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REPÚBLICA DE ANGOLA

GOVERNO DA PROVÍNCIA DO BENGO


INSTITUTO TÉCNICO DE SAÚDE DO BENGO

TRABALHO FINAL DO CURSO DE FISIOTERAPIA

ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA EM PACIENTES COM AMPUTAÇÃO


TRANSFEMORAL: UM ESTUDO NO CENTRO ORTOPÉDICO DE
REABILITAÇÃO POLIVALENTE DR. ANTÓNIO AGOSTINHO NETO DE VIANA
NO PERÍODO DE 2020-2023.

GRUPO Nº 05

ORIENTADORA
_________________________
EDNA GONÇALVES
Licenciada em Fisioterapia

CAXITO, 2023
ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA EM PACIENTES COM AMPUTAÇÃO
TRANSFEMORAL: UM ESTUDO NO CENTRO ORTOPÉDICO DE
REABILITAÇÃO POLIVALENTE DR. ANTÓNIO AGOSTINHO NETO DE VIANA
NO PERÍODO DE 2020-2023.

Pré-projecto apresentado a Comissão Científica


do Instituto Técnico de Saúde do Bengo como
requisito para elaboração do Trabalho de
Conclusão do Curso de Fisioterapia.

INTEGRANTES DO GRUPO Nº 05:

 Marcelino C. Sucúpia
 Maria D. Pacato
 Maria G. Dumba
 Maria J. Sengue
 Marild C. Sabino
 Miquelina M. Franco
 Marta N. Siliveli

ORIENTADORA
_________________________
EDNA GONÇALVES
Licenciada em Fisioterapia

CAXITO, 2023
ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA EM PACIENTES COM AMPUTAÇÃO
TRANSFEMORAL: UM ESTUDO NO CENTRO ORTOPÉDICO DE
REABILITAÇÃO POLIVALENTE DR. ANTÓNIO AGOSTINHO NETO DE VIANA
NO PERÍODO DE 2020-2023.

Aprovado aos _____/_____/20____

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao


Instituto Técnico de Saúde do Bengo como
requisito para obtenção do título de Técnico
Médio de Fisioterapia.

Banca Examinadora

Presidente___________________________ Assinatura_____________________________

1º Vogal ____________________________ Assinatura _____________________________

2º Vogal ____________________________ Assinatura _____________________________


Autorizamos a reprodução e divulgação total ou parcial deste Trabalho, de forma
convencional ou electrónico para fins de estudo e pesquisa, desde que citado a fonte.

Assinatura _________________________________________________________________

Assinatura _________________________________________________________________

Assinatura _________________________________________________________________

Data _____/_____/20____

FICHA CATALOGRÁFICA

Marcelino C. Sucúpia, Maria D. Pacato, Maria G. Dumba, Maria J. Sengue,


Marild C. Sabino, Miquelina M. Franco, Marta N. Siliveli.

ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA EM PACIENTES COM AMPUTAÇÃO


TRANSFEMORAL: UM ESTUDO NO CENTRO ORTOPÉDICO DE
REABILITAÇÃO POLIVALENTE DR. ANTÓNIO AGOSTINHO NETO DE
VIANA NO PERÍODO DE 2020-2023.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Instituto Técnico de Saúde do Bengo como


requisito para obtenção do título de Técnico Médio de Fisioterapia.

ORIENTADORA

EDNA GONÇALVES
(Licenciada em Fisioterapia)

Palavras-chaves: I-Amputação, II-Transfemoral, III-Fisioterapia, IV-Dessensibilização.


I

DEDICATÓRIA

Dedicamos o nosso trabalho, aos nossos pais, que nos ajudaram financeira e
psicologicamente, aos professores, pela partilha de ideias, seus conhecimento, suas
experiências, aos nossos excelentíssimos supervisores, pela ajuda que nos deram durante a
realização do nosso trabalho, pela atenção, amor, carinho, incentivo, ideias, e aprendizagem,
sem eles a realização deste estagio, pois sem eles nada seria possível, e nós mesmo pela força
de vontade de chegar até aqui.
II

AGRADECIMENTO

Endereçamos os nossos agradecimentos a Deus pelo fôlego da vida, aos nossos pais.

Agradecemos também aos nossos amigos e familiares, por contribuírem na construção


da nossa personalidade e identidade.

Agradecemos também aos nossos Professores que foram de grande ajuda na nossa
formação desde os professores do ensino de base aos do ensino médio, especialmente a nossa
orientadora, Professora Edna Gonçalves, por nos encorajar e ser um exemplo para nós, pelo
seu tempo e paciência na elaboração deste trabalho.

A direção do Centro Ortopédico e de Reabilitação Polivante Dr. Antônio Agostinho


Neto ( CORPAAN ), por nos darem a honra de lá estagiarmos, bem como os excelentíssimos
Doutores do Centro pela formação e conhecimento passado.

A todos aqueles que direita ou indirectamente tornaram possível a realização deste


trabalho e o término desta fase de grande importância na nossa longa caminhada rumo a
formação.
III

EPÍGRAFE

Fisioterapeuta: profissional que transforma dor


em amor. Ser fisioterapeuta é ter o dom de cuidar das
pessoas, amar o próximo e ver em cada olhar de tristeza,
uma esperança. Fisioterapia, mexendo com você! Ser
fisioterapeuta é ter duas mãos e um coração entre elas.

Autor desconhecido
IV

RESUMO

Introdução: Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 15% da população
mundial apresenta algum tipo de deficiência e, com o envelhecimento, esse número
aumentará. Globalmente, mais de 1 bilhão de pessoas precisam de pelo menos 1 produto ou
tecnologia assistiva. A previsão é que em 2030 esse número aumente em 100%. O trabalho
teve como objetivo trazer conhecimento aos pacientes, técnicos de saúde e demais pessoas
sobre amputação transfemoral, bem como a actuação da fisioterapia nos pacientes com esta
condição física. Metodo: trabalho de natureza básica, explorativo, bibliográfico e qualitativo.
Inclusão: estudos que apresentam título e resumo ligados ao tema, bem como os registos de
todos os pacientes com amputação tranfemoral atendidos no Centro Ortopédico de
Reabilitação Polivalente Dr. António Agostinho Neto de Viana no período de 2020 a 2023.
Exclusão: artigos que não falam sobre a amputação e amputação transfemoral e artigos não
científicos ou comprovados, igualmente os registos dos pacientes com amputação não
tranfemoral atendidos no Centro Ortopédico de Reabilitação Polivalente Dr. António
Agostinho Neto. Conclusão:

Palavras Chave: Amputação, Transfemoral, Fisioterapia, Dessensibilização.


V

ABSTRACT
VI

LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS


VII

LISTA DE FIGURAS
VIII

LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS


SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ....................................................................................................................... I
AGRADECIMENTO .............................................................................................................. II
EPÍGRAFE ............................................................................................................................ III
RESUMO................................................................................................................................ IV
ABSTRACT ............................................................................................................................. V
LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS.................................................................... VI
LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................... VII
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS .............................................................................. VIII
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15
1.1 Epidemiologia ................................................................................................................. 16
1.2 Problemática ................................................................................................................... 17
1.3 Pergunta de partida ......................................................................................................... 17
1.3 Justificativa ..................................................................................................................... 18
1.4 Objectivos ....................................................................................................................... 18
1.4.1 Geral ........................................................................................................................ 18
1.4.2 Específicos ............................................................................................................... 18
1.5 Hipóteses ........................................................................................................................ 18
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 20
2.1 Definição ........................................................................................................................ 20
2.2 Níveis de Amputação ..................................................................................................... 20
2.3 Incidência ....................................................................................................................... 23
2.4 Causas ............................................................................................................................. 23
2.5 Quadro Álgico ................................................................................................................ 25
2.6 Complicações ................................................................................................................. 26
2.7 Aspectos psicológicos .................................................................................................... 27
2.8 Tratamento ...................................................................................................................... 28
3 ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA .................................................................................. 29
3.1 Objetivos Da Fisioterapia ............................................................................................... 29
3.2 Conduta Fisioterapêutica ................................................................................................ 29
3.3 Orientações Fisioterapêuticas Gerais ............................................................................. 29
3.4 Tratamento Fisioterapêutico ........................................................................................... 30
3.4.1 Cinesioterapia .......................................................................................................... 30
3.4.2 Massoterapia ............................................................................................................ 31
3.4.3 Dessensibilização .................................................................................................... 31
3.4.4 Enfaixamento ........................................................................................................... 31
3.4.5 Eletrotermofototerapia ............................................................................................. 32
3.4.6 TENS ....................................................................................................................... 32
3.4.7 Laserterapia ............................................................................................................. 32
3.4.8 Hidroterapia ............................................................................................................. 32
3.4.9 Crioterapia ............................................................................................................... 33
3.4.10 Terapia do Espelho ................................................................................................ 33
3.5 Protetização .................................................................................................................... 33
3.5.1 Tipo de estrutura ...................................................................................................... 34
3.5.2 Tipo de encaixe........................................................................................................ 35
3.5.3 Sistema de Suspensão .............................................................................................. 37
3.5.4 Promotores de conforto ........................................................................................... 38
3.5.5 Conceção ................................................................................................................. 39
4 METODOLOGIA................................................................................................................ 43
4.1 Tipo de estudo ................................................................................................................ 43
4.2 Local de estudo ............................................................................................................... 43
4.3 População de estudo ....................................................................................................... 43
4.4 Amostra .......................................................................................................................... 43
4.5 Levantamento dos dados ................................................................................................ 43
4.6 Critérios de inclusão e exclusão ..................................................................................... 43
4.7 Procedimentos éticos ...................................................................................................... 44
4.8 Variáveis ......................................................................................................................... 44
4.9 Procedimentos de recolha de dados ................................................................................ 44
4.10 Procedimentos de análises e processamento de dados ................................................. 44
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 45
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 46
SUGESTÕES .......................................................................................................................... 47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 48
ANEXOS
APÊNDICES
15

