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A MATEMÁTICA EM MEDIDAS AGRÁRIAS DE PROPRIEDADES RURAIS

Autor: José Erasto Bueno Antunes1

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Orientador: Abdala Mohamed Saleh

RESUMO

Este artigo relata as experiências vivenciadas por professores de matemática e


pelos alunos do 6º Ano do ensino fundamental em contra turno do Colégio Estadual
João Francisco da Silva, localizado no município de Tibagi – PR, no que se refere ao
processo ensino aprendizagem de matemática em sala de aula. No caso, o tema
central foi o de estudar as medidas agrárias antigas, tão presentes no contexto
histórico, social e cultural dos alunos do meio rural e as atuais. Portanto, esse
trabalho abordará aspectos relacionados às medidas agrárias existentes no País
e/ou estimativas de áreas presentes no cotidiano de qualquer indivíduo pertencente
ao ambiente rural, contextualizando os referidos aspectos aos conteúdos
matemáticos do ambiente escolar. Busca-se, assim, uma alternativa para a
educação do campo que articule os conteúdos matemáticos aprendidos em sala de
aula com a cultura popular vivenciada pelos nossos discentes da zona rural. Para
isso, os alunos e os docentes de matemática da escola, através de questionário
local e utilizando os recursos tecnológicos, fizeram um levantamento de cunho
bibliográfico resgatando a história das antigas e diferentes unidades de medidas
agrárias ainda em vigor em nosso País. Na pesquisa de campo, os estudantes,
além de utilizar a técnica antiga de medição de terrenos denominada “Cubagem da
Terra”, aprenderam a tecnologia do receptor GPS (Sistema de Posicionamento
Global), como instrumento de medição útil para o cálculo de áreas.

Palavras-Chave: Ensino da matemática; agrimensura; cálculo de áreas; meio rural;


tecnologia do GPS.

1
Professor de Matemática PDE/2010 - Especializado em Matemática pela Universidade Estadual de Ponta
Grossa (UEPG/PR) – lotado no Colégio Estadual João Francisco da Silva - Município de Tibagi/PR -
jerantunes@hotmail.com
2
Professor Doutor do Departamento de Matemática e Estatística – Universidade Estadual de Ponta Grossa
(UEPG/PR)- abdala.saleh@gmail.com
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Introdução

A matemática, no decorrer de sua historia, surgiu das necessidades práticas


do homem, ou seja, na sua relação com o mundo em que vive. Sendo assim, a arte
de medir ou estimar áreas sempre estiveram presentes no cotidiano de qualquer
indivíduo (MACHADO, 2000). Nas diversas profissões, a todo instante, estamos
medindo, comparando e calculando áreas e, no caso do agricultor, ele precisa obter
a medida área de lavoura a ser plantada ou colhida. Essas medidas de áreas,
principalmente, as agrárias fazem parte do bloco de conteúdos previstos nos
Parâmetros Curriculares Nacionais, denominado de “Grandezas e Medidas”. Os
PCNs apontam para a importância desse bloco para o processo ensino-
aprendizagem de matemática nas escolas, no tocante às práticas relacionadas ao
contexto histórico, social e cultural de nossos alunos:

Este bloco caracteriza-se por sua forte relevância social, com evidente
caráter prático e utilitário. Na vida em sociedade, as grandezas e as
medidas estão presentes em quase todas as atividades realizadas. Desse
modo, desempenham papel importante no currículo, pois mostram
claramente ao aluno a utilidade do conhecimento matemático no cotidiano.
(BRASIL, 1997, p.56).

No entanto, no ambiente escolar percebe-se que não há uma abordagem


pedagógica apropriada que leve em conta a inter-relação entre os saberes
matemáticos de sala de aula e os do dia-a-dia dos alunos da zona rural (relativos a
medidas agrárias). A escola, tal qual está constituída, não tem dado conta de
transmitir saberes ligados à cultura popular, especialmente no que se refere ao
ensino aprendizagem de matemática em sala de aula. Isto tem gerado certo
desapontamento e conflito por parte dos alunos: a matemática ensinada na escola é
uma coisa e no cotidiano é outra (SILVEIRA, 2005). Como relata D’Ambrósio em
suas palavras:

A Matemática que estamos ensinando e como a estamos ensinando é


obsoleta, inútil e desinteressante. Ensinar ou deixar de ensinar essa
Matemática dá no mesmo. Na verdade, deixar de ensiná-la pode até ser um
benefício, pois elimina fontes de frustração! (D’AMBRÓSIO, 1991, p. 2).

Infelizmente, a nossa experiência como professores mostra que estes


comentários fazem sentido. A matemática que estamos ensinando em sala de aula é
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abstrata e desvinculada da realidade de nossos alunos da zona rural, pois o próprio


aluno, mesmo antes de entrar na escola, já possui inúmeros conhecimentos e
experiências matemáticas enraizadas, de seu grupo sociocultural (BRASIL, 1998).
Fora do ambiente escolar, devido às suas necessidades, os nossos alunos
costumam ser bem sucedidos nos cálculos matemáticos, mas, em sala, ocorre o
contrário, há desmotivação e desinteresse nas aulas. Percebe-se que há uma
enorme dificuldade dos alunos compreenderem os significados matemáticos
relacionados às medidas de áreas, principalmente as agrárias e suas aplicações em
sala de aula, pois na visão deles a linguagem matemática escolar é diferente da
linguagem matemática fora da escola. Assim, para que a aprendizagem matemática
torne-se mais significativa para os alunos do meio rural, favorecendo a compreensão
dos conceitos matemáticos por parte deles, devemos interligar a prática do dia a dia,
ao ensino formal escolar.

