPXLIO SOPp S9WION SOPp OBÍEULIQUOD R IO)
«IiPOL,
“SJUBUHUIOP 2 OBU JSYmUI é ei SEDIMOQUIIS SSEUI
SouIOU UIOD
o gtonbonbei, “PIPGEA, OLOD
“IESEIG BUISIXO opepa(oos EU “squputuropaid joded um tea 1ouj “THoJssA ond
SPEA OES q “WBUISUS 2 WIRQULIPOP “UIENISUNTE
-NUI E OJoLoL, Op ESpUIOp OBÍPZINBSIO PP ONUOP às q "elod
(ester omusdso nºs) 947, 9 EXIO Nos L9EA, E ULO) opepmo
-oIha TeNFAPpIDO UIaSHO ap [esrermed opepobos eum sp ojos ou
O OJUPS OP S2BUI SE aqu OBÍEDIUI Ep edejo EN 'SOUEIP so SOU
OPUSAIA vaso “epeiDo! mbe “EUPILHE SPpeponos essa seia
"PL9SIN EP BLFIISLIO q "OUPILIP [PUODIPED ODLIQASTI 01X93 "2 OUEIPNOD OpENUI OU [RIUSLIEPUNJ 9 T9YMmul ED ppded o (Ex
* -HO[BA) OJYBS-2p-9FUL, Epeurego e oie jeuzeo ogul ouiõs ogSUn]
-“UOD OU ajuejIodur og] esoToUma ajord ep euoned “spepipuno
ens spsoq oJtajseIa-oxge on0od op apepauopi Ep OEoNNSUOS
-5] à 9PEPIDIS] PP I0J2301d OUTUTINSS EXLIO O 9 LINHO,
eu o [Seg ou euroLge jemapno enugasisor EU EIS9U I2YMU
'S820P senSE SEP OUIaI O — jeuis
ep cougIsty [joded o a8ms “0IX9JUDD 9]S9N “EstD E epUPULOS omb
-HO BPRIOUI ENS US CeinXo, SP Euro PUpuot eim op open
“foeOSquIApuMm (oJues op Ied) pxLOJEqea OP OUINISEUI GXHO
e q 'seupjd sep osn O 3 PopUPAV BIZ E Úroo OBdejaI e go0oAa
conhboJox UNSO, E ogIepIdoId Io 10G UM 9P JENII ORBTIDES
«PNDOJOX PIA, SIBUFSLIO SogIped op ogãeiusumDop EN
um UIOD BIDIN OS SU Q 'Jeulêlio Eperot ens — BIEUI E qJe “seu
“epeprunuioo E à ot O mus ogdejo1 Ep E O LBJUESSO, 2 , OSUEX,,
1: "OJ SEP ,JOL, « BJUESSO, PP otsurdxo
erpuguadxo eLIdor EU OUIOD “OUISpOUI [ISEIg OU UreLDaI ds 22
“LJV eu WIEISdajaqeiso CjIeg so anDb sagõejal op sopal sy “ op (SepeptuD .s9ex, Sep (Sopepuiaip) sexto sop opôeisagrueur
”. » uloS 'OBÍBDIUI Op Sejsa] ZE ,ponDoJox PIA, 9UJY O
“TEISTUI OLIPSSODSU Z5] 28 onD EPpIpoul “(JIsBIg) sTed op [eLasnpul-cuegim
E [DAQUI EINS? 9p soquaumapoqeiso ogs "oBSuoN op oursy 08
Onda IOTENI “OJNPA OBS 2p OpeIsa op jexdeo eu epezipoo] FISa
-Rue OU [eruoj0o opienSuad E eroUgISISaI EP PIDUgLIadxo E OINOD
“apeprintoo esa “Do, 2,959D, «QSENPQNIOA, sogIped ulos
TAX Ojn99S O aPpsop [IsEIg OU soJSou soLtdoJd sojod seperro Telu
“ OpeZHSNDUIS SEU “oSuoorynIa-ejoSuy ogóeu ep “ojueg uios
-GJOD OBÍEJSI BP Salar SogÍeziuBBIO OBS , SOguiopNA, SO
“HO op BSOISI21 9peprunuioo “ojquiopueo op OJioltos, UM 9 gnb
75 SN] E TejuoIsns -O10X 91A “SEI OP MS OU sSIZI UIBIRIIPEI 9S OJUBT SO
“onbiequis
J9UMI É ELJED 'SOADESN SO EIRd OJHo>UIHE OLIOS ISquies
SE “SOJIUI SOS SOR SEPUSIAJO OUIOS OS OBUI “SEISQIO]F SEUL 9p oJrod nes op UsBLo é sojmu opueulo) *seLISIUT SI05 BIBI
UIBABIOjOO SO 9 sOlIatrTe so ureapIRdald sopul.sy 'soI 2 SELIDN$ SE OPIA9P POLIJV Ep solIed se SEpOI OP UIBISIA SOABIS
“Ion sop oguajsns o oquiojmb ou sazsuypmul se eIqeo -se so “oxrejuo oN “eperey esonôniod enfur eu ojueg sensar
O
opómi3sap DP SDIp sou apoplgIssos pongoajazuj 3 PjoquiojInt) Cquam son ZLID2g
eo ——
aee

bola e Intelectual
Beatriz Nascimento, Quilom
homem
neg ra bra sil eir a são men ores. O papel mítíticoico do
obre
ho” que € O ancestral. arasileira hoje?
E sro é o do “paí vel nie
nã sociedade bra
na Como está o homem negro do, » na na civ zaça
y ão, ili c ão arde E: |
ão
ã do mun
e niro de outra concepção l er
envolve
envo
oquê” | é preciso deixar-se
A TiaRaAE
gli rá me]

imaàgennos fil
a tri ana, “Ylês, Xor
me, core corporalidade, ritmo, panos, quiro
Daquilo que se chama Cultura”
sons
l aa
qui ro tem po da cor branco total — energia tota
dae ntr
pura,, para encont a -
rar
, ue éÉ matéri sriaa pura
1”Í a * símbol1o de
e5” os orixá eir o, defensor, “Xangô
a l das águ: as
a . i iça, 05
“Os 8san ha” ei c das Matas € “Oxum”
1 a”, rei
Ir (Oun
eal eza oe just
just se —
é a própria maternidade real zando-
doces caio significado
TO.
A CRIAÇÃO E O NASCIMEN
3

1985.
são Paulo, 30 de abril de
o ensaio “Moisés e o Monoteísmo” [,| Freud arrisca-
se a adentrar num campo, se não estranho, sur-
preendente. No decorrer da leitura deste texto [,]
“ chama-nos
a atenção, de nosso prisma leigo, que um
psicanalista, concebido como interessado mormente na proble-
mática individual, enverede pela trajetória mítico-religiosa da
comunidade à qual pertencia. Faz-se curioso notar o fato de um
judeu ilustre tentar explicar, psicanaliticamente, a origem e a
função do mito do herói exatamente sob a égide ameaçadora do
nazismo. Surpreende-nos não só a temática, o mito do herói,
mas também o momento histórico no qual Freud se debruçou
sobre esta. Seria possível estabelecer uma conexão entre esses
dois elementos? É o que procuraremos investigar.
Interessa-nos apurar até que ponto o ensaio “Moisés e o
Monoteismo”, poderia ser considerado como produto da crítica
da identidade pessoal e cultural do autor. Como poderíamos
compreender seu interesse pela análise do herói civilizador
enquanto componente psicossocial de um grupo contestado e
perseguido? Por que Freud foi movido a investigar as raízes do
sentimento que liga um povo a seu herói?
93. Este ensaio foi publicado originalmente no Jornal IDE. Número 12.
Sociedade Brasileira de Psicanálise. São Paulo. Dezembro, 1986. Pági-
na 8.

299
298
TOC 006
“sazijos
«oltsue :
sD om L “to. O JEDUIPOS “SIQIST
É | ur omni “epure “souros “sojoquIIs 1ESI]IPOI91
5» 2 bioE ou en ur UMALV BIB EXMIND SP ese CU “2861 9p oumt EJIssoDou onh
2I8oN opepruriodiwajoo e opsezmojosag | TeHDo1 9 Temo sonIIBIISsdadE ouenbug :,SIQJ2 op
>D CUPUIOS EU pasa
3 ESBZI
OJUSUIPSEN ZEJRAM ap Ejey ep oxmouiZeig pá |: 40d OP ZIfoJUL, -Wotd pronag 2p ogÍEIp e sonreIquIST
PlIaJOId - SSIeLIEd 9P IQUNZ, MINeQ S NOUISSESSE
| o
3 oanrgod * anb [eruojoo fesou ep sejonbas sep sajuejussaIdas so — Iaqes E
“TES1 OJUS su no “1ozIp enQ) “107 onb o no oxBojospi * “ongpodsa 10195 um E epmquae Jos euopod orppuued ojod edno
n o odnus as So
oPé ajanbe eIPd srerr opurêuap as paso oxno IO) |: "sy -soagajoo SOJOQUIIS SILOS SP sopeauid o sienpIAIpur soxonp
um epeo op PISojoopr » uioo Jejrodur as mos * SOUE SIA TIS “sostA “onD
“. snos Us sOpesseo Ureros (L861-h96T) ep
“-pme e ojsodsrp pisa um epeo “ogug “oem ep ontem o ? temBy - sojonbep eumoe] € euSgous ad iseig op euçIsn eudoid
-U9J102Pp epeoop eu “eroSr oe “QuIaurouI assau : oprvq JOPeIDUOS UM SIN9UKOU BLIOS PIS O 9 ODITPQUES O ez
“UM 1e3s9 ajuauregsal 2 enb “someprur sou onb deZip nb -SOp
9 SOHPUI “SOIS
um s “essou pI od oi -ed [eos op “ogIuo “a8ms OHUI O “UISQUIP] SORT]
-SOU Op “OJUSTHAOIU OSSOU OM] j9U sono oo Jos pLSpod IQI9U
-ou :soppseu mbe so ammop opeyjprediui
“Mt “SHuessa. JoJUL OTMUI OBÍEINIS EU > “ogdemIs E3so q EP IOPEZI(AI IQJ9U OUI
a1so onb Opep “Blaise elsou eINno
— ÍOIINA, enugisIxo Ep opÍeaoId
-o2 opryjoosa ejanbep “EDLIQISE “euoLISL
:2ssTp ng E “aquaurazuanbasuoo
-uoS Pjod eprunsse epuguodu euionxo
wo ESOUI EU JEI Jonh 990, vw 7
SOSSOU ap oBdEMoUIA EP
“BPIA OP ELIQIST] ESSOU UIOD SIENSSIUR
“nipad st aja “opuigns “gpIISTISBIQ-OXFE
e — “odu) Op equI] BU “OpstisoidiOD E OPHIZNPUOD
na “ge “opidez “unsse “oHt op opIpad 10d esou IsaJIuPUI SEIMO
e a oo saoIBIPI Se OUIOD STJ “OBITS SIE SeIJNDO sogÍe
BIBd TUA Nº ““opuapod "-“aldumos piso ojuaS nb urepmosp OpejDSl ONU 21Ssp eIquios v “BIDISIU ejod > OBIIP
-UBIJUODIOS1 SOU aJduIos piso usos e 9 “sou poa semno mpene
EJSo sourrdauoo “so -em ejod sepednos1s1so PÍ se OBU anb sogÍBonI o E
PI PÍ “EjNoJos soue sou “em op JOpeZAi TqUunZ IQISY OP ogoBonIp
“pIgou emma eum
eia ep ot O
— sozeumgea op oquojmô O — eposuosd
ULS “ojuamejguog
“089 Op 0510J51 O Ionbal PDURISUI EUMIN
odenuoo “EIp E BIP OP
“ua 9189 'OB5BUTIEILOSIP 9P SEULIOS SE os-s O “ODBIF
O “opnusA
Em EP [Salu 08 “pred aquorpynsut 2 oUBUENUL
jaIdiojur oxajduros um
O UI) [2101 OgÍLBHUOPp! E 9Puo oApe
I24nouW OEU 9S "EAD
BE “SOABIOSS 9P opessed um e epesi edpno
roje op euros e efos
1sod uroSeurone eum “UIquiB] sourredu PAR
e3so “ZoAfel “oprpuequm E EpEIDOSSE sgusuretadId “OJtui OP
. E SOpe
P SSSioJUL SO
JA? [ eytozede onb
+ BIB9N — o asod usSeu E IeIOSLADI 3a 4598
epepru “o oxojduroo, um ap opônjosal E 9 “PITSUEUL zenbpenb
Pt eIod UISITOD) 9 OBÍBZIUO/OISSA SP BUBUISS e “edmo op oxajdimos
“10W ºP eUBIpnar 9sMpue E squaureSopeu
a1 O anb somueuido 0151
umu as-pIasPq BOLIQIST EINS EP axe8s
aonDb vy '0oU9ISW ONUL
-102Uy PLIDS f9JOUISI SOU 05! OUISTOQUILS
BINHO SP sewios sejdo
um JBIpermrajuy “BUISISIS OP S9QNEISI SE
SOSITDOA gooIed UIOD 9
-pul se onUop “noINDOId SIBUOTILINpO
sou-ourejunBiad
OpeUIUILISIP “SJUSIB onod um onbrod
opómugsap Dp SDIp SOU apppigissos 3 ONpajequ] 2 DJOQUONNO 'CQUBUWLISDN ZidDod
Tem

Intelectual Possibilidade nos dias da destruição


Beatriz Nascimento, Quilombola e
os-
sposta a acompanhar, estou disp
mente nesse papel e estou di
der, né! Com o Filó, com O pessoal
ta a contribuir no que eu pu movi-
essa nova eferverscência do
do Alaafin Aiyê, com toda de Tia Vel ha,
sou uma espécie
mento de oitenta. E dizer que nda s
s... descobrir umas Eme
a

que pode contar umas história


aro

Constitucionais racistas, né! Introdução ao Conceito de Quilombo”


dk

você falou... não é para


E quanto a questão do Pelé, que bem! O ne-
o Pelé, tudo
ninguém sair daqui simpatizan
do com
eu quero sempre estar pronta, até
gócio é o seguinte: O negócio eu quero lutar
vida, enquanto existir racismo,
o fim da minha e e
pus à isso com os meus vint
contra o racismo... eu me pro
quarenta e cinco anos € quero
cinco anos... agora, estou com smo... Noções Preliminares
O racismo... onde eu ver raci
cada vez mais lutar contra co-
ismo pelo cheio... quando eu
eul he digo assim, eu vejo rac O uilombo. é um conceito próprio dos africanos bantos
o
meço a dizer, não... vamos pensar, Va- a vem sendo modificado através dos séculos. O Con-
“Vamos parar por aí, vamos refletir,
dados”. so A pramarino de 1740 define quilombo como “fo-
mos pesquisar, Vainos levantar
esse dado sobre à Emenda em toda >aa! a sos de nesros fugidos que passem de cinco
Então, felizmente, eu tinha
de 46, que foi colocada em 67, a, êainda que não tenham r: anchos le-.
Constitucional, da Constituição
pra Pelé ser o negro segurado, mantados nem se achem pilões neles”, segundo consulta de Pe-
que foi uma coisa, justamente,
mplo para nenhum de nós. Gráfico ás edreira. Ora, de acordo com as estimativas demo-
para que ele não servisse de exe graf a ç judo mbo
dos Palmares, na Capitania de Pernambu.
, ombo Grande ou da Comarc a do Rioj das M rtes,
em Minas
Minas Ge
Gerais, , o núm ero de ha bitantes
i i
era de aproximada-
timada

os isto ag ndefinição a respeito do que seja um quilombo leva


s a ampliar seu conceito. Na tradiçã
é assim definido:jo: quilomb o era um estabelecimen si
iErenhoto einsitas
que segundoà Edison Carneir
arn, o, sofreu variações
iaçõ geográfimáfiacas de
tipos de sistemas econômicos (Palmares se estabeleceu na dna
]
95. Este capítulo faz i
R parte do livro O Negro e a j Cultur ano B 7 : Pe-
quena Enciciopédia a Cultura Brasileira de Helena Maria Beni Nos
; rge Siqueira 'e Helena Theodoro L i q
ro: UNIBRADE-Centro de Cultra/UNESCO, 1987. opes. fio de Janei-

302 303
vos
S0€
sesnbsod wy “zed 9p ces
OE SONEJUS SIEUI LIBIJSOUI 98 SSJOMP SONNO “OHISpoum euIa) -“I2ATUN SELIZA UIS SPPpEZIfeSI “sOJSSST
opunsTRSUL soIgou somo e
-SIS UM 9p NO “BJEIDOABIDS9 O OUIOD “COMNQIONS0TIOS ELkSISIS Um USUTOUI SO 2IGOS SOpepuny sopnisa op aus tuo sos =
ºP SEP SJSIaJIp PrHgsso op BJOqUIo “Olas Nos tis sopepfengisop -apaquisa sor “aJsBIa jenos uopio E anbe3e
p “SEDE Dor
Woywew oquomb o anb sp 032] O eied Iejuaje usos “opepiody pur “remonaed ajsop “opssaidoL 9p sojus Umoo
ONS E Da ENO
o opepjengr op sordpund sojpnhbep zny E emo) o urajasdiajur -noop 9p asipue el gaduros 122 “BLI O SIDI)
“Io UM Pp emgessoLIoIsmy e nb 9 ei po
sa1omPp so anb UIOD ze] ESSDUBI] OEÍN[0ASY PP SIPIpI SOp OPpIIA
ODISSPJ? OHISTBISgI O “Opgj UM a(] 'SoJOpeLroIsiy sop eotSojospi
SAR ogu anb sosponu sonno
OBSBELIOS E SOpemouia ogIso onb sordpuund siop E os-ÚIsauras splisour se Odura] Op OStO] O? UIBI
o O 9 ejosuy op E am o
“PANLIS9P ELIQISN] PP eiSOjOpoJou eumu sepraseg Tenio op5 DANO SEN "ogônpold op aJuapoor a
OP emu e sons
"EJUSUMDOP Ep InJed e soquiojmb sop sogieisidisjur sy -STULUIpE Sogl8a1 SPU OUIOD “aja o
Sosjpnt sossep SIC] ou
“RH OZ e sopered “eposend epuei3 E We soueumi
9P oquio|me) 0929 é S P
- -TIOD Jos OBU NO tapod sopIgny suUSUroy ODUI :OpZIT ºP EImsuUca seonsuopeIco sy “oonft], OU “010PpIS] pE
oquromô O 'SaH OF OP oquopnó o isoretuted
oJA SEP
2 zip nb op as-opuzumxoide “erdure os oquopnhb ep ojsouos am
b ureIpstxo “0183 3
O “UHssy “OBÍToLmsUL nO eIp/9oqal op sopeogiugis so 'eumgpe “Qugpr pInInHso PUMA UIOS soquroym
“QUEDLIV OPEIST 9PUBIS
Bono UISS “1EZHON apod OAPIDS3 O aIgoS PYUp Jomuas o onb epia o
S «ONSUEs, O nom nSuE onb
9P OJSIp O góstutosdor onb 10pEHOISI O sJusuIos 2 osongraoos 5 no £ OonUQUOd SNpOUL, Nos OTIO 1ssv ou op
oquoqnb o no
-ard 9 “songtipoy OLIQUOF 9sor opumas “opeonrusIs oumpn esq sorjopura ap [e>07 ouoo sms
uajsa frIas poi op
“OBÍTOLINSUI NO OEIT2QE UIOD OpIpUNgLOS aIduros 104] “eotSojospt “SIeEIOP SOR BDNSHSIIBIRO ESSO trop
US oTum oldurseo sua
à TeDos “eonITod opÍTos EUM euioa “fiseig ou 'oquiojmb O “sosOrpmsa SO “OJUEISNUM “SOJBUITEd
nIed oprisa op i a Do
EL oquiojmb ap ElOJ E1S9 à “opeIsg q os
IH( OMS ui
-0d opdEZIUPSIO Sp od assa WEmMssOd sajIoIN SEP OI Op EoIeuI -03 SoQ5EJoI STBL -sonêngod ouLIeuIe eo
aonb uIs orposida O
-09 BP 9 soJeUI[BM Pp soquiomb so 'osssjusred no eueoue uios e EISOE 9 ayutrod equing eueo
"BIB9N Ponqndou oprl pro
-BYUI] 9P sagõejar seu opraseg 'conprpOouIop onD oduia] ouIsauI stOd “esTe3 Opo3 9P 2 OBU OESIA JBÍ, SD
OPpEISH OR eos [ Si
OP ODWEIO SUoUIsjUauIma I1opod op euro; eum eosixs “elas uIoquiea “QUEDNITV JUNODIPEIL, opi na
sopra ae re
NO “OSIOASUBI) SEUI [PIUOZIIOWY UWISU TEONISA WIOH opdeziuesio Io) wrearuos onb seossad op no n1OaST
QUIO> OLPUONDIP OU 9 E 1
ap ody um urequo 2j op soquomb so “oupizas sojren) opungas ;
too o Esta ou osBau op ELOI
"oquisd 3 opumejed “equequo Tang eny op soquogmnb so “03 da roserentid oquojmb 5 otes a 50p
ouso) SUISUTEoO AUS
“HOUISEN ZI0P9g EHPIA J0d “SOpeJSTIA UreIC] EJOSUY UA -sTy E S19J21 38 onbIS o opm asenb
E -soDT [PqUI SOje xede SOFN TI e noasatd as oro Ê p ia
“BARRA STULUDE OESIAIP ap “oquiojmb ua p
OUIOS PJOSUY Uis PPpUre OPpIpuajua opros “PISDI10J] EU ONA LIoNS -PoTuBIS Sossa N9D910AB] Sj9 OULOS T 5
sousanbad son oBS
OUauIpdtIvos Jozip 12nb 3 omg owis) 2 oquomy “yrúSIs 9P OBPOSPA Ep sojdutoxo eng
Ao "opIUn BoytuBIs “epucjoH op Sn
PTP QHUSPp Oda] OmISSUI OP 9 UI9PIO PP PIO] -semnsord ap eso O pay
UIBIATASITOS SOJUSUIDOTaQEISS Sajso OHIO) :EINBISd e JOWpjou! ompINy SP OLPHODIC ouanbad oN o
punjãos “ms ON
OPpUrejnulioy celrsnS E Woo oJuejmosUo zed e pumTuLod “e -suT os apuo oomqnd Iegnj uioo ss-a
oquropinb “IS9PION DD sEouIp
“BIDOABIDSO [PILO(OD E OUIOD EAISSaIdaI OE] WISPIO BUT OP OJLoUE um no opsnyOD apueis eum à
D odrra) OP sent os as
-BESSODB O OPpUANOS “oUEWINY ojusumoojoqeisa um ouIo” “TEIDOS 9 03LIQISTU OLIPUISBUIL OUHO
A sESsSa euro Dn
“ejoquojmb zed -oUI OPUSIJOS UUBIOJ UISQUIB) SOQÍBLIR T
somo Sep OH
BP OJIIUOD O IPIOGE[S91 UIBOSNg sOsorpmso so Tiseig op sopepIs seno op o (PIOpBISUTUI BUOZ EU
a N ZLHDIS
porpojequy a pjOquiopnd) 'OQ4SUISD
opóm.isôp bp svIp sou apbpigssod
A e
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
[TT ———

pio das
procurarem nos quilombos a luta armada, que é o princí
desigualdades sociais baseadas nas diferenças étnicas, no Brasil
smo-leninismo, acirraram-se durante este século.
repúblicas socialistas simpatizantes do marxi É , o
em busca de o Compreendendo o quilombo em seu sentido históric
vendo-os hoje como “embriões” revolucionários
o quilombo den- dirífamos que ele se transformou num instrumento ideológic &
uma mudança social. Colocam enfaticamente
num sistema social alternativo. É importante, pois, que se e
tro desta perspectiva. : o
Tais autores são eminentemente historiadores que utili- duza sua trajetória para o entendimento de seu aparente desa.
de reação dos parecimento da História do Brasil a partir do final do século XIX
zam a metodologia clássica. É inegável o caráter
que domina toda a
negros quilombolas ao regime escravagista
Nesse sentido, a
atividade produtiva brasileira em três séculos.
vos procurem
liberdade é uma das motivações para que os escra
Origens do Quilombo na África
os quilombos. o
No entanto, houve outras formas de resistência, como
Mas a fuga foi co Os bantos criaram o termo quilombo, o que, entretanto
suicídio de escravos e o assassinato de senhores.
ia, tarefa desen- não significa que outras emias, como os nagôs, tenham tam.
mais difundida, assim como a compra da alforr
dades . m, a partir das inter-relações étnicas + Constituíd.
irmfe
volvida pelas relações mútuas das irman i
A historiografia especializada, entretanto, contenta-se estabelecimento. o esse tipo de
dos negros envol- Os quilombos bantos partem da região da Bacia do Con-
em marcar a capacidade de luta e resistência
s dos tempos. Daí a go, ainda antes de queda do Reino do Ndongo. No século XVII
vidos nos quilombos e em ampliá-la atravé
varia das mani- essa forma de sistema social de linhagem era muito difundida
generalização do termo quilombo para indicar
pela postura entre os Mburdo. Afirma David Birmigham:
festações de resistência, generalização permeada
ideológica dos pesquisadores.
Considerando, assim, como forma de resistência dos ne- O povo Mbundo, entre os quais os reis do Congo, captu-
instrumen- rava escravos, vivia ao longo da fronteira sul do Reino do
gros, cabe perguntar se O quilombo se constituiu em Congo, entre os rios Dande e Quanza, e, continuando,
social , com capac idade pa- pa-
to eficaz de enfrentamento da ordem rece ter sido, no século XVI, dos povos mais numerosos
não poderá requerer,
ra mudá-la a seu favor. Caso contrário, ele da região. Originariamente tinham estado organizados
para o seu entendimento, uma interpretação baseada nas teo- em clãs autônomos de caráter pastoril e agrícola. Segun-
rias vigentes de mudança social. Esta interpretação teórica é es- do a tradição oral, um caçador vindo do leste, chamado
tranha à sua realidade. Aliás, o próprio Edison Carneiro consi- Ngola, invadiu o território e impôs aos Mbundo um regi-
dera-os uma reação negativa de fuga e defesa em contrapartida me monárquico de governo. Assim, quando os portugue-
negros Ma-
aos movimentos sociais pela “tomada do poder dos ses chegaram a Angola encontraram um pequeno Reino
o).
Jês da Bahia” (caso típico do que chamam insurreiçã Mbundo em formação chamado Ndongo, cujo rei era
r in-
No século XX, a ausência de movimentos de caráte Ngola, nome que os portugueses derivaram de toda a re-
de vários movimentos de gião ao Sul do Congo, ou seja, Angola.
surrecional e de rebeldia, assim como
eiro tem um
protesto, fomentaram a ideia de que o negro brasil de Vê-se, portanto, como os bantos estavam num processo
entos de
espírito passivo e dócil. Aliás, a tradição dos movim ce proxenia, em virtude de orientação catastrófica dada ao co-
quem di-
protesto parece fundamentar esta assertiva. Há mesmo : tclo
desap arece u junto com os de escravos. Linhagens e emias eram atacadas pelo rei
ga que o negro consciente e “rebelde”
tanto , as o Congo e pelos reis portugueses.
quilombos, após a abolição do trabalho escravo. Entre
306 307
60€ 80€
STEISL) SEUIA 9P soquioImO "8
OIISUBF 9Pp OFY Op soquiomy) "Z “9UOU QUISSUI OP EU!
rgiod
odiBias Sp soquiopno “9 . gumu os-Iejxo E so-opuegugo “Texdeo ep sosong
SOUBqE SOp sedoiI À... 80 9 OBU0Q OP Tai O 1esmdxo opmasuoo BÍ UIEYUR 6951
SE I90S9I)P UIBISM 9nD “stou-pdeg sop soquiomô “s “9p eIjoA J0g “OBUOD OP OUI9I OU aS-TENFEUE E UIRIBÔSUL
sEuL
seoSETV/ODNqUreusad op soquopino “+ -02 “93827 OP SOpula “seZef S9IOSPALI EIM[B BISS J0t
(o
“tW2q PARUODUM] SOABIDSS Ap ODIPIOD O O9ST PIE
BqIBIPA EP soquiomy) "£
OBUBIEIA OP soquiomy 'z “UE
S TULIO OpUNSOS
BIUQZELIY EP soquiogmy "Tt
saTemyed sop oquiony O
SOJofISEIg soquiojmÊ)
-seSeÍ 9 sEjOSUE 9P OprunsuOS BIS soJeUl
sb 5 se :JEJD é somessed or os-BU[
Ted sop oquoymô o snb IHSJul as-apog "OPUNGIA SOP
fsesg op seruendeo se oumojuoo “soxrofispIq SOquIOIME) o EL “anb
oma -gulosse “JEDOS 9 oonMod ossazoId nas ap opÍImynsuo
o qos TITAX 9 IIAX sojno2s sop soquiomnb sotIpA so oagos EIDUZAIA EIS
eIgo “eryeg eu 'cí6] us noorqnd exaspad sgulo L O1pad
sarented SOp OQUIOJMO OU OH9I0U 9 OS] "RUBILITE
ey “sua
zznpoidor tueiapnd mbe onb sesioatp semma o semut
“Eqrereg eu “esteouIeo op oquo[ing) ou a adiBIas Ep olJur OU
-enSuy [Iseig O BIed sepLISJsuBI] UIBIOS otÍPZINOJOD
ap soqurojnb sou Iep Ora onb oDLIQISI INNUIHIOS ap osso 2 “opel
anb 2 OpimqgIN OBÍIpen eIsau EUIBLIO 95 oquopnb o onb
-o1d wnu 'seseueg ap opepmuguo eum NIAX 2 HAX somos en
sop soquiojmb sou 9a “ojduisxo “2 E EJIOD MO 9S-OPpUEAS] “EPEJUBAD] JOS E asaodiy
10d “ojampseN zinzag É
“TEDOS OJUSLTIA ] “seproJus 0gs 9ÍOU 9 seis pTed sefno sos1d BUM
EIRd nozieiouos as ogurognh om o opzei essa 10d serras J9ZP] OLIBSSSD0U 9S-BABUIO) WIOSSEaLJINIY SEItSIUStIOS se
nO Sog5LINSUI OP SOpemiei Opuss CHI op [eUag Oss9901 op onb vIeg “oDeqe) > urtopueue “exoLde) “EXOTpueur “ouUpuL
08:PoD Op opdeoqnd e se sejap soinu “omsjARIDSS Sp sojnoas WIRISXNOM “UIBIBIJOA SODUBIQ SO OPUENO “SELOS 3 SOPDIL
S91] SOP 1911099Pp 0H soquiojmb somnno sanow ojumanuy . 2p ESOM Wa SODURIQ SOR SENTES 3 SOAO TAPA E JEDI] as
eg
“sele “TIRIEXIOp SCANEOTUNUIOS STEUI OPUTIQIA sungly seupu
“EXP assejo EP opnisa or soureliodos sou opaiab o aah ap ssoÍeIue|d se 9 SeUIES SE TEUOpUBCE E BIOSN Iai O OP
se)
Op OF5PISIUI NO PIMoxOId OUIIS] O IESN SOUILIaJaIg “PONQUSE] -UBÍIOS OPUNGIA SO ENUOS 080] UIBIBITUIOA “(sej2AeIpD
-Bô3 EIUSXOIÁ AP OpeIsa tuo SOUP>LITE SOUISI uroo vitreyponos 199 SE>eJ OUIOD JOS OP UZBABI|LIG anb sopeje sooreq via ureres
T
-a[eqeIsa Jo4Issod 3 soieWTeg op ose> ou 9s “onrjanUA “sp sovrreig so anb Ssag5TpEI se UISZIQ “() epaEN
d [eo
sp eu ep senop 10d epeguqe ereq eum opydoI
“seSeÍ SO à soSUO -OT UM UIPIENUOsUM “BpUIdIN Op Ns 08 sJusuitenadso “sol
ET 9P erUgLodxo EuISam E “oprõIos orpxo ou “opm Es oSaoD “Iod S0AOU UIRARITDOIM SajuenISttoo sejsa “OpIMQN SOP
seTetieag sop oquiojmê op ssjowodiio) so “voLyy BU Opt909] sred Op SOUPUNÊLIO UIBIS SOABIOSS SOP ELOTEUI E anb ope
-UODB EARISa nb O U10D OpIG>r Op “iseIg ou ou os EM WEI SL
"OSSaDP ap SoxIOd sOAoU IeinDoId E TIRIPÍSUIOD SOpeTJO
-BULIOS SEJOSUE SO à seSe[ so onb ap ogssasdun e opuzp “eSuer sajuroijem 'sosejso Op ODEN O Oppajaquiso ZeA EUWN
EIOSN 2 UIGquie aurou o “sopungimb sop enSuy BN "OBSEUHIO]
-ureysiuna prá
UIo BASS PÍ “GO9T UI “saremfeg 2 6SST Pp urmep conqureusad
op emeydeo eu oquojmb ap sepnou sesrsunid se TIO HE SEU OpÍUOJE
E BLIET>
Bu SOU oyrod o1mMo
So
“RO a 9D op SodÍPIWIIHE
e
OPÍINASp DP SDIP Sou apppigissod pongosjoguj a pjoquionnd “OJUGUIOSDN ZLIDOM
e"

ectual Possibilidade nos dias du destruição


Beatriz Nascimento, Quilombola e Intel A

nte O zendeira forneceu de forma muito precisa os primeiros dados


9. Quilombos de São Paulo/Jabaquara dura para a pesquisa que de desenvolveu posteriormente.
processo abolicionista Constatou-se que os negros frequentavam a Igreja de
10. Quilombos de Mato Grosso Nossa Senhora do Rosário, assim como os brancos, mas os pri-
11. Quilombos da Cidade de Salvador: meiros só aumentavam suas práticas “cristãs” durante a trilogia
Quilombo do Buraco do Tatu de São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Santa Ifigênia.
Quilombo de Jacuípe e Jaguaribe Naquela ocasião, promoviam festas de rua “que só eles sabiam
e Cabula
Quilombo de Nossa Senhora dos Mares comandar”. O nome dado pelos negros à trilogia, na região, era
|
Quilombo do “Urubu” “Reinado”, que se constituiu de ternos, espécie de pequenos
Quilombo dos Campos de Cachoeira exércitos ou batalhões, cada um com seu comandante, sempre
12. Quilombos da Bahia: negro ou mestiço. Os ternos são quatro: da Congada, de Mo-
Quilombos de Nazaré e Santo Amaro çambique, de Catupé e do Vilão.
as
Quilombos de Jacobina e Rio das Cont
Tendo regressado ao Rio de Janeiro, Maria Beatriz Nas-
Quilombo de Orobó e Tupim e Andaraí cimento procurou a origem desse “folguedo” em Câmara Cascu-
do Camisão o o
Quilombo do, O que não adiantou muito. Retornou posteriormente à re-
Adjacências
Quilombos de Taperoá, Canavieiras é gião de Carmo da Mata e proceder a um levantamento mais de-
Quilombos de Maragoijipe e Muri tiba
talhado, segundo a concepção dos habitantes negros e brancos
Quilombo do Piolho
locais.
Quilombo de Pindaiutiba Pelos vários depoimentos inferiu que não se tratava de o
ém em algu- simples festejos folclóricos-religiosos. Havia naquela prática to-
Os quilombos citados foram arrotados tamb do um conteúdo histórico, pois os ternos tinham nomes e espe-
embora tenham existido outros que
mas obras historiográficas, cificidades significativas.
definir. Tomamos como
a obra Tomás Pedreira não conseguiu O primeiro referia-se a um patriarcado africano, que se
por Beatriz Nascimen O,
exemplo um ex-quilombo pesquisado centralizou em um poder político-administrativo, e que fora o
em Minas Gerais.
em levantamento feito sobre três deles Reino do Congo do século XIII ao XV. O segundo também se re-
feria ao passado africano e representava um matriarcado, ou,
OQ Quilombo de Carmo da Mata pelo menos, um grande poder político da mulher, ao mesmo
s Gerais, tor- tempo descentralizado, ocorrido na África no período citado. “A
O Quilombo de Carmo da Mata, em Mina diferença entre a Congada e o Moçambigue é que na Congada é
1979 , atrav és de pes-
nou-se conhecido sobretudo de 1976 até -se no o rei, no Moçambique são as rainhas, mas a diferença que os
imento. Loca liza
quisa da historiadora Maria Beatriz Nasc pretos dizem que tem é no toque do tambor e das caixas”. O ter-
14 km da região estuda
Município de Carmo da Mata, distante ceiro temo, da Catupé, é o índio brasileiro, e o quarto e último
católica do Ria- representa o português, o terno do Vilão.
da. Ao ser indagada sobre a pequena igreja Durante o mês de setembro procurou informações sobre
se tratava da isteja dé
cho, uma habitante do lugar revelou que dos a ocorrência de algum “Teinado” perto da fazenda. Disseram
escravos € depois
Nossa Senhora do Rosário, protetora dos am que haveria uma apresentação do “Reinado” em outro povoado,
he perg unta do
pretos em geral, dentro dessa religião. Foi-l cujo nome era Kilombo, considerado o mais autêntico das cir-
freq uent arem -aqu ela igreja. A fa-
bém se era comum os pretos cunvizinhanças.

310 311
ELE clE

OSsI UIO)) "OBIS91 BP, OpEUIoM, OP SOUIS] ap ssjustuoduios sopol “souojoo's sOIBou so WPABIEN|em sieui onb sop “ogISol
“BISSU opeprunuroo ejod esoISelmN eJues ep ossod PP OUIO] UIa BP SIND SIEUI SOIopuoze] SOp UM E ppuStIad peupue o onbrod
BAESsSdOId os anb 5 ojtole] EISIA eIrUILId É novoed anb ony E IPA E OJISUILIS] O nOsneo ejo onb “ogia UIeIeNpary Eures
-Uo2 0 “esmbsad ap oue um sode nojana1 oÍnsom aIJsq PIOQUSS ep meBeu eum op parem os enb noomuoa £
“soigou
Ted nos op -. somno op opeyuedurosr “JusmIoLIaIsod “epnsed opus eum uso)
USDUSITad , SODTEIG SOp Iof, ejod aonb seia) se Iepiat “OLIQNEa - Joqpnur eum sos nooo1ed 9Uj nb o ejoqureueo OHIS op semis
ts SOMUSTNDOP 9P S2ABNE “EIMSOIA “oDUPIq ONOpuSze; UM op sep euma nomuosua ogad o “VILA ejod opextsp ongues op onsei
[EINFEI OUT tos op 012] Ojad “1ozIp Jont) 'soIBau spenssour snas o opum$as “eplIoJ OPIS BIAPI 9puo Joqes nomoold ogad O à “op
10d sepipIad seixos sep ogÍeIadnool e pred BIUBIq EDU9puS “nued onnp O equo porá Y epeuessop sos eum imBas op stod
“SE ENS IezWeSo] OpeinooJd uia] “ossso01d assop o8uo] oy -9p eMmIS eum ulo e-noluoous sepusze) sep eum ap ogad uín
“sessooId op opIstoO IOd sonSonuso “sejOquiOjMb 3 soDWeIq SOJ/BJSPIOJ SNU9 EI] E sode epenuoo
ej2 é SBjOUISO9 SP OIOD Urag “soxSou sor ajuaouajod BI9PISUCO “US 10] “BURIUPES BIOQUSS “ESOISETIU RJUES PP UISS EU V
aj onb “uwageum ep epeipos e pJe “PIC Ep ouIeo op emboJxed “OBÍBZIABIDSDSI 9JE SDPESSEUI
ep siped op soSrre sozueiq sop sogmm ma eAriso anb COPEUISN, apsap a4n0H 'OBISaI1 EP sejuengey soxpouLid — sumd o sorte
Op CHI Opine ap exteo ep opóciadnoal E opsop [ea onb en so opuesmdxa 'sajualsixo Ie sep os-ureressode “opes o sjeo eIe
“OBIS9I EP sOsoIapod so enuOS em e o8Stip monb aj d "BISaU selIS) Sp EMDOIT E ToN-[2P OpOF OBS 9p SajuartdAoId sodurIq
9PePitntos ep Tapr op “ojuejrod “opieme eum mssod «OPEL sorrBIjseIos “ojroIrodap opungas “S89T Pp FIJOA J0d
“9H, Op ogydeo fedound o 10pozusq Topezsp| moq um ap os-e3 “speprunmoo É sonbeje oporiad oguo| Wo sopenstê
“BIL “SPeprunuos Pu sjuead|oi joded um tia OW assa -91 UIPIOS OBN “OJUjed Op opdenxo ep à “eurueg s ophoy xeo
“SOHOPHaZE] SOP SJU9puassop -eqe ap einosp] eusnbad ep “ESPo ep TELA “Opungia Ermo eum
“ODUBIQ UISTHOT OP OUT “05NSaur ooTum UM sispxo “Touji essop >p “sojueq UIPIS sOJZ9U SO “OpISoI E UIRARIIqey anb suma soip
SOISaU SOIL SOLIPA SO amy “sejoquioymb sop SJUSPpu9Dsap “PUII “UI SO OD SeqUINIOS SOIB9U SOPp CJEILIOD OP Saem os-nozmes
“BPI BUOG UIOS sSJUSUI PINI ISAIA E nossed QT4I 2p our op 3 -10 PIEIN PP OULIED 9p oquojmé O asnb Jaqes E OIsA soquaurrod
“TOA IOd “seDUPIq SemuIey stas Sep eum ap souy sop um -2p sop soaeny “feio esinbsad ejod sjuamesodIos nojdo
- “OBISOI BP soDUBIQ 'sopeymnisal suog E sop
SO 2 EJOIED BÍSIS] E UIOD OJNIUOD UM E so-nosa] 'sozSou sop -pSau> opus) cogu 'sjodQuIA 9 BIEIN EP OULIBO 9P ZIBEIA plo1B]
-03 LOPeloy, OP SoJHepúBUIOS SOPp OjuaurpovoIid assg eu opÍeItsumDop op odn ouIsarI assa NoImDOIA 'JHOzZUOH O]
“PI eIed eprojsuen -2g WS “SIBISS) SPUIN op oambiy ou ulou “orauer 9p org Op Jeu
esmbsad ep ojuamom O qe UeARyIS] & EpeNUoDNa IOJ WoSPUIL -oWeN oambiy ou Openuodta 103 EPEN 'SIBIOL) SEUTIA UM RTX 9
é 2puo onIs OU ejode> eAOU PUIN WeImNNSsUOD , Open, Op sal NIAX SOmD2Ps SOp soquioynh soe ajms1sjal BILIQISTT oBSBJUSUIN
-UBpUBUIOS so “epugnbasuoo Ui "oquo;mb or epErDIad ejues E -op eu oquiojmb assa IezIpeD0| noInDoId “justmIoLIoIsOd .
nb ojnogs a1sap soprou wa es-nozeisuor -epuequiy ap onus) "SIBNJP SEIp SOL Sogõfui
Um US IPONLSA teremooId opiel sie anb o ogiZal ep ejoq -“Hopal à sogõejusso Idar sens > oquiojnb O amUa EoLIDIsTA per
-UIO/mb um e uISBno ens mangue soiBau so “ODOXIRM O[NSO HS -munuos eum sp asslodry e nozignn “ganoodsio d EISaN “epi
QUEM Sp U8eUI CUM op 9S-BIPI] “OLIBSOY OP PIOUNAS ESSON sp ojuod O ÚIssso] oprutai o oqurojinb sp siemmyjno-oouçasty
BIS elpooIped elna “eongem eloiB] eu epezrmonvo o jererre o SON2UOD SO 9NnDb Ia OpnIsa LM JSAJOAUSS9Pp Island 9p oxtod E
BIRd epeAd 198 op some , ossed, um noqeoal moBeu y eropesmbsad E NOSSS IST OGLIO/D] OU) OP PIDUQI9JOI V
E
E E Ra e PS PP
OpÓInisap DP SDIPp Sou apopigissos Jongoajaguj à DJOQuIONNA 'OquaWIJISDA Z1902g
areneraeg paira
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
O
a

procuravam o domínio da renda das festas, das esmolas por ro-

A Art aa ma
que essas organizações possuem. Em levantamento feito em An-
marias à- Santa, além das tomadas das terras, objetivo final. gola, o fato ficou patente, procurando-se observar se o mesmo
Com a liderança do Sr. Neca (filho da anciã), foi cons- ocortia no Brasil.

rat
truída a capela do “Reinado” fora da jurisdição direta da paró- Constatar que no passado isso pode ter ocorrido é ter

a
amet ato Bate
quia de Carmo da Mata. A capela foi erguida com o dinheiro da certeza de que o quilombo possuiu importância como sistema
caixa do “Reinado” no alto do sítio Calhambola, próximo à gru- econômico. Essa constatação levaria à hipótese de que o qui-
ta onde encontraram a Santa. Para lá pretendiam levá-la e orga- tombo foi importunado no passado, por se encontrar em terras
nizar o “Reinado” autonomamente no ano de 1979. próprias para vários tipos de exploração econômica por parte do

rr
Como foi dito, o “Reinado” dramatizava uma situação de sistema dominante. Por essa razão teria sido atacado e destruí-

em at
conflito, mas com as informações constantes nos depoimentos, do em suas estruturas.
foi possível verificar que objetivava o próprio conflito. Em torno

a
Bibliografia

ea Dm rn
dele haveria uma demonstração das situações da comunidade
que fugiam à observação em épocas não próximas ao evento de-

renato cut
nominado “Reinado”. BIRMIGHAM, David, A conquista portuguesa de Angola.
Trad. de Altino Ribeiro e Sérgio Moutinho. Lisboa: Ed. A Regra
do Jogo/História, 1974.

