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Orientador: Abdala Mohamed Saleh
RESUMO
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Professor de Matemática PDE/2010 - Especializado em Matemática pela Universidade Estadual de Ponta
Grossa (UEPG/PR) – lotado no Colégio Estadual João Francisco da Silva - Município de Tibagi/PR -
jerantunes@hotmail.com
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Professor Doutor do Departamento de Matemática e Estatística – Universidade Estadual de Ponta Grossa
(UEPG/PR)- abdala.saleh@gmail.com
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Introdução
Este bloco caracteriza-se por sua forte relevância social, com evidente
caráter prático e utilitário. Na vida em sociedade, as grandezas e as
medidas estão presentes em quase todas as atividades realizadas. Desse
modo, desempenham papel importante no currículo, pois mostram
claramente ao aluno a utilidade do conhecimento matemático no cotidiano.
(BRASIL, 1997, p.56).
Figura A - Corda de comprimento linear em cúbito egípcio, dividida em 12 partes iguais, separada
por nós.
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• 1 Cúbito Pérsico = 43 cm
“O GPS mostra onde você está e para onde você está se dirigindo”
(GURGEL, 2006).
Fonte: O Autor
Cubagem da terra
5 braças
Figura D - Antiga técnica de medição de terreno rural, utilizado pelos agricultores brasileiros, válida
em todo território nacional: três ou quatro bambus e uma corda de comprimento linear em
braças.
Fonte: Foto do autor
Figura E - Corda da Figura D dividida em cinco partes iguais, separadas por nós, utilizando-se do
Software Matemático Livre Geogebra.
Cabe lembrar, mais uma vez, que a nossa ação se deu em uma escola
situada numa região predominantemente rural, sendo que a grande maioria de
nossos alunos do 6º Ano do Ensino Fundamental são filhos de agricultores.
Inicialmente, no desenvolvimento do trabalho, os estudantes juntamente com os
professores de matemática do Colégio Estadual João Francisco da Silva, utilizando-
se da ferramenta internet, fizeram um levantamento bibliográfico das unidades de
medidas agrárias utilizadas em nosso País. Na pesquisa levou-se em consideração
desde aspectos históricos até sobre o manuseio de instrumentos de medidas antigos
e modernos. Segue abaixo os quadros elaborados pelos estudantes, referentes às
unidades de medidas agrárias e de comprimentos lineares antigas, utilizadas na
Agricultura Familiar Brasileira desde o Período Colonial (entre os séculos XVI e XIX)
até os dias de hoje. Basicamente todas essas unidades de medidas são derivadas
da unidade de comprimento Braça (1 Braça = 2,20 m):
Braça quadrada ou Antiga medida agrária de superfície equivalente a 2,20 m x 2,20 m, isto é, 4,84
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Vara Quadrada m , válida em todos os Estados Brasileiros.
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Conta Unidade agrária antiga válida nos Estados de PE, AL e SE, equivale a 10 braças
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x 15 braças, ou 22 m x 33 m ou 726 m .
Quarteirão Medida de superfície agrária equivalente a 12,5 braças x 12,5 braças, ou 756,25
m2. Válido para os Estados de AC, PE, SE e MG. No PR equivale a 100 m x 100
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m, ou seja, 10.000 m , ou 1 hectare.
Data Antiga medida agrária equivalente a 1.250 m 2. Válida para os Estados do PR,
SP, GO, TO e MG. Varia de Estado para Estado.
Celamin ou Salamin Medida agrária equivalente à décima sexta parte do alqueire paulista, 12,5
braças x 25 braças, ou 27,5 m x 55 m, ou 1.512,5 m2. Usadas nos estados de
SP, PR, SC, RS e MG. No Estado de MT equivale a 27,5 m x 13,75 m, ou 378,
125 m2.
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Cento de Côvados Unidade agrária de superfície equivalente a 4.356 m , ou 30 braças x 30 braças,
ou Tarefa Baiana ou 66 m x 66 m. No Estado do CE é denominada de Cem Passos.
Quarta de Chão È a medida do terreno rural que corresponde à quarta parte do Alqueire.
Equivalente a 6.050 m2, ou 10 litros no Estado do PR. Varia de acordo com o
alqueire em cada Estado Brasileiro.