Agrimensura: história e seus instrumentos

A arte da medição de terras denomina-se agrimensura (termo do latim agri =


campo, terra; mensura = medida), ou seja, “medida da terra” é o ofício mais antigo
praticado pela humanidade. Surgiu no Antigo Egito onde os egípcios precisavam
delimitar as áreas de lavouras após as inundações anuais do Rio Nilo. Para fins de
arrecadação de imposto, sobre a produção agrícola de trigo e cevada, os Faraós
contratavam os Harpedonaptas ou esticadores de corda, assim como eram
chamados os agrimensores egípcios. Eles acompanhavam os produtores desde as
demarcações de suas terras inundadas até a época da colheita. Abaixo,
apresentamos um resumo da técnica de medição de área desses povos (BARROS,
2005):

Figura A - Corda de comprimento linear em cúbito egípcio, dividida em 12 partes iguais, separada
por nós.
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Fonte: Adaptado de BARROS, O. S. Experiências tradicionais da agricultura familiar como


recursos à compreensão de conceitos matemáticos. Disponível em:
<http://www.ufpa.br/npadc/gemaz/textos/produto/experiencias_tradicionais_da_agricultura.pdf>.
Acesso em: 09 mar. 2012.

Figura B - Quadramento da área de lavoura egípcia, utilizando- se a corda da Figura A e três


balizas.

Fonte: Adaptado de BARROS, O. S. Experiências tradicionais da agricultura familiar como


recursos à compreensão de conceitos matemáticos. Disponível em:
<http://www.ufpa.br/npadc/gemaz/textos/produto/experiencias_tradicionais_da_agricultura.pdf>.
Acesso em: 09 mar. 2012.
Os egípcios, séculos antes de Pitágoras estabelecer as generalizações do
triângulo retângulo, já tinham conhecimentos que o ângulo formado pelos dois lados
menores media 90º (noventa graus). Heródoto (1.400 anos a.C.), historiador grego e
Heron de Alexandria registraram detalhes da técnica de medição de terras desses
povos. Também em sítios arqueológicos foram encontrados barras de pedra que
representam o cúbito padrão desses povos. Outras civilizações antigas que viveram
na região da Mesopotâmia (hoje Iraque) já dominavam essa técnica de medição
agrária com a mesma finalidade, só que o cúbito padrão era diferenciado
(MACHADO, 2000).

• 1 Cúbito Egípcio = 52,4 cm

• 1 Cúbito Pérsico = 43 cm

• 1 Cúbito Sumério = 49,5 cm

• 1 Cúbito Assírio = 54,9 cm


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No século XVIII, surgiu na França o Sistema Métrico Decimal como uma


forma de padronizar e simplificar as diferentes medidas que existiam na época.
Estabeleceu-se o metro linear como unidade padrão para medidas de
comprimentos, sendo que a unidade padrão para superfícies é o m2 (metro
quadrado). No Brasil desde a sua implementação, os agricultores brasileiros, ligados
as suas tradições culturais (medidas antigas), não se adaptaram a essas medidas
métricas decimal, em suas atividades agrícolas. Diante a essa resistência, o
Imperador D. Pedro II, criou a Lei nº 1.157, de 26 de Janeiro de 1862, que
determinava de caráter obrigatório à utilização do sistema de medidas francês em
nosso País (CHIEUS, 2009). Mas essa Lei não foi respeitada pela população e
houve um fato marcante contra essa lei, que foi a “Revolta dos Quebra-Quilos”,
ocorrida em 14 de Novembro de 1874 nos Estados da Paraíba e Pernambuco:

Em fins de 1874, o povo saiu às ruas em várias cidades do Nordeste


brasileiro, deflagrando uma insurreição contra a adoção do sistema métrico
decimal em substituição às antigas unidades de medidas coloniais.
Cartórios e coletorias sofreram depredações e os novos padrões de
medidas foram destruídos. Daí o nome de Guerra do Quebra Quilo. (SILVA,
2010, p. 93).

Na Agricultura Familiar Brasileira, as unidades m2 (metro quadrado) e o ha


(hectare) são as mais utilizadas. A unidade hectare (ha) de padrão
nacional/internacional foi criada como forma de unificar as diferentes unidades de
medidas agrárias existentes em nosso País.

Unidade Unidade Definição Equivalência Equivalência


Agrária em are em m2

Hectare ha Do grego hecto, “cem”, isto é, hect+are. 100 10.000


(múltiplo) Medida agrária de padrão nacional e
internacional equivalente a um
hectômetro quadrado, ou 100 ares.

Are a Do latim are “área”, unidade agrária que 1 100


corresponde a 100 centiares. Equivale ao
decâmetro quadrado do sistema métrico.

Centiare ca Unidade agrária de superfície que 0,01 1


(submúltiplo) corresponde à centésima parte do are.

QUADRO 1 - Múltiplos e Submúltiplos da Unidade Agrária Are.


Fonte: Adaptado do Portal Só Matemática. Disponível em: <www.somatematica.com.br/> Acesso em:
07 Abr. 2012.
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Contudo, ainda existem determinadas propriedades rurais que utilizam as


medidas agrárias antigas de forma predominante, utilizando-se de técnicas
rudimentares de medição de área de terrenos. Como cita D`Ambrósio:

O cotidiano está impregnado dos saberes e fazeres próprios da cultura. A


todo instante, os indivíduos estão comparando, classificando, quantificando,
medindo, explicando, generalizando, inferindo e, de algum modo, avaliando,
usando os instrumentos materiais e intelectuais que são próprios à sua
cultura. (D`AMBRÓSIO, 2002, p. 22).

Esses saberes matemáticos, ligados a essas medidas agrárias, fazem parte


da cultura desse povo e não podemos negá-los.

GPS - Global Positioning System

“O GPS mostra onde você está e para onde você está se dirigindo”
(GURGEL, 2006).

