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Economia e Mercado

Código Logístico

58799

Otto Nogami

Economia
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6518-9
Otto Nogami
9 788538 765189

e Mercado
Economia e Mercado

Otto Nogami

IESDE
2019
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SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
N696e
Nogami, Otto
Economia e mercado / Otto Nogami. - 1. ed. - Curitiba [PR]: IESDE, 2019.
144 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6518-9
1. Economia. 2. Macroeconomia. 3. Mercado financeiro. I. Título.

CDD: 330
19-59476
CDU: 330

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Otto Nogami
Doutor em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo (USP). Mestre em Economia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. MBA em
Finanças pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais. Bacharel em Ciências Econômicas,
pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. É administrador de
carteiras de valores mobiliários, credenciado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM),
além de palestrante e conferencista. Atua como professor em programas de pós-graduação
lato sensu e educação executiva do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e da Fundace da
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. É autor e coautor de livros
acadêmicos e artigos científicos.
Sumário

1 A importância dos fundamentos econômicos 9


1.1 Noções gerais de economia e mercados 10
1.2 Necessidades e desejos das pessoas 16
1.3 Fluxo circular da atividade econômica 18
1.4 Fronteira de possibilidade de produção 20

2 A percepção estratégica da economia de empresas 25


2.1 Teoria do consumidor 25
2.2 Teoria da produção 37
2.3 Teoria de custos 42

3 A macroeconomia e a conjuntura econômica 51


3.1 Rápido crescimento econômico 51
3.2 Pleno emprego 53
3.3 Inflação sob controle 55

4 Mensuração e estrutura das contas nacionais 63


4.1 A Contabilidade Nacional 63
4.2 Produto Interno Bruto (PIB) 67
4.3 Quantificando o PIB 73

5 Modelo de três economias 77


5.1 Economia simples 77
5.2 Economia fechada 81
5.3 Economia aberta 84

6 A moeda e sua importância 89


6.1 Moeda: definição e origem 89
6.2 Funções da moeda 91
6.3 Características da moeda 94
6.4 Formas de moeda e as quase moedas 95
6.5 Demanda, oferta e equilíbrio monetário 95
6.6 Política monetária 101

7 Política econômica e o tripé macroeconômico 105


7.1 Política econômica 105
7.2 Tripé macroeconômico 110

8 Sistema financeiro e acumulação de riqueza 123


8.1 Sistemas monetário e financeiro 123
8.2 Instituições financeiras 124
8.3 Instrumentos financeiros 125
8.4 Segmentação do mercado financeiro 126
8.5 Sistema financeiro nacional 129
8.6 Acumulação de riqueza 136

Gabarito 141
Apresentação

Quando falamos de economia, é comum as pessoas reagirem como se o tema fosse algo
complexo e de difícil compreensão; logo imagina-se um estudo carregado de modelos, equações
algébricas, estatísticas e gráficos difíceis de serem assimilados. Sim, isso é verdade na medida em
que essas ferramentas são necessárias para analisar tanto o passado, como também para entender
o nosso presente e, em especial, ter uma ideia do que possa acontecer no futuro.

Porém, conforme a economia apura, analisa e retrata o nosso dia a dia, percebe-se que ela
é uma ciência lógica, pois carrega uma relação de ação e reação. Tudo o que fazemos, até mesmo
dormir, traz consequências de natureza econômica – uma necessidade biológica que afeta a
produtividade das pessoas no trabalho, por exemplo.

Assim, esta obra procura apresentar essa lógica, que faz parte da vida de todos nós, de forma
compreensível. Para tanto, este livro foi organizado em oito capítulos, cada um deles abordando os
aspectos econômicos que mais comumente ouvimos e comentamos.

No primeiro capítulo temos a abordagem dos princípios econômicos, explicando o


significado de alguns termos e do nosso papel na sociedade, mostrando como as famílias interagem
com as empresas e, ainda, as preocupações que os governantes têm em relação às necessidades e
desejos das pessoas.

No segundo capítulo são exploradas as preocupações estratégicas que reinam dentro das
empresas, como a leitura do mercado e a análise do comportamento dos consumidores etc.;
essas fundamentam os critérios estratégicos de produção, especialmente no que diz respeito à
produtividade e, por decorrência, aos seus custos de produção. Desse modo, entender como as
empresas analisam as condições de custos, para que possam operar em condições de equilíbrio, ou
seja, igualar custos e receita, é um aspecto muito importante.

Os aspectos macroeconômicos, que envolvem temas como o crescimento econômico,


o pleno emprego e a inflação, são apresentados no terceiro capítulo. Nele temos, também, uma
retrospectiva histórica a fim de entendermos como esses aspectos conjunturais se comportaram
nas últimas décadas.

Para que possamos entender melhor esses aspectos conjunturais, no quarto capítulo
abordamos a mensuração e estrutura das contas nacionais. A decomposição das principais contas,
como a da produção, famílias, governo, investimentos e setor externo, mostra a estrutura básica da
contabilidade nacional e a forma lógica para a apuração do produto interno bruto (PIB).

No quinto capítulo procuramos mostrar a lógica existente na relação entre o setor privado,
setor externo e o setor público através de identidades que apresentem as reações econômicas, visto
que há um desequilíbrio nesses setores, especialmente no público em que o gasto é maior do que
a arrecadação.
8 Economia e Mercado

Outro assunto tão importante, e que inclusive serve de instrumento para o governo controlar
a atividade econômica, é explorado no sexto capítulo; estamos falando da moeda, sua origem, suas
funções e características.

Além disso, o governo controla a atividade econômica por meio da Política Econômica e de
seus instrumentos. Este assunto está presente no sétimo capítulo, no qual também falamos do tripé
macroeconômico, isto é, de três indicadores importantes para o monitoramento de como anda a
economia.

Por fim, no oitavo capítulo, trazemos um tema que, para muitos, causa fascínio pelo fato
de estar relacionado à perspectiva de ganhar dinheiro no mercado financeiro. Desta forma, são
trabalhados o sistema financeiro, seus instrumentos e instituições, e os mercados que permitem
esse sistema funcionar. Também falamos de um assunto muito relevante para todos nós, que é o
processo de acumulação de riqueza.

Essa é a jornada que propomos a você. Uma viagem enveredando pelos misteriosos e
tortuosos caminhos da Economia e Mercado.
1
A importância dos fundamentos econômicos

Uma célebre frase consegue definir, de maneira ampla, o real significado da economia:
“não existe almoço de graça”. Essa frase acabou sendo imortalizada no meio econômico pelo
prêmio Nobel de Economia Milton Friedman, que a utilizou como título de um de seus livros,
There’s no such thing as a free lunch, no qual refuta a ideia de que um governo pode gastar à
vontade sem que alguém tenha que pagar por isso. É o fundamento que rege o chamado custo de
oportunidade, que significa abrir mão de alguma coisa para poder obter outra. Essa é a essência da
ciência econômica, cuja importância está no princípio da escassez.
Mas o que isso tem a ver com o nosso dia a dia? Tudo. Todas as relações e decisões
tomadas pelos agentes econômicos – famílias, governo e setor externo – afetam a sociedade
como um todo. Indicadores como inflação, taxa de câmbio, taxa de juros, Produto Interno
Bruto, desemprego, entre outros, são sinalizadores de como anda a atividade econômica. Daí a
importância do entendimento dos princípios que regem a economia, especialmente pelo fato de
ela impactar tudo o que fazemos. A simples ida a uma padaria para comprar um pão, o ato de
ligar a televisão ou de fazer uma anotação em uma folha de papel envolve centenas de atividades,
incluindo milhares de pessoas que fazem uma economia funcionar.
Friedman contextualizou de maneira brilhante essa questão, utilizando como exemplo um
simples lápis com um apagador em uma das pontas – aqui, vamos adaptar para uma situação no
Brasil. A madeira desse lápis veio de uma árvore derrubada em alguma área de reflorestamento no
país. Para derrubar essa árvore, foi necessário usar uma motosserra, cuja confecção demandou a
utilização de aço, que, por sua vez, precisou de minério de ferro. O grafite veio de alguma mina no
Estado de Minas Gerais ou da Bahia. A borracha do apagador veio de uma seringueira da região de
Xapuri no Estado do Acre, ou da Malásia, importada da Amazônia por alguns homens de negócios
no início do século XX, com a ajuda do governo inglês. O envoltório de latão da borracha pode ter
vindo de qualquer lugar, muito provavelmente de uma pequena ou microempresa. A tinta utilizada
para revestir o lápis e para a impressão da marca foi produzida por alguma grande produtora de
tintas e solventes.
Percebe-se, portanto, que milhares de pessoas contribuíram para a fabricação de um simples
lápis, de valor unitário bastante baixo. Essas pessoas podem, inclusive, não falar a mesma língua,
praticar religiões diferentes e talvez se odiassem caso se encontrassem. Isso sem falar das inúmeras
empresas envolvidas – micros, pequenas, médias e grandes –, localizadas nas mais diferentes
regiões do planeta, o que demanda diversas operações de logística, envolvendo modais diversos.
Assim, quando vamos a uma loja comprar um simples lápis, estamos trocando alguns minutos do
nosso tempo por alguns segundos de todas aquelas milhares de pessoas envolvidas no processo de
produção desse produto.
Essa é a magia da economia que procuraremos mostrar neste capítulo. Nossa intenção aqui
é desvendar os mistérios da economia.
10 Economia e Mercado

Vídeo 1.1 Noções gerais de economia e mercados


O problema central de todas as economias é o princípio da escassez e, como vários
autores costumam dizer, se não fosse ela, não haveria a necessidade de se estudar economia.
A existência da escassez decorre do fato de que nossas necessidades e nossos desejos
são infinitos e ilimitados, sendo satisfeitos por meio do consumo dos mais diferentes bens
(alimentos, bebidas, vestuários etc.) e serviços (transportes, educação, comunicação etc.). Por
outro lado, os recursos produtivos (capital físico, capital financeiro, matérias-primas, mão
de obra etc.) utilizados nos mais diferentes processos de produção são finitos e limitados,
ou seja, não são suficientes para produzir o necessário para atender ao consumo de toda a
sociedade.
Desse desequilíbrio entre necessidades e recursos e do conceito de escassez é que
surgem as três questões econômicas fundamentais: o que produzir, como produzir e para
quem produzir.
Já que uma sociedade não tem condições de produzir toda a quantidade desejada
de bens e serviços, é preciso estabelecer quais deles serão produzidos e em que quantidade
em determinado período. Deve-se produzir mais alimentos ou automóveis? Mais bens de
consumo ou mais bens de capital? Quantos serviços de educação e quantos de saúde devem
ser disponibilizados?
Uma vez definido o que e quanto produzir, a sociedade tem, então, que decidir a forma
como ela vai produzir esses diferentes bens e serviços. Nesse sentido, deve-se perguntar: qual
a melhor combinação de recursos produtivos a serem utilizados? Qual o melhor método de
produção para oferecer a melhor eficiência técnica (produtividade) e econômica (lucro)?
Respondidas essas duas perguntas, a sociedade deverá estabelecer quem irá receber esses
bens e serviços e como será distribuída essa produção entre os integrantes dessa sociedade.

1.1.1 Sistema econômico


Um sistema econômico, de acordo com Nogami e Passos (2016), pode ser definido
como a forma pela qual uma sociedade está organizada, em termos políticos, econômicos
e sociais, para desenvolver as mais diferentes atividades de produção, troca e consumo de
bens e serviços.
Cada sociedade funciona de acordo com sua cultura, suas regras e sua legislação.
Não se pode descartar também o pensamento econômico predominante, o qual define a
forma como são conduzidas as três questões fundamentais da economia. É especialmente
porque cada sociedade se organiza de maneira diferente que devemos ter muito cuidado ao
comparar uma economia à outra.

1.1.2 Necessidades humanas, bens e serviços


Desde o nascimento, somos carregados de necessidades e desejos, os quais são
paulatinamente satisfeitos ao longo da vida. E, à medida que amadurecemos e temos contato
com o mundo em que vivemos, mais essas necessidades e esses desejos se ampliam – em
A importância dos fundamentos econômicos 11

verdade, podemos afirmar que tudo o que fazemos em vida é para satisfazê-los. Podemos classificar
essas necessidades em duas categorias: econômicas e não econômicas.
As necessidades econômicas são satisfeitas por bens e serviços, relativamente escassos,
que precisam ser produzidos e que são denominados bens econômicos, visto que possuem preço.
Quanto à sua natureza, esses bens podem ser classificados em dois grupos: bens materiais e bens
imateriais ou serviços.
Os bens materiais são tangíveis, ou seja, podem ser medidos, pesados, mensurados e são
classificados em bens de consumo e bens de capital. Os bens de consumo são aqueles consumidos
por nós para satisfazer nossas necessidades; em outras palavras, são aqueles que estão prontos para
o consumo das pessoas. Como exemplos desse tipo de bem podemos citar alimentos, bebidas,
vestuário e veículos. Por outro lado, bens de capital são aqueles que serão utilizados para a
produção de outros bens, como máquinas, equipamentos, ferramentas, edifícios etc.
Tanto os bens de consumo como os bens de capital são denominados bens finais, visto que
são produtos prontos para serem utilizados. E temos ainda os chamados bens intermediários,
representados por produtos que não estão finalizados e, portanto, ainda precisam sofrer
transformações.
Os bens imateriais ou serviços são intangíveis, ou seja, não podem ser tocados. Um detalhe
importante é que eles também não podem ser estocados. Como exemplos, temos os serviços de
transporte, advocatícios, médicos, entre outros.
Já as necessidades não econômicas são satisfeitas por bens que não podem ou não precisam
ser produzidos, geralmente por serem abundantes, como é o caso do ar que respiramos.

1.1.3 Fatores de produção ou recursos produtivos


Aqueles produtos que precisam ser produzidos para satisfazer necessidades e desejos das
pessoas, tanto bens intermediários como bens finais, demandam um conjunto de elementos
denominados fatores de produção ou recursos produtivos. Esses fatores podem ser classificados em
quatro grandes grupos: capacidade empresarial, capital, trabalho e terra.
A capacidade empresarial ou capacidade empreendedora é fundamental na economia, pois
dela depende o surgimento e a existência das empresas, atuando nos mais diferentes ramos da
atividade econômica, identificando ou criando desejos nas pessoas. É sob a coordenação dessa
capacidade que as empresas buscam sua competitividade e sua produtividade, procurando operar
com eficiência técnica e econômica, a fim de maximizar seus lucros.
Para colocar em operação uma atividade produtiva, é necessário investir, ou seja, injetar
capital, que vai se transformar em capital físico e de giro. O capital físico é direcionado para a
aquisição de instalações, máquinas, equipamentos, ferramentas, entre outros. O capital de giro, por
sua vez, é composto pelos recursos financeiros necessários para se produzir.
O trabalho é representado pela mão de obra necessária – braçal ou intelectual – para fazer
a empresa funcionar. Um aspecto importante a ser considerado é a quantidade e a qualidade da
mão de obra disponível em uma economia, especialmente para se definir a forma de produção. Em
12 Economia e Mercado

países onde a mão de obra apresenta baixa qualificação, os processos de produção tendem para a
manufatura; por outro lado, em países que são intensivos utilizadores de capital, a mão de obra
tende a apresentar uma qualificação maior.
O elemento terra é responsável pela disponibilização dos recursos naturais ou das matérias-
-primas. Não podemos esquecer que toda matéria-prima é produzida sobre a terra ou é extraída
dela. Assim, seu uso depende das condições de solo e de clima que cada país apresenta, o que
determina também o tipo de matéria-prima que ele vai produzir.
A extensão territorial do Brasil faz com que o país tenha áreas cultiváveis tanto na região
tropical como na temperada, o que permite uma diversidade de produção como poucos países
no mundo possuem. E as condições climáticas possibilitam ainda, em algumas regiões, a
colheita de duas safras ao ano de determinadas culturas, fato impensável em países localizados
predominantemente em regiões mais frias.

1.1.4 Agentes econômicos


Os agentes econômicos são pessoas de natureza física ou jurídica que fazem o sistema
econômico funcionar. Eles são agrupados em: famílias, empresas e governo.
As famílias são formadas por todos os indivíduos e unidades familiares da economia que,
no papel de consumidores, adquirem os mais diferentes tipos de bens e serviços para atender às
suas necessidades de consumo. As famílias são também as proprietárias dos fatores de produção
(capacidade empresarial, capital, trabalho e terra).
Já as empresas são as unidades responsáveis pela fabricação e comercialização de bens
e serviços. A produção é feita com o uso dos fatores de produção de propriedade das famílias
e, uma vez processados, transformam-se em bens e serviços. Todo esse processo envolve a
preocupação de obter, sempre, o maior lucro possível.
Formado por um conjunto de indivíduos e instituições que têm a função de administrar
uma unidade política e conduzir os rumos de uma sociedade, o governo, por sua vez, é constituído
por todas as instituições que, direta ou indiretamente, estão sob o controle do Estado nas esferas
federais, estaduais ou municipais. Ele é o segundo maior consumidor da economia, contratando
serviços, adquirindo bens de consumo duráveis e não duráveis e bens de capital. O governo
também intervém na atividade econômica por meio de regulamentos e controles, com a finalidade
de disciplinar a conduta dos outros agentes econômicos.

1.1.5 Mercados
As relações entre os agentes econômicos realizam-se em um ambiente denominado mercado,
no qual vendedores (compõem o lado da oferta) e compradores (compõem o lado da demanda)
estabelecem contato e realizam suas transações.
O lado dos vendedores é representado pelas empresas, que vendem bens e serviços para
os consumidores (famílias e governo), e pelos proprietários dos fatores de produção (capacidade
empresarial, capital, mão de obra e terra) que os vendem ou arrendam às empresas produtoras em
troca de receita (lucros, juros, salários e aluguéis).
A importância dos fundamentos econômicos 13

O lado dos compradores, por sua vez, é constituído tanto pelas famílias, que são compradoras
de bens e serviços, quanto pelas empresas produtoras, que são compradoras de fatores de produção
(capacidade empresarial, capital, mão de obra e terra) utilizados na produção de bens e serviços.
Segundo Nogami e Passos (2016, p. 17),
é importante notar que, para fins de análise econômica, o conceito de mercado
não implica, necessariamente, a existência de um lugar geográfico em que as
transações se realizam. Na realidade, as mercadorias são vendidas segundo
os mais diferentes dispositivos institucionais, tais como feiras, lojas, bolsas de
valores etc., podendo o termo mercado aplicar-se a qualquer um deles. Basta,
para isso, que compradores e vendedores de qualquer bem (ou serviço, ou
recurso) interajam, resultando daí a possibilidade de comercializar esse bem.
Devemos observar que os mercados estão no centro da atividade econômica.
Essa é a razão pela qual muitos temas importantes em economia estão
relacionados com a maneira de funcionar desses mercados.

Assim, todas as relações entre famílias e empresas se realizarão em mercados, sejam eles de
bens e serviços, sejam de fatores de produção.

1.1.5.1 Mercado de bens finais e serviços


Os mercados são caracterizados com base em alguns fatores importantes, como o número
de empresas produtoras atuando no mercado e a homogeneidade ou diferenciação dos produtos
de cada empresa.
Com base nessas características, podemos classificar os mercados nas seguintes formas de
estruturas:
• Concorrência perfeita: um tipo de mercado em que há grande número de vendedores
(empresas) e compradores e no qual nenhum vendedor ou comprador é grande o suficiente
para afetar o preço de comercialização. Ou seja, a ação individual de um vendedor ou
comprador não afeta o mercado. Portanto, é um mercado atomizado, no qual produtos
ofertados são homogêneos perfeitos (princípio da indiferença) e há igualdade de custos
e transportes e livre mobilidade (entrada e saída). Por essas características, as empresas
são tomadoras de preços. Exemplos: mercados de café, soja, açúcar e petróleo (NOGAMI;
PASSOS, 2016).
• Concorrência monopolística: também conhecida como concorrência imperfeita, é uma
situação de mercado em que existem muitos produtores vendendo produtos diferenciados
(intimamente relacionados, mas não idênticos), porém que são substitutos próximos entre
si, e muitos compradores. Permite a livre entrada e saída de empresas. A diferenciação
pode ser de tecnologia, qualidade, forma, desenho, apresentação etc. “Isso faz com que
os produtores sejam praticamente os únicos a produzir tal bem, o que lhes confere, ainda
que temporariamente, um certo poder monopolístico” (NOGAMI; PASSOS, 2016, p. 17).
Exemplos: creme dental, detergente, televisores etc.
• Oligopólio: é uma situação de mercado em que poucas e grandes empresas vendedoras
controlam a oferta de um produto, que pode ser homogêneo (oligopólio puro) ou
diferenciado (oligopólio diferenciado). A ação de uma empresa pode afetar as demais,
14 Economia e Mercado

e o produtor tem certo grau de controle sobre o preço que cobra. No oligopólio puro,
os produtos são homogêneos, tais como o aço, o alumínio, o cimento etc. Por sua vez,
no oligopólio diferenciado, como o próprio nome indica, os produtos são diferenciados.
Como exemplos temos a indústria automobilística e a indústria de utilidades domésticas.
• Duopólio: de acordo com Sandroni (1999, p. 187), o duopólio é uma condição de
mercado semelhante ao oligopólio, na qual apenas dois produtores de um determinado
bem ou serviço têm o controle dominante e exclusivo. Em função dessa característica,
elas agem de maneira bastante similar, de tal forma que a mudança de comportamento de
uma leva à mudança da outra. As empresas que atuam nesse tipo de estrutura de mercado
analisam cenários táticos complexos de ações e reações uma contra a outra. Exemplos:
em certo momento da economia brasileira, o duopólio da aviação entre Tam e Gol,
sistemas operacionais Android e iOS, e Boeing e Airbus, que podem ser consideradas
completamente dominantes dentro do setor de fabricação de aviões de grande porte para
transporte de passageiros.
• Monopólio: situação de mercado em que uma única empresa vende um produto para o
qual não há substituto próximo, e o produtor exerce grande influência na determinação
do preço a ser cobrado por seu produto.
É uma situação totalmente oposta à da concorrência perfeita, uma vez que
ao lado da oferta não há concorrência e nem produto concorrente. Nessas
condições, ou os consumidores aceitam as condições estipuladas pelo
monopolista, ou então abandonam o mercado, deixando de consumir o
produto. Essa situação é encontrada, por exemplo, em indústrias nas quais
o único produtor tenha patente ou controle sobre uma fonte de recursos
essencial para a elaboração do produto. (NOGAMI; PASSOS, 2016, p. 17)

Exemplos: monopólio estatal dos Correios e Telégrafos, mercado de fornecimento de


energia elétrica, saneamento básico, entre outros.
É importante observar que o entendimento do que são essas estruturas é fundamental para
a análise de custos, pois as características do mercado em que a empresa atua irão determinar a
condição de obtenção do maior lucro.

1.1.5.2 Mercado de fatores de produção


No mercado de fatores de produção, as famílias é que se constituem como vendedores ou
prestadores de serviços dos recursos produtivos, enquanto as empresas são as demandantes desses
itens. Os preços nesse mercado (lucros, juros, salários e aluguéis) também são estabelecidos de
modo livre, na relação entre vendedores e compradores. Os pagamentos pela aquisição dos fatores
de produção serão efetuados pelas empresas aos indivíduos quando da aquisição ou contratação
desses recursos.
A importância dos fundamentos econômicos 15

Portanto, os fatores de produção tornam-se objeto de transações em um determinado tipo de


estrutura de mercado, o qual se diferencia pela quantidade de agentes vendedores e compradores e
pela homogeneidade ou não do fator de produção (NOGAMI; PASSOS, 2016).
Nesse sentido, as estruturas mercadológicas podem ser classificadas da seguinte forma:
• Concorrência perfeita: tem como condições de existência, entre outras, a oferta
abundante do fator de produção, o preço constante do fator, o grande número de
ofertantes e de demandantes, a homogeneidade dos fatores de produção (do ponto de
vista tanto dos vendedores quanto dos compradores), a total transparência de mercado
e a inexistência de condições de os ofertantes fixarem preços (são tomadores de preços).
Exemplo: mercado de trabalho, mercado de recursos naturais.
• Concorrência monopsonística: é uma estrutura do mercado de fatores de produção
caracterizada por grande número de pequenas empresas compradoras, que compram
insumos semelhantes, mas não idênticos. Essas companhias têm liberdade para entrar e
sair da indústria e possuem amplo (mas não perfeito) conhecimento de preços e tecnologia.
Quatro são as principais características dessa estrutura de mercado, que em muito se
assemelha à concorrência monopolística: grande número de pequenos compradores;
produtos semelhantes, mas não idênticos; relativa mobilidade dos recursos; e relativo
conhecimento, mas não completo, dos preços e da tecnologia.
• Oligopsônio: essa estrutura ocorre quando a compra de fatores de produção está nas
mãos de três ou mais compradores. Nesse caso, eles têm o poder de determinar os preços
da compra dos recursos produtivos, que podem ser homogêneos (apresentam substitutos
perfeitos) ou diferenciados (não apresentam substitutos perfeitos), como apontam Nogami
e Passos (2016). Como exemplo, podemos citar o que se verifica em cidades interioranas
produtoras de leite, onde existem duas ou três empresas de laticínios que adquirem a
maior parte do leite de diversos produtores locais. No setor de fabricação de aeronaves,
por sua vez, temos apenas quatro grandes companhias dominando o mercado – Boeing,
Airbus, Embraer e Bombardier. No mercado de cacau, observamos três empresas (Cargill,
Archer Daniels Midland e Callebaut) adquirindo toda a produção de pequenos países
produtores de cacau.
• Duopsônio: inversamente ao duopólio, o duopsônio é uma estrutura de mercado em
que existem apenas dois compradores de um fator de produção e diversos ofertantes.
A produção dos mais de 17 mil produtores de folhas de tabaco da cidade de Santa Cruz
do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, é adquirida por apenas duas
empresas: a Alliance One Brasil Exportadora de Tabacos e a Universal Leaf Tabacos.
• Monopólio bilateral: interessante situação de mercado em que um monopolista se vê
diante de um monopsonista. Isso significa que existe um único comprador de determinado
fator de produção, o qual é comercializado por um único vendedor. A Embraer, por
16 Economia e Mercado

exemplo, fabrica os aviões de guerra Super Tucano, e o governo brasileiro compra esses
aviões; a empresa aparece como monopolista na fabricação, enquanto o governo (Força
Aérea Brasileira) é o monopsonista na aquisição.
• Monopsônio: de acordo com Nogami e Passos (2016, p. 18), “é o regime ou estrutura
de mercado em que um único comprador concentra em suas mãos a totalidade de
compra dos fatores de produção, não obstante ele se defronte com grande número de
vendedores ou ofertantes de tais fatores”. Nesse caso, os preços não são determinados
pelos vendedores, mas pelo único comprador. É comum dizer-se que o monopsônio,
frequentemente, deriva de um monopólio instalado. De fato, o monopólio na venda de um
produto pode determinar o monopsônio na compra dos fatores de produção do referido
produto. Uma situação típica desse regime é a de um produtor de automóveis que depende
de determinado número de fornecedores de algumas peças que não são utilizadas por
outros fabricantes. Por essa razão, os pequenos fabricantes produzem apenas para essa
marca de automóveis. O produtor de automóveis desse exemplo pode ser entendido como
um monopsonista.

Agora que já estão mais claros os conceitos de concorrências perfeita e monopsonística, além
de oligopsônio, duopsônio, monopólio bilateral e monopsônio, vejamos a relação de todos eles com
a renda e a riqueza de uma nação.

1.1.6 Renda e riqueza


Existe uma grande distinção entre renda e riqueza. Segundo Nogami e Passos (2016), renda
é o que se ganha sob a forma de remuneração em determinado período. Riqueza, por outro lado, é a
soma de todas as coisas que se tem (dinheiro em espécie, dinheiro em contas bancárias, aplicações
financeiras, ações, conjunto de bens que constituem o patrimônio, propriedades, joias etc.),
subtraído tudo o que se deve (hipotecas de residências, débitos em cartões de crédito, empréstimos
pessoais, parcelamentos de compra, entre outros).
Esses são, portanto, alguns dos conceitos básicos da economia. Entender, de maneira clara,
o significado e a importância deles é fundamental para o estudo dessa ciência.

Vídeo 1.2 Necessidades e desejos das pessoas


Segundo Nogami (2004), quando observamos atentamente o movimento da
atividade econômica, percebemos que, na sua essência, tudo gravita em torno dos
indivíduos que, no dia a dia, procuram satisfazer suas necessidades e desejos por meio do
consumo. Portanto, podemos afirmar que o consumo é a variável mais importante dentro
da economia, pois é ele que faz as coisas acontecerem. Entretanto, para que as pessoas
possam consumir, é necessário que elas tenham capacidade e condições de fazer isso, ou
seja, precisam ter uma renda.
É possível afirmar que o centro dos problemas sociais de todo o mundo está no
indivíduo. Mas por quê? De acordo com Nogami (2012), porque carregamos sobre os
ombros, todos nós e a todo tempo, uma caixa, à qual denomina caixa de desejos. Segundo
A importância dos fundamentos econômicos 17

o autor, “tudo o que fazemos ao longo da vida visa obter recursos para simplesmente suprir nossas
necessidades e desejos que estão dentro dessa caixa” (NOGAMI, 2012, p. 13). A Figura 1 mostra a
essência da caixa de desejos aplicada ao dia a dia das pessoas na economia.
Figura 1 – Caixa de desejos e a atividade econômica

Indivíduo Empresa

Caixa de desejos Consumo

Bens e serviços

Capacidade de Estrutura de
Renda Preços
gastar consumo

Capacidade de
poupar

Fonte: Elaborada pelo autor.

Como podemos atender, hoje em dia, às necessidades presentes nessa caixa de desejos?
“Utilizando-se da linguagem econômica podemos dizer que é pelo consumo de bens e serviços”
(NOGAMI, 2012, p. 14). Porém, os bens e serviços que consumimos não são gratuitos, eles possuem
um preço.
Dessa forma, é em função dos preços dos bens e serviços que consumimos para satisfazer
nossas necessidades e desejos que cada um de nós tem uma estrutura de consumo. Em outras
palavras, cada um de nós tem uma estrutura de gastos mensais em alimentos, educação, vestuário,
transportes, saúde, diversão e assim por diante, os quais irão satisfazer nossa caixa de desejos.
E podemos gastar o quanto quisermos? Claro que não, pois, em tese, temos um elemento
limitador para o consumo, denominado renda. Assim, fica fácil entender toda relação econômica:
quanto maior a renda, maior o consumo; por outro lado, quanto menor a renda, menor o consumo.
Não podemos esquecer que parte da renda também deverá ser utilizada para a formação de
nossas economias ou de nossa riqueza (poupança). No campo econômico, essas nossas economias
são importantes devido a dois aspectos: (1) para que possamos formar nossa riqueza e então utilizá-
la em nossas aposentadorias e, enquanto isso, desde que adequadamente aplicados, (2)auxiliar na
formação da poupança nacional, que é a base para os investimentos no setor produtivo da economia.
Compreendendo essa ideia, entendemos também por que os candidatos a cargos eletivos
sempre defendem a ideia de aumentar a renda mínima e, consequentemente, a qualidade de
vida da população.
18 Economia e Mercado

Essa é a razão que faz os governantes sempre estarem preocupados com o crescimento e
o desenvolvimento de suas economias. O crescimento se dá com o aumento no uso dos fatores
de produção, que irão gerar mais renda para as famílias, visto que passarão a ter mais recursos
para poderem consumir. Esse aumento de recursos é o que levará as empresas a produzirem mais,
utilizando mais fatores de produção, e assim sucessivamente. Como decorrência de todo esse ciclo,
haverá uma melhoria na qualidade de vida, que é o aspecto mais importante do desenvolvimento.

Vídeo 1.3 Fluxo circular da atividade econômica


Conforme vimos na seção anterior, para que as pessoas possam consumir mais,
há a necessidade de se ter mais renda – mais lucros, juros, salários e aluguéis sendo
gerados na economia. E como isso é possível?
Imaginemos, de maneira simplificada, que de um lado estão as famílias e, de
outro, as empresas. Para que estas possam existir e funcionar, elas dependem, como
já foi visto, dos fatores de produção fornecidos pelas famílias. Nesse grupo, portanto,
incluem-se a capacidade empresarial (ou capacidade empreendedora), o capital, a
mão de obra e os recursos naturais, todos eles essenciais para que uma empresa possa
produzir bens e serviços.
Entretanto, as famílias, ao fornecerem esses fatores de produção, não o fazem
de modo gratuito; esperam, indiscutivelmente, uma remuneração (a nossa maneira
de produzir dinheiro para poder consumir), a qual virá sob a forma de lucros, juros,
salários e aluguéis, que respectivamente representam a remuneração da capacidade
empresarial, do capital, da mão de obra e dos recursos naturais. Esses quatro tipos de
remuneração, de modo agregado, formam o que denominamos renda.
E as famílias, quando de posse da renda, irão fazer o quê? Naturalmente, irão
satisfazer suas necessidades e seus desejos por meio do consumo de bens e serviços, que
são produzidos pelas empresas. Esses bens e serviços, de maneira conjunta, chamamos
de produto. Assim, esquematicamente, temos o que é demonstrado na Figura 2, a seguir.
Figura 2 – Fluxo circular da atividade econômica (em equilíbrio)
Consumo (R$1.000,00)

Produto

Famílias Empresas

Fatores de
produção

Renda (R$1.000,00)
Fonte: Elaborada pelo autor.
A importância dos fundamentos econômicos 19

A esse esquema damos o nome de fluxo circular da atividade econômica, que nos mostra a
relação básica de funcionamento de toda a economia (observe que não estamos colocando aqui o
governo, nem mesmo o setor externo da economia), para que possamos entender seu princípio.
Essa relação entre famílias e empresas deve estar permanentemente em equilíbrio, ou seja, toda a
renda deverá ser utilizada no consumo de bens e serviços (produtos) produzidos pelas empresas.
Numericamente, vamos supor que as empresas paguem R$ 1.000,00 de renda às famílias.
Para que o fluxo esteja em equilíbrio, é necessário que as famílias consumam R$ 1.000,00. Dessa
forma, as empresas faturarão R$ 1.000,00 e terão os R$ 1.000,00 para pagarem de renda no mês
subsequente, e assim sucessivamente.
Agora, vamos imaginar que as famílias deixem de gastar R$ 100,00 para formar sua
poupança. Essa atitude refletirá no faturamento das empresas, que faturarão R$ 900,00, em vez
de R$ 1.000,00. As companhias, entretanto, produziram e esperavam vender R$ 1.000,00, fazendo
surgir um excedente de produção, ao qual podemos chamar de estoque involuntário, no montante
de R$ 100,00. Diante de uma situação dessa, as empresas costumam reduzir ou dispensar fatores
de produção, o que implica em uma redução na renda paga às famílias, levando, por fim, a um
esfriamento da atividade econômica.
Para se evitar isso, partindo do pressuposto de que as famílias aplicaram recursos no valor
de R$ 100,00 em uma instituição financeira, a empresa poderá recorrer a esses recursos (em forma
de empréstimo de capital de giro), adicionar esse valor ao faturamento e ter o montante necessário
para pagar a renda de R$ 1.000,00, permitindo a retomada do equilíbrio. Essa medida pode ser
observada na Figura 3.
Figura 3 – Fluxo circular da atividade econômica (instituição financeira e a retomada do equilíbrio)
Consumo (R$900,00)

Produto

Empresas
(estoque
Famílias
R$100,00)
Fatores de
produção
Renda (R$1.000,00)
Poupança Empréstimo
R$100,00 R$100,00
Instituição
financeira

Fonte: Elaborada pelo autor.

Por meio da descrição apresentada na Figura 3, fica fácil entender a importância das
instituições financeiras em uma sociedade. Elas são intermediadoras de recursos, recebendo de
quem os tem sobrando e emprestando a quem deles necessita (como as empresas). Isso permite a
retomada do equilíbrio do modelo econômico, sem que haja contração da atividade econômica.
20 Economia e Mercado

Dessa forma, podemos entender que o mercado financeiro é um conjunto de instituições


e instrumentos que possibilitam esse processo de transferência de recursos entre os ofertadores
(famílias) e os tomadores (empresas).
Um aspecto importante a salientar é que a poupança das famílias, como já apontamos, é
responsável pela formação da poupança nacional. Nesse sentido, em vez de esses recursos serem
canalizados às empresas como empréstimo de capital de giro, poderão ser direcionados sob a forma
de investimentos – construções, máquinas, equipamentos e ferramentas – para adequar ou ampliar
a capacidade de produção do país, o que permitirá o aumento de renda da sociedade como um
todo e, consequentemente, o crescimento do país.

Vídeo 1.4 Fronteira de possibilidade de produção


O grande problema da economia, que é também a razão de seu estudo, é que as
necessidades e os desejos das pessoas são ilimitados, enquanto a disponibilidade de
recursos é escassa. Por isso é que os autores costumam definir a economia como uma
ciência ligada a problemas de escolha.
Para exemplificar, suponhamos uma economia que tem condições de produzir
apenas dois tipos de bens: de capital e de consumo. Para um melhor entendimento,
vamos considerar alguns pressupostos básicos: i) existe uma quantidade fixa de recursos
produtivos; ii) todos os recursos estão sendo plenamente utilizados; iii) a tecnologia
permanece sempre constante. Partindo disso, a Tabela 1, a seguir, apresenta as alternativas
que essa economia tem na produção de bens de capital e de bens de consumo.
Tabela 1 – Possibilidades de produção de uma economia

Bens de consumo Bens de capital Custo de oportunidade


Opção
(milhões de toneladas) (milhares de toneladas) (milhares de toneladas)

A 0 900

B 10 750 150

C 20 550 200

D 30 300 250

E 40 0 300

Fonte: Elaborada pelo autor.

Ao colocarmos os dados da Tabela 1 em um gráfico, temos o que é apresentado no


Gráfico 1.
A importância dos fundamentos econômicos 21

Gráfico 1 – Curva de possibilidades de produção de uma economia


Bens de capital 1000
(milhares de A
900
toneladas)
800 B

700

600 C

500

400
F D H
300

200

100
E
0
0 10 20 30 40 50
Bens de consumo
(milhões de toneladas)
Fonte: Elaborado pelo autor.

Pelo Gráfico 1, podemos observar que, se empregássemos todos os recursos disponíveis na


produção de bens de capital, obteríamos, no máximo, 900 mil toneladas desse bem. Se todos os
recursos estivessem sendo utilizados na produção de bens de capital, não poderia haver produção
de bens de consumo e, portanto, ela seria igual a zero (opção A).
No entanto, poderíamos direcionar todos os recursos para a produção de alimentos, obtendo
assim 40 milhões de toneladas desses produtos. Nesse caso, conforme gráfico 1, a produção de bens de
capital seria zero, uma vez que não existiriam recursos disponíveis para esse fim (opção E). As opções
restantes no gráfico e na tabela apresentados, dadas por B, C e D, são de produção combinada entre
bens de consumo e bens de capital.
Nesse exemplo, todos os pontos sobre a curva de possibilidades de produção indicam que a
economia está funcionando com eficiência produtiva, que podemos denominar como uma situação
de pleno emprego, pois está utilizando todos os recursos de produção disponíveis.
Suponhamos que a economia esteja operando no ponto C da curva. Nesse ponto, estão
sendo produzidas 20 milhões de toneladas de bens de consumo e 550 mil toneladas de bens de
capital. Se a economia optar por um aumento da produção de bens de consumo, passando a operar,
por exemplo, no ponto D, ela passará a produzir 30 milhões de toneladas de bens de consumo.
Entretanto, esse aumento de produção (de 20 para 30 milhões de toneladas) só será possível se
parte dos recursos utilizados na produção de bens de capital for destinada à produção de bens de
consumo. Consequentemente, haverá uma redução na produção de bens de capital, de 550 para
300 mil toneladas. Em outras palavras, podemos dizer que a decisão de produzir mais bens de
consumo terá um custo de oportunidade de 250 mil toneladas de bens de capital.
22 Economia e Mercado

Pode acontecer, muitas vezes, de a economia estar produzindo abaixo de suas possibilidades.
Isso pode ocorrer porque os recursos produtivos estão ociosos (desemprego, estoques elevados,
baixa utilização da capacidade instalada, entre outros fatores). Essa situação é representada por
qualquer ponto no interior da curva de possibilidades de produção (Gráfico 1), a exemplo do
ponto F.
Em contrapartida, pontos situados além da curva, como o ponto H (no Gráfico 1), são
inatingíveis. Isso porque envolvem uma combinação de produção de bens de capital e de consumo
que, em virtude dos recursos e das tecnologias disponíveis, não pode ser realizada. Para perceber
isso ainda melhor, veja o Gráfico 2 a seguir:
Gráfico 2 – Deslocamento da curva de possibilidades de produção
1200

1000

800

600

400

200

0
0 10 20 30 40 50 60
Fonte: Elaborado pelo autor.

