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MEU PRIMEIRO DISCURSO

Bom dia..

Não poderia começar o discurso de outra forma a não ser agradecer pelo
convite. Estou muito feliz e lisonjeado por essa oportunidade, logo no meu
primeiro ano no Fragoso. Muito obrigado queridos formandos do 5º ano.
Jamais vou esquecer esse convite e essa consideração. Super, hiper, mega
thanks...

Quero aproveitar para agradecer também a essas três pessoas que estão
sendo fundamentais na minha vida profissional em 2015. E se hoje eu
tenho a honra de estar aqui é porque essas pessoas me ajudaram e foram
essenciais. Sem a ajuda e amizade deles eu não conseguiria. Eles também
são merecedores dessa honra. Muito mais do que eu. Muito obrigado
queridos amigos e professores Patricia, Raquel e Roberto.

Eu tive um professor na universidade que dizia ; “ Você que irá se formar e


ser professor, deve ser por opção e não por falta de opção. “. Vocês
conseguem entender a diferença? Vou explicar;

Alguém faz universidade. Pedagogia, educação física, letras e não sabe


ainda se vai dar aula em escola ou não. Começa procurar emprego, não
consegue o que quer e por falta de opção acaba indo dar aula na escola
estadual. Apenas para quebrar um galho, até conseguir o que quer. E
acaba ficando, ficando, ficando. O tempo vai passando e aquele emprego
que era apenas para quebrar um galho, acabou virando emprego fixo, real
e na maioria das vezes frustrante porque ele nunca quis estar ali.

