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Ver aventura “Como Namorar a Morte”, número 40 desta coleção.
acontecendo, pois falamos com Moscou pelo Telefone
Vermelho, tentando... dar um jeito na situação...
— Você não vai me pedir, suponho — atalhou Brigitte —
que tire esses três homens de Moscou, da Rússia...?
— Seria impossível, sei disso muito bem. Trata-se
Apenas de levar um microfilme ao aeroporto de
Domodedovo.
— Foi feito um trato?
— Sim... Inicialmente, sim.
— É uma troca?
— Algo de parecido. Os russos se comprometem a deixar
em liberdade nossos três compatriotas em troca desse
microfilme. Mas antes, evidentemente, desejarão assegurar-
se de que o conteúdo do microfilme é autêntico.
— Isso significa que ficarei retida em Domodedovo por
uma hora, ou mais. Inclusive, é possível que me levem a
Moscou...
Um brilho irônico surgiu nos olhos claros de Mr.
Cavanagh.
— Isso é possível, sim.
— Por que não se manda esse microfilme por via normal
ou diplomática... ? Tanto mais que poderia ser entregue
anonimamente por um dos nossos agentes em Moscou... .
— Nenhuma dessas coisas interessa, Brigitte. Por via
normal, seria muito exposto. Por via diplomática, poderia
ocasionar uma série de contratempos e complicações que
Washington não está disposta a aceitar. Quanto a utilizar um
agente nosso residente em Moscou, seria o mesmo que
enviar o microfilme sem vigilância; isso, além da possível
localização e eliminação de tal agente. Não, não...
Estudamos bem o assunto: o único meio é que outro cidadão
americano, que na realidade não sabe o que está fazendo,
chegue a Moscou e entregue o microfilme ao pessoal russo
que o estará esperando.
— Compreendo... Mas é possível que Moscou esteja
informada sobre a agente secreta americana Brigitte
Montfort... Em tal caso, minha posição vai ser...
desagradável.
— Perigosa — corrigiu Mr. Cavanagh. — Porém não
dispomos de ninguém mais adequado para esta missão, no
momento. Por vários motivos. Um, que você conhece
perfeitamente a Europa. Dois, que eles possivelmente não
esperam uma mulher. Três, que você fala o russo. Quatro,
que sua profissão de jornalista lhe justifica plenamente
viajar. Cinco, que você é habilíssima em deslocar-se de um
lugar a outro por qualquer meio. Seis, que sabemos
encontrará solução para essa permanência mínima de uma
hora em Domodedovo. Sete, que estamos seguros de que
ninguém poderá tirar-lhe o microfilme. Oito, que você sabe
matar quando é preciso. Nove, que...
— São motivos suficientes — sorriu Brigitte.
— Mas você não é obrigada a aceitar.
—Não? Eu julguei que fosse uma ordem...
— E é. Mas você representa para mim algo mais que a
melhor agente, Brigitte. Se prefere não se arriscar, não irá a
Moscou.
— Iria outro agente?
— Sem dúvida.
— Menos preparado ou preparada que eu?
— Para esta missão específica, sim, menos preparado...
Digamos, menos idôneo.
— Então, irei. Qual é o plano a seguir?
Novamente apareceu o brilho irônico nos olhos gelados
do homem.
— Nenhum. Você só me precisa dizer qual será sua
primeira escala na Europa. O resto correrá por sua conta.
Deve atravessar a Europa, chegar a Domodedovo, entregar o
microfilme e voltar.
— Tão simples!... Por que devo declarar qual será a
minha primeira escala na Europa?
— Porque lá lhe entregarão o microfilme, que está em
nossos arquivos na Europa. Um agente o entregará a você e
sairá definitivamente de cena. Daí por diante, você agirá
como entender.
— Está bem. Que contém esse microfilme?
— As fotografias e dados de seis russos que estão
praticando espionagem em Moscou... a favor da China
Comunista.
Brigitte emitiu um gracioso assobio.
— Papagaio! Agora compreendo por que os russos
aceitaram a troca...
