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MANAGED

A VIP NOVEL

KRISTEN CALLIHAN
ÍNDICE

MANAGED

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28

Epilogo
MANAGED

Tudo começou como uma troca de farpas. Eu: a garota comum


com uma boca grande contra Ele: o bastardo sexy com um
grande... ego.

Eu pensei que tinha acertado a sorte grande quando fui mudada


para a primeira classe no meu voo para Londres.
Isso é, até que ELE sentou ao meu lado. Gabriel Scott: bonito
como o pecado, frio como o gelo. Nada e ninguém consegue se
comparar a ele. Nunca. Ele é uma lenda por si só, o gerente da
maior banda de rock do mundo e um babaca arrogante que olha
com o nariz empinado para mim.
Eu pensei em encher o saco dele por um vôo longo. Eu não
esperava gostar dele. Eu não esperava o querer. Mas a maior
surpresa? Ele me quer também. Só que de uma maneira que eu não
esperava.
Se eu aceitar a proposta dele, me deixo aberto a me apaixonar
pelo único homem que não consigo administrar. Mas estou tentada
a dizer que sim. Porque o homem de verdade por baixo dos ternos
perfeitos e da fachada fria pode ser a melhor coisa que já me
aconteceu. E eu, talvez, posso ser a única que pode derreter o gelo
ao redor de seu coração.
Que comece a batalha…
Amor é o que você faz na vida— Gabriel Scott

Amor é com quem você faz na vida—Sophie Darling


CAPÍTULO UM

S pessoas que parecem ter nascido com a bunda


virada para a lua? Aquelas que recebem uma promoção apenas por
aparecer no trabalho? Que ganham aquele prêmio incrível na rifa? A
pessoa que encontra uma nota de cem dólares no chão? Então,
essa não sou eu. Provavelmente não é a maioria de nós. A sorte é
uma vadia seletiva.
Mas hoje? A sorte finalmente sorriu para mim. E eu quero me
ajoelhar em gratidão. Porque hoje me mudaram para a primeira
classe no meu voo para Londres. Talvez seja por superlotação e só
Deus sabe por que eles me escolheram, mas escolheram. Primeira
classe, baby. Estou tão animada que praticamente danço em meu
assento.
E, ah, que assento maravilhoso, todo feito de couro creme macio
e madeira – embora eu esteja supondo que seja madeira falsa, por
questões de segurança. Não que isso importe. É uma pequena
cabine independente, completa com um armário para minha bolsa e
sapatos, um bar, uma lâmpada de leitura decente e uma TV enorme.
Eu afundo na poltrona com um suspiro. É um assento na janela,
separado do meu vizinho por um painel de vidro fosco que eu posso
abaixar apenas tocando em um botão. Ou então os dois assentos
podem se tornar uma cabine aconchegante, ao fechar o painel
lustroso que os separa do corredor. Lembra um compartimento
luxuoso de trem à moda antiga.
Sou uma das primeiras pessoas a subir à bordo, então cedo à
tentação e vasculho todas as coisinhas que deixaram: balas, meias
felpudas, máscara para dormir e – ooh – um saquinho de produtos
para a pele. Em seguida, brinco com meu assento, levantando e
abaixando o vidro de privacidade – isto é, até que haja um clique
preocupante. O vidro congela à uma polegada acima do divisor e se
recusa a subir novamente.
Encolhendo-me, tiro a mão dali rapidamente e me ocupo em tirar
os sapatos e folhear o cardápio da primeira classe. É longo, e tudo
parece delicioso. Ah, cara, como voltarei para o inferno de carne-ou-
frango-enlatado que é a classe econômica depois disso?
Estou decidindo se quero um coquetel de champanhe ou uma
taça de vinho branco antes do voo quando ouço a voz do homem. É
profunda, distintamente britânica e muito irritada.
— O que essa mulher está fazendo no meu lugar?
Meu pescoço fica tenso, mas não olho. Estou assumindo que ele
está falando sobre a minha pessoa. Sua voz está vindo de algum
lugar acima da minha cabeça e só existem passageiros do sexo
masculino aqui além de mim.
E ele está errado, errado, errado. Estou no meu lugar. Eu
verifiquei duas vezes, me belisquei, verifiquei novamente e só
depois me sentei. Eu sei que estou onde deveria estar – mas não
sei como consegui isso. Ei, eu fiquei tão surpresa quanto qualquer
um quando fui ao balcão apenas para ser informada de que estava
na primeira classe. De jeito nenhum vou voltar para a econômica
agora.
Meus dedos apertam com força o cardápio enquanto finjo folheá-
lo. Estou definitivamente bisbilhotando a conversa agora. A resposta
da comissária de bordo é muito baixa para ser ouvida, mas a dele
não é.
— Comprei explicitamente dois assentos neste voo. Dois. Pelo
simples fato de não ter que me sentar ao lado de mais ninguém.
Bem, isso é... decadente? Estúpido? Eu luto para não fazer uma
careta. Quem faz isso? É realmente tão horrível sentar ao lado de
alguém? Esse cara já viu a classe econômica? Podemos contar os
pelos do nariz um do outro naquele lugar. Aqui, minha cadeira é tão
larga que estou à uns bons centímetros do seu assento estúpido.
— Sinto muito, senhor, — a comissária de bordo responde quase
ronronando, o que é estranho. Ela deveria estar irritada. Talvez seja
tudo parte do pacote da primeira classe: "beije a bunda dos
passageiros porque eles estão pagando uma porrada de dinheiro
para estarem aqui" — O voo está muito lotado e todos os assentos
estão indisponíveis.
— E é exatamente por isso que eu comprei dois — ele retruca.
Ela murmura algo reconfortante novamente. Não ouço porque
dois homens andam ao meu lado para chegar aos seus assentos,
falando sobre as opções no mercado de ações. Eles passam e eu
ouço o Sr. Esnobe novamente.
— Isso é inaceitável.
Percebo um movimento à minha direita e quase pulo. Eu vejo o
paletó vermelho da aeromoça quando ela se aproxima, o dedo no
botão para a tela de privacidade do homem. Calor invade minhas
bochechas quando ela começa a explicar: — Há uma tela para
privacidade…
Ela para, porque a tela não está subindo.
Eu enterro o nariz no cardápio.
— Não está funcionando? — Questiona o Esnobe.
O momento seguinte corre tão bem quanto você pode imaginar.
Ele reclama, ela tenta acalmá-lo e eu me escondo entre as páginas
um e dois do menu.
— Talvez eu possa convencer alguém a trocar de assento? —
Oferece a atendente de voo prestativamente.
Sim, por favor. Prenda-o com outra pessoa.
— Que diferença isso faria? — O Esnobe retruca. — O objetivo
era ter um assento vazio ao meu lado.
Eu iria adorar sugerir que ele esperasse o próximo voo e nos
poupasse da dor de cabeça, mas isso não é uma opção. O impasse
termina com o babaca sentando em sua poltrona com um suspiro
exasperado. Ele deve ser grande, porque escuto o som do ar saindo
da almofada quando ele senta.
O calor do seu olhar chega a ser palpável antes dele se virar.
Filho da puta.
Fechando meu cardápio com força, eu decido, Foda-se; vou me
divertir um pouco com isso. O que eles poderiam fazer? Já estão
fazendo o carregamento do avião; meu assento está seguro.
Encontro um chiclete na minha bolsa e o coloco na boca.
Algumas mascadas depois e consigo fazer uma grande bola de
chiclete. Só então me viro para ele.
E então congelo no meio da mastigação, momentaneamente
atordoada com a visão ao meu lado. Porque, meu bom Deus,
ninguém tem o direito de ser tão gostoso e tão babaca. Esse cara é
definitivamente o homem mais lindo que eu já vi. E isso é estranho,
porque seus traços não são perfeitos ou suaves. Não, são arrojados
e fortes – uma mandíbula afiada o suficiente para cortar aço, queixo
firme, maçãs do rosto altas e um nariz que é quase grande demais,
mas que se encaixa perfeitamente em seu rosto.
Eu esperava um aristocrata grisalho com rosto pálido, mas ele é
bronzeado, seu cabelo preto como carvão caindo sobre a testa. Os
lábios esculpidos e carnudos estão comprimidos em irritação
enquanto ele faz uma careta para a revista em suas mãos.
Mas ele claramente sente o meu olhar – o fato de eu estar
boquiaberta como um peixe fora d’água provavelmente não ajuda –
e se vira para me encarar. Sou atingida por sua beleza viril com
força total.
Seus olhos são azuis da cor do mar. Suas sobrancelhas grossas
e escuras se juntam, uma tempestade se formando em seu rosto.
Ele está prestes a me fulminar. O pensamento vem junto com outro:
é melhor eu fazer com que isso seja bom.
— Jesus — eu deixo escapar, levantando minha mão como se
quisesse proteger meus olhos. — É como olhar para o sol.
— O quê? — Ele retruca, aqueles olhos brilhantes como lasers
se estreitando.
Ah, isso vai ser divertido.
— Apenas pare, ok? — Eu estreito os olhos para ele. — Você é
muito gostoso. É demais para aguentar. — É a verdade, embora eu
nunca tivesse coragem de dizer isso em circunstâncias normais.
— Você está bem? — Ele diz como se pensasse o contrário.
— Não, você quase me deixou cega. — Eu agito a mão. — Você
tem um interruptor para desligar isso? Ou talvez botar na
intensidade baixa?
Suas narinas se alargam, sua pele fica um pouco mais escura.
— Ótimo. Estou preso ao lado de uma mulher louca.
— Não me diga que você não está ciente do efeito
impressionante que tem sobre o mundo. — Dou-lhe um olhar de
admiração, com os olhos arregalados. Pelo menos espero que seja
isso o que estou fazendo.
Ele se encolhe quando agarro o divisor entre nós e me inclino
um pouco. Inferno, ele cheira bem – como perfume caro e lã de boa
qualidade. — Você provavelmente tem mulheres caindo aos seus
pés como moscas.
— Pelo menos moscas caídas ficam em silêncio, — ele
murmura, folheando furiosamente sua revista. — Senhora, faça-me
o favor de se abster e não falar mais comigo durante o resto do voo.
— Você é um duque? Você certamente fala como um.
Sua cabeça se levanta como se quisesse virar em minha
direção, mas ele consegue manter o olhar para a frente, seus lábios
comprimidos com tanta força que estão ficando brancos nas bordas.
Uma tragédia.
— Ah, ou talvez um príncipe. Já sei! — Eu estalo meus dedos. —
Príncipe encantado!
Ele deixa escapar uma bufada de ar, como se estivesse preso
entre a risada e a indignação, mas escolhe a indignação. E então
fica imóvel. Eu sinto um momento de ansiedade porque ele
obviamente percebeu que estou tirando sarro dele. Eu não tinha
notado o quão robusto esse cara é até agora.
Ele provavelmente tem mais de um metro e oitenta, suas pernas
longas e fortes, envoltas em uma calça social cinza escura.
Jesus, ele está vestindo um colete de malha grafite que abraça
seu tronco esbelto. Ele deveria parecer um completo idiota, mas
não... a roupa apenas destaca a força em seus braços, aqueles
músculos esticando até o limite sua camisa social branca de botão.
É injusto.
Seus ombros são tão largos que fazem as poltronas enormes da
primeira classe parecerem pequenas. Mas ele é alto e esbelto.
Estou supondo que a definição muscular por baixo dessas roupas
finas feitas sob medida também seja digna de babar.
Eu absorvo tudo, incluindo a maneira como suas grandes mãos
se apertam. Não que eu ache que ele usará sua força contra mim.
Seu comportamento grita babaca arrogante, mas ele não parece um
valentão. Na verdade, ele não levantou a voz para a comissária de
bordo em nenhum momento.
Mesmo assim, meu coração bate mais rápido quando ele
lentamente se vira em minha direção. Um sorriso maligno torce sua
boca exuberante.
Não olhe. Ele vai sugá-la para um turbilhão ardente e não haverá
retorno.
— Você me descobriu, — ele confidencia em voz baixa que é
como manteiga derretida. — Príncipe Encantado, ao seu dispor.
Perdoe-me por ter sido ríspido com você, senhora, mas estou em
uma missão de extrema importância. — Ele se inclina para mais
perto, seu olhar percorrendo nossos arredores antes de retornar
para mim. — Estou procurando minha noiva, entende? Infelizmente
você não está usando um sapatinho de cristal, então não pode ser
ela.
Nós dois olhamos para meus pés descalços e o all star vermelho
caído no chão. Ele balança a cabeça. — Você entende, preciso
manter o foco em minha busca.
Ele me lança um sorriso largo – embora falso – revelando uma
covinha em uma bochecha e eu fico sem fôlego. Droga! Droga!
— Uau. — Dou um suspiro sonhador. — É ainda pior quando
você sorri. Você realmente deveria vir com um aviso, raio de sol.
Seu sorriso some como se o queimasse, e ele abre a boca para
retrucar, mas a aeromoça aparece de repente ao seu lado.
— Sr. Scott, gostaria de uma bebida antes do voo? Champanhe?
Pellegrino, talvez?
Estou meio surpresa que ela não tenha se colocado como uma
opção. Mas a intenção fica evidente no modo como se inclina sobre
ele, a mão apoiada no assento perto do ombro masculino, as costas
arqueadas o suficiente para empinar seus seios. Não posso culpar a
mulher. O cara é poderoso.
Ele mal olha para ela. — Não, obrigado.
— Tem certeza? Talvez um café? Chá?
Uma sobrancelha se arqueia daquele jeito arrogante que apenas
um britânico sabe fazer. — Nada pra mim.
— Champagne parece ótimo — eu digo.
Mas a comissária de bordo nunca tira os olhos de sua presa. —
Eu realmente peço desculpas pela confusão, Sr. Scott. Eu avisei
meus superiores e eles farão tudo ao seu alcance para acomodá-lo.
— Já não importa, mas obrigado. — Ele já está pegando sua
revista, a capa mostrando um carro esportivo elegante. Típico.
— Bem, então, se houver algo que o senhor precise…
— Eu não sei ele, — eu interrompo, — mas eu adoraria um... ei!
Olá? — Eu aceno com a mão enquanto ela se afasta com um
balanço extra em seus quadris. — Ela me ignorou?
Eu posso senti-lo sorrindo e lanço um olhar para ele. — Isso é
culpa sua, sabe.
— Minha culpa? — Suas sobrancelhas erguem, mas ele não
desvia o olhar da revista. — Como diabos você chegou à essa
conclusão?
— Sua aparência incrível pra cacete a deixou cega para todos
exceto você, raio de sol.
Seu rosto está sem expressão, embora os lábios se contraiam.
— Se ao menos eu tivesse o poder de deixar as mulheres sem fala.
Não posso evitar, sou obrigada a sorrir. — Ah, aposto que você
acharia isso maravilhoso; todas nós, mulheres indefesas, apenas
sorrindo e assentindo. Mas acho que isso nunca funcionaria comigo.
— Claro que não — ele fala. — Estou preso ao lado de uma
mulher que sofre de um caso aparentemente incurável de diarréia
verbal.
— Disse o homem socialmente constipado.
Ele congela novamente, seus olhos arregalados. E então uma
bufada estrangulada se liberta e se transforma numa risada
sufocada. — Cristo. — Ele aperta a ponte do nariz enquanto luta
para se conter. — Estou condenado.
Eu sorrio, querendo rir também, mas segurando. — Calma,
Calma. — Eu dou um tapinha em seu antebraço. — Tudo terminará
em cerca de sete horas.
Ele geme, levantando a cabeça. A diversão em seus olhos é
genuína, e, por isso, muito mais letal. — Eu não vou sobreviver a
isso…
O avião estremece um pouco quando começa a se mover. E o
Sr. Raio de Sol empalidece, ficando num adorável tom de verde
antes de chegar ao cinza. Um homem com medo de voar. Mas que
claramente preferiria que o avião caísse do que admitir isso.
Ótimo. Ele provavelmente vai estar hiperventilando antes de
decolarmos.
Talvez seja porque minha mãe também tenha pavor de voar, ou
talvez porque eu gosto de pensar que o comportamento horrível do
Sr. Raio de Sol é baseado no medo e não porque ele é um
tremendo babaca, mas decido ajudá-lo. E, claro, me divertir um
pouco enquanto faço isso.

G
E . É um lugar familiar: um tubo longo e estreito,
com asas instáveis. Uma armadilha mortal com quinhentos
assentos, ar rarefeito e motores zumbindo. Eu pego aviões
frequentemente. Só que desta vez, o próprio Diabo é meu parceiro
de assento.
Estou na indústria de entretenimento há tempo o suficiente para
saber que o Diabo sempre aparece em um embrulho atraente.
Melhor atrair abelhas com mel. Esse demônio em particular parece
ter saído da década de 1950 – cabelos loiros platinados espiralando
ao redor de um rosto de querubim; grandes olhos castanhos; lábios
muito vermelhos e uma silhueta tipo ampulheta que estou tentando
ignorar.
Não é fácil ignorar esses peitos. Toda vez que ela fala, esses
montes macios parecem saltar como se tivessem pensamentos
próprios. Levando em conta que essa garota estranha e atrevida
nunca cala a boca, corro o risco de ser hipnotizado por esse par
exemplar de seios que certamente são tamanho GG.
Deus, ela continua falando. É como um pesadelo totalmente sem
sentido que vai me deixar louco.
— Olha, você... — mais seios saltitantes, mais boca vermelha
fazendo bico... — Eu conheço o seu jogo, e não vai funcionar
comigo.
Eu levanto meu olhar. — O quê?
— Não me venha com esse “o quêêê” cheio de sotaque britânico
pensando que vou me apaixonar. — Um dedo indicador balança na
frente do meu nariz. — Não me importo com o quão sexy sua voz é,
não vai funcionar.
Eu não vou sorrir por causa disso. Sem chance. — Eu não tenho
ideia do que você está falando, mas se eu fosse você, procuraria
intervenção médica assim que aterrissarmos.
— Pfft. Você está fazendo uma cena sobre ter medo de voar na
esperança de que eu tenha pena de você.
Um sentimento ruim sobe pelas minhas entranhas, e eu aperto
as mãos para não gritar - não que eu possa dizer alguma coisa. Ela
ainda está falando, vomitando besteiras.
— Você acha que se estiver aí sentado, parecendo petrificado e
tenso, eu vou oferecer um boquete para distraí-lo de tudo.
Minha humilhação sofre uma freada brusca ao ouvir a palavra
boquete. — O quê?
— Bom, isso não vai acontecer.
Ignore seu pau. Ignore-o. Ele é um idiota. Concentre-se no
problema em questão. — Você é doida. Completamente louca.
— E você é um desgraçado astuto e muito bonito. Infelizmente
para você, boa aparência não é o suficiente. Eu não vou fazer isso.
Eu me inclino para perto em desafio. — Olha, mesmo se eu
quisesse sua boca em qualquer lugar perto de mim, por que diabos
eu pediria um boquete aqui? — Eu aceno minha mão em direção ao
corredor. — Quando a tripulação inteira pode ver. Quem faz isso?
— Não eu — ela retruca com um olhar de nojo. — Mas você
entregou que pensou na possibilidade. Estava obviamente
pensando na logística de tudo.
Não deixe subir à cabeça. Cerrando os dentes com força
suficiente para machucar, eu disparo para ela. — Senhora, se essa
armadilha mortal que voa estivesse indo em direção ao chão como
uma bola de fogo apocalíptica, e sua boca no meu pau fosse a
última chance de sexo que eu teria, eu tiraria meu cinto de
segurança e pularia pela janela em direção à morte.
Ela pisca aqueles grandes olhos de coruja nem um pouco
desconcertados. — São muitas palavras, raio de sol. Mas acho que
você está mentindo. Você quer muito.
Minha boca fica como a de um peixe: boquiaberta e lutando por
ar. Não consigo pensar em nada para dizer, o que é uma raridade.
Talvez eu não seja muito de conversar com a maioria das pessoas,
mas sou totalmente capaz lidar com as situações quando
necessário.
Acima de nossas cabeças, um curto toque soa. Olho para cima e
noto que o sinal de apertar o cinto de segurança foi desligado.
Estamos nivelados e estabilizados agora.
Quando volto minha atenção para a diabinha, ela está com o
nariz enfiado em uma revista, folheando alegremente as páginas,
com um pequeno sorriso presunçoso contorcendo os canto dos
lábios.
Isso me atinge como um soco no estômago: ela estava, mais
uma vez, me sacaneando. Ela me distraiu da decolagem. Tão
efetivamente que eu nem senti o avião levantar. Agora estou
dividido entre uma admiração relutante, uma gratidão desconfortável
e uma necessidade ardente de vingança.
A vingança fala mais alto na minha cabeça, e eu mordo o interior
da bochecha para não sorrir. Inclinando-me para frente, invado seu
espaço pessoal, ignorando o aroma de torta de limão que flutua ao
seu redor.
Ela fica tensa, a cabeça recuando, o corpo ereto. Eu amo isso.
— Tudo bem, — murmuro baixo em seu ouvido, enquanto ela
estremece e se remexe para fugir. — Você me pegou. Eu quero
satisfação oral. Muito. Seja boazinha e me distraia.
Ela engasga, a pele aveludada ficando pálida. — Você está
brincando comigo?
— Nós já passamos dessa fase. — Estendo a mão por baixo do
cinto de segurança para soltar o cinto da calça. — Eu estou
precisando e tem que ser você.
— Ei! Espere um minuto, amigo. — Sua mão pressiona contra o
meu peito e rapidamente recua, como se o contato a queimasse.
Estranhamente, estava bastante quente e eu ainda sentia a
pressão da mão dela através das camadas das minhas roupas. Eu
ignoro isso também e ergo a sobrancelha exageradamente. — Não
se preocupe. Eu tenho um plano. Apenas finja que você está com
dor de cabeça e precisa deitar no meu colo. Vou colocar um
cobertor sobre você para bloquear a luz. Eles não vão nem
questionar os seus gemidos.
Eu tiro meu cinto como se fosse mostrar o pau. — Melhor ainda,
fecharei as portas da nossa cabine e teremos total privacidade.
Você poderá realmente se dedicar.
Ela solta um som estrangulado. — Seu... repulsivo... eu não
acredito nisso...
— Ah! Vamos lá, amor. Me dá uma só uma chupada, pode ser?
Apenas uma lambidinha provocante na ponta?
Merda. Eu não deveria ter dito isso. Meu pau se anima, gostando
muito dessa ideia. Seus lábios entreabertos são vermelhos, macios
e cheios... Recomponha-se, seu idiota.
Eu dou um sorriso aberto, me inclinando para perto mesmo
quando ela fica muito vermelha. — Rápido e fácil. Estou tão tenso
que levará apenas cinco ou dez minutos no máximo.
Um som sufocado fica preso em sua garganta e eu dou um
gemido de dor. — Me tire desse sofrimento, garota atrevida.
Isso basta. As sobrancelhas dela se erguem. — Atrevida?
Atrevida?!? — Ela põe o nariz contra o meu, e seus olhos são duas
fendas escuras de pura fúria. — Chupar você? Seu pomposo,
arrogante...
— Essas palavras significam praticamente a mesma coisa,
querida.
— Cara de pau... — Ela para, recuando um pouco, seu olhar
disparando sobre o meu rosto. E então ela sorri. É um sorriso cheio
e satisfeito, e me sinto um pouco tonto com a velocidade com que
ela pode trocar de emoções. — Ah, boa jogada, raio do sol, — ela
diz, sorrindo. — Boa jogada. Percebeu meu teatrinho, não é?
Não posso encarar os olhos dela, ou ela vai perceber. Essa
mulher pode ser a pessoa mais irritante que já conheci em um
avião, mas ela é claramente inteligente. — Era um teatrinho?
Um bufo passa pelos seus lábios. — Você deveria me comprar
uma bebida agora como agradecimento.
— As bebidas são gratuitas na primeira classe, garota tagarela.
— É pelo princípio da coisa.
Eu lhe daria uma garrafa inteira do champanhe que ela
escolhesse se isso a fizesse parar de falar, mas o álcool geralmente
afrouxa a língua. Estremeço ao pensar nela falando ainda mais.
Naquele momento, a comissária de bordo que estava me
olhando como se eu fosse um bife passa com uma taça de
champanhe equilibrada em uma bandeja de prata. Ela sorri
largamente para mim. — Senhor Scott, seu champanhe.
— Ah, pelo amor de Deus, — minha vizinha tagarela murmura
baixinho.
Manter uma expressão agradável, em qualquer que seja a
circunstância, é rotina para mim à essa altura da vida. Mas é
estranhamente difícil manter a fachada no momento. Algo na minha
atormentadora traz à tona a criança de cinco anos em mim, e eu
quero puxar o cabelo dela como um pirralho do jardim de infância.
Mas eu não puxo. Aceito a bebida que a comissária de bordo coloca
diante de mim.
— Obrigado, — digo a ela enquanto passo o copo para a
Tagarela. — No entanto, minha colega pediu isso, não eu.
A aeromoça empalidece. — Ah, eu… eu sinto muito, — ela diz
para a mulher ao meu lado – e eu realmente preciso descobrir o
nome dela, ou talvez não. Mais conversas não são uma boa ideia;
ela pode ser divertida, mas ainda é desequilibrada. Não gosto de
elementos imprevisíveis.
— Eu não percebi. Eu pensei... — A atendente perde a linha do
pensamento.
— Está tudo bem. — Minha companheira de assento se inclina,
invadindo meu espaço enquanto dá à aeromoça um sorriso
compreensivo, e eu sou agredido novamente pelo cheiro de limões
doces e mulher quente. — O raio de sol aqui me deixou tão
perturbada que quase peguei meu cartão de crédito e me ofereci
para pagar por sexo.
Eu engasgo com minha própria saliva. — Puta merda.
A aeromoça fica num tom de beterraba. — Sim. É... Gostaria de
algo mais?
De um paraquedas.
— Nada mais para mim. — diz a criatura louca à minha
esquerda, tomando alegremente um gole de champanhe.
— Um refrigerante com gelo. — digo. À essa altura do
campeonato, quero pedir uma garrafa inteira de gin. Mas o álcool
piora meu nervosismo em aviões. Apenas respire, relaxe, e
sobreviva à esse vôo infernal.
Recebo um olhar de simpatia da comissária de bordo. Ao meu
lado vem outro zumbido feliz. Estou esperando pela próxima onda
de indelicadezas de caráter ultrajante, mas fico estranhamente
decepcionado ao perceber minha vizinha pegando seus celular e
fones de ouvido. Então ela planeja se conectar e desligar do mundo.
Brilhante. Exatamente o que eu precisava. Fico grato por isso.
Pego minha revista e fico olhando a foto de um Lamborghini
Centenário vermelho. Possuo o mesmo modelo, num tom grafite.
Viro a página. Com força.
Mais murmúrios femininos se seguem, altos o suficiente para
soar sobre o zumbido dos motores. Ótimo, ela está cantando junto
com a música. A mulher me infectou com um caso bizarro de
imaturidade, porque sou tentado a implicar com ela e falar que está
fora do tom só para ouvir a resposta que ela vai me dar. Um tipo
estranho de animação me toma diante da ideia. Mas então eu
reconheço a música.
O desapontamento e a maneira como isso me entorpece é um
choque. Eu não esperava. Não de uma maneira tão forte. Porque
ela está ouvindo Kill John e obviamente adorando. Eu amo Kill John
também. Eles são a maior banda do mundo agora e são uma parte
de mim, amarrados na própria fibra do meu ser por meio de sangue,
suor e lágrimas.
Porque eu gerencio a banda. Killian, Jax, Whip e Rye são os
meus garotos. Eu faria qualquer coisa por eles. Mas uma coisa que
nunca faço é interagir com os fãs. Nunca.
Eu já aprendi essa lição. Os fãs, não importa quem sejam,
perdem a cabeça quando sabem que eu administro o Kill John. Eu
me recuso a ser uma porta para eles.
Outra música desafinada vem dos lábios da Tagarela. Ela está
balançando a cabeça, os olhos fechados, um olhar de felicidade no
rosto. Eu me afasto. Não, não decepcionado. Aliviado.
É o que fico repetindo para mim mesmo quando meu refrigerante
chega e eu bebo tudo com mais entusiasmo do que o normal. Eu.
Estou. Aliviado.
CAPÍTULO DOIS

P , eu evito meu parceiro sexy. Tive que fazer isso.


Eu estava me divertindo muito incomodando ele e conheço os
sinais. Logo começaria a desenvolver uma queda pelo rabugento;
ele é gostoso demais e sério demais para resistir. Você pensaria que
sua seriedade não seria excitante, mas de alguma forma a ideia
dele me colocando sobre seu joelho...
Pois é. Então fui inteligente e coloquei meus fones de ouvido.
Agora estou ouvindo música enquanto folheio a revista Vogue.
Ele faz o mesmo, dando uma olhada na revista sobre carros
antes de jogá-la de lado e pegar o laptop. É uma tortura não espiar
a tela dele. O que um cara desse faz para viver? Talvez realmente
seja um duque; eu juro que ele se encaixa no perfil. Ou talvez um
bilionário? Mas suponho que esses dois tipos de homens teriam seu
próprio avião.
Perco a noção do tempo imaginando o Raio de Sol
administrando alguma mansão inglesa ou voando com virgens
desajeitadas em seu helicóptero pessoal quando um carrinho
aparece para nos fornecer coquetéis – aparentemente a maneira de
viajar preferida dos ricos é num estado embriagado – e aperitivos. E
embora o Sr. Feliz aparentemente não queira nada, tiro os fones de
ouvido, pronta para me empanturrar.
— Ah, sim, por favor — digo.
Ao meu lado, Raio de Sol bufa baixinho.
Eu o ignoro. Amo comida. Amo. E essas coisas realmente
parecem boas. A aeromoça me entrega uma bandeja de prata com
uma variedade de queijos, castanhas, bolinhas de melão com
presunto e compotas de tomate assado com torradas.
Impressionante.
— Você está perdendo. — Digo a ele quando estamos sozinhos
novamente. — Isso é muito bom. — Eu jogo uma bola de melão na
boca e seguro um gemido. É oficial: odeio a primeira classe. Ela
arruinou todos os meus futuros voos. Pobres otários da classe
econômica.
— Você vai se arrepender mais tarde, — ele me diz, sem
levantar os olhos do trabalho — quando seu estômago estiver cheio
e esse tubo de lata começar a sacudir por causa da inevitável
turbulência. — Ele mal reprime um arrepio.
— E é sempre durante o jantar. — Eu dou uma mordida no
queijo branco cremoso. — Você já notou isso?
— Não particularmente.
— Talvez eles programem a turbulência com o horário do serviço
de bordo. — Franzo a testa. — Eu não ficaria surpresa.
Ele faz um som evasivo.
Um poço de risos, esse cara.
— Não mataria você relaxar, sabe.
Com um suspiro, ele fecha o laptop e o afasta. — O que faz você
pensar que eu nunca relaxo? — Aqueles olhos azuis assassinos
dele me prendem com um olhar. Jesus, é realmente difícil encará-lo
diretamente. Meu fôlego vai parar na minha barriga e minhas coxas
se apertam. Uma reação normal à pura sensualidade masculina.
Isso é tudo.
Ainda assim, é uma droga que minha voz soe como se eu
estivesse sem fôlego quando respondo. — Suponho que essas
linhas de expressão entre suas sobrancelhas não foram causadas
por risadas.
As ditas linhas se aprofundam em uma careta.
Não consigo parar de sorrir. — Não se preocupe, apesar do seu
comportamento ranzinza, você na verdade parece meio jovem.
Ele balança a cabeça uma vez como se estivesse tentando
limpá-la. — Houve um elogio em alguma parte do que você falou?
— Alguém tão gostoso quanto você não precisa de mais elogios.
Quantos anos você tem, afinal? — Estou forçando, mas é tão
divertido provocá-lo que não consigo me conter.
— Isso é bastante pessoal. Você não me vê perguntando
quantos...
— Eu tenho vinte e cinco, — digo alegremente.
Seus lábios tremem, e eu sei que ele está tentando manter a
cara estóica. Mas seus olhos são calorosos. — Eu tenho vinte e
nove.
— Vinte e nove com uma ar de noventa.
— Você está deliberadamente tentando me provocar, não é?
— Talvez assim você responda minha primeira pergunta. Você
em algum momento relaxa, Raio de Sol?
— O que é preciso para que você pare de me chamar assim?
Sua voz é deliciosa demais – rouca, mas firme, profunda e
suave. Quero encontrar uma lista telefônica e pedir que ele a recite.
Afasto o pensamento. — Você terá que me falar o seu nome. E notei
que você não respondeu minha pergunta.
Ele franze ainda mais a testa. É meio fofo. Embora ele
provavelmente rosnasse se eu o dissesse isso. A testa franzida dá
lugar à uma óbvia hesitação, como se estivesse em guerra consigo
mesmo.
— Olha… — Dou de ombros, comendo outra bola de melão. —
Se você não quer me dizer, não tem problema. Muitas pessoas são
estranhamente paranóicas.
— Eu não sou paranóico.
Trouxa.
— Certo. Eu entendo. Talvez eu seja uma hacker internacional
de habilidade ilustre, apenas esperando para invadir suas
informações particulares. Tudo o que preciso é de um nome para
começar.
— Eu estava pensando em uma fugitiva ou algo do tipo — diz ele
antes de virar o resto do copo e depois fazer uma careta para o
mesmo.
— É só chamar a comissária e pedir outra bebida — eu sugiro.
Em vez disso, ele pega uma das garrafas de água de cortesia
que temos em nossos pequenos bares pessoais. Um giro firme na
tampa da garrafa e ele está engolindo a água como se tivesse
acabado de sair do deserto. Eu definitivamente não fico observando.
Não muito. Aquela garganta. Como uma garganta pode ser tão
sexy? Ele deve malhar o pescoço tomando comprimidos ou
qualquer coisa assim.
Enfio uma torrada com compota de tomate assado na boca e
mastigo com vigor.
— Gabriel.
Sua resposta repentina me faz olhá-lo novamente. O cidadão
está olhando para frente como se não tivesse falado nada, mas,
diante da minha encarada, ele se vira em minha direção. — O meu
nome. É Gabriel Scott.
Eu nunca vi alguém tão desconfortável em dizer o próprio nome
em toda a minha vida. Talvez ele seja um espião. Brincadeira - ou
não.
— Gabriel — repito, sem deixar de notar o modo como ele
estremece quando eu falo. Não sei se ele está desconfortável ou o
que quer que seja, mas sinto como se um segredo sombrio tivesse
sido revelado.
O champanhe deve estar fazendo efeito. Eu o deixo de lado e
pego minha própria garrafa d’água.
— Eu sou Sophie, — digo a ele, incapaz de fazer contato visual
por algum motivo. — Sophie Darling1.
Ele pisca, e seu corpo forte e rígido se aproxima um pouco mais
antes de parar como se tivesse tomado consciência da ação. —
Darling?
Eu perdi a conta de quantos homens tentaram pronunciar meu
sobrenome como se fosse uma cantada. Ele não faz isso. Na
verdade, seu tom é absolutamente cético, mas de alguma forma
também soa como algo carinhoso. Não, não carinhoso. Não é doce,
do jeito que ele diz. Ele o faz soar como algo ilícito, como se meu
próprio nome estivesse acariciando minha pele com mãos firmes.
Puta que pariu. Não posso estar tendo uma queda por esse cara.
Ele é um idiota. Um idiota gostoso, mas ainda assim. Mesmo que eu
pudesse ignorar isso, não muda o fato de que, assim que
aterrisarmos, ele desaparecerá da minha vida. Provavelmente
correndo. De uma maneira digna, é claro.
— Essa sou eu, — digo a ele com falsa leviandade. — Sophie
Darling.
Outro barulho soa em sua garganta. Algo como: — Que Deus
me ajude.
Eu poderia estar interpretando isso errado, no entanto.
— Bem, Srta. Darling, — diz ele, voltando à voz firme e severa
que eu imagino que use para disciplinar novos subordinados
rebeldes, — para responder à sua pergunta anterior, você está
certa; eu geralmente não relaxo.
— Uau, você foi com tudo e admitiu que é um pé no saco.
— Pé no saco não faz absolutamente nenhum sentido. Quem
cria essas expressões ridículas? — Ele rouba uma torrada de
tomate do meu prato. — E eu acho que você pode fazer melhor.
Eu assisto enquanto ele coloca a torrada na boca e mastiga. Os
cantos dos seus olhos enrugam. É tão sublime que duvido que
muitas pessoas fossem notar. Agora parece um sorriso verdadeiro e
convencido.
— Você quer que eu te insulte? — Consigo perguntar.
— Pelo menos seja um pouco mais criativa quando insultar. —
Ele puxa seu laptop de volta para perto, me dispensando. — Me
diga algo que eu ainda não ouvi.
Algo sobre esse cara ativa meus sentidos mais primitivos da pior
maneira possível, porque de repente estou inclinando-me para
murmurar em seu ouvido. — Estou pensando que você é o garoto
propaganda da Rough Roger. E um dia, essa sua mão não vai mais
funcionar.
Sua cabeça levanta com tudo como se eu tivesse espetado-o
com uma agulha. Ouço sua inspiração áspera, e me recuso a ficar
excitada. Mesmo que seu perfume inebriante esteja pairando sobre
mim. O apoio de braço de couro range sob meu cotovelo enquanto
eu recuo.
Ele me lança um olhar de soslaio. — Rough Roger?
— Sua internet está funcionando. Pesquise, Raio de sol.
É a minha vez de sorrir presunçosamente e enterrar o nariz em
minha revista.
O zumbido dos motores preenche o silêncio entre nós, e ouço os
cliques nítidos do seu teclado, seguido por um som estrangulado
vindo de sua garganta.
Meu sorriso cresce. Eu sei que ele leu a definição de um cara
que se masturba tanto e tão desesperadamente, que seu pau fica
em carne viva. Infelizmente, essa imagem é sexualmente
perturbadora demais para o meu gosto.
Do meu lado, sua voz é baixa, tensa e um pouco rouca. — Bem
jogado, Srta. Darling.

A , somos educadamente encorajados a visitar


o lounge da primeira classe – sim, eles têm a porra de um lounge no
avião. Quero dizer, eu sabia sobre bares em aviões... do mesmo
jeito que uma pessoa sabe sobre unicórnios e Smurfs. Mas
experimentar? Santo inferno.
Subo as escadas em espiral até o topo do 747 para sentar no
balcão de um bar e tomar coquetéis leves com meus companheiros
de voo. Até o Raio de sol aparece, embora ele fique à margem e
peça um copo de água gelada.
— Eles estão preparando as cabines — um homem mais velho
em um terno ligeiramente amarrotado me diz enquanto tomamos
nossas bebidas.
— Para quê? — Jogo uma noz-pecã açucarada na boca e tomo
outro gole do meu Cosmopolitan. Se você vai sentar-se em um bar-
lounge à trinta e cinco mil pés de altitude, pode muito bem ficar toda
Sex and the City de uma vez.
Ele se inclina para mais perto, seu olhar deslizando mais para
baixo do meu pescoço por um breve segundo. — As camas.
— Ah, certo. — Eu me animo. — Vou gostar disso.
— O conforto e a privacidade são ótimos — diz ele com um
aceno de cabeça antes de se aproximar ainda mais. — Sabe, eu
tenho uma cabine de assento único. Mas é grande o suficiente para
duas pessoas.
Por um segundo eu apenas o encaro. — Você está realmente
dando em cima de mim em um bar de avião?
Ele encolhe os ombros. — Ouvi seu colega de assento fazer um
escândalo mais cedo. Parece um idiota total. Pensei que você fosse
preferir uma companhia melhor.
Estou prestes a me desculpar por tirar conclusões precipitadas
quando ele levanta uma sobrancelha e zomba. — Mas se você
quiser ver isso como uma proposta, não vou me opor.
— Prefiro meu parceiro de assento original — eu digo.
Ele bufa. — Que surpresa.
Estou prestes a perguntar a ele que diabos, quando um ombro
musculoso se intromete entre nós. Eu conheço esse braço, esse
perfume: caro, másculo e altivo. Gabriel encara o homem de cima. É
impressionante a quantidade de desdém e desprezo que ele
transmite com apenas um olhar.
— Na verdade, — diz ele — sou mais um filho da puta do que
um idiota. — Ele lança um sorriso tenso que é mais um trincar de
dentes, mas seu tom entediado nunca muda. — O que significa que
sou um especialista em lidar com os merdinhas incômodos.
Eu quase engasgo com a minha bebida.
O Sr. Terno tenta manter o olhar de Gabriel, mas falha. Ele
desliza para fora do banco com um sussurro. — Filho da puta.
— Pensei que já tínhamos estabelecido isso — diz Gabriel para
mim.
— Tão orgulhoso do seu jeitão de filho da puta. — Dou-lhe um
cutucão no ombro. — E, no entanto, aqui está você, me salvando
dos pervertidos.
— Dificilmente, — ele murmura em seu copo. — Eu estava
defendendo minha própria honra. E foi bem chato, falando nisso. Eu
pensei que ele iria lutar um pouco mais.
— Por quê? — Sou obrigada a perguntar, embora esteja
simplesmente surpresa que ele esteja falando comigo quando essa
seja nossa única chance de escapar para cantos neutros.
Ele toma um gole de água antes de responder. — Ele é o CEO
de uma corporação gigantesca e tem a reputação de ser um lobo
implacável. — Seus lábios se curvam em um sorriso de escárnio. —
Tá mais para um chihuahua, na minha opinião.
Eu olho para ele. — Como você sabe disso?
Ele finalmente volta o olhar para mim, e eu sou atingida
novamente por aquele azul brilhante. — Acabei de ler um artigo
sobre ele na Forbes.
Solto uma risada pequena e meio desesperada. Eu realmente
não estou mais no Kansas. — Bem, — digo — talvez você encontre
alguém com quem tenha um concurso de mijo apropriado mais
tarde.
É a sua vez de engasgar com a bebida, embora ele se recupere
bem. Com movimentos precisos, ele coloca o copo de volta no
balcão e puxa com firmeza cada um dos punhos da camisa de volta
ao lugar. — Estou bastante certo de que, no momento, já bati todas
as minhas cotas com você aqui.
— Ah, um elogio.
Ele olha para mim e pisca lentamente, o movimento de seus
cílios escuros quase tocando sua bochecha. Então ele me deixa em
choque e paralisada quando se inclina perto o suficiente para que
seus lábios rocem a curva da minha orelha. — Sim, garota tagarela,
foi.
Eu ainda estou tonta com o timbre baixo da voz dele – que faz
arrepios descerem pela minha espinha e queima ao longo das
minhas coxas – quando ele se afasta. — Não beba demais ou você
terá dor de cabeça — ele aconselha antes de sair, voltando para o
andar de baixo.
Eu odeio admitir, mas ele leva toda a emoção de estar no bar
com ele. Agora é apenas uma sensação de novidade que se tornou
obsoleta. Deixo minha bebida pela metade e pulo do banco.
No andar de baixo, os assentos das cabines foram de fato
convertidos em camas. Eu tenho que segurar um gritinho de alegria.
É uma cama de verdade, com travesseiros em tamanho normal e
um edredom branco brilhante com enfeites escarlates. Uma única
rosa vermelha foi colocada em cada travesseiro. Eu juro, estou
prestes a dar pulinhos, mas dou uma olhada no Sr. Feliz, que está
parado no limiar de nossa cabine, com as mãos nos quadris, as
sobrancelhas franzidas com tanta força que quase se tocam.
— O que há de errado, — pergunto a ele. — Não há divisórias
hospitalares?
Ele me lança um olhar de lado antes de voltar sua atenção para
as camas. — Pedi que meu assento não fosse convertido. E a
comissária de bordo está obviamente operando sob um extremo
equívoco.
Olhando para a cama, finalmente percebo o que ele está
dizendo. Eu estava tão feliz com a existência de uma cama, que não
tinha percebido que nossos dois assentos foram convertidos em
uma cama de casal macia. Há até uma bandeja com um balde de
gelo com champagne.
Uma risada me escapa antes que eu possa segurá-la. —
Especial de lua de mel?
— Você acha isso divertido? — Suas narinas se abrem em
irritação, embora ele não esteja olhando para mim, e sim destruindo
mentalmente a cama com seu olhar a laser.
— Honestamente? Sim, acho. — Eu tiro meus sapatos e rastejo
sobre a cama. É firme a ponto de ser rígida, e há uma pequeno
calombo no meio. Mas não vou reclamar. Sentada de pernas
cruzadas do meu lado da cama, olho para sua figura iminente – ele
ainda não entrou totalmente no compartimento. — Ah, qual é. Você
tem que admitir que é um pouco engraçado.
— Eu não vou admitir nada — ele grunhe, mas então seus
ombros caem e ele entra no compartimento, virando-se para fechar
as portas com um clique definitivo. — E pensar que aquela mulher
estava flertando comigo.
Ele parece tão enojado que tenho que rir de novo. — Como
assim?
Ele senta do seu lado da cama e tira os sapatos, a carranca
ainda em sua glória total. — A comissária de bordo claramente acha
que estamos juntos agora, e ainda assim à um segundo atrás ela…
— Ele se interrompe com um leve rubor, o que é meio fofo, quase
como se estivesse envergonhado. E ainda assim...
— Ela deu em cima de você no corredor? — Minha ira aumenta
rapidamente – não é ciúmes. É o princípio da coisa.
Ele resmunga, olha para a cama, torce o nariz em desgosto e
vira de costas para ela mais uma vez.
— Aquela assanhadinha — eu digo, olhando para a porta.
Com isso, ele olha por cima do ombro largo para mim. Há um
brilho em seus olhos. — Com ciúmes, Srta. Darling?
— Ei, foi você quem disse o quão errado isso foi!
— O quão ofensivo foi — ele corrige. — Ela assume que eu sou
do tipo infiel. E obviamente tão sem vergonha ao ponto de fazer isso
à vista da minha atual cônjuge.
— Você tem certeza de que não é duque?
Eu quase posso vê-lo revirar os olhos, embora ele esteja
olhando para o outro lado. — Eu vou chamá-la.
— Não, você não vai. — Eu me ajoelho.
Ele se vira, apoiando uma coxa grossa na cama. Sua expressão
é perplexa. — Por que não?
— Porque essa cama é a coisa mais legal sobre este voo até
agora, e eu não quero que seja desmontada.
O canto da sua boca se levanta levemente. — Eles vão montar
uma cama de solteiro para você.
Sim, e aquela comissária traiçoeira vai sorrir durante todo o
processo. — Se você pedir para ela desmontar, estará dando
abertura para mais avanços da parte dela.
Os olhos dele se estreitam.
— A menos que, é claro, que você queira isso, — digo
suavemente. Não. Nem um pouco ciumenta.
— Ela não faz meu tipo — ele diz fungando.
— Você realmente tem um tipo? — A frase sai antes que eu
possa pará-la.
— Sim, — ele diz. — Uma mulher calma, digna e discreta.
— Mentira.
Ele vira a cabeça totalmente para me encarar. — Perdão?
Eu me escondo debaixo das cobertas. Elas têm o peso e a
suavidade certos. Ótimo. — Perdão, nada. Você disse isso para me
pôr no meu lugar. Mas não vou cair nessa.
— Você está imaginando coisas, — ele resmunga quando se
senta e, com clara relutância, coloca as pernas na cama. — E sendo
irritante.
— Você simplesmente não consegue lidar comigo. É isso que te
incomoda.
Pego a linda máscara de dormir fornecida no meu kit e a coloco
com um suspiro feliz. Vou ignorá-lo pelo resto da viagem. Sem
problemas. O silêncio cai entre nós e o zumbido dos motores volta
com força total.
Sua voz rouca quebra nosso impasse. — Você vai beber esse
champanhe?
— Não. Fui repetidamente instruída a não beber demais,
lembra?
Um bufo suave soa. Então a cama afunda quando ele se
aproxima e pega a bandeja. Um tilintar e outra movimentação na
cama e tudo se acalma.
— Eu nunca conheci uma pessoa que eu não pudesse lidar. —
Sua resposta firme vem alguns segundos depois.
Sem me preocupar em tirar a máscara, estendo a mão em sua
direção. — Sophie Elizabeth Darling.
Um conjunto de dentes pega a ponta da minha mão e me morde.
Estou tão chocada que grito, puxando minha mão de volta.
Erguendo-me, tiro minha máscara para encontrá-lo olhando para
mim com um olhar inocente.
— Você acabou de me morder? — Minha voz é praticamente um
chiado indignado. Não que tenha doído. Ele só me mordiscou, e de
brincadeira. Mas mesmo assim. Sério?
— Parece uma coisa bastante infantil de se fazer — diz ele,
descansando a cabeça no travesseiro.
— Era uma pergunta retórica, — retruco. — Você me mordeu!
Seus lábios se curvam como se ele estivesse tentando muito não
rir. — Melhor não enfiar a mão na minha cara, então.
Eu o encaro de boca aberta por um minuto inteiro. — E você me
chama de louca.
Seu olhar azul encontra o meu. — Você se importa? Estou
tentando descansar um pouco.
— Eu não gosto de você, — murmuro, colocando minha máscara
de volta.
— Mentira, — ele aponta, imitando meu tom anterior. — Você
disse várias vezes que me acha ofuscantemente atraente.
— Isso não significa que eu goste de você. Além disso, seu tipo
de beleza é como uma arma. Você atrai as vítimas, como um
vampiro. Eu não ficaria surpresa se você brilhasse no sol.
— Não acredito que estou discutindo com uma mulher que faz
referências à Crepúsculo.
— O fato de você saber que estou fazendo referência à
Crepúsculo entrega que você é secretamente um fanboy
apaixonado pelo Edward.
Seu bufo é alto e contundente. — Team Jacob maior e melhor.
Não posso evitar, meus olhos se arregalam e levanto um canto
da minha máscara para encará-lo. — É isso aí. Nunca poderemos
ser amigos.
Ele me dá um olhar ferido que é totalmente falso. — Palavras
machucam, garota tagarela.
Murmurando sobre britânicos imbecis, dou as costas para ele e
ignoro seu riso mal camuflado. E sou uma traidora de mim mesma
porque quero rir com ele. Só que eu temo que, no momento em que
eu fizer, ele erga suas paredes novamente e me faça sentir ridícula.
Gabriel Scott pode não saber como lidar comigo, mas eu com
certeza absoluta também fico perdidinha quando se trata dele.
Com isso em mente, me concentro na minha respiração e no
zumbido suave do avião ao meu redor, e logo adormeço.
CAPÍTULO TRÊS

A é o aviso para apertar os cintos de segurança que me


acorda. Desorientada demais para lembrar onde exatamente me
encontro, apenas percebo que é um lugar barulhento e que está
balançando. E que está escuro. Então me lembro da máscara de
dormir. Eu a tiro e pisco algumas vezes para me acostumar com a
claridade.
O avião está tremendo como se alguém o estivese chacoalhando
furiosamente, o que não ajuda em nada o meu estômago. O fato de
eu estar deitada faz com que pareça ainda mais estranho, quase
como se em breve eu fosse começar a flutuar.
Mas eu ouvi um aviso, não foi? Mas onde estão os cintos de
segurança nesta cama? Eu tateio ao redor e entro em contato com
algo duro. Uma coxa. Então lembro de Gabriel, também conhecido o
maior hater de aviões. Um olhar em sua direção, e sei que a
situação não está nada boa. Ele está deitado, rígido como uma
pedra, os punhos cerrados ao lado de seu tronco e sua expressão
tão vazia que alguém poderia pensar que estava morto. Exceto que
ele está ofegante, e uma camada fina de suor cobre sua pele.
Eu não o culpo. A turbulência está horrível. O avião sacode com
tanta força que minha bunda corre o risco de sair da cama.
— Raio de sol — eu sussurro.
Ele não responde. Tenho certeza de que sua mandíbula está
travada.
Aproximando-me, toco timidamente seu ombro e percebo seu
corpo trêmulo. — Ei, — eu digo com uma voz suave. — Está tudo
bem.
A cabine do avião cai cerca de um metro só para zombar da
minha afirmação, e ele fecha os olhos, virando a cabeça para longe
de mim. Ele ficou terrivelmente pálido, sua respiração acelerada. —
Vá. Embora.
— Eu não posso. — Eu me aproximo. — Olha, eu sei que você
não quer que eu testemunhe isso. Mas estou aqui. Deixe-me ajudá-
lo.
Ele respira por entre os dentes cerrados. — Me distrair com
piadas sobre boquete não vai funcionar agora.
— Eu sei. — Estou realmente preocupada. Ele parece estar à
beira de um completo ataque de pânico. — Nós vamos fazer o
seguinte. — Afasto as cobertas e rastejo em direção a ele.
Ele sai de seu torpor aterrorizado, seus olhos se arregalando. —
O que você está fazendo?
— Te abraçando — digo a ele.
Ele fica ainda mais alarmado, e tenho certeza que se afastaria se
fosse capaz de se mover. — O que? Não.
— Sim. — Eu me aconchego ao seu lado. Deus, ele está frio. Eu
levando, me apoiando nos joelhos. Ele dá um suspiro de alívio
aparente, mas eu apenas puxo a ponta das cobertas sobre suas
pernas antes de me deitar novamente.
Ele se contorce, fazendo uma tímida tentativa de se afastar, mas
ele já está na ponta da cama e não há mais para onde ir. — Isso é
extremamente inapropriado...
— É. Mas estamos fazendo mesmo assim. — Em situações
normais, eu não ousaria forçar uma pessoa a isso. Mas ele já está
focando em mim ao invés de na turbulência, o que é um passo na
direção certa. Eu descanso minha bochecha contra seus bíceps. O
músculo é duro como uma rocha e está tremendo.
Ele limpa a garganta. — Eu não...
— Você está a um passo de perder a cabeça. Aceite a tortura
que é o conforto físico.
Seus braços se contraem como se estivesse tentando não
erguê-los, mas realmente quisesse. E então ele desiste da luta e
ergue um deles, abrindo espaço para eu me aproximar. Vitória.
Deito minha cabeça em seu ombro, envolvendo meu corpo contra
sua lateral.
O contato é bom. Bom demais. Porque, santo inferno, tocá-lo –
realmente tocá-lo – envia um calafrio de prazer através de mim.
Todas as terminações nervosas sensíveis do meu corpo parecem
acordar e prestar atenção. E isso é tão errado; estou aqui para
ajudar o pobre homem, não me aproveitar dele.
Não tenho ideia do que ele está pensando. Por um segundo, ele
me abraça de volta. Ou melhor, me segura como uma tábua da
salvação. Tremores atormentam seu corpo, mas fica claro que ele
está lutando contra isso.
— Shhh... — murmuro, acariciando seu peito. É um belo peito,
largo e cheio de músculos densos por baixo de suas roupas sob
medida. Seu coração bate contra a palma da minha mão, e eu o
sinto respirar fundo. — Apenas pense em mim como uma amiga
carinhosa qualquer que gosta de sair por aí abraçando os outros.
Ele fica quieto novamente antes que outra pergunta exploda
dele. — Você está me dizendo que faria isso por qualquer um?
Eu me aconchego. — Não. Você ser insanamente gostoso foi um
fator decisivo. Assim posso tirar uma casquinha sob o disfarce de
dever cívico.
— Ah, pelo amor de Deus.
Um sorriso puxa meus lábios. — Já deu com o lance da
indignação, ok? Eu sei que a maioria das pessoas ficaria feliz em se
enroscar com um cara gostoso. Se admitir isso faz de mim uma
pessoa superficial, que seja.
Ele grunhe enquanto sua mão desliza para o topo do meu braço.
Dedos longos me acariciam uma vez antes de parar. — Sua
honestidade é impressionante.
— Eu sei. Agora, fique quieto, tenho casquinhas para tirar. —
Desço a mão apenas um pouco por seu peitoral firme, amando a
maneira como seu abdômen se contrai por causa de sua respiração
presa. Estou brincando com ele, mas caramba, ele é bem
construído. Eu me forço a parar. Só que quando paro, ele fica tenso
e os tremores retornam. Percebo que meu cafuné realmente o
acalma.
Considero isso um sinal verde. Afundando em seu abraço, afago
seu peito e murmuro baixinho. Ele relaxa lentamente, seu corpo se
aconchegando mais ao meu, e meus seios pressionam contra a
lateral de suas costelas. O avião continua a sacudir e a tremer, e é
uma batalha conseguir mantê-lo calmo. É dar um passo para frente
só para uma turbulência idiota me fazer dar dois pra trás.
— Acho que devemos nomear nossos filhos com números —
digo a ele.
Seus músculos se apertam e se movem sob minha bochecha.
Quase posso ouvi-lo debater internamente sobre como responder.
— Ouso perguntar o por quê? — Ele diz finalmente.
— Já que teremos tantos, números parecem mais fáceis. Nós
podemos fazer como o rei de Stardust. Una, Secundus, Septimus...
— Isso parece excessivamente cruel. Pense em todo o bullying
que eles receberão no ensino fundamental.
— Eles serão durões demais para serem intimidados. E vejo que
você está começando a gostar da ideia.
Eu sorrio quando ele resmunga. Não é um não – está mais para
um você é louca. Posso trabalhar com isso.
— Eu odeio isso — diz ele.
— Ficar abraçadinho? — Mas eu sei o que ele quer dizer.
Sua risada é irônica e breve. — Fraqueza.
— Todo mundo tem medo de alguma coisa.
— Do que você tem medo? — Ele retruca, parecendo duvidoso.
De nunca ser boa o suficiente. Se ser usada e depois
descartada. Engulo em seco. — Maremotos. Tenho pesadelos onde
sou levada pela onda. Eu culpo todos aqueles filmes de desastres
naturais.
— De alguma forma eu suspeito que você seria do tipo que
sobreviveria.
Eu sorrio diante disso.
Uma lufada de calor no topo do meu cabelo me faz perceber que
ele pressionou os lábios na minha cabeça e está respirando contra
mim. — Qual a cor do seu cabelo natural? — Ele pergunta quase
preguiçosamente.
— Essa é uma pergunta muito direta, Sr. Scott. — Turbulência à
parte, nossa pequena cabine é bastante aconchegante com os
acabamentos cor de creme e as luzes fracas.
— Supostamente serei o pai de pelo menos sete dos seus filhos.
Me parece uma pergunta bastante justa para se fazer.
O avião sofre um baque particularmente desagradável, e ele
respira fundo bruscamente. Aproximo-me mais, meu nariz se
enchendo com o perfume de sua colônia e, por baixo dela, de seu
suor frio.
Fechando meus olhos, estendo minha mão, pressionando minha
palma contra seu abdômen, onde seus músculos tremem. — Eu sou
loira.
— Posso ver isso — ele diz.
— Loira natural, quero dizer. Desta vez, fiquei vários alguns tons
mais clara. Na semana passada eu tinha cabelos azuis. — Sorrio
um pouco, imaginando como ele teria reagido a isso.
— Não estou nem um pouco surpreso.
— Humm... — A ponta do meu dedo brinca com uma dobra em
seu suéter, que é de caxemira - e ainda me ressinto que pareça tão
bem nele. A barra subiu, expondo sua camisa por baixo. Meus
dedos deslizam para um dos botões.
Assim que meu dedo descansa contra o pequeno círculo, o ar
parece ficar mais denso. Meu corpo parece mais pesado, de alguma
forma, como se a intenção o deixasse carregado e quente.
Porque sinto os abdominais firmes por baixo de sua camisa, e
agora sei como chegar neles. E sabe o que me deixa ainda mais
quente? Sei que ele sabe disso também. Nós dois parecemos
prender a respiração.
Eu o desabotoo.
É como se eu tivesse tocado um acorde. A tensão vibra entre
nós tão forte que quase consigo ouvi-la. Gabriel endurece, seu
abdômen se contraindo, seus dedos interrompendo a exploração
nos meus cabelos.
O que diabos você está fazendo, Sophie? Pare agora. Meus
dedos não parecem entender a mensagem. Eles deslizam pelo
espaço aberto em sua camisa para encontrar a pele quente e macia
por baixo.
Que inferno. Porque ele é quente, sua pele firme e dura, e eu
quero mais. Meus dedos mal se movem. Como se, se eu fosse
discreta, ele não notasse que eu o estava apalpando. Até parece.
Eu limpo minha garganta, procurando minha voz, que sai
enferrujada. — Cabelo ruivo é sempre divertido. Tantos tons para
experimentar.
Sim, continue falando e você não parecerá uma pervertida
nojenta. Ótima ideia.
Parece que não consigo calar a boca. — Vermelho brilhante.
Laranja. Loiro morango. — Ótimo, você parece o Bubba Gump dos
tons de coloração.
Ele resmunga, seu corpo rígido, inflexível, mas ele não protesta
contra meus dedos itinerantes. Não diz uma maldita palavra. O que
diz muito, na verdade. Porque esse cara não é do tipo que ficaria
calado se não quisesse.
Um núcleo de calor se forma ao sul da minha barriga ao
perceber que ele está me deixando explorar.
Gentilmente, afago o pequeno pedaço de pele que consigo
alcançar. A ponta do meu dedo desliza sobre a pele macia para
encontrar cabelos ásperos.
Jesus numa bicicletinha, ele tem um caminho da felicidade.
A vontade de seguir essa trilha de pelos é tão forte que quase
gemo. Eu cerro os dentes e respiro fundo. — Eu também tive cabelo
roxo. Verde, no entanto, não me favorece.
Sem minha permissão, meus dedos deslizam para baixo até o
local onde o próximo botão está preso, esperando que eu o abra.
Todo o seu corpo congela, como se ele tentasse não se mover. Mas
quando começo a liberar esse pequeno botão, ele respira fundo e
sua mão cobre a minha.
É quente, firme e claramente afirma: já chega.
E nada é mais eficaz em me tirar dessa loucura. Porque, de
verdade, o que diabos eu estou fazendo? Eu nem gosto desse cara.
Tá, eu meio que gosto. E isso é uma merda. “Caminho sem volta”
poderia estar estampado na testa de Gabriel Scott.
O avião começa a chacoalhar forte novamente. Gabriel
estremece, nosso momento estranho esquecido, e se agarra à mim
mais uma vez, sua respiração irregular.
Conforte. Não apalpe. Apenas conforte.
Isso eu posso fazer. Eu acho.

O , céus, foi assim que os poderosos caíram. Se alguém tivesse


evidências fotográficas da minha situação atual, minha reputação de
bastardo assustador estaria acabada. Eu quase posso ouvir as
risadinhas – o grande e implacável Scottie agarrado à uma mulher
como se ela fosse seu ursinho de pelúcia.
Killian falaria pelo resto da vida. Eu nem quero imaginar as
merdas que eu ouviria de Brenna.
De certa forma, seria preferível mergulhar para a morte certa.
Isso foi uma coisa estúpida a se pensar. O terror corre através do
meu corpo, fazendo meus pelos se arrepiarem e meus membros
formigarem. E me pego agarrando um pouco mais firmemente a
mulher estranha e suavemente curvilínea ao meu lado. Talvez isso
seja realmente um pesadelo; nada parece real ou faz muito sentido.
Não tenho conversas contínuas com estranhos, especialmente
com mulheres ingovernáveis, tagarelas e irreverentes. E eu
certamente não abraço. Nem me lembro da última vez que segurei
uma mulher. A sensação é tão estranha, mas também agradável.
Meu corpo inteiro parece estar implorando por um contato maior,
minha pele sensível e quente sob minhas roupas. Quero arrancar
todas elas ferozmente. Quero sentir pele contra pele, o calor e a
suavidade de sua carne.
Não vou pensar no fato de que ela enfiou os dedos por baixo da
minha camisa para acariciar meu abdômen. O fantasma de seu
toque ainda queima como ferro em brasa na minha pele.
No segundo em que ela brincou com os botões da minha
camisa, fiquei intensamente e dolorosamente duro. Eu quase a
deixei perceber. E se ela tivesse descoberto? Eu teria implorado
para ela apertar, esfregar ou friccioná-lo. Eu provavelmente teria
prometido qualquer coisa a ela para que continuasse me tocando.
Alarmante, para dizer o mínimo. Nunca consigo prever o que
essa mulher vai dizer ou fazer de um momento para o outro. Para
um homem cuja vida gira em torno de exercer controle sobre todas
as coisas, essa faísca de atração é indesejável e perturbadora.
No entanto, apesar de tudo, eu ainda prefiro isso ao abismo de
medo estúpido em que estava antes de Sophie Darling me agarrar
como um imã.
Aproveito a oportunidade da nossa proximidade para realmente
observá-la. A princípio, achei que ela fosse agradável de se olhar,
mas que não tinha nada de impressionante. Eu estava errado.
Seu perfil, claro contra o cinza do meu colete, é um estudo de
curvas graciosas, feições suaves e linhas delicadas – não
meramente agradável, mas bonita de um jeito doce. No entanto, é a
pele dela que chama minha atenção.
Eu já estive com mulheres de todos os tons de pele – do mais
profundo marrom rosado ao branco pálido – e nunca considerei isso
como uma estrutura básica da beleza geral da mulher. Em resumo,
a pele como uma característica singularmente atraente nunca
passou pela minha mente.
Mas a pele de Sophie Darling é uma beleza. Porque é luminosa,
extremamente suave e lisa, não há um defeito à vista. Sua
tonalidade dourada me lembra bolachas amanteigadas. Por outro
lado, tudo sobre Sophie me lembra algum tipo de doce: tentador,
mas, no final das contas, faz mal para a saúde.
Não importa. Quanto mais eu olho para a pele dela, mais quero
tocá-la apenas para ver se é tão acetinada quanto parece. Penso
em Marilyn Monroe – o jeito como ela parecia na tela, impecável e
brilhante. Mas aquela beleza vinha de maquiagem e boa iluminação.
Estou perto o suficiente para saber que Sophie não está usando
base ou pó.
Sem minha permissão, minha mão sobe pelo braço dela, e eu
traço a curva de seu ombro, indo em direção à sua pele nua. Ela fica
muito quieta, como se estivesse acompanhando o progresso. Eu
também estou, meu coração batendo contra minhas costelas.
Quase posso ouvir a batida gritando, pare, pare, pare. Mas eu não
paro.
Apenas um toque. Isso é tudo. Vou satisfazer minha curiosidade
e seguir em frente.
A ponta do meu dedo roça a borda da sua clavícula. E eu fecho
meus olhos, lutando contra um gemido. Mais delicada que cetim.
Mais suave que veludo. Suave, quente. Eu respiro fundo e
lentamente solto o ar. Minha mão cai na segurança da cama.
Está muito quieto e esse maldito avião ainda está balançando.
Continue falando. Sobre qualquer coisa.
Eu não tenho capacidade para conversa fiada. O que significa
que estou na merda.
— Por que você está indo para Londres? — Eu deixo escapar. —
Férias?
Francamente, estou surpreso que uma mulher como Sophie
esteja viajando sozinha. Ela parece do tipo que precisa de
companhia, alguém com quem compartilhar suas experiências. A
ideia dela vagando por Londres sozinha não me cai bem, o que é
ridículo. Ela é uma mulher adulta.
Como se para pontuar esse pensamento, ela faz um som irônico.
— Na verdade, estou viajando a negócios.
— Sério? — Surpresa preenche minha voz, infelizmente.
E ela bufa. — Pois é, a cabeça de vento com peitos grandes tem
um cérebro.
Cristo, não mencione seus peitos. Já é difícil ignorá-los contra
minhas costelas. — O que o tamanho dos seios têm a ver com o
cérebro?
Sua bochecha desliza sobre a minha camisa, e eu sei que ela
está olhando para mim. — Você realmente parece ofendido.
Olho para ela, observando seus grandes olhos castanhos e
lábios vermelhos. — Eu estou. Você sugeriu que eu sou sexista. Eu
não sou. Embora concorde com a parte sobre ser cabeça de vento.
Não consigo imaginar você sendo séria sobre alguma coisa.
Seu nariz empinado enruga quando ela faz uma careta, e a
ponta de seu dedo cutuca minhas costelas. Me seguro para não
soltar um grito. Deus me ajude se ela descobrir que sinto cócegas.
— Muito engraçado — diz ela, descansando a cabeça no meu
ombro mais uma vez.
Puta merda, isso é bom demais.
Sua voz se eleva, me distraindo. — Mas acho que mereci essa.
Ela merece minha gratidão por ter me salvado da humilhação
mais uma vez. Suspiro e deixo minha mão pousar no topo de sua
cabeça. Não há desculpa para fazê-la se sentir mal por isso. — Me
conte sobre o seu trabalho.
Estamos tão perto que posso sentir seu corpo tensionar.
— Ah, bom, não há muito o que dizer.
Quando não digo nada, apenas olho para ela, esperando. Suas
bochechas redondas coram e ela pigarreia. — Vou ser entrevistada
para um novo trabalho.
— E porque você está se contorcendo como um peixe em um
anzol?
O nariz dela se enruga novamente. Tenho o desejo louco de
beijar a ponta. Provavelmente isso a chocaria e a reviravolta seria
justa. Mas eu mantenho minha dignidade. Porque ela começa a
balbuciar.
— Bem, eu realmente não sei qual é o cargo. Quero dizer, tenho
uma ideia geral, mas se você quiser detalhes, não tenho realmente
nada a dizer...
— Você está me dizendo que está viajando para outro país para
se entrevistada para um trabalho que você nem sabe qual é? —
Minha voz aumenta algumas oitavas. Essa garota... Não tenho nem
palavras. — Você sabe pelo menos com quem vai se encontrar?
Diga-me que você não gastou todo o seu dinheiro em uma
passagem de primeira classe sem saber exatamente por que estava
vindo.
— Ei. — Ela me cutuca. — Não fique todo Duque comigo de
novo. — Um suspiro escapa dela quando se aconchega em mim. —
Não, eu não sei quem eu vou me encontrar. Tenho um nome e
algumas referências de pessoas com as quais trabalhamos em
comum. E não, não gastei todo o meu dinheiro...
— Bem, isso é um...
— Eles estão pagando minha passagem.
— Puta merda.
Sua cabeça se levanta, mechas loiras quase brancas se
espalhando no meu colete cinza. — O que? Por que isso é tão
ruim?
— Suponho que você já tenha ouvido a expressão “Quanto mais
você sabe…”? Se alguém se oferece para pagar seu voo
internacional só pela entrevista, convém que você saiba exatamente
por que ele está disposto a pagar pela oportunidade e o que
exatamente se espera de você.
— Ah, eu sei por que eles se ofereceram para pagar.
— Mal posso esperar para saber.
Outra cutucada, essa muito próxima do ponto onde sinto
cócegas. Eu estremeço.
— Porque sou a melhor no que faço — diz ela.
— E o que você faz? — Por favor, não diga que é stripper.
Tudo bem, talvez eu seja sexista.
Orgulho se infiltra no seu tom de aço. — Marketing de redes
sociais e fotografia de estilo de vida.
— Ah sim. Isso eu posso imaginar.
Os olhos dela se estreitam. — Você com certeza estava
pensando em acompanhante de luxo, não estava?
— Nada do tipo.
É impressionante como uma mulher que tem o rosto doce de
uma boneca kewpie consegue encarar os outros com tanta eficácia.
Eu tenho que reprimir o desejo de confessar tudo. Eu levanto uma
sobrancelha e a olho de volta.
Os olhos dela se estreitam ainda mais. Eu juro, é como Matar ou
Morrer em um avião.
— As redes sociais são um componente essencial da maioria
das empresas atuais — ela me diz.
— Sra. Darling, esconda suas garras. Estou totalmente de
acordo com você. — Na verdade, a banda poderia ter algumas
aulas para melhorar sua presença nas redes sociais, e tenho
incomodado Brenna há meses para fazer isso acontecer.
Não é que eles não tenham seguidores, mas quando Jax tentou
se suicidar a banda se afastou dos holofotes, deixando seus fãs e a
indústria preencherem os espaços em branco e fazer as suposições
erradas – algo que me incomoda em um nível pessoal. Kill John é
muito mais do que o que o mundo pensa deles.
Sophie ainda está me olhando com uma expressão duvidosa,
como se frequentemente recebesse críticas por sua escolha de
profissão. Tentar reprimir as esperanças e os sonhos dessa mulher
vivaz e intuitiva deveria ser um crime.
Faço um esforço para suavizar meu tom. — Talvez você devesse
começar do começo.
— Não, se você vai me dar um sermão — diz ela com uma
fungada.
— Eu não prometo nada. — Dou um puxão em seu cabelo de
leve. — Fale, garota tagarela. É tudo o que temos para fazer neste
tubo do inferno.
Ela franze os lábios. O batom vermelho da cor de um caminhão
dos bombeiros desapareceu, deixando apenas uma mancha fraca.
Ela parece mais suave, vulnerável de uma maneira estranha. Uma
pequena cicatriz corta o canto externo do lábio superior. A linha
prateada desbotada é diabólica por sua posição, como uma
pequena provocação: chupe bem aqui, cara. Meus dedos se cerram
em um punho para me impedir de estender a mão e tocá-la.
Controle-se, Scott.
— Tudo bem, — diz ela, aconchegando-se novamente com a
eficiência de um gato. Fecho os olhos e me concentro no som de
sua voz. — No ano passado, estive trabalhando como contato de
redes sociais, ajudando as pessoas a escreverem conteúdo criativo
para Twitter, Instagram, Facebook, Snapchat e assim por diante.
— Você os ensina a ser espirituosos.
— Isso soou perigosamente parecido com um elogio.
— Mas foi um.
O som de sua risada reverbera direto nas minhas entranhas. —
Dois em uma noite? Ah, que choque. Eu posso nunca me recuperar.
Dou outro puxão no cabelo dela. Os fios deslizam com facilidade
e maciez ao redor dos meus dedos. — Continue.
— Sim, eu os ensino como destacar suas personalidades e
conquistar novos seguidores. Tive sorte em conseguir meu último
cliente. — Ela me diz o nome de uma estrela em ascensão da
televisão com quem Brenna e eu bebemos em Nova York há um
mês. O quão pequeno é o mundo às vezes chega a ser uma coisa
estranha.
Os longos cílios de Sophie sombreiam suas bochechas enquanto
ela se concentra em algum ponto distante. — De qualquer forma,
com ele, eu melhorei o meu negócio, tirando fotos também. É
engraçado - tudo sobre as fotos era totalmente encenado, artístico,
esse tipo de coisa, mas seus seguidores amaram e acreditaram que
era tudo espontâneo.
— Nós vemos o que queremos ver — murmuro.
— Sim, e construímos sonhos como se fossem castelos de areia
em torno das celebridades. Tudo o que precisamos é de uma janela
para a vida deles para começar.
— E é isso que você fornece.
Ela assente, sua bochecha esfregando meu peito. — De
qualquer forma, recebi um e-mail do meu cliente, dizendo que um
conhecido dele queria me entrevistar para um grande trabalho na
Europa. Ele nos colocou em contato e me pediram para ir a
Londres, com todas as despesas pagas. Acho que é alguém bem
famoso; me disseram que me dariam mais detalhes pessoalmente
para proteger a privacidade do cliente.
— A coisa toda da primeira classe foi uma surpresa agradável.
Cheguei ao balcão e me disseram que eu havia sido transferida
para a primeira classe.
— A companhia aérea disse especificamente que você foi
promovida?
Ela franze a testa em confusão. — Eu estava esperando pela
econômica. Quero dizer, quem envia um futuro entrevistado na
primeira classe?
— Depende do entrevistador. Talvez a sua passagem sempre
tenha sido para a primeira classe — eu indico. — Embora eu ainda
não entenda por que eles te deram meu lugar extra.
— Ainda irritado com isso?
— Nunca foi pessoal — digo a ela baixinho. Independentemente
do que as pessoas pensem sobre mim, eu não me esforço para ser
um bastardo.
A pressão da palma da mão contra o meu abdômen aumenta. —
Eu entendo — diz ela. — Você não queria nenhuma testemunha.
Garota esperta.
Ela sorri um pouco. — Só para constar: estou feliz por estar aqui.
Eu também.
Quando não digo nada, ela me cutuca. — Admita. Eu deixei tudo
melhor.
— Nenhum outro vôo em que estive pode se comparar — digo a
ela sinceramente. — Precauções de segurança à parte, certamente
essa empresa te deu um nome.
— Sim, eu tenho um nome. — Ela me dá um sorriso brilhante,
como se tentasse aliviar minha ansiedade. — Vou encontrar o Sr.
Brian Jameson no... Por que você está ficando verde? Merda, você
vai vomitar?
Eu poderia. Eu quase rio, completamente descontrolado, no
estilo ah-foda-se-tudo-isso. Não estou nem surpreso que "Brian"
seja o entrevistador dela. É quase inevitável, a parte que faltava
neste encontro estranho com essa garota tagarela.
Ao meu lado, Sophie se apoia no cotovelo e a auréola de seus
cabelos da cor do luar parece brilhar em torno de seu rosto
preocupado – embora, na verdade, seja a iluminação barata do
avião e minha imaginação hiperativa. Ela é apenas uma garota de
cabelos descoloridos e talento para conversa fiada.
Mentira. Ela é mais do que isso. Ela é intocável.
— Raio do sol, você está me assustando.
— Desculpe, — eu digo, recuando. — Estou simplesmente me
adaptando ao fato de que estive abraçando uma funcionária em
potencial.
CAPÍTULO QUATRO