Decidi ser professor de educação física com 11/12 anos. Apesar de ter
certeza do que queira ser, demorei para me formar. Isso aconteceu
quando eu tinha 30 anos. Sempre fui um péssimo aluno e só ia para
escola para comer, fazer tratamento dentário e educação física. Sempre
ouvia dos professores que eu era muito ruim, não ia chegar a lugar algum
e que tinham dó de mim. Eu era aluno na escola estadual professor
Colombo de Almeida, na casa verde alta. E tive um professor de educação
física que fez toda a diferença na minha vida. Professor Coutinho. Vou
explicar o porque. Sou o caçula. Tenho quatro irmãs mais velhas e uma
delas é gêmea comigo. Perdi minha mãe com dois anos de idade e meu
pai “ emprestou “ eu a minha irmã para os nossos padrinhos. Com quatro
anos de idade perdi a minha madrinha e o meu padrinho me devolveu
para o meu pai. Minha vida era ficar na rua quase o dia todo. Ia na escola
a tarde, de manhã e a noite era rua. Só ia pra casa meia hora antes do
meu pai chegar, para tomar um banho e espera-lo e não apanhar porque
estava na rua até tarde. Ele trabalhava em três empregos, quase 24h por
dia para sustentar os cinco filhos. Com 12 anos eu já sabia tudo sobre
sexo, drogas e rock in roll. A escola da vida me ensinava coisas muito mais
importantes do que a escola formal. Ainda acho que a vida ensina muito
mais que escola formal. Precisamos ser uma escola mais antenada ao
mundo real, menos preconceituosa e mais atrativa. Naquela época não
tinha educação física para os alunos do 1º ao 5º ano e eu passava o
intervalo na quadra, esperando ir para o 6º ano para poder fazer educação
física. Finalmente isso aconteceu e eu era o garoto mais tímido e feliz do
mundo. Isso mesmo. Eu era muito tímido. A ponto de passar vários e
vários recreios sozinhos no meu canto. Foi quando o professor Coutinho
entrou e fez a diferença. Ele sabia que eu era um garoto que não gostava
de estudar, que era tímido e muito pobre. Então, ele veio falar comigo e
perguntou se eu queria fazer parte da equipe de basquete. E foi assim que
eu me senti importante pela 1ª vez na vida. Alguém me enxergou, sabia
que eu existia e me deu a 1ª oportunidade de ser alguém. Comecei a
treinar e aquilo era a mais que eu mais gostava e mais importante para
mim. Virei um outro garoto. O professor Coutinho não admitia atletas com
notas vermelhas na equipe e eu passei a estudar como um louco, porque
não queria sair do time e do treino. Aquilo era a coisa mais importante e
que me deixava mais feliz naquela idade. Passei a ter autoestima,
confiança, me amar como eu era e em quadra eu me transformava.
Aquele garoto magro e tímido virava um leão, apesar de jogar muito mal.
Anos depois fui perceber o quanto aquele professor foi importante.
Mesmo sabendo que eu era muito ruim, nunca me tirou do time e sempre
me colocava pra cima, me dando força e confiança. Mas, teve uma atitude
do professor Coutinho que fez decidir ser professor de educação física.
Uns dias antes do 1º campeonato ele me entregou uma autorização para
entregar ao meu pai. Eu todo empolgado esperando o meu pai chegar,
entregar a autorização e realizar o meu sonho. Foi quando veio a notícia
mais triste para um garoto da minha idade. Meu pai não assinou e não
permitiu que eu fosse. Não porque ele não queria mas, porque eu não
tinha tênis para jogar. Eu tinha apenas um kichute, para ir na escola, na
missa no domingo e visitar os meus tios no fim de semana. Ele não
poderia deixar eu jogar e correr o risco de rasgar o único tênis que eu
tinha. Entendi a razão do meu pai mas, chorei a noite toda. Me lembro
como se fosse hoje. Aquele garoto magro, tímido, chorando baixinho no
beliche, com medo do meu pai acordar, ficar bravo e me bater. No outro
dia fui devolver a autorização para o professor Coutinho e explicar porque
meu pai não tinha deixado eu ir. Para minha surpresa ele perguntou onde
eu morava e que horas meu pai estaria lá. Naquela mesma noite meu
professor foi em casa, conversar com o meu pai. Não sei exatamente o
que eles conversaram porque meu pai nunca comentou. Só sei que meu
pai disse, você vai para o campeonato. Agradeça ao seu professor
amanhã. Putz, eu era o garoto mais feliz do mundo. Guardei aquela
autorização como um tesouro. Com medo de perder. No outro dia fui
levar a autorização para o professor Coutinho e ele tinha mais uma
surpresa pra mim. Ele me olhou nos olhos e disse. Você tem o melhor pai
do mundo, eu nunca tive o privilégio de ter um pai. Você é um garoto de
muita sorte. Isso pra você. Estou te dando porque seu pai não tem
condições hoje te dar. Não precisa me agradecer. Apenas me prometa que
vai ser um bom filho, estudar e dar muito orgulho para o seu pai. Era um
tênis novo. Novinho em folha. Para jogar basquete. Embrulhado para
presente. Coisa que eu nunca tinha ganho. Um presente, embrulhado
especialmente pra mim. Abracei meu professor e chorei quase 10
minutos. Eu era o garoto mais feliz do mundo. Naquele dia prometi que ia
me formar, ser professor de educação física, encher meu pai de orgulho e
tentar fazer a diferença na vida de alguém, como o professor Coutinho fez
na minha. O professor Coutinho foi tão importante que me arrumou o
primeiro emprego como offyce boy na empresa onde a namorada dele
trabalhava.
Em 1996 no meu último ano de universidade eu coordenava um evento de
basquete pelo Brasil que se chamava “ Adidas Street Ball “. Início do
basquete 3x 3 por aqui. Eram 10 etapas pelo Brasil e os finalistas de todos
os estados foram para as finais em São Paulo, no estacionamento do
Ibirapuera. Para a minha agradável surpresa o meu querido e amado
professor estava no evento. Foi então que pude devolver aquele tênis que
tinha ganho quando tinha 11/12 anos. Antes de dar início ao evento,
chamei o professor Coutinho no palco, expliquei para os garotos presentes
no evento quem ele era, qual a importância que ele tinha tido na minha
vida e que eu não me contentava de alegria de poder devolver aquele
presente e mostrar pra ele que eu tinha me formado e que ele podia se
orgulhar do seu pupilo. Fomos jantar depois do evento e foi emocionante
relembrar os tempos de escola e contar como andavam as nossas vidas.
Ele ainda continuava dando aula no Colombo. Incrível. Ficamos doze anos
sem se ver. Em 2008 nos reencontramos no BaBy Barione. Local onde os
campeões da capital se encontravam para embarcar para a final no
interior. Ele estava novamente com a equipe feminina de basquete e eu
como professor auxiliar da equipe de voleibol do Jácomo. Ele ainda
brincou. Seu traíra. Te ensinei tudo sobre basquete e você acaba indo pro
voleibol... Ficamos cinco dias juntos. Foi inesquecível. Infelizmente não
pude me despedir do meu exemplo de pessoa e professor. Quando meu
querido professor partiu para um mundo melhor eu não estava em São
Paulo e só fiquei sabendo da partida dele, quando voltei de viagem. Fiquei
muito triste por não poder dar um último Adeus.