O GPS ou Sistema de Posicionamento Global é um sistema de navegação e


localização, desenvolvido inicialmente pelo Departamento de Defesa dos Estados
Unidos, em meados dos anos 60, com o nome de “Projeto NAVSTAR”, para fins
militares e de espionagem, durante a chamada Guerra Fria, que envolvia as nações
mais poderosas da época (USA e a antiga URSS). Mas, de fato, esse sistema
tornou-se disponível para uso civil a partir dos anos 80. Atualmente essa ferramenta
tecnológica é usada em larga escala por civis em todas as partes do mundo. No
caso, os satélites localizam o receptor GPS dando informações e coordenadas do
usuário, indicando onde ele se encontra exatamente naquele momento, na Terra.
Ele localiza pontos, indica rotas, controla o tempo do percurso, enfim permite a
qualquer usuário obter a sua localização, velocidade e tempo. O GPS necessita de
três componentes básicos para o seu funcionamento (ROCHA, 2005):

1. Espacial: refere-se a 24 satélites se encontram na órbita da Terra a uma


distância aproximada de 20.200 km;

2. Controle: refere-se a 05 estações de rastreio estão distribuídos no Planeta.


Uma estação principal, denominada de CMS (Master Control Station), atualiza
posições, calibra e sincroniza os satélites em órbita;

3. Utilizador é o receptor GPS propriamente dito, utilizado pelo usuário.


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Um dos recursos do receptor GPS mais empregados pelos proprietários de


imóveis rurais é o “Cálculo de Áreas”, utilizado para fornecer, em tempo real, uma
estimativa do tamanho de áreas de lavouras, pastagem, açudes e reservas florestais
(matas, campos nativos). No que se refere ao nosso trabalho, este receptor foi
utilizado em sala de aula com os alunos de maneira coletiva, pois o uso individual
ainda é inviável devido ao custo do aparelho. Existem inúmeros modelos de
receptores GPS disponíveis no mercado, sendo que o mais simples, utilizado na
nossa prática de campo, foi o Receptor GPS Etrex Legend (Copyright GARMIN
Ltda., 2000) conforme figura abaixo:

Figura C - Modelo Receptor GPS Etrex Legend da Garmin .

Fonte: O Autor

Cubagem da terra

A Cubagem da Terra é uma antiga técnica de medição de área de lavoura ou


de pastagem, utilizada pelos agricultores brasileiros desde o período Colonial
(século XVI). Segue abaixo o esquema dessa técnica de demarcação de terrenos
rurais, até hoje em vigor na agricultura familiar brasileira, válida em todas as regiões
do Brasil (BARROS, 2005):

“A cubagem é uma ação aplicada ao trabalho de áreas destinadas ao


plantio, onde o processo de transfiguração do desenho do espaço para um
quadrado tem validade, pois é uma prática cultural”. (BARROS, 2005, p. 2).
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5 braças

Figura D - Antiga técnica de medição de terreno rural, utilizado pelos agricultores brasileiros, válida
em todo território nacional: três ou quatro bambus e uma corda de comprimento linear em
braças.
Fonte: Foto do autor

Figura E - Corda da Figura D dividida em cinco partes iguais, separadas por nós, utilizando-se do
Software Matemático Livre Geogebra.

Figura F - Área de pastagem, delimitada pela corda da Figura E, e o cálculo do perímetro


correspondente a essa área, utilizando-se do Software Matemático Geogebra.
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Figura G - Alteração –transfiguração – da Figura F, num quadrado de lado x, mantendo-se área da


referida figura, utilizando-se do Software Matemático Livre Geogebra.

Vemos que, a partir das Figuras D até G, os produtores calculam a área de


pastagem propriamente dita. Como a unidade de medida dessa área de pastagem é
em braça quadrada (4,84 m2), os agricultores convertem essa unidade em outras
unidades de medidas agrárias inerentes as suas raízes culturais, por exemplo: Litro
(605 m2), Alqueire Paulista (24.200 m2).

Já mencionamos que o nosso propósito deste trabalho é o de amenizar a


falta de significados concretos apresentados pela educação matemática em sala de
aula, principalmente, aqui, no que se refere aos conceitos de medidas de
comprimento e de áreas agrárias. O Projeto de Implementação na escola (Colégio
Estadual João Francisco da Silva) e a participação dos professores contribuintes do
GTR/2011 (Grupo de Trabalho em Rede, SEED/PR) permitiu o acesso dos alunos e
professores ao conhecimento acerca das diferentes unidades de medidas agrárias
existentes em nosso País. Os envolvidos também foram instruídos, no curso, sobre
a tecnologia do instrumento GPS, como ferramenta útil na medição de áreas. Além
disso, as atividades desenvolvidas com esse trabalho permitiram aos estudantes, do
6º Ano do ensino fundamental, desenvolver competências e habilidades sobre como:

• Conhecer as unidades de medidas, menos conhecidas, de


comprimento linear, aplicadas no meio rural: polegada, palmo, pé, alna,
vara, braça, corda, passo geométrico, quadra linear, milha e légua de
sesmaria;
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• Resgatar a história das antigas e diferentes unidades de medidas


agrárias ainda em vigor em nosso País;

• Estabelecer as relações existentes entre essas diferentes unidades de


medidas agrárias;

• Conhecer as medidas relacionadas ao cultivo da roça do milho muito


utilizada nas pequenas propriedades rurais: atilho, mão, jacá, cesto,
cargueiro, talha e carro de milho;

• Aprender a antiga técnica rudimentar de medição de terras


denominada “Cubagem da Terra”;

Métodos, Resultados e Discussões.

Cabe lembrar, mais uma vez, que a nossa ação se deu em uma escola
situada numa região predominantemente rural, sendo que a grande maioria de
nossos alunos do 6º Ano do Ensino Fundamental são filhos de agricultores.
Inicialmente, no desenvolvimento do trabalho, os estudantes juntamente com os
professores de matemática do Colégio Estadual João Francisco da Silva, utilizando-
se da ferramenta internet, fizeram um levantamento bibliográfico das unidades de
medidas agrárias utilizadas em nosso País. Na pesquisa levou-se em consideração
desde aspectos históricos até sobre o manuseio de instrumentos de medidas antigos
e modernos. Segue abaixo os quadros elaborados pelos estudantes, referentes às
unidades de medidas agrárias e de comprimentos lineares antigas, utilizadas na
Agricultura Familiar Brasileira desde o Período Colonial (entre os séculos XVI e XIX)
até os dias de hoje. Basicamente todas essas unidades de medidas são derivadas
da unidade de comprimento Braça (1 Braça = 2,20 m):

Unidade Agrária Definição/Equivalência

Braça quadrada ou Antiga medida agrária de superfície equivalente a 2,20 m x 2,20 m, isto é, 4,84
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Vara Quadrada m , válida em todos os Estados Brasileiros.
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Meia Cuia Medida agrária equivalente a 10 braças x 10 braças, ou 22 m x 22 m, válida em


todos os Estados Brasileiros. Na Bahia denomina-se Corda.

