Você está na página 1de 9

Teoria Literária noite

1. Com base no trecho “O fato de haver personagens que refletem


aspectos do ser humano não significa que você concorde com
eles”. Paul Schrader disse sobre Taxi Driver: “Só porque faço o
retrato de um criminoso não sou um”. Ou seja: os filmes
representam ficções e o que acontece neles não é real. No
entanto, eventos imaginários que ocorrem na ficção são julgados
pelo sistema de valores do mundo real”, podemos pensar sobre o
conceito de formatividade (leis autônomas) pensado por Umberto
Eco no que diz respeito à construção do mundo ficcional e a
relação que possui com o mundo eceitmpírico (mundo real, nosso
mundo). Comente sobre discorrendo sobre o que seria a teoria da
formatividade e a construção da literatura por meio de leis
autônomas.

Umberto Eco não desenvolveu uma teoria estética em sentido amplo, mas tratou de
assuntos estéticos ao longo de toda sua obra. A partir da visão de Luigi Pareyson
sobre a concepção da estética da formatividade, a concepção de arte como visão
passou a ser relacionada ao conceito de “forma”, no qual significa “organismo,
fisicidade formada, dotada de vida autônoma, harmonicamente dimensionada e
regida por leis próprias; e também a um conceito de expressão, onde opõe o de
produção, ação formante”. Para Eco a arte está relacionada ao conceito de
formatividade (produção de formas) diferentemente de outras atividades humanas,
como por exemplo, a artística apresenta uma tendência autônoma que se estrutura
não só a partir de sentimentos, pensamentos, realidades físicas, mas a partir
também de suas leis próprias, acaba criando um novo espaço, um novo sentido.

Levando em consideração o texto que foi passado acima e o trecho que foi retirado
dele, podemos fazer uma correlação com o pensamento de Eco, pois para ele o
significado da arte é diferente no mundo real e no mundo artístico. No trecho, Paul
Schrader disse “O fato de haver personagens que refletem aspectos do ser humano
não significa que você concorde com eles.” e que de fato faz muito sentido pois os
espectadores acabam criando um vínculo sentimental, seja ele qual for, com a
história e acabam pegando as dores do personagem para si. Se eles são pessoas
más que fazem coisas ruins a outras pessoas, consequentemente as pessoas que
estão assistindo ao filme vão vincular essas características ao ator que fez o filme
pois não conseguem não associar o fato de que ali ele é um personagem, que não
necessariamente concorda e toma aquelas atitudes. Ainda mais quando a violência
contra a mulher é um assunto que de uns anos pra cá tem se tornado cada vez mais
falado e debatido na sociedade, já se foi tempos em que atos contra a mulher
passam impune.
De fato as pessoas deveriam ter essa consciência de que o personagem não é a
mesma pessoa que o ator, que ele esta ali pra interpretar um papel, um
personagem, uma vida que não é a dele, não é com os valores que ele concorda,
segue e apoia. Eco já dizia isso antes que a arte esta relacionada ao conceito da
formatividade que não são as mesmas atividades humanas. A arte tem sua própria
realidade.

2. “Mas a reestreia e nova montagem de Irreversível chega em um momento


em que o público e a crítica têm uma nova sensibilidade em relação à
violência exercida contra as mulheres, tanto dentro como fora da tela”.

“A arte constitui um fato comunicativo que necessita ser interpretado, e


portanto integrado, completado por uma contribuição de quem a frui” (ECO,
p.49)

Relacione o trecho do texto do Elpais com o comentário de Eco sobre o papel


do leitor no processo literário. Seu texto precisa tratar:

Irresistível foi um filme bastante polêmico por conter uma cena de estupro longa e
muito cruel de se ver, além de agressão fisica. Um texto literário pode ser
interpretado de diversas formas, e o filme é um exemplo disso. Quando há a
reestreia e nova montagem do filme irresistível, o público estava em outro momento
onde esse assunto sobre agressão contra a mulher é muito abordado na maior parte
da nossa sociedade. O público tem um olhar muito mais preocupado e sensível a
esse tipo de assunto pois atualmente não é algo que se passa mais batido, impune,
é considerado um crime em muitos países.