Agora estou aqui. No fragoso. Tentando ser 10% do que ele foi. Nunca
quis estar aqui. Sempre preferi dar aula para alunos do 6º ano 9º ano.
Porque sou impaciente, chato, ranzinza e adoro falar palavrão. Os alunos
do basquete do jácomo e quem foi para os jogos escolares sabem bem
disso..kkkkkkkkkkkkkkkk. Acabei no fragoso porque causa do dinheiro. Isso
mesmo. Sempre deixei isso claro. Estou aqui por causa da grana. Apesar
disso tento ser um bom professor e o mais profissional possível. Não sei
tudo e não sou dono da verdade. Sou um pokemon me transformando a
cada dia e aprendendo. Porque a função de um professor não é só
ensinar. Ao contrário. Precisamos aprender primeiro para depois ensinar.
E aqui estou eu. Sendo paraninfo para a turma dos 5º ano. Pela primeira
vez na minha vida fui convidado para ter essa honra. Fiquei apavorado
quando fui informado e pedi ajuda para muitas pessoas. Não sei porque
fui escolhido só sei que fiquei muito feliz e honrado. O que dizer do nosso
ano. Acho que foi um ano incrível. Fizemos muitas coisas juntos. Mas não
fizemos sozinhos. Ao contrário. Sempre contamos com a ajuda e
profissionalismo desses três professores de educação física competentes e
muito profissionais. Por favor uma salva de palmas para a Patricia,
Raquele e Roberto.

Quem participou da quadrilha maluca, festival de inverno e dos jogos


escolares sabe o quanto o nosso ano foi incrível. As coisas lindas e loucas
que vivemos juntos. Tenho certeza que elas ficaram marcadas e jamais
serão esquecidas.

Agora vocês vão para uma nova escola, uma nova etapa, novos desafios.

Alguns vão estudar na mesma escola mas, a maioria vai estudar em escola
diferente e talvez nunca mais se vejam.

Então, curtam e aproveitem esse momento. Porque ele é único e especial.

Não sou e nunca fui um exemplo de pessoa. Mas, usem o meu exemplo de
vida. Se eu consegui chegar em algum lugar, você também vai. Mesmo
que tenha muitas pessoas falando que não. Sempre vai ter alguém para te
dar uma força e puxar você do buraco escuro. Você é único e especial.
Não existe alguém igual a você no mundo todo. Você é capaz e vai chegar
onde você quiser. Mesmo que para as pessoas você seja feio, magro,
gordo, burro, incapaz, etc...Não acredite nessas pessoas. Acredite em
você, sempre. Você pode chegar onde quiser. Só não pode desistir nas
pedras que encontrarão no caminho.

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