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Economia e Mercado

Autor: Prof. Ms Giordan Silva de Oliveira


SUMÁRIO
APRESENTAÇÃ..........................................................................................5
INTRODUÇÃO...........................................................................................5
PARTE I
1 QUESTÕES BÁSICAS DA ECONOMIA.....................................................6
1.1 Conceito de economia .......................................................................6
1.2 Os problemas econômicos fundamentais...........................................7
1.3 A lei da escassez de recursos ..............................................................9
1.3.1 Tipos de bens econômicos.............................................................. 10
1.4 Os recursos ou fatores de produção.................................................. 11
1.5 Custo de oportunidade e curva de possibilidades de produção........ 13
1.5.1 Custo de oportunidade................................................................... 13
1.5.2 Curva de possibilidades de produção.............................................. 14
PARTE II
2 O SISTEMA ECONÔMICO........................................................................17
2.1 O que vem a ser um sistema econômico?............................................17
2.2 Os fluxos reais e monetários da economia.......................................... 19
2.3 Divisão do estudo econômico.............................................................. 24
PARTE III
3 DEMANDA, OFERTA, EQUILÍBRIO DE MERCADO, TEORIA DA PRODUÇÃO E TEORIA
DOS CUSTOS ............................................................................................... 25
3.1 A demanda ............................................................................................ 25
3.1.1 Elementos que deslocam a curva de demanda.................................. 30
3.2 A oferta.................................................................................................. 30
3.2.1 Elementos que deslocam a curva de oferta....................................... 31
3.3 O equilíbrio de mercado....................................................................... 32
3.4 Teoria da produção............................................................................... 35
3.4.1 A produção......................................................................................... 36
3.4.2 A função de produção........................................................................ 37
3.5 Análise de curto prazo.......................................................................... 41
3.5.1 A lei dos rendimentos decrescentes................................................... 42
3.6 Análise de longo prazo........................................................................... 43
3.7 Teoria dos custos................................................................................... 44
3.7.1 Os custos de produção em curto prazo.............................................. 43
3.7.2 Custos em longo prazo....................................................................... 43
3.7.3 Custos de produção: visão econômica x visão contábil-financeira.....44
PARTE IV
4 ESTRUTURAS DE MERCADO..................................................................... 45
4.1 A concorrência perfeita......................................................................... 47
4.2 Monopólio............................................................................................. 48
4.3 Oligopólio.............................................................................................. 52
4.4 Concorrência monopolista ou imperfeita............................................. 54
4.5 O grau de concentração econômica..................................................... 55
PARTE V
5 INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA.......................................................58
5.1 Estrutura básica da macroeconomia.................................................... 60
5.1.1 Metas da política macroeconômica.................................................. 63
5.1.2 A questão do emprego...................................................................... 65
5.1.3 A estabilidade de preços................................................................... 68
5.1.4 Crescimento econômico................................................................... 70
5.2 O papel do Estado na atividade econômica......................................... 72
5.2.1 As funções econômicas do setor público.......................................... 73
5.2.2 Função alocativa .............................................................................. 74
5.2.3 Função distributiva........................................................................... 74
5.2.4 Função estabilizadora e de crescimento econômico....................... 74
5.3 Mercado monetário............................................................................ 75
5.3.1 A moeda........................................................................................... 75
5.3.2 Funções da moeda........................................................................... 78
5.3.3 Tipos de moeda............................................................................... 78
5.4 Oferta de moeda................................................................................ 78
5.4.1 Conceitos de moeda em economia..................................................79
5.4.2 Oferta de moeda pelo Banco Central...............................................79
5.5 Política monetária................................................................................81
5.6 Oferta de moeda pelos bancos comerciais..........................................81
5.7 A taxa de juros......................................................................................82
PARTE VI
6 INTRODUÇÃO À ECONOMIA INTERNACIONAL.................................... 90
6.1 Taxa de câmbio...................................................................................94
6.2 Política externa.................................................................................100
PARTE VII
7 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E ECONOMIA BRASILEIRA............ 111
7.1 O desenvolvimento econômico........................................................ 111
7.1.1 Origens da questão do desenvolvimento econômico................... 113
7.1.2 Desenvolvimento e subdesenvolvimento..................................... 116
7.1.3 Caminhos para o desenvolvimento............................................... 117
APRESENTAÇÃO

A฀disciplina฀Economia฀e฀Mercado฀tem฀como฀objetivo:

•฀ Identificar฀e฀compreender฀as฀formas฀de฀organização฀que฀prevaleceram฀no฀país.
•฀ Analisar฀os฀fatores฀responsáveis฀pela฀diversidade฀dos฀aspectos฀físicos฀e฀humanos฀do฀território฀brasileiro.
•฀ Identificar฀e฀compreender฀a฀dinâmica฀das฀relações฀inter฀e฀intrarregionais฀do฀território฀brasileiro.
•฀ Entender฀as฀interdependências฀e฀impactos฀das฀variáveis฀macroeconômicas฀nas฀organizações.

O฀estudante฀será฀introduzido฀aos฀problemas฀e฀dificuldades฀de฀natureza฀econômica฀do฀âmbito฀mais฀
geral฀ao฀mais฀particular,฀que฀serão฀superados฀com฀a฀apresentação฀dos฀conceitos฀da฀teoria฀econômica.฀
Por฀essa฀razão,฀o฀livro-texto฀trata฀inicialmente฀das฀questões฀econômicas฀mais฀gerais฀e฀mais฀globais,฀
partindo฀em฀seguida฀para฀o฀particular.

Este฀ material฀ está฀ dividido฀ em฀ quatro฀ partes.฀ Na฀ primeira฀ delas,฀ o฀ leitor฀ toma฀ contato฀ com฀ as฀
questões฀básicas฀da฀economia,฀estudando฀seus฀conceitos,฀os฀problemas฀econômicos฀fundamentais฀e฀a฀
importância฀do฀sistema฀econômico.

Na฀segunda฀parte,฀é฀estudado฀detalhadamente฀o฀conceito฀de฀demanda,฀oferta,฀equilíbrio฀de฀mercado,฀
teoria฀da฀produção,฀teoria฀dos฀custos฀e฀as฀estruturas฀de฀mercado.

Na฀ terceira฀ parte,฀ temos฀ a฀ introdução฀ à฀ macroeconomia.฀ Nela,฀ o฀ leitor฀ irá฀ estudar฀ temas฀ como:฀
estrutura฀básica฀da฀macroeconomia;฀o฀papel฀do฀Estado฀na฀atividade฀econômica;฀a฀definição,฀a฀função,฀
os฀tipos฀e฀a฀oferta฀de฀moeda;฀a฀política฀monetária฀e฀a฀taxa฀de฀juros.

Finalmente,฀na฀quarta฀parte,฀será฀estudado฀o฀desenvolvimento฀econômico฀e฀uma฀breve฀história฀da฀
economia฀brasileira฀será฀exposta.

INTRODUÇÃO

Esta฀disciplina฀proporcionará฀uma฀visão฀abrangente฀sobre฀economia,฀trabalhando฀noções,฀conceitos฀
e฀categorias฀de฀análise฀que฀possibilitem฀a฀reflexão฀a฀respeito฀de฀relações,฀processos฀e฀estruturas฀que฀se฀
desenvolvem฀na฀economia.

Você฀ participará฀ de฀ um฀ estudo฀ analítico฀ e฀ interpretativo฀ da฀ economia,฀ privilegiando฀ aspectos฀
econômicos,฀políticos฀e฀culturais.฀Enfim,฀partindo฀do฀processo฀histórico฀de฀formação฀e฀desenvolvimento฀
do฀ sistema฀ econômico,฀ a฀ disciplina฀ pretende฀ refletir฀ a฀ respeito฀ das฀ transformações฀ econômicas฀ que฀
ocorrem฀atualmente฀no฀mundo.

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ECONOMIA฀E฀MERCADO

QUESTÕES BÁSICAS DA ECONOMIA


E
O SISTEMA ECONÔMICO
1 QUESTÕES BÁSICAS DA ECONOMIA

1.1฀Conceito฀de฀economia

Todos฀nós฀temos฀uma฀série฀de฀necessidades.฀Precisamos฀comer,฀precisamos฀nos฀vestir,฀precisamos฀
estudar,฀precisamos฀nos฀locomover฀etc.฀Essas฀necessidades฀são฀crescentes฀e฀ilimitadas;฀no฀entanto,฀
não฀ dispomos฀ de฀ recursos฀ suficientes฀ para฀ conseguir฀ todos฀ os฀ bens฀ e฀ serviços฀ desejados฀ para฀
satisfazê-las.

Da฀ mesma฀ forma฀ como฀ os฀ indivíduos,฀ a฀ sociedade฀ possui฀ necessidades฀ que฀ precisam฀ ser฀
satisfeitas฀coletivamente,฀como฀estradas,฀defesa,฀justiça,฀escolas,฀hospitais฀entre฀outras.฀Os฀fatores฀
produtivos฀disponíveis฀para฀a฀produção฀não฀são฀suficientes฀para฀atender฀a฀todas฀as฀necessidades฀
dessa฀sociedade.

Logo,฀as฀necessidades฀humanas฀são฀ilimitadas฀e฀os฀recursos฀produtivos,฀escassos.฀É฀preciso,฀portanto,฀
definir฀como฀empregar฀esses฀fatores฀produtivos฀escassos฀na฀produção฀de฀bens฀e฀serviços,฀de฀forma฀que฀
eles฀possam฀contribuir฀da฀melhor฀maneira฀para฀a฀satisfação฀das฀necessidades฀não฀apenas฀dos฀indivíduos,฀
mas฀também฀da฀sociedade.

฀Lembrete

Economia฀ é฀ o฀ estudo฀ de฀ como฀ as฀ pessoas฀ e฀ a฀ sociedade฀ decidem฀


empregar฀recursos฀escassos,฀os฀quais฀poderiam฀ter฀utilizações฀alternativas,฀
para฀produzir฀bens฀variados.

Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11
Uma฀ das฀ preocupações฀ da฀ economia฀ é฀ estudar฀ a฀ maneira฀ como฀ se฀
administram฀ os฀ recursos฀ escassos,฀ com฀ o฀ objetivo฀ de฀ produzir฀ bens฀
e฀ serviços฀ e฀ distribuí-los฀ para฀ seu฀ consumo฀ entre฀ os฀ membros฀ da฀
sociedade.1

Portanto,฀é฀preciso฀compreender฀como฀os฀indivíduos฀devem฀empregar฀sua฀renda฀para฀ter฀o฀maior฀
aproveitamento฀possível฀e฀como฀a฀sociedade฀deve฀alcançar฀o฀maior฀nível฀de฀bem-estar฀material฀a฀partir฀
dos฀recursos฀disponíveis.

฀Disponível฀em:฀<http://pauloadministrador.blogspot.com/>.
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PARTE I

Em฀resumo,฀temos:

•฀ Economia:฀é฀um฀conjunto฀de฀conhecimentos฀especializados,฀organizados฀e฀em฀evolução.

•฀ Campo฀de฀ação:฀limita-se฀ao฀estudo฀de฀como฀uma฀determinada฀sociedade฀soluciona฀ou฀dá฀respostas฀
a฀seus฀problemas฀econômicos,฀cuja฀dimensão฀depende฀da฀desigualdade฀entre฀os฀fins฀alternativos฀
a฀que฀se฀propõe฀e฀a฀escassez฀de฀recursos฀que฀em฀parte฀é฀criada฀pela฀própria฀sociedade.

•฀ Preocupação:฀ para฀ obter฀ a฀ satisfação฀ máxima฀ das฀ necessidades,฀ que฀ são฀ ilimitadas,฀ torna-se฀
necessário฀que฀a฀economia฀se฀preocupe฀com฀os฀processos฀pelos฀quais฀os฀recursos฀escassos฀são฀
alocados฀entre฀fins฀alternativos.

•฀ Satisfação฀das฀necessidades฀individuais฀e฀coletivas:฀é฀feita฀com฀o฀consumo฀de฀bens฀e฀serviços.

1.2฀Os฀problemas฀econômicos฀fundamentais

Em฀nosso฀dia฀a฀dia,฀deparamo-nos,฀a฀todo฀o฀momento,฀com฀diversos฀entraves฀econômicos฀com฀os฀
quais฀temos฀de฀lidar,฀seja฀por฀intermédio฀de฀jornais,฀rádio,฀televisão,฀seja฀até฀mesmo฀nas฀questões฀mais฀
rotineiras,฀como:

a)฀Por฀que฀o฀nordestino฀possui฀uma฀renda฀inferior฀à฀do฀paulista?

b)฀Até฀que฀ponto฀os฀juros฀altos฀reduzem฀o฀consumo฀e฀estimulam฀os฀preços?

c)฀Por฀que฀está฀tão฀difícil฀conseguir฀um฀emprego฀nos฀dias฀atuais?

d)฀Por฀que฀o฀aumento฀no฀salário-mínimo฀provoca฀uma฀deterioração฀nas฀contas฀do฀governo?

e)฀Por฀que฀a฀carga฀tributária฀brasileira฀está฀tão฀elevada?

f)฀Como฀são฀definidos฀os฀preços฀dos฀produtos?

g)฀Como฀são฀definidos฀os฀aumentos฀de฀salários?
Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11

h)฀Como฀são฀definidas฀as฀taxas฀de฀juros฀do฀Banco฀Central?

Todas฀essas฀questões฀trazem฀implícitos฀diversos฀conceitos฀importantes฀para฀a฀ciência฀econômica:฀
escolha,฀escassez,฀necessidades,฀recursos,฀produção฀e฀distribuição.฀Mas฀para฀responder฀a฀elas฀é฀preciso฀
entender฀os฀problemas฀econômicos฀fundamentais.

Primeiro,฀deve-se฀decidir฀o฀que฀produzir฀e฀em฀que฀quantidade,฀dado฀que,฀conforme฀mencionado฀no฀
tópico฀anterior,฀os฀recursos฀de฀produção฀são฀escassos฀e฀as฀necessidades฀humanas,฀ilimitadas.

Essas฀ escolhas฀ dependem฀ de฀ vários฀ fatores,฀ como฀ a฀ perspectiva฀ de฀ lucro฀ (do฀ ponto฀ de฀ vista฀ dos฀
empresários)฀ou฀opções฀de฀política฀econômica฀e฀as฀necessidades฀da฀sociedade฀(do฀ponto฀de฀vista฀dela฀
própria).
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ECONOMIA฀E฀MERCADO

Depois฀é฀preciso฀definir฀como฀produzir.

Nesse฀ponto,฀a฀sociedade฀terá฀de฀escolher,฀dado฀o฀conhecimento฀tecnológico฀
existente,฀ quais฀ recursos฀ produtivos฀ serão฀ utilizados฀ para฀ a฀ produção฀ de฀
bens฀e฀serviços.2

Logo,฀a฀decisão฀de฀como฀produzir฀implica฀a฀escolha฀das฀técnicas,฀e฀dentre฀os฀métodos฀mais฀eficientes,฀
em฀geral,฀escolhe-se฀aquele฀mais฀barato,฀ou฀seja,฀com฀o฀menor฀custo฀possível.

Posteriormente,฀ é฀ preciso฀ decidir฀ para฀ quem฀ produzir,฀ ou฀ seja,฀ é฀ preciso฀ definir฀ tanto฀ para฀
quem฀ se฀ destinará฀ a฀ produção฀ e฀ também฀ como฀ os฀ indivíduos฀ participarão฀ da฀ distribuição฀ dos฀
resultados฀de฀sua฀produção.฀Essa฀distribuição฀depende฀fundamentalmente฀de฀como฀foi฀instituída฀
e฀ dividida฀ a฀ propriedade฀ privada฀ numa฀ determinada฀ sociedade฀ e฀ de฀ como฀ essa฀ propriedade฀ se฀
transmite฀por฀herança.

A฀distribuição฀da฀renda฀dependerá฀também฀do฀mecanismo฀de฀preços,฀que฀
atua฀por฀meio฀do฀equilíbrio฀entre฀oferta฀e฀demanda฀para฀a฀determinação฀
dos฀salários,฀das฀rendas฀da฀terra,฀dos฀juros฀e฀dos฀benefícios฀de฀capital.3

฀Lembrete

A฀economia฀é฀a฀ciência฀que฀estuda฀o฀homem฀enquanto฀ser฀social฀inserido฀
em฀um฀ambiente฀de฀escassez;฀por฀esse฀motivo,฀pode฀ser฀considerada฀como฀
uma฀ciência฀social฀aplicada.

Poderíamos฀nos฀perguntar฀quais฀as฀questões฀econômicas฀fundamentais฀de฀um฀indivíduo฀que฀recebe฀
uma฀ renda,฀ mas฀ não฀ é฀ empresário.฀ Nesse฀ caso,฀ ele฀ deve฀ decidir฀ como฀ vai฀ gastar฀ sua฀ renda฀ entre฀ os฀
diferentes฀bens฀e฀serviços฀ofertados฀para฀satisfazer฀suas฀necessidades,฀ou฀se฀escolherá฀poupar฀parte฀dela฀
ao฀invés฀de฀consumir฀todo฀o฀montante฀recebido.

Na฀hora฀de฀suas฀decisões฀de฀consumo,฀o฀indivíduo฀levará฀em฀conta฀não฀apenas฀suas฀necessidades,฀

Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11
mas฀ os฀ preços฀ dos฀ bens฀ e฀ suas฀ preferências,฀ inclusive฀ entre฀ consumo฀ presente฀ ou฀ consumo฀ futuro฀
(representado฀pela฀poupança).

฀Lembrete

O฀ problema฀ econômico฀ fundamenta-se฀ na฀ ideia฀ da฀ escassez;฀ logo,฀ é฀


necessário฀ser฀definido:฀o฀que฀produzir,฀como฀produzir฀e฀para฀quem฀produzir.

฀Disponível฀em:฀<http://antigo.qi.com.br/professor/downloads/download8662.doc>.
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฀Disponível฀em:฀<http://www.scribd.com/doc/13145388/Apostila-de-Economia>.
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PARTE I

É฀preciso฀ter฀claro฀que฀essas฀questões฀(o฀que,฀quanto,฀como฀e฀para฀quem฀
produzir,฀e฀até฀mesmo฀o฀que฀consumir)฀não฀seriam฀problemas฀se฀os฀recursos฀
produtivos฀disponíveis฀fossem฀ilimitados.4

Assim,฀a฀economia฀e฀seus฀entraves฀fundamentais฀originam-se฀da฀carência฀de฀recursos฀produtivos.

As฀quatro฀perguntas฀fundamentais฀em฀economia

1.฀O฀que฀produzir?

Indica฀que฀é฀necessário฀identificar฀a฀natureza฀das฀necessidades฀humanas,฀para฀saber฀quais฀bens฀e฀
serviços฀produzir.

2.฀Quanto฀produzir?

Reconhece฀a฀limitação฀existente฀na฀disponibilidade฀dos฀fatores฀produtivos.

3.฀Como฀produzir?

É฀uma฀questão฀técnica,฀a฀qual฀indica฀que฀há฀várias฀maneiras฀de฀combinar฀os฀fatores฀de฀produção฀
para฀a฀obtenção฀de฀bens฀e฀serviços.

4.฀Para฀quem฀produzir?

Envolve฀a฀questão฀da฀distribuição฀dos฀bens฀e฀dos฀serviços฀produzidos฀entre฀os฀elementos฀da฀sociedade.

1.3฀A฀lei฀da฀escassez฀de฀recursos

Na฀economia฀tudo฀está฀pautado฀na฀busca฀por฀produzir฀o฀máximo฀de฀bens฀e฀serviços฀com฀os฀recursos฀
limitados฀disponíveis,฀pois,฀como฀já฀destacado,฀não฀é฀possível฀a฀produção฀de฀uma฀quantidade฀infinita฀
de฀cada฀bem,฀capaz฀de฀satisfazer฀completamente฀aos฀desejos฀humanos.฀Uma฀vez฀que฀os฀nossos฀desejos฀
materiais฀são฀virtualmente฀ilimitados฀e฀insaciáveis,฀e฀os฀recursos฀produtivos,฀escassos,฀não฀podemos฀ter฀
Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11

tudo฀o฀que฀desejamos฀e,฀portanto,฀é฀imperativo฀que฀o฀homem฀faça฀escolhas.

Logo,฀um฀dos฀objetos฀de฀estudo฀da฀ciência฀econômica฀é฀a฀escassez,฀porque฀esta฀consiste฀no฀problema฀
econômico฀por฀excelência.฀Consequentemente,฀a฀escassez฀de฀recursos฀de฀produção฀resulta฀na฀escassez฀
dos฀bens.

Afirmar฀que฀os฀bens฀são฀econômicos฀implica฀que฀eles฀são฀relativamente฀raros฀ou฀limitados.฀
Mas฀o฀fato฀de฀existir฀um฀bem฀em฀pouca฀quantidade฀não฀o฀define฀como฀escasso.฀É฀preciso,฀então,฀
que฀esse฀bem฀seja฀desejado,฀procurado.฀A฀escassez฀só฀existe฀se฀houver฀procura฀(ou฀demanda)฀para฀
a฀obtenção฀do฀bem.

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฀Disponível฀em:฀<http://www.scribd.com/doc/7160071/Manual-de-Economia-Profess-Ores-Da-Usp>.
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ECONOMIA฀E฀MERCADO

Ora,฀mas฀por฀que฀um฀determinado฀bem฀é฀procurado฀(ou฀demandado)?

Um฀ bem฀ é฀ demandado฀ porque฀ tem฀ a฀ capacidade฀ de฀ satisfazer฀ uma฀


necessidade฀humana,฀ou฀seja,฀tem฀utilidade.5

Assim,฀os฀bens฀econômicos฀são฀aqueles฀escassos฀em฀quantidade,฀dada฀sua฀
procura,฀ e฀ apropriáveis.฀ Os฀ bens฀ econômicos฀ têm฀ como฀ característica฀ a฀
utilidade,฀a฀escassez฀e฀a฀possibilidade฀de฀transferência.

Os฀ bens฀ livres,฀ por฀ outro฀ lado,฀ são฀ aqueles฀ disponíveis฀ em฀ quantidade฀
suficiente฀para฀satisfazer฀todo฀o฀mundo;฀portanto,฀ilimitados฀em฀quantidade฀
ou฀muito฀abundantes฀e฀nada฀apropriáveis.

Mas฀o฀que฀seriam,฀então,฀as฀necessidades฀humanas?฀Este฀poderia฀ser฀um฀
conceito฀relativo,฀vago฀e฀filosófico,฀já฀que฀os฀desejos฀dos฀indivíduos฀não฀são฀
fixos.

Mas฀ para฀ a฀ economia,฀ as฀ necessidades฀ humanas฀ relevantes฀ são฀ aqueles฀


desejos฀que฀envolvem฀a฀escolha฀de฀um฀bem฀econômico฀capaz฀de฀contribuir฀
para฀a฀sobrevivência฀ou฀para฀a฀realização฀social฀do฀indivíduo.

As฀necessidades฀podem฀ser฀classificadas฀em:

•฀Básicas฀ou฀primárias:฀indispensáveis฀para฀nossa฀sobrevivência฀ou฀sem฀as฀
quais฀nossa฀vida฀será฀insuportável.
Exemplo:฀alimentação,฀saúde,฀habitação,฀vestuário฀entre฀outros.

•฀Secundárias:฀desejadas฀pelo฀convívio฀social.
Exemplo:฀educação,฀transporte,฀lazer฀e฀turismo.6

1.3.1฀Tipos฀de฀bens฀econômicos

Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11
Como฀já฀vimos,฀os฀bens฀econômicos฀são฀aqueles฀que฀possuem฀uma฀raridade฀
relativa,฀ou฀seja,฀possuem฀um฀preço.

Esses฀ bens฀ econômicos,฀ quando฀ se฀ destinam฀ à฀ satisfação฀ direta฀ de฀


necessidades฀humanas,฀são฀chamados฀bens฀de฀consumo฀ou฀bens฀finais.฀São฀
todos฀aqueles฀bens฀que฀já฀estão฀aptos฀a฀serem฀consumidos฀sem฀a฀necessidade฀
de฀qualquer฀outra฀transformação.

฀Disponível฀em:฀<http://www.jorgerodriguessimao.com/economia/principios-gerais-de-economia.html?showall=1>.
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฀Disponível฀em:฀<http://www.scribd.com/doc/28679535/Economia-e-Mercado>.
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PARTE I

Os฀bens฀de฀consumo฀podem฀ser฀divididos฀em฀bens฀de฀consumo฀duráveis,฀
que฀ podem฀ ser฀ utilizados฀ por฀ um฀ período฀ mais฀ prolongado฀ –฀ automóvel,฀
geladeira฀–฀e฀os฀bens฀de฀consumo฀não฀duráveis,฀que฀devem฀ser฀consumidos฀
imediatamente฀ou฀são฀utilizados฀apenas฀uma฀vez฀ou฀poucas฀vezes,฀como฀
alimentos฀e฀roupas.

Os฀ bens฀ destinados฀ à฀ fabricação฀ de฀ outros฀ e฀ absorvidos฀ pelo฀ processo฀ de฀
produção฀são฀chamados฀de฀bens฀intermediários.

Esses฀bens฀sofrem฀novas฀transformações฀antes฀de฀se฀converterem฀em฀bens฀
de฀consumo฀ou฀de฀capital฀e฀possuem฀um฀ciclo฀curto฀no฀processo฀produtivo,฀
sendo฀totalmente฀consumidos฀neste.7

São฀exemplos฀de฀bens฀intermediários:฀matérias-primas,฀material฀de฀escritório,฀insumos,฀barras฀de฀
ferro,฀peças฀de฀reposição฀entre฀outros.

Os฀bens฀de฀capital฀também฀são฀utilizados฀na฀geração฀de฀outros฀bens,฀mas฀não฀se฀desgastam฀
totalmente฀no฀processo฀produtivo,฀ou฀seja,฀não฀são฀absorvidos฀no฀processo฀de฀produção.

Uma฀característica฀importante฀desses฀bens฀é฀que฀eles฀contribuem฀para฀
a฀ melhoria฀ da฀ produtividade฀ da฀ mão฀ de฀ obra.฀ São฀ exemplos฀ de฀ bens฀
de฀capital:฀máquinas,฀equipamentos฀e฀instalações.฀Os฀bens฀de฀capital,฀
como฀não฀são฀consumidos฀no฀processo฀de฀produção,฀também฀são฀bens฀
finais.8

1.4฀Os฀recursos฀ou฀fatores฀de฀produção

Para฀que฀se฀obtenha฀a฀satisfação฀das฀necessidades฀humanas,฀é฀necessário฀
produzir฀ bens฀ e฀ serviços.฀ E฀ a฀ produção฀ exigiria฀ o฀ emprego฀ de฀ recursos฀
produtivos฀e฀bens฀elaborados.9

Os฀recursos฀de฀produção฀ou฀fatores฀de฀produção฀da฀economia฀são฀aqueles฀utilizados฀no฀processo฀
Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11

produtivo฀ para฀ obter฀ outros฀ bens฀ e฀ serviços,฀ com฀ o฀ objetivo฀ de฀ satisfazer฀ as฀ necessidades฀ dos฀
consumidores.

7
฀Disponível฀em:฀<http://www.scribd.com/doc/28679535/Economia-e-Mercado>.
8
฀Idem.
9
฀Disponível฀em:฀<http://pauloadministrador.blogspot.com/>.

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ECONOMIA฀E฀MERCADO

Fator฀de฀produção Definição

Terra฀ou฀recursos฀naturais฀ Água,฀minerais,฀madeiras,฀solo฀para฀fábricas.

Recursos฀humanos฀ou฀trabalho฀ Faculdades฀físicas฀e฀intelectuais.

Constitui-se฀daqueles฀indivíduos฀que฀
reúnem฀os฀capitais฀para฀adquirir฀recursos฀
Capacidade฀empresarial฀
produtivos฀e฀produzir฀bens฀e฀serviços฀para฀o฀
mercado.

Engloba฀os฀bens฀e฀serviços฀necessários฀
para฀a฀produção฀de฀outros฀bens฀e฀serviços,฀
Capital
como฀máquinas,฀equipamentos,฀instalações,฀
dinheiro,฀ferramentas,฀capital฀financeiro.

Tecnologia Todos฀os฀recursos฀tecnológicos฀disponíveis฀
para฀a฀empresa.

Quadro฀1

É฀ importante฀ ressaltar฀ que฀ a฀ cada฀ fator฀ de฀ produção฀ corresponde฀ uma฀ remuneração.฀ O฀
aluguel฀ constitui฀ a฀ remuneração฀ da฀ terra;฀ ao฀ trabalho฀ corresponde฀ o฀ pagamento฀ de฀ salários;฀ à฀
capacidade฀empresarial฀corresponde฀o฀lucro;฀o฀juro฀paga฀o฀uso฀do฀capital;฀e฀a฀tecnologia฀é฀paga฀
com฀royalties.

฀Lembrete

Os฀cinco฀fatores฀de฀produção฀são:฀terra,฀trabalho,฀capacidade฀empresarial,฀
capital฀e฀tecnologia.

Fator฀de฀produção Tipo฀de฀remuneração

Terra฀ Aluguel

Trabalho Salário

Capacidade฀empresarial฀ Lucro฀

Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11
Capital฀ Juro฀

Tecnologia฀ Royalties

Quadro฀2

A฀produção,฀portanto,฀é฀o฀processo฀de฀transformar฀matérias-primas฀em฀produtos฀acabados,฀utilizando,฀
para฀tanto,฀os฀bens฀de฀capital,฀os฀bens฀intermediários฀e฀a฀mão฀de฀obra.

A฀produção฀econômica฀é฀obtida฀com฀a฀combinação฀de฀recursos฀naturais,฀equipamentos฀e฀trabalho.฀
Tais฀elementos,฀pelo฀fato฀de฀serem฀necessários฀às฀produções,฀recebem฀o฀nome฀de฀fatores฀de฀produção฀e฀
agrupam-se,฀tradicionalmente,฀em฀três฀itens:

12

Economia_e_mercado.indb 17 03/06/2011 11:05:20


PARTE I

1.฀Trabalho:฀é฀a฀contribuição฀do฀ser฀humano,฀na฀produção,฀em฀forma฀de฀atividade฀física฀ou฀mental.

2.฀Capital:฀é฀o฀conjunto฀de฀equipamentos,฀ferramentas฀e฀máquinas฀produzidos฀pelo฀homem,฀que฀
não฀se฀destinam฀à฀satisfação฀das฀necessidades฀por฀meio฀do฀consumo,฀mas฀concorrem฀para฀a฀produção฀
de฀bens฀e฀de฀serviços,฀aumentando฀a฀eficiência฀do฀trabalho.

3.฀Recursos฀naturais:฀são฀os฀elementos฀da฀natureza฀utilizados฀pelo฀homem฀com฀a฀finalidade฀de฀
criar฀bens.฀Ex.:฀a฀terra฀(agricultura),฀a฀água฀(fornecer฀energia),฀os฀minerais,฀os฀animais฀etc.

A฀riqueza฀de฀um฀país,฀num฀determinado฀momento,฀é฀formada฀por฀fatores฀de฀produção฀disponíveis,฀
pelos฀bens฀que฀estão฀sendo฀produzidos฀e฀pelos฀que฀já฀o฀foram,฀mas฀que฀ainda฀não฀desapareceram.

฀Saiba฀mais

A฀seguir,฀uma฀indicação฀de฀leitura฀que฀pode฀propiciar฀uma฀inter-relação฀
com฀os฀conteúdos฀da฀unidade:

VASCONCELLOS,฀M.฀A.;฀GARCIA,฀M.฀E.฀Fundamentos฀de฀Economia.฀3฀ed.฀
São฀Paulo:฀Saraiva,฀2008.

1.5฀Custo฀de฀oportunidade฀e฀curva฀de฀possibilidades฀de฀produção

1.5.1฀Custo฀de฀oportunidade

Conforme฀o฀analisado,฀os฀recursos฀produtivos฀são฀escassos฀e฀as฀necessidades฀humanas,฀ilimitadas,฀e฀por฀
existir฀a฀escassez,฀os฀agentes฀econômicos฀devem฀decidir฀onde฀e฀como฀aplicar฀os฀recursos฀disponíveis.

Fazemos฀isso฀todo฀o฀tempo฀em฀nosso฀dia฀a฀dia,฀no฀supermercado,฀em฀nossas฀decisões฀de฀compras,฀
porque฀só฀é฀possível฀satisfazer฀uma฀necessidade฀desistindo฀da฀satisfação฀de฀outra.

Não฀há฀capital฀nem฀trabalho,฀nem฀terra,฀nem฀tecnologia฀suficientes฀para฀produzir฀tudo฀aquilo฀que฀se฀
Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11

deseja.฀A฀remuneração฀desses฀fatores฀também฀é฀restrita,฀limitando฀as฀possibilidades฀de฀consumo.

A฀escassez฀força฀os฀indivíduos,฀as฀famílias,฀as฀empresas฀e฀até฀os฀governos฀a฀fazerem฀escolhas.฀Os฀
indivíduos,฀por฀exemplo,฀devem฀decidir฀como฀gastar฀sua฀renda฀e฀que฀necessidades฀devem฀priorizar.

As฀empresas฀devem฀decidir฀se฀ampliam฀o฀capital฀produtivo฀ou฀investem฀no฀mercado฀financeiro.฀Os฀governos฀
devem฀decidir฀se฀pagam฀uma฀parcela฀de฀suas฀dívidas฀ou฀fazem฀investimentos฀em฀educação฀e฀saúde.

Mas฀uma฀vez฀que฀um฀desses฀agentes฀econômicos฀decida,฀estará฀necessariamente฀deixando฀outras฀
possibilidades.฀Assim,฀em฀um฀mundo฀de฀recursos฀limitados,฀a฀oportunidade฀de฀produzir฀um฀bem฀implica฀
deixar฀de฀produzir฀outro.
13

Economia_e_mercado.indb 18 03/06/2011 11:05:20


ECONOMIA฀E฀MERCADO

Como฀toda฀escolha,฀a฀de฀satisfação฀de฀certas฀necessidades฀em฀detrimento฀de฀outras฀envolve฀ganhos฀
e฀perdas.

Por฀isso,฀quando฀decidem฀gastar฀ou฀produzir,฀empresas,฀governos฀ou฀famílias฀
estarão฀renunciando฀a฀outras฀possibilidades.฀A฀opção฀de฀abandonar฀para฀poder฀
produzir฀ou฀obter฀outra฀se฀associa฀ao฀conceito฀de฀custo฀de฀oportunidade.

O฀custo฀de฀oportunidade฀de฀um฀bem฀ou฀serviço฀é฀a฀quantidade฀de฀outros฀
bens฀ou฀serviços฀a฀que฀se฀deve฀renunciar฀para฀obtê-lo.10

Assim,฀o฀custo฀de฀oportunidade฀é฀o฀sacrifício฀do฀que฀se฀deixou฀de฀produzir,฀o฀custo฀
ou฀a฀perda฀do฀que฀não฀foi฀escolhido,฀e฀não฀o฀ganho฀do฀que฀foi฀escolhido.11

O฀ custo฀ de฀ oportunidade฀ também฀ é฀ chamado฀ custo฀ alternativo,฀ por฀


representar฀o฀custo฀da฀produção฀alternativa฀sacrificada.12

1.5.2฀Curva฀de฀possibilidades฀de฀produção

Dada฀a฀escassez฀de฀recursos฀da฀economia,฀os฀agentes฀econômicos฀são฀obrigados฀a฀fazer฀escolhas.฀
Quando฀um฀bem฀é฀escasso,฀os฀indivíduos฀são฀forçados฀a฀escolher฀como฀o฀usar.

Em฀consequência,฀existe฀uma฀troca:฀satisfazer฀uma฀necessidade฀implica฀a฀não฀satisfação฀de฀outra.

A฀curva฀de฀possibilidades฀de฀produção฀mostra฀as฀trocas฀que฀os฀indivíduos,฀as฀empresas฀ou฀os฀governos฀
são฀obrigados฀a฀fazer฀devido฀à฀escassez฀de฀recursos.

Suponhamos฀uma฀determinada฀sociedade,฀em฀que฀exista฀certo฀número฀de฀indivíduos,฀uma฀tecnologia฀
dada,฀ uma฀ quantidade฀ definida฀ de฀ empresas,฀ instrumentos฀ de฀ produção฀ e฀ recursos฀ naturais.฀ Como฀
os฀fatores฀produtivos฀são฀limitados,฀a฀produção฀total฀dessa฀sociedade฀tem฀um฀limite฀máximo฀a฀que฀
chamaremos฀de฀produto฀de฀pleno฀emprego.

Nesse฀nível฀de฀produção,฀todos฀os฀recursos฀disponíveis฀estão฀empregados,฀todos฀os฀trabalhadores฀

Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11
estão฀trabalhando,฀todos฀os฀instrumentos฀de฀produção฀estão฀sendo฀utilizados,฀todas฀as฀fábricas฀estão฀
em฀completo฀funcionamento฀e฀os฀recursos฀naturais฀são฀plenamente฀aproveitados.

Vamos฀supor,฀ainda,฀que฀essa฀economia฀produza฀apenas฀alimentos฀e฀roupas.

Haverá฀ sempre฀ uma฀ quantidade฀ máxima฀ de฀ alimentos฀ produzidos฀


mensalmente฀quando฀todos฀os฀recursos฀forem฀destinados฀à฀sua฀produção,฀
sem฀que฀nenhum฀se฀destine฀à฀produção฀de฀roupas.฀Haverá฀também฀uma฀

10
฀Disponível฀em:฀<http://pauloadministrador.blogspot.com/>.
11
฀Disponível฀em:฀<http://www.scribd.com/doc/7160071/Manual-de-Economia-Profess-Ores-Da-Usp>.
12
฀Disponível฀em:฀<http://www.jorgerodriguessimao.com/economia/principios-gerais-de-economia.html?showall=1>.

14

Economia_e_mercado.indb 19 03/06/2011 11:05:20


PARTE I

quantidade฀máxima฀de฀roupas฀produzidas฀mensalmente฀quando฀todos฀os฀
recursos฀forem฀destinados฀à฀sua฀produção,฀sem฀que฀nenhum฀se฀destine฀à฀
produção฀de฀alimentos.13

Entre฀ as฀ quantidades฀ máximas฀ de฀ roupas฀ e฀ alimentos฀ que฀ podem฀ ser฀ produzidas,฀ existe฀ uma฀
série฀infinita฀de฀possibilidades฀de฀combinações฀de฀quantidades฀de฀roupas฀e฀alimentos฀que฀podem฀ser฀
produzidos฀naquela฀sociedade,฀com฀aquele฀nível฀de฀tecnologia฀e฀com฀aqueles฀recursos฀disponíveis฀sendo฀
plenamente฀utilizados.

