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Diário Aberto

11/08/22 — Midjourney, IA e arte
Bom, seja bem vindo ao meu “diário aberto”. Na verdade o título de diário, é mais uma
justificativa para a preguiça de criar postagens e categorias para abordar diferentes
tópicos. É provável que escreva um único texto a ser compartilhado no final do dia, e
isto no dias que eu escrever alguma coisa.
O que vou compartilhar aqui são reflexões e conteúdos que eu ache interessante por
algum motivo particular. Portanto é um tanto caótico e aleatório pela própria natureza
da proposta. Na verdade, grande parte desse conteúdo é o que consta no meu próprio
diário, com a particularidade óbvia que só trarei para cá conteúdos que eu considero
apropriados para serem tratados de forma pública.

Midjourney
Começamos então com uma pequena reflexão sobre o Midjourney. Para quem não
conhece, esta é uma “ferramenta de criação de artes por inteligência artificial”. Não é a
única (temos por exemplo a DALL-E 2), e minha reflexão é mais genérica, mas partiu
da popularidade desta ferramenta em particular.
Eu acredito que a arte é uma atividade intrinsecamente humana, e tenho uma certa
paixão pela área que me faz a ver quase como um dos sentidos da vida, algo que nos
faz humanos (inclusive esse é um tópico para ser explorado em maior profundidade
outro dia). Então quando surge uma “inteligência artificial capaz de fazer arte” é
impossível não sentir um certo baque e entrar em um modo reflexivo, questionando até
mesmo sobre minhas crenças.
Afinal o que essa tecnologia emergente significa para a arte? Para os artistas? E
mesmo para a humanidade como um todo? Na verdade eu nem sou artista, então
meus pensamentos aqui são basicamente de um leigo interessado. Mas acho que em
um primeiro momento precisamos ter claro do que de fato essa tecnologia é capaz,
inteligência artificial é uma tecnologia ainda incompreendida.
De maneira geral, o que um modelo de IA é capaz de fazer é identificar padrões, e
tentar ‘adivinhar’ a saída desejada a partir de uma nova entrada baseado nos padrões
que aprendeu. Então o Midjourney (e afins) em um primeiro momento precisou se

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alimentar de muito do que já foi feito por humanos (será que fazer isso sem pedir
autorização para o dono de cada imagem que usou não é errado?).
Já notamos que desde o início a IA não existe independentemente, é necessário que
exista uma produção artística original humana. O próximo ponto é que ela só é capaz
de reproduzir novas coisas baseada nesses padrões que aprendeu, não há uma
originalidade no processo criativo, de fato, não há processo criativo. É verdade que se
pensarmos em um artista humano há alguns paralelos. Nascemos e vivemos em
sociedade, não existimos fora dela, aprendemos com quem veio antes de nós, e
mesmo para produzir uma nova obra, é impossível não ser inspirado pelo que já existe.
Mas talvez um dos pontos cruciais, do ponto de vista técnico, é que o MidJourney não
consegue passar de uma ferramenta. Além de ter sido desenvolvido por humanos, e
treinado através de obras humanas, precisa ser operado por humano. Não é um ser
consciente dotado de criatividade capaz de produzir arte por si só, exige que alguém o
forneça entradas para que uma saída seja gerada.
É claro que é uma ferramenta potente. Se lembrarmos daqueles antigos jogos de
vestir/criar personagens, é como uma versão muito mais potente disto, possuir
significativamente menos limitações. Mas ainda possui limitações. Talvez a saída da IA
seja o suficiente se estamos procurando uma ilustração genérica. Para uma IA, é
inegável que o resultado é impressionante, mas se queremos controlar realmente cada
detalhe da obra de arte, vamos nos frustrar. É a ferramenta perfeita se você quer gerar
uma ilustração do ‘Darth Vader dormindo ao estilo Van Gogh’. Porém podemos
perceber que não só é uma mistura de coisas que já existem, como também não temos
realmente o controle do produto final.
O que temos são diferentes variações geradas pela IA, no qual podemos gerar novas
variações a partir dela, mas ainda sim, estamos limitados ao que a IA gera. Em uma
obra de arte, o artista pode considerar cada detalhe da obra, desde a escolha das
cores, os estilos, até mesmo a disposição dos objetos em um cenário, tudo pode ser
significativo na construção da mensagem que o artista deseja passar através de sua
obra. Quando usamos IA, por mais que tenhamos uma falsa sensação de controle, boa
parte do resultado é aleatório, ou no mínimo, foge verdadeiramente do nosso controle.

O que nos leva ao último ponto que quero discutir (acredite, eu também já estou
cansado de escrever, não é só você que cansou de ler): arte é política, e obras de arte
carregam visões de mundo do artista. Eu tenho um artigo sobre aestética que quero
discutir outro dia, mas por enquanto vou deixar apenas essa afirmação. Quando você

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produz uma obra de arte, você é capaz de controlar como quer transmitir essa
mensagem e que mensagem, mas e quando você gera uma arte por IA, qual é a
mensagem que está sendo transmitida?
Eu de fato não tenho uma resposta, uma primeira hipótese é: nenhuma. Mas acho que
isso é inocente, acredito que a resposta é: da empresa que desenvolveu a ferramenta.
Como não temos o controle dos detalhes de como a imagem é feita, e quem tem é a
empresa, podemos pensar na possibilidade de que estamos propagando determinadas
visões da empresa. Visões que talvez a empresa não tenha efetivamente planejado
difundir, mas que seu produto está inerentemente contaminado uma vez que é sua
criação.

Um exemplo prático que podemos citar é o fato de que determinados tópicos podem
ser proibidos de serem abordados. Mas o problema mais comum em IA é o viés. Uma
vez que você treina IA com material de internet, você treina a IA com os mesmos
vieses e preconceitos existentes na internet. Esse viés é inerentemente reproduzido
pela IA de alguma forma.

Os criadores do MidJourney estão cientes disso. A alternativa que encontraram para


contornar o problema é adicionar mais detalhes aleatoriamente sem que o usuário
tenha conhecimento. Por exemplo, se o usuário pedir para desenhar um CEO, é
provável que a IA gere um homem branco. Para evitar isso então a IA adiciona
detalhes aleatórios para que se crie a possibilidade de que a entrada final seja algo
como “CEO Mulher ”. É verdade que podemos ser mais detalhistas na entrada, mas a
partir de certo nível, muitos detalhes passam a confundir a IA.
Esta solução é o suficiente? Bom, eu acho que não. Significa que é uma ferramenta
inútil? Também acho que não, na minha opinião, pode ser uma ferramenta interessante
na mão de artistas. Mas significa que o que a IA faz não é arte? Para mim sim. Mas
bom, discutir o que é arte, é uma reflexão para outro dia, o que fica para hoje, é minha
segurança que a IA ainda está muito longe de substituir os humanos na tarefa de criar
arte.
Obs.: O texto não foi revisto por … preguiça. Portanto releve com possíveis erros.

12/08/2022 — Blues para o gato triste

Tom e Jerry — Episódio 103

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É bastante disseminado uma ‘teoria’ da internet sobre a ‘morte’ dos personagens Tom e
Jerry no ‘último episódio’. O episódio em questão que deu origem a teoria é 103º, em
tradução livre: “Blues para o gato triste”.
Ele foi ao ar em 16 de novembro de 1956, e o primeiro ponto que vou destacar é que
não é de fato o último episódio, houve ainda mais 11 episódios depois deste. Existem
alguma teorias envolvendo as telas de fundo que buscam demonstrar que este seria o
último episódio de verdade, mas não vou entrar em detalhes nestes aspectos técnicos.

O que de fato me chama atenção, e o principal motivo de todas teorias, é que é um


episódio que foge do habitual, basicamente não há momentos engraçados. O episódio
começa com um Tom depressivo e aparentemente suicida sentado no trilho do trem. A
primeira fala do Jerry no episódio (em tradução livre) é:

Pobre tom, em alguns minutos tudo estará acabado. E pela


primeira vez desde que a conheceu, ele vai estar feliz.

E continua:

Pobre criatura apaixonada e miserável. Eu suponho que as


pessoas vão dizer que era melhor eu ter ajudado. Eu sei, mas é
melhor desta forma.

O resto pode ser lido (em inglês) aqui. O episódio prossegue com um flashback
mostrando a aventura amorosa e desastrosa do Tom, e termina com uma também
decepção amorosa de Jerry, o que o leva a se juntar a seu amigo nos trilhos do trem.
Temos então a cena mais icônica de todo episódio: ambos (Tom e Jerry) sentados sob
os trilhos, com um semblante tristes e enquanto a tela escurece podemos ouvir o apito
do trem.

É verdade ambos os personagens já sobreviveram a eventos muito mais perigosos


(fisicamente), são basicamente animais imortais de um desenho animado. Mas a forma
depressiva com que o episódio começa se enrola, estruturado não sob ameaças
físicas, mas com questões e saúde mental, assim como a conclusão em aberto, torna
um episódio particularmente sombrio. Este episódio foi banido em diversos países
devido a sua natureza mais pesada do que o habitual e o esperado para um desenho
infantil.

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Agora o que realmente me chama atenção (e na verdade tudo que escrevi até agora foi
pra contextualizar), é que apesar de ser esperado que os personagens sobrevivam
pelo que já nos foi apresentado em outros episódios e ainda termos continuação, a
escolha de não mostrar explicitamente isso acontecer é talvez o principal ponto de
origem de toda controvérsia no episódio. A simples escolha de não deixar claro que
‘não houve mortes’ permitiu que surgisse o questionamento ‘e se houve?’.
Eu ainda quero discutir outros aspectos deste curso em outro momento, mas no tópico
sobre o desenvolvimento do enredo, somos apresentado a ideia de que ‘e se…?’ é a
mãe de todas a perguntas para o desenvolvimento de uma história. E isto nos é
apresentado exatamente por uma reconhecida escritora de suspense (Mary Higgins
Clark). Parece que é verdade.
A primeira parte dublada do episódio pode ser vista aqui:

15/08/2022 — Terror Em Ação: Entidade Maligna


Estreando minha série de críticas, eu quero começar comentando que talvez eu
deveria estudar mais sobre como escrever uma crítica. Sendo assim não considere
uma crítica (crítica, crítica, crítica … repetitiva essa palavra não?), mas apenas uma
opinião pessoal.

Também vou começar admitindo que perdi os primeiros minutos, mas o filme em
questão que quero comentar é: “Terror Em Ação: Entidade Maligna”, um filme de 2020
sob o título original “The Unfamiliar”. A nota no IMDb é 4.1/10, e tenho que opinar que o
filme não merece mais do que isso.

Na verdade ele não merece nem mesmo muito do meu tempo, então vou resumir
minha opinião: não veja. Para evitar spoilers eu não posso comentar muito sobre o
enredo em si, mas normalmente a história é o que mais me interessa em qualquer
mídia, e nesse caso é o que mais me frustra, apesar que os outros aspectos técnicos
não são dignos de elogios também.

