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cink gias P1n Alage an« 5. r". janjun 2003. p.

20-63

Alguns criticos (eg. Tharamangalam, 1998) têm afirmado


peto dessas realizações, Kerala ainda que, a des-
demonstra os efeilos anticrescimento
devidos à
anos
parlicipação popular intensa. E, de falo, verdade que, do tim dos
setenta inicio dos oitenta, os
ao

perderan terreno para os do resto daquocientes crescimento de Kerala


de
lares nesse india (que não eram nada
período). O desempenho do crescimento de Kerala espetacu-
entretanto, tem se mantido alinhado com o após 1985,
ritmo bastante
India como um todo. No
periodo de 1985-1993,
respeitável da
da manufatura por exenmplo, o produto
cresceu cm 5,9% cm
Kerala c 5,5% na india como um
(Heller, 1999, p. 211). Da todo
em Kerala no fimn
mesma forma, os níveis
globais investimento
de
dos anos noventa eram um
a média
indiana (Heller, 1999, pouco mais elevados do que
p. 233). Assim, resultados mais
deslocam Kerala para a recentes
categoria "neutro
em termos de crescimento".
Quais são as implicações desses casus para os rês
que foram antes levantadas
tipos de questões
centrais para uma
como
desenvolvimento deliberativo? Sua evidència é mais bem avaliação global do
definida no que
tange à questão da sustentabilidade social, mas elas também
trazem luzes
interessantes parao "problema da economia
política" e o "problema do
crescimento". Ao mesmo tempo, ajudam a esclarecer o caráter
político e
organizacional das instituições deliberativas.
A resposla à quest o "será que as não-elites se lornarão suficiente
mente engajadas de modo a fazer com que o mocdelo deliberativo funcio-
ne?" é claramente positiva. Esses casos mostram que, a despeito de inves-
dos cidadäos, os
timentos maiores na exigência de tempo e de energia
abalados pela mesma apa-
sistemas deliberativos não são necessariamente
Quando os sistemas de deliberação são
tia que infecta a democracia frágil. cidadãos
de resultados concretos, os
modeladores
vistos como, de fato, e a energia
necessá-
"confusão", e investem o tempo
c o m u n s toleram sua "racional" de que
de fazerem a escolha
funcionar. Em vez
não
rios para fazê-los portanto,
no produto final e,
terá pouco impacto
seu imput individual
Sciniogas, R1n Alegre, ana 5, n 9, jantjun 200 t, p 20-63

garantirá o custo do tempo perdido, os cidadâos comuns parecem concor


modalidade do
que a capacidade de fazer escolhas
umna
dar com Sen em

funcionamento humano" intrinsecamente


valiosa e recompensadora.
evidência sobre a "questão da
Ao mesmo tempo em que fornecem
fato de que a
claro o
social", esses casos também
tornam
sustentabilidade
for-
contexto sólido de instituições
participação social requer
um
efetiva
e Moore (no prelo)
de que as
mais. Confirmam a proposta de Houtzager
insufici-
descoordenadas e
descentralizadas da sociedade civil" são
"açoes deliberativas. Os
sustentação de instituições
ou
entes para a emcrgência estado partidos
administrações de
e
formais
aparatos organizacionais
centrais e m ambos os c a s o s .

políticos desempenham -
papéis necessária para
administrativo público, c o m capacidade
Um aparato resultam
infomacionais e implementar as decisões que
fornecer inpus deliberação a (ver
central para possibilitar
é u m elemento
desse processo,
Lambém Heller, 2001;
Evans, 1995, 1996).2
uma das mais importantes
conscqüências das
De modo contrário,
é "suspender" as barreiras quanto à transparência
instituições deliberativas
final do aparato estatal. Dada a extensão que a ques-
e à responsabilidade
essa é uma
assume no Sul, como problema intratável,
tão da comupção
deliberativo.2
questão particularmente valiosa do processo
Os cfeitos de instituigões deliberativas na eficiência da administração
pública são obviamente relacionacdos ao seu inmpacto no fornecimento de
bens coletivos. Os processo deliberativos dão aos cidadãos acesso a um

