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Inclui bibliografia
Glossário
ISBN 978-85-97-01613-0
Bernardo Kucinski
Inventada há 25 séculos, para governar pequenos Estados, a democracia
não está apta para exercer o governo do mundo global no século XXI sem
mudanças substanciais em sua concepção. Pelo menos três características
daquela época mudaram radicalmente nas últimas décadas: a eleição é
nacional, mas o poder é planetário; o eleitor não consegue pensar além de
alguns anos a sua frente, mas o governo toma decisões com consequências
seculares; e o eleitor escolhe um líder a quem conhece por meio da
intermediação da mídia e influenciado pelo marketing.
Depois de 2.500 anos, as motivações dos eleitores continuam baseadas
nos interesses individuais nacionais, mas, nos tempos de hoje, os eleitos têm
poder de influência planetária. Mesmo um pequeno Estado pode influir
internacionalmente, por meio dos projetos que implanta, de decisões que
toma ou de omissões que comete. A implantação de uma central nuclear ou o
mau uso de um recurso natural pode danificar o equilíbrio ecológico; a
liberalidade com o tráfico de drogas pode criar impactos sociais muito além
de suas fronteiras; a definição de regras financeiras pode fornecer as bases
para o crime organizado em escala mundial, ou desestruturar economias
inteiras.
Além de individualista nos interesses, cada eleitor continua preso da
visão de curto prazo, esquecendo que o poder político do eleito tem efeitos a
longo prazo por gerações. O atual presidente norte-americano, eleito por
insignificante minoria de eleitores preocupados com o imediato, decidiu
repudiar o Protocolo de Kyoto, que buscava impedir o aumento da
temperatura em todo o planeta. Pensando na redução de seus impostos, os
eleitores deram um mandato que ameaça a vida na Terra.
Os governos nas democracias clássicas da Grécia antiga e até poucos
séculos no passado permitiam uma relação quase direta entre os governantes
e seus povos. Na Grécia, os eleitores reuniam-se diretamente na praça com
seus líderes para definir o futuro. Hoje, essa relação direta desapareceu e a
democracia faz-se intermediada pela mídia, pelo marketing e pelos institutos
de pesquisas.
Para os tempos de hoje, a democracia ficou egoísta, míope e alucinada.
A continuidade das democracias nacionais, sem respeito planetário, fará
impossível a vida nas próximas décadas. Ainda assim, a ideia de uma
democracia planetária, reunindo as nações do mundo em um só governo, é
um conceito romântico e impossível nas próximas décadas. Tanto a
democracia nacional em uma realidade econômica e social planetária como a
nova democracia do voto interessado no curto prazo, provocando decisões
com efeitos a longo prazo, só poderão ser compatibilizadas por meio da
aceitação de democracias nacionais em um condomínio planetário. As
democracias nacionais deverão submeter-se a valores e regras planetárias,
como se cada país vivesse dentro de um condomínio: o Condomínio Terra.
Cada país independente, mas submetido a regras internacionais.
Apesar de resistências, pouco a pouco surgem regras internacionais que
vão construindo essa responsabilidade global.
Mais difícil é quebrar a dificuldade de mostrar a realidade ao povo:
tirando-o da alucinação em que vive, cercado por informações que não
refletem a realidade. E, para consolidar a democracia, a maior dificuldade
está em aproximar eleitores e eleitos, separados pela brecha entre a realidade
e as informações produzidas pela mídia.
Alucinada pela intermediação da mídia, a população vê um mundo
diferente da realidade, ou apenas pequenas partes dela: as partes escolhidas
de um mundo produzido pelas mãos dos jornalistas, sobre o teclado do
computador ou o foco da câmera. Ao mesmo tempo em que oferece todas as
vantagens da transparência, sem a qual não há democracia, a imprensa
comete equívocos que manipulam a realidade, servindo para embaçar, no
lugar de clarear a realidade.
Nessa brecha entre imagem e realidade, surge a importância das
assessorias de imprensa, que, como mostra Jorge Duarte, embora se tenham
consolidado muito recentemente no Brasil, assumiram forte papel nos fluxos
de comunicação envolvendo mídia e sociedade. E elas cresceram porque são
necessárias, como formas de mostrar uma realidade que a mídia não
consegue ver sozinha.
Quem assiste a um jogo de futebol pela televisão percebe que só vê
pequenas porções do campo, apenas algumas partes do jogo, conforme a
escolha dos jornalistas que fazem a transmissão. Quem lê ou assiste ao
noticiário político assiste apenas ao que interessa aos jornalistas ou ao que os
jornalistas supõem que interessa à audiência.
Não faz muito tempo em 1995, houve um grande encontro do
Movimento dos Sem Terra em Brasília. Cinco mil agricultores ficaram
hospedados em um grande galpão do governo local. Ali havia histórias da
aventura de homens e mulheres que tinham viajado milhares de quilômetros,
em parte caminhando; havia manifestações culturais todas as noites com uma
variedade que mostrava um Brasil de enorme diversidade e riqueza; muitos
dos que ali estavam eram cabras marcados para morrer e sabiam que não
estariam vivos dentro de alguns meses. O evento fazia parte da guerra pela
terra no Brasil do final do século XX. Mesmo assim, a imprensa só conseguiu
mostrar, durante dias, o fato de que o movimento estava sendo alojado em um
galpão do governo local, que assim estaria apoiando um movimento não
oficial, contestatório ao governo federal. As matérias eram, quase todas,
durante dias e dias, sobre a fonte dos recursos para financiar comida para
aqueles trabalhadores. Nada mais interessava.
A imprensa não conseguiu ver a riqueza da realidade daquele evento, só
a pequena parte de um possível escândalo, porque ela não está preparada para
ver: os repórteres formados em nossas faculdades trabalham com base em
pautas que recebem de seus editores, e por isso têm dificuldades em perceber
qualquer coisa que não seja definida previamente, dentro do específico setor
em que trabalham. É possível acreditar que, ao sair da redação, o repórter que
leva a pauta para entrevistar alguém poderá voltar sem a entrevista, com a
explicação de que houve um incêndio e a personagem de sua pauta morreu
pouco antes do encontro. Imagino que ele pode até contar aos colegas de
redação todos os detalhes do incêndio a que assistiu. Na hora do café,
descreverá o corpo carbonizado do futuro entrevistado, mas não fará matéria,
porque sua pauta era uma entrevista, além de que ele não é especialista em
calamidades. A transmissão de apenas uma parte, nos closes burocráticos
escolhidos pelos pauteiros das redações, está passando ao Brasil uma versão
incompleta e distorcida da realidade.
A Assessoria de Imprensa pode preencher essa lacuna. Com ela, a
imprensa pode passar a ver novos aspectos da realidade.
Diferentemente dos tempos da democracia antiga, a nossa não funciona
sem a mídia, e esta não consegue mostrar a totalidade do quadro sem a ajuda
dos profissionais que estão junto aos acontecimentos. No quadro atual da
paranoia brasileira, de muita e generalizada corrupção, aliada a uma ânsia
profissional por divulgar escândalos, e de jornalistas com a síndrome de
Watergate, desejando ser Woodward ou Berstein, sem uma boa assessoria de
imprensa, raro órgão público ou político sobrevive muitos anos na atividade
pública. Mas, da mesma forma que mostra os aspectos positivos que o
jornalista-noticiador não vê, uma assessoria pode maquilar a realidade,
escondendo fatos negativos; e, muitas vezes, deformando a realidade de
adversários e concorrentes.
Não obstante o eficiente e ético papel de desnudar a corrupção e apontar
erros, jornalistas têm muitas vezes sido manipulados por adversários de
políticos e por servidores descontentes interessados em passar uma versão
distorcida da realidade. Dessa maneira, a imprensa torna-se instrumento de
grupos de interesse, empresariais, sindicais ou partidários que aproveitam sua
noção de urgência para gerar denúncias apressadas, incompletas, falsas.
A Assessoria de Imprensa vai crescer cada vez mais, nos próximos anos,
contribuindo para mostrar o que os jornalistas-noticiadores não estão vendo,
ajudando no exercício da democracia e na orientação do cidadão, mas
também pode ser utilizada para ajudar a deformar o que é noticiado. E este é
um sério problema.
A desorientada democracia dos próximos anos estará sendo construída
pela intermediação da mídia composta não apenas dos jornalistas-
noticiadores, mas também dos jornalistas-assessores, enquanto o eleitor luta
para não ser manipulado.
O melhor exemplo dessa luta ocorre durante as eleições. Não apenas
entre notícias e realidade, mas, sobretudo, pelo trabalho de marketing, em que
os jornalistas-noticiadores deixam a cena para os jornalistas-publicitários no
papel de manipuladores da realidade de seus candidatos, na cara, no estilo e
no conteúdo do que falam e prometem.
Para completar o quadro de desorientação da democracia, apareceu
recentemente outro tipo de assessor: o pesquisador de opinião pública. No
lugar do líder que sente as aspirações populares, formula planos para o futuro
e assume o risco de receber apoio ou rechaço, os candidatos de hoje ouvem
os assessores para descobrir o que o povo deseja, e falam o que o povo quer
ouvir, não importa se são aspirações impossíveis, ou que provocam riscos
para o futuro do país e do mundo inteiro.
Aliados, os assessores de imprensa, assessores de marketing e
“assessores de opinião” podem servir para mostrar o mundo como ele é, ou
podem funcionar como um triângulo das bermudas da consciência, usando a
imprensa como um condutor que, no lugar de levar a imagem da realidade
para a população, aspira a consciência que a população tem da realidade. O
que faz a diferença entre a boa e a má assessoria é o usuário. O político tem
obrigação de usar a ética para saber até que ponto é um líder ou um robô
fabricado pela assessoria. Mesmo assim, é preciso uma ética própria da
assessoria.
Esta coleção de ensaios mostra técnicas de assessoria de imprensa e
relacionamento com a mídia que devem ser utilizadas por profissionais
comprometidos com o cidadão, com a sociedade, com a verdade, com a
democratização da informação. Mais do que ajudar a imprensa a cumprir seu
papel, o presente livro destaca a importância da ética por trás desse trabalho.
Cristovam Buarque
Relacionamento com a imprensa é desafio relevante para organizações
públicas e privadas brasileiras há algumas décadas. Particularmente, a partir
do Regime Vargas na área pública, e da industrialização no setor privado, o
país passou a contar com profissionais especializados para fazer a mediação
entre jornalistas e fontes de informação. A evolução inicialmente foi lenta,
mas acelerou-se a partir da década de 1980, com a redemocratização.
Naquele momento houve o fortalecimento do papel crítico e questionador da
imprensa e a maior cobrança da sociedade por responsabilidade, prestação de
contas e transparência. O período de ênfase no diálogo social, foi, também, o
de institucionalização e disseminação da atividade de assessoria de imprensa.
Logo em seguida tivemos o desenvolvimento da comunicação
corporativa. A década de 1990 trouxe mudanças estruturais na economia, no
mercado e no setor público com regulação, liberalização, terceirizações,
privatizações, ênfase na eficiência, competitividade. Alguns dos mantras
ouvidos em áreas de comunicação mais avançadas naquele período foram a
necessidade de mensuração dos resultados, de terceirização, integração, de
planejamento, conexão com a atividade-fim.
Ao contrário de seu surgimento, quando desempenhavam ações isoladas,
as assessorias de imprensa passaram a se inserir num conjunto amplo de
atividades integradas por processos e práticas que se cruzam, sobrepõem-se,
articulam-se e podem, muitas vezes, ser indistintas devido a linhas
demarcatórias fluidas que envolvem publicidade, comunicação digital,
marketing, relações públicas, comunicação interna, relacionamento com
consumidores. Capacidade de gestão, visão estratégica, sistêmica e
integrativa tornaram-se imprescindíveis para qualquer profissional de
comunicação que pretendesse avançar na carreira.
A primeira edição do livro capturou esse momento, ainda que fosse
frequente o preconceito e desconhecimento. Faculdades de jornalismo não
ensinavam assessoria de imprensa, havia pouco referencial teórico e técnico e
era comum a desconfiança por parte das redações, que acreditavam que
assessoria de imprensa era atividade menor, limitada à produção de releases e
busca de propaganda gratuita.
Ao longo dos anos mais recentes o profissional de relacionamento com a
imprensa estendeu seu potencial de atuação para outros campos, sua
importância estratégica e a capacidade de ajudar a organização a alcançar
seus objetivos. A atuação com base na cultura, na estratégia e na missão da
organização, a ampliação da visão sobre comunicação, o uso de múltiplos
canais para relacionamento e formatos de conteúdo passaram a ser apenas
alguns dos desafios. Entender e praticar a comunicação como processo
amplo, global, sistêmico, integrado, cooperativo – do qual a interação com
jornalistas é apenas parte importante – passou a ser, definitivamente, o
mínimo esperado de um profissional da área.
E, no processo, tivemos as transformações causadas pela maneira de
comunicar. Com a consolidação da internet como ambiente que conecta
pessoas em nível global e imediato em múltiplas e diferentes plataformas,
cada um tem a chance de ter e ser uma mídia, de falar com todos e qualquer
um, sem mediadores. Passamos para um ecossistema de comunicação em que
todos podem interagir, são produtores de conteúdo, curadores, mediadores e
disseminadores de informação. Esta mudança afetou profundamente o
modelo clássico de jornalismo, a ponto de ser difícil hoje falar em
comunicação de massa. Mudou a imprensa, o modo com que a sociedade se
informa e o modo de fazer assessoria de imprensa. O profissional aprofunda
seu papel de gerenciador do fluxo de informação com origem na organização
e a responsabilidade de melhorar os processos de comunicação e a maneira
como organização e fontes informam e interagem com a sociedade.
O resultado é que, cada vez mais, há dificuldades de caracterização do
chamado assessor de imprensa, que extrapolou as atividades previstas na
primeira edição do manual profissional, produzido pela Federação Nacional
dos Jornalistas em meados da década de 1980. Ele hoje pode atuar com
produção de conteúdo (áudio, texto, fotos, vídeo) para diferentes mídias e
públicos, monitorar e gerenciar redes sociais, fazer planejamento, atuar como
estrategista, agir como consultor especializado, gerenciar equipes e contratos
de terceirização. Ou seja, relações com a imprensa pode ser uma maneira
simplificada de definir um profissional de Comunicação que, mesmo
especialista, tem uma visão holística e atuação multifacetada, agindo muito
mais como um gestor de processos informativos por múltiplos canais para
variados públicos do que apenas fornecedor de informação à sociedade.
Este livro tem sido sistematicamente atualizado para acompanhar as
transformações. Esta é a quinta versão diferente deste livro, renovada e,
esperamos, aperfeiçoada. Buscamos, em todas, oferecer o conteúdo
atualizado de maneira didática, clara, fundamentada em teoria e em
conhecimento pessoal acumulado, e, particularmente, voltado para a prática
profissional.
Para organizar a obra, procuramos dar a unidade possível, com divisão
em capítulos que tenham independência, mas que se complementem em um
conjunto harmônico. Dessa maneira, pode ser lido na totalidade ou
consultado por tema específico. Logo no início, apresentamos origens e
particularidades da Assessoria de Imprensa nos Estados Unidos, Europa e
Brasil. A leitura permite compreender as condições e circunstâncias do
surgimento da atividade e as especificidades do caso brasileiro, elucidando
equívocos ainda comuns. No segundo conjunto, estão os temas que
chamamos de “Fundamentos”, por darem suporte à prática diária da
atividade. Prosseguindo, apresentamos em “Técnicas” temas relacionados à
execução. Acentuou-se, aqui, o aproveitamento da experiência e
conhecimento profissional dos autores, conscientes de que há uma evolução
rápida e complexa no mercado, talvez inalcançável na produção acadêmica.
Com as sucessivas atualizações, poucos textos da primeira edição
permanecem idênticos. Nesta nova versão, metade dos capítulos da edição
anterior foram reescritos. Três novos foram adicionados. Um deles é sobre
Gestão das Mídias Sociais, atividade cada vez mais frequente e relevante. O
outro é Curadoria de Conteúdo, conceito e instrumento renovador no
processo de qualificar a informação para a sociedade. O terceiro é sobre
Gestão da Terceirização, exigência cada vez mais frequente nas estruturas de
comunicação.
Os textos de Luiz Amaral e Carlos Chagas, falecidos, respectivamente,
em 2015 e 2017, permaneceram tendo em vista que mantêm sua atualidade.
Ambos deram extraordinária contribuição ao jornalismo, ao ensino e à
pesquisa em Comunicação no Brasil – e para a qualidade desta obra.
O conteúdo se aproxima ainda mais do que poderíamos chamar de
gestão da comunicação. Preferimos, entretanto, pela tradição que se mantém
no mercado profissional, manter o título Assessoria de Imprensa e
Relacionamento com a Mídia, mesmo que limitante para a realidade
profissional. Hoje lidamos com uma variedade enorme de meios de
comunicação e não apenas com a chamada imprensa, a qual a expressão
mídia remete. O diálogo e o fornecimento de informação do até então
chamado assessor de imprensa cada vez mais vai além dos veículos
tradicionais, alcançando blogs, portais, ativistas, stakeholders e a sociedade
em geral das mais diferentes maneiras. A leitura deste livro, acreditamos,
descreve a diversidade e a riqueza de possibilidades que a prática de
assessoria de imprensa assumiu nas organizações brasileiras.
Profissionais de diferentes áreas participam deste projeto. Todos
produziram textos inéditos e abriram mão dos direitos autorais em favor da
Abrace, uma ONG que atua desde 1986 no combate ao câncer oferecendo
assistência a crianças e adolescentes. A maior parte atuou em assessoria de
imprensa, em redações, no ensino e tem formação acadêmica em nível de
pós-graduação.
Ao final, na renovada tentativa desse grupo de fazer uma obra a mais
completa possível, verificamos a impossibilidade de esgotar o assunto. Ainda
assim, ficamos satisfeitos em tentar contribuir para ampliar a transparência, o
acesso e a qualidade da informação que circula na sociedade.
Jorge Duarte
É preciso encarar a verdade: assessorias nem sempre estão a favor da
imprensa, às vezes estão contra. Pode parecer incongruente que, tendo
profissionais do mesmo ramo nas duas pontas do processo e com objetivos
organicamente iguais, a busca do esclarecimento, haja um conflito de
interesses entre as partes.
Como administrá-lo? A resposta está implícita ao longo deste livro.
De minha parte, combinando a técnica do lead, da ouverture e da
provocação, ofereço uma explicação sobre o cabalístico título desta
Introdução. Sugere três leituras distintas: (a) Assessorias E Imprensa; (b)
Assessorias OU Imprensa; (c) Assessorias VERSUS Imprensa.
Complicado, hermético, contraditório, explosivo? Nem tanto.
PRIMEIRA OPÇÃO, OTIMISTA: Assessorias de Comunicação E
Imprensa agregando-se em tarefas comuns. Desde que compreendam e,
sobretudo, respeitem as diferentes funções, objetivos e limites. O jornalista
não pode ser nem pode pretender a onipotência, a onisciência ou a
onipresença. Ele não pode tudo, não sabe tudo e não pode estar em mais de
um lugar ao mesmo tempo. Todavia, tem condições de superar as limitações
recorrendo a referências informativas, a apoio técnico ou mesmo a suporte
logístico (com o imperioso registro na matéria).
Exemplo hipotético: A admirável Embrapa (que acompanho há duas
décadas na condição de ruralista-sonhador) quer mostrar à sociedade
brasileira sua produção fitoterápica lá nos cafundós da Amazônia. Só ela tem
condições de fornecer ao repórter o background científico, transporte aéreo-
hidroviário e, eventualmente, material televisível sobre outras experiências
em outros locais, no Brasil ou exterior.
Há, aqui, espaço para uma colaboração estreita sem qualquer
comprometimento do texto final com o objeto da matéria. O repórter não terá
sido desrespeitado, o leitor sairá ganhando, o jornal ficará satisfeito com uma
matéria que o enriquece sem prejudicar sua credibilidade, e a instituição
focalizada saberá que atendeu a seus objetivos sem atropelar códigos
deontológicos de ninguém, inclusive seus (assessorias e clientes deveriam ser
os primeiros a estabelecê-los).
SEGUNDA OPÇÃO, PESSIMISTA: Assessorias de Comunicação OU
Imprensa. A conjunção alternativa e sua aplicação nesta equação significam
substituição. Também pode ser lida como assessorias de imprensa usando a e
servindo-se da imprensa para satisfazer a suas necessidades privadas. São as
infiltrações, “plantações” e vazamentos que exploram a indolência,
incompetência, má-fé, boa-fé ou falta de recursos dos veículos. Infrações
morais, cívicas e também cumplicidade criminal que podem ser
caracterizadas como formação de quadrilha. Sabotagem contra um dos
poderes da República, porque desrespeita-o, vulnerabiliza-o e interrompe o
fluxo de confiança entre a sociedade e suas fontes de informação.
Exemplo, nada hipotético: Assessorias de imprensa de partidos,
candidatos, políticos, governos (em todos os níveis), lobbies políticos e
ideológicos, aproveitando-se da febre eleitoral para enfiar informações,
comentários, inocentes “reflexões” que possam servir a seus interesses ou
prejudicar os do adversário. Manipulação flagrante.
Tiram proveito da velocidade e timing da operação jornalística para
evitar checagens e contrachecagens. Esse tipo de situação acontece nas noites
de quinta e sexta-feira nos diários brasileiros quando, por força de uma
prática empresarial absurda, as redações são obrigadas a fechar (ou adiantar),
simultaneamente, páginas e cadernos das edições de sexta, sábado, domingo e
segunda.
TERCEIRA OPÇÃO, DRAMÁTICA: Assessoria de Comunicação
VERSUS Imprensa. Grau máximo da irregularidade, subversão de todos os
princípios éticos, tábula rasa nas regras de respeito e convivência.
Exemplo frequente: O uso, por um cliente (privado ou público), de seu
poder de dissuasão (econômico ou político), abertamente (ou de forma
dissimulada), para intimidar, calar e modificar a informação (ou opinião) de
determinado veículo (ou grupo) em benefício daquilo que deseja divulgar (ou
omitir).
Estado de guerra. Crime de lesa-pátria, lesa-decência, lesa-consciência.
Bem comum, público, vandalizado por interesses escusos.
Como a maioria das súmulas, também esta pode pecar pela abrangência.
O leitor encontrará solução para os eventuais lapsos, na esmerada e variada
organização dos textos deste livro. Em compensação, este resumo dramatiza
um problema que só os irresponsáveis não querem enxergar, quando colocam
jornalistas a serviço do antijornalismo.
Alberto Dines
SUMÁRIO
PARTE I – CARACTERIZAÇÃO
PARTE II – PRINCÍPIOS
7. A Notícia Institucional
Graça França Monteiro
“O público que se dane”
Alguns conceitos de notícia
Sobre a notícia institucional
Por que estar na mídia?
Selecionando o que é notícia
Estratégias para aproveitamento da notícia
Referências bibliográficas
8. Imprensa e Organizações
Armando Medeiros de Faria
A construção simbólica: a comunicação nas organizações
Acesso, assessor
Gestão de conflitos
O estrategista
Por uma comunicação além da imprensa
Conclusão
Referências bibliográficas
Glossário
Omar Barreto Lopes
Referências bibliográficas
PARTE I
CARACTERIZAÇÃO
Nos rumos da democracia e da globalização, o mundo mudou,
institucionalizou-se, bem como os interesses, as ações, as próprias pessoas.
Globalizaram-se os processos, as emoções e, sobretudo, os fluxos e circuitos
da informação. E, nesse mundo novo, as instituições, incluindo-se as
empresas, agem pelo que dizem, em especial pelos acontecimentos
significantes que produzem, com os quais interferem na realidade, ao usarem
a eficácia difusora do jornalismo.
O jornalismo tornou-se, pois, espaço público de socialização dos
discursos particulares, para os confrontos da atualidade, em todos os campos
da atividade humana organizados sob a lógica da competição – e isso se
traduz, com particular intensidade, nos conflitos da política, dos negócios,
das ideias, da cultura, dos esportes e das crenças, que recheiam o noticiário
de cada dia.
E porque noticiar se tornou a mais eficaz forma de agir no mundo e com
ele interagir, as relações com a imprensa passaram a constituir preocupação
prioritária na estratégia das instituições, tanto as empresariais quanto as
governamentais, para as interações com a sociedade – à qual se ligam, hoje,
mais por teias comunicativas do que por atividades ou ações de materialidade
objetiva.
A questão das relações entre as organizações e a imprensa não é nova.
Como tema e problema, é até coisa velha, já secular. Na verdade, se nos
identificarmos como profissionais ou estudiosos da comunicação chamada
empresarial, institucional ou organizacional, somos mais ou menos herdeiros
de um jornalista americano chamado Ivy Lee. Em 1906, ele inventou a
atividade especializada a que hoje chamamos de assessoria de imprensa ou
assessoria de comunicação. Com um bem-sucedido projeto profissional de
relações com a imprensa, a serviço de um cliente poderoso, Ivy Lee
conquistou, por direito e mérito, na história moderna da comunicação social,
o título de fundador das relações públicas, berço da assessoria de imprensa.
Ou vice-versa.
Qualquer que seja a escolha nominal da precedência, a criança é a
mesma. E o pai chama-se Ivy Lee.
É certo que Chaumely e Huisman (1964, p. 9-10), ao proporem o sentido
e a função das relações públicas, apontam Homero, Xenofonte e Sócrates
como precursores dos modernos especialistas do ramo. No estudo, também é
qualificada como “obra de relações públicas de primeira ordem” a Guerra das
Gálias, “graças à qual o Sr. César teve êxito na eleição”. Na mesma linha,
encontram ensinamentos de relações públicas em Virgílio, de quem as
Geórgicas, para os autores, “constituem notável programa do tipo checklist
para o retorno à terra, realizando, desse modo, as relações públicas da
agricultura no século I antes de Cristo!”. Nesse percurso pela pré-história das
relações públicas, os dois franceses chegam a Luís XIV, a quem apelidam de
“precursor de Ivy Lee” –, este, sim, na unanimidade dos que estudaram o
assunto, o verdadeiro fundador das relações públicas.
Ivy Lee abandonou o jornalismo para estabelecer o primeiro escritório
de relações públicas do mundo, em New York. Corria o ano de 1906, época
em que – no relato de Chaumely e Huisman – “a hostilidade do grande
público era muito acentuada contra o big business americano, John
Rockefeller, acusado de aspirar ao monopólio, de mover uma luta sem quartel
às pequenas e médias empresas, de combater sem olhar a meios, numa
palavra, de ser feroz, impiedoso, sanguinário”.
Para os autores, Ivy Lee “converteu-se” às relações públicas para prestar
serviços a Rockefeller, à época o mais impopular homem de negócios dos
Estados Unidos. Foi escolhido, a dedo, para ser o santo de um milagre
impensável: conseguir que o velho barão do capitalismo selvagem, de odiado,
passasse a ser venerado pela opinião pública americana.
CAPITALISMO SELVAGEM
Para compreender melhor o significado dos feitos de Ivy Lee, convém
recorrer a interpretações mais sociológicas, como a oferecida por Hebe Wey
(1986, p. 29-31). Ela situa o início das atividades de relações públicas no
quadro de prosperidade e conflitos que os Estados Unidos passaram a viver
após a Guerra de Secessão. Como se sabe, de 1875 a 1900, os Estados Unidos
viveram o período de prosperidade a que Mark Twain chamou de “era
dourada”, durante o qual, como lembra Wey, “o poder passa das mãos da
aristocracia dos plantadores do Sul às mãos da nova classe de homens
ambiciosos, os self-made-men, formada em parte por fazendeiros livres do
Oeste e em parte por capitalistas industriais das cidades do Leste”.
Como resume Hebe Wey, “a Guerra Civil, embora aclamada como uma
luta pela liberdade e pela igualdade, introduziu um período de caçada
frenética ao dólar e de brutal exploração”. E, nesse turbulento pós-guerra, os
“audaciosos empreendedores do Norte” alargaram de forma ambiciosa as
fronteiras de seus negócios. Especulavam com terras, construíam estradas de
ferro, exploravam recursos minerais, abriam bancos. No desfrute de um poder
político próprio, e em proveito de seus negócios, levavam ao extremo o
exercício da “liberdade de fazer”, espinha dorsal do sistema liberal da livre
concorrência. O poder permitia-lhes controlar governos e colocar-se acima
das leis.
Hebe Wey registra que até o conceito de moral mudou. A pobreza
tornou-se sinônimo de inépcia, e a riqueza, de virtude. Triunfar na
competição econômica era sinal de aptidão biológica no plano da existência e
da sobrevivência. E por essa norma ética, “quanto mais implacável a
competição, melhor seria, pois assim eram eliminados com mais rapidez os
fracos e os incompetentes”.
O cenário de vandalismo social propicia o surgimento de fenômenos
como o dos “barões ladrões” (robbers barons), “industriais sem escrúpulos
que se dedicavam a negociatas, visando o lucro fácil” (continuamos com
Hebe Wey). Pertence-lhes, na história econômica, aquele famoso lema – que
na tradução das liberdades brasileiras transformou-se em “o público que se
dane” – criado em 1882, provavelmente por William Henry Vanderbilt, um
dos mais conhecidos criadores das ferrovias americanas. Vanderbilt teria
proclamado the public be damned, em resposta aos jornalistas, quando lhe
solicitaram explicações pelo fechamento de um ramal ferroviário que fazia
falta a certa população.
Começava a ser praticado um taylorismo exacerbado, levado às últimas
consequências. A “ideologia da produtividade”, como poderiam ser
classificadas as ideias do engenheiro Frederick W. Taylor, conquistou
rapidamente os grandes industriais norte-americanos, que logo enxergaram,
na racionalização controlada do trabalho, uma boa forma de alcançar dois
objetivos, simultaneamente: aumentar o lucro e conter o avanço da resistência
operária. A “nova fábrica” de Taylor padronizava as tarefas, pagava por
peças e premiava quem mais produzisse – cenário em que surgiram os
cronometristas e os apontadores, para controlar os trabalhadores.
Com o taylorismo, a máscara do conhecimento científico passou a
encobrir o verdadeiro objetivo patronal, num quadro de luta de classes
marcado pela violência.
No entanto, a ganância dos “barões” também serviu para irrigar a
semente de históricas reações cívicas, que resultaram em pressões
organizadas dos trabalhadores e no surgimento de novo tipo de jornalismo,
mais realista, de denúncia, no qual brilhavam (entre outros) Thomas Lawson,
Ida Tarbell e Upton Sinclair, acusadores implacáveis dos industriais
exploradores.
Alguns desses jornalistas integravam o grupo de escritores de vanguarda
que, no fim do século XIX, voltaram-se para a questão social, criticando a
injustiça e a pobreza, em uma sociedade hipócrita. Nessa corrente se
destacaram os nomes de Mark Twain, Frank Norris e Jack London.
No mesmo contexto, ganharam espaço e importância os muckrakers,
produtores de uma literatura popular que explorava os escândalos sociais,
desnudando a opulência imoral do mundo dos negócios.
E nesse contexto, por outra vertente, se insere Ivy Lee.
Como escreve Hebe Wey (1986, p. 30-31), os grandes capitalistas,
“denunciados, acusados e acuados, encontram em Ivy Lee o grande caminho
para evitar denúncias, a partir de uma nova atitude de respeito pela opinião
pública”. Assumindo Rockefeller como primeiro cliente, o jornalista Ivy Lee
percebeu a excelente oportunidade para abrir um novo negócio: prestar
assessoria que auxiliasse os empresários a corrigir a imagem que deles fazia a
opinião pública, “com a divulgação de informações favoráveis às empresas,
pela imprensa informativa”. E criou uma assessoria especializada em fornecer
notícias para serem divulgadas jornalisticamente, não como anúncios ou
matérias pagas. “Eram informações corretas, de interesse e de importância
para o público, sobre as empresas, evitando assim denúncias”.
PRINCÍPIOS E AÇÕES
Ivy Lee marcou o surgimento das relações públicas, ou da assessoria de
imprensa, com a criação de uma declaração de princípios, em forma de carta
aos editores. É um documento histórico, a ser transcrito:
Com essa declaração, o sucesso de Ivy Lee foi imediato e fez escola.
Como se vê, Lee estabeleceu um pequeno conjunto de regras ético-morais,
em favor do pressuposto da confiabilidade. Comprometeu-se a fornecer
notícias – apenas notícias – e a colocar-se à disposição dos jornalistas,
sempre que solicitado, para respostas honestas, verdadeiras.
Hebe Wey considera a carta de princípios de Lee “uma excelente
orientação para os especialistas modernos”. Nem todos os teóricos da área,
porém, pensam como ela.
Cândido Teobaldo de Andrade, valorizando os fatos mais do que as
interpretações, narra assim a participação de Ivy Lee no surgimento e no
desenvolvimento da atividade de relações públicas:
Por esse tempo apareceu o antigo jornalista Ivy Lee, quando foi
contratado por John D. Rockefeller, por ocasião da greve sangrenta da
‘Colorado Fuel and Iron Co.’. A situação tornara-se tão insustentável
que John D. Rockefeller, pai, só saía protegido por guarda-costas. A
primeira providência de Ivy Lee foi dispensar os detetives, pois todas as
barreiras entre a família Rockefeller e o público precisavam ser
derrubadas (Andrade, 1983, p. 61-62).
Não se pode dizer que Lee tenha usado nessa ocasião técnicas exatas de
RR. PP., mas, de qualquer maneira, conseguiu solucionar a questão e
chamou a atenção dos donos de poderosas empresas para o problema,
desde que as relações públicas se mostraram eficientes em resolver
pontos fundamentais daquelas organizações. Data daí o prenúncio de
uma nova era, quando começou a humanização dos negócios. Coube
também a Lee a glória de ter colocado relações públicas no âmbito de
alta administração.
MODELO EXPORTADO
Chaumely e Huisman (1964, p. 9-10) informam que a atividade de
relações públicas transbordou dos Estados Unidos para o Canadá, em 1940.
Seis anos depois, entrou na Europa, pela França, por iniciativa da Esso
Standard e da Shell. E o “contágio” foi rápido. Em 1950, já existiam agências
e/ou departamentos de relações públicas em pelo menos mais sete países do
velho continente: Holanda, Inglaterra, Noruega, Itália, Bélgica, Suécia e
Finlândia. Na Alemanha, dizimada pela guerra e convalescente do trauma
nazista (regime sob o qual a propaganda teve uso científico), a primeira
agência de especialistas em relações públicas só surgiria em 1958.
A experiência europeia também se caracterizou pelo predomínio da
divulgação propagandística, a confirmar uma vocação de origem, que
relações públicas jamais rejeitaram, a de ser linguagem de propaganda,
assumindo-a como essência de sua natureza.
Se relações públicas, como atividade, pertencem ao âmbito da
propaganda, ou se acontece o inverso, é polêmica inacabada. Harwood
Childs, autor dos mais citados pelos especialistas do ramo, defende o seguinte
ponto de vista:
Para Childs (1964, p. 175), “relações públicas não é o nome para uma
nova ideologia, nem a designação de uma arte esotérica de propaganda. É,
simplesmente, o nome para um tipo de atividades individuais ou de grupo,
cujas dimensões crescentes afetam a vida de todos nós”.
Todavia, para Monique Augras (1978, p. 78), as definições de Childs
são mistificadoras. Ela o contesta:
O BOOM BRASILEIRO
As relações públicas tiveram no Brasil vertiginoso desenvolvimento a
partir de 1964. Com as RPs, generalizou-se, na iniciativa privada e no serviço
público, a prática da assessoria de imprensa. E as duas atividades atraíram
muitos jornalistas.
Em 1968, já desvinculada academicamente da área de Administração e
inserida, como carreira e área de estudo, nos cursos de Comunicação, a área
de relações públicas conquistou uma regulamentação de enorme abrangência
no campo profissional, iniciando, mesmo, faces de colisão com outras
profissões, em especial com o jornalismo.
Foi um processo estimulado pela estratégia de propaganda e divulgação
do governo militar. Lembremos que, àquela época, a Assessoria Especial de
Relações Públicas da Presidência da República (Aerp) ganhou espaço e força
de superministério. A então afamada Aerp detinha largo poder sobre verbas e
vagas. Coordenava a rede governamental de divulgação, criando e difundindo
“verdades” oficiais, que o ambiente de autocensura e adesismo favorecia.
Com sua força de barganha, sempre administrada em favor da imagem
popular da ditadura, a Aerp logo se tornou modelo para governos estaduais e
municipais, bem como para empresas de grande porte, em particular as
estatais.
O modelo foi consolidado, teórica e estrategicamente, no I Seminário de
Relações Públicas do Executivo, realizado de 30 de setembro a 5 de outubro
de 1968, no Rio de Janeiro. Além do pessoal da Aerp, participaram do
seminário equipes de comunicação de 16 ministérios, da Agência Nacional,
das estações oficiais de rádio e do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e
Estatística, bem como dirigentes da Associação Brasileira de Relações
Públicas, que teve importante papel na formulação técnica do projeto
delineado no documento final do encontro. Como detalhe indicador dos
tempos de adesismo que se vivia, registre-se que um dos participantes foi o
jornalista Danton Jobim. Na qualidade de presidente da Associação Brasileira
de Imprensa (ABI), ele fez a conferência de encerramento.
O seminário debateu cinco grandes temas:
1. Organização e funcionamento dos Serviços de Relações Públicas nos
órgãos da administração federal.
2. Normas de trabalho entre diferentes serviços de Relações Públicas dos
órgãos da administração federal e os veículos de Comunicação Social.
3. Diretrizes de Relações Públicas no Governo.
4. Promoção institucional do Governo.
5. Imagem do Governo – Opinião Pública.
Não pode deixar de ser transcrita a última das dez recomendações, por
ter significação histórica especial:
OBSESSÃO AMERICANA
A propaganda, as relações públicas e as assessorias de imprensa
tornaram-se, ao longo dos anos, verdadeira obsessão do americano. Qualquer
empresa, político, artista iniciante ou consagrado, qualquer produto tem a
sustentá-lo especialistas que orientam no texto dos anúncios, na cor da
embalagem, na escolha das palavras, na cor da blusa, da saia, do sapato, na
cor da gravata, no comportamento em geral dos clientes. Os políticos –
candidatos a governador, ao Congresso, à Presidência da República,
presidentes – seguem à linha a orientação de seus assessores, acrescentando
ou eliminando termos de seu universo vocabular, sorrindo aqui ou ali, ou
fazendo cara de mau. Nada se faz nos Estados Unidos sem a assessoria de um
elemento de um desses setores. Tanto em tempos de paz quanto, e sobretudo,
em tempos de guerra.
O historiador Eric Goldman (1948, p. 140) disse que as relações
públicas mudaram da atitude de “o público que se dane” ou “que o público
seja enganado”, preponderante no século XIX, para “que o público seja
informado”, na virada do século, e finalmente para “que o público seja
compreendido”, quando, no pós-guerra, os assessores de relações públicas
passaram a ajustar clientes e público. O assessor, equipado com os
ensinamentos da moderna psicologia sobre as raízes irracionais da opinião
humana, tentou entender o público como “um expert com o equipamento
técnico, a ética e a visão social associados ao advogado, ao doutor ou ao
professor”.
A Conferência de Paz de Paris, em 1919, é apontada como símbolo no
relacionamento entre governo e imprensa, embora os jornalistas que
participaram da cobertura tenham-se levantado em protesto por terem sido
mantidos afastados do que se passava nas reuniões secretas. Ray Stannard
Baker, que assessorou Wilson em Paris, dirigindo o American Press Bureau,
mostrou-se, porém, otimista em relação ao futuro da imprensa, dizendo que
um fato distinto e determinante aconteceu em Paris: o de que os povos do
mundo, o público, estiveram ali representados e organizados como nunca
aconteceu numa conferência de paz. Nos congressos anteriores, os diplomatas
ocupavam todo o palco, discutiam, regateavam e secretamente concordavam.
No entanto, em Paris, a democracia, como o deus cego da peça de Bunsany,
impôs-se, poderosamente, até chegar ao palco.
Schudson interpreta os termos “público” e “democracia” como
referentes aos repórteres dos jornais e das agências de notícias, pois nos anos
20 a imprensa era tida como verdadeira encarnação do governo democrático.
Apesar dos sinais otimistas, o conceito das relações públicas continuou,
porém, a enfrentar as incompreensões e dificuldades de antes. Alguns
jornalistas eram implacáveis na condenação da nova atividade. Os críticos de
Roosevelt e do New Deal mostraram-se contra o crescente envolvimento do
governo em publicidade. Os jornalistas aderiram à campanha temerosos da
perda de poder. O livro Handout, assinado sob pseudônimo por dois
repórteres, ataca “o sistema de Roosevelt de censura e propaganda”. Elmer
Davis, do New York Times, faz a resenha do livro e critica:
Suspeito que não existe um caminho mais seguro para uma imprensa
corrupta e desprezível do que autorizar repórteres a dizer aos leitores
quais os ‘fatos’ que são realmente fatos. Certamente nos países onde isto
é a prática, a imprensa serve menos bem ao público do que a nossa.
DIREITO DE MENTIR
Outro acréscimo ao léxico do jornalismo ocorreu em 1961, quando o
historiador Daniel Boorstin sugeriu o termo pseudoevento para referir-se a
acontecimento planejado com “o propósito imediato de ser transmitido ou
reproduzido”. Um pseudoevento, explicou ele, pode ser provocado para
convencer, mas sua lógica é bem diferente daquela da propaganda. Ele disse
que acidente de trem é um acontecimento real, mas uma entrevista é um
pseudoevento. E mostrou a diferença entre o pseudoevento e a propaganda:
“Enquanto a propaganda substitui opiniões por fatos, os pseudoeventos são
fatos sintéticos que influenciam indiretamente as pessoas, fornecendo a base
‘factual’ sobre a qual elas supostamente compõem as suas mentes.”
Nos Estados Unidos, os pseudoeventos podem ser sinalizados nos
últimos anos do século XIX e no jornalismo de Hearst e Pulitzer. Para
Boorstin (1961, p. 170), o trabalho de relações públicas de Bernays foi o
arquétipo dos pseudoeventos. E sugeriu que, “somente a partir do início do
século XX, uma proporção cada vez maior de nossa experiência, do que
lemos, vemos e ouvimos, veio a consistir de pseudoeventos”.
Os jornalistas queixaram-se da política posta em prática pela
administração de manipulação da notícia e criação de pseudoeventos, mas
não chegaram a tomar uma posição firme a respeito. Alguns ficaram
chocados com as mentiras em relação aos voos do U-2 (avião de espionagem
norte-americano) sobre a União Soviética nos anos 60. Outros ficaram
perturbados com o grau de tolerância do New York Times com a
administração Kennedy, aliviando o acelerador na cobertura da iminente
invasão da Baía dos Porcos (Cuba) em 1961, e com a posição do Pentágono
na administração Kennedy e Johnson. O porta-voz da Casa Branca Arthur
Sylvester declarou: “No mundo em que vivemos, a geração de notícias de
medidas tomadas pelo governo tornou-se uma arma numa situação de
dificuldade. Os resultados justificam os métodos que usamos”. Um mês
depois, falando no capítulo de New York da Sigma Delta Chi, fraternidade
honorária em jornalismo, ele completou: “Penso que é um direito inerente do
governo mentir – mentir para salvar-se quando confrontado com um desastre
nuclear – é básico, básico”.
Em meado e fim da década de 60, a imprensa norte-americana
confirmou que as opiniões de Arthur Sylvester (Gershen, 1966, p. 14-16)
haviam-se cristalizado em uma prática diária da Casa Branca: a atitude do
governo ao forçar uma situação e querer compor uma imagem rósea do que
estava ocorrendo no Vietnã. Essa atitude foi de encontro a um grupo de
repórteres determinados a exibir a verdadeira face do conflito (Peter Arnett e
outros). A reação da mídia levantou a opinião pública do país e provocou a
retirada das tropas norte-americanas. John Mecklin, à época funcionário da
missão norte-americana em Saigon, disse não acreditar que algum
funcionário responsável tenha dito à imprensa uma grande falsidade, mas
admitiu que disseram incontáveis pequenas falsidades.
NOVO TESTE
As assessorias de imprensa norte-americanas voltaram a ser testadas, no
plano governamental, com Watergate, a crise do Irã, a Guerra do Golfo, os
escândalos do governo Clinton, a guerra contra o terrorismo no início do
novo século, as invasões do Afeganistão e do Iraque, atuando como um
quebra-mar, um amortecedor destinado a aliviar o impacto violento das marés
que frequentemente castigam as administrações públicas. A assessoria de
imprensa da Casa Branca utilizou vários meios para evitar que a mídia
repetisse o que se passou durante a Guerra do Vietnã, quando levantou a
opinião pública contra a intervenção dos Estados Unidos no conflito. Sob o
pretexto de que o país estava em guerra, a mídia foi convencida a evitar cenas
chocantes ocorridas no Afeganistão, a não divulgar entrevistas com porta-
vozes ou simpatizantes do Taliban, ou então a editá-las antes de transmiti-las,
e a não utilizar, também sem editar, matérias da rede de televisão Al-Jazeera,
do Estado de Catar. Em linhas gerais, foi adotada uma atitude idêntica às que
haviam sido tomadas pelo governo norte-americano desde o conflito
vietnamita.
As críticas às assessorias de relações públicas deixam claro o
desconforto da mídia com o espaço que elas não se cansam de ampliar, seja
nos tempos de guerra, seja nos momentos de paz. No mundo dos negócios,
com o desenvolvimento da indústria do turismo – agências de viagens,
hotelaria, entretenimento –, sua importância é incontestável. Em 1966, mais
de duzentas escolas em nível de graduação ofereceram programas ou
currículos em relações públicas, normalmente em um departamento de
jornalismo ou comunicação. Pela primeira vez, em cinco anos, o número de
estudantes de relações públicas (15.352) superou o de publicidade (14.607).
Os especialistas em relações públicas ocuparam 110 mil postos em 1996.
QUE É RP PARA O NORTE-AMERICANO
O exercício formal do que hoje é chamado relações públicas tem menos
de cem anos. Durante sua atribulada história, elas foram definidas de
diferentes formas. Não surpreende que as primeiras definições tenham
enfatizado o papel das agências de imprensa e da publicidade, por terem sido
suas principais fontes de inspiração. As definições começam por incluir:
MODERNIDADE E PROGRESSO
Depois deste breve passeio pela história e pela atualidade, fica-nos a
certeza da importância e da modernidade das assessorias de imprensa,
instrumentos imprescindíveis de relações públicas, no momento em que as
palavras de ordem são diálogo, participação, troca, comunicação,
globalização.
As duas atividades estão firmemente ancoradas nas sociedades atuais. A
caminhada até aqui foi cheia de tropeços e incompreensões. No entanto, já
vai longe o tempo em que o pioneiro Ivy Lee, na defesa do conceito de
relações públicas, tinha que enfrentar jornalistas sediciosos, temerosos da
perda de poder.
Nenhum país acredita e aposta tanto quanto os Estados Unidos na
utilização dos meios de comunicação em benefício do público, de suas
instituições políticas, sociais, educacionais, filantrópicas, comunitárias, de
suas indústrias e seus negócios. Nenhum país confia tanto nas assessorias de
imprensa e delas obtém tanto retorno.
Não vamos ao extremo de dizer que haja um aproveitamento ideal das
potencialidades das assessorias segundo os elevados princípios de que falam
os manuais especializados. A luta por mercados pode descambar para áreas
nebulosas. O mesmo acontece com as disputas políticas. O nosso Joaquim
Nabuco descreve, estarrecido, no clássico Minha formação, o que presenciou
em uma campanha eleitoral norte-americana, a que ponto descem os
candidatos e a imprensa.
Todavia, a caminhada das RPs, de suas origens até os dias de hoje, não
parece ter sofrido nos Estados Unidos os mesmos percalços de suas
congêneres em outros países onde os assessores de imprensa conquistaram,
em determinado momento, a fama de porta-vozes do autoritarismo ou dos
grandes grupos econômicos, onde a cooptação dos jornalistas era, aliás, fato
comum, onde a oferta (e aceitação) de empregos públicos era de difícil
rejeição diante dos salários de fome da imprensa (Duarte, 2001, p. 15). Elas
gozam de respeito e consideração, e, no balanço geral, parte considerável do
sucesso do país – político, social e empresarial – lhes é devida.
Para concluir: chamamos a atenção para outro aspecto da realidade
norte-americana, que é a não obrigatoriedade de “carta”, “registro” e diploma
para assessores de relações públicas, de imprensa, e jornalistas exercerem
seus ofícios.
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A assessoria de imprensa na Europa tem como função principal
estabelecer e manter contacto com os jornalistas informando-os sobre as
atividades de uma organização, controlar e analisar a informação veiculada e
recolher o que vai sendo publicado. Suas funções específicas incluem a
preparação de sínteses sobre a instituição, sua história, objetivos, política de
desenvolvimento, estrutura organizacional, posição que ocupa em seu setor
etc. Deverá dispor de relatórios, publicações e outros dados relevantes para os
jornalistas, bem como de fotografias em cores e em preto e branco
legendadas, material audiovisual etc. Deve promover as ações da própria
organização e adaptar a informação que o jornalista deseja ao que a empresa
pretende transmitir, redigir os comunicados de imprensa e toda a informação
a ser veiculada. Cabe ainda à assessoria de imprensa organizar os diversos
arquivos de imprensa e participar na elaboração de estratégias de
comunicação da organização em todos os níveis em que ela opera (Moutinho,
2001, p. 91-92).
Como se vê, não há diferenças de monta nas atividades tradicionalmente
consignadas à assessoria de imprensa na Europa e no Brasil. No entanto, na
União Europeia a assessoria de imprensa é entendida como uma atividade de
relações públicas. Por isso, ao contrário do que sucede no Brasil, a assessoria
de imprensa é considerada uma atividade incompatível com o jornalismo. Os
assessores de imprensa são vistos como profissionais de relações públicas, e
não podem exercer o jornalismo nem ser considerados jornalistas. Esse
enquadramento da assessoria de imprensa expressa-se nos diferentes livros
sobre relações públicas, na legislação que regula o jornalismo, nos códigos de
ética de relações-públicas e jornalistas e no próprio ensino.
A FECHAR
“Com o lema ‘fazer bem e fazer saber’, relações públicas é todo um
conjunto de técnicas que vão permitir criar e manter uma imagem favorável
entre uma empresa, instituição ou pessoa e o seu público” (Moutinho, 2001,
p. 142). Essa imagem favorável depende, essencialmente, da importância que
se dá à comunicação: um cliente insatisfeito transmite sua insatisfação a 15
pessoas, enquanto um cliente satisfeito só comunica sua satisfação a três. Se
cinco mil empregados insatisfeitos com sua empresa fizessem o mesmo,
teríamos 75 mil pessoas a saber do ocorrido, não contando com o fato de cada
uma delas comentar com seus 15 conhecidos – seria o atestado de óbito para
qualquer imagem que a empresa tivesse conquistado (Moutinho, 2000, p.
127).
Por outro lado, se a aposta na comunicação for grande e dirigida a um
mercado cada vez mais bem informado, competitivo, então as relações
públicas deverão fortificar as relações com a imprensa, que é como quem diz:
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__________
1
Colaborou Rozália Del Gáudio no levantamento da situação francesa.
A expressão assessoria de imprensa (AI) designa a atividade de gestão
do relacionamento e dos fluxos de informação entre fontes e imprensa. O
principal papel de um AI é informar à sociedade sobre assuntos de interesse
público com características noticiosas sobre os quais a fonte ou organização
em que atua tem protagonismo ou interesse. Para isso, busca, essencialmente,
provocar o interesse e atender demandas por informações de jornalistas e,
cada vez mais, de outros mediadores sociais (como os chamados
influenciadores: blogueiros, youtubers, ativistas, celebridades, especialistas,
por exemplo). O exercício da prática de assessoria de imprensa, no Brasil, é
especializado e realizado, na maior parte das vezes, por profissionais com
curso superior de jornalismo.
A presença de jornalistas neste papel de intermediário entre fontes e
propagadores de informação noticiosa ocorre de forma lenta ao longo do
século XX, se institucionaliza rapidamente na década de 1980 e em 1993 o
Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal calculava que metade dos 25 mil
jornalistas brasileiros atuava na comunicação institucional (Sant’Anna,
1993).
A transformação da assessoria de imprensa de acessório pouco relevante
para área central no processo de comunicação das organizações e fontes com
a sociedade ocorre nos anos 1980, com o processo de redemocratização.
Nesse período, o uso da informação e o estabelecimento de relacionamentos
adequados com diferentes públicos passou a ser fundamental. Se antes
bastava articulação com as diferentes instâncias de um regime de governo
fechado, tornou-se essencial dialogar com o conjunto da sociedade e com os
novos atores sociais empoderados (ONGs, entidades representativas,
lideranças políticas, sindicatos e consumidores, por exemplo) e a opinião
pública em geral. E o caminho mais fácil foi garantir presença na imprensa.
Ao longo dos anos seguintes, em menor ou maior grau, as assessorias de
imprensa ampliaram seu papel a partir da busca de visibilidade, da
necessidade de transparência e das demandas naturais dos diferentes
públicos. E tornaram-se o embrião de uma comunicação organizacional
complexa e diversificada que continua a evoluir com a impulsão da
comunicação digital. Uma das consequências é que embora a expressão
assessoria de imprensa continue designando áreas e profissionais, esses
ampliaram suas responsabilidades, superando fronteiras estabelecidas na
origem da atividade. Jornalistas agora também atuam em gestão e produção
de conteúdo institucional, capacitam fontes, fazem planejamento de
divulgação, marketing político, e atuam em uma enorme variedade de
funções, inclusive comunicação interna. E estão no Legislativo, Executivo,
Judiciário, em empresas públicas, terceiro setor, universidades, Forças
Armadas, sindicatos, entidades de classe, trabalhando para pessoas físicas,
em consultorias, agências de comunicação e em vários ramos relacionados à
informação institucional ou mercadológica.
A adaptação da capacidade profissional do jornalista para atuação no
relacionamento com a imprensa e na comunicação institucional é resultado de
um longo processo evolutivo.
