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CÁLCULO

APLICADO
À SAÚDE

Aline Bento
Funções
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer o conceito de função e os conjuntos de domínio, imagem


e contradomínio de uma função nos aspectos algébricos e gráficos.
„„ Identificar graficamente a mudança de sinal e os zeros de uma função.
„„ Distinguir determinados tipos de funções.

Introdução
O trabalho com funções não se restringe somente a cálculos; de forma
geral, aplicamos as funções em muitas áreas profissionais, sendo um dos
conceitos mais importantes da matemática.
A noção de função aparece quando uma grandeza depende de outra;
por exemplo, o volume e a superfície de uma esfera são duas funções
que dependem do raio: V(r) = πr3 e A(r) = 4πr2.
Neste capítulo, estudaremos sobre o que é uma função e os conceitos
relacionados, conheceremos a representação gráfica de uma função e
os tipos principais de funções existentes, além de suas propriedades e o
reconhecimento de uma função.

Função, domínio, imagem e contradomínio


de uma função

Função
Basicamente, a função é uma relação entre dois elementos. Sejam dois con-
juntos, por exemplo, A e B; uma função é a relação que cada elemento de A
associa a um único elemento de B, indicadas por:

f:A→B
2 Funções

A relação entre os conjuntos A e B é dada por uma regra de associação


por meio da expressão:

y = f(x)

Essa regra diz que o elemento x є A, chamado de variável independente,


está relacionado de modo único ao elemento y = f(x) є B, chamado de variável
dependente. O conjunto A é chamado de domínio e o indicamos A = Dom( f );
o conjunto B é chamado de contradomínio.
O conjunto imagem indicado como Im( f ) é o conjunto dos elementos de
B aos quais foram associados elementos de A, isto é:

lm( f ) = {y ∈ B | y = f(x) para algum x ∈ A}

Definição e exemplos

Uma função f (de uma variável real) é um mecanismo que, a um número real
x, chamado entrada (ou variável), associa um único número real construído
a partir de x, denotado f(x) e chamado saída (ou imagem). Essa associação
costuma ser denotada da seguinte forma:

x → f(x)

Representação gráfica

Uma forma de representar a função no plano cartesiano é pelo seu gráfico,


pois este permite extrair a informação essencial contida na função. Seja f uma
função com domínio D. A construção do gráfico consiste em traçar todos os
pontos do plano cartesiano desta forma: (x, f(x)); onde x ∈ D. Por exemplo, a
Figura 1 ilustra f tendo um domínio D = [a,b].
Funções 3

(x, f(x))

a x b
Figura 1. f com um domínio D = [a,b].

Quando x varre o seu domínio [a,b], o ponto (x, f(x)) traça o gráfico de f.

Representação analítica

Outra maneira de indicar uma função consiste em dar a regra de associação


seguida do seu domínio. A função do exemplo anterior pode ser assim indicada:

f(x) = x2, x ∈ :ℜ

Nesse modo de indicar a função, subentende-se que o contradomínio é o


conjunto ℝ dos números reais.

Quando o domínio e o contradomínio de uma função estão contidos no conjunto dos


números reais, a função é chamada de uma função real de variável real.
Uma função tem três constituintes básicos: domínio, contradomínio e regra de
associação. Duas funções são iguais somente quando têm os mesmos domínio, con-
tradomínio e regra de associação.
4 Funções

Funções injetoras
Sejam A e B conjuntos e f : A → B uma função. Dizemos que:

f é injetora de A em B ⇔ (∀ x1, x2 ∈ A)( f(x1) = f(x2) → x1 = x2)

Note que isso é o mesmo que (∀ x1, x2 ∈ A)(x1 ≠ x2 → f(x1) ≠ f(x2)).


Note que isso não é o mesmo que (∀ x1, x2 ∈ A)(x1 = x2 → f(x1) = f(x2)).

Funções sobrejetoras
Sejam A e B conjuntos e f : A → B uma função. Dizemos que:

f é sobrejetora de A em B ⇔ (∀ y ∈ B)(∃ x ∈ A)(y = f(x))

Note que dizer que uma função é sobrejetora é o mesmo que mostrar
que Im( f ) = C( f ). Ou seja, para qualquer função, sempre será verdade que
Im( f ) ⊆ C( f ), porém, somente para as funções sobrejetoras poderemos escrever
Im( f ) = C( f ).

