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como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura.
É
educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar
Prólogo
Primeiro
Segundo
Terceiro
Planos de sabotagem
De fato a situação não podia agradar a Manuel Ortega
nem a ninguém. Quando, após piscar algumas vezes, ficou
afinal com os olhos abertos e tomou contato com o
ambiente, encontrou-se atado de pés e mãos a uma
cadeira, entre decoração marroquina. Sentada diante dele,
a loura olhava-o friamente, tendo de cada lado um homem
que o olhava mais friamente ainda. As janelas de estilo
árabe estavam ocultas por cortinas de vermelho intenso.
— Sabe onde está, Ortega? — perguntou-lhe Baby.
— Não.
— Na villa de Muley Hassim.
— Ignoro de quem fala.
— Não sabe quem é Muley Hassim?
— Não.
— Tampouco sabe nada sobre um homem que foi
baleado pelas costas numa casa desabitada da rua
Hasnona?
— Tampouco.
Ela virou-se para o marroquino que estava diante da
porta.
— É este homem, Mordecai? — perguntou.
— É. Sem a menor dúvida. Foi ele quem entrou atrás
de... de Johnny e saiu dois ou três minutos depois.
— Bem. Quer um drinque, Ortega? Virou-se para a
mesinha de madeira de cedro com incrustações de marfim e
levantou ostensivamente uma garrafa de vodka. Junto a ela
havia um copo. Ficou olhando para o prisioneiro, à espera
de sua resposta, para servir ou não a bebida. Como ele não
respondesse, arqueou interrogativamente as sobrancelhas.
Manuel Ortega passou a língua pelos lábios.
— Não — disse finalmente.
— Como queira. Eu, entretanto, que adoro o penso que
vou me permitir um pequeno Serviu-se meia polegada,
tomou um gole e sorriu. Mas o sorriso não agradou nada a
Manoel Ortega.
— Bem, a fim de não cometermos erros, falarei em
primeiro lugar, bem claramente. Meu nome de guerra é
Baby. Da CIA. E estou certa de que já o ouviu muitas vezes.
Temos certeza que você não é espanhol e quase certeza de
que é russo. Uma diferença muito grande, não parece?
Agora, preste atenção: seja você espanhol ou russo, o certo
é que está fichado como responsável pelo assassinato de
um de meus companheiros, coisa que jamais perdoo.
Jamais, todas estas circunstâncias, só podem ocorrer duas
coisas. Primeira: você me explica o que aconteceu, para ver
se pode convencer-me a ser indulgente com você. Segunda:
se não me convencer, ou não me responder, eu o matarei.
Tem três segundos para começar a falar. Empunhou a
pistolinha e ficou olhando fixamente para Ortega, que
tornou a passar a língua pelos lábios.
Somente um louco faria caso omisso do olhar daqueles
maravilhosos olhos azuis.
— Sergei Savoritchenko... — murmurou subitamente ele.
— Do MVD soviético.
— Assim está melhor — suspirou Brigitte. — Vejamos
agora se...
— Mas eu não matei seu companheiro.
— Não? Quem o matou?
— Outro homem.
— Que homem?
— Não sei.
— Ora vamos, camarada Sergei... Não é suficiente dizer
que não o fez, compreenda. Existe um culpado e só temos
você à mão. Se não se estender mais em suas declarações,
receio que não lhe daremos crédito.
— Quando entrei naquela casa, seu companheiro
acabava de morrer.
— E não viu ninguém lá, salvo o cadáver?
— Ninguém.
— Está querendo zombar de nós? — interveio Johnny I.
— Têm apenas de confrontar as balas de meu revólver
com as que mataram seu amigo, para verem que estou
falando a verdade.
— Que está dizendo? — perguntou Brigitte.
— Refiro-me à arma do morto... Ele foi assassinado com
ela. Não o sabia?
Sobrancelhas contraídas, Baby virou-se para os Johnnies.
Ambos pareciam estupefatos.
— Sabíamos? — perguntou-lhes secamente.
— Não... Bom, quando chegamos junto a ele, Mordecai
estava nos esperando lá. Disse que não havia tocado em
nada... Ele estava caído de braços, com três balaços nas
costas, tendo ao lado sua pistola...
— Tinha disparado com ela?
— Sim, sim... Tinha disparado.
— Quantas vezes?
Johnny I e Johnny II trocaram um olhar.
— Três vezes, — disse o segundo, por fim.
— Mas nós pensamos que ele tentara defender-se, ou
algo assim — acrescentou rapidamente Johnny I. — Não nos
ocorreu que o tivessem baleado com sua própria arma...
Ora vamos, isso seria impossível!
— Por que impossível? — retrucou Savoritchenko. —
Quando eu cheguei, estava morto, com a pistola ao lado. E
quando olhei seu rosto, vi neste as marcas de dois golpes...
A coisa está bem clara: golpearam-no, tiraram-lhe a
pistola e mataram-no com ela.
— É uma explicação muito conveniente... para você,
claro.
— Não tenho outra.
— Pois essa não nos satisfaz em absoluto — afirmou
Johnny II.
— É verdade que Johnny tinha marcas de golpes no
rosto? — perguntou Brigitte.
— Bom... Sim, é verdade...
— Onde está sua pistola?
— Nós a enviamos com ele, bem como todas as suas
coisas, para os Estados Unidos.
