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ESCOLA BRASILEIRA DE MEDICINA CHINESA – EBRAMEC

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM ACUPUNTURA


TAISSA CURI MARTINS SOLER

A LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS DE ACUPUNTURA: MEDIDAS


ANTROPOMÉTRICAS
THE LOCATION OF THE ACUPUNCTURE POINTS: ANTHROPOMETRIC MEASUREMENTS

SÃO PAULO
2012
TAISSA CURI MARTINS SOLER

A LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS DE ACUPUNTURA: MEDIDAS


ANTROPOMÉTRICAS
THE LOCATION OF THE ACUPUNCTURE POINTS: ANTHROPOMETRIC MEASUREMENTS

Trabalho apresentado a EBRAMEC


– Escola Brasileira de Medicina
Chinesa, como requisito parcial para
obtenção do certificado de Pós-
Graduação Lato Sensu em
Acupuntura, sob orientação do prof.
Edgar Canteli Gaspar

SÃO PAULO
2012
TAISSA CURI MARTINS SOLER

A LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS DE ACUPUNTURA: MEDIDAS


ANTROPOMÉTRICAS
THE LOCATION OF THE ACUPUNCTURE POINTS: ANTHROPOMETRIC MEASUREMENTS

BANCA EXAMINADORA

___________________________________

___________________________________

___________________________________

Edgar Cantelli Gaspar

ORIENTADOR

São Paulo, _____ de _____________de _____.


AGRADECIMENTOS

Primeiramente sou imensamente grata a Deus, que tudo pode e tudo sabe, dando-me a força,
a sabedoria e a inspiração para então continuar minha luta.
Expresso minha gratidão ao EBRAMEC/CIEFATO e aos professores que se dispuseram a
dividir sua prática e seu conhecimento para então nos “arar e fazer-nos germinar”.
Ao meu Mentor Edgar Cantelli Gaspar que está sempre presente para me recolocar na lógica
única da Medicina Tradicional Chinesa.
Ao professor Eduardo Vicente Jofre que com um olhar carinhoso me ouvia, me instigava e
me permitia aplicar o conhecimento aprendido e que aguardava para ser aplicado.
Aos companheiros de Curso por dividirmos ansiedades, temores, preocupações e
principalmente por trocarmos conhecimentos, além de estarmos unidos em toda a nossa caminhada.
Em especial, aos meus pais, que não pouparam esforços, compreensão, incentivos e amor
durante toda essa jornada. E que de modo quase misterioso, permanecem sempre presentes.
Agradeço por fim, à minha paciente que se colocou em minhas mãos, enquanto permaneço
trilhando a busca pelo “saber”.
“Aquilo que se denomina “maneira fixa de picar”

é como se amarrar a boca de uma sacola;

quando esta estiver cheia e não estiver amarrada,

as coisas que estão dentro irão cair,

e como as coisas sumiram,

o efeito curativo não irá aparecer junto com o tratamento da puntura”30

Imperador Amarelo (2698 a.C. - 2599 a.C.)


página 701- 3º parágrafo
RESUMO
Este trabalho pretende chamar a atenção dos profissionais e alunos da Medicina Tradicional
Chinesa, para um importante e indispensável fator: a obtenção de um resultado eficaz nos
tratamentos realizados em nossos pacientes deve estar essencialmente vinculada à localização exata
dos pontos de Acupuntura e ao estudo da Anatomia Humana e suas possíveis alterações anatômicas.
Foi realizado um estudo de caso de uma paciente de 38 anos de idade, do sexo feminino, portadora
de Displasia Congênita Espondiloepifisária – DCE. Dos dois métodos utilizados como
“localizadores” dos pontos de acupuntura: comparação da largura dos dedos versus a distância ou
comprimento corpóreo determinado em cun - mostram a existência de uma relevante e importante
diferença esbarrando assim na eficácia do tratamento. Através desta avaliação constatamos que a
técnica de descrições para a localização dos pontos mais precisa, efetiva e eficaz é a que faz uso das
medidas estabelecidas quanto às distâncias corpóreas, podendo ser aplicado em indivíduos de
qualquer idade, sexo, cor, condição física e/ou presença de variações anatômicas, além de bastante
simples.

