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A TEORIA É UM MITO,

por Artur Felisberto.

II - A CAUSA MATERIAL.
26. É requerida tanta acção para o movimento como para o repouso.
Mas facilmente nos libertamos deste preconceito se tivermos em conta que não
fazemos nenhum esforço para mover os corpos que estão perto de nós, nem para os
interromper, caso não tenham sido amortecidos pela gravidade ou por outra causa.
Assim, empregamos tanta acção para fazer deslizar, por exemplo, um barco que está
em repouso na água calma e sem corrente como para o parar de repente enquanto se
desloca; [e se a experiência nos mostra] neste caso [que] não é preciso tanta para o
parar como para o pôr em marcha, isso deve-se ao peso da água que levanta [quando
se desloca] e à sua lentidão [porque imagino a água calma e adormecida].
27. O movimento e o repouso são apenas duas maneiras diferentes do corpo
em que se encontram.
Mas porque aqui não se trata da acção que está naquilo que se move ou que
trava o movimento, mas principalmente do transporte e da sua paragem ou repouso, é
evidente que este transporte não está fora do corpo que é movido, sendo apenas um
corpo que quando é transladado está disposto de outra maneira do que quando não o é,
de modo que nele o movimento e o repouso não passam de duas diferentes maneiras.
37. A primeira lei da Natureza: cada coisa permanece no seu estado se nada o
alterar; assim, aquilo que uma vez foi posto em movimento continuará sempre a
mover-se.
A primeira é que cada coisa particular, enquanto simples e indivisa, se
conserva o mais possível e nunca muda a não ser por causas externas. Por conseguinte,
se vemos que uma parte da matéria é quadrada, ela permanecerá assim se nada vier
alterar a sua figura; e se estiver em repouso, nunca se moverá por si mesma; mas, uma
vez posta em andamento, também não podemos pensar que ela possa deixar de se
mover com a mesma força enquanto não encontrar nada que atrase ou detenha o seu
movimento. De modo que, se um corpo começou a mover-se, devemos concluir que
continuará sempre em movimento [e que nunca parará por si próprio]. Mas como
habitamos uma Terra cuja constituição é de tal ordem que os movimentos que
acontecem à nossa volta depressa param e muitas vezes por razões que os nossos
sentidos ignoram, desde o começo da nossa vida pensámos que os movimentos que
assim terminavam - por razões que desconhecíamos -, o faziam por si próprios. E ainda
hoje a nossa inclinação é crer que o mesmo acontece com tudo o que existe no mundo,
isto é, que acabam naturalmente por si próprios e que tendem ao repouso [porque
aparentemente a experiência assim no-lo ensinou em muitas ocasiões]. Mas isso não
passa de um falso preconceito que repugna claramente às leis da Natureza: com efeito,
o repouso é contrário ao movimento; e, pela sua própria natureza, nada se torna no
seu oposto ou se destrói a si próprio.
38. Por que razão os corpos impelidos pela nossa mão continuam a mover-se
depois de os largarmos: do movimento dos projécteis.
Presenciamos diariamente a prova desta primeira regra·nas coisas que
atiramos para longe; não há razão para continuarem a mover-se quando estão fora da
mão que as lançou, a não ser que [de acordo com as leis da Natureza] todos os corpos
que se movem continuem a mover-se até que o seu movimento seja travado por outros
corpos. É evidente que o ar e os outros corpos líquidos, nos quais vemos estas coisas a
moverem-se, gradualmente diminuem a velocidade do seu movimento: se abanarmos
um leque agitadamente, a nossa mão consegue sentir a resistência do ar (o que também
é confirmado pelo voo das aves). E na Terra o único corpo fluido que oferece tanta
resistência aos movimentos dos outros corpos é o ar.
39. A segunda lei da Natureza: todo o corpo que se move tende a continuar o
seu movimento em linha recta.
A segunda lei que observo na Natureza é que cada parte da matéria,
considerada em si mesma, nunca tende a continuar o seu movimento em linha curva
mas sim em linha recta, embora muitas destas partes sejam muitas vezes obrigadas a
desviar-se porque encontram outras no caminho, e quando um corpo se move toda a
matéria é conjuntamente movida e faz sempre um círculo [ou anel]. -- René
DESCARTES, PRINCIPIOS DA FILOSOFIA.
A física cartesiana, por querer dar um quadro geral da natureza, foi
considerada, mesmo pelos seus contemporâneos, como demasiado vaga, sem rigor
científico. Descartes considerava o choque que transmite o movimento de um corpo a
outro como causa dos fenómenos físicos. Ao adoptar simplesmente este princípio como
explicação dos fenómenos naturais, Descartes sabia que daria uma visão geral da
natureza que corria o risco de ser imprecisa quando se descia ao pormenor. Contudo,
preferia isso a encontrar simplesmente «as razões de alguns efeitos particulares»: a
natureza nos seus detalhes não era o objecto próprio do cientista, tal como ele o
entendia.
“Do que ficou dito se infere indubitavelmente que o movimento cartesiano não
é movimento, pois não tem velocidade, nem definição, não havendo tampouco espaço
ou distância percorridos por ele.” (NEWTON, 1974, p. 39).
Descartes esqueceu-se de nos explicar porque motivos “quando um corpo
se move toda a matéria é conjuntamente movida e faz sempre um círculo [ou
anel]”. Estamos perante mais um dos mistérios dos estranhos pensamentos de
Descartes.
Beckman e Descartes estudaram juntos a queda dos corpos e chegaram, mesmo a
deduzir a lei que a rege. Fato surpreendente, Descartes esquecerá este resultado, o que o
levará mais tarde a incidir em erro sobre o mesmo problema.
Depois, omite os trabalhos já feitos de Galileu sobre o movimento
suspeitando-se que não os teria lido por ser católico e ter receio de Inquisição que
tinha colocado os trabalhos de Galileu no Índex.
A primeira definição de movimento de Descartes resumia-se em tudo aquilo que
fazia os corpos mudarem de um lugar para outro. Porém, esta definição se alteraria com
o tempo, transformando-se em uma complexa engrenagem relativista, impossível de se
encaixar na emergente ideia newtoniana. Por exemplo: como consta nas definições já
apresentadas, o lugar que para Newton seria uma “parte do espaço que um corpo
ocupa”, não encontrava correspondencia nos escritos cartesianos, pois, levando-se em
conta que o corpo é somente sua extensão, o lugar poderia ser confundido com a própria
definição de corpo. Diante de tantos problemas, a posição cartesiana em relação ao
movimento sofreu uma drástica mudança. O movimento até poderia ser considerado
como uma simples mudança de lugar, mas esse lugar teria que assumir outra conotação,
bem diferente daquela proposta inicialmente por Descartes. Para o filósofo francês, o
lugar, antes confundido com o corpo, devido a definições pouco claras, torna-se a
“superfície que circunda o corpo”. O movimento passa a ser definido como a
transferência do corpo, ou de uma parte desse, de uma vizinhança contígua para outra;
essas vizinhanças contíguas são outros corpos que estão em repouso com relação ao
corpo que se move. Portanto, diferentemente de Newton, os princípios e regras que
governam o movimento, segundo os cartesianos, não podem nem devem ser verificáveis
por seus próprios significados ou por qualquer observação empírica: esses princípios e
regras provinham diretamente da imutabilidade de Deus, da constância de Suas ações ao
preservar o mundo a cada momento. Isso implica, primeiramente, na conservação de
todos estados que não necessitam de mudanças e na conservação total da quantidade de
movimento em si mesma, isto é, de todos os corpos simultaneamente, não apenas um, a
cada momento. Por conseguinte, não só o instante da criação deve ser preservado, mas
tudo o que Deus coloca no mundo. Deste modo, a quantidade de movimento é
preservada. (SAPUNARU, 2005, p. 52-55)
Dificilmente se pode considerar coerente consigo mesmo o Filósofo, que utiliza
como fundamento da filosofia o movimento entendido na acepção vulgar do termo [...]
e agora rejeita esta noção como sendo totalmente inútil, sendo que anteriormente a
tinha qualificado como sendo a única verdadeira e filosófica, em conformidade com a
verdade das coisas. (NEWTON, 1974, p. 34).
Claro que a física cartesiana tinha pouco rigor científico mas era de um
rigor metafísico difícil de por à prova mesmo pelos escolásticos. Não podemos
imaginar que Descartes confundisse inteiramente a extensão dos corpos com a
extensão geométrica das medidas dos lugar ocupado pelos corpos porque nesse
caso teriam sido inúteis as coordenadas cartesianas.
La Geometría analítica, mucho más que cualquiera de sus especulaciones
metafísicas, inmortaliza el nombre de Descartes y constituye el máximo paso hecho en
el progreso de las ciencias exactas. -- John Stuart Mill.
A grande contribuição de Descartes para o futuro da ciência está em sua