— Teremos de perguntar à Central se as balas que ele
tinha no corpo eram de sua própria pistola...
— Que provaria isso? — atalhou Johnny I. — Eu posso
golpeá-la, aturdi-la e matá-la com sua própria pistola, não é
assim? Significaria que eu não a tinha assassinado o fato de
você estar morta por balas de sua própria pistola?
— Não — admitiu Brigitte. — Mas pediremos esse
esclarecimento à Central. Enquanto isso, é claro, o
camarada Sergei nos dirá como sabia que Johnny se dirigiria
àquela casa e por que o estava esperando. De acordo,
Sergei?
— Eu não sabia que seu companheiro iria lá.
— Compreendo. Isso significa que você estava à espera
de outra pessoa, pois não vai me dizer que foi lá por simples
casualidade.
— Não.
— Ah... Diga-me: que motivo o levou àquela casa?
— Estava vigiando um homem que entrou lá.
— O homem que, segundo você, matou o nosso
companheiro?
— Sim.
— Vejamos, camarada Sergei: nosso companheiro Johnny
recebeu um chamado pelo rádio e foi àquela casa.
Tratava-se, evidentemente, de um encontro com alguém.
Alguém que primeiro tinha conseguido comunicar-se com
Muley Hassim, o dono desta villa. Hassim transmitiu a
comunicação a Johnny, o qual deve ter considerado muito
importante o assunto. Tão importante, que compareceu ao
encontro sem esperar por seus companheiros de Tânger...
— indicou os dois Johnnies. — Muito bem, mas aconteceu
que, ao chegar lá, o homem que com ele marcara encontro
por intermédio de Muley Hassim o matou, simplesmente.
Isto lhe parece razoável? Você marcaria encontro com
um agente qualquer da CIA apenas para matá-lo numa casa
abandonada?
— Não.
— Então, por que aquele homem matou meu
companheiro, se antes havia marcado encontro com ele?
Por gosto? Esse tipo de espionagem já pertence ao passado,
Savoritchenko. Agora os espiões geralmente se dedicam a
vigiar outros espiões apenas isso. E só matam quando é
inevitável. Por motivos importantes ou por segurança
pessoal, o que me parece compreensível. Acha você que
meu companheiro atacou o homem que marcara encontro
com ele?
— Não sei.
— Eu sei que não o fez. Se aquele homem o chamou, é
que nada receava da CIA. E Johnny foi ao seu encontro
convencido disso. Então, por que o matou? Ficamos em que
não foi por gosto, por segurança pessoal... Que outra razão
pode restar?
— Temo que, de certo modo, tenha sido eu o causador de
sua morte.
— Sim? De que modo?
— Quando entrei atrás do seu amigo, o outro pode ter-se
assustado ao ouvir-me, imaginando tratar-se de uma
armadilha... E por isso o matou, depois de golpeá-lo,
escapando em seguida.
Os espiões americanos trocaram olhares de
perplexidade.
— Parece-me que você não está se explicando muito
bem, Savoritchenko — murmurou Brigitte.
— Penso que sim. Eu estava vigiando o homem que
marcou encontro com seu companheiro e ele tinha medo.
Quando me ouviu chegar, ele ficou convencido de que
tudo era uma cilada... Por outro lado, duvido muito que ele
soubesse que o homem com quem marcara encontro fosse
da CIA.
Os americanos tornaram a entreolhar-se, perplexos.
— Agora, sim, é que não entendemos mais nada —
resmungou Johnny I.
— Nem eu — admitiu Baby. — Se o homem que esperava
Johnny marcara encontro com ele através de Muley Hassim,
tinha que saber que era da CIA.
— Não creio que as coisas tenham acontecido assim.
— Não? Será interessante ouvir sua versão dos fatos, já
que parece disposto a colaborar.
— Digamos — sorriu o soviético — que acabo de ter uma
boa ideia e que por meio dela talvez nos transformemos em
aliados.
— É pouco provável — comentou Johnny II. — Muito
pouco provável.
— Por quê? — duvidou Brigitte. — Se o camarada Sergei
diz isso, deve ter muito sólidas razões. E talvez as possamos
compreender se ele nos der sua própria versão.
Está disposto, Sergei? Prossiga, então.
— Começarei por dizer que, há duas semanas, três
agentes do MVD escaparam da Rússia levando uma pasta.
Três traidores, claro. Imediatamente, o MVD lançou uma
ordem de captura contra eles. Estivemos seguindo-os por
toda a Europa, até que finalmente vieram parar em Tânger.
Cheguei em seguida, localizei um deles e fiquei à espera,
pois o que primordialmente interessa não é matá-los, mas
recuperar a pasta.
— Que contém essa pasta?
— Depois chegaremos a isso. Por enquanto, digo apenas
o seguinte: seu conteúdo é tão interessante que, posto à
venda num mercado de espionagem, não duvido que
alcançasse o preço de cinco milhões.
— De rublos?
— De dólares.
— Johnny I emitiu um assobio.
— Acha que esses três traidores vieram a Tânger para
vender o conteúdo dessa pasta?
— Evidentemente. Todos sabemos que há um mercado
muito bom para estas coisas aqui. Certo?
— É o que se diz... — sorriu Brigitte. — E então?