O que posso dizer é que o filme avança de forma que quando chegamos em um
momento crítico próximo ao final do filme, não temos ideia de qual será o o plano da
protagonista. E quando o plano começa a ser executado, bem, é pouco credível,
mesmo dentro do próprio universo proposto pelo filme. Um pouco de mistério não é
ruim, mas neste é caso não é nem mistério, é o resultado de um enredo mal
desenvolvido que falha em nos permitir imaginar o que pode acontecer. Para finalizar
esse desenvolvimento fraco, temos uma cena decisiva que simplesmente carece de

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sentido e profundidade, a história é resolvida basicamente de uma forma preguiçosa e
pouco emocionante.

Eu ainda quero fazer mais algumas críticas mas isto poderia conter spoiler, então vou
parar por aqui, até porque o filme não merece mais do meu tempo.
@11/09/2022 12:00 AM

Como primeiro texto para este perfil, nada melhor que começar pela página "sobre
mim". Quem sou eu e quem eu quero ser? Para ser sincero eu ainda não tenho essa
resposta, e é o objetivo deste perfil compartilhar minha jornada em busca delas.

Sou formado e quase mestre em física, dediquei minha última década inteira às
ciências naturais, até que cheguei em um momento da minha vida no qual eu decidi
que queria explorar novas áreas e ter novas experiências perseguindo velhos
interesses. Minha relação com o ato de criar e consumir histórias é totalmente leiga,
informal e ignorante. Durante minha vida toda eu fui praticamente apenas um
consumidor, mas depois de consumir tanta história, a gente pensa: e se eu criasse as
minhas histórias?

Para ser sincero, neste exato momento (11/09/2022, 22:52h) eu luto contra minha falta
de auto estima no que se refere à arte, mas eu estou disposto a me arriscar e passar
vergonha no processo. Infelizmente (ou felizmente) o propósito de criar uma história é
que outra pessoa a consuma, então preciso dar um passo público e expor minhas
criações, é para isto que aqui estamos.

Durante os próximos meses eu estou planejado consumir material de workshops, livros


e cursos relacionados a escrita criativa. Quero experimentar escrever livros, contos e
roteiros para diferentes mídias, com uma atenção especial para jogos pois também é
uma das mídias que mais consumo. Ainda que eu descubra possuir uma limitação
intransponível na arte de criar histórias, estou confiante que esta jornada tem potencial
para que seja proveitosa. E compartilhar esta jornada com vocês (que neste momento
é um total de 0 pessoas) tende a tornar tudo melhor ainda.

Então me acompanhe para receber não só atualização sobre diferentes histórias que
eu por ventura venha a criar, mas também sobre a minha jornada como um todo. Dicas
sobre escrita e produção de roteiro, sobre a língua portuguesa, e qualquer outro
assunto que pareça ser minimamente relacionado na minha mente às 4h da manhã.
Sem entrar em detalhes mais específicos, meu plano para os próximos meses é dividir
meu tempo entre o ato propriamente de escrever, organização ideias sobre o que

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escrever, tanto para atuais como para futuras histórias, e por último, mas
definitivamente não menos importante, tempo para estudo. Dentro desta proposta,
tenho por meta escrever em torno de 500 palavras por dia e não mais do que 2500
palavras na semana em uma mesma história. O que nos permite ter uma produção em
torno de 10.000 palavras por mês. De onde retirei estes números? Eu vou deixar para
contar em uma futura postagem.
Além disto, infelizmente ao menos nos primeiros meses eu preciso dividir meu tempo
entre a escrita criativa e o meu atual trabalho. Portanto teremos alguns meses de um
ritmo mais lento, bom para se acostumar com uma nova rotina. Mas se nem você e
nem eu desistirmos, garanto que tempos melhores virão. Por agora, eu já atingi 500
palavras.
Imagem do perfil de jacqueline macou por Pixabay.

12/09 O começo

Parte 1
Tenho notado que uma das coisas que mais tenho interesse é construir mundos
conjuntamente com outras pessoas. Eu acredito que a discussão sobre minhas ideias,
e ouvir novas ideias de um conjunto diverso de pessoas são muito mais interessantes e
benéficos que me manter como um escritor solitário trancado e escondido no meu
quarto. Mas para isso eu preciso não apenas expor publicamente meus escritos e estar
aberto a um feedback, mas também me conectar a outros escritores e/ou pessoas
interessadas em geral. A vantagem de outros escritores neste ponto, é que tenho a
expectativa que podemos até mesmo construir um universo de maneira colaborativa,
eu pelo menos tenho grandes pretensões neste aspecto.
Mas é relativamente desafiador, ao menos para mim que estou começando, saber onde
encontrar essa comunidade. Também pode ser ignorância de minha parte, mas sites
conhecidos por terem o foco em escritores, como Wattpad e Inkspired, nenhum
forneceu uma alternativa satisfatória. O primeiro nem tem recurso de fóruns ou algo
análogo para desenvolver toda essa discussão que é meu grande objetivo, e o
segundo infelizmente parece não ter movimento suficiente. Outros sites que pesquisei
indicam o Skoob, mas esse portal não é voltado a escritores, mas sim leitores. É claro
que uma vez que você tenha livros publicados e leitores destes livros, é possível se
conectar com eles via Skoob, mas não é esse tipo de contato que eu estou procurando
agora. Assim sendo, parece que a alternativa que existe é encontrar grupos voltado a

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escritores dentro de serviços mais gerais, como servidores para o Discord ou grupos
para o Facebook. Porém eu não tenho interesse em utilizar Facebook em um período
de tempo tão próximo, e sinto que Discord é ‘dinâmico e geral demais’ para mim. Isto é,
mesmo em um servidor voltado a escritores, provavelmente eu teria que colocar minha
discussão dentro de algum canal existente apropriado e deveria ser discutido em tempo
real, pois seria substituído por alguma outra conversa poucos instantes depois, além de
ter que ‘brigar’ por propor a discussão em um espaço público. O que eu queria era ter a
possibilidade de abrir um tópico de discussão pessoal dentro de uma comunidade de
forma que pudéssemos manter uma comunicação assíncrona com todos interessados.

Dessa forma, no momento, não encontrei nenhuma resposta apropriada aos meus
interesses.

Parte 2
Preciso também decidir sobre o que vou escrever. Eu penso em criar um universo
fantástico, acredito que isso é mais seguro que um universo real e histórico sob certos
aspectos. Pois como é todo ficcional, corremos menos risco de representar
erroneamente alguma cultura que não temos tanto conhecimento quanto acreditamos
ter. Não vou negar, mas é inspirado no conteúdo fantástico tenho consumindo
recentemente (Elden Ring, Casa dos Dragões, Anéis do Poder, etc) que gostaria de
desenvolver meu próprio universo nestes termos de fantasia. Sempre buscando trazer
um toque pessoal da minha própria história e interesses pessoais, criando dessa forma
algo único. Para começar a esboçar esse universo eu acredito que um caminho
interessante é escrevendo diversas histórias curtas que tratem da mitologia e história
que devem moldar todo o universo, talvez mesmo alguns desses contos se apresentem
como potenciais candidatos no qual eu poderia desenvolver uma história maior
atingindo até mesmo a extensão de um romance inteiro ou adaptando como um roteiro
para outra mídia, como algum jogo.
Então vamos começar, pelo meu primeiro conto. Isso talvez seja criticado por pecar
pela falta de originalidade, mas eu tenho pensado, e talvez ao menos como valor
pedagógico, para praticarmos a escrita (e penso que é melhor escrever algo ruim, que
não escrever) podemos fazer releituras de contos que existam ou histórias que
ouvimos. Eu penso nisso em analogia ao processo de desenho. Como um desenhista
pratica? Muitas vezes olhando outro desenho que achou interessante e refazendo ele.
Eu penso em algo análogo, lemos um conto que gostamos e refazemos ele. Acredito
que na ausência de uma ideia mais original, é um bom ponto de partida para uma

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prática. Eu também vou seguir as orientações de um curso, e tratar de esboçar um
logline, uma questão dramática central, os personagens que compõem o conto, e um
resumo entre meia e uma página. Tudo isso antes de começar a realmente escrever o
conto.

Sobre o tamanho de uma história curta, eu vejo diferentes formas de definir.


Geralmente colocam que um conto possui entre 1.000 e 10.000 palavras, alguns dizem
que o ideal é entre 1.5000 e 7.500, outros ainda restringem mais entre 3.500 e 7.500.
Mas eu vi aqui um cálculo que a média entre alguns famosos contos ficou em
aproximadamente 4.000 palavras, então vou colocar como objetivo 5.000 palavras. Se
mantenho um ritmo por 10 dias escrevendo 500 palavras por dia, em 2 semanas
trabalhando 5 dias por semana eu termino um conto de 20 páginas. Claro que pode ser
um pouco mais ou um pouco menos, mas acho que é uma boa média para ter como
objetivo.

16/09 Quantas palavras escrever por dia?


Pensei em fazer daqui um diário, o que acabou não acontecendo, mas vamos colocar
mais algumas informações, primeiro é sobre a quantidade de páginas a escrever por
dia.

Eu havia comentado outro dia que tenho uma meta de escrever 500. Essa foi uma dica
que eu vi nesse curso do Coursera aqui (Write your first novel). Mas hoje eu estava
curioso sobre qual seria uma meta legal a longo prazo. 500 palavras é uma boa meta?
Surpreendentemente, parece que sim. Segundo um texto do próprio site que eu gosto
de usar para contar minhas palavras (WordCounter) e que pode ser conferido aqui,
mas em geral os escritores ficam entre 500 e 3.000 palavras, tendo uma grande
prevalência para 1.000 . Stephen King que é considerado um escritor prolífico parece
estabelecer uma meta de apenas 2.000 palavras no dia. A mesma coisa para Nicholas
Sparks, já Arthur Conan Doyle que é um dos que mais escreve para em 3.000 . Por fim
Charles Dickens também tem uma meta de 2000 palavras no dia, conforme podemos
ver aqui. Já Neil Gaiman não passa de 1.500 conforme relatado em outro blog. É claro
que isso pode ser fake news de ‘disse que me disse’, mas ainda sim, é interessante.
Aqui ainda temos uma informação sobre Charles Dickens escrevia 5h por dia, então a
próxima pergunta é: quantas horas por dia os escritores dedicam à suas obras? Temos
alguns que dizem se dedicar o dia inteiro de forma vaga, mas Anthony Trollope
menciona 3h para 3.000 palavras, Jon Creasey que foge da escala e sobre para 6.000

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palavras menciona entre 3h e 13h. Lee Child dedica entre 6h e 7h para 1800, O Mark
Twain menciona 4h para 1400. Nicholas Sparks levava entre 3h e 8h para suas 2.000
palavras, Patricia Highsmith menciona 4h para suas 2.000 palavras. Se interpretei
corretamente, Sebastian Faulks é 8h para 1.000 palavras. Sophie Kinsella menciona
sobre alguns dias terminar as 11h e outros deixar pra lá depois de chegar às 15h.
Susan menciona também 7h para 1500 palavras.
Todos esses últimos dados de tempo foram retirados daqui.Entre estes autores que
citam o tempo, temos uma média então de aproximadamente 5h. E a média entre os 39
escritores fica próximo de 2.100 palavras, mas se descontamos 2 fora do padrão de
10.000 palavras, a média cai 1.700. E tirando o último ponto fora da curva de 6.000
palavras, ficamos com pouco mais de 1.500.