27 Essesenperimentcs lambém conioburana prupusicãooinilade Hischman (1961, p 65-311de que us próprcs etercicias
envolidusna participaçu pibica podem a r em si mesmua satisulúns
28Nstems de Fungerihtinopreks, p 25), cada um dus Ca-us analisudous "arela o pokr e s truss do esado
eliterak eà ptiipo prprria
29 Assim cun ajuuam lkJar oma umpçä, s instituigücs deliberativAS prkenm canalizar Cunlsts de maneira a evitar
a

tipu de vidtncia eunimica e politicamente debilitante (que inlatta


paridus em Kerala «casinalmente dewamban psara a vakiiwia (ls*a, granle panala ks Saul. Condlitus te sin<licatus e
mas u estada
inferta c r nicanente sutras
parters da Inulia, como i tiga» de iukència ale clase esxapuu da vicdencia pública que
gnança efcdva e n outrus estadus Indlanus Cumu Bihar, e o Confitu ammado andrjulca, czue mina a possitilidae Je
1999; 2000, p. 500. Coma Ketala, Atu Aiege é caraterizxa que surge ainda cin autrus estauos (Heller,
anarquica que é endkmica em åreas rurais e até mesmMa se pr intens» numlito pudhica», mas nå» «s
ideres espallhxu para e1
tin» de vi«dëncia
sudeste urbans ip.ex., is recentes assaisinatin
municipais em Campinas e Sartn André) de
conjunto expandido de informações acerca da alocação dos recursos pú-
blicos. A participação nas decisões sobre a alocação lambém dá aos cida-
dãos um interesse mais claro em monitorar as implementaçóes dessas de-
Cisões. Uma capacidade ampliada de monitorar a
alocação e osresultados
das despesas públicas é o outro lado da moeda
na disposição de fazer
investimentos maiores em bens públicos. Os dois
aspectos combinados
mitigam suboferta de bens coletivos que, é um
a
obstáculo-chave crescen-
te para melhor
a
qualidade de vida países do Sul.
nos
A
institucionalizaço dos proccssos deliberativos está também intima-
mente ligada à dinâmica da competição entre
como em Porto partidos. TantoKerala
em
Alegre, o impulso em direção aos processos
acionado deliberativos foi
partidos combativos de esquerda, com
por
ideologias marxistas,
possibilitados (e forçados) por um contexto nacional mais
tição eleitoral direitos civis a estabelecer
e amplo de compe-
seu foco sobre
mobilizadoras. Engajar suas bases em um estratégias
fazia sentido para projeto positivo de governança
partidos como uma
esses
estratégia política. Sem esse
ímpeto,é improvável que tais experimentos deliberativos
tivessem vingado.
Observar a relação entre a dinmica
política e as instituições
deliberativas ajuda esclarecer o "problema da economia
a

pela probabilidade de oposição da efite. Esses casos política" criado


sugerem que um gru-
po selclo de elites polílicas pode ler um inleresse
lorle e positivo em
insti-
tuicões deliberativas. Elites cujo "capital político" toma a forma de
habili-
dades mobilizadoras e cujos eleitores são os pobres e a classe média
po-
dem achar a construção de instituições deliberativas um projeto muito
atraente. O poder perdido devido ao escopo reduzido no uso de obras
públicas como recompensas clientelísticas provavelmente será mais do que
Compensado pelo poder e a legitimidade conquistados através da capacida-
de aumentada de distribuição de bens públicos em geraleo comprometi
mento aumentado de eleitores no processo político. Essa lógica subjaz,

importância de regras eleitorais firmemente aplicadas e


mais uma vez, à
Scinlogias, n Alngn, ana 5, nt" 4, janvjun 2001. p 20-

de liberdades civis para a construção de instituições deliberativas. Um "campo

de possibilidades cleitorais" que maximiza os ganhos da mubilizaçãu pacifi-


ca oferece fortes incentivos às elites politicas para explorarem opçõcs
deliberativas. A infor
potenciais.
As elites administrativas são, também, apoiadores
verdadeiras necessidades e a ofer-
mação mais precisa
sobre onde estã as
e da distribuição
cde bens
mais eficiente da alocação
ta de um controle e até a dispo-
desempenho, a legitimidade
deveriam melhorar o
públicos administrativo. Isso, por
administrativa de investir no próprio
aparato
sição administradores competentes pela cir-
uma recompensa
vez, oferece
problema das elites privadas
sua e
tecnocrático. O
cunscrião de seu privilégio a oposi-
mas, m e s m o aqui,
representam permanece,"
as
dos partidos que têm uma perspectiva
consolidada
uniforme. Aqueles que
ção não deve
ser inves-
governança e do
desenvolvimentista da boa
valoriza o potencial obstáculo central
ser persuadidos. O
que
timenlo e m bens públicos
podem
c o n v e n c i o n a i s dos opositores
sobre a
ideológicos
está n o pressupostos
econômica" dos resultados
deliberativos.
irracionalidade
crescimento". Uma
o "problema do
Tudo isso tem implicações para
básicos educação, saúde,
infra-estrutura
distribuição de serviços vitais
e mais eficiente
é algo bom para o crescimento a longo
pública ampla -

