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A VIP NOVEL
KRISTEN CALLIHAN
ÍNDICE
MANAGED
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epilogo
MANAGED
G
E . É um lugar familiar: um tubo longo e estreito,
com asas instáveis. Uma armadilha mortal com quinhentos
assentos, ar rarefeito e motores zumbindo. Eu pego aviões
frequentemente. Só que desta vez, o próprio Diabo é meu parceiro
de assento.
Estou na indústria de entretenimento há tempo o suficiente para
saber que o Diabo sempre aparece em um embrulho atraente.
Melhor atrair abelhas com mel. Esse demônio em particular parece
ter saído da década de 1950 – cabelos loiros platinados espiralando
ao redor de um rosto de querubim; grandes olhos castanhos; lábios
muito vermelhos e uma silhueta tipo ampulheta que estou tentando
ignorar.
Não é fácil ignorar esses peitos. Toda vez que ela fala, esses
montes macios parecem saltar como se tivessem pensamentos
próprios. Levando em conta que essa garota estranha e atrevida
nunca cala a boca, corro o risco de ser hipnotizado por esse par
exemplar de seios que certamente são tamanho GG.
Deus, ela continua falando. É como um pesadelo totalmente sem
sentido que vai me deixar louco.
— Olha, você... — mais seios saltitantes, mais boca vermelha
fazendo bico... — Eu conheço o seu jogo, e não vai funcionar
comigo.
Eu levanto meu olhar. — O quê?
— Não me venha com esse “o quêêê” cheio de sotaque britânico
pensando que vou me apaixonar. — Um dedo indicador balança na
frente do meu nariz. — Não me importo com o quão sexy sua voz é,
não vai funcionar.
Eu não vou sorrir por causa disso. Sem chance. — Eu não tenho
ideia do que você está falando, mas se eu fosse você, procuraria
intervenção médica assim que aterrissarmos.
— Pfft. Você está fazendo uma cena sobre ter medo de voar na
esperança de que eu tenha pena de você.
Um sentimento ruim sobe pelas minhas entranhas, e eu aperto
as mãos para não gritar - não que eu possa dizer alguma coisa. Ela
ainda está falando, vomitando besteiras.
— Você acha que se estiver aí sentado, parecendo petrificado e
tenso, eu vou oferecer um boquete para distraí-lo de tudo.
Minha humilhação sofre uma freada brusca ao ouvir a palavra
boquete. — O quê?
— Bom, isso não vai acontecer.
Ignore seu pau. Ignore-o. Ele é um idiota. Concentre-se no
problema em questão. — Você é doida. Completamente louca.
— E você é um desgraçado astuto e muito bonito. Infelizmente
para você, boa aparência não é o suficiente. Eu não vou fazer isso.
Eu me inclino para perto em desafio. — Olha, mesmo se eu
quisesse sua boca em qualquer lugar perto de mim, por que diabos
eu pediria um boquete aqui? — Eu aceno minha mão em direção ao
corredor. — Quando a tripulação inteira pode ver. Quem faz isso?
— Não eu — ela retruca com um olhar de nojo. — Mas você
entregou que pensou na possibilidade. Estava obviamente
pensando na logística de tudo.
Não deixe subir à cabeça. Cerrando os dentes com força
suficiente para machucar, eu disparo para ela. — Senhora, se essa
armadilha mortal que voa estivesse indo em direção ao chão como
uma bola de fogo apocalíptica, e sua boca no meu pau fosse a
última chance de sexo que eu teria, eu tiraria meu cinto de
segurança e pularia pela janela em direção à morte.
Ela pisca aqueles grandes olhos de coruja nem um pouco
desconcertados. — São muitas palavras, raio de sol. Mas acho que
você está mentindo. Você quer muito.
Minha boca fica como a de um peixe: boquiaberta e lutando por
ar. Não consigo pensar em nada para dizer, o que é uma raridade.
Talvez eu não seja muito de conversar com a maioria das pessoas,
mas sou totalmente capaz lidar com as situações quando
necessário.
Acima de nossas cabeças, um curto toque soa. Olho para cima e
noto que o sinal de apertar o cinto de segurança foi desligado.
Estamos nivelados e estabilizados agora.
Quando volto minha atenção para a diabinha, ela está com o
nariz enfiado em uma revista, folheando alegremente as páginas,
com um pequeno sorriso presunçoso contorcendo os canto dos
lábios.
Isso me atinge como um soco no estômago: ela estava, mais
uma vez, me sacaneando. Ela me distraiu da decolagem. Tão
efetivamente que eu nem senti o avião levantar. Agora estou
dividido entre uma admiração relutante, uma gratidão desconfortável
e uma necessidade ardente de vingança.
A vingança fala mais alto na minha cabeça, e eu mordo o interior
da bochecha para não sorrir. Inclinando-me para frente, invado seu
espaço pessoal, ignorando o aroma de torta de limão que flutua ao
seu redor.
Ela fica tensa, a cabeça recuando, o corpo ereto. Eu amo isso.
— Tudo bem, — murmuro baixo em seu ouvido, enquanto ela
estremece e se remexe para fugir. — Você me pegou. Eu quero
satisfação oral. Muito. Seja boazinha e me distraia.
Ela engasga, a pele aveludada ficando pálida. — Você está
brincando comigo?
— Nós já passamos dessa fase. — Estendo a mão por baixo do
cinto de segurança para soltar o cinto da calça. — Eu estou
precisando e tem que ser você.
— Ei! Espere um minuto, amigo. — Sua mão pressiona contra o
meu peito e rapidamente recua, como se o contato a queimasse.
Estranhamente, estava bastante quente e eu ainda sentia a
pressão da mão dela através das camadas das minhas roupas. Eu
ignoro isso também e ergo a sobrancelha exageradamente. — Não
se preocupe. Eu tenho um plano. Apenas finja que você está com
dor de cabeça e precisa deitar no meu colo. Vou colocar um
cobertor sobre você para bloquear a luz. Eles não vão nem
questionar os seus gemidos.
Eu tiro meu cinto como se fosse mostrar o pau. — Melhor ainda,
fecharei as portas da nossa cabine e teremos total privacidade.
Você poderá realmente se dedicar.
Ela solta um som estrangulado. — Seu... repulsivo... eu não
acredito nisso...
— Ah! Vamos lá, amor. Me dá uma só uma chupada, pode ser?
Apenas uma lambidinha provocante na ponta?
Merda. Eu não deveria ter dito isso. Meu pau se anima, gostando
muito dessa ideia. Seus lábios entreabertos são vermelhos, macios
e cheios... Recomponha-se, seu idiota.
Eu dou um sorriso aberto, me inclinando para perto mesmo
quando ela fica muito vermelha. — Rápido e fácil. Estou tão tenso
que levará apenas cinco ou dez minutos no máximo.
Um som sufocado fica preso em sua garganta e eu dou um
gemido de dor. — Me tire desse sofrimento, garota atrevida.
Isso basta. As sobrancelhas dela se erguem. — Atrevida?
Atrevida?!? — Ela põe o nariz contra o meu, e seus olhos são duas
fendas escuras de pura fúria. — Chupar você? Seu pomposo,
arrogante...