qa re qt rea at od tmn tando eo


Conclusões
CARNEIRO, Edison. Ladinos e críoulos. Rio de Janeiro:
Busca-se aqui ampliar o. conceito quilombo, de modo Cia. Editora Nacional, 1944, .

anita
que extrapole suas características puramente históricas. Os lo- CARNEIRO, Edison. O Quilombo dos Palmares. Rio de
cais onde se formaram os quilombos possuem condições climáti- Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
cas e de relevo bastante similares. | CONRAD, Roberto. Os últimos anos de escravatura no
Questiona-se até que ponto as características citadas Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/MEC, 1975.
funcionam como polo de atração para o povoamento de deter- FREITAS, Décio. Palmares: a guerra dos escravos. Porto
minadas regiões, ou ainda se essas características provocam a Alegre: Ed. Movimento, 1971.
expansão da fronteira econômica, impedindo que existissem MOURA, Clóvis. Rebeliões de senzala. São Paulo: Zumbi
áreas vazias, capazes de acomodar pequenos proprietários, LTDA,1959. no
brancos ou negros. Pergunta-se ainda se não foi justamente essa PEDREIRA, Pedro Tomás. Os quilombos brasileiros. Sal-
característica, a de ser região de fronteira, que levou à des- vador: Despertamento de Cultura e MEC, 1973.
truição os quilombos do passado. Até que ponto ainda hoje esse . . RODRIGUES, José Honório. Revolução e contra-revolu-
problema se repete? São questões que remetem ao conceito de ção. Vol. If e IH. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976.
continuidade histórica. SALLES, Vicente. O negro no Pará. Rio de Janeiro:
É muito comum no Brasil, mas também em Angola, os - FGV/Universidade do Pará, 1971.
quilombos se localizarem em planaltos ou colinas, próximos a . SERRANO, Carlos. História e antropologia Dna pesquisa
rios os outros caminhos naturais, possuindo um clima bastante do mesmo espaço: Afro América. Edição África; Revista do Cen-
específico, onde o aparecimento do sol e de outros astros dá tro de Estudos Africanos de USP (5). 1982..
uma sensação de espaço aberto, oceânico e infinito.
Registra-se, por isso, a característica de fronteira, não só '
geográfica como também demográfica, econômica e cultural,
314 315
£IE 9TE
“URUI O UIOD Sag5e[o1 sENS Sp JEISo O 9 EPI ens Ep “Ob !ONISUMDOM 'Z :PISeA 'b IBXTED “OHISUI
IeJormasap o N I95EN ZI0E9M ENEIA opuna “OXSUPf 9P OM OP [RUOPEN oambiy ou
“ouTeqen nas ap ompord outoo oJstA 2 nb ousou
opnbep Inzed : “ 9s-EmUOdUS OpejeIBO|Nep [euSuo O 2861 Ohed 0gS 2P [euopemisui
& [PSI O TOS Ojo rfuos umu oppyoy oiSou o opuzoojos
“opxaly o EOSOH| — EIS9N PINI2ISTT 2P [U49d II O eIPd OjLOSa TOS OlesUa 2)8H "96
“dE BUM SHSTUOS 9SsaZIJ SS OLOD EJIOdUIOS EMIBISN]
V
“SogIsanh sens op sapepprpwadso se OJe7) OJMUL Opu o
“ orou o opuodsuen zeJ os opÍnpold eIsy 'sogõom no sELI
oeu “EÍUepnur op aquese um onb OP SBIrapueg sp Jopeáp
e um o) “ OUIdUI S2ANRIIEU sens seu sopednosIs1sa soros mroznpoJd
“FUI SP “soprundo sterrop sop sem] sep oxedajue ouro) oAIss 21 9 uagodos enb SIETyDO[SIUT JOd 'SJUBUTUIOP OMIUQUODO
anbzod “eSueape ESUNU “SESUP pRUI op eosng Ep o OgSeu - 2 jepos odnig op sed uiazey enb SOJUBIQ SaJOJNE tod
BIpur pp
opz| oe onb ajonbe 9 oiBsu o Iy "OBdPZILIApOU à OpSed iurnIa o EJOSS 3 BPESUSÁ 9 EIMIRISMY ESSO SOQÕSDXO SEDNOÁ UIOD “T
9P eosnq eudoId ens sp ojusunpodun omoo BHODUM N] sozoa
SE “O4PIDSO OUIOD PpUje OdnIS ojod JULIO] sepIZ
npoId op “UIS8PISJUI “OPOUI OSSOIB “OIE
“IS UIDIoy J0d onb “sexajiserq campo a 9Pepopos EM
ap sagárp -02 BUIIO) BP ONO OU UM JENYIS EIEÁ sopepunto stop eújoosa
“BIVUOS 9p awyuejrar vjod OPEJOMS I9P OHIS nos jenh ou oIgou QUILOS TEST SOUISIAPpOd EINJEISN] E OIBSu OB opóe(al ur
OP ODMLIQISIY Ofopour um e epejane Isa BINJEISN]
Essa "UIBUIQUIOD 25 SOQÍBASTU 3 soguemdse ope
'op5ensnay exojdiod ta BoOquiasop amb opepmi Seiy -I0] OI9UI “IH9BLO SPpUO “SIPIDOS S9Q5ETaI-ISJUI SEU SEI “TOPEZLI)]
Sun Opuensom nuejur oyramesroduoo um ep a8H0]
ED OBU e oJustra|S QS WIM UIOD ZPJ 9S OEU 9pepnvuop! e onh mino
onb “opelasexa BÚLIO] Ea) 9P OÚISQqUPEUIOL WMM SOUISIAND) “OBÍEU NO PIpuIeI “eruo eoisotr eum P SAP toLTo
OpuepIIsg “sep
“BzIfeopi siduros ogs “urajsixo opuenh “PpesIJfeUe eInje
io Eu sonpiaIrpui ap ozumífivoo op ouejd ou no [Enpraipur ejo elos ºPEp
OBÍIPEOD Essa E as-Jrengns ered tiSou em op semos
sy “USP! & WIeUIuLa op onb saioJ2] SOPELIPA à sogõdooe mg
“TeÍosap 98 op jaaissod ousou pias SELIA eu anb eprpst eu spepouspi ep ogisand e uroo
£
SEU BONSHiaJoereo EJso “OJLIOsS9Pp OIpenhb or aquosa "SESIO?
SP OP JPWOVP|D1 OP SISDHp segure “sedtoúeui senp op E
“BIS9 9889 E oJUaL ejdure seu eopijod eorurg uip ep BDUQLONDP -SIA 128 9pod RIIa[ISeIq EINTeISIH EU oIgat op usSeul
US OtIOS tiIsse *opmnssodsap no opeuriuLiostp um
ozuenbus “eis
-O[ODIsd Ens op seuIeS sestaAIp SEP “CIOPEPISA OpENU
I 2p ORSIA
ens ep Tustuowy oquenbus somwnm sreur sorasu e snos op esmeril
“PIT BSSSU BIej OEU OISau O onb IESUIDA q ogregrodem
O
(SET OBS ep sssoquier “OT IUOH ensop ra) feroos OESLUIDA
-SB 9Pp Ossa201d O 3 OTIsSpeI O anita songiquie siduros
sois
"DU “NULOS oymur opfursxo onno um epure PH feuorg
os
9PepiEo EUR op sreutõreur sepia no ogssyoId Pp
Sato
“UI 3 SUSUOY “Opungos oN oparszy oIsmTy ap cónroo : oc9PePDUSpI 9 EIMBISIF]
O ºP Ezofollsg ouoD sossturqns ajuasuremanxo sOAPI)
TETO
grs e
"S9 OES “OSED ONSUId ON “BIJO 9p oguI ap Og5ED0 ca
fe 5p ou
“T9POUI BLUSISIS OE SOpeuODE|SI ÚIefos “EjsinpDSo
BUISIsI S
O? EPUIR SOPpEUONEJa1 urelas “sowraaegns sreur staded so
SOPEp OES jo V “Olga à OourIq anus SJUBUTLIOP
OpSejar
E ou “eHQUrau: eu “ejusuedougd o “PADRHEU PronI
O
OpÓmZsap DP SPIp Sou appprgissod pongaajeguy 2 DjoguionnÊ) OjuausDN ZLUVog
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
Td

do. Isto é, fica o descendente de africano aprisionado a um só savam pelo intercurso entre sexos, através do produto humano
modelo cultural, reeducando-se por um fator de ficção. dessas relações. Ou seja, os filhos mestiços desencadeados pela
É uma psicologia literária canhestra, uma tipificação. Fo- ideologia do branqueamento da sociedade brasileira. Embran-
ra autores negros, principalmente Lima Barreto, que possibilita quecimento idealizado no conceito da morenice e democracia
em sua obra a análise de sua própria psicologia, dinamizada por racial.
se debruçar sobre o preconceito racial, como uma dinâmica e Não se compreenda que estejamos ao fazer nessa análise
não como uma característica fina, os grandes literatos que fa- um julgamento preconceituoso, nem mesmo algum preconceito.
zem uso do tema negro, não adentram a esse propósito. É como E inegável o papel da miscigenação nos países plyri-étnicos, in-
se o personagem, despossuído ou “doutor” não tivesse uma psi- clusive no Brasil. O importante é não vê-la de um ponto de vista
que que se atualiza, sendo somente possuidor de um pensa- eugenista. Não é ela o produto final positivo das relações inter-
mento mágico ou vítima passiva de um fatalismo. étnicas, pois essas transcendem essa perigosa amplificação, ao
O amor nessa literatura é sempre o inter-racial. Poucas depararem-se com os verdadeiros conflitos, sejam individuais,
obras se referem ao amor entre negro e negra, quando há trata- políticos ou sociais, os quais acarretam as desigualdades étnicas
se de um amor destituído de prazer, no qual o sentimento está em nosso país.
restrito às questões de sobrevivência material. Se há exceções O que há de positivo nessas trocas, talvez possamos
não cobrem a tendência a apresentar, não dois seres que se mesmo afirmar como positivo, é que se deve, por direito indivi-
desejam, mas que se juntam por contingências ligadas às pers- dual adquirido respeitar a liberdade embutida no desejo de um
pectivas de vida mais primárias: alimentar-se, trabalhar (se tra- ser humano por outro, a nosso ver o fundamento político de
balham, geralmente isto cabe à mulher), propiciar outros seres qualquer sóciedade organizada. Entretanto, só isso não deve ser.
sem ambição e morrem. apresentado como uma autoestima nacional, abrangendo um
Não me ocorre algum autor que se debruce sobre a his- todo social simplificadamente, quando, ao contrário da “boa
tória de uma família negra como tema literário. O afeto do ho- vontade” de alguns literários, o revestimento dessa ideologia
mem negro está sempre dirigido ao desejo sexual pela mulher encobre o peso do preconceito e da discriminação racial.
branca, ou a contrapartida, do homem branco pela mulher ne-
gra (escrava, babá, empregada), ou então a mestiça (nulata, 2. À outra vertente da abordagem, diz respeito à ausência
padrão de eroticidade), sem estruturas institucionais. Essa tôni- da escrita na vida da maioria dos negros no Brasil. Seja
ca literária, em ambos os casos, representa mais o desafio do pelo empobrecimento e analfabetismo em que a maior
outro do que o encontro pleno com o mesmo, o que sempre fic- parte da população brasileira esteja mergulhada, seja pela
demora em se estabelecer uma filosofia educacional em
ticiamente empreende uma relação de submissão.
que os elementos da cultura negra que remontam a ori-
Na verdade essa temática reflete uma ideologia-mito, no gem africana sejam negligenciados do contexto do ensino
mínimo fundada na fantasia de que o desejo intersexual tem no Brasil.
por objetivo outra fantasia-nacional que necessariamente desá-
gua em uma frustração não resolvida: a busca de romper o blo- Ora, é preciso, antes de mais nada, analisar o papel de
queio da ascensão social, o ingresso no mundo do outro, proibi- uma possível oralidade de origem africana, segundo alguns
do, que ocupa um lugar social, por seu turno proibido também. estudiosos ainda presentes no comportamento da comunicação
Essa ideologia, até recentemente, fundava-se na vontade dos negros. É preciso vê-la não somente como uma tradição a
nem sempre confessada, mas em alguns autores explícita, de ser preservada ou resgatada, mas também como uma variante
que a resolução das desigualdades raciais e de status social pas-
318 319
TcE OZE
“286L 2P [de 2P OT 'T6S oN od
UH E BpESsed opeprogi; :OPÍIOGV 2P SOUE LS), SOIS; EISIADY PU Pp
“U9SUT BIIOSO9T JOS E FÍSUIOS OBDIAEIOSA EP ELIOISTY JODUBIG OU OJotA,
ENSJEUI EP OPrenixo OJUSUIDSEN ZLNFSg 9P ojuyourodap op ouysall “26
"BSODUS]IS BLIOIEUI BJS2P
ZOA E IIS é póauroo pÍ orpenb a1sop onuap “mu 10d
*OLZEA OU [BD BIARTEÁ Pp opnuss olho “epeue eotspte EUA
Seul “EPEDISTIUI EINIRISJ] EUA 9 ORN “OARAJo? somo um sp omp
"Odura) omno UM sapAdIgos apuo sepnsdeo ouro “tez -oId “opezi[eiDos soSo] op ogJEIsogIuetm eum cpu à onprarpur mm
-I[eo1 ofoW 9Ie sopeprumuioo sejso onDb “epefmo» e omos semi
ap opônpold E OHIOS EISTA 7 "OUISIDLIOISTY LIM QUILOS OBU à oophi
wo epearassid entoDua as soquozmb so ered eSny ep o OBPIA wm ooo ojusuremd vista 2 opÍnpord ens 'ojieISnug
“BIOS9 EP BHOJSPY EJHSJOIA E EPpOJ SEUI TADUI PISIPA
“OÍIPpNUS PISIIOD BUIN “Utoquel “Opour 91132 ap o E2nçod BIA
“BIIISNS opeporos euni opderror “ugIne eu 10d opusoiims oLpISN orimuop o Teqisa erpugni
9p [em um “exang op odueo O eAPoIAuUZIs pl ejesiregui; sop E S910JISOdUIOD SOJNUL Wo 2 PPIpSur EJIDD PUMN 'EpIAjOAIO
Buejogue enSUI ep Oguro;py espped vudoid y
ga os opiemdod ep euorem e onb wo enSug ep ormyuop
""ousijeideo op sessjopur seiimIA ur so-opueul
oonodo esuodmod opour ola op “eau e qse oueipoonhb JeTe)
-TOJSUBI] “SOISOU SOABIOS9 SO ISpHOJop UIPAB|IO)
op vonIod e2nLio ep eucA paper efno Teor esmeton| essa
onb soa] SOp ajuaureyexo eua OBSEYJRUNT Eur
*"soUBaIM sonuo sou sejsiquies sop sagórsoduroo se urelas "3?
“Pqung 10g “soy 9p prod “PpeSUO) :OuI0D sEAnSjOS seops;HE
sogSrisagueur op sejonbe urelaos “sogtsoduio) ap seno] se [BIO
eINJRIDTF ESSOPp OjUSUIS]ÁUIOD OUIOS 12110291 SOUISPOd
“opepuO
-algo erdoId ens opuspiad 'oupurseur op emmxoId onb ua EP
peu eu “epnomoIduios 9s-noÚ1o] opepiBIO E “cyxarUOd 35S9N
"BJLDSS E OSS2P Op “omIejrod “OAyPINpo Ossa20I1d Op sonvILIE
a9P sojuapusosap so ueInpxo “opepuemom e ['9] “eueqm 0ES
-urdxo é “opeIsy Op EIOpezenuoo voniod e “squaprsose oded
OUT E EPESSEd 9peprogri v -B0 2p Ope>XouI OU SIeIDBI OBÍPUILALISIp 9 03199U0321d Op JOBIA
OBÍIOdY 2p sony un
Jus O “(JUPISTUI Ofed oB>Imnsqus) souerpimy sojuauapa]
-2QPISA LO SOAPIDSa3-Xo Sajonbep ojusurextasse OBU O “Ongs op
SEPB99P SEIIDUILI SEU EOJUIQUODS SSL E JONIOD SIRI S9107BJ TI?
operode “emIvABDST EP op5]ogy E sode elipsTaI E opõepndod
ep epemipo essa nose] onb oxrauippargodurs opungoid O "“TEDOS
2 JepeI opep[engisop e eoxeu enb ogipurmop op ossavoId OP
E O e
Opóm.HSop DP SDIP SOU apppuigissos JorDajAu] a Djog moOnn') “OJUAIISDN ZLODAg
Possibilidade nosTT
dias da destruição
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Ei —— Ta O

máântica do discurso informal, na recíproca, enfim, no com


tamento, o mito da inferioridade racial. , , Per
O Este senso comum provoca no íntimo do discriminado
intervenções dicotômicas oriundas da dinâmica preconceito ver-
sus recalque que norteiam atitudes individuais, gerando proibi-
ções de avanços por parte do indivíduo e do movimento social
Anotações 1” negro na sua trajetória para uma melhor integração na socieda-
de relativa à sua prosperidade e o exercício pleno de sua cida-
dania no todo nacional.
. Nas reflexões embutidas nos textos, assim como nas
questões levantadas pela assistência, predominam as tentativas
de reformulação daquele senso comum (tão arraigado) para
que os negros alcancem na sua política de vida (individual, fa-
miliar, profissional) instrumentos psicossociais que sirvam como
enfrentamentos a esta noção social criada pelo produto da dis-
criminação e exclusão.
Curso Cidadania do 8.0.8. Racismo, no primeiro se- Nessas surgiu-se o que seja um erhos negro confrontado
mestre de 1988, trouxe como produto a transcrição com um ethos branco. Procura-se isentar uma possível civiliza-
de textos dos diversos palestrantes. Uma gama de ção de características africanizantes dos conteúdos dos valores
assuntos abordaram desde experiências vividas a
o-
partir da discriminação, assunto que está no âmbito da microp | A dificuldade se encontra na impossibilidade de poder
olític as (políti cas da so-
lítica, até propostas de atuação macrop extrair uns dos outros, após séculos de interações e inter-rela-
ido pela
ciedade e do Estado) para reduzir o impacto produz ções culturais e econômicas, como também pela atual impossi-
Brasil.
violação dos direitos dos descendentes de africanos no bilidade de se definir linearmente o que seja negro ou o que se-
Chamo a atenção, em primeiro lugar, para anális es de
perce- ja branco. O efeito acumulado da discriminação racial é o prin-
caráter considerado mais subjetivo (o vivido). Neste caso, cipal motivo, que neste tipo de análise, aponta para q risco de
do de
be-se a formulação de denúncias dos palestrantes partin inversão dessas interpretações. Tende-se a cair num maniqueis-
racial. Os mesmo s coloca-
situações enfrentadas de preconceito mo no qual a fronteira do racial torna-se extremamente tênue, o
nais-vividas
ram-se corajosamente frente as repercussões emocio que é “negro” ou oriundo de África passa a ter uma
icamente interpreta-
diante dessas práticas que estão encorporadas histor ção positiva e o que é “branco”, europeu, recebe um tratamento
ao dia a dia. negativo.
Essas situações atuam nos indivíduos como marca de re- | Ainda no início da ideologia da negritude nos países
.
conhecimento do outro que poderemos chamar de estar negro, africanos recém-independentes, o Presidente Sedar Senghor
se-
impregnado do senso comum, que insiste em reproduzir, na apontava esse mecanismo psicológico do movimento como sen-
do uma primeira etapa do “movimento do vômito”, ou seja, da
l em manus-
98. Data do documento (anotações) 1988. O texto origina expulsão do colonizador do interior do colonizado, seja como
de Janeiro . Fundo Maria -
erito encontra-se no Arquivo Nacional do Rio militante, massa ou país em fase de descolonização. Resta saber
Beatriz Nascimento. Caixa: 12. Pasta: 2. Docume nto: 7.

322 323
SEE PTE
- MO i[LUODONO ISJPIBo 9P EPOSSASI OBssoJSe BUM SUILIO US AU
“Hop ouros :eJunsISd gun oqeo OSsE E SJUS1J “OpEUluILiosIp ONp
“IAIPUE OP OBÍroI ep 'ooneureip steur o “a ogórund sonbyenD ap
oT-PJUSsI 3Pp sazedeo “umbuoo osuas ou a 'omsI[puIS)ed oonoIsTY
ou soppaseg “SJUsm[enOSs soprpowyuos21 somsrueoour numbpe
seul “o-Opusjauioo EIs> onb oges ajo no “SUL [23 I2JoÚroo ap
Zede> eNpoDne os OBU alsm "(Olou oudoId o a4isnpout) ajad ap
apepreuo) Jonbjenb op sjo elos “ouspeI op aJuade op e eSUnt
'GIS9U OP E 9 OUISIDEI O EDUNBUOP 9 D9]U0D9I anD ZOA V
"OIS9U 0,.12703, IMD OBII “OIS9U O IIANO
1mb OE SpepaToos Essa 080] '0Jaxpu0D O emBisap snh ousreu
-Tayed oe EIIODdSI às anDb ostooid à ossI eIed stod “apusuipLuONpEN
“OD 28€ “I0A OBU 9SS9 “OPP| ONO 10d 'OBÍBZITAD Ens op sozejid
“SBpIduIOI 9198 Pp sonno sojad a Is 10d soormo sodnis sop um ap opepiepuszod ep ojos nos OE opdEI
SISAJUIS] SIBUOLDOUIS SEIO OJS9U UISWON OL ogdimr “oAMNp -odIOoUI Ep ezonbi ep “ejusursjuspsuos “ojea as Ionb os ÚIsu
-oid-ogu a (Ja “sIopojoy “sue “SENHOXS SEIMIND op Jopazey) “orS2U O 194 Jonb opgU anb opepopos eumu oponquio pise “es
Con PLISJquIS OA0d UM OmIOS sdomjnoD1 O 9s anb “TeuonpPeu op -nI ox2unad ur “gnbiod opiara oe ogÍejos mo “ejusuedpugd
-BprINUIOS EUIN Uia “Ozs7A tos OP “OpIANO Jos OgU “IEISO OE “ras “opeSouU 9 9 “2H0D0 OWSDBI 9p amo o onD was soIpueal
OFU SP OJeF O "eprutdas opepinsow ens e IEjINOA ap oje ou SOISUMUI SO SJUSUIBJAIIOD IPjOIB 9P “PpeRo el opeppomp el
as-znpoidal “sjusureanepnumo opesefonm “end “oPpDoquo) ogIp -enbe UICo os-IneIedop “gs O's eureIgoId op ovõeme e ojuenhd os
“Bd op otônade: Ep as-eJeIy “PDPIpow cursou eu eprjasdIogur Jos “IND OP sienJXo) sogdejoldioJuy se Ojue) “opeIsy Op seuou sejod
ASP OBU 9Sprune ens “eurmnastp anb “oISou op ose> 0N SIS TIPOIpLIN( OpIuIop OBU SOJPDUOD UIOD OPpUBY[EqEIL
"SUL 9P [Bol ELOS P OpEUTNILIOSTP OJad septros
SS089] SE ITESjR “SOJ2] SOp opdrIEIstOS ejod “souraIopod “aqua "(Cro 'sasopeasjo 'saqnio 'sI2)0U) SOMA
“TpsDoJd sasap soaemny “SOS emWRISOM OP Ejatey eum o “eu 3 SOJUSUIDSfogeISo op Ifes no Jemnuo op opólgiord “239 eDeI
-OpOmWS sjuamisajdiúis op oanafgo o xejimg “OESBUIUILIDSIP OP -JoJuy Ojuauresvo ou [epeI PUBIS|OJUI EU SOpeoseg sieossadia)
Buos ronbjenD o epoJ Iejonie “oualIo) a1sou “anb SOUISA “LL SESUSAES9D op sosto “oSs1dimo op oesnpxo o opôtasi Tentjod
“ESSDEI OITOPEPISA OP IIS ajo “os-pIem “ouIsour no so ogsSoISB “selSou SaJusosajope op odios ojad [ed op ozaxdsop O
"UBIT9P SEISBIUR) 9Pp Ooo gos Isa “opeofros1 um “opemsniy um emnByuo, as jenb ou “Tegiues ordniss op OSP) :S9j9 OES
“EMNEPEDO Pp à
2 nb a o189U o “osto aIsoN "opepiiqesuodsal e opõe Pp aja
“ed or 10dur “0)0sPIp steur 2 ond o “qe (exoyueduro» ens e no OUIS/2PI SP Sto uis ureagdur onb soprpus!e soseo ap OJUouIe]
ONSÍUIOP JeÍIAIOS Nas OE EP ond oquamejen woq “ojard osem -oue UM UIOD IRJUOD opod opeyn emesgoId o “8967 9P jeuolD
-sa opessedajue um op vineiquia e) BSDSGUIOP 9 IPITUIE] EUA
-“munsuoS elreo ep ogseBpnuioId e sody oustey "SOS ojed op
Odo1 B 9Psop OBA IOssalde ajuaBe Op seapeomg asn( sy -EzI[Bo! OPpUOS EJS> O)nIjOd-OD1pEmf opõe ap odIoJsa ta
"sEossad op "BJaDUOD 9pepiral Ep ojueIp a zeows sieul opõe eum exed
sodni8 souanbad no seossad senp amua [*-] ouejd ou essed aos OPEI[OA “UIIS 9182 “ojuomou opungas o gas jenb osg> OssoI OU
E E O
pr
opómsap Pp SDIp SOU Spppigissod JongIaJoju[ a DJOGUIOINÊ) 'OQUILIIISDN ZLIDAG
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual
Possibilidade nos dias da destruição

Eles o fizeram por medo também e talvez tenham chora-


do diante de todas as belezas além do mar Atlântico.
Oh paz infinita pode fazer elos de ligação numa história
fragmentada.
África e América e novamente Europa e África.
Angolas, Jagas e os povos de Benin de onde vem minha
Transcrição do Documentário Orf” mãe.
Eu sou Atlântica.
TD] TT —o——

Nesse momento da história dos grandes descobrimentos


é o momento de relação hemisférica, são dois hemisférios, Oci-
dental e Oriental que estão entrando em relação. A lei era, co-
mo está na carta de Pero Vaz de Caminha: .
“Escreva-me deste modo quando chegar a nova terra”.
“Senhor e não mais que outra cousa senão Senhor, se-
não Rei”.
A terra é circular... A África negra, a África desconhecida, ela mesma busca
se conhecer através do encontro com quem está chegando.
O so! é um disco! -
“ Que era o teencontro de áreas do Ocidente com o Orien-"
Onde está a dialética?
te, com a África, com a possibilidade de chegar às Índias.
No mar. Atlântico-mãe!
O QUE É A CIVILIZAÇÃO AFRICANA E AMERICANA? É
Como eles puderam partir daqui para um mundo desco-
| um grande transatlântico. Ela não é a civilização Atlântica, ela é
nhecido? Transatlântica.
Aí, eu chorei de amor pelos navegadores, meus pais.
no Foi transportado para América um tipo de vida que era
Chorei por tê-los odiados.
| africana. É a transmigração de uma cultura e de uma atitude no
Chorei por ainda ter mágoa desta História.
lment e diante da poesia do en- mundo, de um continente para outro, de África para América.
Mas chorei fundamenta
partid a para a con-
contro do Tejo com o Atlântico, da poesia da
Na medida em que havia um intercâmbio entre merca-
quista.
dores e africanos chefes, mercadores também, havia na relação
por Ra-
escravos-escravos um, também, intercâmbio. E essa troca está
99. Este texto é a transcrição do documentário Om, dirigido
de Beatriz Nascimento. O no nível do “soul”, da alma do homem escravo. Ele troca com o
quel Gerber e com roteiro, texto e narração outro a experiência do sofrer, a experiência da perda da ima-
deste documentário trata-se da história e cultura africana,
conteúdo
partir da gem, a experiência do exílio.
da história do quilombo e do movimento negro no Brasil a
históric as e acadêm icas da roteirist a,
história de vida e das pesquisas
1989. Duração : 91 minutos . Pais de A cultura negra que conseguiu se amalgamar com a cul-
Beatriz Nascimento. Lançamento:
Origem: Brasil. Gênero: Documentário. Distribuidor: Distribuição Pe tura índia é realmentea cultura brasileira, uma cultura muito
pria. Cromia: Colorido. Formato Original: 35mim. Formato de Exibi- forte. Mas se insiste em impor como cultura o próprio termo
ção: 3omm. cultura como sendo uma coisa nobre e europeia.

326 327
6CE ereto
-PUIPID P OPpUBIPISXO SJUSUIfESL UIBABISO SATO anb [0] oyuod asso
BIIOLHOME E IJUeL Bivd opo! odurs; o En] ejo onb o “erosur BLIM PIA
Nu * w 'oquod ousou OT SEPpO] UIRISp onD sogsIdA 2Pp SLI9S
PAROIUBIS equIel *ejogue eum “equies eum [0] ESUIZN “2H esopessedajur SOssou so UIeIOJ nb Tod coquioTint) enb 10d
“apurou pedpund eSuIzN 'ejoSuYy ap stol sop seiueipe sey - no “Jseig op euQIsIH ep opiaxedessp eyup amtetmejussede onb
“PA UIOo OJuSmow ajonbeu opussojose gIsa anb exIon$ e oyof :|* eIAPped eu) ceIAejed esso BonruBIS anb O coquomo eLIEyo
OUISSUI Op EquediuIooy ps o pied Iesgiu ms o ered referia ap a - og mbe anb J0g :essa atduos 2 ojred no onb wungiad vy
eroUBII ENS E 'sareueg op inred e 'oqueuedound “sorragseig
soquiojmD so ogs anb opnuos asso ÚIaquiey unsse 2 o! -ejoSuy “sore uIed 9P IquINZ opeurey? tIotronm EN 9p “epuo[ eum
9p INS O eled oBuopN op ouro op epegurares spueis BU 12 — ap “eIgojoopt eum op “viueIquio| eum op “O3HOISTU 032] EM SP
-UODUS &S OPA 9ND sEIUIS UIOD sogõejaI op 2 sagõednoo sp 'sooIr8 “oe too um sousul or ojad ap eosnq E sofouy “oquiogmb > anb
“DI 9P BPEUIO) 9p selõgIensa ap '“sedmp) op “sorolrons sopueis O coquojmb 9 uno :oquiojmb o uIoS OpeuODE(2I ossozo1d
9P ORPpIoxo op sogrdar oEs “ouIsInuPIIom O WO TAX ojno assau o1Sºu op munSIad E Ieg j0gS soja utanb ON 'SJI9bsuodUT
-ps Op Oponrad assou “ejoSuy op oquiopnnb ap soorõol sy osso OU 'sagÍBoTuNUroS sessou SEU “SAQ)EJaI SESSOU SEI “opejo3
"oquomb op oqusurejroduroo o 'oquomb op -uo> piso onb osod um 2 opejaSuoo> Iaqes UM q ONNUI SOUL
somo O Opo3 PIOSOTE P epo) equedunoP org OmEuIp ? anb -02 ogu ajuaB e onb ojusuntos um 9 “OpEIISJUS aquouguos um
op “sou exed “ou ossolu op epuUçov E
souloges “ouieg ÚmeBpio op > oquopnb o onh soutsdes epure EOLIy E Sapo
BIISPEpISA ? ooo voLIy E IPJUPASf squejsodur 9 “oBIUT
Teuopeu enguy eudoasd ens Ep [eotpes osso 10d “popy
BU “S anus UISDITUOD 9S à zIe1 Ejonhbep sosenp vIe>IUNINOS OS “[IS2Ig OU OppoquoDar toy BoUNU onb OISSU
SUSTO SO) “BOssod EIPd possad op OBÍBJoI E PAIN 2p opnuas ISTO OP POSsad Ep OJUSUISyUODII O 9 “aquoureysn( “ENICIp Sp
CO AIN Zrei e 2 anb 'oweg ensu ep zres eudord eu epejuem “UrIS O “EUIBIP OPUPIS O 9 OBU “EUIPIP apueiS um 198 op Iesody
-Bpuny Piso “Sera SBLIRA SE omuo EDLYV PU ssatoqeisa oqueg cNqaIad “emIRIp 9púBIS O 9 OEU EITUIQUODS ogisonD Y
o onb sogõejos op opor esso “oyreg op eInIxa) essa epermjme
OBSBU E “OJUBg 9 OUEONJ? SJuouIeyInso opÍeU ap opnuas um “apepopos Essop olred vIazey onb eprpot eu “PDIA
Pojaquiso al 'omedg oES ui3 opessed ojno2s op [eum ousa ereg ap SaGÍIpLoD SaJOWjatm sESSo UISI3J0UI anbrod EPpIA 9p ssgópuos
T
SIB19L) SEUHA US sjuoumedoutd “oraJuI [IseIg OP sooISa1 seu S310U[SUI 10d IEINF UIA9p ajustes ond sgOssad OPpUS29QUCIS
-NSje U9 siodap à [ISEIg OP aIsapioN op [eordox EIsa10] EU 399] 38 OUIOS “SUBUIOU OPUSDSUOD9I SS OLFOD EMmy 9p OpNUOS OU “ap
-aqeIsa ss opuenb ojuswour ajonbeu “ogIug “OLIQMISI] Op Eosnq -eprunttos op opnuas ou “ogóeSa18e op opnuos ou BHFUUINOP
ep erpuprodu ep “opsersra ep epirgrodum e rep “como 9Pp syretmeoIseq “EOLSQ]O9PI ajomIEoISEq OBÍPIOLOD BUM 197 E essed
apepoudoId 4 onb s29qu0oD921 ogu anb UI tHOM um ap oraunid oquopmb ouIa3 Op Op5ezynn E OjIamouUI 9SSati “ORIUA
oJe O q “eSny E 3 onb oDLIQIsIY OJe3 Op ams oqmopmb O o
“9204 RIPÁ 9 OAOd NAS O RIRd “ExIO) Ens pred "OBÍPISUTLU E EIEÁ 9 BpuUSZe] eIed BIGo 9P OBUI OUIOS “BARIO
SJ NLHI] O4AOU TIN OpUspusoidims Iejsa > “eBNy ul Iejso “Os JeRJSo -s9 BIO 9P OBUI OLIOD OBÍEU PP ONU2Pp opystXo sOnISSs9AN OS
um q “IazEp SOLWBA “OBIBAI E IaDatroo uros “oonquieuiad ap EI SOU OS OUIOD) "OABIDS9 O a1gOs OpNIso OUES]S O EIS BABDOUD au
-eyIdeo e eled Ins o vred ogõersru opuess eum opuopusaiduto seu onb esTOD E 9pepISISATU( BU Iongaw> opuenô “[eper umas
NAX ojnoss ou [rordon eIsSaTOT EU SUSUrou sassa aurem] -HO ENS E “OUISSUI 22 SOZA SE OPUBS9U PIOQUIO “apepopos eum
“BIS SP ap aquedonaed usuioy um OmIOS OlTISEIQ oIgau Op opóenIe
WEIUN sajo onb apepissaoou e eis onb a oquojmb op exran$ ep 2 194 SOUIRA SOU OBPIARIDSS op sojno9s omenb so sjueima
A
OpÓInisap Dp SDIp Sou SPDpPIGISSOS jongoaja3u] a DJOguiopnt) “OJUDUIDSPN ZLJDOM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
CO Cn | TT ——
do grupo dela, daí o quilombo... daí a relação dela com o qui-
lombo de Palmares.
Ela quer tanto salvar a integridade e a autonomia dela
que ela obriga seu povo a imitar as práticas do povo Imbangala.
Que é aquele povo antropófago.

É importante remeter que os holandeses vem para o Bra-


sil para continuar a tentativa, que estavam tendo naquele mo-
mento em Angola, de superar, como potência traficante, potên-
cia mercantil, superar os portugueses. E acontece em Angola
esse mesmo tipo de resistência típica do Quilombo dos Palma-
res, o tipo de guerra de movimento. Os Jagas, os Imbangala, os
Kassanges. O tipo de luta que estava se fazendo dentro de An-
gola para estabelecer justamente essa unidade mundial, que é o
processo mercantilista.
Há uma ordem econômica, uma ordem também social,
fundamentalmente uma ordem ideológica, uma nova ordem Esta foto é interessante porque ela é uma foto de cartei-
ideológica do mundo, o que significa que estava se fazendo uma ra de identidade é um momento muito estranho, porque a foto
nova divisão do mundo naquele momento. é para identidade; neste momento, eu não sei, pela foto, quem |
O sistema dominante daquela época de Palmares, está sou eu.
sofrendo uma crise, uma doença impressionante para o século
XVII. Portugal não tinha rei, nesse momento. Portugal está colo-
nizado pela Espanha; então o Brasil, que já era uma colônia
abandonada, começou com Palmares a ser pai de si mesmo.
Existem interstícios e existem frinchas, é o mercador
perseguido, é o jesuíta perseguido, o asceta, o homem que re-
nuncia. Porque a sociedade está proibindo de ser.

É preciso a imagem para recuperar a identidade. Tem-se


que tornar-se visível, porque o rosto de um é o reflexo do outro,
o corpo de um é o reflexo do outro e em cada um o reflexo de
todos os corpos.
A invisibilidade está na raiz da perda da identidade; en-
tão, eu conto a minha experiência, e não ver Zumbi, que para Esta outra foto, me remete a coisas assim dos meus mi-
mim era o herói. tos vividos, do cinema, da arte. Uma atriz de cinema Marly
Monroe ou minha irmã Cármen, que já.era normalista formada.
no Rio de Janeiro, com essa bata brança em crepe importada,
essa toga feita pela família.
330 331
EcE cer
“USNUI SIeUI OIMUI OD ZEN ejo “oduia) omisouI OP “sem “opuaJstp or o 28N] ap OJusurom um “ogssaidap apueis op Ooxtaurou UM
ºs BH9IEUI Ejonby “OoLIQoIsI odio> Um E 10P 2 EIe8sa1 OE OssT 104 'ogÍdaauoo Essap Izzedos sui 10] EPIA BYuIUI E epoJ, “oBqU
OPML “ELIQUISUI Ep uIaSenSu E 9 osuen op msSensu y -nuioo BIrmmId euro zy opuenhb soue 340U PYUD NY
“OADBS LIA SIBUI 9 OBU Soja
anb “oJsa8 ou Io20nbso ogu “OrDADED O Iasonbsa cogu afo oquenh
-U9 JM TeJsa pod oBpt OISOU UIQ O “OBÍtIISMI] 9p ojusm
“OW Um 9 01894 O EIed eôuPpp E onb ro) e » CBN 'oJIomnDOp
O ass07 odio) O as OLroN “opessed nas op a euIoISIy Ens ep “ep
IA ENS EP “squountoo Wun op sopnrajuos oeS BLIQUISUI
“IES
“UESJE UIeIU9) SOPUI SEYUFUI anD sISApIodnDaLr souIojuOS
no ““seirotuped
Sep SEIQUIOS SEP opnajuos edpj our onb oonpu-oquiomê
“URI
ap eismbuoo 2 ur enb seseguoly senno vosng onÊ)
““onbuguo sted um op edeur odron
“303
9P SUSUIOU sOp OLNSap ojod opruoIsude sjuadal op odior
“PI9J E IBSPO OP sagsnT sep oxawreduros oujsA
““08pue odio Nou ORUODUA OS LIOS 2 S9ZN] anua
CIJUSUIDSEN ZINeog 9P EU 'CIUSTIDSEN DSULIpO)
“IB Ojuammom
Nos O UIOD 2 UIÉLO ENS E UIOD “oInm] nos Loo “squosard nas
uroo “opessed nos mod ajajduioo as o euISam oBSIsUoo amone
2s pjsgea eum anb uioo 1ozey Weges snb sojonhe 10d qs o om
oxuenbia sosjaqeisa os a] “omUODUa OAOU UM “EPA PAOU EUM
E “EPA Ep olgeIsa OAOU UM PE OBÍPDIUI é POBIUSIS [HO
"SPUPOLITE SEIUgLiadxo ses
“S9P OIISTISEIQ OUESPATUIS O Z3AJe) > anb “ejoSuy o o so8?N sooô
“BU SELIFA PY onbiod 'QSeN-may O o onb eiBojoa3 emn “erxopos
JO BUM afoy eZpentso anb “ofoy eurmop onb may e “opuequar
esenh piso onb “Sar y :sogõeu som no sodniS som op mued
B ISEIq OU Zo] 2S euroL]e FINO Ep PrRUçAIAIgos V
“BosSng PUIN Siduas 107 WII eIed snad
"OBYUNUIO) EITOUITIÁ eU OJSLI) OD ONUODA UM Odura) ouIsouI
EE O e O
Opómagsap DP sDIp Sou opppinqissos jongooJagu] 3 DIOQUIONNT) 'OJUS WDSPA ZIIDIH
1
Possibilidade nos dias da destruição
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual E TTTTIIDT]T—

jo de não er e
Tv i-
O respeito do poder quando você é uma minoria, o res-
sidade a história, a memória, o desejo. O dese
- ral
* =.
*

uma coisa q peito do poder quando você é um negro. Porque a nossa visão
do a experiência do cativeiro. A escravidão é de poder é aquele que legitimou, aquele que marcou, que dei-
nas nossa s veias.
presente no corpo, no nosso sangue, xou alguma coisa para as gerações.
sendo e Então, esse sistema mítico-simbólico vem com uma força
Há umas coisas da cultura negra que não estão muito grande capaz até de historiar o que estava acontecendo
essa que é qe j
gistradas, como, por exemplo, uma frase como na África, em Angola, naquele momento,
devagar”. soe ma na bacia do Congo. O
poeira, de Angola, que diz: “Vou chegando que? Grandes migrações.
ne ão a
coisa que está muito no ETHOS da comunidade o
do rea a
comportamento físico, psicológico, diante , Na medida que recentemente para os africanos no Brasil
o comp
chega devagar, ele chega se dando. “Meu amig seus antepassados viviam em constante migração dentro do ter-
eu vou chegando devagar”. ritório dos Bantos, na África, talvez a fuga seja uma consegquên-
da qe cia cultural, uma consequência ancestral. :
A investigação sobre quilombo se baseia e parte Os Bantos já eram uma nação em África e sempre tenta-
domine é pos e
tão do poder. Por mais que um sistema social a j ram através da História do Brasil e da América estabelecer na-
e é isso au
que se crie aí dentro um sistema diferencial ções onde estavam, que sejam nações territoriais, que sejam mí-
no sentido a o
lombo é. Só que não é um estado de poder E ticas, que sejam pessoais.
nação.
gente entende, poder político, poder de domi O fundamento do quilembo é a terra, o homem se iden-
íduo é o poder, cada indivi-
- não tem essa perspectiva, cada indiv tificando profundamente com a terra. Então, o Ebó é dado para” |
á i o. a terra, todos os elementos vivos estão na terra e vão participar
uma nação mística, Angola... como temos
duo € os Eos daquele banquete que é o Ebó. Que dizer, vai ter ali vírus, vai
nação mística, G
ma Ed nd ê- a

uma nação mística, Ketu... como temos uma ter ali micróbios, vai ter ali células que vão se decompor e se
na Africas por
ge. É a recriação do estado primário desses povos transformar em outras células... e esse é O princípio do “axé”,
orixás, Os dl ep
isso a necessidade de saudar, de chamar os da força.
o Bôri. Então» Cabia às mulheres no quilombo, o sustento dos guer-
dos Otí, esse processo de fazer a cabeça, fazer reiros. Cabia as mães preparar o alimento e colocar nas flores-
mítico, religioso, culto qu a
toda a dinâmica deste nome nu tas, não só para oferendar aos seus mitos arcaicos, mas para
rompimem
Ori, se projeta a partir das diferenças, dos também alimentar o fugitivo. Cabia à mulher sustentar a fuga.
€ a cabeç a, q
outra unidade, na unidade primordial que
itombo é o núcleo. .
j
uma idade
núcleo, o de iniciação é um rito de passagem, de
um saber para ou
para outra, de um momento para outro, de
tem Povos, a
tro, de um poder atuar para outro. Agora
ssia nu e
povo negro, que é um povo que fez uma trave da
de orige m, a a
te, que estão muitos remetidos à terra
o em sa
povos como o povo judeu que está há muito temp
de provocar
terra e estão num plano muito mais abstrato
te para domínio do território. ' .