Segundo Nogami (2012, p. 71), é possível concluir que “pontos situados além da fronteira só
poderão ser alcançados mediante aumentos na disponibilidade de fatores de produção […] e/ou
mediante evolução tecnológica […] que permita o aumento nas possibilidades de produção com os
mesmos recursos”, o que possibilitaria também a melhoria da competitividade e da produtividade.
Isso significa que, para alcançar pontos como o H (no Gráfico 1), seriam necessários investimentos
que permitissem o deslocamento da curva de possibilidades de produção para a direita, como
mostra o Gráfico 2.

Considerações finais
Ao longo deste capítulo, abordamos os principais fundamentos econômicos, os quais irão
permitir um melhor entendimento do que será desenvolvido ao longo desta obra. Começamos
analisando, de maneira geral, o que é a economia, ressaltando as questões econômicas fundamentais,
abordando os sistemas econômicos, as necessidades humanas, os fatores de produção e a forma
como os agentes econômicos interagem nas mais diferentes estruturas de mercado.
Apresentamos também a maneira como as famílias e as empresas interagem e destacamos
o papel de cada uma no funcionamento da economia. Levamos em consideração, para isso, o
potencial que cada sociedade apresenta, visto por meio da fronteira de possibilidades de produção.
A importância dos fundamentos econômicos 23

Ampliando seus conhecimentos


• MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
Entender o mundo em que vive, ser um participante mais perspicaz da economia
e compreender melhor as potencialidades e os limites da política econômica, essas
são as três principais razões para se estudar os fundamentos da economia segundo
Gregory N. Mankiw. Esse livro se mostra como um bom manual de consulta ao
tratar de temas complexos da economia com bastante clareza e objetividade, além de
trazer estudos de caso, definições de conceitos-chave, testes, questões para revisão,
problemas, aplicações etc.

• NOGAMI, Otto; PASSOS, Carlos R. Martins. Princípios de economia. 7. ed. São Paulo:
Cengage Learning, 2016.
Escrito em linguagem acessível, esse livro apresenta uma abordagem atual e com
estatísticas relevantes sobre a economia brasileira, o que permite que se estabeleça contato
entre os fundamentos e os conceitos discutidos neste capítulo e que abordam a realidade
que nos cerca.

Atividades
1. Considerando o que foi abordado neste capítulo, como você definiria ciência econômica?

2. Explique detalhadamente a diferença entre bens, serviços e recursos produtivos. Exemplifique


cada conceito.

3. O que são agentes econômicos? Como se classificam?

4. Qual a utilidade da curva de possibilidades de produção?

Referências
GOVERNO. In: MEUS DICIONÁRIOS. Significado de Governo. Disponível em: https://www.meusdicionarios.
com.br/governo. Acesso em: 29 jul. 2019.

MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. São Paulo: Cengage Learning, 2016.

NOGAMI, Otto. Não seja o pato do mercado financeiro: as aventuras do Pato Rico. São Paulo:
Avercamp, 2004.

NOGAMI, Otto. Economia. Curitiba: IESDE, 2012.

NOGAMI, Otto; PASSOS, Carlos R. M. Princípios de economia. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016.

SANDRONI, Paulo (Org.). Novíssimo dicionário de economia. 2. ed. São Paulo: Best Seller, 1999.
2
A percepção estratégica da economia de empresas

No primeiro capítulo, falamos de dois agentes econômicos que fazem a economia


funcionar – as famílias, constituídas de indivíduos, e as empresas. As relações entre esses
elementos foram retratadas no fluxo circular da atividade econômica. Assim, torna-se
importante entender também como eles interagem nos processos de produção, venda (oferta)
e compra (demanda) de bens e serviços.
Essas relações de venda e compra, bem como a produção e os custos envolvidos nesses
processos, são tratados pela microeconomia1, que tem como maior preocupação entender o
comportamento dos indivíduos, das empresas e dos proprietários dos fatores de produção, nos
mercados de bens e serviços e nos de fatores de produção.
Conforme Nogami e Passos (2016, p. 75), os objetivos básicos da Teoria Microeconômica é
responder a questões como:
• O que determina o preço dos mais diferentes tipos de bens e serviços?
• O que determina a remuneração de um trabalhador?
• O que determina quanto de cada mercadoria será produzida?
• O que determina a maneira como um indivíduo gasta a sua renda entre os mais diferentes
bens e serviços?
Assim, inicialmente, vamos entender como funcionam os mercados e a maneira como
preços e quantidades são determinados, bem como entender como eles reagem à medida que há
uma interferência do governo nessas relações. Em seguida, vamos esclarecer o que é o consumidor;
como ele reage à sua renda; à propaganda e ao preço dos produtos, tanto dos substitutos (produtos
de natureza diferente, mas substitutos um do outro), dos concorrentes (produtos de mesma
natureza e com as mesmas características) e dos complementares (produtos de demanda conjunta).
Posteriormente, abordaremos as teorias da produção e de custos, cujos conceitos são básicos para
o entendimento da precificação de bens e serviços.

Vídeo 2.1 Teoria do consumidor


Como visto anteriormente, as famílias, para adquirirem bens e serviços,
interagem com as empresas em um ambiente chamado mercado. Nesse ambiente, os
consumidores se apresentam sempre querendo pagar o menor preço, enquanto as
empresas estão sempre dispostas a cobrar o maior preço. Outro detalhe importante,
é que as pessoas têm a predisposição de adquirir maiores quantidades de um bem ou
serviço quanto menores forem seus preços, e menores quantidades à medida que o
preço aumenta.

1 A Microeconomia é o ramo da economia que estuda o comportamento dos indivíduos em relação às suas decisões
de consumir e o comportamento das empresas no que diz respeito à produção e aos custos de bens e serviços.
26 Economia e Mercado

Analisaremos, então, o comportamento das famílias e das empresas e observaremos como


conseguem chegar a um preço que satisfaça ambas as partes para uma determinada quantidade.

2.1.1 A demanda
A demanda representa o lado do demandante ou do comprador de um determinado bem
ou serviço e se refere à quantidade que ele está disposto e capacitado a comprar em uma unidade
de tempo.
Este consumidor, na decisão de adquirir um bem ou serviço, é influenciado por um ou mais
fatores, tais como:
• o preço do bem ou serviço;
• o salário ou a renda do consumidor;
• os gostos e as preferências do consumidor;
• o preço dos produtos substitutos;
• o preço dos produtos concorrentes;
• a propaganda.
Se pegarmos uma relação de preços e quantidades que o mercado está disposto a demandar
de um determinado produto, por exemplo, um energético, temos condições de elaborar uma tabela
como a apresentada a seguir.
Tabela 1 – Escala de demanda de energéticos

Quantidade
Preço (R$/garrafa)
(garrafas/mês)
12,00 0
10,00 5
8,00 10
6,00 15
4,00 20
Fonte: Elaborada pelo autor.

Com base nessa escala, podemos montar um gráfico como o que se encontra a seguir.
Gráfico 1 – Demanda de mercado por energéticos
Preço 14
(R$)
12

10

0
0 10 20 30

Fonte: Elaborado pelo autor. Quantidade


A percepção estratégica da economia de empresas 27

O desenho formado no Gráfico 1 é chamado de curva de demanda (ainda que, nesse caso,
tenha se formado uma reta), que nos mostra as quantidades que o mercado está predisposto a
consumir a cada nível de preço. Observe que ao preço de R$ 12,00 o consumidor não está disposto
a adquirir nenhuma quantidade, mas vai desejando comprar mais à medida que o preço cai. Nesse
caso, então, podemos dizer que a reta tem declividade negativa.
É importante lembrar que cada produto ou serviço tem sua própria curva de demanda, a
qual retrata o comportamento do consumidor com relação às quantidades que ele deseja consumir
em função dos mais diferentes níveis de preço por unidade de tempo.

2.1.2 A oferta
A oferta representa o lado dos ofertantes ou dos vendedores de determinado bem ou serviço,
e nos mostra as quantidades que eles estão dispostos a oferecer ao mercado a cada nível de preço
em uma unidade de tempo.
Essa disposição, à exemplo da demanda, também depende de um conjunto de fatores, dentre
os quais podemos destacar:
• o preço do bem ou serviço;
• os preços de outros bens ou serviços;
• os preços dos fatores de produção;
• os métodos de produção disponíveis (tecnologia);
• as expectativas;
• as condições climáticas.

A Tabela 2, a seguir, apresenta as quantidades que os produtores de um bem (energético,


conforme o exemplo anterior) estão dispostos a produzir e vender a cada nível de preço.
Tabela 2 – Escala de oferta de energéticos
Quantidade
Preço (R$/garrafa)
(garrafas/mês)
14,00 25

12,00 20

10,00 15

8,00 10

6,00 5

4,00 0
Fonte: Elaborada pelo autor.

Ao contrário do que acontece com a demanda, podemos observar que o produtor está
disposto a vender maiores quantidades quanto maior for o preço do produto, e que, ao preço de R$
4,00, ele não deseja vender nenhuma unidade.
28 Economia e Mercado

Os dados apresentados nos permitem elaborar um gráfico representativo da curva da oferta


(Gráfico 2), que compila essas características do produtor. Observe que este, ao contrário da curva
da demanda, tem uma declividade positiva.
Gráfico 2 – Oferta de mercado de energéticos
16

14

12

10

0
0 5 10 15 20 25 30
Fonte: Elaborado pelo autor.

De acordo com Nogami e Passos (2016, p. 92), “a oferta de um produto ou serviço qualquer,
em determinado período de tempo, varia na razão direta da variação de preços desse produto ou
serviço, a partir de um nível de preços tal que seja suficiente para fazer face ao custo de produção
do mesmo”. Ou seja, a variação do preço do produto ou serviço está diretamente relacionada à
oferta desse produto.

2.1.3 As condições de equilíbrio


Apresentadas as características dos demandantes e dos ofertantes, vamos colocá-los frente a
frente, no ambiente denominado mercado – cada um deles com seu próprio comportamento. Isso
se faz sobrepondo as linhas da demanda e da oferta em um único gráfico, apresentado no Gráfico 3.
Gráfico 3 – O equilíbrio de mercado de energéticos
16
Preço Oferta
(R$) 14

12

10
E
P0 8

4
Demanda
2

0
0 5 10 15 20 25 30
Q0
Quantidade (unidades)
Fonte: Elaborado pelo autor.
A percepção estratégica da economia de empresas 29

No Gráfico 3, podemos observar que, apesar dos comportamentos diferentes dos


vendedores e dos compradores, suas curvas se cruzam no denominado ponto de equilíbrio
(ponto E no gráfico). É esse ponto que determina um preço de equilíbrio (R$ 8,00), ou preço
de mercado, que satisfaz simultaneamente produtores e consumidores, e uma determinada
quantidade de equilíbrio (10 unidades).
Assim, quando não houver nenhum tipo de interferência nessa relação entre produtores e
consumidores, o preço de comercialização converge a um ponto de equilíbrio que satisfaz ambas
as partes a uma determinada quantidade.
Para melhor entender como isso ocorre, vamos imaginar que, por uma razão qualquer, o
preço esteja acima do ponto de equilíbrio, conforme pode ser visto no Gráfico 4. Ao preço de
R$ 10,00, os consumidores estarão dispostos a demandar 5 unidades do produto (ponto A),
enquanto os vendedores irão ofertar 15 unidades (ponto B), acarretando um excesso de oferta ou
escassez de demanda. Se nada for feito, os vendedores terão um acúmulo de estoques, o que não
é interessante para eles. Para se desfazer desses estoques, os vendedores tendem a reduzir o preço,
que naturalmente começa a caminhar em direção ao equilíbrio.
Gráfico 4 – Excesso de oferta e o ajuste de preço
Preço 16
(R$) Oferta
14

12 Excesso de oferta
A B
10
E
P0 8
C D
6

4
Demanda
2

0
0 5 10 15 20 25 30

Q0 Quantidade (unidades)

Fonte: Elaborado pelo autor.

Por outro lado, se o preço estiver em R$ 6,00, os ofertantes estarão dispostos a ofertar 5
unidades do produto (ponto C), enquanto muitas pessoas estarão dispostas a adquirir 15 unidades
(ponto D). Essa situação ocorrerá porque, a preços mais baixos, poucos serão os produtores
dispostos ou em condições de produzir. Dessa forma, com a quantidade a ser demandada maior
que a quantidade ofertada, haverá escassez de oferta ou excesso de demanda. Nessa situação, muitos
consumidores estarão dispostos a pagar mais pelo produto, fazendo com que o preço comece a
caminhar em direção ao equilíbrio, conforme pode ser visto no Gráfico 5.
30 Economia e Mercado

Gráfico 5 – Escassez de oferta e o ajuste de preço


Preço 16
(R$) Oferta
14

12

10
E
P0 8
C D
6

4
Escassez de oferta demanda
2

0
0 5 10 15 20 25 30

Quantidade (unidades)
Fonte: Elaborado pelo autor.

Toda essa dinâmica de mercado foi pela primeira vez observada e analisada pelo economista
britânico Adam Smith, em sua famosa obra A Riqueza das Nações, onde comentou que
cada pessoa [...] não está cuidando de promover o interesse público, nem sabe o
quanto o está promovendo [...]. Busca apenas seu próprio ganho, e é neste, como
em muitos outros casos, que é conduzido por uma mão invisível para promover
um fim que não fazia parte da sua intenção. E nem isto é pior para a sociedade
do que se não fizesse parte. Buscando seu próprio interesse, ele muitas vezes
promove o interesse da sociedade melhor do que se estivesse buscando fazê-lo.
(MANKIW, 2001)

Em resumo, segundo Mankiw (2001), Adam Smith defende que os participantes da economia
estão motivados pelo autointeresse e que a mão invisível do mercado orienta esse autointeresse na
busca do bem-estar econômico geral.
É importante salientar que essas curvas, tanto da demanda como da oferta, podem
se movimentar tanto para direita como para esquerda, em função de fatores que alterem o
comportamento do consumidor. Elas tendem a se movimentar para esquerda quando algum fator,
que não o preço do produto, afeta negativamente o comportamento do consumidor ou produtor, e
para direita quando o fator afeta positivamente, alterando preços e quantidades de comercialização.
Como exemplo, vamos considerar que a renda real da sociedade (renda depois de descontada
a inflação) aumente ao longo do tempo, aumentando também o poder de compra do consumidor,
o que o levará a consumir mais energéticos, tudo o mais mantido constante. Isso fará com que
apenas a curva da demanda se desloque para a direita (fator que contribui positivamente para o
aumento da demanda), como pode ser observado no Gráfico 6, a seguir.
A percepção estratégica da economia de empresas 31

Gráfico 6 – Deslocamento da curva da demanda por aumento de renda


18
Preço
(R$) 16
Oferta
14

12
E’
P1 10
E
P0 8

4
Demanda
2

0
0 5 10 15 20 25 30
Q0 Q1
Quantidade (unidades)
Fonte: Elaborado pelo autor.

Esse deslocamento da curva, por sua vez, fará com que um novo ponto de equilíbrio
surja (E’), que determinará um novo preço (R$ 10,00) e uma nova quantidade de equilíbrio
(15 unidades). Ou seja: aumentam as quantidades demandadas e, consequentemente, os preços
também aumentam, conforme demonstrado no Gráfico 6.

2.1.4 Intervenções do governo


Quando afirmamos que os preços se ajustam naturalmente em direção ao ponto de
equilíbrio, frisamos um detalhe que é a de não haver nenhum tipo de interferência. Porém, uma das
interferências mais importantes é a atuação do governo nessa dinâmica de mercado, controlando os
preços de determinados produtos. O problema é a fixação de preços máximos ou preços mínimos
com a intenção de beneficiar o consumidor ou o produtor.
Vejamos, a seguir, os movimentos da intervenção do governo na dinâmica do mercado.

2.1.4.1 Preços máximos


A fixação de preços máximos é uma política que pode ser adotada pelo governo quando lhe
parecer que o preço de determinado produto ou serviço, estabelecido pelo mercado, encontra-se
em um nível muito elevado. O preço estabelecido pelo governo, nesse caso, deve ser inferior ao
preço de equilíbrio.
Nos anos em que nossa economia viveu momentos de inflação alta, o controle de preços foi
um instrumento de política econômica muito utilizado pelo governo em defesa do consumidor.
Isso porque o estabelecimento de preços máximos permite aos ofertantes venderem seus produtos
a qualquer nível de preço, desde que não ultrapasse o teto estabelecido pelo governo. No Gráfico 7,
a seguir, temos a representação gráfica desse tipo de medida.
32 Economia e Mercado

Gráfico 7 – Preço máximo no mercado de gasolina


Preço 5,5
(R$) Demanda Oferta
5

4,5

4 E
3,80
3,5

A B
3

Excesso de demanda
2,5

2
0 20 40 60 80
Quantidade
(bilhões de litros)
Fonte: Elaborado pelo autor.

Na condição de equilíbrio, o preço do combustível está em R$ 3,80 para uma demanda de


40 bilhões de litros/ano. Se o governo fixar um preço máximo de R$ 3,00 para o litro de gasolina, o
mercado terá a predisposição de demandar 60 bilhões de litros/ano, enquanto os ofertantes estarão
dispostos a vender apenas 20 bilhões de litros/ano. Nessas condições, nem toda a quantidade
desejada pelos consumidores estará disponível, acarretando uma escassez de oferta ou um excesso
de demanda de 40 bilhões de litros/ano. No gráfico, a escassez de oferta pode ser visualizada pela
distância entre os pontos A e B, e ela persistirá enquanto o preço se mantiver em R$ 3,00.
Essa condição de escassez pode fazer surgir filas nos postos de gasolina, vendas por
“debaixo do pano”, ou mesmo um mercado ilegal.

2.1.4.2 Preços mínimos


A política de preços mínimos objetiva beneficiar o produtor, garantindo a ele preços
superiores ao preço de equilíbrio de mercado. Um dos que mais se beneficiam desse tipo de prática
do governo é o mercado de produtos agrícolas, especialmente quando há intenção de manter o
produtor na atividade. Outro contexto em que essa prática é adotada, desde a década de 1930, é no
mercado de trabalho, com a fixação do salário mínimo2.
Ainda no mesmo exemplo da seção anterior, analisando graficamente o preço mínimo no
mercado de gasolina, temos o Gráfico 8, no qual nota-se que, ao preço de R$ 4,60, os consumidores
desejam comprar 20 bilhões de litros/ano de gasolina, enquanto os vendedores estarão
dispostos a oferecer 60 bilhões de litros/ano desse produto. Por consequência, há um excesso
de oferta no mercado de 40 bilhões de litros/ano, dado pela diferença de 60-20 bilhões de

2 No Brasil, o salário mínimo surgiu com a promulgação da Lei n. 185, de 14 de janeiro de 1936 e do Decreto-Lei n.
399, de 30 de abril de 1938. Em 1º de maio de 1940, o então presidente Getúlio Vargas fixou 14 valores do salário mínimo
para diferentes regiões do país. Por exemplo, fixou em 240 mil réis no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, e em 220
mil réis para São Paulo. Essas diferenças eram determinadas pela característica da economia regional, algumas mais
desenvolvidas que outras.
A percepção estratégica da economia de empresas 33

litros/ano. Se não houvesse interferência governamental nesse mercado, esse excesso de oferta
desapareceria com uma gradual redução de preço.
Gráfico 8 – Preço mínimo no mercado de gasolina

Preço 5,5
(R$)
Excesso de oferta
5

4,60
4,5 A B

4 E
3,80
3,5

2,5
Oferta Demanda

2
0 20 40 60 80

Quantidade (bilhões de litros)


Fonte: Elaborado pelo autor.

Nessas condições, o governo pode adotar dois tipos de solução: adquirir o excedente de
produção ou criar um programa de subsídio ao combustível.
No caso de compra do excedente de produção, o governo compraria os 40 bilhões de litros/
ano ao preço de R$ 4,60, dispendendo, para tanto, R$ 184 bilhões, representado pela área retangular
FABG no Gráfico 9, a seguir. Essa aquisição do excedente pode constituir o chamado estoque
regulador, mantido pelo governo e desovado no mercado de acordo com a sua conveniência no vai
e vem dos preços.
Gráfico 9 – Preço mínimo e o programa de compras no mercado de gasolina

5,5
Preço (R$)
Excesso de oferta
5

4,60
A B

4 E
3,80
3,5

2,5
Oferta Demanda
2 F G
0 20 40 60 80

Quantidade (bilhões de litros)


Fonte: Elaborado pelo autor.
34 Economia e Mercado

Já no caso de um programa de subsídio, o governo permite que o preço praticado seja


menor que o preço mínimo – por exemplo, R$ 3,00, que corresponde, segundo a curva da
demanda, à quantidade que os produtores estarão dispostos a ofertar e os consumidores a
comprar. Porém, para manter a receita dos produtores, o governo paga a estes a diferença entre
o preço pago pelo consumidor e o preço mínimo, que se constitui no subsídio.
Gráfico 10 – Preço mínimo e o programa de subsídio no mercado de gasolina
Preço 5,5
(R$)
Excesso de oferta
5
4,60 A B
4,5

4 E
3,80
3,5

3
L M
2,5
Oferta Demanda
2
0 20 40 60 80
Quantidade
(bilhões de litros)
Fonte: Elaborado pelo autor.

Este subsídio pago é representado pelo retângulo LABM do Gráfico 10, que perfaz um
montante de R$ 96 bilhões. O governo deve sempre optar pela política menos dispendiosa para
ele – no caso do exemplo aqui citado é o programa de subsídio.

2.1.5 Elasticidade da demanda


De acordo com o que vimos até agora, podemos dizer que a demanda por um bem ou
serviço depende do seu preço, da renda do consumidor e do preço dos produtos correlacionados
(substitutos, concorrentes e complementares). Vimos que a oferta depende do preço, bem como
de outras variáveis que fazem a curva da oferta se movimentar. Nesse sentido, se a renda do
consumidor aumenta, a demanda também tende a aumentar.
No dia a dia de uma empresa, a grande pergunta que surge é: qual será o valor desse aumento?
E é nesse sentido que se destaca o conceito de elasticidade, que nos permite mensurar o quanto a
quantidade de um determinado bem ou serviço vai se alterar em função da variação do preço do
produto, da renda ou dos produtos correlacionados.

2.1.5.1 Elasticidade-preço da demanda


O conceito de elasticidade-preço da demanda procura avaliar quanto a quantidade de um
bem ou serviço irá variar à medida que seu preço varia, bem como analisar o grau de sensibilidade
do consumidor com relação ao preço do produto. E é por meio do grau de sensibilidade que
conseguimos saber se o produto é essencial ou supérfluo para o consumidor.
A percepção estratégica da economia de empresas 35

Genericamente, calculamos a elasticidade-preço da demanda (Ed) por meio da


seguinte fórmula:
Ed = ΔQ% / ΔP%
onde ∆Q% representa a variação da quantidade em termos percentuais e ∆P% a variação de
preços em termos percentuais.
Como preço e quantidade são inversamente relacionados, o coeficiente elasticidade-preço
da demanda é sempre um número negativo. O resultado obtido nos permite classificar o bem
ou serviço. A demanda será elástica, característica dos produtos chamados supérfluos, quando o
resultado for menor que -1, e inelásticos quando estiver entre -1 e zero.
Nos extremos, se a Ed for igual a zero, dizemos que o produto é totalmente inelástico a preço,
ou seja, num determinado intervalo de variação de preço, a quantidade demandada não varia. No
outro extremo, se a Ed tender a menos infinito, dizemos que o produto é perfeitamente elástico, o
que quer dizer que, dado um preço, a quantidade demandada é infinita.
Suponhamos que um determinado cereal matinal apresente uma variação de preço de +2% e
que, em função desse aumento, a demanda tenha caído 4%. Qual a elasticidade-preço da demanda
desse cereal?
Ed = ∆Q% / ∆P%
Ed = -4 / +2
Ed = -2
O resultado encontrado permite afirmar que esse cereal matinal é elástico a preço, portanto,
supérfluo. A cada 1% de aumento no preço, a quantidade demandada cairá 2%; se o preço cair 1%,
a quantidade demandada aumentará 2%.

2.1.5.2 Elasticidade-renda da demanda


O coeficiente de elasticidade-renda da demanda (Er) mede a variação percentual da
quantidade do produto comprado por unidade de tempo, resultando de uma variação percentual
na renda do consumidor. Assim:
Er = ΔQ% / ΔR%
onde ∆Q% é a variação da quantidade demandada em termos percentuais e ∆R% é a variação
percentual da renda do consumidor.
Quando Er é negativo, dizemos que o produto é um bem inferior, ou seja, um produto
cuja demanda cai à medida que aumenta a renda da sociedade. Se Er for positivo, classificamos
o produto como um bem normal. Um bem normal é usualmente um bem essencial se Er estiver
entre zero e 1; de outra forma, se Er for maior que 1, dizemos que o produto é supérfluo ou de luxo.
Dependendo do nível de renda do consumidor, o conceito de Er pode variar de forma
significativa. Dessa maneira, um bem pode ser de luxo para pessoas de baixo nível de renda e
uma necessidade para os de nível de renda intermediário e ainda um bem inferior para pessoas
de alto nível de renda.
36 Economia e Mercado

Uma pesquisa sobre o mercado de cervejas no Brasil apontou que determinada marca
apresenta um Er = -0,26. Considerando que as projeções indicam que a renda deve aumentar 2,5%
nos próximos anos, que preocupação começa a surgir na fabricante desse produto?
Com base nessas informações, podemos calcular o que acontecerá com a demanda dessa
cerveja. Vejamos, fazendo as devidas substituições pelos valores na fórmula:
Er = ∆Q% / ∆R%
-0,26 = ∆Q% / 2,50
∆Q% = -0,65
Pelo resultado obtido, temos que a quantidade demandada cairá 0,65%. Genericamente,
podemos afirmar que, para cada 1% de aumento na renda do seu público consumidor, eles deixarão
de consumir essa cerveja em 0,65%.

2.1.5.3 Elasticidade-cruzada da demanda


O coeficiente da elasticidade cruzada (Ec) de um produto X com relação a outro produto Y
mede a variação percentual da quantidade de X adquirida em um determinado período, resultante
da variação percentual no preço do produto Y. O cálculo é definido pela fórmula:
Ec = ΔQx% / ΔPy%
Se os produtos X e Y forem bens ou serviços substitutos ou concorrentes, Ec é positivo.
Por outro lado, se X e Y são bens complementares, Ec é negativo. Quando as mercadorias não se
relacionam (isto é, quando são independentes uma da outra), o Ec é igual a zero.
A título de exemplo, consideremos que a elasticidade-cruzada da demanda entre margarina
e manteiga é de 1,53, o que nos permite afirmar que estes produtos são substitutos entre si. A cada
1% de variação no preço da manteiga, a demanda por margarina variará 1,53%. Assim, se o preço
da manteiga cair 5%, a demanda por margarina deverá cair 7,65%, conforme cálculo a seguir:
Ec = ΔQmargarina% / ΔPmanteiga%
1,53 = ΔQmargarina% / -5
ΔQmargarina% = -7,65
Podemos perceber, pelo exemplo, que a elasticidade-cruzada da demanda é uma importante
ferramenta para se analisar como um produto se coloca no mercado com relação à sua concorrência,
permitindo, inclusive, determinar o grau de relacionamento entre eles.

2.1.6 Elasticidade-preço da oferta


Outro importante instrumento para analisar mercados é a elasticidade-preço da oferta (Es),
que mede a variação percentual da quantidade ofertada de um bem ou serviço por unidade de
tempo, resultante de uma dada variação percentual no preço da mercadoria. Assim, esse coeficiente
é calculado utilizando-se a seguinte fórmula:
Es = ΔQ% / ΔP%
A percepção estratégica da economia de empresas 37

Quando a curva da oferta tem inclinação positiva (usual), preço e quantidade movem-se na
mesma direção, portanto, o Es será sempre maior que zero. Para melhor compreensão das variações
na elasticidade-preço da oferta, a curva da oferta diz-se:
• Inelástica, para Es menor que 1 e maior que 0 (0 < Es < 1)
• elasticidade unitária, se Es igual a 1 (Es = 1)
• elástica, quando Es for maior que 1 (Es > 1)

Duas situações extremas podem ocorrer: a de uma oferta perfeitamente inelástica ou rígida,
e a de uma oferta infinitamente elástica ou perfeitamente elástica.
No caso da oferta perfeitamente inelástica, Es é igual a zero, isto é, as quantidades ofertadas
de um produto permanecerão constantes, independentemente das variações que possam sofrer
os preços desse bem ou serviço. O melhor exemplo para tipificar essa situação são os produtos
agrícolas. Ao longo de uma safra, por mais que os preços variem, a quantidade a ser ofertada - em
condições normais - será uma só, e o produtor não tem condições de aumentar ou reduzir a sua
área plantada em função do preço.
Em outra situação, na qual as empresas apresentam altos níveis de estoque, diante da
necessidade de zerá-lo de um dia para outro, a um determinado preço, estaremos diante de uma
elasticidade da oferta infinitamente elástica.

Vídeo 2.2 Teoria da produção


Esse tema envolve as questões referentes não só ao produto ou serviço a ser
produzido, mas também aos tipos e quantidades de insumos – como terra, mão de
obra (braçal e intelectual), matérias-primas e materiais processados, máquinas,
equipamentos, ferramentas, instalações e capacidade de gestão – que serão utilizados
na produção de determinada quantidade do produto.
A título de exemplo, para a produção de um automóvel, são necessários vários
fatores de produção: trabalho (que inclui o trabalho dos operários, dos engenheiros
etc.), capital humano (que inclui o conhecimento e a experiência de cada trabalhador),
capital físico (que inclui máquinas, equipamentos e ferramentas, assim como o
prédio e suas instalações) e a terra (sobre a qual se construiu o prédio). Além disso,
a montadora se utilizou também de muitos outros produtos produzidos por outras
empresas, incluindo-se aí motores, vidros, estofamentos, pneus e matérias-primas
como cabos, tintas, rebites etc. Assim, utilizando-se de uma determinada tecnologia,
que é o método pelo qual os recursos são combinados para produzir bens e serviços,
a montadora consegue produzir o automóvel. Esquematicamente, conforme a Figura
1, temos:
38 Economia e Mercado

Figura 1 – Processo de produção

Processos ou métodos
Fatores de produção Bens e serviços
de produção

Fonte: Elaborada pelo autor.

Todo esse processo de produção pode ser retratado por uma equação, uma tabela ou um
gráfico, desde que mostre as quantidades máximas que se pode produzir de uma mercadoria ou
serviço, em determinado período de tempo, utilizando-se de diferentes combinações de insumos e
quando a melhor técnica de produção disponível é utilizada.

2.2.1 Função de produção


Para que possamos entender os fundamentos que norteiam a teoria da produção, vamos
trabalhar com um exemplo bem simples: uma produção agrícola utiliza uma quantidade de mão de
obra por unidade de tempo para cultivar uma quantidade fixa de terra. A Tabela 3, a seguir, mostra
os volumes possíveis de produção à medida que se varia a quantidade de mão de obra no mesmo
espaço de terra disponível.
Tabela 3 – Produção agrícola

Terra (hectares) Mão de obra (unidades) Produção (toneladas)


10 0 0

10 1 3

10 2 8

10 3 12

10 4 15

10 5 17

10 6 17

10 7 16

10 8 13
Fonte: Elaborada pelo autor.

Podemos representar o fator de produção Terra por K, a Mão de obra, por L, e a Produção por
Q. Observando a Tabela 3, podemos dizer que a produção total depende da terra e da quantidade
de mão de obra, ou seja:
Q = f (K, L)
A percepção estratégica da economia de empresas 39

Nessa fórmula, K não varia, portanto é um fator fixo de produção, e L varia, então é fator
variável de produção. Em outras palavras, a quantidade a ser produzida depende do número de
trabalhadores a serem utilizados em um mesmo espaço de terra.
Os dados da Tabela 3 estão representados graficamente no Gráfico 11, a seguir.
Gráfico 11 – Curva da produção agrícola
Produção 18
total (Q)
16
(toneladas)
14

12 Produção total
10

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Número de trabalhadores (L)

Fonte: Elaborado pelo autor.

Observando o Gráfico 11, constatamos que, à medida que se empregam mais unidades
de mão de obra, a produção cresce, até atingir a produção total máxima (17 toneladas) com 5
trabalhadores – a inclusão do sexto trabalhador nada acrescenta à produção total. A partir desse
ponto, o resultado do emprego de unidades adicionais de trabalho é a diminuição da produção total.
Este fenômeno ocorre pela existência de pelo menos um fator fixo de produção, ou seja, a limitação
de área ou de equipamentos impede o aumento da produção por um excesso de trabalhadores.

2.2.2 O produto médio e o produto marginal


A partir dessas características da produção total, podemos extrair dois conceitos importantes:
produto médio (PMe) e produto marginal (PMg).
O produto médio do trabalho é definido pela produção total (Q) dividida pelo número de
unidades de mão de obra utilizado, como na seguinte fórmula:
PMe = Q / L
40 Economia e Mercado

Já o produto marginal do trabalho é dado pela variação da produção total (∆Q) dividida
pela variação de uma unidade na quantidade de trabalho utilizada (∆L), como na fórmula a seguir:
PMg = ∆Q / ∆L
Em outras palavras, por essa definição podemos ter a ideia de quanto cada trabalhador
adicional contribui para o aumento da produção total.
Com base nesses conceitos, podemos elaborar a Tabela 4, a seguir, na qual temos os valores
do produto médio por trabalhador para cada quantidade utilizada de mão de obra e os valores do
produto marginal, que nos mostram quanto cada trabalhador adicional contribui para o aumento
da produção total.
Tabela 4 – Produto médio e produto marginal na produção agrícola

Terra Mão de obra Produção Produto médio Produto marginal


(hectares) (unidades) (toneladas) PMe = Q/L PMg = ∆Q / ∆L
10 0 0 - -

10 1 3 3,00 3

10 2 8 4,00 5

10 3 12 4,00 4

10 4 15 3,75 3

10 5 17 3,40 2

10 6 17 2,83 0

10 7 16 2,29 -1

10 8 13 1,63 -3
Fonte: Elaborada pelo autor.

Com base nos dados da Tabela 4, podemos elaborar o Gráfico 12, apresentado a seguir,
no qual estão representados os produtos médio e marginal associados as várias quantidades de
trabalho utilizadas e a produção total.
Gráfico 12 – Curvas da produção total, de produto médio e produto marginal
20

Q, Produção Total

15

10
(Q) (toneladas)
Produção Total

5
PMe, Produto Médio

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
PMg, Produto Marginal
-5
Número de trabalhadores (L)
Fonte: Elaborado pelo autor.
A percepção estratégica da economia de empresas 41

Segundo Nogami e Passos (2016), considerando que o PMg foi definido como a variação
na produção total decorrente da variação de uma unidade da mão de obra – um dentre outros
exemplos de fator de produção variável –, cada valor do produto marginal deve ser representado no
ponto médio do intervalo entre duas unidades. A forma da curva de produção total correspondente
é o que determina as formas das curvas de PMe e PMg. Assim, verificamos que tanto o PMe quanto
o PMg crescem, atingem um máximo e então decrescem. É possível perceber, também, que o PMg
está acima do PMe enquanto este aumenta, iguala-se ao PMe quando este atinge seu ponto de
máximo e fica abaixo do PMe à medida que este diminui.

2.2.3 Rendimentos de escala


O comportamento do produto médio e do produto marginal está também relacionado ao
que denominamos rendimentos de escala, que é a relação entre a produção e a utilização de fatores
de produção. O rendimento de escala pode ser utilizado para as análises de eficiência técnica
de produção, e é medido pela quantidade de produto obtido por unidade de fator de produção
empregado, ou seja, pela produtividade.
O aumento da produção só pode chegar até certo volume, pois a produtividade começa a
cair, fazendo decrescer a eficiência produtiva.

2.2.3.1 Rendimentos crescentes de escala


O fenômeno do rendimento crescente de escala ocorre pela especialização no uso do capital
e do trabalho. Como exemplo, podemos citar as seguintes situações:
• A mão de obra se torna mais especializada à medida que o tempo passa, devido ao
processo de aprendizagem que ocorre conforme o trabalhador permanece mais tempo no
exercício de sua função.
• Um aumento no volume de produção, num primeiro momento, faz com que os
equipamentos tenham maior produtividade.
• Um uso mais adequado dos fatores fixos de produção.
• Menores externalidades ou influências externas.
• Eficiência técnica ou uma melhor combinação entre o produto médio e o produto
marginal.
Assim, o que justifica a existência dos rendimentos crescentes de escala é a oportunidade de
especialização do uso do capital e da mão de obra em sua essência.

2.2.3.2 Rendimentos decrescentes de escala


O uso intensivo da unidade de produção pode fazer surgir o fenômeno do rendimento
decrescente de escala, no qual problemas começam a surgir, afetando diretamente os rendimentos
da produção. Esse fenômeno pode ocorrer por problemas de coordenação e controle cada vez
maiores, conforme a escala de produção aumenta, como nas situações exemplificadas a seguir:
• Dificuldades de enviar e receber informações.
• Demora na tomada de decisões.
42 Economia e Mercado

• Capacidade limitada de comando.


• Inflexibilidade.

Os gestores podem, por exemplo, começar a sofrer limitações em sua capacidade de


transmitir e receber informações à medida que a planta começa a se expandir.

2.2.4 A lei dos rendimentos decrescentes


A curva de produto marginal a princípio cresce, atinge o máximo (antes que o produto
médio atinja também seu máximo) e depois declina. O produto marginal torna-se zero quando a
produção total é máxima, e negativo quando a produção total inicia seu declínio. A parte declinante
da curva de PMg ilustra a chamada lei dos rendimentos decrescentes.
Esse fenômeno ocorre quando o produto marginal do trabalho está diminuindo, ou seja,
quando há retornos marginais decrescentes do trabalho: a produção aumenta quando outro
trabalhador é adicionado, mas esse aumento é cada vez menor com trabalhadores adicionais.
Por que isso acontece? Enquanto continuamos a adicionar trabalhadores em nossa unidade de
produção, os ganhos adicionais de especialização e aprendizado serão cada vez menores e, a partir
de um determinado ponto, eles começam a não mais surtir efeito pela existência de pelo menos um
fator fixo de produção.
É o exemplo da nossa unidade de produção agrícola, apresentado na Tabela 3. O fator fixo
terra (10 hectares) faz com que a inclusão da sexta unidade de mão de obra já não contribua para
o crescimento da produção total e, a partir da sétima, a produção total continua a crescer, mas a
proporções decrescentes, até atingir o máximo e, a partir daí, começar a cair – nesse ponto, tem-se
o início da lei dos rendimentos decrescentes.