Palavras-chave: pontos de acupuntura; antropometria; meridianos; pontos de referência


anatômicos
ABSTRACT
This paper intends to call attention of students and professionals of the traditional Chinese medicine
to an important and indispensable issue: effective results in the treatment of our patients must be
essentially connected to the exact place of the Acupuncture points and to the study of human
anatomy and its possible anatomical alterations. This is a case study of a 38-year-old female patient
with Congenital Dysplasia “Espondiloepifisária”. From the two methods used to identify the points:
comparison between finger width versus body length determined by cun showed an important
difference which may drop the efficiency of the treatment. In this study it was possible to verify that
the most effective technique to describe the precise localization of the points is the one established
by body length for it is applicable to individuals in any age, gender, color or physical condition
including anatomical variables besides being very simple to apply.

Key-words: acupuncture points, anthropometry, meridians, anatomic reference points


SUMÁRIO

AGRADECIMENTO........................................................................................................................ 03
RESUMO.......................................................................................................................................... 05
ABSTRACT...................................................................................................................................... 06
SUMÁRIO......................................................................................................................................... 07
LISTA DE ILUSTRAÇÔES............................................................................................................. 08
LISTA DE TABELA ........................................................................................................................ 09
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS....................................................................................... 10
I – INTRODUÇÃO........................................................................................................................... 11
II – MATERIAIS E MÉTODOS....................................................................................................... 13
III – ANÁLISE E DISCUSSÃO....................................................................................................... 15
IV – CONCLUSÃO.......................................................................................................................... 24
V – REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA............................................................................................ 25
VI – ANEXO..................................................................................................................................... 28
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURAS

FIGURA 1 – Valores de Cun............................................................................................................ 17


FIGURA 2 – Distâncias determinadas na superfície da cabeça........................................................ 19
FIGURA 3 – Distâncias determinadas na superfície do tronco........................................................ 20
FIGURA 4 – Distâncias determinadas nos membro......................................................................... 20

FOTOGRAFIAS

FOTOGRAFIA 1 – Paciente portadora de DCE............................................................................... 13


FOTOGRAFIA 2 – Comparação entre mão do examinador e paciente............................................ 18
FOTOGRAFIA 3 – Comparação largura dos dedos do examinador x paciente............................... 18
FOTOGRAFIA 4 – Aplicação de 2cun no antebraço do paciente pela largura dos dedos............... 19
FOTOGRAFIA 5 – Divisão do Meridiano Pericárdio...................................................................... 21
FOTOGRAFIA 6 – Localização do Acuponto PC-6........................................................................ 22
FOTOGRAFIA 7 – Contagem de Cun – largura dos dedos ............................................................. 22
FOTOGRAFIA 8 – Contagem de Cun – comprimento/distância corpórea...................................... 23
LISTA DE TABELA

TABELA 1 – Medidas em cun pelas distâncias corporais ............................................................... 28


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

MTC – Medicina Tradicional Chinesa.

DCE - Displasia Congênita Espondiloepifisária.

CID10 - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde.

Cun - (Chinês: 寸; pinyin: cùn; Vadeie-Giles: o ts'un) é uma tradicional unidade de comprimento
chinesa. O cun era parte de um sistema maior, e um décimo representado de um chi (pé chinês), esta
antiga medida chinesa (cun), corresponde à equivalência de 3,33 cm.
11