É descobrir que você está enrolada com um


homem que trabalha com o seu chefe em potencial pode matar o
clima de maneira rápida e efetiva. Não que eu esperasse alguma
coisa do sufocante mas extremamente gostoso Gabriel Scott. Eu
não tinha ilusões sobre o fato de que nos separaríamos assim que o
avião pousasse.
E, sério, seria o melhor. Eu jurei que pararia com as ficadas, já
que concluí que elas são ruins para minha saúde mental. Eu lidei
com babacas demais para continuar com o sexo casual. Mesmo se
eu estivesse disposta, Gabriel não está exatamente oferecendo
isso. Eu nunca conheci um homem mais reservado e espinhoso.
Me pergunto se ele é simplesmente arrogante – um homem bem
formado que não se digna a se misturar com mulheres comuns
como eu. Mas está bastante claro que ele é assim com todo mundo.
Então, sim, deixar esta bela criatura para trás sempre fez parte
do plano. Talvez seja por isso que me senti tão livre para ser
totalmente eu mesma com ele. E daí se ele achar que sou uma
pessoa carente quando não somos nada além de estranhos
forçados a suportar a companhia um do outro por uma noite de
viagem?
Mas agora tudo está de cabeça para baixo. Eu o verei na
Inglaterra. Ele trabalha com Brian Jameson, que, segundo ele, é na
verdade o nome falso de Brenna James, que administra o
departamento de relações públicas de sua empresa.
Não sei por quê Brenna James precisou me dar um nome falso,
mas isso definitivamente desperta meu interesse.
Gabriel não poupa tempo ao se afastar do meu abraço e colocar
o máximo de espaço possível entre nós. A turbulência passou,
então não há desculpa para permanecermos juntos de qualquer
maneira. Passamos o resto do voo em um silêncio constrangedor.
Logo antes de chegarmos a Londres, tento convencê-lo a falar
sobre o trabalho, sobre Brenna. Mas ele se recusa, me dizendo que
a deixará explicar tudo.
O único ponto positivo da minha insistência é que ele fica
ocupado demais discutindo comigo para prestar atenção no pouso.
— Vou pedir para meu motorista te dar uma carona até o seu
hotel — diz ele, enquanto desembarcamos e entramos no terminal
de Heathrow.
Como é tarde da noite e estou em um país estrangeiro, não
estou inclinada a discutir. Na verdade, estou agradecida e mais do
que um pouco chocada com a sua oferta. — Obrigada. É muito
gentil da sua parte.
Ele me olha como se eu estivesse sendo ridícula, mas assente
em reconhecimento. — Suponho que você tenha bagagem?
— Claro, — digo a ele, olhando em volta para as lojas fechadas
que se alinham no caminho. — Você não? Ou suponho que você
more em Londres.
— Minha residência principal fica em Nova York agora. Mas
mantenho um guarda-roupa aqui na minha casa em Londres.
Imaginando uma vida na qual eu viaje de primeira classe pelo
mundo e tenha guarda-roupas e casas esperando por mim, quase
não vejo a esteira de bagagens. Graciosa como sempre.
Gabriel, no entanto, anda exatamente como eu esperava que
andasse: como um homem acostumado à pessoas saindo de seu
caminho. Seu passo é suave, rápido e confiante.
Aqui em terra firme, posso apreciar o efeito total que ele tem
sobre os outros. As pessoas realmente abrem caminho para ele. É
fascinante – elas simplesmente se separam como o proverbial Mar
Vermelho e o admiram quando ele passa.
Enquanto a beleza masculina de Gabriel é realmente de tirar o
fôlego, a força dele é mais terrena, quase brutal. A maioria das
pessoas carismáticas faz com que você queira fazer parte de seu
círculo íntimo, faz você se sentir especial. Com Gabriel, a
mensagem é muito diferente: aqui está um homem com quem você
não brinca.
Ele não fala comigo enquanto caminhamos, concentrando sua
atenção no celular. Aparentemente, ele tem um milhão e meio de e-
mails para responder. Sua habilidade de mandar mensagem
enquanto caminha é impressionante, embora eu ache que ajuda o
fato de não precisar se preocupar em esbarrar com alguém.
Paramos na esteira de bagagens.
— Você vê suas malas? — Ele pergunta, com o nariz enfiado no
telefone.
Além da minha bagagem de mão, que contém minha câmera e
equipamento – de jeito nenhum eu ia perder meus bebês de vista –
tenho duas malas grandes. Eu costumo viajar com menos bagagem,
mas “Brian” sugeriu que eu fizesse as malas para uma estadia
prolongada, caso eu conseguisse o emprego.
— Ainda não.
— Cor?
— Vermelhas.
O canto da boca dele se levanta. — Não estou surpreso.
— Deixe-me adivinhar, — pergunto enquanto ele tecla no
telefone. — Se você precisasse de uma mala, ela seria tão preta
quanto a sua alma imortal.
Ele enfia o telefone no bolso e me olha. Diversão ilumina sua
expressão. — Por acaso, minha mala é de couro de jacaré marrom
escuro.
— Eu não sei por que me incomodo em te provocar — murmuro.
Mais uma vez, a insinuação de um sorriso flerta com as bordas
de seus lábios. — Você é persistente. Isso eu admito.
Vejo minhas malas, mas antes que eu possa pegá-las, ele pede
para um carregador nos ajudar e seguimos até a saída. São dez da
noite, o que é perturbador, já que passamos uma noite inteira no
avião. Os táxis são escassos e a maioria das pessoas estão sendo
recebidas por seus entes queridos.
A solidão crava suas garras em minha barriga. Eu odeio pousar
em lugares novos à noite. É sempre como se eu fosse ser deixada
para trás e tivesse que acabar dormindo no banco do aeroporto.
Hoje não é assim. E outra onda de gratidão me varre quando
Gabriel me guia para o Rolls Royce Phantom preto esperando no
meio-fio, seu motorista já abrindo a porta.
Gabriel gesticula para eu entrar. Mas então faz uma careta. —
Você não vai pular no banco enquanto grita wheeee, vai?
Eu estreito os olhos para ele. — Eu não sou completamente sem
modos, sabia?
Ok, talvez eu fosse fazer isso se ele não tivesse mencionado.
— Estive num avião com você por sete horas — ele me lembra
enquanto me segue para dentro do carro.
Eu tenho que cerrar os dentes, porque, puta-merda-wheee, esse
carro é incrível. Quero tanto esfregar minhas bochechas contra o
couro macio como manteiga e brincar com a variedade de botões
que meus dedos se contraem.
Gabriel me olha por um longo momento enquanto o motorista
fecha a porta com um baque suave. — Vá em frente, — diz ele em
uma voz persuasiva. — Dê só um pequeno pulinho. Você sabe que
está louca para fazer isso.
Com seu olhar pesado e tom ronronante, ele faz a coisa toda
parecer ilícita. Cruzo as pernas e seus olhos acompanham o
movimento. Suas pálpebras caem um pouco mais, e um arrepio de
calor indesejado sobe por baixo da minha camisa.
— Eu estou bem — digo a ele com falsa leveza.
Ele resmunga em resposta. O carro se afasta do meio-fio com
suavidade e potência, e eu relaxo no meu assento macio com um
suspiro. Aconteça o que acontecer daqui em diante, ainda terei esse
pequeno momento de total conforto.
Ficamos em silêncio enquanto o carro se dirige para Londres.
Não consigo olhar pela janela sem ficar desorientada; é
simplesmente errado dirigir do lado esquerdo da estrada. Continuo
esperando a colisão com um carro vindo da direção oposta.
Gabriel já está de volta ao telefone. Desta vez, ele está
conversando com alguém chamada Jules, enchendo-a de perguntas
– se a casa dele está pronta, se alguns contratos chegaram e assim
por diante. O tom frio e uniforme de sua voz me acalma na quietude
aconchegante do carro.
Inclino a cabeça para trás e fecho os olhos – até ouvir sua última
pergunta: o quarto de hotel está pronto e suficientemente preparado
para a Srta. Darling?
Ouvi-lo discutir sobre o meu acordo de hospedagem me lembra
do fato de que estou realmente fazendo a entrevista para a empresa
dele. E não consigo decidir se estou decepcionada ou animada.
Talvez um pouco dos dois.
— Você não vai tentar convencer a senhorita James a desistir de
me contratar, não é? — Eu pergunto quando ele desliga a chamada
com Jules.
— Porque nós passamos um tempo juntos no avião, você quer
dizer? — Sua sobrancelha se ergue e seus lábios se achatam. —
Eu seria um idiota completo se fizesse isso.
— Suas palavras, não minhas.
— Você está dizendo que me acha um idiota? — Ele parece tão
honestamente ofendido, e até um pouco magoado, que
instantaneamente me sinto pequena e mesquinha.
— Não, não. Eu sinto muito. Não sei o que diabos estou dizendo.
— Eu gesticulo com a mão porque não consigo ficar parada. —
Estou confusa. Não é todo dia que você antagoniza seu possível
empregador por horas a fio.
Um pequeno sorriso surge nos cantos externos dos olhos dele.
— Sim, bem, tecnicamente eu não sou seu empregador. Brenna e
eu somos uma espécie de parceiros. Mas vou anotar o seu remorso.
— Remorso implica que eu fiz algo errado. Isso está mais para
um estranho embaraço.
O sorriso se move para a boca dele, erguendo-a nos cantos.
Mas ele não vai deixar isso acontecer. Eu me pergunto se algum dia
verei esse homem sorrir com facilidade. Me pergunto quanto tempo
terei para conhecê-lo. Minhas chances de conseguir um emprego
em um negócio do qual ele faz parte parecem pequenas. Eu não
sou do tipo que usa roupa social.
— Você ainda não vai me dizer o que faz? — Pergunto.
— Você pode pesquisar o meu nome ou o de Brenna a qualquer
momento. — Ele gesticula em direção à minha bolsa com uma
inclinação de seu queixo arrogante e teimoso. — Então faça isso.
Pegue seu telefone e pesquise.
Ah, eu fico tentada. Muito tentada. Mas parece trapaça de
alguma forma. — Talvez eu queira que você confie em mim o
suficiente para me dizer.
Um suave ruído de escárnio lhe escapa. — Não é uma questão
de confiança. Eu dificilmente considero isso um segredo, já que
você descobrirá em breve. É mais uma questão de respeitar o
desejo em parte zeloso mas aparentemente inflexível de Brenna, de
te manter desinformada até a entrevista.
Eu me afundo no assento de couro com um bufo. — Você está
certo. Também respeitarei os desejos dela. Mas isso significa que
terei que usar minha imaginação.
— Sem dúvida você estará me vendo como um espião
internacional quando chegarmos — ele diz, embora a diversão brilhe
em seus olhos.
— Ei, eu só pensei isso uma vez.
Os cantos de seus lábios tremem e o telefone toca. Ele olha para
a tela antes de digitar uma mensagem.
— É a Brenna?
— Tagarela e intrometida. — Ele não levanta os olhos do
telefone. — Uma combinação imbatível.
— Você ama isso, — eu retruco com falsa ousadia. Meu
nervosismo está começando a me deixar agitada. E estou pensando
seriamente em cutucá-lo apenas para obter uma resposta - e acho
que ele sabe, porque olha para mim e aquela expressão severa de
antes retorna.
— Sim, era a Brenna. Eu a informei que tinha o pacote a bordo e
pronto para entrega.
— Ha-ha.
Ele se vira para mim em seu assento, inclinando-se contra o
canto, seu grande corpo esparramado como se um anúncio da
Armani tivesse ganhado vida. Toda aquela beleza masculina se
concentra em mim; é como estar sob as luzes de um palco —
expositoras, ofuscantes, quentes.
Eu tento não me contorcer. Me pergunto se algum dia poderei
olhar para ele sem ficar sem fôlego e com o cérebro meio mole.
Felizmente, nosso olhar é quebrado quando o carro para diante
de um pequeno hotel com uma fachada modesta. A porta é de estilo
vitoriano, com tinta verde brilhante, janelas de vidro ornamentadas e
um toldo preto simples para proteger os visitantes das chuvas.
Parece limpo e bonito, mas não um lugar que eu imaginaria que
Gabriel Scott, com suas roupas perfeitamente sob medida e
maneirismos nítidos, ficaria. Não tem nem um porteiro. Gabriel é
definitivamente o tipo de cara que precisa de um porteiro.
Mesmo assim, aqui estamos. Eu passo as mãos na minha calça
legging preta lisa. Cristo, eu deveria ter me arrumado melhor para o
voo. Eu nem me lembro que roupa eu trouxe para a entrevista. Será
que vai dar certo? Brenna estará esperando por nós agora que
Gabriel a alertou? Eu pensei que teria até amanhã de manhã para
conhecê-la.
— Sophie, — diz Gabriel, sua voz profunda soando uniforme e
baixa. — Você está se preocupando à toa.
— Eu não estou me preocupando.
Sua sobrancelha se ergue, me desafiando.
Eu cutuco a bainha da minha camisa. — Ok, digamos que talvez
um pouco de preocupação esteja ocorrendo.
— Você vai se encaixar bem. Perfeitamente, na verdade. — Ele
franze a testa como se isso o incomodasse.
Ou talvez ele esteja apenas me tranquilizando. — Se ela é como
você...
— Ela não é. — Ele se endireita e ajusta os punhos da camisa. É
um tique nervoso. Mas não sei o que o está deixando ansioso. —
Nenhum deles é como eu. Você vai amá-los.
Eu quero perguntar quem são eles. Mas não gosto da implicação
que ele fez sobre si mesmo. — Eu gostei de você — digo a ele.
— Bem, isso é ótimo. — Ele bate na janela. O motorista abre a
porta, claramente esperando pelo sinal de Gabriel. — Se tudo correr
bem, você estará me vendo bastante.
Ele não faz isso parecer uma coisa boa.

O , após Gabriel se certificar que fiz o check-in


corretamente – ele se recusou a me deixar no meio-fio e ficou
ofendido por eu ter assumido que ele me deixaria lá – eu estava tão
cansada que entrei no meu quarto e me arrastei para debaixo das
cobertas.
Eu não caí no sono imediatamente, o que foi irritante, mas
estava escuro, e os sons do tráfego que atravessavam as enormes
janelas antigas me lembravam de casa, então eu estava contente
em só ficar deitada ali.
Agora, à luz do dia, estou vestida com meu vestido azul-petróleo
favorito dos anos 60, com mangas três quartos. Botões pretos
descem por uma coxa e um babado provocante da mesma cor
dança ao longo da bainha. Estou usando saltos baixos também
combinando com a cor dos botões e meu cabelo está preso em um
coque.
Eu poderia ter optado por algo mais conservador, mas isso seria
uma mentira. Eu não sou conservadora e nunca serei. E, na
verdade, se Brenna James me contratar para dirigir sua campanha
de redes sociais e ser sua fotógrafa, eu usarei calças jeans mais do
que qualquer outra coisa.
Eu me ajeito na frente do espelho o máximo possível, depois
sigo até o lounge. O hotel é uma antiga casa vitoriana de quatro
andares. A escada é estreita, com degraus de madeira desgastados
que rangem sob os meus pés. Há um pequeno elevador
claustrofóbico que usei ontem à noite quando o carregador trouxe
minhas malas.
Estou no quarto andar e o lounge fica no segundo. É como um
clube de cavalheiros clássico, com várias poltronas de couro em
volta de pequenas mesas de madeira. O papel de parede seda
esmeralda encontra lambris brancos, e conversas moderadas
surgem de pequenos grupos tomando café da manhã.
Eu vou encontrar Brenna em uma hora. E embora não esteja
com fome, peço um café depois de pedir à garçonete que decifre o
menu. Aparentemente, preciso de um Flat White2, já que não estou
com disposição para um cappuccino cremoso.
— Por que diz ‘Sem fotos’ na parte inferior do menu? —
Pergunto à garçonete enquanto ela deposita meu café na mesa.
— Este é um clube particular, — diz ela com um sotaque do leste
europeu, — para profissionais do entretenimento. Os membros
querem se sentir à vontade para comer sem o desconforto de
alguém tirando fotos deles.
Olho em volta com os olhos arregalados e vejo uma mulher que
eu juro que é uma cantora em ascensão. Ela está comendo com um
homem; eles estão aconchegados e rindo baixinho. Não consigo ver
o rosto dele, mas há algo familiar em sua postura. Ou talvez eu só
esteja imaginando coisas.
— Um clube? Sério?
— A maior parte são músicos, atores de teatro e da tv — a
garçonete me diz suavemente. — E alguns jogadores de futebol, eu
acho.
Depois disso, não consigo mais me concentrar. Eu bebo meu
café cremoso e ouço trechos de conversas ao meu redor: um
produtor de documentários lamentando pela sua incapacidade de
encontrar um narrador adequado, um executivo de produtora
comentando sobre ter que ir ao estúdio para trabalhar em um novo
álbum, um repórter de televisão queixando-se com seu agente sobre
seu contrato.
Eu me pergunto (de novo) com quem serei entrevistada para
trabalhar. Um ator? Gabriel também é um agente? Eu poderia
imaginá-lo fazendo isso com facilidade. Ou talvez ele trabalhe para
um estúdio de cinema.
Estou tão absorta ouvindo a conversa dos outros
desavergonhadamente e especulando sobre Gabriel que não noto a
mulher elegante até que ela esteja na minha mesa, puxando uma
cadeira desocupada.
— Ei, — diz ela. — Eu sou Brenna. Ou Brian. — Ela ri. — Scottie
me disse que minha identidade secreta foi revelada.
Brenna James é alta, magra e muito bonita, com cabelos ruivos
presos em um elegante rabo de cavalo. Ela está vestida com um
lindo terno de cor cobre e sapatos de salto altíssimos num tom azul-
turquesa.
— Deus, seu vestido é lindo. — Ela se senta na cadeira à minha
frente. — É errado querer contratá-la apenas com base nesse
vestido?
— Eu não reclamaria — eu digo, apertando sua mão. — Mas
fique à vontade para me fazer mais perguntas, se precisar.
— Eu sei que marcamos de nos encontrar em trinta minutos,
mas eu vi você sentada aqui e pensei que seria rude não aparecer.
— Ela me dá um sorriso largo que a faz parecer travessa. — Perdão
pela intromissão.
— Não há problema algum. — Eu sinalizo para a garçonete
antes de perguntar a Brenna. — Você disse Scottie. Você quer dizer
Gabriel?
Sua boca se abre como se eu tivesse lhe dado um tapa. —
Hum... sim. Gabriel Scott. Todo mundo o chama de Scottie.
— Ah, eu não sabia.
Ela se inclina, os olhos arregalados e curiosos. — Ele, ah, te
disse seu primeiro nome?
É algum tipo de segredo terrível? Estou voltando para a teoria de
que eles são espiões internacionais. E não estou brincando - quero
dizer, mais ou menos. — Bem, fazê-lo se apresentar foi difícil como
se eu estivesse tentando arrancar um dente, mas sim.
Isso parece apaziguá-la, porque ela relaxa em seu assento e,
depois de pedir uma xícara de café puro, me examina com um olhar
perspicaz.
— Você gostaria de ver meu portfólio? — Eu pergunto,
entregando a estojo de couro grosso que eu trouxe comigo.
Mas ela acena, dispensando. — Não há necessidade. Eu vi seu
trabalho antes de convidá-la.
— Claro. — O calor cora minhas bochechas. — Desculpe, estou
um pouco nervosa.
Ela toca minha mão. — Não fique. Você sobreviveu à viagem ao
lado de Scottie. Essa é a maior prova de fogo.
Eu a olho com cautela. — Você me colocou naquele assento? Eu
pensei que tinha conseguido algum tipo de promoção, mas agora
não tenho tanta certeza.
A garçonete chega com seu café, e Brenna rapidamente se
serve com uma xícara.
— Claro que sim. — Ela toma um gole e suspira com apreço
antes de voltar seu olhar afiado para mim. — Como um atrativo para
trabalhar para nós. Não para que você tivesse que lidar com ele. Eu
não sou tão cruel.
— Eu não pensaria como uma crueldade.
— Bem, a maioria das pessoas também não, claro, isso até ele
abrir a boca e eviscerar uma pobre alma com algumas poucas
palavras.
Eu tenho que sorrir com isso. — Não acho que ele precise falar.
Aquele olhar mortal provavelmente bastaria.
— Mas você sobreviveu — diz ela novamente, olhando para mim
como se eu fosse um pássaro raro.
Por algum motivo estranho, fico defensiva. Não que Gabriel
precise, mas não consigo parar de defendê-lo. — Eu me diverti.
Sua sobrancelha ruiva se ergue diante disso. — Se divertiu?
Há tanto ceticismo em sua voz que ela está praticamente
sufocando.
— Foi um voo agradável, — eu garanto. — Obrigada por me
colocar na primeira classe. Eu nunca esquecerei isso.
Ela limpa a garganta. — Sim, bem, isso é... bom. Estou feliz. Ah,
de qualquer maneira, imaginei que Scottie subiria o painel divisor
antes que sua bela bunda batesse no couro.
Eu não menciono o painel quebrado.
Brenna olha para o telefone. — Os caras estão prontos.
Podemos ir para a entrevista agora?
O nervosismo nada na minha barriga. — Caras? Será um grupo
me entrevistando?
— Mais ou menos. — Ela me dá um pequeno sorriso. — Você
vai ver. Vamos. Temos uma sala privada montada.
— Ok. — Minhas pernas ficam subitamente bambas enquanto
me levanto. — Gabriel vai estar lá também?
Uma pequena parte de mim não quer que ele testemunhe isso.
Não sei se vou conseguir me concentrar sob o olhar dele. Mas a
parte mais carente e básica de mim quer vê-lo novamente. Ele é
familiar. E, estranhamente, me sinto confiante quando ele está por
perto.
Brenna para antes do próximo passo. — Sim, Gabriel estará lá.
— Nós andamos mais alguns passos antes que ela me olhe por
baixo dos cílios. — Porém, talvez seja melhor o chamar de Scottie
de agora em diante.
— Por quê? — Eu não entendo o apelido ou por que alguém
como Gabriel o permitiria. Scottie não combina nenhum pouco com
ele. Scottie é um cara que grita: “Precisamos de mais tempo,
capitão!” Não um homem impecavelmente vestido, que se parece
com um modelo e fala como um duque irritadiço.
Os saltos de Brenna fazem barulho no chão enquanto ela nos
guia para um cômodo nos fundos. — É assim que todo mundo na
empresa o chama. Honestamente, eu não ouço ninguém chamando-
o de Gabriel há anos.
Fico feliz por não ter dito a ela que também o chamei de Raio do
sol. Ela provavelmente cairia morta. Ou talvez eu perderia o
emprego. Decido não falar sobre Gabriel vulgo Scottie mais do que
o necessário a partir de agora.
Entramos na sala e um grupo de homens se vira para nós ao
mesmo tempo. Meu primeiro pensamento é que talvez Gabriel e
Brenna tenham uma agência de modelos, porque todos são lindos à
sua maneira. Mas então eu realmente olho para eles, e o horror me
atinge com um tapa. Eu conheço esses caras. E os conheço bem.
Kill John. A maior banda de rock do mundo. Meus olhos voam
sobre eles. Suas expressões variam de acolhedora a levemente
curiosa e a sexualmente interessada. Rye Peterson, o baixista
massivamente musculoso e bonito com jeitão de garoto, me dá um
sorriso largo. Whip Dexter, o baterista, assente educadamente. Jax
Blackwood, o infame guitarrista e ocasionalmente cantor é o curioso,
embora não pareça irritado.
Eu desvio meu olhar de seus olhos verdes, me sentindo
nauseada e tonta.
E então, há Killian James. Cabelo escuro, olhos escuros,
expressão sombria. Ele ficou de pé quando entramos, sua cabeça
inclinada como se estivesse tentando lembrar de onde eu era
familiar.
Meu coração começa a bater mais rápido. Porra. Eu preciso sair
daqui.
Dou um passo para trás e colido com um corpo. O cheiro de
colônia cara e lã fina atinge minhas narinas.
— Indo na direção errada, garota tagarela. — Gabriel murmura
no meu ouvido, gentilmente me cutucando para frente.
Mas eu preciso fugir.
Killian ainda está me encarando como se eu fosse um quebra-
cabeça quase resolvido. Ao seu lado está uma mulher bonita com
cabelos loiros escuros – a mulher que estava tomando café da
manhã hoje mais cedo. Ela é Liberty Bell, reconheço com um
sobressalto. Esposa de Killian e cantora solo. Eu deveria tê-la
reconhecido antes. Eu deveria ter percebido que coisas boas, de
fato, não acontecem comigo.
Olho para Gabriel. Ele está usando sua fachada neutra, mas há
um pequeno brilho de encorajamento em seus olhos. Eu não quero
desviar o olhar dele. Ele vai partir em breve, e isso dói. Dói demais
para alguém que conheci há tão pouco tempo.
Brenna está me apresentando. Ela pega o portfólio dos meus
dedos trêmulos e o entrega para os caras. — Sophie costumava ser
fotojornalista...
Killian faz um som estrangulado antes de explodir. — Ah,
caralho, mas nem fodendo! Agora eu a reconheço. Você está
brincando comigo com essa merda toda? — Ele dá um passo em
minha direção, raiva deixando suas bochechas vermelhas. — Você
tem muita audácia em vir aqui, moça.
Eu mantenho minha pose, mesmo que meu orgulho esteja
implodindo. Não sei mais o que fazer.
Mas Gabriel se coloca entre nós. — Acalme-se, — ele diz para
Killian. — A Srta. Darling não veio aqui para ser ameaçada.
— Ah, mas isso é demais! — Diz Killian com um sorriso de
escárnio. Seus olhos não são gentis. — Esse é um trabalho perfeito
para uma paparazzi, não é?
Os outros caras parecem confusos.
— Kill, cara, — diz Rye. — Relaxa aí. Muitas pessoas são
fotojornalistas sem serem paparazzi desprezíveis.
Ah, se esse fosse meu caso.
— Não. — Killian ergue a mão no ar. — Ela não é apenas uma
paparazzi. Foi ela quem tirou as fotos do Jax. Não foi, querida?
Acha que não te vi lá, com a porra da sua câmera? Esfregando ela
na minha cara enquanto ele estava morrendo, caralho?
A cabeça de Gabriel se ergue. — O que?
— Você me ouviu. Foi ela. Foi ela quem vendeu aquelas fotos do
Jax.
— Impossível. — Gabriel cospe. — Martin Shear vendeu as
fotos. Acredite em mim; passei a maior parte daquele ano fazendo
nossos advogados resolverem aquela confusão.
Ele levanta a mão como se quisesse dizer que o caso está
encerrado. Não consigo decidir se ele está tentando racionalizar
minhas ações ou se ele é assim tão lógico. Receio que seja o
último. Seu comportamento frio não derreteu. E ele está esperando
uma resposta, sua testa franzida daquela maneira arrogante e
impaciente.
Eu respiro superficialmente. — Martin era meu namorado na
época.
A cabeça de Gabriel recua como se eu tivesse lhe dado um tapa.
O olhar em seu rosto, a decepção absoluta misturada com
crescente repulsa – estou arruinada aos seus olhos. Eu posso ver
isso claramente. Eu não o culpo. Também estou com nojo de mim
mesma. É incrível o quão baixo uma pessoa que deseja o amor
pode chegar quando pensa que o encontrou.
Se o chão pudesse me engolir agora, ficaria agradecida. Mas
isso não mudaria a camada espessa e arrepiante de
arrependimento que preenche meu interior toda vez que penso
naquela noite, quando tirei aquelas fotos de Jax Blackwood,
inconsciente e coberto de vômito. Ainda posso ouvir Killian gritar seu
nome quando a segurança entrou. Eu estava tão cega na época,
apenas focada no meu próximo salário, incentivada por Martin a
nunca pensar no alvo como um ser humano, e sim como grana em
potencial.
Eu tinha sido a versão mais feia e sombria de mim mesma. Tão
confusa e perdida. E agora esse passado está me encarando de
frente.
— Martin era - é - um babaca. — eu digo. — Eu sei disso agora.
Na época... bem, eu realmente não tenho uma boa desculpa. Eu o
conheci numa fase ruim da minha vida, e ele tinha um tipo estranho
de carisma. Ele fez seu trabalho parecer divertido: dinheiro fácil,
prestando um serviço aos fãs.
Vários bufos irritados soam pela sala.
— Foram mentiras em que me permiti acreditar — admito. — Eu
queria cair fora, mas não encontrei mais nada para fazer. E então
aquela noite aconteceu. Quando cheguei em casa, contei a Martin
onde tinha estado. Ele estava… — Limpo minha garganta. — Ele
estava feliz demais, disse que essas fotos me garantiriam
estabilidade financeira por pelo menos um ano.
Não deixo de perceber como os caras se encolhem, ou a
maneira como Gabriel abaixa a cabeça, rangendo os dentes como
se estivesse lutando para não explodir. Meu estômago revira e meus
dedos parecem gelo. Mas eu continuo.
— Deus, eu queria muito aquele dinheiro. Não vou mentir. Eu
tive um ano ruim e estava vivendo de miojo. Eu poderia ter largado o
ramo com esse dinheiro, e ficado tranquila por um tempo até
encontrar um emprego decente. Mas eu olhei para as fotos, e elas
eram horríveis. Dolorosas.
Ainda dói lembrar delas.
Claramente, isso machuca essas pessoas também. Muito mais
do que me machucou. Eu quero chorar.
— Eu hesitei em vendê-las depois disso. Martin guardou as fotos
e, após eu me deitar, ele as pegou para si mesmo.
— Ele roubou elas de você? — A voz de Gabriel é vazia. Ele não
me olha nos olhos.
— Sim — eu sussurro. — Eu queria impedi-lo. E então eu não
pude. Porque elas estavam espalhados por toda parte, e eu me
senti... envergonhada.
Gabriel faz um barulho como se dissesse que eu deveria estar.
Killian não fica tão quieto. — Ela não pode estar aqui. Caralho,
isso é demais, Brenna.
— Eu acho que seria bom para nós — diz Brenna. — Assim
todos podemos fechar esse ciclo e seguir em frente.
Killian bufa e olha para Brenna como se ele não pudesse
acreditar no que ela acabou de dizer.
De alguma forma eu encontro minha voz. — Se isso faz alguma
diferença, eu não sabia que a entrevista era para trabalhar com
vocês. Ou eu não teria vindo.
— Ah, claro, isso torna tudo melhor. Porque não passamos mais
de um ano lutando com toda a merda que você lançou para os olhos
do público — rebate Killian.
De repente, todo mundo começa a falar, palavras se embolando,
me bombardeando. Eu estremeço.
Jax assobia bruscamente. — Todo mundo cala a porra boca e
sentem-se.
Suponho que ele raramente grita, porque todo mundo para e
senta imediatamente, embora Killian lhe dê um olhar descontente
enquanto se joga em sua cadeira.
Jax olha para mim. Quando eu o conheci, ele tinha uma espécie
de aura juvenil, como um atleta americano beijado pelo sol, o que
era engraçado já que é conhecido que ele é metade inglês. Quase
dois anos depois, todo aquela parte juvenil se foi, substituída por
uma beleza robusta e dura. A vida o bateu, mas não o tinha vencido.
— Você se lembra daquela noite? — Diz ele. — Antes, eu quero
dizer.
Estou extremamente consciente do olhar de Gabriel em mim,
mas respondo a Jax sem desviar o olhar. — Sim.
Jax assente, mordendo o lábio inferior como se estivesse com
vergonha. — Eu imaginei. Eu queria te encontrar. Me desculpar.
— O quê? — Killian explode, quase pulando da cadeira.
— Cale a boca, — Jax dispara para ele, depois suspira e passa
a mão pelo cabelo espetado. — Pelo menos até você me ouvir.
— Ah — eu limpo minha garganta. — Tenho que concordar com
o sentimento de Killian aqui. Você não tem absolutamente nenhum
motivo para se desculpar comigo.
O sorriso de Jax é cansado e torto enquanto segura meu olhar.
Eu posso ver a luta em seus olhos. Ele não quer exatamente dizer o
que acha que precisa.
Gabriel quebra o momento. — Vá direto ao ponto, Jax. — Sua
expressão é tão feroz que ele parece esculpido em pedra. — E
comece explicando como exatamente você conhece a Srta. Darling.
Ele não se incomoda em falar comigo. É como se eu não
estivesse mais na sala.
Jax encolhe os ombros e se inclina contra a parede. — Nós nos
encontramos no bar do hotel na noite do "Incidente".
Gabriel estreita os olhos para as aspas que Jax faz no ar. Um
músculo se contrai sob seu olho direito. — Continue.
— Você se ofereceu para me pagar uma bebida — continuo,
porque estou cansada de ser ignorada. E não vou deixar Jax fazer
isso sozinho.
Ele sorri. — E você me avisou que estava lá para se aproveitar
do meu rosto.
O calor do olhar de Gabriel queima. Mas eu o ignoro.
Whip balança a cabeça. — Vocês dois transaram. Claro.
Killian faz um som de deboche. Não ouso verificar o que Gabriel
pensa disso.
— Não — diz Jax. — Tomamos vodka tônica com limão e demos
algumas risadas sobre pessoas ridículas que pagariam milhares por
uma foto picante de alguém famoso. — Seu sorriso suave retorna.
— Sophie não se importou que eu basicamente dissesse que o
trabalho dela era estúpido...
— Mas é. — Killian interrompe.
Nós o ignoramos.
— Ela precisava de dinheiro para pagar empréstimos estudantis
e o aluguel, e concordamos que existem maneiras piores de obtê-lo.
— Existem? — Killian pergunta, ainda descontente.
Eu não o culpo. Foi ele quem encontrou Jax. A banda se
separou por um ano após a tentativa de suicídio de Jax. Duvido que
me sentisse caridosa com qualquer um que tivesse contribuído para
a minha dor.
Jax segura seu olhar, no entanto. — Claro que existem. E você
sabe disso. — Seus olhos me encontram novamente. — Você se
lembra do que eu te disse então?
Ah, inferno. Um nó cresce em minha garganta e engulo
convulsivamente. Gabriel está franzindo a testa como se pudesse
explodir em breve. Seu olhar me prende no lugar, mas ele não fala.
Nenhum deles diz nada. Eles estão esperando pela minha resposta.
Minha voz é fraca e rouca. — Você disse... Você disse... Merda...
— Olho para longe, minha voz falhando.
— Venha para o meu quarto hoje à noite, — diz Jax por mim — e
eu te darei algo grande para vender.
— Maldito inferno — murmura Rye.
— Maldição, Jax. — Killian exclama.
Porque eles entenderam. Finalmente. Eu também. Mas eu não
entendi na época.
Minha visão fica embaçada e pisco rapidamente, respirando
fundo. — Eu pensei que você estava apenas brincando comigo, e
então você me deu a chave de um quarto. — Uma risada chorosa
me escapa. — E aí eu pensei que você queria transar.
O bufo de desprezo de Gabriel cai como uma lança ao meu lado.
Eu não posso olhar para ele agora. Talvez nunca mais.
— Eu sei que você achou, querida — diz Jax gentilmente. — E
agora você sabe; eu estava contando que você aparecesse.
— Por quê? — Eu sussurro. — Por que eu?
Ele encolhe os ombros. — Eu pensei, ela é uma garota legal.
Boa demais para seu trabalho de merda. Ela precisa de dinheiro. E
eu não vou estar mais aqui, então... por que não partir com uma boa
ação?
Killian se levanta, derrubando a cadeira. Ele sai da sala sem
dizer mais nenhuma palavra. Libby logo o segue, murmurando: —
Eu vou falar com ele.
O silêncio que se sucede é pesado, e eu quero me curvar para
dentro, fugir. Mas não posso me esconder dos meus erros. Eu tentei
isso antes. Não deu certo.
— Eu sinto muito — exclamo. — Aquela noite, foi a pior noite da
minha vida. A pior coisa que já fiz.
Jax balança a cabeça. — Você estava fazendo o seu trabalho...
— Não! — Eu cerro os dentes. — Não, eu estava vendendo
barato a minha humanidade e a sua. Eu deveria ter largado minha
câmera e ajudado. Eu deveria ter feito outra coisa além de tirar
aquelas fotos e deixá-las cair na mídia.
— Todos nós fizemos coisas das quais lamentamos — diz Jax.
— Eu só quero que você e todos os outros saibam que eu não tenho
rancor contra você. Estou bem com você trabalhando conosco.
Deus. Eu não mereço sua calma aceitação.
— Fique. — O rosto de Whip está pálido, mas ele se inclina para
a frente e assente como se estivesse tomando uma decisão. — Jax
está certo. E você obviamente é boa no que faz ou Brenna não teria
trazido você aqui.
— Sim. — Rye concorda. — Será bom para todos nós. E para
você também. Catártico, sabe?
Quem são esses caras? Sério. Eu esperava estar levando
ovadas a este ponto.
— Olha, eu estou de boa com isso. — Rye se levanta. — Espero
que você se junte a nós. Algo que agite um pouco as coisas não
pode ser ruim.
Whip também se levanta. — Killian vai mudar de ideia. Jax falará
com ele.
Os dois vêm apertar minha mão. — Desculpe pelo drama — diz
Whip com uma piscadela. — Mas é meio difícil escapar disso por
aqui.
Jax se aproxima de mim quando Whip e Rye partem. Sua mão
quente repousa no meu ombro. — Estou feliz por ter falado com
você. Eu sempre quis te encontrar e me desculpar. Foi uma merda
usá-la dessa maneira.
— Estou tão feliz que você sobreviveu — eu digo rapidamente.
— Que você está saudável e está aqui.
Seu sorriso é tenso, mas amigável. — Qualquer que seja sua
decisão, venha sair conosco mais tarde hoje à noite. Vamos nos
divertir, Soph. Confie em mim.
Ele me dá um beijo na bochecha e dá à Brenna um olhar que
não consigo interpretar antes de sair.
— Isso é um erro. — Gabriel diz assim que a porta se fecha.
Eu estremeço, e ele encontra meus olhos. Tudo o que vi nele
antes se foi. Ele é gelo agora – tão sólido e tão polido que estou
surpresa por não ver meu reflexo em sua pele. Sua voz é forte, mas
monótona, como se fosse apenas mais um dia no escritório.
— Você se arrependeu de suas ações. Jax assumiu a própria
responsabilidade. Nada disso importa quando se trata dessa turnê.
— Eu não entendi onde quer chegar, Scottie — diz Brenna. Ela
ficou quieta, deixando todo mundo falar. Mas há aço em sua postura
agora.
Ele se recosta na cadeira, apoiando um tornozelo no joelho
dobrado. Tão relaxado, como se ele não estivesse me chutando
para o meio-fio quando prometeu que não iria interferir.
— Acabamos de chegar ao ponto em que a banda é uma
unidade totalmente funcional novamente. Eles estão finalmente
enterrando velhas feridas. Você traz esse elemento de desconfiança
para a mistura e arrisca tudo isso.
— Eu sou uma pessoa, não um elemento. — Eu não deveria
deixá-lo ver que eu estou chateada, mas porra, eu estou. Eu pensei
que tínhamos pelo menos um pequeno vislumbre de mútuo... eu não
sei, respeito. Eu o ajudei na hora mais sombria, e agora eu sou só
um maldito elemento? — E se os caras estão bem com isso, por
que você deveria protestar?
— Porque é meu trabalho pensar racionalmente quando eles não
podem ou não querem. — Ele olha para mim como se eu não fosse
nada além de uma peça de mobília na sala. — É uma questão de
negócios, Srta. Darling. Nada pessoal.
— Besteira. Tudo é pessoal. Especialmente negócios. Você julga
uma pessoa e decide se confia nela o suficiente para trabalhar com
ela ou não. — Um tremor de raiva e mágoa passa por mim. — E
você tomou sua decisão, Sr. Scott. Não a enfraqueça fingindo que
não é nada pessoal.
Deus, ele não vacila, não pisca. Apenas fica lá, me encarando de
frente com aqueles olhos da cor do gelo glacial.
— Sinto muito, Srta. Darling.
— Sim — eu digo. — Eu aposto que sente.
Se eu não estivesse o encarando de volta, teria perdido o tremor
que cintila no canto de sua boca. Com uma graça lânguida, ele se
levanta e abotoa o paletó. Dando um breve aceno de cabeça, ele sai
da sala sem olhar para trás.
— Merda, — diz Brenna quando ele se foi. — Isso correu bem.
Eu olho para a porta. — Sinto muito por desperdiçar seu...
— Você está contratada, Sophie.
Minha cabeça gira, e tenho certeza que minha boca se abre.
Brenna me lança um olhar longo e duro. — Essa é a chance de
uma vida. Você sabe. Eu sei. Não se atreva a desistir como uma
covarde por causa de um pouco de adversidade. Confie em mim,
falo por experiência própria quando digo que você vai se arrepender.
Eu poderia responder de uma dúzia de maneiras diferentes, de
raiva a autopiedade. Do lado de fora desta sala opulenta, os
famosos e poderosos estão tomando café e planejando suas vidas.
Estou em Londres, com a chance de viajar pela Europa com uma
das minhas bandas favoritas. Será desconfortável, e encarar Gabriel
novamente será definitivamente um tipo de tortura.
A vida em Nova York seria mais fácil. Familiar.
Não é pessoal o caramba.
— Foda-se, — eu digo. — Estou dentro.
CAPÍTULO CINCO

D minutos e trinta e seis segundos para deixar a sala de


conferências, sair do hotel e caminhar até o fim do quarteirão. Eu sei
porque conto cada segundo. Eu ando de forma constante e com
propósito.
E se minha mão tremeu um pouco, ninguém viu, porque eu a
enfiei no bolso. Problema resolvido.
Lição um nos negócios: para todos os problemas, há uma
solução.
Lição dois: nunca fique sentimental.
Nunca fique sentimental.
No instante em que viro a esquina, meu controle começa a ruir.
Eu dou um passo. Uma névoa vermelha nubla a minha visão. Outro
passo e estou ofegante. Eu vejo um expositor de jornais e de
repente o estou chutando.
— Puta que pariu! — Eu também dou um tapa forte no metal
antes de começar a andar de um lado para o outro.
— Eu tive a mesma reação, cara.
O som da voz de Killian me congela. Ele está com as costas
apoiadas contra uma loja de queijos e tomando um café para
viagem. — Eu chutei pra caralho a lata de lixo.
Ao lado do expositor de jornais, há uma lixeira amassada. Eu
bufo, embora realmente não consiga achar graça em nada disso. —
De todas as latas de lixo e expositores...
— Foi você quem veio para a minha área — aponta Killian.
Eu olho ao redor da rua. — Onde está Libby?
— Dando um tempo para eu me acalmar. — Killian ri sem graça.
— Não tenho permissão para voltar ao hotel até estar pronto para
me desculpar com a paparazzi.
— O nome dela é Sophie. — Não pense nela. Porra, não faça
isso. Mas é impossível apagar o que eu disse a ela. A raiva flui
através de mim novamente. Eu cerro os dentes e conto até dez.
Lentamente.
Lição três: Aja em nome do seu cliente, não em nome de si
próprio. Eu lidei com a situação como sempre fiz – decidi o que era
melhor para a banda. Protegi eles acima de qualquer coisa,
deixando de lado minhas necessidades pessoais.
Besteira. Tudo é pessoal.
Ah, eu sei disso agora, garota tagarela.
Lidar com esse problema deveria ter sido uma coisa simples. Eu
mal conheço a mulher. Os riscos são claros. Ela poderia facilmente
perturbar o equilíbrio que lutamos tanto para restaurar.
Isso não explica por que cada palavra que saiu da minha boca
parece ácido na porra da minha língua. Ou a maneira como a
mágoa em seus olhos quase me deixou fisicamente doente. Eu mal
consegui passar por aquela entrevista dos infernos sem socar uma
parede.
E então eu simplesmente a deixei. Me afastei sem olhar para
trás, deixando-a como se fosse uma escória, como se não
merecesse nenhum de nós.
— Maldito imbecil — murmuro, lutando contra o desejo de chutar
algo novamente.
— Você tem que encontrar uma maneira de perdoar Jax. —
Killian toma um gole de café. — Foi o que Libby me disse. Eu pensei
que já tinha perdoado. Mas ele continua encontrando formas de me
irritar.
Com as mãos apoiadas nos quadris, estudo o arranhão no meu
sapato. Não me incomodo em corrigir a suposição de Killian. Não
estou com raiva de Jax por esquematizar a chegada de Sophie ao
local. Eu o entendo. Ele queria uma testemunha do que havia feito.
Ou talvez ele na verdade não quisesse morrer, e sim que alguém o
encontrasse antes que fosse tarde demais.
Não tenho certeza, mas não vou ficar bravo com ele por ser
humano. Um suspiro me escapa, e passo a mão pelo rosto. Não
durmo há semanas, e a exaustão está me alcançando. Ao nosso
redor, londrinos descem a rua em direção à estação de metrô nas
proximidades. Está nublado e frio.
Uma mãe empurra um carrinho de bebê cinza com uma criança
dentro e para na vitrine de uma livraria. Eu tenho uma foto da minha
mãe ajoelhada ao meu lado no carrinho. Eu provavelmente tinha
dois anos e, mesmo assim, tinha uma expressão ranzinza. Mas
minha mãe sorria para mim como se eu fosse o mundo dela.
Esfrego a mão sobre meu peito dolorido.
Jax, Killian, Whip e Rye me deram sua amizade quando eu não
tinha nenhuma, uma família quando a minha se foi. Eles deram um
propósito à minha vida – um trabalho que eu amo e experiências
que poucas pessoas na Terra jamais terão. Em troca, jurei que
sempre protegeria os interesses deles. Eu fiz um trabalho de merda
nos últimos anos. Eu posso fazer melhor. Eu tenho que fazer
melhor.
Não quero pensar em Sophie Darling. Mas ela infectou meu
cérebro. O som de sua risada provocante me assombra. O brilho de
dor em seus olhos castanhos quando eu a chamei de “um erro” me
sufoca.
Ela tinha sido responsável por expor o momento mais privado de
Jax e a pior fase de sua vida. Inúmeras vezes amaldiçoei o verme
que estava do outro lado da câmera. Perceber que tinha sido
Sophie, a mulher que eu deixei me abraçar e aliviar meus medos de
uma maneira que eu não permitia desde que minha mãe morreu, é
mais do que decepcionante. Ela me deu um chute na bunda naquela
entrevista.
Começo a andar pra lá e pra cá, incapaz de ficar parado.
Killian me observa, sua cabeça girando de um lado para o outro
enquanto acompanha meus movimentos. — Você não vai precisar
que a gente organize uma luta, vai?
Eu o lanço um olhar bravo. — Eu não estou tão mal assim.
Ele levanta a mão. — Eu só estava perguntando.
Quando o Kill John começou, eu paguei pelos meus ternos
vencendo lutas clandestinas. Um pouco oxímoro, é verdade, ser um
lutador para se vestir como um cavalheiro. Com o passar dos anos,
lutei apenas quando estava tão tenso que apenas a doce liberação
encontrada no sexo ou em dar uma surra em outra pessoa me
acalmaria. Na verdade, sexo nunca foi tão eficaz para mim quanto a
dor bruta.
— Eu estou bem — digo, acenando para ele.
— Brenna vai contratá-la? — Killian me pergunta.
— Claro. Ela colocou a Srta. Darling na primeira classe. Brenna
não teria se incomodado se ela não estivesse planejando contratá-
la.
Com isso, Killian sorri. — Aposto que te irritou, ter que sentar ao
lado de alguém.
Eu resmungo, incapaz de dizer a verdade. Melhor vôo da porra
da minha vida.
Ele começa a rir. — Cara, a Brenna é má.
Penso em como Sophie me encheu o saco. Um sorriso surge em
meus lábios, mas ele morre rapidamente quando meu cérebro me
faz lembrar que acabei com qualquer esperança de ela querer estar
perto de mim novamente.
— Porra, mas que inferno. — Eu encaro Killian. — Ela está
contratada. Nós dois sabemos disso. Independentemente do seu
passado, vi seu portfólio e seu trabalho nas redes sociais. Ela é boa.
E o resto dos meninos também querem que ela fique.
— Merda. — Killian desvia o olhar.
— Você vai trabalhar bem próximo à ela. — Algo se remexe no
meu peito com o pensamento de ver Sophie dia após dia. Eu enterro
essa sensação. — O que significa que você a tratará com o maldito
respeito que um profissional experiente merece.
— Sim, senhor. — Killian faz uma continência.
Eu já estou voltando para o hotel. — Temos uma reunião via
FaceTime com um novo patrocinador às quatro.
— Qual patrocinador? — Ele pergunta às minhas costas.
— Alguma empresa de palhetas de violão — digo por cima do
ombro.
— Droga Scottie, dez anos e você ainda não consegue se
lembrar qual palheta eu prefiro? Detalhes, cara.
Eu sei qual é, mas é muito fácil provocar Killian. — Um
patrocinador é um patrocinador. Não se atrase.
No meio do caminho de volta ao hotel, envio uma mensagem
para Brenna.
GS: Suponho que a Sra. Darling vai ficar?
Ela responde bem rápido: Sim. Não graças a você. Da próxima
vez, discuta suas preocupações sobre minha equipe em particular.
Ignoro um homem com dois cães que cheiram meus tornozelos.
GS: Entendido. Onde ela está agora?
Brenna: Por quê?
Um músculo da minha mandíbula treme.
GS: Quero dar à ela boas vindas, para mostrar que não há
ressentimentos.
Brenna: Você pode só mandar uma mensagem de texto.
Eu realmente detesto quando Brenna está irritada comigo. A vida
se torna muito mais difícil, e ela é especialista em me fazer pagar
pelas minhas transgressões.
GS: Eu mencionei que vou encontrar o Ned mais tarde hoje à
noite?
Ned é um promotor local e um merdinha imprestável que tem
propensão a dar em cima de Brenna. Infelizmente, o homem
também é responsável pelas melhores casas de show, e eu tenho
que lidar com ele sempre que visitamos Londres. Brenna não.
GS: Eu estava pensando em convidá-lo para sair com a gente.
Eu quase sorrio, imaginando Brenna furiosa. Pequenos pontos
aparecem no canto da tela, e depois a resposta dela.
Brenna: Idiota. Jules a levou para almoçar naquele pub no final
da rua.
GS: Um pouco cedo para o almoço, não é?
Brenna: É sério isso? Tradução: ela a levou para tomar uma
bebida muito necessária depois que você e Killian agiram como
idiotas.
Ah, culpa. Eu havia me familiarizado com a emoção na última
década. Sentindo-a agora, não posso dizer que aprecio a sensação.
Nem um pouco. Colocando meu telefone no bolso, giro e sigo para o
outro lado da rua.
Não é difícil localizar Sophie e Jules no pub. Elas são pontos
brilhantes coloridos em um mar de painéis velhos de madeira.
Escondidas em uma mesa no canto, as duas mulheres estão com
as cabeças juntas, os cabelos loiros platinados de Sophie como a
luz do luar, ao lado das flores desabrochadas que são os cachos
fúcsia de Jules.
Estão de costas para mim enquanto tomam canecas de cerveja
Guinness – o café da manhã dos campeões, como Rye frequente e
carinhosamente se refere à cerveja forte.
— Eu não vou mentir, — Jules está dizendo. — Se você espera
elogios ou palavras gentis dele, isso nunca acontecerá. Ele
simplesmente não é esse tipo de chefe.
— Ele não vai ser meu chefe. — Sophie murmura, tomando um
longo gole. A espuma branca cremosa permanece na curva suave
de seu lábio superior antes que ela a lamba, e meu pau começa a
ficar duro.
Inferno.
— Não se iluda — diz Jules. — Ele é o chefe de todo mundo. Até
dos caras. O que Scottie diz, prevalece. Mas não se preocupe. Ele
não é um tirano. Ele é só...
Não posso deixar de me inclinar um pouco, imaginando o que
ela dirá. Elas ainda não me viram, e eu não vou tornar minha
presença conhecida agora.
— Exigente — decide Jules.
Sophie bufa sem elegância. — Ele é um pau no cu arrogante.
Adorável.
— E por que diabos todo mundo o chama de Scottie? O nome
não combina com ele. Belzebu se encaixaria melhor. — Sophie abre
as mãos exasperada, e eu luto para não bufar.
Jules ri em seu copo. — Garota, eu pensei a mesma coisa.
Segundo reza a lenda, Killian e Jax deram o apelido ainda no início
da carreira. É uma piada sobre Star Trek.
— Eu estava me preparando para estudar engenharia — digo,
surpreendendo as duas.
Eles giram em seus assentos, suas bocas abertas.
— Scotty era o engenheiro da Enterprise — continuo,
contornando a mesa para me sentar. — Star Trek estava passando
na Tv, e Rye apontou que eu tinha o mesmo sobrenome de Scotty.
E foi isso. Os bastardos começaram a me chamar de Scottie, mas
com um -ie, para que as pessoas pudessem nos diferenciar.
Dou às mulheres um olhar seco, como se a piada fosse
cansativa, mas a verdade sombria é que nunca tentei parar o
apelido. Isso cimentou minha inclusão no grupo deles, e eu nunca
fiz parte de um grupo antes. Foi a primeira vez que alguém pensou
em me dar um apelido que não era um insulto.
A segunda vez que me deram um apelido foi em um avião com a
linda garota tagarela que atualmente está olhando para mim como
se eu tivesse cuspido na cerveja dela.
— Sophie. Jules. — Eu aceno a cada uma delas.
As sardas espalhadas pelas bochechas de Jules começam a se
destacar quando sua pele marrom pálida fica cinza. — Eu... ah...
Isso... eu estava explicando para Sophie que...
Eu a tiro de sua miséria. — Tudo bem se você quiser fugir. Eu
não vou usar isso contra você.
Jules pula, pegando a enorme bolsa verde que ela está sempre
carregando.
Sophie se senta ereta, as sobrancelhas erguendo-se. — Ei! Ela
não precisa ir à lugar algum. Na verdade, é você quem deveria ir. —
Ela aponta o dedo para mim como se fosse uma arma.
— Não, não — diz Jules, já se afastando da mesa. — Ele tem
razão. Eu totalmente quero fugir.
E ela foge, quase criando uma brisa quando sai correndo.
Sophie se recosta com um bufo, cruzando os braços sobre o peito.
— Deus, é como se você fosse Darth Vader ou algo assim.
Senti sua falta. O pensamento indesejado nem faz sentido; faz
menos de uma hora desde a última vez que a vi. Mas isso não muda
o sentimento de que me foi concedida clemência apenas por estar
sentado aqui com ela.
— Já estabelecemos que sou o engenheiro dessa nave — digo
levemente. — E você está misturando as sagas espaciais.
Seu nariz enruga, e ela desvia o olhar, e eu encaro seu perfil.
Aproveito o momento para roubar sua Guinness e tomar um gole.
Está na temperatura certa, espessa, escura e perfeita.
Verdadeiramente o café da manhã dos campeões.
— Ei! — Ela pega a caneca de mim. — Peça uma para você.
Ela faz questão de limpar a borda com um guardanapo
encharcado de bebida.
— Você teme que eu possa ter pereba?
— Fico surpresa que você conheça essa palavra.
— Eu conheço muitas.
Eu senti falta de discutir com ela acima de tudo. Sophie é...
divertida. Quando foi a última vez que me diverti?
— O que me lembra... — Eu me inclino para perto. — Embora eu
goste de fazer anal com uma mulher de vez em quando, nunca tive
um pau no meu cu.
Sophie engasga com a cerveja, enviando gotas sobre a mesa
enquanto suas bochechas ficam escarlate. Tentando não sorrir
vitorioso, entrego-lhe outro guardanapo.
Ela me encara enquanto limpa o queixo. — Se você está aqui
para tentar me convencer a ir para casa, não se dê ao trabalho. Eu
vou ficar e você não pode fazer nada a respeito. — Ela levanta o
queixo como se dissesse: E ponto final!
Encosto na minha cadeira. — Você estava certa, sabe. —
Quando a testa dela se enruga, eu continuo. — Negócios são
pessoais. Eu simplesmente não tinha pensado nisso até você
colocar daquela maneira.
Sua expressão fica mais sombria. Eu seguro a caneca de
cerveja fora de seu alcance e ela revira os olhos, mas há um sorriso
relutante em seus lábios. Parece que meu dia já ficou melhor
apenas por vê-la sorrir. Fraqueza. Eu não quero nenhuma. Mas
algumas coisas são mais fortes.
Honra. Honestidade. Necessidade.
— Eu odiava aquelas fotos e o que elas representavam tanto
quanto odiava o que aconteceu com Jax — digo a ela em voz baixa.
A raiva derrete de seu rosto e ela me encara com olhos
arregalados e doloridos.
— Não, — eu corrijo. — Eu as odiava mais. Elas criaram um
monumento para esse horror. Essa… — Minha garganta se fecha e
eu tenho que pigarrear. — Dor.
— Sinto muito — ela sussurra. — Você não tem ideia do quanto
eu sinto muito.
— Eu acredito em você. Eu sei o que é se perder em um
emprego. Estávamos todos fora de controle antes do que aconteceu
com Jax. Havia dias em que eu acordava e não me lembrava em
que país estávamos. Porque tudo era um borrão de diversão e de
acreditar nas besteiras que as pessoas nos diziam. Entendo as
mentiras que você diz a si mesmo só para sobreviver até o fim do
dia.
— Eu não consigo imaginar isso vindo de você.
— Garota tagarela, você cria fachadas nas redes sociais. Eu crio
fachadas para o negócio da música. Os ternos, os maneirismos, a
porra toda faz parte do arsenal. Naquela sala, você viu isso com
força total. — Meu dedo toca uma gota de cerveja. — Eu reagi com
uma raiva antiga.
Quando ela responde, é suave e hesitante. — Você tem certeza
de que é uma raiva antiga e não uma recente?
Encontro seu olhar e sou atingido novamente com um soco de
sentimentos logo abaixo das minhas costelas. Dor, ressentimento,
remorso, ternura, tudo se mistura, dificultando a escolha de uma
emoção predominante. Quero dizer a ela que sinto muito por
machucá-la. Quero mandá-la embora, para que eu não tenha que
passar por esse incômodo.
Ela é perigosa porque não posso controlá-la. E ela é
absolutamente linda. É como ser tentado a tocar vidro derretido,
mesmo sabendo que se queimará.
Mas apesar de tudo isso, há uma emoção que não sinto. — Eu
não estou bravo com você.
Quando ela assente, com um aceno desajeitado de seu queixo
pequeno, eu pego minha carteira e puxo algumas notas. Meus
dedos estão instáveis quando largo o dinheiro na mesa. — Junte-se
à turnê — digo a ela. — Eu não vou ficar no seu caminho, e sim
recebê-la como uma parte valiosa da banda.
Então eu fujo, tão desesperadamente quanto Jules fez minutos
antes. Porque acabei de me entregar a meses de inferno e tentação.

F Londres por uma semana, então eu trabalho com os


caras, vasculhando suas redes sociais e fazendo ajustes. Em outras
palavras, me adicionando como administradora de todas as contas e
publicando como se fosse eles de tempos em tempos.
E eu tiro fotos. O tempo todo. Não é difícil quando se têm Kill
John como modelos. Todos eles são extremamente fotogênicos. Eu
sempre me perguntei sobre a fama. É raro encontrar pessoas
famosas que não são fotogênicas, mesmo que não sejam
classicamente atraentes. Por que isso? É o brilho da fama que os
torna mais atraentes? Ou é algo dentro deles que chama a atenção
e facilita a fama?
Seja qual for o caso, registrar momentos com o Kill John é um
prazer. Não que não tenha seus dias de luta.
Killian ainda está bastante irritado comigo. Ele me lança um olhar
enquanto tiro uma foto dele rindo com Jax enquanto eles trabalham
na progressão de acordes em um estúdio que alugaram para a
semana. — Com licença?
— Não. — Eu tiro outra foto. — Na verdade, se você quiser me
dar um sorrizão exagerado, melhor ainda.
— Jesus. Você é implacável. Vá embora.
— Kill. — Jax diz com um suspiro. — Apenas deixe isso pra lá.
— Ele se vira para mim e mostra a língua, olhando para o próprio
nariz, deixando seus olhos verdes vesgos.
Eu obedientemente tiro a foto.
— Excelente. — Abaixando minha câmera, sento no chão do
estúdio. — Olha, nenhum de nós podemos mudar nosso passado.
Tudo o que temos é o nosso presente. Goste ou não, vocês dois
são os destaques da banda, o que significa que vocês dão o
exemplo. As pessoas estão morrendo de vontade de ver você e Jax
juntos e felizes novamente. Eles precisam dessa garantia.
— E você acha que tirar algumas fotos de nós fazendo qualquer
coisa vai melhorar tudo? — Pergunta Killian. Seu tom não é de
desdém, mas ele está claramente duvidoso.
— Me diz você — eu retruco. — Você está neste negócio há
mais tempo que eu. Você acha que imagem pública é importante?
Por um segundo, ele apenas me encara. Mas então solta uma
risada e sorri. Quando ele faz isso, é de tirar o fôlego. Killian James
é extremamente gostoso. Felizmente, sou imune a homens
gostosos. Bem, a maioria deles.
— Tudo bem — diz Killian, interrompendo meus pensamentos
sobre empresários rigorosos. — Estou sendo um idiota. É
importante, mesmo que eu não goste.
— Aí está. Foi tão difícil assim? — Pergunto.
Ele se inclina, aproximando sua cabeça como se fosse me
contar um segredo. — Sabe, eu não me sinto muito confortável
sendo um cretino com mulheres.
— Sério? — Eu digo, mordendo o canto do meu lábio para não
sorrir. — Mas você faz isso tão bem.
Jax ri tanto que ele quase cai para trás, segurando sua
Telecaster no estômago. Pelo canto do olho, vejo a cabeça de
Gabriel se erguer e olhar em nossa direção. Ele está em um estúdio
adjacente, conversando com Whip enquanto ele pratica sua bateria.
Todos os estúdios são conectados por paredes de vidro que
cercam o estande de produção. Estive ciente da presença dele o
tempo todo, mas não achei que ele estivesse ciente da minha. Ele
certamente não pode nos ouvir, e ainda assim ele viu Jax rindo. Por
outro lado, está se tornando cada vez mais aparente que Gabriel
acompanha tudo e todos.
Killian ri também antes de cutucar meu pé com a ponta da bota.
— Você é uma mulher com quem é difícil ficar irritado, Sophie.
— Lembre-se disso quando eu estiver seguindo você por aí
como uma pulga na bunda de um cachorro.
Ele ri de novo, um som profundo e estrondoso. — Você soa
como a Libby.
— Oh-oh — diz Jax, pegando sua cerveja. — Ele acabou de lhe
dar o maior elogio possível. Cuidado, em breve você estará sujeita à
cascudos e pegadinhas, como o resto de nós.
Eu finjo horror, mas por dentro um calor suave nada através de
mim. Eu tenho muitos amigos e conhecidos. Conhecer pessoas
novas nunca foi um problema para mim; não é difícil quando você é
uma tagarela nata. Mas nunca fiz parte de uma família unida de
amigos. Talvez eu também não vá ser realmente aceita por esses
caras. Só o tempo vai dizer. Mas eu quero.
É uma coisa estranha, perceber que sou solitária apesar de
nunca estar realmente sozinha. Mas eu sou. Quero que alguém
conheça o meu verdadeiro eu, não a casca brilhante que mostro ao
mundo.
Deixo Killian e Jax em sua prática e passo para Rye, e então
Whip. Depois de terminar as fotos, carrego-as no meu computador e
escolho as que quero usar nas redes sociais de hoje.
O tempo passa rápido, e então vamos conferir o local do show
de abertura da terça à noite. Os caras estão com uma energia
inquieta. Eu juro que eles devem ser movidos pela música, porque
quanto mais falam sobre isso, mais eles tocam, e mais energizados
parecem.
Eu, por outro lado? Ainda sinto os efeitos do jet lag – não tive
uma verdadeira noite de sono desde que cheguei aqui – e da falta
do almoço. Quando pulamos o almoço, afinal? Como eu não percebi
isso?
Meu estômago ronca em protesto, e tento ignorá-lo porque
ninguém parece estar pronto para sair. Faço uma pausa, sentada no
palco e encostada em um conjunto de amplificadores
desconectados. Minha cabeça dói, e eu adoraria tirar uma soneca.
Só que não posso cochilar aqui. E eu simplesmente não consigo me
acalmar o suficiente para dormir quando estou no meu quarto.
Meu estômago ronca novamente, e juro que ele começou a se
auto digerir porque meu interior se contrai de dor. Eu me atrapalho
com a trava da caixa da câmera e xingo baixinho. Estou em estado
faminto aqui. Em breve vou ficar selvagem e rosnando. E esses
garotos não parecem se importar com o fato de que já faz horas
desde a última vez que comemos...
— Aqui. — Um sanduíche embalado da Pret A Manger é enfiado
debaixo do meu nariz. Um segundo depois, Gabriel senta ao meu
lado no palco.
Estou dividida entre pegar o sanduíche e admirar a maneira
suave como ele se move. O que é ridículo, resmungo
silenciosamente, afundando os dentes no pão de trigo com mel.
Meu deus, ficar desejosa com a maneira que um homem se move.
O que vem agora? Escrever poesia sobre a barba por fazer ao longo
de sua mandíbula?
Infelizmente, eu poderia. Eu realmente poderia.
A primeira mordida atinge minha boca e suspiro de alívio. —
Obrigada — murmuro entre as mastigações.
— Não foi nada. — Ele dá um leve encolher de ombros enquanto
examina o estádio.
Ele me trouxe sanduíche de salada de ovo com rúcula. Meu
favorito. Aperto o sanduíche nas mãos como se fosse um tesouro
precioso antes de dar outra mordida. E outra. Porra, eu estava com
fome. — Foi alguma coisa.
— Não fale de boca cheia. — Ele puxa uma garrafa de água
coberta de gotas de condensação de uma bolsa e desenrosca a
tampa, antes de entregá-la para mim. — Que Deus não permita que
você engasgue com a comida e não consiga mais falar.
A água está gelada, e eu a sinto descer, espalhando-se por mim.
Deliciosa hidratação.
— Como você sabia qual era meu sanduíche favorito?
Ele mantém o olhar distante, mas seu queixo abaixa um pouco.
— É meu trabalho saber tudo sobre o meu pessoal.
Seu pessoal. Seu rebanho.
— Eu não vejo você entregando comida para mais ninguém.
Ele finalmente se vira para mim. Olhos azuis brilhantes se
enrugam nos cantos com um humor sardônico, a curva de seu lábio
se inclinando levemente. Como sempre, minha respiração fica
presa. As rugas se aprofundam.
— Ninguém fica tão brava quando está com fome igual você,
Darling. É para o bem de todos mantê-la alimentada.
Eu suspeito que ele me chama pelo meu sobrenome como forma
de provocação, mas ele sempre diz isso como se fosse uma carícia.
Afasto o sentimento com um dar de ombros. — Eu nem me importo
que esteja me insultando. É verdade. Eu estava prestes a comer
minha própria mão.
— Não íamos querer isso. — Seu braço mal roça o meu. —
Precisamos que você trabalhe.
Meu celular toca. — Só um segundo — digo enquanto atendo
meu telefone. — Aloha?
— “Aloha”? É assim que você atende o seu telefone? A
propósito, é sua mãe.
Eu reviro meus olhos. — Sim, mãe, estou familiarizada com a
sua voz.
— Bem, nunca se sabe — ela responde com um suspiro
exagerado. — Faz tanto tempo desde que você ligou, você pode ter
esquecido.
Sorrindo, eu abaixo o meu sanduíche. — Mãe, você poderia
fazer da culpa um esporte olímpico.
— Eu tento, pudinzinho. Agora, conte-me tudo sobre o seu novo
emprego. Eles são legais com você? Você gosta?
Essa não é uma conversa que eu quero ter com Gabriel e sua
audição de morcego nas proximidades, sem mencionar que seus
olhos estão olhando para mim em clara diversão. Mas não posso
dizer exatamente isso. — Claro que são legais comigo. Eu não
ficaria se não fossem.
Não é exatamente verdade. Eu tive alguns empregos de merda
com chefes ainda mais merdas ao longo dos anos, mas estou
mudando de página: não aceitarei nada além do que me faz feliz a
partir de agora.
— E eu adoro o trabalho, mãe. De verdade.
— Bem, isso é bom. E aqueles garotos da banda? — Sua voz
cai. — Eles são tão sexys quanto parecem na TV?
Eu contei a ela sobre com quem eu estava trabalhando por
mensagem. Mas não esperava que ela conhecesse Kill John. Imito
um som de vômito no telefone. — Sério? Você está tentando me
traumatizar para o resto da vida, não é? Não me pergunte sobre
rockeiros sexys.
Ao meu lado, Gabriel bufa e dá uma mordida no meu sanduíche.
Eu o pego de volta, dando-lhe um olhar mortal enquanto minha mãe
continua falando.
— Por favor, — ela diz. — Se eu não gostasse de sexo, você
nunca teria...
— La, la, la ... Não estou te ouvindo!
Gabriel ri, tão baixo que só eu posso ouvi-lo. Mas o som faz
coisas ilícitas comigo, enviando arrepios para onde não preciso
deles.
— Nascido! — Mamãe termina enfaticamente.
— Mãe.
— Não choramingue, Sophie. É desagradável.
Um clique soa, e a voz do meu pai se intromete. — Minha filha
não choraminga.
— Viu? Papai sabe tudo — eu comento, sorrindo. É um antigo
jogo nosso, e não me importo se tenho vinte e cinco anos; é bom
agir como uma criança de vez em quando. Me faz sentir segura e
protegida.
Aqui estou eu, sentada em um palco, prestes a sair em turnê
pela Europa com a maior banda do mundo. Mas por alguns minutos,
posso ser apenas Sophie Darling, filha única de Jack e Margaret
Darling.
— Você a mima, Jack — minha mãe está dizendo. — Eu tenho
que combater os efeitos nocivos com doses de duro realismo.
Sou essencialmente minha mãe – só que mais jovem e com a
cor dos cabelos sempre mudando. Eu tenho que interromper meus
pais ou eles não vão parar. Suas discussões podem durar para
sempre, e eu tenho um quase-chefe gostoso e intrometido com
quem almoçar – algo que de repente me enche de expectativa.
— Olha, minha hora de almoço está prestes a terminar. Eu ligo
hoje à noite quando encerrarmos o dia.
— Tudo bem, querida — diz meu pai. — Lembre-se: os homens
adoram mulheres que se fazem de difíceis. Extremamente difíceis.
Não preciso olhar para saber que Gabriel está revirando os
olhos.
— E ainda assim você e mamãe começaram como um caso de
uma noite...
— Droga, Margaret. Você conta demais para essa criança.
Ainda rindo, nos despedimos e, assim que desligo, Gabriel fala
novamente. — E agora seus ataques verbais levemente
desequilibrados fazem sentido.
— Ouvir a conversa dos outros é rude, sabe...
— Eu teria que cobrir meus ouvidos para não ouvir esse tumulto.
— Seu olhar desliza sobre mim com diversão clara. — Eles falam
tão alto quanto você.
— Não deveria ser o contrário?
— Detalhes.
Sorrio, sem conseguir me conter, e dou uma cutucada no ombro
dele com o meu. É como tentar mover uma parede de tijolos.
Gabriel pega meu sanduíche novamente e, como estou me
sentindo generosa, deixo-o ficar com o pedaço e pego a outra
metade. Ele termina sua parte em duas mordidas e limpa a boca
com um guardanapo.
— Seus pais são adoráveis, garota tagarela.
Calor inunda meu peito. — Obrigada. Eu sinto falta deles.
Ele assente com empatia. — Não os vê frequentemente? Você
falou antes sobre viver de miojo...
— Eu amo meus pais — eu interrompo. — E eu os vejo quando
posso. Mas também há um limite do quanto consigo aguentar. Eles
são... um pouco sufocantes em suas tentativas de cuidar de mim.
Pego o telefone e percorro as fotos até encontrar a que quero. É
uma versão mais nova de mim, sorrindo largamente e sofrendo
enquanto me sento entre meus pais em um sofá. Eu entrego a
Gabriel.
Ele estuda a imagem por um longo momento. — Você parece um
pouco com os dois.
— Sim. — Eu sei disso muito bem. Eu tenho os olhos castanhos
escuros da minha mãe, seu sorriso atrevido e nariz empinado. E
tenho a estrutura óssea do meu pai e seus cabelos loiros escuros e
ondulados. Olho para mamãe, com seu cabelo cor caramelo preso.
Eu sempre quis o cabelo dela. — Essa foto foi tirada na minha festa
de formatura.
Ele levanta uma sobrancelha, esperando que eu explique.
Balanço minha cabeça, meus lábios franzindo. — Foi uma
cervejada. Eles eram os únicos pais lá.
Uma risada curta e chocada escapa dele, antes de engoli-la. —
Isso explica sua expressão de alguém-me-mate.
— Há. Essa expressão era eu planejando suas mortes
prematuras e lentamente torturantes.
Ele faz um som divertido.
— Eles sempre foram assim - muito, muito envolvidos. Mamãe é
meio filipina, meio norueguesa-americana. Ela costumava me trazer
presentes: grandes bandejas de lumpia e salmão defumado.
— Lumpia?
— Rolinhos primavera filipinos, basicamente. Que são deliciosos.
Combinados com salmão defumado? Nem tanto. — Eu faço uma
careta. — E depois tem o papai. Esse grande pateta, meio escocês-
americano, meio professor de sociologia armênio. Ele costumava
me provocar, me chamando de bebê da ONU enquanto explicava os
caminhos intrincados da minha árvore genealógica para amigos
entediados. — Suspiro. — Então, é preciso lidar com eles em
pequenas doses.
— Você é amada — diz ele gentilmente. — Isso é uma coisa
maravilhosa.
— É. — Olho para o amplo estádio, observando a equipe
guardando os instrumentos enquanto Kill John encerra o dia. — E
esse também era o problema. Não queria que eles soubessem que
eu estava falhando. Ou o que fazia para ganhar a vida. Eu não
estava mentindo quando disse que tinha vergonha do meu trabalho.
Foi só no ano passado que voltei a querer vê-los, sabia?
Lentamente, ele assente, uma carranca aparecendo em sua
boca.
— Estou orgulhosa agora — digo a ele em voz baixa. — Eu amo
o fato de que mamãe é uma fã incubada do Kill John.
— Devo enviar para sua mãe uma foto autografada da banda?
— Os olhos de Gabriel se iluminam.
— Deus, não a encoraje. Quando menos esperarmos, ela estará
aqui e eu vou enlouquecer.
— Parece quase valer a pena.
— Eu vou atirá-la em você. — aviso. — Você é muito mais bonito
do que qualquer um dos caras. Ela vai ficar te seguindo, te
empanturrando de comida e beliscando sua bunda quando você não
estiver olhando.
— Ela é casada — diz ele, como se isso importasse.
— E tem uma fraqueza por homens lindos. Vai entender — eu
brinco.
Ele faz uma careta. — Homens não são lindos.
— Existem muitos tipos de beleza. — Eu os conto nos dedos. —
Lindas meninas, que são fofas e doces. Lindas mulheres, que
raramente são prostitutas com um grande coração, apesar do que
dizem os filmes. Lindos meninos, atraentes, mas você basicamente
só quer beliscar suas bochechas. E lindos homens. — Dou-lhe um
olhar aguçado. — Sabe, do tipo que muitas vezes é confundido com
modelos de renome internacional...
O bastardo enfia o resto do sanduíche na minha boca. — Seja
uma boa garota tagarela e coma.
Dou uma mordida forte e mastigo lentamente, meu olhar
prometendo uma retribuição terrível. Mas por dentro, meu sangue
parece champanhe em minhas veias, borbulhando e fervendo de
felicidade. Eu estou me divertindo. Demais, e não quero que acabe.
Talvez ele também esteja, porque sua expressão satisfeita
cresce. Ele fica sentado comigo num silêncio agradável enquanto
devoro o resto do almoço e bebo minha água. Quando termino, ele
me entrega um guardanapo e junta o lixo, colocando-o na sacola
que trouxe. Tudo é feito de maneira prática, limpa e silenciosa. Nada
que chamasse atenção para o ato. É como se ele estivesse sempre
cuidando de mim – como se não fosse grande coisa, apenas parte
de seu trabalho.
E, no entanto, é tudo mentira. Gabriel Scott pode saber tudo
sobre todos os que estão sob sua gestão, mas para essas pessoas
ele é uma sombra inacessível no canto da sala. Ele gosta das
coisas assim. O fato dele estar cuidando de mim espalha um calor
pelo meu peito.
Antes que ele possa fugir, eu me inclino e pressiono um beijo
suave em sua bochecha. Ele se encolhe, mas olha para mim
através das pálpebras abaixadas enquanto me afasto. — Obrigada
pelo almoço, Gabriel. Me sinto muito melhor agora.
Seu olhar se move para a minha boca, e meus lábios incham e
se abrem como se ele os lambesse. Ele respira fundo, soltando o ar
lentamente, e a ponta do seu polegar encontra o canto da minha
boca. O toque queima como se tivesse uma ligação direta para o
meu sexo. Tudo lá aperta, quente e doce.
— Tem ovo no seu rosto. — Sua voz é rouca e recheada com um
humor seco. Ele me dá um sorriso rápido e maligno, seu polegar
persistindo no meu rosto antes dele se afastar, pulando para fora do
palco. — De volta ao trabalho, Darling.
Sorrio com falsa tranquilidade, embora meu corpo tenha sido
reduzido a um naufrágio quente e trêmulo. — Sim, querido.
Alguns assistentes de palco levantam a cabeça ao me ouvir
chamar o Grande Scottie de querido, e me olham horrorizados. O
que significa que eu sou a única que vê Gabriel perder um passo.
Ele se recupera rápido, mas é o suficiente para me manter sorrindo
pelo resto do dia.
CAPÍTULO SEIS

H que faço comigo mesmo: gratificação adiada. Se há


algo que eu realmente quero, eu me impeço de ter. Meu primeiro
carro bom de verdade, eu esperei um ano antes de comprar. Disse a
mim mesmo que não importava se eu tinha o carro ou não; minha
vida não seria melhor ou pior com a compra. Eu me permitia apenas
olhar as fotos do Aston Martin DB9 de vez em quando para
alimentar minha necessidade. Eu me permiti escolher uma cor –
cinza ardósia com pastilhas de freio vermelhas – e finalmente,
finalmente, quando o ano acabou, eu comprei o carro. Naquela
época, a emoção havia diminuído, minha necessidade pelo carro
havia sido silenciada. Eu havia domado o meu desejo.
Fiz o mesmo com todas as necessidades não essenciais da
minha vida: carros, casas, uma pequena pintura de Singer-Sargent
que eu cobiçava. E isso foi bom para mim. Quando você não anseia
por nada, nada pode decepcioná-lo. E eu sei muito bem que isso
veio da perda de minha mãe tão jovem. Não preciso sentar num
divã para saber que uso o controle para me proteger. E não dou a
mínima para o que isso diz sobre mim. Funciona, e fim de papo.
Digo isso a mim mesmo novamente enquanto perambulo pela
minha sala de estar. A casa está silenciosa ao meu redor. Muito
silenciosa. Consigo me ouvir pensar, e quem diabos quer se ouvir à
uma da manhã?
Eu deveria ir para a cama, mas não consigo dormir. Eu
literalmente não consigo adormecer. Isso tem acontecido desde que
cheguei em Londres. Acordado à noite, exausto pela manhã. Em
resumo: estou num inferno de privação de sono.
Xingando, ando ao redor do cômodo como uma espécie de
personagem perturbado num romance de Austen. Só que estou
sozinho. Estou na primeira casa que comprei. Oito milhões de libras
para garantir um santuário particular em Chelsea. Eu amo cada
centímetro do lugar, cada tábua do chão e cada parede de gesso
velha. E, no entanto, parado no meio de uma sala que paguei para
ser decorada, ela parece uma tumba.
Eu deveria ligar para um dos caras. Alguém deve estar
acordado; eles são praticamente corujas noturnas. Mas não quero
falar com eles. Eu quero alguém completamente diferente.
— Inferno. — Puxo minha gola. A caxemira é leve e
aconchegante, mas ainda me sinto sufocado.
Ela vai estar acordada. Eu sei isso. Eu posso sentir em meus
ossos.
Está tão silencioso que o som dos meus pés caminhando pelo
chão ecoa. Pego meu telefone antes que eu possa me impedir. Não
faça isso. Nada de bom pode vir de envolvimento. Ela é uma
funcionária.
Solto o telefone e circulo a sala mais três vezes antes que meus
pés me levem de volta ao aparador, onde deixei o celular. Minha
mão paira sobre a coisa maldita. Apenas deixe para lá. Ela vai achar
que significa mais do que realmente significa.
— Porra. Porra. Porra. — Seguro a parte de trás do meu
pescoço, onde os músculos se contraem em um protesto furioso.
Na minha cabeça, ouço sua risada suave. Eu vejo o rosto dela e
a maneira como a ponte de seu nariz se enruga um pouco quando
ela sorri. Meu olhar percorre a sala, com meus móveis confortáveis
e fotos minhas e dos caras na parede. Apesar do decorador, tive a
minha parte em todas as decisões de design tomadas aqui. Esta
casa é um reflexo de mim e do meu lado mais pessoal. O que ela
diria sobre o lugar? Ela o acharia frio ou acolhedor?
E por que eu me importo?
— Porque você finalmente enlouqueceu, cara. — E estou
falando sozinho também. Perfeito. Simplesmente perfeito.