Num período em que os jornais eram e assumiam ser engajados
politicamente, Campos Sales, nosso quarto presidente (1898-1902) usou os
serviços do jornalista Tobias Monteiro, do Jornal do Commercio (RJ), para
divulgar sua viagem à Europa. Tobias viajou oficialmente como secretário
particular e publicou os relatos na imprensa (Monteiro, 2005). Já a
implantação oficial do atendimento à imprensa e divulgação jornalística na
área pública ocorre em 18 de novembro de 1909, quando o presidente Nilo
Peçanha, ao organizar a estrutura do Ministério da Agricultura, Indústria e
Comércio, cria1 a “Seção de Publicações e Biblioteca” para integrar os
serviços de atendimento, publicações, informação e propaganda. O setor
tinha como finalidade distribuir informações por meio de notas ou notícias
fornecidas à imprensa e aos particulares que as solicitassem e editar o Boletim
do Ministério. Nos anos seguintes, sem mudança significativa nas
responsabilidades, o setor passa a chamar-se “Serviço de Publicações e
Biblioteca”, em seguida “Serviço de Informações” e, então, “Biblioteca e
Serviço de Informações e Divulgação”. No regulamento, a responsabilidade
de que o boletim constituísse fonte “a mais completa possível, de consulta e
divulgação dos conhecimentos úteis aos lavradores, industriais e
comerciantes”. Todas as repartições do Ministério ficavam obrigadas a
“atender, sem demora, aos pedidos de dados e esclarecimentos que lhes
forem solicitados pelo diretor”. Em 1915, retorna o nome “Serviço de
Informações” e são especificados novos detalhes: “divulgar, pela imprensa,
em notas concisas, mas completas, informações [...] que possam influir para o
desenvolvimento da produção nacional”. Entre as recomendações, o alerta
que a divulgação somente poderia ocorrer depois que o texto fosse submetido
ao Ministro.
No setor privado, em janeiro de 1914, a empresa canadense The Light
and Power Co. Ltda., concessionária da iluminação e do transporte coletivo
na capital paulista, criou um departamento com o nome de Relações Públicas
(que alguns consideram o primeiro do mundo) e que tinha, entre outras
funções, manter relacionamento com os órgãos de imprensa e poderes
públicos (ABRP, 2009). O engenheiro Eduardo Pinheiro Lobo exerceu as
funções de diretor do departamento durante 19 anos e hoje é o patrono das
Relações Públicas no Brasil.
Na Europa, Santos Dumont usava estratégias de divulgação na imprensa
como um tipo de marketing pessoal (avisava jornalistas antes dos voos,
contratava fotógrafos e distribuía notícias e fotos) e usava serviços de
clipping para saber o que a imprensa publicava. Provavelmente foi o primeiro
brasileiro a ter esse serviço. Diacon (2006) descreve o uso que o Marechal
Cândido Rondon fez, também no início do século, da divulgação jornalística
como parte de uma estratégia de relações públicas para promover a
implantação do telégrafo no interior do país por meio da administração, na
fonte, das informações de interesse jornalístico.
Como funcionava: Amilcar Armando Botelho de Magalhães coordenou,
a partir de 1910 (antes da recém-citada The Light and Power, portanto), um
escritório no Rio de Janeiro para promover a Comissão Rondon.
Encaminhava artigos e comunicados para os jornais, remetia cartas pedindo
correções quando as informações não eram agradáveis e conseguia que
jornais publicassem relatos sem assinatura do autor – num tipo de “blitz
publicitária”, na interpretação de Diacon. O esforço também gerava produção
de documentários, anúncios, palestras e exposições. Obter promoção positiva
para estabelecer uma imagem de aventura e importância da Comissão era
fundamental para ganhar apoio e manter os substanciais recursos para
sustentar o projeto. A ação de relações públicas não era apenas junto à
imprensa, mas incluía autoridades, a burocracia do governo, lideranças,
políticos, militares e a sociedade. Um dos esforços era para “exaltar Rondon e
seus comandados como titãs”, o que ajudou a estabelecer o mito do
Marechal. A divulgação era apenas positiva e não tratava dos problemas,
cada vez mais frequentes, e que abalaram a credibilidade do escritório e da
Comissão na imprensa. A Comissão se encerrou em 1930, mas deixou
exemplos que servem de referência histórica pelo uso inovador de práticas
que viriam a integrar as relações públicas, e já em uma perspectiva
estratégica.
Ainda na primeira metade do século XX, serviços de divulgação na área
pública começam a ser organizados em níveis federal e estadual, com a
presença dos chamados redatores, que produziam e distribuíam textos para a
imprensa pelos gabinetes e bureaux de imprensa instalados em órgãos
governamentais. Com os baixos salários na imprensa, jornalistas eram
estimulados a trabalhar em órgãos públicos e ali fazer a cobertura para esses
mesmos jornais. Reverbel e Laitano (1993, p. 51) chamam esses jornalistas
de “press-releases humanos”. Atuar em redação e obter algum destaque
facilitava ingressar no serviço público e complementar os parcos salários.
Guerra (1970) conta que durante os anos 1930, “geralmente, as notícias
oficiais eram reproduções por inteiro do noticiário do Diário Oficial,
‘cozinhadas’ na redação” (p. 156). Naquele período, estimulado pela
popularização do rádio, o governo federal torna política de Estado o controle
e a disseminação de informações por meios de comunicação de massa e passa
a organizar um sistema articulado, reunindo coordenação nacional e atuação
local, interferindo diretamente com sua mão pesada em todos os meios de
comunicação. Isso ocorre a partir de 1931, quando, sob o Governo
Provisório, é estruturado o Departamento Oficial de Propaganda na Imprensa
Nacional, administrado pelo jornalista Sales Filho. Durante a década, ele é
sucessivamente reorganizado como Departamento de Propaganda e Difusão
Cultural (DPPC) e Departamento Nacional de Propaganda (DNP), que passa
da ênfase na propaganda radiofônica para o uso da imprensa como vetor de
informação governamental. O ápice ocorre entre 1939 e 1945, por meio do
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e dos Departamentos
Estaduais de Imprensa e Propaganda (Deips). “Era preciso coordenar a
imprensa com o Estado, a fim de que a primeira cooperasse eficazmente com
o segundo, tornando-se um instrumento poderoso de defesa do bem público e
de propulsão do progresso nacional. [...] Redundará em uma harmonia das
atividades jornalísticas com as finalidades do governo nacional”, diz Amaral
(1940, p. 12), então defendendo o recém-surgimento do DIP como
instrumento para “orientação” da imprensa.
O controle ideológico via comunicação (particularmente rádio, jornal e
cinema) consolida-se por uma política pública de origem fascista, implantada
pelo jornalista Lourival Fontes, que atuara na chefia do DPPC e do DNP. Ele
conhecia e admirava as máquinas de propaganda dos governos alemão e
italiano.
Com o sistema, o Governo estabelece uma superestrutura de
manipulação da opinião pública por meio da censura, fiscalização, controle
legal (como na importação de papel-jornal, monopólio do Estado) e
distribuição em larga escala de noticiário laudatório, contando com a
complacência e até entusiasmo de boa parte da imprensa (Barbosa, 2007, p.
110).
Em 1944, por exemplo, a Agência Nacional, ligada ao DIP, atuava com
220 funcionários, contando com equipes de reportagem e um sistema de
difusão de material jornalístico para todo o Brasil (sobre o assunto, ver
Goulart, 1990). Luiz Beltrão, que chegou a atuar no Deip de Pernambuco,
conta (1987, p. 8) que, na época da ditadura do Estado Novo, “os jornais
publicariam tudo o que saísse de qualquer repartição do governo”. O DIP foi
substituído em 1945 pelo Departamento Nacional de Informações, extinto em
setembro do ano seguinte. A Agência Nacional ficou vinculada ao Ministério
da Justiça e Negócios Interiores, passando por sucessivas transformações até,
por iniciativa do governo Lula, tornar-se empresa pública (agora como EBC)
e voltar a ter gestão governamental no governo Temer.
Na redemocratização pós-ditadura Vargas, a máquina do Estado
continuou utilizada para obter o apoio ou silêncio de jornalistas via oferta de
empregos públicos (até mesmo a parentes e amigos). “Com isso, centenas de
profissionais de imprensa se transformam em funcionários públicos”
(Quintão, 1993, p. 216). Jornalismo era, em geral, atividade complementar, e
os repórteres tinham que ter outras fontes de renda. O amadorismo pré-
regulamentação da profissão e o interesse do governo e dos patrões em
manter a situação estimularam o duplo-emprego e criaram vantagens e
distorções: repórteres ignoravam imposto de renda e tinham desconto ou não
pagavam passagens aéreas, entre outros benefícios. Era normal a troca de
favores. Havia “jeton”, complemento salarial pago pela instituição que o
jornalista cobria, geralmente na área pública ou de entidades de classe, assim
como o “jabaculê”, “presente” (geralmente dinheiro) oferecido por fontes.
Assis Chateaubriand declarou, em 1961, quando os jornalistas conquistaram
o salário básico profissional: “Mas por que vocês fazem greve por piso? Eu
estou dando para vocês emprego e espaço no jornal para escreverem. Por que
vocês não ganham dinheiro com isso? Eu fiz minha fortuna assim” (Romeiro,
1987, p. 102). O balizamento ético surgido com a regulamentação da
profissão não impediu que, bem mais tarde, já no período pós-
redemocratização, metade dos repórteres credenciados no Congresso fossem
identificados como funcionários da Câmara ou Senado (Quintão, 1993, p.
230).
O histórico sistema institucionalizado de cooptação,2 a cultura de
controle da informação nos órgãos públicos e a recorrente acusação de
ineficiência3 ajudaram a criar a fama, particularmente desde o AI-5 e nas
redações mais exigentes, de profissionais de comunicação vinculados a
órgãos públicos serem incompetentes, bloqueadores do fluxo de
comunicação, criadores de cortinas de fumaça, porta-vozes do autoritarismo,
de fazerem jornalismo chapa-branca.4 Essas críticas pouco edificantes
acabaram generalizadas e marcaram profundamente a história das relações
públicas (expressão que se disseminou no serviço público durante a ditadura)
e o surgimento das assessorias de imprensa, mas não consideram a existência
de profissionais em gabinetes de divulgação cumprindo com eficiência outro
tipo de papel, menos promocional e persuasivo e mais informativo. Um
exemplo: no Setor de Imprensa do Serviço de Informação Agrícola (SIA) do
Ministério da Agricultura existia uma estrutura de divulgação que, apenas em
1960, distribuiu “1.619 notas e notícias, 102 entrevistas e declarações e 479
reportagens, num total de 2.200 matérias” (Vieira, 1960, p. 24). Um exame
dos então chamados comunicados (hoje releases) indica que os textos
tratavam, sobretudo, de orientações e informações sobre agricultura, pesca,
eventos, estatísticas. O então presidente da Associação Brasileira de Imprensa
(ABI), Herbert Moses, comentava:
ASSESSOR DE IMPRENSA
COMO COMO COMO
ESTRATEGISTA ESPECIALISTA GESTOR
Agenda de Produtos e Serviços Assessoria e
relacionamentos Especializados Orientação
(produção de
conteúdo, relações
com a imprensa,
principalmente)
Análise de cenários, Multitarefas Avaliação de
contexto e informações resultados
Construção da Política de Alinhamento
Comunicação do discurso
Definição de diretrizes, Articulação
objetivos, públicos, interna e
prioridades, metas, meios externa
e mensagens e formas de
acompanhamento e
avaliação
Mapeamento de Elaboração
tendências, riscos e de
oportunidades Diagnósticos
Consultoria. Orientação à Gestão de
gestão e à formulação de pessoas,
políticas corporativas recursos e
processos
Planejamento Integração
de áreas e
ferramentas
Visão de futuro,
construção de cenários,
avaliação de tendências
Ética, espírito empreendedor e cooperativo, foco em soluções,
resiliência, flexibilidade, adaptabilidade, multidisciplinaridade
Visão política, global, sistêmica e integrativa da Comunicação
Alinhamento com missão, diretrizes, objetivos e metas da organização
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__________
1
Informações obtidas pelo autor em pesquisa nos decretos do governo federal. Os fatos citados
constam nos Decretos nos 7.673, 7.912, 8.243, 9.195 e 11.509, publicados pelo Ministério no
Diário Oficial entre 18.11.1909 e 04.03.1915.
2
Vínculos com base em relações de troca de favores, corrupção ou subordinação de veículos de
comunicação e jornalistas a governos remontam ao século XIX, com a imprensa áulica. No
período 1853-1866 havia “verbas secretas” do governo para subvenção de jornalistas com o
pretexto de “animar a boa imprensa e em combater a má” (Sales, 1998, p. 177). “Todos os
ministros do Brasil, sem exceção, têm lançado mão desse meio, têm mandado para os órgãos de
publicidade artigos que explicam e justificam os seus atos”, acusou Sales (1998, p. 177), que
governou o país entre 1899 e 1902, no mesmo texto em que afirmava ter “eliminado a verba”.
Este tipo de procedimento, entretanto, talvez tenha durado mais tempo do que saibamos: em
2001, a Câmara Municipal de Cuiabá (MT) suspendeu a “verba de zelo”, propina com dinheiro
público paga à imprensa local – e que não era de conhecimento público. O fim do gasto permitiu
pôr em dia o salário dos servidores do Legislativo (Augusto, 2002).
3
No atendimento ao jornalista era comum o que Miguel Jorge (1992, p. 13) descreve: “gente
sempre educada, fina, com imensa dedicação, mas completamente despreparada para a função.
As empresas, muitas vezes, pegavam um bom funcionário administrativo, que tinha um
‘jeitinho’ para relações públicas e colocavam-no para tratar com a imprensa”.
4
A visão que o jornalista em geral tinha do assessor de imprensa é dada por Noronha (1987, p.
94): “um indivíduo que funcionava como uma barreira entre a fonte e os meios de Comunicação.
Estava colocado com a intenção de esconder a notícia. (...) Se comportava muito mais como um
relações públicas”.
5
Informações fornecidas em entrevistas ao autor por Ney Peixoto do Vale.
6
Entrevista ao autor.
7
“O modelo foi consolidado, teórica e estrategicamente, no I Seminário de Relações Públicas do
Executivo, realizado de 30 de setembro a 5 de outubro de 1968, no Rio de Janeiro”, explica
Chaparro no primeiro capítulo deste livro.
8
Natural da Sicília e falecido em 2008, Antonio de Salvo Antonio foi um dos mais importantes e
premiados profissionais de relações públicas no País. Em 1971 fundou a ADS Assessoria de
Comunicações, empresa pioneira e uma das principais do mercado brasileiro.
9
Chaparro (1996, p. 144) diz que “a sociedade organizada tem necessidade vital de se
manifestar. São empresas, escolas, igrejas, sindicatos, partidos políticos, grupos culturais,
associações de todos os tipos, entidades e pessoas capazes de produzir fatos, atos, falas, bens,
serviços e saberes que influenciam na atualidade”.
10
Em 1985, a Rhodia lançou seu Plano de Comunicação Social caracterizado como uma
“Política de Portas Abertas”. Tratou-se de um avançado e pioneiro programa de comunicação
empresarial. Bueno (1989, p. 5) avalia que a política adotada pela Rhodia serviu de paradigma
para as demais organizações. O livro Portas abertas traz detalhado relato sobre o programa de
abertura ao diálogo entre a empresa e a sociedade no período entre 1982 e 1988 e tornou-se um
clássico ainda atual na literatura de comunicação organizacional por mostrar um tipo de
posicionamento e exemplos de ações que acabaram tornando-se inevitáveis para a grande
maioria das empresas brasileiras. Ver mais sobre o assunto em Valente e Nori, 1990. Outra
inovação significativa acontece em 1995, quando a Embrapa estabelece sua Política de
Comunicação Empresarial, provavelmente a primeira no setor público (Duarte & Silva, 2007).
11
O principal exemplo parece ter sido uma greve malsucedida na imprensa paulista em maio de
1979. Ela levou à demissão de aproximadamente duzentos jornalistas e mudou a carreira de
muitos profissionais, que seguiram para assessorias (Abramo, 1988).
12
O depoimento de Antonio Alberto Prado é elucidativo para o período: “Nós, jornalistas,
muitas vezes vemos nossa profissão como uma espécie de religião. Como para um padre,
também para nós é muito difícil deixar a batina. No entanto, eu descobri que a enorme bagagem
que os repórteres reúnem estava repleta de ferramentas fundamentais, desejadas, apreciadas e
melhor pagas nas indústrias e em outras empresas não jornalísticas” (O FUTURO..., 1993, p.
32).
13
Desqualificadas, no caso, têm o significado, de “não jornalista”. Marinho (1986, p. 108)
explica que profissionais de uma determinada área tendem a exercer controle sobre seus pares,
ao mesmo tempo em que praticam sanções monopolísticas contra eventuais intrusos. “São os
interesses dos membros de uma profissão por poder, riqueza e prestígio que os leva a lutar pela
conquista e manutenção de seu monopólio de competência.”
14
Atualmente é comum o estágio do estudante de Jornalismo em comunicação institucional ou o
recém-formado sair da faculdade diretamente para uma assessoria de imprensa. Até o fim dos
anos 1990, o grande atributo do assessor era ter vasta experiência em jornalismo. Hoje não é
difícil encontrar profissional de relações com a imprensa que nunca colocou os pés em uma
redação. Apesar disso, apenas há pouco tempo disciplinas específicas foram incluídas na maior
parte dos cursos de Jornalismo e surgiram talvez dezenas de cursos de pós-graduação em temas
como gestão da comunicação corporativa, em que é possível obter atualização sobre as práticas
do mercado. Na área acadêmica, entretanto, parece haver pouco interesse em tornar assessoria de
imprensa foco de pesquisas, fazendo que as implicações da mobilidade profissional, o sistema de
informação para sociedade e a influência das fontes e das organizações nas redações e no
mercado da notícia, por exemplo, ainda estejam por ser mais bem estudadas.
15
Para saber mais, ver Sant’Anna (2008).
16
Existe ligação original entre assessoria de imprensa e relações públicas: na primeira década do
século XX, o então ex-jornalista norte-americano Ivy Lee passou a atuar na divulgação de
empresários e a orientá-los na conquista da opinião pública por meio da mídia, a partir de
técnicas para influenciar as decisões jornalísticas. A divulgação jornalística não era novidade
(não deixe de ler o excelente texto de Ribeiro, 2015). A originalidade era dar consultoria sobre
imagem a partir das relações com a imprensa e com a opinião pública, garantir o acesso dos
jornalistas às informações de interesse público geradas pela organização e atuar com base na
verdade e na realidade. Hoje, Lee é reconhecido como referência histórica em assessoria de
imprensa e considerado o “pai das relações públicas”. Antes dele, a frase “o público que se dane”
sintetizava o padrão vigente no relacionamento dos grandes empresários com a imprensa. Uma
outra contribuição relevante de Ivy Lee foi atuar vinculado diretamente aos dirigentes. Esta
inovação não deveria ser subestimada.
17
Entrevista ao autor.
18
Ver mais sobre o assunto no Capítulo “Assessoria de Imprensa na Europa”.
19
Entrevista ao autor.
20
Entrevista ao autor.
21
Rossi, valendo-se de dados do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo
(que não considerava rigorosos), estimava que em 1985 mais de quatro mil profissionais não
conseguiam atuar na área naquele Estado (1986, p. 39).
22
Romeiro (1987, p. 103) diz que “o relações-públicas é formado para promover as coisas. (...)
Na hora em que é abordado por um jornalista, tende, instintivamente, a deixar o jornalista
insatisfeito”. Simões (1995, p. 102) acredita que as relações públicas foram contaminadas por
“um vírus pejorativo” e atribui parte da responsabilidade aos jornalistas. Palma (1994, p. 74) diz
que “muitas vezes (...) [o relações-públicas] é mesmo culpado pelas imputações que lhes são
feitas”. Ele justifica afirmando que o relações-públicas negligencia as regras básicas da notícia,
bombardeia as redações com grande quantidade de releases de interesse unilateral, longos e
redundantes. A crítica, entretanto, pode ser extensiva a muitos jornalistas assessores de imprensa.
23
Carlos Villanova é exemplo. Foi Secretário de Imprensa Internacional da Presidência da
República durante cinco anos no Governo Lula e dez meses no Governo Dilma. É bacharel em
Matemática. Os jornalistas não notaram. “Acho que a formação não interessou. Importou
assessorar direito.”
24
Marcondes Filho (1993, p. 143) afirma que só as empresas de comunicação têm “um falar
genuinamente jornalístico. Todos os demais são veículos oficiais de transmissão de opiniões
particularistas”, referindo-se a publicações empresariais e agências de notícias de sindicatos,
igrejas e universidades.
25
Uma das tarefas do assessor de imprensa é sugerir abordagens, fatos, eventos ou mesmo
produzi-los para que possam ocupar espaço na mídia.
26
Uma solução para resolver impasses na atuação, estabelecer um corpo conceitual específico,
consolidar uma identidade (ver Duarte e Duarte, 2002) e até mesmo para evitar conflitos e certa
baixa autoestima, resultado das indefinições, seria a caracterização da atividade de assessoria de
imprensa como profissão, alternativa inviável por óbvio desinteresse dos profissionais da área
em deixarem de ser jornalistas.
27
Uma das dificuldades é que há certa ilusão em muitas organizações de que problemas de
comunicação podem ser solucionados pelas técnicas de assessoria de imprensa. Embora possa
ser um primeiro passo, dificilmente será suficiente.
28
O Brasil teria algo como duas mil agências de comunicação, estima Schmitz (2017).
29
Piva (1999, p. 82-83) traça o perfil necessário do jornalista em funções empresariais:
estrategista político, articulador, consultor/conselheiro, capacidade de relacionamento,
administrador de conflitos, capacidade para ler e interpretar o meio ambiente, dominar os meios
clássicos de comunicação e descentralizador de operações.
30
Apesar da penetração neste mercado e da ajuda que o jornalista pode prestar à organização, o
profissional que teoricamente possui o melhor currículo universitário para administrar a
comunicação da empresa é o relações-públicas. A corrosão da expressão relações públicas é
tema recorrente nas discussões no âmbito da profissão, e a tendência é relacioná-la,
principalmente por seu uso pelo regime militar imposto ao País, ao lobby (na acepção negativa),
à precoce regulamentação, a problemas na formação universitária e à tradição de corporativismo
no uso do nome, que impediu sua adoção por profissionais reconhecidamente competentes, mas
sem a formação prevista na legislação (ver Brandão, 2001). Historicamente, um dos resultados
do desgaste foi a perda de postos nas organizações, consequência da ocupação de suas atividades
originais por profissionais com outras formações (particularmente jornalistas) que chegam a
adotar outras terminologias profissionais (gerente de comunicação é a mais comum) para
desempenhar tarefas típicas previstas pelo arcabouço teórico de relações públicas. A adoção
disseminada da expressão agência de comunicação também é efeito da restrição criada ao uso da
expressão relações públicas, consagrada em todo o mundo, mas limitada no Brasil por questões
corporativas e legais. Essas mesmas agências, entretanto, têm adotado a expressão Relações
Públicas de uma maneira muito saudável e compatível com o conceito internacional, o que tem
ajudado na popularização e recuperação da expressão. Uma outra boa novidade é o surgimento
de cursos de graduação em Comunicação Organizacional.
PARTE II
PRINCÍPIOS
UMA BREVE EXPLICAÇÃO
A eleição do bilionário Donald Trump para a presidência dos Estados
Unidos da América, em 2016, contrariando as sondagens dos institutos de
pesquisa e as avaliações dos analistas políticos, publicadas pela grande
imprensa, trouxe para o debate sobre a comunicação jornalística um
componente novo.
A vitória de Trump foi mais do que “um ponto fora da curva” do
ambiente político. A disputa entre Hilary Clinton e Trump cristalizou uma
tendência: um tipo novo de eleitor, ou leitor, que recebe pouca ou nenhuma
influência da chamada grande mídia, e que transita pelas redes sociais ou
mesmo fora delas, em ambientes locais e seguindo estratégias e interesses
também bastante localizados.
Outro aspecto importante e que só foi notado após a vitória de Trump:
notícias falsas, na sua maioria geradas por sites alternativos, em geral
voltados para o humor, foram tomadas por verdadeiras e podem ter
influenciado o resultado final da eleição.
Chistes e brincadeiras publicados em sites e turbinados pelas redes
sociais teriam tido a capacidade de pender a equilibrada disputa eleitoral para
o lado do outsider Trump? Parece que sim. No mesmo dia em que o
candidato republicano era anunciado como o 45º presidente dos Estados
Unidos, o Facebook soltava uma nota tentando eximir-se da responsabilidade.
Para muitos americanos, segundo noticiou o site G1, a rede social está se
transformando na fonte primária de consumo de notícias.
Esse fato poderá provocar mudanças radicais na forma de se produzir
notícias? Acredito que sim. Muitas empresas de mídia estão priorizando a
divulgação de informações nas redes sociais, antes de oferecê-las
“empacotadas” por seus veículos tradicionais.
O problema a ser discutido é: como ficará a produção de conteúdo,
confiável e de qualidade, a partir do momento em que o público interessado
por notícias se desloca para um espaço onde uma gigantesca comunidade on-
line é, ela mesma, produtora e consumidora de informações?
Ou, como pergunta o sociólogo Zygmunt Bauman, estaremos vendo
uma “amadorização em massa” do jornalismo, com “o fim da hierarquia, da
verticalidade da informação, em nome da horizontalidade da comunicação?”
(Bauman e Mauro, p. 107).
O artigo a seguir, obviamente, não traz respostas para tais perguntas.
Escrito no início do século 21, ele se preocupa em explicar um modelo que
foi gestado durante o século 20 e que está em crise.
Mas como nos lembra o mesmo Zygmunt Bauman, que cito aqui de
cabeça: deixamos de ser algo e ainda não somos alguma coisa nova. Ou seja,
estamos entre dois mundos comunicativos, um que rui e outro que emerge.
Caberá aos produtores de notícias reinventarem um modo novo de se
comunicar, que aproveite as novas tecnologias para aprimorar a qualidade das
informações e não para disseminar ódios e mentiras.
Para além do interesse científico ou mesmo profissional sobre o
funcionamento de uma redação, existe um interesse secular, mundano
mesmo, em conhecer o que é e como funciona o lugar onde se produzem as
notícias. Tornou-se até parte integrante da apresentação dos telejornais, por
exemplo, expor “pedaços” de sua redação, passando ao telespectador a
sensação de estar no local onde são (re)produzidas as notícias.
Também os jornais expõem com certa regularidade “pedaços” de sua
realidade interna, seja por um processo de autorreferência, seja nas
campanhas de marketing veiculadas nos próprios veículos de comunicação.
Isso sem contar o cinema, que sempre soube retratar, com ou sem retoques, a
realidade dos órgãos de imprensa.
É mais fácil definir uma redação jornalística pelo que ela não é. Em
primeiro lugar, uma redação não é o local onde acontecem as notícias, mesmo
que alguns jornalistas às vezes pensem (e ajam) na contramão desse axioma.
A notícia acontece nas ruas, nas sedes do poder, nos escritórios bancários, nas
competições esportivas e eventos culturais, entre outros. Na redação não deve
acontecer nada além do mero trabalho braçal e intelectual (infelizmente, cada
dia mais braçal e menos intelectual) de organizar as informações de forma
que o produto jornalístico seja um construto de uma dada realidade.
Em segundo lugar, deve-se dizer que uma redação não é o único lugar
onde se decide o destino de determinada notícia. Entre a ocorrência de um
fato e sua divulgação pela imprensa, existem inúmeros canais intermediários
(sociedade, Estado, igrejas, empresas, sindicatos etc.), e outros interesses
externos subjetivos (ideológicos, éticos, técnicos etc.), que influenciam na
decisão final de se dar ou não uma notícia.
Além de não ser o local onde se produz a notícia e de não ser o único
onde se decide sobre sua veiculação, a redação também não é, ou pelo menos
não deveria ser, um ambiente opaco ao interesse público. Por não ser uma
fábrica de sabão ou um escritório particular de contabilidade, mas o local
onde se organizam as informações públicas sobre o mundo vivido, uma
redação deve ser um ambiente em que as pessoas possam conhecer aspectos
da realidade. Sim, porque não basta ler, ouvir ou ver o resultado da prática
jornalística. É preciso entender de que forma ocorre esse processo, se
quisermos continuar falando em conceitos como “democratização da
informação”, ou “direito de antena”, ou “interesse social da notícia”, entre
outros.
Todo esse preâmbulo surge aqui apenas para dizer o seguinte: o
conhecimento do jornalismo, ou antes, de sua prática diária nas redações, não
deveria ser somente um assunto do interesse de jornalistas, cientistas sociais
ou assessores de comunicação. Qualquer “consumidor” de notícias deveria
ver o que acontece em uma redação, tal qual o cliente de um restaurante que
se certifica da qualidade de sua comida quando visita a cozinha do
estabelecimento.
Dito isso, podemos agora dizer o que é uma redação e como age um
jornalista neste mundo dos produtores da notícia.
NO CAMINHO DA REDAÇÃO
Depois de ensinar ao visitante as diferenças entre interesse e
importância, nosso jornalista poderia notar que uma redação jornalística
segue alguns padrões hierárquicos. Por exemplo, no restaurante cabe ao
garçom fazer o pedido do prato, ao cozinheiro preparar a comida e ao gerente
orientar os dois. No jornal, na TV, no rádio ou em um site de notícias, a coisa
é parecida. Em toda redação existe um personagem chamado pauteiro, que é
uma espécie de garçom. Ele sonda os desejos do público e passa ao repórter
(o cozinheiro) a pauta (o pedido) de reportagem. O repórter, por sua vez,
prepara sua matéria e a oferece ao público. Tudo isso sob a supervisão do
editor (gerente), que é o elo entre a direção do veículo de comunicação e os
repórteres, redatores e fotógrafos.
Dessa forma, então, a notícia nasce de uma pauta, passa pelas mãos do
repórter e/ou do redator e chega ao editor. A ele cabe decidir se a notícia será
aproveitada, ou como será aproveitada. Essa decisão em geral obedece a
“critérios técnicos” (não perguntem quais, pois cada veículo tem os seus). Se
o editor decidir que tal notícia será aproveitada, ela receberá um tratamento
de praxe para ficar no formato do veículo. Isso inclui cortes ou inclusões de
informações, acabamentos estilísticos no texto e acréscimo de chamadas e
títulos que realcem a notícia.
Esse processo de seleção dos assuntos, que começa na pauta e continua
na redação e edição das notícias, tem o propósito de restringir o universo
retratado pelo veículo de comunicação, uma vez que seria impossível dizer
tudo o que acontece no mundo. Entretanto, além dessa limitação física à
divulgação de tudo, os produtores de notícias também desempenham o papel
de fazer uma seleção qualitativa do que deve ou não ser divulgado. Como
nota Kunczik:
1. O JORNAL IMPRESSO
A massificação dos meios eletrônicos de comunicação diminuiu
consideravelmente a importância dos meios impressos, em especial dos
jornais diários, com o grande público. Se até a década de 30 do século XX o
jornal de papel era praticamente o único meio de que as pessoas dispunham
para manter-se informadas sobre os acontecimentos diários da cidade, do país
e do mundo, o surgimento do rádio e da TV, e mais recentemente dos sites e
blogs na Internet, criaram novos canais que, se não “mataram” o jornal como
veículo influente de comunicação, pelo menos retiraram dele a prerrogativa
de ditar o formato em que as notícias seriam divulgadas.
E que formato é esse? O jornal diário, por ser o primeiro veículo de
comunicação, estabeleceu as bases de funcionamento da imprensa. A partir
do final do século XIX, com o surgimento do jornalismo industrial, os fatos
ganham importância em detrimento das opiniões e os diários passam a
competir entre si na busca de mais e melhores informações. Mudanças
ocorridas nos últimos cem anos alteraram o modelo industrial do século XIX,
mas o jornal continua sendo o que sempre foi: um espaço para a divulgação
de notícias, ideias e visões do mundo, além, é claro, de veículo privilegiado
para a comercialização de anúncios classificados e campanhas publicitárias.
Suponhamos então que nosso repórter surgido alguns parágrafos atrás
está de volta, trazendo à mão o leitor que quer conhecer “por dentro” como
funciona uma redação. Àquela hora, nove da manhã, começam a chegar os
primeiros repórteres, que avidamente procuram os jornais do dia. No canto da
sala de redação um senhor de óculos finaliza no computador a pauta e chama
os repórteres para uma reunião rápida, na qual distribui as tarefas que foram
previamente definidas com o editor no dia anterior. Este grupo cujo trabalho
nosso leitor acompanha é o da Editoria de Cidade, composta hipoteticamente
por 12 repórteres, além de pauteiros, subeditores, redatores e o editor chefe.
Isso sem contar os diagramadores, fotógrafos e ilustradores, que estão ligados
a outros departamentos.
Dos 12 repórteres da editoria seis estão na redação naquele momento.
Outros quatro virão à tarde e dois são setoristas, cobrindo o governo e o
legislativo locais. O subeditor só chega no final da manhã, para participar da
reunião com o editor e o pauteiro. Os redatores – ou copidesques – são uma
categoria em extinção, mas nesse jornal ainda contribuem para dar o
acabamento final aos textos e para a redação de títulos e legendas para as
fotos. Os copys só começam a trabalhar no meio da tarde – adequando os
textos dos repórteres às normas editoriais – e ficam até o fechamento da
edição.
Às 11 horas, chega o editor, que promove uma reunião rápida com o
pauteiro e o subeditor. É possível que ainda tenha que resolver um pequeno
problema antes de poder levar seu balanço das pautas da Editoria de Cidade
para a reunião geral. O assunto principal do dia era uma reportagem feita a
quatro mãos por dois repórteres (um setorista e um novato) que andavam
atrás de uma denúncia de desvio de recursos em um programa governamental
de formação profissional. “A pauta caiu, ou melhor, vai atrasar uns dois
dias”, diz o pauteiro ao editor. Precisam decidir o que entra no lugar para
“abrir” o caderno de Cidade. De repente, a matéria sobre asilos ganha
importância e a repórter é orientada a escrever 120 linhas, em vez das 60
previstas inicialmente. “Se vira”, diz o editor. “Peça material ao
departamento de pesquisa ou estenda alguma história boa”, completa o chefe.
O subeditor tenta ajudar. “Quem sabe um ensaio fotográfico, velhinhos
sempre dão boas fotos”, diz. “Pode ser”, responde o editor. E assim no final
do dia a reportagem sobre asilos ganha a capa do caderno, com assinatura da
repórter e do subeditor, que dá uma mãozinha na hora de encompridar o
texto.
A EXPLOSÃO DA ROTINA
O funcionamento rotineiro de um jornal, entretanto, não deve ser
tomado como norma, uma vez que, por ser um veículo de comunicação que
trabalha com o factual, muitas vezes a publicação necessita improvisar uma
nova rotina para acompanhar fatos novos ou surpreendentes. Períodos
eleitorais ou grandes coberturas esportivas (Copa do Mundo, Olimpíadas),
por exemplo, exigem mudanças internas para que o jornal adapte-se à nova
onda de notícias que surge.
Outra situação é quando um acontecimento de extrema importância
obriga o jornal a mudar, em poucas horas, toda a sua rotina interna. A
cobertura sobre os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, ocorridos
nos Estados Unidos, é um exemplo. Horas depois dos incidentes, jornais do
mundo inteiro estavam voltados quase exclusivamente para o noticiário sobre
o assunto. Isso implicou uma mudança radical na rotina de produção das
redações. Em Brasília, por exemplo, o principal jornal da cidade, o Correio
Braziliense, dedicou 17 páginas de sua edição do dia 12 de setembro aos
atentados. Imagina-se que dezenas de pautas foram suspensas e que
repórteres, redatores e editores de todas as áreas envolveram-se no trabalho
de apuração.
Nessas horas, o jornal fecha-se em copas e concentra todo o seu esforço
no episódio, temendo perder algum fato importante ou para fornecer ao leitor,
no dia seguinte ou no mesmo dia, por intermédio da Internet, todas as
implicações sobre aquele acontecimento extraordinário. Sim, porque não
podemos esquecer que o jornal, para diferenciar-se do rádio e da televisão,
deve buscar uma cobertura mais interpretativa e pormenorizada sobre os
acontecimentos. Vinte minutos no rádio ou na TV, por mais que seja muito
tempo de noticiário, não serão suficientes para abordar todas as nuances da
notícia, coisa que só o jornal impresso ou uma revista semanal poderão fazer,
dedicando quantas páginas forem necessárias à cobertura intensa e extensa
dos acontecimentos.
Essa verdadeira “explosão da rotina” modifica também as relações do
jornal com suas fontes tradicionais. Assuntos que não estejam ligados ao
acontecimento do dia terão poucas chances de receber atenção do veículo.
Fatos ligados ao noticiário principal, entretanto, têm grande oportunidade de
aparecer na edição do dia seguinte. Isso porque, mesmo num acontecimento
de âmbito mundial, como foi o 11 de setembro, é comum que a imprensa
busque relacioná-lo a fatos locais. Nesse caso, mesmo editorias que
normalmente não estariam envolvidas com o tema terrorismo (Cidade ou
Cultura, por exemplo) passam a fornecer material de apoio para a cobertura
extensa do jornal. Compreender mais essa especificidade da redação
jornalística é importante para quem deseja “pautar” a imprensa, evitando
assim que assuntos extemporâneos sejam levados a diante.
PAUTA EXTERNA
Mesmo não podendo ser tomada como norma, é a rotina produtiva que
prevalece na maior parte do tempo da feitura de um jornal. Voltemos então à
nossa hipotética redação, no momento em que o editor retira-se para a
reunião geral e o subeditor recebe um assessor de imprensa do governo que
veio propor uma pauta especial. Em geral, quem recebe as sugestões de
pautas externas é o pauteiro, mas por se tratar de um assessor conhecido, ex-
repórter do jornal, o subeditor abre essa exceção. A pauta parece mesmo boa
e ele passa o assunto diretamente para o setorista do governo local, via
telefone. “Vamos fazer um bom material, vou colocar um repórter da redação
para te ajudar nisso”, diz o subeditor. O assessor sai da redação satisfeito:
encaixou mais uma pauta.
No entanto, nem sempre é assim. Todos os dias uma romaria de
assessores, relações públicas, divulgadores culturais e pessoas de diferentes
áreas procuram o jornal para tentar “encaixar uma pauta”. Mais da metade
deles não consegue absolutamente nada de espaço no jornal, uns 40%
conquistam a muito custo uma notinha na seção de serviços ou nas colunas
especializadas e uma minoria privilegiada consegue pautar o jornal. “A
maioria não sabe nem como funciona um jornal. Chegam aqui com assuntos
mirabolantes ou temas irrelevantes”, resume o pauteiro.
Abro aqui um parêntesis para dizer que aquilo que o pauteiro (também
chamado de chefe de reportagem) de nossa história chama de “irrelevante”
pode às vezes ser de grande importância para um grupo, uma instituição ou
mesmo uma coletividade maior. No entanto, não será notícia se não for
relevante para o jornal ou, em último caso, para alguém que tenha influência
naquele veículo de comunicação. Pode parecer cruel, mas isso também é
jornalismo.
O JORNALISMO NO RÁDIO
Nos dias de hoje, as rádios são, por excelência, espaços para a
programação musical. Isso não significa que o radiojornalismo não seja
importante nessas emissoras. Muitas delas despendem a maior parte de seus
recursos humanos e econômicos na produção e veiculação de notícias,
mesmo que elas representem apenas uma pequena parcela, do ponto de vista
do tempo, na grade de programação. Isso sem falar nas chamadas rádios all-
news, voltadas exclusivamente para a produção de noticiário.
Ao contrário do jornal impresso, no qual tudo é planejado e todas, ou
quase todas, as notícias são definidas previamente por processos de seleção e
edição, no rádio a instantaneidade e a urgência definem o que vai para o ar.
Como nos lembram Barbeiro e Lima:
O JORNAL NA TV
O telejornalismo é hoje, sem dúvida, o mais complexo dos segmentos da
produção jornalística. Abordá-lo aqui exigiria um trabalho que demandaria,
no mínimo, o mesmo número de linhas já escritas até o momento. No
entanto, não poderíamos deixar de explicar, mesmo que de maneira
panorâmica, como funciona uma redação de um telejornal.
Em televisão, mais do que nos meios impressos e no rádio, organização
é uma palavra-chave para manter funcionando a “máquina de fazer notícias”,
como nos diz Yorke. Ao contrário dos jornais, por exemplo, onde sobrevive
um dado de imponderável e do inesperado no processo de decisão do que será
ou não notícia, no telejornal o recolhimento de informações é feito de
maneira organizada e planejada. A pauta no telejornalismo tem mais peso do
que nos demais veículos, justamente porque na TV depende-se mais de uma
agenda futura, de um retrato pormenorizado do que será noticiável ou não.
Uma pauta que cai ou uma entrevista que é cancelada de última hora trazem
transtornos que podem colocar em risco a qualidade do noticiário televisivo.
É por isso que, na redação de um telejornal, não pode haver espaço para
improvisações de última hora. Mudanças ocorrem, é claro, como em qualquer
redação jornalística, mas essas não podem fugir ao controle da equipe que
comanda a edição final do programa. Como demonstra Vizeu Pereira Jr.
nessa descrição que faz de um dia de edição do Jornal Nacional, da TV
Globo:
Por volta das 10h30min da manhã há uma reunião onde são confirmadas
as definições do dia anterior e organizadas as matérias do dia. Depois
dessa reunião, sai o primeiro pré-espelho do jornal. Normalmente, às 14
horas há um novo encontro com a participação do editor-chefe, editor
executivo e editores para definir o espelho do jornal. Em 15 minutos é
definido quem vai dar andamento ao quê. Ao final da tarde, editores
entram e saem da sala do editor-chefe.
Eles mostram os VTs. Alguns são aprovados, outros têm que ser
refeitos. Um fato comum é que no começo da noite um novo espelho se
desenhe. Caem matérias, entram matérias, muda-se a edição de um VT.
Às oito horas o Jornal Nacional entra no ar, tirando o tempo dos
comerciais, tem uma duração de 26 a 28 minutos só de notícias (Pereira,
2001, p. 60).
Essa recontextualização de que nos fala o autor nada mais é que uma
interpretação radical com base em fatos reais. Não que isso seja uma
característica só da TV, mas nela esse processo é mais profundo. Embora
trabalhe com a imagem, que em tese seria mais fiel ao mundo vivido do que a
palavra e a fala, o telejornal comercial criou um padrão técnico de qualidade
que o impede em muitos casos de retratar os acontecimentos sem
comprometer a “realidade dos fatos” de que nos falam os manuais de
redação.
Durante o ano de 2001, um grupo de estudantes do curso de Jornalismo
do Centro Universitário de Brasília realizou um trabalho de campo que
pretendia conhecer “por dentro” as redações de jornais, rádios e televisões da
cidade. O grupo que ficou encarregado de pesquisar a rotina de um telejornal
ficou impressionado com a organização e a sistemática do funcionamento
daquela redação. O que mais chamou a atenção dos estudantes foram as
mudanças ocorridas entre o material bruto que chegava da rua e a edição final
colocada no ar. Esse processo de “maquiagem” das reportagens é mais do que
um simples trabalho de edição. É um processo de recriação técnica e estética
das imagens, num movimento que nos lembra o trabalho de produção das
telenovelas. O recorte estilístico, a angulação narrativa, a escolha cuidadosa
das imagens, das falas e dos repórteres (no que diz respeito à aparência)
fazem do telejornal um produto que está cada vez mais distante da realidade
dos comunicadores que se encontram do lado de fora do sistema de televisão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A tentativa de explicar o funcionamento de uma redação jornalística e a
ação dos jornalistas em seus locais de trabalho é uma tarefa, por vezes,
inglória. Cada redação de cada veículo guarda características próprias que
tornam quase impossível um trabalho de aproximação da realidade. Mais
eficiente seria fazer o que muitos pesquisadores fazem, que é delimitar um
campo e um objeto e, valendo-se da análise desse microcosmo, derivar para a
realidade global. De certa forma, foi o que tentamos fazer aqui, sem os
mesmos rigores de uma pesquisa acadêmica. Ao conhecermos a rotina de
uma redação de jornal, fica mais fácil entender a lógica geral da comunicação
jornalística, seja de outro veículo impresso, seja de uma emissora de rádio, de
televisão ou de uma página na Internet. As diferenças que existem entre esses
veículos, que não são poucas, não nos impedem de visualizar uma matriz
comum de estruturação da rotina produtiva deles. Quem já frequentou esses
locais, seja como repórter, seja como “fonte”, poderá confirmar, no todo ou
em parte, essa realidade apreendida neste passeio teórico pelas redações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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YORKE, Ivor. Jornalismo diante das câmeras. São Paulo: Summus, 1998.
A busca da legitimação profissional confunde-se com a própria história
dos estudos sobre a comunicação nas organizações no Brasil. Nas décadas de
1960 e 1970, os estudos nessa área voltavam-se para o campo das Relações
Públicas ou do Jornalismo Empresarial. Vale destacar o pioneirismo de
pesquisadores como Cândido Teobaldo de Souza Andrade, em 1962, ao
publicar o primeiro livro de Relações Públicas no País, e de Francisco
Gaudêncio Torquato do Rego, que já tratava do jornalismo empresarial em
sua tese de doutorado, defendida em 1972, na Universidade de São Paulo.
Um dos primeiros estudos brasileiros a referir-se à comunicação
organizacional como um campo de pesquisa lógica e conceitualmente
estruturado foi o que originou a dissertação de mestrado de Meneleu Almeida
(1981), na qual o autor faz ampla revisão dos estudos de comunicação
organizacional de origem norte-americana e desenvolve uma proposta de
intervenção racional. O destaque a esse trabalho deve-se ao fato de ter sido
produzido em condições adversas, de repressão política e institucional, por
um lado, e de patrulhamento ideológico, de outro. Na época, em plena
ditadura militar, falar de comunicação organizacional representava um
anacronismo e um deslocamento perigoso nas linhas de investigação,
marcadas até então pela contestação aos modelos teóricos e práticos
importados do Norte. O preconceito, que ainda persiste em alguns meios
importantes da pesquisa em comunicação no Brasil, vem da visão distorcida
de que investigar as organizações, na visão de alguns, contribuiria para
legitimá-las como agentes de manutenção do status quo.
A proximidade com as relações públicas e com o jornalismo de vertente
empresarial permearia todos os estudos conduzidos durante a década de 1980
e início da década de 1990. Com estudos sérios, desenvolvidos por
pesquisadores como Simões, Peruzzo, Kunsch, Freitas, entre outros, no
espaço das relações públicas, e Torquato, Bueno, Chaparro, na área de
jornalismo empresarial, o campo foi-se consolidando academicamente. Foi
nesse período, também, que se firmou uma das características mais marcantes
dos estudos brasileiros: a forte vinculação com a origem profissional dos
pesquisadores. Os estudos partiam de análises múltiplas, mas concluíam
quase sempre com o reforço à importância da comunicação nas organizações
e do tratamento profissional dos problemas detectados. Há, na maioria dos
estudos desse período, forte ênfase em legitimar a área de comunicação como
espaço de atuação e intervenção profissional, principalmente junto a
administradores e empresas.
É a era dos modelos estruturais que acabaram migrando para um dos
conceitos mais influentes e importantes, desenvolvido e aperfeiçoado
principalmente por Torquato (1986) e Kunsch (1997b), o da comunicação
integrada, como resultante da atuação sinérgica entre as diversas subáreas da
comunicação:
MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS
Pode parecer óbvio, mas é preciso sempre reforçar que vivemos um
processo acelerado de transformações que está mudando para sempre o
mundo das organizações. Robbins (2000) mostra-nos que esse novo ambiente
é marcado pela globalização econômica, por profundas mudanças
tecnológicas, pela flexibilização/reordenação do trabalho, pelo aumento da
informalidade, pela ampla diversidade e pelos esforços racionalizadores das
reengenharias, dos processos de qualidade, entre outros aspectos.
A chamada globalização (termo ainda polêmico, que se tornou
obrigatório em todos os círculos intelectuais, políticos e econômicos) aparece
como um fenômeno facilitado pelas novas tecnologias da informação, e
pressupõe uma evolução do tradicional processo de internacionalização de
mercados oriundo dos primórdios do capitalismo. Esse novo processo já não
é conduzido apenas por nações, mas, sobretudo, pelas organizações antes
denominadas multinacionais, transnacionais ou mundializadas. Essas
organizações gerenciam espaços que ultrapassam as fronteiras territoriais
(Ianni, 1996).
Com seu processo de aceleração, a globalização do mundo modifica,
também, as noções de tempo e de espaço. A velocidade crescente que
envolve as comunicações, os mercados, os fluxos de capitais e tecnologias, as
trocas de ideias e imagens impõem a dissolução de fronteiras e de barreiras
protecionistas. A todo momento se estabelecem tensos diálogos entre o local
e o global, a homogeneidade e a diversidade, o real e o virtual, a ordem e o
caos.
No quadro comparativo seguinte, Robbins (2000, p. 11) resume as
principais transformações por que passam as organizações produtivas:
Fonte: The Changing Organization. In: Robbins, Stephen P. Managing today. New Jersey:
Prentice-Hall, 2000. p. 11 (tradução do autor).
ESTRATÉGIAS DE LEGITIMAÇÃO
Com o que vimos até aqui, já é possível apontar algumas alternativas
para superar a visão meramente instrumental que ainda assombra as
assessorias de comunicação. A primeira delas passa por assumir uma postura
mais próxima da área-fim da organização, seja ela privada, pública ou sem
fins lucrativos. Essa postura implica capacitar os assessores de comunicação
em gestão e administração. Não para adestrá-los nos repertórios mutantes do
administrês, mas para dotá-los de visão estratégica, de médio e de longo
prazos. Só assim será possível pleitear assento nas mesas dos centros
decisórios em condições de propor caminhos e alternativas. Quando os
assessores libertarem-se da ditadura dos media, os que criaram e os com que
se relacionam, poderão pensar, não mais só na forma, mas, sobretudo, no
conteúdo. Poderão fincar as bases para obter a confiança organizacional.
Outra questão passa por ampliar as avaliações e mensurações sobre os
produtos e projetos de comunicação. Deixar de medir o sucesso da atuação da
assessoria pelo retorno em páginas de jornal ou segundos televisivos, e
vincular toda avaliação à contribuição para viabilizar o negócio da
organização. Ainda que, como já vimos, seja fácil concordar com a
impossibilidade de medir tudo quando se fala de ativos intangíveis como os
da comunicação, é imprescindível vincular os resultados de comunicação aos
objetivos e metas da estratégia da organização.
A descentralização de autoridade e de responsabilidades é outra
alternativa para comprometer setores que antes só cobravam resultados da
área de comunicação a também se preocuparem em contribuir para a
estratégia. Com base no pressuposto de que tudo em uma organização emite
discursos, seria uma forma de aproximar cada vez mais os profissionais de
comunicação das áreas que, de forma mais direta e intensiva, relacionam-se
com os públicos essenciais para a organização, como os clientes. É também
uma forma de medir e avaliar, in loco, toda ação comunicativa emanada dos
centros decisórios. Significa, em suma, em expressão popular, ceder os anéis
para preservar a mão.
Essa descentralização implica capacitar todos os segmentos
organizacionais para lidar com os assuntos da comunicação. Não se trata,
aqui, de ensiná-los a redigir releases, organizar coletivas, editar veículos, mas
de sensibilizá-los para a importância de manter relações transparentes e
honestas com os diversos públicos. Prepará-los para compreender conceitos e
aspectos de comunicação que hoje sequer são lembrados e referenciados. Até
porque, na maioria dos cursos de administração, por exemplo, o que se ensina
sobre comunicação limita-se aos conceitos clássicos de Lasswell, às teorias
matemática e cibernética. Ou seja, com essas visões, comunicação para os
administradores acaba sendo instrumento de controle e de transmissão
unilateral de informações, em vez de diálogo, participação, compreensão.
Hoje, um dos segmentos que mais cresce como oferta de trabalho é o de
media training. Sua introdução no ambiente das organizações partiu do
mesmo pressuposto já levantado aqui: o da necessidade de treinar os
executivos e administradores para o relacionamento com jornalistas e com os
veículos de comunicação. Valendo-se do ensino de técnicas e posturas, além
de passar alguns conceitos sobre como se configura a mídia e quais são as
circunstâncias que envolvem a relação com jornalistas, trabalha-se para
preparar os executivos para atuarem como fontes confiáveis da organização.
Esses cursos têm cumprido com sua função, mas são ainda incipientes para
ajudar a disseminar uma visão integrada de comunicação.
Contudo, quando se fala de legitimação das assessorias de comunicação,
o desafio continua. É preciso investir na reflexão e no debate sobre as
questões teóricas e práticas que impactam a eficácia organizacional. É
preciso, ainda, desenvolver uma nova forma de ver e viabilizar a
comunicação integrada. Não mais apenas com estruturas comuns e sob a
mesma coordenação, abrigando tão somente profissionais de comunicação
que atuam em processos cada vez mais entrópicos, mas também por meio de
políticas, diretrizes, responsabilidades, por meio da descentralização de
funções e atividades, por meio da educação para a comunicação. É assim,
assumindo seu papel de educador, que o assessor de comunicação e de
relacionamento com a mídia estará consolidando o espaço da comunicação
como um campo verdadeiramente estratégico.
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“O PÚBLICO QUE SE DANE”
Com essa resposta a um repórter do jornal The New York Times que
pedia esclarecimentos sobre a paralisação dos serviços ferroviários prestados
por sua companhia, William Henry Vanderbilt, empresário norte-americano,
tornou-se figura emblemática de um período em que dirigentes de instituições
queriam distância dos jornalistas, preferindo mesmo que eles não existissem.
O ano de 1882 e a declaração atribuída a Vanderbilt fazem parte de uma
realidade que parece incompatível com nosso cotidiano. Hoje, o que
observamos é uma verdadeira disputa pela visibilidade midiática. O que
existe é o que está na mídia. Publicizar, tornar públicos acontecimentos
considerados relevantes, passou a ser uma das mais importantes estratégias
adotadas pelos diversos campos sociais1 para obter aprovação da sociedade e
garantir sua legitimidade. No mundo contemporâneo, o saber fundamentado
na autoridade “daquele que fala” passou a ser legitimado por “aquele que
ouve”, a opinião pública.