354 335
LEE 9€€
B Ê onb
Ie 1e8ny Wmn Pu seis “Tastod ne anb ojmbe opuos piso opU “018 -Iod sp opou sig uia] qques e anb estoo e q onQ jello
“DU OJSUIAOU O JENUNUOS eIpod anb esesuad no ouros BLIS) É SISIXO “EISIÁ BLID] E SISTXO SLI “JNZE RITO) E MIA ULIESHEO
onbica “BIIS], EP 109 E “EUIE| BP 109 y “oJoId uIouIOl oH ces
isopeuruiop soaod sop UM q
euoIsty P opunnsop 'sermjno opummisop “uriszi] srejuspno so -I8) E o29QUOD sie anb UIOUION O q “ELIS) E ope8r| mauro
cjuenh eopemneo og] ogU SEJA “PoNpUMEN euros eum sp peu enbiod “oISou ap 2 “sejy “ousou o1Zou op esjoo epnby
-ODBU OJofoid um 19pussaduia errenb spy “ojop omuop sopeisa: é outro oqes “sejpSuBO SO opus
-UI SOISSU à SOFPUI UIOD PÍ “ExtaTIseIq ORPU E Joze7 EUOND IquINz -a1ed 000 “EXE 021 9 cume na coqes “exe Jonbey UISse ru o
onb1og PLIQISIY ESSap mnnuUnOS O IDA 9a SOU Y “EIIOISIY -Jos PUMIU SpueiS DI ng “odroo nas ou enua BoJUISDO BISISIO
é IBZIO[EA agro sou ogu sou Y “apepreuoper ep osro ap soz 2po1 "BSLUPY EP BIAS PU INUAS 95 ESJooId 9004 ponbeH
"QUE990 Op OBÍESUOS E US]
-USTTOUI SOU 981n5 ajo “a2212de og 'OBÍPU E EIed d99juose 'soi8
-2U so RIPd 9s aosjuoDr opU onb eIIQuISUI 2 oquopnhb O wWreuroy o opuo 'coypiBoo8 ajonbe 9 oquiano
osedsa
“EIp CIMO “O JoquLTEuI UMA tHOS
nose> EULH EQUIO OxoyuLIZu 9 JeIqurey os0d naui O jed neu
mos nº “nojsa na apto
jnoiss na “NoJse no 9puo o opoy “z0pe894PU O TIO) SIRI OHNUI ODpUapE eus NA
S
“089 oudgqsd nes epunoa) “apep
“oquojnb nau o 2 osedsa nov “oquiognb nau o 7 RAIO) V “opeIS[uIsueI WatIOm OUHOD
-nuUspr Ens IgI2dnoal “EII9] EP OJusurDaquos Op s9AB HE gsod
onb
“OMNQUIELISA 9P EIUP] -noo1 7 WIDUIOI Op esajop E “OBIUM "PI GJRInoo equi aqua &
AIA onb
-1deo> E 9 onb ovyridoo8 amu ossop omusp 'ovõeu essop onusp opn3 à sejuejd se sepol 9 JEIABULO Y -odiBios LIS SOUIBJ
AIA SOU
“BLIDISIS ossop omusp odnoo na anb ojedso um e ojaup oyu eprA ep “opessed op opdeladnDal EUM q “orjua aye “SOUID
-24 nº “““Ojustoui sjonbeu OpuazIp pisa Seremjeg onb ossi 2 q 0
onb ajuoIquie O sem “fáopioo us mbe souIeIso so N 'OBS2ISTUI
aSSPISQ
"ogõeu eu odnoo no onb odedsa or onsnp oqusl no nb amrejuoo ep PoTureoIp opueis e 'apueis apepp e esed as “som
SU ELIQIST QUILO EP sajred sELIZA 9 SOLIFA “SOLIBA "BlIO] E “OLIQI sou gIo onDb sied snaii sop ogÍuaur é uloo odisios op somequ
-EI9] OB OJtaJIp soul sou “susuol SONIOS SON “EISOJoqurIs eum TA so a AOPIO) UI? SGT 9P OUE OU sonIrIso SOU mby
ºP [94J]U US OLIQUIIS) O seuI “O)ypISOSS OHQNIT O sjgur OBU
aJua8 e eIed zex oquiomb o afow onb 194 ajuenoder q
“om
“QULIS] NS O UIOS OBSBToI ENS odio] Op “Utepio E uoo opioDE
ap o OEIS91 E LOS OPpIODP Op ergojodn ein us) uIaqure “eu
“GIST CUM TIS) BIAB|Ed Esso “erioIsiy eum q oquiojmb o
*OUIOJ3
O LIGO 083 9 “log ot1 2 "Jonbey “opueijoa nossa ny jmoure op
“IENnpH enb apepp eIsg jnome oprenpy anb apepp visa
é» ogu “epeuejde piso anb 'oxrourepuny
Bp onb “sase8 somno so uroo eiqumba as onb estos eum 2 an)
“IopIad ap opa urs) ajuo8 e onb elis) epodo o “odo Top
E
OpóIsap DP SDIP SOU 2PPpiIgIssOS jonpajaju| a DIOquiopnd 'oquaunasoN zi9D24
aee .

Intelectual Possibilidade nos dias da destruição


Beatriz Nascimento, Quilombola e
ão do ne- Nanã é o Ylê, é o grito primordial... é o som primor-
que entrar aí a verdadeira luta pela libertaç
m
rio, do termo inclusive negro, dial... também é o instante primordial. E ela é a própria Terra,
gro q qe a libertação de si próp
onde o que é esse planeta que a gente vive, que não tem nada igual,
eito de negro.
r em mim, que
do a ustamente eu vejo o negro que pode esta nada parecido. Ela não encontrou ainda... a Terra ainda não
em qualquer outro, não é? encontrou um par.
de estar em você, que pode estar
pode
a todos iglt
iguais. O filho de Santo quando tem que entrar em algum recin-
Os Ds ens são
não quero fazer bandeira. Vo n
política do negro, não to de maior fundamento ou num terreiro, ele tem que estar des-
: ovimento não é negro, o movimento é calço... é para que a energia seja captada totalmente pelo cor-
quero ma ais. Porque 0 po... a energia dada pela Terra.
da história. é outro sis- Vai ser um drama para a gente neste século agora, que
Mas cada esforço é um esforço muito maior, bela, pura e vemos que a Terra está sendo ameaçada de deixar de existir. Há
r, até entra r em uma maneira
tema que vai pintanas ouira s gerações, até, pelo menos, 2030!
mil correntes que estão pensando, preocupadas... há muita gen-
rocemsso é não
da.. Oo Lome
Dandoara vida
Dondo acaba. É uma esfera, é a Terra. te cuidando, disso. É justamente esta dimensão do homem, a
bobo, como há gente que não com- dimensão de que você é um instrumento... você é um instru-
étnica, a guer-
está acontecendo
agora é guerra mento dentro do universo.
preende.
d
Uaq rra das minorias ou a guerra do oprimido.
ra racia”, homem não solucionou vários problemas ainda... mas É crescente, e à Terra foi dado um novo ciclo de vida,
para solucionar Os problemas, ele tem que matar. porque a lua existe... e eu queria falar da lua, mas eu não sou
Que todos vivam O grande conclave que é a Terra. O | silenciosa e plena de luz, como só ela sabe ser. Mulher de úm
planeta-mulher. Terra-mãe-atômica de um corpo celestial... ela
que oéé aànegro
Terra.
grande Éconselho a
só isso que tá dizendo para os outros... somos é um objeto que et sempre vi como um anúncio do que está por
o.
OS étnicos! vir, anúncio mudo, mas em lento movimento... como a dialética
4s. somos nós que sofremos, er um herói. que eu entendo do que está aí.
É preciso haver um mito,- é precis
o hav
E .
nos
ch preciso haver essa independência da morte, essa li- A história que eu idealizo é uma história continente, as-
sim como as paredes de um útero que somente curetando pode-
bertaçcãoQuando
da morte. .
você tem que saber as falhas do mito, porque só, se destruir o conteúdo. o
im você cresce, quando destrói os seus mitos, quando você
descobre que eles são iguais a você... é esse que é um estado re- Para ti comandante das armas de Palmares,
es Filho, irmão, pai de uma nação.
volucionário! O que nos deste?
Uma lenda, uma história ou um destino?
Oh Rei de Angola Jaga!
Aye bode Último guerreiro Palmar.
A guerra trouxe & mãe.
Eu te vi Zumbi.
ilha de Xangô que chegou com a guerra. Nos passos e nas migrações diversas dos teus descenden-
tes.
Mas não tema a batalha, pois a mãe perdeu o medo.
Te vi adolescente sem cabeça e sem rosto nos livros de
Roguemos 208 Orixás para que a alegria se expanda no
história.
mundo. .
Eu te vejo mulher em busca do meu eu.
338 339
Tr ore
“9 EUIBPA '6861 9P -
OIQUIDAON/OIGNINO/0IQUIDOS “ZT 0N OPEL] OIBON Ojo Op
[BUOIDEN JELIOS — JeuIOS ANHA OU 9JUSUITeUISHIO Opeorqnd o8BIv 'OOT
“OZ 9P epropp EP cIBaN OJUSTADH OP S2ABnE [ELOI
“EU 9PePRUSpI EP OBÍBLIDSI BUM apo 9 LH) Sp ossavold O
“nos ng enbiod “nos ng tand) “JIseig
ou nos ny “BXtIJy PU nos ny "nos Ng op suaBno se g4e nos ng op
ILJPÁ P PLIQISIH PSS9 IDADIDSSAI E LERICÍGLIOD UILISADIOSO SEJSTA
“SE 9 SIBUIO[ Ut OSnIE OP “PO! Ep S2AenE “EJpOSA Ep SQABHHE
amb seossad sertawitid sep eum ops 1a) 10d ouymêSio Joreur o ou
“1 nº onb op oBTy "OZ 9P EpEo9p ep oIS9N ouro
OU IEP E Olds nb “iseig O Opo? mo seossad seynur op
ojunfuoo osiogsa um 3 apepISA eU so onbiog “epequor
opóeLIo euIn ap “ego eum ep ajred qa uiond op euBape E 4
CJOPEATES/NINIA — BATIS PP “O SEJEUOT) jzineag nojea
“PHOIS ESSOU EP à OIS9N OjUSLmoJA Sp TJO 2Pp sefey
“TOPEATeS US “ZLN9g NIANO NNHN OQ TYNHOL O “oxIaur
“WSEN ZInE9g] BIOpELOISTIY Ep SOJX9] SO à OgáBIIEH E UI]
RHO “JqID [UDEH PISPSUD ep JO Sur O “ropeares
us *SJUSUIBUOpEU OpPÔUe] LO] OlqLIMAS ap OZ EIP ON
“HA ap PY onb oduwia] Op pótersdso EqUIuI EU OIadss 3) ny
Estepe
*“IEUIT2d OUICO 9pISA OBUI 9P EMIFEd eluILI EN
"OBÍBIOD NaUI OT OUUSI 33 NA
noduror ogu epure anb zn/ UO
jLIBSU PJaJIso YO OPUBSEA ISIDA 9],
A
OpÍmIsàp DP Sp SOU apopIgIssOS IDoNjpaJazu] à DIOQUIONNO) 'OQUIUIDSDN ZLIJDIH
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
TE
[[T—————
E
Então, toda esta dança faz parte de um movimento ex- Mesmo que fossem fragmentadas em alguns momentos,
tremamente rigoroso que nós criamos em 70. E me dá real- as nações guardavam seus nomes e reproduziam isso em
mente alegria, alegria do poder. De finalmente estarmos no po- formas mitológicas e simbólicas. E Orzíé a palavra mais
oculta porque é o homem, sou Eu.
der. Porque Orf é justamente a sua descoberta de que você é po-
der. Neste sentido é uma alegria muito grande. Um momento
Eu quero ver Salvador com os olhos de Orí porque Ori é
de júbilo. E estar aqui, na origem. Salvador, na origem do Bra-
esta dimensão do humano. É quando o homem vence uma gran-
sil. Porque Orí na verdade é a História do Brasil contada por
de etapa de força. 10, 11 anos de trabalho, eu e Rachel. E todos
quem é brasileira, sempre foi brasileira, gosta do Brasil. E que
nós ao mesmo tempo. Com perdas e ganhos. Com incompreen-
fragmentou esta nacionalidade desde muito cedo. O processo de
sões e amor. Nós trabalhamos nesses 11 anos no mesmo ritmo
Orté de uma recriação da identidade nacional através do Mo-
do Movimento. Com amor, amor, até chegarmos aonde estamos
vimento Negro da década de 70. Nós, na década de 70, éramos
hoje. Na verdade, eu acho que Oríé aquele iniciado. O Movi-
mudos. E os outros eram surdos a nós. A partir de 70, começa-
mento iniciado que passou por todas as suas etapas dei iniciação
mos a falar logicamente. F esta lógica estava embutida no pro-
e reiniciação. E agora sugere ao país um ressurgimento. É um
cesso da própria História do Brasil,
ressurgimento porque a concepção Orí dentro da História do
E de repente este Movimento Negro se derrama por toda Movimento Negro, dentro da História do Brasil, é sair da re-
a nação que estava bloqueada na própria fala, no Jogus, pressão. Sair da Senzala e ir pro Quilombo. Isso individualmen-
na própria lógica. te. Mas pergunto: como o homem individualmente pode sobre-
viver sozinho numa floresta. Então, como se formou este grupo
Era necessário a lógica,a fala do homem, pois estáva- que foi Palmares, por exemplo. Formou-se no sentido da con-
mos, altamente reprimidos pelo arbítrio. Não é à toa que 1974 cepção que o africano já tinha de nação. O africano vem com as
marca O nascimento do Movimento Negro e, do meu ponto de suas nações. Mesmo que fossem fragmentadas em alguns mo-
vista, a busca do Eu sou. Na verdade, eu sabia quem era. Eu sa- mentos, as nações guardavam seus nomes e reproduziam isso
bia que o Eu sou estava inteiro. Mas desagregado numa vivência em formas mitológicas e simbólicas. E Oríé a palavra mais ocul-
de mundo extremamente repressiva. Daí a possibilidade de sair ta porque é o homem, sou EU. Porque é o indivíduo, a iden-
disso foi a reflexão, voltar pra dentro. Tirar de dentro a potên- tidade. A identidade individual, coletiva, política, histórica. Ozí
cia para que houvesse possibilidade de abertura, de liberdade. E é o novo nome da História do Brasil, Orí talvez seja o novo no-
esta abertura é a abertura da nacionalidade brasileira. Um am- me do Brasil. Este nome criado por nós, a grande massa de opri-
plo leque que o Movimento Negro desperta de questões. Nós do
midos, reprimidos. Reprimidos antes, depois oprimidos, tortura-
Movimento Negro, da década de 70, foi dele que partiu o Mo- dos. Transgressores. Aí nós estávamos órfãos. Então, organiza-
vimento Feminista através de um artigo assinado por mim na mos este Movimento durante esses 15 anos e Orí passa a acom-
Última Hora sobre “A Mulher Negra e o Mercado de Trabalho”,
panhar quando o Movimento procura o processo de institucio-
em 1976, no Rio de Janeiro. E de repente este Movimento Ne-
nalização. Os passos abertos da fala. Do português do Brasil pa-
gro se derrama por toda a nação que estava bloqueada na pró- ra buscar identidade nacional. Foi sempre assim que os negros
pria fala, no Jogus, na própria lógica. A fragmentação da nacio- fizeram a História do Brasil. Sempre reorganizaram a nação pa-
nalidade a partir do processo da revolução de 64, vamos dizer ra que as coisas possam caminhar para a liberdade, a escolha.
assim. Então, emudeceu-se a partir de 68 e nós nos preparamos
Para o livre arbítrio e não para o domínio do próprio arbítrio.
quase que sintonicamente, em todas as partes-do Brasil, e nos
organizamos, passo a passo, até hoje.
342 343
SvE tre
MN Tu
-, emBea '06/0!oUEf — 68/01QUiIaZAG "9T OIDU “TOL
gqnd oral,
UV -SHIP[B] EHOIRN [euor ou aqustmeutêio opeor
soloI1d sgu op
“(srepos sodni8 sop sopezImISjeqns Sreni so)
IEUE vraseSeg E
. oudosd omquar um 107 OPII 9P PUIPDE OJST PISR
OSSON *ODnP[BIPp OUISITEL
e ABSN [E9I O S2IQOS SIQX9]aI 9 OSTHISTP
ajety op pIsodoId P nomneur uonD 'OIZIN OJUSUIADIA O 103 O
'sorem om UIBIOJ S9/24
““ormyque O Iodulos soureprnb sopa
461
“ut sOossouU “//61 9 (SEISaU SOOSSNDSTPp SEP ororut Op OUB)
oxppuoo-eBsur dJSoU sepeoseg OEISA sepzonD
“ a0uM jeuopeu
“ -s3 SP UJOD 0189N OJISUIAOIA OP SEI9SUTNUI saQdBjaI SY
-(opeisg a sefosI
“sodn so sopo] op saQÍEDOSse) ME Er
“soppued ul PPEOUS
0139N OJISTITAOIA OP OBÍEZIfEUOD IST ed ojuaur
“9Pepo
“40UI Op opusdap sIEUI Z9A BPPo oginTos Y
ogisonD
-os eSsOU ap opa O OPpO3 ESSSABNE' [BEI
QUIZ 2X” — TANVIA
0189N OJISUITAOTA OP SJUBITRA 2 OONSPId BISDIV
“ser patrasatdas “sodnssard as onb seossod 2p
“usse onb
“9Pepiagl Ep epeuiolar ejod 'soutapusardurs emBi e OB o ojuougednss aquasaidos es ejo
id opnios
UIQ 08] ND EM EISap, MOM-MOL, O 9 SogÍejoi sessOn seu sep BIBA '2SPq E BIRd PDUQRSUOD p Jessed op 'oonp
bsa E o0Ô
-IonDsa sk IaDsJaJo somrapod anb o edejs pAou PRISON “opeziueS OU “PANIÍGO SICUI O BOSOJAIF SOLOLI 95S0F gpson
-10 PJ89 OJB2N OJUSUHAOW| O ursse 9 sou 10d SJuomeAnsnexo
SOpHnoSIp UreIos “oppur O > póueiD E fenxessomomw o “I9UT
“RU E OIBaU O :SPUOUTU op ajusurportauos SOPpEUIBI “sOpILE
-udo sop sagassnb sy asey ermo emunu SOUIESSSISUI SÍOH
“PPIA E esed elstpionhso ojusurejsoduios
ap OJduexs um Optra2a12]0 EDUPIOI-OBI WOOD SOUE Sosso SOUIRS
“S9ALNP à EONHOd EIM IgG EU NOJ0QUIasSIp Ossa20Id a1sou soul e e ee
O
“Saul sou Iod soureynn anb oyadsar opungoid O “(04od osso op
SEADBOLDOI 9 SESOFSaI SOQãeZIUPSIO Se) sIeImamo suaq snas sop
BNUgIsIsal EJod EIN] EU ESSOISUI OJUSAOUI O “9/6T UI “IOUIE ro ePUSto) E OPUEZITERIY
reruato
2 OBôMqLASIP “ogdeziueBIo “ojusuredniBe :oguiojmb OP EUIa[ O
Peq 'sou-opurunnyse 1os oe E “Iapod op esmbroo E eIPd sem
“TR souWeyún ogu onDb oyusp ap souerqes “oxregto ou “SON "OIP9
Op osinastp ojad osssooid o Jaduros soupjIaAsp onb 9 sorreiado
OUIOS EABUIO] sou [eNnjDajojur epronbso e “Query .
T
E
OA
OPÓNsap DP SbIp SOU SpppiIgIssod porgoajaqu] é DIOquIONNÃ) OQUIUIPSDA ZIND
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
(E E

Estavam presentes, além da Reitora da UCG, líderes co-


munitários, sacerdotes afro-brasileiros de Candomblé e Umban-
da, membros da Pastoral do Negro, estudantes e público em ge-
ral. Foram levantados principalmente temas relacionados à
identidade, à resistência e novas estratégias das religiões afro-
brasileiras frente às dificuldades atuais para o enfrentamento do
Acontecer Negro"? econômico e das campanhas caluniosas veiculadas pelos “temm-
plos eletrônicos”. Discutiram-se também assuntos gerais relacio-
nados aos problemas comunitários e do movimento.
No dia seguinte a agenda foi completada pelo ato públi-
co de denúncia contra a eventual expulsão dos habitantes de
um dos últimos ex-quilombos habitados da região centro-oeste,
o Calunga, pela construção de uma usina hidrelétrica. O Calun-
ga é uma comunidade de cinco mil negros com economia pró-
pria, que ali vivem há duzentos anos. Fica localizado nos vãos
da Serra Geral (Município de Monte Alegre de Goiás e Caval-
dia da consciência negra neste ano foi comemorado
cante).
de forma singular. Os eventos no território nacional
O ato público desdobrou-se pela tarde em atividades
limitaram-se a pequenas reuniões internas do Movi-
culturais na Associação de Moradores de Vila Emílio Póvoa, na
mento Negro. Isto deveu-se ao primeiro tumo das
periferia de Goiânia. E estes últimos também ameaçados de de-
içõ esidenciais.
salojamento de suas terras.
dei dade a grande homenagem a Zumbi dos Palmares
foram as eleições pelo voto direto após três décadas. Este acon-
Nota
tecimento nos diz respeito, não só por sermos brasileiros, mas
principalmente por terem sido nós os primeiros a lutarmos na
Em relação aos procedimentos para salvar o Calunga, os
década de 70 pelo direito à cidadania plena. Salve Zâmbi-ê, or- militantes do Movimento Negro Unificado pedem que sejam en-
ganizador da democracia palmariana! o
viadas cartas em solidariedade aos calunguenses para o Gover-
A seguir algumas notas sobre O evento da Consciência
nador do Estado de Goiás — Henrique Santillo — Palácio das Es-
Negra organizado pelo Movimento Negro Unificado de Goiânia
meraldas, Praça Ludovico Teixeira, Goiânia — GO.
e a UCG em Goiás: No dia 18 concentraram-se dois eventos. Pe-
Em Santos, São Paulo o Conselho da Comunidade Negra
la manha no Auditório de Arquitetura da UCG, palestra do Psi- programou de 13 a 20 de novembro último a Semana de Cul-
cólogo e jornalista pernambucano Severino Lepê, e pela tarde
tura Afro-Brasileira, constando de shows, debates, poesia da
exibição do documentário Orí de Raquel Gerber e Beatriz Nasci- vertente negra da Literatura e exposições. No Rio de Janeiro o
mento, com a presença da última, ambos seguidos de debates.
acontecimento principal deu-se na lavagem do monumento a
Zumbi, na Praça Onze, Foi, na verdade, um desagravo à parali-
sação da marcha de 11 de maio de 1988.
102. Texto publicado originalmente no Jornal Maioria Falante. Ano
TIL. Número 16. Dezembro/89 — Janeiro/90. Página 15.

346 347
66 sr
BIIPBPISA E EYUo sexseped sessop spme onb wsssagoo rod sojer 0661 2P
-eN| 2 sosoIpniso onb E tIgIEAd] EISS OUIOD sepugIooDduT oJIpoLiad ou SJueuI
onsuUeF “[Y 'OlIteT ap om “T oN “IT OUY “om
“Se1eumed op Jopezmes 107 OJUaUIpseN Zineag ele op oênIr 24H "EOT
-Teusuo opronqnd
O O TquinZ É as-Oputiojol [eSnIod op roy OP eppou eum op
? ON SSH ,OpEjaSeiy op sossou sor o ojdutoxo op oAtos snos
SOB onD “OJEA IEjNnGUIS Op OIS2N, “essa SOQÍLDISOP aS-9A SOPBS
-mbsad sjepIgo somatunDop sou sem “soprpueg op soprmnsuos “srensooue
«SOIS9U OP OmoDsPUfea, ou sato SOU 2 SOIqUIaLI SOS SNUD cosa red ou sepriode seuL
oquiomb op ogsusaIduioD Pp
soanen
npJuISuEn “OISoU Op ELIQISIY EP OJIsouOnaId O sour 10d “nm seiso “susSequI] 2 soprognenso sopejso SOULS tro
Tor o
“(SSTeUIfed SYUStUEPpejOU) sOxTopseIq supe 2 sODnI[Od “SIRDOS SEUIdISIS SNIS OPINHASTOS
o 0 oo
soquioymnb so ure1oy anb ou oque ovirpem esso as-2q9210d “sou pouJy BUM WIEIRNUODUS [BIUIPDO OCHUSO PEJy eu
a
-B] onb sajuos se moo “oSU09 Op erpeg eu esonêmiod eIsmbios op oBISa1 E ureIeSom sosongnuod so opueng) “BLIS
curar
ep 9 eJOStIy op PrEQasILy ep ogdrIuSUmM20p é oprered uioo sojoup> 10d openstunupe “eIsa1oT] EU OJSJISNS SP uau
01
“sred 1szip etionb “euejoSur erugisIsa1 Ep eLoIsSm] EP
UIS onb “ejoSuy ap UISA [euBno aUrot O entes
OsSSoHU 9 SejsIARIOSOo sOjn2ps so sopo! noquedurose onb eua OPEEILLISISP
"SOMEJgEU [FU OZ ajrowepeuixoIde UIBNSUNE Sor ut ed
“SIS SIS9p 9pnarjdure EItopepISA ep BJOS OpUep sou ogu “soxops
pour dessas
“BI Solossoidor no sasonSnjjod sojusumaop 10d EILIDS9p 9 anD outoD TISPI OP soquO|NA SO “OWIBJONA "SOAnIBN]
Sur P
“BLISNS PP odirs) Op opupjey soyusumoop sous Os “Te1a8 opom -sod onb ordeIrgeuy epol 2 isnbjenb ouioo oquojmb
os ;
UM Pp “SEIA “TELIOILIA) OJHSUIDOjoquiso ap OpeuIetp 103 nrpqure) -gementn oujssuop O “ObZT 9 BP “TISBIA OD
o F
mby seonsLrojpeIPo seIso u1Od OrDA Oqurojmb “TSEIg ON ep Somos SOp Ss4ENP OPBIBTpOUI OPUOS UIDA onsau
“also 9 [BNISPDO CONUS) BIJV EP saqueng a
"OBIB91 BISEA EISO E SUIOI O PARP ISpod nos a pjoS as
“UV 9P [Ns-OnUSo O opo) espjonuoo (e[eSwegm) ofuessey aja “sojueq soOuBOLIFE SOp oudoId ojso00> mn 9 oquo
O “SOmIOp snas uIo sgnBmiod osnrar o opurpador e1o opunad
“TOS BIO “EJOSUY OP SOLIQNTIS) SOSIrajxo TIS eIOToqeisa os onb
OMISHHAOTI asso sosangniiod sojod oprmo) oymur es
- "BUU OP Iopod OU os-LIEAP Sseq seueoLIje sopepor
“Os SE sIOd “AEE Oljatiang O anb um opeiges odedsa O opol
9 OANEDIUE SUIOU O “ojurjIOd “eia OUPOLIFE EIISISTS OUIOD OquIO|
nb O 'SODNPINI SOJEL op spaeme SeJsoT SE UIpIRIOdIONUI DS anb O
a
“SESTDAIP SUSSEUUI & Sema op soynpe suosol o SSJu32saJopE
WIBIS SOPUBUIOD SO) "(OITaIBaU Cone Op one ou “eSuIz “segurei corBUUETIY 9 SfoH “USO
UW9QUIBI BIABH) "OUIAIP 19)PIPO 9P [91 Um UIOS oprpimyptoo Jos
E opuegago “steuopdaoxo sapeprrenb ap urstiom um ela aJeyo O
sOquioTnA) SOp EMT Y
“eJeSuPquiy no/o seSeç op sJonIeonoUSS sopeurey meIO, “sol eis Fier
f
-“[LISNS OUISSUI OssI JOd 3 “eIOprÕeo ÚroSuIO op SO4A0d mo opeos
"Eq IBDOS ElTSIsIS UM EIS OpOjISd aJsou “oqurojmê) O urissy euI :
-sasIS UM OP aJIed eIZEJ OPNF 'CPEONISIDAIP aJmopIronxo PIS
BoLHY E Tenos opiezmegIo eum sp EISIA 9p ojuod oq
T
opóm.gsap Dp SbIP Sou aPDpIIGISSOS jongpajozu] 2 vjoquionnh 'QUUSUIOSPN ZLUDO]
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
E TT ———
,
«1
temente, administração. Dependendo do seu tamanho e importância eles
«ria dos homens negros no Brasil. Passou-se, recen belas da
das págin as mais foram mais ou mesmo atacados pelas forças governamentais e
Diae OIgaT o quilombo como uma
d por senhores de escravos.
nossa história.
De qualquer modo ele era um perigo à estabilidade do
sistema escravista, pois eles controlaram a melhor parte do bo-
o quilombo dos Palmares
tim brasileiro, saqueado pelos portugueses, que eram as ricas
terras para a agricultura e mineração. Quando não ocupavam
Estabelecido na capitania de Pernambuco, ainda na pri-
essas terras, o que era raro, os quilombos
metade do século XVI, abrangia os hoje estados de Per- i
i
podiam conviver com
meira o sistema dominante até certo ponto, sem serem ameaçados,
co, Alagoas e Sergipe. Migrando ora para o norte ou para !i
mas dependendo das variações econômicas cíclicas, até esses
nambu m comunicação com regiões circunvizinhas e territórios
l

|
que conviviam, também eram atacados nas justificativas as mais
9 su a a nordeste, inclusive tribos indígenas, no auge da re-
simila ré ortuguesa. Palmares ao mesmo tempo que mantinha diversas.
esforço de guerra, comerciava com fazendeiros das Geralmente esses pequenos quilombos, como os da ci-
pressão Ea
um €D) s, produzia bens agrícolas, armas de ferro, artefatos di- dade do Rio de Janeiro, se estabeleciam nas fraldas das serras
do Corcovado e Tijuca, no interior, na Raiz da Serra, Vassouras,
e em de se dedicarem à coleta e à caça.
Pati de Alferes, etc. Esses quilombos prestavam um certo serviço
versoss Este espaço dentro do sistema militar quilombola é cha-
aos moradores
mado paz quilombola. Neste momento O quilombo constituído da vizinhança (século XIX). Seus habitantes so-
breviviam consertando ou fabricando objetos de uso, eram la-
um com seu chefe ficava a cargo das mu-
d e m ocambos, cada
crianças e velhos não aptos para a guerra de movimento. toeiros, funileiros, artesãos de pequenos artefatos, etc. Viviam
da troca em espécie; nas fraldas dos morros criavam pequena
lheré rica a forma desses estabelecimentos suportarem guer-
É Dr STentas e extremamente destrutivas e por isso Palmares
lavoura de subsistência, sendo o excedente trocado com a vi-
zinhança, Os quilombos da cidade do Rio de Janeiro são hoje os
ras sea aos ataques dos colonizadores por 100 anos.
era única, no entanto, todos os chefes de morros de Dona Marta, Catumbi, Gamboa (Saúde), Salgueiro,
resisti A chefia não
a eram ao mesmo tempo chefes de quilombo. Deste modo, Santa Tereza (alguns paredões), nas matas da Serra da Tijuca,
gue s comandantes com direitos participativos. O conselho Leblon, Catacumba e outros.
havia do por eles mesmos mais os anciãos e sacerdotes, € Os guerreiros eram controlados pelo pai de família e pe-
ES mulheres que decidiam o aconselhamento ao líder. la comunidade. Quando sem o esforço conjunto saqueavam po-
muitos Aqualtune, mãe de Zumbi, determinava sobre decisões a pulações e fazendas, o pai e os homens aptos julgavam-no e
im tomadas no conselho de guerra, órgão administrativo do confinavam o transgressor dentro do quilombo.
Se ele saísse completamente do sistema patriarcal qui-
Quilombo dos Palmares.
O modelo de Palmares vai ser repetido no Quilombo. Iombola, podia ser castigado até a morte (caso a comunidade o.
ande e no Tijuco — Minas Gerais —, cujos chefes de mesmas considerasse criminoso). Esse proceder do pequeno sistema dos
liderança a Zumbi, eram Ambrósio e Isidoro. quilombos do Rio de Janeiro é a origem de uma instituição re-
cae cterísticas de pressora comunitária apelidada de Polícia Mineira, que até re-
quilombo da Cidade e do Estado do Rio de Janeiro centemente procedia do mesmo modo nas favelas cariocas.
Falamos no início de conceito de quilombo. É que este
Mas a maior parte dos outros quilombos diferem, con- nome sempre referido às imagens pejorativas sobre o negro, vai
forme 2 região econômica que controlam, tendo outro tipo de designar noções preconceituosas, como: casa de prostituição, lu-
O:
350 351
ESE to
"E BUIBEA '066T 9P OSIBIN/OXBIBAD] "LT 6N “97
“HEJE ELOTe PelzOS OW 3YUSUNEUTSHO OprITqnd 103 OTESUS DIST “POL
Coe oenb SEBLI ONPIAIPUI O NOIBsTIAud à EIOSOFIA E NIPeAUI
DA onda Eu Otxopos EP Om] 'seUPUmMy sopepopos sep
denos suas Hus spepjengI op [eoptr o os-onBostod “TITAX
mos adomo oWSHIODEBNSNI| OP OUISIfeIogI OU EepEIJeo “12 — KHINVZ
FIs9 OLIS POLI OpUNUI Op eonrpod coniçial E “ordpurd uy
“SOXoS SIOP SO SNUS OUISLIPINENBI um “opunul ou “sou
PP Josndord no “opependissp ep ogônjosar op 1038) OuIO 03 MDIST aeBsal Op OJomIoul
onto “sou UI SeJuassJd SOLIBIST "OM
IA “oUTegem op jaded [0] opuezneyuo 'seocujod o sienos “seotur S SE SEPOI BDUOO
o 2 afou oquio|nd) "SEIOpBAJaSIOS SEIO
“QUO SSQIPAIAXS E 25-QLI0D29W "OUFUTUIS] o “oxtramojo ommo 0 somepnfe onb otIPUODNTOA
-sotis19nND O onb uIsse 9 INNSÕOS E
Canetienap Us OUINOSEUI OJUSUHS]S OP juEUILUOP smyEIs O cap OP Sed soOuIOS 'SQU SOLTOS
-21 “ODNPIOUIOP TISLIQ 9ssH ISBIM
'º Op oEIsonb E OESSTDSIP EU essediod “elas NO ostdofonos no 9 oquoymb o onb afouy Teiq
oquiojnô "sourdnoo nb osedso o
WO eistA op quod op epesedus steui zoa epeo 9 “queue USAUI Sj9 “SOU Op UM EPE?
tra] SOU-OPpU9ZE4 'OJUSLITAOUI TIN niOJ
J9Y [NUI 2 UISUION SOÇÕEJSI SEU opepipenxos ep opel Y EA “aBuiso Ens qOS
mo varIso enb eprojeoo1 uIsSPLIL ENS L O OpueJuSA
"SIB “04 9P Bpe>Pp EU OJS9U OJUSUMAOU
-B8I[ SEP SpepIXajduroo P aJuaI Ieymul op so PIA BIO SD asoad xorde “opessed O opures
-uI o sopruido sieui sop sou-opueu
“SB 9P OBÍBAISSO EU 2 BPIA Op SeHIQIS UIS as-epúmy e ZoJ SOU onb aja 103 “eonjpodor
-Sa1 PLIOISIY EP SJuPIpe IequIWEo
euro) OP eujoosa v “sjed now ou eIoId o Joypnur 19s O 0961 ep med v
-os essou ap os-nopdoide Iquinz OM
op OPeIsa OE IEIaJal SOU BIPd jenxos OEU O ESOIOLIP OBS "OSIDApe opunil
“TPUO? E OPIyjO2s9 sowéyuo! aonb oquenso J1o2012d apo 9p “apepnmapl essou op opjpxad
ou sos op '9pepijensootre essou
9P BPpBO9P EL souIopusquo
nooI é eIvd euro] OSSOU O BIH "04
uisma > oquiopnb O
O sou Wsse os O 9 “EHOISI 9 “puq "oxtojisBId
pied ojueiseq ureamquaoo 01
OUSUIQUSJ SSSIP OJNSUIDAIBPISS O
sourey ImIpIy 'sengupog BUIN
Yauren UOSIpa 9 SSL OJSSUTA
ISU] E aluogueige sIeUL ogJEl
“HSBIg OU SOJISUIAOTE S9IS9P BLIQ
mO Op oprasa O a17OS UIBIRd
-sIdIoJUL ENS 2 SOIPUMBA SOP oquioj
P 0£ 2P epeopp EN
-naqop 28 SS10Mme somnul ojno9s 9389 ojed sepeyped
-TIseIg
+ IOUIY O 9 BIS9N ISUMW V UEÇ Sp OTH OP SIS SP erros É
-So “SIRI SEDNO 9 SEUTIA SP 9 oJr
OuIOS “saremdod sejsaj senno
nquexes O “SEUHA 2P epesuoo e
ELIQUISUI E 1epiens ap pIroueul
wa UqUIv) EISTA 9 oquiojmb op
E opuryão? EIIQUISLI OP gem
essq “vÍuep ep S2A&DB EroISy
+. EU seu adisios a spoSPIV 2p SE ouros , Boro
“1 OBS 9PEpISA emnur op 18
Foii.
Xºs apod ourenxo omo dd -ogsnyuos
Fo -Fof eIsaL,
zugDogd
ORÍINISOP DP SDIP SOU SPDpIHGISSO pongpajaguj 2 vjoquiojInt 'OquaLISDA
Beatriz Noscimento, Quilombola e in telectual Possibilidade nos dias da destruição
TT TTT—TTT—— =

da Humanidade ano A mulher negra na sua luta diária durante e após a es-
Hustracionismo adiciona a todo Universo cravidão
tor, que em mo no Brasil, foi contemplada como mão de obra, na
ção masculina e sobre determinada do produ
ser e o nele Foi maioria das vezes não qualificada. Num país em que só nas úl-
recompensa do seu esforço o privilégio de timas décadas desse século, o trabalho passou a ter o signifi-
i e dficando
forjada no Ocidente uma sociedade de homens, cado dignificante o que não acontecia antes, devido ao estigma
no seu O o ca
não só o gênero masculino, mas a espécie da escravatura, reproduz-se na mulher negra “um destino histó-
um mus do sem
perspectiva possuía um devir utópico, previa-se
ao contrário do pensamento U ninista rico”. É ela quem desempenha, em sua maioria, os servicos do-
diferenças. Entretanto,
socie os e mésticos, os serviços em empresas públicas e privadas recom-
naquele momento processava-se a anexação de pensadas por baixíssimas remunerações. São de fato empregos
ações políti cas, socia is e o
culturas com extremas separ onde as relações de trabalho evocam as mesmas da Escravocra-
colonial a. º
à sociedade do europeu, através da máquina
rea cia.
Esta contradição histórica no terreno das ideias e E
lificar a A profunda desvantagem em que se encontra a maioria
impunha o poder da razão, no seu interior. Para exemp da população feminina repercute nas suas relações com o outro
oa en a
mecânica dessa ideologia na prática do pensamento
tamos sobre esta sexo. Não há a noção de paridade sexual entre ela e os elemen-
onde à afirmação corresponde à negação, refli
A razão é uma mu tos do sexo masculino. Essas relações são marcadas mais por
frase de Martinho Lutero no século XVIII:
seja apristona- um desejo amoroso de repartir
lher astuta”. Contraporíamos: logo, é preciso que
afeto, assim como o material.
lino, só assil Via de regra, nas camadas mais baixas da população cabe à mu-
da pelo homem e expressada pelo atributo mascu lher negra o verdadeiro eixo econômico onde gira a família ne-
inante.
formulado, a mulher seria um ho- gra. Essa família, grosso modo, não obedece aos padrões pa-
pode o esse pensamento
, con- triarcais, muito menos os padrões modernos de constituição nu-
mem, , erembora não sendo total. Seria ciclicamente homem
nidad e). Fo-. clear. São da família todos aqueles (filhos, maridos, parentes)
forme seu próprio ciclo natural (puberdade e mater
à reboque que vivem em dificuldades de extrema pobreza.
ra desses estados sua capacidade de trabalho estaria
mico (não e obr Quanto ao homem negro, geralmente despreparado pro-
da necessidade do desenvolvimento econô
da econo- fissionalmente por força de contingências históricas e raciais
anexada ou excludente de acordo com as variações
o é. Será a a tem na mulher negra economicamente ativa um meio de sobre-
mia). Fora destes espaços, ou mesmo at ela não
do campo pro vivência, já que à mulher se impõe, como sabemos, dupla jorna-
zão fora de lugar, ou exercerá sua razão fora
o . , da.
tivo.
Entretanto, nem todas as mulheres negras estão nesta
Vai recobrir a mulher a moral totalizadora, seja enquam 1
ias, de condição. Quando ela escapa para outras formas de alocação de
to agente ou enquanto submetida. Revestir-se-á de fantas
4

e estagnad ap
i mão de obra, dirigem-se, ou para profissões que requerem edu-
sonhos, de utopia, de eroticidade não satisfeita 1
í:
social. | cação formal ou para a arte (a dança). Nestes papéis elas se tor-
condição específica da usa arquitetura física e psicos
d
i
nam verdadeiras exceções sociais. Mesmo aqui, continua com o
Dentro desse arcabouço qualquer expressão do ieminino
i
í4
ua - papel de mantenedora, na medida em que, numa família. preta
é revestida pela instituição moral. Representa em si a desig
a- são poucos os indivíduos a cruzarem a barreira da ascensão so-
dade caracterizada pelos conflitos entre submissão x domin
A con- cial. Quando
ção; atividade x passividades, infantilização x maturação.
cruzam, variadas gamas de discriminação racial di-
trapartida a esse estado de coisas coloca a mulher num papel
2
ficultam os encontros da mulher preta, seja com homens pretos,
social, onde a violência é a negação de sejam os de outras etnias.
desviante do processo
sua autoestima.
354 355
£SGE 95
OgÍBILNSTUISop
-IP mI3 2]S9 OPUBULIOJSUEI “IOUIE SP ONSDUOD OP
oo ON
E IoYjnim esso E oqeo enuodto os onb ula OJXSI
“EUrIDE SOUILIS]OI SOU OUIOS
Teros onbeisop 9p ogÍisod eumE5je ISHjnuI Esso anb epIpom
oO EUOIDMN EINS OgÍPBLU
e OprdIOJal sIEuI “oqusuirpadur UM
HED as opuenb
TMLOSIp E euoloransu ojtaureuonejos UM Sp
OP sponsHioJoPI
OJUBISNUM "SONILIAQNHXo S9Z9A SEJNUI *ODIST N9S
s ajuapre
--p9 SE SEPelOWEjoI SEÍUDIO “SIeuIop Se onb ojuomjenxo
essed utsuiom Op
sTem no eonção sjeui elos anb op vôuan ejad
Ep squeguosaIdar
aged 10d eújooso eng “epoeúqns sieuw ermo
jenxas ogIBNE
ejo opuos “sSIeDeI sSOfepoui 9p epeuBsIduly pass
d PH
e onb ulo 9PpepoDos ELNU elo eIed saoueyo seono
*OPEITUIT| SINSUIEUIANXO 9 OANSJE OUSUET
2 232 Bónsam IJoyjnu E apsop) ojusmponbueid
nos “(goUBIQ
s020]92]59 S901P
“mo Sp neig Joreur um ap [Jeopl OUIOD SOUHitloS
UIS OPLUSATALIOO)
-ed eisajuaud ond Jepenim[d opepepos eum
so opuo SEADEU
-sopexnoze Jos utapod ogóEurtIOp. SP soje|
l 9ssad
“soe E as-eBH no “enpmos oooueúiad no “opou
pIBHSDE
“JeISyejrun og5eupuiop op eysodoJd eum
“suourou “somno sassa Ienafos 10d
oBU PÇ "SOWDBUI “SOUIjNosEUI
eopugiod e ou
equor “Z9A Ens 10d “ejs UISQqUIB] “Istjnui Bssop
quig “91so onb us
-B1 TENp OBSEjoI SP SIEULIOS sogiped sor opemi
OUIOD 98MS SOZ9A
epIpom eu ogno Op OpóEnE E OjUSUITpaduIr
PP oriene E ojusupadurn ouro?
seynur [eles OpSPurmnosIp
ogssaid E 2 OPEP
aSms Soz9A Sema “|enei ogopuEmNOSIp EP
“eombisd O BITLISUOS
“Wenprapur ens anus sjequis OU epelios
9poi BnS '95-JEZIENP
eng “ezgepadso os tIoqUIEI sooe[21 ap
anos emu aluaul
“IAIPUI E EPBA49] 9 EJ9 SIBUI “ody assap apep
Ojuend
Jeuoissyold ezijerodso as eISaU J2Ujnu e sieuI
“SeJduIr STEWI SIPIDOS S905E|3I SEU ELIMQUASIP as “THU Ep ESOJOUIE ogIB]
ur 10d “onb srenxos soodejo1 seu serroosed op eysodoId e ejo eu SE aArsnpur “sogiejol
-s1 eu episutmsos 9 eprLOSqo 9 “STELIMBUI
“BUBA “SOHO snos à ELIOIS eLIdoId Ens OPUPIpoUITSJUI EI “guoodIed V
se SEPOl Wo OpÍPJUSmIS|ÁUIOS ap oxuaniajo
O opueuel
eimusod eum sumsse “ursse Opuopod '93sop ojsodo ou emuoDua -1ozeid 9 Ofasop 2p SoJU0J SEp Opeurmitosip
os onb FÊ “oupyLIOMP ouInoseur ojuamwejiodmo) o empordal otISIfenpiarpui OU
-sIp “sEOSSOd SP IEZI[ELIOS 9 IBOISSELI E SPpuds
"e2Lgpodsa Iau|nti
ogu onb 'oquedronred ejord soupna eum gêms apod “esoIoue eproje> aJuomieojueBIo opepopos tum sd
onb o “ensared op
OESSHUQNS Pp EISEJUE] E OpueIafow c eIsrrrcein| opepensi, e pSSo E SOQÍEUTLILIDSIP SE 199S9pNDS1 apod
“teme openui ou d
“enos ovIpe
nb OP Soxos So ama opepued e srem opurosnq «(ojduraxo 10d So05PJaI SIBULI ZOA EPEO xonboz
PonITOd 9Ppeptne eu OJUSUINAjOALS) [eIDOS à Termo Jopezrureu opeuriL Ip aBune enb eJoId Isupnmu eum “ojduisxo 10d
Re e E
OpóIngsap Pp SDIP SOU PPDpIGISSOS Ipngospaqu] 3 DJOQUIORNA) OQUIUHISDN ZIIDOH
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
asa sas so Soo so

