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ESTRUTURAS DE

CONCRETO ARMADO
CISALHAMENTO EM PEÇAS DE CONCRETO ARMADO

Prof.: Wanderlei Malaquias Pereira Junior

Ancoragem da armadura longitudinal...- revisão 00 – Ano de produção e revisão: 08/05/2016 1


SUMÁRIO BÁSICO

1.0 - COMPORTAMENTO DE PEÇAS AO CISALHAMENTO;

2.0 - DIMENSIONAMENTO DE ACORDO COM A NBR 6118 (ABNT, 2014);

3.0 - DETALHAMENTO PARA O CISALHAMENTO;

4.0 - VERIFICAÇÃO DE LAJES AO CISALHAMENTO;

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1 – COMPORTAMENTO DE PEÇAS AO CISALHAMENTO

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1.0-ESTÁDIOS DE CARREGAMENTO PARA VIGAS DE CONCRETO
Estádios de carregamentos em que as peças de concreto estão submetidos são 3:
a) Estádio I: Resistência do concreto > Esforços de tração;
b) Estádio II: A resistência a tração do concreto foi ultrapassada pelos esforços solicitantes e então as
ruínas começam a aparecer na peça. Segundo BASTOS (2015) para visualizar as fissuras a olho nu é
preciso de aberturas com valores maiores que 0,05 mm;
c) Estádio III: Estádio de ruína para dimensionamento no ELU.

Figura 1.1 – Viga bi-apoiada e diagramas de esforços solicitantes


(BASTOS, 2015). 4
1.0-ESTÁDIOS DE CARREGAMENTO PARA VIGAS DE CONCRETO
Imaginando o ensaio de flexão a 4 pontos e um carregamento continuo e variando de “zero” até valores
que levam a ruína, é possível visualizar em certos nível de carregamento dois Estádios em uma mesma
peça.

Figura 1.2 – Evolução do carregamento e suas Figura 1.3 – Fissuras e estádios de carregamento em
fissuras (PINHEIRO ET AL., 2003). uma viga (BASTOS, 2015).
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1.0-ESTÁDIOS DE CARREGAMENTO PARA VIGAS DE CONCRETO

Figura 1.4 – Estádio II e suas fissuras em uma viga (BASTOS, 2015).

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1.0-ESTÁDIOS DE CARREGAMENTO PARA VIGAS DE CONCRETO

Considere a viga carregada e seu comportamento no seu trecho elástico. Se aplicarmos a mecânica do
material básica deduzimos as equações para tensão normal e tensão de cisalhamento.

Onde:

M e V = Momento fletor e Cortante na seção a-


a;
y = Distância do elemento à linha neutra;
Sy =Momento elástico da área considerada em
relação à linha neutra;
I = Momento de inércia da seção transversal;
bw = Largura da viga;

M.y
σ (eq. 1.0.1)
Figura 1.5 – Tensões normais e de cisalhamento numa viga de I
material homogêneo (BASTOS, 2015).
V.S y
 (eq. 1.0.2)
I.b w 7
1.1-COMPORTAMENTO SEM ARMADURA DE CISALHAMENTO
Segundo Carelli (2002) os estudos experimentais mostram que a capacidade de resistência ao
cisalhamento de uma viga de concreto armado pode ser dividida em duas parcelas, uma resistida pelo
concreto e seus mecanismos auxiliares e outra resistida pela armadura transversal. Ou seja, uma viga,
mesmo sem armadura transversal apresenta capacidade de resistir a uma determinada força cortante.
Segundo citação de vários autores como Bastos (2015), Carelli (2002) e Queiroz Junior (2014) os
mecanismos de cisalhamento são complexos e difíceis de serem compreendidos, portanto os mesmo são
divididos em 5 mecanismos básicos:

a) Efeito de arco: Esse mecanismo é bem característico em vigas de vão reduzido. Porém trata-se do
efeito de arqueamento do banzo, diminuindo a força de tração que a alma deveria absover,
promovendo assim um aumento da resistência;
b) Concreto não fissurado: Ocorre no banzo comprimido da treliça e é relativo ao concreto não fissurado
entre duas fissuras consecutivas;
c) Engrenamento de agregados: Segundo Carelli (2002) este mecanismo ocorre entre as duas superfícies
originadas por uma fissura. A contribuição do engrenamento dos agregados para a resistência ao
cisalhamento depende da largura da fissura e da rugosidade das superfície;

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1.1-COMPORTAMENTO SEM ARMADURA DE CISALHAMENTO
d) Efeito de pino: A força de pino está ligado a parcela de carga absorvida pela armadura longitudinal;
e) Tensão de residual de tração: Segundo Bastos (2015) quando o concreto fissura não ocorre uma
separação completa, porque pequenas partículas do concreto ligam as duas superfícies e continuam a
transmitir forças de tração, para pequenas aberturas de fissura entre 0,05 e 0,15 mm. Essa capacidade do
concreto contribui para a transferência de força cortante, importante quando a abertura da fissura ainda
é pequena.