tentativa de "geometrizar" toda a natureza. A Geometrie foi o seu grande e original
trabalho neste campo. Seu mérito consistiu basicamente em aplicar a álgebra ao estudo
dos problemas geométricos. Toda figura traçada sobre um plano é composta de pontos e
todo ponto possui uma posição que pode ser descrita por dois números (as coordenadas),
de modo análogo ao da posição de um ponto sobre a superfície terrestre, dividida por
meridianos e paralelos. Toda figura geométrica pode ser representada por uma equação
algébrica e os problemas de geometria são, portanto, passíveis de resolução por meio da
álgebra.
Inversamente, a geometria está em condições de esclarecer o significado das
expressões algébricas. Tal método de interpretação das fórmulas abrirá caminho ao
conceito de função, à criação do cálculo infinitesimal, e também ao conceito de limite,
cuja evolução pertence ao período seguinte ao cartesiano.
Assim somos levados a pensar que Descartes conhecia mal a física de
Galileu e não leu nunca as suas obras porque católico e crente na infalibilidade
papal nunca se atreveu a desrespeitar o Índex.
No quedó desalentado cuando fracasó en su intento, pues pudo visitar
libremente Roma, donde gozó del más brillante espectáculo que sus ojos vieran: la
ceremonia celebrada cada cuarto de siglo por la Iglesia católica. (...) Si el matemático
hubiera tenido la filosofía suficiente para postrarse una semana o dos ante los pies del
padre de la ciencia moderna, sus especulaciones sobre el Universo físico hubieran sido
menos fantásticas. Todo lo que Descartes obtuvo de su viaje por Italia fue un celoso
resentimiento para su incomparable contemporáneo. (...)
Descartes era muy cauto de los juicios de la justicia eclesiástica. Conocía
también las investigaciones astronómicas de Galileo y de los arriesgados defensores
del sistema de Copérnico. En efecto, estaba impaciente, esperando ver la última obra
de Galileo antes de dar los toques finales a su obra, y en vez de recibir la copia que un
amigo había prometido enviarle, recibió las asombrosas nuevas de que Galileo, a los
70 años de edad y a pesar de la sincera amistad que el poderoso Duque de Toscana
tenía por él, había sido conducido a la Inquisición y forzado (22 de junio de 1633) a
abjurar de rodillas, como una herejía, de la doctrina de Copérnico de que la Tierra se
mueve alrededor del Sol. Descartes tan sólo podía hacer conjeturas acerca de lo que
hubiera sucedido a Galileo de negarse a abjurar de sus conocimientos científicos, pero
los nombres de Bruno, Vanini y Campanella vinieron a su memoria. Descartes estaba
abrumado. En su misma obra exponía el sistema de Copérnico como una cuestión ya
admitida. De su propia cuenta había ido mucho más lejos que Copérnico o Galileo,
debido a que estaba interesado en la teología de las ciencias, que a Copérnico y
Galileo poco les importaba. Había demostrado, a su propia satisfacción, la necesidad
del Cosmos tal como existe y le parecía que si Dios, hubiera creado cierto número de
Universos diferentes, todos ellos, bajo la acción de la "ley natural", hubieran caído más
pronto o más tarde en la línea de la necesidad y habrían evolucionado hasta constituir
el Universo como, realmente es. Brevemente, Descartes, con su conocimiento científico,
parecía conocer mucho más acerca de la naturaleza y caminos que Dios sigue, que el
autor del Génesis o los teólogos. Si Galileo había sido forzado a abjurar de rodillas de
su moderada y conservadora herejía, ¿qué podría esperar Descartes?
Decir que tan sólo el temor detuvo la publicación de Le Monde es no conocer
la parte más importante de la verdad. No sólo estaba amedrentado, como cualquier
individuo lo hubiera estado en su lugar; también estaba profundamente confundido. Se
hallaba tan convencido de la verdad del sistema de Copérnico como de la infalibilidad
del Papa. Ahora el Papa se le aparecía un necio al contradecir a Copérnico. Éste fue
su primer pensamiento. Su enseñanza casuística, venía en su ayuda. De alguna forma,
mediante alguna síntesis sobrehumana incomprensiblemente mística, el Papa y
Copérnico podrían demostrar que ambos tenían razón. En consecuencia, Descartes
esperaba confiadamente que llegaría el día en que podría contemplar con la serenidad
filosófica el desvanecimiento de la aparente contradicción en una gloria de
reconciliación. Era imposible para él dar la razón al Papa o a Copérnico. Suspendió,
pues, la publicación de su libro, manteniendo su creencia en la infalibilidad del Papa y
en la verdad del sistema de Copérnico. Como una satisfacción para sus opiniones
subconscientes decidió que Le Monde fuese publicado después de su muerte. Para
entonces quizá habría muerto el Papa y la contradicción habría quedado resuelta por
sí misma. -- Biografía de René Descartes, Gentilhombre, Soldado y Matemático, por
Patricio Barros.
Outro ponto de inspiração para a Física de Newton, baseado na sua
discordância com Descartes, era a questão do atomismo grego antigo. Descartes
não aceitava a indivisibilidade da res extensa nem o espaço vazio.
Contrariamente Newton considerava que a divisibilidade da matéria tinha limites
nas porções últimas mais ínfimas e havia espaços vazios entre as suas partes e
por isso o mundo poderia ser plenum como queria Descartes. A esta parte última,
Newton chamou de corpúsculo, um corpo minúsculo, rígido e indivisível. Não
tinha chegado ainda o tempo para lhe chamar quantum de matéria mas era já o
prenúncio da física quântica moderna baseada na suspeita de que a natureza
parece superar os paradoxos de Zenão dando saltos quânticos particularmente em
situações de transição de fase.
Mas é bom que não se esqueça os argumentos metafísicos de Parménides
de que as ideias que os nossos sentidos fazem da realidade podem não passar de
pura ilusão por incapacidade do entendimento humano de abarcar num único
conceito a duplicidade aparente da realidade dual, onda corpúsculo.
No entanto, apesar de atribuir tal significado ao vácuo, o próprio filósofo não
acreditaria completamente em sua existência, como deixa claro em uma correspondência
ao pensador Marin Mersenne:
Ao imaginar que um corpo se move em um meio totalmente destituído de
resistência, o que suponho é que todas as partículas de corpo fluido que circundam tem
uma tendência a se moverem precisamente com a mesma velocidade como está fazendo,
quer cedendo a ele o lugar que ocupavam quer indo para aquele lugar que ele
abandona; e assim não existem fluidos que não resistam a certos movimentos.
(NEWTON, 1974, p. 52)
A pressa de Newton em fundamentar a sua Filosofia Natural de acordo
dom um Deus ex máquina irá faze-lo tropeçar em alguns erros grosseiros.
A Definição I debruça-se sobre a noção de quantidade de matéria ou massa.
Newton define esta grandeza como o produto da densidade pelo volume. Uma definição
feita à custa de uma relação entre duas novas grandezas, situação que coloca de
imediato uma outra questão: o que é a densidade? A esta pergunta não é dada
previamente qualquer resposta: parte-se do princípio que a densidade é um dado a
priori. No seu comentário à definição de quantidade de matéria, o autor dos Principia
escreve: «(...) E é a esta quantidade que, a partir de agora, passarei a designar por
corpo ou massa; é proporcional ao peso, como eu determinei por experiências com
pêndulos (...)»
É inacreditável que Newton tenha iniciado a física moderna com uma
petição de princípios como foi a definição de massa que é quase um erro do tipo
dos que fazem entrar o definido na definição. Na verdade a densidade é um
conceito relativo à quantidade de matéria por unidade de volume o que nunca
poderia ter sido considerado um dado à priori tanto mais que teve que esperar
pelo princípio de Arquimedes para poder ser obtido com precisão. Teria sido
mais revolucionário ter optado pela definição gravítica de massa como sendo a
quantidade unitário de matéria pesado em condições convencionais do
quilograma padrão...pelo menos antes de se ter chegado à massa atómica da
química moderna. Na verdade não há outra forma de conhecer a quantidade de
matéria senão pesando-a seja lá em que condição experimental for. Do mesmo
modo que não há forma de medir as distâncias sem as comparar com bitolas.
O comentário de Newton a esta definição termina do seguinte modo: «(...)
movimento e repouso, tal como são vulgarmente entendidos, só se podem distinguir de
uma forma relativa, nem estão verdadeiramente em repouso os corpos que comumente
são tidos como tal». A noção relativa de movimento, bem como o repouso entendido
como um estado particular do movimento, é aqui, nos Principia, colocado pela primeira
vez, sendo a diferença entre estes estados associada à existência de uma força particular,
a vis insita. -- Os Principia de Newton, alguns comentários, (Primeira parte, a
Axiomática), Augusto J. Santos Fitas.

