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A ALAVANCA

R. Antunes

A palavra Alavanca deriva da palavra latina levare, que corresponde ao início da


acção de levantar alguma coisa, mas que, do ponto de vista metafórico,
representa a força criadora do Homem.

Trata-se, com efeito, de um instrumento simples, formado por um corpo rígido,


geralmente uma barra, que se apoia e pode girar em torno de um qualquer ponto
fixo, dando-se a este ponto o nome de fulcro.

Curiosamente, a alavanca tem como princípio básico a possibilidade de se poder


mover grandes cargas por meio de pequenas forças, sendo um dos apetrechos mais
importantes e também mais antigos.

Consta que a Alavanca foi inventada por Arquimedes, matemático e inventor grego,
nascido na cidade de Siracusa, na Ilha da Sicília. Em jovem, Arquimedes estudou
em Alexandria, tendo-se destacado principalmente como inventor e matemático.

Presentemente, o princípio da Alavanca é aplicado em diferentes tipos de


balanças, manivelas, tornos e engrenagens. Quando olhamos para uma tesoura ou um
carrinho de jardim, não imaginamos que estes objectos simples do quotidiano
possam basear-se também no princípio da Alavanca.

No seio da Maçonaria, encontrei a Alavanca aquando da terceira viagem de


passagem a Companheiro. Nesta viagem, aquela que me traz precisamente aqui hoje,
encetámos o estudo da Natureza através da Ciência, nela tendo recebido dois
instrumentos: a Régua e a Alavanca. A Régua, que traça linhas directas, que
poderão ser prolongadas até ao infinito, é o emblema inflexível da lei moral no
que ela tem de imutável e rigoroso. Já a Alavanca representa a força do trabalho
e a força de vontade, que nascem de uma inteligência colocada ao serviço da
colectividade.

Voltando à simbologia, a Alavanca pode representar o desenvolvimento da nossa


inteligência e da nossa compreensão para regular e dominar a inércia da matéria,
levantando-a e movendo-a, para que ocupe o lugar que lhe está destinado na
construção do Templo.

Neste contexto metafórico, o Companheiro vai buscar esta força ao ensino


iniciático, que o ensinou a levantar os obstáculos, por mais difíceis e pesados
que possam parecer. Todavia, esta força é sustentada pela rectidão e justeza da
Régua. Podemos, desta forma, dizer que a força da Alavanca nunca será
devidamente equilibrada sem a régua, pois esta tem a função de controlar e medir
essa mesma força. Ambas as ferramentas da terceira viagem representam a Ciência
e são fruto da sua evolução mas, simultaneamente, contribuem para essa mesma
evolução.

Todavia, se a Ciência é uma das formas de conhecimento, ela é, indubitavelmente,


entre todas, a mais valorizada, e por isso privilegiada. Socialmente, a Ciência
impõe-se não tanto pelo que é, mas sobretudo pelo que faz e permite fazer, isto
é, ela é socialmente reconhecida pelas suas consequências, bem visíveis no
quotidiano do homem, permitindo-lhe agir eficazmente sobre as coisas,
controlá-las e dominá-las.
Podemos efectivamente considerar a Alavanca como sendo o símbolo por excelência
da inteligência humana, cujo ponto de apoio natural é o corpo físico sobre o
qual a Alavanca actua para que este produza todas as acções necessárias à vida.

Assim, o pensamento sem a vontade e a vontade sem o pensamento são igualmente


incapazes de gerar qualquer força. Para se ser eficaz, necessitamos de ser
iluminados por um ideal, ser orientados por motivos mais elevados, mais nobres e
desinteressados, a fim de que a cada um seja dado alcançar o que tem na mente e
no coração, transformando- se desta forma a cada dia um melhor homem.

Se na primeira e segunda viagem, podemos ver que o Maçon desbastou a pedra


bruta, criando a partir desta outras peças mais perfeitas e passíveis de se
unirem, na terceira viagem, com a acção da régua e da Alavanca, as pedras já se
podem unir, começando-se, assim, verdadeiramente a edificação do Templo. No
entanto, tal só será possível em união fraterna, pois nenhuma pedra singular
construirá, de forma alguma, um Templo plural. Reflectindo um pouco sobre a
Alavanca, ela mostra-nos que não há peso ou dificuldade alguma que não possa ser
removida. Deste modo, perante um problema, mediante a Alavanca, a solução
tornar-se-á mais fácil de encontrar. Se é um ponto que sustenta a Alavanca,
suportando todo o peso do obstáculo, podemos afirmar que esta é uma parte
extremamente importante desta ferramenta.

A presente reflexão leva-me a pensar que, na Maçonaria, cada irmão constitui um


“ponto de apoio”, e unidos representamos a Alavanca e a sua força. Assim,
torna-se necessário aprender a usar este poder que a Maçonaria propicia. Esta é,
sem dúvida, uma enorme responsabilidade, um legado que nos tem sido transmitido
por outros Homens que antes de nós têm vindo a construir o seu Templo, e que
para nós têm constituído um exemplo.

É por isso necessário sermos resistentes aos vícios, aos dogmas que escravizam o
Homem e tenazes nos desafios que nos surgem diariamente, perante os quais é
imprescindível de exercer a flexibilidade na prática contínua da Tolerância.

“Dêem-me um ponto de apoio e uma Alavanca e moverei a Terra” Arquimedes

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