— Eles chegaram a Tânger, fizeram correr a voz de que
tinham algo muito bom e, de um ou de outro modo, é
evidente que esse amigo de vocês, Muley Hassim, veio a
saber. Sendo um árabe, é muito possível que se tenha posto
em contato com os três traidores, ou com um deles, ou com
um intermediário. Conseguiu um encontro... e enviou seu
companheiro Johnny como comprador do conteúdo da
pasta, mas sem informar que tal comprador era da CIA. De
modo que um dos traidores, o único que eu havia localizado
e que estava vigiando, dirigiu-se ao local do encontro.
Entrevistou-se com o companheiro de vocês e, quando
me ouviu chegar, receou alguma coisa, golpeou-o e
escapou.
Enquanto isso, eu, que estivera justamente esperando
que meu perseguido se pusesse em contato com alguém,
pois isso significaria que tinha conseguido o conteúdo da
pasta, ainda que microfotografado, imaginei que chegara o
momento e subi disposto a tudo... Infelizmente, fiz mais
ruído do que pensava, o traidor assustou-se, matou o
companheiro de vocês e escapou. Retirei-me logo em
seguida, naturalmente, para evitar complicações comigo.
— Muito lógico. De onde se depreende que quem matou
Johnny não foi você, mas um dos traidores da Rússia e do
MVD.
— Sim. Só pode ter sido ele.
— Qual é o seu nome?
— Bom... — hesitou Savoritchenko.
— Se vamos colaborar, você deverá ser bastante claro e
explícito, não?
— Ele se chama Igor Fiodorovitch.
— E os outros dois?
— Georgi Vlady e Ivan Ovanikov — disse Sergei, com
evidente má vontade.
— Está bem. Esses três homens têm algo que está dentro
de uma pasta e pode valer até cinco milhões de dólares. Por
que não haviam de oferecê-lo à CIA? Não somos
exatamente um serviço de espionagem pobre. E pagamos
muito mais pontualmente que vocês, por exemplo.
— Não creio que eles se atrevessem a vendê-lo à CIA.
Francamente, não creio. O encontro entre Johnny e
Fiodorovitch naquela velha casa só significa que Muley
Hassim conseguiu uma boa informação e passou-a
imediatamente ao primeiro. Só isso. Mas sei que os três
traidores não se atreverão a tratar com a CIA. Preferirão
vender o conteúdo da pasta a um agente de qualquer outro
país. À China, possivelmente. Com maior certeza, ao
Vietnam... Não sei. A única coisa que sei é que tenho que
recuperar essa pasta antes que se realize a venda, ou que
seu conteúdo passe ao conhecimento de alguém.
— E você espera que nós o ajudemos a recuperar a
pasta?
— Espero.
— Acaso está sozinho em Tânger, Sergei?
— Claro que não. Mas só localizamos Fiodorovitch e
talvez seja justamente ele quem não tenha a pasta. Com a
ajuda da CIA, tudo seria mais fácil. Poderíamos apanhar os
três traidores entre dois fogos.
— Vocês já poderiam ter agarrado Fiodorovitch e fazê-lo
confessar onde estão os outros dois e a pasta.
— Se pusermos a mão em Fiodorovitch, os outros dois
desaparecerão. Eu sei. Por isso, antes de agir, queremos
saber onde está a pasta. Não podemos permitir que
ninguém dela se apodere.
— Compreendo. Bem, pode-se saber agora o que contém
essa pasta?
— Planos de sabotagem.
— Contra quem?
— Contra os Estados Unidos.
Brigitte olhou fixamente o espião russo.
— Neste caso, creio que seus colegas traidores poderiam
oferecer com grande vantagem esses planos à CIA, que
pagaria um bom preço por eles.
— Não o farão. Primeiro, porque esperam conseguir mais
dinheiro no mercado de espionagem de Tânger, ao que
supomos. Segundo, porque sabem muito bem que os
primeiros que vigiaremos serão os agentes da CIA.
Terceiro, porque sabem perfeitamente que, se fizerem
um trato com vocês, terão que viajar para os Estados
Unidos e, lá, nossos companheiros acabariam com eles.
Não, não...
Preferem um país que possa dar-lhes proteção muito
mais segura que os Estados Unidos durante algum tempo. A
CIA, como o MVD, é demasiado conhecida. Coisa muito
perigosa para eles. E poderá provar o acerto desta minha
teoria o fato de Fiodorovitch ter assassinado Johnny, que
talvez tenha começado por dizer-lhe que era da CIA e que
estava disposto a pagar-lhe multo bom preço. Ou foi Isso, ou
ele me ouviu subir a escada e assustou-se, julgando tratar-
se de um amigo de Johnny que fazia parte da armadilha.
Brigitte esteve pensativa quase meio minuto, antes de
assentir gravemente.
— Sua história convence, Sergei. E enquanto não
encontrarmos Muley Hassim, que é o único que sabe por
que Johnny foi à velha casa da rua Hasnona, não posso
contestá-la. Contudo, continuo pensando que seus três
traidores teriam feito bom negócio vendendo o conteúdo
dessa pasta à CIA.
— Sei que não o fariam. Com absoluta certeza.
— Está bem. Que espécie de sabotagem estão
planejadas em tal conteúdo?
— São cinquenta e duas, ao todo. Foram planejadas
durante o bloqueio de Cuba e, exceto três ou quatro, são
perfeitamente viáveis. Estavam arquivadas, claro, já que a
Rússia não pensava fazer uso das mesmas... por enquanto.