É no espaço de mediação, mobilizado pelos diversos campos sociais
para agirem politicamente em favor de seus interesses2 – e que hoje está
ampliado para abrigar o ciberespaço –, que circula o discurso da opinião
pública. Sempre que um campo procura interferir no outro, o recurso à
opinião pública confere-lhe a legitimidade representativa de sua pretensão.
É nesse espaço que circulam as notícias. Conforme estabelece o conceito
de agenda-setting, são elas que determinam quais os acontecimentos
(assuntos e problemáticas) com direito à existência pública e que, por isso,
figuram na agenda de preocupações da opinião pública, como temas
importantes. E mais: são as notícias que definem os significados desses
acontecimentos, ao oferecer interpretações de como compreendê-los.
O campo jornalístico, como observa Traquina (1993, p. 11), tornou-se o
centro das preocupações de agentes sociais que aí investem recursos
econômicos, tempo e esforço, criando acontecimentos ou mesmo
pressionando, por métodos rudes ou sutis, para “gerir notícias” e impor seus
acontecimentos e suas definições desses mesmos acontecimentos, numa luta
simbólica de vital interesse.3
Alvo da ação estratégica de múltiplos agentes sociais, o campo dos
media tem sido mobilizado pelas diversas instituições, em suas pretensões
legitimadoras. Mediante a promoção de acontecimentos e a produção de
notícias para serem divulgadas pela mídia, as instituições inserem-se no
espaço público, construindo não apenas uma representação de si mesmas
(mais conhecida por “imagem institucional”), como também a realidade do
campo em que atuam.
Nos trinta anos de trabalho em assessorias de comunicação, pude
constatar que a divulgação jornalística das instituições na mídia não é um
processo tão simples e linear como parece à primeira vista. Ao contrário, ele
tem caráter intencional e negociado, evidenciando, do início ao fim, o que a
instituição considera importante e interessante num acontecimento para que
ele ganhe o estatuto de notícia, e também que estratégias utiliza para que esse
acontecimento passe a ter existência pública. Vejamos os motivos que me
levaram a tal constatação.
Em primeiro lugar, existe uma clara intenção da maioria das instituições
de se colocar, na imprensa, como uma referência em seu campo de atuação.
Assim, por exemplo, institutos de ciência e tecnologia querem ser uma
referência para os jornalistas quando o assunto envolve esses temas,
movimentos ambientalistas quando se trata de temas ambientais ou que ferem
os interesses dos que defendem o meio ambiente, estabelecimentos de ensino
querem ser lembrados quando se trata de qualidade na educação e por aí em
diante. O que leva uma instituição a querer ser referência na imprensa? Que
efeitos ela pretende com sua presença na mídia?
Em segundo lugar, observa-se que nem tudo o que acontece nas
instituições transforma-se em notícia para a imprensa, embora, em geral, elas
disponham de uma estrutura própria ou terceirizada – assessores de imprensa,
projetos de comunicação, normas e orçamento específicos – para divulgação
jornalística. O que determina, então, que alguns acontecimentos ocorridos,
gerados ou promovidos pela instituição tenham existência pública e outros
não?
Em terceiro lugar, percebe-se que a produção da notícia institucional
envolve campos de interesses distintos, ora convergentes, ora divergentes. Há
ocasiões em que, em face de um assunto polêmico, o empregado, embora
especialista na matéria, prefere omitir-se a dar uma declaração que possa
comprometer a instituição, ou comprometê-lo perante a instituição. Já em
outras ocasiões, quando há interesse em aumentar a visibilidade da instituição
na opinião pública – como nos períodos de negociação salarial, por exemplo,
ou quando esteja em evidência algum tema ou questão que represente uma
oportunidade de mostrar o trabalho da instituição ou sua responsabilidade
social, como nas campanhas de combate à fome, resgate da cidadania,
racionalização do uso de energia, entre outras –, produtos e serviços já
existentes e, em alguns casos, amplamente divulgados são “atualizados” e
transformados em notícia. Como ocorre esse processo de produção da notícia
institucional? Por que existem momentos em que a instituição retrai-se e
outros em que ela faz questão de se mostrar à opinião pública?
Vista por essa ótica, a notícia institucional deixa de ser um simples
“espelho da realidade”, perspectiva segundo a qual “os fatos estão lá”, nas
instituições, bastando aos assessores de imprensa ou aos jornalistas dos
veículos relatá-los, e passa a ser encarada como um processo de interação
social e de uma série de negociações, o que empresta a ela um papel
sociopolítico nas sociedades contemporâneas.
Uma parte significativa das notícias produzidas [pela mídia] tem como
base fontes que são profissionais no ‘negócio’ de lidar com o campo
jornalístico [assessores de imprensa], conhecendo bem a mecânica do
trabalho jornalístico, nomeadamente: a) a necessidade de a matéria
fornecida (os releases) assumir certas formas e seguir certas convenções;
e b) o reconhecimento de que um timing cuidadoso da informação
divulgada pode influenciar não só a cobertura mas também o conteúdo
da notícia publicada.
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__________
1
Adriano Rodrigues (1990, p. 143-144) define campo social como uma instituição social, uma
esfera de legitimidade que impõe, com autoridade indiscutível, atos de linguagem, discursos e
práticas, em um domínio específico de competência, gerando consenso a sua volta. Nesse
sentido, podemos falar nos campos econômico, político, religioso, jurídico e científico como
campos sociais.
2
Adriano Rodrigues chama esse espaço de mediação de campo dos media. O conceito está
exposto no capítulo “O campo dos media”, em Estratégias da comunicação. Lisboa: Vega, 1990,
p. 152-160, e em O campo dos media. Lisboa: Vega, [199-].
3
No livro O Poder do Jornalismo (2000), Traquina faz uma releitura da teoria do agendamento.
Graficamente, ele demonstra o intercâmbio entre as agendas política, jornalística e pública e as
influências que essas agendas sofrem das ações de outros agentes sociais, dos acontecimentos do
mundo real e das conversas interpessoais. Sem menosprezar o poder do jornalismo, o autor
introduz a possibilidade de influência de outros agentes sociais que não apenas as chamadas
“fontes oficiais”, o que hoje é comum quando se observa a influência da Internet – e das
informações que ali circulam – no processo de produção das notícias.
4
Happening é um termo utilizado no campo das artes para designar um evento apresentado de
forma especial ou não usual, e que envolve muitos espectadores. Pode ser traduzido por evento,
ocorrência, acontecimento. No texto, a melhor tradução para happening seria evento, uma vez
que, para Molotch e Lester, ocorrência é um “happening cognizado”, ou seja, que obtém seu
sentido no contexto em que está inserido, enquanto acontecimento é uma ocorrência
“criativamente utilizada” por indivíduos e coletividades para demarcação do tempo privado ou
público (in Traquina, 1993, p. 35).
5
Segundo o autor, uma empresa é legítima quando reconhece seu papel no bem-estar econômico
e social da nação ou do mundo e é digna de crédito, quando o que diz coincide com o que faz.
6
Coletadas por Cicilia Peruzzo em Relações Públicas no modo de produção capitalista (1982).
7
A perspectiva de considerar os acontecimentos e, particularmente, as notícias, como o produto
de estratégias, e não como dados dos quais é suficiente registrar a ocorrência, é trabalhada por
diversos autores, em particular por Gaye Tuchman, Making news. A study in the construction of
reality, Free Press, 1978, que adotam a visão de frame analysis ou enquadramento de Erwin
Goffman. Vários artigos sobre este tema são encontrados na obra organizada por Nelson
Traquina (1993).
8
Segundo Wolf (1992, p. 167), a abordagem do newsmaking articula-se, sobretudo, em dois
limites: a cultura profissional dos jornalistas e a organização do trabalho e dos processos
produtivos. As conexões e relações existentes entre esses limites estabelecerão os critérios de
relevância que definem a noticiabilidade de cada acontecimento, isto é, sua “aptidão” para ser
transformado em notícia.
9
Por promoção, Molotch e Lester (in Traquina, 1993, p. 39) entendem “a ação de um ator que,
ao presenciar uma ocorrência, ajuda a torná-la pública para um grande número de pessoas”.
10
Assim, é comum ouvir os assessores de imprensa dizerem que existem assuntos que “dão mais
Ibope” do que outros. São notícias que encontram mais facilidade de serem aproveitadas pela
mídia.
11
Os acontecimentos de rotina são aqueles cujos happenings subjacentes baseiam-se em
realizações intencionais e cujos executores (effectors) são também os promotores (promoters).
Os acontecimentos de rotina diferem dos acidentes (o happening subjacente não é intencional e
quem o promove a acontecimento público não é quem o executa), dos escândalos (a ocorrência
inicial é intencional, mas o promotor não é o executor) e da serendipity (o happening subjacente
não é intencional, mas é promovido pelo próprio executor) (Molotch e Lester in Traquina, 1993,
p. 42-49).
12
Uma ampla abordagem sobre os valores-notícia é dada por Mauro Wolf, em Teorias... (1992).
Um dos textos clássicos sobre o assunto é o de Johan Galtung e Mari Holmboe Ruge, A estrutura
do noticiário estrangeiro, reeditado no livro organizado por Nelson Traquina, Jornalismo...
(1993).
13
A pesquisa foi noticiada na revista Ciência Hoje, nº 279, mar. 2011.
14
A descoberta foi noticiada no site Inovação Tecnológica. Endereço eletrônico:
<http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=baterias-ultra-rapidas-
recarregadas-segundos&id=010115110324>. Acesso em: 31 mar. 2011.
A CONSTRUÇÃO SIMBÓLICA: A COMUNICAÇÃO NAS
ORGANIZAÇÕES
Quando se pensa em organizações, o que vem imediatamente à mente?
Muito provavelmente, a imagem de empresas de grande porte ou de
conglomerados. No entanto, nem sempre percebemos que jornais, revistas,
emissoras de rádio, televisão, agências e sites de informações jornalísticas são
também organizações. Dentro das respectivas especificidades, atuam com
hierarquias, divisão de tarefas, normas, metas e definem diretrizes para a
gestão de recursos materiais e humanos.
Portanto, o título deste capítulo (“Imprensa e Organizações”) carrega
uma duplicidade de sentido. Gay Talese (2000), ao narrar a história do jornal
New York Times, mostra que a imprensa comporta-se no figurino de qualquer
outra organização, com regras, papéis, hierarquias e objetivos que envolvem
todos os seus membros.
Embora possa adotar um modelo com características peculiares, os
órgãos de imprensa vivenciam crises, deflagram processos de modernização,
enfrentam competidores, demitem ou arregimentam pessoas e, a não ser que
vivam de subsídios e favores, dependem de resultados financeiros próprios
para a sobrevivência.
Mas o que salta aos olhos são as diferenças entre a imprensa e as demais
organizações. Uma organização indaga, questiona, busca e produz
informações com extraordinária capacidade de difusão. A outra, responde,
presta contas, esclarece. Ao espreitar melhor, percebe-se a existência de
diferenças quase irreconciliáveis. As relações de poder constroem distinções
e disparidades entre os meios de informação de massa e as demais
organizações.
Ao exercer o papel de “cão de guarda” da sociedade, a imprensa semeia
desconfianças em relação ao governo e empresas. O conflito está instalado
diariamente nas manchetes do noticiário. A crise financeira da indústria
midiática tradicional e a disseminação de outras vozes (blogs, sites,
observatórios, ombudsman etc.) levaram a um crescente questionamento
sobre o poder da imprensa. A tendência de uma nova reconfiguração da
imprensa tradicional (poder, alcance, credibilidade e relação com a
sociedade) está em curso.
A representação que a mídia faz do interesse público emana do leitor,
ouvinte, telespectador, internauta, independentemente da existência de outros
atores interessados e articulações políticas. Em suma, quando se reflete
acerca dos elementos distintivos da imprensa perante outras organizações
pode-se apresentar como característica peculiar a atuação social na
construção e detenção de um sistema simbólico. Para Bourdieu, esse tipo de
sistema atua como instrumento de conhecimento e de construção do mundo
dos objetos, como formas simbólicas, reconhecendo o aspecto ativo do
conhecimento (Bourdieu, 2001, p. 8).
Ao construir um sistema simbólico por intermédio da linguagem, da
imagem e de sons, a imprensa se transforma numa organização estruturante
da sociedade. Ao erigir um sistema simbólico, a imprensa constrói ao mesmo
tempo um tipo exclusivo de capital, a saber, o capital simbólico.
O ponto central desse conceito é o reconhecimento de que os órgãos de
imprensa são alçados a uma posição de autoridade e legitimidade. A
imprensa é uma organização que não somente processa e sistematiza
informações, mas confere sentidos particulares a elas e com isso fortalece um
terreno simbólico permeado pela sua própria autoridade e legitimidade. Já
outras organizações mergulham nessa empreitada de se fazerem presentes na
agenda pública, sem, contudo, usufruírem desse status adquirido pela
imprensa.
Por tais circunstâncias, faz-se necessário analisar a abordagem das
relações entre imprensa e demais organizações pela intermediação realizada
pelo corpo profissional das assessorias de comunicação. De que forma mediar
os interesses da organização com as pautas da imprensa? Neste cruzamento
complexo, caberá aos especialistas das assessorias de comunicação1 apontar a
convergência da pauta com o chamado interesse público e a obediência aos
rituais do que é “notícia”.
Admitida a necessidade de um elo entre essas duas instituições –
imprensa e organizações –, a questão inicial é definir as melhores pré-
condições para a absorção da variável comunicativa nas organizações.
As respostas variam, mas pelo menos quatro premissas são
indispensáveis para permitir que uma organização aproveite o potencial
estratégico oferecido pelos gestores e especialistas em comunicação: (i) o
amplo acesso das assessorias às instâncias de poder e aos níveis decisórios
internos; (ii) a capacidade de organizações e assessorias suportarem, com
naturalidade, os elementos de pressão e os conflitos que permeiam as
relações com a imprensa; (iii) esta de caráter instrumental: a assessoria de
imprensa tem uma dimensão maior do que o mero papel de “despachante de
releases”; (iv) há uma premissa vinculada ao conhecimento teórico no campo
da comunicação social. O relacionamento com a imprensa não deve consumir
todas as energias. Uma abordagem mais estratégica e ampla requer da
assessoria a articulação de um conjunto de ações que contemple públicos
diversos. Todo o esforço de diálogo com a sociedade não deve recair,
excessiva e integralmente, sobre os ombros da imprensa. O impacto da web e
da revolução das mídias sociais, sem dúvida, sepulta o modelo tradicional e
embasa a necessidade de pensar e agir com uma visão integral (mix de
ferramentas e públicos). Não basta focar apenas na imprensa tradicional.
Isso significa olhar para o mundo além das lentes da imprensa e
desencadear ações de relacionamento com os influenciadores do debate, com
os grupos que advogam interesses, em suma, com os atores sociais que se
movimentam na esfera pública.
ACESSO, ASSESSOR
A relação assessoria de imprensa e assessorado (dirigentes, líderes e
corpo diretivo de uma organização) é determinante para obter bons resultados
na construção de mensagens e fixar a credibilidade como uma marca. Do
ponto de vista do profissional de comunicação, o pré-requisito é ter acesso,
livre trânsito e portas abertas o tempo todo. Se não for assim, se internamente
a assessoria não estiver inserida no circuito das decisões e do poder, o
trabalho será precário, penoso e, por que não dizer, em vão.
É por isso que muitos profissionais experientes negociam com zelo a
autonomia e as condições de trabalho quando recebem propostas para atuar
numa organização. Não se trata apenas de discutir parâmetros de
remuneração e salários. Eles sabem, como observou pedagogicamente
Maurício Lara (2003), que a palavra assessor deveria ser grafada com a letra
“c”, para lembrar imediatamente que sem acesso fica comprometida a missão
de oferecer à imprensa as informações relevantes e de interesse público
produzidas no ambiente interno.
Uma assessoria não mendiga informações nem espera ser comunicada,
mas participa e compartilha do mesmo nível de poder e decisão dos
dirigentes. Aqui, encontra-se o ponto nevrálgico, ponto de tensão para o
exercício do ofício em uma Assessoria de Imprensa. O ideal é que, embora
muitas vezes possa não integrar formalmente a cúpula ou diretorias, a
assessoria participe de todas as reuniões de tomada de decisões. Entretanto,
no decorrer das atividades, essa “quebra de hierarquia”,2 além do usufruto de
um poder distinto, traz elementos importantes a serem analisados. Ao atender
determinadas pautas, muitas vezes o assessor corta caminho, atalha, vai pela
trilha mais acessível internamente. Embora possa contrariar regras
hierárquicas, sabe que no seu ofício um ritual primário é rapidez/velocidade,
o que significa ajustar o relógio das organizações ao das redações.
É grande o risco de exposição negativa quando uma organização toma
decisões sem o olhar da comunicação. Tem graves consequências atropelar o
impacto simbólico, a receptividade por parte do público e resistências de
grupos sociais. Entenda-se: a chamada “área de comunicação” pode até ser
vencida nos debates internos (o que ocorre algumas vezes), mas jamais
ignorada. Para dar efetiva contribuição técnica e teórica, precisa participar
das esferas do poder existentes dentro das organizações. Alijada ou sem
acesso aos espaços internos de decisão, a assessoria de comunicação perde
sua efetividade. E a empresa fica privada de uma análise que dimensiona
percepções externas, riscos e oportunidades.
Outra negociação indispensável com a organização que mantém grande
fluxo de demandas da mídia é o compromisso dos dirigentes com as
determinações das políticas de comunicação. Uma cláusula pétrea consiste na
adoção de relações com a imprensa constantes, regulares e não pontuais ou
esporádicas. Faça chuva, ou sol, sob pautas negativas ou positivas, a
exposição na imprensa implica disponibilidade e acesso. Uma organização
que valoriza o diálogo com a sociedade investe constantemente em
oportunidades e transforma atividades de relacionamento com jornalistas e
formadores de opinião em rotinas.
GESTÃO DE CONFLITOS
A legitimidade do assessor de imprensa nas organizações exige ações
que ultrapassam a simples atuação no front da divulgação externa de notícias
e do atendimento aos jornalistas.
A postura de analista qualificado da agenda pública faz do assessor de
imprensa um profissional capaz de oxigenar as organizações e de ampliar os
horizontes internos das instituições nas quais atua.
A contribuição que a assessoria pode oferecer é justamente dimensionar
os fatos das organizações de acordo com os movimentos e interesses
detectados no espaço público. Especializado na leitura dos conflitos sociais, o
assessor de imprensa exerce o papel de abrir os muros das organizações para
o mundo. De maneira geral, a realidade das instituições – com culturas
próprias, processos decisórios complexos e jogos de poder particulares – é
caracterizada por comportamento reativo e atitudes corporativas. Daí o valor
adicional do assessor de imprensa que, além de atuar diretamente na interface
com a mídia, destina ações para um trabalho pedagógico interno a fim de
abrir perspectivas fechadas e unir visões fragmentadas, comuns no universo
das organizações.
Essa atitude profissional apresenta um custo. O ônus é a gestão
permanente de conflitos tanto externa como internamente. Ao detectar
pressões legítimas da sociedade, expressas no noticiário, processá-las
internamente, defender um novo olhar da organização e apontar a “cegueira
institucional”, a assessoria de comunicação traz o conflito para dentro dos
gabinetes.3
Igualmente, não é tarefa trivial o convencimento sobre o que fazer ou
como reagir diante do noticiário. Quando o tom é negativo ou há frieza em
relação a assuntos da organização, o diagnóstico inicial pode ser reducionista:
ou é “problema de comunicação” (a assessoria não trabalhou bem) ou “má
vontade” da imprensa.
Para o gestor de comunicação nem sempre é assim. O problema pode ter
origem em falhas e deficiências nos processos internos, ou negligência da
organização no trato com o público em geral. Nessas situações há um longo
percurso entre a reação inicial da organização – defensiva – até a etapa final,
de rendição definitiva aos fatos.
Se não bastasse o conflito interno, o gestor de comunicação precisa de
habilidade para lidar com pautas cujo conteúdo requer a defesa da
organização ou incansável negociação com o repórter. É a hora de lutar para
garantir espaço para as informações e o posicionamento da organização. A
assessoria atua na divergência: conversa, dialoga, tenta esclarecer ou alertar
ao jornalista, debate pontos de vista, sublinha incorreções ou viés
equivocado. É um trabalho árduo que consome paciência, doses de
persistência e tolerância à frustração: no dia – ou minuto – seguinte, as
informações foram veiculadas e o enquadramento da imprensa pode não ter
mudado.
É verdade também que há muitas situações mistas: assuntos não
exatamente ameaçadores, mas pautas em que há o que dizer, esclarecer,
explicar ou simplesmente informar. No geral, entretanto, a dupla função –
“embaixadores” das organizações perante a imprensa e “intérpretes” dos
idiomas, símbolos e códigos lançados sobre a instituição – oferece aos
assessores uma certeza cristalina: o conflito é o pão de cada dia.
Aqui, um retorno ao ponto inicial da indagação que envolve
organizações e imprensa. O assessor participa das reuniões de comando no
mesmo pé de igualdade que um dirigente, ou lideranças internas. Nem
sempre é legitimado pela burocracia, no entanto, ele usufrui de um poder
quase ubíquo, detém as informações e possui canal direto com a imprensa.
Assessores experientes relatam um questionamento incômodo disparado
pelos dirigentes das organizações: você é assessor da imprensa ou da
empresa? A cobrança das organizações explicita o terreno de conflito dos
assessores: ao mesmo tempo em que ele é um “dos nossos”, ele é o “cara da
imprensa”, “do lado de lá”, “ele é confiável, mas até que ponto?”.
O assessor, além de convencer a imprensa, também age no
convencimento da organização, por isso atuar com estratégia é algo intrínseco
no cotidiano desse profissional: saber exatamente qual é o momento de se
expandir, de se retrair nas discussões e debates internos e, sobretudo, saber
qual o argumento indefectível.
Nos anos mais recentes, dentro de um processo iniciado na década de
1990, tornou-se frequente a terceirização das assessorias de imprensa.
Entraram em cena as agências de comunicação especializadas em relações
públicas e relacionamento com a imprensa, ora num sistema misto – em
parceria com as estruturas internas de comunicação dos respectivos clientes,
ora assumindo integralmente os serviços – dessa forma, as agências
introduzem novos elementos na dinâmica Imprensa/Organizações.
Sem a atitude defensiva da assessoria “da casa” (rechaçando a
experiência do mercado) e sem a ilusão de que o mercado tem o caminho
mágico das pautas (mesmo agências com jornalistas experientes e com bom
trânsito junto a ex-colegas de redação sabem que notícias espinhosas não se
esvaziam rapidamente), a parceria rende bons frutos.
A melhor atitude é o espírito de complementariedade e alinhamento de
competências, o que significa aproveitar o conhecimento da cultura
organizacional, o histórico dos conflitos e as convergências com a mídia
(atributos das assessorias de imprensa) e agregar novas abordagens, bem
como o suporte de um amplo leque de profissionais, tarimbados em diversas
áreas (diferenciais das agências).
O ESTRATEGISTA
Dentro das organizações, o assessor precisa ir além do imediatismo e da
urgência dos processos informativos impostos pelo ritmo das redações. Ir
além significa atender às emergências cotidianas, mas não se restringir à
nobre função de “apagar incêndios”. Esse confinamento no aspecto
operacional da profissão pode conduzir perigosamente ao entendimento da
assessoria de imprensa como entidade especializada apenas na linguagem
jornalística e não em área competente na leitura da realidade social e na
formulação da estratégia “por que e a quem dizer”.
Nessa medida, três elementos cruciais se apresentam. O primeiro está
circunscrito à ação do pensamento do estratégico em comunicação
organizacional e a conjunção deste com a parafernália tecnomidiática que
caracteriza a sociedade contemporânea, em particular, a velocidade de
disseminação da notícia, a existência crescente de conteúdos dispersos em
mídias distintas e customizadas. Nesse novo sistema midiático, tem-se o
deslocamento da perspectiva da comunicação do emissor para o receptor, um
receptor agora com maiores possibilidades de emancipação. Afinal, o que se
comunica hoje? Como as pessoas “consomem” a informação hoje?
Se estas questões estão sob a ótica do repensar a comunicação do ponto
de vista teórico, acabam também entrando, por outras vias, na agenda das
assessorias que, aos poucos, assimilam a cultura de resultados determinada
pelo ambiente competitivo no qual as organizações sobrevivem. A
necessidade de medir e mensurar os resultados obtidos pelas ações de
comunicação conduz à revisão do “tarefismo”: faz sentido investir energia
neste instrumento, quais os ganhos com esta ou aquela ação? Significa
indagar, por exemplo: qual o alcance das publicações impressas, dos releases,
dos relatórios, da edição de mídias on-line e sociais (newsletters, sites,
Facebook, YouTube etc.)? Esses esforços, recursos e investimentos são
justificáveis?
Responder a tais questões expõe a necessidade de limitar a obsessão dos
emissores em “falar” e “divulgar” e, ao mesmo tempo, expõe o imperativo de
desenvolver instrumentos e mecanismos para escutar e avaliar a
receptividade. Assim, inverte-se o movimento de construção e viabilização da
informação para a imprensa ou mídias internas. O assessor ganharia a
vantagem da jogada, pois anteciparia os passos, impondo um ritmo
diferenciado para a divulgação das informações da instituição da qual faz
parte.
Refletir acerca do sentido, alcance e eficácia da “minha comunicação”, e
formular questões sob a ótica da produtividade organizacional são indagações
de fundo, instigantes para o estrategista/assessor. O mero despachante de
releases, absorvido na produção de textos ou gestão de mídias, não consegue
mergulhar nesse universo. Acaba por esquecer as preciosas indagações de
Dominique Wolton:
CONCLUSÃO
Longe de pretender exaustiva análise – das organizações, da imprensa e
dos assessores – as situações aqui discutidas realçaram a urgência de uma
perspectiva menos estreita de comunicação. Na vertigem provocada por uma
indústria mediática em transformações, por uma realidade social
contraditória, efervescente, a boa prática de atenção à imprensa deve contar
agora, mais do que anteriormente, com o reforço de um mix de plataformas
de relacionamento/interatividade com a sociedade. Até porque constata-se a
redução do papel representativo, o enfraquecimento do poder de mediação e
da força da imprensa na chancela do que é factual. Proliferam, em volume e
velocidade, fake news. A realidade objetiva (mais próxima daquilo que
poderíamos chamar de “verdade”) nem sempre importa. Neste ambiente
social predominam paixões e crenças. São tempos de desorientação.
Uma certeza permanece: comunicar é preciso, sempre.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília: UnB, 2000. v. 1.
WOLF, Mauro. As teorias da comunicação. Lisboa: Presença, 1987.
WOLTON, Dominique. É preciso salvar a comunicação. São Paulo: Paulus, 2006.
__________
1
Neste texto, o termo “assessorias de comunicação”, de sentido mais amplo, foi utilizado tanto
quanto o termo “assessorias de imprensa”, mais restrito. Os assessores de imprensa, em muitas
estruturas organizacionais, integram uma área de comunicação que reúne outras atividades e
responsabilidades: publicidade, relações públicas, comunicação interna, marketing etc.
2
Segundo Max Weber (2000), a hierarquia se define por relações de mando e obediência, do
tipo superior/subordinado. No caso do assessor essa hierarquia estaria sendo quebrada, pois ao
mesmo tempo em que este nem sempre integra hierarquicamente o corpo diretivo (é um
assessor), pode participar da tomada de decisões vinculadas a determinadas estratégias de
comunicação interna e externa. Essa peculiaridade geralmente torna a ação do assessor um
campo minado, repleto de conflitos.
3
As experiências e reflexões, aqui apresentadas, estão mais próximas à realidade de governos,
empresas, órgãos e instituições públicas. Tais organizações aparecem diariamente na pauta
político-econômica da imprensa e sofrem intenso monitoramento. Situações específicas
envolvendo empresas privadas sem protagonismo no noticiário, ou pequenas empresas, ONGs
etc. solicitam o exame de particularidades, a devida contextualização e assim dimensionar o
padrão de interface estabelecido com a imprensa.
Este capítulo1 trata de uma das funções das relações públicas nos
Estados Unidos que muitas pessoas alheias à profissão acreditam ser a única
responsabilidade da disciplina: relações com os meios ou relações com a
imprensa.2 A concepção do profissional como agente da imprensa ou
interlocutor que expressa só notícias positivas de uma organização tem uma
longa história.
Scott Cutlip (1994) explica que as raízes do profissional de relações
públicas3 iniciam-se no século XVII, quando agências de imprensa eram
usadas por aqueles que promoviam ocupação de terras na costa Leste dos
EUA. O uso dos meios de comunicação de massa nas relações públicas
modernas tem sua origem na Fundação do Escritório de Promoção (The
Publicity Bureau), no início do século XX, e nos serviços prestados por essa
agência à Harvard University, nas linhas ferroviárias e na companhia
telefônica AT&T (Cutlip, 1994). A carreira inicial de profissionais como Ivy
Lee, Edward Bernays, John Hill e Carl Byoir esteve baseada no que no
momento se chamava de “agência de imprensa” e que tem evoluído para
relações com os meios de comunicação.
Embora o campo das relações públicas tenha se expandido além do
conceito de agência de imprensa sob o esquema de uma comunicação
unidirecional, nenhum livro básico de relações públicas estaria completo sem
um capítulo sobre relações com a imprensa. Alguns livros usam títulos
simples como: Relações com a imprensa (Bassin, Aronoff e Latimore, 1997),
Promoção e imprensa (Seitel, 1998) ou Imprensa e relações com a imprensa
(Cutlip, Center e Broom, 2000). No entanto, outros tentam ficar longe desse
enfoque, colocando os relacionamentos com a imprensa dentro de um
contexto amplo, como é o caso de capítulos intitulados: “Táticas escritas” e
“Táticas faladas” (Wilcos, Aula e Augee, 1998), ou “Canais de comunicação
e imprensa” e “Táticas e técnicas” (Newson, Turk e Krukeberg, 1999). De
qualquer forma que o tema seja apresentado, as relações com a imprensa são
consideradas ferramentas importantes no grupo de habilidades de um
profissional de relações públicas.
Considerando o exposto, foi surpreendente descobrir, ao fazer a revisão
de literatura para este capítulo, que, quando se usam termos como relações
com os meios para consultar a base de dados do Instituto de Comunicação
para Estudos em Linha (Communication Institute for Online Scholarship –
CIOS), nenhum estudo foi identificado nos últimos 25 anos de pesquisas
acadêmicas no campo da comunicação. Foi mais surpreendente que, quando
usamos relações de imprensa como palavras de busca, só oito artigos foram
citados e seis referiam-se ao relacionamento entre a “imprensa” e várias
organizações ou entidades governamentais. Isso não significa que nenhuma
pesquisa tenha sido feita nessa área sobre os efeitos das relações públicas na
cobertura da imprensa sobre as organizações, assuntos ou eventos (basta ver
bibliografia ao final do capítulo), mas indica que os estudos que têm sido
conduzidos e reportados podem ser difíceis de identificar por meio de uma
busca simples efetuada por alguém interessado em conhecer quais teorias ou
modelos subsidiam a prática das relações com a mídia.
Para simplificar a busca de uma teoria com a qual se possam entender as
relações com os meios de comunicação, este capítulo tem como objetivo criar
um marco teórico composto de três paradigmas populares por meio dos quais
se possa reconhecer a prática das relações com a imprensa. O modelo é
descrito como um processo ativo no qual pelo menos os profissionais de
relações públicas têm controle mínimo sobre as mensagens produzidas para
alcançar o público-alvo, sobre sua periodicidade, sobre as fontes de
informação e os efeitos do assunto ou evento proposto na agenda da
imprensa.
As três áreas que aqui estão em discussão e com as quais se constrói um
marco teórico são:
ENQUADRAMENTO
O conceito de enquadramento tem sido atribuído ao sociólogo Erving
Goffman (1974) e ao antropólogo Gregory Bateson (1955). Enquanto
Goffman dá a Bateson o privilégio de ter sido o primeiro a usar a palavra
enquadramento para um marco de interpretação ou metamensagem sobre o
que acontece numa situação determinada, é o mesmo Goffman quem
transfere o conceito para a área de análise linguística de interações face a
face.
Existe um número de elementos necessários para entender o conceito de
enquadramento ou mensagem enquadrada. Goffman (1974, p. 21) define
enquadramento como um “esquema de interpretação” por meio do qual os
indivíduos organizam informação ou uma ocorrência e fazem com que ela
tenha sentido. Reese (1997, p. 5) explica que os “enquadramentos são
princípios organizacionais compartilhados socialmente e que persistem
através do tempo, que trabalham simbolicamente para estruturar sentido ao
mundo social”.
Turk (1986, p. 3) coloca que “as fontes que produzem informação rápida
e barata disponível para jornalistas por meio de subsídios informativos
incrementam a possibilidade de que a informação será consumida pelos
jornalistas e usada como conteúdo nos veículos em que atuam”.
Segundo Gandy (1982), a informação subsidiada pode reduzir ou
incrementar seu valor dependendo do quão oculto está o interesse
organizacional na informação, quão confiáveis são as fontes e quão diversa é
a informação disponível que compete pela atenção da imprensa e das
audiências. Além disso, o valor da informação subsidiada aumenta em
relação a como os repórteres e os editores percebem sua qualidade. Os
editores que acreditam que os autores das notas da imprensa compartilham
com eles uma educação e treinamento similares em valores noticiosos estão
mais aptos para ver as notas da imprensa como mais informativas e menos
promocionais (Kopenhaver, 1985, p. 41).
Vários pesquisadores têm estudado a efetividade dos subsídios
informativos – principalmente a geração e publicação de releases – em
organizações diversas. Outros acadêmicos têm enfocado a informação
subsidiada propriamente dita, explorando as diferentes notas de imprensa que
aparentemente contribuem para que sejam utilizadas com êxito na agenda da
imprensa. Por exemplo: Hale (1978) explica que existe correlação positiva
entre a extensão de uma nota de imprensa e a extensão de sua cobertura.
Muito embora a maioria dos pesquisadores tenha determinado que enquanto
os profissionais de relações públicas não têm completo controle sobre o
impacto ou o efeito dos subsídios informativos, eles podem aumentar o valor
e a chance do êxito se enfatizam certos valores noticiosos, como exatidão e
informação completa.
Os releases distribuídos por agências de notícias parecem ter uma
percentagem maior de aceitação pelos jornais (Martin e Singletary, 1981;
Walters e Walters, 1992; Gandy, 1992). Aparentemente, os releases de
natureza crítica ou negativa geram mais histórias publicadas. Os jornais que,
devido à competência crescente, enfocam os eventos locais, são mais
receptivos a notas de imprensa produzidas por fontes locais que às produzidas
por fontes localizadas em outras cidades e Estados (Martin e Singletary,
1981; Morton e Warren, 1992a). Da mesma forma, tanto os jornais como as
estações de televisão identificam o ângulo, enfoque ou relevância locais
(Turk, 1985; Abbott e Brassfield, 1989; Morton e Warren, 1992b; Berkowitz
e Adams, 1990) e a oferta em momento oportuno (Rings, 1971; Abbot e
Brassfield, 1989; Walters e Walters, 1992) como fatores importantes para
aceitar ou recusar um release. Além disso, os noticiários de televisão dão
uma ênfase especial às possibilidades visuais sugeridas pelas notas de
imprensa. Outros aspectos de uma nota de imprensa que os editores
consideram importantes são exatidão (Kopenhaver, 1985), interesse ou
benefício para o leitor (Kopenhaver, 1985; Abbott e Brassfield, 1989; Turk
1991), conteúdo noticioso (Turk, 1991; Walters e Walters, 1992),
objetividade ou evitar práticas publicitárias (Rings, 1971; Turk, 1991) e
impacto (Turk, 1991; Griffin e Dunwoody, 1995). Contudo, Morton e Warren
(1992a) explicam que existem três elementos noticiosos que são de difícil uso
pelo profissional de relações públicas, apesar de seu valor para jornalistas e
editores: raridade da notícia, magnitude e conhecimento do público sobre os
atores envolvidos.
A diferença entre subsídios diretos e indiretos é explicada por Gandy
(1982, p. 62): “O jornalista recebe um subsídio informativo direto e o
[público-alvo no] governo recebe um subsídio indireto quando a informação
é lida no jornal ou ouvida na notícia [televisada ou radiodifundida]”.
Quando a informação fornecida pelas organizações ou fontes é filtrada
nos meios de comunicação antes que chegue a sua audiência-alvo (em geral,
o governo), a informação se transforma em um subsídio indireto. Os
subsídios indiretos são distribuídos por meio do uso de especialistas e grupos
populares aparentemente independentes que defendem uma causa, mas que
são patrocinados por organizações de interesse muito específico (Gandy,
1992). Eles combinam informação fornecida por seus clientes e dados de sua
própria pesquisa e experiência para influenciar a legislação. Os legisladores
usam os subsídios indiretos para a tomada de decisões e a imprensa reporta o
desenvolvimento e o efeito desse processo de tomada de decisões, o qual é
uma forma de originar um segundo uso desses subsídios indiretos.
Os profissionais de relações públicas devem ser prudentes ao usar
métodos de subsídios diretos e/ou indiretos para conseguir a atenção dos
meios de comunicação social e dos atores políticos que influenciam decisões
organizacionais e governamentais. Esses subsídios informativos devem
incluir enquadramentos cuidadosamente produzidos e a arrumação dos
pacotes informativos para que sejam usados facilmente, ajudando, dessa
forma, a construir um modelo completo de diálogo ativo com os meios de
comunicação.
CONSTRUÇÃO DA AGENDA
McCombs e Shaw (1972) introduziram o conceito de “estabelecimento
da agenda” (agenda-setting) para explicar o impacto dos meios de
comunicação na formação da opinião pública. Os autores explicam que as
decisões tomadas pelos editores e jornalistas ao selecionar e reportar a notícia
têm um papel importante na construção da realidade política. Os resultados
do primeiro estudo de “estabelecimento da agenda” sugerem uma associação
muito forte entre a ênfase colocada pelos meios em diferentes assuntos de
uma campanha eleitoral e o juízo dos votantes sobre a importância de vários
tópicos de uma campanha.
Weaver e Elliot (1985, p. 87) formularam a seguinte pergunta: “Quem
estabelece a agenda para os meios?” Eles argumentam que “não é muito
correto dizer que os meios estabelecem agendas se isto é essencial para
prioridades estabelecidas por outros atores e instituições da sociedade”.
Anteriormente, neste capítulo, argumentou-se como um profissional de
relações com a imprensa pode contribuir para o estabelecimento da agenda da
mídia. A pergunta: “quem constrói as agendas dos meios?” foi discutida por
Cobb e Elder (1972) e Lang e Lang (1981) no desenvolvimento do paradigma
“estabelecimento da agenda”. Por um lado, Cobb e Elder explicam que os
políticos atuam como líderes de opinião e promovem assuntos particulares
que criam uma agenda sistemática e formal por meio de campanhas
simbólicas. Por outro lado, Lang e Lang sugerem que a construção da agenda
é um processo coletivo e recíproco. Especificamente, dizem que o processo
da construção da agenda “é contínuo, envolvendo um número de
retroalimentações (…) sobre a maneira como figuras políticas veem sua
própria imagem refletida na imprensa, enquetes entre assessorias de imprensa
e indicadores diversos”.
Max McCombs tem dedicado quase trinta anos desenvolvendo e
documentando o paradigma “estabelecimento da agenda” (ver exemplos:
McCombs e Shaw, 1972; McCombs e Masel-Walters, 1976; Stone e
McCombs, 1981; Wanta, Stephenson, Turk e McCombs, 1989; McCombs,
1992; McCombs e Shaw, 1993; Brewer e McCombs, 1996; Lopez-Escobar,
Llamas, McCombs et al., 1998). Durante esse tempo, ele tem observado
muitas mudanças no estabelecimento da agenda. McCombs vê o
estabelecimento da agenda como uma série de níveis ou fases, tendo escrito
recentemente que a agenda noticiosa deixou de ser uma variável
independente para converter-se em variável dependente e isso significa a
exploração das fontes que estabelecem a agenda para a mídia (McCombs,
1992; Roberts e McCombs, 1994). Johnson, Wanta, Boudreau et al. (1996)
explicam que o processo coletivo e recíproco da construção da agenda
significa que a imprensa, o público e os divulgadores do governo influenciam
e são influenciados ao mesmo tempo. Eles conduziram uma análise de trilhas
ou trajetórias (path analysis research) e concluíram com um modelo de
construção da agenda que inclui ao menos quatro etapas:
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__________
1
Tradução do capítulo: Blanca Lucero. Revisão técnica: Marcia Yukiko Duarte.
2
O termo adotado pelo autor na maior parte do capítulo é “relações com os meios”. Usamos,
neste capítulo, de maneira similar, os termos: imprensa, meios de comunicação e mídia em
substituição ao original meios.
3
Nos Estados Unidos, onde o autor atua, relações públicas inclui a prática de divulgação
jornalística e relacionamento com a imprensa, atividades que, no Brasil, são desenvolvidas por
assessores de imprensa (ver Amaral e Duarte, na primeira parte desta obra). Assim, relações com
a imprensa poderia ser traduzido literalmente por assessoria de imprensa, mas preferimos
manter a concepção original para reforçar a distinção cultural. Essa opção foi mantida em alguns
momentos, no uso de termos como notas de imprensa com significado similar a release, adotado
no Brasil.
4
Do inglês scan, significa “escaneamento, varredura, exame, varrer, sondar com radar etc.”
INTRODUÇÃO
Na primeira edição do livro, em 2002, este texto intitulava-se “Imagem
empresarial, marketing da ilusão”. Dez anos depois, por ocasião da segunda
edição, o texto foi revisado para incluir os novos conhecimentos que o campo
da Comunicação Organizacional tinha agregado, resultado da grande
expansão do mercado de trabalho, da atuação das associações profissionais e
do desenvolvimento das pesquisas acadêmicas. Nesta edição, o texto foi
quase integralmente refeito, e inclui um item sobre a atuação da comunicação
e do marketing na vida digital das corporações.
Em relação aos questionamentos éticos e políticos, presentes no texto
desde a primeira edição, eles permanecem e estão ainda mais críticos, uma
vez que as contradições inerentes ao papel desempenhado pela comunicação
e pelo marketing nas organizações ficaram mais explícitas e menos
envergonhadas.
Na primeira edição, direcionei o texto para a polêmica da imagem
corporativa como uma ilusão construída pelo marketing e pela comunicação,
questionando o papel de um e de outro. Na segunda edição, fiz referência à
polêmica profissional sobre as singularidades e diferenças da comunicação e
do marketing, partindo de duas afirmações: 1) o marketing centraliza as
estratégias de posicionamento das instituições no ambiente empresarial e
junto aos seus stakeholders; 2) a comunicação atua integrada ao marketing e
submetida ao planejamento estratégico da empresa.
Em relação à primeira afirmação, ela está em transformação em função
da adoção das tecnologias digitais pelas empresas e da consequente
necessidade de mudar e readaptar estratégias. Em relação à segunda, entendo
que os estudos (principalmente os internacionais), as experiências e a prática
do mercado já demonstraram que as atividades de comunicação e de
marketing mantêm uma relação de interdependência e devem trabalhar
integradas para garantir o branding.1
Atualmente, as tecnologias digitais estão transformando o planejamento
das corporações, determinando mudanças na forma de fazer negócios, de
atuar no mercado e nas práticas de relacionamento com os clientes e, por
conseguinte, orientando a construção da imagem e da reputação das
instituições. O planejamento e as estratégias de comunicação e marketing da
empresa digital têm como meta a convergência das ações nos vários canais,
missão que vem sendo difícil de cumprir para a maioria das empresas, como
se verá nas pesquisas citadas adiante.
Esclareço que uso a denominação Comunicação Organizacional quando
me reporto ao conhecimento acadêmico desenvolvido no Brasil; a expressão
Comunicação Corporativa, adotada pela ABRACOM (Associação Brasileira
das Agências de Comunicação), quando faço referência às ações, atividades e
produtos destinados à divulgação e ao relacionamento de uma empresa com a
sociedade e com seus públicos; por fim, a abreviatura C&M significa
Comunicação e Marketing.
Dezenas de autores defendem posições diferentes da minha e diferentes
umas das outras. Depende da área em que atuam. Os autores da área de
gestão consideram que o marketing e a comunicação são instrumentos de
gestão. Os autores de marketing acham que a comunicação é um instrumento
do marketing. Os autores da área de comunicação pensam exatamente o
contrário, e defendem que a comunicação é mais importante para a vida da
empresa do que o marketing.
Como não existe consenso, nem haverá, entendo, baseada nas pesquisas
e trabalhos empíricos que estudam o dia a dia das instituições e na
experiência de profissional de mercado, que os conhecimentos de
comunicação, marketing, publicidade, tecnologias digitais e outros atuam em
conjunto, em benefício da empresa.
Os questionamentos sobre a atuação e a ética da Comunicação
Corporativa permanecem e ficaram ainda mais ásperos na atualização do
texto. Não há mais como negar que a C&M sabe criar ilusões, ou melhor,
sabe construir narrativas persuasivas com poder para edificar “realidades”
conforme as necessidades da corporação. A história contemporânea do Brasil
revelou, nos últimos três anos, as redes de crimes políticos e econômicos –
“Mensalão” e “Lava Jato” – que inicialmente estiveram restritos à arena
política, em seguida incluíram de forma escandalosa a arena empresarial e,
por fim, alcançaram a C&M das corporações. Ainda é muito cedo para
avaliar o papel e a responsabilidade da C&M nesse triste cenário que
continua sendo investigado. Os fatos que chegaram ao conhecimento público
mostram apenas o contorno do problema e, mesmo assim, foram suficientes
para convulsionar a ética da Comunicação que se faz nas instituições públicas
e privadas.
A artilharia da área, sobretudo a que repousa na trincheira acadêmica e
nas associações representativas profissionais, precisa apontar a crítica para si,
para as atividades, os instrumentos de trabalho e, com especial cuidado, para
a construção das narrativas que fazemos sobre nosso métier e a ciência que
representamos. As manifestações críticas mais visíveis foram as oriundas da
área acadêmica, mas expressaram posicionamentos ideológicos, versando
sobre o momento político do país, e não sobre o fazer e o papel da
Comunicação no cenário político, econômico e social.
Na edição anterior, este artigo iniciava com a pergunta e o comentário
abaixo.
A REPUTAÇÃO
Os conceitos de imagem, identidade e reputação foram construídos em
pouco tempo. As narrativas podem variar, assim como as situações que
servem para ancorar os exemplos, mas os cenários e os fenômenos que geram
os discursos da comunicação e do marketing são comuns.
A qualidade que Lesly chamou de “prestígio” começou a ser discutida
no início dos anos 90, no âmbito da gestão empresarial como Reputação
Corporativa, o ativo estratégico das empresas. A discussão gerou uma vasta
bibliografia, revistas especializadas, como a Corporate Reputation Review, e
instituições privadas que se tornaram referência no assunto, como o
Reputation Institute.
Um artigo de Fombrun e Shanley, em 1990, What’s in a name?
Reputation building and corporate strategy, marca o início da discussão
conceitual sobre o termo. Buscava-se decifrar como esses sinais seriam
entendidos e poderiam influenciar os stakeholders. Seis anos depois,
Fombrun introduziu o termo “capital reputacional” que seria construído a
partir da projeção de imagens consistentes em direção aos diferentes
stakeholders. Como componente da imagem da empresa, Fombrun aponta a
rede de relações, as marcas, os resultados financeiros e a política de
comunicação (interna e externa), tanto no desenvolvimento das atividades
típicas da empresa, como em épocas de crise (Antelo; López, p. 87).
Na área de gestão, reputação é entendida como uma
REPUTAÇÃO DIGITAL
O ano de 2016 ficou marcado por alguns grandes números no mundo
das empresas 2.0.
Se por um lado o uso das tecnologias digitais e das redes sociais pelas
empresas brasileiras cresceu bastante, as dificuldades e as incertezas para
fazer a passagem para o digital também são muitas. Pesquisa da Aberje
(2014)6 indica que o principal foco para o uso das plataformas digitais nem
sempre é impulsionar o ambiente de negócios ou construir estratégias para o
uso integrado das tecnologias digitais, conforme pregam os entrevistados das
pesquisas citadas anteriormente. As ferramentas estão sendo testadas como
um meio de informação mais eficiente, ou como forma de socialização, muito
próxima ao uso que as pessoas geralmente fazem das mídias sociais na vida
privada. A pesquisa também indica que uma das maiores preocupações dos
executivos de Comunicação é o risco que as mídias sociais trazem para a
reputação da empresa.
Os executivos avaliaram os benefícios e os riscos das tecnologias
digitais para as empresas e apontaram como principais benefícios o aumento
do conhecimento sobre a organização, produto ou serviço pelo público; a
criação de percepções mais favoráveis em relação à organização, à marca e
aos produtos e serviços; melhor entendimento das percepções dos clientes em
relação à organização, à marca e aos produtos e serviços.
Os riscos potenciais são motivos de preocupação para 64% dos
participantes, mas eles percebem que são riscos que podem ser mitigados ou
evitados. Os principais riscos apontados foram: os danos à reputação da
marca; a divulgação de informações confidenciais e/ou estratégicas; difusão
de comentários negativos sobre a organização; violações legais, regulatórias e
de compliance.
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Disponível em: <http://www.revistaorganicom.org.br/sistema/index.php/organicom>.
__________
1
Branding é a gestão da marca (brand). São as ações estratégicas que contribuem para a
construção da percepção do consumidor em relação à empresa, com o objetivo de ir além da
venda para que a marca seja incorporada e percebida como parte da vida do consumidor.
2
São autores destacados na área: Margarida Kunsch, Marlene Marchiori, Fábio França, Maria
Aparecida Ferrari, João José Curvello, Sidineia Gomes Freitas e Roberto Porto Simões, entre
outros. Devem ser citados também a revista Organicom, os eventos ibero-americanos e
internacionais que reúnem pesquisadores em torno de sociedades científicas como a Abrapcorp
(Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas) e
a Alaic (Associação Latino-Americana de Investigadores de Comunicação), as valiosas
contribuições das dissertações de mestrado e teses de doutorado disponíveis na rede, além das
produções e estudos oriundos de entidades como a Aberje (Associação Brasileira de
Comunicação Empresarial) e a Abracom.
3
A pesquisa compilou, mapeou e analisou 9.757 relatos relevantes sobre o debate público no
período de setembro de 2010 a janeiro de 2012, utilizando a ferramenta Media Cloud, um
software livre criado pelo Berkman Center, que permite análise quantitativa de um grande
número de fontes e mídias on-line.
4
A Cauda Longa é a denominação dada pelo autor para as vendas de produtos feitos por
empresas que atuam na Internet e que estão fora das listas de produtos de sucesso. Essas
empresas conseguem faturar alto com esses produtos específicos de nicho de mercado, o que só
foi possível no comércio on-line, no qual não existe limite de espaço físico e os custos de
distribuição e estocagem são mínimos.
5
Os 478 pesquisados eram executivos seniores e dirigentes da área de marketing de grandes
empresas localizadas na América do Norte (33%), Europa (30%), Ásia-Pacífico (29%) e o resto
do mundo, aí incluídos África e América Latina (9%).
6
Pesquisa realizada com 53 organizações associadas à Aberje, com o objetivo de traçar o
cenário de interatividade das organizações com seus públicos e identificar as plataformas digitais
utilizadas e seus efeitos.
7
Joan Costa está se referindo à crise econômica que eclodiu nos Estados Unidos em 2008, com a
questão das hipotecas, e que culminou com a quebra da quarta maior casa de empréstimos
bancários, a Lehman Brothers.
Ética, o que é? Para início de conversa, uma ciência. E como os
jornalistas são obrigados a conhecer com relativa perfeição o significado das
palavras, vamos de início buscar o que seja ciência: nada além de
conhecimentos sobre determinado tema, objeto ou valor, acumulados por
meio do tempo e pela observação, raciocínio e experiência, portanto
sistematizados, catalogados e em discussão permanente.
Durante milênios, os pastores da Grécia Antiga passavam dias de cão,
correndo atrás das ovelhas que, quando o sol se punha, dormiam. Faltava
sono imediato aos pastores, apesar de cansados. Deitavam-se na grama e
punham-se a observar o céu, naquelas plagas quase sempre limpo. De tanto
olhar as estrelas, muito antes de Galileu inventar as lunetas, percebiam
movimentos celestes. Uns astros brilhavam mais do que outros. Localizados
numa parte do céu, no começo da noite, tinham ido embora pouco antes da
alvorada. Estes se moviam dando a impressão de formar um carneiro, ainda
que por conta de muita imaginação. Aqueles, por força da boa vontade,
pareciam uma balança. Um touro. Até um caranguejo. Com o tempo e os
comentários passados de pai para filho, muita superstição e poucas anotações,
foi nascendo uma ciência. No caso, a Astronomia, acompanhada de sua prima
misteriosa, a Astrologia. A parafernália eletrônica e cibernética das naves
espaciais e dos Hubbles de hoje só fez seguir no caminho aberto pelos
pastores.
Ética, pois, é uma ciência à medida que os homens começaram a
observar e a teorizar sobre o comportamento dos homens. Passaram a se
questionar, ou melhor, a questionar o vizinho. Por que uns cumpriam de uma
forma o que achavam seu dever para com a sociedade, contribuindo para que
as coisas andassem bem e até ajudavam o próximo, enquanto outros eram
egoístas, perniciosos, injustos e presunçosos? O que levava o indivíduo a se
comportar desse ou daquele jeito, e quais as regras gerais de comportamento
mais aceitas pelo conjunto? Por que alguns espertos tentavam impor normas
aos demais, livrando-se de cumpri-las?