Figura 1.6 – Forças atuantes em uma fissura inclinada (APUD


ACI-ASCE COMMITTEE 1973)

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1.1-COMPORTAMENTO SEM ARMADURA DE CISALHAMENTO

Onde :
Rcc  Resultante de compressão no concreto(Banzo comprimido)
Rst  Resultante de tração na armadura longitudinal ( Banzo Tra -
cionado)
V  Reação de apoio;
Venf  Contribuição para a resistência ao cisalhamento devido ao
concreto não fissurado;
Vea  Contribuição para a resistência ao cisalhamento devido ao
engrenamento dos agregados;
Vep  Contribuição para a resistência ao cisalhamento devido ao
efeito de pino;
1.2-COMPORTAMENTO COM ARMADURA DE CISALHAMENTO
Segundo BASTOS (2015), se a armadura transversal for insuficiente, o aço atinge a deformação de início
de escoamento εy, e as fissuras inclinadas por efeito da força cortante, próximas ao apoio,
desenvolvem-se rapidamente em direção ao banzo comprimido, diminuindo a sua seção resistente, que
por fim pode se romper bruscamente.

y

Figura 1.7 – Ruptura de viga e laje por rompimento do banzo superior comprimido do concreto (LEONHARDT, F.
MONNIG, E. 1982).

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1.3 -MODELOS DE TRELIÇA
Os modelos mais utilizados para o cálculo de peças ao cisalhamento, são os modelos de treliça. No
começo do século XX incialmente foram apresentados pelos pesquisadores Ritter e Morsh. Ambos
consideraram que uma viga funciona de forma semelhante a de uma treliça. Segundo PINHEIRO ET AL.
(2003), as partes da treliça são:

a) Banzo superior: Cordão de concreto comprimido;


b) Banzo inferior: Armadura longitudinal de tração;
c) Diagonais comprimidas: Bielas de concreto entre as fissuras;
d) Diagonais tracionadas: Armadura transversal.

Figura 1.8 – Estádio II e suas fissuras em uma viga (PINHEIRO ET AL., 2003). 12
1.3 -MODELOS DE TRELIÇA
Segundo PINHEIRO et al. (2003) os modelos
consideram as seguintes situações.
a) fissuras, e portanto as bielas de compressão, com
inclinação de 45°;
b) banzos paralelos;
c) treliça isostática; portanto, não há esmagamento
nos nós, ou seja, nas ligações entre os banzos e as
diagonais;
d) armadura de cisalhamento com inclinação entre
45° e 90°.

Figura 1.9 – Analogia da treliça de Morsh por (ARAUJO, 2010).


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1.3 -MODELOS DE TRELIÇA
Falhas do modelo por PINHEIRO et al. (2003).
a)Inclinação das fissuras é menor que 45°;
b)Os banzos não são paralelos; Há o arqueamento
do banzo comprimido, principalmente nas regiões
dos apoios;
c)A treliça é altamente hiperestática; ocorre
engastamento das bielas no banzo comprimido, e
esses elementos comprimidos possuem rigidez muito
maior que a das barras tracionadas.

Figura 1.10 – Analogia da treliça de Morsh (ARAUJO, 2010)


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1.4 – CONCEITOS
Existem uma infinidade de teorias e modelos para análise de vigas de concreto sob força cortante,
desenvolvidos geralmente com base na analogia de treliça ou de campos de compressão de concreto.
No Brasil os modelos de treliça: Treliça Clássica e Treliça Generalizada.

O modelo inicial de treliça, desenvolvido por RITTER (1899) e MÖRSCH (1920, 1922), tem sido adotado
pelas principais normas do mundo.

A NBR 6118 (ABNT, 2014), admite dois modelos de cálculo da armadura transversal resistente à força
cortante nas vigas: Modelo I (treliça clássica de Ritter-Mörsch, que pressupões ângulo fixo de 45º para
a inclinação das diagonais comprimidas) e Modelo II (treliça generalizada, onde o ângulo pode variar
de 30º a 45º).