Vídeo 2.3 Teoria de custos


Ao conversarmos com empreendedores e gestores sobre a sua atividade, uma
das primeiras questões que vem à tona está relacionada a custos. Isso porque eles estão
permanentemente preocupados com a medição e o controle dos custos, procurando
sempre os reduzir o máximo possível. Essas pessoas agem dessa maneira porque, no
dia a dia, procuram obter a maior receita possível ao menor custo, para que possam
ter o maior lucro possível.
Por isso, é importante entender o que são custos, como eles são mensurados e
como eles mudam à medida que a empresa ajusta seus níveis de produção, para que
o maior lucro possa ser obtido.

2.3.1 Custos de produção no curto prazo


Considerando que temos, na produção, pelo menos um fator fixo de produção
e outros variáveis, a empresa tem dois tipos diferentes de fatores de produção e,
portanto, dois tipos diferentes de custos, denominados custos fixos e custos variáveis.
Como a própria definição aponta, os custos fixos são aqueles que não variam em
A percepção estratégica da economia de empresas 43

função da quantidade produzida, enquanto os custos variáveis são aqueles que variam em função
da quantidade produzida.

2.3.1.1 Custos fixos, custos variáveis e custo total


Temos que lembrar que, no curto prazo, pelo menos um fator de produção se mantém fixo.
Independentemente da quantidade produzida, a quantidade de fator fixo se mantém constante.
Outros fatores, no entanto, variam de acordo com a produção. Por causa desses dois tipos de fatores
é que a empresa apresentará dois tipos de custos.
Os custos dos fatores fixos de produção são denominados custos fixos e se mantêm constantes
dentro de um determinado volume de produção. Também são conhecidos como custos indiretos,
pois não dizem respeito diretamente à produção.
Os custos dos fatores variáveis de produção, por sua vez, são os chamados custos variáveis.
Esses custos, tal como o uso de fatores variáveis de produção, aumentam conforme a produção
aumenta. Em muitas empresas, os salários da mão de obra direta e os custos das matérias-primas
são classificados como custos variáveis.
O custo total, por sua vez, é a soma dos custos fixos e dos custos variáveis. É o custo total de
produção para cada nível de produção. Algebricamente, temos então que:
CT = CF + CV
A título de exemplo, temos a Tabela 5, que apresenta esses custos para uma hipotética
empresa e sua produção.
Tabela 5 – Custos fixo, variável e total

Produção Custo fixo Custo variável Custo total


(toneladas/dia) (R$ milhões) (R$ milhões) (R$ milhões)
0 75 0 75
30 75 60 135
90 75 120 195
130 75 180 255
155 75 240 315
172 75 300 375
185 75 360 435
Fonte: Elaborada pelo autor.

A representação gráfica desses custos é dada a seguir, no Gráfico 13.


44 Economia e Mercado

Gráfico 13 – As curvas de custo fixo, variável e total


Preço 500
(R$) Custo total
MM 450 (fixo + variável)
400

350

300

250

200 Custo variável

150

100

50 Custo fixo
0
0 50 100 150 200

Quantidade (toneladas/dia)
Fonte: Elaborado pelo autor.

Nesse gráfico, colocamos os valores no eixo vertical e as quantidades produzidas no eixo


horizontal. O custo fixo é a linha horizontal paralela ao eixo do volume de produção, o que
significa que o custo fixo será de R$ 75 milhões qualquer que seja a quantidade produzida,
mesmo que a empresa não produza nada.
O custo variável, por sua vez, começa em zero quando a produção é zero, para aumentar
à medida que aumenta a produção. Para a produção de 30 toneladas, é de R$ 60 milhões, para
90 toneladas, é de R$ 120 milhões e assim sucessivamente. O formato em curva (custo variável)
deriva da lei dos rendimentos decrescentes. Como se pode observar, enquanto os rendimentos
decrescentes não entram em ação, o custo variável aumenta a uma taxa decrescente. A partir do
momento que começa a vigorar a lei dos rendimentos decrescentes, a curva passa a ter concavidade
voltada para cima, crescendo, portanto, a taxas crescentes.
Já o custo total, em qualquer nível de produção, resulta da soma dos custos fixo e variável.
Assim, começa em R$ 75 milhões e vai aumentando à proporção que aumenta o volume de
produção. Na verdade, conforme podemos observar no Gráfico 13, a curva de custo total é idêntica
a curva de custo variável, mas está acima desta por causa do valor relativo ao custo fixo. Dessa
forma, o custo total para se produzir 30 toneladas é de R$ 135 milhões, para produzir 90 toneladas
é de R$ 195 milhões e assim por diante. Esse exemplo mostra que os custos totais aumentam mais
que proporcionalmente ao aumento da produção, pela própria característica do custo variável.

2.3.1.2 Custo fixo médio, custo variável médio, custo médio e custo marginal
Embora o conceito de custo total seja importante, os conceitos de custos por unidade, para
fins analíticos, são muito mais importantes do ponto de vista estratégico. Nesse contexto, os custos
por unidade são conhecidos como custos médios e dividem-se em três tipos (total, fixo e variável),
cada um obtido dos custos totais.
A percepção estratégica da economia de empresas 45

O custo fixo médio de uma empresa (CFMe) é o custo fixo total (CF) dividido pela quantidade
(Q) produzida, como na fórmula a seguir:
CFMe = CF / Q
Pode-se observar que o custo fixo médio cai de acordo com o aumento do volume de
produção. Isso porque o custo fixo total se mantém constante e, à medida que a produção aumenta,
o custo fixo por unidade produzida cai. É por isso que empresas que têm altos custos fixos buscam
maiores volumes de produção.
O custo variável médio, por sua vez é o custo variável (CV) por unidade produzida,
expresso por:
CVMe = CV / Q
Nesse caso, o que acontece com o custo variável médio à medida que o volume de produção
aumenta? Note-se que esse custo inicialmente cai, atinge um mínimo e depois cresce. A curva,
nesse caso, apresenta a forma de “U” (como se pode ver no Gráfico 14, mais adiante) e a razão
encontra-se na teoria da produção. Podemos afirmar que o custo variável médio é, portanto, o
espelho do produto médio, ou seja, conforme o produto médio aumenta, o custo variável médio
cai, e quando o produto médio cai, o custo variável médio aumenta.
O custo médio (CMe), por outro lado, é obtido dividindo-se o custo total (CT) pelo volume
de produção (Q):
CMe = CT / Q

Podemos observar, também no Gráfico 14, mais adiante, que a curva de custo médio
também tem o formato de “U”. Isso se deve à eficiência com a qual os fatores de produção fixos
e variáveis são utilizados. De início, enquanto a produção aumenta, a eficiência tanto dos fatores
fixos quanto dos variáveis está aumentando. Isso se reflete na diminuição dos custos fixos médios
e dos custos variáveis médios, acarretando uma diminuição no custo médio.
A partir de determinado ponto, o custo variável médio começa a crescer. Entretanto, o
decréscimo nos custos fixos médios mais do que compensa os aumentos nos custos variáveis
médios, e os custos fixos médios continuam decrescendo. Finalmente, o aumento no custo variável
médio mais do que compensa a diminuição no custo fixo médio. O custo médio, então, atinge um
mínimo para aumentar em seguida.
O custo marginal (CMg), por fim, representa o acréscimo no custo total resultante do
aumento em uma unidade na produção. Isso significa que ele corresponde ao custo adicional de se
produzir uma unidade a mais do produto. Ele é dado pela expressão:
CMg = ∆CT / ∆Q
Tomando-se os valores dos custos fixo, variável e total apresentados na Tabela 5, presente na
página 43 e dividindo-os pelas respectivas quantidades, temos os valores representativos dos custos
fixo médio, variável médio e médio a cada nível de produção, conforme a Tabela 6, a seguir.
46 Economia e Mercado

Tabela 6 – Custo fixo médio, custo variável médio, custo médio e custo marginal

Produção CFMe (R$/ CVMe (R$/ CMe (R$/ CMg (R$/


(toneladas/dia) unidade) unidade) unidade) unidade)
0 - - - -

30 2,50 2,00 4,50 2,00

90 0,83 1,33 2,17 1,00

130 0,58 1,38 1,96 1,50

155 0,48 1,55 2,03 2,40

172 0,44 1,74 2,18 3,53

185 0,41 1,95 2,35 4,62

Fonte: Elaborada pelo autor.

Com base nesses valores, obtemos o Gráfico 14, que apresenta as curvas dos conceitos de
custos médios.
Gráfico 14 – Curvas de custos fixo médio (CFMe), variável médio (CVMe), médio (CMe) e marginal (CMg)
Preço 5,00
(R$) CMg
4,50

4,00

3,50

3,00

2,50 CMe

2,00

1,50 CVMe
1,00
CFMe
0,50

0,00
0 50 100 150 200
Quantidade produzida
Fonte: Elaborado pelo autor.

Algumas observações importantes podem ser feitas sobre o Gráfico 14. Excetuando a curva
Economia:
redução nos de custo fixo médio, que cai à medida que a produção aumenta, as demais (custo médio, custo
custos por
um aumento
marginal e custo variável médio) têm o formato de U, por conta das economias e deseconomias
no volume de
de escala. Isso significa que, conforme são melhoradas as condições de produção, os custos caem;
produção.

Deseconomia: por outro lado, assim que a produção começa a apresentar rendimentos decrescentes de escala, os
elevação de
custos começam a aumentar.
custos decorrente
de um aumento
no volume de 2.3.2 Análise do break-even point
produção.

Segundo Nogami e Passos (2016), o break-even point (ponto de equilíbrio) de uma empresa
é definido como o nível de produção e de vendas em que a receita cobre todos os custos incorridos,
fixos e variáveis, ou seja, é o ponto em que o lucro é igual a zero. Em outras palavras, é o mínimo
de produção necessário para que a empresa não incorra em prejuízo.
A percepção estratégica da economia de empresas 47

2.3.2.1 Determinação algébrica


Para determinar o ponto de equilíbrio da empresa, é necessário ter o custo total (CT) e o
faturamento ou receita total (RT). Sabendo-se que o custo total é dado por
CT = CF + CV
e que a receita total, ou seja, o preço de venda do produto (P) multiplicado pela quantidade
(Q) vendida, é dada por
RT = P x Q
e lembrando, ainda, que na condição do break-even point o lucro total (LT) é zero, tem-se
LT = RT – CT = 0
ou seja,
RT = CT
Fazendo as devidas substituições, temos:
P x Q = CF + CV (1)
Sabendo, por outro lado, que dividindo-se o custo variável (CV) pela quantidade produzida,
temos o custo variável médio (CVMe), dados por:
CVMe = CV / Q
CV = CVMe x Q
Substituindo essas informações em (1), temos:
P x Q = CF + CVMe x Q
P x Q – CVMe x Q = CF
Q (P – CVMe) = CF
Q = CF / (P – CFMe)
Essa equação permite encontrar o volume de produção e vendas (Q) no break-even point,
ou o ponto de produção em que a empresa estará com lucro zero, e a partir desse ponto, a empresa
começará a obter lucro.
Esta equação nos permite perceber, também, que estrategicamente a empresa deverá sempre
operar com os menores custos fixo e variável médio e com o maior preço possível para que o
esforço para estar no break-even point seja mínimo. Isso deixará a empresa menos suscetível às
flutuações do mercado, especialmente em momentos de recessão da economia.

2.3.2.2 Determinação gráfica


Para facilitar o entendimento, vamos considerar os valores apresentados na Tabela 7, a seguir.
48 Economia e Mercado

Tabela 7 – Custos, receitas e lucro

Quantidade Receita total Custo total


(unidades) (RT em R$) (CT em R$)
0 0,00 1.000,00

50 500,00 1.250,00

100 1.000,00 1.500,00

150 1.500,00 1.750,00

200 2.000,00 2.000,00

250 2.500,00 2.250,00

300 3.000,00 2.500,00

350 3.500,00 2.750,00


Fonte: Elaborada pelo autor.

Graficamente, temos que as curvas de receita total (RT) e de custo total (CT) são lineares,
conforme o Gráfico 15, a seguir.
Gráfico 15 – O break-even point
Preço 4.000,00
(R$) Lucro
3.500,00
RT > CT
3.000,00
Prejuízo
2.500,00 CT > RT
2.000,00
1.500,00
1.000,00 Break-even point

500,00
0
0 50 100 150 200 250 300 350

Quantidade produzida
Fonte: Elaborado pelo autor.

No Gráfico 15 podemos observar que, para a empresa estar na condição de lucro zero (ou
seja, em seu break-even point), deverá produzir 200 unidades. Se produzir quantidades menores,
deverá incorrer em prejuízo. Portanto, para começar a obter lucro, deverá produzir quantidades
superiores a 200 unidades.
Vimos, então, as ferramentas analíticas e as teorias sobre elas, essenciais para a análise e a
solução de problemas econômicos vivenciados pelas empresas, pelos governos e pela sociedade
como um todo.

Considerações finais
Neste capítulo, estudamos as questões que envolvem a alocação de recursos e os instrumentos
que são utilizados por analistas, gestores e consultores nas decisões estratégicas e táticas tomadas
no gerenciamento das empresas.
A percepção estratégica da economia de empresas 49

A ênfase dada aqui buscou proporcionar as ferramentas analíticas e a percepção gerencial


básica para análise e solução daqueles problemas que possuem consequências econômicas
significativas, tanto para a empresa quanto para a sociedade.

Ampliando seus conhecimentos


• McGUIGAN, James R.; MOYER, R. Charles; HARRIS, Frederick H. de B. Economia de
empresas: aplicações, estratégias e táticas. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
Esse livro é considerado um dos melhores sobre a economia de empresas (microeconomia).
Nele os autores analisam e apresentam caminhos para se encontrar soluções para os
problemas econômicos vivenciados pelas empresas, pelos governos e pela sociedade,
complementando os temas abordados neste capítulo, especialmente no que diz respeito
às estratégias adotadas pelas empresas na gestão de seus custos.

• PORTER, Michael. A vantagem competitiva das nações. Rio de Janeiro: Campus, 1993.
Michael Porter mostra, nessa obra, o que torna as empresas e as indústrias nos mercados
globais competitivas e o que impulsiona toda a economia de um país. Apresenta ainda a
importância de conceitos abordados neste capítulo para que gestores possam maximizar
a riqueza do acionista, adotando estratégias de preços e de produção que maximizem o
fluxo de lucros futuros da empresa.

Atividades
1. Partindo de uma situação de equilíbrio, utilize os mecanismos de oferta e demanda para
explicar o que aconteceria no mercado de beterrabas caso se descobrisse que ela cura o
câncer. Enfoque sua resposta nos preços e nas quantidades demandadas.

2. Entre os bens e serviços que você consome, quais têm elasticidade-renda negativa? Quais
têm elasticidade-renda positiva? Justifique sua resposta, procurando indicar pelo menos
dois bens ou serviços de cada uma dessas elasticidades-renda.

3. Com base nos conhecimentos abordados no capítulo, defina eficiência econômica.

4. Explique por que as curvas de custo marginal, de custo variável médio e de custo médio tem
o formato de “U”.

5. Por que o custo fixo é importante na análise sob a ótica do break-even point?
Referências
MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Rio de Janeiro:
Campus, 2001.

NOGAMI, Otto; PASSOS, Carlos R. Martins. Princípios de economia. 7. ed. São Paulo: Cengage
Learning, 2016.

SALVATORE, Dominick. Microeconomia. São Paulo: McGraw-Hill, 1977.


3
A macroeconomia e a conjuntura econômica

Apesar de existirem algumas divergências entre os especialistas da área sobre como fazer a
economia caminhar, há um consenso com relação ao que ela tem que alcançar. Tanto economistas
como a sociedade concordam com os três objetivos mais importantes da macroeconomia: rápido
crescimento econômico, pleno emprego e preços estabilizados. Atingir esses objetivos significa
fazer os cidadãos se sentirem cada vez melhores.
A macroeconomia estuda o comportamento da economia de um país de forma agregada, ou
seja, não está preocupada em analisar o que acontece, por exemplo, com a indústria têxtil ou no
setor da construção civil, e sim com o comportamento da economia como um todo, por meio dos
principais agregados macroeconômicos, mas sem deixar de lado outros importantes temas como o
nível geral de preços, nível de desemprego, juros etc.
Por isso, neste capítulo, abordaremos mais detalhadamente cada um dos principais objetivos
da macroeconomia.

Vídeo 3.1 Rápido crescimento econômico


Considerando-se o contexto do início da década de 1950, observamos um Brasil
com 54 milhões de habitantes, dos quais 64% moravam em áreas rurais e tinham uma
expectativa de vida de 50 anos; um país predominantemente rural, cuja economia
gravitava em torno da agricultura de exportação, notadamente do café; o salário
mínimo, a valores de hoje, em torno de R$ 492,00; onde andar de avião era um luxo,
assim como ter um aparelho de televisão em casa.
Hoje, temos um cenário diferente e com certeza bem melhor. Uma população
de 210 milhões de habitantes, dos quais 84% moram em área urbana e têm uma
expectativa de vida de 75 anos; a atividade econômica concentrada no setor industrial
e de serviços, com o agronegócio ainda em destaque, para a exportação de soja; um
salário mínimo de R$ 998,00; onde andar de avião é quase tão acessível quanto andar de
ônibus e aparelhos de televisão estão espalhados por vários cômodos das residências.
O que foi responsável por essa significativa mudança? A resposta pode ser dada
com apenas três palavras: rápido crescimento econômico, ou seja, um considerável
crescimento da capacidade produtiva de uma economia, com o passar do tempo.
Isso ocorreu ao longo dos anos à medida que a produção de bens e serviços cresceu
mais rapidamente que a população. Como resultado, o consumo médio das pessoas
aumentou – mais comida, roupas, entretenimento, viagens – se comparamos a 1950.
52 Economia e Mercado

O Gráfico 1, a seguir, ilustra esse crescimento, em dólares norte-americanos (US$), por meio
do Produto Interno Bruto (PIB), que representa o total de bens e serviços produzidos no país.
Gráfico 1 – Evolução do PIB (em US$ bilhões)
3.000,0
2011 2013
2.616,2 2.472,8
2014
2.500,0 2.456,0
2012 2017
2010 2.465,2
2.208,9 2.053,6
2.000,0
2015
1.802,2 2016
1.500,0 2009 1.796,3
1.667,0

1.000,0

500,0
1960
15,2
0,0
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
2018
Fonte: Elaborado pelo autor com base em The World Bank, 2019.

Quando o PIB cresce mais que o contingente populacional, o PIB per capita aumenta,
melhorando o padrão de vida da população, conforme pode ser observado no Gráfico 2. Lembrando
que, segundo Mankiw (2001, p. 552), “a prosperidade econômica, como medida pelo PIB per capita,
varia substancialmente no mundo. A renda média dos países mais ricos é mais de dez vezes a dos
países mais pobres”.
Gráfico 2 – Evolução do PIB per capita e da população brasileira (PIB per capita em US$ e população em
milhões de habitantes)
14.050,0
PIB per capita
12.050,0

10.050,0

8.050,0

6.050,0

4.050,0

2.050,0

50,0
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
2018

Fonte: Elaborado pelo autor com base em The World Bank, 2019.

No Gráfico 2, podemos observar o significativo crescimento do PIB per capita no período


entre 1960 e 2016, medido em dólares norte-americanos. É importante observar, também, que
a distância entre a linha, que representa o PIB per capita e a população, alarga-se ao longo do
A macroeconomia e a conjuntura econômica 53

período, o que significa uma melhora na qualidade de vida do brasileiro. Parte dessa melhora pode
ser explicada pela existência de mais trabalhadores que, por consequência, produzem mais.
Por conta dessas características – mais emprego, maior produção e mais renda –, economistas
e governo ficam preocupados quando o crescimento econômico diminui. O crescimento aumenta
o tamanho do bolo econômico, permitindo a cada cidadão uma fatia cada vez maior. Por essa razão
é que há consenso de que o crescimento da economia é uma boa coisa.
Na prática, porém, o crescimento não beneficia a todos indistintamente. O padrão de vida,
especialmente no caso do Brasil, vai sempre aumentar para determinados grupos em detrimento
de outros, e para alguns pode até mesmo se deteriorar. Normalmente, o crescimento econômico
melhora os padrões de vida dos mais bem qualificados, enquanto os trabalhadores menos
qualificados começam a ficar à margem desse processo de crescimento.
Sandroni (1999, p. 141) salienta que “o crescimento de uma economia é indicado ainda pelo
índice de crescimento da força de trabalho, a proporção da renda nacional poupada e investida e o
grau de aperfeiçoamento tecnológico”.
Entretanto, apesar dessas distorções que o processo pode causar, o crescimento econômico,
quando considerado a longo prazo, acaba beneficiando a sociedade como um todo.

Vídeo 3.2 Pleno emprego


Crescimento econômico é uma das grandes preocupações de todo e qualquer
governo, mas não é a única. Suponhamos que o PIB esteja crescendo a, por exemplo,
2%, mas que 10% da força de trabalho não consiga emprego. Apesar de a economia
estar crescendo, ela não está ocorrendo de acordo com o seu potencial, e o padrão de
vida da sociedade não está tão alto como deveria estar. Dessa forma, há milhões de
pessoas querendo se empregar, as quais poderiam estar produzindo bens e serviços e
obtendo renda, mas estão ociosas.
Pessoas fora do mercado de trabalho implicam, portanto, menor uso de fatores
de produção – homem/hora, capital de giro, matérias-primas etc. Essa é uma das
razões para que o nível de emprego, alto ou baixo, constitua-se também como uma
das grandes preocupações da macroeconomia.
Existe, no entanto, uma outra razão. Além do impacto sobre o padrão de vida da
sociedade, o desemprego afeta o bem-estar econômico entre os cidadãos. Isso porque,
à medida que temos menos renda sendo gerada na economia, cai a capacidade da
sociedade de adquirir bens e serviços, ou seja, cai o nível de consumo das famílias. E
mesmo que muitos desempregados recebam o seguro desemprego, ou qualquer outro
tipo de benefício, sem dúvida o desempregado terá um padrão de vida mais baixo que
o empregado.
Um indicador utilizado para medir o nível de empregabilidade é a taxa de desemprego – um
percentual da força de trabalho1 que gostaria de trabalhar, mas não consegue encontrar emprego.

1 A força de trabalho corresponde à população economicamente ativa (PEA), formada pelos habitantes que representam
a capacidade produtiva do país, ou seja, que estão entre os 15 e os 60 anos de idade.
54 Economia e Mercado

O Gráfico 3, a seguir, mostra a taxa de desemprego entre janeiro de 2003 e fevereiro de 2016,
quando essa série foi descontinuada e substituída pela taxa de desocupação trimestral. O Gráfico 4
apresenta, também, o comportamento desse indicador de março de 2012 até abril de 2019.
Gráfico 3 – Taxa de desemprego nas regiões metropolitanas2
14

12

10
FEV 2016: 8,0%

jul/16
jan/03

jan/06

jan/07

jan/09

jan/12

jan/15

jan/16
jul/12

jul/15
jul/06

jul/07
jan/08
jan/05

jan/11

jan/14
jul/04

jul/08

jul/10

jul/13
jul/05

jul/11

jul/14
jul/03

jul/09
jan/10

jan/13
jan/04

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bacen, 2019.

Observe que a taxa de desemprego, em seu melhor momento, chegou a 4,3%. Um detalhe
importante a ser observado é que ela nunca será zero, pois sempre haverá pessoas procurando
emprego, mesmo que a economia esteja a todo o vapor. Nesse mesmo gráfico, os meses de agosto de
2003 e abril de 2004 foram os que apresentaram o maior índice de desemprego, chegando a 13,1%.
Já no Gráfico 4, que compreende do primeiro trimestre de 2012 ao primeiro trimestre
de 2019, podemos observar que o melhor momento em termos de desocupação foi no último
trimestre de 2013, com uma taxa de 6,2%, enquanto o pior foi no primeiro trimestre de 2017,
quando a desocupação atingiu 13,7%. A exemplo do que aconteceu no início de 2003, desde
abril de 2016, a economia brasileira tem apresentado índices de desocupação superiores a 11%,
ou seja, aproximadamente um em cada dez indivíduos da população economicamente ativa está
sem trabalho.

2 O instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estabelece como cidades-sede das regiões metropolitanas no
Brasil: Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
A macroeconomia e a conjuntura econômica 55

Gráfico 4 – Taxa de desocupação trimestral (trimestre móvel, em %)


15
14 FEV/MAR/ABR 2019
12,5%
13
12

11

10

9
8
7
6

5
abr/12
ju/12
out/12
jan/13
abr/13
jul/13

jan/14
abr/14
jul/14
out/14
jan/15
abr/15
jul/15
out/15
jan/16

jul/16
out/16
jan/17
abr/17
jul/17
out/17
jan/18
abr/18
jul/18
abr/16
out/13

jan/19
out/18
jan/12

abr/19
Fonte: Elaborado pelo autor com base em IBGE, 2019.

Quando as empresas estão com alto nível de produção, elas contratam trabalhadores;
quando elas produzem menos, tendem a dispensar trabalhadores. Isso nos permite perceber que
há uma relação direta entre a performance do PIB e o mercado de trabalho. Nos anos recentes,
podemos observar que cada 1% de queda no PIB está associada à eliminação de milhões de postos
de trabalho. Assim, para que possamos ter um alto nível de empregabilidade na economia, será
necessário um PIB alto e estável ao longo dos anos. Outro detalhe importante a ser observado
é que, com a evolução da tecnologia, começa a ter força o chamado desemprego tecnológico ou
estrutural, que, segundo Sandroni (1999, p. 168),
origina-se das mudanças na tecnologia de produção (aumento da mecanização e
automação) ou nos padrões de demanda dos consumidores (tornando obsoletas
certas indústrias e profissões e fazendo surgir outras novas). Nos dois casos,
grande número de trabalhadores fica desempregado em curto prazo, enquanto
uma minoria especializada é beneficiada pela valorização de sua mão de obra.

Portanto, especialmente no início deste século XXI, temos observado que, à medida que a
tecnologia e os processos de comunicação evoluem de forma exponencial e que são desenvolvidos
novos modos de produção utilizando cada vez menos mão de obra, os índices de desemprego
crescem cada vez mais, principalmente nas economias mais desenvolvidas.

Vídeo 3.3 Inflação sob controle


A inflação é o aumento persistente e generalizado no nível geral de preços, cuja
origem pode estar no aumento de custos ou no aumento da demanda. Nesse sentido,
a maior preocupação no que se refere à inflação é que ela tira o poder de compra das
pessoas, uma vez que a renda se mantém constante num determinado período.
O Gráfico 5 mostra a taxa de inflação anual, medida pelo índice de preços
ao consumidor amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), entre 1995 e 2018, com uma média de 6,98% ao ano. No período
considerado, com início no Plano Real, quando o governo começa efetivamente a
controlar a alta dos preços, observamos momentos de inflação mais alta até 2002, mas
56 Economia e Mercado

mantendo-se abaixo da média ao longo dos anos, até que, em 2015, ela ultrapassa os 10%. As razões
para este aumento discutiremos mais adiante, quando abordarmos a política monetária.
Gráfico 5 – Índice de preços ao consumidor amplo (% ao ano)
25
22,41

20

15
12,53
10,67
10 9,56 8,94 9,30
7,60
7,67 6,50
5,69 5,90 5,90 5,91
5,22 4,45 7,20 3,75
5 5,97 6,29
5,83
4,31
3,14 2,95
1,66
0
95

96
97
98
99

00
01
02
03

04
05
06
07

08
09
10
11

12
13
14
15

16
17
18
19

19
19
19
19

20
20
20
20

20
20
20
20

20
20
20
20

20
20
20
20

20
20
20
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bacen, 2019.

De qualquer maneira, o momento atual tem sido uma experiência nova, depois de décadas
com processos inflacionários extremamente altos, com elevações de preços chegando a 2% ao dia,
que levaram o governo a criar planos econômicos (Plano Cruzado, Plano Verão, Plano Bresser e
Plano Collor) para debelar esses aumentos, elaborando até mecanismos para minimizar o impacto
social dessas altas, como foi o caso da Correção Monetária.
O Gráfico 6, a seguir, mostra esses momentos vividos pela economia brasileira com base em
outro indicador de inflação, denominado Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-
DI), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Criado em 1944, esse foi o indicador oficial
de inflação no Brasil até dezembro de 1979, quando foi substituído pelo IPCA, em janeiro de 1980.
Gráfico 6 – Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (% ano)
3.000

2.500

2.000

1.500

1.000

500

0
1945
1947
1949
1951
1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
2011
2013
2015
2017
2018

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bacen, 2019.


A macroeconomia e a conjuntura econômica 57

Observando esse gráfico, podemos constatar que o período mais crítico da inflação, desde
1945, foi entre os anos de 1988 e 1994, com o recorde em 1993 quando a inflação atingiu 2.477,15%,
ou seja, 0,89% ao dia.
Os dados do período anterior a 1995 podem ser vistos no Gráfico 7, o qual mostra o
comportamento dos preços entre 1945 e 1987. Podemos observar que, em 1964, a inflação se
aproximou dos 100%, atingindo a marca de 92,12%. Em 1965, foi adotado um ambicioso programa
de reformas, o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), que tinha três objetivos básicos:
equilibrar as contas públicas, controlar a inflação e desenvolver o mercado de crédito. Nesse
conjunto, também foi criada a Correção Monetária, mecanismo inovador que permitia o reajuste
dos contratos, títulos públicos e dívidas tributárias com base na inflação passada.
Outra inovação foi a criação do Banco Central, instituição que recebeu a missão de controlar
a oferta de moeda na economia, antes papel do Banco do Brasil. Para minimizar a corrosão dos
salários em função da inflação, foi criado um mecanismo que previa a reposição da inflação passada
e a incorporação de parte da inflação projetada para o futuro.
Entretanto, em 1979, após forte período de crescimento da economia brasileira, evidencia-se
o esgotamento do modelo adotado para promover o crescimento e a inflação volta com todo vigor.
Sem dúvida o novo choque nos preços do petróleo, que atingiu a economia mundial, contribuiu
para o recrudescimento da inflação, associado ao escasseamento do capital estrangeiro que vinha recrudescimento:
surgimento
financiando os investimentos no Brasil. Assim, junto com a inflação, a dívida externa cresce, com maior
intensidade.
esgotando as reservas cambiais, deixando o país em uma situação altamente crítica.
Gráfico 7 – Inflação brasileira: 1945 a 1987 (% ao ano)
400

350

300

250

200

150

100

50

0
1945 1947 1949 1951 1953 1955 1957 1959 1961 1963 1965 1967 1969 1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bacen, 2019.

Em 1986, em uma tentativa de segurar os preços, foi editado o Plano Cruzado, um conjunto
de medidas econômicas, dentre as quais se destacam o congelamento dos preços, que permitiu
trazer a inflação ao patamar de 79,66%, e a criação de um novo padrão monetário, denominado
Cruzado (Cz$). Porém, o plano não era sustentável. Fixar preços abaixo do que é praticado pelo
mercado leva os produtores a ofertarem menores quantidades, aumentado a escassez dos produtos.
58 Economia e Mercado

Ágio:
Como o congelamento não permite o ajuste automático de preços, começa-se a prática do ágio nas
diferença que
o comparador transações e acaba se consolidando o mercado ilegal. Com isso, a inflação dispara novamente e a
paga a mais
sobre o valor
economia entra em colapso.
nominal de
um produto ou Pouco mais de um ano depois da adoção do Plano Cruzado, foi editado um novo plano
serviço.
de estabilização da economia brasileira, o Plano Bresser, que também previa o congelamento
de preços, só que, nesse caso, por apenas 90 dias. Entretanto, essa tentativa de segurar os preços
também não surtiu o efeito desejado, e a inflação retomou rapidamente seu ritmo de crescimento.
O Gráfico 8, a seguir, mostra o momento mais crítico da nossa economia no que diz
respeito à inflação.
Gráfico 8 – Inflação brasileira: 1988 a 1994 (% ao ano)
3.000

2.500 2.477,15

2.000 1.972,91

1.620,97
1.500

1.119,09
1.000 980,22 916,43

500 472,69

0
1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bacen, 2019.

A inflação média, nos sete anos registrados no gráfico apresentado, foi de 24% ao mês. Em
1989, ano em que a inflação atingiu o patamar de 1.972,91%, foi editado o Plano Verão, outro plano
de estabilização da economia brasileira, o qual tinha como meta controlar a inflação.
Em linhas gerais, o plano modificava os critérios de remuneração da caderneta de poupança
e congelava os preços e os salários. Ele instituiu uma moeda nova, denominada Cruzado Novo
(NCz$), e previa a desindexação da economia. A edição desse plano também não causou o efeito
desejado e deixou evidente que, para o combate à inflação, não bastaria apenas a adoção de medidas
destinadas a eliminar a indexação generalizada da economia, e sim um equacionamento firme do
déficit público.
Em 1990, com um novo governo decidido a combater o alto processo inflacionário, foi
apresentado o Plano Brasil Novo, o qual ficou conhecido como Plano Collor. Esse plano propunha
um conjunto de reformas econômicas para a estabilização da inflação e se caracterizou por uma
combinação de liberação fiscal e financeira, com medidas radicais e estabilização da inflação,
restringindo o fluxo monetário para combater a chamada inflação inercial (memória inflacionária
associada à inflação passada mais a expectativa futura), o que causou uma forte redução no
comércio e na produção industrial.
A macroeconomia e a conjuntura econômica 59

Após alguns meses, a inflação começou a reduzir, chegando a 472,69%, em 1991, mas
voltando a subir rapidamente, até chegar a 2.477,15%, em 1993. O fracasso do plano pode ser
atribuído à falha do governo em controlar a remonetização da economia, pois acabou oferecendo
concessões que aumentaram o fluxo de dinheiro na economia.
Em uma nova tentativa de combater a inflação, surge outro plano de estabilização e de
reformas econômicas, o Plano Real, o qual visava a desindexação da economia e previa o lançamento
de uma nova moeda, o Real (R$). Observando-se as várias reformas econômicas e monetárias
realizadas anteriormente para conter a inflação, a implementação do Plano Real se mostrou, ao
longo dos meses e anos subsequentes, o mais eficaz da história econômica do país, ampliando o
poder de compra das famílias e remodelando vários setores da economia nacional.
A história da inflação no Brasil mostra a importância desse tema e de se estabelecer
uma essencial meta macroeconômica: manter a inflação baixa. Isso porque a inflação é danosa à
sociedade, ela é um custo social. Com uma inflação anual de milhares percentuais, o custo é fácil de
ser percebido: o valor da moeda – seu poder de compra – declina tão rapidamente que as pessoas não
têm o desejo de manter sua liquidez monetária. As pessoas começam a gastar grande parte do seu
tempo em negociações uns com os outros, o que acaba levando a uma redução do padrão de vida.
Com a inflação mais modesta, no patamar de um dígito (como o Brasil tem vivido nos últimos
anos), os custos para a sociedade são menores e menos graves. Mas eles ainda são importantes. Se o
governo tem a intenção de baixar ainda mais a inflação, que já está baixa, ações corretivas por parte
dele também podem causar consequências dolorosas, que podem derrubar o nível de produção e
elevar o nível de desemprego.
Isso faz levantar uma série de questionamentos. Como, precisamente, uma inflação baixa
prejudica a sociedade? Por que a recessão reduz a inflação? Como um governo cria uma recessão?
As respostas para essas perguntas vamos encontrar ao longo deste curso, mas já podemos
adiantar que, como vimos no capítulo 2, tudo gravita em torno dos conceitos de oferta e demanda.
À medida que temos um excesso de oferta no mercado como um todo, os preços tendem a cair,
trazendo, portanto, a inflação para baixo.
A inflação baixa não é uma boa sinalização para a sociedade, pois pode mostrar que não há
uma predisposição das famílias demandarem frente à oferta de bens e serviços. E os empresários,
na necessidade de fazerem caixa para poderem honrar seus compromissos financeiros, tendem a
reduzir preços. Além disso, demanda reduzida e estoques aumentando fazem o produtor diminuir
seu ritmo de atividade, o que implica em menos utilização de fatores de produção, ou seja, cria-se
desemprego e faz-se cair a renda.
A recessão, por si só, é a conjunção de fatores que levam a atividade econômica ao declínio,
caracterizada por uma queda no volume de produção e uma consequente queda no nível de
utilização da capacidade instalada, além de levar ao aumento do desemprego e, por consequência,
à queda de renda. E essa queda de renda repercute sobre a demanda, que leva a uma queda de
produção; ou seja, começa-se a configurar uma depressão ou uma crise econômica. Essa queda na
demanda em relação à oferta faz os preços caírem, reduzindo a inflação.
60 Economia e Mercado

Não podemos esquecer que o governo é o segundo maior consumidor da economia.


Assim, em função de um déficit fiscal que começa a comprometer a dívida pública – obrigando
o governo a reduzir seus gastos, mas sem poder reduzir a arrecadação – o nível de demanda da
sociedade cai, o que acaba comprometendo o nível de atividade econômica.

Considerações finais
Neste capítulo, vimos, de maneira ampla, como a economia do país se comportou nos
últimos anos. Abordamos ainda a questão do PIB, que apresentou rápido crescimento nas décadas
mais recentes, com o nível de desemprego caindo próximo ao pleno emprego e a inflação domada.
Entretanto, a situação se reverte, com a atividade econômica em compasso lento, o nível de
empregabilidade em patamares desconfortáveis e uma inflação em queda devido a uma diminuição
na demanda.
Esses são os desafios que as economias mundiais enfrentarão nas próximas décadas. As
economias mais desenvolvidas crescendo de forma lenta, ao contrário dos países emergentes, que
tendem a apresentar índices de crescimento mais forte, elevando os níveis de renda e trazendo mais
bem-estar às sociedades. A questão da empregabilidade também estará sempre em pauta, à medida que
surgem novos modos de produção, utilizando quantidades cada vez menores de fatores de produção.

Ampliando seus conhecimentos


• CARVALHO, Laura. Valsa brasileira: do boom ao caos econômico. São Paulo: Todavia, 2018.
Nesse livro, a autora apresenta uma reflexão importante sobre o que aconteceu em
nosso país entre 2006 e 2017, anos em que vivenciamos maior prosperidade até uma
crise sem precedentes. Essa leitura complementa o tema abordado na seção “Rápido
crescimento econômico”.

• BHAGWATI, Jagdish. Em defesa da globalização. Rio de Janeiro: Campus, 2004.


Essa obra analisa os prós e os contras da principal polêmica do século na área econômica, a
qual divide opiniões sobre a globalização. Esse livro de Jagdish Bhagwati foi recomendado
inclusive por Paul A. Samuelson, prêmio Nobel de Economia.

Atividades
1. O que se entende por crescimento econômico?

2. O que significa PIB per capita?

3. O que se entende por taxa de desemprego?

4. Considerando a inflação e o impacto que ela causa nos preços ao consumidor, explique o
efeito que ela tem sobre pessoas que têm renda fixa.
A macroeconomia e a conjuntura econômica 61

5. Com base nos conhecimentos e conceitos abordados no capítulo, reflita e responda: é


melhor ter pleno emprego com inflação moderada ou um desemprego moderado sem
inflação? Por quê?

Referências
BACEN – Banco Central do Brasil. SGS – Sistema Gerenciador de Séries Temporais – v.2.1. Disponível em:
https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries.
Acesso em: 6 set. 2019.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
- PNAD Contínua. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9171-pesquisa-
nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-mensal.html?=&t=o-que-e. Acesso em: 6 set. 2019.

MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Rio de Janeiro:


Campus, 2001.

NOGAMI, Otto; PASSOS, Carlos R. M. Princípios de economia. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016.

SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best Seller, 1999.

