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Trabalho de Sociologia - Grupo 1 – I1B

Membros: Ana Luiza, David, Guilherme, Eric, Caroline e


Matheus

Tópico 1:
Os pais de David Good, de 25 anos, vieram de países diferentes ─ algo comum nos Estados Unidos, onde ele foi criado.
No entanto, a família de Good está longe de ser típica ─ seu pai é americano, mas sua mãe é uma indígena que vive em
uma região remota da Amazônia venezuelana.

Duas décadas depois de ela ter retornado para sua tribo, David decidiu reencontrá-la. David não era um viajante ou ex-
plorador experiente, muito pelo contrário; A viagem que aconteceu em julho de 2011, era a sua primeira fora do Estados
Unidos desde a infância. Após 3 dias viajando pelo rio Orinoco David adoeceu, ele foi repetidamente picado por mos-
quitos, estava cansado e com sede.

David conta que foi completamente cercado, que crianças e mulheres se amontoaram a sua volta e que encostavam em
todo o seu corpo. Ele conta também, que com 1,60m de altura, se sentia o mais baixo entre seu grupo de amigos, mas
perto dos Ianomâmi, ele era o mais alto. Não era a primeira vez que as pessoas de Hasupuweteri encontravam nabuh -
como eles chamam os homens brancos. Mas os nabuh que tinham conhecido antes eram missionários, médicos e antro-
pólogos.
Eles sabiam que David era diferente - ele não queria salvar suas vidas nem suas almas e não fazia perguntas estranhas.
Queria apenas encontrar sua mãe.

Tópico 2:
Os ianomâmi vivem em aldeias — há entre 200 e 250 delas — distribuídas por uma área de 96,5 mil quilômetros
quadrados de floresta entre o Brasil e Venezuela. Eles são um grupo diverso com aldeias relativamente ocidentalizadas
até aldeias que não têm contato direto com o mundo externo, apesar de negociarem com outros tipos de aldeias.
A vida nessas comunidades se concentra ao redor de um shapono — que é uma grande oca oval ou arredondada feita de
madeira. Geralmente, este é o lugar para os rituais de troca e xamanismo, para discussões políticas e até brigas.
Em 1968, o antropólogo americano Napoleon Chagnon publicou seu livro ―Yanomano: The Fierce People‖ (em
tradução livre, ―Ianomâmi: O povo feroz‖). Um bestseler, a obra descreve a tribo como propensa a disputas mesquinhas
— geralmente por mulheres — que acabavam em guerras entre aldeias. Ele pintou um mundo em que guerras, estupros
coletivos e assassinatos eram comuns.
Como aluno de Chagnon, Kenneth Good, pai de David Good, viajou pela primeira vez pelo rio Orinoco, como fez seu
filho 36 anos depois. Seu plano era ficar por 15 meses em um trabalho de campo medindo o consumo de proteína
animal de todos os membros da aldeia. O objetivo era colher dados que comprovassem a seus muitos críticos que as
guerras entre aldeias não estavam relacionadas à comida e, sim, ao imperativo de aumentar o sucesso reprodutivo.

Tópico 3:
Perto do final do período de 15 meses, Good estava ficando fluente na língua Ianomâmi, mas também estava insatisfeito
com o foco limitado da pesquisa que tinha ido fazer.
"Medir os animais e calcular o rendimento (de proteínas) não era suficiente", ele escreveu depois. "A coleta e o consu-
mo de comida tinham que ser colocados no contexto cultural."
Para conhecer melhor esse contexto, ele se mudou para o shapono na aldeia e observou o maior número de rituais diá-
rios que conseguiu. Saiu com os índios para caminhadas, caçadas e testemunhou ritos funerários. Os Hasupuweteri o
chamavam de shori - cunhado.
E Good começou a questionar a imagem dos Ianomâmi que seu professor, Chagnon, havia construído.
"Ele concluiu que os Ianomâmi não eram tão ferozes como haviam sido descritos", diz David Good. "

Um dia, em 1978, o chefe dos Hasupuweteri fez uma proposta a Good.


"Shori, você vem sempre aqui nos visitar e viver conosco... estive pensando que você deveria ter uma esposa. Não é
bom para você viver sozinho", disse o índio, segundo o relato de Kenneth Good em seu livro de memórias Into the heart
No início, Good recusou, mas acabou aceitando a ideia. "Me peguei pensando que talvez casar ali não seria tão horrível:
certamente estaria de acordo com os costumes deles. De certo modo, a ideia até se tornou atraente. Afinal, que melhor
afirmação poderia haver da minha integração com os Hasupuweteri?"
Quando ele cedeu, o chefe da tribo disse: "Fique com Yarima. Você gosta dela. Ela é sua esposa."
Yarima, a irmã mais nova do cacique, era uma menina alegre. E Good realmente gostava dela. Mas ele tinha 36 anos e
Yarima não tinha mais do que 12.