I – INTRODUÇÃO

Embora seja difícil determinar a sua origem, a Medicina Tradicional Chinesa (MTC)
provem de tempos longínquos, atravessando várias gerações, com a primeira informação sobre a
técnica vindo através de uma coleção de manuscritos chineses do século XVIII a.C. – O Nei Jing
(Nei Ching), comumente conhecido como o Tratado do Imperador Amarelo, uma figura mitológica
que conversa com os seus médicos, revelando os dogmas da medicina chinesa e o seu modelo
conceptual conta com mais de dois mil anos de existência6.
Temos observado o constante aumento e interesse da população mundial na procura de
tratamentos alternativos ou complementares em prol de uma boa saúde e “bem-estar” ideal aos seres
humanos.
A MTC inclui técnicas de Acupuntura, Massagem (Tui-Na), Exercícios Respiratórios (Chi-
Gung), orientações Nutricionais (Shu-Shieh) e a Farmacopeia Chinesa (medicamentos de origem
animal, vegetal e mineral). Há mais de cinco mil anos (3000 anos de registros escritos e mais de
2000 com achados arqueológicos) os chineses utilizam a Acupuntura como meio de tratamento dos
“velhos” e “novos” males que acometem as gerações14.
Neste estudo vamos nos ater ao método da Acupuntura, um dos componentes da Medicina
Tradicional Chinesa (MTC).
Durante muito tempo a Acupuntura foi vista com desconfiança pelos pacientes e médicos
adeptos à Medicina Ocidental. Hoje, os antes “receosos e descrentes” médicos ocidentais indicam a
Acupuntura como complemento e opção no tratamento de muitas patologias e afecções3,12.
Ela consiste na aplicação de agulhas, em pontos definidos do corpo, com o objetivo de obter
efeito terapêutico fisiológico específico em diversas condições19.
Este recurso terapêutico já se acha regulamentada em termos de utilização pelo Sistema
Único de Saúde Brasileiro de acordo com a Portaria nº 971 de 03 de maio de 2006 do Ministério da
Saúde, aprovando a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Ela
considera a Acupuntura como uma tecnologia de intervenção em saúde, além de dispor de práticas
corporais complementares visando à promoção, prevenção e recuperação da saúde1.
Na MTC os locais ou regiões anatômicas onde se realizam tais punções com agulhas são
conhecidos como “pontos de acupuntura” ou “acupontos”5,17,23,24.
Para uma melhor e correta localização dos “acupontos”, torna-se muito importante o
conhecimento da Anatomia da espécie a ser tratada e as diferenças anatômicas existentes na
mesma10, visto que a deficiência de conhecimentos técnicos na prática clínica expõe os pacientes a
potenciais danos de saúde e ineficácia ao tratamento.
12

Centrada nesta temática, o presente estudo tem como objetivo aprofundar o conhecimento
sobre os métodos de localização de pontos pelo meridiano, visando sua maior precisão e eficácia e
quanto ela se torna indispensável frente às variações anatômicas.
13

II – MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo foi realizado em maio de 2011 de acordo com as normas do Centro
Avançado de Pesquisas em Ciências Orientais – CAPCO – é o departamento de pesquisa da
EBRAMEC – Escola Brasileira de Medicina Chinesa, com relações diretas com a sua mantenedora,
o CIEFATO – Centro Internacional de Estudos de Fisioterapia, Acupuntura e Terapias Orientais.
Foi selecionada uma paciente M.D.P., de 38 anos de idade, do sexo feminino, portadora de
11,26
Displasia Congênita Espondiloepifisária – DCE – , presente na Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID10 por meio do código Q77.7 2.
Foram solicitadas as autorizações necessárias ao paciente e os dados tratados com
confidencialidade, assegurando os investigadores o cumprimento.
A DCE (Fotografia 1) é um raro distúrbio do crescimento ósseo, que resulta em nanismo,
características de anormalidades esqueléticas e ocasiona problemas de visão e audição. O nome da
doença indica que afeta os ossos da coluna vertebral e as extremidades ósseas (epífises), estando
presente desde o nascimento, portanto, congênita.