1 INTRODUÇÃO

Uma amputação pode ser entendida como a retirada total ou parcial de um membro,
sendo este um método de tratamento para diversas condições de saúde.

A amputação pode ser considerada a cirurgia mais antiga da história da medicina. Em


escavações arqueológicas foram encontrados membros amputados do período neolítico.
Contudo, os primeiros registros são do Século V a.C. por Hipócrates (460-377 a.C.),
considerado o pai da medicina científica. Naquele tempo, a amputação era feita nas
articulações com guilhotinas, sempre em tecidos necróticos, sem sensibilidade e com o uso de
ligaduras. E a indicação para amputação era em casos de gangrena.

Outra descrição técnica sobre amputações de membros é de Celsus (25 a.C. - 50 d.C.),
segundo o qual as amputações eram feitas em planos mais proximais, em tecidos vivos, com
transecções ósseas, utilizando ligadura dos vasos por fios.

No século XVI, Ambroise Paré (1510-1590) foi o primeiro a alcançar a homeostase


dos membros amputados e também o primeiro do qual se tem relatos de conseguir conter o
sangramento com ligaduras e a utilizar pinças e fios para conectar os vasos, assim como é
realizado nos dias de hoje. Em 1674, foi introduzido por Morel, o uso de torniquetes durante
as amputações.

O século XIX ficou marcado pelas melhorias das técnicas de assepsia, anestesia, uso
de antibiótico e cicatrização e recuperação do coto. Foi durante a Segunda Guerra Mundial, na
década de 1940, que houve um avanço no processo de protetização. Nessa época se inicia a
proposta de reabilitação com foco na recuperação do coto, objetivando a independência e
visando proporcionar recuperação mais rápida ao paciente.

A técnica de miodese, feita durante a cirurgia em que se realiza a reinserção muscular


no coto ósseo, foi desenvolvida por Ertl na Alemanha em 1949 e é utilizada até hoje.

Já na década de 1960, os cirurgiões notaram que quanto maior e mais preservado o


coto, mais rápido dava-se a recuperação. Perceberam que o coto se encaixava melhor na
prótese e aumentava o braço de alavanca durante a marcha, o que facilitava a deambulação
com a utilização do recurso assistivo.
16

1.1 Epidemiologia

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 15% da população


mundial apresenta algum tipo de deficiência e, com o envelhecimento, esse número
aumentará. Globalmente, mais de 1 bilhão de pessoas precisam de pelo menos 1 produto ou
tecnologia assistiva. A previsão é que em 2030 esse número aumente em 100% (WHO:
REHABILITATION). A Índia, por exemplo, possui a 2ª maior população mundial, contando
com 1 bilhão de habitantes (UN POPULATION FUND).

Em 2001, de acordo com Pooja et al. (2013), 21 milhões de pessoas viviam com
alguma deficiência. Este país emergente possui o senso de reabilitação baseado na
comunidade (CBR).

O CBR consiste em programas de educação, prevenção de lesões, reabilitação de


idosos e treinamento de habilidades para a vida (para reduzir o índice de criminalidade, por
exemplo) que de forma sustentável e apoiada pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
visa reduzir os índices de amputações neste país.

Além disso, em relação aos amputados, eles têm o sentimento de “acompanhamento”


que é fundamental para manter a união e o entusiasmo entre recém amputados e amputados já
reabilitados (Pooja, 2013); (Thomas, 2019).

Os Estados Unidos da América têm a 3ª maior população do mundo (UN


POPULATION FUND). Carey et al. (2016) percebeu que em 2005, aproximadamente 1,6
milhão de pessoas viviam com alguma amputação nos Estados Unidos.

Segundo Piazza et al. (2017), a identificação das dificuldades e limitações de uma


determinada população pode estimular ainda mais pesquisas científicas. Em um estudo mais
recente. Pires et al. (2020) expressa que faltam pesquisas em relação as amputações e os
instrumentos existentes são insuficientes para proporcionaram uma evolução na qualidade de
vida, na viabilização de atividades físicas aos deficientes e na promoção do uso e ajustes de
próteses.

Até os dias actuais não foi explorada a porcentagem de procedimentos de amputação


em Angola (que compõe uma das categorias de deficiência explorada pela ONU), tampouco a
incidência progressiva de amputações ao longo dos últimos 10 anos. E, através deste estudo,
17

espera-se estimular o desenvolvimento de futuras tecnologias em reabilitação através do


conhecimento acerca das características da população com amputação.

Na década de 90, Japão, Tawain, Espanha, Itália, América do Norte e Inglaterra


apresentavam incidência de 2,8 a 43,9 amputações MMII por 100.000 habitantes (Peixoto,
2017). Ostlie et al. (2011) estimou que, na Noruega, a incidência de amputações de MMSS é
de 11.6 por 100.000 habitantes nos anos de 2006 a 2008, em suma, 84% foram de etiologia
traumática. Este estudo expressa ser uma estimativa de índice de amputações de MMSS
relativamente baixo.

Enfatizando que a avaliação da distribuição geográfica das amputações MMSS é e foi


importante para que todos os hospitais noruegueses obtivessem tal informação e
encaminhassem obrigatoriamente o paciente à uma unidade de reabilitação após a alta da
enfermaria cirúrgica.

1.2 Problemática

Mediante os dados epidemiológicos acima descritos, podemos constatar que


atualmente há um elevado número de pessoas com amputações, dentre elas temos as com
amputação transfemoral, causadas por vários factores e como profissionais temos constatado a
dificuldade de muitos pacientes nesta condição em voltarem as actividades normais e se
reintegrarem no meio social e profissional, onde muitos desistem de seus sonhos e alguns
chegam até a atentar contra a própria vida.

Muitos desses pacientes e seus familiares não têm conhecimento sobre tudo que a
fisioterapia tem a oferecer para que o mesmo possa voltar as suas actividades normais,
continuar com a sua vida profissional e social. Não obstante disso, também nos deparamos
com a falta de trabalhos publicados referentes ao estudo dos pacientes com amputação
transfemoral em Angola.

1.3 Pergunta de partida

Diante do exposto acima, formulou-se a seguinte pergunta de partida:

De que modo a fisioterapia actua em pacientes com amputação transfemoral,


levando os mesmos ao retorno das suas actividades diárias e sua reintegração ao meio
social e profissional?
18

1.3 Justificativa

A elaboração deste trabalho cinge-se na urgência e importância da abordagem do tema


em questão, pois são numerosos os casos de pacientes amputados, derivados de traumatismo,
patologias ou deformações congénitas, que não aceitam a nova realidade e acabam por desistir
das suas vidas. Para isso, é fundamental estudarmos esta condição física a fim de
compreender e analisar qual o melhor método de tratamento para que os mesmos possam
retornar as suas actividades normais, pois a inclusão das pessoas nessa condição ainda é um
tabu na nossa sociedade. Igualmente, este estudo dá-se pela falta de estudos do género
realizados em território nacional.