Litro Do grego “litra”, é a medida da superfície de um terreno rural em que se faz a


semeadura de um litro (capacidade) de sementes de milho ou feijão, em covas
com 3 ou 4 grãos, num espaçamento de 1m x 1m, cobrindo uma área de 11m x
55 m ou 605 metros quadrados. Corresponde a um terreno de 5 braças x 25
braças. Válida em todos os Estados da União.

Conta Unidade agrária antiga válida nos Estados de PE, AL e SE, equivale a 10 braças
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x 15 braças, ou 22 m x 33 m ou 726 m .

Quarteirão Medida de superfície agrária equivalente a 12,5 braças x 12,5 braças, ou 756,25
m2. Válido para os Estados de AC, PE, SE e MG. No PR equivale a 100 m x 100
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m, ou seja, 10.000 m , ou 1 hectare.

Data Antiga medida agrária equivalente a 1.250 m 2. Válida para os Estados do PR,
SP, GO, TO e MG. Varia de Estado para Estado.

Celamin ou Salamin Medida agrária equivalente à décima sexta parte do alqueire paulista, 12,5
braças x 25 braças, ou 27,5 m x 55 m, ou 1.512,5 m2. Usadas nos estados de
SP, PR, SC, RS e MG. No Estado de MT equivale a 27,5 m x 13,75 m, ou 378,
125 m2.

Geira ou Leira Antiga medida agrária que corresponde a 20 braças x 20 braças, ou 44 m x 44


m, ou 1.936 m2, utilizada nos Estados de SP e SC.

Mil Covas Medida agrária equivalente 3.000 m 2.

Tarefa Antiga medida agrária equivalente a um terreno de 55 m x 55 m, ou 3.025 m 2,


ou 25 braças x 25 braças. Válida em todos os Estados Brasileiros. Variam de
região para outra nos Estados de SP, MT, MG e PR. Nos Estados de MA, PI e
PE denomina-se de Linha.

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Cento de Côvados Unidade agrária de superfície equivalente a 4.356 m , ou 30 braças x 30 braças,
ou Tarefa Baiana ou 66 m x 66 m. No Estado do CE é denominada de Cem Passos.

Quarta de Chão È a medida do terreno rural que corresponde à quarta parte do Alqueire.
Equivalente a 6.050 m2, ou 10 litros no Estado do PR. Varia de acordo com o
alqueire em cada Estado Brasileiro.

Saco Unidade de medida agrária utilizada na Região Sul do Brasil para quantificar
serviços de roçadas. Equivale a 48.400 m 2

Cinqüenta Medida de superfície rural que equivale a 50braças x 50 braças, ou 110 m x 110
m, ou 12.100 m2. Utilizadas nos Estados de AM, PA, MA, PI, CE, RN, PB, PE,
AL, SP, SC e RS.

Braça de Sesmaria Antiga medida agrária usada no Estado do RS equivalente a14. 520 m 2.
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Quadra Medida agrária equivalente a 17.424 m2, ou 60 braças x 60 braças. Usadas nos
Estados de AC, AM, PA, PI, CE, PE, AL, ES, RJ, SP, SC, RS, MT, MG. No
Estado de GO equivale a 48.400 m 2.

Alqueire Paulista Medida agrária, ainda usada nos Estados MA, ES, RJ, SP, MG, PR, PE, SC,
RS, MT, GO e PB. Equivalem a 50 braças x 100 braças, ou 110 m x 220 m, ou
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24.200 m . A unidade alqueire varia muito de região para região em cada
Estado do Brasil.

2
Alqueirão Medida Agrária equivalente a 320 litros, ou 193.600 m , ou 400 braças x 400
braças, ou 880 m x 880 m, usada nos Estados de MG, BA e GO.

2
Data de Campo Antiga medida agrária, usada no Estado do RS, equivalente a 2.722.500 m , ou
375 braças x 1500 braças.

2
Légua quadrada Unidade de superfície agrária equivalente a 36.000.000 m . Válida em todos os
Estados Brasileiros.

Acre Do latim ager, “campo”, medida agrária americana que corresponde


aproximadamente a 4.047 m2.

QUADRO 1 – Definição e Equivalência das Unidades Agrárias Utilizadas no Brasil, Obtido pelos
Alunos.
Fonte: Adaptado da Tabela de medidas agrárias não decimais - Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA). Disponível em: <http://www.mda.gov.br/arquivos/TABELA MEDIDAS AGRÁRIAS NÃO
DECIMAIS.pdf>. Acesso em: 09 mar. 2012.

Unidade Definição/Equivalência

Polegada Origem do Latim pollicata, de pollex, “polegar”. Antiga medida,


aproximadamente igual ao comprimento da segunda falange do dedo
polegar, no Brasil equivalente a 2,75 cm. No sistema britânico equivale a
2,54 cm.

Palmo Distância entre a ponta do polegar e a do dedo mínimo, bem afastado um do


outro, ou seja, a mão bem aberta. Equivalente a 22 cm.

Pé Distância entre a ponta do dedão do pé até o calcanhar, equivalente a 12


polegadas ou 33 cm. No sistema inglês equivale a 30,48 cm.

Alna ou Côvado Distância do cotovelo até a ponta do dedo médio, correspondente a três
palmos, ou seja, 66 cm. O mesmo que cúbito.

Vara Antiga medida de comprimento linear equivalente a 1,10 m (cinco palmos).

Braça Do latim brachia, “braços”, Antiga unidade de medida de comprimento linear,


que corresponde à distância entre os dedos médios das mãos com os braços
abertos, equivale a 2,20 m (dez palmos ou duas varas).
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Corda Equivalente a 3,30 m (quinze palmos).