Logo se chegou à conclusão de ser a liberdade o fator principal do
comportamento humano, porque, faltando-lhe a liberdade, o indivíduo ficava
impedido de agir conforme sua própria vontade. Com ela, agia para melhorar
ou para piorar o meio social onde vivia. Sem ela, impossibilitado de se
comportar conforme sua determinação, transformava-se em escravo.
Vale outro exemplo. Hoje é sábado. Vemos no jornal que um cinema
qualquer apresenta um filme que nos interessa. A sessão começa às 16h. Por
volta de 15h30min, até antes, saímos de casa, pegamos o carro, dirigimos
com cuidado e chegamos ao local do cinema. Estacionamos, porque ainda há
vagas. Entramos na fila, aguardamos nossa vez, compramos o bilhete. No
saguão de espera, terminada a sessão anterior, abrem-se as portas da sala de
projeção e escolhemos a poltrona que melhor nos agrada. Assistimos ao
filme, gostando ou não dele.
Esse ato singelo de ir ao cinema serviu para que usássemos nossa
liberdade não apenas para nossa satisfação, de assistir a um filme, mas
também para que a sessão de cinema funcionasse naturalmente.
Agora, todos nós conhecemos o Gerson, aquele que gosta de levar
vantagem em tudo, com as devidas desculpas ao grande craque do passado. É
o espertinho que deixará para sair de casa cinco minutos antes do início da
sessão. Dirige feito um louco, avança semáforos, atropela velhinhas e, ao
estacionar, tranca dois ou três carros que não poderão mais sair. Diante da
longa fila, ele, que não entra em filas, dirige-se aos primeiros colocados,
próximos da bilheteria. Com dinheiro na mão, pede e até intimida um
indigitado qualquer a comprar sua entrada. Sai correndo, atropela todo
mundo, apela para os cotovelos e chega à sala de projeção, deslocando uma
jovem que já ia sentar. Aos berros, exige que o espetáculo comece,
incomodando vizinhos e perturbando o conjunto. E vai por aí.
Já imaginaram se todos agissem assim? Um mundo povoado apenas de
Gersons, cada um utilizando sua liberdade para chegar atrasado, furar a fila e
disputar pela força um lugar no cinema? Seria um tumulto tão grande, com
entreveros, portas de vidro quebradas e aglomeração inusitada que o gerente
seria obrigado a cancelar a sessão e chamar a polícia.
Por que somos éticos? Encontram-se aos milhares as correntes dedicadas
a analisar a Ética, desde tempos imemoriais. Somos éticos para que a
sociedade funcione bem? Para nos sentirmos bem, internamente? Para
agradar o próximo? Para obrigar o colega do lado a também ser ético? As
teorias fluem e refluem, chocam-se, despertam seus contrários e jamais se
encontrará, nelas, a verdade absoluta, a resposta final para a questão. Ética
não é uma ciência exata.
Mesmo inconscientemente, quando a temos, usamos nossa liberdade
para atingir algum fim, qualquer que seja ele.
Xenófanes, pré-socrático, sustentava ser a Ética um monte de regras
inventadas por estadistas interessados em dominar os semelhantes. Demócrito
dizia que apenas com o conhecimento se chegaria ao exercício da Ética.
Protágoras supunha a Ética incrustrada na mente dos homens. Górgias de
Leontino replicava afirmando que ela se baseava apenas nos sentidos.
Sócrates concordou em que só o conhecimento conduzia ao comportamento
ético, mas embaralhou as cartas ao acrescentar que o conhecimento também
levava à antiÉtica, porque a força se transformara em direito, e a justiça, em
interesse.
Platão defendeu a criação artificial de homens éticos. Para tanto, certas
crianças, fisicamente perfeitas, seriam separadas das mães e do convívio dos
cidadãos comuns quando completassem sete anos. Aristóteles era, para
Platão, o bezerro que ele havia criado e agora lhe dava coices, pois escreveu
ser a Ética o caminho individual para a felicidade: o homem é ético para
sentir-se bem com ele próprio, pouco se importando com os resultados de seu
comportamento na sociedade, se para aprimorá-la ou piorá-la.
Jesus, Paulo de Tarso, Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino e
depois os escolásticos misturaram a Ética com a Religião. A Ética, para eles,
visava ao reino dos céus, a “Cidade de Deus”, não se constituindo num fim
em si mesma, mas em princípios criados pelo Padre Eterno para conduzir os
homens ao paraíso.
Maquiavel desprezou a Ética individual estabelecendo importar apenas o
funcionamento do regime político, para o qual a Ética deveria estar voltada.
Disse que a violência e a fraude muitas vezes poderiam ser éticas, desde que
contribuíssem para o sucesso de um governo capaz de atender às
necessidades dos governados. Sentimentos pessoais, inclinações e realizações
íntimas não vinham ao caso.
Erasmo de Roterdã melou o jogo ao comparar os monges a asnos,
quando eles se preocupavam apenas com a forma e com os rituais,
esquecendo-se do conteúdo, o indivíduo. A força motriz da Ética era, para
ele, a busca da paz.
Thomas Hobbes, aquele que sustentou ser o homem o lobo do homem,
dizia ser ético por egoísmo: para que o colega do lado também fosse ético
com ele. Spinoza confirmou que apenas seremos éticos dispondo do
conhecimento, capaz de levar-nos à liberdade e à felicidade. Voltaire
defendeu fundamentar-se a Ética nas boas intenções de homens ingênuos e
pobres, como revanche contra os homens ricos e maus. Para Rousseau, se
somos livres seremos obrigados e compelidos a ser éticos, e para Kant a Ética
transcende o indivíduo, e existe como valor universal.
Para Hegel, a Ética visa unificar a conduta e o caráter. Marx atrela a
Ética às lutas de classe. Nega a universalidade da Ética e fala que a Ética do
operário jamais será a Ética do patrão. Nietzsche criou a Ética da violência,
ou seja, ético é o que luta, vence e sobrevive. O que perde e fracassa não é
ético. Max Weber estabelece a Ética do lucro e da avareza: ético é ganhar
dinheiro. Jacques Maritain volta a Aristóteles. Para ele, a Ética se localiza no
âmago do indivíduo, não na experiência nem nas exigências do mundo a
nossa volta. Somos éticos para nos realizarmos internamente, e essa
realização leva ao bem comum. Marcuse ensina a necessidade de ser ético
pela satisfação das necessidades do indivíduo e da sociedade. Noam
Chomsky, nos dias de hoje, condena a Ética do capitalismo, que destrói a
Ética do cidadão.
Quem quiser que opte por uma dessas teorias, ou por milhares de outras
igualmente originais e conflitantes. Ou será melhor misturar algumas? Quem
sabe criar outras? Já se disse que um gigante vê o horizonte melhor do que
alguém de estatura média, mas um anão colocado sobre os ombros do gigante
não verá mais longe ainda?
É preciso distinguir a Ética, como ciência do comportamento humano,
de outros valores encontrados na sociedade. Não há uma resposta para todas
as perguntas. Inexistem as verdades absolutas, mas a Ética, e vai aí uma
afirmação que pode ser contestada, é universal. Não varia no tempo nem no
espaço, ainda que novas situações éticas estejam sempre sendo criadas.
Décadas atrás não havia a Ética cibernética, porque não havia computadores.
Hoje, a Ética condena os hackers, como condena quantos se dediquem a
espalhar vírus pelos computadores alheios.
O que varia no tempo e no espaço é a Moral, irmã mais nova e mais
frágil da Ética. Como sempre, valem os exemplos: na década de 50 eram
levadas pelos camburões da polícia, presas como prostitutas, as moças que
ousavam ir à praia usando biquínis. As mães tapavam os olhos dos filhos
adolescentes, os moleques jogavam areia e vaiavam a moda. Hoje, além do
biquíni, aí estão o monoquíni e até o “não quíni”. Da mesma forma, em nossa
sociedade ocidental, um homem só pode estar oficialmente casado com uma
mulher, e vice-versa. Tomando um avião e descendo em Riad, na Arábia
Saudita, veremos que um homem pode estar casado com quantas mulheres
possa sustentar, num máximo de seis...
A Moral varia temporal e geograficamente, enquanto a Ética permanece
imutável em seus princípios, não obstante inúmeras teorias em sentido
contrário. Não se negará, porém, que utilizamos nossa liberdade para nos
comportarmos em sociedade segundo normas que valeram para nossos
antepassados e valerão para nossos descendentes, ainda que, importa a
repetição, novas situações éticas continuem sendo criadas.
Há complicações. A Ética dos governantes pode ensejar-lhes, porque são
governantes, a não revelar aos governados todos os detalhes de planos ainda
em elaboração, porque, revelados prematuramente, fracassariam. A Ética dos
cientistas e pesquisadores, ao contrário, obriga-os a revelar tudo o que
descobriram. Uma ideia, depois de pensada, não pertence mais a quem
pensou. Pertence à sociedade, porque para pensar e pesquisar ele nasceu, foi
criado e sustentado pela sociedade. Por isso, será antiético guardar a sete
chaves a fórmula para a cura do câncer ou da Aids.
Outra necessidade será separar a Ética da Religião, ainda que a maioria
dos princípios, normas e mandamentos de conduta de ambas sejam os
mesmos e até se entrelacem. A diferença está nos fundamentos: o cidadão
segue os preceitos de determinada religião movido pela fé, a revelação e a
determinação de ganhar o paraíso, evitando as profundezas do inferno depois
de morto. Não será por motivos religiosos que somos éticos?
A Ética existe em si mesma, como valor permanente, uma espécie de
chave-mestra em condições de abrir todas as portas e de estar presente em
todos os momentos de nossas vidas. Pela dinâmica dos fatos, muitas normas
éticas têm sido compiladas em códigos, por enquanto restritos ao exercício
das profissões. Existem normas éticas antiquíssimas, como as de Hipócrates,
para quem um médico deveria dedicar a mesma atenção e os mesmos
cuidados tanto a um paciente pobre quanto a um paciente rico.
Não raro normas éticas confundem-se com normas jurídicas, ou seja,
com a lei. Não matar, não roubar, não comprar votos no Congresso, não
grampear telefones de adversários são normas éticas e, ao mesmo tempo,
normas jurídicas. A grande diferença entre o Direito Positivo e o Direito
Ético é que tudo o que está na lei deve ser cumprido, sob pena de coerção ou
de não recebimento de benefícios, ao tempo em que os princípios éticos
constantes dos diversos códigos só serão cumpridos se quisermos. Dependem
da utilização de nossa liberdade. Ninguém poderá obrigar um indivíduo a ser
ético. Somos livres para ser e para não ser, já que as penas para o
descumprimento das normas éticas que não integram a lei serão
simplesmente morais: observação, admoestação, suspensão e até expulsão
dos órgãos de classe. No máximo, exposição diante da coletividade, efeito
que para quem não cultiva a Ética soará tanto inócuo quanto ridículo.
Antes eram apenas os advogados, agora já se estendeu o princípio aos
médicos, aos arquitetos e aos engenheiros: a Ordem dos Advogados, os
Conselhos de Medicina, Arquitetura e Engenharia podem suspender seus
profissionais do exercício da profissão, quando transgridem a Ética de modo
crucial. Contudo, agem assim em virtude da lei, autorizados por ela, e
geralmente o fazem quando o profissional transgrediu o Direito Positivo.
Apenas por dedicar-se muito mais a uma rica dondoca do que a um paciente
do INSS, nenhum médico sofrerá restrições. Por defender e conseguir libertar
um narcotraficante, um sequestrador ou um homicida, nenhum advogado será
punido. Por distorcer, omitir e travestir a notícia, colocando-a a serviço de
interesses escusos ou particulares, nenhum jornalista será preso.
Chegou a hora de passarmos do geral para o particular. Se Ética é a
ciência que traça normas de comportamento com base na utilização que
fazemos de nossa liberdade para atingirmos algum fim, por analogia, a Ética
Jornalística define princípios e regras sobre o uso da liberdade de informação
por parte dos profissionais de imprensa. Para quê? Qual a finalidade última
dos meios de comunicação?
Há quem julgue ser o enriquecimento dos proprietários de jornais,
revistas, emissoras de rádio e televisão. Para eles, o jornalismo é um negócio
e a Ética deve servir a seus propósitos. Alguns até vendem a notícia como se
vendem latas de sardinha. Existem pensadores para os quais a finalidade da
Ética Jornalística será conduzir a sociedade para determinadas ideologias,
doutrinas e religiões. Também podem ser notados aqueles para os quais o
objetivo maior do jornalismo é promovê-los e abrir-lhes as portas para o
poder, seja político, econômico, literário, artístico e até esportivo.
É preciso corrigir as distorções: por meio da informação precisa e
verdadeira, nossa finalidade ética maior será de informar amplamente a
sociedade de tudo o que se passa nela. De bom e de mau. De certo e de
errado. De ódio e de amor. Porque será apenas assim que a sociedade terá
condições de se aprimorar. A função social da imprensa sobrepõe-se a
quaisquer outros objetivos.
Muitos jornalistas, em especial os de “nariz em pé” e de arrogância
explícita, intitulam-se “formadores de opinião”. Trata-se de um exagero. Não
somos formadores, mas informadores. Quem se forma é a própria sociedade,
ao se conhecer por meio da imprensa. E por outros fatores à margem da
informação.
Ruy Barbosa afirmou ser a liberdade de imprensa a mais importante das
liberdades públicas, não porque a imprensa se sobreponha a outros segmentos
sociais, mas simplesmente porque sem a liberdade de imprensa a sociedade
não tem conhecimento das lesões praticadas contra as outras liberdades.
É óbvio que a liberdade tem limites. Não se pode transformar em
licenciosidade. Deve respeitar a privacidade, a honra e a imagem das pessoas.
Está impedida de buscar o lucro a qualquer custo. Ou a audiência a qualquer
preço.
Cartesianamente, mediante singelo elenco de proposições de
demonstração duvidosa, chegamos ao tema essencial: como será o agir ético
nas assessorias de imprensa?
Vale partir do princípio de que falamos das assessorias de imprensa
conduzidas e integradas por jornalistas, assim como são os hospitais, por
médicos, e as padarias, por padeiros. Quando não são, nem haverá que falar
de Ética, porque constituirse-ão, as assessorias de imprensa, em simples
repartições voltadas para os objetivos das respectivas instituições, públicas ou
privadas. Objetivos que podem ser louváveis ou não, tanto faz.
É para o jornalista das assessorias de imprensa que voltamos nossa
atenção. Terá ele condições de agir eticamente, ou seja, de manter os
princípios que devem pautar sua profissão, de informar precisa e
corretamente, com a natural obrigação de servir à instituição para a qual
trabalha, promovendo-a e expondo sua ação também a serviço da sociedade?
Torna-se muito mais difícil exercitar a Ética, para um jornalista de
assessoria de imprensa. Ele deve cultivar duas lealdades. À sociedade, como
jornalista que é, e à instituição, como seu servidor. Não raro sobrevêm
choques e conflitos entre essas duas paralelas. O assessor de imprensa de um
hospital é interpelado por seus colegas jornalistas de diversos veículos a
respeito do péssimo tratamento recebido pelos pacientes. Fazer o quê?
Se o assessor tem diante de si esse quadro adverso, ele tem que buscar
conquistar esses grupos e se estruturar. Mas há empresas que sabem da
importância dos processos de comunicação e mantêm departamentos ou
diretorias que se integram com as demais áreas: qualquer produto ou serviço
precisa de construir uma imagem positiva, o que não é feito pelo marketing e
pela publicidade sem o apoio fundamental do jornalismo, que busca imprimir
credibilidade inserindo a empresa na pauta da mídia espontânea.
Qual o tipo e tamanho ideais de uma assessoria? Quem e quais serviços
contratar? Como equipar? Que tipo de espaço? Todas as respostas têm que se
enquadrar à realidade e às necessidades de cada empresa ou órgãos da
administração pública. No entanto, teremos que usar um parâmetro, um
modelo básico para a implementação das ações necessárias atender clientes
de médio a grande porte e que precisem dar visibilidade ao(s) seu(s)
produto(s) ou consolidar sua imagem na prestação de serviços a seus
públicos.
a) A quem se reportar
No caso de a empresa ter uma Coordenação ou Departamento de
Comunicação Social, o assessor terá que conversar com seu
diretor/coordenador. No entanto, na maioria dos casos, não existe nas
empresas uma estrutura única e ampla de comunicação. Nesse caso, o
assessor de imprensa cumpre um pouco o papel desse profissional e assume
funções mais abrangentes. O ideal é que ele fale direto com o presidente,
diretor-geral ou a autoridade máxima da estrutura do seu cliente, bem como
tenha acesso aos diretores ou coordenadores setoriais.
Outra prática necessária é a sua participação, com alguma intimidade,
dos assuntos internos da empresa, desde decisões de mudança até o
conhecimento de problemas estruturais e conjunturais. Uma das tarefas da
assessoria é fazer o gerenciamento de crises, quando acontecerem. Isso só
pode ser feito se o assessor tiver conhecimento da questão para saber de que
maneira contornar. No caso do setor público, a atuação da assessoria é
absolutamente necessária para que seja dado conhecimento à sociedade da
atuação de seus governantes, parlamentares e legisladores.
LITERATURA RECOMENDADA
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estrangeiro chega às assessorias de imprensa. O Valor Econômico, 18 mar. 2002, p. 27. Caderno de
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Antes de conceituarmos o que é um planejamento e comentarmos suas
etapas, é essencial promover um novo pensar sobre o que buscamos no
relacionamento com a mídia. Se no passado, ou até mesmo há um tempo
menos passado, a atividade junto à imprensa era vista como uma opção barata
de anunciar uma marca ou produto, isso já não se faz verdade. Assim, vamos
começar este capítulo buscando quebrar alguns paradigmas:
Indo ao ponto
Antes de entrarmos no tema específico do capítulo, é preciso entender
alguns preceitos; principalmente porque ele trata de matéria cujo conceito
tem sido muito desgastado ao longo do tempo. Há certa confusão envolvendo
estratégia, ação e tática, sobretudo pela deterioração que o termo estratégia
vem enfrentando ao longo do tempo, com muitos de nós considerando, de
forma errada, como estratégico tudo o que se pensa e o que se faz. Mas o que
é estratégia, afinal?
Para conceituar estratégia, fomos pesquisar alguns autores que se
dedicam ao estudo da gestão estratégica de negócios, e o fizemos por
entender que as chamadas ações estratégicas na mídia não podem estar
divorciadas da visão estratégica geral da organização – seja ela pública ou
privada. Ao contrário, é preciso haver plena harmonia e sinergia entre elas,
uma vez que o relacionamento com a mídia deve, justamente, atender aos
objetivos de negócio da organização, caso contrário, torna-se acessório
dispensável.
Resumidamente, para seis autores amplamente reconhecidos, temos:
Sun Tzu, contemporâneo de Confúcio, viveu por volta do ano 400 a.C.,
autor do mais antigo tratado militar, intitulado A Arte da Guerra, uma
compilação de seu pensamento sobre como elaborar uma estratégia para obter
sucesso na guerra. Os ensinamentos de A Arte da Guerra são considerados
uma metáfora para o melhor entendimento do mundo dos negócios, gerando
insights criativos sobre estratégia, liderança e como se preparar para
sobreviver num ambiente hostil e competitivo. Trata-se já há muito tempo de
leitura obrigatória nas faculdades de administração.
Muito sinteticamente, para Sun Tzu, na formulação da estratégia é vital
o conhecimento de seis fatores decisivos para a vitória: a influência moral do
líder, os valores da organização, a liderança visionária, as forças do ambiente
externo, o conhecimento dos espaços vazios (neste caso, de mercado) e o
domínio dos princípios da doutrina estratégica.
Peter Drucker (1909-2005), filósofo e economista de origem austríaca,
conhecido como um dos mais importantes pensadores de todos os tempos em
administração, uma espécie de “pai da gestão moderna”, por seus
consistentes e abrangentes estudos sobre os efeitos da globalização na
economia em geral e, em particular, nas organizações, considera que os
objetivos definem a estratégia de uma organização e estabelecem o elo entre
missão e resultados a serem perseguidos por ela. Segundo seu pensamento, os
objetivos servem de orientação para a destinação dos recursos. Em
decorrência, somente uma clara definição da missão e da finalidade da
empresa torna possível a existência de objetivos claros e realistas.
Gary Hamel (professor da London Business School) e C. K. Prahalad
(professor da Faculdade de Administração da Universidade de Michigan) são
autores contemporâneos que criticam a forma como a estratégia é utilizada
em muitas empresas e ensinada nas faculdades, pois “parece estar mais
preocupada em posicionar produtos dentro de uma estrutura existente do que
em criar empresas e setores para o amanhã”. Segundo Hamel, a intenção
estratégica cria a noção de propósito na organização e também um senso de
direcionamento comum e o destino estratégico. Ou seja, a intenção
estratégica dá foco.
Para Robert Kaplan e David Norton, professores da Harvard Business
School, as estratégias estão mudando, mas as ferramentas para a mensuração
delas ficaram para trás. A base conceitual do significado de estratégia
evoluiu, porém as metodologias disponíveis para a sua efetiva implementação
não conseguiram acompanhar esse desenvolvimento. Segundo esses autores,
70 a 90% das empresas não conseguem executar a estratégia.
Planejamento estratégico de comunicação
Com base nos conceitos de estratégia apresentados, pode-se concluir que
um bom planejamento estratégico em comunicação precisa:
5. Ser criativo
As relações com a mídia não devem prescindir da inovação e da
criatividade, pois essas são características que contribuem para que ela seja
relevante, diferenciada e atraente. Num mundo em que se tem cada vez mais
commodities e em que os produtos e serviços são cada vez mais iguais entre
si, os diferenciais podem ser a marca e a organização que estão por trás deles.
Isso vale para um creme dental, um aparelho celular e vale também para uma
instituição financeira. Os valores intangíveis, as características sutis fazem
muitas vezes a diferença no mercado e nos resultados dos negócios.
Importante frisar que ser criativo e inovador não significa abrir mão de
toda a experiência acumulada ao longo do tempo, romper com o passado. Ao
contrário. Valendo-se dessa experiência, é ter a capacidade de agregar novos
valores e novos enfoques ao planejamento, diversificar as possibilidades e os
pontos de vista no olhar de cada ação, vislumbrar o impossível com ceticismo
e o possível com desconfiança, quebrar paradigmas quando isso se mostrar
necessário, renovar-se a todo instante, num exercício de permanente
questionamento sobre as ações repetitivas e automáticas. Avançar com os pés
no chão, a realidade nas mãos, o amanhã no olhar e a ética na mente. E
jamais se desviar dos verdadeiros atributos e da missão da organização que
representa, mesmo em momentos de dificuldades.
Inovar e criar não é, necessariamente, utilizar o que há de mais avançado
em termos de tecnologia digital, mas sim buscar novas formas ou resgatar
algumas esquecidas e dar nova roupagem. Sem nunca perder o foco no
resultado e inovar pela própria inovação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, A. L. de C. Reputação organizacional: a importância de parâmetros para o seu
gerenciamento. Organicon – Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações
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Thomson, 1992.
______. Tratado de comunicação organizacional e política. São Paulo: Thomson, 2004.
A tradição brasileira em comunicação organizacional era, até
recentemente, de execução de atividades em áreas independentes,
desconectadas e até agindo competitivamente, no que poderíamos chamar de
comunicação fragmentada.
“Comunicação integrada”, conceito tão citado atualmente, em certa
perspectiva, é redundância. Na década de 1960, o campo do conhecimento
“Comunicação” foi fatiado na formação acadêmica e na legislação em
disciplinas e habilitações profissionais, gerando uma separação que não
poucas vezes descambou para o corporativismo e o enfrentamento. Não
atuávamos com “comunicação”, algo global, indivisível, uno, mas com
disciplinas independentes. O exercício profissional da atividade de
Comunicação, entretanto, pressupõe visão compartilhada e atuação
cooperativa, com a conexão feita a partir da estratégia, passando por
planejamento, diretrizes, políticas e operacionalização. Portanto, em certa
perspectiva, ou é Comunicação ou trata-se de disciplina como Jornalismo,
Relações Públicas, Design e assim por diante. A opção original do mercado
foi seguir a academia e lidar com especialidades.
Assessorias de imprensa (AI) eram como que uma unidade com vida
própria, em geral vinculada ao principal gestor. Nesse ambiente ganhou
importância extraordinária como atividade ligada à gestão do relacionamento
com jornalistas na busca de visibilidade e proteção da organização e
dirigentes, muitas vezes sem função específica de apoiar os objetivos
corporativos. Sua inclusão em estruturas de comunicação, principalmente a
partir da década de 1980, foi uma evolução.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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______. Comunicação empresarial, comunicação institucional. São Paulo: Summus, 1986.
Desenvolver mecanismos para a difusão de informações sempre foi uma
preocupação da gestão das organizações, sejam elas privadas, públicas ou não
governamentais. Neste capítulo, vamos deter-nos nas publicações com
características jornalísticas editadas pelas empresas e por outras
organizações, percorrendo sua história, características, usos atuais e
indicações sobre como produzi-las. Em especial, abordamos os veículos
jornalísticos dirigidos ao público interno, sublinhando seu caráter estratégico
e apresentando suas características mais comuns.
Ele não vive por ele mesmo. Espelho da empresa, ele informa sobre a
atualidade; bússola, ele comunica os projetos, a imagem e a cultura da
organização. Ele federa (Cathelin, Bossut e Mailhos, 1995, p. 13).
Para ser lida pelos empregados, uma publicação empresarial deve, além
de tratar dos assuntos que efetivamente interessam a eles, adotar uma
abordagem adequada. House (1997) aponta que a diferença entre a empresa
que atinge o público interno e a que fala no vazio está em cinco atitudes,
aplicadas tanto à comunicação face a face como aos veículos:
Figura 15.7 Revista Interna da Fiat, produzida pela BHPress. Traz mensalmente
orientações para a família do empregado.
7. Definir a linguagem
A linguagem deve ser sempre acessível e atraente. Por isso, deve ser
adequada ao perfil dos leitores e à cultura da organização. Se forem operários
de pouca escolaridade, textos complexos vão dificultar o entendimento e
diminuir o interesse. Se forem jovens, como em empresas de telemarketing,
uma linguagem mais informal será bem-vinda.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante observar que o veículo empresarial é, ao mesmo tempo,
jornalístico e institucional. Isso quer dizer, de um lado, que ele deve
sustentar-se pelas qualidades do bom jornalismo, como a periodicidade
respeitada, a apuração rigorosa, o texto informativo, a consistência, a
coerência e a autenticidade. Por outro lado, é necessário respeitar a inserção
institucional – os aspectos políticos internos e externos – e até mesmo fazer
uso dela para aperfeiçoar o conteúdo jornalístico da publicação.
Assim, a aprovação do texto pela fonte, impraticável no dia a dia do
jornalismo da grande imprensa em razão da escassez de tempo, e indesejável
por ferir sua independência, pode ser adotada no jornalismo empresarial, em
alguns casos, com bons resultados. Por exemplo, é desnecessário e provoca
atrasos submeter notas do mural eletrônico da Intranet ou do informativo
semanal às fontes. No entanto, a matéria técnica sobre um novo produto ou a
reportagem sobre o novo plano de previdência privada podem ser revisadas
pelo responsável da área, evitando-se erros que podem reduzir a credibilidade
do veículo. Além disso, uma revista produzida por agência terceirizada para a
empresa necessariamente vai passar pelo crivo do assessor ou do responsável
pela comunicação.
Outra diferença entre a grande imprensa e o jornalismo empresarial é a
participação do público na definição das pautas e na avaliação do veículo,
que pode ser ampliada no veículo organizacional. A existência do comitê
editorial permite ouvir o leitor a cada edição, no caso de jornais e revistas, ou
periodicamente, no caso de informativos. As pautas e a abordagem podem,
dessa maneira, ser ajustadas às expectativas concretas dos leitores. É essa
sintonia que vai garantir à publicação jornalística empresarial interesse e
credibilidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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question: guide méthodologique de création ou d’amériolation d’un journal interne. Paris: A
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sustentabilidade e meio ambiente: contradição e convergências. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
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LEMOS, Cláudia R. F. Histórias sobre o trabalho. A narrativa: do romance ao jornal de empresa.
Dissertação (Mestrado) Belo Horizonte: Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas
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<http://www.proudfootconsulting.com/displayfile.asp?id=94443>. Acesso em: 28 maio 2009.
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SANT’ANNA, Francisco. Mídia das fontes: o difusor do Jornalismo Corporativo. Brasília: Casa das
Musas, 2005.
ZARIFIAN, Philippe. Objectif compétence. Paris: Éditions Liaisons, 2001.
__________
1
Tradução das autoras.
2
Para Fombrun e Van Riel (2004) a reputação reflete como as companhias são percebidas por
determinado grupo de stakeholders. Ou seja, para a adequada construção da reputação, é
necessário que o ponto de vista de comunicação se desloque da preocupação apenas com o meio,
ensagem e emissor e foque a percepção do outro, incorporando suas expectativas e demandas.
3
Ver, por exemplo: <http://www.tracto.com.br/livros/content-marketing-o-conteudo-que-gera-
resultados>. Acesso em 23 jan. 2016.
4
Alguns autores consideram que o jornalismo institucional não é jornalismo, por lhe faltar
independência, que seria sua característica essencial: “Quando a fonte é também o chefe, não há
jornalismo, nem mesmo jornalismo público”, defende Bucci. Para ele, o jornalismo é “o método
profissional e independente de processar a informação de interesse público” (2015, p. 139 e
203).
5
Ver, por exemplo, o Manual de Redes Sociais do Ministério Público Federal, instituído por
Portaria do procurador-geral da República em 2014. Disponível em:
<http://www.mpf.mp.br/ba/sala-de-
imprensa/publicacoes/port_pgr_106_redes_sociais.pdf/view>. Acesso em: 23 jan. 2016.
6
Disponível em: <http://www.edelman.com.br/propriedades/trust-
barometer/#sthash.mVFpisT7.dpuf>. Acesso em: 24 jan. 2016.
7
Entrevista com a então diretora da Ideia Comunicação Cristina Bahia, em 21.05.2009. O banco
de dados da Ideia analisou resultados de 30 auditorias de comunicação realizadas em empresas
brasileiras, dos setores industrial e de serviços, de 1986 a 2007, com aproximadamente 4,6 mil
entrevistados nos Estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro e São
Paulo.
8
Esta é uma adaptação do esquema clássico da comunicação empresarial sistematizado por
Cathelin, Bossut e Mailhos (1995).
“Uma novidade para a semana! Ninguém a fornece?
Tanto pior para mim e para vós, leitores.”1
NOTÍCIA PRÊT-À-PORTER
Mesmo utilizado na íntegra, como notícia, provavelmente não será
informada ao público a origem (o release) nem identificada a autoria do texto
(o assessor). O veículo assume o conteúdo do release como material editorial
e garante, com sua credibilidade, aval às informações fornecidas pela
assessoria. A audiência, por sua vez, interpretará a notícia como tendo sido
pautada, apurada e editada pelo veículo, até mesmo porque desconhece o
funcionamento do sistema de informação entre assessorias e redações.
O release é disponibilizado na expectativa de que seu conteúdo, por
significativo, é de interesse, mas não é possível tratar do assunto
pessoalmente com cada jornalista. Ele é encaminhado e deixa-se a critério de
quem recebe a iniciativa do contato pessoal para esclarecimentos e
aprofundamento.
No Brasil, o press release surge, sob outras denominações, ainda na
primeira metade do século XX, como instrumento para divulgar atos,
decretos, ações dos governos. Foi comum o chamado redator que, pela
manhã, trabalhava em um órgão governamental e, à tarde, dirigia-se a um
jornal ou rádio, onde atuava como jornalista e, na chegada, deixava material
de lá trazido para um redator – ou ele próprio editar. Durante o Regime
Militar de 1964, como parte do sistema de controle das informações, o
release teve uso disseminado em órgãos públicos, o que criou má fama e
preconceitos. Boa parte da imprensa, entretanto, baseou-se muito nesse tipo
de material fazendo o chamado jornalismo “chapa branca”. Até aquele
período, o trabalho do assessor de imprensa em geral se limitava a dar
informações ao jornalista e produzir releases.
A partir da década de 1980, com a redemocratização, a volta da
liberdade de imprensa, o estabelecimento de novos padrões de
competitividade, a necessidade de as organizações prestarem satisfação à
sociedade, o release transformou-se em vigoroso artefato de
instrumentalização da imprensa como elo com a sociedade. Vulgarizou-se no
uso e nos objetivos de disseminar informação e tornou-se veículo de
promoção para fins mercadológicos e de visibilidade e imagem pública.
Mário Erbolato (1982, p. 84) afirmava que se tornara uma “verdadeira praga”
de “dimensões incalculáveis”.
Na realidade, ainda existem os que acreditam que a produção e emissão
de releases é a principal solução para qualquer problema de comunicação4.
Também há organizações e fontes que avaliam a qualidade de suas
assessorias pela quantidade de releases emitidos e de adjetivos nele incluídos.
Estudo, conduzido em Goiânia (Donato; Luccianni, 2015), mostrou que de 42
releases recebidos em certo dia por uma repórter de Geral do jornal O
Popular apenas três tinham capacidade de gerar pautas. Uma das conclusões
é a de que “as assessorias de imprensa investem na quantidade de material
enviado, em detrimento da qualidade”.
No serviço público, infelizmente, ainda são comuns sites em que não
falta promoção de dirigentes e pouca informação de utilidade para o cidadão.
Fala-se muito sobre reuniões, eventos, debates, cita-se quem participou, mas
não se informam as questões tratadas, as discussões e os resultados efetivos.
Não poucos textos têm a platitude como principal característica e são
enviados apenas para cumprir quotas, satisfazer ao ego do contratante ou
garantir qualquer citação na mídia, cristalizando uma velha tática de “atirar
para todo lado e ver se acerta algo”. Além disso, não é incomum encontrar
assessores frustrados pela ingerência numa atividade especializada.
Dirigentes e fontes incluem irrelevâncias, retiram informações importantes e
até mesmo alteram a forma, transformando o conteúdo num arremedo de
notícia. A capacidade de argumentação e de se impor tecnicamente pode ser
um dos desafios mais relevantes para o profissional, que, muitas vezes, não
adquire em alguns ambientes de trabalho, por motivos variados, o que
poderíamos chamar de “respeitabilidade técnica”.
Com a multiplicação de fontes dispostas a estarem presentes nas mídias,
a proliferação das assessorias para dar suporte a esse interesse, o surgimento
de sistemas capazes de enviar um texto para milhares de destinatários, não
surpreende que releases entupam a caixa de mensagens de jornalistas, que se
veem obrigados a adotar estratégias para evitar perda de tempo.
Para muitos, a proliferação e a aceitação de releases são, em parte,
responsáveis pela redução das equipes nas redações, já que a notícia chega
pronta, gratuita, reduzindo a estrutura necessária para identificar pautas e
produzir conteúdo informativo. Também facilita e, às vezes, induz a
comodismo, como se vê na frequente publicação de textos na íntegra. Um
release pode ser verdadeiro, mas, com base em viés na origem, conta parte de
uma história, apenas certo ângulo, ponto de vista. Jornalistas sabem disso e
estabelecem barreiras maiores ou menores de aceitação, mas continuam
utilizando as informações que consideram relevantes.
Ao mesmo tempo que o filtro das redações é capaz de separar o joio do
trigo, se houver interesse e competência, as assessorias cada vez mais se
profissionalizaram e aumentaram sua capacidade de interferência no trabalho
das redações, adaptando a notícia aos interesses dos meios. Não apenas
identificam e divulgam, como também produzem acontecimentos, fatos e
informações com base nas possibilidades de tornarem-se notícia, com
conteúdo e formato pronto para ser aceito pelos meios de comunicação de
massa. O termo pseudoevento foi criado na década de 1960, nos Estados
Unidos, para caracterizar os acontecimentos gerados apenas para transformar-
se em notícia. No Brasil, na política e depois no mercado de celebridades
popularizou-se o factoide, que significa a divulgação sensacionalista de um
acontecimento irrelevante ou forjado. Para quem gera, a notícia é o próprio
acontecimento.
Yves Mamou (1992, p. 9) afirma que “como todos os produtos
comerciais, a informação é fabricada” e as estruturas de divulgação
transformam a imprensa “em simples distribuidor de informação fabricada
em outros lugares”. Os assessores, por exemplo, formatam acontecimentos,
recomendando local, horário, forma de condução, roteiro, por exemplo, para
que obtenham o destaque desejado na imprensa e estabelecem previamente
junto com os dirigentes a mensagem a ser transmitida (ver mais no capítulo
sobre Media Training, nesta obra). Nilson Lage (2001, p. 95), baseado em
estatísticas americanas, informava que 60% de tudo o que é publicado em
veículos de comunicação tinha origem em fontes institucionais. Estudo da PR
Newswire de 2015 (PR Newswire, 2016) com 40 mil jornalistas da América
Latina mostrou que 85% dos jornalistas brasileiros e 78% dos jornalistas de
outros países da América Latina utilizavam o release recebido por e-mail
como ferramenta para elaboração de pautas.
Essa presença está relacionada aos eficientes sistemas de divulgação, um
suporte onipresente e discreto, uma rede de influência que conquistou uma
capacidade natural e, muitas vezes, imperceptível de intervir na pauta dos
veículos e na agenda da sociedade. Um exemplo é o resultado do
acompanhamento feito por Ribeiro (2000) nos dois principais jornais de
Fortaleza (CE). Analisando o encaminhamento dado aos releases que
chegaram durante cinco dias nos dois principais jornais da cidade, identificou
que cerca de 50% tiveram algum tipo de aproveitamento nas dez edições
seguintes.
Como isso acontece? O bom assessor de imprensa apresenta a
informação de maneira embalada, prêt-à-porter, pronta para uso ou, pelo
menos, para facilitar o trabalho na redação. Ele sabe que jornalista
normalmente atua sob pressão de prazos, da concorrência e dos superiores e
conhece os complicados critérios jornalísticos de avaliação e seleção do que
será veiculado, os chamados valores-notícia. Philip Schlesinger (1993, p.
182) afirma que “boa parte do suor dos sociólogos tem sido empregada na
tentativa de codificar esses critérios, que os jornalistas consideram
indecifráveis”. As fontes de informação do jornalista são diversificadas,
fluidas. As opções de seleção, apuração e edição dos assuntos misturam viés
ideológico, experiência, política editorial, criatividade, percepção e gosto
pessoal, facilidade e desafio profissional. Ao conhecer e entender os sistemas
de produção da notícia nos diferentes meios de comunicação e veículos, o
assessor, sobretudo se passou por redações, tem mais chances de interferir no
processo, oferecendo pautas e informações adaptadas a cada um.
Título
• Título, subtítulo e lead benfeitos, articulados, objetivos, com
informação jornalisticamente relevante, são fundamentais para atrair o
interesse. Uma enorme quantidade de releases (às vezes, centenas) que
aportam na redação diariamente fazem com que muitos editores leiam
apenas a linha do assunto e a origem do e-mail para decidir se seguem
em frente.
• Utilize corpo maior que o do texto, negrito ou ambos.
• O ideal é que seja curto (seis palavras é uma meta, raramente viável) e
com verbo de ação. Deve resumir e chamar a atenção para o aspecto
mais importante do conteúdo. Use palavras significativas e populares
para ser mais facilmente identificado por sistemas de busca.
• Além de sintético, deve ter características jornalísticas. Mais
importante que a criatividade é que seja objetivo e claro.
• Se não for essencial, resista à tentação de colocar o nome da empresa,
do dirigente ou produto no título. Eles podem surgir até a partir do
segundo parágrafo do texto, se o formato jornalístico exigir. O
fundamental é que o leitor chegue até lá.
• Adote subtítulo, sempre que possível. Faça com uma ou duas frases
curtas, ocupando no máximo duas linhas. Ele deve complementar sem
competir com o título e o lead.
Lead
• O lead é a síntese do conteúdo pelo aspecto mais importante.
Geralmente responde às perguntas o que e quem. Quando, onde, como e
o por que podem estar no lead ou ficar para logo depois. A exigência do
lead está relacionada, em particular, à necessidade de ajudar o jornalista
a entender rapidamente do que trata o texto. Existem jornalistas (cada
vez menos) que leem os textos até o fim. Eles têm consciência de que,
muitas vezes, o lead ou uma boa notícia estão esparramados no texto,
escondidos no meio ou “no pé” (por dificuldade do assessor em
organizar o conteúdo). O melhor é não arriscar. Cinco linhas são
suficientes para fazer um bom lead. Lembrete: o lead deve ter a
perspectiva do leitor, não da fonte.
• Deve apresentar um “gancho”, algo que “segure” o interesse pelo
assunto, para estimular a continuidade da leitura. Palavras como novo ou
inédito ou um aspecto que diga como a vida das pessoas vai ser afetada
(se for o caso, claro) ajudam a despertar o interesse e fazem pairar sobre
o jornalista o risco de estar perdendo um bom assunto para seu público.
Texto
• Facilite ao máximo a compreensão sem que se perca a elegância.
Redação em fonte usual (como Times New Roman, Calibri, Arial),
corpo 12, espaçamento de 1,0 forma um bom conjunto, mas há várias
opções boas. Na versão impressa, o ideal é que tenha apenas uma
página. Vale a pena investir em parágrafos curtos, de até duas frases
cada, por exemplo.
• Objetividade é a grande virtude. Não faça introdução nem forneça
detalhes e minúcias antes da hora. Você pode contextualizar,
aprofundar, detalhar, mas deixe para o momento certo.
• É fundamental o uso da técnica de redação jornalística. A consulta aos
manuais como da Folha de S.Paulo e de O Estado de S.Paulo deve
tornar-se hábito. Se puder, produza um para você ou sua organização.
Algumas regras básicas: não colocar frases em maiúsculas nem usar
pontos de exclamação; evitar redundância, frases longas, clichês,
jargões, repetição de ideias ou palavras, voz passiva, linguagem técnica,
ordem indireta e orações intercaladas. Use parágrafos curtos e corte
todas as vírgulas que puder. Cuidado com os advérbios e adjetivos.
Julgue-os e faça o possível para desaparecer com eles.
• As opiniões devem ser caracterizadas por meio de aspas e com a
indicação de autoria. Não atribua a alguém informações irrelevantes ou
burocráticas.
• Embora alguns veículos divulguem na íntegra, principalmente portais,
cuidado com textos longos repletos de irrelevâncias. Afinal, mais
importante do que ver a veiculação do enorme texto da assessoria é que
o conteúdo seja lido com interesse e compreendido pela audiência. Se
for o caso, divida o tema em blocos. Uma boa solução é fazer uma
primeira parte objetiva, resumindo o assunto para depois aprofundar.
Canavilhas (2016), em artigo imprescindível, sugere um novo
paradigma na organização de informação jornalística, baseada no
aprofundamento do conteúdo e no uso de recursos de hipertexto e de
outras alternativas fornecidas pelas características da Internet. Chamado
de “pirâmide deitada”, oferece opções para quem produz conteúdo e
permite uma leitura básica ou profunda, de acordo com o interesse do
leitor.
• Recomendável deixar evidente quando os fatos ocorrem. Exemplo:
“terça-feira (29), 18 horas” e não “terça, 6 horas”.
• Especifique todas as fontes de informação, com nome e sobrenome,
função ou cargo. Evite citar pessoas que não possam ser consultadas. Da
mesma forma, tenha todos os dados adicionais disponíveis para oferecer
rapidamente ao jornalista, caso ele se interesse pelo assunto. Sugira
personagens para o jornalista contatar e usar como exemplos.
• Não é incomum que dados contraditórios ou simplesmente errados
circulem em uma organização. Por isso, mantenha o “desconfiômetro”
ligado. Erros comprometerão sua credibilidade e a da instituição. Além
disso, se for obrigado a fazer uma retificação, o veículo responsabilizará
a assessoria.
• Não disponibilize um texto sem fazer uma revisão impecável, não
apenas gramatical, mas dos dados (data, hora, local, telefone de contato,
índices, valores). Verifique redundâncias, corte tudo que puder e volte
para rever. Depois de redigido, você pode ler o conteúdo em voz alta
para verificar a fluência.
• O texto deve ser notícia do ponto de vista do público e da publicação à
qual se destina. É para informar objetivamente, subsidiar ou orientar,
não para bajular o assessorado, organização ou dirigentes. A
irrelevância, às vezes, transforma-o em motivo de piada ou irritação.
Critérios e abordagem promocionais tendem a significar o
aproveitamento das informações apenas em espaços e veículos de pouca
importância, e perde-se excelente oportunidade de propor um enfoque
diferenciado que o transforme em notícia e alcance o público
interessado.
• O jornalista que recebe um release precisa avaliar que a pauta interessa
ao seu público especificamente. Por isso, a estratégia de adaptar e
segmentar as informações por perfil do veículo, mídia, editoria, área
geográfica, por exemplo, é sempre bem-vinda.
• Com a Internet, o release passou a ter visibilidade ampla e prazo de
validade indeterminado. Ao ser veiculado em um site noticioso ou
disponibilizado na sala de imprensa, poderá ser facilmente localizado
por sistemas de busca ou em algum tipo de pesquisa até muito tempo
depois de disponibilizado. O citado modelo proposto por Canavilhas
(2016) é eficaz para dar perenidade às informações produzidas pelo
jornalista.
Envio
• A difusão em larga escala de releases é um dos maiores erros das
assessorias de imprensa e pode levá-las da desconfiança à
desmoralização. Quanto mais apropriado ao destinatário, maiores as
chances de aproveitamento e valorização do conteúdo. Assim, pergunte-
se: qual o objetivo ao tratar certo assunto? A que veículos ou jornalistas
a informação interessa? O conteúdo deve ser apenas disponibilizado na
Sala de Imprensa ou vale a pena ser enviado para as redações? A pauta
merece o esforço de entrar em contato com o jornalista para chamar a
atenção para o assunto?
• É importante identificar a pessoa que costuma decidir a pauta, o
gatekeeper (e, se possível, estabelecer uma relação pessoal). Em geral, é
o editor ou subeditor. Muitos repórteres propõem assuntos, o que torna
interessante municiá-los. Alguns veículos têm centrais de recebimento.
Em TVs, os produtores costumam ser o melhor caminho. É importante
saber para quem estamos encaminhando o release. O mesmo tipo de
destinatário não serve para todos os veículos.
• Descubra os veículos que atuam com o tema e mantenha o mailing
atualizado; há muita rotatividade nas redações. Vale a pena conferir se o
nome e cargo estão corretos. Alguns jornalistas ficam particularmente
irritados com erros desse tipo. Lembre-se de identificar veículos on-line,
blogueiros, youtubers. Hoje são muito comuns, mas, às vezes, têm
atuação por demais segmentada e podem não ser fáceis de contatar.
• Disponibilize os releases na Sala de Imprensa. Você pode criar um
sistema para alertar sobre novos textos.
• Considere que boa parte dos veículos veicula imediatamente na
Internet se o assunto merece – ou seja, o fechamento é permanente. No
caso dos jornais diários, o prazo para aproveitamento de um release
costuma ser 16 horas, mas rádios, por exemplo, concentram os
principais noticiosos pela manhã. Revistas, em alguns casos, fecham
com muita antecedência. Suplementos semanais, com alguns dias. As
editorias têm deadlines diferentes, algumas concluem as edições de
sábado e parte das de domingo e segunda-feira na sexta-feira, dia em
que os colunistas têm mais espaços para veicular conteúdo. Uma opção
é criar um guia pessoal de controle.
• Muitos assessores telefonam para confirmar o recebimento do release
ou encaminhar um assunto na redação. Chamado follow-up, este
acompanhamento é condenado pela maior parte dos jornalistas, embora
muitas vezes necessário e viável fazer com discrição. O follow-up deve
ser feito apenas se a pauta merece.
• A circunstância de envio pode ser decisiva na decisão de uso do
release. O timing permite aproveitar um tema emergente ou conectar
pauta com calendário, por exemplo. Um assunto que esteja na agenda
dos veículos pode ser explorado se for possível estabelecer algum tipo
de relação com a organização. Sextas-feiras e proximidade de feriados
significam maior oportunidade para aproveitamento.
• Boas fotos aumentam a chance de utilização das informações ou
aumentam o potencial de destaque. Garanta boa resolução e
características jornalísticas. Mantenha um arquivo para uso imediato e
facilidade de acesso pela Internet.
• As fotografias devem ser acompanhadas de informação precisa do
conteúdo, autor e data. Opção interessante é um texto-legenda. Para os
veículos de maior importância em sua estratégia, procure disponibilizar
fotos exclusivas e informe essa característica.
• Saiba o máximo possível sobre cada assunto para facilitar o
atendimento, caso um jornalista busque informações adicionais. E
prepare as fontes para atendê-lo. Uma das queixas frequentes dos
jornalistas é que assessores não sabem detalhes dos temas pautados.
• Os jornalistas, em geral, aceitam todo tipo de material: boletins,
publicações, relatórios, desde que tenham informação ou rendam ideias.
• Bilhetes ou mensagens por redes sociais podem funcionar, mas não
vulgarize, não seja invasivo nem demonstre intimidade que não possui.
• A facilidade de envio de material por e-mail não deve significar seu
uso abusivo.
• Ao programar o envio, lembre-se de considerar colunistas, imprensa de
outros Estados, veículos especializados, on-line, comunitários ou de
bairro. Agências de notícias são uma ótima maneira de ter seu material
distribuído para todo o Brasil. Rádios, infelizmente, costumam ter pouca
importância nas estratégias de divulgação. Trata-se de um poderoso
meio de comunicação, com grande alcance popular e variadas
oportunidades de aproveitamento. Por isso, merece estratégia específica.
• Após o encaminhamento de cada release, faça um balanço da forma
como foi veiculado, em que editorias, quanto tempo levou etc. Essa é
uma maneira de avaliar permanentemente os resultados obtidos e
identificar problemas e oportunidades. Uma planilha de controle pode
ajudar bastante.
TIPOLOGIA
Artigo: assinado por um dirigente, técnico, liderança, pode ser redigido
ou editado pelo assessor de imprensa, com base em texto prévio ou a partir de
entrevista com a fonte. Os artigos para a imprensa podem tratar de questões
políticas, apresentar posição ou análise sobre determinado tema. Quanto mais
adaptado, mais chance de ser publicado. Grandes veículos somente aceitam
artigos exclusivos e inéditos. Para publicações de menor porte, pode-se
enviar o mesmo texto e obter grande número de veiculações. Um padrão,
nesse caso, poderia ser em torno de 650 palavras. É importante entrar em
contato antes para propor o assunto, combinar o número de caracteres e
enfoque. Veículos segmentados oferecem boas oportunidades para tratar de
temas não cobertos pela imprensa dominante. Apesar de assinados, os artigos
deverão ter a mesma facilidade de compreensão do que qualquer outra notícia
do jornal.
Áudio-release ou podcast: arquivo em áudio digital muito útil para
rádios, mas que também pode complementar o conteúdo informativo
disponível na Internet. O potencial e uso é cada vez maior, pela simplicidade
de operacionalização. Geralmente contém relato, entrevista ou depoimento.
Aviso de pauta: alerta sobre assunto que merece cobertura ou
chamando a atenção para algo que ainda será divulgado para a imprensa em
geral. Habitualmente, é uma antecipação destinada a setoristas, veículos
especializados ou que fecham com muita antecedência, mesmo que todas as
informações não estejam disponíveis. Tornou-se comum utilizar softwares de
troca de mensagens instantâneas como o WhatsApp.
Boletim de pauta: conjunto de pautas enviadas a jornalistas.
Geralmente, apresenta um texto curto sobre cada pauta, com a identificação
de fontes. Pode ser apresentado em links, tópicos, parágrafos ou mesmo no
formato de newsletter.
Cobertura: relata fatos referentes a evento ocorrido. Pode ser pré-
produzido antes do acontecimento. Muitas vezes, solicitado pelos jornalistas
que, por algum motivo, não tiveram condições de participar.
Digital: o mais comum, com variados formatos. A facilidade de envio
faz que jornalistas relatem o recebimento de centenas de releases
diariamente. E as redações estão com menos jornalistas, mais apressados e
sobrecarregados. Assim, o transtorno causado pelo excesso ou irrelevância
pode gerar irritação e fazer que muitos simplesmente ignorem as mensagens,
deletando-as em bloco. E-mails coloridos demais, difíceis de visualizar,
anexos pesados, vírus, conteúdo confuso, repetições no envio: são vários os
problemas que atormentam quem recebe. Para tentar resolver o problema,
veículos passaram a dispor de endereços eletrônicos específicos para pautas.
As sugestões são simples: seja objetivo, claro, polido, informando o tema,
gancho ou título no “Assunto”. O uso do lead é fundamental. Evite anexos.
Um bom procedimento é encaminhar o release apenas com o lead e link para
acesso a informações e complementos (rede social, site, arquivos de vídeo,
áudio ou download de material). O contato direto via redes sociais ou por
meio de aplicativos para troca de mensagens instantâneas de texto, vídeos,
fotos e áudios (WhatsApp, por exemplo) é ótima alternativa, caso não seja
considerado inconveniente pelo jornalista. Tente personalizar o envio por e-
mail, mas se não for possível, pelo menos utilize o recurso da chamada
“Cópia Oculta (Cco)” para evitar que a listagem completa dos destinatários
chegue a cada um deles. A não ser em situações especiais, não telefone ou
peça para confirmar o recebimento do e-mail. Mantenha seus textos em uma
Sala de Imprensa e crie mecanismos para ajudar o interessado a localizar
informações. Por respeito ao jornalista, apresente uma alternativa simples
para descadastrar-se e não receber mais e-mails. Mantenha um antivírus
atualizado.
Embargado: encaminhado ao jornalista com o compromisso de que as
informações não sejam divulgadas antes de determinada data ou horário. Em
troca, o profissional tem condições de aprofundar, podendo oferecer melhor
produção para o público.
Especial: a característica principal é possuir informações e formatos
diferenciados, com diversos depoimentos e fontes, contextualizando e
aprofundando o tema. Pode ser estruturalmente dividido num conjunto de
textos sobre determinado assunto, preparado para ser aproveitado em uma
mesma página, caderno ou em diferentes programas. Pressupõe que o veículo
terá espaço e interesse para utilizá-lo na íntegra ou editá-lo. Pode ter muita
utilidade para sites especializados, ou cadernos como de Turismo e Veículos,
em que há maior dificuldade para produção de material de qualidade.