— Ficaram muito interessados. Creio que eles sabem,
atualmente, que a nossa espionagem em Moscou é tão densa,
tão perfeita, que três homens a mais ou a menos não farão
qualquer diferença. Em troca, a detenção de seis traidores
russos que estão informando à China Comunista pode abrir-
lhes muitas possibilidades em suas tensas relações com esse
país. Suponho que têm esperança de cortar o mal pela raiz no
que diz respeito à espionagem chinesa. Coisa que não
conseguiriam com a espionagem nossa, tirando de circulação
três funcionários da embaixada americana.
— Está na cara... Sim, bem imagino que se tenham
sentido muito interessados... É um trato vantajoso para eles.
Suponho que esses seis traidores russos foram localizados
por nossos agentes na Rússia.
— Claro. E vamos trocá-los por três de nossos
compatriotas. É uma jogada suja que estamos fazendo com
os chineses, você não acha?
Os dois puseram-se a rir.
— E ao mesmo tempo — acrescentou Brigitte —
jogamos a favor dos russos... Até me parece divertido.
— De um certo modo, é — admitiu Mr. Cavanagh. —
Mas o que nos importa é que esses três americanos,
funcionários da embaixada em Moscou, regressem aos
Estados Unidos. O que os russos façam com os traidores que
estão espionando para os chineses não tem para nós a
mínima importância.
— Evidentemente. Entretanto, é uma lástima perder de
vista esses seis espiões traidores da Rússia. Bem que
poderíamos tirar partido deles...
— Já tiramos partido, com essa troca. Além do que, esses
seis são apenas uma parte dos que já localizamos... Não
iríamos entregá-los todos!
Puseram-se novamente a rir. Cavanagh levantou-se, foi
até o bar clandestino e retornou com a garrafa de
champanha. Reencheu a taça de Brigitte, também a sua e
deteve-se um momento olhando o dourado líquido
borbulhante.
— Está-me parecendo que há bastante tempo eu não
bebia champanha pelo simples gosto de fazê-lo... Creio que
me falta imaginação... Ah! o dia da sua chegada a
Domodedovo é sexta-feira, cinco de agosto. Como hoje é
terça, vinte e seis de julho, acho que terá tempo suficiente
para fazer essa viagem da forma que melhor lhe convier... A
hora de chegada será onze e vinte da noite. Quer dizer,
quarenta minutos antes de começar o sábado, dia seis.
Logo... Desculpe.
Cavanagh dirigiu-se ao “intercom” e atendeu à chamada:
— Sim, Ralph?
O “intercom” falou:
— Chegou uma mensagem. Anônima. Importante.
Relacionada com o assunto da troca. Deseja recebê-la?
— Imediatamente.
Desligou o aparelho e aguardou olhando para a porta, que
se abriu quase em seguida, dando passagem ao homem
magro em mangas de camisa. Ele entregou um papel a
Cavanagh e saiu sem haver pronunciado uma só palavra. O
chefe supremo de Brigitte dedicou ao papel alguns segundos
de concentrada atenção.
Logo olhou para Brigitte, o cenho contraído, preocupado.
— Já não estou gostando muito disto, Brigitte. Espero
que não se complique a sua viagem de prazer...
CAPÍTULO SEGUNDO
Mensagem intempestiva — “Morre, vilão!” — Fotografia ao
infravermelho — Um “chihuahua” entra em cena
CAPÍTULO TERCEIRO
Meia-noite: hora de fantasmas — Atirar para matar
Cena de morte em claro-escuro — Tempo de fugir
CAPÍTULO QUINTO
Um “chihuahua” feliz da vida — Pode-se confiar num
desconhecido? — Duas mulheres de briga — Quando uma rosa não
é uma rosa
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Ver novela “Um Espião Nazista”, novela número 20 desta coleção. NE
— Não, não... Estava distraída, pensando... Sim, de fato,
parto esta noite para a Alemanha.
— Vamos sentir sua falta — disse ele, sorrindo um tanto
decepcionado. — Especialmente eu, se me permite dizê-lo.
— Ah... Despertei seu interesse... em algum sentido ?
