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ANÁLISE MATEMÁTICA

Prof. Oliver Kolossoski


AULA 1
Aluno: Erivaldo Rodrigo Duarte
Email: erivaldo.duarte@educacao.mg.gov.br
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CONVERSA INICIAL

Nesta disciplina, estudamos os conceitos fundamentais do cálculo


(limites, derivadas e integrais) de forma analítica, isto é, com profunda ênfase no
rigor matemático em vez de enfatizar os cálculos algébricos envolvendo as
operações em si. A importância da análise matemática para o estudante de
licenciatura em matemática é o desenvolvimento do pensamento crítico-rigoroso,
essencial para a formação do futuro professor, visto que é necessário um grau
de rigor mínimo na carreira docente para a avaliação e a produção de conteúdo
didático como livros e apostilas. Afinal, não queremos que nossos futuros alunos
estudem matemática por livros inadequados, não é mesmo?

TEMA 1 – CONJUNTOS, FUNÇÕES E RELAÇÕES DE EQUIVALÊNCIA

Nesta aula, construímos os mais conhecidos conjuntos numéricos e


estudamos suas propriedades, com o objetivo de fundamentar a base para a
compreensão dos objetivos de interesse, e também para iniciar o aluno no
processo rigoroso de construção de conceitos com base em definições
matemáticas. Começamos estudando conjuntos, funções e relações de
equivalência.

1.1 Conjuntos e operações binárias

Adotamos um conjunto universo 𝑈, variando com o contexto e que contém


todos os conjuntos de interesse de estudo. Nesse universo, dados dois conjuntos
A e B, definimos quatro operações binárias básicas:

• Interseção: denotada por 𝐴 ∩ 𝐵, a interseção entre dois conjuntos é o


conjunto dos elementos que estão em A e em B, isto é, {𝑥 ∈ 𝑈; 𝑥 ∈ 𝐴 e 𝑥 ∈
𝐵};
• União: denotada por 𝐴 ∪ 𝐵, a interseção entre dois conjuntos é o conjunto
dos elementos que estão em A ou em B, isto é, {𝑥 ∈ 𝑈; 𝑥 ∈ 𝐴 𝑜𝑢 𝑥 ∈ 𝐵};
• Diferença: denotada por 𝐴\𝐵 ou 𝐴 − 𝐵, a diferença cardinal entre dois
conjuntos é o conjunto dos elementos que estão em A mas não estão em
B, isto é, {𝑥 ∈ 𝑈: 𝑥 ∈ 𝐴 𝑒 𝑥 ∉ 𝐵};
• Produto cartesiano: denotado por 𝐴 × 𝐵, é o conjunto dos pares
ordenados {(a, b): a ∈ A e b ∈ B}. Quando 𝐴 = 𝐵, denota-se 𝐴2 .

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Por exemplo, dados 𝐴 = {1,2,3} e 𝐵 = {2,4}, temos que 𝐴 ∪ 𝐵 =


{1,2,3,4}, 𝐴 ∩ 𝐵 = {2}, 𝐴\𝐵 = {1,3} e 𝐴 × 𝐵 = {(1,2), (2,2), (3,2), (1,4), (2,4), (3,4)}.

1.2 Relações, relações de equivalência e funções

Uma relação num conjunto numérico 𝐴, denotada 𝑅, é simplesmente um


subconjunto do produto cartesiano 𝐴 × 𝐴 = 𝐴2 . Dentre todas as possíveis
relações, destacamos as relações de equivalência e as funções.
Relações de equivalência são relações que satisfazem as seguintes três
propriedades:

• Reflexiva: todo elemento se relaciona com si mesmo, ou seja, para todo


elemento 𝑎 ∈ 𝐴, tem-se 𝑎𝑅𝑎, ou equivalentemente, (𝑎, 𝑎) ∈ R.
• Simétrica: para quaisquer dois elementos 𝑎1 , 𝑎2 ∈ 𝐴, se 𝑎1 𝑅𝑎2 (ou
equivalentemente (𝑎1 , 𝑎2 ) ∈ 𝑅 ) então 𝑎2 𝑅𝑎1 .
• Transitiva: para quaisquer três elementos 𝑎1 , 𝑎2, a3 ∈ 𝐴, se 𝑎1 𝑅𝑎2 e 𝑎2 𝑅𝑎3
então 𝑎1 𝑅𝑎3 .