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1.4 – CONCEITOS

Em vigas submetidas a força cortante, a ruptura é iniciada após o surgimento de fissuras inclinadas,
causadas pela combinação de força cortante, momento fletor e eventualmente forças axiais. Além
de ocorrer em função:
• geometria e dimensões da viga;
• resistência do concreto;
• quantidade de armadura longitudinal e transversal;
• vão, etc.

Assim, ao contrário da flexão, o projeto à força cortante deve considerar não apenas uma seção
transversal, mas regiões ao longo do vão da viga, as chamadas regiões B, conforme a Figura 1
1.4 – CONCEITOS

Onde a região D se caracteriza por


descontinuidades e distribuição de
deformações não-linear. A região B
caracteriza-se pela distribuição linear de
Figura 1.4.1 – Regiões uma estrutura (ASCE-ACI, 1998 apud BASTOS, deformações.
2008).

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1.5 - COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXAO E À
FORÇA CORTANTE

Considere uma viga de Concreto Armado bi-apoiada (Figura 6), submetida a duas forças
concentradas P de igual intensidade, crescentes de zero até a força última ou de ruptura. As
armaduras consistem da armadura longitudinal positiva resistente às tensões normais de tração da
flexão, e da armadura transversal, composta por estribos verticais no lado esquerdo da viga e estribos
e barras dobradas inclinadas (cavaletes) no lado direito da viga, dimensionada para resistir às forças
cortantes. Note que no trecho da viga entre as forças concentradas P a solicitação é de flexão pura
(V=0).

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1.5 - COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXAO E À
FORÇA CORTANTE

A seguir (Figura 1.5.1) temos a viga submetida às forças P de baixa intensidade, com trajetórias das
tensões principais de tração e de compressão para a viga ainda não fissurada, ou seja, no Estádio I.

Figura 1.5.1 – Comportamento resistente de uma viga bi-apoiada (BASTOS,2008).

Observe que no trecho de flexão pura as trajetórias das tensões de compressão e de tração são
paralelas ao eixo longitudinal da viga. Nos demais trechos as trajetórias das tensões são inclinadas
devido à influência das forças cortantes. É importante observar também que as trajetórias
apresentam-se aproximadamente perpendiculares entre si.
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1.5 - COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXAO E À
FORÇA CORTANTE

Com o aumento das forças P e consequentemente das tensões principais, no instante que as tensões
de tração atuantes no lado inferior da viga superam a resistência do concreto à tração, surgem as
primeiras fissuras no trecho de flexão pura, chamadas “fissuras de flexão” (Figura 1.5.2)

Figura 1.5.2 – Comportamento resistente de uma viga bi-apoiada (BASTOS,2008).

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1.5 - COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXAO E À
FORÇA CORTANTE

As fissuras de flexão são aquelas que iniciam na fibra mais tracionada e prolongam-se em direção à
linha neutra, conforme aumenta o carregamento externo aplicado. Apresentam-se
aproximadamente perpendiculares ao eixo longitudinal da viga e às trajetórias das tensões principais
de tração, ou seja, a inclinação das fissuras depende da inclinação das tensões principais de tração.
O trecho fissurado passa do Estádio I para o Estádio II e os trechos entre os apoios e as forças
concentradas, sem fissuras, permanecem no Estádio I, isto é, a viga apresenta trechos nos Estádios I
ou II.

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1.5 - COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXAO E À
FORÇA CORTANTE

A Figura 1.5.3 mostra os diagramas de deformação e de tensão nas seções a e b da viga, nos
Estádios I e II, respectivamente.

Figura 1.5.3 – Diagramas de deformação de uma viga bi-apoiada (BASTOS,2008).

No estádio I a máxima tensão de compressão  c ainda pode ser avaliada de acordo com a lei de
Hooke, o mesmo não valendo para o Estádio II.
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1.5 - COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXAO E À
FORÇA CORTANTE

Aumentando as forças P , outras fissuras de flexão continuam a surgir, e aquelas já existentes


aumentam de abertura e prolongam-se em direção ao topo da viga (Figura 1.5.4).

Figura 1.5.4 – Comportamento resistente de uma viga bi-apoiada (BASTOS,2008).


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1.5 - COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXAO E À
FORÇA CORTANTE

Nos trechos entre os apoios e as forças P, as fissuras e flexão inclinam-se, devido à inclinação das
tensões principais(  1 ), por fluência das forças cortantes. Essas fissuras inclinadas são chamadas de
“fissuras de flexão com força cortantes”, ou fissuras de flexão com cisalhamento, que não e o termo
mais adequado porque tensões de cisalhamento não ocorrem por ação exclusiva de força cortante.