latência, que naquele momento provocada, dilata-se por outros


espaços da cidade, concomitante à população de Niterói e de
São Paulo.
Logo aglutinam-se diferentes tendências, a maior parte
Emb ie de caráter conflitante: interesses pessoais e existenciais, trans-
formam-se pela primeira vez na História de movimentos em
Carta de Santa Catarina! pulsões coletivas, portanto de característica política. O eu ocul-
to social (chamado de geral, amplo ou global). O interessante
DE
do que podemos inferir dessas experiências dinamizadoras (o
existencial como instrumento de ação política) é que manifes-
| tavam-se a expressão verbal e oral anti-dominante;
este discurso no seu interior mantinha-se extremamente frag-
entretanto,

| mentado, por força das diferenças individuais e sociais (classes


sociais) e dirigia-se para um “objetivo comum”: rebelar-se con-
tra o mutismo imposto pelo regime de arbítrio: proibições de
s encontros dos vários indivíduos do Movimento Ne- reuniões, que coloca-se em “risco” a totalidade ideológica do
gro, desde a década de 70, constituiu-se de reuniões regime.
nas quais a função catártica, síntese orgânica, psico- Imaginemos centenas de pessoas, homens e mulheres
lógica, espiritual, geracional e genealógica da inteli- (Govens e não-jovens), das mais difereúteés origens e sexo, idade,
de inserção social (família, escolaridade), de áreas habitacionais
gibilidade dava-se enquanto grupos e inter-grupos. Em 1974, no |
mês de março, os anseios dessas pessoas canalizaram-se para distintas, de origem regional diferente. Algumas dessas pessoas
espaços físicos, que de um modo geral, até então, não eram fre- (no caso do Teatro Opinião) mais velhas e egressas do Teatro
Experimental do Negro, que congregara nas décadas passadas
quentados, grosso modo, por homens e mulheres pretas.
Assim, os primeiros encontros do Movimento Negro, no artistas e intelectuais negros e mulatos de várias áreas.
A maioria, entretanto, era constituída de jovens com
Rio de Janeiro, deram-se no Conjunto Universitário Cândido
acesso a informações sobre as independências de países africa-
Mendes, em Ipanema, e no Teatro Opinião, em Copacabana,
na Faculdade Cândido Mendes, nos, sobre o Movimento dos Direitos Civis Norte-Americanos
Zona Su! da cidade. Reunidos
na primeira semanapara discutir artigo de autoria de Beatriz (Integração Social e “Black Power”, Guerra do Vietnã e o mo-
história do homem negro”, Vozes, Pe- vimento musical conhecido como Soul Music). Contava-se ainda
Nascimento (“Por uma
trópolis, janeiro/fevereiro de 1974), alunos da Universidade Fe- com a quebra do velho colonialismo que tinha como último pro-
constituíram-se nos primeiros passos para a tagonista Portugal (Império Ultramarino) e os países africanos
deral Fluminense,
Insófonos, notadamente Guiné-Bissau, Angola e Moçambique.
criação do Centro de Estudos Afro-Asiáticos, CEAA. De uma de-
zena de convidados para esse primeiro debate, na semana se- De um modo geral, eram os alunos novos da Universidade e os
guinte passamos a cerca de duas centenas. Isso demonstrava a frequentadores das equipes de Soul Music, que buscavam uma
resposta brasileira na participação internacional e interconti-
105. Texto escrito entre novembro e dezembro de 1990. nental contra essa dependência do colonialismo que aqui se im-
Referência e localização do texto: Fundo Maria Beatriz Nascimento. pregnara de forma intermalizada em cada cidadão e nas ins-
Caixa: 05. Pasta: 2. Documento: 69.
fituições nacionais como um todo (política, literatura, imprensa,
358 359
19€ 09€
SO BROSHISGO OBU OSSI “SOIAI] SUSUIOW SO 98S349%SUI OBU BIOQUIS “ayedentoo ur “98-BIZIG **SSIBÁSTP 9 SESTDAIP “SIMiSITP UHE
ESeIg OP PLOISTH E eIyRAPIOSA EP OBEÍIOGY E sode sour 06 so coigau 9 urnb “pyungrad E saçãeIsIdiaur sy "SONGS SOTO
JUuemp erzul "BoLIQasTy opepmunuoosop > apepmuinioo Pp eza) «ud sossou uroumas os uranDb sosso OBS “ "EIMOSS SIEUI ajod 5p so
-I99 é 9 EJOquIO|IND OnISpURAISSUOD OU asEJUo à “PpeziaPIDSo Ep urertos onb ajuomeprpusiusgns as-erpuodsay ejseig ou O189U
"IA eu onbojuasop o EIS 289] Ep assjodry E Wo> ppugHodxo eyu eia wand “prrroTqndoy [BIopos oBÍmnsuo) EXSUNd Ep à eoq
“DAL "EPIA 9P à TelO PHQIsSIH Wo ogsezIjenodsa E à “PpeI erurl -ndoy ep ogieuepolda Pp soue sjos 3 EINS à BINIBAEIVSA ep
a
“III ESSOU ELUZAIA E saggode OLIOD EQUA SEjOAR] SE SOGUIO[ OBÍHOQY EP SOUE 2)98 9 BIHSJIO EH *eamosdsoId exumBrod eum
E
IRO SOP :SOISON SOjad SOPEZIUESIO SOANFILIOIV SIPDOS SEUIOJ oriisodoId PUM 9S-BABJIIDAB 'G461 SIJOdonad 'S9Z0A «OUISD
-SIS OjofoId Q “Uonepnos pJoZ oq ejd epepweor oquamepre 2 0I89N, oo UM 9p OpDsoxe “euIpDE OpeIp 08h12 ON
wo esmbsod op cssford uloD PÍ “asuourumIy [EISpag
“PLIEITUNUIOS BIG]
opepisisa
TUN EP OBÍENPEISy-SOg 9Pp OSIM) OU IassoISUI 6/61 UM] “pu > vôueJopI| Ep OlDISxo Op eosnq E “LIA “(S9J0J Steui
o “onbpeso1sop op v> sreuoneu sou 9Pp Sopepissaosu sep ajuetp seonijod op seSuep
:
-Snq EU “EonIjod EIMIage 9P osso201d OU SOUPHINT 9 SIADD sOJaI rea — sed OP JEIO/0909U VITEIQUOJO epugpuadap op ogóPjaI
“TP SOp oB)PISdNDaI V “L96T-SZ6T 2Pp med e eueposed ogiedro OpIASp “SOJLUQUOD S9J109 SOSISAIP SOU “TOJEA SP UISq Jonbyenb
s
-nIed eu o sogõrafa seu optaomoid 198 IA onb “ajusSIa omISal ap 2 opepotidosd op epiad) opipzuodned “(sosotiaIsod sogIBLo
oe opisodo eU “(gx O) OmNO OP opepraista eU o opeprrais sep ojuoupenbueiquio “feuíSro IEIIuLB] Stout op epiod) erupu
ejod sope>Ieur sowonos SOp BILIOUOINE B
JA-OJME ED “ponolso ep “rejso-tuoq Op “opiomioId Ep onosdss ou -oue “(TEDDO BLOISTH
“SIBUODEIOS SEXICJ IIS SPePpLIOIU E opuezmonua “ooyjrigoss 3 SOATIDJOD 2 SIRNPIAIPUI OB)PISgI-OME 9P sossa201d SO ExJHOS)
puro
9 IEIIUIES “OADOJOD 3 feuOISaI “OANAJOD à [EUONDEU OUBS9p OU ogômSos1ed “(ouj8o1 OSNUP) OBÍBZIABDSS E “(eIodseIp)
SN
capedpnJed sopod “errimuny opepjengi op sagõou se eperodioo ye ogieidrusuen ep seonEUMmEn senpuçuodão sE UIRIO]
S!
“UL BSUSISTP EP OpdEJroDP P eIPd ojusureuropour as-opuesedord “aquensnay SIBLE > SJuBojeD0I SIPUI SJUSSUODUI OP somoNHI
oB
“elos no “Temôuis ou wIs o jemjd ou ogu Iodur as-opueIual sou OPPp 28 SOIUODUS SOIDLILIM SO OSSI 10d "IBSPNU SIBUI
op
“ogórsodoad [e3 EJrala1 [Jenprrpur eJtoposuodu] OP eIsTjeoI OESTA -PZI(ENPIMPUI! Ep [94Fu ou SOptNJOIÁ SONISHILA|OASI 9 SIQSIAI
e o oBo1sdns O “OjuRIanUM “SOISA SOHIOS “OUISOUI OSSI 9 IHISSE soossnasip sejonbeu eARItssaDaL “ojonbe eIed assop º Iene
SOuHos OU OPUTLIMSSE 3 OPLEJ9DE 2S OUICOD PIOJIE OAHOjOS 087 O o pIPd [e128 OP OPUBIBI BIO “PUPILISUIE 9 EUESLIFE apepruruma
oras
'SJUDIIO)SA 9 SJUALIOD FONUPUISS E FIOS N O EPeDj2D2I EONIQIsA ep so10pe82u “saJUBzIfLIoUD8 SONSDUO ap BPeSTEUL (sax
BLQLISUI BP OdIojso um natonhor estadsip opeppuoIsa, eum Op SUIS 2 SOpEoUI SOP SEISHUSD é sEIsTTEmM EL somno o prod
d oJensg
3 BJLIDSO 9PeprtOoIsTY BUM 9p EDUZsNE Y “JEQIA-OADOJP OST] “uma “UMICd) etadona porSojoIq EUR ep opunto
el
OU os-Iejequa siedrniS o sIENPLAIPUI SIDANI SOLIPA SO “sajuoDsUODUI SOGÂMALNE Pp OpeSaLIeo orsouos um ou1os
oJUSUIAOIN OP oouyjod osmdum o erZIperoo — oror
"aHI2 2P sogóm “o1S9N
sEAgeno
"Dst seu o BrUoSImoJU BU 95-ESI0J91 EISSU OBÍEZNBUIOIS BP OAD o — PoE [eneI SPepnuop! eum ap otro) US SIEDOS
"B[91 OTUILIISIXS O “PANNJOS9I OpÍBUSSpSIuI ep “ozusumonburiq xo 9 seAmDadsIDd UIOS SONPIAIPUI SSJua1Hp Ieunn|sy
“NS OP OloUOd Otj9A O “OBdEZIPUODELU Gp No OopÍPZIAnajOD "euojd eruepepo ep sovispq soenp
ap OEU 9 OPSBRDUDISHP op OBÍISOd E IEDJEUHOI E NOJJOA ODIBOJOIM sop opmpxo 3 OpEUFpIOqNES STenE squoBumoD op OB5BIIog 2
2 oogniaro nadoma onpurSeur op PÍei op ojisotios O erpieq e Jos e uressed EjoId 102 9p possod eso eguo? 2] o
pd
“, EXSOU ESNIEO, -preui 3 9JU0)2] EDUQIOIA e “I0D SP oyrsotoos1d o feneI
ep sajuempro EIPI
'sejueznedus 'soprudo so sopo] ogs solBau -LDsIp V (Jeuopeuemur ostratregrodiioo ou 5 ESTUQUOTo
E
PP
OPÍILIJSSp DP SDIP SOU apopIgissog 1Dn922]23u] 2 PjOquIOIRO) OQUIUHISDN ZLAGDIH
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
E E e E e E TT
vários sintomas de liberdade de fato que os negros no passado e Em Otrí, realizadora, eu e a equipe tínhamos consciência
no presente tenham experimentado. de em vez de enfatizarmos os pontos negativos comuns à con-
Em 1978, fui buscar, nas congadas de Minas Gerais, fun- dição humana atual, buscarmos crítica e analiticamente os ta-
damento para tal hipótese, ou seja, pesquisar as maneiras pelas bernáculos onde os homens coletivamente intercedem nas suas
quais o homem brasileiro desreprimia seus recalques e suas vidas, procurando o apoio mútuo para enfrentar as adversida-
frustrações, não só como grupo, mas fundamentalmente como des e promoverem o bem comum, independente de diferencas
redes individuais. individuais, grupais de caráter político-ideológico. É
ii
Que novo ser humano advinha da luta pela liberdade? a
i A política e a ideologia são instrumentos históricos, ou
da
Como estava ele inserto na modernidade, superando a crise da seja, que os homens recorrem para a união de tendências ma-
escravidão, pauperização e discriminação racial, como sair do cros. Mas ao mesmo tempo que esses fatores promovem a Uni-
despersonamento, da anonímia? dade, a descontinuidade, presente na alma histórica, reverte es-
Após dois anos de pesquisa reencontrei-me com a soció- se processo para a busca da autodeterminação individual, o que
loga Raquel Gerber. Tinha levantamentos em centros urbanos chamamos de continuidade histórica, portanto, a micropolítica.
como Rio, São Paulo, Salvador, Belém e Belo Horizonte, além Frente ao Movimento Negro, cedo percebi que os pro-
das áreas rurais em decadência de Minas Gerais, onde encontrei cessos de -continuidade e conservantismo (o que chamo de qui-
remanescentes vivos de ex-quilombos. Em 1980, começamos lombo) são os estágios mais fortes. Neste momento, que foi por
Raquel e eu 2 procurar os prímeiros passos do documentário volta de 1975, escrevi o artigo não publicado Consciência do
narrado Orí O reencontro deu-se num momento muito especial. Racismo, onde introduzia o conceito de Paz Quilombola. Essa
Em 1981 havia falecido Glauber Rocha de quem Raquel escre- paz, concomitante ao processo descontínuo da guerra, erã”a
veu sua tese de mestrado: “O mito da civilização Adântica”. Era própria manutenção desta através da produção de alimentos e
a transmutação de uma vida dedicada aos grandes temas bra-. de informações, o papel da mulher, do ancião, da criança e ado-
sileiros de caráter nacional unificador. Esse reencontro também lescentes, não envolvidos diretamente nas forças de defesa.
tinha algo de catártico, pois pretendemos desafiar a morte da Em 1982 as pressões mundiais do CMI"” proporciona-
palavra e da imagem brasileira o fim do pensamento que desde ram 2º Brasil uma brutal recessão econômica, enquanto que no
Oswald de Andrade nos encaminhara para a identidade nacio- cenário internacional, o fundamentalismo islâmico, a pressão
nal através do pensamento das intelligentsia dos mundos urba- estatal de Israel, como o exterior do Líbano e a fase crucial da
nos e rurais. O Movimento Negro possuía sua força entre os Unificação Angolana, nos empurrou, no Movimento Negro, para
dois maiores centros urbanos do país: Rio de Janeiro e São a participação partidária, como forma de reerguer nossa cidada-
Paulo. Eu pertencente ao primeiro e Raquel ao último. Ambas nia e garantir nossa sobrevivência como força política, até então
tínhamos voltado de viagens de pesquisa em África; eu de An- anárquica. Uniões se fizeram e se desfizeram com as eleições
gola, Raquel da África Ocidental (Mali, Senegal). Ambas ingres-.. daquele ano no território nacional.
sado como adeptas do candomblé. O texto de Orí, que naturalmente seria deseritivo- acadê-
A Ecologia Mental, “o reflorestamento mental e afet- mico, não se compunha com a leitura imagética até então ad-
voZ% de nosso povo, possui possibilidades infinitas ao estimu- quirida. Longe dos centros universitário, a vivência política da
lar-se sua veia artística, estética e poética, principalmente atra- população negra de Rio, São Paulo, Minas Gerais e o Nordeste
vés da afro-religiosidade.
io Félix Guattari em As Três Ecologias — “Capital Mundial Integra-
106. Pedro Paulo Lomba. mn: Fpadé, texto inédito. o",

363
S9€ v9€
-07 O [enpraIpu; ojofris win 1os “umgus “eustp stert “epenbope
SreuI EUPLINTY BULOJ EUM Sp oImny O tIed Iequjureo “solo q
so1192% UIOD “uSIonDb aquamenopepisa onb seamnpoid seisisuo
ap opIpIsdsop sIusm|ejuomepuny 3 “Iayequioo souraronb aquour
“porto 2ND OPÍBUIUIFDSIP 9P SBUHOJ E EUQIIOD9I Trossod ap
-eprungaduioo :sesnTund sepmne e oputgeomal 2 Opusps20n91
sodedso SOU SOLIassPAnSo es OUIOS 2 “quenpeduio s oagnm
-suoo 0S0[PIP OP spau! oe apepiatssoise e oumuopald onb opusi
-anb “[edniS ogônoojisyur e opodur esteio e opuenbD seja “eueuI
ny opderuroige Jonbjenb uia oO “OIS9N OVISUIHAOIA OU UISO
-9JU09€ BPUIZ SEDÍMPIPO SOQÍPMIIS "OOLIQISTA-OEU O JEIDBI OJISUI
-TAOUI UN OuIOD JOdum as 1919nD O 9 onb “nbr 932 OIB3N OJusur
TAOIA OP [edpund opitpenuoo e o ojnopIsgo O elos enb opsur
ou rummodap onb ojmbe Jessed Iexrp sours1onb ogu “ojejan
jO2N9] 2P SIEHONE soLIsedsa sna3 SO “Um 'SOANNpoIdur sJuejseg “feioS Opour um op “ssiegop os-mei
BoLFOSNÍ SOAISU SOP EDPDNE P EpOT -«m$os sog5eitrasaIde sens se sepo] osenb urso TIserg ON Tesm
POL 9 ESOISIpOIM EZSMNEN EN “.EZOINIEN E O WOUIOH O, eNsoW eu nzy eIisoD
“10d “PIOI US
“OTUIGI] O Naga31 SJUamIRAISSaNS "UOSSqoH meg XII O “eueo
"“oonod E oonod “setiazo sezo(oa 2d
-uyy esodseid EP oujy soyjomu op oiuIgid O noqedaz “(EILIv)
“Opeoaodsap cpimur o seoAod an?)
noBnopr3eno '“Osey PULjIng wa “OVAS OU oprSueT Í
OPEJBIISSY OPUPIS O “EID0g O S2 NL
“BOISAUI E 9 EISSOd E :jpULIO] OJuaurajduros nas
“BINUIS] SP SEjanso UI aJuagai q eIRd ojisgoosop oyurmreo o 103 anb ojmbe opuezijes1 ejtour
eus$ opuvondns eujem onb zeg -N90Pp eWIO] E UIBLIOS JeojSNUI 9pepHiouos ens o eIOTIOS EUTLI
ELISNIXA EINJUSASSA EUISOUI ESSO SEJA E “OJDUIOUI OSSON “ODLIGISIy 2 Ootdnonbie “ootBofoonhbie 19371
“BINSICIIE PP BUISS]P BUISSUI ESSO SEI -P2 9P SOJU9UMDOP SOLTPA NOpIPNS LO “IDA Noui E “696T UIS Op
-PZI[UIy JOS OY "OLIPHISUINDOP OP SaJueIBaNI sOp BLOIEUI E OBT
“BIMUSASa( EUISONXO E EJSU 2)-sPuaiAg SOp sunSje UI sJusureorporrad seui “EoTDal ad
-2s “SSJUPNIUI
“ESTE EISSU EM é oIdmias 2 BIISL V 'OIS9N
"BUISIÚNS SIEUI EIMDNOT EP ODN0j Q
-mba e uloo 9S OEU Ojunfuoo WI OPRIOQRIS OPUSS TOF HO
“BHNO] [How Ep 02no] O so n1, OJUSUNHAOHA OU EPUBHIEU EP OPe| OB “Z86L ap InIed v
“9LUFy OP sepeuio) susSEL seu
saquasaId So10M90OjINUI 9 EIOpELIEU Sp [BIO O [EQIVA OJEHIOS
[esnos a zn19] O as-nomêrtuo) [eossod OBÍPILLIOJSUBN EssoU EPIAJOALY
“oBsIA Bjad eprpussade weSensul] y "eonçIso ep urSengm
opepeuissy O io
e “ouregnãiod “erssod ap o “sonpour (| solpuçdy) souisLJoje ap EUL
t
-10J & NOLHOI 01X21 O “eIISSUI No eIed ajuaurayuapussidins “px
“OBÍEHTUILOSIP & à oJouodald a1so 10d [oapsUOdsa1 OWOD 'sosuaBIA BPUIZ OLNIGIE OL 9 OgÍEu
O “OUISDEI O Yajequioo ered sodrojsa snos wieoojo> anb sojonb 2
lo “IULIDSIP E OBÍE9I PP VÍDEUI PULIOJ OUIOD [emo ogStuSmurua
"EP ojIaueÍeSta OISPpepida O 9 5352 ND Opusnry sonjajy oAnal Ep oSIoJs> O UIOD SQL E EARIISId “(FOPEATES 3 OBA “aIpoW)
i
e ae C
Re e e
r
Opóma4]Sap DP SbIP Sou opppuigissos a IongooJszu] O PJOQuIOjINÊ) OQUIWIJOSDA! ZLDOM
Ê
b.
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
. + A RA

i desembocar na Abolição da Escravatura, em 1888, e na Procla-


mação da República, em 1889.
E:
i
T Havia urgência de mudanças entre os cinco milhões de
:1

+ a
negros que habitavam todas as regiões do país, destes somente
uieiaços
i
gp
E i
700.000 mantinham-se como escravos no Oeste de São Paulo e
' fronteira do Paraná, envolvidos na economia cafeeira, às véspe-
Alafiyn Ayê . 1
ras de 13 de maio de 1888. Os demais eram livres, chegando a
Eram Deuses os Negros da “Pequena África” do Rio de isso de várias maneiras e estratégias até, pelo menos, 1887, com
Janeiro! a Abolição da Escravatura em Ceará e Amazonas.
Esses homens livres nas cidades como o Rio de Janeiro e
outras de características urbanas e voltadas para o mercado de
exportação, viviam de profissões variadas e peculiares.
Desde a chegada da Corte Real Portuguesa, em 1808, a
administração da cidade do Rio de Janeiro e as posturas reais e
imperiais viam-se às voltas com as várias formas de luta pela li-
berdade que os negros adotavam durante os três séculos que
durara a escravatura, tanto na capital como no restante da Pro-
víncia do Rio de Janeiro.
s últimos anos da escravatura marcaram uma maior
Capital e cidade mais importante do Império foi palco
intervenção dos homens e mulheres negros no esfor- de inúmeros quilombos, movimento que, em última instância,
ço de extinção deste regime em nosso país. Não so- . prejudicava o processo econômico, com a recusa de seus inte-
mente estava em jogo naquele período o fim do tra- grantes de participarem como mão de obra obrigatória. Em su-
balho servil, mas também a questão da liberdade e emancipação ma o quilombo era uma forma de desobediência, a mais eficaz,
colonial da nação e dos seus filhos. Era urgente para o caplta- e que mais desorganizava a economia colonial. No início do sé-
lismo internacional que o Brasil abolisse a escravidão para pos- culo XIX, a Europa industrial não podia mais conviver com for-
sibilitar um mercado de consumo dos produtos europeus, além mas arcaicas de relação de trabalho e sim relação entre merca-
de extinguir moralmente o trabalho escravo. Internamente, os dos “Hvres” A luta de classes naquele continente, por outro la-
negros escravos e livres lutavam em várias frentes ao lado de do, pedia transformações no mundo latino-americano, do qual o
uns poucos esclarecidos para libertar o restante dos homens e Brasil foi o último a livrar-se dessa forma vergonhosa e explora-
mulheres, brasileiros e africanos, que se mantinham sob tal re-
| dora de trabalho.
gime de trabalho. . o
Ora, quem mais tinha interesse nessa mudança eram os
A “nação negra brasileira” participava, assim, com sua negros, explorados pelo quotidiano discriminatório, fruto da es-
contribuição política, no processo de nacionalidade, que veio
cravidão e do racismo.
Um dos setores mais importantes da economia era as
atividades portuárias, de onde escoavam os produtos para o
original datilografado, com data de 1990, localizado no mercado externo. Embora a História Oficial só cite os trabalha-
108. Ensaio
“Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Fundo Maria Beatriz Nascimento. dores agrícolas, domésticas e de ganho, este era um dos setores
Caixa: 8. Pasta: 2. Documento: 6. em que o negro também emprestava sua força de trabalho. En-
366 367
69€ 89€
1opaltoo ou “omno “stodap odtray oonod “ogssaIdol op sEdIOJ Se]
d ere> oquiojimb um Opuenf 'BLPUODN(OAS eoneId Ep OMI
jaJuBuIsap aSsoAnom cogu and ered PonrId E eio OLIOUI ONNO
mo (OJIS2) OJZILHOI O *solopI| SNos E tepyod ogimsasIsd E uíoo
“oSuod uis BALISS OJUSUIDo[oqriss Um opuenb “urtssy
“empeyp ejod eruepepo op sogranp: “UsPABSTHSpE so onD serSia Sp
sas SOU SOPESSES 9 SOJIOUI S9Jop sOHNUI OpUSs “L96T op JENEA guIoISIS UM SP SPABHP OBóBDTUNUIOS Tre soquromnb so sopol
OEINJOASH BP seIodsgA SP OUISLIRJUOUIP|IRA OU O spepieSol ep ; “SEUIOJUI SAQÕE[9I SENIS SEP EIP E EIP OP aged uIPIZe] SUIS OP
eyuedureo eu orrouer ap om ojad [eIapos opendop stodap o" soro sogdeiidsuoo ogieunnjse op 2 ONPnI “TeptoIsixa ored
DPS 9pueiS OT OP IOPEUISAOL) OBJIA “PJOZUIQ [SU0OST oo wejno -MUP UM OUIOD EABUONDEN] OSOTBIfaI EUISISIS O SaJ9 EIA
“WE 98 O HEMoS, opO[ “SESIRA OIL) SJU9LIPBAISSodNS upIOdE "sSEIUOUQINE
onb sojo sa0ssIJOIÁ UIS SOPIAJOAUS SUS OU “UITHUA “sonaIpad “sagpooa] 'sa1
o. 0ES PonNMOd eLIQISy essou op sejuegiodim srem
S9SEJ SEU “SOJEDIPUIS snos op spsene “uedonIed “sen sessop -BIBJJE SONOJUN] “SOITOOJE] :SOPELIBA SOSTAIOS 9 SOPEPIANE E Sal
sossaIga sonrpngod Sotopeuteqem so ojnoos a3sa sateina -OPRIONI SNDS 9S-UIPABOIPoG “OUISH OP ELISJUI WISpIO E pIed so
“(SOTIOIIS] 2 SEJSJDSS SOPEP9NOS) BJBIDOA TounDatoquisa sossop o81ad op eIIOD OBP “eÍNSNÇ & JOLISIGI OP
“BOSS WSPIO E OJISUrEJUaTUS SP SEULIO] ErSJoqeisa > EnPqop ONSTIUIIA 08 XIX OJND2S Op OPHUI OP EDHOd 2P 9J97) OP ERUZP
os oplO OpÍPUnn[SEe op SPULIOJ WeIo sejsaj se O sIquoprreo «1odss1109) “OlloUPS 9P OM Op eHIPIuOd EUOZ E tIrequediioop
o NqueExeo o “eqgunseu e epuequmb e oyxajuos s1soN “sEgjDDO “amb sorouI sop sepfes seu soquiojnb ap SE)HSLIDIDBIBS SE TTOTIS
> Soja e
oquetseg EM] 9p setôçienso UISAJOANIOS9P SUSTO EA
-SOd IQUIIPO) 3 POQUIED BP O sOpol (T “sojuejIoduur sieul so “op
Sasso SEJEZUSS NO sOLIQUITS] sNas E sopeuieuoo “elos no “omno “BAODIOD 9 IqUINEO “EOqUIRL) SP SO soja OBS "OlSUP( 2p ORI OP
e IeBn[ UM 9p ÚmoIroo|sop as BIPd sapeprome ap o Joyas op soquroymb sop serppou as-uio) TITAX ON9s OP jeuH ON
eniodessed ursiesn E sopegiigo “onbeje no esojop op eme ma
OPEULIOJSUBN Jos eIIopod anb oyrstnmsur Jonbjenb wraxegrod “oLIosmduIO? “oueuny owjeqeu op 085
no “sopeale utarepue op sopigrosid “jerogod opssaidal P ojuouIe! -pIOjdxo E ento? 'sipOS sajuaBe sassop otõe 3 OBÍUSALSIUE EP
-Toljua Op seEpEsn sTeLI eUIIO] ENS EIa jesOdIOS EM] V OJonE( oojed o Jos OgA “(IPUL--BIL E SOsSOUUEJUOUL SOLIQUIID) erpeigod
Pp OM OP sojurq so wood (QSeu) steImjn> seurroy sens urejosaul -n Ens E OPIA9P “OIlSUPf ap OM OP seoypIgoas segISal SY
nb soueIeq Soa 3 SOAPIDS9 Op opepnuenb opueis immeqeosl “Pprpolepso sujo
(QUE) > roque) oraueç ap org op soquionnb eum “oo op soiZau sop OpE| OP “EISIMUNISTIOS 9S 10d “SOABIO
so
“OPÍEDTUNIIODISJUT SP EULIOS ENS -S9 ap ESSEUI EP 9pepiaqI| Op solosur sOp SoZ0A-BLIOd OBS sono
UPBIpUSIIS OBU onb sipIUoLIEUIdAOS sopepriomne se opueIsns anb op sie sal] “oongjod é jEDOS ossaDoId ou uIetArojur anb
“se “BReg Ep soueunônur sop sqery Jojopieo tis opipormuoo 2 S91AT[ SSIOPBYJEqEn Op OBSIpem euIn equo “quuejrod “CANSS V
eIq3221 EST 2Ppsop onb “oSuos jante I3PIF spuris ojod sop “PalopIse1q opdejrodxa ap ermOtIODS Ep onbiequiosop à onbiequIa
-EHoHo soquioyjmb “sernosseA “SEIISPpIA SEP 9JeA “SaIeIFy op Hed ap sagôeiado sep eppogo e espuadop [enb ep eyuod 2p eIgo Op
tIQIa9% “PIIOS PP ZIPY JOUIOA “JOLESIUI OU SIRI SONO “8887 Wa OBUI UIBIS “SOJUES 9 OIlDUE/ 2P OM “aqusuedopuçid “3 JopeAaJes
BSHUIONHY EHTOso ep sostedesap onb ogssaons vumu 'ozrangpes > “ppa ap solod sop sssopeupegem so “OjxaIH02 SIS9N
OJBoBIA “BIONSUPIA OULIZORARA “ojeSeiueo 'voApo) “equmaereo "prodoIna
“UO/QI] “OPPAODIOS TIquINTen “Poquies) “os-apsons urssy “apepD Op5BISIUIL BP OSSOIS O PIABY OBU EpITE sjod “soIBou sop eIpusd
E BIBÁ [SAISTA 9S-BABUIO] 9 BABJUEAD] 2S “SEJOLIE3 SEqUEJUOII SEP -2p jeuopeu ouuoduiasap OB ELIPSSODoU BIO ap OBUI E EPOI “UIL
A
OpÓInisop Pp SDIP SOU APPPIIgISSOS Jongpajazu; 2 DjoquiojInt) 'OquauosDN Zunog
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectue! Possibilidade nos dias da destruição

Nesta perspectiva, o diálogo, mesmo convivendo com as


guerras poderá excluir a dor de tantos anos de dominação de
territórios sobre outros.

2. Transatlanticidade

Conceito cunhado na elaboração do filme Orí, de Raquel


Gerber, divulgando a tese de Beatriz Nascimento de que com to-
do descontínuo, há um contínuo histórico memoriável na Histó-
ria entre povos dominadores e subordinados, que eleva sempre
a dignidade e a singularidades humanas, vê ecologicamente o
Mar Atlântico como um vetor, um meio (mídia) entre os povos
de Europa, de África e de América.
Somente ele como território livre e físico tornou possível
os encontros e os desencontros de Culturas tão díspares; de ge-
1. Culturas em Diálogo nocídios como também de transformações genéticas. Transpor-
tou e alimentou povos daqui para lá e de lá para cá. Mesmo
término do velho colonialismo mercantil, que mes- após novos meios de transportes e de comunicação, talvez por
mo coadjuvando com o capitalismo moderno, pro- isso mesmo, ele, de elemento desagregador, tornou os homens,
longou-se até a década de 70 (com as independên- gregários, impondo sua mística e seu poder de comunicação vir-
cias frente ao Império Ultramarino Português em tual. Seu sentido Oceânico (infinito, sem limites) fez desses po-
África), trouxe a inevitável reformulação das fronteiras nacio- vos culturas diferenciadas, até um certo ponto, harmônicas.
nais no Mundo. Interessante e provocante foi que a Europa ini- O Atlântico considerado pelos povos afro-brasileiros co-
ciou à queda dos novos impérios, começando a desagregar-se mo deusa-mãe (lemanjá-Oxum alimenta a existencialidade bra-
ou unificar-se no último estertor das décadas de oitenta e no- sileira) e a ele nós nos rendemos enquanto interventor de nossa
venta (o fim do Império Soviético). Provocando, por isso mes- felicidade. Pode ele através de seu espelho curar-nos feridas tão
mo, uma reflexão otimista quanto ao futuro das culturas e dos profundas e abertas ao longo de toda esta história.
povos do Terceiro Mundo (tanto o periférico quanto aquele do
3. Vídeo como instrumento de solidariedade entre os povos
dito Primeiro Mundo, ou seja, a queda das fronteiras geopolíti-
cas impostas por aquele colonialismo, assim como a prospectiva
de que O planeta possa, através do homem, ter seu aperfeiçoa- Na teoria crítica, Walter Benjamin diz que das técnicas
mento político, físico, existencial e imaginário). de reprodução pode ser inferir uma visão atual fenomenologica-
mente nova. Para ele, a fotografia libertou o olho da mão; com
ela, pela primeira vez, no que concerne à reprodução das ima-
1 gens, a mão foi isentada das tarefas artísticas essenciais. A foto-
109. Ensaio original datilografado, com data de março de 1994, lo- grafia permite aproximar a obra do espectador, a multiplicação
calizado no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Fundo Maria Beatriz de exemplares substitui um acontecimento único por um fenô-
Nascimento. Caixa: 26. Pasta: 1. Documento: 11. ,
meno de massa.
370 371
ELE CLE
“6 “OlUSUMDOM “Z :eJSed
“PT “EXITO “OMISUIDSEN ZIHHCOg BLIEN OPINA “ONSUPF SP Org Op jeuop
-BN oambry ou opezifed0] “eJep us “opejeaBo[nep [pmnSiIo oxxa | OTT
OJAI[ UM IsAoJosa ELIOND NY ESEIB9I SEJUEI] PU 9S CIAI] INN IDADIO
-S9 NOA N9 OUIOS seIN “OI OU 13] ossod njo anb emno 'opessed
OU $352 onb eum “sELISoFe SENP SEU OjuStouI dIS9N “S0OAOd SO ama
spepolrepros op opóenge JeanBigtoo uIspod sIBNSIAOIPNE SS10)9A
SoF0Pp SENP SEGUHA — OIAYT O 9 QAOA, sasso Ou10d uIpAOId enb sojdiiaxo OES sojaSWv SOT US SOIGIIISTP
soioLIsjsod so 2 Supj ÁSUPpoW ouBILISWe-Oy? Op ojuoureoued
'adisIosg osopnes ou soa? snoul sop eu o [IseIg Op IOLIoJUP ayuopisaid op Juamigpogrodar o “ojos
“QISTI E Z9ATEI “sEIaUIfRd à SUSUOW 9P BLIQISTY ejog ejanbep opô
Op PIJ9N9) E OUIOD SOjUStIpSIJUODE SO “eSuepniu Wo UIEUHOS
“IGNSUOD E PIS EIP UM Ia497os2 na onb o onb oyuos
-suem onb o ogõe E UIeAd onb seanajoo sogiemr UIo sem “03
“STELI OJSTA OT-9] OBU 10d “OJAY ojonbe sjuauieA “La uIejscduro> OU QS OBU Sog5PIHIPOUI Jozel OP zedeo “sogruido
“OU OPI 19) OEU Jod eI3JditroDUI OBÍEULIOS EQUITI E Iorjop atdutos
ap Iopejmdrueu ojusuia|s UM ELtos OSpra O "EABIJOS ogÍeo TIM
Osstp stodad "neq op ota o exonD “sjtom ens E WeIspasoid aonb Opuas “sedueprul pIed OUIOS THIS
-00 PP ELOS] PUMN PISIASNUO
Sosa SOP OBLIO] OE PARISdSO E NY “OPLHOUI 2SS9ANOU UIpquIrI
-se “suoSPLIL SP OSI0Jo1 O PIRÁ IIAJos mapod TeDos oLFuISetI
na 9S OUIOD “ODUPIIS apúeis WN WI uIs 98-23] "QAOA
O THOD I9X9UI Utopod ospla O o oBSIAdja) E “PSD O
9p aLour Ep EpnoU ep opuenb ouro) -ezajsim ojuis
"on O UreIge sou anb “sodyoLIaIso UIENLI]SSP anb
28 198 OEN “0102 O JessoIdxo OSIsUOD OBN “pxojdiod anD sat suoq gznpoid
of2sap op segápuiquioo se urnbyipouw
“PPDoLreIsa 028 nº sJ10UI Ep ajueip “log epure ouio
uspod as pure siepotoo saqgipuoo sasold seu “S1god OP BA
“KI O ul “UENENS XI Opungas our|t OP EULO) E as-Jeyra(ns
r e epeSLICO TO] SEUI “ELISUI) O NoAtosqe OE OESIADISI V
i
Í “OpeISa[ALId OJUSUMm.BsuI OLHOD SjJ9P 9S-IIATOS BE à BUISU
i “1 O SIJOS PONHO? NºS IRÍIOJaI E I9pod O UIBIEAS] opssaIdxo
í
1
l
ap sepeprenb se uwessoonhbyita opejes emour ojad sepeoo401d
|
i sEIOq0ISIP Sy "opSdasxad ep ojuswepungoide un prugnbastoo
Í
10d 949] BUISUID O PANIPNP UPpIO EU OWIOD UNSSE [enstA THSPIO
i eu “sojalgo sop opunu o opuerdury ererpooo EPIA EP EISOJOJ
i
i
orIPÃOA SP SO | -pdODIS] UIS ORÃOLU ESS9 9XNON Pnalj [euLIOU OpÍEsToALiOS BUM
Í
: e eardeoso onb osdej um E OgÍtaJe PARISSId os OEU XIX OND
EPlod 9PUPIO EIA V
Po
-2s Op [UI] O 21 “opdusIe Essou naoanbuius EMSUD O
Vo
É
“Tezmypno eSuelou eu [jsuonIipen
E. ojuatia(o op ogsepmbr ejod essed eursur op jenos OBSEo TU
EO
1
fo “onb
t “SIS V “OBÍIPEM Pp OJEqe um e BIIRAd] “epugasur euragn us
ro
jo: OBÍEULIOJSUPD PP ZeDHO SIBUI SJUoZEe O OpEISPISUOD SMT] OP
io
S2ABE OWIUIQUO] 2SS9P CIUSUIBIHDE O ELISS FERTD O
E
OpóImigsap Pp SDIP SOU apDpirqissos Jprjpajazuf a DJOquiOjnt) OJusmIspN' ZLODOA
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
a aaa

de guerreiros e palmeiras... mas me exigem uma tese, uma ver- deu uma sensação de surpresa e de alegria. E perguntei: “Mas
dade a ser defendida. por que no mar?”.
Como defender uma verdade? Ou ela é ou não é. E a Tinha que ser no mar, ser vivo que torna as coisas pere-
verdade é que eu sou a moça negra de Sergipe, que se mobiliza nes. Um dia eu vou mergulhar a procurar do livro dentro do
em ter tido tantas transmigrações, tantos desterros. Estou sem- baú.
pre em busca de um território não-terra. Eu queria um quilom- O livro dentro do baú, o livro que eu tenho de escrever —
bo não necessariamente aqui. Um quilombo onde eu sei, algum mais duas dores.
antepassado meu viveu.
Isto é uma verdade. Eu só posso ser descendente deles,
senão como se explicaria todo esse meu envolvimento, todas es-
sas lembranças, todos esses sonhos. Toda essa vontade de dizer
“Ele existiu, e como existiu”. Essa é uma verdade imaginada.É
uma verdade sublime pois ultrapassa a minha condição comum
— ser descendente dos quilombos de Sergipe é sentir essa di-
mensão trágica da perda da terra ao mesmo tempo em que se
vive voltada para ela em busca do ponto onde foi rompida esta
história.
A que ele eu me refiro? Sei, que é a máscara forte banto, |
máscara que suporta todas as dores dos músculos castigados pe-
lo trabalho na lavoura, dores de um indivíduo comunizado pelo
peso da escravidão, dores de não ter querido partir da África,
dores de não poder tornar.. Então, a fuga e o sonho da heroi-
cidade, a morte como inevitável, a morte como o retorno à pró-
pria humanidade.
Ele deu para as gerações futuras a sua saga de homem,
de mito do herói de Deus.
O baú de vovó foi jogado no mar após sua morte.
Senti a perda do haú como uma segunda perda da mi-
nha querida. Anjo da minha infância. Através dela eu tinha con-
tato com o mundo e tudo tinha o cheiro dela. Aquele cheiro de
café que era o gosto da bebida que ela e só ela fazia. Aquele
gosto virava cheiro e cada coisa que olhava com ela, as bananei-
ras, os mamões, Os araçás, Os coqueiros, os camarões e os caran-
guejos cheiravam a suor de Madalena, cheiro que eu extraía do
gosto do seu café.
Eu queria o livro do baú. Herança infantil que me foi ne-
gada pela brutalidade dos adultos. Só há alguns anos eu pude
perguntar a mamãe por ele e ela disse: “Jogueio no mar”. Me
374 375
LLE 9£€
9880] 98 OUIOD SONostiOd PABP aUI “ojnxnIpss otour oded-seq um
SOWsAN Ten Ojo3 O Opurigano) “feISeHIS) OUY 5Z OU PARIS “T :BISSOd "T 'BISPd “dz :0BIpoo
“TZ [EXTED “OJUSUIDSEN ZENPOg ENE Opung 'OXOHPE ap OM OP Tenor
onb “sedjnosap arpad e ossoAap as ouro “IeIjhood uraquirey oprune -BN oambry OU opezyBoo] “2)ep uios opereigomep peutério oIxa "TIT
euImu “ou(-ossid “eAtISo na oLIps anDb wo nojmBIag JEM our
ap OPp5UI 9SSoAM às Ouroo “rerpnosd ursq opmype erna nouirxoIde TA OdtTS1 ONT] J0Od ma IoDoUpurrad Or “solfajIsvig sosgau sojad
as stodop “1esId EI onb uia OlaIIs) O Opurpnisa os oro) eprpussidura [ejuopno einimo ep opóesoum eu “SJUSUISJUSDOL
“optima
OSENOS UN NISNIP SUI OIL] “ZOPI4eIS op opeIuzIpe opeiso steur “> OJSoU Op Jemyjno ogômqruuoo ep “oIssu op vImjno ep
UI BAE]SO 9 SOjBIG SOU “Ej> OUIO) epmjpnDso “eSurro eum eu jaded op EIUBAdjoI EU 9S-PABZIfENUO) jepeI SJegop O “aloy our
Cons a opeims ojnur opnssa wn eArsf) Temos e opuenb -02 “oduia ajonben (ogônjos op UIBIIsss29U seuIa[goxd so sopol
TEISEUIS) OUY oT O BAESIND Opuo “OISPUIS OP PARIJOA “SOU SIOp onb > 9S) "I2AJOsa1 sopgur sens ur» OEISa OEU “soonyod eIoquIs
BISA SIRUI 9SS0J e[> PIOqUOS “eIMJe EuISoUI E 2 oem odio) onb “semajqoIld ap wiaIednDo os eIed “oonyod jaaru oe redpand
OUISSUE O sOmWEHyUN “OBIUI0OS SJUsUIeoIsy os-ppozed ejg “aIegap op ÚeIAsap as onb souanbad sodnis ap sElPJe] à SaQgõez
“OIS9N OP [EJUSWLodxy ONJP9 Nos 2 OjuauTpseN Op SEIp -Wequaa onb “apepopos ep [epi ojusuregrodiios ou eapemqend
-QY 10d sopiSHIp ssjegap sou “eIp op Urapio eu ÚIsquie) vArIso eÍuepnm eum sou q “oISau O IS amo INPI OEU SMISWIBHO
ON9DUCSId O 3 sIBIDEI SogÃeJaI se onD us “ejuonbup soue sop -eSugo snD o “opeponos BiLISouI Essap S910]98 SOPEUTUHSIAP 10d
JEUy Ou “eDoda ejonhe ojIodaz aur Oss] EIPq "OmUOdU9 UM Opur? epeUIR[D91 “GPeponos ESSOU 9P SIBIOS SSJOJEA SOP [BIO OESIADT
-“B[21 1939P ou ofasap snb “sejunsrp sesioo senp ops anb “opinar ejod onb op BÍei otoD soIBou sop Jemopred apmne eum sod
9SS9P EDUSTosUOD E 9 OpUnUI OU IeJSS Sp OPpOUI O aIgos q “oJIa] sOUDUI PPEUIMOP 9 “IDA OSSOU E felDeI EOnpUIojgold E sigos 31
-ISBIQ 0189U OP OB NO PIIINSUOS E ILaJe os eIed pSuejeq ep -eg9p OP EDIpoLIad erugêIanIo Y “OSUSJUI BUIIO] BUISSU BP sera
“poodo ep seomjpodsa sogôrpuos sep esneo 10d “ayuomi =
[91 O ouloD BPN 9 BISSU PÕEI Ep, Ermpno, esuaJald essop ojuaur
-Dojeuo O .ugnbrudo, jemmynoenuoo simoxios e rejusme el -penye oyuenb ojdure og) OBU “eIp OP WSPIO EU BARISO — ani
-Bd oJuouIjente visald as “opeymSIsu qa os epurIe erOIeUI viop SeIg OU OJ$2U O UFAjOAUS PND SLEIDBI SSQUEJaI SE 2IQ f
-BSBLISS ENS Wo OJ$9U O [enb ou “sesioo op oprIso assg -Os aJeg9p o ejuanduro sp epeoop ep [eut op vIjoa d0
“sojod sop win 9 jenb ep spepopos eu apppi
“EDUSj0d ens £ epo3 Wo» gíoiso TepeI odnis ojuenbua “ojo onb
uropodur enb oursgueInasgo O “ezaIgod à ELIDSTUI E UG) Jos nas
O 9pungtos anÔ) “Eossurnui eInypno ens e urco epi ojaotos
-BId Op Eurênsa ojad opesneo “opunul OU zejso op OJS9U mIaUIoy
o noto as onb eulo; E LISpunguoo anb sepepeg 'seroete) sel i
:
-snbeu souaur ojod “Is mio sagdejaI seu oguas eÍuepnu eum Ieo i
t
-OAOIÁ uressOd anb oItsou0a op eAnajo OBSIADI E eIRd “souam O] :
-sd “mio “opônjos joApAoId pum pIRd sajuaiy Opursqe no opueuon
-sonb eaissoldxo o oIAIN] PÍuasald ens op maDoieo sajso PIOSE ri [8P2H EDUQRSUOD EP BoISoy
We “sajegop sajonbep eprensuea ouioo Ia2012de essod sodni3
souanbad Wi TIO SJUSUIENDIAIPOI 9 ejo sose> sunSje mo o opus
-Bqop EIsSTxo OISSU OP EÍussaId e pIOqUIS “OJS1 OP UI
"BISTAB TOSA SUBI O qos
UIPIATA oNb uIo sejonbep uraIaJp oonod anb sagórpuo> ur opusa
RE
OpÍHuZSap DP SDIP sou apppingissos jongoajagu] à DIOQUIOJINA) OJHQUHISDA ZLIDOH
Beatriz Nascimento, Quilombola e intelectual Possibilidade nos dias da destruição
= a