Karl Schultz conseguiu outro sorriso, não menos
decepcionado. Era um homem agradável, varonil, de uns
quarenta anos. Tinha alguns fios brancos nas têmporas, e
isso tornava-o mais atraente. Vestia-se sempre com severa
elegância, sempre com um bonito e adequado lenço
envolvendo-lhe o pescoço. Tinha o ar de um esportista
tranquilo, sereno. Uma serenidade que estava muito de
acordo com o azul-claro de seus olhos.
— Em muitos sentidos — admitiu. — Posso convidá-la a
tomar alguma coisa? É agradável o terraço, a esta hora. O sol
aquece o suficiente para não incomodar, e o frio faz uma
pausa esperando a noite.
— São palavras convincentes — riu quietamente Brigitte.
— Aceito encantada o convite, já que ainda disponho de
duas horas, creio.
— Suponho que tomará o vagão-leito das nove e meia?
— Foi o que me disseram. Terei ainda que apanhar minha
passagem na portaria...
— Há tempo. Aliás, pode apanhá-la ao pagar a conta...
Que lhe parece um “gim-tônica”?
— Perfeito.
Schultz segurou-lhe o pulso, com muita correção, e
saíram para o terraço. Realmente, o sol era muito agradável,
e nem sequer fazia aquele frio suave de restos de neve.
Servida a bebida, o suíço ergueu seu copo saudando Brigitte.
— Por seu breve regresso?
— Que sei eu? Talvez não possa voltar aqui tão cedo.
— Compreendo... Bem, então por uma feliz viagem a...
— Francforte.
— É uma cidade que não me agrada. Mas não acho que
minha opinião deva ser compartilhada por todos.
— Claro...
Beberam lentamente. Karl Schultz olhou alguns minutos
em silêncio para sua companheira, indeciso, antes de atrever-
se e murmurar:
— Estive pensando... Bem, creio que sou o que chamam
um solteirão, senhorita Montfort, e... 'pergunto-lhe se não lhe
aborreceria que... nos víssemos em Francforte.
— Não creio que esteja entendendo... — hesitou Brigitte.
— Eu sei... Na verdade... — súbito, ele pareceu animar-
se. — Posso ser sincero consigo?
— Peço-lhe que o seja.
— Bem... O caso é que nada tenho a fazer neste tranquilo,
ensolarado, maravilhoso... e aborrecido lugar. Por outro lado,
talvez em Francforte conseguisse encontrar a decisão
necessária para dizer-lhe... o que sinto a seu respeito.
A superespiã da C.I.A. só se alterou no sentido de
demonstrar uma conveniente surpresa não isenta de um certo
e lógico envaidecimento feminino. Ergueu graciosamente as
sobrancelhas.
— Isto parece pouco menos que uma declaração formal,
senhor Schultz. A não ser que o que sente a meu respeito
seja o puro e simples desejo de assassinar-me.
— Não, por Deus! — empalideceu o suíço. — É
precisamente o contrário, senhorita Montfort. Compreendo
que conhecendo-nos há dois dias apenas, não esteja
preparada para dar-me uma resposta, e por isso pensei que
talvez em Francforte, se nos virmos alguns dias mais...
— Sou uma viajante infatigável, senhor Schultz.
— E eu posso segui-la a qualquer parte do mundo. Sem
querer vangloriar-me, lhe direi que minha fortuna me
permitiria muito mais que isso.
— Temo que se cansaria de dar voltas ao mundo... para
nada, senhor Schultz. Lamento.
— Compreendo — fez ele, inclinando a cabeça; e logo
voltou a mostrar aquele débil sorriso, agora um tanto
mortificado. — Não é surpreendente?
— O quê?
— O que ocorre... Estou há quarenta anos viajando,
conhecendo gente, pessoas de todas as classes... E quando
decido tirar umas curtas férias longe de tudo quanto conheço,
em meu próprio país, subitamente encontro uma mulher
como nenhuma... e ela me escapa.
— Na vida não se pode ter tudo — sorriu Brigitte. —
Agradeço muito suas palavras, senhor Schultz, mas lamento
não lhe poder dar uma resposta mais a seu gosto.
— Não obstante, talvez em Francforte...