THE WORLD BANK. Indicators. Disponível em: https://data.worldbank.org/indicator/. Acesso em: 6 set. 2019.
4
Mensuração e estrutura das contas nacionais

As análises macroeconômicas são importantes para que o governo tenha informações sobre
a atividade econômica para estabelecer programas que permitam fazer a economia crescer e se
desenvolver. Dessa forma, torna-se necessária a utilização de métodos que permitam mensurar
a atividade econômica.
Na atividade empresarial, para medirmos a performance da empresa, utilizamos instrumentos
contábeis para poder apurar o Balanço Patrimonial e o Demonstrativo de Resultados do Exercício.
Como um país não deixa de ser uma grande empresa, para medirmos a atividade econômica,
temos que recorrer também à contabilidade, denominada Contabilidade Nacional, da qual se
extraem dados e informações para a formulação de políticas econômicas. Portanto, a importância
da Contabilidade Nacional está no fato de ela possibilitar que seja medido o desempenho da
economia e que sejam entendidas as relações básicas entre produto, renda e despesa.

Vídeo 4.1 A Contabilidade Nacional


A Contabilidade Nacional trata da contabilização das atividades econômicas
internas e externas de um país em determinado período. E tal como na contabilidade
gerencial, na Contabilidade Nacional também precisamos de uma ferramenta
importante, conhecida como contas razão, conforme ilustrado no Quadro 1, de
forma resumida. E, de uma maneira bem simples, podemos retratar toda a atividade
econômica utilizando apenas cinco contas básicas:
• Conta de Produção: nela se identificam o produto nacional e a despesa
nacional.
• Conta de Apropriação: também chamada de conta das famílias, mostra como
a renda é utilizada entre consumo, pagamento de impostos e poupança.
• Conta de Capital: é equivalente à identidade entre poupança e investimento,
ou seja, é quem financia os investimentos na economia.
• Conta Corrente do Governo: retrata as receitas e despesas do setor público.
• Conta Resto do Mundo: retrata as relações comerciais que o país mantém
com outras economias.
Essas contas permitem observar o fluxo de renda e produto da economia. Grande
parte dos agregados macroeconômicos são pinçados dessas contas, que servem de base
para a análise do nível de atividade econômica e para a elaboração de políticas públicas
por parte do governo.
64 Economia e Mercado

A Contabilidade Nacional é, portanto, uma metodologia que permite registrar e


quantificar o dia a dia da economia de forma sistemática e coerente. Em 1993, a Organização
das Nações Unidas (ONU) implementou um novo Sistema Nacional de Contas (SNC93), uma
nova metodologia de apuração das contas nacionais, que visa reproduzir os aspectos essenciais
do circuito econômico, tais como:
• produção;
• geração de renda;
• consumo;
• financiamento para investimentos;
• acumulação de capital; e
• relações com o mundo externo.

Esse sistema vigora ainda nos dias de hoje e é adotado pelo Fundo Monetário Internacional
(FMI) na definição das regras para a elaboração do Balanço de Pagamentos.
A Contabilidade Nacional também tem importância fundamental ao contribuir com seus
dados para as análises e os testes macroeconômicos. Esses dados são importantes e impactam
o cenário político e a economia, em especial o mercado financeiro, pois descrevem os aspectos
da economia que afetam diretamente o dia a dia das pessoas e da sociedade como um todo. O
propósito deste capítulo, portanto, não é o de explicar o que faz esses indicadores subirem ou
caírem, mas sim entender o significado de cada um deles.
Quadro 1 – Contas razão da Contabilidade Nacional

Conta Produção Conta Apropriação Conta Governo

1. Pagamento de 2. Consumo das 2. Consumo das 1. Recebimento de 4. Gastos do


3. Impostos
Renda Famílias Famílias Renda Governo
4. Gastos do 3. Impostos 6. Poupança do
Governo Governo
5. Poupança das Gastos do
7. Investimentos Famílias Arrecadação
Governo
8. Exportações Despesa
Renda Nacional
(9. Importações) Nacional

PIB
Renda Nacional Produto Interno
Bruto Conta Investimentos Conta Resto do Mundo

5. Poupança das 8. Importações 9. Exportações


7. Investimentos
Famílias
6. Poupança do 10. Poupança
Governo Externa

10. Poupança Balanço de pagamentos


Externa

FBCF Poupança Nacional

Fonte: Elaborado pelo autor.

Observando o Quadro 1, podemos entender toda a lógica que está presente na Contabilidade
Nacional, com suas contas razão e o uso do princípio das partidas dobradas. Segundo Sandroni
Mensuração e estrutura das contas nacionais 65

(1999, p. 448), as partidas dobradas são um “sistema de contabilidade, também denominado


Método de Veneza, em que os registros são colocados simultaneamente no ativo e no passivo,
sendo que a soma dos elementos do primeiro deve ser igual à soma dos elementos do segundo”.
Vamos acompanhar, passo a passo, os lançamentos nas contas razão da Contabilidade Nacional:
1. Todo o processo começa com o pagamento de renda por parte das empresas às
famílias. Assim, lança-se esse pagamento a débito na Conta Produção e a crédito na
Conta Apropriação.
2. Com o recebimento da renda por parte das famílias, primeiro elas vão gastar no
consumo de bens e serviços produzidos pelas empresas. Assim, lança-se o consumo das
famílias a débito na Conta Apropriação e a crédito na Conta Produção, pois as empresas
produziram e venderam sua produção para as famílias.
3. Com a renda, as famílias também pagam impostos ao governo. Estes vão a débito na
Conta de Apropriação e a crédito na Conta Governo.
4. O governo, com essa arrecadação, irá realizar os seus gastos do governo. Debitam-se
essas despesas da Conta Governo e creditam-se na Conta Produção, afinal, o governo
é o segundo maior consumidor da economia, demandando bens e serviços produzidos
pelas empresas.
5. Depois de consumirem e pagarem impostos, a sobra da renda das famílias denomina-se
poupança das famílias, que pode ser negativa se as famílias gastarem, no todo, mais que
a sua renda. Essa poupança então é lançada a débito na Conta de Apropriação e a crédito
na Conta Investimentos.
6. Se o governo gastar menos do que arrecada, ele estará também fazendo poupança,
denominada poupança de governo. Assim, essa conta irá a débito na Conta de Governo
e a crédito na Conta Investimentos.
7. Essas poupanças, das famílias e do governo, serão utilizadas na Formação Bruta de
Capital Fixo (FBCF), ou investimentos, que é a aquisição de máquinas, equipamentos,
ferramentas, instalações para adequar ou ampliar as condições de produção das empresas.
Dessa forma, essas despesas serão lançadas a débito na Conta Investimentos e a crédito
na Conta Produção.
8. Nem tudo o que é produzido no país é destinado ao mercado interno; parte dessa
produção é destinada à exportação. Como a exportação de bens e serviços representa
uma receita das empresas, essa conta é lançada a crédito na Conta Produção e a
débito na Conta Resto do Mundo, afinal, as outras economias estão adquirindo
nossos bens e serviços.
9. À medida que nenhuma economia é autossuficiente, surge a necessidade de adquirir bens,
serviços, matérias-primas, entre outros, do mercado externo. Como essa dependência
retrata uma “incompetência” do país, ela deverá ser compensada da nossa “competência”
exportadora. Dessa forma, a conta importação é lançada como uma conta redutora da
66 Economia e Mercado

exportação, que está lançada como crédito na Conta Produção, e como débito na Conta
Resto do Mundo.
10. Se na Conta Resto do Mundo o total exportado for maior que a importação, na
contabilidade significa que estamos com um déficit em nossas contas externas, ou seja,
alguém lá fora está financiando essa situação, alguma poupança externa. Como é uma
poupança, ela será lançada na Conta Investimento como crédito e na Conta Resto do
Mundo como débito.

Vamos observar, agora, como esses lançamentos são realizados, na prática, de forma
resumida. Tomemos por base as Contas Nacionais do Brasil no ano de 2018, a valores correntes,
que ilustram o Quadro 2.
Quadro 2 – Contas Nacionais 2018 (valores em R$ bilhões)

Conta Produção Conta Apropriação Conta Governo

1. Pagamento de 2. Consumo das 2. Consumo das 1. Recebimento de 5. Gastos do


3. Impostos
Renda Famílias Famílias Renda Governo
994,5
6.827,6 4.392,4 4.392,4 6.827,6 1.346,1
4. Gastos do 3. Impostos 6. Poupança do
Governo 994,5 Governo
1.346,1 5. Poupança das (351,6)
7. Investimentos Famílias Gastos do
Arrecadação
1.053,0 1.440,7 Governo
994,5
8. Exportações Despesa Renda 994,5
1.010,9 Nacional Nacional
(9. Importações 6.827,6 6.827,6
974,8)
PIB Conta Resto do Mundo
Renda
Produto Interno
Nacional Conta Investimentos
Bruto 8. Importações 9. Exportações
6.827,6
6.827,6 5. Poupança das 1.010,9 974,8
7. Investimentos
Famílias 10. Poupança
1.053,0
1.440,7 Externa
6. Poupança do (36,1)
Governo
Balanço de Pagamentos
(351,6)
10. Poupança
Externa
(36,1)
FBCF Poupança Nacional
1.053,0 1.053,0

Fonte: Elaborado pelo autor com base em IBGE, 2019.

Com esses lançamentos feitos, podemos fechar as contas razão, sempre igualando débito e
crédito de cada uma delas, começando pelas contas externas.
Na Conta Resto do Mundo, temos que exportação deve ser igual à importação, condição de
equilíbrio das contas externas. Como o campo das relações internacionais não se restringe apenas
ao fluxo de comércio, existe um sistema de registro sistemático de todas as transações econômicas
Mensuração e estrutura das contas nacionais 67

realizadas entre residentes e não residentes de um país, ocorridas em um certo período, denominado
Balanço de Pagamentos, tema que será visto mais adiante.
A Conta Investimentos nos mostra que os recursos utilizados na formação bruta de
capital fixo são oriundos da Poupança Nacional, constituída pelas poupanças das famílias, de
governo e externa. Observando o Quadro 2, podemos constatar que o país teria condições de
investir muito mais se não fossem as poupanças negativas do governo (governo gastando mais
do que arrecada) e da Conta Resto do Mundo (contas externas deficitárias). Como os saldos
finais devem ser iguais, temos que
Formação Bruta de Capital Fixo = Poupança Nacional
o que significa que os investimentos em uma economia são suportados pela poupança nacional.
Assim, se não houver poupança, não haverá investimentos.
No que diz respeito à Conta de Governo, fica claro que todos os dispêndios realizados pelo
governo são financiados pela arrecadação (impostos, taxas e contribuições) que incide sobre as
famílias, ou seja, nessas condições é desejável, sempre, que
Gastos de Governo = Arrecadação
ou seja, que o governo gaste estritamente o que ele arrecada (condição de equilíbrio fiscal).
Entretanto, como pode ser observado no Quadro 2, à medida que os gastos governamentais
superam a arrecadação, cria-se uma situação deficitária, ou de poupança negativa, que acaba
comprometendo os investimentos do setor privado da economia.
Na Conta de Apropriação, podemos observar a forma como a renda é utilizada pelas
famílias – consumo, pagamento de impostos e o que sobra para poupança. Como há também a
necessidade de se igualar as entradas e o uso desses recursos, temos que
Renda Nacional = Despesa Nacional
Essa identidade nos diz que a renda de todas as famílias do país deve se igualar à destinação
que elas dão a esses recursos. Se porventura os dispêndios em consumo e pagamento de impostos
superar a renda auferida pelas famílias, elas estarão endividadas, o que representa uma poupança
negativa, que também poderá comprometer os investimentos no país.
A Conta Produção mostra, pela ótica da despesa, a destinação dada à produção ou, mais
precisamente, o quanto foi para as famílias, para o governo, para os investimentos ou para outros
países. E toda essa produção é a responsável pela geração de renda na economia, o que nos
permite dizer que
Produto Nacional = Renda Nacional.
A coluna crédito dessa conta, que nos mostra o total do Produto Nacional, nada mais é do
que o Produto Interno Bruto (PIB).
68 Economia e Mercado

Vídeo 4.2 Produto Interno Bruto (PIB)


O PIB é definido como o valor total, a preço de mercado, do que foi produzido e
comercializado de bens e serviços finais realizados dentro de um país, independentemente da
nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras.
Falamos em valor total por não termos como somar caminhões com laranjas. Dessa
forma, todos os bens e serviços são tratados por seu valor de mercado em reais (R$), o que
permite uma unidade comum de medida para qualquer coisa que a economia produza – bens
de alto ou de baixo valor agregado.
Um bem é tudo aquilo que permite satisfazer as necessidades e os desejos das pessoas.
Eles são relativamente escassos, supõem a existência de um esforço humano em produzi-lo
e são de natureza material, portanto, tangíveis. O serviço, ao contrário, é intangível. Fazem
parte dessa categoria os serviços de transportes e os de médicos e dentistas, por exemplo, nos
quais a utilização e a produção correm instantaneamente.
Outro detalhe importante é que eles não podem ser estocados. Os serviços finais
representam parte significativa no PIB do Brasil, e vêm se tornando uma parte cada vez mais
importante da nossa produção total nas últimas décadas. De acordo com os dados do IBGE,
o setor de serviços cresceu de 58,1% da produção total em 1995 para 62,6% da produção total
em 2018 (PERET, 2019).
A palavra finais especifica que não estamos falando de todos os produtos e serviços
produzidos no país, apenas daqueles que serão comercializados para os usuários finais. Como
exemplo, temos a farinha de trigo. Se ela for vendida para uma padaria que produzirá pães
para vender às famílias, ela não entra no cômputo do PIB, pois nessa condição é classificada
como um insumo de produção. Por outro lado, a farinha de trigo comporá o cálculo do PIB
se for vendida para uma família que fará um pão em casa – nesse caso, a venda está sendo
realizada para um consumidor final.
Para que um item componha o PIB, ele tem que ser produzido. Isso pode parecer óbvio,
mas é fácil de se esquecer. Todos os dias nós compramos bilhões de reais em bens que não
são produzidos, ou pelo menos não foram produzidos no mesmo ano, e por isso não são
contabilizados no PIB. Por exemplo, podemos comprar terrenos ou ativos financeiros, como
ações ou títulos. Embora essas coisas custem dinheiro, elas não estão contabilizadas no PIB,
porque não são bens e serviços produzidos. A terra (e os recursos que estão sobre ou sob ela)
não são frutos da produção, e os ativos financeiros representam apenas direitos que oferecerão
uma remuneração no futuro, portanto, não são bens ou serviços.
Nós também compramos, todos os dias, bilhões de reais em produtos usados ao longo
do ano, como veículos, residências, móveis etc. Todos esses produtos foram produzidos,
mas não no ano corrente da apuração do PIB, portanto, não são computados. Somente são
incluídos produtos produzidos no ano a que se refere o PIB.
O PIB mede a produção realizada dentro de um país, independentemente de ter sido
produzido por brasileiros. Isso significa que se inclui no cálculo do PIB, também, a produção
Mensuração e estrutura das contas nacionais 69

realizada com recursos de propriedade estrangeira e por cidadãos estrangeiros estabelecidos


no Brasil, e que se exclui a produção realizada por brasileiros em outros países, de acordo com
Nogami e Passos (2016). Por exemplo, quando a banda de rock U2, da Irlanda, realiza uma turnê
de apresentações no Brasil, o valor desses serviços é computado no PIB do Brasil, mas não no PIB
da Irlanda. Da mesma forma, os serviços de um médico brasileiro que trabalha em um hospital do
Haiti faz parte do PIB desse país, e não do PIB do Brasil.
O Gráfico 1, a seguir, mostra a variação anual real do PIB, com relação ao ano anterior, em
termos percentuais, de 1961 a 2018.
Gráfico 1 – PIB de 1961 a 2018 (variação percentual no ano)
16,0
15,0
14,0
14,0
13,0 12,1
12,0 11,4 11,3
11,0 10,3 9,8
10,0 9,7
9,0 9,1
9,0 8,8
8,0 8,0 8,0 7,5
7,0 6,8
6,0 5,2 5,2 5,3 5,3 5,8 6,1
5,0 4,9 4,6 4,7 4,4 5,1
4,2 4,4
4,0 3,5 3,6 4,0 4,0
3,1 3,2 3,3 3,4 3,1 3,2 3,0
3,0 2,2 1,9
2,0 0,6 1,5 1,4
0,9 1,1 1,1 1,1
1,0 0,30,5 0,5
0,0
-1,0 -0,1 -0,1
-2,0 -0,5
-3,0
-4,0 -3,4 -3,1 -3,3
-5,0 -3,6
-4,4
-6,0
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
2011
2013
2015
2017
2018
Fonte: Elaborado pelo autor com base em IBGE, 2019.

A cada três meses, o IBGE divulga as Contas Nacionais, que contêm o detalhamento da
produção de bens e serviços no país, ou seja, os resultados do PIB por setor (agronegócio, indústria
e comércio) e pela ótica da despesa (consumo das famílias, despesas do governo, investimentos e
exportações líquidas).

4.2.1 Consumo das Famílias


Consumo das
O Consumo das Famílias (C) é o componente mais importante do PIB, representando 62% Famílias: parte

dele no período de 1995 a 2018, e o mais fácil de ser compreendido. do PIB adquirida
pelas famílias

Quase tudo o que as famílias demandam em um ano – gastos em combustível, alimentos no na condição de
consumidores
domicílio e fora dele, roupas, serviços de saúde, lazer etc. – integram o consumo quando o PIB é finais.

calculado. Duas categorias não fazem parte do consumo por não fazerem parte do PIB, como já
foi visto: produtos usados (automóveis, roupas, livros etc.) e ativos como ações, depósitos a prazo
ou imóveis.
O Gráfico 2, a seguir, apresenta a variação anual do Consumo das Famílias, ano a ano, em
termos percentuais, de 1996 a 2018.
70 Economia e Mercado

Gráfico 2 – Consumo das Famílias (variação percentual no ano)


8,0
6,4 6,5 6,2
6,0 5,3
4,5 4,8
4,0 4,4
4,0 3,9 3,5 3,5
3,2 3,0
2,3
2,0 1,9
1,3 1,4
0,8
0,4
0,0
-0,7 -0,5
-2,0

-4,0 -3,2
-3,9
-6,0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Fonte: Elaborado pelo autor com base em IBGE, 2019.

As despesas de consumo efetuadas pelas famílias, como já demonstrado, representam


o maior componente da demanda agregada no Brasil e dividem-se em três itens básicos: bens
duráveis, bens não duráveis e serviços (INSPER, 2014).

4.2.2 Gastos de Governo


Gastos de Em 2018, o governo comprou R$ 1.346 bilhões em bens e serviços, os quais representaram
Governo: parte
do PIB adquirida
19,7% do PIB. Esse componente do PIB é denominado Gastos de Governo, também conhecido
pelo governo como Consumo de Governo, e reúne os gastos realizados na aquisição de bens e serviços utilizados
na condição
de consumidor pelo governo (que é o segundo maior consumidor da economia) ao longo do ano.
final.
Isto inclui salários dos servidores públicos, além de produtos como papéis, combustíveis,
alimentos, vestuário, eletricidade etc. Cabe destacar que nessa conta incluem-se as compras
realizadas por municípios, estados e pelo governo federal, pouco importando se a compra foi feita
por um parque municipal ou pelas forças armadas.
O Gráfico 3, a seguir, mostra o comportamento dos Gastos de Governo no período de 1996
a 2018, em termos de variações percentuais a cada ano comparativamente ao ano anterior.
Gráfico 3 – Gastos de Governo (variação percentual no ano)
5,0
3,9 4,1
4,0 3,8 3,6 3,9
3,2
2,6 2,9
3,0
2,0 2,0 2,2 2,3
2,0 1,7 1,6 1,5
1,2
1,0 0,8
0,2 0,0
0,0
-0,2
-1,0
-0,9
-2,0 -1,4
-1,8
-3,0
96

97

98

99
00

01

02

03

04
05

06

07

08

09
10

11

12

13

14
15

16

17
18
19

19

19

19
20

20

20

20

20
20

20

20

20

20
20

20

20

20

20
20

20

20
20

Fonte: Elaborado pelo autor com base em IBGE, 2019.


Mensuração e estrutura das contas nacionais 71

Por fim, é importante distinguir as compras do governo – que são contabilizadas no PIB
– e os gastos realizados com as chamadas transferências. Esses recursos são repassados a pessoas
ou organizações no cumprimento de algum objetivo social. Por exemplo, os pagamentos da
previdência social e do seguro desemprego são transferências. É importante observar que essas
transferências representam recursos redistribuídos de um grupo de cidadãos (contribuintes) para
outro (pobres, desempregados, idosos etc.).
Apesar de essas transferências estarem presentes nos orçamentos governamentais como
gastos, elas não são compras de bens e serviços produzidos, e por isso são excluídas dos gatos de
governo no PIB.

4.2.3 Investimentos
O que os equipamentos de perfuração de petróleo, as máquinas registradoras, os aparelhos
de telefone de um escritório e a casa onde moramos ou crescemos têm em comum? Esses são alguns
exemplos do que chamamos de bens de capital – bens que proporcionarão algum benefício nos
próximos anos. Quando somamos o valor de todos os bens de capital do país, temos a formação
bruta de capital fixo.
investimentos:
Os investimentos representam um fluxo de capital novo na economia acrescentado ao parte do PIB
que permite o
estoque de capital, que é a quantidade de capital produtivo existente. Os investimentos privados aumento da

têm três componentes: capacidade


produtiva do país.

• Compras de instalações e equipamentos


Essa categoria pode parecer confusa à primeira vista. Por que não podem ser classificados
como bens intermediários? Porque as instalações e os equipamentos são utilizados para
se produzir outros bens. Mas então o valor dos bens finais produzidos não inclui o
valor dessas instalações e equipamentos (capital físico)? Não. O capital físico constitui o
investimento realizado pelo empreendedor, que, com ele, buscará obter lucros que irão
amortizar esse capital. Daí o termo financeiro Retorno do Investimento Realizado.
• Construções de casas e edificações
Em determinados períodos, podemos observar que a construção imobiliária tem uma
importância relevante nos investimentos. Por que tratamos a construção de uma nova
casa como despesa de investimento no PIB? Porque uma residência é parte importante
do estoque de capital do país, tal como um equipamento de perfuração de petróleo, que
continuará fornecendo seus serviços ao longo dos anos, uma casa proporcionará o serviço
de abrigo e repouso ao seu proprietário no futuro.
• Alterações no inventário das empresas (variação no estoque de produtos não vendidos)
Estoque são produtos que foram produzidos, mas que ainda não foram vendidos.
Incluem produtos na prateleira das lojas, produtos que ainda estão no processo de
produção e as matérias-primas aguardando o momento para serem utilizadas. Por
que contabilizamos esses estoques na mensuração do PIB? Porque representam parte
importante da produção do país, mas que momentaneamente estão no aguardo para
serem produzidos ou vendidos.
72 Economia e Mercado

É importante observar que o estoque de capital de uma economia está em constante desgaste,
ou seja, máquinas, equipamentos, ferramentas e mesmo instalações e residências se depreciam. Por
conta disso, parte dos dispêndios realizados em investimentos, que se destinam à substituição ou
manutenção desses bens de capital, não aumentam o estoque de capital da economia. Daí surgem
dois conceitos importantes:
• Investimento Bruto
Despesas realizadas com instalações, máquinas, equipamentos, ferramentas, residências
e mais a variação de estoques.
• Investimento Líquido
É o Investimento Bruto deduzida a depreciação. Esse conceito, sim, faz o estoque de capital
da economia aumentar ou diminuir – diminui quando as despesas com investimentos
forem inferiores à depreciação do capital físico existente na economia.
O Gráfico 4, a seguir, mostra o quanto os investimentos variaram em termos percentuais a
cada ano, no período de 1996 a 2018.
Gráfico 4 – Investimentos (variação percentual no ano)
20,0 17,9
15,0
12,0 12,3
10,0 8,4 8,5
6,7 6,8
5,8
5,0 4,8 4,1
1,2 1,3 2,0 0,8
0,0
-0,2
-5,0 -1,4
-2,1 -2,5
-4,0 -4,2
-10,0
-8,9
-15,0 -12,1
-13,9
-20,0
96

97

98

99
00

01

02

03

04
05

06

07

08

09
10

11

12

13

14
15

16

17
18
19

19

19

19
20

20

20

20

20
20

20

20

20

20
20

20

20

20

20
20

20

20
20

Fonte: Elaborado pelo autor com base em IBGE, 2019.

Um detalhe importante: seja sempre cauteloso no uso da palavra investimento. Em economia,


como vimos, investimento refere-se à formação de capital (como a construção de uma nova fábrica,
casa ou hospital), ou à produção e instalação de novas máquinas ou equipamentos, ou ainda à
formação de estoques nas empresas.

debêntures: No cotidiano, entretanto, utiliza-se o termo investimento no trato das questões financeiras
títulos
como investir em ações, debêntures, letras do tesouro, certificados de depósito ou até mesmo no
mobiliários
que garantem empréstimo de dinheiro para um amigo que está iniciando um negócio. Na linguagem econômica,
ao comprador
uma renda fixa,
você não investiu, mas simplesmente mudou a forma da composição da sua riqueza, aplicando
ao contrário
seus recursos em ativos financeiros. Assim, para evitar confusões, lembre-se que o investimento
das ações, cuja
renda é variável. somente ocorre quando há uma nova produção de bem de capital, ou seja, somente quando há
formação de capital.
Mensuração e estrutura das contas nacionais 73

4.2.4 Exportações líquidas


Aqui temos mais uma categoria de compradores finais da produção do Brasil: o setor externo.
Para termos uma ideia, em 2018 o setor externo adquiriu R$ 1.011 bilhões de produtos e serviços
brasileiros – aproximadamente 15% do nosso PIB.
No entanto, à medida que o Brasil mantém relações comerciais com o resto do mundo, surge
a necessidade de se efetuar uma correção na apuração do PIB. As famílias brasileiras compram,
ao longo do ano, muitos produtos que foram produzidos além das nossas fronteiras (produtos
eletrônicos chineses ou sul coreanos, cervejas alemãs, carros japoneses etc.). Dessa forma, quando
somamos o consumo final das famílias e do governo, por exemplo, identificamos produtos que
não foram produzidos em território nacional. Assim, para corrigirmos essa inconsistência,
deduzimos todas as importações realizadas pelo país das exportações realizadas durante o ano.
Exportações
Daí a denominação Exportações líquidas. Em 2018, essas importações somaram R$ 975 bilhões, líquidas:
diferença entre
montante equivalente a 14,3% do PIB. exportações e
importações
Como as exportações, em 2018, totalizaram R$ 1.011 bilhões, e as importações R$ 975 como parte das

bilhões, as Exportações líquidas do Brasil foram de R$ 36 bilhões, o que indica que o volume de despesas do PIB.

exportações foi maior que o de importações.


Gráfico 5 – Exportações e Importações (variação percentual no ano)

33,6

19,6
17,8 17,0
14,6 12,9 14,5 9,6
11,0 10,8 11,0 11,7 9,4
9,2 10,0 7,5 5,0 8,5
5,6 4,9 5,7 6,5 4,8 6,2 4,8 6,7 6,8 5,2 4,1
3,3 0,4 0,71,1 1,8 0,9

0,4 0,1 -0,5 -1,6-2,3


-7,6
-9,2 -10,3
-15,1 -13,3 -14,2
96

97

98

99

00

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10

11

12

13

14

15

16

17

18
19

19

19

19

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

Exportação Importação
Fonte: Elaborado pelo autor com base em IBGE, 2019.

O Gráfico 5 mostra o comportamento das Exportações e Importações, em termos de variação


percentual em cada ano do período 1996 a 2018.

Vídeo 4.3 Quantificando o PIB


O IBGE, responsável por coletar, calcular e analisar os movimentos da produção
do país, calcula o PIB de duas formas diferentes: sob a ótica dos setores (agropecuária,
indústria e serviços) ou sob a ótica da despesa. Sem dúvida, o mais importante é esse
segundo, visto que é por esse método que conseguimos analisar e avaliar a estrutura
da nossa economia e estabelecer políticas econômicas de curto, médio e longo prazos.
Pela ótica da despesa, dividimos a produção em quatro categorias, de acordo
com o grupo que está adquirindo bens e serviços finais:
74 Economia e Mercado

• Consumo das Famílias (C), que se refere a bens e serviços adquiridos pelas famílias.
• Investimentos (I), que são bens e serviços comprados pelas empresas.
• Gastos de Governo (G), que se referem a bens e serviços adquiridos pelo governo.
• Exportações Líquidas (XL), que são bens e serviços adquiridos pelos não residentes
no país.

A partir dessa classificação, qualquer comprador da produção brasileira estará classificado


em uma dessas quatro categorias. Assim sendo, a soma delas nos fornece o PIB do país, ou seja:
PIB = C + I + G + XL
O PIB mede duas coisas ao mesmo tempo: a renda total de todas as pessoas da economia e
a despesa total com os bens e serviços produzidos na economia. A razão pela qual o PIB consegue
medir tanto a renda total quanto a despesa total é que, na verdade, renda e despesa são a mesma
coisa, como foi visto neste capítulo. Nas palavras de Mankiw (2005, p. 324), “para a economia como
um todo, a renda deve ser igual a despesa”. Assim, como foi visto no Capítulo 1, essa é a primeira
condição de equilíbrio do modelo macroeconômico.

Considerações finais
Vimos, neste capítulo, como se apura o PIB a partir da Contabilidade Nacional e estudamos
seus principais componentes: consumo das famílias, gastos de governo, investimentos do setor
privado da economia e as exportações líquidas, bem como algumas estatísticas referentes ao
nosso país.

Ampliando seus conhecimentos


• PERET, Eduardo. PIB cai 0,2% no primeiro trimestre pressionado pela indústria extrativa.
Agência IBGE. Notícias. 30 maio 2019. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.
br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/24654-pib-cai-0-2-no-primeiro-
trimestre-pressionado-pela-industria-extrativa. Acesso em: 5 ago. 2019.
Vale a pena uma visita a este site do IBGE. Diz respeito à divulgação do PIB do
primeiro trimestre de 2019, e nele pode-se encontrar os comentários sobre o que
aconteceu no primeiro trimestre do ano, bem como ter acesso à série histórica
referente à composição do PIB.

• COSIF – Portal de Contabilidade. Contabilidade nacional. Disponível em: https://www.


cosif.com.br/publica.asp?arquivo=contabilidade_nacional#2. Acesso em: 5 ago. 2019.
Esse site do Banco Central do Brasil apresenta o Plano Contábil das Instituições do
Sistema Financeiro Nacional (COSIF). Por meio desse site podemos conhecer todos os
instrumentos utilizados para monitoramento da atividade econômica.
Mensuração e estrutura das contas nacionais 75

Atividades
1. Por que apenas os bens e serviços finais são considerados no cálculo do PIB?

2. Que relação podemos estabelecer entre Renda Nacional e Produto Nacional?

3. Se em uma economia a capacidade produtiva está em expansão, que relação podemos


estabelecer entre o investimento bruto e a depreciação?

4. Qual a importância da Poupança Nacional?

5. Que problema o governo causa sobre a atividade econômica quando gasta mais do que arrecada?

Referências
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia. Sistema de Contas Nacionais Trimestrais – SCNT. Disponível
em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/contas-nacionais/9300-contas-nacionais-trimestrais.
html?=&t=o-que-e. Acesso em: 6 set. 2019.

INSPER. Vendas do varejo cresceram 0,4% em janeiro. 18 mar. 2014. Disponível em: https://www.insper.edu.
br/noticias/vendas-do-varejo-cresceram-04-em-janeiro/. Acesso em: 5 ago. 2019.

MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. São Paulo: Pioneira Thonson Learning, 2005.

NOGAMI, Otto; PASSOS, Carlos Roberto Martins. Princípios de economia. 7. ed. São Paulo: Cengage
Learning, 2016.

PERET, Eduardo. PIB cai 0,2% no primeiro trimestre pressionado pela indústria extrativa. Agência IBGE.
Notícias. 30 maio 2019. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-
de-noticias/noticias/24654-pib-cai-0-2-no-primeiro-trimestre-pressionado-pela-industria-extrativa.
Acesso em: 5 ago. 2019.

SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. 2. ed. São Paulo: Best Seller, 1999.
5
Modelo de três economias

Até aqui vimos os principais agregados macroeconômicos utilizados nos estudos e nas
análises sobre o comportamento da economia, bem como as características importantes do
Produto Interno Bruto (PIB) e seus componentes. Agora, vamos esclarecer o significado de
outras variáveis que nos permitem entender o que está por trás dos mais diferentes números
periodicamente divulgados pelo governo e pelas instituições incumbidas da aferição do
comportamento de alguns indicadores.
Antes, porém, vamos explorar uma forma não usual de enxergar a economia, utilizando
apenas seis agregados macroeconômicos, que, numa simples relação de causa e efeito, permitem
o entendimento dos pressupostos e dos problemas que cercam a economia de um país. Para
isso, vamos utilizar o Modelo de Três Economias, um conjunto de identidades que nos permite
mostrar as relações de causa e efeito dentro da economia. Esse modelo permite, ainda, entender
os problemas centrais vividos por um país e a forma como ações equivocadas podem afetar a
atividade econômica.
Nossa abordagem neste capítulo, portanto, começa com o modelo de economia simples,
uma economia sem governo e sem relações com o mundo externo – modelo utópico, mas
importante para entendermos uma das principais bases no funcionamento de uma economia.
Posteriormente, analisaremos o modelo de economia fechada, no qual incluiremos o governo, mas
manteremos de fora o setor externo. É importante frisar que esse modelo caracterizou a economia
brasileira, especialmente no período de 1964 a 1990. E por fim, abriremos o modelo anterior, ou
seja, incluiremos o setor externo para que possamos analisar o modelo de economia aberta, que
caracteriza grande parte das economias mundiais.

Vídeo 5.1 Economia simples


No Capítulo 1, abordamos o Fluxo Circular da Atividade Econômica quando
comentamos que a primeira condição de equilíbrio de um modelo econômico era que
renda é igual a produto, ou seja, que toda a renda gerada pelas empresas deveria ser
gasta no consumo de bens e serviços por parte da família.
Abandonando essa hipótese simplificada, vimos também que, à medida que
as famílias, por qualquer razão, deixassem de gastar toda a sua renda em bens de
consumo, surgiria um excedente monetário denominado poupança (S). E, para
fazermos a economia crescer e gerar mais renda, seria desejável que esses recursos
poupados fossem canalizados em investimentos, isto é, na aquisição de bens de capital
e na formação de estoques de produtos acabados.
78 Economia e Mercado

Isso torna o nosso modelo do Fluxo Circular da Atividade Econômica mais completo e
realista, apesar de ainda não estarmos considerando a existência de governo e levando em conta
que a economia ainda não mantém relações comerciais com outras economias.
Assim, segundo Nogami e Passos (2016), sob a ótica da Renda Nacional (RN), toda a renda
gerada na economia terá apenas dois destinos: para o consumo das famílias (C) e para a poupança
(S), ou seja:
RN = C + S
Pela ótica da produção, conforme também já foi visto no mesmo fluxo circular, a produção
era destinada para o consumo das famílias e, parte dela, ficava no estoque, à medida que as famílias
poupavam. Lembrando que esse estoque é formado a partir da utilização de fatores de produção –
é, portanto, resultante de um investimento (I). Da mesma forma, as empresas podem ter reservado
uma parte de sua produção para o financiamento de aquisição de bens de capital.
Assim, tudo o que é produzido pelas empresas, ou seja, o Produto Nacional (PN), tem apenas
duas destinações: para o consumo das famílias (C) e para investimento (I). Assim, temos que
PN = C + I
À medida que a primeira condição de equilíbrio do modelo econômico é que a renda seja
igual ao produto, temos:
RN = PN
ou, substituindo as identidades,
C+S=C+I
ou seja,

S=I

Temos então a segunda condição de equilíbrio: conforme as famílias poupam, o equilíbrio se


dará destinando-se estes recursos ao investimento no setor produtivo da economia.
É interessante observar, nesse sentido, que as motivações que levam as pessoas a poupar e os
empresários a investir são totalmente diferentes, mas se igualam macroeconomicamente, em termos
de origem e destino dos recursos. Enquanto as famílias poupam por segurança, precaução, avareza
etc., os investimentos estão relacionados à rentabilidade, às perspectivas de crescimento etc.
Para colocar essa questão de uma maneira diferente, considere que, com o nosso espírito
empreendedor, queiramos abrir uma loja que demande um investimento de R$ 200 mil para a
abertura da empresa, incluindo as instalações, os móveis e equipamentos e a formação de estoque
e de capital de giro para pagamento de funcionários, encargos, impostos e aluguéis. Para podermos
executar esse projeto, teríamos que poupar, ao longo do tempo, o montante necessário para abrir
o estabelecimento. Porém, se não poupamos, mas ainda assim temos a intenção de empreender,
podemos recorrer, por exemplo, a uma instituição bancária, que poderá oferecer os recursos
necessários. Como já vimos, e veremos de forma mais detalhada mais adiante, esses recursos
bancários são oriundos da poupança de outras famílias. Daí a denominação Capital de Terceiros.
Modelo de três economias 79

Trazendo agora essa condição de equilíbrio para a economia como um todo, considere que
a Renda Nacional, que é igual ao Produto Nacional, seja de R$ 1.000,00, e que as famílias gastem
R$ 800 em bens de consumo e, portanto, poupem R$ 200,00. Considere, por outro lado, que as
empresas estejam pré-dispostas a investir apenas R$ 100,00.
Nessas condições, a poupança das famílias não se iguala ao investimento na formação
de capital das empresas. Assim sendo, onde estão os R$ 100,00 restantes? Ora, à medida que as
empresas, pela condição de equilíbrio, produziram R$ 1.000,00, e que R$ 100,00 foram destinados
aos investimentos, sobraram R$ 900,00 em bens e serviços que as empresas desejam vender para o
consumo das famílias. Mas como elas gastam apenas R$ 800,00, as empresas não vão vender tudo o
que produziram, sobrando assim R$ 100,00 em mercadorias. Nessas condições, podemos observar
que a poupança (R$ 200,00) será igual ao investimento (R$ 100,00) acrescido dos estoques nas
empresas (R$ 100,00), que também é investimento. Assim, a poupança de R$ 200,00 é igual ao
investimento realizado de (R$ 200,00), composto por R$ 100,00 de formação de capital e R$ 100,00
de estoques.
O Gráfico 1, a seguir, mostra a evolução dos investimentos e da poupança no Brasil, de
1975 a 2018. Nele, podemos observar que, ao longo desses anos, proporcionalmente ao PIB,
os investimentos foram maiores que a poupança. Em 2018, por exemplo, os investimentos
representaram 15,4% do PIB, enquanto a poupança representou 14,6%. Chama a atenção, ainda,
o ano de 1989, quando a poupança atingiu 35,8% do PIB, contra 26,9% dos investimentos. Esse
fenômeno ocorreu devido ao processo altamente inflacionário que o país viveu.
Gráfico 1 – Brasil: investimentos e poupança de 1975 a 2018 (% do PIB)
40
35,8
35
30
25
26,9
20
15,4
15
10 14,6

5
75

77

79

81

83

85

87

89

91

93

95

97

99

01

03

05

07

09

11

13

15

17
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

20

20

20

20

20

20

20

20

Investimentos Poupança
Fonte: Elaborado com base em The World Bank, 2019.