— Essas palavras significam praticamente a mesma coisa,
querida.
— Cara de pau... — Ela para, recuando um pouco, seu olhar
disparando sobre o meu rosto. E então ela sorri. É um sorriso cheio
e satisfeito, e me sinto um pouco tonto com a velocidade com que
ela pode trocar de emoções. — Ah, boa jogada, raio do sol, — ela
diz, sorrindo. — Boa jogada. Percebeu meu teatrinho, não é?
Não posso encarar os olhos dela, ou ela vai perceber. Essa
mulher pode ser a pessoa mais irritante que já conheci em um
avião, mas ela é claramente inteligente. — Era um teatrinho?
Um bufo passa pelos seus lábios. — Você deveria me comprar
uma bebida agora como agradecimento.
— As bebidas são gratuitas na primeira classe, garota tagarela.
— É pelo princípio da coisa.
Eu lhe daria uma garrafa inteira do champanhe que ela
escolhesse se isso a fizesse parar de falar, mas o álcool geralmente
afrouxa a língua. Estremeço ao pensar nela falando ainda mais.
Naquele momento, a comissária de bordo que estava me
olhando como se eu fosse um bife passa com uma taça de
champanhe equilibrada em uma bandeja de prata. Ela sorri
largamente para mim. — Senhor Scott, seu champanhe.
— Ah, pelo amor de Deus, — minha vizinha tagarela murmura
baixinho.
Manter uma expressão agradável, em qualquer que seja a
circunstância, é rotina para mim à essa altura da vida. Mas é
estranhamente difícil manter a fachada no momento. Algo na minha
atormentadora traz à tona a criança de cinco anos em mim, e eu
quero puxar o cabelo dela como um pirralho do jardim de infância.
Mas eu não puxo. Aceito a bebida que a comissária de bordo coloca
diante de mim.
— Obrigado, — digo a ela enquanto passo o copo para a
Tagarela. — No entanto, minha colega pediu isso, não eu.
A aeromoça empalidece. — Ah, eu… eu sinto muito, — ela diz
para a mulher ao meu lado – e eu realmente preciso descobrir o
nome dela, ou talvez não. Mais conversas não são uma boa ideia;
ela pode ser divertida, mas ainda é desequilibrada. Não gosto de
elementos imprevisíveis.
— Eu não percebi. Eu pensei... — A atendente perde a linha do
pensamento.
— Está tudo bem. — Minha companheira de assento se inclina,
invadindo meu espaço enquanto dá à aeromoça um sorriso
compreensivo, e eu sou agredido novamente pelo cheiro de limões
doces e mulher quente. — O raio de sol aqui me deixou tão
perturbada que quase peguei meu cartão de crédito e me ofereci
para pagar por sexo.
Eu engasgo com minha própria saliva. — Puta merda.
A aeromoça fica num tom de beterraba. — Sim. É... Gostaria de
algo mais?
De um paraquedas.
— Nada mais para mim. — diz a criatura louca à minha
esquerda, tomando alegremente um gole de champanhe.
— Um refrigerante com gelo. — digo. À essa altura do
campeonato, quero pedir uma garrafa inteira de gin. Mas o álcool
piora meu nervosismo em aviões. Apenas respire, relaxe, e
sobreviva à esse vôo infernal.
Recebo um olhar de simpatia da comissária de bordo. Ao meu
lado vem outro zumbido feliz. Estou esperando pela próxima onda
de indelicadezas de caráter ultrajante, mas fico estranhamente
decepcionado ao perceber minha vizinha pegando seus celular e
fones de ouvido. Então ela planeja se conectar e desligar do mundo.
Brilhante. Exatamente o que eu precisava. Fico grato por isso.
Pego minha revista e fico olhando a foto de um Lamborghini
Centenário vermelho. Possuo o mesmo modelo, num tom grafite.
Viro a página. Com força.
Mais murmúrios femininos se seguem, altos o suficiente para
soar sobre o zumbido dos motores. Ótimo, ela está cantando junto
com a música. A mulher me infectou com um caso bizarro de
imaturidade, porque sou tentado a implicar com ela e falar que está
fora do tom só para ouvir a resposta que ela vai me dar. Um tipo
estranho de animação me toma diante da ideia. Mas então eu
reconheço a música.
O desapontamento e a maneira como isso me entorpece é um
choque. Eu não esperava. Não de uma maneira tão forte. Porque
ela está ouvindo Kill John e obviamente adorando. Eu amo Kill John
também. Eles são a maior banda do mundo agora e são uma parte
de mim, amarrados na própria fibra do meu ser por meio de sangue,
suor e lágrimas.
Porque eu gerencio a banda. Killian, Jax, Whip e Rye são os
meus garotos. Eu faria qualquer coisa por eles. Mas uma coisa que
nunca faço é interagir com os fãs. Nunca.
Eu já aprendi essa lição. Os fãs, não importa quem sejam,
perdem a cabeça quando sabem que eu administro o Kill John. Eu
me recuso a ser uma porta para eles.
Outra música desafinada vem dos lábios da Tagarela. Ela está
balançando a cabeça, os olhos fechados, um olhar de felicidade no
rosto. Eu me afasto. Não, não decepcionado. Aliviado.
É o que fico repetindo para mim mesmo quando meu refrigerante
chega e eu bebo tudo com mais entusiasmo do que o normal. Eu.
Estou. Aliviado.
CAPÍTULO DOIS
G
L demais para me afastar. Muito tempo segurando a
raiva, respirando como um homem normal, falando como um
homem calmo. Quando saio para o beco, minhas mãos estão
tremendo tanto que mal consigo abrir a porta.
O ar quente e abafado bate pesadamente na minha pele.
Respiro fundo, sentindo o cheiro azedo de lixo e o cheiro
almiscarado de pedras molhadas. Não importa. Eu respiro
novamente, devagar, por muito tempo. A tontura me pega, e eu me
inclino contra a parede viscosa do teatro.
Meu terno será arruinado. As pessoas vão notar.
Não me importo. Não mais.
Olhando para a sombria luz laranja piscando na porta, me
pergunto quem diabos eu sou agora. Scottie está desmoronando. As
rachaduras de sua venerável armadura estão aparecendo sobre
meu corpo cansado. E Gabriel? Apenas uma pessoa me chama
assim. Apenas uma pessoa me faz sentir como um homem de carne
e osso, e não como uma máquina fria. E eu a decepcionei.
A imagem do rosto machucado de Sophie enche minha mente. O
jeito como aquele fodido de merda bateu nela com o cotovelo. Duas
vezes. Antes que eu pudesse chegar até ela.
Meu coração bate tão forte que minha camisa tremula. Mais uma
vez, estou com falta de ar, lutando para conseguir puxar ar o
suficiente em meus pulmões tensos. O chão embaixo de mim se
inclina e gira. Vou vomitar.
Dois passos rápidos e estou curvado sobre uma lixeira. Vomito
até não sobrar nada. Até minha garganta queimar.