Suponhamos฀que฀as฀alternativas฀de฀produção฀de฀roupas฀e฀alimentos฀sejam฀as฀colocadas฀na฀tabela฀a฀seguir:

Alternativas฀de฀produção Alimentos฀(toneladas) Roupas฀(milhares)


1 10 160
2 20 150
3 30 130
4 40 100
5 50 60
6 60 0

Quadro฀3

Alimentos
(toneladas)

6
60
5
50

4
40
3
30
2
20
1
10
Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11

0 60 100 130 150 160 180 Roupas


(milhares)

Figura฀1฀–฀Curva฀de฀possibilidades฀de฀produção

A฀essa฀curva,฀que฀ilustra฀possibilidades฀de฀combinações฀intermediárias฀entre฀roupas฀e฀alimentos,฀
chamamos฀ de฀ curva฀ de฀ possibilidades฀ de฀ produção฀ ou฀ curva฀ de฀ transformação.฀ Ela฀ indica฀ todas฀ as฀
possibilidades฀ de฀ produção฀ de฀ alimentos฀ e฀ roupas฀ nessa฀ construção฀ econômica฀ hipotética.฀ A฀ curva฀
de฀ possibilidades฀ de฀ produção฀ é฀ um฀ conceito฀ teórico฀ para฀ ilustrar฀ a฀ capacidade฀ produtiva฀ de฀ uma฀
sociedade.

13
฀Disponível฀em:฀<http://www.scribd.com/doc/7160071/Manual-de-Economia-Profess-Ores-Da-Usp>.
15

Economia_e_mercado.indb 20 03/06/2011 11:05:20


ECONOMIA฀E฀MERCADO

Por฀meio฀dessa฀curva,฀podemos฀perceber฀claramente฀que฀numa฀economia฀
em฀pleno฀emprego,฀ao฀produzir฀um฀bem,฀estaremos฀sempre฀desistindo฀de฀
produzir฀certa฀quantidade฀de฀outro฀bem.14

Em฀ resumo,฀ para฀ conseguirmos฀ uma฀ quantidade฀ constante฀ adicional฀ de฀ um฀ bem฀ (alimentos),฀
precisaremos฀renunciar฀a฀quantidades฀crescentes฀de฀outro฀(roupas).

Uma฀vez฀que฀cada฀uma฀das฀combinações฀sobre฀a฀curva฀de฀possibilidades฀de฀produção฀é฀tecnicamente฀
eficiente,฀ a฀ sociedade฀ escolherá฀ uma฀ delas฀ em฀ função฀ dos฀ preços฀ dos฀ produtos฀ e฀ das฀ quantidades฀
desejadas฀de฀cada฀um฀deles.

Para฀as฀empresas฀também฀é฀possível฀construir฀uma฀curva฀de฀possibilidades฀de฀produção฀semelhante฀
ao฀ exemplo฀ que฀ elaboramos฀ anteriormente.฀ Mas,฀ no฀ lugar฀ dos฀ bens฀ produzidos฀ pela฀ sociedade,฀
construiremos฀uma฀curva฀contrapondo฀os฀produtos฀a฀serem฀produzidos฀por฀elas.

Enfatizando,฀uma฀empresa฀precisa฀sempre฀decidir฀quais฀produtos฀produzir฀e฀em฀que฀quantidade.฀
Será฀a฀interação฀entre฀preços฀e฀quantidades฀de฀mercado฀que฀darão฀essa฀resposta,฀supondo-se฀que฀os฀
empresários฀são฀agentes฀racionais฀e฀procuram฀sempre฀economizar฀os฀fatores฀escassos,฀cujo฀objetivo฀é฀
maximizar฀lucros.

Observemos:
Crescimento฀econômico
Alimentos
(toneladas)

Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11
Roupas
(milhares)

Figura฀2฀–฀Crescimento฀econômico

De฀acordo฀com฀o฀gráfico฀anterior,฀se฀houver฀uma฀expansão฀dos฀fatores฀de฀produção,฀ou฀se฀houver฀um฀
melhor฀aproveitamento฀dos฀recursos฀produtivos฀já฀utilizados,฀ou,฀ainda,฀se฀a฀tecnologia฀utilizada฀sofrer฀
algum฀avanço,฀haverá฀crescimento฀econômico฀na฀sociedade฀e฀a฀curva฀de฀possibilidades฀de฀produção฀se฀
deslocará฀para฀cima฀e฀para฀a฀direita.฀Logo,฀a฀economia฀poderá฀dispor฀de฀maiores฀quantidades฀tanto฀de฀
alimentos฀quanto฀de฀roupas.

฀Disponível฀em:฀<http://www.scribd.com/doc/7160071/Manual-de-Economia-Profess-Ores-Da-Usp>.
14

16

Economia_e_mercado.indb 21 03/06/2011 11:05:20


PARTE I

฀Lembrete

Os฀ agentes฀ econômicos฀ são฀ famílias,฀ empresas,฀ governo฀ e฀ resto฀ do฀


mundo.

A฀ expansão฀ dos฀ fatores฀ produtivos฀ ou฀ a฀ melhora฀ no฀ seu฀ aproveitamento,฀ bem฀ como฀ os฀ avanços฀
tecnológicos฀ dependem฀ significativamente฀ de฀ um฀ aumento฀ nos฀ investimentos.฀ Assim,฀ os฀ agentes฀
econômicos฀–฀famílias,฀empresas฀e฀governo฀–฀precisam฀reduzir฀seu฀consumo฀atual฀e฀direcionar฀parte฀de฀
seus฀recursos฀para฀a฀poupança,฀para฀que฀ela฀esteja฀disponível฀para฀investimento.

Outro฀elemento฀importante฀para฀o฀crescimento฀econômico,฀tanto฀quanto฀o฀investimento,฀é฀a฀divisão฀
do฀trabalho.฀Um฀aumento฀da฀divisão฀do฀trabalho฀permite฀que฀os฀trabalhadores฀se฀tornem฀mais฀produtivos,฀
com฀um฀aumento฀da฀especialização฀do฀trabalho,฀elevando฀também฀os฀volumes฀negociados฀no฀comércio.

2 O SISTEMA ECONÔMICO

2.1฀O฀que฀vem฀a฀ser฀um฀sistema฀econômico?

Sabe-se฀que฀a฀economia฀de฀cada฀país฀funciona฀de฀maneira฀distinta;฀no฀entanto,฀em฀linhas฀gerais,฀a฀maior฀
parte฀dos฀países฀no฀mundo฀possui฀o฀mesmo฀sistema฀econômico.฀Mas,฀afinal,฀o฀que฀é฀um฀sistema฀econômico?

Ora,฀ se฀ entre฀ as฀ questões฀ da฀ economia฀ estão฀ as฀ decisões฀ de฀ o฀ que,฀ quanto,฀ como฀ e฀ para฀ quem฀
produzir฀de฀forma฀eficiente,฀num฀contexto฀de฀necessidades฀ilimitadas,฀mas฀com฀recursos฀produtivos฀e฀
tecnologia฀limitada,฀é฀necessário฀que฀uma฀sociedade฀se฀organize฀para฀tal.

As฀atividades฀comuns฀a฀qualquer฀sistema฀econômico฀são฀a฀produção,฀o฀consumo฀e฀as฀trocas.

O฀sistema฀econômico฀é฀a฀maneira฀como฀a฀sociedade฀organiza฀sua฀produção,฀distribuição฀e฀consumo฀de฀
bens฀e฀serviços,฀para฀que฀seja฀alcançado,฀nessa฀sociedade,฀o฀maior฀nível฀de฀bem-estar฀possível.฀Essa฀organização฀
envolve฀tanto฀a฀dimensão฀econômica,฀como฀também฀a฀dimensão฀social฀e฀política฀de฀uma฀sociedade.
Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11

No฀entanto,฀é฀preciso฀ter฀em฀mente฀que฀as฀comunidades฀não฀simplesmente฀“escolhem”฀um฀sistema฀
econômico,฀ mas฀ ele฀ é฀ fruto฀ de฀ um฀ processo฀ histórico฀ de฀ lutas,฀ guerras,฀ disputas฀ de฀ interesses,฀ que฀
acabam฀definindo฀a฀forma฀de฀a฀sociedade฀se฀organizar฀social,฀política฀e฀economicamente.

Um฀sistema฀econômico,฀então,฀é฀o฀conjunto฀de฀relações฀técnicas,฀básicas฀e฀
institucionais,฀que฀caracterizam฀a฀organização฀social,฀econômica฀e฀política฀
da฀sociedade.15

Essas฀relações฀condicionam฀as฀decisões฀fundamentais฀da฀sociedade฀e฀quais฀as฀atividades฀que฀serão฀
as฀mais฀importantes฀dentro฀da฀comunidade.
15
฀Disponível฀em:฀<http://www.scribd.com/doc/13145388/Apostila-de-Economia>.

17

Economia_e_mercado.indb 22 03/06/2011 11:05:20


ECONOMIA฀E฀MERCADO

Tradicionalmente,฀classificam-se฀os฀sistemas฀econômicos฀em:

•฀ Economia฀de฀mercado฀ou฀capitalista:฀a฀base฀desse฀sistema฀econômico฀é฀a฀propriedade฀privada฀dos฀
bens฀de฀produção฀e฀do฀capital,฀em฀que฀predomina฀a฀livre-iniciativa.

Numa฀economia฀de฀mercado,฀as฀decisões฀de฀o฀que,฀como฀e฀para฀quem฀produzir฀são฀definidas฀pela฀concorrência,฀
e฀o฀sistema฀de฀preços,฀regulado฀pelo฀mecanismo฀de฀oferta฀e฀demanda,฀tem฀pouca฀interferência฀do฀Estado.

Nessa฀economia:

–฀O฀que฀produzir฀é฀definido฀pela฀demanda฀dos฀consumidores฀no฀mercado.

–฀Quanto฀produzir฀é฀determinado฀pela฀interação฀entre฀consumidores฀e฀produtores฀no฀mercado,฀com฀
o฀devido฀ajustamento฀dos฀preços.

–฀Como฀produzir฀é฀determinado฀pela฀concorrência฀entre฀os฀produtores.

–฀Para฀quem฀produzir฀é฀determinado฀pela฀oferta฀e฀demanda฀no฀mercado฀de฀fatores฀de฀produção฀e฀a฀
produção฀se฀destina฀a฀quem฀tem฀renda฀para฀pagar.

•฀ Economia฀socialista฀ou฀planificada:฀nessa฀economia,฀as฀decisões฀sobre฀o฀que,฀quanto,฀como฀e฀para฀
quem฀produzir฀são฀determinadas฀por฀órgãos฀de฀planejamento฀do฀governo,฀e฀não฀pelo฀sistema฀de฀
preços฀e฀pela฀concorrência฀intercapitalista.

Os฀ meios฀ de฀ produção฀ –฀ máquinas,฀ equipamentos,฀ matérias-primas,฀


instrumentos,฀ terras,฀ minas,฀ bancos,฀ entre฀ outros฀ –฀ são฀ considerados฀
propriedade฀de฀todo฀o฀povo฀(propriedade฀coletiva฀ou฀social).฀Os฀meios฀de฀
sobrevivência,฀ como฀ roupas,฀ automóveis,฀ eletrodomésticos,฀ móveis,฀ entre฀
outros,฀pertencem฀aos฀indivíduos.฀As฀residências฀pertencem฀ao฀Estado.16

•฀ Economia฀mista:฀surge฀a฀partir฀da฀década฀de฀30฀do฀século฀XX,฀quando฀ainda฀prevalecem฀a฀livre-฀iniciativa,฀
a฀propriedade฀privada฀e฀as฀forças฀de฀mercado,฀mas฀há฀grande฀participação฀do฀Estado฀não฀apenas฀na฀

Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11
produção฀de฀bens฀e฀serviços,฀mas฀também฀na฀alocação฀e฀na฀distribuição฀de฀recursos.฀O฀Estado฀também฀
atua฀nas฀áreas฀de฀infraestrutura,฀energia,฀saneamento฀e฀telecomunicações.

฀Lembrete

Existem,฀basicamente,฀três฀sistemas฀econômicos฀no฀mundo:฀economia฀
de฀ mercado,฀ economia฀ socialista฀ e฀ economia฀ mista.฀ No฀ Brasil,฀ o฀ sistema฀
utilizado฀é฀o฀de฀mercado.

16
฀Disponível฀em:฀<http://www.scribd.com/doc/7160071/Manual-de-Economia-Profess-Ores-Da-Usp>.

18

Economia_e_mercado.indb 23 03/06/2011 11:05:20


PARTE II

Vamos฀definir฀o฀que฀é฀“mercado”?

Como฀ já฀ vimos,฀ numa฀ economia฀ de฀ mercado,฀ os฀ preços฀ dos฀ produtos฀ a฀ serem฀ vendidos฀ são,฀ em฀
geral,฀estabelecidos฀pela฀livre฀concorrência฀entre฀os฀produtores฀e฀os฀consumidores฀e฀pelo฀mecanismo฀de฀
preços,฀quando฀há฀compra฀e฀venda฀tanto฀de฀bens฀e฀serviços,฀como฀de฀fatores฀de฀produção.

O฀ mercado฀ é฀ toda฀ instituição฀ social฀ na฀ qual฀ bens,฀ serviços฀ e฀ fatores฀ de฀ produção฀ são฀ trocados฀
livremente,฀ troca฀ esta฀ mediada฀ pela฀ moeda.฀ Na฀ economia฀ de฀ mercado,฀ os฀ consumidores฀ tentarão฀
maximizar฀seu฀bem-estar฀e฀os฀produtores฀tentarão฀maximizar฀seu฀lucro.

Como฀funciona฀então฀o฀mecanismo฀de฀preços?

Quando฀os฀consumidores฀vão฀ao฀mercado฀em฀busca฀de฀maiores฀quantidades฀de฀certa฀mercadoria,฀
o฀preço฀desta฀sobe,฀indicando฀ao฀produtor฀que฀há฀falta฀desse฀produto.฀O฀produtor,฀por฀sua฀vez,฀eleva฀a฀
produção฀dessa฀mercadoria,฀com฀o฀objetivo฀de฀obter฀maiores฀lucros฀ao฀vendê-la฀a฀um฀preço฀mais฀alto.

Com฀o฀aumento฀contínuo฀dos฀preços,฀os฀consumidores฀passam฀então฀a฀demandar฀uma฀quantidade฀
menor฀ dessa฀ mercadoria,฀ e,฀ ao฀ reduzir฀ o฀ consumo,฀ elevam-se฀ os฀ estoques฀ dos฀ produtores,฀ os฀ quais฀
são฀obrigados฀a฀reduzir฀o฀preço฀do฀produto.฀A฀queda฀na฀demanda฀e฀nos฀preços฀sinaliza฀ao฀produtor฀a฀
necessidade฀de฀reduzir฀a฀produção฀da฀mercadoria.

2.2฀Os฀fluxos฀reais฀e฀monetários฀da฀economia

O฀funcionamento฀de฀uma฀economia฀de฀mercado฀depende฀do฀entendimento฀de฀quem฀são฀os฀principais฀
agentes฀econômicos฀que฀interferem฀no฀sistema฀econômico฀e฀que฀papel฀cada฀um฀deles฀exerce฀dentro฀da฀
organização฀desse฀sistema.

Como฀já฀apresentado,฀os฀principais฀agentes฀econômicos฀são฀as฀famílias,฀as฀empresas฀e฀o฀governo฀–฀e฀
mais฀tarde฀o฀resto฀do฀mundo.฀São฀esses฀agentes฀os฀responsáveis฀por฀toda฀a฀atividade฀econômica฀de฀uma฀
determinada฀sociedade.

As฀ famílias฀ são฀ proprietárias฀ dos฀ fatores฀ de฀ produção฀ e฀ os฀ fornecem฀ às฀
unidades฀de฀produção.฀As฀empresas,฀por฀sua฀vez,฀por฀meio฀da฀combinação฀
desses฀fatores,฀produzem฀bens฀e฀serviços฀e฀os฀fornecem฀às฀famílias฀por฀meio฀
Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11

do฀mercado฀de฀bens฀e฀serviços.17

O฀governo฀cuida฀da฀segurança,฀da฀educação,฀da฀saúde,฀da฀defesa฀dos฀cidadãos฀e฀de฀seus฀direitos.฀
Além฀disso,฀ele฀também฀assegura฀o฀pleno฀funcionamento฀da฀economia฀pela฀coordenação฀e฀regulação฀
dos฀mercados฀(bens฀e฀serviços฀e฀mercado฀de฀fatores฀de฀produção).฀Ao฀longo฀do฀século฀XX,฀o฀governo฀
assumiu฀outras฀funções,฀atuando฀como฀empresário,฀ou฀seja,฀fornecedor฀de฀bens฀públicos.

Numa฀economia฀de฀mercado,฀esses฀diferentes฀agentes฀econômicos฀podem฀ser฀agrupados฀em฀três฀
grandes฀setores:฀o฀setor฀primário,฀que฀engloba฀a฀agricultura,฀a฀pesca,฀a฀pecuária฀e฀a฀mineração;฀o฀setor฀
secundário,฀em฀que฀há฀combinação฀de฀fatores฀de฀produção฀para฀a฀transformação฀de฀bens฀e฀inclui฀as฀
17
฀Disponível฀em:฀<http://www.docstoc.com/docs/22427183/Curva-de-Oferta>.

19

Economia_e_mercado.indb 24 03/06/2011 11:05:20


ECONOMIA฀E฀MERCADO

atividades฀industriais;฀e฀o฀setor฀terciário,฀ou฀setor฀de฀serviços,฀que฀inclui฀serviços,฀comércio,฀transporte,฀
bancos,฀educação,฀entre฀outros.

Para฀entender฀melhor฀o฀funcionamento฀do฀sistema฀econômico,฀vamos฀supor฀uma฀
economia฀de฀mercado฀sem฀interferência฀do฀governo,฀sem฀transações฀comerciais฀
nem฀financeiras฀com฀o฀exterior฀e฀sem฀um฀setor฀financeiro฀desenvolvido.18

As฀ atividades฀ econômicas฀ estarão฀ centradas฀ nas฀ ações฀ de฀ dois฀ grandes฀ agentes:฀ as฀ empresas,฀ que฀
reúnem฀os฀fatores฀produtivos฀para฀a฀produção฀de฀bens฀e฀serviços,฀e฀as฀famílias,฀constituídas฀pelos฀indivíduos,฀
as฀quais฀são฀proprietárias฀dos฀recursos฀de฀produção฀(terra,฀trabalho,฀capital฀e฀capacidade฀empresarial).

Logo,฀as฀unidades฀familiares฀fornecem฀recursos฀produtivos฀para฀as฀empresas;฀e฀estas฀fornecem฀bens฀
e฀serviços฀finais฀para฀aquelas.฀A฀interação฀entre฀as฀famílias฀e฀as฀empresas฀é฀feita฀pelo฀mercado฀de฀bens฀
e฀serviços฀e฀o฀mercado฀de฀fatores฀de฀produção.

Dessa฀interação,฀resultam฀dois฀fluxos:

•฀ Fluxo฀real฀da฀economia฀ou฀circulação฀real:฀quando฀houver฀deslocamento฀físico฀do฀bem;฀pode฀ser฀
definido฀pelo฀fornecimento฀de฀recursos฀de฀produção,฀uso฀desses฀recursos฀e฀por฀sua฀combinação฀
na฀produção฀de฀bens฀e฀serviços฀intermediários฀e฀finais.฀Há฀emprego฀efetivo฀de฀fatores฀produtivos฀
e฀dos฀produtos฀gerados.฀Há฀troca฀material฀de฀recursos฀produtivos฀e฀de฀bens฀e฀serviços.

Engloba฀o฀mercado฀de฀recursos฀de฀produção฀e฀o฀mercado฀de฀bens฀e฀serviços.

O฀fluxo฀real฀da฀economia,฀no฀entanto,฀só฀se฀tornará฀possível฀com฀a฀presença฀
da฀moeda,฀utilizada฀para฀pagar฀os฀bens฀e฀serviços฀e฀os฀fatores฀de฀produção.฀
Paralelamente฀ao฀fluxo฀real,฀temos฀o฀fluxo฀monetário฀da฀economia.19

Demanda Mercado฀de฀bens฀e฀serviços Oferta

Famílias Empresas

Oferta Mercado฀de฀fatores฀de฀produção Demanda Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11

Figura฀3฀–฀Fluxo฀real฀da฀economia

•฀ Fluxo฀monetário฀da฀economia:฀quando฀há฀apenas฀transferência฀de฀propriedade,฀representada฀pelos฀
pagamentos฀ monetários฀ efetuados฀ pelos฀ produtos฀ (bens฀ e฀ serviços)฀ e฀ pelos฀ fatores฀ de฀ produção.฀
Também฀vai฀englobar฀o฀mercado฀de฀recursos฀ou฀fatores฀de฀produção฀e฀o฀mercado฀de฀bens฀e฀serviços.

฀Disponível฀em:฀<฀http://download.wlsv.com.br/FG/Introducao_a_Economia_2.pdf>.
18

฀Disponível฀em:฀<http://antigo.qi.com.br/professor/downloads/download8662.doc>.
19

20

Economia_e_mercado.indb 25 03/06/2011 11:05:20


PARTE II

Pagamento฀de฀bens฀e฀serviços

Famílias Empresas

Remuneração฀dos฀fatores฀de฀produção

Figura฀4฀–฀Fluxo฀monetário฀da฀economia

Tanto฀o฀fluxo฀real฀quanto฀o฀fluxo฀monetário฀vão฀envolver฀as฀famílias฀e฀as฀empresas,฀bem฀como฀os฀
mercados฀de฀recursos฀e฀de฀bens฀e฀serviços.

No฀ mercado฀ dos฀ recursos฀ de฀ produção,฀ serão฀ transacionados฀ recursos฀ necessários฀ às฀ atividades฀
de฀ produção,฀ como฀ mão฀ de฀ obra,฀ matérias-primas,฀ tecnologia,฀ formação฀ de฀ capital,฀ capacidade฀
administrativa,฀entre฀outros.

Nesse฀mercado,฀quem฀oferta฀recursos฀são฀as฀famílias฀e฀a฀demanda฀é฀representada฀pelas฀empresas.฀
Além฀disso,฀as฀unidades฀produtoras฀(ou฀seja,฀as฀empresas)฀pagam฀às฀famílias฀uma฀remuneração฀pelos฀
fatores฀de฀produção฀de฀sua฀propriedade,฀na฀forma฀de฀salários,฀aluguéis,฀juros฀e฀lucros.

As฀famílias฀(ou฀os฀indivíduos฀que฀as฀compõem)฀vão฀até฀o฀mercado฀de฀fatores฀de฀produção฀e฀oferecem฀
seus฀“produtos”฀ou฀“serviços”,฀em฀busca฀de฀uma฀renda฀(oferta฀de฀fatores).

As฀empresas,฀por฀sua฀vez,฀precisam฀desses฀fatores฀produtivos฀para฀combiná-los฀na฀produção฀de฀seus฀
produtos฀e฀vão฀ao฀mercado฀de฀fatores฀com฀o฀objetivo฀de฀comprá-los฀(demanda฀de฀fatores).฀Os฀preços฀
dos฀fatores฀(salários฀–฀trabalho,฀aluguéis฀–฀terra,฀juros฀–฀capital,฀lucros฀–฀capacidade฀empresarial)฀serão฀
determinados฀pela฀interação฀entre฀a฀oferta฀e฀a฀demanda.

A฀soma฀dos฀salários,฀aluguéis,฀juros฀e฀lucros฀formam฀a฀renda฀da฀economia.฀Ao฀receberem฀essa฀renda,฀
as฀famílias฀têm฀como฀comprar฀produtos฀ofertados฀pelas฀empresas฀no฀mercado฀de฀bens฀e฀serviços.

Assim,฀as฀empresas฀combinam฀os฀fatores฀de฀produção฀adquiridos฀no฀mercado฀
de฀fatores฀e฀produzem฀bens฀e฀serviços.20
Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11

Essas฀empresas฀vão฀ao฀mercado฀de฀bens฀e฀serviços฀oferecê-los฀para฀as฀famílias,฀as฀quais฀estão฀de฀
posse฀de฀suas฀respectivas฀rendas.

Os฀preços฀de฀cada฀bem฀ou฀serviço฀serão฀determinados฀pela฀interação฀entre฀a฀oferta฀e฀a฀demanda฀
de฀cada฀um฀deles.฀A฀nossa฀hipótese฀inicial฀foi฀a฀de฀que฀não฀haveria฀um฀setor฀financeiro,฀portanto,฀os฀
consumidores฀gastam฀toda฀sua฀renda฀nesse฀mercado฀e฀as฀empresas฀acabam฀absorvendo-a.

Ao฀se฀dirigirem฀ao฀mercado฀de฀fatores,฀as฀empresas฀acabam฀distribuindo฀essa฀renda฀na฀forma฀de฀
salários,฀aluguéis,฀juros฀e฀lucros.
20
฀Disponível฀em:฀<http://www.scribd.com/doc/13145388/Apostila-de-Economia>.

21

Economia_e_mercado.indb 26 03/06/2011 11:05:20


ECONOMIA฀E฀MERCADO

No฀mercado฀de฀bens฀e฀serviços฀são฀transacionados฀bens฀e฀serviços฀necessários฀à฀satisfação฀humana,฀
como฀alimentação,฀saúde,฀vestuário,฀habitação,฀calçados฀e฀transportes.

Quem฀ representa฀ a฀ oferta฀ nesse฀ mercado฀ são฀ as฀ empresas,฀ na฀ condição฀ de฀ produtores,฀ e฀ quem฀
representa฀a฀demanda฀são฀as฀famílias,฀na฀condição฀de฀consumidores.

Aqui,฀as฀famílias฀ou฀os฀consumidores฀acabam฀transferindo฀os฀pagamentos฀recebidos฀das฀empresas฀
pelo฀uso฀dos฀fatores฀de฀produção฀para฀essas฀mesmas฀empresas,฀como฀forma฀de฀pagamento฀monetário฀
dos฀bens฀e฀serviços฀adquiridos.

O฀fluxo฀circular฀da฀renda฀é฀constituído฀pela฀união฀dos฀fluxos฀real฀e฀monetário,฀
quando฀em฀cada฀um฀dos฀mercados฀atuam฀conjuntamente฀as฀forças฀da฀oferta฀
e฀da฀demanda,฀determinando฀o฀preço.21

Fluxo฀circular฀de฀renda

Mercado฀de฀bens฀e฀serviços

Demanda฀de฀ Oferta฀de฀bens฀
serviço O฀que฀e฀quanto฀produzir e฀serviço

Famílias Como฀produzir Empresas

Oferta฀de฀ Para฀quem฀produzir Demanda฀de฀


serviços฀dos฀ serviços฀dos฀
fatores฀de฀ fatores฀de฀
produção produção
Mercado฀de฀fatores฀de฀produção

Fluxo฀monetário
Fluxo฀real฀(bens฀e฀serviços)

Figura฀5฀–฀Fluxo฀circular฀da฀renda

Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11
Como฀podemos฀observar,฀famílias฀e฀empresas฀exercem฀um฀duplo฀papel.

No฀ mercado฀ de฀ bens฀ e฀ serviços,฀ as฀ famílias฀ demandam฀ bens฀ e฀ serviços,฀
enquanto฀as฀empresas฀os฀oferecem.22

No฀mercado฀de฀fatores฀de฀produção,฀as฀famílias฀é฀que฀oferecem฀os฀serviços฀
dos฀fatores฀de฀produção,฀de฀sua฀propriedade,฀e฀as฀empresas฀vão฀demandar฀
esses฀mesmos฀fatores.23
21
฀Disponível฀em:฀<http://www.docstoc.com/docs/22427183/Curva-de-Oferta>.
22
฀Disponível฀em:฀<http://www.scribd.com/doc/13145388/Apostila-de-Economia>.
23
฀Disponível฀em:฀<http://www.docstoc.com/docs/22427183/Curva-de-Oferta>.

22

Economia_e_mercado.indb 27 03/06/2011 11:05:20


PARTE II

No฀equilíbrio,฀então,฀teremos฀o฀seguinte฀esquema:

Fluxo฀real฀=฀fluxo฀monetário
Fluxo฀real฀de฀fatores฀=฀renda
Fluxo฀real฀de฀bens฀e฀serviços฀=฀fluxo฀monetário฀do฀mercado฀do฀produto

É฀necessário฀observar฀que฀para฀a฀teoria฀econômica,฀tanto฀os฀consumidores,฀na฀figura฀das฀famílias,฀
como฀os฀produtores,฀representados฀acima฀pelas฀empresas,฀são฀racionais฀nas฀suas฀decisões,฀isto฀é,฀os฀
indivíduos,฀como฀consumidores,฀buscam฀obter฀o฀máximo฀de฀produtos฀gastando฀o฀mínimo฀possível.

Já฀ as฀ empresas,฀ ou฀ os฀ produtores,฀ buscam฀ obter฀ o฀ maior฀ lucro฀ e฀ para฀ isso฀ querem฀ diminuir฀
custos฀ e฀ vender฀ seus฀ produtos฀ o฀ mais฀ caro฀ possível.฀ Cada฀ um฀ dos฀ agentes฀ que฀ interferem฀ no฀
processo฀econômico฀age฀buscando฀o฀próprio฀interesse,฀por฀meio฀de฀uma฀racionalidade฀meramente฀
econômica.

É฀importante฀ressaltar฀que฀esses฀fluxos฀sofrem฀algumas฀alterações฀com฀a฀introdução฀do฀setor฀público฀
(governo)฀e฀das฀transações฀com฀o฀setor฀externo.

Com฀a฀incorporação฀do฀setor฀público฀ao฀fluxo฀anterior,฀ocorre฀o฀impacto฀dos฀impostos฀e฀dos฀gastos฀
públicos฀no฀fluxo฀da฀renda.฀Ao฀incluir฀o฀governo,฀este฀impõe฀sobre฀empresas฀e฀famílias฀impostos฀que฀
diminuem฀tanto฀o฀poder฀de฀compra฀das฀unidades฀familiares,฀como฀o฀lucro฀das฀empresas.

Por฀outro฀lado,฀ao฀conceder฀subsídios,฀que฀nada฀mais฀são฀do฀que฀uma฀ajuda฀do฀governo฀a฀determinados฀
setores฀ produtivos฀ ou฀ parcelas฀ da฀ sociedade,฀ aumentam-se฀ as฀ possibilidades฀ de฀ investimentos฀ das฀
empresas.

O฀subsídio฀é฀uma฀forma฀de฀apoio฀monetário,฀concedida฀por฀uma฀instituição/
entidade/pessoa฀a฀outra฀individual฀ou฀coletiva,฀no฀sentido฀de฀fomentar฀o฀
desenvolvimento฀de฀uma฀determinada฀atividade฀desta฀ou฀o฀desenvolvimento฀
da฀própria.24
Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11

O฀subsídio฀governamental฀é฀o฀auxílio฀concedido฀pelo฀governo฀de฀um฀país฀a฀determinados฀setores฀
ou฀empresas฀(públicas฀ou฀privadas),฀tecnicamente฀definido฀por:฀benefícios฀pagos,฀em฀contrapartida฀a฀
produtos฀ou฀serviços;฀transferência฀de฀recursos฀de฀uma฀esfera฀do฀governo฀em฀favor฀de฀outra;฀despesas฀
governamentais฀para฀cobrir฀prejuízos฀de฀empresas;฀benefícios฀a฀consumidores,฀sob฀a฀forma฀de฀preços฀
inferiores฀aos฀níveis฀normais฀do฀mercado;฀benefícios฀a฀produtores฀e฀vendedores฀mediante฀preços฀mais฀
elevados฀etc.

Não฀ obstante,฀ se฀ introduzir฀ ao฀ esquema฀ anterior฀ o฀ comércio฀ internacional,฀ há฀ um฀ aumento฀ na฀
demanda฀por฀produtos฀no฀mercado฀de฀bens฀e฀serviços,฀na฀medida฀em฀que฀parte฀dos฀bens฀e฀serviços฀
disponibilizados฀pelas฀empresas฀serão฀exportados.
24
฀Disponível฀em:฀<http://pt.wikipedia.org/wiki/Subs%C3%ADdio>.

23

Economia_e_mercado.indb 28 03/06/2011 11:05:20


ECONOMIA฀E฀MERCADO

Há฀também฀um฀aumento฀na฀oferta,฀nesse฀mesmo฀mercado,฀pelas฀importações,฀o฀que฀acaba฀por฀elevar฀
a฀concorrência,฀podendo฀ocasionar฀uma฀queda฀nos฀preços฀desses฀produtos฀e฀uma฀melhoria฀na฀qualidade.

2.3฀Divisão฀do฀estudo฀econômico

Quando฀ pensamos฀ ou฀ discutimos฀ a฀ economia,฀ podemos฀ definir฀ se฀ queremos฀ ter฀ uma฀ visão฀ mais฀
ampla฀ou฀mais฀restrita฀dos฀fenômenos฀econômicos.

Para฀ analisar฀ o฀ sistema฀ econômico,฀ podemos฀ nos฀ concentrar฀ no฀ estudo฀ das฀ unidades฀ familiares฀
e฀produtivas,฀ou฀podemos฀trabalhar฀com฀os฀grandes฀agregados.฀Nesse฀sentido,฀sobretudo฀por฀razões฀
didáticas,฀ costuma-se฀ dividir฀ a฀ economia฀ em฀ três฀ ramos฀ de฀ estudo฀ fundamentais:฀ microeconomia,฀
macroeconomia฀e฀desenvolvimento฀econômico.

฀Lembrete

Os฀ três฀ grandes฀ ramos฀ de฀ estudo฀ da฀ economia฀ são:฀ macroeconomia,฀
microeconomia฀e฀desenvolvimento฀econômico.

A฀ microeconomia฀ estuda฀ a฀ formação฀ de฀ preços฀ em฀ mercados฀ específicos,฀ ou฀ seja,฀ estuda฀ como฀
consumidores฀e฀empresas฀se฀relacionam฀no฀mercado,฀por฀meio฀da฀ação฀conjunta฀de฀oferta฀e฀demanda,฀
e฀definem฀os฀preços฀para฀que฀as฀necessidades฀tanto฀dos฀consumidores฀quanto฀dos฀produtores฀sejam฀
satisfeitas฀ao฀mesmo฀tempo.

Logo,฀a฀microeconomia฀ocupa-se฀da฀análise฀do฀comportamento฀das฀unidades฀
econômicas,฀como฀as฀famílias,฀os฀consumidores฀ou฀as฀empresas.25

Para฀ a฀ microeconomia,฀ as฀ diferentes฀ unidades฀ econômicas฀ atuam฀ como฀ se฀ fossem฀ unidades฀
individuais;฀estudam฀a฀racionalidade฀dos฀indivíduos฀(consumidores฀e฀empresas)฀diante฀da฀escassez฀de฀
recursos,฀bens฀e฀serviços.

A฀ macroeconomia฀ estuda฀ o฀ funcionamento฀ da฀ economia฀ em฀ seu฀ conjunto,฀ ocupando-se฀ da฀
determinação฀e฀do฀comportamento฀dos฀grandes฀agregados฀nacionais,฀como฀o฀produto฀interno฀bruto฀

Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11
(PIB),฀que฀mede฀o฀total฀do฀que฀é฀produzido฀no฀país,฀o฀investimento฀agregado,฀a฀poupança฀agregada,฀o฀
emprego,฀o฀consumo฀agregado,฀o฀nível฀geral฀de฀preços,฀os฀juros฀da฀economia฀e฀os฀índices฀econômicos.

O฀objetivo฀da฀macroeconomia฀é฀oferecer฀uma฀visão฀(embora฀simplificada)฀da฀economia,฀que฀forneça฀
condições฀para฀o฀conhecimento฀e฀a฀atuação฀sobre฀o฀nível฀de฀atividade฀econômica฀de฀um฀país,฀pelas฀
políticas฀governamentais.

A฀análise฀macroeconômica฀trabalha฀com฀o฀equilíbrio฀estável฀entre฀a฀renda฀e฀a฀despesa฀nacionais฀
e฀ com฀ as฀ políticas฀ econômicas฀ de฀ intervenção฀ que฀ procuram฀ estabelecer฀ esse฀ equilíbrio,฀ além฀ de฀ se฀
preocupar฀com฀o฀estudo฀da฀economia฀internacional.
25
฀Disponível฀em:฀<http://pauloadministrador.blogspot.com/>.

24

Economia_e_mercado.indb 29 03/06/2011 11:05:20


PARTE II

Os฀estudos฀do฀desenvolvimento฀econômico฀se฀concentram฀no฀entendimento฀
dos฀ processos฀ econômicos฀ e฀ buscam฀ melhorar฀ as฀ condições฀ de฀ vida฀ da฀
sociedade,฀ao฀longo฀do฀tempo,฀pela฀acumulação฀de฀recursos฀escassos฀e฀a฀
geração฀de฀tecnologia฀capazes฀de฀aumentar฀a฀produção฀de฀bens฀e฀serviços฀
dessa฀sociedade.26

Para฀isso,฀o฀desenvolvimento฀econômico฀discute฀medidas฀que฀devem฀ser฀adotadas฀pelos฀países฀a฀
longo฀prazo,฀para฀que฀uma฀sociedade฀obtenha฀um฀crescimento฀econômico฀equilibrado,฀autossustentado฀
e฀com฀uma฀distribuição฀de฀renda฀mais฀equitativa.

O฀ desenvolvimento฀ econômico฀ busca,฀ portanto,฀ entender฀ como฀ se฀


processa฀a฀acumulação฀de฀recursos฀escassos฀e฀a฀geração฀de฀tecnologia,฀
o฀ que฀ resultaria฀ no฀ aumento฀ da฀ produção฀ de฀ bens฀ e฀ serviços฀ para฀ a฀
sociedade.27

฀Saiba฀mais

Alguns฀livros฀que฀podem฀propiciar฀uma฀inter-relação฀com฀os฀conteúdos฀
tratados:

RASMUSSEN,฀U.W.฀ Economia฀para฀não฀economistas.฀1.฀ed.,฀São฀Paulo:฀
Editora฀Saraiva,฀2006.

LOTT฀JR.,฀J.฀R.฀Freedomnomics฀–฀Por฀que฀o฀livre-comércio฀funciona฀e฀pode฀
resgatar฀a฀economia฀mundial.฀1.฀ed.,฀São฀Paulo:฀Editora฀Saraiva,฀2009.