um. adulto, e só tinha quatorze anos. Entre repetições de “con- Uma das maneiras de que me livrava daquelas guerras
-
rinue estudando”, me disse uma frase que eu guardei marcada de rua era me refugiando em casa, nos livros. Na sala de aula
mente na memória: “Não deixe que façam isso com você”. Co- eu encontrava Jurema que não tinha como se refugiar e que bri-
mo sempre ela me confundia, inclusive neste momento, ao pro- gava com todos, defendendo-se ou desacatando. Eu era uma
nunciar aquela frase. Tinha sempre aquela agressividade, que das primeiras da sala, ela era inevitavelmente a última. E a al-
embora contida naquele instante se me dirigia em cheio. E o gazarna das crianças não-negras ao nosso redor. Como se não
que me assustava sempre nela era aquela sensação do outro que bastasse tinha todo o aparato da indiferença e ingenuidade dis-
me dominava em sua presença, era como se fosse um outro eu. 4
i farçada da instituição escolar. As professoras, sem exceção,
tr
De todas as nossas colegas eu só me sentia assim com ela. eram brancas, antissépticas, castas, indiferentes e bonitas. Qua-
Depois desse encontro eu só a vi mais duas vezes, uma se todas vinham de um outro mundo, fora do subúrbio, fora da
bêbado
delas quando junto com o irmão tentava carregar o pai favela. A relação delas conosco era fria empatia, ou de total
que caíra na estação, ao lado do cesto de peixes e daquela faca aversão, como aquela do quarto ano, que deliberadamente nos
que sempre me amedrontara. A faca eu vi pela primeira vez na confundiam uma com a outra, e que numa aula de catecismo,
sua mão, no dia em que ela, aos gritos, jurava sangrar um me- dramatizando sobre o anjo-mau e o anjo bom, chamou Jurema
nino branco que a “dedurou” em sala de aula. à frente do quadro-negro e a comparou ao primeiro e a Rosa,
Quando ingressei na escola, recém-chegada de Aracaju, uma menina loira, ao segundo. Naquele dia, diante das goza-
ela estava numa classe mais adiantada, seu nome era Jurema e ções ululantes da classe, Jurema, como alternadamente o fazia,
tinha um irmão chamado Tião que era da minha turma. Quando pareceu não entender a alusão clara que se fizera à sua cor,
passei para O quario ano primário alcancei-a na minha turma. caindo na gargalhada. Também pareceu não entender quando
Pela primeira vez, embora estudasse numa escola pública e num no mês de outubro daquele ano nossos trabalhos anuais foram
cor.
bairro pobre, próximo à favela, tive uma colega da minha recusados para a exposição, porque nós éramos “assim mesmo,
Mas entre nós existia um como qué abismo; enquanto eu imi não tinham capricho”. Pareceu não entender ainda quando eu,
grante nordestina recém-chegada, era introspectiva e amedron- que sempre tirava um dos três primeiros lugares, tirei o pri-
tada, ela parecia nada temer e enfrentava tudo e todos com sua meiro naquele mesmo mês, mas não fui, como era de praxs,
linguagem agressiva, carregada de palavões e gírias, que a de- convocada para guarda de honra da bandeira nacional “porque
nunciava como sendo “neguinha-de-morro”, apelido que repou- não tinha roupa decente”, e nós usávamos uniforme. Mas no
sava na boca de todos. Era da alcunha “neguinha-de-morro”, início de novembro ela tinha desaparecido da escola.
tão usada na época nas rodas infantis, que eu me esmerava em Nos meados daquele ano um acontecimento marcou mi-
des-
fugir. Mas embora não fosse como Jurema, os castigos, os nha relação com ela, assim como toda.a minha vida a partir daí.
prezos, o potco-caso e O próprio apelido me atingiam; e quan- Como eu disse, um abismo nos separava. No dia em que a vi de
tas vezes! Lembro-me que por essa época meu cabelo muito cur- peixeira em punho a cem metros da escola, chamando o “dedo-
Pa-
to e natural era, como o dela, alvo das gozações do bairro: duro” para sangrá-lo, me encostei nos muros das casas e fugi,
letó sem manga é blusão, negra sem cabelo é joão”, E nós éra- com uma gama de sentimentos a confundir-me, sendo que os
mos seguidas por séquitos de meninos aos gritos, sob a compla- mais dominantes eram o medo e aquela sensação de ser ela, de
cência e adesão dos pais e dos outros adultos. Numa dessas ve- estar do seu lado sempre.
zes uma criança levantou o meu vestido para “Ver se eu era me- Até aquela altura ela parecia não me reconhecer, com as
nino ou menina”, foi o máximo das humilhações! Essas coisas outras crianças às vezes me agredia por falar diferente, e anti-
aconteciam frequentemente conosco. patizava frontalmente com o meu comportamento quieto e o
378 379
IgE 08
eum eso no onb vALUIIIpEe OBU RIOSsSajoId e opor ouisam od sequiuI SEP SIPUI SUI-Ioxio]|Sad] 'OSEWIL NoLI assoj Bjo OS OUIOS
"opeyuldeIr>ns ofogeo nour op esneo 10d “eujuour no oupusur seu “ejop OPpe] op Ie3s2 ouroo sieur OEU “PJ LUOD SIEUI Z9A EpP>
BIS N3 28, BABIIIAIDE, OBU 9Nb Nogosnf opgsaA Noui O nojuea 1EDJNUOp! St E Iedouioo sued equIlI 2] “Iozeld uIoD EABp n3
-e] onb possad E EpUFIUI PU OpOlr OWIS2UI OC “IENSIA EI uIonb E anb “ejo> opurpad “ope nou op eAavor sesoId seumBe uro “UIuI
eossad Ep ESHUP NO FonsouIop epessiduio Bro no os PAPquIAIpe ap ojtad ozduxos 1eIso 1eInDOId 10d nodauioo tejo uroo paessed
ogu onb opuazIp (Tegus e segugo sui sinb) exeuro enb apnme os onb o eIpusjua oeN c orourop-ryumêou, ep eyunoje ejod
E NODYnsnÍ oIanod O “opiNpo um op oÍinas ap epenuo ejd 2 UIDUIOU OP OgU! eJad PATes OpIs equa no umu esd “ojopl 0A0U O
TENS E JESNISI SUL OP SJUSUISJUSDY] “ojuEUjoUtos 92 oLlSIXO EUIOISY 9Pp OJs0d or IeÍJe at US nodnocald as ELLIMI V “OSTuIOS
OSI3AJUM O a[OU onD 2 UISQUIVI OJID9 O "ENIHIA P Oy ejo jenb op o exed nopnia ojuowegnoduioo nas sjueip wo erp ajonbeg
someuyjprediwoo senp sou [enb o “jneegor osieatun op Iessege our -PSto LO PIJe “OP 2 Opou! 2p opueIomw sur-Iaslongsa “euro op
ered epeuoIsjndur eis renunios sp apepissasoou e onb 2 oJ1oo BIOA UI? UIBARDIS SOpO3 Ojuenbuy “epoi ep exoy eIed noxnd oul
o “olosop nos ojod no “sepoupasunarr sejod eprAouI os I9s opU ORUI ENS “232 “PYUOSIDA SOUIBYUN OU 95 OpuejunBIsd (OLIOUI
“TOTIENÃOS NY "SESUELID sens sep wou “ejop tos epeu ofors -9p-SEIJUIMSOU SENS, 9P OPHBUIBYD SOU LSUIoU Op Z04 ELIM IANÇ
“EPEJOLIOP 3 SIUSTIENV PuIaIA BABD -sopungas ap opessed equal O&U zeajes nomp opmbe ojuenh
-snb ejo stenb sop ajueip “SIaAjAOWIaLIY SORRISO LIGO EPIA Ens 28 OBN 'OPUBYO atu PARNUgUOD epejozede euroinç ojuenbus “992
opueurrop “opuntt oudosd nas o eretosj anb pusoy a osonjrso -BJ BYUIUI “Ojtod now 10d opieupedso as oJot> O pUas ny Jent
-UOJS1d OPUNIO () “SIo1j ESSOU BU BAPOUIAp as onD osongaotos -nuos E os-TWPArBSOsUI “ojuoujedpund “sourusur so “OPUS
-21d opunur o “seZny uid o opeprsissaige mo» “Sejusp à segum uro sSOWPDSUBLIIIod SQU SEI “PALIPOI SOU 9PpuEIS OIMUI BIXEZ
IO) somossEjuSIuS “Nou op “No a “opour nos e “ejo onb uloo -eS[e eum “senp sou 1e8n] ajonbeu enspxo 9s onb epoleg -eejod
BIZEJ oNnDb Opep '“sopeprjenosiad sessou sp opiisodimo» em PALO -mss “ou-1eyjo e as-nopanb “nigeol ogU ejo “esordans op eSod
TS onb a “soureiqes “epiata ErpuUgtIadxo EssOu ejad “senp sou os “QJSO1 OU S9Q]UPIIE SOAISSSINS SU[I9P 2 Eje eIPd quauepeogyeq
anb opep ajonbe PIABU OEU “SEDURIQ SESSj0D sessou ap eum 1onb “232 nIPd EIPULIOISURI SU no onD uro oasssoIdxour oprey ajenbe
-[enib o PJo anus Iaosjoqeiso as ap [eajssodur vio oSojeip ojonbe uo> eLIR] onb o “eumasoo op ouioo “opuenp “apepneses ens
enb ajusureyoptad esPyUIAIpy “sowearInoo onb opep opeurmur PAPapIeje eurSInç ojuenbus “> “opeurquo ojuod ou souresauo
-I3J9p um ap InIed e emno ep ossoqnos eum as ouoo “op elo “IspusJop Sul Io3t93 alduros onb ep opnbe wIIm op eizey ond o
OEU ,OPr,- nb Wo opSeorundico ejonbe sou anus erojoquisa “ OLOUI-9P-BYUIMSOL, E “Ej9 UIOD 0I5NÍ 12SLIQ Op 19] op BARIUOS
98 9JUSLIBAON “Ej3 BIBd [EJA OSJe aSSOJ OJSF as OLUOD “OpuepmIso -J2AUO DUI “ossi onb Op steul seu “Ej9p BINAPIÇ EP 9S OEU Opour
9SSENUNUOS No onb Wa EpessaJojul SJUSUICAISSSDxXO PELIOS EUN ap eNIOLI Na COlSlI OU SENP SQU 9 SaJalope so “PULO E epol
9P 9S-BABIISOJ “INSos E E-OPUEUOPpUPqL “PIRPIABISUO E OPISEDO 10pal ossou oe “noredoId as ojmogiadso o eme ep siodaq
em aonb ouno wioo opl eyum ejo “eIeUOpUege E “Oj03 9p pÍueio “ogSdO 341) OEN “1042] NOW E 9 B[9p 1048] E “sopted siop wo
ep Ied Tisuoy Oo à jopiprad as, equn onb earjuoo am sejo UIPIPIAIP 28 EÍ SEU PL SEgNO se “ojumanug “epeu tefey ogu anb
“UGISUNDITo sejonbem BAEOUOIUA E 9pse] sieuI soue siog OJUPI IOJ OPoUI NojA 5. BJOS EL, Sexto se Fegsnfe eIPd NOUIeTp Sur
"BjOOs9 PP opiums equr) emo “Ie8 > “oJua equIu eu novcsede ejo “opóruBIpu eysnf espe onb oe
“NI OxSumd o opezp 19] 10d “sopepuome sep sogul sep eurojd OBZRA BARP OPUENO “EJ9p SSJUE ONNUI OWJIPPIOE O EIZEJ EJODSS E
IP O OPUSQ991 “saigod ss1594 SE UIOD ISA SUI OB BIpUsaIdms as epoy asenb onb assoqnos eIOquiS “Ejs EmUOD IRfoAPIqSS Sp OJISI
BIOSSaJOIÁ ESSOU OIquIaZap Sp sgur ou oquenbus “anb og aBne “IP OU DUOS SJA "OBUL Now Op SUIoU O UIC) OY[PESON UM Z97
OE NOSoW> OBSPIHNIApI essa assejo op [ente opiisodxo e vIrd ejo onb agnos ne anb ma EIp O 93% “ej3 E no tou “o E ojusul
SOPpESTIDAI UTBIOS BJop > mou sorjegen so opuenb o 'sagãeguigo “PISIIp elStup os OEN “seunpe seslotund sep eum Jos ap Orey
TE . Sa
opóinigsap DP SDIP SOU PPDpIngissod poRypajazu] 2 DJoOquiONNA OJUZWNSDA ZLJVIH
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual — Possibilidade nos dias da destruição
Fi
a º
- - -
das melhores alunas da escola e que tinha os mesmos direitos Gostaria de perguntar a Jurema neste momento o que
que as crianças brancas nas mesmas condições. . ela acha, por exemplo, de enaltecer-se sua agressividade anár-
Ninguém realmente pode “adivinhar” se o negro não pôr quica que a levou à marginalidade. Ela deve saber que esta
a boca no mundo e disser exatamente o que significa viver quo- agressividade era uma resposta à vida material insuficiente que
tidianamente sob a tirania do preconceito racial que domina as tinha, era uma resposta às manifestações inúmeras e incontrolá-
relações no Brasil. Ninguém adivinha, mas nós sabemos que veis do preconceito racial que imperava no meio em que vivia-
não é tão real a aparência de negação dos valores sociais, pois mos, de tal forma que em todo o aprendizado escolar nossa raca
nós não escolhemos essa negação. A aparência de “contesiação” e os feitos dela eram esquecidos, ocultados, distorcidos dos li-
da qual uma grande maioria de negros parecem portadores, ne- vrOs; era essa sensação de não ser, embora estivéssemos presen-
gros como Jurema, não é mais do que a ação corrosiva de uma “tes naquele mundo, que fazia de nós duas criaturas autômatas,
opressão racial e social sobre um determinado grupo compo- amargas e dispersivas, sem nenhuma identidade com as mes-
nente da sociedade brasileira. Com quatorze anos ela sabia que tras, com os colegas, com as coisas contadas nos livros. Gostaria
era produto de uma ordem injusta, e que não só ela mas toda de lhe perguntar, se, depois dessa experiência qué a levou in-
uma raça, daí nossa preocupação uma com a outra. Era se refe- clusive a abandonar a escola no último ano, gostaria de lhe per-
rindo a isso que ela me segredava: “Continue!” guntar, repito, se ela ficaria piamente agradecida se soubesse o
Quando observo o estardalhaço e um certo modismo em quanto os brasileiros brancos se orgulham de trazerem na sua
torno da consciência racial do negro, pergunto às Juremas que composição social “elemento tão importante quanto o negro,
existem dentro de mim.e às com que cruzo nas ruas, O que pra. principalmente no momento em que se intensificam as relações
nós representa esta “consciência racial”, que gira em torno da do Brasil com a Áfiica”, o o
salvaguarda e preservação da cultura “folclórica” do negro, ou, | Você ficaria agradecida Jurema? Se você conseguiu so-
então, da preservação da ingenuidade, do despojamento, da breviver, em que favela você mora? O que você faz para ganhar
despretensão, da ausência previamente estabelecida do bem e seu pão-de-cada-dia? Eu soube muito tempo depois que aquele
do mal, da alegria, e de outras coisas que dizem pertencer in- bêbado do seu pai foi assassinado por um outro peixeiro. Pelo
trinsecamente 20 negro. menos peixe eu sei que é capaz de você não comer mais facil-
Observo, também, com alguma desconfiança as “estraté- mente. Soube, também, que seu irmão, meu colega, tinha sido
gias” elaboradas às pressas para que nós vençamos o continuís- preso como maconheiro e marginal perigoso. E você e suas
mo de miséria, pobreza e aniquilamento pessoal. Preveem para crianças? Cóm quantos homens mais você teve filhos? Sabe
nós um segregacionismo absurdo, questiona-se, estupidamente, acham que isso é que é vida, porque só assim você sabe das coi-
se nossa luta deve ou não deve ser empreendida ao lado do sas e continua negra, “dentro da sua cultura”. É Jurema? Nós
branco; blasfemam contra nós sob a justificativa de que deve-. duas sabemos o que é ser negro, e quantas coisas por isso você
mos retomar nossos “Valores culturais”, depois de quatro sécu- . deixou de aprender. E como você queria aprender! Jurema,
los de opressão sistemática e de ausência de organização como quantas coisas não nos ensinaram. Mas eu aprendi. Não sei se
povo, esquecendo-se propositadamente que determinados “va- porque continuei.
lores culturais” não é nada mais do que a fórmula que fomos ' o Neste instante eu me dirijo a você, onde e como você es-
forçados a recorrer para nos defender da mesma opressão, e tiver. É duro zombarem do seu sofrimento com tanta acomoda-
que, portanto, estão carregadas, impregnadas, da.nódoa do ra-.. .j ção. Olha, Jurema, justamente porque. as coisas foram assim
cismo e por isso socialmente ineficazes. . com você, era importante que você me respondesse. Lembrando
nossa infância, a nossa adolescência, não posso aceitar sem asco

382 383
SE - vB
*G !QJUsUum50d "+ iRISed CIZ :0BIPo9
“E6 “EXIEO "QUSTIDSEN ZERO ELEIA OPIMA “OrSuef Sp org op Jeuon
“BN oAmbry ou opezryeD07 “Exep ras “opejerSojnep [eUISHO OJxaI "ZIT
“UBIBOJUL OUT) UIBIo “PARIURID aU uIonb rounDoId opuen?) “eue)
“10d eu WeIeureo eu Jojouy op ojrenb ou earIsa PIp mA
“UBE SST] é JEIJEIGIO Lo ogúod EUM Jeze; SOLIEA, “PIZIP no
Jy 'sedmosop uretpad 5 opãrordxo é UIo) sosardins uIABOL Sor
"onod ossou op opdezIARIOSS PJSd sIdApSUOdSoI UIPIOJ UIeIRDI
onb sajop sopessedajue so onb wmassapuajia sojo anb vapiadsa
9 BINTISBIQ ENUSS SUI QEU Nº Iemonred ojsau ouios a sed aJjsop
PotuIguIp e seogdxo oprejus: “eiSeoy -epungoid vospmu eum
2 [SAPI9/OJUI BIGOJOUS2X EUM ENLIOS NO SOJUSUIOLI SajsoN
"esfera
-B2 — JeHOIeWNP à EISDEI sred umu epeziuo(oo aloy a vAaBIDso-Xo
BLIM Jos No os-WPABIQUIS| “uipAezoIdsop aum onb sassg
“elto]
TSBIQ EIS Nº onb ogieruipe uio) pio Ozaidsop mo) RIO as-ureA
-BIQUIS] & OpURIOdIODUT 9S IBIOJ SOMNO sOMOd SOE SEIA
"BOUOS STU Tio O EORJOSUE LIFACUIBYD SUI so(g
“SJuS renan sorresquin|sop sou sou ordptud oN
"s1dutas EnSdol na onb osez pum em
* JOISOUO? OSSI UTESE OND 9XTOP OEN,, :SeQUTUI SB SEIAPJpd
SENS 9p OPUSZB] “ISANSS 9D0A SPO aC "20204 9p aued nmmonsop
OUIOD HIRJS9P SHI 9XI9p O OBU 9, BAIA, STE elos na afou vIOquIo
“OLISoUI O 9 OjsDUOSaId Q “om nojueipe ogu onb o8Ip 24]
sem Tonúuntio ng onuntor, “9SSTp SI PIP LM 9004 anDb maq
-eS OBU Sol] 'SODUBIQ SOmISam so OES OpÍdO EIS? PP SOU KIaNÃ)
“O]92U00.1d um a anbiod oj39e OEN 'OpUNUI OU JEJS9 SP EULIOJ
ESSOU O EIN, ESSOU BABEUISI] OUIOD IEP sou ureuand onb
er
opómiIsap bp SDIp sou spopiigissog orpajaju] 2 BLOqUIONNÊ) OJUBUIPSDN ZLODIH
Beatriz Nascimento, Quilombola e In telectual

ilei-
tes da FARPLA, diziam que tinham vindo falar com a “bras
ra” vinham “tomar um copo” comigo. Sentei-me com eles, eram
jovens, o mais velhos (major) tinha 24 anos, e o mais novo se
cruta) 17. Lindos, fortes, negros. Me disseram que iam pra re-
nte Cubango, região fronteiriç a à Afric a do Sul, bomb ar a po-
trariam,
sições, como apoio à SWAPO. Perguntei quando vo
“Nunca”, disseram. E começaram com aquele velho discu rso Je
ninista. Pedi quase chorando que eles parassem, que aquele dis-
nada. Que eu es-
curso era uma lenda que não justificava mais
em toda a sua pujança me dizendo, como se
tava vendo homens
fosse a coisa mais natural,, que ”.íam “Eumorre r. O major rep cou:
«você tem medo da morte Beti? não tenho, o instante a
não há nada”. ,
morte é o medo, e se você não tem este medo
Foi difícil explicar para quem ia morrer o quanto eu via
bebendo com
de absurdo, como eu não me conformava de estar
o rosto deles
moribundos. Mas ao mesmo tempo era belo olhar F importante, no momento, a incorporação das minorias
cabeça
e ver aquela determinação. Somente o recruta baixou a dentro do sistema global (sociedade global), porque isso
Jembrando a naturalidade de tudo. O permite um maior enriquecimento humano da sociedade
Conversamos muito sobre o Brasil e eles me pediram pa- e do Estado.
s fragmen-
ra recitar algumas poesias conhecidas. Recitei algun Por isso o Movimento Negro deve voltar-se para os gran-
e algun s salmo s que me des temas nacionais e espirimais. No primeiro caso, a ascensão
tos de Cecília Meireles e de Drummond
Eles repetiram algumas vezes comigo e eu vi cultural dos indivíduos através de uma melhor educação e um
vinham a cabeça.
lágrimas nos olhos do major. Ao nos despedir ele me afirmou bom sistema de saúde, entre outros. No segundo caso, a con-
que ia desligar algum mecanismo do carro para não ir aquela tribuição que a cultura negra pode dar através da religiosidade
noite para Huambo. Conversamos até a madrugada e ele ne e das artes.
nuar falan o
prometeu voltar no outro dia para a gente conti A religiosidade tradicional africana no Brasil possui ele-
e.
sobre o sentido da morte, não mais com º discurso de Lenin mentos variados que abrangem desde a espiritualidade, passan-
ao
No outro dia tive um compromisso e cheguei tarde do pela alimentação e acervo emblemático dos orixás, até possí-
mesm os
hotel. Eles estavam todos lá, mas já não eram mais Os veis soluções de conteúdo psicológico, ecológico e da ances-
despedimos.
do dia anterior. Bebemos quase em silêncio e nos tralidade.
Dias depois o nome do major José encabeçava a lista do coman- Num país de forte tradição “tribal”é só ver as formações
s.
do desbaratado pelos sul-africano sociais indígenas e no passado do africano escravizado, Foram
homens de sociedades arcaicas não-hierárquicas, não podem ter
Meu deus, a guerra é absurda. Eu queria parar a guerra já olvidado sua experiência do passado, onde a fraternidade, os
na África e em qualquer lugar. Não acredito que o sonho haja 113. Texto original datilografado, sem data, localizado no Arquivo Na-
morrido. Não posso aceitar a morte do outro. Em . todas as cren- cional do Rio de Janeiro. Fundo Maria Beatriz Nascimento. Caixa: 13.
ças isto está escrito. Código: 2D. Pasta: 2. Documento: 8.

386 387
68€ s8€
*G [ORISUIMDO "F :BISPd "ET :exTOD “dz :oBIpoo
'OJUSUHASEN ZLHPOg PURIA CPM “ONSUeS ap om op [euonEeN camb
-Iy O OPEZIEDO] 2s-ENUODUO “EJEP WISS O OJLIOSNUPUI UIS “Olxa! 218
“[enssoUy EIS “Ojueg enBu EN “PII
-NWUI Ep opdeirooe cogu E “elos no EuUeamy PrIje ep Jogar OU
ou puo-esau 3997 "eadnrroguim “9 o oquenbus EpIA E Ieziuezio
2 9410UI EP OPpouI O IS9UDA 9P EOIBO] SEIA PULIO] P PISOS
.. "0po1 Op
ordpund o opusos/oqrIsal “sIoAIssOd SEDIBUI 9P OISWINU IOIEUI
o opueitdeo “1opisIxo O EIed Fep o ovisy odio o eIrd sepro
-OSSE NO SEPpEUODE[51 SogÍeulIOraI Inquustp onDb “feigairss exIe>
eu OUsIS91 OJod sopnuas sop spAenE OJHSWIpSquO> op ongrar
O 2 SOWISOD OP ODnIgUaS ordpund o “ojusureatetegsur “ajuos
-sId O UIOD) “SOUETUNSUOD SOUISIPDIE SOR SOULIDIIODSI OY
“JSAISSILUSUBI) OP > OHIQNSUEI OP OPHUSS O OBS RIA] BU UISUIOH
op eHQIsIH ep sopunos] sopnuss so “GJueIIOg 'as-opuopusid
-Sop BIO os-opuejdoDe eIO “ogdejS1 SJUPISUOD UIS OEISS SIDAIS
“FA-OBU NO SIEHIOJEUI “SESsEII “SOÚIOS SONNO “OSIDATUN
OP OBÍPUSPIO EP ONUaP oJIsup UM 9 alpodso eridoid
Y Bpourjd ou eueumy erpuguadsa ejod wreysuen orD
SOLISIPOTE Pp ONstSaI Ojod Ze] o5 SOAOd sOp eLIQIsIy
io
É
"SOANI2JOD
SUaq WIRIOS 2peprsoJous8 ep ronpeid e > apeporrepios 9P sos»
SE Te er e
opóirigsap Dp sbIp Sou apDpigissog JOngosjo3u] 9 DJOquiojInÊ) “oguaunosDN ZL1302H
l Possibilidade nos dias da destruição
Beatriz Nascimento, Quilombola é Intelectua
e rico no conjunto das Ao mesmo tempo que se esgota as fontes de vida afri-
de, o faz até agora um animal singular canas, novas razzias são feitas nos bens territoriais, acervos fa-
miliares e étnicos (estatuária e materiais preciosos) e o mais
vêm estabelecer uma Te-
Verê estes curtos parágrafos acima grave, o sentido de criar reservas ou áreas limitadas de preser-
eto de implantação do
flexão original, após a leitura do proj vação onde se infantilizava o africano. Desta dinâmica revestida
primordial entre a
CERNE. Me vêm à memória uma diferença de violência e sentimento de culpa, a ciência europeia disseca o
: a História (univer-
história da espécie humana e sua disciplina homem do outro continente, compartimentando-o como algo
nte disciplinar da primei-
sal e regional) e a Antropologia, corre especial e ao mesmo tempo generalizando seu modus vivendi,
ição dessas sua vitalidade, de seus bens individuais, sociais e espirituais,
É inici ar este texto com à opostça
Por que procuro inici transformando-o num esquecido.
humano? Respondo, que é
duas “matérias” do conhecimento Este processo ainda está em andamento e parece ter um
rrentes ao passado dos
devido ao fato das duas serem tão reco caráter irrevogável. A ciência dos nichos pode ser compreendida
i descendentes. na essência do conhecimento da relação totem e tabu. Embora
é uma história escrita de
aficana história viva do nosso povo AR contribua para a superação de dificuldades da compreensão e
de drama da
saques, de crueza, de morte. O gran Não convivências de um indivíduo sobre outro, isto não deixa de ser
de crime original,
do colonialismo econômico, não passam pac a dominação, colonialismo.
dor. Procurare!
me interessa recorrer ao velho coloniza e O “saber africano”, está em museus, bibliotecas, templos
porque passam milhões
nar o pensamento às adversidades o povo ne acadêmicos ou religiosos, ou seja, nosso saber é catedrático. E o
principalmen te,
seres vivos e humanos no mundo e, que isso significa? Os acervos resguardados no Ocidente nortea-
produz um processo de- rão nossa vida futura, carregados de estigmas e marcas de pre-
sro do Um cáme na origem da História conceitos. Teremos nas próximas gerações de conviver e convi-
volta à morte. Seja em
sencadeador que se torna repetitivo, que america- ver bem com isso. Afinal, são os registros reais dessas inter-re-
do achamento
vida ou [...],'º ao longo desse milênio lações entre europeus, africanos e americanos, assegurados pelo
no buscou saídas de libertação para este cr
no, o esforço huma hemisfério hegemônico.
nunca antes, ao nal
culo que se fechou desde 1492, creio que Vejo nas propostas do CERNÊ o lado positivo desse pro-
dos do mundo vêm ten
das três décadas recentes, 05 coloniza cedimento. Resguardados os registros do vivido individual e co-
que transformou-se em vio-
tando resolver esse impasse arcaico, letivo é uma tarefa dignificante. Vejo-o como um centro de pre-
do, período do neocolo- servação dos emblemas e das humanidades negras e mestiças
tenda. Já nos meados do século passa na Bahia e no Brasil. Esta tarefa, na verdade, foi iniciada, em
referido teve como con-
nialismo africano e asiático, o esforço | “A 1974, de dentro das universidades brasileiras.
da ciência antropológica. Em
traproposta europeia o nascimento o temp Os alunos negros da Universidade Federal Fluminense,
crise no centro, à África ao mesmo
momento de grave através de professores, da diretora do Instituto de Ciências Hu-
i a população para o tráfico bra-
dores do o "” manas e Filosofia e da chefe do Departamento de Antropologia,
sileiro
eo ocup
é é ocu adaa depr
pad a edatória ment
ôriam e
ente. peloss «coloniza
pelo
- Maria Beniel e a aluna Marlene Cunha, organizaram as primei-
estes estavam os estudiosos do aníropo,
norte-europeu. Entre -. tas semanas de Estudo Sobre o Negro em Niterói. Por trás des-
vam expedições e a con.
cientistas e naturalistas que acompanha “. tes eventos havia o objetivo concreto de reformular o ministério
de negritude.
trapartida negra foram Os movimentos 1.. da Antropologia Cultural que estava impregnada de conceitos
nal. “do “primitivo” não visível.
115. Palavra Legível no manuscrito origi
391
390
E6c co
9P SOUE SIOP 2 aXA sop [eS1 OpeInNsaI1 O opeponos Essou E EI -SDUZ "SONINp sous|d snas sop cio EU “PpLJOS EIOquIa “essaIs
“ed opuessed pisa > numbpe [euojsgu opoy nas ou oI89N ojuou -UI 2 SOLIBIITRJO) sOBN[ SOp BULIRS9p AS OBÍPU E '696T UH
TAOIN O :ERPIUNTHOS BIOpEINPO EJoIeI ENS E SHeD0) OU HNHAD "ajod op ONsISal Nas 9p atuou Lia 9juour
O PIPd ajuessalaJi stemr ojuod or soure$97> mby cT -[2DOS OPRUIUILIDSIP 3 OABIDSS IDAIA OP 35-OpUBI Og] “OBIBIISAI
E IEISDUO 2P BJaiz) E Ergo ajo E 9s anb à soprurido sop ounm
“Tem 2 O0LIQISTA “fermjna ogrsauos O vARIpE os anb wrauouy op Jogajul emo e o ogógiadns E opuzi
ommno um 3 enb “apepruisporu gp sierojem sowues so ered mos -noo1d sojum[ sopoz somearIsa anbiod oujeqen a3sa 0H
“INP os sajo (sieimymo sealosol “ogdeaIosaId “opôpAIasuoD “op5 “eJouejd ou sloy oueumi epeo
-PAjes) oonigod q osotBro snop O souiedtojos ojumenbrg ap 0dxoJsa OU BPIAJOSI 128 aqeo IEMDOS OEPIBIDSO ep ogIsanb E
“SIE so SEA 2 PISoU OB]SoND Y 'SONSjiSBIq OP ESSBHI EP OSS9D0Jd TUNU 98-N9]
-Roodsiad ap sejusIagp sessa Io opuep as piso oJsonioo sajap -I2AtOo Sua mwepides onb sjed ou jegojê osssvoJd mn 107 anD “ei
onuoIus O “OUNSUOS OP Opuntuz op semanas à sus sop ouros -CPEEOJSIG OUIOD “I9ZIPp OSSO] '0189N OJUSUILAOIA O sJUaumjeuors
UIsse “SEUIOPOUI SEISOJOUD9] SEP 9 OpÍIpnio Ep femios opõe “91 JEDIPUI SOU9UI OJNUI “SOUISLITAUOId IEINULIS]Op EJB] 05B] O
-Npo Pp suoSejnea sep os-IeDyataq eIed sosped somno tos op5 oe “ASI ep sounje sop oujeqen oe opelodas out-t3] Oy
-“E[9J UIS Temo ur sopednooos1d 0EISH "OLISSUL OssI IOd “sosoros
“TA 2 SOADEJNUINDE SJUSLUEUISNXO SSISWjnm 2 SUSI OBS “ano OBPIABIIST EDP EUMNEIL OP EMO) V'I
nas “sa1apr snos “sIeUOpEU sola sENS SEU OprJUASSE FISo UIoUI
“OW 9]Sy 'PLIo) PP sopejixe so “sou ap pSuaIsjp epungoid wo :SogIs9Bns WIBII
“opezreiuo um 9 “OBIEY “SJUSUNnto. OP nies ogu afg Z'T -os onb sojãod sunspe IejueAd] op BLIPISOD “PILaTIsEIg-ONE SP
-gprontãoo e essed [enb ojad sopepIstaApe op osseooId oBuO] 91
"000Z OUE OU ousa] -S9p OApEIDO eWIp ne 2 10perpesr ojod um 1o0nb os OINI90) OpHaJ
BssaIBUT onb ouEoLIJe OAOU EM ap Jenixorde sowea onb q “opid -31 O onb olan “QuieIUo ON OPpUN] Sm-mejeo UNHHO Op seisod
-TXOJ PISO “sou pIPd “soue OOT EU NOUIO) as eoLy e anb usa nq -pId se “OPOUI SIS9(I “04 UI2 SONUONHS SOSIDAIP SaIs9p qquedio
-e) 0 onb 134 “efos nO “(SeNJOUy a Jseig) eDLI9UIy é ooo [ejuou -pIed 2IOpeziurBIo a BIIQISTY OP BIOSSSjOId OLIOD BABIST
“FUODISTUI OBÍP[91 E 1opuoImo a “ojusmouw oxpowId sjsou Fe) “TeImI (no CrugiaTa
“USPDO ONUS) 9 [EJUSPDO EDLIYy E oIgos ILYJO O IR3jOA -pd nos opurdIojor atuomreojuopuis anb asenb “seonyod sopep
"SEDUQUOS seiueie JBDUSSIpBou Was “OJIRISMUM “noso “SeJIS[IS2Iq SopepISISAIUN SELIPA SEP S9ABNE EDUPIIL ENS
"SU9AOÍ SO EPpHIE SIEUI 9 ONPIAIPUI O ajusmwedouud “onopseig UI) BABNJE OIS9N OJIoDUIAO]A O “Ojaford ojss opueiuedimiooy
-OHE OATSDP OP OlosnueuI OU 3 OjustrepnrOduUToo OU “oquauresuad “SPINO| 2 SEImJPISN] SELIPA SEU IESN] Nos OU OIIS]ISLIQ-OIJB
OU SUOt OP à CNUD> OP sosjed sop seruoniaSoy se sieur EpuIE J2S O 1220/0221 9P OdIOJS9 UMU SPINIISQL SELIPA LIS UIBIOPp *sOp
9210/91 2ND OJUNSSE O 2IGOS OESTA BUM IPISoHALIÍSSA T'I -punnjge siodop “sonpjeqen snas u1oo TP "QE6T OSBT 9P soue
sop euzoiome-ouou o erdoma eisojodonuy ep ejenbe ogu
'9JUPIPp UIS EI anb seznj seno opueBof seujdistp sessou UIRARISS SINSUIEI
-O8E 9P SEJSIe] Se SEITA[ISPIQ-OIJE SOgôpnsuI se OpIaqeo -28 “saJossajoId sassg "euidiosrp ejanbep sojisouoo so TeIAmnSo
“TEUODOUIA SOUSEH 9 É -31 9P UN] E ogÍpuIgIBoOId 2 OO 2p SSABNE “DIM OE “8461 US
k
fermnyss stemu *opurgoId srTeuI IeÚTo tm 92919 à 1exed fera OBU Êt “a LHONSH E 9S-WIeISLNp 'sotnpe sossa UIOO UMUIOS OSIOJSS TIS
“sopezILIM|egns soAaod sop ossad01d assa é Ivp es exanb onb “oe CynD Op ssjopisdes o eISojopos “euoIstH “ergojodonry
SUIou OIMO no siso efos *OIS9N OJIVUILAOJA OP Ejozel E oque) 9P SESIF SEP SOPEISO SOLIRA SP saJossajoId “oIIsuIjentry
A O
OpóIniusap DP SDIp SOU Spopiigissos IpRpejaquja Djog LIOFNY) “QIUSUHISDA ZINDoM
Possibilidade nos dias da destruição
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectua!
plena. Isto é, sem novos à “colonialismos”. Temos que investir
juta da nação e dos descendentes de africanos. Para se perceber nOS proventos.
está
o afro-brasileiro é preciso extrair dele a nova geração que O país sempre esteve aberto aos estrangeiros e só recen-
ganho desses anos. Ele conse-
apontando e qual foi o verdadeiro temente exilou alguns de seus filhos, mas eram homens de um
s para o
guiu ter O domínio sobre seu próprio corpo. Olhemo extrato social mais acima, portanto melhores equipados no exí-
corpo de um menino ou menina pretos. A luta contra a diserimi- lo. O mundo que se descortina, termina por quebrar os últimos
só uma
nação racial onde nós nos envolvemos trouxe, até então, bastiões de fronteiras. A tendência é liberar cada vez mais áreas
onde é exer-
«itória: o nosso domínio sobre o nosso corpo preto, territoriais de conflito e libertar o caminhar humano. As popu-
conquistado. E
cido a liberdade de fato, único espaço realmente lações de-vastas áreas mundiais estão crescendo e a nossa, galo-
tinha que ser assim, a miséria nos envergonhou neste século.
de forma extensiva, a li. pantemente. Os discursos do Movimento Negro/70 chamava a
Embora ainda não esteja acontecendo
plasma pró- atenção para os homens e mulheres sem emprego ou com bai-
beração dos gestos, o fortalecimento de um tônus e xos salários, para a recuperação e assentamento institucional do
relação
prios que estavam recalcados, privilegiou-se na luta em órfão abandonado e da criança, para o respeito à vida da mu-
po-
às questões econômicas e jurídicas em busca da vontade de lher negra e a preservação da sua descendência contra um pla-
a,
tência do nosso povo. Tabus do sexo exacerbado, da preguiç nejamento familiar que fosse de encontro aos cuidados com a
s por
da malandragem, do jeitinho e outros, estão sendo jogado
ros. higiene do seu corpo, seu direito de escolha e provimento.
terra por essas novas gerações de brasilei Ao mesmo tempo em que liberava a voz através de um
1.4 Aí é quando as instituições do tipo do CERNE deve
a a di- pela ausência total de apoio econômico monetário. O discurso
intervir e dar suporte para que este brasileiro não esqueç necessariamente caiu no vazio ou foi institucionalizado por par-
quer tomar. O corpo preto que se
recção que verdadeiramente tidos de esquerda, daí as facções e o “xitismo”. Isto em si não
Soul”,
educou e se fortaleceu pelas danças comunitárias: Black
sos de libert ação de um povo foi, nem é mal. Era o instrumento mais poderoso que o Movi-
escola de samba, terreiros religio mento Negro possuía. Sua realidade exterior acho que sabemos
só contav a com
que no decorrer do seu processo emancipatório
a arma da mente do que se trata: pauperização, ausência de elite, desinstitucio-
seu físico (muitas vezes não bem alimentado),
por si € nalização que me parece muito difícil de ultrapassar, a não ser
e do memorial corporal e um profundo amor e respeito por uma viabilização político-institucional de associações como
ou o escra-
os outros e a nação submetida. Nesta medida expuls
dife- o CERNE.
vo ancestral, recuperou a vivacidade, o olhar e tornou-se
tica havia estabe lecido . Em
rente daquilo que a ideologia monolí 2. Os recursos devem voltar-se para a tarefa educadora, reedu-
coloni zador interno ,
certa medida, também, expulsou de si O
proces - cadora e de formação profissional dos aptos a ingressar na força
onde se auto-reconhecia, ou seja, descolonizou-se. Esse de trabalho.
so é irreversível e deve ser cada vez mais ativado economica-
afro-
mente. Creio que assim é que queremos ver, no geral, o
a todo o A mim interessa saber, como por exemplo, um jovem
brasileiro atual, e quando falo de economia, me refiro aluno que em debater por mim e outros professores na UERJ,
espectro da filosofia econômica. Tem que se investir no tempo,
durante uma exibição de Orí de Raquel Gerber, discorreu sobre
pois como sugeri anteriormente em USA e na Africa Centro Oci-
no- a rejeição em ser um africano e afirmou-se brasileiro, mas sua
dental (principalmente de experiência linguística similar) o
plena realização profissional no momento no país está colocada
vo “negro” poderá vir com muito vigor e aqui encontrar nós, Os
e em dúvida. Imaginemos que este rapaz, com pouco contato com
outros, profundamente despreparados para uma relação livre
394
£6E 96€
“TeurSEro OJLDSNUETI OU [SAfBaT BIABJed “9TT OUIOD OEU IPUSII :,EO BIEÁ UNHA pj op soperedosd sorreq SO É
gy esed wrosr mnbep soperedosd sojueg so ostoosd 2, Vs
-pd sens “opessed ou ojueq oosajusied op ogadnIIsju Bjo dam
“SENRYpmU” sogiõol seu a sed -sed ejOSUy op jeuopeu opônustoo op ejaxes e aonb a ão
OU SSIPJUIS sopeppus uid? soreurunaId soyezuon gg 2SSTP GUI “BIIOPEPISA 195 E HA ELIopod onb eidom suma cs
“YWO “P SEIOJ2HP UI0D JenUOoUS op opeprunhodo sam a
"OVNHS 9 IVNAS O OUIOD EDIUDZI OBÍBULIOS SP SOjISUIppaTaq “6261 wo “epuen] e my opuenb “ojdumaxo 10d our Ja
-sod ul
“BIS9 9 S9PEDISISAIUM UIOS OINZANOS UIS OJ97 0ISj *[erotur oonyod +H9T “EPIs Oq BUM OÍ2A “OUIOpOUI 9 [ente Jozej o ONO op
OJIOJS9 98S9p SazoA-eyIOd ÚIRHIoS onb sieropeUIMnF S39)B]oH SJUS1IA EUM OP IEISUOS SASP oufeqeo O “JopopusoldiIo 2 oa
9P ESP Ep seIsmjepodso IeuIom 10d opurdouros “seprajosa sa -“Dnpold SJWareoLIOISTN ES JO P SOAPIDSA 9p SIHopuosap O &
“Ted se SUNUIOS sOneUmY sosmoaI ap a opezyeodsa [eossad ap “oannpoid op joded o Jezuopea eisodoid eu sjueyodui à uma
OJUSTICUTSIT 'sepeoom sjustreooIdypas 1os weLIapod anb soos "PooIdpos OBÍPIOTe AP ajusDsaLo a ODNBUISISIS 055950 es
-SHOId 91IgOS sagÍeuLIOJUL ANHAD ojad epelurad] eras =
“ses9JOBUOD Saga SE à EIUGNÊ “ONGEquIZ “TUPS) TILHABIAL p
“SESUSI9Fp sens ap sajuspuodapur soupumIiy sezas somno so toa -son “BLSSIN “2PI9A Oqeo “enbrqursioa 9UMmo ejoSuy op : a
SUSI] J9)9UJOJ > Iopuside e oImu sides PH “alo stenr -BU se MOD OMBaS à CANSJo OJEUOD da
Sp 9Ppº1 OP oqusupDaT
BLPJoURjd o EoLIQISI OpÍLIOsUBM Op OjuSuIour ajonbep no ajsap -sa OP SPABNP SUSG 9P SED20N Op sopepyepusiod sezmo dp
JUspusdopur Jenuntos rea epra e enbiod “orxuyny o esed opered syIejIOdII q 'SreJUSUMUODIAJUE sagópumoJul SEU Stem
-“SIÉ JEIS9 249P ONSJISEIG-OIPP O “SIM op sagisonb sens opusa -npoid so aJltauros 3s-gaumlsp INHAO Op essodosd EN T'T
“TOSA 0$IS9 UI9Q NO jPUI SOÇÕEU SE 9 SUoUIOM so “asdife>ode um
9P Biloq E SIEUI sSOLIPISS OBN “ONO O UIOD OsOJradsa1 OrAjALIOO “eorurguip “eupaoduio) 108 SA9P a
-pmêos 2 Juetole
2 OPÍBITUNTIOS “QJISUIDSWUODaI “Ojo UIDSUOS ap ofey “zed op some.
-sUen esso stod “ogámDo]e op sojedso soAou onuSp mbe es
o[ey opuenb s oImIny op opunia op Pjate) eum q susuroy so em -31 QJUDAITRIMIEN “BIO 9Pp OgLI ap OprDJoUI Op OEISSi
“Uo Zed y “op5eIadns Los E>poUaS WoSLIO ENS LI1OD as-JenuoDUa em a
-njos e eIed ozeid oBuo] 2 orpoul e odedsa JLIGE apod
e BIjOA onb “opeIsimsHen OAOd UM Sp JOpeuomge ajusmepuny um 9 PÍ oJUoLI uIo 0JS1 32] JeIquIBIIOJUE apepussaise ºp a o
-OId Osssd01d UM 3 OSST JOPEHOISIY OP EJSIA Pp oxIod of oonod um too seueoLIPe sogõeu sep oproIour o ered ope :
. om [UT] 9 JeDos “0ons9mop nqe! um ap EJOI EAOU Elsa RIRd sogÍeurrozur sp alma Juqe op OE
BIS L9Jol SUL OUIOD BSLITY V 'opórtoge e sode sour sorawud sop -093d E PLIBIZOI NOS OU 19) APP J9A noi E GNTEO O
SOQÕBIAS SE PJ SOWIPPIODAI SOU OS OUIIXPUI ON “IBIEIPy opessed jeprul PIIUgISTSSA ao
Elas 9 S9TTOU tos noxtop sou og5dniraur ejonby jepossooisd o leid oEU emb A a
“OpejIXo UM NO, Opezinojoa, um “es eypus JOLDIUI I9D9 a
aJU9OSUODUI SOSO] OSSOU OU Pisa POLYy “epiAnp mos qq 9P OSI9ADI O J9S PPUIe NO aJUDIIPIISJem 9
2s “IaDSaID OP OBÍIqUE E S]9p Jeip opod (oxtaBuenso E e
“pingos o ajueursaye Teapsuodsal -dxo PAOU E 9 (ONSFISBIG 198) Oprsquoo OP OBIBAISSA e (ay
“PPEZOPUISSIS [PIQquIPITUY PonHOd eum ur Ofey anb ossy 10d “EIS O “[EJUSPDO v>LYy wo oupeqer um eIed LA ab
"OBSISATod 2 ajruriod anb “eJuounoLISque “Lrojos our onb E ouro -sa aj> “ajuada! ap “ond “opuniy ou afor pa onb 1e8n É a )
Op OpjtIadnDalr ojusmeuy > oupegen ojod ogSomosd “soanajo Wi SaJuSpu92s2p 2 SOWPDLIE UIOo ISAtauoo onb id !
sotpenb ap opgSEuLIO] 9p OJumsse OU ajuaureLãos Tesuad e IRSoUI ep eiganb esso sode “orpour oxojiseiq o onb someSta ms
-02 9pod “INHAS Ouros “sepnjoo OUISaTI “OuIsfUPSIO UM SEIA “PIO
“UQJoIA aIoBns o omymipsa 2 Is Wo anb “oaIsseu ojusweinedar “BIG OP IO] OUjeqem op eIsodosd eum 1949091 essod “TOLIDIKO O
PP E e E e e
opójn sap pp SDip SOU APDpiGissos jongospaqu] 2 DJOQuiojINA) 'OquamoSDN ZLODPE
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
TO