MASSA = VIS INSITA


Na verdade, a vis incita não é senão a massa gravítica, ou peso de um
corpo. Ainda antes de ser poder dizer, por analogia com as cargas eléctricas, que
o peso poderia chamada de “carga gravítica” já o poderia ter sido assim desde os
tempos dos animais de carga do mesmo modo que o trabalho era o transporte de
carregos e a força, o esforço necessário para os carregar!
A ciência destes [Galileu, Descartes] não é o produto de engenheiros e
artesãos, mas de homens cuja obra raramente ultrapassou o domínio da teoria. A nova
balística foi elaborada, não por fabricantes de munição ou artilheiros, mas ‘contra
eles’. E Galileu não aprendeu seu ofício com os homens que labutavam nos arsenais e
estaleiros de Veneza. Muito pelo contrário: ele lhes ensinou o ofício deles. (KOYRÉ,
1991, p. 153).
Espanta assim que, pelo menos a física da idade média gótica, que noutras
coisas se revelou tão prática, não tenha formalizado as coisas nestes termos de
carroceiro deixando Koyré sem razão para pensar que a filosofia natural pouco
ou nada aprendeu com engenheiros nem construtores navais.
As definições I e III apontam para duas grandezas que são, respectivamente, a
quantidade de matéria ou massa gravítica (grandeza presente na expressão da Lei da
Gravitação universal) e a massa inercial. Newton tem necessidade de postular a
existência de ambas: a primeira tem para ele um significado físico (material) muito
preciso, enquanto que a segunda corresponde a uma necessidade conceptual da sua
teoria. Para Newton estas “duas massas” de qualquer corpo são iguais. Assume de uma
forma implícita esta conclusão, não a prova (* - É com Einstein, como conseqüência do
“princípio de equivalência” da Teoria da Relatividade Geral, enunciado em 1916, que se
mostra a equivalência entre a massa inercial e a massa gravítica. Na mecânica
newtoniana esta equivalência tinha um carácter meramente empírico e acidental,
enquanto que na Teoria da Relatividade Geral ela surge como uma decorrência lógica
dos princípios teóricos estabelecidos.) -- Os Principia de Newton, alguns comentários,
(Primeira parte, a Axiomática), Augusto J. Santos Fitas.
As inseguranças teóricas de Newton a respeito do conceito de quantidade
de matéria irão fazer as delícias do pensamento delirante dos relativistas. Na
verdade nem era preciso provar a equivalência entre a massa gravítica e massa
inercial que aparecem agora como meros artifícios de teoria porque bastava
definir apenas uma a partir do peso que pela sua natureza experimental ficaria
variável de acordo com o local de pesagem. Bastaria ter dito que a quantidade de
matéria não se define porque simplesmente se pesa ou então que seria a
quantidade de matéria gravítica por unidade de pesagem. Mas para isso teria que
dar razão a Descartes que lhe faria ver que a matéria é a forma concreta da res
extensa e que não havia outra maneira de a definir senão dizendo que era é a
quantidade de substancia extensa de um corpo, que se “mede” pesando-a. Desde
logo e porque de moto próprio tinha descoberto que a substancia (extensa) dos
corpos se definia pela sua capacidade para a acção (forma indirecta de voltar a
aceitar o movimento potencial de Aristóteles) Newton poderia ter também
descoberto que a vis incita na massa gravítica dos corpos resultava do
«movimento potencial» que eles encerram mesmo inertes.
Mas é óbvio que embora possa ser demonstrado que Newton poderia ter
formalmente criado toda a física matemática moderna até à termodinâmica a
verdade é que sofreu dos mesmos estorvos de Aristóteles que eram os
preconceitos pessoais e do seu tempo tal como Descartes que pese embora este
tenha tecido considerações epistemológicas interessantíssimas a este respeito não
deixou de ficar imune como se referiu antes aos limites tacanhos do século em
que viveu. Num mundo eminentemente relacional ninguém consegue aliás ficar
imune aos preconceitos das suas condições de origem e crescimento.
No entanto, e a título de conclusão podemos concluir que a física deve
muito mais a Newton por causa da tradição empirista que o inspirou e que
Descartes desprezou em favor do racionalismo a verdade é que encontramos
neste filósofo barroco a marca do génio da modernidade em estilo académico
francês ou seja, sem perder a essência da cultura ocidental que foi o realismo
aristotélico que irá acabar muito mais bem representado nas modernas teorias
sistémicas das antigas ciências da natureza e sobretudo nas ciências sociais e
humanas e nas físicas relacionais do que no relativismo fantasmagórico de
Einstein que tentou fazer a quadratura do círculo ao tentar manter o espaço
absoluto da física newtoniana numa camisa-de-forças conceptual feita de espaço-
tempo cozido com linhas de calculo tensorial a quatro dimensões. De resto o
próprio conceito de força enquanto “qualquer agente externo que modifica o
movimento de um corpo livre ou causa deformação num corpo fixo” nunca
chegou a ser assim formalizado por Newton.
Deste corpo de definições pode concluir-se: primeiro, a existência de imprecisão
na definição do conceito de força, Newton jamais o define, procurando associar a
certos efeitos, a existência de uma grandeza que passa a designar por força, donde
aceitar-se a força como um conceito dado a priori (surgia intuitivamente de uma certa
analogia com a força muscular); segundo, também o conceito de massa aparece definido
de uma forma equívoca, este termo aparece associado a duas grandezas que são,
respectivamente, a quantidade de matéria ou massa gravítica e a massa inercial que se
assumem iguais; terceiro, as considerações tecidas por Newton sobre o conceito de força
estão metodologicamente relacionadas com os seus estudos sobre a gravitação, a
explicação dinâmica dos movimentos planetários, dados pelas três leis cinemáticas de
Kepler, era o grande problema da época. -- Os Principia de Newton, alguns
comentários, (Primeira parte, a Axiomática), Augusto J. Santos Fitas.
Apenas se deduz o que seja pela segunda lei de Newton que afirma em
latim quase macarrónico: mutationem motis proportionalem esse vi motrici
impressae, etfieri secundum lineam rectam qua vis illa imprimitur.
Quando se trata de força, Newton a define como “[...] o princípio causal que
produz o movimento e o repouso.” (NEWTON, 1974, p. 53).
[...] o esforço que as partes contíguas fazem para penetrar umas nas dimensões
das outras. [...] A pressão só existe entre partes contíguas ate que a pressão seja
transmitida às partes mais longínquas de um determinado corpo, quer seja duro, mole
ou fluido. (NEWTON, 1974, p. 54)
Todavia, com o termo “ir para baixo” não se entende aqui exclusivamente o
movimento em direção ao centro da terra, mas também em direção a qualquer ponto ou
região, ou mesmo a partir de qualquer ponto. Assim sendo, se conatus (esforço) do éter
que gira velozmente em torno do sol em afastar-se do seu centro for considerado como
gravidade, poder-se-ia dizer que o éter, ao afastar-se do sol vai para baixo. (NEWTON,
1974, p. 54)
O resultado f = ma, traduz a realidade matemática da taxa de variação
(derivada) deste movimento e tem, estranhamente, o significado de uma massa
acelerada, o que só é possível pela acção contínua de uma força sendo
possivelmente esta intuição de que a “mudança de movimento é proporcional à
força motora imprimida” que levava os clássicos e pensar que o movimento
uniforme natural (sujeito fortemente ao atrito) dependia sempre de uma acção
contínua (que mais não era do que a força de travagem contínua do atrito).
Na verdade, o que se passaria é que sendo Aristóteles mais biólogo que
físico e na falta de um espírito como o de Arquimedes que a seu tempo tivesse
formalizado as leis da mecânica em desequilíbrio Aristóteles pensou de acordo
com o senso comum de que o movimento uniforme era proporcional à força
motora que resultava em velocidade constante mas era causada por uma
aceleração que se dissipava no atrito enquanto durava o movimento.
Seja como for, a força de Newton basicamente gravítica, tem pouco a ver
com a de Descartes que era um conceito mais geral relacionado com o impulso
na forma de quantidade do movimento instantâneo responsável pelo movimento
uniforme e a sua segunda lei, ainda que mais clara que a idêntica de Descartes,
aplica-se ao movimento circular da força contínua centrípeta e não à força
instantânea responsável pelo movimento linear uniforme. Newton foi mais claro
nas formulações matemáticas das leis físicas mas manteve alguns equívocos
conceptuais relativos aos conceitos de espaço e de força que a tornarem
incompatível com a física cartesiana com prejuízo geral para a física enquanto
ciência da natureza, que por isso deve ser realista e relacional, ou seja,
compatível com a relação sistémica dos objectos com o respectivo meio ambiente
e domínio de acção das leis físicas.
As críticas azedas de Leibniz não serão resultado de mera competição pela
paternidade do cálculo diferencial mas uma queixa verdadeiramente sentida do
racionalismo iluminista tendencialmente seguidor dum certo realismo bem
pensante contra o dogmatismo duma teoria da gravitação funcionando como
relógio divino de um Deus ex máquina por fantásticas acções à distância!

DE BALDE PROCUROU NEWTON O REFERENCIAL ABSOLUTO


2. O Experimento do Balde: A questão imediata que se coloca é: como provar a
existência desse movimento verdadeiro (em relação ao espaço absoluto)? Será preciso,
pois, provar a existência de movimentos absolutos, pois decorrerá dessa existência, a
prova de que existe o espaço absoluto. Para tal, Newton percebe ser necessária uma
investigação das causas e efeitos dos movimentos. -- Filosofia da Física (USP- 2011)
Cap. V: Experimento do Balde e Espaço Absoluto, Prof. Osvaldo Pessoa Jr. – Depto.
Filosofia (FFLCH).

Figura 1: (a) Balde e água parados. (b) Balde girando e água ainda parada. (c) Balde
girando e água girando junto. (d) Balde parado, mas com a água continuando a girar.
Se um recipiente, suspenso por uma longa corda, é tantas vezes girado, a ponto
de a corda ficar fortemente torcida, e então enchido com água e suspenso em repouso
junto com a água; a seguir, pela ação repentina de outra força, é girado para o lado
contrário e, enquanto a corda desenrola-se, o recipiente continua nesse movimento por
algum tempo; a superfície da água, de início, será plana, como antes de o recipiente
começar a se mover; mas depois disso, o recipiente, por comunicar gradualmente o seu
movimento à água, fará com que ela comece nitidamente a girar e a se afastar pouco a
pouco do meio e a subir pelos lados do recipiente, transformando-se em uma figura
côncava (conforme eu mesmo experimentei), e quanto mais rápido se torna o
movimento, mas a água vai subir, até que, finalmente, realizando suas rotações nos
mesmos tempos que o recipiente, ela fica em repouso relativo nele. Essa subida da água
mostra seu esforço a se afastar do eixo de seu movimento; e o movimento circular
verdadeiro e absoluto da água, que aqui é diretamente contrário ao relativo, torna-se
conhecido e pode ser medido por este esforço. De início, quando o movimento relativo
da água no recipiente era máximo, não havia nenhum esforço para se afastar do eixo; a
água não mostrava nenhuma tendência à circunferência, nem ascendia em direção aos
lados do recipiente, mas mantinha uma superfície plana, e portanto, seu movimento
circular verdadeiro ainda não havia começado. Mas, posteriormente, quando o
movimento relativo da água havia diminuído, a subida em direção aos lados do
recipiente mostrou o esforço dessa para se afastar do eixo; e esse esforço mostrou o
movimento circular real da água aumentando continuamente, até adquirir sua maior
quantidade, quando a água ficou em repouso relativo no recipiente. E, portanto, esse
esforço não depende de qualquer translação da água com relação aos corpos do
ambiente, nem pode o movimento circular verdadeiro ser definido por tal translação.
Há somente um movimento circular real de qualquer corpo em rotação,
correspondendo a um único poder de tendência de afastamento, a partir de seu eixo de
movimento, como efeito próprio e adequado; mas movimentos relativos, em um mesmo
e único corpo, são inumeráveis, de acordo com as diferentes relações que ele mantém
com corpos externos e, como outras relações, são completamente destituídas de
qualquer efeito real, embora eles possam talvez compartilhar daquele único movimento
verdadeiro. E, portanto, em seus sistemas, há aqueles que supõem que nossos céus,
girando abaixo da esfera das estrelas fixas, carregam os planetas junto com eles; as
diversas partes desses céus, bem como os planetas, os quais estão de fato em repouso
relativo nos seus céus, no entanto, realmente se movem, pois mudam suas poisções uns
com relação aos outros (o que nunca acontece com corpos que estão verdadeiramente
em repouso), e sendo carregados junto como os seus céus, compartilham de seus
movimentos e, como partes de todos em rotação, tentam afastar-se do eixo de seus
movimentos. (II) Principia (1687):
Sua solução é atribuir o aparecimento da concavidade ao movimento que a água
possui em relação ao espaço absoluto. No primeiro caso, como a água está parada,
juntamente com o balde (em relação ao espaço absoluto), sua superfície seria plana. Mas
quando o conjunto é posto a girar e a água progressivamente adquire o movimento do
balde, esta ganha movimento em relação ao espaço absoluto. É a rotação em relação ao
espaço absoluto o agente responsável pelo surgimento da concavidade do movimento
da água dentro do balde. -- Filosofia da Física (USP- 2011) Cap. V: Experimento do
Balde e Espaço Absoluto, Prof. Osvaldo Pessoa Jr. – Depto. Filosofia (FFLCH).
Obviamente que atribuir a responsabilidade do “surgimento da
concavidade do movimento da água dentro do balde” à “rotação (da água do
balde) em relação ao espaço absoluto” é pouco mais do que uma forma pomposa
do que dizer que a água do balde demora algum tempo a adquirir do balde
movimento rotatório próprio confirmando-se assim a regra da transmissão da
quantidade de movimento proposta por Descartes mas sem se dizer muito mais
desse processo misterioso. No entanto, esta rotação poderia ser perfeita como a
do balde, ou seja, em tronco de cone gerado pela translação perfeita de um
trapézio rectângulo como...seria o caso se o conteúdo do balde gelasse e se
tratasse de um corpo rígido. No entanto, por ser a água do balde de Newton uma
substância líquida tende a ter a forma de concavidade por tender a subir as
paredes do balde como se todos os corpos em movimento tendessem ao seu
«estado natural» de percorrerem o espaço em linha recta.
O que se revela espantoso e deveria ser motivos de debates metafísicos
sérios e verificar como a natureza aos constrangimentos naturais ou não se adapta
de forma expedita sem deixar de cumprir todas as suas leis pelos caminhos mais
simples e económicos. Neste caso há que dar conta de que enquanto de mantiver
o constrangimento ao movimento rectilíneo termos um movimento circular
forçado, exactamente pela força centrípeta, a que o princípio da reacção oporá a
força centrífuga...mas só e apenas no caso de a força centrípeta ser radial como é
o caso da funda de Descartes mas não é o caso do balde de Newton.
E já nos certificámos disto por
experiência, pois esta pedra quando sai da
funda segue em linha recta para C e
nunca tende a mover-se para B. O que
claramente nos mostra que qualquer
corpo que se move circularmente tende
constantemente a afastar-se do centro do
círculo que descreve; até o sentimos com
a mão quando giramos a pedra na funda
[porque a pedra estica e estende a corda
para se afastar directamente da nossa
mão]. Esta consideração é de tal
importância, e ser-nos-á útil em tantas
ocasiões, que devemos assinalá-la
imediatamente, propondo-me eu explicá-
la ainda melhor quando for ocasião
disso.