M que ainda estou meio convencida de que


estou sonhando. Paredes creme decoradas com boiseries brancos,
tapetes de sisal terrosos, e uma cama com dossel. Há até uma
banheira vitoriana com pés de garra em frente à cama. É muito
romântico, na verdade. O tipo de cenário em que eu estaria
tomando banho de uma maneira sedutora enquanto meu homem se
reclinaria na cama para assistir até que não aguentasse mais a
tortura e se arrastasse para se juntar a mim. Faríamos uma bagunça
no chão, derramando água, rindo enquanto fodíamos loucamente.
Uma bela cena.
Só que estou sozinha no escuro, embaixo das cobertas,
totalmente acordada e observando as luzes dos carros que passam
na rua abaixo e refletem no teto. Eu deveria estar dormindo, mas o
jet lag me pegou com força. Estou tão acordada que meu corpo está
zunindo com a necessidade de levantar. Péssima ideia. Eu preciso
dormir.
Estou tão concentrada em tentar dormir que a vibração do meu
telefone me assusta. Atrapalhadamente, eu o pego na minha mesa
de cabeceira. Não tenho certeza de quem eu esperava estar me
mandando mensagens às 2 da manhã, mas eu certamente nem
sequer cogitei que fosse ele.
Raio de Sol: Se você não dormir agora, terá um jet lag ainda pior.
Abro imediatamente um sorriso ridículo, como se ele pudesse
me ver pelo telefone.
Eu: Se você está tão preocupado com o meu sono, não deveria
estar me mandando mensagem no meio da noite.
Ele responde de volta.
Raio de Sol: Eu tinha poucas chances de te acordar. Sabia que
você estaria acordada.
Eu: Ah é? Você é vidente?
Raio de Sol: Não. Apenas acordado também. E lembrei da sua
incapacidade de se acalmar.
Eu: Que mentira! Eu posso ser calma!!!!!
Raio de Sol: Conforme demonstrado pelo uso sutil de pontos de
exclamação.
Eu rio na escuridão do quarto, puxando meus joelhos até o peito.
Meu batimento cardíaco está acelerado. Estou toda boba, como
uma maldita colegial. E isso é ou não é uma droga?
Ele tinha me colocado firmemente na zona dos funcionários, e
então me trouxe um sanduíche. Nem tenho certeza se ele confia em
mim, e ainda assim cá está ele, me mandando uma mensagem no
meio da noite. Talvez ele esteja solitário. Ou talvez esteja
procurando por uma transa. Gabriel não se parece em nada com os
homens que já estive antes, então não tenho certeza. Mas não
posso fingir que não gosto de flertar com ele, mesmo que isso não
leve a lugar nenhum.
Eu: Seu sarcasmo cheira a sangue de estagiários mortos e à
almas de executivos desaparecidos.
Raio de Sol: Mentira. Isso é que eu como no café da manhã.
Preste atenção, Darling.
Eu rio, embora ele não possa me ouvir. Quase consigo ver sua
expressão, sempre impassível, mas com aquelas rugas nos cantos
dos olhos e lábios carnudos levementes puxados para cima. Essa
versão infinitesimal de um sorriso que a maioria das pessoas não
percebe. O mundo fascina Gabriel Scott, mas ele faz um ótimo
trabalho fingindo que não. Disso eu já sei.
Eu: Awn… já temos apelidos carinhosos?
Raio de Sol: É o seu nome.
Eu: Uma desculpa conveniente.
Raio de Sol: Uma resposta legítima
Eu: Ninguém nunca me chamou pelo sobrenome. Devo chamá-lo
pelo seu? Te chamar de Scottie como os outros?
Raio de Sol: Não.
Estou brincando, porque não quero chamá-lo de Scottie. Esse
não é o nome dele para mim. É o nome de um estranho. Mas a
força enfática de sua resposta me faz pensar no por que ele não
quer que eu o chame assim, quando todos ao seu redor fazem isso.
Meu polegar treme um pouco quando respondo, adotando um tom
mais formal, porque sério, o que diabos estou fazendo flertando com
o meu chefe?
Eu: Bem, você me pegou. Não consigo dormir por nada. Vou ter
que viver com as consequências.
Pequenos pontos se formam na parte inferior da tela do celular.
Eles desaparecem e depois voltam. Eu me pergunto o que diabos
ele está tentando escrever se está apagando e refazendo o texto.
Eu quase lhe envio uma mensagem apenas para implicar com
ele sobre o que está tentando dizer, e então sua mensagem
finalmente aparece. E meu queixo cai. E permanece caído. Meu
coração para e depois começa a bater rápido. Não estou vendo
coisas; está escrito lá, claro como o dia:
Raio de Sol: Você gostaria de vir aqui?
Que. Porra. É. Essa?
Fico claramente em choque por muito tempo, porque ele envia
uma série de explicações tensas.
Raio de sol: Para tomar um chá.
Raio de Sol: Que vai ajudá-la a dormir.
Raio de sol: Eu faço um bom chá.
Ele faz chá? Gabriel Não-tenho-tempo-para-meros-mortais Scott
realmente faz chá? E bebe ele? Nossa senhora da bicicletinha.
Ele ainda está mandando mensagens.
Raio de sol: Inferno. Estou claramente sob privação de sono.
Raio de sol: Ignore o convite.
Eu digito rápido, acabando com o sofrimento do pobre rapaz.
Eu: Onde você está?
Eu: Sua casa, quero dizer. Onde é?
Ele faz uma pausa. E eu sei que ele está franzindo a testa para o
telefone. Provavelmente tem estado fazendo isso por algum tempo.
Mordo o lábio para me impedir de sorrir.
Raio de sol: A alguns quarteirões de distância. Eu posso enviar
um carro.
Eu: Não. Eu vou andando.
Raio de sol: Você não vai. Eu te encontro.
Meu sorriso realmente está fazendo minhas bochechas doerem.
Eu já estou fora da cama e lutando para colocar minhas calças.
Eu: Ok. Onde?
Raio de sol: Em frente ao seu hotel. Em dez minutos.
— Isso é loucura. Isso é loucura — murmuro enquanto visto meu
jeans e vasculho minha mala em busca de um sutiã e uma blusa. Eu
não me incomodo em acender a luz, como se fazer isso pudesse
ativar o meu bom senso e me fazer mandar uma mensagem para
Gabriel cancelando tudo. Porque, que diabos eu estou fazendo?
Ele realmente quer me fazer chá?
Sim. Eu sei que ele quer. Gabriel não fala da boca para fora. Ele
vai me fazer um chá. Mas ele quer mais? Por que me convidou?
— Pare de pensar. — Falar comigo mesma não pode ser bom
sinal. Visto uma blusa de manga comprida cor creme e calço meu
all-star.
Estou no saguão antes de perceber que esqueci de me maquiar
ou de pentear o cabelo.
— Cacete.
O porteiro da noite olha para mim como se eu estivesse louca, e
eu dou a ele um sorriso tenso antes de seguir em frente. De
qualquer forma, não há tempo para voltar ao meu quarto; eu posso
me desencontrar com Gabriel. Ele pode amarelar se tiver que
esperar.
Eu amo o clima em Londres. Não me importo se sou a única no
mundo. É fresco e frio, com umidade suficiente para fazer as pontas
do meu cabelo enrolarem. E caramba, há uma camada real de
névoa rastejando ao longo da calçada. Às duas da manhã de um dia
de semana, também está bastante calmo, as ruas abandonadas.
Minhas mãos coçam para pegar minha câmera. Essa
necessidade cresce quando Gabriel sai das sombras, suas as mãos
enfiadas nos bolsos de sua calça escura. Um suéter cinza de
cashmere abraça seus ombros largos e grandes bíceps. Esse
homem poderia vender barcos para moradores do deserto apenas
por ficar parado ali, parecendo bonito.
Ele caminha em minha direção, com o queixo levemente para
baixo, olhando para mim por baixo daquelas sobrancelhas
arrebatadoras.
Eu quase engulo minha língua. — Ei, Raio de sol.
— Garota tagarela.
Ele para à alguns metros de distância e nos encaramos. Meu
coração está rápido como um metrônomo. Seu olhar percorre o meu
corpo, e depois encara o meu rosto. Eu não sei o que dizer. Me foda
agora provavelmente não seria apropriado. Ou inteligente.
Sua voz é baixa e acentuada. — Eu não sei por que estou aqui.
Eu deveria estar ofendida. Mas como ele está basicamente
repetindo meus próprios pensamentos, não posso julgá-lo. Eu luto
contra um sorriso; ele parece tão aborrecido.
— Você mandou mensagem, me convidou para tomar chá às
duas da manhã e se ofereceu para me buscar.
Seus lábios se apertam. — Eu não... eu não socializo.
Não brinca. — No entanto, aqui estamos nós.
Algo brilha em seus olhos. — Aparentemente sim. — Ele não se
move. Outro grunhido irritado sai de sua garganta. — Eu não
consigo dormir, porra.
O fato dele ter vindo à mim por causa disso envia uma onda de
calor através do meu peito. — Então, vamos fazer alguma coisa.
Ele obviamente não quer gostar da ideia. Seus ombros formam
dois montes sob o suéter. — Isso não é sobre sexo.
Eu rio. — Espero que não. Seria estranho ter que recusar você.
Mentirosa, mentirosa, sua calcinha está pegando fogo.
Os lábios dele se contraem. — Desculpe. Eu sou uma merda
nisso.
— Está afirmando o óbvio, Raio de sol.
Com um bufo, ele vira a cabeça, mas eu vejo o sorriso passar
por seus lábios antes que ele o esconda. Então Gabriel acena com
a cabeça bruscamente, como se estivesse tomando alguma
decisão.
— Vamos? — Ele gesticula na direção em que veio com o
queixo.
Caminhamos juntos em silêncio, perto o suficiente para que
nossos ombros rocem a cada poucos passos. Eu não me importo
com o silêncio. Ele me dá um lugar para esconder meus
pensamentos acelerados.
— É logo na esquina — ele me diz com a voz baixa e rouca.
— Você realmente vai me fazer chá?
— Eu não disse que faria? — Seu olhar colide com o meu. —
Qual o problema com chá?
— Nada. É só que é uma coisa... — procuro a palavra certa. —
De avós.
Ele ri disso, um som que é quase uma bufada. — Eu sou inglês.
Chá é o remédio para todos os nossos problemas. Teve um dia
ruim? Tome uma xícara de chá. Dor de cabeça? Chá. Seu chefe é
um idiota? Chá.
— Ah — eu digo com triunfo. — Então eu tenho um motivo para
beber chá.
O passo de Gabriel titubeia, e ele olha para mim. — Estamos
concordando que eu sou seu chefe? Ou você está com dor de
cabeça?
— Não sei. Você vai concordar que você pode ser um idiota? —
Eu sorrio tão abertamente que sinto minhas bochechas se
esticarem.
— Um idiota que leva almoço para você e vai fazer chá — ele
aponta suavemente antes de me cutucar com o cotovelo.
Estou prestes a cutucá-lo de volta quando um estrondo forte
corta o ar. É tão alto que eu dou um grito, quase morrendo do
coração. A mão de Gabriel alcança a minha em um movimento
instintivo. Não sei se ele pretendia me agarrar ou apenas se
estremeceu de surpresa também. Nossos dedos roçam quando
clarões de luz riscam o céu. E então ele desaba. A chuva cai tão
rapidamente e tão gelada que perco o fôlego.
Ficamos ali, boquiabertos, enquanto o dilúvio toma conta. E
então eu rio. Muito. Porque, o que mais eu posso fazer? A chuva cai
nos meus olhos, na minha boca. Eu poderia me afogar. Estou
definitivamente encharcada.
Gabriel é uma estátua, absolutamente deslumbrante quando
molhado, seus cabelos negros grudados na cabeça e a água da
chuva escorrendo pelo seu rosto, brilhando à luz da rua. Ele pisca,
seus longos cílios agora espetados.
— Mas é claro — ele diz com um suspiro rouco.
— Você não vai me culpar, né? — Eu grito sobre o rugido da
chuva, ainda rindo.
— Tudo, desde a viagem de avião, é por sua causa, Sophie
Darling. — Ele pega minha mão. — Venha, garota tagarela, antes
que nos afogamos.
Nós nos apressamos para sua casa, correndo pelos pavimentos
escorregadios que compõem as calçadas de Londres. Eu estou
rindo, sem fôlego. Ele olha por cima do ombro para mim. Tudo é um
borrão, exceto as feições dele que de alguma forma são cristalinas
no momento, e meu coração dá um mortal nas minhas costelas
quando vejo a alegria em seus olhos.
Ele dá um outro puxão na minha mão, meus dedos envoltos
calorosamente nos seus. Viramos uma esquina e então tudo dá
errado. Gabriel derrapa, seus sapatos deslizando no chão molhado.
Um de seus braços gira, seu aperto em mim flexionando. Minha
boca forma a palavra não! mas sai como um guincho.
Ele está caindo, toda aquela massa corpórea tombando, me
levando junto com ele. Para mim, acontece em câmera lenta. Na
realidade, é tão rápido que em apenas um segundo há membros se
debatendo e corpos caindo.
Eu pouso sobre ele, meu quadril batendo contra o seu. Ele emite
um Oof! alto antes que braços fortes me envolvam, me prendendo
sobre si.
A chuva cai ao nosso redor, e ele pisca para mim.
Eu ofego, tentando recuperar o fôlego. — Porra.
Minha respiração me abandona completamente quando ele me
lança um sorriso, cheio de dentes brancos e deslumbrante beleza
masculina. — Viu? — Ele murmura. — Culpa sua.
— Minha? Você caiu. Você e esses sapatos chiques.
— Chiques — ele bufa. O mundo roda quando Gabriel nos gira.
Meus ombros encontram a rua molhada e a chuva cai nos meus
olhos. E então ele está sobre mim. Eu separo minhas coxas sem
pensar, e seus quadris se movem entre elas. Sou deixada com
aquele corpo longo e duro pressionando o meu, firme, quente,
pesado. Meus pensamentos se dispersam.
— Você me distraiu — diz ele, com um brilho acalorado nos
olhos.
Ele está perto o suficiente para eu sentir o calor suave de sua
respiração, sentir o cheiro de sua pele.
Ele mexe os quadris e, por um segundo incrível, seu pau está
contra o meu sexo, moendo um ponto sensível que deixa meu corpo
num êxtase. O calor se espalha, minhas coxas se abrem mais e eu
ofego. Deus, ele é grosso, e eu juro que está mais do que só um
pouco duro. Ou talvez seja tudo coisa da minha cabeça, porque ele
já está se levantando daquele jeito ágil de quem se mantém em
forma.
Continuo prestada estupidamente no chão, meus seios pesados,
os mamilos duros, meu sexo quente.
A expressão de Gabriel voltou a ser branda, mas há algo
presunçoso na maneira como olha para mim. Babaca. Ele estende a
mão e me puxa para cima antes que eu possa sequer pensar.
— Agora, chega de brincadeira. — Sim, ele está definitivamente
todo convencido e rindo de mim. — O chá não vai se preparar
sozinho.
Ele me reboca num transe o resto do caminho inteiro.

A G . Isso não é nenhuma


surpresa; essa área de Londres é linda. O tamanho é bastante
modesto comparada às outras, e está escondida num quarteirão
calmo, onde todas as casas ficam em torno de um pequeno parque
com lâmpadas a gás cintilantes e vitorianas. Mais uma vez, anseio
pela minha câmera. Eu poderia passar horas registrando as
pequenas maravilhas de Londres.
Ele empurra um portão de ferro na altura da cintura e caminha
pela entrada. No interior, o piso é feito de tábuas de madeira antiga
e desgastada que claramente resistiu à passagem de séculos, e fico
receosa por molhá-las. Gabriel não parece se importar. Talvez
porque ele esteja pingando sobre elas também.
Depois de tirar os sapatos, passamos por paredes brancas
brilhantes, misturas ecléticas de obras de arte emolduradas – sendo
a maioria delas fotos dos rapazes em preto e branco, nos bastidores
e na estrada. Espero encontrar fotos de outras pessoas famosas
que Gabriel sem dúvida conheceu, mas não há nenhuma. Apenas
os garotos dele e Brenna. Tudo isso se mistura com imagens de
outras cidades e vastas paisagens. Há até um pequeno cartão
postal de Brighton emoldurado. Eu pararia para admirar, mas
Gabriel não diminui o passo.
Subimos um conjunto de escadas estreitas que rangem sob
nosso peso. Esse andar é claramente o nível principal da casa. Eu
espio e vejo uma sala de estar, uma sala de jantar que foi convertida
em biblioteca, embora ainda tenha uma mesa de jantar, e outra sala
de estar – tudo decorado com móveis confortáveis, mas com design
levemente moderno. E então subimos novamente.
Meu coração dispara quando percebo que estamos indo em
direção aos quartos. Ridículo. Claro que estamos indo para lá;
estamos pingando e precisamos de toalhas. Meus pés descalços
fazem barulho no chão de madeira delicado. Gabriel não falou uma
palavra, então eu encaro suas costas largas e sua bunda firme,
suas roupas grudadas e cobertas de sujeira da rua. Isso não estraga
a paisagem nem um pouco. Eu intitularia a foto: Sobre coisas
molhadas e sujas.
Bufando baixinho para mim mesma, quase não percebo que o
piso de madeira deu lugar a um exuberante carpete de cor terrosa.
Estamos no quarto dele.
Faço uma pausa no limiar na porta. Não posso evitar; entrar no
quarto de Gabriel é como entrar em El Dorado ou descobrir
Atlântida. Quando ele para e ergue uma sobrancelha em minha
direção, digo isso a ele.
Ele olha para mim de soslaio, como se não tivesse muita certeza
do que pensar sobre mim. — Você é a pessoa com a imaginação
mais louca que já conheci.
— Imaginação. Certo. Aposto um bom dinheiro que você é o
único que já esteve aqui. — Respondo. — Diga-me que estou
errada.
Ele me oferece um sorriso malicioso. — Errado. Houveram os
decoradores. E a empregada.
— Insolente. — Eu rio suavemente enquanto dou um passo para
dentro do quarto.
Eu acredito que decoradores estiveram aqui. Em vez de paredes
brancas, o quarto é marrom escuro, num tom chocolate. Cortinas
suaves e macias cobrem as janelas, e uma cama volumosa de
couro domina a parede oposta. O quarto grita caverna de homem
rico. Eu posso facilmente imaginá-lo aqui, sentado junto à lareira de
mármore marfim, bebendo uísque.
— É perfeito.
— Perfeito? — Sua testa se enruga como se estivesse confuso.
— Esse quarto. — Eu gesticulo ao redor. — Eu não poderia
sonhar com um quarto mais perfeito para você nem se tentasse. É
intrinsecamente você.
O cenho dele franze ainda mais. — Não consigo decidir se isso é
um elogio ou não.
— Você está querendo um?
— Não.
— Hmmm...
Ele faz um som de escárnio e se dirige para outra porta.
Meus dedos dos pés afundam no tapete enquanto sigo. — Eu
amo o seu quarto, Gabriel.
Ele grunhe em resposta à medida que entramos em um closet
com painéis de nogueira. Cheira a madeira, lã e colônia picante.
Cheira a ele. Resisto ao desejo de respirar fundo e, em vez disso,
deixo meu olhar percorrer as filas intermináveis de ternos, sapatos
lustrosos de couro e um arco-íris de gravatas de seda.
— É como uma versão masculina de um closet das Kardashians.
— Eu toco a manga de um terno de lã cor de carvão.
— Gostaria de pensar que tenho um gosto melhor — diz ele,
abrindo uma gaveta. Gabriel pega dois conjuntos de calças de
moletom cinza claro e depois duas camisetas. Ele me entrega um
par de moletom e camisa branca, pegando a camiseta preta para si.
— Você pode se trocar aqui. Sinta-se livre para tomar banho.
Estou coberta de sujeira, assim como ele. Minha pele está fria e
úmida, e um banho soa como o paraíso.
Gabriel aponta o banheiro, que fica na próxima porta. — Vou
usar o banheiro das visitas.
Ele não me espera protestar o fato de ser eu quem deveria tomar
banho no banheiro das visitas – afinal, eu sou a visita – e sai pela
porta com as roupas limpas na mão.
Então uso o banheiro ultra moderno dele, me lavando no imenso
chuveiro com box de vidro e uso o gel de banho sofisticado que tem
o seu cheiro. Tudo parece um sonho. Um sonho realmente estranho.
Na verdade, poderia muito bem ser um. Não consigo entender o fato
de estar aqui. Que ele me trouxe aqui.
Seco meu cabelo com uma de suas toalhas grossas e macias e
visto suas roupas.
Sabe aqueles livros e filmes em que a garota usa calças
masculinas e elas ficam penduradas em sua cintura minúscula?
Pois é, não tenho certeza de que tipo de fada inspirou a ficção, mas
isso não acontece comigo. Caramba, o comprimento das calças é
muito longo e eu tenho que enrolá-las. Mas elas se esticam sobre
minha bunda e coxas em um nível digno de estremecimento.
A camiseta se encaixa melhor, mas basicamente parece um
saco. Sexy, só que não. Também não estou usando sutiã porque o
meu está encharcado e frio. Não acho que o fato de minhas
meninas balançarem livremente faça muito pela causa. Estou
simplesmente desgrenhada, com meu cabelo escorrido e úmido, e
sem maquiagem.
Mas acabo rindo, porque, minha aparência é importante? A
maneira como Gabriel olha para mim nunca parece mudar apesar
das minhas roupas. E ele deixou bem claro que não se trata de
sexo.
Um lampejo de nós na rua cruza minha mente, seu corpo duro e
seu pau grosso pressionados contra mim por um momento
inebriante. Isso foi real. Mas foi uma reação à mim? Ou era apenas
o fato de que ele estava entre as pernas de uma mulher?
— Você pensa demais — murmuro para o meu reflexo e depois
volto para o quarto dele.
Ele não está lá. Eu com certeza absoluta não o imagino tomando
banho. Terei que encará-lo em breve, e não preciso dessa imagem
na minha cabeça quando fizer isso.
O quarto está bastante escuro, apenas uma lâmpada de
cabeceira ligada e o brilho das brasas morrendo na lareira. O frio da
chuva se foi agora e meu corpo está quente e relaxado.
Preguiçosamente, vou até a cama dele. É enorme e luxuosa. O
edredom de linho está ligeiramente amarrotado, como se Gabriel
tivesse deitado nas cobertas, tentando se sentir confortável antes de
levantar. Estranhamente, não consigo imaginá-lo relaxando o
suficiente para realmente dormir. O que é ridículo; até os deuses
precisam dormir em algum momento.
Eu sento na cama dele. Parece um pecado, algo travesso. Não
posso deixar de sorrir com o pensamento dele franzindo a testa ao
me ver invadindo seu domínio pessoal. Corro a palma da mão sobre
as cobertas, alisando as rugas. Elas são macias e frescas, cedendo
sob a minha mão. E, de repente, é muito fácil deitar na cama dele e
deixar seus travesseiros cheios acomodarem minha cabeça. Porque
tudo está muito pesado agora: meu corpo, meus membros, minhas
pálpebras.
A cama dele cheira a linho fresco. Tão macia. A chuva tamborila
contra o telhado, o fogo crepita, já em seu fim. Meus olhos se
fecham. Eu respiro fundo, tentando abrir meus olhos novamente.
Mas estou tão confortável. Tudo está tão quieto e calmo aqui. E
Gabriel está no final do corredor. Seja o que for que ele pense de
mim, garantirá que eu esteja segura, vigiada. Ele é confiável como o
chão firme.
Minhas pernas se endireitam, movendo-se para cima da cama.
Com um suspiro, eu me aconchego. Eu vou descansar meus olhos
até ele voltar.
CAPÍTULO SETE

H de vezes que você pode se perguntar o que


diabos está fazendo antes que a pergunta se torne inútil. Sendo um
bastardo tenaz, só desisto depois da centésima vez. Foda-se. Eu
quero Sophie aqui. Negar é inútil. No momento em que ela
concordou em vir, o aperto forte quase constante no meu esterno
diminuiu. Ficou ainda mais leve quando a vi parada naquela rua
enevoada, seus cabelos loiros e platinados brilhando com a
umidade, o som de sua voz e sua honestidade inabalável sendo
como um bálsamo para mim.
E o peso quase sumiu completamente quando rolei por cima
dela e pressionei meu pau entre suas pernas. Seus lábios se
abriram em choque, aqueles suaves olhos castanhos se
arregalando. Eu falava sério quando disse a ela que não estava
atrás de sexo. Seria o auge da estupidez me envolver com aquela
mulher. Mas sinto um tipo perverso de prazer em chocar Sophie
Darling.
Eu me pego querendo fazer isso o tempo todo.
Pelo amor de Deus, estou fazendo chá. Para a garota tagarela
louca que eu conheci em um avião. Se eu ainda não enlouqueci de
vez, certamente estou quase lá.
Termino de arrumar a bandeja de chá e a carrego para o meu
quarto. Eu deveria chamar Sophie para vir aqui embaixo, tomar chá
na relativa formalidade da minha sala de estar. Mas não vou mentir
para mim mesmo; quero mantê-la no meu quarto, onde seu cheiro
vai permanecer por bastante tempo depois que ela se for, e talvez
assim eu consiga respirar um pouco melhor.
Em algum lugar sobre o Atlântico, a cerca de onze mil metros de
altura, ela se envolveu ao meu redor - e meu cérebro decidiu
assimilar seu perfume, o som de sua voz e sensação da sua pele
contra a minha à conforto.
Não tenho ideia de como devo me dissuadir dessa noção e ainda
não estou pronto para tentar. Então, tomaremos chá na área de
estar do meu quarto. E então eu a levarei de volta ao hotel, quer eu
queira ou não.
As xícaras de chá se chocam levemente quando me inclino para
entrar no quarto. Está quieto demais. Eu esperava ouvir a voz dela
assim que entrasse. A razão para o silêncio logo fica óbvia: ela está
dormindo na minha cama, seus cabelos claros espalhados no meu
travesseiro. A famosa história da Cachinhos Dourados que se
acomoda em uma toca desconhecida.
Pouso a bandeja e vou para o seu lado. Sophie dorme igual
criança, esparramada e bem à vontade. Ela está abraçando um dos
travesseiros do peito ao estômago, o quadril erguido no ar, as
pernas abertas.
— Sophie — murmuro, sem entusiasmo. Realmente não quero
acordá-la. Parece cruel, dadas as manchas escuras sob seus olhos.
Ela não se move. Nem sequer resmunga.
Cautelosamente, sento-me na lateral da cama. No sono, sua
expressão é um pouco perplexa, e me pergunto se ela está
sonhando. Como seriam os sonhos dessa mulher? Imagino algo
saído de um desenho animado, com árvores cor-de-rosa, M&M’s e
Oompa Loompas, e luto com um sorriso.
Lá fora, a chuva continua batendo contra as janelas. Os sons
suaves de Sophie dormindo preenchem o vazio. Ela respira pela
boca, e cada respiração que exala agita uma mecha de cabelo
pendurada sobre o lábio.
Com a ponta do meu dedo, escovo os cabelos para fora do seu
rosto e faço mais uma fraca tentativa. — Garota tagarela?
Um suspiro abafado me responde, e seu joelho se contrai como
se estivesse com frio. Com um suspiro resignado, puxo o edredom
de baixo dos seus pés e a cubro. Ela imediatamente se aconchega,
suas feições se suavizando.
Pegando minha xícara, fico ao lado dela e bebo meu chá. Sophie
está perto o suficiente para que o calor do seu corpo aqueça minha
pele, e que o cheiro do meu sabonete que exala dela faça cócegas
no meu nariz. Não cheira a mim, no entanto. De alguma forma, ela
conseguiu fazer do perfume algo inteiramente próprio.
Ela se mexe novamente, e sua coxa pressiona contra as minhas
costas. Através da coberta, o contato é quente e sólido.
A letargia me assola, pousando nos meus ombros como se fosse
uma mão pesada. Estou tão cansado neste momento que tudo dói.
Mas, sentado aqui com Sophie, a velha resistência ao sono começa
a ceder. Mal consigo levar minha xícara de chá aos lábios.
Colocando a xícara na mesa, me inclino para frente e descanso
a cabeça sobre as mãos. Pela primeira vez em dias, quero dormir.
Eu deveria me levantar e ir para o quarto de hóspedes.
Sophie dá outro pequeno suspiro, e as cobertas farfalham
quando ela se vira de maneira dramática. Olho por cima do ombro e
a vejo enrolada no meio da cama, quase como se estivesse me
dando espaço para deitar.
Um bufo me escapa. Estou criando desculpas. E não me
importo. Um doce alívio toma conta de mim quando me deito na
cama, deslizando sob a coberta. Nem tento me convencer a apagar
a luz da cabeceira.
Ao meu lado, Sophie se mexe mais uma vez, virando em minha
direção. Meu corpo enrijece, minha respiração fica acelerada. Não
tenho ideia do que direi. Desculpa, amor, não te vi aí na minha
cama? Você está imaginando coisas; volte a dormir?
Mas ela não acorda. Não. Ela se aconchega em mim como se
dormíssemos assim todas as noites. E caramba, meu corpo cede
imediatamente ao seu – meu braço levanta, para que ela possa
descansar a cabeça no meu ombro, antes de se acomodar ao redor
dela e puxá-la para mais perto.
Tudo dentro de mim relaxa. Isso. Era isso que eu precisava. Ela
é macia e perfumada, calorosa e acolhedora. Sei que se ela
acordasse, apenas riria daquele seu jeito leve e me diria para ir em
frente e aproveitar o momento. Então é isso que eu faço.
Fecho os olhos e me permito dormir.

A vergonha é muito mais divertida quando você está


saindo da casa do chefe. Meu cabelo - já que adormeci com ele
ainda úmido - é um ninho de rato, e isso porque estou sendo gentil.
Estou sem maquiagem e meus olhos parecem inchados e murchos
sem nenhuma camuflagem. Pelo menos estou vestindo minhas
próprias roupas. Gabriel as deixou cuidadosamente lavadas e
dobradas ao pé da cama.
Puts, a cama. Acordei na cama dele, bem descansada,
confortavelmente quente e sozinha. E ainda assim, sei que ele
dormiu comigo. Em algum momento da noite, me virei e me vi
envolta em braços gloriosamente fortes, minha bochecha
pressionada contra um peito firme. E parecia o paraíso. Tão bom
que eu nem questionei o fato em minha névoa sonolenta e me
aconcheguei, suspirando de satisfação quando ele me segurou mais
firme, como se também se deleitasse com o contato.
Mas isso foi na obscuridade da noite, quando meu cérebro tira
férias e as necessidades do corpo dominam. Agora? Agora estou
acordada e apertando os olhos sob a rara luz do sol de Londres
enquanto tento entrar furtivamente no saguão do hotel sem ser
vista. É muito cedo para dizer que estou voltando de uma
caminhada matinal, e sem contar o meu cabelo - meu cabelo
estúpido. Ninguém vai ignorar essa coroa de algodão doce na minha
cabeça.
Felizmente, o lobby está deserto. Apenas a concierge está de
plantão e ela não está prestando nenhuma atenção em mim.
Suspiro de alívio enquanto entro no elevador. Quero ficar irritada
com Gabriel por não estar lá quando acordei, mas pelo menos ele
me deixou o café da manhã – um ovo cozido, um bolinho de
gengibre e um bule de chá em uma bandeja, todos cobertos com um
pano quente. A nota fixada tinha instruções para comer tudo, pois o
café da manhã é a refeição mais importante do dia.
Gabriel Scott, uma mãe coruja escondida em um terno de dez
mil dólares.
Estou bufando com diversão quando as portas do elevador se
abrem e fico cara a cara com Rye. Merda.
Sua sobrancelha se arqueia quando ele me olha de cima a
baixo. — Sophie Darling, — ele diz. — Meus olhos estão me
enganando ou você está fazendo uma longa caminhada da
vergonha?
Eu passo por ele. — Não sei do que você está falando. Essa é
minha aparência normal.
— Cavalgou com força e depois foi para a cama ainda molhada,
né?
Minhas pernas travam, e eu encaro seu rosto sorridente e
presunçoso. — Isso não é algo que você deveria dizer para uma
mulher que pode acabar com você em dois segundos.
Ele estremece, mas não parece muito contrito. — Brenna está
sempre dizendo que preciso aprender bons modos.
— Você deveria ouvi-la.
— Mas onde estaria a diversão? — Ele me segue pelo corredor
enquanto caminho para o meu quarto. — Enfim, sou a favor de você
relaxar um pouco. Sair em turnê é cansativo. Divirta-se quando
puder, sabe?
O babacão parece tão sério que dou um tapinha em seu braço.
— Obrigada pelo conselho.
— Então... — Ele mexe as sobrancelhas. — Quem é o sortudo?
Ou era uma garota? Por favor, diga garota. Essa fantasia vai me
manter satisfeito por semanas.
— Que fantasia? — A voz de Whip soa de trás de nós, e nós
dois damos um pulo.
Jesus, todos eles são do tipo tagarelas matinais?
— De onde diabos você veio? — Rye pergunta, com a mão no
peito.
— Do meu quarto. — Whip acena para a porta mais próxima. O
dã está fortemente implícito. — E vocês dois estão fazendo barulho
suficiente para ressuscitar os mortos.
Outra porta se abre e a cabeça de Brenna aparece. — Que porra
é essa? Uma convenção no corredor?
— Whip está certo — diz Rye. — Os mortos estão ressuscitando.
Brenna sibila para ele, mostrando os dentes como um vampiro.
Aproveito o momento para me afastar de todos eles. Minha porta
está tão perto.
— Onde você pensa que está indo? — Os frios olhos azuis de
Whip me prendem no lugar. — Você não respondeu à pergunta.
— Que pergunta? — Brenna se intromete.
— Que tipo de fantasia Rye está tendo sobre Sophie — diz Whip
com um sorriso maligno. O filho da puta. Agora eu sei quem é o
instigador do grupo.
Rye faz uma careta para ele quando o rosto feliz de Brenna
desmorona.
Rye dá a Whip um soco não tão gentil no ombro. — Estávamos
conversando sobre Sophie saindo com uma garota. Duvido que eu
seja o único que acharia essa fantasia quente. — Seu olhar pousa
em Brenna.
Um rubor surge em suas bochechas, mas ela encolhe os
ombros. — Sophie é definitivamente digna de uma fantasia.
Bem, tudo bem então.
Todos se voltam para mim e Brenna me dá um sorriso gentil. —
Mas a vida sexual dela não é da nossa conta.
— Como se isso fosse nos parar — diz Whip, rindo. Ele me
cutuca. — Estou brincando, Soph. Corra enquanto pode.
— De jeito nenhum — diz Rye. — Responda. Ou faremos
suposições.
Outra porta se abre no corredor, e Jax olha para eles antes de
me dar um olhar neutro. — Sophie estava indo comprar um muffin
para mim. Mas ela esqueceu o dinheiro. — Ele me estende um
maço de libras. — Me desculpe por isso.
Eu suspiro. — Ah, pelo amor de Deus. Não preciso que você me
cubra, Jax. Eu tenho insônia, ok? — Vou para o meu quarto. — Eu
fiquei andando a noite toda.
— Na chuva? — Rye me encara estreitando os olhos, como se
assim pudesse ver através das minhas mentiras.
— Sim. — Finalmente chego à minha porta. — Na chuva. A noite
toda.
Whip olha para Jax. — Você era a última pessoa que eu pensei
que daria em cima dela, cara.
Jax franze a testa. — Por quê? Sophie é gostosa. — Ele sorri
para mim. — E digo isso com todo o respeito e admiração nnesta
bela manhã, Sophie. Nunca duvide disso. — Ele pisca.
Eu gemo, batendo minha cabeça contra a porta. — Estou num
pesadelo. Em um pesadelo horroroso.
— Não se preocupe, Sophie — diz Rye. — Todo mundo comete
erros sexuais lamentáveis.
— Sim — diz Jax. — Pergunte à Rye. Ele deixa toneladas de
mulheres lamentando os delas.
Rye lhe mostra o dedo do meio.
Whip sorri para mim. — Viu? Não há nenhum problema em
admitir isso.
— Tudo bem — eu me exalto. — Eu estava com Jax. E a
experiência foi tão comovente que eu tive que correr ao redor do
quarteirão para tirar a coisa toda do meu sistema! — Entro no meu
quarto e bato a porta antes que eles possam dizer qualquer outra
coisa.
A voz de Jax flui através da madeira. — Qualquer hora que você
quiser repetir, docinho, é só me avisar. Eu e meu pau fazemos
atendimento a domicílio.
CAPÍTULO OITO

P banda para iniciar uma turnê é como pastorear gatos


selvagens. Há barulho, brigas e ninguém está onde deveria estar.
Eu desisti de supervisionar os detalhes há muito tempo. Tenho
subordinados para executar essa tarefa ingrata agora. E eu os pago
bem. Mas ainda cabe a mim fazer as verificações finais.
Observo os ajudantes de palco se movendo para lá e para cá,
carregando caixas e rindo pelo caminho. Para eles, essa é a
experiência de uma vida – uma chance de trabalhar junto com a
banda que eles idolatram. Eu invejo a alegria deles. Minha alegria
terminou por volta das seis da manhã, quando acordei e percebi que
estava mais uma vez envolvido na mulher que pretendia odiar como
se minha vida dependesse disso. E foi uma realização malditamente
desconfortável.
Malditamente desconfortável também foi ter que aliviar meu pau
inchado e dolorido por causa da pressão da bunda dela e me
levantar daquela cama quente e perfumada quando tudo que eu
realmente queria fazer era me afundar ali, relaxar entre coxas
macias e meter...
— Onde estamos colocando Sophie? — Pergunto a Brenna, que
está ao meu lado enquanto os ônibus são carregados.
— Por que você se importa? — Ela toma um longo gole de café.
Eu não sei. Ultrapassei o limite da loucura. Dou uma olhada para
Brenna. — Ela é uma funcionária nova. Isso muda o equilíbrio. As
acomodações terão que ser reorganizadas.
— Temos cinco funcionários novos — retruca Brenna. — Você
sabe algum dos nomes dos outros? — Uma sobrancelha ruiva se
ergue atrás dos óculos roxos de gatinho. — Ou suas funções de
trabalho?
Inferno. Manobras evasivas são necessárias neste momento.
— Que bicho te mordeu? — Pergunto. Antes que ela possa
responder, Rye passa. Eles se ignoram como sempre, e o nariz
empinado de Brenna sobe um pouco mais. Eu reprimo um revirar de
olhos. — Vocês realmente precisam foder e acabar logo com isso.
Eu quase posso ouvir seus dentes rangendo. Sua voz é alegre,
porém, quando ela finalmente fala. — Já tem foda o suficiente
acontecendo nesse pequeno bando de intrometidos, muito obrigada.
— Quem? — Não posso deixar de perguntar.
O olhar de Brenna desliza para o meu. — Sophie e Jax, por
exemplo.
É como se ela tivesse me dado uma rasteira. A sensação de cair
é tão forte e a dor repentina no meu peito é tão afiada que consigo
me ver claramente no chão, com dois sapatos de salto alto enfiados
no meu peito – um de Brenna e o outro de Sophie.
— O quê? — A pergunta estala como um chicote. E Brenna se
encolhe visivelmente.
Lentamente, ela abaixa o copo de café e dá um passo para trás.
— Ah, sim, quer saber? Isso é apenas um rumor.
— Com base no quê, exatamente?
Brenna olha em volta como se estivesse tentando encontrar um
caminho para fugir. Mas nem fodendo.
Entro em seu espaço pessoal. — Fala, agora.
— Hoje de manhã, Jax disse que ele tinha ficado com Sophie, e
ela confirmou. — Brenna deixa escapar. — Embora, na verdade, ela
tenha parecido extremamente sarcástica quando chamou o sexo de
"comovente", então poderia ter sido uma piada...
Suas palavras desaparecem quando o zumbido nos meus
ouvidos fica mais alto. Meu coração bate contra minhas costelas
com tanta força que sinto as reverberações na minha garganta. Jax?
Ela está com Jax? Ela dormiu na porra da minha cama enquanto
fodia o fodido do Jax?
Eu viro em meus calcanhares, sem saber para onde diabos
estou indo quando meu olhar pousa no homem em questão, que
está prestes a entrar em seu ônibus.
— John — eu grito alto o suficiente para minha voz ecoar no
estacionamento.
Me ouvir usar seu nome verdadeiro faz ele parar e olhar por cima
do ombro. — O que?
Seja o que for que ele tenha visto no meu rosto, o faz vir em
minha direção. Eu cerro os dentes.
— O que há entre você e Sophie?
O idiota me dá um sorriso estúpido. — Ah, sim, apenas um
pouco de diversão. — Ele olha para Brenna, que está balançando a
cabeça lentamente. — Certo, Bren?
Eu não a deixo responder. — Você não deu à Killian uma
palestra sobre dormir com funcionários quando Libby entrou a
bordo?
Ele esfrega o queixo, e eu tenho vontade de socá-lo.
Jax estala os dedos. — Certo. Ele claramente me ouviu com
atenção.
Imbecil.
— Um bom conselho que se aplicaria a você também, não é
mesmo?
Jax assente, ainda com aquele sorriso presunçoso. — É mesmo.
Eu tento respirar fundo para me acalmar, mas a respiração sai
em um rompante quando Jax sorri largamente e diz: — Mas não se
preocupe, não é como se a gente tivesse dormido muito.
Minha respiração fica descontrolada.
— Cuidado. — Brenna sussurra no meu ouvido. — Acho que um
bicho te mordeu.
Eu torço minha cabeça em sua direção como a menina do
exorcista, e ela empalidece.
— Eita, abortar piada, abortar piada — lamenta Brenna, batendo
as mãos. — Fuja para as montanhas, repito, fuja para as
montanhas.
Jax a observa partir com um sorriso nos lábios. — O que há com
ela?... Ei, cara. — Ele levanta as mãos. — Pega leve aí com o olhar
louco. É apenas a Sophie.
Coisa errada a se dizer.
— O que é apenas eu? — Sophie pergunta, aparecendo ao meu
lado.
Eu viro em sua direção. — Você.
— Eu. — Ela aponta para o próprio peito e depois para Jax. —
Jax. Todos nós sabemos quem é quem agora.
Jax ri, mas quando eu o encaro ele de repente fica muito
interessado em correr em direção a Killian e Libby.
Sophie faz uma careta. — Sobre o que é tudo isso?
— Você está fodendo com o Jax?
Os olhos dela se arregalam, chocados. Com culpa? Não sei
dizer. Isso me irrita ainda mais.
Um rubor cobre suas bochechas. — Você está falando sério?
Sim. Não. Eu não sei, porra.
— Responda à pergunta, Sophie.
Ela olha em volta antes de me agarrar pelo braço. Deixo que me
leve para longe, porque quero uma resposta. Ela para no estreito
espaço entre o meu ônibus e o da banda.
— Olha aqui, meu filho — ela sibila, cutucando meu ombro. —
Não tenho que te contar nada sobre a minha vida pessoal.
— Você vai deixar de ter uma se começar a foder com os
membros da banda.
— Membros? — Ela chia. — Então o que? Estou passando de
mão em mão agora? É isso?
O pensamento é tão repulsivo que a bile enche meu estômago.
Meus punhos cerram. — Jax. Vamos nos concentrar em Jax por
enquanto. Você dormiu com ele?
— Eu não posso acreditar que você está me perguntando isso —
ela retruca. — Que você está realmente bufando como uma espécie
de touro enfurecido e esperando que eu responda.
— Não estou bufando. Eu apenas fiz uma pergunta. Para a qual
espero uma resposta. Agora.
O rubor desce até o topo de seus seios. — Vai se foder, Scottie.
Não sei quem você pensa que é, mas deixa eu te contar: não sou
nenhuma besta cabeça de vento para quem você pode ficar latindo.
Essa conversa acabou.
Ela se vira para ir embora, sua expressão completamente
fechada pela primeira vez desde que a conheci. Mas vi a mágoa e a
humilhação que causei antes que seu semblante se fechasse. A
sensação é que alguém abriu uma cratera nas minhas entranhas.
— Sophie. — Eu a agarro e giro.
Suas costas encontram a lateral do ônibus antes que eu a
enjaule no lugar. Ela luta, mesmo quando pressiono ainda mais
perto. Minha bochecha toca a sua, e ela congela. Por um momento
longo e doloroso, nós dois apenas respiramos de forma pesada e
agitada.
— Você está certa. Eu não tenho o direito de dizer nada —
sussurro em seus cabelos. Minhas pálpebras caem e eu respiro seu
doce perfume. — E não acho que você é uma besta. Eu só queria...
Eu... — Engasgo com uma maldição. — Não com um dos meninos,
está bem? Não eles. Por favor.
Ela solta uma expiração agitada, e eu sinto isso ao longo do meu
pescoço. Minhas costas estão tensas, minha pele formigando.
Tenho que me forçar a permanecer imóvel e não me pressionar
contra sua suavidade. Eu sei que ela está se perguntando por que
estou exigindo isso. Não posso dizer que ela vai arrancar minhas
entranhas se realmente estiver fazendo isso, e que não poderei me
concentrar nem um pouco se ela estiver com um dos caras. Se ela
esteve com Jax...
Um tremor percorre meu corpo enquanto eu luto para ficar
parado.
Sinto sua respiração novamente. Se ela me tocar, posso quebrar.
Mas ela não faz isso. Ela simplesmente suspira. — Você é um
idiota.
— Isso já foi definido.
— Um imbecil reacionário — diz ela amargamente. — Que
aparentemente não se incomodou em perceber que não havia como
eu estar com Jax na noite passada porque eu estava com você.
Minha cabeça bate na lateral do ônibus com um baque quando
meu corpo se afunda contra o dela. Alívio e vergonha são um
coquetel quente e pegajoso nadando no meu sangue. — Merda.
— Sim, merda — ela repete com sarcasmo suave. — Ele me
cobriu quando todo mundo me pegou fazendo a caminhada da
vergonha. Embora não soubesse com quem eu realmente estava.
— O punho pequeno dela empurra minhas costelas. — Agora saia
de cima de mim antes que alguém nos veja e aí sim realmente
comecem a fofocar.
Com um grunhido, eu recuo do ônibus e dou um passo para trás.
Suas bochechas estão coradas com uma rosa adorável, seus olhos
brilhando de raiva. Eu sinto como se tivesse só meio metro de
altura. Eu não sou esse tipo de homem – que perde o controle,
possessivo, tolo.
Eu passo a mão pela gravata. — Tirei conclusões precipitadas.
Ela franze os lábios carnudos, seu olhar se estreitado, exigindo
mais.
Engulo em seco. — Eu deveria ter perguntado...
— Não — ela retruca. — Você deveria ter cuidado da sua vida.
Um rubor colore minhas bochechas. — Srta. Darling, não posso
retirar minha afirmação anterior. Envolver-se com um membro da
turnê é uma má decisão e pode afetar a todos. O que significa que
sempre será da minha conta.
Tudo verdade. E eu pareço um idiota absoluto. Foda-se tudo.
— Você está falando como um duque novamente. — Ela se
endireita e tira os cabelos da frente do rosto. — O que significa que
está se sentindo culpado.
— Já me conhece tão bem, garota tagarela?
— Sim, conheço. — Ela se move para passar por mim, mas faz
uma pausa. — Você não está enganando ninguém. E quando quiser
admitir que estava com ciúmes, estarei esperando.
Com isso, ela se afasta, seus quadris redondos balançando.
Aprecio a vista, mesmo quando estou me chutando mentalmente.
— Vai ser uma longa espera — eu grito.
Ela me dá o dedo do meio sem perder um passo.
Inferno, eu gosto dessa garota. Pra caralho.

H . Especialmente os gostosos, que vestem


ternos, são mandões, ciumentos e que ficam estufando o peito. E
ele estava com ciúmes. Gabriel pode negar o quanto quiser, mas
toda essa loucura não teve nada a ver com cuidar de seus
“meninos”.
Talvez seja fraco da minha parte admitir que acharia todo o
incidente muito excitante se ele tivesse feito algo físico sobre seu
ciúme – me jogar por cima do ombro, me proclamar sua antes de
me foder até que eu não conseguisse mais pensar em nada. Sim,
isso teria sido quente. Mas não, foi algo mais do tipo: fique longe
dos meus amigos e eu vou ficar longe de você. Não foi legal.
E foi embaraçoso, porque mesmo que eu tenha o puxado
rapidamente para longe a fim de terminar nossa discussão em
particular, sei que as pessoas viram o começo. Você não briga com
seu guitarrista em público e espera que as pessoas não falem sobre
isso. Especialmente quando seu guitarrista foge como se sua vida
dependesse disso; muito obrigada, Jax, seu bundão.
Eu ainda estou furiosa quando Brenna me encontra. — Sinto
muito por isso — ela murmura, caminhando comigo para o meu
quarto.
— Você pretendia me colocar num ônibus? — Eu pergunto,
fechando minha bolsa. — Ou apenas me jogar debaixo de um?
Ela estremece, o nariz enrugando. — Eu sei, eu sei. Sou uma
bruxa fofoqueira. Eu estava com pouca cafeína no sangue e um
humor péssimo. — Seu olhar viaja sobre mim como se procurasse
por cicatrizes de batalha. — Não achei que Scottie perderia a calma
assim. Ele normalmente não fica de mau humor, mas tem estado um
pouco estranho ultimamente.
— Estranho? — Pergunto, apesar de não querer falar sobre ‘O
Incidente’ nem ferrando.
— Distraído. Irritadiço. — Brenna balança a cabeça, seu rabo de
cavalo balançando sobre os ombros. — Ele é sempre bem
inexpressivo e imperturbável, frio como uma pedra.
Gabriel se inclinando em minha direção, sua respiração contra
minha bochecha, sussurrando por favor passa pela minha mente.
Aquele homem não era frio ou imperturbável. Mas não quero pensar
nessa versão de Gabriel. Minha atração por ele é inconveniente e
irritante. Eu tenho um trabalho a fazer – um que outros fotógrafos
matariam para ter.
Mas Brenna ainda está me olhando com remorso e
preocupação. — Sinto muito, Sophie. Eu não quis jogá-lo em você
assim. Quer que eu fale com ele?
E cutucar o urso? Eu posso imaginar como seria. — Não, está
tudo bem. Nós resolvemos isso.
Ela parece duvidosa, mas assente. — Certo, então. Você vai
viajar com os caras.
— Sério? — Não sei onde eu esperava ser colocada em nossa
caravana, mas não tinha pensado que seria com a banda.
— Eles gostam de viajar juntos em um ônibus por camaradagem,
e seu trabalho é capturar esses momentos, portanto é o que faz
mais sentido.
— E eles estão bem com isso?
Brenna pega uma das minhas malas e saímos do quarto,
descendo para os carros que estão esperando para nos levar aos
ônibus. — Sim. Eles são um bando bastante aberto, considerando
tudo. E eles confiam em mim quando digo que você não publicará
nada sem permissão.
Tradução: Não foda essa confiança.
— Quero agradecer novamente por essa oportunidade — digo a
ela. — Não vou decepcionar você ou os caras.
Brenna sorri. — Eu sei. Sou uma boa juíza de caráter.
Tenho que rir. — Eu também. Mas parece que ignoro meu bom
senso quando mais preciso.
— Merda, se estamos falando sobre nossas vidas amorosas,
tenho certeza de que te deixo no chinelo. Sou um acidente de trem
com uma bomba atômica no topo.
Antes de entrarmos no ônibus, Brenna me entrega uma pequena
chave para uso posterior. Estamos sozinhas no momento, e ela me
mostra o interior. Não há muito para ver. Na frente tem uma área de
estar e uma cozinha-bar ao lado. É escuro e elegante, e há três TVs
em paredes diferentes.
— Os garotos guardam instrumentos e alguns pequenos
amplificadores na bagagem — diz ela, apontando para os armários
de madeira de ébano no alto. — E atrás há os beliches.
A parte central do ônibus é reservada para os beliches que
revestem as duas paredes, deixando um corredor estreito no meio.
Quatro camas e, em seguida, um pequeno quarto principal nos
fundos, com um banheiro ainda menor entre os dois ambientes.
— Killian e Libby ficam com o quarto. — Brenna me diz. — Você
fica com esse beliche de cima. É junto com os caras. — Seus olhos
cor de xerez se estreitam com preocupação. — Você está bem com
isso? Porque se não estiver, tudo bem. Posso te mudar para um dos
ônibus da equipe.
— Todos eles têm beliches também, não têm? — Pergunto.
— Sim, receio que todo mundo acabe ficando íntimo durante as
viagens. Exceto Scottie, que tem um ônibus inteiro só para ele.
— Não estou nem um pouco surpresa.
— E só um conselho; não tente visitá-lo lá. Ele rosna se encontra
alguém perto de seus espaços privados.
Ele me deixou sozinha em sua casa hoje. E depois praticamente
me abraçou no segundo seguinte. Estou começando a pensar que
esse homem simplesmente não sabe como deixar as pessoas
entrarem em sua vida. — Eu vou ficar bem com os garotos.
— Vai sim. — Brenna me garante. — Eles podem ser uns porcos
de vez em quando, mas são bons rapazes. Os melhores. Eles vão
fazer você se sentir confortável, prometo.
— Quem está prometendo o quê? — Rye diz enquanto empurra
seu corpo musculoso para dentro do ônibus.
— Que você vai ser legal com Sophie — diz Brenna com um
olhar severo.
O grandalhão tem um daqueles rostos abertos que mostram
facilmente suas emoções. Ele me lembra um filhote de cachorro,
fofo e exuberante. — Claro. — Seu sorriso é amplo e emoldurado
por covinhas. — Bem-vinda a bordo, adorável Sophie.
Whip aparece atrás dele, seus olhos azuis brilhando com humor
travesso. — Você contou a ela sobre os ritos de iniciação?
— Se envolve algo sexual, — digo suavemente, — ofereço
chutes no saco de graça com cem por cento de garantia de deixar
um homem incapacitado por uma hora, no mínimo.
Whip ri. — Aposto que sim. Não, você só precisa beber muito e
passar vergonha pelo menos uma vez. — Ele passa a mão na parte
de trás do seu cabelo cor de carvão, que chega ao pescoço. Estilo
rock star sem esforço. — Mas prometo que vou primeiro.
Jax aparece atrás dele e lhe dá uma cutucada para andar logo.
— Fora do meu caminho, garoto bonito.
Killian e Libby o seguem, e logo estamos todos abarrotados.
Brenna nos deixa quando o ônibus se prepara para partir. Mas
ela está certa; todos me fazem sentir confortável e bem-vinda. Se
vou ficar em um ônibus com o mínimo de privacidade e espaço, ficar
com esses caras não é uma má opção.
Foco nesse fato e me recuso a pensar em Gabriel Scott em seu
próprio ônibus, ou em quanto espaço ele deve ter para se mover.
Depois de me instalar, me junto aos garotos e à Libby na área de
estar. Libby está prestes a colocar uma bandeja de biscoitos na
mesa, mas para para me oferecer um antes que eu sente.
— Pegue um agora, — ela me diz em seu sotaque suave do sul
— porque esses animais devoram tudo em um segundo.
Pego um guardanapo e um biscoito quente e crocante. — Você
que fez?
Ela sorri ironicamente, e seus olhos cinzentos se iluminam. —
Fiz a massa antes e congelei. Não há espaço para fazer mais que
isso aqui.
A mão de Killian se intromete entre nós e pega dois biscoitos. —
Melhor cozinheira de todos os tempos. — Ele dá um beijo rápido na
bochecha de Libby. — Te amo, Elly May.
Ela revira os olhos e coloca a bandeja na mesa para os rapazes.
— Acho que agora você ama mais os meus biscoitos, vagabundo do
gramado.
— Nunca.
Eles sorriem um para o outro e eu tiro uma foto antes de me
sentar. Killian está certo; Libby é uma excelente cozinheira. E Libby
está certa; a comida é devorada em um piscar de olhos. Encontro
um assento e simplesmente assisto os caras interagirem. Há algo
reconfortante em testemunhar velhos amigos curtindo a companhia
um do outro.
Mas eles não me deixam de fora. Whip logo volta sua atenção
para mim. — Então, Bren jogou você direto na cova dos leões, hein?
— Vocês parecem bem mansos.
Ele ri e fico impressionada com o fato dele se parecer muito com
Killian; só seus olhos que são azuis e não escuros. — Infelizmente,
estamos agora.
— Você sente falta de ser selvagem? — Eu pergunto tirando
uma foto, porque ele está muito bonito em uma poltrona de couro
preto e seu corpo tonificado está fazendo coisas agradáveis para a
camiseta vintage do show do Def Leppard que ele está vestindo.
— Não — diz ele. — Estou meio que gostando dessa fase mais
domesticada. Mais produtiva, no mínimo.
— Ele está ficando velho — diz Rye, abrindo uma pequena
geladeira e retirando algumas garrafas de cerveja.
— Você é seis meses mais velho do que eu — aponta Whip.
— Eu envelheço melhor.
— Como queijo mofado — diz Whip.
Rye se senta ao meu lado na pequena bancada. — Estou
surpreso que Scottie tenha ficado bem com você dormindo nesse
ônibus.
Killian me passa uma cerveja. — Por que não ficaria? É o
trabalho dela nos fotografar.
— É fofo que você descreveu meu trabalho fazendo aspas com
os dedos — digo a ele, revirando os olhos.
Ele sorri mostrando os dentes, e é tão falso que eu tiro uma foto
antes que ele possa parar. Ele faz uma carranca com isso, mas não
está irritado.
— Pirralha. Não estou dizendo que gosto de ter todos os meus
movimentos fotografados - e poste essa foto ridícula por sua conta e
risco - mas admito que é um aspecto necessário da turnê, ok?
Eu pisco rapidamente enquanto aperto meu peito. ― Não.
Posso. Responder. Choque. Muito. Grande.
Libby ri. — Viu? Você vai se encaixar muito bem aqui.
— Obrigada. — Nós brindamos com nossas garrafas de cerveja.
— Ainda não entendo por que Scottie reclamaria de Sophie no
ônibus — diz Killian. — Ele estava bastante inflexível sobre o papo
de a tratarmos com... — Sua voz fica nítida e cortada, imitando o
sotaque de Gabriel. — …“o maldito respeito que um profissional
treinado merece”.
Ele disse isso? Fico um pouco menos irritada com ele. Só um
pouco.
Rye dá um suspiro exagerado. — Porque o idiota do Jax fez
parecer que ele tinha transado com ela.
A boca de Killian se abre e ele olha para Jax como se tivesse
brotado chifres na cabeça dele. — Você disse a Scottie que dormiu
com a Sophie? — Ele quase grita, o que é impressionante dada a
sua voz naturalmente baixa.
— Foi uma piada — diz Jax do sofá onde está esparramado. —
Acalme-se.
Killian balança a cabeça. — Ah, cara. Isso não é motivo para
brincadeira. Você está morto.
— Scottie precisa relaxar. E você também.
— Ele tem todo o direito de chutar a sua bunda. — Killian joga
uma tampa de garrafa em Jax. — Você violou a primeira lei do
código dos manos, Sr. Marcado Para Morrer.
Jax franze a testa. — De jeito nenhum.
— Sim, você violou. — Whip acrescenta com uma risada.
Até Rye balança a cabeça. — Você não sabia? Quem te fez
contar essa história para o Scottie?
Jax se endireita. — Brenna que disse isso para ele!
Rye faz um som de horror. — Isso é maldade demais. Até para
Brenna.
— Hum, — diz Jax, esfregando a parte de trás da cabeça. —
Acho que ele estava enchendo o saco dela sobre alguma coisa.
— O homem estava claramente brincando com fogo. — Rye fala.
— Verdade.
— Que diabos é a primeira lei do código dos manos? — Eu me
intrometo.
Killian toma um gole de cerveja antes de responder. — Nunca
invadir o território do seu amigo.
— Território — eu repito como um papagaio. — Você nos faz
parecer cães.
— Soph — Whip diz solenemente — quando se trata de homens
e sexo, somos todos cães.
— Verdade — acrescenta Rye.
— Não sou território do Gabriel para ele mijar e marcar. — Não
que alguém pareça acreditar em mim.
Os olhos escuros de Killian se enchem em diversão. — Você é a
única que ele permite chamá-lo de Gabriel.
— Merda — diz Jax com uma careta. — Você está certo. Eu não
percebi isso.
— Você é cego, então. — Whip dá um tapa na barriga plana de
Jax. — Cara, ele a viu primeiro. É tipo Pegue Quem...
— Se você disser 'Puder' — Libby interrompe, — eu vou
engasgar.
Killian ri e passa um braço em volta dela. — Ah, querida, sem
engasgos que não sejam com a minha ajuda.
Diante disso todos nós engasgamos.
— Mas mesmo assim, — diz Jax quando os caras se acalmam.
— Como eu deveria adivinhar? Estamos falando de Scottie, pelo
amor de Deus.
— O que há de tão estranho nisso? — Sinto-me compelida a
perguntar.
— Ele não é conhecido por... er... participar — diz Rye com um
encolher de ombros.
— Participar? — Olho para os garotos.
— Foder por aí. — Killian fornece. — Ele é como um monge.
Whip assente. — Quando foi a última vez que alguém o viu com
uma mulher?
— Porra, tem uma eternidade. — Rye estremece como se o
pensamento o aterrorizasse. — Se ele anda transando, faz isso às
escondidas.
Algo feio se retorce no meu estômago. Não quero pensar em
Gabriel com mulheres. E realmente não gosto da ideia dos caras
discutindo sua vida sexual, ou a falta de uma. Gabriel é um homem
orgulhoso; ele odiaria essa conversa. — Não deveríamos estar
falando sobre ele dessa maneira.
— Você está certa — diz Killian. — Sem dúvida, a orelha do
Scottie está queimando.
— Não deveríamos estar falando sobre ele — diz Libby com uma
voz mais forte, — porque é rude e não é da nossa conta.
Eu sabia que gostava dessa mulher.
Killian beija sua bochecha. — Você está certa, Libs. — Ele dá a
Jax um olhar cheio de avisos. — Durma com um olho aberto, cara.
— Ele está em outro ônibus. — Jax resmunga.
— Você parece preocupado — eu aponto. Admito que isso dá
alguma satisfação para a minha criança interior.
O sorriso de Jax é auto-depreciativo. — Um fato pouco
conhecido, docinho, é que o nosso garotão Scottie é agressivo para
um caralho. Eu o vi fazer homens com o dobro do seu tamanho
chorarem por suas mães com uma combinação bem dada de socos.
Uma maldita lenda do boxe sem luvas...
Killian limpa a garganta alto e sacode levemente a cabeça.
Mas eu sou como um cão farejador agora. — Espere, ele é o
quê?
— Um fodão frio como gelo — diz Rye. — Mas você não ouviu
isso de nós. Sério, ele realmente pode chutar todas as nossas
bundas, então... sim, não vamos mais falar sobre o Scottie, beleza?
Ele está rindo quando diz isso, mas sinto que na verdade não
quer que Gabriel descubra que eu sei sobre as lutas. Eu respeito
isso. Mas não me impede de pensar em seu corpo duro e nos
músculos que apertam suas camisas sociais. Foi assim que ele os
desenvolveu? Como lutador? Não consigo imaginá-lo se metendo
numa briga por causa da raiva, mas numa luta controlada? Nisso eu
posso acreditar, e esse fato me deixa estranhamente melancólica.
Eles passam para outro tópico, mas não consigo deixar de olhar
pela janela com vidros escuros. Não há nada além de escuridão e o
piscar ocasional dos faróis. Em algum lugar atrás de nós, Gabriel
está sozinho em seu ônibus. Eu sei muito bem que é assim que ele
quer, mas me sinto mal do mesmo jeito. Isolado dos seus amigos, e
por quê? Por que ele se esconde? Ele se sente solitário?
Eu odeio essa mania dele. O desejo de estar com Gabriel é tão
forte que me imagino pulando pela janela e, de alguma forma,
aterrissando em seu ônibus, bem no estilo Supergirl. Não, Mulher
Maravilha. Dessa forma, eu poderia amarrá-lo com meu laço quando
ele protestasse contra minha invasão em sua Fortaleza da Solidão.
Estou no meio de uma fantasia com cosplay de Clark Kent/Diana
Prince quando Jax destrói meu sonho ao declarar em voz alta: —
"Son of a Preacher Man" é uma música que nunca pode ser
replicada.
Rye se recosta em uma poltrona e pega um ukulele que ele
desenterrou de algum lugar. — Ok, com essa eu tenho que
concordar.
— É só tocar essa música — diz Jax, — e as mulheres derretem,
cara.
— Alguém me salve de ouvir mais sobre a rotina de sedução de
Jax. — Rye olha em volta desesperadamente.
— Faça anotações, filho, e aprenda alguma coisa — diz Jax.
— Etta James cantando “At Last” — Killian se intromete. —
Porra, atemporal.
— Beyoncé fez uma versão muito boa — diz Libby.
— Muito boa — repete Killian. — Mas não superou a original.
Etta ainda domina essa música.
Whip bate nos joelhos como se ele não pudesse ficar parado. —
Não deixe os Beyhive ouvirem isso. Eles vão acabar com você,
cara.
Killian estremece. — Você está certo. Sinto muito, Beyhives! —
ele grita para o ar. — Não me matem! Eu amo a Queen B!
— Cara, eu continuo esperando ela terminar com Jay Z. E aí eu
vou com tudo.
— Cara, seu sonho está mortinho da silva — diz Jax. — Você
não tem nenhuma chance com ela.
— Você vai engolir suas palavras — promete Whip. — Nosso
amor está destinado. Ela definitivamente piscou para mim durante o
show de caridade que fizemos no mês passado.
— Estava ventando — diz Killian com um bufo. — Ela tinha
poeira nos olhos.
— Ela me tinha nos olhos.
Rye balança a cabeça, e então seus olhos azuis me encontram.
— E você, Sophie? Tem uma música?
Todos eles se voltam para mim. Eu supostamente deveria jogar?
Porra. Eu amo música, mas meu conhecimento não é enciclopédico
como o desses caras. Eu penso por um minuto. — “Sabotage”.
— Beastie Boys? — Rye ergue a mão para eu bater nela. —
Excelente.
— Ninguém pode reproduzir os Beastie Boys. — Jax concorda,
batendo sua garrafa de cerveja na minha. Ele está relaxado, seus
lindos olhos verdes sonolentos. Eu sei que os caras se preocupam,
e não os culpo, mas ele parece estar levando as coisas com calma
agora. — Inferno, eu preciso fazer meu sangue correr ou vou cair no
sono. — Ele olha para Killian. — Você tem "Sabotage" no telefone?
— Você precisa perguntar? — Killian levanta e conecta o
telefone na entrada instituída na parede. — Preparem suas bundas.
A familiar introdução poderosa de um baixo percorre os alto-
falantes, seguida por batidas discordantes e um grito de desafio.
Killian imediatamente começa a dançar, agarrando Libby para se
juntar a ele. Ela ri e eles batem os quadris numa dancinha.
Jax chama minha atenção. — Correndo o risco do Scottie
arrancar minhas bolas mais tarde... — Ele estende a mão.
Jax é quem tem mais motivos para se ressentir de mim. Eu
deveria me sentir culpada por estar no mesmo aposento que ele.
Mas fico confortável em sua presença. Ele olha para mim como se
soubesse exatamente o quão ruim era meu trabalho naquela época,
exatamente o quão sem alma eu tinha me tornado, e ele sente muito
por isso. É isso, mais do que tudo, que me faz pegar a mão dele.
Eu me jogo totalmente na dança, balançando a cabeça, pulando
como uma mulher louca – não há como apreciar essa música sem
enlouquecer. E os caras me cercam, pulando e se debatendo, e
provavelmente fazendo todo o ônibus balançar enquanto segue pela
estrada. Nós não nos importamos. Somos jovens e livres. É uma
coisa linda. E nós dançamos por muitas outras músicas.
Quase esqueço o homem no outro ônibus. Somente quando os
caras finalmente encerram a noite, quando estou escondida no meu
pequeno beliche ao lado do banheiro e não consigo dormir, olho
para a escuridão e penso em Gabriel.
CAPÍTULO NOVE

—T basicamente pronto para a França. Mas Chrissy ligou


para falar sobre os números finais das camisetas em Roma. Os
vendedores esperam altas vendas e... Scottie? Scottie? Sr. Scott?
A voz de Jules soa como o zumbido de uma mosca no meu
ouvido e me puxa da neblina que se instala na minha cabeça. Eu
pisco, me forçando a voltar a me concentrar. Ela olha pra mim com a
testa franzida.
— Por que você parou de falar? — Minha voz é quase uma
chicotada, mas eu não gosto do que vejo em sua expressão. O
chefe não pode se dar ao luxo de gerar preocupação. Sou eu quem
está no controle. Sempre.
Jules se encolhe, e eu sinto a culpa nas minhas entranhas.
Perfeito. Eu chamei a atenção da garota sem nenhum motivo válido.
— Desculpe senhor. Eu pensei… — Ela faz uma careta.
— Você pensou o quê? — Eu tenho que me esforçar para não
inclinar ainda mais contra o encosto suave da minha cadeira. Não
deveria ter me sentado. É muito tentador simplesmente desmoronar,
e em geral eu fico de pé para ouvir um relatório de progresso. É
melhor para focar.
As sardas de Jules se destacam como manchas de canela em
suas bochechas redondas. — Eu pensei que você... — Ela engole
em seco. — Bem, eu pensei que você não estava ouvindo.
Eu não estava. Não com a atenção que costumo ouvir. Minha
cabeça está doendo, como se meu cérebro estivesse tentando sair
do meu crânio. O piso ou está com defeito e inclinado, ou estou
imaginando coisas. Dado que ninguém mais comentou sobre isso,
suponho que seja eu quem está com defeito.
— Você estava falando dos fornecedores. — Eu sei que ouvi
algo sobre camisas. Inferno. Eu quero esfregar meu rosto no
travesseiro mais próximo. Mas não vai funcionar. Não consigo
dormir. Eu não consigo dormir, porra. E eu tentei. Toda noite eu
tento. Mas nada funcionou, exceto por uma noite em Londres.
Estamos na Escócia agora.
A essa altura do campeonato, estou tão mal que quase choro às
três da manhã quando, mais uma vez, estou olhando para o teto,
incapaz de desligar meu cérebro.
— Sim, os fornecedores — diz Jules alegremente. Ela começa a
falar novamente, e eu tento manter meus olhos abertos.
Nem faria diferença se eu os fechasse. Meu corpo não iria
desligar de qualquer maneira. Há um peso no meu peito que torna
respirar uma tarefa árdua. Fraqueza. Eu detesto isso. Mas estou
ficando mais fraco a cada dia e não sei o que fazer.
Brenna me diria para ir num médico. O simples pensamento de
fazer isso envia um calafrio de medo pela minha espinha. Um
protesto violento grita em minha mente. Sem médicos. Nunca. Eu
tive o suficiente deles quando eu era garoto. E nada além da morte
me fará voltar.
Melhor bater na madeira, uma voz desagradável sussurra na
minha mente.
A dor na minha cabeça se expande para baixo, no meu pescoço
e também cavando a parte superior dos meus ombros.
Jules continua falando sobre contratos e datas.
Minha mandíbula lateja.
Respire. Supere isso. Então você vai poder rastejar para o seu
quarto e tomar um banho quente. A vontade de tomar um
comprimido para dormir é tão forte nesse momento que minhas
mãos se cerram. Jax quase morreu engolindo um frasco daquelas
malditas pílulas, misturadas com heroína. Quando penso nisso – e
tento muito não pensar nisso – a náusea agita minhas entranhas e a
bile sobe.
Engulo em seco, pegando minha garrafa de água. Minha mão
treme quando eu a levo aos lábios. Não há como esconder, então
tento beber rápido e descer o meu braço o mais rápido possível. Os
tremores estão piorando.
— O que devo dizer a ele?
Com um sobressalto, olho para Jules, que espera com
expectativa. Merda.
— O que você acha que deveria dizer a ele? — Um momento de
ensino. Isso vai funcionar.
Ela franze a testa, suas sobrancelhas se unindo em confusão.
Ou não.
— Você precisará tomar essas decisões um dia, certo? — Eu
digo. Idiota. Você está falando merda. Coloque sua cabeça de volta
no jogo.
Sua boca se abre e fecha antes que ela tente falar novamente.
— Eu... hum... eu não acho que Jax vá me perguntar se eu quero
me juntar a ele no poker. Eu pensei que isso era... hum... uma coisa
dos caras.
Porra.
— Bem, nunca se sabe. — Eu limpo minha garganta. — E, na
verdade, ele deveria estar me perguntando diretamente sobre
coisas pessoais, o que responde à sua pergunta.
Eu me levanto da cadeira, ignorando a maneira como a sala
oscila. — Você é minha assistente, não meu maldito calendário
pessoal. Diga isso ao Jax.
— Certo. — É provável que, mentalmente, ela esteja mandando
eu ir me foder.
Isso também pesa sobre mim. Nunca dei ao meu trabalho ou a
minha equipe nada menos que cem por cento de dedicação. Sinto
vergonha de mim mesmo. Se pelo menos eu pudesse descansar um
pouco...
— Ah, e eu terei esses arquivos pessoais enviados para você até
o final do dia. — Jules me avisa.
— Ótimo. — Eu não tenho ideia do que ela está falando. Uma
vaga lembrança incita nos cantos da minha mente, mas estou
distraído.
Um cheiro de torta de limão e especiarias se espalha pelo ar.
Meu pau reage como se estivesse sendo puxado. Irritado comigo
mesmo, eu levanto os olhos, sabendo exatamente quem vou
encontrar.
Em algum momento, Sophie pintou o cabelo. Agora está num
rosa pálido, brilhando como uma auréola em torno de seu rosto
sorridente. A cor desperta o calor escuro de seus olhos e a cor dos
seus lábios. Inferno.
— Olá, Raio de sol — diz ela, alegre como sempre. Seus seios
saltitantes mal são contidos num tipo de blusa de malha preta com
os ombros de fora. O que significa que a única coisa que sustenta o
tecido são os seios. Um bom puxão...
— Olhos para cima, querido.
Imediatamente, meu queixo se levanta. Ela está sorrindo como o
gato de Cheshire.
— Esse traje é apropriado? — Cale a boca. Cale a boca agora,
seu idiota.
Ela aparentemente pensa o mesmo. Sua mão pousa no quadril
bem arredondado. — Ao contrário do que? Do desfile de mamilos
que nós vemos todas as noites por aqui? Pelo menos estou vestindo
uma blusa.
Ela tem razão. Droga.
— Ou talvez eu devesse trocar esses jeans por uma micro-mini
saia? Os caras parecem amá-las.
Não vai acontecer. Seu jeans skinny pode abraçar as pernas e
destacar sua bunda em um grau alarmante, mas eles, pelo menos,
fornecem alguma cobertura.
E o que diabos eu estou fazendo comentando sobre as roupas
dela?
— Peço desculpas — digo rapidamente. — Se eu tivesse
ouvindo outro babaca falando isso para uma mulher, acabaria com a
raça dele.
Seus olhos se arregalam e ela fica boquiaberta.
Eu faço uma contagem regressiva dos segundos até que eu
possa escapar com segurança.
Tarde demais. Sophie fica na ponta dos pés enquanto coloca as
costas da mão na minha testa. Quero me afastar, mandá-la sair.
Mas ela está mais perto agora, seus seios macios quase tocando
meu peito, seu perfume me cercando. Seus dedos são frios,
calmantes.
— Você está se sentindo bem? — Ela pergunta, claramente
zombando.
— Vá embora — eu murmuro. Uma mentira. Eu quero me
inclinar e descansar minha cabeça nos travesseiros que são seus
seios fantasticos. Me enterraria e morreria feliz ali.
Ela me ignora de qualquer maneira. — Quero dizer, eu ouvi
mesmo esse pedido de desculpas, não foi? Não estou sonhando?
— Se isso fosse um sonho, seria um pesadelo.
Seus lábios cor de cereja se abrem em um sorriso. — Aí está o
Raio de sol que eu conheço.
Eu quero calá-la com a minha boca. Tomar. E tomar. E tomar.
Lamber suas palavras, beber o seu riso. Não posso. Não vou.
— Eu não sou eu mesmo hoje. — Verdade. — Acho que um dos
meninos batizou a minha bebida. Eles adorariam descobrir se eu
realmente ando com um pau enfiado na bunda.
Sua risada tem uma sonoridade rouca. Mais uma vez, eu quero
tomar a boca dela. Seus lábios são macios, móveis - sempre
retrucando e provocando.
— Não gostaríamos todos? — Seus dedos finos puxam o cós da
minha calça e meu pau se mexe. — Vamos lá — ela murmura, um
brilho perverso em seus olhos. — Me deixa dar uma olhada. Eu
prometo, só direi a… bem, todo mundo.
Eu me pergunto o que ela faria se eu puxasse sua mão contra
mim, deixasse que ela sentisse meu pau espesso e ordenasse que
ela o apertasse.
Nada do que eu gostaria que ela fizesse, com certeza.
Sophie é provocativa. Não de maneira maliciosa, mas porque é
da natureza dela fazer da vida uma piada. Eu invejo essa
capacidade de rir do mundo. Mas não confundirei suas insinuações
sexuais com nada mais além do prazer de me irritar.
Abotoo meu paletó, cobrindo meu interesse crescente. — E
estragar o mistério? Eu acho que não.
— Eu vou descobrir um dia — ela diz atrás de mim enquanto eu
me afasto.
A esperança é a última que morre. Eu não me viro, então ela não
pode me ver sorrir. Mas, à medida que seu riso leve acaba, me
ocorre que passei alguns minutos sem pensar em dor ou em
exaustão. Meus passos diminuem quando meu batimento cardíaco
aumenta.
Sophie.
A última vez que dormi direito foi com ela roncando na minha
cama. Minha cama. Ela deixa tudo melhor.
Uma ideia passa pela minha mente, forte e exigente. Eu a chuto
de lado porque é besteira e totalmente insana. Mas o desespero
obriga os homens a fazerem coisas estúpidas. E mesmo que eu
diga a mim mesmo que de jeito nenhum estou sequer considerando
o que meu corpo está me implorando para fazer, sei que o farei.
— Foda-se — murmuro. Vou tentar mais uma noite antes de me
convencer a fazer isso. Mas sou um homem no limite. Farei
qualquer coisa para voltar a funcionar direito, até me degradar da
pior maneira que posso imaginar.