฀Resumo
Revisão:฀Silvana฀e฀Geraldo฀-฀Diagramação:฀Léo฀-฀24/04/11

Como฀ objetivos฀ específicos฀ nesta฀ aula,฀ espera-se฀ que฀ você฀


adquira฀ conhecimentos฀ sobre฀ a฀ importância฀ do฀ conceito฀ de฀
economia,฀os฀principais฀problemas฀econômicos฀a฀qual฀a฀economia฀
tem฀que฀dar฀soluções,฀como฀a฀lei฀da฀escassez฀de฀recursos,฀analisar฀
o฀ custo฀ de฀ oportunidade฀ e฀ a฀ curva฀ de฀ possibilidade฀ de฀ produção,฀
organizar฀ o฀ sistema฀ econômico฀ e฀ realizar฀ a฀ divisão฀ do฀ estudo฀
econômico.
26
฀Disponível฀em:฀<http://www.scribd.com/doc/7160071/Manual-de-Economia-Profess-Ores-Da-Usp>.
27
฀Disponível฀em:฀<http://www.scribd.com/doc/7160071/Manual-de-Economia-Profess-Ores-Da-Usp>.

25

Economia_e_mercado.indb 30 03/06/2011 11:05:21


ECONOMIA E MERCADO

DEMANDA, OFERTA, EQUILÍBRIO DE MERCADO E


AS ESTRUTURAS DE MERCADOS

3 DEMANDA, OFERTA E EQUILÍBRIO DE MERCADO

3.1 A demanda por bens e serviços

Apregoa a teoria econômica que, nos sistemas baseados no livre funcionamento dos mercados, a
procura por bens e serviços tem o intuito de identificar as alternativas que otimizem a satisfação do
consumidor.

O consumidor visa maximizar sua satisfação consumindo os bens e serviços que julga serem mais
úteis, em conformidade com suas próprias preferências e gostos. Vai buscar uma certa quantidade com
base no preço em vigor do respectivo bem ou serviço e a sua própria renda pessoal.

O consumidor também levará em conta em sua decisão os preços de outros bens – substitutos e
complementares – em relação àquele em que está particularmente interessado.

Naturalmente, há uma série de fatores, além do próprio preço do bem ou serviço, que definem a
quantidade que os consumidores pretendem adquirir de cada bem ou serviço, em um determinado
período, como:

• o nível e a distribuição dos consumidores;

• o preço dos produtos substitutos e complementares;

• os processos de urbanização;

• as mudanças nos gostos e nas preferências dos consumidores;

• o marketing (propaganda);

• a expectativa de variação de preços do produto no futuro;

• o nível de educação e idade dos consumidores;

• a disponibilidade de mercadorias;

• a moda;

• a geografia e o clima;
26
PARTE III

• o sexo;

• a ocupação;

• as estações do ano;

• a religião;

• a origem étnica.

Na maioria dos casos, porém, o preço é, de fato, a variável mais relevante para explicar o
comportamento da quantidade procurada (demandada) de um bem ou serviço pelos consumidores.

Assim, com todas as demais coisas permanecendo iguais (coeteris paribus), a demanda do consumidor
por um bem (X) indica as quantidades desse bem, que ele está disposto a adquirir, quando varia o seu
preço de mercado.

Observação

Ceteris paribus (todo o mais é constante) é uma expressão introduzida


em um argumento ou afirmação para comunicar que uma variável ou mais
variáveis possam mudar, mantendo as demais variáveis constantes, tais
como o seguinte exemplo: “Se reduzirmos os nossos preços por X por cento,
ceteris paribus, a nossa receita de vendas deve subir Y por cento”.

A tabela hipotética a seguir relaciona quantidades procuradas considerando os diferentes preços do


bem X.

Tabela 3 – Alternativas de quantidades procuradas de determinado bem ou serviço


conforme a variação dos preços no mercado

Preços do bem X (R$) Quantidade demandada (unidades)

50,00 30

100,00 20

150,00 15

200,00 10

250,00 5

27
ECONOMIA E MERCADO

Os dados dessa tabela podem ser visualizados no gráfico a seguir:


35

Quantidades demandadas (unidades)


30
30

25
20
20
15
15
10
10
5 5

0
50,00 100,00 150,00 200,00 250,00
Diferentes preços do bem

Figura 7 – Demanda para o bem X

Este gráfico apresenta a curva de demanda, mostrando a relação inversa entre as quantidades
procuradas e diferentes alternativas de preços de certo bem ou serviço.

Essa relação explicita que, conforme diminui o preço, aumenta a quantidade demandada do produto.

Se o preço for muito alto, cessará a demanda pelo bem, que pode ser coberta com a procura por
bens substitutos.

É possível também a constatação de que a demanda é feita até um determinado limite superior de
quantidades, após atingirmos o que chamamos de nível de saciedade.

Observação

As publicações sobre demanda costumam demonstrar no eixo horizontal


as quantidades procuradas e no vertical os valores, o que é, na verdade, a
demanda inversa, dado que o que se pressupõe é a variação das quantidades
consoantes com as diversas alternativas de preço. Mesmo assim, é mantida
a adequada correlação entre essas duas variáveis.

A partir do que foi verificado, chega-se à definição da Lei da Demanda: as quantidades demandadas
de um bem (X) variam, inversamente, com o seu preço, permanecendo constantes os preços dos demais
bens, os gostos e a renda disponível do consumidor.

A demanda representa a disposição ou intenção de comprar, enquanto comprar é o ato efetivo de


aquisição do bem ou serviço.

28
PARTE III

Para alguns bens, não essenciais, é possível que ocorra uma relação direta, não inversa entre as
quantidades demandadas e os preços dos bens ou serviços. Essa relação inversa é válida tanto para a
demanda do consumidor individual como para a do conjunto do mercado.

A demanda total para um determinado grupo de consumidores, uma região, cidade, país etc. é
obtida a partir da soma das quantidades demandadas pelos consumidores individualmente (com os
mesmos preços).

Na prática, é difícil obtê-la por esse método considerando a grande quantidade de agentes econômicos.

Assim, outra possibilidade é multiplicar as quantidades demandadas individualmente por um


consumidor considerado típico (médio) pelo número de consumidores existentes no mercado – aos
mesmos preços.

Lembrete

Na maioria dos casos, o preço é, de fato, a variável mais relevante para


explicar o comportamento da quantidade procurada (demandada) de um
bem ou serviço pelos consumidores.

No nosso exemplo, admitindo que os dados da tabela revelam um consumidor típico e que são dez,
no total, teríamos a seguinte tabela para a demanda total para o bem X:

Tabela 4

Preços do bem X (R$) Quantidade demandada (unidades) pelos dez consumidores


50,00 300
100,00 200
150,00 150
200,00 100
250,00 50

Diferentemente do que ocorreria se adotássemos o processo da soma de cada uma das demandas, a
curva da demanda total (isto é, do mercado) terá o mesmo formato e inclinação daquela que identifica
o consumidor admitido como médio do mercado).

Assim, a cada preço teremos uma quantidade demandada, seja do consumidor individual, seja de
todo o mercado.

No nosso exemplo, se o preço unitário do bem X aumentar de R$ 50,00 para R$ 100,00, a quantidade
demandada individualmente diminuirá para 20 unidades.

29
ECONOMIA E MERCADO

E, se, eventualmente, o preço diminuir de R$ 200,00 para R$ 150,00, haverá expansão da quantidade
demandada de dez para 15 unidades e vice-versa.

Preço do bem Quantidade demandada pelo consumidor

Figura 8

O gráfico da demanda, seja para o consumidor (individualmente), seja para um conjunto, explicita
a relação entre duas variáveis (no caso, preço e quantidade demandada para o bem X), mantidas todas
as demais condições.

Contudo, é possível que ocorram mudanças em outras variáveis, o que afetaria o nosso gráfico.

Um aumento da renda do consumidor individual (ou do consumidor típico/médio, se estamos


analisando o total do mercado) fará com que toda a curva seja deslocada para cima e à direita.

Assim, eleva-se a quantidade demandada para cada um dos preços do nosso exemplo, denotando
um maior poder aquisitivo do consumidor, como decorrência do crescimento de sua renda (aumento de
salário, por exemplo).

Nossa tabela, para o consumidor individual do bem X, agora poderia, por hipótese, ser a seguinte:

Tabela 5

Preços do bem X (R$) Quantidade demandada (unidades)


50,00 40
100,00 30
150,00 25
200,00 20
250,00 15

Naturalmente, poderia ter ocorrido uma situação diversa, com, por exemplo, a queda da renda do
consumidor individual ou típico/médio, o que deslocaria toda a curva de demanda no sentido contrário,
para baixo e à esquerda.

Assim, diminui a quantidade demandada para cada um dos preços do nosso exemplo, denotando
um menor poder aquisitivo do consumidor, como decorrência da queda de sua renda (situação de
desemprego, por exemplo).

30
PARTE III

Nossa tabela, para o consumidor individual do bem X, poderia ser representada da seguinte maneira:

Tabela 6

Preços do bem X (R$) Quantidade demandada (unidades)


50,00 20
100,00 10
150,00 8
200,00 5
250,00 3

De fato, os deslocamentos da curva ocorrem sempre que outros fatores, que não o preço do bem
X, se alteram, por exemplo, além da renda mencionada anteriormente, os gostos e as preferências dos
agentes econômicos e aspectos relacionados com a propaganda para o bem ou serviço.

Nos gráficos cartesianos de duas dimensões, que identificam relacionamentos entre duas variáveis –
uma explicativa e outra explicada/dependente), – sempre que ocorrerem mudanças em outras variáveis
– não explicitadas no gráfico, em seus eixos horizontal e vertical, haverá deslocamentos para cima ou
para baixo (ou para a direita e à esquerda) de toda a curva.

Finalmente, ainda a respeito da demanda, deve ser considerado o seguinte: dependendo do tipo de
bem que se está analisando, seu comportamento poderá ser muito diferente. Neste caso, costumam ser
identificados os bens ditos normais, cuja demanda diminui no caso de aumento do preço do bem. Se o
preço da carne, por exemplo, aumentar, o indivíduo deverá consumir menos esse bem e vice-versa.

Entretanto, se os bens forem considerados inferiores, a sua demanda poderá diminuir mesmo no
caso de diminuição do preço se, por exemplo, o consumidor contar com um maior poder aquisitivo. É o
caso do consumo pretendido para a chamada carne de segunda (categoria).

3.2 A oferta de bens e serviços

Nossa análise, agora, é feita para o comportamento do produtor (ou vendedor) de um bem ou serviço.

Todos os que decidem abrir um negócio têm como objetivo otimizar seus lucros e, para tanto,
precisam obter receitas com as vendas de seus produtos e incorrer em custos em sua fabricação.

Para a grande maioria dos bens, ditos normais, existe uma relação direta entre os seus preços e as
respectivas quantidades ofertadas, que expandem junto com os acréscimos dos primeiros.

Preço do bem Quantidade ofertada pelo produtor (vendedor)

Figura 9

31
ECONOMIA E MERCADO

Assim, a oferta representa a disposição ou intenção de produzir e vender, enquanto produzir e


vender indicam os atos efetivos de produção e venda do respectivo bem ou serviço.

Tal como fizemos no caso da demanda, vamos admitir, na tabela a seguir, as alternativas de oferta
para um determinado bem ou serviço, consoante seu preço praticado no mercado:

Tabela 7 – Oferta do bem X, conforme diferentes alternativas de preços

Preços do bem X (R$) Quantidade ofertada (unidades)


50,00 5
100,00 10
150,00 15
200,00 20
250,00 30

O gráfico a seguir mostra a curva de oferta – considerando os dados indicados na tabela anterior.
35
Quantidades ofertadas do bem X

30
30

25
20
20
15
15
10
10
5 5

0
50,00 100,00 150,00 200,00 250,00
Alternativas de preços do bem X

Figura 10 – Oferta para o bem X

A Lei da Oferta indica que as quantidades ofertadas de um bem (X) variam, diretamente, com o seu
preço, permanecendo constantes os custos de produção.

Tal como ocorre no caso da demanda, essa relação é válida tanto para a oferta do produtor individual
como para a do conjunto do mercado.

Naturalmente, há uma série de aspectos, além do preço do próprio bem ou serviço, que determinam
a quantidade que os fornecedores pretendem produzir e vender de cada bem ou serviço em um
determinado período, por exemplo:

• preços/custos dos fatores utilizados na fabricação do produto;

32
PARTE III

• condições climáticas e ocorrências de externalidades;

• custos de comercialização e de vendas do bem ou serviço e de outros que lhe sejam substitutos
ou complementares;

• tecnologia disponível para a empresa;

• tamanho e nível de concorrência do respectivo mercado.

Na maioria dos casos, contudo, o preço é a variável mais relevante para explicar o comportamento
da quantidade ofertada (oferecida) de um bem ou serviços pelos vendedores/produtores.

Os deslocamentos da curva ocorrem sempre que outros fatores, que não os explicitados nos eixos
(horizontal e vertical) dos gráficos cartesianos, influem no objeto (no caso, a oferta) em estudo.

Toda mudança, aumento ou diminuição em outra variável, que não seja a do próprio preço do bem
ou serviço, desloca toda a curva de oferta para a direita ou para a esquerda, conforme o caso.

3.3 O equilíbrio de mercado

No mercado ocorre a interação entre compradores e vendedores.

Em mercados totalmente competitivos, um único preço geralmente prevalece.

Naqueles que não sejam completamente competitivos, diferentes vendedores podem cobrar
variados preços.

Ao discutirmos determinado mercado, devemos ser claros a respeito de sua extensão tanto em
termos de limites geográficos como em relação à gama de produtos que nele são transacionados.

Alguns mercados, por exemplo, o imobiliário, são tipicamente locais, enquanto outros são mundiais,
como é o caso do ouro.

Outro aspecto relevante diz respeito à questão da prevalência dos preços ao longo do tempo.

Para eliminar os efeitos da inflação, comparamos preços reais (ou preços em moeda constante), em
vez de preços nominais (ou preços em moeda corrente).

Os preços reais são calculados por meio de um índice agregado de preços, por exemplo, o Índice
de Preços ao Consumidor (IPC), subtraindo-se os efeitos inflacionários ou, em outras palavras,
deflacionando-se os preços nominais pelo uso de um deflator de preços.

No Brasil, o índice que mede oficialmente a variação de preços é o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA).
33
ECONOMIA E MERCADO

As transações reais de mercado pressupõem certas condições: todos os compradores podem comprar
o que planejam, ao preço corrente e sob as contingências vigentes do mercado; e todos os vendedores
podem vender o que planejam ao mesmo preço e sob as mesmas contingências.

Assim, o mercado estará em equilíbrio quando, ao preço estabelecido e sob as condições existentes,
todos os compradores e vendedores podem realizar seus planos.

Caso alguns compradores não consigam comprar tudo o que queriam, ou se alguns vendedores não
puderam vender tudo o que desejavam, o mercado está em desequilíbrio.

Nossa análise básica do mercado se baseia no pressuposto de que todas as transações realmente
executadas constituem transações feitas em condições de equilíbrio, nas quais os planos de ambos os
lados são realizados.

Indagamos, em especial, a que preço e quantidade os vendedores desejam vender se iguala


exatamente ao que os compradores desejam comprar.

O equilíbrio de mercado diz respeito à comparação entre os desejos e atitudes de ofertantes e


demandantes de bens e serviços nesse mercado específico, que conduzem a uma solução que satisfaça
a ambas as partes no conjunto das negociações envolvidas na transação.

Em uma economia de mercado, a oferta e a demanda de bens e serviços se ajustam, determinando


preços e quantidades que são, por um lado, vendidas e, ao mesmo tempo, adquiridas.

Então, os recursos escassos são eficientemente alocados para a satisfação das necessidades ilimitadas
dos inúmeros agentes econômicos que atuam neste mercado.

Nesse particular estado de equilíbrio, os preços e quantidades nem sempre são efetivamente aqueles
que se desejaria praticar, indicando o bem-estar econômico, ou seja, aquele estado de satisfação geral
pelas transações efetuadas pelos agentes envolvidos no mercado.

Entretanto, é fato que tanto produtores como compradores se beneficiam ao participar do mercado,
oferecendo e adquirindo produtos e insumos.

O ato de venda e compra se estende a um sem-número de operações, que, na média, possibilitam a


realização de lucro ou satisfação para todos os envolvidos.

Em mercados competitivos, o equilíbrio de mercado repousa na quantidade e preços definidos pelas


forças da oferta e da demanda de bens e serviços.

34
PARTE III

O gráfico a seguir estabelece o equilíbrio de mercado para um determinado bem:


P
12,00 Es
ca
sse deO
O
zd sso
10,00 eD ce
Ex

8,00
B

6,00
E Ex
ce
4,00 ss od
A
eD
O
2,00 z de
sse
E sca D

2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 Q

Figura 11 – Demonstração do equilíbrio de mercado

O equilíbrio neste exemplo ocorre quando o preço praticado no mercado for R$ 6,00 e a quantidade
transacionada for 6 mil. Isso é evidenciado pelo ponto E (equilíbrio), situado no cruzamento/intersecção
das curvas de demanda (D) e oferta (O).

No caso do bem X, que usamos anteriormente como exemplo neste livro-texto, há a igualdade
entre as intenções de compra (demanda) e de venda (oferta) quando o preço do mercado é igual a
R$ 150,00.

Apenas nesse preço ocorrerá uma transação de compra e venda no mercado, e a quantidade
negociada (entendida como quantidade de equilíbrio) será de 15 unidades.

Em qualquer outra hipótese, não haverá coincidência de desejos e intenções entre compradores e
vendedores, não se configurando uma real transação de compra e venda para o bem.

Se o preço praticado no mercado for superior ao de equilíbrio (R$ 150,00), haverá um excesso de
oferta (ou escassez de demanda) em relação à demanda.

Quando o preço for inferior ao de equilíbrio, teremos um excesso de demanda (e escassez de oferta)
em relação à oferta para o bem ou serviço.

Tentativas de fixação (congelamento) de preços irão distorcer as condições determinadas livremente


pelo mercado.

35
ECONOMIA E MERCADO

Lembrete

A Lei da Oferta indica que as quantidades ofertadas de um bem (X) variam,


diretamente, com o seu preço, permanecendo constantes os custos de produção.

3.4 As elasticidades da demanda e da oferta de bens e serviços

Vimos a importância de se conhecer aspectos associados com a demanda e a oferta para bens e
serviços comercializados na economia.

As decisões dos agentes (das próprias empresas ou de uma região ou país) serão melhoradas quando
se conseguir determinar as respectivas demandas e ofertas para os diferentes bens ou serviços.

Em adendo ao próprio conceito de demanda (ou de oferta), o de elasticidade permite a mensuração


do impacto sobre as quantidades (demandadas e ofertadas) em relação a outros fatores que as afetam,
destacando-se os preços dos bens e serviços.

É essencial analisar qual é a sensibilidade da quantidade demandada (ou da ofertada).

Saiba mais

Em Economia para Administradores, Oliveira (2006) traz um bom


detalhamento dos conceitos relacionados com as elasticidades de demanda
e de oferta de bens e serviços.

Sandroni (1999, p. 206) conceitua elasticidade como a “relação entre as diferentes quantidades de oferta
e procura de certas mercadorias, em função [razão] das alterações verificadas em seus respectivos preços”.

Comecemos examinando duas curvas de demanda – A e B:


Preço Preço

A) B)

Demanda

Demanda

Quantidade Quantidade

Figura 12 – Demandas elástica e inelástica

36
PARTE III

É fácil distinguir dois diferentes formatos nesses dois exemplos, independentemente de constatar,
em ambos os casos, uma relação inversa entre preço e quantidade demandada. A diferença concentra-se
na inclinação das curvas.

No caso da demanda, essa inclinação é afetada por outros fatores, além do preço do bem ou serviço,
como as preferências do consumidor e a disponibilidade de outros bens – substitutos ou complementares.

As mudanças de preço no caso da curva A deste exemplo provocam variações em menor intensidade
da quantidade demandada, conforme o preço do mercado. No caso da B, elas provocariam variações de
outra intensidade, isto é, mais do que proporcionais na quantidade demandada.

Pretende-se, então, medir a intensidade da variação da quantidade (demandada ou ofertada) para


estimar os reais efeitos de uma decisão econômica, seja aquela que é feita pelo próprio agente, seja feita
pelo governante.

A economia oferece alternativas de medição da elasticidade com relação aos fatores que afetam a
demanda ou a oferta de bens e serviços.

3.5 Elasticidade-preço da demanda

Entre os vários tipos de elasticidade, a associada com o preço do bem ou serviço é uma das mais
importantes.

A maior (ou menor) magnitude da elasticidade-preço da demanda está vinculada, entre outros
fatores, com:

• existência (disponibilidade) de bens substitutos próximos;

• caracterização do bem como sendo necessário (essencial) ou supérfluo;

• definição dos limites (tamanho) do mercado;

• horizonte de tempo para que se materialize a alteração de consumo.

A elasticidade-preço da demanda mede a sensibilidade da quantidade demandada em relação às


variações do preço do bem ou serviço.

Estamos considerando o quanto, percentualmente, varia a quantidade demandada de um bem com


relação à variação também percentual do seu preço, praticado no mercado.

Para calcular o índice que corresponde à elasticidade-preço da demanda, é preciso conhecer os


preços e as quantidades iniciais e finais.

37
ECONOMIA E MERCADO

Em termos matemáticos, isso pode ser demonstrado pela expressão:

 %Q d
Ed 
 %P

Sendo:

Ed: elasticidade_preço_demanda

∆%Qd: variação_percentual_quantidade_demandada

∆%P: variação_percentual_preço

No nosso exemplo, se o preço unitário do bem X aumentar de R$ 50,00 para R$ 100,00, a quantidade
demandada diminuirá para 20 unidades. E se, eventualmente, o preço diminuir de R$ 200,00 para R$
150,00, haverá expansão da quantidade demandada de dez para 15 unidades.

Agora voltemos ao exercício discutido anteriormente, em que consideramos os efeitos na quantidade


demandada em relação ao preço do bem ou serviço de R$ 50,00 para R$ 100,00.

Neste caso, o preço teria dobrado (aumentou em 100%), enquanto a quantidade demandada
diminuiu de 30 para 20 unidades (ou 33%), o valor da elasticidade (Ed) será:

33%
Ep 
100%

Ep = - 0,33

O cálculo da variação percentual do preço (vale também para o da quantidade demandada) é obtido
pela divisão entre o que mudou de um ponto para outro – aumento ou diminuição – e o valor anterior.

O resultado obtido dessa divisão é multiplicado por 100 para que o resultado seja expresso em
notação percentual.

Assim, a variação percentual do preço, subindo de R$ 50,00 para R$ 100,00, será:

Variação percentual: (R$ 100,00 – R$ 50,00)/R$ 50,00 x(100) = 100%

Já a variação percentual da quantidade demandada, diminuindo de 30 para 20 unidades, será:

Variação_percentual: (20 –30)/30 = 0,33(100):33%

38
PARTE III

Há diferentes elasticidades em cada um dos pontos da curva de demanda.

A análise desse índice deve ser feita admitindo que:

• altas elasticidades significam alto grau de resposta à alteração do preço;

• baixas elasticidades indicam relativa insensibilidade às alterações de preços.

O resultado de Ed será sempre negativo, dado que há uma relação inversa entre preço e quantidade
demandada.

Contudo, a análise deve considerar o resultado absoluto da divisão – módulo. Em Matemática,


módulo é o valor do número sem sinal. Nesse contexto, 0,5 (o que é o mesmo que +0,5) é o mesmo
que -0,5.

A representação do módulo de um número é feita precedida e seguida de barras verticais. Assim, o


módulo de (-0,5) será representado por |-0,5|, que resulta em 0,5.

Agora analisemos outro exemplo.

Se a curva de demanda para um bem Y indicar um aumento do preço de R$ 1,00 para R$ 1,10
(10% em relação ao preço original), ocorrerá uma diminuição da quantidade demandada, 100 para 80
unidades (20% em relação à quantidade anterior). Então, a elasticidade-preço da demanda, nesse ponto
da curva, será:

20%
Ed 
10%

Ed = - 2

Portanto, o cálculo do índice da elasticidade-preço da demanda de determinado bem, como foi


mostrado nos exemplos anteriores, fará com que:

• Ed seja igual a |1| ou

• Ed seja menor do que |1| ou

• Ed seja maior do que |1|.

Nos casos extremos, Ed será zero ou infinito.

A elasticidade costuma ser diferente conforme o ponto escolhido para o cálculo.

39
ECONOMIA E MERCADO

Há, também, a possibilidade de calcular a elasticidade para um intervalo entre dois pontos da curva
de demanda.

A demanda será considerada elástica em relação a preço quando o aumento percentual da quantidade
demandada for mais do que proporcional à queda percentual dos preços.

Ed será maior do que |1|.

A demanda será inelástica em relação a preço quando a expansão percentual da quantidade demandada
for menor do que a queda percentual dos preços. Visto de outra forma, ela será inelástica quando a
diminuição percentual da quantidade demandada for menor do que a elevação percentual dos preços.

Ed será menor do que |1|.

A demanda terá elasticidade unitária em relação a preço quando o aumento percentual da quantidade
demandada se der na mesma proporção da variação dos preços.

Ed será igual a |1|.

Não haverá elasticidade sempre que Ed for igual a 0 (zero).

E, finalmente, a demanda será considerada como completamente ou perfeitamente elástica


quando a quantidade demandada mudar infinitamente com relação às mudanças de preços: Ed será
igual a ∞ (infinito).

Neste último caso, se a resposta da quantidade demandada for extremamente maior do que a queda
percentual dos preços: Ed tende para o infinito.

Vejamos os gráficos que apresentam situações em que a demanda será elástica ou inelástica em
relação do preço do respectivo bem:

Preço Preço
A) B)
Ed > |1| Ed < |1|

P1 P1
∆p
P0 Demanda P0

Demanda

Q1 Q0 Quantidade Q1 Q0 Quantidade

Figura 13 – Representações de demanda elástica (A) e inelástica (B) em relação ao preço do bem

40
PARTE III

Elástica

Preço P
ED > 1

Unitária
Inelástica ED = 1
ED < 1

Quantidade Q

Figura 14 – Representações de elasticidades da demanda em relação ao preço do bem

Para verificar melhor os efeitos dos índices de elasticidades de bens ou serviços, destacamos o
exemplo a seguir. Nele, procuramos mostrar o efeito na receita total (RT) de uma empresa, dependendo
da sensibilidade (elasticidade) da demanda de seu produto (s).

A RT da firma é dada pela multiplicação do preço unitário (P) pela quantidade vendida (Q do produto):

RT = P x Q

A situação inicial (instante 0) será:

RTo = Po x Qo

Posteriormente (instante 1), teremos:

RT1 = P1 x Q1

Se a demanda é elástica, uma diminuição no preço do produto ocasiona um aumento mais do que
proporcional da quantidade vendida e, portanto, uma elevação da receita total da firma. Desse modo,
aumentos no preço de venda do produto poderão provocar uma contração da receita da firma.

Se, porém, a demanda for inelástica em relação a preço e ocorrer uma diminuição do preço do
produto, o aumento da quantidade demandada será proporcionalmente inferior à redução percentual
praticada no preço, consequentemente, diminuindo a receita total da firma.

A demanda tende a ser mais elástica se:

• o bem for supérfluo;

• maior for o horizonte de tempo para a adequação da demanda;

41
ECONOMIA E MERCADO

• maior for a quantidade de bens substitutos próximos;

• mais restritos forem os limites do mercado em questão.

E, ao contrário, ela tende a ser menos elástica se:

• o bem for necessário;

• menor for o tempo para a adequação e para a adaptação da demanda;

• menor for a quantidade de bens substitutos próximos;

• menos restritos forem os limites do mercado em questão.

3.6 Elasticidade-preço cruzada da demanda

Há outras medições de elasticidade da demanda, por exemplo, a que mede a variação da quantidade
demandada em relação ao preço não do próprio, mas de outro bem que lhe é complementar ou substituto.

Assim, a elasticidade cruzada da demanda, que denominaremos Ex, mede as variações percentuais
de quantidade procurada de um bem n em relação às variações percentuais no preço de outro bem k:

Para bens complementares – automóvel e combustível –, Ex será negativo. Para bens substitutos –
manteiga e margarina –, Ex será positivo.

Assim como no caso da medição da elasticidade-preço, se Ex for igual a zero, não haverá qualquer
relação entre os bens, nem de substituição, nem de complementaridade.

A medição desse tipo de elasticidade nos permite determinar a intensidade e os efeitos da concorrência
por meio dos produtos substitutos ou complementares, e, com isso, podermos elaborar estratégias de
mercado mais refinadas para o crescimento da empresa ou do setor ou região.

3.7 Elasticidade-renda da demanda

Neste caso, procura-se conhecer as repercussões sobre a quantidade demandada em razão de uma
variação na renda do consumidor.

Quando a quantidade demandada diminui por causa de um aumento na renda do consumidor, o


indicador dessa elasticidade que denominaremos Er será negativo.

Os bens normais ou bens superiores apresentam reação positiva a incrementos de renda do consumidor.

O valor de Er pode, ainda, ser um indicador de um subtipo de bem normal. Se Ex for maior do que
zero, porém menor do que 1, trata-se de um bem essencial.
42
PARTE III

Se Er for maior do que um, é considerado bem de luxo.

Os bens inferiores têm sua quantidade demandada diminuída quando aumenta a renda do consumidor.

Se Er for zero, o consumo do bem n não dependerá do nível de rendimento do consumidor.

Vasconcellos (2007, p. 419) comenta a respeito dos chamados bens de Giffen, acentuando tratar-se
da única exceção à regra da relação direta da demanda, em relação à renda do consumidor, coeteris
paribus. Neste caso, a relação é inversa, pois se refere a um bem de tipo inferior. O autor ainda menciona
como exemplo desse tipo de bem o comportamento de uma sociedade inglesa no século XVIII, muito
pobre e grande consumidora de batatas. Com uma expressiva queda de preços da batata, aumentou
o poder aquisitivo dos consumidores, que, saciados pelo consumo, passaram a gastar com outros
alimentos, e a curva de demanda de batatas passou a ser inclinada positivamente, e não negativamente.

Oliveira (2006, p. 216) comenta:

De forma geral, a elasticidade-renda da demanda é maior para os produtos


manufaturados do que para os básicos, pois, em função [razão] da elevação
da renda, é mais frequente a elevação da demanda por bens manufaturados
– como eletrônicos, refrigerador, máquina de lavar, vídeo, computador – do
que por alimentos, como arroz, feijão, açúcar etc., que já vinham, ao menos
em parte, tendo suas necessidades atendidas.

Heilbroner (2008), ao analisar as causas que provocaram a Grande Depressão americana – uma
grande paralisação decorrente da longa tendência de crescimento, que durou quase uma década,
com início em 1929 – cita, dentre outros motivos, uma deterioração inexorável do poder aquisitivo na
agricultura, agravada pela demanda inelástica de produtos agrícolas.

Esse comportamento da demanda também levou a Comissão Econômica para a América Latina
(Cepal) a incentivar os países da região a se industrializarem, dado que haveria deterioração dos termos
de troca dos que mantivessem a produção concentrada em bens primários, como as commodities.

O termo significa literalmente “mercadoria” em inglês. Nas relações


comerciais internacionais, o termo designa um tipo particular de mercadoria
em estado bruto ou produto primário de importância comercial, como é o
caso do café, do chá, da lã, do algodão, da juta, do estanho, do cobre etc.
(SANDRONI, 1999, p. 112).

3.8 Elasticidades da oferta

Tal como a demanda, a oferta pode apresentar diferentes possibilidades de elasticidade (maior,
menor, unitária etc.) em relação aos fatores que a impactam, como os preços do respectivo bem ou
serviço, os custos das matérias-primas etc.

43
ECONOMIA E MERCADO

Assim, a elasticidade-preço da oferta mede o aumento ou a diminuição percentual da quantidade


ofertada devido a uma alteração do preço do respectivo bem ou serviço.

De forma semelhante à demanda, a elasticidade da oferta tem como fatores determinantes:

• limites (tamanho) do mercado de comercialização do bem ou serviço;

• intervalo de tempo para a adequação da produção;

• capacidade dos produtores de mudar a quantidade produzida de um determinado bem ou serviço.

A elasticidade-preço da oferta é calculada pela divisão da variação percentual da quantidade


ofertada pela variação percentual do preço em determinado ponto (ou intervalo) da curva de oferta do
respectivo bem ou serviço:

 %(quantidade ofertada)
Eo 
ç
 %(preco)

De forma análoga à demanda, podemos constatar casos de curvas de oferta com:

• perfeita elasticidade;

• elástica;

• inelástica;

• elasticidade unitária.

O exemplo a seguir aponta para uma oferta elástica.

Se o preço de um bem for alterado de R$ 4,00 para R$ 5,00 (aumento de 25%), enquanto a
quantidade ofertada se alterar de 100 para 200 unidades (100%), estaremos diante de uma situação de
oferta elástica.

Contudo, se houver essa mesma mudança de preço (de R$ 4,00 para R$ 5,00), mas que ocasione um
aumento da quantidade ofertada, por exemplo, de 100 para 110 unidades (10%), haverá a oferta inelástica.

3.9 Outras aplicações do conceito de elasticidade

Além do que foi visto no que tange ao dimensionamento das mudanças da demanda e da oferta em
relação a fatores que as impactam, esse conceito pode ser adotado em outros tipos de estudos, por exemplo:

• efeitos das mudanças da taxa de câmbio sobre as exportações e importações do país;

44
PARTE III

• efeitos das mudanças da taxa de juros sobre os níveis de poupança e de investimento


da sociedade.

3.10 Medidas de elasticidade de alguns produtos

A tabela a seguir apresenta dados de elasticidades-preços da demanda de alguns produtos (alimentos)


nas negociações no varejo, comparando Brasil e Estados Unidos da América:

Tabela 8 – Comparações de graus de elasticidade de produtos agropecuários

Magnitude da elasticidade-preço da demanda (em módulo)


Produto
No Brasil Nos Estados Unidos da América
Açúcar 0,13 0,24
Arroz 0,10 (*)
Banana 0,49 (*)
Batata inglesa 0,15 0,25
Café em pó 0,12 0,21
Café solúvel 0,85 1,10
Carne bovina 0,94 0,77
Carne de frango 0,96 0,80
Carne suína 0,70 0,60
Farinha de trigo 0,35 0,15
Feijão 0,16 (*)
Frutas 0,50 0,45
Laranja (*) 0,66
Leite 0,14 0,34
Manteiga (*) 0,66
Margarina (*) 0,84
Ovos 1,20 0,30
Pão (*) 0,15
Queijo (*) 0,55
Tomate 1,20 (*)
Produtos agrícolas em geral (*) 0,42
Carnes em geral (*) 0,60
Alimentos em geral 0,50 0,12
Não alimentos (*) 1,02

Adaptado de: Mendes; Padilha Junior (2007, p. 73).

45
ECONOMIA E MERCADO

4 AS ESTRUTURAS DE MERCADOS

4.1 Que papel os mercados desempenham na economia?

A interação dos agentes econômicos dá-se nos mercados da economia, seja pelos compradores, seja
pelos vendedores de bens e serviços. É por isso que a adequada participação no sistema econômico
demanda o conhecimento das estruturas de mercado vigentes.

O objetivo é utilizar os conhecimentos, por exemplo, nas decisões do agentes econômicos – nos
processos de formação de preços dos bens e serviços.

Encontramos várias estruturas de mercados, inclusive aquela em que um grande número de empresas
oferece produtos idênticos (e a concorrência entre os ofertantes é considerada perfeita).

Entretanto, há situações em que um produto único, sem substitutos, domina o mercado, o que
caracteriza um monopólio.

São diversos os fatores que dimensionam essas estruturas de mercado destacando-se os


seguintes aspectos:

• Quantidade de empresas vendedoras.

• Dimensão dessas organizações – seu poder de compra e de negociação.

• Grau de interdependência entre elas.

• Similaridades ou diferenças entre os produtos das instituições que participam do mercado.

• Natureza e a quantidade de consumidores (empresas e famílias).

• Informações dos consumidores e dos vendedores sobre os demais produtos transacionados nesse
mercado, em termos, por exemplo, de preços e condições comerciais.

• Grau de habilidade que as organizações individuais dispõem para influenciar a procura no mercado
como um todo, pelas mais diversas formas, como a promoção do produto, aspectos qualificativos,
facilidades de comercialização etc.

• Facilidade com que as firmas entram e saem da indústria (setor – ou ramo de produção).

Comumente, as estruturas dos mercados mesclam elementos de monopólio, concorrência perfeita e


concorrência monopolística, dependendo de suas forças relativas.

46
PARTE IV

4.2 Os grandes mercados da economia

Quando falamos em mercado, estamos tratando do local onde se dá a interação entre os agentes
para a realização de transações como as de compra e venda de produtos.

O local, aqui indicado, não se refere sempre a um espaço, lugar físico, pois grandes mercados se
situam de modo virtual.

O primeiro caso identifica os mercados nos quais ocorrem as transações diretas com produtos.

Neste caso, podemos considerar os mercados:

• De bens e serviços: as famílias demandam e as empresas oferecem os bens e serviços necessários


à satisfação das necessidades humanas.

• De fatores de produção: as famílias oferecem e as empresas demandam os recursos (fatores de


produção, como capital, terra e trabalho) necessários à produção dos bens e serviços que serão
transacionados na economia.

Figura 15 – Central de distribuição de alimentos

Podemos classificar os mercados financeiros em:

• Mercados monetários: trocas de curto e curtíssimo prazo, visando oferecer liquidez aos agentes
econômicos. O grande indicador para esses mercados é a taxa de juros.

Observação

Liquidez é um termo muito usado em finanças e contabilidade. Reflete a


capacidade de determinado ativo, bem ou direito de uma entidade, pública
ou privada, de ser convertido em dinheiro.
47
ECONOMIA E MERCADO

• Mercados de crédito: fornecem recursos para o consumo ou o investimento dos agentes


econômicos.

• Mercados de capitais: permitem as trocas entre dinheiro e títulos financeiros.

• Mercados de câmbio: possibilitam, através das variações da taxa de câmbio, as trocas entre a
moeda nacional e externas (como o dólar norte-americano).

É possível, também, classificar os mercados em locais, regionais ou mundiais.

No primeiro caso, pode ser destacado o mercado imobiliário, de transações de bens imóveis. As
negociações envolvendo as trocas de moedas de diferentes países, entre os agentes econômicos, são
exemplo de mercado mundial, havendo grande influência de bolsas internacionais. As transações entre
a moedas são determinadas pelas variações na taxa de câmbio entre elas, que vigora em cada mercado.

