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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

CURSO: CIÊNCIAS SOCIAIS


DISCIPLINA: POLÍTICA I-A
PROF. ENZO LENINE
ESTUDANTE: FÁBIO OLIVEIRA PASSOS/JOÃO VICTOR LIMA SOTERO BATISTA

JUSTIÇA, POLíTICA E MENTIRA

Fábio Passos - Estava indo ao supermercado numa época de muita ansiedade


e inflação, além da muita preocupação porque era 17 de outubro de 2022, ano
da eleição presidencial, e o dia do pleito estava muito próximo de acontecer,
quando encontrou João Vitor com um carro de compras com poucos itens no
supermercado “O Baratinho”. João ao o avistá-lo na fila de um dos caixas foi
imediatamente ele e passou a esvaziar-se das insatisfações sociais e políticas
que lhes apoquentavam a alma.
F.P- Ao posicionar-se ao seu lado desabafou dizendo:
J.V. Política é uma verdadeira desordem, nela não existe a justiça, os políticos
são mentirosos, a política sempre é mentirosa e injusta. Vejo que o governo não
faz justiça ao povo, não concordo com a política, não confio em político, eles só
falam mentiras e por mim o Brasil que se exploda.
F.P. – Ao o perceber muito irritado e indignado com a política do país,
pacientemente o perguntou: meu amigo J.V. o que é justiça? Me explique! Me
faça entender o que é justiça primeiro para que eu possa assim compreender o
que me dizes.
J.V. – Justiça é o Governo que respeita o direito do cidadão e não os obriga a
fazer todas as coisas da mesma forma, afinal cada pessoa é uma, diferente da
outra. (Ter direito de escolha, liberdade para escolher, tratar as pessoas de forma
específica).
F.P- Então João, justo seria ao seu prisma, meu caro amigo João, um governo
com uma política que trata as pessoas de forma individualizada, de modo que
as pessoas não tenham que fazer as mesmas coisas que as outras se pensarem
diferente? Que elas não sejam obrigadas a tomar decisões iguais porque um
outro grupo de pessoas tomou? Ou seja, se não quiserem praticar o mesmo ato?
J.V. - Seria bem isso F.P., suas palavras exprimem bem o que eu desejo falar.
F.P. - Indo mais a fundo Joãozinho, gostaria que o saudoso me respondesses
para um melhor entendimento da justiça, da política e a justiça ou se faz justiça,
ou se a mesma é uma falácia, uma mentira.
F.P.- Para isso te importunarei um pouco J.V...
F.P. - Quando o Poder Público, numa época de pandemia através do chefe do
Poder Executivo determina que aos pais cabem decidir se seus filhos deverão
ser vacinados ou não, ele faz justiça?