N , estou guardando minha câmera quando


Gabriel se aproxima. Ele está tão rígido que suas costas correm
risco de quebrar caso uma brisa forte sopre em nosso caminho. O
que quer dizer muita coisa. Eu não o vejo tão tenso desde o avião.
— O que há, Raio de sol? — Olho para ele. — Alguém mijou no
seu mingau?
— Adorável. — Ele me observa por um segundo, as rugas entre
as sobrancelhas ficando mais profundas até estar completamente
carrancudo.
— Sério, você parece mal-humorado até para você. Quem te
irritou? — Eu sorrio para ele. — Vou ter que quebrar alguns dentes?
Ele finalmente solta uma pequena risada, seus ombros
relaxando uma fração. — Eu posso finalmente imaginar isso, você
beliscando o tornozelo de alguém como um pincher furioso.
— Então você está familiarizado com os meus métodos.
Uma risada baixa retumba em seu peito, e ele se agacha, me
entregando meu pen drive. Cedo demais, sua expressão relaxada
volta à seriedade. Não que eu me importe; o homem é uma obra de
arte quando está sério. Tão gostoso que eu seguro a vontade de me
abanar. Eu me ocupo em embalar o equipamento.
— Eu queria falar com você — ele finalmente diz em voz baixa.
A maneira ansiosa que me olha, como se estivesse com medo
do que tem a dizer, faz meu coração bater mais forte. Deus, ele vai
me demitir? Mas ele não pode. Brenna é minha chefe. Tente manter
a calma. — Diga.
Seus dedos se contraem e ele se levanta comigo. — Aqui não.
Você está livre agora?
Faço uma pausa e realmente o observo. Ele está nervoso. Eu
não acreditaria se não estivesse aqui na sua frente, vendo um rubor
se apossar de sua pele bronzeada e suas mãos inquietas ao lado do
corpo. O fato de ele querer falar agora me assusta ainda mais.
— Claro — digo a ele apesar do nó na minha garganta. — Qual
o problema?
Seus lábios se comprimem. — Prefiro conversar em particular.
Vem para o meu ônibus?
Estou tão chocada que ele me quer sozinha que não posso nem
fazer uma piada, apenas guinchar um okay.
A caminhada de volta parece a cena de À Espera de Um
Milagre. Vou entrar no ônibus de Gabriel – o ônibus onde ele só
deixa entrar o motorista e uma empregada ocasional – e um
machado vai cair repentinamente para cortar a minha cabeça. E de
repente fico irritada. Eu não fiz nada de errado. Por que a conversa
em particular?
Eu cerro os dentes e ando ao lado de um Gabriel quieto, que
solicitamente está carregando meu estojo com a câmera em uma
mão. A outra paira em volta das minhas costas, não me tocando,
mas perto o suficiente para que eu sinta seu calor. Ele está me
guiando.
Provavelmente com medo que eu fuja, penso sombriamente.
Mas não, prefiro pensar nele de um jeito bom. Pensei que éramos...
bem, não exatamente amigos. Não sei se ele deixaria mais alguém
além de Brenna e os caras serem amigos dele. Mas nós éramos
alguma coisa.
Estou horrorizada ao perceber que estou à beira das lágrimas.
Dói pensar que em breve ele vai me dispensar. Ele pode não estar
fazendo nada disso. Talvez você deva relaxar.
Olho com raiva para o ônibus quando o mesmo aparece, mas
seguro minha língua. Bem, eu seguro até que ele abra a porta. Paro,
incapaz de dar outro passo.
— Você está me demitindo? — Isso soou embaraçosamente
estridente.
Ele para também, franzindo a testa para mim. — O quê? — Um
sorriso ilumina os seus olhos. Filho da puta. — Lá vai você
novamente, com sua imaginação selvagem.
— Não me venha com essa. Você está me levando para um
bate-papo particular. O que eu deveria pensar?
— Que eu quero conversar em particular — ele sugere como se
eu fosse maluca. — Além disso, foi Brenna quem contratou você.
— E que você não se esqueça disso.
Ele revira os olhos e sua mão finalmente toca minhas costas, me
cutucando para avançar. — Entre e se acalme.
— Você está agindo de forma estranha — eu retruco, mas entro.
— Uau.
Eu estava esperando couro preto e paredes cinza – decoração
padrão de ônibus de luxo. Em vez disso, sou recebida por painéis
de madeira brilhante, arandelas de vidro branco e cadeiras de
veludo cinza-fumaça. É como um vagão de trem dos anos 30.
— Sente-se. — Gabriel gesticula para a pequena sala de estar à
nossa frente. Eu afundo em uma cadeira de estilo Art Déco e seguro
seus braços. Ao meu lado está uma pequena mesa onde ele tem
um laptop e uma pilha de papéis ao lado.
Ele se move para arrumá-la, mas o seu celular toca. Olhando
para o aparelho, ele faz uma careta. — Um momento. Eu estava
esperando essa ligação.
Silenciosamente, aceno com a cabeça e o vejo caminhar em
direção aos fundos do ônibus. O som baixo de sua voz é
reconfortante, mas não o suficiente para me impedir de ficar agitada.
Meus olhos vagam por toda parte. Além de seu trabalho e duas
revistas de carros enfiadas em um painel lateral, não há nada
pessoal aqui.
Não sei se é a minha alma bisbilhoteira ou meus antigos
costumes que fazem pegar um dos papéis na mesa e lê-lo. Mas
assim que eu o faço, meus olhos ficam vidrados pela linguagem
chata do contrato. E então eu vejo a pasta que está embaixo. Meu
nome aparece como um letreiro néon. Jogo o contrato de lado e
pego o que obviamente é um arquivo sobre mim.
Gabriel volta para a sala e seus passos diminuem quando vê o
que estou segurando. Mas ele não diz uma palavra.
Eu digo. — Você tem um arquivo sobre mim?
— Claro. Tenho arquivos de todos os nossos funcionários. — Ele
acena com a cabeça em direção à mesa. — Jules enviou as novas
contratações para revisão.
— Por que para você?
— Porque, como dizem na América, cai tudo na minha conta.
Folheio a pasta, mesmo sabendo a maior parte do que estará lá.
Afinal, fui eu que preenchi os numerosos formulários.
— Jesus, você tem meu relatório médico. Você leu?
Suas sobrancelhas grossas se unem. — Por que não leria?
— Porque é uma invasão de privacidade — digo, irritada. Eu não
me importei em dar essas informações à Brenna, mas ele leu tudo,
até o meu último exame de papanicolaou.
— Sophie, por que você está irritada? É um procedimento
padrão. — Ele inclina a cabeça como se eu fosse um quebra-
cabeça peculiar. — Você tem vergonha que eu saiba que você é
saudável e nunca foi condenada por um crime?
— Desculpa se eu me senti um pouco violada já que você sabe
tudo, até o fato de que eu tomo uma injeção anticoncepcional, pelo
amor de Deus. — Eu nem mencionei que ele agora sabe minha
altura e peso exato também. Merda.
Ele solta um bufo de aborrecimento. — Tudo bem. — Gabriel
caminha rapidamente em minha direção e eu enrijeço, mas ele se
vira, abre o laptop e, com alguns cliques, abre um arquivo. — Aqui
— diz ele, virando a tela na minha direção. — Meu relatório médico.
Ou você achou que eu estava isento?
— Honestamente, achei. — Não posso evitar. Eu leio. Então me
processe, porque está bem na minha frente e ele viu o meu. Agora
sei que ele tem um metro e noventa e dois, e tinha oitenta e quatro
quilos quando pesou pela última vez, e está em perfeita saúde. —
Por que você faz isso?
— Apólice, em alguns casos. E é uma precaução de segurança.
Se você vai trabalhar para a maior banda do mundo, vamos
procurar saber tudo o que pudermos sobre você. — Seu olhar colide
com o meu. — Não vou me desculpar por isso, se é o que você
quer.
— Não — eu fecho o laptop. — Eu só fiquei um pouco
assustada, ok? Foi por isso que você me trouxe aqui? Você já viu
que não sou uma criminosa e não estou endividada. — Cale a boca,
Soph. Você está balbuciando como uma aberração. — E não tenho
perebas, falando nisso.
As pálpebras de Gabriel abaixam, e o olhar que ele me dá é
calculista. — Sem nenhuma pereba — ele concorda.
Eu coro, pensando em como poderíamos foder com força e
rápido, sem medo de quaisquer consequências. E talvez ele esteja
pensando a mesma coisa.
Só que ele se levanta abruptamente e caminha até um mini bar
em frente à porta. — Gostaria de uma bebida?
— Sem chá? — Estou nervosa agora que sei que não se trata de
uma demissão.
Ele olha por cima do ombro para mim. — Você gostaria de
algum?
— Não. — Eu preciso de algo mais forte. — Bourbon?
Com um aceno de aprovação, ele nos serve boas doses. Não
perco o jeito como sua mão treme um pouco quando ele me passa o
copo. Ele me dá um sorriso tenso e se senta à minha frente.
O ônibus está completamente silencioso enquanto bebemos
nosso bourbon e nos observamos com cautela. Ele ainda não disse
nada, e tenho certeza que me fiz de boba. Então, né.
Gabriel solta um suspiro suave e coloca delicadamente o copo
em uma pequena mesa cromada. O barulho do vidro contra o metal
é como um tiro nos meus nervos sobrecarregados.
— Eu não consigo dormir — ele me diz com um pequeno
movimento de cabeça depreciativo. Eu o observo, incapaz de
responder, e ele encontra os meus olhos. — Nem por um maldito
segundo.
— Sinto muito — sussurro. Eu me identifico. Também não
consigo dormir. Me tornei como uma princesa e a ervilha na minha
cabeça. Minha cama é muito dura, o travesseiro muito macio. Viro e
me remexo, meus olhos sempre muito abertos. Estou com muito frio
ou muito calor. É um pesadelo. E penso demais em um certo
homem rabugento que atualmente está sentado na minha frente,
parecendo um pouco com um zumbi que sofreu muita privação de
sono.
Seu sorriso é breve e fraco. — Eu dormi naquela noite. — Olhos
azuis encaram os meus. — Quando choveu.
Algo quente e forte corre pelos meus membros. Eu também
dormi. Tão bem. Tão quente e confortável, envolta em braços fortes.
Às vezes, quando estou realmente cansada, fecho os olhos e tento
me lembrar da sensação exata do corpo duro de Gabriel atrás do
meu. Tento me lembrar do seu perfume exato. Se tiver sorte,
consigo adormecer pensando naquela noite.
Ele pensa naquela noite também. Eu poderia me transformar em
uma poça de mingau bem agora. Mas consigo ficar parada, no
entanto.
Gabriel se inclina para frente, apoiando os antebraços nos
joelhos dobrados. — Eu quero contratar você.
Se eu realmente tivesse me transformado em mingau, agora
seria o momento em que eu me solidificaria. Não era isso o que eu
esperava. Tomo um gole apressado de bourbon e lambo meus
lábios secos. — Eu estou... Ok, eu não estou entendendo.
Um lento rubor eleva-se sobre o alto de suas bochechas. — Eu
quero que você durma comigo.
— Hum... o quê? — Não consigo formular palavras melhores.
— Apenas dormir — ele esclarece rapidamente. — Eu... maldito
inferno… eu durmo quando você está lá. E eu preciso dormir. — Por
um segundo, ele parece tão fraco, os círculos sob seus olhos mais
profundos e escuros. Tão cansado. — Você pode ficar aqui, viajar
comigo. A compensação será...
— Raio de sol — interrompo. — Você está seriamente tentando
me pagar para dormir em uma cama com você todas as noites?
E, caramba, se a sua linguagem corporal tensa e cansada diz
alguma coisa, ele quer muito isso. Estou tão chocada que tenho que
tomar outro gole da minha bebida. Deus, a ideia é tentadora. Mas
perigosa. Não é como se ele tivesse dito: “Sophie, eu te quero e não
posso viver mais uma noite sem você”. Ele está tentando me
contratar, pelo amor de Deus.
Gabriel se senta ereto, a mandíbula cerrada. — Olha, eu sei que
é ridículo.
— É — eu concordo, de coração.
Sua expressão fica em branco. — Você está certa.
Ele começa a se levantar, mas eu estendo o braço, colocando
minha mão em seu antebraço rígido. — É ridículo porque você não
precisa me pagar para isso.
Se o que eu disse teve algum efeito, foi fazê-lo parecer ainda
mais chateado. — Sim, eu preciso. Isso não é... Se eu não pagar...
— Ele balança a cabeça com uma respiração exasperada. — Não é
certo não pagar.
Meus dedos enrolam em torno do músculo duro de seu braço. —
Você precisa disso?
Ele mexe no punho na camisa. — O fato de eu estar me
humilhando mostra o quanto.
Eu dou a ele um sorriso triste. — Tudo o que estou tentando
dizer é que, mesmo que você não me considere uma amiga, eu te
considero um. Eu ajudo meus amigos. E não seria correto eu tirar
dinheiro de um deles. Além disso, você está se oferecendo para me
deixar ficar aqui. Isso é luxo puro, comparado a ficar apertada com
outras cinco pessoas.
Sua expressão é tão perplexa que meu coração dói.
— Você vai fazer isso? — Ele pergunta.
Foi o que eu disse, não foi? Nem sequer pensei sobre isso,
apenas dei minha resposta. Eu deveria ter considerado mais essa
idéia. Como vou viver com esse homem? Estou atraída por ele – e
isso é um eufemismo total. E ele espera que eu durma ao seu lado
todas as noites? Tortura. E, no entanto, também muito atrativo. Eu
quero isso. Por razões que é melhor ignorar no momento.
Concentre-se no agora. Sempre agi por instinto, e ele nunca falhou.
Foram meus instintos que me fizeram concordar desde o início. Não
vou voltar atrás.
Gabriel senta-se em silêncio, mexendo nos punhos, embora
claramente esteja tentando não fazer isso. O homem tem uma
carranca feroz, e eu nunca vi um rabugento parecer tão gostoso.
Fantasias inapropriadas de uma estudante travessa e de um diretor
malvado enchem minha cabeça. Calma, garota.
Ele faz um barulho de impaciência misturado com auto-aversão.
— Peço desculpas por colocá-la em uma posição embaraçosa. Eu
agi mal. Deixe-me levá-la de volta...
— Me mostre o quarto.
Ele pisca para mim como se eu tivesse falado em um idioma que
ele não consegue entender.
Começo a caminhar até a parte de trás do ônibus, tirando meus
sapatos enquanto ando. Gabriel me observa do mesmo modo como
alguém olharia para um guaxinim perdido que invadiu sua casa. Mas
noto que ele também se levanta, me seguindo lentamente.
O quarto é tão lindo quanto a sala de estar. Com os painéis de
madeira polidos e brilhantes, é aconchegante e quente. Sua cama é
King Size, ocupando a maior parte do espaço. Eu rastejo sobre ela,
afundando nas cobertas de cetim cor creme.
Gabriel está no limiar, seu olhar disparando de mim para o
espaço ao meu lado. Deito de lado, descansando minha cabeça
sobre a minha mão. Isso não vai ser fácil. Esticada na cama, com
ele me observando, isso parece algo mais.
Parece sedução. Também nunca fui boa em mentir para mim
mesma. Eu quero o peso dele sobre mim, a força sólida de seus
músculos se movendo e contraindo enquanto ele se move entre as
minhas pernas. Eu quero esse calor, sentir seu pênis deslizando
grosso e longo no meu sexo vazio e dolorido.
Mas ele não pediu isso. E o fato de que ele precisa de mim para
algo não sexual significa muito. Não sou apenas um par de peitos e
bunda para fazê-lo gozar. Ele poderia conseguir isso em qualquer
lugar. Nós dois sabemos disso. Ele precisa de mim para dormir.
Eu deixo minha cabeça cair nos travesseiros. — Não me deixe
esperando, Raio de sol.
— São... — Ele olha para o relógio. — Dez e quinze da manhã.
— E eu estou cansada. Preciso de um cochilo.
Sério. Eu não tinha percebido o quanto estou exausta até dizer
em voz alta.
Um brilho calculista acende em seus olhos. Meus mamilos
endurecem em resposta. Droga.
De modo lento, ele tira o paletó, o movimento parecendo
totalmente pornô. Ele não se apressa, pendurando-a, depois tira os
sapatos e as abotoaduras. Músculos se contraem contra sua camisa
branca e fina. Eu o observo com um tipo preguiçoso de atenção. A
intimidade da ação me acalma de uma maneira estranha, e minhas
pálpebras ficam pesadas.
Ele faz uma pausa na beira da cama. — Todas as noites? — É
uma voz rouca, com mais desejo do que acho que ele percebe.
Calor suave floresce no meu coração. — Cochilos também, se
você quiser.
Seu olhar é calor líquido. — Eu quero.
Ele rasteja pela cama. O homem cauteloso e hesitante se foi.
Gabriel se move com graça, quase rondando, olhos quentes em
mim, seu corpo entrando em contato com o meu. Começo a ofegar
quando ele habilmente me vira para encarar a parede e se enrola ao
meu redor, pressionando minhas costas contra seu peito. Ele faz
tudo como se tivesse planejado isso por algum tempo, como se
tivesse pensado em todos os detalhes sobre o que faria comigo uma
vez que eu estivesse em sua cama.
Seu braço envolve a minha cintura, serpenteando entre os meus
seios antes que eu possa piscar. Ele segura o meu ombro, me
puxando para perto, me aconchegando.
Tremo, um enxame de abelhas voando na minha barriga. Isso
parece bom demais. Minha pele está queimando, meu coração
acelerado. Não tem como ele não perceber. Sinto o baque rápido do
seu coração contra as omoplatas e sei que ele também está
agitado.
Lutamos com a novidade da situação por alguns segundos, e
então ele suspira, seu hálito quente soprando o meu cabelo, e seu
corpo duro relaxa. Esse som é tão pacífico que eu afundo em seu
abraço. Estamos por cima das cobertas, mas estou tão quente, tão
segura, que não importa.
Os lábios de Gabriel pressionam contra o topo da minha cabeça.
— Todas as noites, garota tagarela.
A posse em sua voz é absoluta. Estou com tantos problemas.
CAPÍTULO DEZ

— E , o que vamos dizer às pessoas? — Os grandes olhos


castanhos de Sophie me encaram com preocupação enquanto
fazemos nosso caminho para a sala de ensaios montada num
estúdio de gravação local.
Kill John ensaiará uma música nova antes de partirmos
novamente, e eu quero ver se eles estão à altura. Sophie, é claro,
estará lá para tirar fotos.
Tendo ganho duas horas de sono – um maldito milagre, pelas
minhas contas – estou me sentindo tão relaxado e leve que quase
cantarolo uma de suas músicas. Eu poderia muito bem estar
perdendo a cabeça, mas não me importo.
— Sobre o que?
— Sobre eu começar a dividir o ônibus com você. — Ela agita
um braço, exasperada.
Ela é adorável, realmente. E tão fantasticamente suave,
curvilínea e quente. Deus, ela é aconchegante quando dorme, seu
aroma de torta de limão ficando mais forte, mais terrestre de alguma
forma. Estou tentado a dar meia volta e exigir mais tempo de
cochilo.
Eu tenho que me forçar a prestar atenção. — Você não quer que
eles saibam?
— Bem — ela vacila. — Eu não sei. É só que... — Os olhos
castanhos se estreitam para mim. — Quer que eles saibam que
você precisa de mim para dormir?
— Não particularmente.
Ela para no limiar do estúdio. Ninguém nos notou ainda, por isso
temos um pouco de privacidade. — Eles vão pensar que estamos
juntos.
Um adorável rubor toma conta de suas bochechas redondas.
Meu dedo coça para acariciá-las.
— E isso seria um problema? — Me pego perguntando.
Seus lábios carnudos se separam, depois se fecham antes que
ela responda. — É um problema se é uma mentira. E não, não gosto
da ideia de pessoas com quem trabalho fofocando sobre nós.
— Entendo. — Com um aceno de cabeça, me viro em direção à
sala. — Ei, ouçam. Sophie vai viajar comigo no meu ônibus. E o
motivo não é da maldita conta de vocês, então é melhor eu não
ouvir uma palavra sobre isso. Entendido?
Ao meu lado, Sophie solta um gargarejo estrangulado que soa
como um esquilo se afogando.
Meus meninos, no entanto, apenas piscam para mim antes de
sorrirem.
— Bem, tudo bem então, Scottie — diz Rye. — Fico feliz em vê-
lo tomando uma iniciativa em sua vida pessoal.
Whip balança a cabeça. — Eu sabia, porra.
— Você não sabe de nada. — Sophie sibila para ele.
Jax e Rye fazem um high five. — Você nos deve cinquenta
dólares, Killian.
— Merda, e eu tinha tanta certeza que ele aguentaria mais.
Muito obrigado, Scottie. — Killian estreita os olhos para mim.
Babaca.
— O que eu disse sobre especular? — Aviso. — Mais uma
palavra e eu vou ter todos vocês fazendo um clipe com dança
sincronizada mais rápido do que podem dizer Backstreet Boys.
Whip levanta uma mão. — Ok. Entendi. Vocês dois são um muro
impenetrável que ninguém deve contemplar. Não há necessidade de
dar uma de Simon Cowell com a gente.
Não tenho tempo para ver como os outros reagem. Sophie
belisca minha lateral.
— Ai. Dá licença? Esta camisa é uma mistura de lã e seda. Você
vai deixá-la enrugada.
— Ela está prestes a ser picada em mil pedacinhos. — Ela rosna
para mim, os olhos disparando faíscas. — Você acabou de espalhar
para todo mundo!
— Eu disse a eles para não falarem sobre isso.
O nariz dela enruga. — O que significa que eles vão falar sobre
isso ainda mais.
— Não, eles não vão.
— Sim, nós vamos. — Rye grita.
Eu aponto para ele. — Comece a praticar o seu Running Man.
— Alguém mais está impressionado por ele saber os nomes dos
passos de dança?
Sophie me cutuca com o dedo para pontuar cada palavra. — Isto
é tudo culpa sua.
Brenna se dá ao trabalho de vir até nós. O sorriso dela é amplo e
presunçoso. — Eu não disse, pequeno Scottie? Contrato as
melhores pessoas.
A pobre Sophie está da cor de uma beterraba. Sinto uma pitada
de arrependimento por colocá-la em uma posição embaraçosa. Mas
conheço essas pessoas. Eles são minha família. Mais que família.
Brincadeiras à parte, eles farão o que eu pedir, mesmo que eu
nunca tenha pedido nada pessoal antes.
Eu contaria isso a Sophie agora, mas acho que isso deixaria ela
ainda mais envergonhada. Então, resolvo encarar seu olhar e
colocar toda a terna gratidão que sinto em minha voz. — Sim,
Brenna, você contrata.
Minha recompensa é a expressão de Sophie ficando suave e
luminosa. Algo se abre dentro do meu peito. Não sei o que é, mas
sei uma coisa: minha garota tagarela não faz ideia de onde se
meteu. Porque não vou deixar ela ir.

— V ? — Jules pergunta quando


nos esparramamos no gramado no West Princes Street Park, em
Edimburgo.
Acima de nós há um raro céu azul sem nuvens. Se eu levantar a
cabeça, verei a rocha escura e escarpada de Castle Rock erguendo-
se quase diretamente da terra e a imponente fortaleza do Castelo de
Edimburgo assentada sobre ela.
Ontem à noite, Kill John tocou na esplanada do castelo, que é
um estádio aberto em forma de U no topo de Castle Rock com o
castelo como pano de fundo. Eu nunca tinha assistido a um show
como aquele, as luzes brilhantes da cidade abaixo de nós, o castelo
de aparência medieval criando um ar de atemporalidade quando Kill
John trouxe os fãs à um rugido estridente. Fiquei arrepiada.
Depois de tirar algumas fotos dos caras praticando em um
estúdio de gravação hoje de manhã, recebi o resto do dia de folga.
Como Jules também tinha tempo livre e eu estava muito preocupada
com a perspectiva de ficar com Gabriel, convenci ela a fugir comigo
e visitar a cidade até irmos embora mais tarde nesta noite. E
portanto, estamos aproveitando ao máximo, absorvendo a luz do sol
que irradia neste dia lindo.
— Totalmente — eu respondo, abrindo um olho para encará-la.
— Mas essa não é a sua primeira turnê. Você ainda fica
empolgada?
— Claro. Eu vivo para isso. — Ela se vira para mim. À luz do sol,
vejo que os olhos dela não são simplesmente castanhos, eles
também têm listras verdes. — É mais que uma carreira; é um sonho
se tornado realidade. E um dia, eu vou cuidar das minhas próprias
bandas.
— Eu te invejo. Não tenho um sonho assim.
Jules rola para o lado para me encarar, a cabeça apoiada na
grande bolsa verde que sempre carrega. — O que você quer dizer?
Enquanto penso em como explicar, um mímico vestindo um
smoking para na ampla calçada e coloca um rádio portátil no chão,
que começa a tocar “Thriller” do Michael Jackson. Eu o vejo dançar
e luto contra um sorriso. No outro extremo do parque, perto da
Fonte Ross, um cara de kilt toca gaita de foles. As músicas se
misturam, gerando um choque de sons desarticulados. É
maravilhosamente horrível, e nada que eu jamais teria
experimentado se não tivesse arriscado e entrado em um avião com
apenas o mínimo de informações para continuar.
— Eu nunca tive um emprego dos sonhos — digo a Jules,
assistindo o mímico dançar. — Nunca tive uma ambição intensa. E
às vezes me pergunto se sou defeituosa nesse aspecto.
— Você não é defeituosa — diz Jules enfaticamente. — Talvez
você só não tenha encontrado o que gosta de fazer ainda.
Balanço a cabeça e sorrio. — Não, não é isso. Simplesmente
não me importo com o que estou fazendo desde que eu possa viver
a vida, ser feliz e desfrutar de coisas novas. Ganhar dinheiro é ótimo
porque me ajuda a viajar, coloca um teto sobre minha cabeça. Mas
no fim do dia? Não sou ambiciosa e nunca serei. — Dou de ombros
e puxo um maço de grama verde brilhante da terra. — E sabe o que
é pior? Eventualmente, vou querer um lar e compartilhá-lo com
alguém que me entenda por completo, alguém de quem não consigo
tirar as mãos. Quero bebês e quero decorar minha varanda no
Halloween e no Natal.
Jules faz uma careta. — Por que isso é ruim?
— Tá, a coisa toda não é ruim, mas todos os meus colegas
parecem ter esse desejo de deixar sua marca no mundo. E aqui
estou eu pensando que uma coisa simples como isto... — Viro meu
braço em direção à iminente colina, que parece uma pintura
vitoriana. — é algo pelo qual se viver.
Jules examina a cena diante de nós, e um sorriso lento ilumina
seu rosto. — Bem, então eu te invejo mais. Porque eu deveria estar
vivendo o momento. Me preocupar com o que poderia dar errado no
futuro me dá azia. — Ela ri e seus cachos fúcsia saltam em torno de
seu rosto. — E eu realmente preciso parar de me preocupar com
decepcionar Scottie.
— Isso é fácil — eu digo. — Lembre-se que ele só late.
Deus, eu amo quando ele late, me deixa toda arrepiada e
quente. O que mostra como sou completamente deturpada.
Jules agora com certeza me olha como se eu fosse uma. —
Garota, eu senti a mordida dele. Confie em mim, é real e
assustadora. — Mas então ela estremece. — Merda, esqueci que
você está com ele agora.
— Conspirando com o inimigo, você quer dizer? — Eu provoco.
— Algo assim. — Ela não parece realmente incomodada, no
entanto.
Eu descanso meu antebraço sobre minha testa. — Primeiro, eu
não estou com ele. Nós somos... bem, é complicado.
— Não diga.
Eu rio. — Ok, é muito complicado. Mas mesmo se eu estivesse
com ele, não tomaria partido nem diria a ele o que conversamos.
— Merda, me desculpe — Jules diz, suspirando. — Eu não quis
dizer isso, sabe. Estou apenas... bem, todos nós estamos meio
surpresos que você e Scottie sejam... complicados.
Eu sabia que haveria fofoca apesar da idéia insana de Gabriel de
que, se ele decretasse silêncio, todos obedeceriam. Homem iludido.
Não estou surpresa com a confusão de Jules. De modo estranho, eu
realmente não me importo se todos especulam ou não entendem.
Porque apesar disso, hoje à noite vou dormir na cama de Gabriel.
Um sentimento de antecipação quase vertiginoso faz cócegas na
minha pele e aperta minha barriga com o pensamento de estar
envolvida nele; estar deitada com Gabriel é uma experiência de
corpo inteiro. Ele é grande o suficiente para me fazer sentir pequena
e delicada. No entanto, sua necessidade pela minha presença me
faz sentir forte e digna.
Será uma tortura ficar pressionada contra aquele corpo duro,
meus lábios muito perto de sua pele macia e firme que queima com
calor. Eu amo o modo como ele cheira, e a cadência constante de
sua respiração. Essas coisas já estão indelevelmente marcadas na
minha memória e na minha pele.
Acima de tudo, adoro ver um lado dele que ninguém mais vê.
Quero conhecer esse homem. Acabei de dizer a Jules que quero
viver o momento, mas pela primeira vez em anos, olho para o futuro
com anseio e um pouco de medo.
Fecho meus olhos quando “Thriller” começa de novo. — Eu não
sou muito boa com ‘complicado’ — digo a Jules. — Mas, por
Gabriel, estou disposta a tentar.
— Pelo bem dele, espero que você tenha sucesso. — O carinho
que ouço em sua voz me faz pensar que ela gosta mais de Gabriel
do que admite. — Porque esse homem precisa de uma vida social
mais do que qualquer um que eu já conheci.
CAPÍTULO ONZE

E o último segundo para entrar no ônibus de Gabriel. O


crepúsculo se instalou no estacionamento onde os ônibus já estão
com os motores ligados, uma caravana em forma de serpente que
carrega toda a turnê da Kill John. O ônibus de Gabriel está no final,
um tubo preto brilhante contra o céu laranja.
Seu motorista, um senhor mais velho muito legal chamado
Daniel, me cumprimenta com um aceno de cabeça e um sorriso. —
Chegou bem na hora.
Acho que ele sabe que eu estava enrolando.
— Obrigada por nos levar — digo a ele na porta. — Você precisa
de alguma coisa? Café? Janta?
— Não, senhorita. Eu tenho tudo que preciso aqui na frente.
Scottie se certifica disso.
Como deveria, já que dependemos de Daniel para nos manter
vivos e seguros enquanto passamos a noite toda na estrada.
Perguntei a Brenna sobre os motoristas. Eles dormem durante o dia
em qualquer hotel que paramos e ficam acordados a noite toda
dirigindo quando estamos na estrada novamente. A maioria deles já
esteve em várias turnês com a banda.
Por outro lado, Gabriel realmente garante que todos os
pequenos detalhes da turnê estejam resolvidos. Hoje cedo ele
mandou Sara, uma das estagiárias, arrumar minhas coisas e colocá-
las em seu ônibus enquanto eu estava saindo com Jules. Eu poderia
achar isso invasivo, mas, sinceramente, estou vivendo só com uma
mala - e não ter que passar pela incômoda tarefa de desfazê-la
perguntando onde devo colocar isso ou aquilo enquanto ele observa
é um alívio.
Em vez disso, recebi uma mensagem de Sara me dizendo onde
cada coisa está guardada. Agradeci profusamente e enviei a ela um
vale presente do Starbucks. Sua alegria com um Frapuccino grátis
me fez pensar em mandar vales para toda a equipe de Gabriel.
Todos eles parecem girar constantemente como engrenagens na
máquina bem lubrificada que é a Kill John, com Gabriel no
comando. E embora ele não seja cruel, também não está
exatamente elogiando seus esforços. É claro que ele espera que o
trabalho seja bem feito de primeira, e isso também vale para si
mesmo.
Os outros ônibus estão fechando suas portas, com todos já
embarcados para a viagem.
Não posso mais enrolar, então depois de desejar uma boa noite
à Daniel, entro na relativa calma e tranquilidade do ônibus e fecho a
porta atrás de mim com um baque definitivo. O interior intocado está
vazio, Gabriel em nenhum lugar à vista. Eu admito, estou
desagradavelmente chocada. Eu esperava que ele estivesse
descansando em uma cadeira, com sua graça feroz e expressão
vagamente repreensiva. Ele está atrasado?
Olho ao redor enquanto o ônibus avança. Firmando minhas
pernas, espero até me acostumar com o balanço suave. Estou
prestes a gritar, ou talvez interfonar para Daniel para avisá-lo que
ele deixou seu chefe para trás quando a profunda voz de Gabriel
soa do quarto.
— Porra, já não era sem tempo. Você estava tentando perder o
ônibus, Darling?
O alívio me envolve com tanta força que tenho que me apoiar na
bancada da cozinha. — Eu gosto de estar sempre elegantemente
atrasada — digo de volta.
— Apenas lembre-se, — ele retruca, ainda falando do quarto dos
fundos, — a caravana não espera por ninguém.
— Ela esperou por mim. — Eu caminho em direção ao quarto,
mas paro abruptamente no limiar. Por um segundo, consigo apenas
ficar boquiaberta com a visão à minha frente. É tão chocante que
me viro para verificar se há câmeras escondidas e estou no meio de
uma pegadinha.
— O que você está olhando? — Gabriel diz lentamente, sem tirar
os olhos da TV.
— Apenas checando para ter certeza de que não entrei num tipo
de realidade alternativa.
— Divertida como sempre, Darling.
Quem poderia me culpar por suspeitar da cena? Gabriel Scott
está sem o seu terno, usando uma calça de moletom preta e uma
camisa térmica de mangas compridas cinza. Isso é chocante o
suficiente – mas pelo menos eu já vi ele em roupas comuns antes.
O fato de ele estar descansando confortavelmente em sua cama
enquanto come algum tipo de sobremesa em uma tigela é o que me
deixa perplexa.
— Você está encarando — diz secamente enquanto ele...
— Você está assistindo Buffy? — Minha voz sai como um
guincho.
Ele revira os olhos. — Lide com isso.
— É só que é tão... — Minha mão bate no peito. — Tem certeza
de que não é uma pegadinha do Punk’d?
Ele solta um bufo. — Você não é famosa, então não. Eu, por
outro lado, às vezes desconfio que é você quem está aqui para uma
pegadinha.
Estou tão feliz que tenho que me impedir de sorrir como uma
lunática enquanto tiro meus sapatos e rastejo pela ponta da cama.
— Se eu fosse fazer isso, trocaria todos os seus ternos por poliéster.
Com isso, seus olhos finalmente deslizam para os meus, e sua
pele realmente empalidece. — Isso é cruel, Darling.
— Pare de me chamar assim. — Eu roubo sua colher.
— É o seu nome.
— Você tem certeza de que é nesse sentido que você está me
chamando? — Pergunto desconfiada, enquanto ele estica sua tigela
fora do meu alcance.
— Por qual outro motivo eu te chamaria assim? — Há um brilho
em seus olhos que me leva a responder num tom de voz
praticamente cantado.
— Um apelido carinhoso, talvez? Declarando seu eterno amoure
por mim.
O nariz dele se enruga. — Você está me distraindo do meu
pudding.
— Pudim? É isso o que você está comendo? — Eu me estico
tentando agarrar a tigela, mas ele é muito rápido e acabo
esparramada em seu peito.
Nós dois ficamos quietos. Eu segurando a colher com uma mão
e a outra palma pressionada contra o volume firme de seu peitoral;
ele com um braço ainda estendido, o outro preso sob mim.
Sua respiração é profunda e forte enquanto ele me olha. Minha
atenção se volta para os seus lábios, lindamente esculpidos e
suavemente separados. Como seria o seu beijo? Ele começaria
devagar, dando pequenas mordidas, testando o ritmo? Ou ele seria
do tipo que se entrega, possuindo minha boca com a dele?
O calor inunda meu corpo, flutuando através da minha barriga.
As pálpebras de Gabriel se abaixam e sua respiração fica presa.
No fundo, alguém está gritando o nome da Buffy. É o suficiente
para me tirar de qualquer nevoeiro no qual o toque de Gabriel tenha
me metido.
— Você cheira a torta de maçã — eu sussurro
inexpressivamente.
Seu olhar corre da minha boca para os meus olhos. — É
crumble. Crumble de maçã.
— Então por que você chamou isso de pudim?
— É como nós britânicos chamamos a sobremesa. — Ele ainda
está olhando para minha boca. Sobremesa, de fato.
Meus lábios se separam, pura luxúria deixando-os inchados. —
Me dá um pedaço.
Engolindo audivelmente, ele lentamente pega a colher da minha
mão. Eu não desvio o olhar dos seus olhos quando ele pega um
pedaço do crumble esfarelado.
A colher treme um pouco. Metal frio desliza sobre meu lábio
inferior, e a farofa quente enche a minha boca. Mal reprimo um
gemido, meus lábios se fechando ao redor da colher enquanto ele
lentamente a puxa de volta. Gabriel grunhe em resposta, um som
curto e indefeso que ele rapidamente sufoca.
— Delicioso — digo, lambendo o canto dos lábios.
O muro se ergue novamente e ele volta ao seu eu implacável.
Com mãos gentis, ele me empurra para o lado. — Sai de cima — diz
suavemente. — Você está me fazendo perder Buffy.
Levo um momento para me acalmar. Afasto o cabelo do rosto e
me aconchego no ninho de travesseiros encostados na cabeceira da
cama. — Não posso acreditar que você está assistindo isso. E com
orgulho, até.
Seu grande ombro se encolhe quando ele volta a comer seu
crumble. — Você está morando aqui agora; não é como se eu
pudesse ocultar minhas preferências de entretenimento. E não vou
renunciar os pequenos prazeres que desfruto.
— Ficando todo nerd assistindo séries de ficção científica e
comendo doces? — Faço um som de diversão. — Tente se conter,
festeiro.
Ele me lança um olhar. — Nos primeiros anos de existência da
Kill John, eu fodi, bebi e festejei por todo o mundo. Posso dizer com
segurança que estou cansado dessa vida e completamente
entediado dela.
Meu cérebro gagueja com a palavra fodi saindo de seus lábios
com aquele sotaque carregado. Ele usou a palavra antes, mas
estávamos brigando na época. Agora estou prestando atenção.
Estou tão tentada a pedir que ele a repita que tenho que morder o
interior da minha bochecha.
— Qual é a desse olhar? — Ele pergunta, percebendo minha luta
interna. — Eu aprendi muitos dos seus olhares. Mas não esse.
— Você conhece os meus olhares? Acho que não.
Gabriel me cutuca com o cotovelo. — Você está corando.
— Até parece. — Minhas bochechas queimam.
O baixo ressoar de seu divertimento levanta os pequenos pelos
ao longo dos meus braços, e meus mamilos se eriçam. Droga. Ele
não tem permissão para me afetar assim.
— Os caras estavam me provocando — eu deixo escapar, meu
bom senso enfraquecido por sua proximidade. — Sobre você. Eles
sugeriram que, quando se trata de sexo, você era um mosca morta.
Que você não... er... faz mais isso.
Deus, não posso olhar para ele. Eu me preparo para sua ira,
mas ele solta uma risada. Não é longa ou muito alta, mas seu peito
treme, e ele passa a mão no rosto enquanto tenta se controlar.
— E você, o quê? — Gabriel pergunta, seus olhos brilhando com
diversão. — Pensou que eu era virgem?
— Não. — Eu chuto o pé dele levemente. — Não. Eu só... Arrg!
Você disse fodi, e isso me fez pensar sobre isso.
— Foder? — Ele pergunta, sorrindo o suficiente para mostrar
seus dentes brancos.
Desvio o olhar para que ele não possa mais me encantar. — Eu
te odeio.
— Não, você não odeia — ele brinca em um tom tão diferente
dele - e tão parecido comigo - que encontro o seu olhar.
— Não, não odeio — concordo em voz baixa.
E então é a sua vez de desviar o olhar. Ele mete a colher no
crumble várias vezes, mas não come mais.
— É verdade? — Não posso deixar de perguntar. — Você está...
se abstendo?
— Jesus — diz ele, deixando a colher cair dentro da tigela. —
Por favor, pelo bem do meu apetite, evite tentar expressar as coisas
de modo delicado, garota tagarela. É algo doloroso de se
testemunhar.
Mas seria uma pena se a sobremesa subitamente voasse na
cara dele, não é? — Então responda à pergunta, Raio de sol.
Por um segundo acho que ele vai se recusar, mas então ele
suspira em derrota e se recosta na cabeceira da cama. — Sexo
para mim sempre foi... — Ele franze a testa como se estivesse
pensando em como explicar, depois dá de ombros. — Uma
libertação, suponho. Satisfação forte, rápida, mútua, mas impessoal.
Isso realmente não deveria parecer atrativo, mas parece – pelo
menos quando eu o imagino fazendo isso. Ele é forte o suficiente
para ser brutal da melhor maneira. Sento-me também, cruzando as
pernas diante de mim.
Gabriel continua em um tom imparcial. — Ao viver essa vida,
com a minha aparência, é fácil se dar bem quando eu quero e do
jeito que eu quero. E não vou mentir: me aproveitei disso muitas
vezes. Mas então Jax aconteceu. — Ele olha para suas mãos
quando elas se fecham com força ao redor da tigela. — Tudo
pareceu falso, feio. Como se todos nós estivéssemos contaminados
por uma mentira, e aqueles ao nosso redor fossem todos
mentirosos. A quantidade de supostos amigos íntimos que
abandonaram o navio e deram as costas a Jax foi impressionante.
Ele olha na minha direção e seus olhos estão vermelhos nos
cantos. — Não me entenda mal; eu esperava por isso.
Simplesmente não esperava que esse fato me incomodasse.
— Claro que incomodaria. Eles são sua família. Qualquer um
pode ver que você os ama.
Ele para, como se estivesse absorvendo minhas palavras. — A
maioria das pessoas acredita que sou incapaz de sentir qualquer
coisa.
A indignação soca o meu peito como um punho ardente. Nesse
momento, sei que iria à guerra por esse homem. Mesmo que ele
odiasse cada segundo disso. Ninguém deveria ter que enfrentar o
mundo sem alguém ao seu lado. Especialmente alguém tão
dedicado quanto Gabriel.
— Idiotas — eu rosno.
Ele balança a cabeça lentamente. — Não, amor, é o que eu
quero que eles vejam.
— Isso não incomoda você?
— Na verdade, ajuda. Nunca fui particularmente afetuoso. Mas
depois de Jax, eu não conseguia suportar ninguém me tocando.
Especialmente estranhos. Faz minha pele arrepiar, me sufoca.
Com um gemido, me jogo nos travesseiros. — E lá estava eu no
avião, me enrolando em torno de você como se fosse papel filme.
Sua boca se curva e ele olha para mim por baixo de seus cílios
volumosos. — Sim, bem, aparentemente sou imune à você. Chame
de prova de fogo. Ou terapia de aversão.
— Encantador. Estou me sentindo toda quente e confusa agora.
Não. — Eu levanto uma palma. — Não esconda como você
realmente se sente.
Ele bufa e agarra minha mão, seus dedos longos envolvendo os
meus menores. Gabriel dá a ela um aperto antes de gentilmente
colocá-la na minha coxa, e depois se afasta.
— Nossa situação à parte, o contato casual me irrita, o que
significa que sexo casual não é mais do meu interesse. Na verdade,
agora acho repulsivo.
Provavelmente é errado que eu me sinta aliviada. Mas se tivesse
que vê-lo com outras mulheres durante a turnê, não sei como lidaria
com isso. Ciúmes não é divertido e também é difícil de controlar. No
entanto, pensar nele se rendendo à solidão também me incomoda.
— E sobre ter um relacionamento? — Pergunto.
— A maioria das pessoas me entedia.
Eu rio, mas meu coração dói. — Isso você deixa sempre muito
claro.
Ele franze o cenho, juntando as sobrancelhas grossas. — Nunca
fui carinhoso ou normal, Sophie.
Ele diz isso como um aviso, ou talvez como um distintivo de
honra. E, no entanto, ouço a preocupação por trás de tudo, como se
tivesse medo de ser defeituoso. Conheço muito bem esse medo em
particular.
— Ei, o que é ser normal, afinal? Somos todos um pouco loucos.
— Alguns mais que outros — ele não consegue deixar de
murmurar com um pequeno sorriso provocante nos lábios. — E eu
normalmente não como doces. Crumble é especial.
Isso chama a minha atenção. — Como assim?
Ele cutuca a sobremesa antes de responder com um sorriso
tímido. — Mary fez esse para mim.
— Mary. — O nome tem um gosto amargo na minha boca.
Ele me olha, suas sobrancelhas se unindo antes que sua
expressão se suavize com diversão. — Mulher gloriosa. Excelente
cozinheira. A melhor, na verdade.
— Eu prefiro torta de maçã.
O bastardo dá uma lambida preguiçosa na colher. Eu ignoro
essa língua. E aqueles lábios firmes que estão um pouco brilhantes
por causa do recheio de canela e maçã. — Isso é bem
estadunidense da sua parte. Não se preocupe, amor. Estou certo de
que Mary também poderia fazer uma torta deliciosa.
— Talvez você deva pedir para ela dormir com você à noite.
Então você poderia comer sua torta também.
— Ótima sugestão, Maria Antonieta. Só acho que ela me
recusaria. Ela está constantemente me dizendo que sou jovem
demais para ela. — Ele encolhe os ombros. — As mulheres de
oitenta anos são espinhosas.
Pego sua colher e dou uma mordida irritada em seu amado
crumble enquanto ele ri, seus olhos enrugando nos cantos. Não
acredito que deixei ele me provocar.
— Idiota — digo a ele com minha boca cheia de comida.
— Ciúmes combina com você, Srta. Darling. Te deixa toda
corada e ofegante.
— Idiota iludido — digo. Quando ele não para de sorrir, cutuco
seu peito. — Então, por que crumble é tão especial?
AToda a alegria presunçosa sai de seu rosto, e o arrependimento
pesa dentro do meu peito. Seu olhar se afasta enquanto ele fala. —
Minha mãe costumava fazer para mim como uma espécie de
tratamento especial. O único crumble que eu encontrei que tem o
gosto parecido com o da minha mãe é o que a Mary faz, que é a
dona de uma padaria daqui. Eu sempre peço uma remessa quando
passo pela cidade.
Quero perguntar a ele sobre sua família e por que sua mãe não
faz mais crumbles pra ele. Mas a agitação se instalou em seu rosto
como um cobertor pesado, do qual está tentando se livrar. Não
consigo me forçar a tocar na ferida.
Com uma tranquilidade que não sinto, pego a tigela de sua mão,
que não oferece resistência, e me sirvo de outra colherada. É
intensa e amanteigada, fresca e picante.
Mais ou menos como o próprio Gabriel.
— Então, — digo a ele de boca cheia, — você perdeu muitos
pontos comigo por ser Team Jacob.
Ele bufa.
— Então terá que se redimir. — Aceno a colher para ele
ameaçadoramente. — Quem era o melhor para a Buffy? Angel ou
Spike?
Gabriel pega a colher e a tigela de volta. — Angel é o sonho de
uma adolescente, cheio de suspiros tristes e angústia existencial.
Spike é para quando ela cresce e percebe que o prazer é dela para
conquistar.
Meu sorriso se abre lentamente. — Você, senhor, é um
romântico.
Ele olha para mim em pura afronta. — Acabei de dizer que toda
essa baboseira romântica era infantil.
— Apenas um romântico colocaria tanta reflexão nessa resposta.
— Você me irrita — ele resmunga, mas sem irritação. — E para
constar, eu estava mentindo sobre Jacob. Eu acho que os dois são
idiotas.
Eu rio horrores, amando o jeito como ele eventualmente me
cutuca com o cotovelo. Pego uma tigela de crumble para mim e
outra porção para ele, e depois me sento ao seu lado para assistir
Buffy.
Sinto que tenho dezesseis anos de novo, no porão dos meus
pais com o cara mais gostoso da escola. Só que estou em lençóis
de mil dólares em num ônibus de um milhão de dólares, dirigindo
pela Europa. E Gabriel não é um adolescente.
Seu corpo longo e esguio se espalha sobre a cama em completo
repouso, e eu tenho que ignorar esse fato senão farei algo
precipitado, como deslizar minha mão por dentro de seu moletom e
acariciar seu abdômen firme.
Quando ele finalmente pega o controle remoto e desliga a TV, eu
estou uma maldita bagunça. Minha boca está seca e meu coração
está tentando sair do meu peito.
— Você pode ir se trocar primeiro — ele oferece, de modo
moderado e não me olhando completamente nos olhos.
Se não fosse o fato de Gabriel estar esperando sua vez, eu
ficaria no banheiro por muito mais tempo. Lavo o rosto, escovo os
dentes e visto a camisa e o short mais folgados que consigo
encontrar.
Meu rosto arde quando corro para baixo das cobertas, toda
envergonhada e desajeitada, e derrubo um travesseiro no chão em
minha tentativa desastrada de levar o lençol até o nariz.
Espero em silêncio total ele voltar do banheiro. E quando sai,
não consigo assisti-lo vindo para a cama. É íntimo demais, real
demais.
Gabriel é muito mais gracioso ao se deitar. Eu me encolho,
imaginando que, diferentemente de mim, ele provavelmente não
está afetado. Por que deveria estar? Ele deixou claro que não sou
nada além de uma parceira de conchinha. Eu provavelmente estou
entre as categorias bicho de pelúcia e travesseiro gigante.
O quarto mergulha na escuridão. Posso me ouvir respirando alto
e rápido demais. Posso ouvi-lo respirando – firme e controlado
demais.
Porra. O que eu estava pensando? Não posso fazer isso.
O silêncio entre nós agora é tão denso que estou sufocando.
Gabriel vira na minha direção e eu imediatamente rolo para o
outro lado, olhando para longe dele. É autopreservação básica. Se
ficarmos cara a cara agora, não sei o que farei. Mas tenho certeza
de que isso acabaria comigo ficando totalmente envergonhada.
Ele não parece se importar. Não, ele se aproxima. Arrepios
correm pela minha pele quando seu corpo entra em contato com o
meu. Um braço pesado e musculoso se instala em volta da minha
cintura. E eu esqueço como respirar.
O que diabos está errado comigo? Tirei uma soneca com ele
mais cedo e estava bem. Certo, não exatamente bem. Eu queria
ficar em seus braços para sempre. Mas não estava fora de mim.
Não estava lutando contra um arrepio como estou agora.
Seu hálito quente acaricia o topo da minha cabeça. — Relaxe,
Sophie.
Solto um suspiro. — Estou tentando.
Sua voz é um sussurro no escuro. — Você está desconfortável?
Desconfortável? Sua mão grande pressiona minha barriga
gentilmente, sentindo o pequeno volume - o que é realmente uma
merda - mas a maneira como mantém a mão ali me faz pensar que
ele não liga ou gosta do que sente. Pensamento positivo.
E depois há o fato de que ele está tão perto. Tudo o que tenho
que fazer é virar e estarei embrulhada nele como se fosse papel de
presente.
— Não — eu guincho. — Estou bem.
Posso senti-lo assentir com a cabeça. A cama range quando ele
se aproxima ainda mais. E então eu o sinto.
Ah, inferno. Não, pelo amor de deus. Ele não pode fazer isso
comigo.
É grande, duro e está cutucando minha bunda.
Nós dois congelamos. Bem, Gabriel congela. O pau dele? Me
cutuca de novo, aquela cabeça áspera empurrando contra a parte
inferior das minhas costas como se quisesse dizer olá.
— Reação involuntária — diz Gabriel em uma voz estrangulada.
— Ignore.
Sua ereção diz o contrário.
Eu engulo com dificuldade. — Seu pau duro está cutucando a
minha bunda. Posso ignorar isso tanto quanto poderia se você
batesse com ele na minha cara.
Ele para, emitindo um ruído que vem do fundo da garganta.
Estou prestes a me desculpar por ser tão grosseira quando ele
começa a rir.
Ah, e como ele ri. Ri com o corpo inteiro, sacudindo a cama
enquanto cai de costas e simplesmente gargalha. O riso
descontrolado, profundo e contínuo é tão diferente de seu eu
reservado habitual que me vejo sorrindo.
Na penumbra, seu corpo é pouco mais que uma silhueta, seus
dentes um lampejo de branco em seu rosto. Ele enxuga os olhos
enquanto solta risadinhas, bufa e gargalha como um garoto bobo. E
eu amo cada segundo disso.
Gabriel devia ser sempre assim, desinibido e livre. E se eu tiver
que sofrer com seu pau cutucando minha bunda todas as noites
para deixá-lo assim, estou mais do que disposta a fazer o sacrifício.

F que ri assim, que meu abdômen está


dolorido. Aparentemente, os músculos que usamos para rir não são
os que eu exercito nos abdominais. Essa dor parece diferente. Boa
e completa, como se rir até cansar tivesse me devolvido algo que eu
havia perdido. Descanso minha mão na barriga e olho para o teto,
deixando a sensação afundar.
Ao meu lado, Sophie joga a cabeça para trás nos travesseiros,
chamando minha atenção. Ela está radiante, como se eu tivesse
feito a sua noite, e ela é tão linda que minha respiração engata.
Essa garota. Eu poderia me perder por causa dessa garota.
Quem imaginaria?
Meu sorriso desaparece quando a realidade se instala, dura e
desconfortável. — Garota tagarela, o que estamos fazendo?
A luz em seus olhos diminui. — O que você quer dizer?
— Isso. — Gesticulo apontando para nós e suspiro. — Eu
pedindo para você ser minha parceira de sono. Isso foi um erro.
— O quê? — Ela se apoia nos cotovelos, movendo-se para a luz
inclinada que passa pelas janelas. — Por quê? O que está
acontecendo, Raio de sol?
Odeio a mágoa que está nublando seu rosto doce, mas estou
fazendo um favor para nós dois. Aperto os cantos dos meus olhos
para evitar uma dor de cabeça. — A falta de sono confundiu meu
julgamento. Foi injusto pedir para você dormir comigo como um
maldito cobertor de segurança noite após noite.
— Gabriel...
Não suporto a ligeira pena que ouço em sua voz e a corto. —
Somos adultos, não crianças. Dormir juntos todas as noites levará a
expectativas. Erros.
O silêncio paira. Não quero ver a expressão dela.
— Estou atraído por você — deixo escapar. O calor enche
minhas bochechas quando a frustração arranha meu intestino.
Sophie engole em seco, e eu arrisco um olhar. Seus olhos estão
arregalados e disparando sobre mim, mas um sorriso está puxando
seus lábios. Odeio esse sorriso. Contém muita esperança.
— Sophie, eu não tenho capacidade para relacionamentos.
Nunca tive um, nunca quis um.
O nariz dela enruga. — Isso parece solitário, na minha opinião.
Estou começando a concordar.
— Sou muito ocupado para me sentir solitário. — Também é
verdade. Meses podem passar em um piscar de olhos, e eu não
terei notado.
A cama range quando ela se aproxima. Seu cheiro doce de limão
me envolve. Eu sei o quão suave é a sua pele e como o corpo dela
é macio. Me controlo, e me recuso a segurá-la.
Seu rosto paira sobre mim.
Não faça isso. Não fique na minha frente como uma cenoura na
frente de um cavalo. Estou me segurando por um fio aqui.
Fecho meus olhos. Seus dedos delicados tocam meu ombro.
— Quer a verdade, Gabriel? Eu também estou atraída por você.
Mas acho que você já sabe disso.
Claro que sei. Isso apenas torna a tentação mais aguda. Seria
tão fácil usá-la. Mas Sophie merece mais.
— Esse trabalho é a minha vida e a totalidade do meu foco —
digo. — Essa turnê é longa e coesa. Não posso me preocupar com
sentimentos feridos ou arrependimentos. E eu não posso ter algo
casual com você, Sophie. Você merece muito mais.
Sua voz é gentil e atenciosa. — Entendo. Também não quero
algo casual. Estou farta de ser apenas a diversão de alguém. Eu
quero mais.
Tenho orgulho dela por exigir mais. Ainda não consigo encará-la.
— É por isso que eu disse que foi estúpido da minha parte pedir que
você fique aqui.
Ela emite um ruído de concordância. E embora eu tenha
esclarecido as coisas, odeio esse som. Não quero que ela vá
embora. Noites solitárias, frias e sem dormir se aproximam. Eu
posso não sobreviver. Estou mais relaxado do que já estive em mais
de um ano e ainda não tive o prazer de dormir ao lado dela.
— A coisa é, — diz ela. — Eu não quero voltar para o outro
ônibus.
Eu me viro bruscamente para olhá-la, meu peito se contraindo.
Ela me encara sem vacilar. — Eu gosto de estar aqui, com você.
E talvez... Bem, talvez eu também precise de você. Talvez
precisemos um do outro para o que quer que tenhamos entre nós.
— Um rubor aparece em suas bochechas arredondadas. — Então,
talvez seja melhor não analisarmos ou esperarmos coisas um do
outro. Vamos só... eu não sei… ficar juntos.
— Ficar juntos — repito como um papagaio atordoado.
— Sim — ela sussurra com um sorriso encorajador. — Assistir
programas de TV bregas, comer doces...
— Eu realmente não costumo comer doces.
— É necessário, amigo. Esses quadris não crescem sozinhos.
— Eu odiaria ser o responsável pelo desaparecimento deles —
murmuro. Não, não flerte. Não pense na bunda espetacular dela.
Ela balança as sobrancelhas. O que é adorável e ridículo ao
mesmo tempo. — E ficaremos de conchinha.
Eu quero essas conchinhas. Não me importo se isso faz de mim
um fraco ou um tolo. Eu a quero o suficiente para ignorar o quanto
eu adoraria rolar e me afundar profundamente em seu corpo. Por
enquanto, consigo aguentar. Acho que posso suportar qualquer
coisa se conseguir dormir um pouco e ter a companhia dela.
— Tudo bem. — Minha voz é áspera, instável. Eu limpo minha
garganta. — Então suponho que só resta uma pergunta a fazer.
A tensão flui visivelmente para fora de seu corpo com uma
expiração, e ela descansa a cabeça na mão, me olhando com olhos
curiosos. — E qual é?
— Você prefere o lado esquerdo ou o direito da cama?
CAPÍTULO DOZE

N difícil encontrar Liberty Bell James. Eu simplesmente vou


aonde Killian está, sabendo que ela estará por perto. No momento,
é no Estádio Charles Ehrmann em Nice, França – o local do show
da semana – onde Kill John está realizando uma passagem de som.
Liberty está na parte central das arquibancadas, descansando
confortavelmente em um dos assentos do final de uma fila e
aparentemente jogando uma partida de Candy Crush em seu
telefone.
Eu me inclino contra o assento na frente dela. — Um canal de
TV a cabo entrou em contato comigo essa manhã. Eles querem usar
“Reflecting Pool” na abertura de um de seus programas nessa
temporada.
Um rubor suave cobre suas bochechas. A mulher não está
totalmente à vontade com o sucesso, mas está chegando lá. — Isso
parece muito... comercial.
Não brinca. — Na verdade, uma empresa de automóveis
também quer usar “Lemon Drop”. Acho que devemos dizer sim a
ambos.
— Ugh. E ter que ouvir a mim mesma toda vez que ligar a TV?
— Seu nariz se enruga.
Cruzo os braços sobre o peito, separando meus pés. Ficarei aqui
por um tempo. — Trabalharemos em uma cláusula para definir
quanto tempo o comercial pode durar para evitar superexposição.
— Acho que você não entendeu o problema, Scottie.
— Eu acredito que é você quem não entendeu, Sra. James.
— Pela última vez, me chame de Libby ou Liberty, Scottie.
— Mas você é a senhora James agora. Estou lhe mostrando o
devido respeito.
Ela me dá um soco leve no braço. — Sua formalidade está me
matando, Sr. Scott.
— Não fuja do assunto, por favor. Precisamos de exposição
nesse momento da sua carreira. Comerciais de automóveis lançam
muitos artistas simplesmente porque as pessoas ouvem a música e
querem comprá-la. Preciso lembrá-la da Sia?
— Como se eu pudesse te impedir — ela murmura.
— O programa Six Feet Under tocou “Breathe Me” em um
maldito episódio, e isso a tornou um sucesso nos EUA.
O queixo de Liberty ergue-se em uma fungada teimosa, mas vejo
a rendição em seus olhos.
— Eu entendo que você queira manter as coisas discretas —
digo. — E essa é uma boa maneira de fazer isso. Nenhuma
apresentação em talk shows, coletiva de imprensa ou coisas assim.
Você simplesmente permite que outra fonte massiva de mídia faça o
trabalho por você.
Não acrescento que vou montar uma mini turnê quando o público
começar a clamar por ela. É preciso dar um passo de cada vez com
Liberty. Mas, apesar de seus protestos, ela ama o palco. Killian sabe
disso, e é por isso que eles estarão tocando algumas músicas juntos
nessa turnê.
— Ok. Diga a eles que sim.
— Quanto entusiasmo, senhora James. É o que faz o meu dia.
Ela ri. — Claro, eu aposto que sim. — Liberty se levanta e me
lança uma olhada demorada. — E as suas noites? Como elas estão
agora que você tem uma companheira de quarto?
Espertinha de merda. Quero dizer a ela para cuidar da própria
vida. Mas agora estou pensando em Sophie. Como as coisas estão?
Acordo com as mãos cheias de mulher macia e quente. Sinto o
cheiro dela em minhas roupas durante todo o dia. Mal tenho um
momento de privacidade quando estou no ônibus ou em um quarto
de hotel, e fico ansioso por isso. Estou começando a odiar o
silêncio, porque significa que ela não está lá.
E estou cercado por todas as coisas de Sophie. Seus tênis
surrados. Seu equipamento de câmera. Maquiagem, pentes e
escovas, loções e produtos para o cabelo.
De repente, minha gola parece muito apertada.
— Diga-me, Sra. James — me pego perguntando. — Existe uma
razão para as mulheres sentirem a necessidade de lavar suas
roupas íntimas na pia e pendurá-las no chuveiro como uma espécie
de decoração de Natal profana?
Fui atacado com essa forma particular de tortura visual mais
cedo, quando fui tomar meu banho matinal apenas para encontrar
sutiãs de renda e calcinhas delicadas espalhados pelo local. O que
eu deveria fazer? Tirá-las dali? Mas para isso eu teria que tocar
nelas.
Se eu for colocar minhas mãos nas calcinhas de Sophie, ela
estará com elas quando eu fizer isso. Meu colarinho aperta minha
garganta mais uma vez.
Liberty ri. — Não é como se você pudesse jogar bons sutiãs e
calcinhas na máquina de lavar. Elas só podem ser lavadas à mão.
— Mas vocês têm que deixá-las estendidas à vista? — Inferno,
agora sei exatamente qual o tamanho do sutiã de Sophie. Eu sou
humano. Eu olhei. Como não? Principalmente quando ela deixou
aquele sutiã bonito de renda branca com uma fita escarlate, tão bem
construído que parecia manter sua forma mesmo que ela não o
estivesse usando.
— Você desarrumou sua gravata — diz Liberty, me trazendo de
volta ao presente.
Eu pisco para ela por um minuto, tentando limpar minha mente
do fato que Sophie prefere calcinhas de cetim com renda nas
beiradas que abraçam seu traseiro com perfeição.
Liberty me dá um sorriso suave. — Aqui, eu conserto. Eu sei
como você odeia ficar amarrotado.
Ela se move para arrumar minha gravata, mas aceno,
dispensando. — Pode deixar.
Não quero ser paparicado. Mas também não me dou ao trabalho
de consertar minha gravata. Quero tirar a maldita coisa e jogá-la na
lixeira mais próxima antes que ela me estrangule. Liberty olha para
mim como se eu estivesse louco.
— Bem — diz ela, claramente lutando para não me provocar. —
Você sempre pode pedir para Sophie mandar suas lingeries serem
lavadas à seco.
E perder o show pós-lavagem? — Isso seria rude — murmuro.
A expressão de Liberty é neutra demais para ser séria. —
Provavelmente, não é uma boa ideia irritar sua nova colega de
quarto.
Dou de ombros, afrouxo minha gravata novamente e depois paro
- porque foda-se tudo, não vou mais me incomodar com isso. —
Tudo bem. Eu simplesmente não tinha pensado que haveriam
tantos... acessórios. Eu nunca morei com uma mulher antes.
O silêncio é a minha resposta. Olho para Liberty e a encontro
sorrindo. O sorriso dela cresce quando a encaro.
— É fofo ver você com uma namorada — diz ela.
— Quantos anos temos, dezesseis? — Eu zombo. — Ela não é
minha namorada.
— Tudo bem, sua amante.
— Cristo. Nós somos amigos. Só isso.
— Certo. — Ela revira os olhos.
— Eu disse para vocês cuidarem da própria vida.
Liberty ri. — Ah, qual é, Scottie. Você levou uma mulher para sua
Fortaleza da Solidão. Realmente achou que não falaríamos sobre
isso?
— E qual é o seu papel aqui? — Pergunto. — Você perdeu no
par ou ímpar e foi a escolhida para vir me interrogar?
Um sorriso se espalha por seu rosto. — Eu me ofereci. Todos
são frangotes demais para perguntar.
— Que ótimo. Você pode voltar e contar ao resto dos covardes
que tudo o que há entre Sophie e eu é amizade.
— Ei. — diz Jax, andando em nossa direção. — Isso rima.
Ele dá um beijo na bochecha de Liberty. — Killian está te
procurando. Você está provocando o Scottie por nós?
— Ele está de mal humor agora.
— Eu não estou de mal humor. — Estou mentindo, e todos
sabemos disso. A tensão trava minha mandíbula e desce pelo meu
pescoço.
— A gravata está torta — diz Jax, franzindo a testa. — É quase
como se ele estivesse pelado.
Liberty assente, olhando para minha gravata torcida. — Ele não
me deixa consertar.
Dou a ambos o dedo do meio, o que eles acham hilário, e vou
embora. O desejo de consertar minha gravata está mais forte agora,
mas deixo só de raiva.
Não sei para onde estou indo. Eu deveria encontrar Jules e pedir
a ela uma atualização de progresso. Eu ligaria, mas esqueci meu
telefone. Fico nervoso por realmente ter saído do ônibus sem o meu
telefone – nem sequer pensei nele. Minha cabeça estava cheia de...
outras coisas.
Como se tivesse sido invocada pelos meus pensamentos,
Sophie aparece no começo do corredor, seu sorriso largo e fresco, o
estojo da câmera pendurado em cima do ombro, um copo para
viagem em sua mão. — Ei! Eu estive procurando você.
Não paro até estar perto o suficiente para o meu corpo cobrir sua
visão dos outros. Não quero que eles a vejam ainda. — Esteve? —
Pergunto, olhando para ela.
Ela está usando um All Star vermelho brilhante, jeans gastos
dobrados nas canelas e uma camisa branca que se estica sobre
seus seios. Nós não poderíamos estar vestidos de maneira mais
divergente nem se tentássemos. Eu bebo a visão dela, e de repente
estou com tanta sede que minha boca seca.
— Aqui — diz ela, esticando o copo em minha direção. — Trouxe
um chá para você. Com um cubo de açúcar e um pouquinho de
leite.
Eu pisco, em choque. Ela sabe de como gosto do meu chá. Ela
me trouxe chá. Mesmo que esteja em um copo de papel, o que fará
com que tenha gosto de merda.
Como se lesse minha mente, ela bufa e sua boca torce. — É de
cerâmica, projetado para parecer um copo para viagem.
— Por que diabos alguém projetaria um copo para parecer algo
que não é...
— Apenas tome o chá, Raio de Sol. — Ela empurra o copo para
mim, e eu não tenho escolha a não ser aceitar. Enquanto o
inspeciono, ela suspira. — Antes que comece a reclamar de novo, a
tampa é de borracha. Você pode beber através dessa pequena
abertura, mas eu sei que não vai. Apenas tire e beba.
Com medo de decepcioná-la, faço como indicado. O chá está
quente e um pouco fraco, mas acalma o nó repentino na minha
garganta. Tomo mais dois goles antes de apertar o copo na minha
mão e olhar para o chá escuro. O vapor que sobe faz minha visão
embaçar. — Obrigado.
— Sem problema. Ah, ei, sua gravata está toda torta.
Ela solta o estojo da câmera e pega minha gravata. Inclino-me
na direção dela para que não precise ficar na ponta dos pés e fico
parado. Ou tento. Eu me pego inclinando para mais perto até que
seu perfume doce de limão encha meus pulmões e o calor de seu
corpo esquente minha pele.
— Como você fez isso? — Ela murmura enquanto puxa a
gravata e enfia o comprimento embaixo do meu colete. — Você
nunca fica desarrumado.
— Eu não me lembro — digo, lutando contra o desejo de
descansar minha testa na dela.
— Dia difícil?
Penso sobre onde estamos, e tudo esfria. — Já tive melhores.
— Bem, beba seu chá. — Ela passa a mão sobre o meu peito e
sobre meus ombros. — Deixe que isso funcione como mágica em
sua alma britânica.
Acaricie-me mais. Para sempre.
Mas ela para e me dá outro olhar feliz. — Ah, encontrei seu
telefone na penteadeira.
Ela o puxa do bolso e me entrega.
Eu fico lá, telefone em uma mão, chá na outra, incapaz de formar
as palavras.
Sophie dá um tapinha no meu ombro. — Não posso acreditar
que você o deixou para trás.
Não posso mais acreditar em nada sobre mim. Não sei se corro
para longe ou se a seguro e nunca mais solto.
— Quer dar uma volta comigo? — Pergunto, colocando meu
celular no bolso.
— Onde?
Qualquer lugar. — Lá fora. Eu preciso de ar.
Nenhum de nós menciona que estamos em um local ao ar livre.
Ela simplesmente pega minha mão livre. — Lidere o caminho, Raio
de sol.