Como já explicamos anteriormente, a essa época existia um indexador chamado correção


monetária, que servia para corrigir preços, salários e rendimentos das aplicações financeiras, a fim de
minimizar os efeitos da inflação. Assim, criava-se uma falsa ilusão de que as rentabilidades das aplicações
financeiras eram altamente compensadoras, o que levava as pessoas a pouparem cada vez mais.
Outro detalhe importante a ser observado é que o volume de poupança proporcionalmente
ao PIB, ao longo do período, ficou em torno de 18%, aquém do que tecnicamente seria desejável,
ou seja, 20%. O Gráfico 2, a seguir, compara a formação de poupança do Brasil com a de outras
80 Economia e Mercado

economias como Estados Unidos (22,1%), Coreia do Sul (32,4%), China (38,6%), Japão (29,9%) e
União Europeia (22,3%).
Gráfico 2 – Poupança no Brasil e em algumas economias selecionadas (% do PIB)
60

50

40

30

20

10

0
75

77

79

81

83

85

87

89

91

93

95

97

99

01

03

05

07

09

11

13

15

17
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

20

20

20

20

20

20

20

20
Brasil Estados Unidos União Europeia Coreia do Sul China Japão
Fonte: Elaborado com base em The World Bank, 2019.

Essa baixa capacidade de formação da poupança nacional, condição essencial para que
investimentos no setor produtivo da economia possam ser realizados, acabam dificultando a
melhoria das condições estruturais da nossa economia. Segundo Nogami (2018), seria desejável
que, à medida que a renda aumentasse, as despesas em bens de consumo também aumentassem,
mas em proporções menores, o que faria aumentar a capacidade de poupar. Isso, no entanto, não é
o que se verifica no Brasil em anos recentes.
O Gráfico 3, a seguir, mostra a evolução dos investimentos em algumas economias
selecionadas em comparação ao que aconteceu no Brasil ao longo dos últimos anos.
Gráfico 3 – Investimentos no Brasil e em algumas economias selecionadas (% do PIB)
50
45
40
35
30
25
20
15
10
75

77

79

81

83

85

87

89

91

93

95

97

99

01

03

05

07

09

11

13

15

17
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

20

20

20

20

20

20

20

20

Brasil Estados Unidos União Europeia Coreia do Sul China Japão


Fonte: Elaborado com base em The World Bank, 2019.

Como podemos observar, enquanto no período de 1975 a 2018 o nível de investimentos


no Brasil esteve, na média, em 19,5%, na Coreia do Sul foi de 32,4%, e de 38,6% na China. Nas
economias consideradas maduras, como é o caso dos Estados Unidos, da União Europeia e do
Japão, a formação bruta de capital fixo proporcionalmente ao PIB foi, respectivamente, de 22,1%,
22,4% e 29,9%.
Modelo de três economias 81

A baixa taxa de investimentos afeta negativamente a competitividade, a produtividade e o


crescimento da economia, agravando as condições estruturais do país e prejudicando o uso do
potencial produtivo existente.
Nesse modelo de economia simples, portanto, podemos extrair uma conclusão muito
importante: se uma economia deseja realizar investimentos, objetivando crescimento e
desenvolvimento, há necessidade de que sua população poupe, já que não há investimento
sem poupança.

Vídeo 5.2 Economia fechada


Saindo do modelo utópico, vamos considerar agora uma economia um pouco
mais sofisticada, introduzindo o governo. Contudo, a exemplo do caso anterior, ela
continua não possuindo relações comerciais com outras economias, ou seja, mantém-
se fechada.
Como vimos no capítulo anterior, duas variáveis representam tudo o que o
governo faz em uma economia: Gastos de Governo (G) e Arrecadação (T).
Na condição de segundo maior consumidor da economia, o governo também
consome parte da produção nacional. Dessa forma, parte do produto nacional, que
era destinado ao consumo das famílias e aos investimentos, vai para atender aos
dispêndios do governo em consumo e investimentos. Assim, temos:
PN = C + I + G
Compõem esses gastos governamentais o custeio, os investimentos direcionados
ao bem-estar social e as transferências. Despesas de custeio são os dispêndios
realizados para a manutenção das atividades dos órgãos da administração pública.
Nelas se incluem: despesas com pessoal e encargos, aquisição de bens de consumo,
serviços de terceiros, serviços de manutenção, juros da dívida interna e despesas com
água, energia, telefone etc.
Os investimentos não são voltados à produção, e sim à melhoria das condições
sociais da população, por meio de educação, saúde, segurança e mobilidade. E no
conjunto das transferências, por fim, estão os pagamentos de aposentadorias e
pensões, os subsídios e os programas sociais.
Entretanto, para que o governo possa realizar seus dispêndios, ele precisa ter
recursos, que virão da arrecadação dos impostos, das taxas e das contribuições que
incidem sobre as famílias. Assim, parte da renda das famílias, que era toda utilizada
para o consumo e para a poupança, agora é destinada ao pagamento de impostos, o
que gera a seguinte identidade:
RN = C + S + T
Por imposto entendemos a arrecadação devida ao Estado, que incide sobre a
renda e a riqueza das pessoas e sobre a produção e a circulação de mercadorias, e que
deve ser revertida à sociedade sob a forma de benefícios de interesse geral. As taxas,
82 Economia e Mercado

por sua vez, estão vinculadas a uma contraprestação estatal, como os serviços públicos de emissão
de documentos ou de coleta de lixo, por exemplo.
Já as contribuições são tributos que incidem sobre determinada atividade e que têm
uma destinação específica para os recursos recolhidos, como as contribuições previdenciárias
(que incidem sobre o trabalho e têm como destinação a previdência social), as contribuições
sindicais (também incidem sobre o trabalho, mas têm como destino os sindicatos), e a
contribuição provisória sobre a movimentação financeira (CPMF) que, como o próprio nome
aponta, incidia sobre a movimentação financeira e tinha como destino o Ministério da Saúde.
Como os tributos incidem sobre a renda das famílias, podemos escrever a identidade da
seguinte forma:
RN – T = C + S
onde RT – T conceitualmente é definida como Renda Disponível do setor privado. E, de fato,
tomando como exemplo nosso salário bruto, dele são descontados os tributos e, portanto, o saldo
líquido, ou salário líquido, é o que utilizamos para consumir e poupar.
Mais uma vez, partindo da condição inicial de equilíbrio, em que renda é igual a produto, temos:
RN = PN
que agora nos permite escrever, substituindo as identidades acima:
C+S+T=C+I+G
da qual resulta que:
S+T=I+G
Nessa identidade, temos, do lado esquerdo, uma variável que caracteriza o setor privado (S)
e outra que representa o setor público (T); do lado direito, por sua vez, temos (I), que caracteriza
o setor privado, e (G), que caracteriza o setor público. Assim, se agruparmos as duas variáveis do
setor privado em um lado da identidade e as duas do setor público em outro, temos:

SETOR PRIVADO SETOR PÚBLICO

(S – I) = (G – T)

Essa identidade pode ser interpretada, segundo Nogami e Passos (2016), da seguinte maneira:
o excesso das despesas do governo (G) sobre os tributos (T), isto é, o déficit nas contas do governo
é contabilmente idêntico ao excesso de poupança (S) sobre o investimento privado (I). Em outras
palavras, podemos afirmar que o excesso de gastos do governo (G – T) é financiado pela poupança
privada (S) que, conforme já foi visto, deveria estar sendo direcionado a investimentos (I). Isso significa
que qualquer desequilíbrio nas contas do governo repercutirá sobre o setor privado da economia.
O Gráfico 4, a seguir, mostra a arrecadação e os dispêndios do governo ao longo do período
de 1980 a 2017. Nele, há uma interrupção referente aos anos de 1995 e 1996, período de implantação
do Plano Real.
Modelo de três economias 83

Gráfico 4 – Brasil: gastos de governo e arrecadação (% do PIB)


40

35

30

25

20

15

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1980
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1983
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1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
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1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
Gastos Arrecadação
Fonte: Elaborado com base em The World Bank, 2019.

A arrecadação considerada nesse gráfico compreende os recursos oriundos do recolhimento


de impostos, das contribuições sociais e de outras receitas como multas, taxas, aluguéis e renda de
propriedade ou vendas, excetuando-se as subvenções. Os gastos de governo retratam os pagamentos
para atividades operacionais do governo no fornecimento de bens e serviços, incluindo a remuneração
de funcionários, os juros e subsídios, os benefícios sociais e outras despesas como aluguéis.
E podemos observar que, caracteristicamente, o governo sempre gasta mais do que
arrecada, denotando uma situação de déficit fiscal que repercute negativamente sobre o setor
privado da economia.
Esse impacto do setor público sobre o setor privado pode ser sentido no deslocamento da
poupança privada para o financiamento do déficit público, retirando recursos para investimentos
no setor privado. Isso significa que quanto maior o déficit fiscal, mais prejudicada fica a formação
bruta de capital fixo na economia. Outro agravante, já visto no item anterior, é que os investimentos
são maiores que a poupança nacional, o que mostra que a poupança já é insuficiente para financiar
os investimentos, quanto mais para cobrir déficit nas contas de governo, conforme pode ser visto
no Gráfico 5, a seguir.
Gráfico 5 – Relação de (S – I) e (G – T) no Brasil: 1997 a 2017 (% do PIB)
10

-5

-10

-15
97

98
99

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01
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19
19

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20

20

20

20

20

20

20

20

20
20

(S - I) (G -T) Déficit da Economia

Fonte: Elaborado com base em The World Bank, 2019.


84 Economia e Mercado

De acordo com Krugman e Wels (2007), na versão de uma economia fechada, os investimentos
são iguais à poupança acrescida do saldo orçamentário (contribuição do governo para a poupança
ou despoupança, conforme o caso).
Assim, resumidamente, podemos observar que existe, ao longo dos anos, um forte
desequilíbrio nessa relação entre (S – I) e (G – T), o que gera um déficit da economia ou uma
necessidade cada vez maior de recursos para financiar tanto os investimentos no setor produtivo
da economia como o déficit público. Daí a necessidade de se abrir a economia, para que o setor
externo possa auxiliar nessa busca do equilíbrio.

Vídeo 5.3 Economia aberta


Finalmente chegamos ao modelo completo, o de uma economia aberta, isto é,
uma economia que, além dos setores privado e público, tem agora o setor externo.
Essa é uma economia que mantém relações comerciais com o resto do mundo.
Como vimos no capítulo anterior, numa economia aberta, a produção não se
destina apenas ao consumo das famílias, aos investimentos e aos gastos de governo.
Parte dessa produção, também conhecida como excedente de produção, é destinada
à Exportação (X).
O setor agrícola do Brasil, por exemplo, destina parte significativa de sua
produção ao mercado externo, levando-se em conta que os países que compram
nossos produtos agrícolas não possuem a combinação de solo e clima adequados
para o plantio de determinadas culturas. Esses países tampouco possuem a extensão
territorial de que nosso país dispõe. Além disso, temos reservas minerais no subsolo
que nos colocam, no cenário mundial, como maiores exportadores de minério
de ferro e potenciais exportadores de petróleo. O Brasil produz ainda produtos
industrializados, como calçados e carne processada, que apresentam ampla demanda
no mercado internacional e que são, por essa razão, exportados.
Assim, temos que o produto nacional – tudo o que o país produz de bens e
serviços – é destinado a consumo (C), investimentos (I), gastos de governo (G) e,
agora, para exportação (X), o que nos permite reformular a identidade do produto e
despesa:
PN = C + I + G + X
Por outro lado, sabemos que nenhuma economia é autossuficiente em bens,
serviços e produtos naturais. Para poder atender à demanda interna de produtores
e de consumidores, alguns produtos são importados (M), como é o caso do trigo, de
algumas máquinas e bebidas, por exemplo. Assim, parte da renda nacional é utilizada
para pagar essas importações, o que nos leva a escrever a seguinte identidade:
RN = C + S + T + M
Segundo Nogami e Passos (2016), igualando-se as duas identidades na primeira
condição de equilíbrio, na qual a renda tem que ser igual ao produto, temos:
Modelo de três economias 85

C+S+T+M=C+I+G+X
Como foi feito anteriormente, vamos agrupar as variáveis de acordo com as características
do setor a que pertencem – privado, externo ou público –, que passam a ter a seguinte configuração:

SETOR PRIVADO – SETOR EXTERNO – SETOR PÚBLICO

(S – I) + (M – X) = (G – T)

A partir dessa configuração, podemos concluir que o déficit público é financiado tanto pelo
setor privado como pelo setor externo. Observando de outra forma, podemos também concluir
que qualquer coisa que o governo faça em termos de gastos ou arrecadação necessariamente irá
repercutir sobre o setor privado e o setor externo da economia.
O Gráfico 6, a seguir, mostra o saldo em Conta Corrente – soma das exportações líquidas de
bens e serviços, da renda primária e secundária líquida – como um percentual em relação ao PIB,
no período de 1975 a 2018.
Gráfico 6 – Saldo em Conta Corrente (% do PIB)
3
2
1
0
-1
-2
-3
-4
-5
-6
-7
1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

2007

2009

2011

2013

2015

2018
Fonte: Elaborado com base em The World Bank, 2019.

Nesse gráfico, podemos observar que uma característica do país é que ele mais remete
recursos para fora do que tem capacidade de gerar caixa em moeda estrangeira. Abrindo-se essa
conta, podemos notar que, apesar de a balança comercial ser superavitária ao longo dos anos, como
pode ser visto na Tabela 1, a balança de serviços e a renda primária são deficitários.

Tabela 1 – Balanço de Pagamentos (Em US$ milhões)

Saldo
Balança Transf. Conta Conta Erros e Saldo
Ano Serviços Rendas Transações
comercial unilaterais capital financeira omissões BoP
Correntes

2003 23.749 (4.720) (18.135) 2.867 3.760 83 5.529 (876) 8.496

2004 32.538 (4.321) (20.107) 3.236 11.347 (213) (6.776) (2.114) 2.244

2005 43.426 (7.883) (25.553) 3.558 13.547 187 (8.721) (694) 4.320

2006 45.119 (9.410) (26.985) 4.306 13.030 180 17.454 (95) 30.569

(Continua)
86 Economia e Mercado

Saldo
Balança Transf. Conta Conta Erros e Saldo
Ano Serviços Rendas Transações
comercial unilaterais capital financeira omissões BoP
Correntes

2007 38.483 (13.103) (29.002) 4.029 408 249 89.979 (3.152) 87.484

2008 23.802 (16.851) (41.806) 4.224 (30.641) 152 31.775 1.682 2.969

2009 24.958 (19.574) (34.983) 3.338 (26.261) 237 73.005 (330) 46.651

2010 18.491 (30.156) (67.055) 2.896 (75.824) 242 125.112 (430) 49.101

2011 27.625 (37.166) (70.475) 2.984 (77.032) 256 137.879 (2.466) 58.637

2012 17.420 (40.168) (54.308) 2.838 (74.218) 208 92.853 57 18.900

2013 389 (46.372) (32.539) 3.683 (74.839) 322 67.877 714 (5.927)

2014 (6.629) (48.107) (52.170) 2.725 (104.181) 232 111.431 3.351 10.833

2015 17.670 (36.946) (42.910) 2.751 (59.434) 461 56.714 3.828 1.569

2016 45.037 (30.447) (41.080) 2.944 (23.546) 274 25.652 6.857 9.237

2017 64.028 (33.851) (42.572) 2.632 (9.762) 379 10.323 4.152 5.093

2018 53.587 (33.952) (36.668) 2.522 (14.511) 440 12.245 4.754 2.928

Fonte: Elaborada com base em Bacen, 2019.

Segundo o FMI (2009), a Balança Comercial indica o saldo líquido entre exportações e
importações de bens. A conta Serviços mostra o saldo líquido: dos serviços de manufatura; dos
serviços de manutenção e reparo; dos transportes; das viagens; da construção; dos seguros; dos
serviços financeiros; dos serviços de propriedade intelectual; das telecomunicações, computação e
informações; do aluguel de equipamento; dos serviços culturais, pessoais e recreativos; dos serviços
governamentais e de outros serviços de negócio. A Renda Primária engloba a remuneração de
trabalhadores, a renda de investimento (investimento direto, que rende lucros e dividendos, e
juros), investimento em carteira e ativos de reserva. A conta Renda Secundária diz respeito ao
saldo líquido de contribuições e doações.
Assim, na Tabela 1, podemos observar a alta dependência do setor externo no que diz respeito
a serviços. Podemos perceber, ainda, que a alta presença do capital estrangeiro para investimentos
no setor produtivo da economia faz com que parte da renda gerada no país seja remetida para fora.
É isso o que faz com que o saldo em conta corrente (ou saldo em transações correntes)
seja deficitário. Entretanto, esse déficit é compensado pela Conta Financeira, que engloba
o investimento direto no país e os investimentos em carteira e derivativos, fazendo com que o
fluxo de moeda estrangeira seja favorável ao Brasil, contribuindo para que investimentos no setor
produtivo possam ser realizados e ajudando a financiar o déficit público.
Conforme salientam Baumann, Canuto e Gonçalves (2004), a inserção internacional do Brasil
é ampla e profunda, fenômeno histórico evidente no que se refere ao investimento internacional,
ou seja, a economia brasileira sempre apresentou um elevado grau de internacionalização do seu
aparelho produtivo.
Modelo de três economias 87

Considerações finais
Neste capítulo, estudamos três identidades importantes para entendermos como os setores
privado, externo e público interagem entre si, à medida que as relações de equilíbrio não ocorrem
dentro deles. Foram apresentadas, também, algumas estatísticas para podermos comparar a
situação da economia do Brasil em relação a de alguns outros países.

Ampliando seus conhecimentos


• KRUGMAN, Paul R.; WELLS, Robin. Introdução à economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
No capítulo vinte e cinco - “Crescimento econômico no longo prazo” - apresenta-se, de
maneira suscinta, os fatores que explicam por que as taxas de crescimento variam tanto
entre os países. Já o capítulo vinte e seis - “Poupança, gastos de investimento e sistema
financeiro” - mostra a relação entre poupança e gastos em investimento.

• BAUMANN, Renato; CANUTO, Otaviano; GONÇALVES, Reinaldo. Economia


internacional e experiência brasileira. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
Este livro, além de apresentar a teoria básica de comércio e de finanças internacionais,
mostra a experiência brasileira em seu relacionamento com o setor externo, tão importante
para ajustar os desequilíbrios domésticos.

Atividades
1. O volume de investimentos do setor privado no Brasil, há anos, está muito aquém do
necessário. Que motivo você apresentaria para essa situação?

2. Pelo que foi visto neste capítulo, o gigantesco déficit público do País afeta diretamente
a quem?

3. Qual pode ser a leitura da identidade (S – I) + (M – X) = (G – T)?

4. O déficit das contas externas (M – X) é ruim para a economia?

Referências
BACEN – Banco Central do Brasil. SGS – Sistema Gerenciador de Séries Temporais – v2.1. Disponível em:
https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries.
Acesso em: 17 set. 2019.
88 Economia e Mercado

BAUMANN, Renato; CANUTO, Otaviano; GONÇALVES, Reinaldo. Economia internacional e experiência


brasileira. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

FMI – Fundo Monetário Internacional. Balance of Payments and International Investment Position Manual
(BPM6). Washington, D.C.: International Monetary Fund, 2009. Disponível em: https://www.imf.org/
external/pubs/ft/bop/2007/pdf/bpm6.pdf. Acesso em: 17 set. 2019.

KRUGMAN, Paul; WELLS, Robin. Introdução à economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

NOGAMI, Otto. Cenário e expectativas econômicas. In: SOUSA, Almir Ferreira de et al (Org.). Planejamento
financeiro pessoal e gestão do patrimônio: fundamentos e práticas. São Paulo: Manole, 2018. p. 41-60.

NOGAMI, Otto; PASSOS, Carlos Roberto Martins. Princípios de economia. 7. ed. São Paulo: Cengage
Learning, 2016.

THE WORLD BANK. Indicators. Disponível em: https://data.worldbank.org/indicator. Acesso em:


17 set. 2019.
6
A moeda e sua importância

Moeda, em uma definição bem simples, pode ser entendida como um meio de pagamento
na economia. Um detalhe importante, que veremos ao longo deste capítulo, é que o montante de
moeda em circulação pode afetar a atividade econômica. E essa é a razão que leva governos ao
redor do mundo a se preocuparem com o quanto de moeda está disponível para sua população.
Ao longo deste capítulo, portanto, vamos desvendar alguns dos mistérios que cercam a
moeda, a fim de esclarecer seu significado e sua importância no contexto da economia. Além
disso, explicaremos as preocupações do governo em mantê-la sob controle e analisaremos os
instrumentos utilizados por ele para esse monitoramento.

Vídeo 6.1 Moeda: definição e origem


O economista russo Wassily Leontief, radicado nos Estados Unidos e ganhador do
prêmio Nobel de Economia, em 1973, define moeda como a “mercadoria que serve de
equivalente geral para todas as mercadorias” (NOGAMI; PASSOS, 2016, p. 447). De
fato, ao analisarmos a evolução histórica da moeda, percebemos que ela veio substituir
uma das mercadorias no exercício do escambo.
A definição padrão de moeda, na prática, é formada pelo papel-moeda, pelos
depósitos em conta corrente, pelos certificados de depósito bancário e pelos títulos
públicos. Mas o que eles têm em comum? Por que são incluídos na definição de moeda,
enquanto outras formas de pagamento (como os cartões de crédito) não o são?
Primeiro, porque apenas ativos – coisas de valor que as pessoas possuem – podem
ser vistos como moeda. O papel-moeda, os cheques, os depósitos em conta corrente e
as cotas de fundos de investimentos podem ser considerados ativos, mas o direito de
tomar empréstimos não é considerado ativo, portanto não faz parte da oferta de moeda.
É por isso que os limites de crédito – em conta corrente ou em cartões de crédito – ou a
capacidade de tomar empréstimos junto a instituições financeiras não são considerados
oferta de moeda.
Segundo, porque apenas as coisas amplamente aceitas como um meio de
pagamento podem ser vistas como moeda. Papel-moeda, cheques, cartões de débito
podem ser utilizados para comprar bens e serviços e pagar contas. Outros ativos –
como aplicações financeiras em fundos – não podem ser utilizados para pagar pelos
bens, portanto falham no teste de aceitabilidade.
Assim, podemos concluir que apenas os ativos altamente líquidos podem ser
vistos como moeda. Um ativo é considerado líquido quando ele possibilita a rápida
conversão em moeda a um custo bastante baixo. Um ativo de baixa liquidez, em
90 Economia e Mercado

contrapartida, pode ser convertido em moeda somente depois de um certo tempo e/ou a custo
considerável.
Mas, de onde vem a moeda? A origem da moeda está na forma como nossos antepassados,
milhares de anos atrás, realizavam suas transações: por meio de escambo. Porém, esse ato de trocar
uma mercadoria por outra mercadoria enfrentava um grande inconveniente para que as transações
pudessem se concretizar: as partes precisavam ter necessidades e desejos duplamente coincidentes,
ou seja, cada uma delas deveria ter o produto que a outra desejasse.
Assim, para simplificar e contornar esse problema é que as sociedades decidiram eleger um
produto, que fosse desejado por todos, como um meio de troca. Um único produto que tivesse algum
valor e que pudesse servir como referencial de troca. E foi com essa passagem das trocas diretas, de
um produto por outro, para as indiretas, intermediadas por algum outro bem aceito por todos, é que
a humanidade entrou na chamada Era da Mercadoria-Moeda, segundo Nogami e Passos (2016).
Ainda de acordo com os autores, nesse período, vários tipos de produtos foram utilizados
como moeda, tais como animais domésticos, conchas, sal, fumo, azeites, gado etc. Ao longo da
história, vemos que diversas mercadorias foram utilizadas como mercadoria-moeda, cada uma
apresentando vantagens e desvantagens, até que, pouco a pouco, o uso de metais – cobre, barras
de ferro, ouro e prata – começou a se proliferar. Assim, diante da constante necessidade de se
encontrar formas mais simples e mais raras (para que tivessem valor) é que o uso do ouro e da prata
começou a se intensificar.
De acordo com Nogami e Passos (2016), a utilização do ouro e da prata nas transações
comerciais acabou trazendo grandes vantagens. Pequenas e fáceis de carregar, as moedas eram
padronizadas e tinham um valor intrínseco, ou seja, seu poder de compra era equivalente ao valor
do material utilizado em sua fabricação. Nesse momento, a humanidade passava para a Era da
Moeda Metálica.
Essas moedas metálicas permitiam às pessoas que as guardassem, esperando o melhor
momento para trocá-las por alguma mercadoria. Apesar das vantagens que a moeda metálica
proporcionava, existia, na época, um inconveniente, que era o transporte dessa moeda para longas
distâncias. Além do peso, os viajantes e comerciantes estavam sujeitos a emboscadas e assaltos.
Ainda de acordo com Nogami e Passos (2016), para contornar esse problema, especialmente após o
século XIV, com o crescimento do comércio dentro do continente europeu, começaram a surgir as
casas de custódia, local onde os comerciantes, antes de empreenderem suas viagens, depositavam
os metais que pretendiam levar em suas expedições comerciais e recebiam em troca os chamados
recibos de custódia.
A difusão desse instrumento monetário mais flexível fez com que se ingressasse em um
novo período denominado Era da Moeda-Papel. Agora, em vez de partirem para suas expedições
carregando moedas metálicas, os comerciantes precisavam apenas levar um pergaminho
representativo da custódia feita e, no destino, procurar uma casa de custódia correspondente à
casa emissora para trocar o recibo pelas moedas metálicas.
A moeda e sua importância 91

À medida que o uso desses recibos de custódia se proliferou nos grandes centros comerciais, os
comerciantes acabaram encontrando uma maneira mais simples de utilizá-los, apenas transferindo
a titularidade por meio do endosso. Dessa forma, gradativamente, os recibos de custódia passaram
a substituir as moedas metálicas. Como esses recibos representavam a exata quantidade de metal
(moeda metálica) depositado na cidade de origem, ou seja, possuíam 100% de lastro e tinham
plena conversibilidade, tornaram-se a forma preferida para a liquidação financeira das transações
comerciais, além de desempenharem, também, a função de reserva.
Com o passar do tempo, as casas de custódia perceberam que os detentores dos recibos de
custódia não faziam a reconversão imediatamente. E enquanto alguns faziam a troca da moeda-
-papel por moeda metálica, outros faziam novos depósitos em ouro e prata. As casas de custódia
começaram, então, a emitir certificados sem lastro em moeda metálica, o que, segundo Nogami e
Passos (2016), dá origem à moeda fiduciária – moeda aceita em confiança – ou papel-moeda.
Algumas características devem ser ressaltadas acerca do surgimento do papel-moeda: essas
novas moedas tinham menor conversibilidade, pois o lastro correspondente era inferior a 100%, e
eram emitidas por qualquer casa de custódia e também por particulares. Com o passar do tempo,
essas casas de custódia, pela emissão de recibos sem lastro, fizeram com que o sistema não se
sustentasse e as casas começassem a quebrar, levando os governos a assumirem e controlarem esses
mecanismos de emissões de moeda.
Nogami e Passos (2016) salientam que, no início, as emissões eram lastreadas em ouro, ou
seja, o volume de emissão de papel-moeda estava atrelado à quantidade de ouro existente no país.
Mas com o tempo, com o rápido crescimento das economias e as reservas limitadas do metal na
natureza, os países começaram a suspender a conversibilidade de suas moedas em ouro e, então, o
chamado padrão-ouro começou a entrar em colapso. Em função disso, os governos começaram a
emitir moedas inconversíveis, levando ao abandono do padrão-ouro.
Dessa forma, a moeda passou a ter curso forçado, ou seja, passou a ser amparada por lei e
deixou de ter lastro em metais preciosos, tornando-se uma convenção social, as pessoas aceitam
porque aceitam o papel-moeda. Hoje, a maioria dos sistemas é fiduciária, apresentando as seguintes
características: inexistência de lastro metálico, inconversibilidade absoluta e monopólio estatal das
emissões. Veremos, mais adiante, o que isso significa.

Vídeo 6.2 Funções da moeda


Em função desses aspectos – inexistência de lastro metálico, inconversibilidade
absoluta e monopólio estatal das emissões –, para que a moeda seja entendida
como moeda, deve exercer um conjunto de funções. A mais importante delas,
indiscutivelmente, é de ser meio ou instrumento de troca. Isso porque, desde a
antiguidade, diferentes formas de moeda têm sido utilizadas, mesmo quando estas
eram as próprias mercadorias usadas na prática do escambo. Essa função indica,
também, que a moeda deve ser aceita por todos os indivíduos na realização das mais
diferentes transações, permitindo à economia o alcance da sua eficiência.
92 Economia e Mercado

Como afirmam Abel, Bernanke e Croushmore (2008), ao funcionar como instrumento


de troca, a moeda permite que as pessoas negociem com menos uso de tempo e esforço. Isso
também faz elevar a produtividade, já que possibilita que as pessoas se especializem em atividades
econômicas nas quais são mais qualificadas.
Outra função importante é a de medida de valor, que significa que a moeda tem que permitir
a atribuição dos mais diferentes valores a todas as mercadorias e todos os serviços disponíveis na
economia. E a unidade monetária que a moeda representa é o que permite essa valoração.
Ao destacarmos as vantagens que essa função traz à moeda, podemos apontar, por exemplo,
a simplificação nos sistemas de controle, como os contábeis, racionalizando e aumentando o
número de informações por meio do sistema de preços. Sem essa função de medida de valor, seria
impossível apurar, por exemplo, o consumo das famílias, os gastos do governo, os investimentos, as
exportações líquidas, ou seja, o Produto Nacional Bruto.
Se perguntarmos, por exemplo: quanto o país produziu em um determinado período?
Milhares de dúzias de laranjas, milhares de automóveis, milhões de toneladas de roupas etc. Não
seria mais simples dizer que a economia produziu x reais de laranjas, y reais de automóveis, z reais
de roupas, ou n milhões de reais desses produtos? Dessa forma, por meio da moeda, podemos
comparar e agregar o valor de diferentes bens e serviços. De uma maneira bem simples, essa função
tem que ter a capacidade de responder a uma pergunta básica: quanto custa?
Outro ponto importante sobre a moeda é que, quando retirada de circulação, ela tem que ter
a capacidade de preservar o seu poder de compra enquanto guardada ao longo do tempo. Segundo
Nogami e Passos (2016), essa função, denominada reserva de valor, é um importante elemento de
entesouramento, de estoque de riqueza. E como a moeda pode ser transformada em bens e serviços
a qualquer momento, pode também ser definida como representante universal de riqueza.
De modo mais amplo, é possível dizer que a moeda exerce a função de reserva de valor do
momento em que a recebemos até o instante em que a utilizamos para efetuar alguma compra. Pelo
fato de podermos guardar moeda em qualquer quantidade, fica claro que somente a moeda, que
não se deprecia com os efeitos da inflação, pode exercer essa função, em suma, ela tem que ter um
poder de compra estável.
Outra função da moeda é a de padrão de pagamentos diferidos, que permite receber a
mercadoria no ato da compra, porém com a possibilidade de postergar o pagamento no maior
prazo possível, sem nenhum acréscimo. Essa função é a que ampara as operações de crédito, tendo
a moeda como o meio de pagamento.
O dólar norte-americano ser aceito em qualquer parte do mundo, por exemplo, decorre do
fato de ele atender plenamente às quatro funções básicas que uma moeda tem que exercer. Tanto é
que, nos momentos de instabilidade econômica dos países, os especuladores tendem a se ancorar
na moeda norte-americana, que transmite maior sensação de segurança. Isso tudo sem falar do
lado folclórico da moeda dos Estados Unidos: notas de dois dólares servem, para muitas pessoas,
como talismãs, dobradas e escondidas em algum canto da carteira.
À medida que uma moeda começa a perder suas funções, gradativamente vai deixando
de ser moeda. Foi o que aconteceu com as moedas brasileiras ao longo do período republicano
A moeda e sua importância 93

(como pode ser visto no Quadro 1). Um exemplo claro dessa deterioração do meio circulante
brasileiro está na década de 1980, quando as quatro funções da moeda começaram a perder sua
importância. A função instrumento de troca começou a se deteriorar à medida que as pessoas não
mais aceitavam a moeda corrente como elemento de liquidação financeira, pois sua deterioração
era diária. Assim, as transações, principalmente as de vulto, eram liquidadas com a utilização de
uma moeda mais forte, como o dólar norte-americano.
No que diz respeito à medida de valor, podemos citar o fato de, nessa época, em algumas
vitrines, os preços estarem em moeda estrangeira, assim como anúncios em jornais para a
comercialização de imóveis e automóveis. Guardar moeda em casa? Sem dúvida, mas só em dólares
norte-americanos, marcos alemães (padrão monetário da Alemanha antes do euro) ou libras
esterlinas (moeda da Grã-Bretanha). Empréstimos ou dívidas estavam sempre indexados a alguma
moeda forte. Essa era a nossa realidade.
Quadro 1 – Síntese dos padrões monetários do Brasil (1889 a 2018)

Wikimedia Commons
Cédula Padrão Monetário Vigência Base Legal

Mil-réis: Rs. 1$000


Conto de réis: Rs. Do início da colonização
1:000$000 até 31/10/1942

equivalente a 1 milhão
de réis

Cruzeiro (Cr$ 1,00), Decreto nº 4.791


equivalente a um mil-réis 01/11/1942 a 12/02/1967 (05/10/1942)
(Rs. 1$000) Getúlio Vargas

Decreto nº 60.190
Cruzeiro Novo (NCr$ 1,00),
13/02/1967 a 14/05/1970 (08/02/1967)
equivalente a Cr$ 1.000
Castello Branco

Cruzeiro (Cr$ 1,00) Resolução nº 144 do BCB


15/05/1970 a 27/02/1986
equivalente a NCr$ 1,00 (31/03/1970)

Decreto-Lei nº 2.283
Cruzado (Cz$ 1,00)
28/02/1986 a 15/01/1989 (27/02/1986)
equivalente a Cr$ 1.000
José Sarney

Cruzado Novo (NCz$ 1,00) Lei nº 7.730 (31/01/89)


16/01/1989 a 15/03/1990
equivalente a Cz$ 1.000 José Sarney

(Continua)
94 Economia e Mercado

Wikimédia Commons
Cédula Padrão Monetário Vigência Base Legal

Medida Provisória nº 168


(15/03/1990)
Cruzeiro (Cr$ 1,00)
16/03/1990 a 31/07/1993 Fernando Collor
equivalente a NCz$ 1,00
Lei nº 8.024 de
12/04/1990

Medida Provisória nº 336


(28/07/1993)
Cruzeiro Real (CR$ 1,00)
01/08/1993 a 30/06/1994 Itamar Franco
equivalente a Cr$ 1.000
Lei nº 8.697 de
27/08/1993

Medida provisória nº 542


(30/06/1994)
Real (R$ 1,00)
A partir de 01/07/1994 Itamar Franco
equivalente a CR$ 2.75
Lei nº 9.069 de
29/06/1995

Fonte: Adaptado de Banco Central do Brasil, 2007.

Tivemos várias moedas que, por razões diversas, acabaram perdendo suas quatro funções
básicas. É possível dizer que uma das principais razões que levaram o país a ter inúmeros padrões
monetários em seu período republicano foi o processo inflacionário, que insistentemente deteriorava
o poder de compra das famílias.

Vídeo 6.3 Características da moeda


Além das funções exercidas pelas moedas, elas devem ter algumas características.
Segundo Nogami e Passos (2016), são elas:
• Indestrutibilidade e inalterabilidade: como a moeda será utilizada em
inúmeras transações, ela deverá ser confeccionada com material resistente,
para que não perca suas características, de modo a impossibilitar sua
adulteração. Para tanto, na sua confecção utiliza-se celulose pura, que,
associada às técnicas modernas de impressão, dá maior resistência às cédulas.
• Homogeneidade: o padrão monetário pode ser constituído de cédulas e
moedas. Entretanto, independentemente do material utilizado, na medida
em que possuem o mesmo valor de compra, elas devem ser rigorosamente
iguais. Uma moeda de R$ 1,00 deve ter o mesmo poder de compra de uma
cédula de R$ 1,00, por exemplo.
• Divisibilidade: a moeda deve possuir múltiplos e submúltiplos, para que
transações de diferentes valores possam ser realizadas na economia. No Brasil,
hoje vigoram as moedas de R$ 0,01, R$ 0,05, R$ 0,10, R$ 0,25, R$ 0,50 e R$ 1,00
e notas de R$ 2,00, R$ 5,00, R$ 10,00, R$ 20,00, R$ 50,00 e R$ 100,00.
• Transferibilidade: a moeda deve circular na economia sem nenhuma
dificuldade, facilitando o processo de troca. A razão principal para essa
A moeda e sua importância 95

característica é o curso legal imposto pelo Estado, que emite e garante o papel-moeda em
circulação.
• Facilidade de manuseio e transporte: o papel-moeda de uma economia deve ser
confeccionado de modo a evitar que sua utilização e transporte sejam dificultados e que,
consequentemente, ele seja descartado.

Assim, podemos observar que, além das funções atribuídas a ela, a moeda tem que
apresentar também essas características para que as mais diferentes transações possam ser
realizadas da forma mais fluida possível.

Vídeo 6.4 Formas de moeda e as quase-moedas


O sistema monetário de um país tem três tipos de moeda: a metálica, o papel-
moeda e a moeda escritural. A moeda metálica é uma peça em metal, emitida pelo
Banco Central, que tem por objetivo facilitar as operações de pequeno valor ou de
valores fracionários – o que também facilita o troco. Normalmente, os submúltiplos
de uma moeda são confeccionados sob essa forma.
As cédulas emitidas pelo Banco Central, por sua vez, são denominadas papel-
moeda. Utilizado na compra e na venda de mercadorias, esse tipo de moeda representa
uma parcela significativa da quantidade de dinheiro que circula na economia. O
papel-moeda tem curso legal, ou seja, a circulação é amparada por lei. A partir do
momento em que esse tipo de moeda deixou de ter lastro em metal precioso, passou
a ser uma moeda fiduciária.
A moeda escritural, por fim, é uma ordem de pagamento que se originou da
generalização do uso do papel-moeda. A abertura de uma conta corrente, mediante
depósito em dinheiro, nos permite movimentar esse dinheiro depositado no banco
por meio de cheque, a moeda escritural mais utilizada nos dias de hoje, ou uma ordem
de pagamento como o documento de crédito (DOC) ou transferência eletrônica
disponível (TED), ou ainda por meio de cartões de débito em conta corrente, que é
uma forma de pagamento eletrônico, a qual deduz o valor da compra diretamente da
conta corrente do seu titular.
Esse conjunto de moedas utilizadas em um país é que constitui o seu sistema monetário.
As quase-moedas, por sua vez, compreendem um conjunto de ativos
denominados não monetários, que são constituídos por compromissos assumidos
pelo governo e pelas instituições financeiras, tais como títulos da dívida pública (letras
do Tesouro Nacional, letras financeiras do Tesouro e notas do Tesouro Nacional),
depósitos em caderneta de poupança e depósitos a prazo (certificados de depósito
bancário, recibos de depósito bancário e recibos de depósito cooperativo).
Esses ativos se caracterizam pela extrema liquidez e por carregarem muitas
propriedades da moeda, à exceção da mais importante que é ser instrumento de troca.
Não podemos pagar contas com esses títulos, daí o fato de serem definidos como
quase-moedas.
96 Economia e Mercado

Vídeo 6.5 Demanda, oferta e equilíbrio monetário


Como toda e qualquer mercadoria, a moeda, na medida em que veio substituir
uma das mercadorias na prática do escambo, também deve ser tratada como uma
mercadoria, devendo passar também pela lei da oferta e da demanda; ou seja, deve
existir uma relação de preço e quantidade na condição de equilíbrio. Nesse sentido,
torna-se importante entender quem são os demandantes e os ofertantes de moeda, e
em que situação se dá o equilíbrio.