Porra, odeio que demore uma eternidade para eu conseguir ficar
em pé, e que mesmo quando consigo, minha cabeça lateja,
parecendo pesada e leve demais. Eu odeio o modo como minha
mão ainda treme enquanto tiro o lenço de seda do bolso para limpar
a boca.
Umidade quente escorre por cima do meu lábio. O lenço de seda
branco está manchado de vermelho. Outra hemorragia nasal. Meus
dedos ficam frios. Penso em mamãe quando ela se foi – a tontura,
os desmaios, os sangramentos nasais.
Outro calafrio me consome.
Uma risada feminina ressoa pela a noite. Pequenos trechos de
conversa entram e saem pelos meus ouvidos – o quão gostoso Jax
estava durante seu solo, como uma delas prefere assistir Whip tocar
sua bateria, e a outra quer ter um filho com Killian. Espectadoras
saindo do show, se divertindo. Estão chamando isso de melhor noite
de suas vidas.
Eu ajudei a trazer essa noite para elas. Essas garotas nunca
saberão disso, ou se importarão. Como deveria ser. Mas o orgulho
que sinto por saber que lhes trouxe um pouco de felicidade existe da
mesma forma.
Se eu morrer, alguém fará o trabalho. Mas eles farão isso
também? Eles cuidarão dos meus garotos e garantirão que tudo
corra bem? Ou eles pensarão apenas em seu próprio ganho?
O fato de não haver garantias irrita.
A risada soa novamente, feminilidade rouca e sem restrições.
Ela me lembra a risada de Sophie, embora a dela sempre tenha um
tom de autodepreciação, como se ela fosse parte da piada, nunca
ridicularizando outra pessoa.
Eu nunca ri livremente e muitas vezes achei que aqueles que
conseguem eram bastante irritantes. A vida não é uma piada – não
para mim. E, no entanto, quero nadar no som da risada de Sophie,
me purificando e lavando todo o peso da minha vida.
Não sei como pedir isso, nem mesmo como me permitir pedir.
Eu a chamei de minha. Ela vai querer uma explicação. Não
tenho nenhuma para dar. Ela apenas é. Se eu a fodo ou não, não
importa; ela me tem agora. Mesmo que ela não me queira.
Uma mensagem vibra no meu celular.
Brenna: O carro está aqui. Onde diabos você está?
A ideia de sentar em um carro com Brenna, Jules e Sophie
enquanto estou fedendo a vômito e provavelmente tenho manchas
de sangue no rosto, deixa um gosto ainda mais azedo na minha
boca. Não tenho criatividade para inventar uma desculpa plausível
para minha aparência, nem quero mentir – ou dizer a verdade.
Mas eu minto. Meu polegar digita uma mensagem rápida.
GS: Já sai. Tenho alguns negócios para resolver. Se cuide.
Essa última frase é para Sophie, e Brenna saberá disso.
Sophie. Ela estará sofrendo e provavelmente inquieta. Ficou
claro que ela não está acostumada a ser agredida ou tratada com
violência e agradeço a Cristo por essa pequena misericórdia. Eu
deveria estar com ela, oferecendo-lhe conforto. Nossa cama –
porque é nossa, sempre foi, a partir do momento em que Sophie se
deitou nela – estará fresca e macia.
Mas se eu deitar com ela hoje à noite, não sei como vou reagir.
Já mostrei muito de mim para ela. Exposição nunca foi fácil. Não
posso me abrir mais agora, não sem perder o domínio que tenho
mantido por anos.
Sophie. O arrependimento aperta meu peito.
Mando uma última mensagem para Brenna.
GS: Vou demorar um pouco. Certifique-se de que Sophie esteja
acomodada e com uma bolsa de gelo no olho.
Pequenos pontos aparecem no canto inferior da minha tela.
Brenna: Você que sabe, chefe. Se cuide também.
Suspeito que Brenna saiba exatamente o que pretendo fazer,
mesmo que o desejo tenha acabado de se registrar em minha
própria cabeça. Mas preciso disso. Eu preciso da liberação.
Percorrendo minha lista de contatos, encontro o que quero.
GS: O que você tem disponível hoje à noite?
Cinco segundos depois, a resposta vem.
Carmen: Faz muito tempo, S. Estava começando a pensar que
você esqueceu de mim. Tenho uma vaga. 02:00.
E o endereço vem em seguida.
Guardo o celular, me sentindo sujo, depravado. Eu não deveria.
Não tenho porque estar envergonhado. Mas estou. Eu sempre fico
quando cedo à minha fraqueza.
CAPÍTULO DEZESSETE
U . A dor é cegante,
explodindo como um flash de câmera atrás das minhas pálpebras.
Ela estala através do meu corpo, ressoa nos meus ouvidos. Um
chute nas minhas costelas me faz cambalear para trás.
Zombarias e gritos me cercam, um borrão de rostos gritando.
Isso eu conheço. Esse prazer pela violência e pela ganância me
alimentou desde a infância como se fosse leite com torradas
amanteigadas.
Outro soco voa em minha direção. Eu esquivo e bloqueio um
chute com o joelho. Se recomponha. Foco.
Meu oponente é experiente, provavelmente por lutar todas as
noites. Na minha juventude, eu era melhor que ele, mas agora fui
suavizado por uma vida confortável. No entanto, sei o quanto posso
aguentar. Eu posso desgastá-lo, esperando ele se cansar. Mas vou
ter que levar uma surra.
Contusões eu posso esconder. Cortes abertos e lábios rachados
são outra questão. Essa é a minha segunda noite de luta. Já estou
machucado. Se eu ficar pior, terei que ficar longe de Sophie por
muito tempo.
Sophie. Sophie, que recebeu cotoveladas no rosto. Duas vezes.
A raiva pulsa quente, emergindo através de mim.
A segure.
Outro soco voa em minha direção, roçando a borda da minha
mandíbula. Se fosse uma luta profissional eu já estaria nocauteado.
Mas somos entretenimento amador, brigando entre nós em uma
sala de estar branca e imaculada – piso de mármore, janelas de
parede à parede com vista para o porto – enquanto pessoas ricas e
entediadas observam.
É perverso. Fede a privilégios. Há respingos de sangue contra as
paredes acolchoadas de couro branco.
Não dou a mínima para eles. Tudo que eu preciso é da dor.
O homem diante de mim é espanhol, alto, esbelto e rápido.
Minha mente transforma sua aparência. Ele é um cinegrafista
atarracado e envaidecido agredindo Sophie.
Prometi que não iria retaliar. Ela me fez prometer não machucá-
lo.
Não vou. Mas esse homem aqui? Ele quer a luta.
Toda a raiva e toda a frustração indefesa aumenta, ficando mais
firme, mais forte. A raiva fica fria e silenciosa.
Meu punho se conecta com carne e osso. Esse é outro tipo de
dor, uma liberação brilhante e limpa.
De novo e de novo. Golpes controlados. Meu punho no rosto,
joelho nos rins, cotovelo na mandíbula.
Pele quente e suada, sangue metálico. Carne sólida cede sob
meus dedos. Eu me deleito com isso.
Há um ponto na luta em que você não é mais um homem. Você
se torna uma máquina. Não pensa mais, apenas reage, entregando-
se à memória e à técnica muscular.