18/09 Quão longo é um romance?


Continuando a reflexão sobre contagem de palavras, eu queria compartilhar mais
algumas reflexões. A princípio eu pensei que algo em torno de 2.000 palavras por dia
não era muita coisa. Mas quando refletimos sobre o tamanho de livros, não parece um
número tão baixo.

Outro dia comentei sobre o tamanho de contos tradicionalmente estar restrito entre
1.000 e 10.0000 palavras, mas principalmente entre 3.500 e 7.500, com uma média de
4.000 palavras.

Romances (novels) são tradicionalmente considerados acima de 50.000 palavras


(alguns lugares consideram acima de 60.000 e chamam de romance curto entre 50.000
e 6000). Entre histórias curtas e romances as definições são mais nebulosas, mas só
para termos uma ideia, seguindo a classificação aqui com apenas mais alguns
comentários temos:

Entre 300 e 1500 palavras: ‘flash fiction’, alguns ainda classificam como ‘short flash
fiction’ para histórias abaixo de 1000 palavras

Entre 1.500 e 10.000 palavras: ‘short story’, nossa fonte colocou um limite superior
de 30.0000 palavras, mas aqui eu vejo normalmente um outro tipo de história
acima de 10.000. Além disso, como mencionei, contos ou histórias curtas são
normalmente entre 3.500 e 7.500 com uma média de 4.000 palavras.

Entre 10.000 e 30.000: alguns portais classificam como “novellete”, o que


basicamente é apenas um nome não diz muita coisa.

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Entre 30.000 e 5000: temos “novellas” que é basicamente um “novellete” maior, e
ambos são basicamente algo entre uma história curta e um romance, diria que não
são classificações importantes.

Entre 50.000 e 110.000: temos finalmente o romance. Alguns ainda classificam um


“romance curto” ou “conto longo” entre 50.000 e 60.000, e acima desses valores
temos um romance. Mas ainda me parece que há uma preferência por valores em
torno de 80.000, o que posso discutir em outro post.

Após tudo isso podemos pensar que se escrevermos 2.000 palavras no dia, temos um
conto em menos de uma semana, e um romance em um mês. E mais, se subirmos
para 3.000 temos quase o tamanho máximo de um romance por mês. São números
relativamente bem altos. Claro que aqui estamos considerando trabalhando todos os
dias do mês, isso pode não corresponder a realidade, mas estamos apenas fazendo
alguns cálculos para título de comparação.

19/09 Escrevendo um romance #1


Eu estava assistindo o curso do Coursera e decidi fazer um resumo compreendendo os
principais pontos que eu vi até aqui. Esse resumo cobre o começo do livro, até o
segundo capítulo, o que corresponde a basicamente o primeiro mês de curso. Antes de
propriamente começar, já temos a informação de que o objetivo do curso é escrever um
romance de 50.000 palavras, o que vai de encontro com as informações anteriores
sobre o tamanho recomendado para um romance.

Primeira semana
Pitch: a primeira coisa a fazer é o que é chamado de “pitch your idea”. Isto é, devemos
resumir nossa ideia sobre o que escrever em um único parágrafo. Mas talvez a parte
mais interessante dessa introdução é a insistênciaque o professor de que qualquer
ideia pode ser desenvolvida em algo bom, ou seja, desenvolver a ideia importa mais do
que a ideia em si mesma.

Logline: depois partirmos para a logline. Um recurso que parece ser originalmente do
cinema e televisão, é uma versão muito condensada que capture a essência da
história. Ela não pode entregar o enredo, conter detalhes nem revelar o final, mas deve
descrever principalmente os protagonistas e seus dilemas, ao utilizarmos este recursi
antes de começar a escrever, pode nos ajudar a termos uma melhor compreensão da
nossa própria história. Um exemplo dado é a logline para “Romeu e Julieta”, de

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Shakespeare: “Dois jovens amantes,de famílias rivais na Itália medieval, tomam a
perigosa decisão de fugir quando seu casamento é proibido por ambas as famílias”.

Questão dramática: como a logline, precisa ser curta e concisa, porém não tem a
função de descrever a história. Esta é a pergunta que você deve colocar na cabeça do
leitor desde o começo, e é nossa responsabilidade garantir que permaneça lá até o
final da história. Ela também deve estar sempre na nossa mente enquanto escrevemos,
pois praticamente tudo que acontecer na história deve manter o leitor envolvido em
achar a resposta para essa pergunta. Também precisa existir um obstáculo para a
questão. “Será que Romeu e Julieta vão encontrar o amor e a felicidade juntos?” não é
o suficiente, uma boa questão dramática é “”Será que Romeu e Julieta vão encontrar o
amor e a felicidade juntos, apesar do fato de as famílias rivais terem jurado mantê-los
separados?”. Uma última observação é que há apenas uma grande pergunta dramática
para toda história.

Segunda semana:
Desenvolvimento do personagem: antes de começarmos a escrever a história
precisamos dedicar algum tempo desenvolvendo nossos personagens principais. É
recomendado basearmos eles em alguém que conhecemos de verdade e não em
outros personagens fictícios. Isso significa que podemos usar alguns traços de
pessoais reais para desenvolvermos o personagem e não que vamos retratar alguém
fielmente em nosso romance. Conhecendo o personagem podemos fazer com que o
que façam, pensem e falem durante toda história soe coerente e plausível para o leitor.
Para auxiliar na tarefa podemos responder algumas perguntas como: Qual o nome
dele? Quantos anos tem? Tem filhos? É casado? Qual sua profissão? etc.
Resumo do primeiro capítulo: Agora que temos um material organizado sobre nossa
história, precisamos começar a escrevê-la de fato. E o livro começa do primeiro
capítulo. Mas ainda antes de escrevermos o capítulo devemos escrever um resumo
entre meia e uma página sobre o mesmo. Para fazermos isto com maior qualidade,
precisamos ter uma ideia de sua extensão. O curso sugere 2.500 palavras. Segundo o
professor, isto corresponde a 10 páginas digitadas com fonte 12, margem normal e
espaçamento duplo, o que por sua vez corresponde a 15 páginas de um livro.

Terceira semana:
Estrutura: Segundo o professor, há diversas teorias sobre a estrutura de um romance,
mas ele mesmo não adota nenhuma delas. Apenas defende que o tudo tem três partes:

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começo, meio e fim. Por isso, utilizando a terminologia adotada por Aristóteles
definimos a estrutura da nossa história como divida em 3 atos. Além disso, a proposta
é de escrever um romance de 50.000 palavras com 20 capítulos, sendo assim temos
2.500 palavras por capítulo. Quanto ao ritmo é definido 1 capítulo por semana, e 500
palavras por dia (trabalhando 5 dias por semana). Algo bastante importante que foi
discutido esta aula é sobre a importância da disciplina e consistência.
Ponto de vista e tempo verbal: Antes de começarmos a escrever de fato, há alguns
últimos detalhes a serem decididos. A maioria dos romances são escritos no passado e
terceira pessoa: “Ela olhou para a noite”, esse estilo permite que mudemos de local e
personagem a qualquer momento, inclusive contar histórias paralelas, é considerado
mais popular e menos desafiador. Outro estilo possível é em primeira pessoa no
passado: “Olhei para a noite”, neste caso é mais fácil acessar os pensamentos e
sentimentos do protagonista, mas ficamos mais preso a um único ponto de vista e
enredo. Roteiros são escritos na terceira pessoa e no presente “Ela olha para noite”,
essa é uma escolha rara para um romance. E por fim, o próprio professor ainda faz
uma escolha mais incomum influenciado pela sua carreira na TV e no cinema, ele
escreve utilizando a primeira pessoa no presente “Estou olhando a noite”.
Parágrafos: não há uma regra para isto mas há uma recomendação para que cada
parágrafo tenha apenas um pensamento, ação ou sequência, pois assim se tornam
mais fácil de serem lidos e mais difícil do leitor se perder. Quanto ao diálogo, temos
algumas convenções são úteis: cada parágrafo deve começar com um recuo de
tabulação, pode conter uma descrição que não seja parte do diálogo, ficam entre aspas
e terminam em vírgula se for seguida por um identificador, agora se o identificador vem
antes, acaba em dois pontos, além disso, identificadores são usados apenas quando
não está claro quem está falando. Um exemplo de diálogo seguindo estas convenções
é:
“Eu estou aqui,” ela sussurrou. Ele foi apanhado de surpresa. Ele fez o máximo para
parecer tranquilo e falou calmamente: “Eu posso ver.” “Nunca,” ela disse, balançando a
cabeça. “Você nunca parece feliz em me ver” “Sempre”, ele disse. “O que?” “Eu estou
sempre feliz em ver você.” Ela olho para ele por um momento e falou baixinho: “estou
grávida.”
Além disso cada diálogo deve ter seu próprio parágrafo, em uma conversa, como
podemos notar, cada resposta precisa de um novo parágrafo, de forma que temos
facilmente uma sequência de 14 ou 15 parágrafos curtos.

Diário Aberto 13
Primeiro capítulo: tem a responsabilidade de apresentar aos leitores a nossa história,
de criar algo que não possa ser ignorado, precisa capturar os leitores para que deem
uma chance para o segundo capítulo. Além disso, cada capítulo também também tem
três partes, um começo cativante, um desenvolvimento envolvente e um fim que faça o
seguidor querer seguir lendo. É importante estarmos conscientes de que não vamos
escrever a melhor abertura de todos os tempos, precisamos começar e terminar para a
história avançar. Também é feita uma recomendação de não ultrapassar a meta de
2.500 palavras por semana, destacando a importância do ritmo.
Propriedade intelectual: Não sei se este conselho é restrito ao Coursera, mas nos é
recomendado colocar uma declaração internacional logo abaixo do título em cada uma
de nossas publicações dentro da plataforma, como por exemplo “Copyright © 2020
Your Name”, isto deve adicionar uma camada adicional de proteção a nossa
propriedade intelectual.