6.5.1. Demanda de moeda


Esse tema pode parecer, em um primeiro momento, estranho, pois as pessoas
não querem ter cada vez mais dinheiro? Então, podemos pensar, elas devem demandar
moeda para poder satisfazer suas necessidades e seus desejos. Mas quando falamos
em demandar algo, não falamos exatamente sobre as quantidades desejadas se
pudéssemos ter tudo o que queremos, sem ter que sacrificar nada por isso.
Pelo contrário, nós, tomadores de decisões econômicas, sempre enfrentamos
restrições no sentido de termos que sacrificar alguma coisa para que possamos ter
mais de outra. Assim, a demanda por moeda não significa quanto de dinheiro nós
gostaríamos de ter no melhor de todos os mundos. Em vez disso, significa dizer
quanto de dinheiro as pessoas gostariam de ter, dadas as restrições com que se
deparam, como a renda disponível. Nesse sentido, defrontamo-nos com duas formas
de utilizar a nossa renda disponível (renda menos os impostos): para nosso consumo
e para nossa poupança. Isso significa que, se quisermos consumir mais, teremos que
abrir mão da poupança, ou então, se quisermos economizar mais, teremos que abrir
mão do consumo.
O que determina, então, quanto dinheiro queremos ter? Enquanto as reações
variam de pessoa para pessoa, podemos destacar três razões que impactam nosso
comportamento enquanto demandantes de moeda:
• Nível de preços: quanto mais reais nós gastamos em uma semana ou em
um mês, mais dinheiro nós vamos querer ter na mão para poder consumir.
Um aumento generalizado nos preços (inflação) aumenta também o custo
das mercadorias que queremos comprar e a quantidade de dinheiro que
desejamos ter.
• Renda: vamos imaginar que os preços dos produtos que costumamos comprar
se mantenham inalterados ao longo do tempo, e que nossa renda aumente.
O nosso poder de compra vai crescer, fazendo com que a quantidade de reais
que vamos gastar também aumente. Mais uma vez, sempre que você estiver
gastando mais dinheiro, você vai querer ter mais dinheiro à sua disposição.
• Taxa de juros: à medida que decidimos manter a liquidez em dinheiro para
efetuar nossas compras, estamos abrindo mão dos juros, que poderíamos
estar ganhando em uma aplicação financeira. Desse modo, quanto maior a
A moeda e sua importância 97

taxa de juros, maior é o custo de oportunidade de manter essa liquidez. Dentro dessa
lógica, quanto maior a taxa de juros, mais somos levados a manter uma aplicação
financeira, reduzindo a quantidade de moeda disponível para nosso consumo.

Assim, podemos afirmar que nossa demanda de moeda depende de dois importantes
componentes: a renda disponível e a taxa de juros. Isso nos permite escrever a seguinte equação:
L = LT(Y) + LE(i)
na qual L representa a liquidez total de moeda que queremos demandar, distribuída entre a LT,
liquidez transacional, que vai depender da nossa renda disponível (Y) e do nível geral de preços da
economia, e LE, a demanda especulativa, que vai depender da taxa de juros (i).
Até agora, nossa discussão sobre a demanda de moeda está focada em nós, famílias. Porém,
boa parte do dinheiro que circula está nas mãos dos empresários, nos caixas ou nas contas
correntes de suas empresas. E os empresários também se defrontam com tomadas de decisões
relacionadas ao uso do dinheiro, tais como: quanto dinheiro manter em caixa para fazer frente aos
meus compromissos? Quanto manter em outros ativos?
No fim das contas, os princípios adotados por eles são semelhantes aos nossos: tendem a
manter maior liquidez quando a renda disponível é maior ou quando a inflação está alta, e menos
dinheiro em caixa quando a taxa de juros está mais alta.
O Gráfico 1, a seguir, mostra a curva da demanda por moeda, a qual relaciona a quantidade
de moeda que a sociedade está disposta a demandar a cada nível de taxa de juros. Note que essa
curva tem declividade negativa, o que significa que as relações entre taxa de juros e quantidade
de moeda são inversas. Ou seja, quanto maior a taxa de juros, menor a liquidez que as pessoas
pretendem manter, e quanto menor a taxa de juros, maior a liquidez que se deseja manter.
Gráfico 1 – Demanda por moeda
9
Taxa de juros (%)

5
A
4

3
B
2 L = LT(Y) + LE(i)

0
0 50 100 150 200 250 300 350

Quantidade de moeda (bilhões de unidades monetárias)


Fonte: Elaborado pelo autor.
98 Economia e Mercado

O ponto A, por exemplo, mostra que quando a taxa de juros estiver em 4%, a quantidade
demandada será de 100 bilhões de unidades monetárias. Se a taxa de juros cair para 2%, haverá
um movimento em direção ao ponto B na curva da demanda, que indica que a quantidade
demandada nessa nova condição será de 200 bilhões de unidades monetárias. Dessa forma,
à medida que nos movemos ao longo da curva da demanda, a taxa de juros muda, mas
assumimos que outras determinantes da demanda da moeda (como inflação e renda disponível)
permanecem inalteradas.
No entanto, conforme se modificam esses outros fatores que influenciam a demanda de
moeda, a curva da demanda de moeda se moverá para a direita ou para a esquerda. Vamos supor
que a renda disponível aumente: à medida que isso acontece, a sociedade (famílias e empresários)
tende, a cada nível de taxa de juros, a querer manter maior liquidez para suas despesas de consumo.
Nessas condições, a curva da demanda por moeda tende a se deslocar para a direita, como
ilustrado no Gráfico 2, a seguir, no qual a curva da demanda por moeda se desloca de L1 para L2.
Agora, a uma taxa de juros de 4%, a quantidade de moeda demandada aumenta para 150 bilhões
de unidades monetárias; a uma taxa de 2%, o montante de moeda demandada sobe de 200 bilhões
para 300 bilhões.
Gráfico 2 – Deslocamento da curva da demanda
9
Taxa de juros (%)

8
L2 = LT(Y) + LE(i)
7

5
L1 = LT(Y) + LE(i) A E
4

3
B F
2

0
0 50 100 150 200 250 300 350

Quantidade de moeda (bilhões de unidades monetárias)


Fonte: Elaborado pelo autor.

Em resumo, uma mudança apenas da taxa de juros faz com que nos movamos ao longo da
curva da demanda de moeda. A mudança dessa curva é causada por alguma outra coisa além da
taxa de juros, como a mudança na renda disponível ou a inflação, que fazem a curva se deslocar.
Portanto, de acordo com Abel, Bernanke e Croushore (2008), a demanda por moeda é a
quantidade de ativos monetários, como dinheiro e contas correntes, que as pessoas decidem ter
em seu portfólio. Dessa forma, definir quanto de moeda se demanda é parte de uma decisão mais
ampla de alocação de portfólio.
A moeda e sua importância 99

6.5.2. Oferta de moeda


A moeda é um produto institucional e, por isso, é controlado pelas chamadas autoridades
monetárias – Conselho Monetário Nacional (CMN) e Banco Central do Brasil (Bacen ou BCB).
Ademais, a moeda é, como já vimos, o meio de pagamento utilizado nas mais diferentes transações
que ocorrem dentro da economia. Assim, o Bacen deve ter a preocupação de ofertar moeda na
quantidade necessária e suficiente para que todas as transações possam ser realizadas.
Levando em consideração que o conceito de PIB diz respeito à produção de bens e serviços
para o consumo final das famílias, é de se imaginar que as famílias tenham dinheiro para adquirir
essa produção. E conforme as famílias realizam o seu consumo de acordo com a renda que recebem,
que normalmente é em bases mensais, o dinheiro que elas recebem e que usam no consumo sai
das empresas e retorna para elas a cada mês, para que possam efetuar os pagamentos no mês
subsequente, ou seja, o dinheiro gira na economia. Assim, na medida em que o dinheiro sai das
empresas e retorna a elas em um prazo de 30 dias, podemos dizer que o dinheiro gira 12 vezes em
um ano. Esse giro da moeda é conhecido na teoria monetária como velocidade-renda da moeda (V).
A teoria quantitativa da moeda, equação que os economistas clássicos utilizam para definir
o quanto de moeda deve ser ofertada na sociedade, é dada por:
M x V = P x PIB
na qual M é a quantidade de moeda a ser ofertada; V é a velocidade-renda da moeda; P é a inflação;
Q é o produto da economia (PIB). Então, colocando de outra forma:
M = (PIB / V) x P
Isso significa que a oferta de moeda é determinada pela relação entre o PIB e a velocidade-renda
da moeda (giro) e ajustada de acordo com a inflação verificada em determinado período de tempo.
Podemos observar, portanto, que a oferta de moeda independe da taxa de juros, ou seja, ela é
totalmente inelástica à taxa de juros, como pode ser visto no Gráfico 3.
Gráfico 3 – Oferta de moeda
9
Taxa de juros (%)

M
8

0
0 50 100 150 200 250 300 350

Quantidade de moeda (bilhões de unidades monetárias)


Fonte: Elaborado pelo autor.
100 Economia e Mercado

Exemplificando de maneira simples: suponhamos que o PIB tenha sido de R$ 6 trilhões,


a inflação tenha sido zero e a moeda tenha girado, na média, a cada 15 dias (considerando
mensalistas, categorias profissionais que recebem a cada quinze dias, trabalhadores da construção
civil, que recebem a cada semana, além de profissionais liberais e empresários do comércio que
recebem por dia), ou seja, 24 vezes num ano. Assim temos:
M = (R$ 6 trilhões / 24)
M = R$ 250 bilhões
Essa é a quantidade de moeda a ser colocada em circulação. A teoria quantitativa da moeda
admite que, no decorrer do tempo, tanto o PIB como a velocidade-renda da moeda podem sofrer
variações. Isso porque é de se esperar que, ao longo do tempo, a economia cresça, ou seja, que o
PIB cresça.
A velocidade-renda da moeda também pode sofrer alterações ao passo que as formas de
pagamento na economia sofram modificações. Os economistas defensores dessa ideia assumem
que as mudanças na velocidade-renda da moeda são previsíveis e defendem também a ideia
de que o crescimento do PIB está estreitamente relacionado aos aumentos na oferta de moeda.
Argumentam ainda que a estabilidade dos preços é alcançada à medida que a oferta monetária
esteja relacionada ao crescimento da própria capacidade de produção da sociedade.
Portanto, podemos concluir que, se a velocidade-renda da moeda permanecer constante em
curto prazo, o efeito de um aumento na oferta monetária sobre a inflação e o emprego dependerá
de a economia estar operando ou não com recursos ociosos – em outras palavras, dentro, sobre ou
fora da fronteira de possibilidades de produção.

6.5.3. Equilíbrio monetário


Agora, combinando o que sabemos a respeito da demanda e da oferta de moeda, podemos
encontrar a taxa de juros de equilíbrio da economia. Porém, antes de fazermos isso, temos que
considerar alguns detalhes importantes.
O modelo econômico clássico nos diz que a taxa de juros é determinada no equilíbrio de
mercado entre ofertadores e tomadores de recursos, como veremos mais adiante, dentro de uma
perspectiva de longo prazo.
Aqui, no entanto, estamos interessados em analisar como a taxa de juros é determinada
no curto prazo. Por isso, observamos como a taxa de juros de equilíbrio se forma no mercado
monetário: a taxa de juros em que as quantidades de moeda demandada pela sociedade e ofertada
pelo Bacen são iguais. O Gráfico 4, a seguir, combina as curvas de demanda e oferta de moeda.
A moeda e sua importância 101

Gráfico 4 – Equilíbrio do mercado monetário


9

Taxa de juros (%)


8
M
7

5
EM
4

2 L1 = LT(Y) + LE(i)

0
0 50 100 150 200 250 300 350

Quantidade de moeda (bilhões de unidades monetárias)


Fonte: Elaborado pelo autor.

Como podemos observar, o equilíbrio ocorre no ponto EM, na intersecção das duas curvas.
Nesse ponto, as quantidades de moeda demandada e de moeda ofertada são iguais a 100 bilhões de
unidades monetárias, e a taxa de juros de equilíbrio é de 4%.
É importante saber o que significa esse equilíbrio no mercado monetário. Para isso,
recordemos que a curva de oferta de moeda nos informa a quantidade de moeda que circula na
economia. Todo real – seja em espécie, seja depositado em conta corrente – pertence a alguém.
Assim, a curva de oferta de moeda, além de nos informar a quantidade de moeda ofertada pelas
autoridades monetárias, também nos informa a quantidade de moeda que as pessoas estão detendo
em determinado momento.
Por outro lado, a curva de demanda por moeda nos informa também quanto de moeda as
pessoas desejam portar a cada taxa de juros. Assim, quando a quantidade de moeda ofertada é
igual à quantidade de moeda demandada, toda a moeda disponível na economia está atendendo às
necessidades da sociedade. Isso significa que as pessoas estão satisfeitas com o montante de moeda
que estão portando.

Vídeo 6.6 Política monetária


Todo o controle da oferta de moeda e da taxa de juros é feito pela política
monetária, que pode ser definida como um conjunto de medidas adotadas pelo Bacen
para assegurar a liquidez ideal da economia.
A execução da política monetária tem, desse modo, o objetivo de, por meio do
controle da oferta de moeda, elevar o nível de emprego da economia, manter os preços
estáveis (combate aos efeitos inflacionários) e manter a taxa de juros em um patamar
ideal. Tudo isso para assegurar um adequado crescimento econômico.
102 Economia e Mercado

6.6.1. Instrumentos de política monetária


As autoridades monetárias, na execução da política monetária, utilizam um conjunto de
instrumentos para mexer na oferta de moeda e regular a taxa de juros da economia, como apontam
Nogami e Passos (2016). Como essas autoridades não têm como intervir diretamente na atividade
econômica – para aumentar o nível de consumo, por exemplo –, atuam indiretamente, mexendo
na moeda que circula na economia.
reservas
bancárias: moeda Dessa forma, por meio da ação sobre reservas bancárias e sobre as taxas de juros, por
disponível nas
instituições
exemplo, induzem a sociedade a alterar seu perfil de gastos. Os principais instrumentos para essas
financeiras ações são:
que atuam
emprestando • Controle direto da quantidade de moeda em circulação: diz respeito, diretamente, à
dinheiro ou
financiando a emissão de dinheiro e sua circulação de acordo com as diretrizes fixadas pelas autoridades
aquisição de bens.
monetárias. Normalmente, a emissão de moeda se destina ao financiamento de déficits
orçamentários do governo, à concessão de empréstimos de liquidez às instituições
bancárias e à realização de operações de compra e venda de moeda estrangeira, como
apontam Nogami e Passos (2016).
• Operação no mercado aberto: esse controle se faz diariamente, por meio do mercado
monetário, no qual o Banco Central controla a liquidez da economia, comprando ou
vendendo títulos públicos. Quando há excesso de oferta monetária, o Bacen realiza
operações de venda de títulos públicos, que são adquiridos pelas instituições financeiras
mediante pagamento em espécie, contraindo-se, assim, a quantidade de moeda nas
instituições e reduzindo sua capacidade de financiar e de emprestar. Caso o Bacen sinta
que a oferta de moeda é insuficiente, ele entra no mercado monetário comprando títulos
públicos e pagando em espécie, a fim de injetar dinheiro na economia e provocar, dessa
forma, um aumento nos meios de pagamento.
• Fixação da taxa de reserva compulsória: segundo Nogami e Passos (2016), esse é um outro
instrumento utilizado pelo Bacen para controlar a oferta de dinheiro, atuando diretamente
sobre os bancos. Essas taxas, também conhecidas como depósitos compulsórios, são
mantidas pelas instituições bancárias junto ao Bacen, proporcionalmente aos depósitos à
vista e a prazo, e às cadernetas de poupança mantidos nessas instituições. Esse instrumento
atua diretamente sobre o nível de reservas dos bancos, com reflexos diretos no nível de
expansão ou contração dos meios de pagamento. A elevação dessas taxas de reserva
provoca a diminuição dos meios de pagamento, uma vez que reduz a disponibilidade dos
bancos para empréstimos. Por outro lado, à medida que o Bacen reduz a taxa de reserva
do compulsório, provoca um aumento nas disponibilidades bancárias.
• Fixação da taxa de redesconto: quando os bancos comerciais enfrentam eventuais
problemas de liquidez, eles recorrem ao Bacen para a obtenção de empréstimos conhecidos
como redesconto; a taxa de juros praticada nessas operações é conhecida como taxa
de redesconto. Assim, uma elevação nessa taxa induzirá os bancos a se atentarem ao
problema de liquidez, reduzindo suas operações de concessão de crédito – o que, por
consequência, reduz a oferta de moeda na economia. Por outro lado, se for desejo das
A moeda e sua importância 103

autoridades monetárias expandir os meios de pagamentos mediante uma redução das


reservas bancárias, bastará reduzir a taxa de redesconto. Conforme esclarece Blanchard
(2011), emprestar aos bancos é muito semelhante a comprar títulos em uma operação do
mercado aberto, criando moeda e aumentando a liquidez do mercado.
• Controle seletivo de crédito: o Bacen, quando percebe que o nível de consumo da
sociedade está alto, principalmente pelo uso do crédito, pode criar restrições para as
operações de financiamentos e de empréstimos, limitando montantes e prazos. Ou,
no sentido contrário, querendo dar mais dinamismo ao mercado, permite o aumento
de prazos para determinados bens de consumo durável. Em linhas gerais, o Bacen
tem condições de controlar o volume e a distribuição de linhas de crédito, impor um
determinado patamar às taxas de juros e orientar a finalidade na concessão dos créditos,
determinando prazos, limites e condições, de acordo com Nogami e Passos (2016).

Não podemos esquecer que, além desses instrumentos, o Bacen utiliza sua autoridade
moral e sua reputação para induzir os bancos a adotarem, voluntariamente, o comportamento
considerado apropriado às circunstâncias particulares.

6.6.2. Efeitos da política monetária


Os impactos da política monetária sobre o setor real da economia podem ser observados
por meio da taxa de juros praticada pelas instituições financeiras, da disponibilidade de crédito, da
expectativa com relação às taxas futuras de juros e da composição da riqueza privada.
Isso significa dizer que as ações de política monetária modificam os rendimentos dos ativos
financeiros, além de alterarem o custo e a disponibilidade de crédito na economia.

Considerações finais
Ao longo deste capítulo, procuramos desvendar alguns mistérios que cercam a moeda que
circula na economia, expondo seu real significado e sua importância no nosso dia a dia. Buscamos
apresentar, também, as preocupações que o governo tem em deixá-la circular livremente, sem
descuidar do seu controle, para evitar consequências não desejadas e que podem causar impactos
no sistema econômico.

Ampliando seus conhecimentos


• WEATHERFORD, Jack M. A história do dinheiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
Nesse livro, o autor retrata a trajetória de nossa relação com o dinheiro, abrangendo
desde a época em que o homem primitivo trocava conchas até a chegada dos amplamente
usados cartões eletrônicos.
104 Economia e Mercado

• FERGUSON, Niall. A ascensão do dinheiro: a história financeira do mundo. São Paulo:


Planeta, 2009.
Esse livro foi best-seller do jornal The New York Times, apresenta um estudo brilhante
da história financeira e expõe como uma nova revolução financeira está impulsionando
alguns dos maiores países do mundo, levando alguns países da pobreza para a riqueza ao
tempo de uma geração.

• Banco Central do Brasil. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/. Acesso em: 24 ago. 2019.
Vale a pena uma visita ao site do Bacen. Nele, estão disponíveis informações e dados sobre
a política monetária (meta para a inflação, Conselho de Política Monetária, atas do Copom
etc.) e estabilidade financeira (Sistema Financeiro Nacional, Sistema de Pagamentos
Brasileiro, câmbio, capitais internacionais etc.), além de estatísticas, informações acerca
de cédulas e moedas, e publicações diversas.

Atividades
1. Cartões de crédito são considerados moeda? Explique.

2. Por que as pessoas querem manter menos dinheiro guardado quando as taxas de juros se elevam?

3. Qual é o principal objetivo da política monetária?

4. Quais são os principais instrumentos de política monetária no Brasil?

5. De que forma as autoridades monetárias podem estimular o nível de investimentos das empresas?

Referências
ABEL, Andrew B.; BERNANKE, Ben S.; CROUSHORE, Dean. Macroeconomia. 6. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2008.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Síntese dos padrões monetários brasileiros. Brasília, maio 2007. Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/content/acessoinformacao/Documents/museu/pub/SintesePadroesMonetariosBrasileiros.
pdf. Acesso em: 23 ago. 2019.

BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.

NOGAMI, Otto; PASSOS, Carlos R. M. Princípios de economia. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
7
Política econômica e o tripé macroeconômico

Neste capítulo, vamos analisar as ações do governo que têm o objetivo de influenciar ou
controlar o comportamento da economia. Elas incluem decisões sobre os gastos de governo, as
formas de arrecadação, a redistribuição da renda, a estabilidade de preços, a oferta de moeda, a
taxa de juros e a taxa de câmbio.

Vídeo 7.1 Política econômica


Podemos entender como política econômica todo um conjunto de medidas
adotadas pelo governo objetivando o crescimento e o desenvolvimento de um país.
E as ações de política econômica são realizadas de modo a atuar e influir sobre os
mecanismos de produção, distribuição e consumo de bens e serviços, sempre tendo
em mente também que essas ações seguem interesses de natureza social e política.
A execução e a eficiência da política econômica variam de acordo com o grau
de diversificação da economia, da natureza do regime social, do nível de atuação da
sociedade e da própria visão que os governantes têm do papel do Estado. De acordo
com os objetivos governamentais, as políticas econômicas podem ser classificadas
em três grupos: estruturais, de expansão ou de estabilização conjuntural.
Segundo Sandroni (1999, p. 477-478), “a política estrutural está voltada para a
modificação da estrutura econômica […], regulando o funcionamento do mercado
[…] ou criando empresas públicas, regulamentando os conflitos trabalhistas,
alterando a distribuição de renda ou nacionalizando empresas estrangeiras”. Para
esse autor, a política de expansão, por sua vez, visa à manutenção ou à aceleração do
desenvolvimento econômico, o que pode ser feito por meio de reformas estruturais,
proteção alfandegária e uma política cambial contra a concorrência estrangeira.
Por fim, a política de estabilização conjuntural “visa à superação de desequilíbrios
ocasionais” (SANDRONI, 1999, p. 478) ou pontuais e pode envolver ações contra
um momento recessivo da economia, combate à inflação ou contra a escassez de
determinados produtos ou serviços.
Cada uma dessas ações depende da corrente predominante do pensamento
econômico, ligada a critérios políticos e ideológicos. Entretanto, no trato do dia a
dia de uma economia – que afeta o comportamento da sociedade como um todo –,
prevalecem ações para estabilidade conjuntural (ou seja, uma estabilidade nos preços),
contas governamentais equilibradas e uma taxa de câmbio adequada.
Para entendermos a forma como tudo isso acontece, resgatemos a Figura 2
apresentada no Capítulo 1, mas agora com algumas pequenas modificações.
106 Economia e Mercado

Figura 1 – Estabilidade conjuntural e seus instrumentos

Consumo (R$)

Renda (R$)
Setor monetário

Famílias Empresas
Fatores de
produção

Bens e serviços Setor real

Resto do mundo Setor externo

Fonte: Elaborada pelo autor.

Observe que na Figura 1 inserimos o setor externo, pois, em uma economia moderna, ele
desempenha um papel primordial na busca do equilíbrio da economia doméstica, importando ou
exportando bens e serviços, bem como também com a ida e vinda de capitais estrangeiros. Além
disso, perceba que, no fluxo circular da atividade econômica, inserimos a renda na parte superior,
onde estava o produto, e o produto na parte de baixo, no lugar da renda. Isso foi feito para destacar
um detalhe importante: podemos segmentar esse fluxo em três partes.
A primeira parte localiza-se no segmento do meio, onde estão os fatores de produção e os
bens e serviços, sendo chamada de setor real da economia – ou seja, é onde as coisas acontecem
em termos reais. É nesse setor que o espírito empreendedor aflora, onde temos o capital físico e
financeiro, o mercado de mão de obra, o mercado de insumos de produção e, em contrapartida,
bens e serviços produzidos pelas empresas para o consumo das famílias.
Na parte superior, temos os agregados renda e consumo. Quando se praticava o escambo,
o trabalhador era remunerado com a própria mercadoria que produzia, e, de posse dela, realizava
trocas para poder satisfazer suas necessidades e seus desejos. Na própria evolução da sociedade,
como vimos em capítulos anteriores, o trabalho passou a ser remunerado com a moeda, instrumento de
troca que começou a ser utilizado ao consumir.
Assim, no segmento superior da figura, temos a moeda circulando na economia, chegando às
famílias sob a forma de renda e às empresas sob a forma de consumo. Esse segmento pode ser denominado
setor monetário da economia, ou seja, o setor no qual a moeda circula. É importante esclarecer que tudo
o que acontece nele nada mais é do que a contrapartida daquilo que ocorre no setor real.
E, finalmente, temos o segmento inferior, que diz respeito à relação que a sociedade tem
com o resto do mundo. Se não somos autossuficientes em fatores de produção, por exemplo,
temos que importá-los para atender à demanda da nossa indústria; o excedente de produção, por
outro lado, pode ser exportado. E como essas relações econômicas com o resto do mundo se dão,
normalmente, com uma moeda estrangeira, vamos designar esse segmento de setor externo.
Isso posto, fica fácil entender como o governo atua para manter a estabilidade conjuntural
do país, ou até mesmo para adotar políticas que permitam o processo de crescimento da economia.
E isso se faz de três maneiras diferentes: agindo diretamente sobre o setor real (política fiscal),
Política econômica e o tripé macroeconômico 107

indiretamente sobre o setor monetário (política monetária) ou por meio do setor externo (política
cambial). Esse conjunto de políticas é o que representa a política econômica.

7.1.1 Política fiscal


Podemos entender por política fiscal a ação do governo por meio do uso dos seus dispêndios
ou da arrecadação, conforme afirmam Nogami e Passos (2016). A política fiscal pode ser utilizada
com o objetivo de levar a economia a um sistema de preços adequado, manter níveis de consumo
apropriados e de emprego desejável, estabelecer adequada distribuição da renda e, quando necessário,
conduzir a demanda da sociedade a um nível de pleno emprego da economia.
Dessa forma, se o governo entender que a economia está recessiva – ou seja, em um hiato
deflacionário –, ele poderá aumentar seus próprios gastos (G), afinal é o segundo maior consumidor
da economia. Agindo dessa maneira, poderá estimular os empresários a produzirem mais, já que,
para tanto, demandarão mais fatores de produção. Consequentemente, será gerada mais renda na
economia, aumentando o consumo das famílias.
O governo pode também, em uma situação de recessão, reduzir a carga tributária (T), o que
aumentaria a renda disponível das famílias, que então passariam a ter mais renda para consumir.
Esse aumento de consumo das famílias também estimularia as empresas a produzirem mais.
Outra possibilidade de ação do governo pode ser estimular os investimentos (I) do setor
privado, reduzindo os tributos que incidem sobre o lucro. Isso faz com que aumente a rentabilidade
do investimento e/ou obtenha-se uma redução em seu prazo de retorno.
Por outro lado, se a economia se encontrar em uma situação que ultrapassa a condição
de pleno emprego – hiato inflacionário –, o governo terá que agir para reduzir a demanda da
sociedade. Para isso, ele pode:
• reduzir os gastos de governo (G), o que leva os empresários a diminuírem sua produção,
passando a demandar menos fatores de produção; como consequência, encurta-se a renda
que circula na economia e o consumo das famílias.
• aumentar os tributos (T), o que diminui a renda disponível das famílias, que passarão a
consumir menos, levando os empresários a produzirem também menos; isso contribui
ainda para a queda da economia.
• desestimular os investimentos (I), aumentando, por exemplo, a tributação sobre o lucro
das empresas, que tenderão a reduzir investimentos.

Portanto, as decisões do governo sobre quanto gastar, com o que gastar e como financiar
seus gastos é de suma importância, pois afetam diretamente a atividade econômica. Nos últimos
anos, as pessoas tornaram-se mais conscientes sobre os efeitos macroeconômicos de uma política
fiscal, o que trouxe implicações econômicas ao dia a dia do cidadão brasileiro.

7.1.2 Política monetária


A política monetária é o conjunto de medidas adotadas pelo Banco Central (Bacen)
com o objetivo de adequar os meios de pagamento às necessidades da economia do país, para
que as transações possam ser feitas dentro da normalidade e de modo eficiente, conforme
108 Economia e Mercado

explicam Abel, Bernanke e Croushore (2008). Como vimos no capítulo anterior, essas medidas
adotadas pelo Bacen envolvem a emissão de moeda, o controle da liquidez, o controle seletivo
de crédito, entre outras.
Essa política também pode intervir na economia, fixando sua taxa de juros referencial
(denominada taxa Selic), e deixando as taxas de redesconto a serem cobradas dos títulos apresentados
pelos bancos ou impondo a estes o sistema de depósitos compulsórios, para garantir a liquidez do
sistema bancário.
A política monetária no Brasil, assim como em outros países, é o instrumento de combate
a surtos inflacionários, fixando taxa de juros e determinando a liquidez monetária ideal da
economia. A execução da política monetária, em última instância, tem como objetivos – por meio
do controle da oferta de moeda – a elevação do nível de emprego, a estabilidade dos preços, uma
taxa de câmbio realista e uma adequada taxa de crescimento econômico.
Quando o Bacen percebe que a economia está com a componente recessiva, ele tende a,
entre outras ações:
• reduzir a taxa de juros, desestimulando as pessoas em relação à manutenção de
liquidez especulativa (guardar moeda), levando-as a consumir, ou reduzir o custo dos
investimentos, fazendo com que o empresário se sinta estimulado a investir;
• aumentar a quantidade de moeda em circulação, recomprando títulos públicos e, assim,
injetando mais moeda na economia e ampliando a disponibilidade de recursos junto às
instituições financeiras, as quais aumentarão a oferta de financiamentos e empréstimos;
• reduzir a taxa das reservas compulsórias, aumentando a disponibilidade de recursos nas
instituições bancárias, o que lhes permite elevar o volume de operações creditícias;
• aumentar prazos de financiamento para aquisição de bens duráveis, visando a facilitar o
acesso de pessoas de menor renda a produtos de valor agregado mais alto.

No sentido contrário, quando a economia está com elevada inflação, para deixar os preços em
um patamar desejável, o Bacen pode agir, por exemplo, aumentando a taxa de juros, o que estimula
as pessoas a pouparem mais, para aproveitarem a maior rentabilidade das aplicações financeiras.
Essa ação implica em uma redução do consumo das famílias. Para os empresários, a taxa de juros
mais alta torna o custo do investimento mais caro, levando-os a postergar a aquisição de máquinas,
equipamentos e ferramentas, ajudando a esfriar a atividade econômica.
Outra ação possível para o Bacen em caso de elevada inflação é reduzir a liquidez da
economia, colocando títulos públicos no mercado aberto. Esses títulos serão adquiridos pelas
instituições financeiras, reduzindo a liquidez dos bancos, o que significa que haverá menos
recursos para suas operações de crédito.
Política econômica e o tripé macroeconômico 109

O Bacen pode ainda aumentar as taxas do depósito compulsório, o que também reduzirá a
liquidez dos bancos, ou criar restrições às operações de crédito, reduzindo prazos ou estabelecendo
mecanismos para inibir o consumo via sistema creditício.
Essas adequações ocorrem com ações reguladoras, exercidas pelas autoridades monetárias
sobre o meio circulante do país, de modo que este seja plenamente utilizado e tenha um emprego
tão eficiente quanto possível.

7.1.3 Política cambial


A política cambial é o instrumento utilizado pelo Banco Central na execução das relações
comerciais e financeiras com o resto do mundo. A forma como essa política é executada reflete,
normalmente, as relações existentes entre um país e os outros, com base no desenvolvimento
econômico alcançado por eles, ou pelo grau de protecionismo que tenham a intenção de impor. Em
outras palavras, como afirmam Krugman e Wells (2007), os governos têm o poder de influenciar
a taxa de câmbio, que nada mais é do que o preço da moeda de um país em termos da moeda de
outro país – por exemplo, o preço do dólar norte-americano em reais.
Vamos supor que, em determinado momento, o país queira adequar suas condições de
produção, tornando-as mais competitivas e produtivas, necessárias ao desenvolvimento do
setor industrial. Para tanto, excluindo-se os instrumentos fiscais como redução de impostos de
importação, as autoridades monetárias podem manter o real valorizado sobre o dólar norte-
-americano (manter a cotação baixa), reduzindo o preço, em moeda nacional, desse produto; mas
não podemos nos esquecer de que esse tipo de estratégia encarece o produto nacional para os
importadores de outros países.
A política cambial pode utilizar ainda outros mecanismos para conter a saída de moedas
estrangeiras, evitando um desequilíbrio no balanço de pagamentos, tais como a fixação de diferentes
taxas de câmbio (câmbio comercial, câmbio turismo, câmbio financeiro etc.). E pode ainda, com o
objetivo de favorecer as exportações de algum setor específico da economia, desvalorizar a moeda
nacional (manter câmbio alto).
No Brasil, por exemplo, são concedidos créditos como prêmio para incentivar as exportações e
são realizadas antecipações dos valores correspondentes aos contratos de exportação, conhecidas
como Antecipações de Contratos de Câmbio (ACCs), que permitem ao exportador obter recursos
para financiar o seu capital de giro ou realizar aplicações financeiras com essa antecipação, obtendo
um ganho não operacional adicional, que em determinados momentos pode compensar eventuais
defasagens cambiais.
110 Economia e Mercado

Vídeo 7.2 Tripé macroeconômico


O monitoramento da política econômica, por meio das políticas fiscal, monetária e
cambial e de suas ações sobre a atividade econômica, conforme pode ser visto na Figura 2 a
seguir, é feito em torno de três indicadores: inflação, contas públicas e taxa de câmbio.
Figura 2 – Ação de política econômica sobre a atividade econômica

Consumo (R$)
Política monetária
Renda (R$) Setor monetário (juros, moeda)

Política econômica
Famílias Empresas
Fatores de
produção Política fiscal
Setor real
(gastos, arrecadação)
Bens e serviços

Política cambial
Setor externo (câmbio)
Resto do mundo

Fonte: Elaborada pelo autor.

Analisaremos esses fatores a seguir, a fim de compreender o funcionamento de


cada um deles.

7.2.1 Inflação
À medida que a política monetária é executada para, entre outros objetivos, manter
a estabilidade de preços na economia, o indicador de inflação é o melhor instrumento para
se verificar se ela está sendo eficiente no controle de preços.
Segundo Nogami (2018), inflação é um fenômeno macroeconômico que pode ser
definido como um processo persistente de aumento dos preços dos mais diferentes bens
e serviços. É um fenômeno generalizado que atinge toda a sociedade e que traz grandes
consequências negativas de ordem política, econômica e social. Mas de que maneira a
inflação afeta nosso dia a dia?
Você se lembra de quando falávamos da estrutura de consumo relacionada a cada um de
nós? Recordando, ela era composta por determinada quantidade de bens e serviços selecionados
de acordo com os seus preços e pelo fator restritivo renda. Então, imaginemos que a renda
permaneça inalterada e que os preços dos bens e serviços que estamos acostumados a
adquirir aumentem. Isso fará com que passemos a consumir menos, afetando assim nosso
bem-estar.
Dessa forma, se a nossa renda permanecer constante ao longo de um ano e os preços
aumentarem todos os meses, nossa condição de consumir estará bastante deteriorada ao final
desse período. Essa é a razão para que nossos salários sejam reajustados anualmente. O
objetivo é o de recompor nossa capacidade de consumir.
Política econômica e o tripé macroeconômico 111

E qual a origem desse aumento generalizado de preços? Uma das causas mais comuns ocorre
quando a demanda é maior do que a capacidade de produção das empresas em determinado
período. Ou, então, como se costuma dizer, há dinheiro demais à procura de poucos bens. Essa é a
inflação de demanda, conforme explicam Nogami e Passos (2016).
Outra causa pode ser atribuída a um conjunto de fatores, tais como queda na produção,
aumento no preço dos produtos importados, aumentos excessivos nos salários. Um período de
chuvas fortes e persistentes, ou mesmo de geadas, prejudica as culturas no campo, o que resultará
em uma redução na produção. Menores quantidades do produto disponíveis no mercado –
mantida a demanda inalterada – fazem com que os preços subam.
De outro lado, um aumento no preço do barril de petróleo faz com que o preço de seus
derivados também suba, impactando a produção e a distribuição da maioria dos bens. Segundo
Nogami e Passos (2016), à medida que esses custos são repassados aos preços dos produtos, acabam
acarretando a chamada inflação de custos.
Uma terceira razão, ainda segundo os autores, para a elevação sistemática dos preços
na economia é a chamada inflação inercial. Ela ocorre devido a um comportamento dos
agentes econômicos com relação às expectativas futuras de aumento de preços. Antevendo uma
provável elevação de preços, as empresas se antecipam e aumentam o preço de suas mercadorias
ou serviços. Esse comportamento acaba sendo incorporado também nos contratos e acordos
informais e, dependendo do cenário de incerteza, pode perdurar por algum tempo.
Como a inflação é um problema macroeconômico e que afeta o bem-estar da sociedade, seu
controle torna-se prioritário, a ponto de, atualmente, muitos países adotarem o conceito de metas
inflacionárias, em torno das quais gravitam as políticas econômicas, em especial a monetária.

7.2.1.1 Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)


O IPCA, indicador oficial de inflação no Brasil, é utilizado pelas autoridades monetárias na
execução da política monetária. Ele é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) desde 1980 e se refere às famílias que recebem uma renda de 1 a 40 salários mínimos,
qualquer que seja a fonte, abrangendo dez regiões metropolitanas1, além dos municípios de Goiânia,
Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e Brasília. Com esse índice, vamos entender um pouco
o que aconteceu com nossa economia em anos recentes.
No Gráfico 1, temos o comportamento do IPCA de 1995 a 2018. Nele podemos observar
que o país saiu de um alto processo inflacionário em 1995, com a implementação do Plano Real,
e que vem se ajustando a patamares bem mais baixos nos anos mais recentes. A exceção para esse
comportamento são os anos de 2002, que antecedeu o novo governo, e 2015, quando políticas de
incentivo ao consumo associadas ao excessivo gasto governamental desequilibraram as relações de
oferta e demanda.

1 Vitória, Fortaleza, Belém, Curitiba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Recife e Porto Alegre são
essas dez regiões metropolitanas.
112 Economia e Mercado

Gráfico 1 – IPCA: variação percentual no ano


25
22,41 FHC LULA DILMA TEMER

20

15
12,53

10,67
10 9,30
9,56 8,94
7,60
7,67
5,69 6,50
5,90 5,90 5,91
5,22 5,97 4,45 7,20
5 6,29
5,83 3,75

4,31
3,14
1,66
2,95
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Fonte: Elaborado pelo autor.

O Gráfico 2, por sua vez, mostra o comportamento do IPCA, mês a mês, acumulado em 12
meses. Esse gráfico nos dá uma ideia do “movimento” da inflação mês a mês, de janeiro de 2010 a
dezembro de 2018.
Gráfico 2 – IPCA: variação percentual acumulada em 12 meses
13

11

DEZ 2018
7 3,75%

1
jan-10
abr-10
jul-10
out-10
jan-11
abr-11
jul-11
out-11
jan-12
abr-12
jul-12
out-12
jan-13
abr-13
jul-13
out-13
jan-14
abr-14
jul-14
out-14
jan-15
abr-15
jul-15
out-15
jan-16
abr-16
jul-16
out-16
jan-17
abr-17
jul-17
out-17
jan-18
abr-18
jul-18
out-18

IPCA Piso da Meta Meta Teto Máximo


Fonte: Elaborado pelo autor.