Nos agarramos, engalfinhados, e nos afastamos. Ele tropeça
para trás antes de vir para cima com tudo.
Um chute direto que o acerta na mandíbula termina a luta.
Meu oponente cai e bate no chão com um estalo.
Ele permanece lá, com o peito arfando, a cabeça pendendo.
Aplausos explodem, me tirando da névoa e irritando meus
ouvidos.
Eu levanto, inspirando e expirando. Meu corpo palpita, queima. É
puro e real, o mais perto que posso chegar da libertação que
realmente quero.
Ninguém chega perto de mim; eles sabem que não é uma boa
ideia agora.
Alguém ajuda meu oponente.
Meu olhar vai para as janelas, onde a noite é como tinta preta
contra as estrelas douradas. Sophie não está mais aqui. Ela está
indo para Roma.
Já sinto a ausência dela em minha alma, um rasgo que não pode
ser remendado. Estou ferido e sangrando. Vou ter que ficar longe
por dias. O rasgo dentro de mim cresce mais. Ignoro o sentimento.
Eu preciso de tempo, de qualquer maneira. Para me reagrupar e
acalmar.
— Scottie, mi hombre hermoso, outra vitória para mim, si? —
Carmen sorri para mim, lábios vermelhos como sangue, cabelos
pretos brilhantes. — Ah, mas eu senti falta de ver você lutar. Eu
tinha esquecido o quão friamente você joga o seu jogo. Venha. —
Unhas com ponta de ouro deslizam pelo meu braço. — Eu tenho um
quarto pronto. Podemos?
Luxúria e antecipação abaixam suas pálpebras quando ela me
olha, seu olhar persistente no meu peito nu. Sutileza nunca foi o
estilo de Carmen.
Eu me afasto do seu toque. — Um táxi é tudo o que eu preciso.
Fazendo beicinho, ela estala os dedos e uma mulher se
aproxima.
— Teresa o levará a uma sala onde você poderá trocar de roupa.
— Agora que levou um fora, Carmen é só negócios. Eu aprecio isso
nela. — E seus ganhos?
— Faça as doações habituais.
Um sorriso fino puxa seus lábios. — Para abrigos de mulheres
vítimas de violência doméstica. Você, mi amigo, tem um senso de
humor perverso.
Sophie acha que eu sou um pateta. Eu sinto falta dela. Eu
preciso dela. Não posso voltar a ficar assim. — É o que dizem.
Buenas noches, Carmen. Não voltarei amanhã.
Saio para a escuridão e volto para o hotel. Mas não vou dormir.
CAPÍTULO DEZOITO
S
—V tirar a noite de folga. — O tom de Brenna não aceita
discussão.
Bem, não significa que não vou tentar arrumar uma. — Isso é
ridículo — digo, passando um pouco de corretivo debaixo dos meus
olhos. De jeito nenhum vou permitir que Gabriel me veja com olhos
inchados e machucados.
Não chorei por ele, mas passei boa parte da noite passada
bebendo vodka tônica e amaldiçoando seu nome enquanto Brenna
e Jules, num ato de sororidade, concordavam que os homens
podiam ir se foder. — Estou bem.
Brenna passa um batom com uma cor profunda de ameixa antes
de me entregar um tubo vermelho rosado. — Eu sei. Isso não
significa que você não pode desfrutar de uma noite de folga.
Nós olhamos para o reflexo uma da outra pelo espelho do
banheiro de Brenna, nós duas com expressões teimosas.
Jules coloca a cabeça dentro do cômodo. — Sim, leia um livro ou
assista à filmes bestas.
Filmes bestas só me fazem pensar em Gabriel e sua ameaça de
me forçar a assistir uma maratona de Star Trek. Menos de vinte e
quatro horas separados e sinto sua falta como se tivesse perdido
um membro.
— Se eu ficar aqui — digo a elas — vou enlouquecer.
Brenna prende o cabelo em um rabo de cavalo alto, sua marca
registrada. — Então vá ao show e divirta-se como uma fã.
Não me sinto bem com a ideia; fui contratada para fazer um
trabalho, não para me acovardar porque meus sentimentos foram
feridos.
Infelizmente, se eu quiser trabalhar, tenho que voltar ao ônibus e
pegar meu equipamento. Não vai rolar. Talvez eu realmente seja
uma covarde, porque preciso lamber minhas feridas um pouco mais.
— Eu não tenho nada para vestir.
Brenna é pelo menos três tamanhos menor do que eu e Jules é
dez centímetros mais baixa.
— Desculpas, desculpas — diz Jules. — Eu vou encontrar
alguma coisa para você. Espera aí.
Sua cabeça brilhante desaparece, e então ela está de volta com
uma saia verde esvoaçante lisa e uma blusa branca. — A saia bate
no meio da minha panturrilha, então provavelmente estará na altura
dos seus joelhos, mas é melhor do que roupas manchadas de
sorvete de chocolate. — Ela sorri largamente, mostrando suas
covinhas.
— Nem me lembre. — A noite passada terminou com um ataque
ao seu estoque de sorvete para emergências. Ainda me sinto um
pouco enjoada.
Coloco a saia e a blusa e franzo a testa para mim mesma. —
Parece que estou indo para a praia.
— Você parece gostosa — diz Jules, dando um tapa na minha
bunda. — Tenho que ir. Um certo homem que não deve ser
identificado acabou de mandar uma mensagem dizendo que está no
estádio e fica irritado se seus funcionários não chegam a tempo.
Ela balança a cabeça, mas não há irritação real em sua
expressão. Se não estou enganada, ela parece ansiosa para
começar a noite enquanto se apressa para a porta. Eu a invejo.
Reprimindo um suspiro, passo a mão pelo meu cabelo. Ainda
rosa pálido, ele cai em ondas na altura dos meus ombros. Uma
pequena linha de raízes loiras mais escuras aparece. Vou ter que
escolher outra cor em breve, mas no momento, estou apenas
cansada.
— Tudo bem, eu vou — digo a Brenna. — Mas estou fazendo
isso sob protestos.
Ela sorri. — Anotado. E olha, sobre Scottie...
— Não se preocupe — eu corto, não gostando da pena em seus
olhos. — Eu já superei.
— Não, você não superou. — Ela balança a cabeça, sorrindo
suavemente. — Mas está tudo bem. Ele é... bem, sim, ele pode ser
um idiota, mas é uma das melhores pessoas que eu conheço. Por
trás de todo esse amido está um marshmallow pelo qual qualquer
um de nós mataria.
Eu me debruço contra o balcão. — Sei disso. Muito bem,
infelizmente. É só a parte idiota que está atrapalhando no momento.
Como você pode se importar com alguém se a pessoa não te deixa
entrar?
O lindo rosto de Brenna se fecha e ela começa a rapidamente
colocar a maquiagem de volta na mala de viagem. — Acho que
todos nós seríamos mais felizes se soubéssemos a resposta para
essa pergunta.
— Inferno. Vamos voltar para “os homens podem ir se foder” e
deixar assim por enquanto.
Brenna ri. — Sim, exceto que parte do problema é que nós
amamos quando os homens fodem.