3. O Acervo Vivo do Candomblé e Correlatos

3.1 A medicina, a saúde, a alimentação — medidas ur-


gentes. É
As várias vertentes do candomblé, mais do que qualquer
coisa, podem apontar novas informações neste processo curati-
vo. O recolhimento de informações pode ser redistribuído em Continuidade e Descontinuidade Histórica dos
produtos comerciáveis e intercambiais com o continente origi- Quilombos do Estado do Rio de Janeiro
nal, tão rico em matérias orgânicas, seres vivos e minerais. A 1830-1888/1888-1988!”
produção literária, acadêmica ou não, pode empreender estudos [Projeto]
de recolocar distributivamente os produtos da flora e da fauna,
conscientes. É outra sugestão que faço ao CERNE enquanto in-
formativo de rede de relações internacionais.
A sabedoria popular acompanharia este esforço que no
mínimo beneficiaria a medicina preventiva e a permanência da
saúde física dos humanos.
Através disso, o trabalho volta a ser valorizado e a rela-
ção do homem com a ecologia menos conflitiva. Isso pode ser
feito já, a meu ver, voltando-se inclusive para as regiões centro-.
americana e caribenha, seria uma tarefa de restauração e inter-
1. Significado Científico e Social do Projeto
câmbio entre as várias instituições do Movimento Negro. ÂÃo
resultado final deste projeto consistirá em gerar pro-
mesmo tempo, as insígnias das entidades devem ser organiza-
dutos e subprodutos referentes à história dos qui-
das por suas marcas e tipos (logotipos) e distribuídas como iní-
lombos da Província e cidade do Rio de Janeiro e
cio de patentes de transmissão informalizados, seria alocar tan-
sua Telação de continuidade ou descontinuidade his-
to em África quanto aqui e no Caribe o acervo emblemático do
tórica com as áreas atuais de favelas, assim como áreas rurais
movimento político de entidades sendo isso resguardado com
de economia em transformação.
respeito de negritude e espiritual e transmitido nos bens troca-
dos, nos nomes de associações intercontinentais em nível de um
Pretende-se que daqueles produtos sejam:
organismo de caráter mundial. Faria, então, o CERNE este tra-
balho de restauração e tombamento inicial dos fatores espiri-
“a) Publicados artigos em revistas e cadernos de institui-
tuais e políticos deste processo atual, partindo para a informa- ções e associações acadêmicas;
ção e troca com as partes mundiais integrantes. b) Gerados materiais para montagem de exposições, ví-
Seria manter vivo e atuante o espírito da década de 70, deos, dispositivos e etc.;
momento da queda total dos antigos colonialismos que deve ser
vivido plena e serenamente no futuro próximo.
117. O original deste artigo, datilografado e sem data, encontra-se no
Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Fundo Maria Beatriz Nascimento.
Código: 2D. Caixa: 14. Pasta 2. Documento: 5.

398 399
TOM 00%
-sqo UM IMINSUOD 9p Z2A WIS “SajuoJ ep elpugsne ep ogisanb e
-OId E OUIO? UNSSE “Sojueyigeuy snes s oquiomb oe sopmqimne soa “eyeIsorar sjusidpur vumu sopnapai TILAX 9 IIAX somos sop
“FSUOS SOp EDS opóBjoldisjuIsa E “eyeigouonr ep opSeorqnd SOploWlOD sIeuI Soquio|mD SOp SIEDDIJO SOJUGLINDOP SOU EPpIZDPp
e PISAOUIOIÁ sOpep ap OjuouIEINPAd] O “OPRUSS aJsaN “PR 2hUguIiaaA NOQUES ODLIGISIY OJUSTUIDIHIOdE 95S9 SS
*S995T] 99991 Bjop usanb 10d elray esontiso “TJesoduis] spepmunguoo uros “oonyjod ossgaBIj um ou
-UO)21d Ogstlssrde eu a pInyeIen| ejonbeu sopesrerre op) “ojnoo -02 “OPIAIA Telos osedss op ogsezmwedio ojuenbus “o[-9] 2 aJteA
-BUJeA “sOISou op OLBnjo1 OUISDIPUPG SP sogõou se 'sojuanraja -pISP sie O soquomb sop sedueyjamos o sEjUIaIoHp “sopep
SOAOU UIOD “OUIOdENUOS [JPOHO ELOISIH ejad oquiopmb op opeu 1
-“Togroadsa Opel op ogd “e>uoIsT| EZImIeu ap sopep E sUIs9u00
“BRO 10] onb O IeziojorIco 9 ojofoId op oorseq oanalgo O ; anb ou “oqusurepungoide op EeIjey essa opungold sreur ojmouI
| -DoUUOS Nos OP sauied semasqgo used “oquejants “Teuoro
SOAR9ÍTO T'E “PU OLIEMGEDOA OP aJuauesuSgzu 9ued 1ozp] E nossed ojnqgooa
o “sepr>op sen senp sen Ololsex odedsa ou o atmouppiod
oJafo14 OP OUMSSH " -“UI9] OPIAIA O8[P UIS OJ-PULIOJSUBI! OP Sozedeo SEILIQISHY SIQÓBUI
-I0JUI 9P PIUQÃED E EPpuIe oD9UEULISA (SOjNIÃOA SOLIPA 9P SPAEE
'88sL E opiepndod endoid ejod a sorSau ssqueyqra sojad opezIjeqiA 33
0€8T 9p soue so ogurige opruso 2]sop [eiodia) anur O -“HSUIBANSNEXS OPIS EqUO] OquiOjmMb OTaTUQUI] O BIOQUA
"SOpezIjEiDodsa srerir *QAOd OssOU OP eliQUISUI 9P à [BIDOS “BITUIQIODA
SO OUIOD “SaTRIOMIS]A SIDATI OP SODNEPIP SOJAI| SOU sepnopoI ogÍnpoid ep oóJojss OU uWIeIMqINIUCOD “sojusmrpuUODIPpUOS sol
se Oque) TIseig op eLIOISIH ep EeuIdiosIp Ep seumoe] sepeurmo) -US10]rp 10d “onDb o “eouguiy E eIed eoLHy op sjuaurenosqnduros
-2p Iudns ap odrojsa or “opnisa op aJuoy > [ERUSIajos op OBITA urerstA onb siatIoy sop eLIQISH] E nounojsuen os onb wo cores
-J9S “SPaIP STPJ SIS UMEnIe tIeNqeu onb sapeprmuios sep oon193 -OUI OP OpÍemeIso: e ered sedad ap IAIos uIessod salsa anb ser
-SIY 2 [eIDOSSODISÁ “ODHOQUIS OAISIP O OUIOS “SOjtatIS|9 somno q “OJUaUIDSUOS 2p sOJuoma|s sosou qs ogu uegem onb sojtos
SBPU9] “ELIQUISUI EP SGABNE “SELDUZAIADIGOS SEP OPN3S3 O ap esmbsod E Iemanso euoIsm ap sosorpnysa sor ogro “eimes
“Opessed OP EIDUZAIADIZOS OP SEISSIPISO SPLISOUI Sep sel -BIDSA EP OBÍIOJY Ep eumIuDo epumgas E as-IEINBNBUI OP 9 BOL
-OJUS19p Jum ojuarede sogdejndod 10d seate sens ap oxraureos “BUIy Pp OPEYDV OP sOUE 004 9p opoLiad o ss-IeII Oy
-0d O 3 XIX Ojn99s op soueqm soquroynb sop oduta) oe apepmu
-HUOosap > opepmuntos ep ogisonD E Usquie) sou-BAaT “PIU9I eAneogusnç "Z
-SEX3 9P SOPOUI S1Op sajonbe anU3 sody SOLIPA 9p OIquIgaISuUI op
apepiliqissod e a1gos 1280119)UI E BAD] SOU “erjeg E epeIgjoLtoo “saguanbasgns sesmbsad se [BDUSISJal op JIA
SJUSTIOS Speprynedso Essq 'seueqin UI9quIP] O sremiI seoIp WIo -1aS BIBOSNIQ OSSIP UE9TY “SOLIDUIQUO sassa ELIGISIH Ep euidrosip
UIISIXS sf 'SEIDUJAOIZ SENNO SE OBÍBjS1 UIS [PDUSISJP par EU WazHgme onb sogÍemogui op ENDUgDUSp eu soprznper sos
-FUIP eum e Liddopago olsuer ap cry op soquomb so -dey opuejrosoIde “esredsa à enb “s]109 PP apss Ep > OIlDUP( Sp
“Tesrdeo ens 3 oxsuef op on op opeisg [eme oe Or] Op EDUIAOI eSnUe ep soquiojmb sop seopsnejereo a sogs
esmbsod e sonmazejrmm “opexiasarde opuas pIso Oojafoid oprIa] “IpuOD Sep ojusurpsquo> o mpaueu os anb wa comgeIBoLIOISTU
-1 0 [enb e orômnsur ep sogzei rod “o Trseig ou sjusueped osde| op ojmsumgpuaoId o ered eimquauoo ojsfoid O
-S9 9 EDLIQISTY Bjoquio;mb owsmguas op ogsuaIxa E Epea
"SEPE[DASI OEU EPHTE SSJUOJ SE SJ UIPSOrNUTUI sTeUI "QUIStIO 9P SNBIB SONBA
O IESISEI E OMUIASS O BLIGISIH 9P osoTpnIsa 0P ojuLiad ojnori SOp sa1ossajoId PIRd OBÍBZITENIE ap sosmo SOPpIAQUIOIA (2
a
OBÓIMISap Dp SDIP SOU PPrpIIgISSOS IoNpaJazu] 3 DJOqUIONNA) 'OqUuauHosDN ZLJD2g
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectua! Possibilidade nos dias da destruição
AP

Correspondência do Chefe de Polícia da Capital com o Minis-


dução de material de apoio didático e paradidático para profes- tro da Justiça — Arquivo Nacional;
e especializado.
sores dos níveis de 1º grau ao universitário Relatórios dos Presidentes da Província do Rio de Janeiro —
Arquivo Nacional;
3.2 Organização da Pesquisa Documentação testamentária e de propriedade de sesmarias
na Província do Rio de Janeiro — Arquivo Nacional.
A execução da pesquisa exige a divisão do projeto em
rês vertentes inter-relacionadas e em etapas distintas: 5.2 Documentação secundária

a) Levantamento de fontes primárias e bibliográficas so- Jornais e periódicos, tais como O País, A Gazeia de Notícias,
bre quilombos na Província do Rio de Janeiro e sua capi- Jornai do Comércio, etc.
tal no século XIX; .
b) Registro fotográfico de sítios e mapeamen to de áreas
que foram estabelecimento de negros livres;
c) Monografia crítica.

4. Etapas

4.1 Levantamento de fontes impressas e manuscritas (Duração


12 meses);

4.2 Registro de depoimentos orais gravados e outros vestígios.


Registro fotográfico (6 meses);

4.3 Mapeamento e monografia (6 meses);

5. Metodologia.

O projeto utilizará uma metodologia histórica, visando


li-
preencher os espaços vazios da história da presença do negro
vre dentro do sistema escravista. Desta forma, O material de tra-
balho será constituído de dois tipos de documentação tradicio-
me-
nal: fontes primária e secundária. Tendo como auxiliares a
todologia da oralidade histórica e as técnicas de reprodução fo-
tográfica ou videográfica.

5.1 Documentação primária

402 403
Sor +Or
10d “oJoN oyunsoSy op epugsne y sepeupuredigoo Jos ap sidAIs
-sod “seprooqluoS sogõemyIs & IeBN] OPUPP as-UIPABXE|SI oquourr) '€ !OJUSUMDOM "bp EIS2A 'EZ :PXIPD “CIT JOBIP9O
*GJUSTUTOSEN ZLNBO ELIBIA OPUM, “OXSUPS SP OTY Op jeuoren oambry
-U9] SSQSUS] SE OPUO PISD 'sSPDNPIISOP SEIFajUOI SE PIplDDsHEN
ou BS-BIJUODUS VIPp Uros à opeyrIgomep “one aJsop [BUISHO O "STIT
onb “TEU [eng um ouro» OPpIAISS “axiad O BQNIA H
*sopipied 03
“OI EI op sajo Opu9ZzEJSI IeJSa Sp 19ZPIÁ O sIPILI BPUIe PARJUdUI |
Ne onb opnui-1oury -opextap om gy ooIsIy odedso o eLIgoDsap
-a1 onb ejonbe 10d “epnui ogsussiduroo eu “OJeH UIOp otro [ESUBLIO Bro no opuenb pARJUR> BULI eyuror onh opôueo]
BrouQIJOs E HIa3 uIenDb ap exmõop ejonbe ureitm soje sojusmour
SaIS9N "EUISSUI E EIS OgÓOIIS PP Spepisus]u! e seul “opueIpjepN zu 92 nº nó)
Uia UNSSE [0] OEN "SoJeBN] sono sop siusIanp 1049 oueSues OBÍNIEO EJso Iejnosa TOA
“SB Wo “PzuenO Op SJueip ojuouresqun|sep now op ojradsar ZOA EN] UI q
us “ODUQS Lo os-meyupuem uresequedoose au snb seossod JUS LIZIS] SIBUI I9I9S
sy “sen eIed uloBeuI] eIsa OpuEXI9P “ONO OU ISAIADIGOS HIeI IPIOA nº opuend)
“2pnd ONO) cjoaIssod 10F OUIOM) “9SPJXP “TOLIOW “TOS 1EJURO SP SEU LUESQUIC] NI
"TAX ojmoss op opesaide UUIOIW O 98S0J 9S OUIOD SJ10] O BABIjO OBÍBIOD OP
3 ojyunf op re ossoanso ajo os “PIPpUy ul Paestod q “ezojog T2Mp SNSUF SOSIGA SO
BUUBUIE] UlS IBIPoIE Ulas PABIO O Ny “oJusoseu ens ep aSuo] OESUED BUM sNSpê OP ZH NY
“OLFTJSa Nos OP aSuO] “OLI-EIOD EP BUIJED Y “SIDAISTA UIPIO OBIF
OESS9LI B Uy4PD040IÁ anDb sopeprmanxo se apuo “epmbry ojuadias 2s-Inuss E sopepnes nojsa gl q
EsuSuI BUM Ouroo “seIpad op ojIs] nos ou eAEssEd aja à api) InJIed no4 ng
UM ETY “(eIND) epuequinb esspfed e ano no opuo 107 “YieÃoq JOTIB N3UI STOP
“WeI 10d oprsiquios 3 apra “sOpomol so emita Jem o Gem
Op BJUYUI OgSUSUHP E ui] oueSuesseIM US EZUENÊ O
"OUPSUESSEJ “aqUuIad 'ELONT “OP
“UPRIPTEPN “EPUNH YEMEN 'SOJUSUISJUODE SOP SJUPIp JEISO
Bred 9SPIXP OL PLIODDI NO SWIPISUI OPOI Y “OI OU 079] UM Om
-09 9J9U JSALA 9 9BUI-OLIQILHS] O ISA OPHIT I0J OUIOD JUO
"opssoIdol
ep opsojdxo E 104] 'ODLIPJSIHaNW-[EUOIPUSTE SJ102 UM 107 “opuntr
Op jeILISpDO oned eIss e JeSI] ou massopnd anb srepotatojol
SST SO SOpO3 OpaSdmIOW “EIJOA AP PISSSABI| PEIN ONIOS “P] IRJSO
9P OJUSUIOUI O OUIOS ejOSUY IopusJua eLand ng "ejoSuy p torta) err£ oN OT sndo “IOT2I HAI US OpmIsH
"UP Op Pp ePpIpadsop ap euro; eum 107 PrUBLI é q PrOEOI er E ria .s Ea
“EU Ep opemonxa ossovo1d or > Janbey ap ojor & op
[ASP “somo sop s110) ognuu oranbolq um ojurs sozaa
sy “PIJOSUY uIS Iezey my na snb O IsZzIp oqnos eounN
“EJOSUV op Jeje; ep stodop udouo ep na we oprus
OpÓImig5ap Dp SDIP SOU APDPIqISsOs IDNoBJaZu 3 VJOGUOJINÃ) “OJUDUHISDN ZLIGV9H
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
TE

exemplo. Todos pareciam sofrer esta perda de uma forma ou de


outra. Havia aqueles que estiveram desde muito ligados intima-
mente a ele e sofria de sua experiência. Havia também aqueles
que só choravam a perda do líder que tomava uma dimensão
sufocante para todos.
A morte tem o poder de nivelar e de estender sua im-
pressão de modo uniforme, principalmente quando se pranteá
um indivíduo com implicações (as) de Neto.
Cheguei em Luanda no dia das suas exéquias. Vi muitas
pessoas chorando no avião, um choro contido, mas de muitas
lágrimas. Me contaram quando eu cheguei que as pessoas en-
travam em transe, milhares de pessoas, uma espécie de histeria
coletiva. Batiam a cabeça no chão numa repetição do gesto mi-
lenar de saudação aos reais.

Como meus pais, caçadores, entro no jogo da sedução


com a certeza da minha conquista. (filme o rapaz)
Usa pena e um papel-meu drama. Me apaixonei por
Mas onde está a presa, entre luzes e sons? | esses dois instrumentos e me calo.
Entre luzes e sons só encontro o meu corpo antigo. Ve- Pensa que o poder ficou mais generoso? Não! Ele estão
lho companheiro das ilusões de caçar a fera. Corpo de repente chegando mais baixo como outros.
aprisionado pelo destino dos homens de fora. Pelo desejo de = wk

uma história, que hoje conta sem culpas como fui desatento no
instante de conquistar. Como chamar a isso delírio se há uma história a provar
Corpo-mapa de um país longínquo que busca outras tudo.
fronteiras que limitem a conquista de mim. Como meus pais, caçadores, entre no jogo da sedução
Quilombo-mítico que me faça conteúdo das sombras'das com a certeza da minha conquista,
palmeiras. Contornos irrecuperáveis que minhas mãos tentam Por que o já foi conquistado por vencedores e vencidos?
alcançar. Arrastamos os pés pela mesma terra-argila-planeta.
Como as dos meus pais, caçadores. i Delirar nesse espaço é tentar deixar marcas.
3
i1 Marcas fundas nos corações e nas mentes.
i
Não há uma lição a ensinar, senão o tudo representar.
E o representaré o delirar. É a vontade da beleza, é o
sentir belo.

119. No original datilografado consta a data de 15 de junho de 1983.


Referência e localização do texto: Fundo Maria Beatriz Nascimento.
Código: 2D. Caixa: 23. Pasta: 4. Documento: 5.

406 407.
607 80
TEUTÊNIO OMPOSTIWBUE OU [SAISoT BAPjPA “TZT . “6 !OJUSUMDOM “Z EISEd "PI [BXIED “GL JOSIpoo
“OJUSUNDSEN ZIP PHPIN OPIMA 'CIUBF SP Or OP [euornen oambaiy
“1oupoui vp joded o aresur os onb 9 op ou 98-entoDUs “gep ulas 2 opesesSo[nep “one sJsap [entéuio O 'OCl
-Bnb 93soN TeRos epugio ejad epezordsap sozoa seque) “eongod
*OSS99B SOUIS] 911D E SIBUOLNIJBSUL
“CRT PU as-puISuO sagópordur seíno “eonypodoreu erIIO] ap
SBISIADI 9 SOUISPED LIS SOJZAI 9 SOB pIE ap ssgjeonqua (e
EDLIQUIY PP sozred semo o jiseig ou sjusupenedso o pesoduia)
OPIAIA OSje OUIO3 O[-FONLISA soutopod “sepeuorepor-s9Jur seu
:soyueIpnsal urelos soynpoid sojonbep anb os-aptisia1g
-udrostp enbiydum and wo “ojdme siem conoa jextoumansu, wn
UIroo *oj-Pstpetie exed sowpsed es opeloLop odLIQIsE] Ousmuçu "OU
-2] 9P OBSOU E OLHOD |. E] “TEDOS 9PePIfeolI BUIN IEYJO ap ojue]
-gysodas 10] oqurojmb o as-esusd “jusueme “onb opepiogr 9P
-IOdUI SOU9UE OBIUS NO SPApPSoT SEULIO] OUIOO “ESNJ E 2 QUIS
O510]S9 ou ojuasne wroSeuos1ad um ss-euxo) “PUPILA SIuo] 2P
PUB OU sepeBI sagõou epure UIDISUELIIod “OAOHU ODLIÇOI JOJe]
sojiaumoop sou ojerirúore ou isootUemnad oe “eyeigongig PU
US O[-PULIOJSUBI] Op sazedeo SEDLIQISIU S9GÍPULIOJUI 2Pp PDUZICo
Epeio sjuamepiuo aigans oy “(sejoquiojmb) suzurou sop poded
eum ap opuaros sosueuLrad jemos|ajuy opônpold e “epepreme 2
OE SJ ouejd opunBas ap joded um ouios OpRIapISUOO autor
Bp SOISoU SEJSIANE sOjod oISpjospt PUIIO] op opezifequas 3) =
-[eroS COufurtas op oJlIgIsmy [aded O IZ2yNSISp
-“U9UIPADSNEXO OPIS EUlISI Oquio nb OUSLUQUI] O PIOqUEI
op eAnEJUS P “OuIOD UNsse “solraTisBIq soquiojmb
"OAOQ OSSOU OP BIQUISHI 9P 9 [eIDOS “EDfuIgrroDa OpÍNpoIid ep SOU JSpNu Pp vôtiasard E sojuoxaJa1 sompoidqns o
OdIOJS3 OU UeIMNQLIUOS SOJUSMBUODIPUOS SjuS1aHp J0d onb a sompoid reta8 me pInsisuoS oJafoId a1sop opeaqnsar
“BILIZUIY 2 PIB BOLY op meIotA ojuourenosjnduo» anb saxo
NU > SUSWON Sp BIUQA E nomwIosurn as onb uma oorpsour OJafo1d OP COHHTSID) opeoguugis 'T
Op OB)PINPISaI E PIEÁ stdad ap JLAIos mIessOd soJso anb seur “03
“USINDSUUOS op sojusmIs|a SOAOU Os OgH “weSen anb sajuos ap
esmbsod E 1ejnimso eroIsTH ep sosorpmso sor aqeo “emjeAvIo
“sã EP opómgoqy ep eLIyUS2 epungas e as-remBneur oy
BARESTOSNÇ "E
"saxuanbasgns sesynbsad sg [erUDIaJaI Op IIAIXaS preosnq “op
“BID OP UISTY 'SOUSUIQUA] Sass3 SIGOS POLIGISY BUIjdiostp E ÚIez
“eme onb sogSeurogur ap epugtysp eu sopiznpen “soquiomb [035[014]
aigos sosdey 9p cjnsumyuasid o anb oduis] ousa oe “ejoquio] ve1BPIA 9 EDU9ISSIA
“nb opôezIueSIO EU ISYUI PP SESnSHISJDeEIvO sagirpuoo se EA SOJIO[ISBIZ SOQUIOTMZ) SOU ISUM EP Teded O
“Deja PeISoLIOISTY E OMquunoo um Jos Jonh oJaford O
“esmb
“Sad Ep [eU OpEjpnsa1 O Opuagros oIAI Sp opSeorana (O
“IM Ep oouioIsTy jaded o opeseisap eí
-2S 9PUO SERUSISJUO à senssped 'seme eied sorprsqns (q
A
OpóINisop DP SvIp SOU SPDPIIGISSOS Jonpajazu] 2 VJOGUIONNT) “OJUIUHISDAS ZLIDAM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
TR
E ===] ==
Acompanhando a tendência limitadora da historiografia Neste sentido, é de nosso interesse confirmar as mani-
oficial, em relação aos povos subordinados e por força do cará- festações do sexo feminino, mesmo que tradicionais, como uma
ter geralmente militar dos quilombos, a mulher corresponde a forma política de estar na História. Saber até que ponto sua
um elemento ausente no contexto social (quotidiano) e político contribuição permite a organização de uma formação social tida
destas comunidades. Esse obscurantismo do papel feminino não como desviante. Até que ponto considerada como pertencente
é somente quanto a esses estabelecimentos, mas um padrão do ao sexo oprimido a mulher funciona numa estrutura de poder
estudo histórico e da historiografia geral. considerada marginal ao sistema vigente. Pretende-se observar
No entanto, mesmo na escassa bibliografia e nas poucas seu grau de autonomia que influência no próprio sistema. É ne-
fontes primárias disponíveis e levantadas por poucos autores, cessário verificar a relação de poder entre elas e os chefes mas-
inclusive nós, vez por outra, surgem referências de nomes de culinos da própria comunidade, além de sua relação de poder
mulheres nos quilombos, sejam como massa, seja na política, com as forças externas coloniais.
como chefes, guerreiras, mineração ou conselheiras, geralmente Assim, contrapor o resultado deste quadro pesquisado
destacadas por ser mãe ou irmã de chefes masculino (Aqualtune com as noções historiográficas estabelecidas (banditismo, fugiti-
e Acotirene em Palmares) e trabalhadores (as mulheres do Qui- vo e rebeldia) tão arraigadas na ciência histórica, noções que re-
lombo Grande). forçam conceitos, posteriormente, refletidos na atuação residual
Se os homens nos quilombos praticavam a guerra e o de memória do estudante.
deslocamento territorial constante, tanto em África como na Neste sentido, o levantamento de dados promoverá a
América (Brasil, Guianas, Cuba, Haiti, Jamaica, etc.), as mulhe- publicação de monografia e nesta a reinterpretação crítica dos
res, as poucas citadas, participam como integrantes destes esfor- conceitos atribuídos ao quilombo e, principalmente, o reforço
ços. Se o quilombo ganhou veemência histórica traduzida nos do papel do gênero feminino, grosso modo, ausente e anônimo
documentos oficiais dos séculos XVI, XVII e etc., a questão da na historiografia, como grupo social extremamente atuante em
ausência de fontes, antes de constituir-se um obstáculo, permite sociedades tradicionais agrárias.
ao estudioso de História o estímulo para rastrear, o mais mintu-
ciosamente, as fontes ainda não reveladas ou criticadas. 3.24 Organização da pesquisa
O estudo do quilombo, enquanto comunidade sobrevi-
vente, vem sendo feito em diversos estados brasileiros. O papel A execução da pesquisa exige a divisão do projeto em
da mulher, pelas razões apresentadas, não deve estar ausente três vertentes inter-relacionadas e em etapas distintas:
do esforço de reconstituição histórica do processo de desenvol-
vimento da resistência negra. a) Levantamento de fontes primárias e bibliográfi-
cas sobre quilombos em três estados brasileiros: Ba-
3. Resumo do Projeto hia, Pará e Minas Gerais, nos séculos [...]'2 visando
suas características produtivas;
3.1 Objetivos b) Registro fotográfico de sítios e mapeamento de
áreas que foram quilombos nesses estados;
O objetivo básico do projeto é examinar o desempenho
das diversas mulheres que destacam-se no esforço de liberdade
que o quilombo representa. É trazer o sexo feminino como força
122. No manuscrito original não consta os séculos, apenas reticências,
atuante ao criar alternativas à escravidão negra.
410 411
ELL ctr
“P :PISSO( '£ !BISPH “TZ eNTeo “az sos “mared EISoU EGRDE OJIDSNUEIN “CZT
“IPOD 'MUAUNISEN ZINPAg CURIA OPUNg "OrBUBS Pp OM OP [EUODEN OA
-mbiy OU 35-PZI[RDO] “PILPp UIas 9 OJLDSTUEI Us “07x9) 3]sop feuiêuo O)
. E!
"Z66T WB SJuatiasIssod epeo Ve
Je
“quad “Sotuas a[x ap eIssod eum eyo ejo onbrod ossi “EPeuIssesse I0J i
E
eIOME E onb uso OE 'G66T 2 Z66I 9P soue so amus OJErosa 10] “OpejeIS 2.
-O[NEP JeUISIO OU PIBXO EJEP Opumssod opu OuISSUE “OIX9) DJs] “PET
e BpUPe OpIZnpai “onunuoo OjIsuIAOLI WN 2 Spepios EN “Sem
BIRd IPO OpEXIop os-BWtS) “nsixo 2p opexrop equ
“81 OLIQNIO) asso anb 19zIp Jonh ogu oJs] “opesseden
“JA OHUIQILUSI UM “OPOYUOD O[OS E OLIOJSI UM Iajuam
-Hodxa OsIN3 O UI0O3 SJU399I STENI OJEJUOS US IENUD O
OJUSUIDSEN "TIN
8961/80/90
SELIQISTL IISZE] OB SOBSI10]M
ELIQIS UIaS “OJIuI OpEUIOL
T9AISTANI 3 OPS
INS HOUE 9P SISPTIA
1
i
sz. EEBOJOPOJSJA "S
“BIBISOHON 3 OJUSUreadeiN "E'y
HERE
"SOIBIISDA
sogno 2 SOpearIS sieIO sojuamiodap op onsISaH “Ty
*“SESSSIQUII & SEJLIOSTIUEUI SSJUOJ SP OJUSUIPIUBADT T'y
vai OO TSH 9 TEDUSISIXT (OAON) OLIOMLIST UM J0d
sede "+
"OLISPOUI BLIS]SIS UI
e opdisodo ap PoTHEUp WU SEL [BUODIPEn opepoi
-os pUMU Jogjnw ep jaded op eonio erpersouoJa (>
Opómsap Pp SDIP Sou Spopingissod JongsjaZuF 2 DJOGUOFNÃ) CRUSUHSPN ZLODOM
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
nn
EEE

um estágio de minoridade, com tudo o que este termo possa de- (nossa própria força)? Será que essas histórias não precisam so-
finir: o menor, o inferior, o inicial, o impotente e o infantil. Esse mente serem ativadas? Quem eram Zaratustra, Zumbi, senão o
território, na verdade, é caminho percorrido e a percorrer. mesmo Fomo Sapiens, senão nós mesmos, primordialmente.
A leitura, a análise e a resenha dos autores, notadamen- Por exemplo, um dos nomes usados por Zumbi e pronunciado
te de Gilles Deleuze e Félix Guattari — Hteratura menor —, reme- por seus adeptos em Palmares era em língua original africana,
teu-me a um determinado momento desse caminho. No início sueka, queria dizer, invisível, misterioso, que assim se torna
da década de 80, comecei a detectar algo, depois atualizado por quando assume a guerra. Creio que até agora nós não estamos
esse pequeno poema acima. Seria a “revanche vampírica”? (Ja- compreendendo e exercitando nossa alteridade. Pior, não a res-
nice, em anotações de aula). Em 1988, três meses após o Cen- peitamos. Fazemos constantemente um jogo de duplos em nos-
tenário da Abolição da Escravatura no Brasil, vislumbrei que, sos enunciados: somos negros/eles são brancos (vice-versa)...
para existirmos neste mundo adverso, teríamos que buscar somos pobres/eles são ricos (vice-versa)... somos feios/eles são
aventuras de vida mais volátil, leves e misteriosas, como alguns belos (vice-versa)... somos maus/eles são bons (vice-versa)...
animais. Se tivermos realmente que influenciar as mudanças numa sequência interminável. Isso não deixa de ser uma sabo-
que se processam na trajetória da Humanidade, não teríamos tagem à nossa realidade, tornando-a repetitiva e por isso mes-
que colocar nossa “violência” como uma reprodução, filha do mo insustentável, insuportável. Em As palavras e as coisas— “O
ressentimento, de recalque, de vingança sem objetivos. Seria homem e seus duplos”—, Michel Foucault, referindo-se ao desa-
melhor naquele e neste momento que fossemos misteriosos, so- parecimento do Discurso, diz a certa altura: “Que é a lingua-
turnos, noturnos, que exercesse aquele fascínio do sinistro pró- gem, como contorná-la para fazer nascer em si mesma e na sua
prio dos vampiros. Como eles, extraímos a seiva da potência da | plenitude?”"** Essa leitura levou-se a ilustrar no presente texto
vida não com o confronto, e sim desviando-nos dos obstáculos i aquele poema, procurarei desdobrar esses pensamentos.
terríveis impostos pela face perversa do regime opressivo do
|
Capital. Foi como se chegasse a esta constatação: Para que nos Introdução como justificativa
serve História? Não preciso dela, enquanto não possuo poder.
Ela serve âqueles que detêm e se registram através do tempo As dificuldades que experimento ao realizar (escrever)
enquanto poder. Neste país, minha vida não é poder, mas tem este trabalho de final de curso, provém de uma pequena série
outras expressões tão ou mais importante que isso. Por que um de obstáculos oriundos do exterior e outros particularmente im-
Rock, não poderia ser uma contaminação à estrutura do poder. postos em mim mesma. São eles;
Porque não somente o fato de existir essa vivência e fazê-la
mais bela, mais feliz. A História é como o campo e território dos 1. O retorno, após dez anos, à Universidade e ao ri-
vencedores. Não adiantaria contrapô-la a uma história de venci- tual acadêmico. Devido a uma atitude crítica, tam-
dos, ainda não fomos vencidos, os assim chamados são indiví- bém tinha abandonado o discurso e a literatura es-
duos de muitas histórias, pequenas, mas fartas e fascinantes his- pecífica. Enveredei por esses anos pelo cinema, pela
tórias. literatura e pelo exercício da poesia, da prosa e do
Entretanto, delegamos ao outro o poder de dizer de nos- ensaio. A tal ponto, levei tal projeto que produzi
sas interessantes passagens. Estamos sempre lamentando o cerca de mil poemas e outro tanto de aforismos iné-
estar submetido ao outro. Será que sempre? Será que não tem.
e 125. Michel Foucault — O homem e os seus duplos— o retomo da Jin-
uma história de vírus, de pássaros, de morcegos, de insetos
guagem. nm: As palavras e as coisas. Martins Fontes, Lisboa, Pág. 399,
nós só estamos ritualizando sem perceber sua própria força
414 415
Lit 9Ty
OS “SPd "POQSTT SOTO, SUTUPIA 'SESTOD SP 9 semejed sy «ul trofens
Ff ED OO O — sojdnp snes so à USmOW O — IMtonog IPUZHM pr “paIesgpIPd zoprumn eram Zzem ou oJsT
-
“orÍIajJad TIO) JOA910S9 SP 0J€ OU 10reUI 9pepEreirut
-vy eum epsotonbar “XIX 9 NIAX Somos OP BHOISIH
SJUSUFeZnn( enotmoId ursse o oduras) omsour apueis ep eLIQIIsodal my arduias outo) “Jeme OjXos
SE SNC 9 TuSUIOY O EABIEm uroBenSur Ens ep “03 2]89U SOAOU 9NTauIppeiodsat OBS “OSIND OU SOD
JOLISJUI OU opuenh paeredoid STPSZISIN anb -pyjegen uaq oynur “eopsmBur ep soxsanos so “E
0381 2 OEN éIos Op IoBMm] ou oAou sp as-zei
“TUM 9 OMI 10d 98-10dtroDaI TRA — erey onb “(10329dsr7 S2Le[0) «2PEpJSq
OUISST US Tejey 2 onb o Joges uios SOLUg|ur - EQUI & 9 FoAorosT, “OssoIdxo 2nb Im BUT
EU ele onb ojusmesuad asso — oyusuresuad o -ur onb esome eun op asei eum H “OBÍPZIUOTOD
onb rf souemyuraIpe apro seu “epemue as jem ap oidpuld um opuaos OUIOS o-ogralo1 “ojuourestod
onb Ep um ep ogiep oxsund o eptre sou asso 10d (mnj ossod opu epeinynDe Jos Tod 91e)
aWpsP] SUL ND OLISSUI :SJUSTEAIQUIE OBINA EUINT
1
“9UI “ONISUIDSEU O ajuassold os EJou anb BIS
1
t
P>OJOD SUI OJST "OD]NUS) aJUSUreILNSS oyuourestiad
um UIOo Joduios op Ofosop Wm ap opeytrediosE “(01
“NO ENIDUOS “9peprIoS ep OWISoUI aAPIo E — seis “Tpnso) nadomo 1a901ed om esgod .anb opm E [RIP
“MM nos Op ojuompusaidoro o ered anssod essod “EI ESNDSI BUM SANOY “SOUE SIA 9P OUISIARE UM SP
OUPLUINT Tas O anb oprdurar anIatIporSO oro) SIBUI opssaldxo EUM OUIOS 93% O “Tesimbsad oque) 2d “JEOS
& QISIUNDSU; OHIO> WraSenSur E “opuesuad OUUDA -sod opÍemIo; equrw ep axied 29) odio! ojuel 10d
enb osfe UZoS 103Nne Op PonPISIa aSPIj ESSO aHpad enb [ejusppo vIsSIJEUODEI ojusuresuad or OBSPSaU
emu esnodar urpquiey ogÍtofai ESsop UISBHO V 'Z
ser OTETD SNESUTejra Lad 9 OEU UTBDTFISISATP é onb
So91sonb se sepol ap a vosng PIsap omisso O sem -OJLIDSO [enoIeul Op EOISIy OBÍIo[21 PUM
"OUTEGEN OP 9 EPIA E oJtadssI uIeIZIp XIX OjI5as ou aom-opurDonoid “ogssaldxo EU PIJOA oumOUS BUM
snb ep Ten] O OBJ]sanb eJsa prol “opnuas oo ur Iep POmISIS oJIouIpalOo Op OE)BZHEMEI BIS9
e ELIESSODAL eLpIoN| euros ejod epeuoisude ou
aos “tWoSenStI PP OpIsanD E o1gos 01x53 Op -OJUIS “POUIPPRDR Polp E SJUSLIRAOU DIN-IEOIPIp OV
NO eU epeiro pl eyunsiad ejonhbe eisodsa: p IEIp "OaPpJA UI? [ISEIg OU Opmqm
“UBS OL INPINOZ E IEIJOA Gp eLIEISOS “oytod 21S9N -sIp os-emuosua '(VSN) ODsDUFI] OBS Uia CC PIEMY
“IaquoS uressod sexapTed sesso anb oestrojaId SJED) UOP/OO) 9£E, O SJUCD9I sIBUI O OPUSS “sIeu
9p opond Í1onbyenb op ouropuesnoso Jousm | ens “OWPUIJUI SENSO UI SOJUIQIÁ SOPA NIQIIOI BEIJO
“Hip, EUM UIOD 03X9] O OUIIS) E IvAD] oIadsa o oyesap pas "opmuou ep OBÍBuLINE 9P & osnIpod OjuSUI
O OJ39€ “OssI 10d "OLIESSODAU 9 OBSPZI/eSI E eIRd BU JAOUI OU OBÍI9SUI BIUITUI OUIOD UISSE “ISBIZ OP PLIO)
Adpsip eum redrxoy aum oyuend o “qquejanuo “opual -sy uIo epezigenadso o eISoU “Toyjnul oquenbus “ep
“TH S0ssui o nojo euad E a Joded o onus o8oferp “a 2Pp PLIQla(em EUUIOI uro opejuonrepumy ot um
OP OBóINI E opodurt sozaa se Oumo op enUoSnro ap 9s-EJeIJ, “JaqIas panbey 9Pp MO amy OP OLÍEZ
E 3 0JX33 OP eSanyuo op odtra] op ossruroIduos O + -“W2o1 E sQduIOD [ELISJEII 9ssap ouned euanbad 'sonp
O
re
opóImAsap Dp SDIP SOU apopigissod IDr9osjaqu] a DJOGUIOJNA) OQUQUITSDAF zupag
Eeatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
Ta

com o Retorno, o múltiplo e renovado cintilar ta e o quanto poderia recomeçar “de novo”. Comecei, então, um
dos deuses?!” ativismo político. A militância do Movimento Negro. Na verda-
de, as primeiras movimentações para uma mudança social, que
Assim, pensa-se, a meu ver o melhor do que se pen- estava se concretizando, não mais no Hnaginário e sim no Rea!
sou no Ocidente. Não gostaria de discuti-lo, pois em todos os continentes do Planeta. Houve outros instantes e se
não se trata de opor uma oposição, ao contrário, se- passa no filme Um grito de liberdade, a história da militância do
ria aproximar uma máquina-de-pensamento negra, líder sul-africano Steve Biko. Nesta cena, Biko está numa estra-
portanto minoritária. Não sei se será possível aqui, da, para ir à Joanesburgo, estava proibido de sair do confina-
mas, por exemplo, gostaria de contribuir com uma mento, no seu território étnico de ongem. (pena imposta aos lí-
visão de minoria um pouco diferente de Félix Guat- deres e intelectuais da luta anti-apartheid): As luzes dos carros
tari. Adiante me deterei sobre isso. Antes queriá di- dos policiais que .iam prendê-lo foca seu rosto escuro, ninguém
zer que estou falando de um lugar do meu eu neste poderia reconhecê-lo, era mais um negro. Os policiais interpe-
exterior que é minha etnia. lam-no: “Qual o seu nome?” e Biko, responde: “Tam Bantu Ste-
phen Biko”, lenta, firme e serenamente. Ele tinha decretado a
O Texto sua morte com uma dignidade extrema.
Estes fatos são imagens que parecem encaixar com os
Embora não quisesse falar de História, recorro a um fato conceitos de territorialização/desterritorialização e seus desdo-
que nos dias de hoje completa exatamente vinte e quatro. anos. bramentos, em se tratando de minoria negra e seu processo de
Naquele ano, além de maio de 68, junho foi o momento aqui no mudança coletiva. Entretanto, ressalvaria que esta mudança co-
Rio das grandes passeatas do Movimento Estudantil, acontecia letiva é inaugurada e detonada pelo indivíduo como ponta de
também os levantes antirracistas nos Estados Unidos da Améri- uma tecnologia exercida pelo pensamento e a mente humanas.
ca, além da Guerra do Vietnã. Em agosto ocorria um fato capta- É o ator fora de cena (de Walter Benjamin) com um relativo co-
do pela imprensa mundial. Foi precisamente nas Olimpíadas do nhecimento do texto do roteiro. Me seduz e parece-me uma
México. O atleta medalha de outo (americano e preto) e seu Himpida explicação o que demonstram Félix Guattari/Deleuze e
companheiro de equipe, ganhador da medalha de bronze, em Guattari a respeito da segunda característica da literatura me-
Atletismo, ao subirem ao pódio, ergueram o punho esquerdo, nor: “Nas literaturas menores, tudo é política”... “Seu espaço
no gesto simbólico do Pantera Negra. Com essa atitude recusa- exíguo faz com que cada caso individual seja imediatamente lí-
ram-se a receber o troféu como negação à nacionalidade norte- gado à política”. ** É sobre essa potencialidade de individuação
americana. Talvez tenha sido a imagem visual mais profunda- que procurarei discorrer através do texto.
mente contundente que jamais olhei. Estava numa estrada De um certo modo, minha reentrada na Universidade
quando estive com a capa do magazine Fatos e Fotos em mi- passa por essa tentativa minoritária, pois se “tudo adquire um
nhas mãos. valor coletivo”, o criar com a palavra, construir palavra, seria
Neste momento, abandonei qualquer projeto burguês, uma ação micropolítica:
como se saísse por uma Exit imaginária da fila da Passeata dos
Cem Mil. Neste momento, eu tive consciência de minha cor pre-
127. Michel Foucault — O homem e os seus duplos— o retorno da tin- 128. Deleuze& Guattari — Conretdo e expressão. In: Kafka por uma Ji-
guagem. In: As palavras e as coisas. Martins Fontes, Lisboa. Pág. 399. teratura menor. Rio de Janeiro, Imago. Pág. 26.