“Pois, esta é uma lei da natureza, que todos os corpos que se movem
numa órbita, na medida em que dependem de si mesmos, afastam-se do centro de
seus movimentos” (Art. 55, vers. latina-1982-p.108). Tal disposição dos corpos
que giram para afastarem-se de seus respectivos centros, Descartes denominou
de conatus recendendi a centro (esforço para afastar-se do centro). Segundo ele,
esse esforço (...) está intimamente ligado ao movimento ao qual foram submetidos
e que produz seu efeito apenas se o corpo for impedido de mover-se em linha reta
por alguma outra causa. -- A gravitação universal na filosofia da natureza de
Isaac Newton. Dissertação de Mestrado de Valdinei Gomes Garcia.
O interessante é constatar que Arquimedes já tinha a intuição da força
centrífuga como se depreende dos elementos de mecânica em uso na sua escola
de peripatéticos.
Segundo os [Problemas] Mecânicos, o círculo comporta em si dois
movimentos (1, 848b10-12); ou melhor, a trajectória que um objecto descreve ao
deslocar-se por uma circunferência é composta por dois movimentos. Um deles
segue na direcção da tangente e o outro na direcção do centro do círculo; o
primeiro é «de acordo com a natureza» (κατὰ φύσιν) e o outro é «contra a
natureza» (παρὰ φύσιν): «Isto acontece com qualquer raio: desloca-se pelo arco
de circunferência, de acordo com a natureza na direcção da tangente e contra a
natureza na direcção do centro.» (1, 849a14-16.) (…) No fundo, Aristóteles
parece intuir os conceitos de força centrífuga (afastamento do centro) e força
centrípeta (atracção pelo centro). Embora não tenha ainda condições teóricas
para os formular, o seu modelo explicativo da mecânica trá-los implícitos
enquanto noções indistintas. – Nota prévia aos Elementos de Mecânica de
Aristóteles com tradução de Rodolfo Lopes e revisão científica Alberto Bernabé
Pajares.
Se Descartes não tivesse descambado num racionalismo platónico que
mais não é do que um pecado contra o Espírito Santo da sabedoria com
afirmações orgulhosamente disparatadas como “estas demonstrações são tão
certas que, embora a experiência pareça provar o contrário, seremos contudo
obrigados a acrescentar mais fé à nossa razão do que aos nossos sentidos”,
Descartes teria tido muito mais influencia no pensamento moderno do que
realmente teve a não ser na propensão para o disparate arrogante da
modernidade.
Eu acrescento que, no texto em Latim [41], Newton usa a expressão conatus
recedendi, portanto, o corpo está-se afastando do centro e não em queda. Desses
cálculos, Newton tira a seguinte consequência ([41], p. 197): Finalmente, como, nos
planetas primários, os cubos de suas distâncias ao Sol estão entre si na razão inversa dos
números de revoluções e num dado tempo, a tendência de se afastar do Sol está na razão
inversa dos quadrados das distâncias ao Sol. Isaac Bernard Cohen [30] argumenta que
esse resultado indica que a expressão matemática da Gravitação Universal, constante ×
, não só era plausível, mas também conhecida, no século XVII. O mérito de Newton foi
estender a idéia de um "poder" entre o Sol e cada um dos planetas, sugerido por Johann
Kepler, em um efeito universal entre massas (além, é claro, dos conceitos de força, massa
e outras novidades). – F = ma?!! O nascimento da lei dinâmica, Penha Maria Cardoso
Dias, Instituto de Física, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Neste caso, o movimento uniforme rectilíneo que as moléculas da água
tenderiam a percorrer gera, em circunstâncias adversas de contenção nas paredes
do balde, movimentos fictícios (no sentido de serem artificialmente forçados e
constrangidos, nada tendo no entanto de ilusório) de força centrífuga que em boa
verdade têm a forma de um vórtice helicoidal e a física de um pêndulo cónico de
apoio variável resultante das componentes: tangencial do movimento próprio
adquirido e da resistência centrípeta gravitaria.
Se num referencial inercial um corpo revelar uma aceleração, então deverá
estar sob a acção de uma resultante não nula e deveremos ser capazes de reconhecer a
origem dessa força. Essa é a racionalidade contida nos referenciais inerciais.
Nem todos os referenciais são assim. Os referenciais não-inerciais, dão causa a
uma irracionalidade no estudo do movimento e, a partir deles, parecem surgir forças
cujas causas não podem ser estabelecidas.
Uma pessoa que está em um carro que freia subitamente é lançada para frente.
Qual foi a força que empurrou essa pessoa? Nenhuma. Simplesmente o corpo da pessoa
segue a Lei da Inércia e, enquanto não surgir alguma força que o impeça, continua sua
trajectória para frente com a mesma velocidade com que vinha, prosseguindo até que
encontra um obstáculo, talvez o para brisa do carro.
Para se poder aplicar a 2ª lei de Newton a referenciais acelerados é necessário
utilizr forças fictícias – pseudo-forças. Estas forças não são exercidas por nenhum
agente. São introduzidas apenas para que a equação F R = ma seja válida num
referencial não inercial.
Num referencial de inércia é válido o princípio de inércia: se não há força a
actuar sobre umapartícula a velocidade mantém-se constante. Por outro lado, quando
estamos, por exemplo, num autocarro, há acelerações sem forças físicas visíveis. Diz-se então
que temos um referencial acelerado. Nesses sistemas o princípio de inércia não é válido.
Como se pode confirmar, os paradoxos da física têm e terão sempre raízes
metafísicas em repostas incorrectas a questões mal formuladas. Ou se afirma que
uma pessoa que segue em frente, num veículo travado bruscamente, o faz pela
força do seu próprio movimento, de que só no momento do choque toma
consciência, ou se reformula a pergunta deste modo: de que forma misteriosa se
dá a transmissão de movimento se nem a nossa sensibilidade de arrastados por
outros móveis toma consciência senão quando enjoamos nas curvas, por termos
sensores de equilíbrio auriculares que raramente usamos como fonte de
informação espacial segura?
A verdade é que, seja qual for a força que nos faz enjoar nas curvas esta
existe porque é sensivelmente percebida como tal não sendo portanto uma mera
força formal introduzida nas equações do movimento “para se poder aplicar a 2ª
lei de Newton a referenciais acelerados” porque de outro modo os seus efeitos
reais apareceriam como mágicos ou psicossomáticos.
A Física começou a partir de especulações metafísicas ainda pejadas de
mitologia celestial e que Aristóteles tentou, com pouco sucesso, fazer descer à
terra do realismo antropocêntrico de Protágoras e do geocêntrico de Ptolomeu.
A questão do «referencial de inércia» foi introduzida precisamente por
este motivo: uma vez que a terra deixara de ser o centro do universo e como
Galileu havia descoberto as lei do movimento uniforme havia que estabelecer
critérios para se saber quem observa e descreve o quê! Porém, esta questão
apenas relativiza a validade da observação sendo a definição do «referencial de
inércia» apenas uma mero critério de legitimidade científica para separar a
verdadeira observação experimental da mera observação empírica que pode
chegar a ser mera ilusão enganosa. Dito de outro modo, o «referencial de inércia»
é um critério de validação experimental e não um critério metafísico para definir
o que é ou não real. Dai que a definição da força centrífuga como fictícia resulta
discutível e geradora de equívocos. Declarar como ilusória uma força
objectivamente tão real como a centrífuga ao ponto de provocar vómitos por
sensação de desequilíbrio é um pouco o contrário do pensamento mágico que
tende a aceitar a existência real de forças ocultas e inexistentes.
A este propósito há a referir que Aristóteles, ainda que tenha confundido a
força propulsora contínua que deve superar a força de travão do atrito dos
movimentos naturais com a causa do movimento uniforme linear faz parte da
clareza aristotélica que iria acabar com o mistério das forças místicas ocultas da
magia a aceitação racional de que não há movimento sem a acção por contacto de
uma força. Infelizmente, Aristóteles não se apercebeu da importância e da
natureza da força do impulso o que impediu este sábio de fundar verdadeiramente
a física dinâmica.
L'impetus est une doctrine élaborée à Alexandrie puis au Moyen Âge par les
savants arabes ou latins, pour améliorer la physique d'Aristote et expliquer le
mouvement des corps physiques.
Selon Aristote, il existe deux types de mouvements, le mouvement naturel
ramenant les objets vers leurs lieux d'origine, et le mouvement violent, impulsé par un
objet à un autre. Ainsi, la pierre tombe car elle revient naturellement à son lieu
d'origine, la Terre, alors que le feu s'élève car son lieu d'origine est l'air. D'autre part,
tout objet pour être déplacé doit être mû par une action, l'arrêt de l'action entraînant
l'arrêt de l'objet.
Se pose alors la question d'expliquer pourquoi une pierre lancée en l'air
continue son mouvement avant de retomber. Aristote explique cela par le fait que la
pierre qui se déplace laisse un vide derrière elle, vide qui se remplit d'air et qui
contribue à pousser la pierre en avant.
Obviamente que esta explicação arrevesada nunca foi convincente e o
facto de nunca ter sido motivo de acessos debates só prova o pouco pendor que
os filósofos têm para os trabalhos mecânicos. No entanto, este tipo de
explicações arrevesadas, por não corresponderam ao recorte simples e
reducionista da navalha de Occam surgem frequentemente nas teorias científicas
brilhantes começadas com princípios apressados (ou de conveniência social)
quando decorrem falhas graves na sua aplicabilidade real.
Cette dernière explication sera contestée à Alexandrie puis au Moyen Âge et
donnera lieu à une autre explication, celle de l'impetus. Selon cette théorie, l'action
initiale effectuée sur la pierre lui communique un impetus, et c'est cet impetus qui
entretient le mouvement. L'impetus perd peu à peu de sa force à cause de la pénétration
de la pierre dans le milieu aérien, et une fois cet impetus épuisé, la pierre prend son
mouvement naturel et tombe.
Os resquícios dos preconceitos aristotélicos relativos à perda do ímpeto
pela progressiva penetração no meio aéreo mantêm-se porque se manteve o
princípio da acção contínua na génese do movimento ignorando a força da
gravidade que irá cair no oposto da irracionalidade de aceitar a sua aplicabilidade
por acção à distância infinita.
La notion d'impetus disparaîtra au cours du XVIIe siècle pour donner place peu
à peu à celle de quantité de mouvement, puis de force vive, ancien nom de l'énergie
cinétique. Par bien des aspects, l'impetus ressemble à l'énergie cinétique, mais il serait
erroné de les confondre. D'une part, l'énergie cinétique se place dans le cadre général
du principe de conservation de l'énergie, alors que le principe de l'impetus reposait sur
l'épuisement de celui-ci. D'autre part, l'impetus avait pour but d'expliquer l'état de
conservation du mouvement, alors qu'en physique moderne, le fait qu'un corps soit en
mouvement rectiligne uniforme par rapport à un référentiel galiléen représente un état
du corps, au même titre que l'état d'immobilité. En physique moderne, il n'y a pas de
différence entre ces deux états, le passage de l'un à l'autre se faisant par changement de
référentiel galiléen ; alors qu'au Moyen Âge, on cherchait à expliquer pourquoi un
corps se mouvait sans s'être posé la problématique du système de référence.
Grande parte dos paradoxos teóricos resulta de equívocos nos discursos
em linguagem corrente. Qual é a força que empurra uma pessoa quando um
carro trava? A força do seu próprio corpo em movimento, recebido do veículo
que o transportava antes da travagem, o que implica não perder de vista o
facto de a quantidade de movimento ser transmitida de corpo a corpo como o
calor ou qualquer outra forma de energia. Afinal, a energia básica em todos os
processos de transformação de energia é o movimento que afinal, sendo a
energia igual à matéria, faz do movimento a substância de todas as coisas
como Descartes não chegou a aceitar mas que Heraclito já intuía como sendo
a única forma metafísica de entender a mutabilidade da realidade. Obviamente
que no oposto desta postura estão os idealistas que entendem o movimento
como pura ilusão! Porém, a aceitação das forças fictícia é uma forma desta
postura idealista que roça o pensamento mágico.
O que são forças fictícias? A aplicação da segunda lei de Newton a um
referencial acelerado leva às forças de inércia ou fictícias, como as vezes são
chamadas, mas têm existência bem real e estão sempre no sentido contrário ao
movimento. Tudo se passa como se forças adicionais estivessem actuando sobre os
objectos no referencial não-inercial. As forças “fictícias” mais conhecidas são as de
Coriolis e a centrífuga.
A 2a Lei de Newton relaciona forças com aceleração. As forças não dependem
do referencial e a aceleração depende do referencial, consequentemente deverão existir
referenciais para os quais a Lei é válida e outros referenciais para os quais a Lei não é
válida. Denominamos de referenciais inerciais aos referenciais para os quais a Lei é
válida e de referenciais não inerciais aos referenciais para os quais a Lei não é válida.
O que são forças inerciais? São forças fictícias criadas para transformar
situações problema em referenciais não inerciais em problemas de equilíbrio. As forças
inerciais são também forças fictícias usadas em movimentos realizados em referenciais
não inerciais para representar um efeito.
É evidente que nesta experiência do dia-a-dia, que tanto pode ser dum
“balde de água fria” de Newton como de uma taça de chá mexida por uma colher,
se levanta apenas a questão da quantidade de momento angular do balde
transmitido à água que determina nesta uma “força centrífuga” tal que passa a ser
maior do que a força da gravidade obrigando a água contida a tender a sair do
continente.
A única questão misteriosa que aqui se coloca é a da forma como se dá a
transmissão da “quantidade de movimento” e dos estranhos e novos poderes que
este dá aos objectos que a recebem. A bicicleta ganha equilíbrio, o pião vence a
gravidade e estranhas forças como a centrifuga aparecem como que do nada!
Ora, se alguma coisa se pode concluir a respeito das forças fictícias no estudo dos
movimentos circulares é a de que, contrariamente ao que pensava Aristóteles eles
não são naturais e as forças circulares são relativamente forçadas, seja
artificialmente ou por constrangimentos naturais derivados de outras causas e por
isso sempre fictícias enquanto não se dá conta do que as obriga a andar às voltas
e de seguirem o princípio universal do equilíbrio na economia de meios que
tende a percorrer o caminho mais curto em movimento rectilíneo uniforme, que é
o que sempre trilharia a luz e a verdade se não houvesse empecilhos e forças
mais ou menos ocultas a estorva-las e a barrar-lhes o caminho!
Ninguém nega que há dificuldades na análise da mecânica Newtoniana quando realizada
apenas em termos do mecanicismo de segunda ordem [não previa a existência do éter].
Em contraste, porém (ao que nos parece), se afirmarmos que, para Newton, todas as
forças eram meros pseudoconceitos e a realidade estava sempre no impacto corpuscular
etéreo, estaremos dizendo, na verdade, que os Principia dizem respeito a uma
pseudoconsciência [...]. Será que os Principia contêm uma visão da realidade, ou serão
eles apenas um modelo matemático conveniente –um modo de calcular os efeitos do éter,
sem de fato introduzir o mecanismo etéreo? (HALL; HALL, 2002, p. 110).
No entanto, na física clássica a “força centrífuga” permaneceu
fantasmagórica e por isso reportada para um referencial Absoluto porque o
espírito absolutista dos tempos e a religiosidade de Newton o exigiam!
Sempre foi um ponto fraco da mecânica clássica que ela tivesse de postular a
existência de um sistema inercial (do qual se derivam um número infinito de tais
sistemas) e não fosse capaz de indicar um a não ser de forma aproximada; à questão de
quais são os sistemas de coordenadas para os quais o princípio da inércia é realmente
válido, ela não pode dar outra resposta que ele é valido para aqueles sistemas para os
quais é válido.
Claro que a resposta insuficiente à razão de ser da relatividade dos
sistemas de inércia deriva do desconhecimento da própria natureza do processo
científico que desde o realismo Aristotélico se vem relativizando ao longo do
tempo sujeitando-se às condições da lógica indutiva do empirismo científico.

