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A INCLUSÃO MAÇÔNICA NO MUNDO

Diego Denardi, M∴ M∴ – Or∴ de Santiago

Em diversas jurisdições Maçónicas ao redor do mundo, a lista de 25 Landmarks de


Albert G. Mackey é respeitada como algo intocável, afinal, a sua vigésima quinta
regra assim determina, que os outros 24 Landmarks são imutáveis. O décimo oitavo
traz na sua redacção o impedimento de mulheres, escravos e aleijados serem
iniciados, o que já rendeu rios de tinta sobre o tema. Quanto à iniciação de
mulheres, não é o objectivo deste estudo, mas pode-se afirmar que não é
dependente deste Landmark a sua não aceitação. Falemos sobre inclusão.

A iniciação feminina é proibida na Maçonaria regular pelos Oito Pontos de


Regularidade da Grande Loja Unida da Inglaterra, que exige a entrada somente de
homens, de maior idade e reputação ilibada. Em relação aos escravos, a regra já
não tem cabimento no mundo moderno, se é que já teve algum fundamento,
conhecendo-se a história das Lojas Prince Hall, dos Estados Unidos da América
(que paradoxalmente, adoptam ainda os 25 Landmarks). Mackey era contra a
iniciação de deficientes físicos, adoptando a Doutrina do Homem Perfeito, pois
apenas um homem com perfeita compleição física podia apresentar-se para a
construção do tempo Maçónico. Um aleijado, nas suas palavras, não podia ser
feito Maçom.

As listas de Landmarks são muito variadas, cada Grande Loja ou Oriente adoptando
as que acha mais interessantes para a sua realidade. A Grande Loja Unida da
Inglaterra, de onde surgiram as primeiras leis e jurisprudências Maçónicas diz,
no seu Livro das Constituições que os Landmarks são imutáveis, mas, observe-se,
nunca definiu quais eram. Na maioria das listas de Landmarks encontramos somente
a prescrição de que o iniciado seja homem, de idade madura e boa reputação.

Neste estudo tenta-se demonstrar que, dentro da Maçonaria regular, felizmente, a


regra de exclusão de deficientes físicos, actualmente em voga na América Latina
e outras jurisdições, não é nem de longe universal: a Grande Loja Unida da
Inglaterra, a Grande Loja do Maine e a Grande Loja Regular da Bélgica, para
citar apenas três, não apresentam restrições à Iniciação de profanos com
deficiências físicas. Observe-se o que traz a página da internet da Grande Loja
Regular da Bélgica:

Pessoas com deficiências podem tornar-se maçons?

Sim, podem, desde que a sua deficiência não os previna de participar das
reuniões, pois de outro modo a Maçonaria não seria, de forma alguma, de valia
para elas.

Se alguém se torna deficiente após adquirir a qualidade de Maçom, mantem-se


Maçom e os irmãos encontram um meio de manter o relacionamento.

Também a página da Grande Loja do Maine, nos Estados Unidos da América informa
na secção de perguntas mais frequentes:

Como é que um homem se torna um Maçom?

Eu tenho uma deficiência física. Posso ser um Maçom?

A resposta é quase que certamente sim, desde que possa participar da Loja e
preencha os outros critérios na questão (1) desta secção (ser homem, pelo menos
18 anos de idade, ter uma crença em Deus e ser de bom carácter). Paraplégicos
têm-se tornado maçons, assim como cegos, surdos e outros com várias
deficiências. Pequenas modificações devem ser feitas nos rituais (por exemplo:
empregar linguagem de sinais, modificando pontos em que o candidato fica em pé
se é usuário de cadeira de rodas), mas a maioria das lojas têm condições de
acomodar os candidatos. Nos tempos medievais, o requerimento de possuir um corpo
fisicamente perfeito era sério, uma vez que o trabalho de pedreiro era
fisicamente difícil. Algumas Grandes Lojas trouxeram tal requerimento para a
Maçonaria simbólica (isto é, não-operativa). Contudo, em tempos mais modernos,
isso tem sido eliminado.

P. Roberts, assessor de Relações Internacionais da Grande Loja Unida da


Inglaterra (UGLE) esclarece em correspondência destinada a esclarecer sobre as
práticas britânicas:

Confirmo que não temos restrições a (iniciar) candidatos cegos ou restritos a


cadeiras de rodas. Na minha própria Loja tínhamos um irmão cego e actualmente
temos um surdo.