A linha indicada como Meta representa a meta inflacionária, ou centro da meta, fixada
pelo Conselho Monetário Nacional, de 4,5% no período. Como já foi dito, isso quer dizer que as
autoridades monetárias entendem que o melhor para a economia é que os preços subam, em média,
4,5% ao ano. Existe ainda uma margem de tolerância em torno da qual os preços podem variar, que
é de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Assim, o piso da meta fica em 3% ao ano (linha
inferior), enquanto o teto da meta fica em 6% ao ano (linha superior).
Política econômica e o tripé macroeconômico 113

7.2.1.2 Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M)


O IGP-M é calculado mensalmente pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e divulgado no
penúltimo dia útil de cada mês de referência. Esse indicador é calculado sobre a mesma base de
dados utilizados para o cálculo do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), e
com a mesma metodologia. O que difere um do outro é o período considerado para a realização
do cálculo. O IGP-DI refere-se ao período do primeiro ao último dia do mês, enquanto o IGP-M
considera o período que vai do dia 21 do mês anterior ao dia 20 do mês de referência.
O IGP-DI foi concebido no final de 1940 para medir o movimento de preços de modo
abrangente. Assim, ao contrário do IPCA, que mede a variação de preços na estrutura de consumo das
famílias, o IGP-DI mede também a variação de preços observada na produção e na construção civil.
Para tanto, a metodologia adotada contempla três outros indicadores: Índice de Preços ao Produtor
Amplo (IPA), com peso de 60% no cálculo; Índice de Preços ao Consumidor (IPC), representando
30%; e Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que pesa 10% no cálculo. Até dezembro de
1979, o IGP-DI foi amplamente utilizado como indicador de inflação da economia brasileira.
Segundo informações do site da FGV (2019), esse indicador “poderia ser usado como
deflator do índice de evolução dos negócios, daí resultando um indicador mensal do nível de
atividade econômica”.
O IGP-M foi concebido para ser um balizador para a correção de alguns títulos emitidos
pelo Tesouro Nacional e alguns ativos financeiros pós-fixados. Com o passar do tempo, começou
a ser utilizado para a correção de contratos e como indexador de algumas tarifas de prestação de
serviços, de acordo com Nogami e Passos (2016). No mercado, o IGP-M é também conhecido
como a inflação do aluguel.
O Gráfico 3, a seguir, mostra o comportamento do IGP-M no período de dezembro de 1999 a
dezembro de 2018.
Gráfico 3 – IGP-M: variação percentual no ano
35

30

25

20

15 DEZ 2018
+7,55%
10

-5
jan-99

jan-02

jan-07

jan-12

jan-15
jan-01

jan-04

jan-06

jan-09

jan-11

jan-14

jan-17

jan-18
jan-00

jan-03

jan-05

jan-08

jan-10

jan-13

jan-16
jul-00

jul-03

jul-05

jul-08

jul-10

jul-13

jul-16
jul-99

jul-02

jul-07

jul-12

jul-15
jul-01

jul-04

jul-06

jul-09

jul-11

jul-14

jul-17

jul-18

Fonte: Elaborado pelo autor.


114 Economia e Mercado

Nesse gráfico, podemos observar que o comportamento do IGP-M é bem diferente do


IPCA. Isso ocorre porque o IPCA analisa apenas a variação de preços da cesta de consumo das
famílias, enquanto o IGP-M procura medir a variação de preços da economia como um todo,
ou seja, inclui não só a variação de preços na cesta de consumo, mas também a verificada na produção
e na construção civil. A diferença fica clara quando comparamos o acumulado de 12 meses em
dezembro de 2018, ou seja, no ano de 2018. Pelo IPCA, a inflação foi de 3,75%, enquanto pelo
IGP-M os preços variaram 7,55% no ano.

7.2.2 Resultado fiscal (contas públicas) do Governo Central


O monitoramento dos resultados fiscais do Governo Central é importante para que
possamos saber como o governo está executando sua política fiscal, por meio de seus gastos e
suas arrecadações.
Como foi visto em capítulos anteriores, os gastos do governo compreendem todo um
conjunto de dispêndios que ele realiza, tanto de consumo quanto de investimento. A análise
desses gastos é importante por representar uma elevação substancial em quantidades e valores de
transações na economia, afetando a demanda total e o nível de renda da sociedade.
É importante lembrar que esses gastos são uma forma de o governo intervir na atividade
econômica. Outra maneira de ele fazer isso é por meio da arrecadação (T). A introdução dos
impostos, das taxas e das contribuições implica uma redução da renda disponível das pessoas.
Isso, por sua vez, leva a uma diminuição no consumo e na renda da economia, já que haverá uma
redução na demanda total do país.
Cabe ressaltar que essas intervenções muitas vezes são necessárias, à medida que as
economias de mercado não conseguem cumprir adequadamente suas funções. Por essa razão,
o governo e o sistema de mercado passam a dividir a tarefa de responder às três questões
econômicas básicas: o que produzir, para quem produzir e como produzir. Assim, as principais
funções econômicas do setor público são:
• fornecer a infraestrutura institucional, ou seja, disponibilizar parte da infraestrutura
física, como rodovias, aeroportos, pontes etc.;
• promover a manutenção da concorrência, limitando o poder de mercado de empresas e
evitando, assim, que ele seja usado de maneira anticoncorrencial;
• gerar a realocação de recursos, por meio do fornecimento de bens públicos que, por suas
características, o mercado não pode e não deve prover;
• realizar a redistribuição de renda, pois, nas economias de mercado, existe uma
considerável desigualdade na distribuição da renda e, por essa razão, o governo deve atuar
como um agente de redistribuição, por meio de programas e políticas governamentais;
• manter a estabilidade da economia, intervindo de modo a evitar excessivas flutuações na
atividade econômica, utilizando-se de políticas econômicas e buscando o pleno emprego
de recursos e a manutenção de preços estáveis.
Política econômica e o tripé macroeconômico 115

Apesar da importância dessas funções, a preocupação maior que sempre deve estar presente
é a manutenção do equilíbrio fiscal, pois, à medida que o governo excede seus gastos frente à
arrecadação, começa a prejudicar o setor privado da economia, tomando recursos para financiar
seu déficit e comprometendo os investimentos no setor produtivo.
De maneira simplificada, temos, no Quadro 1, a forma como o governo contabiliza suas
receitas e despesas para a determinação do resultado primário e do resultado nominal.
Quadro 1 – Resultado fiscal do Governo Central (valores em R$)

Discriminação Valor
RECEITA TOTAL

( - ) Transferências por repartição de renda

RECEITA LÍQUIDA

( - ) Benefícios previdenciários

( - ) Pessoal e encargos sociais

( - ) Outras despesas obrigatórias

( - ) Despesas discricionárias

RESULTADO PRIMÁRIO DO GOVERNO CENTRAL

( - ) Juros nominais

RESULTADO NOMINAL DO GOVERNO CENTRAL

Fonte: Elaborado com base em dados da Secretaria do Tesouro Nacional.

A receita total é composta pela arrecadação administrada pela Receita Federal do Brasil
(RFB), excetuando-se o Regime Geral da Previdência Social (RGPS), os incentivos fiscais, a
arrecadação líquida para o RGPS e as receitas não administradas pela RFB, tais como concessões e
permissões, receitas próprias e de convênios, contribuição do salário-educação, entre outros.
As transferências por repartição de renda são compostas basicamente por: Fundo
de Participação dos Municípios (FPM), Fundo de Participação dos Estados (FPE), fundos
constitucionais, contribuição do salário-educação. Já as contas benefícios previdenciários e
pessoal e encargos sociais destinam-se ao que o próprio nome estabelece.
Em outras despesas obrigatórias, que se referem a compromissos estabelecidos na
legislação, temos itens como: abono e seguro-desemprego, anistiados, compensação ao RGPS
pelas desonerações da folha, convênios, fabricação de cédulas e moedas, custeio de capital –
legislativo, judiciário, Ministério Público da União e Defensoria Pública da União –, sentenças
judiciais e precatórios, financiamento de campanha eleitoral.
Despesas discricionárias são aquelas sobre cujo montante o governo tem algum grau de
decisão e controle, tais como custeio administrativo, bolsas de estudos, Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), Minha Casa Minha Vida (MCMV) e outros investimentos.
116 Economia e Mercado

7.2.2.1 Resultado primário do Governo Central


Transcrevendo a própria definição dada pelo governo, “o resultado primário é definido pela
diferença entre receitas e despesas do governo, excluindo-se da conta as receitas e despesas com
juros. Caso essa diferença seja positiva, tem-se um superávit primário; caso seja negativa, tem-se
um déficit primário” (BRASIL, 2015). A situação de superávit primário é uma indicação de quanto
o governo conseguiu economizar em um determinado período – mês, trimestre, semestre ou ano
–, com vistas ao pagamento dos juros que incidem sobre a sua dívida.
O resultado primário e o total da dívida pública são medidos como uma proporção do PIB.
Dessa forma, quanto maior for o PIB, maior tende a ser a receita total do governo e, portanto,
maior sua capacidade de pagar os juros e amortizar a dívida pública (ROCHA; DIAS; MENDES,
2011). Por outro lado,
uma relação elevada e crescente entre a dívida pública e o PIB indica que o
governo poderá enfrentar dificuldades para refinanciá-la ou para pagá-la no
futuro. Para que essa relação permaneça estável, o governo precisa pagar, ao
menos parcialmente, os juros incidentes sobre a dívida pública, impedindo-a
de crescer a uma taxa superior à do PIB. Esse é o papel do superávit primário.
(ROCHA; DIAS; MENDES, 2011, p. 2)

Assim, para o governo manter a dívida pública sob controle, ele estipula uma meta fiscal a
ser cumprida no exercício, justamente para poder pagar parte dos juros e eventual amortização do
principal. Essa meta é fixada de acordo com as expectativas de receita e de gastos para o ano, e o
governo a encaminha ao Congresso Nacional juntamente com a Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO). Ao longo do exercício, o governo poderá solicitar uma revisão da meta fiscal à medida que
percebe a perspectiva de um possível déficit no resultado primário.
A Lei de Responsabilidade Fiscal (BRASIL, 2000) “estabelece normas de finanças públicas
voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal” e deve ser seguida pela União, pelos estados, pelo
Distrito Federal e pelos municípios. Em seu art. 1º, essa lei esclarece que
A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente,
em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das
contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas
e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de
receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas
consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de
receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar. (BRASIL, 2000)
Impeachment:
processo de
Para que o governo possa cumprir suas responsabilidades orçamentárias é que foi criada
cassação contra
a Lei de Responsabilidade Fiscal. E o seu não cumprimento pode levar o governante a sofrer um
uma autoridade,
com base em processo de impeachment.
uma denúncia
de crime.
Política econômica e o tripé macroeconômico 117

7.2.2.2 Resultado nominal do Governo Central


De acordo com o Bacen, o resultado nominal é o conceito fiscal mais amplo e representa a
diferença entre o fluxo agregado de receitas totais (inclusive de aplicações financeiras) e de despesas
totais (inclusive despesas com juros) em determinado período. Essa diferença corresponde à
Necessidade de Financiamento do Setor Público (NFSP).
O resultado operacional equivale ao resultado nominal excluída a parcela referente à
atualização monetária da dívida líquida. O conceito de resultado operacional é relevante em países
de inflação alta, uma vez que exclui o impacto da inflação sobre a NFSP. A função da atualização
monetária é simplesmente repor a parcela do estoque da dívida corroída pela variação dos preços.
Em países com baixa inflação, nos quais o fator correção monetária é pouco expressivo, o conceito
de resultado operacional perde relevância e tende a ser próximo do resultado nominal.

7.2.2.3 Resultado do Tesouro Nacional


Ainda de acordo com o Bacen (BCB, 2019), o conceito de setor público considerado para
efeitos de mensuração do resultado fiscal é o setor público não financeiro mais o Bacen. O setor
público não financeiro, por sua vez, é composto pelo governo federal, pelos governos estaduais
e municipais, por empresas estatais federais, estaduais e municipais e pelo Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS). O setor público é usualmente dividido em três grandes grupos:
1. Governo Central – definido como a soma das contabilizações das administrações
federais (aqui representadas pelo resultado do Tesouro Nacional), do Bacen e do sistema
público de previdência para o setor privado (INSS). O resultado do Tesouro Nacional
também engloba o da previdência dos servidores públicos federais.
2. Governos regionais – são consideradas as contabilizações das administrações estaduais
e municipais.
3. Empresas estatais – são considerados os resultados de empresas estatais nos três níveis
de governo.

O Quadro 2, a seguir, sintetiza os conceitos de resultados fiscais, que são compostos pelos
resultados nominal, operacional e primário.
Quadro 2 – Resultados nominal, operacional e primário e juros nominais

Resultado nominal = Variação da dívida fiscal líquida

Resultado operacional = Receita nominal – Atualização monetária

Resultado primário = Resultado nominal – Juros nominais

Resultado primário = Resultado operacional – Juros reais

Juros nominais = Juros reais + Atualização monetária

Fonte: Elaborado com base em BCB, 2019.


118 Economia e Mercado

A Tabela 1 apresenta o resultado do Tesouro Nacional no período de 2014 a 2018, trazendo


a valores correntes e como proporção do PIB.
Tabela 1 – Resultado primário do Governo Central (R$ milhões: valores correntes e % PIB)

2014 2015 2016 2017 2018


Discriminação
R$ Milhões % PIB R$ Milhões % PIB R$ Milhões % PIB R$ Milhões % PIB R$ Milhões % PIB
I. RECEITA TOTAL 1.221.474,1 21,1% 1.247.789,3 20,8% 1.314.952,9 21,0% 1.383.081,6 21,1% 1.484.238,1 21,7%
I.1 - Receita Administrada pela
739.178,0 12,8% 765.137,2 12,8% 819.751,9 13,1% 835.563,5 12,7% 905.052,4 13,3%
RFB, exceto RGPS
I.2 - Incentivos Fiscais -6,3 0,0% -10,6 0,0% -163,2 0,0% -1.378,9 -0,0% 14,1 0,0%
I.3 - Arrecadação Líquida para o
337.503,1 5,8% 350.272,0 5,8% 358.137,3 5,7% 374.784,8 5,7% 391.181,8 5,7%
RGPS
I.4 - Receitas não Administradas
144.799,3 2,5% 132.390,8 2,2% 137.226,9 2,2% 174.112,2 2,7% 188.018,0 2,8%
pela RFB
II. TRANSF. POR REPARTIÇÃO DE
198.461,5 3,4% 204.684,3 3,4% 226.835,3 3,6% 228.335,3 3,5% 256.723,7 3,8%
RECEITA
II.1 FPM / FPE / IPI-EE 156.823,0 2,7% 165.695,2 2,8% 189.849,2 3,0% 183.123,0 2,8% 196.629,8 2,9%
II.2 Fundos Constitucionais 4.555,7 0,1% 6.113,4 0,1% 7.530,1 0,1% 7.838,6 0,1% 8.470,1 0,1%
II.3 Contribuição do Salário-
10.800,8 0,2% 12.355,1 0,2% 11.685,3 0,2% 12.018,8 0,2% 12.758,1 0,2%
-Educação
II.4 Exploração de Recursos
25.151,0 0,4% 18.836,9 0,3% 15.240,7 0,2% 22.184,8 0,3% 35.970,1 0,5%
Naturais
II.5 CIDE – Combustíveis 116,1 0,0% 448,0 0,0% 1.239,3 0,0% 1.698,7 0,0% 1.356,8 0,0%
II.6 Demais 1.014,9 0,0% 1.235,7 0,0% 1.290,7 0,0% 1.471,5 0,0% 1.538,8 0,0%
III. RECEITA LÍQUIDA (I-II) 1.023.012,6 17,7% 1.043.105,1 17,4% 1.088.117,6 17,4% 1.154.746,3 17,6% 1.227.514,5 18,0%
IV. DESPESA TOTAL 1.046.495,0 18,1% 1.164.462,3 19,4% 1.249.393,2 19,9% 1.279.007,8 19,5% 1.351.756,7 19,8%
IV.1 Benefícios Previdenciários 394.201,2 6,8% 436.090,1 7,3% 507.871,3 8,1% 557.234,8 8,5% 586.378,8 8,6%
IV.2 Pessoal e Encargos Sociais 222.375,4 3,8% 238.499,0 4,0% 257.871,8 4,1% 284.041,1 4,3% 298.020,9 4,4%
IV.3 Outras Despesas
170.785,5 3,0% 248.372,9 4,1% 212.953,8 3,4% 197.250,8 3,0% 201.338,0 2,9%
Obrigatórias
IV.4 Despesas do Poder Executivo
Sujeitas à Programação 259.132,8 4,5% 241.500,3 4,0% 270.696,3 4,3% 240.481,0 3,7% 266.019,0 3,9%
Financeira
IV.4.1 Obrigatórias com Controle
113.720,3 2,0% 115.015,5 1,9% 129.323,5 2,1% 124.073,3 1,9% 137.186,7 2,0%
de Fluxo
IV.4.2 Discricionárias 145.412,5 2,5% 126.484,8 2,1% 141.372,8 2,3% 116.407,7 1,8% 128.832,3 1,9%
V. FUNDO SOBERANO DO BRASIL 0,0 0,0% 855,0 0,0% 0,0 0,0% 0,0 0,0% 4.021,0 0,1%
VI. PRIMÁRIO GOVERNO
-23.482,4 -0,4% -120.502,2 -2,0% -161.275,6 -2,6% -124.261,5 -1,9% -120.221,3 -1,8%
CENTRAL
VII.1 AJUSTE METODOLÓGICO
0,0 0,0% 3.888,4 0,1% 3.721,9 0,1% 4.461,7 0,1% 4.908,0 0,1%
ITAIPU 2
VII.2 AJUSTE METODOLÓGICO
0,0 0,0% 0,0 0,0% 161,7 0,0% 3.115,6 0,0% 1.713,9 0,0%
CAIXA-COMPETÊNCIA
VIII. DISCREPÂNCIA ESTATÍSTICA 3.010,7 0,1% -41,8 0,0% -2.081,4 -0,0% -1.758,1 -0,0% -2.568,0 -0,0%
IX. RESULTADO PRIMÁRIO DO
GOVERNO CENTRAL (VI + VII + -20.471,7 -0,4% -116.655,6 -1,9% -159.473,4 -2,5% -118.442,2 -1,8% -116.167,4 -1,7%
VIII) 12/
X. JUROS NOMINAIS 3/ -251.070,2 -4,3% -397.240,4 -6,6% -318.362,1 -5,1% -340.907,3 -5,2% -310.307,1 -4,5%
XI. RESULTADO NOMINAL DO
-271.541,9 -4,7% -513.896,0 -8,6% -477.835,5 -7,6% -459.349,5 -7,0% -426.474,5 -6,2%
GOVERNO CENTRAL (IX + X) 3/

Fonte: Elaborada com base em dados da Secretaria do Tesouro Nacional.


Política econômica e o tripé macroeconômico 119

A análise desses dados mostra que, para uma inflação de 25,6%, medida pelo IPCA, no
período de 2014 a 2018, a receita total do governo foi menor, crescendo apenas 21,5%, enquanto a
despesa total cresceu 29,2%. Esse desequilíbrio leva ao comprometimento das contas de governo,
exigindo dele medidas rígidas na condução da política fiscal, para não tornar a dívida pública
interna impagável.

7.2.3 Taxa de câmbio


As taxas de câmbio têm importante efeito sobre a macroeconomia – principalmente quanto
às exportações líquidas. Apesar de já termos discorrido a respeito das exportações líquidas no
Capítulo 4, vamos agora analisar a importância da taxa de câmbio sobre elas.
Vamos supor que o real se deprecie em relação ao dólar norte-americano, ou seja, a taxa
de câmbio suba, fazendo com que mais reais sejam necessários para se comprar uma unidade da
moeda norte-americana. Isso poderá fazer com que os produtos exportáveis do Brasil se tornem
mais baratos que seus semelhantes produzidos em outros países, aumentando as exportações
líquidas, principalmente levando-se em conta também que as importações se tornam mais caras,
desestimulando, muitas vezes, a compra de produtos estrangeiros.
Esse crescimento nas exportações líquidas contribui positivamente para o aumento da
demanda total. E, como já vimos, isso colabora para o crescimento do PIB no curto prazo.
O impacto das exportações líquidas sobre o PIB – frequentemente causado pelas flutuações
da taxa de câmbio – nos permite entender uma das razões que levam o governo a se preocupar
tanto com a taxa de câmbio. Constantes instabilidades no mercado de câmbio podem trazer
insegurança à economia. Na pior das hipóteses, podem causar efeitos negativos sobre o PIB; na
melhor, tornam o trabalho do Bacen mais difícil enquanto ele tenta manter a economia equilibrada.

7.2.3.1 Taxa de câmbio e a política monetária


À medida que o Bacen tenta manter a economia em equilíbrio por meio da política monetária,
um grande desafio a ser enfrentado é o fato de essas ações repercutirem sobre a taxa de câmbio, o que
traz efeitos colaterais no comportamento do PIB. Para entendermos esses efeitos, vamos supor
que o país esteja em recessão e que o Bacen queira agir para fazer o PIB crescer. Como já vimos,
aumentando a oferta de moeda, o Bacen reduz a taxa de juros referencial da economia, o que eleva
o consumo ou a demanda total da economia.
Entretanto, ao observarmos o mercado de câmbio, há um efeito adicional na demanda
total. Com a queda da taxa de juros, o Bacen pode tornar os ativos financeiros no estrangeiro
mais atrativos para os brasileiros, o que os leva a demandar mais moeda estrangeira, deslocando
a curva da demanda pela moeda norte-americana, por exemplo, para a direita. Esse movimento
mostra a elevação da taxa de câmbio para um aumento na demanda pela moeda estrangeira.
Ao mesmo tempo, os ativos financeiros do país se tornam menos atrativos para o investidor
estrangeiro, que deixa de vir ao Brasil, fazendo cair a oferta de moeda estrangeira e deslocando a
curva da oferta para a esquerda, o que aumenta a taxa de câmbio pela redução da oferta de divisa
estrangeira. Ao combinarmos esses dois efeitos, supondo um mercado de câmbio livre, a taxa de
câmbio aumentará, ou seja, o real se desvalorizará.
120 Economia e Mercado

Vejamos, então, como a depreciação do real afeta a economia. Com o real mais barato para
os estrangeiros (mais reais para uma unidade de moeda estrangeira), eles comprarão mais produtos
brasileiros, aumentando nossas exportações. Ao mesmo tempo, os produtos e serviços importados
se tornarão bem mais caros. O aumento das exportações e a queda das importações contribuem
para uma elevação das exportações líquidas (XL), e isso, por sua vez, aumenta a demanda total.
Portanto, como pudemos ver, a política monetária expansionista faz a demanda total
crescer de duas maneiras: primeiro estimulando a liquidez transacional e, segundo, aumentando
as exportações líquidas. Como resultado, temos o crescimento do PIB, e a política monetária será
mais eficiente, quando os efeitos sobre a taxa de câmbio são incluídos.
A análise da política monetária contracionista segue uma lógica inversa. A queda na
demanda de moeda, por uma elevação da taxa de juros, reduz a demanda total da economia,
fazendo com que o real se aprecie (valorize) em relação à moeda estrangeira, levando a uma queda nas
exportações líquidas. Assim, o PIB tende a cair.

7.2.3.2 Comportamento da taxa de câmbio


O Gráfico 4 mostra o comportamento da taxa de câmbio no período de 2002 a 2018, mês
a mês. Nesse tempo, apesar da taxa de câmbio ser flutuante, por várias vezes houve a necessidade
da intervenção do Banco Central para evitar fortes movimentos especulativos.
Pelo gráfico podemos observar que os momentos de maior desvalorização do real estão
associados a períodos pré-eleitorais para a presidência da República, a crises institucionais e a
reflexos de crises externas, como em 2008, com a Crise do Subprime no mercado financeiro norte-
-americano, que culminou com a extinção do Banco Lehman Brothers.
Gráfico 4 – Taxa de câmbio livre (Comercial – US$ venda no final do mês)
4,50
31/12/2018
4,00 R$ 3,8748

3,50

3,00

2,50

2,00

1,50

1,00
jan-02

jan-03

jan-04

jan-05

jan-06

jan-07

jan-08

jan-09

jan-10

jan-11

jan-12

jan-13

jan-14

jan-15

jan-16

jan-17

jan-18
jul-02

jul-03

jul-04

jul-05

jul-06

jul-07

jul-08

jul-09

jul-10

jul-11

jul-12

jul-13

jul-14

jul-15

jul-16

jul-17

jul-18

Fonte: Elaborado com base em dados do Bacen.

Tivemos também momentos de valorização da moeda nacional, à medida que os


investidores estrangeiros viam a execução de uma política econômica que poderia resgatar um
processo de crescimento sustentável da economia brasileira.
Política econômica e o tripé macroeconômico 121

Considerações finais
Analisamos, neste capítulo, os três elementos que constituem o chamado tripé
macroeconômico: inflação, contas públicas e taxa de câmbio, cuja importância é a de permitir o
monitoramento do dia a dia da economia. Ao se avaliar a economia de um país, analistas trabalham
com dezenas de indicadores, mas, na essência, todos os desequilíbrios são desdobramentos da
forma como esses três indicadores se comportam.
A inflação, retrato da execução da política monetária, mostra como o Banco Central,
controlando a liquidez monetária, consegue evitar que os preços aumentem de maneira
generalizada ao longo do tempo. A estabilidade dos preços é importante para a sociedade, pois
preserva o poder de compra das pessoas, tornando justa a repartição da renda na economia.
As contas públicas, resultantes da política fiscal, demonstram como o governo aloca os
recursos arrecadados em benefício da sociedade, tendo sempre como objetivo o bem-estar social,
com investimentos em educação, saúde, segurança e mobilidade.
Por fim, a taxa de câmbio reflete a forma como o Banco Central executa a política cambial,
adequando o fluxo comercial e financeiro na relação com outros países, auxiliando a manutenção do
equilíbrio na nossa economia.

Ampliando seus conhecimentos


• NOGAMI, Otto. O dragão da inflação. In: NOGAMI, Otto. Não seja o pato do mercado
financeiro. São Paulo: Avercamp, 2004. p. 25.
• NOGAMI, Otto. A magia dos números-índices. In: NOGAMI, Otto. Não seja o pato do
mercado financeiro. São Paulo: Avercamp, 2004. p. 28.
Para quem gostou do tema inflação, esses dois textos apresentam, de maneira bastante
simples, a importância desse assunto, mostrando suas composições e seus impactos em
nosso dia a dia.

• PAULANI, Leda Maria; BRAGA, Marcio Bobik. A nova contabilidade social. 4. ed. São
Paulo: Saraiva Uni, 2018.
Único livro no Brasil que trata da contabilidade social de uma maneira diferente, que
vai além dos aspectos contábeis das contas públicas, e traz também temas como meio
ambiente, desigualdades regionais e qualidade de vida.

Atividades
1. Explique que efeito a inflação tem sobre o poder de compra de pessoas que têm renda fixa.

2. Formule um exemplo de inflação de demanda e um de inflação de custos.


122 Economia e Mercado

3. Qual a diferença entre resultado primário e resultado nominal nas contas de governo?

4. Qual a importância da meta fiscal?

5. Que impacto uma desvalorização do real pode causar sobre os produtos exportáveis do país?

Referências
ABEL, Andrew B.; BERNANKE, Ben S.; CROUSHORE, Dean. Macroeconomia. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2008.

BCB – Banco Central do Brasil. Dívida líquida do setor público (% PIB) - Total - Banco Central. Portal
de Dados Abertos. Disponível em: https://dadosabertos.bcb.gov.br/dataset/4505-divida-liquida-do-setor-
publico--pib---total---banco-central. Acesso em: 23 set. 2019.

BRASIL. Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, 5 maio
2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm. Acesso em: 2 set. 2019.

BRASIL. Ministério da Economia. Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. O que é resultado primário?, 22


maio 2015. Disponível em: http://www.planejamento.gov.br/servicos/faq/orcamento-da-uniao/conceitos-
sobre-orcamento/o-que-e-resultado-primario. Acesso em: 2 set. 2019.

FGV – Fundação Getulio Vargas. IGP. Disponível em: https://portalibre.fgv.br/estudos-e-pesquisas/indices-


de-precos/igp/. Acesso em: 2 set. 2019.

KRUGMAN, Paul; WELLS, Robin. Introdução à economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

NOGAMI, Otto. Cenário e expectativas econômicas. In: SOUSA, Almir Ferreira de (Org.). Planejamento
financeiro pessoal e gestão do patrimônio. 2. ed. Barueri: Editora Manole, 2018. p. 41-60.

NOGAMI, Otto; PASSOS, Carlos Roberto Martins. Princípios de economia. 7. ed. São Paulo: Cengage
Learning, 2016.

ROCHA, Alexandre A.; DIAS, Fernando Álvares C.; MENDES, Marcos. O que é e para que serve o “resultado
primário”?, 2011. Disponível em: http://www.brasil-economia-governo.org.br/wp-content/uploads/2011/02/
Resultado_Primario.pdf. Acesso em: 2 set. 2019.

SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. 2. ed. São Paulo: Editora Best Seller, 1999.
8
Sistema financeiro e acumulação de riqueza

Todos os países, nos dias de hoje, têm complexos sistemas financeiros, nos quais a moeda
representa, entre outros papéis, um ativo financeiro. A operacionalização desse sistema é feita
por um conjunto de instrumentos e instituições financeiras utilizadas para a execução da política
monetária. Esta, por sua vez, é realizada por meio de mercados específicos, como o monetário, o
de crédito, o de capitais e o cambial.
Dessa forma, neste capítulo, vamos apresentar uma visão geral de como está estruturado o
sistema financeiro nacional, com suas principais instituições e ferramentas.

Vídeo 8.1 Sistemas monetário e financeiro


O sistema monetário abrange o dinheiro que circula no país, que é representado
pelas moedas e cédulas que nele tenham curso legal pela moeda escritural.
Não podemos esquecer que esse meio circulante se constitui numa moeda
fundamental – ou moeda-padrão –, que serve de unidade de valor, e de moedas
subsidiárias, cujos valores são múltiplos e submúltiplos daquela.
O sistema financeiro, por sua vez, é composto por um conjunto de instituições
que, com os ativos financeiros, operacionaliza as atividades do sistema, transferindo
recursos dos ofertadores (aplicadores ou poupadores) para os tomadores (aqueles
que necessitam de recursos, que podem ser pessoas físicas ou jurídicas, inclusive
investidores). Ademais, as instituições financeiras devem criar condições para que os
mais diferentes ativos financeiros tenham liquidez no mercado.
Os ofertadores de recursos são os indivíduos que se encontram em uma situação
privilegiada, na qual o volume de recursos que eles despendem em consumo é menor
que a sua renda disponível, ou mesmo aqueles que temporariamente mantêm seus
recursos em conta corrente. São aqueles que, no jargão financeiro, estão com superávit
financeiro. Pode ser também o caso de empresas que apresentam superávit de caixa ou
que acumulam seus lucros.
Já os tomadores de recursos são aqueles – tanto pessoas físicas como jurídicas
– que se encontram em uma situação de déficit financeiro, ou seja, dispenderam ou
dispendem mais do que a sua renda ou faturamento permite. Também fazem parte
desse grupo aqueles que desejam adquirir um bem ou serviço, mas não possuem
recursos disponíveis para uma compra à vista, levando-os a buscar um financiamento.
Aqueles que querem empreender, mas também não possuem recursos irão
recorrer a empréstimos para a concretização de sua empresa. É o caso de empresas
que necessitam de empréstimos para os mais diferentes fins e financiamentos para
aquisição de fatores de produção.
124 Economia e Mercado

A instituição financeira, nesses casos, irá intermediar essas operações de transferência de


recursos dos ofertadores para os tomadores. Ao contrário do que pensa a maioria das pessoas,
as instituições financeiras nunca trabalham com recursos próprios. Isso significa que, quando
repassam recursos para os tomadores, estão utilizando recursos dos ofertadores.
Segundo Nogami e Passos (2016), o desenvolvimento do mercado financeiro, nos dias de
hoje, aliado ao surgimento de instituições especializadas em determinados tipos de operações ou
produtos mais bem elaborados e com toques de sofisticação, tem trazido uma série de vantagens à
economia como um todo. Essa constante evolução é importante para que:
• os custos de captação sejam cada vez mais reduzidos;
• as instituições especializadas em determinados setores possam atender, de forma mais
eficiente, a determinados e complexos setores da economia;
• haja diversificação das alternativas de aplicação de recursos disponíveis;
• verifique-se uma diminuição dos riscos e dos custos das transações com recursos
financeiros; e
• aumente-se a liquidez dos títulos de crédito existentes no mercado.
Essas condições podem ser oferecidas em mercados maduros e profissionais, como é o
caso do Brasil.

Vídeo 8.2 Instituições financeiras


Segundo Nogami e Passos (2016, p. 485), “as instituições financeiras que
operam no sistema financeiro são classificadas em dois grupos distintos: instituições
financeiras bancárias e instituições financeiras não bancárias”.
As instituições financeiras bancárias (ou instituições financeiras monetárias)
são aquelas que possuem autorização do Bacen para receber depósitos à vista (mantêm
depósitos em conta corrente) e, por isso, têm a capacidade de criar ou multiplicar a
moeda em circulação.
Esse processo acontece da seguinte forma: vamos supor que uma pessoa faça
um depósito, à vista, em sua conta corrente no valor de R$ 1.000,00. O banco, de
posse desse montante, empresta-o para outra pessoa, que irá depositá-lo no próprio
banco ou em outra instituição bancária. Observe que o dinheiro depositado fará com
que o depositante tenha em seu extrato um crédito de R$ 1.000,00 que poderá ser
sacado a qualquer momento, e, por outro lado, o tomador os deposita em sua conta
corrente, que agora tem um saldo de R$ 1.000,00 a mais, pronto para ser sacado a
qualquer momento também. Somente nessa operação, verificamos que o montante
inicial depositado em papel-moeda se multiplicou dentro das instituições bancárias,
criando mais R$ 1.000,00 disponíveis. Detalhe: se os dois indivíduos resolverem
sacar os R$ 1.000,00 de suas contas correntes, não haverá papel-moeda para os dois.
Esse é o fenômeno denominado efeito multiplicador da moeda no sistema
bancário. Em essência, esse é o mecanismo básico de criação da moeda escritural.
Sistema financeiro e acumulação de riqueza 125

É por meio dele que os bancos comerciais tornam os meios de pagamento (total de haveres de
perfeita liquidez em poder do setor não bancário e que podem ser imediatamente usados para
realizar transações) várias vezes superiores ao saldo de papel-moeda emitido pelo Bacen.
As instituições financeiras não bancárias, ou não monetárias, por sua vez, não possuem
essa faculdade de criar moeda, pois não têm autorização do Bacen para manter depósitos em
conta corrente.

Vídeo 8.3 Instrumentos financeiros


Os instrumentos financeiros são classificados em ativos financeiros monetários
e ativos financeiros não monetários. No Brasil, são considerados ativos financeiros
monetários o papel--moeda em poder do público e os depósitos à vista nos bancos
comerciais, tanto públicos como privados, incluídos aí o Banco do Brasil e a carteira
comercial da Caixa Econômica Federal.
O papel-moeda em poder do público é constituído das moedas metálicas e das
cédulas em mãos da coletividade (famílias e empresas). É chamado de dinheiro ou
moeda manual. Eles formam o conceito M1 de meios de pagamentos, que compreende,
portanto, a moeda que tem liquidez total e que não gera nenhum tipo de rendimento
por si só.
Os ativos financeiros não monetários compreendem todos os demais ativos,
cada um com destinação específica dos recursos captados, como:
• depósitos em caderneta de poupança;
• certificados de depósito bancário (CDB);
• recibos de depósito bancário (RDB);
• recibos de depósito cooperativo (RDC);
• letras de câmbio (LC);
• letras hipotecárias (LH);
• letras de crédito imobiliário (LCI);
• letras de crédito do agronegócio (LCA).
Ao contrário do que ocorre com as instituições monetárias, como o Bacen e
os bancos comerciais, que podem emitir instrumentos monetários (papel-moeda e
moeda escritural, respectivamente), os instrumentos não monetários são, via de regra,
emitidos por instituições financeiras não monetárias.
Um CDB, por exemplo, que é um ativo financeiro não monetário, pode ser
emitido tanto por um banco comercial (instituição financeira monetária) como
por um banco de investimento (instituição financeira não monetária). Portanto,
quando nos referimos a ativos financeiros, estamos falando de todos os instrumentos
financeiros emitidos diretamente pelos tomadores de recursos ou pelas instituições
financeiras que exercem a conexão entre esses tomadores e os ofertadores de recursos.
126 Economia e Mercado

Vídeo 8.4 Segmentação do mercado financeiro


No mercado financeiro brasileiro, cada tipo de operação realizada pelas instituições
financeiras, de acordo com as suas características, deve se enquadrar em um determinado tipo
de mercado. Veremos, então, quais são esses mercados.

8.4.1 Mercado monetário


Esse é o mercado utilizado pelo Bacen para controlar a liquidez da economia, um dos
instrumentos de política monetária. Quando o Bacen quer reduzir a liquidez, ou seja, retirar
moeda de circulação, ele vende títulos públicos; quando deseja aumentar a liquidez monetária,
injetando dinheiro no sistema econômico, ele compra esses títulos.
É nesse mercado que são realizadas as operações financeiras de curto e curtíssimo prazo,
principalmente financiando os desencaixes momentâneos de caixa dos bancos comerciais e
do Tesouro Nacional. As operações de mercado aberto (open market), inclusive as operações
de um dia (overnight), também são realizadas nesse mercado.
Esquematicamente, temos a Figura 1, a seguir, que mostra os players do mercado e os
vasos comunicantes.
Figura 1 – Mercado monetário (Open Market)

Política
Banco monetária Mercado Instituições
Central Aberto Financeiras

Secretaria do
Tesouro Nacional Política fiscal

Tesouro
Público
Direto

Fonte: Elaborada pelo autor.

Na Figura 1, podemos observar a presença do Tesouro Direto, que é um mecanismo


desenvolvido para permitir que o público negocie títulos públicos diretamente com o seu
emissor, ou seja, a Secretaria do Tesouro Nacional, reduzindo os custos de transação.

8.4.2 Mercado de crédito


Nesse mercado, são realizadas todas as operações de financiamento e empréstimo de
curto, médio ou longo prazo. Os financiamentos podem ser para aquisição de bens de consumo
duráveis das famílias e de bens de capital por parte das empresas, e os empréstimos podem
ser para aquisição de bens de consumo corrente ou para o capital de giro das empresas. As
Sistema financeiro e acumulação de riqueza 127

instituições que atuam nesse mercado são os bancos comerciais, os bancos de investimentos e as
financeiras, que são instituições especializadas no fornecimento de crédito ao consumidor e no
financiamento de bens duráveis.
A Figura 2, a seguir, ilustra as relações entre tomadores e ofertadores com as instituições
financeiras e os “comprovantes” utilizados nessas relações.
Figura 2 – Mercado de crédito

Depósito Aplicação
Ofertador Instituições Tomador
De Recursos Ativo financeiro Financeiras Título de crédito De Recursos

Fonte: Elaborada pelo autor.

8.4.3 Mercado de capitais


É no mercado de capitais que são realizadas as operações envolvendo bolsas de valores e
instituições financeiras (corretoras e distribuidoras), que operam a compra e venda de ações e
títulos de dívida em geral (debêntures) sempre a longo prazo. Esse mercado atua no financiamento
do capital de giro e do capital fixo das sociedades anônimas de capital aberto.
Segundo Nogami (2012, p. 168), “o mercado de capitais tem a função de canalizar as
poupanças da sociedade para a indústria, o comércio e outras atividades econômicas, e até mesmo
para o governo”.
Quando uma sociedade anônima de capital aberto emite uma debênture, ela está tomando
recursos com o compromisso de pagar no futuro, mediante uma remuneração. E quando a empresa
emite ações, ela também está tomando recursos, mas por meio da admissão de novos sócios. De
fato, a ação é, por definição, um título de propriedade da empresa, e seus proprietários serão
remunerados, ao longo do tempo, pela divisão dos lucros gerados pela operação e pelos juros sobre
o capital investido.
Quando a empresa lança ações no mercado de capitais, como lançamento inicial ou emissão
secundária, ela realiza a operação no chamado mercado primário de ações. Ela receberá os recursos
da operação apenas uma vez com a venda das ações. A partir daí, as negociações subsequentes com
essas ações serão feitas no mercado secundário de ações.
Todas essas negociações de títulos de propriedade (ações) e dos títulos de crédito (debêntures)
serão realizados em um ambiente denominado Bolsa.
128 Economia e Mercado

Na Figura 3, ilustramos o funcionamento do mercado primário.