Em condições idênticas, causas idênticas produzem efeitos idênticas!

E nem é preciso adiantar que isso tem que ser válido para qualquer parte
do Universo porque dadas as mesmas causas e as mesmas condições o resto
passa a ser consequência do determinismo universal. Dizer que isso ocorre
porque Deus o quis no instante da criação ou quer necessariamente caso a caso
(ocasionalismo) porque se acredita que Deus não seja ocioso mas zeloso
cumpridor da sua pró-pia lei acaba por ir dar ao mesmo porque afinal o principio
da causalidade determinística apenas garante a essencialidade das mesmas
condições mas não a sua variabilidade contingente porque são as próprias leis
matemáticas da divisão irracional que postula a possibilidade do acaso e do
determinismo probabilístico.
De facto, “no sétimo dia Deus acabou de fazer todas as coisas e
descansou” (Génesis 2:2) o que implica a possibilidade de Deus ter passado a
partir daí a jogar aos dados, contrariando Einstein por ser um judeu irreverente.
Se o povo sabe que Deus escreve direito por linhas tortas deve ser por pura
intuição indutiva a partir da forma como a Natureza se comporta à escala humana
onde imperam as leis da biologia e das ciências sociais que devem tanto à
necessidade probabilística quanto ao puro acaso do capricho e do livre arbítrio!
As leis da natureza não são arbitrária ao ponte se serem feitas à medida do
observador nem variam na perspectiva do observado mas apenas se tornam mais
complexas as condições de análise da observação feita; desde logo porque a
nossa percepção nunca é instantânea; dependendo sempre do tempo que, sendo
escalar, usa sempre duma corrente linear de estados de consciência guardados
numa memória sem relógio biológico e que acaba por se apoiar na moleta do
ritmo intenso da vida compassada no espaço; enquanto a nossa percepção do que
é extenso é vectorial dependendo de uma atenção perspectivada pela razão
inversa do quadrado da distância...que leva tempo a focalizar e a discernir a
realidade! Para acompanharmos os passos do tempo necessitamos de espaço e
para abarcarmos o espaço precisamos de sentir o tempo e deste relativismo nunca
nos havemos de livrar pelo que o nosso entendimento do movimento será sempre
relativo por essência ontológica.
Porém, de balde este teste newtoniano provará outra coisa que não seja
que o “agente responsável pelo surgimento da concavidade do movimento da
água dentro do balde” é a força centrífuga, tão real, objectiva e factual que sem
ela não haveria centrifugadoras nem a tecnologia bioquímica que dela depende.
Se não houvesse mais provas para discordar do referencial absoluto de
Newton como algo meramente formal a substituir logo que possível, seria este
que permite dizer:
Povo que lavas no rio
Que talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não”...
...porque a vida democrática nunca mais será a mesma com as máquinas
de lavar a roupa e a louça!
A força centrífuga não é uma força fictícia mas uma força resultante dos
constrangimentos da força centrípeta precisamente porque princípios como o do
compromisso decorrem mais da necessidade da economia da meios naturais do
que da racionalidade e do bom sendo que no mínimo são afinal o reconhecimento
da “ordem natural” das coisas...que mais não é do que o “lugar natural” de
Aristóteles
Decididamente, este teste newtoniano é um verdadeiro “balde de água”
fria relativamente à possibilidade de conseguir usar a razão para resolver
problemas metafísicos do âmbito da física e tem o mesmo contra-senso da
experiência de Michelson-Morley!
No entanto, em todos os sistemas de compreensão que aspiram ao
absolutismo acabam sempre por aparecer tentações pouco racionais com
paradoxos reais deste tipo. Leibniz, que tinha litígios pessoais com Newton a
propósito da paternidade do cálculo diferencial dos “infinitesimais” saltou a
terreno para condenar a irracionalidade do referencial absoluto.
À esta época, é importante lembrar, Newton já havia acusado Leibniz de plágio
por seu trabalho na área de cálculo diferencial – anos mais, tarde foi constatado que os
dois chegaram às mesmas conclusões independentemente. Por isso, fica aqui a
curiosidade sobre o motivo pelo qual o próprio Newton não respondeu às cartas de
Leibniz. (…)
Ora, disso se segue (suposto que o espaço seja alguma coisa em si mesmo fora
da ordem dos corpos entre si) ser impossível que haja uma razão por que Deus,
conservando as mesmas situações dos corpos entre si, os tenha colocado assim e não de
outro modo, e por tudo que não se fez ao contrário (por exemplo), trocando-se o Oriente
e o Ocidente. Mas, se o espaço não é mais que essa ordem ou relação, e não é, sem os
corpos, senão a possibilidade de aí os pôr, esses dois estados, um tal como é, e o outro
suposto ao contrário, não difeririam entre si. A diferença deles não se encontra, pois,
senão em nossa suposição quimérica da realidade do espaço em si mesmo. Mas, na
verdade, um seria justamente a mesma coisa que o outro, como são absolutamente
indiscerníveis; e, por conseguinte, não se poderá perguntar a razão de se preferir um ao
outro. – A Crítica De Leibniz À Questão Espaçotempo De Newton Baseado Nas
Correspondências Com Clarke, Cynthia E. F. Thomas, Mestranda do HCTE/UFRJ,
cynthiathomasbr@gmail.com
Leibniz, portanto serviu-se (e muito bem) apenas de argumentos da lógica
formal apelando para a “razão suficiente” que em física leva a princípios
importantes como sejam os da conservação e economia de meios de acção.
Na figura e na grandeza, o tempo absoluto e o relativo são a mesma coisa, mas
não permanecem sempre numericamente o mesmo. Assim, p. ex., se a terra se move, um
espaço do nosso ar que permanece sempre o mesmo relativamente, e com respeito à
terra, ora será uma parte do espaço absoluto no qual passa o ar, ora outra parte, e nesse
sentido mudar-se-á sempre absolutamente. (NEWTON, 1987, p.156) -- A Crítica De
Leibniz À Questão Espaço tempo De Newton Baseado Nas Correspondências Com
Clarke, Cynthia E. F. Thomas,
Se o tempo absoluto e o relativo são a mesma coisa porque teria que haver
dois? Por isso poderia também invocar-se o princípio da economia divina!
O ponto de vista do alemão se baseia no princípio de razão suficiente, que em
sua segunda carta é expresso da seguinte maneira: “nada acontece sem uma razão pela
qual ela deva ser de uma maneira ao invés de outra”. (…). Não haveria razão suficiente
para a criação das coisas no mundo em uma certa posição e não em outra. Porém, elas
de fato foram criadas. Assim, o espaço absoluto não poderia existir . O espaço seria a
ordem das coexistências, ou seja, seria a própria relação entre as coisas materiais. (…)
-- Filosofia da Física (USP- 2011) Cap. V: Experimento do Balde e Espaço Absoluto,
Prof. Osvaldo Pessoa Jr. – Depto. Filosofia (FFLCH).
A tentação para a vertigem do “espaço absoluto” vai aparecer de novo
com Einstein que lhe recusa peremptoriamente a entrada pela porta grande onde
faz guarda permanente a relatividade geral mas acaba por o deixar entrar pela
porta da cozinha deixando-se seduzir pelas almofadas geodésicas do espaço-
tempo e acabando em relações promíscuas com a Absoluta Constância da Luz
que irão parir monstruosidades e singularidades várias, cada vês mais difíceis de
controlar sem cair no puro delírio alucinatório.
Podermos perguntar-nos se em parte estes abismos onde se pode precipitar
a ciência não poderão ocorrer por perda de suporte teórico da tradição filosófica.
Sabemos que a Newton terá ocorrido algo de parecido ao ignorar por completo o
esforço feito por Descartes para voltar a dar suporte racional à física moderna
iniciada por Copérnico.
Tal reconstrucción exige una estructura de conocimiento donde la metafísica, o
más bien, los principios metafísicos, se convierten en la parte fundamental, sin los
cuales, no es posible llegar a un conocimiento cierto de los fenómenos de la naturaleza.
En otras palabras, la misma estructura que defendían los escolásticos, pero cuyos
contenidos no estaban articulados a los nuevos descubrimientos experimentales – como
los hechos por Galilei con el anteojo – ni a los avances científicos que fueron posibles
por las demostraciones matemáticas – como las leyes del movimiento planetario de
Kepler – . Las novedosas explicaciones de los fenómenos naturales del siglo XVII
planteaban la necesidad de una nueva metafísica para fundamentar esa inédita visión del
mundo. Asistimos, pues, al resurgimiento de la metafísica – en este caso cartesiana – que
la metodología filosófica galileana había intentado destruir. (…)