1.4 Objectivos

1.4.1 Geral

Trazer conhecimento aos pacientes, técnicos de saúde e demais pessoas sobre


amputação transfemoral, bem como a actuação da fisioterapia nos pacientes com esta
condição física.

1.4.2 Específicos

 Conceituar a amputação tranfemoral;


 Investigar os principais factores causadores deste tipo de amputação;
 Classificar os casos de pacientes com amputação transfemoral segundo o sexo, idade e
causas;
 Citar os factores de riscos;
 Conhecer os recursos que a fisioterapia oferece no tratamento e reabilitação dos
pacientes nesta condição;
 Analisar o processo de aceitação psico-social referente a nova realidade do paciente;
 Descrever as dificuldades destes pacientes durante o processo de reabilitação;
 Sugerir recomendações para prevenir futuras complicações.

1.5 Hipóteses

H1: A fisioterapia é a ciência da área da saúde aplicada ao estudo, diagnóstico, prevenção e


tratamento de disfunção cinética funcionais de órgão e sistemas do corpo humano, oferecendo
métodos de tratamento para pacientes com amputação transfemoral.
19

H2: Por meio de técnicas e recursos técnicos que a fisioterapia oferece, o paciente ganhará
resistência, capacidade motora, força, mobilidade e equilibrio, tornando o paciente mais
independente e possibilitando o mesmo regressar as suas actividades diárias.

H3: Oferecendo vários recursos ao paciente, as possibilidades do mesmo voltar a acreditar em


si mesmo e continuar com a sua vida serão maiores, pois ele poderá ver que há um novo
recomeço, que apesar da sua condição física poderá ser um exemplo e um modelo de vida
para muitos que passam pela mesma situação.
20

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Definição

As amputações são cirurgias em que uma porção ou a totalidade de um membro é


extirpada. Para isso, são removidos tecidos como ossos, músculos, fáscias, cartilagem e pele.
Os nervos e vasos sanguíneos são submetidos a ligadura, que consiste na amarradura junto a
extremidade distal do coto, para evitar o sangramento. A extremidade remanescente é
chamada coto, que deve ser maior possível para gerar melhor funcionalidade.

Segundo Carvalho (2003), “amputação é uma palavra derivada do latim tendo o


significado de ambi = ao redor de/em torno de e putatio = podar/retirar, definida como a
retirada, geralmente cirúrgica, total ou parcial de um membro do corpo”. Para algumas
pessoas, este termo traz consigo a idéia de mutilação e derrota, além de um sentido negativo
ligado à incapacidade e dependência.

Segundo CRENSHAW (2002) A amputação deve ser diferenciada de desarticulação,


pois a amputação consiste na remoção de um ou mais ossos, diferente de desarticulação que
remove uma parte por meio de uma articulação.

As amputações são classificados de acordo com o local de sua realização, sendo que em
membros inferiores(MMII) os principais tipos são: amputação parcial de pé, Syme, transtibial,
desarticulação de joelho, transfemoral, desarticulação de quadril e hemipelvictomia
(BOCCOLINI, 2000).

Sendo assim, a amputação transfemoral refere-se a toda amputação realizada entre a


articulação do joelho e quadril (CARVALHO, 2003). Também pode-se dividi-las em três
níveis: terço proximal, médio e distal (BOCCOLINI, 2000). A cicatrização normalmente
encontra-se na região distal ou pósteroinferior do membro. O coto de um amputado
transfemoral tende a apresentar uma deformidade em flexão e abdução do quadril, e quanto
mais proximal, maior a tendência à deformidade. Isso se deve a um desequilíbrio de forças
entre os músculos abdutores e adutores.

2.2 Níveis de Amputação

A amputação pode dar-se em diferentes níveis, concomitantemente ao nível de


amputação, o nível de funcionalidade também é variável onde amputações de nível mais distal
21

oferecem uma melhor qualidade de vida aos pacientes e devido ao menor gasto energético
durante a marcha, menor tempo de reabilitação, melhor feedback proprioceptivo e marcha
precoce. (LOPES, 2017).

O nível de amputação é uma decisão clínica do médico cirurgião. Este irá avaliar o
membro e realizar a tomada de decisão clínica do nível em que o membro deve ser amputado.
Quanto aos níveis amputação em membros inferiores, que estão representados na Figura 1,
podemos citar: Desarticulação do quadril, amputação transfemoral, desarticulação do joelho
(preserva-se a articulação do joelho) e amputação transtibial. Cada um desses níveis de
amputação apresenta subníveis onde, por exemplo, na amputação transfemoral pode ser
realizada no terço proximal, intermédio ou distal da diáfise do fêmur. (DE LUCCIA; DA
SILVA, 2003).

A amputação transfemoral (ATF) consiste em uma perda anatômica funcional (ossos,


articulações e músculos) em membros inferiores. Esta perda está relacionada diretamente na
capacidade do indivíduo de realizar suas atividades de vida funcionais na posição bípede.
(GOUBIN, 2018).

Este procedimento realiza a desarticulação entre joelho e quadril, podendo ser de


forma bilateral ou unilateral em três níveis, de acordo com a Figura 2: terço proximal,
preservando 35% do comprimento do fêmur; terço médio, onde se preserva de 35 a 60% do
comprimento do fêmur e terço distal, onde é preservado 60% do comprimento do fêmur.
(CHAVES, 2017).
22

É um dos procedimentos médicos mais frequentes em relação as amputações, leva o


indivíduo a perder duas articulações de grande relevância para a funcionalidade, o joelho e o
tornozelo, duas estruturas ligadas de forma intrínseca com o sistema nervoso central e que
enviam constantemente informações proprioceptivas e sensoriais ao cérebro. Desta forma,
estas articulações estão relacionadas com as principais atividades funcionais de locomoção do
indivíduo, principalmente em posição ortostática, como a marcha, dentre outras atividades de
vida diária.
23

2.3 Incidência

Para Fernandes (2007), a maior incidência das amputações são as vasculopatias (75%
das causas em MMII) seguidas pelos traumas (20%) e tumores (5%). Para membros
superiores (MMSS), a maior causa são os acidentes de trabalho. Enquanto que as amputações
de membros inferiores de causa traumática, são causadas por acidentes de transito (LEITAO,
1995).

A faixa etária dos pacientes amputados varia dependendo da causa da amputação.


Assim, doenças vasculares geralmente atingem uma faixa etária mais avançada. Já tumores
malignos têm uma incidência variada, e acidentes traumáticos geralmente ocorrem em
indivíduos mais jovens e sadios (LUNDBERG & GUGGENHEIM,1986)

As amputações traumáticas acometem principalmente adolescentes e adultos jovens,


os quais estão mais expostos aos acidentes de trabalho e acidentes por meios de transporte,
frutos da tecnologia (CARVALHO, 2003). Sendo indicada, quando se torna impossível uma
reconstrução do membro lesionado (GOTTSCHALK, 1999). Uma realidade é certa para todos
os amputados, a sua estrutura corporal foi irreversivelmente alterada, e os sentimentos de
raiva, ansiedade, frustração e pena de si próprio estão presentes durante as primeiras semanas
ou meses após a cirurgia (LUNDBERG & GUGGENHEIM, 1986).

2.4 Causas

De acordo com Bocolini (2000) as amputações de acordo com sua etiologia são
classificadas em três tipos, congênitas o paciente já nasce com ausência de um membro ou
parte dele, traumáticas que são causadas por traumas violentos e vasculares decorrentes de
moléstias circulatórias, tumorais ou infecciosas.

O perfil das amputações mudou muito nos últimos tempos. Isso se deve ao advento de
novos medicamentos, à quimioterapia e radioterapia, à utilização de fixadores externos, de
câmaras hiperbáricas e às técnicas cirúrgicas de revestimento cutâneo entre outros. Nas
amputações de MMII, pode-se encontrar etiologias relacionadas a processos: vasculares,
neuropáticos, traumáticos, tumorais, infecciosos, congênitos e iatrogênicos.

Doenças vasculares periféricas: atingem principalmente pacientes com uma faixa


etária mais avançada, os quais estão mais suscetíveis a doenças degenerativas como a
arteriosclerose. As inovações do mundo moderno aumentaram a longevidade da população,
24

aumentando consequentemente o número de amputações. Entretanto, alguns quadros podem


causar amputações em pacientes mais jovens. Dentre as patologias vasculares cita-se: doenças
arteriais (que são as mais comuns), venosas ou linfáticas.