A do estádio não é exatamente propícia para uma


caminhada agradável, pois fica em uma área bastante industrial. É
claro que Gabriel, sendo Gabriel, manda uma mensagem para o
motorista para nos buscar e nos levar até um porto próximo.
É lindo aqui: a Riviera Francesa brilhando ao sol, palmeiras
farfalhando no alto. Gabriel se encaixa bem com seu terno cinza
claro feito sob medida, óculos de sol cobrindo os olhos e seus
cabelos escuros como carvão caindo no rosto. Imagens de Cary
Grant dançam na minha cabeça.
Não sou nenhuma Grace Kelly com meus jeans e All Stars. Mas
ele nunca me faz sentir antiquada ou mal vestida. Mesmo agora ele
caminha ao meu lado, sua mão tocando levemente minha região
lombar, enquanto me guia em torno de um casal mais velho
passeando de mãos dadas.
Assim que passamos por eles, Gabriel enfia as mãos
profundamente nos bolsos e olha para o mar. Ele é tão bonito nesse
cenário que quase dói olhá-lo.
Mas ele também parece distraído e inquieto.
— Você está bem, Raio de sol?
Ele não diz nada por um momento. — Minha família não tinha
muito dinheiro. Meu pai era mecânico. Originalmente do país de
Gales, mas ele se estabeleceu em Birmingham.
Não tenho ideia do por que ele está falando sobre o pai, mas não
vou impedi-lo. Eu não tenho dúvida que O Livro de Gabriel não se
abre com muita frequência, isso se algum dia já se abriu.
— Era? Ele se aposentou?
Ele bufa. — Se aposentar implicaria que ele trabalhava
constantemente. Ele nunca manteve um emprego por muito tempo.
Preferia viver com o seguro desemprego. — A mandíbula de Gabriel
se flexiona. — Na verdade não sei se ele está vivo, já que saiu da
minha vida quando eu tinha dezesseis anos.
— Ah. — Eu não digo mais nada, sentindo que ele precisa falar
mais do que precisa que eu o console.
Ele continua andando, seu ritmo lento e constante, com os olhos
no mar. — Minha mãe era francesa. Seus pais emigraram para
Birmingham depois que o pai dela assumiu um cargo de gerente na
fábrica da Jaguar. Por um tempo, ela trabalhou como contadora. Ela
conheceu o meu pai quando ela fez a contabilidade de uma das
lojas onde ele trabalhava.
— Você herdou dela o seu amor por números? — Eu pergunto
baixinho, porque ele se afastou, sua expressão tensa.
— Suponho que sim. — Ele olha para mim. Não consigo ver os
olhos dele por trás das lentes escuras. — Minha mãe morreu
quando eu tinha quinze anos.
— Ah, Gabriel. — Quero segurar a mão dele, mas elas ainda
estão enfiadas em seus bolsos. Envolvo meus dedos em torno de
seu antebraço grosso, inclinando-me um pouco na direção dele. —
Eu sinto muito.
Ele dá de ombros. — Câncer de pulmão. — Uma respiração
profunda o sacode. — Sim, ela foi diagnosticada com câncer de
pulmão de células não pequenas no estágio quatro. No entanto...
ela, ah, decidiu ter controle sobre o próprio destino.
Eu paro, e ele também, porque eu ainda o estou segurando. Um
nó sobe na minha garganta. — Você quer dizer que ela...
— Tirou a própria vida — ele responde brevemente. — Sim.
— Ah, droga.
— Eu não... a culpo — ele põe para fora. — Eu simplesmente...
Ah, porra, eu me ressinto dela por jogar fora o pouco tempo restante
que tínhamos juntos. O que é egoísta, eu sei, mas é isso. — Ele
abre as mãos como se quisesse abranger sua dor.
Um pensamento me ocorre, e minha pele se arrepia em horror.
— E então Jax...
— Sim. — A palavra é uma bala, seu rosto vermelho e cheio de
raiva antes de ficar sem expressão.
Eu dou um passo a frente para abraçá-lo, mas ele se vira e
começa a andar de novo, ainda controlado, mas seu ritmo mais
rápido agora.
— Como eu disse, não tínhamos muito dinheiro. Mamãe sempre
quis voltar para a França. Seus pais haviam morrido, e ela se sentiu
um pouco perdida, eu acho, sentindo falta de seu país. Certa vez,
papai nos imprensou no carro e fomos até Nice para passar as
férias. — Ele para e olha para o mar. — Eu tinha dez anos. Foi a
última vez que fomos a algum lugar como uma família.
Ele me deixa pegar sua mão e seus dedos frios se entrelaçam
com os meus.
Eu o seguro com mais força. — Sinto muito, Gabriel.
Assentindo, ele mantém o olhar desviado. — Lembro-me de ser
feliz aqui. Mas traz de volta outras lembranças que prefiro esquecer.
— Claro.
Não falamos nada por um tempo, simplesmente andamos.
— Eu me sinto uma merda agora — confesso. Quando ele olha
para mim com confusão, continuo. — Eu fiquei reclamando sobre
minha mãe aparecendo e sobre como meus pais são um saco...
— E adorei ouvir sobre isso — ele interrompe. — Não se atreva
a pensar o contrário. E não ouse ter pena de mim. Não vou
aguentar.
— Não é pena — digo suavemente, apertando sua mão. — Eu
só... — Sofro por você. — Inferno, não sei. Eu só me sinto uma
merda, ok?
Ele dá uma meia risada. — Ok, tudo bem. E eu tenho uma
família.
— Os caras e a Brenna?
— Sim. — Sua mão desliza da minha e ele limpa a garganta. —
Depois da mamãe, bem, meu pai ficou ainda menos presente. Mas
eu sempre me saí bem na escola. Consegui uma bolsa de estudos
para uma escola particular. Você a chamaria de escola preparatória
ou internato, suponho.
— Eu conheço Harry Potter — ofereço.
Ele quase sorri. — Acho que todos nós teríamos preferido
Hogwarts.
— Foi ruim?
— Não foi bom — diz ele, com um toque de aspereza. — Não sei
o quanto você sabe sobre a Grã-Bretanha, mas, se admitimos ou
não, o classismo está muito vivo. Tudo o que eu precisava fazer era
abrir a boca e os outros alunos sabiam que eu era da classe
operária.
— Você? — Eu tenho que rir. — Você soa como o príncipe
William para mim.
Seu fantasma de sorriso é amargo. — Mimetismo. Você aprende
a se adaptar para sobreviver. E há dias em que odeio o sotaque que
sai da minha boca. Porque eu deveria ter permanecido fiel à mim
mesmo. Na época, porém, eu só queria me encaixar. Mas não
funcionou.
— Eles implicaram com você?
— Com o Scott da bolsa de estudos e pai desempregado? Claro.
E eu fui meio que um covarde até chegar aos vinte anos. Era magro
e cerca de quinze centímetros mais baixo.
Eu tenho que sorrir com isso, imaginando Gabriel em sua
juventude, todo magricelo, com sua beleza masculina florescendo.
— Eu estava levando umas porradas quando conheci Jax. — Ele
diz isso quase com carinho. — Jax pulou bem no meio da briga,
agressivo como um cachorro. Em seguida, Killian, Rye e Whip
estavam lá, espancando pra caralho qualquer um que estivesse de
pé.
Ele olha para mim e ri, o primeiro som verdadeiramente divertido
que ouvi dele desde que nossa caminhada começou. — Eu estava
desnorteado. Quem eram esses malucos? Eles não me conheciam.
Por que ajudar?
Minha garganta se contrai. — Você nunca teve alguém te
ajudando só porque era a coisa certa a se fazer?
Olhos da cor do mar encontram os meus. — Não. De qualquer
forma, eu disse para eles me deixarem em paz.
— Mas eles não deixaram.
— Claro que não. Em primeiro lugar, eles ficaram sabendo que
eu poderia fornecer drogas...
Meus passos congelam. — Você? Fumando? Não.
— Quão escandalizada você parece, Darling — diz ele, lutando
contra um pequeno sorriso. — Eu era um adolescente preso em um
colégio interno com um monte de idiotas elitistas. Passar algumas
dessas longas horas chapado fazia parte da sobrevivência.
— Agora estou imaginando você caído no sofá, fumando de
bongs. — Eu sorrio com o pensamento. — Você teve desejo de
comer um biscoito Scooby?
Ele me olha sem vergonha nenhuma. — Sim, mas apenas
depois de andar na Máquina Mistério, procurando por vilões.
Trabalho duro, esse.
Rindo, eu começo a andar novamente. — Então, depois disso
você se tornou o aviãozinho dos garotos?
— Hilário — ele murmura. — E não era sobre drogas. Não de
verdade. Eles também foram marginalizados. Eles tinham dinheiro,
mas eram todos meio-americanos ou viveram lá a maior parte de
suas vidas.
— Eu posso imaginar. Todos eles basicamente parecem
americanos. Especialmente Killian e Rye. Quero dizer, às vezes
ouço um leve sotaque inglês quando Jax fala — digo, pensando em
nossas conversas. — E Whip tem uma ligeira inclinação irlandesa.
— Jax e Whip - ou John e William, como eram conhecidos na
época - passaram mais tempo no Reino Unido do que Killian e Rye,
o que não é surpreendente. De qualquer forma, eles decidiram que
valia a pena me adotar e que não iriam embora. Eu estava
condenado.
— Pobre bebê.
Gabriel para e se vira para a brisa que vem da água. — É... difícil
deixar as pessoas entrarem. Meu pai era um bêbado, quase nunca
em casa. Minha mãe se foi. E aqui estavam esses quatro garotos
ricos tentando me aceitar como se eu fosse o maldito Oliver Twist.
— E ainda assim, cá estamos nós — eu digo baixinho.
Ele assente, quase distraidamente. — Algumas coisas são
difíceis de resistir, não importa o quanto você tente manter distância.
— Ele começa a andar novamente, de volta ao carro que se
manteve à nossa espera. — Passei verões na casa de Jax, saí de
férias com a família de Killian e Rye ou do Whip. E vi como a vida
poderia ser.
Estamos próximos do carro e ele olha na minha direção. — E
quando eles começaram a banda, o talento era brilhante, mesmo
naquela época. Mas a organização deles era uma merda. Então, eu
entrei e prometi aos seus pais que tomaria conta dos meus amigos.
Sempre.
Eu paro — Gabriel.
Ele para também, sua sobrancelha tremendo. Enquadrado
contra a Riviera Francesa, com os enormes iates e veleiros
elegantes descansando em águas cristalinas, ele com seu terno
pálido feito com perfeição e destacando sua pele bronzeada, ele
parece um playboy internacional. Não consigo imaginá-lo pobre ou
em uma luta. Até eu encontrar seus olhos.
Olhos tão lindos. Mas as linhas tênues ao seu redor deles e o
cansaço que sempre parece permanecer naquelas profundidades
me contam uma nova história agora. Tudo o que ele sabe é lutar e
proteger, tanto ele mesmo quanto os que são leais a si.
— Não foi sua culpa.
Ele pisca, um lento varrer de cílios longos, e sua expressão fica
em branco.
— Eu falo sério. — Dou um passo mais perto. — Nada daquilo.
Nem sua mãe. Nem Jax.
É como se eu tivesse lhe dado um tapa. Sua cabeça se move
para trás e seus lábios se achatam. Por um segundo, acho que ele
vai gritar comigo. Mas então Gabriel me dá um daqueles olhares
educados que guarda para os patrocinadores e executivos de
gravadoras.
— Essa conversa saiu do meu controle. Não pretendia me afogar
na espiral autodepreciativa do mar de memórias.
— Pare. — Eu toco sua bochecha e o encontro tão tenso que
imagino que possa quebrar. — Não precisamos mais falar sobre
isso. Mas mantenho o que disse. Não podemos controlar as ações
dos outros. Isso nunca vai acontecer. Só podemos controlar as
nossas. Kill John não seria o que é sem você. E esses caras não te
amariam como amam se você não fosse digno.
Seus ombros não perdem a tensão. Na verdade, ele parece
endurecer por toda parte, sua armadura se formando bem na frente
dos meus olhos. Mas então o canto de sua boca se levanta.
— É assim que vai ser? — Ele pergunta com uma voz um pouco
rouca. — Você vai me defender, quer eu queira ou não?
— Alguém tem que fazer isso, Raio de sol. — Dou um tapinha
suave em sua bochecha e coloco minha bunda no carro antes que
ele possa dizer outra palavra.
CAPÍTULO TREZE

— M ... caralhos... eu concordei... em participar desta


corrida mortal com você? — A respiração ofegante de Jax é
pateticamente fraca enquanto passamos pelo Parque El Retiro, em
Madri.
— Você pediu para vir — eu digo sem diminuir o passo. A
transpiração escorre pela minha pele; meu coração bate firme e
ritmado. — Disse que precisava se exercitar. — Olho para Jax
tropeçando ao meu lado, seu peito brilhando com suor. — Você não
estava errado.
Ele me dá o dedo do meio, aparentemente sem forças para
responder. Sinto pena dele e diminuo a velocidade.
— Aprecie a paisagem. — Aceno em direção à lagoa artificial
que reflete o monumento a Alfonso XII. Casais remam ao seu redor,
rindo, beijando ou descansando ao sol.
Me pergunto se Sophie já esteve aqui. Ela provavelmente iria
direto para o barco, exigindo que eu remasse enquanto ela tira fotos
de tudo.
Balanço a cabeça. Eu não remo barcos para mulheres como se
estivesse num maldito Túnel do Amor.
Mas você faria isso por ela. Minta para si mesmo o quanto
quiser. Você faria isso e adoraria cada segundo.
Eu digo a mim mesmo para calar a boca.
— Não posso apreciar a paisagem — Jax resmunga, — quando
minhas pernas estão pegando fogo e meus pulmões estão pedindo
arrego. Quero dizer, que porra é essa? Eu me apresento todas as
noites no palco. Por horas, porra.
Jax não tem um pingo de gordura, mas ele pegou tão leve
consigo mesmo no último ano e meio que está mais fraco do que
antes.
— Tipos diferentes de resistência, parceiro.
Ele resmunga, e nós ficamos em silêncio. Apesar das
reclamações, fico feliz que ele tenha escolhido sair comigo. Embora
nunca tenha corrido comigo antes, costumávamos levantar pesos
juntos, orientando um ao outro porque tínhamos uma força
semelhante na época. Era uma das poucas coisas que fazíamos
como amigos, sem negócios envolvidos.
Eu não tinha parado para pensar nisso antes, mas sinto falta
desse tempo com ele. Corro por mais alguns instantes. — Talvez
seja melhor você encontrar uma forma alternativa de exercício.
Embora eu não esteja olhando para ele, ouço seu escárnio alto e
claro. — Não se atreva a pegar leve comigo, pequeno Scottie. Conto
com você para chutar minha bunda preguiçosa.
É uma luta manter a cara séria. — Muito bem então, mova essa
bunda preguiçosa e pare de reclamar.
Nós aceleramos o ritmo mais uma vez. Ou melhor, eu acelero.
Jax geme e se arrasta de uma forma terrível.
O hotel aparece à nossa frente.
— Estou avisando agora, — digo a ele enquanto andamos
devagar, passando pelas pessoas. — Vou subir para o quarto pelas
escadas.
— Ah não, porra — diz Jax, parecendo horrorizado. — Eu vou
ficar no saguão. — Ele me lança um sorriso raro e amplo. — Vou
andar de um lado para o outro ofegando e bebendo água.
Provavelmente vai levar menos de um minuto para encontrar
alguém para me secar.
Claro que vai. Eu teria que ser completamente cego para não
perceber a atenção que nós dois recebemos, mesmo agora, quando
suamos sob o sol quente espanhol. Onde quer que vamos, olhos
nos seguem.
Eu poderia fazer o mesmo que Jax. Seria fácil, como estalar os
dedos, encontrar liberação sexual. Atualmente, meu corpo está
ardendo por isso, minhas bolas doem pela falta de satisfação. E, no
entanto, o pensamento de encontrar uma mulher disposta no lobby
do hotel faz meu estômago revirar. Precisar de sexo não é
exatamente o problema; é mais sobre ser constantemente tentado
por uma mulher em específico.
Assim que entramos no hotel, deixo Jax em sua caça e subo as
escadas, me esforçando para ir mais rápido, com mais força.
Minhas coxas gritam em protesto, meus pulmões ardem enquanto
eu piso. Mas não paro. Eu quero a dor. Quero ficar tão exausto que
meu corpo vai desistir de querer o que não pode ter, e poderei
passar o dia com a dor nos músculos e não no pau.
Quando chego ao quarto, fico tão exausto que estou
basicamente tropeçando. O cheiro do quarto está gloriosamente
livre de Sophie. Pego uma garrafa d’água no frigobar enquanto
entro, meu peito arfando. O sangue corre pelos meus ouvidos,
minha visão é uma névoa enquanto tropeço e bebo a água em meu
caminho para o banheiro.
Depois de abaixar os shorts e tirar os tênis, viro para abrir o
chuveiro e bato em um pequeno cesto de roupa suja na pia.
Tiro o suor dos olhos e me vejo diante de mais um lote de
calcinhas de Sophie, agora espalhadas pelo chão em um arco-íris
de retalhos de seda.
Foda-se tudo, porra. Um par de calcinhas brancas estampadas
com pequenas cerejas vermelhas repousa no meu pé. Minha mão
se fecha em torno da seda fria, e meu pau sobe tão rápido e duro
que eu realmente gemo.
Não estou preparado; estou muito fraco dessa vez. Muito
malditamente fraco para me impedir de levar a calcinha ao nariz e
respirar fundo. Uma onda de luxúria bate em mim com tanta força
que meus joelhos quase cedem.
Porque essas são as calcinhas sujas de Sophie. E eu sou o
bastardo pervertido que está sentindo o cheiro almiscarado da
boceta dela.
Outro gemido sai de mim quando caio contra a parede fria de
azulejos. Fecho meus olhos com força, lutando contra o desejo de
cheirá-la novamente. Não faça isso, cara. Solte-a e entre na porra
do chuveiro.
Mas eu não posso. Meu pau está tão duro que palpita no ritmo
dos meus batimentos cardíacos frenéticos. Deus, seu perfume... a
doçura azeda de seu perfume permanece, me lembrando do tom
dourado de sua pele. Só que dessa vez, eu a imagino na cama,
usando nada além dessa calcinha de cereja, seus seios no ar, suas
coxas abertas. Apenas esperando eu me aconchegar entre elas.
Sem minha permissão, minha mão desliza sobre o meu peito,
esfregando aquelas calcinhas sujas na minha pele como se eu
pudesse absorver esse perfume e torná-lo parte de mim.
Estou tremendo, minha respiração desconexa e profunda
quando minha mão desce. Seda macia envolve meu pau. Eu o
seguro e fecho os olhos com força enquanto dou um aperto forte.
O suor escorre pelo meu estômago, e meu pulso lateja no
pescoço. Acaricio meu pau carente, os músculos doloridos se
contraindo a cada puxão. É tão bom, e mesmo assim não é bom o
suficiente. Eu quase a odeio neste momento. A odeio por me deixar
tão carente. Só que não a odeio. Nem um pouco.
Eu quero. Eu quero. Eu quero.
É um refrão em minha mente enquanto eu fodo sua calcinha
como um adolescente pervertido. Se ela soubesse o que estou
fazendo... O calor lambe minha espinha, deixando minhas coxas
trêmulas.
— Gabriel? — O som da sua voz e a batida na porta param o
calor.
Por um segundo tenso, todos os meus músculos congelam. Meu
olhar se direciona a porta horrorizado. Eu a tranquei. Não tranquei?
— Você está aí?
Porra, não abra a porta.
— Sim! — Eu grito em um gorgolejo desesperado. — Cristo. Use
o outro banheiro.
Se ela abrir esta porta, estou ferrado. Vou tê-la de costas com
meu pau enfiado até as bolas em sua fenda quente em questão de
segundos. Eu quase quero que a porta se abra.
Sua voz abafada soa levemente desconcertada e divertida. —
Rabugento. Eu ia dizer que deixei minha roupa aí...
Olho para a seda branca no meu punho e a cabeça inchada e
irritada do meu pau para fora. Tremo e dou outra bombeada lenta,
meus olhos revirando num prazer agonizado.
— Vá embora, Sophie.
— Mas…
— Estou tomando banho. — Minha mão livre se atrapalha com o
choveiro e o abre.
— Você acabou de ligar a água.
Deus, a voz dela. Isto é errado. Tão errado. Fechando os olhos
com força, continuo atormentando meu membro, negando-lhe a
satisfação da coisa real.
— Posso entrar e pegar antes de você começar?
Já comecei, amor. Por que você não entra e me ajuda a
terminar?
A imagem dos lábios dela envolvendo minha cabeça pulsante é
tão vívida que uma onda de pré-gozo molha a calcinha na minha
mão. A calcinha de Sophie. Eu respiro fundo. — Se você não se
afastar dessa porta, vou te fazer assistir toda a minha coleção de
filmes do Star Trek na viagem. Todos os treze.
Eu ouço um suspiro. — Isso é simplesmente cruel.
Cruel é foder seda quando eu poderia ter a coisa real. Quente,
apertada, molhada. Meus dentes rangem.
— Haverá um interrogatório no final da maratona — digo com
uma voz estrangulada.
Eu ficaria em cima da Sophie, a questionaria sobre todos as
maneiras que ela gosta de ser satisfeita e as faria uma por uma.
Incapaz de me segurar, eu me masturbo forte e rápido, mordendo
meu lábio para que ela não possa me ouvir.
— Tudo bem — diz ela, alheia aos tremores que me percorrem
enquanto minhas bolas se apertam e a luxúria me derruba. — Eu
não sei por que você tem sempre que ser tão rígido.
Sua voz me segue na névoa. Me libero com jatos fortes que
salpicam sobre meu abdômen e barriga, enquanto ordenho cada
última gota de prazer profano e roubado que posso. Eu juro que
choramingo.
O silêncio ecoa do outro lado da porta. Caio de joelhos e tento
recuperar o fôlego. Atrás de mim, o chuveiro ruge e o vapor enche o
cômodo.
Entro no box e deixo a água quente lavar os meus pecados. É só
depois que pego o sabonete que percebo que ainda estou
segurando a calcinha dela como se nunca fosse soltar. Eu juro que
essa mulher vai me matar.

C M : a arquitetura. Linda, ornamentada,


atemporal. A comida. Saborosa, salgada, intensa, picante. O café
con leche. Nossa, não quero nem falar. Tão rico e cremoso, é como
chocolate quente com sabor de café. Bebi três xícaras em um dia e
estava a ponto de pedir a quarta quando Gabriel apontou
secamente que eu estava pulando como um coelho super excitado.
Mas a melhor coisa da Espanha? Siestas. Deus abençoe
qualquer país que tenha decidido que sim, encerraremos as
atividades e tiraremos uma longa soneca no meio do dia. Como não
amá-los por isso?
Isso significa que tenho uma desculpa sancionada pelo governo
para dormir abraçadinha com Gabriel durante a maior parte da
tarde. Ontem, quando disse isso, ele resmungou, mas não de
maneira convincente. Principalmente porque ele estava rapidamente
tirando a jaqueta e entrando no banheiro para colocar sua camisa e
moletom.
A pervertida em mim quer sugerir que ele pare de ser todo tímido
para trocar de roupa e se dispa na minha frente. Inferno, eu quero
ajudá-lo, desabotoar suas camisas sociais e lentamente descer o
zíper de suas calças elegantes. Mas isso perturbaria nosso status
quo, e não tenho ideia do quanto isso nos desbalancearia.
É estranho não saber. Normalmente sou excelente em ler
homens. Eles são criaturas bastante simples, afinal. A maioria deles
é, de qualquer maneira. Se eles te querem, eles deixam claro.
Gabriel? Ele não é como a maioria dos homens. É verdade que
um homem tão impressionante quanto Gabriel nunca precisa se
esforçar para conseguir uma mulher. Ele pode atraí-las apenas
ficando parado. Já vi isso acontecer. Muitas vezes. As mulheres
olham para ele, e é isso.
Só que ele nunca retribui. Nunca se incomoda em olhar
totalmente para quem está dando em cima dele. Sua expressão é
sempre branda com uma pitada de tédio quando ele casualmente,
mas educadamente, a dispensa. É uma forma de arte, na verdade,
com que eficácia ele se livra de avanços indesejados. Eu fiz
anotações.
E eu estaria inclinada a pensar que ele é assexual à essa altura,
exceto que ele não é. Nem perto disso. Ainda mais considerando a
quantidade de vezes em que seu olhar colide com o meu e o calor
em sua expressão toma minha respiração. Deus, o modo como ele
me observa, queima. É cobiçoso e possessivo.
Ele olha para mim como se estivesse tirando mentalmente
minhas roupas. Com os dentes. Ele olha para mim e eu sinto um frio
na barriga. Meu coração desce até os dedos dos pés e meus
mamilos ficam duros tão rápido que quase dói. Quase, porque é tão
assustadoramente bom – aquela pulsação apertada, sabendo que a
única coisa que vai ajudar é a boca dele, molhada e quente,
sugando-os.
Eu tenho esses pensamentos sujos – de Gabriel de joelhos, suas
bochechas fundas com a força da chupada, suas mãos nos meus
quadris, me segurando para que eu não possa me mover para
aliviar a pressão entre minhas pernas – e chego a ficar um pouco
tonta.
E Gabriel deve saber. Ele deve ver o que faz comigo. Eu sou
loira. E coro como uma, ficando toda rosa e quente. Muitas vezes, vi
aquele seu olhar azul escaldante descer, se fixando nos meus
mamilos excitados. Eles não são exatamente tímidos ao se
exporem, droga.
Suas narinas sempre se alargam um pouco, e então ele respira
profunda e afiadamente, como se estivesse se preparando. Mas
inevitavelmente, acaba aí e é isso. Porque ele não está disposto a ir
mais longe.
E, no entanto, aquele pau grosso e duro cutuca a minha bunda
toda vez que nos arrastamos para a cama. Ele nunca se afasta para
esconder sua ereção, nem se joga contra mim para levar as coisas
adiante. Não, ele apenas o deixa lá, confortavelmente contra minha
bunda, sua mão grande e larga se moldando suavemente na minha
barriga, seu queixo no topo da minha cabeça. Ele me abraça como
um amante, terno e persistente. Mas ele me trata como um amigo,
respeitoso, gentil, nunca se aproveitando.
E eu o deixo fazer isso. Fico ali, dia após dia, noite após noite,
meu corpo cedendo ao dele, absorvendo seu calor, deleitando-me
com seu abraço possessivo. Seria tão fácil girar em seus braços,
pressionar meus lábios contra os dele, deslizar minhas mãos por
sua cintura para as enfiá-las sob suas calças. Eu me imaginei
agarrando seu pau grande – e a essa altura do campeonato, eu sei
que é grande – tantas vezes que minhas mãos formigam com
memórias fantasmas.
Hoje, no entanto, não haverão cochilos. Gabriel saiu para correr
ao invés disso. Estranho, já que ele já correu de manhã.
Deus, essa manhã... Minhas bochechas queimam com a
lembrança. Ok, então eu interrompi o seu “momento de homem”
batendo na porta do banheiro. Eu não deveria ter feito isso; Deus
sabe que eu ficaria chateada se ele tivesse feito o mesmo. Mas eu
não esperava que ele voltasse tão cedo e fui buscar sabão. Imagine
o meu horror quando voltei e percebi que ele estava trancado com
as minhas calcinhas sujas.
E ele claramente as encontrou. Ele não foi capaz de me olhar
nos olhos quando finalmente saiu do banho, praticamente grunhindo
respostas toda vez que eu me dava ao trabalho de falar com ele.
Foi tão vergonhoso. Eu nem sei por que achei que lavá-las no
banheiro era uma boa ideia. Nem me incomodei em lavar minhas
roupas íntimas depois que Gabriel saiu, apenas as coloquei em uma
sacola e as mandei para a lavanderia. Só que eles perderam minha
favorita – uma calcinha fofa com cerejas. E ninguém da equipe
conseguiu encontrá-la. Então, só alegrias hoje.
Estou tão nervosa que quando meu celular toca minha alma
quase sai para fora do corpo. É triste que eu espere que seja ele.
Mas é minha amiga Kati, de Nova York.
— Ei, você — eu atendo com um sorriso. — Não é um pouco
cedo para me ligar?
São duas da tarde aqui, o que significa que são oito da manhã
em Nova York e sei que Kati vai dormir tarde assim como eu.
— Seria — ela responde, — se eu estivesse em Nova York.
Eu me jogo de volta na cama. A estúpida cama vazia que não
será usada para cochilar. — Onde você está?
— Estou em Londres no momento. Há uma certa estrela do pop
que terminou com seu namorado famoso, e todo mundo quer saber
as fofocas.
Kati é uma repórter que cobre a indústria da música. Foi ela
quem me levou a fotografar celebridades, e também a primeira a me
apoiar para sair da indústria quando viu o quanto eu me tornei vazia.
— Vida difícil, não é? — Digo.
— A pior — ela concorda com uma risada. — E devo
acrescentar, estou chocada por saber que você está de volta.
— E me sentindo muito mais capacitada desta vez, felizmente.
— Rolo de bruços, minha cabeça pendendo na beira da cama. Um
pequeno ponto vermelho espreitando entre o colchão e o estrado
chama minha atenção. Franzindo a testa, olho mais de perto. — E
como você sabia que eu estava trabalhando com músicos
novamente? — Pergunto, meio distraída.
— É um mundo pequeno. As pessoas fofocam...
Enquanto ela fala, estico a mão e toco o pedaço de tecido
vermelho brincando de esconde-esconde com o colchão. É seda, e
não é apenas vermelho. É vermelho e branco.
A voz de Kati flui pelos meus ouvidos. — ...e não apenas
músicos. Kill John? Como diabos isso aconteceu? Eles sabem
sobre... bem, suas fotos?
— Eles sabem. Nós conversamos sobre isso, e está tudo bem.
— Mordendo meu lábio, puxo o tecido. Ele resiste por um segundo e
depois se solta. Por um momento, apenas olho para a calcinha
pendurada na minha mão. Branca com estampa de pequenas
cerejas vermelhas. Minha calcinha.
Ela está um pouco úmida e completamente amarrotada por ter
sido enfiada embaixo do colchão. Do lado de Gabriel da cama.
Incapaz de resistir, levo-a ao nariz e cheiro cautelosamente. Ela
cheira ao seu sabonete.
Gabriel lavou minha calcinha? Por quê?
Um pensamento pervertido passa pela minha cabeça: Gabriel
tocando minha calcinha suja e o que ele poderia ter feito com ela
que exigiria limpeza.
Ah, sim, por favor, e posso assistir da próxima vez?
Mas não, ele não poderia ter feito isso. Não o impassível e
controlado Gabriel Scott. Ou poderia?
Talvez ele a tenha encontrado no chão do banheiro e a lavado
para mim.
Mas ele a guardou. Escondeu como se quisesse... O quê? Usá-
la novamente?
Corando forte, pressiono a seda fria e úmida na minha
bochecha. E imediatamente fico vermelha novamente.
— Sophie? Olá? Você está aí?
— Merda — eu suspiro, voltando à realidade. — Desculpa. Eu...
ah... derrubei o celular sobre a minha blusa. É horrível quando isso
acontece, não é?
Kati ri. — Sua besta.
— Desculpa. — Olho para minha calcinha contrabandeada, de
modo maravilhado. — O que você estava dizendo?
— Eu disse que Martin estava falando sobre você estar na turnê
da Kill John.
Todos os pensamentos sobre a calcinha somem, e eu me sento
ereta, meu coração batendo forte. — O que?
— Sim. Ele entrou no meu escritório um dia desses e começou a
falar sobre o quanto estava orgulhoso de você poder participar da
turnê. Que ele não sabia que você ainda podia ser tão oportunista.
Palavras dele. — O tom dela é seco e enojado.
— Aquele idiota. Não estou tentando tirar vantagem da banda.
Sou a responsável pelas redes sociais deles, pelo amor de Deus. —
O fato de que eu tenho que explicar isso dói. Podemos realmente
abandonar nosso passado? Ou sempre seremos julgados por ele?
— Se ele tivesse um cérebro na cabeça, saberia disso — diz
Kati, claramente tentando me tranquilizar. — Eu só mencionei
porque você sabe como aquele cara fica. Ele está interessado agora
e procurando por um furo. Não sei se tentará fazer contato. Mas
quis te avisar.
— Obrigada, K.
Eu encerro a ligação com Kati o mais rápido possível, porque
tenho quase certeza de que vou vomitar. Martin e eu terminamos há
muito tempo. Ele não pode me machucar. Sei disso. Mas só pensar
nele traz de volta a feiúra de quem eu costumava ser.
Sou uma pessoa melhor agora, alguém que assume a
responsabilidade por suas ações. Não estou mais curtindo a vida
como uma Scarlett O’Hara moderna, preferindo pensar nas
consequências amanhã ao invés de hoje.
Mas estou verdadeiramente diferente? Ainda não tenho um
objetivo definido para a vida além de apreciá-la. Minha inclinação
natural é rir e provocar primeiro, e ser séria depois.
De repente, não me preocupo mais com a calcinha roubada ou
minhas necessidades sexuais reprimidas; quero que Gabriel venha
para casa. Eu quero abraçá-lo e que ele esteja aqui para me
segurar. E ainda assim, parte de mim não quer olhar nos olhos dele.
Gabriel não confia facilmente nas pessoas. Neste ramo, ele está
certo em não confiar. E ainda assim eu tinha me sentido insultada e
magoada quando ele não me quis na turnê.
Encarando meu passado morto de frente, eu entendo toda a
extensão do que Gabriel fez ao me receber na banda – em sua vida.
Ele me deixou entrar, apesar dos meus erros, e nunca tentou me
usar para nada além de conforto e companhia.
Ele se importa comigo. Ele confia em mim.
O peso disso se instala em volta dos meus ombros como um
cobertor macio. Eu já o tinha provocado antes sobre ser sua
defensora, querendo aliviar o momento e fazê-lo sorrir. Mas a
verdade é que Gabriel Scott se tornou minha principal prioridade na
vida. Não importa o que somos, não importa o que seremos, isso
não vai mudar.
CAPÍTULO QUATORZE

—Q ? — Sophie pergunta, sua voz suave na


quietude do quarto. — Star Trek ou Star Wars?
Estamos deitados cara a cara na cama da nossa suíte. Do lado
de fora das portas do terraço está Barcelona e o porto. Risada de
foliões boêmios e o ocasional grito de uma gaivota chegam junto
com o cheiro salgado do mar.
Aqui, no entanto, é calmo, pacífico. A luz ambiente da rua logo
abaixo pinta as curvas de Sophie em uma paleta de azuis e cinzas
suaves. Há um brilho de felicidade relaxada em seus olhos que só
eu estou a par. Porque esse é o nosso momento, e de mais
ninguém.
— Qual é o melhor? — Eu bufo, embora secretamente ame suas
perguntas. — Primeiramente, Star Wars é uma ópera espacial. Star
Trek é uma odisséia espacial. São abordagens completamente
diferentes para contar histórias.
São três da manhã e estou acordado desde as cinco. Eu
percebo a ironia, já que Sophie está aqui porque preciso dormir.
Mas a melhor parte dos meus dias é quando estou na cama com
ela, e me recuso a desperdiçar esse tempo dormindo mais do que
preciso. Especialmente agora que ela está de bom humor.
Durante o último dia e meio, Sophie tinha estado deprimida e um
pouco abatida. Como eu estava evitando manter contato visual
direto com ela depois de me aliviar em sua calcinha, a culpa pesa
no meu intestino. Mas talvez o humor dela não seja por minha
causa. Ela parece feliz agora, contente. Então, luto contra o sono e
bebo da visão da minha garota tagarela aquecida no conforto da
nossa cama.
— Você é um mané — diz ela sorrindo. — Os dois são sobre
armas espaciais e lasers.
— Você tá tirando onda comigo — digo a ela com uma risada. —
Eu me recuso a acreditar que você não pode perceber a diferença
entre os dois.
— Eu não estou... — Ela levanta a mão e faz aspas com os
dedos — …“tirando onda”. Só não vejo qual é o problema. Escolha
um favorito, já.
— Não. É como aquele velho dilema de tentar escolher entre os
Beatles e os Stones. Não dá pra escolher.
Seu nariz empinado se enruga, e eu tenho um desejo irresistível
de beijá-lo. — É claro que dá pra escolher — diz ela, alheia aos
meus pensamentos. — Os Beatles para alegria ou nostalgia. Os
Stones para beber ou foder.
Com a palavra foder, meu pau salta como se quisesse me
lembrar que eu o ignorei e ele não está feliz com isso. Inclino meus
quadris em direção à cama e pressiono a ereção irritadiça no
colchão. O bastardo excitado empurra em protesto. Eu simpatizo
com meu membro carente. De verdade. Mas algumas coisas valem
mais.
Continue dizendo isso a si mesmo, parceiro.
— Por que não os Beatles para sexo? — Não posso deixar de
perguntar. O que é um erro. Levar qualquer conversa em direção à
sexo é brincar com fogo. Mas, aparentemente, eu gosto da dor
agridoce de ser queimado lentamente.
Sophie dá de ombros, fazendo o lençol branco deslizar pela
curva do ombro. — Cite uma música dos Beatles que seja mais sexy
que as músicas dos Stones.
Eu olho para o seu ombro. A porra do ombro dela me encanta. E
ele nem está despido. Todas as noites, ela veste uma camiseta
grande demais e uma cueca box masculina pequena para dormir.
Estou perfeitamente ciente de que ela acredita que essa roupa seja
a coisa menos sexy possível para dormir – eu tento o mesmo,
geralmente vestindo calças folgadas e camiseta – mas ela está
errada.
Seus seios, livres do sutiã, são macios e redondos. Tentar não
notá-los balançando e saltando sob o algodão fino que se apega
amorosamente à sua forma é impossível. Toda noite, me imagino
rolando-a de costas e deslizando a camisa sobre seus seios
fantásticos.
Já imaginei isso muitas vezes. Eu seguraria suas mãos sobre a
cabeça para que as costas dela se arqueassem e erguessem
aqueles grandes montes. Eu iria com calma, apenas a olhando,
fazendo-a se contorcer enquanto ela esperaria pelo primeiro
contato. Iria devagar, enchendo-a de beijos por cada centímetro,
deixando os brotos de seus mamilos por último, quando ela
estivesse implorando para eu chupá-los.
A ideia de chupar os peitos de Sophie faz minha língua
pressionar contra o céu da boca. Merda. Eu limpo minha garganta,
tentando me concentrar na pergunta dela. Qual era mesmo a
pergunta?
— Eu não consigo pensar em uma resposta — digo a ela
honestamente.
Ela faz um som de triunfo. — Viu? Eu estou sempre certa.
— Continue dizendo isso a si mesma, garota tagarela. Não vai
se tornar verdade.
Nossas mãos estão tão próximas que nossos dedos quase
roçam. Eu fico parado. E é uma prova da minha vontade, um
exercício que pratico todas as noites. Existem regras: posso abraçá-
la, mas não posso explorar. Nada de acariciar sua pele, nem de
mãos bobas. Eu posso apertá-la contra o meu lado ou pressioná-la
contra o meu estômago, mas sem deixar meu pau duro roçar contra
sua bunda macia.
E quando nos deitamos juntos assim, conversando noite adentro,
nunca me concentro na boca dela. Aquela boca macia e rosada,
sempre em movimento – falando, franzindo, sorrindo. Quero lamber
o seu sorriso, sugar suas palavras, sua risada.
E, no entanto, é o sorriso e a risada dela que me impedem de
tomar o que quero. Porque isso não é apenas sobre sexo; se fosse,
eu já a teria fodido há tempos. Isso é desconfortavelmente mais.
Eu nunca experimentei intimidade. Não sabia o quão bom é
simplesmente estar com alguém e deixar o resto derreter. O mundo
pode ir se foder quando estou com Sophie Darling. Existe apenas
nós. Não preciso ser mais ninguém além de Gabriel.
Se eu ceder ao que meu interior quer, as coisas vão ficar
complicadas. Não sei como ser um namorado. Inferno, eu odeio
essa palavra. Parece juvenil e inadequada. Se eu reivindicasse
Sophie, ela seria minha. Eu seria dela. E eu estragaria tudo.
Minha vida é a Kill John. E como Sophie ficaria? Com um
bastardo frio e emocionalmente atrofiado que mal está presente?
— Eu amo a Espanha — ela sussurra, me tirando dos meus
pensamentos deprimentes.
Eu a observo no escuro. — Por que você ama a Espanha?
— Eu não sei. É algo no ar. Quero dançar, comer tapas, ficar
bêbada com sangria.
— Lista pequena — murmuro. — Dançar, hein?
Ela olha na minha direção, seus olhos brilhando na penumbra. —
Sei que parece estereotipado para caralho, mas penso na Espanha
e me imagino dançando flamenco enquanto uso uma saia rodada
com uma flor no cabelo.
Dou uma risada baixa. — Você sabe dançar flamenco?
— Na minha mente, sim. E eu sou fabulosa.
— Você sempre teve uma imaginação elaborada, garota
tagarela.
Ela dá um zumbido feliz e concordante, e depois vira o
travesseiro para o outro lado; algo que ela faz quando está pronta
para dormir. É um travesseiro com gel que ela comprou depois de
ser vítima do discurso de vendas de Libby e Killian sobre esse
travesseiro “mágico”, e como ele lhe daria as melhores noites de
sono da sua vida.
Ela comprou um para mim também, porque queria que eu
tivesse o mesmo conforto. Mal sabe ela que seu pequeno ato
atencioso arrancou meu coração do peito e o colocou em uma
bandeja para ela reivindicar.
— Você teria que dançar comigo — ela murmura.
— Nos seus sonhos, amor.
Eu recebo uma risada satisfeita em resposta.
Alheia ao fato de que estou lentamente me desfazendo, ela se
aconchega em mim, sua cabeça encontrando a dobra do meu
ombro. Esse é o lar dela agora, deitada contra mim, sua mão
descansando suavemente sobre o meu coração. Enquanto seu
dedo traça preguiçosamente pequenos padrões no meu peito, meus
olhos se fecham.
Estou com dor agora, dor física e real – nas minhas bolas, no
meu abdômen, no meu peito. Tudo dói com uma persistência
latejante forjada pela abnegação. Quero essa mulher mais do que
qualquer coisa que já quis na vida. Mas eu quero mantê-la. Não
tenho ideia de como manter alguém perto de mim. Porque não
tenho ideia de como expor o meu coração.
Sophie continua desenhando no meu peito, e meu coração
fechado bate mais rápido, mais forte. Eu preciso que ela pare. Eu
preciso que ela vá mais para baixo. Mordo o lábio com força e foco
na respiração entrando e saindo dos meus pulmões.
— Quais são seus planos após o término da turnê? — Pergunto,
apenas para me distrair.
Sua voz é levemente rouca de sono. — Não tenho certeza.
Ainda ajudarei a banda nas redes sociais. Mas eu não estarei por
perto para tirar fotos, obviamente. — Seu ombro fino sobe em um
dar de ombros. — Brenna está conversando com o publicitário de
Harley Andrews. Aparentemente, ele está procurando um
especialista em redes sociais.
Meus olhos se abrem com tudo. — Harley Andrews, o astro de
cinema? — Eleito o “homem mais sexy do mundo” pela revista
People? Eu vou matar Brenna. Vou jogar seus Louboutins no porto.
— Esse mesmo. Consegue acreditar? — Sophie parece tão feliz,
enquanto eu estou lutando para não vomitar. — Ele tem um filme
estreando em alguns meses. Vai se passar no interior da Austrália.
Portanto, a ideia é que ele vá primeiro a uma conferência de
imprensa lá. Eu sempre quis ir para a Austrália.
Meus dentes rangem ao ouvir seu suspiro sonhador.
Considerando que a duração média de um vôo para a Austrália é
superior a vinte horas, minhas chances de visitá-la são nulas. E
Sophie quer sair do país com a porra do Harley Andrews e seu
suposto charme irresistível.
Eu a puxo um pouco mais perto sob o pretexto de ficar
confortável e depois limpo a garganta. — Parece uma boa
oportunidade. No entanto, só para você manter suas opções em
aberto, eu sei que Maliah também está procurando por alguém.
Seu filho da puta. Seu filho da puta sujo e oportunista.
A cabeça de Sophie se ergue. — Sério? Eu amo a música dela!
— É? — Eu só a ouvi escutando a mulher umas mil vezes até
agora. — Bom, eu poderia falar com ela.
— Ah, Raio de sol, você é o melhor.
Dificilmente. Sou apenas um idiota ciumento.
Ela se inclina para me dar um beijo rápido e amigável na
bochecha. Meu corpo reage antes que minha mente possa pará-lo.
Em um piscar de olhos, eu a tenho, minhas mãos afundando em
seus cabelos, segurando as laterais de sua cabeça para impedir que
ela recue. E ela para, arregalando os olhos em choque, os lábios
pairando a centímetros dos meus.
Não consigo me mover: apenas a mantenho presa, encarando-a
com o mesmo choque.
Solte-a, seu idiota.
Eu tento fazer meus dedos a deixarem, mas meu corpo travou,
protestando. O calor suave de sua respiração ofegante acaricia
minha pele. Ela está tão perto que quase consigo sentir seus lábios
– aqueles lábios carnudos e luxuriantes que quero em mim. Em
qualquer lugar, eu não sou exigente. Não, primeiro quero beijá-los,
lamber e chupar suas curvas cheias. Eu quero sentir a suavidade de
sua língua contra a minha.
Meu abdômen se aperta e reprimo um gemido, meu peito
arfando. Um tremor começa no fundo das minhas entranhas e meu
pau pulsa. Ele quer entrar, onde é profundo e quente.
Solte-a. Beije-a. Solte-a. Beije-a.
A raiva me atinge, e estou tão excitado que não consigo agir
como um homem normal.
Eu não sei o que ela lê nos meus olhos, mas seus lábios se
abrem, um pequeno suspiro escapando e eu posso praticamente
prová-lo. Cristo Todo-Poderoso, me dê forças para deixá-la ir, ou
deixe-me fazer o que parece tão certo.
A escolha é literalmente arrancada das minhas mãos quando ela
recua, escapando do meu aperto petrificado.
— Eu tenho que fazer xixi — ela diz sem rodeios. O pânico em
sua voz raspa contra a minha pele, e eu estremeço. Mas ela já está
de pé, fugindo para o banheiro.
Quando a porta se fecha, eu caio de costas na cama e solto um
suspiro dolorido. O que diabos eu acabei de fazer?
Do lado de fora das janelas abertas o riso de uma mulher ecoa.
Estremeço e descanso um antebraço sobre os olhos. Eu queria
saber como Sophie reagiria se eu tomasse uma atitude. Correr para
o banheiro parece ser a resposta.
Náusea agita o meu estômago.
Do banheiro, vem o som da água, e eu sei que ela voltará em
breve. Uma parte de mim não quer que ela volte. Mas preciso me
desculpar.
Ela fica quieta quando vem deitar, rastejando timidamente sob as
cobertas.
Palavras entopem minha garganta.
Pela primeira vez desde que começamos a dormir juntos, ela
não se aproxima. Sinto sua ausência como uma mão fria ao longo
da minha pele. Eu me viro para dizer algo, mas ela fala primeiro.
— Boa noite, Gabriel.
A finalidade em sua voz e o aviso claro de que ela não quer
conversar se instala como uma pedra no meu coração.
Eu engulo em seco. — Boa noite, Sophie.
Deitados de lados opostos, fico em silêncio, ouvindo os sons
suaves de sua respiração se transformarem lentamente na cadência
constante do sono, e o medo me enche.
Eu não posso mais fazer isso. Não posso continuar negando a
mim mesmo, e claramente não consigo tirar minhas mãos dela. No
entanto, a ideia de nunca mais dormir ao seu lado me enche de um
medo inexplicável.
Enquanto dorme, Sophie se vira com um suspiro profundo e
estende sua mão para mim. Eu não movo um músculo, mas todo o
meu ser se concentra no roçar das pontas dos seus dedos contra o
meu antebraço. É uma coisa tão pequena, seu toque, quase não é
nenhum contato verdadeiro, e ainda assim não poderia me afastar
nem se a minha vida estivesse em jogo.
Ser amigo dela. Eu posso fazer isso. Será uma tortura, mas não
ter nem isso acabará comigo. Então afastarei minhas necessidades,
as colocarei em algum lugar profundo e escuro da minha mente e
não medirei esforços para fazer Sophie se sentir feliz e segura.
CAPÍTULO QUINZE

—V , amiga? — Jules grita no meu ouvido. Ela não


pode ser ouvida de nenhuma outra maneira no momento. Kill John
está a todo vapor, e a música pulsa ao nosso redor.
Devo parecer realmente infeliz se ela teve que perguntar agora.
Dou a ela um sorriso largo que quase dói. — Só um pouco cansada
— eu grito de volta.
Ela assente e não diz mais nada, mas eu pego seu olhar rápido
e preocupado.
Sou uma péssima mentirosa. Mas o que eu digo? Ei, acho que
Gabriel quase me beijou ontem a noite. Sério, o quão patética eu
sou? Porque não tenho certeza.
Deus, devo estar enlouquecendo se não consigo nem dizer se
um homem ia me beijar ou não.
Estou um desastre. Minha mente está presa na noite passada,
repassando cada momento em detalhes.
Fui beijar a bochecha de Gabriel. E ele me agarrou, me
segurando como se também não tivesse conseguido se conter. No
começo, meu coração pulou na minha garganta, uma alegria quente
correndo através de mim. Queria que ele me beijasse mais do que
queria respirar.
Mas ele não me beijou. Ele olhou para mim como se eu o tivesse
machucado, como se estivesse com raiva. Aquele olhar virou tudo
de cabeça para baixo.
Eu tinha ido longe demais beijando sua bochecha? Ele estava
me dizendo para pegar leve? Entrei em pânico, tão envergonhada
que poderia ter chorado.
E pode me chamar de covarde, mas eu simplesmente não podia
perguntar a ele o que aquele olhar significava. Não naquele
momento.
Eu poderia ter perguntado essa manhã, mas Gabriel já estava de
volta ao seu estado de espírito usual: levemente mal-humorado,
mas sempre solícito.
Agora estou perdida. Ele insiste que isso não é sobre sexo.
Talvez realmente não seja para ele. E de jeito nenhum vou dizê-lo
que agora eu quero mais. Não com o Gabriel “Homem de Gelo”
Scott de volta à ação.
Chame de orgulho, autopreservação, o que você quiser, mas não
vou ceder. Não importa o quanto eu queira.
Então agora estou focando no trabalho. O que não é exatamente
um castigo.
O show desta noite é quente, frenético e enérgico. Os meninos
tocam com um entusiasmo e energia renovados. Eu juro que há
magia no ar. Me arrasto e corro em volta de seus corpos em
movimento, obtendo fotos de tirar o fôlego: Killian no ar, seu violão
em uma mão, suas pernas num chute. Jax curvando-se sobre sua
Gibson, seus antebraços com veias saltadas, seu peito nu brilhando
no reflexo vermelho das luzes. Rye de pé em cima de um
amplificador enorme, seus quadris para frente, seu lábio inferior
preso entre os dentes. E Whip, com seus braços no ar, cabelos
suados grudados em seu rosto enquanto toca com uma força do
caralho sua bateria.
Registro o máximo que posso, pequenos momentos de vida
guardados para sempre em uma imagem. Momentos puros,
honestos e bons que nunca mais acontecerão. O fato de que os
eternizei me enche de orgulho.
E quando Killian canta “Hombre Al Agua” da Soda Stereo, uma
banda de rock que canta em espanhol dos anos 90, a multidão fica
absolutamente selvagem.
Quanto poder Kill John tem nesse momento, mantendo milhares
de pessoas completamente enfeitiçadas. É uma beleza. Estou tão
envolvida nisso tudo que abaixo minhas lentes e apenas sorrio,
dançando junto com a música. Inevitavelmente sinto o olhar de
Gabriel, e olho para cima.
Seus olhos encontram os meus como um soco duplo, no coração
e no estômago. Ele nunca sorri quando está trabalhando, nunca
mostra nenhuma emoção. Mas hoje à noite eu quase perco o
equilíbrio, porque ele sorri. E como.
O branco de seus dentes brilha naquele rosto bronzeado e
perfeito, a pequena covinha aparecendo de um lado. Santo inferno,
eu não consigo respirar.
Ele fica nas sombras, tão lindamente esculpido que parece
intocável. Como uma pedra. Mas esse sorriso é a minha ruína. Nele
está toda a alegria da multidão. Reflete minha admiração e emoção.
Ele sabe o que estou sentindo. Ele sabe porque, inacreditavelmente,
ele sente isso também.
Sei que Gabriel ama essa parte de sua vida; ele simplesmente
nunca me mostrou isso. Ele me deixa ver agora. Esse é o homem
por trás da cortina.
Ele enganou a todos completamente. Ele não é frio nem
insensível. Está apenas se escondendo. Eu quero isso à mostra –
toda a força e emoção fervente que ele mantém sob a superfície.
Um dia eu vou conseguir. Dane-se o meu orgulho, vou empurrar
e provocar. É a única maneira de saber como derrubar seus muros.
E se no final das contas ele não me quiser, vou encontrar uma
maneira de viver com a perda.
Um ajudante de palco se coloca entre nós enquanto se apressa
para preparar a próxima guitarra de Jax. Quando o ajudante de
palco passa, Gabriel se afasta, passeando pelos bastidores com seu
olhar de águia em busca de possíveis problemas. Um executivo de
gravação o embosca, e eles param para conversar.
Killian toca um solo poderoso, e eu saio da minha névoa,
voltando minha atenção para o show. O tempo voa em um turbilhão
de som e cores. Quando o show termina, energia zumbe através de
mim. Normalmente fico cansada, mas não essa noite. Os caras
estão falando sobre ir para boates, e eu sou a favor. Depois de um
banho frio muito necessário, estou vestida e pronta para ir. Coloco
uma camada de vermelho nos lábios e saio do banheiro, apenas
para encontrar Gabriel me esperando.
Eu nunca vou me acostumar com a visão dele. Ele é bonito
demais. E está encostado na porta do quarto com as mãos enfiadas
nos bolsos dos jeans bem gastos. Uma camiseta branca se estica
sobre seus ombros largos e estende-se contra o volume de seus
bíceps.
Se houvesse alguma justiça no mundo, ele pareceria
desajeitado. Mas todas as roupas ficam bem nele. O canto de sua
boca se levanta quando me olha. — Achei que te encontraria de
pijama.
Ele quase parece decepcionado.
— Você vai me dar um toque de recolher, Raio de sol? — Pego
uma pequena bolsa do closet e enfio meu batom, meu celular e
minha chave do quarto nela.
— Você o cumpriria?
— O que você acha?
Ele ri de modo baixo e breve. — Acho que teria que dormir com
um olho aberto.
Deus, não me lembre que dormimos juntos. Não agora, quando
só eu tenho a intimidade de vê-lo assim, na privacidade do nosso
quarto. Quando ele está me observando enquanto me arrumo, como
se fosse um direito seu.
Tenho achado cada vez mais difícil evitar me jogar nele.
Em vez disso, dou-lhe uma longa olhada, não porque preciso,
mas simplesmente porque a vista é muito bonita. — Eu nunca
imaginaria que você teria um jeans.
— Vivi neles dos dez aos vinte e um anos — ele responde
facilmente.
— Antes de você se tornar um homem de terno.
— O homem de terno está de folga agora. — Seus olhos
acompanham meus movimentos. — Onde você vai?
— Os garotos vão para uma boate.
— Fiquei sabendo.
— Pensei em ir junto. Você vem também?
— Não. Tenho outros planos. — Ele se afasta da porta e se
endireita. — Venha comigo.
É dito como uma ordem, mas de modo gentil, com um persuasão
suave por trás das palavras exigentes.
— Onde você vai? — Perguntar é uma tática inútil, porque, quem
eu quero enganar? Vou onde quer que ele vá. Mas não quero que
ele saiba disso.
Gabriel abre outro sorriso raro e completo, acabando ainda mais
com a minha determinação. — É um segredo. Você terá que vir para
descobrir.
Coloco minha mão sobre o coração de maneira dramática. —
Maldição, Raio de sol, você usou minha única fraqueza contra mim.
— Curiosa ao extremo. Sim, eu sei. O que significa que você é
incapaz de resistir. — Ele inclina a cabeça em direção à porta. —
Venha, garota tagarela. A noite é uma criança.
São duas da manhã. Mas Madrid está apenas se aquecendo. Eu
começo a abotoar as minúsculas fivelas das minhas sandálias de
salto alto, mas paro. — Meus sapatos combinam com o lugar onde
você está me levando, ó senhor misterioso?
Seu olhar desliza sobre as minhas pernas nuas até onde meu
vestido azul céu encontra minhas coxas e suas pálpebras abaixam
uma fração, sua expressão escurecendo. — Você está ótima.
Ah, essa voz, tão grossa e rouca, profunda e rica como
chocolate quente e torradas amanteigadas. Ele fala e eu quero
comê-lo. Eu amo e odeio o que sua voz faz comigo. Um homem não
deveria ter tanto poder. Três palavras não deveriam fazer minhas
coxas apertarem e minha pele ficar hipersensível.
Talvez seja isso que me faça erguer o pé, apontando o dedo
para mostrar minha perna da melhor forma possível. — Você tem
certeza? — Corro uma mão ao longo da minha coxa, levantando
minha saia para mostrar um pouco mais de pele.
As narinas de Gabriel se dilatam. A largura musculosa do seu
peito aumenta e diminui lentamente enquanto ele exala. O fato de
estar visivelmente se acalmando envia um raio de puro calor através
de mim, e meus joelhos quase cedem.
— Sophie — diz ele, baixo e rigidamente.
— Sim? — Porra, isso soou muito ofegante.
— Pare com essa merda.
Eu sorrio largamente. Peguei você. Dou a ele um encolher de
ombros e deixo minha saia voltar ao seu comprimento normal em
volta das minhas pernas, antes de caminhar em direção à porta com
um pequeno rebolado extra ao andar.
Ele segue com um grunhido, o que pode significar aborrecimento
ou diversão – é difícil dizer quando se trata de Gabriel. Mas sei
disso: esse homem precisa ser provocado e desafiado mais do que
qualquer um que já conheci. Às vezes me pergunto se ele estava
esperando por isso, entediado.
Ou talvez seja eu quem tenha estado esperando. Tudo parece
estranho agora, e nada é como costumava ser. Antes eu estava
apenas voando pela vida. Agora estou ciente de cada passo que
dou. Estou ciente da mão dele pairando logo atrás das minhas
costas enquanto caminha comigo; da cadência constante de sua
respiração enquanto descemos o elevador.
A antecipação corre através de mim, e não é porque estamos
saindo à noite - é porque eu estou com ele.
Nós não falamos enquanto descemos e seguimos para o carro
que ele contratou. Mas não importa. É um silêncio confortável, do
tipo que você tem com pessoas que conhece há muito tempo.
Suponho que dormir junto com alguém o tempo todo leve a isso.
Ele nos leva à uma boate com uma longa fila que dá a volta no
quarteirão. Sem surpresa, chegamos à porta da frente e alguém nos
leva direto para dentro, para a alegria das pessoas que estão na fila.
Do lado de dentro, está lotado. Mulheres bonitas vestidas com
quase nada se movimentam e balançam no ritmo. Seus olhos
seguem os movimentos de Gabriel com um interesse flagrante.
Algumas estendem a mão para acariciá-lo, passando-as sobre seus
braços e ombros. Uma mulher ousada agarra sua bunda.
Nem percebo que sibilei para ela como uma gata possessiva até
Gabriel gentilmente agarrar meu cotovelo e me afastar. — Guarde
as garras, garota tagarela. Minha honra está segura.
— Tenho certeza de que se referir à mulheres como gatas é
sexista — digo, ignorando o fato de que acabei de pensar em mim
da mesma maneira.
Ele não me poupa um olhar. — Vou devolver meu cartão de
feminista assim que chegarmos em casa.
Casa. Não, não me afeiçoarei muito a essa palavra. É
temporária. É tudo temporário. E se eu me lembrar disso vezes o
suficiente, acabarei eventualmente acreditando.
Gabriel se dirige ao bar e eu olho ao redor enquanto ele faz o
pedido. Ele volta com dois coquetéis gelados. — Mojitos pretos —
diz ele, me entregando um. — Especialidade da casa,
aparentemente.
É tão raro vê-lo beber que, quando bebe, eu percebo. — Você
não bebe frequentemente porque seu pai…?
— Era alcoólatra? — Ele termina secamente. — Em parte. E
também porque não gosto de perder o controle.
— É, acredito que não. — Mas eu gostaria de ver isso. Não de
um jeito ruim, mas Gabriel solto na cama? Todo esse poder gelado
se transformando em um barril de pólvora de calor e desejo?
Seu olhar azul percorre meu rosto nesse exato momento. — Por
que está corando?
— Não estou corando. Estou com calor, só isso. — Tomo um
grande gole da minha bebida. Deus, é boa. E perigosa. Não posso
ficar bêbada perto de Gabriel. Minha boca vai vomitar todos os tipos
de sugestões obscenas.
Ele me lança um olhar duvidoso, mas não diz mais nada.
Enquanto tomamos nossas bebidas, alguns técnicos mexem no
palco, o preparando para um show. Eu me inclino para mais perto
de Gabriel para ser ouvida acima do barulho da música house. —
Você sabe quem vai tocar?
Ele me dá um olhar levemente presunçoso. — Paciência, garota
tagarela.
Quando estamos terminando nossas bebidas, as luzes
diminuem. Gabriel coloca nossos copos no bar e pega minha mão.
Seu aperto é quente e sólido quando ele me leva através da
multidão, para mais perto do palco. Não me surpreende mais que as
pessoas saiam do seu caminho.
Ele não para na frente do palco, e sim um pouco mais atrás,
então somos pressionados por pessoas de todos os lados. As luzes
escurecem e depois acendem novamente em flashes de vermelho e
amarelo. A banda entra no palco e as pessoas comemoram. A
vocalista é uma mulher. Além dela, existem três guitarristas, um
baterista e um cara que comanda uma mesa de mixagem.
Gabriel se move um pouco atrás de mim, como se fosse uma
barreira entre mim e os outros. Sinto o calor do seu corpo ao longo
da minha pele.
E então a banda começa a tocar. A música não é o que eu
esperava. Não é rock. É flamenco com um toque moderno – funk,
hip-hop e até um pouco de Bollywood, misturando-se em um som
diferente de tudo que já ouvi. A felicidade é um relâmpago através
do meu sistema. Eu tenho um sobressalto e viro a cabeça.
Os olhos sorridentes de Gabriel me encaram. Ele não diz uma
palavra, não precisa. O que ele faz é puxar uma rosa do bolso de
trás da sua calça. Quando foi que ele a pegou, eu não sei. Fico
chocada, parada ali, boquiaberta, enquanto ele a coloca atrás da
minha orelha.
— Aqui está, Darling — diz ele no meu ouvido. — Agora nós
dançamos.
Ele coloca as mãos nos meus quadris e começa a nos balançar
no ritmo da música, acelerando o ritmo quando meu corpo começa a
responder. E estou tão chocada com o fato dele estar dançando de
bom grado que nem consigo formar um pensamento coerente.
Então não penso. Deixo a música me levar, deixo que as mãos
capazes de Gabriel e seu corpo oscilante me guiem.
E ele sabe dançar. Não sei por que fico surpresa. Seu gingado
com os pés é melhor que o meu, e sigo sua liderança, rindo e
dançando com mais entusiasmo do que com delicadeza. Ele não
parece se importar. Seus olhos travam nos meus, e as pessoas
dançando ao meu redor parecem desaparecer. Há apenas ele, seus
quadris se movendo com os meus, meu coração batendo forte no
meu peito.
Mãos quentes deslizam pelas minhas laterais, no mais simples
dos toques. Eu estremeço, me aproximando ainda mais, meus
braços pousando ao redor do seu pescoço. Seu corpo está quente e
firme. Suas mãos correm pelos meus braços até as minhas mãos.
Com nossos dedos entrelaçados, ele as levanta acima da cabeça,
assumindo total controle.
Isso não é Dirty Dancing; ele mantém um pouco de distância
entre nós, sempre sendo o educado e controlado Gabriel. Não
importa. Ele está dançando comigo, e estou exultante.
Com um movimento do pulso, ele me gira, minha saia rodando
em torno das minhas coxas, e então me puxa de volta; me mergulha
e me gira novamente.
Eu rio de novo e de novo. Nunca dancei assim, com passos
tradicionais e um pouco antiquados. Eu amo isso. Ele pegou meu
sonho e o tornou real. Por mim.
Nossos olhares se chocam e se prendem. Há um sorriso em
seus olhos e uma pergunta. É isso o que você queria?
Como posso dizer a ele que estou olhando o que quero?
Namorados sempre foram fáceis para mim. Eram caras que
elogiavam meu corpo, me diziam que eu era alguém divertida, fácil
de estar por perto. O que eles realmente queriam dizer era que eu
não era alguém a quem eles se apegassem. E se estou sendo
sincera, também não me apeguei a eles.
Isso é diferente. Já estou apegada.
Gabriel viu tudo o que tenho para oferecer, e ainda assim não
toma o que sabe que darei a ele de bom grado. Me apaixonar por
ele seria como me pular de um penhasco sem fundo. Para baixo,
baixo, baixo... eu cairia, sem nada para me segurar e nenhum
caminho de volta para a terra firme.
Meu sorriso é brilhante e doloroso, mas não posso deixá-lo ver o
que está me incomodando. Não quero ter que responder nenhuma
pergunta. Ele parece satisfeito, seu sorriso saindo dos olhos e
alcançando todo o rosto.
Dançamos até o amanhecer e tropeçamos para casa rindo, eu
mais do que um pouco embriagada.
E em nenhum momento ele tenta me beijar ou fazer algo mais.
O que reforça minha decisão. Tenho que me afastar, aprender
com ele e erguer paredes em volta do meu coração. E quando essa
turnê terminar, eu tenho que ficar o mais longe possível de Gabriel
Scott.
CAPÍTULO DEZESSEIS

N me manter ocupada com o trabalho e não com


pensamentos sobre um certo colega de quarto, saio cedo para o
local que preparamos para a apresentação de hoje à noite. É um
espaço pequeno, e eles estão tendo um meet-and-greet altamente
divulgado antes do show.
O ar está úmido e espesso quando chego. A multidão do lado de
fora está animada, e não de um jeito bom. O potencial para as
coisas ficarem fora de controle é grande. Mesmo que eu tenha
passado apenas um ano como paparazzi, consigo identificar os
sinais. Há uma certa agitação ondulando na multidão, uma ponta de
desespero que eu não gosto.
Encontro um bom local para pegar os caras saindo de suas
limusines e tirar fotos dos espectadores também. Vai dar uma boa
perspectiva dessa noite e me mantém longe de Gabriel. Estou
tentando não me arrepender da minha decisão, dado a atmosfera
desagradável que está no ar no momento.
As adolescentes disputam posição, empurrando umas às outras,
dando cotoveladas de uma maneira não tão sutil. Ainda não se
transformaram em brigas, mas é algo próximo. Os olhares e
empurrões estão aumentando. Os seguranças parecem irritados, e
não são exatamente gentis em suas tentativas de impedir os fãs,
recorrendo à empurrões também.
Ao meu redor, estão colegas fotojornalistas. Muitos deles eu não
conheço, mas alguns são familiares.
Mesmo que eu não queira, procuro na multidão pelo rosto de
Martin, temendo que ele decida fazer uma visita à Kill John e a mim.
Prefiro vê-lo chegando do que ser confrontada por um aparecimento
surpresa dele. Tenho feito isso toda noite, o tempo todo o
amaldiçoando. Mas, felizmente, ele não está em lugar nenhum.
— Como você conseguiu o emprego de viajar com a Kill John?
— Thompson, um dos meus antigos colegas, me pergunta enquanto
fuma um cigarro. Ele tem olheiras no rosto, sua pele acinzentada
sob as luzes fortes da marquise. — Você está dando para eles?
— Sim, para todos eles. — Eu não me incomodo em olhar para
ele. — É uma espécie de trenzinho. Ouvi dizer que eles têm uma
vaga para um passivo, se você estiver interessado.
— Fofa. — Ele joga a ponta do cigarro no chão, sem se
incomodar em apagá-lo. A guimba brilhante pousa perto da minha
sandália aberta. — Eu deveria citar sua fala na reportagem, pirralha.
— Porque sua credibilidade é tão confiável — murmuro.
O patife apaga o cigarro, quase pisando no meu dedo. Não
reajo, embora queira.
Nunca se irrite. Um bom mantra, mas não é fácil de seguir.
Lamento cada vez mais o meu plano à medida que más lembranças
de dias desesperados enchem minha cabeça e fazem meu
estômago revirar. Eu odiava ser um paparazzi. Odiava quem eu era
e como me sentia – como se estivesse coberta de lama de dentro
para fora.
Meu celular vibra.
Brenna: Estamos virando o quarteirão
Bem na hora. Estou prestes a guardar meu celular de volta ao
bolso quando recebo outra mensagem.
Raio de Sol: Chegando em 30 segundos.
A mensagem dele me faz sentir algo que a de Brenna não
consegue: o sentimento de ser importante, e isso faz com que eu
me importe da mesma forma.
Manter a distância não vai funcionar - não quando estamos em
contato constante, pelo menos. Mas não posso me preocupar com
isso agora. A comitiva da Kill John está à vista.
A multidão vira um pandemônio. Meninas gritam, os empurrões
se tornam fortes. Estamos tão apertados que parecemos ondular
como um mar revolto.
Eu separo meus pés e começo a tirar fotos, capturando o caos.
O primeiro SUV grande para no meio-fio. Os garotos estão lá.
Gabriel, Jules e Brenna estarão no próximo.
Jax é o primeiro a sair, e é como se ele tivesse tocado num fio
desencapado que trás a multidão à vida. Tudo parece amplificado.
Minha visão por trás da câmera treme quando sou empurrada. Mas
consigo umas fotos do rosto de Jax – a pequena hesitação e depois
seus traços se suavizando numa neutralidade branda. Ele sorri, mas
não parece confortável.
Nenhum dos caras parece. Não dessa vez. A multidão é muito
selvagem para eles permanecerem. Eles se movem em minha
direção em um ritmo constante. Às minhas costas, as pessoas
empurram e se atropelam. Estou em uma boa posição e isso
claramente irrita mais do que algumas garotas.
— Eu não consigo ver!
— Saia do caminho!
— Sai, eu estava aqui primeiro!
— Vai se foder!
Os dois últimos não foram direcionados a mim, mas estou no
meio da confusão. De repente, seus braços estão se empurrando,
suas mãos estão batendo. Eu evito alguns golpes e me afasto. Mas
esse cara de merda, Thompson, me empurra de volta para o
alvoroço. Estou o fuzilando com o olhar quando alguém agarra meu
cabelo e puxa. Com força.
Lágrimas se formam atrás das minhas pálpebras, meu couro
cabeludo doendo. Abaixo a cabeça e torço o corpo, meu cotovelo se
conectando com o pulso da pessoa que puxa meu cabelo. A garota
solta um grunhido.
Alguém tenta pegar a minha câmera e eu afasto a mão. Ao meu
redor, outras brigas começam.
Na minha visão periférica, vejo Jax. Seu olhar encontra o meu e
ele franze a testa, diminuindo a velocidade.
Não, não, não. Saia daqui.
Os outros caras também estão parando, me vendo no meio da
confusão. Isso não é bom. A multidão ruge novamente, me
esmagando contra Thompson e um segurança. Um golpe me atinge
bem nos olhos e vejo estrelas. Dói tanto que eu grito. Outro golpe
vem. Dor me atinge, junto com as com lágrimas.
Me ocorre que Thompson acabou de me dar duas cotoveladas.
Ele realmente me bateu.
Estou prestes a me jogar nele, quando um corpo se intromete
entre nós com força suficiente para derrubar Thompson de bruços
no chão. Gabriel está diante de mim com uma expressão de raiva
tão feroz que minha pele formiga.
Só consigo piscar em sua direção antes que ele me agarre e me
levante em seus braços.
Eu não vou desmaiar.
Mas minha cabeça cai em seu ombro. E eu me agarro a ele.
Porque ele é como um muro contra o mundo. Meu muro. Ele se
move pela multidão sem pausa e ela se afasta, sabendo
instintivamente que ele vai derrubar qualquer um que não abrir
caminho.
Um olhar furioso para os seguranças faz com que eles nos
levem à uma porta que dá para um corredor silencioso e escuro.
Comparado com o calor intenso das luzes e o barulho do caos lá
fora, é como um bálsamo para o meu corpo tenso. Eu me afundo
ainda mais no aperto de Gabriel.
Ele não para, mas marcha em frente, murmurando baixinho. É
um fluxo de palavras irritadas que se resumem em desgraçados e
maldito estúpido e filho da puta, misturados com outras palavras do
tipo. Eu deixo seus rosnados baixos fluírem sobre mim como se
fossem mãos quentes.
Meu coração ainda está acelerado e estou tremendo. Não quero
ficar assim. Quero ser forte. Mas a adrenalina está acabando, e eu
não tenho outra coisa a fazer a não ser afundar.
A lateral do meu rosto palpita como um batimento cardíaco, a dor
vindo de todas as direções. Penso em Thompson me dando uma
cotovelada e choramingo apesar da minha raiva.
Os braços de Gabriel me apertam. — Calma, calma. Eu estou
aqui.
Entramos no camarim da Kill John, e os caras instantaneamente
nos cercam.
— Que porra foi essa merda toda? O que aconteceu com a
Sophie? — Jax diz, olhando para mim. — Você está bem, doçura?
— Caralho, está na cara que ela não está bem. — Gabriel
dispara quando passamos por ele e me coloca em uma cadeira.
— Porra. Isso foi um desastre — murmura Killian. — Controle de
multidão de merda. Deveríamos ter nos metido e trazido você
conosco, Sophie.
— Não, não deveriam — digo fracamente quando Gabriel se
ajoelha diante de mim, seu olhar disparando sobre o meu rosto. —
Vocês teriam sido cercados.
— Mas não teriam nos machucado. — Rye parece enjoado, sua
pele dourada parecendo pastosa enquanto seu olhar permanece em
mim.
— Vocês não podem ter certeza.
Gabriel faz uma careta e joga para o lado uma mecha do meu
cabelo. — Te pegaram de jeito, garota tagarela. — Raiva irradia do
seu corpo. — Você está sangrando.
— Aqui. — Whip entrega a ele um kit de primeiros socorros e me
dá um sorriso. — Baby, você fica conosco a partir de agora, certo?
Meu lábio treme. — Certo.
— Eu quero voltar lá e chutar algumas bundas — murmura
Brenna. Ela perdeu os óculos e seu cabelo está despenteado. Eu
nem a notei na briga. Ela me entrega uma compressa fria. —
Aqueles fodidos.
Atrás dela, Libby assiste com os olhos arregalados, assim como
Jules. Estão todos assistindo, olhando tristemente para o meu rosto.
Eu abaixo minha cabeça.
— Tudo bem. — diz Gabriel em um tom firme. — Vamos dar um
tempo para Sophie. Cuidem dos seus afazeres.
Ninguém discute, apesar de Jax apertar meu ombro antes de
sair.
Com o corpo de Gabriel bloqueando a visão de todos, é quase
como se estivéssemos sozinhos. Ele abre um pano desinfetante e,
com uma carranca, esfrega suavemente a parte inferior do meu
olho. Arde, mas eu fico quieta.
Sua voz é suave quando ele finalmente fala. — Eu poderia matá-
lo.
— Ir para a cadeia por causa daquele lixo humano seria uma
tragédia. E um esforço desperdiçado.
O pano frio corre ao longo do meu rosto machucado. — Não,
não seria.
Aperto seu pulso largo e sinto o ritmo rápido de seus batimentos
logo abaixo da superfície. Seus olhos encontram os meus, escuros
de raiva. Isso amolece o meu coração, embora eu deva ser a
racional aqui. — Sem retaliação, Raio de sol. Me prometa.
Quando ele não responde, acaricio a pele do seu pulso com o
polegar. — Por favor, Gabriel. Por mim.
Seus lábios se achatam até ficarem brancos, mas ele assente,
seu olhar deslizando de volta para o meu olho. Com toques
cuidadosos, ele me limpa e depois esfrega uma camada de vaselina
sobre o corte. — Continue aplicando até que cure. Isso ajudará a
evitar cicatrizes.
Ele me entrega o tubo de vaselina e segura o gelo no meu rosto.
— Você é especialista em lidar com contusões? — Eu brinco.
Tenho que brincar ou vou chorar.
Ele olha para mim, sua expressão solene. — Sim.
Minha mão pousa sobre a dele, pronta para assumir o trabalho
de manter a compressa no lugar, mas ele não solta. Seu polegar sai,
acariciando meu rosto, roçando contra o canto do meu lábio. —
Whip está certo. Sem mais saídas por conta própria.
— Eu já sou grandinha. Posso cuidar de mim mesma.
Ele olha sugestivamente para o meu rosto.
— Foi só um acaso fodido — respondo.
Mais uma vez, a ponta do seu polegar acaricia minha bochecha
e toca os meus lábios. Suas pálpebras abaixam uma fração quando
ele respira bruscamente. — Você me pediu um favor. Esse é o meu.
Não faça eu ter que me preocupar com isso acontecendo de novo.
— Ele segura o meu olhar, e a emoção lá é como um soco no peito.
— Por favor. Ou não poderei funcionar corretamente.
Engulo o nó na garganta. Lágrimas enchem meus olhos.
Lágrimas estúpidas. Começo a tremer, tudo batendo de uma só vez.
— Eu fiquei assustada.
Ele respira fundo e sua testa descansa contra a minha. Sua mão
livre vai para a parte de trás do meu pescoço me segurando, firme,
sólida.
— Eu também — ele sussurra, me chocando o suficiente para eu
estremecer.
Interpretando mal a minha surpresa como dor, ele sussurra uma
maldição. Seus dedos me dão um aperto suave. — Você está
segura, Sophie. Isso nunca vai acontecer de novo.
— Eu sei. — Respiro fundo enquanto fecho meus olhos e respiro
seu perfume. — Você mantém seu pessoal seguro.
— Eu cuido do meu pessoal. — Seus lábios roçam sobre minha
bochecha num toque fantasma, tão leve que eu poderia ter
imaginado. Só que não foi imaginação. Eu sinto o toque até a ponta
dos pés. Reverbera ao longo da minha pele, mesmo quando ele se
afasta um pouco para me olhar nos olhos. — E eu protejo o que é
meu.