Quarta semana:
Entramos agora no ritmo da escrita do romance propriamente dito, nesta semana
devemos escrever o segundo capítulo. Novamente começamos por fazer um resumo
do que pretendemos escrever no atual capítulo em que estamos. Além disso nos é
sugerido começar este capítulo com algo inesperado, deixamos os leitores intrigados
no final do primeiro capítulo e agora ampliamos o sentimento no segundo, não é
preciso continuar no mesmo caminho do final do primeiro capítulo. A importância do
segundo capítulo, do ponto de vista de escritor, recai no fato de que a emoção e
entusiasmo de ter começado com o primeiro capítulo pode não nos acompanhar no
segundo, escrever exige disciplina. Terminando o segundo capítulo tão envolvente e
poderoso com o primeiro, não restará dúvidas que conseguiremos terminar o romance,
este é o ponto que separa escritores de quem gosta da ideia de ser um escritor. Uma
última observação é feita sobre a importância de todo dia reler tudo que temos escrito
para o capítulo antes de começar a escrevermos. Novamente é importante terminar o
capítulo com um gancho que mantenha o leitor ansioso por mais. Este é considerado
conde começa o real desafio para completar nosso romance.

Bônus: grupo de escritores


Uma proposta que eu gostei bastante é a de formação de um grupo de 6 escritores.
Basicamente ao final de cada uma das etapas nos é solicitado para submetermos o
que fizemos para avaliação e feedback de outros 5 escritores, e que nós também

Diário Aberto 14
analisamos outros 5 trabalhos. Dessa forma um grupo de 6 escritores é suficiente para
dar e receber todo feedback necessário. Manter o mesmo grupo ao longo de todo curso
também facilita pois nos torna familiar com os romances que vamos fornecer um
feedback.
Infelizmente a plataforma é em inglês, como consequência os romances enviados para
análise também devem ser, mas fico na esperança que consigamos algum dia
desenvolver uma proposta semelhante em português.

20/09 Escrevendo um conto


Um outro curso interessante que eu eu vi, é o curso passo a passo de escrita criativa
do João de Mancelos. São basicamente 10 passos que vou tentar sintetizar em um
único texto.
1. Desbloqueie a inspiração: para desbloquear a inspiração algumas dicas são
fornecidas. Antes de escrever o conto em si, pode-se escrever uma carta para um
amigo contando a história, o tom mais informal facilitaria a escrita, depois então
adiciona-se os detalhes. Outra coisa que pode ajudar é alterar a rotina, alterações
podem trazer novas ideias. É importante reconhecer que esperar a inspiração não é
opção para um escritor. Katherine Vaz recomenda dedicar um dia inteiro somente a
escrever, e não fazer literalmente mais nada além disso, já Ray Bradbury se baseia na
ideia de que mais importante do escrever é rever para sugerir escrever mal se for
preciso, depois pode-se rever e melhorar o texto.
2. Desenvolva a ideia: o autor comenta algumas técnicas para envolver o leitor.
Interromper um capítulo no ponto alto do suspense, usar pistas falsas, surpreender,
reduzir as descrições e ampliar os momentos de ação são algumas delas. Para
desenvolver uma história, Mary Higgins Clark comenta que recorre ao que considera
“mãe de todas as perguntas”: “e se…?”.
3. Estruture o enredo: As 5 partes no qual um enredo pode ser dividido são:

Equilíbrio: apresenta a época do enredo, os espaços, e personagens em sua rotina


normal, o “era uma vez”.

Incidente desencadeador: também chamado de “gatilho”, nesta parte a rotina é


perturbada e dispara o resto da história.

Crescendo os obstáculos: Parte mais extensa é onde o protagonista precisa


enfrentar obstáculos cada vez mais mais difíceis visando restaurar o equilíbrio e

Diário Aberto 15
retomar a normalidade.

Clímax: O ponto mais alto e tenso da narrativa, onde tudo se perde ou se ganha.

Epílogo: também chamado de “final” ou “desfecho”, encerra a história mostrando o


que aconteceu após o clímax, por exemplo o regresso a vida normal do
protagonista.

4. Crie os personagens: João de Mancelos acredita que grandes protagonistas fazem


grandes histórias. O autor deve ser capaz de fazer o leitor sentir empatia pelo
protagonista, este deve possuir qualidades admiráveis mas também defeitos e medos
que o aproximem do leitor. Como exercício propõe que o autor entreviste os
personagens, recolhendo os seguintes dados: nome, apelido, sexo, idade, aspecto
físico, uma qualidade, um defeito, vida amorosa, partido político, profissão e maior
medo.

5. Descreva os locais: Um escritor deve descrever o local com verossimilhança. No


caminho para alcançar este objetivo há três armadilhas comuns, estes podem ser
observados na seguinte passagem de Tempos Difíceis, de Charles Dickens:

“Era uma cidade de tijolo vermelho, ou seria, se o fumo e as cinzas


o tivessem consentido: assim, era uma cidade vermelha e preta,
como o rosto pintado de um selvagem. Era uma cidade de
máquinas e chaminés, das quais saíam sem cessar serpentes
intermináveis de fumo, que nunca se desenroscavam. Tinha um
canal negro e um rio manchado de roxo por tintas malcheirosas, e
pilhas de edifícios cheios de janelas, onde todo o dia havia
estremecimentos e onde os êmbolos das máquinas a vapor subiam
e desciam, melancolicamente, como a cabeça de um elefante
louco”.

O autor evitou:

Pormenores inúteis: deve-se concentrar em transmitir um traço único e dominante.


No exemplo é a poluição e o autor recorre a comparações (fumo e serpente),

Diário Aberto 16
adjetivos e verbos que descreviam o movimento das máquinas. Edgar Allan Poe
chama esta técnica de “unidade de efeito”.

Demasiados adjetivos: É melhor utilizar um substantivo bem escolher que muitos


adjetivos, no lugar de “o leve vento” pode-se escrever “a brisa”.

Retratar objetivamente: a impressão que os habitantes tem do lugar é mais


importante que um retrato objetivo do cenário.

6. Crie os diálogos: para que o autor consiga escrever bons diálogos uma técnica
simples e eficaz é escutar conversas alheias, captar os tiques próprios do diálogo
quotidiano. Uma conversa real possui expressões típicas, vocabulários simples e
interjeições. Além disso não é recomendado atribuir mais de 25 palavras por fala, em
falas mais extensos pode-se interromper com perguntas e comentários do interlocutor
(como “tem certeza disso?”) ou descrever gestos do personagem que ajudem a
identificar seus sentimentos (como “desviou o olhar envergonhado”).
7. Aumente o suspense: Não importa o gênero, o suspense encontra-se em qualquer
narrativa e é necessário para qualquer enredo. A recomendação para escritores
aprendiz é utilizar a “técnica da escada”. Basicamente consiste em colocar desafios
cada vez mais difíceis no caminho do protagonista até chegarmos no clímax,
aumentando o suspense pouco a pouco até a resolução final. Duas coisas que devem
ser evitadas é diminuir a dificuldade e colocar uma quantidade exagerada de
obstáculos.
8. Reveja o original: Antes de terminarmos, um autor deve fazer uma leitura técnica,
desapaixonada da obra. Para isso é recomendado criar um distanciamento em relação
ao texto, Stephen King recomenda deixar o texto guardado por no mínimo 6 semanas
até pegar novamente para revisar. Na revisão busca-se evitar: demasiados adjetivos,
pronomes pessoais desnecessários, pronomes possessivos supérfluos, repetições de
palavras, rimas internas, expressões antiquadas, redundâncias, comparações e
metáforas mortas. Buscas-se por sua vez ser mais específico na escrita para ajudar o
leitor a imaginar mais facilmente o cenário e/ou personagens da narrativa.
9. Publique o seu livro: Por fim, o último passo é publicar a obra. João de Mancelos
não recomenda autopublicação, segundo ele uma publicação deste modo está morto
desde a nascença pois a comunidade literária não tem bons olhos para este tipo de
publicação.

Diário Aberto 17
10. Os dez mandamentos do escritor: os 10 mandamentos podem ser lidos
integralmente na página original, mas eu vou chamar a atenção para a necessidade de
persistência, segundo Richard Bach, “um escritor profissional é apenas um amador que
não desistiu”.

25/09 3 atos e 5 partes


Existe uma estrutura tradicional que divide a narrativa em três partes, inicio, meio e fim,
ou utilizando a nomenclatura tradicional, os três atos. Eu li um texto muito bons (aqui,
aqui e aqui) e vou tentar resumir um pouco cada um deles. Além disso vou trazer um
comparativo com as cinco partes propostas em outro texto.
Nessa estrutura normalmente o começo e o fim correspondem cada um a 25% da
história, e o 50% restante é o meio. Além disto temos alguns pontos importantes na
história, principalmente os pontos de virada entre os atos.

É comum encontrar uma organização dos atos em:

Primeiro ato: exposição, incidente desencadeador, ponto de virada 1

Segundo ato: ascensão da ação, ponto médio, ponto de virada 2

Terceiro ato: pré-climax, climax, epílogo

Primeiro ato
O primeiro ato é marcado principalmente por duas partes: a exposição do mundo
(parte 1) e o incidente desencadeador (parte 2).
No equilíbrio mostramos protagonista em sua vida comum, isto é, qual é o estado
padrão das coisas. Algumas coisas devem ser esclarecidas como:

Quem é o protagonista?

Como é o ambiente em termos físicos, sociais, econômicos…?

Quem são as pessoas que cercam o protagonista e quais as relações com eles?

Algumas dicas interessantes são dadas para esta parte, mas elas valem para toda a
história. Evitar passar muita informação de uma só vez, é preciso existir um pouco de
expectativa sobre o que vai acontecer além de um monte de informação jogada na
página. Focar naquilo que seja diferente, diálogos muito banais e uma rotina comum
demais na maioria das vezes não precisam ser citadas. E por fim, toda cena precisa de

Diário Aberto 18
um ponto de virada, isto é, um parágrafo ou outro que se destaque, uma nova
informação que cause surpresa no leitor. A surpresa no leitor não precisa ser uma
surpresa para o personagem.
Já o incidente que também é conhecido como gancho é quando ocorre uma quebra na
narrativa, um distúrbio que muda o status quo do protagonista e faz toda história se
desenvolver. Este evento também é conhecido como “um chamado para a aventura”.
Um bom incidente força o protagonista a abrir mão do estado padrão das coisas.
Temos dois caminhos extremos para isto acontecer:

Se o protagonista está satisfeito, o incidente representa uma perda para o


protagonista.

Se o protagonista está insatisfeito, o incidente pode representar uma oportunidade


de mudar de vida.

Além disso podemos ter um misto entre ambos. É possível que o incidente resulte em
um comprometimento rápido do protagonista, mas muitas vezes existe uma fase de
negação, que antecede ao primeiro ponto de virada entre os reinos.
O ponto de enredo 1 é o ponto de virada entre os primeiros atos, o momento no qual o
o protagonista precisa tomar decisões e fazer algo a respeito. É a decisão que lança o
personagem no segundo ato. É importante notar que a escolha precisa se refletir em
um ato, é a consequência do ato que termina o primeiro ato.
Duas das que considero serem as características mais importantes de um bom primeiro
ponto de virada é:

Parte genuinamente do protagonista.