No Brasil, compra-se moeda estrangeira com base no seu custo em reais.

4.3 Mercados em concorrência perfeita

Considera a teoria que estuda os livres mercados (capitalistas) que a economia será mais eficiente
quanto maior for o nível de concorrência entre os agentes econômicos, sejam eles consumidores, sejam
produtores.

O modelo denominado concorrência perfeita é caracterizado por uma grande quantidade de


participantes – tanto ofertantes quanto demandantes de bens e serviços.

Nessa estrutura, que é considerada a ideal para o funcionamento de uma economia, nenhum
dos agentes é capaz, isoladamente, de influenciar o preço e a quantidade de produtos que serão
transacionados no mercado.

A concorrência perfeita supõe o pleno funcionamento do mecanismo de preço como orientador da


quantidade a ser oferecida e, igualmente, que será adquirida pelos consumidores.

Os mercados em concorrência perfeita são caracterizados por:

• Existência de uma grande quantidade de agentes vendedores e compradores interagindo nos


movimentos de venda e compra de bens e serviços.

• Homogeneidade dos produtos. Supõe que não existem significativas diferenças entre os produtos
oferecidos. Os compradores podem, assim, adquirir o produto de qualquer ofertante.

• Transparência das informações de mercado. Tanto os vendedores como os compradores têm


amplo acesso a todas as informações do mercado, tanto no que se refere a preços como
à quantidade e qualidade. Também os aspectos referentes a custos e lucros dos concorrentes
48
PARTE IV

são conhecidos, o que faz com que não haja interesse por venda a preço abaixo daquele
vigente no mercado.

• Os agentes econômicos são tomadores de preço. Vendedores e compradores se sujeitarão ao


preço de mercado, não usufruindo de incentivos para reduzi-lo – posição compradora – ou
aumentá-lo – posição vendedora.

• Inexistem direitos de propriedade ou patentes, por exemplo, que, muitas vezes, impedem a entrada
de novos ofertantes.

• Não existem barreiras legais resultantes da ação governamental, como a exigência de determinadas
condições para o estabelecimento de empresas em diversos mercados.

• Os empresários sempre procuram maximizar seus lucros e os consumidores a sua satisfação ou


utilidade, agindo racionalmente.

Todas as hipóteses aqui apresentadas são válidas também para o mercado de fatores de produção
sob a forma de concorrência perfeita.

Sandroni (1999, p. 118) define concorrência como:

Também chamada livre-concorrência. Situação do regime de iniciativa


privada em que as empresas competem entre si, sem que nenhuma delas
goze da supremacia em virtude de privilégios jurídicos, força econômica ou
posse exclusiva de certos recursos. Nessas condições, os preços de mercado
formam-se perfeitamente segundo a correção entre oferta e procura, sem
interferência predominante de compradores ou vendedores isolados. Os
capitais podem, então, circular livremente entre os vários ramos e setores,
transferindo-se dos menos rentáveis para os mais rentáveis em cada
conjuntura econômica. Nesse caso, o mercado é concorrencial em alto
grau. De acordo com a doutrina liberal, propugnada por Adam Smith e
pelos economistas neoclássicos, a livre-concorrência entre capitalistas
constitui a situação ideal para a distribuição mais eficaz dos bens entre
as empresas e os consumidores. Com o surgimento de monopólios e
oligopólios, a livre-concorrência desaparece, substituída pela concorrência
controlada e imperfeita.

4.4 Mercados monopolistas

Nesse tipo de estrutura, há uma única grande empresa atuando como fornecedora do bem.

Usualmente, o mercado consumidor é constituído por agentes de menor porte. Constitui o extremo
oposto da concorrência perfeita.

49
ECONOMIA E MERCADO

O bem ou serviço oferecido não conta com um substituto próximo, ou seja, inexiste concorrente no
mercado em questão.

A inexistência de produtos substitutos próximos ocorre porque o produto comercializado é complexo


ou muito caro para ser produzido ou, ainda, pela existência de barreiras à livre entrada de novos
participantes no mercado.

Assim, o monopolista exerce grande influência na determinação do preço a ser cobrado do comprador.

Há barreiras legais ou estratégicas que impedem a participação de outras empresas, concorrentes,


no mercado.

Entre outros aspectos, é importante considerar que o monopolista:

• tem condições privilegiadas de acesso a determinada matéria-prima;

• detém patente industrial sobre o produto e/ou processo de fabricação;

• possui direitos autorais, sem possibilidade de acesso imediato por um competidor.

As condições de atuação do monopolista impedem a entrada de novos players em razão dos


seguintes aspectos:

• Existência de economias de escala, possibilitando a obtenção de maior quantidade produzida por


recurso de produção utilizado.

— A obtenção de economias (rendimentos positivos) de escala se efetiva porque o ofertante pode


aumentar a produção e, ainda assim, reduzir seus custos.
— Geralmente, as empresas que atuam em condições monopolistas apresentam elevados
custos fixos de produção – que não aumentam em virtude do crescimento da quantidade
oferecida, como ocorre com os aluguéis, cujos valores normalmente são independentes da
quantidade produzida.
— Os custos variáveis, por outro lado, aumentam com base na quantidade produzida e/ou
comercializada, como é o caso da matéria-prima que compõe o produto oferecido. Os custos
variáveis são relativamente baixos.
— Os custos fixos, portanto, são distribuídos por uma quantidade cada vez maior de unidades
oferecidas na medida em que a produção aumenta.

• Controle sobre a matéria-prima.

• Direitos autorais e patentes de produção, muitas vezes pelo privilégio de obtenção de uma
carta-patente, que impede o acesso de outros fabricantes à tecnologia de produto ou de processo.
50
PARTE IV

• Desenvolvimento de barreiras estratégicas: decorrem da ação das empresas já instaladas com o


intuito de evitar a entrada de concorrentes no mercado, destacando-se:

— Fixação de um preço limite: a organização existente pode adotar políticas de preços,


baixando-o e obrigando as potenciais entrantes a enfrentar prejuízos se decidirem entrar
no mercado.

— Capacidade de diferenciação (proliferação de marcas).

— Controle de inputs e outlets: a empresa presente no mercado controla o acesso aos fatores
produtivos e aos postos de vendas, dificultando a entrada de outras entidades no canal de
distribuição.

— Publicidade: o monopolista procura conquistar a fidelização dos consumidores.

Finalmente, cabem algumas considerações sobre o que se entende por monopólios naturais.

Isso acontece, como já vimos, pelo alto custo inicial necessário para o fornecimento dos
produtos ou serviços, como ocorre, por exemplo, com as companhias ferroviárias, de energia
elétrica ou telefonia.

Consumado o investimento, os custos para oferecimento dos serviços serão decrescentes para o
atendimento a uma extensa quantidade de consumidores e usuários.

O fato de serem monopolistas, porém, não propicia a esses agentes condições de requerer o preço que
desejarem para a comercialização desses produtos pelas seguintes razões: controle e regulamentações
governamentais e limitações impostas pela demanda dos consumidores.

O governo procura controlar os agentes monopolistas de forma a aumentar a competição no


mercado, como acontece com a atuação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),
no Brasil.

São estabelecidos limites para a liberdade de atuação nos mercados, com a intervenção do Estado
nos casos de concentração que determinem excesso de poder econômico.

As empresas são vigiadas com o intuito de incentivar a concorrência e não podem, por exemplo,
firmar acordos ilícitos para aumento dos preços dos produtos.

O Cade preocupa-se com o bom funcionamento do sistema competitivo dos mercados


para garantir não somente preços mais baixos, mas também produtos de maior qualidade,
diversificação e inovação. É uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça, com sede
e foro no Distrito Federal, que exerce, em todo o território nacional, as atribuições conferidas
pela Lei nº 12.529/2011.

51
ECONOMIA E MERCADO

Podem ser distinguidas as seguintes funções do Cade:

• Preventiva: analisar e posteriormente decidir sobre as fusões, aquisições de controle, incorporações


e outros atos de concentração econômica entre grandes empresas que possam colocar em risco a
livre concorrência.

• Repressiva: investigar, em todo o território nacional, e posteriormente julgar cartéis e outras


condutas nocivas à livre concorrência.

• Atribuição educacional ou de advocacia da concorrência: instruir o público em geral sobre


as diversas condutas que possam prejudicar a livre concorrência; incentivar e estimular estudos e
pesquisas acadêmicas sobre o tema, firmando parcerias com universidades, institutos de pesquisa,
associações e órgãos do governo.

Ainda é preciso considerar a atuação das agências reguladoras, a quem cabe o controle dos mercados,
de forma a evitar práticas inadequadas de preços ou de quaisquer ações que prejudiquem a sociedade.

As agências reguladoras são órgãos governamentais que exercem o papel de fiscalização,


regulamentação e controle de produtos e serviços de interesse público, tais como telecomunicações,
energia elétrica, serviços de planos de saúde, entre outros.

Elas são criadas por leis. Entre suas principais obrigações, destacam-se:

• o levantamento de dados sobre o mercado de atuação;

• a elaboração de normas disciplinadoras para o setor regulado;

• a fiscalização dessas normas.

Giambiagi (2015, p. 400) menciona:

Com a privatização, o Estado não desaparece; ele apenas muda de figura,


deixando de cumprir o papel de produtor do serviço e passando a assumir as
responsabilidades de regulador, ou seja, de fiscal do serviço, através da ação
das agências reguladoras.

A atuação das agências reguladoras deve ser fortalecida, tendo em vista o atendimento dos
seguintes objetivos:

• defesa de direitos do consumidor;

52
PARTE IV

• adequada gestão de contratos de concessão de serviços públicos delegados; e

• incentivo à concorrência, minimizando os efeitos dos monopólios naturais e desenvolvendo


mecanismos de suporte à concorrência.

No Brasil acentuam-se as seguintes agências reguladoras e suas atribuições: Aneel (energia elétrica),
ANP (petróleo), ANA (água), Anatel (telecomunicações).

4.5 O oligopólio

A característica fundamental que se observa nos atuais mercados é a prática da concorrência


imperfeita, isto é, com as estruturas de concorrência monopolística, que veremos a seguir, e o oligopólio.

Os oligopólios são representados por um pequeno número de empresas vendedoras em um mercado


que conta com um grande número de compradores, oferecendo produtos diferentes (oligopólio
diferenciado) ou idênticos (oligopólio puro).

Muitos consideram que o que se produz no mercado oligopolista é utilizado para o controle do setor
com base em um pequeno número de instituições, podendo gerar abusos em termos de práticas de
preços, por exemplo.

Há um tipo de concorrência nos oligopólios, mas com preços mais altos.

Existe, pois, colaboração mútua, mas voltada à manutenção do poder e eliminação da livre concorrência.

A concorrência entre os oligopolistas dá-se por meio da qualidade, design do produto ou, ainda,
propaganda e prestação de serviços ao cliente.

Observação

A Teoria dos Jogos ajuda a explicar e/ou orientar o funcionamento do


oligopólio.

Objetiva analisar problemas em que há interação entre os agentes. Assim,


as decisões individuais, de firma ou de governo afetam e são afetadas pelas
decisões dos demais agentes.

Vasconcellos (2007, p. 171) comenta:

Uma série de situações estudadas em economia pode ser analisada ou


“modelada” como um verdadeiro jogo, tal como o xadrex, o futebol, o
pôquer etc. São situações em que os agentes econômicos, interagindo uns
com os outros, têm que escolher entre diferentes estratégias, dentro de
53
ECONOMIA E MERCADO

regras estabelecidas (sistema jurídico, contratos, regulação pública etc.)[,]


visando a um resultado desejado. Como exemplo podemos citar o caso de
uma empresa que deseja lançar um novo produto no mercado. Na decisão
de qual estratégia adotar – lançar ou não o novo produto –[,] a empresa
deve levar em conta também as estratégias dos concorrentes. Isso porque
o lucro com o lançamento do novo produto, ou os resultados do jogo,
pode ser alterado de acordo com a resposta dos concorrentes, que também
podem lançar um novo produto similar. Outro exemplo pode ser encontrado
nas denominadas guerras comerciais entre os países. Determinado país,
digamos o país A, pode decidir pela estratégia de elevar as alíquotas
de importação de determinado produto proveniente do [...] B com vista
em, por exemplo, melhorar seu desempenho na balança comercial. Essa
estratégia pode ser seguida pelo país B. Este pode retaliar a estratégia do
país A, também elevando as alíquotas de importação provenientes deste
país, impedindo a esperada melhoria na balança comercial. Essas e outras
situações que envolvem problemas econômicos ou mesmo de outras áreas
das ciência[s] sociais podem ser adequadamente analisadas pela Teoria
dos Jogos.

Observação

São vários os modelos estudados pela Teoria dos Jogos. Um dos


conceitos fundamentais da Teoria é o de Equilíbrio de Nash, que caracteriza
uma situação estratégica em que a decisão tomada por um jogador é a
melhor resposta frente à decisão tomada pelos demais, e isto é válido para
todos os agentes.

O combate aos processos oligopolistas iniciou-se no fim do século XIX e início do XX, a partir da
constituição de grandes conglomerados industriais e financeiros.

Os oligopólios podem constituir:

• Cartéis: composto de empresas que se organizam (formal ou informalmente) e exploram um


produto (como é o caso do petróleo), diminuindo e/ou eliminando a concorrência no mercado,
fixando uma política para todo o setor em termos de cotas e quantidades.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), criada na década de 1960, é uma
organização intergovernamental de cunho permanente para administrar – de modo centralizado
– a política de produção e exportação dos países-membros (Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita,
Venezuela etc.). Controla os volumes de produção dos países-membros visando obter melhores
preços da commodity nos mercados mundiais. Desenvolve estratégias geopolíticas na produção e
exportação do petróleo.

54
PARTE IV

• Truste horizontal: formado por empresas do mesmo segmento econômico (como as


produtoras de leite).
• Truste vertical: controle de uma cadeia de produção, por exemplo, da plantação de cana-de-açúcar
até a produção industrial do açúcar e do álcool.
• Conglomerados: instituição que atua em vários ramos de produção, como a fabricação de
automóveis, televisores etc.
• Holdings: é o caso de empresas que controlam outras, com base na posse da maioria das ações.

Essa estrutura está relacionada com a interdependência econômica, afetando as decisões sobre
preços e quantidades. A decisão de um vendedor influi no comportamento econômico de outros.

4.6 Concorrência monopolística

Nesse tipo de estrutura de mercado, verifica-se a presença de muitas empresas (em grande
número, porém ainda assim menor do que na concorrência perfeita) oferecendo produtos
diferenciados, mas substitutos próximos entre si, definindo especificidades nos produtos, como
roupas, restaurantes, pastas de dentes e refrigerantes com marcas específicas que as identificam
perante os consumidores.

O produtor de determinada marca usufrui vantagens características de um monopolista, oferecendo


seu produto a um preço que lhe convém e maximizando seus lucros.

Nesses mercados, diferentemente do que ocorre com os monopólios e os oligopólios, há livre entrada
de agentes (participantes) no mercado.

A concorrência monopolística é, na verdade, uma estrutura intermediária entre a concorrência


perfeita e o monopólio.

Os participantes dessa estrutura usam amplamente a propaganda e a publicidade para controlar a


preferência e a fidelidade dos consumidores através do apoio às suas marcas. Cada empresa procura
controlar pequenas parcelas do mercado.

4.7 Mercados com forte concorrência pelo lado do consumidor

Há situações monopolistas e oligopolistas entre o conjunto de consumidores (compradores) dos vários


produtos disponíveis na economia. Respectivamente, são as estruturas conhecidas como monopsônio
e oligopsônio.

Assim, com muitos vendedores e uma só empresa compradora, teremos o monopsônio.

No oligopsônio há uma situação parecida (mas inversa) à do oligopólio. Neste caso, poucos
compradores interagem no mercado com um grande número de vendedores.
55
ECONOMIA E MERCADO

O poder de monopsônio está estreitamente relacionado com o tipo de elasticidade da oferta do


mercado. Quanto maior for a elasticidade da oferta, maior será o poder do comprador.

4.8 A matriz de Stackelberg

Trata-se de um modelo simplificado que classifica as estruturas de mercado com base no número de
agentes envolvidos em cada um dos dois lados – o da procura e o da oferta.

Prevê, tanto do lado da oferta como da procura, três situações possíveis:

• apenas um agente econômico;

• uma pequena quantidade de agentes; e

• uma grande quantidade de agentes econômicos.

A combinação dessas três situações conduz à construção de uma matriz de nove diferentes estruturas
possíveis, conforme demonstrado na figura a seguir:

Consumidores

Grande quantidade de
Monopólio Oligopólio Concorrência perfeita
consumidores

Pequena quantidade de
consumidores Quase-monopólio Oligopólio bilateral Oligopsônio

Um único consumidor Monopólio bilateral Quase-monopsônio Monopsônio

Pequena quantidade de Grande quantidade de Vendedores


Um único vendedor
vendedores vendedores

Figura 16 – Estruturas de mercado, segundo Stackelberg

O gráfico cartesiano foi adotado com três faixas verticais e três horizontais, identificando os portes,
respectivamente, de vendedores e consumidores, sempre considerando:

• apenas um participante;

• pequena quantidade de participantes;

• grande quantidade de participantes.

56
PARTE IV

Na parte superior esquerda da matriz, está situada a estrutura de monopólio, caracterizada pela
interação entre um grande número de consumidores e um único vendedor.

Ela é oposta à concorrência perfeita, marcada por um grande número, tanto de vendedores quanto
de compradores.

A matriz também ressalta o monopsônio e o oligopsônio, que focam a preocupação com a


concorrência entre os consumidores de bens e serviços.

Notam-se, ainda, outras estruturas que combinam diferentes condições de participação entre os
agentes vendedores e compradores, como:

• quase-monopólio;

• monopólio bilateral;

• quase-monopsônio;

• oligopólio bilateral.

Vasconcellos (2007, p. 427) define esse tipo de estrutura de mercado como:

é a forma de mercado em que um monopsonista, na compra de um insumo,


defronta-se com um monopolista na venda desse insumo. Por exemplo, uma
única fábrica, em uma cidade do interior (monopsonista)[,] que se defronta
com um único sindicato de trabalhadores (monopolista na venda).

Observação

Stackelberg foi um dos grandes estudiosos das estruturas de


concorrência imperfeita dos mercados capitalistas, notadamente
dos oligopólios.

57
ECONOMIA E MERCADO

O quadro a seguir sintetiza e exemplifica casos das estruturas de mercado.

Quadro 2

Acesso
Objetivo da Número de Tipo de de novas Lucros a longo Exemplos
Estrutura
empresa firmas produto empresas ao prazo (aproximados)
mercado
Concorrência Maximização Infinitas Homogêno
Não existem
Lucros normais
Hortifrúti-
perfeita de lucros(1) barreiras -granjeiros
Maximização Lucros Palhas de aço
Monopólio Uma Único Barreiras
de lucros(1) extraordinários (Bom-bril)
Concorrência Maximização Muitas Diferenciado(3) Não existem
Lucros normais
Médicos
monopolística de lucros(1) barreiras dentistas
Oligopólio
Oligopólio Maximização
concentrado: Homogêneo:
poucas empresas alumínio (CBA,
de lucros(1)
Modelo clássico Homogêno ou Barreiras (4)
Lucros Alcan, Alcoa)
Oligopólio diferenciado(3) extraordinários
Maximização
Modelo de mark-up(2) competitivo: Diferenciado:
mark-up poucas dominam automóveis
o setor
1. Maximixação de lucro: RMg = CMg
2. Mark-up = receita de vendas - custos diretos
3. Diferenciação devido a:
— características físicas (potência, composição química);
— promoção de vendas (propagandas, atendimentos, brindes);
— embalagem;
— manutenção.
4. Barreiras à entrada:
— monopólio/oligopólio puro ou natural, devido à grande escala de produção;
— reserva de patentes;
— controle de matérias-primas básicas;
— tradição.

Fonte: Vasconcellos (2007. p. 79).

Resumo
Nesta unidade abordamos as questões relacionadas com a formação
de preços e a atuação nos mercados pelos agentes econômicos, sejam
consumidores, sejam produtores de bens e serviços.

Estudamos as leis da demanda e da oferta de bens e serviços.

A demanda representa a intenção de compra pelos consumidores,


variando em razão dos preços das mercadorias e serviços, da renda disponível
pelos compradores, dos preços cobrados por bens complementares e
substitutos etc.

58
ECONOMIA E MERCADO

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E
CONSIDERAÇÕES ACERCA DA
ECONOMIA MONETÁRIA
Apresentamos alguns assuntos relacionados à Teoria Macroeconômica, seus questionamentos
centrais e sua importância. Vamos estudar a contabilidade social, notadamente as medidas de atividade
econômica, a identidade entre renda e produto, bem como os conceitos de valor bruto da produção e
valor agregado até chegar à medida maior, que é o PIB e suas variantes. Também assinalaremos como o
governo interfere na atividade econômica, via políticas econômicas, e nas questões monetárias.

5 INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA

A Teoria Macroeconômica tem por objetivo fundamental analisar como são determinadas as
variáveis econômicas em sua forma agregada. Essa teoria, conhecida como abordagem de equilíbrio
geral, procura avaliar se o nível de atividade econômica tem crescido ou diminuído e se os preços das
mercadorias, conjuntamente, indicam elevação ou diminuição.

Diferentemente da Teoria Microeconômica, a Teoria Macroeconômica observa grandes mercados,


como os de bens e serviços, o de trabalho, o mercado monetário – em decorrência da participação da
moeda como meio de troca por mercadorias –, o mercado de títulos e, por fim, examina o mercado de
divisas internacionais, pois os países mantêm relações entre si, de modo que as moedas, as chamadas
divisas, que são reguladas pelo mercado cambial ou pelo governo, também são objeto de investigação
dessa teoria.

Essa teoria preocupa-se, portanto, em estudar o grupo dos consumidores de uma sociedade, assim
como o seu conjunto de empresas. O interesse é designar os fatores que influenciam o nível total de
renda e do produto do sistema econômico.

Os fatos macroeconômicos afetam a vida de todos nós. Muitos empresários planejam a elevação
ou diminuição das quantidades produzidas de seus bens levando em conta qual será, por exemplo, o
comportamento da renda da sociedade durante um determinado período de tempo.

Observação

A preocupação macroeconômica reside em conhecer o nível de renda de


todos os indivíduos de uma sociedade, diferentemente da microeconomia,
que está focada na renda do consumidor individual.

Apresentamos alguns dos elementos levantados pela Teoria Macroeconômica:

• comportamento do nível geral de preços;


59
PARTE V

• comportamento do nível geral de produção de mercadorias;

• taxa de salários dos trabalhadores;

• nível de emprego e de desemprego;

• comportamento da taxa de juros da economia;

• quantidade de moeda que circula em um sistema econômico;

• quantidade de divisas internacionais que um país mantém como reservas;

• variação da taxa de câmbio entre a moeda nacional e a internacional;

• tamanho do endividamento do governo;

• taxa de investimento das empresas.

Segundo Gregory Mankiw (1995, p. 2),

[...] os macroeconomistas são cientistas que procuram explicar o funcionamento


da economia como um todo. Reúnem dados sobre rendas, preços, desemprego
e outras variáveis em diferentes épocas e diferentes países. Procuram, então,
elaborar teorias gerais que ajudem a explicar esses dados.

A Teoria Macroeconômica compreende, então, a análise de todos os mercados, envolvendo os preços


e quantidades das mercadorias, admitindo que modificações em algum mercado específico ou alterações
em qualquer de suas variáveis afetam o comportamento de outros mercados.

Pense que, em um determinado momento, uma empresa de grande porte do ramo farmacêutico
esteja com problemas em suas finanças. Possui aproximadamente 250 funcionários diretos e, para ajustar
sua estrutura de custos, anuncia uma política de demissão de 80 colaboradores. Como essas pessoas
perderam seus empregos, não têm mais renda. Assim, como conseguirão atender às suas necessidades
de consumo? Suponhamos que essas 80 pessoas sejam chefes de família e que essas famílias sejam
compostas de quatro membros: pai, mãe e dois filhos. Esse indivíduo não tem condições de pagar o
estudo particular dos filhos, que ainda são menores de idade. Dessa forma, eles passarão a estudar no
ensino público. A família possuía convênio médico (seguro-saúde), que também será cancelado, e a
família dependerá do serviço público. Menos roupas serão adquiridas, as idas ao cinema serão cortadas,
assim como os refrigerantes e o sorvete no fim de semana. Quem foi afetado com a demissão efetuada
pela indústria farmacêutica? Vejamos:

• os funcionários, com a perda do emprego;

• os membros de suas famílias;


60
ECONOMIA E MERCADO

• a escola dos filhos, que deixará de receber as mensalidades e poderá ter dificuldades para manter
sua estrutura de custos;

• a empresa que administrava o convênio médico desta família, que terá menos recursos para
remunerar os médicos conveniados;

• o governo, e duplamente: primeiro, pela perda de arrecadação com impostos em razão da queda
de consumo; segundo, pelo aumento das despesas da rede pública de ensino e do Sistema Único
de Saúde, pois elevarão os atendimentos;

• a instituição que exibe filmes nos cinemas, já que algumas famílias não terão esse tipo de lazer;

• a entidade que produz refrigerantes e o mercado da esquina que os vende;

• o sorveteiro e a indústria que produz sorvetes.

Vamos adiante em nossa análise.

As escolas que deixarão de receber mensalidades também têm funcionários, e se o número de alunos
diminuir, o mesmo ocorrerá com o quadro de professores, de assistentes e demais trabalhadores, e já
destacamos o que acontecerá. A empresa que administra convênio médico terá o mesmo problema: mais
pessoas sem renda. Nesse ponto, você já é capaz de pensar no cenário dos demais setores da economia.

Em uma situação como a descrita, algo deve ser feito para que a atividade econômica volte a
ser operante, bem como os empregos retomados. É nesse contexto que a atuação do governo se faz
presente na análise macroeconômica. É a partir do exame de equilíbrio geral que são formuladas as
diretrizes da política econômica. Portanto, o conhecimento da macroeconomia ajuda as autoridades
públicas a avaliarem políticas alternativas, por meio dos instrumentos de intervenção, por exemplo,
através de parte fiscal, monetária, cambial, de rendas ou demais mecanismos de política.

Conforme Moraes (1996, p. 196):

A macroeconomia estuda o comportamento de variáveis que representam


a soma (ou a média) de quantidades e preços em mercados em uma escala
nacional. O tipo de modelo que se associa à macroeconomia é, por essa
razão, chamado de agregativo. Os principais problemas estudados pelo
enfoque macroeconômico são o desemprego, a inflação, os efeitos das
políticas econômicas sobre essas variáveis, o crescimento econômico e a
distribuição de renda.

61
PARTE V

Podemos esquematizar a divisão do estudo da economia:

Economia

Dividide-se em:

Microeconomia Macroeconomia

Estudo de comportamento econômico de: Estudo de comportamento econômico do:

Empresas Famílias Governo País

Figura 17 – Divisão do estudo da economia: micro e macro

Em um sistema econômico moderno, produz-se grande variedade de bens e serviços, desde


automóveis até parafusos e alfinetes, como aparelhos eletroeletrônicos, produtos hortifrutigranjeiros e
serviços médicos e bancários. Sem contar laranjas, sapatos, ventiladores etc. Como medir tudo isso? Uma
das maneiras de avaliar o desempenho da economia é por meio da avaliação da produção agregada de
bens e serviços. Contudo, algumas questões vêm à tona: como é possível somar a produção de pares de
sapatos com quilos de maçãs e litros de leite? Como medir tudo isso em uma única unidade de medida
para verificar qual o produto agregado de uma nação?

Saiba mais

SILVA, C. R. L. da; LUIZ, S. Economia e mercados: introdução à economia.


19. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

5.1 Medição do produto nacional

Nesse momento, é pertinente perguntar como medir a produção realizada pelo sistema econômico,
tendo em mente que ela é contínua no tempo: os bens e serviços são produzidos e consumidos, sendo
necessário produzi-los novamente, pois grande parte das necessidades humanas exige um consumo
ininterrupto, como é o caso da alimentação, que precisa ser feita diariamente (SILVA; LUIZ, 2010).

É neste contexto que surge a contabilidade nacional: “[...] método de mensuração e interpretação da
atividade econômica que tem como objetivo medir a produção que se realiza em um sistema econômico
em um determinado período” (SILVA; LUIZ, 2010, p. 44). Para medir o produto de uma nação, temos que
62
ECONOMIA E MERCADO

examinar as quantidades de mercadorias que são vendidas em determinado período de tempo e seus
respectivos preços. Quando são usados os preços de mercado, pares de sapatos, quilos de maçãs e litros
de leite podem ser somados e comparados:

Quadro 3 – Utilização dos preços de mercado para somar diferentes produtos

Produto Quantidade Preço Valor de mercado


Pares de sapatos 1.000 pares R$ 40,00 o par R$ 40.000,00
Maçãs 3.000 quilos R$ 3,00 o quilo R$ 9.000,00
Leite 5.000 litros R$ 1,30 o litro R$ 6.500,00
Total R$ 55.500,00

Com o exemplo apresentado, podemos chegar à medida de produto nacional, que será dada pelo
valor monetário dos bens e serviços finais produzidos durante um determinado período de tempo, em
geral um ano. Nesse exemplo, o produto nacional dessa nação hipotética seria de R$ 55.500,00.

Observação

Não é possível somar unidades com quilos mais litros, mas é possível
somar o valor monetário que representam.

5.2 Identidade entre produto, despesa e renda nacional

Já sabemos que o fluxo circular da renda mostra os fluxos reais e monetários. No fluxo real, temos de
um lado bens e serviços sendo destinados das empresas para as famílias. Quanto ao fluxo monetário, as
famílias geram receitas às organizações como pagamento da aquisição de bens e serviços, e estas geram
rendas às famílias como remuneração à utilização dos fatores de produção.
Gasto (R$) (= PIB) Receitas (R$) (= PIB)
Mercado de produtos

Bens e serviços Bens e serviços


comprados vendidos
Fluxo de bens e serviços

Famílias Fluxo de dinheiro Empresas

Terra, capital, Insumos


trabalho e para a
empreendedorismo produção
Salários, aluguéis, juros e
Mercado de fatores de produção lucros (R$) (= PIB)
Renda (R$) (= PIB)

Figura 18 – Modelo de fluxo circular da renda e do produto

63
PARTE V

O fluxo circular da renda mostra o desenvolvimento de outros dois mercados: o de bens e o de


fatores, que fazem parte do mercado real. No mercado de bens, aquele em que as empresas vendem às
famílias sua produção, são estabelecidos os preços das mercadorias e suas respectivas quantidades. Já
no mercado de fatores, aquele em que as famílias vendem às empresas fatores de produção, são fixadas
as remunerações de cada um desses fatores e em quais quantidades serão utilizadas. Por exemplo, é no
mercado de fatores que serão determinados os valores dos salários da mão de obra que será aplicada.

Na Teoria Microeconômica, os mercados também são considerados, tanto em termos de demanda


como de oferta e, portanto, de definição de preços e quantidades. Lá, a discussão é individual; aqui,
no agregado.

Assim, o fluxo circular da renda, na forma apresentada, é uma versão bem simplificada da realidade
ou do funcionamento de uma economia. No entanto, apesar de simples, podemos retirar a partir dele
vários conceitos, como os de produto nacional e de renda nacional.

O produto nacional (PN) é o valor monetário de todos os bens e serviços finais produzidos na
economia em determinado período de tempo. Portanto, a renda nacional (RN) será o total de pagamentos
efetuados aos fatores de produção que foram usados para a obtenção desse produto.

Então, sabemos que há uma identidade entre produtos e renda: PN = RN.

Vejamos um exemplo.

Tabela 9 – Produção e renda

Produção Renda
Sapatos R$ 40.000,00 Salários R$ 25.900,00
Maçãs R$ 9.000,00 Juros R$ 10.480,00
Leite R$ 6.500,00 Aluguel R$ 8.430,00
Lucros R$ 10.690,00
Total R$ 55.500,00
Total R$ 55.500,00

Conforme o exemplo, sabemos que o produto total da economia, o produto nacional, foi de R$
55.500,00 e, para que fossem produzidos sapatos, maçãs e leite nesse país, foi necessário utilizar
trabalhadores, capital, terra e capacidade empresarial. Se esses fatores de produção foram aplicados,
então eles foram remunerados.

Lembrete

O uso de fatores gera remuneração, e a soma de todas as remunerações


resulta na renda da sociedade.

64
ECONOMIA E MERCADO

O total de produção de sapatos, maçãs e leite gerou R$ 25.900,00 em salários, R$ 10.480,00 de juros,
R$ 8.430,00 de pagamentos pelo aluguel e, por fim, R$ 10.690,00 de lucros, que foram reinvestidos
na própria produção. No entanto, essa renda que foi gerada na produção deve retornar à produção na
forma de consumo.

Observação

Estamos, por simplificação, supondo que essa economia hipotética


produza apenas três bens, mas sabemos que além destes há uma enorme
variedade. Os valores são meramente ilustrativos.

Portanto, chegamos à outra identidade:

Produto = renda = consumo

De outra forma:

Produto nacional = renda nacional = dispêndio nacional

PN = RN = DN

Vejamos:

Tabela 10 – Produção, renda e consumo (em R$)

Produção Renda Dispêndio


Sapatos 40.000,00 Salários 25.900,00 Despesas de consumo
Maçãs 9.000,00 Juros 10.480,00 Alimentação 17.400,00
Leite 6.500,00 Aluguel 8.430,00 Vestuário 3.420,00
Lucros 10.690,00 Habitação 7.330,00
Higiene 1.480,00
Saúde 5.330,00
Transporte 2.900,00
Educação 10.280,00
Lazer 730,00
Outras despesas
Impostos 1.080,00
Despesas com acumulação
Poupança 5.550,00
Total 55.500,00 Total 55.500,00 Total 55.500,00

65
PARTE V

Observação

Ao analisar a tabela anterior, você consegue visualizar o fluxo circular


da renda? A produção está representando as empresas, a renda expressa os
consumidores e o dispêndio, a renda que retorna às empresas.

Além dos conceitos de produto nacional, renda nacional e de dispêndio nacional, devemos proceder
ao conhecimento de outros conceitos, que também surgem por meio do fluxo circular da renda.

5.3 Valor bruto da produção e valor agregado

Vamos supor que essa economia hipotética da qual estamos tratando também produza pães, já que
existem gastos com alimentação, conforme demonstrado pelas categorias de dispêndio.

Sabemos que o pão que consumimos em nosso café pela manhã não surge do nada, é fabricado
por meio da combinação de fatores de produção, e um deles bastante importante à produção de pães
é a farinha, derivada do trigo. O trigo, por sua vez, é proveniente da atividade agrícola, setor primário
da economia, e será transformado em farinha por meio do processo de industrialização, categorizando,
então, o setor secundário da economia. Depois, a farinha será utilizada para fazer o pão e será
comercializada pelo setor terciário da economia.

Vamos admitir que quem transforma o trigo em farinha não produz esse cereal, mas sim o adquire,
e que o mesmo acontece com o produtor de pães. Ele não produz farinha, mas a compra para usá-la.
Então, estão inclusos no preço do pão os custos de fabricação; da mesma forma, o gasto com a aquisição
de trigo está inserido no preço da venda final da farinha.

Acentuamos um exemplo que destaca as relações entre diferentes setores de atividade econômica:

• Setor primário: atividades de extração, agricultura e pecuária.


• Setor secundário: atividades da indústria.
• Setor terciário: atividades do comércio e dos serviços.

Vamos ao exemplo:

Tabela 11 – Estágios de produção de pão (em R$)

Estágios da produção Vendas do período Custos do período Valor adicionado


Trigo 30,00 – 30,00
Farinha 50,00 30,00 20,00
Pão 90,00 50,00 40,00
Total 170,00 80,00 90,00

66
ECONOMIA E MERCADO

Vimos que o trigo foi vendido ao mercado pelo valor de R$ 30,00. Portanto, quem o comprou
teve um dispêndio total de R$ 30,00. Provavelmente, quem o adquiriu é a indústria que o
transformará em farinha. Após esse processo, a farinha é vendida ao mercado por R$ 50,00. Como
nesse preço de venda está embutido o custo de produção, ou seja, o custo com a aquisição de
fatores de produção, o que o setor secundário agregou ao produto dessa economia foi somente
R$ 20,00, isto é, a diferença entre o preço de venda de sua mercadoria e os valores gastos com
bens intermediários.

Seguindo esse raciocínio, a farinha foi vendida no mercado por R$ 50,00, e quem a adquiriu incorreu
em um dispêndio total de mesmo valor. Contudo, quem comprou a farinha vai transformá-la em pão,
que será o produto da venda do setor terciário da economia. O pão, de acordo com o exemplo, será
vendido por R$ 90,00, mas como foram gastos R$ 50,00 em custos de fatores de produção, foram
agora agregados ao produto nacional dessa economia somente R$ 40,00. Portanto, chegamos a novos
conceitos: valor bruto e valor agregado.

Entende-se por valor bruto da produção o cálculo do que cada ramo de atividade recebeu com
as vendas de bens, que no exemplo anterior representaria R$ 170,00. Já o valor agregado ou valor
adicionado é o cálculo do que cada ramo de atividade adicionou ao valor do produto final, em cada
etapa do processo produtivo, que nesse exemplo é de R$ 90,00.

Assim, o valor do produto agregado dessa economia é R$ 90,00, que corresponde à produção
do último bem final dessa economia. Esse valor pode também ser obtido somando-se o valor
adicionado em cada etapa do processo produtivo. Já o valor bruto da produção é a soma do
valor de cada um dos bens na economia, que, em nosso exemplo, é igual a R$ 170,00. Esse
valor apresenta o problema da dupla contagem, pois no valor de cada produto também foram
incluídos os valores dos insumos necessários à sua produção, ou seja, o chamado consumo
intermediário. Então,

VBP – VBI = VA

Onde:

VBP = valor bruto da produção.

VBI = valores de bens intermediários.

VA = valor agregado ou valor adicionado.

A tabela a seguir sumariza os valores encontrados em cada setor de atividade econômica.

67
PARTE V

Tabela 12 – Valor bruto da produção, valor de bens intermediários e valor agregado

Setor de atividade econômica Atividade VBP VBI VA


Setor primário Trigo (agricultura) 30,00 – 30,00
Setor secundário Farinha (indústria alimentícia) 50,00 30,00 20,00
Setor terciário Pão (comércio) 90,00 50,00 40,00
Total 170,00 80,00 90,00

5.4 Demais medidas agregadas

A partir da identidade macroeconômica básica em que o produto é igual à renda, que é igual ao
dispêndio, podemos verificar como são demonstradas as demais medidas agregativas de um sistema
econômico. Iniciaremos pelo Produto Interno Bruto (PIB).

