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percurso.1
Maria Eduarda Reis 2
1. Introdução
1
Trabalho final referente à avaliação da disciplina Movimentos Sociais na América Latina do Instituto de
História (IH) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ministrada pelos Professores Flávio Gomes e
Wallace de Moraes.
2
Graduanda em história pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. DRE:121054617.
conhecido como “A chacina do jacarezinho”, operação da polícia Civil que matou 28
pessoas, sendo, portanto, um dos maiores massacres provocados em territórios periféricos ,
local onde os moradores, em sua maioria, são negros.
O episódio recente da Marcha é o pontapé da abordagem que será tratada neste
ensaio, pelo seguinte fator que se destacou na véspera do Dia da Consciência Negra: O grito
de ordem. Esse elemento serve como abertura para fazer a seguinte pergunta: A consciência
racial é constituída somente a partir de uma ideologia política que tende à consciência de
classe?
Quem traz essa preocupação central é o cientista político americano Michael
Hanchard, no seu intitulado livro Orfeu e o Poder, localizada dentro do capítulo que
privilegia o estudo sobre “A formação da consciência racial”, onde o autor traz a seguinte
hipótese, evidenciando algo que está articulado com a questão levantada, ou seja, a
dificuldade no que se concerne à ideologia:
Muitas vezes, a relação entre a consciência racial e a ideologia política não fica clara
para os estudiosos e ativistas da política racial brasileira. Na verdade, nem mesmo
aqueles que têm convicções firmes a respeito da identificação étnico-racial parecem
saber ao certo que formas sua identificação deve assumir. Essa falta de clareza tem
impedido o desenvolvimento da consciência racial e a formulação de posturas
políticas definidas, capazes de combinar com sucesso as análises da raça com a da
classe e da cultura. (HANCHARD, 2001.p.98)
Como será possível perceber ao longo do trabalho, a resposta não será uma regra , em
função da escolha da temática partir não somente da bibliografia apresentada na disciplina
“Movimentos sociais na América Latina”, mas por se tratar também de questões que
atravessam a experiência pessoal. Pode-se afirmar que foi uma encruzilhada e, portanto, foi
necessário fazer escolhas. Ademais, utilizei desse pontapé apenas para inserir uma reflexão
que parte dos acontecimentos recentes, pois é importante frisar que, em unanimidade, as
organizações que constroem esta Marcha, são de esquerda.
Porém, adianto as proposições que designo aqui:
:https://primeirosnegros.com/adalberto-camargo-simbolo-do-pioneirismo-empresarial-politico-e-social-no-brasil
/
está muito interessado na ideologia. O que o motiva, segundo afirmou, são a iniciativa
privada, o desenvolvimento capitalista e o desenvolvimento social dos afro-brasileiros.
Adalberto foi uma figura importantíssima para a exemplificação da consciência racial,
apesar de não ser uma regra, visto que a maioria das representatividades políticas que
assumem cargos em partidos de direita, ainda partilham de uma ideia de democracia racial,
contestanto, assim, a existência do racismo. Ao mesmo tempo que, dentro do sistema,
negligenciam as pautas raciais e reproduzem mais condutas que fortalecem as mazelas do
racismo no país. Entretanto, esse sujeito da história, a partir de uma perspectiva que é muito
diferente dos que estavam envolvidos no debate de mobilização, conseguiu transformar a
realidade na qual estava inserido através do que almejava.
Em determinado momento do capítulo aqui debruçado, Hanchard também evoca a
importante figura de Januário Garcia, que foi presidente do Instituto de Pesquisas das
Culturas Negras (IPCN) por duas vezes. No que se refere a esse debate, Januário proclamava:
“Não sou nem de esquerda nem de direita: sou negro” (HANCHARD, 2001, p.101). É
interessante a afirmação de Januário para condensar o verdadeiro intuito que abordo aqui, e
como ele já complementa e sustenta sua fala, a luta afro-brasileira preexistia a luta partidária.
Assemelha com a célebre frase da filósofa Sueli Carneiro: “Entre a esquerda e a direita, sei
que continuo preta”.