Estamos inseridos em uma sociedade que está levando cada vez mais a agressão
contra a mulher e o feminicídio a sério. Mesmo que seja uma história ficcional,
assistir cenas brutas e injustas contra uma mulher não é algo que seja fácil de ver,
certamente vai causar um desconforto, revolta, incômodo.

a) Das diferentes formas de interpretação do texto literário.

b) A relação dessas interpretações com o contexto em que o leitor se encontra.

3. Leia os trechos:
“Um livro não é, de maneira alguma, moral ou imoral.

Os livros são bem ou mal escritos.

Isso é tudo.”

Oscar Wilde

“A literatura não reconhece nenhuma lei, nenhuma norma, nenhum valor.

A literatura, como o demoníaco, só se define negativamente, pronunciando

uma ou outra vez seu “non serviam”. Tratando, desde sempre, da condição
humana,

e da ação humana, oferece tanto o belo quanto o monstruoso,

tanto o justo quanto o injusto, tanto o virtuoso quanto o perverso.

E não se submete, ao menos em princípio, a nenhuma serventia.

Nem ao menos moral. A experiência da literatura =

Podemos afirmar que Platão, no livro III da República, concorda com o


pensamento dos dois autores acima? Comente.

Acredito que os pensamentos dos autores acima não concordam com o


pensamento de Platão pois ele acreditava numa matéria perfeita da poesia, fábulas
e mitos. Os deuses e heróis deveriam se comportar e agir virtuosamente para que
não influenciassem a juventude para os mesmos atos maus. Nos trechos acima é
citado coisas ruins, entretanto que são verdadeiras, mas que de certo modo poderia
influenciar as pessoas a seguirem pelo mesmo raciocínio.

4. Umas das definições da palavra “dom” é: “Graça que se recebe de um santo


ou entidade espiritual”. Como essa definição se liga à crítica feita por Platão
no diálogo Íon e o conceito de entusiasmo? Discorra também sobre os
motivos de Platão tirar a razão do fazer poético. Lembre-se do contexto em
que esse diálogo foi escrito.

Para Platão a poesia era entendida como intervenção divina, uma das principais
características era a aproximação entre o filósofo e o poeta. Quando Platão fala
sobre o encontro da poesia e a filosofia, ele fala que o entusiasmo neutraliza a
participação efetiva no processo de criação do poeta pois acaba interferindo no que
é realmente importante.
5.

Conto de fadas para mulheres do século XXI

Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa, independente e
cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em
como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as
conformidades ecológicas, se deparou com uma rã.

Então, a rã pulou para o seu colo e disse:

- Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Uma bruxa má lançou-me


um encanto e eu me transformei nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto,
há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e
constituir lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar
conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas,
criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre...

Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de


um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa
sorria e pensava: Nem Fudendo !

(Luís Fernando Veríssimo)

Com base no conto lido e nas marcas do gênero narrativo, desenvolva um


texto dissertativo que contemple as seguintes questões:
a) Elementos da narrativa desenvolvidos no texto;

b) Efeito da intertextualidade realizada no conto.

O conto é caracterizado por um enredo que parece ser bem tradicional por causa
da forma que a história se inicia, com um narrador observador que constrói
uma narrativa baseada na história dessa mesma princesa que vive em um
reino muito muito distante e apenas com dois personagens em cena, a
princesa e o sapo. Logo de início temos a impressão de que essa será mais
uma história tradicional de conto de fadas onde a princesa acaba esbarrando
com um sapo que na verdade é seu príncipe encantado, mas temos uma
grande surpresa quando, depois do sapo falar inúmeros motivos pelos quais
ela deveria beijá-lo e depois se casar com ele. A surpresa vem quando a
princesa retruca como se todos os motivos que ele tinha dado eram
realmente bons e vantajosos a ela, e não extremamente machistas e
antiquados.

Podemos perceber o efeito de intertextualidade no conto representado pela


paródia pois peverte totalmente a ideia do texto original pois mostra a
princesa como uma mulher independente, livre e segura de suas escolhas, e
não como uma mulher que é dependente e necessita de um homem para ser
feliz.