O PIB refere-se ao valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território
econômico do país, independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras
desses bens e serviços, excluindo as transações intermediárias. É obtido por meio da seguinte fórmula:

PIB = C + I + G + X + M

Onde:

PIB = Produto Interno Bruto.

C = consumo das famílias.

I = investimento das empresas.

G = gastos do governo.

X = exportações.

M = importações.

Outra medida agregada é o Produto Nacional Bruto (PNB), que é obtido pelo valor de mercado de
todos os bens e serviços finais produzidos na economia em um dado período de tempo. Sua fórmula é:

PNB = C + I + G + (X – M)

Onde:

PNB = Produto Nacional Bruto.

68
ECONOMIA E MERCADO

C = consumo das famílias.

I = investimento das empresas.

G = gastos do governo.

(X – M) = exportações líquidas.

Exemplo de aplicação

Faça uma pesquisa nos mais diversos meios de informação para verificar por que motivo o Brasil
anuncia PIB e os Estados Unidos anunciam PNB. Você verá que há um motivo forte.

Saiba mais

Acesse o site do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e


veja como esse órgão divulga os dados da produção dos três setores da
economia, bem como a estimação do Produto Interno Bruto.

<www.ibge.gov.br>.

Definido o PNB como o valor de mercado dos bens e serviços finais produzidos na economia, em um
determinado período de tempo, e que, portanto, é avaliado em termos monetários, precisamos observar
um aspecto bastante importante.

Se, por exemplo, anunciamos que de um ano para outro houve aumento da ordem de 25% no PNB
de um país, resta descobrir sua causa: as quantidades de mercadorias aumentaram? Ou os preços das
mercadorias que sofreram elevação? Para tanto, precisamos diferenciar PNB nominal de PNB real. O PNB
nominal mede o valor da produção associado aos preços prevalecentes no período durante o qual o bem
é produzido. Já o PNB real mede o valor da produção em qualquer período com relação aos preços de
um ano-base. Ele nos mostra uma estimativa real ou física na produção entre anos específicos.

Outra medida de atividade econômica pode ser verificada por meio do Produto Nacional Líquido
(PNL), que é o agregado econômico que define o valor dos bens e serviços finais realmente acrescentados
à riqueza nacional. Consiste na produção líquida total gerada pela economia de um país no período
de um ano. Ele se diferencia do PNB por conceber apenas os investimentos líquidos, ou seja, exclui
dos investimentos brutos da depreciação e desconsidera o desgaste de fatores de produção fixos da
economia. Dessa forma,

PNL = C + Il + G + (X – M)

69
PARTE V

Onde:

PNL = Produto Nacional Líquido.

C = despesas com consumo.

Il = despesas com investimentos líquidos.

G = despesas do governo.

(X – M) = exportações líquidas.

5.5 Indicadores de crescimento e de desenvolvimento econômico

Uma das preocupações da análise macroeconômica refere-se ao potencial de crescimento da renda


que determinada economia consegue gerar ao longo do tempo e de que forma a sociedade pode ter sua
vida melhorada a partir do crescimento de tal renda. É o que passamos a tratar.

5.5.1 Medidas de crescimento: o PNB e o PIB

O Produto Nacional Bruto (PNB) e o Produto Interno Bruto (PIB) são medidas que possibilitam mensurar
o tamanho do bolo, ou seja, o que foi produzido de renda em determinado país. O PNB per capita e o PIB
per capita dão a noção de média de apropriação do produto por habitante: o PNB per capita dá o valor
de cada parcela de PNB apropriada por habitante; da mesma forma, o PIB per capita dá o valor de cada
parcela do PIB apropriada por habitante. Vejamos, então, a diferença entre os dois conceitos.

O PIB representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos no
país (ou na região considerada) em determinado período de tempo. Para o seu cálculo, ele descarta a
renda do exterior, tanto a recebida quanto a enviada. Sendo N o número de habitantes, o PIB per capita
será dado por:

PIB per capita = PIB/N

O PNB difere do PIB porque ele abrange tanto as rendas enviadas para o exterior quanto as recebidas
pelo exterior. Assim:

PNB = PIB – REE (Receita Enviada para o Exterior) + RRE (Receita Recebida do Exterior).

O PNB per capita será dado por:

PNB per capita = PNB/N

Nos países em desenvolvimento, o PNB é menor do que o PIB. Isso ocorre porque, nesses países, há
considerável remessa de lucros para o exterior.
70
ECONOMIA E MERCADO

No que diz respeito ao desenvolvimento, há controvérsias quanto ao seu real significado. Para
Souza (2009), há uma corrente de economistas que explicam o desenvolvimento como subproduto do
crescimento. Aqui residem modelos que enfatizam a acumulação de capital e sua igual repartição como
forma de desenvolvimento e melhoria das condições de uma nação. A ideia é a de que o crescimento
econômico, distribuindo diretamente a renda entre os proprietários dos fatores de produção, quaisquer
deles, leva à melhoria dos padrões de vida e ao desenvolvimento econômico.

No mundo contemporâneo, vê-se que a coisa não é tão simples assim: o desenvolvimento econômico
não pode ser confundido com crescimento, porque os frutos dessa expansão nem sempre beneficiam a
economia como um todo e com o conjunto da população. Por mais que haja crescimento exacerbado
da produção industrial, isso pode ser reflexo tanto da elevação da produtividade da mão de obra quanto
da expansão da demanda de mercados internos ou internacionais. Ainda, a expansão do produto pode
atender também à elevação da produtividade industrial como derivado da mecanização da produção,
experiência vivida por diversas economias que conseguiram superar os entraves do subdesenvolvimentismo
e conheceram a tecnologia como forma de produção poupadora de mão de obra.

Associado ao crescimento econômico, outros efeitos perversos podem estar ocorrendo, tais como:

• Transferência de renda para outros países: reduz a capacidade de importar por parte da
economia doméstica e mesmo de realizar investimentos tecnológicos.

• Apropriação de excedente, produtivo ou financeiro, por poucas pessoas: eleva a concentração


da renda e da riqueza, causando precarização das condições de uma parcela da sociedade.

• Baixos salários aos empregados de setores industriais: limita o crescimento da demanda e


dos investimentos nos setores que produzem alimentos e outros bens de consumo popular.

• Dificuldades para implantação de atividades interligadas às empresas que mais crescem,


exportadoras ou de mercado interno: impacta negativamente na produtividade do país.

Alguns pesquisadores encaram crescimento e desenvolvimento como coisas distintas: enquanto


o primeiro trata-se de um mero indicador quantitativo do produto de uma nação, o outro envolve
mudanças qualitativas em diversas frentes, a exemplo da estrutura econômica e produtiva de um país,
melhoria no relacionamento com o meio ambiente e diminuição da pobreza e da miséria.

Para Bresser-Pereira e Gala (2008, p. 79),

O desenvolvimento econômico depende, do lado da oferta, dos recursos


naturais existentes, do estoque de capital físico disponível e da capacidade
humana de produção, e, do lado da demanda, da acumulação de capital,
do consumo e das exportações. Oferta e demanda devem crescer de forma
equilibrada, mas uma característica universal das economias capitalistas, e
principalmente daquelas em desenvolvimento, é que a oferta geralmente
excede a demanda, ocorre generalizado desemprego de recursos humanos,
71
PARTE V

a emigração de pessoal educado para os países ricos é alta e as taxas de


crescimento são baixas.

Por essa visão, entende-se desenvolvimento econômico como um processo de longo prazo em que
ocorre a acumulação de capital, e o progresso técnico é incorporado tanto para elevar a produtividade
do capital quanto da força de trabalho em termos de produtividade.

No processo de desenvolvimento, assim definido, já se acham implícitos


os fenômenos socioeconômicos que necessariamente o acompanham:
transferência de grandes massas da população do campo para as cidades,
constituição de um parque industrial mais ou menos amplo, aumento da
produtividade do trabalho, melhoria do padrão de vida tanto da população urbana
como da rural e elevação de seu nível cultural (BERLINCK; COHEN, 1970, p. 47).

5.5.2 Medidas de desenvolvimento: IDH, Curva de Lorenz e Índice de Gini

Alguns indicadores permitem avaliar o grau de desenvolvimento econômico de uma nação. Agora
vamos estudá-los.

5.5.2.1 O IDH

A mensuração do desenvolvimento humano, feita por meio do Índice de Desenvolvimento Humano


(IDH), contrapõe-se ao conceito de crescimento econômico. Parte-se do princípio de que, para verificar
o avanço de uma população em termos de desenvolvimento, é necessário analisar as demais condições
da sociedade, a exemplo da expectativa de vida e questões relacionadas aos níveis educacionais, que vão
além da questão puramente econômica, financeira.

O índice, desenvolvido pelos economistas Mahbub ul Haq e Amartya Sen, é construído levando-se
em conta:

• a Renda Nacional Bruta per capita (corrigida pela paridade do poder de compra, tendo como base
o ano de 2005);

• a longevidade (medida pela expectativa de vida ao nascer);

• a educação (avaliada por dois indicadores: média de anos de educação de adultos e expectativa
de anos de escolaridade para crianças em idade de iniciar a vida escolar).

Observação

Há que se considerar que o índice não abrange todos os aspectos de


desenvolvimento e não é uma representação da “felicidade” das pessoas
nem indica “o melhor lugar no mundo para se viver” (PNUD, [s.d.]).
72
ECONOMIA E MERCADO

As mudanças na metodologia do IDH em 2010

Não é a primeira vez que o IDH passa por mudanças. A disponibilidade de novos dados e
as sugestões de alguns críticos fizeram com que o índice se adaptasse ao longo das últimas
décadas. A fim de possibilitar que sejam verificadas tendências no desenvolvimento humano,
a equipe responsável pelo relatório usou uma nova metodologia para calcular o IDH de 2010
e dos anos subsequentes.

Os pilares do IDH não foram alterados: o índice varia de 0 a 1 (quanto mais próximo de 1,
maior) e engloba três dimensões fundamentais do desenvolvimento humano: conhecimento
(mensurado por indicadores de educação), saúde (medida pela longevidade) e padrão de
vida digno (medido pela renda). Mas houve modificações em alguns indicadores e no cálculo
final do índice.

Subíndice de longevidade

Não mudou: continua sendo medido pela expectativa de vida ao nascer.

Subíndice de educação

É o único que engloba dois indicadores, e ambos foram alterados. Sai a taxa de
alfabetização, entra a média de anos de estudo da população adulta (25 anos ou mais).
Para averiguar as condições da população em idade escolar, em vez de taxa bruta de matrícula
passa a ser usado o número esperado de anos de estudos (expectativa de vida escolar, ou
tempo durante o qual uma criança ficará matriculada se os padrões atuais se mantiverem
ao longo de sua vida escolar). Essas alterações foram feitas porque alguns países, sobretudo
os do topo do IDH, haviam atingido níveis elevados de matrícula bruta e alfabetização –
assim, esses indicadores vinham perdendo a capacidade de diferenciar o desempenho dessas
nações. Na avaliação do Relatório de Desenvolvimento Humano, as novas variáveis captam
melhor o conceito de educação e permitem distinguir com mais precisão a situação dos países.
No entanto, assim como os indicadores anteriores, os novos não consideram a qualidade da
educação. No método antigo, a taxa de analfabetismo tinha peso 2 nesse subíndice e a taxa
de matrícula, peso 1. Agora, os dois novos indicadores têm pesos semelhantes.

Subíndice de renda

O PIB (Produto Interno Bruto) per capita foi substituído pela RNB (Renda Nacional Bruta)
per capita, que abrange os mesmos fatores que o PIB, mas também leva em conta recursos
enviados ou recebidos do exterior – a RNB acaba por ser uma maneira de captar melhor as
remessas vindas de imigrantes (seu cálculo não inclui o lucro enviado por empresas para
o exterior) e de computar a verba de ajuda humanitária recebida pelo país, por exemplo.
Antes se usava o logaritmo natural do PIB per capita, agora se usa o logaritmo natural da
renda. Também foi mantido o modo como os valores são expressos: em dólar corrigido pela
paridade do poder de compra (PPC), considerada a variação do custo de vida entre os países.
73
PARTE V

Normalização dos subíndices

Para poder comparar indicadores diferentes (a renda é expressa em dólares; a


expectativa, em anos, por exemplo), cada subíndice é transformado em uma escala de 0 a
1. Por isso, estabelece-se um valor máximo e mínimo para cada indicador. Até o relatório
anterior, produzido de acordo com o novo método, os níveis máximos eram fixados pelo
próprio Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH); no mais recente, foram usados os
valores máximos verificados na série de dados (desde 1980), com o objetivo de eliminar a
arbitrariedade na escolha desses níveis máximos e mínimos.

Cálculo

Até a edição de 2009, o IDH era calculado como a média simples dos três subíndices
(somavam-se os três e dividia-se o resultado por três). A partir do relatório de 2010,
recorre-se à média geométrica: multiplicam-se os três subíndices e calcula-se a raiz cúbica
do resultado. Antes, um desempenho baixo em uma dimensão poderia ser diretamente
compensado por um desempenho melhor em outra. Com o novo cálculo, essa compensação
perde força – um valor ruim em um dos subíndices tem impacto maior em todo o índice.
Além disso, a metodologia permite que 1% de queda na expectativa de vida, por exemplo,
tenha o mesmo impacto que 1% de queda na renda ou na educação.

Nível de desenvolvimento humano

O Relatório de Desenvolvimento Humano deixa de classificar o nível de desenvolvimento


de acordo com valores fixos e passa a utilizar uma classificação relativa. A lista de países é
dividida em quatro partes semelhantes. Os 25% com maior IDH são os de desenvolvimento
humano muito alto; o quartil seguinte representa os de alto desenvolvimento; o terceiro
grupo apresenta desenvolvimento médio e os 25% que registram menor IDH revelam baixo
desenvolvimento humano.

Adaptado de: Inesc (2010).

A tabela a seguir apresenta indicadores selecionados pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) para a economia brasileira para o período 2000-2013 no que diz respeito à
expectativa de vida ao nascer, expectativa de anos de estudo e média de anos de estudo.

Tabela 13

Indicadores do Brasil
Ano Expectativa de vida ao nascer (anos) Expectativa de anos de estudo Média de anos de estudo
2000 70,3 14,3 5,6
2005 71,7 14,2 6,6
2010 73,1 15,2 7,2

74
ECONOMIA E MERCADO

2011 73,4 15,2 7,2


2012 73,7 15,2 7,2
2013 73,9 15,2 7,2
2014 74,5 15,2 7,7

Fonte: PNUD (2017).

A próxima tabela assinala dados, referentes ao ano de 2011, sobre a expectativa de vida ao nascer,
expectativa de anos de estudo, bem como a média de anos de estudo e renda per capita, de acordo com
as estatísticas do PNUD.

Tabela 14

Números do governo brasileiro


Expectativa de vida ao nascer (anos) 74,7
Expectativa de anos de estudo 15,2
Média de anos de estudo 7,8
Renda per capita (2011 PPP$) US$ 14.145
IDH 0,754

Adaptado de: PNUD (2017).

O Brasil entra, na década de 2010, em forte queda no índice de IDH, o que faz interromper a evolução
conquistada no período anterior.

Os gráficos a seguir relacionam renda per capita e IDH, no Brasil, para período selecionado. É possível
perceber forte correlação entre crescimento de renda e elevação do IDH.
15.000
0,739 0,744
14.000
13.000
12.000
11.000
10.000
0,545
9.000
8.000
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2011 2012 2013

Figura 19 – Renda bruta per capita (2011), em R$

75
PARTE V

0,800
0,739 0,744
0,800
0,800
0,800
0,800
0,800
0,545
0,800
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2011 2012 2013

Figura 20 – IDH

5.5.2.2 Curva de Lorenz

A Curva de Lorenz, representada a seguir, forma-se pela união dos pontos bidimensionais obtidos
pelos eixos X e Y: no eixo X temos a proporção acumulada da população; no eixo Y, a proporção
acumulada da renda apropriada (GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, 2015).
100% B
90%
80%
70%
60%
y 50%
40% α
30%
20% β
10%
0% C
A 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
x

Figura 21 – Curva de Lorenz

Se a distribuição for perfeita, teremos a curva na forma de uma reta de 45º: por exemplo, 20% da
população se apropriarão de 20% da renda. Assim, quanto maior for a “barriga” (a área representada
por α), mais desigual será a distribuição de renda. No gráfico, por exemplo, aproximadamente 50% da
população se apropriam de 20% da renda.

5.5.2.3 Índice de Gini

De acordo com o PNUD, o Índice de Gini:

Mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos


segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não
76
ECONOMIA E MERCADO

há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1,


quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda
da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula) (O ATLAS, 2013).

Assim, o índice é uma medida que objetiva “corrigir” os valores médios obtidos por meio do quociente
entre produto e população. Ele não representa o “tamanho médio da fatia do bolo”, mas o quão justa é
a divisão do bolo.

Agora voltemos ao gráfico da Curva de Lorenz. Geometricamente, o Índice de Gini é obtido pelo
quociente entre α e a soma entre α e ß, da seguinte forma:

G = α / (α + ß)

Se a desigualdade é zero, quer dizer, se a distribuição de renda é perfeita, α é igual a zero; portanto,
G = 0. Se, hipoteticamente, um único indivíduo se apropriar de toda a renda, ß tenderá a zero e G
tenderá a 1. Quanto maior a “barriga” representada por α, maior será o valor de G.

5.6 O papel do Estado na atividade econômica

É fato que os governos existem na vida das pessoas, gostemos ou não. Independentemente da posição
política adotada por um governante, ele poderá alegrar a sociedade de um país ou desagradá-la por
completo. Tal fato deve-se claramente ao tipo de atitude política escolhida, que, para efeito deste estudo,
devemos considerar as opções pela política econômica adotada em determinado tempo. Uma política
econômica mais desenvolvimentista tende a agradar boa parte da população, sobretudo empresários,
para quem novas oportunidade de investimentos são avistadas, inclusive favorecendo camadas das
classes mais baixas da população com novas oportunidade de emprego. Por outro lado, uma política
econômica mais austera, aquela em que a opção governamental é por uma política contracionista, não
é de todo agradável quando se espera crescimento de renda no curto prazo e elevação dos empregos
e gastos públicos. O fato é que a opção pela política econômica dá-se de acordo com as circunstâncias
que se apresentam ao governante ou simplesmente permeia sua formação e opção política.

5.6.1 Falhas de mercado

Deixando de lado questões normativas das políticas públicas, bem como da presença do Estado
nas economias modernas, o fato é que devemos considerar elementos racionais que fundamentam
a presença dos governos nas sociedades e sua intervenção por planejamento ou não. Nesse sentido,
Giambiagi e Além (2008) chamam a atenção para a existência de falhas de mercado que impedem a
situação de Ótimo de Pareto.

77
PARTE V

Saiba mais

O Ótimo de Pareto, proposição devida ao engenheiro e economista


franco-italiano Vilfredo Federico Damaso Pareto, versa que, em
determinada situação em que se encontrem dois agentes, para que um
ganhe, necessariamente, outro deve perder. Leia mais em:

A LEI da Eficiência de Pareto. Econometrix, Fortaleza, 20 jan. 2011.


Disponível em: <http://www.econometrix.om.br/pdf/ed1644f6016bdf71a1e
7509acaead9bad8ec6670.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2018.

Giambiagi e Além (2008) acentuam que as falhas de mercado são: existência de bens públicos, de
monopólios naturais, externalidades, mercados incompletos, falhas de informação e, por último, mas
não menos importante, a ocorrência de desemprego e inflação.

Riani (2012, p. 12-13) sumariza a questão da seguinte forma:

No mundo real existem quatro características principais que dificultariam,


ou até mesmo impossibilitariam a obtenção ótima através do setor privado.
Assim, o governo emerge como um elemento capaz de intervir na alocação
de recursos, que atua paralelamente ao setor privado, procurando estabelecer
a produção ótima dos bens e serviços que satisfaçam às necessidades da
sociedade. As quatro características que podem ser consideradas como falhas
de mecanismos de mercado em atender às necessidades da sociedade são:
indivisibilidade do produto; externalidades; custo de produção decrescente
e mercados imperfeitos; riscos e incertezas na oferta dos bens.

Com base nas pesquisas de Giambiagi e Além (2008), e de Riani (2012), estudaremos
pormenorizadamente a importância de cada uma das falhas de mercado que exigem a interferência do
governo nos mercados.

5.6.1.1 Existência de bens públicos

Os bens públicos são aqueles cujo consumo e uso são indivisíveis, ou, ainda, não rivais. Significa que
o consumo do bem por parte de um indivíduo não prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais
integrantes da sociedade. Parte-se do seguinte princípio: existindo o bem público, todos se beneficiam
de sua existência, independentemente se uns mais e outros menos. Outra característica importante do
bem público é a da não exclusão no consumo. Para poder exemplificar, pense no caso de uma cidade
onde as ruas ainda não estejam todas pavimentadas, algumas são de terra e outras de asfalto. O governo
dessa cidade decide asfaltar todas as ruas ainda sem asfalto. Assim, todas as pessoas (moradoras ou não)
que utilizam a rua serão beneficiadas.

78
ECONOMIA E MERCADO

Pois bem, as ruas estão asfaltadas e a população usufruirá desse investimento público, mas como
custear esse investimento entre a população? Quem deverá pagar mais ou menos pelo uso das ruas
asfaltadas? Somente as pessoas que residem naquela rua? Contando a quantidade de vezes que um
indivíduo e seu automóvel utilizam a rua em um determinado período? A nós parece difícil poder ratear
o custo desse bem entre os beneficiados.

Os bens indivisíveis são aqueles cujos benefícios não podem ser


individualizados, tornando ineficaz o estabelecimento dos preços via sistema
de mercado [...]. A não exclusividade deve-se ao fato de que, como esses
bens não seriam vendidos através do sistema de mercado, via preços, a eles
não se aplica o direito de propriedade (RIANI, 2012, p. 13).

Em uma oferta pública como essa, Riani (2012) destaca que, se levarmos em conta a viabilidade
econômica do projeto, a pavimentação de uma cidade não faz sentido em termos de investimentos privados,
mas apenas nos públicos. É notório que todo investimento, seja público ou privado, almeja algum tipo de
retorno. Se pensarmos na iniciativa privada, o retorno do investimento se dá na forma de lucros, que serão
acumulados incialmente para depois serem reinvestidos ou alocados para alguma outra atividade, também
na forma de investimentos. Quanto aos investimentos públicos, estes também são efetuados visando
retorno no futuro, só que não necessariamente na forma de lucros monetários que serão acumulados. O
retorno desejado é o social: a melhoria das condições sociais – de diferentes fontes e formas.

Giambiagi e Além (2008) reforçam ser

[...] justamente o princípio da não exclusão no consumo dos bens públicos que
torna a solução de mercado, em geral, ineficiente para garantir a produção
da quantidade adequada de bens públicos requerida pela sociedade. É por
esta razão que a responsabilidade pela provisão de bens públicos recai
sobre o governo, que financia a produção desses bens através da cobrança
compulsória de impostos.

Observação

Imagina-se que a pavimentação de nosso exemplo seja efetuada por


uma empresa privada especializada nesse tipo de serviço. Na maior parte
das vezes, é assim mesmo que ocorre. Contudo, quem contrata tal empresa
privada é o próprio governo e, portanto, é ele quem financia a obra. Ou seja,
o gasto é público.

5.6.1.2 Existência de monopólios naturais

O mercado de monopólio apresenta condições diametralmente opostas às da concorrência perfeita.


Nele, existe, de um lado, um único empresário dominando inteiramente a oferta e, de outro, todos
os consumidores. Não há concorrência nem produto substituto. Nesse caso, ou os consumidores se
79
PARTE V

submetem às condições impostas pelo vendedor, ou simplesmente deixarão de consumir o bem ou o


serviço. O fornecimento de energia elétrica nas cidades é um exemplo de empresa em monopólio.

Figura 22 – O setor de energia elétrica representa monopólio

Para existir monopólio, deve haver barreiras que impeçam a entrada de novas firmas no mercado.
Essas barreiras podem advir de diversas formas, sendo uma delas o monopólio puro ou natural. Este
caso ocorre quando o mercado, por suas próprias características, exige a instalação de grandes plantas
industriais, que em geral operam com economias de escala e ínfimos custos unitários, possibilitando à
empresa cobrar preços baixos por bem ou serviço, o que acaba praticamente inviabilizando a entrada de
novos concorrentes.

Podemos elencar ainda como barreiras:

• elevado volume de capital requerido para montar uma indústria monopolista;

• marcas e patentes;

80
ECONOMIA E MERCADO

• controle de matéria-prima específica;

• instituições.

A legislação brasileira proíbe a existência de monopólio, permitido-o apenas para os segmentos


de mercado que, para ter perfeito funcionamento, devem ser únicos. São os chamados monopólios
institucionais ou estatais, considerados estratégicos ou de segurança nacional, como a energia elétrica
e o petróleo.

No Brasil, com a privatização dos serviços de utilidade pública –


Telecomunicações e Energia Elétrica –, o governo criou a Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
com o intuito de regular as atividades desses setores, por natureza pouco
competitivos e que prestam um serviço essencial à população. Também com
a função de regular o mercado, há diversos órgãos do governo, como o Cade
e a Secretaria de Direito Econômico (REZENDE, 2012, p. 29).

5.6.1.3 Externalidades

As externalidades implicam custos e benefícios sociais diferentes dos privados. Enquanto os custos e
benefícios privados são medidos em termos de preço – quanto custou para fabricar; quanto custou para
adquirir –, os custos e benefícios sociais são diferentes. Por qual motivo? Porque estamos tratando de um
assunto que analisa os impactos causados em um agente alheio àquele tomador da decisão individual.
Exemplifiquemos: pense em um empreendedor que abra uma casa noturna na rua onde você reside. A
legislação permite casas comerciais no local, mas o empreendedor montou uma em que o som ao vivo seja o
chamariz da freguesia. O volume e a qualidade do som – da música – pode agradar quem frequenta o local
por uma questão de diversão. Todavia, pode aborrecê-lo por diversos motivos: você não aprecia a música que
é tocada ali, o volume do som incomoda, há maior quantidade de carros estacionados na rua, impedindo que
algum parente que venha visitá-lo deixe seu automóvel em frente ao portão de sua casa etc.

Pois bem, elencamos aqui efeitos negativos causados pela nova casa noturna. A isso chamamos de
externalidade negativa. Ela ocorre quando algum agente toma determinada decisão que lhe favorece –
no caso o empreendedor – e que retire bem-estar de outro agente – no caso, você.

Por outro lado, há as externalidades positivas. Pense que seu vizinho de frente contrate um segurança
particular e instale uma guarita à frente da casa dele. Esse agente particular cuidará da vigilância da casa
de quem o contratou, o que, por consequência, trará mais segurança aos demais moradores daquela
rua. Caso esse agente perceba algo de diferente na rua, tratará de avisar aos demais moradores do local.
Vemos aqui a ocorrência de externalidade positiva. Para Giambiagi e Além (2008, p. 7),

[...] a existência de externalidade justifica a intervenção do Estado, que


pode ser através: a) da produção direta ou da concessão de subsídios, para
gerar externalidades positivas; b) de multas ou impostos, para desestimular
externalidades negativas; e c) da regulamentação.
81
PARTE V

Saiba mais

Flávio Riani expande a discussão das externalidades, explicando os


efeitos da produção sobre o consumo, efeitos da produção sobre a produção,
bem como os efeitos externos do consumo. As análises com gráficos que o
autor efetua são bem ilustrativas.

RIANI, F. Economia do setor público: uma abordagem introdutória. 5.


ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012.

5.6.1.4 Mercados incompletos

Uma das principais características dos mercados incompletos é aquela em que o setor privado não
esteja totalmente à vontade quanto à oferta de um bem ou serviço. O que o faz não estar totalmente à
vontade? Segurança quanto ao futuro e quanto ao retorno do investimento que foi efetuado. É o que
Riani (2012) chama de riscos e incertezas na oferta dos bens.

A falta de conhecimento perfeito – por parte dos vendedores e dos


compradores – relacionado com os riscos de mercado, a falta de perfeita
mobilidade dos recursos, a incerteza quanto à maximização dos lucros
por parte das firmas e a escassez de determinados recursos produtivos,
particularmente os recursos naturais, são características do mundo real
que mostram a inviabilidade do atendimento de alguns dos pressupostos
requeridos para se atingir a produção ótima de todos os bens econômicos
necessários e desejados pela sociedade (RIANI, 2012, p. 19).

Existem determinadas atividades que são indispensáveis ao desenvolvimento do país ou ao


bem-estar da sociedade, mas que, pelas razões apresentadas, não seriam oferecidas no mercado se
não houvesse a intervenção do governo.

Nesse aspecto, Giambiagi e Além (2008) citam o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES) como principal órgão brasileiro de financiamento de longo prazo para investimentos
em todos os segmentos da economia. Vários investimentos produtivos, seja na agricultura, seja na
indústria ou no comércio, para todo tamanho de empresa, podem requerer elevado volume de recursos
nos investimentos iniciais, e muitas vezes a iniciativa privada – os bancos privados – ficam receosos em
efetuar os empréstimos, pois não sabem se o tomador terá condições ou não de honrar com a devolução
dos recursos tomados. Dessa forma, procurando mitigar o risco de uma possível inadimplência, os
bancos privados elevam as taxas de juros de empréstimos, dificultando os investimentos privados. É
nesse âmbito que o BNDES entra como empresa pública federal: oferecendo empréstimos por vezes
subsidiados pelo governo, fomentando os investimentos produtivos e ativando a economia.

82
ECONOMIA E MERCADO

Saiba mais

Conheça mais sobre o BNDES em:

<http://www.bndes.gov.br>.

A falta de conhecimento perfeito por parte dos vendedores e dos compradores sobre os riscos do
mercado, a falta da perfeita mobilidade dos recursos, a incerteza quanto à maximização dos lucros por
parte das firmas e a escassez de determinados recursos produtivos, particularmente os naturais, são
características do mundo real que mostram a inviabilidade do atendimento de alguns dos pressupostos
requeridos para atingir a produção ótima de todos os bens econômicos necessários e desejados pela
sociedade. Nisso reside outra falha de mercado, a falha de informação.

5.6.1.5 Falhas de informação

Nos casos de falhas de informação, a intervenção do Estado justifica-se em razão de o mercado por
si só não fornecer dados suficientes para que os consumidores tomem suas decisões racionalmente.
Como exemplo, considere o mercado de automóveis usados. Pense na seguinte situação: você está
interessado em adquirir um carro usado e encontra no jornal um anúncio exatamente do veículo
que procura. Liga para o anunciante para verificar preços, condições do automóvel, quilometragem
percorrida e coisas do tipo. Quem dos dois agentes tem mais informações sobre o carro? Você ou a
pessoa que pretende vendê-lo? Será que o vendedor lhe oferecerá todos os dados necessários, e reais,
para que você tome a decisão pela compra ou não? Caso o automóvel tenha ficado imerso em alguma
enchente, o vendedor vai contar ou omitir a questão? Estamos chamando a atenção para o fato de
que em determinados mercados alguns têm mais informações do que outros. Fernando Rezende (2012)
chama isso de assimetria de informações.

Para esses casos, o modo de atuação do Estado pode ser mediante a introdução de uma legislação
que induza a uma maior transparência, com maior proteção tanto para vendedores quanto para
consumidores, e o Código de Defesa do Consumidor (CDC) é um bom exemplo.

5.6.1.6 Desemprego e inflação

O desemprego e a inflação, apesar de serem fenômenos completamente diferentes, sendo o primeiro


considerado pela economia uma variável do mercado real e o segundo uma variável nominal proveniente
do mercado monetário, caminham em conjunto. Comecemos, então, pela inflação.

O que vem a ser inflação? Caracteriza-se pelo generalizado e persistente crescimento nos níveis
de preços, ou seja, ocorre inflação em um período em que um elevado volume de mercadorias têm
seus preços majorados sequencialmente, de forma que dia a dia, mês a mês, os preços sobem sem
que, necessariamente, seus custos de produção tenham sofrido elevação. Assim, quando há inflação,
é preciso haver maior quantidade de moeda para adquirir os mesmos produtos. Resultado: perda do
83
PARTE V

poder aquisitivo da moeda, o que pode causar sérios distúrbios à economia e à sociedade de modo geral
(SILVA; LUIZ, 2010).

Em períodos de inflação elevada, a moeda deixa de desempenhar uma de suas principais funções,
que é a de preservar valor ao longo do tempo. Em períodos de inflação elevada, como viveu a sociedade
brasileira em boa parte dos anos 1970 e 1980, a moeda perde seu valor assim que é recebida!

Suponha o seguinte: uma pessoa recebe hoje seu salário (R$ 1.500,00) e o índice de inflação no mês
corrente, medido pelos mais diversos índices disponíveis, esteja em torno de 40% ao mês. Se essa pessoa
deixar guardado esse dinheiro, digamos, no bolso de algum paletó no armário e for usar tal recurso
daqui a 30 dias, os R$ 1.500,00 representarão poder de compra de R$ 900,00. Receber um valor, dentro
de um período inflacionário e não utilizá-lo o mais rápido possível faz com que haja a perda de seu valor.
Em nosso exemplo hipotético, perda de R$ 600,00. Significa que os preços das mercadorias ficaram 40%
mais elevados e a quantidade de moeda disponível não será mais capaz de adquirir a mesma quantidade
de mercadoria que era obtida antes. Quem sofre? Na maior parte das vezes, e como salienta Mankiw
(2010), a população de baixa renda.

Precisamos, então, entender como é produzida a inflação, ou seja, por que existe e quais suas causas.
Basicamente, são três os tipos de inflação, sendo um deles o de demanda. Vejamos o que diz Mankiw
(2010, p. 636):

Vamos supor que observamos, ao longo de um determinado período de


tempo, o preço de um sorvete de casquinha aumentar de 5 cents para um
dólar. Que conclusão poderíamos tirar do fato de que as pessoas estão
dispostas a dar muito mais dinheiro em troca de um sorvete? É possível que
as pessoas estejam gostando mais de sorvete (talvez porque algum químico
tenha desenvolvido um novo e maravilhoso sabor). Mas, provavelmente, não
é esse o caso. O mais provável é que as pessoas continuem apreciando o
sorvete da mesma forma e que, com o passar do tempo, a moeda usada para
comprá-lo tenha se tornado menos valiosa. De fato, o primeiro entendimento
sobre a inflação é de que ela tem mais a ver com o valor da moeda do que
com o valor dos bens.

Portanto, o que determina o valor da moeda é a relação entre sua demanda e sua oferta, assim como
é definido o preço do tomate nos mais variados mercados. Se há mais tomate sendo ofertado, o preço
do tomate será relativamente baixo; caso exista pequena quantidade de tomate sendo ofertada, ou seja,
disponível à sociedade, seu preço tende a ser relativamente mais elevado.

84
ECONOMIA E MERCADO

Figura 23 – Moeda e inflação

Voltando à inflação, conforme Samuelson (1979), a inflação de demanda, ou de consumo, é causada


pelo crescimento do volume de moeda disponível ao público, não necessariamente acompanhado pelo
crescimento da produção. Como para a demanda poder se concretizar é necessária a existência de moeda,
a inflação de demanda pode ser entendida como o excesso de moeda em circulação, ou seja, quando há
expansão de liquidez. Nesse caso, os preços tendem a aumentar devido à grande quantidade de dinheiro
em circulação, influenciando o consumo por parte da população. Por seu turno, os empresários, diante a
um elevado consumo e percebendo que há grande quantidade de moeda em poder do público, elevam
os preços no afã de que a venda será certa.

Ribeiro (1990) explica que uma das características da inflação de demanda é que ela ocorre em
períodos de expansão da economia, a exemplo do experimentado pelo milagre econômico brasileiro,
no qual o governo investiu fortemente na industrialização do País, elevando os níveis de produção e
superando tempos anteriores. Tais medidas diminuíram o desemprego, expandindo renda e consumo.

Outro tipo de inflação é o de oferta, ou seja, explicado ou pelas condições de oferta de produtos, ou
pelo comportamento de seus custos de produção, ou mesmo pela disponibilidade de fatores de produção
que são utilizados como bens intermediários. A inflação de oferta ocorre quando os custos de produção
aumentam, isto é, quando se paga mais para produzir determinados bens ou ofertar determinados
serviços. Assim, pode ocorrer inflação de oferta diante de:

• diminuição da oferta de um fator de produção;

• aumento nos preços dos fatores de produção;

• acréscimo nos custos da produção, derivado de elevação de tributação;

• alta dos salários pagos pelas empresas, caso sejam reajustados acima da correção monetária do
período ou por convenção coletiva e sindical;
85
PARTE V

• monopolização de determinado setor, diminuindo as possibilidades de concorrência;

• demais ocorrências que representem estreita relação entre custos de produção de um bem e
seu preço.

Resumindo, para Silva e Luiz (2010, 116),

[...] a inflação de custos tem origem na oferta de bens e serviços. É causada


pela elevação dos custos de produção, repassados para o consumidor pelo
aumento do preço do produto. Um fator agravante é o controle do mercado
(monopólio ou oligopólio), que permite aos empresários obterem lucros
extraordinários pelo aumento dos preços dos seus produtos, pois não há
perigo de concorrência.

O outro tipo de inflação, a inercial, difere das outras, pois nesta há tendência à perpetuidade. Significa
que a inflação de um período é automaticamente repassada para o tempo que se segue. De que forma?
Pela indexação, que consiste em reajustar pagamentos, ou valores futuros, pela inflação do presente.
Observe o exemplo a seguir, muito bem desenvolvido por Silva e Luiz (2010, p. 116-117):

Imaginemos que o Sr. Alberto tome emprestado R$ 100.000,00 de seu amigo,


Sr. Carlos, e prometa pagar-lhe em dois meses. Nesse período, supondo
uma economia inflacionária com taxas mensais de 10%, teremos uma
inflação acumulada de 21% nos dois meses que correspondem ao prazo
do empréstimo. Pontualmente, no fim do período, o Sr. Alberto entrega ao
amigo os R$ 100.000,00 que havia tomado emprestado. Resultado, o Sr.
Carlos foi prejudicado, pois os R$ 100.000,00 que recebeu do amigo valem
menos do que os R$ 100.000,00 que ele havia emprestado dois meses antes.
Por sua vez, o Sr. Alberto saiu ganhando, pois pagou apenas R$ 100.000,00,
quando deveria ter pago, pelo menos, R$ 121.000,00. [...] Se o Sr. Alberto e o
Sr. Carlos tivessem combinado, na ocasião do empréstimo, que o montante
emprestado seria corrigido pela inflação, o Sr. Carlos receberia R$ 121.000,00
e não se sentiria lesado pelo favor que prestou ao amigo.