na corrupção e na
violência também devem ajudar. Ob-
prazo. Reduções
deliberativas produzem muitas das característi-
jetivamente, as instituições
"bom clima de investimento". A ques-
cas comumente associadas com o

tão é hostilidade ideológica das elites privadas reduzirão os investi-


se a
mentos produtivos locais a um ponto que contrabalance os efeitos positi-
vos de uma governança com melhor infra-estrutura.3" Examinando esses

31 A análise comparaliva ue Culdfrark t2001) de casus inais uw nenas bern sucedidus e deliteraxlu en nvel inunicpal
tarbem sugere quelidenesde partiks 1so assuciadus cum odeenwuhinento deliberabvw podern estar entre seus uponentes
mais implacáveis e eficientes.
3Heller t19, p. 234-35) observa que, em 1997, uma das pgrar:des revistas de negócios cla lndia classificou Kerala entre os
melhores 15% de wdks os estads indiaros ein enias de
"vntee oto nnedkdes otjetnas de ntisestntura iiae sonial. nãu
cde-obre, po1emo. e icenthos liscas. Na nessna pesquisa, a avallação subjetiva de imvestikres potericiab classlikou» Kerala
ente os ültimos 155%.
Ssxiok gias. Prsto Alegre, ano 5. p" . jaun/jun 20ni, p. 20-61

casos, a melhor hipótese continua a ser a de que o desenvolvimento


deliberativo, como a democracia frágil, é "neutro em termos de cresci
mento".
Se
hipótese de "neutro em termos de crescimento" é correta, os
a

detratores do desenvolvimento deliberativo


tar
sempre serão capazes de apon
regimes autoritários que crescem mais rápido do que os deliberativos, e
de
argumentar que o aumento das capacidades
material desses possibilitado pelo sucesso
regimes pode compensar oportunidades perdidas no exer
cicio da escolha. Essa
análise, é claro, não considera o falo básico de
que é
responsabilidade cidadãos desses países decidir quais
dos
mais valorizam. Também não capacidades eles
percebe outra questão básica. Nem as de-
mocracias frágeis nem os
regimes autoritários garantem um crescimento
maior da nação. Os dados de
Easterly (2001a, p. 211) de 1980-1998 até
sugerem que "expectativa racional" para um país
a

crescimento zero. Sob essas circunstâncias, a


qualquer no Sul é de
opção de instituições
deliberativas "neutras em termos de crescimento",
que criam a possibili-
dade de exercer escolha e oferecem clistribuição mais eficaz de bens cole-
tivos, é interessante.
O que os exemplos concretos de Kerala e de Porto
Alegre demons-
tram é 0que o desenvolvimento deliberativo não é apenas um imperativo
teórico c filosófico, conlorme sugere o trabalho de Sen, mas também uma
possibilidade real.

Institucional
Além da Monocultura
do desenvolvimento deliberativo é apenas
Explorar as possibilidades
se tirar vantagem
das novas idéias teóricas
de
uma parcela do esforço geral decorrer dos últimos 25
desenvohvimento no
invadiram a teoria do
que desenvolvimento,
especialmente se lida conjunta-
teoria do se
anos. A nova
fornece boas razões para
institucionalismo do Norte,
novo
mente com o
Sncinlogias, Ptn Alegre, ano 5, n 9, janvjun 200 t.p 20-61

um papel
acreditar que instituições básicas de governança desempenham
mais imaginat
essencial no fomento ao desenvolvimento. Scm propostas
das instituições fundamcntais de
vas para a melhoria de qualidade
da
governança, o provavelmente continuar . O enfoque
desapontamento
da proposta cdo desenvolvimen
capacidade de Sen impele-nos na direção desenvolvimento
de
to deliberativo. Aexpansão analítica dos objetivos deliberativas tan-
torna as instituições
próprios do enfoque da capacidade como desenvolvimentistas

