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A questão da inteligência artificial, pensou eu,

vai muito além de ser um app que desenha


sozinho, com qualidade gráfica e técnica
impressionante. Não é isso que faz com que
IA seja problemática. A arte é uma espécie de
expressão humana aonde o ser humano se
humaniza no seu grau máximo (desculpem o
cacófato), pois tem a oportunidade de se
expressar, exercitar sentimento, técnica,
comunicação, sensibilidade, empregar sua
imaginação, sua visão de mundo, suas
angústias, questionamentos, dúvidas,
esperanças... nada disso uma inteligência
artificial irá conseguir fazer, por mais que
desenhe magistralmente, tenha uma técnica
artística imbatível, faça um trabalho
irretocável. Isso pode até substituir um artista
quando ele se dispõe para ilustrar um rótulo de
produto ou qualquer coisa que seja esvaziada
de expressividade humana, apenas para vender
produtos ou decorar ambientes sem nenhum
significado. Uma máquina não produz
significado, não consegue reproduzir a
vivência humana, seus desafios, expectativas,
receios, desejos, sonhos, contrastes de sua vida
e seus anseios. Então uma manifestação
artística realizada por IA sempre será vazia de
humanidade, será oca, desprovida de qualquer
valor relevante porque não representa aquilo
que é a alma humana que é única. E dar
espaço para que a arte que é a produção
humana por excelência para dar lugar a coisas
que podem até ser muito interessantes como
passatempo é antiético por matar na
humanidade a possibilidade de um consumidor
de arte de receber a obra de um artista, de
permitir que haja entre artista e público a
transmissão de tudo aquilo que o artista quer
que as pessoas percebam, sintam, reflitam,
questionem... mata a humanidade naquilo que
o ser humano tem de mais precioso.

A IA na arte para mim é a maior prova da luta


de classes nas artes. Poderia muito bem ser
aplicada para desenvolver tintas, pincéis, lápis,
gizes, papéis, telas, solventes, secantes e
outros recursos digitais muito mais complexos
e ricos para que os artistas digitais pudessem
realizar obrar inacreditáveis, ainda mais com o
auxílio do 3D para que a humanidade pudesse
chegar a uma produção artística inimaginável,
mas ao invés disso as empresas de informática
usam a IA para substituir os artistas.
Eu estou já a um tempo debruçado sobre esse tema da inteligência
artificial, porque um dos pontos atuais é ser uma ameaça a todos os artistas
pois está sendo cogitada como uma alternativa a produzir pinturas,
desenhos, fotos músicas e até histórias inteiras sem a necessidade de
intervenção humana. Eu penso que o problema não é a inteligência
artificial em si, porque ela se bem utilizada poderia ser um ótimo assistente
para o criador humano pois poderia checar questões como ortografia,
estrutura de texto, fazer análises de argumentação e até mesmo apontar
furos antes mesmo do material ser publicado e até mesmo oferecendo
alternativas muito mais variadas de resultados que poderíamos chegar,
auxiliando as pessoas que produzem e potencializando a produtividade
humana. O problema porém está por trás da inteligência artificial, quem
está promovendo o seu desenvolvimento e quais são os seus objetivos.
Pois parece que as pessoas por trás dessa iniciativa tem por interesse
substituir o ser humano completamente, inutilizar o artista, o criador, a
pessoa que produz conhecimento. Talvez seja para transformar a todos em
meros consumidores? Ou tornar as pessoas dispensáveis? Em todo caso, o
certo é que a forma como a inteligência artificial está sendo desenvolvida
ao meu ver corre o risco de desumanizar completamente o ser humano,
desestimulando-o em realizar as atividades que o humaniza mais e mais
que é o exercício da reflexão, o desenvolvimento do senso crítico, a
capacidade de estimular a criatividade, de produzir, de ter a necessidade de
se consorciar com outras pessoas para realizar trabalhos e tarefas que
sozinho seria impossível de fazer e dessa forma aumentar o nível de
socialização e envolvimento entre as pessoas. O ser humano precisa
refletir, raciocinar, discutir, se aliar aos outros, ter objetivos a alcançar, ter
curiosidade, criatividade, desafios a vencer.

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