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O Daff e a ostentação rítmica - por Vitor Abud Hiar

Introdução.

Surgido
ainda nos
tempos
remotos da
antiga
civilização
egípcia,
o Daff ,nome
conforme é
conhecido no
Líbano, pode
ser
considerado
o pai do
Pandeiro
moderno
ocidental.
Estudiosos
acreditam
que esse
instrumento
tenha sido,
Gravura Egípcia mostrando mulheres tocando Daff ou Bendir. juntamente
com a
Mazhar, um
desdobramento do ancestralBendir (pandeiro sem címbalos amplamente
utilizado pelos beduínos, principalmente na execução do ritmo "Mesarfe-
Shabi" ). No Egito, o Daffrecebe a denominação "Riq" ( nome pelo qual
também é mais conhecido mundialmente )
Por sua membrana possuir vibração curta e, por conseqüência, produzir
som agudo e seco, o Daff é conhecido também como "pandeiro tenor".

O primeiro Daff a ser produzido tocado em um show no Brasil, pertenceu à


Fuad Haidamus- pioneiro da percussão árabe no Brasil. Em meados de
1970, esse instrumento era muito pouco conhecido e sua
comercialização praticamente nula. Era, naquela época, um instrumento
extremamente raro e sua técnica bastante desconhecida . Há muito anos
atrás, os egípcios utilizavam para confecção do Daff uma cola especial feita
do pó de ossos e peles de carneiro e coelhos. Hoje, nas produções do Daff
tradicional, ainda é utilizada tal cola, para que o instrumento tenha uma
melhor ressonância.

Os melhores pandeiros árabes são aqueles produzidos no Egito, que ainda


mantém os métodos tradicionais na sua confecção. O Líbano, poor sua vez,
tornou-se o melhor na produção do Daff versão moderna, em pele artificial.

2 - A forma estrutural do Daff.

Daff tradicional apresenta corpo em madeira revestida por madrepérolas.


Conta, ainda, com um poderoso conjunto de cinco címbalos duplos e
revestimento em pele animal ( peixe ou cabrito ).

Com o objetivo de se afastar as influências sofridas pela umidade do ar, (


mesmo problema occorido com as Derbakkes ) desenvolveram uma versão
modernizada em pele sintética.

Apesar de ser bastante utilizada, sua versão moderna não é vista com bons
olhos pela grande maioria dos mestres da percussão. Cremos que a versão
moderna do Daff gerou uma certa artificialidade na sua sonoridade
tradicional, mas isso tem sido muito discutido atualmente. Vejamos, abaixo,
a estrutura de um Daff ou Riq:

3 - Finalidade percussiva - a ostentação rítmica.


Particularmente, gosto de referir a esse instrumento como sinônimo
de "ostentação". O Daff alarga as dimensões rítmicas, dando, de certa
forma, corpo e revelação ao ritmo. Certamente, a Derbakke não consegue
ostentar uma frase rítmica tão bem quando a feita por um Daff.

É evidente que, devido seu alto poder sonoro, sua utilização deve sempre
ladear o bom senso. Foram desenvolvidasvárias técnicas fundamentais que,
conforme veremos no próximo tópico, proporciona ao percussionista a
possibilidade de controlar sua sonoridade e aplicá-las no momento achar
mais oportuno.

4 - Suas principais técnicas ( técnicas básicas ).

Falaremos, agora, das


técnicas básicas usadas
no toque
do Daff. Convém
ressaltarmos que o
tema será tratado de
maneira sucinta, tendo
apenas como
objetivo proporcionar
uma breve introdução
ao estudo do Daff.