to um meio inevitável na orientação de esforços


intrínscco fundamental cm si mesmas.
um bem de u m a teoria
com o fato de que a busca
Alguns podem se preocupar básicas projetadas para
sustentar

mais abrangente vá minar a s políticas disso. A inércia


mas há pouco perigo
i n v e s t i m e n t o s em bens produtivos, políti-
interesse direto enm
das elites com
intelectual e o persistente poder alenção voltada
o capital assegurarão
rendimentos para das
cas que protejam dificuldades intelectuais da tradução
investimento. De falo, as
a
sugestões concretas para po-
para o
análise institucional em
complexidades da suficientemente
desanimadoras
desenvolvimento e sua prática são
litica do constante.

o retorno a
modelos mais simples seja uma tentação
para que um problema mais
institucionais muito simpliticadas são
Estrategias "monocultura
do papel do investimento. A
provável do que a negligência possibilidades de resolver problcmas
instilucional" não lem apenas poucas
tornar os emprésti-
também tem possibilidades de
locais de governança;
menos eficazes.
Mesmo as IFls admitiram que tentar im-
m o s financeiros
preocupar sem se com.o senti-
planejamentos importados
por modelos de
"propriedade" local é quixotesco. lIncorporaro processo de emprés-
dode
timo institucional em uma matriz global
de desenvolvimento deliberativo
deve levar a um sistema de empréstimo mais cuidadosamente selecionado
ea menor desperdicio de recursos en1 transferências fracassadas. Privilegi-
ar o desenvolvimento de capacidades locais para realizar escolhas torna a
relação entre escolhas locais e planejamentos globais mais complexa, mas
Seiale gas. Pta1n Alegre. and 5. n". janjun 20196, p 2n-G3

também realiza
ganhos de um crescente sentido de
melhor
exploração do conhecimcnto local c melhor"propriedade local",
ções locais existentes. ajuste com institui-
O
desenvolvimento deliberativo é apenas uma
da monocultura institucional, mas é uma maneira de se ir aléim
Casos maneira promissora. Nossos
empíricos reforçam outros dois
argumentos
estratégias deliberativas são intrinsecamente teóricos ao
sugerirem que as
que delas
participam satisfatórias para os cidadãos
oferta de bens enquanto melhoranm a
coletivos. Dados seus outros governança e aunmentam a
deliberativo deveria ser beneficios, o desenvolvimento
não considerado uma alternativa
produzisse crescimento de renda real atraente contanto
que
esperado a partir das estratégias significativamente
convencionais. pior do que o
crescimento de renda real Como os níveis médios
de
o esperados
desenvolvimento deliberativo será no Sul
diminuem, hipótese de que a

cimento, em comparação com outraspelo menos neutro em ternmos de cres-


se torna uma
alternativa cada vez estratégias, é ainda
mais atraente.
mais plausível e
Nada disso deve nos
tentar a
deliberativo como uma representar desenvolvimento o

cair na armadilha da panacéia. Seria um erro


monocultura e tentar
profundamente irônico
deliberativo como alternativa de impor desenvolvimento o

so das
possibilidades de
planejamento. Embora exame cuidado- o

se domínio,
empréslimo de idéias
scja uma boa
bem como em outros,
desenvolvimento
o sugestão nes-
alguma chance de êxito quando emerge da deliberativo só tem
Os argumentos dinâmica de politicas locais.
aqui expostos podem facilitar a
consideração local das es-
tratégias deliberativas em duas maneiras. Primeiro, os
ressados em adotar o desenvolvimento deliberativo agentes locais inte-
sibilidades de serem perturbados pelas asserções empodemas menos pos
ter
que teorias econô-
micas do desenvolvimento eniatizam as
conseqüências
antidesenvolvimentistas das instituiçöes deliberativas quando,
de fato, o
oposto é a verdade. Segundo, quando o "sistema do desenvolvimento"
cinlogas, PM-no Alegre, ana 5, n*, jan/jun 2013t, p 20-63

propicia a reflexão sobre a Easterly (2001b) de que"o


condusão de William
comuridade de auailio estrangeiro pode lazer apoiara
mmi-
melhor que a
mais pro-
naquelas ocasiöes preciOsdi cm que isso ocorrn",
dança genuina deliberativo como
vavel cque se considerem exemplos de desenvolvimento
"ocasiõespreciosasde mudançagenuind'.

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