Por exemplo, em qualquer conjunto 𝐴, tem-se que a relação de igualdade


é uma relação de equivalência (verifique).
Já funções de um conjunto 𝐴 em um conjunto 𝐵 são relações em que cada
elemento de 𝐴 se relaciona com apenas um elemento correspondente em 𝐵. Isto
é, ∀𝑎 ∈ 𝐴 ∃! 𝑏 ∈ 𝐵; 𝑎𝑅𝑏, aqui o símbolo ∃! denota existência e unicidade.
Note que, apesar de relações e funções serem subconjuntos do produto
cartesiano, ambos conceitos são fortemente relacionados com as propriedades
das relações entre os elementos, por isso é comum denotá-las de forma que
sugere a relação entre seus elementos ao invés de conjuntos de pares
ordenados. Para o caso de relações usamos as notações 𝑅 e 𝑎𝑅𝑏, em vez de
(𝑎, 𝑏) ∈ 𝑅, e para funções usamos a notação f: Dados 𝐴 e 𝐵, uma função f em
𝐴 × 𝐵 se denota por 𝑓: 𝐴 ↦ 𝐵, e como para cada elemento a de 𝐴 só existem
um correspondente 𝑏 em 𝐵, dizemos que 𝑏 é o correspondente de a em 𝐵
através de f, denotado por 𝑓(𝑎) = 𝑏.
Funções podem ser classificadas em injetoras, sobrejetoras, bijetoras, ou
nenhuma delas. Uma função 𝑓: 𝐴 ↦ 𝐵 é injetora se um ponto de 𝐵 não é
correspondente de dois elementos distintos em 𝐴, é sobrejetora se todo ponto
de 𝐵 é correspondente de algum elemento de 𝐴 e é bijetora se é tanto injetora
quanto sobrejetora.
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Na Figura 1, vemos representações de funções, levando os elementos de


A para o correspondente em 𝐵. Na figura, temos que as funções ℎ e 𝑗 são
injetoras, 𝑔 e 𝑗 são sobrejetoras, 𝑗 é bijetora e 𝑓 não é nem injetora e nem
sobrejetora.

Figura 1 — Representações de funções

TEMA 2 – CONJUNTOS NUMÉRICOS: NATURAIS E PRINCÍPIO DE INDUÇÃO


FINITA

Aqui começamos a usar dos conceitos de conjuntos e funções para


construir os conjuntos numéricos mais importantes. Começamos pelo conjunto
mais básico: o conjunto dos naturais.

2.1 Conjunto dos números naturais

O conjunto dos naturais é construído levando em conta os axiomas de


Peano, definidos com base em uma função chamada sucessor. Os três axiomas
são os seguintes:

1. Existe uma função injetora chamada sucessor;


2. Existe um único número natural 1 que não é sucessor de nenhum natural;
3. Um subconjunto dos naturais contendo o 1 e sua imagem deve ser o
conjunto todo.

Dessa forma, construímos o conjunto dos naturais da forma como o


conhecemos, o conjunto 𝑁 ∶= {1,2,3,4,5, . . . }, usando os números arábicos para

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representar os sucessores: o 2 é o sucessor do 1, o 3 o sucessor do 2 e assim


por diante.

2.2 Propriedades dos números naturais

O conjunto dos números naturais 𝑁 possui operações de adição


+: 𝑁 × 𝑁 ↦ 𝑁 (𝑎, 𝑏) ↦ 𝑎 + 𝑏 e multiplicação ⋅: 𝑁 × 𝑁 ↦ 𝑁 (𝑎, 𝑏) ↦ 𝑎 ⋅ 𝑏. Dados
𝑎, 𝑏 ∈ 𝑁, a soma 𝑎 + 𝑏 é por definição o sucessor do sucessor do sucessor... (b
vezes) do número 𝑎. Já a multiplicação de 𝑎 por 𝑏, denotada 𝑎 ⋅ 𝑏 pode ser vista
como a soma de 𝑏 vezes o número 𝑎 com si mesmo.
As operações + e ⋅ gozam das seguintes propriedades:
Associatividade e comutatividade da adição: para quaisquer 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ 𝑁,
tem-se que 𝑎 + (𝑏 + 𝑐) = (𝑎 + 𝑏) + 𝑐 e 𝑎 + 𝑏 = 𝑏 + 𝑎.
Associatividade e comutatividade da multiplicação: para quaisquer
𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ 𝑁, tem-se que 𝑎 ⋅ (𝑏 ⋅ 𝑐) = (𝑎 ⋅ 𝑏) ⋅ 𝑐 e 𝑎 ⋅ 𝑏 = 𝑏 ⋅ 𝑎.
Leis de distributividade e cancelamento: para quaisquer 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ 𝑁, tem-
se que 𝑎 ⋅ (𝑏 + 𝑐) = 𝑎 ⋅ 𝑏 + 𝑎 ⋅ 𝑐 e se 𝑎 + 𝑐 = 𝑏 + 𝑐 então 𝑎 = 𝑏.

2.3 Princípio de indução finita

Os axiomas de Peano implicam uma técnica de demonstração chamada


princípio de indução finita, que diz que se uma propriedade acerca de números
naturais é válida para 1 e se supondo-se que ela vale para um certo natural n,
então conclui-se que ela vale para n+1, logo essa propriedade é válida para todo
número natural. Com efeito, dada uma propriedade 𝑃 acerca dos números
naturais, seja 𝑆 o conjunto dos números tais que a propriedade é satisfeita. Se 1
pertence a 𝑆 e se para todo natural em 𝑆, o sucessor também está em 𝑆, então
pelo terceiro dos axiomas de Peano, 𝑆 deve ser todo o conjunto dos naturais.
Isso significa que, para provar uma propriedade para todo 𝑛, basta verificar para
1 e que, valendo 𝑃 para 𝑛, vale esta também para 𝑛 + 1.
Como exemplo de uso desse princípio, vamos provar o seguinte fato
acerca dos números inteiros: a soma dos n primeiros números ímpares é dada
pelo quadrado de n, isto é, 1 + 3 + ⋯ + 2 ⋅ 𝑛 − 1 = 𝑛2 :
Primeiro verificamos se a afirmação é válida para n=1: isto é, a soma do
primeiro natural ímpar 1 é o seu quadrado, que é 1. De acordo com os conceitos
conhecidos de número ímpar e quadrado, sabemos que é verdade que 1 = 12 .

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Agora supondo que essa afirmação valha até um natural arbitrário n,


vamos verificar que isto implica que ela vale para n+1, ou seja, vamos supor que
vale a igualdade 1 + 3 + ⋯ + 2 ⋅ 𝑛 − 1 = 𝑛2 , e, com base nisso, mostrar que 1 +
3 + ⋯ + 2 ⋅ 𝑛 + 1 = (𝑛 + 1)2: ora, expandindo o quadrado perfeito, temos que
(𝑛 + 1)2 = 𝑛2 + 2 ⋅ 𝑛 + 1. Substituindo 𝑛2 pela sua expressão equivalente da
hipótese, concluímos que (𝑛 + 1)2 = (1 + 3 + ⋯ + 2 ⋅ 𝑛 − 1) + 2 ⋅ 𝑛 + 1. Segue
do princípio de indução finita que a igualdade vale para todo 𝑛 natural.
Esse artifício matemático pode ser usado para provar diversas afirmações
sobre números naturais ou mesmo inteiros e racionais. Um bom exercício mental
para o aluno aqui é identificar onde foram usadas as propriedades dos números
naturais descritas na seção 2.2 na prova acima.

TEMA 3 – CONJUNTOS DOS INTEIROS E DOS RACIONAIS

Continuamos com o processo de construção dos conjuntos numéricos


básicos. Agora nos concentramos nos números inteiros e nos racionais.
Ambos conjuntos são criados com base em classes de equivalência
definidos por relações de equivalência de conjuntos já previamente construídos,
conforme veremos a seguir.

3.1 Conjunto dos inteiros

Como visto no tema 2, o conjunto dos naturais possui a adição, que é


definida baseada na ideia de sucessor, cuja existência é garantida pelos axiomas
de Peano. Contudo, não se pode definir um inverso para esta operação, pois não
é verdade que para todo número natural 𝑎 ∈ 𝑁 existe outro 𝑏 neste conjunto tal
que 𝑎 é o sucessor de 𝑏, embora valha a recíproca.
O conjunto dos inteiros é definido de modo a preencher essa carência de
uma operação inversa da adição. Levando-se em consideração uma relação de
equivalência de números naturais chamada subtração, definimos um novo
conjunto que herda todas as propriedades dos naturais e mais a propriedade de
anel comutativo com unidade.
Em primeiro lugar, adicionamos um elemento neutro da adição chamado
0 em 𝑁, de modo a conseguir o conjunto 𝑁 ∪ {0}. Esse número 0 é tal que 𝑎 +
0 = 𝑎 para todo número natural 𝑎.

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Dados quatro números naturais 𝑎, 𝑏, 𝑐, 𝑑 ∈ 𝑁 ∪ {0}, defina a relação de


equivalência − para pares ordenados em 𝑁 2 de modo que dois pares (𝑎, 𝑏) e
(𝑐, 𝑑) se relacionam se e somente se 𝑎 + 𝑑 = 𝑏 + 𝑐. Quando esses pares se
relacionam, escrevemos 𝑎 − 𝑏 = 𝑐 − 𝑑 em vez de relacionar os pares com a
notação de relação.
Por exemplo, para 2,3,1 e 4, temos que 1+4 = 2+3, portanto os pares (1,4)
e (2,3) estão relacionados, de modo que escrevemos 1 − 3 = 2 – 4. Essa
relação é uma relação de equivalência de acordo com as definições descritas no
Tema 1.2. Podemos verificar isso da definição: por exemplo, a relação é
reflexiva, pois para todo par (𝑎, 𝑏) de naturais (ou 0), tem-se 𝑎 + 𝑏 = 𝑎 + 𝑏, e
assim 𝑎 − 𝑏 = 𝑎 – 𝑏 e o par se relaciona com si mesmo em -. Fazendo o uso
das leis de comutatividade, associatividade e distribuição descritas em 2.2,
podemos provar que – é uma relação de equivalência. Uma demonstração
detalhada pode ser feita como exercício pelo leitor, como treinamento de
familiarização com o uso das propriedades dos naturais bem como da definição
de classe de equivalência, ou simplesmente pode ser encontrada em sua
integridade em Panoncelli (2015, 21).
Dado um par (𝑎, 𝑏) ∈ (𝑁 ∪ {0})2, dizemos que ele pertence a uma classe
de equivalência de (𝑚, 𝑛) se ele se relaciona com (𝑚, 𝑛). Esta classe é denotada
̅̅̅̅̅̅̅̅
(𝑚, 𝑛). Assim, seguindo o exemplo anterior, vemos que o par (1,4) pertence à
classe do (2,3). E também pertencem a essa classe os pares (0,5), (−2,7), dentre
outra infinidade de pares. Pode-se mostrar que classes de equivalência de pares
separam todo o conjunto (𝑁 ∪ {0})2 em classes disjuntas, mas isso é discussão
para um curso de álgebra.

Saiba mais

Para saber mais sobre esse tema, consulte:


GONÇALVES, A. Introdução à álgebra. 6. ed. IMPA, 2017.

̅̅̅̅̅̅̅
Definimos, pois, o conjunto dos inteiros como 𝑍 ≔ {(𝑎, 𝑏)}, o conjunto de
todas as classes definidas por subtrações. E isso é equivalente a definir o
conjunto dos inteiros da forma como estamos acostumados: temos a classe do
0 que é ̅̅̅̅̅̅̅
(0,0), a classe do 1, que é a classe ̅̅̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅̅̅̅̅ e
(1,0), a classe do -1, que é (−1,0)
assim por diante. Esta é apenas uma maneira formal de se definir o conjunto dos
inteiros munido de +, - e ⋅ da forma como estamos acostumados a lidar.

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Nesse conjunto de classes, definimos as operações de soma e


̅̅̅̅̅̅̅
multiplicação como a seguir. Dadas duas classes (𝑎, ̅̅̅̅̅̅̅
𝑏) e (𝑐, 𝑑), a soma é a
classe da soma dos elementos ̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅
(𝑎 + 𝑐, 𝑏 + 𝑑), e a multiplicação é por definição a
classe de ̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅
(𝑎 ⋅ 𝑐 + 𝑏 ⋅ 𝑑,  𝑎 ⋅ 𝑑 + 𝑏 ⋅ 𝑐).
O motivo da definição ser dessa maneira é justamente para que as
operações com os pares em 𝑍 fiquem de acordo com as operações de adição e
multiplicação como estamos acostumados. Lembre-se de que um par 𝑛 = ̅̅̅̅̅̅̅
(𝑎, 𝑏)
em 𝑍 pode ser visto como o número 𝑛 tal que 𝑛 = 𝑏 − 𝑎. Sendo assim, como
exemplo temos que 2 = 6 − 4 é a classe ̅̅̅̅̅̅̅
(4,6) e 3 = 5 − 2 é a classe ̅̅̅̅̅̅̅
(2,5).
Dessa forma,temos que 2+3 é a classe ̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅
(2 + 4,6 + 5) = ̅̅̅̅̅̅̅̅
(6,11) = 11 − 6 = 5. E
̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅
também temos que 2 ⋅ 3 é a classe (4 ⋅ 2 + 6 ⋅ 4,4 ⋅ 2 + 6 ⋅ 5) = ̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅
(32,38) = 38 −
32 = 6.
O conjunto dos inteiros, com a estrutura de -, admite duas propriedades
adicionais além das herdadas pela estrutura do conjunto dos naturais: a
existência do elemento neutro da adição, que é o 0 por definição, e a da
existência do elemento oposto da adição. Isto é, para todo 𝑎 ∈ 𝑍 existe um
elemento oposto 𝑏 ∈ 𝑍 tal que 𝑎 + 𝑏 = 0. 𝑏, o oposto de 𝑎, é denotado por −𝒂.
É claro que, visto que agora existe o neutro e o oposto da adição, podemos
definir a operação inversa dada pela subtração, tal que para cada números
inteiros 𝑎, 𝑏 ∈ 𝑍 leva na soma 𝑎 + (−𝑏). Essa subtração é denotada 𝑎 − 𝑏.

3.2 Conjunto dos racionais

O conjunto dos racionais também pode ser definido com base em uma
relação de equivalência de números inteiros para suprir a carência de uma
propriedade inexistente neste: assim como incrementamos o conjunto dos
naturais para que pudéssemos realizar a operação inversa da adição chamada
subtração, construindo assim o conjunto dos inteiros, queremos agora construir
um novo conjunto onde existe a operação inversa da multiplicação, de modo que
o conjunto a ser construído admitirá não só uma estrutura de anel comutativo
com unidade, mas também de corpo. Essa operação será chamada divisão.
Assim como no caso dos inteiros, definimos uma relação no cartesiano
𝑍 × (𝑍\{0}), dada pela operação inversa da multiplicação. Mais precisamente,
dados dois pares (𝑎, 𝑏) e (𝑐, 𝑑) em 𝑍 × (𝑍\{0}), dizemos que eles se relacionam
𝑎
por meio da relação / se 𝑎 ⋅ 𝑑 = 𝑏 ⋅ 𝑐. Quando isso acontece, escrevemos =
𝑏

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𝑐
. Pode-se verificar que / assim definida é uma classe de equivalência em
𝑑

𝑍 × (𝑍\{0}), e assim, dado qualquer par (𝑎, 𝑏) neste conjunto, fica definida a sua
classe de equivalência ̅̅̅̅̅̅̅
(𝑎, 𝑏) dada pelo conjunto de todos os pares
de 𝑍 × (𝑍\{0}) que se relacionam com (𝑎, 𝑏).
Ao conjunto das classes de equivalência definidas por / em 𝑍 × (𝑍\{0})
chamamos de conjunto dos números racionais, o qual denotamos por 𝑄. Esse
conjunto é equivalente a definir os números racionais da forma como estamos
acostumados, isto é, pares ordenados de números inteiros, dos quais, o segundo
𝑎
do par não pode ser zero. Os pares (𝑎, 𝑏) desse conjunto são denotados por 𝑏

em vez de na notação de par, aproveitando a notação da classe de equivalência.


Os números inteiros podem ser vistos como um subconjunto dos números
𝑎
racionais, se para cada inteiro 𝑎 ∈ 𝑍 atribuirmos a classe de 1.

Similarmente a como é feito no caso do conjunto dos inteiros, definimos


as operações de adição e multiplicação com classes de forma que se comportem
como o esperado, preservando as propriedades das operações já definidas para
𝑛
os inteiros, isto é, as classes da forma 1. As definições são familiares para quem
𝑎 𝑐
está acostumado a trabalhar com frações: dados dois números racionais e 𝑑,
𝑏
𝑎⋅𝑑+𝑏⋅𝑐 𝑎⋅𝑐
definimos a soma destes como o par e a multiplicação como . Dessa
𝑏⋅𝑑 𝑏⋅𝑑

forma, tal como no caso do conjunto dos números inteiros, o conjunto dos
racionais herda todas as propriedades anteriores acerca das operações de
adição e multiplicação e, adicionalmente, admite uma propriedade nova: a da
existência do elemento oposto da multiplicação salvo apenas uma exceção. Para
𝑎
todo número racional que não esteja na classe do elemento neutro da adição
𝑏
0 𝑐
0 (a classe de 1) existe um número racional que é o seu oposto multiplicativo,
𝑑
𝑎 𝑐
comumente chamado de inverso, que satisfaz a igualdade ⋅ = 1. Do modo
𝑏 𝑑

como a operação ⋅ foi definida para este conjunto, isto quer dizer que 𝑎 ⋅ 𝑐 =
𝑏 ⋅ 𝑑, e como 𝑎 ⋅ 𝑏 = 𝑏 ⋅ 𝑎, isto significa que (𝑐, 𝑑) está na classe de (𝑏, 𝑎), isto
𝑎 𝑏
é, o inverso de 𝑏 é 𝑎.

TEMA 4 – CONJUNTO DOS NÚMEROS REAIS

O último conjunto numérico que construímos nesta aula é o conjunto dos


números reais.
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O conjunto dos reais é construído visando estender os racionais para


obter ainda mais uma propriedade que o anterior não possuía: a propriedade de
um corpo ordenado completo. O conceito de completo é definido tomando como
base o conceito de supremo, que, por sua vez, se baseia no conceito de relação
de ordem. Por isso, primeiramente faremos uma breve discussão sobre tais
conceitos.

4.1 Conceitos de relação de ordem

Antes de tudo, destacamos que existem relações de ordem nos conjuntos


numéricos que acabamos de definir (naturais, inteiros e racionais). No caso dos
inteiros, dizemos que 𝑎 > 𝑏 se 𝑎 é o sucessor do sucessor... (para algum número
de vezes) de 𝑏. Para o conjunto dos inteiros, temos os números positivos, o
elemento neutro e os negativos. Os pares positivos (𝑎, 𝑏) dados pela relação –
são os pares tais que 𝑏 > 𝑎 no sentido dos números naturais. Já quando 𝑎 > 𝑏
̅̅̅̅̅̅̅, donde o par é o
os números são negativos, e se 𝑎 = 𝑏 então (𝑎, 𝑏) ∈ (0,0)
elemento neutro. Com esta definição, se (𝑎, 𝑏) e (𝑐, 𝑑) são tais que 𝑏 − 𝑎 > 𝑑 − 𝑐
então dizemos que (𝑎, 𝑏) > (𝑐, 𝑑). Em ambas definições, um número 𝑎 é
simplesmente dito maior que 𝑏 se existe um número positivo 𝑐 tal que 𝑎 = 𝑏 +
𝑐.
No conjunto dos racionais, pode-se também definir uma relação de ordem
𝑝
da mesma maneira: Um número racional é positivo se ambos 𝑝 e 𝑞 são
𝑞
𝑎 𝑐
positivos ou se ambos são negativos. Assim dizemos que > 𝑑 se existe um
𝑏
𝑝 𝑎 𝑐 𝑝
racional 𝑞 > 0 tal que 𝑏 = 𝑑 + 𝑞 .

É lógico que, como as operações dos conjuntos construídos são feitas e


modo a formalizar as operações conforme estamos acostumados a trabalhar, é
de se esperar que os conceitos de > nada mais sejam que o conceito que
conhecemos.
Sendo assim, vemos que o conjunto dos racionais é um corpo ordenado.
Fazemos aqui algumas definições: dado um subconjunto 𝐴 de um corpo
ordenado 𝐾, dizemos que 𝐴 é um conjunto limitado superiormente se existe um
número (elemento) 𝑥 ∈ 𝐾 tal que x ≥ 𝑎 ∀a  ∈ 𝐴, em que ≥ significa ou maior ou
igual, um dos dois. Analogamente definimos um conjunto limitado inferiormente:
é quando existe um número 𝑥 ∈ 𝐾 tal que 𝑎 ≥ 𝑥 ∀𝑎 ∈ 𝐴.