Neuropatia periférica: inúmeras doenças ou processos podem levar à neuropatia


periférica. Dentre elas, a neuropatia diabética, com manifestações clínicas (que incluem
alterações do sistema autônomo) e alterações motoras e sensoriais, tem levado a altos índices
de amputações. Os pacientes com neuropatia diabética apresentam diminuição ou perda de
sensibilidade vibratória, térmica, tátil e dolorosa aumentando os riscos de ulceração nos pés
diabéticos. A perda de sensibilidade protetora (termo utilizado para descrever a autoproteção
dos traumas) é características desses pacientes. Orientações e informações preventivas devem
ser dadas aos pacientes e familiares a fim de se prevenir possíveis complicações, tais como,
ulceração, infecção e amputação.

Traumáticas: acometem principalmente pacientes adolescentes e adultos jovens, os


quais estão mais expostos aos acidentes de trabalho e acidentes por meios de transporte, frutos
da tecnologia moderna. Batalhas e minas perdidas ainda continuam causando amputações em
alguns países. Há também amputações ocasionadas por armas de fogo, queimaduras severas e
descarga elétrica. Com o advento de técnicas cirúrgicas e a utilização de fixadores externos, o
índice de amputações por lesões traumáticas tem diminuído razoavelmente.

Tumorais: afetam principalmente crianças e adolescentes; também têm diminuído


consideravelmente, graças aos bons resultados obtidos com o diagnóstico precoce, a
radioterapia, a quimioterapia, a utilização de endoprótese, os enxertos e algumas outras
cirurgias conservadoras. O evidente aumento da sobrevida, conseguido desde a década
passada, faz com que hoje se possa falar na cura completa de mais de 70% das crianças
diagnosticadas com o sarcoma ósseo que, por sua vez, é de alta malignidade. Esse índice era
inatingível até então por tratar-se de uma doença letal.

Infecciosas: também têm sido menos frequentes em virtude dos grandes avanços
laboratoriais e do desenvolvimento dos medicamentos mais específicos. A meningite
meningocócica é uma amputação infecciosa clássica, caracterizada por lesões cutâneas
importantes que podem causar necroses das extremidades. As infecções também podem estar
relacionadas a processos traumáticos e infecciosos.
25

Iatrogênicas: estão associadas a complicações adquiridas pelo paciente durante o


curso do tratamento.

Os pacientes portadores de anomalia congênita que apresentam deformidades


importantes, as quais podem impossibilitar a protetização ou dificultar a função do membro
residual, geralmente são encaminhados para procedimentos cirúrgicos, estando, entre eles, a
amputação. Como exemplo, pode-se citar as agenesias de tíbia. Com a utilização de fixadores
externos tais indicações também diminuíram. Esse tipo de amputação deve ser realizada nos
primeiros anos de vida, obtendo-se, dessa forma, uma reabilitação precoce e maior aceitação
por parte do paciente.

Complicações de doenças crônicas como diabetes mellitus, aterosclerose, embolias e


tromboses arteriais são responsáveis por 80% do total de amputações, principalmente em
idades mais avançadas. Especificamente nos pacientes com diabetes mellitus (neuropatia e
vasculopatia periférica), o risco de amputação contralateral é presente e de incidência
crescente, sendo de 11,9% após um ano da amputação unilateral, 17,8% após dois anos,
27,2% após três anos e 44,3% após quatro anos (EBSKOV, B., 1980).

Um estudo realizado no Rio Grande do Sul, Brasil, com 288 pacientes, sendo 63
amputados bilaterais, demonstrou que a causa mais frequente da amputação neste grupo foi a
isquemia crítica, que o nível mais prevalente foi o transfemoral e que a taxa de mortalidade
era de 50%, quando ambas as amputações ocorriam com intervalos de 30 dias (LEITE, C.F.,
FRANKINI, A.D., DAVID, E.D., HAFFNER, J., 2004).

Outras causas menos frequentes englobam as de âmbito traumático, tumores malignos,


lesões nervosas, malformações congênitas e lesões térmicas. A amputação bilateral de MMII
é mais prevalente em pacientes jovens do sexo masculino após trauma. (PICCOLOTTO, P.,
CARVALHO, A.B., CHAMLIAN, T.R., 2005).

2.5 Quadro Álgico

O termo amputação é definido como a remoção de uma extremidade do corpo por


meio de cirurgia ou acidente. Na medicina, esta prática é utilizada para controlar a dor ou
doença que está acometendo o membro em questão. A amputação, regra geral, origina um
quadro álgico que pode manifestar-se de modos muito diversos. A amputação revela-se assim
26

como uma situação clínica cuja sintomatologia álgica diversificada constitui um desafio para
a abordagem clínica e terapêutica do doente amputado com dor (CARVALHO, 2003).

A dor pode ser classificada de algumas formas, entre elas estão à dor aguda, dor
crônica em questão e a dor fantasma. Dor aguda é aquela de início comumente súbito, de fácil
localização, relacionada temporalmente à lesão causadora, e deve desaparecer durante o
período esperado de recuperação do organismo ao evento que a causa. A dor crônica,
considerada com duração maior que 3 meses, ou que ultrapassa o período usual de
recuperação esperado para a causa desencadeante da dor (alguns consideram a esse limite 6
meses).

Uma dor pode tornar-se crônica pelos mais variados motivos, mas ela certamente não
tem mais uma função de alerta ou defesa. Dor fantasma, definida como sensação dolorosa
referente ao membro perdido; a “dor no coto” é localizada na extremidade da amputação. A
dor fantasma é mais comum após amputação de membros superiores ou inferiores; mas não
impede que a dor apareça depois de retirada de qualquer outra região do corpo (CARVALHO,
2003; ROHFS; ZAZÁ, 2000).

2.6 Complicações

Da Costa Santos, Lee (2014) aborda que as amputações podem ocasionar algumas
complicações após o processo operatório, sendo elas as mais comuns: ulceração do coto,
edema, retração cicatricial, inflamações, infecções, neuromas, contraturas, isquemia, espiculas
ósseas, necrose, trombose venosa profunda, dor no coto e deformidade. Existindo também,
outras complicações indesejadas consecutivas da amputação, entre eles, a dor e sensação
fantasma, decorrente do estímulo mecânico ou pressão e menor fluxo sanguíneo no neuroma,
formado esse após a secção do nervo. Tais complicações podem aparecer de forma prematura,
como o evento da infecção, ou surgirem tardiamente: contraturas, dor no indivíduo (dor no
coto, dor e sensação fantasma), debilitação geral e uma situação psicológica deprimida.

Segundo Goubin (2018) ainda relata que entre as assimetrias posturais relacionadas com as
amputações podem estar: Discrepância entre o tamanho de membros, rotação/inclinação da
pélvis, retração de músculos do quadril, limitação em movimentos de inclinação lateral de
tronco e extensão de quadril. Outro fator importante a ser elucidado é a perda de função
sensoriomotora do membro, o que pode levar o indivíduo amputado a modificar suas
27

habilidades motoras e aprender a compensar essas alterações através de estratégias utilizando


o membro intacto e o coto.

2.7 Aspectos psicológicos

Segundo Cavalcanti (1994), a remoção de um membro coloca o paciente diante de


muitos problemas, sendo negligência permitir que o paciente os ignore. Todos os esforços
devem dirigir-se para explicar com honestidade e realidade a necessidade da cirurgia e
verificar a aceitação e compreensão, assegurando os cuidados necessários para enfrentar as
dificuldades que virão após o processo cirúrgico.

Para Probstner e Thuler (2006), a deficiência física, pode afetar a imagem corporal do
indivíduo, e uma vez alterada essa imagem de forma brusca se faz necessário à reintegração
desta imagem ao novo esquema corporal. Esta reintegração irá repercutir no próprio
autoconceito do amputado, sendo de fundamental importância que o amputado conte com
uma reconstrução positiva da imagem corporal.

De acordo com Ephraim et. al. (2003), o paciente que passa por um processo cirúrgico
de remoção de membros sofre modificações em sua vida, sendo afetado diretamente seu
comportamento e sua maneira de agir. Pacientes com amputação de membros inferiores
enfrentam desafios de se ajustar psicologicamente de algum modo à perda desse membro,
ajustar-se à deficiência física, podendo tornar-se incapacitado, afetando suas condições de
saúde e o seu bem-estar.