A cada visita que Good fazia à aldeia, o casal se aproximava e o vínculo entre os dois se tornava mais real. A tribo co-
meçou a tratá-los como marido e mulher, e Good sentia falta de Yarima quando viajava para fora da Amazônia.Alguns
colegas o acusaram de se aproveitar da tribo, e até de pedofilia
Em seu livro, ele calcula que Yarima teria 15 anos quando os dois tiveram a primeira relação sexual.
Yarima já tivera sua primeira menstruação e, segundo o costume da tribo, estava na idade de se casar e ter filhos.
"Estamos sempre tentando julgar os outros de acordo com nosso ponto de vista, uma visão etnocêntrica", disse David
Good. Ele argumenta, no entanto, que nossos ancentrais não viviam como vivemos hoje, no mundo moderno. Não havia
o período de amadurecimento que entendemos como adolescência, as meninas se casavam e tinham filhos após a pri-
meira menstruação.

David foi cercado pela tribo quando desceu do barco porque era famoso.
Yarima, os índios explicaram, estava na aldeia de Irokaiteri, dez minutos rio acima.
Um rapaz chamado Mukashe, apresentado como seu meio-irmão, correu pela floresta para buscar Yarima.
Depois de 19 anos de separação, David teria de esperar mais algumas horas.
Mas voltemos à história do casamento de Yarima e Kenneth Good.

Tópico 4:
Apesar de ter se casado com uma indígena, era impossível para Good viver indefinitivamente na Amazônia.
Ele não podia caçar, precisava de mais comida do que os outros membros da tribo, de remédios e permissões especiais
para permanecer na região.
Em uma dessas viagens, quando ele teve de se ausentar por vários meses, Yarima foi estuprada, sequestrada e espancada
por um grupo de ianomâmis.
Isso resultou no primeiro contato da indígena com o mundo exterior à floresta.
Por isso, a noção de um supermercado cheio de alimentos prontos para o consumo, ou de um restaurante onde você es-
colhe o que deseja comer, fazia o mundo de Yarima virar de ponta cabeça.
Quando ela saiu da floresta, em meados da década de 1980, os Ianomâmi que viviam rio acima tinham ouvido falar da
polícia, mas imaginavam que fosse como uma tribo muito feroz, vivendo em uma única aldeia.
Por outro lado, Yarima se adaptou rapidamente a outros costumes da vida na cidade dos brancos.
E aos poucos, perdeu o medo de viajar de automóveis, gostava de carros, motos e aviões.
Máquinas extraordinárias como elevadores, por exemplo, foram aceitas por Yarima como exemplos de magia branca - o
antropólogo escreveu em seu livro de memórias

Tópico 5:
Em 1986, quatro anos depois do casamento de Kenneth e Yarima(oito anos após o início do noivado), os dois tiveram
de deixar a floresta. Kenneth não conseguiu renovar sua bolsa para continuar suas pesquisas na Amazônia, endividou-se
e caiu em depressão. Em 17 de outubro de 1986, o casal pega um voo para Nova York, esse que seria o local de nasci-
mento de David, que veio a nascer nove dias mais tarde, sendo o primeiro filho do casal. A irmã de David(Vanessa),
nasceu um ano depois em uma folha de bananeira na Amazônia e por fim 3 anos depois, Daniel(terceiro filho do casal),
nasceu. David, conta que nunca teve momentos ruins com sua mãe e que sempre faziam coisas juntos, como ir em mon-
tanhas-russas e comer donuts, coisas típicas de um norte-americano. Apesar de relatar ter uma boa vida,Yarima não gos-
tava muito de Nova Jersey, pois era muito diferente do tipo de comunidade a qual ela conviveu a vida toda, sem quase
nenhum contato humano íntimo e ninguém além de seu marido que pudesse se comunicar com ela em sua língua nativa,
o que a deixava com um sentimento de isolamento e solidão, sem falar que não havia maneiras de se comunicar com
sua família da Amazônia. Kenneth Good coescreveu um livro relatando suas experiências e o casal foi até tema de re-
portagens em revistas e jornais. Em 1992, um filme foi feito pela National Geographic Society que documentou a pri-
meira visita da família à floresta depois de quatro anos. O filme captura bons momentos mas também possui um relato
de Yarima sobre como é viver nos Estados Unidos.

"Moro em um lugar onde não saio para catar madeira ou caçar. As mulheres não me chamam para ir matar peixe", ela
explica em sua língua nativa. "Não é como na floresta. As pessoas são separadas e sozinhas. Deve ser porque eles não
gostam da mãe deles".

Alguns meses após isso tudo, Yarima decide retornar e ficar na Amazonia.

O pai de David foi até lá para buscar o caçula, mas quando ele voltou para os Estados Unidos sem sua mãe, David sabia
que ela nunca mais voltaria.