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Dizemos que 𝑥 ∈ 𝐾 uma cota superior para o conjunto 𝐴 quando 𝑥 ≥


𝑎 ∀𝑎 ∈ 𝐴. A definição de cota inferior é feita de modo análogo.
Dizemos que 𝑥 ∈ 𝐴 é um elemento máximo, ou simplesmente máximo, de
𝐴 se é uma cota superior para 𝐴 além de ser também elemento do conjunto. A
definição de mínimo é feita de modo similar.
Como exemplo, se 𝐴 = {𝑥 ∈ 𝑍; 𝑥 ≤ 3} = {… , −2, −1,0,1,2,3}, então 𝐴
não é limitado inferiormente, porém é limitado superiormente. 3 é o elemento
máximo de 𝐴 e qualquer número maior ou igual a 3 é uma cota superior.
Por fim, chegamos à definição de supremo, que a grosso modo, cumpre
o papel do máximo de um conjunto quando este não existe: dizemos que 𝑥 ∈ 𝐾
é um supremo do conjunto 𝐴 quando é uma cota superior para 𝐴 e, além disso,
para todo número positivo ϵ tem-se que 𝑥 – ϵ não é uma cota superior para 𝐴, ou
noutras palavras, 𝑥 é a menor das cotas superiores de 𝐴. Como exemplo,
1
considere o subconjunto dos racionais 𝐴 = {𝑥 ∈ 𝑄; 𝑥 < 4}. Este conjunto não
1
possui um elemento máximo, porém podemos ver que 𝑥 = 4 é um supremo para
1
o conjunto. Com efeito, é claramente uma cota superior pela definição do
4
1
conjunto, e para todo ϵ > 0 pode-se encontrar um número racional entre 4 − ϵ e
1
, de modo que este número esteja no conjunto, e, portanto, não seja mais cota
4

superior para ele.


A definição de ínfimo se dá de maneira análoga à do supremo.
Finalmente definimos o que queremos dizer com corpo completo, a
propriedade que estamos buscando no conjunto dos reais a ser construído em
breve, que falta no conjunto dos racionais: um corpo ordenado 𝐾 é dito completo
se todo subconjunto não vazio limitado superiormente de 𝐾 possui um supremo.
Essa propriedade não vale em 𝑄, o conjunto dos racionais. Basta considerar 𝐴 =
{𝑥 ∈ 𝑄; 𝑥 < √2}.

Saiba mais

A prova detalhada de 𝐴 não admite supremo em 𝑄 pode ser encontrada


na página 29 do seguinte livro:
PANONCELLI, D. M. Análise matemática. Curitiba: Ibpex, 2015.

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4.2 Construção dos números reais

Diferentemente dos conjuntos dos inteiros e dos racionais, o conjunto dos


reais não será definido com base nas classes de equivalência, mas nos
conjuntos chamados cortes de Dedekind. Uma vez definidas as operações
desses conjuntos, pode-se verificar que o conjunto dos reais herda todas as
propriedades dos racionais e mais a propriedade do corpo ordenado completo.
Um corte de Dedekind é um subconjunto próprio 𝐴 dos racionais não vazio
e sem máximo que satisfaz a propriedade de que se 𝑥 ∈ 𝐴 então todos os
elementos menores que 𝑥 também estão em 𝐴. Por causa do modo como é
descrita essa definição, tais cortes não podem ser muito diferentes dos conjuntos
da forma 𝐴𝑥 ≔ {𝑦 ∈ 𝑄; 𝑦 < 𝑥}, o intervalo aberto em 𝑄 que também pode ser
descrito como (−∞, 𝑥). Claro, conjuntos como 𝑋 ≔ {𝑦 ∈ 𝑄; 𝑦 2 < 2} também são
cortes de acordo com a definição, contudo possuem a mesma estrutura, isto é,
um intervalo em 𝑄 definido por uma inequação, com a única diferença de que a
inequação envolve 𝑦 2 ao invés de 𝑦.
Note que cortes dados dessa forma possuem uma relação de ordem dada
pela inclusão: se 𝑎 > 𝑏 então 𝐴𝑎 = {𝑥 ∈ 𝑄; 𝑥 < 𝑎} ⊃ 𝐴𝑏 = {𝑥 ∈ 𝑄; 𝑥 < 𝑏}.
Definimos então duas operações com estes conjuntos. Os cortes 0 e 1,
dados por 𝐴0 ≔ {𝑥 ∈ 𝑄; 𝑥 < 0} e 𝐴1 ≔ {𝑥 ∈ 𝑄; 𝑥 < 1} serão respectivamente os
elementos neutros da soma e da multiplicação, e dados dois cortes arbitrários
definidos por dois números 𝑎 e 𝑏, isto é, 𝐴𝑎 ≔ {𝑥 ∈ 𝑄; 𝑥 < 𝑎}, 𝐴𝑏 ≔ {𝑥 ∈ 𝑄; 𝑥 <
𝑏}, definimos as operações como a seguir:
A soma 𝑎 + 𝑏 é o corte definido pela soma algébrica dos dois conjuntos:
𝐴𝑎+𝑏 = {𝑥 + 𝑦; 𝑥 ∈ 𝐴𝑎 𝑒 𝑦 ∈ 𝐴𝑏 }, e se ambos 𝑎 e 𝑏 são positivos, a multiplicação
é a união do conjunto da multiplicação algébrica com os racionais não positivos,
isto é, 𝐴𝑎⋅𝑏 ≔ {𝑥 ∈ 𝑄; 𝑥 ≤ 0} ∪ {𝑥 ⋅ 𝑦; 𝑥 ∈ 𝐴𝑎 , 𝑦 ∈ 𝐴𝑏 }. Note que aqui tivemos de
incluir os racionais não positivos para que o conjunto resultante satisfizesse a
propriedade que define um corte. Já se 𝑎 ou 𝑏 forem 0, o corte resultante é por
definição o elemento neutro da soma 𝐴_0 e se algum dos números for negativo
temos que tomar certo cuidado: para um número 𝑎 definindo o conjunto 𝐴_𝑎
definimos 𝐴_{−𝑎} como o conjunto 𝐴−𝑎 ≔ {−𝑥 ∈ 𝑄; 𝑥 > 𝑎}. Assim, se a relação
de ordem de inclusão nos traz 𝐴_𝑎 > 0 e 𝐴_𝑏 < 0 definimos 𝐴𝑎⋅𝑏 = −{x ⋅ y; x ∈
𝐴𝑎 , y ∈ 𝐴−𝑏 } e se ambos 𝑎 e 𝑏 são negativos, definimos 𝐴𝑎⋅𝑏 = {𝑥 ⋅ 𝑦; 𝑥 ∈ 𝐴−𝑎 𝑒𝑦 ∈
𝐴−𝑏 }. As definições da multiplicação dessa maneira são feitas para que o produto