G
L demais para me afastar. Muito tempo segurando a
raiva, respirando como um homem normal, falando como um
homem calmo. Quando saio para o beco, minhas mãos estão
tremendo tanto que mal consigo abrir a porta.
O ar quente e abafado bate pesadamente na minha pele.
Respiro fundo, sentindo o cheiro azedo de lixo e o cheiro
almiscarado de pedras molhadas. Não importa. Eu respiro
novamente, devagar, por muito tempo. A tontura me pega, e eu me
inclino contra a parede viscosa do teatro.
Meu terno será arruinado. As pessoas vão notar.
Não me importo. Não mais.
Olhando para a sombria luz laranja piscando na porta, me
pergunto quem diabos eu sou agora. Scottie está desmoronando. As
rachaduras de sua venerável armadura estão aparecendo sobre
meu corpo cansado. E Gabriel? Apenas uma pessoa me chama
assim. Apenas uma pessoa me faz sentir como um homem de carne
e osso, e não como uma máquina fria. E eu a decepcionei.
A imagem do rosto machucado de Sophie enche minha mente. O
jeito como aquele fodido de merda bateu nela com o cotovelo. Duas
vezes. Antes que eu pudesse chegar até ela.
Meu coração bate tão forte que minha camisa tremula. Mais uma
vez, estou com falta de ar, lutando para conseguir puxar ar o
suficiente em meus pulmões tensos. O chão embaixo de mim se
inclina e gira. Vou vomitar.
Dois passos rápidos e estou curvado sobre uma lixeira. Vomito
até não sobrar nada. Até minha garganta queimar.
Porra, odeio que demore uma eternidade para eu conseguir ficar
em pé, e que mesmo quando consigo, minha cabeça lateja,
parecendo pesada e leve demais. Eu odeio o modo como minha
mão ainda treme enquanto tiro o lenço de seda do bolso para limpar
a boca.
Umidade quente escorre por cima do meu lábio. O lenço de seda
branco está manchado de vermelho. Outra hemorragia nasal. Meus
dedos ficam frios. Penso em mamãe quando ela se foi – a tontura,
os desmaios, os sangramentos nasais.
Outro calafrio me consome.
Uma risada feminina ressoa pela a noite. Pequenos trechos de
conversa entram e saem pelos meus ouvidos – o quão gostoso Jax
estava durante seu solo, como uma delas prefere assistir Whip tocar
sua bateria, e a outra quer ter um filho com Killian. Espectadoras
saindo do show, se divertindo. Estão chamando isso de melhor noite
de suas vidas.
Eu ajudei a trazer essa noite para elas. Essas garotas nunca
saberão disso, ou se importarão. Como deveria ser. Mas o orgulho
que sinto por saber que lhes trouxe um pouco de felicidade existe da
mesma forma.
Se eu morrer, alguém fará o trabalho. Mas eles farão isso
também? Eles cuidarão dos meus garotos e garantirão que tudo
corra bem? Ou eles pensarão apenas em seu próprio ganho?
O fato de não haver garantias irrita.
A risada soa novamente, feminilidade rouca e sem restrições.
Ela me lembra a risada de Sophie, embora a dela sempre tenha um
tom de autodepreciação, como se ela fosse parte da piada, nunca
ridicularizando outra pessoa.
Eu nunca ri livremente e muitas vezes achei que aqueles que
conseguem eram bastante irritantes. A vida não é uma piada – não
para mim. E, no entanto, quero nadar no som da risada de Sophie,
me purificando e lavando todo o peso da minha vida.
Não sei como pedir isso, nem mesmo como me permitir pedir.
Eu a chamei de minha. Ela vai querer uma explicação. Não
tenho nenhuma para dar. Ela apenas é. Se eu a fodo ou não, não
importa; ela me tem agora. Mesmo que ela não me queira.
Uma mensagem vibra no meu celular.
Brenna: O carro está aqui. Onde diabos você está?
A ideia de sentar em um carro com Brenna, Jules e Sophie
enquanto estou fedendo a vômito e provavelmente tenho manchas
de sangue no rosto, deixa um gosto ainda mais azedo na minha
boca. Não tenho criatividade para inventar uma desculpa plausível
para minha aparência, nem quero mentir – ou dizer a verdade.
Mas eu minto. Meu polegar digita uma mensagem rápida.
GS: Já sai. Tenho alguns negócios para resolver. Se cuide.
Essa última frase é para Sophie, e Brenna saberá disso.
Sophie. Ela estará sofrendo e provavelmente inquieta. Ficou
claro que ela não está acostumada a ser agredida ou tratada com
violência e agradeço a Cristo por essa pequena misericórdia. Eu
deveria estar com ela, oferecendo-lhe conforto. Nossa cama –
porque é nossa, sempre foi, a partir do momento em que Sophie se
deitou nela – estará fresca e macia.
Mas se eu deitar com ela hoje à noite, não sei como vou reagir.
Já mostrei muito de mim para ela. Exposição nunca foi fácil. Não
posso me abrir mais agora, não sem perder o domínio que tenho
mantido por anos.
Sophie. O arrependimento aperta meu peito.
Mando uma última mensagem para Brenna.
GS: Vou demorar um pouco. Certifique-se de que Sophie esteja
acomodada e com uma bolsa de gelo no olho.
Pequenos pontos aparecem no canto inferior da minha tela.
Brenna: Você que sabe, chefe. Se cuide também.
Suspeito que Brenna saiba exatamente o que pretendo fazer,
mesmo que o desejo tenha acabado de se registrar em minha
própria cabeça. Mas preciso disso. Eu preciso da liberação.
Percorrendo minha lista de contatos, encontro o que quero.
GS: O que você tem disponível hoje à noite?
Cinco segundos depois, a resposta vem.
Carmen: Faz muito tempo, S. Estava começando a pensar que
você esqueceu de mim. Tenho uma vaga. 02:00.
E o endereço vem em seguida.
Guardo o celular, me sentindo sujo, depravado. Eu não deveria.
Não tenho porque estar envergonhado. Mas estou. Eu sempre fico
quando cedo à minha fraqueza.
CAPÍTULO DEZESSETE

D , parece errado ficar sozinha no ônibus de


Gabriel. Ah, ele deixou perfeitamente claro que eu deveria
considerar esse meu espaço também. Mas não considero. Cada
centímetro do lugar me lembra Gabriel – algo que eu realmente
gosto. Depois de muitos anos, cansei de viver sozinha. Não preciso
sentir que estou no meu espaço. Eu gosto de estar no domínio dele.
Normalmente, entrar no ônibus é como ser embalada pelo
próprio homem; tudo é tranquilo, calmo, ordenado. Tem o cheiro
dele, fresco e caro. Me sinto segura.
Agora, no entanto, não gosto daqui nenhum pouco. Porque ele
não está aqui, e não me importo em admitir que o quero nesse
lugar. Eu preciso dele aqui. Por mais que eu odeie minha fraqueza,
meu corpo ainda não se recuperou do incidente. Eu continuo
tremendo, com meus dedos dos pés e das mãos gelados. Meu rosto
dói, apesar dos analgésicos e do saco de gelo.
Eu preciso que Gabriel me distraia. E, francamente, eu estava
me segurando à promessa de eventualmente me deitar na cama
com ele como recompensa por passar por essa noite miserável.
Ele não voltou para casa conosco, dizendo a Brenna que tinha
negócios para resolver. A careta em seu rosto quando ela leu as
mensagens dele me faz pensar que ela sabia mais do que deixou
transparecer, e seja o que for que ele estivesse fazendo, ela não
aprovava.
Eu não mandei uma mensagem. Pela primeira vez, meu orgulho
não deixou. Ele me abandonou quando eu estava assustada e
magoada. Talvez eu não devesse olhar por esse ângulo, mas não
consigo me libertar desse sentimento.
Sabe o pior? Ele nunca voltou para casa.
É de manhã agora, e minha cabeça dói após uma noite longa e
insone depois de muito rolar na cama, tentando desligar minha
mente e deixar meu corpo descansar - sem sucesso.
Ele me fez prometer ficar com ele todas as noites. Todas as
malditas noites.
Isso não implicava o mesmo para ele? Que ele deveria estar
aqui. Todas. As. Malditas. Noites?
Bato uma caneca de café contra sua bancada preta brilhante e a
encho até a borda. Sim, isso mesmo, café. Nada de chá. Chá não é
a resposta para todos os problemas da vida. Às vezes um café preto
e amargo pra caralho no bom estilo americano é a resposta.
Estreito os olhos para a porta enquanto tomo um gole desafiador
e depois estremeço. Na verdade, não gosto de café preto. Eu sou o
tipo de garota que coloca bastante açúcar e creme.
— Esse britânico fodido dos ternos sob medida que me força a
beber café preto — murmuro, pegando o açúcar e o creme. Uma
gota do líquido branco pousa no balcão. Ignoro. Rá. Posso imaginar
seu desprezo se visse isso.
Infelizmente, vitórias mesquinhas e patéticas não são muito
satisfatórias.
Estou segurando minha caneca e me enroscando em uma das
poltronas quando ele me manda uma mensagem. Aparentemente
perdi todo o orgulho, porque pulo desesperada em direção ao
celular.
Sua mensagem é um chute no peito.
Raio de Sol: Estarei ausente à negócios por alguns dias. Já
avisei os outros. Vejo você em Roma. Pegue leve com os meus
meninos.
Alguns dias? Ele já avisou aos outros?
É embaraçoso o quanto estou decepcionada. Quão... magoada.
Isso não é bom. Ele está fazendo o seu trabalho, e eu estou
pronta para bater o pé como uma criança descontente.
Mordendo meu lábio, respondo.
Eu: Vou dar uma festa no seu ônibus com a banda enquanto
você estiver fora.
Claramente, ser mesquinha ainda não está fora da jogada.
Não há sequer uma pausa antes que ele responda.
Raio de Sol: Que bom. Você não deveria ficar sozinha. Diga a
Jules para colocar tudo na minha conta. Ou encontre o cartão de
crédito sem limite no fundo da minha gaveta de meias.
Esse... Esse... Meus dentes estalam pela força que exerço. Não
consigo pensar num xingamento ruim o suficiente. Pagando pela
minha festa como se ele fosse meu pai ou algo assim. Pronto,
Sophie. Agora comporte-se enquanto estou fora. Mas ele está
sendo legal. E ainda por cima, ele está realmente concordando em
deixar as pessoas entrarem no ônibus. Ou será que ele está
devolvendo o meu blefe?
Ótimo. Eu digito com força. Mas não vou vasculhar sua gaveta
de meias. Eu posso tirar as cores de ordem e então o que você
faria?
O imbecil implacável responde facilmente.
Raio de Sol: Reorganizaria tudo depois. Faça a festa, garota
tagarela. Será bom para você. Te vejo em alguns dias.
Então é isso. Ele me deixou.
Eu preciso cortar esse sentimento grudento pela raiz. Deixando
meu telefone de lado, termino meu café e vou me vestir. Não vou
mais ficar amuada por aí. Tenho uma festa para planejar.

U . A dor é cegante,
explodindo como um flash de câmera atrás das minhas pálpebras.
Ela estala através do meu corpo, ressoa nos meus ouvidos. Um
chute nas minhas costelas me faz cambalear para trás.
Zombarias e gritos me cercam, um borrão de rostos gritando.
Isso eu conheço. Esse prazer pela violência e pela ganância me
alimentou desde a infância como se fosse leite com torradas
amanteigadas.
Outro soco voa em minha direção. Eu esquivo e bloqueio um
chute com o joelho. Se recomponha. Foco.
Meu oponente é experiente, provavelmente por lutar todas as
noites. Na minha juventude, eu era melhor que ele, mas agora fui
suavizado por uma vida confortável. No entanto, sei o quanto posso
aguentar. Eu posso desgastá-lo, esperando ele se cansar. Mas vou
ter que levar uma surra.
Contusões eu posso esconder. Cortes abertos e lábios rachados
são outra questão. Essa é a minha segunda noite de luta. Já estou
machucado. Se eu ficar pior, terei que ficar longe de Sophie por
muito tempo.
Sophie. Sophie, que recebeu cotoveladas no rosto. Duas vezes.
A raiva pulsa quente, emergindo através de mim.
A segure.
Outro soco voa em minha direção, roçando a borda da minha
mandíbula. Se fosse uma luta profissional eu já estaria nocauteado.
Mas somos entretenimento amador, brigando entre nós em uma
sala de estar branca e imaculada – piso de mármore, janelas de
parede à parede com vista para o porto – enquanto pessoas ricas e
entediadas observam.
É perverso. Fede a privilégios. Há respingos de sangue contra as
paredes acolchoadas de couro branco.
Não dou a mínima para eles. Tudo que eu preciso é da dor.
O homem diante de mim é espanhol, alto, esbelto e rápido.
Minha mente transforma sua aparência. Ele é um cinegrafista
atarracado e envaidecido agredindo Sophie.
Prometi que não iria retaliar. Ela me fez prometer não machucá-
lo.
Não vou. Mas esse homem aqui? Ele quer a luta.
Toda a raiva e toda a frustração indefesa aumenta, ficando mais
firme, mais forte. A raiva fica fria e silenciosa.
Meu punho se conecta com carne e osso. Esse é outro tipo de
dor, uma liberação brilhante e limpa.
De novo e de novo. Golpes controlados. Meu punho no rosto,
joelho nos rins, cotovelo na mandíbula.
Pele quente e suada, sangue metálico. Carne sólida cede sob
meus dedos. Eu me deleito com isso.
Há um ponto na luta em que você não é mais um homem. Você
se torna uma máquina. Não pensa mais, apenas reage, entregando-
se à memória e à técnica muscular.
Nos agarramos, engalfinhados, e nos afastamos. Ele tropeça
para trás antes de vir para cima com tudo.
Um chute direto que o acerta na mandíbula termina a luta.
Meu oponente cai e bate no chão com um estalo.
Ele permanece lá, com o peito arfando, a cabeça pendendo.
Aplausos explodem, me tirando da névoa e irritando meus
ouvidos.
Eu levanto, inspirando e expirando. Meu corpo palpita, queima. É
puro e real, o mais perto que posso chegar da libertação que
realmente quero.
Ninguém chega perto de mim; eles sabem que não é uma boa
ideia agora.
Alguém ajuda meu oponente.
Meu olhar vai para as janelas, onde a noite é como tinta preta
contra as estrelas douradas. Sophie não está mais aqui. Ela está
indo para Roma.
Já sinto a ausência dela em minha alma, um rasgo que não pode
ser remendado. Estou ferido e sangrando. Vou ter que ficar longe
por dias. O rasgo dentro de mim cresce mais. Ignoro o sentimento.
Eu preciso de tempo, de qualquer maneira. Para me reagrupar e
acalmar.
— Scottie, mi hombre hermoso, outra vitória para mim, si? —
Carmen sorri para mim, lábios vermelhos como sangue, cabelos
pretos brilhantes. — Ah, mas eu senti falta de ver você lutar. Eu
tinha esquecido o quão friamente você joga o seu jogo. Venha. —
Unhas com ponta de ouro deslizam pelo meu braço. — Eu tenho um
quarto pronto. Podemos?
Luxúria e antecipação abaixam suas pálpebras quando ela me
olha, seu olhar persistente no meu peito nu. Sutileza nunca foi o
estilo de Carmen.
Eu me afasto do seu toque. — Um táxi é tudo o que eu preciso.
Fazendo beicinho, ela estala os dedos e uma mulher se
aproxima.
— Teresa o levará a uma sala onde você poderá trocar de roupa.
— Agora que levou um fora, Carmen é só negócios. Eu aprecio isso
nela. — E seus ganhos?
— Faça as doações habituais.
Um sorriso fino puxa seus lábios. — Para abrigos de mulheres
vítimas de violência doméstica. Você, mi amigo, tem um senso de
humor perverso.
Sophie acha que eu sou um pateta. Eu sinto falta dela. Eu
preciso dela. Não posso voltar a ficar assim. — É o que dizem.
Buenas noches, Carmen. Não voltarei amanhã.
Saio para a escuridão e volto para o hotel. Mas não vou dormir.
CAPÍTULO DEZOITO

D no ônibus de Gabriel é como estar no ensino médio


e fazer uma social com os amigos quando seus pais estão fora da
cidade. Pelo menos essa é a sensação.
Os caras, Libby, Jules e Brenna entram com cautela, olhando em
volta como se Gabriel pudesse aparecer a qualquer segundo para
repreendê-los.
— Você é uma garota corajosa — diz Killian, trazendo uma caixa
térmica cheia de cerveja. — Eu gosto disso.
— Tenho a permissão do papai — digo com um revirar os olhos.
— Continue dizendo isso a si mesma. — Jax se senta e pega um
punhado de chips. — Você nem tem porta-copos. Será um inferno.
— Seu sorriso é amplo, como se isso o agradasse muito.
E então eu percebo, eles querem ser pegos. Porque querem
Gabriel aqui também. Ah, eles adoram provocá-lo, mas são mais
felizes quando ele está por perto. Por que ele não consegue ver
isso?
Brenna arrasta uma máquina de karaokê e Rye ajuda a montá-
la. — Não sei por que concordei em trazer isso — ela me diz. — É
um jogo completamente injusto.
— Vamos pegar leve, Bren — promete Rye com uma piscadela.
— Pegar leve com a gente não vai ajudar — digo a ele. Mas
estou feliz que eles estejam aqui. O ônibus está cheio de risadas,
conversas e calor – muito diferente do lugar frio e silencioso que se
tornou quando eu estava sozinha. Mas não faz parar a dor
generalizada no meu peito. Sinto falta dele.
Mas não vou mais pronunciar o seu nome, nem na minha
cabeça. Fora da vista, fora da mente, fora do coração. Isso tem que
funcionar.
— Eu tenho um aplicativo — diz Brenna enquanto se enrola no
sofá ao meu lado. — Ele fornece um tema e você deve escolher
uma música que se encaixe.
— Ok. — Rye toma um longo gole de cerveja. — Estou pronto.
Aperte.
Brenna aperta um botão no celular e todos nós esticamos o
pescoço para ver. Estou muito longe, mas Brenna começa a
gargalhar quando Jax e Killian gemem. Ela levanta o telefone e
anuncia: — Yo! Raps da MTV.
— Que conveniente — diz Killian, dando a Brenna um olhar que
não consigo interpretar. Ela evita o olhar dele com uma pequena
fungada.
— Perfeito, porra. — Rye diz batendo no peito. — Eu vou
destruir vocês, filhos da puta.
Jax faz um barulho de escárnio com a língua enquanto faz um
movimento de punheta com a mão. — Claro que você vai.
— É melhor estremecer de terror, JJ.
— Não é você o aspirante à JJ? — Ele responde. E dou uma
gargalhada porque Rye se parece com o zagueiro, JJ Watt.
Rye lhe dá o dedo do meio antes de esfregar as mãos. — Ok,
ok, isso vai ser bom. — Ele olha ao redor da sala. — Escolho Whip
como meu apoio musical; e Jax, já que você foi tão encorajador,
você vai ficar comigo nos vocais.
Jax faz uma expressão de dor. — Inferno.
Rye assente. — Vamos contra Killian e Libby.
Brenna se senta ao meu lado. — Ele está tramando algo bom.
— Você sabe, baby. — Rye pisca para ela.
Brenna se encolhe como se ele a tivesse beliscado antes de
voltar ao seu jeito tranquilo. — Bem, se apresse com isso.
— Versão da Run-DMC de 'Walk this Way'.
Todo mundo começa a rir.
Killian pega seu violão. — Entendi. Libby e eu estamos cantando
a parte do Aerosmith, então? Porque certo alguém pensa que pode
cantar rap.
— Sabe, Killian. Não pensa que pode, sabe que pode. — Rye
pega um microfone e olha para Whip. — Você fica com a batida? Ou
vamos usar a máquina de karaokê?
— Você realmente está me perguntando isso? — Ele zomba.
Whip só tem seu pequeno kit de bateria elétrica, mas já está
mexendo nele. — Não me irrite, Ryland.
— Então usaremos instrumentos. — Rye responde facilmente.
— Isso vai ser tão bom — diz Libby com os olhos brilhantes. Ela
não parece ser do tipo que fica empolgada para tentar imitar
Aerosmith, mas está claramente em sua zona de conforto.
Ela e Killian se reúnem para planejar, e os caras fazem o mesmo
no outro canto.
— Você sabe que somos as próximas — diz Brenna para mim.
Eu rio um pouco — Fiquei aterrorizada quando pensei que teria
que cantar na frente desses caras. Porque dizer que eu cantando
pareço um bando de gatos morrendo seria um eufemismo.
Brenna sorri. — É tão irritante, não é? Como eles fazem parecer
fácil?
— Assustador como o inferno — concordo. — Mas Rap? Rá. Eu
posso cantar rap.
Ela ergue uma sobrancelha perfeitamente arqueada e sinto uma
pontada de dor no coração. Esse olhar me lembra Gabriel. Suas
sobrancelhas são grossas e imponentes, mas ele e Brenna têm
essa maneira elegante de se expressar com um simples olhar.
— A maioria das pessoas teria medo de cantar rap — diz ela.
— Ah, é tudo sobre ritmo. Além disso, eu tinha uma babá que
amava hip-hop. É literalmente o gênero musical da minha infância.
Brenna sorri de repente e se inclina para perto. — Eu também
amo hip-hop. É por isso que manipulei totalmente o jogo para
escolher isso.
— Você é um gênio do mal — digo com um suspiro.
Seu sorriso se amplia antes que ela o controle. — Tenho certeza
de que Killian está de olho em mim.
Seu sorriso se amplia antes que ela o controle. — Tenho certeza
de que Killian está de olho em mim.
— Pensei que você estaria pirando — diz Brenna, me olhando.
— Agora você já sabe a verdade. — Cutuco seu ombro com o
meu.
Ela cutuca de volta. — Se Scottie já não tivesse reivindicado
você, eu faria isso.
Saio da minha zona feliz e minha expressão claramente
demonstra isso, porque Brenna estremece. Felizmente, não tenho
que ouvir nenhum pedido de desculpas desajeitado ou resmungos
por conta de ego ferido. Whip começa com suas batidas.
Killian começa a tocar violão, e então eles estão a mil.
Brenna e eu gritamos de alegria quando Jax e Rye começam a
cantar as letras de RUN-D.M.C. Eu esperava que Rye fosse ser a
voz central, não Jax. Não conseguimos parar de rir, mas perdemos
o controle quando Libby – e não Killian – assume a parte de Steven
Tyler, fazendo sua voz estridente e gutural como o lendário cantor
do Aerosmith.
Killian está sorrindo tão abertamente que acho que pode
distender suas bochechas. Mas o ritmo dele está ótimo.
Eu sempre quis viver uma vida menos comum, ver o mundo de
uma maneira que poucos têm a oportunidade de ver. E sei que não
sou a única com esse desejo. Quem não gostaria de escapar do
mundano? No entanto, sempre soube que era comum. Não de uma
maneira ruim, mas eu era simplesmente Sophie Darling: alegre a
maior parte do tempo, gosta de pessoas, tem talento para tirar fotos
da vida cotidiana. Nada incrível. Tentei absorver a emoção da fama
sendo jornalista de entretenimento. Mas isso só me fez sentir
contaminada e suja.
Não sei para onde o meu futuro vai. Mas estou aqui agora,
vivendo essa vida. E isso é extraordinário. Tenho uma das melhores
bandas de rock do mundo cantando karaokê para mim. Melhor
ainda? Eles são meus amigos, essas pessoas engraçadas,
talentosas e generosas. Eles gostam de mim, com os erros do
passado e tudo.
Mergulho no momento, rindo e vendo-os dançar ao redor da
sala. E, no entanto, há um ponto frio nas minhas costelas, no centro
do meu peito, que não desaparece. Anseio pelo homem que não
está aqui, que me deixou para trás.
Dói e eu tenho que engolir a dor, meu sorriso se tornando
quebradiço.
A música termina e todos estão cumprimentando uns aos outros,
felizes, enquanto Brenna e eu assobiamos e aplaudimos.
Whip se joga ao meu lado, suor brilhando em sua testa. Ele tira
uma mecha de cabelo escuro do rosto e sorri. — Isso vai ser difícil
de superar.
— Exibido — digo a ele, nervos tremulando na minha barriga. Eu
sei a música que Brenna e eu escolhemos de cor. Ainda assim,
tenho que executá-la diante desses malditos deuses da música.
— Sem enrolar — diz Rye, sentando do meu outro lado. — É a
sua vez agora.
Brenna se levanta e alisa a saia, pegando o microfone dele. —
Vamos cantar 'Shoop'.
Todo mundo aplaude, e eu me levanto com as pernas instáveis.
Libby me entrega seu microfone.
Brenna vai fazer a parte de Pepa, e eu serei Salt. E porque
nenhuma de nós poderia tocar um instrumento nem se nossas vidas
dependessem disso, vamos usar a máquina de karaokê. Nós
olhamos uma para a outra. Os olhos de Brenna estão brilhando,
mas seu sorriso é nervoso. — Tudo certo?
— Tudo certo — eu digo, dando-lhe um empurrão.
A música começa e minhas preocupações se dissolvem. Brenna
é fiel à sua palavra, cantando suas letras com ousadia, seus quadris
girando. Ela dá um tapa na bunda e Rye uiva, rindo com tanta força
que as lágrimas escorrem pelo rosto dele.
Mas todos estão olhando para Brenna com orgulho e incentivo.
E então é a minha vez.
Eu não penso. A música me leva. Eu danço, girando, e Brenna
se junta a mim. É tão libertador; eu entendo por que esses caras
suam suas bundas noite após noite.
— Arrase, Sophie. — Jax grita, batendo palmas.
E eu arraso. Estou falando de bons sonhos e jeans largos, minha
bunda rebolando, quando ele entra.
É realmente impressionante, na verdade, que o homem possa
simplesmente entrar em uma sala e fazer tudo parar.
Quero dizer, a música de fundo continua, mas todos nós
paramos como se ele tivesse pressionado o botão de pause.
Gabriel congela também, suas sobrancelhas franzindo sobre o
nariz arrogante. Impecavelmente vestido com um terno azul,
abotoaduras de platina brilhando à luz do sol, ele é o rei de tudo o
que vê. Os caras nessa sala podem ser as maiores estrelas do rock
mundiais, mas permanecem em silêncio diante dele como crianças
teimosas que foram pegas roubando licor do bar do papai.
Como se para pontuar esse pensamento, Rye de repente aponta
para mim. — Ela nos obrigou a fazer isso!
— Nós não tocamos em nada — choraminga Killian
dramaticamente enquanto agita os braços. — A fechadura do
armário de bebidas já estava quebrada!
Isso rompe a tensão e todo mundo ri. Bem, todo mundo, exceto
eu e Gabriel.
Porque o olhar dele encontra o meu. E não consigo desviar o
olhar.
Por que ele? Por que um olhar direto desse homem tem a
capacidade de paralisar o meu corpo, minha respiração, e deixar
minha pele toda quente?
Não menti naquele dia, no avião. Ele é o homem mais
devastadoramente atraente que já conheci. Mas o que sinto quando
olho para ele, quando silenciosamente nos avaliamos, não tem nada
a ver com a sua aparência.
Sua beleza masculina não é o que faz meu coração doer como
uma ferida aberta. Não é o que faz minha barriga se encher de
borboletas e meus lábios de repente se tornarem sensíveis. E
certamente não é o que me faz querer atravessar a pequena
distância entre nós e jogar meus braços em volta dele, o abraçando.
Porque ele parece péssimo. Seu rosto está mais magro e há
sombras sob os olhos azuis. Seu olhar transmite dor, desejo,
necessidade. Eu vejo, mesmo que tenha certeza de que ele não
quer que eu veja. Eu sempre vi sua solidão.
Talvez porque ela combina com a minha.
Nós dois somos especialistas em esconder nosso verdadeiro eu
por trás de uma máscara pública. Eu faço piadas e sorrio. Ele finge
que é um robô.
A máquina de karaokê para com um clique. Ainda não consigo
desviar o olhar de Gabriel. Eu senti falta dele. Demais.
Ele não falou com ninguém, nem sequer se mexeu de sua
posição do lado da porta.
— Hora de ir. — Jax murmura e todo mundo se embaralha,
pegando instrumentos, suas coisas – Killian, pega a tequila.
Eles saem sem dizer outra palavra.
A voz de Gabriel está rouca quando ele finalmente a usa. —
Você melhorou? — Seu olhar passa para o microfone ainda na
minha mão e um flash de humor ilumina seus olhos antes que a
neutralidade volte ao lugar de sempre.
Estou suada e corada, meu coração ainda acelerado por parar
abruptamente minha dança.
— Não pareço melhor? — É uma tática barata, mas a parte
insegura de mim precisa de algum tipo de sinal. E ele ainda não saiu
do batente da porta.
Ele olha para os meus seios e para o volume dos meus quadris,
fazendo todos aqueles lugares se animarem e ficarem sensíveis
com a necessidade de serem tocados. Ele encara meus olhos de
novo.
— Muito melhor, realmente.
Porra, isso não deveria me encher de calor. Largo o microfone e
tomo um gole da minha cerveja. Está quente e sem gosto agora. —
Você deveria ter deixado eles ficarem.
— Eu não pedi para ninguém ir. — Ele diz suavemente, sua
expressão um pouco perplexa e irritada.
— Você não precisou. Você aparece e todo mundo sempre se
espalha como baratas atingidas pela luz.
Suas narinas se abrem em clara irritação. Eu ignoro.
— E por que isso? Por que você não deixa ninguém ficar aqui?
— Eu dou um passo para mais perto. — Por que você não deixa
ninguém entrar?
— Você está aqui — ele retruca calorosamente, seu olhar se
desviando, como se a visão de mim o machucasse. — Você está
dentro.
— Estou? — Meu coração bate forte agora, bombeando o
sangue pelas minhas veias com muita força. Isso me deixa agitada,
precisando de conforto.
Gabriel franze a testa para mim. — Você ainda tem que
perguntar?
Dou outro passo, ciente de como ele enrijece quando eu me
aproximo. — Você realmente estava fora à negócios?
— O que mais eu estaria fazendo?
Mais um passo. Perto o suficiente para sentir o cheiro dele. O
calor irradia de seu corpo, apesar de seu exterior frio. Ele olha para
mim por cima. Bastardo arrogante.
— Você está uma merda — digo a ele.
Gabriel bufa com isso. — Bem, obrigado, Darling. Sempre posso
contar com sua sinceridade.
— Sim, você pode. — Eu olho para ele. — Você perdeu peso. E
também está meio pálido...
— Sophie, — ele interrompe com um suspiro, — eu viajei o dia
todo. Em um maldito avião. Estou cansado e quero dormir. — Ele
inclina a cabeça, o queixo erguido em desafio. — Podemos?
Por um segundo, só consigo piscar. — Você honestamente
espera que eu durma com você agora?
Seu queixo teimoso e contundente sobe ainda mais. — Você me
prometeu todas as noites, se eu quisesse. Bem, eu quero.
— Não até você me dizer onde esteve.
— O que?
Me inclino, meu nariz quase roçando a lapela do seu terno
perfeito, e respiro fundo. Me endireito, o encarando com raiva. —
Você pode ter tomado banho, mas seu terno cheira a cigarro e
perfume.
Seus olhos estreitam em fendas brilhantes como lasers. — O
que você está implicando?
— Você estava fodendo alguém?
Pronto. Eu disse. E estou enjoada com a ideia.
— Isso não é da sua conta.
Não me importo se ele diz isso sem entonação, ainda parece um
tapa na cara.
— É da minha conta se estou dormindo com você — digo num
rompante.
Ele dá um passo para frente, invadindo meu espaço pessoal. —
Eu te disse no começo, isso não é sobre sexo.
As pontas dos meus seios roçam seu peito a cada respiração
ofegante que dou. — Você está certo. É mais do que isso. Nós
somos mais do que isso. E você sabe. — Eu cutuco seu ombro
rígido. — Então, pare de ser tão covarde e admita.
Com um grunhido real, ele me apoia contra a parede, seus
braços me prendendo. Nossos narizes batem quando ele se abaixa.
— Aqui está o que vou admitir: eu não estava “fodendo alguém”
e me irrita que sua primeira suspeita tenha sido exatamente essa.
Ele está tão perto que seu calor raivoso mescla com o meu. Não
consigo me mexer ou evitar seus olhos. E eu nem tento. — Por que
eu não deveria pensar isso quando você cheira a outras mulheres?
— Porque só existe você!
Seu grito ecoa, quebrado e desesperado. Mas é a raiva, como se
ele odiasse a verdade, que faz eu me encolher.
Mesmo assim, sua confissão paira entre nós. E não posso deixar
de colocar a mão na cintura dele. A tensão vibra através de seu
corpo. Mas ele não se afasta, apenas olha para mim, respirando
com dificuldade.
— Gabriel, você acha que é diferente pra mim?
Ele se afasta com isso, sua expressão ficando em branco.
Não deixo que isso me pare. Minha voz permanece suave. —
Por que você acha que eu implico com você e te deixo no limite?
— Porque você não consegue evitar, garota teimosa e tagarela.
— Seu olhar dispara sobre o meu rosto. — Mesmo quando deveria.
— Por que eu deveria, Gabriel? — Uso o nome dele para impedi-
lo de recuar. Sei o quanto ele gosta que eu o chame assim. Mesmo
agora quando está com raiva, suas pálpebras tremem cada vez que
digo. — Estou cansada de fingir que não te quero. Eu quero.
Ficamos nesse joguinho noite após noite. E é uma mentira do
caralho. Estou cansada de mentiras. Me diga por que você resiste.
Seus lábios se apertam. — Já te disse. Eu vou falhar, Sophie.
Cristo, olhe para mim. Fui embora quando você mais precisou.
— Você foi embora para provar isso para mim? — Eu pressiono,
lágrimas ameaçando dar as caras. — Foi por esse motivo?
Ele claramente não recebe isso muito bem. — Não. Eu precisava
de um tempo, um tempo para mim.
Ah, isso dói. Mas, no entanto, ele tem sido um homem solitário
há tanto tempo, posso culpá-lo por querer espaço para si?
A exaustão reveste seu rosto enquanto ele me olha com olhos
cautelosos. — Não posso ser o homem que você espera que eu
seja, Sophie.
O amarelo fraco de uma contusão em sua bochecha chama
minha atenção. Levanto minha mão para tocá-lo e ele dá um passo
para trás, fugindo do meu toque. — Não pode ou não vai?
— Isso importa? — Ele responde. — No final, o resultado é o
mesmo.
Eu deveria ir embora, salvar o que resta do meu orgulho. Mas
nunca fui capaz de não me envolver com esse homem. — Você vai
me dizer onde estava?
— Não.
Jesus, eu quero chutar alguma coisa. Ele, de preferência. — Por
que não?
Gabriel está completamente afastado de mim agora, se retirando
para a cozinha para pegar a chaleira e enchê-la com água. —
Porque eu não quero.
— Idiota.
— Já admiti que sou, amor.
Meus dentes cerram enquanto ele mexe em suas folhas de chá.
— Hora do chá, não é? — Digo com dificuldade. — Está com um
problema que precisa ser apaziguado?
— Sim — ele diz sem se virar. — Você.
Uma arfada de dor sai de mim antes que eu possa segurá-la.
Ele se vira ao som, e suas sobrancelhas se erguem em aparente
surpresa. — Garota tagarela?
Eu pisco rapidamente. — Você é um idiota. E isso não é algo
para se orgulhar.
Pego meus sapatos e vou para a porta.
— Sophie. — Ele tenta pegar o meu braço, mas desvio da sua
mão.
— Não — eu digo, abrindo a porta. — Eu preciso ficar longe de
você por um tempo.
Ele passa a mão pelos cabelos grossos e agarra as pontas como
se precisasse segurar alguma coisa. — Pelo menos me diga onde
você está indo, para que eu não precise me preocupar.
Uma risada amarga sai dos meus lábios. — Ah, a ironia. — Eu
olho para ele. — Adivinha, Scottie? Não vou dizer. Porque eu não
quero, porra!
Bato a porta atrás de mim e saio para a noite.
CAPÍTULO DEZENOVE

—S puxar os punhos dessa camisa com mais força, eles vão


rasgar.
Não me dou ao trabalho de virar para reconhecer Killian ao meu
lado. Isso apenas vai o encorajá-lo. E não tenho como fingir que sou
impenetrável agora. Machuquei Sophie noite passada. Estraguei a
diversão dela e depois a fiz pensar que era um problema a ser
resolvido.
Eu não percebi o quanto estava estragando as coisas até que
ela saiu enfurecida. Só queria proteger minha vida privada como
sempre fiz, erguendo um muro e atirando em qualquer um que
tentasse escalá-lo.
O método ainda funciona; ela foi embora. É como se tivessem
cortado a porra das minhas pernas e amputado dos joelhos pra
baixo. Estou preso, me arrastando no que sobrou delas, tentando
fingir que não é agonizante.
Ao nosso redor, ajudantes de palco, engenheiros de iluminação e
técnicos de som correm de um lado para o outro, se preparando
para o show. Do outro lado da enorme tela à nossa frente, a
multidão enche o estádio. Seus murmúrios e risadas criam um
zumbido constante.
— Você não deveria estar no camarim, despenteando o seu
cabelo de modo artístico? — Pergunto.
— Libby faz isso por mim de uma maneira especial — ele
responde facilmente.
Claro que sim. Cada maldita pessoa nessa turnê já ouviu os
sons que Killian e Libby emitem ao se prepararem para cada
apresentação. E ao comemorarem o fim de cada show. Não sei
como eles pensaram que estavam sendo discretos.
— Então vá encontrar sua esposa — eu digo. — Tenho certeza
de que ela está esperando por você no banheiro.
— Cara, não deixe escapar que você sabe sobre as fodas no
banheiro, ou ela nunca vai dar pra mim nele de novo.
— Seria bom você não me fornecer munição nesse momento.
Ele fica em silêncio, parado ao meu lado e assistindo a arte bem
coreografada que é o trabalho dos ajudantes de palco. Sei o que ele
está fazendo. Dando uma de babá. Killian me conhece muito bem.
Assim como sou capaz de dizer que ele está sofrendo com apenas
um olhar, ele também sabe o mesmo sobre mim. É verdade que já
faz mais de dez anos desde que ele me viu sofrendo. Pensar
naquele tempo acrescenta outra pedra à pilha que se forma no meu
estômago.
Sophie não voltou para casa ontem à noite. Casa. Não penso em
nenhum lugar como lar há tanto tempo que fico surpreso de até me
lembrar do conceito. Minhas casas são moradias em que descanso
quando não estou trabalhando. Dado que estou sempre
trabalhando, raramente passo muito tempo em qualquer uma delas.
No entanto, desde a primeira noite, Sophie colocou suas coisas ao
lado das minhas e preencheu meus espaços tranquilos e ordenados
com sua natureza efusiva, e casa se tornou onde quer que ela
esteja.
Ontem à noite, sozinho na minha cama, foi como o inferno. Não
fui capaz de diminuir meu orgulho o suficiente para perguntar a
qualquer membro da minha equipe se eles sabiam onde ela estava.
Mas foi por pouco. Eu estava tentado a implorar. Isso também me
irritou.
Eventualmente, a turnê terminará. Sophie seguirá para outros
projetos e minha vida voltará ao normal. Por que esse pensamento
faz meu peito apertar não é algo sobre o qual quero pensar.
Conhecendo Killian como conheço, não é nenhuma surpresa que
ele não fica quieto por muito tempo.
Ele sussurra impacientemente. — Sério, que cara é essa de
quem comeu e não gostou? — Pelo canto do olho posso vê-lo
sorrindo, largo e presunçoso. — Eu tinha certeza de que seu ônibus
ficaria balançando por algumas horas.
— Não seja nojento — digo num estalo, soltando meus malditos
punhos.
— Amor quente nunca é nojento. — Ele me cutuca.
— Acho que ficarei emocionalmente estarrecido pelo resto da
vida depois de ouvir você dizer “amor quente”. E cuide da sua
própria vida.
— Ah, por favor. Não é como se você estivesse escondendo
alguma coisa.
Finalmente olho para ele, e Killian mantém aquele sorriso
presunçoso no lugar.
— Você tá tão caidinho pela Sophie — diz ele alegremente. —
Tem estado desde que desceu daquele avião.
Sophie estava tão feliz, dançando como uma arma erótica e
cantando rap – a letra saindo de seus lábios em um ritmo
sincopado, sem vacilar ou ficar envergonhada. Foi inesperado e
adorável. Eu queria rir apenas pelo prazer disso. Queria puxá-la
para cima do meu ombro, levá-la para a minha cama e fazê-la
rebolar e esfregar aqueles quadris bem sobre a minha boca. Meu
pau acorda com o pensamento, e eu lembro que Killian ainda está
parado lá, olhando para mim como se nunca tivesse me visto antes.
— Por que você está sorrindo como um idiota? Você nem gosta
dela.
— Eh, — ele encolhe os ombros. — Eu estava chateado por
causa de águas passadas. Ela é legal. Só demorei um pouco para
ver isso.
Apesar do fato de que quero arrancar minha própria pele e me
jogar no meio da rua por colocar aquela mágoa no lindo rosto dela,
me sinto apaziguado com a aceitação de Killian. O fato de que isso
significa muito para mim também irrita.
— Todo mundo gosta dela — ele acrescenta, como se estivesse
tentando me tranquilizar.
— É impossível não gostar — murmuro. Um erro. Isso dá a
Killian uma abertura.
— Então... — ele pergunta com um aceno de mão. — Por que
você não está afogando o ganso com a Sophie agora? Vocês dois
estão claramente morrendo de vontade de foder como coelhos
cheios de tesão...
— Um soco bem dado, Killian. É tudo o que preciso fazer para
que você fique em silêncio pelo resto da noite.
— Calma, cara. Você é muito sensível.
Ele está amando isso. Me atirar na frente dos carros parece mais
atrativo a cada segundo.
— Só estou dizendo, — continua ele, — que nunca vi ninguém
precisando mais de uma boa e longa foda do que...
— Cale a porra da sua boca.
— Você — ele termina amplamente, se esquivando para fora do
meu alcance. — Mas é bom saber que você é o protetor da
reputação da Sophie. Significa que você se importa.
Minha mão se fecha em um punho. Killian se afasta mais alguns
metros, me dando um sorriso atrevido. — Terminei. Não vou mais
cutucar o urso. Eu estou indo agora.
— Sua temporização durante “Distractify” tem estado errada
ultimamente. Você está dois segundos atrasado no solo de abertura.
Killian ri. — Golpe baixo, cara. Mas é verdade. Não sei por que
estou dessincronizado, mas vou trabalhar nisso. — Ele faz uma
pausa, com o calcanhar pronto para dar meia volta. — Seja o que
for que tenha feito para Sophie invadir o ônibus de Brenna, diga a
ela que sente muito.
O arrependimento é como um punho no meu coração. É uma
luta respirar. Mas pelo menos eu sei onde ela está agora. Segura
com Brenna.
— Mulheres precisam que reconheçamos suas mágoas — diz
Killian, cavando a faca ainda mais.
— Você acha que eu não sei disso?
Seus olhos escuros estão subitamente solenes, e eu sei que ele
está prestes a me estripar. — Ela sentiu sua falta quando você não
estava aqui. Por mais que você esconda, Sophie vê através de você
e ainda se importa. Não estrague tudo, cara. Acredite em mim
quando eu digo isso.
Eu não aceno. Não tenho nada a dizer. Já estraguei tudo.

S
—V tirar a noite de folga. — O tom de Brenna não aceita
discussão.
Bem, não significa que não vou tentar arrumar uma. — Isso é
ridículo — digo, passando um pouco de corretivo debaixo dos meus
olhos. De jeito nenhum vou permitir que Gabriel me veja com olhos
inchados e machucados.
Não chorei por ele, mas passei boa parte da noite passada
bebendo vodka tônica e amaldiçoando seu nome enquanto Brenna
e Jules, num ato de sororidade, concordavam que os homens
podiam ir se foder. — Estou bem.
Brenna passa um batom com uma cor profunda de ameixa antes
de me entregar um tubo vermelho rosado. — Eu sei. Isso não
significa que você não pode desfrutar de uma noite de folga.
Nós olhamos para o reflexo uma da outra pelo espelho do
banheiro de Brenna, nós duas com expressões teimosas.
Jules coloca a cabeça dentro do cômodo. — Sim, leia um livro ou
assista à filmes bestas.
Filmes bestas só me fazem pensar em Gabriel e sua ameaça de
me forçar a assistir uma maratona de Star Trek. Menos de vinte e
quatro horas separados e sinto sua falta como se tivesse perdido
um membro.
— Se eu ficar aqui — digo a elas — vou enlouquecer.
Brenna prende o cabelo em um rabo de cavalo alto, sua marca
registrada. — Então vá ao show e divirta-se como uma fã.
Não me sinto bem com a ideia; fui contratada para fazer um
trabalho, não para me acovardar porque meus sentimentos foram
feridos.
Infelizmente, se eu quiser trabalhar, tenho que voltar ao ônibus e
pegar meu equipamento. Não vai rolar. Talvez eu realmente seja
uma covarde, porque preciso lamber minhas feridas um pouco mais.
— Eu não tenho nada para vestir.
Brenna é pelo menos três tamanhos menor do que eu e Jules é
dez centímetros mais baixa.
— Desculpas, desculpas — diz Jules. — Eu vou encontrar
alguma coisa para você. Espera aí.
Sua cabeça brilhante desaparece, e então ela está de volta com
uma saia verde esvoaçante lisa e uma blusa branca. — A saia bate
no meio da minha panturrilha, então provavelmente estará na altura
dos seus joelhos, mas é melhor do que roupas manchadas de
sorvete de chocolate. — Ela sorri largamente, mostrando suas
covinhas.
— Nem me lembre. — A noite passada terminou com um ataque
ao seu estoque de sorvete para emergências. Ainda me sinto um
pouco enjoada.
Coloco a saia e a blusa e franzo a testa para mim mesma. —
Parece que estou indo para a praia.
— Você parece gostosa — diz Jules, dando um tapa na minha
bunda. — Tenho que ir. Um certo homem que não deve ser
identificado acabou de mandar uma mensagem dizendo que está no
estádio e fica irritado se seus funcionários não chegam a tempo.
Ela balança a cabeça, mas não há irritação real em sua
expressão. Se não estou enganada, ela parece ansiosa para
começar a noite enquanto se apressa para a porta. Eu a invejo.
Reprimindo um suspiro, passo a mão pelo meu cabelo. Ainda
rosa pálido, ele cai em ondas na altura dos meus ombros. Uma
pequena linha de raízes loiras mais escuras aparece. Vou ter que
escolher outra cor em breve, mas no momento, estou apenas
cansada.
— Tudo bem, eu vou — digo a Brenna. — Mas estou fazendo
isso sob protestos.
Ela sorri. — Anotado. E olha, sobre Scottie...
— Não se preocupe — eu corto, não gostando da pena em seus
olhos. — Eu já superei.
— Não, você não superou. — Ela balança a cabeça, sorrindo
suavemente. — Mas está tudo bem. Ele é... bem, sim, ele pode ser
um idiota, mas é uma das melhores pessoas que eu conheço. Por
trás de todo esse amido está um marshmallow pelo qual qualquer
um de nós mataria.
Eu me debruço contra o balcão. — Sei disso. Muito bem,
infelizmente. É só a parte idiota que está atrapalhando no momento.
Como você pode se importar com alguém se a pessoa não te deixa
entrar?
O lindo rosto de Brenna se fecha e ela começa a rapidamente
colocar a maquiagem de volta na mala de viagem. — Acho que
todos nós seríamos mais felizes se soubéssemos a resposta para
essa pergunta.
— Inferno. Vamos voltar para “os homens podem ir se foder” e
deixar assim por enquanto.
Brenna ri. — Sim, exceto que parte do problema é que nós
amamos quando os homens fodem.
— Verdade.
Rindo juntas, seguimos para o local. E finjo por todo o caminho
que não estou com medo nem ansiosa para ver Gabriel novamente.
Tendo trabalhado em vários outros shows até agora, sei os
lugares que ele assombra nos bastidores e também como evitá-los.
Isso não me impede de vislumbrar seu perfil mordaz e severo de
vez em quando. E cada vez que isso acontece, meu estômago se
contrai e meu coração dá um baque irregular.
Quero observá-lo mais, mas sei que ele vai me notar se eu o
fizer. Juro que o homem tem um sexto sentido para isso. Mesmo se
escondendo nas sombras, posso dizer que ele está examinando a
área, uma carranca sombria no rosto. Procurando por mim? Ou
apenas em seu modo de trabalho habitual? É difícil dizer sem
estudá-lo por muito tempo.
E eu odeio que minha mente esteja constantemente nele. Mal
presto atenção no show enquanto me coloco atrás de uma pilha de
caixas do outro lado do palco. Encostada a uma parede de concreto,
fecho os olhos e deixo a música se derramar sobre mim, seu ritmo
pulsante vibrando em meus ossos.
Acho que não vou aguentar se Gabriel me procurar apenas para
se desculpar e esperar que tudo volte ao normal. Não posso voltar
ao que éramos.
Talvez seja porque meus olhos estão fechados e meus outros
sentidos estão mais alertas, ou talvez seja porque eu estou
sincronizada com ele, mas eu o sinto no segundo em que Gabriel
fica ao meu lado.
Não preciso olhar para saber que é ele; mesmo na umidade
abafada dos bastidores, sinto seu cheiro. E ninguém mais faz minha
pele apertar e meu batimento cardíaco acelerar só por estar perto.
Ele está tão próximo que meu ombro roça contra a manga de
seu blazer.
Mantendo os olhos fechados, engulo em seco e tento
permanecer indiferente. Meu corpo me trai, enviando pequenos
zumbidos de prazer através do meu peito e ao longo da minha pele.
Estou brava com ele, mas isso não me impede de pensar:
Finalmente você está aqui. Por que demorou tanto?
Ficamos ali ouvindo “Apathy” e nenhum de nós dois se mexe,
mesmo que a multidão esteja enlouquecendo. A música termina e
Jax e Killian começam a falar sobre uma música nova que vão tocar.
Nos bastidores, está quieto o suficiente para eu ouvir Gabriel
quando ele fala, suas palavras tensas como se estivesse se
forçando a dizê-las.
— Eu sou um homem frio. Qualquer felicidade ou calor que eu
tenha sentido morreu quando Jax tentou tirar a própria vida. Até
você aparecer. — Sua respiração irregular sopra sobre minha
bochecha. — Você é o meu calor.
Meu coração para, minha respiração ficando presa
dolorosamente.
Sua voz ganha força. — No segundo em que você está fora da
minha vista, quero você de volta onde eu possa vê-la.
Quero me virar e dizer a ele que sinto sua falta também. O
tempo todo.
Mas então ele se move. As pontas de seus dedos roçam a curva
do meu ombro e eu endureço em choque. Nós nos abraçamos noite
após noite, sem hesitação ou medo. Mas fora da cama, Gabriel
raramente faz contato físico prolongado.
E esse toque não é amigável ou passageiro. É uma exploração,
suave, mas possessiva. Meus joelhos ficam fracos, minha cabeça
caindo para a frente quando ele acaricia meu pescoço, uma
varredura lenta sobre minha pele como se saboreasse o momento.
Sua voz é baixa, mas poderosa, no meu ouvido. — Se posso vê-
la e saber que você está bem, consigo respirar um pouco melhor,
me sentir um pouco mais humano.
Eu me inclino em direção ao seu toque e ele acaricia minha
nuca, me segurando firme. Me segurando. Preciso tanto do toque
dele que dói.
— Então por que você me deixou? — Minha voz não é forte;
parece que ainda não consigo respirar.
Seus dedos se contraem. Antes que ele possa responder, outra
música começa. A música cai sobre nós e não há mais conversa. Eu
só fico lá no escuro com Gabriel.
Ele não se move por algumas batidas, mas então seus dedos
deslizam lentamente para cima, entre o meu cabelo. Não resisto
quando ele se aproxima ainda mais, me fundindo contra ele.
Com um suspiro, me inclino contra a sua lateral, minha cabeça
em seu ombro enquanto ele a massageia com movimentos
constantes.
Incapaz de me parar, descanso minha mão em seu estômago
firme. Um suspiro o atravessa e embora Gabriel não se mova,
parece que todo o seu corpo está se fundindo com o meu.
No escuro, estamos escondidos. A música pulsa ao nosso redor
– sons altos e rítmicos de angústia, raiva e desafio – mas aqui há
quietude. Fecho os olhos, o respirando. Cheira à lã fina, colônia
picante, e ao cheiro indefinível do corpo de Gabriel. Ele é a minha
droga.
Quando ele toca minha bochecha, todos os nervos ao longo da
minha pele se arrepiam, hipersensíveis. Ele é um homem de
negócios e deveria ter mãos macias, mas sua pele é um pouco
áspera e muito quente.
As pontas de seus dedos pressionam minha mandíbula
enquanto ele inclina minha cabeça para trás. Eu pego o olhar
dolorido em seu rosto, como se ele estivesse sofrendo e
arrependido, como se fosse capaz de fazer qualquer coisa para nos
acertarmos. Sua expressão muda sutilmente para uma mais
decidida.
Não consigo respirar. Porque esse olhar quer me possuir. Chega
ao meu coração e o segura.
E então ele se abaixa. Seus lábios roçam minha bochecha e
pressionam beijos leves ao longo da minha têmpora. Agarro a ponta
do seu blazer e aperto. Vou afundar até o chão se não me segurar
em algum lugar. Porque Gabriel está me tocando como se quisesse
ter feito isso o tempo todo.
Ele morde o lóbulo da minha orelha e meu corpo estremece em
resposta, pressionando contra o dele. Sua respiração quente faz
cócegas na minha pele.
— Não posso deixar você, Darling. Você está sempre aqui. —
Gentilmente, ele pega minha mão e a pousa em sua cabeça.
Com um arrepio, enfio meus dedos em seu cabelo. É grosso e
sedoso, e ele faz um som de apreciação, acariciando meu pescoço
com o nariz enquanto continua sua trilha de beijos em torno da
minha mandíbula.
— E aqui — ele me diz, movendo minha outra mão para o peito,
onde seu coração bate contra a parede sólida de músculos.
— Raio de Sol — sussurro, virando para beijar sua bochecha.
Um tremor percorre seu corpo e seu braço envolve minha
cintura. Eu o beijo novamente, encontrando sua mandíbula. Seu
aroma fresco e o sabor levemente salgado de sua pele me fazem
querer mais e mais. Mas ele está me segurando muito perto,
tremendo enquanto respira cada vez mais profundamente.
A ponta do seu polegar encontra meu lábio inferior e minha
respiração fraqueja. Por um longo momento, ele simplesmente
passa o polegar levemente sobre o meu lábio, traçando sua curva,
abrindo minha boca um pouco mais. E a cada varredura de seus
dedos fico mais quente, ouvindo o sangue correndo pelos meus
ouvidos.
Meus lábios estão inchados e secos. Sem pensar, eu os lambo,
o movimento pegando a ponta do seu polegar também.
Gabriel grunhe e sua mão se contrai. Mas ele deixa o polegar lá,
pressionando contra o meu lábio, empurrando um pouco para dentro
da minha boca como se estivesse pedindo outra lambida. Eu provo
sua pele, chupando a ponta de seu dedo.
Ele geme baixo e profundamente, seu corpo pressionando contra
mim. Seus olhos encontram os meus, e o calor lá incendeia minha
pele.
Nós olhamos um para o outro, ambos ofegantes, e então o olhar
dele cai para a minha boca.
— Sophie...
Alguém bate em nós. Gabriel me ampara, mas o feitiço foi
quebrado. Ele se vira para encarar a pessoa por cima do ombro.
— Desculpe! — Grita um cara de terno branco mal ajustado.
Gabriel se endireita, sua mão deslizando para segurar meu
cotovelo. Sinto a perda de seu corpo aquecido contra o meu.
O cara dá uma segunda olhada e se aproxima. — Scottie! Justo
o cara que eu estava procurando.
Estou começando a suspeitar que ele sabia exatamente em
quem estava esbarrando, e pela expressão sombria no rosto de
Gabriel, acho que ele desconfia também.
— Andrew — diz ele, sua voz clara sobre a música.
As luzes do palco piscam no rosto de Andrew e eu percebo que
ele é um dos executivos da gravadora. Dou um passo para trás,
sabendo que o momento acabou e Gabriel precisa conversar sobre
negócios. Mas seu aperto aumenta, e ele se vira para mim com uma
careta.
— Vá trabalhar — digo a ele.
O cenho dele se franze mais. Ele balança a cabeça, negando.
Aperto sua mão. — Eu não quero que seja aqui. — Porque se
ele me beijar agora, não vou conseguir parar - não vou querer que
ele pare.
Por um segundo, acho que ele não me deixará ir. Mas então sua
máscara volta e Gabriel me dá um aceno rígido. Começo a me
afastar, mas ele de repente me puxa de volta, curvando-se para
rosnar no meu ouvido.
— Uma hora. Venha para casa, ou eu vou te encontrar e te
trazer de volta.
CAPÍTULO VINTE

E . Minhas mãos tremem quando


entro na suíte. Ele está me esperando; sinto isso nos meus ossos.
A sala está vazia, com apenas uma lâmpada lateral acesa
iluminando as cadeiras de couro creme, a mesa de madeira lustrosa
e o sofá cinza macio. Portas francesas flanqueiam uma parede e
duas delas estão abertas, as cortinas brancas esvoaçantes
tremulando na brisa quente da noite.
O som de uma porta se abrindo vem do quarto.
— Garota tagarela? — Um segundo depois, Gabriel sai.
E minha boca se abre, um pequeno guincho escapando dela. —
Santo inferno.
Ele para no meio da sala. — O que há de errado?
Errado? Nada. Nem uma única coisa. Engulo em seco por medo
de que minha língua esteja pendurada para fora.
Ele tirou os sapatos, as meias e o cinto. O botão de sua calça
elegante está aberto, mostrando a faixa preta de sua cueca – não
sei se são cuecas boxer ou normais. Mas quero descobrir. Na
verdade, meus dedos se contraem com o desejo de puxar o zíper
para baixo e explorar.
Mas não é isso que me deixa estupefata, com calor queimando a
parte interna das minhas coxas. Não. O paletó e a gravata sumiram
e sua camisa está desabotoada e aberta.
Durante todo esse tempo, eu ainda não tinha visto Gabriel sem
camisa. Ele esconde seu corpo como um puritano vitoriano, nunca
me deixando ver nada além dele completamente vestido e elegante.
Agora sei o porquê. Se ele tivesse me deixado ter um vislumbre eu
poderia nunca ter sido capaz de formar um pensamento coerente ao
seu redor.
O peito deste homem é uma obra de arte. É a soma de todas as
fantasias que já tive sobre o corpo de um homem trazidas à vida.
Nem sei como isso é possível, mas não vou reclamar. Deus, ele
parece tentador. Pele bronzeada, pequenos mamilos amarronzados
e um punhado de pelos escuros no peito sobre os mais
incrivelmente firmes...
— Você está encarando. — Seu tom é seco.
— Sim, eu estou. — Eu arrasto meus olhos para cima e encontro
sua expressão perplexa.
Uma sobrancelha grossa se arqueia. Tento imitar e falho
miseravelmente quando minhas duas sobrancelhas se erguem
como uma só. Seus lábios se contraem em diversão.
Ele muda o peso de uma perna para a outra, fazendo com que
seu abdômen se contraia. Bom Deus. Gabriel não é um rato de
academia super desenvolvido, seu físico é sólido e forte, um
equilíbrio perfeito entre musculatura definida e homem saudável...
— Você ainda está encarando, Sophie.
— Você acha que é fácil desviar o olhar de todo esse esplendor?
— Pergunto ao seu umbigo, lambendo os lábios quando ele solta
uma risada e um pouco mais de seu abdômen inferior é revelado,
inclinando-se para a protuberância grossa de seu pau, que
lamentavelmente está escondido atrás de suas calças.
— Você é impossível — ele murmura, embora haja humor em
sua voz. Ele caminha mais para dentro da sala e praticamente me
mata quando se senta em uma das poltronas baixas. Aquele corpo
esparramado em exibição, aquelas coxas grossas e compridas
tonificadas como se estivessem prontas para me segurar no colo
dele - é demais.
Eu quero montá-lo e lamber uma trilha da cavidade da sua
garganta até a ponta do seu pau.
Ele me olha como se soubesse o que estou pensando, e o ar fica
denso. Tantas coisas que não foram ditas. Estou me lembrando dos
lábios dele agora, surpreendentemente macios, mas fortes e com
propósito.
Pela maneira como suas pálpebras caem, me pergunto se ele
está se lembrando dos beijos também. Mas ele não se move. A
tensão desliza sobre seu corpo e serpenteia pela sala. Sinto ela na
garganta e na espinha. Estamos nos fechando novamente,
recuando.
Lentamente, tiro meus sapatos e coloco meu equipamento no
chão, sem nunca quebrar nosso contato visual. — Eu estava sendo
totalmente honesta — digo a ele. — Vejo você assim e quero olhar
para sempre.
Ele bufa, balançando a cabeça, enquanto descansa a têmpora
nos nós dos dedos. — O que você quer dizer com “assim”?
— Despido.
Ele fica tenso. O que faz coisas incríveis naquele peito. Eu me
concentro em seu rosto, principalmente para manter alguma
aparência de decoro.
— Você acha que isso sou eu despido? — Ele pergunta
calmamente.
— É um começo. — Pego o estojo da minha câmera. — Você vai
me deixar te fotografar?
A câmera entre nós nos dará segurança. Uma maneira de nos
escondermos até estarmos confortáveis um com o outro novamente.
— Você está falando sério?
— Você parece surpreso. — Segurando minha câmera, sento no
sofá à sua frente. — Não me diga que ninguém nunca pediu para
tirar uma foto sua antes.
— Já pediram. Mas eu nunca entendi qual era o ponto. — Ele
encolhe os ombros. — Eu não sou o foco.
Você é o meu foco. Sempre foi.
— É só para mim — digo em vez disso. — Ninguém mais.
Seu olhar astuto me prende. — Por que você quer isso?
Para que eu possa ter um pouco de você para sempre. — As
imagens capturam momentos no tempo. Eu quero este aqui, quando
você finalmente me deixa ver um pedaço do homem por trás das
roupas.
Suas narinas se abrem em uma inspiração profunda, e ele
lentamente expira. Quando fala, sua voz é rouca. — Tire as fotos.
E é isso que eu faço, testando os ângulos. O brilho quente da luz
da lâmpada destaca os planos e cavidades do seu corpo. Ele fica
parado, um rei descansando em seu trono, me concedendo esse
pequeno capricho.
Ele não está confortável; seus músculos tremem a cada clique
da máquina. Mas ele também não me para, apenas observa
enquanto trabalho.
É muito fácil tirar fotos dele. A câmera o ama. Mas mais do que
isso, tenho uma desculpa válida para olhá-lo, para a satisfação do
meu coração.
— Eu me sinto como um parvo — ele resmunga.
— Um o quê?
Cor toma conta de suas bochechas. — Um sacana. Um idiota.
Um farsante. Escolha qualquer um desses.
Eu tenho que rir. — Tão sensível.
— Porque não é você do outro lado dessa coisa. — Ele gesticula
em direção à câmera com o queixo.
— Não vou me desculpar — digo. — Você é lindo, Gabriel.
Sua expressão se fecha. — É apenas uma fachada. Nada do
que eu sou por dentro.
Meus dedos apertam as bordas lisas da câmera. — Você acha
que eu não te vejo?
Ele simplesmente me encara, seus olhos azuis surpreendentes e
intensos sob o movimento escuro de suas sobrancelhas. Nunca vi
tanto poder no rosto de um homem; puro esforço e determinação
forjam as linhas e curvas de seus traços.
Eu levanto minha câmera, capturando a imagem enquanto falo.
— Seu nariz é grande e um pouco torto.
Ele se encolhe visivelmente, e eu sei que atingi um ponto
sensível. Não paro, no entanto.
— Há um inchaço na ponte, e ele se inclina levemente para o
lado. Sempre me perguntei se você o quebrou em algum momento.
— Eu tiro outra foto, observando como as sobrancelhas dele se
erguem em surpresa.
— Eu tinha quinze anos — diz ele. — Três meninos me
encurralaram no caminho de volta para o meu quarto.
Meu coração bate com força. — Garoto teimoso. Você leva golpe
após golpe, mas nunca recua. Aposto que nunca deixou esses
garotos quebrarem você.
— Eu me recusei a ajoelhar — ele sussurra. — Foi aí que eles
quebraram meu nariz.
Eu tiro outra foto, meu foco em seus olhos. Aqueles olhos
gloriosos que podem parecer gelo glacial ou o mar do Caribe,
dependendo do seu humor. Eles queimam como chamas azuis
agora.
— Eles também te deram essa pequena cicatriz que corta sua
sobrancelha esquerda?
— Não. Essa foi o meu pai. — Ele olha em meus olhos, como se
me desafiasse a sentir pena dele.
Não sinto pena. Mas sofro por ele.
— Você tem duas linhas permanentes entre as sobrancelhas —
digo, continuando. — Você franze a testa quando olha para o
telefone, assiste TV ou ouve outras pessoas conversando. Isso faz
você parecer severo e vagamente irritado, mas é porque você
coloca toda a sua concentração em tudo o que faz.
Sua respiração fica agitada, a extensão larga e musculosa do
peito subindo e descendo.
— Seu corpo. — Um nó sobe pela minha garganta e minha boca
fica seca.
O silêncio cai.
— Meu corpo? — Ele pergunta, baixo e firmemente. Gabriel está
reclinado em seu assento, espalhado como um maldito banquete,
mas a tensão percorre seus músculos, fazendo-os saltar.
— É perfeito. Uma obra de arte. — Lambível. Minha respiração
estremece, e eu levanto minha câmera de volta ao meu rosto e tiro
uma foto de seu torso - seu abdômen definido, peitoral saltado,
mamilos pequenos. Totalmente lambível. — Você trabalha duro para
manter esse corpo, e tenho certeza que alguns pensam que é
devido à vaidade.
— E não é? — Sua voz ficou áspera, agitada e grossa.
— Não. Você usa seu corpo como uma arma, uma concha
perfeita para que ninguém se incomode em olhar muito de perto
para o verdadeiro você.
Ele se remexe na cadeira como se estivesse lutando contra o
desejo de fugir. Eu pressiono ainda mais.
— E você faz isso para ser forte. Porque você odeia fraqueza.
Seu fôlego o deixa num suspiro e ele se afunda na cadeira. —
Sim — ele responde asperamente. — Exceto que acredito que você
é minha maior fraqueza agora, garota tagarela.
Minha câmera se abaixa e eu o encaro, sem vontade de
esconder minha mágoa. — Você me odeia?
Ele pisca como se estivesse tentando sair de uma névoa. A cor
tinge suas bochechas e sua respiração acelera mais uma vez. — Eu
acho, — diz ele, — que adorar seria uma melhor palavra.
Ah. Inferno.
Aqueles olhos intensos se fixam em mim, desnudando sua alma.
Cheios de dor e necessidade. — Você é minha maior fraqueza,
porque não tenho defesa quando se trata de você.
O calor corre através de mim. Eu pisco rapidamente, meus lábios
tremendo, presos entre querer sorrir largamente e ter a estranha
vontade de chorar. Ele me expôs totalmente. E sei exatamente
como ele se sente, porque de repente também quero me esconder
disso.
Sexo é uma coisa; o que está diante de nós é algo mais. Pensei
nele como meu amigo, um homem com quem eu queria dormir.
Mas, se eu me permitir, perderei completamente o meu coração
para ele, um homem que se recusa a ficar comprometido com
alguém.
Me forço a levantar a câmera e focalizá-la nele, tornando minha
voz suave. Eu provavelmente falho, pois minhas mãos estão
tremendo e minha voz está muito ofegante. — E ainda assim você
não quer me foder.
Deveria ser uma provocação. Nós dois sabemos que não é. E eu
estou me xingando por ter falado, porque sei que ele vai rebater isso
de volta para mim. Sinto isso no ar e meu coração começa a palpitar
mais forte.
E então, Gabriel sorri. É o sorriso de um predador: uma lenta
inclinação dos lábios, seus olhos se estreitando para mim. Um
estrondo profundo soa em seu peito. — Você acredita mesmo nisso,
não é? Devo lhe contar todas as formas como quero te foder, garota
tagarela?
Faço um som incoerente, meu interior rodopiando de modo
descontrolado. — Me conte.
— Você fala de cicatrizes — diz ele. — Você também tem uma.
No lado direito do seu lábio superior.
— Uma brincadeira de Indiana Jones que deu errado quando eu
tinha seis anos.
Seus olhos enrugam, mas ele não sorri. Sua expressão beira a
dor. — Eu quero sugar essa pequena marca desde o momento em
que a notei no avião. Toda vez que você fala, quero passar minha
língua nesse lábio, provar sua boca macia.
Respiro fundo, deixando a câmera de lado.
— Isso me deixa distraído, — diz ele, — querendo caçar você a
qualquer hora do dia. Só para ouvir sua voz e ver esses lábios se
movendo.
Não posso falar agora, porque meus lábios estão abertos,
corados e o desejando.
Ele não parece se importar com o meu silêncio. Seu olhar se
move sobre mim como uma mão quente. — As noites são as mais
difíceis. Mas suspeito que você saiba disso.
— Sim. — É um gemido estrangulado.
— Eu deito lá, segurando você, dizendo a mim mesmo que não
vou te rolar de costas. Que não posso empurrar para cima aquelas
suas camisas finas que me provocam, e finalmente descobrir se
seus mamilos são de um rosa pálido ou marrons avermelhados.
Ele respira fundo e seu abdômen se contrai, atraindo meus olhos
para a ascensão espessa de seu pau, ficando visivelmente mais
duro enquanto ele fala.
— Há momentos em que eu me torturo pensando nesses peitos
fantásticos. Em como eu os lamberia como se fossem sorvete,
provando todas as suas curvas deliciosas. Lentas, longas lambidas.
— Suas pálpebras caem quando ele olha para os meus seios e
meus mamilos endurecem dolorosamente. — Qual seria o gosto
deles? Você gostaria que eu chupasse esses mamilos com força?
Ou os lambesse tão suavemente que você mal sentiria e precisaria
implorar por mais?
Deus. Estou me contorcendo agora, com tudo deliciosamente
apertado.
Ele faz um zumbido baixo no fundo da garganta, parecendo
gostar do show. — Algumas noites, é tão difícil que não quero me
preocupar com as preliminares. Quero levantar sua perna, abrir
espaço para mim entre suas coxas e meter como um bastardo
egoísta e ganancioso. Quero te foder até sua doce boceta ficar
úmida, até sentir você ficando escorregadia ao meu redor.
Sua voz áspera é tão descontente que solto uma risada sem
fôlego - porque minha cabeça está girando, minha pele tão quente
que sinto que vou desmaiar. — Você acha que eu iria me opor?
Seus olhos se estreitam, calorosos. — Você quer que eu use seu
corpo para o meu prazer?
Caralho, sim. — Tão forte quanto você puder.
Um arrepio percorre o seu corpo e ele enfia os dedos nos braços
da cadeira, como se estivesse se segurando.
Não posso permitir isso. Eu me inclino ainda mais no sofá,
abrindo minhas pernas um pouco. O ar parece frio contra a minha
pele aquecida.
Seu olhar vai imediatamente para o espaço escuro embaixo da
minha saia e minhas coxas apertam em resposta.
— Mas você não teria que me foder até eu ficar molhada —
sussurro, meu coração trovejando. — Sempre que estou na cama
com você, fico molhada.
Ele solta um grunhido baixo e estrangulado.
— Molhada pra caralho, Gabriel. Todas as noite. A noite inteira.
Quando sua cabeça se recosta no encosto da cadeira e seu
olhar fica solene, dou-lhe um sorriso fraco. — Por que você acha
que estou lavando tantas calcinhas?
O olhar que ele me dá é quase sonolento, mas vejo o brilho
calculado em seus olhos. — Elas estão molhadas agora?
— Elas estão molhados desde que você passou por aquela
porta.
Suas narinas se abrem como se ele pudesse captar o meu
cheiro de lá. — Me mostra.
Meu clitóris incha, pressionando com força o tecido da minha
calcinha. Estou tão excitada que meu estômago treme. Abro minhas
pernas para ele, o tecido macio da saia deslizando pela minha pele.
Com as mãos trêmulas, puxo a saia para cima, me mostrando
totalmente para seu olhar.
A cor inunda o alto de suas bochechas e seus lábios se abrem.
Eu imagino a visão, minha calcinha branca escurecida por um fluxo
de necessidade contornando a forma do meu sexo inchado e então
eu choramingo, erguendo os quadris.
— Mais — ele pede, rouco. — Me dê uma visão da doçura que
eu tenho desejado.
Ah, merda. Não consigo respirar. Minha mão treme quando
coloco um dedo na minha calcinha e quase timidamente a afasto.
Eu me sinto tão atrevida - uma garota safada permitindo um
vislumbre ilícito - que minha pele fica febril.
Ele geme baixo e dolorosamente, seu corpo tenso na cadeira.
Seu olhar permanece preso na minha carne exposta enquanto sua
mão desliza sobre seu abdômen duro e se fecha sobre a imensa
ereção pressionando contra suas calças. Ele se dá um aperto
impaciente.
— Linda — diz ele, se apertando mais.
— Tire isso — digo a ele, tremendo. — Eu quero ver você
também.
Ele não hesita, apenas abre o zíper e empurra as calças e a
cueca para baixo, nas coxas. Seu pau se solta, subindo para beijar
seu umbigo.
O pau do Gabriel. Por um segundo, não acredito que estou
realmente olhando para ele. Meu olhar desliza sobre a curva tenra
de suas bolas pesadas até a área carnuda de seu pau, tão duro que
pulsa visivelmente. Como se isso o machucasse, ele acaricia seu
longo comprimento. Só uma vez.
Engulo em seco. — Eu quero fazer isso.
Ele se acaricia novamente com um deslize preguiçoso. Uma
provocação. — Se você vai chegar perto desse pau, vai ser com ele
te fodendo.
Eu quero tanto isso. Quase posso senti-lo entre as minhas
pernas, empurrando quente, grosso e forte. De algum modo eu
encontro minha voz.
— Você precisa saber, eu não posso ser um caso. Não com
você. Se você me quer, tem que estar totalmente dentro.
Suas sobrancelhas franzem e, quando ele fala, sua voz é rouca.
— Vivi minha vida inteira negando a mim mesmo o que realmente
quero. E, no entanto, não posso me afastar de você. Ainda não
percebeu? Eu sou seu. Sempre serei seu, quer eu te toque ou não.
Algo dentro de mim se rompe. Cansei de esperar. Em um transe,
levanto do meu lugar. Minha saia se esvoaça ao redor das minhas
pernas e minha pele está tão sensível agora que o tecido faz
cócegas.
Gabriel me observa ir até ele. A cada passo lento que dou, sua
respiração fica mais pesada, como se ele estivesse lutando para
respirar ar o suficiente.
Subo em seu colo e esse primeiro ponto de contato - minhas
coxas nuas deslizando sobre as dele - me faz choramingar. Deus,
eu amo a sensação dele contra mim. Sua pele é quente, um brilho
de suor cobre seu peito e seu corpo palpita de tensão. O
comprimento de seu pau é pesado e grosso entre nós, pressionando
contra minha barriga trêmula.
Ele solta um grunhido e sua mão grande desce sobre minha
bunda, a apertando – como se ele não pudesse se conter – antes de
me puxar para mais perto. Meus seios se pressionam contra seu
peito duro. Sua outra mão agarra meu cabelo, me segurando
exatamente onde ele quer.
Nossas respirações se misturam quando olhamos um para o
outro. Gabriel estuda minha boca, um tremor passando por ele.
Quando seus olhos encaram os meus novamente, eles estão cheios
de calor.
— Eu não estava preparado para precisar tanto de você. Não sei
mais quem sou se você não estiver comigo.
Ele treme de novo, segurando-se com rigidez.
— Eu também preciso de você — eu sussurro, acariciando seu
ombro. — Tanto que dói. Acabe com a dor, Gabriel.
— Sophie. — Seu aperto no meu cabelo fica mais forte. Mas
quando seus lábios tocam os meus, eles são macios, dando uma
pincelada suave. Espero por esse toque há tanto tempo que ele
mexe comigo, fazendo meu pulso disparar. Minha barriga aperta
docemente, a respiração me escapando.
E ele suspira, como se também estivesse esperando por isso.
Meus olhos se fecham e eu me permito senti-lo, sentir o jeito como
ele me explora lentamente – o toque do seu nariz no meu lábio
inferior, a lenta e delicada chupada no meu lábio de cima.
Estamos pressionados, seu pau pulsando entre nós, nossos
corações batendo tão forte que posso sentir a resposta dele contra o
meu peito. E, no entanto, ele me beija como se estivesse
memorizando esse momento, nossos lábios se fundindo e depois se
afastando.
Minha cabeça gira, meu corpo fica pesado. Eu o beijo com mais
intensidade, precisando, necessitando. A sensação dele contra mim
é tão boa; toda vez que o toco meu interior relaxa com alívio e
depois aperta com um desejo ganancioso.
A poltrona embaixo de nós range. A outra mão de Gabriel desliza
pelas minhas costas para se enrolar nos meus cabelos. Seu beijo
fica mais faminto, mais profundo, mais úmido. Ele geme e depois
não é tão gentil ou educado.
Qualquer amarra que ele tenha imposto a si mesmo arrebenta.
Ele se inclina para me devorar com uma intensidade quente que faz
minha cabeça girar.
Os sons que ele faz, como se estivesse faminto e morrendo por
isso. Não tem fim, nem começo; há apenas nossas bocas se
encontrando, bagunçadas e descoordenadas.
Estou choramingando e impaciente, carente e lasciva. Sua boca
se move para minha mandíbula e para baixo do meu pescoço, onde
ele encontra um ponto que faz meus dedos dos pés se enrolarem.
Mãos ásperas agarram minha bunda e me puxam para mais perto.
A ponta grossa e redonda do seu pênis se encaixa contra o meu
sexo e empurra, impedida apenas pela minha calcinha. Mas ele está
em mim, aquela cabeça larga pulsando e esticando minha abertura.
Fica lá, ponderada, incapaz de conseguir mais, porém não querendo
sair.
Seus dentes roçam meu ombro nu, as mãos passando por baixo
da minha camisa para acariciar minhas laterais. — Tire.
Ele puxa minha camisa por cima da cabeça e a atira para o outro
lado da sala. Gabriel não se incomoda em remover meu sutiã, e
com um grunhido simplesmente o empurra para baixo. Meu peito
fica livre e sua boca quente está no meu mamilo, chupando com
puxões gananciosos.
— Ah, porra. — Eu agarro seu cabelo e balanço meus quadris
contra seu pau. Consigo empurrá-lo um pouco mais perto,
pressionando contra a minha calcinha. Eu preciso dele. Eu preciso
dele em mim.
Apertando minha bunda, ele dá um forte impulso como se
também estivesse impaciente. E então o mundo se inclina quando
ele levanta, me carregando. Minhas costas encontram a parede fria
e sua boca está no meu pescoço.
Estou presa lá, segurada pelos quadris dele contra os meus.
Com um som impaciente, ele agarra a lateral da minha calcinha. O
elástico se estica e depois rompe. Dou outro suspiro e ele está
arrancando o tecido rasgado do caminho.
Ele não espera, não pergunta. Estou tão molhada que a ponta
dele desliza para dentro de primeira. Mas ele é um homem grande,
grosso e carnudo. A deliciosa circunferência dele me estica,
possuindo cada centímetro que toma. E ele tem que se esforçar
para isso, empurrando e empurrando, usando a parede como apoio.
Sem fôlego, eu abro minhas coxas para dar mais espaço para ele.
E cada vez que empurra, um grunhido vem das profundezas de
seu peito, seus quadris encontrando os meus com sons estalidos.
Ele está me fodendo pra caralho, e eu amo, amo isso.
Estou gozando antes que possa sequer pensar, e não é como
nada que eu já tenha sentido, essa espiral insana que continua
subindo e subindo. Esse prazer é tão forte que quase dói. Eu só
posso me empurrar contra ele, fodendo a mim mesma contra seu
pau enquanto choramingo com necessidade desamparada.
E quanto mais faço isso, com mais força ele mete em mim, como
se estivesse se alimentando do meu desespero. As paredes tremem
com a força de nossos movimentos. Um porta retrato cai
acidentalmente.
Gabriel tensiona contra mim, seu pau indo tão fundo que o sinto
da minha garganta até os dedos dos pés. Ele geme alto e treme
quando chega ao ápice. Calor me enche e eu tombo, caindo contra
a parede, minha respiração resumida em puxadas de ar
desconexas.
Respirando pesadamente, ele se inclina contra mim, sua boca
aberta enquanto arfa no meu ombro. Olho para o teto e passo uma
mão trêmula pelo meu cabelo úmido. Meu coração está batendo
como um tambor.
Suados e trêmulos, continuamos onde estamos. Quando ele se
move, o movimento envia uma pontada ao meu sexo dolorido.
— Sem camisinha — ele fala com a voz rouca. — Eu nem
lembrei.
Sinto a evidência escorrendo pela minha bunda. Uma risada
estrangulada me escapa. — Eu acho que é uma coisa boa o fato de
ambos estarmos limpos e de eu usar anticoncepcionais.
Seus dedos flexionam, apertando minhas coxas como se ele não
pudesse se conter. — Você não está chateada?
— Não vale a pena chorar pelo leite derramado — eu digo, ainda
em transe. — Ou qualquer coisa assim.
Ele ergue a cabeça e nossos olhos se encontram. Uma estranha
timidez floresce em mim. Santo inferno, eu nunca fiz sexo assim,
como se minha vida dependesse de montar em um pau. Sexo que
me deixou tão irracional com a luxúria que esqueci a proteção
básica. Porra, esqueci até do meu nome, se for pra ser sincera. O
calor em seu olhar me diz que ele sabe disso.
Eu o sinto lá, dentro de mim, ainda pulsando. Eu dou uma
pequena rebolada e ele se contrai, aquele pau longo dele ficando
mais duro.
— Mais ninguém — diz ele, sua voz rouca.
Ele não diz se é para mim ou para ele. Não importa. Está claro
que agora somos apenas nós.
Ainda assim, lambo meus lábios inchados e respondo. — Só
você.
CAPÍTULO VINTE E UM

D . Minha armadura polida. Minha resistência teimosa.


