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Política e rito: o papel da fotografia na construção do
MST

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Maior movimento social pela reforma agrária do Brasil, o MST surgiu no Rio Grande do Sul
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há trinta anos, atuando por meio de ações extremamente originais, dentre as quais a mais
conhecida é a ocupação de propriedades rurais improdutivas. Pode ser vista como parte
desta originalidade do MST o fato do movimento ter acumulado, ao longo de sua existência,
um vasto arquivo fotográfico que não se limita a revelar a sua atuação. Para além de seu
importante aspecto documental, o exame minucioso desse material fotográfico revela um
conhecimento afinado, por parte do MST, das potências da imagem e do seu papel no
mundo contemporâneo, além de uma surpreendente capacidade de criação no uso peculiar
que dela tem feito.

O MST não inventou as ocupações, que têm início em meio à intensa ebulição social ao final
do período militar. Mas foi o responsável pela sua sistematização e pela sua expansão por
todo o país – um feito para o qual foi decisiva a importância concedida pelo Movimento à
visibilidade dos acampamentos. Desde muito cedo a questão da visibilidade como
estratégia foi notada pelos estudiosos do movimento. Ela tem sido analisada tanto como
uma conquista política para a obtenção da terra e o acesso à cidadania, quando como uma
tecnologia sofisticada que se presta à construção de um discurso demagógico por parte do
MST. Praticamente inaugurando a primeira dessas vertentes, um dos primeiros estudos
sobre o movimento do sociólogo Pedro Germany Geiger, ainda em 1987, já destacava a
visibilidade propiciada pela localização dos acampamentos no espaço físico como uma de
suas características decisivas, ao lado da sua organização interna e dos seus modos de
funcionamento [1]. Na segunda vertente, a antropóloga Lygia Sigaud denunciaria, com base
em seu estudo das ocupações em Pernambuco na década de 90, a “demagogia” do discurso
do MST ao considerar que o uso da visibilidade dos acampamentos constituía “uma
estratégia política gestada pelo MST” com vistas a criar duas figuras então inexistentes
naquele contexto: a “demanda da terra” e o “sem-terra”.

[1] Geiger, Luís Inácio Germany. Agentes religiosos e camponeses sem terra no sul do
Brasil – quadro de interpretação sociológica. Editora Vozes, Petropolis, 1987.
Defenderei o ponto de vista de que esta centralidade da visualidade nas ações políticas do
MST tem raízes profundas na história do Movimento, que se trata de um fenômeno
extremamente complexo cuja dimensão política não pode ser separada da experiência, da
sensibilidade e dos afetos dos acampados; e que tal importância da visualidade não pode,
por sua vez, ser dissociada do uso que o Movimento fez da fotografia desde as suas origens.
Com efeito, se o MST desenvolveu “estratégias e procedimentos específicos” para suas
ocupações, se criou “uma tecnologia” composta por métodos de organização e
funcionamento para a constituição dos acampamentos fundados na visibilidade [2], como
apontou Lygia Sigaud, se ele desenvolveu importantes atividades como as marchas e as
ocupações de prédios públicos, não se pode deixar de levar em conta o papel que a fotografia
desempenhou na descoberta e no exercício do potencial dessa visibilidade.

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[2] Da análise de Lygia Sigaud sobre os acampamentos do MST destaco: “Histoires
de campements”, em co-autoria com David Fajolles, Jérôme Gaautié, Hernán Gomez
e Sergio Chamorro, in Cahiers du Brésil Contemporain, 43/44, Maison des Sciences de
l’Homme, Centre de Recherches sur le Bréil (EHESS) e Institut des Hautes Etudes
d’Amérique Latine (Paris III), 2001. E, sobretudo, “A forma acampamento: notas a
partir da versão pernambucana”, in Novos Estudos n. 58, novembro de 2000,
CEBRAP.
Desconhecido e não levado em conta pelos muitos estudos dedicados ao Movimento, o
vasto arquivo fotográfico que o MST acumulou ao longo de sua história merece atenção
pela função mais que inovadora, decisiva, que a fotografia – uma técnica moderna por
excelência – desempenha, desde os primórdios de sua construção. Com efeito, a fotografia
não se limitou apenas documentar as ações do MST, nem tampouco a contribuir para a
criação de seus mitos – o que já constitui uma importante tarefa; ela tornou-se – e este será
o aspecto mais instigante e original do seu papel – uma das fontes de inspiração para
algumas de suas estratégias políticas mais peculiares. O uso da fotografia pelo MST me
parece ser uma das inspirações para a sua capacidade de criar e desenvolver novas ações
sociais. E é desse ponto de vista que pretendo abordar o arquivo fotográfico do MST.

O MST se tornou conhecido fora do Brasil, por meio das fotografias de Sebastião Salgado.
Mas suas ações já vinham sendo registradas de longa data por militantes e por dezenas de
fotógrafos profissionais brasileiros e estrangeiros, atraídos pela grande repercussão política
e social da sua atividade. As primeiras ocupações na virada dos anos 70-80 viram a luz em
meio à retomada dos movimentos sociais, logo ao final da ditadura militar. Dado o impacto
e a repressão que esse desafio ao tabu da propriedade privada despertou, as organizações
de esquerda, a sociedade civil e parcela da igreja católica lhes concederam grande apoio, ao
qual veio se somar o interesse dos fotógrafos ligados às manifestações sócio-políticas desse
rico período da história brasileira.

Ao perceber o impacto que a imagem fotográfica – gerada por suas ações e ocupações – era
capaz de despertar, o MST passou a usá-la não apenas como linguagem na comunicação
com sua base social – composta em sua grande maioria por analfabetos – mas ainda como
meio de expressão próprio e como instrumento político na luta pela conquista da opinião
pública [3]. Atendendo a essas distintas funções, as fotografias que viriam a constituir o
arquivo do MST acabaram por constituir uma espécie de “olhar” sobre o movimento, além
de dar origem a uma iconografia única sobre os sem-terra.

[3] Foi Cristine de Alencar Chaves quem destacou esses três aspectos do papel
atribuído à fotografia pelo MST.
Considerada “arcaica”, a questão da terra ainda persiste entre nós, mas passou a assumir
uma nova complexidade, num contexto em que a globalização, de par com o avanço

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tecnológico, coloca novos problemas e novos desafios no mundo rural. O MST surge nesse
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contexto de grandes transformações, e uma das suas características mais destacadas é
justamente o modo como tem encarado esse descompasso: o que está demonstrado na
convergência entre a luta pela terra e uma agenda de caráter mais “contemporâneo” por
assim dizer: a luta contra os transgênicos, a mercantilização das sementes, a contestação à
ALCA, ao FMI, mas também a criação de escolas, de cooperativas, a busca da formação
técnica e política dos acampados.

Também deve ser considerada como um dos aspectos desse convívio entre o arcaico e o
contemporâneo a importância que uma técnica moderna como a fotografia adquire na
consolidação de um movimento cuja base social ainda não penetrou no mundo da imagem,
e nem sequer domina as primeiras letras. O uso da fotografia pelo MST parece ser um
modo de lidar com este descompasso e revela, ao mesmo tempo, uma dupla dinâmica: a
introdução da população rural ao convívio com a imagem, por um lado, e o esforço do
movimento, por outro, para se inscrever num momento histórico em que a informação e as
imagens tornam-se uma grade de entendimento, de leitura e de atuação sobre o mundo.