Passo Geométrico Antiga de comprimento linear portuguesa correspondente a cinco pés ou 1,


65 m.

Quadra Linear Medida antiga equivalente a sessenta braças ou 132 m.

Milha Do Latim Mille, “mil”. Antiga medida de comprimento equivalente a 1000


braças, ou 2200 m.

Légua de Sesmaria Do latim leuga, Antiga medida de comprimento equivalente a 3000 braças,
ou seja, 6600 m.

QUADRO 2 – Definição e Equivalência das Unidades de Comprimento Linear Aplicada na Agricultura


Brasileira, Obtido pelos Alunos.

Fonte: Adaptado do Livro: SILVA, I. da. História dos pesos e medidas. 2. ed. São Carlos – São
Paulo: EdUFSCar, 2010.

Em seguida, com base nas informações do Quadro 1 e, como forma de


aprofundamento teórico e enriquecimento das atividades propostas, os estudantes,
através da coleta de dados (via questionário local), resgataram as unidades de
medidas agrárias aplicadas na região de Tibagi - PR. Abaixo a tabela obtida pelos
alunos:

Unidade Agrária Dimensões em Dimensões em Área em braças Área em metros


Braças metros (m) quadrados (m2)

Alqueire Paulista 50 x 100 110 x 200 5000 24200

Braça quadrada 1x1 2,20 x 2,20 1 4,84

Celamin 12,5 x 25 27,5 x 55 312,5 1512,50

Data 11,4 x 22,7 25 x 50 258,78 1250

Litro 5 x 25 11 x 55 125 605

Tarefa 25 x25 55 x 55 625 3025

Quarta de Chão 25 x 50 55 x 110 1250 6050

Meia Cuia 10 x 10 22 x 22 100 484


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Légua Quadrada 2727,27... x 6000 x 6000 7438001,653... 36000000


2727,27...

Hectare (ha) 45,45... x 100 x 100 2066,1156... 10000


45,45...

Tabela 1 - Medidas Agrárias Utilizadas pelos Agricultores do Município de Tibagi – PR, Montada
pelos Alunos.

Observamos, de forma contextualizada, que estas atividades estimularam os


alunos, do 6º Ano do Ensino Fundamental, em suas capacidades de adquirir
habilidades e competências básicas, referentes ao tópico medidas de comprimento e
medidas agrárias.

Ao mesmo tempo, de forma a enriquecer o nosso trabalho, levantamos a


seguintes questões norteadoras, junto aos nossos alunos, em sala de aula:

 “Alguém tem idéia do que é a braça, a polegada, o palmo, o pé, a alna, a vara, a
corda, o passo geométrico, a quadra linear, a milha e a légua?”
o “Que medidas elas representam?”
o “Quais suas equivalências com o metro linear?”
 “Alguém tem idéia do que é o alqueire, o hectare, a braça quadrada e o litro de
terra?”
o “Que área eles representam?”
o “Quais suas equivalências com o metro quadrado?”
o “Quantas vezes eles vão caber aqui nessa sala? Ou quantas vezes a sala
vai caber neles?”

Tais questões visaram conduzir os alunos à percepção física das medidas


agrárias, bem como, sobre a adequação das unidades ao tamanho da superfície,
que se quer medir.

Atividades 1: Reconhecer as medidas relacionadas ao cultivo da roça do milho


muito utilizada nas pequenas propriedades rurais de Tibagi - PR.

Com base na pesquisa de campo, os estudantes fizeram um resgate das


medidas relacionadas ao cultivo da roça do milho utilizadas nas pequenas
propriedades rurais da região:
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UNIDADES DE QUANTIDADE DE ESPIGA DE MILHO (em casca: palha + sabugo)


MEDIDAS

ATILHO 4 Espigas

MÃO 16 Atilhos = 64 Espigas (*)

JACÁ 2 Mãos = 32 Atilhos = 128 Espigas

CESTO (SAMBURÁ) 2 Mãos = 32 Atilhos = 128 Espigas

CARGUEIRO 4 Jacás = 8 Mãos = 128 Atilhos = 512 Espigas

TALHA 25 Jacás = 50 Mãos = 6,25 Cargueiros = 800 Atilhos= 3.200 Espigas

CARRO 10 Cargueiros = 40 Jacás = 80 Mãos = 1280 Atilhos = 5.120 Espigas

QUADRO 3 – Unidades de Medidas da Cultura do Milho Usadas pelos Agricultores de Tibagi-PR,


Obtida pelos Alunos.
Fonte: IAPAR - Instituto Agronômico do Paraná. Paraná: IAPAR, 1991. Apêndice VII, p.10.
Nota: (*) quantidades de espigas válidas para a Região Sul do País, pois a unidade Mão varia
de região para outra, por exemplo, no Estado do Pará 1 Mão = 15 atilhos = 60 espigas.

Atividades 2: Medindo comprimentos em sala de aula

Com base nas informações do QUADRO 2, os alunos efetuaram algumas


medições de comprimentos lineares aplicada no meio rural, tomando como medida
padrão algumas partes do seu próprio corpo e usando, ao mesmo tempo, os
seguintes instrumentos de medição:

• Trena 1 - Um lado da fita a unidade metro e do outro lado à unidade pés;

• Trena 2 - Um lado da fita a unidade metro e do outro lado à unidade polegada


inglesa;

• Fita métrica de alfaiate;

• Barra métrica de alfaiate;

• O metro linear de carpinteiro;

• Régua graduada em cm.


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As medições foram colocadas numa tabela conforme modelo abaixo fornecida pelo
professor da turma.

Unidade O que medir Resultado da Resultado da Resultado da


medida medida medida
utilizando utilizando utilizando as
Partes do instrumento unidades
Corpo centímetros (cm)
(unidade igual) ou metros (m)

Polegada Comprimento do seu caderno 8 polegadas 10 polegadas 26,5 cm

Palmo Comprimento da sua carteira 3 palmos 4 palmos 65 cm

Pé Comprimento da sala de aula 17 pés 20 pés 6m

Cúbito Largura da sala de aula 6 cúbitos 7,5 cúbitos 5m

Braça Perímetro da sala de aula 10 braças 13 braças 28 m

Tabela 2 - Resultados Obtidos por um Determinado Aluno em Sala de Aula.