Saco Unidade de medida agrária utilizada na Região Sul do Brasil para quantificar
serviços de roçadas. Equivale a 48.400 m 2
Cinqüenta Medida de superfície rural que equivale a 50braças x 50 braças, ou 110 m x 110
m, ou 12.100 m2. Utilizadas nos Estados de AM, PA, MA, PI, CE, RN, PB, PE,
AL, SP, SC e RS.
Braça de Sesmaria Antiga medida agrária usada no Estado do RS equivalente a14. 520 m 2.
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Quadra Medida agrária equivalente a 17.424 m2, ou 60 braças x 60 braças. Usadas nos
Estados de AC, AM, PA, PI, CE, PE, AL, ES, RJ, SP, SC, RS, MT, MG. No
Estado de GO equivale a 48.400 m 2.
Alqueire Paulista Medida agrária, ainda usada nos Estados MA, ES, RJ, SP, MG, PR, PE, SC,
RS, MT, GO e PB. Equivalem a 50 braças x 100 braças, ou 110 m x 220 m, ou
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24.200 m . A unidade alqueire varia muito de região para região em cada
Estado do Brasil.
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Alqueirão Medida Agrária equivalente a 320 litros, ou 193.600 m , ou 400 braças x 400
braças, ou 880 m x 880 m, usada nos Estados de MG, BA e GO.
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Data de Campo Antiga medida agrária, usada no Estado do RS, equivalente a 2.722.500 m , ou
375 braças x 1500 braças.
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Légua quadrada Unidade de superfície agrária equivalente a 36.000.000 m . Válida em todos os
Estados Brasileiros.
QUADRO 1 – Definição e Equivalência das Unidades Agrárias Utilizadas no Brasil, Obtido pelos
Alunos.
Fonte: Adaptado da Tabela de medidas agrárias não decimais - Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA). Disponível em: <http://www.mda.gov.br/arquivos/TABELA MEDIDAS AGRÁRIAS NÃO
DECIMAIS.pdf>. Acesso em: 09 mar. 2012.
Unidade Definição/Equivalência
Alna ou Côvado Distância do cotovelo até a ponta do dedo médio, correspondente a três
palmos, ou seja, 66 cm. O mesmo que cúbito.
Légua de Sesmaria Do latim leuga, Antiga medida de comprimento equivalente a 3000 braças,
ou seja, 6600 m.
Fonte: Adaptado do Livro: SILVA, I. da. História dos pesos e medidas. 2. ed. São Carlos – São
Paulo: EdUFSCar, 2010.
Tabela 1 - Medidas Agrárias Utilizadas pelos Agricultores do Município de Tibagi – PR, Montada
pelos Alunos.
“Alguém tem idéia do que é a braça, a polegada, o palmo, o pé, a alna, a vara, a
corda, o passo geométrico, a quadra linear, a milha e a légua?”
o “Que medidas elas representam?”
o “Quais suas equivalências com o metro linear?”
“Alguém tem idéia do que é o alqueire, o hectare, a braça quadrada e o litro de
terra?”
o “Que área eles representam?”
o “Quais suas equivalências com o metro quadrado?”
o “Quantas vezes eles vão caber aqui nessa sala? Ou quantas vezes a sala
vai caber neles?”
ATILHO 4 Espigas
As medições foram colocadas numa tabela conforme modelo abaixo fornecida pelo
professor da turma.
Materiais:
• 1 Trena;
Procedimentos:
Grupo A Resultados
(10) Compare os resultados obtidos nos itens (7) e (9) Resultado Próximo
o que você conclui?