O MST tem usado, em relação à fotografia, um procedimento semelhante ao das


ocupações, estendendo até a imagem fotográfica esta prática que ele aciona com tanta
desenvoltura para a terra. Mas além de se “apropriar” do olhar dos fotógrafos e de “ocupar”
o espaço da imagem (esse latifúndio que também não lhe é destinado), ele tem extraído do
convívio com esta última inspiração para novas práticas e iniciativas originais. O relevo que
a visualidade adquire nas suas diferentes ações e, mais ainda, o fato de ela ter se tornado
um “componente estratégico na concepção e funcionamento dos acampamentos” não pode
ser dissociado da sua riquíssima experiência com a imagem fotográfica.

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Daniel de Andrade. Acampamento Fazenda Anonni, 1986.

Uma imagem exemplar


Uma fotografia de Daniel de Andrade da primeira grande ocupação do MST, da Fazenda
Annoni em 1985, pode ser tomada como exemplar da entrada desta população na cena
fotográfica e na história. Cinco das mulheres ali representadas são aparentemente da
mesma família, e representam quatro gerações originárias do mudo rural. Unidas pelo
sangue e pelo destino comum, certamente nunca tinham sido reunidas numa foto – talvez
nunca tenham sido sequer fotografadas. Tema clássico da foto documental, elas
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testemunham uma mesma condição social, imutável ao longo das gerações; porém,
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ultrapassando esse caráter meramente testemunhal, a fotografia de Daniel de Andrade
desvela os diferentes níveis de relação de sua população com a imagem, níveis com os quais
o MST terá que se defrontar ao incorporar a fotografia como linguagem e a visibilidade
como componente de sua ação.

A foto mostra uma “gradação de olhares”, reveladora da posição de cada uma dessas
mulheres numa espécie de “escala” de familiaridade com a imagem. Tomemos o grupo
central. Duas delas ignoram a câmera, revelando seu alheamento à situação: a criança, por
não ter consciência do que se passa à sua volta, a mulher mais velha por desconhecer,
provavelmente, o ritual do qual participa. Inocentes, por assim dizer, ambas foram
“conduzidas” até a cena fotográfica e dela participam “sob proteção”: o bebê está no colo da
provável mãe, a mulher mais velha é abraçada por outra mais jovem, provavelmente sua
filha, com o intento de integrar também ao cerimonial a personagem mais alheia a ele.
Indiferente, ou talvez até constrangida a participar da cena, ela tem os olhos baixos e não
fita o fotografo.

O olhar da mulher mais jovem nos é familiar.


Jovem mãe em situação de desespero, seu
rosto “exprime” algo – uma interrogação?
Angústia? – e corresponde mais ao que
estamos acostumados a “ver” num retrato.
Enquanto a mulher mais idosa parece
indiferente ao que se passa, notemos que a
representante da segunda geração é a figura
central – no sentido literal e figurado – da
fotografia. Com o braço esquerdo “sustenta” a
sua suposta mãe na nova situação; enquanto
isso, uma menina, provavelmente sua filha,
tenta “penetrar” na cena agarrada ao seu
outro braço. Respondendo pela coesão do grupo, esta mulher madura é a mais forte,
experiente e provavelmente a mais ativa da família – não é por acaso que os personagens
dependentes nela se apoiam.
Ao contrário das duas primeiras mulheres, ela olha para o fotógrafo; mas seu olhar não
parece corresponder àquele que habitualmente lhe é dirigido nas fotografias que
conhecemos. Com efeito, ela “olha” para o fotógrafo, mas não se trata nem de longe da
chamada “expressão”, nem da cumplicidade já tão familiar entre fotografado e fotógrafo;
diferentemente dessa espécie de mútuo entendimento, seu olhar nos parece de certo
modo “estranho” – nós não chegamos a compreendê-lo ou a “lê-lo”; há aqui algo de pouco
familiar, devido, me parece, a nossa impossibilidade de situar de que “distância no tempo”
esta mulher olha o fotógrafo. Não seria abusivo pensar que é essa “distância” que não nos
permite identificar, como bem disse Serge Daney, “o que nos olha” nesta fotografia.

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Esta “escala” de olhares pode ser referida ao que Jacques Rancière chamou de “época áurea
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da fotografia”, quando havia uma relação de “convertibilidade mútua” entre o cotidiano e a
história, e uma irredutibilidade da vida aos acontecimentos mais espetaculares e
significativos, (como acontece com a fotografia jornalística.) Esta aliança feliz deixou de ser
“inocente”, segundo o filósofo, quando dois fenômenos tiveram lugar, inaugurando uma
“crise” da fotografia: quando perdemos a capacidade de “ler” os acontecimentos da vida
coletiva nos gestos dos corpos e quando se esvaiu a própria disponibilidade destas figuras
anônimas para “emprestar” seus corpos às lentes, e somar sua opacidade ao jogo das
significações” [4].

[4] Rancière,J. “O instante decisivo forjado” in Caderno Mais!, Folha de São Paulo,
27/7/2002, pp 12-13.
Contemporânea desta “crise”, do fim da solidariedade entre fotografia e história, a
fotografia do arquivo do MST merece atenção. Se levarmos em conta os elementos da
fotografia de Daniel de Andrade, por exemplo, perceberemos que no arquivo fotográfico do
MST coabitam, com efeito, os diferentes “estágios” históricos descritos pelo filósofo: se por
um lado podemos detectar ali traços da ruptura entre fotografia e história, por outro a
“disponibilidade e a opacidade dos corpos” ainda manifestam uma qualidade de presença
da chamada época áurea da fotografia.

Uma das riquezas, e um dos desafios, do material fotográfico do arquivo do MST está
justamente nesse convívio perturbador entre “eras” cujos limites não parecem ter sido
fixados. Todo o empreendimento fotográfico do MST deve ser considerado à luz deste jogo
com as distâncias temporais, sendo a fotografia um instrumento privilegiado para lidar com
tais descontinuidades: podemos considerar que ele tanto paga um tributo a tal
descompasso quanto dele pode tirar proveito. Sem querer entrar nessa questão, o trabalho
da maioria dos fotógrafos que acompanharam o Movimento, a então chamada “foto
engajada”, pode ser tomada, por exemplo, como um esforço de reatamento da fotografia
com a história, perdido com a “crise” da fotografia.

Historicamente, a principal função da fotografia no MST foi levar até os acampados –


analfabetos e pouco habituados às imagens impressas – uma espécie de “notícia visual” dos
seus feitos e da sua expansão pelo país: com este objetivo, antes mesmo que o MST fosse
criado já existia o Boletim dos sem-terra, que o Movimento transformaria em Jornal dos sem-
terra, com seus 15000 exemplares distribuídos em todos os acampamentos do país.
Ultrapassando essa função de divulgação, pode-se ainda atribuir ao uso e ao consequente
entendimento dos poderes da fotografia pelo MST a criação de uma série de práticas
(interpelando até mesmo outros tipos de imagem como desenhos), que passarão a
constituir (o que Cristine Alencar chamou de) três regimes de imagens do MST: o primeiro
seria composto pelas chamadas imagens documentais, que privilegiaremos aqui, e que
constituem a maior parte do arquivo; o segundo, presente principalmente na formação dos
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militantes, seria o “relato visual”, constituído por uma espécie de “montagem” a partir de
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variados tipos de imagem, no qual a fotografia e a inspiração fotográfica também se fazem
presentes; o terceiro regime é constituído pela prática denominada “mística”, que pode ser
constituída pelo uso de imagens – tanto fotografias quanto desenhos (tais como as figuras
do Che, de Zumbi dos Palmares) – mas também por objetos variados para criar uma espécie
de performance de forte construção dramática que deve se prestar à inspiração ou
fortalecer a crença dos sem-terra [5].