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resulte num corte conforme a definição. E também as definições dos elementos


neutros são feitas de modo a preservar as propriedades dos racionais. Isto é,
uma vez que definimos os reais como o conjunto de todos os cortes, este
conjunto herda a propriedade de corpo ordenado dos racionais.

Saiba mais

Para demonstrações detalhadas da veracidade de todas as propriedades


de + e de ⋅ assim definidas, consulte as páginas 29 a 40 do livro a seguir:
PANONCELLI, D. M. Análise matemática. Curitiba: IBPEX, 2015.

Por fim, concluímos a propriedade desejável dos números reais


previamente citada: a de corpo completo. Todo subconjunto não vazio limitado
superiormente do conjunto dos reais possui supremo. Com efeito, seja 𝑋 um
subconjunto dos reais (o conjunto dos cortes). Definimos o conjunto 𝐴𝑠𝑢𝑝 =
∪𝑋𝑎∈𝑋 𝑋𝑎 = {𝑥 ∈ 𝑄; 𝑥 ∈ 𝐴𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑎𝑙𝑔𝑢𝑚 𝐴𝑎 𝑒𝑚 𝑋}. Então este conjunto é o
supremo de 𝑋.
De fato, pela ordem de inclusão, é claramente uma cota superior, pois
contém todo corte de X. E se existir uma outra cota superior 𝑌 para 𝑋, esta cota
superior deve conter todos os conjuntos da forma 𝑋_𝑎, donde deve também
conter a união destes. Segue que 𝐴𝑠𝑢𝑝 é realmente a menor das cotas superiores
de 𝑋, donde é o supremo do conjunto. Sendo assim concluímos que o conjunto
dos reais assim definido é realmente um corpo ordenado completo.

TEMA 5 – CONJUNTOS ENUMERÁVEIS E NÃO ENUMERÁVEIS

O último conceito relacionado a conjuntos numéricos que trabalhamos


nesta aula é o conceito de enumerabilidade. Uma vez compreendido o conceito,
veremos que o conjunto do produto cartesiano dos naturais é um conjunto
enumerável e, usando um raciocínio similar, que o conjunto dos racionais
também é enumerável. Terminamos apresentando o argumento da
diagonalização de Cantor, provando que o conjunto dos números reais não é
enumerável.

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5.1 Conjuntos enumeráveis e não enumeráveis

Conjuntos enumeráveis são todos os conjuntos que ou são finitos ou tais


que existe uma função dele no conjunto dos naturais que é bijetora.
Vemos que um conjunto enumerável é aquele conjunto cujos elementos
conseguimos ordenar, como primeiro elemento, segundo elemento etc. Com
efeito, se existe uma bijeção entre {1,2,3, ⋯ } e um conjunto arbitrário 𝐴, quer
dizer que para cada 𝑛 ∈ 𝑁 atribuímos um e um só elemento 𝑓(𝑛) ∈ 𝐴, cobrindo
todos os elementos de 𝐴. Dizemos assim que 𝑓(1) é o primeiro elemento de 𝐴,
𝑓(2) é o segundo e assim por diante.
Sendo assim, todo conjunto que pode ser ordenado em todos seus
elementos de forma clara admite uma função bijetora que descreve essa ordem
e vice-versa. Claramente o conjunto dos naturais é enumerável. O conjunto dos
inteiros 𝑍 pode ser ordenado da seguinte maneira: o 0 é o primeiro elemento,
então 1 seguido de -1. Em seguida, 2 e -2, e assim por diante.
Podemos mostrar que cartesiano dos naturais 𝑁 2 percorrendo uma
diagonal do cartesiano de cada vez: o primeiro elemento é o (1,1), na diagonal
cuja soma das coordenadas é 2. Em seguida, os elementos cuja soma das
coordenadas é 3: (1,2) e (2,1) e assim por diante, conforme ilustrado na Figura
2.