Também útil para propor ou subsidiar entrevistas ou matérias especiais.
Exclusivo: destinado para apenas um jornalista ou veículo, o que, pela
personalização, aumenta as chances de uso e destaque. Costuma ser
combinado previamente e implica compromisso, pelo assessor de imprensa,
de não divulgar o assunto até o jornalista utilizar a informação. Esse tipo de
negociação deve ter acompanhamento, pois às vezes um jornalista aceita a
proposta, mas acaba não produzindo a notícia. O material para colunistas
deve ser exclusivo, ou, pelo menos, ter enfoque ou informações diferenciadas
com relação ao encaminhado aos demais veículos. Considere que colunas não
apenas têm um dos maiores índices de leitura dos jornais, mas também
pautam os demais jornalistas.
Nota: texto curto, algo entre quatro e seis linhas. Geralmente destinado a
seções de notas, colunistas, para esclarecimento ou como um tipo de pauta.
Opinião: texto em que predomina a apresentação de ideias e opiniões de
uma fonte, geralmente personagem pública, liderança ou especialista. Pode
ter intenção política, de provocar ou contribuir para um debate público,
depoimento ou testemunho. Presta-se a análises, contextualização,
aprofundamento, apresentação de uma abordagem diferenciada.
Padrão: é o release típico, rotineiro: sintético, objetivo, que trata de
apenas um tema e busca informar a essência do assunto a um grupo variado
de jornalistas e redações. Pode ser distribuído impresso ou em formato
digital.
Press kit: conjunto de material informativo para subsídio ao jornalista.
Muito utilizado em lançamentos de produtos e serviços, visitas ou eventos.
Pode apresentar um ou mais releases, fotos, gráficos e informações em
formatos variados, oferecendo detalhes que permitam diferentes opções de
abordagem. Pode estar em um envelope, pasta, pen drive ou mesmo
disponibilizado na Internet.
Segmentado: release com conteúdo adaptado para determinado grupo
de jornalistas, levando-se em consideração suas características específicas de
interesse. Pode ser produzido para editorias de ciência, negócios, moda,
agropecuária ou cidades, para diferentes colunistas ou reescrito para o
interesse de áreas geográficas. Uma pauta nacional pode transformar-se em
releases ajustados para cada Estado, segmentando o conteúdo e o envio, por
exemplo. Todo release deveria ser segmentado.
Video release: geralmente contém entrevista, depoimento, trechos de
espetáculos para serem veiculados em emissoras de televisão, cenas de algum
ambiente ou acontecimento. Além de informação ao jornalista, pode ser
aproveitado para veiculação nas redes sociais e em outras estratégias de
alcançar o grande público.
• Objetivo claro
• Destinatário preciso
Para o Público
• Atraente, inusitado, diferente, interessante
• Compreensível, claro
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__________
1
Com esta frase, Machado de Assis queixa-se da falta de notícias para comentar em Semana
Ilustrada, edição de 19 de junho de 1864. Colunista fixo, escrevia na seção “Badaladas”, sob o
pseudônimo Dr. Semana (Assis, Machado de. O velho senado. Brasília: Senado Federal, 1989.
Coleção Milton Campos. v. 1).
2
Profissionais de marketing e publicidade chamam a veiculação noticiosa oriunda da assessoria
de imprensa de mídia espontânea, voluntária ou gratuita, numa abordagem que tende mais para
negócio ou imagem do que para informação pública.
3
A variedade de formatos e situações em que determinado texto destinado à imprensa pode ser
utilizado pode tornar discutível o uso da expressão release. Convenciona-se, neste capítulo, que
o release mantém sua essência a partir do formato clássico voltado a jornalistas, mesmo que o
destinatário seja o público final ou outro tipo de mediador. Assim como entendemos como mais
adequada a expressão profissional de Comunicação em vez de assessor de imprensa, preferimos
a expressão “conteúdo” para o material destinado a informação pública, independentemente do
destinatário e formato. É importante considerar que qualquer que seja a denominação, o release
busca informar a um eventual interessado e não divulgar algo. A diferença é significativa.
4
Em comunicação, pelo domínio de certa habilidade ou ferramenta, tende-se a utilizá-la como
solução padrão. Algo na linha do “dá-me um problema de comunicação e faço um texto” ou,
como na afirmação de Abraham Maslow: “Quem é bom com um martelo acha que tudo é
prego”.
5
Motivos editoriais não explícitos podem afetar a seleção nas redações. O fato de o texto ter sido
enviado por uma fonte que não conta com as boas graças da redação muitas vezes inviabiliza seu
aproveitamento como pauta. Já os “amigos da Casa” costumam merecer boa vontade. Esses
fatores, por estarem relacionados a aspectos políticos, comerciais, institucionais e pessoais –
subjetivos e específicos de cada situação –, fogem dos critérios abordados neste capítulo.
6
Gatekeeper é um termo que pode ser traduzido por “selecionador”, e, numa redação, é qualquer
jornalista que tem o poder de decisão sobre o que será veiculado.
7
Recomendamos o documentário O Abraço Corporativo, lançado em 2010 pelo jornalista
Ricardo Kauffman. Mostra como pode ser fácil pautar um assunto falso mesmo em grandes
veículos. É constrangedor, preocupante, divertido e instrutivo.
Em tempos de redes sociais, não são poucas as mudanças de
relacionamento entre jornalistas de assessorias e da mídia, em seus múltiplos
formatos e plataformas, assim como entre as fontes e consumidores, que não
mais dependem apenas da intermediação dos jornalistas para se
comunicarem. Se no passado recente conhecer os dois lados do balcão, como
se costumava dizer, era essencial para entender a lógica do processo de
produção e circulação da informação, hoje, na Era Digital, com o acesso de
todos à Internet, os balcões se multiplicam.
Somos todos jornalistas? Com um celular em mãos e uma informação ou
ideia, crítica, versão a ser veiculada, um novo ator social entra em cena. Com
a infinidade de novos canais de comunicação, construídos ou não por
jornalistas, temos agora, como interlocutor possível, o também denominado
jornalismo cívico, cidadão.
Todos aqueles que têm acesso à Internet podem criar seus próprios
canais, independentemente da formação. Se por um lado a democratização do
acesso aos meios de comunicação contribui para ampliar a diversidade de
abordagens, dando voz a pessoas que até então dependiam exclusivamente
das fontes oficiais, por outro traz alguns riscos importantes para a
credibilidade da informação, que precisa ser sempre checada antes de ser
veiculada nas redes.
Esses novos atores sociais estão aí e se muitas vezes contribuem para o
debate, para colocar em cena novas ideias, versões, por outras ampliam os
conflitos. Como diferenciar a atuação desses atores e dos jornalistas
profissionais?
Como atuar nesse imenso ciberespaço para valorizar a marca, o produto,
as ideias dos clientes e estabelecer uma comunicação produtiva, que gere
negócios com seus stakeholders? De que forma um bom relacionamento
entre jornalistas e assessores de imprensa pode contribuir para a eficácia da
comunicação, principalmente em tempos de crise? Sem dúvida alguma, as
mídias sociais facilitaram e ampliaram o diálogo entre fontes e consumidores,
porém, as relações ficaram mais complexas, em face das inúmeras mensagens
que circulam, muitas vezes dificultando o relacionamento, em lugar de
facilitar o processo de comunicação.
Além disso, é importante lembrar que empresas e consumidores têm
seus próprios canais de comunicação, que muitas vezes independem da
atuação dos jornalistas, mesmo sendo estimulados e/ou orientados por eles.
Os canais de comunicação são cada vez mais abertos e diretos, sem
intermediários. Essas possibilidades criadas pela Internet, de uma maneira
geral, são altamente desejáveis. Significa a tão almejada democratização da
informação. Acesso direto de todos a todos e em plataformas móveis.
Entretanto, podem, também, gerar riscos dependendo dos conteúdos, do
momento e da forma como são veiculados. O fato é que os dirigentes
precisam aprender a se comunicar, personalizando essa relação em prol de
uma comunicação mais eficaz com seus diferentes públicos, sem abrir mão da
experiência dos jornalistas que dominam o processo de comunicação e
recepção da informação. E para isto, a atuação em conjunto com os
assessores continua sendo estratégica e eficaz.
CREDIBILIDADE
De qualquer forma, como afirma Sullivan (2012), no prefácio de seu
livro Uma Assessoria de Imprensa Responsável na Era Digital,
Não importa o tamanho da organização ou as ferramentas usadas na
comunicação, (…) o princípio fundamental das comunicações eficazes
não mudou. É simples: diga sempre a verdade. Independentemente do
meio de comunicação – seja um blog, um vídeo no YouTube, uma
entrevista no rádio ou um artigo impresso – o que importa é a verdade.
CULTURAS INSTITUCIONAIS
O ponto de partida é invariavelmente o mesmo: conhecer a instituição na
qual se trabalha, o veículo ao qual se destina a informação e o jornalista que
busca a notícia. Nem sempre a informação de interesse institucional pode
transformar-se em notícia. Nesse sentido, o feeling do assessor deve ser igual
ou aproximar-se o máximo possível do feeling do jornalista da mídia.
Infelizmente, é aí que reside o grande pecado de assessores. Muitas vezes,
eles esquecem que também são jornalistas e assumem um papel equivocado
de esconder informações e, em outros momentos, ainda cobram do jornalista
a divulgação de assuntos de interesse meramente institucional. É nesse caso
que o relacionamento começa a ficar tenso, a complicar-se, provocando
dificuldades crescentes para os dois lados.
Com as redes sociais, esse problema vem se reduzindo, uma vez que as
instituições não dependem mais exclusivamente das mídias tradicionais para
circularem informações de seu interesse e de seus clientes. Os portais de
comunicação das instituições são, hoje, a porta de entrada das empresas e, em
muitos casos, fontes de notícias. Esta realidade provoca outra grande
mudança no relacionamento de jornalistas e assessores de imprensa. A
pressão cotidiana, seja pela busca de informações novas, seja por sua
publicação na mídia, é atenuada pelos novos espaços de comunicação como
blogs, Facebook, Twitter, YouTube, entre tantos outros.
As culturas institucionais variam e, com elas, o trabalho dos assessores.
Empresas públicas ou privadas? Cada uma tem sua lógica de produção e
circulação de informação. Algumas trabalham com produtos comercializáveis
e lutam pela fidelidade do consumidor; outras, com informações de interesse
eminentemente público, como ideias e serviços a serem veiculados para a
opinião pública. Todas, porém, querem, devem ou precisam divulgar suas
ações, prestar contas à sociedade. Desejam conquistar uma imagem positiva e
manter sua reputação perante a opinião pública. Para isso, o canal natural é a
mídia, em suas diferentes plataformas e formatos.
Com a Lei de Acesso à Informação de novembro de 2011, o setor
público em geral tem sido cada vez mais cobrado para disponibilizar
informações de interesse público em seus portais e canais de comunicação.
As instituições perceberam a importância de disponibilizar informações em
tempo real, como é o caso recente da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), que lançou seu Portal da Transparência para informar à
comunidade sobre o uso dos recursos públicos e ações associadas. A
percepção de que a informação é um bem público começa a se incorporar nas
culturas corporativas, uma vez que a sonegação de informações pode ser fatal
para a credibilidade institucional. No caso do setor privado, embora com suas
nuances e interesses específicos, legítimos, a situação não é muito diferente.
A transparência, portanto, é essencial no relacionamento com os
stakeholders, apesar de culturas distintas.
Da mesma forma que as culturas são variáveis, os discursos de cada
instituição e, consequentemente, de seus atores, também o são. Para cada
cultura institucional e da mídia, em toda a sua diversidade, plataforma,
suporte e segmentação, existem múltiplas culturas e discursos jornalísticos,
estejam eles na mídia ou em assessorias. Para complicar o fluxo natural da
informação, há a cultura do receptor que não deve, em hipótese alguma, ser
desconsiderada. Trata-se do público-alvo. A cada notícia veiculada, há um
potencial “comprador”, um potencial interlocutor. O poder de persuasão da
informação é o que todos buscam. Para algumas instituições, traz
credibilidade, reforço da marca, da imagem; para outras, lucro. No meio de
campo, o jornalista, seja ele assessor ou profissional da mídia.
O MUNDO DO JORNALISTA
O cotidiano do jornalista que atua na mídia é cercado por ambiguidades
e ideologias. Entre o mito, o idealismo do Jornalismo e a realidade
empresarial dos veículos, a busca do exercício profissional coerente – com
responsabilidade social para a formação da opinião pública – deve ser
buscada com equilíbrio e competência. Ao coletar e registrar os fatos do dia a
dia com as interpretações naturais no processo de produção da notícia, o
jornalista atua como um historiador do cotidiano, influenciando as reflexões e
provocando ações e transformações sociais.
Mesmo vivendo em um jornalismo pós-industrial, em que a pressa na
veiculação da informação instantânea, on-line, determina em grande parte o
processo de produção, o jornalista não pode perder o faro da notícia, da
observação e da investigação dos fatos. A complexidade das relações
políticas, econômicas e sociais que norteiam as ações institucionais exige um
profissional com visão de mundo e capacidade crítica e analítica para
estabelecer as necessárias conexões entre os fatos de acordo com os
interesses específicos de cada grupo.
O MUNDO DO ASSESSOR
Nas assessorias de imprensa, públicas ou privadas, a preocupação que
move os profissionais é, em última instância, a conquista de uma imagem
positiva da instituição perante a opinião pública. O desafio dos profissionais
de comunicação das assessorias é, portanto, não só construir como consolidar
essa imagem. A competitividade crescente no mundo dos negócios levou à
qualificação e à especialização dos profissionais que atuam na área. A
informação passa a ser investimento, business, um capital de alto valor na
sociedade moderna.
Consciente de seu papel nas políticas institucionais de comunicação, o
jornalista-assessor atua como gestor e gerente de todo um processo para
garantir a visibilidade e a imagem da instituição, o que deve ser sempre
pautado pela ética pessoal e profissional. O que se espera desse profissional é
o autoconhecimento e a percepção clara do papel da instituição e de sua
inserção na sociedade. Só assim poderá promover adequadamente sua
divulgação e administrar eventuais conflitos dentro das expectativas
institucionais. Para isso, deve gerenciar a cultura empresarial com
transparência na comunicação interna e externa para que a empresa possa
adquirir uma postura de empresa cidadã no relacionamento com a
comunidade.
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VÉU E GRINALDA
Casamentos podem ser muito felizes ou acabar em divórcio. Tudo
depende principalmente dos cônjuges. Se há amor, aumentam as chances de
eles viverem juntos até que a morte os separe. Se não houver, será preciso
que as conveniências e interesses nunca percam importância sob o risco de a
união terminar em uma vara de família.
No mundo do trabalho, há também uniões com chances de êxito e de
fracasso. Embora o sentimento em jogo não seja o amor, é igualmente alta a
aposta na felicidade. Afinal, é no trabalho que se passa a maior parte do dia.
É ao lado de colegas e sob a batuta de um chefe que o funcionário tem de
passar 11 meses do ano. Quanto melhores forem as relações nesse ambiente,
melhor será a qualidade de vida do empregado, seja onde for.
Expressiva parte do êxito profissional e, portanto, da satisfação
profissional, depende da relação entre patrão e empregado. No caso
específico de assessores, entre assessorado e assessor. Como em todos os
campos, trata-se de uma relação normalmente marcada por altos e baixos,
alegrias e contrariedades, “tapas e beijos”. Eis um casamento típico, que pode
resultar em anos de folha de bons serviços prestados ou em desgastantes
disputas judiciais. Convém estar preparado para tudo antes de dizer o sim.
Este texto representa um modesto esforço no sentido de preparar
minimamente um assessor de comunicação para o delicado relacionamento
entre ele e seu assessorado. Nas páginas seguintes, não há receitas nem
fórmulas, apenas depoimentos, dicas, sugestões, lembretes francos e
importantes para facilitar o dia a dia em uma assessoria de imprensa. Este
capítulo se baseia em experiências do autor e de colegas, assim como em
leituras sobre a atividade em assessorias. Em alguns momentos, o texto
poderá parecer tautológico para o profissional experiente, com anos de
mercado, mas certamente será útil para os iniciantes na profissão, que
poderão ter surpresas e ver novidades onde o assessor calejado enxergará
apenas recordações de vivências semelhantes. Não importa. Ambos disputam
o acirrado mercado das assessorias, cada um com um tipo de expectativa.
Ambos enfrentam relações mais ou menos fáceis com seus assessorados, as
quais podem resultar em “bodas de ouro” ou em “separação litigiosa”. Enfim,
hoje, muitos se casam mais de uma vez, e cada casamento é uma experiência
diferente – melhor ou pior que a anterior. É pagar para ver.
O ASSESSORADO
Dois aspectos principais merecem ser levados em consideração no
relacionamento entre o assessor de comunicação e seu cliente. Um aspecto
diz respeito à natureza da instituição para a qual o assessor presta serviço.
Outro está relacionado ao perfil psicológico do dirigente dessa instituição.
Nos casos em que não se trata de uma instituição exatamente, mas de uma
pessoa, como um político, por exemplo, o primeiro aspecto diz respeito,
portanto, aos objetivos do cliente, às necessidades e interesses dele no campo
social e profissional.
Isso parece óbvio, e é, mas é fato que, na prática, dentro de instituições,
muitos assessores tendem a esquecer um dos dois aspectos. Privilegiar as
ações da instituição pode ser um risco se quem a dirige tiver, por exemplo,
ambições pessoais muito elevadas ou, simplesmente, personalidade
egocêntrica. Será, portanto, ingênuo o assessor que colocar sempre e
irredutivelmente os interesses da instituição acima das prerrogativas de seu
dirigente. É bastante provável, aliás, que não dure muito no cargo. O mesmo
vale dizer sobre o comportamento oposto, o de um assessor que só tem olhos
para os interesses do dirigente e se esquece da importância da instituição. Os
demais funcionários e, possivelmente, a própria diretoria terão dele a imagem
de um bajulador. Além disso, ele estará à mercê das mudanças de comando,
ou seja, com a troca de cadeiras na chefia da instituição, perderá também seu
cargo. Com essa falta de visão mais ampla, além de prejudicar-se, o assessor
estará, sobretudo, pondo em risco a qualidade do trabalho da assessoria de
comunicação, a qual desempenhará melhor suas funções se caminhar sempre
sobre esse delgado fio de navalha. Terá de esforçar-se, de um lado, para
cultivar a imagem positiva da instituição na opinião pública e, de outro, para
ajudar a construir e manter a reputação de quem estiver à frente dessa
instituição, tanto na opinião pública quanto em seu corpo de servidores.
É fácil encontrar assessores que ocupam mais de uma dessas funções.
Costuma ser forte a pressão de alguns dirigentes para que sua atuação
obtenha destaque nos meios de comunicação internos e externos. Querem
visibilidade máxima. Gostam de ver seu nome à frente de todo e qualquer
êxito da instituição. Têm a tendência a transformá-la em vitrine para sua
projeção pessoal. Por isso, seduzem seus assessores com a perspectiva
implícita ou explícita de o acompanharem em sua trajetória ascendente.
Muitos, de fato, cumprem a promessa, quando atingem posições mais
elevadas. Outros não. Independentemente de cumprirem ou não a palavra,
dirigentes com esse perfil lamentavelmente levam as instituições a não ter
projeto independente e, portanto, perspectiva de futuro. Quando são
substituídos por dirigentes mais profissionais, estes tendem a aperfeiçoar (ou
corrigir) o trabalho dos antecessores. Contudo, se quem os substitui for mais
um egocêntrico, a instituição perderá o que adquiriu (se adquiriu) ou
desenvolverá projetos que tampouco terão continuidade. Assim, não avançará
jamais. No Brasil, tal situação é bastante comum no âmbito do Poder
Executivo municipal, estadual e federal, quando políticos de diferentes
facções se alternam no poder.
Todavia, ignorar o papel do dirigente de uma instituição pode ser
igualmente um erro do assessor. Costuma-se dizer que a empresa tem a cara
do dono. Normalmente, isso é verdade. Um dirigente dinâmico, atuante,
presente, empreendedor, dará o melhor de si para a instituição que dirige, e
esta certamente terá mais êxito. É justo que esse dirigente colha os frutos de
um trabalho bem feito. Assim, será mais respeitado dentro e fora da
instituição. Graças a esse respeito e ao prestígio adquirido, terá mais crédito
no meio em que atua e, por conseguinte, mais sucesso. Trata-se de um círculo
virtuoso em que o êxito do dirigente significará mais credibilidade para a
instituição e vice-versa.
Evidentemente, é difícil medir com precisão quanto se deve destacar a
instituição e quem está à frente dela. Quem deve aparecer mais e como? A
rigor, a instituição deveria estar sempre em primeiro lugar. O dirigente só
deveria aparecer em consequência do êxito da instituição, o qual depende de
todo o corpo de funcionários. No entanto, como se sabe, o dirigente é peça
fundamental para o sucesso dos empreendimentos da instituição. Se quem
estiver no comando for do tipo low profile, será mais fácil decidir as
prioridades no momento de se fazer uma divulgação. Entretanto, se ele é do
tipo high profile, será imprescindível muita habilidade e tato para não ferir
suscetibilidades de todos os atores envolvidos, isto é, diretores, assessores,
funcionários da instituição em geral.
Tome-se um exemplo: uma entrevista do tipo pergunta e resposta, de
página inteira, em um veículo de prestígio nacional. Trata-se de espaço
privilegiado, restrito a poucos. Pode alcançar, em tese, milhares de leitores,
normalmente os mais qualificados, entre eles os famosos e imprescindíveis
formadores de opinião. Mesmo quem não aprecia a linha editorial daquele
veículo poderá ter acesso à entrevista. Como levar um cliente a esse espaço
VIP?
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a imprensa tem critérios que
lhe permitem eleger quem (e o que) é notícia. O simples fato de um cliente
ser, por exemplo, o presidente de uma importante multinacional não o fará
necessariamente um entrevistado de página inteira de um periódico. Ele é
potencialmente um entrevistado de qualquer veículo de comunicação, desde
que questões de economia empresarial estejam em pauta, como o aumento ou
a queda de investimentos internacionais no país, por exemplo. No entanto,
ocupar o espaço nobre de um veículo de repercussão nacional implica muito
mais do que poder opinar sobre a entrada ou a saída de empresas estrangeiras
no Brasil ou a montagem de uma nova fábrica. Para isso, há dezenas de
outros dirigentes. É necessário, portanto, buscar o que faz diferença. O que
torna esse diretor de multinacional mais importante que os outros? O que
levaria um jornal, uma revista ou um portal na Internet a ter interesse em uma
longa entrevista exclusiva com ele?
Esse diretor do exemplo deve, antes de tudo, ter ideias originais. Uma
entrevista respeitável sustenta-se com ideias, ou seja, conteúdo original que
suscite discussão, debate, ação e reação por parte dos leitores. É importante
também que o tema da entrevista tenha “gancho”, isto é, apresente conexão
direta com o contexto do momento, com a conjuntura político-econômica-
financeira do país. Para que haja “gancho”, é preciso igualmente que a
empresa esteja em um momento de auge por algum motivo específico,
preferencialmente relacionado às ideias originais de seu dirigente. Portanto,
como é fácil perceber, tanto o dirigente quanto a empresa devem despertar
interesse jornalístico, devem obedecer a critérios de noticiabilidade. Imagine-
se, para manter o mesmo exemplo, que uma multinacional tenha obtido
superávit em um ano em que todas as demais de seu setor tenham amargado
déficit. O êxito deveu-se a medidas criativas, originais e até mesmo
heterodoxas, adotadas por seu presidente, um empresário dinâmico, atuante,
dono de ideias avançadas, geralmente polêmicas. Em um contexto de crise
aguda, é possível que esse dirigente tenha lições a dar, que ele seja um
exemplo interessante. Se, além disso, tiver acabado de lançar um livro sobre
gestão empresarial, tanto melhor. Ele será um candidato promissor a uma
entrevista de página inteira (ou o equivalente a isso em um portal de notícias
on-line).
Se, no entanto, o êxito da empresa deveu-se muito mais ao empenho de
um corpo de diretores cujas ideias foram aceitas com resistência por um chefe
intransigente e equivocado; se, além disso, esse mesmo chefe tem dificuldade
para expressar-se e depende sempre de assessores para manifestar-se em
público, pois não tem muitas ideias próprias, ele certamente terá dificuldades
para ocupar espaço privilegiado na chamada grande imprensa. Mesmo que,
devido ao empenho de seu assessor de comunicação, ele consiga ser
entrevistado, a entrevista dificilmente será publicada, pois seu conteúdo
estará aquém das expectativas do editor da publicação. Afinal, a maioria dos
veículos busca declarações afirmativas, fortes, objetivas, até polêmicas se
possível. O repórter procura um entrevistado seguro, um interlocutor sagaz.
Não cabe aqui discutir se os critérios da imprensa são os mais adequados. O
fato é que ela atua assim e dela depende o cliente interessado em ter
visibilidade.
Pode ser desgastante para o assessor a tentativa frustrada de tentar
“emplacar” uma entrevista de seu cliente em qualquer que seja o veículo de
imprensa. Convencer esse cliente de que o motivo de a entrevista não
acontecer está nas limitações dele, cliente, é uma tarefa tão constrangedora
quanto delicada. Implica a conquista de liberdade e confiança, por parte do
assessor, para dizer a verdade ao assessorado de maneira clara, porém sem
ferir as suscetibilidades (e às vezes o ego) do patrão.
Portanto, tanto assessores quanto assessorados precisam estar cientes de
que o êxito da divulgação depende da consistência do discurso e da
confiabilidade do exemplo a dar, ou seja: dirigente e instituição devem
formar um par perfeito. O equilíbrio de relações ficará evidente para a
imprensa, que normalmente despreza dirigentes vaidosos e vazios à frente de
instituições de desempenho medíocre. A imagem na imprensa e na opinião
pública em geral obedece à seguinte soma:
O ASSESSOR
Assim como clientes e instituições têm diferentes perfis, os assessores
de comunicação também possuem características distintas, tanto pessoais
quanto profissionais. Essas variações permitem a existência de vários tipos de
assessoria em comunicação. Umas serão agressivas (tipo high profile), outras
mais discretas (low profile). Umas, ocasionais (optam por poucas, mas
positivas e relevantes aparições do cliente na imprensa). Outras, frequentes
(esforçam-se por obter espaço constante nos meios de comunicação).
O mais comum é que esses perfis coincidam com o perfil do
assessorado. No entanto, também é comum que um assessorado entenda
pouco de imprensa e confie nas decisões de seu assessor. Se esse assessor
optar por um baixo perfil em termos de mídia, o assessorado poderá aceitar
essa opção caso ela lhe pareça conveniente. O oposto também pode ocorrer:
um cliente não enxerga todo o potencial de divulgação que tem, e o assessor
desperta-lhe para isso, de forma que esse cliente passará a apreciar um perfil
mais atuante de divulgação. Por incrível que pareça, há instituições de peso
que desconhecem seu próprio potencial de visibilidade na imprensa. Hoje,
talvez não sejam muitas, é verdade. Mas existem.
Um assessor, portanto, possui também o poder de conduzir os rumos de
uma instituição ou de um cliente em particular. O perfil do assessor
influencia muito na adoção de políticas voltadas para o público. Dessa forma,
se ele acredita no potencial de visibilidade de uma instituição, ele pode
transformá-la em uma referência no campo em que ela atua.
Um exemplo um tanto fantasioso, mas útil: imagine-se uma fábrica de
chocolates que sempre realiza pesquisas antes de lançar um produto.
Normalmente, ela investe um punhado de dólares em publicidade,
propaganda e marketing para lançá-lo. Qual proveito um assessor de
imprensa poderia tirar dessa situação? O lançamento de um produto é
eventual e conta muito mais com publicidade do que com jornalismo.
Distribuir kits com esse produto nas redações de jornal talvez funcione, mas é
bastante provável que não renda mais que uma nota curta. O que o assessor
poderia fazer além disso? Realizar um evento? Isso está mais relacionado ao
trabalho de um relações-públicas. Em termos de imprensa, de notícia, de
interesse jornalístico, o que ele poderia fazer para obter espaço não pago nos
jornais, rádios, tevês, sites e redes sociais?
Uma possibilidade seria averiguar quais foram os resultados das
pesquisas realizadas antes da fabricação do novo chocolate. É razoável supor
que essas pesquisas contenham informações interessantes. Enquanto a
publicidade está mais preocupada com o produto, o jornalismo pode
interessar-se pelo processo.
Se o novo chocolate é mais puro ou mais saboroso, certamente haverá
um motivo, e esse motivo só poderá ser encontrado nas pesquisas. Portanto, o
departamento de pesquisas da fábrica é uma fonte em potencial. Ouvi-lo pode
ser interessante. Talvez não queira ou não possa divulgar dados que
comprometam a empresa. Pode ter de guardar segredo sobre a fórmula do
novo chocolate. Entretanto, seria interessante abordar curiosidades sobre o
chocolate, seus riscos e benefícios e como a fábrica enfrenta o desafio de
lançar um novo produto diante da enorme quantidade de outros no mercado.
Isso sem contar as possíveis descobertas dos pesquisadores enquanto
desenvolviam o novo produto.
Nem todas as descobertas são divulgadas pela publicidade. Esta se
preocupa mais com os resultados que permitiram o produto ter as qualidades
que tem e, certamente, ser superior aos concorrentes. Já o jornalismo preferirá
indagar sobre os resultados que permitem o avanço, em termos gerais, na
fabricação de chocolates mais saborosos ou menos calóricos. Enquanto a
publicidade exporá o produto sob fortes slogans que ressaltam o sabor e as
vantagens de consumi-lo, o jornalismo terá em mente algo mais amplo, como
“Pesquisa de fábrica de chocolate pode levar à descoberta de novo tipo de
adoçante”.
O exemplo apresentado é totalmente fictício. Serve apenas como
ilustração. Não pretende ser fiel do ponto de vista científico, mas somente
apontar um caminho possível para o assessor de comunicação. Dessa forma,
ele terá informação jornalística (notícia), e a fábrica, além de ver lançado seu
produto por meio de publicidade, verá também seu nome associado ao
desenvolvimento científico-tecnológico. Não seria de espantar que, depois de
uma divulgação desse tipo, a empresa passasse a ser uma referência sempre
que jornalistas precisassem entrevistar pesquisadores ou fabricantes sobre
alimentos.
Tudo o que se pode dizer sobre o impacto do perfil do assessor de
comunicação no trabalho de assessoria, em relação aos veículos tradicionais
(jornais, revistas, rádios e tevês), também se pode afirmar em relação aos
mais recentes social media. Assessores low profile optarão por uma estratégia
mais focada e segmentada. Os de high profile terão em mente público mais
amplo e desejarão atrair os mais célebres influenciadores das redes sociais,
quando não tornarem seu cliente um influenciador também.
Independentemente do perfil do assessor, porém, vale lembrar: assim como
os demais meios noticiosos de comunicação, as redes sociais (especialmente
as mais populares, como Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn) têm seu
próprio modus operandi. Assessores dos mais diferentes perfis também
necessitarão adequar seu trabalho a esse modus operandi e dar resposta à
altura da demanda que criaram – não raramente, acima das expectativas.
A INFORMAÇÃO
A matéria-prima de um jornalista é a informação. Nem sempre, porém,
uma informação pode converter-se em notícia. Só o olhar afiado de um
jornalista sagaz pode ajudar a descobrir o que é realmente noticiável. Daí a
importância de um assessor de imprensa. Ele tem o olhar treinado para
identificar a informação com potencial suficiente para despertar o interesse
dos jornalistas.
Dessa vantagem, aparentemente tão óbvia, costuma brotar o pomo da
discórdia entre assessor e cliente. Afinal, este último nem sempre admite a
possibilidade de não saber o que é notícia. Acha que sabe. Às vezes, sabe
mesmo. Muitas vezes, porém, não tem a menor ideia. Nesse caso, o assessor
tem de respirar fundo e mostrar, com tato e cautela, que o cliente está
redondamente equivocado.
É curioso notar como alguns clientes ainda têm dificuldade para aceitar
o fato de que seu assessor é um especialista em imprensa e, portanto, está
prática e teoricamente mais preparado para dizer-lhe quando e como agir em
relação aos meios noticiosos de comunicação. Por vaidade ou ignorância (ou
ambos), o cliente pode “atropelar” seu assessor de imprensa ou impeli-lo a
fazer algo contrário aos princípios do jornalismo de qualidade. Os resultados
costumam ser desastrosos.
Uma pequena história ilustra bem essa situação. Um assessor de
comunicação de uma grande companhia foi chamado à sala do diretor-geral.
Ao chegar, deparou com um funcionário de suporte em TI. O jovem acabava
de explicar ao diretor por que o computador dele estava com problemas e
apontava a solução que lhe parecia mais simples: trocar o teclado da
máquina. O diretor prontamente acatou o parecer do funcionário e pediu-lhe
que providenciasse a substituição. O jovem deixou a sala tranquilamente,
enquanto o assessor de imprensa sentava-se diante da mesa do diretor-geral.
Em seguida, o diretor fez um pedido ao assessor: convocar uma
entrevista coletiva para o dia seguinte. A companhia tinha importantes dados
a divulgar e queria dar-lhes o máximo possível de visibilidade. O assessor
pediu licença para examinar os dados, no que foi prontamente atendido. Ao
término da análise, concluiu que a informação não justificava uma coletiva. O
diretor recusou o argumento do assessor e exigiu dele a realização da
entrevista. O assessor insistiu em seu ponto de vista. Apresentou ao chefe
argumentos convincentes para não convocar uma coletiva: o tempo era
exíguo, e os dados não justificavam um evento jornalístico, pois teriam pouco
impacto na opinião pública. Recalcitrante, o diretor contra-argumentou.
Julgava os dados importantíssimos e queria vê-los nas manchetes. Diante da
teimosia do chefe, o assessor, já quase sem paciência, indagou: – Por que o
senhor aceita prontamente o parecer de um técnico em informática e recusa
radicalmente o parecer de um profissional de jornalismo? O senhor acabou de
acatar a opinião de um funcionário do suporte de TI, que lhe recomendou
trocar o teclado de seu computador. Por que minha opinião vale menos que a
dele? Somos ambos especialistas.
Constrangido, o diretor prometeu repensar a questão da entrevista
coletiva e acabou por aceitar a ideia de seu assessor. Resultado: o assessor
acabou por enviar os dados em forma de press release para os jornalistas, o
diretor concedeu algumas entrevistas por telefone e obteve divulgação digna,
embora não bombástica, como sonhara (e como, de fato, jamais poderia ter
tido).
O exemplo apresentado é real. Teve de fato um desfecho satisfatório
para o assessor de comunicação. Contudo, isso nem sempre acontece. Há
clientes irredutíveis cuja arrogância os impede de aceitar qualquer opinião
que não se pareça com a deles. Julgam-se especialistas em tudo. Veem nos
assessores meros executores incapazes de emitir qualquer parecer inteligente.
Preferem comandar secretários de luxo a coordenar um time de especialistas
aptos a encontrar soluções criativas para os diversos tipos de problemas da
instituição. Clientes assim são quase déspotas. Contra eles, é perda de tempo
lutar. Retrucar-lhes significa demissão certa.
Felizmente, os tempos mudam, e é cada vez mais elevado o número de
clientes humildes diante da própria ignorância sobre assuntos específicos.
Proliferam no país e no mundo os cursos de media training, por meio dos
quais dirigentes aprendem a lidar com os meios de comunicação. Há diversos
livros sobre o tema, muitos deles verdadeiros manuais para um melhor
contato com jornalistas.
A simples presença de assessorias de comunicação nas mais diversas
instituições do país pode ser um sinal positivo. Houve época em que
empresas e indivíduos acreditavam ingenuamente na improvisação quando o
assunto era mídia. Escalavam um bibliotecário, uma secretária, um estagiário
para “atender a esse pessoal da imprensa”. Essas pessoas, por mais esforçadas
e qualificadas que sejam em suas funções, não têm preparo suficiente para
lidar com a famigerada sede de notícias dos dias atuais, marcados pela
proliferação de meios de comunicação de massa, cada um com características
próprias. Um repórter de um veículo de comunicação espera encontrar em
qualquer empresa um profissional capaz de falar a língua dele, isto é, um
profissional familiarizado com as especificidades da imprensa: deadline,
noticiabilidade, transparência.
Da mesma forma que, via de regra, a chamada grande imprensa evita a
improvisação em suas redações, sob pena de ser irresponsável e,
consequentemente, desacreditada, ela também evita assessores improvisados,
que tentam fazer as vezes de profissionais de comunicação. Ela busca um
interlocutor ciente de suas necessidades. Subestimar os jornalistas de hoje é
um erro estratégico imperdoável para qualquer dirigente, e o preço desse erro
pode ser incalculável.
Tal situação é motivo bastante para que um assessor de comunicação se
faça respeitado diante de seu cliente. Embora o jornalismo não seja ciência,
muito menos exata, a profissão envolve conhecimentos técnicos específicos,
tanto do ponto de vista teórico (no que tange ao fenômeno da comunicação)
quanto do prático (o exercício do jornalismo nas redações). Isso começa a ser
reconhecido pelos clientes em geral, sobretudo nos grandes centros urbanos
do país. No interior, porém, são comuns os depoimentos de assessores que se
dizem tolhidos e desrespeitados por seus clientes – normalmente políticos
mais interessados em “comprar” espaço nos veículos de comunicação do que
em realizar obras importantes e, portanto, dignas de ser notícia.
É preciso ressaltar, porém, que, tanto em um caso quanto em outro, faz-
se aqui uma generalização. É possível encontrar clientes respeitosos em
relação aos assessores tanto nos centros urbanos quanto no interior do país,
assim como há políticos interessados em cultivar uma imagem positiva
graças ao trabalho que realizam em seus municípios e não apenas em forçar
sua presença nos jornais.
A tensão nas relações entre assessorado e assessor tendem a aumentar
em momentos de crise, quando técnicas e práticas costumam ir pelos ares.
Trata-se de situação imprevista, às vezes, inédita. Assessorado e assessor
nunca a enfrentaram. Não sabem o que fazer. Paradoxalmente, necessitam
agir rapidamente. O tempo corre contra ambos.
Uma relação de confiança entre assessorado e assessor ajuda muito em
momentos de crise. As decisões costumam surgir mais facilmente. O diálogo
as favorece. No entanto, a ameaça pode converter-se em oportunidade, e uma
relação estremecida ganhar novo fôlego com o êxito da “operação de
salvamento”. Um assessor com a cabeça a prêmio pode recuperar seu
prestígio justamente após o êxito na gestão de uma crise – ou, na hipótese de
um fracasso, ver-se decapitado de uma vez por todas.
Diante de uma emergência, a precipitação e a arrogância costumam ser
os piores inimigos tanto do assessorado quanto do assessor. A franqueza e a
temperança são aliadas imprescindíveis. Dizer que não sabe o que fazer pode
ser mais prudente do que se arriscar a oferecer uma solução duvidosa.
Refletir, mesmo que rapidamente, funciona melhor que dar uma resposta
imediata, porém equivocada, só para demonstrar autoconfiança.
Em momentos de tensão, o assessor deve estar psicologicamente
preparado para ouvir impropérios. Não são poucos os clientes que descontam
em seus assessores as frustrações de um projeto malogrado. É preciso ter
sangue frio e discernimento para perceber se a rispidez do chefe é praxe
durante a crise ou se é pessoal. Normalmente, não é pessoal. Assessores
muito sensíveis podem abrir mão de uma vaga cobiçada por se ofenderem
com ataques de clientes teatrais, que soltam cobras e lagartos sobre qualquer
pessoa que cruze seu caminho em um momento de tensão. Na maioria das
vezes, o cliente recupera a sobriedade em minutos e comporta-se como se
nada tivesse acontecido. Bom humor é excelente antídoto contra chefes
temperamentais e garante respeito ao assessor.
Obviamente, há clientes que se excedem. Ofensas pessoais são
inadmissíveis. Ferem a dignidade do assessor como profissional e como
pessoa. Merecem no mínimo retratação por parte do chefe, quando não o
simples pedido de demissão por parte do assessor ou, em certos casos,
processo por assédio moral. Um velho profissional da administração gostava
de dizer meio a sério, meio de brincadeira, que “chefes também precisam ser
enquadrados”. Assessores subservientes acabam frustrando o objetivo em si
da própria assessoria, que é evidentemente assessorar, ou seja, orientar,
aconselhar e até mesmo conduzir o cliente. Fazer tudo o que ele quer, do jeito
que ele quer, diminui o papel do assessor, que passa a ser mero cumpridor de
ordens, executor acrítico de tarefas nem sempre jornalísticas, no sentido
estrito do termo.
O que, então, permite ao assessor assumir a parte que lhe cabe nesse
latifúndio, ou seja, o mundo da informação pública? Seus conhecimentos
técnicos? Sua desenvoltura no meio jornalístico e outros públicos? Seu jogo
de cintura com o cliente? Sua visão de futuro? Certamente tudo isso junto. A
noção clara do fazer jornalístico (o que é notícia e como, quando, onde, por
que e a quem divulgá-la), os contatos estratégicos nos meios de comunicação,
sensibilidade no trato com o cliente (saber exatamente quando ser discreto,
propositivo ou “impositivo”) e uma visão prospectiva (que lhe permita
antecipar problemas e soluções) garantem ao assessor de comunicação a
credibilidade e o espaço necessários dentro de qualquer organização, seja ela
privada, seja pública, seja não governamental, assim como junto a um cliente
isolado, sem vínculos institucionais específicos. Se uma dessas qualidades
faltar, o trabalho certamente estará comprometido, e o assessor precisará
rever sua estratégia de ação. Vale lembrar que isso ocorre com bastante
frequência. É preciso perseverar.
Em tempos de ampliação do poder individual, graças às cada vez mais
sofisticadas tecnologias de informação e comunicação, especialmente as
redes sociais, o domínio de saberes específicos para lidar com a informação
pública tornou-se precioso. Atualmente, além da imprensa, o assessor de
comunicação precisa saber lidar com indivíduos – tanto cidadãos comuns
quanto celebridades – da blogosfera, como blogueiros e vlogueiros,
poderosos formadores de opinião, sobretudo no público jovem. A informação
nesses casos transcende o âmbito da notícia tradicional. Não é produto do
jornalismo das redações dos veículos consagrados. Ela vem mesclada a
opiniões, impressões, visões extremamente pessoais. Muitas vezes, está longe
de qualquer princípio jornalístico clássico, por assim dizer. Predominam as
funções emotiva e conativa da linguagem em detrimento da função
referencial, o que não implica, evidentemente, que esses comunicadores não
tenham conteúdo informativo relevante a oferecer.
Dessa forma, o papel do assessor de comunicação adquire dimensão
mais ampla, pois assume também a função de curador de conteúdos digitais.
Em outras palavras: em um passado recente, essa curadoria restringia-se a
número limitado de veículos impressos e audiovisuais. Atualmente, necessita
filtrar um sem-número de canais espalhados pela Internet. O trânsito de
informação tornou-se caótico e incontrolável. Para complicar um pouco mais
o quadro, as atuais assessorias de comunicação precisam, ainda, disputar
espaço nesse atribulado tráfego. A produção de conteúdo passou a obedecer a
novos critérios, sem abdicar dos antigos. A informação agora necessita de
embalagens diversas e criativas, em conformidade com o canal onde deverá
circular: site, redes sociais (cada uma com suas peculiaridades), blog, jornal,
revista, rádio, televisão, outdoor, telefone celular etc. Há evidentemente
muito mais desafios hoje, tanto para os assessores de comunicação quanto
para seus assessorados. Até porque, sem intermediários entre assessorado e
grande público, as surpresas tendem a ser mais frequentes – para o bem e
para o mal. É preciso estar preparado para elas.
a) A organização jornalística
Enquanto sistema de produção, a organização jornalística assemelha-se a
qualquer indústria, mas diferencia-se desta pelo fato de que seu produto – a
informação – possui carga simbólica muito mais importante (Ribeiro, 1994;
Dines, 1996). Segundo Ribeiro (1994), em sua abordagem antropológica do
jornalismo impresso, cada organização da mídia possui identidade material e
espiritual específicas, que se refletem sobre seus profissionais e a mensagem.
Assim, a identidade material consiste no próprio meio de transmissão e no
estilo de cada veículo. A identidade espiritual refere-se à filosofia empresarial
e jornalística, aos procedimentos internos do veículo, bem como à postura
editorial. Esse ambiente externo interfere continuamente na identidade de
cada organização jornalística, que possui maior ou menor flexibilidade para
lidar com essa realidade. É dentro desse contexto que as matérias jornalísticas
são concebidas, captadas, editadas e transmitidas. Com o surgimento dos
blogs e mídias sociais, muitos jornalistas adquiriram independência das
organizações jornalísticas ao manter seu próprio veículo de comunicação
(nosso sonho impossível nos tempos de estudante).
b) O jornalista
Se a organização jornalística é um sistema de produção, seus operários
são os jornalistas, cuja atividade intelectual é submetida a normas industriais,
ambiente competitivo, a um ritmo de trabalho estressante e desafiador e a
relações pessoais bastante tensas (Ribeiro, 1994). As dimensões técnica,
empresarial e política das organizações articulam-se com a vivência
profissional dos jornalistas (Ribeiro, 1994), que geralmente possuem alguns
traços em comum, segundo Viana (2001): são pessoas curiosas, críticas,
observadoras e persistentes; que geralmente percebem quando alguém diz o
que não pensa ou está ansioso por fazê-lo; que cumprem acordos com as
fontes, mas detestam fazer parte de jogos de poder ou de manobras ilícitas; e
que ficam furiosas quando se sentem enganadas ou traídas. É desse perfil
profissional que surge a informação embalada para uso1.
15. Preconceito
c) A fonte de informação
A responsabilidade por produzir efeitos sociais cabe não apenas ao
jornalista, mas também às fontes (Chaparro, 1996), que podem ser definidas
como atores que os jornalistas consultam visando obter informação. As fontes
jornalísticas geralmente atuam como representantes de interesses
organizados. Um ministro representa um Governo; um diretor, ao falar para a
TV, simboliza a organização em que atua. E um porteiro, mesmo que não fale
oficialmente, transmite uma ideia da visão, do comportamento, da cultura da
instituição em que atua. As fontes podem ser pessoas desconhecidas para o
grande público e assumem esse papel porque têm a matéria-prima básica:
informação – seja uma denúncia, uma opinião, um esclarecimento. Nesse
caso, em geral, são fontes de oportunidade, de acaso, localizadas pelo
jornalista e pouco provavelmente serão novamente fontes. E as fontes
também podem ter exposição pública regular por iniciativa do próprio
interessado. A exposição, geralmente, é induzida e intermediada pela
assessoria de imprensa.
As melhores fontes institucionais são as que fornecem informações e
opiniões personalizadas que podem ser utilizadas e resistem à mais rigorosa
checagem. São Ss que cultivam um bom relacionamento com jornalistas,
mesmo quando não têm a perspectiva de serem citadas ou sejam alvo de
matéria que pode não ser a desejável (Viana, 2001). Como explica Ribeiro
(2015, p. 54), “Ao contrário do que o senso comum sugere, as notícias não
são um espelho da realidade. As notícias resultam, isso sim, de uma
construção social e cultural com base no que é extraído das fontes. (...)
notícia não é apenas aquilo que acontece no mundo real, mas também o tipo
de relações profissionais, sociais e culturais que se estabelecem entre os
jornalistas e suas fontes”.
No relacionamento com a imprensa, mais importante do que uma
“vitória” pontual proporcionada por uma matéria positiva ou uma “derrota”
resultante de uma crítica ou matéria negativa, é a manutenção de um saldo
positivo, uma frequência de exposição que atenda aos interesses da fonte e
estimule o jornalista a procurá-la. E, claro, a principal função da assessoria:
garantir à sociedade o acesso à informação de interesse público.
6. Imaginar que o que posta nas redes sociais passa despercebido pelos
jornalistas
d) A assessoria de imprensa
As notícias veiculadas pela imprensa são, em grande medida,
influenciadas, quando não resultantes de acontecimentos planejados,
produzidos e controlados por pessoas ou organizações com aptidão para tal: o
lançamento de um livro, a divulgação de uma nova descoberta científica, a
apresentação de um projeto de lei importante ou mesmo a declaração de um
político ou liderança. Por trás desses acontecimentos, muitas vezes
encontram-se as assessorias de imprensa, cujo público original são os
próprios jornalistas ou mesmo os chamados influenciadores. Um grupo
exigente, diga-se de passagem – e bastante criterioso. Portanto, as assessorias
de imprensa precisam atuar com base na percepção de como as redações vão
perceber o fato e transmiti-lo, cabendo aos jornalistas a decisão sobre quais
assuntos propostos por esses agentes públicos são notícia e em que
perspectiva e importância.
A assessoria de imprensa estabelece e mantém essa articulação entre as
fontes e as redações – ela facilita o trabalho de ambos –, mas não o define. As
fontes têm personalidade, autonomia, têm suas características e interesses – e
essas particularidades é que as tornam fontes – e os jornalistas têm seus
critérios, sua angulação dos fatos, muitas vezes determinada pela organização
jornalística em que atuam e da qual são representantes. As organizações
investiram na Internet como novo ambiente de mídias institucionais e de
interação direta com os públicos de interesse, sem mediação da imprensa. A
partir disso, a capacidade de alcance das fontes em seus próprios veículos
tornou-se maior, superando, dialogando ou confrontando as informações e as
abordagens veiculadas pela imprensa.
e) A organização da fonte
A maior parte das fontes de informação da imprensa está vinculada a
alguma organização. Criadas e estruturadas para atingir resultados
específicos, as organizações possuem, a exemplo das indústrias da mídia,
suas próprias normas, crenças e valores que constituem sua cultura. A
diversidade de fontes e canais com unicidade no discurso (verbal,
particularmente – mas também visual, de conteúdo e procedimentos) dá
coerência à atuação e à consolidação de uma identidade forte para os
diferentes públicos. Por isso, tão importante quanto um executivo bem
preparado é a existência de uma cultura de valorização da comunicação que
inclua a compreensão coletiva do papel da imprensa e da responsabilidade
social com a informação de interesse público.
Preparo é tudo
O contato entre fonte e jornalista é o momento em que a notícia toma
forma, apresenta-se para os testes de importância e interesse. E tudo começa
com avaliação das entrevistas concedidas, treino rotineiro e preparação
específica para cada contato com jornalistas. Programas regulares de
capacitação de porta-vozes e atividades como o media training são
particularmente úteis. Neles, a fonte aprende sobre como funcionam os
processos de produção da notícia, treina a definição e forma de apresentação
de mensagens-chave, aprende a ser estratégica no relacionamento com
jornalistas e exercita sua habilidade em lidar com perguntas, microfones e
câmeras.
Os melhores resultados são obtidos quando o entrevistado assume uma
postura proativa na relação com a imprensa, tem clareza sobre as informações
que deseja transmitir e está preparado para cada interação. Mas o sucesso da
entrevista não depende apenas da postura do entrevistado. Envolve, ainda,
informação pertinente, relevante e adequada ao veículo e adaptada ao
provável consumidor da notícia. Inclui saber o máximo possível sobre o tema
em questão e os aspectos que possam interessar ao público do veículo.
Também ajuda conhecer os interesses daquele jornalista específico, o
noticiário do dia, imaginar perguntas que possam surgir e a abordagem
possível. Tudo isso aumenta a possibilidade de contextualizar o assunto e
oferecer informação de melhor qualidade, já adaptada aos critérios de notícia
do veículo e do jornalista. É fácil entender: dar uma entrevista para a revista
Exame implica abordagem diferente de uma outra para a editoria de Cidades
do jornal local, ainda que o assunto seja o mesmo. Falar para a televisão
sabendo que talvez o conteúdo seja editado para caber em escassos dez
segundos exige ainda mais objetividade do que em uma entrevista ao vivo
para uma rádio. Por isso, quem deseja ser fonte deve adquirir o hábito de
acompanhar o noticiário e tentar exercitar a compreensão sobre o processo de
produção da notícia, forma de atuação e interesses dos jornalistas e dos
veículos em que trabalham.
Uma rotina importante para quem vai lidar com um jornalista é buscar o
apoio do assessor de imprensa. Ele deve dar recomendações, sugerir
abordagens, preparar um briefing, fazer simulações, estabelecer um script
sobre o assunto e elaborar mensagens-chave. A fonte deve contar com sua
presença durante a entrevista. A participação, nesse caso, é menos para
interferir, mais para orientar. O assessor pode, por exemplo, ficar com
documentos para dar subsídio em caso de necessidade, auxiliar na localização
de alguém para determinado esclarecimento, bem como responsabilizar-se
por questões que permanecem pendentes. Sua presença serve ainda para
avaliar com a fonte como ocorreu a entrevista e lidar com algum imprevisto.
Atendendo ao jornalista
Disponibilidade. O contato com o jornalista pode ocorrer em várias
circunstâncias: por telefone, e-mail, redes sociais, no estúdio de televisão ou
no rádio, pela presença do repórter na organização ou mesmo com um
encontro casual. O jornalista pode ser alguém que a fonte conhece e confia ou
alguém de quem nunca ouviu falar. Talvez seja um profissional bastante
crítico ou (mais raramente) estar disposto a ouvi-lo sem questionar. Em
qualquer dessas situações, ajuda bastante estar disponível e facilitar o
trabalho. O jornalista valoriza o relacionamento não só com fontes que
oferecem boas informações, mas também com aquelas que atendem com
rapidez, com eficiência, que conhecem os interesses e a forma de atuação da
imprensa. A atividade jornalística exige o cumprimento de prazos e gera um
tipo de estresse permanente. Facilitar o acesso a fontes de informação e a
dados é estimular o jornalista a tornar a organização ou a assessoria uma
referência no tema em questão (ou até garantir a manutenção da fonte em
temas futuros). Manter um padrão de atendimento rápido e cortês é
fundamental, pois, muitas vezes, o esforço de uma assessoria de imprensa
torna-se vão diante de uma fonte que não se prepara ou não sabe como
interagir com a imprensa, argumenta estar sem tempo ou mantém algum tipo
de arrogância ou agressividade no relacionamento. Respeito e compreensão
ao papel do jornalista, boas informações e eficiente atendimento garantem a
inclusão na lista de “boas fontes” de qualquer jornalista, aumentando as
chances de ter maior visibilidade e influência na agenda pública.