Coloca-o de vez na jornada sem chance de retorno.

Segundo ato
O segundo ato todo é basicamente a parte 3, ele marcado por um aumento crescente
nos desafios a serem superados pelo protagonista. Começa com uma ascensão da  a
ação, isto é, o protagonista começa a explorar o novo mundo, conhece junto do leitor
quem são seus aliados, quem são seus inimigos, quais são seus poderes … ocorre o
crescimento do personagem.

Até este momento o protagonista estava descobrindo a região fora de sua zona de
conforto e reagindo ao que acontecia. Na sequência temos um grande plot twist,

Diário Aberto 19
também conhecido como ponto central. Até aqui o protagonista havia tido sucesso na
superação de uma série de desafios, até que chegamos no ponto central. Um evento
significante ocorre aqui geralmente envolvendo algo que deu terrivelmente errado como
uma perda ou sofrimento inesperado que força o protagonista a refletir sobre sua
jornada e sentir que seu objetivo está sendo ameaçado.
Após o ponto central tirar o ritmo do protagonista que até então estava avançando,
temos o ponto de virada 2. Como consequência da crise do ponto central o
protagonista passa a ser mais ativo, saindo do estado de ‘reação’ em direção ao estado
de ‘ação’. Neste momento o protagonista encontra a determinação e preparação para
enfrentar o que vem em seguida, ele retoma o rumo na sua jornada perdido do ponto
central. Essa decisão sintetiza tudo que aprendeu. Um bom ponto de enredo deve ter:

Parte genuinamente do protagonista.

O protagonista faz uma que o seu velho “eu” anterior a jornada jamais teria feito,
assumindo a nova identidade.

Terceiro ato
Começamos então com o pré-clímax, (ainda entendo como o final da parte 3). Desde o
começo do ato o protagonista está preparado pra batalha, devemos mostrar a força e
determinação que eram até então desconhecidas para nosso herói, é o ato onde o
protagonista utiliza o que aprendeu durante a jornada, mesmo que saibamos o
resultado final, exista uma tensão e incerteza se o protagonista é forte o suficiente para
superar o desafio. O pré-climax começa o confronto final de nosso protagonista e
temos o primeiro vislumbre da verdadeira força do antagonista.
Como trata-se mais do desenrolar do que já foi construído que construir algo novo , não
é recomendado introduzir novos conceitos e personagens. A principal mudança entre
os atos é que neste o protagonista não tem mais tempo de se recompor entre um
desafio e outro, é uma sequência de conflitos que eleva atenção até atingir o clímax.
O clímax (parte 4) é o ápice da tensão, a batalha final, muitas vezes resolvido em
apenas um único capítulo. É também o último ponto crítico. Se no pré-clímax tínhamos
suspense, agora temos apenas uma sequência de adrenalina. Ele pode apresentar
algumas abordagens ou uma combinação delas, como por exemplo:

Confronto direto contra o antagonista.

Confronto contra a maior fraqueza.

Diário Aberto 20
Uma decisão difícil, um dilema que faça o leitor também se questionar.

Uma revelação que muda por completo a visão do leitor sobre a história. Possível
quando o roteiro foi todo montado para esse momento.

E por fim, temos o desfecho (parte 5). Após superarmos o desafio, o objetivo do
protagonista é completo. É importante fechar o enredo e deixar que a tensão se esvaia,
os personagens sentem-se novos sentimentos de paz e tranquilidade. Se na primeira
parte mostramos um estado padrão das coisas e depois um incidente que perturbava
esse estado, agora mostramos o novo estado padrão. Se houver sequência planejada
pode-se aproveitar a etapa para definir a promessa da sequência.

26/09 7 pontos críticos e 3 atos


Eu havia escrito sobre os 3 atos e os 7 pontos críticos em um único texto, mas achei
mais interessante depois separar porque notei uma certa diferença no ponto central de
cada uma das estruturas. Então deixei o outro texto apenas sobre os 3 atos e este para
comentar os 7 pontos críticos. Eu estou de certa forma utilizando o texto original que
abordava os dois, então alguns pontos críticos eu acredito que não tenho muito o que
acrescentar a discussão anterior, neste caso deixarei apenas indicado a
correspondência. Dois bons textos sobre os 7 pontos críticos são este aqui e este aqui
(além do já citado anteriormente aqui).
Os 7 pontos críticos são:1. Gancho2. Ponto de enredo 13. Pinça 14. Ponto central5.
Pinça 26. Ponto de enredo 27. Resolução

O gancho corresponde basicamente à exposição no primeiro ato. Isto é, nosso ponto


inicial onde apresentamos o nosso protagonista antes de embarcar na missão.
O ponto de enredo 1 como o nome sugere, é o primeiro ponto de enredo. Os pontos
chamados de pontos de enredo são as escolhas mais importantes antes da decisão
final. Este ponto corresponde principalmente ao incidente desencadeador. Este é um
ponto sem retorno, e onde tradicionalmente marca o fim do primeiro ato e o começo do
segundo.
As duas pinças são basicamente mudanças súbitas na gravidade dos conflitos. Após o
protagonista embarcar na jornada, conflitos externos começam a pressionar o
protagonista, na pinça 1 além do agravamento da situação, temos pistas sobre o
caminho certo, o protagonista entende melhor seu papel e onde estes tradicionalmente
os inimigos são introduzidos introduzidos.

Diário Aberto 21
Na sequência temos o que é conhecido como ponto central. Após o incidente
desencadeador o protagonista teve um comprometimento que leva a começar sua
jornada, um passo sem volta em direção à jornada. O roteiro pode apresentar outro
momento que reforce isso ainda mais marcante e dramático, para isso é comum usar o
ponto central.
No ponto de enredo 1 o protagonista aceitou a jornada, na pinça 1 descobriu seu papel,
e agora ele tem consciência do que esse papel significa e suas responsabilidades, ele
deve aceitar sua nova identidade, passando de ‘reação’ para ação.
E temos então a pinça 2, onde elevamos novamente a gravidade dos conflitos,
lembrando ao protagonista o que está em jogo e o faz questionar o quanto está
disposto a pagar para alcançar seu objetivo, normalmente é onde algo dá errado e ele
sofre uma perda. Aqui é onde geralmente incluímos um “tudo está perdido”.
Como o nome indica, é o ponto mais depressivo da história. Nesse momento o
protagonista chega a pensar em desistir e não acredita mais na capacidade de concluir
a jornada, conclui tradicionalmente o arco 2
Chegando ao ponto de enredo 2 a história se aproxima do clímax. O protagonista
retoma o rumo na sua jornada e há novamente uma tomada de decisão, mas agora o
protagonista passa a ser menos passivo e toma uma decisão ativa. Como principal
elemento ele descobre algo que o ajuda a vencer o protagonista.

E por fim, temos o resolução. A conclusão do ato 3 na estrutura tradicional. O


antagonista é derrotado e o principal conflito é superado, o protagonista retorna para
sua vida normal (antiga ou uma nova devido a resolução do conflito), quando o arco é
concluído o protagonista não é mais o mesmo que o leitor conheceu pela primeira vez.
Apesar do nome ser um pouco não muito claro quanto isto, inclui o próprio clímax
(como podemos ver aqui).
Além disso, podemos refletir algumas coisas.

O gancho e a resolução são opostos, mostram o estado-padrão das coisas antes e


depois de todo o conflito.

O ponto de enredo 1 coloca a história em movimento.

O ponto de enredo 2 coloca a história em direção a resolução.

A maior diferença que vejo com estrutura de 3 arcos, é que lá temos ponto central e
então ponto de virada 2 do arco. No primeiro o protagonista sofre uma derrota que o

Diário Aberto 22
tira do ritmo, mas então no ponto de virada ele se passa de ser passivo para adotar
uma postura mais ativa em direção à resolução de problemas. Aqui, temos o ponto
central e então o ponto de enredo 2, mas primeiro o protagonista abandona a
passividade, só que então no ponto de enredo 2 o antagonista força um revés.

Salve o gato
Eu quero entre outras coisas, começar a discutir alguns livros de estudo que estou
consumindo para melhorar minha escrita. Este talvez não seja o conteúdo mais
interessante, mas acho importante para o meu crescimento. Até hoje eu li apenas um
livro, e antes de começar o próximo, eu queria fazer um resumo das principais coisas
que lembro dele e algumas reflexões. Vou começar com as reflexões e a quem
interessa, um resumo mais abaixo.
Ah o livro é o “Save the cat!” , escrito por Blake Snyder em 1957.
Observações
Antes de tudo, o resumo é um resumo extremamente limitado, servindo quase como
uma nota de estudo para me lembrar do que eu li. Então caso haja interesse, eu
recomendo fortemente que o livro seja lido na íntegra.
Eu também ignorei todas as partes sobre o mercado profissional da produção de
roteiros, tanto por eu não estar tão interessado nisso agora, quanto devido ao fato do
livro ter mais de 50 anos estar provavelmente desatualizado.Assim como também
ignorei que o começo do livro é uma grande autopromoção por parte do autor. Eu
também tenho algumas críticas, que conforme esperado, eu sinto que o livro se prende
a alguns estereótipos de forma acrítica.
Por um lado eu acho que isso pode ser problemático de um ponto de vista criativo. Por
exemplo a definição de uma regra que toda história de amor entre amigos segue a
mesma ideia: a princípio os amigos odeiam um ao outro e então avançando a aventura
precisam se encontrar. Acho que como artista devemos pensar em como romper
algumas coisas tradicionais para produzir algo novo. Mas meu maior problema tem de
fato, natureza política.

Há por exemplo uma rigidez sobre agradar uma parcela do público em particular
(homens, brancos, héteros e jovens. O que faz sentido do ponto de vista comercial
pois era o público que Hollywood queria agradar, mas nem por isso eu vou ignorar.
também há uma discussão sobre arquétipos também, que apresenta uma ideia

Diário Aberto 23
interessante sobre escrevermos um roteiro pensando no arquétipo dos personagens e
não em um ator em particular, mas ao mesmo tempo há uma crítica ao 'políticamente
correto' defendendo que 'ainda queremos ver a justiça feito aos personagens que
amamos e a vitória garantida para estes'. Novamente até posso entender do ponto de
vista comercial, mas se negar a questionar os arquétipos, para mim é um problema
grave, ainda mais em um país racista. Seja o meu Brasil ou os EUA do autor.
O próprio livro traz o debate de que precisamos saber 'sobre o que é' o filme, 'sobre
quem' ele conta a história, isto é, estar consciente que a história é sempre 'sobre
alguma coisa'. Nas palavras traduzidas do livro:
"Em essência, todo filme bom é um debate sobre os prós e contras de um ponto de
vista em particular".