Aqui, os estudantes perceberam que os resultados das medições utilizando


Partes do Corpo e Instrumentos não foram iguais, devido ao tamanho das partes do
corpo humano que variam de um adulto para uma criança. Daí a importância do
estudo da origem histórica das unidades de medidas, pois esclarece a causa que
levou ao estabelecimento da unidade padrão atual, e a necessidade de escolher as
unidades de medida mais apropriadas para realizar as medições. Os alunos
observaram que ao se comparar as unidades de medidas antigas com as unidades
de comprimento do sistema métrico decimal (m, e cm), este último é o mais usual e
prático para realizar medidas de comprimentos. Enfim, o ponto positivo dessa
atividade foi o de se fazer os instrumentos de medidas de comprimentos mais
familiares aos alunos.
17

Atividades 3: Experiência – Origem da Unidade Agrária Litro

Seja a figura abaixo:

Figura H - Delimitação de um terreno representando uma área de 1 Litro de terra.

Materiais:

• 1 litro de sementes de milho ou feijão;

• 1 Trena;

• 1 Corda de comprimento 11m;

• Balizas de bambu ou madeira;

• Caderno e lápis para anotações.

Procedimentos:

 Para essa pesquisa de campo, inicialmente dividiu-se a turma em grupos de 5


ou 6 alunos;

 A turma foi levada numa área de lavoura perto da escola;

 Os alunos, utilizando-se da Corda, trena e balizas, delimitam o terreno


conforme Figura H acima;

 Cada grupo registrou no caderno os dados das medições realizadas;

 A seguir, cada grupo contou a quantidade de sementes de milho contida em 1


litro de capacidade;
18

 Finalmente, completaram uma tabela, conforme modelo abaixo, fornecida


pelo professor para análise e conclusões dos trabalhos.

Grupo A Resultados

(1) A medida do comprimento em metros do terreno. 55 m

(2) A medida da largura em metros do terreno 11 m

(3) A medida da área em metros desse terreno. 605 m²

(4) As dimensões em braças desse terreno. 5 braças x 25 braças

(5) A medida da área em braças do terreno. 125 braças quadradas

(6) Considerando-se o espaçamento de plantio de 1m 672 covas


por 1 m, quantas covas podem-se obter nesse
terreno?

(7) Sendo que em cada cova recebe-se 3 grãos de 2016 sementes


sementes de milho, calcule o total de sementes na
área inteira.

(8) A quantidade de 1 litro (capacidade) de sementes 2138 sementes


de milho contadas pelo grupo.

(9) Registre os dados obtidos pelos outros grupos no (2138+2078+2074+2206+2135+2163+2197


item (8) e calcule a média aritmética dos resultados.
): 7= 2141, 5714, ou seja, 2141 sementes.

(10) Compare os resultados obtidos nos itens (7) e (9) Resultado Próximo
o que você conclui?

Esta pesquisa de campo teve a intenção de levar os estudantes a reconhecer


a origem do “1 litro de terra” e ter noção do que ele representa fisicamente.

Atividades 4: Transformação de alqueires em litros e em hectares.

Figura I - Delimitação de um terreno com área de 1 Alqueire Paulista.


19

Procedimentos realizados pelos alunos:

 Se 1 Litro de terra corresponde a uma superfície de 605 m², então para


transformar m² em Litros, basta dividirmos por 605;
Litro 

605
 m²
605
Litro 
 m²
 Se 1 hectare de terra corresponde a uma superfície de 10.000 m², então para
transformar m² em hectares, basta dividirmos por 10.000.
hectare (ha)   m²
10000

10000
hectare (ha)   m²
Os estudantes elaboraram a tabela abaixo, mostrando os resultados obtidos:

Unidade Agrária Área em metros Área em litros Área em hectares


quadrados (m²) (ha)
Alqueire Paulista 24.200 24200/605 = 40 24200/10000 = 2,42
Alqueire da Região Norte 27.225 27225/605 = 45 27225/10000 = 2,7225
Alqueire Mineiro 48.400 48400/605 = 80 48400/10000 = 4,84
Alqueire Baiano 96.800 96800/605 = 160 96800/10000 = 9,68
Alqueirão 193.600 193600/605 = 320 196300/10000 = 19,63
Tabela 3 - Conversões de Alqueires em Litros e em Hectares, Resultados Obtidos pelos Alunos.

Com essa atividade os alunos foram capazes de:

 Realizar corretamente conversões de Alqueires em Litros e de Alqueires em


Hectares;
 Efetuar corretamente a divisão entre números racionais.

Atividades 7: Pesquisa de campo - Cubagem da terra de um terreno irregular


(Quadrilátero).

Os Professores, juntamente com seus alunos, visitaram uma propriedade rural


(área de lavoura), acompanhados dos seguintes materiais de pesquisa:

• Lápis e Caderno para Anotações;

• Cordas de comprimentos iguais a 11m (5 braças);

• Balizas de bambus ou de madeiras;

• Trenas
20

Passos:

1. Inicialmente dividiu-se a sua turma em grupos de 6 alunos;

2. Cada grupo de alunos delimitou uma área do terreno (a escolha do formato do


terreno é livre para o grupo);

3. Com o auxilio da corda e balizas obtiveram as dimensões do terreno;

4. Fizeram um esboço da figura desse terreno no seu caderno, anotando as suas


respectivas medidas dos lados do terreno;

5. Ao retornarem para a sala de aula realizaram os cálculos da cubagem desse


terreno.

Delimitação da Área de lavoura realizada pelos alunos com dimensões em braças e


metros:

Figura J - Delimitação da área de lavoura com dimensões em braças e metros.

Cálculo da área em braças quadradas

 Depois de obtido as dimensões do terreno conforme Figura J acima, calcula-


se o Perímetro da região:

Perímetro = 12 braças + 9 braças + 14 braças + 18 braças = 53 braças

 Divide-se agora o valor do perímetro por 4: 53 braças ÷ 4 = 13,25 braças


21

Figura K - Transfiguração da Área de lavoura da Figura J num quadrado.