Funções bijetoras
Sejam A e B conjuntos e f : A → B uma função. Dizemos que f é bijetora se e
só se f é sobrejetora e injetora. Isto é:

f bijetora ⇔ f injetora ∧ f sobrejetora

Ou seja:

f bijetora ⇔ (∀ x1, x2 ∈ A)( f(x1) = f(x2) → x1 = x2 ∧ (∀ y ∈ B)(∃ x ∈ A)(y = f(x))

Para algumas equações — por exemplo, as equações polinomiais do segundo grau —,


existem fórmulas explícitas que dão as raízes em função dos coeficientes (p. ex., regra
de Bháskara).
Funções 5

Zeros de uma função e identificação gráfica


da mudança de sinal
Vamos ilustrar o significado dos zeros de uma função por meio dos gráficos
a seguir, os quais representam as funções:

f(x) = 1 + x + x2
f(x) = 1 + x + x2 + x2
f(x) = 1 + x + x2 + x2 + x4

f(x) = |x|
f(x) = x2/3(x − 2)2
f(x) = x2/3(x − 2)2
f(x) = x3

A raiz de uma função é o ponto em que f(x) = 0. Graficamente representa o


valor de x onde a curva corta (ou toca) o eixo x. Caso isso não ocorra, dizemos
que a função não possui raiz real. Para encontrar algebricamente as raízes de
uma função, igualamos f(x) a zero e resolvemos a equação.
O gráfico do polinômio P2(x) = 1 + x + x2 de grau 2 é representado na
Figura 2.

6
5

1
0
–4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4 5 6 7
–1

–2

Figura 2. Gráfico do polinômio P2(x) = 1 + x + x2 de grau 2.


6 Funções

O gráfico do polinômio P3(x) = 1 + x + x2 + x3 de grau 3 é representado


na Figura 3.

6
5

1
0
–4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4 5 6 7
–1

–2

Figura 3. Gráfico do polinômio P3(x) = 1 + x + x2 + x3 de grau 3.

O gráfico do polinômio P4(x) = 1 + x + x2 + x2 + x4 de grau 4 é representado


na Figura 4.

6
5

1
0
–4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4 5 6 7
–1

–2

Figura 4. Gráfico do polinômio P4(x) = 1 + x + x2 + x3 + x4 de grau 4.


Funções 7

O gráfico da função racional é representado na Figura 5.

6
5

1
0
–4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4 5 6 7
–1

–2

Figura 5. Gráfico da função racional .

O gráfico da função valor absoluto |x| =


na Figura 6.
x,
–x, { x≥0
x<0
é representado

0
–2 –1 0 1 2 3 4 5 6 7 8

Figura 6. Gráfico da função valor absoluto |x| =


{ x,
–x,
x≥0
x<0
.
8 Funções

Considere uma função f.


A função g(x) = f(x) + c é obtida pela translação (deslocamento) vertical
de f em c unidades.
A função g(x) = f(x − γ) é outra função obtida pela translação (deslocamento)
horizontal de f em γ unidades.
O gráfico da Figura 7 mostra a translação vertical da função algébrica
f(x) = x2/3(x − 2)2 considerando c = 3.

0
–3 –2 –1 0 1 2 3 4 5 6 7

Figura 7. Translação vertical da função algébrica f(x) = x2/3(x − 2)2.

O gráfico da Figura 8 mostra a expansão horizontal da função algébrica


f(x) = x2/3(x − 2)2 considerando γ = 3.
Funções 9

0
–3 –2 –1 0 1 2 3 4 5 6 7

Figura 8. Expansão horizontal da função algébrica f(x) = x2/3(x − 2)2.

Propriedades de funções
Função par: f(–x) = f(x).
Função ímpar: f(–x) = –f(x).

Existem funções que não são pares nem ímpares.

Função crescente: t < x implica f(t) < f(x).


Função decrescente: t < x implica f(t) > f(x).

Confira outro exemplo:


Uma função f, real de variável real, diz-se crescente em I, I ⊂ D( f ), se e
somente se, para todo x1, x2 ∈ I, tem-se: x1 < x2 ⇒ f(x1) ≤ f(x2).
f diz-se estritamente crescente em I, se e somente se x1 < x2 ⇒ f(x1) < f(x2).
Uma função f, real de variável real, diz-se decrescente em I, I ⊂ D( f ), se
e somente se, para todo x1, x2 ∈ I, tem-se: x1 < x2 ⇒ f(x1) ≥ f(x2).
f diz-se estritamente decrescente em I, se e somente se x1 < x2 ⇒ f(x1) > f(x2).

Existem funções que não são crescentes nem decrescentes. Exemplo: a


função f(x) = x2 é uma função par (Figura 9).
10 Funções

0
–5 –4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4 5

Figura 9. Exemplo de função par.