— O “gim-tônica” está delicioso, não acha?
— Claro que sim...
— E o senhor tinha razão: é muito agradável este terraço,
a esta hora.
— Sim... muitíssimo.
— Mas preciso deixar sua amável companhia. Embora
viajando com pouca coisa, sempre me custa algum tempo
arrumar tudo para partir — levantou-se e estendeu a mão. —
Foi um prazer conhecê-lo, senhor Schultz.
O suíço levantou-se precipitadamente, aceitando sua mão.
— Também para mim. Um prazer... e um pouco de
tristeza. Desejo-lhe feliz viagem.
— Obrigada.
Brigitte afastou-se, entrando no vestíbulo. Certificou-se
de que lhe tinham preparado a conta e a passagem para o
trem Berna-Francforte, e subiu a seus aposentos,
especulando mentalmente a possibilidade de que Karl
Schultz fosse um a mais em seu caminho naquela viagem de
prazer... Mais um que desejaria matá-la, ou que deveria
morrer por tentar arrebatar-lhe o microfilme. Naturalmente
não podia confiar em ninguém, em absoluto, por melhor
aspecto e maneiras que tivesse. Ali estava ela mesma, com
seu sorriso de anjo... e suas afiadas garras bem escondidas,
pronta para matar a quem fosse necessário. Karl Schultz não
tinha que ser, indispensavelmente, tão cavalheiresco e
amável quanto parecia...
Em seus aposentos, dedicou-se a percorrê-los em busca
de qualquer de seus pertences que não ocupasse seu devido
lugar e, portanto, pudesse ser esquecido. Mas, como sempre,
tudo estava em perfeita ordem. A agente Brigitte Montfort
era uma dessas pessoas que podem fazer sua bagagem em
um minuto ’ e desaparecer cinco segundos mais tarde. Não
podia ser de outro modo.
Recolheu tudo, encheu a pequena maleta, verificou
também se em sua bolsa tudo estava em ordem e completa, e
pediu pelo telefone que mandassem buscar sua bagagem.
Desligou e acendeu um cigarro, sempre pensativa. Era pouco
provável que naquele tranquilo lugarejo suíço a M.V.D.
tivesse podido reencontrar sua pista, mas em espionagem
sucedem coisas que parecem muito mais improváveis...
A porta abriu-se de repente e Brigitte olhou surpreendida
a empregada do hotel, que havia utilizado a chave-mestra das
portas daquele andar do edifício, e que também a olhou
surpreendida.
— Perdão — desculpou-se a empregada. — Tinha ordem
de arrumar este apartamento... Disseram-me que o hóspede
viajava hoje...
— Assim é.
A empregada, uma mulher alta, robusta, de feições
grosseiras, olhou para a maleta.
— Já vai sair?
— Estou esperando que venham buscar minha bagagem.
— Importa-se se começo... ?
— Não, não. Faça seu trabalho.
— Obrigada... Esta é toda a sua bagagem?
— É, sim...
— Não esqueceu nada?
— Tenho certeza que não.
— Bolsa, chapeleira, sombrinha, chinelas...?
— Estou levando tudo — sorriu Brigitte. — Não esqueço
nada, não se preocupe.
— Pelo contrário — retrucou secamente a mulher,
sacando uma pistola do nutrido busto. — Alegro-me que
tenha tudo consigo, senhorita Montfort.
Brigitte sentiu um baque no coração, mas sua aparência
manteve-se inalterada, serena.
— Que significa isto? Darei parte ao seu...
— Não se canse — cortou a alentada mulher. — Em
primeiro lugar, não sou do hotel, mas estou aqui...
clandestinamente. Em segundo, como dispomos de pouco
tempo, não vamos perdê-lo falando. Dê-me o microfilme.
— Está louca? Não entendo nada do que diz!
— O carro de Nice foi encontrado perto de Lyon; em
Lyon soubemos que uma tal Brigitte Montfort tinha tomado
o avião com destino a Berna. Em Berna, após dois dias de
minuciosas averiguações, encontramos sua pista até aqui.