Meu coração endurecido. Ela quebrou os dois primeiros e
reivindicou totalmente o terceiro. E não sinto vontade de fugir.
Na verdade, eu mal posso me mover. Horas de sexo, descanso,
olhar nos olhos um do outro e, em seguida, sexo de novo como se
fossemos viciados vorazes que fodem como se o mundo estivesse
prestes a acabar, cobraram seu preço.
Estou saciado e suado e emaranhado no corpo curvilíneo de
Sophie e nos lençóis que já caíram da cama há muito tempo. Ela
tem a cabeça repousada na dobra do meu ombro, onde ela
pertence, e eu brinco com os fios rosa pálido de seus cabelos
úmidos.
Eu poderia tê-la perdido essa noite, e então ter aberto mão
dessa perfeição por ser um idiota. A gratidão cresce no meu peito e
entope minha garganta. Sophie Darling não me abandonou. Ela me
deu uma chance.
— Obrigado por voltar para casa — digo a ela, incapaz de
segurar as palavras.
Casa. Ela percebe quantas vezes eu me referi a qualquer local
onde dormimos como minha casa? Eu não pretendia me trair dessa
maneira, mas não consigo parar. Quero que ela saiba o que significa
para mim, e ainda assim a sensação de expor meu coração é tão
estranha que acho difícil respirar enquanto ela me olha.
Mas sua expressão fica suave, seus olhos castanhos brilhando.
O alívio é como um líquido gelado se derramando ao longo dos
meus músculos tensos quando ela estica a mão para empurrar meu
cabelo para fora da testa.
— Você veio para casa primeiro.
Eu não tinha um lar até que ela entrou na minha vida. Ela me
deu um sem hesitar, como se estivesse me esperando o tempo
todo, sabendo que eu deveria ser dela. Toco sua bochecha apenas
para me lembrar de que ela é real.
Sua voz é um fio de luz no escuro. — Você tem hematomas
desbotados pela lateral das suas costelas e por todo o seu rosto.
Não me mexo. Eu sabia que não estava totalmente curado, mas
fiquei longe o máximo que pude.
— Eles estão fracos — diz ela lentamente, como se estivesse
medindo suas palavras. — Mas eu vi quando estávamos no
chuveiro.
Onde estava claro demais para esconder qualquer coisa.
Sua mão passa suavemente na minha lateral. Não dói mais, mas
o toque gera pequenas oscilações na minha pele.
— Você vai me dizer onde estava? — Ela não exige, o que piora
tudo.
Minha voz soa enferrujada quando finalmente falo. — Lutando.
— Lutando? — Ela se levanta sobre um cotovelo. — Com quem?
Onde? E, que porra é essa…? Por quê?
O horror em seus olhos me faz sentir insignificante. — Eu cresci
lutando. Quando era mais jovem, eu fazia isso por dinheiro, e
porque isso soltava algo em mim que precisava ser libertado.
Seu olhar dispara sobre o meu rosto. — E você precisava dessa
libertação novamente?
— Sim.
— Por minha causa.
Eu não posso mentir para ela. Nunca mais. — Sim.
Ela respira fundo e eu agarro sua nuca, com medo que ela vá
embora. — Porque eu fui um idiota, Sophie, que não podia voltar
para o quarto de hotel naquela noite sem quebrar. E eu não podia
me permitir dizer a verdade.
Ela não se afasta, mas sua voz suaviza. — Qual verdade?
As palavras saem. — Que eu queria tanto você que doía. Que eu
precisava de você mais do que tudo.
Um suspiro escapa e ela descansa a testa contra a minha. —
Gabriel, eu também precisava de você. Não é fraqueza admitir isso.
Silenciosamente, eu concordo com a cabeça.
Sophie acaricia minhas costelas, onde os hematomas estão
desaparecendo. — Por favor, não faça isso de novo. Não suporto o
pensamento de você se machucar.
— Ajuda saber que eu ganhei? — Estou apenas brincando,
odeio a tristeza que coloco nos olhos dela e quero que isso acabe.
— Não. — O sorriso dela é trêmulo e breve. — Sim, um pouco.
— A ponta do seu polegar desliza ao longo da minha bochecha,
onde fui atingido. — Promete, Raio de Sol? Que ao invés de lutar,
você virá até mim quando precisar.
— Darling, estar com você ultrapassa com folga qualquer breve
libertação que eu consiga quando luto. — Foi uma tirada péssima,
mas é isso que ela fez comigo; me tornei um idiota rendido e
tagarela.
Ela não parece importar; sua expressão fica suave, satisfeita. —
Tudo bem, então.
— Tudo bem — eu sussurro em acordo, liberto por sua simples
aceitação.
Ela me puxa para mais perto e me beija, pressões leves de seus
lábios contra os meus que são como dardos doces que disparam
direto para o meu coração e o fazem vibrar.
Se eu olhasse para mim mesmo de fora, não reconheceria esse
homem que assume que seu coração está acelerado, que sorri
contra a boca de Sophie enquanto ela continua o beijando. Mas eu
gosto. Eu amo isso.
— Mais — ela exige, chupando meu lábio inferior. — Me beija
mais.
Eu rio, um sopro de som que ela captura com a boca. — É você
quem está me beijando — eu indico.
— Porque você é delicioso. — Ela mergulha a língua entre os
meus lábios, um deslize lento, uma provada preguiçosa. — Eu amo
sua boca.
Inclino minha cabeça, a beijando de volta. — Eu amo a sua mais.
— Hmm. — Ela derrete em mim, toma o meu ar e o devolve para
mim. — Me dê outro.
Eu vou mais fundo, minha mente ficando nebulosa, minha boca
sensível a cada toque.
— De novo — diz ela, sorrindo, beijando.
Minha mão segura sua bochecha suada. — Minha garota
gananciosa e tagarela.
Com um grunhido adorável, ela me empurra de costas, tomando
a minha boca como se estivesse provando chocolate pela primeira
vez. E eu rio, um fôlego baixo contra seus lábios, meu coração
ainda acelerado. Não ficaria surpreso se houvesse corações de
desenho animado em meus olhos, e não me importo.
Nós vagamos, contentes em simplesmente beijar e tocar como
se estivéssemos nos assegurando de que isso tudo é real. O prazer
deixa meu corpo pesado e quente, meus movimentos lentos.
— Você é muito bom em pedir desculpas — diz ela depois de um
tempo.
Nós estamos nariz contra nariz, nossos membros tão
entrelaçados que sinto como se ela fosse uma parte de mim.
— Muito bom? — Meu polegar desliza ao longo da linha elegante
de sua clavícula. — Eu sou extremamente bom em muitas coisas.
— Excelente, até — ela concorda, beijando a ponte do meu
nariz. — Agora me satisfaça.
Com um sorriso maligno, deslizo minha mão pela curva de sua
coxa e agarro a dobra do joelho dela, levando-o ao meu quadril.
Exposta, ela está brilhando com sua umidade rosada. Meu pau
pulsa em aprovação.
— Como quiser — eu digo, me guiando para sua fenda quente,
molhada e viciante, empurrando profundamente.
Ela suspira e geme, o som tão erótico que meto mais forte do
que o planejado. Mas ela apenas sorri. — Cita A Princesa Prometida
e ainda tem um pau grande e duro. Ganhei na loteria.
Eu sei que sou o verdadeiro vencedor, mas isso não me impede
de entrelaçar suas mãos nas minhas e levantá-las sobre sua
cabeça, para que seus lindos seios se empinem.
— Cale-se agora e abra essas coxas adoráveis como a garota
boa e tagarela que você é. Eu tenho um trabalho a fazer aqui.
S a se afastar enquanto pegamos o elevador até o
saguão de manhã. Eu a puxo de volta para o lugar onde ela
pertence, e envolvo um braço em volta da sua cintura para mantê-la
lá.
Um rubor suave colore suas bochechas enquanto ela sorri para
mim. — Eu não imaginaria que você fosse do tipo grudento.
A essa altura, já tive minhas mãos em cada centímetro dela -
uma experiência que pretendo repetir. Frequentemente. Esfrego a
curva deliciosa do seu quadril, só porque posso.
— Eu não sou. Essa é uma condição exclusiva para Sophie
Darling. Isso te incomoda?
Não sei o que farei se ela não gostar. Provavelmente viverei com
minhas mãos permanentemente enfiadas nos bolsos para não tocá-
la. Mas ela simplesmente sorri largamente e descansa a cabeça no
meu ombro, sua mão alisando o meu peito. É tão bom que me vejo
inclinando-me para o seu toque.
— Acho que ontem à noite deixou claro como eu amo você me
tocando — diz ela.
Ontem à noite. O calor lambe minha pele e se instala no meu
pau. Nós fodemos até estarmos tremendo e sem fôlego. Eu a beijei
até não sentir meus próprios lábios. E ainda a beijei um pouco mais.
Eu quero mais, agora. Mas não tenho certeza se posso aguentar.
O espancamento que meu corpo levou na luta mais a insônia
quando eu temia ter perdido minha chance com Sophie e mais a
falta de sono quando finalmente a tive está me alcançando.
Estou tonto, um pouco zonzo – eufórico e simplesmente exausto.
Eu não mudaria nada, no entanto. Não quando o resultado final foi
Sophie bem e sendo verdadeiramente minha.
O elevador chega ao saguão e saímos. Do outro lado do hall, os
caras estão reunidos, tomando café no saguão. Eles chamam
bastante atenção, mas não parecem se importar.
Ao meu lado, os passos de Sophie são lentos.
Eu diminuo o passo também. — O que foi?
Ela morde o canto do lábio. — Como você quer fazer isso?
— Isso? — Eu pergunto inexpressivamente.
Ela olha para os caras. — Acho que você não é muito fã de
demonstrações públicas de afeto. Se preferir, podemos guardar as
coisas para nós mesmos...
Invado o espaço dela, seguro suas bochechas e a beijo. Se eu
me importo com exibições públicas? Não. Posso manter minhas
mãos e minha boca longe de Sophie? De jeito nenhum.
Quando seus lábios se rendem aos meus, o mundo desaparece.
Eu gemo, inclino minha cabeça e aprofundo o beijo, provando a
boca dela e o gosto da sua língua na minha.
Eu a beijo até ficar sem ar. E mesmo assim é difícil parar.
Ela solta um suspiro feliz, seus lábios voltando aos meus de
novo e de novo.
Atrás de nós, alguém dá um uivo. Pelo som, acho que é Rye. Ele
que se foda.
Termino o beijo com uma última mordida em seu lábio inferior. —
Considere-nos desmascarados — eu sussurro contra sua boca.
Ela sorri, seus olhos castanhos atordoados. — Uau, você
realmente vai com tudo.
— Por você? Com certeza.
Ela sorri. — Desde que você esteja bem, eu estou bem também.
Estou tonto de novo, suando um pouco. Preciso de um bule forte
de chá e um bom café da manhã. Mas as necessidades de Sophie
vêm primeiro. Dou-lhe um beijo tranquilizador no nariz. — Não se
preocupe, garota tagarela. Está tudo bem agora.
Eu dou dois passos. E o mundo fica preto.
CAPÍTULO VINTE E DOIS

—E , — anuncia Gabriel. — Tire essa


intravenosa do meu braço.
Gabriel Scott: o pior paciente de todos os tempos. Eu deveria ter
esperado por isso.
Brenna aparentemente pensa o mesmo. — Cale a boca e tome
seu remédio, Colossus.
Ele estreita os olhos em aviso. — Colossus?
Brenna dá a ele um olhar atrevido. — Sabe, o Colossus de
Rodes? Uma das sete maravilhas do mundo antigo. Dizem que
quando caiu, foi um espetáculo e tanto.
— Hilário — ele diz.
Mas eu rio, grata pela emoção. Fiquei aterrorizada quando ele
desmaiou. Gabriel é imortal aos meus olhos. Um Super-homem num
terno sob medida. Ele não pode ser derrubado. Vê-lo dar um passo
e de repente tombar no chão como se as suas cordas da vida
tivessem sido cortadas foi uma visão que nunca mais quero
testemunhar.
Agora, ele se senta rígido e irritado em nossa cama, porque, de
acordo com Brenna, Kill John e companhia têm a regra de não
alertar a imprensa ou ir ao hospital a menos que você esteja
verdadeiramente morrendo. Uma regra que me irritou quando meu
homem estava caído de bruços no chão, mas agora, pensando com
clareza, posso apreciá-la. Sei que Gabriel teria ficado louco se
tivesse acordado em um quarto de hospital.
Ele está tão irritado que afugentou os caras. Apenas Brenna e eu
permanecemos. Acho que é porque Gabriel nunca grita com
mulheres.
Há uma batida leve na porta do quarto, e a Dra. Stern entra. Ela
é a médica de plantão da banda. Aparentemente, ela sai em turnê
com Kill John há anos. Eu a conheci uma vez - ela fica sozinha e
pega um avião para todas as cidades ao invés de usar um ônibus.
Elegante, mas realista, ela me lembra as mães do Upper West
Side que trabalham em período integral, mas ainda levam seus
filhos ao Museu de História Natural aos domingos.
— Como está o meu paciente?
— Irritado. — Gabriel levanta o braço. — Você poderia remover
isso?
A médica é imune ao seu olhar maligno. — Quando terminar,
sim. Você se importa de me dizer como se sentiu antes de
desmaiar?
— Como se estivesse prestes a desmaiar embora esperasse
muito que isso não acontecesse.
— Teimoso — murmuro baixinho.
A Dra. Stern assente. — E você já se sentiu assim antes?
Uma expressão esquisita toma o rosto de Gabriel. Quando ele
não responde, Brenna se levanta. — Eu vou sair.
Assim que ela vai embora, a Dra. Stern faz a pergunta
novamente.
Com um suspiro, ele responde. — Sim.
— Quantas vezes, Scottie? — Ela persiste. — E por quanto
tempo?
Segundos se passam.
— Desde o início da turnê. Isso vem e vai, talvez umas dez
vezes. Eu não contei.
— Jesus — eu deixo escapar, levantando do meu assento e
andando até a janela antes de me virar para ele. — Mas que diabos,
Gabriel?
Ele não encontra os meus olhos.
Dra. Stern suspira. — Eu diria que você está extremamente
estressado e sobrecarregado. Você tem dormido bem?
Um leve rubor tinge suas bochechas. — Não ultimamente.
Deus, é a minha vez de corar.
— Você precisa de mais do que uma boa noite de sono, Scottie.
Na verdade, eu prescreveria longas férias.
— Vou sair de férias quando a turnê acabar.
A promessa não parece muito convincente.
A Dra. Stern aparentemente sente o mesmo. — Você está
ignorando sua saúde, o que nunca é uma coisa boa.
— Eu não ignorei a situação — ele retruca. — Cristo, eu estava
disposto a virar minha vida de cabeça para baixo para ter uma boa
noite de sono...
Ele abruptamente se interrompe e aperta a ponta do nariz. —
Merda.
— Ao me pedir para ficar com você — termino por ele.
Seu olhar desliza para o meu, e eu o vejo estremecer. — Você
está brava? — Ele pergunta.
— Por que eu ficaria? Você me disse desde o início a razão de
me querer aqui.
Ele não consegue esconder o seu tremor de surpresa. Mas não
diz uma palavra, apenas me olha como se estivesse esperando que
eu explodisse.
Dou uma risada. — Como eu poderia ficar brava com isso? Eu
sou o que você precisava. Para ser honesta, isso meio que me
derrete.
Ele começa a sorrir.
— Mas eu estou brava com você.
— Ah, pelo amor de Deus — ele explode, levantando as mãos
de modo exasperado enquanto se vira para a médica. — Viu? Lei è
completamente pazza.
O que ele diz faz a Dra. Stern rir.
Eu estreito os olhos para os dois, caminhando até a cabeceira
dele. — Não comece a resmungar em italiano. Não me importo se
isso soa sexy; ainda estou brava.
Gabriel balança a cabeça. — Por que você está brava? Eu não
entendo.
— Você nunca me disse o quanto estava sofrendo, seu burro
teimoso. Você deixou chegar a esse ponto. — Inclino-me até
ficarmos nariz a nariz. — Eu me importo com você. Não quero ver
você desmaiando assim nunca mais.
— Confie em mim, Darling, não pretendo desmaiar assim nunca
mais.
— Isso deveria me tranquilizar quando você se recusa a
consultar um médico quando está se sentindo doente? Você não
pode controlar tudo, sabe.
Minha resposta é o seu queixo teimoso se levantando e a boca
exuberante se achatando. Mas vejo o brilho do medo em seus olhos
antes que ele o esconda. Fiquei tão preocupada que não vi os
sinais. Ele está aterrorizado agora. Olho para a Dra. Stern.
— Podemos ter um momento a sós?
— Certamente.
Assim que ela sai, eu sento ao lado de Gabriel e pego sua mão.
Está gelada e úmida. — Fale comigo.
Seu polegar corre ao longo dos meus dedos. — Não há nada
para falar.
— Vou ter que fazer uma terapia de abraço aqui?
Seus olhos encontram os meus, e eu vejo o cansaço neles. Ele
claramente pensou que havia escondido seus sentimentos muito
bem. Isso me faz sorrir tristemente.
— Eu te conheço, Raio de Sol. Poderíamos muito bem estar em
um avião agora. — Aperto seus dedos. — Você não está bem.
Com um suspiro, ele descansa contra a cabeceira da cama. Sua
garganta se move, engolindo em seco. — Eu odeio médicos.
— A Dra. Stern é muito legal.
— Não — ele balança a cabeça. — Não dessa maneira. Puta
merda... eu não fui checar porque odeio ver médicos. — Os olhos
azuis cheios de dor encontram os meus. — Minha mãe... ela estava
fatigada, sempre dormindo. Tinha desmaios.
Eu fico gelada. — Você acha que pode...
Não digo as palavras. Não posso. Não lhes darei credibilidade.
Mas eu me arrasto para a cama e me envolvo em torno dele.
Ele se inclina para o meu toque. — Eu tenho medo. Sempre tive.
Vejo o esforço necessário para ele admitir isso e me aconchego
mais perto. Ele passa um braço em volta dos meus ombros e me
aperta, pressionando os lábios no topo da minha cabeça.
— Faça os testes, Gabriel. — Quando ele fica tenso, eu
pressiono. — Isso te preocupa, e isso piora tudo. Faça-os e tire esse
medo do caminho.
Ele não diz uma palavra, apenas respira no meu cabelo, sua
mão segurando meu ombro.
Eu levanto minha cabeça. — Se fosse eu, o que você diria?
— Para fazer os malditos exames — ele resmunga.
Eu beijo seus lábios. — Eu não vou te deixar. Nunca.
Ele deve ver a determinação nos meus olhos, porque dá um
breve aceno de cabeça.
Quando ligamos para a Dra. Stern e contamos suas
preocupações, ela liga para o hospital próximo e marca alguns
exames.

D para os resultados saírem. Dois dias de Gabriel


pisoteando por aí como um urso raivoso para esconder o fato de
estar aterrorizado. Dois dias comigo o distraindo com sexo e o
abraçando apertado quando ele dorme para esconder que eu estou
aterrorizada.
Nada é feito, apesar da insistência de Gabriel para que todos
continuem o trabalho. No momento, ele é a principal prioridade, quer
goste disso ou não.
No dia marcado para o médico ligar, eu desisto de tentar fingir
que estou bem. Não me incomodo em tirar o pijama, apenas sento
em uma cadeira e folheio uma revista, sem enxergar absolutamente
nada.
De alguma forma, Brenna, Rye, Jax, Killian e Libby também
encontram maneiras de estar perto dele. Todos acabaram na nossa
suíte sentados ao redor. É como se todos estivéssemos esperando,
fechando o cerco para defender nossa família. E estranhamente,
Gabriel não manda ninguém embora. Ele pode não admitir, mas
precisa de seus amigos.
O silêncio se apodera de nós tão densamente que nos sufoca.
Quando o celular de Gabriel finalmente toca, acho que todos nós
quase morremos do coração. Todos param de respirar por um
momento. Não consigo me mover. Gabriel atende, sua voz baixa. E
quando não consigo ouvir o que está sendo dito, vou até ele e pego
sua mão fria na minha. Meu coração bate tão alto que o ouço
reverberando em meus ouvidos.
Um tremor passa por ele, e sua mão treme. Minha respiração
engata.
Quando ele desliga, todo mundo olha para ele. O silêncio cresce,
e então ele finalmente fala. — Tudo limpo.
Eu soluço e me jogo em seus braços. Ao nosso redor, os caras e
Brenna estão falando, rindo – não tenho certeza. No momento, só
existe Gabriel para mim, o som do seu coração batendo, a leve
umidade da sua camisa e o perfume de sua colônia misturada com
o suor do seu corpo.
Ele me abraça com tanta força que minhas costelas doem. Mas
o abraço acaba rápido, e ele me afasta e caminha até a janela. Ele
não me engana. Eu vejo o brilho do suor em sua testa e a maneira
como sua mão treme antes dele a enfiar no bolso.
Jax fala primeiro. — Está resolvido, então. Você está tirando
férias.
Gabriel não se incomoda em olhar em nossa direção. — Não.
— Ah, sim, você vai — retruca Killian. — E se você disser não de
novo, juro que vou te bater. E não me importo se você vai chutar a
minha bunda ou não.
Gabriel bufa e se vira para nós, sua máscara fria firmemente de
volta no lugar. — Eu não preciso...
— Stern literalmente disse que você precisa de férias, Scottie. —
Whip interrompe, parecendo irritado. — Então para de besteira.
Todos os sinais de uma explosão iminente estão surgindo em
Gabriel: olhos gelados, bochechas coradas, narinas dilatadas. Mas
sua voz permanece calma. — Há muito o que fazer.
— Jules pode lidar com isso. — Brenna dá um aceno firme. —
Você me disse que ela está se dando bem. E está tudo resolvido,
então tudo o que ela precisa fazer é manter o curso, por assim dizer.
Os olhos dele se estreitam. — Sim, obrigado por essa
observação, Brenna.
— De nada.
Com um bufo, ele puxa as mangas da camisa. — Sair de férias.
Isso é um absurdo. Para onde eu iria?
Rye ri sem humor. — Você está na Itália, pelo amor de Deus.
Relaxe, coma boa comida, beba vinho, transe...
— Não termine essa frase, Ryland. — O olhar de Gabriel é
supressivo.
Rye encolhe os ombros. — Você entendeu onde quero chegar.
— Eu acho que é uma ótima ideia. — Me intrometo.
Ah, Gabriel olha para mim como se eu fosse o pior dos traidores.
Aproximo-me e coloco minha mão em seu antebraço. É rígido como
pedra embaixo do blazer. — Vamos lá, Raio de Sol. Está tudo certo.
Vamos celebrar a vida, relaxar como Rye sugeriu, e... — Eu sorrio
largamente. — Comer. Vamos nos trancar no quarto, só você e eu.
— Nah. — Jax balança a cabeça. — Ele encontrará uma
maneira de escapar e trabalhar.
Whip assente. — Verdade.
— Viu? — Gabriel gesticula em direção a eles. — Todos
concordamos.
— Vá para sua casa de campo — diz Killian, com firmeza.
— Você tem uma casa de campo? — Imagino vinícolas e colinas
da Toscana.
A mandíbula de Gabriel se fecha. — Na costa. Em Positano. —
Ele olha para Killian. — Mas está toda fechada.
— Você pode pedir para arejá-la com uma ligação. Vamos, cara,
proteste um pouco melhor.
— Imbecil.
— Deve ser bonita — digo. Com o senso de estilo de Gabriel,
provavelmente é perfeita.
— Nós não saberíamos — diz Rye com um suspiro dramático. —
Ele nunca nos convida para lugar nenhum.
— Porque eu trabalho, seu idiota.
Rye balança as sobrancelhas. — Eu aposto que você levaria
Sophie.
Ah, se olhares pudessem matar. — Sophie tem que trabalhar
também.
A dor faz minha voz sair baixa. — Você não quer que eu veja sua
casa de campo?
As sobrancelhas de Gabriel se erguem. — O que? Não. Minha
casa é a sua casa, Sophie. Eu pensei que você já sabia disso.
Eu sorrio com a reprovação terna em sua voz.
— Ou leve ela para uma de suas outras casas — Jax sugere.
— Quantas casas você tem? — Pergunto, porque, sério?
Gabriel desvia o olhar. — Cinco.
Toda vez que sinto que finalmente sei tudo o que há para saber
sobre esse homem, ele me surpreende com mais. — Onde?
Com um suspiro sofrido, ele responde. — O apartamento em
Nova York. A moradia em Londres. Um apartamento em Paris.
— O alojamento em St. Moritz — acrescenta Brenna.
— A casa de campo em Positano. — Rye nos lembra.
O olhar de Gabriel dispara, furioso, como se não conseguisse
descobrir como impedir que todos falassem, mas desejasse muito
que pudesse.
— E você não comprou um lugar na Irlanda no ano passado? —
Jax pergunta.
— Certo. — Killian estala os dedos. — Aquela pequena cabana
no Condado de Clare.
— Perto da minha casa — diz Whip com um sorriso. — Perto
das Falésias da Insanidade.
— São as Falésias de Moher — diz Gabriel com uma careta. —
Cristo, você é meio irlandês. Conheça o seu país.
— Cara, tanto faz, Falésias da Insanidade parece muito mais
legal.
— Então são seis casas — diz Libby, que ficou quieta o tempo
todo.
— Caramba — murmuro. Minha casa é alugada, e é literalmente
do tamanho de um closet.
A diferença entre as nossas posições é impressionante, e ainda
assim não posso vê-lo de outra forma além de meu.
Gabriel abaixa a cabeça e encolhe os ombros. — Propriedades
são um bom investimento.
Jax se aproxima e coloca um braço em volta dos meus ombros.
— Pequena Sophie, você não sabe nem da metade. Scottie é um
gênio com dinheiro. Nosso garoto aqui é o único responsável por
todos nós sermos obscenamente ricos, e não só bastante ricos.
Sério, fique com ele.
Eu reviro meus olhos. — Eu ficaria com ele mesmo se ele fosse
um pobretão.
Gabriel olha para cima e um sorriso calmo suaviza as linhas
rígidas de sua expressão. Sorrio de volta, meu coração batendo um
pouco mais rápido. O alívio por ele não estar em estado terminal
deixou meus joelhos fracos e o caroço voltou à minha garganta.
Vou permanecer ao seu lado na saúde, na doença, e no negócio
todo. No entanto, estou tão feliz que ele esteja seguro que minha
voz sai grossa e rouca. — Dado que Positano é o único lugar para o
qual não precisaríamos voar, voto em irmos para lá.
Seus olhos procuram os meus por um longo momento. — Você
realmente quer ir?
Eu poderia provocá-lo por tentar transformar isso em um favor
pra mim, mas você sabe o que dizem sobre escolher suas batalhas.
Então eu aceno e olho para ele.
— Você pode fazer isso por mim? Por favor, Raio de Sol?
Ele suspira, e seus ombros saem de sua posição defensiva. —
Tudo bem, garota tagarela. Você ganhou.
— Demais — diz Jax, levantando a mão para Gabriel bater.
Gabriel não se move.
— Sempre me deixando no vácuo. — Jax balança a cabeça.
— Mais uma coisa. — Killian se levanta de seu assento para
encarar Gabriel. — Você vai deixar seu celular com a Brenna.
— O quê? — A voz de Gabriel soa como um chicote. —
Absolutamente não.
Killian estende a mão. — Ceda, Scott, e ninguém se machuca.
— Só por cima do meu corpo espancado e ensanguentado.
Os garotos todos ficam de pé, e Rye torce a cabeça, provocando
uma dúzia de estalos no pescoço. — Rapazes, — diz ele,
flexionando as mãos — vamos fazer isso.
E eles fazem. Eles realmente pulam nele.
A briga é um grande emaranhado cheio de xingamentos,
membros se debatendo e homens se agarrando.
Ela termina com um Rye com o lábio sangrando, Jax com um
olho roxo, Killian sem camisa, Whip sem sapatos e Gabriel no chão,
com seu terno amarrotado e seu precioso celular roubado por
Brenna, que pode correr surpreendentemente rápido em saltos
altíssimos.
— Bastardos — ele murmura enquanto eles saem pela porta.
— É para o seu próprio bem — diz Killian.
— Nós também te amamos, pequeno Scottie. — Jax grita.
Ajoelho-me e beijo um arranhão na testa de Gabriel. — Pobre
bebê. Eu vou te compensar. Prometo.
Ele não parece satisfeito, mas seu lábio se ergue. — Eu vou te
cobrar essa.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

G que buscar algo para nossa viagem, e quando eu


acordo ele já se foi, me deixando um bilhete dizendo que devo estar
pronta para partir às nove. E maternal como é, ele também ativou o
alarme do meu celular para as sete - e eu reclamo por uns bons dez
minutos enquanto tropeço para o banheiro para tomar um banho
quente.
Quando dá oito horas o serviço de quarto chega com um
cappuccino e uma tigela pequena de iogurte cremoso e
ridiculamente espesso, coberto com avelãs torradas e regado com
mel dourado. Não é algo que eu teria pensado em pedir, mas acabo
raspando todo o iogurte da tigela de vidro.
Determinação transforma minha espinha em aço. Eu deveria
estar cuidando de Gabriel, ajudando-o a relaxar, e aqui ele está me
mimando, organizando cada passo da minha manhã sem nem estar
presente. Não posso me esquecer de que estou lutando contra um
gerenciador profissional da vida das pessoas. Eu preciso melhorar
minha abordagem.
Não fico nem um pouco surpresa quando um carregador do hotel
chega às oito e quarenta e cinco para pegar minhas malas e me
escoltar até o saguão. O Sr. Scott está esperando, ele me diz.
Um divertimento distorcido dá vivacidade ao meu passo
enquanto atravesso o saguão. Se eu estivesse com roupas da
moda, meus saltos estariam estalando no mármore. Mas estou de
chinelos brancos e um vestido vermelho de algodão com ilhós.
Gabriel avisou que levaremos cerca de quatro horas para chegar a
Positano, e pretendo ficar confortável.
O carregador me leva para a entrada da frente e meus passos
diminuem quando avisto Gabriel esperando por mim.
— Ah, porra, me foda — eu deixo escapar.
Ao meu lado, o carregador produz um som gorgolejante de
choque. Estou muito ocupada olhando meu homem para me
importar.
Vestido com uma camisa polo branca que mostra o tom dourado
profundo de sua pele e se estende ao redor da protuberância de
seus bíceps, e calças cinza desleixadas que destacam o aperto de
seus quadris e caem sobre suas coxas grossas, ele se inclina contra
uma Ferrari vermelha com as mãos enfiadas nos bolsos..
Chega para lá, Jake Ryan.
Quando Gabriel sorri – um sorriso amplo, completo com aquela
covinha fofa na bochecha esquerda, os cantos dos olhos se
enrugando de alegria – fico tentada a olhar em volta antes de
murmurar: “Quem, eu?”
Mas não faço isso. Eu corro para ele como uma doida. Ele me
pega com um oof suave e me envolve em seus braços enquanto
beijo suas bochechas, o canto dos olhos, a borda da mandíbula.
Rindo, ele captura minha boca e me dá um beijo adequado.
Ele tem um gosto fraco de chá. Seu corpo é quente e sólido, e
ele é meu.
Dou uma última mordida em seu lábio antes de me afastar. —
Seu animal sexy, você vai me fazer derreter um dia, sabe.
Ele dá um beijo rápido na ponta do meu nariz. — Se você estiver
aceitando pedidos, eu prefiro que você derreta na minha boca.
— Você é bom de papo, heim? — Olho para o carro, realmente o
absorvendo agora que tive minha dose de Gabriel. — Puta merda,
isso é uma Ferrari 488GTB Spider.
Ele pisca, balançando um pouco. — Você acabou de me deixar
de pau duro.
Ele não está mentindo; posso sentir sua ereção subir contra a
minha barriga. Eu sorrio, me pressionando contra ele.
— Você será capaz de dirigir? Ou devemos cuidar disso agora?
Seus lábios franzem, mas há um brilho em seus olhos que
promete vingança. Com um movimento sutil de seus quadris, ele
cutuca minha barriga com seu pau duro e depois me afasta.
— Entre no carro, garota tagarela, antes que eu cancele esta
viagem e leve você para a cama.
— Por melhor que isso soe, o carro está chamando o meu nome.
— E Gabriel precisa dessas férias. Eu tenho planos para ele. A
maioria deles pervertidos, mas todos divertidos.
Gabriel abre a porta para mim. — Trocado um carro, incrível.
Sorrio. — Não é qualquer carro.
E ah, realmente não é. Os assentos são de couro cinza escuro,
suaves e macios. Eles foram projetados para manter sua bunda no
lugar enquanto o carro corre pela estrada, mas não estou
reclamando. Toco o painel cinza e vermelho quando Gabriel fecha
minha porta.
Ele dá uma gorjeta para o carregador depois que a bagagem é
colocada no porta-malas da frente e, um momento depois, está
deslizando em seu assento. Com o apertar de um botão, o carro
ronrona.
— Era isso que você foi buscar? — Eu pergunto, acariciando o
couro do assento.
— Sim. — Por um segundo, sua expressão é tão satisfeita que
ele parece quase jovial, mas logo se transforma na arrogância fria
que ele sempre usa ao dar uma palestra. — Se vamos dirigir ao
longo da costa de Almalfi, vamos fazer isso em grande estilo.
Isso é tão Gabriel.
— Como você colocou as mãos em um desses bebês? Eles não
são impossíveis de comprar?
— Não se você estiver em uma lista — diz ele enquanto entra no
trânsito.
Bom Deus, há algo sexy em um homem que sabe como dirigir
um carro. Se os executivos da Ferrari vissem Gabriel dirigindo,
tenho certeza de que tentariam contratá-lo como modelo.
— Claro que você está em uma lista. Por que não estou
surpresa?
Ele olha na minha direção. — Como você sabe conhece esse
carro, afinal? Pelo que ouvi, você nem sabe dirigir.
— Ei, muitos nova-iorquinos não sabem.
— Esse triste fato deve ser corrigido assim que eu comprar um
carro adequado para te ensinar. Agora, responda à pergunta.
— Eu li suas revistas de carros um dia quando fiquei entediada.
— Viro-me um pouco no meu assento para encará-lo. — Você
percebe que elas são o equivalente masculino da Vogue, não é?
Ele me dá um sorriso malicioso. — Só que muito mais sexys.
O percurso é rápido, em parte porque o carro é veloz e luxuoso,
em parte porque o cenário é muito bonito, mas principalmente
porque estou com Gabriel.
Nunca ficamos sem assunto para conversar, seja sobre músicas
ou filmes ou especulando sobre a história enquanto passamos pela
área onde partes de Pompéia e Herculano foram escavadas –
ambos lugares que ele promete me levar um dia para explorar. E
percebo que ninguém mais o vê dessa maneira, como o homem que
tem toneladas de informações armazenadas, o homem que sorri
frequentemente e com facilidade e que me provoca com piadas tão
ridículas quanto as minhas.
Já é tarde quando chegamos a Positano, uma cidade tão
pitoresca que me dá um nó na garganta. Prédios de estuque
coloridos que quase parecem de arquitetura mourisca se apegam às
íngremes montanhas verdes que mergulham em direção ao mar
azul-turquesa. O ar é fresco, tingido com notas de limão doce e
oceano salgado.
A casa de Gabriel fica um pouco afastada, aninhada entre os
penhascos de dois afloramentos de montanhas e protegida por um
portão alto. Você não dá muito por ela a partir da entrada, mas por
dentro a casa é de paredes brancas de estuque, com espaços
arejados com vista para o mar azul e inúmeras portas francesas
abertas à brisa.
Uma senhora idosa e baixa nos recebe. Gabriel beija suas
bochechas e fala com ela em italiano. Eu nunca tive um fetiche por
idiomas estrangeiros até ouvi-lo falar em um. Ele a apresenta para
mim. Martina, que é cozinheira e governanta, não fala inglês, mas
não precisa. Seu sorriso acolhedor já diz o suficiente. Ela nos deixa,
se apressando para os fundos da casa.
— Quantas línguas você fala? — Pergunto a ele. Eu o ouvi falar
francês e espanhol na turnê.
— Inglês, é claro. Italiano, francês, espanhol, um pouco de
alemão e um pouco de português. Algumas frases em japonês.
— Você está me matando.
— Sempre aprendi outras línguas facilmente. — Um sorriso
presunçoso se desenrola. — Sua expressão, Darling... Você gosta
disso?
— Eu vou exigir que você fale comigo em italiano na cama.
Sua expressão fica pensativa e ele se inclina e sussurra no meu
ouvido, sua voz quente. — Sei tutto per me. Baciami.
Eu juro que meus joelhos ficam fracos. — Jesus, me avise antes.
O que você disse?
Seu sorriso se torna misterioso. — Eu disse “me beije”.
Pareceu mais do que isso, mas me levanto nas pontas dos pés e
dou um beijo suave e persistente em seus lábios. Ele me beija de
volta, mantendo as coisas leves e gentis.
— Vamos lá — diz ele. — Vamos alimentá-la antes que fique
faminta.
— Você me conhece tão bem.
Com a mão na parte inferior das minhas costas, ele me guia para
o terraço. É enorme, circundando toda a propriedade e esculpido na
colina. É parte um jardim, com limoeiros e palmeiras, e parte um
terraço forrado de ardósias com uma piscina de borda infinita
pairando ao longo de um penhasco e uma área de jantar sombreada
por uma treliça coberta de buganvílias. A luz solar filtrada pelas
flores fúcsia tinge o ar de rosa.
Gabriel me olha absorver tudo, depois paira ao meu lado,
enfiando as mãos nos bolsos.
— Você possui um pedaço do paraíso — digo a ele, olhando
para o mar.
Seu ombro roça no meu. — O paraíso é um estado de espírito,
não um local.
— Justo. Você possui o lugar perfeito para evocar o paraíso.
Atrás de nós, Martina põe a mesa. Ela rejeita minha oferta de
ajuda e logo estamos bebendo limoncello gelado.
— Isso tem gosto de verão em um copo — digo a Gabriel.
Ele se inclina na cadeira, esticando suas pernas longas diante
dele. — Espere até você provar a comida de Martina.
Quando ela nos serve dois pratos de macarrão, eu entendo o
porquê. Amêijoas e mexilhões emaranhados com linguine, todos
brilhando com o azeite e perfumados com pedacinhos de alho, salsa
e raspas de limão. É a melhor coisa que já comi na minha vida e
raspo o molho com pão branco crocante.
Por um tempo, ficamos em silêncio, simplesmente apreciando a
comida e a brisa do mar que refresca nossa pele. Quando
terminamos de comer, Martina vem e tira os pratos, e Gabriel diz
algo para ela novamente.
É bastante ridículo o quanto eu me derreto quando ele fala; ele
provavelmente está dizendo algo banal como, ei, obrigado pela
refeição. Mas parece puro sexo saindo de sua boca.
Me recosto com um suspiro. Ele parece igualmente contente, as
mãos cruzadas sobre a barriga lisa, a expressão calma enquanto
olha para o mar.
— Eu não entendo — me pego dizendo.
Ele olha em minha direção. — Não entende o que?
— Isso. — Eu aceno ao nosso redor. — Você tem essa casa
deslumbrante que raramente visita e outras que são
presumivelmente tão lindas quanto, e ainda assim nenhum dos
caras nunca esteve em nenhuma delas. Porque isso?
Uma carranca enruga o espaço entre suas sobrancelhas. — O
pai de Killian me disse uma vez que a melhor coisa na qual um
homem pode investir é em uma propriedade. É tangível, real, eterna.
Eu concordo.
— Eu entendo isso, mas por que ter essas propriedades se você
nunca as aprecia, nunca traz seus amigos aqui? — Me inclino para
frente. — Por que você não os deixa entrar, Gabriel? Eles te amam
e você os mantém à distância.
Um rubor tinge suas bochechas e ele se levanta da cadeira para
caminhar ao redor. — Eu não sou um homem social, Sophie. Você
sabe disso.
Eu o vejo andar. — Não estou falando sobre organizar festas
loucas. É sobre você sistematicamente construir um muro entre
você e as pessoas com quem mais se importa. — Ele olha para mim
por cima do ombro e eu suavizo meu tom. — E acho que você sabe
disso.
Nossos olhares se chocam, mas não pisco. Ele xinga baixinho e
aperta a nuca.
— Gabriel, você é um homem charmoso, espirituoso e gentil - e
não revire os olhos para mim, você é. — Eu levanto e ando até ele.
Não chego muito perto, porque ele está cauteloso agora. — Você é
gentil. Os caras, Brenna - eles são sua família, e você os trata tão
bem, cuida deles melhor do que qualquer um que já conheci. Por
que você não deixa que eles cuidem de você também?
Ele solta uma lufada de ar e se vira para me encarar. — Eu não
sei como — diz, de supetão.
— O que você quer dizer?
— Maldição... — Ele passa a mão pelo cabelo e o agarra com
força. — Minha mãe, meu pai... Eles... Eles me deixaram, tá legal?
As duas pessoas que mais deveriam me amar. Me deixaram. E eu
sei que os caras e Brenna me amam. Mas se eu os deixar entrar,
então...
Ele se afasta antes de voltar, seus olhos arregalados e doloridos.
— Se eles estiverem completamente dentro, então eu estarei
totalmente dentro. Vai doer mais, Sophie. Você entende? Vai doer
mais se...
Ele olha para longe, fazendo uma carranca com tanta força que
seus lábios se comprimem.
— Gabriel, eles não vão te deixar...
— Eu mal consigo te deixar entrar. Me abrir é tão estranho para
mim; não sei o que diabos estou fazendo. Mas estou tentando com
você porque você é… — Ele luta com as palavras, parecendo em
pânico.
Eu envolvo meus braços em torno dele e o abraço apertado.
Espero resistência, mas ele cede, afundando o nariz nos meus
cabelos e respirando fundo, me abraçando como se eu pudesse
desaparecer.
— Está tudo bem. — Eu acaricio seu pescoço tenso. — Sinto
muito. Não deveria ter te pressionado.
— Não, você está certa. Me proteger está magoando eles. Eu
vejo isso. Mas não sei como mudar.
As pontas dos meus dedos traçam o estreito entalhe de sua
espinha em suas costas fortes. — Apenas faça o que você fez
comigo.
A mudança da tensão em seu corpo é sutil, mas significativa. Eu
quase posso senti-lo sorrindo, e definitivamente sinto o calor
aumentando entre nós.
Sua voz se torna mais profunda, atenta. — Não acho que eles
apreciariam essa abordagem, Darling.
Uma mão desliza para segurar a minha bunda.
Sorrio. — Provavelmente é melhor você manter esse tratamento
específico apenas para mim.
— Só para você — ele promete, com a outra mão descendo. Ele
agarra minha bunda, apertando-a com um grunhido de aprovação.
Pulo em seus braços, envolvendo minhas pernas em volta de
sua cintura. — Leve-me para a cama, Raio de Sol.
Ele começa a andar, mas não entra na casa; ele me deita na
espreguiçadeira dupla sob a sombra das buganvílias antes de pairar
sobre mim, seus lábios encontrando meu pescoço. Um bom puxão
no corpete do meu vestido de verão e meu seio fica livre.
— Gabriel... — Eu gemo quando ele chupa meu mamilo com sua
boca quente e molhada. — Aqui não.
— Aqui sim — diz ele em torno do meu mamilo rígido enquanto o
tortura com a língua.
Me contorço, mas meus dedos encontram seu cabelo,
segurando-o com força enquanto ele continua a me lamber e
chupar. Outro puxão no meu vestido e meu outro peito está exposto.
Olho para a porta aberta que leva à cozinha. — Não vou
conseguir olhar nos olhos de Martina se ela nos pegar aqui.
Ele beija o caminho até o meu peito negligenciado e pega o
mamilo endurecido com os dentes, o puxando apenas o suficiente
para que eu perca um pouco a cabeça. Arquejo, silenciosamente
implorando por mais.
Uma risada sombria soa em seu peito. Salpicando meu mamilo
com beijos, ele desliza a mão sob o meu vestido e a pressiona entre
as minhas pernas, onde estou úmida e dolorida. — Eu disse a ela
para tirar o resto do dia de folga.
Balanço contra seu toque com um gemido, esticando a cabeça
para beijar sua têmpora. — Porra... por mim podia dar a ela a
semana inteira de folga.
Ele faz um barulho de apreciação enquanto desliza os dedos sob
a minha calcinha. — Bom plano.
Nós não conversamos por muito tempo depois disso.

—A ? Ainda não terminei com você. — A voz dele é


como uma canção de amor, suave e terna, cheia de possessividade
e promessas de um pecado delicioso. Ela dança sobre a minha pele
como uma carícia, e eu tremo.
— Eu quero tocar em você — reclamo, embora não seja
realmente uma reclamação. Como pode ser uma, quando ele me
reduziu a essa massa trêmula e desossada de letargia?
Sua risada sombria é conhecedora. — Mais tarde. É a minha vez
agora.
Mãos grandes e quentes deslizam pelas minhas pernas,
segurando minha bunda. Fecho os olhos e abraço as cobertas
amarrotados da cama, enquanto aquelas mãos talentosas
mergulham entre minhas coxas e as abrem.
Exposta. Inchada e molhada. Ele já me tomou duas vezes. Uma
vez no terraço, e depois na cama, onde ele foi mais lento, mais
minucioso, sem pressa, me fazendo implorar. E eu implorei,
choramingando e ofegando, perdendo a cabeça.
Ele me recompensou por isso, me fazendo gozar até chorar,
acariciando minha pele, me dizendo que eu era sua boa garota
naquela voz baixa e severa que eu sempre associei a sexo e prazer.
Ele a usa agora, uma arma por si só. — Tão bonita — diz ele, do
seu lugar entre as minhas coxas. — Eu sabia que você seria bonita.
A necessidade de agradá-lo surge dentro de mim. Inclino meus
quadris, empinando minha bunda mais alto, mostrando-lhe mais de
mim. Ele murmura com aprovação, suas mãos acariciando a parte
inferior das minhas costas, pousando atrás do meu joelho. Sua
respiração faz cócegas na minha coxa e depois ele asspora em
cima do meu clitóris.
Gemo, lutando contra o desejo de me empurrar para baixo e me
encaixar em sua boca.
Ele sabe. O bastardo sujo sabe o que está fazendo comigo.
Sinto o sorriso em seus lábios quando ele pressiona um beijo na
minha nádega. E, de verdade, eu deveria fazê-lo pagar por isso,
mas a mão dele desliza, subindo pela minha coxa e minha
respiração para quando a ponta do seu dedo lentamente circunda
meu ânus.
— Mmm — diz ele, girando o dedo, me provocando suavemente.
— Tão linda.
Ele o mergulha em mim, apenas o suficiente para que eu sinta,
depois o desliza para fora, o encharcando com minha umidade
apenas para depois enfiá-lo novamente, dessa vez mais fundo.
Um beijo suave no inchaço sensível do meu clitóris me faz saltar.
Delicado, muito delicado. Mal encosta, e ainda assim prende toda a
minha atenção. O movimento preguiçoso de sua língua, sua sucção
persistente e seus beijinhos, e o tempo todo lentamente me fodendo
com o dedo.
Fecho os olhos, concentro-me em seu toque e no jeito que ele
continua provocando, coletando a umidade viscosa que encharca
minha abertura e depois mergulha o dedo bem fundo.
Meus olhos se abrem, um arfar de choque deixando meus lábios.
Ele está empurrando seu pré-gozo contra mim.
É tão sujo, tão ilícito, que o calor e a luxúria me deixam sem
fôlego. Um gemido trêmulo me escapa. Eu ondulo contra o seu
toque, implorando. Mais devagar. Mais fundo. Mais forte. Mais
rápido. Não me importo, desde que haja mais.
Gabriel solta um suspiro suave contra a minha pele, quase uma
risada, só que mais baixa, como se também precisasse de mais.
Beijos lentos mapeiam minhas costas enquanto ele me pressiona na
cama com o calor de seu corpo. Ele não solta todo o peso, apenas o
suficiente para me fazer senti-lo.
Beijando meu pescoço, sua respiração fica mais rápida quando
ele afunda outro dedo. Vai tão fundo desta vez, se forçando contra
mim, que quase dói. Mas não é suficiente.
— Gabriel — eu engasgo, abrindo mais minhas coxas.
— Shhh — ele sussurra, beijando minha bochecha, deslizando
seus quadris entre as minhas coxas. Seu pênis se estabelece
pesado e quente na minha bunda. Seus dedos continuam
trabalhando em mim, um mergulho lento, uma provocação
arrastada.
— Agora — digo com rouquidão. — Agora.
— Darling — ele sussurra. Meu nome, um apelido carinhoso.
Ambos são a mesma coisa agora.
Fico deitada embaixo dele ofegando e tremendo, tão excitada
que mal consigo respirar. Mas ele está igual, sua respiração rouca,
tremores correndo através dele para dentro de mim. Ele ergue os
quadris e seu pau afunda em mim, o ajuste mais apertado agora,
porque ele não removeu os dedos.
A dilatação queima, e eu estou gozando antes do primeiro
impulso. Quebra sobre mim como uma onda lenta. Eu grito,
soluçando.
Gabriel retira os dedos e agarra minhas mãos nas dele. —
Sophie — diz, enquanto começa a bombear lento, mas intenso,
como se nunca quisesse parar.
— Não — digo, incapaz de formar pensamentos adequados. —
Nunca pare.
Ele estremece e geme, seus lábios contra minha bochecha
úmida. Sua resposta é uma única palavra. — Minha.
E isso é tudo.

— O , isso não é um bicho de sete cabeças. Simplesmente


levante sua perna e monte...
— Prefiro lutar contra um bicho de sete cabeças.
— Você está se preocupando demais com isso.
— É uma armadilha mortal sobre duas rodas. Rodas minúsculas.
— É uma Vespa, Darling. Nós estamos indo visitar a cidade com
ela. Bem no estilo A Princesa e o Plebeu.
— Nós não estamos em Roma.
— Pare de picuinha. Venha, entre no espírito. Você ama esse
filme.
— Verdade. Você daria um ótimo Gregory Peck, mas,
infelizmente, eu não sou nenhuma Audrey Hepburn.
— Você é definitivamente mais uma Marilyn.
— Não estou encarando isso como um elogio, rapaz.
— Acredite em mim, é. Agora suba na scooter, garota tagarela.
Quero sentir esses peitos fantásticos pressionados contra as minhas
costas.
— Estou começando a pensar que você tem uma fixação com
meus peitos.
— Eu tenho uma fixação com você inteira. Pare de enrolar. Está
desperdiçando o dia, amor.
— Você não vai deixar isso pra lá, vai?
— Nós deveríamos estar relaxando...
— Atravessar as estradas das montanhas nesse brinquedo não
é relaxante.
— Vai ser divertido, e isso é relaxante para mim. Você quer que
eu relaxe, não é?
— Tsk. Não me dê esse olhar de cachorrinho pidão.
— Eu não sabia que estava te dando nenhum tipo olhar.
— Reduza a potência, Raio de Sol. Você está queimando minhas
retinas.
— Eu vou, se você subir na scooter.
— Tudo bem. Só não vá direto para um penhasco e acabe
matando a gente, ok?
— Eu planejo morrer quando estiver muito velho e te fodendo a
base de Viagra.
— Você realmente diz as coisas mais doces.
— Sono pazzo di te.
— Ok, o que isso significa? Parece sexy como o inferno.
— Eu vou te dizer se sobrevivermos ao passeio para a cidade.
— Gabriel Scott… ahheee!

— A , escute aqui, eu montei naquele demônio do inferno


rápido pra caralho...
— É uma scooter. Sua velocidade é limitada.
— Sua velocidade máxima é superior a noventa quilômetros por
hora. Eu chequei. É rápido.
— Isso não é o que eu chamaria de rápido.
— Vindo de alguém que dirige Ferraris, acho que você pensaria
assim.
— Precisamente.
— Bom pra você. Você ganhou aquela discussão, mas não vai
ganhar outra. Nós vamos comer aqui.
— Darling, esse lugar é um fim de mundo. Existem literalmente
buracos na parede.
— Talvez sejam buracos de bala da guerra.
— Qual delas?
— Rá. Mas você entendeu o ponto.
— Que o lugar está acabado?
— Que está aqui há tempo o suficiente para ter uma história.
Olha, está cheio de velhos italianos comendo.
— Eu não tinha notado. Fiquei muito distraído com o rato
correndo.
— Aquilo não era um rato. Era um gato.
— Um rato do tamanho de um gato.
— Pare de ser tão esnobe. Jesus, você não cresceu na
pobreza?
— O que significa que eu conheço os sinais o suficiente para
ficar longe de lugares como esse.
— Argh. Olha, a regra é clara: se você quer comer comida boa,
você vai onde as vovozinhas cozinham. Viu? Há uma nonna
naquela cozinha.
— Bem, suponho que seja...
— Vamos comer aqui.
— Você acabou de torcer o meu mamilo?
— Isso é uma pergunta retórica?
— Cuidado, garota tagarela. Eu posso retaliar.
— Promete? Ooh, eu gosto desse olhar, é muito Flynn Ryder.
— Você está me comparando com personagens de desenhos
agora?
— Personagens animados. Enorme diferença. E é fofo que você
saiba quem ele é. Vamos, Raio de Sol.
— Espera...

— V ? Eu não te disse? Comida deliciosa.


— Sim, você é muito inteligente. Cala a boca.
— Outra citação de A Princesa Prometida. Você, Gabriel Scott, é
meu homem ideal.
— Você diz as coisas mais doces, garota tagarela.
— Agora, me diga o que você disse em italiano na scooter da
morte.
— Sono pazzo di te. Eu sou louco por você.
— Gabriel...
— Coma sua comida, Darling.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

P seria difícil deixar o trabalho para lá e simplesmente


curtir. Eu nunca tinha feito isso antes e, sinceramente, não tinha
certeza se saberia quem eu era se não estivesse trabalhando o
tempo todo.
Sophie torna extremamente fácil apreciar as coisas simples da
vida.
Os dias passam e caímos em uma espécie de ritmo preguiçoso.
Dormimos até que um de nós acorde, fazemos amor e depois
adormecemos novamente. Nós comemos quando estamos com
fome. E quando estamos com tesão, transamos de novo, o tempo
todo e por toda a casa – meu lugar favorito é no terraço, onde o sol
doura a pele fina de Sophie e seus gritos ecoam pelas falésias.
Se estamos nos sentindo particularmente motivados, pegamos a
Ferrari ou a Vespa – que, apesar do pânico inicial de Sophie, ela
agora ama – e vamos para a cidade explorar. E nós discutimos.
Sobre tudo: onde comer, onde comprar, com que rapidez devo
andar na Vespa. Os italianos aprovam porque sabem que isso são
preliminares.
E, realmente, não há nada mais atraente para mim do que os
olhos de Sophie crepitando com inteligência e desejo, suas
bochechas coradas e seus seios subindo e descendo a cada troca
verbal. Juro, eu me arrasto por aí semi-ereto ou totalmente duro a
maior parte do tempo. Vale totalmente a pena.
Em algum momento de cada dia, num tipo acordo silencioso,
fazemos nossas próprias coisas.
Embora Sophie seja social onde sou reservado, nós dois
precisamos de tempo a sós para recarregar as energias. Mesmo
quando estávamos em turnê e presos juntos em um ônibus,
encontramos maneiras de dar espaço um ao outro. Isso tem suas
vantagens agora, já que nossos encontros são muito mais doces, e
algumas horas separados parecem semanas.
Por isso estou sozinho agora, esperando. Sophie foi à cidade
com a filha de Martina, Elisa. Como meu telefone foi confiscado,
Sophie não pode me mandar uma mensagem, mas sei que ela
voltará em breve. Não sei como eu sei, só sei que sei.
Minutos depois, ouço o carro de Elisa na entrada.
É fácil rastrear os movimentos de Sophie; a mulher é como um
yeti saqueador sempre que entra em algum lugar. A porta da frente
se abre e bate com força, seus sapatos caem no chão. Ela está
cantando “Ruby Tuesday” fora de tom e errando a letra.
Tenho que segurar uma risada.
— Raio de Sol? — Sua voz feliz ecoa. — Onde você está?
Há algo inteiramente gratificante em saber que, sempre que
Sophie chega em casa, a primeira coisa que ela faz é me procurar.
— Sua gramática é assustadora — eu grito de volta, lutando com
um sorriso; há algo de antecipador em reter a escala total da minha
felicidade. Eu a deixo crescer enquanto ela sobe os degraus.
— Você não me quer pela minha gramática — diz ela perto do
topo da escada.
— Seus peitos e bunda definitivamente estão acima no ranking.
— Sinta-se à vontade para mostrar-lhes algum apreço. — Ela
está na porta do nosso quarto usando um vestido azul amarrotado,
a luz rosada do pôr do sol se inclinando através das janelas largas e
iluminando o ouro de seus cabelos.
Fico sem palavras, minha respiração se tornando superficial.
Não sou um homem poético, mas queria ser um agora. Queria
fazer justiça à sua beleza e à maneira como ela me enche de uma
estranha mistura de paz absoluta e necessidade exigente.
É sempre assim com Sophie. Eu olho para ela e quero abraçá-la
e acalentá-la como se esse fosse o nosso último dia vivos, e ao
mesmo tempo quero derrubá-la na cama e transar com ela até
esfolar o meu pau. O que é bastante perverso, suponho.
Não importa. Não quando ela está olhando para mim como se
quisesse o mesmo. Mas então seu doce rosto faz uma careta.
— Você está trabalhando.
Difícil negar quando estou segurando um contrato na mão. —
Apenas um pouco de leitura leve.
Enquanto Sophie estava na cidade, eu saí pra correr. No
segundo em que voltei, tomei um shake de proteína e tomei banho
antes de descansar na cama usando minha cueca boxer e fui ler um
contrato. Não classifico isso como trabalho em si, pois estou apenas
o analisando.
Sophie parece discordar.
Suas mãos vão para os quadris. — Eu deveria ter checado suas
malas à procura de contrabando. Você deveria estar relaxando.
— Relaxamento forçado é um paradoxo. — Volto a ler o contrato,
porque sei que isso vai atiçá-la. Eu amo pra caralho quando Sophie
fica atiçada. Os resultados são sempre a meu favor, com nós dois
nus e suados. — Além disso, esse é um contrato padrão, nada
muito específico ou detalhado.
Um suspiro soa. — O que eu vou fazer com você?
Transe comigo. Eu tenho necessidades. — Você pode vir para a
cama e ler algo ao meu lado, por exemplo.
Ela dá um passo em minha direção, mas então para. — Você
está usando óculos.
Há uma nota estrangulada de luxúria em sua voz que deixa a
minha própria em sobrecarga. Não levanto os olhos do contrato. —
Como se costuma fazer quando se precisa de óculos de leitura.
— Espertinho. Já vi você ler muitas vezes e nunca usou óculos.
— Eu tenho lentes. Mas meus olhos estão irritados hoje.
Suspeito que isso tenha algo a ver com nossa brincadeira na
piscina essa manhã. Foi uma espécie de experimento, descobrindo
por quanto tempo eu conseguia prender a respiração. Rimos e nos
dedicamos à tarefa com muito entusiasmo.
— Você deveria usar sempre seus óculos de leitura — diz ela,
vindo em minha direção. — E eu quero dizer tipo, sempre.
Se eu sabia que Sophie reagiria favoravelmente aos meus
óculos de leitura? Não. Mas pelo olhar arregalado e levemente
sonhador em seus olhos, estou bastante confiante de que ela os
aprecia. Sou homem o suficiente para admitir que quero seduzi-la.
Ela se senta na cama e sua coxa quente encosta na minha. Meu
corpo fica em alerta, mas não deixo transparecer. Ainda não. Não é
assim que jogamos.
Deus me ajude se eu não tivesse mais Sophie para brincar
comigo. É uma das melhores partes do meu dia.
— Sabe, — ela diz, passando um dedo pelo meu joelho. —
existe um certo Tumblr. Caras gostosos de óculos...
— Nem pense em tirar uma foto. — Finjo ignorar a maneira
como seu toque envia uma onda de luxúria diretamente para o meu
pau. Uma causa perdida. E eu sei que ela vê meu crescente
interesse. Sua trilha começa a subir.
— E o Caras gostosos lendo? Eles até fizeram um livro. Você é
definitivamente um material digno de capa.
Eu a encaro por cima dos óculos. Ela está me dando seu olhar
atrevido, a cabeça inclinada, os lábios cheios franzidos. Um monte
de ganância quente aperta ao sul da minha barriga e me dá um
puxão imediato. Meu pau sobe duro e rápido.
Sophie lambe o lábio inferior, nunca quebrando o contato visual
comigo. — Você não está jogando limpo, Raio de Sol. — Sua voz
fica rouca. — Eu não aguento essa reprimenda silenciosa
combinada com esses óculos. Você vai me fazer entrar em
combustão aqui.
— Hmmm. — Volto meu olhar para o contrato, como se não
estivesse duro pra cacete. A recompensa será muito maior se eu a
fizer trabalhar para conseguir o que quer. — Não vejo como isso é
problema meu.
— Ah, não? — A cama range quando ela se arrasta para mais
perto.
Meu pau palpita no ritmo do meu batimento cardíaco e pressiona
desconfortavelmente contra minhas calças.
— Você é a afetada — digo a ela. — Melhor você fazer algo
sobre isso.
Sua risada baixa ondula sobre a minha pele. A seda de seus
cabelos faz cócegas no meu peito enquanto ela para sob os papéis
que estou segurando. Sim, amor, se enrole na minha teia.
— E essa enorme ereção é por causa de... — Ela olha para o
contrato na minha mão. — Porcentagens de licenciamento?
— Eu tenho uma queda por detalhes — murmuro, minha
respiração engatando quando ela pousa um leve beijo no centro do
meu peito.
— Bem... — Ela me beija novamente. — Não se segure por
minha causa.
Eu finjo ler enquanto ela lentamente beija seu caminho através
do meu peito. Cada pressão prolongada de seus lábios na minha
pele me desfaz um pouco mais. A ternura misturada ao calor, como
se ela estivesse me adorando e se deleitando comigo, faz meu
coração apertar e meu pau latejar.
Sua língua passa sobre meu mamilo e minha mão treme, minha
respiração ficando errática.
— Deus, você está tão gostoso assim — diz ela. Seus dentes
pegam a ponta do meu mamilo e puxam.
Eu resmungo, calor líquido lambendo minhas coxas. O contrato
cai na cama e minha cabeça bate na parede com um baque surdo.
Ela segue para o sul, seguindo o vale entre os meus abdominais.
— Tão. Malditamente. Sexy. — Ela pontua cada palavra com um
beijo. — Eu quero que você me foda enquanto usa esses óculos,
Gabriel.
Essa mulher vai me matar.
Engulo em seco, procurando minha voz. — Se você for uma boa
garota, talvez eu foda.
Não perco o jeito que sua bunda cor se contrai. Algo primitivo e
básico flui através de mim. Minha voz fica áspera.
— Coloque meu pau para fora. Você vai chupá-lo.
Um pequeno som escapa de sua garganta e eu sei que já estou
a afetando - o que, por sua vez, me afeta. Minha pele está tão
quente que mal consigo respirar.
As mãos de Sophie traçam a borda da minha cueca boxer, uma
provocação astuta. Meu pau empurra rudemente contra o tecido, e
ela estica o elástico na minha cintura. A ponta latejante roça na tira
da minha calça. Ela me liberta, e eu estou tão duro que meu pau
bate no abdômen com um pequeno estalo.
— Amo esse soms — ela sussurra.
Que bom. É só para você. — Me segura na sua mão.
Seus dedos quentes me envolvem e apertam. Meus olhos quase
rolam nas órbitas. Eu engulo um gemido, meus quadris se erguendo
em direção ao contato.
— Mais suave — ofego.
— Mais suave? — Ela beija meu peito novamente quando seu
aperto diminui.
Eu quase choramingo de tão bom que é. — Faça-me implorar
por isso.
Seus cílios tremem, uma respiração escapando pelos lábios
separados. As pontas dos seus dedos deslizam pelo meu
comprimento, provocando.
Eu luto para ficar parado, mas ela gentilmente segura minhas
bolas e dá a elas um pequeno puxão. Um gemido retumba na minha
garganta. Que se transforma em um gemido completo quando ela
se abaixa e coloca a cabeça do meu pau na boca.
Não é o suficiente.
— Sophie...
— Hummm? — O som vibra contra a minha pele, e uma
pulsação de prazer doloroso reverbera através de mim.
Eu me empurro para cima, mas ela foge. Uma lambida
provocadora passa na ponta. — Porra... chupe, Darling. Chupe bem.
Olhos castanhos sorriem para mim, e ela o faz. Com um puxão
glorioso ela me chupa de modo profundo e apertado. Meu corpo se
arqueia e dou um gemido. Mas ela para por aí e brinca comigo
novamente, seus lábios carnudos mal se enrolando em volta da
minha carne.
O calor lambe a minha pele e dou o que ela quer. — Por favor.
Por favor…
E ela me agrada, esbanjando atenção, extraindo o meu prazer
como se o seu próprio estivesse ligado ao meu. Me perco nela, até
minha garganta fechar com a sensação e minhas bolas se
apertarem com a liberação iminente.
Não quero despejar em sua boca. Não dessa vez. Eu a puxo
para cima, tentando ser gentil, mas minhas mãos tremem. Ela faz
um barulho de protesto que eu engulo com um beijo enquanto a
derrubo de costas, me atrapalhando ao subir sua saia.
— Eu não terminei — ela arfa entre beijos.
Minha mão desliza por baixo de sua calcinha rosa. Umidade
doce cumprimenta meus dedos.
— Eu preciso estar aqui. — caricio seu sexo macio e inchado
antes de mergulhar fundo. E ela grita - um apelo adorável que me
deixa ávido por mais.
Eu beijo sua boca enquanto meus dedos trabalham dentro do
ajuste apertado de sua calcinha. Ela se move comigo, seus quadris
empurrando e moendo contra minhas mãos. Nossa respiração se
mistura, ficando desconexa.
Não há mais espera. Eu arranco sua calcinha e rolo entre suas
coxas já abertas para mim. O primeiro empurrão para dentro dela é
a agonia e o paraíso, porque nada nunca será tão bom quanto me
encaixar dentro de Sophie. Nós dois estamos frenéticos agora,
ofegantes. Sei que ela espera que eu a foda forte e rápido.
Devagar, seguro suas bochechas e a beijo suavemente
enquanto trabalho devagar em sua fenda escorregadia.
— Gabriel — ela choraminga na minha boca. — Mais.
Sei que ela quer dizer mais rápido. Mergulho o mais fundo que
posso e me mantenho lá até que ela treme, antes de retirar devagar.
— Eu vou te dar tudo. — Sussurro.
Ela devora minha boca, seu corpo se contorcendo debaixo de
mim enquanto ela tenta mudar o ritmo. Mas eu a tenho exatamente
onde quero. Me movo dentro dela, deixo que ela sinta cada
centímetro. Ela solta uma bufada que é em parte uma risada e em
parte uma queixa descontente.
— Sophie. — Minha voz é clara e firme, exigindo sua atenção.
Seus olhos encontram os meus e eu a deixo ver tudo - o que ela
é para mim, o que ela faz comigo.
Ela respira fundo, os olhos arregalados e brilhantes. Sinto seu
corpo ceder, ficando mais macio.
— Gabriel. — Seus dedos trêmulos tocam minha bochecha.
E de repente, estou aterrorizado. Porque ela me vê, todos os
cantos escuros e as bordas imperfeitas. Isso acende algo entre nós.
Não consigo desviar o olhar ou me impedir de meter nela, dizendo
com o meu corpo o que tenho muito medo de pronunciar em voz
alta.
Me leve, me tenha, me ame.
Mas não preciso dizer as palavras, porque sei naquele instante
que ela já faz essas coisas. Em lençóis amarrotados, ela me clama
de corpo e alma e depois se oferece de volta. Naquele momento,
não sou mais Scottie ou Gabriel, sou algo mais. Estou em casa.
Finalmente. Até que enfim. Para sempre.

S
T chegam ao fim. Eu sabia que meu tempo
com Gabriel tinha um limite; ele é muito viciado em trabalho para
ficar de férias por muito tempo. Mas, apesar de termos tido duas
semanas gloriosas para nós mesmos, ainda não parece o suficiente.
Ainda assim, não posso negar que isso o fez bem.
Dias dormindo até o meio-dia, passando horas preguiçosas na
cama fazendo amor ou descansando à beira da piscina tomando sol
deram a ele um brilho saudável e um sorriso fácil nos olhos.
Dias bebendo um bom vinho tinto, comendo azeite de oliva com
pão crocante e devorando tomates maduros e queijo cremoso
preencheram as cavidades em suas bochechas.
Eu pensei que Gabriel era lindo quando o conheci. Agora
percebo que não o tinha visto em plena forma. Ele é robusto,
profundamente bronzeado e tão atraente em seu terno de linho que
fico um pouco tonta sempre que olho para ele.
Ele me dá um sorriso rápido e feliz enquanto dirige a Ferrari ao
longo da costa italiana, e fico agradecida por estar sentada.
— Eu quase posso ouvi-la pensando — diz ele, diminuindo a
velocidade com maestria. Bom Deus, a maneira como suas coxas
se esticam contra as calças...
Eu cruzo minhas pernas. — São todos pensamentos sujos,
prometo.
Seu sorriso cresce, mas ele mantém os olhos na estrada. —
Comporte-se, garota tagarela. Eu preciso me concentrar.
— É como se eu tivesse caído na capa da Pornô de Carros e
Ternos.
Uma risada baixa retumba em seu peito. — Não existe uma
revista assim, Darling.
— Deveria existir.
Rindo, ele muda de marcha e acelera. Sou empurrada contra o
banco enquanto o carro avança para frente. Gritando, levanto as
mãos e deixo o vento bagunçar meu cabelo enquanto corremos pela
costa.
Chegamos ao nosso hotel em Nápoles muito cedo. Kill John vai
fazer um show hoje à noite e então vamos para Milão e, finalmente,
Berna, na Suíça.
Gabriel pega minha mão quando entramos no saguão. Eu não
esperava, mas ele adora ficar de mãos dadas. Sempre que estamos
próximos, ele encontra uma maneira de enfiar os dedos nos meus, o
polegar acariciando minhas juntas ou as costas da minha mão como
se me tocar o acalmasse.
Uma noite, durante nossas férias, sentei-me com ele no terraço,
bebendo vinho enquanto ele brincava com a minha mão, me
olhando como se não tivesse certeza de como havia chegado ao
ponto onde pudesse me tocar livremente.
Eu sorri e ele me puxou para o seu colo. Ele usou as mãos de
uma melhor maneira depois disso. E eu lambi o vinho de sua pele
até o fazer estremecer, rosnar e exigir coisas sujas de mim daquele
jeito mandão e viril dele.
Um suspiro melancólico me escapa, e Gabriel me dá um aperto.
— Qual é o problema, garota tagarela?
— Eu não quero dizer.
— O que me faz querer saber ainda mais. Fale comigo, Darling.
Chegamos aos elevadores e ele aperta o botão para subir.
Balanço a cabeça, mas desisto.
— Estou apenas sendo ridícula e gananciosa. Já sinto falta de
ser apenas nós dois.
Suas sobrancelhas se franzem e ele dá um passo para mais
perto, envolvendo-me em seu perfume e na força de seus braços.
Dedos quentes deslizam para a minha nuca.
— Onde estamos é simplesmente uma questão de geografia. —
Lábios macios escovam minha bochecha, e sua voz soa no meu
ouvido. — Lembra, garota tagarela? Eu nunca vou realmente me
separar de você, porque você está sempre aqui. — Ele pega minha
mão e a coloca contra sua têmpora, como fez naquela noite nos
bastidores.
Sorrio e descanso minha bochecha contra seu peito, onde seu
coração bate forte e firme. — E aqui.
— Exatamente.
Eu o amo. Eu o amo tanto que não parece real. Eu o amo tanto
que me aterroriza um pouco. Nunca estive apaixonada antes. Não
tenho nenhuma experiência com o processamento dessa emoção.
Como isso pode deixar uma pessoa tão feliz e com tanto medo?
Não posso perdê-lo. Não posso. Meu coração não sobreviveria.
Mas ele está aqui, me segurando como se fosse ficar nesse
exato local me dando conforto pelo tempo que eu precisar.
O elevador chega e dou um passo para trás. É quando eu o vejo.
Ele parece um pouco pior, com uma queimadura de sol no rosto,
mas eu o reconheceria em qualquer lugar.
O chão desaba abaixo de mim e engulo em seco, me sentindo
perigosamente perto de vomitar.
Ele está me olhando de onde está, do outro lado do saguão. O
brilho calculista em seus olhos me diz que ele sabe exatamente
quem é Gabriel, e está pensando em como usar o conhecimento de
que obviamente estamos juntos.
Um suor frio brota ao longo da minha pele quando Gabriel coloca
a mão nas minhas costas e me guia para o elevador. A última coisa
que vejo antes das portas se fecharem é o sorriso convencido de
Martin e sua piscadela maligna, como se dissesse: “Entrarei em
contato em breve.”
CAPÍTULO VINTE E CINCO

N .
Olho para a mensagem no meu telefone e minha raiva cresce
em uma névoa vermelha que embaça as bordas da minha visão.
Meu estômago se agita. Esse filho da puta ainda tem o meu
número. Me desculpe por não o ter trocado há muito tempo, ok?
Mas isso não teria importância; Martin sempre encontra uma
maneira de conseguir o que quer.
Meu estômago revira e eu pressiono uma mão sobre ele.
Eu deveria dizer a Gabriel que Martin estava rondando pelo
saguão. Mas não quero. Falar o nome dele é como invocar o diabo.
Não quero lembrar Gabriel do que fiz. É claro que ele sabe, mas ver
Martin, ligá-lo visualmente à mim, tornará tudo mais real. Mais
pungente. Porque é isso que Martin é: um odor desagradável
circulando por aí, deixando o lugar fedorento. O bastardo quer
conversar. É preciso pouca imaginação para adivinhar o porquê.
Uma brisa sopra do porto. Me encolho na espreguiçadeira da
varanda, puxando meus joelhos em direção ao peito. Não está frio
aqui fora, mas estou congelando por dentro enquanto minha pele
queima.
— Sophie. — O rosto de Gabriel paira na minha frente, sua testa
franzida.
Assustada, pisco e olho em volta, observando o mar escuro e as
luzes ao longo da costa. — Sim?
Ele se senta ao pé da espreguiçadeira. — Eu chamei seu nome
três vezes.
— Desculpe. Eu… — Não sei o que dizer, então dou de ombros.
Ele avalia meu rosto, preocupado. — O que está se passando
nessa cabecinha, garota tagarela?
— Eu não me sinto bem. — É verdade. Quero ir para debaixo
das cobertas e chorar. — Andei de carro em estradas montanhosas
por tempo demais, acho.
A pressão fria de seus dedos na minha testa quase me faz
chorar, e eu tenho que piscar várias vezes para não perder o
controle.
Sua carranca se aprofunda. — Você está quente.
— E você está frio. — Eu forço um sorriso. — Beije-me e torne
tudo melhor.
Ele se inclina e beija minha testa. Mas agora ele está em missão.
— Estou falando sério. Quero que você fique aqui essa noite. Vou
mandar uma mensagem para a Dra. Stern e pedir que ela te
procure.
— Não, não — digo para Gabriel. — Estou bem. Ficarei melhor
trabalhando.
— Até parece. — Sem nenhum esforço aparente, ele me pega e
me carrega para dentro. Apesar de tudo, um pouco de emoção me
percorre. Nunca fui carregada ou tratada como se fosse preciosa. E
embora eu não esteja realmente doente, seu cuidado comigo me faz
querer me apegar a ele e chorar até secar.
Ele me coloca no sofá. — Fique.
— Sim, senhor. — Eu o saúdo, mas ele já está entrando no
quarto.
Gabriel volta com um cobertor, que prontamente coloca em volta
do meu corpo. — Aqui.
— Você está agindo como uma mãe coruja. — O que eu amo.
— Piu, piu — ele diz com uma cara séria enquanto pega o
telefone da casa com uma mão e o controle remoto da TV com a
outra. Estou impressionada com sua capacidade de multitarefa; ele
percorre as seleções de filmes e seleciona uma comédia romântica,
enquanto simultaneamente pede uma tigela de sopa com pão pelo
serviço de quarto.
— E um bule de chá — acrescenta, terminando a ligação.
Meu pobre coração machucado vira gelatina ali mesmo. Ele está
pedindo chá pra mim. Minha voz sai muito grossa quando falo. —
Os italianos não são conhecidos por seu chá.
— Provavelmente será um lixo — ele concorda. — Mas terá que
servir.
E embora eu esteja toda enrolada como se fosse um pacote, ele
me move mais uma vez, me colocando em seu colo e nos
aconchegando debaixo do cobertor. É muito melhor ser abraçada.
Eu me enterro contra seu peito, e seus braços me envolvem ainda
mais.
— Eu não quero te deixar — ele murmura no meu cabelo.
— Estou bem. Sério. Eu posso ir com você...
— Não. — Sua voz é suave, mas firme. — Mesmo que você não
esteja doente, precisa descansar. Agora, cale a boca e faça como
indicado pela primeira vez.
— Mandão.
— Você só está irritada porque é minha vez de mandar em você.
Incapaz de me segurar, acaricio seu peito. Tocá-lo é um luxo que
acho que nunca vou me acostumar. — O que você disse sobre o
relaxamento forçado ser um paradoxo?
— Não me lembro de ter dito disso. Acho que sua exaustão te
deixou delirante.
Bufo e ele me beija na testa, rindo.
O filme começa e ficamos em silêncio.
— Como você sabia que eu amo Harry e Sally, Feitos um Para o
Outro? — Pergunto baixinho.
Ele se move abaixo de mim, apoiando um pé na mesa. — Você
me disse.
— O que? Quando?
— Na terceira noite, no ônibus. Você estava tirando sarro do meu
amor por todas as coisas de Star Trek, e eu perguntei quais eram
seus filmes favoritos. E ainda me ofendo que você ache que
Spaceballs está no mesmo nível de Star Wars.
Eu sorrio com o desgosto em sua voz, mas um pequeno choque
me atravessa quando penso naquela noite. — Você se lembra de
tudo isso?
Sua mão se enterra no meu cabelo, espalhando adoráveis
pequenos arrepios pela minha espinha. — Eu lembro de tudo que
você diz, Darling. Você fala, eu escuto.
Quase digo a ele que o amo ali mesmo. As palavras borbulham e
dançam na minha língua, mas minha boca se recusa a abrir. O
medo me impede, como se ao contar pra ele de alguma forma fosse
o começo do fim. Não faz sentido, mas não consigo me livrar do
sentimento.
Beijo a parte de baixo de sua mandíbula, onde o perfume de sua
colônia se mistura com o calor de sua pele, e o abraço mais forte.
Ele me segura até o serviço de quarto chegar. Dada a velocidade
com que isso aconteceu, acho que recebemos tratamento
preferencial. Uma das vantagens de Kill John alugar o andar inteiro,
suponho.
Gabriel veste o paletó e puxa os punhos da camisa de volta ao
lugar enquanto eu finjo interesse em minha refeição. Mas meu
apetite se foi.
— Não brinque com a sopa — diz ele. — Coma.
— Estou esperando esfriar.
Aparentemente sou uma péssima mentirosa, porque ele paira no
final do sofá, me olhando como se pudesse tirar os pensamentos da
minha cabeça por pura força de vontade.
— Eu deveria ficar — ele diz finalmente.
Quando ele puxa o celular do bolso, como se quisesse mandar
uma mensagem, seguro sua mão. — Não, vá. Juro que estou bem.
Só estou tendo uma noite ruim. Acontece.
Eu preciso que ele vá, para que eu possa caçar aquele maldito
Martin e mandá-lo ir comer merda e morrer – ou algo nesse sentido.
Não posso fazer isso com Gabriel por perto. Estou bastante certa de
que sua versão de dizer a Martin para ir comer merda
provavelmente seria mais algo como ele batendo em Martin até o
fazer cagar nas calças em puro terror.
Seria meio gratificante de assistir, mas a ideia de Gabriel tendo
problemas com a lei ou ter sua reputação manchada me deixa
horrorizada.
Ele deve perceber minha urgência, porque suspira e se inclina
para me beijar. Esse beijo não é rápido, é suave e lânguido, como
se estivesse deleitando-se com o meu gosto. E eu derreto sob seu
toque, beijando-o de volta, minhas mãos se enfiando em seus
cabelos grossos.
Um rubor colore suas bochechas quando finalmente nos
separamos, nós dois respirando com dificuldade. Sua testa
descansa contra a minha enquanto ele segura minha nuca. —
Sophie — diz ele. — Minha garota querida.
Lágrimas ameaçam cair. Ele é terno demais. Maravilhoso
demais. Eu fecho meus olhos e deslizo meus polegares em círculos
ao longo de suas têmporas. — Eu estarei aqui quando você voltar.
Fazendo um som de concordância, ele me beija mais uma vez. E
de novo. Beijos gentis. Beijos que parecem amor.
— Sophie, eu... — Ele respira fundo, balançando a cabeça.
Quando dá um passo para trás, sinto a perda dele como se fosse
uma mão fria na minha pele.
Ele mexe nos punhos da camisa mais uma vez e procura meu
rosto. Não sei o que ele vê, mas sua voz é suave quando finalmente
fala. — Fique bem.
— Eu vou. — Mas minha promessa é vazia; porque essa doença
não vai se curar até eu faça alguma coisa em relação a Martin.