Atendimento. O ideal é atender o jornalista na organização, afinal, você
está em casa e pode ajudá-lo melhor. Se isso ocorrer, procure um local
tranquilo (mesmo por telefone ou Skype, por exemplo) e fique à disposição o
período máximo que puder. Se o tempo for escasso, avise com antecedência.
Se possível, encaminhe previamente material sobre o assunto. Entrevistas por
e-mail são opção prática, facilitando o controle e permitindo maior precisão e
organização das ideias e informações, principalmente em temas mais
complexos ou sensíveis. E não esqueça de cobrar um bom briefing da
assessoria.
Consciência no falar. O jornalista não é adversário do entrevistado,
mas seu papel exige que seja crítico. Vá para a entrevista preparado para
responder a qualquer tipo de questão, tendo clareza da mensagem que deseja
transmitir e uma estratégia para conseguir. O ideal é que a fonte atenha-se
apenas ao tema da entrevista, mantendo o foco. Um truque é ter um roteiro
com três ou quatro itens-chave para não se esquecer de abordá-los. Prepare
frases de impacto, concisas. Lembre-se de que, principalmente nos casos em
que a fonte conhece pouco o repórter, há o risco de qualquer informação
tornar-se pública, inclusive o que for dito antes e depois da entrevista. Por
isso, evite abordar o que não gostaria de ver tornado público. Isso inclui, por
exemplo, questionar pressupostos com os quais não concorda, falar em tese
ou hipótese, fazer observações sobre concorrentes, comentar temas de
interesse interno da organização, criticar colegas do jornalista ou veículos de
comunicação. Seja objetivo nas respostas. Diga exatamente o que precisa
dizer e aguarde uma próxima pergunta. Quanto mais longa uma fala, mais
chance de as informações serem editadas, de dar uma resposta confusa ou de
entrar no pantanoso terreno da teorização, das suposições ou especulação. Se
não tiver determinada informação, basta dizer que não sabe. Se tiver dúvidas,
revele – se não quiser ou puder falar, informe. Se um subordinado souber
mais sobre o assunto, consulte-o sem hesitações. A fonte pode ainda auxiliar
com a sugestão de outros entrevistados, estimulando o jornalista a procurá-
los.
Off. Dúvida frequente refere-se ao off, ou seja, a informação prestada ao
jornalista com a condição de não ser mencionada a fonte. Embora o recurso
seja válido, deve ser utilizado com cuidado. É possível que seu nome não seja
citado, mas a informação poderá circular. E é mais comum do que parece a
capacidade dos envolvidos em identificar quem é a fonte original da
informação, mesmo que o jornalista não conte. Se você não conhece bem o
jornalista ou se tiver dúvidas, não fale em off.
Facilitando a compreensão. Pode ser difícil explicar de maneira
simples, mas se você domina o assunto, basta um esforço. Um roteiro
simples, em tópicos, ou fazer testes com conhecidos explicando uma situação
complexa pode ajudar. Primeiro responda objetivamente a pergunta, depois
explique. Durante a entrevista, é importante relacionar a informação
disponível com a realidade das pessoas. Faça comparações, dê exemplos,
mostre como o assunto tem importância para a sociedade ou a certo
segmento, como afeta o dia a dia das pessoas. Evite linguagem técnica ou
rebuscada, jargões, clichês e gírias. Arredondar números e cifras também é
importante, se a precisão não for fundamental. Ao responder a uma pergunta
mais complexa, o entrevistado deve evitar dizer que “tal informação está no
texto tal” ou “leia tal folheto que você vai entender”. O material de apoio é
importante, mas é preciso ignorar sua existência, fazendo que o jornalista
compreenda o assunto. Seja claro, breve, didático e objetivo. Não dê chance
para o jornalista interpretar ou deduzir o que você disse. Simplifique para o
jornalista não ter que fazê-lo. Se determinada informação não está disponível
naquele momento, é necessário encaminhá-la o mais rápido possível. O
conteúdo deve ser objetivo e de fácil compreensão para facilitar o trabalho do
jornalista e diminuir as chances de que ocorram erros de interpretação,
omissões sobre o que é relevante, ou que seja explorado um enfoque
inadequado. Os veículos de comunicação têm prazo rígido de fechamento. É
importante que esse material chegue a tempo à redação.
Brindes. Não imagine conquistar jornalistas com presentes. A oferta
pode ser simpática, mas as circunstâncias devem ser analisadas. Geralmente,
o mais adequado é oferecer (quando avaliar que é o caso) algo da própria
empresa, que não possa sugerir tentativa de cooptação.
Dúvidas. Ao final da entrevista, a fonte ou o assessor deve tentar
colocar-se à disposição para que o jornalista possa tirar alguma dúvida
posteriormente e a qualquer momento.
Opinião pessoal. Não existe opinião pessoal em entrevista quando você
representa uma organização. Você sempre fala pela instituição em que atua –
ou, pelo menos assim as pessoas interpretam. E evite falar sobre assuntos
sobre os quais não tenha toda informação ou que não são de sua área de
competência.
Depois da entrevista
Edição. Não espere que o veículo de comunicação apresente a notícia
exatamente do jeito que você gostaria. O jornalista costuma confirmar
informações, ouvir outras pessoas, cruzar fontes diferentes. Depois, em geral,
seu trabalho ainda é avaliado e pode ser modificado pelo editor, que pode ter
a responsabilidade, por exemplo, de elaborar o título, legenda e chamada de
capa. Uma entrevista de duas horas pode transformar-se em apenas uma
citação ou ter um tipo de destaque não previsto. Da mesma forma, a fonte não
deve ficar decepcionada se, depois de todo o trabalho, a reportagem não for
veiculada. Muitas vezes, por vários motivos, mesmo uma boa pauta pode ser
derrubada na redação, até mesmo contra o desejo do repórter que a apurou.
Ler antes. Nunca peça que lhe forneçam a matéria antes da veiculação.
Tenha certeza antes de encerrar a entrevista que o repórter entendeu bem o
que você expôs. E coloque-se à disposição do repórter para ajudar
posteriormente, se necessário.
Interferência. Não utilize meios de pressão comercial ou pessoal para
evitar ou garantir a publicação de matéria. Uma relação de confiança pode ser
abalada por constrangimentos de algum tipo.
Avaliando o resultado. A entrevista foi veiculada? Uma boa maneira de
qualificar o relacionamento com a imprensa é avaliar como a notícia foi
apresentada, destaque, aspectos que chamaram a atenção do jornalista e o que
disseram outras fontes consultadas. Essa rotina, particularmente se realizada
com o assessor de imprensa, ajuda a compreender melhor os interesses dos
jornalistas.
Erros. A possibilidade de serem veiculadas análises negativas ou erros
assusta. As primeiras devem ser compreendidas da perspectiva de que é papel
da imprensa ser crítica e promover a pluralidade de ideias. Muitas vezes, é
melhor assimilá-las do que polemizar e chamar ainda mais a atenção para o
assunto. Já os eventuais (às vezes, frequentes) equívocos costumam ser
superestimados. Se o erro não tiver maiores consequências, não vale a pena
perder tempo, ou criar uma situação desgastante para exigir correção.
Jornalistas não gostam de admitir que erraram e farão todo o possível para
evitar a retificação. Por isso, faça uma avaliação sobre a real necessidade de
tomar alguma providência. Se acreditar que o assunto realmente merece
correção, o assessor, junto com o entrevistado, deve formalizar o pedido e
contatar pessoalmente o repórter ou editor para explicar a necessidade.
Dificilmente um erro é proposital, por isso o texto deve ser objetivo e cordial.
O que costuma ser decisivo, entretanto, é a argumentação sobre as
consequências do problema causado. Ação judicial só em último caso. Uma
alternativa é publicar no site eventuais correções de erros da imprensa.
Falando ao microfone
Rádio e TV. O rádio e a TV têm enorme penetração na sociedade. Um
podcast ou entrevista para uma rádio desconhecida podem gerar repercussão
surpreendente. Em geral, o rádio é mais informal e interativo e há mais tempo
disponível, o que garante maior possibilidade de explicação e análise,
permitindo maior compreensão, envolvimento e motivação das pessoas.
Converse antes. Tente dialogar com o entrevistador antes da entrevista.
Isso facilitará a condução da entrevista e você conseguirá apresentar melhor
suas ideias. Se for o caso, consulte sobre o tempo disponível e, se houver
oportunidade, resuma suas ideias e informe sobre os pontos que você
considera mais importantes.
Público amplo. É fundamental entender que a entrevista geralmente
alcança uma grande diversidade de públicos e que o nível de informação das
pessoas não é igual. Por isso, seja simples e didático. Tente falar
considerando como público as pessoas com conhecimento básico sobre o
assunto.
Destaque o que importa. Um dos principais desafios, no rádio, é
enfatizar, pela redundância e clareza, sua mensagem principal (não esqueça
de defini-la antes da entrevista). Há ouvintes que estão ligando o aparelho no
meio da entrevista, ou estavam distraídos. O reiterado destaque às
informações importantes, inclusive ao final, ajuda a dar significado ao que
está sendo dito e chamar a atenção para o que importa. E o rádio leva uma
vantagem: um texto de jornal ou revista não admite a repetição de ideias e
informações e, na TV, a exiguidade do tempo não o permite.
Simplicidade e objetividade. Em qualquer assunto, o ideal é ser
objetivo, de maneira que o público entenda facilmente o que está sendo dito.
Coloque-se no lugar dos interessados. Use frases curtas e simples. Não faça a
informação principal desaparecer em respostas longas e detalhadas. Além dos
termos técnicos, evite expressões estrangeiras, pouco usuais e abstrações.
Tempo. O ideal é fazer com que a entrevista seja uma conversa, com
linguagem coloquial, sem afetação. Saber com antecedência o tempo
disponível pode ajudar a organizar as ideias e a fornecer uma orientação
segura para enfrentar o microfone. Truques como arredondar cifras, ignorar
siglas, chamar pelo nome o entrevistador ajudam a tornar a entrevista mais
agradável.
Imagem. Na televisão, o estímulo principal é visual e, por isso, é
importante considerar o ambiente. Lembre-se de que a imagem de fundo tem
sempre algum significado para o telespectador. Por isso, escolha um bom
local para dar a entrevista para a TV, ou ser fotografado sem que se perca a
naturalidade e a relação com o tema da entrevista. Uma fábrica, biblioteca,
laboratório ou sala de reuniões com o logotipo da empresa no fundo tornam a
imagem mais interessante do que um armário ou parede.
Concisão. Esqueça a câmera. Olhe para o repórter, seja direto, prático e
dê respostas objetivas. Comece sempre pelo mais importante. Detalhe apenas
se for perguntado. Uma característica do noticiário na TV é a escassez de
tempo. Matérias de mais de dois minutos, mesmo em jornais locais, não são
comuns. As falas do entrevistado são editadas e muitas vezes se aproveita
apenas uma frase. Existem oportunidades de entrevistas mais longas, mas,
ainda assim, falando objetivamente, o ritmo é melhor e as pessoas entendem
com mais facilidade. Um dos bons truques é criar uma ou duas frases fortes,
objetivas, de impacto, que resumam as mensagens que você deseja transmitir
e tentar incluí-las assim que possível. Mas cuidado: evite preocupar-se em
decorar. Se você domina o assunto, as respostas vêm com naturalidade. O
ideal é procurar responder a cada pergunta de forma sintética, utilizando no
máximo dez segundos. Com a prática, fica fácil e a entrevista torna-se
dinâmica e interessante. Na busca de objetividade, particularmente quando
for ao vivo, não comece a resposta com a repetição da pergunta. Mesmo no
caso de entrevistas gravadas, se as respostas forem extensas, o editor
provavelmente vai editar trechos de sua fala, aumentando as chances da
principal mensagem não ser veiculada.
Mas eu já falei... Evite começar a resposta dando a entender que é
óbvia: “Evidente..., Está claro..., Como disse antes..., Repetindo...”
Ao citar a organização. Quando possível, mencione o nome do
produto, empresa ou instituição, mas com naturalidade e sem exageros.
Roupa. Vista-se com sobriedade, naturalidade e adequação para o
ambiente e a função que você exerce. São as informações que precisam
chamar a atenção e não sua aparência. Cuidado com acessórios ou roupas
mais chamativas. Eles podem distrair o telespectador e desviar a atenção de
sua mensagem. Evite óculos escuros, mesmo ao sol. Eles causam ruído na
comunicação, ao mesmo tempo em que dão má impressão ao telespectador.
Se puder, utilize uniforme, crachá, boné, camiseta de sua organização (não
todos ao mesmo tempo, claro) – sem perder a naturalidade.
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__________
1
A cada vez maior presença dos chamados influenciadores (celebridades, autoridades, ativistas,
especialistas, entre outros perfis que geralmente se destacam no uso das mídias sociais) no radar
e como alvo prioritário dos assessores, torna necessária a definição de estratégias específicas.
A capacitação de fontes e porta-vozes1 é um dos instrumentos de
comunicação que mais se popularizaram nos últimos anos. Aperfeiçoar os
assessorados em compreender a imprensa, atender adequadamente suas
demandas, ser proativos e aproveitar as oportunidades para transmitir
mensagens de maneira eficiente e com elas informar e influenciar os
interessados tornou-se uma estratégia prioritária para as equipes de
comunicação. Palestras, oficinas, textos, guias, simulações, reuniões
preparatórias e avaliações regulares do desempenho das fontes proliferaram.
As empresas que fornecem serviços em comunicação passaram a
oferecer diferentes modalidades de media training, nem sempre com
qualidade excelente, mas em geral suficiente para atender necessidades
básicas de assessores e dirigentes. Parece ter ficado claro que, assim como a
melhor maneira de enfrentar crises é gerenciar riscos e estar preparado,
capacitar fontes e porta-vozes para interagir com jornalistas é investimento de
retorno certo para criar e fortalecer uma cultura de comunicação e obter
resultados mais efetivos.
Fontes que conhecem os processos jornalísticos conseguem mais
visibilidade, informam melhor a sociedade, minimizam riscos e enfrentam
crises de maneira mais eficiente. Dirigentes que absorvem a essência dos
ensinamentos de media training abandonam posturas como desejar
divulgação de algo que não tem apelo jornalístico; insistir em saber com
antecedência o que vai ser veiculado; acreditar que o que interessa a ele
interessa naturalmente à imprensa; imaginar que a assessoria é capaz de
“derrubar” matérias e pautas negativas. Fontes preparadas conseguem evitar
armadilhas e aproveitar oportunidades.
É responsabilidade da área de comunicação convencer os dirigentes e
fontes em potencial sobre a necessidade de lidar com os jornalistas. O setor
de Recursos Humanos – onde muitas vezes estão alocadas as verbas para
treinamento – pode ser um grande aliado. Por exemplo: o conhecimento
sobre exposição via imprensa é valioso para a comunicação interna.
Outros tópicos aparentemente menores, mas de muita relevância, são os
custos e o tempo de duração do media training para executivos, dirigentes e
funcionários sempre sobrecarregados.
Estabelecer uma relação profissional com jornalistas tem conexão com a
compreensão do papel da imprensa nas sociedades democráticas,
independentemente do desconforto e do risco que a interação possa causar. É
a mídia que exerce a vigilância sobre as demais instituições, expressa os
conflitos e expõe os contraditórios da visão e atuação dos diferentes atores
sociais. Aproveitar cada oportunidade para transmitir informações com
segurança e precisão exige, além de compromisso em prestar contas à
sociedade, habilidades que podem reduzir os riscos: capacidade de definir
previamente e apresentar mensagens, lidar com a linguagem e as
características dos diferentes tipos de veículo e se adaptar a cada
circunstância. Mas, claro, não é pequeno o desafio. Mesmo personalidades
experientes podem cometer erros se subestimarem a preparação2 ou se
sentirem autossuficientes (“Ministro da Saúde diz que vai ‘torcer’ para que
mulheres peguem zika antes da idade fértil” – o comentário do então ministro
Marcelo Castro foi feito para toda a imprensa no auge do surto do vírus, 13
janeiro de 2016).
O primeiro ponto é justamente a definição dos porta-vozes. Quanto
maior o número de representantes de uma organização capacitados, maiores
as possibilidades de sucesso, mas a seleção da fonte em cada situação pode
ser decisiva. Em algumas ocasiões, o dirigente principal não é a melhor
escolha. Às vezes se exige um representante com perfil técnico. Pode ser
necessário, por exemplo, preservar um dirigente para uma situação específica
ou evitar que alguém emocionalmente afetado possa comprometer a
estratégia comunicativa. Embora não faça parte da tradição brasileira, nada
impede que um profissional da área de comunicação atue como porta-voz
para garantir a qualidade da comunicação. Entre os exemplos bem-sucedidos
deste tipo de solução estão Forças Armadas e órgãos de segurança.
Outro ponto importante a ser considerado é a preparação. Em geral ela
se divide em duas partes: sobre o conteúdo da fala, ou seja, treinar a
capacidade de expressar com precisão o que se tem a dizer; e didática da
fala, que se refere a todos os aspectos que ajudam a expressar o conteúdo:
expressividade corporal, vestuário, clareza, objetividade, firmeza, capacidade
de improviso, de argumentação e de apresentar ideias e informações a
públicos específicos.
Quem lida cotidianamente com a imprensa sabe que a preparação exerce
duplo papel: ao jornalista, proporcionar atendimento de qualidade, e à fonte,
oferecer segurança e desempenhar bem o papel de informar à sociedade. Se o
treinamento for rotineiro, fortalece a habilidade de lidar com cada situação,
mesmo as imprevistas e problemáticas.
2. Credibilidade
3. Domínio do tema
4. Serenidade
5. Simplicidade e clareza
6. Objetividade
7. Segurança e firmeza
8. Precisão
9. Capacidade de improviso e argumentação
FORMATOS BÁSICOS
Capacitação contínua: preparação rotineira organizada pela equipe de
comunicadores para ajudar fontes e porta-vozes a atender jornalistas e
aproveitar ao máximo cada contato com a imprensa. Pode incluir elaboração
de mensagens-chave e formas de abordar um assunto, fornecimento de
subsídios (perguntas & respostas, briefing, documentos de posição, sínteses),
algum tipo de simulação, orientações sobre uma situação específica. Leva em
consideração o conjunto do noticiário do dia e a perspectiva de abordagem da
imprensa.
Cada entrevista ou encontro com jornalistas é tratado como
oportunidade de apresentar e explicar ideias, políticas e ações. Inclui-se aqui
a orientação antes de cada entrevista, momento no qual o assessor sugere
abordagens, faz alertas, lembra o que é importante ressaltar. Algumas vezes
chamado warm up, é um aquecimento, preparação rápida para ajudar o
entrevistado a lembrar questões importantes, a focar na entrevista, organizar a
mensagem e a evitar algum tipo de armadilha ou erro. Em pesquisas que
realizamos com dirigentes sobre relacionamento com assessores e jornalistas,
queixa frequente diz respeito ao fato de que a fonte não se sente
adequadamente preparada para interagir com o jornalista. Muitas vezes o
assessor agenda ou reúne fonte e jornalista e age como se tivesse feito seu
trabalho. Não fez. O assessor deve preparar o entrevistado, fornecendo
subsídios, orientação, chamando a atenção para os aspectos que podem ser
tratados, destacando números, frases, aspectos que devem ser enfatizados,
expondo o contexto da entrevista, o perfil do jornalista ou do veículo. Ou
seja, é sua responsabilidade fornecer briefing e deixar a fonte preparada e
segura para dar a entrevista e obter o melhor resultado possível.
A capacitação contínua ocorre também na fase pós-entrevista (análise do
conteúdo e da repercussão). É o momento de crítica e autocrítica. Avalia-se a
atuação da assessoria, de identificação dos pontos fortes e das
vulnerabilidades das mensagens, bem como do próprio desempenho da fonte.
Capacitação contínua é o modelo que recomendamos, mesmo que
complementado por outro.
Media Coaching:desdobramento da capacitação contínua, consiste em
treinamento personalizado, customizado, desenvolvido e aplicado a partir das
características individuais do porta-voz e da instituição/empresa na qual atua.
Trata-se de treinamento com foco no relacionamento com a mídia, com
sessões curtas (duas horas de duração, no máximo), mas numa sequência
programada e com novas etapas para avançar. Além da simulação de
entrevistas – com análise e observações sobre o desempenho – lideranças
políticas e corporativas têm contratado esses especialistas para prestarem
serviços na condição de conselheiros e ouvintes dos problemas enfrentados
nos contextos interno e externo. É um escopo de trabalho no qual os
instrutores atuam no papel de “terapeutas da comunicação”, como uma
consultoria em comunicação a partir de problemas e desafios vividos no
cotidiano de gestão das organizações – e que recaem pesada e pessoalmente
sobre os ombros das lideranças.
Oficinas: geralmente duram algumas poucas horas e contam com
programa variado, que pode incluir palestras curtas e exercícios específicos.
São úteis para dar conhecimentos e habilidades básicas, muitas vezes com a
participação de repórteres experientes. As oficinas buscam, em um estágio
inicial, dar orientações práticas sobre como lidar com as perguntas dos
jornalistas e abordam questões relacionadas à linguagem corporal e
comportamento. Geralmente contam com equipe de apoio técnico como
cinegrafistas e, talvez, especialistas como fonoaudiólogos. São feitas e
refeitas simulações em condições próximas da realidade e, às vezes, mais
rigorosas. O resultado é discutido com os envolvidos, que têm chance de
compartilhar anseios e experiências, tirar dúvidas ou aprimorar aspectos
específicos. O treinamento pode ajudar a elaborar ou refinar mensagens,
corrigir erros e chamar a atenção para o potencial de aproveitamento das
oportunidades para falas estratégicas.
Palestras: convidados abordam aspectos específicos do relacionamento
com a imprensa, como o que é notícia, importância da imprensa, como agem
os jornalistas, funcionamento de uma redação, características das diferentes
mídias, como dar entrevista, e uma grande variedade de temas, conforme a
situação. São úteis para fornecer informações básicas, apoiar o trabalho da
assessoria de imprensa, motivar e também iniciar um processo regular de
treinamento. Palestras deste tipo podem ser úteis na preparação do terreno,
uma introdução para a realização de oficinas. Uma vantagem é que podem ser
ministradas para grupos grandes.
Comunicação: capacitação que trata de qualificar as fontes de
informação para melhor conhecer o potencial e especificidades da
comunicação. Geralmente é realizada com palestras, mas pode incluir
exercícios. Conhecer comunicação integrada, a importância do
relacionamento com públicos de interesse, o papel da área de comunicação e
da comunicação interna, por exemplo, são temas complementares ao
treinamento convencional voltado para o relacionamento com a imprensa.
Situações especiais: capacitação para uma situação específica –
entrevista a veículo importante, para tratar tema sensível, em situação de crise
ou para evento atípico (audiência pública, exposição em comissão do
Legislativo etc.). O preparo realizado em situações especiais pode ser
eficiente, particularmente, se o porta-voz já faz treinamento contínuo ou
possui experiência no relacionamento com jornalistas.
Media Social Training: trata-se mais de orientação do que de
treinamento. Com as mudanças recentes que redefiniram as mídias
tradicionais e ampliaram as possibilidades e importância da comunicação
direta com os interessados, é fundamental que dirigentes conheçam e saibam
utilizar as mídias sociais, independentemente da estratégia adotada. O ideal é
a definição de regras corporativas formalizadas em manuais, guias ou
documentos de orientação que estabeleçam caracterização e orientações para
a construção e uso de perfis institucionais. Personalidades públicas cultivam
seus próprios perfis e informações nas redes sociais, muitas vezes de maneira
simples, espontânea, sem estratégia definida. Isto significa que a liderança
desconhece que está em um processo repleto de oportunidades, mas também
de riscos. Atuar de forma amadora e improvisada aumenta a probabilidade de
perder uma alternativa interessante de comunicação com a sociedade, e pode
até causar alguma crise. Jornalistas acompanham quem é fonte e uma busca
rápida nas postagens pode gerar subsídio para a construção de um perfil – às
vezes desfavorável. Qual linguagem, tipo de fotos, vídeos e imagens utilizar,
qual conteúdo priorizar, como dialogar com o público digital que interage e
participa diretamente da comunicação? Como gerenciar e distinguir o perfil
institucional do perfil privado? A capacitação para as mídias sociais permite
definir estratégias e procedimentos para que organizações e personalidades
públicas possam transitar com desenvoltura nesse ambiente da comunicação.
O treinamento deverá contar com diagnóstico, definição de estratégias e um
planejamento que inclua forma de gestão e recomendações.
Número de participantes
Seja qual for o formato, o número de participantes é definidor do
modelo do treinamento. O Treinamento Individual é realizado para apenas
uma fonte (situação ideal), o que facilita pela adaptabilidade. A capacitação
permite identificar detalhadamente dificuldades mais relevantes e explorar o
potencial como porta-voz. Podem-se analisar entrevistas anteriores do
treinando, identificar pontos fracos e fortes, ouvir daqueles que o conhecem a
opinião sobre como age e reage aos jornalistas – sua disponibilidade,
facilidade de expressão e outras características pessoais. O treinamento parte,
então, de um diagnóstico concreto. Por ser personalizado, permite aprofundar
questões críticas e melhor formular recomendações.
Outra forma de treinamento é a de Grupo Heterogêneo. Neste, treinam-
se, em conjunto, pessoas de diferentes áreas ou níveis – diretores, chefes de
departamento, técnicos, por exemplo. Há boa relação de custo por pessoa no
caso de contratação externa e pode ser produtivo, se bem planejado. O
objetivo costuma ser introduzir questões básicas sobre o relacionamento com
a imprensa.
Uma terceira alternativa é para Grupo Homogêneo ou Temático. O
perfil dos treinandos é similar. Por exemplo: técnicos de uma área ou
integrantes da diretoria. É muito útil para organizações que precisam de
várias pessoas em condições de dar entrevistas. Uma das vantagens é permitir
identificar diferentes visões sobre uma realidade, discutir e definir
mensagens, alinhando o discurso.
O treinamento de Grande Grupo tem validade, mas limites claros. É
possível fazer um treinamento, por exemplo, para 50 pessoas, mas não
haveria expectativa de resultados muito significativos. Este formato
geralmente tem como âncora uma palestra, com exemplos, análise de casos e
pode ser acompanhado de simulações de entrevistas e exercícios com alguns
dos participantes, de modo a que todos aprendam. Podem-se apresentar
vídeos, realizar exercícios de casos, discutir formas de preparação para
entrevista, incluindo definição de mensagens-chave. Muitas vezes dividem-se
os participantes em grupos que recebem um desafio de comunicação. Cada
equipe elege um porta-voz, que é submetido a entrevistas, testando sua
capacidade de transmitir o que foi definido pelo grupo. Perde-se pela menor
análise individual, mas a relação custo/benefício pode ser positiva quando a
prioridade é, por exemplo, a compreensão dos aspectos básicos de uma
entrevista e do relacionamento com a imprensa. Um segundo treinamento
poderia ser feito, posteriormente, para um grupo mais restrito.
Grupos menores indicam sempre melhores perspectivas de resultados.
Para conseguir garantir um mínimo de exercícios para todos os participantes
e resultados ainda consistentes, a prática tem demonstrado que 12
participantes seria o teto em um treinamento durante um dia (oito horas de
atividades). Pela manhã poderiam ser feitas palestras curtas com informações
gerais, mas também orientações e dicas. Nos intervalos seriam colhidas
entrevistas e à tarde haveria as simulações e análises. É um programa que
exige muito de quem prepara, mas tem capacidade de assegurar bons
resultados se bem organizado.
Em nossa experiência, o melhor media training é aquele realizado com
regularidade pela própria equipe da assessoria às principais fontes da
organização. Isso implica um acordo de procedimentos que pode redundar em
atividades regulares de longo e médio prazo, como elaboração de manuais,
estudos de casos, mas, sobretudo, tarefas incorporadas ao dia a dia, como
produção sistemática de briefings antes de cada entrevista, elaboração de
documentos do tipo Perguntas & Respostas e de Posição, preparo de
mensagens-chave antes de cada possível entrevista, simulações regulares,
análise de veiculação de informações nas diferentes mídias e orientações
específicas. É um trabalho de preparação, acompanhamento e avaliação para
entrevistas que deve fazer parte da rotina da assessoria.
MENSAGENS-CHAVE
OS PREPARATIVOS
Um media training começa bem antes do dia previsto. Algumas das
ações prévias para seu sucesso podem ser as seguintes:
PÓS-MEDIA TRAINING
Os exercícios, o conteúdo e a prática dos cursos de relacionamento da
fonte com a imprensa ganham estatura pela oportunidade de alinhamento
interno, unificação de discurso e reforço das mensagens. É útil a produção de
documentos de referência – “Perguntas & Respostas”, mapa de mensagens,
position paper – que passem a integrar manuais e guias internos. O trabalho
continua após a oficina. A discussão entre a equipe e o treinando sobre o
resultado deve apontar também as próximas etapas: a identificação de
temas/assuntos e respectivas fraqueza, risco e força na comunicação. Outra
tarefa é a elaboração de um programa de leitura dirigida sobre entrevistas
(oferta de textos didáticos e literatura especializada que reforcem as
orientações e principais conceitos da capacitação), além da implantação de
um sistema de preparação, acompanhamento e análise permanente de
situações de entrevistas e outros pontos que devem ser considerados com
seriedade.
OFICINAS FLEXÍVEIS4
Qual mídia enfatizar no treinamento deve ser uma escolha coerente com
a estratégia e o posicionamento da organização no universo midiático. Assim,
as oficinas podem conter exercícios sobre uma diversidade de meios e suas
respectivas linguagens e técnicas: mídias sociais, televisão, rádio, mídia
impressa e on-line/portais de informação e agências de notícias. Uma
organização que tem atuação no interior do país poderá priorizar o rádio,
outra atuante no mercado financeiro talvez opte por exercícios e oficinas
sobre como maximizar resultados no campo da informação instantânea
estabelecida pela mídia on-line.
O treinamento pode variar, conforme as necessidades e objetivos. O
foco principal, entretanto, costuma ser a estratégia da mensagem e a didática
da exposição, ou seja, conteúdo e forma. Forma inclui gestual, objetividade,
adaptação de mensagem. O conteúdo trata de sínteses, dados, argumentos,
exemplos e, particularmente, a capacidade de apresentar mensagens-chave
com o uso de expressões-ponte ou conectores.
Se for uma marca de atuação forte em algum país e com linguagem
menos comum (Rússia, Japão, Alemanha, por exemplo), vale a pena ter uma
versão das páginas no idioma. Depois, as entrevistas são apresentadas e
avaliadas em vídeo. A oficina de TV é mais popular não apenas por ser mais
charmosa e instigante, mas também porque possui alto nível de exigência,
requerendo objetividade e preocupação com a apresentação visual e verbal. O
entrevistado deve falar didaticamente, ser conciso, utilizar bem as
possibilidades da expressão facial e gestual para fortalecer as mensagens. A
TV oferece a sensação de imediatismo, de urgência, de pressão. Também é
fácil fazer a avaliação, a partir da análise do que foi gravado. Com o
barateamento e a simplificação dos equipamentos de gravação ficou muito
mais fácil fazer este tipo de treinamento. Outras oficinas específicas podem
utilizar o formato de entrevista coletiva, de rádio, on-line, do tipo
“emboscada”, sob pressão, e até algumas específicas no estilo “Roda-viva”
ou “CPI”. Mais do que ficar preso a modelos, o importante é formatar a
entrevista para que atenda a necessidade e objetivos do treinamento.
OS LIMITES DO MEDIA TRAINING
Um dos riscos do treinamento é se tornar puramente instrumental,
apresentando burocraticamente regras de manual. Nesta perspectiva, alguns
conceitos devem ser centrais na capacitação: acesso, transparência,
informação pública, prestação de contas, papel da imprensa, evitando-se
valorizar questões como melhorar a imagem, fazer enfrentamento ou politizar
o relacionamento. Críticas à imprensa durante um treinamento são
contraproducentes.
Embora o treinamento tenha efeitos positivos adicionais, como gerar
oportunidade de discutir e qualificar a estratégia de comunicação, aumentar a
integração ou criar competências úteis em diversas situações, há limitações
que devem ser consideradas.
Storni (2007), a partir de depoimentos de assessores e especialistas,
aponta questões que permeiam as práticas de capacitação de porta-vozes nas
organizações. A primeira é a insuficiência do formato. Por mais que se
aperfeiçoe, o media training está sempre defasado, pois além de a mídia se
reinventar o tempo todo e blogueiros, jornalistas e veículos agirem de formas
muitas vezes diferentes, o treinamento tem limites para considerar um dos
principais aspectos da natureza da mídia, que é o inusitado, o insólito e o
imprevisto. Ele permite a fontes e porta-vozes ter maior consciência do que
está em jogo com a entrevista, as regras da entrevista e sobre a técnica do
jornalista, mas não garante necessariamente o sucesso. Há o jornalista, a
mídia, o contexto, a pauta, as outras fontes, a edição.
A segunda restrição aborda a dificuldade de os fornecedores formularem
um projeto sob medida para as necessidades da organização. A padronização
dos cursos é indesejável, porque iguala todos, como se fossem similares.
Cabe à assessoria agir para que cada treinamento seja absolutamente
adaptado às necessidades da organização e dos participantes. A participação
efetiva dos comunicadores da empresa na discussão do programa, no
acompanhamento e na avaliação sistemática minimiza o risco.
O terceiro aspecto é mais profundo: a incapacidade do treinamento de
captar e traduzir a matriz que impulsiona os movimentos da imprensa. Como
ressalta a arguta observação de um entrevistado (Omar Barreto, um dos
autores deste livro), as fontes saem “adestradas” para algumas situações
comuns, mas a maior parte delas não assimila a essência ética e política do
atendimento aos jornalistas, que é abdicar de um posicionamento autoritário,
do “nada a declarar”, para outra perspectiva – a do público, da sociedade.
Assim, nas situações que requerem habilidade de negociação, de
entendimento dos interesses em jogo, o executivo busca no adestramento a
referência, e normalmente não a encontra. Considere estas questões ao
preparar o roteiro do treinamento.
A quarta dimensão enfatiza a dificuldade de vencer resistências. O
treinamento não necessariamente transforma um dirigente que tenha
estereótipos ou preconceitos contra a imprensa num porta-voz disponível e
aberto para o relacionamento com jornalistas. Muitos fazem o media training
e continuam tão hostis e inábeis como antes. O treinamento dificilmente
quebra predisposições arraigadas. O risco, aqui, é que seja utilizado para
enfrentamento e não para ajudar a imprensa a cumprir seu papel. Por isso,
também, a importância de um trabalho de capacitação sistemático e de longo
prazo.
Considerando estas questões e o que enfatizamos ao longo do texto: a
capacitação de porta-vozes é função vital na comunicação organizacional,
tanto para ajudar as fontes a se apresentarem de maneira adequada, quanto
para a imprensa (e a sociedade) ter a melhor informação possível. Os
benefícios são estendidos, naturalmente, para as interações quotidianas,
inclusive na relação com colaboradores e demais atores estratégicos.
Comunicar de forma eficaz significa obter resultados na interface com todos
os públicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALCÂNTARA, Norma Souza de. A fonte pergunta: uma entrevista com a imprensa. São Paulo: Voice,
2003.
BARBEIRO, Heródoto. Mídia training: como usar a imprensa a seu favor. São Paulo: Saraiva, 2008.
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Edições CETOP, 1992.
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DIZARD JR., W. A nova mídia: a comunicação de massa na era da informação. Tradução: Edmond
Jorge. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
DUARTE, Jorge Antonio Menna. Pequeno guia de relacionamento com a imprensa para fontes da área
pública. In: SEABRA, Roberto; SOUSA, Vivaldo de. (Org.). Jornalismo político: teoria, história e
técnicas. Rio de Janeiro: Record, 2006, p. 271-306.
GARCIA, Maria Tereza. A arte de se relacionar com a imprensa: como aprimorar o relacionamento
com jornalistas e fortalecer a imagem de sua empresa. São Paulo: Novatec, 2004.
LUCAS, Luciane (Org.). Media training: como agregar valor ao negócio melhorando a relação com a
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MACIEL, Pedro. Guia para falar (e aparecer) bem na televisão. Porto Alegre: Sagra: DC Luzzatto,
1994.
MAFEI, Maristela. Assessoria de imprensa: como se relacionar com a mídia. São Paulo: Contexto,
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NOGUEIRA, Nemércio. Media training: melhorando as relações da empresa com os jornalistas. São
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PESSONI, Arquimedes, BAZANINI, Homero Leoni, MIKLOS, Jorge. Comunicação Organizacional:
Media Training e as modelagens culturais dominantes no Brasil. Estudios sobre las Culturas
Contemporâneas, época III, volume XXIII, número especial III, Colima, 2017.
PIRATININGA, Paulo (Org.). Como usar a mídia a seu favor: as melhores práticas para ser notícia.
São Paulo: Editora CLA, 2008.
ROSA, Mário. A síndrome de Aquiles: como lidar com as crises de imagem. São Paulo: Gente, 2001.
SOBREIRA, Geraldo. Manual da fonte: como lidar com os jornalistas. Rio de Janeiro: Geração, 1993.
STORNI, Patrícia de. Limites do media training. Brasília: Faculdades Integradas Upis, Brasília, 2007.
Orientador Armando Medeiros de Faria. Monografia de conclusão do curso de MBA em
Comunicação Organizacional.
VIANA, Francisco. De cara com a mídia: comunicação corporativa, relacionamento e cidadania. São
Paulo: Negócio, 2001.
VILLELA, Regina. Quem tem medo da imprensa? Rio de Janeiro: Campus, 1998.
ZOBARAN, Sérgio; CAMARA, Leopoldo. A segunda imprensa: guia para divulgados e divulgadores.
Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
__________
1
Aqui, vale distinguir os conceitos de porta-voz e fonte. Fontes transmitem informações para a
imprensa. Porta-voz é aquele que, ao transmitir estas informações, atua como representante da
instituição, independentemente do cargo – pode ser um presidente, um técnico, um funcionário
do atendimento. São situações diferentes. Um segurança, quando atende ao jornalista
representando a empresa, atua como porta-voz. Um diretor, quando não fala oficialmente, mas
ajuda o jornalista a entender um fato, atua como fonte. Todo porta-voz é fonte, nem toda fonte é
porta-voz.
2
Um exemplo: o ator Benício del Toro mostra-se perturbado e desconcertado, a ponto de
gaguejar, quando uma jornalista norte-americana, de origem cubana, fez perguntas críticas a
respeito do filme no qual o ator faz o personagem de Che Guevara. Visivelmente não estava
preparado para discutir as opções políticas do filme. Veja em:
<https://www.youtube.com/watch?v=9CiZkI49fGo>.
3
A avaliação sobre o perfil de um convidado e um briefing são fundamentais – mais do que sua
eventual competência profissional. Já vimos um jornalista famoso dar palestra em que enfatizou,
com casos e argumentos, que a imprensa erra, deturpa e é mal-intencionada. Se o objetivo for
motivar uma equipe a lidar com a imprensa, esta fala reforçará resistências e preconceitos.
4
O procedimento de contratações será abordado no Capítulo 24 – Gestão da Terceirização.
As mídias baseadas em Internet trouxeram impacto significativo nos
processos de comunicação ao ampliar as possibilidades de armazenagem,
atualização, produção, distribuição e consumo de conteúdo, acesso, interação
e participação. Computadores e seus descendentes tornaram-se veículos de
comunicação de massa a partir da web colaborativa, fazendo que qualquer um
possa gerar e fazer circular conteúdo e tenha acesso fácil à informação
distribuída em qualquer lugar do planeta e ao contato com seus produtores.
Um dos principais impactos é que a essência original da comunicação das
organizações, baseada mais em propaganda e divulgação com a distribuição
unilateral de informações do tipo “eu falo e vocês escutam”, perde
importância para a necessidade de interação e diálogo.
Saímos da concentração informativa imposta pelo modelo da mídia de
massa para um universo de mídias e formas de conexão em que todas as
fontes são potenciais emissores. A perspectiva é de múltiplos diálogos e
interações com incontáveis envolvidos e em espaços fragmentados. As
expressões emissor e receptor perdem o sentido original – todos são
simplesmente comunicadores.
Qualquer pessoa pode produzir qualquer tipo de conteúdo em qualquer
lugar e a qualquer momento e possibilitar que chegue a um número
incontável de consumidores dessa informação – todos hoje mais exigentes.
Esses consumidores têm mais fontes de informação e, por isso, podem
escolher seu fornecedor de opiniões e fatos, dados e histórias e depois
redistribuir, comentar, manipular ou simplesmente interagir.
Os novos consumidores de informação querem conveniência. Isto inclui
conteúdo útil, relevante, interessante e agradável a partir dos pressupostos de
qualidade, transparência, honestidade, agilidade e possibilidades de
participação e disseminação. O principal valor que uma organização pode
entregar aos seus públicos na Era Digital é a conveniência, fazendo que o
stakeholder ganhe tempo e perceba sua vida sendo facilitada pelos serviços
das marcas com as quais se relaciona.
Se para saber sobre a vitória de seu time de futebol havia sete ou oito
opções, algumas disponíveis no dia seguinte ao jogo, na sociedade conectada
existem milhares de alternativas, desde o blog de um crítico amador,
postagens no Twitter por alguém que está assistindo à partida, rádio digital,
vídeos de bastidores no Periscope, podcasts, transmissão pela TV do clube,
até os vídeos com melhores momentos no canal oficial do próprio time, por
exemplo. Desde meados de 2016, a National Football League (NFL, dos
EUA) tem investido em transmissões em tempo real (em vídeo, áudio,
imagens e textos – incluindo participação de especialistas) dos jogos de seu
campeonato, pelo Twitter, Facebook e Instagram; tudo isso em português e
personalizado para o público brasileiro.
O modelo original de assessoria de imprensa permitia a um ator social
alcançar boa parte do público com certa facilidade. Hoje, esse instrumento
está claramente limitado e satisfaz muito menos. Os veículos tradicionais
perderam audiência nas antigas plataformas. O noticiário ficou mais
dinâmico, fragmentado, e o público, instável. As organizações encontram
uma alternativa: canais próprios de comunicação. Não é mais viável apenas
terceirizar para as mídias tradicionais a tarefa de informar ao público e
esperar que façam o trabalho de comunicação pela organização. Por isso, a
necessidade de canais próprios, comunicação dirigida ou mídia proprietária
para fazer chegar conteúdo primário diretamente aos interessados, sem
intermediários.
Em meio a esse movimento, cada vez mais cresce a importância dos
chamados “influenciadores digitais” (como blogueiros, tuiteiros, youtubers),
que têm conseguido lugar privilegiado como novos propagadores de
informação – posição outrora ocupada quase exclusivamente pelas
organizações jornalísticas.
Na verdade, percebemos uma tendência ainda mais forte de toda
empresa passar a se enxergar como uma “empresa de mídia”, investindo
esforços em modelos mais eficazes de comunicação e relacionamento com
seus públicos, como têm feito Nestlé, Coca-Cola, Gatorade e Red Bull, por
exemplo.
Uma das condições naturais da Internet é que o público final interaja
diretamente com a organização, sem os tais intermediários. Podemos acessar
a página de determinada empresa para saber das últimas novidades, baixar o
relatório anual de sustentabilidade, ou consultar os detalhes financeiros do
trimestre. Uma busca no Google e encontramos a informação de que
precisamos. Nas redes sociais é possível conversar diretamente com o
representante de uma marca sobre, por exemplo, modificações em um
produto, ou receber um convite para participar de um evento pela página da
empresa no LinkedIn. Até mesmo os altos executivos de grandes
organizações públicas e privadas facilmente são identificados e podem ser
contatados por qualquer um que tenha um pouco de paciência para uma
rápida busca no mundo virtual.
Na Internet, todos os públicos podem manter contato frequente e direto
uns com os outros. Os fornecedores podem falar entre si por meio de
comunidades, o consumidor final sabe das novidades visitando o site da
empresa (e talvez examinando a sala de imprensa) e os acionistas se
informam diretamente no Twitter de Relações com Investidores. Este novo
ambiente de comunicação trouxe mudanças de impacto para a área de
comunicação organizacional. Mas vamos ficar, neste texto, restritos às
relações com a imprensa. O papel do assessor de imprensa1, neste ambiente,
muda. A produção de textos de subsídio para a imprensa e o atendimento a
jornalistas é tarefa ainda necessária, mas a criação de espaços de interação
entre organização, públicos e a sociedade e a comunicação direta com a
sociedade e os públicos de interesse ganham importância. Há casos de
inteligência artificial desenhada para apurar, produzir e publicar conteúdo de
forma autônoma. Ou seja, claramente o papel dos profissionais de
comunicação – dentre os quais o Assessor de Imprensa – está e será cada vez
mais impactado pela ruptura digital inevitável nos mercados e na sociedade.
Tradicionalmente, o profissional que tem a função formal de atender aos
jornalistas e fazer o elo entre a organização e seus diversos públicos por
intermédio da imprensa é o chamado assessor de imprensa. Se a palavra
assessor já induz a erro (pois seu trabalho é mais abrangente do que a
expressão indica), agora está ainda mais distante da realidade. Ficou mais
fácil para o jornalista acompanhar as fontes e contatá-las diretamente, sem
intermediação de assessores e com bons resultados para ambos. Esses
profissionais, ao mesmo tempo, diversificaram sua atuação: elaboram
estratégias de comunicação, gerenciam equipes e processos, produzem
subsídios para dirigentes e conteúdo para públicos diversificados (inclusive
nos ambientes digitais), mantêm canais de comunicação com empregados,
envolvem-se em áreas como publicidade, relações públicas ou marketing. Ou
seja, assessor de imprensa é termo amplo, defasado, talvez distorcido, e, em
geral, não expressa a amplitude de seu papel para a organização. Não chega a
ser novidade, mas é cada vez mais evidente.
Dado esse novo cenário, é importante refletir sobre o posicionamento
estratégico da organização e estruturar um plano sólido para uma
comunicação mais integrada, com foco total nos clientes e em outros
stakeholders mais relevantes. É preciso saber utilizar o rol de táticas e
aparatos ferramentais para estabelecer um vínculo eficiente e duradouro com
seus públicos. Antes, as ferramentas eram limitadas principalmente a
releases, coletivas, pautas. Não podemos mais utilizar soluções antigas para
novos desafios e fingir que obtemos os mesmos resultados.
CONTRA A FAVOR
1. Sistema de busca ineficiente 1. Bancos de documentos, dados e
de imagens
2. Cadastro complexo
2. Cadastro para alertas sobre
3. Conteúdo de viés atualização
promocional
3. Integração com os perfis
4. Falta de atualização sociais
Conteúdo
Acesso aos perfis sociais. Utilize ao máximo as redes sociais para dar
suporte a seu site e Sala de Imprensa – e facilite o acesso. Crie links e
estabeleça conexão entre todos os ambientes virtuais como Twitter,
Facebook, YouTube etc. É fundamental ter uma estratégia para inserção em
cada rede e, na dúvida, seja cauteloso. Não esteja apenas para marcar
presença. Lembre-se de que é importante ter canais sociais segmentados
(busque os que mais fazem sentido para seu público), além de monitorar e
avaliar, interagir, dar retorno imediato, garantir atualização e oferta de
material de interesse.
Agenda. Disponibilizar agenda de autoridades ou programação de
eventos torna o ambiente mais atrativo para jornalistas visitá-lo regularmente.
É possível integrar a agenda de sua organização com os principais softwares
do mercado, como o Outlook, Google Agenda, entre outros – incluindo
acesso via dispositivos móveis.
Áreas temáticas. Considere criar ambientes específicos para certos
temas de relevância – permanentes ou eventuais. Gostamos de chamar de
“ilhas de informação”. Ali se reúne todo o conteúdo possível sobre
determinado assunto, permitindo ao jornalista obter informações amplas e
detalhadas. Uma das vantagens é que é possível estabelecer um ambiente à
parte da às vezes rígida estrutura imposta pela área de Tecnologia da
Informação.
Coletivas on-line. Podem ser uma alternativa, permitindo que jornalistas
façam a cobertura diretamente da redação e em lugares geográficos distantes.
Exige um detalhado planejamento e pensar em ações como disponibilizar as
gravações. Atualmente é comum oferecer coletivas via Skype ou Google
Hangouts – ambos oferecem possibilidade de gravação (para oferta sob
demanda) e de participação dos usuários em tempo real, além de
compartilhamento de arquivos e da tela do computador durante as
apresentações.
Conteúdo. É possível pensar além dos contatos óbvios, releases e fotos,
oferecer acesso a publicações, serviço de envio de informações pelo celular,
artigos, mapas, documentos, transcrições, discursos, íntegra de publicações,
transcrição de entrevistas e similares. Você também pode disponibilizar perfil
da organização e dos dirigentes. Linha do tempo, documentos históricos,
dados atualizados, balanços, estatísticas, relatórios, informes sobre produto,
serviços, obras, organograma, programas, diretores e trajetória ou currículo
são importantes. Outras opções são press kit digital, campanhas publicitárias,
sugestões de links sobre a área de atuação da organização, banco de pautas,
documentos como “Compromisso Público”, publicações institucionais,
códigos de conduta, manuais, glossários, pesquisas, guias de fonte,
documentos tipo position paper, Perguntas & Respostas. Todos costumam ser
muito úteis para os jornalistas e facilitam enormemente o trabalho da
assessoria, inclusive reduzindo a necessidade de solicitação de informações
oficiais.
Outros idiomas. Considere a possibilidade de ter o conteúdo da Sala de
Imprensa, ou parte dele, em inglês ou espanhol, principalmente se sua
organização tiver stakeholders fora do país. Se for uma marca de atuação
forte em algum país e com linguagem menos comum (Rússia, Japão,
Alemanha, por exemplo), vale a pena ter uma versão das páginas no idioma.
Destaques. É o local de apresentar o que é mais relevante para o
interessado, algo similar às manchetes de um jornal. Se criar um espaço desse
tipo, garanta que esteja visível, atualizado, de fácil acesso e que, realmente,
tenha atrativos. Esta área centraliza a atenção do internauta e assuntos
interessantes podem passar despercebidos se lá não estiverem. Ao mesmo
tempo, muitos itens (ou itens antigos) podem descaracterizá-la.
Galeria de fotos. Disponibilize fotos dos dirigentes, dos produtos e
serviços, instalações físicas, diferentes unidades da organização, material
histórico, imagens de eventos. Faça atualização permanente. Tenha versão em
alta resolução para download. É frustrante como órgãos públicos tendem a
veicular fotos de autoridades, mas não disponibilizam fotos de atendimento,
de pessoas trabalhando, das operações, de obras, de prédios ou outras
instalações relevantes e dos processos relacionados às políticas públicas.
Pode ser válido hospedar as imagens no Flickr, Google Photos ou no
Instagram e utilizar a área de imprensa do site como um facilitador ou
consolidador para esse conteúdo.
Galeria multimídia. É útil ter uma galeria com fácil acesso à material
multimídia (incluindo áudios, imagens, infográficos e slides) permitindo
download. Os jornalistas, por vezes, também poderão querer utilizar arquivos
em alta qualidade. Portanto, ofereça opções. Pense em disponibilizar material
em slides (arquivos Power Point) e incluir regularmente entrevistas e
depoimentos de dirigentes, técnicos, clientes, contar pequenas histórias,
mostrar processos. Avalie ter um ambiente em outras redes sociais para
conteúdo multimídia: YouTube e Vimeo (vídeos), Audacity (áudio), Flickr,
Instagram ou Pinterest (imagens, fotos), SlideShare (documentos de Word e
Power Point), entre outros.
Releases. Release é o instrumento de comunicação que contém
informação dirigida especificamente para a imprensa. Geralmente adquire
formato de texto, mas também pode estar em áudio ou vídeo. O release
ganhou flexibilidade de conteúdo e diversidade de formatos com as
possibilidades criadas pela Internet fazendo que o modelo tradicional, em
papel entregue ao jornalista, venha a ter o mesmo fim do dirigível, do telex e
do óleo de baleia para iluminação pública: uma vaga lembrança histórica e o
reconhecimento dos usuários pelos bons serviços prestados. Essencialmente,
o formato jornalístico permanece, mas com mais alternativas. Versões
bastante reduzidas continuam sendo o recomendável, mas é possível enviar
apenas links e deixar o texto, às vezes longo e detalhado, na Internet;
encaminhar textos de apenas um parágrafo; mandar por WhatsApp, fazer
press kits digitais, com acesso limitado; disponibilizar depoimentos em vídeo
ou em áudio, videoconferências, entrevistas via Skype. No caso da Sala de
Imprensa e tratando especificamente de textos, além de visualmente
desagradável, é inútil colocar longas listas com releases e links para seu
conteúdo (muito comumente apresentando somente data e título do release).
Lembre-se de que poucos têm tempo e paciência para fazer download de um
PDF sem sequer saber do que o documento trata. O jornalista não tem tempo
(nem paciência) de clicar em cada link para verificar se a informação é útil ou
não. Os releases devem ser incluídos no site como notícias, similares ao
formato de posts em um blog, com texto, fotos, links de aprofundamento,
vídeos embutidos e tags descritivas. Encurtadores de URL podem ser úteis
para facilitar o trabalho de distribuição. Mantenha expostos apenas os
últimos, mas garanta que haja um sistema fácil de acessar os anteriores e que
os relevantes permaneçam em destaque por tempo suficiente. Não se esqueça
de oferecer os releases em formatos alternativos (como podcasts ou vídeo
releases), além de deixá-los como posts em seu site, para
facilitar/potencializar a indexação dos mecanismos de busca. Importante
lembrar que o conteúdo dos releases e da sala de imprensa não deve ser
simplesmente replicado nas redes sociais, mas adquirir formato próprio,
tendo em vista o perfil do público e da plataforma.