R. L. D. Cooper, curador da Grande Loja da Escócia responde através de


correspondência electrónica:

Sim, nós temos os três Rituais em Braille. As únicas pessoas que não se podem
tornar maçons são surdos-mudos – que não podem ouvir e falar e assim não
entenderiam o ritual. Nós temos uma Loja que é destinada principalmente para
pessoas em cadeira de rodas. Outras pessoas com deficiências são tratadas caso a
caso.

Pesquisando sobre casos actuais, encontram-se os seguintes relatos no “Masonic


Forum of Light”, em tópico inquirindo sobre a existência de maçons cegos:

Postagem original: Existem maçons cegos?


Temple, Birmingham

É claro que existem maçons cegos como você já ouviu falar. Há maçons com todo o
tipo de deficiências que se possa imaginar. O ritual é adaptado para eles quando
há necessidade. Eu estava presente, como convidado, quando uma pessoa cega foi
iniciada em Loja. Ele foi vendado, não para preveni-lo de ver, mas como parte do
ritual… Foi-lhe dada a luz espiritual ou a luz do conhecimento. A Luz Maçónica.
A venda enfatizou isso para ele.

George, Haslingfield, Nr Cambridge, Inglaterra

Nós tivemos um homem cego iniciado, elevado e exaltado no meu Distrito Maçónico
num loja vizinha. Acompanhava-o o seu cão guia. Quando ele se ajoelhou no altar
para o seu juramento o seu cão deitou-se ao seu lado. Quando foi conduzido pela
loja, o seu cão acompanhou-o. Foi exaltado e o seu cão estava ao seu lado e na
conclusão do mestrado a Loja apresentou ao cão um avental de Mestre Maçom que
ele usava orgulhosamente. Ver um Mestre Maçom recém exaltado e o seu cão, ambos
adornados com aventais Maçónicos provocou lágrimas de emoção.

Bentley, 2005
Mackey foi superado há muitos e muitos anos na maioria das Grandes Lojas, a sua
Doutrina do “Homem Perfeito” é muito rara hoje nos Estados Unidos. Na minha
própria loja (Indiana), nós temos uma Loja Especial de Mestres Instalados que
foi treinada para prestar assistência aos deficientes durante os Rituais. Como
nós somos ensinados que são as Qualidades Internas, e não as Externas, que
tornam um homem elegível a ser Maçom, há poucas deficiências físicas que não
podem ser superadas.

Indiana, 25 de Dezembro de 2012

Temos em seguida no mesmo tópico o relato do irmão Peter L., Secretário da Loja
Tower of Lebanon, nº 169, Belfast, Grande Loja da Irlanda:

Actualmente sou registrado como cego tendo sido assim desde o nascimento.
Recentemente a minha visão deteriorou-se tremendamente, mas isto não me impede
de ser o Secretário da Loja. Actualmente sou “Excelent King” no Arco Real. A
Loja / Capítulo fez pequenos ajustes para mim, mas nós revolucionámos as Actas…
Eu faço a Acta no computador, copio e distribuo com as circulares e em Loja,
decorre assim:

VM: Irmão Secretário, a acta, por favor.

EU: o rascunho da acta foi enviado com a circular e não houve emendas desde
então.

VM: Está aprovada a acta.

John Hamill, descreve na revista Freemasonry Today, que traduzimos:

Uma das reuniões mais memoráveis que participei foi um Terceiro Grau
(exaltação); o candidato estava numa cadeira de rodas. Podia-se sentir a
atmosfera de boa vontade na Loja com os Oficiais concentrando-se no conforto do
candidato e os integrantes das fileiras laterais desejando em silêncio que os
Oficiais fizessem um bom trabalho para o candidato. Era a Maçonaria no seu
melhor.

Exemplos vários de casos reais de maçons iniciados em diversos locais do mundo,


na Maçonaria regular, pelos critérios da Grande Loja Unida da Inglaterra e do
Grande Oriente do Brasil. A falta de informação talvez seja um dos maiores
entraves nesta questão. Deve-se ter bases para a solução do problema, as
premissas, que devem ser reais e não fantasiosas, e uma das principais premissas
que devem nortear este assunto é de que a Maçonaria regular mundial permite a
iniciação de pessoas com deficiências.

Além disso, a iniciação de pessoas com deficiências não torna uma potência
irregular. Somente através da pesquisa, estudo e conhecimento, chegaremos por
fim ao resultado final que certamente será o fim do preconceito e a permissão às
Lojas de poderem elas próprias decidirem quem é elegível para a iniciação na
Maçonaria. Aliás, acreditamos que isto já seja possível, legalmente, no Grande
Oriente do Brasil, de acordo com a sua constituição e regulamento, mas este é
assunto para um futuro artigo.

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