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a obra ser remixada, adaptada e servir para criação de obras derivadas, desde que com fins não comerciais, que seja
atribuído crédito ao autor e que as obras derivadas sejam licenciadas sob a mesma licença.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

Reitor Professor Conteudista


Gustavo Pereira da Costa Rogério Lacerda Carvalho
Vice-Reitor Revisão de Linguagem
Walter Canales Sant´ana Lucirene Ferreira Lopes
Pró-Reitora de Graduação Designer de Linguagem
Andrea de Araújo Clécia Assunção Silva
Núcleo de Tecnologias para Educação
Designer Pedagógica
Ilka Márcia Ribeiro S. Serra - Coordenadora Geral
Paulo Henrique Oliveira Cunha
Sistema Universidade Aberta do Brasil
Projeto Gráfico e Diagramação
Ilka Marcia R. S. Serra - Coord. Geral
Tonho Lemos Martins
Lourdes Maria P. Mota - Coord. Adjunta | Coord. de Curso
Capa
Coordenação Designer Educacional
Yuri Almeida
Cristiane Peixoto - Coord. Administrativa
Maria das Graças Neri Ferreira - Coord. Pedagógica

Carvalho, Rogério Lacerda.


História da música clássica e romântica [ebook]. /
Rogério Lacerda Carvalho. – São Luís: UEMA; UEMAnet,
2018.
32 p.
ISBN:
1. Música clássica. 2. Gêneros do classicismo. 3.
Música romântica. 4. Romantismo tardio. I. Título.
CDU: 78.03
APRESENTAÇÃO

Prezado(a) estudante!

Atualmente, vivemos em um mundo no qual somos bombardeados por uma


quantidade ilimitada de informação e conteúdo. Somos apresentados diariamente
à diferentes formas de comportamento e pensamento. Existem muitas maneiras
de se adquirir conhecimento nos dias de hoje, assim como, existem inúmeras
ferramentas que propiciam a comunicação entre as pessoas e instituições.
Entretanto, cabe a nós o uso consciente e criativo desses recursos, no intuito de
se obter os melhores resultados. É fundamental que saibamos filtrar todo esse
conteúdo, e identificar o que é relevante para o nosso crescimento, deixando de
lado o que não é útil para nossa formação e desenvolvimento como profissionais,
e acima de tudo, como cidadãos conscientes e críticos.
Sendo assim, esta disciplina foi planejada com o uso de Multimeios. Esses
recursos devem ajudar as ações pedagógicas, como dinamizadores da
metodologia, e auxiliadores no ensino-aprendizagem.
O e-Book da disciplina História da Música Clássica e Romântica foi organizado em
quatro Unidades. Em cada uma delas você encontrará os objetivos, o conteúdo
de estudo, e sugestões de links para a apreciação de obras relevantes dos
períodos históricos em questão. É fundamental que você, discente, tenha uma
atuação ativa, de interação com os colegas e tutores da disciplina. A construção
do conhecimento na modalidade EaD depende, em boa parte, da sua dedicação,
iniciativa e autonomia, apenas assim, os objetivos podem ser alcançados com
excelência.
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

UNIDADE 1 A MÚSICA CLÁSSICA 5
1.1 A Orquestra no Período Clássico..................................................... 5
1.2 A Música para Piano........................................................................ 7
1.3 As Sonatas e a Forma Sonata......................................................... 8
Referências....................................................................................... 10

UNIDADE 2 GÊNEROS DO CLASSICISMO 11


2.1 A Sinfonia............................................................................................ 11
2.2 O Concerto....................................................................................... 12
2.3 A Ópera............................................................................................ 13
Referências...................................................................................... 15

UNIDADE 3 ROMANTISMO NO SÉCULO XIX 17


3.1 A Orquestra no Romantismo.............................................................. 17
3.2 O Lied Alemão.................................................................................... 18
3.3 A Música para Piano no Período Romântico...................................... 21
3.4 A Música de Programa........................................................................ 22
3.5 O Concerto Romântico....................................................................... 23
Referências......................................................................................... 25
UNIDADE 4 DE WAGNER AO ROMANTISMO TARDIO 26
4.1 O Drama Musical de Wagner.............................................................. 26
4.2 O Nacionalismo no Século XIX........................................................... 28
4.3 A Música Coral.................................................................................... 30
4.4 O Romantismo Tardio......................................................................... 31
Referências......................................................................................... 32
UNIDADE

1 A MÚSICA CLÁSSICA

OBJETIVOS

Conhecer as características da orquestra no século XVII;


Analisar o estilo das obras para piano do Classicismo;
Compreender a diferença entre o gênero Sonata e a forma Sonata.

T
emos à nossa volta uma variedade gigantesca de ferramentas tecnológicas,
tais como: computadores, tablets, smartphones, sistemas de streaming,
Internet, etc. Tudo isso, de certa maneira, já se faz presente em nosso
cotidiano, e são tecnologias com as quais já sabemos lidar. Em nossas Unidades,
vamos fazer uso de alguns desses recursos para aprimorar a construção do
conhecimento do conteúdo apresentado.

Figura 1 – Naipe de trompas de uma orquestra

Fonte: https://eac.libguides.com/c.php?g=623145&p=4341274
História da Música Clássica e Romântica

1.1 A Orquestra no Período Clássico

A orquestra, que começou a se estruturar no período Barroco, no Classicismo


apresenta-se em crescimento, principalmente no que se refere aos instrumentos
de sopro. Inicialmente a orquestra do período clássico ainda mantinha o cravo,
na sua função de contínuo. No decorrer do tempo, o cravo foi desaparecendo
das orquestras, e foi pouco a pouco sendo substituído pelas trompas.
5
No início do Classicismo, as orquestras ainda eram pequenas, e a conformação
dos seus naipes variava bastante. De forma geral, as orquestras dessa época
possuíam um naipe de cordas, já bem estruturado, com primeiros e segundos
violinos, violas, violoncelos e contrabaixos, e um naipe de sopros que poderia
contar com um par de trompas, e uma ou duas flautas, ou oboés. Em seguida,
passou-se a utilizar oboés e flautas juntos, e também um ou dois fagotes. Em
certas ocasiões, poderiam ser utilizados um par de trompetes e tímpanos. As
clarinetas se juntaram à orquestra, apenas no fim do século XVIII, assim as
madeiras, como são chamados os instrumentos desse grupo, se configuraram
como um naipe independente dentro da orquestra.
A orquestra clássica no final do século XVIII podia contar com uma ou duas
flautas, um par de oboés, duas clarinetas, dois fagotes, um par de trompas, dois
trompetes, tímpanos e o naipe de cordas.
Figura 2 – Formação típica de uma orquestra do final do século XVIII

Fonte: https://www.quora.com/Where-do-cello-players-typically-sit-in-an-orchestra
História da Música Clássica e Romântica

Para saber como soa uma orquestra com essa formação,


ouça o primeiro movimento da Sinfonia nº 100 (Militar) do
compositor austríaco Joseph Haydn (1732-1809). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=3H72mQ_QG7A>.

6
1.2 A Música para Piano

No período clássico, as peças para instrumento solo passaram a ser


bastante apreciadas. Um número significativo de obras foi composto para um
instrumento recém-criado, o pianoforte, antecessor do nosso piano moderno.
A invenção do pianoforte foi atribuída ao italiano Bartolomeo Cristofori, e o
primeiro instrumento foi fabricado entre 1698 e 1700. A grande diferença
entre o pianoforte e o seu antecessor, o cravo, se dava na forma como os
sons eram produzidos. Enquanto que no cravo as cordas eram pinçadas, no
pianoforte, as cordas eram atingidas por pequenos martelos. Dessa forma,
as notas podiam soar com grande ou pouca intensidade, de acordo com
a força aplicada pelo instrumentista nas teclas do instrumento, o que era
impossível para o cravo.
Essa novidade técnica, daria ao pianoforte, uma vasta gama de nuances de
expressão. O pianista teria à sua disposição a possibilidade de contrastar entre
dinâmicas fortes e fracas, tendo assim, o total controle sobre o volume sonoro do
instrumento. Além de variar entre diferentes dinâmicas, o instrumentista ainda
poderia tocar as melodias em Legato ou em Staccato.
O piano demorou a substituir definitivamente o cravo, devido à ruidez dos
primeiros exemplares. Em torno de 1760, o compositor alemão Carl Philipp
Emanuel Bach, filho de Johann Sebastian Bach, que já era bastante reconhecido
por suas obras para cravo, resolveu compor peças para piano. Enquanto que o
seu irmão, Johann Christian Bach, iniciou em Londres, Inglaterra, os primeiros
concertos públicos com o piano. No fim do século XVIII, o cravo cai em desuso,
e é terminantemente trocado pelo piano.

História da Música Clássica e Romântica

Para conhecer uma obra de piano dessa época, ouça


o primeiro movimento da Sonata em Fá Maior, do
compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=uX1Ag1iNEFc>

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1.3 As Sonatas e a Forma Sonata

Sonata era o nome dado ao gênero musical dividido em vários movimentos, e


escrito para um ou no máximo dois instrumentos. Muitas sonatas foram compostas
para piano solo, e também para duetos, como violino e piano. Já a forma Sonata
era uma das estruturas formais favoritas dos compositores clássicos, ela foi
largamente utilizada na organização, de grande parte, dos primeiros movimentos
das sinfonias e concertos do período Clássico. Essa forma musical era um tipo
de organização dos temas musicais em seções dentro de um único movimento
de uma obra maior, como uma Sinfonia, um Quarteto, ou um Concerto.
Os compositores do Classicismo tinham muito em comum, no que se refere ao
estilo musical das obras. As melodias, de forma geral, apresentavam frases curtas,
com uma rítmica bem simétrica, e contornos melódicos bem equilibrados. Os
músicos deste período buscavam obter equilíbrio, simetria, beleza e coerência,
no uso dos elementos musicais, e a forma Sonata se mostrava uma organização
eficiente nesse sentido.
A forma Sonata evoluiu da antiga forma binária, muito usual no período Barroco,
embora seja uma forma ternária expandida, pois possui três grandes seções, A
(Exposição), B (Desenvolvimento), e A’ (Reexposição).
Vamos estudar o que pode acontecer em cada uma dessas partes. Na seção A
(Exposição), são apresentados os temas musicais principais da obra. Em geral,
são expostos dois temas, independentes e contrastantes entre si, é comum o
uso de tonalidades diferentes para cada um.
O primeiro tema, geralmente, surge no tom principal da obra, é comum este
tema apresentar ideias musicais com ênfase no aspecto rítmico. Para conduzir
a ligação entre o primeiro tema e o segundo tema, os compositores fazem uso
de um elemento de ligação, chamado de Ponte, normalmente, é modulante,
e conduz a um novo tom, o tom do segundo tema. Este se encontra em uma
História da Música Clássica e Romântica

tonalidade vizinha, o tom da dominante, o do relativo maior ou menor. O segundo


tema contrasta com o primeiro, não apenas na tonalidade, mas também no
caráter, de forma geral, possui um aspecto mais melódico e menos rítmico que
o primeiro. É comum o uso dos ritornelos ao final da seção de exposição.
Na seção B (Desenvolvimento), são desenvolvidas e exploradas as ideias
musicais expostas na Seção A. Podem ser apresentadas variações do primeiro
e do segundo tema, e até de ideias usadas na ponte modulante. Nesta seção

8
a obra passa por diferentes tonalidades, o que dá uma ideia de instabilidade,
até chegar ao repouso na tonalidade principal, que dará início a seção A’
(Reexposição).
Na Reexposição são retomados os temas apresentados na Exposição, mas
modificados em algum aspecto. Da mesma forma, o primeiro tema é apresentado
no tom principal, segue-se a Ponte, mas dessa vez não ocorre a modulação, e
o segundo tema também é apresentado no tom principal. De forma geral, a obra
se encerra com uma seção auxiliar, chamada Coda.
Vejamos abaixo, o diagrama com a organização temática e formal de uma obra
na forma Sonata:
Figura 3 - Diagrama com a organização temática e formal de uma obra na forma Sonata

Fonte: http://missmusicnerd.com/music-101/032614-sonata-form-an-instrumental-narrative/

Vamos ouvir agora uma peça composta na forma Sonata,


é o primeiro movimento da obra Eine kleine Nachtmusik
(Pequena Serenata Noturna) K.525 de W. A. Mozart. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=fRrsD4RH9SY>.
História da Música Clássica e Romântica

RESUMO

Buscamos nesta Unidade, discorrer sobre alguns aspectos fundamentais


do Classicismo, entre eles, a orquestra clássica, a música para piano, e o
gênero Sonata, bem como a forma Sonata. No intuito de gerar conhecimento,

9
procuramos sempre traçar uma relação entre a teoria, exposta no texto, e as
práticas musicais, presentes nas peças apreciadas, em vistas de contribuir
para enriquecimento da aprendizagem dos discentes. Os recursos tecnológicos
utilizados no ensino tiveram a função de dinamizar, motivar, e tornar lúdica a
interação dos alunos com o conteúdo. Acima de tudo, nos preocupamos com o
crescimento, e a formação intelectual e profissional deles, no intuito de torná-los
capazes de modificar o meio em que vivem.

REFERÊNCIAS

HAYDN, J. Sinfonia n.º 100 (Militar), 1º movimento. Disponível em: <https://


www.youtube.com/watch?v=3H72mQ_QG7A>. Acesso em: 1 mar. 2018.
MOZART, W. A. Sonata em Fá Maior, 1º movimento. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=uX1Ag1iNEFc>. Acesso em: 2 mar. 2018.
________________. Eine kleine Nachtmusik (Pequena Serenata
Noturna), 1º movimento. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=fRrsD4RH9SY>. Acesso em: 3 mar. 2018.

História da Música Clássica e Romântica

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UNIDADE

2 GÊNEROS DO CLASSICISMO

OBJETIVOS

Conhecer as características da Sinfonia Clássica;


Refletir sobre o gênero Concerto no Classicismo;
Compreender a diferença entre o gênero Sonata e a forma Sonata.

N
esta nossa segunda Unidade, buscaremos conhecer alguns dos principais
gêneros musicais praticados pelos músicos clássicos. Abordaremos
suas características essenciais, além de apreciar obras de compositores
relevantes em cada gênero.

2.1 A Sinfonia

O gênero sinfonia é na verdade, uma espécie de grande Sonata (gênero),


escrita para orquestra. Surgiu a partir das aberturas das óperas italianas,
que apresentavam três partes, em diferentes andamentos, geralmente, a
primeira parte era rápida, a segunda lenta, e a terceira rápida novamente.
Nas primeiras sinfonias do período clássico, essas partes, se transformaram
em movimentos separados, que com o passar do tempo, agregaram uma
quarta parte, que de forma geral, se configurava em forma de minueto e trio,
e que se inseria como terceiro movimento das sinfonias. Vários compositores
influenciaram na fixação do formato da sinfonia, entre eles podemos citar
o italiano Giovanni Battista Sammartini, e os alemães Joham Stamitz, Carl
História da Música Clássica e Romântica

Philipp Emanuel Bach e Johann Christian Bach. Entretanto, foram Joseph


Haydn e Wolfgang Amadeus Mozart que aprimoraram o gênero durante a
segunda metade do século XVII.
Os quatro movimentos da sinfonia clássica, são contrastantes em seus
andamentos e no caráter também, e no geral, são estruturados conforme
demonstra o esquema a seguir:

11
Primeiro Segundo Terceiro Quarto
Movimento Movimento Movimento Movimento

Costuma
O quarto
apresentar um
Neste movimento, movimento, o
Geralmente é um andamento lento,
compositores como Finale, apresenta
movimento de no geral, tem
Haydn e Mozart um andamento
andamento rápido, caráter de canção,
tinham o costume rápido, e pode ser
e estruturado em e pode se estruturar
de utilizar um estruturado em
forma sonata. em forma ternária,
minueto e trio. forma rondó, ou
tema com variação,
em forma sonata.
ou forma sonata.

Ouça a Sinfonia N.94 em Sol Maior (Surpresa) de J. Haydn,


e tente perceber como os quatro movimentos se diferem em
seus andamentos e caráter. Disponível em:<https://www.youtube.
com/watch?v=QISE_c4DQ4E>.

2.2 O Concerto

O Concerto do período clássico, é uma espécie de “batalha” travada entre um


solista e a orquestra, descende diretamente do concerto solo barroco. De forma
geral, apresenta três movimentos, rápido, lento e rápido, que correspondem
História da Música Clássica e Romântica

aos mesmos da sinfonia, todavia sem o terceiro movimento da mesma, o


minueto. O primeiro movimento é uma espécie de forma sonata adaptada,
pois apresenta o material temático duas vezes. A primeira vez é a orquestra
que expõe os temas, no tom principal, para em seguida o solista reapresentar
o material em uma tonalidade correlata. Muitas vezes o compositor deixa de
apresentar algumas ideias na exposição orquestral, para gerar mais interesse
e variedade ao inserir o solista.

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Após isso, seguem-se as seções de desenvolvimento e reexposição, agora
com orquestra e solista juntos. Ao fim da seção de reexposição, a orquestra
silencia, e deixa o solista sozinho para executar a Cadência, que é uma parte de
caráter virtuosístico, composta com ideias musicais já expostas, onde o solista
irá demonstrar toda a sua técnica, expressividade e domínio do instrumento.
Inicialmente, as cadências eram improvisadas pelo solista, depois passaram a
ser escritas pelos compositores.

Agora vamos ouvir um trecho do Concerto para Piano N.23


em Lá Maior de W. A. Mozart. Observe como o solista e a
orquestra se relacionam. Disponível em:<https://www.youtube.com/
watch?v=bkSVeH4zoFI>.

2.3 A Ópera Figura 4 - Christoph Willibald Gluck (1714-1787)

Os compositores do Classicismo
escreveram uma grande quantidade de
música vocal, muitas delas, destinadas
à igreja, mas foi pela ópera que eles
mais se interessaram. W. A. Mozart e
C. W. Gluck foram alguns dos principais
compositores de ópera deste período. História da Música Clássica e Romântica

Christoph Willibald Gluck (1714-1787)


foi um compositor e crítico musical
alemão que se preocupava bastante
com o futuro da ópera, que segundo
ele, estava se tornando cada vez mais
aristocratizada e padronizada. Gluck
fez duras críticas às óperas de sua época, nas quais os cantores e cantoras
traziam para si, tamanha relevância, que eles se tornavam mais significativos

13
que a própria ópera encenada, de forma que, usavam a música apenas para
demonstrar as suas qualidades vocais, e seu virtuosismo técnico. Gluck então
resolve escrever óperas nas quais, isso não aconteceria mais.
Orfeu e Eurídice é a sua ópera mais conhecida, estreou em Viena, Áustria, no ano
de 1762. Foi nesta ópera que Gluck aplicou pela primeira vez suas ideias musicais
que iriam contra os padrões da época. Em 1767, Gluck escreve como deveria ser
uma ópera, o compositor enfatiza que a música composta para a ópera, deveria ser
utilizada para colaborar com o libreto, ajudando na dramaturgia. Segundo ele, não
deveria haver tamanha distinção entre os recitativos e as árias, e o drama teria que
fluir de forma mais continua, sem interrupções abruptas. Além disso, o compositor
afirma que a instrumentação deve estar em concordância com o enredo, e que a
abertura da ópera já precisaria ajudar o público a imergir no clima da estória.

Ouça a ária “Che Faro Senza Euridice”, da ópera Orfeu


e Eurídice de Gluck. Tente observar as características
estéticas do período clássico presentes nesta peça. Disponível
em:<https://www.youtube.com/watch?v=VC_FhmkM9xc>.

Figura 5 - Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) Como vimos, Gluck foi responsável pela
reestruturação da ópera no século XVII,
entretanto, foi Mozart quem levou o gênero ao seu
ápice dentro do período clássico. As óperas mais
relevantes de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-
1791) são As Bodas de Figaro, Don Giovanni e A
História da Música Clássica e Romântica

Flauta Mágica. Essas obras demonstram como


o compositor enxergava a natureza humana,
além de comprovarem a habilidade, que Mozart
possuía de humanizar as personagens de suas
óperas. Nas árias, o compositor aproveitava
para gerar maior entendimento sobre cada
personagem, além de, usá-las para desenvolver
e dar fluência à trama.

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Uma das inovações criadas por Mozart se dava na cena final de algum ato das
suas óperas, pois o compositor colocava todos os personagens para cantar ao
mesmo tempo, cada qual, cantando a sua posição emocional em relação aos
acontecimentos ocorridos.
O aspecto orquestral nas óperas de Mozart, também merece destaque. O
compositor usava os timbres orquestrais para reforçar o enredo, criando climas
dramáticos e emocionais, sem jamais, menosprezar o importante papel do canto.

Procure ouvir a ária “Madamina il catalogo e questo”, da


ópera Don Giovanni de Mozart. Repare como a orquestra
acompanha o canto do personagem Leporello. Disponível
em:<https://www.youtube.com/watch?v=5X6ybenmZRU>.

RESUMO

Em nossa segunda Unidade, buscamos conhecer alguns dos principais gêneros


praticados pelos compositores do período clássico. Dentre eles, destacamos a
sinfonia, o concerto, e a ópera. Com o objetivo de aprofundar o conhecimento
sobre esses gêneros, destacamos dois dos mais relevantes compositores deste
período, principalmente no que se refere à ópera: Gluck e Mozart. No mais,
procuramos abordar, algumas obras representativas de cada gênero, sempre
corelacionando os conceitos, com a apreciação das peças, no intuito de tornar
a aprendizagem mais significativa.
História da Música Clássica e Romântica

REFERÊNCIAS

GLUCK, C. Che Faro Senza Euridice, da ópera Orfeu e Eurídice. Disponível


em: <https://www.youtube.com/watch?v=VC_FhmkM9xc>. Acesso em: 4
mar. 2018.

15
HAYDN, J. Sinfonia n.º 94 em Sol Maior (Surpresa). Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=QISE_c4DQ4E>. Acesso em: 5 mar. 2018.
MOZART, W. Concerto para Piano N.23 em Lá Maior. Disponível em: < https://
www.youtube.com/watch?v=bkSVeH4zoFI>. Acesso em: 6 mar. 2018.
______. Madamina il catalogo e questo, da ópera Don Giovanni. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=5X6ybenmZRU>. Acesso em: 7 mar.
2018.

História da Música Clássica e Romântica

16
UNIDADE

3 ROMANTISMO NO SÉCULO XIX

OBJETIVOS

Conhecer as características da orquestra romântica;


Analisar alguns dos principais gêneros período romântico;
Compreender o que eram o “Lied” e a “Música de Programa” no século XIX.

N
a terceira Unidade, iremos conhecer as principais características da
orquestra romântica. Além disso, vamos analisar alguns dos gêneros
musicais mais praticados pelos compositores românticos. Estudaremos as
características fundamentais de cada gênero, bem como, buscaremos apreciar
algumas obras significativas.

3.1 A Orquestra no Romantismo

No período romântico a orquestra cresce exponencialmente, tanto na


quantidade de instrumentos, quanto em sua variedade. O naipe de metais
finalmente se completa com a incorporação da tuba, além dos instrumentos
desse grupo se tornarem mais eficientes com a invenção das válvulas,
ganhando versatilidade, e uma maior extensão. Para equilibrar com os

Figura 6 – A grande orquestra, comum no período romântico. História da Música Clássica e Romântica

17
metais, muitas das vezes, os compositores tinham de escrever partes para
três ou quatro instrumentos de madeira, além disso, novos instrumentos foram
incorporados ao naipe, como por exemplo, o flautim, a requinta, o clarone,
o corne-inglês, o contrafagote, e até saxofones, em determinadas peças.
Outro naipe que merece destaque, é o de percussão, neste naipe, novos
instrumentos foram adicionados, na busca de variedade sonora e diferentes
efeitos. Com o aumento do número de instrumentos nos naipes de metais,
madeiras e percussão, os regentes foram obrigados a aumentar também o
quantitativo de instrumentistas no naipe de cordas, para alcançar o equilíbrio
da massa sonora orquestral.
Os compositores do período romântico costumavam ousar bastante, na
exploração dessa grande variedade de timbres, na enorme extensão
orquestral, e na possibilidade de combinar e contrastar diferentes sonoridades
e dinâmicas. A orquestração das obras românticas pode variar muito, desde
pequenos grupos instrumentais até concentrações gigantescas como nas
óperas de Wagner, e nas sinfonias de Mahler.

3.2 O Lied Alemão

Figura 7 - Franz Schubert (1797-1828)


No Romantismo, diferentes gêneros
de canção, ganharam a atenção dos
compositores, dentre eles, o Lied alemão foi
um dos mais populares, e era, geralmente,
para piano e voz. No Lied, os compositores
gostavam de enfatizar os aspectos
dramáticos dos versos, com as partes do
piano. Neste caso, o piano deixava de ser
História da Música Clássica e Romântica

um mero instrumento acompanhador, e


passava a ser um colaborar do canto, no
reforço ao caráter emocional do texto.
Um dos mais significativos compositores
românticos do gênero lied, foi o alemão
Franz Schubert (1797-1828). Apesar de o
compositor ter vivido apenas 31 anos, ele foi

18
responsável por compor mais 600 canções, onde o mesmo exprimia, através
da música e texto, diversos aspectos emocionais e estados de espírito humano.
Entre as obras mais relevantes do gênero, compostas por Schubert, podemos
destacar, Erlkönig, An Die Musik (Para a Música), Die Forelle (A Truta), An
Sylvia (Para Silvia) e Ständchen (Serenata). Além de Schubert, existiram outros
compositores relevantes para o gênero Lied, entre eles, Schumann, Brahms,
Hugo Wolf e Strauss.
Em alguns casos, os compositores reuniam em uma espécie de coletânea, certo
número de canções, que tinham em comum a mesma temática, chegando, às
vezes, a delinear uma breve estória. Dois exemplos desse tipo de coletânea são
os ciclos Winterreise (A Viagem de Inverno), de Schubert, e Frauenliebe und
Leben (Amor e Vida de uma Mulher) de Schumann.

Ouça a canção Ständchen (Serenata) de Schubert. Observe como o


canto e o piano são utilizados pelo compositor para ressaltar as ideias
emocionais contidas nos versos. Disponível em:<https://www.youtube.com/
watch?v=oaq-6U7ZJt8>

A seguir, o texto original do Lied em alemão, e a tradução:

História da Música Clássica e Romântica

19
Ständchen (Serenata)

Leise flehen meine Lieder (Silenciosamente invoco em minhas músicas)


durch die Nacht zu dir (Durante a noite)
in den stillen Hain hernieder (No bosque calmo)
Liebchen, komm zu mir! (Amor, venha para mim!)
Flüsternd schlanke Wipfel rauschen (Árvores farfalhantes sussurram)
in des Mondes Licht (À luz do luar)
des Verräters feindlich Lauschen (Espionando)
fürchte, Holde, nicht (Querida, não tenha medo)
Hörst die Nachtigallen schlagen? (Você está ouvindo os rouxinóis?)
Ach! sie flehen dich (Oh! Eles acenam para você)
mit der Töne süssen Klagen (Com doce, melancolia)
flehen sie für mich (Eles rogam por mim)
Sie verstehn des Busens Sehnen (Eles entendem os apertos do coração)
kennen Liebesschmerz (Conhecem a dor do amor)
rühren mit den Silbertönen (Enchem com tons prateados)
jedes weiche Herz (Cada coração terno)
Lass auch dir die Brust bewegen (Deixe que nossos peitos fiquem repletos de encantos)
Liebchen, höre mich! (Querida, ouça-me!)
Bebend harr’ ich dir entgegen! (Tremendo espero por você!)
História da Música Clássica e Romântica

Komm, beglücke mich! (Venha, por favor!)

Fonte: Elaborado pelo Autor.

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3.3 A Música para Piano no Período Romântico

O Piano passou por muitas mudanças desde que foi criado, dentre elas, a
extensão foi aumentada, os martelos ficaram mais precisos e resistentes,
aumentando o volume sonoro do instrumento. Essas melhorias fizeram com que
o piano ganhasse ainda mais atenção dos compositores românticos, que para
ele escreveram uma enorme quantidade de peças.
A maior parte dos compositores do Romantismo compôs obras para o piano,
entretanto os mais relevantes para o repertório do instrumento foram, Schubert,
Mendelssohn, Chopin, Schumann, Liszt e Brahms. Todavia, alguns desses
compositores tenham escrito peças longas, dividas em vários movimentos, como
as sonatas, a maior parte das obras eram individuais e, em geral, de curta e
média duração. Foram compostas uma enorme variedade de peças pianísticas,
dentre elas, podemos destacar, as danças, como a Mazurca e a Polonaise, e as
peças de caráter virtuosístico ou sentimental, como os Estudos, os Improvisos, os
Prelúdios, os Interlúdios, as Rapsódias, os Romances, as Canções (sem texto), os
Noturnos, e as Baladas. No Romantismo acentuou-se bastante a figura do músico
virtuose, aquele instrumentista que possuía total domínio do seu instrumento,
exibindo expressividade e uma técnica impecável. Alguns dos mais relevantes
“virtuoses” do período romântico foram o violinista e compositor italiano Niccolò
Paganini, e o pianista e também compositor húngaro Franz Liszt.

Contudo, o músico que se mostrou mais Figura 8 - Frédéric François Chopin (1810-1849)
significante para o repertório pianístico no
período romântico foi o polonês Frédéric
François Chopin (1810-1849), que além
de compositor, também era um pianista
virtuose. Apesar das obras de Chopin se
caracterizarem por seu caráter emocional,
História da Música Clássica e Romântica

como nos Noturnos, elas também podem


expressar uma atmosfera altamente
dramática, como ocorre em muitos Estudos
e nas Polonesas.

21
Vamos ouvir agora duas peças para piano, uma é o Noturno Op.9 No.2,
de Chopin, e a outra é, La Campanella de Liszt. Observe as diferenças
de estilo e caráter entre as duas peças.
Noturno Op.9 No.2, de Chopin. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=tV5U8kVYS88>.
La Campanella de Liszt. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZY_eIIFqNxg>.

3.4 A Música de Programa

No período romântico os compositores voltaram os seus olhares para outras


expressões artísticas além da música, dentre elas, as artes plásticas e a
literatura, se tornaram uma fonte significativa de inspiração. A influência dessas
artes na musica, deu origem a um gênero que ficou conhecido como Música
Programática ou Música de Programa, onde a composição musical tenta narrar
uma estória (literatura), ou simplesmente descrever imagens (pintura). A música
programática era exatamente o oposto da chamada Música Pura, aquela onde
a obra se encontra totalmente destituída de intenção descritiva.
No Romantismo foram escritas muitas peças para piano, de caráter descritivo,
entretanto, foram nas obras orquestrais que a música de programa gerou
interesse nos compositores, e no público, a partir de sinfonias descritivas, e
poemas sinfônicos.

História da Música Clássica e Romântica

Assista a animação feita pela Disney para o poema sinfônico L’apprenti


sorcier (O Aprendiz de Feiticeiro) do compositor francês Paul Dukas,
baseado em um conto homônimo de Goethe. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=rCAYto7Svwo>.

22
3.5 O Concerto Romântico

Ao longo do período romântico, o gênero concerto passou por inúmeras


mudanças. A “dupla exposição”, típica do Classicismo, onde o primeiro movimento
apresentava os temas primeiro na orquestra, para só depois entrar o solista,
cai em desuso. No Romantismo é mais comum, o solista ser introduzido já no
início do movimento, para logo após dividir os temas com a massa orquestral.
As “Cadências” são inteiramente escritas pelo compositor, sendo abandonada
definitivamente a prática da improvisação delas pelo solista.
A tradição de dividir o concerto em três movimentos ainda era mantida por grande
parte dos compositores românticos, todavia, alguns músicos já buscavam novas
possibilidades. Mendelssohn, por exemplo, unificou as partes do seu Concerto
para Violino, utilizando-se de elementos de ligação entre elas. Já Liszt, compôs
o seu Concerto para Piano No. 2 em um único movimento. Enquanto Brahms
escreveu o seu Concerto para Piano No. 2 em quatro partes, ao introduzir um
Scherzo como terceiro movimento.
Como vimos anteriormente, as orquestras românticas eram enormes, e a figura
do instrumentista virtuose dominava os concertos, obrigando os compositores
a escrever partes cada vez mais difíceis para o concertista. Obras como o
Concerto para Piano No. 1 e o Concerto para Violino de Tchaikovsky, foram

Figura 9 – O concertista (violoncelista) e a orquestra

História da Música Clássica e Romântica

23
inicialmente consideradas impossíveis de se executar, por causa de sua
grande complexibilidade técnica. Muitos concertos eram encomendados aos
compositores pelos próprios solistas.
A cordial competição que existia no concerto clássico, entre orquestra e solista,
agora se transforma em uma dramática batalha. É interessante assistir o confronto
de duas forças, que aparentemente são díspares: um concertista frente a enorme
massa orquestral. Todavia, o virtuosismo do solista, e a intenção do compositor
fazem com que o concertista emerja do duela com a “vitória” merecida.
A maior parte dos concertos românticos foi escrita para piano e violino, embora
seja possível encontrar obras compostas para outros instrumentos solistas,
como o concerto para trompa de Strauss, e os concertos para violoncelo de
Schumann e Elgar.

Que tal ouvirmos o primeiro movimento do Concerto para Violoncelo e Orquestra


em Si menor, op. 104 do compositor tcheco Antonín Dvořák, disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=4gs-vhwBrD0>. Aproveite para traçar
um paralelo com o primeiro movimento do Concerto para Piano N.23 em Lá Maior de
W. A. Mozart, ouvido anteriormente na Unidade 2. Tentem listar a principais diferenças e
semelhanças entre as duas obras.

RESUMO

Nesta nossa terceira Unidade, procuramos conhecer as características principais


da orquestra no período romântico. Além de, nos dedicarmos à análise de
alguns dos gêneros fundamentais largamente empregados pelos compositores
História da Música Clássica e Romântica

românticos, como o concerto, a música programática, o lied alemão, e a


música para piano. Sempre preocupados em tornar a experiência mais rica
e aprofundada, sugerimos a apreciação de obras dos compositores que se
destacaram em cada um dos gêneros estudados. No entanto, esperamos que
você, aluno, não se limite apenas a ouvir as obras citadas, e busque conhecer
outras peças e compositores românticos além dos mencionados, pois aprofundar
o conhecimento é consecutivamente bem-vindo, e ouvir boa música é sempre
enriquecedor.

24
REFERÊNCIAS

CHOPIN, F. Noturno Op.9 No.2. Disponível em: <https://www.youtube.com/


watch?v=tV5U8kVYS88>. Acesso em: 8 mar. 2018.
DUKAS, P. L’apprenti sorcier (O Aprendiz de Feiticeiro). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=rCAYto7Svwo>. Acesso em: 9 mar. 2018.
DVOŘÁK, A. Concerto para Violoncelo e Orquestra em Si menor, op. 104.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=4gs-vhwBrD0>. Acesso
em: 10 mar. 2018.
LISZT, F. La Campanella. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZY_
eIIFqNxg>. Acesso em: 11 mar. 2018.
SCHUBERT, F. Ständchen (Serenata). Disponível em: < https://www.youtube.
com/watch?v=oaq-6U7ZJt8>. Acesso em: 11 mar. 2018.

História da Música Clássica e Romântica

25
UNIDADE
DE WAGNER AO
4 ROMANTISMO TARDIO

OBJETIVOS

Conhecer as principais características da Ópera Wagneriana;


Analisar a música coral do período romântico;
Compreender o que foram os movimentos do Nacionalismo e do Romantismo Tardio.

N
esta quarta e última Unidade, iremos conhecer algumas das principais
características presentes nas óperas escritas por Wagner. Do mesmo modo,
iremos analisar o gênero coral no século XIX, e ainda abordaremos dois
grandes movimentos estéticos do período romântico, são eles: o Nacionalismo
e o Romantismo tardio. Como de costume, estudaremos os conceitos teóricos,
bem como, apreciaremos determinadas obras historicamente significativas.

Figura 10 – Compositor alemão Richard Wagner (1813-1883)

História da Música Clássica e Romântica

4.1 O Drama Musical de Wagner

Richard Wagner (1813-1883) foi um compositor alemão, se dedicou quase que


exclusivamente à ópera, exercendo muita influência sobre outros compositores
de sua época, e depois dela. Suas obras eram, de forma geral, baseadas em

26
antigos mitos e lendas germânicas ou nórdicas, com o texto (libreto) escrito
pelo próprio Wagner. Suas óperas mais relevantes foram “O Navio Fantasma”,
“Lohengrin”, “Tristão e Isolda”, e “Os Mestres Cantores de Nuremberg”. Além das
citadas, existe também o ciclo conhecido como “O Anel dos Nibelungos”, que é
composto por quatro óperas, “O Ouro Do Reino”, “A Valquíria”, “Siegfried” e “O
Crepúsculo Dos Deuses”, e foram escritas por Wagner para serem encenadas
em uma sequência de quatro noites seguidas.
Wagner não costuma usar o termo “ópera” para se referir as suas obras, preferia
chamá-las de “Drama Musical”. Segundo o próprio compositor, sua ideia era
fundir várias expressões artísticas como o canto, a encenação, o figurino, o
cenário, a iluminação, os efeitos, a música, em um único espetáculo. Além disso,
Wagner ainda utilizava as “cores” e o poder das suas enormes orquestras para
fortalecer a carga dramática e emocional de suas óperas.
As orquestras wagnerianas possuíam um grande naipe de cordas, um naipe
de madeiras, com os principais instrumentos dispostos em trio, e um naipe de
metais numeroso, com oito trompas, quatro trombones, quatro trompetes, e no
mínimo cinco tubas wagnerianas. O naipe de percussão também era bastante
requisitado por Wagner, e desempenhava um papel significativo em suas obras.
Do ponto de vista acústico, orquestras dessa envergadura, poderiam prejudicar
o desempenho dos cantores. Sabendo disso, Wagner construiu um teatro na
cidade Bayreuth, especialmente projetado para a execução de seus dramas
musicais. Nele, o compositor planejou que a orquestra fosse posicionada abaixo
do palco, dessa forma, os cantores projetariam suas vozes em direção à plateia,
sem obstáculos.
Os dramas musicais de Wagner são de longa duração, geralmente, uma ópera
dura entre quatro a cinco horas. As obras wagnerianas não eram estruturadas
em partes distintas, como se fazia na época, dividindo a ópera em recitativos,
árias, coros etc. Todavia, o compositor traçava uma espécie de linha melódica
ininterrupta, que ia do início ao fim de cada ato, dando continuidade e fluidez ao
História da Música Clássica e Romântica

drama. A música que Wagner compunha para as suas óperas, era caracterizada
pelo uso do Leitmotiv (motivos condutores), temas variados e não muito longos,
que podiam representar musicalmente uma emoção, um objeto, um lugar, ou
um personagem. Esses temas poderiam ser modificados ou transformados,
no decorrer da ópera, conforme o drama exigisse. Essa técnica de variação
temática já tinha sido usada antes por Berlioz, com o nome de “Idée Fixe” (ideia
fixa), e também por Liszt, que a chamava de “Transformação Temática”. Às
vezes o Leitmotiv surge no canto, todavia, é mais comum encontrá-lo nas partes
27
orquestrais, onde ele é usado para trazer alguma informação sobre o que está
ocorrendo, revelar pensamentos, emoções, intenções, reações etc.
O canto nas óperas de Wagner se caracteriza pela fusão da forma recitativa, com
o estilo ária, pois as melodias são escritas em ritmo prosódico, embora busque
o lirismo. A harmonia nas óperas de Wagner merece destaque, pois é comum o
transito por tonalidades inesperadas, além do uso livre do cromatismo, e o largo
emprego das dissonâncias. Não é raro, uma nota de tensão gerar perspectiva
de resolução em uma consonância, e ter a sua expectativa frustrada por outra
dissonância, e estas irem se sobrepondo.

Ouça o Prelúdio da ópera Tristão e Isolda de Wagner. Tente descrever


textualmente que sentimentos ou emoções a música te transmite. Depois leia
sobre a estória da ópera, e correlacione com o que você escreveu. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=2gkYeeiOZlw>.

4.2 O Nacionalismo no Século XIX

Até o início do século XIX, a Alemanha retinha o predomínio da música na


Europa. Foi nesta época que compositores de outras nações, como a Rússia,
a Checoslováquia, a Noruega, a Espanha, entre outras, resolveram buscar
uma forma de se libertar da influência germânica. A procura por uma identidade
musical individual, fez com que os compositores voltassem os seus olhares para
o folclore nacional dos seus respectivos países, isso deu origem ao movimento
nacionalista.
História da Música Clássica e Romântica

Os compositores nacionalistas se diferenciavam por expressar características


particulares de seus países em suas composições. Os principais mecanismos
utilizados pelos compositores para enfatizar o caráter nacionalista em suas
peças, era o uso de danças, ritmos, escalas, lendas e mitos populares, típicos
do folclore do seu país de origem.
Um dos percussores do nacionalismo musical na Rússia foi o compositor Mikhail
Glinka (1804-1857), sua ópera “Uma Vida Pelo Czar” foi uma das primeiras obras
28
a apresentar elementos nacionalmente russos. Em seguida surge o chamado
“Grupo dos Cinco”, formado pelos compositores, Aleksandr Borodin, César Cui,
Modest Mussorgsky e Nikolai Rimsky-Korsakov. Esses músicos russos tinham
o mesmo objetivo de Glinka, escrever e publicar obras que possuíssem um
caráter nacionalista, sendo assim, trabalhavam em grupo, cooperando entre si,
na estruturação e orquestração das peças. Entre as obras igualmente relevantes
do “Grupo dos Cinco”, podemos destacar as que melhor apresentam um caráter
genuinamente russo, são elas: os poemas sinfônicos “Rússia” de Balakirev,
e “Uma Noite No Monte Calvo”, de Mussorgsky; as óperas “Príncipe Igor”, e
“Boris Godunov”, de Borodin e Mussorgsky respectivamente; a suíte sinfônica
“Sheherazade”, as óperas “A Donzela de Neve” e “O Galo De Ouro”, essas três
últimas compostas por Rimsky-Korsakov.
Na Checoslováquia, atual República Checa, compositores como Bedřich Smetana
e Antonín Dvořák também aderiram ao movimento nacionalista. Smetana (1824-
1884) compôs várias peças inspiradas na vida rural, nas lendas, na história,
e paisagens da Checoslováquia. Dentre suas obras mais relevantes para o
nacionalismo checo, podemos citar a ópera “A Noiva Vendida”, o ciclo intitulado
“Má Vlast” (Meu País), e o poema sinfônico “Vltava” (O Moldávia). Dvořák (1841-
1904) igualmente compôs peças influenciadas pelas lendas e mitos checos, tais
como as “Danças Eslavas”, e os poemas sinfônicos “O Espírito Das Águas”, e
“A Roca De Ouro”.
Outro compositor que se dedicou a escrever obras utilizando elementos
folclóricos do seu país, foi o norueguês Edvard Grieg (1843-1907). Apesar de
Grieg ter estudado composição na Alemanha, ao retornar para sua terra natal,
decide aderir ao nacionalismo. Composições como as “Danças Norueguesas”,
as “Peças Líricas” para piano, além de várias canções de Grieg, refletem
nitidamente o espírito da Noruega.
O movimento nacionalista se propagou por toda a Europa, estendendo-se a vários
países, e posteriormente a outros continentes. Na Espanha, compositores como
Isaac Albéniz, Enrique Granados e Manuel de Falla, se juntaram à nova corrente
História da Música Clássica e Romântica

estética. Os elementos folclóricos da península ibérica não influenciaram apenas


os compositores espanhóis, mas também músicos de outras nacionalidades.
Isto pode ser comprovado ao apreciarmos obras como, a ópera “Carmen”, do
compositor francês Georges Bizet, e o “Capricho Espanhol”, do músico russo
Rimsky-Korsakov.