— Compreendo — sorriu Brigitte. — Mas se as coisas
piorassem entre vocês e nós, tais planos poderiam ser
postos em prática num curto espaço de tempo, não é
assim?
— Exato.
— E sem dúvida, se caírem nas mãos de alguém que não
vocês ou nós, poderão ser levados a efeito sem necessidade
de nenhuma declaração de guerra.
— Você bem sabe — sorriu também Savoritchenko — que
vários países pagariam muito dinheiro para poder agir na
sombra contra os Estados Unidos. E estou certo de que
estes acusariam o golpe, Baby.
— Naturalmente. Pode mencionar-me algumas dessas
sabotagens?
— Oh... A represa Hoover, centrais elétricas, fábricas de
armamento pesado, portos, aeroportos, centrais nucleares,
bases de investigação espacial... Tudo está calculado para
que, num só dia, à mesma hora, após três dias de
preparação apenas, todos esses atos de sabotagem possam
ser realizados simultaneamente.
Brigitte contraiu as sobrancelhas. Estava algo pálida,
mas disposta a não demonstrar ao agente russo o quanto a
perturbava aquela revelação.
— Há cópias desses atos de sabotagem planejados em
Moscou?
— Sim, naturalmente.
— Mas se chegarmos a recuperar as que os três traidores
roubaram, poderemos encontrar meios de prevenir todos
esses atos, não é assim?
— É, penso eu — resmungou Savoritchenko.
Brigitte disfarçou um suspiro de alívio, enquanto
permanecia sorridente.
— Nós o ajudaremos, Sergei.
— Poderiam começar por soltar-me. Não estou em
posição muito confortável.
— Oh... Eu suponho que quererá também sua arma, bem
como o rádio de bolso que lhe confiscamos.
— Bom, somos aliados, estou sozinho e vocês são quatro.
— Mas ainda não temos plena certeza de que você esteja
dizendo a verdade, Sergei. Creio que só a saberemos depois
de comunicar-nos com Washington e verificar se as balas
que mataram Johnny partiram de sua própria pistola. Se
assim foi, eu acreditarei em você.
— Posso ir a Tânger e fazer o chamado — propôs Johnny
I. — Antes de...
— Não, não. Eu me encarregarei disso, Johnny. Irei ao
hotel, apanharei algumas coisas e falarei pelo telefone. Será
mais rápido e menos comprometedor, se pedir um certo
número que sei. Quer que lhe traga alguma coisa do hotel,
Sergei?
— Vai me deixar aqui?
— E ainda amarrado e bem guardado, querido colega.
Bem... Trago-lhe alguma coisa?
— Encontrará uma carteira dentro do colchão da cama
que não utilizo, em meu apartamento. Muito lhe agradeceria
que a trouxesse. Apenas isso.
— Assim farei. Não fique zangado. Talvez ainda
cheguemos a ser bons amigos. Tudo depende da veracidade
de suas palavras. Fique prevenido se as balas que mataram
Johnny não foram de sua própria pistola, tornaremos a
começar... e de outro modo, compreende?
— Ouvi falar de você... — murmurou Savoritchenko.
— Suponho que, se algo não lhe agradar a meu respeito,
saberá demonstrá-lo cabalmente.
— Disso não tenha dúvida. Entretanto, como no
momento nossas relações estão... em suspenso, e quase
acredito completamente em sua soa intenção de evitar
contratempos aos Estados Unidos...
— E à Rússia — interpôs o soviético.
— Certo — sorriu Baby. — E à Rússia. Porque se algum
desses atos de sabotagem for posto em prática e pudermos
conseguir os planos traçados pela Rússia, não
acreditaríamos que tivessem sido roubados e que vocês não
estivessem envolvidos no fato. Isso criaria uma enorme
série de dificuldades, que agravaria muitíssimo a já
complicada situação mundial.
— Não se pode dizer que ele esteja completamente
desinteressado — resmungou Johnny II.
— Não — admitiu Brigitte. — Mas, seja como for, Johnny,
as circunstâncias nos obrigam a colaborar com o MVD e
reconhecer que, à sua maneira e ainda que por sua própria
conveniência, este nos beneficia... Ou tenta beneficiar-nos,
pelo menos. Soltem-no.
Os dois agentes da CIA ficaram estupefatos.
— Como? — perguntou Johnny I, por fim.
— Soltem-no, foi o que eu disse. Não percamos a
cortesia. O camarada Sergei Savoritchenko ganhou uma
trégua, o direito a certa comodidade e até um pouco de
vodka... Ou continua não o aceitando, colega?
— Tomarei o vodka com muito gosto — sorriu o russo.
— Embora esteja bastante aliviado, cheguei a sentir a
boca um tanto seca, Baby.
— Acredito. Você sabe muito bem que sua negativa em
colaborar conosco lhe teria trazido desastrosas
consequências. Não sou das que brincam quando matam
um de meus companheiros, Sergei.
— Mas devemos soltá-lo mesmo? — hesitou Johnny I.
— Eu já o disse duas vezes.
Com evidente má vontade, o agente da CIA desamarrou
o do MVD, que esfregou os pulsos e os tornozelos, sorrindo.
Brigitte empurrou para ele a garrafa de vodka e o copo.
Servindo-se uma dose generosa, Sergei bebeu-a de um
trago e estalou a língua, satisfeito.
— Suponho que não acreditarão nisto, quando o contar
em Moscou.
— Ainda não o contou — murmurou Baby. — Por
enquanto, deixaremos as coisas assim, Sergei.
Naturalmente, não lhe devolveremos ainda seu revólver
nem seu rádio de bolso...
— Deveriam devolver-me o rádio — sugeriu o russo. — Se
meus companheiros me chamarem para dar notícias sobre o
paradeiro dos traidores que estamos procurando, ficarão
alarmados ao não receber resposta... E é muito possível que
tudo seja posto a perder.
— Ouça — resmungou Johnny II — , se você...
— Vamos devolver-lhe o rádio — cortou Brigitte. — Ele
tem razão, Johnny. O que menos interessa neste momento é
alarmar alguém. Quero que isto fique bem claro. — Tirou o
rádio ao russo da maletinha, entregando-o a este. — Tome
cuidado com o que disser por este rádio, Sergei, pois meu
companheiro fala o russo tão bem como você e eu.
— Estou jogando limpo — protestou Savoritchenko.
— Melhor. Levem-no para um quarto, lá em cima.
Amarrem-no, só pelos pés, a uma cama e permaneçam
com ele até que eu regresse, vigiando-o por turnos, já que
um de vocês deverá estar sempre atento ao rádio de Muley
Hassim, pois pode chegar alguma notícia. Quanto ao resto,
peço-lhes que tratem com consideração o nosso colega.
— Parece-me consideração demais... — reclamou Johnny
I. — Afinal de contas, o mais provável é que tenha sido ele
quem matou nosso companheiro e que nos esteja fazendo
de tolos.
Brigitte Montfort olhou-o inexpressivamente.
— Será melhor para ele que nos tenha dito a verdade.
Levem-no para cima. Mordecai.
O marroquino aproximou-se, enquanto os dois Johnnies
levavam o soviético.
— Às suas ordens.
— Passe uma revista no carro do russo, com muita
atenção. Lembra-se do número da casa onde mataram
Johnny, na rua Hasnona?
— Lembro-me.
Brigitte desdobrou um mapa da cidade de Tânger e
estendeu-o sobre a mesa.
— Mostre-me onde está essa rua e anote o número. Vá
em seguida revistar o carro. Fico à sua espera aqui.
Mordecai obedeceu ponto por ponto. Quando regressou à
sala, Baby estava fumando, muito pensativa. Levantou a
cabeça, olhou-o e sorriu amistosamente.
— Algo interessante? — perguntou.
— Veja por si mesma.
O marroquino depositou sobre a mesinha o que havia
encontrado no carro de Savoritchenko: luvas, cigarros
marroquinos, documentos do carro, uma pequena lanterna,
uma chave de fenda, um estojo com pequenas ferramentas
de emergência, uma planta de Tânger... Nada que valesse a
pena, evidentemente.
— Quanto ao próprio carro — murmurou Brigitte, olhando
a documentação —, é alugado, em Ceuta. Bem... Ponha-se à
disposição de meus amigos, Mordecai.
— Tenho algo para lhe dizer — murmurou este.
— Sim? — olhou-o, interessada.
— Eu deveria atender ao rádio de Muley. Se algum de
meus amigos chamar e não lhe responderem em árabe,
cortará a comunicação.
— Compreendo... E é muito razoável. Quantos deles
dispõem de rádio de bolso?
— Seis. Podem chamar a qualquer momento, se
chegarem a saber algo interessante. Estão desnorteados,
mas farão alguma coisa, espero. De qualquer modo, estão
também assustados, portanto, depois do desaparecimento
de Muley Hassim, é possível que não queiram saber nada do
assunto se eu não lhes falar. Isso os tranquilizaria.
— De acordo. Diga isso a Johnny. E que os dois fiquem
vigiando o russo. Espero estar dê volta — consultou o
relógio — entre a meia-noite e a uma da madrugada. Muito
cuidado. E não tenha contemplações com ninguém, se as
coisas se complicarem. Até logo.
Quarto
Quinto
Sexto
Sétimo
"O Mirante"
Finalmente, parou o carro num estacionamento que
encontrou por acaso atrás do Boulevard Pasteur, bem perto
do “Hotel Tânger”. Saltou, dirigiu-se a pé para o bulevar e
prosseguiu até a praça onde estava “O Mirante”, fazendo
caso omisso dos olhares com que a seguiam os homens
sentados nos cafés, que ocupavam boa parte da calçada.
Súbito, dobrou a esquina, rapidamente, como se
estivesse disposta a correr. Ficou colada à parede, imóvel, e
três segundos mais tarde sorriu para o homem que
apareceu apressado, olhos muito abertos. Ele petrificou-se
ao vê-la, tão surpreendido que não houve lugar para
dissimulação.
— Posso servi-lo em alguma coisa? — perguntou ela, em
francês.
O marroquino, vestido à europeia, olhou para todos os
lados e passou a língua pelos lábios.
— Perdão, madame... — balbuciou.
— Está me seguindo desde a Avenida de Espanha. Por
quê?
— Não, madame, não...
— Vamos, não seja idiota. Se quisesse fazer-me algum
mal, não teria esperado chegar até aqui, eu sei. Não deseja
atacar-me, mas quer algo de mim... De que se trata?
— Mas, madame, asseguro-lhe...
— Que tal mil dólares? — interrompeu-o Brigitte.
O homem engoliu em seco.
— Estava seguindo-a, madame, com efeito.
— Já nos vamos entendendo. Por quê?
— Pensei que me pagaria certa informação sobre os
homens que está procurando.
— Agora, nos entendemos melhor... — sorriu Brigitte.
— Tem essa informação?
— Oui, madame.
— Como soube que me interesso por esses homens?
— Bom... É a concorrência, madame.
— A concorrência?
— Sim... Nós sabemos que Abdel e outros fazem alguns
trabalhos... estranhos. Nós também fazemos. Correu o
rumor, eu vigiei Abdel depois de averiguar onde estão esses
dois homens e assim quem lhe pagava para conseguir essa
informação.
— Compreendo. Mas sinto por você: Abdel já me passou
a informação.
— Ah! Tive pouca sorte... — sorriu o marroquino. — Fica
para outra vez, madame. Desculpe se a incomodei, mas
meu trabalho...
— Não se preocupe — quase riu Baby. — Os espiões de
araque como você não me incomodam.
— Cada um vive como pode, madame.
— Sem dúvida. Compreendo isso e lamento que sua
informação já não me seja necessária. Entretanto, gostaria
de... confirmar a informação de Abdel. Embora, claro —
acrescentou rapidamente —, isso não valha mil dólares.
— Quanto vale? — perguntou o marroquino.
— Mmm... Cem dirhans?
— Madame...
— Está bem: quinhentos.
— Posso vê-los, madame?
Brigitte abriu a maletinha, sacou sua carteira, separou
cinco cédulas de cem dirhans e estendeu-as ao homem, que
de imediato fê-las desaparecer.
— Por esta quantia, madame, só lhe posso dizer que
tome muito cuidado se for à Kasbah. Especialmente à noite.
— A Kasbah? — ela pestanejou. — Por que hei de ir lá?
— Não está procurando esses dois homens?
— Estão na Kasbah?
— Claro. Sei disso muito bem e... — o homem mordeu os
lábios. — Não foi o que lhe disse Abdel?
— Não.
Agora foi o marroquino quem pestanejou, desconcertado.
— Bom, não sei... Asseguro-lhe que não a estou
enganando, madame. Dizem meus informantes que há dois
homens na Kasbah... Dois homens brancos, bem entendido.
Estão lá há alguns dias, escondidos, ao que parece.
— Exatamente onde, na Kasbah? Sabe?
— Sei, sei... — o homem pôs-se a rir. — Mas madame não
os encontraria lá!
— Você sim?
— Claro que sim!
Ela o olhou atentamente, antes de falar.
— Antes lhe ofereci mil dólares... Quer ganhar dez mil?
— Posso vê-los?
— Não os tenho aqui, mas isto não é problema.
Precisará apenas seguir-me, sem me perder de vista,
como esteve fazendo. Compreende?
— Oui, madame.
Brigitte assentiu com a cabeça, consultou o relógio e
regressou à calçada do Boulevard Pasteur, agora sem se
virar, pois sabia perfeitamente que o marroquino não a
perderia de vista. Pouco depois, chegou a “O Mirante”, o
bonito café cujo andar superior tem as paredes de vidro.
Subiu, sentou-se a uma mesa junto às vidraças e
acendeu um cigarro. Nem sequer piscou quando o
marroquino apareceu, ocupando outra mesa. Olhou para a
pequena praça onde se amontoavam dezenas de famílias
marroquinas, sentadas no chão, nos bancos, sobre a
balaustrada que permite ver o mar, com uma formosa vista
sobre o porto e a praia.
Quase meia hora mais tarde, quando ela já tinha fumado
três cigarros e bebidos duas xícaras de chá com menta,
apareceu um homem branco, de elevada estatura e
corretamente vestido. Trazia uma pasta de couro na mão
esquerda. Olhou ao redor, viu Brigitte e aproximou-se
lentamente.
— Baby? — perguntou.
— Está vinte minutos atrasado, Johnny.
— Desculpe. Houve uma pequena contrariedade no
aeroporto de Madri. Contudo, você deve admitir que
trabalhamos depressa.
— Receberam os dados que pedi a Washington?
— Recebemos. Por curiosidade: como se arranjou para
enviar o pacote à Central?
— Ontem à noite estive no aeroporto, procurei um piloto
que fosse para Nova Iorque e entreguei-lhe o pacote e um
bilhete, tudo muito bem embrulhado. Disse-lhe que no
aeroporto Kennedy estariam à sua espera e que teria
apenas que entregar o pacote para receber mil dólares.
Depois telefonei ao meu chefe, disse-lhe que fosse esperar
o piloto e enviasse o pacote à Central, ou que o levasse
pessoalmente, com a máxima urgência. Uma vez obtidos os
dados que pedia, deviam enviá-los pelo rádio a Madri para
que um de nossos agentes os trouxesse aqui no “O
Mirante”, esta noite às nove... São nove e vinte.
— Sinto muito, mas não foi culpa minha. Quer os dados
agora?
— Por favor. Trouxe dinheiro?
— Também. E não foi fácil. Johnny-Madri abriu a pasta e
sacou uma bem menor, que entregou a Brigitte. Esta abriu-a
e, no mesmo instante, pareceu esquecer-se do homem que
tinha à sua frente. À medida que ia vendo, seu rosto perdia
a cor. Depois examinou mais, fotos obtidas pelo rádio.
— Você está bem? — perguntou-lhe Johnny.
— Não... Para falar a verdade, sinto-me bastante mal. Já
suspeitava disto, inclusive muito mais do que consta aqui,
mas... Não me agrada este tipo de verdade.
— Gostaria de poder ajudá-la em alguma coisa.
— Conhece Tânger?
— Bem pouco. Só estive aqui rapidamente, uma vez.
— Bem... Está armado?
— Mão me atrevi a trazer uma arma. Já era suficiente o
dinheiro.
— Sim, claro... Quanto trouxe?
— Vinte e cinco mil. Mas, se precisarmos mais,
conseguirei.
— Temos o suficiente. Não se ofenda, Johnny, mas que
espécie de agente é você? De ação ou dos outros?
— Você bem sabe que quando Baby pede apoio nunca
lhe mandam agentes dos outros, salvo recomendação
expressa. Digamos — ele riu — que sou dos que estão
dispostos a tudo. Mesmo sem armas.
Brigitte virou-se, fez sinal ao marroquino, que os
observava atentamente, e ele se aproximou, sentando-se
na cadeira que ela lhe indicou.
— Como é seu nome?
— Moussa, madame.
— Está bem, Moussa eu lhe pagarei dez mil dólares, se
me puder conseguir em menos de meia hora o seguinte: um
carro, um revolver, roupas marroquinas para mim e dois
homens com enxadas e pás. Além disso, você me levara a
Kasbah, exatamente à casa onde estão esses dois homens.
Pode?
— Oui, madame.
— Em meia hora?
— Oui, madame. Venho apanhá-la aqui?
— Estarei esperando na rua, dentro de trinta minutos
exatamente.
Oitavo
A branca aparição...
O carro passou diante do letreiro que, em letras brancas
sobre fundo azul, indicava o caminho para Kasbah.
Continuou, para deter-se depois do fim da Rue de la
Kasbah, bem perto do Instituí Pasteur.
— Aqui está bem, madame?
— Está.
Moussa virou-se e olhou fixamente aquela jovem
belíssima, que sem a menor inibição havia tirado suas
roupas europeias, ficando com as duas diminutas peças
íntimas. Ela abriu então sua maletinha e tirou um pequeno
pote no qual introduziu dois dedos de cada mão,
começando a esfregar o rosto. Em poucos segundos esse
escureceu, enquanto o atônito marroquino se perguntava
como era possível que seus cabelos loiros se tivessem
tornado pretos.
Naturalmente não lhe poderia ocorrer que a madame
tivesse lavado a cabeça com seu shampoo especial,
Assombrou-se mais ainda quando a viu colocar aqueles
pequenos vidros nos olhos e, envolvendo-se no branco
manto marroquino que ele lhe proporcionara, ficar
transformada numa nativa, sobretudo após haver ocultado
com o véu branco a metade inferior do rosto. A última coisa
que ela fez foi cobrir a maletinha com uma capa preta,
antes de ocultá-la sob o manto e olhou para ele.
— Em marcha — disse-lhe. — Até logo, Johnny... Fique
atento.
— Você é absurda... — murmurou Johnny-Madri. — Eu é
que deveria ir.
Brigitte não lhe fez caso. Saltou do carro; Moussa fez o
mesmo. Caminharam pela rua um tanto sinuosa e cada vez
mais estreita, até chegar a um pequeno arco a partir do
qual se encontrariam na Kasbah propriamente dita.
Atingiram, uma pequena praça, onde havia um formoso
bazar brilhante de luzes. Em frente, a prisão de La Medina.
Ao lado, o palácio do sultão. Quando penetraram em ruas
mais estreitas, ainda pareceu que o mundo escurecia mais e
mais. Logo adiante, já não podiam caminhar lado a lado, tal
a estreiteza das ruas, de modo que Moussa seguiu na
frente.
O mau cheiro era quase insuportável. .
Dois homens cruzaram com eles, colando-se à parede.
Seus olhos cintilavam, mas Moussa grunhiu algo em
árabe e sua atitude um tanto provocante desapareceu.
Finalmente, talvez na mais miserável e tortuosa das ruas,
o marroquino deteve-se diante de uma porta, que indicou
com o polegar. Toda a luz que ali havia provinha de uma
lâmpada situada na esquina.
— Vigie — sussurrou Brigitte. — Quando eu entrar, faça-o
também, mas fique junto à porta.
Tirou da maletinha a mais grossa de suas gazuas, pois
tinha visto que a fechadura era grande, arcaica. Apesar
disto, não tardou mais de dez segundos para abri-la.
Guardou a gazua, empunhou a pistolinha e entrou,
seguida do marroquino, ao qual entregou a maleta. A porta
ficou fechada atrás deles e a escuridão era total. Um
delgado feixe de luz brotou da mão esquerda de Baby, como
um raio perfurando as trevas. Ao mesmo tempo ela
avançava... e seu joelho chocou-se contra alguma coisa. Um
som de madeira ao ser arrastada pelo chão.
E em seguida uma voz, no interior, perguntando algo em
árabe. Depois se acendeu uma luz (...) que se aproximavam,
Brigitte colocou-se rapidamente ao lado do arco que tornava
mais escura a estrada para a vivenda depois do corredor.
Acendeu-se outra luz, muito mais perto de modo que
Moussa ficou completamente iluminado. Sua expressão era
de puro pavor.
Os passos aproximavam-se, devagar. Uma sombra
projetou-se no corredor e Baby se encetou mais à parede.
Pela expressão de Moussa compreendeu que o perigo
estava muito perto...
Aconteceram várias coisas ao mesmo tempo ouviu a
exclamação de um homem que sem dúvida acabava de ver
Moussa, apareceu um braço com uma pistola na mão e o
braço direito de Baby moveu-se velozmente, de modo que
sua pistola golpeou aquela mão... Tudo isso num segundo.
No segundo seguinte, enquanto o homem deixava
escapar um grito abafado e soltava a pistola, ela deslizava
para suas costas e aplicava-lhe uma violenta joelhada nos
rins, derrubando. Mas antes que ele chegasse ao chão,
sentiu-se agarrado pelo pescoço. Quis desvencilhar-se, mas
a pressão, aumentou.
Crac.
Com o pescoço partido e solto por Brigitte, o árabe caiu
de bruços, morto instantaneamente.
Ela empurrou sua pistola para Moussa, que (...) se
inclinando, o marroquino apanhou a arma — Mohamed? —
ouviu-se, mais no interior da casa.
Brigitte quase saltou sobre Moussa.
— Responda que já vai — sussurrou-lhe.
Vez rouca, Moussa pronunciou algumas palavras em
árabe, enquanto ela avançava para o interior da casa.
Quando deixou para trás o que parecia sala de jantar e
cozinha ao mesmo tempo, encontrou-se em outro corredor,
a cuja direita havia luz. Procurando fazer com que suas
pisadas fossem claramente ouvidas, dirigiu-se para lá,
enquanto tornava a soar a voz do mesmo homem, em
árabe, certamente perguntando alguma coisa.
Apareceu de súbito na entrada daquele cubículo.
A surpresa foi mútua.
O homem que esperava ver surgir Mohamed viu chegar
uma branca aparição desconhecida. E Baby, que contava
encontrar outro árabe, viu, sentado num catre, um homem
branco, atlético, ruivo, nu da cintura para cima.
Os dois saíram ao mesmo tempo de sua surpresa. E ao
mesmo tempo reagiram. O homem saltou para o tamborete
onde estava um coldre que continha uma pistola e seus
dedos cravaram-se em sua culatra. Baby encontrou muito
menos dificuldade em sua reação; teve apenas que apertar
o gatilho.
Plop.
Ele recebeu a bala na têmpora esquerda, caiu sobre o
tamborete e ficou estendido de costa. Durante uns
segundos, Brigitte permaneceu imóvel, olhos fixos no
cadáver.
Finalmente aproximou-se e fixou aqueles olhos azuis,
arregalados numa expressão de imensa surpresa.
Estava certa de que não havia mais nenhum inimigo
naquela casa, de modo que chamou: — Moussa... Moussa!
— Di-diga, madame... — o marroquino apareceu no
umbral.
— Procure os outros dois pela casa. Vamos.
— Oui-oui, madame!
Ele desapareceu do umbral e Baby foi até o tamborete,
onde estavam as roupas do homem branco. Desdenhou a
pistola e dedicou-se a procurar nos bolsos. As roupas eram
de má qualidade e velhas, como convinha a quem não
quisesse chamar muita atenção, se frequentasse a Kasbah.
Encontrou o rádio de bolso, dinheiro, alguma munição,
cigarros, fósforos, documentos com o nome de Pierre
Latour... Documentos falsos, naturalmente. Ela podia farejar
um agente do MVD de Washington a Moscou.
— Madame, eu... eu encontrei.
Virou-se como um raio e Moussa tornou a sobressaltar-se.
Viu apontar para a direita e caminhou para lá, atrás dele.
Ao fundo, havia uma porta muito grossa, que
evidentemente o marroquino havia aberto.
Quando entrou, encontrou-se num quarto de quatro
escassos metros quadrados. Em frente à entrada,
amarrados a grossas pranchas sujas de sangue, como
animais imundos, viu dois homens. Estavam quase nus e
tinham sangue seco por toda parte. Seus cabelos formavam
uma pegajosa massa devido aos coágulos de sangue e seus
rostos tumefactos estavam cheios de equimoses. Tinham os
olhos quase fechados. Uns olhos que brilhavam mortiços,
através das pálpebras inflamadas, fixos naquela branca
aparição. Uns olhos que mal se viam, mas o suficiente para
poder distinguir-se no fundo de suas pupilas a expressão de
terror, de espanto infinito.
Brigitte aproximou-se lentamente, ajoelhou-se diante
deles e retirou o véu que ocultava a metade de seu rosto.
Depois tirou o capuz e, por último, as lentes de contato.
Então o azul maravilhoso de seus olhos resplandeceu.
Os dois homens viram o belíssimo rosto moreno diante
deles. E ouviram a doce voz: — Que tal se formos dar um
bonito passeio, rapazes?
Uma luz de esperança apareceu naqueles olhos que a
fitavam.
— Baby? — murmurou una deles, num tom de absoluto
assombro.
— Você não deveria surpreender-se, Johnny... — sorriu
ela. — Desde quanto eu abandono meus rapazes?
Nono
Epílogo