O período pré-operatório, que é o período entre a indicação da cirurgia, a aceitação por


parte do paciente e o início da operação, comporta uma série de medidas propostas em avaliar
as condições psicofísicas do paciente, os riscos ligados ao ato cirúrgico, assim como os
benefícios e prejuízos. O que se realiza é que ao lado dos exames, dos controles de infecções e
de outras condições associadas, não ocorre o mesmo cuidado pelos aspectos emocionais,
mantendo-se pouco conhecidos os fenômenos psicológicos (CAVALCANTI, 1994).

Esses pacientes evoluem de acordo com suas personalidades, suas conquistas ou


insucessos prévios à amputação, devendo por isso serem cuidados simultaneamente sob uma
abordagem que integre os aspectos físicos e o psíquico. Mesmo aqueles que já utilizam
próteses há muito tempo podem, diante de uma situação adversa, apresentar alterações
emocionais e sensoriais que acabam por trazê-los de volta aos consultórios médicos, com
28

síndromes dolorosas musculoesqueléticas, distúrbios do equilíbrio e outras deficiências de há


muito superadas e que, naquele momento especial, causam-lhes agravo à funcionalidade.
Assim, todo indivíduo amputado deseja uma prótese para devolver-lhe a sensação de
integridade física e restaurar-lhe a autoconfiança abalada pela amputação. Quanto melhor seu
desempenho com a prótese, depois de superada a etapa de treinamento e adaptação, mais
segurança e autoconfiança ele terá para, novamente, reintegrar-se à Sociedade

2.8 Tratamento

O tratamento medicamentoso é importante para o tratamento sintomático, tendo


efeitos anti-inflamatórios que diminuem o inchaço das articulações, analgésico reduzem as
dores e antipiréticos diminuem ou curam a febre se ela existir; são sintomáticos porque não
modificam o curso da doença, mas são úteis para controlar os sintomas devido a inflamação.

A abordagem terapêutica para este acometimento é organizada em três


modalidades: medicamentosa, de apoio e cirúrgica, podendo ser usada em
conjunto ou separadamente. No grupo de medicamentos, são utilizados
drogas, como antidepressivos, tricíclicos, bloqueadores de canal de sódio,
anticonvulsivantes, anestésicos, calcitonina e os menos eficazes como
opióides e antiinflamatórios não-esteróides. Por outro lado os tratamentos de
apoio incluem técnicas não invasivas como estimulação elétrica, terapia
vibratória, acupuntura e biofeedback, já as abordagens cirúrgicas não tem
resultados eficazes e é pouco utilizada. (PROBSTNER, D e THULER, LCS.
Revista Brasileira de Cancerologia, p. 396, Out. 2006).
29

3 ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA

3.1 Objetivos Da Fisioterapia

Existem vários fatores que interferem no processo de reabilitação dos pacientes


amputados, tais como: idade avançada; etiologia e nível da amputação; tempo de evolução
entre a amputação e o início da reabilitação; complicações clínicas e nível sócio-econômico.

Segundo Schweitzer (2004), o fisioterapeuta desempenha papel fundamental quanto à


reeducação funcional, acompanhando o paciente em todos os estágios do programa de
reabilitação, fazendo parte de equipe multidisciplinar, supervisionando e tratando desde o
estágio pré e pós-operatório, na educação de mobilidade pré e pós-protética e, se necessário,
em cuidados de manutenção das funções músculo-esqueléticas.

A reabilitação em pacientes amputados de MMII é indicada para todas as etiologias na


primeira fase, porém só avançam para a segunda fase os pacientes que alcançarem
independência em auxiliares de locomoção com bom equilíbrio e apresentarem boas
condições clínicas para deambularem com certo grau de esforço com a prótese.

Segundo Sampol, (2000), nesse sentido, a presença do fisioterapeuta é importante no


processo dinâmico, criativo, progressivo, educativo e, objetiva a restauração ótima do
indivíduo, sua reintegração à família, comunidade e sociedade.

3.2 Conduta Fisioterapêutica

Segundo Vidal et al. (2004), a fisioterapia deve ser realizada logo após a amputação,
atuando no posicionamento correto no leito, dessensibilização do coto, exercícios ativo-
assistidos, ativo-livres e isométricos, uso de bandagens, exercícios de propriocepção, trabalho
do membro contralateral e membros superiores e treino de marcha. Tendo como objetivo a
manutenção da amplitude de movimento, aumento de força muscular, equilíbrio e adaptações
da marcha de acordo com a possibilidade do paciente, envolvendo orientação e condutas de
prevenção e reabilitação.

3.3 Orientações Fisioterapêuticas Gerais

Segundo Ticianeli et al. (2003), para correto posicionamento do coto no leito, o


indivíduo deve evitar comportamento de flexão de joelho, abdução e rotação externa de coxa,
não usar travesseiro embaixo do coto e manter sempre os membros inferiores alinhados para
30

evitar contraturas,que podem surgir em decorrência do enrijecimento fascial e do


desequilíbrio muscular, de um reflexo protetor de retirada, da perda da estimulação plantar em
extensão ou resultado de algum posicionamento inadequado.

3.4 Tratamento Fisioterapêutico

Para Gauthier-Gagnon et al. (2000), o tratamento deverá ser iniciado de forma precoce
para recuperação funcional, com objetivo de acelerar a protetização e o retorno às atividades.
De maneira específica, os objetivos visam cicatrização e redução de edema, manter ou
aumentar força muscular de ambos os membros, transferências e cuidados no leito, prevenir
contraturas articulares do membro residual ou qualquer membro, instrução nos cuidados do
membro residual e deambulação com muletas.

Segundo Diogo et al. (2003), são vários os fatores que devem ser considerados para
prescrição adequada de tratamento, como presença de múltiplas afecções, independência
funcional, autonomia, idade avançada, etiologia e nível de amputação, tempo de evolução
entre amputação e início da reabilitação. Devido a tais fatores, é fundamental um trabalho
multidisciplinar, que vise o desenvolvimento e participação ativa do paciente no seu
tratamento.

3.4.1 Cinesioterapia

A cinesioterapia é amplamente utilizada no tratamento de amputados, sendo


fundamental em sua reabilitação. Segundo Kisner (2005), os exercícios fisioterapêuticos
correspondem ao treinamento sistemático e planejado de movimentos corporais, posturas ou
atividades físicas com o objetivo de proporcionar ao paciente meios de: tratar ou prevenir
comprometimentos; melhorar, restaurar ou aumentar a função física; evitar ou reduzir fatores
de risco relacionados à saúde; otimizar o estado de saúde geral, o preparo físico ou a sensação
de bem-estar. A cinesioterapia vai utilizar-se de exercícios de condicionamento e
recondicionamento aeróbico; exercícios de desempenho muscular: força, potência e
treinamento de resistência à fadiga; técnicas de alongamento; exercícios de equilíbrio e
treinamento de agilidade; exercícios de relaxamento; exercícios respiratórios; treinamento
funcional específico à tarefa, entre outros (KISNER, 2005).
31

Todos os grupos musculares dos membros superiores, do tronco e dos membros


inferiores devem ser trabalhados, e não somente aqueles que agem contra as deformidades
(CARVALHO, 2003).

3.4.2 Massoterapia

A massoterapia envolve a manipulação e mobilização de tecidos moles. Segundo


Carvalho (2003), a massoterapia é utilizada nos cuidados com a cicatriz com aderências ou
retrações. As técnicas realizadas são: a compressão, o deslizamento superficial e profundo, o
amassamento, o enrolamento e fricção; sendo contra-indicada em deiscências de suturas e em
alguns casos de neuromas superficiais, pois são facilmente estimulados e desencadeiam
estímulos dolorosos ao paciente. Porém, quando o paciente tolera, são utilizadas técnicas de
deslizamento superficial e profundo, e fricções são realizadas de a de acordo com a tolerância
do paciente. Conforme a dessensibilização vai sendo conseguida, a pressão aplicada vai sendo
aumentada.

3.4.3 Dessensibilização

Brito et al (2005), definem dessensibilização como estímulos sensitivos realizados na


extremidade distal do coto que irão levar ao saturamento dos receptores das vias aferentes
sensitivas, visando uma normalização da sensibilidade local. Objetiva-se com isso, diminuir a
hipersensibilidade local, para que seja suportável a adaptação à prótese, mediante movimentos
lentos e graduais, começando do estímulo mais fino para o mais áspero, sendo passado de
uma fase para outra à medida em que o paciente relatar não ser mais um incômodo o estímulo
realizado pelo fisioterapeuta.