J.V. - Claro! F.P! A liberdade de escolha é um direito fundamental, por isso, eu


quem devo decidir se em uma pandemia meu filho deverá tomar a vacina que é
recém formulada ou não.
F.P. - Mas quando o Governo estabelece por decreto que aqueles que não se
vacinaram não podem adentrar às repartições públicas ele age com justiça ou
sem justiça?
J.V. - Ele age sem justiça, pois ele está nesse caso me impondo uma força
coercitiva para conduzir-me a vacinar-me.
F.P, - Embora se considerarmos J.V., que a maioria das pessoas que frequentam
essas repartições públicas se vacinaram e que por essa razão, elas não
gostariam de encontra-se no mesmo lugar com pessoas não vacinadas, e o
Governo decretasse que vacinados e não vacinados poderiam frequentar o
mesmo local, a política governamental estaria sendo injusta com aquela maioria
vacinada?
J.V. - Eu sei, os direitos deles também devem ser respeitados mais...
J.V. - Não! Pelo fato de que não poderia ser praticada a injustiça de proibir os
não vacinado de adentrar a um órgão público para que fosse feito justiça aos
vacinados. Justiça seria deixar como sempre foi. Nem injustiça para um, nem
injustiça com o outro, digo a você que justiça só será justiça quando não causar
injustiça a qualquer pessoa porque é sabido por nós dois que a justiça só traz
consigo o bem. Neste caso o Governo estaria tratando os dois igualmente, eles
estariam tendo os mesmos direitos de escolher, sem serem preteridos nas
políticas Governamentais nem prejudicados pelas decisões públicas. O que
passar disso é uma política mentirosa que pratica injustiça ao invés de justiça.
F.P. - Continue Ilustríssimo
J.V. - Justiça seria fazer o bem indistintamente, e como anteriormente dito, ao
não proibir de entra nestes lugares o vacinado, nem o não vacinado, o Governo
com a sua política está praticando o bem, pois não pratica justiça a um em
detrimento a injustiça ao outro
F.P., - Entretanto J.V., você afirmava que “Justiça é quando o Governo respeita
o direito do cidadão e não os obriga a fazer todas as coisas da mesma forma,
afinal cada pessoa é uma, diferente da outra. ”
Nessa situação última citada J.V., a qual o Poder Público permitiria o acesso aos
vacinados e não vacinados, o direito da pessoa de não se vacinar não teria sido
acolhido?
J.P. - Sim!
F.P. - E o direito daqueles que se vacinaram e recusam a compartilhar o mesmo
local com os não vacinados estaria teria sido prejudicado?
J.V. - Não! Para se considerar prejudicados os vacinados, eles deveriam estar
sem o direito de dividir o mesmo espaço com os não-vacinados. A igualdade de
acesso tanto em relação ao vacinado como o não vacinado demonstra que no
ato há justiça pela igualdade de tratamento.
F.P. - inclinando-me às suas palavras J.V. confesso que ainda necessito de mais
esclarecimentos. Tão logo entenderei e me empatizarei com a sua indignação
se me responderes a mais umas poucas indagações.
F.P. Meu jovem colega de classe, faça reluzir sobre mim um pouco dessa luz
que tú tens, far-te-ei ainda mais este questionamento:
F.P. - Um governo que inclui dentro das suas políticas sociais o cidadão,
independentemente de raça, cor, sexo, idade, gênero e religião, de modo a
abranger todos sem distinção faz o bem?
J.V - Com toda certeza F.P., esse é um governo justo que não exclui seus
cidadãos e não acolhe a um em detrimento de outros por questões de qualquer
dessas distinções citadas.
F.P. - Porém se ele é o governo de uma colônia de uma metrópole “ filha de uma
mãe” que depois se torna o Brasil ,que teve como modo de produção econômica
o trabalho escravo e que esses escravos por séculos foram explorados,
assassinados e como coroamento por consequência de pressões externas, e
alheias, que não o viam mais como instrumento de exploração naquele modelo
e que por isso forçaram seus senhores a os libertarem sem qualquer
propriedade, sem saber ler ou escrever e totalmente marginalizados, decide
mitigar as consequências históricas por meio de cotas raciais e cotas sociais a
esses descendentes , faz justiça?
J.V. - Se ele realiza o Sistema de Cotas ele está privilegiando uns em prejuízo a
outros, este Governo está tratando as pessoas de modo desigual e sendo injusto,
ele não promove o bem para todos e sim para alguns, para outros ele promove
o mal da exclusão.
J.V. - A Carta Magna trata todos como iguais, sem distinção alguma, quando o
Governo faz distinção em suas políticas públicas com as cotas, ele é um governo
desigual e injusto.
F.P. - Mais uma vez J.V. com toda sua sapiência, o que me confirmas se este