[5] Chaves, Cristine de Alencar. A marcha nacional dos sem-terra – Um estudo sobre a
fabricação do social. Relume Dumará, UFRJ, Núcleo de Antropologia da Política, Rio de
Janeiro, 2000.

Esta constatação da presença decisiva da fotografia na história do MST e a intimidade que o


Movimento desenvolveu com as imagens nos permite sugerir que se deve à descoberta dos
poderes da imagem aquilo que os estudiosos consideram o maior feito político do
movimento – a transformação estratégica da visibilidade em campo de ação política. A ela
voltaremos.

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Foto documental e ação política


A opção do MST pela ação imediata ou direta se deve, em parte, à sua descrença da política
tradicional, do jogo da representação e do poder. Lembremos que a ação constitui,
historicamente, algo que se presta como que “naturalmente” ao gosto dos fotógrafos.
Assim, foi em função de uma espécie de “irradiação fotográfica” que, nos últimos trinta
anos, o público se familiarizou com os barracos de lona preta e seus habitantes, com as
ocupações de prédios públicos, com as marchas ao longo das estradas.

Desde o início das ocupações, ficou claro que a posse da terra deixou de ser uma questão
individual, regida por forças e oportunidades econômicas, para tornar-se objeto de uma
ação direta, coletiva, conflitual, que demanda estratégias específicas [6]. Além da ação de
ocupar, principal ferramenta política do MST, a criação de eventos na esfera pública para
pressionar o Estado e o aparato do poder constituem gestos de grande apelo fotográfico:
ocupar prédios públicos, manifestar-se, fazer longas marchas pelo país, sofrer violência,
massacre, receber apoio e solidariedade de outros grupos são gestos de desafio de grande
interesse para a fotografia. Mas se o registro fotográfico pode ser considerado como
consequência da própria natureza da ação política do MST, parece que a fotografia também
contribui, por sua vez, para a definição da própria natureza da ação política do MST.

[6] Um dos primeiros a conduzir essa análise foi L. I. Germany Geiger. Op. Cit.

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O acampamento

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Jofre Maceno.

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Douglas Mansur: Cruz Alta RS.

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Douglas Mansur.

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Douglas Mansur. São Paulo.

Como as ações do MST se destinam a serem tornadas públicas, a fotografia constitui um


dos “meios” para atingir esse objetivo. Ela já se torna portanto, ela mesma, uma “ação” – e é
essa afinidade da fotografia com a ação que consagrará o grande prestígio de que desfruta
a foto de ação no arquivo do movimento.

A ocupação é sem dúvida a ação de maior prestígio no MST, seu ícone maior. A entrada
furtiva na propriedade privada de milhares de pessoas antes do amanhecer tem, por si
mesma, um caráter espetacular. A chegada na ocupação é, evidentemente, o momento
inaugural e como tal, é investida de grande carga significativa. Dificilmente documentada
por razões estratégicas e técnicas, o caráter secreto da chegada, do ato de romper a cerca
vem reforçar ainda mais a aura que envolve a representação desse momento, fazendo dele
um “ícone“ do MST. (Lembremos a foto mundialmente conhecida de S. Salgado da entrada
na Fazenda Giacomet, feita no momento da abertura da porteira – imagem que só pôde ser
feita por meio de um acordo estratégico entre o MST e o fotógrafo.)

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Bernardo Fernades. Ocupação Mirante Paranapanema.

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Douglas Mansur. Porto Feliz, São Paulo.

Douglas Mansur. Porto Feliz. São Paulo.

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Marcelo Buzzeto. Acampamento Nova Canudos, São Paulo, 1999.

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Bernardo Fernades. Ocupação Mirante Paranapanema.

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Marcelo Buzzeto. Acampamento Nova Canudos, São Paulo,1999.

Se não há muitos registros desse momento, por sua vez são muito documentados os gestos
iniciais ou imediatamente subsequentes à ocupação. Podem ser encontradas no arquivo
fotografias do embarque em caminhões ou ônibus, das caminhadas a pé na direção da
terra, das primeiras tarefas desempenhadas na chegada: a limpeza do mato, o
levantamento dos barracos, o transporte de objetos cotidianos são muito visados pela

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fotografia, que busca valorizar, face à precariedade dessas vidas, o empenho nas primeiras
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ações desenvolvidas no espaço criado pela ocupação.

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A imagem fotográfica testemunha, antes de tudo a “forma” do acampamento: são vistas


tomadas de longe, de modo a mostrar a sua situação no espaço geográfico, que privilegia a
visibilidade (locais altos ou beira de estradas), o perfil de suas construções precárias. Pode-
se afirmar que todos os acampamentos foram fotografados, pelo menos uma vez, e sempre
segundo os mesmos parâmetros visuais: são vistas gerais, o conjunto dos barracos

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aparecendo como uma espécie de “assinatura” da presença inaudita desses homens num
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espaço que não lhes é originalmente destinado.

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Os barracos, sua forma precária – dentre os quais a lona é a marca registrada do MST – a
localização de uns em relação aos outros, os materiais utilizados são cuidadosamente
explorados. As fotografias costumam captar o barraco por inteiro, do topo ao chão. Como
uma presença que se impõe, a terra, o chão é ressaltado nas fotografias em todos os seus
“estados” por assim dizer: o barro, por exemplo, é sublinhado antes como contingência do
que como símbolo dessas vidas precárias. Como é difícil apontar, nesse tipo de construção,
a diferença entre o “dentro” e o “fora”, os fotógrafos não precisam penetrar no interior dos
barracos, bastando uma tomada para captar todo o seu espaço.

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Alfonso de Castro. Rio Grande do Sul.

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Daniel de Andrade. Acampamento Natalino, 1981.

Alfonso de Castro. Rio Grande do Sul.

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Douglas Mansur.

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Lauro Beckers. Acamp. Vitória da União, Fazenda Maribo, Mangueirinha.

Alfonso de Castro. Rio Grande do Sul.


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Julien Faluja

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Douglas Mansur. Pontal do Paranapanema.

Bernardo Magalhães. Pontal do Paranapanema.

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Alfonso de Castro. Rio Grande do Sul.

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Os objetos do dia-a-dia, na sua modéstia e no seu caráter rudimentar, são recenseados com
um cuidado quase antropológico, como testemunhas da vida cotidiana nos
acampamentos.  O dia-a-dia dos acampados é muito documentado, sendo todas as fotos
naturalmente diurnas. Mulheres e crianças predominam num cenário onde os homens,
provavelmente no trabalho, estão quase sempre ausentes. O número de crianças é grande
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e seu interesse pelos estranhos que surgem munidos de máquinas fotográficas explica a
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grande quantidade de crianças fotografadas. As mulheres estão quase sempre atarefadas
com a cozinha ou outras atividades domésticas. Em geral estão acompanhadas pelos filhos
pequenos.