Generalmente, tal historia de la ciencia se hace por la línea de los trabajos de
Kepler y Galilei, hasta llegar a Newton, sustentándose en aquella conocida afirmación
newtoniana de que sólo fue posible llevar la física – matemática, hasta sus máximas
consecuencias, en sus Principia, porque se apoyó, precisamente, en los hombros de dos
gigantes, esto es, los mencionados Kepler y Galilei. Las referencias a Descartes son
mínimas, por no decir, insignificantes. Asunto sospechoso si tenemos en cuenta que
Newton estudió y asimiló la obra de Descartes, como nos lo hacen saber sus biógrafos.
De todas maneras, nuestra intención es mostrar que a pesar de que se haya llegado a
afirmar, y se siga sosteniendo, que la física de Descartes es “equivocada”, muchos
aspectos de sus teorías físicas fueron y seguirán siendo válidas – aun en la actualidad –,
como elementos esenciales de la modernidad y como aspectos que sirvieron de apoyo a
la construcción del pensamiento científico moderno; por ejemplo, la formulación de la
ley de inercia y la consideración definitiva, para la cosmología moderna, de un universo
ilimitado o infinito. -- LA FILOSOFÍA DE LA NATURALEZA CARTESIANA, por:
Johman Carvajal Godoy.
A fatalidade da humana condição em alcançar as verdades absolutas
coloca mesmo o pensamento mais racional na eterna vertigem pendular das
antinomias, dos antagonismo dogmáticos mais ou menos fundamentalistas até
que o bom senso faça repousar o pêndulo! Perante o único Absoluto a que
ninguém parece conseguir fugir, a herança dos mortos acaba por pacificar as
vertigens febris dos sobreviventes das guerras do pensamento e o bom senso mais
tarde ou mais cedo põe ordem ao pensamento possivelmente do mesmo modo
que a sintropia organizará o universo.
Como a energia potencial se perde em calor quando se transforma na
energia cinética, esperar-se-ia que com a evolução da física se começa-se a
pensar que a outra metade era a equivalente energia térmica. Mas de modo
algum assim aconteceu! A comunidadec cientítica tem-se revelçado afinal tão
consevador e preconceituoso quanto outrora o eram as congregações religiosas.
Na verdade,foi preciso usar os complicados calculos da termodinâmica
para convencer os físicos de que a realidade era de facto tão simples quanto isso:
aquilo que é revelado pela dura e crua lei da natueza e não uma pura ilusão!
"Uma ilusão. A distinção, entre passado, presente e futuro, não passa de
uma firme e persistente ilusão." (Albert Einstein).
Claro, se tudo é espaço-tempo e se nem o tempo nem o espaço têm
substância por serem meras categorias a priori do entendimento de Kant e, por
isso mesmo, meros formalismos ideais, a realidade relativista do espaço-tempo
tende a ser mais irreal do que relativa. Mas tudo isto é sobretudo um problema na
mente dos que pensam como Albert Einstein mais por falta de cultura
humanística de do que por culpa da realidade.
Entonces, la familia Einstein intentó matricular a Albert en la Escuela
Politécnica Federal de Zúrich (Eidgenössische Technische Hochschule) pero, al no
tener el título de bachiller, tuvo que presentarse a una prueba de acceso que suspendió
a causa de una calificación deficiente en una asignatura de letras. Esto supuso que
fuera rechazado inicialmente, pero el director del centro, impresionado por sus
resultados en ciencias, le aconsejó que continuara sus estudios de bachiller y que
obtuviera el título que le daría acceso directo al Politécnico. Su familia le envió a
Aarau para terminar sus estudios secundarios en la escuela cantonal de Argovia, a
unos 50 km al oeste de Zúrich, donde Einstein obtuvo el título de bachiller alemán en
1896, a la edad de 16 años.
Il a d’excellents résultats en mathématiques, mais refuse de s’instruire en
biologie et en sciences humaines, car il ne perçoit pas l’intérêt d’apprendre des
disciplines qu’il estime déjà largement explorées. Il considère alors la science comme
le fruit de la raison humaine et de la réflexion.
Esta prosaica realidade relativa a deficiente formação humanística de
Einstein contrasta com outra de que teria tido uma formação filosófica precoce
incluindo a Crítica da Razão Pura de Kant.
Aos dez anos, Albert conhece Max Talmud, um jovem estudante de medicina
que costuma jantar com a família Einstein. Max foi uma influência importantíssima na
vida de Albert porque o introduziu, apesar da sua tenra idade, à leitura de importantes
obras científicas e filosóficas, como por exemplo Os Elementos de Euclides ou a Crítica
da Razão Pura de Kant. Em consequência dos seus estudos sobre ciência, Einstein
abandona completamente a fé judaica aos doze anos.
Obviamente que é impossível entender a intragável Crítica da Razão Pura
de Kant aos 10 anos e deve ser esta a razão pela qual Einstein virá a ter mais
tarde uma relação enviesada com o espaço e com o tempo que substancializou no
espaço-tempo.
De facto o que mais estranha na física moderna é a aceitação de princípios
aberrantes e contra natura. Desde logo, na relatividade, a substancialidade física e
concreta do espaço e do tempo de que resulta um ente mítico e monstruoso
chamado espaço-tempo de estranhas singularidades contraditórias e impossíveis.
Mas, como vamos ver os equívocos da física moderna começaram logo
que a par da rejeição dos erros empíricos inaceitáveis do pensamento aristotélico
se deitou fora a sua menina dos olhos que era o seu realismo racional.
Obviamente que os gregos nunca iriam ser os criadores da física porque
esta move sobretudo técnicos e artesãos (mecânicos e engenheiros) que os
preconceitos clássicos afastavam das artes liberais. Por ouro lado, razões
culturais relacionadas com o politeísmo dificilmente os iria deixar entender os
movimentos celestes reservados ao repouso eterno dos deuses olímpicos.
Por isso mesmo, só podemos aceitar que foram preconceitos culturais que
impediram Aristóteles de aceitar que o caminho mais curtos entre dois pontos e
a linha recta e que portanto o movimento circular teria que ser sempre
constrangido. Na verdade nem o pensamento moderno reparou que a rotação do
balde de Newton só foi possível pela transmissão de um movimento de torção o
que nos reposta para a mecânica do equilíbrio e das alavancas sem a
compreensão do qual não e possível entender o movimento. De facto, entre o
“estado natural” e o “movimento natural” de Aristóteles deveria ter-se dado
conta que existe o estado de repouso que é o do equilíbrio mecânico na situação
de mais baixo consumo energético que, quando estável, é nulo como nos caso de
um corpo inorgânico ou liberalmente morto.
O equilíbrio mecânico acontece quando a força resultante que actua no
sistema é nula ou, seja, quando o somatório das forças aplicadas ao sistema é
igual a zero. Em mecânica, um corpo em desequilíbrio tende a mover-se para a
«posição natural» de equilíbrio que, no caso da energia potencial, origina a queda
dos graves. De facto, muito antes da física newtoniana poderíamos ter postulado
a queda dos graves como sendo o resultado da perda súbita do equilíbrio dos
corpos que só descansam quando encontram o seu «local natural» de equilíbrio.
Mas um novo mistério foi levantado por Galileu quando se deu conta de
que esta procura do «local natural» de equilíbrio não se faz em movimento
uniforme mas de maneira acelerada pela gravidade. Como a aceleração implica a
actuação de uma força constante teve que se concluir que a força da gravidade
actuava constantemente sobre os corpos como na mecânica celeste newtoniana.
Porém, não sendo visível nem aceitável uma vis à tergo como Aristóteles
postulava para o impulso teve que se postular uma força actuando
constantemente à distância de maneira fantasmagórica como num campo minado,
na razão inversa do quadrado da distância o que até hoje permanece como um
mistério mais insondável do que o da Santíssima Trindade e que a contracção do
espaço-tempo da relatividade de Einstein veio tornar ainda mas estranho e
fantástico. A força da gravidade é, a par da força magnética, por ventura a mais
espiritual da realidade moderna...deixando de lado o facto de a física quântica ser
quase uma realidade tão estranha como a da “Alice no País das Maravilhas”!
No caso do movimento circular, nunca foi chamado à atenção de que a sua
natureza particular resultava do facto de depender de um binário, ou seja, da
acção simultânea de pelo menos duas forças de sentido oposto. De facto, para
que um corpo deixe a posição de equilíbrio e entre em rotação basta aplicar-lhe
uma alavanca do tipo de um balancé de jardim infantil.