418 419
Tor- Ocy
“ETI-TTI Bea Jemo “Le "d “Uopt “urap] “cet
“JOL! OPÔNIOADI :UJ “onbIo; BACON LHS SonSurL) SIM THVLLVNO “Set
“OBÍTPo Z “OITOUPF SP OFM “SE “Sd DOM E SECO BI TET
:PUIDE
OPELLIHE 107 nb O EIoNoI UraBessed emno “orar omno wo “urog “"UIapr “UI3Ppi "OET
“essed eum LNegens xa] seduotanp 9P 9Uos apueis eum o
“so18oU sienxassouiorw “ojduraxa 10d “sesSar Soa Nur — serrouTur “Le "q “ulapi “Uopr "6TI
SOPELIEHO SOJOT] SIpuRIS Sossop OMU2p sonprarpur so 19pusoid “PIey ESSOU PI qquentuop epure 'omoas ossou Op eIBOjOWOS BJ
-UIOS àS RIP pomyeISojIvo OpsUaIxXo eum OLIESSIDT PLIOS “ILUIS -sd nosuad as ouros “cjuejus ou “oirugur oe re4 onb opdezIfeLos
-EUII Essod os onb 1oreur oymium s ojedso nos anb PINOS PUT op 2p ojapoui um op aJ1ed zey XIX ojos op edomg eu ssuerrop
“PLOUTUI BUM 9Pp OIas OU 192914022 UIapod sejdnmur SBSUDIANA Ojo TIesUdd Ojod Pepe eLoUru x erroreur opôisodo eJsg
SepepiBuONDEU nO serina semno op sonno steur soymur op sogã cenouyu eudold e
“BLIRA SEPELEA seu “SOISAU “soDUPIQ “sosTuedsmy — SIBNX9SSOUIOM 21]0S OLIPNIOUIIO HA9P UM Sp J9ADIDS9 OUIOD “ISADIDSO DP OpOUI
ESHSty EU PH opepienxos ens :onprpur op ovIsg ojedso o ou “uroquie) “eznoruoo os opdednoocard essy "uzsguo eumgje
eras “senxessoulor onrenbua “segnpuoo sens mejpIaxo seossad P OPIA9P SJUDJSHPp Eos os “Iudxo aU Sp BISten é argos Eme
sesso onb Io oogpIgooS odedso op (opepunva um) amou um us “OsMo> O SJUEINP 2U--0p109Y ..; « BIUCUI ENO OP JoAado
? EONISLIV '(EUBDNDUIP PrIEpepr ap no soprseu SIBNXSSSOUIOL -so op epepiragissoduir SopimajE Ia JoAaiose ap opepirgissodiir
so SOp03 SIuSuIespoId eqojSus opu sowronamIe-S2OU) BUEDII “IaAaJoso op epepijigissodim 2, UIO) BLIEJUStIa|jÁUIOS 9 (.qé OI
“SUB EIUBPEpD E — 04 op Epeoop ep ooo ojuamesuad um 9 33 -MUP> OP Ofout OU sepeBIe; SeAnEjão mio “ojuatrozuenhas;
“Sd cer «SODPEZIFEUISIBUI Jos HeSnOos ond SOLIPILIOLITOI OBS, “SOHPD SIBILI 9 OND JoSA OD SEANEJOS Wo SJdUIoS NIISISUOD 2 GJSISUOS
“HoUIB-SMOU SIENXOSSOUIOL SO ur0D IM$As E 'eoryjduraxa BDIA PURE ODPUNJ ON, OoI9A E SELE) sens op PUM Ui EXJEN
“(jon oe “on or “epnzed op ojuod oe “OBÍTPED E OUIOJ9I eqImod onb ogsejombur E UIOS SaZzaA SR SUI-QUUIS “(BAIA ensy
O — «SHOT, UIS SESSOIÍXO SENSLIMJDBIBO SE HOD OpIODP ap “op tia 10999dsr] S2U1P/D) ,.BPEJLOAL! opepioa eum oront, “OASIO
“BAISSUOS OPOUSS O Pp ejo mbe) ,ozjeradnoas e ojronrento) -so onb ua eudoId esap omnuop eng eum Jejusaur assapnd
“94 OB EUIPIPO OPepIjCuISICUI F., "IFIDASPp Op PAnDadsIod esso as OuIDOD “SomsauI sop aureSIpsop ap ,aziozodrto, apeIuoa ep
e QJuEnD sepIAnp seyuri ela 'erRILUIOUNI JUS TIBADILIOD 191 UIDA “OLIDIUE OP OUIOD “OIXO1 9]S9p apepmonyp e epol qeydenf
-enb as apod eLromu eum onb eme EEyENS “OBXOTaI pum 52 -DÍ 9 JO2ADTISO OPNOIGOS à JEJEL, LN 9 LIPNPnS/Uenens x
“9I9U1 9juStreoLpDodsa ELIOUTEI 9p OJs2u02 O anb oye “ossI 10d -24 10d eJIIosop og5ejambur ejonbe ouios UISQUI?] q "ONIg op no
“OpEUIpIOgNS *opeuTusop oLIQInIa; no reBnj O Ieoxemor zey onb BIS9N BINUPA OP OEPIJOS E “PPITOS OJmUI 9peprisape 9p ojuoum
O “UM os sodngaIaI1sa ap operoimus wmu --enupuos o sajua “QUI UN Y “ONO OP OgÂNDo|IJUI ? uIas “ogônpold e esifexed saz
-aduroou! “sopr3prgsap “sozrraxeo “sorgod oquenbua SOpeISpISHOS -DA SB enb J9PIB SpuPIS um UIDA SUI OISIC 'OBÍEZIADS]OD ESSO PJ
OPUSS OBS [ISEIZ OP soIBau so sopol “ssy oojtuQuada a pers -pd 9 aIgos CANSO UM 9p 0491959 OI “sonno sojmnuI UrSquoOo
-SJEUI BISIA 9p Ojuod op sagisanb sens 94 as opuenb ospey sreu HIEI osso SPU “UM op optsasrsa aidumos auI-OJIS
E OJS| “Temonied eroumu eudoid ep ors ou sejtorayp se
ETed Jus trejuo)e steur seijo os-gosnq op (SBIS 2 openie3ajoId ezr BARIJOD OBÍPDUNIO
'SIBNXOSSOUIOY “seStRIIOS “SoIoUjnim) senzourm SOJUSIHp se IBZ ep eperedos 198 PLIOpOd 9 — SSIOIeUI SEIMJRISMN] SEU
“Hepponied as-aJu93 PIOQUIS OopIjoOUouI 0D0fq um ouroo BLOUIUI OLEO — aBsot je3 no pe op e euros onb “epenpiarp
9S-BJBA "sonbueIso SODOTG SIOP Uassoy os omo» 9S-NOULIOJSTEI “UI ogÍepUnto EU op SPPep CES CEU SagÍtpuoo sy
CT O
OpÍIn sap DP SDIP SOU PPPpIGISSOS IDIDaJaJu] à DIOGUOJNÃ) 'ORUBLIJOSDA ZLLDOM
Beatriz Nascimento, Quilombola e ln telectual ==="
Possibilidade
=—
nos dias da
na destruição
TT
ea ga
TT

po- para a
As minorias são outras coisas, no sentido de que você maioria. Ser maioria também é um devir, para alguns
de estar numa minoria querendo estar numa minoria. Há, dentre os minoritários seria uma reterritorialização vindo de im-
por exemplo, minorias sexuais que reivindicam a não- pulsos do próprio descontentamento do estar fora do poder, ex-
participação no modo de valores de expressão da maio- cluído, empobrecido, discriminado.
ria."
Um dos movimentos negros da década de 70 exercita-
ram este tipo de agenciamento à exaustão, cunhado no conceito
A diferença fundamental que percebo parte da origem de identidade cultural e racial negras. Levi Strauss, em Confe-
predomi-
minoritária. A sexualidade e até certo ponto a origem rência na Unesco, prenunciava que o conceito de identidade
as duas são bioló-
nante émica tem uma característica comum: cultural poderia vir a ser um novo racismo, se não houvesse
se encontra,
gicas. Entretanto, à etnia possuí um território onde uma cautela quanto a isto. De uma visão da dialética marxista
crianças, mulheres, etc. O caso dos meninos de
por exemplo, acreditamos por alguns anos que a consciência contribuiria para
a, pretos.
rua nas grandes cidades. Eles são, na sua maiori uma libertação, que isso passava por uma nova conduta diante
E continua, Guattarl: dos brancos:

Podemos imaginar uma minoria que seja tratada como A identidade cultural constitui, a meu ver, um nível da
marginal ou um grupo marginal que queira ter a consis- subjetividade: o nível de territorialização subjetiva... Ela
tência subjetiva e o reconhecimento de uma minoria, Por é um meio de autoidentificação num determinado grupo
exemplo. E aí teremos um conjunto dialético entre mino- que conjuga seus modos de subjetivação nas relações de
ria e marginalidade. segmentariedade social... A noção de identidade cultura'
tem um coeficiente de desterritorialização. Neste caso,
Não compreendo essa expressão conjunto dialético. Em implicações políticas e micropolíticas desastrosas, pois o
todo o caso, imagino que seja uma caracterização circunstancial que lhe escapa é justamente toda a riqueza da produção
ente. En-
ser marginal, enquanto que minoritário seria perman semiótica de uma emia, de um grupo social ou de uma
tretanto, a “consistência das subjetividades” no interio r de uma sociedade.
marginal. A
minoria étnica, muda de lugar tanto quanto O
produ-
transitoriedade é uma constante (relação espaço/ tempo) A identidade cultural negra negaria as singularidades, os
há uma singula ridade in- processos de singularização ou não. Imporia uma ditadura dos
zindo sempre desterritorialização, pois
tra-minoria. Discordo que exista esse desejo definitivo
de se ser comportamentos e condutas, cobraria modelizações, às vezes
anos se re impossíveis de se atingir em se tratando de indivíduos diferen-
minoritário. Enquanto os homossexuais norte-americ
são ciados e dessemelhantes. Impediria, por tanto aquilo que Guat-
cúsam a ser marginalizados no seio da minoria, outros
. Essa in- tari citando Rimbaud em Juminações: o devir negro.
maioria, ou melhor dizendo, estão no fugar da maioria
na co- Haveria uma natureza negra? Uma natureza racial? Há
teração que se dá em fluxos do tempo cronológico funcio
to dialéti co. A mino- uma natureza que possa aderir à cor da pele, como se adere a
mo uma frequência e não como um conjun
, també m uma ideia, partido político, sindicato ou qualquer aparelho de
ria não é harmônica, está em constante deslocamento
< Estado? Haveria espaço hoje, espaço para tamanha aberração,
mole-
134. GUATTARL Félix. Gangues em Nova Jorque. In: Revolução para tal represamento de fluxos?... Pensar como tal seria negar
cular. Pág. 122-123. o princípio antropológico das trocas culturais. Isto remete-me a
um trabalho de Neuza Santos Souza, publicado em livro com o
135. Idem, idem. Pág. 73. título Tornar-se negro. (É um estudo da psiquiatria, cuja tese
422 423
Scy vor
“IA 9P ELIQI9ÍEM ENS 9 aJuemHoJu fel Opusdoquon coznpe jonb . “a ºp oHssuoo op IOJUBAUI O TOJ NI9PPOIS “F36L
-H OpUBNRD JetHe oUI E FOSSEA, :NOJUSLHOD SIJURIIIUI tum “Ojuotupy “LET
“eamoodssod PH :OMPd OBS 'OssLp OI O “aB10os9) ADAQAOUO
-05 2 PDUNHAP 9p ojuod wmn ap SEpIAA EnUgLadxs UIPIADdIOsep
9nb “sajusodap somgno s0ug 'BÍuep opor o opuzno) opeueio “0261 “POQSTT “Soo SUDIeIN “867 "Sed “semi gr/2mpue(deT 'f
“sa0T BLITIC] 10d OPISLHPp [eNstAOIPRE UM aP 25-BIBIT “Japlajta “OSEUEOISA SP OLPHGEIOA “9S-IRULIOJUOS eInDOId onprArpur o anb og
NouI Ot “OLEILONFEI JIA9P UM IPIISNY FIRM SLIODO SIN ojapoui um mansuoo 08s op [eap| 2 “epepuSIspp epupisus ojuenbug
“S9QÕE[3I SEISIP IOLISJUI OU EUA EUIOJS BUIN 9 TOssoIdo OU “SOANS[O2 STEAPI SO UIOD 9 SOjnIpsqus snas UICOD “sied so UIOD sagõeo!
-DUspI sep 2 (089 op OBSEZIjB9pI) OLISISIDIEU OP BIDUPSISALIOS EP Sjuel
“JoJo UIM BLA 9puo ermarrouru-ertovraSor eum eley ogu ond:
-mso1 apepipeuosiad ep epuçisur :combisd omjpaIede op BrHOS epung
BIRd OBÍPZIfELIOILIOJSI /OBÍPZI[PLIONLIOJSOp eum sonhos [e] om
-as ENS 9p oxpenb ou pnslg Jod epezqmn opssoIdx "08% Op [Eopf "GEL
-SLIOPEAToSUO? UI() “ELIOUIUI erIdoId ep oios OU TeDeI B>XPUI Ep
OESISAUI EJod opejonuos > operijooj “onpraIpur o ered oojum ol
“QUA UM WISSE 9S-PAEJSIDIG "OUBLINH OUISSUI & [PDOS “OAnaJe SE OBISO OdUIvo 9]S9N “ELD OLIsoUI aja onb odura]/05edso
:
SELIPA
EI E
oymeISo op oyueZ no epiad ap o8of erIxOdUI OgU no eI-pIrsoy
QdUIE3 O TIO) SIU9IDSUODE OP sojejuoo nb op ogs ste epeu “01
'BISoU EINPUOD E — EINPOO? ap ENIO] OS eum tod sopeznrursop
-s1d /OQJURIQ “ELIOTEUI /BIIOUTUL “IOLIDJUT /IONISIX9 OYIBIIOZ
a sopezIuoOIped “souistease snas SOR SOsaId MassoATIsa sopo3 anb
Tenos , epres, eum esed espuode qquuouesuad sjonby Zer CI OJ9d OPIAIA 2 UISUIOU O IJEJUSUICp
wParojoo E Strog or Aur puods -uny oIdpupd op Tepirsdns s eyamse eured Emm seuode
03 SUJOB JOH LE |, :ZIP UOSNDLF VIUM JO 3PE/g opÍIsoduIoo ens sunidxs OS o4z na opstsodoId Y "9922]U00P su] O 5 ZeJ ejo
ºP EDo] EN 'ZBJ OJFET, qIPIOjdxS OS E OI89U JIA9Pp LN WoquIRA anb o aSUNp odurs) oursau1 or anb PSOU[IABIRUI BIO BUM
PU OEU FE onb PIoS "eISopeouoS ens E seuolsiide os Lies opsojdxo “oppamguossag od opeumae > wenoy O nb sJusIsns
3 BLISOJE “OBSTOAUI “OJUS|B] Nos EABSSEÁ UOSYDEF [SUIT |, OOWBIG
PS-FLJOZ, SOPO) AJU3 OPIpoS2ns-HIag SIEUI O “SOIS9T SIBUI 9 SIP “ZIP NS ppoio
aS-OPHELIO) 9pepntapi ens Jeoseur uieronh onb sozgau so ered 281099) “Ofosop op ojuauigadeur O uI0Od OBU 3 BIfeJ EP eI80j09PI
asso Elo OHSEIQUI NÓ) ,Couerg, odnous] o BIep ajod Iejtal » uIoo as-pAPujegean anbiod 'oproojsap ogo op [E9pi UM as-EA
-SO E NOssed UOSYoBF [9WouA E1B9U OBSBDUNUSPI 2p serDIgrsuos -EZIUODDIA "PIBOJOIPd Ep odedsa ou1OS OpEJRjUOD 195 SP jaatssod
SESSOU DIGOS assjed onDb opHOq um OHIOD “sirouoS ms ojey um 9s 'seupiuny SEISEJUE] SE LIPAESNOdOI 9pUO SEUISEJUES SOP OUS
WIOD SOpIPUSBIÁINS SOLOS “09 SP EPBD9PP EP soprou son “193 O EIS MP OSSIP BIO] “SIE Ejod BABIENSI OS 9S SIHOTISUODUT O
é openxasse 9puo OSUSsuO? UM PIABH "BIEIXIELI-OBIU 9 EISIXIBUL |BUOISSIJUOS
Tenxassourou “BÍURIIO “Loyjniuu Tusurouy “Ojaxeure “ozueIq “ojasd BY BUMI OJUSWIEsUad 28S9 oJUSUIPILIOS] BABPUSISJSY
Jos Ie[osap wo ooIB9jojed ap ei onb q cestos Ianbyenb Jos “esto “TeDOs OU
1anbyenb zefosap apod ogu 089 O 'saHuH| eirsor ogu 089 O “ont ur Imansuo os sod vÍuepnu-op-eumbeur foapssod o eotum ou
“IUOP 9p OgÍEJoI E IO) sOpnsuroJduioo sonprarpur op sexTe] ap -0D TeISa-UTaQ ap sepmssodsap no sepezrio(oo sesseut sep poded
9 S9QÍmnsuI “oprIsy op oyjosede ojad epemideo ergojospr eum O 9S-BABISSTIALI] “ONPIAIPUI OP asiyuUE BUM SP assnred enb jeto
ap esessed ogu ojusinpandbiesquis O “SONpIApUI steuI no stop -os vÍUEPpNII Sp opepiepusod J1onbjenb zestued e opÍtafo1 eum
anus — olasap ojad “cJage ojad — essed as onb ErpuUçIajsuei eum “seueumi seuijdosip sesIdAlp seu ojouresuad um erseu (+96
onD 9 SIE Ppeu 'oDUPIq 089 OP [eºpr ojsodns asso orIsm “026T7) soue sojonbeN q COUBIG Op O5o Op JEopr um op sop
- "odIoo -EJmso uIeIo “eiBau ztei eum ap epiod/ojuawrmonbueiquio Op
Nas SIgOS ONO Op Ieyjo o a4!snpui “UrSenSUr ap sapeprepoui pure o o 'soIgou sop jppos ogsusose E vied earyuode jeguos
AE
opóInisop vp sDIp Sou apopiiagissos jonas jaguT 2 DJOQUIOJINÊ) 'OGUBUHOSDN Z1LDaH
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual
Possibilidade nos dias da destruição

racismo num ou- do pelo próprio poder pequeno burguês. Quero ser qual-
da pela primeira vez vistumbrei a resolução do
tinha levado a quer coisa que seja mais humano,
tro indivíduo. O ativismo político dessa pessoa o
com a imagem ex-
se gostar de si próprio € efetivamente romper Essa postulação na fala de uma mulher negra pode ser
rmente, não es-
terior. Enunciando “love me”, amore, molecula traduzida no poema abaixo de Ele Semog, datada de junho de
e o meu. Aqui gos-
tou mais dividido entre o desejo do outro 1992, cujo título é “Não basta ser negro”:
o de máquina-de-
taria de abrir um parêntese para O significad
micropolítica. O que os racistas não pensariam jamais
guerra «Hoje o meu filho sonhou
o
que no oculto, nO interior do negro, há afeto, embora o mund Que o Planeta Terra
externo seja adverso, sofredor... Quis entrar por nossa janela
O impacto dessa afirmação se deu de um modo muito
Eu o beijei e disse:
som € COF estabelecia com a fala uma enuncia- Bom dia filhinho
veloz: imagem,
ados pode-
cão coletiva e instituinte. Como indivíduos singulariz O lobo mau não vai nos pegar
cia como sendo
se perceber aí a distinção entre a falta e a carên Não basta ser negro...
se introjeta
o que causa o racismo: um verdadeiro mal-estar que
Eu quero o racista empalado
& cump lici dade frente E os seus filósofos acossados
no indivíduo a partir da discriminação — do No fim do nada
ido. A autonomia
ao que oprime na relação opressor/ oprim Depois eu poderei ser o ser feliz
restringe a:
desejo aponta para O devir negro, que não se Mas hoje eu sou um negro
Não sou uma utopia."
Todos esses sistemas de punição que fazem com que só
sejam selecionadas atitudes e atividades rentáveis para
Esse devir-utópico pode estar na produção de “subjetivi-
um certo sistema de hierarquia social... essa maneira de
captar os processos de singularização e enquadrá-los ime- dades territorializadas no eu, no corpo físico”, livres da ética de
diatamente em referências — afetivas, teóricas, por parte produção e da acumulação que secciona o homem, segundo a
dos especialistas, referências de equipamentos coletivos ordem do sistema do Capital. Estaríamos falando de um outro
segregadores'* - sistema em construção vindo de um território de origem africa-
na, não mais de um lugar do passado, mas moderno. Não mais
Recentemente em conversa formal sobre políticas popu- o escravo, mas o aquilombado num novo esforço de guerra e de
na
lacionais em instituições governamentais dizia-me uma ex-alu estruturação. É em Muniz Sodré que se encontra um desenho
negra: de devir:

Nosso desempenho frente as instituições não é reforçar A Arkhé negra não resulta em nenhum 'biologismo telúri-
marcas ou modelos discriminatórios e sim tormarmos co”, porque se insere na História da quotidiariidade do
mais humanos. Recobrar a humanidade perdida pelos descendente do africano nas Américas como um “contra-
anos de colonização e discriminação. Os postulados das lugar... concreto de elaboração de identidade grupal e
políticas teóricas e sociais. Isso é um simulacro delimita- de penetração em espaços interstíciais do bloco dirigen-
te,349

138. GRODDECK, George. O livro dTsso. São Paulo: Ed. Perspectiva,


139. Editor do Jornal Maioria Falante, Rio de Janeiro.
1984.

427
6Ev 8cv
"9461
“9pusslduio” osurIg ans 'sop utogra eIrenÇ *“SOLNVS “CPI
E NES O saz0A :sTodonag “OLOUI E 2 gSEeu SO
o)
. “S910H Sep anZups Touy 'S104IP PP ovton op sod "QCI-6C1 "Sed '€86T
9PUoPp 2P cI]Ioze c[BroBoA OLISI OP CEjouIISA angues (q op OM 'eprenpos apepioa v ZHniN “JUCOS "TyT
Y2poo JOrouef
. “TEuve no oueui
-ny angues “Ernstwour OJHowELIOo :[eumue ouros op o (e “AUCOS "04T
“2861 “S9Z0A :sIjOdonad “QPEPID E 9 Olfarai O 2HRW
:2pusalduro OUfamIaA onSues O Iuisguo OEU
“nb exed sopepmo eoIpop O odnrs o opoy à 9Ppep
o os ONpIA
2 TEMA BÍION Ep seplad vogrugis “euom “ovonbeipu
, td SnSUES, "€ ú pur o “seueoLge sermo seumBpe uro “ofoy epure opuenô
“ OQUPIM SNSUEs, 'Z
e a
“+ OU[PIUIDA SNBUPS, “T ! «1 SSUUSPUSDSp SO UIOS “(SIIAISTANT SO19S O SOPOI
a opessedajur “sIEINIBUSIgOS sapepnua) soomsço sodio
.
É . ' o
. :
:SELUOS2L uid so uFOS ONpfAIpUL op (porBojojuo) opdPIolI Ep OBJUNI
tom JE2 S9m UIa sopednige Jes Wapod exe op sojopeliod so)
| Ka 98-9]FUISURO MIUMP “2DsA “os-WpIIEUI “PÍIOS OPU9S
972 SO 'SEIDITISQNS SEJISO ap “SIeLISJeu sojuourejo sojido op
SPABIJe BPOIUISUEN 3 EPOUOS 9 PXE NO JENA PSIOS Essq
“é :zIumnIA ongossoJd “] "ap
enb ojod
-manrurs eumBje enssod nio IejIuIs eULIOS eunSye op 9
OEN 'oujsdso
Pvo E oxIauIpDaAquOs21-0ne “peprengr op ordpund um >
“SEOOSTUBUMI SEDIOS OP PIope> emu WeEtOnDPSI-ISJUT : um oúoo mu omno ap pSmasaid eTod s29uo)21-0ME Ejo nb
as onb seputaIsqns sesiaaIp sep opungoid steur opmisa un mo | -J0d “S)SIX9 OBU 9PEprun E “sojUeq so eIeg "Ono Op ONISULVSUU
(LeNeng xp) ooy9s00o ordpund o 0391 ojad pô10J simbpe o BJajduros os 9s nI O *oyieuIOd
ousumBre Oq um eo
I9pUaJus nau ON “COLS spnes e opuodsasoo sJUsPpno ou nb :
11 OBÍBULIOF ENS BIPÁ SoJos
O “tOSIA OUIOD BPIpUSIUA 195 9pod UIquIeI Tera 25104 Y SIP 9P OJRINOD O OsSDaId 9 ato neuIl OBJE OTUOS OB SETK
“STEUE
“ORTSUIDITHOD O OpO) 9p “(sOJIOUI 9 SOAIA) SOUBUINT SOI3S “seyuejd “sipIStTUI
-nIe sou ajsixa “OX9IJal O OUIO) SSIS “unsse THUNUI (O)
EDU9PISaL Y 'EUIOJAI nO suued opm) opuo op “emmnass q
anb O 2xF op oorupup oidpuud o opusssduos as ur ; O à Es US ONP
“SONPIAIPpUI SONNO/ONNO OR NIM
UIP) “UISSY 'SEUPOLPE SEDUZ sep OJnsa O? UIQ oDgos T
pia op BoIsyy esmeambie eu ep ' “JAIPU] OR 2S-DI9J04 INI O “NIU [BOIper OU OPHUOS Ojaeq OM9SO
cepuosts gusta SOUISSUE
BE A BSIOM.V Iovomu - 2 oonsmêuy ordputid O 9 JerA PÍIOg "QI SOPpE>IIUBIS
“03 8p ES10y & ut tin O
PISUOS soTIRg SO so mssod Prp O otoD wIIsse FEIA ES10M EP ordpund
7 --- yENUI OpÍezIjenas eumnu
. TAN
ZU | SONTMIP SOJUSUIEZNID SOLIPA SOjad Opuessed “orputoure HASp
MIN ENA 2S107 Pp oesusttersa efeu osu onb cerca do “DIPOS OpUEIEn
EpiA E emo 2 ODUBIQ HA9Pp UM UpquICI PI “SOMDISPAQ soi8ou op
-stioo a eIyASOI as onb red cul 1 mos O BIed | 38 UFM “SONTUIEUIP SIDAFE SOPELICA LIS BP OS opÍeZI[poI Ens “OIB9U
serp snas “xo SMIUIBAdoJo ONPIATPUL O jeltoS UIS UFEZIRIT UISU “od
Dl e 10 9S speppidumo ep — PIARjed eu tou Log OU P O OEU UIZQUIBI, "oduia) OU
ordnund o esnodal IV “pII -edso OU UU eotigurSauw 9 OgU “oxrenod “opmusau v
ejo
ORNaDe O esnodsl y emou! é EisnDEITO os OBU “ondosd
opómjsap pp sDrp Sou apoprigissos FonoJ2u] 2 DJOQUIOPNÃ) OJUIUPSDN Z1I402H
end
Possibilidade nos dias da destruição
Beatriz Nascimento, Quilombola e m telectual
o hálito, as secre-
a) do reino animal: O sêmen, a saliva, ,
.
ões, o plasma (do caracol);
a seiva, O sumo, O álcool, bebidas
b) do ceino vegetal:
pó esbranquiçado
brancas, principalmente das palmeiras,
veget al;
de alguns vegetais, o or, manteiga
bo.
c) do reino mineral: sais, giz, prata, chum

O Sangue Preto Compreende:

2) o do reino animal: cinzas de animais;


ais; O
+) o do reino vegetal: o sumo escuro de certos veget
extrato de certos tipos de árvor es;
ilú, o índigo,
c) o do reino mineral: carvão, ferro, etc.

===

gentileza de Sylvia, ao
Observações: A palavra sueka foi uma
mo modo alguns outros
conversarmos durante o curso. Do mes A terra é circular, o sol é o disco.
a cooperaram com escla-
estudiosos de cultura negra e linguístic Onde está a dialética?
texto, Nó mar
recimentos para as reflexões do presente
Quando voltei à Angola, estive dez dias em Lisboa. O
que mais me emocionou foi passar pelo Tejo. Aquele rião se
abrindo para o Atlântico...
O Atlântico em Lisboa parece mais alto e menor do que
no Brasil.
Dentro do carro me extasiava com este lado da minha
história. Como eles puderam partir daqui para o mundo desco-
nhecido? Que força maior fizeram com que eles enfrentassem
este Oceano em busca da África e da América? E eu, este peque-
no ser, sou o resultado desta louca aventura. Aí, eu chorei de
amor pelos navegadores, meus pais. Chorei por tê-los odiado,
chorei por ainda ter mágoa desta história. Mas chorei funda-
mentalmente diante da poesia do encontro do Tejo com o
Atlântico, da poesia da partida para a conquista. Eles o fizeram

143. O original deste artigo, datilografado e sem data, encontra-se no


Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Fundo Maria Beatriz Nascimento.
e

Código: 2D. Caixa: 23. Pasta: 4. Documento: 5.


proceda

430 431
EEb cev
| "G 0JHSUINDOM “4 [EISPd "ET DEXIRO "AZ JOBIpoo
“OJUSUHOSEN ZLOBOg ENEM OPIMA “OIUBS SP OH OP [RUONEN CAMbIV
ou as-entODUS “IEP uras à OpejesdojnEp 'OSNIL SJsep [EÊLO O “hyT
-NUOS BHQIST EUM 9 OZI[eopt nº onb eLIOISIH V 'BJUn tão or-p)
-Uosoidos essopnd os “We 'sozom op opunmy um erronb na
"ONEUOD OR
SEISPaTA “aDodso ep ogÍvAIosoIdome ap topod o emuoo 11 opod
uranb seu 'onosjuoid 9 onD IozIp OpA “red “sed rea
“seytoge op opuntu ur 'siengir op opunur Wn essp uno
*arppdso erdoId ep epep opeponepros v jo um
UIS SEPEJOD “IO EP OJso1 O ureIPOI 9 aJuoureanemure roger CEDLIFV E 992 IBITEIGIO OP sjuod eum 19287 SOUIEA
B UIPAPÍUP]PQ 9 UIBLIOS Sejo “Sotoujnur se expd roujo 1y , “TerpiourHd tIOs un
“I-B-w O 9 onbIod [eo P OUB3I0 O OS
“[e4ssod q opuenb “afoy usuIgs ap opônpoid e utanby “SUIon UM 19) 2% peu elo ogu “soonmod
-ISUS]UI SOLIQIEIOgE] SO anhb eIed JEM] “oguss nO “suaul “093 SOUIOJUOD OBS SIRUODEI sogônnsuoo sejonbe sepol
-OL SO sOPpOlI “Pp “SOgILII snas sOp “sopLretu snos sop “ojmur : “oo “PPRjUS TUBE
Ied “ILIRd sOLIRIASP SQU SEPpO] “I2HIH op Jesode nued ELIQISTY eUmu og5eS 9p sojo 1ozeJ 1apod exugui zed vo
SEUL EULHA oseu no epungos eumu o ensuta eum tod nto A ,
souressed sou JeIPUNIN ELISND PISDISJ UI Urassd OEN
'aja 10d uma > my “mbe nojgsa no q
UIeISTA
10d 10d
“912º esse
OESoA sSONNO
UIBIOS SUN
:ZOA BIJE UIS OPUOZIP IpUSsIdins aJN "Pdogqeo E
UIOS SUS UISJUILIDIA UIBIPIILNTE SSIoTnu send “OIRgUoS
O eIvd OEôNjOs eUIN opuep eArISa wma sod tp opuen
son puep BAR . ep Op "BJS EDUQISJOI EUM LIGOISIP eIoSy . “EopuEpe nos ng
“SEUI — OONUEDYV
“sogõeu o sIed
“JIseIg — adiBzas “emeg 'satemujed
“S9Q5EI 9 SIBd
"9BUI
eEUTUL LIZA 9puo ap “umuag op so40d so à seser 'sejoSuy
“sag5Eu 3 sIed
| OUISTUTUIS, OR aJIedy Un “EoLYy — edomya 9 EIHQUI 9 BOLTY 'sted o sted
“EPIA EQUIA EP EONSTeld E 9 VISA
“O)MUBIYV ABUI OP UIZJE SEZI/
Se SEO) 2P SJUBIP OPpeIO> WIPQUI] ZOA[e] à WI9qUIP) Opa 10d
: pongoajazu| 9 DIOQquIONND) OJUIUIISDA ZLIDIM
opómiisap DP SDIP SOU IPDPIqISSOA
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual
Tm

nente assim como as paredes de um útero, que somente cure-


tando pode-se destruir o conteúdo.

Agora eu quero falar da lua. É crescente e à Terra foi da-


do um novo ciclo de vida, porque a lua existe. Sinto em mim
uma grande explosão de amor que contemplo da “janela frenie
ao Corcovado”. Queria escrever um canto ao poder de dar a vi-
da. Silenciosa como a lua crescente, que não é prateada como
na música de Gil, é indefinivelmente dourada, como o pão ao
iniciar-se ser tostado. Queria dizer de minha alegria em ser mãe
de uma pequena mulher. Complementação ideal de um ser.
Olho-a este pequeno animal humano, que como o crescente me
faz pensar na certeza da perenidade e me rejubilo em poder ser.
Quando eu falei que a solução estava nas mulheres pa-
rir mais, não pensei em mim, que talvez já não o possa, mas
olhei-as todas como luas crescentes, como oceanos inundados,
como continentes da pureza do homem e achei que tinha des-
coberto o princípio-de-prazer.
E eu queria falar da lua, mas eu não sou silenciosa e ple-
na de luz, como só ela sabe ser. Mulher de um ptaneta-mulher.
Terra-mãe-atômica de um corpo celestial que conduz meu ciclo,
meu jorro hemorrágico e que permite-me representar o poder
do homem. Não na minha palavra, não no meu direito, não no
meu saber, mas no meu líquido, na alcova de minha verdade.
Mas eu queria falar da Luz. E quem eu sou pra falar da
Lua? Ela é um objeto que eu sempre vi como anúncio do que es-
tar por vir, anúncio mudo, mas em lento movimento, como a
dialética que eu entendo do que está aí. Eu gostaria de ser mu-
da como a Lua, que anunciasse meu ciclo num movimento tê-
nue e de quem as pessoas rapidamente esquecesse. Mas que sa-
be que não deixou de influir, porque o esquecimento é algo ina-
tingível para mim.

434
SOX9UY SOJusumoo(T
Possibilidade nos dias da destruição

438 439
hi ço or
“886T “CHIOUTNSEN ZINEag
opóinusap vp SIP SOU apPpIGISSOd ponpajpqui 2 DJOGUIOIND) 'OJuGUIoSPN ZLIDI
A

E
ma
s
8

ass

“s

as:
E

E]
Beatriz Nas cimen to, Qu ilombola e intelectual

Ru
x
q
9
Ss
ta
5

Ry

q
Beatriz Nascimento, 1976.

442
Shy
"6861 HO 2UIHy Op ojusureSdue] OU OjustIpseN zin2og
opÍmujsap Dp SvIp sou apppigissos
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição

José do Rosário Gomes e sua filha, Bethânia Nascimento Gomes Beatriz Nascimento e sta filha, Bethânia Nascimento Gomes

446 447
87+p
"STO “sozgaN
2IOUPA JIOPEATeS "SSIS EIIEJOd º SAE Hoy 10d opeznies
snboL SUMSO
:SEDUEISIP (FE) SEPOL
“IO 'OJUDHDSEN ZEJcog 9P SOfESHIo à SOLISTIOJE “SerDOd
Xojy 'oJUour
"9007 “ojnea CS TEDTO estosdiny 2 Ezuemoy CImnsu] SHEAH
:SOZA] SOD sede),
“SEN ZLnEog ap EpiA ep BLIQJOÍEI E DIGOS :PITAFRE NOS Ng
CR dm
AUTIIEAT
ZUIVOT
a asigarvea 2 direta
Cesp! caem
TE or
MAPA Sape ap
eprap encqolem etugas
eopuepenosna .
Poesias
ESy cav
| = = To “LI IEXTED "CE :OSIP9D “ONISUIPSEN ZINPSg BHEIA OPUNA ONSUEI DP
sumog T :EISLd “TZ iEXISO “AIZ :OSIP9D "OJUSUIDSEN ZLOROG PLIBIA "SbT
or Op [BUOpeN oambiy ou [eulBLo opSezeooT "8461 2P VISSOd
OPpuny “OIluer op Org Op [euoren oambry ou opezijroor piso eisaod “ojrosndar
BISop [euréLio ojuosnUeUw O “6461 Pp OIquisos op 41 ºp 2IS90A “ObT
2 vumig omnou “zn7 Oquatmioui UMN
“seIAB[ed sem SLH-OOIY
LIOZ SOPO3 SQU E SOJSPANE) o essed ouios assessed os Opn] SSJUV
sa3sas PIOUIOP LOS OUjnSIatU
snay TIO? OPpUNUI O SISeADeo uInu “sojusuuduos o sSoNucIua a
“IVd O a]seanyjmo mM q sELIÇISTY SE
"2S-PABNO UINpIel vn UI229]U0D2P QUIOD 9SSS)9]H0I2 OPM) SSI
éSaJssJaurozd aus end O aja ap sassigune 2) onb sajuy
a8U0] 9P NO sem 9P OISIA
“UR pIel um gouioid ou vom oIstADId
O 9SS0J 9S OUIO) 9SS9IMJUODP OPTA SMIV
jSs1EIJOA Opuenb sesos comb ny resBues sossapnd onb “ngeo1 op zedeo
jOEIJD OU NO “IE OU Ho]
“a1dulas Iotelodsa 09 2 oJodsa 9) Na sosspuas
“Z9A 9P SEA 93 OEHU 9N/) 33 opuenb ossa2sJU022 OpIy sy
JPAFIS nas ULM
"oBjuroo sanbry anb o5ad 33 ng
"OB Not “ojueo nom ESOnUOfS ajuádios OUIOD OB
“PIIS BQUEUI OS2d 21 ng ABZIIJDUOS OS E SOJSOIA EIST,, VOBIUMIY
“upieí tun osed 27 nº seg [eurs
OP OSTAB O OUIOD 9SSS993U0D8 OPA SSL
“UIT NOUI PIOS jooui y QIUaIL PARIS OBU onD o opuiznpss
'o1onb O a smb na jepra y 0AOU 08]2 OUIOD OPUIA OBEN
£opunui nó gjopunm O na29]U00€
isIsajaurord om nb O S3JUB OUIOD 9SS9)3JU0DE OPIN SIVTY
o» "SESOW OP UNPJBF UI) Nouzord ow] B2UNN sy10P EqIsn ur
PRe0 ee am mm
opómusap DP SPIPp SOU 2PPpiIGISSOS pongoajagui à pJOquIOHInÊ) 'OJUSUIISDN ZLHDIE
Possibilidade nos dias da destruição
Beatriz DO
PO O OOOO Quilombola e Intelectual
Nascimento, TT

Oh! VERBO Divino. Eu os pisarei se tu deixares


Oh! Homem em CRUZ. Eu caminho sozinha
Vós que fizestes os pecados do E caio todas as tuas quedas
mundo, mas cairei como TU
Cultiva-me, cativas-me, Só, uma vez e para sempre
ama-me como TE amo. Homem. Só contigo.
Contigo, corn flores rosas.
Nunca lhe prometi um jardim de rosas...
Nunca lhe prometi um jardim de rosas...
O que me prometeste? e
: À um mundo que oferece ao homem pobreza, miséria
A vida? Eu a quis € a quero
O mundo? Que mundo me prometeste? Que mundo...?! trabalho, felicidade é a única palavra subversiva.
A morte? Já sei.

Te peço ainda um jardim


Eu te peço a Terra que é minha
meu canto, meu chão
Eu te peço que fiques
Não te vás de vez |
Te esperarei, Te espero sempre |
no ar, no chão. :
Quero rosas quando voltares.

Nunca lhe...

A mim não deixes uma


coroa.
não, não quero espinhos. : A
não no meu cérebro, . º .
não no meu corpo. .