mesmo governo souber de todas essas mazelas históricas e tenha em suas
posses dados comprobatórios que expressem as consequências da escravidão
e da exclusão dos escravos, e que essas se estendem aos seus descendentes
no presente momento e decide omitir-se passando a tratar todos como iguais
indistintamente, os colocando em igualdade de condições. Desse modo ele
estaria sendo justo? Ele estaria fazendo o bem?
J.V. - Neste caso estaria fazendo o mal a essas pessoas porque elas já nascem
prejudicadas pela exclusão histórica.
J.V. - Mas a Constituição Federal de (1988) já determinou que todos somos
iguais e por isso pôs um fim nessas diferenças. Agora já é lei e não tem o
porquê de fazer diferenças às pessoas, destarte a Constituição estaria sendo
violada.
J.V. - Nesse caso F.P. vejo que me importunas a acreditar que na desigualdade
de tratamento entre as pessoas eu encontraria a justiça, porém, justiça não é
fazer desigualdade entre as pessoas como já havia dito é fazer igualdade.
F.P.-Indo mais além sábio João.
F.P. - Na política existe também justiça ou só existe mentiras, não verdade?
J.V. Só existe mentira, justiça não existe. Eles agora criam as cotas, tratam as
pessoas de modo diferente, a Constituição Federal preconiza que todas as
pessoas são guias.
F.P. - Te farei esta pergunta: o que é a mentira?
J.V. – Mentira ora! É quando alguém sabe que deve fazer uma coisa e faz outra.
J.V. – E você o que entende por mentira?
F.P. – Diria que mentira é a ausência da verdade.
F.P.- Como está próxima a minha vez de passar as compras e ir embora, a te
gostaria de expressar-me.
J.V. – Meus ouvidos querem ouvir-te F.P.
F.P. - durante todo tempo que estivemos conversando não pudeste esclarecer-
me o que é a justiça em toda sua essência, pois em todas as coisas que me
falastes, acabei encontrado apenas formas de como as pessoas entendem ser
a justiça ou estar a justiça.
F.P. Contradições dissestes ao afirmar que justiça é a igualdade, fazer o bem,
não praticar distinção, é a verdade, que um Governo justo seria aquele que
respeitasse a liberdade das pessoas de fazer escolhas sem as constrangê-las.
Entretanto J.V., quando o vacinado é obrigado conviver com os não-vacinados,
não existiria uma igualdade desigual e o direito de escolha dos vacinados não
estaria sendo vilipendiado?
J.V. – É provável que sim F.P., mas sinto que tentas contestar-me a todo
instante, pois a mim parece que não gostas da ideia de igualdade entre as
pessoas. Durante todo tempo a defendo por que é a melhor e mais justa entre
as condições humanas.
F.P. – Jamais fui ou me tornarei um repulsor da ideia de igualdade J.V., e
acrescentarei ainda outra contradição: quando mencionaste que a justiça é a
igualdade, que é fazer o bem, que é a verdade e que a Política Governamental
de Cotas raciais e Sociais violaria a Constituição Federa, caíste em contradição.
J.V. - Agora compreendo que és um vaidoso e muito arrogante.
F.P. – Se as políticas das cotas violariam a igualdade constitucional estabelecida
entre os brasileiros e que por isso seria injustiça, o que me dizes da posição
omissa de um país, se este reconhecesse essas desigualdades e permanecesse
tratando os desiguais de forma igual? A caso pode da desigualdade resultar
igualdade? Te afirmo que nem na matemática. E tú mesmo disseste que justiça
é igualdade.
F.P. Em oposição ao que pensas J.V., quando da desigualdade histórica
(extensão das consequências da escravidão aos descendentes dos escravos,
população em sua maioria negra e parda) se cria uma política desigual para
mitigar uma desigualdade anterior e severa, essa nova desigualdade(cotas)
apresenta-se como uma nova roupagem, não de desigualdade, estando muito
mais próxima da igualdade. Em contrassenso, se o país optar por manter a
igualdade formal da constituição, tratando todos os brasileiros em pé de
igualdade nas suas políticas públicas em detrimento a criação de uma
desigualdade material(cotas), ele estará mantendo a desigualdade e uma
mentira, se distanciando cada vez mais da igualdade e da justiça na sua
concepção.
Sendo assim, como comparaste a igualdade à justiça, a manutenção da política
de desigualdade material histórica não é justiça, nem está próximo da justiça, ao
reverso é a manutenção da desigualdade, na sua concepção da ausência de
justiça, e portando está mais próximo da ideia de injustiça.

J.V. – Eu entendo que a busca da igualdade é o melhor caminho.


F,P. – E eu ainda não consegui entender o que é justiça.
F.P. – Chegou a minha vez até a próxima oportunidade na UFBA.

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