Douglas Mansur. Pontal do Paranapanema, São Paulo.

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Douglas Mansur. Porto Feliz, São Paulo.

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André Vilaron.

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Daniel de Andrade. Natalino,1981.

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Com certeza a simples fixação num lugar já enseja, por si mesma, a observação e dá origem
a uma farta produção imagética. No entanto é preciso atentar para uma particularidade
quando nos referimos às “ações” nos acampamentos. Na verdade eles não devem ser
tomados simplesmente como um lugar que “abriga” ações; eles são, em si mesmos, uma
ação: permanecer debaixo da lona dias ou anos é o gesto de luta e de resistência que,
segundo Lygia Sigaud, credencia o acampado a reivindicar a atribuição da terra. Não é por
outra razão que os acampamentos comportam um forte apelo visual, que estimulou a
atenção dos fotógrafos desde os seus primórdios.

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A experiência dos acampamentos ao mesmo tempo se funda na visibilidade e dela faz seu
trunfo maior. Lygia Sigaud forjou a noção de forma-acampamento nos anos 90, mas vários
dos traços por ela destacados nos acampamentos já vinham sendo anotados pelos
fotógrafos desde o início das ocupações – a começar pela a sua organização espacial
característica; se fazem parte dos rituais de entrada no acampamento uma etiqueta para
entrar e se instalar, regras de convivência, um vocabulário próprio (ocupar e não invadir,
entrar, pegar terra, colocar-se debaixo da lona preta…), gestos com certeza menos passíveis
de observação fotográfica – neles se destacam elementos dotados de forte simbolismo,
como a barraca e a lona preta – que a fotografia não apenas reiteradamente registrou, mas
para cujo valor simbólico ela emprestou sua nítida contribuição.

Cássia Cortez. Acampamento novo mundo.

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Douglas Mansur. Porto Feliz, São Paulo.

Alfonso de Castro.

Na verdade pode-se dizer que muito antes da descoberta e da descrição, pelos


especialistas, desse caráter peculiar dos acampamentos, bem antes que eles desvendassem
as várias dimensões e as novas práticas sociais a que eles deram lugar, os fotógrafos já
tinham intuído a novidade e a importância desse espaço precário, registrando com
espantosa minúcia sua aparência, suas características e as práticas que ali tinham lugar.
Antes que os especialistas começassem a estudar os acampamentos como “figuras
espaciais” peculiares, os fotógrafos já buscavam captar a “forma” do acampamento, sua

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situação na paisagem: é por isto que podemos encontrar no arquivo uma tradução do que
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chamei de assinatura na paisagem.

O proprietário
As fotografias dos acampamentos concedem toda atenção aos seus moradores. Elas
gostam de mostrar o “proprietário” ou ocupante e sua família à “entrada” do barraco, como
a comprovar que aquele lugar lhes é destinado.  É também muito comum o registro dos
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objetos rudimentares, seu acúmulo testemunhando o cotidiano precário dos


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acampamentos, mas também sua grande vitalidade. A maioria das atividades, feitas no
exterior, se oferece diretamente à fotografia. Nesse sentido o fogão é um dos objetos de
eleição da fotografia – a preparação da comida, que reúne a família ou o grupo,
testemunhando a importância ao mesmo tempo real e simbólica do núcleo familiar e do
alimento – este último sendo a própria razão de ser do acampamento.

Natalino.

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André Vilaron. Pontal do Paranapanema, São Paulo, 1996.

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André Vilaron. Pontal do Paranapanema.

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Daniel de Andrade. Annoni, Rio Grande do Sul.

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André Vilaron. Pontal do Paranapanema, 1996.

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Capela de Santana.

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Carlos de Carvalho. Cruz Alta, Rio Grande do Sul.

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Carlos de Carvalho. Rio Grande do Sul.

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Douglas Mansur. Acampamento Dandara.

É possível até mesmo traçar uma história da transformação das ocupações, desde a entrada
na terra até a constituição dos assentamentos, através das fotografias do preparo do
alimento. Essas fotografias, insistentes – assim como o universo de significação que elas
mobilizam – “acompanham” fielmente a transformação do espaço e dos indivíduos: se uma
das cenas recorrentes é o preparo da refeição, de início do lado de fora do barraco,
coletivamente, a imagem que demonstrará a autoestima reconquistada pelos sem-terra já
assentados será também feita na cozinha do barraco ou da casa, e mostrará a família em
torno do fogão, ao lado de suas panelas sempre reluzentes.

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Outras ações: conflito e violência
Devido à não previsibilidade dos acontecimentos, às distâncias, à precariedade do
transporte, a fotografia – e não a imagem em movimento – ainda é o meio mais adequado
para o registro e a divulgação dos casos de violência. Como ação extremada, o conflito é, ao
lado da violência, um item muito contemplado pelo arquivo do MST.

Divisor de águas, o conflito é uma situação fotográfica de grande valor sensível e


informativo para o MST por mostrar os dois antagonistas face a face, identificando as duas
partes que se enfrentam na cena dramática da ação. O Movimento tem um apreço muito
particular por esse tipo de imagem de grande impacto dramático, com alto potencial para
alcançar os meios de comunicação, que nunca pouparam o Movimento de suas críticas e/ou
condenação: espera-se que as imagens de violência sejam dosadas de modo a não atenuar
o ímpeto de luta (a não desmobilizar) e que possam ao mesmo tempo desempenhar o
papel de mobilizar a opinião pública – sendo portanto destinadas a circular também fora do
Movimento.

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Januário F. da Silva. Faz. Ribeirão dos Bugres, Getulina, 1993.

Karine Emerich. Faz. Annoni, Rio Grande do Sul.

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Annoni.

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Annoni.

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Douglas Mansur. Pontal do Paranapanema, São Paulo.

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Douglas Mansur.

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Daniel de Andrade. Rio Grande do Sul.

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Capão Redondo.

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Luludi. Getulina, São Paulo.

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José Pedro Lima. Londrina.

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João Ripper. Eldorado dos Carajás.

João Ripper. Massacre de Eldorado dos Carajás. Pará, 1996.

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João Ripper. Eldorado dos Carajás.

As ocupações são o principal lugar do conflito documentado pela fotografia do MST. A


violência no campo brasileiro não tem origem com o surgimento do MST, mas se torna mais
“pública” a partir do momento em que o Movimento se consolida, adquire forças, granjeia
apoios e, sobretudo, constitui uma rede de informação para divulgar os abusos – sendo a
informação fotográfica um dos elos mais importantes nessa cadeia de ações.

Por desafiar a lei e a propriedade privada, a ocupação é o principal palco para a violência,
tanto por parte dos proprietários quanto do Estado. O conflito que deu maior visibilidade à
violência contra o MST foi o massacre de Eldorado do Carajás em 1997, no qual 19 sem-
terra foram assassinados pela polícia do estado do Pará. Mas o arquivo comporta centenas
de outros conflitos menos conhecidos ou totalmente desconhecidos do público,
fotografados muitas vezes em todo o seu desenrolar.

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Loir Gonçalves. Paraná.

Macali / Brilhante.

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Macali / Brilhante.

Xico Tebaldi. Faz. Brilhante, Rio Grande do Sul.