Essa função é simétrica em relação ao eixo y (função par). O gráfico dela


é simétrico com respeito ao eixo vertical.
A função f(x) = x3 é uma função ímpar (Figura 10).

3
2

1
0
–5 –4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4 5
–1
–2

–3

–4

Figura 10. Função ímpar.


Funções 11

Essa função é simétrica em relação à origem (função ímpar). O gráfico


dela é simétrico em relação à origem.

O objetivo do método bisseção é reduzir a amplitude do intervalo que contém a raiz


até atingir a precisão requerida: | b k – a k | < ε, usando, para isso, a sucessiva divisão
de [a,b] ao meio.

Tipos de funções
No estudo sobre funções e os tipos de funções, que será apresentado a seguir,
poderemos observar que a importância das funções não está restrita apenas
a cálculos e fórmulas matemáticas comumente utilizados em sala de aula.
O conceito de função também está relacionado com a nossa vida diária, por
exemplo, uma função pode ser usada para estimar a vazão de água que percorre
o encanamento da nossa residência, assim como pode também estimar a vazão
de uma usina hidrelétrica, como Itaipu. Esse trabalho se chama modelagem
matemática e pode envolver diferentes tipos de funções. Portanto, reconhecer
algumas das principais funções poderá ser muito útil nos cálculos de integrais
e derivadas, que são utilizadas no trabalho com modelagem.

Funções algébricas
De modo geral, funções definidas por meio de operações algébricas em po-
linômios são chamadas de funções algébricas e envolvem apenas operações
algébricas (adição, subtração, divisão, multiplicação e potenciação) sobre
números reais. As funções que não são algébricas são chamadas de funções
transcendentes. Podemos citar como funções transcendentes as funções tri-
gonométricas, as funções exponenciais e as funções logarítmicas.
12 Funções

Funções polinomiais
É toda função cuja regra de associação é um polinômio, isto é, f(x) = an xn +
an−1xn−1 + … + a1x + a0, onde os coeficientes a0, a1, … , an são números reais
e n é algum natural.
Funções polinomiais têm a forma:

f(x) = a0 xn + a1xn−1 + … + an-1x + an

Nela, a0, … an são constantes, e n é um inteiro positivo chamado de grau do


polinômio se an ≠ 0. O domínio deste tipo de função são os todos os números
reais, ou seja, não há restrições.

Funções racionais
É toda função f cuja regra de associação é da forma f(x) = p(x) / q(x), onde p(x)
e q(x) são funções polinomiais. Note que uma função racional está definida
em qualquer domínio que não contenha raízes do polinômio q(x).
Uma função é dita racional quando se encontra representada pelo quociente
entre dois polinômios, sendo o divisor um polinômio não nulo.
O domínio de uma função racional f(x) = N(x) / D(x) é dado por:

Df = {x ∈ R / D(x) ≠ 0}

Ou seja, o domínio desse tipo de função são os todos os números reais,


exceto o(s) valor(es) que torne(m) o denominador nulo.

Funções trigonométricas
Funções trigonométricas são as que estão associadas a ângulos e retas. Elas
são importantes no equacionamento de situações práticas que tenham caráter
periódico. Confira os valores de funções trigonométricas para alguns ângulos
no Quadro 1.
Quadro 1. Valores de funções trigonométricas para determinados ângulos

Graus –180° –135° –90º –45° 0° 30° 45° 60° 90° 135° 180°

θ (radianos) –π 3π π π 0 π π π π 3π π
– – – – – –
4 2 4 6 4 3 2 4

sen θ 0 √2 –1 √2 0 1 √2 √3 1 √2 0
– – – –
2 2 2 2 2 2

cos θ –1 √2 0 √2 1 √3 √2 1 0 √2 –1
– – – –
2 2 2 2 2 2

tg θ 0 1 — –1 0 √3 1 √3 — –1 0
3
Funções
13
14 Funções

Função seno

A função seno é definida da seguinte forma (Figura 11):

sen: R → R
x → sen(x) y = sen x

3π π π 3π x
– 2π – –π – 0 π 2π
2 2 2 2
–1

Figura 11. Função seno.

D(sen) = ] -∞, +∞ [
Im(sen) = [ – 1, +1]
Período = 2π

Função cosseno

A função cosseno é definida da seguinte forma (Figura 12):

cos: R → R
x → cos(x) y = cos x
Funções 15

3π π π 3π x
– 2π – –π – 0 π 2π
2 2 2 2
–1

Figura 12. Função cosseno.