Tópico 6:
David era um típico americano, jogava baseball e trabalhava como entregador de jornais. Ele pedia para caso alguém
perguntassem seu pai ele dissesse que o filho era de origem hispânica, e não ianomâmi
Ele era um bom aluno, mas intimamente as coisas iam mal. Ele começou desenvolver ódio pela sua mãe que o havia
abandonado, mas pensava nela quase todos os dias
Ele começou beber, terminou com a namorada e abandonou a escola
Quando tinha 21 anos ele viu um filme do qual ele participou quando tinha 5 anos. Ao ver o rosto da sua mãe e ouvir
sua voz, ele começou a chorar.
Ele começou compreender por que ela havia partido e o que ela tinha enfrentado nos EUA. ‖Ela não teria sobrevivido,
não teria sido capaz de ser uma mãe Ianomâmi, de me ensinar a cultura Ianomâmi‖, disse David.
Com 22 anos David sentiu que precisava se reconectar com sua porção Ianomâmi
Em 2009, seu pai o ajudou a entrar em contato com a antropóloga venezuelana Hortensia Caballero. Ela havia conheci-
do ele quando era bebê e conhecia Yarima. Mas Caballero só conseguiu fazer contato com Yarima em 2011.
Agora, a indígena vivia na comunidade Irokaiteri.
Caballero queria ter certeza de que a aldeia estava para receber David.
Enquanto as pessoas se reuniram na aldeia que estavam construindo e todos falaram, especialmente os líderes, então Ca-
ballero aproveitou para perguntar Yarima se ela queria ver o David. Yarima disse que queria muito ter ele.
Então a tribo escreveu uma carta convidando David, para que ele pudesse obter um visto de entrada na área protegida.
O pai de David ajudou financiar a viagem e foi com o filho buscar os presentes que ele levaria para a tribo
Então eles partiram em direção a Amazônia, em julho de 2011.

Tópico 7:
Depois de três horas de espera, em alvoroço, Yarima chegou a Hasupuweteri. Ela tinha corrido o caminho inteiro.
Baixa, com 40 e poucos anos de idade e cheia de vigor, ela carregava uma cesta com as raízes que tinha colhido na flo-
resta. Jogou tudo no chão, enquanto tentava recobrar o fôlego. A aldeia caiu em um silêncio eletrizante.
Duas décadas haviam se passado, mas David reconheceu sua mãe.
"Eu soube que era ela, imediatamente", ele disse. "Me levantei e me aproximei. E de repente me perguntei: 'E agora, o
que faço?' Queria segurá-la, abraçá-la, mas não é assim que os Ianomâmi saúdam as pessoas."

"Então foi só esse encontro desajeitado, coloquei minha mão no ombro dela e ela começou a tremer e a chorar. Olhei
nos olhos dela e também não conseguia parar de chorar".

"Havia um silêncio", disse Caballero, que tinha acompanhado David na viagem. "O que eu lembro é do silêncio. Foi
muito bonito, um momento muito intenso. Claro que todas as mulheres da aldeia, e eu, tínhamos lágrimas caindo pelo
rosto".
David começou a falar com suavidade, em inglês. Ele dizia "Estou aqui, finalmente. Estou de volta. Faz tanto tempo."

De repente, as lembranças dos anos passados com a mãe na infância comaçaram a voltar num turbilhão.David não per-
guntou à mãe por que ela tinha partido. Yarima perguntou se todos estavam vivos, e se estavam bem, mas os dois não
falaram do passado.

Em outro momento de emoção intensa, o tio de David, que era líder dos Hasupuweteri no período em que o pai de Da-
vid vivera na comunidade, deu ao sobrinho um nome Ianomâmi. O nome, Anyopo-weh, pode ser traduzido como "um
caminho à volta de um obstàculo".

Depois do encontro com o tio, Yarima queria que David se casasse com duas indígenas para consumar sua permanência
na aldeia, já que fora muito bem aceito lá inicialmente. Mas não era isso que o garoto queria, ele apenas queria saber o
que seu pai havia vivido entre os anos de 1970 a 80. Com isso descobriu que seu pai e ele eram fontes de divertimento
para a tribo, já que consideravam burros aqueles que não possuíam suas habilidades linguísticas e de sobrevivência, eles
achavam muito engraçado quando David e Kenneth se atrapalhavam, seja tropeçando por aí ou escorregando.

Em uma visita à missão situada rio abaixo, David conectou a mãe e o pai por Skype.
"Você continua jovem e bonita", disse Kenneth Good a Yarima. "Você parece velho!", ela respondeu.
Os ianomâmi não perdem cabelo com a idade, então Yarima ficou perturbada com a calvície de Kenneth. Ele teve de
correr e pegar um boné para que a conversa pudesse continuar.

David observou enquanto seu pai fazia sua mãe rir.


"Pareciam tão à vontade juntos", disse. "Ficou claro que minha mãe não queria falar do passado. Ela contou para meu
pai que eu estava casado, que eu tinha duas esposas. E disse a ele que ia me pegar de volta, que eu ia ficar lá. E pediu a
ele que me dissesse para não deixar minhas esposas".

Apesar de estar perto de sua mãe, David ficava indo e vindo no território da Amazônia, e Yarima não entendia o porque,
mas David tinha um bom motivo, criar uma organização que ajudassse os Ianomâmi a encontrar seu lugar na economia
de mercado e sua identidade, querendo conectar a tribo ao mundo exterior do ponto de vista de alguém que pertence a
ela.

"Não sou antropólogo, não sou político, não sou missionário. Sou um irmão e sou um filho."

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