— Verdade.
Rindo juntas, seguimos para o local. E finjo por todo o caminho
que não estou com medo nem ansiosa para ver Gabriel novamente.
Tendo trabalhado em vários outros shows até agora, sei os
lugares que ele assombra nos bastidores e também como evitá-los.
Isso não me impede de vislumbrar seu perfil mordaz e severo de
vez em quando. E cada vez que isso acontece, meu estômago se
contrai e meu coração dá um baque irregular.
Quero observá-lo mais, mas sei que ele vai me notar se eu o
fizer. Juro que o homem tem um sexto sentido para isso. Mesmo se
escondendo nas sombras, posso dizer que ele está examinando a
área, uma carranca sombria no rosto. Procurando por mim? Ou
apenas em seu modo de trabalho habitual? É difícil dizer sem
estudá-lo por muito tempo.
E eu odeio que minha mente esteja constantemente nele. Mal
presto atenção no show enquanto me coloco atrás de uma pilha de
caixas do outro lado do palco. Encostada a uma parede de concreto,
fecho os olhos e deixo a música se derramar sobre mim, seu ritmo
pulsante vibrando em meus ossos.
Acho que não vou aguentar se Gabriel me procurar apenas para
se desculpar e esperar que tudo volte ao normal. Não posso voltar
ao que éramos.
Talvez seja porque meus olhos estão fechados e meus outros
sentidos estão mais alertas, ou talvez seja porque eu estou
sincronizada com ele, mas eu o sinto no segundo em que Gabriel
fica ao meu lado.
Não preciso olhar para saber que é ele; mesmo na umidade
abafada dos bastidores, sinto seu cheiro. E ninguém mais faz minha
pele apertar e meu batimento cardíaco acelerar só por estar perto.
Ele está tão próximo que meu ombro roça contra a manga de
seu blazer.
Mantendo os olhos fechados, engulo em seco e tento
permanecer indiferente. Meu corpo me trai, enviando pequenos
zumbidos de prazer através do meu peito e ao longo da minha pele.
Estou brava com ele, mas isso não me impede de pensar:
Finalmente você está aqui. Por que demorou tanto?
Ficamos ali ouvindo “Apathy” e nenhum de nós dois se mexe,
mesmo que a multidão esteja enlouquecendo. A música termina e
Jax e Killian começam a falar sobre uma música nova que vão tocar.
Nos bastidores, está quieto o suficiente para eu ouvir Gabriel
quando ele fala, suas palavras tensas como se estivesse se
forçando a dizê-las.
— Eu sou um homem frio. Qualquer felicidade ou calor que eu
tenha sentido morreu quando Jax tentou tirar a própria vida. Até
você aparecer. — Sua respiração irregular sopra sobre minha
bochecha. — Você é o meu calor.
Meu coração para, minha respiração ficando presa
dolorosamente.
Sua voz ganha força. — No segundo em que você está fora da
minha vista, quero você de volta onde eu possa vê-la.
Quero me virar e dizer a ele que sinto sua falta também. O
tempo todo.
Mas então ele se move. As pontas de seus dedos roçam a curva
do meu ombro e eu endureço em choque. Nós nos abraçamos noite
após noite, sem hesitação ou medo. Mas fora da cama, Gabriel
raramente faz contato físico prolongado.
E esse toque não é amigável ou passageiro. É uma exploração,
suave, mas possessiva. Meus joelhos ficam fracos, minha cabeça
caindo para a frente quando ele acaricia meu pescoço, uma
varredura lenta sobre minha pele como se saboreasse o momento.
Sua voz é baixa, mas poderosa, no meu ouvido. — Se posso vê-
la e saber que você está bem, consigo respirar um pouco melhor,
me sentir um pouco mais humano.
Eu me inclino em direção ao seu toque e ele acaricia minha
nuca, me segurando firme. Me segurando. Preciso tanto do toque
dele que dói.
— Então por que você me deixou? — Minha voz não é forte;
parece que ainda não consigo respirar.
Seus dedos se contraem. Antes que ele possa responder, outra
música começa. A música cai sobre nós e não há mais conversa. Eu
só fico lá no escuro com Gabriel.
Ele não se move por algumas batidas, mas então seus dedos
deslizam lentamente para cima, entre o meu cabelo. Não resisto
quando ele se aproxima ainda mais, me fundindo contra ele.
Com um suspiro, me inclino contra a sua lateral, minha cabeça
em seu ombro enquanto ele a massageia com movimentos
constantes.
Incapaz de me parar, descanso minha mão em seu estômago
firme. Um suspiro o atravessa e embora Gabriel não se mova,
parece que todo o seu corpo está se fundindo com o meu.
No escuro, estamos escondidos. A música pulsa ao nosso redor
– sons altos e rítmicos de angústia, raiva e desafio – mas aqui há
quietude. Fecho os olhos, o respirando. Cheira à lã fina, colônia
picante, e ao cheiro indefinível do corpo de Gabriel. Ele é a minha
droga.
Quando ele toca minha bochecha, todos os nervos ao longo da
minha pele se arrepiam, hipersensíveis. Ele é um homem de
negócios e deveria ter mãos macias, mas sua pele é um pouco
áspera e muito quente.
As pontas de seus dedos pressionam minha mandíbula
enquanto ele inclina minha cabeça para trás. Eu pego o olhar
dolorido em seu rosto, como se ele estivesse sofrendo e
arrependido, como se fosse capaz de fazer qualquer coisa para nos
acertarmos. Sua expressão muda sutilmente para uma mais
decidida.
Não consigo respirar. Porque esse olhar quer me possuir. Chega
ao meu coração e o segura.
E então ele se abaixa. Seus lábios roçam minha bochecha e
pressionam beijos leves ao longo da minha têmpora. Agarro a ponta
do seu blazer e aperto. Vou afundar até o chão se não me segurar
em algum lugar. Porque Gabriel está me tocando como se quisesse
ter feito isso o tempo todo.
Ele morde o lóbulo da minha orelha e meu corpo estremece em
resposta, pressionando contra o dele. Sua respiração quente faz
cócegas na minha pele.
— Não posso deixar você, Darling. Você está sempre aqui. —
Gentilmente, ele pega minha mão e a pousa em sua cabeça.
Com um arrepio, enfio meus dedos em seu cabelo. É grosso e
sedoso, e ele faz um som de apreciação, acariciando meu pescoço
com o nariz enquanto continua sua trilha de beijos em torno da
minha mandíbula.
— E aqui — ele me diz, movendo minha outra mão para o peito,
onde seu coração bate contra a parede sólida de músculos.
— Raio de Sol — sussurro, virando para beijar sua bochecha.
Um tremor percorre seu corpo e seu braço envolve minha
cintura. Eu o beijo novamente, encontrando sua mandíbula. Seu
aroma fresco e o sabor levemente salgado de sua pele me fazem
querer mais e mais. Mas ele está me segurando muito perto,
tremendo enquanto respira cada vez mais profundamente.
