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Ficha de trabalho

Leitura e Gramática

Relato de viagem

Lê o seguinte texto.
Passageiro frequente

Com frequência, visitar um lugar onde já se esteve é mais difícil do que chegar lá pela primeira vez.
Quando se aterra numa cidade inexplorada, olha-se para qualquer lado e tudo é novidade, a atenção está
sempre apontada na direção certa, há sempre algo que a justifica. Na segunda vez, as paisagens já vistas
trazem elementos novos, que precisam de ser tomados em consideração.
5 Até porque uma segunda visita costuma contrariar as impressões que se tinha, o que pode ser
perturbador, sobretudo para aqueles que confundem já ter estado num lugar com conhecê-lo. Somos tão
agarrados àquilo que achamos; acreditamos tanto nos nossos sentidos, na nossa perspetiva e no nosso
julgamento. Após a visita de uma semana, estamos disponíveis para debater Nova Iorque. Se for preciso,
temos convicção suficiente para contradizer o nosso interlocutor.
10 Mas será que em Nova Iorque é sempre primavera, como quando lá estivemos? Utilizo a primeira
pessoa do plural por solidariedade entre turistas, não porque concorde com esse instinto. Na realidade,
acredito que até duas pizas de pepperoni, daquelas que podem comprar-se à fatia no Lower East Side,
são diferentes. Uma delas será necessariamente mais picante do que a outra. Ou, também pode acontecer
que a nossa sensibilidade ao picante se tenha alterado.
15 A distância temporal entre a primeira visita e o regresso também tem bastante importância. Se
visitámos Moscovo há vinte anos, é bom que tenhamos consciência de que, desde então, mudou a cidade,
mudou a sociedade e mudámos nós. De certa forma, essa Moscovo de há vinte anos já não existe e, com
muita probabilidade, nunca mais existirá.
POR UM LADO, NOUTRO TEMPO, COM OUTRAS CONDIÇÕES, AS CIDADES ONDE SE FOI
20 FELIZ PODEM DECECIONAR; POR OUTRO LADO, AS CIDADES DE MÁ MEMÓRIA PODEM
GANHAR BASTANTE COM UMA NOVA OPORTUNIDADE.
Há países onde essas mudanças são mais evidentes, a história deixou-as à vista, mas são um facto
em todos os espaços, faz parte do senso comum. Nada e ninguém é tão estático que não evolua ou
regrida. Por isso, viajar é uma tarefa infinita, que nunca se dá por concluída.
25 Os lugares podem ou não deixar vontade de regressar. No entanto, aquilo que não depende da nossa
escolha tem a capacidade de frustrar essas impressões. Por um lado, noutro tempo, com outras
condições, as cidades onde se foi feliz podem dececionar; por outro lado, as cidades de má memória
podem ganhar bastante com uma nova oportunidade.
Pode acontecer que, à segunda vez, pareça que se está a visitar um lugar diferente. Como é possível
30 que não tenha dado por x, y ou z? Essa não é só uma situação desagradável. Pelo contrário, é uma
oportunidade de conhecer um pouco mais, de desvendar um pouco mais. Cristalizar uma ideia e procurar
argumentos que a justifiquem, ignorando a realidade, é o oposto absoluto do ato de viajar.
Além disso, regressar a um lugar, a uma cidade, a um país, é a possibilidade de ganhar um espaço que
também seja um pouco nosso: aquele banco onde nos sentamos sempre que vamos a Nova Iorque, aquele
35 restaurante, aquele jardim. Custa estar aberto a mudar de opinião, mas essa é uma exigência da incrível
diversidade do mundo e, já se sabe, muitas vezes, é preciso que seja difícil para que possa ser gratificante.
José Luís Peixoto, «Passageiro frequente» in Volta ao Mundo, n.º 243, janeiro 2015.

Professora Elsa Andrade 12.o ano 1


Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.
1. José Luís Peixoto afirma que «visitar um lugar onde já se esteve é mais difícil» (l. 1) por
(A) ser uma perda de tempo voltar a um lugar que já se conhece.
(B) haver um menor interesse pelo lugar que já se conhece.
(C) se estar condicionado pela primeira experiência de viagem.
(D) se ser confrontado com as mesmas realidades já vividas.

2. Do ponto de vista do autor, «viajar é uma tarefa infinita» (l. 24), pela
(A) quantidade de coisas que há para fazer nos lugares.
(B) dificuldade de concretizar tudo o que se planeou.
(C) variedade de sentimentos que os lugares despertam.
(D) transformação permanente que ocorre nos lugares.

3. De acordo com o último parágrafo, regressar a um lugar, a uma cidade ou a um país é uma forma de
(A) nos enquadrarmos nesse espaço.
(B) nos apropriarmos desse espaço.
(C) nos integrarmos nesse espaço.
(D) nos desenvolvermos nesse espaço.

4. No contexto em que ocorre, a expressão «por outro lado» (l. 27) é equivalente a
(A) em contrapartida.
(B) por sua vez.
(C) assim.
(D) além disso.

5. Os processos de formação das palavras «capacidade» (l. 26) e «desagradável» (l. 30) são,
respetivamente,
(A) sufixação e parassíntese.
(B) composição e derivação.
(C) sufixação e prefixação.
(D) prefixação e sufixação.

6. As palavras «pizas» (l. 12), «daquelas» (l. 12) e «delas» (l. 13) contribuem para a coesão
(A) temporal.
(B) referencial.
(C) frásica.
(D) interfrásica.

7. Na frase «Os lugares podem ou não deixar vontade de regressar» (l. 25), o valor aspetual expresso é de
(A) valor perfetivo.
(B) valor imperfetivo.
(C) situação habitual.
(D) Situação iterativa.

2 Professora Elsa Andrade 12.o ano


8. Classifica os deíticos presentes na frase «Mas será que em Nova Iorque é sempre primavera, como
quando lá estivemos?» (l. 10).

9. Identifica o antecedente do pronome pessoal presente na frase «Cristalizar uma ideia e procurar
argumentos que a justifiquem, ignorando a realidade, é o oposto absoluto do ato de viajar»
(ll. 31-32).

10. Classifica a oração iniciada por «para que possa ser gratificante» (l. 36).

Professora Elsa Andrade 12.o ano 3

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