Como vê, nosso sistema de localização é bastante bom,
senhorita Montfort. Agora, dispõe de cinco segundos para
entregar-me o microfilme. Um...
— E depois?
— Depois... quem sabe o que pode acontecer? Dois...
Brigitte olhava fixamente aquela mulher quase hercúlea,
que a ameaçava com uma determinação de causar calafrios.
Tinha-a a menos de cinco passos, com sua bata branca dos
empregados do hotel, firme em seu propósito de apertar o
gatilho e desaparecer com a bagagem, convencida de que
encontraria o microfilme em qualquer parte da mesma, num
lugar mais tranquilo e conveniente para ela.
— ... E cinco...
— Espere! Vou... vou dar-lhe o microfilme... Não
dispare, por favor!
— Vejamos o microfilme. E não simule que está a ponto
de chorar, menina. Sei que espécie de fera você é: quatro
homens mortos entre Palma e Nice é o suficiente para eu
saber com quem estou tratando. Vamos, dê-me o microfilme!
— Sim, sim...
Brigitte acercou-se dois passos, deteve-se diante da
mulher e tirou o sapato esquerdo. Sempre sob o olhar
vigilante da inimiga, desenroscou o tacão, depois abriu-o
pela metade, de cima abaixo, retirando de seu interior uma
pequena cápsula de plástico que ficou perfeitamente visível
em sua mão.
— A... aqui a... a tem...
— O microfilme está dentro?
— Claro...
— Abra a cápsula: quero ver o microfilme, boneca.
— Sim, sim... eu abro...
Passou a cápsula para a mão esquerda, mas com a direita,
ao invés de abri-la, apanhou agilmente o sapato que segurava
na esquerda, pela parte do tacão, e aplicou um golpe com o
canto da sola justamente sobre o tendão do dedo polegar da
mulher que a estava ameaçando.
A pistola esteve a ponto de saltar daquela mão
musculosa, mas permaneceu ali. Entretanto, um novo golpe,
agora com a mão esquerda, enviou-a por fim até um canto do
“living-room” da “suíte”... E ao mesmo tempo Brigitte
recebia em pleno estômago um soco brutal, que quase a
derrubou e que, como consequência mínima, deixou-a
apenas sem alento, a ponto de cair, com os joelhos
debilitados e a vista um pouco turva. A forçuda mulher
afastou-a com um repelão, deslocando-se velozmente para
onde estava a pistola.
Inclinava-se para apanhá-la, quando viu Brigitte
lançando-se desesperadamente contra ela, os olhos
semicerrados, pálido o bonito rosto. Sorrindo cruelmente, a
mulher esperou-a sem arredar pé, desdenhosa, e quando a
teve a um passo de distância tornou a lançar o punho, desta
vez diretamente contra seu seio esquerdo: um golpe
formidável, demolidor... mas que não chegou a seu destino.
Brigitte encolheu-se, deixando passar aquela grande mão
quase masculina por cima de sua cabeça. Imediatamente,
sujeitou-a com suas lindas mãozinhas, deu meia volta, de
modo que ficou de costas para a mulher e retrocedeu até que
sua espádua entrou em contato com o áspero busto da
inimiga. Então, inclinou-se para frente e puxou com quanta
força tinha.
Sem emitir um grito, a mulher passou por cima dela,
completamente desarvorada, sem qualquer noção de
equilíbrio. Deu uma volta no ar, caiu sobre o sofá, foi por
este repelida e tombou no chão. Quando começava a
incorporar-se, Brigitte estava já a seu lado, descalça, e seu pé
direito projetava-se fulminante contra a garganta da parruda
antagonista. Acertou em cheio, precipitando-a novamente no
sofá. Mas as manoplas da mulher agarraram-na pelas pernas
e sua pesada cabeça golpeou-lhe o ventre.
Contendo a intensa dor que sentia, Brigitte levantou
ambas as mãos e descarregou-as, juntas, sobre a sólida nuca
da mulher-assassina, justamente quando esta repetia a
cabeçada contra seu ventre. O golpe chegou, mas muito
fraco, e ao mesmo tempo em que a mulher se estatelava no
chão, Brigitte recuava estrategicamente.