Nas proximidades dos apoios, como a influência dos momentos fletores é muito pequena, podem
surgir as chamadas “fissuras por força cortante, ou de cisalhamento” (Figura 1.5.5). Com carga
elevada, a viga se apresenta no Estádio II em quase toda a sua extensão.

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1.5 - COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXAO E À
FORÇA CORTANTE

Figura 1.5.5 – Fissuras na viga no Estádio II (LEONHARDT e MÖNNIG, 1982 apud BASTOS,2008).

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1.5 - COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXAO E À
FORÇA CORTANTE

O carregamento externo introduz numa viga diferentes estados de tensões principais, em cada um
dos seus infinitos pontos. Na Figura 1.5.6, por exemplo, são mostradas as trajetórias das tensões
principais de uma viga ainda no Estádio I, e o estado de tensões principais num ponto sobre a linha
neutra. Na altura da linha neutra, as trajetórias das tensões principais apresentam-se inclinadas de 45°
(ou 135°) com o eixo longitudinal da viga, e em pontos fora as trajetórias têm inclinações diferentes
de 45°.

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1.5 - COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXAO E À
FORÇA CORTANTE

Figura 1.5.6 – Trajetórias das tensões principais de uma viga bi-apoiada no Estádio I (LEONHARDT e
MÖNNIG, 1982 apud BASTOS,2008).
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1.5 - COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXAO E À
FORÇA CORTANTE
Além dos estados de tensão relativos às tensões principais, como o indicado na Figura 1.5.7b, outros
estados podem ser representados, com destaque para aquele segundo os eixos x-y (Figura 1.5.7a),
que define as tensões normais 𝜎𝑥 e 𝜎𝑦 e as tensões de cisalhamento 𝜏𝑥𝑦 e 𝜏𝑦𝑥 .

Figura 1.5.7 – Componentes de tensão segundo os estados de tensão relativos aos eixos principais e aos
eixos x-y (LEONHARDT e MÖNNIG, 1982 apud BASTOS,2008).
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1.5 - COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXAO E À
FORÇA CORTANTE

O dimensionamento das estruturas de Concreto Armado toma como base normalmente as tensões
𝜎𝑥 e 𝜏𝑥𝑦 . No entanto, conhecer as trajetórias das tensões principais é importante para se posicionar
corretamente as armaduras de tração e para conhecer a direção das bielas de compressão.

O comportamento da região da viga sob maior influência das forças cortantes e com fissuras
inclinadas no Estádio II, pode ser muito bem descrito fazendo-se a analogia com uma treliça
isostática (Figura 1.5.8). A analogia de treliça consiste em simbolizar a armadura transversal como as
diagonais inclinadas tracionadas, o concreto comprimido entre as fissuras como as diagonais
inclinadas comprimidas, o banzo inferior como a armadura de flexão tracionada e o banzo superior
como o concreto comprimido acima da linha neutra, no caso de momento fletor positivo.

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1.5 - COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXAO E À
FORÇA CORTANTE

Figura 1.5.8 – Analogia de treliça para forças internas na região próxima ao apoio de uma viga
(LEONHARDT e MÖNNIG, 1982 apud BASTOS,2008).

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1.5 - COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXAO E À
FORÇA CORTANTE

Os estribos devem estar próximos entre si a fim de interceptarem qualquer possível fissura inclinada
devido às forças cortantes, pois uma ruptura precoce pode ocorrer quando a distância entre os
estribos for ≥ 2 z para estribos inclinados a 45° e > z para estribos a 90° (Figura 1.5.9).

Figura 1.5.9 – Analogia clássica de uma viga com uma treliça (LEONHARDT e MÖNNIG, 1982 apud BASTOS,2008).

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2 – DIMENSIONAMENTO DE ACORDO COM A NBR 6118 (ABNT,

2014)

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2.0 - Dimensionamento de acordo com NBR 6118 (ABNT, 2014)

De acordo com a NBR6118:2014, item 17.4.2.1 “a resistência do elemento estrutural, em uma


determinada seção transversal, deve ser considerada satisfatória, quando verificadas
simultaneamente as seguintes condições:”

𝑉𝑆𝑑 ≤ 𝑉𝑅𝑑2
Onde:
• 𝑉𝑆𝑑 é a força cortante solicitante de cálculo, na seção;
𝑉𝑆𝑑 ≤ 𝑉𝑅𝑑3 = 𝑉𝑐 + 𝑉𝑠𝑤
• 𝑉𝑅𝑑2 é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína das diagonais
comprimidas de concreto, de acordo com os modelos de cálculo;
• 𝑉𝑅𝑑3 = 𝑉𝑐 + 𝑉𝑠𝑤 é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína por
tração diagonal, onde 𝑉𝑐 é a parcela de força cortante absorvida por
mecanismos complementares ao da treliça e 𝑉𝑠𝑤 a parcela resistida pela
armadura transversal de acordo com os modelos de cálculo
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2.1 - Modelos de Cálculo

Conforme visto anteriormente, a NBR 6118:2014 contempla dois modelos de cálculo para o
dimensionamento de vigas sob efeito de cisalhamento.

a) Modelo de Cálculo I

O modelo I admite diagonais de compressão inclinadas de 45° em relação ao eixo longitudinal do


elemento estrutural, admitindo uma parcela complementar Vc com valor constantes, independente
do Vsd.

i. verificação da compressão diagonal do concreto:

𝑉𝑅𝑑2 = 0,27𝛼𝑉2 𝑓𝑐𝑑 𝑏𝑤 𝑑 Onde: 𝛼𝑉2 = 1 − 𝑓𝑐𝑘 250 e 𝑓𝑐𝑘 , expresso em MPa;
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2.1 - Modelos de Cálculo

ii. cálculo da armadura transversal:

𝑉𝑅𝑑3 = 𝑉𝑐 + 𝑉𝑠𝑤
Onde:
• 𝑉𝑆𝑤 = 𝐴𝑠𝑤 𝑠 0,9 𝑑 𝑓𝑦𝑤𝑑 sin 𝛼 + cos 𝛼 ;
• 𝑉𝑐 = 0 nos elementos estruturais tracionados quando a linha neutra se situa
fora da seção;;
• 𝑉𝑐 = 𝑉𝑐0 na flexão simples e na flexo-tração com a linha neutra cortando a
seção;
• 𝑉𝑐 = 𝑉𝑐0 1 + 𝑀0 𝑀𝑆𝑑,𝑚á𝑥 ≤ 2𝑉𝑐0 na flexo-compressão;
• 𝑉𝑐0 = 0,6 𝑓𝑐𝑡𝑑 𝑏𝑤 𝑑;

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2.1 - Modelos de Cálculo
ii. cálculo da armadura transversal:

Onde:
• 𝑏𝑤 é a menor largura da seção, compreendida ao longo da altura útil d;
• d é a altura útil da seção, igual a distância da borda comprimida ao centro de gravidade da
armadura de tração;
• S é o espaçamento entre elementos da armadura transversal 𝐴𝑠𝑤 , medido segundo o eixo
longitudinal do elemento estrutural;
• 𝑓𝑦𝑤𝑑 é a tensão na armadura transversal passiva, limitada ao valor 𝑓𝑦𝑑 no caso de estribos e a
70% desse valor no caso de barras dobradas (sempre inferior a 435 Mpa);
• é o ângulo de inclinação da armadura transversal em relação ao eixo longitudinal do
elemento estrutural, podendo-se tomar 45º≤ α ≤90º;
• 𝑀0 é o valor do momento fletor que anula a tensão norma de compressão na borda da
seção;
• 𝑀𝑆𝑑,𝑚á𝑥 é o momento fletor de cálculo máximo no trecho em análise.
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2.1 - Modelos de Cálculo
iii. Decalagem do diagrama de força no banzo tracionado:

Quando a armadura longitudinal de tração for determinada através do equilíbrio de esforços na


seção normal ao eixo do elemento estrutural, os efeitos provocados pela fissuração oblíqua podem
ser substituídos no cálculo pela decalagem do diagrama de força no banzo tracionado, dada pela
expressão:

𝑉𝑆𝑑,𝑚á𝑥
𝑎𝑙 = 𝑑 1 + cot 𝛼 − cot 𝛼 ≤ 𝑑
2 𝑉𝑆𝑑,𝑚á𝑥 − 𝑉𝑐

Onde:
• 𝑎𝑙 = 𝑑, para 𝑉𝑆𝑑,𝑚á𝑥 ≤ 𝑉𝑐 ;
• 𝑎𝑙 ≥ 0,5 𝑑 no caso geral;
• 𝑎𝑙 ≥ 0,2 𝑑, para estribos inclinados a 45º.

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2.1 - Modelos de Cálculo
iii. Decalagem do diagrama de força no banzo tracionado:

Essa decalagem pode ser substituída, aproximadamente, pela correspondente decalagem do


diagrama de momentos fletores.
A decalagem do diagrama de força no banzo tracionado pode também ser obtida simplesmente
empregando a força de tração, em cada seção, dada pela expressão:

𝑀𝑆𝑑 1 𝑀𝑆𝑑,𝑚á𝑥
𝐹𝑆𝑑,𝑐𝑜𝑟 = + 𝑉𝑆𝑑 cot 𝜃 − cot 𝛼 ≤
𝑧 2 𝑧

Onde:
• 𝑀𝑆𝑑,𝑚á𝑥 é o momento fletor de cálculo máximo no trecho em análise.

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2.1 - Modelos de Cálculo
b) Modelo de Cálculo II

i. verificação da compressão diagonal do concreto:

𝑉𝑅𝑑2 = 0,54 𝛼𝑉2 𝑓𝑐𝑑 𝑏𝑤 𝑑 𝑠𝑒𝑛2 𝜃 cot 𝛼 + cot 𝜃 𝛼𝑉2 = 1 − 𝑓𝑐𝑘 250 e 𝑓𝑐𝑘 , em MPa

ii. cálculo da armadura transversal:

𝑉𝑅𝑑3 = 𝑉𝑐 + 𝑉𝑠𝑤 Onde:


• 𝑉𝑆𝑤 = 𝐴𝑠𝑤 𝑠 0,9 𝑑 𝑓𝑦𝑤𝑑 cot 𝛼 + cot 𝜃 sin 𝛼;
• 𝑉𝑐 = 0 nos elementos estruturais tracionados quando a linha neutra se situa fora da
seção;;
• 𝑉𝑐 = 𝑉𝑐1 na flexão simples e na flexo-tração com a linha neutra cortando a seção;
• 𝑉𝑐 = 𝑉𝑐1 1 + 𝑀0 𝑀𝑆𝑑,𝑚á𝑥 < 2𝑉𝑐1 na flexo-compressão, com:
𝑉𝑐1 = 𝑉𝑐0 quando 𝑉𝑆𝑑 ≤ 𝑉𝑐0
𝑉𝑐1 = 0 quando 𝑉𝑆𝑑 = 𝑉𝑅𝑑2 , interpolando-se linearmente para valores intermediários.;
39
2.1 - Modelos de Cálculo

iii. Deslocamento do diagrama de momento fletores:

Se forem mantidas as condições estabelecidas no Modelo I item iii, o deslocamento do diagrama de


momentos fletores, aplicando o processo descrito em tal seção, deve ser:

𝑎𝑙 = 0,5 𝑑 cot 𝜃 − cot 𝛼 Onde:


• 𝑎𝑙 ≥ 0,5 𝑑 no caso geral;
• 𝑎𝑙 ≥ 0,2 𝑑 para estribos inclinados a 45;

Permanece válida para o Modelo II a alternativa para a obtenção da força de tração dada no
Modelo I item iii.

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3 – DETALHAMENTO PARA O CISALHAMENTO

41
3.0 - Detalhamento
Através das especificações da NBR 6118 (2014), Item ....

Tem-se:

i - Diâmetro máximo e diâmetro mínimo:


𝑏
Estar na faixa entre 5 mm ≤ ∅𝑡 ≤ 10𝑤

Para barras lisas: ∅𝑡 ≤ 12 mm


Quando tomada as devidas medidas preventivas quanto à corrosão, pode-se adotar estribos
formados por telas soldadas com ∅𝑡,𝑚𝑖𝑛 = 4,2 mm

ii – Espaçamento longitudinal máximo e mínimo:


𝑉𝑆𝑑 ≤ 0,67. 𝑉𝑅𝑑2 𝑆𝑚á𝑥 = 0,6. 𝑑 ≤ 300 mm
𝑉𝑆𝑑 < 0,67. 𝑉𝑅𝑑2 𝑆𝑚á𝑥 = 0,3. 𝑑 ≤ 200 mm
3.0 - Detalhamento

iii – Número de ramos de estribos:


Encontrado em função do espaçamento máximo, logo:

𝑉𝑆𝑑 ≤ 0,20. 𝑉𝑅𝑑2 𝑆𝑡,𝑚á𝑥 = 0,6. 𝑑 ≤ 800 mm


𝑉𝑆𝑑 < 0,20. 𝑉𝑅𝑑2 𝑆𝑡,𝑚á𝑥 = 0,6. 𝑑 ≤ 350 mm

iv – Ancoragem:
Segundo PINNHEIRO (2003), os estribos devem ser fechados através de um ramo horizontal,
ancorados na face oposta e envolvendo as barras responsáveis pela armadura longitudinal de tração,
sabendo disso, os estribos podem ser abertos na face superior (face comprimida), com ganchos na
extremidade.
Se a face superior estiver tracionada, deve-se ter o ramo horizontal nesta região, ou completado
por barra adicional. Com essas observações, é sabido que em balaços, devem-se adotar estribos nas duas
faces: inferior e superior.
3.0 - Detalhamento

v – Emenda:
Segundo BASTOS (2003), se os estribos forem constituídos por telas e ou por barras de alta aderência, tais
como aço CA-50 e CA-60, serão permitidas emendas por transpasse.
4 – VERIFICAÇÃO DE LAJES AO CISALHAMENTO

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4.1 VERIFICAÇÃO DE LAJES AO CISALHAMENTO
Conforme Carvalho (2014), afirma que as lajes, quando comparadas com
vigas, demonstram um comportamento diferente destas no que diz respeito
aos esforços cortantes, de modo que, conforme sua configuração, amenize
os efeitos ao esforço cortante com auxílio do concreto para resisti-lo, (fazendo
emprego de armadura em condições especiais).
Conforme o item 19.4 da NBR 6118 (2014), são estabelecidas as relações que
se baseiam na verificação do efeito da força cortante, sendo divididas em
laje se armadura para força cortante e laje com armadura para força
cortante:

a) Laje se armadura para força cortante

Segundo o item 19.4.1 da NBR 6118 (2014), lajes maciças ou nervuradas


podem prescindir de armadura transversal para combater os esforços
cortantes, quando a força cortante de cálculo obedecer à expressão (1.1)

𝑉𝑠𝑑 ≤ 𝑉𝑅𝑑1 (1.1)

Sendo:

𝑉𝑅𝑑1 = [𝜏𝑅𝑑 𝑘 1,2 + 40𝜌1 + 0,15𝜎𝑐𝑝 ]𝑏𝑤 𝑑 (1.2)


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4.1 VERIFICAÇÃO DE LAJES AO CISALHAMENTO
Onde:

𝜏𝑅𝑑 = 0,25f𝑐𝑡𝑑 (Tensão resistente de cálculo do concreto ao cisalhamento)

f𝑐𝑡𝑘,𝑖𝑛𝑓
f𝑐𝑡𝑑 = 𝛾𝑐

𝐴
𝜌1 = 𝑏 𝑠1𝑑 , não maior que [0,02], ( 𝐴𝑠1 sendo a área de armadura de tração que
𝑤
se estende até não menos que 𝑑 + 𝑙𝑏,𝑛𝑒𝑐 além da seção considerada, com
𝑙𝑏,𝑛𝑒𝑐 definido em 9.4.2.5 e na figura 19.1 da NBR 6118:2014);

(𝑏𝑤 é a largura mínima da seção ao longo da altura útil 𝑑)

𝑁𝑆𝑑
𝜎𝑐𝑝 = (𝑁𝑆𝑑 sendo a força longitudinal na seção devida à protensão ou
𝐴𝑐
carregamento ( a compressão é considerada com sinal positivo));

𝑘 = Coeficiente com os seguintes valores:

- Para elementos menores que 50 % da armadura inferior não chega até o


apoio: 𝑘 = 1 ;
- Para os demais casos, 𝑘 = 1,6 − 𝑑 , não menor que 1 , com 𝑑 em metros; 47
4.1 VERIFICAÇÃO DE LAJES AO CISALHAMENTO

Figura 1.1 – Comprimento de ancoragem necessária ( Fonte: NBR 6118:2014)

b) Laje com armadura para força cortante

Conforme é estabelecido na NBR 6118:2014, deve-se aplicar os critérios


estabelecidos no item 17.4.2, e mais, conforme especificações do item 19.4.2,
a resistência dos estribos pode ser considerada com os valores máximos,
sendo permitida a interpolação linear,
- 250 MPa, para laje com espessura até 15 cm;
- 435 MPa 𝑓𝑦𝑤𝑑 , para lajes com espessura maior que 35 cm.

4
8
4.1 VERIFICAÇÃO DE LAJES AO CISALHAMENTO

4
Figura 1.2 – Reações de apoio características (kN/m) das lajes nas vigas de borda ( Fonte: Bastos, 2015)
9
4.1 VERIFICAÇÃO DE LAJES AO CISALHAMENTO
Conforme exemplo extraído do Bastos (2015), para verificação da força
cortante, tem-se as lajes 𝐿1 e 𝐿4 .
a) Laje 𝑳𝟏 :
A laje 𝐿1 apresenta espessura de ℎ = 11 𝑐𝑚, e reação de apoio característica
de 12,41 kN/m.
Aplicando na equação (1.1), nota-se:

𝑉𝑠𝑑 = γ𝑓 ∙ 𝑉𝑘 = 1,4 ∙ 12,41 = 17,4 kN/m

Através da equação (1.2)

𝑉𝑅𝑑1 = [𝜏𝑅𝑑 𝑘 1,2 + 40𝜌1 ]𝑏𝑤 𝑑


3
𝑓𝑐𝑡𝑘,𝑖𝑛𝑓 0,7∙0,3 252
𝜏𝑅𝑑 = 0,25 ∙ 𝑓𝑐𝑡𝑑 = = 0,25 = 0,3206 𝑀𝑃𝑎 = 0,03206𝑘𝑁/𝑐𝑚2
γ𝑐 1,4

Fazendo para área de armadura negativa, para laje 𝐿1 , o diâmetro da


armadura tal como 𝜙 = 8 𝑐𝑚 c/8 cm, corresponde à 6,25 cm². Para altura útil
da armadura negativa, faz-se 𝑑 = ℎ − 2 = 11 − 2 = 9 𝑐𝑚. 𝑏𝑤 = 100 𝑐𝑚.
Logo:

𝐴 𝐴 6,25 5
𝜌1 = 𝑏 𝑠1𝑑 ≤ 0,02 → 𝜌1 = 𝑏 𝑠1𝑑 = 100∙9 = 0,0069 ≤ 0,02 → ok! 0
𝑤 𝑤
4.1 VERIFICAÇÃO DE LAJES AO CISALHAMENTO
Se considerarmos 100% da armadura negativa (principal) chega até a viga
de apoio, tem-se que:

𝑘 = 1,6 − 𝑑 = 𝑘 = 1,6 − 0,09 = 1,51 > 1 → ok!

Então, aplicando na equação (1.2):

𝑉𝑅𝑑1 = [𝜏𝑅𝑑 𝑘 1,2 + 40𝜌1 ]𝑏𝑤 𝑑 = 0,0326 ∙ 1,51 1,2 + 40 ∙ 0,0069 100 ∙ 9 = 64,3 𝑘𝑁/𝑚

Visto que, 𝑉𝑠𝑑 = 17,4 𝑘𝑁/𝑚 < 𝑉𝑅𝑑1 = 64,3 𝑘𝑁/𝑚 significa que não haverá
necessidade de disposição de armadura transversal na laje 𝐿1 .

a) Laje 𝑳𝟒 :

A laje 𝐿4 apresenta espessura de ℎ = 9 𝑐𝑚, e reação de apoio característica


de 12,78 kN/m. Visto que há a consideração do trecho que tem parede
apoiada na laje. Aplicando, analogamente, a metodologia utilizada na laje
𝐿1 , faz-se:

𝑉𝑠𝑑 = γ𝑓 ∙ 𝑉𝑘 = 1,4 ∙ 12,78 = 17,9 kN/m


5
𝜏𝑅𝑑 = 0,03206𝑘𝑁/𝑐𝑚2
1
4.1 VERIFICAÇÃO DE LAJES AO CISALHAMENTO
Fazendo para área de armadura positiva, para laje 𝐿4 , o diâmetro da
armadura tal como 𝜙 = 5 𝑐𝑚 c/9 cm, corresponde à 2,22 cm². Para altura útil
da armadura positiva, faz-se 𝑑 = ℎ − 2,5 = 9 − 2,5 = 6,5 𝑐𝑚. 𝑏𝑤 = 100 𝑐𝑚.
Logo:

𝐴 𝐴 2,22
𝜌1 = 𝑏 𝑠1𝑑 ≤ 0,02 → 𝜌1 = 𝑏 𝑠1𝑑 = 100∙6,5 = 0,0034 ≤ 0,02 → ok!
𝑤 𝑤

Se considerarmos 100% da armadura positiva chega até a viga de apoio,


tem-se que:

𝑘 = 1,6 − 𝑑 = 𝑘 = 1,6 − 0,065 = 1,535 > 1 → ok!

Então, aplicando na equação (1.2):

𝑉𝑅𝑑1 = [𝜏𝑅𝑑 𝑘 1,2 + 40𝜌1 ]𝑏𝑤 𝑑 = 0,0326 ∙ 1,535 1,2 + 40 ∙ 0,0034 100 ∙ 6,5

𝑉𝑅𝑑1 = 42,7 𝑘𝑁/𝑚

Visto que, 𝑉𝑠𝑑 = 17,9 𝑘𝑁/𝑚 < 𝑉𝑅𝑑1 = 42,7 𝑘𝑁/𝑚 significa que não haverá
necessidade de disposição de armadura transversal na laje 𝐿4 .
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