Então eu acho que é importante realizarmos esse debate de forma mais politizada. Mas
de maneira geral eu diria que para alguém com nenhum conhecimento de escrita de
roteiros é interessante. Não parece seguir nenhum estudo, mas apenas a experiência
do escritor de maneira organizada. Em menos de 200 páginas se destaca
principalmente a proposta de uma estrutura do roteiro, uma forma de organização a
produção do roteiro e a discussão sobre os principais elementos e como lidar com os
principais problemas que surgem na escrita de um roteiro. Talvez para alguém
experiente não acrescente nada, mas para alguém inexperiente, pode ser uma boa
leitura.
Resumo
Eu li este livro meses atrás, então estou fazendo um resumo de 220 páginas em
poucas horas baseado do que eu lembro passando rapidamente pelas páginas. Por
curiosidade eu peguei esta versão emprestada que já traz algumas coisas em
destaque. Logo de cara traz a principal ideia do livro:
"Salve o gato"
Essa cena seria onde conhecemos o herói e o herói faz algo (salvar o gato) que define
não só quem ele é, mas que também faz com que a audiência goste dele.
Logline
Na sequência nos é apresentado a ideia da logline (one-line ou no bom português: uma
linha),sendo o ponto de partida na criação do roteiro. Sobre a logline , ela deve:

Ter um adjetivo pra descrever o herói.

Diário Aberto 24
Ter um adjetivo pra descrever o antagonista.

Ter um objetivo convincente com o qual nos identificamos.

Ser irônico.

Formar uma imagem mental, indicando a época e o espaço.

Indicar a audiência e o custo.

Além disso, deve ser acompanhado de um bom título que de uma forma inteligente
diga sobre que é o filme. Ou seja, informar "sobre o que" é o filme.

O autor também sugere simplesmente discutir a logline do roteiro com pessoas


desconhecidos para termos opiniões reais do público. Na sequência avançamos para
uma discussão sobre gêneros, afinal identificar o gênero ajuda a entender que
elementos outros filmes do gênero possuem que faz sucesso. Nesse momento é muito
importante identificarmos sobre o que é o filme, e é por isso que é tão fácil fazer
sequências. Devido a familiaridade do público com o título anterior, ele já sabe sobre o
que é o filme, e desde que o anterior foi bem recebido, se torna um produto fácil de
vender, não sendo necessário (ou exigindo muito pouco esforço para ) convencer
novamente o público à assistir o filme.
Gênero
O autor considera a existência de 10 gêneros, muito resumidamente são eles:

1. Monstro na casa: Tem duas partes uma casa e um monstro, quando você coloca
pessoas na casa desesperada para matar o monstro, temos uma história desse
tipo.

2. Lã dourada: o nome vem do mito do Jasão e os Argonautas, são histórias em que o


herói pega a estrada em busca de algo e termina descobrindo algo mais : ele
mesmo.

3. Fora da lâmpada: esse nome vem da imagem invocada de um gênio da lâmpada.


Essas histórias partem da exploração da premissa de realizar um desejo do
protagonista, mas que o protagonista aprende que magia não é tudo e no final
descobre que é melhor ser normal como a gente.

4. Cara com problema: esse gênero é definido pela frase "um cara comum se
encontra em uma circunstância extraordinária".

Diário Aberto 25
5. Rito de passagem: toda história do tipo muda-toda-vida, toda história é sobre
mudanças, mas normalmente a ameaça é uma força externa, diferente das
histórias deste gênero que são conflitos internos e terminam com a aceitação que
'é a vida!'.

6. Amor amigo: toda história de amor já feita, independente do tipo de amor.

7. Porque?: O que importa não é quem, mas o porque.Esta história não é sobre a
mudança do herói, é sobre a audiência descobrir alguma coisa sobre a natureza
humana que não seria possível antes de algum "crime", que fornece a resposta do
'porque?'.

8. Triunfo do tolo: o personagem desta história é aparentemente um tolo, subestimado


mas então é revelado ser o mais sábio entre todos.

9. Institucionalizado: é sobre grupos, instituições e famílias. Eles honram a instituição


e expõem o problema de alguém que perde a identidade com a mesma.

10. Super-herói: é o oposto do cara com problema, isto é, uma pessoa extraordinária
que se encontra em um mundo comum.

Herói

Toda história é uma história sobre um herói. O mais importante sobre um filme é ter
'sobre o que' e 'sobre quem' é a história. Desse modo a escolha do herói é muito
importante, e ele deve ser aquele que:

Oferece maior conflito na situação.

Tem um grande caminho emocional pra percorrer, de maneira que pode evoluir
muito.

É o mais interessante demograficamente.

Com quem eu posso me identificar;

Com quem eu posso aprender;

Tem um motivo convincente pra seguir;

Alguém que acredito que deseja vencer;

Busca um objetivo básico (primal) que soa verdadeiro para mim: sobrevivência,
alimento, sexo, proteção do amado, medo da morte.

Diário Aberto 26
Estrutura
Uma vez que temos uma logline, o título, o gênero e o herói, vamos para a estrutura. A
estrutura é talvez a parte mais importante do roteiro. E o autor propõe uma estrutura
definida com 15 partes definido em que página começa e termina cada seção da
estrutura, sendo que cada página corresponde aproximadamente a 1 minuto de filme.
As partes são:

1. Imagem de abertura (1): indica o tom, o escopo e o tipo do filme. Mostra como é o
mundo "antes" de toda história e é oposto da "imagem de encerramento", a
diferença entre ambos indicação quão agitado emocionalmente foi a história.

2. Tema definido (5): Em algum momento nos primeiros 5 minutos algum personagem
vai fazer uma afirmação que é o tema do filme, normalmente um secundário para o
principal. Todo filme é um debate sobre os pros e contras de um ponto de vista
particular. Todo filme é 'sobre alguma coisa'.

3. Configuração (1-10): Inclui todas as primeiras páginas, responsável pro capturar ou


perder o interesse da audiência, já deve ter introduzido todos os personagens da
história principal e seus comportamentos mais importantes, assim como apresentar
se o herói precisa ou falta alguma coisa que deve ser resolvida durante a história, a
audiência já deve saber o que falta na vida do herói. Esta seção faz parte do
primeiro Ato do filme, que descreve o mundo 'antes' e como o mundo permaneceria
sem o cataclismo.

4. Cataclismo (12): é um momento de mudança de vida que vem como uma notícia
ruim, mas é o que força o personagem a aventura que eventualmente leva a um
final feliz, é o primeiro momento em que algo acontece.

5. Debate (12-25): é o que o nome sugere, e a última chance pro herói se questionar
se deve embarcar na aventura ou não, ou porque deve fazer isso. Essa seção deve
fazer uma pergunta deste tipo.

6. Quebra no ato dois (25): Esse é o momento que abandonamos o velho mundo e
terminamos o ato 1 para trás e embarcamos no novo mundo, o ato 2 começa
definitivamente. O herói deve tomar esta decisão de maneira proativa.

7. História B (30): o mais comum é uma ‘história de amor’. Essa história ajuda a
suavizar a quebra de ato e uma oportunidade de discutir o tema do filme. É uma
história paralela que quando você chega na história B decide falar sobre ‘alguma

Diário Aberto 27
coisa diferente’ incluindo novos personagens, apesar de ainda ter alguma relação
com a história A.

8. Diversão e jogos (30-55): Fornece a promessa da premissa, é o núcleo e essência


do poster, onde esta as principais cenas do trailer. Não estamos preocupados com
avançar a história, só ter ‘diversão’.

9. Ponto central (55): Exatamente a metade do roteiro, esse ponto é um “pra cima”,
onde o herói parece atingir o poço, ou “pra baixo” onde o mundo parece colapsar,
nos dois casos é um falso pico, sempre com um aumento das apostas.

10. Caras maus se aproximam (55-75): Parte mais difícil do roteiro. Se os vilões foram
temporariamente derrotados na seção anterior, ainda não acabou, neste ponto eles
se reagrupam e a dúvida começa a desintegrar o time do herói.

11. Tudo está perdido (75): O inverso do ponto central, normalmente uma falsa derrota
mas que parece uma total derrota e toda a esperança é perdida. É comum que isso
aconteça com a morte de algum personagem.

12. Noite escura da alma (75-85): Responde como o personagem experimenta o


sentimento sobre a seção anterior. Onde o herói no fundo do poço encontra a
melhor ideia que vai salvá-lo.

13. Quebra em três (85): Graças aos personagens da história B e os esforços do herói,
a solução foi encontrada, agora precisa ser aplicada.

14. Final (85-110): O ato três, onde as lições vão ser aplicadas, e e as histórias levam
nosso herói ao triunfo, abandonando o velho mundo para a criação de um novo
mundo. Emocionalmente satisfatório, todos inimigos devem ser derrotados.

15. Imagem final (110): O oposto da imagem de abertura. É a prova de que uma
mudança ocorreu.

O autor também propõem uma forma de organizar a produção do roteiro através do uso
de um quadro.Começamos separando a história em 4 partes e separando uma linha
para cada:

Ato 1: Entre página 1 (0%) e 25 (23%)

Ato 2: Termina no ponto médio, isto é, entre a página 25 (23%) e 55 (50%)

Ato 2: O resto do ato 2, entre as páginas 55 (50%) e 85 (77%)

Diário Aberto 28
Ato 3: O fim, entre página 85 (77%) e 110 (100%)

Vamos distribuir 40 cartões, onde cada cartão corresponde a uma cena. Temos 9
cartões para colocar em cada uma das linhas e mais 4 para distribuir como quisermos:
Os cartões devem conter:

Onde e quando a cena está acontecendo: INTERIOR DA CAFETERIA - DIA

Uma descrição básica da ação na cena em uma declaração em uma sentença


simples: Bob confronta Elen sobre seu segredo.

Toda cena exige uma mudança emocional, histórias são sobre mudanças: +/- Bob
começa esperançoso e termina desapontado.

Toda cena também precisa de um conflito principal, então devemos saber quais
são os envolvidos no conflito e quem vence. O conflito pode ser com outra
personagem, a natureza, ou a sociedade: >< Bob quer saber o segredo; Helen não
diz.

O código +/- de nota altos e baixos na história, alguns autores acreditam que devem
formar uma ondulação do tipo +-/-+/+-… talvez não deva ser necessário ir tão longe,
mas uma mudança emocional é exigida. O outro símbolo >< denota conflito.
Podemos usa cores para codificar diferentes coisas. Por exemplo diferentes cores
denotam diferentes sub-histórias, ou sobre qual personagem está em cada cena, ou
em quais cenas determinado tema é reforçado.
Leis dos filmes

Na sequência, somos apresentados a alguns elementos presentes em todo bom filme.


De forma resumida, são eles:

Salve o gato: o herói precisa fazer alguma coisa para que nós possamos conhecê-
lo e gostar dele desde o começo.

O papa na piscina: exposição é uma história de fundo ou detalhe da história que a


audiência precisa saber para acompanhar a história, mas não é interessante. Então
se usa uma cena inusitada, para distrair a audiência enquanto a informação é
repassada, como uma conversa entre o herói e o papa na piscina.

