Você está na página 1de 2

Em 1908, o químico alemão Fritz Haber publicou o primeiro trabalho sugerindo a

possibilidade técnica da síntese da amônia a partir do nitrogênio e do hidrogênio


atmosféricos. Dez anos depois ele ganharia o Prêmio Nobel de Química por esta
descoberta.

Dois anos após o artigo inicial, em 1910, a empresa Basf comprou sua patente. Carl
Bosch, engenheiro metalúrgico da empresa, transformou a possibilidade teórica prevista
por Haber em uma realidade prática. Os aperfeiçoamentos renderiam a Bosch o mesmo
Prêmio Nobel de Química em 1931.

Processo Harber-Bosch

O que passaria para história como o Processo Harber-Bosch daria início a uma nova fase
não apenas da agricultura e da indústria mundiais, mas também da própria forma de vida
de nossa civilização.

Hoje, um século mais tarde, bilhões de pessoas são alimentadas graças a essa
descoberta. Foi a síntese da amônia que permitiu o desenvolvimento dos fertilizantes
químicos nitrogenados sintéticos que hoje garantem a produtividade de quase metade de
toda a agricultura mundial.

Mas também foi esse mesmo processo que colocou em movimento uma série de
alterações ambientais que hoje nos afetam mais do que nunca, e que viabilizou muitas
das armas que fomentaram os conflitos armados nesse seu primeiro século de história.

A invenção mais importante do século

"A crescente demanda por alimentos e biocombustíveis torna o uso eficiente dos
fertilizantes nitrogenados e formas mais sustentáveis de energia, um desafio para
muitos. O processo Haber-Bosch é provavelmente a invenção mais importante do século
XX, ainda que ela tenha tido muitos efeitos colaterais. Agora nós precisamos de uma
nova invenção que altere o mundo na mesma magnitude, mas sem o impacto ambiental,"
comenta o professor Jan Willem Erisman, um dos autores de um artigo que analisa o
impacto da descoberta da sintetização da amônia.

Dependência do nitrogênio

Segundo o artigo, nós agora vivemos em um mundo que foi transformado pelo processo
Haber-Bosch e que se tornou altamente dependente do seu nitrogênio. Esse nitrogênio
extra tem permitido a produção de explosivos em larga escala, que já resultaram em
milhões de mortes.

Por outro lado, ele criou uma gigantesca indústria química que produz a maioria dos
produtos que trazem conforto para o nosso dia-a-dia. E permitiu a produção em larga
escala de fertilizantes que mantêm a produtividade da agricultura que hoje é responsável
por alimentar quase metade da população da Terra.

O mal uso dos fertilizantes, contudo, também tem trazido sérios danos ao meio
ambiente, entre os quais a redução da biodiversidade e a formação das marés vermelhas.
Os compostos de nitrogênio também ameaçam a qualidade da água potável e afetam a
saúde de todas as pessoas que consomem essa água.

E os cenários futuros sugerem que esses problemas poderão se ampliar, caso o mundo
caminhe no sentido de utilizar em larga escala biocombustíveis feitos a partir de plantas
que consumam grandes quantidades de fertilizantes nitrogenados.

Necessidade de uma nova tecnologia

É por isso que os autores do artigo afirmam que o mundo está precisando de outra
inovação tão disruptiva quanto o processo Haber-Bosch - mas sem seus efeitos
colaterais.

Os autores do artigo, infelizmente, não possuem a solução. Segundo eles, o único


caminho, antes que uma nova tecnologia emerja, é discutir com a sociedade o que ela
deseja para si e quais são os tipos de confortos e desafios com que ela pretende se
deparar nos próximos 100 anos.

A ciência, contudo, não está parada. Vários progressos têm sido feitos nos anos recentes
para o desenvolvimento de novas formas de se fixar o nitrogênio e novas formas de
produzir amônia.

Você também pode gostar