(a) (b)

(c)
Fotografia 1 – Paciente portadora de DCE: vista anterior (a), vista posterior (b) e vista lateral (c)

Os indivíduos acometidos de DCE são de baixa estatura, com um tronco muito curto,
pescoço e membros encurtados. Suas mãos e pés, no entanto, são geralmente de tamanho médio.
Este tipo de nanismo é caracterizado por um comprimento da coluna espinhal normal em relação ao
fêmur, e a faixa de altura varia entre 0,9 – 1,4 metros para os adultos. Outros sinais no esqueleto
14

incluem: vértebras achatadas, escoliose acentuada, deformidade da articulação do quadril (onde os


ossos da coxa voltam-se para dentro - coxa vara) e pé plano. Além de uma diminuição da
mobilidade articular e artrite que frequentemente se manifestam cedo na vida26.
Utilizaremos como modelo de estudo a localização do ponto PC-6 (Nei Guan) – “Passagem
Interna” – encontrado no Canal Pericárdio (Xin Bao) - Shou Jue Yin Xin Bao Jing - 手厥陰心包經
- por meio das técnicas descritas na literatura. Este ponto está localizado exatamente na face
anterior do antebraço sobre a linha que liga PC-3 (Quze) a PC-7 (Dailing) entre os tendões dos
músculos Palmar Longo e Flexor Radial do Carpo a 2 cun proximal à prega distal do punho16.
A Metodologia utilizada para a construção deste estudo realizou-se através de uma vasta
revisão bibliográfica, centrada na obra de vários autores que citam este tema, assim como em
artigos publicados em sites na Internet.
15

III – ANÁLISE E DISCUSSÃO

Historicamente o termo acupuntura, acure = agulha e punctura = picar, origina do latim


sendo empregado desde o século XVII, quando os jesuítas franceses missionários na Antiga China
conheceram a prática do uso das agulhas no tratamento médico de pacientes doentes ou com
dores29.
4,21
A energia (Qi) é mobilizada no acuponto, “caverna do Tao e/ou morada do Tao” ou
“buraco (xue)”, gerando assim a manipulação do fluxo energético.
Os pontos de acupuntura foram descobertos no decorrer do tempo, pela prática milenar da
MTC e receberam denominações bem definidas, baseadas principalmente em: sua localização,
características específicas e em suas funções5. Contudo, para chegarmos nesta localização exata,
uma unidade básica de medida na Acupuntura foi criada e denominada Cun.
Um estudo realizado por Alexandre Silva – ABRACIF relatou que o criador dessa
terminologia “cun”, foi Hua Tuo (110-207 d.C.). Hua Tuo é um famoso médico da Dinastia Han,
sendo considerado o primeiro cirurgião da China, e como tal, tem sido comparado, nesse aspecto, a
Jivaka da Índia (que viveu na época de Buda - cerca de 500 a.C)22,23.
Hua Tuo é apresentado como "milagre de trabalho médico" (traduzido também como
médico divino; “shenyi”) por causa de sua ênfase sobre o uso de um pequeno número de pontos de
acupuntura ou um número pequeno de ervas em uma determinada receita, para atingir bons
resultados13,9.
O termo Cun (Chinês: 寸; pinyin: cùn; Vadeie-Giles: o ts'un) é uma tradicional unidade de
comprimento chinesa. O cun era parte de um sistema maior e um décimo representado de um chi
(pé chinês) - esta antiga medida chinesa (cun) corresponde à equivalência de 3,33 cm. Os
comprimentos foram estandardizados a tempo, e em Hong Kong, usando o padrão tradicional, mede
~3.715 cm (~1.463 dentro). No vigésimo século no República de China, os comprimentos foram
estandardizados para caber no sistema métrico, com uso atual na China medindo 31⁄3 cm (~1.312
dentro)6,28,27.
A origem exata da unidade cun na MTC ainda faz-se desconhecida, mas desde então, tem
sido aceita como a unidade de medida que auxilia na localização dos acupontos.
Outras maneiras de localização para os acupontos também são utilizadas (acidentes
anatômicos do corpo, aparelhos elétricos, ou pela técnica “very point” – onde se desliza uma agulha
levemente sobre a pele e a mesma quase que se penetra sozinha no ponto9 - mas, segundo G.S. de
Mourant, as descrições chinesas para a localização dos pontos não são muito precisas, portanto,
deve-se acrescentar e observar os seguintes ítens na procura dos pontos de acupuntura:
16

- todos os pontos encontram-se no fundo de pequenas cúpulas ou depressões, o que condiz com seu
ideograma Xué (caverna, cavidade);
- as pessoas mais sensíveis perceberam uma resposta ao longo do meridiano, quando pressionado o
ponto22.
Pelo fato de na Acupuntura “Científica” as agulhas serem mais incisivas é necessário um
conhecimento clinico e mais, o acupunturista tem que ter um grande conhecimento de anatomia,
pois o cun é utilizado para localizar os pontos de acupuntura obedecendo à estrutura do corpo de
cada um.
É muito comum ouvirmos dizer que “certo ponto” fica a “tantos cun” de um ponto de
referência, deixando parecer com que seja desnecessário o conhecimento amplo em anatomia.
Assim, a maioria dos acupunturistas encontra o ponto efetivamente quando, ao inserirem a agulha,
ocorre uma sensação diferente na pele ao redor da agulha (reflexo axônico causado por estimulação
de fibras C e A delta) ou uma sensação de “fisgada” (quando o peixe fisga a isca na vara de
pescar)5,20.
Verifica-se que é muito complicado afirmar que determinado ponto fica “naquele certo
local”, se não tivermos exatidão da sua localização, pois, características individuais podem colocar
o indivíduo em área de exclusão quanto esta técnica de localização.
O Atlas Gráfico de Acupuntura declara: “Na acupuntura utilizamos as medidas de orientação
proporcionais as dimensões do corpo de cada paciente. Para determinar as distâncias ou medidas
faz-se uso de referências anatomotopográficas. Sendo que a unidade de cálculo das distâncias na
Acupuntura Chinesa é o tsun ou cun (distancia ou medida)”.
Mas, se levarmos em consideração a presença estatisticamente significante quanto à média
da estatura brasileira comparada com outras populações18,25, o volume corpóreo altera as
proporcionalidades pela própria auto modificação das proporções, mesmo que estas sejam apenas
superficiais ou, que as possíveis variações anatômicas alteram qualquer parâmetro pré estabelecido.
Isso vem nos confirma a necessidade de fazermos uso do método que permite encontrarmos
corretamente a localização dos acupontos.
A Anatomia é a Ciência que estuda macro e microscopicamente a constituição e
desenvolvimento dos seres organizados. Uma vez que a Anatomia Humana utiliza como material de
estudo o corpo do homem, torna-se necessário chamar a atenção na observação de um grupamento
humano, o que nos permite evidenciar diferenças morfológicas entre estes elementos. Estas
alterações são denominadas variação anatômica, que é qualquer fuga do padrão sem prejuízo da
função, entretanto, pode ocorrer variações morfológicas que determinam perturbações funcionais,
denominando-se anomalias. Sabe-se, portanto que o esqueleto humano pode apresentar diversas
variações que ocasionalmente necessitam de distinção de uma variação patológica11,15.
17

Se o corpo dos indivíduos fosse de um mesmo tamanho e forma, utilizando este sistema de
medição inata para encontrar os acupontos em área ou região específica, isto poderia ser
estandartizado18. Entretanto, as distâncias corporais podem diferir da medida feita através dos dedos
quando as variações anatômicas estiverem presentes? Isso nos leva a um questionamento relevante
quanto ao alcance da objetividade das técnicas de localização utilizadas.
A este respeito, existem métodos que fazem uso desta “unidade de medida - cun” para a
localização do acuponto nos diferentes meridianos e ao longo de seu trajeto. Destes, dois métodos
são os principais: o primeiro é conhecido como largura dos dedos, através da polegada chinesa ou
apenas cun (Figura 1) e o segundo como distância ou comprimento determinado em cun para
diferentes partes do corpo.

Figura 1 – Valores de Cun: Desenho ilustrando os valores de cun com os dedos. Fonte: TCM Student, 2010

O processo começa com a medição de 1 (um) cun. Isso é feito de duas maneiras: (a) usando
a largura da articulação inter-falangeana distal do polegar (primeiro dedo) ou (b) usando a distância
entre as articulações distais e articulação proximal inter-falangeana do 3º dedo4,7. Todas as outras
medidas específicas estão realcionadas diretamente com esta largura. Esta é a medição mais
amplamente utilizada, baseando-se no comprimento dos dedos do paciente.
Mais exatamente, o "cun" é uma medida relativa e variável à pessoa que se mede (Fotografia
2), portanto, mede-se pelas medidas do aplicador sobre a pessoa que se aplica (ou seja, o aplicador
mede com suas medidas 1 cun igual ao seu polegar lateralmente, mas na realidade, 1 cun na pessoa
seria a medida do polegar dela lateralmente) ou usando as demais referências para as medidas de
1,5 cun, 2 cun e 3 cun – Fotografias 3.
18

Fotografia 2 – Comparação do tamanho da mão do examinador (direita) em relação à do paciente (esquerda)

Utilizando o método - largura dos dedos no experimento, objetivando com isso encontrar o
exato local do acuponto PC-6, observamos que a medida realizada pela comparação da largura dos
dedos do examinador com a do paciente permite afirmar que as medidas encontradas são iguais,
servindo assim como referência na localização do ponto para o acupuntor (Fotografia 3a).

(a) (b)
Fotografia 3 – Comparação largura dos dedos do examinador x paciente: Posição comparativa da largura dos
dedos indicador, anular e médio (2 cun) do examinador (em cima) em relação ao da paciente (por baixo) (a);
Vista lateral (b)

Contudo, quando o modelo acima citado foi aplicado distanciando 2 cun da prega do punho,
o ponto encontrado não correspondeu com exatidão a localização do acuponto PC-6 (Fotografia 4).
19

Fotografia 4 – Aplicação de 2cun no antebraço do paciente, utilizando a medida realizada anteriormente pela
largura dos dedos

Já o segundo método, também utilizado para localizar os acupontos -


comprimento/distância corpórea - entra diretamente inserido num conjunto de técnicas utilizadas
para medir denominado: Antropometria. Ela estuda e avalia as dimensões e as proporções corporais,
classificada em: linear (longitudinal – altura e comprimentos e transversal – diâmetros),
circunferencial (perímetro) e massa (peso) 8.
Dentro deste conceito está outro muito importante: o de traçar parâmetros de comparação
quanto às distâncias corpóreas: cabeça-pescoço (Figura 2), troncos (Figura 3), membro superior e
membro inferior (Figura 4).
Este parâmetro permitiu a classificação de uma distância padrão medida em cun para
diferentes partes do corpo (Tabela 1), por exemplo, o antebraço é dividido 12 cun ou a distância
entre os dois mamilos é equivalente a 8 cun.

Figura 2 – Distâncias determinadas na superfície da cabeça. Fonte: TCM Student, 2010


20

Figura 3 – Distâncias determinadas na superfície do tronco. Fonte: TCM Student, 2010

Figura 4 – Distâncias determinadas nos membros. Fonte: TCM Student, 2010


21

A Fotografia 5a. ilustra o método acima citado, permiti-nos saber que partindo dos valores
estabelecidos na literatura, a distância da prega do cotovelo à prega inferior do punho assume o
valor de 12 cun.