Duplo “mumbo jumbo”: a audiência aceita somente um tipo de magia por filme. Um
alien invadindo a terra e sendo mordido por um vampiro não soa atrativo.

Diário Aberto 29
Segurando o fluxo: é preciso controlar o fluxo do filme. Existe um risco de segurar
tanto o ritmo que quando a história começa a avançar a audiência já esta cansada,
é por isso que é preciso não usar mais que 25 páginas no primeiro ato.

Marzipan demais: uma ramificação da regra do duplo “mumbo jumbo”. É


necessário evitar colocar coisas demais do mesmo tipo, o simples é melhor, um
conceito de cada vez, mais nem sempre é melhor.

Cuidado com a geleira: em algumas histórias a aproximação do perigo ocorre


lentamente, mas isso não pode ser lento demais, o perigo precisa estar presente,
em algum momento precisa ser eminente e obrigar o herói a agir.

O pacto do arco: todo personagem precisa mudar ao decorrer da história, o herói e


os amigos precisam mudar muito. O único que não muda é o cara mau. O arco
mesmo pode ser definido como a mudança que ocorre com o persoonagem do
começo ao fim da jornada.”

Erros
E por fim, existem alguns erros comuns que podem atrapalhar a boa história. Aqui tem
também um resumo de como evitar estes erros.

A liderança do herói: O herói não pode ser arrastado para a história, ele precisa ter
a iniciativa e liderar a história. O seguinte checklist pode ser usado para refletir se o
herói precisa mais iniciativa:

O objetivo do herói está claramente definido na configuração? O que ele quer é


óbvio para a audiência?

As pistas sobre o que fazer na sequência surgem para o herói ou ele procura
elas? As coisas não podem acontecer tão fácil.

Seu herói é passivo ou ativo? Se for a primeira resposta, você tem um


problema.

Outros personagens dizem ao seu herói o que fazer ou ele diz aos outros?
Uma regra boba: o herói nunca faz perguntas! Os outros o procuram por
respostas, não o contrário.

Falando o plot: um problema encontrado em roteiros fracos e que mostra


imaturidade do escritor. Bons diálogos nos dizem mais sobre o que está
acontecendo no subtexto. Uma regra é: mostre, não fale. Uma imagem funciona

Diário Aberto 30
melhor do que um diálogo. Essa também é conhecida como uma regra de ouro,
mesmo em escrita literária, deve-se evitar a descrição literal do que está
acontecendo.

Faça o cara mau mais malvado: o cara ruim deve ser tão ruim quanto possível.
Fazer um inimigo maior, automaticamente torna o herói maior.

Vire, vire vire: a história não pode apenas avançar, ela precisa rodopiar e
intensificar. Ela precisa avançar mais rapidamente e com mais complexidade em
direção ao clímax. Não é suficiente apenas ‘ir aqui e ali’, precisa mostrar dúvidas e
medos do herói, revelar traições, expor poderes escondidos…

A roda emocional de cores: um bom filme é como uma montanha russa, as


pessoas gostam do que mexe com suas emoções. Elas riem, choram, ficam
confusas, arrependidas … uma boa história usa todas emoções.

Oi, tudo bem? Eu estou bem: Diálogos comuns e diretos são entediantes. Bons
personagens tem um jeito próprio de dizer as coisas, um diálogo é uma
oportunidade para revelar o personagem e dizer quem ele é. Como alguém fala
demonstra quem o personagem é, se relacionada com o seu passado, demônios
externos e sua personalidade como um todo.

Um passo atrás: é necessário mostrar o crescimento do protagonista. Se ele


começa já de maneira que não precisa de uma jornada para mudar, é necessário
dar um passo atrás no ponto de partida da história, com o objetivo de mostrar toda
a luta e toda a jornada de crescimento do personagem.

Uma perna de pau e um tapa-olho: As vezes há uma dificuldade da audiência


reconhecer qual personagem é qual. Para fazer isso, você pode fornecer a cada
personagem uma perna de pau e um tapa-olho, isto, é, uma dica visual que fará
com que o leitor se lembre mais fácil de quem é quem.

Isso é primal? A história deve se conectar a audiência em um nível básico. A raiz


de qualquer objetivo no filme deve ser algo básico, mesmo se na superfície
aparente ser algo diferente.

Termos extras
Terminando o livro traz uma glossário de termos discutidos ao longo do livro. Nem
todos os termos entraram no nosso resumo e os que entraram foram explicados ao

Diário Aberto 31
longo do texto. Mas acredito que ainda há alguns termos que são interessantes de
serem expostos:

Bafo de morte: quando chegamos na seção ‘tudo está perdido’ é um momento


especial onde metaforicamente ou literalmente, algo morre.

Foguete: tem momentos na história que são maçantes, especialmente ap´´os


‘grandes momentos’ como entre os atos. Então é preciso alguma coisa nos
atravesse desses momentos lentos.

Retomadas: imagens, traços de personagens e metáforas apresentadas no ato 1


que vão ser retomadas adiante, normalmente para explicar a exposição inicial.Eles
podem mostrar ou enfatizar o crescimento do personagem, relembrar sua origem,
ou até mesmo explicar algo importante da história.

Piadas recorrentes: oposto às retomadas, são temas repetidos, tiques de


personagens que são intercalados ao longo do filme. A audiência aprecia lembrar e
se sente parte da história. E no fim, precisa acontecer uma reviravolta quando o
personagem está pronto para mudança.

Seis coisas que precisam ser fixadas: é uma lista de pequenos problemas que o
herói enfrenta. São pequenas coisas que o o herói precisa de ajuda superar, e a
audiência acha recompensador ver esses problemas sendo resolvidos parte final
do filme, mas é preciso apresentar esses problemas desde o começo.

Subtexto: é a parte de uma cena que está abaixo da superfície, e ao mesmo tempo
é o que possui o real significado. Uma discussão entre um casal sobre que sobre
uma compra, não é sobre a escolha de qual fruta, mas sobre o fato do casal ter
problemas no relacionamento.

Vencendo o desafio de escrever um romance


Eu li o livro sobre escrita do escritor vivo mais prolífico no mundo, o brasileiro Ryoki
Inoue. O livro é chamado “Vencendo o desafio de escrever um romance” e
basicamente é um relato pessoal do próprio método de escrita.
Ele não traz em detalhes como é a estrutura de uma história, diferente do livro “Salve o
gato” por exemplo, mas ao invés disso discute com maior profundidade um passo
anterior de preparação para a escrita. Óbviamente o que eu trago é apenas um resumo
do resumo e algumas citações que eu considerei muito pertinentes.

Diário Aberto 32
As duas coisas mais destacadas na minha opinião, durante o livro todo é a importância
de ser saudável e realizar uma pesquisa antes de escrever. Precisamos entender que o
foco do livro é escrever um best-seller, então busca-se um sucesso comercial com a
obra, e não apenas uma expressão de si mesmo.
Sobre ser saudável inclui se alimentar bem, se exercitar, cuidar da saúde mental, e
vitar substâncias tóxicas que causem dano ao corpo, é literalmente tudo que se pode
imaginar ser saudável. A justificativa é até mesmo óbvia, uma vez que a gente se
compromente a trabalhar com a escrita, precisamos ter condições físicas de nos
dedicarmos a esta atividade apropriadamente.
Mesmo que seja uma tarefa intelectual, é difícil nos dedicarmos e trabalharmos
apropriadamente se estamos sentindo dores, ou não temos capacidade física de
permanecermos trabalhando por algumas horas em sequência. Dessa forma, é
necessário cuidarmos de nossa saúde, física e mental.
O seguindo ponto, é importante realizar pesquisas. Isso inclui pesquisas de todas as
ordens possíveis. Precisamos por exemplo, saber se existe um público interessado no
que queremos contar, para isso precisamos pesquisar o que o público tem
demonstrado interesse em ler. Após termos a ideia inicial, ainda é interessante
pesquisarmos o que as pessoas acham especificamente desta nossa proposta de
história. Após tudo decidido, ainda precisamos pesquisar sobre o que vamos inserir na
história de fato.
O autor discute a importância do que chama de ‘literatura de lazer’, entendida como
essa literatura mais leve que busca atingir um grande público, e sobre isso, eu gosto da
seguinte citação do autor:
O autor de literatura de lazer tem duas obrigações principais com respeito às obras que
produz: levar distração ao leitor e instruir aqueles que não sabem. E eu acrescentaria
mais uma: não irritar os que sabem
Então aqui podemos notar uma responsabilidade social do autor, ele não pode enganar
o leitor. E é claro que isso pode ser algo intencional visando espalhar uma falsa
informação, mas na ausência de uma pesquisa adequada, também ocorre sem
intenção.
Também nos traz a ideia que é importante definir primeiro a ideia e então o tema. Isto
é, podemos ter uma ideia de escrever sobre determinado assunto, mas podemos
escrever sobre o mesmo assunto seguindo diferentes temas. Uma história sobre um

Diário Aberto 33
agente secreto pode ser uma história de investigação, mas também pode ser uma
história de romance.
A ideia inicial da história deve ser algo que aparente ter uma boa aceitação do público,
e o tema também pode seguir uma tendência mais atual. Como nos propomos a viver
de escrita, uma sugestão dada é obter ideias de acontecimentos recentes nos jornais
por exemplo, mas é claro, evitando temas saturados.
Um conceito que não é novo de fato para muitos, mas eu acho importante aqui
destacar é o da verossimilhança, definido pelo autor como a sememlhança com a
verdade. A psosibilidade de o que é narrado ter acontecido ou vir a acontecer.
Para garantir essa verossimilhança, retornamos à importância da pesquisa. Esta
pesquisa pode (e deve) abranger diferentes aspectos como histórico, geográfico,
sociológico e tecnológico. Isto é, se nossa história vai se passar na segunda guerra
mundial, precisamos entender o contexto histórico no qual a guerra aconteceu. Além
disso, se a história ocorre especificamente na antiga União Soviética precisamos ter
algum conhecimento geográfico da região que a história se passa, assim como
sociológico e tecnológico para que consigamos definir de maneira verossímil o mundo
construído em nossa história.
Outro ponto que merece destaque é o conflito, afinal toda história gira em torno de um
conflito. O conflito que o protagonista vai enfrentar pode ser classificado como:

Conflitos inter-humanos: quando o conflito ocorre entre personagens.

Conflito entre homem e natureza: quando o protagonista precisa enfrentar um


fenômeno natural.

Conflito pessoal: quando o conflito é algo interno a ser superado pelo protagonista.

Para uma boa história, precisamos então ter sempre claro a resposta para as seguintes
perguntas:

Qual é o conflito principal da história?

Em que momento ele é apresentado ao leitor?

Qual é a sua importância para o protagonista e para a história em si?

Ainda sobre o conflito, precisamos ter bem definido:

Motivação: a motivação é como o nome sugere, a justificativa do conflito. Precisar


haver um bom motivo para que o conflito exista.