Pôs-se de pé a toda pressa, pouco menos que desmaiada,
mas a outra mulher, muito mais resistente que ela, arrastava-
se de gatinhas para onde tinha caído a pistola. A
desconhecida havia comprovado já uma coisa: com as mãos,
diante da agente da C.I.A., sempre levaria a pior, por muito
brutal que fosse ela e muito angelical que parecesse a outra.
E quando estava disposta a liquidar a surda peleja,
amenizada apenas pelos excitados latidos do “Cícero”, um
dos braços de Brigitte, em ação desesperada, passou por
diante dela e cravou-se em sua garganta. Pouca coisa para a
machuda mulher. Levando Brigitte pendurada no pescoço,
levantou-se, resistindo à pressão de estrangulamento, e sua
mão armada moveu-se para trás...
Justamente então viu passar por seus olhos uma rosa
vermelha... Uma rosa vermelha acompanhada de uma
surpreendente cintilação metálica. Não teve tempo para mais
nada. Nem sequer notou a fisgada do agudo estilete em seu
coração. Nem se deu conta de que acabavam de matá-la...
Bruscamente, ficou inerte nos braços de Brigitte. A
pistola caiu no chão, mas já não era útil para ninguém...
Lentamente, Brigitte deixou-a cair, sem soltá-la, até estar
certa de que não produziria ruído. Incorporou-se, ofegando,
os olhos dilatados pelo esforço despendido e o medo por que
passara, e virou-se para o “chihuahua”, que não parava de
latir.
— Cale essa boquinha, “Cícero”...
O cãozinho inclinou a cabeça para um lado e calou-se de
imediato. Brigitte olhou para a mulher; estava com os olhos
abertos, fixos no teto; sobre o peito, aquela rosa vermelha
cujo caule era um instrumento mortal e que até então,
durante a viagem, Brigitte usara na lapela do seu “tailleur”,
como um bonito adorno.
Estava ainda um pouco ofegante, perguntando- se o que
podia fazer, quando ouviu algumas batidas na porta.
— A bagagem, senhorita Montfort.
— Um momento...
Pegou a mulheraça pelos pés e arrastou-a até o quarto.
Deixou-a no chão, olhou-se no espelho e arrumou-se
ligeiramente. Fechou a porta do quarto e foi abrir a da
“suíte”.
Um rapazola sorridente entrou com ar despreocupado.
— Só uma maleta?
— Só... Eu mesma levarei a bolsa... Espere- me lá em
baixo, por favor.
O rapazola recolheu a maleta, lançou um olhar
zombeteiro ao “chihuahua” e saiu da “suíte”. Brigitte ouviu
que se afastava, assobiando, e tornou a abrir a porta.
Ninguém no corredor... Voltou ao quarto, inclinou-se sobre o
corpo da inimiga vencida e revistou-a rapidamente. Debaixo
da bata usava um vestido comum e, num bolso existente
neste, estava a chave de uma “suíte”: a quatro. Brigitte
suspirou aliviada. Muniu-se da chave, arrastou a mulher até a
porta da “suíte” e tornou a abri-la.
— Você tem que ficar aqui, “Cícero”. Porte-se bem.
O “chihuahua” olhava-a inclinando lateralmente a cabeça,
excitado mas silencioso. Possivelmente, ia-se acostumando
com as atividades de sua carinhosa e destemida dona.
Brigitte atravessou o corredor e deteve-se diante da porta
número 4. Colou o ouvido à madeira, mas nada ouviu. Abriu
a porta, deixou-a encostada e regressou à sua “suíte”.
Assomou a cabeça e, não vendo ninguém no corredor, nem
ouvindo qualquer ruído, puxou o corpo da formidanda
mulher, arrastando-o até a “suíte” quatro. Entrou,
empurrando a porta com o ombro, deixou cair os grandes pés
e fechou imediatamente. Acendeu a luz e seu olhar fixou-se
no sofá.
Arrastou a mulher até ali, conseguiu erguê-la e deixou-a
sentada no sofá. Ofegante pelo esforço, perdeu ainda alguns
segundos alisando as pétalas amarrotadas da rosa artificial,
pondo em ordem as roupas do cadáver.