454 Ú 455
LSy 95%
“LE -EXIRO "CL
:0STP9N “OJUSUISN ZINPAg PUPJA OPIM] “ONRUBF 9P OH OP JEUCDEN
oambry OU [BUIÉLO opdpzpeooT 'Z86T ap ojsoge op ZI 9P EISS0d 'ZbI
£ 0110205 N9UI THD J IPA
EIS 2IMOS PIRIFES INE)
jodroo not soonod soe ureSns q
SBIOQIA OUIOS UIEYUIEUIRO 9NÊ)
sedjno seu? op epeypuei
gormosa ou gureo ejonbe q onb O
opejnumoe ojmul EU OIUOS
ZoA BUM ap IEUOpUEqL SA
OESD9pP E IeS9WD UIOS
OUENUOd NO MUDpa20I1d 9S
copÍuolesep end no “opel No oz199 35
052] ou! sejungiad sesuenQ)
COPppSJUODE O QUIDS
ex1aJs9Pp 3 BIZEA
gOnIosgo inbep snô
eureo ejonbe 2 anb O
“Tyjoosa onDb sepuas sy
TIBIOS SIÂUISS OUEOD SINTPIIA ojesUBo Epeo op ul] OV
BIOBP ONUOSUS a OUIOD Q1109931 sOJO> sojuenb Y
éZITa) 198 9P EISUP V OJ40219d soquruIeo sojueng)
LOS SEpaIDA sejuEnD LIM
IAIA
IAI SO TUBO SOJuenQ) zrrStIOU
.
. RC
N
OpóNmNSap vp SvIP Seu apppiigissod 1onaj53u] 2 VJOQUIONNT) 'OQUBUISDN ZLIJD9H
“cm
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual —=
Possibilidade nos dias da destruição
—=—=OE ——
a
EE
II
—=
II ][ [[[[TTTT—
==] A

Mulher!
Sonho"
Marca de mito embotável
[A todas as mulheres pretas espalhadas Mistério que a tudo anuncia
pelo mundo, a todas as demais mulheres e E que se expõe dia a dia
a Isabel Nascimento, Regina Timbó e Quando deverias estar resguardada
Marlene Cunha/1989.1 Seu ritus de alegria
Seus véus entrecruzados de velharias
Seu nome era dor Da inóspita tradição irradias
Seu sorriso Mulher!
dilaceração Há corte e cortes profundos
Seus braços e pernas, asas Em sua pele em seu pelo
Seu sexo seu escudo Há sulcos em sua face
Sua mente libertação Que são caminhos do mundo
Nada satisfaz seu impulso São mapas indecifráveis
De mergulhar em prazer Em cartografia antiga
Contra todas as correntes Precisas de um pirata
Em uma só correnteza De boa pirataria
Quem faz rolar quem tu és? Que te arranques da selvageria
Mulher!... É te coloque, mais uma vez,
Solitária e sólida Diante do mundo
Envolvente e desafiante Mulher.
Quem te impede de gritar
Do fundo de sua garganta
Único brado que alcança
Que te delimita

148. Poesia de 1989. Publicado originalmente no livro: Nascimento,


Beatriz. Todas (as) distâncias: poemas, aforismos e ensaios de Beatiiz
Nascimento. Organizado por Alex Ratts e Bethânia Gomes. Salvador: é
Editora Ogum's Toque Negros, 2015. Pág. 32. :

438 459
Toy 094
"ZI Bed '6861 ºP
OIqUISAOU/OIQUINO /OIQUISTAS “LT oN 'OPESHH OJSeN ORToUIHAOW OP
[BUONEN JELIOf JELIOS AN OU SJUStUjeuiBuo epeotgqnd eisaod "641
02sTJ-03SN] 9 SEAT 9DUA
"RIOT RxouId ep zny jenb opeyeqorry
euLmmop ens op sojnydeo eaBIougI anb zopeptdoid
“suaBeIed senbussuo] oq
epejueDUS BAIpEp OHIO) OSOLIBISHA
opednoo ousiral us ns2sop onb ogjp otãOS OpIqrosSd
so95uejur ap ajue/aure ouBiueg
eroIe eu agims onb sie 1
“sjusoua)1ad 9S WIN E OUIOS UIRIIUI OS OBU 9NÊ)
seSnue sPISEHIR] WIS]Nn210d à as-UIE os DOTE
10HSJUE OP IOLISIX9 O SJUSUIBARIITOP opuriedas
“OSTJIP 198 O OpUBIO
isozes soLidoJd snos US OPpeUIUOS SeDITEISUI SEIS) OUTOD JEITO O UIBIJMIO
soisodeasnt snoa ouyjodss ON
é SUECO SOJUEI op sguefera sjonbe EIS und)
*suos so BIpadur esouTuIn eidnjoA Y
“OS[2J OPpUNy OUIOD
Sa100T sajueord owwo> opuefaureuyo
ayiregidpoaId 3 omjosaur
“BUB9JE 9P SOPEIG SO eIQIU]
oprpayuo> op opóeupe à ogÍeS9N
J0P 9P SOJLIS so EARDOMS
SOOSBUIQUIO SEP opepixojdiad y sEpr$SeI SIDA US 9JUP[IDSO OJUSUTIADIA
epesad BóIO] E SElIaqe sepuos
PARÍUEgso anD sa10o SEN
7 eouçIod Y
“PABUBSODP as ogssINI anDb Yy
eMmAStTOS às PLIZJeI onb sd
« CILISIZ, ENS I9zIp elIoges manSuIN arBDUQSI)
E a
opóIngsap Dp SDIp sou apppingissog JONJD9paQU] 9 DJOGUIONNT) OJUDUISON ZLDAA
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual
=
Posstbilidade nos Te
=——==-—-———
dias du destruição
IT TO
e a TS a A
TR

20 de Novembro"? Espera”
O Quilombo é memória, que Aquilo mesmo que busco
não acontece só pros negros, Como saída, me interrompe
acontece pra nação. Ele Num tempo de esquecimento
aparece, ele surge, nos Em suspenso
momentos de crise da Suspense. Ânsia edificada no ar
nacionalidade! Não tenho a oferecer ao outro
A não ser uma vida concluída.
A nós não cabe valorizar . à terminar. Um exílio forçado,
a História. A nós nos cabe ver Não-voluntário.
o continuum dessa História... Um susto, muitos riscos
Uma eterna ascensão
Porque Zumbi queria fazer Um lugar não tombado
a nação brasileira, já com Nenhum traço de união
índios e negros integrados Só uma obra de arte
dentro dela. Ele quer O espaço que ocupo
empreender um projeto Completo, não despojado
nacional, de uma forma Dos meus receios e temores
traumática, mas não tão Dos meus ódios e amores
traumática quanto os Do olhar dessemelhante
ocidentais fizeram, destruindo De qualquer ângulo em que estás.
culturas, destruindo a
História dos povos dominados.

150. Poesia publicada originalmente no MNU Jornal. Jornal Nacional


do Movimento Negro Unificado. Nº 17, setembro/outubro/novembro 151. Poesia de 1990. Localização original no Arquivo Nacional do Rio
de 1989. Pág. 12. : de Janeiro. Fundo Maria Beatriz Nascimento. Código: 2D. Caixa: 17.

462 462
9 º boy
“05 “Sed "9007 omea ogS Tepyo esuoldu “LT Jexteo “QT "oBipoo
2 EZUTOY CIMNSU] “SAY xoTy ap OJbourDsEn aineog ap ep op erojal "ONISUIDDSEN ZLNeSg ELIPIN OPpUNA “ONSUPÇ Pp OM] OP JELODEN oa
“ER E 9JGOS :BONUENE NOS ni UI SJuouIeulêno epeogand eissog est É -Iy ou [pulStIO OgÍeZIJROT "066T 2P ONalaAaj Sp 41 9P PISSOd “TST
OPEISDPTIP 021 1S00UPD
EIsIXS UIT ra onb Prey sieuier
emp “odioo ap 'oumIã uIas
ajuanb anBues Las SPISA UIAS : ODUSTIS OSOLTIZ IH
Eprogioad eoss ajseuy : sormny SOpEyDO] UM
EISDEI PIPJ SU UIPNBUIN sopessed sosuBuIdI UI
sentq OWN UIS JOS Op SEJOI SEN
OU op 032] Wa “PpeUIPOSS EJEAEO
ONIagE — IBUI OAISUDJXS UIT o cogambur
OESUSIXO US OMpusd og) ojLuudss esnodal EURO 9nD NEY
0202 2p euIsejd “eured op earos Ie]so o12nDb odroo anD mm
eIm5dop E Jopiod no pie] monSuIN goInDoJd mranb y
PIB) INGNSUIN IeqUujureo V
omBas SBÍIPS 9Pp O0A enu eHIsEjUR] NO OUIOO
opóBIAS EP OBÍEIOS) sen seu messed setisgjue
somosaq onenD so as oo oinaso n99
EITHEIS] E JopIad na pieg uransuiN mzE Biol
est OUISPBA-DUY 2 JOS
eorSOBJA
OpáIms3sop vp SvIp sou appprigissog poRgpaJasu] 3 DJOquIOJNÃ) 'OJUIWIISDN ZLBDIM
d
69+ 89v
"58 "Pd "UIap] SJWotjemôBro oprorqna “Z96T Sp oWxar SGT “se "Bed 'SLOZ '“soIBen anbo | sumo EIONPH :IOPeafes 'sauIos)
erIgog 2 SUE] Xoly 10d OpeZIUBSLO “CJUSHIDSEN ZINPOg OP SOIES
“No 9 SOLSIIOJE “SELIDOd :SPREISIP (SE) SEPOL “ZINBoM “OJUSUIPSEN
:OJAI] OU 2JUSUI/BUIBLIO OPE>ANA "EB6T SP CUMÊ Sp ET SP OIXaL “>ST
"INSEXo n91 OP sEDIEUI “OduIa) OU SEAISUDJOUI
sEIpad se IP[01 9XIoP UISSPIA EJSOU IPIIPQUIS Sso19ND os
01501 LIQS à USPI] Was
“sa10P 9 ELISaTE op ajjodessed “upIeSo] 23 sagõesoS anb “ISA 9P WIOP O 2UI-EP snod
opIey o esenbso EU “uroBera PJSoU TeDIPquia soxonb ag ioloA cogu na anb Jod 9 anb pros
JOHSJUI BIXEJES ENS 9Pp jenIour cONpare OBU Na anb 10d '2] Oq) CEU na snbiod
OPEIS9 OP aJIsUBI “UISSEIA EJSSU IPDIBqUIO UIaIaND OS “Uru esed qs ojuejsur ojonbe Jos Iopod espd
TEM UDST aSUBA USD “ZEIDA [BUIJUP OUIOD sIsdAjA anb tm wpenbnoqua apuo “ejoSuy IA OUIOS BIIss assta E Na 98 SEIA
ZoA RUM SJUGLIOS NISIXO 'PLUQUISI EQUILI
nb jeapt opuniy o 1ezo8 euad e Najra OEU os BIJoI EU SHosald aJUSUIeurogo OUISSLI OSS] J0d “Doútod 0EU N5
“stodap sou azunb UP|ÃG qog anb Esvo "QAOA 9P BSPD EP STUIOU O EIS SBIOTI SEP PSZIPA
ºp UIOS OE afegquia as UISBEIA EJsoU IBSJequIo sozonb ag “zny E nop na ouyjeger ojuend)
o204mba or “eutoBIdA E znpu! ond eurap um 9 “eIseS siod "aquasald
ELQISF] EUIN ap 128] OU oijuos pARISa OJLIdS9 O anD IoJIpa29e osenb q TareIgrustuen
eiaPed E sn OpU “Magela PISIU IPIIRqUIo sotonb as sepossod sejonbe anD 1eJso-uraq oq "agiou ejonbep
“SEO BIPÁ requinieo à Jos Pp opezuoA vIs20d EP SU-PABIQUIST SJUrIsur um sieua iessedengm
UBÁ Gog 9p OosSIp eImSasuo> nº anb eguos BAeyjO £ anb zoa BpeD jnop
um oupoxede ou equod “WoBpIA BISSU Ieoreguis soxandb os 2UI E/S EPIA PJUENO “CURIOSOS CLIN BAIA OD JOT EQUIA
9 souy porSSJOP] SEP FOZIEA
E
ER E rey FP
OpóIniisop Dp SDIP Sou apppiIgissod Jong22/99U] 2 PJOQUIOIINÇ) OJUBUIDSDA ZLIIDOH
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
A RR
E
==

De Todos os Amores...”* Se Eu Pudesse Encontrar o Fio...”

De todos os amores de minha vida, de todos os muitos Se eu pudesse encontrar o fio onde tudo se confundiu. Se
amores que me fizeram a vida; está minha terra, O lugar, me senti engana e dei chances de afirmarem o desencanto
os lugares do meu país. De todos esses amores, às vezes de não ter ainda forças de braços, num rijo e apertado
dores, elas marcando meu corpo ceivando-o e cevando-o abraço desligado de mim. Me sentiria com sono, sem este
em sangue e came vigorosos. estado de virgília, que dura por tanto tempo e leva-me à
exaustão.
Se meu cérebro descansasse de recordações perversas, de
dilaceradas lembranças! Se eu pudesse escrever não
tormento, mas alegria, não ressentimento, mas afirmação.

próprio subjetivo alçando-me a essas horas intactas.


Se meu cérebro repousasse não à custa dessas drogas
psicopatas, mas num descansar legítimo, quando
embalada em letal delícia meus sonhos sejam produzidos.
Nunca o estado de importância.

157. Texto de 29 de agosto de 1987. Publicado originalmente Idem.


156. Texto de 1990. Publicado originalmente Idem. Pág. 86. Pág. 87.

470 471
ELb 2 TLy
“o Seg 3]
“68 BRd "TE9p]
'6€I
::
º
E "utap]"SST
uouTemBuo opesmqna “EP:£O 0661 2P OXaIaAaj OP ST SP OIL
. 210 StITeuró8 io Opeogqna . 0661 9P OxlsisAB] op ZT 2Pp OIXOL
CEZSMVEN Ep
sou 9p uIreLIos enb O “SODNSHm 9 sejS0d assaAnoW OEU às
“EUISSUI
Ult o no Usa “OruI UI No UISN jOpSUSIoId EJOI
égnb mo pIInsqNs atu IUSNÊ)
egnD e presedigoo oUI ond)
“III 2P EIOU
visou no 'orxIBd ajuequinjai no “OgóeziPal à USUIQS NS
“1OJy-EIDIJ no JeÚpnu eujuaui no “nos usse à “nos à nos
“PHISoUL OSLUIOD
:ou Ou
— Ou oudord no tm o nos . “J0pai aD9IPA OAIA 198 UMIISU “Ppeu e pIPjens! St UISNSUIN
ouy nto ajuanb “odedss ou opros odIoD (O) *LEL SOU "possad euidoId ear
I
SIBUISP p so SO onb ogpyos as-euIeyD
- . "apepisqr eu opsud pH | optIas “POSSad
sa IaJas BIUNU “EUISSIU No “TSTNU TAIS BIUNN
os OJUOLEOSE,
TOSEN | ec (PITUBUIV 9 SIHD 23V)
MR E O O
ÇA
OpóImsop Pp spIp sou appprigissos porgosjaqu] a pjoquiognt) “OQUISDN ZID9
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possíbilidade nos dias da destruição
E E E E
To
E E O
=
TT — ei

Como Começou" Quando Te Disseram...


[Para Eduardo Oliveira e Oliveira]
Quando te disseram: façamos um tabernáculo para ti e
Tudo começou com Eduardo. É preciso saber de onde se para nós. Ou quando te ofereceram as cidades na solidão
vem, para saber aonde se val. do deserto, Tu negaste.
E eu já estava. Já não ia, nem vinha. Esta é a minha lição, embora não queria chegar à cruz,
pois este poder só foi possível para ti porque aiém de
homem Tu eras Deus.
Minha negação é o sofrimento e a desilusão dos que eu
amo. Mas minha dimensão egoísta é a de que... eu
sobrevivo na-dor, eu existo no não.
É difícil ter consciência de que és privilegiado. Os demais
são os outros.
Isso dá trabalho e eu sou preguiçosa. Será que é isso?
Uma pena e um papel —- meu drama — apaixono-me por
esses dois instrumentos e me calo.
O meu grito tem a intensidade de um “jazz”. Mas meu
povo não cantou “spirituals”. Por isso não me bastam
papel e pena. É crescente. À terra é dada mais um ciclo.
Não é chegada a hora... Terra-mãe-atômica!

160. Texto sem data. Publicado originalmente: Idem. Pág. 90. 161. Texto sem data. Publicado originalmente: Idem. Pág. 91,

474 475
Lil 944%
"81 [OJUSUMDOM "TZ :BISBA “ST ieXIPS “9 !OPUSUMDOA "E BI
GIZ JOBIPOD “OJISLITSEN ZINPag ELIEIA Opun, Cxsuef ap org op Jeu -sed “ET :PXIPD “CL :OSIPOD “OJUSUIDSEN ZLNESg BUEN OpiMY “OXptref
-GRBN OAMbBIy OU OPEZI[220] OJLSNWEUI IUS [EUTÊNO OjUMD3OM “SOT ap org op [euopen cambry :Jeuiêto oJLDsnueui Op OgSEZI[BSO'T "ZOT
“PODPDTIUI 9 ES9Jap 9p az1e OUIOD fiseIg OU
2PIAjoAuosap “sonstojmb sop e)NpqonE vÍuep 2ujA 9p erreuis
“HO “JISEIg OU sejogur SOARIDSS SOP EMJ-PôUPA :emooder
“CuIopI ÉS
"g 1) unso ou aredenuoo ens pyuosaIdor onb eojoquiis vdoqea
LIO-PGS] e à PIUQUILISO E S0910]0 UIonD op no OPEDIII Op ESoq
“BD E SIGOS NULL] E SOIS SOPpiaIoJ0 OES PIIQUILIS2 ESSON
“(BÍSqeo E IeIOPe = HOjOG) EXPPDIUI PIUQUILISO NOM
“SELISPOUI ERIOUODS 9 E>NIjOd Ep 2õtoy 10d ouE>Lye
NS OHOJII] O Je as-werpuedxo squsujeme “[seig o ered sop
-BnOdstem SOABIDS9 SOP SJIed IOIEUI E II9AOId 9puo ap Tejuop
*““SOWUINIPO SO OES EPUIE 2ND sOsomIO! SOWUTEIRO SOU
“PO-TENuSD EouPy e meqeuy anb sosod apúusstduio “sorreaLpe
“apepiota] BP ouajd ajueisur o “opumiú op a uIru sp aued
soonsmBuI sodnIS sororet sjop sop UM 9P SON :nueg
tozipal BÍ Tefasop op 032] O ajuauros seu (so[osap snoti
“(oLIOLI E 9 QSPU SO 'SOJTES *T '[) CUIOLTOZ, 9] sop conod oWnIU Ozije>1 euriunt ouroo o “oumtr oudoId
-onbe WeISajuy onb sojuatwao so sopol e opyrusueo p onb pxe
nout O ONssodg “UIpnSuUIu ap Wiou PPpeU op EUINIA Nos OEN
O OPpEJUE|Á Jos op pI Ollouiud “sexuO so as-WeIsagmeuI apuo
“YonBau otToo “ogau na
«OITO, OP OBÍ2ISESUON 9 EDUZISIXO E PILÁ S axp op opóisinhe
“PPIA US
Ep SPAPIjZ 9 O OS OPEISESUOS JESN] nO Jos “ojalgo o opor, “epo SornIPuUI UISIonNP)
U3ZB] SO 3 OBÍIQUIE PIS Ep ogStodoId EU
“HUSUBIN seur “Poupjúodso ESIOJ RUIM 9 OBU (eIUIBUIp ElDUgIsTÃa
“LUBISIXO OBU SB[3 onD ouIsom
E emBasse onb vôos “fejIA Ossevold O [eajssod euIo) onb ord
“UISSP UFELIO] SE 9 SELINIA WIoSa(S “UIQ OP So1ojomold
-puud o vomgrugis onb egnioá ÚsBLo op omqrIoA xy
SOB SOpms “WepTrUI onb sop 0510755 Op otónTos
, TSEIg ou ELE)
“Tem wunqueu wregrodso1 ogu anb sosejodomue “tepod
“Te feuonIpem opISmal EP ,SEDnIur sogÓPIL, SOJOTeuE
ºP ONNO [3AFISSTUI SIBLI OP SOJUTLIB] SOGOT :SJUSIALISJUI
son SEP BU] “TAX Ojmas ou “ejoSue op euPoLITe 98
Zn] OUIO3 “OYNDO 9 [oAIsIA ODIsH Odedsa O OPp0I OpuaBueigy
“BUU Ep Mmueg suroN “sosangmiod sojad eonFy ua
Epessmbiuoo ogia pIrmuId ep opÍpupotag :ejoSu
cor PRUQRSUO) JHO
corOHPSSOTIO
opóIntsap Dp SPIp SOU SPDPIIGISSOS IDRpajazu 2 DOGUIORNÃ) OJUBLJISDN ZLIDAg
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
Tr RR

Congo: Reino do... (na África Central Ocidental, século Iansã: Nome de orixá feminino do panteão yorubá, na
XVI, XVII e XVIII uma das nações míticas da religião tradicional Nigéria chamada de Oyá, foi a primeira a inventar o segredo
africana. Rei do... figura líder do “terno” da congada em Minas dos ancestrais (Rainha e fundadora da sociedade secreta dos
Gerais. Egungun na terra). Os elementos naturais que a representam
Caboclo: Entidade incorporada nos terreiros de candom- são o ar, o vento, o relâmpago, o fogo, manifestada em seus fi-
blé (Angola) e na umbanda... é resultado do sincretismo ame- lhos de santo, a cor vermelha predomina nas vestimentas e tem
ríndio e negro, apresentam ancestrais guerreiros na América. como emblemas espada e bastão com crina de cavalo ou touro
Ebó: Oferenda (ebo odun = oferenda anual) ordenada (iritkeérê ou irúesin, símbolo de poder sobre os mortos) e o Oge,
segundo o calendário litúrgico dos diversos orixás, tem como fi- palavra de origem Fon constitui um chifre de touro que ela traz
nalidade pedir ou restabelecer relações harmoniosas entre os se- suspensos na cintura por uma corrente de metal.
res e a natureza; “aquilo que o homem transforma em comu- Jagas: Grupo étnico proveniente do norte e dó leste afri-
nhão com a natureza”, restitui o axé através dos símbolos que cano, que atinge o Centro-Ocidental por volta dos séculos XVI e
representam os seres humanos e os progenitores míticos. Exu XVIL Também conhecidos como Imbangalas, viviam em guerras
Ojisé Elebo é o transportador do Ebó, cujas ofertas entrega aos constantes e possuíam um tipo de sociedade iniciática (adoles-
orixás para que transfira às demais divindades. centes de outras linhagens, pelo nome quilombo eram introdu-
Ekedi: Sacerdotisa não-iniciada encarregada pela parte zidos em sua sociedade guerreira).
administrativa de um terreiro de candomblé; auxilia a yalorixá. Ketu Nagô: Vocábulos usados no Brasil como sinônimos:
Exu: Vocábulo de origem vorubá; “princípio dinâmico € uma das três maiores “nações” míticas do candomblé; refere-se
de expansão de tudo o que existe... sem ele a vida não se de- principalmente à influência da cultura e religião da África Oei-
senvolveria” (J. E. S.). “Cada um tem seu próprio Exu e seu pró- dental na Bahia e Pernambuco; atualmente predomina em ou-
prio Olorun no seu corpo” (Ifá). Cada orixá possui o seu Exu. tros estados do Nordeste e no Sudeste.
Escola de Samba: Agrerniação social e recreativa onde Ntu: Radical bantu que proporcionou a unidade linguís-
os negros originariamente se reúnem com propósito comunitá- tica dos povos da África Centro Ocidental. Também compreen-
nio. O samba, música de origem dos bantus, é o motivo que jus- dido como significado de “força vital”.
tífica o encontro dos indivíduos para compô-los, dançá-los e Nzinga: Rainha de Matamba, Angola, no século XVII,
cantá-los. No Sudeste do Brasil, as Escolas de Samba são verda- após a derrocada da linhagem dos Mbundos; única mulher a re-
deiros bastiões de resistência negra ao se apresentarem no des- ceber o nome de Ngola, o qual distinguia o chefe da linhagem.
file do carnaval. Durante o processo do tráfico e conquistas portuguesas no Cen-
Filhos-de-Santo: Indivíduos de ambos os sexos iniciados tro-Oeste africano, Nzinga empreende uma tenaz resistência
no candomblé. contra a dispersão de seu povo, que foi marcada por lutas e
Gege: Uma das três maiores nações míticas da religião alianças ora com outros chefes ora com os próprios portugueses.
tradicional africana. Sua área de difusão é o Maranhão, Per- Nanã: Orixá genitor associado à terra, à lama e às águas
nambuco e Bahia, no Nordeste, (lagos e fontes); no Daomé foi considerada como o ancestre fe-

ga
Ganga-Zumba: Nome de origem bantu; denomina-ção minino de todas as divindades; na Bahia é considerada mulher
do primeiro Rei do Quilombo dos Palmares, também seu chefe de Oxalá; seus emblemas e objetos rituais estão associadas à
espiritual (Ganga). Foi substituído por Zumbi após o Pacto de água, à lama e à morte; o radical na, do seu nome, significa
Recife em 1648(?) no grande quilombo. “mãe”, em relação com os seus elementos...

478 479
18h 08%
'SPUEDLIe spAmDadsrad sEp ONUSp
fopseuidoide > opôriroSrsnm ejsejou og] Pp o ojusnrponbueiq
op PISO[O9pi E OpIA9p “eSaw> urenrepie) ogti onb “SONY SEIp (serSojouraistdo ap) ojusupatwuos um ap ogônpoid eu ogómqarnuos
e o ojord oAod Op EIN] 9P ELIQISIY E SILBIJol ODUPIBONIQ CAISDP UM
Sosso | "SOMnT SEIP SOU EzoJIS0UE PjSd somwearIOyD “saquour
ap ogómnsuo. E oanalgo outoo tal onb “VoLyy Ep sou EIONPpH Ep
SO? S9JHOUI SOU OPpUBSISSI OÚISSUI “OssI ur0D OuISaIN ejsodoId PIOPEAOUT E 9S-BIJUODUS “QI SP OHUODUY O 3 ÁDAIES URISOIN
“PPUENTV-UN OU WeIefizoSar SnoJER EUPOLIy-UPA EjOOSq Pp O “ojdutaxo 10d ouzoS “VAN EP sojof
“SIERS9UP SO “SOJaIÁ Sasnap so “UIISSE “OLUQUIAP OP JA anSies O -oI1d 9 SOWTEgEN sOJmuI anuaq 'sejazd seossod se sepo] op eusjd o >
T9110989 SOUIaZI CUISSE “IIQQUIC) SEOLIAp & “SELDUgISISAI SOUIas -ISH 9peprsquy ejed a jeruerdsa o oombysd opeIsa Op OjuaLIajEuroz OU
"neu soy] 2 POD9[eIp 2 BLIQIsIy E seja “anbes o oIdmiso Pp Bono “soleDLIFE SOP 2PEpnuSpi ep oJefsas OH “enupsso tod ouIsnureoLHe-ed
BwN à OMBIQ Shop UM op PANICO E UIOD SoIAH seOSSad spp op OESNYHP eu 'sBuo no sesaiduio “soyeoTpuIs “soopyrod soprired os
soma ursos “9 0]s] “PUIOUQHME elos sp eúpeqen anb “omed 0ES p
SEUIJE SE à SEXO) SE “EZOMHBU P IBUIUIODp UIPARJUO] anb ossed
OE BPIA EP Zosseoso Ep o OH op ureiêny onb sojonbep seua spepp eu “000% op osoge ua epepungy “ejsTueoLIge-ued a eonyod oB
-“PZIuPSIO EUM 9 (SP)STUPOLIFY-UP] SOApjoD sop oBIUN) VIM V POL
9 SESSIÚ UIS UIBIOLISALOS SOU Soja “opunui OP 2 EPIA EP oADjno
OU EZOHSOPp 3 POUSSIMeUI ESSO 9p WaJe Otusour Oss; 10d zoATel
“(d EsnDsa PjoJd eossod eum ap OSLLOS O ? ojog opnD O UIBIEJOU -“UIE BJ9 OSSI IOd 9 PIDPUINEI enpuguadxs essou Esso
Ef) WrIvSo] sou sognue sossou anb [emsaoue v5IoJ à BZzoIM E BA rj unsse onbiod isopeiedulesap o Sajstn “somas
“BREIMUSP 3 EABITIIG ojod essou Jos o qos “serp sajonben -o 9 sope$sei “sopesuro 2 amo] uIoo “souregao onb
"SOAOII SOJord 9P “SSJ10J SOJSJÁ OP “SOLFOLIE OP sterroul sojsar opsaq “opuo exed Joges uras “sompred anb apso
2 enSUes ULIOS opeqnpe 2 ojajdas as-enuosus “po op OPE] 23Sop
Tem3oofsJU] 3 EjOquIoTMA) “OJUSUIPSEN Zea ZIp sou sub OQ
OTos O Opo3 sem “OoDUENV O OS OBN .JEUI OP SOWIIE, SOp Iozeid
“T9q 0F SOPELIOD NO sOUNISapHEp SOLISIUD Ia SOpeLISJUS NíBIO
SOdIOD SOSSOU 9 SOTDIQ CUIOD SOLWEILIOUI 'SOADR2 OUIOD “--spjeId tungefimSer nxetv]
sejod sopEuIssesse a sop;njoxo sou1os somos som 104 “EJOdSEIP BU BOLIFY EIed BIJOA NO BoLJy
“BIRO & BUGISIY ESSOU E UIOS OPIODP Op SOAg ELI stero Ep opórnmsuodaI ap ojdulaxo opuPié um jOJ ossq some
-OS sOdBdsa 9p OJOUmDajaqeisca1 no ojusurpafoqeisa O “EoLIÇI “LIFE SOLIQILLVO] SOJPpEpISA Opuos 'omd onisrreoLye-ed
“SE opepimuntos ep eotdo] ep onusp 'somapussIduro 'sozay sor p stod “zmosip ond O sotioz OEH OPDJ ZIP PÍ ourou asso
-SYMI > susurony ouioo *snb ossed op “erapo sou ozuel anb oBrm “OPIUM, J9ZIP JonD onb Opunguimb OULIS] IM 9 OqUIOPNO)
“HI OB BOlop 2 omiauLgos “op J24d[ op Iºopod o iminsuoD91
3 OpUNUI OU BIZEUIIA ESSO E ISJeA 19zBJ PIPd Opuem Tenumyuos
SOLIBA nb I9ZIPp ap Iepod toco OjuomIpseN ziyeag EIZIpP OUIC9
“SJUSUI/BIpIOUHA “o Intos Sp “JEPpUP op “ejey op “104 op “IIANO
op Iapod uroo alo ap serp soe IeSo2u> assopnd ajus8 e onb er
“Bd UreIs29foquiso soBnue sossou so anb ein] ep a BLIQISTE Esso
im
RE
Bp “opessed osso op sopeajid souroy Iseig opeureyo OJISAL ED
assou “nbe somisam sou “-*sojaq SIBUI UISQ 9 SOUSA sIEm uid
“SOU[PA SIPUI SOSSOU "“SQAR SOSSOU “sIed sossou ---seprprad sep po/ SEISTURILIFY-UBA SOANSTON) SOP OEHUN
“TA SENNUI 3 senj sema ssueimp ---odums] cymum ajuemmp (ser
-QUISTI) sEDIIgISUOS 9 (sOd10D) SEISOD SESSOU SE aigos esad Ep OPPIsOd
ET VV
Opómigsap Dp SDIp SOU apppiqissod “Lompapau 2 DIOQUIOJINÊ OJUIUISDA ZLOVDH
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
Ds aa TT DT T=—=————=

espoliação cultural, anunciavam para nós como a imagem da res... nos tempos em que a dor penetrava na carne e, que-
mais horrenda e hedionda Desta branca. brando os ossos, dilacerava a alma da gente preta: sobrava o
Por muito tempo, por muitas luas, com os pés descalços banzo, a nostalgia forjada pelas histórias contadas em volta das
e munidos de uma falsa liberdade, vagávamos a esmo pelas ruas fogueiras, no interior das matas escuras, nas noites de Lua...
e, sem ter para onde nos dirigir, sucumbíamos diante do olhar sobrava a insurreição suicida, porém digna, de uma grávida em
acusador do algoz e do seu mundo mesquinho, frio e sem bri- feridas ou de um solitário mandinga...
lho: “Eis o veneno da democracia racial brasileira”. Dominemos as epistemologias ou as epistemologias nos
Memória... História... dominarão: “Eis os ensinamentos da nossa ancestral... Eis O que
História e Memória... Saudade... Resgate... nos diz Beatriz Nascimento...”
Encontro... Construção... Continuidade... Cruzamos parte do século XX no limbo, ostracizados...
Perenidade... Desamparo... Esperança... E tempo... confinados em zonas precárias e carentes de tudo, desde o mí-
O tempo que rouba é o tempo que devolve, restituindo nimo... em partes, em partes e partidos ainda estamos... A his-
cada coisa em seu devido lugar. tória é dialética. Os quilombos ainda existem, e resistem, não
O vento que leva é o vento que traz... E o tempo, sem mais na estratégia da guerra em movimento tão cara aos Im-
fazer concessões, surge e esmaga tudo em seu caminho... bangalas, mas reinventados a partir do ethos quilombola de li-
Tempos depois, alguém de pele preta e bela, com sorriso berdade e integração à natureza, muitas vezes inermes mas fir-
teve e sembrante sereno, que exalava paz e inteligência, nos mes em seus propósitos de ruptura e enfrentamento, lutam para
disse que conhecimento era poder. Assim, logo entendendo, vol- não serem suprimidos pelo avanço do projeto civilizatório da
tamos aos terreiros, às escolas de samba, aos afoxés, aos mara- supremacia branca que, com facas em mãos, golpeiam ora com
catus, às escolas de capoeira... aos quilombos remanescentes... a mão esquerda ora com a direita; porém, nunca deixa de gol-
aos precários e excludentes bancos escolares... fundamos os pear.
blocos afros e as revistas negras, também grupos de estudos... Beatriz Nascimento, durante toda a sua trajetória acadê-
uma vida de dor e sofrimento na busca da percepção e reen- mica, vida intelectual e luta política, sempre tentou nos alertar
contro com o seu próprio eu e, logo em seguida, na construção acerca da falácia do maniqueísmo representada pelo pensamen-
do conhecimento, com rigor e crítica; e dentro do Método da to e “práxis” do homem branco-evropeu; questionava a síndro-
História, nos deu voz onde ainda não tínhamos pisado... tem- me de salvador único do mundo alimentada pelo ethos do ho-
pos difíceis, tempos difíceis aqueles em retirávamos força de on- mem branco; desta forma, com o seu pensamento e escrita,
de jamais imaginávamos ter tido um dia e sem conhecidos, pa- combateu o conservadorismo burguês com a mesma coragem e
rentes, conterrâneos, apenas com livros parcos, raros e caros, astúcia que combatia o suposto progressismo marxista; neste
viajamos à África, à terra dos ancestrais... nos reconectamos entendimento, rascunhava, criticamente, sobre a incoerência do
com os nossos malungos-irmãos-camaradas-rebeldes-de-outro- discurso feminista no interior da comunidade negra e na ideia
ra; fundamos e refundamos 0 movimento negro, a imprensa ne- que os pretos deveriam sempre se portarem com humildade e
gra, e, como quilombolas, nos aglutinamos... mais uma vez, sem maiores pretensões materiais e intelectuais; pois, como de-
com os livros, voltamos aos tempos dos navios, dos leilões, dos fensora da autonomia política do povo preto, brandava “raça
ferros frios e pesados em grilhões, das senzalas; dos ferros en- primeiro” enquanto demolia, no interior do templo da suprema-
ferrujados em brasa fritando a carne; das dores das violências, cia e intelligentsia branca, os argumentos racistas da historio-
das noites frias, escuras e sem Lua... dos silêncios das senzalas, grafia oficial e daquela que pretensamente dizia a esta com-
da solidão dos troncos... da separação dos filhos, amigos e amo- bater; deste modo, Nina Rodrigues, Gilberto Freyre, Décio Frei-
482 483
48% vet
-Jn8 UM :zed 2 BONS ap serdoIemso o selBojouDa) “SEHEUONNT opd epizem usfesuour P > BISJ "oonIod > jempaju opesa]
-OADI SOQÍTMNNSUT UIRIO] SOquiojmD SO “eDUEIG à exstferuojoo “El nes O “ONISUIDSEN ZINCO ELEIN 9p ÚwaSesuoul v o EIS
“SIAEIDSO UISPIO Ep EIofduros op5ESaU E 10] aJs sIOd “eIodspIp Eu - *PPIA EP S9JTOUI SOU SSjUOUI.sOP 3 “eIpuTey
BDUZIsISa 9P PRUZISJAI JOfeIU é 9 oquiopnb o “ojuejiod eu cefdnp tra “somuizos “sourequiopnhe sou “TOpeZIIO(OS OP SNPA
“eUBUNN] oróipuoo eudoIid e saquol so O S9]S0A SE SOmIEIDOI anb aIduros “11000 sou anb ardimos
-oUI BóBISdSo 2 PDUZ|OIA OP 9pepi£or euisauw esse 10d seysod + eroquionnb zed, e 9 0381 nadoma iopezmojoa ojad opel
“UM S9QSTPeIUOD SE SEPOJ UIOD 9 [ea SEUI Sogipeunoo a soxy opimim oe Ejsodo opunul op EoIS9] EM op OJUSUIDOjageIssoI
“UOD “PpeproroIsmy ap EjuasI a EpezIpBopy “cogu BoLYy EUM ob 3 opTUN 9p oquos o “ejoquopmnb oruos O sou UI IMIDSSI 9 1999
“POLJY eum temos nmgosuos oquomb o anbrod ossi 'opimu -EJIOJ SOU Sp OPNUSS OU “ eLPULDNOD, OLISSUI BSIBOJOIPE EJUSUL
op ated visou SOUPoLIFE SOAOQ SOp oBÍeZIUOJOD E O OBPIABID -2IS] BUM Ouiod “ZLHROg Op ajuagund ejuDso Ep Ojour 10d “e)
se E “OMIXO O JoJEQUIOD OP ZEIH9 SIRUI PIO] E 10] oquiogmb -“JoA sou opessed osso “OBdITLNSSP 9P uIpquiea setp “efoy
o onb ojusunpusio oe soureBam “opómisop Ep seIp sou apep - eroguropmb Jopod O stz, :SeSUrpueia “semy “spôneH “soj
HIGISSOd :[ermoojogu] o EjOquIOIINO) “ORUSLISEN ZIneOoS (eiod -UBUsV “SEQUIO] SOUTO SOp “uma op “ejoStuy ap “oBuoD op sol
“SEIP) FESBIg OU SOLEIL SOp BILIQISTY eroIçUIOdxO Ep “eueouye “QUIS SOP "“sopungia 'segeç 'sejesuequiy (oguiojbj) SOLIQNITS
eIPISONOISIY EP oDIsspj> asa “euIId-PIGO PISO I9j OV sop SoJUEISIP "“BOLIV Ep SojueIsIp IeIsa UIPABUISPUII 9SUO] 9P
"OWISUHISEN ZINBSg ap sogor]aidrogur opungas “opmbe anb op wou 2 jeur Op UIpnDE WIBISAIA SOQÕBIOS *SOUIRDUDA “SOUFEAPIO
OssT SIBUI 103 “feios ou “Topusaiduo op opeppedeo uioo a SSI -21 RIO “'SOMIPIDUDA SONIBARÍUBAE BIO “sodura) sajonbeN
SSJSUJAUI & SUSUIOY 9P ELUIQISTH E 2 mbe ELIQIsIH essou w «OD
«ODPUNUI OP 2xn01 ojasd O -IMUI OB PXNOR OJUBIG Lratoy O onb SLIBGIEG Pp Closap O SE,
9nb O SIZ, :eJI9NS PIA zed Pp posnq E inodoma-osueIq op orto1 :opour o ELISSBAJoS PIDUPÍOIA 9Pp OJI9S9p UM E OJoUI to pótrRIod
-Bpold OUISIETUOJOD O FEjUSAgua à IaJequios ap sopepiigissod se -so o Zed op sisgo UM :OFômusop ep setp sou sepepirgissod
sjuamedpund o Oopuri OAON O SoumaSsUOS “CANEDO op Jesode nojuasoIde SOU 2 NISiNssal [ELUOJOD OUISIARIDSS OP SUSSIPLL SEU
-SIBZ9JBD SOP > SPUIUI SEP “SIBIABUPO SOp OEPIBDSO ep ui] “sedoid sso5rpuo> sep omusp “Jensaoue exi) e “eougy e “zed
onnur jesa “eIodsyIp Ep aured egsou inbe “euoIsm essou e anb o v5uetadsa op opunty um onioo ÍseIIos sep “sejeui sep “SEISSI
> OJUSUIDSEN ZINPOg Jof OP somo) onb ojusurpusjus O -O[] SEP WIBIFSISMIS soquiojmb 9 sogmjegal “serpjogal se 3 OJISHD
"OSO GUS JEI O Epure sonno “pInIxo) “1092 PULO] OPUPLIO] 9 OPUBLIN|DAE 9S UIBIOJ “SEPEJDA
pred osS2N oonurpy 'sung[e vied oonuepy opemeijo onfues -Sap OPpUos UIPIOJ SEUpLIodxa SBAQU O “SEI EIRÁ SEpEXIop OPUS
ap OI sssa 10d “OoBUEAY ouraDo ojod sopeipow soquie “po ap uweios seuised se “em à epeulol eu “PPA EU “SOJAI SON
2 BL op sojpaimsuI sopuir “sOssol sop LiIaquiv] 5 'snas sop à vou “so0)wIaIdISJUI O SOS .
-BIOdUIS (o)juoo
ut-19u]|nu-jem
-prosd-ejoguropmb
oo esp em £ “TU? sens se seppso491 UIBARISO jenb OU “ODLIQISTY OUISTUOLEUE
WO) OJEITIOS SOLIBLIO) “CLIPISIT BPELIOÍ BIA To110319d ap soureg op 9 eomrgisido ovôergodso ep eonpId ejad sosorpmsa, Ssossa EA
“BP OHIOD *sOqunDSsEI à sOJaford “souIsLIOje 3 seISSOd “seLIOINOUI -euapuoo “sojazd soudoxd sojad seprznpoid a semrougime sejoid
“SEISAaINIO “sOTESIIa “SOBNIE SNOS SOP PINTA] EP Orout 10d S2ANITEU SEP 9PePpIento e IHynsol Sp Spejuoa u1oo o oduía)
“eJIodspTp eu ejeid eormur nas Op aja E 'ogÍIpnIa ap ozmf ulOo à OpTO N9s OE EJUSMNE
“9PP>E 9 [enjoa ogônpoid e epo3 asenb q otros 'ormo op op BIOPRLIOISIY OuroD isopeziioand ogu opuenb “sopeuonsonD
“Uno sueogienbsop onbeye o 3 snas so ayweiad ojusurezost op ajuowescIoSH é BeAOId E sojsod sojustndIe snes so uIEquA
9 OUISDEBI OP EnUgLuadxo Ejod EPESSSARRE 9d, OE2EIMY OP oUJo, “PIOPPLIOJSN ESSOU PJSap EIU9>EjduIOS UIos “somno 3 FU] OLA
Ou “000 UI eprznpold eigo ens E BUUIL Essou essop ojuuresuad “320 Sopururd Ueasoto (a ORPUTES os EMO SIADTO “se
E
OpÍInigsap DP sDip SOU 2PpDpIIgIssOs 1ong99123 uaa pjoquionnô) “OJUALHISDAS ZLDag
Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual Possibilidade nos dias da destruição
EE ==
ra em movimento que buscava guerra para alcançar a paz, mais espiritual, cultural, política, econômica e militar... e a retomada
essa do que aquela. de um modo de vida integrado à natureza.
Ao ler Beatriz Nascimento, percebemos que a experiên- Os territórios africanos na diáspora se caracterizaram
cia quilombola foi a “perfeição” da experiência pan-africana e pelo que podemos chamar de Estados-livres dentro de Estados
nacionalista preta não só no Brasil, mas por toda América. Os escravagistas. Um território liberto, estabelecido pelo povo pre-
pretos que criaram e lutaram nos quilombos se posicionaram de to, na base da ressurreição armada, da fuga, da aglutinação es-
forma consciente, unida, doutrinária e tradicional frente o holo- pontânea, nas estruturas do pan-africanismo e do amor eterno.
causto das pessoas de pele preta; naquele contexto, se asseme- Além disso, os africanos, sobre o Atlântico, nos porões da maa-
lhava a uma faca quente, enferrujada e não afiada perfurando e fa, transportaram as suas crenças religiosas, as músicas, as rou-
rasgando lentamente o tecido do coração do mundo criado pelo - pas, as línguas, os deuses, as comidas, as artes e artesanatos, as
homem branco. lutas, as estéticas, as danças... as experiências militares, políti-
A luta pan-africanista, durante o período mais intenso cas, sociais e econômicas; enfim, todas as manifestações cultu-
da escravatura no Brasil, sintetizada na experiência dos quilom- rais, todo um repertório civilizacional e, em seguida e imersos
bos, se estendeu por toda a América, do Sul até o Norte; pipo- em uma violenta e obstinada luta pela vivência plena, as im-
cando no Nordeste, Sudeste e ilhas do Caribé. Isso nos leva a plantaram em terras americanas — e quando isso acontecia, es-
crer, como mais de uma vez defendeu Beatriz Nascimento, que tava fundado mais um quilombo, mais uma nação africana,
o estabelecimento desses núcleos habitacionais, esses Estados mais uma Peguena-África... mais uma Angola-Janga.
Africanos. (Estados Pan-Africanos, alguns com mais de vinte mil. Os pretos que constituíam os quilombos eram veementes
pessoas e com duração de séculos), não eram apenas um desdo- defensores de suas culturas ancestrais. Deste modo, eles não
bramento do cativo ou um desfecho simplista das fugas, mas a queriam ter seus valores culturais misturados com as culturas e
vontade deliberada de construir algo de acordo com valores valores brancos e menos ainda ter que viver em mundos criados
próprios do povo africano, dos bantos, um ethos, que podemos a partir da cosmovisão europeia. Nossos ancestrais queriam li-

de
conceitualizar desde a Personalidade Africana, de Edward Wil- berdade, não somente àquela liberdade física tão necessária,
mot Blyden, à Unidade Cultura da África Negra, de Cheikh Anta mas sobretudo a independência mental e espirimal. O que em
Diop... do Amor Eterno, de Stokley Carmichael, ao conceito de nossa contemporaneidade chamaríamos de descolonização
Pan-Africanismo por Essência de Alaru Jagunjagun... logo, os mental, Não só para eles, mas para todos os que tivessem a
quilombos não foram fruto do acaso, mas de uma inteligência e mesma origem e característica; os quilombos não eram for-
de uma cosmovisão africana recriada na América, que, por não mados apenas por pretos de etnias bantos, mas a partir de um

ira
serem apenas uma resposta ao escravismo colonial e ao racismo amalgamo de etnias, culturas e povos africanos, disso a sua di-
branco, continuaram existindo e resistindo, em outros termos, mensão de pan-africanismo por essência; tal ideologia culminou
nos “pós-Abolição”. em verdadeiros confrontos armados contra O regime escravista,
Portanto, essas experiências se reproduziram, durante a onde levaram o terror e o desespero para a vida do homem
escravidão, e muitos se preservaram fortes e estruturados, após branco e de sua família, pois insurreições, guerrilhas, invasões,
as abolições nas colônias americanas, com outros nomes, por saques, incêndios, motins e envenenamentos, eram comuns na-
exemplo, Cimarrones, no México, Cumbes, na Venezuela, Pa- quela época de destruição, porém também de possibilidades.
Jengues, em Cuba, Maroons, na Jamaica... Apesar de nomes di-.
ferentes, a lógica e objetivo destas extensões da África na diás- Sa udações africanas...
pora eram as mesmas, isto é, a voltarà África de forma mental, Com amor fraterno (quilombola), à nossa irmã Beatriz...
486 487

Ena

Você também pode gostar