Figura 2 — Ordenando o conjunto 𝑁 2

Como existe bijeção entre um conjunto enumerável e o dos naturais,


segue que todo cartesiano de dois conjuntos enumeráveis é enumerável, basta

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seguir a mesma ideia na ordem (𝑓(1), 𝑓(1)), e então (𝑓(1), 𝑓(2)), (𝑓(2), 𝑓(1)), e
assim por diante, em que 𝑓 é a função de bijeção.
𝑎
O conjunto dos racionais também é enumerável. As frações positivas 𝑏

podem ser identificadas como os pares (𝑎, 𝑏). Ordenamos esses pares usando
a mesma ideia, tomando o cuidado de não repetir elementos pertencentes à
mesma classe de equivalência de /, conforme ilustra a Figura 3. Fica assim
comprovado que o conjunto dos racionais positivos é enumerável. Para
contabilizar todo o 𝑄, basta enumerá-los intercaladamente, tal como no caso dos
naturais.

Figura 3 — O conjunto dos racionais positivos é enumerável

Por fim, consideramos o conjunto dos reais: este conjunto não é


enumerável, e seus elementos não podem ser ordenados. Para verificar esse
fato, usamos o argumento de Cantor: lembremos que cada número real pode ser
representado em base binária da forma 𝑎 = α, 𝑎1 𝑎2 𝑎3 ⋯, em que α ∈ 𝑍 é um
número inteiro binário e os algarismos 𝑎𝑖 que são 0 ou 1 são as frações decimais
1 1
do número 𝑎, de modo que 𝑎 = α + 𝑎1 ⋅ 10 + 𝑎2 ⋅ 102 +...

Suponha por absurdo que os números reais foram todos ordenados, e


considere uma lista deles do primeiro em diante, em suas representações
binárias. Construímos assim um número real da seguinte forma: seu primeiro
dígito binário é o oposto do primeiro dígito do primeiro número (se for 0 é 1 e
vice-versa), o segundo é o oposto do segundo dígito do segundo número, e
assim por diante, conforme ilustra a Figura 4.
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Figura 4 — Argumento de Cantor

Dessa forma, construímos um número que não está listado, contradizendo


a hipótese de que o conjunto pode ser enumerado.

NA PRÁTICA

Gostaríamos de terminar esta aula ilustrando a importância do domínio da


formalização no ensino da matemática.
Muitas vezes alunos e até mesmo professores subestimam a importância
da demonstração formal no ensino da matemática. Em geral, parece que o
formalismo é exacerbado e pode sempre ser substituído por raciocínio lógico
intuitivo. Contudo, raciocínios demasiadamente intuitivos podem se mostrar
enganosos. É o caso da conjectura sobre o famoso polinômio gerador de primos
de Euler: considere a função 𝑓(𝑛) = 𝑛2 + 𝑛 + 41. Então temos que 𝑓(1) =
43, 𝑓(2) = 47, 𝑓(3) = 53, 𝑓(4) = 61, … Como se pode ver, tem-se sempre que f(n)
é um número primo, e por isso f é dito polinômio gerador de primos.
Mas será que essa função sempre retorna mesmo um número primo para
qualquer valor de n? A resposta é não. Em verdade, pode-se ver que f(41) =
1763, que não é primo. Isso ilustra que não é só porque uma afirmação parece
verídica para diversos valores que ela certamente seguirá valendo para os
demais, em outras palavras, o argumento intuitivo falhou nesse caso. Essa é a
importância da formalização no tratamento de proposições. O raciocínio formal
serve para dar ou tirar veracidade de afirmações, que são embasadas em
raciocínios dedutivos.

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FINALIZANDO

Nesta aula, iniciamos estudando conjuntos e propriedades e entidades


relacionadas a conjuntos, a saber: operações binárias, relações e funções.
Vimos que operações podem dar estruturas para conjuntos e, com base nesse
conceito, construímos os mais conhecidos conjuntos numéricos da matemática:
os conjuntos dos números naturais, inteiros, racionais e reais, e estudamos as
principais propriedades destes conjuntos. Com isso, formalizamos o pilar base
essencial para o estudo dos conceitos do cálculo.

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REFERÊNCIAS

GONÇALVES, A. Introdução à álgebra. 6. ed. IMPA, 2017.

LIMA E. L. Análise real. 5. ed. Sergipe: IMPA, 2001. (Coleção Matemática


Universitária).

PANONCELLI, D. M. Análise matemática. Curitiba: Ibpex, 2015.

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