6. Leia o conto No seu pescoço, de Chimamanda Adichie. Você encontra o


livro de contos no site
https://tonaniblog.files.wordpress.com/2018/08/no-seu-pescoc3a7o.pdf

Leia apenas o conto intitulado No seu pescoço, que começa na página 129.
Depois responda:

a) Quem narra a estória? Fale sobre a construção do narrador e os efeitos


que traz para o conto. Retire trechos que demonstrem esse tipo de
narrador.
Quem narra a história é um narrador observador como se fosse nós mesmos
participando e vendo todos os fatos devido ao fato de ser narrado em 2ª pessoa.
O narrador na história é muito importante pois é ele quem narra e mostra e
explica os fatos que vão acontecendo no decorrer dela. Especificamente nesse
conto o narrador nos permite estar dentro da história como se nós mesmos
estivéssemos observando cada acontecimento com os nossos próprios olhos,
sentindo as dores de Akunna com sua mudança da Nigéria para os Estados
Unidos e sentindo o choque cultural indo morar em uma cidade totalmente
habitada por brancos.

“Seu tio lhe mostrou como se candidatar a uma vaga de operadora de caixa no
posto de gasolina da rua principal e matriculou você numa faculdade
comunitária, onde as garotas tinham coxas grossas, usavam esmalte vermelho
vivo e bronzeador artificial que as deixava com a pele laranaja” (página 126)

“Ninguém sabia aonde você estava, pois você não contou. Às vezes, você se sentia
invisível e tentava atravessar a parede entre seu quarto e o corredor e , quando
batia na parede, ficava com marcas roxas nos braços.” (página 129)

b) Quais são os espaços apresentados? Esses espaços são tópicos ou


atópicos? Lembre que depende da perspectiva de quem está falando que
poderemos pensar nesses tipos de espaços, para uma personagem pode
ser tópico e o mesmo espaço atópico para outra.

Os espaços apresentados é a sua terra natal na Nigéria e os Estados Unidos que é


o local para onde ela vai tentar uma vida. Acredito que para o leitor os espaços
são tópicos e para os personagens atópico.

c) O enredo trata sobre o quê? Quais são os elementos culturais, sociais,


políticos e econômicos apresentados no conto que revelam crítica a
elementos similares em nosso mundo empírico?

O enredo fala sobre a história de uma menina que morava na Nigéria e vai para a
casa de seus tios nos Estados Unidos tentar fazer uma faculdade e conseguir
um emprego. Os elementos apresentados no conto que revelam crítica a
elementos similares são as cenas de preconceito citadas no texto. Desde o início
ela é julgada como uma garota que vem da África e por isso não deve conhecer
muito o que os Estados Unidos pode oferece-la. Em diversos momentos vimos
esses acontecimentos, mas principalmente no momento em que ela conhece as
garotas da universidade de sua cidade e que ficam fazendo perguntas absurdas
sobre seu estilo de vida no país em que morava e seus cabelos.
d) Quais são as personagens principais e seus conflitos no conto?

Os personagens principais do conto são compostos pela Akunna, pelo seu tio que
não tem o nome citado, pelo gerente Juan e pelo homem que ela se relaciona
que também não tem o nome citado. Akunna sai da Nigéria para os Estados
Unidos em busca de uma vida melhor e com mais oportunidades, onde ela ia
conseguir trabalhar de operadora de caixa no posto de gasolina e fazer uma
faculdade comunitária. Entretanto, ao chegar na casa de seus tios onde iria
morar, ela sofreu um assédio e quase foi abusada pelo seu próprio tio e resolveu
sair da casa deles e tentar a vida em outra cidade. Quando chegou lá conseguiu
um emprego em um restaurante em Connecticut e começou a trabalhar como
garçonete, e no mesmo restaurante foi onde conheceu o homem que passou a
se relacionar. Algumas questões como o fato dele ser branco e ela negra fizeram
ela a se questionar de algumas coisas, e também o fato dele ter uma condição
financeira melhor do que a dele. No final da história, depois de muito pensar em
mandar uma carta para sua família e contar como estavam as coisas pois não
estavam acontecendo como deveriam, ela finalmente enviou e recebeu a
resposta de que seu pai havia falecido.

e) “Nos Estados Unidos, é dando que se recebe”. Essa frase do narrador


remete a um fato ocorrido no conto muito comum na sociedade americana,
na brasileira e em muitas outras pelo mundo. Qual? Essa frase também
pode ser interpretada com base em uma crítica ao sistema econômico do
país. Comente e explique essa afirmação.