6 cun

12 cun 6 cun

(a) (b)

(c)

Fotografia 5 – Divisão do Meridiano Pericárdio: (a) através do uso da distância corpóreo (da prega do
cotovelo à dobra distal do punho – 12 cun); (b) Divisão do antebraço em duas partes iguais (6 cun); (c)
Divisão de uma das metades do antebraço em três partes iguais (2cun)

Se dividirmos o antebraço em duas partes iguais (5b) e novamente em três partes iguais (5c)
até conseguirmos 12 partes iguais, seremos capazes de, com extidão, encontrarmos a localização do
acupnnto PC-6, mesmo que o indivíduo apresente alterações ou deformidades (Fotografia 6).
22

PC7

PC6
PC5
PC4

Fotografia 6 – Localização do acuponto PC-6: após a divisão utilizando o método de distância corpórea

Quando ambos os métodos são comparados - largura dos dedos versus a


distância/comprimento corpóreo em cun, observamos que a técnica que utilizou a largura dos dedos
como referência apresentou comportamento ineficaz e contrário ao esperado (Fotografia 7).
Portanto, é possível afirmar que a posição comparativa do examinador em relação ao paciente é
apenas um indicativo do local onde o ponto se “abre” na superfície do corpo e não seu local exato.

(a) (b)

(c) (d)

Fotografia 7 – Contagem de Cun - largura dos dedos: passo a passo na utilização da contagem de cun
utilizando a técnica de largura dos dedos (a, b, c, d)

Já o comportamento assumido pelo método de distância/comprimento determinado em cun


em diferentes partes do corpo apresentou exatidão quanto à localização do acuponto PC-6,
relevando com isso uma significante e importante diferença em ambas as técnicas (Figura 8).
23

(a) (b)

PC6

(c) (d)

Fotografia 8 - Contagem de Cun comprimento/distância corpóreo: passo a passo na utilização da contagem


de cun utilizando a técnica de comprimento/distância corpóreo (a, b, c) até a localização exata do acuponto
PC-6 (d)

Fica evidente que o sistema de localização dos acupontos é o “ponto chave” na aplicação de
Acupuntura, pois somente a precisão em encontrá-los permitirá um tratamento correto e a obtenção
da fluidez energética.
Torna-se importante ressaltar que a Acupuntura alcançará os resultados esperados em um
tratamento numa proporção direta à precisão em sua aplicação. Levando em conta também o trajeto
do meridiano, a direção, o ângulo de inserção da agulha, à profundidade e a manipulação realizada
pelo acupuntor.
24

IV - CONCLUSÃO

Através desta avaliação constatamos que a técnica de descrições para a localização dos
pontos mais precisa, efetiva e eficaz é a que faz uso das medidas estabelecidas quanto às
distâncias corpóreas, podendo ser aplicado em indivíduos de qualquer idade, sexo, cor, raça,
condição física e/ou presença de variações anatômicas, além de um instrumento bastante simples.
O aspecto que deve ser ressaltado como o mais importante de entre os encontrados nesta
pesquisa foi que a característica/função integral de um acuponto está intimamente ligada à técnica
escolhida como “localizadora” dos mesmos.
Este facto recomenda a realização de novos estudos conduzidos por acupunturistas, no
intuito de avaliar completamente o sistema “picar-tratar” buscando assim, alcançar “O” tratamento
eficaz a quaisquer sintomas.
25

V - REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1. Brasil. Lei nº 971, de 03 de maio de 2006. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares – PNPIC. Diário Oficial da União, Brasília, 03 mai. 2006, (última atualização: não
consta; citado em 07/02/2012). Disponível em:
http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2006/GM/GM-971.htm

2. Brasil, Departamento de informática do SUS, Ministério da Saúde, Brasília, (última atualização:


não consta; citado em 07/02/2012). Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do

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Paulo, 12 jan. 2010, p.2 (última atualização: não consta; citado em 23/05/2012). Disponível em:
http://issuu.com/atendimento-villa/docs/jornal_ed_183623.

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5. Cruz CPT. Medidas e análises estatística em sinais biolétricos sobre pontos de acupuntura,
Dissertação (Mestrado em Física), Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, 2007, 165f.

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http://www.tcmstudent.com/study_tools/Cun%20Measurements.html

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8. Falcão FS. Método de avaliação biomecânica aplicado a postos de trabalho no pólo industrial de
manaus: uma contribuição para o desing ergonêmico. Bauru, Universidade Estadual Paulista Julio
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26

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membros superiores: estudo preliminar comparativo: [s/n], 2004.