 Em seguida calcula-se agora a área do quadrado da Figura K, obtendo-se


assim a área de lavoura propriamente dita:

Área do quadrado = lado x lado

Área de lavoura = 13,25 braças x 13,25 braças = 175,5625 braças


quadradas

 Finalmente transforma-se a unidade braças quadradas em litros de terra ou


em alqueire paulista. Como já vistos anteriormente que:

• 1 Litro de terra equivale a 5 braças x 25 braças (11 m x 55 m), ou


seja correspondente a uma área de 125 braças quadradas (605
m²);

• 1 Alqueire equivale a 50 braças x 100 braças (110 m x 220 m), ou


seja correspondente a uma área de 5000 braças quadradas (24200
m²).

Neste caso como a área de lavoura obtida no item anterior é menor que 5000 braças
quadradas, então dividiram por 125:

175,5625 ÷ 125 = 1,404 litros, ou seja, 1,4 litros (arredondamento)

Outra maneira encontrada pelo grupo para calcular a medida dessa área é
utilizando o seguinte raciocínio: “somam-se os lados opostos e divide-se por 2”

lado lado CD) lado AD + lado BC)


Área

12 braças + 1 braças) 1 braças + braças)


Área =

braças braças
Área =
22

Área = 1 braças 1 , braças

Área = 175,50 braças quadradas

Também foi sugerido aos grupos que calculassem a área acima delimitada por eles
pela técnica da cubagem da terra utilizando agora as medidas do terreno em metros:

Cálculo da área em metros quadrados (m²)

lado lado CD) lado AD + lado BC)


Área

2 , 0 m + 0, 0 m) , 0 m +1 ,20 m)
Área =

Área =

Área = 2 , 0 m 2 , 0m

Área = 840,84 m²

Neste caso como a área de lavoura obtida no item anterior é menor que
24200 m², então dividimos por 605 m² obtendo-se assim a medida desta área de
lavoura em litros: 840,84 m²: 605 m² = 1,389818182...., ou seja, 1,4 litros
(arredondando). Após compararem os resultados obtidos da área utilizando as
dimensões do terreno em braças com o nosso sistema métrico decimal (em metros),
os estudantes concluíram que às medidas das áreas foram iguais. Também
concluíram que calcular a área de lavoura em metros quadrados é mais prático do
que em braças quadradas utilizadas pelos seus pais no campo. Como visto
anteriormente, a resistência dos pequenos agricultores brasileiros em utilizar o
sistema métrico decimal ainda continua até os dias de hoje. Pois se trata de um
conhecimento matemático local enraizado nas suas próprias tradições culturais
desde o período do Brasil Colonial.

Atividades 8: Calculando áreas com o GPS.


Após professores e alunos, no decorrer do desenvolvimento do curso, terem
aprendido, em sala de aula, sobre a tecnologia e utilização do receptor GPS, a turma
visitou uma propriedade rural (pesquisa de campo) próxima à escola,
acompanhados dos seguintes materiais:

 Uma corda de comprimento 10 m;


 Balizas;
 Calculadora;
 Receptor GPS.
23

Na sequência, delimitaram duas (02) áreas de lavoura no formato triangular e


quadrilátero. Após obterem as dimensões dessas áreas de lavoura, com o auxílio da
corda de comprimento 10 m e do receptor GPS, fizeram uma aplicação prática da
utilização do instrumento GPS, para o cálculo da área dos dois terrenos. Em
seguida, calcularam a área desses terrenos pela técnica da cubagem da terra. No
caso do terreno no formato triangular, foi utilizado a Fórmula de Heron para obter a
medida da área dessa lavoura.

Área do primeiro terreno delimitado pelos alunos:

Figura L - Delimitação da área de lavoura com dimensões em metros (triangular), utilizando-se do


software matemático livre Geogebra.

 Cálculo da área do terreno da Figura L utilizando a técnica da “cubagem da


terra”:

Perímetro da área = 70 m + 80 m + 55,72 m = 205,72 m

Transfiguração da área de lavoura num quadrado: Perímetro / 4 = 205,72 m / 4 =


51,43 m (lado do quadrado)

Área do terreno = 51,43 m x 51,43 m = 2645,0449 m²

 Cálculo da medida da área utilizando a Fórmula de Heron:

Área = p x p – lado AB) x p – lado BC) x p – lado AC)

Utilizando-se as medidas dos lados obtidas com o auxílio do GPS:


24

p = semiperímetro

p = 206,90 m / 2 = 103,45 m

Área = 10 , x 10 , – 0, 0) x 10 , – 0,10) x 10 , – )

Área = x 2, x2 , x ,

Área = 22 m

Área = 1934,498473... m² 1934,50 m²

Utilizando-se as medidas dos lados obtidas com o auxílio da corda (10 m):

p = semiperímetro

p = 205,72 m / 2 = 102,86 m

Área = 102, x 102, – 0) x 10 , – 0) x 10 , – , 2)

Área = x 2, x 22, x ,1

Área = 2 , m

Área = 1908,490233... m² 1908,50 m²

Neste ponto, os estudantes constataram que as dimensões do terreno, utilizando


a corda de 10 m e os dados registrados pelo GPS, não são iguais. Pois, houve uma
pequena diferença em centímetros das medidas. Aqui foi um bom momento para
discutir com os alunos os fatores externos que interferiram nas diferenças das
medidas, tais como:

 Deformidade da corda;
 Alinhamento das balizas;
 Curvatura do terreno;
 Perímetro contornado com a corda e o GPS;
 Precisão do GPS.

Notaram também que a medida da área do terreno obtida pelo receptor GPS é
diferente da medida da área obtida pela técnica da cubagem:

(Área do terreno Cubagem) – (Área do terreno GPS) = 2645 m² - 1916 m² = 729 m².
25

Cálculo da porcentagem: 729 m²/2645 m² = 0,275614366... X 100 = 27,5614366... %


= 27,56% (arredondando), ou seja, uma diferença aproximada de 27,56%.