10000
hectare (ha) m²
Os estudantes elaboraram a tabela abaixo, mostrando os resultados obtidos:
• Trenas
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Passos:
Neste caso como a área de lavoura obtida no item anterior é menor que 5000 braças
quadradas, então dividiram por 125:
Outra maneira encontrada pelo grupo para calcular a medida dessa área é
utilizando o seguinte raciocínio: “somam-se os lados opostos e divide-se por 2”
braças braças
Área =
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Também foi sugerido aos grupos que calculassem a área acima delimitada por eles
pela técnica da cubagem da terra utilizando agora as medidas do terreno em metros:
2 , 0 m + 0, 0 m) , 0 m +1 ,20 m)
Área =
Área =
Área = 2 , 0 m 2 , 0m
Área = 840,84 m²
Neste caso como a área de lavoura obtida no item anterior é menor que
24200 m², então dividimos por 605 m² obtendo-se assim a medida desta área de
lavoura em litros: 840,84 m²: 605 m² = 1,389818182...., ou seja, 1,4 litros
(arredondando). Após compararem os resultados obtidos da área utilizando as
dimensões do terreno em braças com o nosso sistema métrico decimal (em metros),
os estudantes concluíram que às medidas das áreas foram iguais. Também
concluíram que calcular a área de lavoura em metros quadrados é mais prático do
que em braças quadradas utilizadas pelos seus pais no campo. Como visto
anteriormente, a resistência dos pequenos agricultores brasileiros em utilizar o
sistema métrico decimal ainda continua até os dias de hoje. Pois se trata de um
conhecimento matemático local enraizado nas suas próprias tradições culturais
desde o período do Brasil Colonial.
p = semiperímetro
p = 206,90 m / 2 = 103,45 m
Área = 10 , x 10 , – 0, 0) x 10 , – 0,10) x 10 , – )
Área = x 2, x2 , x ,
Área = 22 m
Utilizando-se as medidas dos lados obtidas com o auxílio da corda (10 m):
p = semiperímetro
p = 205,72 m / 2 = 102,86 m
Área = x 2, x 22, x ,1
Área = 2 , m
Deformidade da corda;
Alinhamento das balizas;
Curvatura do terreno;
Perímetro contornado com a corda e o GPS;
Precisão do GPS.
Notaram também que a medida da área do terreno obtida pelo receptor GPS é
diferente da medida da área obtida pela técnica da cubagem:
(Área do terreno Cubagem) – (Área do terreno GPS) = 2645 m² - 1916 m² = 729 m².
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0 m + 0 m) 0m+ ,2 m)
Área =
1 0m 1 ,2 m
Área
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Área =
Área = 5223,75 m²
Neste caso, os alunos também notaram que houve uma pequena diferença
(centímetros), nas dimensões do terreno, utilizando a corda de 10 m e o receptor
GPS. Além disso, observaram que a medida da área do terreno, obtida pelo receptor
GPS, é diferente da medida da área obtida pela técnica da cubagem:
Considerações Finais
Ficou claro para nós que o cálculo de áreas, através das medidas na forma
rudimentar antiga denominada “Cubagem da Terra” e a da tecnologia do GPS,
chamaram bastante atenção dos alunos. Na “Cubagem da Terra” os estudantes
perceberam que até hoje há uma resistência dos seus pais agricultores em utilizar
as unidades de medidas de comprimentos do sistema métrico decimal (Km, m, cm e
mm). Estes pequenos proprietários rurais ainda preferem demarcar as dimensões do
terreno utilizando sempre a unidade braça. Esta opção não se justifica apenas
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Por outro lado, o receptor GPS, como ferramenta útil, para o cálculo de área,
despertou enorme curiosidade e interrese por parte dos estudantes nas atividades
propostas. Uma dificuldade encontrada nos trabalhos de medições foi à utilização
coletiva (apenas dois aparelhos) desse instrumento em sala de aula, pois o uso
individual era inviável devido ao custo do aparelho. “Professor quem está correto
na medida da área: O GPS ou a “Cubagem da Terra”?” Esse questionamento por
parte de um aluno foi primordial nas atividades de campo. Depois de comparados os
resultados das medidas das áreas pelas duas técnicas citadas acima, os estudantes
constataram que de fato a porcentagem da diferença das áreas calculadas ficou na
média de 15%. Desta forma, é nesse tipo de investigação, de cunho cultural, que
devemos motivar os nossos alunos, mostrando-os sobre a importância de se
aprender os conhecimentos matemáticos. Além disso, procuramos mostrar a eles as
suas habilidades e competências no processo de se aprender matemática, bastando
para isso o querer e o ter a disciplina de estudo. E nós professores de matemática,
de forma sistematizada, somos os mediadores nesse processo de ensino e
aprendizagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: