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Escola secundário Seomara costa primo turma S78/72

Fatumata Djau e Binta Balde

Migrações no Portugal
contemporâneo
Há́ 50 anos Portugal era um país de emigração que tinha alguns
imigrantes. Após o anunciado fim da emigração constatamos que
atravessamos vários ciclos de emigração e retorno, mas que nunca
os fluxos de saída deixaram de ter consequências sociais e
sociológicas. Afinal a emigração é mais estrutural do que
pensáramos. Hoje é um país de migrações. Entre o retorno ou
repatriamento de muitos nacionais portugueses e o acolhimento de
centenas de milhares de estrangeiros a demografia nacional
ganhou diversidade e complexidade. Sem a imigração seriamos
menos, mais pobres e mais velhos. A dinâmica e diversidade das
origens dos migrantes para Portugal, mas, também, a geografia
múltipla dos destinos dos emigrantes portugueses representa um
sinal de alteração do posicionamento do país no sistema migratório
global. Numa tradicional lógica evolucionista, Portugal (ainda) não é
um centro, mas (já́ ) não é periferia (ou talvez o seja para alguns
migrantes). Numa nova lógica de sistemas paralelos talvez as
migrações portuguesas possam coexistir num país de emigração e
de imigração. Sinal claro deste estatuto é, por exemplo, o facto da
lei de nacionalidade ter evoluído, ao sabor de ideologias mais ou
menos inclusivas e alargado o número de cidadãos que hoje fazem
parte da comunidade nacional. Somos mais do que a soma dos que
vivem em Portugal com os que dele partiram. Uma sociedade em
movimento, aberta, plena de dinâmicas migratórias que permite
antever um futuro cheio de desafios de integração e de gestão da
diversidade. Uma sociedade dialogante com o mundo e em
interação constante é, seguramente, uma sociedade em
crescimento.
A relação de Portugal com a questão das migrações não tem sido
homogénea. Recentemente, passou de ser considerado um país de
emigração na UE, do qual as pessoas saem em busca de melhores
oportunidades financeiras, para ser considerado também um país
de imigração, recebendo cada vez mais imigrantes e estrangeiros
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de diversos partes do mundo, para viver e trabalhar. Numa
tendência generalizada, o número de imigrantes residentes em
Portugal tem vindo a aumentar consecutivamente nos últimos anos.
Em 2020 verificou-se novamente um acréscimo da população
estrangeira residente, com um aumento superior a 12% face a
2019, registando assim um valor total de 662.095 cidadãos
estrangeiros titulares de autorização de residência, valor mais
elevado registado. 8Os primeiros imigrantes cabo-verdianos
vieram para a metrópole para trabalhar na construção civil e nas
obras públicas. Por um lado, foram empurrados pelas más
condições de vida no arquipélago e, por outro, atraídos pela
necessidade de mão-de-obra da economia metropolitana, então em
grande expansão. DA GUINÉ-BISSAU A PORTUGAL.
PERCURSOS MIGRATÓRIOS TRANSNACIONAIS Em Portugal,
depois de muitos séculos de emigração, 1974 foi um ano charneira
na mudança dos padrões migratórios, em resultado da conjunção
de várias circunstâncias: diminuição da emigração até meados da
década de 80, retorno de emigrantes até à década de 90,
repatriamento dos portugueses refugiados das excolónias, e do
crescimento dos fluxos migratórios8, principalmente provenientes
dos países ex-colónias portuguesas que, com exceção de Timor e
Macau, se situavam todas na África Subsariana. Recentemente a
Revista Veja publicou uma reportagem que acabou gerando um
certo pânico nas pessoas que pensam em se mudar para Portugal.
A revista aponta, como ela mesma diz, as desilusões e o drama de
experiências frustradas pela mudança de vida dos brasileiros
voltando de Portugal.
Claro que existem pessoas que resolvem voltar para o Brasil por
não terem experiências muito boas em Portugal, mas não podemos
generalizar. A publicação da revista faz referência a uma pequena
parcela da população brasileira residente em Portugal insatisfeita
com a mudança e não apresenta de maneira clara ao leitor alguns
dados sobre os brasileiros voltando de Portugal que precisam ser
avaliados. Digo pequena parcela porque é necessário entender e
fazer uma comparação bem básica: taxa de ida e taxa de retorno.
Acompanhe abaixo. Historicamente Portugal é um país de
emigrantes. Ora dado que a população do país não é assim tão
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grande, dado que o seu território não é assolado por uma guerra há
muitos anos, dado que os desastres ambientais são uma coisa
relativamente rara e inconsequente e dado que a perseguição
étnico-religiosa, e desde 1974 também a política, são fenómenos
residuais, só sobra uma grande causa para explicar o êxodo dos
portugueses: a procura por melhores condições de vida.
Verdadeiramente essa é a principal razão pela qual os portugueses
emigram. Após um pico nos anos 60, em que, face às precárias
condições de vida, muitos portugueses se fizeram à estrada, a
emigração acalmou com a queda do Estado Novo, algo que deu
ânimo e esperança à população. Contudo, a tendência viria a
inverter-se, acentuando-se na última década. Em 2020, mesmo
estando os números em queda desde o recorde de 2014, ainda
foram quase 70 mil os portugueses que emigraram. E se a
globalização poderia ser um argumento, é de ressalvar que, de
entre todos os estados-membros que aderiram à UE no século XX,
só Portugal tem mais nacionais emigrados que estrangeiros no país,
realçando o mau exemplo que o país é no contexto europeu

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