29
Ouça o “Capricho Espanhol” Op.34, de Rimsky-Korsakov. Tente listar que
elementos foram empregados pelo compositor russo para trazer à tona a
atmosfera característica da Espanha. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=vLOVVzmEnto>.

4.3 A Música Coral

Dentre os gêneros de música coral praticados pelos compositores do


romantismo, os mais comuns eram o Oratório e o Réquiem. Alguns dos
oratórios mais relevantes são “Elias”, de Mendelssohn, “La infancia de Cristo”
(A Infância de Cristo), de Berlioz, e o “The Dream of Gerontius” (O Sonho de
Gerontius), de Elgar.
O réquiem foi um gênero coral bastante utilizado no período romântico.
Algumas missas fúnebres escritas nessa época pareciam mais apropriadas
para serem executadas em grandes teatros, do que em igrejas. O Réquiem
de Berlioz, por exemplo, determinava o uso de uma enorme orquestra, com
dezesseis tímpanos, além de, quatro agrupamentos de instrumentos de metal,
distribuídos pelos cantos do espaço, onde estavam posicionados o coro e
orquestra. Já o Réquiem do compositor italiano Giuseppe Verdi, foi escrito em
um estilo dramático, que por vezes, beira a ópera, sem, portanto, perder o seu
caráter profundamente religioso. Bastante distinto das missas fúnebres citadas
anteriormente, está o Réquiem do compositor francês Gabriel Fauré, obra que
se distingue pelo seu caráter sereno e meditativo. Entretanto, a obra coral
mais significativa do período romântico, e o Réquiem de Johannes Brahms,
História da Música Clássica e Romântica

também chamado de “Réquiem Alemão”. O compositor escreveu essa missa,


em ocasião do falecimento de sua mãe, e ao invés de fazer como era costume
na época, musicar um texto em latim, Brahms optou por usar passagens
bíblicas, cantadas em língua alemã.

30
Figura 11 - Gustav Mahler (1860-1911) e Richard Strauss (1864-1949)

4.4 O Romantismo Tardio

Alguns compositores, na contramão das novas tendências, trouxeram o estilo


de composição romântico para o século XX, dentre eles, podemos destacar, o
checo-austríaco Gustav Mahler, e o alemão Richard Strauss. Mahler (1860-1911)
se sobressaiu por suas enormes sinfonias, todas com uma ou mais horas de
duração, enquanto Strauss (1864-1949) destacou-se por suas óperas, e seus
poemas sinfônicos, ambos também escreveram um grande número de obras do
gênero Lied.
História da Música Clássica e Romântica

Tanto Mahler, quanto Strauss, necessitavam de grandes formações orquestrais


para a execução de suas obras. O poema sinfônico intitulado “Assim Falou
Zaratustra”, de Strauss, demanda de uma grande orquestra composta por um
flautim, flautas, oboés, clarinetas e fagotes dispostos em trios, um corne-inglês,
um clarone, um contrafagote, seis trompas, quatro trompetes, três trombones, um
par de tubas, tímpanos, uma grande quantidade de instrumentos de percussão,
além de duas harpas, um órgão e um numeroso naipe de cordas.
31
Em certas sinfonias, Mahler se utiliza do canto solo e igualmente do coro,
influenciado diretamente pela Nona Sinfonia de Beethoven. A Oitava Sinfonia
do compositor, também chamada de “Sinfonia Dos Mil”, sugere um quantitativo
de mil músicos, para a sua execução ideal. Para se apresentar esta sinfonia
Mahler recomenda, uma orquestra composta por cento e trinta músicos, além
de grupos de instrumentos de metal extras, somando-se a isso, oito cantores
solistas, duas formações corais mistas, e um grande coral infantil, com cerca
de quatrocentas vozes. A massa sonora resultado dessa gigantesca formação,
pode ser ensurdecedora, ainda que haja passagens, onde a orquestração se
faça extremamente leve e clara. O estilo de composição de Mahler se baseia
em texturas contrapontísticas complexas, enquanto que Strauss, se concentra
em harmonias caracterizadas por acordes densos.
Quando Mahler terminou a sua Nona Sinfonia em 1910, muitos compositores já
haviam abandonado o romantismo tardio, e alguns teciam duras críticas contra o
estilo, considerando-o exagerado e ultrapassado. Vários músicos buscavam novos
rumos para a música, é o que veremos acontecer ao longo do conturbado século XX.

RESUMO

Nesta última Unidade da nossa disciplina, nós tomamos conhecimento de


algumas das características presentes nas óperas de Wagner. Além disso,
analisamos gêneros corais como o oratório e o réquiem no século XIX.
Do mesmo modo, estudamos dois dos maiores movimentos estéticos do
Romantismo, o Nacionalismo e o Romantismo tardio. Esperamos que esse breve
panorama histórico da música dos séculos XVIII e XIX tenha contribuído para o
enriquecimento dos conceitos teóricos, bem como, tenha aguçado o interesse
pela apreciação de outros compositores e obras.
História da Música Clássica e Romântica

REFERÊNCIAS

RIMSKY-KORSAKOV, N. Capricho Espanhol, Op.34. Disponível em: <https://


www.youtube.com/watch?v=vLOVVzmEnto>. Acesso em: 12 mar. 2018.
WAGNER, R. Préludio da ópera Tristão e Isolda. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=2gkYeeiOZlw>. Acesso em: 13 mar. 2018.

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