Seria uma completa surpresa para os amigos da
assassina... Embora fosse pouco provável que
compreendessem o rasgo de humorismo da agente da C.I.A.
Saiu da “suíte” e entrou na sua, apanhou a bolsa com o
diminuto “Cícero” dentro, procurou e encontrou no chão a
cápsula que continha o microfilme e, ainda excitada, talvez
mesmo um pouco desorientada, pareceu então recordar-se de
que estava descalça.
— Calma, “Baby” — recomendou-se. — Serenidade...
Guardou novamente o microfilme no salto do sapato,
calçou-se, assegurou-se de que tudo estava em ordem e
abandonou definitivamente a “suíte”, um tanto pálida e
bastante dolorida, mas em passo harmonioso e com um
sorriso angelical nos lábios...
Ao chegar em baixo, viu que Karl Schultz a esperava
encostado ao balcão da portaria.
— Não pude resistir à tentação de vê-la mais uma vez,
senhorita Montfort... Sente-se bem?
— Perfeitamente. Por quê?
— Bom... Parece-me um pouco pálida...
— Certamente devido ao seu “gim-tônica”, senhor
Schultz — sorriu ela. — Creio que não me assentou bem.
— Eu... lamento — quase tartamudeou Schultz.
— Na verdade, lamento imensamente...
— Está perdoado — declarou Brigitte, enquanto pagava a
conta do hotel. — Mas vou aplicar-lhe um castigo.
— Um... castigo?
— Tem o carro preparado?
— Mas sim... Claro que sim...
— Pode fazer a gentileza de levar-me a Berna?
Karl Schultz sorriu exultante, embora um pouco
assombrado.
— Será um prazer para mim! — exclamou. —
— E mais: se me permite, a levarei de carro até a
estação...
— Permitido, senhor Schultz — aceitou. — E quanto a
permitir-lhe coisas, lhe concederei também a graça de
deixar-me instalada no trem.
— Estupendo! É realmente encantadora... Serei seu
acompanhante até que me expulse de seu lado!
— Só até o trem partir para Francforte — tornou a sorrir
Brigitte, graciosamente. — Vamos, senhor Schultz?
Saíram do hotel. Schultz propôs que Brigitte esperasse
sob a marquise enquanto ia buscar o carro, porém ela
preferiu ir com ele até o veículo. O rapazola do hotel seguia-
os, levando a única maleta da viajante. Colocou-a no assento
traseiro. Brigitte deu-lhe uma generosa propina
acompanhada de um sorriso, e voltou-se para o suíço.
— Em frente, senhor Schultz: a toda a velocidade.
O homem estava encantado da vida. Rindo, pôs o carro
em marcha, enquanto Brigitte o examinava atentamente de
soslaio. Não... Não devia confiar no amabilíssimo Schultz...
Apenas a cem metros do hotel, o carro conduzido por
Schultz passou junto a outro, parado à beira do caminho.
Havia dois homens no assento dianteiro e ambos olharam
para os ocupantes do carro que se distanciava. Fugazmente,
Brigitte viu no rosto de um deles uma expressão de
sobressalto, de surpresa...
Quando se voltou, para olhar pela janelinha traseira, o
outro carro estava manobrando a fim de tomar a mesma
direção do deles. Mas não se pôs em marcha. A distância,
com as últimas luzes do dia, Brigitte pôde ver ainda um
daqueles homens apear-se e correr para o hotel...
— Não podemos ir mais depressa, senhor Schultz?
— Lógico... Mas temos tempo de sobra... e este caminho
não é dos melhores para correr...
— Acelere quando chegarmos à estrada, por favor: eu
gosto imensamente de velocidade.
— Pois ficará satisfeita.
CAPÍTULO SEXTO
Um revólver que bate à porta — Dois homens que saem pela
janela — Uma carona e um golpe de direção
CAPÍTULO OITAVO
Quem fracassa na Rússia é degolado na China — Um atirador
de facas — Champanha é bebida maravilhosa, mas...
ESTE É O FINAL
A SEGUIR