También la regla de equivalencia de las virtudes descendendi de los cuerpos sobre


diversos planos inclinados había sido elaborada por Jordanus. 18 A este respecto,
Galluzzi observa que:

Este concepto, que Galileo en un cierto punto indicará con la expresión "momento
de descenso", tiene notable importancia, dado que parece abrir la puerta a la
posibilidad de una derivación de la dinámica a partir de los propios principios de la
estática (Galluzzi, 1979, p. 71).

Figura 2: La gravure du vingtième chapitre des Institutions. Cette gravure du


vingtième chapitre dépeint les raisonnements qu‘elle va introduire dans ce chapitre et
dans le suivant. Il y a deux actions qui démontrent la validité des forces vives. La
première, c‘est le levier au centre de la gravure : comme nous le verrons, la force
motrice nécessaire pour lever un bras est la même que celle nécessaire à le faire
descender. (1)
O caso típico de dois binários cruzados
na perpendicular é a suástica, razão
pela qual esta se transformou no
símbolo arcaico do mítico movimento
solar e da roda. Uma alavanca está em
equilíbrio quando a soma de todos os
seus «momentos» é nula sendo sempre
por isso sempre muito instável
oscilando como o fiel de uma balança à
mais leve variação de peso até porque
quanto maior for o braço da alavanca
maior será o momento da mais pequena
força aplicada e maior será o efeito
rotativo produzido.

“A Estática já era estudada desde a Antiguidade Greco-Romana. Ela era


descrita pelo Princípio da Alavanca e um dos problemas era justificar essa lei.

Figura 3: A alavanca. Os lj’s são os braços de alavanca; os f j’s são pesos aplicados
nas extremidades, respectivamente; o ângulo de rotação é δφ; os sj ’s são os comprimentos dos
arcos de rotação. (2)
Hoje em dia o Princípio da Alavanca é justificado pelo Principio da
Velocidade Virtual que parece ter sido descoberto por Descartes.

1 - LE LABORATOIRE ÉPISTOLAIRE DANS LES OEUVRES SCIENTIFIQUES DE LA


MARQUISE DU CHÂTELET, By Arianne Nicole Margolin
2 - História da Física e Ciências Afins. F=ma?!! O nascimento da lei dinâmica, Penha Maria Cardoso
Dias
Figura 4: Demonstração do Equilíbrio Princípio do da alavanca pelo Princípio da Velocidade
Virtual. (3)
“Dê-me uma Alavanca (suficientemente longa) e um ponto de apoio
(seguro e moverei o mundo” -- Arquimedes.

O braço desta alavanca poderia ter 4x105km / 4x1028km.


Vejamos então o raciocínio de Perelman: "Se supusermos que Arquimedes
podia levantar um peso de 60 quilos a 1 metro de altura em 1 segundo o que é próximo
da capacidade de trabalho de um cavalo vapor, para 'levantar a Terra' um único
centímetro, ele levaria algo por volta de 32 trilhões de anos".
Esses simples cálculos mostram os valores reais a que podem chegar algumas
declarações, se forem interpretadas literalmente.
Ningún ardid del genial inventor le hubiera servido para reducir sensiblemente
este plazo. Porque la "ley de oro de la Mecánica" dice que, en cualquier máquina, lo
que se gana en fuerza se pierde en camino recorrido, es decir, en tiempo. Por eso,
aunque Arquímedes hubiera conseguido que su mano alcanzara la máxima velocidad
posible en la naturaleza, es decir, la de 300.000 km por segundo (igual a la de la luz),
habría "levantado la Tierra" un centímetro al cabo de diez millones de años de trabajo.

3 - História da Física e Ciências Afins. F=ma?!! O nascimento da lei dinâmica, Penha Maria Cardoso
Dias
No caso dos movimentos planetários sabemos que a forma elíptica das
rotas de translação resulta da existência de um binário cujo centro fica entre o de
gravidade do astro maior e o do respectivo planeta ou satélite em órbita, ou seja,
praticamente dentro deste no caso do sol como astro central. O que nunca
ninguém questionou foi por que razões os astros ainda mantinham as regalias
olímpicas de não terem alavancas físicas detestáveis, nem fulcros resistentes
conhecido!
O único cientista que parece ter intuído esta realidade para o sistema
planetário foi de Borelli.
É preciso ressaltar que Borelli não considerava uma força de atração para um
centro, na forma de uma "gravitação universal". A origem dessa atração é peculiar,
como se vê pela análise que se segue (apud [56], p. 492-493):

Figura 5: - A “Atração Celeste”, de Borelli. A Lei da Alavanca é a base


da teoria de Borelli (4).
Seja ASBC uma barra pivotada em S. Pelo Princípio da Alavanca e pelo
Princípio da Velocidade Virtual, se um corpo for colocado em B e a barra ASBC ficar em

equilíbrio, ; se equilíbrio acontecer em C, então ,


onde P designa "potência" e os R's designam "resistência"; no equilíbrio da barra, os

pesos em B e C são diferentes, de modo que . Borelli supõe, agora, um


mesmo corpo colocado ora em B, ora em C; nesse caso, equilíbrio é rompido; ele
introduz um novo princípio, a saber, que a resistência em C é maior que a resistência em

B ou , portanto, , logo vB < vC. Ora, se S é o centro do


Sol ou de Júpiter e AS, seu raio, então as velocidades dos planetas ou dos satélites de
Júpiter crescem com a distância a S. -- F=ma?!! O nascimento da lei dinâmica, Penha
Maria Cardoso Dias, Instituto de Física, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro.
Seja como for, a formação e a decomposição das forças do movimento de
translação para a produção da força centrífuga passam necessariamente a ser
diferentes do proposto por Newton, porque a forças tangenciais fazem parte de
um binário que não costuma ser considerado.
O problema do balde não foi satisfatoriamente resolvido por Leibniz. Na
verdade, foi Clarke quem vislumbrou a possibilidade de que “se um corpo existisse
sozinho, seria incapaz de movimento, ou [...] as partes de um corpo que circula (ao
redor do Sol, p. ex.) perderiam a força centrífuga que nasce de seu movimento circular,
se toda a matéria exterior que as cerca fosse aniquilada” (in ASSIS, p. 113). -- Filosofia

4 - História da Física e Ciências Afins. F=ma?!! O nascimento da lei dinâmica, Penha Maria Cardoso
Dias
da Física (USP- 2011) Cap. V: Experimento do Balde e Espaço Absoluto, Prof.
Osvaldo Pessoa Jr. – Depto. Filosofia (FFLCH).
O físico austríaco E. Mach contestou o raciocínio de Newton e escreveu: «A
experiência de Newton com o balde de água em rotação informa-nos simplesmente que o
movimento relativo da água em relação às paredes do balde não produz forças
centrífugas, mas que estas forças são produzidas pela rotação em relação à terra e aos
outros corpos do universo (...) acrescentando que nada se pode dizer se a experiência for
feita noutras condições (diferente massa e espessura do balde). A experiência de Newton
não era suficientemente geral para provar o que quer que fosse. -- Os Principia de
Newton, alguns comentários, (Primeira parte, a Axiomática), Augusto J. Santos Fitas.
Ou seja, um corolário da gravidade universal…e das restantes forças
fundamentais que actuam fora e dentro dos objectos.
“Tente fixar o balde de Newton e girar o céu das estrelas fixas e então
prove a ausência de forças centrífugas”.
Este é o desafio imbatível de Mach! Em boa verdade esta proposta de
Mach é tão absurda que não prova nada a não ser a dúvida que lança sobre os
argumentos de Newton!
Como tal projecto tecnológico é impossível logo também não é possível
provar a ausência de forças centrífugas até porque elas são tão evidentes e
objectivas que fica por se entender o que é que passou pela cabeça de Newton
para não o ter compreendido assim!
De resto, quanto mais não fora, a interpretação que Newton faz da força
centrífuga vai contra a lei da inércia que ela manifesta por resultar neste caso
específico da quantidade de movimento recebido pela água a partir da rotação do
balde. A Definição III preparou o caminho para esta lei. A inércia deixou de ser,
pura e simplesmente a resistência ao movimento; a inércia passa a ser a
resistência à mudança do estado de movimento. A permanência do movimento
deixou de implicar a acção contínua de uma força porque um corpo pode estar
em movimento de moto próprio e sem ser sob a acção de uma força externa como
pretendia Aristóteles. Muitas guerras teóricas, doutrinárias ou religiosas
decorrem de álibis que mais não são dos equívocos linguísticos. Por definição
comum, «inerte» é o que está inactivo.
As definições de esforco (conatus), impeto, inercia, pressao e gravidade a seguir
estão em sintonia com essa mesma orientação: “Conatus é a força impedida, ou a força
à qual se opõe resistência”; “Impeto é uma força, na medida em que é impressa a
alguma coisa”; “Inercia é a força interna do corpo para que seu estado não seja
facilmente modificado por uma força externa aplicada sobre ele”; “Pressao é o esforço
que as partes contíguas fazem para penetrar umas nas dimensões das outras”;
“Gravidade ou peso é uma força que existe em um corpo e que o impulsiona a ir para
baixo” (NEWTON, 1979, pp. 83 e 4). Esses conceitos são os principais fundamentos
sobre os quais Newton reconstruirá as ciências mecânicas. A noção de forca, juntamente
com as noções de espaco, corpo e movimento, significou o afastamento radical de
Newton em relação aos conceitos da filosofia cartesiana, fruto das transformações que
empreendera nos princípios mecânicos herdados dessa tradição.

«Inerte» = < L. inertem (iners nom.) < de in- "sem" + ars (gen. artis)
"habilidade" > não qualificado, desprovido de arte; sem valor • ocioso,
> apático, letárgico, adormecido, inactivo, impotente, lento, parado,
morto > que não tem actividade própria; • sem acção; • ineficaz
< que produz inércia.