Por conta desses fatores, para não haver distorções entre ganhadores e perdedores, é que são
feitos contratos de trabalho e de aluguel com a proteção de preços de mercadorias e valores de outras
transações. Com o uso da indexação, evita-se a corrosão monetária.

Uma observação a ser feita acerca da inflação inercial é que ela tende a se manter em determinado
patamar por um determinado período, depois volta a crescer e, finalmente, estabiliza-se em um novo
patamar por algum tempo. Esse processo ocorre porque as correções dos preços satisfazem os agentes
por um tempo específico, ou seja, essas correções elevam a participação dos agentes na renda.

86
ECONOMIA E MERCADO

Saiba mais

Para compreender melhor o processo inflacionário no Brasil, sugerimos


a leitura de alguns textos:

BRESSER-PEREIRA, L. C. Inflação inercial e Plano Cruzado. Revista de


Economia Política, São Paulo, v. 6, n. 3, jul./set. 1986. Disponível em: <http://
www.rep.org.br/pdf/23-2.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2017.

BRESSER-PEREIRA, L. C.; NAKANO, Y. Hiperinflação e estabilização no


Brasil: o primeiro Plano Collor. Revista de Economia Política, São Paulo, v.
11, n. 4 (44), out./dez. 1991. Disponível em: <http://www.rep.org.br/pdf/44-
6.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2017.

Para Giambiagi e Além (2008, p. 8),

[...] o livre funcionamento do sistema de mercado não soluciona problemas


como a existência de altos níveis de desemprego e inflação. Neste caso, há
espaço para a ação do Estado no sentido de implementar políticas que visem
à manutenção do funcionamento do sistema econômico o mais próximo
possível do pleno emprego e da estabilidade de preços.

Destacamos as razões pelas quais o governo, através dos diversos instrumentos de políticas à
sua disposição, surge como alternativa para a intervenção na alocação de recursos da economia a
fim de contribuir para que a sociedade alcance o maior nível de bem-estar possível. Acentuaremos
a seguir as funções que poderão ser desenvolvidas pelo governo para corrigir ou minimizar as
falhas ocorridas no sistema de mercado, buscando atender às demandas que compõem o conjunto
de bens e serviços da sociedade. É aqui, portanto, que trataremos das finanças públicas. Conforme
Nascimento (2014, p. 79),

[...] a expressão “finanças públicas” designa os métodos, princípios e


processos financeiros por meio dos quais os governos Federal, Estadual
e Municipal desempenham suas funções. Por intermédio do orçamento
público, os governos perseguem os objetivos de satisfazer às necessidades
sociais, de induzir a uma eficiente utilização dos recursos e de corrigir
a distribuição de renda em uma sociedade. [...] As receitas e as despesas
do Estado podem ser utilizadas como instrumento para influenciar o
nível da produção nacional e do emprego, de forma a controlar o padrão
dos preços (controle da inflação), buscar o equilíbrio da balança de
pagamentos e para redirecionar as decisões de consumo e investimento
dos agentes privados.

87
PARTE V

5.6.2 Funções do governo

É consenso entre Nascimento (2014), Giacomoni (2012), Giambiagi e Além (2008), Riani (2012) e
Matias-Pereira (2012) que se deve a Richard Musgrave a definição do que sejam as funções do governo.
Segundo Giacomoni (2012, p. 22),

Richard Musgrave propôs uma classificação das funções econômicas do


Estado que se tornaram clássicas no gênero. Denominadas as “funções fiscais”,
o autor as considera também como as próprias “funções do orçamento”’,
principal instrumento de ação estatal na economia. São três as funções:
a) promover ajustamentos na alocação de recursos (função alocativa); b)
promover ajustamentos na distribuição de renda (função distributiva); e c)
manter a estabilidade econômica (função estabilizadora).

5.6.2.1 Função alocativa

Designa a alocação de recursos pela atividade estatal quando não houver eficiência da iniciativa
privada ou quando a natureza da atividade indicar a necessidade da presença do Estado. A
intervenção estatal na alocação de recursos justifica-se quando o setor privado não tiver interesse
neles. É o processo pelo qual o governo divide os recursos para utilização no setor público e privado,
oferecendo bens públicos, semipúblicos e meritórios, como rodovias, segurança, educação e saúde
aos cidadãos. Dessa forma, está associada ao fornecimento de bens e serviços não oferecidos
adequadamente pelo sistema de mercado (NASCIMENTO, 2014). Nesse sentido, cabe ao governo
decidir pelo tipo e pela quantidade de bens públicos que ofertará, ou seja, a qual(is) tipo(s) de
necessidade(s) atenderá.

Conforme Riani (2012), para assegurar uma alocação mais eficiente dos recursos, o governo não
precisa produzir ou gerar diretamente o bem ou o serviço. Ele poderá fazê-lo ou induzir a oferta pelo
setor privado. Nesse aspecto, existem quatro possibilidades de atuação do governo:

• Alocação por parte do governo de recursos diretos para a produção: a oferta dos bens. Por
exemplo: a Defesa Nacional e seus serviços de segurança pública.

• Compras governamentais: o governo adquire a produção efetuada por outras empresas e repassa
os bens à sociedade. Por exemplo: medicamentos, merenda escolar e campanhas de vacinação.

• Indução do setor privado ao aumento da produção via subsídios ou incentivos


fiscais: tal medida favorece a produção e provoca queda de preços de venda, beneficiando
determinada população.

• Empresas estatais: o governo se incumbe da responsabilidade da produção de algum bem ou


serviço que não seja oferecido pela iniciativa privada.

88
ECONOMIA E MERCADO

5.6.2.2 Função distributiva

Nem sempre toda a riqueza que é gerada em um país é distribuída de forma igualitária entre seus
pertencentes, o que, por vezes, cria a desigualdade social. Riani (2012, p. 22) esclarece que:

Fatores tais como oportunidade educacional, mobilidade social,


habilidade individual, mercado de trabalho, propriedades dos fatores
de produção etc. levam, dentro de uma economia de livre mercado, a
desigualdades na apropriação da renda e da riqueza gerada pelo sistema
econômico. [...] O mercado funcionando livremente, sem a interferência
do governo, não se preocupará com a concentração de renda e da
riqueza uma vez que as atividades econômicas alcancem seus objetivos,
atingindo frações segmentadas da sociedade detentoras de recursos para
suas compras. Assim, a possibilidade espontânea da desconcentração da
renda torna-se ilusória.

Diante do exposto, vê-se que cabe ao Estado promover a melhoria na distribuição da renda por
intermédio do gasto público como principal instrumento de política pública. Tal afirmação apoia-se em
Nascimento (2014, p. 80), e o autor diz que a “função distributiva refere-se à distribuição, por parte do
governo, de rendas e riquezas”. Por outro lado, Rezende (2012), bem como Giambiagi e Além (2008),
acentuam que, além dos gastos governamentais, a exemplo de transferências, a tributação progressiva,
aliada aos subsídios, auxilia no processo de distribuição do produto. Enquanto os programas de
transferência apresentam-se de forma direta quanto à redistribuição, a tributação progressiva oferece
condições de o governo arrecadar recursos das camadas mais abastadas da sociedade e utilizá-los como
forma de financiamento de programas voltados para a parcela da população de mais baixa renda. Aqui, a
forma de redistribuição seria por melhoria dos atendimentos públicos nos sistemas de saúde ou mesmo
aplicados para financiamento da construção de moradias populares.

Giacomoni (2012, p. 25) complementa que, por mais que as políticas distributivas estejam inseridas
no ambiente de correção de falhas de mercado, acabam por vezes sendo encaradas como “problemas
de política e de filosofia social”, pois cabe à sociedade avaliar o que vem a ser justiça distributiva.
Concordando que a distribuição de renda também seja uma questão de orçamento público, educação
gratuita, capacitação profissional e programas de desenvolvimento comunitário são também exemplos
de política pública com efeito distributivo.

5.6.2.3 Função estabilizadora

A função estabilizadora está estreitamente ligada ao desemprego e à inflação enquanto falhas de


mercado, pois, de forma abrangente, visa assegurar um desejável nível de emprego e estabilidade nos
preços que não são totalmente controlados pelo sistema de livre mercado. Conforme Riani (2012, p. 22),

Quando o desemprego prevalece, o governo aumenta o nível de demanda


no mercado, elevando seus gastos ou diminuindo seus tributos, recolocando
a produção no pleno emprego. Por outro lado, se há inflação, o governo
89
PARTE V

pode reduzir a demanda de mercado, ajustando seus gastos e/ou a carga


tributária, o que contribui para a diminuição e controle de preços.

Do ponto de vista da política fiscal, o governo pode corrigir o desemprego – enquanto falha de
mercado pela elevação dos gastos públicos – ampliando a quantidade de dinheiro no sistema econômico,
o que incentiva a sociedade a elevar o consumo bem como as empresas a aumentarem seus níveis de
produção. Desse modo, com maior produção, as empresas passam a contratar mais pessoas, o que
expande a renda. O mesmo efeito será gerado se a opção for pelo uso da diminuição de tributação.
Todavia, com a expansão da demanda, os preços sobem, gerando inflação. Assim, paralelamente, o
governo pode utilizar demais instrumentos, a exemplo da política monetária, para manter a estabilidade
de preços.

Para Giacomoni (2012, p. 26),

[...] o orçamento público é um importante instrumento da política de


estabilização. No plano da despesa, o impacto das compras do governo
sobre a demanda agregada é expressivo, assim como o poder de gastos dos
funcionários públicos. No lado da receita, não só chama a atenção o volume,
em termos absolutos, dos ingressos públicos, como também a variação na
razão existente entre a receita orçamentária e a renda nacional, como
consequência das mudanças existentes nos componentes da renda.

Do que foi apresentado até o momento, caro aluno, é possível perceber certa relação entre as falhas
de mercado e as funções do governo. As falhas de mercado são decorrência, em parte, da liberdade que
os agentes econômicos detêm na sociedade e, em parte, pela própria existência de recursos disponíveis
nessa sociedade. Então, quando há falhas do sistema, o governo é chamado para estabelecer ordem. Pois
bem: como se dá esta ordem? Parte dela por leis, regulamentos e decretos que cerceiam a liberdade de
alguns. Por outro lado, há que se preocupar com o desenvolvimento dessa mesma sociedade no sentido
de conduzi-la para a modernidade, ao progresso e, nesse aspecto, a política pública se faz presente.

Contudo, somente é possível fazer política pública diante de alguns objetivos a serem alcançados.
De forma genérica, a literatura até aqui utilizada salienta que todos os governos, em maior ou menor
grau, têm os mesmos objetivos: crescimento e desenvolvimento econômico, manutenção do emprego
e da renda, estabilidade monetário-financeira e distribuição equitativa da renda, para citar alguns. No
entanto, para que o governo consiga atingir seus objetivos, torna-se necessário planejamento como
visão de futuro. Trata-se, portanto, de imaginar hoje como seria o amanhã, caso algumas medidas
fossem adotadas.

Nesse sentido, o planejamento governamental que se faz por política pública requer, de um lado,
recursos monetários para pôr em prática determinada ação e, de outro, as fontes de tais recursos.
Podemos claramente efetuar analogia como um indivíduo comum. Suponha que você tem um amigo
que está prestes a casar e deseja adquirir sua casa própria. Para obter o patrimônio, algumas ações
podem ser tomadas. Entre elas, a do planejamento financeiro. Vejamos o que deve ser estudado:

90
ECONOMIA E MERCADO

• enquanto tempo se deseja adquirir tal patrimônio;

• valor e localidade;

• quantidade de recursos monetários disponível;

• tipo de aplicação financeira na qual esse recurso disponível está alocado e quanto ainda
falta acumular;

• se a compra será à vista ou com financiamento;

• melhor forma de financiamento – em quanto tempo e qual o valor de cada prestação.

Observação

O exemplo do financiamento de imóvel é corriqueiro, um daqueles que


permeia nossa vida em algum momento.

Agora destacaremos um exemplo de uma empresa e as tomadas de decisão que precisa efetuar.
Pense em uma empresa do setor de bebidas com queda de vendas de um de seus principais produtos:
refrigerante “Sabor gostoso”. Ao pesquisar o motivo da queda, verificou-se que uma nova marca
concorrente estava atraindo consumidores que antes eram fiéis àquela marca. Trata-se de um problema
de vendas, ou seja, falta de entrada de recursos na entidade. Se há diminuição de vendas, haverá, por
consequência, menos receita.

Diante dessa situação, a organização decide fazer uma campanha de marketing para atrair novamente
esses consumidores que perderam. Os clientes passaram a comprar o refrigerante “Sabor quase gostoso”.
Para tal, precisará efetuar investimentos, dispor de algum recurso monetário que está na empresa ou
fazer um empréstimo. Deverá saber a quantidade exata de recursos que poderá aplicar na campanha
de marketing, pois tem a obrigação de manter o departamento financeiro, o RH, manter os gastos fixos
de produção etc. Estamos chamando atenção para o fato de que uma nova fonte de gasto deverá fazer
parte do orçamento da empresa. Por qual motivo? A organização gastará certa quantia monetária com
a campanha de marketing esperando retorno de tal investimento. Independentemente de o retorno ser
o esperado, o fato é que o dinheiro saiu de algum lugar, e é vital saber que fonte financiará essa saída
monetária. Portanto, planejamento financeiro e orçamento são extremamente necessários.

Lembrete

Objetivos do governo: crescimento e desenvolvimento econômico,


manutenção do emprego e da renda, estabilidade monetário-financeira e
distribuição equitativa da renda.

91
PARTE V

5.6.3 Políticas macroeconômicas e seus instrumentos

A lista de objetivos governamentais parece pequena. Contudo, se avaliada com mais cuidado, vê-se
grande infinidade de ações a serem tomadas para cada um dos objetivos serem alcançados. Vamos
tomar como exemplo o caso do Brasil, sua extensão territorial, as necessidades prementes e específicas
de cada região. Cada governo, com sua política, sua ideologia, suas crenças e, por vezes, interesses, pode
privilegiar determinada sociedade instalada em uma região que receberá recursos de política pública em
detrimento de outra. Todavia, não se pode generalizar para o caso brasileiro. O fato é que os governos
devem adotar critérios racionais no desenho de suas políticas públicas, privilegiando a técnica como
decisão estratégica no estabelecimento das prioridades sociais.

5.6.3.1 Política monetária

Com o conteúdo abordado até então, temos condições de tratar das questões associadas à política
monetária. Entende-se por política monetária toda ação tomada pelo Banco Central com relação
ao padrão monetário de um país. O Banco Central, autoridade monetária em qualquer país, além de
atividades rotineiras, tem a função de preservar o valor da moeda ao longo do tempo. É responsável pelo
controle direto da liquidez no sistema econômico de determinado país. Para o Banco Central exercer
suas funções, pode adotar alguns instrumentos de política monetária. São eles:

• emissão de moeda;

• administração da taxa de juros;

• coeficiente de recolhimento compulsório;

• operação de redesconto;

• operação de open market;

• seleção do crédito.

Entre as principais atribuições de competência do Banco Central do Brasil no Sistema Monetário e


Financeiro Nacional, podemos destacar:

• Fiscalizar as instituições financeiras, aplicando, quando necessário, as penalidades previstas


em lei. Essas penalidades podem ser desde uma simples advertência aos administradores até a
intervenção para saneamento ou liquidação extrajudicial da instituição.

• Conceder autorização às instituições financeiras, no que se refere ao funcionamento, instalação


ou transferências de suas sedes, e aos pedidos de fusão e incorporação.

• Executar a emissão de moeda e controlar a liquidez do mercado, bem como efetuar as operações
de compra e venda de títulos públicos e federais.
92
ECONOMIA E MERCADO

Vamos explicar as características de cada um dos instrumentos de política monetária.

A emissão monetária é a forma primária de controle monetário por parte do governo, pois expande
e contrai o volume de moeda disponível na economia de acordo com seus objetivos. Assim, é possível
controlar a liquidez da economia e, por consequência, o multiplicador bancário – capacidade dos bancos
comerciais expandirem meios de pagamento – também é controlado.

Entende-se por recolhimento compulsório a reserva legal determinada pelo Banco Central. Trata-se
da parcela dos depósitos à vista e a prazo que os bancos devem manter em caixa ou junto ao Banco
Central. Para que você entenda melhor: os bancos comerciais são obrigados por lei a repassar ao Banco
Central certa quantidade dos depósitos à vista que a coletividade efetua. Então, o Banco Central regula
a liberdade de os bancos comerciais negociarem todo o volume de dinheiro que têm à sua disposição e
exercita a sua função de banqueiro dos bancos e salvaguarda os direitos dos correntistas (JUDENSNAIDER;
MANZALLI, 2011).

Da mesma forma que os bancos comerciais estão obrigados a repassar parte de seus saldos monetários
captados por meio dos depósitos à vista, podem, quando necessário e atendendo a certas exigências,
solicitar auxílio ao Banco Central. Para tanto, utilizam-se da operação de redesconto.

Com esse instrumento de política monetária, o Banco Central tem o objetivo de auxiliar
instituições financeiras em dificuldades monetárias. Ele é acionado por bancos comerciais que já
recorreram ao mercado interbancário na tentativa de cobrir seus saldos deficitários e não obtiveram
sucesso por motivo justificado. Portanto, a última opção seria pedir ajuda, ou cobertura monetária,
junto ao Banco Central.

Nesse aspecto, o Banco Central desempenha outro papel, que é o de ser emprestador de última
instância. Motivo: quando um banco comercial recorre a ele para cobrir possível déficit de caixa, faz
com que o Banco Central intensifique sua fiscalização naquele banco. O Banco Central emprestará os
recursos necessários, mas a taxas de juros punitivas.

Outro instrumento de política monetária é a operação de open market, ou, se preferir, operação de
mercado aberto. É com ele que o Banco Central efetua leilões de venda e compra de títulos públicos para
arrecadar recursos com a sociedade, para efetuar gastos ou simplesmente diminuir liquidez, ou para
recomprar os títulos vendidos anteriormente.

Se admitirmos um open market de venda, significa que o Banco Central está vendendo títulos
públicos, colocando-os à disposição para a aplicação por parte da sociedade e, dessa forma, retirando
moeda de circulação. Esse é um exemplo de política monetária contracionista. De outra maneira, será
expansionista quando for utilizado um open market de compra. Assim, o Banco Central devolve os
recursos tomados emprestados.

No Brasil atual, o principal instrumento de política monetária utilizado é a administração da taxa


de juros. Podemos entender por juros o custo da moeda, do dinheiro. Agentes superavitários de moeda,
que têm poupança ou qualquer outra aplicação financeira, recebem juros por deixar seu dinheiro à
93
PARTE V

disposição para uso de outrem. De forma contrária, agentes deficitários de moeda pagam juros quando
necessitam de recursos que são de outra pessoa.

O juro é uma variável vital na economia e, por essa razão, um dos mais importantes instrumentos de
política monetária. São trabalhados como taxa, taxa de juros, e toda vez que essa taxa sobe, investimentos
industriais produtivos são freados, desencorajados. Por que isso ocorre? Um empresário que toma junto
a um banco certa quantia de dinheiro para investir na produção deve levar em consideração o quanto
pagará pela tomada de empréstimo e o quanto receberá de lucro pelo investimento produtivo efetuado.
Assim, dada uma taxa de juros mais elevada em um tempo qualquer, o custo do dinheiro também fica
mais elevado. O mesmo ocorrerá com o custo do crédito. Diante de uma taxa de juros mais elevada,
o crédito ao consumidor sobe, pois as sociedades de crédito cobrarão um preço mais elevado pelo
montante de dinheiro que emprestarão. Resultado: subtração dos investimentos na produção, conforme
o caso do nosso empresário, e também diminuição do consumo por parte de nosso cidadão tomador de
crédito. Quando os empresários não investem na produção e os consumidores não adquirem produtos,
temos a queda da produção de mercadorias, do emprego e da geração de renda. A economia entra,
então, em um processo recessivo, contracionista (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).

Saiba mais

Você pode obter mais informações acerca do uso da política monetária


no site do Banco Central do Brasil:

<www.bcb.gov.br>.

Observação

Nas atas de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), você


poderá perceber de que forma a política monetária está sendo conduzida
no Brasil.

5.6.3.2 Política fiscal

A política fiscal compreende ações do governo relacionadas ao seu orçamento, o orçamento do setor
público. Ela definirá quanto o governo irá arrecadar e quanto poderá gastar. O Estado adquire receita via
impostos, tributos e taxas, pagas pelo contribuinte, no intuito de manter a ordem e os serviços providos
pelo governo.

A arrecadação governamental, chamada de receita do governo, é feita via produção, circulação e


consumo de mercadoria, além de movimentações financeiras, renda, entre outros. Para Judensnaider e
Manzalli (2011), entre os principais geradores de renda do governo, temos:

94
ECONOMIA E MERCADO

• Receitas provenientes da produção e circulação de mercadorias:

— Circulação de mercadorias: ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços).

— Produção industrial: IPI (imposto sobre produtos industrializados).

• Receitas provenientes da geração e apropriação da renda:

— Geração de renda: IR (imposto de renda).

• Receitas provenientes da propriedade, da acumulação de capital e das relações internacionais:

— Sobre a propriedade: IPTU (imposto predial e territorial urbano).

— Sobre herança: IH (imposto sobre herança).

— Sobre operações financeiras: IOF (imposto sobre operações financeiras).

— Sobre relações internacionais: II (imposto sobre importações).

O governo realiza gastos no intuito de suprir as necessidades da população não preenchidas pela
iniciativa privada. Entre esses gastos, estão:

• máquina do governo: manutenção dos serviços básicos e administrativos;

• investimentos: construção de escolas, hospitais, rodovias etc.;

• transferência de renda: programas que visam auxiliar a população de baixa renda.

Uma política fiscal será expansionista quando o governo aumenta seus gastos ou mesmo quando
diminui a carga tributária sobre a sociedade. Ou seja, quando repassa maior volume de recursos
monetários para a sociedade por meio de seus gastos ou quando deixa a sociedade com maior volume
de dinheiro, diminuindo sua arrecadação.

Quando o governo adota uma política fiscal expansionista, alguns efeitos na economia são gerados:

• descontrole das contas públicas, pois os gastos podem ser, em algum momento, superiores às
receitas e, dessa forma, o governo não consegue formar poupança;

• aumento da inflação, uma vez que haverá maior volume de dinheiro em circulação, elevando o
consumo e os preços dos produtos;

• redução na credibilidade externa, por conta do descontrole orçamentário;

95
PARTE V

• retração dos investimentos empresariais, pois o governo assume a liderança de aumentar a


demanda agregada via gastos governamentais e produção;

• redução do desemprego, por ativar a atividade econômica (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).

E no caso de uma política fiscal contracionista? As consequências, dentre outras, serão:

• equilíbrio nas contas do governo – superávit orçamentário;

• aumento da credibilidade no exterior, devido à austeridade;

• elevação dos níveis de investimento estrangeiros, pois o país transmite maior segurança
administrativa;

• diminuição das transferências governamentais com relação à sociedade.

O governo necessita da política fiscal para prover a sociedade de bens públicos. Os bens públicos
são aqueles cujo uso é indivisível. Em outras palavras, o seu consumo por parte de um indivíduo ou de
um grupo social não prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais integrantes da sociedade. Ou
seja, todos se beneficiam da produção de bens públicos, mesmo que, eventualmente, alguns mais do
que outros. As ruas e a iluminação pública são exemplos de bens públicos – bens tangíveis; como bens
intangíveis, temos a Justiça, a Segurança Pública e a Defesa Nacional.

Ademais, para poder arcar com as funções alocativa, distributiva e estabilizadora, o governo precisa
gerar recursos. Como vimos, entre as diversas fontes de receita, a principal é a arrecadação tributária. A
fim de aproximar um sistema tributário do “ideal”, é importante que alguns aspectos sejam observados.

Um dos princípios da tributação, chamado princípio dos benefícios, diz que as pessoas deveriam
pagar os impostos com base nos benefícios que recebem dos serviços do governo. Esse princípio tenta
tornar os bens públicos semelhantes aos bens privados, para chegar, por aproximação, ao valor dos bens
para o agente que o adquire.

Por sua vez, o princípio da capacidade de pagamento versa que os impostos deveriam ser cobrados
de acordo com a possibilidade que o agente tem de suportar o imposto. Tal princípio leva a duas noções
de equidade: a equidade horizontal, preceituando que contribuintes com capacidades de pagamento
similares devem pagar a mesma quantia; e a equidade vertical, afirmando que contribuintes com maior
capacidade de pagar impostos devem pagar mais impostos. Certamente, a equidade vertical atenderia
ao princípio da progressividade.

Outro princípio, o da neutralidade, requer que o sistema tributário não provoque uma distorção da
alocação de recursos, e que, dessa forma, não prejudique a eficiência do sistema.

96
ECONOMIA E MERCADO

O sistema tributário brasileiro está longe de representar um Ótimo de Pareto, ou seja, está longe
da eficiência administrativa e da justiça social. Devido à multiplicidade de impostos e alíquotas e à
incidência sobre insumos, o efeito final do sistema brasileiro de impostos indiretos sobre os preços
também não é muito transparente. No tocante à tributação direta e indireta, algumas considerações
devem ser feitas:

• Impostos indiretos: são aqueles cobrados de produtores com relação à produção, venda, compra
ou uso de bens e serviços. Frequentemente, impostos indiretos são arrecadados em vários estágios
do processo de produção e venda, e seus efeitos sobre os preços pagos pelo consumidor final na
cadeia de transações não são claros. O efeito final sobre os preços, diante da tributação indireta,
depende não apenas da medida em que os impostos são transferidos em cada estágio de produção,
mas também da estrutura precisa das transações interindustriais.

• Impostos diretos: a exemplo do imposto sobre o patrimônio, podem ser cobrados regularmente
em razão do simples ato de posse dos ativos durante um determinado período. É o caso do IPTU
(imposto predial territorial urbano) e do IPVA (imposto sobre propriedade de veículos automotores),
que atendem ao princípio da equidade e da progressividade.

Os impostos diretos incidem sobre o indivíduo, mas nem sempre estão associados à capacidade de
pagamento de cada contribuinte. O imposto de renda pessoa física é o imposto pessoal por excelência
e, assim, é aquele que se adapta aos princípios da equidade e progressividade, à medida que permite,
de fato, uma discriminação entre os contribuintes no que diz respeito à sua capacidade de pagamento
(JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).

Do lado das empresas, o imposto de renda pessoa jurídica incide sobre o lucro e apresenta um
problema: ele pode contrariar os princípios da equidade e da progressividade, tendo em vista que não
se pode ter certeza de que o ônus do imposto sobre o lucro recaia integralmente sobre o produtor. Em
outras palavras, a empresa pode reagir à cobrança do imposto sobre os lucros repassando-o, pelo menos
em parte, para os preços finais de seus produtos, onerando, assim, os consumidores.

5.6.3.3 Política cambial

É a política responsável pelo fluxo de moeda internacional no país. O controle da quantidade de


moeda estrangeira é feito pela taxa de câmbio. A taxa de câmbio é a relação existente entre duas
moedas de diferentes países, e ela pode ser valorizada ou desvalorizada. Quando a moeda nacional está
mais cara que a estrangeira, dizemos que a taxa de câmbio está valorizada. Por exemplo, com R$ 1,00 se
adquire US$ 1,20. Veja: com uma unidade da moeda nacional, é possível obter mais que uma unidade
da moeda estrangeira. No caso de a moeda nacional ser mais barata que a estrangeira, percebe-se um
câmbio desvalorizado. Assim, para adquirir US$ 1,00, é necessária uma quantidade maior de reais; no
caso, R$ 1,20. A política cambial tem sido vital para a manutenção do nível de emprego no país, em
especial para os setores exportadores, que, com uma taxa de câmbio desvalorizada, têm maior incentivo
para vender produtos ao exterior.

97
PARTE V

Figura 24 – Dólar como moeda estrangeira e divisa internacional

Portanto, a taxa de câmbio reflete as necessidades de unidades monetárias nacionais para adquirir
uma unidade monetária de uma moeda estrangeira. É no mercado cambial que são fixadas as taxas de
câmbio, variável nominal, sob diferentes regimes cambiais: câmbio fixo, câmbio flutuante, dirty floating
ou ainda o currency board. Em um regime cambial fixo, a taxa de câmbio é administrada pelo Banco
Central, que define o valor do câmbio para um período específico. Já no câmbio flutuante, ou flexível, a
taxa de câmbio é determinada pelo mercado, ou seja, pelas interações entre demanda e oferta de divisas
internacionais (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).

Admite-se por dirty floating câmbio com flutuação suja. O que isso quer dizer? Significa que o Banco
Central de um país pode, mesmo em um câmbio flutuante, exercer pressão sobre a taxa de câmbio, ou
seja, pode fazê-la flutuar até que seja fixada em uma meta estabelecida. Exemplo: suponha um país
onde o regime cambial seja flutuante, e que as interações entre demandantes e ofertantes de divisas
internacionais tenha conduzido a taxa de câmbio para um nível que somente favorece o importador
de mercadorias. Assim, se o volume de importações de mercadorias de um país aumenta, menor será a
produção interna dele e, portanto, pode ter elevada sua taxa de desemprego. Diante de tal preocupação,
o Banco Central pode interferir no mercado cambial e, por meio de compra e/ou venda de divisas
internacionais, fazer flutuar a taxa de câmbio até um ponto em que sejam favorecidas as exportações.

Por sua vez, o currency board é um regime cambial em que um país adota como moeda corrente
a moeda estrangeira, na qual está ancorada, quando atravessa ou adota políticas de estabilização
monetária para controlar a inflação. Há ainda que acrescentar outra diferença: a disparidade entre a
taxa de câmbio real e a taxa de câmbio nominal, que reside na divergência de inflação entre os países e
entre uma e outra.

5.6.3.4 Política de rendas

A política de rendas é um tipo de política utilizada pelo governo que procura melhorar a distribuição
da renda e a justiça social. Ela atua diretamente sobre os fatores de produção e tenta reduzir os conflitos
entre o capital e o trabalho. Melhorias nas condições de salários e trabalho, encargos trabalhistas
mais justos, distribuição de resultados por parte das empresas aos seus funcionários são alguns de
seus objetivos, assim como a proposta de um sistema de preços mínimos garantidores de consumo à
população de baixa renda.
98
ECONOMIA E MERCADO

No caso da economia brasileira, podemos citar como exemplo de política de rendas os


seguintes programas:

• política de preços mínimos;


• política salarial;
• programas de renda mínima;
• Bolsa Família.

Saiba mais

Saiba mais sobre o programa Bolsa Família:

BRASIL. Bolsa Família, Caixa Econômica Federal, [s.d.]. Disponível em:


<http://www.caixa.gov.br/voce/Social/Transferencia/bolsa_familia/index.
asp>. Acesso em: 8 jan. 2018.

6 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ECONOMIA MONETÁRIA

Inicialmente, vamos refletir sobre o que vem a ser moeda. A moeda é um artigo utilizado para efetuar
trocas. Dá-se moeda em troca de algo. Trabalhamos em troca de moeda. O termo designa moedas
metálicas e papel-moeda as cédulas que usamos no dia a dia.

Vamos pensar um pouco. A moeda tem valor? Você, por acaso, já encontrou alguém nas ruas de sua
cidade vendendo moedas, vendendo dinheiro? Possivelmente não. Por qual motivo? Antes da resposta,
reflita mais um pouco. Qual o valor de uma cédula, nota, de R$ 20,00? Quanto vale uma nota de R$ 100,00?
Qual o valor de uma moeda metálica de R$ 1,00? Parece estranho dizer, mas, nas economias modernas, as
notas e as moedas não têm nenhum valor, elas representam valor! Representar valor significa ter poder
aquisitivo. Uma cédula de R$ 50,00 possui um poder de compra de cinquenta unidades monetárias. Uma
cédula de R$ 10,00 tem um poder de compra de dez unidades monetárias e assim por diante. Esse deve ser
o motivo pelo qual não encontramos pessoas nas ruas vendendo moedas, pois ninguém aceitaria vender
uma nota de R$ 100,00 por um valor mais baixo do que ela vale e ninguém aceitaria pagar mais do que
esse valor pela nota.

6.1 Funções e histórico da moeda

Podemos pensar que a moeda é uma mercadoria, mas não qualquer uma. Uma mercadoria específica,
que reúne a propriedade de ser trocada por qualquer outra. Basta ter em mãos cédulas ou moedas
metálicas para poder trocá-las por qualquer artigo que represente exatamente as unidades monetárias
incorporadas na moeda. Se tivermos R$ 80,00, podemos adquirir qualquer mercadoria que tenha um
preço idêntico ou menor do que esse valor e que esteja disponível para venda, obviamente.

99
PARTE VI

A especial característica que a moeda reúne é a de ser aceita em qualquer situação. Veja um
exemplo: seria muito difícil, em uma economia moderna, adquirir mercadorias pagando, ou trocando,
por outras mercadorias como à época do escambo. Se quiser um sapato novo, você não conseguirá
obtê-lo fazendo a troca no mercado pelo seu trabalho direto. Haveria a necessidade de dupla
coincidência de desejos: o seu desejo em ter os sapatos e o do vendedor em utilizar sua força de
trabalho. Agora, de posse da moeda, tudo fica mais fácil. Se o vendedor coloca à venda os sapatos que
você quer, basta que você tenha poder de compra, representado pela moeda, e os compre, pagando
em moeda. Pronto. Efetuamos uma troca indireta. Moeda por mercadoria, no caso do comprador, e
mercadoria por moeda, no caso do vendedor.

Observação

Se a moeda, então, pode ser pensada como uma mercadoria, mas uma
mercadoria especial, ela deve também desempenhar algumas funções.

Devido ao desenvolvimento da divisão do trabalho que especializou pessoas e empresas como


produtores de mercadorias, nas economias modernas há um volume absurdamente grande de
mercadorias à disposição da sociedade. Com a divisão do trabalho, os agentes econômicos tornaram-se
cada vez mais interdependentes uns dos outros, cada um depende do trabalho do outro ou depende,
para seu bem-estar, da produção do outro (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011). Dessa forma, um volume
expressivo de trocas indiretas é realizado e, nesse aspecto, a moeda desempenha uma de suas principais
funções: ser intermediária de trocas (meio de trocas).

A função de intermediária de trocas, ou, se preferir, meio de troca, ou ainda meio de pagamento,
permite que mercadorias sejam compradas e vendidas em diferentes períodos de tempo sem depender
da coincidência de desejos. Além de servir como intermediário de trocas, a moeda exerce ainda outras
duas funções básicas: servir como unidade de conta e como reserva de valor.

A função unidade de conta da moeda está representada nos diversos contratos existentes na
economia. Em um contrato de trabalho, por exemplo, ela aparece no valor do salário ali grafado: x
unidades monetárias. Em um contrato de prestação de serviços, também desempenha sua função
unidade de conta no valor que será pago pelo contratante ao contratado mediante o serviço prestado.
Está ainda representada nos preços dos produtos. Por exemplo: quando vemos uma camisa à disposição
na vitrine de uma loja qualquer, possivelmente há uma etiqueta com a indicação do valor daquele
produto. Ali está, portanto, a moeda exercendo sua função de unidade de conta. Outro nome que pode
ser atribuído a essa função da moeda é moeda de conta. Esta, que aparece ou nos contratos ou nos
preços dos produtos, determina qual o montante de moeda corrente necessário para aquela troca.

Uma última função desempenhada pela moeda é servir de reserva de valor. De posse de unidades
monetárias, e dada a existência de mercados à vista e a prazo, seu possuidor tem o direito de reservar
tal moeda para consumo ou para pagamento futuro. Em economias com estabilidade monetária (sem
inflação), a moeda consegue exercer tal função, de poder reservar ou preservar seu valor ao longo do
tempo. Em períodos de inflação elevada, a erosão dos ativos monetários será uma consequência.
100
ECONOMIA E MERCADO

Para que a moeda desempenhe suas funções, alguns aspectos particulares devem ser reunidos.
Como exemplo, temos as características econômicas, entendidas como custo de estocagem e custo de
transação negligenciáveis ou próximos de zero. O que isso significa? Significa que para manter moeda
seu custo é zero e que transportar moeda também tenha um custo zero. As outras características da
moeda, as físicas, dizem que a moeda deve ser divisível, durável, que haja dificuldade em falsificação,
que exista manuseabilidade e que também seja favorecida sua transportabilidade. Somente reunindo
características físicas e econômicas a moeda consegue exercer suas funções de intermediária de trocas,
unidade de conta e reserva de valor (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).

É necessário viajar pela História para conhecer as diversas formas que a moeda assumiu ao longo dos
tempos. Desde a Antiguidade, os povos utilizam moeda para efetuar trocas de mercadorias. Inicialmente
as trocas eram feitas de forma direta, pois o homem vivia em pequenas comunidades, nas mais primitivas
culturas – a economia funcionava à base de escambo. Esse sistema exigia a coincidência de desejos, pois
apenas produtos encontravam-se disponíveis para trocas. Conforme Passos e Nogami (2003, p 446):

[...] imaginem um indivíduo que tenha maçãs e queira castanhas. Seria uma
coincidência fora do comum encontrar um outro indivíduo que tivesse
gostos exatamente opostos, ansioso por vender castanhas e comprar maçãs.
Ainda que aconteça o fora do comum, não há garantia de que os desejos das
duas partes, no que se refere às quantidades e aos termos de troca exatos,
coincidam. Da mesma forma, a menos que um alfaiate faminto encontre
um fazendeiro nu que tenha alimentos e o desejo de ter um par de calças,
nenhum dos dois pode realizar o negócio.

Observação

Com o desenvolvimento da divisão do trabalho e a maior especialização


na produção de mercadorias, nota-se a dificuldade em usar a prática
rudimentar de escambo.

Nos primórdios, o homem vivia em pequenas comunidades de uma única família, e se utilizava
da vegetação e da caça disponíveis na região que habitava. Esses recursos eram os únicos com os
quais contava para a sua subsistência. Imagine um agricultor de cenouras, por exemplo. Se ele produz
cenouras, o produto de seu trabalho são cenouras. Contudo, tal agricultor e sua família não vivem só
de cenouras, eles dependem da produção alheia para sobreviver. Dependem, portanto, da troca de seu
excedente pelo excedente de produção de outra pessoa. Suponha que esse agricultor precise adquirir
carne para sua alimentação. Ele só tem cenouras para trocar e precisará encontrar no mercado algum
produtor que venda carnes e que deseje cenouras em troca. Fácil, não? Não, não é fácil! E o manuseio?
Como será o transporte? E a durabilidade, características físicas da moeda? E a divisibilidade? De fato
uma operação complexa.