Remete ao fato de que muitas pessoas migram para outros países em busca de
uma vida melhor e muitas vezes abrem mão de muitas coisas para estar
morando ali. Independente de ser algo que te deixa confortável ou não, as
pessoas sempre vão tentar se adaptar à nova realidade e a agradar quem está
ao seu redor. É dando que se recebe porque por mais que você se doe e tente
se adaptar a uma realidade totalmente diferente da sua, você será
recompensado por isso em algum momento. Você pode trabalhar muito, mas vai
receber para ter um salário para se sustentar.

f) Como o narrador descreve as diferenças entre a terra natal da personagem


principal e o lugar estrangeiro onde ela vai morar pela perspectiva dela?

O narrador vai descrevendo as diferenças entre a terra natal da personagem


principal e o lugar que ela foi morar no decorrer do texto. Para ela e sua família
as pessoas que moravam nos Estados Unidos possuíam carros e armas. As
garotas da cidade em que seu tio morava, que por sinal só havia gente branca
morando habitando, usavam esmalte vermelho vivo e um bronzeador artificial
que as deixavam laranja, e as mesmas faziam perguntas a ela como se ela fosse
uma atração. Perguntavam como ela havia aprendido inglês, se havia casas de
verdade no lugar em que ela morava, se ela já tinha visto um carro antes de ir
para os Estados Unidos, perguntavam sobre seu cabelo. As pessoas da
vizinhança de seu tio acharam que ele e sua família comeram os esquilos que
estavam sumindo pela região. Já em sua cidade natal a vida era muito mais
simples. Suas tias vendiam peixe seco e banana da terra nas ruas, seus tios
faziam a família toda morar em uma casa de um cômodo só. É bastante
perceptível as diferenças entre as duas culturas, onde uma é muito mais simples
e a outra não.

g) “Muitas pessoas no restaurante perguntavam quando você tinha chegado


da Jamaica, pois achavam que qualquer negro com sotaque estrangeiro
era jamaicano” (p.134). Mario Vargas Llosa, no texto que lemos em sala
“Sobre a literatura”, fala sobre como a literatura nos afasta da xenofobia.
Como esse conto de Chimamanda pode ser visto como exemplo dessa
afirmação? O que revela ao leitor?

A literatura nos afasta da xenofobia pois com ela nós temos a oportunidade de
aprender e conhecer outras culturas que não temos contato. Com ela somos
capazes de quebrar esse preconceito enrustido que temos por conta das
tradições que implantaram nas nossas cabeças que são vindas a seculos.

h) Como é a relação da personagem feminina com os homens que surgem em


sua vida? Retire trechos para desenvolver sua resposta.

A relação de Akanna com os homens que surgiram na sua vida era um pouco
distante e fria pois ela não confiava neles de início por já ter passado por
algumas situações que a fizeram duvidar da índole deles.

“Até que seu tio entrou no porão apertado que você dormia ao lado de caixas e
embalagens velhas e puxou-a com força para perto delem apertando sua bunda,
soltando gemidos. Ele não era seu tio de verdade; na verdade ele era irmão do
marido da irmã de seu pai, não parente de sangue. Depois que você empurrou
para longe, ele se sentou na sua cama - a casa era dele afinal de contas - sorriu
e disse que não era mais criança, já tinha vinte e dois anos. Se você deixasse
ele faria muitas coisas por você. As mulheres faziam isso o tempo todo” (página
127)

“Por isso, quando ele lhe perguntou, na meia luz do restaurante, depois de você
listar os especiais do dia, de que país africano viera, voce disse Nigéria e esperou
que ele dissesse que tinha doado dinheiro para a luta contra a aids o Botsuna. Mas
ele perguntou se você era iorubá ou igbo, pois não tinha cara de fulani. Você ficou
surpresa - achou que ele deveria ser professor de antropologia na universidade
estadual. “ (página 130)

i) Qual sua interpretação para a escolha de Chimamanda de não


mencionar o nome da jovem no conto? Qual efeito essa escolha pode gerar
no texto?

Na minha opinião Chimamanda não quis mencionar o nome da jovem no conto para
termos uma interpretação do conto como se fosse nós mesmos vivenciando tudo
o que foi descrito. O efeito que essa escolha pode gerar para o texto é direcionar
o conto totalmente ao leitor, como se ele mesmo tivesse vivendo todos os
acontecimentos expostos.

Você também pode gostar