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Xico Tebaldi. Faz. Brilhante, Cascavel.

Os despejos das ocupações são o conflito mais fotografado do arquivo.  Devido à sua
previsibilidade – o despejo tem de ser decretado por um juiz – muitas vezes é possível ter
um fotógrafo no local do evento, facilitando a produção de imagens. Há registros de
despejos desde as primeiras ocupações anteriores ao MST – a exemplo de Macali e
Brilhante com toda a sequência de violência que eles acarretam.

Barracas do exército. Natalino.


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Também o controle dos acampamentos pela polícia (fato corriqueiro nas origens do MST), a
presença de homens armados e seu poder de intimidação são objeto de muitas fotografias
– modalidade estabelecida desde o Natalino, quando o exército literalmente acampou em
frente ao acampamento dos sem terra, do outro lado da estrada.  Ao possibilitar a clara
indicação dos dois campos em presença, a fotografia do conflito é, além disso, a de maior
apelo jornalístico, sendo provavelmente a que tornou o MST mais conhecido do grande
público, da imprensa e da tv.

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Marchas
Ainda no campo da ação, evoquemos as marchas como outro evento que desperta o
interesse da fotografia. Derivadas das origens cristãs do Movimento e da influência dos
rituais da igreja católica, esse maior acontecimento público criado pelo MST se inspirou nas
antigas romarias, transformando as caminhadas rumo à terra prometida em caminhadas
rumo às cidades, aos centros de poder, às capitais. Com a laicização do MST, as romarias
foram transformadas em marchas em direção ao território político, figurado sobretudo pela
capital do país, Brasília, destino final das maiores marchas organizadas pelo movimento.

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André Vilaron. Pontal do Paranapanema, São Paulo,1996.

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Douglas Mansur. São Félix do Araguaia.

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Brasília, 1997.

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Jorge Cardoso. Brasilia.

Paulo Lima.

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Douglas Mansur. Brasilia,1999.

Brasília, 1997.

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Douglas Mansur. Marcha. Brasília, 1999.

O MST organiza um número incontável de marchas que podem abranger uma região
próxima a uma ocupação ou até mesmo implicar em grandes deslocamentos, como foi o
caso da marcha a Brasília – constituída por grupos que caminharam até 3 mil quilômetros
em 20 dias. O objetivo da marcha, como analisou Cristine Alencar, é se propagar pelo
território tanto físico quanto virtual da imagem – sendo a fotografia o principal agente desta
última função. Se o número de participantes é um elemento de linguagem significativo nas
marchas, é a fotografia que pode multiplicar esse número, esmerando-se na captação da
extensão das fileiras, na visão das curvas sem fim das estradas ou na tomada de avenidas
inteiras das grandes cidades. O fato de que esse número de participantes possa ser como
que “multiplicado” pelo poder da fotografia já atesta a função fundamental da imagem
fotográfica na “arquitetura” da marcha.

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Douglas Mansur. Porto Feliz, São Paulo.

Uma observação de Alencar sobre a relação entre as marchas e as ocupações permite


lançar ainda mais luz sobre a função da imagem fotográfica nesses eventos chave do MST:
ao mostrar que o ordenamento disciplinado das marchas se contrapõe à “desordem” da tão
temida ocupação, as imagens nos levam a perceber que é sobretudo o testemunho
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fotográfico das marchas que pode deixar claro seu contraponto com as ocupações. À
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aparente desordem que a fotografia da ocupação costuma sublinhar e ao seu
recenseamento quase barroco do acúmulo descontrolado de objetos,  a fotografia das
marchas opõe um certo ascetismo na repetição monótona das fileiras que desaparecem no
infinito e na uniformidade dos marchantes vestidos e calçados da mesma maneira.

Paulo César Pereira Lima.

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Douglas Mansur.

Cabe ainda observar que se a fotografia em preto e branco pode subsistir ainda hoje no
arquivo do MST como exigência estética (Ripper, Sebastião Salgado), a fotografia das
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marchas é, por sua vez, um atestado da importância estratégica que a cor passa a ter, a
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partir de um dado momento, na história do Movimento. As bandeiras vermelhas que
ondulam evocam um mar vermelho cuja mensagem é, mais que outra coisa, a própria cor.

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A figura humana – o Coletivo e o indivíduo


Objeto privilegiado da fotografia do MST, a figura humana está no centro da ação, seja por
meio do coletivo, seja do indivíduo. A grande importância política concedida ao coletivo pelo
movimento funda uma longa linhagem fotográfica no arquivo do MST. Esse tipo de registro
é frequente porque a representação do grupo, como uma espécie de “corpo político” em
movimento é um elemento decisivo na construção do MST. O movimento não repousa
sobre a figura de um líder, ele valoriza o coletivo e procura incentivar as suas decisões – por
isto ele leva em grande conta a formação de grupos, as reuniões, as assembleias, as
mobilizações e as manifestações.

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Daniel de Andrade. Annoni, 1986.

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Daniel de Andrade. Annoni.

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Daniel de Andrade. Annoni.

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Jussara Verón. Annoni.

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Carlos de Carvalho. Rio Grande do Sul.

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Rio Grande do Sul.

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Os grandes grupos – sobretudo nas origens do MST – aparecem como um “povo político”,
como denominou Rancière – indivíduos que decidem irromper no espaço político que não
lhes é tradicionalmente destinado, “ocupando-o” com suas ações, gestos, palavras. Este
corpo coletivo é dotado de clareza e segurança quanto às razões da sua constituição e aos
seus objetivos; trata-se de um corpo “consolidado”, seguro de si, uma entidade dotada de
existência própria e de finalidades – que, de certa forma, se “impõe” à câmera.

Deve-se notar também a formação de grupos com diferentes finalidades dentro dos
acampamentos que visam a organização e o estímulo à participação.

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Daniel de Andrade. Annoni.

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Carlos de Carvalho.

O indivíduo
O mal estar do camponês ao ser fotografado, sua relação infeliz com seu corpo, que
interioriza uma imagem pejorativa que os outros dele têm foram temas de Pierre Bourdieu
em seu Photographie – un art moyen – temas que se prestam a um contraponto com as
fotografias aqui em exame. Em primeiro lugar, sendo originários do desmantelamento do
mundo rural, os sem-terra não se beneficiam da inserção conferida pela posse da terra aos
pequenos proprietários estudados pelo sociólogo – que daria lugar a esta relação infeliz
com o corpo. Em seguida, e como pudemos ver a propósito das quatro gerações de
mulheres, na maior parte do tempo essa população não conseguiu alcançar a noção da
imagem de si, nem adquirir as convenções da distância do outro que são condição da

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fotografia. Ainda por cima – e sobretudo – captados no seu local de habitação, onde os
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termos “seu” e “habitação” constituem o núcleo de um conflito assumido, nada aproxima
nossos personagens da pose perturbadora detectada por Bourdieu.

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Fazenda Juvenal.

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Alfonso de Castro. Rio Grande do Sul.

Durante muitos anos o MST deu preferência à representação do coletivo, sempre


apresentado na primeira página de seu jornal. Mas os fotógrafos não renunciaram à
imagem do indivíduo.  Notemos o caráter de fato “anônimo” dessas imagens, que mal
acedem ao estatuto de retratos. Após o contato com Sebastião Salgado, o retrato torna-se
um trunfo a mais na estratégia do MST; foi por meio do retrato, tal como o apresentou
Sebastião Salgado, que o MST descobriu a fotografia como um signo, a possibilidade da sua
“leitura”. Ao perceber que era possível identificar as marcas do trabalho, da história, do
destino coletivo nos seus retratados – isto é, quando pôde “ler” o coletivo e a história no
individual – o MST passou a levar em conta tais sinais, destacando-os mesmo como “prova”
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de uma “vocação” para a terra dos seus militantes – opondo-se assim aos críticos que
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negavam a origem e o destino comuns dos sem-terra. [7]

[7] Alguns estudiosos tem se dedicado a examinar a origem dos acampados do


MST, apontando a existência de uma população não mais rural, de desempregados
expulsos das cidades pelas dificuldades econômicas.

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Natalino.

Marcial G. Congo. Acampamento Brilhante.

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Brasília, 1997.

Douglas Mansur. Brasília, 1997.

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É, aliás, tendo em vista o redimensionamento da relação indivíduo/coletivo nos


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acampamentos – uma operação na qual a fotografia tem seu papel de destaque – que a
experiência dos acampamentos pode dar origem a uma interrogação sobre a noção mesma
de indivíduo, ou melhor, de “sem-terra”. Com efeito, os acampamentos propõem novas
formas de socialização, novos comportamentos susceptíveis de dar lugar a transformações
– a um devir. Muitos dos futuros acampados definem de fato a sua decisão pela ocupação
com a frase: “Vou virar sem-terra”. Também os que já obtiveram sua parcela continuam se
autodenominando “sem-terra”, como se esta não fosse uma condição, mas um “estado” que
se escolhe e se adquire.

Consideremos esta expressão “sem-terra”. Se for tomada como designação daquele a quem
algo “falta”, sua ênfase permanece com efeito no passado, que daria conteúdo ao termo.
Acontece que a estratégia das ocupações tem o dom de reorientar o sentido desta
expressão, do passado para o futuro. Ao entrarem no acampamento, os indivíduos “tornam-
se” coletivamente “sem-terra”. Tornar-se sem-terra não é apenas a passagem por uma nova
experiência baseada em práticas coletivas, e na possibilidade de um aprendizado político; é
também uma modalidade de se representar no espaço do acampamento, de passar a ser
visto – experiência na qual não se pode negar o papel da fotografia.

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Alfonso de Castro.

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Daniel de Andrade. Rio Grande do Sul.

A experiência dos acampamentos é a condição desse devir e, ao mesmo tempo, da construção da


coletividade. E se a fotografia é capaz de registrar, propagar e perenizar o registro da
coletividade como fenômeno dotado de uma duração limitada, no caso do indivíduo podemos
dizer da fotografia que ela não fixa propriamente o seu “retrato” mas antes registra a
constituição desta entidade em processo, o sem-terra.

Por isto encontrarmos poucos “retratos”, no sentido clássico, no arquivo do MST. O


retratado raramente aparece isolado do seu contexto; à entrada do barraco ou nas suas
imediações, desempenhando tarefas cotidianas, sempre se verá algo do seu entorno, seus
objetos, o espaço que ele constitui com sua ação.

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Juan Carlos Gómez. Natalino.

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Juan Carlos Gómez. Natalino.

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Juan Carlos Gomez. Natalino.

Conflito e rito
Para passar aos outros regimes de imagens (o relato visual e a mística ) é preciso voltar
atrás, um pouco antes da criação do MST, quando os sem-terra já tinham dado início às
ocupações. Em 1981, quando 300 famílias expulsas de suas terras criaram o acampamento
do Natalino no RGS, o movimento político em torno desse acontecimento forneceu as
condições para constituição do MST – cuja primeira grande ocupação da Fazenda Annoni se
daria em 1985. Dentre outras heranças que o MST recebeu do Natalino, deve-se salientar o
modelo do acampamento. O sociólogo Germany Geiger mostrou que o acampamento do
Natalino já era dotado de uma organização específica, singular, fundada sobre grupos de
trabalho (alimentação, saúde, educação, vigilância, comunicação e outras funções) e sobre
instâncias de decisão – coroadas por uma assembleia geral. Essas condições se encontram
na origem de uma valorização intuitiva da união no acampamento: é o fato de estar junto
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voluntariamente que tornou possível o desenvolvimento de práticas comuns, políticas,


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religiosas e comunitárias. Detectando desde os anos 80, um entendimento pelo movimento
da importância da visibilidade, Geiger salienta que, além de proteger o grupo contra a
repressão dos proprietários, o acampamento tinha por objetivo chamar a atenção pública.

Foi essa organização espacial e política do Natalino que o MST herdou, desenvolveu e
colocou em evidência nos seus acampamentos. Mas o movimento seria também
intensamente marcado por uma outra característica do Natalino : a associação – ou melhor,
pela indiscernibilidade – entre ação política e ritual.

Marcos Fernandez. Annoni, Rio Grande do Sul.

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Itamar Garcez. Annoni.

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Conflito e rito são praticamente inseparáveis na trajetória do MST. Quando as famílias se


instalaram entre duas estradas no Rio Grande do Sul, ação política e rito se confundiam. A
CPT – braço de esquerda da igreja católica no campo – esteve na condução do Natalino.
Nesse momento da história dos sem-terra, discurso religioso e discurso político não se
distinguiam um do outro e a luta política dos camponeses e sua concepção do sobrenatural
se identificavam completamente. Geiger observa que missas, marchas e jejuns – comuns no
acampamento – assumiram conotação política, enquanto os objetivos políticos adotavam
feição religiosa: foi assim que a luta contra a exploração no campo foi assimilada à busca da
terra prometida, confundindo promessa de liberdade com promessa do mundo divino.
Também nessa etapa da luta dos sem-terra, muitos símbolos foram postos em circulação
que ativavam o elemento mágico e faziam valer a função afetiva que os camponeses
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costumam atribuir às expressões religiosas. Do mesmo modo, a conformação do


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acampamento trazia a marca desse contexto político-religioso: é assim que uma enorme e
pesada cruz era instalada no seu centro para significar a grandeza do sofrimento dos sem-
terra, e a necessidade da sua união. E era ao redor dela que se faziam tanto as celebrações,
quanto os atos políticos.

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Daniel de Andrade.

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Douglas Mansur.

Pouco a pouco, a experiência cotidiana dos acampados foi sendo agregada à cruz por meio
da criação de novos símbolos: as escoras que sustentavam a cruz passaram a significar os
apoios recebidos de diferentes instituições; e as mortalhas penduradas aos seus braços,
tornaram-se símbolos das crianças mortas durante a provação que durou 3 anos.

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João Zinclar. Acampamento Nova Canudos, São Paulo.

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Douglas Mansur. Acampamento Nova Canudos, São Paulo.

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João Zinclar. Acampamento Nova Canudos, São Paulo.

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Douglas Mansur.

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Com a criação e secularização do MST, esses elementos religiosos foram sendo substituídos
por outros signos, mas a forte carga afetiva e religiosa que os acompanhava foi a eles
transferida. É assim que a cruz foi substituída pela bandeira,  que foram introduzidos
símbolos laicos de caráter contemporâneo como boné (que substituiu o chapéu) e camiseta,
e que passou a ser objeto de culto a representação dos novos heróis do movimento: em vez
da cruz, cartazes ou banners com as figuras de Marx, Lênin, Ho chi Min e Che tornam-se
presentes em ações do movimento, ao lado de heróis nacionais como Zumbi, Antônio
Conselheiro.

Primeiro acampamento a ser insistentemente fotografado, além de dar visibilidade pela


primeira vez aos sem-terra, foi a fotografia do Natalino que tornou visíveis os elos entre
conflito e rito. Mais ainda, e num feito digno de destaque, também ela testemunhou o
“deslizamento” dos signos religiosos aos laicos, contribuindo para que as cargas afetivas de
uns fossem transferidas aos outros; do mesmo modo, a iniciação ao uso da fotografia e a
descoberta de suas virtudes nesse primeiro grande acampamento fez com que ela passasse
a ser, aos poucos, também incorporada enquanto tal aos novos ritos e cerimônias do MST.

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Marcelo Buzeto. Porto Feliz, São Paulo.

Como símbolo primeiro dos sem-terra, os fotógrafos procuraram desde cedo mostrar a cruz
no centro do acampamento, ou ainda conduzida por eles em suas peregrinações; mais
tarde, quando a bandeira com o logo do movimento toma o lugar da cruz, os fotógrafos
passam a registrá-la insistentemente em todas as circunstâncias, e muitas vezes
tremulando sobre o acampamento como que anunciando a “assinatura” da
ocupação.  Comprovando o intercâmbio desses signos, nesse período de transição dos
símbolos, a fotografia chega muitas vezes a captar a cruz e a bandeira ainda juntas.

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Marcada pelas origens cristãs do MST, a fotografia parece ter feito valer essa “crença” na
imagem, de forte conotação religiosa, deslocando-a para as suas próprias imagens: seja ao
construir o “relato visual”, seja ao “fazer a mística”, o recurso à fotografia não é estranho a
esse culto dos símbolos religiosos que marcou o início da luta dos sem-terra. Mais que isso,
no entanto, a “crença” na imagem ultrapassaria essa função, digamos, utilitária, para se
estender às próprias imagens ditas documentais – tema ao qual voltarei mais adiante.

São duas as modalidades de imagens que devem atuar como inspiração ou suscitar a
crença: o “relato visual” e a prática mística – ambas modalidades que suscitam uma
participação importante da fotografia, se é que nela não se inspiram [8].

[8] Devo esta análise a Ponce, Elza del Carmen in Entre el Palco y la Tribuna – La
marcha Nacional del Movimiento de los Trabajadores sin Tierra de Brasil hasta Brasilia
– un ensayo estetico-politico de corte democratico radical y plural. Tese de doutorado
apresentada ao Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro, 2004, inédito.

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Relato visual
Constituindo uma espécie de narração, o relato visual é em geral apresentado sob a forma
de um cartaz com imagens – muitas vezes fotografias – de heróis buscadas no
passado.  Com o objetivo de formar militantes, esses cartazes são exibidos durante
cerimônias, seminários, reuniões e cursos, e são dotados de caráter evocativo, sem se
voltar, no entanto, para o passado, nem propor uma utopia; seu intuito é “dotar” o MST de
uma “tradição” de cunho, digamos, socialista. A respeito desse socialismo evocado pelo MST
Elza del Carmen Ponce, autora de um estudo sobre a estética do Movimento, ressalta que
ele não remete propriamente a uma opção ideológica, mas constitui antes uma espécie de
“horizonte” para o MST, a evocação de figuras como Lenin, Marx, Che se pretendendo como
uma homenagem à radicalidade de tais personagens. Também a reivindicação do
messianismo dos séculos XVII e XIX brasileiros – Padre Cícero entre outros – não pretende
evocar, segundo ela, a nação, nem a identificação com “um só povo”, mas tomar sua
radicalidade e seu questionamento do regime político vigente como fonte de inspiração. Do
mesmo modo as Ligas Camponesas não são evocadas pelo MST como exemplares por suas
ideias comunistas, mas por sua habilidade em tratar com o estado e com os interstícios da
lei.

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23/03/2023, 17:40 Política e rito: o papel da fotografia na construção do MST | Stella Senra

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A “mística”
De acordo com os estudiosos, o relato visual busca sua inspiração no passado, revelando o
desejo de incorporar a reputação dos heróis. Por sua vez, a “mística” se projeta no futuro.
Ela é constituída por dramatizações – na verdade por performances – criadas em geral em
torno da história do MST, de seus princípios, objetivos e heróis preferidos. Com suas
dramatizações coletivas, a “mística” não tem o intuito didático do relato visual, mas
pretende tocar a sensibilidade e despertar a emoção dos militantes ao enaltecer capacidade
de luta e a tenacidade do Movimento para atingir os objetivos. Em vez de evocar a terra
prometida – esta figura que iluminou a pré-história do Movimento – a mística prefigura um
futuro cuja antecipação deve criar a vontade de lutar e a união para a ação. Uma mise-en-
scène da luta: por exemplo, os sem-terra brandindo sobre suas cabeças as ferramentas de
trabalho como se fossem armas – constitui uma “mística” e dá lugar, por sua vez, a um dos
ícones fotográficos do MST.

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Carlos Pereira

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Daniel de Andrade. Annoni, Porto Alegre, 1986.

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Brasília.

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“Fazer a mística”, como se diz, é um outro modo de fazer política, transpondo-a para o
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campo dos afetos: as dramatizações têm por objetivo tocar as emoções, promover a união,
incentivar a crença no valor da luta e na transformação da sociedade. Concebida
coletivamente por instâncias apropriadas dentro do movimento – há pessoas que se
“especializam” em criar místicas – recorrendo aos símbolos como a bandeira, o hino, mas
também aos elementos mais imediatos, aos materiais correntes, aos fatos, aos
acontecimentos, ela utiliza também objetos: galhos de árvore, frutas, flores, sandálias,
pratos de comida, pedaços de lona, mas também gestos: punhos cerrados, braços erguidos,
mãos dadas – além de palavras e cantos.

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A mística pode ser relacionada com a facilidade com a qual o MST é capaz de explorar
politicamente a visualidade e, por que não, de por a proveito a imagem fotográfica. Assim,
não é por acaso que a fotografia surge “dentro” da mística, quando as fotos dos próprios
heróis do movimento se tornam objeto de culto. O exemplo mais evidente desse “culto das
imagens é dado pela imagem do Che, o herói por excelência do MST, presente tanto no
relato visual quanto na mística. Aliás, esta imagem se encontra de resto perfeitamente
integrada no cotidiano dos sem-terra, desde que sua fotografia pode ser facilmente
encontrada lado a lado com as fotos de família e com os objetos do dia-a-dia.

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Douglas Mansur, 1999.

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Ainda no que diz respeito à mística, pode-se argumentar que não é unicamente pela via da
“representação” da mística que a fotografia deve ser focalizada. Pois se o que funda a
mística é a crença – a fé num futuro, na possibilidade de um futuro – além de considerar
que a fotografia registra a mística, valeria a pena se perguntar se, quando o MST “põe fé” na
fotografia, quando a ela consagra sua “devoção”, a própria prática da fotografia não estaria
sendo tomada, também, como uma mística.

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Acampamento – inversão da visibilidade


Voltemos aos acampamentos.

A questão mais contundente posta pela fotografia do MST não se refere à crítica às
facilidades da arte dita política, nem aos automatismos do registro da ação direta (levado à
saturação pela prática jornalística), nem tampouco à tão reconfortante “crença” na verdade
da imagem – todos temas já bastante percorridos pelo debate em torno da fotografia
contemporânea, e que poderiam ser colocados no contexto do MST. O interesse maior do
arquivo fotográfico está, por um lado, no registro que ele manifesta da constituição desta
nova entidade – o sem-terra; por outro – e este seu aspecto mais contundente é
indissociável do primeiro – ele está na constituição de uma percepção da visibilidade como
um “campo” de ação política.

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A meu ver a contribuição mais original da fotografia para a construção do MST é menos
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direta do que pode ser constatado nas diferentes modalidades de uso que o movimento
tem dela feito. Ela diz respeito à elaboração da concepção de diferentes estratégias do
movimento sustentadas pela visibilidade (as marchas, por exemplo) – dentre as quais a mais
decisiva é a sua concepção estratégica dos acampamentos.

Foi a socióloga Lygia Sigaud quem levou mais longe a análise do papel da visibilidade e de
sua importância na concepção estratégica dos acampamentos ao estudar o caso de
Pernambuco. Segundo ela, o recurso à visibilidade como estratégia política visa pressionar o
Estado com vistas à desapropriação. Mas, conferindo valor negativo a esta noção, a
socióloga alega que não existe “uma massa de sem-terra” ansiando pelo acesso à terra no
caso estudado de Pernambuco; nem tampouco uma situação de conflito – situação que
teria sido criada justamente pelas invasões. “Os movimentos criam a demanda ao
convidarem os trabalhadores para ocupar as fazendas, escreve ela. São eles que lhes abrem
a possibilidade de ter acesso a uma terra com a qual nunca haviam sonhado (…) Ao
aceitarem o convite os indivíduos tornam-se sem-terra (itálicos dela) porque passaram a
reivindicar a terra para si”. A montagem dos acampamentos teria, para a autora, a função
de “tornar legítimas” as pretensões dos indivíduos; e a dinâmica e a institucionalização da
forma-acampamento derivaria das relações de dependência recíproca e de concorrência
que vinculam o Estado, os movimentos e os indivíduos. Contra o que ela chama de
“demagogia” dos movimentos a autora argumenta que, em vez de serem o resultado de
uma “luta pela terra”, a demanda pela terra é “produzida” pelos movimentos e alimentada
pelas práticas do Estado. [9]

[9] Sigaud, L. “As condições de possibilidade das ocupações de terra” (Possibilidade


I, incluindo a comparação com a África do Sul), Museu Nacional/UFRJ, 03/02/2005.
Acatando a importância estratégica que Lygia Sigaud concede à visibilidade nos
acampamentos, inverto no entanto o sentido negativo que lhe é atribuído. E sugiro que a
fotografia desempenha um papel de destaque na inversão de sentido da visibilidade dos
acampamentos, de um papel passivo para uma função ativa. A contribuição da fotografia para
conquista dessa visibilidade deve ser levada em conta justamente em virtude das complexas
relações que o Movimento desenvolveu com a imagem fotográfica ao longo de sua história.

Para um melhor entendimento desse fenômeno seria interessante comparar os


acampamentos do MST – que tanto podem contar com 20, 30 pessoas quanto com 3000 –
com os acampamentos de imigrantes, de refugiados políticos e de deslocados que se
multiplicam por um mundo globalizado, e em estado de guerra permanente. A comparação
com efeito se sustenta desde que, agravada com o impacto de novas formas de produção
introduzidas no campo brasileiro, sobretudo após a globalização, e com o avanço
tecnológico, a questão da terra tem acentuado o “descarte” social dos camponeses,

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tornando sua vida muito parecida com a desses outros excluídos, vítimas de contextos
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diversos.

Ao estudar a relação entre globalização e geopolítica no que diz respeito aos campos,
Silvaine Bulle mostrou a semelhança entre o modelo de internacionalização forçada
(campos geridos por organizações internacionais, como em Israel) ou da guerra
(refugiados), com o único objetivo da manutenção da ordem, da vitimização e da inércia de
suas populações; ela chama atenção para o estabelecimento, nesses contextos, de uma
visibilidade política de seus espaços residuais, que dá origem ao que ela chama de os
“informais” – os cidadãos sem estatuto.
Se observarmos as duas diferentes modalidades de aglomeração – a dos refugiados e
deslocados e a dos sem-terra – poderemos notar que, apesar de abrigarem uma população
que também perdeu a sua relação originária com o espaço, os acampamentos do MST não
se limitam à função negativa, redutora das potencialidades de seus habitantes – como é o
caso dos campos de refugiados.

Apesar de guardarem semelhanças com esses campos, sobretudo ao se fundarem na


visibilidade de suas instalações e de seus habitantes, os acampamentos do MST constituem
o que a antropóloga Lygia Sigaud chamou de “forma-acampamento” como “figura espacial
de grande operacionalidade”. A “forma-acampamento” se manifesta por meio da
convergência entre a regularidade formal dos acampamentos (barracos cobertos de lona
alinhados formando em geral filas em linhas paralelas, preferência por lugares elevados
(colinas, proximidade com bosques), e as estratégias geradas no seu interior, destacando
justamente a importância da visibilidade oriunda de tal conjunção.

Ora, como “forma específica de tecnologia política particular de visibilidade”, os


acampamentos do MST não geram vitimização nem tampouco a mesma inércia espacial dos
campos de refugiados; eles antes se caracterizam como uma ação política que visa garantir,
por meio da inversão da visibilidade de sua população do negativo ao positivo, a inclusão
social e o acesso à cidadania de seus moradores.
Esta inversão do sentido político da visibilidade – do controle exercido nos campos por uma
autoridade que gera os “informais”, para uma função estratégica que gera os “sem terra”: fazer-
se visível como instrumento de luta política – não pode ser considerada como alheia ao convívio
e aprendizado, pelo MST, do papel da imagem na sociedade contemporânea. Mais precisamente,
esta anexação da visibilidade às ferramentas políticas do MST deve ser considerada como
tributária da sua descoberta do potencial político da imagem e de toda a riqueza e
complexidade que seu uso continuado lhe agregou.

Se fazer-se visível é uma exigência estratégica das ocupações, poderíamos contrapor aos
“informais” definidos por Silvaine Bulle os sem-terra entendidos como entidade que emerge da
prática das ocupações – ou da “forma acampamento”, como a denomina Sigaud. Fazer-se
visível aos opositores, aos interlocutores implica em fazer-se visível, coletivamente, como

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“sem-terra”; “devir” sem-terra, uma tarefa para a qual a fotografia desempenhou e (ainda
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desempenha?) um papel decisivo.

Pesquisa realizada com bolsa da fundação vitae 2003-2004. Primeira apresentação feita no
seminário “Brésil contemporain”, Paris, Beaubourg, 2005.

Este levantamento foi realizado junto ao acervo fotográfico do próprio MST. Os recursos
disponíveis à época não permitiram que as imagens fossem reproduzidas com qualidade
para apresentação.

As informações relativas à data, local e créditos nem sempre estão disponíveis. Deste modo,
caso algum fotógrafo reconheça seu material, favor entrar em contato.

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