Experiência do usuário
Busca. Torne fácil para o internauta encontrar informações, mas não se
limite a um bom layout e um eficiente campo de busca. As pessoas navegam
e procuram por conteúdo de maneiras distintas e muitas vezes caem
diretamente numa página interna. Por isso, utilize abas eficientes, artifícios
como uso de palavras-chave, Nuvem de Tags e campos autocompletáveis. Se
puder, tenha um sistema de busca por notícias no arquivo, por exemplo, e
outro geral. Um dos problemas mais frequentes nas páginas examinadas foi o
não funcionamento dos sistemas de pesquisa. Trabalhe também com filtros
nas buscas e com conteúdo relacionado automatizado, de forma a estimular
mais cliques e mais tempo de permanência em suas páginas.
Experiência de navegação. A identidade visual, o estilo redacional, o
uso de palavras, símbolos, linguagem, nomenclatura de seções e documentos,
conceitos bem amarrados, devem ser coerentes em cada ação e instrumento.
O estabelecimento de metodologias de gestão do conteúdo, de taxonomia de
conteúdos, de formas de indexação, de padrões de linguagem e de formatos é
importante para garantir a uniformidade. Se possível, faça testes de
usabilidade com usuários reais regularmente.
Mobilidade. Lembre-se de que jornalistas utilizam dispositivos móveis
para acessar às informações. Por isso, é importante oferecer o conteúdo de
maneira acessível para tablets, smartphones. Qualquer página on-line atual
deveria já ser criada de forma responsiva, isto é, nativamente preparada para
adequação automática em qualquer tipo de dispositivo ou tela.
Níveis de informação. Use a “técnica da cebola” proposta por
Rodrigues (2014). Coloque informações em níveis de profundidade. Faça a
primeira página a mais limpa que puder. Deixe informações detalhadas para
os níveis inferiores. Um release pode ter links para conteúdo interno, remeter
a relatórios, fotos, dados etc. Não polua a página principal, mas garanta que o
interessado compreenda perfeitamente como achar um assunto e seus
detalhes e conexões com outros. Adicionalmente, lembre-se das regras de
usabilidade dos ícones Steve Krug (2014) e Nielsen (2007): é quase
impossível que um internauta busque informações se tiver que dar mais de
três cliques.
Visibilidade. Garanta que a Sala de Imprensa esteja em um lugar
visível, preferencialmente no topo do site de sua organização, diretamente no
menu principal e, quando possível, nas subpáginas. O fato de uma Sala de
Imprensa estar localizada em sites de agências de comunicação e não no
portal da organização não parece ser relevante. É importante, entretanto, que
o site da organização tenha o link remetendo para a sala.
Gestão e estratégia
Coerência Estratégica. A Sala de Imprensa virtual deve estar articulada
com a estratégia da organização, da área de comunicação, e com as próprias
mídias digitais administradas pelas diferentes áreas da empresa de maneira a
potencializar todo o conjunto. Ela pode servir de plataforma para coordenar
outras ações de comunicação com a imprensa, desde o atendimento pessoal
até outras redes sociais. Deve haver uma coerência entre a estratégia
organizacional e seus desdobramentos táticos na área de Comunicação ou
Imprensa. Também deve haver integração com as demais ações da assessoria
de imprensa e da própria comunicação organizacional, de maneira que um
conteúdo reverbere o outro, haja complementaridade, articulação e coerência
interna.
Atualização. Insistimos, é a qualidade principal da Sala de Imprensa. A
agilidade deve ser a base da rotina de verificação e avaliação das
informações, acréscimos, atualizações, disponibilização de dados. Todo
conteúdo relevante ou de potencial interesse para a imprensa deve estar nesse
ambiente. Áreas de imprensa na Internet tendem a tratar do passado e não do
presente ou do futuro – justamente o que interessa ao jornalista e o que exige
o ambiente digital. Por isso, a importância de a Sala de Imprensa focar
bastante o que vai acontecer, com agenda, informações de suporte, alertas e
todo tipo de subsídio prévio possível. Este tipo de material é muito valioso
para o jornalista. Se não tiver como garantir atualização, talvez seja melhor
apenas informar o telefone da assessoria na página principal. Ademais, os
mecanismos de busca levam muito em consideração a frequência de
atualização das páginas web.
Avaliação. A avaliação regular ajuda a garantir que a gestão do sistema
esteja sendo bem conduzida e que a preocupação com a mídia digital não seja
apenas discurso. Faça testes com o atendimento, verifique o conteúdo, links,
usabilidade, funcionalidade, sistema de busca, compare com Salas de
Imprensa de outras organizações, cheque as estatísticas de acesso ao site.
Faça avaliações programadas e aleatórias, inclusive com os usuários, de
maneira a corrigir a rota e planejar a evolução. Mensure muito bem o tráfego
de seu site e o comportamento do internauta. Use esses inputs para gerar
insights de melhorias em seus serviços on-line.
Identificação. Todos os textos jornalísticos devem ser assinados,
mesmo que pela área de comunicação. Inclua data de veiculação, e-mail e
telefone do contato. Lembre-se de que a autoria dos conteúdos também
poderá orientá-lo a gerir a produtividade de sua equipe.
Monitoramento. A presença em uma rede social pode servir para a
assessoria monitorar o que estão dizendo da organização, das áreas em que
atua, e interagir, responder e identificar riscos, tendências, percepções e
temas latentes, saber sobre boatos, menções, críticas, permitir eventual
intervenção e elaborar estratégias de comunicação. Também pode ajudar a
saber o que os jornalistas que cobrem a área estão falando. O
acompanhamento do que se diz na Internet ou nas demandas do SAC ajuda a
assessoria a ser proativa e preventiva, interagindo com as pessoas e evitando
ser pega de surpresa por temas inesperados. Durante uma crise, a equipe de
monitoramento das redes sociais é capaz de, a partir dos comentários,
identificar perguntas que podem ser feitas pelos jornalistas à área de
atendimento à imprensa. Isso permitia levantar informações, preparar porta-
vozes e documentos do tipo perguntas & respostas.
Suporte. Mantenha contato frequente com a equipe de Tecnologia da
Informação, prestadores de serviço ou quem esteja ajudando a garantir o
funcionamento da Sala de Imprensa. Você pode programar reuniões mensais
de acompanhamento, emitir ou exigir relatórios, avaliações, testes e outras
ações que ajudem a manter a Sala de Imprensa atualizada com qualidade.
Relacionamento
Área fechada (conta pessoal com login e senha). Faça uma boa
ponderação sobre a melhor opção. Considere oferecer espaço para o jornalista
se logar, salvar os arquivos de seu interesse (fotos da empresa e seus
executivos, vídeos com entrevistas, relatórios financeiros etc.), e manter
contato direto com a assessoria de imprensa. Mas facilite a vida do usuário. É
compreensível que parte do conteúdo da Sala de Imprensa possa ser fechado,
com acesso exclusivo a jornalistas pré-cadastrados. No entanto, se o
profissional de comunicação entrar e, para qualquer clique for pedida senha, é
grande a chance de desistir e buscar a informação em outro local. Também
evite frases indelicadas como “Você não tem permissão para acessar esta
área”. Use as informações de navegação do usuário logado para aprimorar
continuamente sua oferta de conteúdo.
Comunicação direta. A Sala de Imprensa pode dar origem a um
sistema de informação e interação que alcance muito mais do que jornalistas.
Podem ser criados boletim digital, blogs para produtos, lançamentos, eventos,
ambiente específico em momentos de crise, disponibilização de íntegra de
entrevistas, discursos, depoimentos. É útil criar mecanismos para informar
sobre a atualização desses ambientes – cadastro para e-mail de alerta, perfil
no Twitter, Facebook. A página pode ter área para comentários,
esclarecimentos, explicações detalhadas e até mesmo esclarecimentos sobre
matérias veiculadas na imprensa. Em meados de 2009, a área de atendimento
à imprensa da Petrobras lançou o blog Fatos e Dados, com o intuito de
comunicar informações diversas sobre a organização diretamente aos seus
stakeholders. Além de tornar-se um canal direto com a sociedade, o blog foi
utilizado como veículo para contrapor argumentos ou explicitar falhas da
imprensa em tratar de assuntos da Petrobras. Ou seja, o blog informa a
imprensa, a sociedade e também serve de veículo de monitoramento – deixa
pairar o risco de o veículo ou o jornalista ser desmentido ou questionado
publicamente. Eventos ou congressos, por exemplo, podem ter ambientes na
Internet com transmissão ao vivo, disponibilização imediata de fotos, vídeos
curtos com depoimentos de participantes, cobertura jornalística on-line, slides
e transcrições – uma verdadeira central de informações para jornalistas que
não podem estar presentes, e para o público em geral.
Contatos diretos com executivos. Avalie com cuidado facilitar o
acesso. Se o jornalista mandar e-mail ou ligar direto para o executivo, não há
como assegurar qualidade ou rapidez no atendimento ao profissional da
imprensa. Neste caso, há que se garantir, pelo menos, que o dirigente esteja
preparado para atender ao jornalista sem a intermediação. Também por essa
possibilidade, é fundamental manter os executivos e demais fontes
preparadas para contato, ainda que virtual, com públicos de interesse da
organização.
Dados para contato. Facilite para o internauta. Disponibilize, em local
visível, maneira de acessar telefones, e-mails, endereço físico, fóruns e áreas
de interação. Nossas pesquisas mostraram que boa parte dos jornalistas
espera encontrar, pelo menos, o telefone da área de relações com a imprensa
no site (muitos não têm a informação). Crie um “Quem somos” ou similar.
Você pode dar o telefone e o e-mail da assessoria, mas seria interessante
oferecer os de cada profissional de atendimento à imprensa, talvez com foto.
Se sua organização tiver várias áreas com atendimento à imprensa, dê esta
informação e as formas de contato com cada uma. Avalie colocar um e-mail
para o internauta alertar sobre problemas na página ou fazer sugestões e
críticas. Você também pode manter um sistema de cadastro para informar ao
interessado sobre atualização na área de noticiário, por exemplo. Lembre-se
de que já há organizações trabalhando com atendimento via WhatsApp e
salas de chat ao vivo. Avalie qual a melhor solução para sua marca.
Interação. O ambiente virtual é essencialmente focado em interação.
Não basta disponibilizar ou distribuir informação, é preciso ouvir e interagir
com o jornalista em suas próprias condições de trabalho. Avalie a
possibilidade de criar chats, disponibilizar Skype ou contato via WhatsApp e
permitir a geração de conteúdo por usuários. Garanta que o site permita um
relacionamento profissional e personalizado. O atendimento a demandas deve
ser absolutamente prioritário, se possível imediato. As boas práticas dizem
que o prazo máximo de resposta deveria ser de algo até 30 minutos. Você
também pode estabelecer uma estratégia de diálogo com seus públicos a
partir da Sala de Imprensa, também interagindo com outros interessados,
mesmo que seja apenas para encaminhamento a outro ambiente do site,
veiculando matérias com espaço para comentários e compartilhamento nas
redes sociais.
Newsletter. As newsletters ainda são uma forma eficiente de levar a
informação regularmente ao público-alvo. Se tiverem boa qualidade,
garantem a leitura de um conteúdo que pode ficar perdido na confusão das
redes sociais. Lembre-se, no entanto, de respeitar a privacidade do usuário e
enviar somente conteúdo que o assinante pediu para receber. Acreditamos
que as comunicações via e-mail podem ser extremamente eficientes, mas é
necessário não apenas um plano tático específico para esse canal, como
também uma ferramenta adequada para o envio das peças de e-mail (como o
MailChimp) e um zelo pelo cliente, respeitando suas preferências e
privacidade.
Públicos. Considere como público prioritário da Sala de Imprensa
jornalistas e blogueiros. Lembre-se, entretanto, de que, se o ambiente for
aberto, será possível torná-lo uma antessala do portal, com informação útil e
relevante para qualquer internauta em busca de material didático – claro,
sintético, atual e objetivo. O conteúdo da Sala de Imprensa pode ajudar a
consumidores, funcionários e parceiros, por exemplo, a ter uma visão oficial,
mais útil e interessante da organização. A Sala de Imprensa possui a
vantagem de poder fugir do conteúdo formal, burocrático e meramente
institucional que viceja na maior parte dos sites.
Sistema de alerta. Existem estratégias de disponibilização (push) de
conteúdo, geralmente no site ou outro ambiente, e de entrega (pull), quando
se remete para o possível interessado. Um modelo comum é o que articula os
dois. O material é disponibilizado na Internet e o jornalista é avisado de que
está acessível. O cadastro no sistema permite oferecer ao jornalista o
recebimento de informações sobre atualização do noticiário, agenda, pautas,
entrevistas e similares. Esse sistema é automatizado e pode entregar o
conteúdo via e-mail, SMS ou WhatsApp.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma Sala de Imprensa On-line deve estar em harmonia com as
recomendações de Jakob Nielsen sobre a experiência do usuário em áreas de
imprensa on-line, que incluem fatores ligados à usabilidade, acessibilidade e
arquitetura da informação (2009). Ele aponta as principais razões pelas quais
os jornalistas visitam o site de determinada empresa: encontrar contatos da
assessoria de imprensa (nome, telefone e e-mail, além de links para as redes
sociais); encontrar informações básicas sobre a empresa (dados sobre
principais executivos, localização dos escritórios, posicionamento da
organização em relação a eventos de impacto no setor etc.); saber sobre a
participação da empresa em eventos (calendário para eventos futuros e
informações de atividades passadas); checar informações e dados financeiros;
download de imagens e outros conteúdos para ilustrar matérias.
Além destas diretrizes, é recomendável que a Sala de Imprensa On-line
seja um ambiente atualizado de informações relevantes sobre a organização,
um espaço no qual os jornalistas possam ter despertada e satisfeita sua
curiosidade, encontrar facilmente material interessante e receber atendimento
rapidamente.
A área de imprensa na Internet deve ser algo vivo, atraente. Lembre-se
de atualizar o conteúdo, atender às demandas dos influenciadores e melhorar
constantemente sua oferta on-line de acordo com os hábitos e preferências de
navegação e uso da Internet de seu público-alvo. Deve ser de fácil acesso,
navegação intuitiva e oferecer artifícios e ferramentas que ajudem o jornalista
a entender, selecionar, baixar e utilizar conteúdo sobre a organização.
Por fim, é importante ressaltar que o comportamento de uso e navegação
da Sala de Imprensa On-line é de fundamental relevância para tomada de
decisões estratégicas para a empresa. Cada clique, cada arquivo baixado, o
tempo passado em cada página, o caminho navegado pelo internauta,
frequência de uso do site... todas métricas são valiosas para se compreender o
que está dando certo ou errado no site e, em última análise, na forma como a
empresa se comunica com esses jornalistas e outros influenciadores-chave.
Por isso, é válido que, regularmente, o assessor estude os relatórios e
estatísticas relativas ao tráfego e comportamento dos usuários do site. Se há
muitos cliques na área de vídeos, talvez valha a pena colocar mais arquivos
para download. Se a seção de sustentabilidade não está sendo visitada, reveja
o conteúdo e se esforce para deixá-la mais atraente ou, se necessário, removê-
la do site. Se há muitos jornalistas compartilhando seus releases no Twitter,
estude a possibilidade de criar um perfil específico para esse público naquela
rede social.
Lembre-se de que o principal desafio é fazer que informações
pertinentes cheguem ao público final. Para isso, você deve saber quem são os
interessados, os intermediários e influenciadores do seu público (algum
jornalista? Uma revista segmentada? Um blogueiro sem papas na língua? Um
gestor de comunidade no Facebook?), e montar estratégias de aproximação e
relacionamento com cada um dos principais intermediários da comunicação.
Afinal, em um mundo cada vez mais conectado em uma rede sem
hierarquias, o sucesso de seus esforços de comunicação está intimamente
ligado ao poder de influência que a organização ou o profissional de
comunicação, os intermediários, porta-vozes possuem no ambiente social on-
line.
Ainda é comum, como descrevemos no início deste texto, encontrar
ambientes de atendimento à imprensa precários, burocráticos e mal
gerenciados, quando deveriam ser dinâmicos, organizados, atualizados,
completos e até surpreendentes. Nem sempre há recursos para ir tão longe,
mas, se tiverem a qualidade mínima necessária (e um firme
comprometimento com a atualização permanente), podem ser um
extraordinário suporte não apenas para os jornalistas, mas também para a
organização interna da assessoria e para a informação e interação com a
sociedade. Por isso, talvez o desafio seja criar a melhor Sala de Imprensa
possível. Isto certamente refletirá na respeitabilidade, credibilidade e
qualidade do trabalho da assessoria e na percepção positiva da organização,
além, claro, do que importa, que é disponibilizar a melhor informação
possível para a sociedade.
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__________
1
Os autores preferem adotar expressões como profissional de comunicação, ou, ainda, gestor ou
assessor de comunicação. Utilizaremos assessor de imprensa ao longo do texto por ser a mais
tradicional e popular, mesmo que limitante.
As transformações no ecossistema informativo envolvendo as
assessorias de imprensa e o jornalismo mostram uma série de novos
requisitos para quem atua na área: aumentou a exigência por atualização e
agilidade, a necessidade de lidar e integrar múltiplas plataformas, a obrigação
de interligar informações em quantidade, isoladas e dispersas.
O profissional se depara, com natural ansiedade, com opções de formato
e canais, fontes concorrentes capazes de produzir dados, distribuir
informações, estabelecer relacionamento, tudo em velocidade e volume
inéditos. Compreender o público de interesse, a imprensa e o jornalismo
praticado neste novo ambiente ainda em transformação torna-se quase uma
proeza (intelectual e técnica).
O conceito de comunicação de massa, ou a capacidade de um falar para
muitos, convive com o potencial de todos falarem com todos e com a
hipersegmentação. Por outro lado, as redes sociais podem também gerar
isolamento (comunidades que só falam entre si) e desinformação – seja a
partir de estratégias seletivas do receptor, que consome apenas informações
que corroboram seu ponto de vista, ou pela propagação de fake news, tendo
em vista o predomínio também das visões pessoais sobre a realidade objetiva.
Gestão de mídias sociais em assessoria de imprensa significa admitir o
impacto que a nova infraestrutura informativa provocou na oferta de
conteúdos e engajamento de públicos.
Após esta introdução, este capítulo percorrerá os seguintes conteúdos:
retrospectiva dos modelos tradicionais e os desafios das assessorias;
complexidade crescente da comunicação e seu impacto nas práticas da
assessoria; novas ferramentas e oportunidades; uso de palavras-chave nas
sugestões de pauta; novos formatos de distribuição de informações; a busca
de resultados (informações extraídas de sondagem com jornalistas e
assessores); e, por fim, um breve tópico sobre crise.
1. ANTIGOS MODELOS
Vejamos o modelo tradicional de assessorias:
6. EM BUSCA DE RESULTADO
Percorrido o roteiro anterior, cabe apresentar aqui as informações
obtidas por meio de pesquisa qualitativa, elaborada especificamente para este
texto.
As entrevistas (semiestruturadas)12 foram realizadas com um grupo de
jornalistas que trabalham em distintos ambientes profissionais. Alguns estão
na trincheira das redações. Outros em agências que detêm contas de
comunicação institucional de clientes corporativos e governamentais, ou
fundaram suas próprias agências. O grupo reúne também assessores de
imprensa vinculados diretamente a empresas.
A pesquisa explicita alguns pontos sobre como se movimentam
produtores e fornecedores de informação no circuito interativo entre
imprensa, redes sociais e “fontes organizadas”, no conceito pioneiro de
Chaparro (1994).
Pode-se antecipar que não há receitas. A percepção geral é de que o
apego a fórmulas e ao “saber antigo” dificulta a adaptação ao novo. E uma
certeza: a ansiedade por resultados permanece elevada.
A pesquisa abordou desde o acompanhamento das informações até as
grandes demandas na produção de conteúdo. Vamos a algumas variáveis
deste novo cenário:
Monitoramento
Conteúdo
1. A pauta do círculo TV/jornal/rádio/on-line se alimenta das redes
sociais e por elas é municiada. Identificar a tempo o que irá desaguar, de
forma intensa, na imprensa dominante (também chamada de referência)
e se esparramar em todas as plataformas pode fazer a diferença.
2. A maior parte dos jornalistas não guarda o furo para o dia seguinte.
Ele é anunciado rapidamente nas páginas da web ou em redes sociais,
deixando para as mídias tradicionais aprofundarem o tema. Imediatismo
é palavra-chave. Uma instituição, ao conceder uma coletiva, pode
transmitir o conteúdo em tempo real ou disponibilizar parte dela em
vídeo e/ou, até mesmo, destacar frases de seu porta-voz e postar fotos,
tudo isso utilizando diferentes mídias sociais. O jornalista que cobre o
evento pode fazer o mesmo, destacando os seus pontos de interesse. O
conteúdo das redes sociais pode informar com rapidez o público
primário, mas pode transbordar para outras mídias, mudar o formato e
circular em ambientes inesperados. A assessoria apenas fornece o
conteúdo inicial no meio apropriado.
3. Um cidadão até então anônimo compete com as fontes de informação
tradicional, ao ter a mesma capacidade de gerar conteúdo relevante. Ele
pode pautar a imprensa por meio de uma denúncia ou por vivenciar um
acontecimento histórico ou que mereça destaque. Um relato pode ganhar
dimensão nacional. Um vídeo curto pode circular nas redes sociais, mas
também ser veiculado no noticiário televisivo. As redes cada vez mais
pedem a colaboração desses anônimos com capacidade de produzir
conteúdo interessante em certo momento.
4. A mídia tradicional atua como “certificadora” das informações que
circulam no mundo das redes. De outro modo, tudo o que sai com
destaque na mídia tradicional vai circular nas redes sociais. Mesmo
desafiada e tendo reduzido a importância relativa, a imprensa tem a
capacidade de assegurar credibilidade, visibilidade e repercussão a um
assunto.
Transformações
1. Estruturas e serviços de relacionamento com a imprensa antes
voltados para o jornalista dialogam e informam diretamente os
interessados e têm a capacidade de alcançar, sem intermediários, um
público mais amplo. Ou seja, antes, o assessor se relacionava com o
jornalista para alcançar a sociedade, agora também informa diretamente
o público final e interessados. O chamado assessor (expressão cada vez
mais inadequada) não apenas produz notícia, mas também gera
informação e a disponibiliza ou distribui por múltiplas plataformas com
diferentes objetivos.
2. Autoridades e pessoas públicas profissionalizam postagens com
equipes especializadas em produção de conteúdo. O próprio conceito de
assessoria de imprensa é posto em xeque já que não basta apenas lidar
com jornalistas.
3. Os portais corporativos, atuando como central de comunicação do
ecossistema comunicativo, estão articulados com perfis em plataformas
e aplicativos, todos atuando com mídias independentes e integradas. O
sistema de comunicação reúne diferentes plataformas com linguagem e
conteúdo próprio, mas atuando sinergicamente a partir de temas e
mensagens predefinidas e nivelamento de conteúdo. Cada plataforma,
cada mídia social exige um conteúdo e uma estratégia própria, sempre a
partir de diretrizes e planejamento coordenados.
4. Pessoas e organizações tornam-se mídia. Qualquer um hoje é capaz de
veicular conteúdo e ganhar uma fatia de atenção. Assim, um dos novos
desafios das organizações é o de serem reconhecidas como capazes de
oferecer conteúdo significativo, na prática, serem a melhor fonte de
informação para cada um dos seus públicos. Não é mais possível esperar
que terceiros (como a imprensa) façam o trabalho de comunicação.
5. A capacidade de a sociedade acessar informação é a maior da história.
A audiência potencial é planetária. O desafio é alcançar o público de
interesse a partir de conteúdo relevante. E conteúdo é o elemento
central. Pode ser áudio, vídeo, foto, link, frase, infográfico, animação.
Um tweet pode ser como um lead que leva para um texto no portal. O
portal da organização talvez não seja o único local capaz de dar toda a
informação possível, de maneira clara, detalhada, didática sobre o
assunto em que ela tem interesse, mas certamente ela tem que ser capaz
de fazer isso.
6. É fundamental conhecer como cada jornalista de interesse gosta de ser
atendido e como e quais redes utiliza. Negociar pauta para um jornalista
com presença forte nas redes pode ser diferente do que para um
blogueiro ou para um repórter com presença apenas na mídia tradicional.
Antes reinava, absoluto, o critério da exclusividade e uma criteriosa
seleção a partir da relevância para o público. O imediatismo se
transformou em gênero de primeira necessidade ao mesmo tempo em
que a diversidade de perfis resultante das múltiplas possibilidades
fornecidas pela Internet aumenta as alternativas de inserção e circulação
de informações.
7. Se a fonte informa o número do celular dá um recado implícito: “aqui
você tem acesso”. Se distribui e-mails e telefones institucionais está
indicando: “aqui, o caminho é a assessoria de imprensa”. Se interage nas
redes sociais, na prática libera da intermediação da assessoria.
8. A reconfiguração da imprensa com o advento das novas plataformas
digitais e a crise no modelo tradicional de negócios reduziu o número de
veículos relevantes e influentes e aumentou o número de fornecedores
de informação. A assessoria precisa identificar os veículos
imprescindíveis, saber quem é quem e cada vez mais não menosprezar
veículos. Qualquer um não apenas é capaz de alcançar certo público que
pode ser de interesse, mas também de fazer circular informação além de
seu alcance normal.
9. Um desafio da assessoria de imprensa é definir e alcançar o público
de interesse. É o pensamento estratégico com foco em nichos de
públicos, em segmentos, em afetados, interessados, influenciadores etc.,
com os quais é necessário informar, conhecer, dialogar e debater. Cada
vez mais é preferível falar com o público certo do que tentar falar para
todos ou qualquer público.
10. Mídias sociais são território de diálogo, mas também de conflitos
potenciais e de enfrentamentos em variados níveis. Um dos maiores
desafios é, diante da aspereza, agir com leveza possível e garantir o
diálogo.
11. A nova realidade requer estratégias específicas a cada momento e
para cada operação. É preciso conceber cada ação a partir do contexto,
das necessidades, objetivos, público-alvo, canais e intermediários mais
adequados para compartilhar determinado assunto. Acabou a era de
disparar mensagens para todos e qualquer um. Acabou-se o tempo das
soluções massivas. A necessária segmentação trouxe a exigência de
estratégia e sintonia fina nas ações.
12. As redes sociais reforçaram, nas assessorias, a postura de agilidade e
rapidez, mas também de checagem, pois oferecem muitas informações
(e desinformações). E fica a tensão entre a verificação, a definição da
estratégia e o senso de urgência em disparar a informação, num ato
quase automático. Do mesmo modo, a facilidade de acesso trouxe a
necessidade de não ser invasivo nem pueril.
13. O Facebook é manancial de pautas, oferece fontes para testemunhar
fatos, expõe relatos de acontecimentos na primeira pessoa e tornou-se
canal auxiliar na apuração jornalística.
14. O uso de aplicativos de mensagens instantâneas como WhatsApp
tornou-se natural. A agilidade e a facilidade de uso em relação ao e-mail
e à ligação telefônica são os motivos principais.
Instrumentos
1. O press release perde o formato único, tradicional (explorado em
capítulo específico desta obra), embora o modelo padrão ainda sirva de
referência. Release é, essencialmente, conteúdo com características
jornalísticas para informar a imprensa. Com a adoção de conceito
expandido de imprensa e até mesmo de notícia, com as novas
plataformas e o contato direto com os públicos, os conceitos ficam mais
flexíveis, os formatos podem ser diversos (em texto, áudio, imagens,
ilustrações). Sob a perspectiva de as assessorias atuarem como extensão
das redações (Chaparro, 1980), não é possível deixar de acrescentar
subsídios informativos: infográficos, tabelas, animações, links etc. Na
Internet, tamanho não é relevante. A unidade introdutória com título e
lead continua necessária, mas segue-se a possibilidade de expansão do
detalhamento, com contextualização, diferentes níveis de explicação e
complementos relevantes que podem ser em vídeo, som, infográficos
etc. Não é mais necessário ficar preso às 25 linhas, quando é possível
dar um volume de informação relevante para o leitor, seja ele jornalista
ou público final.
2. Nas redes, as experiências sobre o que funcionou e o que não deu
certo, o que “bombou” e o que passou despercebido, são frutos de
tentativas e erros. Às vezes um conteúdo pretensiosamente planejado
para “estourar”, cai no ostracismo e pouco repercute (e talvez possa ser
recuperado mais na frente). Outros conteúdos, embora jamais pensados
para se transformar em hit, ganham repercussão imediata. Uma empresa
de saneamento conta, por exemplo, que um post de prestação de
serviços, mostrando como desentupir o encanamento de casa, virou,
inesperadamente, um dos cases de comunicação. Muitos conteúdos,
postados há meses ou anos, podem se transformar em relevantes para
alguém ou muitas pessoas por motivos variados. É importante
considerar que conteúdo postado é conteúdo perene, permanente.
3. Vale sempre indagar se determinada ação rotineira, estratégia
permanente, produto ou forma de abordagem não ficaram obsoletos. Há
algum tempo, determinado procedimento poderia ser eficaz, hoje não
mais.
4. Contatos telefônicos são mais raros, mas ganham importância porque
acontecem em situações mais críticas e relevantes. Nas negociações e
estratégias, o telefone é insubstituível e crucial.
5. Antes, assessorias de imprensa enviavam expressivo volume de
pautas. Hoje, a competição é mais difícil, pois o jornalista tem muitas
fontes de informação à disposição. Para a assessoria, é preciso, cada vez
mais, ter percepção clara sobre que tipo de jornalista ou veículo vai ter
interesse, e oferecer algo diferenciado, exclusivo, permitir antecipação,
oferecer embargo, dados ou abordagens atraentes.
Conflitos e crises
1. As redes reafirmaram o direito de expressar-se livremente. Risco é se
distanciar de quem pensa diferente. Apoiadores e antagonistas,
fervorosos, sempre fizeram parte do jogo, mas ganharam visibilidade e
capacidade de repercussão. Mas, apesar de ofensas, desinformação,
superficialidade, de intolerância ao menor deslize, há a possibilidade de
esclarecimentos, de mudança de posicionamento, de colaboração, de
troca de informações. Antes, era impossível “desimprimir”, por
exemplo. Agora é possível corrigir o erro e seguir em frente.
2. A disposição de estar presente nas redes sociais exige cuidados.
Assim como há apoiadores, há “lobos solitários”, talvez desconhecidos,
que podem fazer ações predadoras, capazes de abalar reputações. A
convivência não é só com amigos. O debate é público e permanente.
“Não vamos responder”, pode ser válido, mas também pode ser a pior
atitude.
3. Muitas pautas nascem de reclamações da comunidade (antes telefone,
depois e-mail, agora Facebook).
4. Crise? Com as mídias sociais, as possibilidades de ameaças à
reputação ficaram maiores. Neste novo ambiente carregado de
imprevistos e experimentações, erros e acidentes são inevitáveis. Hoje,
ao lidar com oceanos de informações, seus riscos e oportunidades,
precisamos estar sempre atentos, imbuídos de bom senso, perspicácia e
de refinados instrumentos. Mas devemos tomar cuidado com os
icebergs, que podem ser definitivos. Versões asseguram que, no caso do
Titanic, se o alerta tivesse ocorrido 30 segundos antes, seria possível
evitar a tragédia. Tudo será inútil se não agirmos com rapidez para
detectar icebergs ocultos. Ronson (2015), considera as crises atuais
muito difíceis de prever e de deter e demonstra como o ambiente virtual
tornou-se propício para ataques e críticas violentas, contra empresas,
famosos ou anônimos. A humanidade é movida por paixões e a web
facilita o julgamento sumário. Tais manifestações, que às vezes parecem
campanha, chegam com doses de crueldade e hostilidade suficientes
para abalar reputações e perturbar. É bom estar bem preparado para estes
tempos de guerra.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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<http://www.webopedia.com/TERM/A/adwords.html/> Acesso em: 08 jul. 2016.
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Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Gestão da Comunicação nas Organizações. Brasília.
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Disponível em <http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2016/02/04/apos-inaugaracao-com-
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RAVENSCRAFT, Eric. Why You Shouldn’t Trust Sensational Stories Based On Google Trends.
Disponível em: <http://lifehacker.com/why-you-shouldnt-trust-sensational-stories-about-google-
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RONSON, John. Humilhado: como a era da internet mudou o julgamento público. Rio de Janeiro,
Editora Best-Seller, 2015.
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YAU, Nathan. Google Correlate lets you see how your data relates to search queries. Disponível em:
<https://flowingdata.com/2011/05/25/google-correlate-lets-you-see-how-your-data-relates-to-
search-queries//> Acesso em: 08 jul. 2016.
__________
1
FSB Comunicação, In Press Oficina e DGBB.
2
Comunicação embasada por dados. Ou seja, estratégias são fundamentadas e definidas com
base em indicadores coletados e posteriormente analisados de diversas formas.
3
Comunicação com conteúdo criativo e impactante. O receptor da mensagem é convidado a
participar de desafio, como o de responder um quiz.
4
www.google.com.br/trends
5
https://www.google.com/trends/correlate
6
www.google.com.br/adwords
7
www.myprgenie.com
8
www.shiftcomm.com/downloads/smprtemplate.pdf
9
https://br.wordpress.com/create/
10
www.drupal.org
11
www.joomla.org
12
Integram a sondagem, a quem agradecemos: Alessandra Carneiro, Eduardo Correia, Elizabeth
Alves, Fernanda Paraguassu, Gabriela Valente, Jaqueline Paiva, Larissa Squeff, Leonardo Souza,
Luciano Pires, Marília Stábile, Marco Túlio Bretas, Omar Barreto Lopes, Rubiana Peixoto,
Silvio Ribas e Vivaldo de Sousa.
Pensar o campo da Comunicação, suas atividades correlatas e o perfil do
profissional da área em tempos de digitalização generalizada da sociedade
implica assumir uma visão flexível, adaptável e focada na inovação; um
posicionamento que viabilize a atividade comunicativa em seu papel central
diante da agilidade e mutação do mundo digital. O tema “curadoria de
conteúdo” surge neste cenário como um conjunto de ações vinculadas ao
perfil do profissional de comunicação e mídia contemporâneo. Mas,
justamente em função da mutabilidade e impermanência que ora
vivenciamos, “curadoria de conteúdo” é um tema que tem sido associado a
uma diversidade de definições, à abrangência de escopos um tanto paradoxais
e à descrição de funções limitada a receituários de boas práticas e de formatos
narrativos.
Evidentemente que não temos a intenção, aqui, de esgotar o tema nem
buscar uma normatização universal deste fazer. Propomos apresentar e
discutir “curadoria de conteúdo” a partir de um olhar facilitador, focado na
realidade dos profissionais de comunicação e em sua aplicação como
instrumento de engajamento de públicos no contexto da comunicação das
organizações. Nos inspiramos na estrutura tradicional do texto jornalístico
para tirar as aspas da “curadoria de conteúdo” e compreender o que é, como e
onde pode ser aplicada, por que é utilizada na atividade de comunicação e,
por fim, quem é o curador de conteúdo de hoje.
Importante lembrarmos que o termo curadoria entrou na categoria dos
cibersignificados de uma forma impactante e muito recentemente. O bem
conhecido e consolidado curador das artes ou aquele curador gestor legal de
patrimônios passaram a conviver com uma multidão de curadores da
informaçõo, curadores digitais, curadores de festas, de músicas, de moda, de
programações diversas, de coletâneas literárias. E a aceitação da condição de
impermanência da contemporaneidade se fez fundamental, exigindo do
curador, qualquer que seja ele, uma plena atenção, uma “antena” aos
acontecimentos, fatos, alterações, novidades, emergência de dispositivos e
transformações de tudo o que nos envolve cotidianamente. A ação
comunicacional na rede está hoje definitivamente ancorada em processos
curatoriais, sejam eles humanos ou algorítmicos, e é preciso dialogar com as
tecnologias digitais e compreender novos padrões de comunicação mediada.
O COMUNICADOR-CURADOR NA CONTEMPORANEIDADE
Ante tudo isso, é notória a substituição da figura tradicional do
comunicador – antes um simples intermediário entre a fonte de informação e
o receptor – pela figura do comunicador-mediador, portador de maior
responsabilidade e de novos conhecimentos em novos padrões de
comunicação. O comunicador digital e contemporâneo precisa se posicionar
diante dessa nova realidade curatorial da informação, explorando
competências interdisciplinares como a de mediação, remediação,
reconstrução, mineração de dados, valoração da informação, dentre outras. É
fato que qualquer um pode fazer curadoria na rede hoje. Mas em trabalho
anterior (2012), já refletimos sobre a curadoria comunicacional partindo do
pressuposto de que o profissional da comunicação da contemporaneidade, por
estar próximo de quem quer e deve ser informado, traz consigo um conjunto
de recursos importantes sobre processos de escolha, gostos, formação de
opinião, padrões sociais, dentre outros. Tudo isso possibilita o uso de
modelos curatoriais menos duros e uniformizantes que os algorítmicos, por
exemplo, e, portanto, mais adequados à função social do campo da
Comunicação. Tomamos como primordiais os diferentes processos de
mediação social, sejam eles produtos de homens ou máquinas programadas
por estes mesmos homens, reiterando que a qualidade e a relevância da
curadoria de informação sejam os diferenciais dessas práticas comunicativas,
independentemente das tecnologias disponíveis.
No cenário atual, com tantas plataformas acessíveis na web, há que se
reconhecer que há ainda uma curadoria muito mais algorítmica de conteúdo
que propriamente humana. Facebook, Twitter, Google já curam o conteúdo
de seus usuários há tempos e de acordo com suas próprias regras e
algoritmos. É preciso estar atento e refletir sobre o forte papel curatorial
desses códigos hoje em dia e a noção de que eles são originários de um
processo humano, com critérios de escolha definidos de antemão em algum
contexto da vasta oferta informacional. A curadoria de algoritmos mais
simples tende a considerar o comportamento passado do usuário: o que ele
curtiu, postou, recomendou etc., reconhecendo padrões e preferências a partir
de uma varredura pelos dados coletados. Em compensação, acreditamos que
uma curadoria exclusivamente humana consegue olhar com mais
assertividade para o futuro, agregando novos e inesperados olhares à
informação para o usuário, oferecendo a ele novos recortes e uma ampliação
de seu entendimento do mundo fundamentado em informação e
comunicação.
Aceitar a impermanência dos tempos líquidos de Bauman (2011) – sem
insistir na permanência da comunicação pós-industrial – e construir
estratégias que deem conta das inovações e da velocidade informativa que
emergem de um estado de “plena atenção” são posicionamentos
determinantes para a sobrevida dos comunicadores na contemporaneidade.
Não estamos indicando qualquer tipo de futurologia, mas atividades já em
uso ou em experimentação dentro do campo mundo afora. Temos claro que
as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação como um todo, e seus
desdobramentos específicos – sistemas publicadores, aplicativos, softwares
de mensuração, mineração, big data, publicação, plataformas sociais, entre
outros, são hoje componentes essenciais para a comunicação contemporânea,
da mesma forma que o são pilares da profissão como ética, veracidade,
independência, relevância e legitimidade. Vivemos tempos de ir além e
“pensar fora da caixa” no que tange à prática da comunicação, trazendo ao
profissional do campo habilidades e desafios que vão muito além das grades
curriculares atuais. O comunicador-curador deve pensar estrategicamente na
nova ecologia midiática e em todo o estado de mutação e adaptação contínuo
de suas atividades, contribuindo sempre para os processos de sociabilidade da
sociedade. É preciso mudar a praxis da comunicação levando-se em conta
que tecnologias e cenários disruptivos já transformaram pessoas, processos,
modelos de negócio e, logicamente, o consumo da informação na sociedade
contemporânea.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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JANOTTI JUNIOR, Jeder; MATTOS, Maria Ângela; JACKS, Nilda (Org.). Mediação &
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profesiones informativas. Disponível em: <http://www.redalyc.org/pdf/860/86022458001.pdf>.
Acesso em: 15 nov. 2016.
__________
1
Busca realizada em 15/12/2016 às 20h26.
2
Eli Pariser, The Filter Bubble: What the Internet Is Hiding from You, Penguin Press, 2011.
3
Disponível em: <https://www.domo.com/blog/data-never-sleeps-4-0/>.
Para muito além da discussão ideológica e limitada sobre
“terceirização”, os contratos de serviços externos são uma necessidade na
comunicação corporativa. Gradativamente consolida-se o modelo híbrido, em
que estruturas internas se articulam com fornecedores especializados, de
forma a inovar e acompanhar de perto o dinamismo das mudanças. Mas esse
cenário traz novas responsabilidades para fornecedores e gestores da
comunicação, nas organizações.
O debate sobre “terceirização” na comunicação corporativa ganhou
corpo especialmente quando as agências de comunicação, ou PR (Public
Relations), entre elas os grandes players da atualidade, passaram a fechar
contratos importantes de assessoria de imprensa com empresas privadas e
órgãos públicos. Esse movimento se intensificou nos últimos vinte anos,
quando quadros importantes da imprensa migraram para empresas de
comunicação, onde passaram a assessorar as fontes, com base na experiência
acumulada em redações.
Algumas das empresas PR se tornaram grupos capitalizados, influentes,
braços de organizações multinacionais, muito bem posicionados em rankings
de faturamento. Mas o cenário é complicado. Fatores se cruzam:
fortalecimento dos grupos de PR, ampliação crescente do escopo de
atividades da comunicação corporativa (para muito além das assessorias de
imprensa), transformação digital, as novas mídias, muitas plataformas de
informação, crise financeira dos grupos de mídia, entre outros.
Seja do ponto de vista formal-jurídico (contratos), seja sob a perspectiva
de integrar competências externas ao conhecimento e à dinâmica de equipes
internas, a tarefa de gestão é complexa. Não é desafio trivial avaliar a
qualidade da entrega dos serviços terceirizados. Neste cenário em aceleradas
transformações, quem está realmente atualizado e oferece soluções
inovadoras? Certas tecnologias e plataformas acabam virando commodities e
se a empresa buscava experiências novas, a contratação resultará em
frustrações de expectativas e de necessidades.
Por outro lado, entender de fato o cliente é um processo demorado e há
etapas de aprendizagem para a empresa contratada. Embora hoje na
comunicação a efetividade já seja avaliada em segundos, a sinergia das
atividades pode demorar. Em resumo, não há soluções mágicas e dificilmente
a terceirização será capaz de resolver gargalos estruturais. Caberá ao gestor
de comunicação (quem contrata) estabelecer de fato tarefas e funções
complementares e geradoras de valor agregado.
Definir claramente a “encomenda” (ter estratégia e objetivos bem
definidos), construir parâmetros de avaliação dos serviços prestados (custos,
ferramentas, recursos humanos mobilizados, mensuração de resultados) são
requisitos essenciais para o gestor obter, da terceirização, as tão sonhadas
complementaridade e sinergia.
MODELO HÍBRIDO
Neste contexto, o que é hoje a “terceirização” na comunicação
corporativa? Trata-se da substituição integral de estruturas internas por
contratos externos? Ou a chamada terceirização se refere a um rol de serviços
especializados acionados sob demanda, cujo volume depende do porte e
abrangência da organização? E será que terceirização ainda é o termo
adequado?
A polêmica normalmente recai sobre contratar fora atividades a priori
estratégicas, que envolvem o trânsito de informações de caráter restrito,
subsídio de qualquer plano de comunicação que pretenda ser exitoso. Porém,
um bom plano também se fortalece com estudos de mercado, pesquisas de
opinião, benchmarks e outras ferramentas que a empresa deve buscar no
mercado.
De fato, a contratação externa de serviços especializados associados à
comunicação corporativa percorre trilha sem volta. A abordagem ideológica
sobre a terceirização – que incendiou debates e colocou na arena os “sou
contra” e os “sou a favor” – já não dá conta da realidade, dada a
predominância de um modelo híbrido. Em boa parte dos casos, estruturas
internas se articulam com serviços especializados prestados a partir de
contratos temporários. Nessa convivência, são tênues as linhas que delimitam
informações acessadas apenas por uma das pontas. Os sistemas se
retroalimentam.
O tamanho das estruturas internas de comunicação corporativa varia
bastante, dependendo do porte e da natureza da organização. Os objetivos e
estratégias são diferentes quando se trata da comunicação de um órgão
público, ou de uma grande empresa privada, por exemplo. Há muitos matizes
no mesmo modelo, em que equipes internas fixas contratam serviços
especializados no mercado.
As generalizações são, portanto, um risco à espreita. Não há mapa
detalhado e fidedigno sobre quais modelos predominam. Mas o pacote básico
de uma área dedicada à comunicação, nas organizações, normalmente não
pode prescindir de um rol de contratos.
O LADO DE LÁ
É comum debates sobre terceirização colocarem foco nas assessorias de
imprensa. Mesmo hoje, não é raro encontrar depoimentos de jornalistas
graduados que se referem a essa atividade, de forma até pejorativa, como “o
lado de lá”. Vislumbram uma trincheira, hoje quase inexistente, entre os
“acontecimentos programados”, como escreveu Chaparro já há alguns anos, e
a pauta das redações.
A diluição de fronteiras entre jornalismo e entretenimento, jornalismo e
marketing, jornalismo e publicidade é fenômeno adensado por um contexto
em que todos podem produzir conteúdos e, pela via das novas mídias, intervir
no processo de produção das notícias.
Além do forte impacto social, as mudanças tecnológicas têm
consequências sobre os modelos de negócios de empresas jornalísticas, antes
calcados em conjunto restrito de plataformas de informação e de produtores
de conteúdos. As novas configurações contribuíram para que profissões
tradicionais fossem redesenhadas, ou até extintas, e ajudaram a trazer a crise
para o planejamento financeiro de organizações da mídia.
Ninguém se arrisca a apontar um rumo certo para essas mudanças. O
horizonte é dinâmico, poroso, avesso a planos fechados. O importante é
destacar que a configuração da comunicação corporativa busca se ajustar a
esse dinamismo. E o faz, em boa parte dos casos, pela gestão de contratos que
muitas vezes são a ponte entre a realidade das empresas e o contexto mutante.
AGÊNCIAS DIGITAIS
Hoje, fornecedores de auditorias de imagem oferecem pacotes que
cruzam esses dados com avaliações sobre a repercussão dos temas nas redes
sociais. Algumas das agências PR já contam com unidades especializadas
nesse tipo de análise. Mas boa parte subcontrata esses serviços.
A ideia é avaliar, por exemplo, se as notícias foram muito
compartilhadas, se geraram engajamentos relevantes (comentários,
defesas/ataques), se foram “compradas” por perfis que têm influência no
universo das mídias sociais, se foram aproveitadas em novas
contextualizações sobre o tema, se geraram escala considerável de
repercussões e quais são os desdobramentos possíveis.
Com a multiplicação de ferramentas e algoritmos que permitem rastrear
o caminho dos conteúdos nas redes, a quantidade de parâmetros que podem
ser considerados nas análises tende ao infinito.
Organizações com orçamentos mais robustos têm contratado as
chamadas agências digitais para avaliações que consideram novas
plataformas de informação, no atendimento a diversos tipos de demandas;
trata-se de um mercado também em expansão. Essas agências em boa parte
são empresas que têm como core business a publicidade na arena digital e o
planejamento, desenvolvimento e construção da presença das organizações
nas novas plataformas.
Mas os escopos possíveis das “encomendas” para uma agência digital
podem variar muito e são de difícil precificação. A abrangência dos contratos
é muito diferente, dentre os modelos existentes, e a dinâmica das inovações
tecnológicas só faz dificultar a formatação de padrões.
Afinal, são muitas as interfaces previsíveis do trabalho de uma agência
digital com a publicidade, com o marketing, com as áreas de pesquisa de
mercado e de TI, entre outras. Essas possibilidades diversificadas de atuação
e o atendimento a demandas de diversas áreas da empresa geram desafios
ainda maiores para a gestão dos contratos de agências digitais, uma vez que
pedem integração e não entregas fragmentadas, as quais podem não se
comunicar dentro da mesma estratégia.
As novas linguagens e as mudanças cada vez mais cotidianas nos
formatos da comunicação interpessoal também representam desafio crescente
para as corporações. Exemplo importante é o da linguagem audiovisual,
muito acessível e utilizada nos aplicativos populares, porém em boa parte dos
casos ainda bastante desprezada na comunicação de uma empresa. Os
discursos formais, oficiais, são de fácil – e menos dispendiosa – elaboração
quando veiculados por texto. Essa é quase sempre a opção da comunicação
corporativa quando é necessário se dirigir aos funcionários, por exemplo.
Mas em um contexto no qual os vídeos, por exemplo, se tornaram tão
comuns no compartilhamento de mensagens entre pessoas, o texto simples
ainda encontraria o mesmo apelo e impacto, a mesma eficácia do passado
recente? E qual será a avaliação, tanto por parte dos públicos quanto do
board de uma empresa, da comunicação corporativa que não lança mão, com
frequência, de novos formatos audiovisuais?
Ou seja, o espectro de potenciais fornecedores acompanha a explosão
das novas mídias, a universalização dos formatos audiovisuais e a
incorporação de linguagens híbridas por parte dos públicos, fatores que
tornam ainda mais complexo o empacotamento de demandas e a gestão dos
contratos, como um todo.
FORMAÇÃO DE PORTA-VOZES
Os chamados cursos de media training, já consolidados há mais de vinte
anos no universo das assessorias de imprensa e da comunicação corporativa,
são produto básico nas prateleiras das agências PR. Na verdade, o formato
desse produto evoluiu relativamente pouco ao longo desse período, com
propostas de treinamento em boa parte ainda ancoradas em laboratórios e
simulações baseadas nas rotinas das mídias tradicionais. O modelão que
mescla palestras de jornalistas renomados e sabatinas das fontes, com foco
especialmente em simulações de crises de imprensa, ainda impera.
Mas algumas agências já propõem formatos mais abrangentes, que
preparam os executivos para serem portadores dos discursos da marca em
todas as suas experiências de mídia. Nada mais apropriado, considerando-se
que o despreparo de gestores no manejo das informações de seus próprios
perfis pessoais nas redes, por exemplo, pode ser o estopim de situações
constrangedoras. Esse media training abrangente, direcionado para porta-
vozes no sentido amplo, pode também incluir preparação para desempenhos
em palestras, eventos sociais e mesmo para reuniões corporativas. Está
direcionado, portanto, à formação de portadores do discurso corporativo em
diversas situações, e não apenas no atendimento às demandas dos jornalistas.
A necessidade de integração das diversas possibilidades da comunicação
corporativa torna obsoletos os formatos contratuais muito engessados, que
não tenham flexibilidade suficiente para assimilar mudanças constantes e se
adequar aos diversos contextos. São relacionamentos – fornecedores e
contratantes – sob permanente escrutínio e reavaliação. A integração das
diversas modalidades da comunicação corporativa nunca foi tão premente em
termos de estratégia, eficácia e racionalidade de recursos.
Cestas de produtos
O site da Associação Brasileira das Agências de Comunicação
(Abracom) detalha conceitos da comunicação corporativa e mostra
ampla gama dos serviços a ela relacionados, dentre eles quais podem ser
objeto de contratação externa especializada. A Abracom traz as ações
esperadas dentro de cada grupo de serviços – assessoria de imprensa,
relações públicas, auditorias de imagem, gerenciamento de crises,
comunicação interna, eventos corporativos, impressos institucionais –
além de identificar atividades da comunicação corporativa nas quais
esses serviços se cruzam.
O site dispõe de informações completas sobre como definir os tipos
de serviços especializados de que uma empresa necessita. Detalha
“cestas de produtos” mais indicadas – dependendo do porte da
organização –, dicas operacionais de procedimentos para iniciar seleções
de contratados, tipos de processos concorrenciais, elaboração de
briefings, sugestões de como avaliar propostas, passo a passo das
contratações e análises dos serviços prestados.
Nos anexos, a Abracom ainda traz modelos de documentos e
formulários para cada passo da contratação, e sugere métricas preciosas
de avaliação dos resultados. Ou seja, um enxoval bastante completo para
a comunicação corporativa, seja qual for o tamanho da organização. É a
própria materialização da ideia de que os formatos hoje predominantes
na comunicação corporativa são os híbridos, com tendência a uma
diversificação cada vez maior de serviços especializados.
Esta análise não tem por foco estudar a natureza ou a gestão completa
das crises. Nem irá se aprofundar em outras variáveis importantes para
entender o processo de gestão de crises, como o gerenciamento de risco,
prevenção, preparação, pós-crise. Para um estudo mais completo da gestão de
crises, o profissional, mesmo o profissional da comunicação, precisa se
aprofundar nessas questões.2 Nosso campo de interesse aqui é a gestão da
comunicação durante períodos agudos de crise. Saber como conduzir
situações críticas ou ameaças à reputação, com repercussão negativa na mídia
e, por extensão, na sociedade, para que a percepção da crise não afete
também os negócios e os resultados da empresa.
As crises podem ser encaradas como um estado da natureza das
organizações. Ocorrências negativas fazem parte da dinâmica das
corporações e dos governos. Tanto podem surgir em decorrência de
catástrofes ou acidentes, como de erro humano, má gestão (talvez a falha de
maior incidência), administração ou comunicação errática, intrigas políticas
ou religiosas, represálias, venda de produtos sem conformidade ou outros
interesses. Nessa hora, não importa quem seja, a mídia passa a ser o vetor
natural desses conflitos.
A imprensa é um ator decisivo nos jogos de poder e nas disputas de
mercado. Os meios de comunicação, diz Yves Mamou (1992, p. 103), “são
decididamente um elemento chave nos conflitos de poder. Eles não são
atores, como alguns jornalistas têm prazer em acreditar; são instrumentos”.
Mas por que, apesar de ter aumentado a cultura sobre gestão de crises e
o entendimento de que os riscos são cada vez maiores, temos a impressão de
que aumentou o número de crises e as organizações continuam errando? Não
é impressão. As crises aumentaram na intensidade e na frequência. Empresas
e governos continuam errando, principalmente na comunicação.
Levantamento de institutos especializados constata que há uma concentração
de crises por má administração ou erros de gestão. Junto com crimes de
colarinho branco e as que redundam de informantes, representam quase 50%
de todas as crises corporativas.