3.4.4 Enfaixamento

O enfaixamento do coto é uma técnica indispensável na reabilitação do paciente


amputado. Os enfaixamentos com ataduras elásticas são úteis tanto na redução do edema
como principalmente para moldar o coto para uma posterior protetização, tornando-o
afunilado e apto a receber o encaixe protético (CARVALHO, 2003). No enfaixamento deve-
se ter cuidado para não apertar muito a faixa, já que a tensão será dada pelo grau de
estiramento que se der à faixa elástica enquanto se enfaixa o coto.
32

3.4.5 Eletrotermofototerapia

A eletrotermofototerapia é amplamente utilizada na reabilitação de amputados. O


ultrasom é bastante utilizado. Segundo Agne (2006), tem efeito sobre neuromas de
amputação, sendo comprovado sua maior eficácia com o modo pulsado (10-20%) a 16-48 Hz
e dose de 0,4W/cm2. A redução da dor deve-se a fatores como o aumento da extensibilidade
do tecido conjuntivo que envolve o nervo ou inclusive pela própria reparação nervosa
modificando o tipo de dor. Uma forma de contribuir no tratamento é associar o ultra-som
paravertebral. E ainda, nas retrações do tecido fibroso, o ultra-som melhora a extensibilidade
e facilita o estiramento. Para se ter um aumento da temperatura, deve ser aplicado no modo
contínuo e a ao redor de 1.0 W/cm2.

3.4.6 TENS

O TENS (Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea) tem um bom índice de


utilização. As indicações para o uso do TENS são o alívio da dor, ou seja, a eletroanalgesia,
fazendo-se assim o uso em qualquer síndrome dolorosa aguda ou crônica de causa
diagnosticada, inclusive em pós operatórios imediatos. (GUIMARÃES, 1998 apud
CACHOEIRA e FERÃO, 2002). O emprego do ultra-som e do TENS tem diminuído
eventuais problemas em relação à dor e à sensação fantasma (CARVALHO, 2003).

3.4.7 Laserterapia

A laserterapia de baixa potência ainda é considerada uma área recente, em que


predominam alguns efeitos terapêuticos observados clinicamente, como a analgesia local,
ação antiedematosa e anti-inflamatória, a cicatrização de feridas de difícil evolução (AGNE,
2006). Sendo também utilizado na reabilitação de amputados, em sua fase de pré protetização.

3.4.8 Hidroterapia

A hidroterapia também pode ser realizada. Segundo Kisner (2005), a hidroterapia em


piscina facilita a aplicação de várias técnicas fisioterapêuticas estabelecidas, incluindo
alongamento, fortalecimento, mobilização articular, treinamento de marcha e de equilíbrio e
de resistência à fadiga. Possui os objetivos de: facilitar os exercícios de amplitude de
movimento; iniciar o treinamento resistido; facilitar atividades de descarga de peso; facilitar
os exercícios cardiovasculares; iniciar a simulação de atividades funcionais; favorecer o
relaxamento do paciente; entre outros.
33

Ainda dentro da hidroterapia, a utilização do turbilhão é indicada, pois tem ajudado na


liberação de cicatrizes retráteis (CARVALHO, 2003). As respostas fisiológicas que são
aceitas de qualquer forma de calor são o aumento da extensibilidade do tecido colágeno, a
diminuição da rigidez articular, a produção do alívio da dor e aumento do fluxo sanguíneo,
efeitos esses conduzidos pela utilização do turbilhão (LEHMANN, 1994 apud CACHOEIRA
e FERÃO, 2002).

3.4.9 Crioterapia

Para Moreira et al (2011), a crioterapia abrange grande quantidade de técnicas


especificas que utilizam fontes frias, com o objetivo de diminuir o calor corporal ou da região
aplicada, induzindo os tecidos a diminuição do metabolismo e dos efeitos inflamatórios e a
redução da dor. Além de romper o ciclo dor-espasmo e reduz a sensação de dor, o frio reduz
também a velocidade de condução nervosa, possibilita a libertação de endorfinas e diminui,
diretamente, a atividade do fuso muscular (DENEGAR, 2003).

3.4.10 Terapia do Espelho

Uma técnica considerada nova que vem sendo estudada e aplicada entre os tratamento
com amputados é a Terapia do Espelho/ Mirror Box iniciada por Ramachabdra e Rogers-
Ramachadram, que consiste em dar ao paciente amputado um biofeedback visual, pois ocorre
a recodificação da imagem corporal tendo o membro perdido novamente no lugar, os
benefícios desta técnica vão de analgesia para o membro fantasma quanto a melhora do
controle motor (YILDIRIM; KANAN, 2016).

3.5 Protetização

A amputação é a perda total ou parcial de um membro, geralmente é relacionada com


mutilação, incapacidade e dependência. Com ela surgiu a necessidade de substituir a região
perdida pela prótese.

As próteses de membros inferiores são dispositivos desenvolvidos para substituir a


função e/ou a aparência do membro inferior em falta tanto quanto possível. As categorias
básicas de próteses de membros inferiores são, pela altura da amputação, próteses transtibiais
e transfemorais.
34

Uma prótese transfemoral é um dispositivo médico concebido por medida, composto


por:
 Componente de contacto com o coto ou interface, denominado encaixe;
 Estrutura de ligação entre os diversos componentes (tubos e adaptadores);
 Componentes funcionais como articulações de joelho e pé;
 Componentes de apoio à suspensão.

As próteses transfemorais podem ser classificadas quanto ao tipo de estrutura, tipo de


encaixe (parte da prótese que interage com o coto) e de mecanismo protético.

Figura 1-Componentes de uma prótese transfemoral

A dimensão dos diferentes componentes é definida de acordo com a altura do


amputado e do membro residual.

3.5.1 Tipo de estrutura

Quanto ao tipo de estrutura estas próteses podem classificar-se em endoesqueléticas


(Figura A) ou exoesqueléticas (Figura B). São consideradas endoesqueléticas as próteses em
que a sua resistência é garantida por uma estrutura interior tubular, em diferentes materiais
ajustados ao peso e atividade do amputado, sendo o aspeto cosmético assegurado por um
revestimento de espuma. Nas próteses exoesqueléticas a resistência e também o revestimento,
são assegurados por uma estrutura exterior laminada em resina com um pigmento cor da pele
que confere também o acabamento cosmético.
35

Figura 2- Estruturas endoesquelética(A) e exoesqueléticas(B)

As próteses exoesqueléticas têm: um preço mais acessível que as endoesqueléticas,


bastante durabilidade e baixa manutenção, porém apresentam algumas caraterísticas negativas
como: a estética, o conforto, a necessidade de realinhamentos e a menor possibilidade de
utilização de componentes protéticos. As endoesqueléticas apresentam numerosas
possibilidades de pés e joelhos, estética, funcionalidade, alinhamento e possibilidade de
manipulação pelo paciente, porém o seu preço é bastante elevado.

Apesar dos aspetos positivos e negativos de cada uma delas, a escolha do tipo de
prótese a usar assenta sempre na satisfação das necessidades do amputado, tendo em conta os
seus aspetos físico e financeiro. São tidos em conta o grau de atividade e o peso do amputado,
o comprimento e as condições gerais do coto, a bilateralidade ou não da amputação, o meio
ambiente em que vive o amputado, o local de trabalho, hobbies e poder económico.

Existem ainda as próteses mioelétricas ou biónicas que são próteses funcionais que são
ativadas por uma bateria incorporada no encaixe, e elétrodos fixados na parede interna do
encaixe, e que ficam situados sobre pontos motores de músculos do coto ou de outras regiões
próximas.

3.5.2 Tipo de encaixe

O encaixe é o elo entre o coto e a prótese e tem o objetivo funcional de transmissão


dos movimentos do membro residual para os elementos protéticos. É a interface homem-
máquina, daí que deve ser desenhado devidamente para garantir a funcionalidade da prótese e
o conforto do utilizador.

Antes de 1950 o tipo de encaixe usado era um encaixe “plug fit” esculpido, em
madeira, com uma forma interior cónica. Foi após essa data que, como resultado do projeto
36

levado a cabo pela Universidade da Califórnia, que visava o desenho de um encaixe que
preservasse alguma da musculatura remanescente após a amputação, surgiu o encaixe
quadrilateral. Mais tarde, devido às lacunas existentes no modelo quadrilateral, foi
desenvolvido o CAT-CAM (Contoured Adducted Trochanteric Controlled Alignment
Method) ou encaixe de contenção isquiática.