A ponta do seu polegar encontra meu lábio inferior e minha
respiração fraqueja. Por um longo momento, ele simplesmente
passa o polegar levemente sobre o meu lábio, traçando sua curva,
abrindo minha boca um pouco mais. E a cada varredura de seus
dedos fico mais quente, ouvindo o sangue correndo pelos meus
ouvidos.
Meus lábios estão inchados e secos. Sem pensar, eu os lambo,
o movimento pegando a ponta do seu polegar também.
Gabriel grunhe e sua mão se contrai. Mas ele deixa o polegar lá,
pressionando contra o meu lábio, empurrando um pouco para dentro
da minha boca como se estivesse pedindo outra lambida. Eu provo
sua pele, chupando a ponta de seu dedo.
Ele geme baixo e profundamente, seu corpo pressionando contra
mim. Seus olhos encontram os meus, e o calor lá incendeia minha
pele.
Nós olhamos um para o outro, ambos ofegantes, e então o olhar
dele cai para a minha boca.
— Sophie...
Alguém bate em nós. Gabriel me ampara, mas o feitiço foi
quebrado. Ele se vira para encarar a pessoa por cima do ombro.
— Desculpe! — Grita um cara de terno branco mal ajustado.
Gabriel se endireita, sua mão deslizando para segurar meu
cotovelo. Sinto a perda de seu corpo aquecido contra o meu.
O cara dá uma segunda olhada e se aproxima. — Scottie! Justo
o cara que eu estava procurando.
Estou começando a suspeitar que ele sabia exatamente em
quem estava esbarrando, e pela expressão sombria no rosto de
Gabriel, acho que ele desconfia também.
— Andrew — diz ele, sua voz clara sobre a música.
As luzes do palco piscam no rosto de Andrew e eu percebo que
ele é um dos executivos da gravadora. Dou um passo para trás,
sabendo que o momento acabou e Gabriel precisa conversar sobre
negócios. Mas seu aperto aumenta, e ele se vira para mim com uma
careta.
— Vá trabalhar — digo a ele.
O cenho dele se franze mais. Ele balança a cabeça, negando.
Aperto sua mão. — Eu não quero que seja aqui. — Porque se
ele me beijar agora, não vou conseguir parar - não vou querer que
ele pare.
Por um segundo, acho que ele não me deixará ir. Mas então sua
máscara volta e Gabriel me dá um aceno rígido. Começo a me
afastar, mas ele de repente me puxa de volta, curvando-se para
rosnar no meu ouvido.
— Uma hora. Venha para casa, ou eu vou te encontrar e te
trazer de volta.
CAPÍTULO VINTE
S
T chegam ao fim. Eu sabia que meu tempo
com Gabriel tinha um limite; ele é muito viciado em trabalho para
ficar de férias por muito tempo. Mas, apesar de termos tido duas
semanas gloriosas para nós mesmos, ainda não parece o suficiente.
Ainda assim, não posso negar que isso o fez bem.
Dias dormindo até o meio-dia, passando horas preguiçosas na
cama fazendo amor ou descansando à beira da piscina tomando sol
deram a ele um brilho saudável e um sorriso fácil nos olhos.
Dias bebendo um bom vinho tinto, comendo azeite de oliva com
pão crocante e devorando tomates maduros e queijo cremoso
preencheram as cavidades em suas bochechas.
Eu pensei que Gabriel era lindo quando o conheci. Agora
percebo que não o tinha visto em plena forma. Ele é robusto,
profundamente bronzeado e tão atraente em seu terno de linho que
fico um pouco tonta sempre que olho para ele.
Ele me dá um sorriso rápido e feliz enquanto dirige a Ferrari ao
longo da costa italiana, e fico agradecida por estar sentada.
— Eu quase posso ouvi-la pensando — diz ele, diminuindo a
velocidade com maestria. Bom Deus, a maneira como suas coxas
se esticam contra as calças...
Eu cruzo minhas pernas. — São todos pensamentos sujos,
prometo.
Seu sorriso cresce, mas ele mantém os olhos na estrada. —
Comporte-se, garota tagarela. Eu preciso me concentrar.
— É como se eu tivesse caído na capa da Pornô de Carros e
Ternos.
Uma risada baixa retumba em seu peito. — Não existe uma
revista assim, Darling.
— Deveria existir.
Rindo, ele muda de marcha e acelera. Sou empurrada contra o
banco enquanto o carro avança para frente. Gritando, levanto as
mãos e deixo o vento bagunçar meu cabelo enquanto corremos pela
costa.
Chegamos ao nosso hotel em Nápoles muito cedo. Kill John vai
fazer um show hoje à noite e então vamos para Milão e, finalmente,
Berna, na Suíça.
Gabriel pega minha mão quando entramos no saguão. Eu não
esperava, mas ele adora ficar de mãos dadas. Sempre que estamos
próximos, ele encontra uma maneira de enfiar os dedos nos meus, o
polegar acariciando minhas juntas ou as costas da minha mão como
se me tocar o acalmasse.
Uma noite, durante nossas férias, sentei-me com ele no terraço,
bebendo vinho enquanto ele brincava com a minha mão, me
olhando como se não tivesse certeza de como havia chegado ao
ponto onde pudesse me tocar livremente.
Eu sorri e ele me puxou para o seu colo. Ele usou as mãos de
uma melhor maneira depois disso. E eu lambi o vinho de sua pele
até o fazer estremecer, rosnar e exigir coisas sujas de mim daquele
jeito mandão e viril dele.
Um suspiro melancólico me escapa, e Gabriel me dá um aperto.
— Qual é o problema, garota tagarela?
— Eu não quero dizer.
— O que me faz querer saber ainda mais. Fale comigo, Darling.
Chegamos aos elevadores e ele aperta o botão para subir.
Balanço a cabeça, mas desisto.
— Estou apenas sendo ridícula e gananciosa. Já sinto falta de
ser apenas nós dois.
Suas sobrancelhas se franzem e ele dá um passo para mais
perto, envolvendo-me em seu perfume e na força de seus braços.
Dedos quentes deslizam para a minha nuca.
— Onde estamos é simplesmente uma questão de geografia. —
Lábios macios escovam minha bochecha, e sua voz soa no meu
ouvido. — Lembra, garota tagarela? Eu nunca vou realmente me
separar de você, porque você está sempre aqui. — Ele pega minha
mão e a coloca contra sua têmpora, como fez naquela noite nos
bastidores.
Sorrio e descanso minha bochecha contra seu peito, onde seu
coração bate forte e firme. — E aqui.
— Exatamente.
Eu o amo. Eu o amo tanto que não parece real. Eu o amo tanto
que me aterroriza um pouco. Nunca estive apaixonada antes. Não
tenho nenhuma experiência com o processamento dessa emoção.
Como isso pode deixar uma pessoa tão feliz e com tanto medo?
Não posso perdê-lo. Não posso. Meu coração não sobreviveria.
Mas ele está aqui, me segurando como se fosse ficar nesse
exato local me dando conforto pelo tempo que eu precisar.
O elevador chega e dou um passo para trás. É quando eu o vejo.
Ele parece um pouco pior, com uma queimadura de sol no rosto,
mas eu o reconheceria em qualquer lugar.
O chão desaba abaixo de mim e engulo em seco, me sentindo
perigosamente perto de vomitar.