D(sen) = ] -∞, +∞ [
Im(sen) = [ –1, +1]
Período = 2π

Função tangente

A função tangente é definida como sendo o quociente da função seno pela


função cosseno (Figura 13).

tg: A → R

x → tg(x) = sen(x) / cos(x)

y = tg(x)

– 2π 3π π π 3π 2π
– –π – 0 π
2 2 2 2
–1

Figura 13. Função tangente.


16 Funções

D(tg) = {x ∈ R / x ≠ π/2 + kπ}, para k ∈ Z


Im(sen) = -∞ < y < +∞
Período = π

Funções inversas trigonométricas

Função arco-seno

A função f: R → [–1;1] definida por f(x) = sen x não é bijetora. Entretanto,


restringindo o domínio ao intervalo [–π/2; π/2], obtemos uma função bijetora
cuja inversa denominamos função arco-seno.
Temos, para x ∈ [–π/2; π/2] e y ∈ [–1;1]:

sen y = y ⇔ x = arcsen y

Trocando x por y e y por x, temos y = arcsen x. Portanto, a função inversa


de f: [–π/2; π/2] → [–1;1], f(x) = sen x é:

f–1: [–1;1] → [–π/2; π/2], f–1(x) = arcsen x

Observe a Figura 14.

y y
π
1 2

–1 0 1
π 0 π x x

2 2
–1 π

2

Figura 14. y = sen x, x Є [–π/2 ; +π/2] e y = arcsen x.


Funções 17

Função arco-cosseno

A função f:[0;π] → [–1;1] definida por f(x) = cos x, restrição do cosseno ao


intervalo [0;π], é bijetora, e sua inversa é denominada função arco-cosseno.
Temos, para x Є [0;π] e y Є [–1;1]: cos x = y ⇔ x = arccos y. Trocando x por
y e y por x, temos y = arccos x. Portanto, a função inversa de f é f–1: [– 1;1] →
[ 0 ; π ], f–1(x) = arccos x. Observe a Figura 15.

y y

1 π

π
2
0 π π x
2
–1 0
–1 1 x

Figura 15. Função arco-cosseno: y = cos x, x Є [ 0 ; π ] e y = arccos x.

Função arco-tangente

A função f:]-π/2; π/2[ definida por f(x) = tg x com restrição da tangente ao in-
tervalo ]-π/2; π/2[ é bijetora, e sua inversa é denominada função arco-tangente.
Temos, para x ∈ ]-π/2; π/2[ e y ∈ R, tg x = y ⇔ x = arctg y. Trocando x por
y e y por x, temos y = arctg y. Portanto, a função inversa de f é f-1: R → ]-π/2;
π/2[ f-1(x) = arctg x. Observe a Figura 16.
18 Funções

y y

π
1 2

0
π 0 π x x
– –1 1
2 2
–1 π

2

Figura 16. Função arco-tangente: y = tg x, x Є ] -π/2 ; +π/2 [ e y = arctg x.

Exponencial

Uma das funções mais importantes da matemática é a exponencial de base


a (Figura 17):

ax
y

x
Figura 17. Exponencial de base a.

Sendo a um número positivo e a ≠ 1. Os gráficos dessas funções mudam


de acordo com o valor de a, e estão ilustrados na Figura 18.
Funções 19

y y

1 0<a<1
a>1

1 a

0 1 x 0 1 x

Figura 18. Gráficos das funções exponenciais.

Função logarítmica

A função logarítmica é a inversa da função exponencial. Considere f(x) = ax;


sua função inversa é:

Observe também a Figura 19.

logax

Figura 19. Função logarítmica: loga 1 = 0 e loga a = 1.


20 Funções

Graficamente, a função logarítmica é representada na Figura 20.

y y
loga x 1 loga x

0 1 a x
a>1 0 a 1 x
0 < a <1

Figura 20. Representação gráfica da função logarítmica.

As propriedades operatórias são definidas por determinadas expressões.


Para todo x, y > 0, valem as seguintes regras.

a)  Propriedade do produto:

loga(xy) = loga x + loga y

b)  Propriedade do quociente:

loga(x / y) = loga x – loga y

c)  Propriedade da potenciação:

loga (yx) = x logay

Uma das principais características de uma função é sua capacidade de representar


transformações, ou seja, uma função pode ser entendida como um mecanismo que,
sob certas condições predefinidas, transforma entradas em saídas.
Funções 21

PINTO, M. M. F. Fundamentos da matemática. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.


VACCARO G. L. R.; CANTO, E. A. Estruturas algébricas: relações, funções, reticulados &
álgebras booleanas. 135 p. Porto Alegre, 2001. Disponível em: <https://www.inf.pucrs.
br/~rvieira/cursos/lac/RelFReAB.pdf>. Acesso em: 17 dez. 2018.
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