19. Peixoto ACA. Variabilidade da distância entre a superfície cutânea e estruturas vitais, nos
pontos de acupuntura da parede posterior do tórax (Dissertação) Covilhã-Portugal, Universidade da
Beira Interior, 2010, 58f.

20. Rodrigues NS. Os efeitos da Acupuntura sobre parâmetros ansiolíticos e desempenho motor em
ratos tratados com reserpina, um modelo animal de doença de Parkinson. Tubarão, 2008, 64f.

21. Sebold LF, Radunz V, Rocha PK. Acupuntura e enfermagem no cuidado da à obesidade.
Cogitare Enferm 2006; 11(3): 234-8.

22. Silva AR. Fundamentos da medicina tradicional chinesa: [s/n], 2010.

23. Silva AR. Apresentação do curso livre de qualificação profissional em medicina chinesa:
história da medicina chinesa. ABRACIF.

24. Silva ALP. O tratamento da ansiedade por intermédia da acupuntura: um estudo de caso. 2010.
Psic. Ciênc. Profis 2010; 30(1): 199-211.

25. Soares NT. Um novo referencial antropométrico de crescimento: significados e implicações.


Rev. Nutri 2003; 16(1): 93-104.

26. Spondyloepiphyseal dysplasia congênita. USA: Wikipédia Foundation (última atualização


14/05/2012; citado em 20/jan/2012). Disponível em:
http://en.wikipedia.org/wiki/Spondyloepiphyseal_dysplasia_congenita
27

27. Translation Localization Globalization. USA: Wordlingo (última atualização 2012; citado em
14/02/2012). Disponível em: http://www.worldlingo.com

28. Unidades de Medidas. Portugal: Associação Nacional de Cruzeiros. (ultima atualização


19/09/2011; citado em 14/03/2010). Disponível em http://www.ancruzeiros.pt/ancunidades.html

29. Vectore C. Psicologia e acupuntura: primeiras aproximações. Psic. Ciênc. Profis 2005; 25(2):
266-285.

30. Wang B. Princípios de medicina interna do imperador amarelo. São Paulo: Ícone, 2001.
28

VI - ANEXO I

Tabela 1 – Medidas em cun pelas distâncias corporais. Fonte: Atlas Gráfico, 2005/2007
PONTOS-LIMITES LIMITES
Cabeça/Pescoço

Distância do E8 de um lado ao E8 do outro lado 9 cun


Distância entre o centro das sobrancelhas e o centro da linha capilar anterior ideal 3 cun
Distância entre o meio da linha capilar anterior ideal e o meio da linha capilar posterior ideal 12 cun
Distância entre o meio da linha capilar posterior ideal e a borda inferior da apófise espinhosa de C7 3 cun
Distância entre as apófises mastoideias 9 cun

Tronco

Distância entre os mamilos 8 cun


Distância entre o meio da fúrcula esternal e a articulação xifoesternal 9 cun
Distância entre a articulação xifoesternal e o umbigo 8 cun
Distância entre o umbigo e a margem superior da sínfise púbica 5 cun
Distância entre a linha axilar interna do centro da axila até a extremidade inferior livre da 11ª costela 12 cun
Distância entre o bordo inferior da T1 e a ponta do cóccix 30 cun

Membro superior

Distância entre a extremidade superior da prega axilar anterior e a prega do cotovelo com o baço
esticado 9 cun
Distância entre a prega do cotovelo e a prega inferior do punho 12 cun

Membro Inferior

Distância entre a borda superior das sínfise púbica e a ponta superior da patela 18 cun
Distância entre a proeminência externa do trocânter maior e a prega poplítea 19 cun
Distância entre a prega poplítea e o maléolo lateral 16 cun
Distância entre o côndilo tibial interno e o maléolo medial 13 cun
Distância entre a prega glútea (B36) e a prega poplítea 14 cun

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