Encaixe quadrilateral: este encaixe, tal como o nome indica, possui um formato
quadrado quando visto de cima e apoia o osso ísquio a 90º, provocando assim algum
incómodo ao paciente. É composto por quatro paredes, cada uma delas com uma função
específica. A parede frontal posiciona o ísquio para o topo da parede posterior, permitindo um
espaço para o músculo reto da coxa e que seja feita uma pressão para trás. A parede interior
deve conter tecido mole entre as pernas. A parede lateral tem uma função crucial, controlar o
deslocamento lateral do fémur. A desvantagem do uso deste encaixe é do ísquio estar assente
na parede de trás que funciona como um ponto de apoio, permitindo que o fémur se desloque
de um lado para o outro e consequentemente o desenvolvimento de edemas e problemas
dermatológicos.

Encaixe de contenção isquiática: este é o tipo de encaixe mais usado atualmente.


Tem um formato ovalado quando visto de cima e o apoio do ísquio é feito a 45º, fazendo com
que este osso fique contido dentro do espaço interno do encaixe, e desta forma, se melhore o
conforto do utilizador.

Figura 3-Encaixes quadrilateral (a) e de contenção isquiática (b) para próteses transfemorais
37

Para além destes dois tipos de encaixe mencionados anteriormente, os mais comuns,
existem ainda outros, menos usados, ainda que inovadores, como é o caso do Marlo
Anatomical Socket (MAS®), do NU-FlexSIV Socket ou do encaixe SiOCX TF.

3.5.3 Sistema de Suspensão

A ligação da prótese ao membro residual pode ser proporcionada por diversos


tipos/sistemas de suspensão, consoante as necessidades do amputado e as condições do coto.
Entre eles estão: os cintos de suspensão, as bandas pélvicas, os liners com pino e o encaixe
por sucção.

Os cintos de suspensão e as bandas pélvicas podem ser usados para complementar


outros sistemas de suspensão. Existem vários tipos de cintos, incluindo Silesian belts, feitos
de pele, ou silicone, e os TES (Total Elastic Suspension) belts, normalmente usados no início
do uso da 1ª prótese. Estes sistemas são geralmente propostos para uso geriátrico, devido à
facilidade de colocação e à boa suspensão, que é favorecida por amputados com um membro
residual curto. Porém, hoje em dia são raramente usados, devido à instabilidade e ao
movimento excessivo do membro residual dentro do encaixe da prótese.

Um liner é uma manga espessa, flexível, geralmente em silicone ou em elastómero


termoplástico, que se desenrola ao longo do membro residual, fornecendo proteção durante a
fase de apoio e, se equipado com um pino de bloqueio, suspensão durante a fase de balanço.
Existem vários tipos de liners, o que permite versatilidade nas aplicações. Podem ser usados
apenas para evitar a fricção do coto com o encaixe nos sistemas de suspensão por sucção e
ainda, quando se justifique, para servirem de sistema de suspensão.

O sistema de suspensão por pino, o liner com pino, revela-se mais adequado para cotos
curtos e pessoas com alto nível de atividade, casos em que a necessidade de estabilização é
grande. É usado um pino de metal que se prolonga distalmente a partir do liner e bloqueia
numa cavidade na parte inferior do encaixe. Existem mais de uma centena de pinos e cada um
deles possui determinadas caraterísticas, permitindo escolher o que se adequa mais para um
paciente em específico.

Os sistemas de suspensão por sucção convencionais consistem num encaixe rígido


com uma válvula unidirecional na extremidade distal do encaixe. O encaixe estende-se
distalmente por aproximadamente 5cm abaixo do coto e é selado com a válvula. A válvula
38

assegura o isolamento do ar para que o vácuo resultante mantenha o coto e o encaixe em


estreito contacto. Não existe interface permanente entre o membro residual e o encaixe, o que
permite ao amputado um melhor controlo da prótese. O utilizador normalmente coloca a
prótese usando uma meia apropriada e de seguida a válvula elimina o ar do interior. Quando
pretende remover a prótese, o utilizador apenas tem que soltar a válvula de sucção e assim, ar
é introduzido dentro do encaixe, e a prótese é facilmente removida.

A suspensão por sucção permite uma maior liberdade de movimentos, maximiza o uso
dos músculos remanescentes do membro residual e proporciona mais conforto, através da
excelente estabilidade, e da boa aparência cosmética quando comparada com os Silesian belt
ou as bandas pélvicas [40]. Porém, este tipo de suspensão depende muito de contacto total, e
assim, alterações repentinas podem levar à insuficiência na sucção. Este tipo não é adequado
para os amputados que têm flutuação de volume do membro residual, pois aquando da
mudança de volume o ajuste e a suspensão do encaixe diminuem.

Apesar da existência de vários sistemas de suspensão, são o comprimento e o volume


do membro residual e a estabilidade do ligamento articular que determinam o método a usar,
assim como o nível de atividade, a destreza, o sucesso de algum sistema prévio e os requisitos
cosméticos. O sistema de suspensão apropriado resulta numa prótese segura e com bom
funcionamento.

3.5.4 Promotores de conforto

Apesar do frequente uso do termo conforto, não existe uma definição profusamente
aceite do mesmo. Quando se associa este termo a amputados transfemorais faz-se referência a
dois grupos: a reabilitação do paciente e as interações entre o membro residual e o encaixe da
prótese. Na reabilitação do paciente, o conforto é uma subescala do bem-estar físico e social
da qualidade de vida do individuo, que representa o grau de reabilitação. A sua medida é feita
com base na independência que a pessoa apresenta em desempenhar as atividades do
quotidiano.

A combinação ideal com o encaixe da prótese é o uso de um liner. É uma solução


eficaz para se conseguir uma boa adaptação da prótese ao membro residual e o conforto do
amputado. O liner evita o contacto direto do coto com o encaixe e, desta forma, reduz os
edemas na extremidade distal, facto que se revela de extrema importância principalmente para
amputados com doenças vasculares e idosos. Os liners melhoram a suspensão, reduzem as
39

forças de cisalhamento entre o membro residual e o encaixe e controlam o volume do membro


residual. Devido ao seu alto coeficiente de atrito com a pele e à baixa rigidez em compressão,
apenas experimentam um deslocamento mínimo relativamente à pele do coto durante a
marcha, ajudando a manter o contacto total entre o membro residual e o encaixe.

Figura 4-Liners

Dado que o ajuste da prótese está diretamente relacionado com a condição do coto e as
capacidades do utilizador, existem alguns fatores (variáveis) internos no encaixe que devem
ser controlados por forma a que este seja o mais correto possível. Posto isto, é notório que a
aplicação de algum tipo de tecnologia para a saúde, capaz de monitorizar a transpiração, o
movimento da pessoa e a fricção mecânica que provoca as irritações na pele, seria uma
maisvalia no aumento da qualidade de vida do amputado.

3.5.5 Conceção

Para se obter uma prótese transfemoral é necessário recorrer às etapas apresentadas no


esquema das figuras abaixo:

Figura 5-Etapas para obtenção da prótese 1


40

Figura 6-Etapas para obtenção da prótese 2

Figura 7-Etapas para obtenção da prótese 3


41

Figura 8-Etapas para obtenção da prótese 4

Existe uma grande variedade de materiais usados na confeção de próteses, porém a


escolha do mais adequado baseia-se sempre no mesmo princípio, garantir a distribuição das
forças e aliviar as zonas de maior pressão. Estes materiais diferem na rigidez, durabilidade,
flexibilidade e peso. Materiais como o couro, a madeira e os metais (titânio, aço e alumínio)
têm vindo a ser substituídos pelos plásticos (resinas de poliéster e resinas de epóxido e
termoplásticos) e borrachas (elastómeros e espumas), uma vez que estes, para além de serem
mais leves, permitem também uma melhor distribuição das forças e, consequentemente,
facultam mais conforto ao paciente. Metais como o titânio, ainda que apresente caraterísticas
importantes como a leveza, a resistência à corrosão e ausência de toxicidade biológica, não é
muito usado devido ao seu elevado custo.

Para a laminagem (processo para obter o positivo do encaixe final) do encaixe são
bastante usadas as fibras de carbono devido à sua elasticidade e resistência ao stress e à sua
compatibilidade com as resinas de acrílico, de epóxido e de poliéster. Para a confeção dos
liners, geralmente é usado o silicone dada a estabilidade térmica do mesmo, a resistência ao
envelhecimento, o poder hidrófugo, a resistência à oxidação e a elasticidade que lhe permite
acompanhar o contorno o movimento da pele no coto.

