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A MAÇONARIA VEM PRIMEIRO

Thomas W. Jackson

Nos últimos anos, tornei-me mais estudante da Maçonaria do que era no passado e,
embora ainda hesite em me considerar um erudito maçónico, há aqueles que tendem
a colocar-me nesta categoria. Se eu me tornei um estudante ou um estudioso da
Ordem não é tão significativo quanto é o meu reconhecimento da grande escassez
de estudantes e estudiosos maçónicos na Maçonaria actual em comparação com o
passado. Duvido que alguém negue que um dos maiores problemas que a Maçonaria
enfrenta hoje é a falta de conhecimento do que ela realmente é, e isto inclui
tanto o Maçom quanto o não-Maçom. Simplesmente temos uma percentagem muito
grande dos nossos membros, relutantes em fazer um esforço para compreender a
verdadeira filosofia e significado da nossa Fraternidade.

Conta-se a história de um velho médico francês que dedicou a sua vida aos
pacientes, dando muito de si mesmo e exigindo pouco em troca. Se eles não podiam
pagar, ele não cobrava. Quando se aproximou o dia em que o velho médico já não
podia continuar na sua profissão, os seus pacientes quiseram dar algo ao velho
em troca da devoção e das contribuições altruístas que ele deu às suas vidas. No
entanto, eles eram pobres demais para dar ao velho médico o tipo de
reconhecimento que achavam que ele merecia. Cada um, porém, produzia vinho para
seu próprio uso. Eles decidiram que cada um contribuiria com uma jarra de vinho
e presenteariam o médico com um barril de vinho de onde ele poderia beber
enquanto relaxava após se ter aposentado.

Quando chegou o dia inevitável e terminaram os discursos de reconhecimento e


gratidão, o velho médico aceitou o vinho daqueles a quem servia há tanto tempo e
tão bem e voltou para sua casa. Ele agarrou numa taça de vinho e sentou-se numa
cadeira para relaxar. Quando provou o vinho, contudo, o gosto era de água.
Pensando que algo devia estar errado, encheu um segundo copo, mas também tinha
gosto de água e, infelizmente, a verdade foi revelada.

Cada um dos seus pacientes achava que tinha muito pouco para seu próprio uso e
que não tinha dinheiro para contribuir para o médico. Cada um deles raciocinou
que, como tantos outros estavam a dar, a sua pequena contribuição não faria
falta.

É triste, mas verdadeiro, que esta analogia também possa ser aplicada à nossa
Fraternidade, hoje. Muitos acham que a sua pequena contribuição não fará falta
e, como resultado, a Maçonaria, como o velho médico, que significou tanto para
tantos, experimenta a decepção.

Quanto mais familiarizado estou com esta organização, mais impressionado fico
com a magnitude do impacto que ela causou no mundo como o conhecemos hoje. Não
pode haver dúvida de que sem a Maçonaria o mundo civilizado, na sua forma
actual, provavelmente não existiria. Mas, tendemos a tornar-nos uma Fraternidade
passiva à medida que o não envolvimento se torna mais uma parte das nossas
vidas. Cada um de nós provavelmente se orgulha de ser capaz de apontar tantos
grandes homens que fizeram parte da Maçonaria, mas esta tendência de apontar os
grandes homens levou-nos a ignorar a grandeza da Ordem. É a grandeza da Ordem
com as suas filosofias e preceitos que atraiu os grandes homens para começar, e
que fez do mundo o que é hoje. A Maçonaria vem primeiro; a adesão é secundária.
Sem a grandeza da Ordem, a sua composição teria sido irrelevante. No entanto, ao
mesmo tempo, foi a contribuição dos membros que fez a filosofia da Ordem
funcionar.

Jamais devemos deixar de nos orgulhar do nosso passado; mas não podemos dar-nos
ao luxo de insistir nisso, se nos faz perder de vista o presente. Cada
contribuição, por menor que seja, é uma contribuição para a perpetuação de um
ideal – talvez o maior ideal – que a mente do homem concebeu. Numa época que
continua a ver os maiores conflitos do mundo ocorrendo em nome de Deus e da
religião, a filosofia da tolerância ainda é tão desesperadamente necessária
quanto no passado. Não encontramos nenhuma organização hoje que defenda uma
filosofia semelhante. Podemos continuar a expressar os nossos adoráveis chavões
e não dar nenhuma contribuição; ou podemos ser o que dizemos que somos e
praticar o que pregamos.

Não pode haver dúvida, porém, de que se continuarmos a não saber o que somos,
continuaremos a deixar de ser o que éramos. Provavelmente, o maior desafio
enfrentado pela liderança maçónica hoje é a educação dos membros sobre o
verdadeiro significado da Maçonaria. A Pensilvânia tem sido extremamente
afortunada no campo da educação maçónica. Tivemos, e continuamos a ter, um dos
maiores programas de educação maçónica em operação em qualquer Grande Loja do
mundo. Mas, como já foi dito muitas vezes, não se pode fazer 20.000 volts passar
por um não-condutor e, infelizmente, muitos dos nossos membros de hoje,
tornaram-se não-condutores por escolha própria. Se não entendemos a Ordem, como
podemos esperar que aqueles de fora nos entendam?

Se continuarmos a pensar que a nossa pequena contribuição não fará falta, então,
como o velho médico, uma organização que tem causado grande impacto neste mundo
por quase 300 anos durante a evolução da civilização, será como ele – condenada
a se decepcionar. Pensem nisto, meus Irmãos. A vossa contribuição, não importa
quão pequena, é significativa.

Tradução de António Jorge

Fonte: Publicado originalmente em “The Pennsylvania Freemason”, Fevereiro de


1996.

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