Figura 3 – Mercado de capitais: mercado primário

Recursos financeiros Recursos financeiros

Bolsa de
Poupadores Empresa S/A
valores

Ações e debêntures Ações e debêntures

Fonte: Elaborada pelo autor.

Como podemos observar nesse mercado primário, a empresa de capital aberto recebe os
recursos financeiros referentes ao lançamento das ações e debêntures uma única vez e, então, ela
“sai” do mercado. Após receber os recursos, todas as demais negociações com as suas ações não
mais afetarão seu caixa.
Figura 4 – Mercado de capitais: mercado secundário

Recursos financeiros Recursos financeiros

Bolsa de
Poupadores Poupadores
valores

Ações e debêntures Ações e debêntures

Fonte: Elaborada pelo autor.

A Figura 4 ilustra o funcionamento do mercado secundário. Observe que a empresa não


mais aparece, já que as ações ou debêntures são negociadas, então, entre os poupadores, sem a
interveniência da empresa. Entretanto, o valor de negociação da ação poderá afetar seu valor
patrimonial.

8.4.4 Mercado de câmbio


Nesse mercado, são realizadas as operações de compra e venda de moedas estrangeiras, cujas
negociações determinam as cotações diárias dessas moedas. No Brasil, as moedas mais negociadas
são o dólar norte-americano e o euro. As negociações, normalmente, são de curto prazo, e as
instituições que nele atuam são os bancos autorizados pelo Bacen, as corretoras de câmbio e as
firmas em geral.
As negociações são feitas em unidades de moeda nacional (reais) para cada unidade de
moeda estrangeira, ou seja, com a utilização da taxa de câmbio, que é o preço de uma moeda com
relação a outra. Assim, quando falamos que um dólar norte-americano vale, por exemplo, R$ 3,50,
já estamos expressando a taxa de câmbio entre as duas moedas.
US$ 1 = R$ 3,50
A taxa de câmbio é formada pela relação de oferta e demanda de uma determinada moeda
estrangeira. A oferta depende, por exemplo, do volume de exportações e da entrada de capitais
externos, enquanto a demanda depende do volume de importação e da saída de capitais externos.
Sistema financeiro e acumulação de riqueza 129

No Brasil, assim como na maioria dos países, as moedas estrangeiras são monopólio do
Estado, que é representado pelo Banco Central. Como já foi dito, as operações de câmbio só podem
ser conduzidas por meio de instituições autorizadas, pelo Bacen, a operar câmbio.
A Figura 5, a seguir, mostra como são realizadas as operações nesse mercado.
Figura 5 – Mercado de câmbio

Recursos financeiros Recursos financeiros

Comprador Mercado Vendedor de


de moeda de câmbio moeda estrangeira
estrangeira
Moeda estrangeira Moeda estrangeira

Fonte: Elaborada pelo autor.

Todas as transações de compra e venda de moeda estrangeira, portanto, devem ser efetuadas
no mercado de câmbio e liquidadas sempre em moeda nacional, ou seja, em reais.

Vídeo 8.5 Sistema financeiro nacional


Um conjunto de reformas no sistema financeiro brasileiro, promovidas em 1964 e
1965, delinearam a estrutura atual, com a criação do Banco Central do Brasil, em 31 de
dezembro de 1964.
Figura 6 – Sistema financeiro nacional

Moeda, crédito, capitais e câmbio Seguros privados Previdência fechada


Supervisores Órgãos normativos

CNSP CNPC
CMN Conselho Nacional Conselho Nacional
Conselho Monetário Nacional de Seguros de Previdência
Privados Complementar

BC CVM SUSEP PREVIC


Comissão de Superintendência Superintendência
Banco Central do
Valores de Seguros de Previdência
Brasil
Mobiliários Privados Complementar

Bancos Entidades fechadas


Administradoras Bolsa de Seguradoras e
e caixas de previdência
de consórcio valores resseguradoras
econômicas complementar
Operadores

(fundos de pensão)
Corretoras e Bolsa de Entidades
Cooperativas
distribuidoras mercadorias abertas de
de crédito
e futuros previdência

Instituições de Demais
pagamentos instituições Sociedades de
não bancárias capitalização
Fonte: BCB, 2019m.
130 Economia e Mercado

A Figura 6 apresenta a configuração atual. Descreveremos, a seguir, a composição de cada


um dos órgãos do sistema financeiro nacional.

8.5.1 Órgãos normativos


De acordo com o Banco Central, “o Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão
superior do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e tem a responsabilidade de formular a política
da moeda e do crédito. Seu objetivo é a estabilidade da moeda e o desenvolvimento econômico e
social do país” (BCB, 2019a, grifo nosso). Entre suas funções estão:
adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da
economia; regular o valor interno e externo da moeda e o equilíbrio
do balanço de pagamentos; orientar a aplicação dos recursos das
instituições financeiras; propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos
instrumentos financeiros; zelar pela liquidez e solvência das instituições
financeiras; e coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária e
da dívida pública interna e externa.

Outro órgão normativo é o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), “responsável


por fixar as diretrizes e normas da política de seguros privados” (BCB, 2019b). As funções desse
conselho são:
regular a constituição, organização, funcionamento e fiscalização dos que
exercem atividades subordinadas ao SNSP, bem como a aplicação das
penalidades previstas; fixar as características gerais dos contratos de seguro,
previdência privada aberta, capitalização e resseguro; estabelecer as diretrizes
gerais das operações de resseguro; prescrever os critérios de constituição das
Sociedades Seguradoras, de Capitalização, Entidades de Previdência Privada
Aberta e Resseguradores, com fixação dos limites legais e técnicos das respectivas
operações e disciplinar a corretagem de seguros e a profissão de corretor.

O Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) tem a função de “regular


o regime de previdência complementar operado pelas entidades fechadas de previdência
complementar (fundos de pensão)” (BCB, 2019c). Esse conselho é a nova denominação do
anteriormente denominado Conselho de Gestão da Previdência Complementar.

8.5.2 Entidades supervisoras


O Banco Central do Brasil (BC ou Bacen) é uma autarquia federal ligada ao Ministério
da Economia e tem como missão garantir a estabilidade do poder de compra da moeda do país
– o Real –, além de assegurar a eficiência e o bom funcionamento do mercado financeiro local.
A instituição é responsável por executar a estratégia estabelecida pelo CMN, para manter a
inflação sob controle, e atua como secretaria executiva desse órgão. Além disso, o Bacen tem por
objetivos: “zelar pela adequada liquidez da economia; manter as reservas internacionais em nível
adequado; estimular a formação de poupança; zelar pela estabilidade e promover o permanente
aperfeiçoamento do sistema financeiro” (BCB, 2019d).
Outra entidade supervisora é a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), criada pela Lei
n. 6.385/1976 “com o objetivo de fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de
Sistema financeiro e acumulação de riqueza 131

valores mobiliários no Brasil” (CVM, 2019). Entidade autárquica em regime especial, a CVM tem
personalidade jurídica própria e, ainda que vinculada ao Ministério da Economia, tem autoridade
administrativa independente. Além disso, não apresenta subordinação hierárquica, tem autonomia
financeira e orçamentária, e seus dirigentes têm mandato fixo e estabilidade.
As funções exercidas pela CVM, de acordo com o artigo 4º da Lei n. 6.385/1976, são:
I - estimular a formação de poupanças e a sua aplicação em valores mobiliários;
II - promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado
de ações, e estimular as aplicações permanentes em ações do capital social de
companhias abertas […];
III - assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados da bolsa e de
balcão;
IV - proteger os titulares de valores mobiliários […];
[…]
V - evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação destinadas a criar
condições artificiais de demanda, oferta ou preço dos valores mobiliários
negociados no mercado;
VI - assegurar o acesso do público a informações sobre os valores mobiliários
negociados e as companhias que os tenham emitido;
VII - assegurar a observância de práticas comerciais equitativas no mercado de
valores mobiliários; (BRASIL, 1976)

A Superintendência de Seguros Privados (Susep) “é o órgão responsável pelo controle


e fiscalização dos mercados de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro”
(SUSEP, 2019). Essa autarquia foi criada pelo Decreto-lei n. 73/1966, está vinculada ao Ministério
da Economia e tem por missão “desenvolver os mercados supervisionados, assegurando sua
estabilidade e os direitos do consumidor” (SUSEP, 2019).
Uma das atribuições da Susep é fiscalizar as sociedades seguradoras, de capitalização, as
entidades de previdência privada aberta e os resseguradores, na qualidade de executora da política
traçada pelo CNSP. Para isso, analisa a constituição, a organização, o funcionamento e a operação
dessas entidades. A Susep também protege a captação de poupança popular realizada por meio das
operações de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro (SUSEP, 2019).
Também compete à Susep defender os interesses dos consumidores dos mercados por ela
supervisionados e possibilitar que as instituições e os instrumentos operacionais a elas vinculados
sejam aperfeiçoados, a fim de tornar o Sistema Nacional de Seguros Privados e o Sistema
Nacional de Capitalização mais eficientes. Deve, ainda, assegurar a expansão e o funcionamento
das entidades que operam nos mercados sob sua jurisdição, para garantir a estabilidade desses
mercados (SUSEP, 2019).
Por fim, também é dever da Susep cuidar para que as sociedades que integram o
mercado mantenham sua liquidez e solvência e estabelecer normas e diretrizes para os
investimentos dessas entidades, principalmente aqueles efetuados em bens garantidores de
provisões técnicas (SUSEP, 2019).
132 Economia e Mercado

Outra entidade supervisora é a Superintendência Nacional de Previdência Complementar


(PREVIC), uma autarquia de natureza especial. Com autonomia administrativa e financeira,
além de patrimônio próprio, a Previc é vinculada ao Ministério da Fazenda e tem sede e foro no
Distrito Federal (PREVIC, 2019). Essa entidade atua em todo o território nacional, fiscalizando e
supervisionando as “atividades das entidades fechadas de previdência complementar e de execução
das políticas para o regime de previdência complementar operado pelas referidas entidades”
(PREVIC, 2019).

8.5.3 Entidades operadoras vinculadas ao Banco Central


Um tipo de entidade operadora é o banco comercial, definido pelo Bacen como “instituição
financeira especializada em intermediar o dinheiro entre poupadores e aqueles que precisam de
empréstimos, além  de custodiar (guardar) esse dinheiro” (BCB, 2019e). Também é papel dessa
entidade providenciar serviços financeiros para seus clientes, tais como saques, empréstimos,
investimentos, entre outros.
Essas instituições são supervisionadas pelo Bacen e devem seguir as regras e as regulações
do SFN. Garantir a eficiência do sistema bancário e o respeito às regras mantém a estabilidade e a
solidez do SFN e, consequentemente, da economia de um país.
Outro tipo de entidade operadora são as caixas econômicas, que exercem atividades
típicas de banco comercial, mas que, por serem empresas públicas, têm “prioridade institucional
para concessão de empréstimos e financiamentos de programas e projetos de natureza social”
(BCB, 2019e).
A única instituição desse segmento em atividade, hoje, é a Caixa Econômica Federal (CEF),
que está vinculada ao Ministério da Fazenda. Ela faz parte do Sistema Brasileiro de Poupança e
Empréstimo (SBPE), gerencia os recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)
e de outros fundos do Sistema Financeiro de Habitação (SFH). O Programa de Integração Social
(PIS) e o gerenciamento e pagamento do seguro desemprego também são de responsabilidade
da CEF, que, além disso, detém o monopólio de venda da loteria federal e “prioriza a concessão
de empréstimos e financiamentos de programas e projetos nas áreas de assistência social, saúde,
educação, trabalho e esporte” (BCB, 2019e).
Outro tipo de entidade operadora vinculada ao Bacen são os bancos múltiplos, instituições
financeiras privadas ou públicas que, além de serem bancos comerciais, também têm “funções de
outras carteiras, como a de desenvolvimento, investimento ou câmbio” (BCB, 2019e).
As cooperativas de crédito, por sua vez, são definidas pelo Bacen como instituições
financeiras formadas “pela associação de pessoas para prestar serviços financeiros exclusivamente
aos seus associados” (BCB, 2019f). Nesse sentido, os usuários da cooperativa, denominados
cooperados, também são, ao mesmo tempo, donos dela e por isso participam de sua gestão enquanto
usufruem de seus produtos e serviços.
Sistema financeiro e acumulação de riqueza 133

Esse tipo de entidade operadora dispõe também dos principais serviços oferecidos pelos
bancos comerciais, como conta corrente, aplicações financeiras, cartão de crédito, empréstimos e
financiamentos. O funcionamento dessa entidade, porém, é diferente, pois todos os associados têm
poder igual de voto, seja qual for sua cota de participação no capital social da cooperativa.
Como o cooperativismo não visa lucros, os direitos e deveres de todos os cooperados são
iguais e a adesão é livre e voluntária. Nesse sentido,
o resultado positivo da cooperativa é conhecido como sobra e é repartido entre
os cooperados em proporção com as operações que cada associado realiza com
a cooperativa. Assim, os ganhos voltam para a comunidade dos cooperados.
No entanto, assim como partilha das sobras, o cooperado está sujeito a participar
do rateio de eventuais perdas, em ambos os casos na proporção dos serviços
usufruídos. (BCB, 2019f)

Diferentemente do que acontece com outros ramos do cooperativismo, as cooperativas de


crédito devem ser autorizadas e supervisionadas pelo Banco Central para funcionarem.
Outra entidade operadora vinculada ao Bacen é a instituição de pagamento (IP). Definidas
como “a pessoa jurídica que viabiliza serviços de compra e venda e de movimentação de recursos, no
âmbito de um arranjo de pagamento​, sem a possibilidade de conceder empréstimos e financiamentos
a seus clientes” (BCB, 2019g), essas instituições possibilitam que os cidadãos efetuem pagamentos
mesmo sem ter relacionamento com bancos ou outras instituições financeiras.
Nesse sentido, o usuário que tiver recurso financeiro movimentável, por meio de um cartão
pré-pago ou de um telefone celular, por exemplo, poderá efetuar transações mesmo que não tenha
moeda em espécie. Ele pode, ainda, receber e enviar dinheiro para bancos e outras instituições de
pagamento, devido à interoperabilidade.
É importante lembrar, porém, que esses serviços de pagamento não são prestados apenas
pelas instituições de pagamento, mas também por instituições financeiras, como as que vimos até
agora. Segundo o Bacen, nesse tipo de transação, é necessário haver:
• uma instituição de pagamento ou uma instituição financeira que tenham
aderido a um arranjo de pagamento;
• o instrumento de pagamento, que é o dispositivo utilizado para comprar
produtos/serviços ou para transferir recursos, como o cartão de débito ou de
crédito, o boleto ou o telefone celular;
• o instituidor do arranjo de pagamento, que é a pessoa jurídica responsável
pela criação e organização do arranjo, como as bandeiras de cartão de crédito;
• os arranjos de pagamento criados pelo instituidor, que são as regras e
procedimentos que disciplinam a prestação de serviços de pagamento ao
público […]. (BCB, 2019g)

Ainda que não sejam instituições financeiras e, por isso, não possam realizar atividades como
empréstimos e financiamentos, as instituições de pagamento também estão sujeitas à supervisão
do Banco Central e devem ser constituídas como sociedade empresária limitada ou anônima.
A administradora de consórcios, também vinculada ao Bacen, “é a pessoa jurídica prestadora
de serviços com objeto social principal voltado à administração de grupos de consórcio, constituída
sob a forma de sociedade limitada ou sociedade anônima” (BCB, 2019h). Os grupos de consórcio
134 Economia e Mercado

reúnem pessoas naturais e jurídicas e têm prazo de duração e número de cotas previamente
determinados. Esses grupos propiciam a seus integrantes, por meio de autofinanciamento e de
forma isonômica, a aquisição de bens ou serviços.
As corretoras de títulos e valores mobiliários (CTVM) e as distribuidoras de títulos e
valores mobiliários (DTVM) também estão vinculadas ao Bacen e “atuam nos mercados financeiro
e de capitais e no mercado cambial intermediando a negociação de títulos e valores mobiliários entre
investidores e tomadores de recursos” (BCB, 2019i). Essas entidades oferecem diferentes serviços,
tais como “plataformas de investimento pela internet (home broker), consultoria financeira, clubes
de investimentos, financiamento para compra de ações (conta margem) e administração e custódia
de títulos e valores mobiliários dos clientes” (BCB, 2019i).
Enquanto empresa, essas instituições devem ser constituídas sob a forma de sociedade
anônima ou por quotas de responsabilidade limitada e estão autorizadas a cobrar comissões
e taxas. As corretoras e as distribuidoras são supervisionadas tanto pelo Banco Central quanto
pela Comissão de Valores Mobiliários e hoje podem realizar praticamente as mesmas operações,
estando autorizadas a operar diretamente nos ambientes e sistemas de negociação dos mercados
organizados de bolsa de valores.
As principais atividades dessas instituições são:
• comprar e vender títulos e valores mobiliários por conta própria e de terceiros;
• operar em bolsas de mercadorias e de futuros por conta própria e de terceiros;
• intermediar a oferta pública e distribuição de títulos e valores mobiliários no
mercado;
• operar em bolsas de valores;
• administrar carteiras e custodiar títulos e valores mobiliários;
• subscrever emissões de títulos e valores mobiliários no mercado;
• exercer funções de agente fiduciário;
• instituir, organizar e administrar fundos e clubes de investimento;
• intermediar operações de compra e venda de moeda estrangeira, além de
outras operações no mercado de câmbio;
• praticar operações de compra e venda de metais preciosos, no mercado físico,
por conta própria e de terceiros;
• realizar operações compromissadas;
• praticar operações de conta margem;
• prestar serviços de intermediação e de assessoria ou assistência técnica, em
operações e atividades nos mercados financeiro e de capitais.​(BCB, 2019i)

Outra opção para clientes e consumidores acessarem serviços financeiros são as instituições
não bancárias. Elas são assim denominadas por não receberem depósitos à vista nem poderem
criar moeda (por meio de operações de crédito). Também vinculadas ao Bacen, “elas operam com
ativos não monetários como ações, CDBs, títulos, letras de câmbio e debêntures” (BCB, 2019j).​
Entre as instituições não bancárias, estão as sociedades de crédito, financiamento e
investimento; as companhias hipotecárias; as agências de fomento; as sociedades de crédito ao
microempreendedor e à empresa de pequeno porte; a associação de poupança e empréstimo; a
sociedade de arrendamento mercantil; e as sociedades de crédito imobiliário.
Sistema financeiro e acumulação de riqueza 135

8.5.4 Entidades operadoras vinculadas à CVM


Um tipo de entidade operadora vinculada à CVM são as bolsas de valores, que têm o objetivo
de proporcionar local ou sistema adequado para que seus membros se encontrem e realizem entre
eles “transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários, em mercado livre e aberto,
especialmente organizado e fiscalizado por seus membros e pela Comissão de Valores Mobiliários”
(BCB, 2019k). Essas entidades são patrimonial, administrativa e financeiramente autônomas.
Outras entidades desse tipo são as bolsas de mercadorias e de futuros. Elas têm como
objetivo registrar, compensar e liquidar, tanto física quanto financeiramente, as operações que se
realizam em pregão ou em sistema eletrônico.
Para realizar seus objetivos, as bolsas de mercadorias e de futuros “devem desenvolver,
organizar e operacionalizar um mercado de derivativos livre e transparente” (BCB, 2019l). Isso
porque, diante das flutuações de preço de commodities agropecuárias, índices, taxas de juros,
moedas e metais e de outros instrumentos ou variáveis macroeconômicas que possam influenciar
negativamente as atividades dos agentes econômicos, elas precisam proporcionar a esses agentes a
oportunidade de efetuarem operações de hedging (proteção). Têm a mesma autonomia das bolsas
de valores e também são fiscalizadas pela CVM.

8.5.5 Entidades operadoras vinculadas à Susep


De acordo com Nogami e Passos (2016), as seguradoras são sociedades anônimas
especializadas em pactuar contratos que garantem que, caso ocorra o risco neles indicado e temido,
pagarão ao contratante (segurado) uma indenização, ou seja, o prêmio estabelecido.
As resseguradoras também são entidades constituídas sob a forma de sociedade anônima,
mas têm como único objetivo realizar operações de resseguro e retrocessão.
As entidades abertas de previdência complementar também são constituídas sob a forma
de sociedades anônimas, mas têm como objetivo a instituição e a operação de planos de benefícios
previdenciários (NOGAMI; PASSOS, 2016). Esses benefícios podem ser pagos em forma de renda
continuada ou de uma única vez e estão acessíveis a qualquer pessoa física.
Também constituídas como sociedades anônimas, as sociedades de capitalização
negociam títulos de capitalização que dão ao contratante o direito de resgatar parte dos valores
depositados, com correção baseada em uma taxa de juros estabelecida contratualmente. Segundo
Nogami e Passos (2016), para isso, o contratante realiza depósitos periódicos de prestações
pecuniárias, os quais lhe conferem, ainda, quando previsto, o direito de concorrer a sorteios de
prêmios em dinheiro.

8.5.6 Entidades operadoras vinculadas à Previc


Vinculadas à Previc temos apenas as entidades fechadas de previdência complementar, que
são os fundos de pensão. De acordo com Nogami e Passos (2016), essas entidades são organizadas
sob a forma de fundação ou sociedade civil e não têm fins lucrativos.
136 Economia e Mercado

As entidades fechadas de previdência estão à disposição apenas de empregados de uma empresa


ou grupo de empresas, dos servidores da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, ou
dos associados ou membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial.
Como apontam Nogami e Passos (2016), no que se refere à aplicação dos recursos dos planos
de benefícios, as ações dessas entidades são regidas pelas diretrizes estabelecidas na Resolução n.
3.121/2003 do CMN e pela Lei Complementar n. 109/2001.

Vídeo 8.6 Acumulação de riqueza


Vimos, ao longo deste livro, que a poupança exerce um papel fundamental
na economia. É a partir dela que o país tem condições de realizar investimentos no
setor produtivo da economia, permitindo, assim, um processo de crescimento e
desenvolvimento de todo o país. Se a sociedade não tem características poupadoras,
o aumento da renda fica totalmente cerceado. E, como no caso do Brasil, enquanto a
população não tiver cultura poupadora, os investimentos são mantidos na dependência
do capital estrangeiro, ou seja, da poupança externa. Entretanto, quando olhamos para
nosso dia a dia, o ato de poupar significa guardar dinheiro para imprevistos, ou para
adquirir um bem de maior valor agregado, ou para acumular riqueza. Ter uma reserva
para eventuais necessidades de emergência, sem dúvida, é uma preocupação que sempre
deve estar presente na cabeça das pessoas. Guardar dinheiro para comprar alguma coisa
também é uma atitude louvável, já que, quando podemos pagar à vista, aumentamos
nosso poder de barganha e não desperdiçamos dinheiro pagando juros. Dependendo da
situação ou do momento da economia, ao comprar a prazo, corremos o risco de pagar
juros num montante equivalente ao valor do bem adquirido, ou até mais.
O mais importante, porém, é acumular riqueza ao longo da vida, principalmente
pensando na aposentadoria. Não podemos esquecer que trabalharemos até um
determinado momento da vida para depois usufruir de um merecido descanso. Para
tanto, precisamos estabelecer nossas estratégias, pois não podemos esquecer que, ao nos
aposentarmos, poderemos passar a viver uma situação em que a renda disponível vai
ser menor do que tínhamos quando trabalhávamos. Assim, para não corrermos o risco
de enfrentar uma queda no padrão de consumo, temos de ter acumuladas reservas para
mantê-lo até o fim de nossa vida. Não devemos esquecer também que algumas despesas
tendem a ficar substancialmente mais caras, como é o caso dos planos de saúde. Então,
temos que ter recursos para não enfrentar esse tipo de dor de cabeça.
Como aponta Nogami (2004, p. 67), existe uma equação que exprime muito bem
esse tipo de preocupação, ela é dada por:
C x AV = RL x AT
C representa a nossa capacidade de consumir, AV representa os anos que a
pessoa pretende viver, RL representa a renda líquida do trabalho e AT representa os
anos que a pessoa pretende trabalhar. Assim, nessa equação, temos que os anos que
Sistema financeiro e acumulação de riqueza 137

pretendemos viver, multiplicados por nosso consumo anual, devem ter um resultado igual à
receita oriunda do trabalho multiplicada pelos anos de trabalho.
Para exemplificar, partindo do pressuposto de que não exista inflação ou qualquer outra
externalidade, suponhamos que pretendemos viver por mais 20 anos, tendo um consumo anual
de R$ 36 mil (R$ 3.000,00 por mês), perfazendo um total de R$ 720 mil, equivalente aos mesmos
anos de trabalho a mais e com um salário de R$ 3.000,00 por mês. Mas quem pretende trabalhar
até o último dia de sua vida? Não seria melhor trabalhar, por exemplo, mais dez anos e, a partir daí,
usufruir os dez anos restantes descansando? Nesse caso, o nível de despesas continuaria o mesmo
(R$ 720 mil), mas a renda disponível cairia para R$ 360 mil, pois ficaríamos os dez últimos anos
sem nenhuma renda, ou seja, teríamos que reduzir nosso padrão de consumo pela metade.
Daí é que vem a importância da acumulação de riqueza, que será utilizada para manter o
padrão de vida. No exemplo citado, bastaria ter montado uma estratégia de forma a acumular
esses R$ 320 mil faltantes ao longo de nossa vida útil e, então, utilizá-los na aposentadoria.
Esquematicamente, temos a Figura 7, que ilustra esse processo de consumo, poupança, riqueza
acumulada e aposentadoria.
Figura 7 – Renda líquida, consumo, poupança e riqueza

Riqueza acumulada

Renda líquida

POUPANÇA
Consumo (padrão de vida)

DESPOUPANÇA

Aposentadoria

Anos de vida

Fonte: Elaborada pelo autor.

É importante salientar que, nessa abordagem, partimos do pressuposto de que tanto


o consumo como a renda são constantes e iguais durante toda a vida, e que todos os ativos
acumulados serão utilizados até o fim da vida. Assim, podemos concluir que parte da renda
obtida ao longo da vida útil de trabalho deve ser poupada, permitindo ao indivíduo ir acumulando
ativos ao longo desse tempo. No final do período de trabalho, ele poderá passar a viver desses
ativos, complementando os recursos de sua aposentadoria, “despoupando” nos anos seguintes,
até o fim da vida.
138 Economia e Mercado

Considerações finais
Neste capítulo, foi apresentada a estrutura do sistema financeiro nacional, mostrando as
instituições que o compõem e os instrumentos utilizados para que os mais diferentes mercados
– monetário, crédito, câmbio e capitais – possam funcionar. E, ao final, foi mostrada também a
importância de se acumular riqueza ao longo da vida.

Ampliando seus conhecimentos


• CAVALCANTI, Francisco; MISUMI, Jorge Yoshio. Mercado de capitais. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2008.
Esse livro é considerado uma referência obrigatória para todos os profissionais do
mercado, professores e estudantes, que fazem do seu mister o acompanhamento e estudo
do mercado de ações no Brasil ou que se interessam por ele.

• FORTUNA, Eduardo. Mercado financeiro: produtos e serviços. 21. ed. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2017.
Essa obra é referência para aqueles que atuam no mercado financeiro e que se interessam
por ele. Ela apresenta um detalhamento de cada produto e serviço financeiro e de suas
características, fazendo com que o leitor passe a ter um maior domínio sobre o que
as instituições financeiras oferecem, tanto para tomadores como para aplicadores de
recursos. É um ótimo manual para ter sempre à mão.

• WALL STREET: poder e cobiça. Direção e roteiro: Oliver Stone. EUA: 20th Century Fox,
1987. 1 DVD. cor. (126 min.).
Esse filme é, provavelmente, o mais conhecido sobre a bolsa de valores e conta a história
do investidor Gordon Gekko, interpretado por Michael Douglas, conhecido por sua
ganância e frieza. Além de falar do sistema financeiro como um todo, esse filme mostra
que as corretoras, em vez de ajudar seus investidores, geralmente, estão mais preocupadas
em lucrar.

Atividades
1. Aponte quais são as principais funções do Banco Central do Brasil.

2. A atuação do Banco Central do Brasil se desenvolve em diferentes mercados. Quais são eles?

3. O que é um banco múltiplo?

4. Qual é o papel desempenhado pelas bolsas de valores em uma economia?

5. Qual é a importância de acumular riqueza ao longo da vida?


Sistema financeiro e acumulação de riqueza 139

Referências
BCB – Banco Central do Brasil. Secretaria do CMN. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/
cmn. Acesso em: 2 out. 2019a.

BCB – Banco Central do Brasil. Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP). Disponível em: https://www.
bcb.gov.br/acessoinformacao/legado?url=https:%2F%2Fwww.bcb.gov.br%2FPre%2Fcomposicao%2Fcnsp.
asp. Acesso em: 2 out. 2019b.

BCB – Banco Central do Brasil. Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC). Disponível em: https://
www.bcb.gov.br/acessoinformacao/legado?url=https:%2F%2Fwww.bcb.gov.br%2Fpre%2Fcomposicao%2Fcgpc.
asp. Acesso em: 2 out. 2019c.

BCB – Banco Central do Brasil. Banco Central do Brasil. Portal de Dados Abertos. Disponível em: https://
dadosabertos.bcb.gov.br/organization/about/banco-central. Acesso em: 2 out. 2019d.

BCB – Banco Central do Brasil. O que é banco (instituição financeira). Disponível em: https://www.bcb.gov.
br/estabilidadefinanceira/bancoscaixaseconomicas. Acesso em: 2 out. 2019e.

BCB – Banco Central do Brasil. O que é cooperativa de crédito? Disponível em: https://www.bcb.gov.br/
estabilidadefinanceira/cooperativacredito. Acesso em: 2 out. 2019f.

BCB – Banco Central do Brasil. O que é instituição de pagamento? Disponível em: https://www.bcb.gov.br/
estabilidadefinanceira/instituicaopagamento. Acesso em: 2 out. 2019g.

BCB – Banco Central do Brasil. O que é administradora de consórcios? Disponível em: https://www.bcb.gov.
br/estabilidadefinanceira/administradoraconsorcio. Acesso em: 2 out. 2019h.

BCB – Banco Central do Brasil. O que são a corretora e a distribuidora de títulos e de valores mobiliários?​
Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/corretoradistribuidora. Acesso em: 2 out. 2019i.

BCB – Banco Central do Brasil. O que são instituições não bancárias? Disponível em: https://www.bcb.gov.br/
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BCB – Banco Central do Brasil. Bolsas de valores. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/Pre/composicao/


bv.asp?frame=1. Acesso em: 2 out. 2019k.

BCB – Banco Central do Brasil. Bolsas de mercadorias e futuros. Disponível em: https://www.bcb.gov.
br/acessoinformacao/legado?url=https:%2F%2Fwww.bcb.gov.br%2Fpre%2Fcomposicao%2Fbmf.
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BCB – Banco Central do Brasil. Sistema Financeiro Nacional (SFN). Disponível em: https://www.bcb.gov.br/
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BRASIL. Lei n. 6.385, de 7 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, 9 dez. 1976.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6385compilada.htm. Acesso em: 2 out. 2019.

CVM – Comissão de Valores Mobiliários. Sobre a CVM. Disponível em: http://www.cvm.gov.br/menu/


acesso_informacao/institucional/sobre/cvm.html. Acesso em: 2 out. 2019.

NOGAMI, Otto. Não seja o pato do mercado financeiro: as aventuras do Pato Rico. São Paulo: Avercamp, 2004.

NOGAMI, Otto. Economia. Curitiba: IESDE Brasil, 2012. 246 p.

NOGAMI, Otto; PASSOS, Carlos Roberto M. Princípios de economia. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016.

PREVIC – Superintendência Nacional de Previdência Complementar. A Previc. Disponível em: http://www.


previc.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/copy_of_a-previc-1. Acesso em: 2 out. 2019.

SUSEP – Superintendência de Seguros Privados. Apresentação. Disponível em: http://www.susep.gov.br/


menu/a-susep/apresentacao. Acesso em: 2 out. 2019.
Gabarito

1 A importância dos fundamentos econômicos


1. Economia é a ciência que se preocupa com a questão da escassez e em dar respostas
a assuntos relacionados à inflação e ao desemprego. Além disso, essa ciência estuda a
forma como os sistemas econômicos administram seus limitados recursos, a fim de
produzir bens e serviços e satisfazer ao máximo as necessidades da população. Por
isso, podemos afirmar ainda que a economia se preocupa em atender às necessidades
humanas que se caracterizam como necessidades econômicas.

2. Bem é tudo aquilo que permite satisfazer uma ou várias necessidades humanas,
como os alimentos, o vestuário, os livros; ou seja, são tangíveis. Serviços, por sua vez,
são intangíveis, visto que não podem ser tocados, como os serviços de transporte, de
médicos, de um advogado, entre outros. Já os chamados recursos produtivos são os fatores
utilizados nos processos de produção dos mais diferentes tipos de bens, como o trabalho, as
matérias-primas, as máquinas etc.

3. Os agentes econômicos são pessoas, de natureza física ou jurídica, que podem ser
classificados em: famílias, empresas e governo. As ações desses agentes são essenciais
para o funcionamento do sistema econômico.

4. A curva de possibilidades de produção é utilizada para exemplificar que, devido ao


confronto entre a limitação de recursos e as ilimitadas necessidades humanas, defrontamo-
nos com o problema da escassez e, por essa razão, é necessário fazer escolhas.

2 A percepção estratégica da economia de empresa


1. Partindo da condição de equilíbrio, ao recebermos a notícia de que a beterraba pode
ajudar na cura do câncer, teríamos uma externalidade que faria aumentar o consumo
de beterraba, movendo a curva da demanda para a direita. Tudo o mais mantido
constante, o ponto de equilíbrio se moveria para cima e à direita, fazendo com que
os preços aumentassem em função do aumento da demanda, como exemplificado no
gráfico a seguir.
142 Economia e Mercado

Elasticidade-renda da demanda negativa: produtos ou serviços cuja demanda cai à medida


que a renda (salário) aumenta, tais como carne de segunda e cervejas populares, por exemplo.
Preço
(R$)
Oferta

E’
P1
E
Pe Demanda
final

Demanda
inicial

0
Qe Q
Quantidade

2. Elasticidade-renda da demanda positiva: produtos ou serviços cuja demanda aumenta à


medida que a renda (salário) aumenta, tais como açúcar e iogurtes, por exemplo.

3. É quando um método de produção permite obter o maior faturamento possível ao menor


custo possível (maximização de lucro).

4. Apresentam o formato de U devido à lei dos rendimentos decrescentes, ou seja, à medida


que as quantidades produzidas aumentam, o custo cai em um primeiro momento para
depois subir.

5. Dada uma margem de contribuição, quanto menor o custo fixo, mais rapidamente a empresa
atingirá o seu break-even point.

3 A macroeconomia e a conjuntura econômica


1. Crescimento econômico diz respeito ao aumento da produção, ou seja, a um aumento do
Produto Interno Bruto (PIB).

2. É o PIB do país dividido pelo seu número de habitantes, estabelecendo uma média desse valor.

3. É a relação entre o número de desocupados e a oferta total da força de trabalho.

4. A inflação acarreta perda do poder de compra dos assalariados ao longo do tempo.

5. É mais interessante, para a economia de um país, que haja desemprego moderado, sem
inflação, pois, apesar da existência do desemprego (que é baixo), preserva-se o poder de
compra das famílias empregadas.
Gabarito 143

4 Mensuração e estrutura das contas nacionais


1. Para evitar o problema da dupla contagem, ou seja, excluem-se da contabilidade os bens e
serviços intermediários.

2. A primeira condição de equilíbrio do modelo macroeconômico é que a Renda Nacional e o


Produto Nacional devem ser sempre iguais.

3. Em uma economia produtiva em expansão, o investimento bruto deve ser maior que a
depreciação, pois, do contrário, teríamos uma retração da atividade econômica, que acontece
quando o investimento bruto não cobre a depreciação dos ativos físicos de produção.

4. Ela é a base para que investimentos no setor privado possam ser realizados.

5. Compromete investimentos no setor produtivo da economia.

5 Modelo de três economias


1. Por conta da característica não poupadora da sociedade brasileira.

2. Afeta os investimentos do setor privado.

3. O déficit público é financiado pela poupança privada e pela poupança externa.

4. Sim, é ruim, pois mostra um déficit nas contas externas, o que pode, no longo prazo,
comprometer a reserva cambial.

6 A moeda e sua importância


1. Os cartões de crédito não podem ser assim considerados, pois não exercem as funções da
moeda: instrumento de troca, medida de valor, reserva de valor, padrão de pagamentos
diferidos.

2. As pessoas preferem manter menos dinheiro guardado nesses casos porque a taxa de juros
alta aumenta a rentabilidade das aplicações financeiras. Isso significa que é mais vantagem
manter menos dinheiro no bolso e mais em aplicações.

3. Controlar a oferta de moeda e as taxas de juros, de forma a assegurar a liquidez ideal da


economia do país e manter os preços estabilizados na economia.

4. Controle direto da quantidade de dinheiro em circulação; operações no mercado aberto;


fixação da taxa de reserva; fixação da taxa de redesconto e controles seletivos de crédito.

5. Reduzindo a taxa de juros, estimulando, assim, os empresários a investir. Isso acontece


porque, em termos financeiros, o custo do investimento se torna mais atrativo e o retorno
dele ocorre em prazo menor.
144 Economia e Mercado

7 Política econômica e o tripé macroeconômico


1. Ao longo do tempo, a inflação reduz o poder de compra das pessoas que têm renda fixa. Isso
porque o salário é reajustado apenas uma vez por ano, enquanto a inflação está presente
em todos os meses desse período, fazendo com que o salário perca seu poder de compra ao
longo desse tempo.

2. A inflação de demanda ocorre quando o desejo de consumir da sociedade é maior que


sua capacidade de produzir. Como exemplo, podemos citar o que acontece quando
uma geada atinge a região produtora de hortifrútis: o preço das hortaliças e das frutas
aumenta, pois a produção prejudicada pela geada reduz a oferta. A inflação de custo,
por sua vez, ocorre quando há um aumento no preço dos fatores de produção, sendo
repassado ao preço do produto.

3. Resultado primário é o resultado que o governo alcança antes do pagamento dos juros
da dívida interna. Já o resultado nominal é o resultado depois do pagamento dos juros da
dívida interna.

4. É o resultado primário que o governo tem que atingir, fixado pela Lei das Diretrizes
Orçamentárias e dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal. O não cumprimento das metas
orçamentárias pode levar o governante a um processo de impeachment.

5. Pode tornar os produtos exportáveis mais baratos em moeda estrangeira, deixando-os mais
competitivos em preço.

8 Sistema financeiro e acumulação de riqueza


1. De acordo com o próprio site do Banco Central, são funções dessa instituição: “zelar pela
adequada liquidez da economia; manter as reservas internacionais em nível adequado;
estimular a formação de poupança; zelar pela estabilidade e promover o permanente
aperfeiçoamento do sistema financeiro”.

2. Mercado monetário; mercado de crédito; mercado de câmbio; mercado de capitais.

3. É uma instituição financeira, privada ou pública, que, além de banco comercial, acumula
funções de outras carteiras, como a de desenvolvimento, investimento ou câmbio.

4. As bolsas de valores permitem a transferência da poupança das famílias diretamente para as


empresas, na condição de acionistas ou debenturistas.

5. Para podermos manter nosso padrão de consumo mesmo na aposentadoria.


Economia e Mercado
Código Logístico

58799

Otto Nogami

Economia
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6518-9
Otto Nogami
9 788538 765189

e Mercado

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