Ele está me olhando de onde está, do outro lado do saguão. O
brilho calculista em seus olhos me diz que ele sabe exatamente
quem é Gabriel, e está pensando em como usar o conhecimento de
que obviamente estamos juntos.
Um suor frio brota ao longo da minha pele quando Gabriel coloca
a mão nas minhas costas e me guia para o elevador. A última coisa
que vejo antes das portas se fecharem é o sorriso convencido de
Martin e sua piscadela maligna, como se dissesse: “Entrarei em
contato em breve.”
CAPÍTULO VINTE E CINCO
N .
Olho para a mensagem no meu telefone e minha raiva cresce
em uma névoa vermelha que embaça as bordas da minha visão.
Meu estômago se agita. Esse filho da puta ainda tem o meu
número. Me desculpe por não o ter trocado há muito tempo, ok?
Mas isso não teria importância; Martin sempre encontra uma
maneira de conseguir o que quer.
Meu estômago revira e eu pressiono uma mão sobre ele.
Eu deveria dizer a Gabriel que Martin estava rondando pelo
saguão. Mas não quero. Falar o nome dele é como invocar o diabo.
Não quero lembrar Gabriel do que fiz. É claro que ele sabe, mas ver
Martin, ligá-lo visualmente à mim, tornará tudo mais real. Mais
pungente. Porque é isso que Martin é: um odor desagradável
circulando por aí, deixando o lugar fedorento. O bastardo quer
conversar. É preciso pouca imaginação para adivinhar o porquê.
Uma brisa sopra do porto. Me encolho na espreguiçadeira da
varanda, puxando meus joelhos em direção ao peito. Não está frio
aqui fora, mas estou congelando por dentro enquanto minha pele
queima.
— Sophie. — O rosto de Gabriel paira na minha frente, sua testa
franzida.
Assustada, pisco e olho em volta, observando o mar escuro e as
luzes ao longo da costa. — Sim?
Ele se senta ao pé da espreguiçadeira. — Eu chamei seu nome
três vezes.
— Desculpe. Eu… — Não sei o que dizer, então dou de ombros.
Ele avalia meu rosto, preocupado. — O que está se passando
nessa cabecinha, garota tagarela?
— Eu não me sinto bem. — É verdade. Quero ir para debaixo
das cobertas e chorar. — Andei de carro em estradas montanhosas
por tempo demais, acho.
A pressão fria de seus dedos na minha testa quase me faz
chorar, e eu tenho que piscar várias vezes para não perder o
controle.
Sua carranca se aprofunda. — Você está quente.
— E você está frio. — Eu forço um sorriso. — Beije-me e torne
tudo melhor.
Ele se inclina e beija minha testa. Mas agora ele está em missão.
— Estou falando sério. Quero que você fique aqui essa noite. Vou
mandar uma mensagem para a Dra. Stern e pedir que ela te
procure.
— Não, não — digo para Gabriel. — Estou bem. Ficarei melhor
trabalhando.
— Até parece. — Sem nenhum esforço aparente, ele me pega e
me carrega para dentro. Apesar de tudo, um pouco de emoção me
percorre. Nunca fui carregada ou tratada como se fosse preciosa. E
embora eu não esteja realmente doente, seu cuidado comigo me faz
querer me apegar a ele e chorar até secar.
Ele me coloca no sofá. — Fique.
— Sim, senhor. — Eu o saúdo, mas ele já está entrando no
quarto.
Gabriel volta com um cobertor, que prontamente coloca em volta
do meu corpo. — Aqui.
— Você está agindo como uma mãe coruja. — O que eu amo.
— Piu, piu — ele diz com uma cara séria enquanto pega o
telefone da casa com uma mão e o controle remoto da TV com a
outra. Estou impressionada com sua capacidade de multitarefa; ele
percorre as seleções de filmes e seleciona uma comédia romântica,
enquanto simultaneamente pede uma tigela de sopa com pão pelo
serviço de quarto.
— E um bule de chá — acrescenta, terminando a ligação.
Meu pobre coração machucado vira gelatina ali mesmo. Ele está
pedindo chá pra mim. Minha voz sai muito grossa quando falo. —
Os italianos não são conhecidos por seu chá.
— Provavelmente será um lixo — ele concorda. — Mas terá que
servir.
E embora eu esteja toda enrolada como se fosse um pacote, ele
me move mais uma vez, me colocando em seu colo e nos
aconchegando debaixo do cobertor. É muito melhor ser abraçada.
Eu me enterro contra seu peito, e seus braços me envolvem ainda
mais.
— Eu não quero te deixar — ele murmura no meu cabelo.
— Estou bem. Sério. Eu posso ir com você...
— Não. — Sua voz é suave, mas firme. — Mesmo que você não
esteja doente, precisa descansar. Agora, cale a boca e faça como
indicado pela primeira vez.
— Mandão.
— Você só está irritada porque é minha vez de mandar em você.
Incapaz de me segurar, acaricio seu peito. Tocá-lo é um luxo que
acho que nunca vou me acostumar. — O que você disse sobre o
relaxamento forçado ser um paradoxo?
— Não me lembro de ter dito disso. Acho que sua exaustão te
deixou delirante.
Bufo e ele me beija na testa, rindo.
O filme começa e ficamos em silêncio.
— Como você sabia que eu amo Harry e Sally, Feitos um Para o
Outro? — Pergunto baixinho.
Ele se move abaixo de mim, apoiando um pé na mesa. — Você
me disse.
— O que? Quando?
— Na terceira noite, no ônibus. Você estava tirando sarro do meu
amor por todas as coisas de Star Trek, e eu perguntei quais eram
seus filmes favoritos. E ainda me ofendo que você ache que
Spaceballs está no mesmo nível de Star Wars.
Eu sorrio com o desgosto em sua voz, mas um pequeno choque
me atravessa quando penso naquela noite. — Você se lembra de
tudo isso?
Sua mão se enterra no meu cabelo, espalhando adoráveis
pequenos arrepios pela minha espinha. — Eu lembro de tudo que
você diz, Darling. Você fala, eu escuto.
Quase digo a ele que o amo ali mesmo. As palavras borbulham e
dançam na minha língua, mas minha boca se recusa a abrir. O
medo me impede, como se ao contar pra ele de alguma forma fosse
o começo do fim. Não faz sentido, mas não consigo me livrar do
sentimento.
Beijo a parte de baixo de sua mandíbula, onde o perfume de sua
colônia se mistura com o calor de sua pele, e o abraço mais forte.
Ele me segura até o serviço de quarto chegar. Dada a velocidade
com que isso aconteceu, acho que recebemos tratamento
preferencial. Uma das vantagens de Kill John alugar o andar inteiro,
suponho.
Gabriel veste o paletó e puxa os punhos da camisa de volta ao
lugar enquanto eu finjo interesse em minha refeição. Mas meu
apetite se foi.
— Não brinque com a sopa — diz ele. — Coma.
— Estou esperando esfriar.
Aparentemente sou uma péssima mentirosa, porque ele paira no
final do sofá, me olhando como se pudesse tirar os pensamentos da
minha cabeça por pura força de vontade.