Assim, as sociedades se empenharam para desenvolver um sistema em que um equivalente


geral fosse aceito como meio de trocas, iniciando, desse modo, um sistema de trocas indiretas, que
101
PARTE VI

passa a ser intermediado por algum bem que represente aceitação e curso geral. Estamos tratando
da mercadoria-moeda ou, simplesmente, moedas-mercadorias. Foram utilizadas como moedas-
mercadorias o gado, o fumo, o azeite de oliva, os escravos, o sal, entre outros.

Para que uma mercadoria possa ser utilizada como moeda, deve apresentar as características
de durabilidade, divisibilidade, homogeneidade, bem como facilidade no manuseio e transporte,
aspectos que não eram reunidos em alguns dos exemplos citados neste livro-texto, apesar de as
moedas-mercadorias terem facilitado um pouco a vida dos agentes.

Outra forma de moeda utilizada pelas sociedades antigas foram as moedas preciosas, representando
a moeda metálica ou o metalismo, notadamente pelo uso do ouro e da prata. Também fizeram parte
desse período o cobre, o bronze e o ferro. O ouro em barra tem um valor incorporado. O mesmo ocorre
com as unidades de prata. São mercadorias que, por não apresentarem depreciação, carregam seu valor
ao longo dos tempos, permitindo às pessoas guardá-las para serem utilizadas em trocas de mercadorias
no melhor momento. Apesar de mais se assemelharem com as funções e características da moeda, são
mercadorias que, para serem trocadas por outras, dependem da dupla coincidência de desejos. Novamente:
e o manuseio? E o transporte? E a durabilidade, características físicas da moeda? E a divisibilidade? Parece
que o ouro e a prata também não foram as melhores alternativas para a moeda, por isso a sociedade
caminhou para outra alternativa: a moeda-papel (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).

Conforme Passos e Nogami (2003, p. 451),

[...] a moeda representativa ou moeda-papel veio eliminar, portanto, as


dificuldades que os comerciantes enfrentavam em seus deslocamentos pelas
regiões europeias, facilitando a efetivação de suas operações comerciais e
de crédito, especialmente entre as cidades italianas e a região de Flandres. A
sua origem está na solução encontrada para que os comerciantes pudessem
realizar os seus empreendimentos comerciais. Em vez de partirem carregando
a moeda metálica, levavam apenas um pedaço de papel denominado
certificado de depósito, que era emitido por instituições conhecidas como
“Casas de Custódia”, e onde os comerciantes depositavam as suas moedas
metálicas, ou quaisquer outros valores, sob garantia.

Tal modalidade de moeda, um papel, um certificado de depósito, desempenhava boa função.


Tinha nela incorporado um valor representativo, inicialmente com lastro de 100% e garantia de
aceitação, vez que representava ali uma determinada quantidade de valor. Então, a sociedade
avança para outro tipo de moeda: a moeda fiduciária ou papel-moeda. Moeda fiduciária significa
garantia. Para Lopes e Rossetti (2005, p. 33),

[...] a experiência de custódia e da conversibilidade mostrou que o lastro


metálico integral (de 100%) em relação aos certificados em circulação não
era necessário para a operacionalização desse novo sistema monetário. Essa
constatação decorreu da percepção de que a reconversão da moeda-papel
em metais preciosos não era solicitada por todos os seus detentores ao
102
ECONOMIA E MERCADO

mesmo tempo. Além disso, enquanto uns solicitavam a reconversão, outros


ensejavam novas emissões, levando às casas de custódia novas quantidades
de ouro e prata para depósito.

Vamos entender melhor isso. As casas de custódia funcionavam como uma espécie de banco, onde
alguns agentes depositavam barras de ouro, bem como suas peças de prata e, em troca, recebiam um
papel representando aquele valor. Vejamos:

• Quilos de ouro x preço do ouro = valor do ouro.

• Valor do ouro depositado = um papel escrito o quanto vale.

De posse de tal documento (papel-moeda), as pessoas exerciam suas trocas comerciais. O


recebedor desse registro possuiria o direito de ir até a casa de custódia e resgatar o valor ali
identificado. Tal reconversão nem sempre era necessária, e uma grande quantidade de ouro
permanecia depositada em tais casas. Assim, os “guardiões” dos metais preciosos podiam começar
a emitir papéis não mais lastreados (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 33). Inaugura-se, então, um período
em que a emissão de papel-moeda é exercida por particulares até que o governo chame para si
tal responsabilidade.

Da modalidade de moeda fiduciária (papel-moeda) até a modalidade da moeda bancária, manual ou


escritural como conhecemos na atualidade, foi questão de tempo.

6.2 Da moeda aos meios de pagamento

Consideradas todas as formas que a moeda assumiu durante os tempos, podemos verificar como ela
se comporta em uma economia moderna como a de hoje. Assim, podemos dizer que, sobre o montante
de moeda que temos à nossa disposição, os meios de pagamento (MP) dividem-se em papel-moeda em
poder do público (PMPP) e os depósitos à vista nos bancos comerciais (DVbc). Portanto,

MP = PMPP + DVbc

Ademais, podemos considerar ser PMPP a moeda manual (cédulas e moedas metálicas) e DVbc a
moeda escritural (depósitos ou representação de saldos positivos e/ou negativos em contas-correntes).
Para que o PMPP seja efetivamente utilizado pela coletividade, o Banco Central, na qualidade de
autoridade monetária, precisa emitir moeda, PME, ou seja, papel-moeda emitido. No entanto, nem todo
PME converte-se em PMPP, pois o próprio Banco Central retém parte desses recursos. Desse modo,

Papel-moeda em circulação = papel-moeda emitido – caixa do Banco Central (retenção)

Por sua vez, os bancos comerciais também não colocam à disposição da sociedade todo o volume
monetário de que o Banco Central injetou. Parte desses recursos os bancos comerciais retêm em encaixe
técnico. Assim,

103
PARTE VI

Papel-moeda em circulação = papel-moeda emitido – caixa do Banco Central – encaixe técnico


bancário

Vimos que a moeda manual é criada pela autoridade monetária e chega às mãos da coletividade
via bancos comerciais. Esses últimos são responsáveis pela expansividade dos meios de pagamento
por meio da criação de moeda escritural. A moeda escritural é criada pelos bancos comerciais a partir
do recebimento de depósitos à vista. Através de uma operação contábil, dá-se a criação de meios
de pagamento, e tal atividade aparece no balancete do banco comercial. Nesse arquivo, a título de
exemplo, são registrados valores de depósitos recebidos no lado do passivo; no lado do ativo, todos os
empréstimos concedidos a partir dos recursos recebidos pelos depósitos à vista.

6.3 Oferta de moeda

Para tratar da oferta de moeda, torna-se necessário compreender o papel que o Banco Central
exerce na economia. Um de seus principais papéis é ser o órgão responsável pelo controle da oferta
monetária na economia, bem como o de zelar pela qualidade da moeda nacional, ou seja, pelo seu
poder de compra, por sua estabilidade. É por esse motivo que dizemos ser o Banco Central o emissor
da moeda nacional. Entre outros papéis, que também podemos considerar como funções, estão o de
ser o banco dos bancos, regulando e supervisionando as operações que por estes são efetuadas, ser o
banco do governo, no caso representado pelo Tesouro Nacional, além de ser depositário de reservas
internacionais, ou seja, guardião do volume de moeda estrangeira à disposição no País.

Considerando os papéis desempenhados pelo Banco Central, bem como sua existência na economia
moderna e suas relações com os bancos comerciais, estes dois agentes compreendem o sistema monetário
nacional. Por seu turno, os bancos comerciais – como vimos anteriormente – têm a tarefa de efetuar
a intermediação financeira entre diferentes agentes econômicos com a principal característica de criar
moeda, ou seja, meios de pagamento. Para tanto, devem ser legalmente autorizados pelo Banco Central
a exercer tal função. Assim, obtêm permissão para receber depósitos à vista, que se transformam em
reservas dos bancos, ou, como alguns preferem, de encaixes, que serão de alguma forma emprestados.
Nessas operações, uma das obrigações impostas ao Banco Central aos bancos comerciais é: ao realizar
uma operação de empréstimo, o banco deve certificar-se de que terá como garantir os recursos de seus
depositários se estes desejarem exercer o direito de saque.

Nesse sentido, tanto o banco comercial como o Banco Central dispõe de estimativas de
movimentações diárias que são efetuadas pelos agentes econômicos. Cada agente econômico tem um
comportamento diferente em relação aos saldos mantidos em suas contas, assim os bancos podem
efetuar uma estimativa do comportamento de seus agentes de quando e quanto exercem seu direito
de utilizar os saldos que estão ali depositados. Mesmo que ocorram operações de empréstimos, aos
depositários não há diminuição de seus saldos, pois os recursos emprestados continuam sendo daqueles
que o depositaram, e é um dever do banco comercial efetuar tal garantia ao depositário.

104
ECONOMIA E MERCADO

Lembrete

Como os bancos comerciais sabem que seus depositantes não sacam


todos os seus depósitos em um mesmo momento, podem trabalhar
com tal volume monetário colocando esses depósitos em circulação via
empréstimos. É com essa operação que os bancos efetuam a multiplicação
dos meios de pagamento na economia.

É importante perceber que o Banco Central e os bancos comerciais, aqueles autorizados a receber
depósitos à vista, exercitam a oferta de moeda na economia e são instituições representantes do sistema
monetário nacional, já o sistema financeiro é formado pelo sistema monetário mais o não monetário.

O Sistema Financeiro Nacional é constituído por um sistema normativo e um de intermediação. No


primeiro, estruturado por instituições que estabelecem diretrizes de atuação dos demais atores, estão:

• Conselho Monetário Nacional (CMN).

• Banco Central do Brasil (Bacen).

• Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

• Demais instituições especiais, a exemplo do Banco do Brasil (BB), do Banco de Desenvolvimento


Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal (CEF).

Por outro lado, no sistema de intermediação, que também pode ser chamado de operativo, é formado
por instituições que atuam em operações de intermediação financeira, ou seja, os atores. Vejamos:

• Instituições financeiras bancárias, a exemplo dos bancos comerciais, múltiplos e caixas econômicas.

• Instituições financeiras não bancárias representadas por bancos de investimento, de


desenvolvimento, sociedades de crédito, financiamento e investimentos, sociedades de
arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, sociedade de crédito imobiliário e associações
de poupança de empréstimo.

• Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (Sepe), representado pela Caixa Econômica Federal,
Sociedade de Crédito Imobiliário, Associações de Poupança e Empréstimos e Bancos Múltiplos.

• Instituições auxiliares, a exemplo das Bolsa de Valores, Sociedades Corretoras de Valores Mobiliários,
Sociedades Distribuidoras de Valores Mobiliários e Agentes Autônomos de Investimento.

• Instituições não financeiras, que são as Sociedades de Fomento Comercial – factoring – e Seguradoras.

105
PARTE VI

Assaf Neto (2012, p. 52) destaca que o Banco Central propõe ao Sistema Financeiro Nacional a
seguinte composição:

Quadro 4

Entidades
Órgãos normativos Operadores
supervisoras
Instituições Demais instituições
Banco Central do financeiras financeiras
Brasil (Bacen) captadoras de Outros intermediários
Conselho Monetário Bancos de câmbio financeiros e administradores de
Nacional (CMN) depósitos à vista
recursos de terceiros
Comissão de Valores Bolsas de
Bolsas de valores
Mobiliários (CVM) mercadorias e futuros
Entidades
Conselho Nacional Superintendência
de Seguros Privados de Seguros Privados Resseguradores Sociedades Sociedades de abertas de
seguradoras capitalização previdência
(CNSP) (Susep)
complementar
Conselho Nacional Superintendência
da Previdência Nacional de
Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão)
Complementar Previdência
(CNPC) Complementar (Previc)

Fonte: Assaf Neto (2012, p. 52).

No âmbito dos objetivos e alcance desta disciplina, não cabe tratamento pormenorizado de cada um
dos agentes indicados anteriormente.

Saiba mais

Caso o assunto seja de seu interesse, ou seja, a ampliação dos


conhecimentos acerca de todos os participantes do Sistema Financeiro
Nacional, leia:

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Composição e segmentos do


Sistema Financeiro Nacional. Brasília, [s.d.]. Disponível em: <https://www.
bcb.gov.br/pre/composicao/composicao.asp>. Acesso em: 11 jan. 2018.

O quadro a seguir sumariza as entidades supervisoras e seus respectivos agentes supervisionados.

106
ECONOMIA E MERCADO

Quadro 5

Entidades supervisionadas pela Entidades supervisionadas pela


Entidades supervisionadas pelo Banco
Central (Bacen) Comissão de Valores Mobiliários Superintendência de Seguros Privados
(CVM) (Susep)
— Bancos comerciais e múltiplos — Companhias abertas com ações — Sociedades seguradoras
negociadas em bolsa de valores
— Caixa Econômica Federal — Sociedades que atuam no resseguro
— Bolsa de valores, mercadorias e
— Cooperativas de crédito futuros — Entidades abertas de previdência
complementar
— BNDES — Operações com valores
mobiliários realizadas por — Outras
— Bancos de desenvolvimento e de
investimentos sociedades corretoras e
distribuidoras
— Instituições de câmbio
— Fundos de investimento
— Sociedades financeiras
— Outros
— Sociedades de crédito imobiliário
— Corretoras e distribuidoras de títulos e
valores mobiliários e de câmbio
— Sociedades de arrendamento mercantil
— Outras

Adaptado de: Assaf Neto (2012, p. 54).

Saiba mais

ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. São Paulo: Atlas, 2012.

Vimos que uma das principais funções do Banco Central é a de controlar a oferta monetária, o que
envolve certamente a preocupação da existência ou não de liquidez necessária para que os agentes
econômicos continuem suas atividades no sistema, ou seja, para que o fluxo da renda funcione de forma
tranquila, sem interrupções por parte do fluxo monetário. Acrescenta-se a tal fluidez a capacidade de
os bancos comerciais na criação e multiplicação dos meios de pagamento, o que também auxilia no
desenvolvimento do fluxo circular da renda, impulsionando o fluxo monetário. Assim, em termos de
economia monetária e com o emprego de termos técnicos, tanto a moeda manual quanto a escritural –
que denominamos meios de pagamentos – são também chamados de agregados monetários, e possuem
diferentes classificações.

A classificação dos agregados monetários atende aos graus de liquidez, da maior liquidez para a
menor, e eles podem variar ao longo do tempo, dependendo da intenção da autoridade monetária e
do relacionamento da coletividade com a moeda. Sobre este último evento, Carvalho et al. (2007, p. 6),
destacam que

A capacidade de demanda de produtos e serviços de uma sociedade e, a


princípio, representada pela soma da quantidade de moeda manual com
a de moeda escritural presente na economia. Entretanto, tem se tornado

107
PARTE VI

difícil precisar com exatidão a capacidade potencial de demanda do público,


porque existem ativos financeiros que podem ser convertidos em moeda
com um custo de transação desprezível e em tempo bastante curto. Tais
ativos são, por exemplo, os depósitos a prazo que possuem formas, regras
de aplicação e remuneração diversas. Em princípio, um depósito a prazo
não poderia ser resgatado a qualquer data. Contudo, como estão lastreados
em ativos financeiros que possuem um mercado secundário (de revenda)
organizado, tais ativos podem ser revendidos e o detentor do depósito a
prazo pode transformá-lo em depósito à vista (em tempo bastante curto e
com algum custo, em geral, inferior à remuneração auferida).

Portanto, em razão da rapidez e velocidade com que ativos se transformam em liquidez, o Banco
Central necessita trabalhar com classificações de determinados ativos para operar seus instrumentos de
política monetária e cumprir com seus objetivos e funções.

As estatísticas de diversos agregados monetários e financeiros são, dessa


forma, necessárias. São úteis, por exemplo, para se avaliar qual a força
dos agentes econômicos para gerar inflação devido a sua capacidade de
demanda. Com essas estatísticas, pode-se saber qual é o portfólio (carteira
de ativos) do público em cada momento. Podem ser definidas inúmeras
estatísticas dessa natureza. Em geral, define-se como meios de pagamento
a soma do papel-moeda em poder do público com o total de depósitos à
vista. Tal estatística é chamada de M1 (CARVALHO et al., 2007, p. 6).

A necessidade de classificação dos meios de pagamento dá-se então, a partir do que foi admitido,
para que o Banco Central faça, digamos, uma previsão do comportamento dos agentes econômicos com
relação à moeda enquanto liquidez e seus ativos que rendem juros.

É sabido que uma das principais dificuldades de um economista está em acertar em definitivo qual o
comportamento dos agentes face a diversas situações. Para tanto, utiliza-se daquilo que se convenciona
adotar: o comportamento do agente racional, representativo. Em períodos de elevada inflação, o agente
econômico tende a adquirir rapidamente seus bens para proteger o poder de compra da moeda, e a
reserva monetária não utilizada será protegida em aplicações financeiras.

O nível de taxa de juros também influencia o comportamento dos agentes em relação aos seus saldos
monetários. Via de regra, taxa de juros elevada influencia o agente a efetuar aplicações financeiras em
vez de consumir: afinal, sua recompensa em termos de rendimento pode ser mais atrativa quanto ao
consumo presente. O contrário também é verdadeiro. Contudo, nada podemos asseverar, e sim estimar
o comportamento. Quem afirma com total segurança quando os bancos comerciais vão diminuir as
taxas de juros dos empréstimos? E se os empresários elevarão a demanda por moeda para investimentos
produtivos? Quem pode alegar que na mesma situação algum agente econômico preferirá não efetuar
aplicações financeiras, mas sim elevar seu consumo? São apenas previsões, mas elas devem ter alguma
fundamentação. E é para isso que o Banco Central se utiliza de estatísticas quanto aos meios de
pagamento, seja no sentido restrito, seja no sentido ampliado.
108
ECONOMIA E MERCADO

Considerar papel-moeda em poder do público bem como os depósitos à vista nos bancos comerciais
como meios de pagamento (M1) é considerar os meios de pagamento em seu sentido restrito. Em
seu sentido ampliado, é isso que é importante em termos de economia monetária, é trabalhar com
indicadores que antecedem possíveis complicações sobre o mercado real que a demanda por moeda
pode provocar. Para a autoridade monetária, é vital entender que os saldos mantidos como M1 devem
ser aqueles correspondentes às transações necessárias e corriqueiras que a coletividade efetua ao longo
do tempo, sem que se comprometa a utilização de saldos de outros ativos que não são concebidos
como instrumento de troca, função da moeda. Mesmo com o avanço da economia monetária e dos
instrumentos de intervenção monetária adotados pelo Banco Central, notadamente o controle das
taxas de juros, têm-se que os agregados monetários devidamente classificados apresentam-se como
importantes instrumentos para controle da liquidez do sistema.

Tal classificação não atende somente ao uso da autoridade monetária, no caso do Banco Central,
mas também aos próprios participantes do sistema monetário, digam-se os bancos comerciais. De
conhecimento de suas estatísticas, e da forma como que seu depositário mantém seus ativos nos
bancos comerciais, estes podem desenvolver com maior certeza linhas de empréstimos que auxiliam na
multiplicação dos meios de pagamento. Nos conceitos anteriores, aqueles válidos até o ano de 2000, os
meios de pagamento estavam assim classificados, por graus de liquidez: no maior grau de liquidez ao
menor grau de liquidez:

• M1 = papel-moeda em poder do público + depósito à vista

• M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + quotas de fundos de renda fixa de curto prazo +


títulos públicos de alta liquidez

• M3 = M2 + depósitos de poupança

• M4 = M3 + títulos emitidos por instituições financeiras

Observação

Quanto mais distante de M1, menor é a liquidez do agregado.

Os novos conceitos, que passaram a vigorar no Brasil a partir do ano de 2001, adotam, em seu
conceito de meios de pagamento ampliado, a classificação por seus sistemas emissores, e não mais a
simplificação por grau de liquidez.

O M1 é gerado pelas instituições emissoras de haveres estritamente


monetários, o M2 corresponde ao M1 e às demais emissões de alta
liquidez realizadas primariamente no mercado interno por instituições
depositárias – as que realizam multiplicação de crédito. O M3, por sua
vez, é formado pelo M2 e captações internas por intermédio dos fundos
de renda fixa e das carteiras de títulos registrados no Sistema Especial de
109
PARTE VI

Liquidação e Custódia (Selic). O M4 engloba o M3 e os títulos públicos de


alta liquidez (BACEN, [s.d.]).

Com a adoção dos novos critérios, os meios de pagamento ficam classificados assim:

• Meios de pagamento restritos

— M1 = papel-moeda em poder do público + depósitos à vista

• Meios de pagamento ampliados

— M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança + títulos emitidos por


instituições depositárias

— M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operações registradas no Selic

• Poupança financeira

— M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez

Pela descrição da nova classificação, podemos perceber que o que se


convencionou adotar como critério para o M1 não sofreu alteração: continua
exatamente da forma como era anteriormente, tendo seus saldos gerados
por instituições emissoras de haveres estritamente monetários. Por seu
turno, o M2 passa a integrar os meios de pagamento em conceito ampliado.
Continua a englobar o M1 acrescido das demais emissões de alta liquidez
realizadas primariamente por instituições depositárias no mercado interno.
Quem são as instituições depositárias? Aquelas que multiplicam o crédito,
a saber, os bancos comerciais e múltiplos, as caixas econômicas, os bancos
de desenvolvimento, as agências de fomento, as sociedades de crédito,
as associações de poupança e empréstimos bem como as companhias
hipotecárias (PAULANI; BRAGA, 2012, p. 263).

Avançando em termos de classificação, assim como o M2, os saldos de M3 também sofrem alteração
ante a nova regra: englobam os saldos de M2 bem como os saldos dos fundos de renda fixa e das
carteiras de títulos registradas no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). Por fim, mas não
menos importante, o M4 passa a ser denominado poupança financeira: representa os saldos de M3 e os
títulos públicos de alta liquidez. O quadro a seguir acentua tanto os componentes dos agregados quanto
seus emissores.

110
ECONOMIA E MERCADO

Tabela 15 – Classificação atual dos agregados monetários

Sistema emissor: consolidado monetário (passivo monetário restrito do Banco Central e bancos criadores de
M1 moeda escritural: bancos múltiplos com carteira comercial, bancos comerciais e caixas econômicas).
M1 = papel-moeda em poder do público + depósito à vista
Sistema emissor: consolidado bancário menos fundos de renda fixa (passivo monetário restrito do Banco
Central e passivo monetário ampliado emitido principalmente pelas instituições depositárias).
M2
M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança + títulos emitidos por instituições
depositárias
Sistema emissor: consolidado bancário (passivo monetário restrito do Banco Central e passivo monetário
M3 ampliado das instituições depositárias e fundos de renda fixa).
M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operações compromissadas registradas no Selic
Sistema emissor: consolidado bancário mais governo (passivo monetário ampliado do Banco Central,
M4 instituições depositárias, fundos de renda fixa e tesouros nacional, estaduais e municipais)
M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez

Fonte: Paulani; Braga (2012, p. 263).

Saiba mais

Veja no site do Banco Central do Brasil as estatísticas recentes referentes


à nova classificação dos meios de pagamento, tanto em sentido restrito
quanto no ampliado. O acesso ao link

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Série histórica dos meios de


pagamento ampliados. Brasília, 22 dez. 2017. Disponível em: <https://www.
bcb.gov.br/htms/infecon/seriehistmpamp.asp>. Acesso em: 11 jan. 2018.

6.4 Demanda por moeda

Como estudamos os principais determinantes das condições de oferta de moeda nas economias
modernas, podemos tratar das condições da demanda também apoiados em teorias, afinal, o que faz
os agentes econômicos a demandar moeda? Qual o principal motivo que leva parte da coletividade
em manter seus saldos monetários em ativos que não geram algum rendimento a seu possuidor?
Outra pergunta que desponta é: qual a quantidade de moeda que os agentes desejam reter em
determinado momento de tempo? Não são questões para respostas rápidas, faz muito tempo que
vários economistas se empenham em buscar respostas que por algum momento foram satisfeitas
à comunidade especializada em teoria econômica e que passaram a ser questionadas por outros
teóricos. É o que passaremos a fazer.

111
PARTE VI

6.5 As teorias de demanda por moeda

Iniciaremos a análise das teorias explicativas da demanda por moeda com base na teoria quantitativa
da moeda que se encontra também entre as teorias desenvolvidas pelos chamados economistas clássicos.
Como sabemos, a escola clássica foi uma das mais importantes escolas do pensamento econômico
por procurar criticar o pensamento mercantilista até então dominante. O principal destaque da escola
clássica está calcado na questão do liberalismo econômico, que possui expoentes como Adam Smith,
John Stuart Mill, Alfred Marshall, só para citar alguns. É nesse ambiente que se desenvolve a teoria
quantitativa da moeda.

6.5.1 Teoria Quantitativa da Moeda (Fisher e Escola de Cambridge)

A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM), em sua versão original, foi concebida em torno do pensamento
da escola do liberalismo clássico encontrada nas principais contribuições de Pigou, Marshall, Knut
Wicksell e Irving Fisher, este último é o de maior relevância para o assunto. A princípio, a pergunta é a
seguinte: quais são as razões que levam os agentes econômicos a demandar moeda?

Para os economistas clássicos que empreendem sua visão acerca da economia monetária, uma das
razões está na não existência de sincronia entre os fluxos de recebimentos e pagamentos a que os
agentes econômicos estão expostos. Um trabalhador, por exemplo, recebe seu salário e não o gasta no
mesmo momento, mas sim em um período determinado, aguardando até que o próximo seja recebido.
Como o pagamento de suas despesas está dividido ao longo deste tempo, deve manter um encaixe
monetário para poder efetuar bem suas transações.

Outra razão reside no fato de que os agentes econômicos não têm certeza quanto ao futuro, portanto,
suas previsões não são as mais corretas possíveis. Eventos inesperados podem ocorrer, e o montante de
despesas que tais eventos ensejarão não é calculado com assertividade, ou seja, é preciso manter saldos
monetários para cobrir tais contingências, é uma questão de precaução.

Até aqui, a moeda é entendida apenas como um ativo usado como forma de transação para
pagamentos das despesas que são previstas, as diárias, previsíveis, bem como utilizada como medida
de prevenção. As pessoas não tinham a noção de que a moeda poderia gerar a seu possuidor um
fluxo monetário via rendimentos, preservando seu valor ao longo do tempo. Conforme explica
Berchielli (2003, p. 109),

Dessa forma, o primeiro motivo para demandar moeda depende do valor e


do número de transações realizadas em um intervalo de tempo. Podemos
considerar o nível geral de preços, P, e o produto real da economia, Y, como
aproximações para o valor médio de cada transação e para o número de
transações, respectivamente. No curto prazo, um aumento do produto
real indica que mais bens e serviços estão sendo produzidos e, portanto,
transacionados. Da mesma forma, quando o preço dos produtos aumenta, a
negociação de quantidades iguais envolve valores maiores.

112
ECONOMIA E MERCADO

A teoria quantitativa da moeda tem sua origem naquilo que os economistas convencionam chamar
de equação de trocas, representada por uma identidade que relaciona, de um lado, o fluxo monetário
disponível a ser conhecido pela multiplicação do estoque de moeda na economia, M, e sua velocidade
de circulação, V, e, de outro, o uso do mesmo fluxo, só que agora expresso em termos da multiplicação
do nível geral de preços da economia, P, com a quantidade de transações efetuadas entre os agentes
econômicos, T. Assim, sua formação será:

MV = PT

onde:

M = representa a quantidade ou estoque ou oferta de moeda.

V = velocidade de circulação da moeda, seu turnover.

P = nível geral de preços em termos nominais.

T = quantidade total de transações físicas de bens e serviços.

O lado esquerdo da equação indica o total das transferências de moeda entre os agentes econômicos,
o lado direito corresponde ao total das transferências de bens e serviços entre os agentes econômicos.
A equação de trocas reflete exatamente o fluxo circular da renda: do lado esquerdo, o fluxo monetário;
do lado direito, o fluxo real.

Da forma como foi apresentada e até então desenvolvida pela Escola de Chicago e popularizada na
versão de Irving Fisher, demonstra que os preços sofrem variação como razão direta da quantidade de
moeda em circulação, considerando como constante a velocidade de circulação da moeda, bem como o
volume de transações que a coletividade exerce. Sobre este aspecto, para que a equação de trocas seja
efetivamente transformada em teoria,

Torna-se necessário introduzir equações comportamentais. Na teoria


quantitativa original, são duas essas hipóteses: primeiramente, as
quantidades transacionadas na economia são determinadas no setor
real independentemente das forças monetárias. Sendo assim, na análise
monetária, essas quantidades tornam-se predeterminadas. Segundo, a
velocidade de circulação da moeda, embora variável no tempo, é considerada
uma constante, pelo menos no curto prazo. Com essas duas hipóteses
comportamentais, a equação de trocas se transforma na teoria quantitativa
da moeda cuja proposição básica estabelece uma proporcionalidade direta
entre a quantidade da moeda e o nível de preços (TEIXEIRA, 2002, p. 74).

Considerada pelos principais autores de economia monetária mais como uma teoria que procura
causa e efeito entre variação de preços e volume de moeda em circulação do que efetivamente uma teoria
que busca compreender os fatores que determinam a demanda por moeda por parte da coletividade, a
113
PARTE VI

Teoria Quantitativa da Moeda assume neutralidade da moeda no longo prazo, e no curto prazo o volume
de moeda afeta variáveis reais com possibilidade de inflação.

Como a teoria foi desenvolvida antes de Keynes, está claramente apoiada na lei de Say, aquela que
apregoa que a oferta cria sua própria procura, portanto, é uma teoria que analisa a economia pelo lado
da oferta, no caso, o lado da oferta monetária com tendências de equilíbrio no longo prazo, assim como
assumido pelos clássicos.

A primeira versão dessa teoria foi formulada por Simon NewComb, em 1885,
e difundida por Irving Fischer, em 1911. Parte-se de uma identidade entre
o total de meios de pagamento em moeda e o total de bens e serviços
transacionados, ou seja, a cada troca de bens e serviços, o pagamento
por essa compra e venda em moeda e o preço desses produtos são iguais,
portanto, a quantidade de moeda paga nas transações é idêntica ao valor
monetário dos produtos (CARVALHO et al., 2007, p. 31).

Avaliando a equação de trocas, vê-se que o volume de moeda em circulação é uma variável de
possível mensuração devido ao controle de emissão por parte da autoridade monetária. O nível de
preços é dado, mesmo que variável ao longo do tempo, bem como uma variável da equação passível de
controle e mensuração. A velocidade de circulação da moeda também pode ser conhecida através de
dados e mensurações estatísticas. Assim, a mensuração das quantidades transacionadas era de difícil
operação à época, o que ensejou a reformulação da própria equação.

Uma dessas alterações seria entendê-la do ponto de vista da renda, e foi chamada versão renda:

MVy = PyY

Assim, M indica o estoque agregado de moeda, Vy a velocidade renda, Py um índice de preços de bens
e serviços finais e Y um índice de quantidade representativo da produção real final. Esta própria versão
efetua outra revisão. O que se altera em relação à primeira versão é o seguinte: do lado direito, em vez
de expressar preços multiplicado pelo volume de transações, PT, passou-se a utilizar a mesma relação
em termos do PIB real, PY. Então, a nova equação é indicada da seguinte forma:

MV = PY

Vejamos o que sinaliza Carvalho et al. (2007, p. 32) sobre o assunto:

A teoria quantitativa diz que – uma vez que a velocidade de circulação


e o volume de comércio sejam constantes – um aumento na quantidade
de moeda em circulação faz com que os preços aumentem na mesma
proporção. A TQM se apoia, portanto, na ideia fundamental de que a moeda
não tem nenhum poder de satisfazer os desejos humanos, exceto o poder de
comprar bens e serviços. A moeda é apenas um meio de troca usado como
ponte do hiato entre recebimentos e gastos dos agentes.
114
ECONOMIA E MERCADO

Pela versão conhecida até então, o que se assume é que a coletividade utiliza em suas trocas todo
o montante monetário que tem a sua disposição sem qualquer possibilidade de retenção da moeda,
afinal, está de acordo com os economistas clássicos, notadamente Say, em que o entesouramento não
era apreciado. Considerando a possibilidade de os agentes econômicos em efetuar retenção, reservar
parte da moeda consigo, mesmo que por períodos bastante temporários, curtos, torna-se necessário
assumir que aquela parte da moeda que não foi colocada em circulação pela coletividade, portanto,
não transformada em consumo, interfere no bom desenvolvimento do sistema, causando inclusive
imperfeições na lei, em que a oferta gera a procura correspondente.

Admitindo, também, que os encaixes para fins de segurança representem


uma proporção da renda nominal, os economistas clássicos chegaram a uma
equação de demanda agregada por moeda na qual a quantidade nominal
de moeda que os agentes demandariam seria diretamente proporcional ao
produto nominal da economia (BERCHIELLI, 2003, p. 109).

Com base nisso, surge uma nova versão da teoria – cash-balance ou versão de Cambridge –,
incorporando a noção de que os agentes possam usar a moeda como reserva temporária de valor.

Observação

Com a nova formulação, a teoria passa a considerar mais uma função


da moeda, além daquela de servir de intermediário de trocas: passa a ser
reserva de valor.

Com tal reformulação, a nova equação fica assim:

M = kPy

Onde:

M = demanda por moeda.

k = coeficiente de retenção da oferta monetária.

Py = PIB nominal.

Conforme declara Além (2010, p. 119),

Essa versão da TQM segue o mesmo resultado da versão anterior, tendo em


vista que considera que k e y tendem a ser constantes no longo prazo. A renda
real é dada a longo prazo pelo funcionamento da lei de Say. Sendo assim, no
longo prazo há uma proporcionalidade entre expansão na oferta monetária
e expansão no nível geral de preços. Partindo da equação de saldos de caixa
115
PARTE VI

de Cambridge, onde M = kPy, com k e y constantes, tem-se uma relação


proporcional constante a longo prazo entre nível geral de preços e estoque
monetário. A longo prazo, todo aumento na oferta monetária acima do
crescimento do produto real se refletirá em aumento do nível de preços.

Tomando a TQM em sua versão de Cambridge quanto ao parâmetro k, também chamado de constante
marshalliana, admitindo-se seu valor como fixo no curto prazo, o questionamento que se fez à época
era saber quais os fatores que explicavam a decisão do público em reter moeda. Lopes e Rossetti (2005)
elencam alguns destes motivos:

• a periodicidade entre recebimentos e pagamentos por parte da coletividade;

• nível de acesso da sociedade ao crédito, observando que em períodos de fácil concessão a demanda
por moeda para gastos não programáveis se retrai;

• grau de eficiência do sistema de compensação, bem como dos processos de comunicação entre os
débitos e créditos que ampliam ou diminuem a ociosidade da moeda estrutural;

• o grau de integração vertical do sistema econômico;

• existência de substitutos próximos da moeda, as chamadas quase-moeda;

• o nível de taxa de juros de mercado;

• a taxa de inflação.

Independentemente da forma que se observa a teoria quantitativa da moeda, ela não deixa de ser
uma tautologia: os resultados obtidos em um lado da equação serão iguais ao resultado a ser obtido
do outro lado. Ela representa uma identidade contábil de causa-efeito. Por qual motivo? Simples: a
moeda é neutra no curto prazo. Os economistas desenvolvedores de tal teoria partem do princípio de
que a economia se encontra em pleno emprego, e não é possível elevar o nível de produção por conta
das condições da economia, sendo certo que a elevação na demanda nominal provoca aumento no
nível geral de preços, sem que seja alterada a renda real da economia, dado que a oferta de moeda é
constante no curto prazo. O gráfico a seguir reflete o que afirmamos: M representa o estoque de moeda,
Md a demanda por moeda, p o nível de preços e y a renda.

116
ECONOMIA E MERCADO

Md = Md1 > Md0

Md = Md0
Y
M

Figura 25

Com o passar dos tempos, percebeu-se que era necessário avaliar os efeitos da velocidade das
transações em razão da velocidade-renda da moeda, e não simplesmente da quantidade de vezes que a
moeda era trocada de mão em mão. Deve-se levar em consideração que o nível de renda da coletividade
também impacta no volume de transações que esta mesma coletividade está apta a efetuar. Então, a renda
dependeria da quantidade de moeda em circulação assim como a quantidade de moeda em circulação
também dependeria da renda da coletividade. No entanto, conforme bem destaca Berchielli (2003, p. 111),

Quais são os mecanismos que fazem com que aumentos no estoque de moeda
impliquem elevação da demanda agregada? Por que agentes com mais moeda
nos bolsos gastarão em bens, e não em títulos ou em ativos? Essas questões
não foram satisfatoriamente resolvidas pelos economistas clássicos.

6.5.2 A teoria monetária de Keynes

Logo após as reformulações da teoria quantitativa da moeda e o reconhecimento de que as economias


não mais tendiam ao equilíbrio como se imaginava, Keynes procura oferecer uma teoria monetária
alternativa àquelas até então prevalecentes. Assumindo que a moeda também desempenha a função de
reserva de valor, portanto, que pode ser entesourada, ela deixa de ser considerada neutra tanto no curto
como no longo prazo, considerando agora a endogeneidade da moeda e sua não neutralidade.

Com base nisso, a quantidade de moeda disponível na economia afeta as variáveis reais da economia,
a exemplo do emprego, da produção, do consumo e do próprio investimento que a gerou. Em Keynes,
também não deixa de lado outra importância da moeda, qual seja, ser o ativo mais líquido que existe na
economia. Carvalho et al. (2007, p. 46) destacam muito bem o que afirmamos.

Pelo seu atributo de liquidez por excelência, a moeda acalma as


inquietações dos agentes diante das incertezas do futuro, que são
características de uma economia monetária. Assim, quanto maior a
117
PARTE VI

incerteza percebida pelos agentes, maior tenderá a ser a retenção de


moeda por parte deles, para fazer frente à imprevisibilidade de um futuro
que depende das decisões e comportamento de todos os outros agentes
que operam nesta economia. Quando as expectativas dos agentes são
pessimistas, eles podem demandar segurança e flexibilidade no presente
para enfrentar o futuro, representadas por um ativo seguro, que é a
moeda. A posse da moeda permite aos agentes manter opções abertas
perante a incerteza do futuro. Logo, coeteris paribus, quanto mais incerto
é o futuro, maior é a preferência pela liquidez dos agentes. Note-se que
para Keynes incerteza não se confunde com risco probabilístico, pois
refere-se a determinados fenômenos econômicos para os quais não
existe qualquer base científica para formar cálculos probabilísticos.