Figura 6: For movement to occur, there must be a cause for that movement: thus all
bodies at rest will stay at rest forever unless a cause puts them into motion, as, for example, if I
remove a support on which a rock is resting, or if a billiard ball pushes another. Institutions
Physiques by Madame Émilie du Châtelet.
Assim sendo a definição física de inerte e de inércia passou a ser
equívoca!
«Inércia» (Fís.) propriedade que têm os corpos de não poderem modificar, por
si mesmos, o estado de repouso ou de movimento em que se encontram.
Quando Newton enunciou com Descartes a lei geral da inércia como
principio conservador absoluto e de resistência geral dos corpos à alteração do
seu “estado natural” deveria ter-se dado outro nome a este conceito porque o
termo corrente já se tinha especializado demais no sentido da ausência de
movimento para que não se viesse a tornar equívoco falar na inércia de um corpo
em movimento.
La primera es: cada parte de la materia en particular permanece siempre en
un mismo estado mientras el encuentro con otras no le obliga a cambiarlo. En otras
palabras: si tienen un cierto tamaño, no disminuirá a menos que otras partes la
dividan; si es redonda o cuadrada, no cambiará esta figura sin que las otras la fuercen;
si está quieta en cierto lugar, no saldrá de allí si otras no la echan; y, si ha empezado a
moverse, continuará siempre con la misma fuerza hasta que otras la detengan o la
disminuyan. -- Descartes, Traité de la lumière.
Según esta primera ley, el reposo y el movimiento son estados contrarios. Esta
es una idea que se encontraba en la base de la física de Aristóteles, pues su cosmología
refería todos los movimientos que hay en el Cosmos, esto es, los circulares y los
rectilíneos, al centro absoluto del universo, en donde los movimientos ocurrían
alrededor, desde y hacia el centro. En Descartes, podemos afirmar, que ésta es una
concepción clásica, pues la moderna noción del movimiento hace del reposo y el
movimiento estados equivalentes, como es evidente en la obra de Galilei, a través del
principio de relatividad del movimiento. -- LA FILOSOFÍA DE LA NATURALEZA
CARTESIANA, por: Johman Carvajal Godoy.
Claro que Descartes nunca iria afirmar que o repouso e o movimento
seriam estados contraditórios mas apenas diferentes em quantidade de
movimento, que seria nulo no repouso.
Descartes considerava o choque que transmite o movimento de um corpo a outro
como causa dos fenómenos físicos. Ao adoptar simplesmente este princípio como
explicação dos fenómenos naturais, Descartes sabia que daria uma visão geral da
natureza que corria o risco de ser imprecisa quando se descia ao pormenor. Contudo,
preferia isso a encontrar simplesmente «as razões de alguns efeitos particulares»: a
natureza nos seus detalhes não era o objecto próprio do cientista, tal como ele o
entendia. -- O RACIONALISMO DE DESCARTES (XVI) - A FÍSICA CARTESIANA,
Publicada por LUIS RODRIGUES.
Há situações em que inovar por capricho e andar sempre a alterar
nomenclaturas e gramática é tarefa diletante e confusionista mas neste caso teria
sido mais benéfico e imperativo ter criado um termo inovador para um conceito
físico que era tão inovador quanto revolucionário. O termo «resistência» que veio
a ser usado em electricidade teria sido aplicado aqui com propriedade mas ainda
mais o termo «persistência»!
Verdadeiramente, a relatividade enquanto postura filosófica genuinamente
realista, interactiva e quase sistémica dos seres físicos começa com Mach e
poderia ter coroado a Mecânica Quântica se também esta não tivesse entrado em
delírios ao aceitar o preconceito contra o Éter lumínico suspeito de ser o ente
sublime e subliminar dos gnósticos espíritas mas que poderia ter começado a
descer dos espaços siderais onde os antigos o colocavam, aos pés dos deuses
olímpicos, e depois dos santos cristãos, para aparecer debaixo dos pés da ciência
como meio ambiente e de acção para a creche das partículas subatómicas que
começaram a aparecer como cogumelos com a investigação atómica já que não
seria a cama mais adequada para deixar repousar as equações das ondas
electromagnéticas de Maxwell.
Para Mach, “Todas as massas e todas as velocidades, e conseqüentemente todas
as forças, são relativas [...] o sistema do mundo é nos dado apenas uma vez, e a visão
ptolomaica [ou melhor, a de Tycho Brahe] ou copernicana é nossa interpretação, mas
ambas são igualmente verdadeiras. Tente fixar o balde de Newton e girar o céu das
estrelas fixas e então prove a ausência de forças centrífugas.” Mais adiante: “Os
princípios da mecânica podem, de fato, ser concebidos tal que mesmo para rotações
relativas surgem as forças centrífugas”.
A tese de que o espaço, tempo e velocidades são relativos passou a ser
conhecido como princípio de Mach. Em outros termos, é a tese de que as forças fictícias
são reais e geradas pelo movimento em relação à matéria.
Uma consequência do princípio de Mach, incorporado na abordagem conhecida
como “mecânica relacional”, é a tese de que a massa inercial de um corpo é devido à
interacção gravitacional com os outros corpos do Universo. Ou seja, se quase toda a
matéria do Universo, fora da Terra, desaparecesse, você poderia parar um caminhão
que estivesse se movendo em ponto morto na horizontal com suas próprias mãos (desde
que seus pés estivessem em contato com o chão, sofrendo atrito estático)! Isso ocorreria
porque a massa inercial do caminhão ficaria reduzida, já que a quantidade de matéria
no Universo se reduziu. -- Filosofia da Física (USP- 2011) Cap. V: Experimento do
Balde e Espaço Absoluto, Prof. Osvaldo Pessoa Jr. – Depto. Filosofia (FFLCH).
NB: E não ficariam reduzidas na mesma proporção as diferentes forças de tal
modo que o resultado final seria como se tudo ficasse na mesma? Os desafios metafísicos
têm esta vantagem: são tão improváveis que ninguém arrisca também a contesta-los em
definitivo.
A Natureza, mesmo inorgânica, sempre esteve longe da perfeição
matemática que os formalistas desenham para a física teórica mas os engenheiros
que aplicam as tecnologias da física sabem que tal como são raros os cristais
perfeitos poucas são as situações prática em que as leis físicas se aplicam na com
rigor determinístico. Por mais complexas que os teóricos as elaborem com o
intuito de as aproximarem da complexa desordem natural, mais aparente do que
real, a física teórica estará sempre muito aquém da compreensão da riqueza e
complexidade natural onde a ordem nasce da desordem e a vida da morte. Como
as teorias unitárias perfeitas acabam por ser uma utopia começamos a suspeitar
que a realidade termodinâmica da degradação dos sistemas abertos demarca a
fronteira da física com a química e também a lei da conservação da energia
começa a perder evidência.
Supostamente esta equação E = mc2 = (1/2)mv 2 + (1/2)mc 2, só era válida
na ausência de entropia. No entanto, a lei de conservação de energia é
consequência da simetria dos fenómenos físicos; a conservação de energia é
comprovada através do fato empírico de que as leis da física não se modificam
com o tempo. Filosoficamente, isso pode estabelecer que "nada depende do
tempo, só por si". Em outras palavras, se a teoria é invariante na simetria
contínua sobre o tempo, então a energia é conservada.
Mas estaremos perante crenças ou evidências? Obviamente que no limite
estamos sempre perante crenças relativas à constância e coerência da realidade
mas…para isso teríamos que exigir aos agentes de pensamento a mesma
constância e coerência em relação aos princípios da realidade. Porém, a mitologia
está sempre à espreita atrás da porta do medo que se vislumbra na desordem e no
ruído ininteligível da complexidade do desconhecido aproveitando a primeira
oportunidade para nos encantar com teorias que ponham em causa os princípios
do bom senso e nos façam perder a cabeça com utopias que acabam por gerar
quimeras e monstruosidades teóricas várias.
Os conceitos científicos de massa, que diferem do conceito também científico de
peso, sempre se mostram de alguma forma associados ao conceito de inércia, e mesmo
na relatividade, onde energia e massa mantêm, em acordo com a famosa equação E =
mc², íntima relação, esta associação está presente: não só a matéria mas também a
energia apresenta inércia. Entretanto, apesar de muito bem definida dentro de cada
área de estudo onde aparece, "explicar" a massa não é uma coisa muito simples, e
actualmente existem algumas teorias que tentam elucidar nas origens o que é massa.
Ou seja, a matéria está longe de ser tão materialista que consiga evitar os formalismos
formais das teorias que acabam, afinal, por a remeter para o campo da energia onde
outros pensam que seria tudo pura e imaterial espiritualidade.
Quando se descobriu que o calor era uma radiação eletromagnética como a
luz depressa se poderia ter passado, sem a necessidade de grandes cálculos
matemáticos, à conclusão de que sabendo-se a velocidade da luz se poderia
calcular a totalidade da energia envolvida em sistemas com transformação de
energia como sendo E = mc2 = (1/2)mv 2 + (1/2)mc 2, uma vez que a energia
cinética era o equivalente da energia termica perdida. Mas obviamente apenas e
enquanto se aceitar que a velocidade da luz é uma constante universal, o que
pode ser duvidoso. Na verdade se nos ficarmos pelo mero formalismo E = mv2
seja qual for a velocidade envolvida no processo de trocas de quantidade de
movimento possivelmente ficaremos mais dentro do bom senso.
Ora, em última análise a vida distingue-se da morte por não ser inerte! A
vida começa com a quantidade de movimento mas o Universo sem movimento
organisado não seria universo. Ora, o principio da ordem é a informação!
É nesse sentido que digo que para pensarmos na possibilidade da existência de
um movimento absoluto num sentido não tão light como aquele descrito pela VERSÃO 1,
precisamos de outro ingrediente, e esse nada mais é senão a informação do movimento.
Ou seja, nesta versão as três hipóteses existenciais (espaço, matéria e movimento) não
são suficientes, devendo-se acrescentar mais uma, e quero crer que já dei a entender
qual seria: a informação do movimento.
Possivelmente a conservação da energia organizativa do universo implica
o princípio mais geral da conservação do tropismo como gande lei unitária do
universo:
T (quantidade total de tropismo no universo)
= ½ S(intropia)3 + ½ N(egantropia)3 = 1 = 0 * ∞.
De facto, na incapacidade para quebrar os átmos a evolução da física tem
perdido muito tempo em calculos matemáticos para chegar a valores exatos em
condições reais de tecnologia quando seria mais simples (caso fora socialente
mais fácil por opção idiológica educativa) abrir as mentalidades para a evidência
de que os principios gerais da natureza são afinal mais lógicos e sensatos do que
as mentes habituadas à arbitraiedade da fé pretenderiam.
Na verdade não é a Natureza que viola o direito natural mas os humanos
que o interpretam a seu belo prazer!
Afirmar que a equação geral da energia esteve na base de construção de
bombas nucleares é um mito de divulgação científica de quem pouco sabe do
assunto porque esta teve mais a ver com a tecnologia do isolamento e controle
dos elementos radioactivos do que com a física teórica respectiva que,
naturalmente, evoluiu em paralelo com a física teórica nuclear. A quem de facto
se deve a física nuclear é sobretudo a trabalhos quase anónimos e solitários como
os de madame Curie que literalmente perdeu a vida nestas perigosas
investigações.
Concluindo, Newton e Descartes tinham em comum a Filosofia mecanicista e é
através dela que a Filosofia natural de Newton tem início: ela é o ponto de partida
para a construção da Física newtoniana mesmo que posteriormente ele viesse a trair
radicalmente esta Filosofia mecanicista ao introduzir o conceito de ação à distância
(um corpo agindo sobre outro sem que houvesse contato direto entre eles) para
explicar a dinâmica dos céus e da Terra.

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