Além disso, ao compararem a medida da área do terreno do GPS com a medida da


área obtida pela Fórmula de Heron, não se verificou uma diferença expressiva:

(Área do terreno GPS) – (Área do terreno Fórmula de Heron) = 1916 m² - 1908,5 m²


= 7,5 m².

Porcentagem da diferença = 7,5 m²/1916 m² = 0,00391440501... X 100 =


0,391440501...% = 0,39 %, ou seja, uma diferença aproximada de 0,39%.

Área do segundo terreno delimitado pelos alunos:

Figura M - Delimitação da área de lavoura com dimensões em metros (Quadrilátero), utilizando-se do


software matemático livre Geogebra.

Cálculo da área do terreno da Figura M utilizando a técnica da “cubagem da terra”:

0 m + 0 m) 0m+ ,2 m)
Área =

1 0m 1 ,2 m
Área
26

Área =

Área = 5223,75 m²

Neste caso, os alunos também notaram que houve uma pequena diferença
(centímetros), nas dimensões do terreno, utilizando a corda de 10 m e o receptor
GPS. Além disso, observaram que a medida da área do terreno, obtida pelo receptor
GPS, é diferente da medida da área obtida pela técnica da cubagem:

(Área do terreno Cubagem) – (Área do terreno GPS) = 5223,75 m² - 4621,10 m² =


602,65 m².

Porcentagem da diferença: 602,65 m²/5223,75 m² = 0,115367312... X 100 =


11,53673128... % = 11,54% (arredondando), ou seja, uma diferença aproximada de
11,54%.

Considerações Finais

Acreditamos que o nosso trabalho, de fato, por meio de atividades


desenvolvidas pelos estudantes, da área rural, permitiram que eles pudessem
explorar os conteúdos matemáticos aprendidos em sala de aula conectados com a
sua realidade do dia-a-dia. O tema “medidas agrárias” ofereceu, aos envolvidos no
curso, oportunidades de diálogo/discussão, em relação aos significados dos
elementos da matemática tratados pela escola. Ou seja, os conhecimentos
originários do ambiente escolar foram trabalhados de forma objetiva, clara, concreta
e contextualizados.

Ficou claro para nós que o cálculo de áreas, através das medidas na forma
rudimentar antiga denominada “Cubagem da Terra” e a da tecnologia do GPS,
chamaram bastante atenção dos alunos. Na “Cubagem da Terra” os estudantes
perceberam que até hoje há uma resistência dos seus pais agricultores em utilizar
as unidades de medidas de comprimentos do sistema métrico decimal (Km, m, cm e
mm). Estes pequenos proprietários rurais ainda preferem demarcar as dimensões do
terreno utilizando sempre a unidade braça. Esta opção não se justifica apenas
27

tecnicamente - conhecimento matemático -e, sim, através da resistência destes


pequenos proprietários rurais em não perderem as suas tradições culturais, que
remontam do período do Brasil Colonial. Esta constatação é também verificada em
outros possíveis ambientes da sociedade.

Por outro lado, o receptor GPS, como ferramenta útil, para o cálculo de área,
despertou enorme curiosidade e interrese por parte dos estudantes nas atividades
propostas. Uma dificuldade encontrada nos trabalhos de medições foi à utilização
coletiva (apenas dois aparelhos) desse instrumento em sala de aula, pois o uso
individual era inviável devido ao custo do aparelho. “Professor quem está correto
na medida da área: O GPS ou a “Cubagem da Terra”?” Esse questionamento por
parte de um aluno foi primordial nas atividades de campo. Depois de comparados os
resultados das medidas das áreas pelas duas técnicas citadas acima, os estudantes
constataram que de fato a porcentagem da diferença das áreas calculadas ficou na
média de 15%. Desta forma, é nesse tipo de investigação, de cunho cultural, que
devemos motivar os nossos alunos, mostrando-os sobre a importância de se
aprender os conhecimentos matemáticos. Além disso, procuramos mostrar a eles as
suas habilidades e competências no processo de se aprender matemática, bastando
para isso o querer e o ter a disciplina de estudo. E nós professores de matemática,
de forma sistematizada, somos os mediadores nesse processo de ensino e
aprendizagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto/Secretaria do Ensino Fundamental.


Parâmetros curriculares nacionais – matemática (terceiro e quarto ciclos do ensino
fundamental), 1998.

MACHADO, N. J. Medindo comprimentos. São Paulo: Scipione, 2000.

D’ AMBRÓSIO, Ubiratan. Etnomatemática – elo entre as tradições e a


modernidade. 2. ed. Belo Horizonte – MG: Editora Autêntica, 2002.

ROCHA, JOSÉ ANTÔNIO M. R. O “ABC” do GPS. 2. ed. Recife: Bagaço, 2005.


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SILVEIRA, M. R. A. da. Produção de sentidos e construção de conceitos na


relação ensino/aprendizagem da matemática. Porto Alegre: UFRGS, 2005.
GURGEL, ANDRÉ C. Meu primeiro GPS: livro – guia para iniciantes e
entusiastas. São Paulo: kalapalo, 2006.
PARANÁ. Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Departamento de
Educação Básica. Diretrizes curriculares da educação básica: matemática.
Curitiba: SEED, 2008.
SILVA, Irineu da. História dos pesos e medidas. 2. ed. São Carlos – São Paulo:
EdUFSCar, 2010.
BARROS, O. S. Experiências tradicionais da agricultura familiar como recursos
à compreensão de conceitos matemáticos. Disponível em:
<http://www.ufpa.br/npadc/gemaz/textos/produto/experiencias_tradicionais_da_agric
ultura.pdf>. Acesso em: 09 mar. 2012.
CHIEUS, G. A braça da rede, uma técnica caiçara de medir. Revista Latino
americana de Etnomatemática, 2(2). 4-17. Disponível em:
<http://www.etnomatematica.org/v2-n2-agosto2009/chieus.pdf>. Acesso em: 07 Abr.
2012.

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