— Eu deveria ficar — ele diz finalmente.
Quando ele puxa o celular do bolso, como se quisesse mandar
uma mensagem, seguro sua mão. — Não, vá. Juro que estou bem.
Só estou tendo uma noite ruim. Acontece.
Eu preciso que ele vá, para que eu possa caçar aquele maldito
Martin e mandá-lo ir comer merda e morrer – ou algo nesse sentido.
Não posso fazer isso com Gabriel por perto. Estou bastante certa de
que sua versão de dizer a Martin para ir comer merda
provavelmente seria mais algo como ele batendo em Martin até o
fazer cagar nas calças em puro terror.
Seria meio gratificante de assistir, mas a ideia de Gabriel tendo
problemas com a lei ou ter sua reputação manchada me deixa
horrorizada.
Ele deve perceber minha urgência, porque suspira e se inclina
para me beijar. Esse beijo não é rápido, é suave e lânguido, como
se estivesse deleitando-se com o meu gosto. E eu derreto sob seu
toque, beijando-o de volta, minhas mãos se enfiando em seus
cabelos grossos.
Um rubor colore suas bochechas quando finalmente nos
separamos, nós dois respirando com dificuldade. Sua testa
descansa contra a minha enquanto ele segura minha nuca. —
Sophie — diz ele. — Minha garota querida.
Lágrimas ameaçam cair. Ele é terno demais. Maravilhoso
demais. Eu fecho meus olhos e deslizo meus polegares em círculos
ao longo de suas têmporas. — Eu estarei aqui quando você voltar.
Fazendo um som de concordância, ele me beija mais uma vez. E
de novo. Beijos gentis. Beijos que parecem amor.
— Sophie, eu... — Ele respira fundo, balançando a cabeça.
Quando dá um passo para trás, sinto a perda dele como se fosse
uma mão fria na minha pele.
Ele mexe nos punhos da camisa mais uma vez e procura meu
rosto. Não sei o que ele vê, mas sua voz é suave quando finalmente
fala. — Fique bem.
— Eu vou. — Mas minha promessa é vazia; porque essa doença
não vai se curar até eu faça alguma coisa em relação a Martin.
S
B . Apenas saia do quarto e então você pode
desmoronar.
Ele me deixa ir com um suave: — Boa noite. — Como se não
tivesse acabado de me despedaçar novamente.
Como se não tivesse acabado de dizer a Jules que eu estava
demitida. Nada de primeira classe desta vez? Bom, foda-se ele e
suas passagens de primeira classe.
Um soluço tenta escapar e eu o seguro por pura força de
vontade. Meus pés me impulsionam pelo corredor do hotel, mas
meu corpo está latejando com essa dor horrível e maçante. Ele me
demitiu? E depois agiu como se tivesse sido uma decisão minha?
Eu deveria ter jogado isso na cara dele. Mas estou tão magoada,
tão chocada. Não sei o que dizer. Não consigo pensar direito.
Pensei que ele me amava. É verdade que ele nunca disse as
palavras, mas cada olhar, cada atitude... Isso era amor. Tinha que
ser.
E, no entanto, cá estou eu novamente, em segundo lugar nas
prioridades de um homem, vencida pelo seu trabalho. Não era como
se eu não tivesse recebido avisos desta vez. Eu sabia que Gabriel
coloca a banda acima de todas as coisas. Mas eu esperava que
houvesse um espaço para mim.
Chego ao quarto de Brenna. Meus dedos estão fracos quando
bato em sua porta.
No momento em que ela abre, começo a chorar.
— Meu bem — diz ela, me puxando para dentro. — Meu bem.
Tudo o que aconteceu sai de mim como um vômito de palavras.
E ela me abraça, deixando tudo fluir.
— Ele fez o quê? — Ela grita quando conto sobre Gabriel
ordenando a Jules que me demitisse.
— Ele disse a ela para me lembrar da porra do termo de
confidencialidade que eu assinei — digo amargamente.
— Não. — Brenna balança a cabeça. — De jeito nenhum. Esse
não é o homem que eu vi com você. Ele é louco por você, Sophie.
Eu também não pensava que ele fosse capaz disso. Um suspiro
me faz tremer. — Eu o ouvi. — Entrei bem a tempo de ouvir as
ordens, alto e claro.
— Você tem que falar com ele. Porque não consigo acreditar.
Ela me guia para uma cadeira enquanto balanço minha cabeça.
— Acabei de falar com ele. Disse que estava saindo da turnê e ele
me deixou ir.
Por que ele não veio atrás de mim? Porque não disse que me
ama? É isso que eu quero? Estou tão desgastada e cansada da
coisa toda que não consigo pensar direito. Só sei que estou ferida e
sinto falta dele. Mesmo quando quero bater na sua cabeça dura e
teimosa, sinto falta dele. A vida é uma estrada vazia se ele não
estiver ao meu lado.
Eu odeio essa fraqueza. Estar apaixonado é como perder a
cabeça e ter o coração exposto ao mesmo tempo. É péssimo.
— Olha, — Brenna diz gentilmente, — vocês dois tiveram uma
noite ruim. Deixe a situação se acalmar e discutam sobre isso de
manhã. — Ela fica quieta e depois inclina a cabeça para olhar para
mim. — Você realmente quer sair da turnê?
É só então que me ocorre que ela não é apenas uma amiga. Ela
é minha chefe.
— Sinto muito — digo, torcendo meus dedos. — Não é só
Gabriel. Killian nem me olhou hoje à noite. Logicamente, eu não os
culpo. Mas foi como se tudo o que passamos não tivesse significado
nada. — Balanço a cabeça. — E me chame de covarde, mas eu só
quero ir embora e lamber minhas feridas em privacidade por um
tempo.
Brenna parece pensar que é uma péssima idéia, mas é gentil o
suficiente para não falar nada. — Vamos botá-la na cama. Tudo vai
parecer melhor pela manhã.
Estou bastante certa de que isso significa que Brenna vai tentar
me convencer a ficar. De qualquer maneira, não vou suportar se me
pedirem para revisar o termo de confidencialidade estúpido que
assinei. A humilhação me arrasaria.
Talvez Gabriel estivesse certo desde o princípio; talvez seja
melhor se afastar das pessoas e se proteger. Eu sempre fui uma
bola ambulante de emoção. Talvez se tirar um tempo para mim
mesma para me afastar da experiência inebriante que é estar
envolvida com Gabriel, vou poder ver as coisas claramente.
Brenna se levanta, interrompendo meus pensamentos. — Vou
deixar você se arrumar. — Ela dá alguns passos e depois se vira. —
Se as coisas não acabarem bem, Harley Andrews está muito
interessado em trabalhar com você.
— Isso é incrível. — Não sinto absolutamente nada. Não me
importo mais se vou trabalhar com uma grande estrela de cinema.
E, no entanto, a Austrália parece uma aventura agora. Eu poderia ir
lá, conhecer o país, ter uma perspectiva.
Uma pequena voz sussurra que estou fugindo como uma
covarde. Eu a ignoro.
CAPÍTULO VINTE E OITO