Se, por um lado, as empresas estão mais preocupadas com as crises, as
ameaças e os riscos aumentaram, num mundo em que as novas tecnologias
favorecem invasões de arquivos, vazamentos e espionagem industrial. É
importante registrar que as pesquisas confirmam o que há anos é um
consenso na literatura de crises: 80% das crises vêm de dentro das
organizações, a maioria delas situadas na gestão. Somente 20% teriam origem
em outras causas, incluindo as causas naturais, como desastres provocados
por fenômenos da natureza. Mesmo assim, as organizações continuam
confusas na hora de administrar as crises de imagem. Preferem atribuir a
culpa a motivos aleatórios, ataques de concorrentes, inimigos políticos ou
outras forças desconhecidas.
Quando uma barragem de rejeitos se rompeu, como aconteceu com a
mineradora Samarco (controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP
Billiton), em Mariana-MG, em 5 de novembro de 2015, a empresa pareceu
surpreendida. Como se fosse uma fatalidade. Mas, posteriormente, se
descobriu que havia recomendações de anos anteriores do Ministério Público
e de órgãos ambientais para ações de segurança que não foram tomadas. Que
havia sinais de vazamentos, alertando para o risco de rompimento. Que obras
de contenção não foram feitas. Que não funcionou o sistema de alarme no dia
da tragédia para alertar os moradores sobre a iminência do desabamento.
Enfim, uma sucessão de falhas e omissões que acabaram causando a tragédia
que matou 19 pessoas, invadiu e destruiu residências, plantações e
benfeitorias dos moradores de dois povoados e contaminou definitivamente a
bacia do Rio Doce, chegando até o mar. Um desastre ambiental para ficar na
história. Não pode a empresa argumentar que foi uma crise surpreendente.
Essa crise trouxe grandes lições também na área da comunicação.
A direção (da empresa) deve decidir de antemão com clareza, o que vai
ou não revelar durante uma crise. (...) evasivas, subterfúgios e palavras
brandas para ganhar a confiança do público não produzem bons
resultados.
COMITÊ DE CRISE
A prática começou com os americanos, na década de 80, a partir do que
aconteceu com a Exxon, no vazamento de óleo na costa do Alasca, e com a
Johnson & Johnson, no caso do envenenamento do Tylenol.7 Para administrar
situações críticas, as empresas instituíram comitês ou gabinetes de crise,
grupo de pessoas ligado à diretoria, com poder de decisão, acionado tão logo
ocorra algum acontecimento capaz de ameaçar a imagem da empresa ou
provocar repercussão negativa na opinião pública.
A estrutura desse comitê pode variar. Deve contemplar as áreas-chave
para defender a reputação da empresa. Em geral só incluem o presidente da
organização (CEO), em casos de crises mais graves. Ele pode até interagir
com a equipe, mas precisa administrar a organização nesse momento
vulnerável. A estrutura mais recomendada é: coordenador do comitê; diretor
jurídico; área de comunicação, pelo titular ou o assessor de imprensa;
recursos humanos; segurança e informação; e, naturalmente, a diretoria
envolvida diretamente no problema. A esse grupo pode-se juntar a área de
operações ou de marketing; o assessor parlamentar e um consultor externo,
quando necessário. O coordenador ou alguém indicado por ele será o porta-
voz para o caso de pronunciamentos ou entrevistas à imprensa.
Definir os integrantes desse comitê é uma das respostas para a crise.
Formação ideal do comitê: poucas pessoas (entre oito e doze), conhecedoras
da organização, corajosas, empreendedoras, arrojadas, com poder de decisão
em situações de pressão e estresse e disposição para prestar esclarecimentos
rapidamente, com desenvoltura e clareza. O porta-voz precisa ter treinamento
em media training. O comitê sinaliza os pontos vulneráveis da organização e,
com isso, define objetivos, estratégias e táticas para enfrentar as crises. A
criação do comitê já sinaliza a sensibilidade da empresa para com o
problema. É um comitê quase virtual, acionado tão logo ocorra uma crise ou
o cenário aponte para essa perspectiva. Mas, importante: o coordenador desse
comitê ou gabinete de crise, geralmente alguém abaixo do principal
executivo, precisa ter autonomia, poder de decisão e o suporte da diretoria
para adotar medidas difíceis e ousadas, na hora certa. Deve ter credibilidade,
poder e liderança para comandar essa equipe. Dele depende o sucesso na
gestão da crise.
Além do jurídico, obrigatoriamente deve ter uma ou duas pessoas com o
domínio no relacionamento com a mídia. Até mesmo os consultores externos
(quando houver) devem ter um relacionamento estreito com o diretor de
comunicação, que deve centralizar as principais ações em relação à mídia, o
que inclui imprensa, publicidade e outras áreas. Uma ação descoordenada por
qualquer executivo ou empregado durante uma crise pode agravar o
problema.
Em geral, os executivos brasileiros – por falta de hábito – ignoram esse
comitê. Só se dão conta da importância real dele quando um problema maior
se instala na porta da empresa. Aí bate uma espécie de pânico e acaba a
racionalidade de qualquer planejamento. Na maior parte das vezes, as áreas
operacionais, onde podem ocorrer acidentes ou com risco maior, são bastante
preparadas para resolver emergências, mas despreparadas para gerenciar a
comunicação da crise. Nesses casos, não se costuma seguir rotina simples,
como manter o número do telefone dos principais dirigentes da empresa ou
do pessoal da comunicação na agenda, para acionar nas emergências.
Acendeu o alerta vermelho em algum setor, com risco de se transformar em
acidente ou escândalo? Quem são as pessoas que devem ser acionadas? A
resposta deve estar na agenda diária de todos os principais administradores,
supervisores e plantonistas. No acidente com o Airbus A320 da
Germanwings – uma empresa do grupo Lufthansa –, em 2015, nos Alpes,
quando morreram 150 pessoas, segundo autoridades por culpa do piloto
acusado de derrubar o avião, as primeiras informações foram dadas logo às
10h30, tão logo foi dado o alarme de desaparecimento da aeronave. Ninguém
sabia o que havia acontecido, mas a informação precisava ser dada: o avião
estava desaparecido. A entrevista à imprensa foi realizada às 15 horas.
Outro erro muito comum, principalmente no setor público, é criar
comitê de crise apenas para dar uma resposta à pressão da opinião pública.
Anunciam um comitê de crise sem objetivo definido, sem pressa em se
reunir, que nada resolve. É só para criar um factoide, uma notícia com
repercussão. Muito apropriado para quem não quer resolver a crise, mas
apenas aparecer e dizer que está trabalhando.
Um comitê bem afinado e uma diretoria bem atenta certamente irão
detectar as vulnerabilidades da organização, tendo presente que não existe a
hipótese de total invulnerabilidade ou imunidade a qualquer tipo de crise. A
partir do diagnóstico, o trabalho é corrigir os pontos fracos. Outra
providência prática: criar textos-padrão para utilizar quando necessário.
Todas as empresas com riscos potenciais, como as do setor aéreo, transportes
e produtos inflamáveis ou correlatos, pelo risco inerente ao negócio, podem
ter uma rotina de comunicação preventiva, previamente acertada.
O DISCURSO DA CRISE
Existe um ponto em que há convergência de opinião. Na crise, deve-se
eleger um único porta-voz, que passe credibilidade, com treinamento para
lidar com a imprensa e tenha amplo conhecimento do negócio da
organização, além de dominar todos os aspectos da crise. Ao definir esse
porta-voz, optar de preferência por alguém com habilidade para ouvir,
expressar-se e manter-se calmo, mesmo sob forte pressão; deve também ter
postura adequada à imagem da empresa e, mais importante, transpirar
credibilidade. Não esqueça que aquele porta-voz é a “cara” da empresa
naquele momento. Alguém despreparado e mal apresentado pode
comprometer a organização. Não adiantam milhões de dólares em
publicidade, marketing agressivo, se na hora da crise a empresa trabalha com
o improviso ou se nega a prestar informações. Esse é um contrassenso
perigoso.
Há um preceito fundamental: escolha um porta-voz experiente,
informado, que fale com clareza e diante do qual o público não se sinta
diminuído. Ou seja: quem é o mais qualificado e o mais apropriado para
aquele evento. O diretor ou gerente da área, que entende melhor do assunto,
pode ser uma boa opção, com a premissa de que saiba lidar com os jornalistas
e não venha para “esconder” nada. Nesse momento, mais do que nunca, estar
sempre acessível e disponível para explicar o problema nos mínimos
detalhes. O porta-voz não pode ser um “boi de piranha” que foi atirado à
mídia, para tentar limpar a barra da organização. Quem for indicado para uma
missão dessas, recuse. Compete à área de comunicação monitorar se o porta-
voz é preparado.
Nem sempre o porta-voz mais qualificado para uma crise é o principal
executivo da empresa. Naturalmente, dependendo da dimensão do acidente,
ele deve mostrar a cara, assim como deve ser bem avaliada a conveniência de
aparecer o prefeito ou o governador em incidentes que ocorrem na cidade ou
no estado. Muitas vezes, um diretor ou secretário de governo está mais
preparado para atender aos jornalistas do que a principal autoridade.
A maioria dos autores ressalta a importância da presença do CEO (o
principal executivo) no cenário da coletiva, quando existe uma crise. Mesmo
nessas situações, a decisão de expor o presidente da empresa tem que ser
muito bem avaliada. Ele não precisa necessariamente aparecer em todas as
fotos, imagens e declarações, principalmente se associado a acontecimento
muito negativo. Até nessa hora, sua aparição precisa ser discreta.
No caso da Petrobras, durante a maior crise da empresa, a partir de
2014, com as denúncias sobre a compra da Usina de Pasadena, no Texas
(EUA) e, depois, com as graves acusações da Operação Lava Jato da Polícia
Federal, que implicou a prisão e indiciamento de pelo menos quatro diretores
e outros executivos, a porta-voz indicada foi a presidente da empresa, Graça
Foster. Foi mais um dos erros do governo Dilma, quando a crise estava no
início. Um CEO da dimensão de uma empresa como a Petrobras não pode se
transformar na “cara” da crise. Que credibilidade Graça Foster tinha para
negociar contratos e empréstimos bilionários, discutir com investidores ou
empregados se ela se transformou na “profetisa do Apocalipse”? Ela passou
meses se explicando, atendendo convocações do Congresso Nacional, além
de acionistas, imprensa, sindicatos, empregados e, certamente, não encontrou
espaço para gerenciar a própria empresa, porque a crise demandava o tempo
quase total da executiva. No auge da crise, desgastada e sem encontrar uma
saída, ante os números negativos da Petrobras, Graça Foster foi afastada.
De fato, não existe uma regra geral para indicar um porta-voz. Depende
da crise. No acidente da empresa aérea Gol, em 2006, o principal porta-voz
na coletiva de imprensa, no dia seguinte ao acidente, foi o presidente da
empresa. Não havia como o principal executivo ficar fora da mídia. Esse foi
um acontecimento de grande impacto e repercussão internacional. O cuidado
deve ser em como serão esses contatos. Desde a organização da entrevista
coletiva, local, convidados, material a ser distribuído, horário para TV,
atendimento às redes sociais etc. Sob tensão e forte emoção, um porta-voz
fica mais vulnerável, ainda que ele tenha pleno domínio do assunto. A mídia
em geral pressiona o porta-voz, podendo desestabilizá-lo, se não estiver bem
preparado. Nas crises de maiores proporções, as entrevistas coletivas devem
ser muito bem organizadas. Como toda coletiva, essa deve ser impecável do
ponto de vista da organização. Mesmo assessorias com larga experiência,
muitas vezes, perdem-se na montagem de coletivas de grande interesse
público, transformando-as em sessões tumultuadas, pouco produtivas,
desagradáveis aos jornalistas e perigosas para a fonte.
Esse porta-voz é um elemento-chave no desenlace da crise. Uma
entrevista mal organizada, declarações pouco convincentes ou equivocadas
irão exacerbar o problema e não o resolver. Fundamental que, além de
treinado, ele tenha disponibilidade e boa vontade com a mídia, porque nesse
momento a imprensa torna-se mais arrogante, exigente e fala em nome do
cidadão. Ela assume a postura de ombudsman da sociedade.
Em alguns casos, funcionários de segundo escalão são postos, de uma
hora para outra, em contato com jornalistas no momento mais delicado de
uma crise. Isso é muito comum em atividades de alto risco, sujeitas a
acidentes ou emergências. Ou aquelas que funcionam com o sistema de
plantão. Desencadeada a crise, a imprensa é a primeira a chegar e passa a ser
atendida por empregados despreparados. Empolgados com o microfone e a
câmera de TV, eles dão declarações precipitadas, sem orientação superior e
até o conhecimento da área de comunicação. Em muitos casos, será preciso
depois corrigir essas versões. Ninguém pode falar com a imprensa, em
episódio negativo, sob pressão, sem preparo e sem orientação da diretoria ou
da assessoria de comunicação. Afinal, naquele momento, quem fala é a
própria empresa. Há uma grande diferença entre ser sincero e ser ingênuo.
Qualquer declaração dada no calor dos acontecimentos, ainda que por fonte
não credenciada, será considerada como pronunciamento oficial.
PALAVRA-CHAVE: CREDIBILIDADE
Quem acompanhou as investigações da Operação Lava Jato deve ter
visto inúmeras vezes, nos telejornais, executivos da Petrobras, donos de
construtoras ou outros acusados se defendendo das acusações: ou não se
pronunciavam; diziam não haver provas; evocavam o infalível vocábulo do
juridiquês “ilação”; ou desqualificavam a denúncia, sempre alegando
inocência. Vários deles estão presos. Em geral, essas declarações vinham por
meio de advogados. Essas fontes, no auge da crise, careciam daquilo que é
um dos ativos mais preciosos para preservar a reputação nesse momento: a
credibilidade. Credibilidade é um ativo que se conquista ao longo do tempo,
como a reputação.
Nos treinamentos de crise, a palavra credibilidade aparece em negrito.
Não se adquire credibilidade da noite para o dia. Empresários, autoridades
públicas, políticos, governos constroem credibilidade com o passado e o
presente, com atuação transparente e ética com a imprensa e a sociedade.
Essa capacidade de dizer a verdade, junto com a ética, é que sedimenta uma
imagem. O selo da credibilidade associado a uma empresa, organização ou
pessoa resiste ao tempo e aos fatos. Assim se constrói o que Charles Fombrun
(1996) chama de “capital reputacional”. Quando eventual episódio negativo a
atinge, as reações passam a ser vistas em função desse patrimônio.8
Quando a crise bate à porta, esse capital começa a ser levado em conta e
é posto em xeque. A crise, por suas dimensões, pode gerar um passivo de
imagem, que tem uma relação direta com a credibilidade da instituição ou da
pessoa atingida. Por isso, a construção desse “ativo” torna-se um diferencial
para quem de repente fica exposto. Reputação e credibilidade não são
importantes apenas para o mercado. A mídia também tem alta consideração,
na hora de julgar comportamentos e atitudes. Se uma empresa já tem uma
imagem negativa, a crise tende a ser escrutinada com mais rigor.
À GUISA DE CONCLUSÃO
A primeira crise entre poder e imprensa no Brasil começou com o antigo
jornal Correio Braziliense, de Hipólito José da Costa, no início do século
XIX. Para se preservar, ele fazia o jornal em Londres. Os embates entre
empresas, governos, políticos e empresários com a imprensa fazem parte da
própria história da comunicação no Brasil. Exercendo mal ou bem o direito
de informar, a imprensa em qualquer lugar do mundo sempre procurou
assumir o papel de “fiscal dos que não têm voz”. E por isso esteve sempre em
conflito com os poderosos.
No passado, as crises eram contornadas de maneira até heroica e
folclórica, ou por meios pouco ortodoxos, abafadas por interesses muitas
vezes escusos. Atualmente, com uma gestão mais profissional, concorrência
acirrada e uma imprensa investigativa, a gestão de crises entrou na pauta dos
executivos de qualquer organização e se incorporou ao planejamento das
empresas. O potencial fiscalizador da mídia pode desencadear pequenas ou
grandes crises, a qualquer momento. A diferença está em quem se preparou
ou não para situações críticas. A maioria dos autores alerta para o caráter
inevitável de certas crises. O que importa é a forma de enfrentá-las,
principalmente a qualidade das relações com a imprensa e com os públicos
que interagem com as empresas, os governos, as personalidades públicas.
Lição que fica: prevenir é melhor que remediar. Ditado que cai como
uma luva na administração de crises. Nunca subestimar a intensidade de uma
crise. Com a mídia, a relação transparente, tempestiva, verdadeira poderá em
certos casos até amenizar o problema. É possível superar a crise? Sim. Desde
que a organização seja reconhecida pela sociedade pela atuação ética e
responsável e tenha uma estratégia correta para lidar com os formadores de
opinião. Para isso, não basta uma boa explicação. Fundamentar-se na verdade
e na transparência ajuda a amenizar desgastes na imagem. Se os executivos
modernos aprenderem a lição com quem errou e acertou, certamente ficará
mais fácil encontrar o caminho quando a crise chegar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUGUSTINE, Norman. Como lidar com as crises. Os segredos para prevenir e solucionar situações
críticas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
BARBEIRO, Heródoto. Mídia training: como usar a imprensa a seu favor. São Paulo: Saraiva, 2008.
BERNSTEIN, Jonathan. Manager’s guide to crisis management. New York: McGraw-Hill, 2011.
CAPONIGRO, Jeffrey R. The crisis counselor. Chicago: Contemporary Books, 2000.
CHAPARRO, M. C. Jornalismo na fonte. In: DINES, A.; MALIN, M. (Org.). Jornalismo brasileiro: no
caminho das transformações. Brasília: Banco do Brasil, 1996.
CORREIO BRAZILIENSE. Brasília, 25 abr. 2000 e 4 ago. 2000.
FORNI, João José. Comunicação em tempo de crise. Entrevista à revista Organicom – Revista
Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações Públicas, nº 6. São Paulo: ECA/USP, 1º
semestre de 2007, p. 196-211.
FORNI, J.J. Entrevista ao programa Mundo Corporativo, da CBN. Disponível em
http://www.comunicacaoecrise.com/site/index.php/artigos/770-entrevista-ao-mundo-corporativo-
cbn
FORNI, João José. Gestão de Crises e Comunicação. O que Gestores e Profissionais de Comunicação
precisam saber para Enfrentar Crises Corporativas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
FOMBRUN, Charles. Reputation. Boston: Harvard Business School Press, 1996.
GRIFFIN, Andrew. Crisis, Issues and Reputation Management. London: Koogan Page, 2014.
LOPES, Marilene. Quem tem medo de ser notícia? São Paulo: Makron Books, 2000.
MAMOU, Yves. A culpa é da imprensa. São Paulo: Marco Zero, 1992.
MITROFF, Ian I. Managing crises before they happen. New York: Amacom, 2000.
RIBEIRO, Alex. Os abusos da imprensa. São Paulo: Ática, 2000.
ROSA, Mário. A síndrome de Aquiles: como lidar com as crises de imagem. São Paulo: Gente, 2001.
SUSSKIND, Lawrence; FIELD, Patrick. Em crise com a opinião pública. São Paulo: Futura, 1997.
VIANA, Francisco. De cara com a mídia. São Paulo: Negócio, 2001.
Sites
www.comunicacaoecrise.com
www.marthagabriel.com.br
www.karenfriedman.com
www.bernsteincrisismanagement.com
www.crisisexperts.com
www.communication-sensible.com
__________
1
In: <http://www.bernsteincrisismanagement.com/>. Acesso em: 23 maio 2009.
2
Sugerimos, para iniciar um estudo mais completo do processo de Gestão de Crises, recorrer aos
livros constantes na bibliografia, ao final deste capítulo.
3
O tweet inconsequente dizia: “Going to Africa. Hope I don’t get AIDS. Just kidding. I’m
white”.
4
Dois casos que hoje são exemplos de precipitação e exagero da imprensa foram as matérias
sobre a compra de bicicletas superfaturadas pelo ministro da Saúde Alceni Guerra, no governo
Collor; e o caso da Escola Base de São Paulo, em 1994, quando um professor e os donos da
escola foram massacrados em reportagens que – pouco tempo depois se comprovou – foram
feitas sem a devida apuração. Eles eram inocentes. Veja Ribeiro (2000).
5
Esse case de crise é analisado de forma mais completa em Forni, 2015, p. 33.
6
Entrevista ao autor em Londres, em março de 2011, disponível em
http://www.comunicacaoecrise.com/site/index.php/artigos/436-a-midia-nao-e-guardia-da-
reputacao-publica-de-uma-organizacao. (Consulta em 10.11.2016).
7
Para informações mais completas sobre esses dois episódios marcantes do estudo sobre crise
nas empresas, ver Susskind e Field (1997, p. 108) e Forni (2015, p. 17 e 181).
8
Um dos fatores decisivos para o sucesso da Johnson & Johnson no episódio de envenenamento
de cápsulas de Tylenol, em 1982 – que se tornou um clássico na gestão de crises –, foi a
credibilidade da empresa em suas relações com a mídia, consumidores e sociedade. “A empresa
respondeu com seriedade a dois dos atributos indispensáveis nos momentos de crise: coerência
nas ações e compromisso com a opinião pública” (Viana, 2001, p. 167-168). E mais: “O caso do
Tylenol é antes um importante exemplo de uma organização que assumiu a responsabilidade
pelos seus produtos sem ter sido forçada a isso” (Mitroff, 2000, p. 16; Forni, 2015, p. 17).
9
Outro caso que se tornou célebre na administração de crises é o do vazamento de 40 milhões de
litros de óleo, em 1989, do petroleiro Exxon Valdez na costa do Alasca. O episódio foi tão
malconduzido do ponto de vista da comunicação, que uma semana depois, com a repercussão
negativa em todo o mundo, o presidente da Exxon (Esso) teve que reconhecer que sua
preocupação tinha sido solucionar o problema operacional e esquecera da versão que a mídia
estava dando ao episódio. Dez dias depois do acidente, a Exxon publicou desculpas oficiais nos
jornais de todo o país. E, na entrevista, o CEO bateu boca com os jornalistas, quando foi
duramente questionado. A imagem da empresa tinha sido fortemente atingida. E até hoje é um
acidente lembrado mais como um case negativo na comunicação de crise do que com o estrago
que fez ao Alasca. Para mais informações, ver Susskind e Field (1997) e Forni (2015, p.181).
A avaliação em Comunicação Organizacional/Corporativa, pelo menos
no Brasil, tem sido assumida mais como uma proposta ou necessidade que,
muitas vezes, se esgota no discurso vazio das empresas e seus gestores, do
que como uma prática regular e competente. Certamente, concorre para este
cenário um conjunto formidável de fatores, dentre os quais, três merecem
destaque de imediato: a) a comunicação não é efetivamente percebida como
estratégica; b) as metodologias utilizadas para avaliar ações, produtos e
processos de comunicação são, em muitos casos, inadequadas; e c) há,
efetivamente, desafios ainda não vencidos para a avaliação de determinados
ativos intangíveis que tipificam a comunicação, como a imagem, a reputação,
o valor da marca, a identidade corporativa etc.
Apesar da contundência das falas dos gestores que proclamam em
uníssono a importância da comunicação para as organizações, é forçoso
reconhecer que a comunicação, com raras exceções, não ultrapassou ainda a
sua dimensão tática ou operacional e que, portanto, é vista mais como uma
ferramenta do que como um processo. Isso significa constatar que a
comunicação não incorporou definitivamente, em seu ethos, o planejamento
estratégico e que se mantém refém de práticas que não estão alinhadas com as
atuais circunstâncias, como as novas relações de consumo, as mudanças
profundas no mundo do trabalho, em particular na área da comunicação e do
jornalismo, o protagonismo das redes e mídias sociais e a consolidação de
valores, como a sustentabilidade, a governança corporativa, a cidadania e a
ética empresarial.
O gestor de comunicação, na maioria das organizações brasileiras,
continua “apagando incêndio”, “colocando a trava depois da porta
arrombada” e se valendo unicamente de sua intuição, de sua experiência para
o desenvolvimento de seu trabalho, cada vez maior em volume e em
complexidade. A exigência da aceleração e da adequação das respostas para
atender às demandas dos stakeholders, as transformações constantes e
radicais das tecnologias que dão suporte à atividade comunicacional e mesmo
a cobrança quase obsessiva por resultados a curto prazo estressam os gestores
de comunicação, especialmente quando a alta administração tem uma visão
muito restrita da comunicação contemporânea.
O que significaria, então, assumir uma perspectiva estratégica para a
comunicação corporativa?
A resposta a esta indagação não é, necessariamente, simples, mas é
possível, de forma resumida, dizer que a comunicação estratégica é aquela
que é praticada por uma organização que desenvolve uma administração
estratégica. Ou seja, que constrói e coloca em prática um amplo e
diversificado conjunto de processos, cenários e produtos que permitem a
obtenção de resultados positivos em conformidade com os seus objetivos (ou
metas), missão e valores. Bueno (2005, p.15) define alguns contornos para a
administração estratégica:
a) O mito da centimetragem
Algumas empresas (com a complacência de assessorias de imprensa)
emprestam valor exagerado ao espaço ocupado pela divulgação da empresa,
norteando sua análise meramente pelo ponto de vista quantitativo: quantas
matérias foram publicadas e o respectivo volume de cobertura (medido em
cm2 ou cm × col). Não se pretende ignorar que a dimensão da divulgação é
um dado importante do esforço de assessoria de imprensa; afinal de contas, a
tarefa, quase sempre, é divulgar amplamente um fato, processo ou produto
sob a responsabilidade de uma empresa ou entidade (a cliente da assessoria).
Mas é preciso ter em mente que não é tudo. Às vezes, consegue-se um espaço
nominalmente generoso, mas pouco representativo, seja em termos dos
veículos que aderiram à divulgação, seja em relação ao público que se
pretendia atingir. Tanto quanto saber o espaço total obtido com a divulgação,
é importante saber quem divulgou e em que circunstâncias. Se os veículos
interpretaram mal as informações, ou as contextualizaram penalizando a
empresa, o aumento do volume de cobertura terá, neste caso, impacto
negativo.
Algumas assessorias externas costumam acumular recortes, cópias de
programas (rádio e TV) ou mesmo de divulgação em sites (jornais on-line,
por exemplo), sem atentar para a qualidade da divulgação, o que,
convenhamos, deve ser sempre a preocupação do assessor da organização ou
entidade. A máxima a ser seguida: melhor do que divulgar muito é divulgar
bem.
c) Positivo x negativo
Uma das contestações mais frequentes ao trabalho de auditoria de
imagem diz respeito à definição sobre a angulação da matéria (editorial,
artigo, nota em coluna etc.). Do ponto de vista prático, não há, certamente,
dificuldade em definir se uma matéria é positiva, negativa ou neutra. Basta o
assessor de imprensa verificar se a unidade informativa (nota, notícia,
editorial, nota em coluna, artigo etc.) contribui para formar a imagem positiva
da empresa ou entidade; se ela degrada a imagem ou se, na verdade, a
referência não inclui juízo de valor. Mais do que qualquer outro profissional,
o assessor de imprensa está capacitado a fazer essa avaliação porque sua
reputação, como gestor do processo de relacionamento com a mídia, depende
basicamente da circulação de informações positivas sobre seu cliente
(empresa ou entidade). Como já apontamos, essa avaliação não deve levar em
conta apenas o fato de que a informação sobre a empresa ou entidade foi
publicada, mas como foi veiculada (as informações estavam corretas? O
veículo contextualizou-as direito? A empresa ou entidade saiu lucrando com
a divulgação?).
Muitas assessorias, desavisadamente, ou sob pressão do cliente, iniciam
um processo de divulgação que, por ocorrer em tempo inoportuno, envolve
um assunto que pode ser contextualizado negativamente para a empresa ou
entidade, ou, ao endereçar-se a um veículo (ou profissional) inadequado,
acabam gerando uma divulgação desfavorável. Os exemplos são fáceis de
reunir.
Imaginemos a primeira situação. Uma grande empresa decide divulgar o
empréstimo (vultoso) recebido do BNDES, exatamente quando a mídia está
debatendo o apoio do Governo a grandes empresas, em detrimento dos
investimentos sociais ou da saúde das pequenas empresas. Uma notícia
gerada, nesse momento, irá repercutir desfavoravelmente e poderá levar a
organização a ser penalizada com um noticiário negativo.
A segunda situação pode ser o esforço de uma empresa de comunicar
que as vendas de determinada linha de produtos aumentaram no último
trimestre. O veículo, contextualizando aquela informação, descobre que a
empresa tem participação pífia naquele segmento e, em vez de divulgar
apenas aquela informação específica, abre uma matéria maior sobre a
participação das empresas naquela linha de produtos, estabelecendo uma
comparação ou um ranking. Se a empresa não está liderando o mercado,
acabará, pela ânsia de estar na mídia, desencadeando um processo de
divulgação que lhe será desfavorável. A pergunta a ser feita é: terá valido a
pena ter “cutucado o leão”?
A terceira situação a ser relatada é aquela em que a empresa encaminha
uma informação sobre aumento de produção (por exemplo, uma indústria
química ou siderúrgica) para diversos veículos e colunistas, sem atentar para
o fato de que, ao acessar, por exemplo, um veículo ou colunista
comprometido com a questão ambiental, poderá gerar uma pergunta básica:
há um processo de gestão ambiental associado a esse novo investimento?
Sobretudo, se a informação repassada aos veículos (e jornalistas) não incluir
esse detalhe, provavelmente a notícia será publicada com esse
questionamento. Pior será se realmente o aumento de produção não tiver sido
acompanhado por esses cuidados, ou se a empresa tiver um passivo ambiental
que a torna vulnerável a esse tipo de divulgação.
Enfim, a geração de matéria positiva ou negativa não depende apenas da
informação propriamente dita, mas de uma série de fatores que precisam ser
considerados no processo de divulgação. Isso nos remete a considerações que
privilegiam o momento do processo que ocorre bem antes de se chegar ao
clipping, ou que remetem ao que deve acontecer após se ter o clipping em
mãos.
d) A construção de indicadores
As organizações que já incluíram a gestão da comunicação no seu
planejamento estratégico adotam indicadores como instrumentos concretos de
avaliação da eficácia de ações, estratégias e produtos de comunicação.
Evidentemente, há alguns mais comumente utilizados, como aqueles que
permitem mensurar o retorno do trabalho de relacionamento com a mídia, os
de retorno de investimentos em apoios e patrocínios ou mesmo os que
indicam impacto de campanhas publicitárias.
Aos gestores de relacionamento com a mídia interessa sobretudo definir
parâmetros que possam caracterizar o retorno do trabalho de inserção de seus
clientes ou chefias, porque essa definição, de alguma forma, precisa estar
alinhada com os objetivos e metas assumidas para esse trabalho. Se isso não
ocorrer (e muitas vezes esses indicadores são prioritariamente definidos por
outras áreas, criando embaraços para as assessorias), é possível que
explicitem situações que colidem, inclusive, com a proposta do trabalho de
relacionamento com a imprensa que está ou deverá ser praticada. Os
parâmetros podem não valorizar, por exemplo, as publicações segmentadas
(ou especializadas) ou os portais em favor de veículos impressos e, na
verdade, boa parte do esforço de interação com a mídia acaba sendo realizado
(com resultados de sucesso) exatamente naqueles espaços ou ambientes. Se
esse for o caso, com certeza o indicador não refletirá o trabalho posto em
prática e penalizará de forma inconteste a sua avaliação/mensuração.
É importante ressaltar que, em função desse alinhamento, os indicadores
devem, obrigatoriamente, variar de organização para organização e, em
muitos casos, entre as propostas de relacionamento definidas para uma
mesma organização. Há mesmo indicadores parciais e que se referem a
esforços singulares de relacionamento, como os que dão conta de jobs
específicos de assessoria de imprensa (presença da organização em um
determinado evento ou em relação a um tema determinado etc.).
LEITURA RECOMENDADA
BLANCHARD, Olivier. Social Media Roi. Managing and measuring social media efforts in your
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BRAGA, José Luiz; LOPES, Maia Immacolata Vassalo de. Pesquisa empírica em comunicação. São
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Acesso em: 05 nov. 2016.
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2016.
__________
1
Edgar Morin (2011, p. 74 e seguintes), um dos teóricos mais prestigiados do pensamento
complexo, define como seus princípios básicos o dialógico, o da recursão organizacional e o
hologramático.
Acontecimentos programados. Fatos que adquirem dimensão de
notícia, a partir do que é agendado pelas fontes. Dizem respeito, portanto, à
origem de determinados acontecimentos. Alguns estudos (iniciados
especialmente por Chaparro, 1998) apontam que os acontecimentos
programados podem predominar no noticiário cotidiano. Ganham força com
as dificuldades encontradas pelos veículos na realização de coberturas mais
extensas (passam a depender mais do que é programado pelas fontes).
Afinar o discurso. Jargão que designa o compartilhamento de uma
mesma “visão de mundo”, por parte dos executivos de uma empresa, diante
de dificuldades circunstanciais enfrentadas pela corporação. “Afinar o
discurso” entre as fontes é tática essencial na gestão de crises e momentos em
que a empresa está vulnerável diante da mídia e da opinião pública. Um
“discurso afinado”, especialmente em momentos difíceis, denota organização
e capacidade da empresa de adaptar-se às exigências da cobertura jornalística.
Agências de Comunicação PR (Public Relations). A designação PR
(Public Relations) também conceitua revisão de modelos de prestação de
serviços oferecidos pelas agências, sobretudo as de maior porte. Em vez da
oferta de produtos e serviços pontuais, as empresas oferecem também
consultorias estratégicas que envolvem diagnóstico, leitura de ambiente,
priorização e assertividade nas ações de comunicação, com ampla
abrangência de canais e de monitoramento. Sai o esforço eventual para
construir “imagem positiva” – na imprensa, por exemplo – e entra o trabalho
com referências sustentáveis de percepção da marca, junto aos diferentes
interlocutores das empresas.
Agências Digitais. Empresas de diferentes portes, especializadas no
desenvolvimento de ações para os ambientes digitais, e que se integraram ao
rol de contratos de uma assessoria de comunicação organizacional.
Desenvolvem tanto “enxovais eletrônicos” básicos – banners, animações,
vídeos, sites de estrutura simples, games, aplicativos – até grandes portais na
Internet e planejamentos exaustivos para a atuação das organizações nas
redes sociais. As agências digitais também são contratadas para fazer o
planejamento e a estruturação de Intranets.
Agenda setting. Embora, em suas bases conceituais, o tema esteja em
pauta desde o início do século XX, a hipótese da agenda setting foi proposta
de maneira mais consistente nos estudos de Maxwell McCombs, ao final dos
anos 1960. Diz respeito, grosso modo, à construção da realidade pela mídia a
partir da seleção temática, do agendamento de assuntos que a imprensa julga
serem prioridade na discussão pública (Wolf, 1995, p. 130).
Agendar notícias. Diz respeito à programação de acontecimentos,
normalmente por meio de sugestões de pauta, ou de releases convocatórios
de entrevistas coletivas, por exemplo. Prática que se aperfeiçoa com a
possibilidade de intervenção das fontes nas rotinas de produção da notícia.
Análise de desempenho. Com base nos dados obtidos por meio da
auditoria de imagem, refere-se à comparação entre os desempenhos obtidos,
na mídia, por empresas da mesma natureza. Exemplo: entre dois bancos,
trata-se de averiguar qual obteve maior ou menor visibilidade para seus
produtos e serviços, no noticiário de determinado mês.
Assessoria de imprensa. Um dos mais importantes serviços da
comunicação organizacional. É a gestão dos fluxos de informação e
relacionamento entre as fontes de informação e os jornalistas. Trata-se de
atividade que mescla o caráter difusor de notícias, ou de acontecimentos
programados, relativos à instituição ou às pessoas físicas, com outro, de
recorte mais estratégico, no qual se estabelecem mecanismos de
relacionamento e aproximação com os jornalistas.
Auditoria de imagem. Monitoramento periódico do desempenho de
uma instituição, empresa, ou outra fonte, na mídia. Representa, em síntese,
uma análise mais depurada e criteriosa das notícias que envolvem a
organização, com base em categorias e instrumentos de análise que vão bem
além da simples quantificação dos conteúdos positivos e negativos. Trata-se
de um instrumental analítico que se renova sempre, com base em programas e
índices específicos oferecidos por grandes agências de comunicação.
Balão de ensaio. Informações colocadas estrategicamente no noticiário,
as quais visam antecipar reações da opinião pública. Exemplo: algum
colunista aponta o nome de um político para um cargo de Ministro de Estado,
mesmo que a autoridade ainda não tenha sido oficialmente indicada. Nesse
caso, o objetivo pode ser o de usar o poder da mídia para fazer campanha
contra ou a favor da indicação de um nome.
Blog. Forma abreviada de weblog (web – rede; log – relatório, registro),
diários virtuais. O jornalismo se apropriou rapidamente da popularização dos
blogs e de seus mecanismos bastante simplificados de funcionamento. Hoje,
são canais muito importantes de alguns colunistas, por exemplo. As
informações quase sempre são breves, listadas em sequência de data, ou
horas, ou minutos, e algumas vão se desdobrando em notinhas, ao longo do
dia, como um diário mesmo. Os blogs, já há alguns anos, adensaram a
importância de valores caros ao fazer jornalístico, como a notícia em primeira
mão e o acesso exclusivo a fontes de prestígio. A renovação dos conteúdos é
veloz e a antecipação de manchetes é um dos grandes trunfos dos blogs. Os
blogs hoje também são comuns na comunicação interna das organizações.
Boneco. No jornalismo fotográfico: enquadramento padrão, formal, do
rosto de uma pessoa/fonte. Normalmente, quando não há repórteres
fotográficos disponíveis, alguns veículos pedem que a assessoria de imprensa
forneça “bonecos” dos entrevistados. Na produção gráfica, o boneco é a
primeira versão composta, ou montada com proposta de diagramação, da
peça que se pretende produzir.
Briefing. No caso do jornalismo, pode ser o ritual do repasse, aos
jornalistas, de novas informações sobre fatos que estão na ordem do dia. Na
publicidade ou na comunicação organizacional, pode se referir a um resumo
de intenções repassado às agências de publicidade – ou à equipe de
comunicação digital, por exemplo – como ponto de partida para o
desenvolvimento de novas campanhas.
Checklist. Lista de controle, supervisão, checagem de tarefas que devem
ser realizadas para o sucesso completo de algum trabalho.
Comunicação empresarial. São muito tênues as fronteiras do
significado dessa expressão com aquele de expressões correlatas:
comunicação organizacional, institucional ou corporativa, por exemplo.
Grosso modo, sintetiza o caráter estratégico da comunicação de uma empresa
com seus públicos diversos, por meio de instrumentos e técnicas que se
tornam tão sofisticados e complexos quanto a teia de relações da empresa
com seu ambiente. O objetivo é aumentar a eficácia dos processos de gestão
da empresa, tanto no que se refere aos aspectos internos quanto externos, no
relacionamento com a sociedade e com outras empresas.
Comunicação mercadológica. Normalmente, o termo designa o setor
da empresa que se relaciona com agências de publicidade contratadas, ou que
analisa as demandas de patrocínio apresentadas pelo mercado. A partir das
necessidades da organização, elabora os briefings e os repassa para o
desenvolvimento de campanhas e como critérios para se definir patrocínios.
Discursos interessados. Referencial teórico que diz respeito ao “agir da
fonte, por meio do dizer”, no jornalismo (Chaparro, 1998). Discursos
interessados ou privados podem coincidir com o interesse público quando são
portadores de temas relevantes para a sociedade, em geral. Os discursos
interessados mostram que as fronteiras entre a publicidade e o jornalismo são
tênues, no âmbito de um noticiário amplamente modificado pelo poder de
intervenção das fontes.
Divulgação jornalística. Atividade que contempla o caráter
exclusivamente difusor de notícias. Não envolve o aspecto mais amplo e
estratégico de relacionamento com os jornalistas, por exemplo. Costuma ser o
ponto de corte existente entre o trabalho dos divulgadores e dos assessores.
Embargo. Acordo tácito firmado com jornalistas, para que determinado
material entregue pela assessoria só seja divulgado a partir da data
previamente combinada. Com o embargo, a imprensa pode trabalhar,
previamente, e com maior calma e profundidade, o tema e o contexto que vão
dar suporte à notícia, quando de sua divulgação. É essa possibilidade, e a de
exclusividade, que tornam o embargo atraente para a mídia. Não há garantias
legais, o que ancora o embargo unicamente nas relações de confiabilidade
que se estabelecem entre os dois polos.
Fake News. O conceito se popularizou com a distribuição, em larga
escala, especialmente via redes sociais, de notícias falsas, muitas vezes
ancoradas, até para efeito de agregar credibilidade, em parâmetros muito
próximos aos das coberturas jornalísticas. O grande debate sobre o tema foi
uma das características marcantes da última eleição presidencial norte-
americana. É hoje, provavelmente, o principal assunto que desafia órgãos de
imprensa e seus profissionais. Trata-se de um dos pontos essenciais dos
debates sobre a chamada “pós-verdade”. A dispersão de fontes, dados,
imagens e de informações sem lastro no ambiente virtual propiciou o
crescimento do fenômeno, que também se alastrou para a produção de vídeos
e imagens resultantes de montagens, mas com imenso potencial de
repercussão nas redes.
Follow-up. O termo designa o acompanhamento, no caso da assessoria
de imprensa, dos desdobramentos de uma determinada pauta. Também pode
se referir, no dia a dia das assessorias, ao trabalho de checagem de listas de
presença de jornalistas em uma coletiva. É uma nova chamada, necessária
para confirmar participação. Em um contexto em que a pauta muda sempre,
trata-se de procedimento sempre necessário.
Fonte episódica. O termo se refere a pessoas “comuns”, sem status de
autoridade econômica ou política, que por pouco tempo se tornam fontes
destacadas, ou personagens centrais de um tema jornalístico. Hoje na
berlinda, amanhã no ostracismo completo.
Foto montada. O repórter fotográfico compõe o cenário a ser
fotografado. Poses e disposição planejada de elementos visuais acabam
simulando registro circunstancial, o que gera debate ético.
Gancho. Elemento gerador da notícia, que agrega timing, exclusividade,
contexto, pertinência e/ou outros valores que atribuam caráter noticioso a
uma informação.
Gestão do risco reputacional. A convergência das mídias, a
multiplicação de dispositivos móveis e o crescente compartilhamento de
conteúdos adensam riscos para as reputações. Preservá-las é crítico,
especialmente em tempos de diluição de fronteiras entre o público e o
privado. A reputação das marcas, ou dos executivos de uma corporação
exige, por exemplo, boa gestão de perfis nas redes sociais e cuidados mais
específicos para participação adequada em eventos públicos.
Gestão do turnaround. Mapeamento, gestão e reversão de crises que
podem ser também aquelas associadas aos processos de comunicação.
Consultorias especializadas criaram serviços voltados para lidar com crises e
ambientes de negócios marcados por transformações constantes.
Influencer Marketing. Diz respeito à contratação, por parte de
empresas, de personalidades/celebridades de grande influência nas mídias
sociais, por exemplo, para que façam a defesa da marca em seus perfis e
conteúdos, gerando “endosso” de discursos favoráveis ao contratante.
Interesse público. Critério asseverador da relevância de determinada
informação para toda a sociedade. Está relacionado ao próprio compromisso
ético da atividade jornalística. Selecionar o que é, ou não, do interesse
público constitui a primeira lição do jornalismo. A definição precisa do
conceito vem sendo cada vez mais desafiada, no entanto, pela capacidade
crescente de intervenção das fontes – sejam elas institucionais, corporativas
ou episódicas – na produção da notícia. O interesse privado pode coincidir,
ou não, com o interesse público.
Jornalismo on-line/tempo real. Termo que se refere ao jornalismo que
veicula informações instantâneas, ou seja, no chamado “tempo real”. As
notícias normalmente são curtas e enviadas para os terminais de computador
dos usuários – assinantes dos serviços das agências de notícias – tão logo
eclodem os fatos. O repórter que apura e transmite os dados – muitas vezes
pelo celular – é, também, o editor da notícia. As agências podem estar
vinculadas a órgãos tradicionais da imprensa e a grandes grupos de
comunicação – nacionais e internacionais. Veiculam, sobretudo, informações
políticas, econômicas ou especializadas em produtos, cotações, análises
financeiras. Alguns autores (Kucinski, 1996) afirmam que o mercado
financeiro e as agências são, de fato, parte de um mesmo fenômeno.
Lead. A introdução do texto jornalístico, o primeiro parágrafo. O que há
de mais importante na notícia. O jornalista procura responder às clássicas
perguntas: “o quê”, “quando”, “onde” e “quem”.
Mailing seletivo. Deriva do movimento de especialização da mídia. O
antigo mailing list, de caráter abrangente, dá lugar a uma seleção especial de
contatos, na qual são identificadas as instâncias decisórias da cobertura de
cada núcleo temático: economia, cultura, política e outros.
Master of Business Communication (MBC). Modalidade de pós-
graduação em comunicação de organizações. O MBC normalmente é
realizado em 360 horas/aula, com apresentação de monografia final. Os
conteúdos são abrangentes e percorrem uma gama de assuntos correlatos:
teoria da comunicação, redação empresarial, comunicação digital, o poder nas
organizações, entre outros.
Media training. Atualmente, o termo designa cursos que têm o objetivo
de otimizar o contato das fontes da empresa com a mídia. Contempla
“sabatinas”, laboratórios diversos e palestras conceituais que municiam as
fontes com dicas e conhecimentos básicos para o relacionamento com a
mídia.
Mídias sociais. Ferramentas e plataformas que permitem o
compartilhamento de conteúdo – especialmente os de convivência e
relacionamento (opiniões, bate-papos, diários pessoais) – por meio da
Internet. O termo abrange alguns dos sites que hoje estão na ordem do dia,
como Facebook, Instagram e Twitter, por exemplo. As mídias sociais
concretizam a possibilidade de o usuário comum da Internet gerar e
compartilhar conteúdos próprios. Esse advento contribuiria para fragmentar o
poder de difusão antes concentrado em grandes corporações e governos, por
exemplo.
Monitoramento das redes sociais. Boa parte das organizações contrata
separadamente os serviços de monitoramento da presença da marca nas redes
sociais – na maioria dos casos, simples captura de posts e citações. O
mercado oferece ferramentas e serviços para a auditoria robusta desses
conteúdos. Trata-se de investigar os fluxos da informação nas diferentes
mídias, mapeando perfis e redes de maior influência, principais “advogados”
da marca, ações que convocam engajamento de usuários e outros dados
importantes para a construção de estratégias de comunicação das
corporações, nas mídias sociais.
Monitoramento de notícias – Unificação do clipping (todas as mídias).
Há algum tempo, eram mais comuns os contratos de clipping por mídia (TV,
rádio, web e impressos). Hoje predominam empresas que fazem o
monitoramento unificado e a captura de conteúdos noticiosos, em todas as
mídias. As contratações podem envolver análises qualitativas mais simples,
ao final de determinados períodos, ou se restringirem apenas ao fornecimento
dos conteúdos rastreados.
Newsmaking. Corrente teórica, de caráter sociológico, fortalecida na
década de 1970, que aquilata a importância da cultura profissional dos
jornalistas, da organização do trabalho e dos processos produtivos na
formação da agenda jornalística (Wolf, 1995, p. 169).
Newspeg. “Gancho” que atualiza uma informação, permitindo que ela se
torne notícia.
Notícia. Relato de acontecimentos que organizam, reorganizam ou
desorganizam a atualidade.
Noticiabilidade. Conforme Wolf (1995, p. 170), trata-se de um conjunto
de requisitos relativos aos acontecimentos – do ponto de vista das rotinas de
produção e da ideologia profissional dos jornalistas – que lhes conferem as
características básicas de uma notícia. Um evento insólito, inédito, já conta
com atributos poderosos para que seja conduzido às páginas dos jornais.
Notícias virtuais/webjornalismo. Conteúdo dos sites de notícias, por
exemplo. Textos curtos, com possibilidades de pesquisas em bancos de dados
e links relacionados. No cotidiano das assessorias de imprensa, representa
significativa ampliação do mailing e de demandas por informações de última
hora. Normalmente, há intensa migração de conteúdo de um site para outro.
Papagaios de pirata. Pessoas que aproveitam o assédio da imprensa a
uma autoridade ou a uma personagem para também aparecerem nas imagens.
São chamados de papagaios de pirata porque normalmente colocam a cabeça
à altura dos ombros da personagem central. São um problema para os
editores, uma vez que podem prejudicar a essência da informação contida na
imagem.
Passivo de imagem. Prejuízo acarretado para a credibilidade de uma
empresa, ou de pessoas, decorrente de exposição negativa prolongada, ou
recorrente, na mídia. O passivo de imagem é tanto maior quanto menor for a
habilidade da empresa em lidar com situações de crise, nas quais sua
idoneidade – ou de seus executivos, por exemplo– seja questionada pela
imprensa.
Pauta. A agenda dos assuntos que são previstos na cobertura
jornalística.
Plantar notícias. Propor a um jornalista (especialmente colunistas)
menção a determinados fatos de interesse estrito da fonte. Ou seja, fatos que
normalmente não têm conexão com o interesse público, mas somente com
necessidades imediatas de visibilidade. Prática em desuso, por seu
comprometimento ético, nas modernas assessorias de imprensa.
Produtor de conteúdo. Termo associado ao advento da Internet. Diz
respeito aos profissionais ou às empresas fornecedoras terceirizadas, que
abastecem os sites mantidos pelas empresas com notícias e outras
informações.
Publicação de degustação. Termo que designa uma publicação cuja
circulação não é amparada por indicadores consistentes “de mercado” –
tiragem significativa, entre outros critérios. Trata-se de jargão usado por
empresas de distribuição e de vendas de anúncios. Uma revista de
degustação, por exemplo, não tem características comerciais que viabilizem
sua exposição massificada em grandes redes de bancas e de livrarias.
Relações Públicas. Atividade que se pauta pela necessidade de manter,
por meio de ações sistematizadas, o bom conceito de uma empresa com seu
público de interesse. Seu início (cujas raízes alguns autores reportam ao
século XVII) coincide com a crescente importância do papel das empresas
diante da manutenção da ordem e do equilíbrio social, muitas vezes ocupando
um espaço que antes era quase exclusivo do Estado. Trata-se de uma
responsabilidade que se acentua na era pós-industrial, quando muitos autores
conferem às empresas o atributo de sujeitos principais do movimento de
internacionalização da economia.
Release. Material distribuído para a imprensa sobre assunto ao qual se
pretende dar divulgação. Respeita a linguagem específica dos diferentes
veículos e a estrutura discursiva básica do texto jornalístico.
Revistas customizadas. Publicações de larga tiragem, ampla
distribuição e conteúdos editoriais assemelhados aos de revistas de mercado.
No entanto, as revistas customizadas (do inglês, custom – feito sob
encomenda), são quase totalmente pagas por determinada organização – e
não pela venda de anúncios diversificados – que as utiliza, também, como
instrumento do marketing institucional.
Separar o joio do trigo. O bom jornalista deve ter a habilidade de, entre
a grande quantidade de informações que recebe, selecionar aquilo que
realmente importa à sociedade. A partir dessa noção, ironicamente, diz-se que
o jornalista é um profissional que separa o joio do trigo e publica o joio. A
anedota atesta que o conflito e a polêmica são as bases inescapáveis de
sustentação do discurso jornalístico. Ao mesmo tempo, ressalta os
preconceitos estabelecidos na cultura jornalística, catalisadores de um tipo de
niilismo recorrente da cobertura noticiosa.
Timing. Controle do ritmo, da velocidade. O jornalista é um profissional
que trabalha sob pressão, em um ritmo acelerado, normalmente açodado por
horários “de fechamento” e pela necessidade de publicar o fato novo antes
que a concorrência o faça. Entender o timing do trabalho jornalístico é
condição fundamental para que a fonte possa intervir, com sucesso, nas
rotinas produtivas da notícia. A visibilidade de uma fonte, muitas vezes, está
associada à capacidade de administrar a informação disponível, no tempo
solicitado pelo jornalista.
Vazamento. Divulgação extraoficial de informações, largamente
utilizada na prática jornalística brasileira, como forma de colocar personagens
em situação de vulnerabilidade, por exemplo. É utilizado com frequência nos
embates políticos, sem que fontes sejam citadas. Empresas também podem
“vazar” dados ou informações para testar repercussão de determinado
serviço, por exemplo, inclusive com objetivos estratégicos para a
organização.
Wiki. Ferramenta de redação colaborativa. Gera páginas na Internet que
podem ser modificadas de maneira simples, diretamente pelo browser, e com
o uso de linguagens e sinais básicos de fácil assimilação. Nela, os
documentos estão abertos a mudanças, e por isso a redação é colaborativa. O
Wiki (Wikipedia) é uma opção para sites nos quais os conteúdos ficarão
disponíveis para a intervenção colaborativa dos internautas. A contrapartida
negativa da simplicidade de modificação das páginas do Wiki é sua
vulnerabilidade, nos projetos mais abertos, a “ataques” mal-intencionados e
programas-robô.
Workshop com jornalistas. Alternativa que vem sendo utilizada pelas
fontes institucionais e corporativas para aproximação, cooperação e
relacionamento com jornalistas. Podem ser reuniões formais de trabalho em
que os executivos de uma empresa recebem jornalistas para auxiliá-los, com a
transmissão de expertise e conhecimento técnico, na cobertura de
determinados temas. Nos workshops com jornalistas, os executivos tratam
dos assuntos de forma abrangente, sem necessariamente fornecer dados da
própria empresa, como exemplos. É o caso de cursos rápidos sobre formação
de resultados, análise de risco, marketing e outros temas.
Workshop media. Versão resumida do media training. Trata-se de uma
reunião de trabalho – com duração de um dia ou menos – em que são
discutidos temas relacionados ao atendimento às demandas da mídia e ao
contexto jornalístico do momento. Normalmente, os workshop media reúnem
executivos do alto escalão da empresa, sem disponibilidade de agenda para
treinamentos mais longos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Fundamentos de Marketing de
Relacionamento
Zenone, Luiz Claudio
9788597013757
150 páginas