As próteses exoesqueléticas são confecionadas com componentes de madeira maciça,


plástico ou espuma rígida, materiais que servem tanto para a sustentação quanto para o
acabamento estético. As próteses endoesqueléticas são próteses modulares, pois as conexões
42

são realizadas por meio de tubos e componentes modulares. Os materiais normalmente


utilizados são aço, titânio, alumínio e fibra de carbono. A nível estético são utilizadas
espumas com acabamento cor de pele para o seu revestimento, tornando-as visualmente
impercetíveis.

Na colocação de qualquer membro artificial, o objetivo da prótese é simplesmente


restaurar a capacidade do amputado realizar as atividades do quotidiano de uma forma fácil,
natural e confortável. Posto isto, os requisitos básicos de uma prótese são três - conforto,
função e aspeto (estético e funcional)
43

4 METODOLOGIA

4.1 Tipo de estudo

Realizar-se-á um estudo de natureza básica. Do ponto de vista dos objectivos, o estudo


será explorativo. Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, vai tratar-se de um estudo
bibliográfico. Do ponto de vista da forma de abordagem do problema será um estudo
qualitativo.

4.2 Local de estudo

Centro Ortopédico de Reabilitação Polivalente Dr. António Agostinho Neto de Viana,


delimitado geograficamente na zona norte, sul, este e oeste.

4.3 População de estudo

Todos os pacientes com amputação tranfemoral que deram entrada no Centro


Ortopédico de Reabilitação Polivalente Dr. António Agostinho Neto de Viana no período de
2020 a 2023.

4.4 Amostra

Todos os pacientes com amputação tranfemoral tratados no Centro Ortopédico de


Reabilitação Polivalente Dr. António Agostinho Neto de Viana.

4.5 Levantamento dos dados

As bases de dados: LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências


Sociais e da Saúde), Scielo (Scientific Eletronic Library OnLine), BVS (Biblioteca Virtual de
Saúde), MEDLINE (Literatura Internacional em Ciências da Saúde).

Registos e boletins do Centro Ortopédico de Reabilitação Polivalente Dr. António


Agostinho Neto de Viana.

4.6 Critérios de inclusão e exclusão

O critério utilizado como meio de inclusão serão os estudos que apresentam título e
resumo ligados ao tema, bem como os registos de todos os pacientes com amputação
44

tranfemoral atendidos no Centro Ortopédico de Reabilitação Polivalente Dr. António


Agostinho Neto de Viana no período de 2020 a 2023.

Serão utilizados como critério de exclusão todos os artigos que não falam sobre a
amputação e amputação transfemoral e artigos não científicos ou comprovados, igualmente os
registos dos pacientes com amputação não tranfemoral atendidos no Centro Ortopédico de
Reabilitação Polivalente Dr. António Agostinho Neto.

4.7 Procedimentos éticos

Os dados obtidos nos registos do Centro Ortopédico de Reabilitação Polivalente Dr.


António Agostinho Neto de Viana ser-nos-á fornecido com o consentimento da direcção do
mesmo centro através de um termo de anuência apresentado, onde são destacados os
objectivos da pesquisa, permitindo-nos fazer a colecta de dados. Os dados colectados serão
utilizados exclusivamente com finalidade científica.

4.8 Variáveis

 Variáveis sociodemográficas: Idade; Género.


 Variáveis de estudo: Definição; Causas; Recursos fisioterapêuticos; Prevenção;
Tratamento; Cuidados; Factores de risco; complicação.

4.9 Procedimentos de recolha de dados

A recolha de dados seguirá a seguinte premissa:

a) Leitura Exploratória de todo material selecionado (leitura rápida que objectiva


verificar se a obra é de interesse para o trabalho);
b) Leitura Selectiva (leitura mais aprofundada das partes que realmente interessam);
c) Registo de informações extraídas das fontes em instrumento específico (autores, ano,
método, resultados e conclusões).

4.10 Procedimentos de análises e processamento de dados

Os dados serão processados no programa word 2010, após leitura analítica com a
finalidade de ordenar e sumariar as informações contidas nas fontes, e pelo Excel onde serão
apresentadas em forma de gráficos, de forma que estas possibilitem a obtenção de resposta ao
problema da pesquisa.
45

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
46

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A intervenção fisioterapêutica é muito importante para a recuperação do paciente, Segundo


Sampol, (2000), nesse sentido, a presença do fisioterapeuta é importante no processo
dinâmico, criativo, progressivo, educativo e, objetiva a restauração ótima do indivíduo, sua
reintegração à família, comunidade e sociedade. Segundo Schweitzer (2004), o fisioterapeuta
desempenha papel fundamental quanto à reeducação funcional, acompanhando o paciente
em todos os estágios do programa de reabilitação, fazendo parte de equipe multidisciplinar,
supervisionando e tratando desde o estágio pré e pós-operatório, na educação de mobilidade
pré e pós-protética e, se necessário, em cuidados de manutenção das funções músculo-
esquelético. Segundo Vidal et al. (2004), a fisioterapia deve ser realizada logo após a
amputação, atuando no posicionamento correto no leito, dessensibilização do coto,
exercícios ativo-assistidos, ativo-livres e isométricos, uso de bandagens, exercícios de
propriocepção, trabalho do membro contralateral e membros superiores e treino de marcha.
Tendo como objetivo a manutenção da amplitude de movimento, aumento de força muscular,
equilíbrio e adaptações da marcha de acordo com a possibilidade do paciente, envolvendo
orientação e condutas de prevenção e reabilitação. Dentro da fisioterapia existem varias
técnicas fisioterapêuticas que podem ser realizadas para ajudar o paciente na recuperação.

Como apresentado no estudo, a Fisioterapia tem papel importante na vida do paciente


amputado, trazendo nova perspectiva de vida, através de melhoria de vários sintomas que
interferem negativamente na qualidade de vida do mesmo, como dor no coto, dor fantasma, e
membro fantasma. A dessensibilização do coto é um trabalho árduo, e as técnicas
fisioterapêuticas demonstraram que podem apresentar efeitos benéficos quando aplicadas de
maneira tolerável ao paciente. Porém, novos estudos devem ser feitos para identificar qual
das técnicas utilizadas na dessensibilização do coto promovem melhores resultados.
47

SUGESTÕES
48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Barbin, I. C. C. (2017). Prótese e órteses. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A.


Unidades 1 e 2.
Carey, S. L., Lura, D. J. & Jason, H. M. (2015). Differences in myoelectric and bodypowered
upper-limb prostheses: Systematic literature review. Journal of Rehabilitation Research
and Development, v. 52, n. 3, p. 247–262.
Carvalho, J. A. (2012). Vantagens na protetização transtibiais submetidos a técnicas
cirúrgicas não convencionais. Orientador: Bruno Livani. 2012. 80 p. Tese de doutorado
(Pós-Graduação em Ciências da Cirurgia) - Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, Campinas, 2012. Disponível
em: http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/308490/1/Carvalho_JoseAndre_D.
pdf. Acesso em: 17, fevereiro de 2023.
Østlie, K. (2011). Adult acquired major upper limb amputation in Norway: Prevalence,
demographic features and amputation specific features. A population-based survey.
Disability and Rehabilitation, v. 33, n. 17–18, p. 1636–1649,
PIAZZA, L. (2017). Évaluation De L’Activité Physique Chez Les Amputés : Revue
Systématique De La Littérature. Science and Sports, v. 32, n. 4, p. 191–202.
Pires, G. K. W. (2020). Semantic equivalence in Brazilian Portuguese translation of the
Trinity Amputation and Prosthesis Experience Scales—Revised. Prosthetics and Orthotics
International, v. 44, n. 2, p. 66–72.
Pooja, G. D. A. S., Sangeeta, L.(2013). Prevalence and aetiology of amputation in Kolkata,
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Thomas, R., Tharion, G. (2019). Rehabilitation in South India. Physical Medicine and
Rehabilitation Clinics of North America, v. 30, n. 4, p. 817–833.
United Nations Development Programme (2019). Human Development Reports. Disponível
em: <http://hdr.undp.org/en/content/2019-human-develop-ment-index-ranking>. Acesso
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United Nations Population Fund. World Population Dashboard. Disponível em:
<https://www.unfpa.org/data/world-population-dashboard>. Acesso em: 17, fevereiro de
2023.
World Health Organization (2020). Rehabilitation. Disponível em: <
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/rehabilitation> . Acesso em: 17,
fevereiro de 2023.
ANEXOS
APÊNDICES

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