Ao contrário do que
muitos imaginam,
o Daff possui técnicas
1 - Mazhar - pandeiro duas vezes maior que a circunferência de tão complexas quanto
um Daff. as de uma Derbakke. A
dificuldade está
2 - Daff ( denominação libanesa ) Conhecido como pandeiro
tenor em saber conjugar
harmonicamente seus
dois sons, ou seja, o
som estridente de seus címbalos ou platinelas, com o som da membrana
que o reveste. Não basta apenas "bater" no couro e tirar o som, é preciso
saber trabalhar as técnicas individualizando e harmonizando seus som.
Cremos que no Brasil são pouquíssimas as pessoas que dominam
brilhantemente as técnicas do Daff.

Apenas a título de curiosidade, é possível, no Daff, executar o


ritmo Maqsoum em, no mínimo, 15 formas diversificadas, variando desde
os toques mais simples aos mais complexos. É muito difícil o percussionista
utilizar todos esses estilos no acompanhamento de uma canção.
Geralmente é aplicada as técnicas que mais pertinentes. Costumo dizer que
quem toca Daff tem em suas mãos um verdadeiro"arsenal" de estilos e
recursos para, da melhor maneira possível, ostentar uma frase rítmica.

É importante frisarmos que as técnicas utilizadas no Daff se diferem


significativamente das utilizadas no Pandeiro brasileiro.

Basicamente, existem 3 técnicas aplicáveis ao toque do Daff. Vejamos :

1ª forma - Utilizando todos seus címbalos + membrana de couro ou


nylon;

2ª forma - Utilizando parte de seus címbalos + membrana de couro


ou nylon;

3ª forma - Utilizando apenas a membrana de couro ou nylon.

A membrana de couro ou de nylon é utilizada sempre, seja, pelo menos,


para executar o Dum ( batida grave do ritmo ).

4.1 - Suas principais técnicas ( técnicas básicas ).

1º movimento - utilizado para executar os toques de menor intensidade (


tá e ká ) ou o repique dos címbalos ( apesar de existir outra forma de
realizá-lo, conforme veremos mais abaixo).

2º movimento - utilizado, também, para executar as batidas rítmicas de


menor intensidade, vejamos o exemplo abaixo:

Ritmo : Baladi (4/4) = Dum Dum tá ká Tá Dum tá ká Tá tá ká Dum


Dum.....


4.2 - Técnicas utilizando parte de seus címbalos.

Utiliza-se o címbalo próximo ao dedo anular mais a membrana de couro,


para produzir o Dum (batida grave no Daff ).

Existem 4 formas de se tocar esse címbalo isoladamente:

1 - toque címbalo solto,

2 - toque címbalo preso,

3 - repique trigêmeo e

4 - repique comum.

4.3 - Técnicas utililzando apenas sua membrana de


couro.

Diferentemente da Derbakke e Doholla, o Dum no Daff não é produzido


através da batida no seu centro . Veja o modelo abaixo:

Dum = Batida grave


no Daff, sempre usando o
dedo indicador

tá = Batida
no címbalo utilizando o
dedo anular.

ká = Batida na borda
do Daff usando o dedo
médio.

Utiliza-se apenas a base do pandeiro, produzindo um som seco e de pouco


vibração. O ritmo mais usado nestes casos é o Ciftetelli, no
acompanhamento de solos improvisados.
5 - O Daff nas Danças árabes.

Por fim, cremos que devido sua importância na dança, não seria correto
deixarmos de lavrar algumas considerações. Sabemos que, juntamente com
a espada, o candelabro, a bengala, os véus e os snujs, o Daff também faz
parte do rol de acessórios para a prática da Dança do Ventre. Este
instrumento também é utilizado em outras danças folclóricas árabes.

É importante ressaltar que na dança, sua utilização é meramente simbólica.


É por esse motivo que existem pandeiros específicos para serem utilizados
na Dança do Ventre. Geralmente, o Daff utilizado na dança é mais pesado
que o utilizado pelos percussionistas. Seus címbalos, sempre de material
inferior, não são dotados de grande sonoridade. O Daff profissional, ao
contrário, possui sonoridade mais precisa e um melhor acabamento.

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