Ao fim e ao cabo, trazer a relevância da história do negro no Brasil apontanto as
raízes do preconceito racial no âmbito econômico e constitído apenas na luta de classes, é
reduzir a história e dar margem novamente para uma narrativa dos brancos. Assim como
coloca o sujeito numa caixa, indicando que a única solução para atingir a igualdade é a partir
de uma “ideologia apropriada”. Para, enfim, finalizar este tópico, compartilho o juízo deixado
por Beatriz Nascimento, que está presente no livro “Uma história feita por mãos negras”:
A lacuna que surge neste ensaio, pode-se justificar também por uma certa carência do
aprofundamento de Jessica Graham ao se falar das singularidades da Ação integralista. É
preciso compreender que está se tratando de um movimento que exprime o nazifascismo no
Brasil. As concepções e construções de narrativas concebidas deste período são sensíveis
tanto para os leigos, quanto para os estudiosos do assunto. No entanto, também é preciso
considerar a escassa bibliografia que disponha a relação dos negros com o integralismo.
Outro ponto se deve ao pensamento que estava instituído naquela época. Haviam
muitos simpatizantes de um pensamento conservador e cristão, então é preciso estar vigilante
nas particularidades da extrema direita no brasil ao se assemelhar o fascismo com a AIB,
porque isso fundamenta a adesão de muitos frentenegrinos, tendo em vista que os seus lemas
eram compatíveis: “Deus, Pátria e família” e “Deus, pátria, raça e família”. O importante
intelectual brasileiro, Abdias do Nascimento, já havia declarado também do quanto que a
Ação Integralista tinha educado sobre as realidades sociais, políticas e econômicas
(GRAHAM, 2014, p.367).
O historiador Jacino Ramatis, em seu artigo dedicado em pensar no conservadorismo
como estratégia para enfrentar o racismo, conclui seu texto com uma reflexão indispensável,
ao afirmar as dificuldades em achar trabalhos que compreendam
Até o momento, busquei fazer uma crítica ao marxismo ortodoxo, que se manifesta
sutilmente nas organizações políticas e movimentos que buscam pensar primeiro em termos
de classe. Retornei à década de 30, olhando atenciosamente as disputas políticas que
emergiram no campo ideológico, que foi obrigada a se pensar na inserção do negro na
política. Cabe, agora, propor alguns breves esclarecimentos a partir do livro “Lugar de
Negro”, uma vez que o pensamento construído até aqui possa ser interpretado de maneira
errônea, devido à amplitude dos conceitos e questões dialogadas.
É indispensável, primeiramente, rememorar a grandiosa intelectual Lélia de Almeida
Gonzalez: Filósofa, professora, atuante do movimento negro e feminista. Foi uma figura
fundamental na luta contra o racismo, sendo também uma das pioneiras da abordagem
interseccional. No entanto, a interpelação de agora, quem traz em termos práticos é o
sociólogo Carlos Hasenbalg, que também discorre sobre raça, classe e mobilidade.
Neste capítulo, Hasenbalg descreve o cenário já da década de 80, onde mesmo
completando quase 100 anos da abolição da escravatura, dentro da hierarquia social, os
negros ocupavam a última camada. A leitura da realidade é incontestável: em todos os setores
da sociedade, sobretudo ao que envolve o econômico, os negros estão na base da pirâmide.
Isso leva a uma alegação que até agora não foi exposta de maneira clara: pensar em
termos de classe não está desarticulado com a raça. A problematização é em cima de como é
que a camada político-partidária lida/lidou com este panorama, secundarizando a pauta racial.
Dessa forma, dada a estrutura do funcionamento da sociedade brasileira, o que tenho
levantado não é a forma certa ou errada de se combater, e sim que a consciência não está
somente condicionada a esse fator partidário. É uma realidade muito mais complexa para
apenas apontar a alternativa de que “para combater o racismo, filie-se ao socialismo”, como
trouxe no início, que negligencia a história plural que as facetas “antirracistas” e o
movimento negro possui.
5. Conclusão
6. Referências bibliográficas
GRAHAM, Jéssica. “A virada anti racista do Partido Comunista Brasileiro, A Frente Negra
Brasileira e a Ação Integralista Brasileira na década de 1930”, in: Políticas da Raça.
Experiências e legados da Abolição e da Pós-Emancipação no Brasil, São Paulo, Selo Negro,
2014, pp. 353-376)
HANCHARD, Michael G. Orfeu e o Poder. Movimento Negro no Rio e São Paulo, Rio de
Janeiro, Editora UERJ, 2011. pp. 97-166.
RATTS, Alex (Org.). Beatriz Nascimento: Uma história feita por mãos negras. Rio de
Janeiro: Zahar, 2021.