Diário Aberto 34
Correspondência: a correspondência é a relação de cumplicidade criada entre o
personagem, seu conflito e o leitor.

Quando temos uma boa motivação e uma boa correspondência dizemos que temos um
bom ponto de identificação. E uma história precisa de um bom ponto de identificação,
isto é, o leitor quer viver a história, para isso precisa existir essa identificação com pelo
menos um dos personagens (normalmente o protagonista) e o conflito.
Também vale destacar, que o leitor além de querer se identificar com um personagem,
também não quer pensar para reagir a história, ele quer se identificar com a história,
ele quer sentir. Por isso a escrita deve permitir que isso seja possível, não pode exigir
queo leitor pegue um dicionário ou pause para pensar no que está acontecendo. O
objetivo do escritor é mostrar claramente a cena, e não obrigar o leitor a arquitetá-la
sozinho, em sua mente.
Além disso temos outros conceitos:

Storyline: a transcrição da síntese da ideia escrita em no máximo três frases.

Sinopse: visão geral do livro, uma storyline mais detalhada.

Argumento: ainda mais detalhado, deve justificar a existência da história.

Ryoki Inoue propõe um modelo para criar o projeto literário do livro, isto é, um
documento para orientar a escrita e apresentar aos editores. O livro apresenta
detalhadamente cada elemento e um exemplo, eu não vou trazer a versão completa,
mas vou trazer os principais elementos na minha opinião. Caso haja interesse,
recomendo ver o livro oiriginal. Os elementos:

Título.

Temática: explicamos com o menor número possível de palavras o tema e o assnto


principal a ser abordado no livro.

Público-alvo: é necessário ter em mente qual é o tipo de leitor que queremos


alcançar.

Storyline: síntese da ideia.

Sinopse: visão geral de todo o livro.

Argumento: resumo da história.

Temporalidade: localização da história no tempo.

Diário Aberto 35
Ambientação: localização da história no espaço.

Principais Personagens: de início já devemos saber todos os principais


personagens que aparecerão na história, suas necessidades individuais e
coletivas.

Plot principal: é o conjunto de ações e acontecimentos que determinam a razão de


ser da história.

Underplots: o público aprecia que a história tenha mais de um plot, mas apenas um
é o principal, os outros são secundários, e normalmente dois. Estes devem se
interligar com o plot principal mas sendo tratados individualmente. Cada plot deve
ser completo, com começo meio e fim, assim como podem compartilhar entre si os
personagens, ou não.

Os principais personagens de acordo com sua importância podem ser: protagonista


(antagonista), coadjuvante (do protagonista ou antagonista), componentes dramáticos
ou extras. O detalhamento de cada personagem vai depender da sua importância na
história.
Protagonista e antagonista são respectiva o herói da história e o adversário deste herói,
desta forma são os personagens que exige o maior detalhadamento. Coadjuvantes são
os personagens indispensáveis para o desenvolvimento da história e que dão suporte
ao protagonista e antagonista, mas de menor importância. Componente dramático de
ligação são ainda menores e compõem o elenco terciário de romance, exige uma
biografia sucinta. E por fim, extras são pesonagens que povoam a história, aparecendo
pouco e com praticamente nenhuma importância, não pe necessário nada.
Uma personagem deve conter:

Nome.

Pertinência: isso é, ele deveser adequado para a história, no tempo, espaço, modo
de pensar e de agir.

Personalidade e caracterstícias: o tipo físico, maneira de gestibular e falar, a


personalidade, especialmente o protagonista deve ter uma descrição completa e
ser o máximo possível desenvolvido.

Verssimilhança: para que o leitor se identifique com os personagens eles precisam


ser reais.

Diário Aberto 36
Facetas antagônicas: um bom personagem é complexo, porque pessoas reais são
complexas. Por isso deve existir ao menos alguma faceta antagônica no
personagem, que lhe confira identidade e originalidade. O herói pode ter medo,
angústia e fraqueza, assim como ivilão pode ter um grande amor.

O autor também apresenta uma estrutura sem maiores detalhes. Ele divide a história
em três partes: montagem da história, montagem do conflito e sollução do conflito. A
seguinte subdisão é sugerida de forma que uma vez terminada a estrutura básica do
romance, temos em mão então o argumento desenvolvido.

1. Montagem da história

a. Apresentação do protagonista e dos principais coadjuvantes

b. Estabelecimento da premissa da história, daquilo a que ela diz respeito e


dascircunstâncias dramáticas que contornam a ação

c. Ambientação e fortalecimento do personagem principal

d. Apresentação do ponto mais importante da trama

2. Montagem do conflito

a. Exposição e desenvolvimento do ponto mais importante da trama

b. Apresentação do segundo ponto mais importante

c. Apresentação e exposição dos obstáculos e confrontações para a resolução


datrama

d. Exposição e desenvolvimento do segundo ponto mais importante da trama

e. Apresentação do terceiro ponto mais importante

f. Apresentação do início das soluções encontradas pelo personagem principal7


— Exposição e desenvolvimento do terceiro ponto mais importante da trama

3. Solução do conflito

a. Desenvolvimento das soluções encontradas pelo personagem principal

b. Premiação do Bem

c. Punição do Mal

d. Risada final

Diário Aberto 37
O livro termina então fazendo uma breve discussão sobre diálogos. Entre as principais
observações, eu trago aqui é sobre a estrutura. Utilizar o travessão como indicador de
fala, além de não escrever diálogos muito longos. É recomendado colocar a indicação
do diálogo no meio da fala do personagem ( exemplo: defendeu-se Simone), mas
também é importante tomar cuidado para não dar duas indicações durante a fala.
Também não se deve colocar duas falas do mesmo personagem juntas, isto é, uma
imediatamente a outra. O ideal é utilizar alguma marcação de alteração emocional do
personagem. Um diálogo de exemplo:
Encaixei a indireta, omiti-me de argumentar que minha capacidade de entender as
coisas era, talvez, um pouco superior à que ela estava me atribuindo e, mastigando
meu pão, indaguei:
— E, à luz dessa sua dimensão extra temporal, como você explicaria essa diferença no
tempo?
Simone ergueu os ombros com displicência e falou:
— Se tentarmos esquecer o fenômeno do tempo de duração de sua conversa com
Leon e o tempo que eu percebi passar efetivamente, poderíamos pensar que você foi
vítima de uma alucinação. Mas isso não aconteceu, e temos provas. Em primeiro lugar,
o meu testemunho; em segundo lugar, a gravação; e, por último, os dólares. Assim,
seremos obrigados a aceitar que, de fato, ocorreu no mínimo um fenômeno que só
pode ser explicado por um ângulo que nada tem a ver com os conhecimentos físicos,
matemáticos e de lógica de que dispomos nesta dimensão temporal.
Simone tomou fôlego e prosseguiu, entusiasmando-se:
— Você pode ter sido carregado para outra dimensão, querido! E, nessa outra
dimensão,o conceito de tempo é forçosamente diferente do nosso! Um minuto pode ser
uma hora ou um século e uma hora pode ser apenas um infinitésimo de instante!
Meneei a cabeça em sinal de dúvida, e Simone perguntou:
— Qual é a dimensão tempo para o pensamento? Quanto tempo demora um
pensamento para se formar e se conscientizar?
Não respondi — mesmo porque não teria qualquer resposta a dar —, e minha esposa
continuou:
— Se Leon tem realmente a capacidade de exercitar a telepatia, ele pode ter injetado
em sua mente uma porção de informações, de tal modo que a você pareceu ter
passado vários minutos quando, na realidade, toda a operação não demorou mais do
que alguns segundos..

Diário Aberto 38
Podemos notar o uso do travessão, marcação de alteração emocional (Simone ergueu
os ombros com displicência e falou) e indicadoers de fala ().
Para concluir eu gostaria de deixar esta citação:
Lembremos que o bom autor de romances é uma pessoa do povo, um cidadão do
mundo.

Poesia #1
Quero começar a estudar poesia e ler, até agora eu só li estes livros de poesia:

Folhas de relva - Walt Whitman

Viagem – Cecília Meireles

Melhores Poemas de Gonçalves Dias - Gonçalves Dias

Poemas y antipoemas - Nicanor Parra

Maiakóvski: Vida e poesia - Vladímir Maiakóvski

Além disso, eu li este livro Tratado de versificação (Olavo Bilac) sobre poesia. Mas
estava mais estudando aspectos da poesia, então eu não reparei e até mesmo pulei a
leitura de poesias.
Mas hoje eu quero falar da poeta Dareen Tatour, presa em Israel e mantida isolada em
casa por meses sem acesso a internet sem o devido processo legal, tudo isto devido a
um poema postado no Youtube de suporte ao povo palestino. A história pode ser lida
no no Arablit (uma revista sobre a literatura árabe e sua tradução), assim como a
tradução para inglês, eu traduzo aqui livremente para português:
Resista, meu povo, resista a eles

Resista, meu povo, resista a eles.


Em Jerusalém, eu tratei minhas feridas e eu respirei minhas dores
Carreguei a alma na palma da minha mão
Por uma Palestina árabe.
Não vou sucumbir à “solução pacífica”,
Nunca abaixarei minhas bandeiras
Até que eu os expulse de minha terra.
Eu os deixei de lado por um tempo vindouro.
Resista, meu povo, resista a eles.

Diário Aberto 39
Resista a colonização
E siga a caravana dos mártires.
Rasgue a constituição vergonhosa
Que impôs degradação e humilhação
E nos dissuadiu de buscar por justiça.
Eles queimaram crianças inocentes;
Quanto à Hadil, a assassinaram em público,
Morta à luz do dia.
Resista, meu povo, resista à eles.
Resista ao ataque colonialista.
Não ligue para seus agentes entre nós
Que nos acorrentam com a ilusão da pacificação.
Não tema línguas duvidosas;
A verdade em seu coração é mais forte,
Enquanto você resistir em uma terra
Que sobreviveu através de invasões e vitórias.
Então Ali chamou de seu túmulo:
Resista, meu povo rebelde.
Escrevam-me como prosa no Pau-de-Águila;
Meus restos têm vocês como uma resposta.
Resista, meu povo, resista à eles.
Resista, meu povo, resista à eles.
Talvez seja momento de começar a montar minha lista de poesias preferidas. De
Gonçalves Dias eu sempre tenho a Canção do Tamoio:
I
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
….
VI

Diário Aberto 40
Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.…

Sobre Cecília Meireles eu tenho como referência o poema chamado Motivo:


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias;
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou edifico,
se permaneço ou me desfaço,
– não sei, não sei. Não sei se fico
ou se passo
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada
E um dia sei que estarei mudo:
– Mais nada
Recentemente conheci também esta boa poesia de Leminski, retirada do livro
“Caprichos e Relaxos”:

En la lucha de classes
Todas las armas son buenas
Piedras
Noches
Poemas

Diário Aberto 41

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