Segundo o excerto, para Keynes o futuro está repleto de incerteza e os agentes decidem seu futuro
com base naquilo que percebem e agem no presente com base nas informações que detêm. Como a
moeda está no centro das decisões dos agentes, eles devem decidir como efetuar a melhor alocação
de seus recursos monetários. Estamos acentuando o que Keynes chamou de motivos que levam a
coletividade a demandar moeda. Para ele, são três motivos: transação, precaução e especulação.

O motivo transação remete à moeda exercendo sua função meio de troca, intermediária de
trocas totalmente dependente do nível de renda do agente econômico. Quanto maior o nível de
renda, maior será a demanda por moeda neste motivo. Em períodos recentes, representaria o
montante de moeda que um agente econômico necessita para efetuar seus gastos corriqueiros,
aqueles considerados fixos, que sempre acontecem até que se receba outro volume monetário
igual àquele preservado para este motivo. A esse respeito, Lopes e Rossetti (2005) esclarecem que
este motivo foi dividido em duas partes na teoria de Keynes: a primeira – motivo renda, refere-se
à necessidade de os indivíduos manterem saldos que garantam os pagamentos de suas despesas
até que os recebem novamente. A segunda – giro de negócios – está no âmbito das empresas e no
intervalo em que recebem por suas vendas e pagam os insumos utilizados na produção, bem como
remuneram sua força de trabalho.

Já o motivo precaução versa que, como o agente econômico não sabe com certeza o que acontecerá
no futuro, deve preservar algum volume monetário para algum infortúnio, algum evento que não estava
esperando, ou seja, teria que gastar com o que não esperava ou apostar monetariamente em alguma
aplicação financeira temporária.

Devemos admitir que os motivos transação e precaução já estavam explicitados na teoria quantitativa
da moeda dos clássicos. Keynes também admite tais motivos, mas o que difere as visões dos teóricos
é a procura motivada por especulação, isto é, o uso da moeda como forma de produzir rendimentos
presentes e principalmente futuros. É aqui que surge outro motivo, e assim Keynes consegue avançar
em seus estudos de uma teoria monetária, onde agirá a política monetária. Estamos nos referindo ao
motivo especulação: neste, a demanda por moeda por parte de um agente econômico será maior
ou menor não só por causa de seu nível de renda, mas sobretudo em razão das taxas de juros do
mercado, não sendo irracional manter ativos monetários para satisfazer oportunidades especulativas.
118
ECONOMIA E MERCADO

Se os juros estiverem elevados, os agentes econômicos preferirão adquirir títulos a manter a moeda em
sua forma manual. O contrário também será verdadeiro, assumindo a relação inversa entre demanda
por moeda pelo motivo transação e taxa de juros – quanto maior (menor) for a renda, maior (menor)
será a demanda por moeda; quanto maior (menor) for a taxa de juros nominal, menor (maior) será a
demanda por moeda.

Assim, a função demanda por moeda keynesiana pode ser expressa da seguinte maneira:

L = Lt (Y) + Ls (i)

Na equação, L indica a demanda por moeda, Lt (Y) a demanda por moeda pelo motivo transação
como dependente do nível de renda, e Ls (i) a Ls (i) demanda por moeda pelo motivo especulação,
dependente do nível de taxa de juros.

Observação

Na função demanda por moeda keynesiana, em Lt (Y) estão inseridos


os motivos demanda por moeda para transação e para precaução. Por
convenção, lê-se demanda por moeda pelo motivo transação, mas o outro
também está lá.

A função demanda por moeda pelo motivo transação pode ser assim representada:

A) B)
Y0 Y1 Y2
Lt i

RN = Y Lt

Figura 26

Observando o gráfico (a), é possível perceber que a demanda por moeda pelo motivo transação
depende do nível de renda: elevação no nível de renda aumenta a necessidade de demanda para
transações e precaução, ao passo que queda da renda provoca queda na demanda pelos mesmos motivos.
Como tais razões não apresentam, do ponto de vista dessa teoria, nenhuma ligação com as taxas de
juros, em (b) fica claro que deslocamentos positivos na demanda por moeda pelo motivo transação são
verificados quando o nível de renda também se desloca.

119
PARTE VI

Lopes e Rossetti (2005, p. 71) fazem advertências quanto ao exposto:

— Em época de desemprego, tratando-se de uma economia moderna


regida por contratos, os preços e os salários não estão livres para
variar automaticamente e assim promover o reajustamento natural
do sistema econômico.

[...]

As quantidades produzidas se ajustam aos níveis de demanda efetiva. Isto


significa que os simples ajustamentos no nível dos preços, resultantes da
interação da oferta e da demanda monetárias, não são condições suficientes
para que a economia opere em situação permanentemente próxima do
pleno emprego.

— Na versão keynesiana a velocidade da moeda é considerada como


variável, o que a distingue da versão dos economistas clássicos, para
os quais essa velocidade era admitida como constante a curto prazo.

— No âmbito dos motivos transacionais e precaucionais, Keynes


insere a possibilidade de retenção de moeda para o atendimento
de determinadas despesas planejadas, e não apenas para fazer face
às despesas correntes do período. Isso significa que podem ocorrer
aumentos na quantidade demandada de moeda para transações,
precedidos de expansão no montante do rendimento agregado. Neste
ponto, Keynes levanta o problema do sentido da causalidade entre
moeda e atividade econômica.

Agora vejamos a função demanda por moeda pelo motivo especulação:

Ls

Figura 27

120
ECONOMIA E MERCADO

Desse modo, vê-se a relação inversa entre Ls e i. Há uma explicação para isso.

Embora revele a existência de uma relação inversa entre a taxa de juros e a


demanda de moeda para especulação, a função Ls apresenta um segmento
perfeitamente elástico em relação a i. Neste segmento, geralmente
conhecido por armadilha da liquidez, os que possuem ativos monetários são
unânimes quanto à expectativa de que a taxa de juros já se encontra tão
baixa que não seria possível baixar ainda mais – isto equivale a dizer que
ninguém espera que os preços dos títulos se elevem ainda mais. Estando a
função nesse segmento, estabelece-se uma verdadeira armadilha para as
autoridades monetárias, no sentido de que estas não lograrão êxito se, neste
instante, desejarem baixar ainda mais a taxa de juros via expansão da oferta
monetária (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 78).

Da mesma forma que Keynes inova ao ampliar a discussão acerca do motivo especulação em sua
teoria demanda por moeda, outros teóricos também destacam algumas imperfeições nela. Por exemplo:
se o agente opta por manter moeda para transação, deve abrir mão da especulação. Assim, coloca as
opções como excludente uma da outra. Outra irregularidade é que o motivo especulação não mais
existiria no caso de estabilidade por tempo prolongado da taxa de juros e a um nível que os agentes
econômicos consideram baixos. Keynes acentua outra imperfeição. Para ele, os agentes econômicos não
têm certeza quanto ao futuro, pois este é incerto: do ponto de vista da realidade, parece que os agentes
conhecem o futuro porque tomam suas decisões no presente dotados de certeza. Conforme despontam
imperfeições teóricas, surgem análises alternativas.

6.5.3 Os modelos neoclássicos keynesianos

Como os modelos desenvolvidos a partir dos keynesianos, os modelos neoclássicos desenvolvidos


durante os anos 1950 consideram que os agentes econômicos inserem cálculos probabilísticos em suas
decisões. Entre eles, há o modelo de escolha de carteiras – desenvolvido por James Tobin, um dos
primeiros teóricos a tentar explicar melhor algumas das imperfeições deixadas pela visão keynesiana.
Tobin procura elucidar por que a demanda por moeda pelo motivo transação não depende exclusivamente
da renda, mas também é impactada pela taxa de juros. Os pontos-chave são:

• o agente é capaz de calcular as probabilidades de risco de se manter uma carteira diversificada de


ativos de forma a obter ganhos mais expressivos;

• o retorno total dos títulos que possui é advindo da soma da taxa de juros mais os ganhos de
capital;

• quanto maior a quantidade de títulos na formação da carteira do agente, maior o risco de seus
investimentos;

• o agente requer maior retorno de seus ativos, que deverão compensar o risco incorrido;

121
PARTE VI

• as preferências dos agentes são indicadas em termos de um conjunto de curvas de indiferença


entre riscos assumidos e retornos;

• a maximização de sua satisfação estará no ponto em que a combinação do risco e retorno


tangenciar sua curva de restrição orçamentária.

Observação

Os pontos-chave do modelo remetem a questões mais microeconômicas


do que macroeconômicas. Motivo: estão na decisão individual do
agente econômico maximizador de suas funções, neste caso, função
demanda por moeda.

O modelo de Tobin descreve as opções que são colocadas a um agente, que deve fazer suas escolhas
entre manter moeda e títulos sabendo que a moeda, ao mesmo tempo que não gera incerteza, também
não rende qualquer retorno ao longo do tempo, enquanto o título rende um retorno chamado juros
(i). Contudo, sua posse implica risco, pois quando da venda deste título, seu preço poderá ser maior ou
menor que quando adquirido: está aí mais uma variável influenciando a remuneração total a ser obtida,
ou seja, g, o ganho ou perda do capital. Tendo isso em mente, o que se coloca no modelo de Tobin é saber
qual proporção tal agente dividirá sua carteira entre moeda e título, ou seja, de que forma montará seu
portfólio sabendo que a remuneração esperada e gerada por uma carteira de títulos e moeda será i + g?

A resposta está na compreensão do seguinte: se a taxa de juros se expandir, induzirá maiores


retornos totais. Então, mantida a restrição orçamentária e a ideia de maximização de sua satisfação
entre risco e retorno, o agente destinará maior parcela de recursos para aplicação em títulos. Se
pensarmos em termos de teoria de demanda por moeda, incorporamos no motivo demanda por
moeda o motivo especulação de uma variável: a aversão ao risco por parte do agente. Vejamos o que
diz Além (2010, p. 122):

Supõe-se que os riscos atribuídos a cada composição de carteira sejam


plenamente calculáveis: dada a distribuição de probabilidade dos
rendimentos de cada um dos ativos, a tarefa do indivíduo otimizador de
uma função utilidade consiste em selecionar a combinação de moeda e
títulos que proporcionem uma posição ótima do ponto de vista do desejo de
obter os maiores rendimentos aos menores riscos.

[...]

Para Tobin, em equilíbrio, a demanda especulativa por moeda deveria


desaparecer, a não ser que os agentes sejam irracionais e incapazes
de aprender com a realidade que testemunham: caso a taxa de juros
permaneça inalterada por um período mais ou menos logo, acharão que
essa taxa é a normal.
122
ECONOMIA E MERCADO

Assumindo que expansão de taxa de juros induz à maior colocação de títulos na carteira do agente,
portanto, em maior risco combinado com maiores retornos esperados, a função de demanda de moeda
para especulação apresenta-se inversa à taxa de juros, de forma semelhante à da versão keynesiana.
Vejamos como é representada a função demanda agregada de moeda de Tobin. Em (a) temos a quantidade
de renda que o agente dedica para a aquisição de títulos e a relação entre a taxa de juros e os riscos
assumidos. Em (b) vemos a demanda por títulos em função das taxas de juros.

A) B)
i i

i1 i1

i0 i0

R0 R1 Ls Ls
1 0

Figura 28

Outra abordagem que se insere neste debate é aquela desenvolvida por Tobin-Baumol.

Iniciaremos com a principal motivação de Baumol: a de que manter saldos em moeda corrente faz
o agente econômico ter a noção de existir em mãos um estoque de instrumento de troca como se este
estoque fosse de uma mercadoria qualquer.

Semelhantemente ao que ocorre com o processo racional de administração


de estoques, os agentes econômicos que detêm saldos monetários procuram
administrá-los de forma a manter lotes mínimos que cubram as solicitações
correntes, reduzindo a ociosidade tanto quanto seja possível, segundo
critérios de racionalidade. No caso específico dos estoques monetários
para transações, Baumol admite que a sua manutenção envolve custos de
oportunidade não desprezíveis, representados pelo fato de não estarem
rendendo juros aos seus detentores (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 85).

No modelo desenvolvido por William Baumol, também conhecido como modelo Tobin-Baumol,
o agente recebe, no início do período, uma determinada renda e a mantém depositada em uma
conta-corrente de elevada liquidez; nesta podem ser efetuados saques de qualquer valor a qualquer
momento, mas há um custo fixo para cada um, independentemente do valor.

123
PARTE VI

Os diferentes meios de pagamento e da conversão de quase-moeda em moeda geram um custo, e o


custo tratado aqui neste modelo pode ser interpretado como o custo de se ir ao banco sacar moeda ou
mesmo o de se fazer uma transação monetária via internet: o tempo gasto na atividade é um custo e
deve ser levado em consideração.

Aqui, os agentes podem em um determinado período de tempo, preferir aplicar parte de seus recursos em
títulos na busca de juros como forma de rendimento, preservando outra parte de moeda na forma líquida para
transações correntes conforme se altera a taxa de juros. A ideia subjacente é a de que o agente econômico
deve manter o mínimo possível de moeda corrente para procurar melhores rendimentos nas aplicações,
transformando moeda líquida em quase-moeda ou mesmo manter saldos para suas transações. Daí o nome
desta abordagem: moeda transacional. Nela, temos o volume monetário que o agente deverá utilizar ao
longo de algum tempo, e o que não for usar hoje deverá estar aplicado para ser resgatado quando necessário.

Tal aplicação é remunerada conforme os saldos médios mantidos durante o período, e os gastos do
agente são distribuídos uniformemente ao longo do tempo, de forma que renda e gastos estão em um
mesmo período. Então, o agente terá que decidir a quantidade de vezes que deverá ir ao banco para
fazer seus saques da aplicação. Caso vá ao banco no mesmo dia em que acontecer o depósito em sua
conta e efetuar o saque do saldo total, não precisará retornar, e seu custo será minimizado.

Em outras palavras, o que o modelo Tobin-Baumol quer explicar é: como o agente tem à sua disposição
a oportunidade de deixar saldos monetários aplicados e que renderão (caso não utilizados), a taxa de juros
influenciará o montante que deixará aplicado. Assim, a existência dos juros e a oportunidade de deixar
seus saldos monetários em aplicações retarda a transformação da moeda, exercendo sua função reserva
de valor no motivo especulação em moeda manual para que exerça sua função intermediária de trocas.

Por complicações do modelo, não se pode afirmar qual será a quantidade ótima de vezes que um
agente econômico deve ir ao banco efetuar suas conversões e seus saques, pois cada agente representa
um relacionamento diferente no tocante aos seus saldos, o modelo trabalha em termos de saldos médios.
Essa hipótese seria expressa do seguinte modo:

y
2

Tempo

1 2

Figura 29

124
ECONOMIA E MERCADO

Vejamos o que acentuam Carvalho et al. (2007, p. 70):

No instante inicial, logo após o saque, a quantidade de moeda em poder do


agente é igual ao valor da renda Y. Este reduz-se linearmente ao longo do
período, pois é gasto na aquisição de bens e serviços de forma uniforme. No
final do período, esse estoque é reduzido a zero. O saldo médio de moeda
mantido durante esse período de tempo é igual a y/2, e se continuar aplicado
rende juros.

A que juros estaria tal remuneração? O valor nominal dos juros seria:

Y
C1    . i
2

Assim, i é a taxa de juros nominal, e C1 indica o custo de efetuar a transferência da aplicação para a
conta-corrente, portanto, de efetuar o saque.

A demanda transacional apresenta-se como uma função direta do nível de renda e inversa em
relação à taxa de juros.

A principal conclusão da abordagem de Tobin-Baumol para a demanda de moeda para transações é que

As elevações da taxa de juros resultam em uma ampliação do número de


transações e, consequentemente, aumento do montante de moeda aplicado
em títulos. Logo, a demanda por moeda para fins transacionais reage às
mudanças nas taxas de juros, provocando um movimento inverso na
demanda por moeda para transação (CARVALHO, 2007, p. 72).

Por fim, a função demanda será expressa assim:

Lt = f (y,r)

A demanda por moeda Lt é uma função da renda (y) e da taxa de juros (r).

Resumo

Estudamos nesta unidade as medidas de atividade econômica


e a Teoria Macroeconômica. Vimos as diferenças entre os diversos
agregados macroeconômicos, bem como entre o valor bruto da
produção e o valor agregado.

125
PARTE VII

REGIME DE METAS PARA INFLAÇÃO

7 REGIME DE METAS PARA INFLAÇÃO

Entender o regime de metas para inflação implementado em diferentes economias durante a década
de 1990 é compreender uma mudança de postura dos governos e, principalmente, da autoridade
monetária quanto à adoção da política monetária, que passa a ser pautada na busca de estabilidade de
preços e na transparência de todo o processo. Isso foi feito para obter maior credibilidade por parte da
autoridade monetária junto à sociedade para que os reais objetivos da autoridade sejam conquistados.

Há dois pressupostos principais do regime de inflation targeting. O primeiro é relacionado à inoperância


do monetarismo de Friedman e à crença de que políticas monetárias ativas são fortes o bastante para
impactar variáveis reais da economia como aquele teórico acreditava, a saber: nível de produto e de
emprego. A realidade econômica de agora revela efeitos inócuos quando do uso de políticas monetárias
expansionistas, pois os agentes formam suas expectativas, não são ingênuos como antes.

O outro pressuposto, que de certa forma não está dissociado do primeiro, é o seguinte:
independentemente da influência provocada pela política econômica, existe nas economias uma taxa
natural de desemprego que é determinada tanto por fatores reais como institucionais.

Se o monetarismo até então vigente parece não mais apresentar importância em termos de
formulação de política econômica, tal regime receberá forte influência dos economistas teóricos da
escola novo-clássica e suas hipóteses das expectativas racionais. Como os agentes econômicos detêm
informações, mesmo que assimétricas, é com elas que criam suas expectativas quanto às reais razões da
adoção da política monetária (por parte do formulados) e, a partir daí, tomam suas decisões com relação
à moeda e aos investimentos. Como bem explica Carrara e Correa (2012, p. 443),

A escola de pensamento novo-clássica consolidou-se durante a década de


1970, quando inúmeras críticas abalaram o consenso keynesiano, que havia
predominado na macroeconomia durante as décadas de 1950 e 1960. Robert
Lucas, Thomas Sargent e Neil Wallace foram os precursores dessas críticas e
de algumas novas hipóteses introduzidas pela referida escola, destacando-se
a aversão às ideias dos keynesianos de intervenção macroeconômica e a
não concordância com a caracterização dos instrumentos utilizados pelos
agentes para formarem suas expectativas, postulada por Friedman. Ou seja,
os novo-clássicos rejeitavam a ideia das expectativas adaptativas, tanto que
no seu lugar propuseram a hipótese das expectativas racionais. Por outro
lado, incorporaram dois elementos cruciais do monetarismo: a hipótese da
existência de uma taxa natural de desemprego e a concepção monetarista
de que a inflação é um fenômeno essencialmente monetário.
126
ECONOMIA E MERCADO

Para os teóricos da escola novo-clássica, a política monetária é ineficaz para afetar variáveis
reais da economia pelas seguintes razões: os agentes econômicos formam suas expectativas com
bases racionais; existe uma inconsistência temporal da política monetária; e o viés é inflacionário.
O que isso significa? Que a autoridade monetária anuncia uma direção da política monetária,
se expansionista ou contracionista e, com base em tal nota, os agentes econômicos formulam
suas posições – reação à política – ancorados no registro. Bastaria então à autoridade monetária
realmente adotar a postura anunciada, sem criar desconfiança por parte do mercado de como
agirá. Isso tem uma ligação direta com a questão da credibilidade a ser conquistada pela
autoridade monetária para que seus objetivos logrem êxito. Do contrário, se não adotar a postura
que informou aos agentes, o mercado reagirá de forma oposta aos objetivos pretendidos e a
reputação piora o quadro da economia.

A adoção de tal regime baseia-se no reconhecimento fundamental de que a meta da política


monetária seja a manutenção de níveis baixos de inflação e que sejam estáveis no tempo: é uma questão
de clareza em termos de objetivos. Mais do que isso, faz com que a autoridade monetária assuma um
compromisso, inclusive institucional, na busca de estabilidade.

Nesse contexto, sabemos que esses compromissos relacionam-se à inflação, que deve ser baixa e
estável, mas quão baixa? Qual estabilidade manter? É aqui que uma meta numérica para inflação vem,
anunciada, bem como o tempo necessário para alcançá-la. Segundo Carvalho et al. (2007, p. 140),

Tal estrutura de política monetária, segundo defensores do regime


de metas de inflação, aprimora a comunicação entre o público e o
setor empresarial e os mercados, por um lado, e os policy-makers, de
outro. Também proporciona disciplina, prestação de contas ao público,
transparência e alguma flexibilidade à política monetária. A chamada
credibilidade é fundamental na condução da política monetária para
evitar problemas relacionados à inconsistência temporal, ou seja, busca
resultados imediatos e temporários em termos de nível de produto em
detrimento de perdas duradouras. Neste sentido, a adoção de um banco
central independente proporcionaria uma maior credibilidade junto
aos agentes econômicos e sinalizaram um maior comprometimento da
autoridade monetária com a baixa inflação.

Observação

Desse modo, vimos que o compromisso é numérico e temporal.

E qual será o instrumento de política monetária a ser utilizado para conquistar o nível de
inflação desejado? Trata-se da taxa básica de juros, que atuará de forma a fazer com que a inflação
tenda a convergir para a meta estabelecida. Contudo, por essa vertente, a administração da taxa
de juros da economia deve estar conforme as condições de mercado e não deve interferir no bom
funcionamento do mercado de bens, a não ser que este esteja provocando inflação, algo totalmente
127
PARTE VII

contrário aos objetivos da política monetária. Para os adeptos desse regime, a política fiscal deverá
estar subordinada aos objetivos e compromissos da política monetária, e não o inverso. Como
sabemos, os efeitos expansionistas ou contracionistas provocados em uma economia pela política
fiscal são mais ágeis do que os da política monetária. Com essa mudança de postura e com a visão
e alcance de longo prazo, a eficácia da política monetária dependerá da transparência na condução
da política e de seus mecanismos de ação a serem executados ao longo do tempo. Isto requer
melhoria na comunicação entre autoridade monetária e coletividade de forma geral para que todos
estejam alinhados.

Quanto à transparência e comunicação, o uso da mídia, não só impressa, é essencial. Por exemplo:
a autoridade monetária deve fazer a publicação de relatórios com os dados históricos dos níveis de
inflação, ressaltando os instrumentos de política monetária que foram usados para obtê-los. Nessas
comunicações, o foco está na apresentação das razões técnicas e nos reais motivos de a autoridade
monetária tomar este ou aquele caminho, a fim de que a sociedade siga o mesmo rumo.

Quando o Banco Central vem a público esclarecer sua posição, sempre o faz para avisar a
sociedade de que manterá a mesma trajetória de taxa de juros (caso a inflação esteja perto da meta)
ou se deverá mudar de rota – em caso contrário. Se o plano falhar, o Banco Central explica quais
os motivos que fizeram a inflação fugir da meta estipulada e depois anuncia a rota de correção.
Muitas vezes, a o erro está na própria política econômica adotada, suas formas e períodos, o que
fará com que a autoridade monetária reconheça junto ao público que errou em suas previsões e
tomadas de atitude.

Aplicando tais medidas, a autoridade monetária, ao assumir compromissos com a sociedade, terá
que deixar de atuar de forma discricionária e apenas a seu intento. Assim, a margem de manobra para
que a autoridade monetária traia a sociedade parece diminuir. Pelos teóricos da escola novo-clássica
e adeptos do regime de metas de inflação, vieses inflacionários sempre são criados quando o órgão
competente não adota a política econômica da forma como foi anunciada, portanto, ferem a
credibilidade de sua atuação e da política. Então, incrédulos, os agentes econômicos tomam suas
decisões, independentemente da política econômica. Qual o resultado? Política econômica com um
objetivo e sociedade com outro.

É na questão da credibilidade e reputação que reside a tese da independência do Banco Central.


Vejamos o que destacam Carrara e Correa (2012, p. 445)

Tem como base de seu desenvolvimento o trinômio – credibilidade,


reputação e transparência –, estabelecido por alguns estudiosos da teoria
novo-clássica, e encontrou grande respaldo em países desenvolvidos.
A proposta das metas inflacionárias, por sua vez, surgiu como um
desdobramento da tese da IBC, e sua motivação inicial se encontra na
formulação do problema da inconsistência temporal, originalmente
realizada por Kydland e Prescott.

128
ECONOMIA E MERCADO

Saiba mais

Sobre a tese da independência do Banco Central, convidamos a efetuar


a leitura do seguinte artigo:

SICSÚ, J. A tese da independência do Banco Central e a estabilidade de


preços: uma aplicação do método Cukierman à história do FED. Estudos
Econômicos, São Paulo, USP, 1996. Disponível em: <http://www.revistas.
usp.br/ee/article/viewFile/116616/114203>. Acesso em: 7 jan. 2018.

Então, o que é necessário para que o regime de metas seja efetivo?

Primeiramente, é preciso escolher uma meta que seja pontual ou mesmo de uma banda.
Uma meta estabelecida pode ser mais bem compreendida pela população diante do anúncio
de um número específico, no caso um percentual de inflação aceitável e requerido, e o uso de
bandas não é tão simples. Nesse expediente, o anúncio não se faz apenas com um número, ou
um nível, se preferir, mas sim com um intervalo de aceitação, com teto máximo e teto mínimo.
Enquanto a primeira opção é mais palatável no quesito público, engessa a política monetária em
termos de compromissos críveis. Já a segunda alternativa permite o inverso: é mais difícil de a
sociedade compreender e seguir os compromissos institucionais, mas promove maior flexibilidade
à autoridade monetária quanto ao manejo da política econômica, notadamente a monetária, em
direção aos objetivos firmados.

Depois, é preciso escolher o período para a meta ser alcançada. A autoridade monetária tem algumas
opções: a adoção de metas curtas, digamos anuais, representa uma condição maior de compromisso por
parte da autoridade monetária quanto à estabilidade dos preços. Nesse caso, a autoridade monetária
busca credibilidade e abre mão de flexibilidade. Se a opção for pela adoção de metas em horizontes
temporais mais alongados, possíveis choques endógenos ou exógenos contra a inflação podem ser
amenizados, pois o Banco Central optou pela flexibilidade em vez de reputação, não que esta também
deixe de ser considerada pelo mercado.

Por fim, mas não menos importante para que o regime de metas de inflação seja efetivo, é vital
definir um índice de preços a ser adotado como referência para a meta. Então, há algumas opções,
ou a autoridade monetária optará por um índice do tipo preços ao consumidor, no caso, um índice
cheio, ou adotará um núcleo de inflação – core inflation: “esta opção exclui do índice de preços
ao consumidor os itens que causam perturbações transitórias ou autocorrigíveis e que têm pouca
relação com os movimentos mais permanentes de preços” (CARVALHO et al., 2007, p. 141). Aqui
também temos um conflito de escolha (trade-off): o core inflation tem a vantagem de expurgar da
inflação choques temporários e oferece à autoridade monetária condições mais certeiras quanto
à conquista da meta fixada, abrindo mão de certa credibilidade por causa do entendimento da
população quanto à composição do índice. Há uma questão de percepção: o Banco Central pode
129
PARTE VII

estar correto no tocante à meta para inflação, estar na trajetória correta e a sociedade ainda sentir
seus efeitos, em caso de sua existência. Essa interpretação pode causar confusão e a perda de
credibilidade da autoridade monetária.

No Brasil, tal regime foi adotado quando o governo de Fernando Henrique Cardoso e sua equipe
econômica sofreram fortes desvalorizações da moeda, o que ocorreu por causa de ataques especulativos
contra o Real e seu programa de estabilização em condições de economia aberta.

As metas são propostas pelo ministro da Fazenda, mas decididas e


anunciadas pelo Conselho Monetário Nacional, que é constituído pelo
ministro da Fazenda, ministro do Planejamento e o presidente do Banco
Central. Além do centro da meta, expresso pela variação do Índice de Preços
ao Consumidor Amplo – IPCA, calculado pelo IBGE, o CMN determina o
intervalo de tolerância adotado, que tem variado em 2% e 2,5% acima e
abaixo da meta central, de modo a permitir algum grau de flexibilidade à
política monetária. Foi delegada a responsabilidade pelo cumprimento das
metas de inflação ao Banco Central do Brasil (CARVALHO et al, 2007, p. 142).

Saiba mais

BRASIL. Decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999. Estabelece a


sistemática de “metas para a inflação” como diretriz para fixação do regime
de política monetária e dá outras providências. Brasília, 1999. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3088.htm>. Acesso
em: 9 jan. 2018.

No âmbito do Banco Central do Brasil, estão a cargo de seus dirigentes as decisões acerca da política
monetária, acenando certa independência deste órgão, mas não de forma totalmente declarada. O
que se vivencia em termos de economia brasileira moderna é que tais decisões não sofrem influência
política por parte do Governo Federal, sendo certo que as decisões de política monetária são adotadas
em razão de técnica econômica e racionalidade. Por seu turno, o Banco Central usa o Comitê de Política
Econômica (Copom), e o Banco Central faz parte de sua diretoria. Desde de que foi instituído, em
meados de 1996, os objetivos do Copom são:

• implementar a política monetária;

• definir a meta da taxa Selic e seu eventual viés;

• analisar o Relatório de Inflação.

Para cumprir com seus objetivos, os membros do Copom se reúnem a cada 45 dias, efetuam análise
do comportamento da economia do último período, fazem suas projeções para o período seguinte com

130
ECONOMIA E MERCADO

base nas informações do passado e do presente e tomam suas decisões. Tais decisões serão veiculadas
pela mídia, depois são formalmente trazidas às claras à sociedade por meio de suas atas.

Saiba mais
Para verificar todas as atas das reuniões do Copom, leia:
<https://www.bcb.gov.br/?ATACOPOM>.

Em contrapartida, o governo delegou as decisões de política monetária,


ou seja, o poder de determinar a taxa de juros básica da economia, aos
dirigentes do BCB. O Comitê de Política Monetária – Copom – que é
formado pela diretoria do Banco Central, se reúne periodicamente (45 dias)
para estabelecer a taxa de juros, a taxa Selic, que considera adequada ao
cumprimento da meta de inflação. Além de determinar a taxa de juros, o
Copom estabelece também o chamado viés – que pode ser de baixa, de
alta ou neutro. Oito dias após a reunião do Copom, o site do banco central
disponibiliza a minuta da reunião realizada, que contém o sumário da
discussão do Copom e as decisões tomadas quanto à definição da taxa
de juros básica. Ao fim de cada trimestre, o Copom publica o Relatório da
Inflação, que provê informações detalhadas sobre a conjuntura econômica
do País, assim como suas projeções para a taxa de inflação, que são levadas
em conta pelo Copom nas reuniões em que é definida a taxa de juros
(CARVALHO, 2007, p. 142).

7.1 Políticas de estabilização

Tratar das políticas de estabilização da inflação da economia brasileira requer estudar um vasto
período, pois a inflação no Brasil sempre foi um problema. Para tal, iniciaremos pela década de 1980,
mostrando como os governos brasileiros adotaram as mais variadas formas de controle da inflação.

A década de 1980 encerraria o período do regime militar, que persistiu no Brasil por longos anos.
A passagem de um governo militar para um presidente civil (José Sarney foi empossado em março de
1985) impulsionaria a Nova República, que se constituiria em um novo ciclo histórico. Sarney inicia seu
governo com a equipe econômica, composta de Francisco Dornelles como ministro da Fazenda e João
Sayad no Planejamento, adotando posicionamento de austeridade sob a bandeira “é proibido gastar”
(BRUM, 2000, p. 403).

Sob seu governo, o primeiro plano de estabilização foi o Plano Cruzado, executado em fevereiro de
1986. De raiz heterodoxa, a ideia central desse plano era que a inflação brasileira era inercial. As principais
medidas do Plano Cruzado foram: “congelamento de preços e salários e reforma monetária, com a
alteração do nome da moeda de Cruzeiro para Cruzado, passando então a representar, respectivamente,
Cr$ 1.000,00 e Cz$ 1,00” (SILVA; LUIZ, 2010, p. 120-121).
131
PARTE VII

A desindexação da economia ensejou a substituição das Obrigações Reajustáveis do Tesouro


Nacional (ORTN) pelas Obrigações do Tesouro Nacional (OTN). O Pis-Pasep e o FGTS, lançados durante o
período militar, preservaram reajustes como uma espécie de proteção contra a inflação ainda existente
(FURTADO, 2000). O resultado imediato foi deflação nos primeiros meses do Plano. A inflação do mês de
fevereiro foi de 22%, em março, -1%. Contudo, em fins de 1986, a inflação volta a subir por causa da
elevação do déficit público, “atingindo 7,6% em dezembro” (BAER, 1995, p. 169). Liberando preços de
alguns produtos, congelando o salário mínimo e revendo formas de cálculo da inflação para o próximo
período, em novembro de 1986 o governo lança o Plano Cruzado 2, com vida curta, chegando ao
colapso em fevereiro de 1987, com inflação acelerada e marcando 16,82% ao mês.

Em um quadro de desaquecimento da economia e prolongada estagnação econômica, pressão


inflacionária e elevação do déficit público, queda nas reservas internacionais e decepção por parte
da população, a equipe econômica é substituída, com Luis Carlos Bresser-Pereira à frente da pasta
ministerial. Assim, em junho de 1987, encontrando certa resistência por parte da sociedade, é lançado
o Plano Bresser, que também contava com o congelamento de preços e salários, mas por um período
menor, de aproximadamente três meses, diferentemente do anterior, que propunha nove meses.

Outra frente de ataque do plano seria o déficit público: o intuito era diminuí-lo para 2% do PIB até o
fim de 1987. Na tentativa de frear o consumo, as taxas de juros foram mantidas elevadas, em patamares
superiores ao da inflação, para incentivar poupança por parte dos agentes econômicos. Assim, com
medidas tanto ortodoxas como heterodoxas adotadas pelo plano, a inflação, que no primeiro semestre
de 1987 apresentou índice de 186%, passou para 63% no acumulado do segundo semestre do mesmo
ano (FURTADO, 2000).

Independentemente dos índices de inflação terem recuado consideravelmente diante das medidas
aplicadas pelo Plano Bresser, a maior dificuldade encontrada pelo governo foi o controle dos gastos
públicos, portanto, do déficit público. Tais despesas aumentaram por causa do reajuste salarial de
funcionários públicos, repasses de verbas do Governo Federal a estados e municípios e elevação de
subsídios às empresas estatais, diminuindo a arrecadação da Fazenda de modo substancial.

Há que se considerar o que salienta Furtado (2000), de que o fracasso do plano em seu intento deu-se,
principalmente, à falta de apoio político para adoção de políticas restritivas, pois Sarney procurava
apoio do Congresso para aumentar para cinco anos seu mandato na Presidência da República. Em
dezembro de 1987, Bresser-Pereira deixou o governo, e Mailson da Nóbrega o substituiu. Em janeiro de
1989, foi implementado o Plano Verão, que consistiu novamente em congelamento de preços e salários
e nova reforma monetária, dessa vez tendo a moeda novo nome – Cruzado Novo –, e novamente foi
dividida por mil. Assim, Cz$ 1.000,00 passou a ser NCz$ 1,00. A essas medidas soma-se a eliminação de
indexação, exceto para depósitos de poupança como desestímulo ao consumo e restrição à expansão
monetária e creditícia (BAER, 1995).

No decorrer de 1988, Mailson da Nóbrega adotou a chamada política “feijão com arroz”, que significa
a rejeição às políticas heterodoxas de combate à inflação. O objetivo era estabilizar a inflação em torno
de 15% a.m., além de reduzir o déficit do governo de 8% do PIB para 4%.

132
ECONOMIA E MERCADO

O Plano adotou o congelamento de empréstimos ao setor público, contenção salarial e redução no


prazo de recolhimento de impostos; além disso, em março de 1988, suspendeu a moratória que fora
decretada em fevereiro de 1987.

A nova Constituição, promulgada em outubro de 1988, elevava os custos governamentais, aumentando


a transferência de impostos para Estados e Municípios, desequilibrando o orçamento federal.

O Plano Verão conseguiu manter a inflação abaixo dos 20% no primeiro semestre de 1988, mas a
partir do segundo semestre a recomposição das tarifas públicas e a promulgação da nova Constituição
elevou a inflação.

Havia elementos ortodoxos e heterodoxos no Plano Verão: os primeiros visavam conter a demanda
através da diminuição dos gastos públicos e da elevação da taxa de juros; os heterodoxos tentavam
acabar com a indexação da economia, por isso novamente fixou o congelamento dos preços.

O câmbio foi desvalorizado em 18% e foi feita uma nova reforma monetária com corte de tres zeros
do Cruzado, que passou a se chamar Cruzado Novo.

O Plano Verão, assim como seu antecessor (Plano Bresser), durou pouco tempo. O governo não
realizou nenhum ajuste fiscal e os déficits orçamentários permaneciam muito altos, provocando total
descontrole monetário. A inflação se acelerou rapidamente, tendo seu pico – de 80% – no último mês
do governo.

Na sequência, houve troca de presidente e outra política – o Plano Collor, com confisco de liquidez.
Fernando Collor de Mello foi eleito nas eleições de 1989 por um partido ainda desconhecido por boa
parte da sociedade. Ele prometia, sobretudo, modernizar o mercado seguindo a tendência mundial
pós-queda do Muro de Berlim e combater a inflação utilizando a experiência proporcionada pela
heterodoxia dos planos anteriores.

8 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Os governos não estão somente interessados na estabilidade econômica de preços e de salários. A


intervenção governamental também deve permitir que a economia cresça e se desenvolva, trazendo
benefícios para toda a sociedade.

8.1 Características de uma economia subdesenvolvida

O subdesenvolvimento pode ser estudado sob dois prismas. Um deles trata a questão de maneira
ideológica, como uma mera classificação no tempo das condições sociais e econômicas de um país
comparado a outros, mesmo que de estruturas diferentes. Por este olhar, a caracterização se daria por
análises conjunturais, sem que uma raiz econômica fosse, de fato, concreta. Outra perspectiva reside na
escolha de fatos mais concretos ligados à estrutura econômica e social de uma nação e que permitam
sua classificação como subdesenvolvido. Aos fatos concretos são atribuídos fatores históricos, territoriais
e regionalização, acesso aos meios de produção e geração de renda, para citar alguns.
133
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 15

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Figura 20

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Figura 36

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Figura 39

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Exercícios

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