E - as festas fúteis antes e depois de


cada show, onde imprensa, fãs, administradores de fã clubes, outras
pessoas da fama e grandes atrizes da indústria se reúnem em um
encontro chato sobre quem está de olho em quem. Eles são a
desgraça da minha existência profissional.
Ao longo dos anos aperfeiçoei uma expressão remota que
mantém as pessoas à distância durante essas horas torturantes.
Apenas os muito corajosos ou muito estúpidos se aproximam de
mim. Os muito corajosos têm meu respeito e geralmente são
inteligentes o suficiente para conversar brevemente. Os muito
estúpidos são facilmente dispensados.
É inevitável, no entanto, que eu tenha que conversar com as
pessoas a noite toda. E essa noite está extremamente longa. Eu me
forcei a não mandar mais de uma mensagem de texto para Sophie,
para que eu não dê uma de “mãe coruja”. Mas eu quero.
Não gostei da expressão pálida e agitada que ela tinha antes, ou
do jeito que ela tremia em meus braços, mesmo que claramente
quisesse esconder sua tristeza. Algo está errado. Algo além do que
o enjoo da viagem que ela afirma ter.
Seja qual for o problema, quero resolvê-lo. É imperativo que eu
resolva. Minha vida inteira foi dedicada a cuidar das pessoas com
quem me importo, e ela está no topo da lista agora.
Eu deveria ter ficado com ela. Estou me sentindo... possessivo -
mais uma emoção com a qual não tenho familiaridade.
Homens não podem sair por aí apresentando sua mulher tipo
“Minha; Toque nela e perca um dedo.” Ou podem? Duvido que
Sophie gostaria de ser rotulada como tal. Ou talvez sim, se eu lhe
dissesse para também me rotular da mesma maneira?
— Scottie, cara, você está viajando na maionese.
— Perdão? — Eu encontro Killian ao meu lado.
— Completamente fora de órbita. — Seu sorriso é irritante. —
Acho que as férias deram certo.
— Estou curado da compulsão de verificar meu telefone a cada
dois minutos — digo a ele sombriamente.
— Uhum, é exatamente a isso que eu estava me referindo.
Eu ignoro seu olhar presunçoso. — Foi... — As melhores
semanas da minha vida. — …Eu gostei muito.
Killian soa divertido. — Fico feliz em saber.
Ele não diz mais nada, mas também não se afasta.
Sophie acredita que eu deveria me esforçar mais com eles.
Limpo minha garganta. — Estou pensando em levar Sophie ao
chalé para o Ano Novo. Você e Liberty gostariam de se juntar a nós?
Eu faço uma careta. Isso provavelmente soou tão formal saindo
da minha boca quanto soou na minha cabeça. Pela forma como os
lábios de Killian se contraem, eu estou correto. Droga.
Mas ele responde antes que eu possa dizer outra palavra. —
Liberty e eu gostaríamos muito.
— Você não deveria perguntar a ela antes de confirmar? — Até
eu sei disso sobre as mulheres.
— Não há necessidade. Nossas mentes estão conectadas. —
Ele se inclina. — Além disso, ela está bem atrás de você.
Assustado, dou um passo para trás e encontro Liberty sorrindo
tão largamente que as bochechas dela se amontoam nos cantos. —
Ei, Scottie. — Ela me dá um soco no braço. — Podemos esquiar,
comer fondue e fazer outras coisas estilo James Bond?
— Como pular de penhascos e abrir paraquedas com a bandeira
da Reino Unido neles? — Eu digo.
— Sim. Mas eu preciso de estrelas e listras no meu. É o meu
dever patriótico.
— Vou colocar isso na minha lista de tarefas.
— Yaay! — Ela me abraça antes que eu possa fugir. — Vai ser o
melhor ano novo de todos os tempos!
Killian ri, mas depois olha em volta. — Alguém viu o Jax?
Eu me solto do aperto de Liberty e a cutuco na direção de Killian.
— Não desde o final do show. Ele parecia meio mal hoje à noite.
Killian examina a sala. — Ele parecia uma merda. E agora ele
sumiu.
Quando Jax desaparece, todos nós ficamos preocupados. É uma
reação automática agora, não importa o quão estável ele pareça.
Instantaneamente, estou alerta, a parte inferior das minhas costas
ficando rígida.
— Quando você o viu pela última vez?
— Quando estava saindo do palco.
— Isso foi... — Olho para o meu relógio. — Quarenta e dois
minutos atrás.
Killian acena para Whip e Rye. — Vocês viram Jax?
Nossa preocupação é contagiosa. Rye franze a testa. — Não,
cara.
— Eu o vi entrar no banheiro quando saímos — diz Whip.
Rye corre para procurar no banheiro, enquanto Killian se dirige a
Kip, nosso chefe de segurança.
Eu o sigo e os alcanço exatamente quando Kip diz a Killian que
viu Jax subir as escadas, agarrando-se à uma groupie.
— E um cara — acrescenta Kip.
— Um cara? — Killian repete, confuso.
— Sim, ele parecia meio desprezível. Segurava Jax pelo outro
braço. Mas Jax me dispensou. — Kip dá de ombros. — Então, o que
eu poderia fazer?
Poderia fazer seu maldito trabalho e me dizer o que está
acontecendo, penso com um rosnado silencioso.
O olhar de Killian dispara para o meu. — Jax não curte caras.
— Eu sei disso — digo bruscamente, e então respiro fundo. —
Olha, nós não sabemos o que está acontecendo; estamos
simplesmente sendo cautelosos. E não quero chamar a atenção,
então vamos nos acalmar.
A mandíbula de Killian fica tensa, mas ele assente.
— Continue fazendo o seu trabalho. — digo a Kip. — Venha
comigo, Killian.
Rye nos encontra quando atravessamos o cômodo e sua
expressão é sombria. — Não está no banheiro.
— Aparentemente, ele subiu — eu digo. — Fique aqui e seja
você.
Ele sabe exatamente o que eu quero dizer, mas não parece feliz
com isso.
— Tem dias que é uma droga ser o palhaço da turma. Me mande
uma mensagem quando você o encontrar, ou eu vou ficar
preocupado. — Ele nos saúda e sai correndo, pulando no sofá entre
duas mulheres. — Senhoras, quem quer tomar uns shots?
Liberty está conosco, e eu toco seu cotovelo para desacelerá-la.
— Diga ao Whip para ficar aqui em baixo. Se todos nós formos, as
pessoas vão notar.
Killian e eu ficamos em silêncio enquanto esperamos pelo
elevador.
— Não temos motivos reais para nos preocupar — digo a ele.
— Ele provavelmente está transando com uma garota.
— Certo.
Uma fileira de luzes numeradas acompanha a descida do
elevador até o quinto andar. Killian e eu assistimos.
— Por que eu sinto que é algo mais? — Sussurra Killian,
olhando para as luzes.
Meu coração dá uma batida dolorida. — Eu não sei. — Mas sinto
o mesmo.
CAPÍTULO VINTE E SEIS

A que eu acabo não precisando caçar Martin. Ele me


encontra. É claro que o bastardo faz do seu jeito, mandando uma
mensagem para me dizer que está indo para o show – onde eu não
posso ir sem ser vista por Gabriel – e então adiciona
presunçosamente que mandará uma mensagem novamente quando
estiver livre.
Filho da puta. Filho da puta do caralho.
Não tenho escolha a não ser me sentar de modo rígido, esperar
e ficar ainda mais ansiosa.
Já desenhei chifres em metade dos modelos da minha revista
quando ouço o elevador apitar no corredor. O riso desagradável de
uma mulher soa, seguido pelos tons mais baixos da voz de Jax. O
show acabou, e ele está claramente disposto a ser entretido.
Suas vozes desaparecem e eu tento me distrair com a TV.
Infelizmente, não tem nada bom passando, e eu me pego assistindo
Alvin e os Esquilos em italiano. Não tenho ideia do porquê de um
programa infantil estar sendo exibido no meio da noite, mas as
conversas agudas e rápidas em italiano são definitivamente uma
distração.
Não sei quanto tempo passa, mas um grito penetrante de terror
vindo do corredor me faz pular e correr para a porta.
Uma jovem corre em direção ao elevador, histérica. Seu cabelo
castanho está selvagem e sua maquiagem está manchada.
Respingos de vômito cobrem um lado de seu peito. Isso não me
impede de agarrá-la pelo braço e puxá-la para a fazer parar. Ela
estava fugindo do quarto de Jax.
— O que aconteceu? — Eu exijo, meu coração batendo forte.
Ela tenta se soltar, mas eu a seguro com força. — Me responda.
— Eu não ligo se ele é famoso! Ele vomitou em mim! Ecaaa... —
Ela agita a mão. — Isso é tão nojento.
Ela é americana e provavelmente não deve ter mais que
dezenove anos. Eu a puxo por onde ela veio correndo pelo corredor.
— Mostre-me onde ele está.
— Me solta!
— Não. Você não tem esse luxo agora. — E eu sou mais forte. A
preocupação e o medo por Jax tiveram esse efeito em mim.
— Ele está com aquele outro cara — ela choraminga. — Ele
cuidará dele.
Eu não paro, mas meus passos tropeçam. — Que cara?
— Eu não sei. Um cara. Marty.
Posso sentir o sangue sumindo do meu rosto. Me pego correndo,
a garota a reboque. — Merda, merda.
A garota se solta. Eu não tento pegá-la, apenas corro para o
quarto de Jax e bato na porta.
Meu pior medo é confirmado quando Martian abre a porta com
um sorriso de merda.
— Bem, isso foi mais fácil do que o esperado. Olá, linda Sophie.
Eu o empurro para trás com toda a minha força. — Que porra
você fez?!
Ele tropeça um passo, mas depois se firma, rindo. — Eu não fiz
merda nenhuma. Apenas segui o desastre que é Jax Blackwood.
Do banheiro, soa um gemido lamentável seguido de um som de
vômito. Dou a Martin um olhar mortal enquanto me apresso até lá.
Ele segue como se mal pudesse esperar para testemunhar isso.
O cheiro me atinge primeiro. É tão forte que cambaleio. Jax está
no chão, perto da privada, com a pele num tom doentio de cinza e
coberta de suor, entre outras coisas.
— Jax — eu caio ao seu lado, indiferente à bagunça. — Querido,
o que você tomou?
Sua cabeça balança, mas ele pisca, tentando se concentrar em
mim. — Nada, baby. Eu juro. Não me sinto muito bem.
Ele estremece, então cegamente alcança a privada, me
derrubando no processo. Eu ouço o clique característico de uma
foto sendo tirada. Martin está com o celular na mão e está
apontando-o para nós com um grande sorriso.
— Largue essa porra de telefone ou eu vou enfiá-lo na sua
bunda, eu juro por Deus! — Eu tento alcançar o celular, mas Jax
colapsa no chão.
— Jax! Merda. Me dê esse telefone! — Rosno para Martin. — Eu
preciso chamar um médico!
Martin se afasta do meu alcance, segurando o celular no alto. —
Baby, eu sabia que valeria a pena segui-lo, mas não sabia que você
me faria ter tanta sorte. Obrigado, Soph. Novamente.
As palavras mal saem da boca dele quando Gabriel e Killian
aparecem na porta. Alívio toma conta de mim. Gabriel saberá a
melhor maneira de ajudar Jax. Mas algumas coisas acontecem
numa rápida sucessão que me impede de dizer sequer uma palavra.
Killian grita de medo e corre para Jax.
O olhar de Gabriel dispara entre mim e Martin. Antes que alguém
possa se mover, ele agarra Martin pela garganta com uma mão,
esmagando-o contra a parede, e arranca o celular de Martin com a
outra, colocando-o no bolso.
— Parado — ele vocifera para Martin, batendo sua cabeça
contra a parede mais uma vez.
— Saia de cima de mim! — Diz Martin, tentando se libertar. —
Eu vou te processar!
Gabriel simplesmente o prende na parede com a força de
apenas um braço. Ele já está no telefone. — Stern, eu preciso de
você agora. Traga sua bolsa. — Ele faz outra chamada um segundo
depois. — Kip. Aqui em cima. Agora.
Ele não olha nenhuma vez em minha direção.
Killian tem Jax nos braços. — Porra, de jeito nenhum você está
fazendo isso de novo — ele diz roucamente, parecendo em pânico.
Jax geme e se mexe.
— O que ele tomou? — A pergunta dura de Gabriel é dirigida a
mim.
— Eu não sei. Ele disse que não tomou nada Que só se sente
doente.
A atenção de Gabriel volta para o telefone de Martin enquanto
percorre as fotos. Cada centímetro dele parece vibrar com uma
raiva reprimida. Seus lábios estão brancos nos cantos, seu aperto
em Martin é tão forte que o homem começa a arranhar os dedos de
Gabriel.
— Você está sufocando ele. — Pessoalmente, quero espancar
Martin, mas Gabriel tem muito a perder por machucar seriamente
um fotógrafo.
Os olhos de Gabriel encontram os meus. A raiva queima tão
quente em sua expressão que eu reajo visceralmente, recuando
para dentro de mim mesma.
— Que bom — ele retruca, voltando sua atenção para o telefone
de Martin. Suas narinas se dilatam quando ele olha para o que tem
que ser dezenas de fotos, a última sendo eu debruçada sobre Jax.
Com alguns movimentos do polegar, ele exclui todas.
— Ei. — Martin tenta protestar e ganha outro golpe na cabeça.
Dra. Stern e Kip entram correndo um segundo depois, e tudo se
torna um borrão que pode ser resumido em: ajudar Jax. Acaba que
sou empurrada para fora do banheiro e caio em uma cadeira,
tremendo e suando. Há vômito nos meus joelhos, fato que eu estou
tentando muito não olhar, e tenho medo por Jax. Também estou
preocupada com o comportamento de Gabriel.
Eu sei que ele está operando no modo de emergência, mas não
gosto do jeito que ele se recusa a olhar para mim.
Kip leva Martin para fora da suíte com o pequeno bastardo
protestando o tempo todo, e então estou sozinha.
Gabriel ainda está com os outros no banheiro. Eu posso ouvi-los
conversando.
— Não é uma overdose — diz Stern. — Eu acredito que ele
tenha uma intoxicação alimentar. Já recebi ligações de algumas
pessoas da equipe que também estão sofrendo disso.
A voz de Killian é moderada. — Ele saiu para jantar com Ted e
Mike mais cedo.
— Esses foram os dois que eu atendi — diz Stern. — Vou
mantê-lo hidratado até que tudo passe pelo sistema dele.
Jax geme. — Caralho, todo mundo pode dar o fora? Tem mais
para passar pela porra do meu sistema...
Killian e Gabriel saem do banheiro e fecham a porta atrás deles.
Gabriel está ao telefone, atualizando alguém. Ele se mantém
afastado de mim.
Killian dá uma última olhada para a porta e solta um suspiro
trêmulo. O cansaço cobre seu rosto quando passa a mão sobre ele.
Com um tapinha no ombro de Gabriel, ele sai, nem sequer me
notando uma única vez.
O sentimento doentio e nervoso em minha barriga se intensifica
quando Gabriel finalmente se aproxima de mim.
— Raio de Sol...
— Não aqui — ele retruca, em uma voz baixa e tensa. Ele se vira
e se dirige para a porta.
Não tenho escolha a não ser segui-lo.

E até que estejamos em nosso quarto para me confrontar.


— Tudo bem, o que diabos está acontecendo?
— Não grite comigo como se eu fosse um dos seus
subordinados.
— Responda a maldita pergunta — ele rosna.
Meus ouvidos latejam com sua fúria. É tão repentina e intensa
que eu recuo. Nunca o vi assim, os lábios brancos, seus olhos
queimando nos meus. Meu lábio treme. Quero chorar. Mas eu nunca
fui do tipo que se esconde. Não vou começar agora, e me pego
gritando de volta para ele.
— Eu não sei! Eu só cheguei alguns minutos antes de você.
Ele bufa, um som alto e desagradável. — Ele te enviou a
primeira mensagem quando entramos no nosso quarto.
Merda. — Isso não teve nada a ver com Jax.
Gabriel range os dentes. — Você não estava doente, estava?
Você mentiu para mim.
Meu estômago está tremendo. — Eu estava doente. De
preocupação e vergonha. O simples pensamento daquele verme
estar por perto e querer conversar me deixou doente.
Isso só o deixa mais irritado, com um rubor subindo pelo
pescoço. — Isso é tudo que você tinha que me dizer, se fosse esse
o caso. Em vez disso, você fez eu me preocupar e ficar arrependido
de deixar você para trás. Sendo que o tempo todo você estava
pensando em se encontrar com aquele merdinha.
Ele está certo, e não há nada que eu possa fazer para mudar os
meus erros. — Eu sinto muito. Só queria lidar com isso sozinha, me
livrar dele e seguir com a minha vida. Não pretendia te machucar, no
entanto.
Gabriel acena com a mão como se estivesse golpeando uma
mosca. — Ótimo.
— Você não parece ótimo.
Seu olhar corta em minha direção. — Porque eu não estou
ótimo! Estou puto pra caralho!
Vacilo novamente com a dureza em sua voz e com a maneira
que ele a usa como um chicote. Nunca tendo sido alvo da raiva
dele, eu não tinha percebido o seu poder. Tenho vergonha de ter
merecido esse tratamento. E me dói que ele não vai deixar isso
passar.
Ele anda até mim, mas para como se de repente não quisesse
estar muito perto. — Já é ruim o suficiente ter que entrar no que
parecia ser uma repetição de um dos piores momentos da minha
vida, mas além disso tive o privilégio de testemunhar seu suposto
ex-namorado a agradecendo por ajudá-lo a registrar toda aquela
merda!
A culpa e a vergonha me atingiram novamente, mas minha
mente congela. — Como assim, suposto? Ele é meu ex. Como você
pode pensar isso...
Seu lábio se curva em desgosto. — Você não é burra ou cega.
Você sabe muito bem como isso tudo parece.
— E como exatamente isso parece para você? — Eu pergunto,
meu coração batendo forte nos meus ouvidos. — Diga-me, Gabriel,
o que acha que aconteceu aqui?
Por um segundo, acho que ele não vai responder. Mas então
algo desafiador brilha em seus olhos e ele endurece, aquelas
paredes geladas e profissionais se fechando ao seu redor. É tão
rápido e eficaz que quase consigo ouvir o som delas.
— Parece que você nos fodeu.
Ele poderia muito bem ter me dado um soco no estômago. Por
um segundo, não consigo respirar.
— Certo. Tudo isso, tudo o que tínhamos juntos, era apenas uma
artimanha elaborada para obter uma reportagem. Claro, por que
não? Eu posso bancar a prostituta, não posso?
Não vou chorar. Não vou chorar.
— Não distorça isso, Sophie.
— Não estou distorcendo nada. Você disse isso claramente. Só
estou esclarecendo sua teoria.
— Eu não teria que teorizar se você simplesmente me dissesse
o que diabos aconteceu! — Ele dá um soco no ar, enquanto as
palavras rasgam para fora dele.
— Eu não deveria ter que explicar que eu não sou uma puta de
sarjeta — eu grito de volta. — Você deveria confiar em mim o
suficiente para não chegar a essa conclusão nojenta.
— E se tivesse sido eu? Se você tivesse me encontrado com
alguém que já havia machucado sua família, alguém com quem
sabia que eu tinha um relacionamento enquanto machucava sua
família? Honestamente, você presumiria que estava tudo bem
porque confia em mim?
Ele olha para mim com olhos arregalados e doloridos, e meu
coração aperta. — Bem…
— Não, você não faria isso — ele interrompe, endurecendo mais
uma vez. — No mínimo, você esperaria uma explicação sem
precisar pedir. E eu a daria a você — ele grita. — Porque você
merece essa cortesia. É o que qualquer um faria. Principalmente a
pessoa que você...
Sua boca se fecha e ele se afasta, passando a mão pelos
cabelos. Encurvado e tremendo, ele parece tão derrotado que eu
me movo para ir em sua direção. Porque se Gabriel está sofrendo,
eu preciso estar com ele.
Mas nem sequer tenho chance. Ele se endireita mais uma vez e
se vira para mim. — Estou tentando o meu melhor para lhe dar uma
chance aqui. Porque o que Killian e eu vimos hoje à noite não
parecia nada bom. — Ele abre as mãos em um gesto impotente. —
Cristo, Sophie, me dê algo, alguma maldita explicação que eu possa
dar a Killian.
Meu rosto queima tanto que chega a latejar. — Killian? Você
acha que eu dou a mínima para o que Killian acredita agora?
— Você deveria estar extremamente preocupada com o que
diabos Killian pensa de você. O bem-estar da banda deve ser sua
principal prioridade, droga.
— Obviamente é a sua — respondo.
— Claro que é. — Ele corta o ar com a mão. — Eu sou o maldito
empresário deles! O que você achou?
— Achei — respondo com uma voz trêmula, — que eu
significava o suficiente para você não fazer suposições horríveis.
Que você não se daria ao trabalho de tranquilizar os sentimentos de
Killian às custas dos meus.
Toda emoção desaparece de seu rosto e ele se endireita,
empurrando os ombros para trás, como se estivesse se preparando.
— Essa é a vida real, Sophie. Não é um filme. Você não usa essa
situação toda como uma espécie de teste para ver o quanto eu
consigo aceitar cegamente, como se isso de alguma forma me
tornasse digno de você.
Eu fico lá, boquiaberta, incapaz de formar uma palavra. Um
teste? Ele acha que isso é algum teste estúpido? Mas uma pequena
parte sombria de mim se pergunta: estou testando ele?
Eu explicaria tudo se ele me desse alguma chance de sequer
falar uma palavra.
E, no entanto, estou magoada que ele tenha imediatamente
pensado o pior de mim. Como não poderia estar? Somos melhores
que isso. Eu dei a ele o meu coração; Nunca o machucaria
intencionalmente ou a alguém que ele ama. Se ele não entende
disso agora, não tenho certeza se algum dia entenderá.
Sua voz é fria e metódica enquanto ele continua cavando, sua
maldita lógica surrando o meu coração com cada palavra. — Você
acha que eu não entendo o que você está fazendo? Me dê um
pouco de crédito. Eu te conheço, assim como você me conhece. Foi
divertido acreditar que você poderia me controlar?
Essa dor é maçante e oca, e de alguma forma pior por causa
disso. Fecho meus olhos. — Primeiro sou uma trapaceira
desprezível, e agora sou uma imbecil que gosta de controlar você
por diversão? É isso?
— Porra, você não pode ser a parte magoada aqui. Não dessa
vez.
Meus olhos se abrem. Ele parece tão genuinamente magoado
que não sei o que dizer. Mas não vou me desculpar agora, de jeito
nenhum.
— Que pena, porque estou magoada. E você não pode me dizer
como eu devo me sentir. — Dou um passo para mais perto, meus
punhos cerrados ao meu lado. — E agora, você está tornando muito
difícil não te odiar.
Ele balança nos calcanhares. O silêncio brota entre nós como
uma coisa viva e sombria. Quando ele finalmente fala, sua voz é
baixa e instável.
— Você sempre me pressionou para eu me expressar. Este sou
eu me expressando. Posso admitir que preciso me deixar viver mais
no momento e aproveitar a vida. Mas você, Sophie Darling, precisa
crescer e se responsabilizar quando as coisas vão ladeira abaixo. E
se você não consegue fazer isso, não pertence a essa turnê.
Eu o ouço. Sei que ele está certo sobre isso. Mas suas
conclusões horríveis e a maneira como ele pulou direto para elas
também pairam sobre nós.
Lambendo meus lábios secos, faço minha voz sair o mais calma
possível. — No momento, a turnê e se eu devo ou não participar
dela são as menores das minhas preocupações.
Ele franze a testa, inclinando a cabeça como se não pudesse me
entender. Parte de mim quer rir, mas sei que vou acabar chorando.
Talvez sejamos muito diferentes, nossas prioridades muito distantes.
Uma batida na porta da suíte nos sobressalta. Gabriel se vira
para ela, a boca apertada, o cansaço cobrindo seu rosto. Sob essa
luz, ele está quase abatido. Ele passa a mão sobre os olhos.
— É a Jules. Ela está aqui para me atualizar...
— Vou deixar você cuidar disso. — Com os membros rígidos,
vou para o quarto.
Ele não tenta me parar.
E eu não choro quando fecho a porta atrás de mim. Eu faço as
malas.
CAPÍTULO VINTE E SETE

—R ? — Pergunto, sentado em uma das cadeiras da sala


de jantar da suíte. Minha cabeça está muito pesada para se
sustentar sozinha, então eu a descanso nas palmas das mãos.
— A garota que você pegou no elevador é Jennifer Miller. Ela é
da equipe, trabalha com iluminação. — A voz de Jules é hesitante e
suave.
É lamentável, mas aparentemente sou muito bom em intimidar
mulheres. Uma flecha de dor atravessa meu coração. Limpo minha
garganta, tendo problemas para encontrar minha voz.
— Continue.
Jules solta uma expiração que mais parece um suspiro. — De
acordo com sua declaração, ela queria dormir com Jax. Quando viu
ele tendo problemas para chegar ao elevador, ela se ofereceu para
ajudar.
Bem, dê créditos à garota por ser uma oportunista. Eu não
deveria me importar, mas estou tão amargo no momento que tudo o
que posso fazer é bufar.
— E aquele estrume? Como ele entrou?
Entre os meus dedos, vejo a boca de Jules se levantar em um
ligeiro sorriso antes de pressionar os lábios. — Ah, ele se aproximou
dos dois no elevador. Disse a Jennifer que ele era um velho amigo
da… — Jules tosse, desviando os olhos.
— Da Sophie? — Eu completo. Porra, dói dizer o nome dela.
Não sei como consigo pronunciá-lo sem entonação.
Sophie. Ela se retirou para o nosso quarto depois que eu a
ataquei com mais força do que já ataquei qualquer outra pessoa. Ela
foi com uma dignidade silenciosa, e eu me senti minúsculo e cheio
de arrependimento. Nem me lembro da última vez que perdi a
cabeça com alguém com quem que me importava. Há uma razão
para isso. Sempre destruo as pessoas com as minhas palavras, de
modo tão minucioso que mais pareço um cirurgião com um bisturi.
Aquele filho da puta do Martin, no entanto... Minhas mãos se
fecham. É tudo o que posso fazer para não caçar o imbecil e
esmurrá-lo. Um calafrio percorre meu corpo. Estou voltando à minha
juventude selvagem, quando estava a poucos passos de me tornar
um delinquente cafona.
Jules me observa com olhos cansados.
Forço o que espero que seja uma expressão branda. — E
então?
— Sim, foi o que ele disse. E ele se ofereceu para ajudá-los. Jax
deixou os dois subirem.
Minha mão é fria e úmida quando a esfrego no rosto. — O que
aconteceu no quarto?
— Ah, Jennifer diz que começou a... hmm, se pegar com Jax.
Ele não pareceu se importar.
O que significa que ele estava tão mal que deixou a idiota fazer o
que queria com ele. Aceno com a mão, incentivando Jules a
acelerar as coisas. Mal posso aguentar ficar sentado aqui, ouvindo
isso. Quero levantar e andar de um lado pro outro. Quero caçar
Sophie e me deitar na cama com ela, e implorar que me perdoe por
gritar.
Não, não posso ser um completo capacho. Ela também estava
errada. Ela mentiu, recusou-se a explicar e usou o meu jeito de ser
contra mim. Nunca avançaremos em pé de igualdade se eu for o
único a admitir minhas falhas.
Não é como se você a tivesse dado muita chance para se
explicar, parceiro.
Não é como se ela tivesse tentado explicar.
Droga, agora estou discutindo comigo mesmo.
Jules está falando, e eu me obrigo a me concentrar.
— …Martin começou a tirar fotos deles. Ele disse que os dois
pareciam fofos juntos e Jennifer gostaria de... — Jules estremece.
— Uma lembrança.
— Puta que pariu.
— Sim — ela concorda baixinho. — De qualquer forma, Jax de
repente vomitou. Na Jennifer.
Ela faz uma pausa e nossos olhos se encontram. Não posso
deixar de sorrir um pouco. Jules também.
— Continue — digo, lutando contra esse sorriso.
— Ela saiu correndo, foi pega por Sophie, que aparentemente a
deteve, exigindo saber o que estava acontecendo, e depois tentou
arrastá-la de volta à cena.
Minha Sophie. Ela agiu como eu teria agido. A culpa se instala
na minha garganta como se fosse cacos de vidro.
— Jennifer se libertou e, presumivelmente, foi quando você a
encontrou no elevador.
— Sim. — Foi uma surpresa desagradável encontrar uma mulher
histérica coberta de vômito no elevador quando as portas se
abriram. Killian e eu a encaramos em choque antes de nos
recuperarmos e entregarmos ela diretamente à um segurança que
administrava a área.
Com um suspiro, me recosto na cadeira. Sinto dor. Por toda
parte. E eu sei que é por causa da mágoa. — Conte tudo isso para
Killian e o resto dos garotos. — Se eu o conheço bem, Killian já
contou tudo para eles a essa altura. — Não quero que eles pensem
mal da Sophie.
Dói dizer isso. Dói até pensar. Sophie não tinha entendido que a
mera ideia deles não gostarem dela seria uma ferida no meu
coração. Ela é importante demais para mim para haver qualquer tipo
de discórdia.
Jules assente. — E Jennifer?
— Está demitida. Dê a ela duas semanas de indenização e uma
passagem para casa.
— Acredito que nada de primeira classe dessa vez? — A piada
de Jules cai por terra. E o sorriso dela morre. — Cedo demais, né?
Sem me incomodar em responder, levanto e aperto a parte de
trás do meu pescoço rígido. — E repasse o acordo de não
divulgação que ela assinou. Certifique-se de que ela entenda as
repercussões se contar para qualquer um o que aconteceu.
Nós dois nos viramos ao ouvir um barulho vindo da sala de estar.
Sophie está no limiar da sala de jantar. Seu cabelo está escorrido e
úmido ao redor dos ombros. Ela parece menor de alguma forma,
diminuta. A luz sumiu de seus lindos olhos.
Eu fiz isso com ela. Meu coração bate forte no meu peito,
pressionando minhas costelas, que se apertam com força ao vê-la.
— Sophie. Estávamos terminando aqui.
— Sim, estou vendo. — Ela soa como um fantasma de si
mesma.
Vagamente, fico ciente de Jules saindo do quarto. Eu só tenho
olhos para Sophie, no entanto.
O silêncio paira. Dou um passo em sua direção, mas sua voz me
para.
— Você estava certo. Eu não pertenço a essa turnê. Não é mais
divertida para mim.
— Divertida? — A palavra é como um tapa na cara.
— Sim, divertida. Você conhece esse conceito que tem
dificuldade em adotar?
Eu estremeço.
E ela estremece também. — Sinto muito. Isso foi uma merda.
Não quis dizer isso.
— Você não teria dito se não quisesse dizer — digo, baixinho.
Os olhos dela se estreitam. — Então você quis dizer cada
palavra que me disse antes?
Há uma armadilha aqui. Posso vê-la armada, só esperando que
eu caia. Só que não tenho ideia de como contornar a maldita coisa.
— Eu não deveria ter gritado com você — digo. — Me arrependo
de ter sido tão... — Cruel. — Agressivo.
— Mas você não se arrepende do que disse. — Uma declaração
simples.
Irritação floresce em mim. — O que você quer que eu diga,
Sophie? Ambos falamos várias coisas. Todos os casais brigam. — E
então eles fazem as pazes. Por que não podemos chegar logo à
essa parte do roteiro?
Aparentemente, não estamos nem perto dela.
Sua expressão fica mais fria. — Casais confiam um no outro.
— Isso de novo? Você mentiu pra mim — retruco. E isso me
machucou. De alguma forma, isso é mais difícil de admitir.
— E eu pedi desculpas — ela rebate.
Eu deveria deixar pra lá. Sei disso. — Você mentiu para mim
sobre alguém que... porra, Sophie. Ele esteve dentro de você.
Eu não sei nem o que estou dizendo, só sei que o pensamento
dele com Sophie revira meu estômago e me faz querer espancar
alguma coisa.
A boca dela se abre. — Você está com ciúmes? Do Martin?
Sua voz dizendo o nome dele acaba com a minha paciência. —
Estou mais para enojado com suas escolhas de vida.
Merda.
Ela engasga. Não posso pegar as palavras de volta.
— Sophie... eu não...
— Primeiro sou imatura, agora sou nojenta?
— Você não é nojenta. — Dou outro passo em sua direção. —
Eu falei de boca pra fora. Sou um idiota ciumento. Não esperava
que fosse, mas sou.
Me aproximo. Se eu conseguir alcançá-la, simplesmente segurá-
la, tudo ficará bem. Tem que ficar.
Mas ela levanta a mão, me avisando para não me aproximar. —
Olha, vou ficar com a Brenna hoje à noite.
Isso está errado. Ela não deveria ir. — Você deveria ficar.
Um sorriso amargo puxa seus lábios. — Mas eu não quero.
Engulo com tanta força que dói. — Ah.
Réplica brilhante. Simplesmente brilhante.
Ela faz um barulho na garganta como se estivesse pensando a
mesma coisa. — Como eu disse, também não quero continuar na
turnê.
Meu corpo se inclina em direção ao dela. — Por quê? — Parece
mais um apelo do que uma pergunta.
Ela solta uma risada sem vida. — Jesus, você não pode ser tão
sonso. Você me deu um ultimato. Crescer ou sair da turnê. E pelo
que ouvi de você essa noite, tudo isso é discutível de qualquer
maneira. E sabe de uma coisa? Não quero crescer. Porque se isso
significa ser clinicamente fria como você, então acho que estou fora.
Ela pega a mala que só agora estou vendo e dirige-se para a
porta. Meus pés estão enraizados no chão. Tenho que forçá-los a se
mover, a segui-la. Sinto-me vazio e entorpecido. Minha cabeça dói
com suas palavras zangadas.
— Espere — digo.
Ela não se vira. — Sabe, — diz. — Eu gosto de você exatamente
como é, com suas falhas e tudo. Mas você claramente não me
aceita como eu sou.
— Isso não é verdade! — Estou andando mais rápido agora.
Mas ela já está na porta, abrindo-a. — Sophie!
Ela faz uma pausa, mas ainda não olha na minha direção. — Me
deixe em paz, Gabriel. Eu atingi o meu limite essa noite. Não posso
mais falar com você.
Dê espaço a ela. É isso que os homens devem fazer quando
uma mulher pede espaço, não é? Eu não sei. Nunca tive uma
mulher que quis chamar de minha antes. Parece errado, mas parece
que só fiz tudo errado até agora. Então deixo meus protestos de
lado.
— Certo. Boa noite, Sophie.
— Adeus.
A porta se fecha com um clique suave, e eu estou sozinho.

S
B . Apenas saia do quarto e então você pode
desmoronar.
Ele me deixa ir com um suave: — Boa noite. — Como se não
tivesse acabado de me despedaçar novamente.
Como se não tivesse acabado de dizer a Jules que eu estava
demitida. Nada de primeira classe desta vez? Bom, foda-se ele e
suas passagens de primeira classe.
Um soluço tenta escapar e eu o seguro por pura força de
vontade. Meus pés me impulsionam pelo corredor do hotel, mas
meu corpo está latejando com essa dor horrível e maçante. Ele me
demitiu? E depois agiu como se tivesse sido uma decisão minha?
Eu deveria ter jogado isso na cara dele. Mas estou tão magoada,
tão chocada. Não sei o que dizer. Não consigo pensar direito.
Pensei que ele me amava. É verdade que ele nunca disse as
palavras, mas cada olhar, cada atitude... Isso era amor. Tinha que
ser.
E, no entanto, cá estou eu novamente, em segundo lugar nas
prioridades de um homem, vencida pelo seu trabalho. Não era como
se eu não tivesse recebido avisos desta vez. Eu sabia que Gabriel
coloca a banda acima de todas as coisas. Mas eu esperava que
houvesse um espaço para mim.
Chego ao quarto de Brenna. Meus dedos estão fracos quando
bato em sua porta.
No momento em que ela abre, começo a chorar.
— Meu bem — diz ela, me puxando para dentro. — Meu bem.
Tudo o que aconteceu sai de mim como um vômito de palavras.
E ela me abraça, deixando tudo fluir.
— Ele fez o quê? — Ela grita quando conto sobre Gabriel
ordenando a Jules que me demitisse.
— Ele disse a ela para me lembrar da porra do termo de
confidencialidade que eu assinei — digo amargamente.
— Não. — Brenna balança a cabeça. — De jeito nenhum. Esse
não é o homem que eu vi com você. Ele é louco por você, Sophie.
Eu também não pensava que ele fosse capaz disso. Um suspiro
me faz tremer. — Eu o ouvi. — Entrei bem a tempo de ouvir as
ordens, alto e claro.
— Você tem que falar com ele. Porque não consigo acreditar.
Ela me guia para uma cadeira enquanto balanço minha cabeça.
— Acabei de falar com ele. Disse que estava saindo da turnê e ele
me deixou ir.
Por que ele não veio atrás de mim? Porque não disse que me
ama? É isso que eu quero? Estou tão desgastada e cansada da
coisa toda que não consigo pensar direito. Só sei que estou ferida e
sinto falta dele. Mesmo quando quero bater na sua cabeça dura e
teimosa, sinto falta dele. A vida é uma estrada vazia se ele não
estiver ao meu lado.
Eu odeio essa fraqueza. Estar apaixonado é como perder a
cabeça e ter o coração exposto ao mesmo tempo. É péssimo.
— Olha, — Brenna diz gentilmente, — vocês dois tiveram uma
noite ruim. Deixe a situação se acalmar e discutam sobre isso de
manhã. — Ela fica quieta e depois inclina a cabeça para olhar para
mim. — Você realmente quer sair da turnê?
É só então que me ocorre que ela não é apenas uma amiga. Ela
é minha chefe.
— Sinto muito — digo, torcendo meus dedos. — Não é só
Gabriel. Killian nem me olhou hoje à noite. Logicamente, eu não os
culpo. Mas foi como se tudo o que passamos não tivesse significado
nada. — Balanço a cabeça. — E me chame de covarde, mas eu só
quero ir embora e lamber minhas feridas em privacidade por um
tempo.
Brenna parece pensar que é uma péssima idéia, mas é gentil o
suficiente para não falar nada. — Vamos botá-la na cama. Tudo vai
parecer melhor pela manhã.
Estou bastante certa de que isso significa que Brenna vai tentar
me convencer a ficar. De qualquer maneira, não vou suportar se me
pedirem para revisar o termo de confidencialidade estúpido que
assinei. A humilhação me arrasaria.
Talvez Gabriel estivesse certo desde o princípio; talvez seja
melhor se afastar das pessoas e se proteger. Eu sempre fui uma
bola ambulante de emoção. Talvez se tirar um tempo para mim
mesma para me afastar da experiência inebriante que é estar
envolvida com Gabriel, vou poder ver as coisas claramente.
Brenna se levanta, interrompendo meus pensamentos. — Vou
deixar você se arrumar. — Ela dá alguns passos e depois se vira. —
Se as coisas não acabarem bem, Harley Andrews está muito
interessado em trabalhar com você.
— Isso é incrível. — Não sinto absolutamente nada. Não me
importo mais se vou trabalhar com uma grande estrela de cinema.
E, no entanto, a Austrália parece uma aventura agora. Eu poderia ir
lá, conhecer o país, ter uma perspectiva.
Uma pequena voz sussurra que estou fugindo como uma
covarde. Eu a ignoro.
CAPÍTULO VINTE E OITO

O encontram na manhã seguinte numa posição patética


no sofá, com um travesseiro sobre o meu rosto. Eu diria que esse é
o meu fundo do poço, mas já estou nele faz tempo. O segundo em
que Sophie saiu pela porta e para fora da minha vida sempre será o
meu fundo do poço. Ou melhor, no segundo em que duvidei dela e
destruí sua confiança em mim foi o momento que atingi o fundo do
poço.
— Jesus — diz Jax, de algum lugar acima da minha cabeça. —
Ele está de moletom. Sujo.
E fedido também. Eu não me importo.
— Ele está bêbado? — Whip pergunta com preocupação.
— Não — diz Killian. — Tudo o que vejo são garrafas d’água
vazias.
— Afogando as mágoas em água mineral. Pelo menos ele não é
clichê. — Rye murmura antes de se sentar ao meu lado. Sua mão
desce no meu ombro e ele me sacode. — Scottie, cara, o que
houve?
É preciso bastante esforço para fazer minha boca se mexer. Mas
sei que se eu não responder, eles nunca mais irão embora.
— Estou certo de que Sophie quer me deixar.
Eles ficam em silêncio, o que me irrita ainda mais.
Então Jax suspira. — Porra, cara. Isso é uma merda.
O travesseiro é erguido do meu rosto, e a claridade me cega.
Aperto os olhos quando Killian franze a testa para mim.
— O que você fez? — Ele pergunta.
Não respondo. Meu corpo está tão pesado que não consigo
encontrar energia para falar. Eu só quero que eles vão embora.
— Foi o sexo? — Whip pergunta timidamente.
Dou a ele um olhar que, em um mundo perfeito, causaria uma
aniquilação instantânea.
Infelizmente, só faz Whip estremecer. — Desculpe, desculpe. Só
achei que devia perguntar.
Eu olho para o teto. Atrás de mim, Jax vasculha a cozinha da
suíte e encontra algumas cervejas.
— Você pode beber isso? — Sinto-me compelido a perguntar.
Ele parece tão bem quanto eu me sinto.
Jax manca até o outro sofá e cai sobre ele. — Isso acalma o
meu estômago.
Tenho minhas dúvidas.
— Você está bem? — Pergunto, parcialmente com medo de que
ele vomite por toda a minha suíte.
Ele me dá um olhar conhecedor. — Me sinto como um pedaço
merda que foi requentada e colocada no sol para secar, mas vou
sobreviver.
Rye passa cervejas para os outros, mas declino a oferta. Não me
lembro da última vez que comi e, no meu humor atual,
provavelmente socarei alguém se ficar bêbado.
— Uma vez encontrei um livro da Brenna — diz Rye, fazendo
uma careta. — O cara nele tinha um “pau monstruoso” de vinte e
cinco centímetros.
— Sim, certo. — Jax zomba. — Foi uma fantasia? A
probabilidade de um cara ter quase uma terceira perna nas calças é
pequena.
— Fale por si mesmo — diz Killian com um sorriso presunçoso.
— Estou falando, anaconda. Apenas acalme-se e mantenha o
seu garoto no coldre.
Os dois riem. Mas Rye balança a cabeça. — Como os caras da
vida real podem competir quando as mulheres estão lendo sobre
paus gigantescos e mestres adoradores de buceta?
Whip bufa e gira uma de suas baquetas. — O comprimento
médio da vagina de uma mulher é de oito a onze centímetros. Um
pau de vinte e cinco centímetros não significa nada na hora do pega
pra capar.
— Você está tentando justificar o fato de ter um pau de oito
centímetros? — Rye pergunta com um sorriso crescente.
— Boa tentativa, mas você não vai ver este espécime magnífico,
por mais que queira. — Whip agarra sua virilha e a ergue na direção
de Rye antes de revirar os olhos. — O que estou tentando dizer,
imbecil, é que os homens não devem se preocupar com o tamanho
de seus paus, mas sim em como usá-los. Já tive mulheres que
choraram de gratidão porque estavam acostumadas com pintos
preguiçosos.
Jax ri disso. — Pintos preguiçosos. Verdade pra caralho. Faça
uma mulher gozar no seu pau, e ela fica viciada.
— Alguém me mate — eu murmuro, colocando o travesseiro de
volta no meu rosto.
— Olha, cara — diz Whip de algum lugar ao redor da minha
cabeça. — Estamos apenas tentando lhe dar alguns conselhos.
— Foda-se tudo... — Inclino o travesseiro de lado para encará-lo.
— Sophie foi bem saciada. Repetidamente.
Inferno, agora estou pensando em seu olhar quando goza, no
jeito que seu nariz pequeno se enruga e como seus olhos se
apertam enquanto ela arqueia o pescoço e geme... Coloco o
travesseiro no meu colo e rosno.
— Você tem certeza? — Rye balança as sobrancelhas. — Quero
dizer, ela obviamente não está feliz com alguma coisa...
— Ela está chateada porque eu a acusei como um idiota
ciumento e desconfiado, seu imbecil. Não porque eu não consegui
satisfazê-la. Maldito inferno.
— Ah.
Sim, ah. Como se isso me ajudasse.
Rye liga a TV e se senta em uma cadeira. — Olha, tá passando
Sobrenatural.
— Não — eu interrompo, aflito. — Não esse. Sophie tem uma
queda pelo Dean. Não posso assistir sem ouvi-la suspirando e
arrulhando de felicidade. — Deus, sinto falta dela.
Rye muda rapidamente de canal para um programa de carros.
Infelizmente, tudo no que consigo pensar é em Sophie cobiçando
minha Ferrari. Merda. A mulher está enfiada em todas as fibras da
minha existência. Estou me desfazendo.
— Eu a amo. — As palavras saem formais, estranhas na minha
língua. Mas são a parte mais verdadeira de mim.
— Claro que ama — diz Jax com a paciência de um pai
conversando com uma criança irritada.
Killian bufa. — Todos nós sabemos desde que você ameaçou
matar Jax por causa ela.
— Não me lembro de tais ameaças. — Eu apenas pensei em
fazer isso. Estava tão cego naquela época, tentando me convencer
de que Sophie era uma fantasia passageira sendo que eu estava
me apaixonando desde o momento em que ela abriu a boca. Minha
garota inteligente e tagarela. Ela me virou de cabeça para baixo, me
fez um homem melhor, me fez viver o momento.
Eu olho em volta. Os caras estão me dando privacidade,
assistindo TV. Mas eles estão aqui. Por mim. Eles nunca vão me
deixar. Os meus amigos. Minha família.
— Eu também amo vocês — deixo escapar.
E instantaneamente me arrependo. Meu rosto queima quando
todos se viram, com graus variados de choque em suas expressões.
Rye engasga em uma risada.
— Merda — murmuro. — Isso não é... Vocês sabem o que eu
quis dizer. Vocês são meus melhores amigos.
— “Em Whoville, eles dizem que o pequeno coração do Grinch
cresceu três tamanhos naquele dia.” — Diz Killian.
Todos riem.
— Vai se foder — rosno, lutando contra um sorriso. Mas não vou
mais recuar. Sophie estava certa; dói em mim e neles quando faço
isso. Olho nos olhos de cada um. — Eu falei sério.
Whip se joga em mim, o que dói pra cacete, e bagunça meu
cabelo. — Nós também te amamos, pequeno Scottie.
Eu o empurro para o chão. — Animais, todos vocês. — Mas eu
me sinto melhor. Exceto que não me sinto. De jeito nenhum. —
Estou fodido, não estou?
— Bastante — diz Killian, com um aceno de cabeça.
— Eu não vou me apaixonar. — Jax declara. — Já tenho
emoções fodidas o suficiente das quais preciso trabalhar.
— Famosas últimas palavras, cara — diz Whip, do chão.
— Então, você se desculpou com a Sophie? — Jax pergunta.
— Claro. Mas eu fodi tudo e ela pediu que eu a desse espaço.
— Você não deu um espaço pra ela, deu? — Killian parece
horrorizado.
Isso me obriga a fazer uma pausa e eu olho para ele. — Eu não
deveria?
— Não, você não dá espaço para elas — ele lamenta. — Isso é
apenas uma merda que elas dizem para ver se você vai lutar por
elas.
A indignação me perfura. — Por que caralhos elas fariam isso
conosco?
— Para ver se estamos prestando atenção? — Jax oferece.
— Para nos torturar? — Rye adiciona.
— É apenas biologia — diz Whip, como se de repente ele fosse
um especialista. — Os homens são programados para amar a caça,
e as mulheres para amarem serem caçadas.
— Isso soa como algo que as mulheres chamariam de sexista —
eu retruco.
— Elas podem protestar — concorda Whip. — Mas no fundo
sabem que é verdade.
— As mulheres deveriam vir com instruções. — Rye toma um
gole de cerveja e olha para a garrafa. — Ou uma etiqueta de aviso.
Killian ri. — Elas vem, cara. Você só precisa aprender a ler as
entrelinhas. O problema é que a maioria de nós não aprende como
até que uma mulher nos derrube. É uma prova de fogo, meus
amigos. E vocês vão se queimar.
— Killian James, profeta da destruição — digo, sabendo que ele
está certo. E odiando isso.
— Olha, — ele chuta meu pé. — Você estragou tudo. Agora
precisa fazer um gesto que mostre que ela é a pessoa mais
importante da sua vida.
— Devo cantar uma música dizendo que ela é uma transa fácil?
— Pergunto. O que é um golpe baixo, porque esse foi o erro de
Killian com Libby.
Os caras riem e Killian me chuta novamente. — Casei com a
garota, imbecil, então no final das contas eu ganhei.
Casamento não é algo que eu já quis ou considerei. Mas eu
poderia me casar com Sophie. Já posso imaginar: a aliança no dedo
dela, todos os meus bens garantidos para serem seus. Ela estaria
financeiramente segura para toda a vida. Ela seria minha por toda a
vida. E, em vez de o futuro ser uma parede em branco sobre a qual
eu nunca penso a respeito, seria sol e luz. Seria sua risada feliz e
calor suave. Perfeição.
O anseio aumenta a dor no meu coração.
Me levanto, estremecendo com a dor no meu peito e estômago.
— Todo mundo, fora. Tenho um grande gesto para planejar.
— Bom garoto, Scottie. — Rye dá um tapinha no meu ombro. —
Mas, o que quer que você faça, não coloque Star Trek no meio.
Porque sei que isso vai agradá-los, eu aponto o dedo do meio
para eles enquanto vou em direção ao chuveiro.
Meu progresso é interrompido quando Brenna entra no quarto.
— Você é um completo idiota — diz ela como forma de
saudação.
— Vejo que você tem conversado com Sophie. — Preciso me
conter para não exigir saber onde ela está e como está. Mas por
pouco.
Brenna faz um som de escárnio. — Você realmente disse a Jules
para mandar Sophie para casa? Como se ela fosse uma maldita
servente da qual você pode se desfazer quando as coisas ficam
difíceis?
Meu sangue corre frio pelas veias. — O que?
— Sophie ouviu você dizendo para Jules para colocá-la em um
avião. Nada de primeira classe desta vez? Isso te lembra alguma
coisa?
— Ai, merda. — Rye diz de algum lugar atrás de mim.
Eu o ignoro, o horror fazendo minha pele formigar e meus
ouvidos zumbirem. Sophie acha que eu a mandei embora? Não é de
se admirar que ela parecesse tão magoada, me atacando como um
animal ferido. E eu dei a ela espaço com isso para ficar refletindo a
noite toda.
— Eu estava falando sobre Jennifer, a garota que deixou a porra
do Martin entrar no quarto de Jax! Sophie é a minha vida, pelo amor
de Deus.
— Ah — diz Brenna, parecendo satisfeita. — Bem, isso é bom.
— Mas então seu rosto feliz some. — Na verdade, é ruim.
— Por quê? — Tenho que me segurar para não agarrar Brenna e
sacudi-la.
O nariz de Brenna enruga. — Ela, ah, deixou um bilhete dizendo
que ia “Dar uma voltinha por aí.”
— Mas que porra uma “voltinha por aí” significa? — Rosno.
— Crocodilo Dundee. — Killian exclama atrás de mim. — Sabe,
quando ele sai numa jornada pelo deserto?
Maldito inferno, minha garota é louca. Uma adorável lunática.
— Por onde ela vai dar uma voltinha?
Brenna faz uma careta. — Austrália. O voo dela sai às cinco.
Minha garota é uma lunática adorável, insensata e maléfica, em
quem eu vou dar umas palmadas na bunda assim que colocar
minhas mãos nela. Eu preciso alcançá-la. Porra, que Deus me
ajude, mas eu preciso fazer aquele gesto sobre o qual Killian estava
falando.
Talvez eu fique literalmente doente depois de dizer a coisa toda.
Mas posso fazer isso. Por ela, farei qualquer coisa.
Solto um suspiro e enfio as mãos nos cabelos para segurar
minha cabeça latejante.
— Tudo bem — digo. — Tudo bem, preciso de ajuda, e preciso
agora.
E meus amigos, que Deus abençoe todos eles, levantam-se de
prontidão.
— Do que você precisa, Scottie?
— Eu preciso do meu advogado, e preciso entrar naquele avião.
— Vou planejar o resto no caminho.

D você nunca sabe o que realmente tem até perder. Não


tenho certeza do quão preciso isso é. Sei que o que tenho com
Gabriel é algo especial, uma conexão que poucas pessoas têm a
sorte de encontrar. E, no entanto, aqui estou eu sentada em um
avião que está se preparando para me afastar dele.
De todas as coisas precipitadas e impulsivas que já fiz na minha
vida, essa é definitivamente a número um.
Estou tão brava comigo mesma que minhas unhas estão
marcando as palmas das minhas mãos. Eu deveria ter ficado e me
desculpado por não explicar as coisas imediatamente, por dizer
palavras ofensivas na tentativa de me proteger. Gabriel merece isso.
Ele merece o mundo. Alguns comentários idiotas à parte, ele é o
melhor homem que já conheci. E quero continuar a conhecê-lo, a
cuidar dele.
Uma passageira andando pelo corredor bate no meu ombro com
a bunda e murmura um pedido de desculpas rápido enquanto segue
pela passagem estreita. Primeira classe, só que não.
Com meu salário, eu poderia ter pago uma passagem com tarifa
premium. Mas não conseguiria voar dessa maneira. Não sem ele ao
meu lado. O luxo perdeu seu brilho sem Gabriel para compartilhar a
experiência.
— Merda. — Pego minha bolsa e a puxo de baixo do assento na
minha frente.
O homem sentado ao meu lado lança um olhar curioso em minha
direção.
— Eu tenho que ir — falo, como se ele precisasse saber.
O cara me dá um cumprimento enquanto me afasto do meu
assento.
Não é fácil andar pelo corredor enquanto todo mundo está
embarcando. Sou um salmão lutando contra a correnteza do rio. A
frustração arde nas minhas pálpebras. Eu preciso sair deste avião.
Eu preciso de Gabriel.
Uma comissária de bordo vê a minha luta e me encontra na
primeira saída de emergência. — Algum problema, senhorita?
— Sem problemas. — Ajusto a alça da bolsa mais para cima no
meu ombro. — Eu só preciso sair.
Ela me analisa lentamente.
Ótimo, provavelmente estou parecendo uma louca. Não é algo
que você queira parecer em um avião.
— Você é a senhorita Sophie Darling?
— Hã, sim?
Ela sorri, passando de cansada à estranhamente carinhosa. —
Bene. Eu estava a caminho de encontrar você.
— Estava? — Merda, o que eu fiz?
Ela liga o braço ao meu. — Venha comigo.
Eu sigo, porque, o que mais posso fazer? As pessoas me
observam e eu olho para trás. Ei, conte a minha história se atirarem
em mim com uma arma de choque, ok?
Mas ela não me tira do avião. Ela me leva para a primeira classe.
Meus passos diminuem, um protesto se preparando para sair. Não
sei do que se trata, mas não vou aceitar caridade nenhuma...
E então eu o vejo. Usando um terno de três peças cinza, gravata
de seda azul-gelo, cabelos pretos como carvão perfeitamente
penteados: o homem do meu coração. Ele está sentado em uma
cabine feita para dois com seus olhos estreitos, rastreando meus
movimentos como se estivesse esperando que eu desse meia-volta
e corresse.
O alívio me faz oscilar. A alegria me deixa embaraçosamente
perto das lágrimas.
Estou tão surpresa que perdi a capacidade de funcionar, e a
comissária de bordo quase tem que me empurrar para o meu
assento.
— Gabriel? O que você está fazendo aqui?
Sua sobrancelha se ergue. — Vim atrás de você, obviamente.
Deus, sua voz, baixa e rica e estridente. E irritadiça. Eu senti
falta dela.
— Mas você odeia voar. Esse vôo dura vinte horas!
Ele faz uma careta, ficando ligeiramente verde. — Sim, eu sei.
Você é mais importante.
Meu coração dispara, e eu quero pular no colo dele e beijá-lo.
Mas a tripulação do vôo está claramente se preparando para fechar
as portas.
— Você não pode sofrer por tanto tempo. Eu não vou permitir.
Temos que sair. — Pego sua mão e a puxo para sairmos, mas ele
me puxa de volta para baixo.
— Eu tenho coisas que preciso dizer. — Sua expressão está
determinada, e eu sei que ele não será influenciado.
— Ok…
Como se estivesse diante de um esquadrão de tiro, ele ajeita os
ombros e levanta o queixo. Mas o olhar em seus olhos é vulnerável,
exposto.
— Primeiro e mais importante, eu te amo. Eu nunca disse isso a
uma mulher e nunca direi a outra pessoa além de você. Eu vivi o
suficiente para saber que você é completamente perfeita para mim.
Esse é um acordo já fechado – assinado, autenticado, e tudo mais.
A felicidade borbulha em minhas veias como champanhe quente.
— Gabriel...
— Eu não terminei.
Ele parece tão adoravelmente comprometido em dizer o que
planejou que eu reprimo um sorriso. — Ok.
Ele assente, respirando fundo. — Eu direi as palavras erradas de
vez em quando. E vou foder as coisas. Isso é um fato, infelizmente.
Mas nunca haverá um momento em que eu não te ame ou não te
queira na minha vida.
Pisco rapidamente, a beira das lágrimas.
Ele faz uma careta como se estivesse irritado consigo mesmo e
se abaixa para tirar uma pasta fina da sua maleta. Gabriel a entrega
para mim. — Isso é para você.
Minhas mãos estão tremendo demais para abrir a maldita coisa.
— O que é isso?
— Meu testamento. Quase não terminei a tempo — ele divaga.
— Deixei tudo para você.
Minhas palavras saem em um chiado agudo. — O que? Por
quê? O que?
Ele olha para mim, perfeitamente calmo, como se não tivesse
acabado de me desestabilizar totalmente. — Quero te dar uma
prova tangível de que, quer você se case comigo ou não, minha vida
está literalmente ligada à sua até o dia em que eu morrer. Na
verdade, até muito depois da minha morte também, se você quiser
ser técnica.
— Casar com você? — Minhas bochechas estão formigando.
As sobrancelhas dele se erguem em confusão. — Eu entrego a
você tudo o que possuo e é nisso que você presta atenção?
Porque o resto não importa; eu nunca poderia aceitar uma vida
em que ele não esteja. — Responda à pergunta, Raio de Sol.
— Sim, eu vou querer fazer isso. O mais rápido possível, se
puder. — A incerteza enche seus olhos. — Isso é, se você me
quiser, é claro.
Olho para ele, palavras presas na minha garganta.
Gabriel puxa seus punhos da camisa. — Se não quiser, devo
avisá-la agora, será difícil se livrar de mim. Eu posso ser persistente
quando quero alguma coisa.
Pressiono uma mão contra minha bochecha quente. — Puta
merda. Estou meio tonta. Você… isso foi um pedido de casamento?
Não sei dizer.
— Maldição — ele murmura, corando. — Eu disse que iria
estragar as coisas...
Eu me lanço nele, passando os braços em volta do seu pescoço
e beijo sua boca para calá-lo. Ele congela por um segundo, como se
estivesse surpreso demais para reagir, e depois me beija de volta,
assumindo o controle. Suas mãos seguram minha nuca, e ele
devora minha boca como se eu fosse a única pessoa que pudesse
lhe dar ar.
É tão bom, e senti tanto a falta dele, que choro - lágrimas suaves
que ele beija, sussurrando palavras doces, acariciando minhas
bochechas com as pontas ásperas de seus polegares.
Dou-lhe um sorriso choroso quando nos separamos.
— Você não estragou nada — digo a ele, passando minhas
mãos sobre seus cabelos. — Você é perfeito. Eu te amo, Raio de
Sol. Exatamente como você é.
Ele solta um longo suspiro e descansa a testa contra a minha. —
Graças a Cristo por isso. — Seus dedos fortes seguram meus
quadris. — Diga de novo.
— Eu te amo, Gabriel Scott.
Seu sorriso é tão docemente satisfeito que eu tenho que beijá-lo,
prová-lo.
— Mais uma vez — ele exige. — Não tenho certeza se ouvi
corretamente.
— Eu te amo, Gabriel Raio de Sol Scott! — Meu grito ganha
alguns olhares e algumas risadas.
Gabriel sorri como se fosse manhã de Natal. — Eu também te
amo, Sophie Garota Tagarela Darling. Mais do que jamais saberá.
Eu o encho de beijos porque ele está aqui e ele é meu. — Me
desculpe por fugir. Me desculpe por não me explicar imediatamente.
Isso magoou você e eu não quero te magoar nunca.
— Obrigado — diz ele entre os meus ataques em sua boca. Mas
então me afasta, ainda segurando minhas bochechas. — Estou
bastante irritado com uma coisa, no entanto. Como você pôde
pensar que eu a mandaria embora? — Seu olhar se aquece, mas
sua expressão é solene. — Você é minha vida, garota tagarela. Não
há alegria sem você.
Meu homem doce. Eu vou mantê-lo para sempre.
— Eu estava com medo — eu admito com uma careta. — Com
medo de que você significasse mais para mim do que eu significava
para você. Eu não estava pensando muito claramente.
— Nenhum de nós estava.
Com um suspiro, beijo sua testa, sua bochecha, e qualquer lugar
que eu alcançe. — Por que somos tão bons em conversar e tão
péssimos em brigar?
Porque há uma diferença entre nossas briguinhas bestas e
quando estamos realmente irritados. Não preciso explicar isso para
Gabriel. Eu sei pelo divertimento em seus olhos que ele me entende
perfeitamente.
Ele morde o lóbulo da minha orelha. — Talvez seja porque
odiamos brigar e ficamos arrasados quando tentamos. Na verdade,
prefiro usar ternos de poliéster pelo resto da minha vida a ter outra
briga com você.
Eu ofego. — Nem brinque sobre poliéster!
Ele ri contra a minha pele, o som enviando pequenos arrepios de
prazer que dançam pelo meu corpo.
Mas então ele resmunga novamente. — E, sinceramente, de
todos os lugares que poderia ir. Austrália?
A culpa lateja nas minhas entranhas. Fui tão idiota por ir embora.
— Eu precisava espairecer.
— Espairecer significa dar um passeio. Não viajar para o outro
lado do planeta. — Ele me olha com desconfiança, mas sua
expressão é muito feliz e contente para parecer de fato desconfiado.
— Estou começando a pensar que você queria me torturar.
— Eu estava prestes a descer do avião para encontrar você,
Raio de Sol. Porque ficar longe de você é uma tortura. — Que é
uma verdade absoluta. — Então reavalie esse comentário.
Enquanto ele faz um “hum” duvidoso, deslizo minha mão pelo
seu corpo para segurá-lo. Seu ofego engasgado me faz sorrir. —
Além disso, — digo, dando-lhe um aperto suave. — eu tenho
maneiras melhores de torturá-lo.
Sua mão pousa sobre a minha. — Comporte-se, Darling. — Mas
ele não a afasta.
Eu o sinto endurecer mais contra a minha palma. — Eu ainda
não posso acreditar que você pegou um avião para a Austrália —
digo, sutilmente apertando-o sob nossas mãos unidas.
Ele se mexe um pouco, cutucando minha mão. — É o meu
grande gesto, como diz Killian. Se você não entender o quanto eu te
amo depois disso, nunca irá.
Sorrindo, pressiono meus lábios contra o braço dele. — Meu
grande gesto vai ser te dar um oral em algum momento deste vôo.
Seu pênis se contrai quando eu o acaricio, e sua voz sai um
pouco áspera. — Atos sexuais em um avião são ilegais, Darling.
— Então você terá que ficar muito quieto enquanto eu chupo
você.
Eu amo o som estrangulado em sua garganta e a maneira como
seu pau fica ainda mais duro contra a minha palma, apesar de seus
fracos protestos.
— Sophie — diz ele, retornando ao tom severo que eu amo. —
Você nunca me deu uma resposta.
— Mmm? — Paro minha exploração e encontro seu olhar. Ele
espera, uma sobrancelha levantada, um músculo pulsando em sua
mandíbula. — Ah, você quer dizer o pedido que você "estragou"?
— Darling…
— Eu vou querer bebês — digo a ele com um sorriso. — E vou
querer vesti-los como a princesa Leia ou Han Solo no Halloween.
Seu sorriso em resposta é tão satisfeito e o olhar em seus olhos
tão antecipador que me deixa um pouco tonta. — Estou ansioso
para te dar bebês. E voto em uma fantasia do Spock.
— Ok. Então você pode se vestir como Han Solo e eu serei a
princesa Leia prisioneira naquele pequeno biquíni dourado.
— Eu te amo — ele declara rapidamente. — Muito mesmo. O dia
mais sortudo da minha vida foi quando me sentei ao seu lado
naquele avião.
Com um suspiro feliz, me aconchego mais perto. — Eu aceito
me casar com você, Gabriel Scott.
Ele solta um suspiro e pressiona os lábios no topo da minha
cabeça. — E vou te amar até o dia em que eu morrer, Sophie
Darling.
— Sabe, — digo. — Se eu adotar o seu sobrenome, não vou
mais ser Darling.
Gabriel abaixa a cabeça e captura minha boca. O beijo é lento e
um pouco sujo, sua língua mergulhando profundamente. Estou tonta
e carente quando ele se afasta. O brilho quente e consciente em
seus olhos não ajuda.
— Você sempre será minha Darling — diz ele contra os meus
lábios. — Minha querida Sophie.
EPÍLOGUE

—A vou me referir a esta casa como A Caixa de Sapato. —


Sophie grita do terraço.
Ela tem razão. A maior parte da casa é um retângulo longo e reto
que se projeta em direção ao porto, com pisos de madeira brilhante,
tetos altos e paredes de vidro retráteis que deixam a brisa entrar.
Comparado a ficar espremido em um avião, o fato de ser tão
arejado é o paraíso, no que me diz respeito.
Seguindo o som de sua voz, eu a encontro encostada no
corrimão de vidro reforçado que corre ao redor do terraço. Atrás
dela, o Porto de Sydney brilha sob a luz do entardecer, sua ponte
icônica e – se você forçar a vista – as velas brancas da casa da
Ópera visíveis à direita.
Mas só tenho olhos para Sophie, seu corpo cheio de curvas
douradas e bronzeadas, a brisa ondulando as pontas dos seus
cabelos e fazendo-os dançar sobre seu rosto sorridente.
O cabelo de Sophie está rosa agora. Ela me disse que é a cor do
amor verdadeiro e da paixão pura. Parece mais como algodão doce
para mim, mas nunca direi a ela. Eu aprendi pelo menos isso sobre
as mulheres ao longo da minha curta experiência. Além disso,
sempre associei Sophie a doces deliciosos, então a cor do cabelo
dela parece adequada.
Eu me movo atrás dela e passo meus braços em volta de seus
ombros. Sua pele é fria e ela se aconchega no meu peito com um
suspiro.
— Ainda não acredito que você comprou uma casa aqui.
— Passei vinte malditas horas em um avião para chegar à
Austrália. Eu definitivamente vou enrolar muito até voltar para
Londres. Podemos muito bem ficar confortáveis nesse meio tempo.
— Ei, muitas dessas horas foram gastas fodendo, então não
pode ter sido tão ruim.
Isso é verdade. A luta para ficar quieto e o medo de ser pego
criaram um sexo de reconciliação verdadeiramente espetacular. Sou
um fã agora, e pretendo brigar com Sophie hoje à noite em algum
lugar público, para que possamos encontrar uma maneira de fazer
isso novamente.
— Sabe, eu posso estar curado do meu medo de avião — digo a
ela, me inclinando para beijar a curva de seu pescoço. — No
entanto, teremos que realizar experimentos em nossa viagem de
volta para garantir.
Sophie empurra sua bunda doce para trás, contra o meu pau já
desperto. Ele se mexe, querendo dizer olá.
— Ouvi dizer que agora há um vôo de primeira classe que tem
um chuveiro completo a bordo. — Suas mãos alcançam minhas
costas e deslizam pelos meus quadris. — Isso pode ser
interessante.
— Droga, vamos tomar banho agora — eu exijo, subindo a barra
da saia dela.
A voz de Rye rompe minha bolha feliz. — Ah, Deus, meus olhos!
Eles queimam!
Suspiro contra a pele de Sophie. — Por que eu os convidei para
vir, mesmo?
— Porque você os ama — ela sussurra contra minha bochecha.
— Eu amo você. Eles eu apenas tolero.
— Eu quero o antigo Scottie de volta. — Whip lamenta.
Sophie ri disso.
— Jesus — resmungo. — Estão todos atrás de nós, não estão?
Ela estica a cabeça para olhar atrás de mim. — Sim. Todos eles.
— Scottie já era — diz Jax. — Agora temos que lidar com
Gabriel, e ele parece ser um bastardo com tesão.
Com isso, eu sorrio, porque ele não está errado. — Isso vai
acontecer com você também, John.
— Não conte com isso.
Coitado, ele não sabe o que está perdendo.
Finalmente, me viro e pressiono Sophie ao meu lado. Jax, Rye,
Killian, Liberty, Brenna e Whip deixaram seus aposentos designados
e se reuniram na enorme sala de estar.
Killian e Libby estão sentados no sofá enquanto Brenna distribui
algum tipo de coquetel de frutas. Eles tomaram conta da minha
casa. E isso não é desconfortável ou estranho de se ver. Parece
certo. É bom.
Rye e Whip parecem estar trazendo um pequeno kit de bateria e
teclado portátil. Só então percebo que Jax e Killian estão com seus
violões..
— Planejando cantar para o chefe de vocês? — Eu pergunto.
Jax desliza os dedos pelas cordas do violão. — Para Sophie. —
Ele dá uma piscadinha. — Porque ela é a melhor anfitriã.
Ela manda um beijo para ele.
— Algum pedido? — Jax pergunta.
— Sim. — Eu me inclino para cochichar a música que tenho em
mente, acrescentando: — De mim, para vocês.
Ele balança a cabeça, sorrindo largamente. — Não, cara, essa é
definitivamente nossa para você.
Puxo Sophie para o meu colo e ficamos a vontade em uma
cadeira baixa enquanto os caras mexem em seus instrumentos.
Embora eu raramente demonstre, ouvir meus amigos tocarem e
perceber a evolução de rapazes atrapalhados que mal conseguiam
articular um som para músicos experientes que criam música
transcendente, me enche de orgulho.
Sophie se ilumina quando eles começam a tocar “With a Little
Help From My Friends”.
— Beatles para alegria — digo suavemente.
Sua cabeça repousa no meu ombro e ela coloca a mão sobre o
meu coração. — E para o amor.
Fecho os olhos e deixo a música tomar conta de mim. — Sempre
para o amor.
1. Darling quer dizer Querida, em português.
2. É uma bebida de café que consiste em café expresso com micro espuma. É
comparável a um café com leite, mas menor em volume e com menos espuma.

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